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10 - MARÇO 2011 Além da paixão, o pulso firme na gestão é a principal característica das mulheres na criação de bovinos Silvia Palhares Pecuária A máxima “por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher” muitas vezes não se aplica na pecuária nacional, mesmo sendo um ambiente habitualmente masculino. Não é por acaso que hoje é possível encontrar grandes mulheres à frente de projetos in- críveis envolvendo as mais diversas raças bovinas. E não é só na fazenda que elas mostram a que vieram. Nas entidades de classe, e até no governo, fazem brilhar a paixão que têm pela atividade que esco- lheram para suas vidas profissionais. Aliás, a opção pelo trabalho no cam- po é um sentimento muito forte para a grande maioria delas. Pelo menos na opi- nião da médica-veterinária Ice Cardetti Garbellini, gerente técnica da Brazilian Cattle Genetics, braço de exportação da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), e juíza de raças zebuínas: “Acredito que estar na pecuária seja uma escolha de vida. As pessoas nascem com esse dom. Desde que eu era muito peque- na já tinha certeza de que mexeria com bovinos. Acho que deveria ter 5 ou 6 anos de idade quando me decidi por isso e nun- ca me vi senão trabalhando com o gado”. O mesmo aconteceu à criadora de Simental Rosalu Fladt Queiroz, segunda vice-presidente do Núcleo Paulista da Associação Brasileira de Criadores das Raças Simental e Simbrasil, quando assu- miu a sua fazenda, situada na cidade de Nantes, interior de São Paulo, em 1999. “Já li em diversos lugares que a pecuária é apaixonante, e comigo não foi diferen- te. Trabalhar com a natureza nos ensina a pautar o tempo nas estações, respeitando as chuvas e os invernos e a pecuária de cria se encaixa nisso. É maravilhoso ver a bezerrada nascer e crescer nos campos”, comenta. Ela conta que foi ao inserir a va- cada no computador para melhorar con- trole do rebanho que seu pai percebeu a hora de transferir o gerenciamento da fa- zenda para ela, mesmo sem ter nenhuma especialização, uma vez que é formada em hotelaria, setor no qual atuou por 18 anos. Essa identificação com a pecuária acaba sendo natural para todas elas, não só pelo contato com os animais, mas também pelo fato de que a criação é uma tendência inata. “A mulher entende mais, tem mais sensibilidade e isso tudo faz com que se envolva intensamente e goste da atividade”, comenta Alice Ferreira, cria- dora e vice-presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), acrescentando: “acho que é por isso que estão surgindo tantas mulheres ligadas à pecuária. Elas veem florescer o instinto maternal, aquela coisa do belo, do melho- ramento. Além do mais, são detalhistas e minuciosas, mais críticas e realistas que o homem. Enxergam com mais profundi- dade e quando trabalham na criação não pensam em só um lado – o comercial, por exemplo –, observam também o aspecto de criação, de criadora, do seu plantel. Olham com outros olhos, de querer me- lhorar o ser. A mulher precisa ter a con- quista da melhora. É isso que ela mais en- xerga. É a mãe melhorando seus filhos”. Rosalu complementa a visão de Alice ao afirmar que a atuação das mulheres no setor é imensa, “mas infelizmente não aparece. Há centenas delas que tocam suas fazendas longe dos holofotes, com mui- ta garra, mas sem muita comunicação”. Pensando nisso, a criadora de Simental relata que em 2010 um grupo, ainda pe- queno, de mulheres pecuaristas formou o Núcleo Feminino da Pecuária (NFA) com o intuito de estudar e se aprofundar na gestão das propriedades e futuros inves- timentos. “Considero um grande avanço para nós, pois será uma oportunidade de trocarmos ideias e melhorarmos o relacio- namento, uma vez que trabalhamos muito sozinhas”. SUPERANDO BARREIRAS Para chegarem onde estão, entretanto, essas personagens trabalharam duro, por amor à atividade e também para ganhar o respeito dos que as cercam. A come- çar pela família, conta Ângela Linhares, criadora de Brangus, membro atual e ex- presidente do Conselho Técnico da Asso- ciação Brasileira de Brangus (ABB). Ela lembra que ao se formar em veterinária voltou para Uruguaiana/RS, cidade onde a família mantém a propriedade em que foi criada, junto com o marido João Paulo Schneider da Silva (Kaju), com o objetivo de trabalhar na cabanha. “No início, meu pai não me deu muita abertura e acho até que duvidava um pouco por eu ser mulher – não sei. Por isso, comecei lá trabalhando com apicultura e mais tarde montei um la- boratório em parceria com outra veteriná- ria para fazermos os exames de controle de verminose, principalmente em ovinos, já que tínhamos muitos. Com o tempo passei a me inteirar da área de pecuária bovina e quando surgiu a oportunidade, com o Sistema de Avaliação do Progra- ma Natura, e começarmos com o Bran- com toqu Matéria de Capa

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Homenagem às mulheres da pecuária brasileira, sua força e amor pela criação de bovinos.

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10 - MARÇO 2011

Além da paixão, o pulso firme na gestão é a principal característica das mulheres na criação de bovinos

Silvia Palhares

Pecuária

A máxima “por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher” muitas vezes não se aplica

na pecuária nacional, mesmo sendo um ambiente habitualmente masculino. Não é por acaso que hoje é possível encontrar grandes mulheres à frente de projetos in-críveis envolvendo as mais diversas raças bovinas. E não é só na fazenda que elas mostram a que vieram. Nas entidades de classe, e até no governo, fazem brilhar a paixão que têm pela atividade que esco-lheram para suas vidas profissionais.

Aliás, a opção pelo trabalho no cam-po é um sentimento muito forte para a grande maioria delas. Pelo menos na opi-nião da médica-veterinária Ice Cardetti Garbellini, gerente técnica da Brazilian Cattle Genetics, braço de exportação da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), e juíza de raças zebuínas: “Acredito que estar na pecuária seja uma escolha de vida. As pessoas nascem com esse dom. Desde que eu era muito peque-na já tinha certeza de que mexeria com bovinos. Acho que deveria ter 5 ou 6 anos de idade quando me decidi por isso e nun-ca me vi senão trabalhando com o gado”.

O mesmo aconteceu à criadora de Simental Rosalu Fladt Queiroz, segunda vice-presidente do Núcleo Paulista da Associação Brasileira de Criadores das Raças Simental e Simbrasil, quando assu-miu a sua fazenda, situada na cidade de Nantes, interior de São Paulo, em 1999. “Já li em diversos lugares que a pecuária é apaixonante, e comigo não foi diferen-te. Trabalhar com a natureza nos ensina a pautar o tempo nas estações, respeitando as chuvas e os invernos e a pecuária de

cria se encaixa nisso. É maravilhoso ver a bezerrada nascer e crescer nos campos”, comenta. Ela conta que foi ao inserir a va-cada no computador para melhorar con-trole do rebanho que seu pai percebeu a hora de transferir o gerenciamento da fa-zenda para ela, mesmo sem ter nenhuma especialização, uma vez que é formada em hotelaria, setor no qual atuou por 18 anos.

Essa identificação com a pecuária acaba sendo natural para todas elas, não só pelo contato com os animais, mas também pelo fato de que a criação é uma tendência inata. “A mulher entende mais, tem mais sensibilidade e isso tudo faz com que se envolva intensamente e goste da atividade”, comenta Alice Ferreira, cria-dora e vice-presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), acrescentando: “acho que é por isso que estão surgindo tantas mulheres ligadas à pecuária. Elas veem florescer o instinto maternal, aquela coisa do belo, do melho-ramento. Além do mais, são detalhistas e minuciosas, mais críticas e realistas que o homem. Enxergam com mais profundi-dade e quando trabalham na criação não pensam em só um lado – o comercial, por exemplo –, observam também o aspecto de criação, de criadora, do seu plantel. Olham com outros olhos, de querer me-lhorar o ser. A mulher precisa ter a con-quista da melhora. É isso que ela mais en-xerga. É a mãe melhorando seus filhos”.

Rosalu complementa a visão de Alice ao afirmar que a atuação das mulheres no setor é imensa, “mas infelizmente não aparece. Há centenas delas que tocam suas fazendas longe dos holofotes, com mui-

ta garra, mas sem muita comunicação”. Pensando nisso, a criadora de Simental relata que em 2010 um grupo, ainda pe-queno, de mulheres pecuaristas formou o Núcleo Feminino da Pecuária (NFA) com o intuito de estudar e se aprofundar na gestão das propriedades e futuros inves-timentos. “Considero um grande avanço para nós, pois será uma oportunidade de trocarmos ideias e melhorarmos o relacio-namento, uma vez que trabalhamos muito sozinhas”.

Superando barreiraSPara chegarem onde estão, entretanto,

essas personagens trabalharam duro, por amor à atividade e também para ganhar o respeito dos que as cercam. A come-çar pela família, conta Ângela Linhares, criadora de Brangus, membro atual e ex-presidente do Conselho Técnico da Asso-ciação Brasileira de Brangus (ABB). Ela lembra que ao se formar em veterinária voltou para Uruguaiana/RS, cidade onde a família mantém a propriedade em que foi criada, junto com o marido João Paulo Schneider da Silva (Kaju), com o objetivo de trabalhar na cabanha. “No início, meu pai não me deu muita abertura e acho até que duvidava um pouco por eu ser mulher – não sei. Por isso, comecei lá trabalhando com apicultura e mais tarde montei um la-boratório em parceria com outra veteriná-ria para fazermos os exames de controle de verminose, principalmente em ovinos, já que tínhamos muitos. Com o tempo passei a me inteirar da área de pecuária bovina e quando surgiu a oportunidade, com o Sistema de Avaliação do Progra-ma Natura, e começarmos com o Bran-

com toque femininoMatéria de Capa

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gus, me tornei a responsável pela raça na propriedade. Em 1993, passei a trabalhar com todas as raças que tínhamos – Angus, Hereford e Braford, além do Brangus – e, hoje, respondo pela seleção genética dos nossos animais.”

A trajetória de Angela para provar ao pai sua vontade e seu jeito de trabalhar com pecuária de certa forma também faz parte da história da médica-veterinária Thais Maria Bento Pires Lopa, atualmen-te presidente do Conselho Técnico da As-

sociação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). Como sua família sempre atuou no setor, após cursar a faculdade no Rio de Janeiro (RJ), decidiu retornar para Alegre-te (RS) e seguir o sonho de trabalhar com grandes animais. Mas ressalta que não foi fácil. Ela acredita que ser mulher na pecuária é muito complicado, ainda mais quando se é veterinária, já que as pessoas ainda têm o conceito de que é o homem quem se envolve nas atividades diárias do campo, que é ele quem faz as coisas e a

mulher só acompanha. E vai mais fundo na questão ao afirmar que há algum tem-po, na produção, dificilmente se chamaria uma veterinária para prestar consultoria técnica, realizar uma cesariana, um ma-nejo. “Sempre se deu preferência ao ho-mem, mas a mulher está mostrando que é mais cuidadosa para algumas coisas, tem mais controle, mais dedicação e mais atenção. É claro que tive dificuldades na minha profissão, principalmente quando prestava serviços de consultoria, pois era

com toque feminino

“Com cinco anos já sabia que mexeria com pecuária”, relata Ice CardettiIceardett

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gratificante”.

SuceSSo com muita batalhaO amor pela bovinocultura muitas ve-

zes obrigou essas mulheres à superação extrema. Esse foi o caso de Maria Lúcia Abreu Pereira, criadora das raças Senepol e Bonsmara em Itapira/SP, e até o ano pas-sado atuante nas entidades de classe dos dois adaptados. Ela conta que sua grande conquista no setor foi tornar a propriedade que adquiriu no que ela é hoje. Isso porque a fazenda, na ocasião da compra, estava abandonada há 16 anos. “Parece loucura, mas a única coisa que tinha lá dentro era um pínus mal cuidado”, lembra a empre-sária, que diz ter optado pela pecuária em função da topografia montanhosa da pro-priedade e também por se identificar mais com esta atividade do que com outras no campo.

O trabalho de arrumação foi feito por partes, já colocando o gado no pasto. “Nes-

inevitável falarem ‘Ah, como vou colo-car uma mulher para fazer esse trabalho, lidando com um monte de peão, dando orientação a eles? Vai ficar montando ca-valo para fazer o manejo da propriedade?’ Mas de um tempo para cá isso mudou, es-tão aceitando mais. Tanto que na ABHB fui a primeira mulher na direção técnica.”

Para lidar com essas e outras situa-ções, Elizabeth Obino Cirne Lima, vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Devon (ABCD), lembra que alguns cuidados devem ser tomados. Ela procura ficar atenta com detalhes como os ambientes onde circula, como se veste, com quem fala. São formas que encontrou de conquistar um respeito ainda maior da-queles com quem trabalha, algo que vai além do profissional.

Aliás, as preocupações com o lado pessoal não deixam de fazer parte do dia a dia dessas mulheres. Para Susana Ma-cedo Salvador, criadora e presidente do Conselho Técnico da Associação Brasi-

leira de Angus (ABA), a maior dificulda-de enfrentada nesses anos de dedicação à pecuária sempre foi a distância, uma vez que a estância fica em Uruguaiana (RS), bem longe de Porto Alegre/RS, cidade onde cursou grande parte de sua vida aca-dêmica. Além disso, lembra, as exposi-ções sempre impuseram muitas viagens. O fato de estar em um ambiente majori-tariamente masculino nunca fez diferença na carreira dessa médica-veterinária. “A maior conquista – ressalta Susana – foi conseguir dedicar-me inteiramente às duas grandes atividades da minha vida, a pecuária e a família.” E complementa: “A pessoa que vai se entregar à atividade agropecuária tem de ter muito amor, pois sempre acabamos um pouco divididos, principalmente as mulheres. Quando os filhos chegam a idade escolar, querendo ou não temos de nos dividir entre a área rural e a urbana. E conseguir conciliar bem essas duas tarefas, algo que a prin-cípio parece impossível, é extremamente

“Hoje estão aceitando mais as mulheres na pecuária”, segundo Thais Lopa

Rosalu Queiroz destaca que a pecuária é apaixonante, a fez pautar o tempo nas estações do ano

Para Elizabeth Cirne, o respeito deve ser conquistado além do âmbito profissional

“Minha maior conquista foi conseguir me dedicar a minha família e à pecuária”, confidencia Susana Salvador

Para Alice Ferreira, “mulher tem mais sensibilidade e se envolve mais intensamente”

Angela Linhares teve de provar a capacidade para o pai

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se princípio a decisão mais importante foi a de chamarmos técnicos para nos ajudar a desenvolver os projetos que tínhamos. Foram eles que planejaram o plantio de pasto com a colocação imediata dos bovi-nos, o que alavancou a fazenda. Porque se não fosse assim, nunca iríamos conseguir levantar a propriedade”, comenta Maria Lúcia. Desde então, a propriedade se des-taca pela opção de trabalhar com duas ra-

ças adaptadas e pelo desenvolvimento do rebanho a partir do cruzamento industrial e do teste de performance.

O desafio de começar do zero tam-bém está na trajetória de Alice Ferreira. Ela conta que apesar de ser de família de fazendeiro, decidiu pela pecuária por enxergar nela o desafio das constantes mudanças. Como sua área de atuação foi de gado fino, tido como de elite, a mo-dernização da atividade e o trabalho de genética foram imprescindíveis. “Passei a pesquisar, a ler sobre o assunto e daí as conquistas foram aparecendo. Você vai galgando degraus, crescendo, conhecen-do, se aprofundando. O amor vem de an-tes.” E sempre foi grande esse sentimento, assim como sua dedicação, coroada entre outras situações com o título de primeira presidente mulher da ACNB, instituição com 57 anos de atuação. Atenta às opor-tunidades do mercado, está liquidando o rebanho elite e agora aposta no mercado de produção.

A luta para conquistar o mercado levou a criadora Eliane Massari, atual presiden-

te da Associação Brasileira dos Criadores de Marchigiana (ABCM), a ser a única fornecedora de carne da raça para o Gru-po Carrefour no Brasil. Ela explica que a parceria já tem anos e sempre trouxe bons resultados, uma vez que a bonificação é alta – 3% sobre a cotação Esalq e ainda mais 3% em cima do valor total. “É quase o preço de uma arroba”, revela. Para che-gar a esse patamar, Eliana diz que além de a raça ser excelente, o fato de sua proprie-dade fazer a integração lavoura-pecuária permite o trabalho com o confinamento a custos mais baixos.

Há, ainda, o cruzamento industrial do Marchigiana com o Nelore, que oferece a rusticidade necessária ao negócio da fa-mília. “Imagina o que é ter uma novilha que fica 35 dias no cocho, e que você tem de tirar porque senão ela fica gordinha demais e é vendida como vaca? Então, temos o retorno dos investimentos. É uma raça que está mais que consolidada, mais que comprovada” exalta a criadora. E conta que há um ano estão experimentan-do o cruzamento tricross com o Brahman.

Maria Lúcia apostou em raças então exóticas e pautou seu trabalho no melhoramento genético a pasto

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Especial Plantas DaninhasMatéria de Capa

“Resolvemos testar, com o objetivo de melhorar ainda mais o nosso plantel. Até agora, os resultados têm sido ótimos.”

Diferentemente das demais persona-gens, Ranielly da Silva Maciel não é cria-dora, mas sua paixão pelo gado de leite a levou da universidade de veterinária diretamente para a Associação Brasilei-ra dos Criadores de Gir Leiteiro (ABC-GIL), onde atua na logística de exposi-ções e, mais recentemente, nos projetos de certificação da entidade. Ela comenta que sempre gostou de grandes animais, mas que sua verdadeira paixão desde criança é a pecuária de leite. O incentivo para sua decisão foi o avô, que sempre trabalhou em fazendas e despertou nela o gosto pelo campo. “Como adoro o gado zebu, me apaixonei pelo Gir Leiteiro e vir para a ABCGIL foi uma das minhas grandes conquistas”, explica Ranielly.

Formada em psicologia pela Univer-sidade Católica de Goiás, Kátia Abreu entrou no mundo da pecuária ao herdar uma propriedade rural em Tocantins. Vi-úva aos 25 anos, grávida e com dois fi-lhos bem pequenos, assumiu em 1987 a Fazenda Aliança após a morte repentina do marido em um acidente de avião e, mesmo sem experiência alguma na área, abraçou o desafio de uma nova vida de sucesso. Em sua história, Kátia conta que ao chegar à fazenda, encontrou um roteiro do que deveria fazer em caso de ausên-cia do marido, Irajá Silvestre. Era uma espécie de inventário, no qual explicava como e onde aplicar o dinheiro, quais dí-vidas deveriam ser pagas primeiro e quais eram os investimentos prioritários para o aumento da produtividade da fazenda.

Seis anos depois, a então fazendeira ganhou projeção na região ao implemen-tar em seu rebanho tecnologias como a inseminação artificial. A consequência disso foi o convite para candidatar-se à presidência do Sindicato Rural de Gurupi, empreitada da qual saiu vitoriosa, trazen-do modernização para a entidade, união aos pecuaristas e agricultores e projetos sociais para a população rural. Foi assim que iniciou uma nova etapa: a presidência da Federação da Agricultura do Estado do Tocantins (FAET), a vice-presidência da

Secretaria da Confederação da Agricultu-ra e Pecuária do Brasil (CNA), a Câmara de Deputados, o Senado e, mais recente-mente a presidência da CNA.

No cargo desde 2008, foi a primeira mulher a dirigir a entidade e chegou ao posto ovacionada pela maioria dos produ-tores rurais, em função de seu trabalho em prol da atividade, apesar de receber críti-cas severas quanto sua posição contrária à Reforma Agrária no Brasil e outros assun-tos tidos como de opinião pública.

Com a mesma projeção, mas seguin-do um caminho diferente, a veterinária, pesquisadora e mestre em reprodução animal, Cintia Maria Gonçalves, arranca elogios pelas fazendas que passa, por seu

profissionalismo e sua competência. Co-ragem e determinação são duas das quali-dades apontadas pelo mercado. Hoje, ela presta assessoria genética para plantéis de todo o País, muitos dos quais estão na van-guarda da pecuária seletiva e de produção. Em dez anos de trabalho, alcançou a in-crível marca de 300 mil vacas avaliadas em inseminação artificial em tempo fixo, transferência de embriões e fertilização in vitro, 30 mil exames andrológicos realiza-dos e 20 mil prenhezes consolidadas, e a contagem continua. Ela enxerga longe: “o rebanho bovino nacional apresenta poten-cial para dobrar a produtividade sem que seja necessário aumentar a área utilizada”, acredita.

Projeção nacional

“Quando fazemos uma coisa por escolha, a desempenhamos com muito mais determinação, objetivo. Lutamos com mais empenho, com mais amor. Isso é que faz ter mais motivação, pois é um trabalho árduo, trabalhamos muito

tempo. A mulher em geral tem uma garra muito grande, quando se dedica a alguma coisa tem um foco bem definido. Talvez por isso, a entrada da mulher na pecuária é muito bem vista”, complementa Susa-na Macedo.

“Melhorar nossa carne é muito gratificante”, diz Eliane

Kátia Abreu conseguiu projeção nacional com a pecuária e chegou à presidência da CNA

Cintia Oliveira sempre soube do potencial da pecuária brasileira

Ranielly realizou o sonho de trabalhar com pecuária leiteira