o casaco de marx

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    25 Steedman, 1986. p.24, 38, 109.26 Rhys, 1974. p.1S, 28, 32.27 "Memoirs of Alice Parker Isso", 1942. p.73.28 Roth, p.233, 234, 237.

    I

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    o casaco de Marx

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    Marx defIne 0capitalismo como 0processode universalizacao da producao de mercado-rias. Ele escreve no prefacio da primeira edicaodeO Capital que a forma mercadoria do pro-duto do trabalho ou a forma valor da merca-doria e a.forma celular da economia.' A formacelular da economia que ocupa 0primeiro ca-pitulo de 0 Capital assume a forma de urn carsaco . 0 casaco faz sua primeira aparicao naocomo urn objeto que e fabricado e vestido, mascomo urna mercadoria que e trocada. E 0quedefine 0casaco como uma mercadoria paraMarx e que, como tal, ele nao pode set vestidocomo tampouco pode aquecer. Mas, embora a------------------------------------- 53

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    mercadoria seja uma abstracao fria, ela se ali- -menta, tal como um vampiro, de trabalho hu-mano. Os sentimentos contraditorios de Marxem 0 Capital constituem uma tentativa de cap-turar 0carater contraditorio do proprio capi-talismo: a sociedade mais abstrata que jamaisexistiu; uma sociedade que consome, cada vezmais, corp os humanos concretos. A abstracaodessa sociedade e representada pela propriaforma mercadoria. Pois a mercadoria torna-seuma mercadoria nao como uma coisa, mascomo um valor de troca. Ela atinge a sua maispura forma, na verdade, quando ela e.rnais es-vaziada de particularidades e de seu carater decoisa. Como uma mercadoria, 0casaco alcancaseu destino como uma equivalencia: como vin-te metros de linho, dez quilos de cha, quarentaquilos de cafe, urna saca de trigo, vinte gramasde ouro, meia tonelada de ferro.' Fetichizar amercadoria significa fetichizar um valor de trocaabstrato - isto e , adora-la no altar do FinancialTimes ou do The Tnill Street [ornal, os quaistegistram a quantidade de copos de papelque

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    perrnitirao que se compre um livro acaderni-co, a quanti dade de livros academicos que per-mitirao que se compre um liqtiidificador, aquantidade de liquidificadores gue perrnitiraoque se compre urn carro. Em 0 Capital, 0ca-saco de Marx aparece apenas para imediata-mente desaparecer outra vez, porque a natu-reza do capitalismo consiste em produzir umcasaco nao como urna particularidade material,mas como um valor supra-sensivel. 3 A tarefade Marx em 0 Capital consiste em fazer 0ca-minho de volta (incluindo todos os seus des-vios): daquele valor ao trabalho humane cujaapropriacao produz capital. Isso leva Marx, te-oricamente, a teoria do valor-trabalho e a umaanalise da mais-valia, Leva-o, politicarnente,as fabricas, as condicoes de trabalho, aos es-pa

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    em suas idas ao Museu Britanico para i2es-quisar material para escrever 0Capital . 0ca-saco que Marx vestia entrava e saia da casa depenhores. Ele tinha usos bern especificos: con-servar Marx aquecido no inverno; distingui-1 0 como urn cidadao decente que pudesse en-trar no salao de leitura do Museu Britanico.Mas 0casaco, qualquer casaco, visto como urnvalor de troca, e esvaziado de qualquer fun-

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    radoxal que criticas ideologicas da rnodernidadeeuropeia completamente opostas partilhem 0pressuposto de que essa modernidade e carac-terizada por urn materialismo absoluto. A for-9a dessa denuncia depende do pressuposto deurn lugar que teria existido antes da queda nomaterialismo, uma sociedade onde as pessoasteriam sido espiritualmente pur as e inconta--lninadas pelos objetos a sua volta. 8 Mas apor 0marerialismo da vidamoderna a urn passadonao-materialista nao e apenas errado: na ver-dade, inverte a relacao do capitalismo commodos alternativos e anteriores de producio.Como afrrma Marcel Mauss em 0dam, seu im-portante livro sobre a troca pre-capitalista, osobjetos, nessas trocas, podem ser "seres perso-nificados que falam e participam do contrato.Eles afirmam seu desejo de serem doados". Ascoisas como presentes nao sao "coisas indife-rentes"; elas tern "urn nome, uma personalida-de, urn passado". 9 A oposicao radicalmentedesmaterializada entre 0 "individuo" e suas"posses" (entre sujeito e objeto) e uma das

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    oposicoes ideologicas centrais das sociedades ca-pitalistas. Como observa Igor Kopytoff, "estapolaridade conceitual entre pessoasindividuali-zadas e coisas mercantilizadas e recente e, cultu-ralmente falando, excepcional".'?

    Um aspecto dessa polaridade desrnateria-lizante e constitufdo pelo desenvolvimento doconceito de "fetiche". 0ttisso assinala, comomostra Pietz, menos a antiga desconfianca re-lativamente a manufaturas falsas (em oposi-9ao as hostias e imagens manufaturadas mas"verdadeiras" da Igreja Catolica) do que umadesconfianca relativamente nao apenas a pro-pria corporificacao material, mas tambernrelativamente a "sujeicao do corpo humano ...a influencia de certos objetos materiais sig-nificantes que, embora separados do corpo,em certos momentos, funcionam, como seusorgaos controladores".'! 0 fttisso representa,assirn, "uma subversao do ideal do eu autono-mamente determinado=F Alerndisso, 0feti-che (em contraste com 0Idolo que se sustentapor si proprio) foi, desde 0come 90, associado

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    com o bjeto s c arreg ad os no c arpo - bolsinhas decouro, par exemplo, carregadas em torno dopesco\o, contendo passagens de0Corda. 13 0conceito de "fetiche" foi desenvolvido para;literalmente, demonizar a poder de objetosestranhos que eram earregados no corpo (atra-ves cia associacao do feitico com a arte da fei-ticaria europeia). E de emergiu.no mementoem que a sujeito europeu subjugava e escra-vizava outros sujeiros e, simultaneamente, pro-clamava sua propria independencia relativa-mente aOS objetos .materiais.

    ESSH denega\.ao do objeto tern sido fre-qiienternente Iida como urn mero despiste.N essa visao, os empreendedores eutopeus pro-damavam seu desapego relativamente aos ob-jetos, enquanto, ao mesmo tempo, de forma"fetichista", os colecionavam. Mas esta cons-tante repericao do "fetichisrno" como urn ter-mo ofensivo repete a problema ao inves deelimina-Io. Pais as empreendedoreseuropeus,ao menos apos as primeirosestagios comer-ciais, naofetichizavam objetos; pelocontrario,

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    des estavam interessados em objetos apenasna medida em que des pudessern ser transfer-mados em rnercadorias e troeados para obten-\ao de lucre no mercado. Como termo ofen-siva, a conceito de fetiche definia aqueles comas quais as europeus cornercializavam.jia A i d -ca e nas Americas, com povos que adoravam"bugigangas" (meros fetiches) e, ao mesmotempo, coisas "valiosas" (istoe,ouro e prata).Isto significava que des podiam set engana-dos (isto e,aquilo que os europeus.considera-yam sern valor - contas, por exemplo - po-deria set, trocado por objetos valiosos). Mastambem.irnplicava uma nova defini~ao do quesignificava set europeu: isto e, urn sujeito li -vre ciafixa\aoemobjetos, urn sujeito que, ten-do reconhecido 6 verdadeiro valor (isto e,. demere ado ) do objetocomo rnercadoria, se fi -xava, em vez disso, nos valores transcendentaisque transformavam a Duro em navio, as na-vios em armas, as armasem tabaco, a tabacoerna\l.kar, a acucar em aura, e tudo isso numlucro que podia ser contabilizado. 0 que era

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    demonizado no conceito de fetiche era a pos-sibilidade de que a historia, a memoria e 0desejo pudessem ser materializados em obje-tos que fossem tocados e amados e carrega-dos no corpo.Urn subproduto dessa demonizacao era 0

    impossfvel projeto do sujeito transcendental,urn sujeito constituido por nenhum lugar, pornenhum objeto - por nada carregado no cor-po. ''A palavra fetiche", escreveu John Atkinsem 1937, "e usada com urn duplo significadoentre os negros :da e aplicada a s vestes e aosornarnentos e aalgo reverenciado como umadivindade"." 0 sujeito europeu, pot outrolado, "sabia 0valor das coisas" - isto e ne-gava qualquer investimento que nao fosse urninvestimento financeiro em objetos. As rou-pas eram vistas simplesmente como "moda",como bens descartaveis, deixando, crescen-temente, de ser vistas como objetos modela-dores, como materializacoes da memoria, comoobjetos que trabalhavam sobre 0 corpo dosque as vestiarn, transformando-o. Ao atribuir

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    a nocao de fetiche a mercadoria, Marx ridicu-larizou urna sociedade que pensava que tinhaultrapassado a "mer a" adoracao de objetos, su-postarnente caractedstica das religi6es primiti-vas. Para Marx 0fetichismo da mercadoria erauma regressao relativarnente ao materialisrno(ernbora distorcido) que fetichizava 0objeto.o problema para Marx era, pois, nao 0fetichismo como tal, mas antes, urna forma es-pedfica de fetichismo que tomava como seuobjeto nao 0 objeto animado do arnor e dotrabalho hurnanos mas 0nao-objeto esvaziadoque era 0local de troca ..No lugar do casacohaviaurn valor transcendental que apagava tan-to 0 ato de fazer ocasaco quanto 0 ato de ves-ti-lo, 0 Capital representava a tentativa de Marxde devolver 0casaco ao seu proprietario,

    o CASACO DE MARXo ano de 1852 foi mais urn ano catastrofico

    para 0lar de Marx." Nos primeiros meses doano, Marx estava escrevendoO Dezoito Brumdrio,uma tentativa para explicar os fracassos das___________________ 63

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    revolucoes de 1848 e0triunfo da reacao. De2 a 24 de janeiro ele esteve doente na cama,escrevendo com a maior das dificuldades. Masele tinha que escrever, urna vez que, juntamen-te com as doacoes de Engels e com aquilo queele podia penhorar, essa atividade constituia afonte de renda do Iar, urn lar constituido dequatro criancas e tres adultos. Na verdade, naose tratava apenas do fato de que Marx tinhaque escrever; ele tinha que escrever jornalis-mo. Em junho de 1850, Marx tinha consegui-do urn passe de entrada para a sala de .leiturado Museu Britanico e tinha comecado a fazera pesquisa que seria a base de 0Capital. Maspara financiar esta pesquisa ele precisava es-crever por dinheiro. 16Alern disso, de qualquerforma, durante sua doenca, ele nao podia maisir ao Museu. Mas quando se recuperou, dequeria gastar pelo menos algum tempo na Bi-blioteca. Ele nao pode faze-lo. A siruacao fi-nanceira tinha se tornado tao desesperadoraque eletinha naoapenas perdido 0crediro comoacougueiro e 0verdureiro, mas tinha sido

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    obrigado a penhorar 0 seu casaco de inver-noY No dia 27 de fevereiro, ele escreveu aEngels: "Ha urna semana cheguei ao agrada-vel ponto no qual nao posso sair por causados casacos que tive que penhorar". 18 Sem seucasaco de inverno, ele nao podia ir aoMuseuBritanico."? Nao penso que haja uma respostasimples para a causa pela qual ele nao podiair. Sem duvida, nao era aconselhavel que urnhomem doente enfrentasse urn inverno inglessem urn casaco de inverno. Mas os fatores so-ciais ideologicos eram, provavelmente, taoimportantes quanto 0frio. 0salao de leituranao aceitava simplesmente qualquer urn quechegasse a partir das mas: e urn homem semurn casaco, mesmo que tivesse urn passe deentrada, era simplesmente qualquer urn. Semseu casaco, Marx nao estava, em uma expres-sao cuja forca e diflcil de reproduzir, "vestidoem condicoes em que pudesse ser vista".o casaco de inverno de Marx estava desti-nado a entrar e a sair da loja de penhores du-rante todo os anos 1850 e 0inicio dos anos

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    1860. E seu casaco determinava diretamenteque trabalho ele podia fazer ou nao, Se seucasaco estivesse na loja de penhores durante 0inverno de nao podia ir ao Museu Britanico.Se de nao pudesse ir ao Museu Britanico, denao podia realizar a pesquisa para 0Capital.As roupas que Marx vestia determinavarn as-sim 0que ele escrevia. Existe, aqui, urn nivelvulgar de determinacao material que e dificilate de considerar, embora as consideracoesmateriais vulgares foss em precisamente aqui-10que Marx estava discutindo: todo 0primei-ro capitulo de ~OCapital traca as migracoesde urn casaco, visto como urna mercadoria,no interior do mercado capitalista. Natural-mente, se tivesse penhorado seu casaco? Marxsimplesmente precisava parar suas pesquisase voltar para 6jornalismo. Suas pesquisas.naotraziam dinheiro algurn; seu jornalismo tra-zia urn pouco. Apenas atraves de seu jorna-lismo (e atraves do apoio de Engels e de co-nhecidos) podia de levantar 0 dinheiro naoapenas para comer e pagar 0 aluguel, mas.

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    tam bern para retirar seu casacO da loj a de pe-nhores: e somente com seu casaco ele estariavestido de forma apropriada a voltar ao Mu-seu Britanico. Mas havia uma conexao diretaadicional entre a loja de penhores e a materiados escritos de:Marx. Mesmo 0 jornalismo, eparticularmente 0 jornalismo que Marx reali-zava, exigi a materiais: jornais, livros, caneta etinta, papel. Em setembro do mesmo ano, elenao pode escrever seus artigos para 0N ew Y orkDaily Times porque ele nao podia se permitircomprar os jornais que precisava ler para es-crever seus artigos. Em outubro, Marx teveque penhorar "urn casaco que remontava aosrneus dias de Liverpool a fim de comprar pa-pel para escrever=."Uma ideia de quao precaria era a vida eco-

    nornica de Marx durante esse perfodo e suge-rida pelo relatorio de urn espiao prussiano, pro-vavelmente datado do outono de 1852:

    Marx vive em U1hdos piorcs -- PQrtanto urn dosmais baratos -- quarteir6es de Londres, Ele ocupa

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    dois quartos. Aquele que da para a rna e a sala deestar; 0dormitorio esta na parte dos fundos. Emgeral nao se vi:.no apartarnento urna unica mobi-lia que seja limpa e solida, Tudo csta quebrada eem pedacos, com urn meio palmo de poeira 50-bretudo. E ha uma grande e antiga mesa cobertacom oleado e nela cstao seus manuscritos, livrose jornais, assim como brinquedos de criancas etrapos e reralhos da cesta de costura de sua cspo-sa, divers as xicaras com as bordas quebradas, fa-cas, garfos, lamparinas, 0inteiro, cachirnbos ho-landescs, cinzas de tabaco - em uma palavra,tudo desarrumado e tudo na mesma mesa. Urnvendedor de bens de segunda mao ficaria enver-gonhado de se dcsfazer de urna colecao tao nota-vel dequinquilharias e bugigangas."

    Um negociante de objetos de segunda maopoderia ter se envergonhado, mas os Marx naopodiam se dar ao luxo de se sentirem envetgo-nhados. Seus moveis quebrados, suas panelas efrigideiras, seus talheres, suas proprias roupas,tinham urn valor de troca. E eles sabiam exata-mente qual era esse valor, urna vez que cada pe

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    a mesma opiniao que 0dono da loja de penhorese levou 0pobre Marx para a delcgacia de policia.Ali, outra vcz, as aparencias jogavam fortcmentecontra de ... Assim Marx recebcu a desagradavelhospitalidade de uma cela policial enquanto suaansiosa familia lamentava seu desaparecimento.P

    Esta e uma historia que a senhora Marx: con-tou mais tarde em sua vida e ela pode ter con-densado rnuitas atribulacoes em uma Unic~ evivida historia, Mas qualquer que seja a vetdadeliteral da historia, ela sintetiza a vida contradi-toria dos Marx nos anos 1850, definida agoranao por sua conexoes aristocraticas e de classeabastada na Alernanha, mas por suas pobresvestes, sua condicao de estrangeiro e, no casode Marx, por ser judeu.Em 0 Dezoito Brumdrio, Marx analisou 0

    poder e a instabilidade das roup as . 0 textofica realmente suspenso entre duas diferentesexplicacoes da apropriacao de roupas. A pri-meira explicacao e uma inversao quase exatada propria situacao de Marx. Isto e, seu pro-prio projeto estava constantemente ameacado

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    pela dispersao de suas roup as e a penhora deseu casaco: com a constante diminuicao de suaautoridade ate mesmo para entrar no MuseuBritanico. Mas 0 Dezoito Brumdrio come

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    iconografia da Republica Rornana e do Impe-rio Romano. "Por muito pouco heroica queseja a sociedade burguesa", ern seus primeirose revolucionarios momentos ela se veste com aroupagem do pass ado de forma a se imaginara si propria em termos da "grande tragedia his-torica".24Ironicamente, Marx encontra seu proprio

    proposito historico na grotesca imagem deLuis Bonaparte revestindo-se com 0presentenasesplendidas roupagens do pass ado, urn re-vestir-se que desacredita tanto 0passado quan-to 0presente. EmboraMarx comece sua po~lemica contra a ascensao de Luis Bonaparte,representando-a como uma farsa grotesca (ou"segunda edi

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    la e, depois, no algodao. 0 proprio Engels ti-nha sido enviado para a Inglaterra para, inicial-mente, trabalhar na fabrics de algodao de Man-chester da qual sua familia era socia e, depois,para administra-la. Pode-se dizer que, na me-dida em que os Marx sobreviveram gra

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    de classe trabalhadora, as esperans:as e as de-sesperans:as dos Marx podiam ser descritasatraves de suas idasas lojas de penhores. Dei-xem-me dar apenas uma descricao bastante se-letiva das relacoes do lar de Marx com os do-nos das lojas depenhores. Em 1850, JennyMarx penhorou objetos de prata em Frank-furt e vendeu moveis em Co16nia.29 Em 1852,Marx penhorou seu casaco de inverno paracomprar papel para poder continuar a escre-ver." Em 1853, "tantos de nossos objetos ab-solutamente essenciais tinham feito 0seu tra-jeto para a loja de penh ores e a familia tinhaficado 60pobre que, nos ultimos dez dias,nao se encontra um centavo na casa".31 Em1856, para financiar a mudanca para a novacasa, eles precisaram nao apenas de todaa aju-da de Engels, mas tambern penhorar algumasposses domesticas.:" Em 1858, em outro pe-rfodo de dramatica crise financeira, JennyMarx penhorou seu xale e, no final do ano,ela estava afligida com cartas de cobranca deseus credores e foi forcada a "fazer excurs6es

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    as lojas de penhores da cidade"." Em abrilde 1862, eles deviam vinte libras do aluguele tiveram que penhorar as roup as das filhas ede Helene Demuth, bem como suas pro-prias roupas." Eles as recuperaram mais tar-de, na primavera, mas tiveram que penhora-las, de novo, em junho. Em janeiro do anaseguinte, alem de lhes faltar alimentacao ecarvao, as roupas das filhas foram, outravez,penhoradas e elas nao puderam ir a escola.Em 1866, a familia estava, outra vez, em umasituacao aflitiva, tendo penhorado tudo queera possivel e Marx nao podia comprar papelpara escrever."A descricao mais completa de suas contas

    durante esseperiodo esta em uma carta deMarxpara Engels em julho de 1858.36Ele escreveque a situacao e "absolutamente insustentavel'e que de esta "cornpletamente impossibilitadode realizar qualquer trabalho" por causa de seusproblemas domesticos. Alern dos debitos paracom0padeiro, 0acougueiro, 0queijeiro,0ver-dureiro, e tres libras e dez shillings para roupas- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 77

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    femininas, vestidos, sapatos e chapeus para asfilhas, ele pagou tres libras de juros para a lojade penhores, e outras tres libras e dez shillingspara recuperar roupas de cama e outras coisasda loja de p en hore s. A le m d is so , ele estava pa-gando urna certa soma em dinheiro, sernanal-mente, para 0vendedor a prestacoes, por urncasaco e uma calca para ele proprio.A vida domestica de Marx dependia, pois,

    dos "minusculos calculos" que caracterizavam avida da classe operaria, Qualquer prazer ou luxotinha que ser avaliado em relacao ao sacrifidode urn outro praz

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    Se as roupasdos pobres eram assombra-das pelo espectro da falta de posse (atravesde sua transforrnacao em dinheiro nas lojasde penhores), elas podiam tam bern se tornara materializacao da resistencia de classe, Adescricao que Engels faz das roup as defustaode Fergus O'Connor aponta para a constru-

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    calosas". E a adocao, por O'Connor, do fustaotransformou urn material barato no simboloda consciencia de classe radical. Em agosto de1841, urn chartista de Preston escreveu aO'Connor:

    a principal razao pela qual eu estou escrevendo avoce e para saber em que cor defustao ou de algo-dao voce saiu da prisao: se pobres diabos comon6s podem se perrnitir tcr uma nova jaqueta, n6sgostariamos de te-la na rnesma cor.'?

    o fustao tornou-se assim urna memoria ma-terial, a corporificacao de uma politica de classegue antecedia a uma linguagem politica de classe.Mas a experiencia cotidiana das pessoas da

    classe operaria revela que mesmo a mais pobredas roup as - incluindo 0fustao - nao eraurn marcador estavel de identidade social. Asroupasconstantemente migravam. Os homensda classe operaria podiam comprar urn casacode L a para 0domingo, mas ele seria feito da L amais barata, a assim chamada "roupa feita dapoeira do diabo", que se rasgava facilmente e

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    logo ficava puida, ou gue tinha sido com pradade urn negociante de roup as de segunda mao.Engels escreveu que "a roup a dos homens daclasse operaria esta, na maioria dos casos, empess ima condicao e existe a necessidade cons-tantementc repetida de colocar as melhorespec;as na loja de penhores"." ' 'As mobilias, asroupas domingueiras (onde elas existem), osurensilios de cozinha, sao resgatados em massadas lojas de penhores na noite de sabado ape-nas para voltarem, guase sempre, antes da pro-xima guarta-feira ...".42 As roupas, na verdade,e nao os utensilios de cozinha, eram 0penhorusual.Numa pesguisa das lojas de penhores em1836, as roup as eram responsaveis por rnaisde 75% do total, com urensilios de metal (in-cluindo relogios, antis e medalhas) formandomeros 7,4% e com as bfblias sendo responsa-

    . 161 43VClS por, /0.o padrao usual do comercio de penhores,como tao bern demonstrouMelaine Tebbutt,consistia em gue os salaries recebidos na sextaouno sabado eram usados para recuperar as

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    melhores roupas da loja de penhores, As rou-pas eram vestidas no domingo e entao penho-radas, outra vez, na segunda-feira (urn dia noqual as lojas de penhores recebiam tres vezesmais penhores que em qualquer outro dia).44E era urnciclo rapido, a maioria dos {tens sen-do penhorada e recuperada outra vez, sema-nalmente ou mensalmente, A taxa de penhorae recuperacao era, ela propria, urn indicadorde riqueza e pobreza. Em duas lojas de pe-nhores, em Liverpool, nos anos 1860, os 66%mais pobres dos penhores eram recuperadosnurn periodo de uma semana e 82% nurn pe-dodo de urn rnes, enquanto nas lojas de pe-nhores que atendiam uma clientela mais abas-tada havia uma rotatividade menor, 33% dospenhores sendo recuperados semanalmente e62% mensalmenre.f Urn carpinteiro, que ti-nha penhorado suas ferramentas pot quinzeshillings durante uma greve, penhorou suamelhores roupas, para recupera -las quando agreve terminasse. Quando ele retornou ao tra-balho, ele levava suas ferramentas de volta a

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    loja de penhores todo sabado para recuperarsua melhores roupas, que ele voltava a penho-rar toda segunda-feira, em troca de suas ferra-mentas. Pelos quinze shillings que ele obti-nha em troca de seus penh ores de tinha quepagar oito pence ..por semana (urn jura de cer-ca de 4,5% a semana, 19% ao mes e 235% aoano) .46 A medida na qual as melhores roupasde muitas familias habitavam a loja de penho-res durante a maior parte do ano e sugeridapelo aumento repentino na taxa de recupera-~ao nas festas principais, tais como a SemanaWhit, quando as pessoas se vestiam da me-lhor forma que podiam para a celebra

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    despesas da viagem, mas tinham tarnbern querecuperar as roupas das filhas da loja de pe-nhores para fazer com que elas se tornassemapresentaveis." A felicidade era freqiiente-mente medida pela compra de novas roupasou pela recuperacao de coisas da loja de pe-nhores. Quando Wilhelm Wolff morreu em1864, deixando a Marx urn legado considera-vel, Marx escreveu: "Eu gostaria muito decomprar seda de Manchester para toda a fa-milia". so A morte, na verdade, produzia amaiscontraditoria das emocoes. Se Fosse alguemda familia, urn caixao tinha que ser compra-do, tinha que se encontrar uma forma decobrir as despesas do funeral, e os Marxfrequenternente nao tinham 0dinheiro parafazer frente a essas despesas.!! Mas se urn pa-rente com dinheiro morresse, isso era urna cau-sa de celebracao.? Puras transacoes comerciaise 0mais Intimo dos lacos familiares expressa-vam-se na mesrna linguagem: "rio' ou "papai"sao designacoesutilizadas tanto para parentesquanto para donos de Iojas de penhores. Tanto

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    "tio" quanto "papai" sugerem nao apenas afamiliaridade do dono da loja de penhoresrepetidamente visitado mas tambem a concep-

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    sentimental, urn valor que deve ser removidodo objeto para poder ser "livremente" trocadono mercado. Era, pois, na loja de penhores, enao nas fabricas (que se tornavam, de formacrescente, 0motor da producao capitalista) quea oposicao entre a particularidade de.urna coi-sa e0valor de troca abstrato de urna mercado-ria era mais visfvel. Se voce tivesse urn passadotao privilegiado como 0de Jenny Marx.vocepoderia levar para o "tio" finos guardanaposque vinham de uma antiga ascendencia escoce-sa.54 Masessa historia de familia, que era deimportancia indubitavel para Jenny Marx, naotinha nenhuma importincia para 0dono da lojade penhores, a menos que isso representasseurn acrescimo ao valor de troca dos objetos. 0dono da loja de penhores nao iria pagar pormemorias pessoais ou de familia. Na lingua-gem das pessoas que trabalhavam com confec-'fao e conserto de roupas, no seculo XIX, ospuidos nos cotovelos de urna jaqueta ou numamanga eram chamados de "memories". Essespnidos lembravam 0corpo que tinha habitado

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    a vestimenta. Eles memorizavam a interacao, aconstituicio mutua.entre pessoa e coisa." Masda perspectiva da troca comercial, cada puidoou "memoria" constituia uma desvalorizacaoda mercadoria.As memorias estavam, assim, inscritas, paraos pobres, em objetos que eram assombradospela perda. Pois os objetosestavamnum esta-do constante de estarem prestes a desapare-cer. 0 calculo das provavcis futuras jornadasdas roupas e de outros objetos ate a loja depenhores estava inscrito na sua compra.I"Como observa Ellen Ross, 0"banco" de or-namentos no parapeito da lareira, numa casaoperaria, era, realmente, urn banco, uma vezque representava escassos recursos, mas recur-sos que poderiam ser penhorados e converti-dos em dinheiro em perfodos de neces-sidade.F Para os pobres, os objetos e as me-morias a eles ligadas nao permaneciam no lu-gar. Eles raramente podiam se tornar bens defamilia. E os objetos usados como penhorespoderiam ser qualquer coisa que ainda tivesse_____________________________________ 89

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    valor de troca. Nos anos 1820, CharlesDickens, ainda urn garoto, foi a loja de pe-nhores com valiosos livros da familia: Pere-grine Pickle, Roderick Random) Tom Jones,Humphrey Clinker. 58 0pior estaria por vir. De-pois da libertacao de seu pai, apos ter sido pre-so por uma divida de quarenta libras, foramabertos processos de falencia contra ele. "A leiprevia que as roup as e bens pessoais do deve-dor e de seus dependentes nao deviam exce-der a vinte libras".59 Charles consequentemen-te foi enviado a urn avaliador oficial para tersuas roupas avaliadas. Ele estava vestindo urnchapeu branco infantil, uma jaqueta e calcasde veludo, nada de muito valor, mas ele esta-va dolorosamente consciente do relogio deprata de seu avo que batia em seu bolso.A dolorosa consciencia que tinha Dickens

    das relacoes entre memoria, valor de troca e aloja de penh ores determina a descricao que elefez, mais tarde, da "loja de penhores" emSketches by Boz. Uma jovern mulher c sua maetrazem "uma pequena corrente de ouroe U1h

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    anel de namoro", recebidos comb presentes emmelhores tempos e valorizados, talvez, nessemomento, por causa do doador".60 Agora, asduas mulheres discutem com 0dono da lojade penhores 0 valor dos objetos. Essa descri-cao da loja de penhores, entretanto, nao ape-nas se distancia das proprias experiencias deDickens, mas tambem a transforma, de formaviolenta, nurna experiencia de genero, ao asso-ciar a troca de mercadoria com 0fato de sermulher, pois as mulheres sao descritas comoprestes a se tornarem mercadorias, Isso ja estaprevisto no fato de que elas partem corn suasIembrancas rnateriais, "sem nenhurna luta".61Na verdade, a descricao de Dickens sentimenta-liza e, ao mesmo tempo, demoniza a transa-

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    excepcionais. Em 1884, urn unico dono de lojade penh ores de Suderland recebeu, como pe-nhores, mil e quinhentos aneis de noivado etres mil relogios, urn sinal evidente da siruacaodesesperadora causada pela depressao econo-mica. Uma mulher lembra ter visto outrasmulheres chorando, enquanto olhavam paraseus proprios aneis de noivado na vitrine, osquais elas nao tinham nenhurna forma de re-cuperar." Entretanto, a possibilidade futura depenhorar podia entrar no calculo da comprade, ate mesmo, urn anel de lernbranca:

    Uma jovem noiva do tempo da guerra, gue se criouem [arrow, noanos 1930, e gue tinhavividas lem-brancas de como sua mae tinha penhorado senproprio anel, durante a deprcssao, fez com gueseu noivo comprasse 0anel mais caro gue ele po-dia comprar, como urna seguranca similar em re-Iacao ao fututo.64

    Essa tensao endemic a entre, de urn lado,formas de lembranca e auto-constituicao e,de autro, formasde troca de mercadorias etratada, por Dickens, em "Aloja de penhores",

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    apenas em termos de corrupcao feminina. Ailustracao de Cruikshank que acompanha 0texto de Dickens mostra a mate sua filha ten-do, a urn lado, "urna mulher jovem, cujas rou-pas, miseravelmente pobres mas extremamentevistosas, lamentavelmente frias mas extrava-gantemente elegantes, claramente denunciamsua classe" e, no outro, urna mulher que e"amais baixa das baixas; suja, desabotoada, de-salinhada e desleixada'L'" Dickens desloca paraas mulheres a relacao entre a particularidadedo objeto-como-rnemoria e a generalidade doobjeto-corno-mercadoria, 0primeiro apare-cendo como arnor verdadeiro, 0Ultimo comoprostituicao.

    Dickens e Cruikshank. representam de for-ma demonizada 0eal vies de genera da loja depenhores, na qual, como mostrou Ellen Ross,as transacoes erarn geralmente conduzidas pormulheres." Escreve Ross:

    o fato de que a penhora era, na Londres vitoriana eeduardiana, urn dominic tao forternenre feminino,

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    nos diz algo sobre os tipos de coisas comumentepenhoradas - roup as e bens domesticos - e t am-bern sobre 0faro de que a penhora era freqiien-terncnte urn palco da preparacao de comida.v"

    Nisso, OS penhores do lar de Marx naoeram diferentes. Foi Marx quem escreveusobre 0 funcionarnento do dinheiro maserarn sua mulher, Jenny, e sua criada, HeleneDemuth, que organizavam as financas da casae faziam as visitas a loja de penhores. WihelmLiebknecht, um exilado alernao que visitouos Marx quase diariamente nos anos 1850,observou todo 0 trabalho que HeleneDemuth fazia: "Eu apenas lembraria a voceas muitas visitas aquele parente misterioso,profundamente odiado e ainda assim, assi-duamente cortejado e todo benevolente: o"tio" dos tres giobos"." E Jenny Marx tam-bern esteve envolvida nesse vai-e-vern entresua casa e a loja de penhores durante todosos anos 1850. Referindo-se, retrospectiva-mente, a esse perfodo, ela escreveu numa car-ta a Liebknecht que:

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    Em todas essas lutas tudo era mais diflcil porque ap;u"te mais insignificante cai na mao das mulheres.Enquanto os homens sao revigorados pcla luta nornundo exterior, reforcadospor cstarem face a facecom 0inimigo, mesmo que seja urna legiao, nosficamos sentadas em casa remendando meias.r"

    Das muitas fibulas maravilhosas que 0Mourome contou, a mais maravilhosa, a mais deliciosafoi a de "Hans Rockle". Ela durou meses, eraUlna serie inteira de historias ... 0 proprio HansRockle era um magico tipo Hoffmann quetinhauma loja de brinquedos e que estava sempre

    Ela poderia ter acrescentado: "provendo asformas materiais de sobrevivencia, tendo comorecurso a loja de penhores".Contudo 0pr6prio Marx nunca ficou isola-

    do das crises das financas domesticas, comotestemunham suas infindaveis e queixosas car-tas a Engels. E mesmo as hist6rias que contava3 ,S suas filhas sao assombradas pela migracaodos objetos sob a pressao da divida. Quandoem 1895, Eleanor Marx relembrou sua vidacom seu pai, ela escreveu:

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    "duro". Sua loja estava cheia das coisas mais mara-vilhosas - homens e mulheres de rnadeiras, gi-gantes e anoes, reis e rainhas, servos e mcstrcs,animais e passaros tao numerosos quanto os queentraram na.Arca de Noe, mesas e cadeiras, car-ruagens, caixas de todos Os tipos e tamanhos.Embora ele fosse run magico, Hans nunca COIi-seguia cumprir suas obrigacoe, seja para com 0demonic seja para com 0acougueiro, e era por-tanto - muito contra a sua vontade - cons tan-ternente obrigado a vender seus brinquedos parao diabo. Esses brinquedos passavam, pois, porrnaravilhosas aventuras, terminando, sempre, porretornar it lojadc Hans Rockle.??

    A loja de brinquedos de.Hans Rockle pa-rece corporificar a plenitude do mundo dascoisas feitas. E aquelas coisas, tal como seuproprietario, tinham poderes rnagicos. Mascomo Rockle esta constantemente em debito,ele esta para sempre obrigado a vender seusbrinquedos para 0diabo. 0 momenta da ven-da e 0momenta da alienacao, 0momenta emque os brinquedos perdem sua magica, namedida em que des sao transformados em

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    valores de troca. Mas a estoria contada porMarx rejeita a rransforrnacao dos brinquedosem mercadorias. Embora des sejam vendidasao diabo, ek nunca se torna seu. possuidor,pois des tern uma vida propria, uma vida quefinalmente os leva de volta ao seu ponto deorigem, Hans Radde. As est6rias que Marxcontava a sua jovem filha certamente consti-tuem uma alegoria tanto dos momentos defalta absoluta de posses quanto das visitas alojade penhores. Antes que Eleanor tivessenascido, seus pais tinham observado oficiaisde justica entrar na sua casa e levar tudo, in-cluindo "os melhores brinquedos que perten-ciam as filhas"; des tinham observado Jennye Laura em lagrimas por causa dessa perda.Mas nas estorias, tal como nas visitas a loja depenhores, para resgatar objetos anteriormen-te penhorados, 0momento da perda e desfei-to, os brinquedos voltam.

    Foi a esse desfazer sistematico da perda queMarx dedicou sua vida inteira, A perda, natural-mente, nao era a dele proprio; era a perda de

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    toda a classe operaria, alien ada dos meios deproducao. Aquela alienacao significava quedes, os produtores da maior multiplicidadede coisas que 0mundo tinha c:onhecido, esta-yam para sempre situados no exterior daque-la plenitude material, seus rostos espiandoatraves das vitrines da loja os brinquedos quedes tinham feito, 111asque eram, agora, "pro-priedade privada". A propriedade privada daburguesia era comprada ao pre

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    Hans Christian Andersen c:apturou em sua his-toria "0colarinho da camisa", N aocasiao emque as roupasesrao sendo lavadas, 0 colari-nho quet se casar e prop6e casarnento a umasaia.Mas ela nao aceitarele propoe, entao, ca-samento a uma camisola. Essa tarnbem 0re-cusa, dirigindo"se a ele de forma desdenhosa:"seu trapo". Finalmente, na fabrica de papel,.0colarinho diz:

    "Chegou a hora de me transformar errrpapelbranco". E foi issoque acontcceu, Todos os tra-pas se transformaramem papcl branco, mas 0colarinho se tornoucsse mesrno pedaco de pa -pel que temos diante de nos e no qual.essa esto-ria foi impressa. 7: 2

    Andersen devolve ~nocao do Iivro (que ti-nha .se tornado, crescentemente, 0meiovin-visfvel" que juntava as ideias e materials doescritor a mente e ao material do leitor) Sualiteral rnaterialidadee a participacao da litera-tura no ciclo de vida da roupa. 0 que Marxdevolve a nocao do livro, assim como a qual-quer outra mercadoria, e 0rrabalho humane

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    que foi apropriado na sua fabricacao, 0traba-lho que produziu 0tecido das carnisas e dassaias edas roupas de eama, 0rabalho que trans-formou as roupas de cama em folhas de papel.Marx na verdade.escreveu no memento de' - . _ ' 2 - - ) -crise daquele'mesrno processo. 0 desenvolvi-

    mente extraordinario da industria de papel(para producao de jornais, papel burocratieo,romances, papel de ernbrulho e assim pordian-te) tinha levado a uma demanda cada vez maiorpor trapos de roupas, uma demands que naopodia rnais ser satisfeita. EIU 1851, 0 ano emque Marx cornecou aescrever 0 Dezoi toBruma-rio, Hugh Burgess e Charles Wattflzeram 0pri-meiro papel comercialrnente util a.partir deser-ragemde madeira_73J)e 1857 a 1860, na buscadesesperada de rnateriais substitutos para os tra-pos, importou-se esparto da Algeria e era empapel [tiro dessa vegeta~aoque o IlUstratedL on d on N ew s, 0Graphic e0Sphere eram impres-sos. Oprimeifo jornal impressointeiramente empapel feito a partir de serragem de madeira foiprovaveimente 0 Bo s to n 'Week ly J o ur n a l, e isso---------------------------------------101

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    nao ocorreu antes de 18

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    Independentcmcnte do que se pode obter dessafonte, uma quantidade mais do que equivalentede tecido podcria vir das rmimias, dos touros sa-grados, dos crocodilos, das aves e dos gatos, namedida em que todos esses animais eram ernbal-samados e.enfaixados numa qualidade superior delinho...Algumas faixas, que tinham de 5 polega-das a 5 pes de largura e 9 jardas de cornprimcnto,tinham sido tiradas inteiras das mumias, scm ras-gar ... A questao, "valera a pena?" pode ser pronta-mente respondida ao se supor que 0valor dos tra-pos val de 4 a 6 centavos por libra; nos EstadosUnidos isto econsiderado abaixo do valor de mer-cado de trapos de 'born linho.?"

    Umcerto Dr. Waite lembrou que, quandojovem, ele tinha, de fato, feito papel a partirde.mumias: de observou que "as vestes enro-ladas retinham a forma da mumia, de formague guando os trabalhadores tentavam endi-reitar ou desenrolar 0 casulo ele retornava-imediatamente a forma da rnumia que ela ri-nha alojado por tanto tempo".80 E nessasgrotescas e surrealistas transforrnacoes quepodernos tracar a ernergencia da mercadoria

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    a partir da morte da mem6ria material. Emo Capital, Marx tentou restaurar essa memo-ria material, uma mem6ria literalmentecorporificada na mercadoria, embora suprimi-da como memoria. Em 0Capital, Marx es-creveu sobre 0casaco visto como uma merca-doria -- como a forma celular abstrata db ca-pitalismo. Ele tracou 0 valor daquela formacelular a ser apropriada pelo corpo dotraba-lho alienado. No processo de produs:ao, eleargumentou, a mercadoria adquire uma vidaex6tica, no momento em que 0corpo do tra-balhador e reduzido a uma absrracao. Mas oscasacos reais dos trabalhadores, como 0 dopr6prio Marx, podiam ser qualquer coisa m~sabstracocs e que nao eram. Toda pequena ri-queza que eles tinham era armazenada naocomo dinheiro em buncos mas como coisas emcasa. 0 bern-estar podia ser me dido pelas idase vindas dessas coisas . Esrar scm dinheiro sig-nificava ser forcado a desnudar 0corpo. Tel'dinheiro significava tornar a vestir 0 corpo.A extraordinaria intimidade entre a loja de__________________________________ 105

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    penhores e a absoluta prepcnderancia de rou-pas pode ser avaliada a partir das descricoesde urn grande dono de loja de penhores deGlasgow, em 1836.Ele tinha tornado comopenhores: 539 casacos masculinos; 355 co-Ietes; 288 calcas; 84 pares de meia; 1980vestidos feminines; 540 saias; 132 roup asfemininas de outrotipo; 123 bolsas; 90 peli-

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    Tornou-se urn cliche dizer que nos nao de-vemos tratar as pessoas como coisas. Mas tra-ra-se de urn cliche equivocado, 0 que fizemoscom as coisas para devotar-Ihes urn tal despre-zo] E quem pode se permitir ter esse despre-ZQ ? Por que os prisioneiros sao despojados desuas roupas a nao ser para que se despojern desi mesrnos ~MaI-X:,tendo urn controle precariosobre os rnateriais da autoconstrucao, sabia qualera 0valor de seu proprio casaco.

    NOTAS

    :., '

    IMarx, 1976, p.90. Sou agtadecido a Society for theHumanities, da Universidade de Cornell, por uma bol-sa que me permitiu cornccar 0trabalho dessc projeto, epelo apoio c pelas crfticas dos colegas daqucla associa-~ao. Desde entao, tenho me beneficiado das crfticas esugestoes de Crystal Bartolovich, Robert Foster, WebbKeane, Ann Rasalind Jones, Annelies Moors, AdelaPinch, Marc Schclle Patricia Spyer. Acima de tudo, es-tou em debito para com 0 trabalho de Bill Pietz (citadoabaixo) e para com as conversas com Margreta de Graziae Matthew Rowlinson. Veja rambern as excelentes refle-xoes de Matthew Rowlinson sobre a relacao entre di-

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    nheiro, mercadoria e coisas, em "Reading Capital withLittle Nell".

    2 Marx, 1976. p.157.3 Marx, op cit., p.165.4 Marx, op cit., p.1~?5 Marx, op cit., p.165.6 Em relacao a Marx c ao fetichismo da mercadoria, vejaMarx 1976, p.163-77. Quanto a asscrcao de Marx sobrea necess idade da "alicnacao" na forma positiva, de se im-buir os objetos com subjetividade, atraves de nosso tra-balho sobre eles, e se imbuir 0sujeito com subjetividade,atraves de nossas matcrializacoes, veja seu "On JamesMill", em Marx, 1977. p.1l4-23.

    7 Pietz,1985_ 1987.8 Para uma analise da historia das cambiantes relacoes en-tre sujeito e objeto 1'10 inicio da Europa moderna, vejade Grazia, Quilligan e Stallybrasss, 1995.

    "Mauss, 1967. p.55. Relativamente aOdesenvolvimentoe as criticas da teoria de Mauss, veja Gregory, 1983;Weiner, 1985 e 1992; Appadurai, 1986; Strathcm, 1988;Thomas 1991; Derrida, 1992.

    10 Kopyroff,.1986. p.64.

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    IIPietz, 1985. p.l0.12 Pietz, 1987. p.23.13 Pietz, op cit., p.37.14 Pietz, 1988. p.llO.

    15 Minha descricao da vida cotidiana dacasa de Marxbaseia-se, sobretudo, no t11L,{0 constante das cartas deMarx a Engels, publicadas em Karl Marx c FrederickEngels, Col lec ted works (1975-). Tambern foram parti-cularrnente utcis os trabalhos de Draper, 1985;McLellan, 1981; Marx, 1973; Seigal, 1978; Padover,1978; Kapp, 1972.

    16Em 20 de fevereiro, Marx cscrcvcu a Joseph Weydemeyer:"eu tenho estado taoafligido por dificuldades moneran-as que nao tenho side capaz de continuar rneus esnidosna Biblioteca" (Marxc Engels, 1983a. p.40).

    17 Sobre os.Marx, suas dividas e suas visitas a loja de pe-nhores durante os anos 1850 e 1860, veja, por exern-plo, Marx, 1982, p.224, 402, 556-57; Marx, 1983a,p.181-82, 216, 385; Marx, 1983b, p.70, 255, 328-30,360; Marx, 1985, p.380, 399,433,442,445,570-71; McLellan, 1881, p.22-29, 35-36, 149.

    IS Marx, 1983a. p.50.19 Draper,l985. p.61.

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    20 Marx, 1983a. p.21; Draper, 1985, p.64-65. Relativa-mente it descricao detalhada do proprio Marx sobre suasdividas em 1858, vcja Marx, 1983b. p.329-330.

    21 Mcl.ellan, 1981. p.35.22 McLellan, op cit., p.149.23 Marx, 1963. p.16.24 Marx, op cit., p.16.25 Marx, op cit., p.15.26Marx, op cit., p.l35.27 McLellan ,1978. p.21-29.28 Padover, 1978. p.23.29 Marx, 1982. p.38.30 Draper, 1985. p.65.31 Marx, 1983a. p.385.32 Marx, 1983b. p.70.33 Marx, op cit., p.255, 360.34 Marx, 1985. p.380.35. Draper, op cit., p.133.36 Marx, 1983b. p.329-30.-------------------------------------111

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    37 Engels, 1987. p.74.38 Engels, op cit., p.102-3.39 Pickering, 1986. p.157.40 Pickering, op cir., p.161.41 Engels, op cit ., p.103.42 Engels, op ci t., p.1s2.43 Tebbut t, 1983. p.33.44 Tebbutt, op cit., p.6.4 5 Tebbutt, op cit., p.9.46 Tebbutt; op cit., p.32-33.47 Tebbutt, op cit., p.33.48Marx, 1987(1864-68). p.331.49 Marx, 1987. p.397.50 Marx, 1985. p. s27.5J McLellan, 1981. p.2s.52 Veja p .. I .'. 01 exemp 0, a dcscricao que Marx faz da monedo 00 de Sua esposa " .como run even to muiro feliz"(Marx, 1983a. p.S26).

    53 G ., ostana de enfatizar que estou analisando aquirela - , ,acao estrutural entre 0 objeto e a mercadoria. As1 1 2 - : - - . - - _

    relacoesreais entre os donos da loja de penhores e .seus clientes erarn al tamente variadas, Como observaTebbut, a loja de penhores estava firrncmente enraizadana cornunidade, gozando de uma confianca que orga-nizacoes cxtcrnas (como OS bancosjnao gozavam. Ehavia, a s vezes, urn ar de carnaval nas rcunioes de s a -bado nas lojas de pcnhorcs.

    54 Marx, 1985. p.570.71.55 Sobre roup as e mernorias, veja Stallybrass, 1993.p.35-50.

    5 6 A inscricao da perda no interior do ato da cornpra eraUlna caractcrisrica da vida cotidiana para aquclas pesso.asque regularmenre usavam a loja de penhores. MclaineTebbut obscrva que os pobres "tinham, na vcrdade, Ulnavisao qualitativamente diferente dos recursos rnateri-ais, os quais des consideravam como recurs os tangiveisaos quais recorrer em pedodos de dif iculdade financci-ra. Quando compravam certos bens, os pobrcs habitu-almente perguntavamo que eles valeriam se precisas-sem ser vendidos numa loja de penhores, efrcqucntemente confessavam que des eram influcncia-dos, na sua escolha, peio valor potencial de penhor dosanigos"(Tebbutt, 1983, p.16). Veja tambern AnneliesMoors (1998). Ela observa que as mulhcrcs palestinasmais ricas tendiam a comprar joias feitas de ouro de

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    valor rclativamente baixo, mas gue tinham sido alta-mente trabalhadas. As mulheres mais pobres, por ou-tro lado, tendiam a Cc5mprarj6ias feitas de ouro de altovalor mas pouco trabalhadas, l .una vez gue elas prccisa-yam obter 0 valor mais alto possfvcl por elas se e quan-do elas fossem penhora-las.

    57 Ross, 1993. p.46.58 Johnson, 1952, p.l, 31.59 Iohnson, op cit., p.l, 37.60 Dickens, 1994. p.192.61 Dickens, op cit., p.192,62 Tcbbntt, 1983, p.17.63 Tebbutt, opcit., p.26.64 Tebbutr, op cit., p.26. Para uma analogia fascinanrc,veja, outra vez, 0 ensaio de Annelies Moors (1998).

    65 Dickens, op dt., p.192.66As rnulhercs nao apenas faziam a maior parte das ativi-dades de pcnhores; cram suas pr6prias roup as quc clasmais cornumente penhoravam para levantar dinheiropara a casa. Num detalharncnto das ro,lpaS penhoradasem 1836, 58%das roupas claramente idenrificadas pelogeneroeram.demulheres, enquanto uma porcentagem

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    significativa do res to poderia ter sido tanto de homensquanto de rnulheres, Veja Tebbut, 1983. p.33.

    67 Ross, op cit., p.47.68 Mcl.ellan, op cit., p.59. A cxprcssao "tres globos" fazrek reUCla ao slin60[o tradicionaf das Iojas de penhores:rnna haste da quai pendcm rrcs globos (N. do T),Padover, 1978. p.42.

    ~:\kLdla:n, op cit., p.100-101.~ ~a verdade, apesar da associacao ideo16gica entre ju-deus e penhores, os donos de lojas de penhores naotram, na Inglaterra do seculo XIX, em sua maioria, ju-deus (Vcja Hudson, 1982. p.39).

    T : ! . Ahdersen, 1982. p.23L73 Hunter, 1978. p.555.74 Hunter, op cit., p.565.75 Hunter, op cit., p.564.76 Hunter, op cit., p.568.71Hunter, op cit., p.385.78Hunter, op cit., p.386, 388.}9B1lnter, op cit ., p.384.-------------------------------------115

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    80 Hunter, op cit., p.383.81 Hunter, 1982. p.44.82 Marx, 1987. p.397.83 Marx, 1983a. p.22l.8. 4 Marx, op cit., pol21.

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    o autor

    Peter Stallybrass e professor de Ingles eLiteratura Cornparada na Universidade daPennsylvania. Ele escreveu, juntamente comAllon White, 0 livro The politics and poetics oftransgression. Ajudou a organizar os livrosStaging the renaissance; Subject and object inRenaissance culture; e Language machines:technologies of literary and cultural production.Seu ultimo livro, escrito em colaboracao comAnn Rosalind Jones, tern 0itulo de Renaissancehabits: clothing) livery)memory,-------------------------------------127