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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PÚBLICO MÓDULO TEORIA GERAL DO ESTADO E DIREITO CONSTITUCIONAL Data: 04/04/2014 Professor: Flávio Martins 1. Material pré-aula a. Tema “Competências constitucionais” b. Noções Gerais Segundo José Afonso da Silva, A autonomia das entidades federativas pressupõe repartição de competências para o exercício e desenvolvimento de sua atividade normativa. Esta distribuição constitucional de poderes é o ponto nuclear da noção de Estado federal. São notórias as dificuldades quanto a saber que matérias devem ser entregues à competência da União, quais as que competirão aos Estados e quais as que se indicarão aos Municípios. Os limites da repartição regional e local de poderes dependem da natureza e do tipo histórico de federação. Numas a descentralização é mais acentuada, dando-se aos Estados federados competências mais amplas, como nos Estados unidos. Noutras a área de competência da união é mais dilatada, restando limitado campo de atuação aos Estados-membros, como tem sido no Brasil, onde a existência de competências exclusivas dos Municípios comprime ainda mais a área estadual. A Constituição de 1988 estruturou um sistema que combina competências exclusivas, privativas e principiológicas com competências comuns e concorrentes, buscando reconstruir o sistema federativo segundo critérios de equilíbrio ditados pela experiência histórica. (SILVA p.477) i. Sistema de repartição de competências. A Constituição Federal adotou um sistema de repartição de competências enumerando quais competências são da União, quais são dos Estados e quais são as dos Municípios, combinando-as com possibilidades de delegação e a possibilidade da competência comum entre os órgãos.

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  • PS-GRADUAO EM DIREITO PBLICO

    MDULO TEORIA GERAL DO ESTADO E DIREITO CONSTITUCIONAL

    Data: 04/04/2014 Professor: Flvio Martins 1. Material pr-aula

    a. Tema

    Competncias constitucionais

    b. Noes Gerais

    Segundo Jos Afonso da Silva,

    A autonomia das entidades federativas pressupe repartio de competncias para o exerccio e desenvolvimento de sua atividade normativa. Esta distribuio constitucional de poderes o ponto nuclear da noo de Estado federal. So notrias as dificuldades quanto a saber que matrias devem ser entregues competncia da Unio, quais as que competiro aos Estados e quais as que se indicaro aos Municpios. Os limites da repartio regional e local de poderes dependem da natureza e do tipo histrico de federao. Numas a descentralizao mais acentuada, dando-se aos Estados federados competncias mais amplas, como nos Estados unidos. Noutras a rea de competncia da unio mais dilatada, restando limitado campo de atuao aos Estados-membros, como tem sido no Brasil, onde a existncia de competncias exclusivas dos Municpios comprime ainda mais a rea estadual. A Constituio de 1988 estruturou um sistema que combina competncias exclusivas, privativas e principiolgicas com competncias comuns e concorrentes, buscando reconstruir o sistema federativo segundo critrios de equilbrio ditados pela experincia histrica. (SILVA p.477)

    i. Sistema de repartio de competncias. A Constituio Federal adotou um sistema de repartio de competncias enumerando quais competncias so da Unio, quais so dos Estados e quais so as dos Municpios, combinando-as com possibilidades de delegao e a possibilidade da competncia comum entre os rgos.

  • c. Legislao e Smulas Constituio Federal Competncias da Unio: Art. 21 (exclusiva), Art. 22 (legislativa), Art. 23 (comum). Competncia dos Estados-membros: Art. 23 (comum), Art. 25 (residual), Art. 24 (concorrente) Competncia dos municpios: Art. 30, III a IX (privativa), Art. 30, II (suplementar), Art. 23 (comum), Art. 29 (legislativa), Art. 182, 2 (plano diretor).

    d. Julgados e/ou Informativos (ntegra dos respectivos acrdos em: http://stf.jus.br/portal/inteiroTeor/pesquisarInteiroTeor.asp.

    Informativo 707. ADI 903. O Plenrio julgou improcedente pedido formulado em ao direta de inconstitucionalidade proposta contra a Lei 10.820/92, do Estado de Minas Gerais, que dispe sobre a obrigatoriedade de empresas concessionrias de transporte coletivo intermunicipal promoverem adaptaes em seus veculos, a fim de facilitar o acesso e a permanncia de pessoas com deficincia fsica ou com dificuldade de locomoo. Salientou-se que a Constituio dera destaque necessidade de proteo s pessoas com deficincia, ao instituir polticas e diretrizes de acessibilidade fsica (CF, artigos 227, 2; e 244), bem como de insero nas diversas reas sociais e econmicas da comunidade. Enfatizou-se a incorporao, ao ordenamento constitucional, da Conveno Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia primeiro tratado internacional aprovado pelo rito legislativo previsto no art. 5, 3, da CF , internalizado por meio do Decreto 6.949/2009. Aduziu-se que prevaleceria, no caso, a densidade do direito acessibilidade fsica das pessoas com deficincia (CF, art. 24, XIV), no obstante pronunciamentos da Corte no sentido da competncia privativa da Unio (CF, art. 22, XI) para legislar sobre trnsito e transporte. Consignou-se que a situao deveria ser enquadrada no rol de competncias legislativas concorrentes dos entes federados. Observou-se que, poca da edio da norma questionada, no haveria lei geral nacional sobre o tema. Desse modo, possvel aos estados-membros exercerem a competncia legislativa plena,

  • suprindo o espao normativo com suas legislaes locais (CF, art. 24, 3). Ressaltou-se que a preocupao manifestada, quando do julgamento da medida cautelar, sobre a ausncia de legislao federal protetiva encontrar-se-ia superada, haja vista a edio da Lei 10.098/2000, a estabelecer normas gerais e critrios bsicos de promoo da acessibilidade de pessoas com deficincia. Registrou-se que, diante da supervenincia dessa lei nacional, a norma mineira, embora constitucional, perderia fora normativa, na atualidade, naquilo que contrastasse com a legislao geral de regncia do tema (CF, art. 24, 4). ADI 903/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 22.5.2013. (ADI-903) Informativo 701. ADI-3327. Plenrio iniciou exame de ao direta de inconstitucionalidade ajuizada, pelo Procurador-Geral da Repblica, contra as Leis 5.717/98 e 6.931/2001, ambas do Estado do Esprito Santo, que autorizava a utilizao, pela polcia militar ou pela polcia civil estadual, de veculos apreendidos e no identificados quanto procedncia e propriedade, exclusivamente no trabalho de represso penal. O Min. Dias Toffoli, relator, julgou procedente o pedido formulado, no que foi acompanhado pelos Ministros Ricardo Lewandowski, Rosa Weber e Luiz Fux. Destacou que a Constituio, na parte em que fixaria a competncia legislativa dos entes federados, teria outorgado Unio, privativamente, a faculdade de editar normas sobre trnsito e transporte. Em divergncia, a Min. Crmen Lcia considerou o pleito improcedente, no que foi seguida pelos Ministros Marco Aurlio, Celso de Mello e Joaquim Barbosa, Presidente. Obtemperou no se tratar de matria correlata a trnsito, mas concernente administrao. Recordou que norma do Cdigo de Trnsito Brasileiro permitiria que veculos fossem levados a hasta pblica, embora constitusse permisso que nem sempre ocorreria. O Min. Marco Aurlio aduziu que o ente federado no teria invadido a esfera de competncia da Unio porque, ante a inexistncia de lei geral, os Estados-membros exerceriam normatividade plena, nos termos previstos na Constituio. Para o Min. Celso de Mello, a matria em causa no envolveria trnsito e transporte, mas, sim, tpica norma de carter administrativo, integrada no mbito de autonomia do prprio Estado-membro. Aps, o julgamento foi suspenso para colher-se os votos dos demais Ministros. ADI 3327/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 11.4.2013. (ADI-3327).

  • Informativo 697. ADI-2340. O Min. Gilmar Mendes apontou que a essncia da autonomia municipal abrangeria primordialmente autoadministrao, a significar a capacidade decisria quanto aos interesses locais sem delegao ou aprovao hierrquica, e autogoverno. Frisou que, no caso, no se cuidaria de regies metropolitanas, mas de lei estadual a disciplinar o fornecimento de gua para todos os municpios catarinenses. Mencionou ser notrio que poucos municpios teriam condies de atender, por si ss, funo pblica de saneamento bsico. Dessa forma, esta extrapolaria o interesse local e passaria a ter natureza de interesse comum, apta a ser tratada no s pela legislao municipal. Pontuou que, embora a lei impugnada tivesse o intuito de proteger o usurio do servio, adentraria a competncia dos municpios, em patente inconstitucionalidade formal. O Min. Celso de Mello enfatizou que, conquanto tivesse indeferido a medida cautelar, posteriormente, aps maior reflexo, adotara, em questo anloga, posio que lhe pareceria mais compatvel com o sistema de repartio material de competncias legislativas em mbito do Estado Federal. Por conseguinte, julgou procedente o pleito, a despeito do extremo valor da gua como bem comum, que deveria ser acessvel a todos. Vencido o Min. Marco Aurlio, que julgava improcedente o pedido. Registrava que o fornecimento de gua alcanaria vrios municpios e, por ser a Casan sociedade de economia mista na qual o Estado detm a maioria das aes, a competncia se irradiaria e, em consequncia, seria cabvel lei estadual para regular o assunto. ADI 2340/SC, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 6.3.2013. (ADI-2340) Informativo 624. ADI-4167. Em concluso, o Plenrio, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ao direta de inconstitucionalidade proposta pelos Governadores dos Estados do Mato Grosso do Sul, do Paran, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Cear contra os artigos 2, 1 e 4; 3, caput, II e III; e 8, todos da Lei 11.738/2008, que dispe sobre o piso salarial nacional para os profissionais do magistrio pblico da educao bsica v. Informativo 622. Nesta assentada, o Min. Cezar Peluso, Presidente, acompanhou a divergncia relativa ao 4 do art. 2 da lei impugnada para declarar sua inconstitucionalidade, por considerar usurpada a competncia dos Estados-membros e dos Municpios para legislar sobre jornada de trabalho, a qual, na espcie, deveria observar o

  • limite mximo de 2/3 da carga horria no desempenho de atividades em sala de aula. Diante do empate no que se refere a tal dispositivo, deliberou-se, tambm por maioria, que a deciso da Corte exclusivamente em relao ao 4 do art. 2 da mencionada lei no se reveste de eficcia vinculante e efeito erga omnes, por no haver sido obtida a maioria absoluta, necessria para tanto. Vencidos, no ponto, os Ministros Joaquim Barbosa, relator, e Ricardo Lewandowski, que consideravam o pleito integralmente rejeitado, motivo pelo qual todos os preceitos impugnados permaneceriam vlidos. Acrescentavam que entendimento contrrio significaria um convite ao descumprimento da aludida norma. ADI 4167/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 27.4.2011. (ADI-4167) Informativo 619. ADI-3905. Ao aplicar o entendimento acima exposto, o Plenrio, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ao direta proposta pela Associao Brasileira de Distribuidores de Energia Eltrica Abradee para declarar a inconstitucionalidade da expresso eletricidade contida no art. 1 da Lei fluminense 4.901/2006 (Art. 1 - Os medidores de consumo de gua, eletricidade, telefonia e gs devero ser ou estar instalados em local visvel e de fcil acesso aos consumidores. Pargrafo nico O local previsto no caput a parte interna da propriedade onde se realiza o consumo.). Consignou-se que, na espcie, a pertinncia temtica estaria limitada ao campo eltrico, tendo em conta a composio da requerente, a qual seria constituda por empresas concessionrias de distribuio de energia eltrica, cuja finalidade institucional abrangeria a representao, judicial ou extrajudicial, para a defesa dos interesses de seus associados. Vencido o Min. Marco Aurlio que, ao ressaltar a competncia dos Estados-membros para legislar sobre consumo, julgava o pleito improcedente ao fundamento de que no teria havido usurpao, sob ao ngulo formal, da competncia da Unio. ADI 3905/RJ, rel. Min. Crmen Lcia, 17.3.2011. (ADI-3905) Informativo 568. RMS-23732. Dessa forma, entendeu-se que o ato do Ministro da Justia no ofendera qualquer dispositivo constitucional. Ao contrrio, observara o previsto nos artigos 5, XXXII, e 170, V, ambos da CF. Constatou-se, ademais, que o mencionado ato tambm no invadira a competncia dos Estados para regular a matria, porquanto

  • se cuidaria de competncia concorrente da Unio, dos Estados-membros e do Distrito Federal (CF, art. 24, V, e VIII). Rejeitou-se, ainda, a alegao de afronta ao devido processo legal nos autos do procedimento administrativo, tendo em vista que a deciso nele formalizada gerara ato normativo da Administrao Pblica, cuja regra de competncia encontra previso no Decreto 2.181/97, amparado pelo texto constitucional (artigos 84, IV, e 87, pargrafo nico, II e IV). Rejeitou-se, de igual modo, a alegada ofensa ao princpio da proporcionalidade, pois o ato impugnado mostrara-se adequado e necessrio, atingindo sua finalidade de proteo e defesa do consumidor. Por fim, asseverou-se que, mesmo se admitindo que a regulamentao administrativa da matria tivesse excedido seus limites legais, no seria o caso de reconhecer-lhe a inconstitucionalidade. RMS 23732/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.11.2009. (RMS-23732)

    d. Leitura sugerida - BARROSO. Luis Roberto. Saneamento Bsico: Competncias Constitucionais da Unio, Estados e Municpios. Disponvel em: http://www.direitodoestado.com/revista/REDAE-11-AGOSTO-2007-LUIS%20ROBERTO%20BARROSO.pdf - LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 17 ed. So Paulo: Saraiva, 2013 (Captulo 7 Diviso Especial do Poder Organizao do Estado). - REZENDE. Renato Monteiro de. A competncia legislativa em matria ambiental. Disponvel em: http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td-121-normas-gerais-revisitadas-a-competencia-legislativa-em-materia-ambiental - SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 35 ed. So Paulo: Malheiros 2011 (Terceira parte, Ttulo I).

    e. Leitura complementar - BARROSO, Luis Roberto. O Servio de transporte ferrovirio e federao: Instituio de padres ambientais de segurana. Disponvel em: http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/LRB/pdf/parecer_transporte_ferroviario.pdf

  • - BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. So Paulo: Malheiros, 2009. - FERREIRA FILHO, Manoel Gonalves. Curso de Direito Constitucional. 38 ed. So Paulo: Saraiva, 2012. - SPITZCOVSKY, Celso e MOTA, Leda Pereira. Direito Constitucional. 11 ed. So Paulo: Mtodo 2013. - TAVARES, Andr Ramos. Curso de Direito Constitucional. 11 ed. So Paulo: Saraiva 2013.