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Prmio Qualidade na Educao Infantil 2004

Projetos premiados

Diretora do Departamento de Polticas de Educao Infantil e do Ensino Fundamental Jeanete Beauchamp Coordenadora Geral de Educao Infantil Karina Rizek Lopes Coordenao da Publicao Ideli Ricchiero Magda Patrcia Muller Lopes Equipe Tcnica da Coordenao Geral de Educao Infantil Celza Cristina Chaves de Souza Ideli Ricchiero Magda Patrcia Mller Lopes Neidimar Cardoso Neves Roseana Pereira Mendes Stela Maris Lagos Oliveira Vitria Lbia Barreto de Faria Equipe de Apoio da Coordenao Geral de Educao Infantil Brulio Ricardo Sousa Barroso Garcia Alves Moreira Maria Genilda Alves de Lima Edio Smia Formiga Mendes Revisor Gilberto DAngelo Braz Projeto Grfico e Diagramao Fernando Horta

ndiceApresentao ...............................................................................................................5 A gameleira .....................................................................................................................7 Graciliano Ramos ............................................................................................13 Revivendo as tradies ......................................................................................................18 Pequeno cidado ..........................................................................................................23 Chega de silncio: a arte das brincadeiras .........................................................................27 Brincarte ....................................................................................................................32 Navegando com Britinho .................................................................................................38 A praa que queremos .....................................................................................................44 Nas asas do Carcar ..........................................................................................................49 Arte: conhecimento que expressa liberdade para a vida .................................................54 Aprender inteirando-se com o mundo social: passeando tambm se aprende ...............58 Cartes telefnicos: uma alternativa de aprendizagem ...................................................62 dia de espetculo ..........................................................................................................66 Arte tambm se l ..........................................................................................................70 Resgate de brinquedos e brincadeiras de nossos pais .......................................................74 Jogoteca: o prazer em conhecer ........................................................................................79 Chu, chu... a chuva vamos estudar .............................................................................84 Reciclando com arte para preservar a natureza ................................................................89 Uma mangueira em apuros ...........................................................................................94 Boi de Mamo ................................................................................................................99 Brincadeiras da Vov: despertando fantasias e descobertas ...........................................104 Ns filhos da Terra... .......................................................................................................109 A primeira roda ..........................................................................................................115 Brincando e aprendendo com o Vov .............................................................................119

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Apresentao com satisfao que o Ministrio da Educao (MEC) apresenta a Publicao dos Projetos Premiados, na 5 edio do Prmio Qualidade na Educao Infantil, verso 2004, em parceria com a Fundao Orsa e a Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao - Undime. Este trabalho rene os 24 projetos indicados, para divulgar as experincias de professoras e professores que atuam na Educao Infantil, em creches e pr-escolas pblicas, nas diversas regies brasileiras, fazendo-as emergir dos sistemas de ensino e comunidades onde foram desenvolvidas. Cada texto um relato da prtica diria desses mestres e suas crianas. O Prmio Qualidade reconhece o mrito da autoria das professoras premiadas em 2004, valorizando e divulgando seus projetos. Aqui esto registrados, sem dvida, trechos da histria da educao infantil pblica, construda com profissionalismo, dedicao e carinho. Acreditamos que refletir, escrever e socializar a prtica pode ser um caminho promissor para a organizao do trabalho pedaggico e um investimento que todo professor deve fazer para o aprimoramento de sua carreira. O MEC espera que a Publicao dos Projetos Premiados contribua como um recurso a mais para a formao continuada, por meio da troca de idias e experincias e, acima de tudo, que incentive um trabalho consciente e engajado com a qualidade social em prol da Educao Bsica brasileira.

Francisco Das Chagas Fernandes Secretrio de Educao Bsica

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Dados de identificaoProfessora: Sheyla Silva de Souza Co-autores do projeto: Antnia Aparecida Lima Lopes Escola de Educao Infantil Espao Alternativo Alexandre dos Santos Leito Municpio / UF: Rio Branco / Acre Faixa etria atendida pelo projeto: 6 anos

A gameleiraCrianas realizam amplo trabalho de pesquisa e, a partir da observao de uma rvore centenria, descobrem importantes passagens da histria de luta do Estado do AcreProjeto A Gameleira assume im portante papel de criar um ambiente no qual as crianas moradoras das margens do Rio Acre e de bairros das redondezas possam ter contato com informaes que faam parte do contexto social e das prticas educacionais. Sabemos que assim a aprendizagem se d de forma mais efetiva, pois, passa a interagir com as crianas. Este trabalho foi desenvolvido com crianas 6 anos que freqentam a Escola de Educao Infantil Espao Alternativo Alexandre dos Santos Leito. A escola funciona somente no turno da tarde, num espao cedido ao governo estadual do Acre pelo Instituto Imaculada Conceio, das servas de Maria.1.Revolta iniciada em 1902, s margens do Rio Acre, no municpio de Xapuri. O peloto comandado pelo coronel Plcido de Castro e formado por seringueiros enfrentava as foras bolivianas e dava incio ao movimento que culminou com a independncia do Acre e sua posterior anexao ao territrio brasileiro.

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A idia deste projeto surgiu ao ser constatado que a maioria de nossas crianas, que passa pelo Calado da Gameleira todos os dias para chegar escola, no sabe que a Gameleira, alm de ser um ponto turstico de nosso Estado, o marco da Revoluo Acreana 1 ou seja, faz parte da histria da autonomia deste povo. Da veio a necessidade de proporcionar a elas condies favorveis de investigao dessa histria, possibilitando a descoberta da formao da cidade de Rio Branco e da autonomia do Estado do Acre e das lutas que foram travadas sob essa grande rvore. No incio do projeto, tnhamos como objetivo estimular o interesse das crianas sobre a histria do Acre, sua autonomia e como ocorreu o processo de formao da cidade de Rio Branco. Por isso escolhemos a gameleira, uma rvore cente7

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nria, testemunha das histrias de Bolvia. Desde as primeiras dcadas lutas e conquistas e que faz parte do do sculo XIX, no entanto, a maiodia-a-dia da comunidade. Houve ria de sua populao era formada vrias conversas sobre a rvore por brasileiros que exploravam os segameleira, sua importncia fsica j ringais alguns desses seringais; se localizavam que ajuda a susnas margens tentar o barranOferecemos situaes que do rio, local co do rio e, prinpermitiram s crianas entrar onde se enconcipalmente, a em contato com diferentes fontes tra a gameleira sua relevncia de pesquisa, permitindo que e no obedecihistrica, pois elas pudessem construir am autoridafoi cenrio do seu prprio conceito sobre de boliviana. processo de fora histria da Gameleira Os brasileiros mao da cidacriaram, na de de Rio Branco, constituindo-se o principal por- poca, um territrio independente e exigiam sua anexao ao Brasil. to da cidade. Durante a visita biblioteca do Houve uma revolta e os conflitos s Instituto Imaculada Conceio, uma terminariam com a assinatura do das atividades do projeto, as crian- Tratado de Petrpolis, em 17 de noas tiveram acesso a fotos, registros vembro de 1903. De acordo com o histricos e textos informativos. Por documento, o Brasil recebeu a posintermdio de pesquisas e visitas, as se definitiva da regio em troca de crianas descobriram que, at o in- reas no Mato Grosso, do pagamencio do sculo XX, o Acre pertencia to de 2 milhes de libras esterlinas

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e do compromisso de construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamor2 . Integrado ao Brasil como territrio, o Acre foi subdividido em trs departamentos: Alto Acre, Alto Purus e Alto Juru. Este ltimo foi desmembrado, em 1912, para formar o Alto Tarauac, mas foi unificado, em 1920. A partir de 1934, passa a eleger representantes para o Congresso Nacional. Em 15 de junho de 1962, o presidente Joo Goulart sanciona lei que eleva o2.A Estrada de Ferro MadeiraMamor, localizada no interior da floresta amaznica, uma das mais conhecidas ferrovias nacionais, pois ainda hoje persistem a mstica, as lendas e as histrias que cercam sua idealizao, construo e operao nos confins do Brasil.

territrio categoria de Estado. Para desenvolver nosso projeto, elaboramos algumas etapas, como conversas informais sobre a Gameleira, para descobrir o que as crianas pensavam sobre o assunto; a realizao de passeios no Calado da Gameleira, provocando questionamentos sobre o tempo; chamando a ateno das crianas para o tamanho da rvore que deu nome ao calado. Durante o passeio, as orientamos para que observassem tambm a Bandeira do nosso Estado e registrassem, com desenhos, os objetos vistos nos lugares por onde passamos. Alm disso, foram desenvolvidas atividades de9

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pesquisa na biblioteca da escola em busca de livros e documentrios sobre a Revoluo Acreana. As crianas visitaram o Palcio Rio Branco, considerado museu, que registra toda a trajetria de luta e conquista do espao acreano para o Brasil; e o Memorial dos Autonomistas, onde se encontram os registros da histria da autonomia do Acre; e incentivamos as crianas a conhecerem, por meio de teatro e documentos, os personagens principais que asseguraram ao Acre a condio de Estado. Todas as etapas foram documentadas com fotografias para montar uma exposio para a comunidade. As crianas visitaram ainda o Calado da Gameleira, acompanhadas de um guia da Secretaria do Patrimnio Histrico, foram estimuladas a criar pardias, poesias e textos informativos. Outra etapa foi convidar antigos moradores da Rua Senador Eduardo Asmar, onde passa o Calado da Gameleira, para serem entrevistados por elas; e elaboramos, com os alunos, as perguntas para as entrevistas. E, por fim, foram construdas maquetes e cartazes do Calado da Gameleira. Alm das fotografias, o projeto foi registrado tambm por meio de desenhos ou atividades pelas quais as crianas expressavam seus sentimentos, como poesias e dramatizaes. Esses registros pro-

duzidos pelas crianas trazem, por exemplo, a primeira casinha construda em frente gameleira e o processo de formao do comrcio de compra e venda dos produtos originrios dos seringais. Nessa etapa, as crianas se sentiam parte da histria, pois muitos de seus ascendentes vieram dos seringais para a cidade. A direo da escola agendou com antecedncia a visita ao Memorial dos Autonomistas e ao Palcio Rio Branco. Coube aos pais levarem as crianas deixando-as aos cuidados das professoras e auxiliares escolares que junto com a direo se propuseram acompanhar. Depois da visita, voltamos todos caminhando para a escola. No Museu dos Autonomistas havia uma equipe nos esperando, as crianas se encantaram com o Senhor Tempo, um personagem que nos levou a conhecer todo o processo de luta pela elevao do Acre a Estado, utilizando a dramatizao, contando histrias e apresentando registros fotogrficos e documentos originais. No momento que descemos para uma sala onde so guardados os restos mortais de Guiomar dos Santos, o primeiro governador do Estado, e de sua esposa, Lgia; as crianas foram tomadas por um instante de espanto e curiosidade. Em frente ao Museu dos

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Autonomistas fica situado o Palcio Rio Branco, sede do gabinete do governador, que utilizado apenas em solenidades. Cada sala do Rio Branco retrata uma parte da histria da criao e da formao do povo acreano: sua Bandeira, as lutas que geraram a Revoluo Acreana, os tratados assinados, a trajetria para a autonomia, os povos indgenas e sua cultura. Alm disso, existem relatos histricos gravados de pessoas, sobre a vida nos seringais e na cidade de Rio Branco na poca da Revoluo. H tambm uma sala exclusiva sobre Chico Mendes3, o maior sindicalista que os seringueiros j tiveram. Durante todo o processo de desenvolvimento do trabalho, realizamos a avaliao do projeto. O resultado de todas essas atividades culminou com a exposio de uma maquete da Gameleira, construda com a ajuda das crianas. A comunidade escolar pde prestigiar esse momento, que, para as crianas e a escola, foi muito importante. Os pais apoiaram todas as etapas s quais foram solicitados e ficaram emocionados durante a fala das crianas. O Projeto A Gameleira, que contou com a parceria da comunidade es3. Francisco Alves Mendes Filho, seringueiro conhecido como Chico Mendes, participou da luta sindical da categoria e organizou vrias aes em defesa da posse da terra e, em 22 de dezembro de 1988, foi assassinado na porta de sua casa.

colar, de pessoas e entidades governamentais que esto relacionadas construo e restaurao desse patrimnio histrico, buscou tornar esse conhecimento mais efetivo, dando uma viso mais clara da nossa histria, a qual no caracterizada por heris individualmente, mas por um processo coletivo de luta pela posse desta terra. Dessa maneira, pudemos oferecer situaes que possibilitaram s crianas entrar em contato com diferentes fontes de pesquisa, e que lhes permitiram criar seu prprio conceito sobre a histria da Gameleira. Nosso desafio foi contextualizar11

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situaes educacionais que pudes- mar conhecimento dos fatos histsem efetivar a vinculao entre teo- ricos que envolveram o Calado da ria e prtica, ampliando o conheci- Gameleira, este deixou de ser apemento das crianas sobre sua pr- nas uma passagem obrigatria a pria histria, na busca de compre- caminho da escola, e tornando-se ender os fatos sociais que marca- algo com significado maior o que ram o processo de formao da ci- fez com que trouxessem para a escodade de Rio Branco e a autonomia la observaes cheias de entusiasmo do Estado do e curiosidades, Acre, de modo a que eram comparA maior relevncia desse se conscientizar tilhadas nas roprojeto poder enxergar de que alguns de das de conversas. nas crianas um ser crtico, seus ascendenE foi depois capaz de fazer a diferena tes construram dessa experinna sociedade do agora essa histria em cia que muitos e do amanh vrios movimendescobriram o tos de luta, os quais envolveram a sentido da cidadania. As crianas Gameleira. Acreditamos que esse puderam acompanhar as transforseja o papel da escola: discutir as- maes histricas; vendo o homem suntos que fazem parte do cotidia- como agente dessa histria; e se torno das crianas, os quais esto liga- nando parte dela; ao expor seus condos a tomadas de decises do seu ceitos, valores e opinies. A maior bairro, cidade, Estado e pas. relevncia desse projeto poder Hoje, as crianas falam com cer- enxergar nas crianas um ser crta propriedade sobre o tema desen- tico, capaz de fazer a diferena na volvido neste projeto, ou seja, ao to- sociedade do agora e do amanh.

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Dados de identificaoProfessora: Gerlane Muriel de Lima Oliveira Co-autores do projeto: Eluza Caetano de Azevedo e Snia Costa Atade Escola de Educao Infantil Graciliano Ramos Municpio/UF: Macei/Alagoas Faixa etria atendida pelo projeto: 5 e 6 anos

Graciliano RamosCrianas ampliam sua capacidade de interao com o conhecimento sobre a vida e a obra do escritor Graciliano Ramos

Projeto Graciliano Ramos teve como objetivo informar s crianas sobre a vida e a obra do Mestre Graa, a partir de experincias que possibilitem o prazer, a curiosidade, a descoberta, a reelaborao e sistematizao do conhecimento. O trabalho foi desenvolvido na Escola de Educao Infantil Graciliano Ramos, pela professora Gerlane Muriel de Lima Oliveira, com alunos de 5 e 6 anos. Foram co-autoras as professoras Eluza Caetano de Azevedo e Snia Costa Atade, e teve a participao de Diana Gleide, Maria das Graas, Mirtes Quitria, Lindoana Beril e Leonice dos Santos. A Escola de Educao Infantil Graciliano Ramos situa-se na periferia da capital alagoana, numa re-

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gio residencial a 13 km do centro da cidade, no Conjunto Village Campestre I. uma instituio mantida pela prefeitura municipal e administrada pela Secretaria de Educao do Municpio de Macei, e atende a 150 crianas. A renda mdia familiar de 1 (um) salrio mnimo, o que torna difcil o acesso aos bens culturais necessrios para a sua insero social. A idia de realizar o projeto surgiu a partir de um questionamento

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feito por uma criana da turma que e oferecer experincias de qualidaqueria saber o por qu do nome da de, embasadas nos princpios conescola. A curiosidade dela levou a tidos no Referencial Curricular Nauma discusso sobre Graciliano Ra- cional para a Educao Infantil mos, incentivando o surgimento de (RCNEI) bem como no regimento vrias hipteses, entre elas a de que interno da escola: Acesso das crise tratava do dono da escola, de um anas aos bens socioculturais amjogador de futebol, de um poltico pliando a sua capacidade relativa ou de um escritor. Constatando o in- expresso, comunicao, tica e esttica; a sociteresse do grualizao das cripo sobre a vida O Projeto Graciliano Ramos anas por meio de Graciliano foi realizado para que as de sua particiRamos, nos procrianas pudessem ter acesso pao e insero pusemos a dea informaes a respeito nas mais diversenvolver em da vida e obra de Graciliano sificadas prtisala um projeto Ramos, um dos mais importantes cas sociais; o dididtico sobre o escritores brasileiros, reito das criantema. Considecomo tambm ampliar as de viver exrando tambm sua capacidade de interao perincias praque a escola, com o conhecimento, o que zerosas. com a perspecse verificou durante o A necessidativa de construdesenvolvimento do trabalho de de fazer uma o da cidadaseleo prvia nia, precisa assumir a valorizao da cultura de do material se deu pela complexidasua prpria comunidade, assim de e extenso dos textos encontracomo buscar ultrapassar seus limi- dos. Segundo o Referencial, os astes, propiciando s crianas o aces- suntos trabalhados com as crianas so ao saber, no s no que diz respei- devem guardar relaes especficas to aos conhecimentos socialmente com os nveis de desenvolvimento relevantes da cultura brasileira, no delas e das respectivas faixas mbito nacional e regional, mas tam- etrias. Os cuidados tomados reforbm no que faz parte do patrimnio am a idia defendida pelo RCNEI de que educar significa propiciar universal da humanidade. A diversidade das atividades do situaes de cuidados e aprendizaprojeto tem como objetivo interligar gens orientadas de forma integrada as diversas reas do conhecimento e que possam contribuir para o de-

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senvolvimento da capacidade infantil de relao interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude bsica de aceitao, respeito e confiana, e o acesso pelas crianas aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. A primeira fase do projeto constituiu-se no levantamento das hipteses das crianas sobre quem foi Graciliano Ramos. Por meio de uma conversa informal, destacamos a importncia do legado cultural e literrio deixado pelo escritor para a sociedade. Discutimos tambm sobre o por qu de a escola ter recebido seu nome. O material selecionado pelo grupo para a pesquisa foi dividido e explorado pelas crianas. Propusemos ao grupo a leitura do conto A Terra dos Meninos Pelados, extrado da obra literria do Mestre Graa. O livro foi lido pela professora por captulos e a cada nova leitura relembrava com as crianas os acontecimentos dos captulos anteriores. Com as informaes obtidas durante o projeto, as crianas montaram uma linha de tempo com informaes sobre a vida e a obra de Graciliano Ramos. Para tanto, foram produzidos e selecionados textos coletivos, para a linha de tempo. Fizeram tambm listas das suas obras, etiquetaram fotos, montaram com a professora um espao de cu-

riosidades. Alm disso, todas as informaes veiculadas pela TV sobre Graciliano Ramos eram comentadas pelas crianas e discutidas na sala de atividades. Assim como as informaes obtidas na escola, as crianas conversavam em suas casas com seus pais. No dia 6 de maio, durante a visita exposio O Cho de Graciliano, na Fundao Pierre Chalita, as crianas puderam confrontar essa nova experincia com os conhecimentos adquiridos e discutidos na escola. Elas tambm observaram manuscritos, documentos, objetos pessoais, livros lanados no Brasil e no exterior, ensaio fotogrfico sobre o local que o escritor viveu e escreveu suas obras. Para participar da exposio tomamos alguns cuidados especiais: lanar a proposta para o grupo, motivando-o para o evento e enviar circular para os pais solicitando autorizao; definimos posturas e cuidados que deveriam ser considerados por todos, desde a sada da escola, du15

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e responsabilidades; o apoio da Secrerante a exposio e o retorno. Na aula seguinte, as crianas re- taria Municipal de Educao e da prelataram aos colegas, que no foram feitura de Palmeira dos ndios. Em Palmeira dos ndios, o grua exposio, tudo o que foi visto. Aproveitando o entusiasmo da pers- po pde visitar a casa dos pais de pectiva da viagem a Palmeira dos Graciliano Ramos; a igreja, onde ndios, cidade onde Graciliano Ra- buscava inspirao para escrever; a mos foi prefeito, conversamos com pitombeira que nunca deu fruto, onde pediu em os alunos sobre casamento a o objetivo do Participar de projetos mo de Helosa; passeio e o trapossibilita s crianas a prefeitura, de jeto a ser perestabelecer mltiplas relaes, onde governou a corrido. Lemos amplia suas idias sobre um cidade; a loja de o texto sobre os assunto especfico, buscando seus pais, onde dados histricomplementaes de hoje funciona cos da cidade e conhecimentos pertinentes uma loja de mcontamos a lenaos diferentes eixos veis; a casa onde da que explica o o escritor monome da cidade. Para a viagem, tomamos as seguin- rou, hoje transformada em museu. tes providncias: contato com a pre- As crianas puderam ver suas feitura de Palmeira dos ndios para obras, vestimentas, utenslios da esclarecer os objetivos da visita; of- poca lavabo, panelas, ferro a cio para a Secretaria Municipal de carvo, fogo a lenha, pilo, mquiMacei solicitando nibus para a vi- na de escrever etc. Aps a viagem, agem; comunicado para os pais, soli- as crianas contaram para outros citando autorizao; explicamos s colegas o que viram e aprenderam, crianas sobre horrios de sada e che- fizeram desenhos representativos gada, postura, cuidados, trajeto a ser do que mais lhes chamou a ateno. O passo seguinte foi mostrar feito na cidade, almoo e lanche. importante destacar algumas as fotos da exposio O Cho de contribuies para o sucesso do pro- Graciliano Ramos e da viagem e sojeto: os pais, por acreditar no traba- licitar s crianas a produo de lho pedaggico da escola e deposi- etiquetas com informaes para tando em ns confiana para cuidar situar os visitantes da nossa mosde seus filhos; o empenho dos mem- tra, que foi aberta aos pais e bros da escola, que dividiram tarefas comunidade.

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O Projeto Graciliano Ramos foi realizado para que as crianas pudessem ter acesso a informaes a respeito da vida e da obra de Graciliano Ramos, um dos mais importantes escritores brasileiros, como tambm ampliar sua capacidade de interao com o conhecimento, verificado durante o desenvolvimento do trabalho. importante ressaltar que os desafios fizeram o grupo refletir, reavaliar e redefinir aes que gerassem avanos nas atividades do professor e na aprendizagem das crianas. Segundo Pedro Demo, doutor em Educao, fundamental aprendermos a conviver com os limites, para transform-los em desafios, e enfrentarmos os desafios para podermos superar os limites.

Um dos desafios superados foi a falta de material sobre o tema do projeto, pois a escola dispunha at ento apenas de uma foto de Graciliano Ramos. Graas ao projeto, hoje, possumos um acervo pequeno, mas significativo, sobre o autor de Vidas Secas. Todos que participaram do projeto tiveram a oportunidade de crescer e aprender com esse trabalho. Participar de projetos possibilita s crianas estabelecer mltiplas relaes, amplia suas idias sobre um assunto especfico, buscando complementaes com conhecimentos pertinentes aos diferentes eixos. Esse aprendizado serve de referncia para outras situaes, permitindo generalizaes de origens diversas.

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Dados de identificaoProfessora: Marlice Bentes dos Santos Escola Municipal de Educao Infantil Pai Nosso Municpio / UF: Macap / Amap Faixa etria atendida pelo projeto: 4 a 6 anos

Revivendo as tradiesProjeto desenvolvido no Amap utiliza atividades ldicas para despertar nas crianas o gosto pela cultura

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folclore est presente em todos os momentos de nossa vida. Nessa perspectiva, observouse que a Escola Municipal de Educao Infantil Pai Nosso, em Macap, no tinha uma proposta curricular totalmente voltada para a nossa cultura, em que as crianas pudessem absorver a essncia de sua identidade cultural. Partindo dessa constatao surgiu a idia de trabalhar o Projeto Revivendo as Tradies, com o intuito de resgatar a nossa cultura e despertar nas crianas sentimentos de amor e preservao pelas tradies de nossa terra, deixadas pelos nossos antepassados para que estas no se percam no tempo. A Escola Municipal de Educao Infantil Pai Nosso atende 280 crianas, de 4 a 6 anos, distribudas em dez turmas, e conta com uma estrutura organizacional de cinco salas

de atividades. Todas essas crianas so de famlias assalariadas ou que vivem do subemprego, que, para obter o seu sustento, recorrem ao trabalho informal. Algumas delas vem a escola no somente como local de aquisio de conhecimento, mas um lugar onde o seu filho possa completar a sua refeio ou at mesmo fazer a nica do dia. A partir da concepo de que o folclore uma fonte infinita de criatividade para a criana, trabalhamos o Projeto Revivendo as Tradies, como forma de aproximar a criana da essncia de nossa cultura, como as lendas, as msicas, as cantigas de roda, as comidas tpicas, as plantas medicinais e as demais manifestaes. Para desenvolver o projeto foram utilizadas atividades ldicas como forma prtica e agradvel, por meio da qual a criana pde desen-

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volver todas as suas habilidades para o ato de aprender. Segundo Rosely Brenelli, por meio de jogos e brincadeiras a criana assimila ou interpreta a realidade. Por isso, a insero do ldico nas atividades escolares facilita o aprendizado e permite que ela possa compreender tudo que est em sua volta, e desenvolver as suas habilidades no processo de ensino/aprendizagem. A importncia do ldico tambm destacada pelo terico Lev S. Vygotsky. Para ele, no brinquedo que a criana aprende a agir numa esfera cognitiva. Nesse contexto, percebe-se a importncia das atividades ldicas, pois, se bem acompanhadas e observadas, permitem conhecer o desenvolvimento cognitivo da criana para que ela chegue ao aprendizado. Portanto, trabalhar de maneira ldica o

Revivendo as Tradies foi de suma importncia tanto para o aprendizado das crianas como para o aperfeioamento de nossa prtica como professor. O projeto foi elaborado com a finalidade de ser posto em prtica no ms de agosto, por ser o ms das festividades folclricas. As aes foram desenvolvidas por meio de jogos, brincadeiras cantadas, adivinhaes, danas, parlendas, cantigas de roda e pesquisas com os pais sobre comidas tpicas do nosso Estado e plantas utilizadas no tratamento de algumas doenas. O principal objetivo das aes realizadas nas salas de atividades e na quadra coberta foi o de ampliar o universo cultural das crianas, despertando nelas o interesse pela preservao da essncia de sua identidade cultural.

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Tudo foi adequado aos conte- tes dos vegetais, comidas tpicas e dos programticos. Para trabalhar plantas medicinais que foram a Lngua Portuguesa, mostramos pesquisadas pelos alunos, com os cantigas de roda ensinando a letra seus pais. Na Funo Semitica, trada msica; j nas parlendas, as cri- balhamos expresso corporal, muanas completaram as frases. Em sical e artstica por intermdio de Conhecimento Lgico Matemtico, danas, dramatizaes e desenhos. ensinamos os numerais recontando Tambm foram apresentadas danas adivinhaes e as folclricas Conseguimos despertar jogos de quebracom a participacabea com figuo de alunos e nas crianas a prtica diria ras geomtricas professores. de nossa cultura. de lendas. No CoPara a dramatiE com elas adquirimos nhecimento Socizao, mostraum aprendizado que servir al, apresentamos mos as lendas do de apoio para a prtica as principais danboto e do bode educacional no decorrer as folclricas do para trabalhar de nossa vida nosso Estado e os seres vivos e como educador vrias brincadeisuas caracterstiras cantadas deixadas pelos nossos cas; com a lenda da pororoca, foi mosantepassados. Em Conhecimento F- trado a fora das guas e sua imsico, trabalhamos as lendas portncia para a nossa sobrevivnenfocando os seres vivos e as par- cia. No Ensino Religioso foram rela-

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tadas as festas religiosas do Estado. dade, a observao e a socializao. No decorrer da execuo do pro- Ao longo do projeto, surgiram djeto, as comidas tpicas foram apre- vidas e preocupao com relao sentadas como merenda escolar. As metodologia utilizada para trabareceitas foram obtidas pelo trabalho lhar as atividades propostas, ou seja, de pesquisa feita pelas crianas e as questionamentos sobre a eficcia da plantas medicinais ficaram expos- forma que estvamos empregando tas no ptio da escola. Em algumas para alcanar nossos objetivos. No entanto, os resulatividades, o matados obtidos foterial utilizado A interao escola/famlia ram positivos. foi o papelo para ficou bastante evidente. Alm dos objeticonfeccionar alAs crianas contaram com vos previstos, gumas partes a ajuda dos pais para pesquisar conseguimos das plantas e os sobre comidas tpicas, plantas despertar nas crialunos montamedicinais e algumas lendas e, anas a prtica rem; papel-cara partir da, os pais tornaram-se diria de nossa to, figuras de agentes participativos cultura. E com lendas e cola na educao de seus filhos elas adquirimos para montar queum aprendizado bra-cabea; e caderno de desenho, lpis de cor e cera que servir de apoio para a prtica educacional no decorrer de nossa para desenhos e pinturas. O Projeto Revivendo as Tradies foi vida como educador. Aps a realizao do projeto, trabalhado de forma coletiva, ou seja, a comunidade escolar participou das observamos que as crianas tiveatividades desenvolvidas, dessa for- ram mais facilidade para trabalhar ma os objetivos propostos alcana- a socializao, a leitura e a escrita. ram a todos. No final do ms de agos- Elas passaram a pr em prtica, com to, no encerramento das atividades do mais facilidade, suas diversas habifolclore, na quadra da escola, cada lidades, com destaque para a pictturma apresentou aos colegas, alm rica, ou seja, a capacidade de desedos pais e professores, uma ativida- nhar. Alm disso, a interao escola/ famlia ficou bastante evidente. As de relacionada ao tema do projeto. As aes desenvolvidas foram crianas contaram com a ajuda dos avaliadas no decorrer do processo. pais para pesquisar sobre comidas Levou-se em conta a participao, o tpicas, plantas medicinais e alguinteresse, a criatividade, a assidui- mas lendas e, a partir da, os pais

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tornaram-se agentes participativos na educao de seus filhos. Graas ao resultado obtido com o Projeto Revivendo as Tradies, decidimos dar continuidade ao trabalho em junho, por ser o ms das festas juninas. Nessa poca iremos trabalhar como os mesmos objetivos, ou seja, o resgate da cultura amapaense. Assim, estaremos ampliando o nosso trabalho. E, para que nossos objetivos sejam alcanados com mais sucesso, pretendemos aperfeioar as

metodologias utilizadas nas atividades desenvolvidas no decorrer da execuo do projeto. Na oportunidade, quero dizer a todos os professores do nosso pas que trabalham com a Educao Infantil, que a nossa experincia poder dar subsdio para a construo de projetos que abordem novos temas e alcancem seus objetivos, assim como servir de incentivo a todos os profissionais que atuam para o enriquecimento da educao no pas.

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Dados de identificaoProfessora: Eveline Souza Schramm De Oliveira Escola Csu Liberdade Municpio / UF: Salvador / Bahia Faixa etria atendida pelo projeto: 4 e 5 anos

Pequeno cidadoA construo da cidadania comea na infncia

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Escola CSU da Liberdade est localizada no bairro da Liberdade, o mais populoso de Salvador, onde existe um grande nmero de famlias carentes. A escola funciona nos turnos matutino e vespertino e atende 257 crianas. O projeto inicialmente foi desenvolvido apenas para o perodo vespertino e teve como pblico-alvo 130 crianas, entre 4 e 5 anos. Ele surgiu da necessidade de trabalhar com as crianas um material sobre a cidadania e os smbolos nacionais, que a escola havia recebido. Como fazer crianas dessa faixa etria compreender temas to complexos? Foi esse o grande desafio e tambm a mola propulsora desse projeto: desenvolver na criana, por meio do exemplo, a tica do cidado. Para dar embasamento ao nosso trabalho, o texto foi escrito com base nos Referenciais Curriculares

Nacionais para a Educao Infantil (RCNEI) que um guia de reflexo de cunho educacional sobre objetivos, contedos e orientaes didticas para os profissionais que atuam diretamente com crianas de at 6 anos. Esses Referenciais Curriculares enfatizam que nessa faixa etria 4 e 5 anos importante a identificao do nome e destaca que a criana se interessa pela sua representao escrita desde que isso seja feito de forma contextualizada, ou seja, dando uma funo social para ela. Essa reflexo subsidiou o trabalho da construo da identidade desenvolvida no incio do projeto em que os alunos trabalharam com a histria do nome e posteriormente a confeco da sua carteira de identidade. Outro aspecto importante tambm tratado nos Referenciais serviu como fio condutor de praticamente

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todo o trabalho - o reconhecimento da criana enquanto sujeito de direitos, pois essa encontra-se em uma etapa importante de suas vidas, com caractersticas prprias, que podem e devem ser respeitadas. Segundo os RCNEI , no captulo que trata da Formao Pessoal e Social, nos atos cotidianos e em atividades sistematizadas, o que se recomenda a ateno permanente questo da independncia e autonomia. O exerccio da cidadania um processo que se inicia na infncia, quando se oferecem s crianas oportunidades de escolha e autogoverno. O primeiro passo foi observar que as crianas no conheciam os seus direitos. Alis, nem sabiam que tinham direitos, no se consideravam cidados e nem percebiam o seu valor na sociedade. Observou-se ainda que a escrita do nome de cada um era compreendida como uma atividade de rotina obrigatria sem nenhum outro sentido para elas . Deveriam aprender o nome, e pronto! Desenvolver na criana a independncia e a autonomia algo de suma importncia. No projeto, as crianas tiveram a oportunidade de se dirigir a um rgo pblico, Servio de Atendimento ao Cidado (SAC) para tirar a carteira de identidade oficial, passando por todo o processo que feito por um cidado

comum entregando os documentos, pagando a taxa, recebendo troco , sentindo-se um verdadeiro cidado. Estimulando, assim, o desenvolvimento da independncia e da autonomia. No se pode deixar de lado a parte artstica e as brincadeiras, que so tratadas nos Referenciais e que fazem parte da vida da criana. O projeto trabalhou com arte e brincadeiras atreladas ao ser cidado, e as crianas danavam, cantavam, brincavam e percebiam diversos tipos de sons utilizando instrumentos que elas prprias construram, com sucata. O Pequeno Cidado foi iniciado com a confeco da Bandeira Nacional, que teve a participao de todas as crianas do projeto para que cada uma se sentisse, de forma concreta, parte integrante deste pas cuja dimenso ainda no podem mensurar. Atrelado a isso, todas as segundas-feiras, as crianas acompanhavam a execuo do Hino Nacional. Elas ouviam atentas a melodia e a letra do hino. Essa atividade foi realizada durante o projeto, como uma prtica social que existe em todos os eventos esportivos oficiais e que as crianas tm acesso nos meios de comunicao. Logo em seguida, foi trabalhada a histria do nome, que ganhou a denominao de construo da iden-

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tidade, desenvolvida em etapas. ram a histria que tinham ouvido. Inicialmente, foram orientadas a Depois, as crianas em grupos fizedescobrir com os prprios pais ram desenhos sobre o tema convercomo foi feita a escolha do seu sado. Dessa maneira foram contanome. Isso deu oportunidade ao de- das vrias histrias cada uma resenvolvimento da oralidade, pois lacionada a um direito da criana. cada criana contava nas rodinhas Confeccionamos um livro que recea histria do seu nome. Paralelo a beu o ttulo Olha o Respeito, pois Sou Pequeno! frase isso, foi enviado Os alunos conseguiram dita por um dos aos pais uma modificar suas atitudes alunos ao seu copesquisa para lega, quando tenque escrevesdiante de situaes expostas sem a histria durante o projeto. Isso foi notado tava reivindicar um direito. Foi o do nome do finos relatos de experincias maior sucesso, lho, dessa forma em rodinhas, de atitudes aqueles que no de respeito em relao aos colegas, pois os alunos comearam a enconseguissem ao utilizar palavras como: tender os seus direlatar a sua hisObrigado! Desculpe! reitos, em todos tria na sala, essa seria contada pela professora. os lugares que estavam: em casa, na A partir da o nome foi trabalhado escola... A repercusso foi tamanha durante todo o perodo do projeto, que os pais procuraram a escola culminando com a confeco da car- para saber o que estava acontecenteira de identidade fictcia confecci- do (de uma forma positiva, claro!). Logo depois foi feita a atividade onada na prpria sala, na qual cada criana escreveu o seu nome do seu da bandinha. As crianas confeccijeito, e uma outra que foi tirada num onaram instrumentos musicais de rgo pblico responsvel, o SAC. sucata, colocando em prtica o faElas adoraram, sentiram-se indepen- zer artstico e, ao mesmo tempo, dentes como verdadeiros cidados! desenvolvendo a acuidade auditiva Outra atividade desenvolvida foi ao descobrir o som de cada instrua confeco do livro dos direitos da mento. Tambm realizamos uma criana. Elas ouviam histrias sobre eleio para que pelo voto direos seus direitos e depois relatavam to as crianas pudessem escoexperincias vividas a respeito do lher o prefeito da banda. Os candique acabaram de ouvir. Dessa for- datos tiveram direito campanha ma todos participaram e comenta- eleitoral e discursos.

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A avaliao do Pequenos Cidados ver os olhos das crianas brilhar ao foi realizada por meio de observa- serem valorizadas e levadas a srio es e registros feitos durante todo e ter conscincia de, como afirmou o projeto. Constatamos que os obje- certa vez a poeta chilena Gabriela tivos alcanados superaram nossas Mistral: Muito do que precisamos expectativas. Inicialmente, a propos- pode esperar. A criana, no. No se ta era modesta e simples e, no decorrer lhe pode dizer amanh. Porque seu do processo, tonome : hoje. Pude perceber que as crianas mou uma dimenHoje a criana so ainda mais capazes e sensveis um sujeito de diso grandiosa. do que podemos imaginar. Os alunos reitos, hoje a criTive a oportunidade de ver conseguiram ana deve consos olhos das crianas brilhar modificar suas truir sua identiatitudes diante dade, hoje a criao serem valorizadas e levadas de situaes ex- a srio. Hoje a criana um sujeito ana deve ser vapostas durante o lorizada. de direitos, hoje a criana deve projeto. Isso foi Essa foi uma construir sua identidade, hoje a notado nos relaexperincia graticriana deve ser valorizada. tos de experincificante, que obteas em rodinhas, de atitudes de res- ve um excelente resultado, pois tratou peito em relao aos colegas, ao uti- da realidade da criana, o seu dia a lizar palavras como: Obrigado!, Des- dia, a sua vida. Sem dvida, deve ser culpe!. Essa mudana de comporta- apreciada por todos os profissionais mento tambm foi constatada nos que trabalham com crianas de at 6 relatos dos pais, em reunies. Segun- anos. Esse projeto teve continuidade do eles, em casa, as crianas se sen- na nossa escola no ano seguinte, tiam valorizadas e sabiam quais quando pudemos realizar a maioria eram os seus direitos. das atividades e mais uma vez foi Com esse projeto, pude perceber bem-aceito, com bons resultados. Esque as crianas so ainda mais ca- pero poder estar contribuindo para pazes e sensveis do que podemos melhorar ainda mais a qualidade da imaginar. Tive a oportunidade de educao infantil do nosso pas.

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Dados de identificaoProfessora : Kelrie Rodrigues Reis Escola de Educao Infantil Marisa Mendes de Carvalho Municpio / UF: Fortaleza / Cear Faixa etria atendida pelo projeto: 5 e 6 anos

Chega de silncioA arte das brincadeiras agitando a sala de aula

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Projeto Chega de Silncio foi realizado com crianas entre 5 e 6 anos, que cursam Educao Infantil II C, na Escola de Educao Infantil Marisa Mendes, localizada em Fortaleza, a capital cearense. Dessas, nem todas fizeram Educao Infantil I e apenas duas esto fora da faixa etria equivalente srie que cursam. As crianas so moradoras do bairro Vila Velha IV, que fica na periferia da cidade e, apesar das condies desfavorveis, mostramse bastante curiosas e com vontade de aprender. Os pais tambm demonstram muito interesse pela vida escolar dos filhos e, sempre que solicitados, comparecem escola. Por se tratar de uma escola pblica, situada em uma rea considerada de pobreza, a infncia muitas vezes atropelada. O fato de as crianas aprenderem brincando as estimula a freqentar com prazer a sala de aula, resgatando a infncia

perdida e diminuindo assim a evaso escolar. Segundo Daniela Padovan, Isabel Guerra e Ivonildes Milan, autoras do livro Projeto Presente, o momento atual pede uma matemtica viva, no uma cincia pronta e acabada a ser repetida pelos alunos. Diante disso, percebi que em minha prtica havia apenas o interesse em desenvolver contedos com os alunos, por meio da repetio. Avaliei minha postura e observei, nas atividades de matemtica, a metodologia tradicional: crianas passivas, sentadas, escrevendo nmeros e ouvindo a professora falar. Percebendo a necessidade de mudar essa situao, conversei com as crianas e descobri o interesse natural delas pelas brincadeiras. Resolvi, ento, implementar aes pedaggicas durante as aulas de matemtica com o intuito de desenvolv-las integralmente fazen-

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do uso de atividades ldicas para que a partir disso as crianas fossem capazes de compreender e mudar a prpria realidade. Em um primeiro momento, foi realizada uma discusso em grupo sobre as aulas de matemtica. As crianas expuseram suas idias e mostraram o grande interesse que tinham pelas brincadeiras. Organizei alguns questionamentos para identificar os conhecimentos prvios delas sobre o assunto, como: - Que brincadeiras vocs conhecem? - Como essa brincadeira? - Quem j brincou? Durante a conversa, fui escrevendo o que as crianas falavam: Eu brinco de amarelinha. bom, s jogar a pedrinha e pular. (Vitria, 5 anos)

Discutimos sobre outras brincadeiras que fizeram parte da minha infncia e logo percebi a importncia delas na vida do ser humano. Encerramos a aula listando as brincadeiras que seriam desenvolvidas. E as escolhidas foram: boliche, rabinho, amarelinha e bola-ao-cesto. Em seguida, elaborei um planejamento com objetivos, contedos, metodologias, recursos e avaliaes a serem utilizados. Retomamos a discusso, onde foram estabelecidas as regras que precisaramos saber. Levei as crianas at o ptio para dar incio s brincadeiras. A princpio, elas sentiram dificuldade em compreender as regras, esperar a vez de jogar, se posicionar, identificar os procedimentos das brincadeiras, como jogar a pedrinha, o que

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fazer para pegar mais rabinhos ou derrubar o maior nmero de garrafas etc. Depois de algumas semanas, porm, as dificuldades foram diminuindo. Na brincadeira do rabinho, convidei as crianas a colocar um rabinho feito de E.V.A.(material feito de borracha fina usado para confeccionar jogos e letras) nas costas e, aps encaminh-las ao ptio, onde ficaram organizadas aleatoriamente dentro de um espao delimitado, deveriam pegar o maior nmero de rabos uns dos outros, sem deixar que ningum tirasse o seu. Quando a brincadeira terminava, os rabinhos eram levados para a sala de aula, onde fazamos a contagem, comparvamos e representvamos a quantidade. Essa foi a brincadeira que o grupo mais gostou. As crianas se divertiam bastante, desde a colocao do rabinho at a retirada dele pelos colegas. Algumas demonstra-

ram solidariedade ao retirar o rabinho da outra, afirmando que, quando voltassem para a sala de aula, os devolveriam. Durante a brincadeira, elas foram desenvolvendo noes de cores, espao, lateralidade, formas geomtricas, quantidades, comparao de quantidades, agilidade, percepo visual, raciocnio lgico, noes bsicas de muito, pouco, igual, diferente, mais, menos etc. Por intermdio do ldico, as crianas comearam a desenvolver no s os contedos matemticos, mas tambm outras qualidades, como negociar, pedir, recusar, perceber o que podiam ou no fazer etc. O mais interessante foi perceber que eu levaria o ano inteiro para desenvolver todos esses contedos e habilidades. Terminada essa fase, era necessrio estimular a oralidade para entender o pensamento matemtico da criana e ento, quando voltvamos

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do ptio, conversvamos sobre a brincadeira realizada e que serviria de critrio na avaliao. - O que precisamos para acertar a bola no cesto? - Qual o segredo para derrubarmos mais garrafas no boliche? Logo aps as conversas, as crianas eram convidadas a realizar atividades relacionadas s brincadeiras, como registrar com desenhos o que tinham visto e vivenciado, expor para os colegas o Esse trabalho foi muito gratificansignificado do desenho e construir te, pois consegui com as crianas da textos relatando a brincadeira. minha sala quebrar paradigmas imO que me chamou a ateno foram postos por uma educao tradicional as produes coletivas, onde todas e crescer profissionalmente. as crianas souberam relatar as brinA experincia do Projeto Chega de cadeiras desenSilncio foi conPor meio de brincadeiras, volvidas. Com cluda no final as crianas comearam a isso, o grupo dedo ano letivo de desenvolver no s os contedos monstrou que 2004, obtendo matemticos, mas tambm havia compreenbons resultaoutras qualidades, como dido o assunto. dos. Para avalinegociar, pedir, recusar, A cada dia, as ar as crianas perceber o que podiam ou crianas ficavam importante que mais motivadas no fazer etc. O mais interessante os desafios com as aulas, apresentados foi perceber que eu levaria sentindo-se autosejam possveis o ano inteiro para desenvolver ras ativas e consde ser enfrentatodos estes contedos trutoras do prdos pelo grupo. e habilidades. prio conheciPara isso, funmento. Os colegas das outras tur- damental avaliar a prtica: mas e os familiares foram convida- As atividades propostas tm dos a participar da exposio dos proporcionado momentos de registros e a observar o processo de integrao entre os grupos? desenvolvimento das crianas. - Houve interesse pelas brinca-

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deiras e as atividades sugeridas? Fazendo uma avaliao de todo o - Como as crianas se referem projeto, observei o quanto as crianaos prprios avanos e ao trabalho as se envolveram com o assunto traque desenvolvem? balhado. Demonstraram interesse e Elaborei uma ficha de avaliao crescimento no s nas aulas de mapara cada aluno, na qual constava temtica, como em todas as reas do a sua evoluo conhecimento. individual, atiEsse progresso O projeto deu oportunidade tudes, habilida- s crianas de viverem a infncia tornou-se visvel des, conquistas na participao com mais prazer e aprenderem e avanos, com o das atividades, soo que essencial para a vida intuito de analicializao e coopedo ser humano: respeitar sar os resultarao do grupo. o outro, saber conviver dos e rever noO projeto deu em sociedade, ser feliz, vamente a prtioportunidade s negociar, pedir... ca pedaggica crianas de vivequando necessrem a infncia rio. Nos desenhos, avaliei a quanti- com mais prazer e aprenderem o que dade de crianas presentes na brin- essencial para a vida do ser humacadeira, os nmeros na amareli- no: respeitar o outro, saber conviver nha, espao utilizado, as diferentes em sociedade, ser feliz, negociar, perepresentaes das garrafas, a ex- dir etc. O trabalho foi muito gratifipresso facial, percepo visual, cante, pois consegui com as crianas corporal etc. A riqueza de detalhes da minha sala quebrar paradigmas nos desenhos tornou visvel o grau impostos por uma educao tradicide desenvolvimento das crianas. onal e crescer na profisso.

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Dados de identificaoProfessora: Taicy de vila Figueiredo Escola Classe Sonhm de Cima Municpio / UF: Sobradinho / Distrito Federal Faixa etria atendida pelo projeto: 4 e 6 anos

BrincarteProjeto utiliza brincadeiras para resgatar a auto-estima das crianas

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riada pela rede pblica de ensino do Distrito Federal, em 1976, a Es-cola Classe Sonhm de Cima funciona, desde 1997, em um prdio cedido pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra), no Projeto de Assentamento Contagem, na zona rural de Sobradinho. A referida construo, antigo abrigo de posseiros, foi precariamente adaptada para funcionar a nossa escola, a nica do assentamento. A maior parte das nossas crianas filha de trabalhadores rurais da regio, seja de famlias assentadas, seja de empregados das propriedades rurais prximas, cujo grau de instruo e renda familiar so baixos. A turma de educao infantil era bastante heterognea, composta de 15 crianas, entre 4 e 6 anos de idade, incluindo uma aluna com necessidades educacionais especiais. Du-

rante o perodo de adaptao, percebemos que essas crianas tinham um enorme desejo de se integrar ao novo ambiente (a escola). O assentamento no lhes oferecia outras opes de cultura, lazer e aprendizado coletivo, devido ausncia de outros recursos pblicos e ao isolamento desta regio rural. Assim sendo, elegemos como nosso principal objetivo ampliar o conhecimento de mundo das nossas crianas, de forma que elas se sentissem no apenas acolhidas na escola, mas tambm valorizadas na sua individualidade, promovendo a auto-estima. Para alcanarmos esse objetivo, escolhemos como tema o folclore infantil. Acreditamos que resgatando a arte e a cultura populares poderamos, a um s tempo, valorizar e ampliar os conhecimentos que nossas crianas j traziam do lar.

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Inspiramos o nosso trabalho na vilegiamos o brincar. Assim, ao consseguinte concepo de Donald W. trurem seus prprios brinquedos, Winnicott, psicanalista e pediatra as crianas poderiam perceber a caingls, autor de vrios livros sobre pacidade que tm para alcanar a criana: A funo da escola mater- aquilo que desejam, sentindo-se nal no ser um substituto para uma mais confiantes, e teriam estmulo para usar os me ausente, mas brinquedos consuplementar e amA convivncia harmoniosa feccionados nos pliar o papel que, de crianas de idades variadas, jogos em grupo, nos primeiros anos de diferentes raas, religies e essenciais para da criana, s a me valores familiares, valorizou a socializao. desempenha. Uma e respeitou a individualidade O primeiro escola maternal, ou de cada uma, ajudando a passo para torjardim de infncia, construir a auto-estima, nar possvel o ser possivelmente nosso principal objetivo projeto foi, junconsiderada, de tamente com as modo mais correto, uma ampliao da famlia para cima, crianas, criar uma rotina rica, em vez de uma extenso para baixo da prazerosa e flexvel, fundamental para a adaptao delas na sua cheescola primria. Winnicott, ao afirmar que a Edu- gada escola, fornecendo-lhes subcao Infantil pode ser considerada sdios para que pudessem se orgao modo mais correto de uma ampli- nizar no tempo/espao escolar, posao para cima da famlia, preten- sibilitando a elas se apropriarem de apontar para o fato de que, ao desse novo mundo de desenvolvientrar na escola, a criana no dei- mento. A rotina diria era composxa de lado a vida afetiva que tinha ta pelos seguintes passos: Na Roda Inicial, o primeiro mono lar, centrada sobretudo na me. Ao contrrio, ela est ali para mento de socializao do dia, as criampli-la, relacionando-se com os anas, por meio de conversas educadores e com outras crianas dirigidas, compartilhavam as novide idades variadas, com valores cul- dades que traziam de casa. A proturais e familiares diferentes dos fessora explicava a elas a agenda de seus. Por isso consideramos que o atividades do dia e apresentava nocerne de nosso objetivo seria forta- vos conhecimentos, utilizando para lecer a auto-estima de nossas crian- isso jogos pedaggicos, livros infanas. Para que isso fosse possvel, pri- tis etc. medida que as crianas

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iam se familiarizando com a rotina, uma delas era indicada como a Ajudante do Dia, que dirigia a Roda, desenvolvendo a sua autonomia. Na Hora da Atividade, as crianas podiam expressar, por meio de aes mentais e concretas, os conhecimentos que vinham adquirindo durante a realizao do projeto. Com o auxlio da professora, a classe, organizada em grupos de trabalho diversificado, ampliava o universo de conhecimentos utilizando vrias linguagens, como a escrita, a matemtica, o grafismo etc., alm de explorar materiais concretos, novos suportes para a expresso plstica e jogos pedaggicos. Na Hora da Brincadeira, tnhamos na sala de aula vrios brinquedos, obtidos por meio de doaes, para que as crianas dessem asas ao jogo simblico. Nesse momento, tambm usavam os brinquedos que elas mesmas confeccionavam como os fantoches mamulengos, com os quais elas improvisavam histrias atrs da empanada1 ou brincavam de casinha. No Recreio e Recreao, nossa turma, juntamente com as demais classes da escola (da 1 4 sries),

podia brincar livremente, usufruindo os brinquedos que confeccionavam, ou organizando jogos do folclore infantil que a professora lhes havia apresentado, como cantigas de roda, amarelinha, pular corda etc. Ao final do dia, tnhamos o Cantinho da Leitura. Com as doaes, conseguimos formar uma pequena biblioteca na sala de aula, organizada em um belo ba, contendo livros infantis e gibis que as crianas exploravam livremente, folheando, brincando de escolinha, contanto histrias umas s outras. Nos finais de semana, cada criana escolhia um livro da biblioteca e o levava para casa, a fim de usufru-lo com sua famlia. Tambm tnhamos uma Agenda Semanal. As segundas-feiras eram dedicadas ao Dia do Brinquedo. As crianas utilizavam sucatas reciclveis e de simples manuseio, como jornais, garrafas plsticas e caixas de papelo, e confeccionavam seus prprios brinquedos. Usando material que antes polua o meio ambiente, as crianas, orientadas pela professora, pesquisaram e construram brinquedos como chocalho, pandorga2, bonecas, msca-

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Palco para teatro de fantoches. Pipa, papagaio, rabo-de-arraia, cot, cartola, maranho etc... Uma pandorga se constitui das seguintes partes principais: armao, amarrao, cobertura, rabo e cordel.

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ras, baldes de areia, bilboqu 3, massinha caseira, e fantasia de bumba-meu-boi, entre outros. O principal brinquedo confeccionado foi o fantoche mamulengo, usando garrafas plsticas, jornal velho e retalhos de pano. As crianas construram passo a passo seus prprios bonecos com entusiasmo, pois, desde o incio do ano letivo, j haviam entrado em contato com o mundo do teatro de bonecos. Tnhamos tambm um fantoche de cabaa, o Palhao Pompom, que participava diariamente da Roda Inicial e era manipulado pelo Ajudante do Dia. Quando os bonecos ficaram prontos, as crianas manifestaram o desejo de construrem casinhas para eles. Ento, com caixas de sapato, cada criana fez uma casinha para guardar o seu mamulengo e, usando uma grande caixa de papelo, o grupo fez um palco para o teatro de fantoches, para ser usado na apresentao da turma. A histria escolhida pelas crianas para ser encenada foi Tangolomango, baseada numa cantiga popular. A pea foi apresentada no evento Festa da Primavera, no qual compareceram todas as turmas da escola e as famlias das crianas. Aps a apresentao, os pe-

quenos puderam levar seus fantoches para casa, com as caixinhas que confeccionaram para eles, alm de uma surpresa preparada pela professora: um porta-retratos contendo uma foto do aluno com seu boneco; uma lembrana importante para eles e suas famlias, pois a maioria no tem mquina fotogrfica para registrar a infncia dos filhos. s teras-feiras, o dia era dedicado ao Caderno de Msica, quando apresentvamos uma nova msica folclrica ou de ritmos populares brasileiros. Nessa etapa, exploramos cantigas de roda e canes sobre folguedos populares, alm de compositores como Luiz Gonzaga, Vinicius, Toquinho e Chico Buarque, entre outros. Na Roda Inicial, trazamos a letra impressa da msica para cant-la, fazendo a leitura do texto, que depois era ilustrado; a coletnea das msicas ilustradas formou o referido caderno, que cada criana levou para casa ao final do ano. Alm disso, os textos foram usados para estimular a construo da linguagem escrita. Elas desenvolveram vrias atividades, como formar palavras com alfabeto mvel, escrever frases, completar lacunas na msica etc.

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O objetivo do jogo lanar um ou mais objetos, que so presos a um cordo e encaix-los num pino, que est amarrado na ponta oposta do cordo.

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Nas quartas-feiras, tnhamos o cipava de brincadeiras dirigidas peDia do Conto, com o objetivo de es- los professores e assistia a filmes timular a construo da linguagem pedaggicos. Durante a realizao do trabaoral e escrita, por meio de histrias, mitos e lendas do nosso folclore, lho, pudemos perceber que a alm de textos de vrios estilos lite- heterogeneidade da turma, que poderia dificultar rrios, como a realizao do poesias e con- Resgatamos nossa cultura popular, projeto, convertos de fadas e valorizando o calendrio teu-se numa textos informacomemorativo brasileiro. grande riqueza. tivos. Os textos Trouxemos para a sala de aula, A convivncia privilegiavam histrias sobre nossos ndios, sobre harmoniosa de temas do folcloa contribuio dos negros, alm crianas de idare infantil e da de folguedos ligados s festas juninas, des variadas, de cultura popuao carnaval, Pscoa e ao Natal, diferentes ralar. Este, especialm de outros. Assim, pudemos as, religies e almente, foi um apresentar s crianas nossas valores familiaveculo que desdatas comemorativas atravs res, valorizou e pertou enormedo nosso folclore, apresentando respeitou a inmente o interescantigas e ritmos populares dividualidade se das crianas de cada uma, por vrias histrias, como A Casa da Flor, que conta a ajudando a construir a auto-estima, histria real de um brasileiro descen- nosso principal objetivo. Sentindo a dente de escravos, e o Bumba-Meu-Boi sua individualidade respeitada na que, depois, foi encenado pela turma escola, as crianas no demoraram a se adaptar rotina, pois ela era na festa junina da escola. s quintas-feiras, tnhamos o estruturada e prazerosa. A crianDia da Pintura, quando as crianas a portadora de necessidades eduexploravam diversos materiais e cacionais especiais, hoje, se enconsuportes para a expresso plstica, tra plenamente integrada, desenquando, por exemplo, pintaram cai- volvendo todas as suas potenciaxas de papelo para confeccionar as lidades. Ao longo do projeto, resgatamos fantasias do boi usadas na festa junina. E, finalmente, s sextas-fei- nossa cultura popular, valorizando o ras, tnhamos o Dia do Vdeo e Re- calendrio comemorativo brasileiro. creao, quando toda a escola parti- Trouxemos para a sala de aula his-

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trias sobre nossos ndios, sobre a contribuio dos negros, alm de folguedos ligados s festas juninas, ao carnaval, Pscoa, ao Natal, alm de outros. Assim, pudemos apresentar s crianas nossas datas comemorativas, no de maneira estereotipada ou superficial, mas embasadas no nosso folclore, e recheadas de cantigas e ritmos populares, como o Bumba-Meu-Boi, o Reisado4 etc., ampliando o universo das crianas.

Acreditamos que nossa experincia mostrou que possvel organizar o trabalho pedaggico na educao infantil de modo que a formao pessoal e social da criana esteja intimamente ligada construo de novos conhecimentos, e que a metodologia e as atividades por ns desenvolvidas possam ser aplicadas, com sucesso, em outras turmas de educao infantil, adaptando-as s necessidades de cada escola.

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O Reisado uma das pantomimas folclricas mais ricas e mais apreciadas, principalmente no Nordeste. apresentado de 24 de dezembro a 6 de janeiro, isto , entre o Natal e Festa de Reis. O Reisado formado por um grupo de folies que se rene numa espcie de rancho, com a finalidade de visitar as casas das pessoas da regio, cantando e danando.

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Dados de identificaoProfessora: Amlia Srtoli. Co-autores: Eliana Rosa Carvalho, Eliane Santana Velasco Vieira e Dayse Roberts Lima Freire. Centro Municipal de Educao Infantil Zlia Vianna de Aguiar Municpio/UF: Vitria / Esprito Santo. Faixa etria atendida pelo projeto: 2 e 3 anos

Navegando com BritinhoA descoberta de uma forma atraente de despertar nas crianas o interesse por imagens artsticas

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Centro Municipal de Educao Infantil de Vitria, no Esprito Santo, tem sua histria voltada para a assistncia social. Inaugurado em 1958, inicialmente, funcionava como orfanato de carter filantrpico, com internos e semi-internos. Depois passou a ter funo de creche, mantido com o auxlio do Estado e patres dos pais das crianas matriculadas.Atendia s necessidades dos pais que precisavam de um lugar seguro para proteger seus filhos enquanto trabalhavam. Desde a sua municipalizao, em 1999, iniciou-se um trabalho de sensibilizao da comunidade escolar, a respeito do papel pedaggico da escola. Hoje, com o projeto poltico-pedaggico em construo e o plano de trabalho elaborado por todos os funcionrios, colocamos em

prtica uma proposta que cuida e educa, simultaneamente, consolidada nas caractersticas pedaggicas. Contando com bom espao fsico e apoio tcnico, pedaggico e financeiro da escola e da Secretaria Municipal de Educao, reunimos condies para desenvolver projetos de trabalho com as crianas. Inseridos numa comunidade central urbana da cidade de Vitria, atendemos a uma clientela de nveis culturais e sociais heterogneos, compartilhando o mesmo espao educacional. Um grupo em especial composto em sua maioria por filhos de trabalhadores residentes em outros bairros e municpios necessitava fortalecer os vnculos e as interaes afetivas entre a escola e as famlias por isso passamos a estimular a participao ativa de todos.

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Acreditando na importncia da arte na educao infantil, mobilizamos todos os nossos recursos para fazer com que o projeto fosse bem-sucedido. Buscamos descobrir uma forma atraente de despertar nas crianas o interesse por imagens artsticas. O objetivo era aproximar as atividades pedaggicas das cotidianas. Na formao integral da criana, a escola assumiu seu papel de mediadora do conhecimento, transferindo de maneira sistematizada os interesses imediatos do dia-a-dia para outros prprios do saber cientfico. O trabalho pedaggico est calcado na poltica Municipal de Educao Infantil, em documentos oficiais da Secretaria Municipal de Educao, no Referencial Curricular Nacional, literatura e peridicos afins, tendo como eixo central as artes visuais. Por meio da pedagogia de projetos, tema de estudo nesta Unidade Escolar, nos esforamos para estar engajados nela, mesmo sendo um grande desafio por se tratar de crianas to pequenas. Para executar o projeto, utilizamos a apreciao das obras do artista plstico pernambucano Romero Britto 1 , em especial as

reproduzidas em embalagens e objetos de consumo. Contando com o apoio da pedagoga da instituio e estmulo de um arte - educador, vimos na obra alegre, de traados fortes, definidos e coloridos de sua obra, a possibilidade de trabalhar com suas reprodues artsticas. Estudamos pesquisadores que promovem reflexes sobre o conceito de aprendizagem e uma nova forma de ao pedaggica, em que o ensino das Artes Visuais passa por um amplo processo de aprendizagem, dentro e fora da escola. A esta cabe organizar e sistematizar em atividades nas quais a criana possa estar tanto no lugar de quem produz como no de conhecedor e apreciador de arte. Um processo onde o fazer retroalimentado pelo conhecimento de outros produtores e pela possibilidade de ler seus produtos. a oportunidade de conhecer, apreciar e produzir arte.

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Artista plstico brasileiro que adotou um estilo alegre e colorido. Suas obras esto espalhadas por mais de 70 pases. Seu trao tem caractersticas infantis e exploram formas geomtricas ou figuras como coraes ou animais, sempre com cores vivssimas.

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Segundo Anamlia Bueno Buoro, O conceito de Arte uma linguagem que possui uma estrutura prpria e capaz de dizer ao indivduo algo diverso que as outras linguagens dizem... O indivduo consumidor de uma obra de arte tambm criador, porque leitor de obra de arte, intrprete do mundo. Fernando Hernandez, em seu livro Cultura Visual, Mudana Educativa e Projeto de Trabalho, apresenta reflexes na tentativa de romper barreiras e mitos sobre como o campo de estudos das artes dever ampliar os conhecimentos das crianas em todos os nveis, sobre a cultura visual de nossa poca e outras. Fala sobre a racionalidade cultural onde considera que a arte uma manifestao cultural e os artistas realizam representaes que so mediadoras de significados em cada poca e cultura. Para ele, trilhar esse caminho da arte na educao no corresponde a uma moda, mas sim conecta a um fenmeno mais geral que tem a ver com

o papel da escolarizao na sociedade da informao e da comunicao, e com a necessidade de oferecer alternativas aos alunos para que aprendam a orientar-se e a encontrar referncias e pontos de ancoragem que lhes permitam avaliar, selecionar e interpretar a avalanche de informaes que recebem todos os dias. Ns, enquanto escola e educadores comprometidos, temos muito o que fazer por nossas crianas. Estimulando-as a conhecer e apreciar nossa herana cultural, sem temer produzir arte. Valorizar o papel da arte na sociedade, visitar museus e mostras artsticas, selecionar os materiais a serem apreciados, dirigindo o seu olhar e ofertar ambiente propcio realizao de seus trabalhos. Esses foram os grandes desafios desta proposta. E, como disse Marisa Szpigel, O professor se coloca como um mediador/instrutor de conhecimentos culturais, e a interveno que realiza fica evidente e pode ser avaliada pela qualidade do material que seleciona, organiza e traz para a sala. Para desenvolvermos o Projeto Navegando com Britinho, buscamos caminhos de construo do conhecimento, inspirados na perspectiva construtivista sciointeracionista, concebendo a criana como sujeito social e histrico, objetivando contri-

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buir na formao de cidados capazes de ler o mundo com sensibilidade e criatividade, ampliando sua capacidade criadora por meio da explorao de imagens, incentivando a descoberta de nova forma de comunicao, considerando os apelos da mdia e da sociedade contempornea. O projeto foi elaborado de maneira a ultrapassar os muros da escola. Iniciado em fins de maro de 2003, a partir do interesse das crianas por peixes, aps visita ao supermercado, montamos mural de pesquisa sobre o tema, com a participao de toda a escola, abordando duas funes: alimentao e ornamentao. Compramos peixes para nos alimentar e para ornamentar nosso aqurio. Muitas aulas-passeio foram realizadas: na praia, Escola de Cincia, parques, casas comerciais, casa de colegas, cinema, mercado de pei2

xe, colnia de pescadores, Desfiadeiras de Siri2 e Paneleiras de Goiabeiras3 dentre outras, tornando concretas as descobertas de sala de aula. Plantamos e colhemos coentro tempero para peixe muito apreciado na culinria capixaba. Com o auxlio das famlias, escrevemos e ilustramos o livro Navegando com Britinho, que conta toda a trajetria da construo de nosso aqurio. Na alimentao, preparamos algumas receitas e degustamos pat de atum, moqueca e torta capixaba, que so pratos tpicos de nossa regio. Conhecemos o peixe fresco e o industrializado, como por dentro e por fora, aprendemos quais os cuidados que devemos ter ao comprlo e como com-los. Promovemos uma grande festa inaugurando nosso aqurio. Cada turma confeitou um bolo em forma de animal mari-

As Desfiadeiras de Siri da ilha Caieiras ,Esprito Santo, trabalham em uma Cooperativa fundada em 1999 pela prefeitura e mantm viva essa antiga tradio local. Sua atividade consiste em desfiar os siris pescados pelos homens usados no preparo de pratos tpicos, como a torta capixaba. As Paneleiras de Goiabeiras, assim chamadas por ser a maioria das artess mulheres, residem no bairro de Goiabeiras, em Vitria, capital do Estado do Esprito Santo. Com competncia confeccionam, em barro, panelas, potes, travessas, de diversas formas e tamanhos. O processo de fabricao praticamente o mesmo que os ndios usavam na poca do descobrimento. Anteriormente, as Paneleiras trabalhavam individualmente em suas prprias casas. Atualmente, mais organizadas, esto agrupadas na Associao das Paneleiras de Goiabeiras, uma espcie de cooperativa.

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nho para compor a mesa da festa, estima. Sem falar que o trabalho organizada como um grande aqu- nos impulsionou a fazer cada vez rio. Encerramos o trabalho produ- mais e melhor, porque estvamos zindo uma embalagem para enviar felizes. Os resultados positivos desnosso projeto ao Prmio Qualidade se projeto possibilitaram concluir que a forma mais adequada de o na Educao Infantil - 2004. Registrvamos diariamente as cotidiano e a arte entrarem na sala atividades e os acontecimentos in- de atividades com significado diteressantes e semanalmente envi- dtico-pedaggico investir na formao contivamos relatrinuada do profesos para o acomAlcanamos vrios nveis sor para ajud-lo panhamento fade instruo: das crianas e a romper com a miliar. Observade suas famlias, dos educadores metodologia bao direta e e da escola e da comunidade seada meramenconstante, anoem geral, estreitando nossa te na transferntaes em fichas relao e possibilitando cia de conheciindividuais e conhecimento mais profundo mentos abstraprodues colede obras artsticas que tos e passarmos tivas orais e esconvivemos em nosso oferecer s cricritas orientadia-a-dia anas nossa prvam a nossa intica para uma terferncia. Alcanamos vrios nveis de real transformao, tornando-as instruo: das crianas e suas fa- capacitadas a responder aos desamlias, dos educadores e da escola fios do mundo atual. notrio os e da comunidade em geral, estrei- avanos conquistados, fazendotando nossa relao e possibilitan- nos acreditar que vale a pena e do conhecimento mais profundo de possvel produzir educao infanobras artsticas que convivemos til de qualidade. O Projeto Navegando com Britinho em nosso dia-a-dia. Todo o trabalho foi marcado pelo estendeu-se por mais de um ano lecomprometimento com a aprendi- tivo e at hoje contagia quem o cozagem das crianas e da nossa tam- nhece. Se pudesse continu-lo, bm. Foi bastante gratificante tra- aprofundaria nos estudos sobre alibalhar com crianas to pequenas, mentao e a nossa culinria regioauxiliando na construo da auto- nal. A experincia de ver nosso tranomia delas, e elevando a sua auto- balho organizado e pronto foi o me-

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lhor prmio. Aconselhamos todos os professores a arriscarem-se na aventura de registrar suas prticas, porque encontrar com os corajosos da educao infantil de todo nosso pas foi maravilhoso! Nos deu a certeza de que a escola no de-

psito de crianas e que estamos no caminho certo, prximos das melhores prticas que se conhece, e isso nos fortalece e impulsiona a avanar sempre e acreditar que a escola pblica pode ser da melhor qualidade.

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Dados de identificaoProfessora: Carina Gomes Leal Paiva Co-autores do projeto: Carolina de J. Luzo, Enir S. Moreira, Ma. Aldeniza da Silva, Vanderleia de J. Ferreira, Helena F. Alves, Zilda R. de Araujo, Mariza A. Ferreira, Ir Teresa Cavazzuti, Ir Ma. Elina Bustos, Kelly Cristina Silva Costa Creche Municipal Crianas Crescendo Municpio / UF: Jussara / Gois Faixa etria atendida pelo projeto: 4 a 6 anos

A praa que queremosCrianas defendem a construo de uma praa no bairro e mobilizam professores, pais, moradores do bairro e autoridades para a realizao do projeto

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bairro Nova Jussara fica localizado a 5 km da cidade de Jussara-GO e formado por 350 famlias carentes. A creche funciona, provisoriamente, em um prdio cedido pela Igreja Catlica. Ela composta de duas salas de aula, uma cozinha, uma despensa, dois banheiros, e uma rea que utilizada para recreao e tambm para fazer as refeies. Na capela so feitas as reunies e as festas. Seu projeto poltico pedaggico contempla o trabalho com temas escolhidos pelas professoras e professores a partir do interesse comum, acontecimentos locais e nacionais. Acreditamos que com esta obra idealizada - A Praa Que Queremos -

e, oportunamente, realizada, a comunidade se beneficiaria, podendo continuar sua luta com mais motivao. Tendo direito a melhores condies de vida e, o principal, na condio de protagonista ativa no processo de socializao. Considerando que a educao infantil a primeira etapa da Educao Bsica, amparada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB), suas aes passam a ter uma intencionalidade educativa. Elas no se restringem apenas guarda e ao cuidado das crianas. Acreditamos em uma educao infantil na qual as crianas tenham direito cultura, brincadeira, literatura, ao teatro, m-

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sica, pintura e arte em geral. crianas e adolescentes; a falta de preciso torn-las capazes de conhe- cuidado da populao com o lixo; o cer sua realidade social e propor desperdcio da gua; a inexistncia mudanas. Faz-las construtoras de arborizao e de espaos verdes; de sua prpria histria. o grande nmero de pessoas que Um ms antes de desenvolver- sofre de problemas respiratrios mos o projeto propriamente dito, causados pela poeira. uma primeira abordagem envolvenO projeto envolveu toda a comudo temas ambinidade, deixanTrabalhar com a entais foi realizado-a interessaeducao infantil da, com o Projeto da e particimuito gratificante, pois, gua Nossa de cada pativa, dando Dia. Aps essa ex- ao mesmo tempo que ensinamos, oportunidade aprendemos a olhar a vida perincia, o deparde planejar as a partir dos olhos tamento do Meio atividades em Ambiente do muconjunto proda criana nicpio nos enviou fessor/criana; uma proposta que visava melhorar para trabalhar em grupo, e deixar as a qualidade de vida dos moradores opinies flurem. Dessa forma, a do bairro. Entre as sugestes, esta- educao ter um novo rumo. va a proposta de visitar uma praa, De acordo com Vera Grelhet, comno entanto, o bairro onde est loca- preender a situao-problema o oblizada nossa creche no tem praa. jetivo do trabalho por projeto. Esse Isto nos levou a uma reflexo sobre o ponto inicial do trabalho, pois paras condies da regio. O que po- tindo da realidade que se comeam deramos fazer para melhorar a as descobertas educacionais. A auqualidade de vida das pessoas? Le- tora diz tambm que todos tm tarevando-se em conta o expressivo n- fas e responsabilidades. A aprendimero de famlias jovens que mo- zagem se d durante todo o procesram no setor e, por conseguinte, de so e no envolve apenas contedo.

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Segundo ela, aprendemos a conviver, a negociar, a nos posicionar, a buscar e a selecionar informaes e registrar tudo isso. Conseqentemente, no devemos temer, pois a aprendizagem se d de forma gradativa, deixando as crianas mais atentas s necessidades do seu dia-a-dia, fazendo com que elas pensem e ajam de acordo com as intervenes feitas, e se tornem responsveis pela sua prpria histria. O projeto teve incio com a apresentao e o levantamento do conhecimento prvio das crianas, resgatando a histria do bairro por meio de fantoches. O seu desenvolvimento se deu por etapas: foi feita uma visita ao bairro e conversamos com os moradores para saber como e onde era depositado o lixo; foram observados a infra-estrutura - ruas sem asfalto, falta de espaos de lazer e recreao - e o meio ambiente - pouca arborizao, poluio sonora. O objetivo dessa etapa foi conscientizar as crianas de que cada uma responsvel pelo bairro onde vive. Tambm fizemos uma seleo - classificao, contagem, seriao do lixo coletado no passeio - para a sua utilizao no projeto e em outras atividades. Comeamos por questionamentos, como: O que uma praa? O que tem numa praa? Para que serve? As respostas foram escritas

em um cartaz. No passeio, quando percorremos as praas da cidade, a professora perguntou: Quem construiu a praa? Quanto foi gasto? Como no sabiam a resposta, as crianas ficaram de averiguar. No dia seguinte visita, elas trouxeram as respostas sobre as questes colocadas durante o passeio praa. As crianas se surpreenderam com a placa de identificao da praa, o seu nome e o chafariz. Depois, pensaram em outras coisas que poderiam ser colocadas numa praa e que, segundo elas, viram em filmes e revistas. Idealizaram um lugar para espetculos (Espao Cultural) e pistas para bicicletas. O desenvolvimento do projeto teve vrias etapas: construo da maquete do que temos no bairro; elaborao da planta baixa da praa que queremos; colocando legenda; desenvolvendo uma ligao entre a escrita e o desenho e estabelecendo a relao espacial e temporal. Foi feita tambm a construo da maquete da praa que queremos; em pequenos grupos, as crianas

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receberam diferentes tarefas: produziram rvores, chafariz, placa, recipientes para lixo, quadra... Nessas atividades, foi desenvolvida a coordenao motora, a percepo visual e a criatividade. O nome escolhido para a praa seria colocado numa placa. Uma das crianas sugeriu: A Praa Nossa. Outra criana justificou que estava certo colocar esse ttulo, porque foram elas que a idealizaram. Na roda de conversa, foi discutido o que poderia ser feito para que a praa se tornasse realidade: Podemos pedir ao prefeito que fez a outra praa. A professora explicou que o prefeito constri as coisas da cidade com o dinheiro arrecadado do pagamento dos impostos, por isso todos precisam estar de acordo. Ento, foi sugerido convidar algumas pessoas do bairro para dar a sua opinio. Foram elaborados convites para o presidente da Associao dos Moradores do bairro, a diretora da escola, o pessoal do Posto de Sade, representantes do bairro e os pais. Na oportunidade, as crianas apresentaram o projeto e convidaram os presentes a dar sugestes. O presidente da Associao dos Moradores sugeriu que acrescentssemos ao pedido uma biblioteca. A enfermeira parabenizou as crianas pela explicao que fizeram de como a poeira gera enfermidades

respiratrias e sobre a necessidade de espaos verdes. A professora explicou que para falar com o prefeito seria preciso marcar uma audincia. Para isso, foi escrita uma carta. Enquanto esperava a confirmao do encontro com o prefeito, foi organizada a apresentao do projeto, com a encenao da cano popular A LindaRosa Juvenil e a poesia Leilo de Jardim, de Ceclia Meireles. As crianas estudaram a sugesto da biblioteca e a incluram no Espao Cultural. O prefeito decidiu ir at a creche para ouvir o assunto muito importante que as crianas tinham para dizerlhe. Ficou sensibilizado quando as crianas explicaram a necessidade de uma praa para o bairro e, quando mostraram a maquete que tinham preparado, comprometeu-se a levar a proposta para a Cmara de Vereadores. O Projeto A Praa Que Queremos veio ao encontro da necessidade de maior conscincia e educao da comunidade, pois os moradores do bairro ficaram encantados com as aes realizadas pelas crianas, juntamente com as professoras. O passeio pelo bairro, realizando a coleta de lixo e conversando com os moradores, causou um grande impacto na comunidade. Naquele momento, a creche ampliou o seu espao interno para dar a sua contribuio social.

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Em linhas gerais, o Projeto A Pra- des com material reaproveitado. a Que Queremos colaborou com a so- Neste ano de 2005, queremos desencializao das crianas, que aos pou- volver a coleta seletiva de lixo, juncos foram apresentando mudanas to com as crianas, seus pais e os de postura, atitudes, conceitos e pro- funcionrios da creche. Dessa macedimentos. As crianas apren- neira enfatizamos nossa crena na deram a trabafora da educaO Projeto A Praa Que lhar em grupo e o e nas crianQueremos colaborou conviver com o as como responprximo; escu- com a socializao das crianas, sveis por sua tando e respeiprpria histria e que aos poucos foram tando opinies. de uma nova huapresentando mudanas A avaliao con- de postura, atitudes, conceitos e manidade. tnua da aprenTr a b a l h a r procedimentos. Aprendendo dizagem se deu com a educao a trabalhar em grupo e aceitar em todo o moinfantil muito o prximo; escutando e mento e foi congratificante, respeitando opinies cluda na reupois, ao mesmo nio com os tempo que ensipais, na qual foram citadas as mu- namos, aprendemos a olhar a danas ocorridas em seus filhos. vida a partir dos olhos da crianO Projeto A Praa Que Queremos a. Ser professor ensinar para a abriu caminhos para se trabalhar vida, como, por exemplo, a cuidar tambm com a reciclagem. No se- do lugar onde se vive para que gundo semestre, construmos vri- amanh tenhamos uma qualidaos brinquedos e realizamos ativida- de de vida ainda melhor.

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Dados de identificaoProfessora Raimunda do Socorro Lemos de Matos Co-autores do projeto Cludia Eline Campos Rocha; Lucilene Lima Silva; Helen Luce Cardoso Alves; Anayra Sousa Pinheiro; Maria Joana Melo Correia; Edna Maria Cabral Martins; Ana Rita Oliveira Pires; Maria do Socorro Pereira Correia Centro de Educao Infantil Pastor Estevam ngelo de Souza Municpio / UF So Lus / Maranho Faixa etria atendida pelo projeto: de 5 e 6 anos

Nas asas do CarcarA msica ajuda crianas do Maranho a expressar com mais facilidade suas emoes, sentimentos e, principalmente, a criatividade

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Centro de Educao Infantil Pastor Estevam ngelo de Souza, que atende crianas de 5 e 6 anos, tem um espao fsico amplo e bem distribudo, com trs coretos, uma brinquedoteca, sala de vdeo, sala de professores, sala de informtica, cantina, anfiteatro e rea livre com boa amplitude, o que facilita o desenvolvimento de atividades variadas. A escola localiza-se na Cidade Operria, bairro da periferia de So Lus, no Maranho, rico em manifestaes culturais diversificadas, como coral, bumbameu-boi, grupos de pagode, entre outros. As crianas que participaram do projeto pertencem ao segmento de baixo poder aquisitivo.

A idia do projeto comeou ao se observar que as crianas possuam um repertrio musical bastante limitado. Elas cantavam apenas as msicas mais divulgadas pelos meios de comunicao, como ax, brega e rock pop. Como professora, isso me inquietava. Essa realidade tambm se fazia presente nas outras salas do terceiro perodo da pr-escola. O que nos levou a refletir sobre a importncia de as crianas conhecerem melhor a prpria cultura e ampliar a sua percepo musical. A escolha recaiu sobre o artista brasileiro Joo do Vale pelas suas composies, que at hoje so regravadas por grandes intrpretes, como Chico Buarque, Maria49

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Bethania, Alcione, entre outros. Alm de percebermos a forma de escrita e composies engraadas que poderiam causar interesse ao universo infantil. E por ser a ave carcar um dos smbolos de resistncia e marca registrada da aflio do serto nordestino, determinou a escolha do tema do Projeto Nas Asas do Carcar, que apresentaria s crianas a riqueza da nossa cultura e a realidade de vida que nos cerca. O projeto buscou oferecer s crianas do terceiro perodo do Centro de Educao Infantil Pastor Estevam a oportunidade de conhecer a cultura maranhense por meio da histria da vida e da obra do compositor Joo do Vale, que muito contribuiu para o nosso enriquecimento artstico e cultural. A msica uma linguagem que, se compreendida desde cedo, ajuda o ser humano a expressar com mais facilidade as suas emoes, sentimentos e, principalmente, a ser cria50

tivo. O objetivo da musicalizao infantil contribuir para a formao e o desenvolvimento da personalidade do indivduo pelo estmulo da cultura e fornecendo meios para a evoluo do conhecimento musical. Nesse sentido, Cares, monitora do EGJ, assim se refere: Trabalhar com a msica no cotidiano escolar significa ampliar a variedade de linguagem que pode permitir a descoberta de novos caminhos de aprendizagem. possvel que se despertem nos alunos outras formas de conhecer, interpretar e sentir. Por essa razo, uma das metas do projeto poltico-pedaggico na nossa escola trabalhar com elementos didticos, que criem condies para que nossas crianas possam conhecer, descobrir e vivenciar experincias, valores, costumes e relaes sociais, garantindo assim, de forma significativa, a ampliao do conhecimento. E a msica contribui

significativamente para abrir esse leque de possibilidades. Em decorrncia da forte influncia da msica que os meios de comunicao impunham ao repertrio dirio das crianas, decidimos diversificar um pouco essa tendncia. O que me inquietava, porm, era encontrar a melhor forma para apresentar esse grande compositor e saber se ele e suas msicas seriam interessantes ou no para as crianas. Assim, a roda de conversa, que permitia a troca e a livre expresso das crianas sobre determinado assunto, dessa vez trazia em pauta a novela Celebridade. Nesse bate-papo, as crianas comentavam que a novela considerava celebridades pessoas que eram famosas. Isso me deu oportunidade de mostrar que aqui tambm temos celebridades e de grande significado para a nossa cultura. No dia seguinte, coloquei no quadro, de maneira intencional, um jor-

nal com a foto de Joo do Vale. Percebi que a curiosidade das crianas falava mais alto: De quem se tratava? De onde ele vinha? Era uma celebridade? As crianas que j conseguiam ler, convencionalmente, trataram logo de falar para os coleguinhas que se tratava de Joo do Vale, o autor de Pisa na Ful. E os questionamentos continuaram: Onde ele mora? Ele est vivo ou j morreu? Por que adeus, carcar? Diante desse fato, verifiquei que se tratava de um assunto que muito interessava s crianas: conhecer a histria de Joo do Vale, que se transformara em objeto de interesse para aquelas crianas. Dessa forma, propus ento que trabalhssemos um projeto sobre a vida e a obra desse cantor e compositor, para que pudssemos conhecer um pouco mais esse