mauricio de paula rodrigues

51
MAURICIO DE PAULA RODRIGUES TRANSFORMAÇÃO DIGITAL Trabalho apresentado ao curso MBA em Gestão Estratégica de TI, Pós-Graduação lato sensu, da Fundação Getulio Vargas como requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Gestão Estratégica de TI. ORIENTADOR: ARNALDO LYRIO BARRETO

Upload: others

Post on 04-Oct-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

MAURICIO DE PAULA RODRIGUES

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

Trabalho apresentado ao curso MBA em Gestão

Estratégica de TI, Pós-Graduação lato sensu, da

Fundação Getulio Vargas como requisito parcial

para a obtenção do Grau de Especialista em Gestão

Estratégica de TI.

ORIENTADOR:

ARNALDO LYRIO BARRETO

Rio de Janeiro

04/ 2017

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

PROGRAMA FGV MANAGEMENT

MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE TI

O Trabalho de Conclusão de Curso

Transformação Digital

Elaborado por Mauricio de Paula Rodrigues

e aprovado pela Coordenação Acadêmica do curso de MBA em Gestão Estratégica de TI, foi aceito

como requisito parcial para a obtenção do certificado do curso de pós-graduação, nível de

especialização do Programa FGV Management.

Rio de Janeiro, 20 de abril de 2017.

André Barcaui

Coordenador Acadêmico Executivo

Arnaldo Lyrio Barreto

Prof. Orientador

TERMO DE COMPROMISSO

O aluno Mauricio de Paula Rodrigues, abaixo assinado, do curso de MBA em Gestão Estratégica de TI,

Turma GETI12 do Programa FGV Management, realizado nas dependências da FGV Centro Rio, no

período de 17/11/2015 a 21/04/2017, declara que o conteúdo do Trabalho de Conclusão de Curso

intitulado Transformação Digital é autêntico, original e de sua autoria exclusiva.

Rio de Janeiro, 20/04/2017

Mauricio de Paula Rodrigues

À minha amada esposa Juliana, que está sempre ao meu lado, em todos os momentos.

À memória de minha querida mãe, Marcia.

AGRADECIMENTOS

À Deus por me dar saúde, para enfrentar os desafios da vida.

À minha esposa, Juliana, que sempre acreditou em mim, e contribui diariamente para que eu seja

uma pessoa melhor.

À minha família que sempre me deu apoio, em todos os momentos.

Meus agradecimentos dirigem-se também aos meus colegas e ex-colegas de empresa, que ajudaram

no enriquecimento do meu conhecimento; e aos colegas do curso de MBA em Gestão Estratégia de

TI da FGV.

Finalmente, a todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação, о mеυ muito

obrigado.

RESUMO

Este trabalho mostra um estudo sobre a Transformação Digital, um tema que causa impacto em vários aspectos da sociedade. As oportunidades mais promissoras e os principais desafios que os executivos das empresas enfrentam com as mudanças impostas por essa transformação.

A transformação digital não deve ser vista mais como uma aposta, e sim uma realidade. Grande parte das empresas mais valiosas do mundo estão, de alguma forma, ligadas a indústria digital. Muitas organizações estão surgindo sob a forma de startups oferecendo novos produtos e serviços, enquanto aquelas já estabelecidas buscam se reposicionar a fim de preservar sua posição de vantagem competitiva, utilizando a tecnologia para melhorar seus processos e reduzir custos.

Por outro lado, tanto empresas como a sociedade enxergam os riscos associados a rápida evolução tecnológica. A substituição do homem pela máquina é uma realidade que já é vista, gradualmente, em alguns setores da economia, causando preocupações quanto a oferta de empregos no futuro. Outro aspecto que causa preocupação é quanto a preservação da privacidade das pessoas, uma vez que informações confidenciais ou de alto valor são, cada vez mais, armazenadas em sistemas computacionais.

O objetivo deste trabalho é propor uma abordagem para que empresas realizem um planejamento estratégico onde a TI não seja vista como um custo, mas sim uma área de criação de vantagem competitiva através do uso intensivo da informação, contando com forte participação do CIO (Chief Information Officer) na definição do plano de negócio da corporação. Possibilitando, portanto, a identificação de problemas e pontos de melhoria, buscando agregar valor aos processos produtivos da empresa.

Palavras-Chave: Transformação Digital, Terceira Plataforma, Economia Digital

ABSTRACT

This work shows a study on Digital Transformation, a theme that impacts on several aspects of

society. The most promising opportunities and key challenges that corporate executives face with the

changes imposed by this transformation.

Digital transformation should not be seen as a bet but as a reality. Most of the world's most valuable

companies are in some way linked to the digital industry. Many organizations are emerging in the

form of startups offering new products and services, while established ones are looking to reposition

themselves in order to preserve their position as a competitive advantage by using technology to

improve their processes and reduce costs.

On the other hand, both companies and society see the risks associated with rapid technological

change. The replacement of man by the machine is a reality that is already seen in some sectors of

the economy, causing worries about the future jobs offering. Another aspect that causes concern is

the preservation of people's privacy, since confidential or high-value information is increasingly

stored in computer systems.

The objective of this work is to propose an approach for companies to carry out strategic planning

where IT is not seen as a cost, but rather an area of competitive advantage through the intensive use

of information, with a strong participation of the CIO Officer) in defining the corporation's business

plan. Thus, it allows the identification of problems and improvement points, seeking to add value to

the company's productive processes.

Keywords: Digital Transformation, Third Platform, Digital Economy

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figura 1 - Adaptado de Henderson e Venkatraman ................................................................. 17

Figura 2 - Áreas de Governança e Gestão ................................................................................ 19

Figura 3- Objetivos da Governança: Criação de Valor .............................................................. 20

Figura 4 - Comparação entre produtividade e renda média per capta .................................... 23

Figura 5 - Mainframe IBM System / 360 65 Computer ............................................................ 25

Figura 6 - Topologia Cliente/Servidor ....................................................................................... 25

Figura 7 - A Terceira Plataforma ............................................................................................... 26

Figura 8 - Evolução das tecnologia disruptivas ......................................................................... 28

Figura 9 - Startups avaliadas em mais de US$ 1bi .................................................................... 34

Figura 10 - Netflix vs Blockbuster ............................................................................................. 35

Figura 11 - Hype Cycle para tecnolgias Emergentes, 2016 ...................................................... 38

Figura 12 - Relação Oportunidade x Risco ................................................................................ 40

Figura 13 - Criação de empregos em logística entre até 2025 ................................................. 42

Tabela 1 - Objetivos Corporativos do COBIT 5 ......................................................................... 21

Tabela 2 - Marketing de massa vs marketing um-para-um ...................................................... 31

Tabela 3 -Exemplos de provedores de IaaS e clientes ............................................................. 33

Tabela 4 - Startups Avaliadas em mais de US$1 bilhão ............................................................ 34

Tabela 5 - Categorias de Adoção de Tecnologias ..................................................................... 36

SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................................................................ 12 1.1 Tema e delimitação do estudo .............................................................................................. 12 1.2 O Problema ............................................................................................................................ 13 1.3 Os Objetivos ........................................................................................................................... 14 1.4 Metodologia .......................................................................................................................... 14

2 Fundamentação teórica ......................................................................................................... 15 2.1 Vantagem Competitiva e Alinhamento Estratégico .............................................................. 15 2.2 Estratégia e Tecnologia ......................................................................................................... 15 2.3 Governança Corporativa ....................................................................................................... 18 2.4 Governança e Gestão segundo o COBIT 5 ............................................................................. 18 2.5 Direcionadores das Partes Interessadas e Entrega de Valor Segundo COBIT 5 .................... 20 2.6 Produtividade e Empregabilidade ......................................................................................... 22

3 Digital Transformation .......................................................................................................... 24 3.1 O que é Transformação Digital? ............................................................................................ 24 3.2 A Terceira Plataforma ........................................................................................................... 24 3.3 Os 4 pilares da 3ª Plataforma ............................................................................................... 26 3.4 Aceleradores de Inovação. .................................................................................................... 27 3.5 Oportunidades - Os Principais Drivers para a Transformação .............................................. 28

3.5.1 A Quarta Revolução Industrial e a Internet das Coisas ................................................. 28 3.5.2 Redução de Custos Operacionais (OpEx) ...................................................................... 29 3.5.3 Maior Segmentação e Satisfação do Cliente ................................................................. 30 3.5.4 Tudo como Serviço (Everything as a Service) ................................................................ 32 3.5.5 Explosão das Startups e Novos Modelos de Negócio ................................................... 33

3.6 Desafios ................................................................................................................................. 36 3.6.1 Maturidade das Tecnologias Inovadoras ...................................................................... 36 3.6.2 Segurança e Cyber ataques ........................................................................................... 38 3.6.3 Gestão de Pessoas e Empregabilidade .......................................................................... 41

4 Conclusão .............................................................................................................................. 43

5 Apêndice ............................................................................................................................... 45 5.1 Apêndice A ............................................................................................................................. 45 5.2 Apêndice B ............................................................................................................................. 47

6 Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 49

12

1. INTRODUÇÃO

1.1 Tema e delimitação do estudo

Num cenário onde a tecnologia da informação se torna cada vez mais

protagonista nos processos produtivos e estratégicos, a percepção de que a TI

(Tecnologia da Informação) não é somente uma área de apoio ao negócio, mas sim

uma fonte de vantagem competitiva, é cada vez mais evidente. Segundo Henderson

e Venkatraman (1999, p. 472):

“Em um amplo espectro de mercados e países, a TI está transcendendo seu papel tradicional de "back

office" e evoluindo para um papel estratégico com o potencial não apenas de apoiar estratégias de

negócios existentes, mas também de moldar novas estratégias de negócios.1

De acordo com Burns e Stezo (2000, p. 206), para alcançar o sucesso, as

empresas:

“devem realinhar não apenas sua estratégia de TI, mas também sua estratégia de negócios e manter um

estreito alinhamento entre os dois.”2

Seguindo esta lógica, os gestores de TI e de negócios precisam se preparar para

os desafios que um cenário de alta competitividade imprime sobre o cotidiano das

empresas.

Desta forma, a área de TI deve ser estruturada de forma a entender

detalhadamente a cadeia de valor da empresa, e desta forma incorporar inovações

tecnológicas, que servirão como alicerces para criação de vantagem competitiva.

Estratégias baseadas em informação são utilizadas para facilitar a reengenharia

de processos visando redução de custos, criação de diferenciação no produto ou

serviço, e aumento da fidelidade do cliente, alavancando novos modelos de negócio

para crescimento de receita.

Com a evolução tecnológica e o aumento da capacidade computacional, novas

tecnologias disruptivas estão ganhando cada vez mais relevância. Como exemplo,

1 Across a wide spectrum of markets and countries, IT is transcending its traditional "back office" role and is evolving toward a "strategic" role with the potential not only to support chosen business strategies, but also to shape new business strategies. 2 They had to realign not merely their IT strategy, but also their business strategy and to maintain close alignment between the two.

13

pode-se citar a Internet das Coisas (Internet of Things ou IoT) que promete conectar

à rede mundial não somente pessoas, mas também objetos de diversas naturezas,

tais como eletrodomésticos, veículos, maquinário industrial, iluminação pública, entre

outros. O IoT é capaz de produzir uma infinidade de informações em tempo real,

facilitado o gerenciamento dos ativos que são monitorados através dessa tecnologia.

Outro exemplo de inovação disruptiva é o Big Data, que não se trata apenas de

um sistema, mas sim um ecossistema de aplicações complexas capazes de coletar,

processar, armazenar e disponibilizar grande volume de dados com alta velocidade e

disponibilidade.

A importância e o valor da informação na virada do século, se tornou tão

relevante que recentemente surgiu a necessidade de um novo cargo executivo para

tratar a gerenciar os dados que uma empresa gera e armazena, o CDO (Chief Data

Officer), e a função cientista de dados, que são estatísticos, matemáticos,

engenheiros, cientistas da computação, entre outros, capazes analisar e transformar

esses dados em informação e conhecimento de valor para o negócio.

Estas mudanças, são alguns exemplos de como tecnologias e inovações da

transformação digital tem potencial causar mudanças intensas na economia e

sociedade.

1.2 O Problema

A evolução tecnológica tem promovido mudanças sociais e culturais. As

empresas que não percebem e se preparam para acompanhamento do ritmo desta

mudança, correm o risco de serem suplantadas por concorrentes mais ágeis.

De acordo com Chiavenato e Sapiro (2016, pág. 81):

“A mudança tecnológica acelerada, tem reduzido o ciclo de vida de produtos, serviços, soluções,

conhecimento etc. criando um incrível avanço no processamento e na conectividade além da incrível

revolução de dados e na criação de modelos de negócios”.

Mudar estratégias de negócios e entender as tecnologias avançadas, como

cloud, IoT, Big Data e Analytics, são algumas das providências a serem tomadas. A

maioria das empresas brasileiras está em pânico porque não sabe como aplicar as

14

novas tecnologias às estratégias de negócios, de forma a empreender a tão propalada

transformação digital, D’URSO (2016).

1.3 Os Objetivos

O objetivo deste trabalho é propor uma abordagem para que empresas realizem

um planejamento estratégico onde a TI não seja vista como um custo, mas sim uma

área de criação de vantagem competitiva através do uso intensivo da informação,

contando com forte participação do CIO (Chief Information Officer) na definição do

plano de negócio da corporação. Possibilitando, portanto, a identificação de

problemas e pontos de melhoria, buscando agregar valor aos processos produtivos

da empresa.

Para o desenvolvimento do trabalho será necessário abordar os seguintes

objetivos específicos:

a) Entendimento do cenário competitivo no qual a empresa está inserida, através

de um diagnóstico externo, considerando técnicas e abordagens de

planejamento estratégico.

b) Identificar problemas e oportunidades estratégicas que podem ser

endereçadas, ou ao menos alavancadas, por sistemas e processos de TI, em

particular aqueles frutos da Transformação Digital.

c) Dar uma visão dos desafios e riscos que os executivos das empresas devem

enfrentar com as mudanças necessárias.

1.4 Metodologia

Este trabalho será realizado com base em estudo bibliográfico. Serão utilizados,

livros, periódicos, revistas, publicações de institutos de pesquisas, entre outros. É

importante frisar que o material estará acessível ao público geral, e suas

referências estão indicadas no final do trabalho.

15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Vantagem Competitiva e Alinhamento Estratégico

Quando falamos em empresas e mercado, inevitavelmente nos vem à mente

assuntos tais como competição e estratégia. A competitividade é o desafio imposto

pela globalização às empresas no mundo inteiro. Dentro desse enforque, as empresas

que tem êxito são as que preveem, geram e desenvolvem mudanças, com flexibilidade

e rapidez, (LOBATO et al., 2012, p. 19).

Dentro deste contexto, as lideranças das empresas precisam planejar e orientar

seus esforços e investimentos em iniciativas estratégicas, que garantam rentabilidade

e sustentabilidade dos negócios no médio e longo prazo. Isto só é possível a partir de

um planejamento estratégico bem elaborado, que leve em consideração os fatores

ambientais externos e internos no qual a empresa está inserida. Neste sentido, Porter

(1998, pág. 1) afirma que:

“A estratégia competitiva é a busca por uma posição competitiva favorável em uma indústria – a arena

fundamental na qual a competição ocorre. A estratégia competitiva visa estabelecer uma posição rentável

e sustentável contra as forças que determinam a concorrência da indústria”.3

Portanto, a estratégia empresarial deve conduzir a organização para uma

posição única e singular de destaque na qual possa se distanciar das demais

organizações e termos de competitividade, excelência, liderança em inovação e

preparação para o futuro.

2.2 Estratégia e Tecnologia

Segundo Porter (pag. 164):

“A mudança tecnológica é um dos principais motores da concorrência. Ela desempenha um papel

importante na mudança estrutural da indústria, bem como a criação de novas indústrias. É também um

grande equalizador, corroendo a vantagem competitiva de empresas bem estabelecidas e impulsionando

outros para a vanguarda. Muitas das grandes empresas de hoje surgiram a partir de mudanças

3 Competitive strategy is the search for a favorable competitive position in an industry, the fundamental arena in which competition occurs. Competitive strategy aims to establish a profitable and sustainable position against the forces that determine industry competition.

16

tecnológicas que foram capazes de explorar. De todas as coisas que podem mudar as regras da

concorrência, a mudança tecnológica está entre as mais proeminentes”.4

Portanto, as empresas precisam cada vez mais definir uma estratégia efetiva,

considerando o contexto tecnológico existente, a fim de se manterem competitivas,

sustentáveis e ágeis na resposta a novos potenciais concorrentes, que possam ser

catapultados para posições de destaque alavancados pela tecnologia.

Nos últimos anos, vimos diversas inovações no campo da Tecnologia da

Informação que tiveram grande impacto na sociedade, no que tange relacionamento

entre empresas, clientes e fornecedores. O acesso a informação em tempo real

permitiu mudanças e otimizações em processos, reduzindo custos e aumentando a

eficiência. Portanto, as lideranças das empresas entendem que é necessário capturar

de forma benéfica essas mudanças tecnológicas e implementá-las com eficácia e

agilidade.

Conforme afiram Burns e Szeto (2000, pág. 197):

“A complexidade de alcançar o sucesso do negócio através de maior eficiência, eficácia e competitividade,

combinada com aplicações inovadoras de TI, aumentou a conscientização de TI e gerentes de negócios

para abordagens mais estrategicamente orientadas para o planejamento e gerenciamento. Em particular,

a necessidade de alinhar o planejamento de negócios e TI tem sido enfatizada como criticamente

importante e cada vez mais problemática”.5

Dentro do domínio dos negócios, o alinhamento entre o posicionamento

estratégico da empresa e sua estrutura interna, tem sido debatido com o objetivo de

ser fator crítico para maximização do desempenho operacional e econômico. Da

mesma forma, Henderson e Venkatman (1993, pag. 474) afirmam que:

4 Technological change is one of the principal drivers of competition. It plays a major role in industry structural change, as well as in creating new industries. It also a great equalizer, eroding the competitive advantage of even well-entrenched firms and propelling others to the forefront. Many of today’s great firms grew out of technological changes that they were able to exploit. Of all the things that can change the rules of competition, technological is among the most prominent. 5 The complexities of achieving business success through increased efficiency, effectiveness, and competitiveness, combined with innovative applications of IT, has heightened the awareness of both IT and business managers towards more strategically oriented approaches for planning and management. In particular, the need to align business and IT planning has been emphasized as both critically important and increasingly problematic.

17

“A estratégia de TI deve ser articulada em termos de um domínio externo – como a empresa está

posicionada no mercado, e um domínio interno como a infraestrutura deve ser estabelecida, configurada

e gerenciada”6

Ou seja, assim como os processos e equipes são desenhados de forma

estratégica, todo o aparato tecnológico de uma empresa – infraestrutura física e

sistemas – também devem ser. A figura 1 mostra como Henderson e Venkatraman

sugerem uma modelagem para alinhamento da estratégia do negócio com a estrutura

organizacional e processos e a estratégia de TI e os sistemas, tecnologias e

processos.

Figura 1 - Adaptado de Henderson e Venkatraman (1993)

Burns e Stezo (2000, pag. 197), ao explorar o framework proposto por

Henderson e Venkatraman afirmam que:

“O Modelo de Alinhamento Estratégico de Henderson e Venkatraman implica que a utilização eficaz e

eficiente de TI requer o alinhamento das estratégias de TI e de negócios. Isso reflete a visão de que o

sucesso do negócio depende da articulação entre estratégia de negócios, estratégia de TI, infraestrutura

6 IT strategy should be articulated in terms of an external domain – how the firm is positioned in the IT marketplace – and an internal domain how the lS (information systems) infrastructure should be configured and managed.

18

e processos organizacionais e infraestrutura e processos de TI. A integração estratégica reconhece a

necessidade de qualquer estratégia em abordar domínios externos e internos. Isso enfatiza a necessidade

de fazer escolhas que posicionem a empresa em um mercado externo e decidir como estruturar recursos

internos para executar uma estratégia de posicionamento de mercado. Essas escolhas são a estratégia de

negócios, a infraestrutura organizacional e os processos. O desempenho da empresa é determinado pela

extensão em que essas duas estratégias são consistentes. Usar a TI para aprimorar essas escolhas fornece

a oportunidade de vantagem estratégica”.7

2.3 Governança Corporativa

O objetivo de toda organização é criar valor para acionistas, sociedade, órgãos

governamentais entre outros. A Governança Corporativa é responsável por garantir o

direcionamento da companhia de forma que o valor esperado seja entregue, de

acordo com os recursos que a organização dispõe.

A governança corporativa significa o relacionamento que a organização pretende

ter com seus acionistas e investidores para determinar e controlar a direção

estratégica e o seu desempenho frente às suas expectavas. Quase sempre, a

Governança Corporativa é utilizada pelas organizações como meio para estabelecer

uma ordem entre as partes – os proprietários da organização e seus executivos de

alto nível – cujos interesses possam eventualmente estar em conflito. O seu objetivo

primordial, é garantir que os interesses dos gestores e executivos de alto nível,

(CHIAVENATO e SAPIRO, 2016, pág. 389):

2.4 Governança e Gestão segundo o COBIT 5

Os executivos são os responsáveis por conduzir a empresa, buscando atender

os interesses dos investidores e outras partes interessadas. Em reuniões com o

conselho da empresa, estabelecidos os objetivos e metas esperados pelos acionistas.

7 The Henderson and Venkatraman Strategic Alignment Model implies that effective and efficient utilisation of IT requires the alignment of IT and business strategies. This reflects the view that business success depends on the linkage of business strategy, IT strategy, organizational infrastructure and processes, and IT infrastructure and processes. Strategic integration recognizes the need for any strategy to address both external and internal domains. This emphasizes the need to make choices that position the enterprise in an external marketplace and decide how to structure internal factors to execute a market-positioning strategy. These choices are the business strategy, and the organizational infrastructure and processes. Performance of the enterprise is defined by the extent to which these two strategies are consistent. Using IT to enhance these choices provides the opportunity for strategic advantage.

19

A partir daí, cabe a direção da empresa desenvolver um conjunto de ações a fim

de endereçar esses objetivos. O COBIT (Control Objectives for Information and

Related Technologies) é um framework de boas práticas de governança e

gerenciamento empresarial de TI, que incorpora muitos conceitos e teorias

amplamente aceitos e que busca garantir o alinhamento dos recursos de tecnologia

da informação da empresa com a estratégia do negócio.

Abaixo está a definição de governança de acordo com a ISACA (Information

Systems Audit and Control Association) (2012, pág. 16):

“A governança garante que as necessidades, condições e opções das partes interessadas sejam avaliadas

a fim de determinar objetivos corporativos acordados e equilibrados, definindo a direção através de

priorizações e tomadas de decisão e monitorando o desempenho e a conformidade com a direção e os

objetivos estabelecidos”.

Ainda segundo a ISACA (2012, pág. 16) a definição de gestão é:

“A gestão é responsável pelo planejamento, desenvolvimento, execução e monitoramento das atividades

em consonância com a direção definida pelo órgão de governança a fim de atingir os objetivos

corporativos”.

A figura 2 mostrar como o COBIT separa as funções e responsabilidades entre

as áreas de governança e gestão de uma corporação.

Figura 2 - Áreas de Governança e Gestão (Fonte: ISACA, 2012)

20

É importante frisar a distinção entre governança e gestão, pois ao longo deste

trabalho serão abordadas questões delimitadas nos aspectos de estratégia e

governança. Assuntos referentes a gestão estão fora do escopo deste trabalho.

2.5 Direcionadores das Partes Interessadas e Entrega de Valor Segundo COBIT 5

As organizações existem para criar valor para suas partes interessadas.

Consequentemente, qualquer organização – comercial ou não – terá a criação de

valor como um objetivo da governança. Criar valor significa realizar benefícios com

uma ótima relação de custo e ainda otimizar o risco. Os benefícios podem assumir

muitas formas, por exemplo, financeiros para organizações comerciais ou de serviço

público para entidades governamentais (ISACA, 2012, pág. 19):

Figura 3- Objetivos da Governança: Criação de Valor (Fonte: ISACA 2012)

Para alinhar as necessidades das partes interessadas aos recursos interno na

organização os gestores precisam entender os desdobramentos dos objetivos

estratégicos em ações estruturadas e como direcionar os recursos necessários para

atingir esses objetivos.

O COBIT 5 define 17 objetivos genéricos, conforme demonstrados na tabela 1,

que incluem as seguintes informações:

A dimensão BSC sob a qual o objetivo corporativo se enquadra

Objetivos corporativos

21

A relação entre os três principais objetivos da governança – Realização de

benefícios, Otimização do risco e Otimização dos recursos (‘P’ significa relação

primária e ‘S’ relação secundária, ou seja, uma relação mais fraca).

Dimensão BSC

Objetivo corporativo Relação com objetivos de Governança

Realização de

Benefícios

Otimização de Riscos

Otimização de

Recursos

Financeira 1. Valor dos investimentos da organização percebidos pelas partes interessadas

P S

2. Portfólio de produtos e serviços competitivos

P P S

3. Gestão do risco do negócio (salvaguarda de ativos)

P S

4. Conformidade com as leis e regulamentos externos

P

5. Transparência financeira P S S

Cliente 6. Cultura de serviço orientada ao cliente

P S

7. Continuidade e disponibilidade do serviço de negócio

P

8. Respostas rápidas para um ambiente de negócios em mudança

P S

9. Tomada de decisão estratégica com base na informação

P P P

10. Otimização dos custos de prestação de serviços

P P

Interna 11. Otimização da funcionalidade do processo de negócio

P P

12. Otimização dos custos do processo de negócio

P P

13. Gestão de programas de mudanças de negócios

P P S

14. Produtividade operacional e da equipe

P P

15. Conformidade com as políticas internas

P

Treinamento e

crescimento

16. Pessoas qualificadas e motivadas S P P

17. Cultura de inovação de produtos e negócios

P

Tabela 1 - Objetivos Corporativos do COBIT 5 (Fonte: ISACA 2012)

22

2.6 Produtividade e Empregabilidade

A tecnologia normalmente é tida como impulsionadora de progresso. No entanto,

a longo da história, muitas tarefas realizadas por pessoas ou animais foram

substituídas por máquinas. Até o século XX este fenômeno não teve maiores impactos

na sociedade, uma vez que a força de trabalho era realocada em outras atividades.

Normalmente, os trabalhos que se tornam obsoletos são aqueles que requerem pouca

capacidade lógica ou analítica.

Conforme Arthur (2011, p. 7), afirma em seu artigo:

No início do século XX, os empregos agrícolas tornaram-se mecanizados e houve menos necessidade de

mão-de-obra agrícola, e algumas décadas mais tarde, os empregos industriais tornaram-se mecanizados

e houve menos necessidade de mão-de-obra industrial. Agora, os processos de negócios - muitos no setor

de serviços - estão se tornando "mecanizados" e menos pessoas são necessárias, e isso está exercendo

uma pressão sistemática para baixo sobre os empregos.8

Ou seja, a rápida mudança tecnológica vem destruindo empregos mais

rapidamente do que os está criando. Segundo Arthur, inúmeros trabalhos tradicionais

e administrativos, como muitos nos correios e no atendimento ao cliente, estão

desaparecendo. Processos digitais falando com outros processos digitais e criando

novos processos, permitindo que se faça muitas coisas com menos pessoas e

tornando obsoletas outras tarefas humanas.

Segundo Brynjolfsson e Mcafee (2012, pág. 21):

“As tecnologias individuais e a aceleração tecnológica mais ampla que estamos experimentando estão

criando enorme valor. Não há dúvida de que eles aumentam a produtividade e, portanto, nossa riqueza

coletiva. Mas, ao mesmo tempo, o computador, como todas as tecnologias de uso geral, requer inovação

paralela em modelos de negócios, estruturas de processos organizacionais, instituições e habilidades”.9

Tecnologias como a Web, inteligência artificial, Big Data e técnicas avançadas

de analytics - tudo viabilizado pela crescente disponibilidade de poder de computação

8 In the early 20th century, farm jobs became mechanized and there was less need for farm labor, and some decades later manufacturing jobs became mechanized and there was less need for factory labor. Now business processes—many in the service sector—are becoming “mechanized” and fewer people are needed, and this is exerting systematic downward pressure on jobs. 9 The individual technologies and the broader technological acceleration we’re experiencing are creating enormous value. There is no question that they increase productivity, and thus our collective wealth. But at the same time, the computer, like all general purpose technologies, requires parallel innovation in business models, organizational processes structures, institutions, and skills.

23

e capacidade de armazenamento baratos - estão automatizando muitas tarefas

operacionais de rotina.

Em estudo realizado por Brynjolfsson, na Figura 4, as linhas separadas

representam produtividade e emprego total nos Estados Unidos. Durante anos após

a Segunda Guerra Mundial, as duas linhas cresciam na mesma proporção , ou seja,

aumentos de empregos correspondiam a aumentos de produtividade. Isso singifica

que, à medida que as empresas geraram mais valor, o país como um todo se tornou

mais rico, o que alimentou mais atividade econômica e criou ainda mais empregos.

Então, começando em 2000, as linhas divergem; A produtividade continua a crescer

de forma robusta, mas o emprego desaparece de repente. Até 2011, uma diferença

significativa aparece entre as duas linhas, mostrando crescimento econômico sem

aumento correspondente na criação de emprego.

Brynjolfsson e McAfee chamam-no de "grande desacoplamento". E Brynjolfsson

diz que está confiante de que a tecnologia está por trás do crescimento saudável da

produtividade e do fraco crescimento do emprego.

Figura 4 - Comparação entre produtividade e renda média per capta (Fonte: HBR.ORG)

24

3 DIGITAL TRANSFORMATION

3.1 O que é Transformação Digital?

Quando se utiliza a expressão Transformação Digital, é natural pensarmos em

grandes mudanças de natureza tecnológica. Este pensamento é parcialmente

verdadeiro. Na verdade, a Transformação Digital possui um espectro de impacto muito

mais amplo e compreende expressivas mudanças no âmbito social e econômico. A

força das tecnologias digitais - social, móvel, analítica e nuvem não está nas

tecnologias per se. Em vez disso, decorre de como as empresas as integram para

transformar seus negócios e a maneira como funcionam, (KANE et al., 2015, pág. 4).

Portanto, uma visão holística e de longo prazo é necessária para capturar as

oportunidades e enfrentar os desafios que a transformação digital apresentará nos

próximos anos. Em seu artigo, Grossman (2016) afirma que:

“Estamos em um momento crítico para a economia digital. Digital não é mais somente as interfaces e

canais de comunicação com cliente - é integrado em todos os aspectos das empresas de hoje. À medida

que as tecnologias digitais continuam a transformar a economia, muitos líderes estão lutando para definir

uma estratégia digital, mudar as estruturas organizacionais e remover as barreiras que os impedem de

maximizar o impacto potencial das novas tecnologias digitais”10

O sucesso empresarial hoje exige uma transformação digital focada no cliente.

Ele começa com a priorização de uma experiência de cliente superior e relevante, e

alinha a organização, processos e tecnologia para energizá-lo, Accenture (2014, p. 2).

Esses esforços para se tornar um negócio digitalmente impulsionado pelo cliente não

são mais opções, eles são obrigatórios. E para muitas empresas, a sua capacidade

de abraçar digital está rapidamente se tornando uma questão de sobrevivência.

3.2 A Terceira Plataforma

De acordo com o IDC (International Data Corporation), podemos definir a

utilização da tecnologia da informação e comunicação em três grandes marcos:

10 We are at a critical time for the digital economy. Digital is no longer the shiny front end of the organization – it is integrated into every aspect of today’s companies. As digital technologies continue to transform the economy, many leaders are struggling to set a digital strategy, shift organizational structures, and remove the barriers that are keeping them from maximizing the potential impact of new digital technologies.

25

1ª Plataforma – Surgiu nos anos 60 e foi marcada pelo surgimento dos grandes

mainframes que ocupavam andares inteiros e necessitavam de alta intervenção

humana em sua operação. Contava com milhares de aplicações e teve alcance

de milhões de usuários pelo mundo. A IBM foi a empresa pioneira e dominante

nesta fase.

Figura 5 - Mainframe IBM System / 360 65 Computer (Créditos IBM)

2ª Plataforma – Introduzida na década de 80, ficou conhecida como a era da

computação Cliente/Servidor e LAN/Internet. Foi essencialmente alavancada

pelo surgimento das redes de computadores, mais especificamente a rede

TCP/IP e posteriormente a Internet. Devido a evolução das tecnologias de

comunicação, teve alcance de centenas de milhões de usuários pelo mundo e

dispôs de dezenas de milhares de aplicações. Algumas das principais

empresas desta fase foram, Microsoft, Apple, Cisco, Sun Microsystems entre

outras.

Figura 6 - Topologia Cliente/Servidor (Crédito: Desconhecido)

26

3ª Plataforma – Surgiu por volta do início dos anos 2010s. É sustentada por 4

pilares. São eles: Cloud, Big Data/Analytics, Mobility e Social Business.

Baseada nestes pilares, estão milhões de aplicações alcançando bilhões de

usuários pelo mundo, principalmente após o surgimento e popularização dos

smartphones. Os grandes expoentes desta geração são empresas como

Google, Facebook, Amazon, Netflix, Uber e muitas outras.

Figura 7 - A Terceira Plataforma (Crédito: IDC)

3.3 Os 4 pilares da 3ª Plataforma

Ao formular sua ideia de evolução digital sob o nome de 3ª plataforma, o IDC

propôs que há quatro pilares onde as demais tecnologias serão apoiadas. Ou seja,

esses pilares servirão como alicerce e habilitadores de diversos avanços que serão

apresentados mais adiante.

Os 4 pilares são:

Cloud – Os serviços em nuvem estão no centro da terceira plataforma. Ter Big

Data e dispositivos móveis é uma coisa, mas sem a nuvem, não haverá

nenhuma maneira de acessar esses dados de fora do escritório. Isso difere

muito da primeira plataforma, onde as redes de computadores consistiam de

grandes mainframes. Todos os funcionários de uma empresa tinham acesso

aos dados no mainframe, mas só podiam acessá-los através de seus

computadores de mesa. Na segunda plataforma, os funcionários de uma

empresa poderiam acessar os dados no mainframe, bem como dados externos,

através de uma conexão com a Internet. A terceira plataforma permite que

27

todas as soluções de TI da empresa estejam disponíveis através da nuvem,

acessível através de uma variedade de dispositivos móveis. O armazenamento

de dados, os servidores e muitas soluções de TI, que estão no local, agora

podem ser baseados na nuvem.

Big Data / Analytics – O conceito por trás do Big Data é de maximizar a

utilidade de todos os dados coletados. Um executivo de uma empresa que

agiliza suas funções de negócios através da terceira plataforma teria fácil

acesso a todos os dados. Esses dados podem então ser utilizados por mais

áreas de negócio. Em resumo, o Big Data coleta e utiliza todos os tipos de

dados, coletados de fontes tradicionais e digitais, para complementar os

processos de tomada de decisão de uma empresa.

Mobility – A terceira plataforma é projetada para dar a todos o acesso a

grandes dados via dispositivos móveis; é exatamente esta mobilidade que

realmente define a terceira plataforma. Por exemplo, um representante de uma

empresa na estrada ou trabalhando a partir de casa terá acesso instantâneo

aos dados através de seu dispositivo móvel sempre que, e onde eles precisam.

Social Technologies – Segundo o Gartner (2017), social business é definido

como "Qualquer tecnologia que facilite as interações sociais e seja habilitada

por uma capacidade de comunicação, como a Internet ou um dispositivo

móvel". Isso se estende não apenas às mídias sociais, mas também a todas as

tecnologias sociais que possibilitam a interação social. Em uma tendência que

tem sido descrita como "tudo social", as empresas grandes e pequenas,

continuarão a injetar um elemento social em cada produto e serviço. A nuvem

fornece a infraestrutura que torna a informação acessível, a tecnologia social

ajuda a organizar os dados e facilitar o acesso, e os dispositivos móveis

fornecerão os meios pelos quais a maioria das pessoas recebe os dados

3.4 Aceleradores de Inovação.

Os Aceleradores de Inovação são a próxima onda de tecnologias da 3ª

Plataforma, essenciais para a transformação de negócios. Capturar o crescimento no

mercado digital de rápida expansão exigirá que as ofertas se concentrem em fatores-

chave de crescimento, como a Internet das Coisas (IoT) e os Sistemas Cognitivos,

28

realidade aumentada, e Inteligência Artificial como a base para a próxima onda de

assustadoras aplicações e serviços de Transformação Digital.

Os elementos da terceira plataforma serão os habilitadores de iniciativas em

diversas industrias tais como, logística, automotiva, saúde, mídia, entre outras. As

projeções apontam que em um futuro breve estará à disposição do grande público

tecnologias como por exemplo, robótica avançada, caminhões autônomos, medicina

de precisão e manufatura digital.

A Figura 8, mostra a linha do tempo das evoluções tecnológicas decorrentes da

evolução digital que foram mais disruptivas no contexto econômico.

Figura 8 - Evolução das tecnologia disruptivas (Fonte: WEF 2016)

3.5 Oportunidades - Os Principais Drivers para a Transformação

3.5.1 A Quarta Revolução Industrial e a Internet das Coisas

O mundo industrial foi moldado por uma série de mudanças tecnológicas

fundamentais nos últimos 250 anos: Vapor e ferrovia (1750-1830), eletricidade e

telefone (1880-1920), informática e TI (1960-2000), e a era atual da Internet Industrial

das Coisas (IIOT), e Big Data (2010-presente) (TAYLA e MATTOX, 2016). A era atual

é batizada de a Quarta Revolução Industrial.

29

A quarta mudança traz consigo uma tendência à automatização total das

fábricas. Seu nome vem, na verdade, de um projeto de estratégia de alta tecnologia

do governo da Alemanha, trabalhado desde 2013 para levar sua produção a uma total

independência da obra humana (PERASSO, 2016).

A automatização acontece através de sistemas ciberfísicos, que foram possíveis

graças à internet das coisas e à computação na nuvem. Os sistemas ciberfísicos, que

combinam máquinas com processos digitais, são capazes de tomar decisões

descentralizadas e de cooperar - entre eles e com humanos - mediante a internet das

coisas.

A possibilidade de automatizar processos, integrando estes a sistemas de

internet traz diversos benefícios, tais como: possibilidade de reduzir custos, aumentar

a capacidade de customização, otimização de recursos e maior agilidade no

desenvolvimento de novos produtos. Pode-se ver alguns destes benefícios refletidos

na Tabela 1 na página 21.

3.5.2 Redução de Custos Operacionais (OpEx)

Como consequência da globalização, há uma grande disseminação de produtos

importados industrializados de baixo custo, em particular aqueles provenientes dos

chamados “Tigres Asiáticos”, com grande destaque para a China.

Um dos grandes desafios que os altos executivos das empresas enfrentam em

mercado onde há grande competitividade é a redução de custos. Desta forma,

diversas empresas estabelecem como meta estratégica, o aumento da eficiência

operacional, buscando cortes em despesas operacionais, ou OpEx (Operational

Expenditure). Conforme Porter (1998, pag. 62) afirma em seu livro:

Os gerentes reconhecem a importância do custo, e muitos planos estratégicos estabelecem "liderança de

custos" ou "redução de custos" como metas.

Como estratégia liderança de custos, a empresa precisa alcançar os menores

custos de produção e distribuição, oferecendo produtos por preço mais baixo que os

concorrentes e alcançando maior participação no mercado (KOTLER e KELLER,

2011, p. 54).

30

Aproveitando as novas tecnologias, os CIOs estão melhor posicionados para

lançar a próxima onda de redução de custos. Para os CIOs que buscam reduzir o

custo das operações de negócios e aumentar a flexibilidade, as estratégias que

exploram novas tecnologias podem ajudar a gerenciar as mudanças nas condições

ao mesmo tempo em que ganham maior eficiência. Em seu artigo, Bittner e Shacklady

(2015, p. 4) afirmam que:

“A convergência do negócio e da TI, em termos de capacidades e de governança, permite maior

flexibilidade. Custos e serviços podem ser modificados em resposta a mudanças de condições usando

mais automação, maior auto-atendimento do usuário e informações de gerenciamento otimizadas para

ajudar a identificar e abordar as causas da ineficiência”.11

Visto que os custos de produção nos países asiáticos são relativamente baixos,

em boa parte devido à mão-de-obra barata, as indústrias de manufatura precisam

buscar formas de automatizar sua linha de produção ao máximo.

Em 2011, a fábrica da Ford em Claycomo, MO – Estados Unidos, produziu

460.338 carros. Isso significa que em média esta fábrica montou 52,55 carros por

hora. A parada inesperada de uma máquina ou robô, é capaz de interromper a

produção de veículos, causando prejuízos financeiros para a companhia. Surgem,

portanto, exemplos de utilização da Internet das Coisas com o objetivo de reduzir

custos. Sensores de vibração são conectados as máquinas, coletando e enviando

dados em tempo real. Estes dados são processados por sistemas de Big Data,

auxiliando os gerentes de produção no planejamento de manutenção preditiva, a fim

de minimizar o tempo de parada de produção, aumentando a eficiência da fábrica.

3.5.3 Maior Segmentação e Satisfação do Cliente

No momento atual, onde as empresas estão enfrentando uma concorrência

jamais vista, é papel fundamental dos gestores conhecer melhor seus clientes, a fim

de elaborar uma estratégia focada no valor percebido pelo cliente, conquistado assim

um diferencial competitivo e até mesmo fidelidade do cliente.

11 Convergence of the business and IT, in terms of capabilities and governance, enables increased flexibility. Costs and services can be modified in response to changing conditions using more automation, increased user self-service and much-improved management information to help identify and address the causes of inefficiency.

31

Além de estarem mais informados do que nunca, os clientes de hoje possuem

ferramentas para verificar os argumentos das empresas e buscar melhores

alternativas (KOTLER e KELLER, 2011, p. 139).

Os departamentos de marketing das empresas cada vez mais buscam capitalizar

o negócio, através de estratégias um-para-um em detrimento do marketing de massa.

A Tabela 2 mostra a diferença das duas abordagens

Marketing de massa Marketing um-para-um

Consumidor médio Consumidor individual

Anonimato do consumidor Perfil do consumidor

Produto-padrão Oferta de mercado customizada

Produção em massa Produção customizada

Distribuição em massa Distribuição individualizada

Propaganda em massa Mensagem individualizada

Promoção em massa Incentivos individualizados

Mensagem unilateral Mensagens bilaterais

Economias de escala Economias de escopo

Participação de mercado Participação de consumidor

Todos os clientes Clientes lucrativos

Atração de cliente Retenção de cliente

Tabela 2 - Marketing de massa vs marketing um-para-um (Fonte: KOTLER e KELLER, 2011)

Administradores acreditam que o cliente é o único verdadeiro ‘centro de lucro’ da

empresa. Tecnologias digitais auxiliam as empresas a maximizarem seus lucros, à

medida que conseguem identificar características a nível individual de seus clientes e,

portanto, entregar produtos e serviços específicos de modo a aumentar o valor

percebido.

Bancos, administradoras de cartão de crédito, empresas de telefonia, empresas

de venda por catálogo e muitas outras, dispõem de uma grande quantidade de

informações sobre seus clientes: não apenas endereços e números de telefone, mas

também suas transações e dados muito precisos sobre idade, tamanho da família,

renda e outras informações demográficas (KOTLER e KELLER, 2011, p. 161)

32

Segundo a ANATEL (Agência Nacional das Telecomunicações) em fevereiro de

2017, foram contabilizados no Brasil cerca de 243 milhões de celulares ativos. De

acordo com projeção do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com

uma população na casa dos 207 milhões de habitantes, temos uma média de

aproximadamente 1,2 celulares por pessoa. Os celulares e smartphones se tornaram

um canal de contato extremamente eficiente para identificar hábitos e perfis de

clientes. Em muitos casos fornecem inclusive a posição de GPS (Global Positioning

System) dos seus usuários.

Algumas empresas pioneiras da revolução digital, como a Google e o Facebook

possuem uma capacidade de Big Data e Analytics jamais vista, permitindo a

segmentação e mapeamento de perfis de clientes. Estas empresas fazem disto um

ativo valioso, que é vendido para empresas de marketing sob forma de serviço. Com

essas informações os departamentos de marketing de empresas de varejo, por

exemplo, são capazes de criar campanhas e ofertas direcionadas, aumentando a taxa

de conversão.

3.5.4 Tudo como Serviço (Everything as a Service)

O rápido aumento no poder de processamento e o crescimento da capacidade

de rede tem possibilitado o surgimento de novos modelos de investimento em

tecnologia, baseados em nuvem (cloud computing). A diminuição do custo

computacional viabiliza a entrada de empresas no mercado como prestadoras de

serviço ao invés de vendedoras de produto. Segundo ASPIN et al. (2017, p. 79):

“Muitas organizações estão reorientando suas capacidades de negócios e abordando produtos, ofertas e

processos de negócios como uma coleção de serviços que podem ser usados dentro e fora das fronteiras

organizacionais”.12

Surgiu, portanto, o conceito de Tudo como Serviço ou Everything as a Service

(EaaS). Neste modelo o cliente contrata o serviço de um prestador ao invés de

comprar um produto ou um bem.

CIOs de diversas empresas passam anualmente pelo processo de justificar

investimentos em infraestrutura para o board. Naturalmente, é papel do CIO garantir

12 Many organizations are reorienting their business capabilities and approaching business products, offerings, and processes as a collection of services that can be used both inside and outside organizational boundaries.

33

a confiabilidade, segurança e escalabilidade da infraestrutura tecnológica. No entanto,

para outras áreas das companhias a modernização do parque tecnológico é visto

apenas como um custo necessário.

Com a expansão do cloud computing, a decisão de modernização da TI tem

tomado teor estratégico. A computação na nuvem pode permitir a empresa realizar

ganhos de eficiência, minimizando os custos e complexidades de gerenciamento de

infraestrutura, e assim, permitindo o desenvolvimento e entrega de serviços de forma

mais rápida, (ASPIN et al., 2017 p.81).

Empresas que buscam otimizar o CapEx (Capital Expenditure, ou despesa de

capital) em infraestrutura tecnológica, começam a buscar provedores de serviço de

infraestrutura em nuvem, ou IaaS (Infrastructure as a Service). A Tabela 3 mostra

alguns dos provedores mais conhecidos atualmente e exemplo de grandes clientes:

Provedor Exemplos de Clientes

Amazon Web Services (AWS) Netflix, Peixe Urbano, EasyTaxi

Microsoft Azure Heineken, GE Healthcare, Universidade de Oxford

Google Compute Engine Coca-Cola, Spotify, Airbus

Tabela 3 -Exemplos de provedores de IaaS e clientes (Abril de 2017)

Fica claro, portanto, que há uma tendência de mudança de fornecedores de

tecnologia no mercado B2B (business-to-business). Os grandes nomes em

infraestrutura da segunda plataforma (HP, Dell, Cisco entre outras), passam a

enfrentar concorrência de novos atores como Amazon, Google e Microsoft.

3.5.5 Explosão das Startups e Novos Modelos de Negócio

Estamos presenciando o surgimento de diversas empresas que vendem seus

produtos ou prestam serviços, apoiadas nos pilares da terceira plataforma. Algumas

delas são digitais na sua essência, outras utilizam as tecnologias como forma criar um

canal de contato com cliente e otimizar seus processos de interação, logística e cadeia

de suprimentos. Na Figura 9 vemos exemplos de algumas dessas empresas.

34

Figura 9 - Startups avaliadas em mais de US$ 1bi (Fonte: CB Insights)

Algumas dessas empresas são bem conhecidas do público geral. O instituto CB

Insights fornece uma lista das empresas avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares.

Empresa Avaliação Ano em que Atingiu

US$ 1 Bi Industria

Uber US$ 68 2013 On-Demand

Airbnb US$ 29,3 2011 eCommerce/Marketplace

Pinterest US$ 11 2012 Social

Dropbox US$ 10 2011 Internet Software & Services

Spotify US$ 8,5 2011 Internet Software & Services

Decolar US$ 1 2015 Travel Tabela 4 - Startups Avaliadas em mais de US$1 bilhão (Fonte: CB Insights)

Essas organizações vêm causando mudanças expressivas no mercado e nos

setores em que atuam. Alteram a forma como os clientes consomem seus produtos,

causando, muitas vezes, impactos no âmbito social, econômico e político. Como é o

caso do Uber.

Uma organização que ingressa no setor de negócios – o novo entrante – traz

ameaças às organizações existentes, por trazer capacidade de produção adicional

forçando as demais a serem mais eficazes e aprenderem a concorrer em novas

dimensões, (CHIAVENATO e SAPIRO, 2016, p. 95).

Um caso recente, e que merece destaque, é no setor automotivo onde a Tesla,

empresa fundada por Elon Musk, ultrapassou o valor de mercado da Ford, conforme

afirma TECMUNDO (2017). Os carros elétricos da Tesla, são também autônomos. Ou

seja, são veículos dotados de sistemas de navegação, conectividade avançada e

inteligência artificial.

35

Outro exemplo dramático é no setor de mídia. A Netflix revolucionou o mercado

de mídia e entretenimento distribuindo filmes e séries pela internet, alterando a forma

como consumimos esse tipo de conteúdo. Até os anos 2000, a Blockbuster era a maior

empresa de locação de filmes em mídia como VHS, DVD e Blue-ray. No entanto, não

conseguiu acompanhar o ritmo de mudança de comportamento do consumidor no

setor, alavancada pela tecnologia. A Figura 10 mostra como se deu a evolução da

receita das duas empresas.

Figura 10 - Netflix vs Blockbuster (Fonte: Lexican)

Embora, em grande parte dos casos, as startups sejam empresas mais ágeis,

dado a baixa complexidade de suas operações, e mais propensas a assumir riscos

inerentes a entrada no mercado, as empresas estabelecidas podem e devem utilizar

suas forças competitivas e incorporar inovações que irão agregar valor aos seus

produtos e serviços, bem como otimizar sua cadeia de valor.

Em seu artigo, Bilefield (2016, p. 1) afirma que:

“Executivos em empresas tradicionais, às vezes pensam que precisam revisar seus negócios de cima para

baixo. No entanto, de acordo com James Bilefield, enquanto uma start-up digital pode perturbar o

mercado, as empresas bem estabelecidas não devem subestimar seus próprios ativos competitivos ou

cometer o erro de pensar que os disruptores têm todas as cartas na manga. ”13

13 Executives at legacy companies, struggling to meet the challenge of an aggressive digital disruptor, sometimes think they have to overhaul their business from top to bottom. However, while a digital start-up can disrupt the market, legacy companies shouldn’t undervalue their own competitive assets or make the mistake of thinking the disruptors have all the cards.

36

3.6 Desafios

3.6.1 Maturidade das Tecnologias Inovadoras

Em 1991, Geoffrey A. Moore publicou um livro intitulado Crossing the Chasm

(Atravessando o Abismo). Neste livro Moore (1991, p. 7) afirma que:

“Nossa atitude em relação à adoção de tecnologia varia significativamente sempre que somos

introduzidos a produtos que exigem que mudemos nosso modo atual de comportamento ou que

modifiquem outros produtos e serviços em que confiamos”.14

As tecnologias, fruto transformação digital são, em sua maior parte, recentes e

pouco testadas no grande mercado. Empresas tradicionais e bem estabelecidas

tendem a ser conservadoras em relação a novas tecnologias, ou seja, são menos

propensas a investir em inovações até que elas sejam exaustivamente utilizadas por

outros. Porter (1998, p. 285) afirma que “a percepção do comprador de um substituto

muitas vezes não é tão grande quanto a de um produto estabelecido, e o

conhecimento sobre os benefícios e características de um substituto é muitas vezes

incompleto”.

Em relação a propensão de adoção de tecnologias, Moore classifica pessoas e

empresas em quatro categorias (para definições de cada categoria ver Apêndice A

(pág. 45)):

Categoria de Adotantes Quantidade Relativa

Inovadores 2,5%

Líderes de Opinião 13,5%

Maioria Pioneira 34%

Maioria Tardia 34%

Retardatários 16%

Tabela 5 - Categorias de Adoção de Tecnologias

O corpo de governança de uma empresa deve fundamentar a decisão de investir

numa tecnologia com justificativas que estejam alinhadas com os objetivos

estratégicos da companhia, sobretudo buscando a entrega de valor às partes

14 Our attitude toward technology adoption becomes significant any time we are introduced to products that require us to change our current mode of behavior or to modify other products and services we rely on.

37

interessadas. Chiavenato e Sapiro (2016, p. 241) indicam cinco fatores de adoção.

São eles:

1. Vantagem relativa: O quanto a nova tecnologia é superior às que já existem;

2. Compatibilidade: O quanto a inovação é compatível com valores e experiências

dos compradores prospectivos;

3. Complexidade: O grau de entender, implementar ou utilizar a inovação;

4. Possibilidade de experimentar: O quanto a inovação pode ser testada antes de ser

adquirida;

5. Possibilidade de observação: O quanto a inovação pode ser demonstrada como

eficiente.

Diante desses fatores as empresas devem definir se a inovação irá trazer

benefícios, sejam eles de curto, médio ou longo prazo. Evidentemente, a adoção

de inovações traz consigo riscos associados, além de haver uma “euforia” em torno

de novas tecnologias antes delas se mostrarem de fato rentáveis. Baseado nisto o

Gartner, publica anualmente um gráfico chamado de Gartner Hype Cycle for

Emerging Technologies. Neste gráfico, é mostrado as novas tendências

tecnológicas em 5 fases distintas de expectativas:

Introdução da nova tecnologia – Fase onde as novas tecnologias são

anunciadas ao público. São tecnologias ainda em fase embrionária e sabe-se

que normalmente levarão pelo menos 5 a 10 anos para estarem

comercialmente disponíveis.

Pico de expectativas – Nesta fase existe uma euforia em torno da tecnologia e

muito investimento é feito em pesquisa e desenvolvimento, pois acredita-se

fortemente no potencial desta inovação.

Fase de desilusão – Neste momento começam a surgir questionamentos se

estas inovações de fato trarão os benefícios que eram esperados na fase

anterior. Nesta fase, muitas iniciativas e investimentos podem ser

descontinuados, e a inovação simplesmente não acontecer.

38

Fase de retomada – As inovações que se mostraram mais rentáveis voltam a

ganhar força e investimentos. Começam a surgir casos de uso bem-sucedidos

em empresas, em particular as mais inovadoras e líderes de opinião.

Fase de maturidade – Nesta fase a tecnologia encontra-se bem estabelecida e

madura, tornando-se fácil para executivos justificarem os investimentos nas

mesmas. Nesta fase a maioria pioneira passa a adquirir essas tecnologias.

Abaixo, o Garter publicou o Hype Cycle 2016:

Figura 11 - Hype Cycle para tecnolgias Emergentes, 2016 (Fonte: Gartner)

Dito isto, é importante entender o apetite ao risco da empresa, bem como

cenário de competição a qual a empresa está submetida. Empresas que demoram

muito em adotar inovações podem ser superadas por novos entrantes ou produtos

substitutos.

3.6.2 Segurança e Cyber ataques

Não é novidade, que pessoas e empresas dependem mais do que nunca de

sistemas computacionais para suas atividades. Esta mudança é irreversível, e a

tendência é que continue crescendo em todas as esferas da sociedade. Kumar et al.

(2011, Pref. XIII) afirmam que:

39

“A tecnologia da informação tornou-se o motor que impulsiona nossas empresas modernas nos setores

público e privado. As agências governamentais e as empresas tornaram-se cada vez mais dependentes de

sistemas de TI para realizar missões e funções importantes e aumentar sua produtividade”.15

A medida que pessoas e empresas dependem mais de sistemas computacionais

para suas atividades, a preocupação com a segurança de informações confidenciais

cresce na mesma proporção. Com a transformação digital é esperado que uma

quantidade de dados jamais vista antes, sejam armazenadas em sistemas de TI.

É de extrema importância, portanto, determinar os aspectos no domínio de

segurança da informação que devem ser considerados na decisão de levar dados e

processos para a nuvem.

Avaliação de risco

Segundo a ISO (International Organization for Standardization) 31000:

“Organizações de todos os tipos e tamanhos enfrentam influências e fatores internos e externos que

tornam incerto se e quando elas atingirão seus objetivos. O efeito que essa incerteza tem sobre os

objetivos da organização é chamado de “risco””.

Como foi mostrado anteriormente, as inovações da transformação digital

oferecem diversas oportunidades de benefícios para empresas, no entanto, associada

a toda oportunidade há um risco. Na Figura 12, a ISACA (2009, p.7) mostra a relação

entre benefícios e riscos.

15 Information technology has become the engine that drives our modern enterprises within the public and private sectors. Government agencies and business have become increasingly reliant on IT systems to carry out important missions and functions and to increase their productivity.

40

Figura 12 - Relação Oportunidade x Risco (Fonte: ISACA 2009)

Pode-se verificar, que no âmbito de TI, é responsabilidade do gestor de

tecnologia avaliar o equilíbrio entre os benefícios e os riscos. Para isto, o gestor deve

considerar o apetite e tolerância da empresa para riscos.

Para as definições de apetite e tolerância ao risco o COSO (Committee of

Sponsoring Organizations of the Treadway Commission) afirma que:

Apetite ao risco - O montante de risco que uma empresa ou outra entidade está

disposta a aceitar na prossecução da sua missão (ou visão)

Tolerância ao risco - A variação aceitável em relação à realização de um

objetivo (e muitas vezes é melhor medida nas mesmas unidades usadas para

medir o objetivo relacionado)

Além do apetite e tolerância ao risco, o papel da gestão classificar os riscos de

acordo com o grau de criticidade. O grau de criticidade é uma combinação da

probabilidade do risco acontecer com o potencial impacto no negócio.

A partir deste entendimento, e do grau avaliado do risco, os gestores devem

definir o plano de resposta ao risco, ou seja, devem decidir se irão aceitar, evitar,

transferir ou mitigar o risco.

Uma vez identificados e classificados, os riscos devem ser gerenciados. A ISO

31000 lista uma série de objetivos esperados da gestão de risco (para mais detalhes

ver o Apêndice B, na pág. 47), bem como diretrizes e melhores práticas para seu

tratamento.

41

3.6.3 Gestão de Pessoas e Empregabilidade

Com a evolução das tecnologias digitais, há uma crescente preocupação com o

desaparecimento de diversas funções que são executadas por humanos. Até o século

20, a tecnologia foi responsável por eliminar diversas atividades através da

automação. No entanto os empreendedores foram capazes realocar a força de

trabalho em outras atividades, bastando apenas capacitar as pessoas em novas

atividades.

No século 21 chegamos a um ponto que as máquinas são capazes de realizar

não somente tarefas repetitivas – fáceis de serem automatizadas – como também

tarefas cognitivas avançadas. Brynjolfsson e McAfee (2011, pág. 34) afirmam que:

“As tecnologias digitais desempenham agora tarefas mentais que tinham sido dos humanos no passado.

Os computadores de uso geral são diretamente relevantes não apenas por 60% da força de trabalho

envolvida nas tarefas de processamento de informações, mas também o são para os 40% restantes. À

medida que a tecnologia se move para a segunda metade do tabuleiro de xadrez, cada duplicação

sucessiva no poder aumentará o número de aplicações o que pode afetar o trabalho e o emprego.”16

Em razão deste cenário, os empreendedores são colocados diante do desafio

de buscar explorar os benefícios econômicos e estratégicos, mas ao mesmo tempo

minimizar o impacto social decorrente da eliminação de empregos.

De acordo com o World Economic Forum, os empregos foram classificados nas

seguintes categorias:

Aqueles que vão desaparecer (perderão a corrida contra a máquina). Por

exemplo, atividades administrativas, ou motoristas de caminhão.

Aqueles que estão em colaboração com máquinas / algoritmos (andam junto

com a máquina). Por exemplo, as profissões que dependem de capacidades

cognitivas e sociais, como médicos / cirurgiões.

Aqueles que são completamente novos ou permanecem em grande parte

intocados (correndo mais rápido do que a máquina ou executando uma corrida

diferente). Por exemplo, é pouco provável que os papéis nas artes criativas

16 In the 21st century, technological change is both faster and more pervasive. While the steam engine, electric motor, and internal combustion engine were each impressive technologies, they were not subject to an ongoing level of continuous improvement anywhere near the pace seen in digital technologies.

42

sejam automatizados, assim como os novos papéis que envolvem o

gerenciamento de dados e máquinas.

Embora o tema de empregabilidade seja preocupante, projeções apontam que

revolução digital tem potencial de criar empregos. Conforme é demonstrado na Figura

13, o setor de logística pode se beneficiar da criação de mais de 6 milhões de

empregos derivados de iniciativas digitais.

Figura 13 - Criação de empregos em logística entre até 2025 (Fonte: WEF/Accenture)

Brynjolfsson e McAfee (2011, pág. 36) sugerem que para enfrentar o desafio

de manter criação de empregos de forma sustentável, é necessário promover

inovação organizacional. Isso significa que é necessário criar novas estruturas

organizacionais, novos processos e modelos de negócio que alavanquem tecnologia

e habilidade humanas.

43

4 CONCLUSÃO

Em diversos momentos da história, muitas empresas surgiram e outras

despareceram em consequência de mudanças importantes no cenário competitivo. A

inovação permite a o surgimento de novos concorrentes no mercado. Um clássico

exemplo é o de Henry Ford, que através de uma inovação no processo de fabricação

de automóveis, conhecida como linha de montagem, conseguiu entrar no setor

automotivo que, até então, era dominado por empresas europeias e seus carros de

luxo fabricados sob encomenda. Assim como inovações em processos, a inovação

tecnológica muitas vezes quebra, ou pelos menos diminui, a barreira de entrada de

novas empresas em determinados setores.

A transformação digital não deve ser vista mais como uma aposta, e sim uma

realidade. Grande parte das empresas mais valiosas do mundo está, de alguma

forma, ligada a indústria digital. A cada ano que passa, surgem novas startups com

conceitos novos, oferecendo produtos e serviços com custo mais baixo ou com melhor

qualidade.

No entanto, a transformação digital não é benéfica somente para empresas que

desejam entrar no mercado. Empresas bem estabelecidas também podem se

beneficiar destas inovações. Para isso, precisam realizar um planejamento

estratégico, analisar as tendências tecnológicas, identificado as potencias

oportunidades. A partir daí, devem utilizar suas forças competitivas para extrair as

vantagens derivadas da transformação digital.

Os executivos, em particular os CIOs, precisam entender profundamente os

fatores crítico de sucesso de suas empresas. A partir disto, devem propor o uso de

tecnologias que estejam bem alinhadas com os objetivos estratégicos das empresas,

e que sejam geradoras de valor para o negócio. Para isso, devem deixar de lado a

tendência de observar apenas os aspectos técnicos da tecnologia, e observar

sobretudo os aspectos de ganhos econômicos e de negócio.

Como foi visto ao longo do trabalho, muitas tecnologias ainda estão em fase de

amadurecimento, e nos próximos surgirão novas oportunidades e novos desafios a

serem enfrentados. Como é o caso da robótica avançada e inteligência artificial que é

tema de debate inclusive em fóruns sobre ética.

44

Como sugestão para trabalhos futuro, é interessante aprofundar o estudo em

temas como Internet de Tudo (Internet of Everything), sistemas cognitivos, realidade

aumentada, e inteligência artificial, bem como debater os riscos envolvidos no

desenvolvimento e aperfeiçoamento dessas tecnologias.

45

5 APÊNDICE

5.1 Apêndice A

Moore classifica pessoas e empresas em quatro categorias:

Inovadores (Innovators): Os inovadores buscam agressivamente novos

produtos de tecnologia. Às vezes, eles procuram até mesmo antes de um

programa de marketing formal foi lançado. Isto é porque a tecnologia é

um interesse central em sua vida, não obstante que função está

executando. Na raiz eles estão intrigados com qualquer avanço

fundamental e muitas vezes fazem uma compra de tecnologia

simplesmente para o prazer de explorar as propriedades do novo

dispositivo. Não há muitos inovadores em qualquer segmento de

mercado, mas conquistá-los no início de uma campanha de marketing é

fundamental, no entanto, porque o seu endosso tranquiliza os outros

jogadores no mercado que o produto realmente funciona.

Líderes de opinião (Early adpoters): Como inovadores, adquirem

conceitos de novos produtos muito cedo em seu ciclo de vida, mas ao

contrário dos inovadores, eles não são tecnólogos. Ao contrário, são

pessoas que acham fácil imaginar, entender e apreciar os benefícios de

uma nova tecnologia e relacionar esses benefícios potenciais com suas

outras preocupações. Sempre que eles encontram um grande desafio, os

líderes de opinião estão dispostos a basear suas decisões de compra

sobre ele. Como os líderes de opinião não dependem de referências bem

46

estabelecidas ao tomar essas decisões de compra, preferem, em vez

disso, confiar em sua própria intuição e visão. São fundamentais para abrir

qualquer segmento de mercado de alta tecnologia.

Maioria pioneira (Early majority): Compartilham alguma da capacidade do

adotante pioneiro de se relacionar com a tecnologia, mas, em última

análise, são impulsionados por um forte senso de praticidade. Eles sabem

que muitas dessas invenções inovadoras acabam sendo passagens

passageiras, então elas se contentam em esperar e ver como outras

pessoas estão se saindo antes de comprarem em si mesmas. Eles

querem ver referências bem estabelecidas antes de investir

substancialmente. Porque há tantas pessoas neste segmento - cerca de

um terço do ciclo de vida de adoção inteira-ganhar seu negócio é a chave

para qualquer lucro substancial e crescimento

Maioria tardia (Late majority): Compartilha de todas as preocupações da

maioria pioneira, além de uma maior: Considerando que pessoas e

empresas na maioria pioneira estão confortáveis com sua habilidade de

manter um produto de tecnologia, caso decidam finalmente por compra-

lo, os membros da maioria tardia não estão. Como resultado, eles

esperam até que o produto se torne um padrão estabelecido, e mesmo

assim eles querem ter muitas garantias e tendem a comprar, portanto, de

grandes empresas bem estabelecidas. Tal como a maioria pioneira, este

grupo compreende cerca de um terço da população compradora total em

qualquer segmento. Atraí-los é altamente rentável, pois, enquanto as

margens de lucro diminuem à medida que os produtos amadurecem, o

mesmo ocorre com os custos de venda, e praticamente todos os custos

de P&D foram amortizados.

Retardatários (Laggards): Estas pessoas ou empresas simplesmente não

querem nada com novas tecnologias, por variadas razões, algumas

pessoais e alguns econômico. A única vez que eles sempre compram um

produto tecnológico é quando ele é embarcado tão profundamente dentro

de outro produto que eles nem sabem que está lá. Os retardatários são

geralmente considerados como não rentáveis.

47

5.2 Apêndice B

De cordo com a ISSO 31000, quando implementada e mantida, a gestão dos

riscos possibilita a uma organização:

Aumentar a probabilidade de atingir os objetivos;

Encorajar uma gestão proativa;

Estar atento para a necessidade de identificar e tratar os riscos através

de toda a organização; melhorar a identificação de oportunidades e

ameaças;

Atender às normas internacionais e requisitos legais e regulatórios

pertinentes;

Melhorar o reporte das informações financeiras;

Melhorar a governança;

Melhorar a confiança das partes interessadas;

Estabelecer uma base confiável para a tomada de decisão e o

planejamento;

Melhorar os controles;

Alocar e utilizar eficazmente os recursos para o tratamento de riscos;

Melhorar a eficácia e a eficiência operacional;

Melhorar o desempenho em saúde e segurança, bem como a proteção do

meio ambiente;

Melhorar a prevenção de perdas e a gestão de incidentes;

Minimizar perdas;

Melhorar a aprendizagem organizacional; e

Aumentar a resiliência da organização.

48

49

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCENTURE, Digital Transformation Re-imagine from the outside-in, Accenture

Interactive – Point of View Series, 2014.

ASPIN, G., COLLINS, G., KRUMKACHEV, P., METZGER, M. RADEZTSKY, S.

e SRINIVASAN, S. Everything-as-a-service Modernizing the core through a services

lens, Deloitte University Press, Tech Trends, 2017.

ARTHUR, W. B., The Second Economy, McKinsey Quarterly, Outubro 2011.

BILEFIELD, J., Digital transformation: The three steps to success;

McKinsey&Company, Abril 2016.

BITTNER, O. e SHACKLADY, J., IT Cost Reduction: Using new technologies to

reduce costs and gain agility, Accenture Strategy, 2015.

BRYNJOLFSSON, E. e MCAFEE, A., Race Against the Machine, MIT Sloan

Management, Jan. 2012.

BURNS, J. M. e STEZO, C., A comparison of the views of business and IT

management on success factors for strategic alignment, Elsevier, Decision Sciences,

Information & Management, Vol. 37, pp. 197-216, 2000.

CHIAVENATO, I. e SAPIRO, A., Planejamento Estratégico, Elsevier , 3ª. Edição,

2016.

GARTNER, Social Technologies. Disponível em http://www.gartner.com/it-

glossary/social-technologies. Acesso: 20 abr. 2017.

GROSSMAN, R., The Industries That Are Being Disrupted the Most by Digital,

Harvard Business Review, Information & Technology, Março 2016.

D’URSO, M. L., Maioria das empresas brasileiras está em pânico com a

transformação digital, Executivos Financeiros, 2016. Disponível em

http://www.executivosfinanceiros.com.br/ti/ti/item/3085-maioria-das-empresas-

brasileiras-estao-em-panico-com-a-transformacao-digital.html

50

HENDERSON, J. C. e VENKATRAMAN, N., Strategic alignment: Leveraging

information technology for transforming organizations, IBM Systems Journal, Vol. 38,

No. 2 & 3, pp. 427-484, 1993.

IBGE, Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação,

http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/, abril 2017.

ISACA, COBIT 5 Modelo Corporativo para Governança e Gestão de TI da

Organização, ISACA, 2012.

ISACA, THE RISK IT FRAMEWORK, ISACA, 2009.

KANE, G. C., PALMER, D., PHILLIPS, A. N, KIRON, D. e BUCKLEY, N.,

Strategy, not Technology, Drives Digital Transformation, MIT Sloan Management

Review and Deloitte University Press, Jul 2015.

LOBATO, D. M., MOYSES, J., TORRES, M. C., RODRIGUES, M. R. A., Gestão

Estratégica, Editora FGV, 2012.

KOTLER, P. e KELLER, K. L., Administração de Marketing, 12ª Ed., PEARSON,

2011.

KUMAR, V., SRIVASTAVA, J. LAZAREVIC, A., Managing Cyber Attacks,

Springer, 2005.

MOORE, G. A., Crossing the Chasm, HarperBusiness, 1991.

PORTER, M. E., Competitive advantage: creating and sustaining superior

performance, The Free Press, 1998.

PERASSO, V., O que é a 4ª revolução industrial - e como ela deve afetar nossas

vidas, BBC Brasil, 2016. Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/geral-

37658309

ROTAMAN, D., How Technology Is Destroying Jobs, MIT Technology Review

Magazine, Inquiring Minds Topic, 2013.

TALYA, A. M., MATTOX, M., GE's Digital Industrial Transformation Playbook,

General Electrics, 2016.

51

TECMUNDO, O futuro chegou: Tesla tem valor de mercado superior ao da Ford,

https://www.tecmundo.com.br/tesla/115567-futuro-chegou-tesla-tem-valor-mercado-

superior-ford.htm, 2016

WORLD ECONOMIC FORUM, Digital Transformation of Industries, WEF,

Industry Agenda, Jan 2016.