medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa...

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5 I Instituto de Epistemologia Aplicada e Metodologia Médica - Universidade de Witten, Herdecke (Alemanha). *Cooperativa Científica Européia de Produtos Médicos Antroposóficos (ESCAMP), Freiburg (Alemanha). II Clínica para a Medicina de Família e Complementar, Langnau im Emmental (Suíça). Universidade de Ciências Aplicadas de Leiden (Holanda); Louis Bolk Institute, Driebergen (Holanda). Departamento de Ginecologia do Centro Médico Nastola, Plusterveys (Finlândia). Endereço para correspondência: [email protected] Traduzido por Eliane Follador do original Anthroposophic medicine: an integrative medical system originating in Europe. Global Adv Health Med.2013; 2(6):20-31. DOI:10.7453/gahmj.2012.087. Publicado com autorização dos autores e da Revista Global Advances in Health and Medicine. Palavras-chave: Medicina antroposófica; medicina integrativa; medicina centrada no paciente; holismo. Key words: Anthroposophic medicine; integrative; patient-centered; holistic. Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa Anthroposophic medicine: an integrative medical system originating in Europe Gunver S. Kienle, I * Ulrich Albonico, II Erik Baars, * Harald J. Hamre, I * Peter Zimmermann, Helmut Kiene I RESUMO A medicina antroposófica é um sistema de tratamento multimodal integrativo que se baseia em uma compreensão holística do homem e da natureza, e da doença e seu tratamento. Ela está estruturada em um conceito de quatro níveis de forças formativas e em um modelo trimembrado de constituição humana. A medicina antroposófica está integrada com a medicina convencional em grandes hospitais e consultórios mé- dicos. Ela utiliza remédios derivados de plantas, minerais e animais; terapia artística, euritmia terapêutica e massagem rítmica; aconselhamento; psicoterapia; e técnicas específicas de enfermagem como aplicações externas. Os cuidados antroposóficos em saúde são realizados por médicos, terapeutas e enfermeiros. Um Relatório de Avaliação das Tecnologias da Saúde (Health-Technology Assessment Report) e sua versão atualizada identificaram 265 estudos clínicos sobre a eficácia e a efetividade da medicina antroposófica. Os resultados foram descritos como predominantemente positivos. Esses estudos, assim como vários estudos específicos sobre segurança, não mostraram grandes riscos, mas sim uma boa tolerabilidade. As análises econômicas mostraram uma estrutura de custos favorável. Os pacientes relatam uma alta satis- fação com a assistência médica antroposófica. ABSTRACT Anthroposophic medicine is an integrative multimodal treatment system based on a holistic understanding of man and nature and of disease and treatment. It builds on a concept of four levels of formative forces and on the model of a three-fold human con- stitution. Anthroposophic medicine is integrated with conventional medicine in large hospitals and medical practices. It applies medicines derived from plants, minerals, and animals; art therapy, eurythmy therapy, and rhythmical massage; counseling; psycho- therapy; and specific nursing techniques such as external embrocation. Anthroposophic healthcare is provided by medical doctors, therapists, and nurses. A Health-Technology Assessment Report and its recent update identified 265 clinical studies on the efficacy and effectiveness of anthroposophic medicine. The outcomes were described as pre- dominantly positive. These studies as well as a variety of specific safety studies found no major risk but good tolerability. Economic analyses found a favorable cost structure. Patients report high satisfaction with anthroposophic healthcare. Artigo de revisão | Review Arte Médica Ampliada Arte Médica Ampliada Vol. 38 | N. 1 | Janeiro / Fevereiro/ Março de 2018 Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.

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IInstituto de Epistemologia Aplicada e

Metodologia Médica - Universidade de

Witten, Herdecke (Alemanha).

*Cooperativa Científica Européia de

Produtos Médicos Antroposóficos

(ESCAMP), Freiburg (Alemanha).IIClínica para a Medicina de Família e

Complementar, Langnau im Emmental

(Suíça).†Universidade de Ciências Aplicadas de

Leiden (Holanda); Louis Bolk Institute,

Driebergen (Holanda).‡Departamento de Ginecologia do Centro

Médico Nastola, Plusterveys (Finlândia).

Endereço para correspondência:

[email protected]

Traduzido por Eliane Follador do original

Anthroposophic medicine: an integrative

medical system originating in Europe.

Global Adv Health Med.2013; 2(6):20-31.

DOI:10.7453/gahmj.2012.087. Publicado

com autorização dos autores e da Revista

Global Advances in Health and Medicine.

Palavras-chave: Medicina antroposófica;

medicina integrativa; medicina centrada

no paciente; holismo.

Key words: Anthroposophic medicine;

integrative; patient-centered; holistic.

Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa

Anthroposophic medicine: an integrative medical system originating in Europe

Gunver S. Kienle,I* Ulrich Albonico,II Erik Baars,*† Harald J. Hamre,I* Peter Zimmermann,‡ Helmut KieneI

RESUMOA medicina antroposófica é um sistema de tratamento multimodal integrativo que se

baseia em uma compreensão holística do homem e da natureza, e da doença e seu

tratamento. Ela está estruturada em um conceito de quatro níveis de forças formativas

e em um modelo trimembrado de constituição humana. A medicina antroposófica

está integrada com a medicina convencional em grandes hospitais e consultórios mé-

dicos. Ela utiliza remédios derivados de plantas, minerais e animais; terapia artística,

euritmia terapêutica e massagem rítmica; aconselhamento; psicoterapia; e técnicas

específicas de enfermagem como aplicações externas. Os cuidados antroposóficos

em saúde são realizados por médicos, terapeutas e enfermeiros. Um Relatório de

Avaliação das Tecnologias da Saúde (Health-Technology Assessment Report) e sua

versão atualizada identificaram 265 estudos clínicos sobre a eficácia e a efetividade

da medicina antroposófica. Os resultados foram descritos como predominantemente

positivos. Esses estudos, assim como vários estudos específicos sobre segurança, não

mostraram grandes riscos, mas sim uma boa tolerabilidade. As análises econômicas

mostraram uma estrutura de custos favorável. Os pacientes relatam uma alta satis-

fação com a assistência médica antroposófica.

ABSTRACTAnthroposophic medicine is an inte grative multimodal treatment sys tem based on a

holistic understanding of man and nature and of disease and treatment. It builds on a

concept of four levels of formative forces and on the model of a three-fold human con-

stitution. Anthroposophic medi cine is integrated with conventional medicine in large

hospitals and med ical practices. It applies medicines derived from plants, minerals, and

animals; art therapy, eurythmy ther apy, and rhythmical massage; coun seling; psycho-

therapy; and specific nursing techniques such as external embrocation. Anthroposophic

healthcare is provided by medical doctors, therapists, and nurses. A Health-Technology

Assessment Report and its recent update identi fied 265 clinical studies on the effi cacy

and effectiveness of anthropo sophic medicine. The outcomes were described as pre-

dominantly positive. These studies as well as a variety of specific safety studies found

no major risk but good tolera bility. Economic analyses found a favorable cost structure.

Patients report high satisfaction with anthro posophic healthcare.

Artigo de revisão | Review

Arte Médica Ampliada Arte Médica Ampliada Vol. 38 | N. 1 | Janeiro / Fevereiro/ Março de 2018

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.

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A medicina antroposófica é um sistema de tratamento

multimodal integrativo, uma ampliação da medicina

convencional que integra uma abordagem holística sobre

o homem e a natureza, e sobre a doença e a cura. Ela foi funda-

da no início dos anos 1920 por Rudolf Steiner e Ita Wegman. Ela

está estabelecida em 80 países ao redor do mundo, mas predo-

mina na Europa Central. É praticada por médicos, terapeutas,

e enfermeiros* e provê tratamentos e terapias específicos que

incluem medicamentos, arte, movimento, massagens e técnicas

específicas de enfermagem. Há opções de tratamento para todo

o espectro de doenças agudas e crônicas, com foco nas doen-

ças infantis, medicina de família e especialmente nas doenças

crônicas que necessitam de tratamentos longos e complexos.

Os pacientes se mostram altamente satisfeitos com essa forma

holística de tratamento.

ANTROPOSOFIA: UMA CIÊNCIA ESPIRITUAL

A medicina antroposófica se baseia nos métodos e nos resul-

tados cognitivos da antroposofia.1 A antroposofia foi estabele-

cida por Rudolf Steiner (1861-1925).2 Aos 22 anos, após haver

estudado ciências empíricas, matemática e filosofia em Viena,

Steiner foi comissionado para publicar os textos científicos de

Johann Wolfgang Goethe na Kürschners Deutscher Nationalli-

teratur (Literatura Nacional Alemã) e colaborou na Edição Sofia

dos trabalhos de Goethe em Weimar.3-4

Steiner começou a desenvolver a antroposofia em 1901.5

A antroposofia é uma visão sobre o ser humano e a natureza

que é espiritual, mas que, ao mesmo tempo, se considera profun-

damente científica.6 Steiner considerava que a antroposofia era

um passo evolutivo e consequente no desenvolvimento do pen-

samento ocidental.7

Na antroposofia, três tradições foram integradas e ampliadas:

a tradição empírica da ciência moderna, iniciada por Copérnico,

Kepler e Galileu; a tradição cognitiva da filosofia, iniciada por

Platão e Aristóteles e trazida a um apogeu no assim chamado

idealismo alemão por Hegel, Fichte, Schelling, Schiller e Goethe; e,

finalmente, a tradição esotérica da espiritualidade cristã.

A estabilidade dessa integração se reflete na crítica e rejeição

de Steiner pela filosofia de Kant8 e pelo reducionismo materialista.3

Kant propagou a ideia de que há uma limitação definitiva para o co-

nhecimento científico,9 e o movimento do reducionismo materialista

estabeleceu que as interações das partículas materiais são o princípio

básico de toda explicação científica.10-12 Em contraste, Steiner propôs e

descreveu como os seres humanos poderiam expandir as suas capa-

cidades cognitivas e como a expansão dessas capacidades6 poderiam

ser utilizadas para investigar uma variedade de forças formativas que

atuam no organismo além das interações de partículas (Coluna I).13

O conceito de um organismo com múltiplos níveis e com

diversos subsistemas é compatível com as abordagens multis-

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.

Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa

*N.E.: A medicina antroposófica é exercida exclusivamente por médicos, devidamente formados e regulamentados de acordo com as leis de seu país e estado. Os autores aqui se referem à antroposofia aplicada à saúde exercida por essas classes profissionais.

sistêmicas modernas da biologia do desenvolvimento e com

modelos holísticos de câncer.16-18 Na antroposofia, o conceito de

forças formativas é mais elaborado e a isso ainda se acrescenta

o conceito correspondente de matéria. Considera-se que as es-

truturas físicas da matéria são apenas um nível, e que, quando

a substância está absorvida no contexto de um organismo, essa

substância se torna “vivificada” ou, até mesmo, “animada”.1 A

pesquisa sobre as forças formativas e as suas correspondências

materiais, e sobre as diversas correlações entre essas forças pro-

vê a base da cosmovisão antroposófica. Essa visão traz dimen-

sões espirituais às ciências naturais.6

Steiner proveu a antroposofia com uma epistemologia pro-

fundamente embasada.3-5, 7, 8, I9-2I Por outro lado, a antroposofia

tem provado ser não apenas uma filosofia, ou uma nova orien-

tação à ciência, mas também ter uma aplicação prática. A an-

troposofia deu ensejo ao desenvolvimento de várias áreas: uma

escola de ciência espiritual com várias seções especializadas,

fundada em Dornach, Suíça, em 1924; um novo método peda-

gógico (Escolas Waldorf, também conhecidas como Escolas Ru-

dolf Steiner), atualmente são mais de mil escolas e, aproxima-

damente, dois mil jardins de infância, programas de educação

domiciliar, centros de cuidado infantil e pré-escola ao redor do

mundo; o movimento da educação terapêutica, que atualmente

conta com mais de seiscentos centros de educação terapêutica e

terapia social para crianças, jovens e adultos com incapacidades

e problemas de desenvolvimento; uma nova orientação à agri-

cultura, a agricultura biodinâmica; a criação de uma nova arte

do movimento, a euritmia; uma renovação de várias atividades

artísticas, como a arte da fala, arte dramática, pintura, escultura

e arquitetura; e esforços para remodelar a vida social (trimem-

bração social).22,23 Uma companhia antroposófica, Sekem, no

Egito,24 foi homenageada com o Prêmio Nobel Alternativo e com

o Prêmio da Fundação Schwab. As percepções antroposóficas

têm sido integradas à cultura moderna, e numerosas pessoas

têm emergido do cenário antroposófico para a vida pública, co-

mércio, bancos, política, cultura, teatro e cinema, literatura, belas

artes, música, moda e medicina.

PERSPECTIVAS BÁSICAS DA MEDICINA ANTROPOSÓFICA

A etiologia e a patogênese das doenças são entendidas con-

cretamente como o resultado de interações anormais entre os

diferentes níveis do organismo humano e dos seus três subsis-

temas (Coluna I).25,26 A ponderação a respeito dessas interações

é a base para o estabelecimento dos tratamentos médicos an-

troposóficos específicos. Um exemplo desse tipo de diagnóstico

e procedimento terapêutico foi mostrado recentemente em um

relato de caso sobre ansiedade e seu tratamento com euritmia

terapêutica.27

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Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H

Coluna 1. Conceito antroposófico de organismo humano e de patogênese

O conceito quadrimembrado das forças formativas13

O conceito antroposófico de organismo humano afirma que o organismo humano não é apenas formado por forças físicas (celulares, moleculares), mas por um total de quatro níveis de forças formativas: (1) forças formativas físicas; (2) forças for-mativas de crescimento que interagem com as forças físicas e produzem e mantêm a forma viva, como nas plantas; (3) uma classe adicional de forças formativas (anima, alma) que intera-ge com as forças de crescimento e com as forças físicas, crian-do a dualidade do interno-externo e dos sistemas sensitivos, motores, nervosos e circulatórios como é visto nos animais; (4) uma classe adicional de forças formativas (Geist, espírito) que interage com as três outras e apoia a expressão da mente indi-vidual e a capacidade de pensamento reflexivo, que é exclusiva dos seres humanos.

O modelo trimembrado da constituição humanaQuando os quatro níveis de forças formativas são integra-

dos com a polaridade humana do movimento motor ativo e da percepção sensória passiva, entra em vigor a trimembração do ser humano.

Ela abarca três sistemas principais: dois polares um ao ou-tro (sistema neurossensorial e sistema metabólico-motor) e um intermediário (sistema rítmico). Esses subsistemas estão espa-lhados por todo o organismo, mas predominam em determina-das regiões: o sistema neurossensorial na região da cabeça, o sistema metabólico-motor nos membros, e o sistema rítmico nos órgãos respiratórios e circulatórios, na região do “meio”.

Considera-se que os quatro níveis de forças formativas se inter-relacionam diferentemente nesses três subsistemas. No sistema neurossensorial, os dois níveis superiores de forças (alma, espírito) estão relativamente separados dos dois ou-tros níveis inferiores, e isso provê as condições que originam os processos de autoconsciência, de percepções conscientes, e de pensamento consciente. No sistema metabólico-motor, a interpenetração é mais próxima, provendo assim as condições à execução dos movimentos corpóreos intencionais. No siste-ma rítmico, as inter-relações entre os níveis superior e inferior flutuam em relação ao aumento ou à diminuição da conexão e isso se associa à origem das emoções; a interpenetração au-menta durante os processos rítmicos pulmonares da inspiração e diminui durante a expiração.

O modelo da constituição humana trimembrada leva a reinterpretações distintas dos ensinamentos da fisiologia convencional.

A seguir, comentamos outro aspecto básico: uma vez que se

leva em consideração a existência e a efetividade das forças for-

mativas, surge uma nova visão sobre a evolução da humanidade

e da natureza, sobre as relações específicas entre os processos

que geram formas e substâncias na natureza exterior e no cor-

po humano. Assim, pode-se procurar as correspondências entre

os desvios patológicos do organismo humano com os processos

formativos e com as substâncias da natureza. Essas correspon-

dências são como a chave e a fechadura. Relações como essa,

ou similares, têm sido reconhecidas em várias culturas desde os

primórdios da humanidade. A avaliação dessas relações pode

permitir terapias médicas racionais.1

Entre os princípios que conduzem o cuidado médico

antroposófico, estão o reconhecimento da autonomia e da

dignidade do paciente e o estímulo para que as pessoas au-

xiliem a si mesmas. A autorresponsabilidade é indicada e

os objetivos terapêuticos incluem estimular várias formas de

autocura – estimular a higiogênese,28 que significa criar uma

regulação autonômica coerente do organismo; e salutogêne-

se, que significa criar uma autorregulação psicoemocional e

espiritual coerente.30 O tratamento visa não apenas restau-

rar a condição prévia de saúde, uma restitution ad integrum,

mas provocar um novo nível de força interior do organismo

e do indivíduo.

Desse modo, a medicina antroposófica almeja uma

abordagem holística. O objetivo não é simplesmente focar

nos dados singulares da patologia, mas fortalecer a cons-

tituição do paciente como um todo, levando em conside-

ração todas as suas dimensões: física, emocional, mental,

espiritual e social. Assim, frequentemente os tratamentos

são multimodais. Eles são adaptados individualmente numa

tentativa de combinar de modo sinérgico os vários compo-

nentes terapêuticos e para aumentar as chances de melho-

rar a saúde. Esse tratamento é concebido como um sistema

terapêutico.31-33

A PRÁTICA E OS CENTROS MÉDICOS DA MEDICINA ANTROPOSÓFICA

A medicina antroposófica é praticada em hospitais, ambula-

tórios e consultórios por médicos treinados. Atualmente há

aproximadamente 24 instituições médicas antroposóficas,

que incluem hospitais, departamentos em hospitais, centros

de reabilitação, e outros centros de internação médica na

Alemanha, Suíça, Suécia, Holanda e Estados Unidos (Colu-

nas 2 e 3, e Figura 1). Na Alemanha, em três grandes hos-

pitais antroposóficos há serviços de emergência que obede-

cem à regulamentação da República Federal da Alemanha

(Bundesländer); dois deles são hospitais-escola ligados a

universidades locais (Coluna 3). Eles oferecem treinamento

em medicina antroposófica para médicos.

Em 1983, foi fundada a primeira universidade privada na

Alemanha a partir de um desses hospitais (Universidade de

Witten/Herdecke). Além dos hospitais antroposóficos, ao re-

dor do mundo, há mais de 180 clínicas ambulatoriais onde

atuam conjuntamente médicos e terapeutas antroposóficos.

Médicos antroposóficos também trabalham em seus con-

sultórios. Além disso, há também departamentos em gran-

des hospitais que proveem cuidado médico antroposófico

e serviço de consulta (por exemplo, Centro para Medicina

Integrativa, Hospital Cantonal de St. Gallen, Suíça; Instituto

de Medicina Complementar, Universidade de Berna, Suíça;

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Centro de Medicina Complementar, Universidade de Frei-

burg, Alemanha). Os médicos antroposóficos se envolve-

ram de modo decisivo na implementação de um serviço

de saúde liberal e pluralista na Alemanha e na relevante

formulação da Lei Alemã dos Medicamentos de 1976.

A partir de 1976, a medicina antroposófica, junto com a

homeopatia e a fitoterapia, tem sido definida como um “sis-

tema terapêutico especial” (besondere Therapierichtung) na

Lei dos Medicamentos34 e é representada na Alemanha por

seu próprio comitê no Instituto Federal para Medicamentos

e Equipamentos Médicos. A Suíça e a Letônia também reco-

nhecem a medicina antroposófica como um sistema tera-

pêutico distinto. Em alguns países, o reconhecimento legal

está restrito à regulamentação farmacêutica. A autorização,

a supervisão e o registro profissional dos médicos antropo-

sóficos é delegada às associações médicas nacionais.

OS MÉDICOS

A medicina antroposófica é exercida por médicos com trei-

namento em medicina convencional e treinamento especia-

lizado em medicina antroposófica. As terapias antroposófi-

cas também são prescritas por muitos outros médicos com

níveis variáveis de treinamento. Os médicos antroposófi-

cos frequentemente trabalham na atenção primária, mas

a medicina antroposófica não se limita à clínica geral. Ela

também é exercida em âmbitos mais especializados. (Figu-

ra 2; Coluna 3). Nos diversos países, os pré-requisitos para

a certificação de um médico antroposófico são definidos e

regulamentados a nível nacional, e compartilham um curri-

culum semelhante. Na Alemanha, por exemplo, o curriculum

requer três anos de prática médica, um ano de estudo de

medicina antroposófica de acordo com um programa pré-

-estabelecido, e dois anos de prática médica sob a super-

visão de um mentor. Além disso, há programas específicos

Coluna 2: Hospitais antroposóficos, departamentos de hospitais e centros de reabilitação

Hospitais com serviço de emergência• Hospital Comunitário de Havelhöhe, Berlim, Alemanha (Co-

luna 3)• Hospital Comunitário de Herdecke, Herdecke, Alemanha (Co-

luna 3)• Clínica Filder, Filderstadt, Alemanha: medicina interna, onco-

logia, cardiologia, gastrenterologia, medicina de emergência e medicina intensiva, ginecologia e obstetrícia, pediatria, psi-quiatria infantil, neonatologia, cirurgia, anestesia, radiologia, medicina psicossomática.

• Clínica Ita Wegman, Arlesheim, Suíça: medicina interna (com oncologia, cardiologia, neurologia, cirurgia, geriatria), psi-quiatria, medicina psicossomática.

• Hospital Paracelsus, Richterswil, Suíça: cirurgia, urologia, medicina interna, oncologia, gastrenterologia, pneumologia, cardiologia, ginecologia e obstetrícia, radiologia, anestesia, serviço de emergência, cuidados paliativos.

• Clínica Vidar, Järna, Suécia: reabilitação (câncer, doenças relaciona-das ao estresse, dor crônica), cuidados paliativos (câncer).

Hospitais de especialidades e departamentos• Asklepius – West Hospital Hamburg, Centro de Medicina Ho-

lística, Hamburgo, Alemanha: medicina interna, medicina psi-cossomática.

• Hospital Lahnhöhe, Lahnstein, Alemanha: medicina psicos-somática.

• Hospital Öschelbronn, Öschelbronn, Alemanha: medicina in-terna, oncologia.

• Hospital Paracelsus, Bad Liebenzell-Unterlengenhardt, Ale-manha: medicina interna.

• Hospital Heidenheim, Heidenheim, Alemanha: clínica geral.• Clínica Friedrich-Husemann, Buchenbach, Alemanha: psi-

quiatria.• Clínica Lukas, Arlesheim, Suíça: cuidados integrativos de on-

cologia e cuidados paliativos.• Hospital Emmental – Departamento de Medicina Comple-

mentar, Langnau, Suíça: clínica geral, oncologia, cuidados pa-liativos e medicina psicossomática.

• Hospital Scuol – Departamento de Medicina Complementar, Scuol, Suíça: clínica geral, oncologia, cuidados paliativos, me-dicina psicossomática e cuidados perioperatórios.

• Clínica Lievegoed, Bilthoven, Holanda: psiquiatria.

Reabilitação e outros centros hospitalares• Clínica Alexander von Humboldt, Bad Steben, Alemanha: cen-

tro de reabilitação geriátrica.• Sanatório Sonneneck, Badenweiler, Alemanha.• Reha-Klinic Schloss Hamborn, Borchen über Paderborn, Alemanha.• Haus am Stalten, Steinen, Alemanha.• Höfe am Belchen, Kleines Wiesental – Neuenweg, Alemanha:

comunidade terapêutica psiquiátrica para crianças e jovens.• Heilstäte Sieben Zwerge, Salem – Oberstenweiler, Alemanha:

doenças relacionadas ao uso de drogas.• Mutter und Kind Kurheim Alpenhof, Rettenberg, Alemanha.• Casa de Cura Andrea Cristoforo, Ascona, Suíça.• Casa de Saúde Ragael, Roncegno (Trento), Itália.• Centro de Saúde Rudolf Steiner, Ann Harbor, Michigan, Es-

tados Unidos: centro de terapia e treinamento para doenças crônicas.

Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa

Figura 1. Clínica Filder, um hospital antroposófico em Filderstadt, Ale-manha. Fonte: Clínica Filder, reproduzido com autorização.

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.

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O Hospital Comunitário de Herdecke, um hospital univer-sitário e de atendimento terciário fundado em 1969, é res-ponsável por prover o atendimento hospitalar da cidade de Herdecke e dos seus arredores, incluindo os serviços médicos de emergência (cuidados níveis II e III). O atendimento mé-dico antroposófico – medicação, cuidados de enfermagem, fisioterapia, banhos terapêuticos, massagem rítmica, equi-noterapia, laborterapia, terapia da fala, psicoterapia, eurit-mia terapêutica, terapias artísticas (uso de música, pintura, escultura, terapia da fala) – está integrado com os seguintes departamentos especializados:

• Anestesia, incluindo terapia para dor.• Cirurgia: geral, abdominal, trauma, incluindo implante de

endopróteses, cirurgia plástica, vascular, torácica, oncológi-ca e procedimentos cirúrgicos menores em pediatria.

• Ginecologia e obstetrícia: aproximadamente 900 nascimen-tos/ano.

• Reabilitação interdisciplinar precoce.• Medicina Interna: cardiologia, gastrenterologia, pneumolo-

gia, medicina psicossomática.• Oncologia interdisciplinar: enfermaria, hospital-dia, ambu-

latório, aconselhamento, psico-oncologia.• Pediatria: endocrinologia pediátrica e diabetes infantil, trei-

namento em diabetes, centro terapêutico; neuropediatria com foco na epilepsia dispondo de eletroencefalograma (EEG) digital, monitoramento de EEG, vídeo EEG, serviço de apoio para problemas de retardo de desenvolvimento, pe-diatria oncológica e hematológica, colaboração com a Socie-dade de Oncologia e Hematologia Pediátrica; neonatologia, cuidado intensivo pediátrico, psiquiatria infantil e juvenil, hospital-dia com enfermaria para internação compulsó-ria, psicotraumatologia (por exemplo, síndrome de estresse pós-traumático), dessensibilização e reprocessamento por movimento dos olhos, déficit de atenção/ transtorno de hi-peratividade, terapia familiar, medicina psicossomática.

• Neurologia, incluindo um departamento para lesões medu-lares, derrame, paraplegia.

• Neurocirurgia.• Pronto socorro, unidade de terapia intensiva, unidade de

terapia semi-intensiva.• Psiquiatria: pronto atendimento, enfermaria para interna-

ção compulsória, hospital-dia.• Radiologia: raios-X, ultrassonografia, tomografia computadori-zada, angiografia por subtração digital, ressonância magnética.

Vários departamentos também mantém consultas e tra-tamentos ambulatoriais.

O Hospital Comunitário de Havelhöhe, assumido em 1995 e reorganizado como um hospital de medicina antroposófica, é um hospital de emergência com 304 leitos e que provê hos-pitalização à população daquela área.

Assistência médica antroposófica – incluindo medica-mentos, cuidados de enfermagem, euritmia terapêutica, terapias artísticas (música, pintura, escultura), massagem rítmica, massagem com o método Dr. Pressel, psicoterapia, fisioterapia, exercícios, drenagem linfática manual – está integrado nos seguintes departamentos de especialidades,

Coluna 3: Exemplos de centros de medicina integrativa em dois hospitais antroposóficos

para algumas especialidades. Um programa de treinamento

adicional internacional (International Postgraduate Medi-

cal Training - IPMT) em medicina antroposófica consiste

em uma série de treinamentos anuais de uma semana de

duração que permite que médicos formados obtenham o

certificado de médico antroposófico após três anos. O trei-

namento completo é oferecido em vários países, e inclue

Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Chile, Cuba,

Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Filipinas,

Finlândia, França, Geórgia, Holanda, Hungria, Índia, Israel,

Itália, Japão, Letônia, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Polô-

nia, Reino Unido, Romênia, Rússia, Suíça, Taiwan e Ucrânia.

Em muitas universidades e escolas médicas há cadeiras de

medicina antroposófica e programas de pós-graduação em

medicina antroposófica.

As diretrizes para boa prática profissional estabelecem

os padrões sobre os princípios éticos, treinamento, certifi-

cação, educação médica continuada, conduta profissional,

relacionamento com colegas e terapeutas, e compromissos

sociais para os médicos antroposóficos. No âmbito inter-

nacional, os médicos antroposóficos são representados

pela Federação Internacional de Associações de Medicina

Antroposófica (IVAA) que funciona com uma organização

guarda-chuva para assuntos políticos e legais.

TERAPIAS ANTROPOSÓFICAS

Além dos tratamentos convencionais, a medicina antro-

posófica emprega medicamentos e procedimentos tera-

pêuticos especiais, que incluem a euritmia terapêutica, a

massagem rítmica, a terapia artística antroposófica e o

aconselhamento. Além disso, ainda há vários procedimen-

tos de enfermagem antroposófica. As terapias podem ser

usadas isoladamente ou em combinação com outras tera-

pias antroposóficas.

Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H

Figura 2. Médico antroposófico realizando uma cirurgia em um hos-pital antroposófico. Fonte: Hospital Comunitário de Havelhöhe, re-produzido com autorização.

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.

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MEDICAMENTOSSubstâncias derivadas de plantas, animais e minerais são usa-

das nos medicamentos antroposóficos. Os medicamentos an-

troposóficos são concebidos, desenvolvidos, e produzidos de

acordo com a visão antroposófica do ser humano, da natureza

e das substâncias que, muitas vezes, são dinamizadas. O seu

método de produção está descrito na Farmacopeia Homeopática

Alemã, na Farmacopeia Suíça, e no Anthroposophic Pharmaceu-

tical Codex e segue as Boas Práticas de Fabricação Farmacêuti-

com outros centros de competência interdisciplinar e coope-ração interdisciplinar para tratamento oncológico: • Medicina interna: geral, oncologia, diabetes (tipo I e II),

gastrenterologia (endoscopia: gastroscopia, colonoscopia, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, enteros-copia com balão, todos os procedimentos intervencionais terapêuticos – como polipectomia, mucosectomia, esclero-terapia, ligaduras com bandas elásticas, procedimentos com stent, drenagem guiada por ultrassom, aspiração por agulha fina guiada por ultrassom, pHmetria de esôfago e de estô-mago, manometria, radiofrequência multipolar) – cardiolo-gia (procedimentos invasivos e não invasivos incluindo sala para cateterização cardíaca, angioplastia coronária percu-tânea transluminal, implantação de stents, marca-passos, Escola Havelhöhe do Coração).

• Enfermaria de cuidados paliativos e de dor que inclui a in-serção de cateter venoso, cateter para alimentação, stents, cateter epidural, bombas e bloqueis nervosos.

• Pneumologia, incluindo pletismografia de corpo inteiro, in-vestigação de apneia do sono, videobroncoscopia flexível, toracoscopia, ultrassonografia endobronquial, preenchi-mento de cavidades pós-pneumectomia, testes de provo-cação com alérgenos e dessensibilização, determinação dos parâmetros para uso domiciliar de oxigenioterapia.

• Cirurgia: geral e oncológica, visceral, mão, ortopédica, trau-ma, centro para cirurgias minimamente invasivas incluindo cirurgia transluminal endoscópica, cirurgia vascular, centro de câncer colorretal, operações ambulatoriais e em pacien-tes internados.

• Ginecologia e obstetrícia (aproximadamente 1.200 nasci-mentos/ano).

• Centro de mama.• Terapia de retirada de drogas (usuários de múltiplas drogas,

heroína, álcool).• Medicina psicoterapêutica, medicina psicossomática.• Pediatria do desenvolvimento.• Anestesia, incluindo terapia da dor.• Enfermaria de cuidados intensivos interdisciplinar, incluindo

hemodiálise.• Radiologia, mielografia, angiografia, tomografia computa-

dorizada, medicina nuclear (câmara de tomografia com-putadorizada por emissão de fóton único, cintilografia do miocárdio, cintilografia de perfusão cerebral).

Vários departamentos proveem consultas ambulatoriais. Cinquenta por cento dos pacientes não são da região, o que é considerado um sinal da alta aceitação pelos pacientes.

O Hospital Havelhöhe é um hospital de ensino acadêmico associado ao Charité.

ca. As vias de administração medicamentosa são: oral, retal,

vaginal, parenteral (intradérmica, subcutânea ou intraveno-

sa) ou tópica (aplicação na pele, saco conjuntival ou cavidade

nasal). Várias companhias farmacêuticas produzem medica-

mentos antroposóficos (por exemplo: Weleda, Arlesheim, Suí-

ça; Wala Heilmittel, Eckwälden, Alemanha; Abnoba Heilmittel,

Pforzheim, Alemanha). No exercício da medicina antroposófi-

ca, de acordo com a indicação e necessidade, aos preparados

homeopáticos e fitoterápicos pode-se acrescentar os medica-

mentos convencionais. A organização europeia ESCAMP (Co-

operativa Científica Europeia de Produtos Médicos Antropo-

sóficos), que é independente e sem fins lucrativos, pesquisa

questões de avaliação de sistema da medicina antroposófica

com finalidades regulatórias.

APLICAÇÕES EXTERNAS

As aplicações externas – como fricções, compressas (Figura

3), hidroterapia, e banhos medicinais – são usados como ele-

mentos dos cuidados terapêuticos e de enfermagem para es-

timular, fortalecer, ou regular os processos higiogênicos. Com

esse propósito são utilizados óleos essenciais, ácidos graxos,

tinturas, unguentos e também o dióxido de carbono em ba-

nhos. De primordial importância é a massagem rítmica, que

será descrita a seguir.

ENFERMAGEM

Nos cuidados de enfermagem, a intenção é conhecer o pa-

ciente como um todo e percebê-lo em seus aspectos físico,

psicológico e espiritual. Uma relação de cuidado é estabe-

lecida com o objetivo de desenvolver um relacionamento

pessoal, de acompanhamento e de mediação. Em associa-

ção com dois hospitais antroposóficos alemães (Hospital

Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa

Figura 3. Compressas aplicadas pela enfermagem. Fonte: Jürg Buess, Hiscia, reproduzido com autorização.

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.

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Comunitário de Herdecke e Clínica Filder em Filderstadt,

Coluna 2), institutos oficialmente reconhecidos que pro-

movem cursos de três anos de duração sobre enfermagem

ampliada pela antroposofia. Além deles, várias outras ins-

tituições também oferecem oportunidade de treinamento.

ARTETERAPIA

A arteterapia antroposófica foi desenvolvida principal-

mente por Margareth Hauschka,35 e foi ela também que

fundou, em 1962, a primeira instituição de treinamento

nessa modalidade de terapia.

A terapia artística antroposófica emprega as seguintes

técnicas:

• Escultura: Pedra, pedra-sabão, madeira, argila, cera

de abelha, platicina e a areia são utilizadas como material

para esculpir.

• Pintura e desenhos terapêuticos: Os materiais usados

incluem tintas e pincéis, giz, giz de cera e papel.

• Musicoterapia: Os instrumentos utilizados incluem os

instrumentos de percussão como carrilhão, xilofone, cím-

balos, blocos ressonantes de madeira, tambores, timbales,

vários instrumentos de sopro como flauta, cromorno, cha-

ramela, trompete e trompa dos Alpes, instrumentos de cor-

da como chrotta (um violoncelo simplificado), violino, viola

e contrabaixo; e instrumentos de corda como harpa, lira, e

kantele. As melodias, os sons, e os ritmos são improvisa-

dos em conjunto com o terapeuta, ou simplesmente são

ouvidos. A escolha do instrumento depende das circuns-

tâncias individuais do paciente, de acordo com a gravidade

e o estádio da doença.

• Terapia antroposófica da fala: Envolve a articulação

da fala, as consoantes, as vogais, o ritmo dos textos, e os

hexâmetros. A respiração tem um papel especial no falar

(a fala é a expiração configurada). As indicações da tera-

pia antroposófica da fala não incluem apenas os distúrbios

da voz, mas também doenças clínicas gerais, doenças psi-

cossomáticas e psiquiátricas, além dos distúrbios de de-

senvolvimento e das dificuldades de aprendizagem.

A arteterapia é disponibilizada como uma terapia in-

dividual, ou como terapia individual em pequenos grupos,

ou como terapia de grupo. Os pacientes aprendem a tra-

balhar especificamente com um determinado meio (por

exemplo, escultura ou pintura). Antes da primeira sessão

de tratamento há uma sessão especial, para que se faça

a anamnese e o diagnóstico do ponto de vista da arte-

terapia. Usualmente, cada sessão de terapia subsequente

dura cinquenta minutos e tem uma frequência semanal.

A qualificação em arteterapia antroposófica requer uma

graduação universitária de quatro anos, e um período de

dois anos de experiência profissional sob a supervisão de

um mentor. Na Alemanha e na Holanda é possível fazer

essa formação como mestrado.

EURITMIA TERAPÊUTICA

A euritmia terapêutica (em grego, eurythmy significa “ritmo

harmonioso”; Figura. 4) é um exercício terapêutico que envol-

ve elementos cognitivos, emocionais e volitivos. Essa terapia é

provida por euritmistas terapêuticos em sessões individuais ou

em grupo nas quais os pacientes são instruídos a realizar mo-

vimentos específicos com as mãos, os pés, ou o corpo inteiro.

Os movimentos da euritmia terapêutica se relacionam com os

sons das vogais e das consoantes, com os intervalos musicais,

ou com os gestos anímicos (por exemplo, simpatia e antipatia).

Para cada paciente individual, é indicado apenas um, ou vários

movimentos, de acordo com a sua doença, a sua constituição,

e a observação do terapeuta sobre o padrão de movimentos do

paciente.27 Esta seleção é baseada num conjunto de princípios

que rege a prescrição de movimentos específicos para doenças,

tipos constitucionais e padrões de movimentos.37,38 Um ciclo

de terapia consiste de 12 a 15 sessões, cada uma durando ge-

ralmente entre 30 e 45 minutos; no intervalo das sessões, os

pacientes praticam os exercícios diariamente. A qualificação do

euritmista terapêutico requer cinco anos e meio de formação

de acordo com um curriculum padronizado internacionalmente.

Acredita-se que a euritmia terapêutica provê tanto efeitos gerais

(por exemplo, a melhora do padrão respiratório e da postura,

fortalecimento do tônus muscular, melhora da vitalidade físi-

ca)39 quanto efeitos específicos sobre as doenças.38

MASSAGEM RÍTMICA

A massagem rítmica foi desenvolvida a partir da massagem

sueca por Wegman, que era médica e fisioterapeuta. As técnicas

Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H

Figura 4. Euritmia terapêutica. Fonte: Associação Profissional de Eu-ritmia Terapêutica. Publicado com permissão.

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.

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tradicionais de massagem são ampliadas por movimentos de le-

vantamento, movimentos suaves de ondulação, e padrões com-

plexos de movimento como lemniscatas e técnicas especiais de

soltura das áreas mais profundas em direção à periferia. Além

do efeito na pele, tecido subcutâneo, e na musculatura, acredita-

-se que a massagem rítmica exerça efeitos gerais (aumento da vi-

talidade física, por exemplo) e efeitos específicos sobre a doença.

A massagem rítmica é praticada por fisioterapeutas que tenham

recebido de um ano e meio a três anos de treinamento adicional

em massagem rítmica, de acordo com um curriculum padronizado.

PSICOTERAPIA ANTROPOSÓFICA E ACONSELHAMENTO

A psicoterapia tem sido ampliada pela abordagem antroposófi-

ca. A formação completa está disponível em diferentes países, e

na Alemanha, na Holanda, na Itália e no Reino Unido é possível

fazer mestrado/bacharelado em psicoterapia antroposófica. O

aconselhamento em questões biográfico-existenciais, de estilo

de vida, nutricionais, sociais, mentais e espirituais é um elemen-

to central do cuidado médico antroposófico.

PESQUISA EM MEDICINA ANTROPOSÓFICA

Desde o seu desenvolvimento na década de 1920 e início da

década de 1930, a medicina antroposófica se associou a uma

extensa prática em pesquisa. Após a Segunda Guerra Mun-

dial, quando a medicina antroposófica foi reestabelecida na

Europa, o foco não foi a pesquisa, mas a fundação de consul-

tórios, clínicas e hospitais. Nos anos 1970 e 1980, a pesquisa

foi retomada, mas ainda sendo restringida pelo paradigma

dominante do estudo duplo cego randomizado, que é difícil

de implementar para os tratamentos não farmacológicos, o

aconselhamento e o sistema de tratamento como um todo.

Além disso, os pacientes e os médicos antroposóficos fre-

quentemente rejeitam a randomização e o cegamento por

causa da forte preferência da terapia e do foco na relação

médico-paciente e na abordagem altamente individualizada

do tratamento.40,41 Nos últimos trinta anos, as atividades de

pesquisa têm crescido de modo consistente, incluindo a pes-

quisa laboratorial, os estudos pré-clínicos, os estudos clínicos

e observacionais, a pesquisa epidemiológica, a avaliação de

segurança, a análise econômica, a avaliação da perspectiva

do paciente, as revisões sistemáticas, as meta-análises e os

relatos de avaliação de tecnologia de saúde (HTA, Health-Te-

chnology Assessment Report). Um trabalho intenso tem sido

realizado no campo da metodologia, com ênfase na avaliação

da terapia individualizada, incluindo a melhora sistemática

da avaliação dos relatos de caso.13 Foram estabelecidos cen-

tros de pesquisa em hospitais e em centros universitários an-

troposóficos. Atualmente, o foco da pesquisa está em duas

vertentes: por um lado, o sistema de tratamento antroposófi-

co da medicina antroposófica e, por outro, a abordagem indi-

vidualizada das terapêuticas personalizadas.

EFICÁCIA CLÍNICA E EFETIVIDADE

A revisão mais completa e ampla de eficácia clínica e da efe-

tividade dos tratamentos antroposóficos – um relato HTA e a

sua atualização13,42 identificou 265 estudos. Foram 38 estudos

randomizados com grupo controle, 36 estudos prospectivos e

49 estudos retrospectivos controlados não randomizados. Os

142 restantes foram observacionais, sem grupo comparativo.

Esses estudos investigaram um largo espectro de tratamen-

tos antroposóficos em uma ampla variedade de doenças: 38

avaliaram o sistema de tratamento da medicina antroposófica

como um todo, dez avaliaram terapêuticas não medicamen-

tosas, 133 foram sobre a atuação dos preparados de Viscum

album no tratamento de câncer, e 84 sobre outros tratamentos

medicamentosos antroposóficos. A qualidade metodológica

dos trabalhos foi muito variável, alguns apresentando grandes

limitações, prejudicando uma conclusão válida sobre eficácia

e efetividade, e outros foram relativamente bem conduzidos.

Dos 265 estudos, 253 (incluindo 32 dos 38 estudos rando-

mizados) mostraram um resultado positivo do tratamento an-

troposófico, com um resultado comparável ou melhor do que o

tratamento convencional ou uma melhora relevante da condição

clínica, frequentemente em doenças crônicas e após tratamen-

tos convencionais mal sucedidos. Doze estudos não mostraram

benefícios, e um mostrou uma tendência negativa. Em um des-

ses 12 estudos,43 o tratamento padrão – a instilação vesical do

Bacilo Calmette-Guerin no câncer superficial de bexiga – mos-

trou resultado superior.

Viscum album no câncer. O tratamento com Viscum album

para o câncer foi desenvolvido pela medicina antroposófica. É

um dos tratamentos complementares para o câncer mais pres-

critos na Europa Central44,45, e tem sido intensamente estuda-

do.46,47 O Viscum (Viscum album L., que não deve ser confundido

com o Phoradendron, o Viscum americano) é um arbusto que

cresce em diversas árvores hospedeiras. Os extratos são pre-

parados a partir de partes específicas da planta (por exemplo,

brotos de folhas frescas, bagas). Os preparados antroposóficos

do Viscum (Abnobaviscum, Helixor, Iscador [registrado como “Is-

car” nos Estados Unidos], e Iscucin) são disponíveis a partir de

diferentes árvores hospedeiras como o carvalho, a macieira e o

pinheiro. A colheita é padronizada, e os sumos da colheita do

inverno e do verão são misturados.

O extrato de Viscum (EV) contém uma variedade de compo-

nentes biologicamente ativos46,47 como lectinas, viscotoxinas, ou-

tras proteínas de baixo peso molecular, VisalbCBA (Viscum album

aglutinina ligadora de quitina), oligo e polissacarídes, flavonoides,

vesículas, ácidos triterpênicos50 e outros. O EV e vários dos seus

componentes são citotóxicos, e as lectinas especialmente exercem

fortes efeitos de indução de apoptose.51-53 Eles também exercem

um efeito em células cancerosas resistentes a múltiplas drogas54

e potencializam a citotoxicidade de drogas anticancerígenas.55,56

Nas células mononucleares, o EV tem propriedades estabilizado-

ras de DNA. O EV e seus componentes estimulam o sistema imu-

Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa

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nológico (ativação in vivo e in vitro dos monócitos/macrófagos,

granulócitos, células natural killer [NK], células T, células dendrí-

ticas) e induzem uma variedade de citocinas.46,47 A citoxicidade

das células NK também pode ser muito aumentada por um efeito

de ponte através das ramnogalactoranas (RG-I).57,58 Quando inje-

tados em um animal com tumor, o EV e vários dos seus compo-

nentes inibem e reduzem o crescimento tumoral.46,47 O EV in vivo

também aumenta as endorfinas.46,47

Os estudos clínicos sobre o uso de Viscum no câncer descrevem,

de modo consistente, principalmente efeitos positivos sobre a qua-

lidade de vida: melhora no coping (enfrentamento), sono, apetite,

energia, capacidade de trabalho, bem estar emocional e funcional,

assim como redução na fadiga, exaustão, náusea, vômitos, depres-

são e ansiedade. Os estudos também descrevem, mas de modo

menos consistente, redução na dor e na diarreia. Com relação à

sobrevida, os resultados, até recentemente, eram inconclusivos60,61

e a melhor evidência apareceu nos estudos epidemiológicos. Um

estudo grande, bem conduzido, randomizado e com grupo contro-

le foi concluído recentemente; ele Investigou o uso do Viscum em

pacientes com câncer pancreático avançado que não eram elegí-

veis para quimioterapia. A primeira análise intermediária com 220

pacientes encontrou um benefício estatisticamente significante na

sobrevida (objetivo primário), com uma sobrevida mediana de 4,8

meses nos pacientes tratados com Viscum comparado com 2,7 me-

ses nos pacientes controle. Também a qualidade de vida, analisada

como objetivo secundário, se mostrou superior em relação às esca-

las funcionais e os sintomas de fadiga, sono, dor, náusea, vômitos

e apetite. Como esperado, o peso corpóreo diminuiu nos pacientes

controle, mas aumentou nos pacientes tratados com Viscum.62

No tratamento subcutâneo usual com baixas doses de Vis-

cum, a remissão tumoral é vista raramente.60,61,63 No entanto,

efeitos remissivos têm sido descritos após a aplicação local e em

altas doses de EV em câncer de fígado,64 pâncreas,65 carcinoma

de células de Merkel,66 câncer de mama,66 linfoma cutâneo pri-

mário de células B,67carcinoma cutâneo de células escamosas68

e outros.46,61 Resposta inflamatória local e febre são frequente-

mente observadas no início do tratamento e então o tumor re-

gride nos meses subsequentes.

Os efeitos colaterais mais frequentes são reações cutâneas

dose-dependentes e sintomas semelhantes à gripe. Também

têm sido relatadas reações alérgicas. De modo geral, o trata-

mento com Viscum é considerado seguro.13,46,69

Avaliação do sistema. Os maiores estudos clínicos sobre

medicina antroposófica são duas avaliações sobre o sistema,

abrangendo juntas mais de 2.700 pacientes.

O estudo AMOS (Anthroposophic Medicine Outcomes Study,

Estudo sobre os Resultados da Medicina Antroposófica) é um

estudo observacional de coorte sobre pacientes alemães trata-

dos ambulatorialmente de doenças mentais, doenças musculo-

esqueléticas, respiratórias e outras condições crônicas.70 Parti-

ciparam desse estudo 151 médicos antroposóficos qualificados,

275 terapeutas e 1.631 pacientes com idade variando entre 1 e

75 anos. No início do estudo, os pacientes estavam, em média,

doentes havia três anos (mediana 6,5 anos). Após o tratamento

antroposófico (terapia artística, massagem rítmica, euritmia te-

rapêutica, aconselhamento provido pelo médico, medicamentos

antroposóficos) foi observada a melhora substancial e susten-

tada dos sintomas da doença e da qualidade de vida. Tanto os

adultos70 quanto as crianças71 apresentaram melhora em todos

os grupos de modalidade terapêutica72-76 e em todos os grupos

de diagnóstico que foram avaliados (transtornos de ansiedade,

asma, déficit de atenção/transtorno de hiperatividade, depres-

são, dor lombar, enxaqueca)77-83 e os efeitos persistiram após

quatro anos. A melhora na qualidade de vida foi, no mínimo, da

mesma ordem de magnitude da melhora após outros tratamen-

tos não antroposóficos.84 Análises de sensibilidade (supressão

combinada de viés) mostraram que, no máximo, 37% da me-

lhora poderia ser explicada por melhora espontânea, regressão

à média, terapias adjuvantes e viés de não resposta.85 Em um

estudo comparativo prospectivo não randomizado aninhado (hí-

brido) os pacientes do AMOS com dor lombar mostraram melho-

ra comparável ou maior que os pacientes que receberam trata-

mento convencional.81 O estudo The International Primary Care

Outcomes Study on Anthroposophic Medicine (Estudo Interna-

cional de Desfecho em Atenção Primária na Medicina Antropo-

sófica) foi conduzido em quatro países da Europa e nos Estados

Unidos e comparou pacientes de atenção primária que eram

tratados por médicos antroposóficos ou convencionais para

infecções respiratórias agudas e otite. Quando comparado ao

tratamento convencional, o tratamento antroposófico foi muito

menos associado ao uso de antibióticos e antipiréticos, assim

como a uma recuperação mais rápida, menos efeitos adversos e

maior satisfação com a terapia. Essas diferenças permaneceram

mesmo após o ajuste para país, idade, gênero e quatro marca-

dores basais de gravidade. Apenas 3% dos pacientes antroposó-

ficos teriam concordado com uma randomização.40

Um projeto complexo sobre os cuidados de saúde antropo-

sóficos para câncer avançado, patrocinado pela Fundação Nacio-

nal Suíça de Ciências, demonstrou a dificuldade para se recrutar

pacientes para estudos randomizados sobre comparação de sis-

temas de tratamento, mesmo em uma população atendida em

hospital universitário. Embora a medicina antroposófica estivesse

bem integrada no ambiente do hospital universitário e a aderên-

cia à terapêutica antroposófica fosse boa, o componente de ran-

domização do projeto por fim teve que ser abandonado. Mesmo

assim, a parte observacional do estudo mostrou que o tratamen-

to antroposófico obteve melhora nas dimensões física, psíquica,

cognitiva-espiritual e social da qualidade de vida, e os pacientes

consideraram que houve efeito benéfico na sua recuperação física

e no seu bem estar, qualidade de vida emocional e cognitivo-es-

piritual e qualidade de relações humanas e cuidados, enquanto a

terapia convencional foi percebida como benéfica principalmente

pelo efeito no tumor com alívio dos sintomas e da dor.86-89

Uma comparação entre os sistemas de atenção médica da

medicina antroposófica e da medicina convencional foi reali-

zado pela Universidade de Uppsala, na Suécia. Como não foi

Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H

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possível financiar a randomização com os recursos públicos, foi

implementado um estudo prospectivo por pareamento. Antes do

tratamento, a qualidade de vida estava mais comprometida nos

pacientes antroposóficos. Durante e após o tratamento antropo-

sófico, a qualidade de vida melhorou, enquanto o grupo controle

tratado com medicina convencional não mostrou alteração.90,91

Outro estudo observacional investigou pacientes com condi-

ções reumáticas inflamatórias crônicas que receberam tratamen-

to antroposófico por um período de 12 meses. Foi observada uma

redução importante na atividade inflamatória local e sistêmica,

alívio dos sintomas da doença, e melhora na capacidade funcional

, inclusive na dimensão psicossocial. A satisfação dos pacientes foi

alta e a terapia convencional pode ser evitada ou reduzida.92 Este

estudo deu origem a um grande estudo comparativo sobre efeti-

vidade do tratamento antroposófico e convencional em pacientes

com artrite reumatoide, patrocinado pelo Ministério da Educação

e Pesquisa da Alemanha, concluído, mas ainda não publicado.

Outro estudo investigou a dor facial crônica (principalmente a

neuralgia do trigêmeo, presente por mais de dez anos em metade

dos pacientes) que havia sido tratada de modo convencional sem

sucesso. Após o tratamento antroposófico, houve melhora clínica

(um quinto dos pacientes ficou livre da dor e quase dois terços

obtiveram uma melhora evidente) e os agentes terapêuticos con-

vencionais foram reduzidos.93

Um estudo retrospectivo sobre anorexia nervosa mostrou

uma taxa de cura favorável após um tratamento antroposófico

com internação.94

Estudos clínicos com intervenção única ou com número

determinado de intervenções. Vários estudos têm investigado

monoterapias ou terapias com um número fixo de intervenções,

por exemplo, o tratamento com Viscum album para câncer (veja

acima) e para hepatite,95-97, óleo-gel de bétula na queratose actí-

nica,98,99 fricção rítmica (com óleo Solum) na dor crônica,100 Hepar

Magnesium nos sintomas sazonais de fadiga,101 Arnica/Echinacea

no cuidado do cordão umbilical do recém-nascido,102-103 euritmia

terapêutica no déficit de atenção e transtorno de hiperatividade,104

enemas na temperatura corpórea para crianças febris,105 Viscum

combinado com Articulatio coxae ou genus D30 na osteoartrite

de quadril ou joelho,106 Gelsemium comp. na dor muscular occipi-

tal aguda,103 e muitos outros. A maioria desses estudos mostrou

resultados positivos, exceto um sobre enxaqueca,108 um sobre cui-

dado da ferida pós-operatória109 e um sobre queratose actínica.99

Quatro estudos recentes controlados e randomizados – sobre

Disci/Rhus toxicodendron comp. para dor lombar crônica;110 sobre

Articulatio genus D5 na osteoartrite do joelho;111 sobre creme de

calêndula para o cuidado da pele durante a radioterapia;112 e sobre

Ovaria comp. para os sintomas da menopausa113 não mostraram

benefício quando comparados com o tratamento placebo.

A perspectiva do paciente. Em geral, a satisfação do paciente foi

alta e as expectativas terapêuticas foram cumpridas.13,42,114 Por exem-

plo, na pesquisa holandesa que foi completada recentemente (Índi-

ce de Qualidade do Consumidor, um padrão nacional de medida de

qualidade dos serviços de saúde a partir da perspectiva do usuário),

2.099 pacientes declararam estar altamente satisfeitos com o atendi-

mento primário das práticas antroposóficas (8,4 e 8,3 em uma escala

de 0 a 10, sendo 10 o melhor escore).115

SegurançaVários estudos avaliaram especificamente a segurança dos trata-

mentos antroposóficos.13,69, 72-74, 116-119 De modo geral, a tolerabilidade

foi boa. As reações adversas são infrequentes e, quando aconte-

cem, a maioria tem gravidade leve ou moderada. Os três tipos de

reações adversas aos medicamentos antroposóficos mais frequen-

temente descritos foram: reação local após aplicação tópica, hi-

persensibilidade sistêmica que, de modo muito raro, incluiu casos

de reação anafilática, e agravamento de sintomas pré-existentes

em pacientes sensíveis. Em uma análise detalhada de segurança

do estudo AMOS, a incidência de reações adversas confirmadas

aos medicamentos antroposóficos foi de 3% dos usuários e de

2% dos medicamentos utilizados.116 Reações adversas à euritmia

terapêutica, terapia artística e massagem rítmica foram relatadas

respectivamente em 3%, 1%, e 5% dos pacientes, 72-74 mas não

houve nenhuma reação adversa séria.116 Do ponto de vista teó-

rico, o fato de evitar um tratamento convencional necessário em

um ambiente de assistência médica antroposófica poderia apre-

sentar um risco, mas nenhuma evidência disso foi encontrada.13,42

Os estudos comparativos encontraram taxas de efeitos colaterais

similares81 ou menores40,114,120 nos tratamentos antroposóficos em

relação aos tratamentos convencionais.

CustosVárias análises econômicas avaliaram os custos da medicina antro-

posófica. Elas apontaram para uma estrutura de custos favorável e

encontraram redução de custos parcialmente devido ao menor preço

dos medicamentos, a um menor número de encaminhamentos para

especialistas e a um número menor de internações e de tempo de in-

ternação. Isso não pode ser explicado apenas por uma carga reduzi-

da da doença – ao contrário, a maioria dos estudos mostra que os

pacientes tratados de maneira antroposófica, estão mais gravemente

afetados ou estão doentes por um período maior de tempo antes de

começar o tratamento.13,121-125

Relatos de casoMetodologia para relato de caso tem sido desenvolvida para forne-

cer informação validada e transparente a partir da particularidade

do cuidar que tem o seu foco na assistência individualizada.126-130

Os relatos de caso descrevem, de modo detalhado, a abordagem

do tratamento antroposófico específico (como exemplo, ver as refe-

rências 27, 67, 68, 131 e 132). Métodos para avaliação sistemática e

crítica ainda têm que ser desenvolvidos.

CONCLUSÃO

A medicina antroposófica é um exemplo de um sistema multi-

modal de tratamento – baseado em um paradigma holístico do

organismo, da doença e do tratamento – que pode ser comple-

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tamente integrada à medicina convencional na prática médica e

hospitalar. Uma grande ênfase é colocada na assistência médica

individualizada. Para se avaliar esse sistema de saúde, tem-se

aplicado uma estratégia de avaliação integrativa, que inclui não

só uma abordagem do sistema, mas também o estudo de com-

ponentes isolados do tratamento, com relação à eficácia, efeti-

vidade, segurança e custos, assim como métodos qualitativos e

relatos de caso de alta qualidade sobre o tratamento individual.

Declaração de conflito de interesses

Os autores preencheram o formulário de divulgação ICMJE

(International Committee of Medical Journal Editors) para po-

tencial conflito de interesse e declaram que não há nenhum

conflito de interesse relacionado a esse trabalho.

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Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.

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18

ICooperativa Científica Europeia sobre

Produtos Medicinais Antroposóficos

(ESCAMP: European Scientific Cooperative

on Anthroposophic Medicinal Products),

Freiburg (Alemanha); Instituto Louis Bolk,

Driebergen (Holanda); Universidade de

Ciências Aplicadas, Leiden (Holanda).IICooperativa Científica Europeia sobre

Produtos Medicinais Antroposóficos

(ESCAMP: European Scientific Cooperative

on Anthroposophic Medicinal Products),

Freiburg (Alemanha); Instituto de

Epistemologia Aplicada e Metodologia

Médica, Universidade de Witten/Herdecke,

Freiburg (Alemanha).

Endereço para correspondência:

Erik Baars: University of Applied Sciences

Leiden, Zernikedreef 11, 2333 CK Leiden,

Netherlands.

Traduzido por Nilo E. Gardin do original

em: Evidence-Based Complementary

and Alternative Medicine, vol. 2017,

Article ID 4904930, 13 pages, 2017.

doi:10.1155/2017/4904930. Publicado com

autorização dos autores e da revista.

Palavras-chave: Sistemas médicos

complexos; medicina complementar e

alternativa; medicina integrativa; holismo.

Key words: Whole medical systems;

complementary and alternative medicine;

integrative medicine; holism.

Sistemas médicos complexos versus sistema convencional de biomedicina: Uma revisão crítica e narrativa de semelhanças, diferenças e fatores que

promovem o processo de integração

Whole medical systems versus the system of conventional biomedicine: A critical, narrative review of similarities, differences, and factors that promote the integration process

Erik W. Baars,I Harald J. HamreII

RESUMOAntecedentes: Há uma necessidade crescente de integração profissional global da me-

dicina convencional e os sistemas médicos complexos (SMC) tradicionais/complemen-

tares. No entanto, a integração é percebida pela medicina convencional como proble-

mática ou inaceitável, devido a uma suposta falta de evidência de efeitos específicos

das terapias dos SMC e supostos paradigmas pré-científicos ou não científicos dos SMC.

Objetivos: Revisar a literatura sobre as características dos SMC, suas semelhanças e di-

ferenças com a medicina convencional, e questões científicas e de prática clínica que

devem ser tratadas para promover o processo de integração. Métodos: Uma revisão

crítica e narrativa da literatura em seis SMC. Resultados e conclusões: Os fatores-chave

para a integração dos SMC e da medicina convencional são os seguintes: estruturas

legais, padrões de qualidade, pesquisa de alta qualidade sobre segurança e eficácia das

intervenções dos SMC, infraestrutura e recursos financeiros. Para a avaliação científica

dos SMC, há questões ontológicas, epistemológicas e metodológicas não resolvidas e

questões de diagnóstico, administração da terapia e avaliação de resultados na prática

clínica. Pesquisas futuras não só devem ser direcionadas para a garantia de qualidade

e para gerar os dados necessários sobre segurança e eficácia/efetividade, mas também

devem abordar questões mais fundamentais (ontológicas, epistemológicas e metodoló-

gicas), a fim de superar as diferenças entre os SMC e a medicina convencional.

ABSTRACTBackground: There is an increasing need for a worldwide professional integration

of conventional medicine and traditional/complementary whole medical systems

(WMSs). However, the integration is perceived by conventional medicine as problem-

atic or unacceptable, because of a supposed lack of evidence for specific effects of

WMSs therapies and supposed prescientific or unscientific paradigms of WMSs. Ob-

jectives: To review the literature on the features of WMSs, similarities and differences

between conventional medicine and WMSs, and scientific and clinical practice issues

that should be dealt with in order to promote the integration process. Methods: A

critical, narrative review of the literature on six WMSs. Results and conclusions: Key

factors for the integration of WMSs and conventional medicine are as follows: legal

frameworks, quality standards, high quality research on safety and efficacy of WMS

interventions, infrastructure, and financial resources. For scientific assessment of

WMSs, there are unresolved ontological, epistemological, and methodological issues

and issues of diagnostics, therapy delivery, and outcome assessment in clinical prac-

tice. Future research not only should be directed at quality assurance and generating

the necessary data on safety and efficacy/effectiveness but also should address more

fundamental (ontological, epistemological, and methodological) issues, in order to

overcome the differences between WMSs and conventional medicine.

Artigo de revisão | Review

Arte Médica Ampliada Arte Médica Ampliada Vol. 38 | N. 1 | Janeiro / Fevereiro/ Março de 2018

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.

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19

1. INTRODUÇÃO

“A medicina é uma ciência e prática de intervenção, manipu-

lação e controle preocupada em curar pessoas doentes, cuidar

de pessoas doentes, prevenir doenças e promover a saúde”.1 Ao

longo da história humana, diferentes culturas em todas as par-

tes do mundo tiveram seu próprio tipo de medicina. Nos países

e culturas ocidentais, a medicina convencional biomédica foi

desenvolvida e enraizada nas ciências naturais que se desenvol-

veram desde a Idade Média.2 Em muitas culturas não ocidentais,

mas também em culturas ocidentais, foram desenvolvidos vários

tipos de sistemas médicos complexos (SMC),3 isto é, sistemas

completos de teoria e prática que evoluíram de forma indepen-

dente ao longo do tempo em diferentes culturas e separados da

medicina convencional (ou medicina ocidental).3

Atualmente, os SMC, muitas vezes referidos como medicina

tradicional e complementar (MTC) ou medicina (tradicional e)

complementar e alternativa (MTCA/MCA), e a medicina conven-

cional são encontrados em quase todos os países do mundo. Os

SMC estão em crescente demanda por pacientes e também são

estudados em universidades (por exemplo, o Consórcio Acadê-

mico para Medicina Integrativa e Saúde nos EUA – Academic

Consortium for Integrative Medicine & Health). De acordo com

a Estratégia de Medicina Tradicional: 2014-2023 da Organização

Mundial da Saúde (OMS),4

O público e os consumidores de cuidados de saúde em todo o

mundo continuam a incluir MTC em suas escolhas de saúde.

Isto obriga os Estados-membros a apoiá-los a tomarem de-

cisões informadas sobre as suas opções. [...] À medida que a

aceitação da MTC aumenta, há uma necessidade de sua inte-

gração mais próxima nos sistemas de saúde. Os decisores po-

líticos e os consumidores devem considerar como a MTC pode

melhorar a experiência do paciente e a saúde da população.

Um argumento central a favor da integração da MTC na

medicina convencional é que a MTC possui conhecimentos e in-

tervenções adicionais sobre promoção preventiva e curativa da

saúde.5 A integração pode, portanto, contribuir para questões

atuais em saúde pública e cuidados de saúde, tais como desen-

volvimento de estratégias de envelhecimento saudável, promo-

ção de autogestão e controle de gastos com saúde.6,7

Exemplos positivos que demonstram e apoiam a estratégia

da OMS de integrar o melhor dos dois mundos (MTC e medicina

convencional) são a integração do sistema AYUSH (ayurveda,

yoga, naturopatia, unani, siddha e homeopatia) no sistema con-

vencional na Índia,8 o uso crescente de técnicas de atenção ple-

na (mindfulness) no tratamento de transtornos depressivos9 e o

uso de sistemas medicinais tradicionais na redução da prescri-

ção de antibióticos na Tailândia como uma das estratégias para

combater o problema de resistência antimicrobiana global.10

Esta posição da OMS na integração da MTC com a medicina

convencional está em contraste com os desenvolvimentos em

muitos países ocidentais. Enquanto muitos sistemas médicos

tradicionais foram tolerados na prática clínica, próximos ou inte-

grados com a medicina convencional em muitos países ociden-

tais até o final do século XX, esta situação mudou rapidamente,

como resultado de dois desenvolvimentos inter-relacionados em

relação à medicina baseada na ciência.

O primeiro desenvolvimento é o crescente domínio da medi-

cina baseada em evidências (MBE) na medicina desde a década

de 1990.11 Como resultado, idealmente, apenas as terapias com

evidências científicas de alta qualidade (de revisões sistemáticas

e metanálises de ensaios clínicos randomizados e controlados)

em termos de segurança e efeitos (custo) são aceitas em medici-

na.12 E, embora na prática, muitas diretrizes médicas convencio-

nais sejam, em grande parte, baseadas em evidências científicas

de menor qualidade (incluindo conhecimentos clínicos), para os

oponentes da integração da MTC com a medicina convencional, a

falta de evidências científicas de alta qualidade é frequentemente

usada como argumento contra a integração.

O segundo desenvolvimento tem a ver com as raízes da

ciência no desenvolvimento teórico e nos ensaios teóricos.13 Nas

últimas décadas, o domínio do modelo biomédico na medicina

levou à crítica científica da MTC devido à sua base teórica que é

percebida como não estando de acordo com as teorias biomé-

dicas, mas com base em paradigmas considerados como pré-

-científicos ou não científicos. Além disso, alega-se que não há

evidência de efeitos específicos dos produtos medicinais da MCA

para indicações convencionais testadas em estudos clínicos de

acordo com o paradigma da MBE.14,15 E, embora na ciência atual-

mente o modelo reducionista seja cada vez mais desafiado e os

modelos teóricos dos SMC parecem estar em conformidade com

as abordagens de sistemas em ciência e medicina, os oponentes

da integração da MTC com a medicina convencional usam os

supostos modelos teóricos pré-científicos ou não científicos dos

SMC muitas vezes como um argumento contra a integração.

Por outro lado, há exemplos positivos de integração, como

o uso integrado de ayurveda e medicina convencional no tra-

tamento da elefantíase na Índia, que resultou em um prêmio

da Sociedade Internacional de Dermatologistas para o professor

de dermatologia de Oxford Terence Ryan; o tratamento integra-

do altamente bem sucedido da depressão com yoga e medicina

convencional no Instituto Nacional de Saúde Mental e Neuroci-

ências em Bangalore na Índia; e o uso amplamente adotado de

yoga na geriatria no Japão.

Dada a necessidade atual de algum tipo de integração da me-

dicina convencional e MTC em países de todo o mundo, a grande

quantidade de publicações científicas e o debate científico em

curso sobre esse tema entre proponentes e oponentes, decidimos

fazer uma revisão crítica na literatura. Nosso objetivo é fornecer

uma visão geral transparente sobre semelhanças e diferenças en-

tre SMC e o sistema médico convencional e, com base nesta visão

geral, identificar questões que devem ser tratadas para superar

as diferenças. Espera-se que esta visão geral apoie a tomada de

decisões informadas no processo de integração.

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.

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20

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Questões da pesquisa

Uma revisão crítica e narrativa da literatura foi realizada nas se-

guintes questões de pesquisa:

(I) Para descrever o domínio dos SMC, quais são os aspectos históri-

cos, clínicos, ontológicos, epistemológicos e metodológicos dos SMC?

(II) Para esclarecer se uma abordagem uniforme ou abordagens

diversas para a sua integração são mais apropriadas, quais são

as principais semelhanças e diferenças entre os diferentes SMC?

(III) Para esclarecer a possibilidade de generalização das experi-

ências da integração de terapias de MCA não SMC com a medi-

cina convencional, quais são as principais diferenças entre SMC

e outras terapias de ‘componente único’ ou MCA não SMC?

(IV) Para demonstrar as áreas e problemas comuns a superar no

processo de integração, quais são as semelhanças e diferenças

entre os SMC e a medicina convencional?

(V) Quais são as consequências para os testes de eficácia de

produtos medicinais dos SMC para a regulação desses produtos?

(VI) Para facilitar o processo de integração, quais aspectos preci-

sam de atenção para promover a integração do sistema médico

convencional e os SMC?

2.2 Escopo da revisão, bases de dados e termos da pesquisa

Para abordar as seis questões da pesquisa, incluímos os seguintes

seis SMC: medicina tradicional chinesa (MTCh),16,17 ayurveda,18,19

medicina unani,20 homeopatia,21 naturopatia22 e a medicina antro-

posófica.23,24 Uma discussão de ‘todos’ os SMC do mundo estava

além do escopo deste artigo; a seleção inclui SMC estabelecidos

em quatro grandes populações/culturas (China, subcontinente in-

diano, países árabes/muçulmanos e culturas ocidentais).

Está além do escopo deste artigo uma revisão abrangente

das discussões sobre os tópicos de (suposta) falta de evidência

dos efeitos específicos dos tratamentos dos SMC e a (suposta)

falta de teorias testadas dos SMC. No entanto, esses tópicos são

brevemente discutidos.

Pesquisamos no banco de dados PubMed, Google Scholar e

nossos próprios arquivos de literatura. As combinações dos ter-

mos de pesquisa usadas foram: whole medical systems (siste-

mas médicos complexos), tradicional Chinese medicine (MTCh),

ayurveda, unani, homeopathy (homeopatia), naturopathy (na-

turopatia), ou anthroposophic medicine (medicina antroposó-

fica) em combinação com features (características), philosophy

(filosofia), methodology (metodologia), ou ontology (ontologia).

3. RESULTADOS

3.1 Visão geral e desenvolvimento histórico dos sistemas médicos complexos

Uma visão condensada dos SMC incluídos nesta revisão é apresen-

tada na Tabela 1. Desses seis SMC, três (MTCh, ayurveda e una-

ni) são baseados em tradições antigas (primeiros textos clássicos

no primeiro milênio a.C., precedidos pelas transmissões orais do

segundo milênio a.C.), cada um de uma cultura específica: MTCh

desenvolvida na China em conexão com as tradições filosóficas do

taoísmo (Lao Tzu ou Lao Tsé, 605-531 a.C.) e o confucionismo (Con-

fúcio, 551-479 a.C.), com textos clássicos da MTCh escritos no perí-

odo de 221-207 a.C.25,26 Ayurveda desenvolveu-se no subcontinente

indiano em relação ao hinduísmo; os textos clássicos de ayurveda

são variadamente datados de 700-200 a.C.27,28 Unani tem raízes

na medicina grega (Hipócrates, 460-370 a.C.; Dioscorides, 40-90;

Galeno, 130-210); um texto clássico seminal da medicina medie-

val convencional e ainda usado em unani é o Cânone da medicina

(1025) de Ibn Sina (Avicena, 980-1037).29 Esses três SMC existiram

em suas respectivas culturas há milênios antes do desenvolvimento

da medicina convencional baseada na ciência natural.3,16,17,19,21-23,30

Os três outros SMC (homeopatia, naturopatia e medicina

antroposófica) são comparativamente mais jovens (<250 anos),

embora traços de influências das tradições antigas possam ser

encontrados.31-33 As publicações seminais apareceram para home-

opatia em 1796,34 para naturopatia em 1848,35 e para a medicina

antroposófica em 1925.36 Estes três SMC foram primeiro pratica-

dos na Europa Central por médicos e a seguir se desenvolveram

próximos à medicina convencional dentro das culturas ocidentais.

No decorrer da globalização, os seis SMC tornaram-se dis-

seminados desde sua cultura original para outros países e regi-

ões, às vezes com o estabelecimento de ‘segundos centros’, como

a naturopatia na América do Norte37 e homeopatia na Índia.38

Atualmente, em quase todos os países do mundo, um ou mais

tipos de SMC são praticados.4

3.2 Semelhanças e diferenças

3.2.1 Semelhanças e diferenças entre os SMC

Algumas das principais semelhanças entre os SMC são as seguintes:

(I) Têm orientação holística, ontológica não atomística, episte-

mológica e prática.

(II) Visam promover a saúde preventiva e curativa.

(III) Têm tratamento individualizado baseado em uma aborda-

gem de sistema.

(IV) Uso medicinal de um grande número de substâncias e pro-

dutos medicinais diferentes, principalmente de plantas, mas

também de origem mineral e animal (por exemplo, 700 espécies

de plantas medicinais em MTCh,39 mais de mil substâncias em

homeopatia,40 mais de 4.000 espécies de plantas medicinais na

ayurveda, e mais de 800 substâncias na medicina antroposófica.41

(V) Modalidades de tratamento não medicamentoso, incluindo

massagem, exercícios físicos, hidroterapia, termoterapia e dieta

(embora cada modalidade possa ser aplicada de forma diferen-

te – ver Tabela 1).

Algumas das principais diferenças entre os SMC são as se-

guintes:

(I) Uso de diferentes linguagens, incluindo diferentes conceitos

de níveis de totalidade.

(II) Diferentes sistemas de diagnóstico.

SMC versus sistema convencional de biomedicina: Uma revisão crítica e narrativa de semelhanças, diferenças e fatores que promovem o processo de integração

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.

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21

(III) Diferentes modalidades terapêuticas específicas, por exem-

plo, acupuntura na MTCh e terapias artísticas na medicina an-

troposófica.

A homeopatia tem dois aspectos particulares:

(I) No desenvolvimento da homeopatia, tem havido um forte ele-

mento de empirismo puro e relativamente menos ênfase na teoria.

(II) O diagnóstico e o tratamento homeopáticos são geralmente

limitados à tomada de caso e à prescrição de produtos medici-

nais homeopáticos.42 Todos os produtos medicinais homeopáti-

cos são fabricados de acordo com procedimentos homeopáticos

específicos, como a dinamização, isto é, diluição sucessiva, cada

passo de diluição envolvendo uma sucussão rítmica (agitação

repetida de líquidos) ou trituração (moagem de sólidos em

lactose monoidratada). Em contraste, o tratamento nos outros

cinco SMC é multimodal em grande medida (Tabela 1).

Um aspecto particular da naturopatia é o uso generaliza-

do de modalidades terapêuticas de outros SMC (por exemplo,

plantas chinesas e produtos medicinais homeopáticos) ou de

MCA não SMC (por exemplo, suplementos alimentares).43 Em

contraste, os outros SMC têm um elemento mais forte de uni-

formidade, seja em sua teoria (MTCh, ayurveda, unani e medici-

na antroposófica), seja no uso de um tipo específico de produto

medicinal (homeopatia).

MTCh e ayurveda têm longas tradições de transmissão prin-

cipalmente oral do conhecimento e experiência, antes dos textos

clássicos.16,26

Aspectos particulares da medicina antroposófica incluem o

amplo espectro de terapias artísticas desenvolvidas (pintura, mo-

delagem de argila, desenho, recitação e exercícios de música) e o

uso de tratamentos antroposóficos também em grandes hospitais

que oferecem serviços de emergência dentro dos planos públi-

cos de exigência.23 Os produtos medicinais usados na medicina

antroposófica podem ser fabricados de acordo com métodos an-

troposóficos específicos ou métodos usados para produtos medi-

cinais fitoterápicos, homeopáticos ou convencionais.41

3.2.2 SMC versus outras terapias da MCA de componente único ou não SMC

As maiores diferenças entre SMC e intervenções da MCA de um

único componente são:

(I) Algumas intervenções de MCA de componente único (ou de

Baars EW, Hamre HJ

Tabela 1. Visão geral dos seis sistemas médicos complexos.

SMC MTCh Ayurveda Unani Homeopatia Naturopatia Medicina antroposófica

Textos clássicos 221-207 a.C.Variadamente datados entre 700-200 a.C.

Avicena, 1025 Hahnemann, 1796 Gleich, 1848 Steiner e Wegman, 1925

Onde é usada (principais regiões)

Leste asiático Sul asiático Sul asiático, Oriente Médio Europa, Índia Europa, países de

língua inglesaEuropa, América

do Sul

Conceitos chave

2 forças (yin, yang), energia

vital (Qi), 5 elementos, meridianos

3 energias ou doshas (pitta,

vaka, kapha), 5 elementos

7 conceitos natu-rais (elementos, temperamentos, humores, órgãos,

forças, ações, espírito)

Semelhante cura semelhante, dose

mínima, experimentos em pessoas saudáveis

Poder curativo da natureza, trata a causa da doença, não causar

dano, médico como um professor, trata a

pessoa como um todo, prevenção

4 níveis de forças formativas (física,

vital, anímica, espi-ritual), constituição trimembrada (neu-rossensorial, rítmico, metabólico-motor)

Produtos medicinais e substâncias

Plantas, mine-rais, animais

Plantas, mine-rais, animais

Plantas, óleos, perfumes Homeopáticos*

Plantas, homeopáti-cos*, chineses, suple-mentos alimentares

Homeopáticos*, plantas, minerais, animais, quimica-mente definidos

Massagem Tuiná, shiatsu Massagem ayurveda Massagem tadlik Massagem sueca Massagem rítmica

Fisioterapia   Hidroterapia Hidroterapia, termoterapia  

Hidroterapia, termo-terapia, manipulação

articular

Hidroterapia, termo-terapia, aplicações

externas

Outros trata-mentos não medicamentosos

Acupuntura, moxabustão

Purgação, aconselha-

mento sobre estilo de vida

Purgação, vento-sa, sanguessugas

Tomada de caso, aconselhamento sobre

estilo de vida

Acupuntura, aconse-lhamento sobre estilo

de vida

Terapia artística (música, fala,

pintura, desenho, argila), biografia

e aconselhamento sobre estilo de vida

Exercícios físicos Qigong, Tai--Chi Respiração Sim Sim Sim Movimentos de

euritmia

Outros autotra-tamentos   Helioterapia,

MeditaçãoRecitar texto

sagrado Redução de estresse Helioterapia, técnicas de relaxamento Meditação

Dieta Sim Sim Sim Sim Sim Sim

MTCh: medicina tradicional chinesa; SMC: sistemas médicos complexos.

*Os produtos medicinais homeopáticos podem ser de origem vegetal, mineral ou animal ou definidos quimicamente, e são definidos por procedimentos específi-cos de fabricação homeopática (ver texto).

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.

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22

combinação fixa) podem ser conceituadas dentro do paradigma

biomédico convencional: por exemplo, várias vitaminas são usa-

das como terapia de MCA, enquanto seus efeitos farmacológicos

são conceituados nos níveis de biologia celular ou bioquímica. Em

contraste, as intervenções de SMC não são tão facilmente com-

preendidas nesses níveis (embora a diferença não seja absoluta).5

(II) Intervenções de MCA de componente único podem ser pro-

tocoladas para indicações específicas convencionais ou da MCA,

enquanto isso não é o caso das intervenções dos SMC.

(III) O tratamento individual e multimodal da MCA implica na

combinação de várias modalidades de tratamento adaptadas

às necessidades do paciente individual. Quando isso acontece

dentro de um SMC, todas as modalidades de tratamento são

compreendidas dentro e derivadas de uma estrutura conceitual,

levando a uma abordagem de tratamento uniforme. Quando se

combinam diversas intervenções de MCA de componente único,

uma compreensão conceitual uniforme muitas vezes não é pos-

sível, levando ao ecletismo.

3.2.3. Semelhanças e diferenças entre SMC e o sistema de biomedicina convencional

As principais semelhanças entre SMC e alguns desenvolvimen-

tos em medicina convencional são:

(I) O desenvolvimento de uma medicina personalizada/abor-

dagem de individualização, além da abordagem convencional

protocolada.44,45

(II) O uso e o papel do julgamento profissional em alguns domínios

da prática clínica (por exemplo, interpretação de radiografias).45,46

(III) O uso crescente de intervenções complexas.47-49

(IV) Abordagens do sistema em diagnósticos e terapia (por

exemplo, biologia de sistemas, epigenética, emergentismo, me-

tabolômica, ‘medicina de rede’, ‘polifarmacologia’ e ‘tratamento

polialvo’).5,50-52

(V) Participação compartilhada na tomada de decisões.45,53

(VI) Um conceito holístico dinâmico de saúde.5,54

(VII) O uso de metodologias de reconhecimento de padrões.55,56

(VIII) A noção de que os estudos randomizados e controlados

não são aplicáveis em toda parte57,58 com uma mudança para

testes mais pragmáticos45,48,58,59 e outros tipos de estudo.48,60

(IX) A noção de que a realização de estudos clínicos para múlti-

plas condições clínicas e suas respectivas diversas opções tera-

pêuticas tem suas limitações, devido à excessiva complexidade

e custos proibitivos.

(X) O papel crescente das preferências do paciente e da autono-

mia do paciente.

(XI) A situação do mundo real que, em muitos campos médicos

(por exemplo, cirurgia pediátrica, medicina de emergência e vaci-

nação), a prática baseada em estudos randomizados e controla-

dos é apenas marginal e muitas vezes questionada criticamente.

As principais diferenças entre os SMC e o sistema médico

convencional estão resumidas na Tabela 2.61

3.3. Integração dos SMC e o sistema de medicina convencional

A integração dos SMC e com a medicina convencional implica

em alguns fatores-chave e fatores interdependentes:

(I) Legislação: provedores de terapia e SMC.

(II) Educação: profissionais dos dois sistemas médicos integran-

tes que têm que trabalhar juntos por um período de anos para de-

senvolver experiência e confiança no trabalho efetivo em equipe.

(III) Padrões de qualidade para tratamento de SMC: treinamento

de provedores, administração do tratamento e qualidade farma-

cêutica de produtos medicinais.

Tabela 2. Diferenças entre medicina convencional e sistemas médicos complexos (SMC).

  Medicina convencional SMC

Cosmovisão/filosofia Modelo biomédico, humanista Modelo holista/espiritual/bio-psico-espiritual-social

Saúde Situação padrão da máquina

Resultado da atividade interna autorreguladora (por exemplo, do organismo ou psicossocial)

Restaurar integridade/equilíbrio

(Re)estabelecimento da harmonia entre as funções do corpo, alma e espírito

Doença

Quebra da máquina Expressão do desequilíbrio do sistema e/ou insuficiência das forças de criação da totalidade

Desvio de normas biológicas Desequilíbrio entre forças biológicas, psicológicas, sociais e espirituais

Não há significado intrínseco Vincula um potencial para o desenvolvimento humano

Diagnóstico Nível de grupo (muitas vezes, mas nem sempre)Nível individual

Nível de sistema

Tratamento

Diretrizes/protocolos orientados para o grupo (muitas vezes) Intervenções individualizadas complexas

Luta contra a doença Promoção de saúde

Requer recursos externos Requer recursos internos /corpo, mente, espírito estão inter--relacionados e todos devem ser considerados na cura

Uso de farmacoterapia com efeitos predominantemente específicos e alto uso de tecnologia

Uso de farmacoterapia dos SMC e terapias não medicamento-sas com efeitos de sistema

SMC versus sistema convencional de biomedicina: Uma revisão crítica e narrativa de semelhanças, diferenças e fatores que promovem o processo de integração

Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.

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23

(IV) Pesquisa científica sobre segurança e eficácia de interven-

ções de produtos medicinais dos SMC.

(V) Infraestrutura e recursos financeiros.

No que diz respeito à pesquisa científica e avaliação compa-

rativa de qualidade, há questões específicas relativas às proprie-

dades inerentes aos SMC:

(I) Questões ontológicas, epistemológicas e metodológicas rele-

vantes para a compreensão geral e avaliação de SMC.

(II) Questões específicas relevantes para diagnóstico, terapia, e

avaliação de resultados na prática clínica. Essas questões são

discutidas nas subseções seguintes.

3.3.1. Legislação, padrões de qualidade, pesquisa, infraes-truturas e recursos

De importância primordial para a integração é o reconhecimen-

to dos SMC na legislação, em particular:

(I) Reconhecimento de provedores de terapia dos SMC, suas es-

colas de treinamento e diplomas.

(II) Disposições regulatórias que permitam o registro ou autori-

zação de comercialização de produtos medicinais dos SMC.

Esse reconhecimento depende do estabelecimento de pa-

drões de qualidade:

(I) Para provedores de tratamento (por exemplo, padrões de re-

ferência da OMS para treinamento em MTCh,26 ayurveda,62 me-

dicina unani63 e naturopatia;33 padrões do Comitê Europeu de

Normatização para provisão de cuidados de saúde por médicos

com qualificação adicional em homeopatia64).

(II) Para a qualidade farmacêutica dos produtos medicinais dos

SMC (por exemplo, o Códex Farmacêutico Antroposófico).41

O reconhecimento científico e social também depende de evi-

dências de alta qualidade para eficácia/efetividade e segurança

dos produtos medicinais dos SMC e também de seus tratamentos

não medicamentosos; portanto, a integração também inclui o fi-

nanciamento, a condução e a publicação de estudos de pesquisa

científica, a fim de gerar e divulgar tais evidências. A fim de pro-

mover padrões de qualidade e pesquisa científica, são necessários

infraestruturas e recursos financeiros.

Em alguns países, essas tarefas recebem prioridade nacio-

nal: por exemplo, o governo da Índia apoia pesquisa, educação,

padronização de qualidade e construção de infraestrutura para

sete SMC (AYUSH: ayurveda, yoga, naturopatia, unani, siddha,

homeopatia e sowa-rigpa), desde 2004 dentro do recém-criado

ministério de AYUSH.65

Um exemplo de construção de infraestrutura é o estabeleci-

mento de centros de medicina integrativa em hospitais universi-

tários, onde as modalidades específicas dos SMC (não necessa-

riamente o sistema médico complexo inteiro) são desenvolvidas,

aplicadas e testadas. Este modelo foi implementado nos EUA

e organizado no Consórcio Acadêmico de Medicina Integrativa

e Saúde, com base em quatro pilares: (1) a relação horizontal

entre o médico/terapeuta (coach) e o paciente (coprodutor); (2)

o papel ativo do paciente em processos de prevenção (estilo de

vida), bem-estar, terapia e processos de cura; (3) o uso de tera-

pias convencionais e complementares seguras e eficazes basea-

das em evidências; e (4) o uso de ambientes de cura.66

3.3.2. Aspectos ontológicos fundamentais

Todos os SMC estudados tomam uma posição ontológica

não atomística e holística em relação à natureza da reali-

dade. Isso significa que todos eles conceituam, cada um em

uma forma diferente, além de elementos e forças materiais,

a existência de forças não materiais que atuam na nature-

za e no homem, as quais também desempenham um papel

na saúde e na doença. Por exemplo, um conceito central da

MTCh é Qi, uma energia vital ou força vital que se move no

corpo através de um sistema de vias chamado meridianos.16

Conceitos similares são encontrados em ayurveda (prana)67

e unani (arwah ou espírito vital).29 A medicina antroposófica

tem o conceito de quatro níveis de forças formativas que tra-

balham no homem: forças físicas formativas e três forças não

materiais (vitais, anímicas e espirituais).23,30 A homeopatia

conceitua os efeitos não materiais de substâncias altamente

dinamizadas21 e também a naturopatia é baseada em princí-

pios holísticos e vitalistas.22

3.3.3. Aspectos conceituais e epistemológicos

De acordo com a posição ontológica não atomística e holística,

os conceitos centrais dos SMC são holísticos. Os conceitos do

ser humano enfatizam a totalidade e a complexidade do ser

humano;68 suas propriedades emergentes, dinâmicas não line-

ares e epigenéticas; e suas capacidades de auto-organização

e adaptação como um sistema de rede.69 A saúde é conceitu-

ada como a capacidade de equilibrar e restaurar ativamente

a integridade do ser humano.5 Dentro dos métodos de prá-

tica dos SMC, há um papel essencial para intuição e conheci-

mento especializado em diagnóstico e tomada de decisões,45

enquanto o tratamento também leva em consideração fatores

de contexto e a singularidade, constituição e complexidade do

indivíduo.45,70 Ao conceituar a causalidade, os SMC enfatizam a

causalidade dos sistemas,71 os efeitos que envolvem mudanças

globais e padronizadas através de múltiplos subsistemas da

pessoa como um todo, e o papel dos efeitos de contexto/place-

bo e dos efeitos da intenção.69

3.3.4. Aspectos metodológicos

Uma revisão sobre pesquisa clínica e epidemiológica em MCA48

demonstra que, para pesquisas sobre efeitos terapêuticos, há o

consenso de que tanto os estudos de eficácia quanto de efe-

tividade têm seu próprio lugar, validade e importância. Alguns

autores argumentam que a pesquisa de eficácia deve ser priori-

zada em relação à pesquisa de efetividade para legitimar o uso

da MCA e para ajudar a aumentar a aceitação. Outros autores

afirmam que a pesquisa de eficácia para examinar efeitos es-

pecíficos não deve ser realizada até que a efetividade geral da

terapia em questão seja demonstrada, a fim de evitar o mau uso

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24

de recursos escassos. Esta discussão também reflete opiniões

diferentes sobre a importância e o valor de efeitos específicos

e inespecíficos em toda a prática clínica. Uma abordagem de

pesquisa integrativa foi descrita como pesquisa simultânea so-

bre mecanismos e efetividade global dos tratamentos da MCA.

Os padrões metodológicos contemporâneos da pesquisa médica

podem ser aplicados à pesquisa da MCA, mas pode ser neces-

sário adaptar os desenhos de pesquisa em algumas áreas, a

fim de explicar a complexidade das intervenções da MCA.72 Os

desafios específicos da MCA devem ser abordados, tais como o

problema da padronização estrita de diversos participantes de

tratamentos e estudo, levando à falta de validade externa. Os

estudos randomizados e controlados não respondem a todas as

questões de pesquisa e são caros de conduzir. Estudos randomi-

zados e controlados por placebo podem ser inadequados para

algumas modalidades específicas de MCA. Há necessidade de

métodos adicionais, por exemplo, estudos pragmáticos,73 estu-

dos observacionais, mistura de estudos qualitativos e quantita-

tivos, e estudos com n=1.

Nos estudos sobre tratamento, há, por um lado, a tendência

de operacionalizar as intervenções dos SMC em um ‘pacote de

tratamento’ que pode ser usado também fora do contexto origi-

nal dos SMC e, por outro lado, a crítica de que alguns aspectos

essenciais (por exemplo, a individualização) ou os componentes

da terapia podem ser excluídos por essa operacionalização, le-

vando a uma eficácia reduzida e percepções errôneas da inter-

venção ‘verdadeira’ tradicional dos SMC.74

Os resultados devem ser mais amplos do que apenas a re-

dução de sintomas, eles devem conter vários níveis do ser hu-

mano como um todo, incluindo fatores físicos, mentais, espi-

rituais e sociais.70 A avaliação econômica dos tratamentos da

MCA foi considerada particularmente relevante nos cuidados

de saúde modernos. A pesquisa sobre os mecanismos do efeito

placebo, do contexto ou de efeitos de significado também foi

considerada como importante para determinar grupos de con-

trole apropriados e seu respectivo poder explanatório, a fim de

explicar os resultados potencialmente contraditórios de estudos

e maximizar esses efeitos na prática clínica. Mais novos modelos

de avaliação, como a teoria dos programas, a teoria sobre “os

mecanismos que medeiam entre a administração (e a recepção)

do programa e o surgimento dos resultados de interesse”,75,76

abrangem uma ampla gama de mudanças relacionadas à saúde

que incluem aspectos do processo, tais como o surgimento de

novos significados e compreensão durante ou após o tratamen-

to, bem como mudanças de longo prazo na saúde, bem-estar e

competências e comportamentos relacionados à saúde.77

Outro modelo proposto é uma ‘estratégia de pesquisa rever-

sa’ para avaliar MCA, começando com estudos do contexto, pa-

radigmas, compreensão filosófica e utilização, e posteriormente

o status de segurança de todo o sistema, eficácia comparativa

de todo o sistema e eficácia específica de componentes e, final-

mente, os mecanismos biológicos subjacentes.49,78 Outros mo-

delos expressamente não hierárquicos incluem uma síntese de

informações circulares de diferentes formas de evidência45,60 e

uma ‘casa de evidências’.79

3.3.5. Aspectos da prática clínica

Os principais tópicos em relação aos métodos de prática dos

SMC pertencem ao desenvolvimento de sistemas complexos

de diagnósticos e intervenções; o desenvolvimento e aplicação

de sistemas de controle de qualidade para diagnósticos e tra-

tamentos individualizados e o uso de intervenções complexas

multidisciplinares;80 o papel dos protocolos, diretrizes e conhe-

cimento especializado em práticas clínicas de uma abordagem

de sistema complexo;81 e o uso de diagnósticos duplos (conven-

cional e SMC).

Um diagnóstico dos SMC é um diagnóstico no nível do pa-

ciente individual e é baseado no sistema. Em serviços onde os

SMC estão integrados com a medicina convencional, encontra-

mos, portanto, diagnósticos duplos. Os diagnósticos no nível

individual e no nível do sistema geralmente incluem métodos

de reconhecimento de padrões que requerem conhecimento es-

pecializado interdependente, intuição e habilidades de pensa-

mento do sistema.82

Na terapia dos SMC, o foco está no paciente doente em toda

a sua complexidade, incluindo fatores físicos, mentais, espiritu-

ais e sociais. Estes são interligados e precisam ser abordados

nos níveis total e múltiplo. O repertório de tratamento da MCA é

muitas vezes multimodal e complexo, e sua aplicação altamen-

te individualizada. Os tratamentos e o aconselhamento da MCA

são providos como sistemas integrativos com componentes em

interação. De acordo com isso, os efeitos das abordagens com-

plexas são geralmente maiores do que a soma dos efeitos dos

componentes. A terapia dos SMC visa apoiar e estimular poten-

ciais autoprotetivos e salutogenéticos (habilidades de autocura

e autorregulação), principalmente com a cooperação ativa do

paciente ou do seu organismo. As práticas dos SMC também exi-

gem uma boa interação paciente-profissional (relação terapêu-

tica) e cocriação do paciente em vários contextos terapêuticos.45

A avaliação clínica inclui resultados determinados pelo paciente,

bem como a satisfação do paciente;70 notavelmente, essas men-

surações de resultado também estão se tornando cada vez mais

utilizadas na avaliação de tratamentos convencionais.

3.3.6. Qualidade e segurança clínica dos SMC

Em relação à qualidade farmacêutica e à segurança clínica dos

SMC, há uma diferença no desenvolvimento histórico dos SMC

mais antigos e mais recentes.

No século XX, os produtos medicinais homeopáticos e an-

troposóficos foram comercializados em países europeus como

Áustria, França, Alemanha e Suíça como medicamentos, fabri-

cados de acordo com as normas da Boa Prática de Fabricação

e sujeitas à regulamentação moderna de medicamentos, in-

cluindo a farmacovigilância. As substâncias de partida toxico-

logicamente relevantes (por exemplo, acônito e cinábrio) são

altamente diluídas de acordo com os requisitos de segurança

SMC versus sistema convencional de biomedicina: Uma revisão crítica e narrativa de semelhanças, diferenças e fatores que promovem o processo de integração

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25

das regulamentações europeias.83 As reações adversas a esses

produtos medicinais são infrequentes e geralmente de gravi-

dade leve a moderada; ocorrem reações anafiláticas, mas são

muito raras.40,84,85

Em contraste, os produtos medicinais da MTCh, ayurveda e

unani foram historicamente produzidos para uso local. Nos tem-

pos modernos, a produção em escala industrial se desenvolveu

com um controle de qualidade menos rigoroso, e os produtos

medicinais foram registrados como alimentos ou suplementos

alimentares ou foram importados para uso sem regulação. Al-

guns produtos medicinais de SMC foram associados a reações

adversas repetidas e graves, incluindo toxicidade hepática e re-

nal (às vezes fatais),86-88 envenenamento por metais pesados,

89-93 convulsões94 e supressão adrenal pela adição não declarada

de corticosteroides para produtos à base de plantas.90 Há outras

preocupações quanto às contaminações ambientais (por exem-

plo, poluição do ar, contaminação do solo), práticas de cultivo

(por exemplo, pesticidas, fungicidas, microrganismos, endoto-

xinas), procedimentos de fabricação (por exemplo, microrganis-

mos, endotoxinas) e uso inapropriado.95,96 Para superar esses

problemas, sistemas de farmacovigilância foram estabelecidos

nos principais países produtores de produtos medicinais chi-

neses, ayurvédicos e unani97,98 e há esforços consideráveis para

melhorar os padrões de qualidade desses produtos.99,100

3.4. Incompatibilidades e aspectos que precisam de atenção

3.4.1. Incompatibilidades

Atualmente, com base nas diferenças descritas, há incompati-

bilidades entre as demandas científicas empíricas (MBE) e te-

óricas (modelo biomédico) e as propriedades e especificidade

dos SMC. Descrevemos aqui estas incompatibilidades por meio

do exemplo de produtos medicinais dos SMC, com as deman-

das e sua aplicação na regulamentação de medicamentos por

um lado, e os produtos medicinais dos SMC e as propriedades

inerentes a esses sistemas por outro lado. As principais incom-

patibilidades consideradas são:

(I) Os produtos medicinais dos SMC são insuficientemente tes-

tados porque não estão de acordo com os interesses convencio-

nais e com os modelos biomédicos.

(2) Os produtos medicinais dos SMC são geralmente lidados

como intervenções de produto medicinal convencional padroni-

zado, enquanto deveriam ser lidados como parte de uma inter-

venção complexa.

(3) Os produtos medicinais dos SMC são tratados como produ-

tos medicinais convencionais, isto é, reduzem sintomas, lutam

contra doenças, enquanto eles deveriam ser tratados como te-

rapia curativa e de promoção da saúde que dá suporte às habi-

lidades de autocura do organismo.

(4) Os produtos medicinais dos SMC são testados para indi-

cações convencionais baseadas em taxonomia e diagnóstico

orientados para grupos, enquanto eles deveriam ser testados

para indicações individualizadas.

(5) Como os produtos medicinais convencionais, considera-se

que os produtos medicinais dos SMC têm efeitos bioquímicos

específicos, mas o tratamento com eles é direcionado a níveis

mais elevados, visando a regulação e harmonização (por exem-

plo, harmonização de dosha na ayurveda) de processos fisio-

lógicos abrangentes, e a transformação de processos e capa-

cidades fisiológicos e psicológicos em estados mais maduros e

integrados.

(6) Os produtos medicinais dos SMC são muitas vezes julgados

sobre eficácia pelas autoridades reguladoras como novos produ-

tos medicinais convencionais, ao passo que eles também devem

ser considerados parte de um SMC tradicional com uso de longa

data, desenvolvido seguindo um caminho reverso em compara-

ção com os produtos medicinais convencionais.45,49

As principais consequências dessas incompatibilidades são:

(1) A dominância do modelo biomédico resultou em uma ima-

gem a priori negativa e na rejeição dos produtos medicinais dos

SMC por cientistas de biomedicina convencional, pelo que, vis-

tos a partir de uma posição mecanicista reducionista, os efeitos

desses produtos medicinais são considerados meros efeitos de

contexto não específicos, não merecedores de um sério escrutí-

nio científico.

(2) Como consequência dessa atitude de rejeição, há uma sub-

-representação de cientistas dos SMC em instituições acadêmi-

cas e escasso financiamento público da pesquisa acadêmica de

produtos medicinais dos SMC.

(3) Muitos produtos medicinais dos SMC não são testados em

pesquisas clínicas e, portanto, não podem obter autorização or-

dinária para comercialização.

(4) Os produtos medicinais dos SMC geralmente não são testa-

dos de acordo com seus efeitos teóricos de ordem superior, de

nível de sistema, mas são testados em estudos randomizados

e controlados convencionais com uma abordagem de produto

único. Portanto, diminui a precisão do tratamento do produto

convencional dos SMC submetido a teste, com um alto risco de

‘resultados falsos negativos’ (o que significa: na realidade, o tra-

tamento tem efeitos benéficos, mas estes não são captados no

estudo de pesquisa).

(5) Os produtos medicinais dos SMC geralmente não aparecem

nas diretrizes para o tratamento de indicações convencionais

específicas, uma vez que muitos desses produtos não estão de

acordo com as teorias biomédicas convencionais, não são testa-

dos em pesquisas clínicas e não fazem parte do conhecimento

especializado dos desenvolvedores de diretrizes de tratamento

convencionais.

Este desenvolvimento não se restringe aos produtos me-

dicinais dos SMC: há um crescente pedido para excluir todas

as modalidades de SMC dos cuidados de saúde e para parar o

desenvolvimento da medicina integrativa, uma vez que muitas

intervenções dos SMC são percebidas como desprovidas de um

modelo plausível de eficácia científica e porque faltam os resulta-

dos relevantes dos estudos clínicos, pelas razões acima descritas.

No entanto, como descrito previamente, também há exemplos

Baars EW, Hamre HJ

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26

positivos da integração de SMC e medicina convencional na práti-

ca, exemplos de evidências de alta qualidade de efeitos específicos

do tratamento de SMC para indicações convencionais e modelos

teóricos de SMC que parecem estar alinhados em conteúdo com

a abordagem de sistemas em ciência e medicina (ver Introdução).

3.4.2. Aspectos que precisam de atenção para promover a integração do sistema médico convencional e dos SMC

A partir desta visão geral das diferenças entre o sistema médico

convencional e os SMC, pode-se deduzir uma série de questões

que devem ser tratadas na ciência e na prática clínica e regula-

tória, a fim de superar as diferenças e facilitar os processos de

integração do melhor dos dois mundos.

(I) Questões ontológicas

(a) A pesquisa futura e a discussão científica devem se

focar na natureza da realidade (matéria, organismo,

mente), na sustentabilidade da posição holística não

atomística dos SMC dentro do chamado debate sobre o

holismo-reducionismo, e questões ontológicas a serem

superadas no processo de integração.

(II) Questões conceituais e epistemológicas

(a) A pesquisa futura e a discussão científica devem se

concentrar no desenvolvimento e teste de teorias orienta-

das ao sistema e à complexidade e que sejam compatíveis

tanto com o SMC quanto com a medicina convencional.

(b) As teorias específicas que conceitualmente podem

unir as duas abordagens devem ser mais estudadas:

teorias da saúde, doença e cura;101 individualização no

diagnóstico e tratamento; e promoção da saúde.

(III) Questões metodológicas

(a) O uso futuro de metodologias/projetos de pesquisa

deve se concentrar em:

(1) uma ‘estratégia de pesquisa reversa para ava-

liação da MCA;

(2) levar em conta a complexidade das interven-

ções da MCA e o papel do conhecimento especia-

lizado, intuição e individualização de diagnósticos

e terapias;

(3) a avaliação econômica da saúde dos trata-

mentos da MCA;

(4) os mecanismos do efeito placebo, do contexto

ou dos efeitos de significado.102

(III) Questões da prática clínica

(a) Futuro desenvolvimento e implementação de abor-

dagens de tratamento integrativo deve levar em con-

sideração:

(1) alternativas para protocolos e diretrizes que

estão alinhados com as abordagens de tratamen-

to holístico e individualizante;

(2) o uso integrado de diagnósticos duplos (de

ambos os sistemas);

(3) o uso integrado do pensamento analítico e do

sistema;18

(4) a integração ideal entre opções de tratamento

de ‘luta contra a doença’ e ‘promoção da saúde’.

(IV) Questões regulatórias

(a) As estruturas regulatórias devem ser modificadas

para corresponder às características específicas dos pro-

dutos medicinais dos SMC.

(b) Novas conceituações em relação à avaliação de

benefício-risco, síntese da pesquisa de diferentes ti-

pos de evidências (não apenas estudos randomizados

e controlados), e a avaliação de produtos medicinais

dos SMC é necessária. Isto alinhado com a opinião da

comissão da União Europeia que reconheceu a neces-

sidade de regulação apropriada também dos produtos

medicinais dos SMC.103

3.4.3. Falta de evidência de efeitos específicos do tratamen-to e teorias pré-científicas ou não científicas

Considerando que o principal argumento de muitas pessoas da

medicina convencional é que a integração dos SMC com a me-

dicina convencional é inaceitável devido a uma suposta falta de

evidência de efeitos específicos do tratamento dos SMC e devido

às alegadas teorias pré-científicas ou não científicas, aqui discu-

timos essas questões com mais detalhes.

Além do fato de que há alguns estudos de boa qualida-

de que demonstram efeitos específicos de uma única terapia

de SMC para uma indicação convencional,104 as característi-

cas descritas das abordagens de SMC demonstram que tais

terapias visam mais frequentemente efeitos do sistema e a

restauração de equilíbrio, mais que a redução de sintomas, e

que muitas vezes contêm diferentes tratamentos como parte

de uma intervenção complexa. Esta situação torna frequente-

mente difícil testar um único tratamento baseado em protocolo

para uma indicação convencional. Se esse tipo de evidência

fosse obrigatório, a precisão do tratamento testado diminuiria,

com um alto risco de ‘resultados falsos negativos’ (o que sig-

nifica: na realidade, o tratamento tem efeitos benéficos, mas

estes não são captados no estudo de pesquisa). Além disso,

isso levaria a um viés de viabilidade contra os SMC. Esse foi o

motivo do desenvolvimento da ‘estratégia de pesquisa rever-

sa’ anteriormente descrita para avaliar a MCA49 e o modelo de

síntese de informação circular não hierárquica de diferentes

formas de evidências.60

No que diz respeito às teorias, as relativas aos SMC são ho-

lísticas (não atomistas) e não reducionistas e, portanto, mui-

tas vezes consideradas como pré-científicas ou não científicas.

Entretanto, a situação atual é que, em diferentes campos de

pesquisa, os cientistas questionam cada vez mais a capacida-

de das teorias puramente reducionistas de descrever e expli-

car a complexidade das organizações biológicas.51 Portanto,

novas teorias (por exemplo, biologia de sistemas, emergência

e epigenética) provenientes dos campos de pesquisa da com-

plexidade biológica nos organismos e do projeto do genoma

demonstram uma mudança do conceito reducionista para

SMC versus sistema convencional de biomedicina: Uma revisão crítica e narrativa de semelhanças, diferenças e fatores que promovem o processo de integração

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27

conceitos mais holísticos.21 Na nossa opinião, com base nessas

mudanças na ciência, é garantida mais abertura e aceitação

em relação a teorias holísticas (não atomistas).

4. DISCUSSÃO

Há uma necessidade crescente de uma integração profissional

mundial da medicina convencional e SMC tradicionais/comple-

mentares. No entanto, em muitos países ocidentais, a integração

é percebida pela medicina convencional como problemática e não

aceitável. Por isso, revisamos a literatura sobre as características

dos SMC, as semelhanças e diferenças entre medicina convencio-

nal e SMC, e futuras questões da prática clínica e científica que

devem ser tratados para promover o processo de integração.

Os principais fatores para a integração de SMC e a medicina

convencional são: estruturas legais e regulatórias para provedo-

res de terapia e produtos medicinais dos SMC; padrões de quali-

dade para treinamento de provedores de terapia, administração

do tratamento e qualidade farmacêutica dos produtos medici-

nais dos SMC; pesquisa científica de alta qualidade sobre a se-

gurança e a eficácia das intervenções dos produtos medicinais

dos SMC; e infraestrutura e recursos financeiros adequados para

realizar essas tarefas.

Para pesquisa científica e avaliação de qualidade, há ques-

tões fundamentais que pertencem às propriedades inerentes

dos produtos medicinais dos SMC: questões ontológicas, epis-

temológicas e metodológicas relevantes para a compreensão

e avaliação geral e questões relevantes para o diagnóstico, a

administração da terapia e a avaliação de resultados na práti-

ca clínica. Muitas dessas questões ainda não foram resolvidas,

com posições contraditórias entre cientistas e partes interes-

sadas de biomedicina convencional e SMC, respectivamente, e

com incompatibilidades para alocação de recursos e regulação

de medicamentos.

A principal contribuição deste artigo é que ele fornecerá

(mais) visão geral e clareza neste tópico para ambos, SMC e me-

dicina convencional. Ele dará entrada objetiva para discussões

racionais sobre o tema de integração. Além disso, apoiará as

organizações na sua preparação e tomada de decisões durante

o processo de integração.

Uma limitação do artigo é que não incluímos todos os SMC,

por exemplo, yoga, osteopatia, campo, ou SMC da África ou da

América do Sul. Também não empregamos todos os termos de

pesquisa possíveis, por exemplo, ayurvédica (além de ayurve-

da). Um tópico que está além do escopo deste artigo é que não

discutimos a (suposta) falta de evidências sobre os efeitos es-

pecíficos dos tratamentos do SMC e a (suposta) falta de teorias

testadas de SMC15 em profundidade. Entretanto, descrevemos as

diferenças subjacentes fundamentais (ontológicas, epistemoló-

gicas e metodológicas) entre os SMC e a medicina convencional

relacionadas a essas questões (evidência de efeitos específicos

e falta de teorias testadas) e ficou claro porque ambas as partes

têm diferentes percepções sobre essas questões.

As atividades de pesquisa futuras não só devem ser dire-

cionadas para os ‘problemas de linha de frente’ da garantia de

qualidade e gerar os dados necessários sobre segurança e eficá-

cia/efetividade das intervenções dos SMC, mas também devem

abordar as questões mais fundamentais (ontológicas, episte-

mológicas e metodológicas), para superar as diferenças entre

SMC e medicinas convencionais.

Declaração de conflitos de interesse

Os autores declaram que não há conflitos de interesse em rela-

ção à publicação deste artigo.

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