marx, o intempestivo

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MARX, O INTEMPESTIVO Grandezas e misérias de uma aventura crítica séculos XIX e XX Daniel Bensaïd As classes ou o sujeito perdido A luta de classes ocupa o centro do pensamento marxista. É através del a História. No entanto, o que é classe, para Marx? Segundo autores como Dahrendorf, Schumpeter e Aron, trata-se de uma co KM entre ciência e filosofia, economia e sociologia. O Capital deixa muitos pontos em aberto, quanto à: - compreensão da evolução das classes nas sociedades capitalis transformações e diferenciações internas) - compreensão dassociedades nãocapitalistas (ouburocráticas) - nãoraro reduzida a caracterizações formais que decorrem ora do primado da economia (plano do primado do político (“ditadura do proletariado”), ora de uma sociologia aproximati Estado operário” ) De acordo com Schumpeter, o cenário atual, com consequências da circul global já se acham presentes no valor e no valor excedente, que pressu Não é possível imaginar as classes, em um momento de abstração, descon divisão do trabalho, bem como da relação com o Estado existente. Assim é possível que a teoria de classes pudesse ser reduzida a u classificações. Trata-se de um complexo sistema de relações estruturado pela luta, cuja complexidade se desenrola plenamente nos escritos políticos de KM. Est Boaventura S. Santos, da primazia política sobre aspectos econômicos em “Pela mão de Schumpeter tenta propor uma definição bem simplificada para classe: “estratificação consiste na propriedade ou na não-propriedade dos meios de pr fundamentalmente na presença de duas classes”. Trata -se de uma definição insuficiente. A oposição entre trabalho assalariado e capital, para KM, reside no pr determinada, o da esfera da produção (e não no nível da formação socia produção diferentes, cada sociedade pode ser reconduzida a uma oposiçã fundamental. Schumpeter rechaça o uso do conceito de classe para todas as “épocas não históricas”. Tal uso privilegiaria o aspecto econômico em detrimento Uma classe, portanto, para Schumpeter, é mais e outra coisa indivíduos, algo que é sentido e sublimado como um todo. Nas ciências sociais, é a acepção mereológica do termo classe que conv grupo de homens, um objeto composto. Os homens que constituem social são evidentemente interdependentes não apenas como o são os fra um objeto inanimado ou de um rebanho de animais. dependên especificamente humanas, tais como a linguagem e a cooperação conscien Não há classe senão na relação conflitual com outras classes. É um con existe em função de outro.

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MARX, O INTEMPESTIVO Grandezas e misrias de uma aventura crtica sculos XIX e XX Daniel Bensad As classes ou o sujeito perdido A luta de classes ocupa o centro do pensamento marxista. atravs dela que se fez e que se faz a Histria. No entanto, o que classe, para Marx? Segundo autores como Dahrendorf, Schumpeter e Aron, trata-se de uma confuso do prprio KM entre cincia e filosofia, economia e sociologia. O Capital deixa muitos pontos em aberto, quanto : - compreenso da evoluo das classes nas sociedades capitalistas desenvolvidas (de suas transformaes e diferenciaes internas) - compreenso das sociedades no capitalistas (ou burocrticas) - no raro reduzida a caracterizaes formais que decorrem ora do primado da economia (plano contra mercado), ora do primado do poltico (ditadura do proletariado), ora de uma sociologia aproximativa (o Estado operrio) De acordo com Schumpeter, o cenrio atual, com consequncias da circulao e da reproduo global j se acham presentes no valor e no valor excedente, que pressupem a luta de classes. No possvel imaginar as classes, em um momento de abstrao, desconectadas da complexa diviso do trabalho, bem como da relao com o Estado existente. Assim, depreende-se que no possvel que a teoria de classes pudesse ser reduzida a um jogo esttico de definies e classificaes. Trata-se de um complexo sistema de relaes estruturado pela luta, cuja complexidade se desenrola plenamente nos escritos polticos de KM. Este ponto revisitado por Boaventura S. Santos, da primazia poltica sobre aspectos econmicos em Pela mo de Alice. Schumpeter tenta propor uma definio bem simplificada para classe: estratificao social consiste na propriedade ou na no-propriedade dos meios de produo. Estamos, assim, fundamentalmente na presena de duas classes. Trata-se de uma definio insuficiente. A oposio entre trabalho assalariado e capital, para KM, reside no primeiro nvel de abstrao, determinada, o da esfera da produo (e no no nvel da formao social). Em estruturas de produo diferentes, cada sociedade pode ser reconduzida a uma oposio conflitual de classe fundamental. Schumpeter rechaa o uso do conceito de classe para todas as sociedades, inclusive para pocas no histricas. Tal uso privilegiaria o aspecto econmico em detrimento do poltico. Uma classe, portanto, para Schumpeter, mais e outra coisa alm de uma simples soma de indivduos, algo que sentido e sublimado como um todo. Nas cincias sociais, a acepo mereolgica do termo classe que convm: o proletariado um grupo de homens, um objeto composto. Os homens que constituem uma determinada classe social so evidentemente interdependentes no apenas como o so os fragmentos constitutivo de um objeto inanimado ou de um rebanho de animais. H dependncias de natureza social, especificamente humanas, tais como a linguagem e a cooperao consciente. No h classe seno na relao conflitual com outras classes. um conceito relativizado, s existe em funo de outro.