martins, m.l. sociologia modernista

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Artigo. Ciências Sociais. Sociologia. Modernismo em sentido amplo. Pensamento social no Brasil.

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  • REVISTA ESTUDOS POLTICOS Vol. 5 | N.2 ISSN 2177-2851

    Entre a Cultura e a Poltica: A Sociologia Modernista dos Anos 1930Maro Lara Martins1

    Maro Lara Martins

    doutor em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Polticos

    da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

    E-mail: [email protected]

    Resumo

    Neste artigo, investiga-se a tradio sociolgica brasileira dos anos 1930 e suas relaes

    com o processo de modernizao conservadora. A partir da variedade conceitual que

    a sociologia modernista empreende elucidam-se as tensas relaes entre o mundo da

    cultura e a esfera poltica. A nota distintiva da sociologia modernista, ao operacionalizar

    conceitos como patriarcalismo, familismo, patrimonialismo, personalismo, agnatismo,

    clientelismo, e a mirade de empecilhos privatistas consignados em seu iderio, seria

    a posio decisiva na constituio da vida pblica de sua sociedade, do modo de se

    organizar seu Estado e de contar a histria de sua sociedade.

    Palavras-chave

    sociologia, modernismo, teoria social, teoria poltica.

    Abstract

    This article undertakes an investigation of the Brazilian sociological tradition in the

    1930s and its relationship with conservative modernization. On the basis of a wide range

    of concepts that have been employed by modernist sociologists, it is possible to obtain

    a clear view of the tension that existed between the world of culture and the political

    sphere. Modernist sociology strikes a distinctive note in putting into effect concepts

    such as patriarchalism, familism, patrimonialism, personalism, agnatism, clientelism and

    a myriad of obstacles caused by the privatism that was contained in their thinking. This

    means it can play a decisive role in constituting the public life of its society in the way that

    its State is organized and the history of its society is narrated.

    Keywords

    sociology, modernism, social theory, political theory.

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    O objetivo deste texto investigar a sociologia modernista dos anos 30 e a concepo

    de uma sociologia poltica no Brasil interpelando as explicaes sobre as relaes entre

    pblico e privado na sociedade. A partir deste tipo de sociologia, se atinge a particular

    configurao histrica da constituio do Estado no Brasil. Esta questo em torno da qual se formara a sociologia modernista pode ser entendida como o processo da formao de

    uma comunidade poltica tpica da modernidade que envolveria a articulao de alguns

    aspectos cruciais relacionados ao modernismo e modernizao: a burocratizao do

    poder pblico, a formao de uma solidariedade social adequada a este tipo de autoridade,

    a constituio de uma subjetividade moderna e os enlaces do moderno especficos desta regio se comparadas ao processo ocidental clssico. Embora relacionada ao valor

    heurstico do relacionamento pblico/privado abordado nesses ensaios para a discusso

    dos impasses do Estado-nao no Brasil, se apontou uma compreenso sociolgica

    das interpretaes do Brasil no como descries externas, mas antes constitutivas

    enquanto foras sociais do prprio processo moderno de nacionalizao da vida social.

    Em conjunto, e para alm do contexto intelectual do qual emergiram tais diagnsticos, a

    nota distintiva da sociologia modernista, ao operacionalizar conceitos como patriarcalismo,

    familismo, patrimonialismo, personalismo, agnatismo, clientelismo, e a mirade de

    empecilhos privatistas consignados em seu iderio, seria a sua posio decisiva na

    constituio da vida pblica de sua sociedade. Na tradio do pensamento poltico-social

    brasileiro, a apario deste tema recorrente. Se o levarmos ao p da letra, encontraremos

    posies que vislumbraram essa via de interpretao no sculo XIX, mas a sociologia

    modernista lhe deu novos conceitos. Nestes termos, a apario recorrente de uma vida

    pblica assim concebida pode ser equacionada quer como manifestao de leituras da

    realidade datadas e definitivamente superadas, quer como legado de interpretaes em maior ou menor grau verossmeis.

    Ao invs de pressupor uma caracterizao da vida pblica como assente ou superada no

    plano histrico ou analtico, parece mais produtivo problematizar seu papel como expediente

    explicativo da configurao ambgua do espao pblico brasileiro. A recorrncia deste tema aparece posto pela bibliografia e pelo objeto de estudo em uma dupla vertente. Por um lado, no plano das ideias cabe exame nuanado de modo a reconstruir a especificidade da perspectiva de abordagem e entendimento do espao pblico pela sociologia modernista

    dos anos 30, ou seja, sua emergncia, cristalizao, reproduo e forma analtica de proceder. Por outro lado, a centralidade deste tema pode ser explorada como um fenmeno em que

    transparecem dilemas fundamentais da configurao do espao pblico brasileiro em sua contraparte privada, realando algumas dificuldades histricas suscitadas pela irrupo do Estado moderno em ambientes perifricos.

    Dito isso, uma reflexo sobre o modo de orientao das condutas, das percepes, dos modos de pensar e agir, cravados nas interpretaes da sociologia modernista, retiraria

    caractersticas prprias de certos condicionantes histricos da relao entre o mundo

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    pblico e o mundo privado encravado na histria e na sociologia de sua sociedade, em

    suas determinaes culturais, ora definindo as feies mais pujantes do carter brasileiro, como uma sociedade amenizadora das diferenas, ora condensando o que deveria ser

    pblico ao personalismo, asfixia diante da hipertrofia do mundo privado, amoralidade dos costumes, ao patrimonialismo, ao familismo, insolidariedade, indistino entre o

    pblico e o privado, ao clientelismo e precarizao dos direitos ou de qualquer arranjo

    de normas com pretenses de universalidade.

    Os Anos 30: Intelectuais, Estado e Modernizao

    Os anos 1930 se iniciaram com um movimento poltico que marcaria fundo os

    acontecimentos posteriores, na medida em que fora sob este fundo histrico que se

    abrigara a experimentao social e poltica desta dcada. Um fundo histrico que marcaria

    a sensibilidade de uma gerao e a prtica de certas instituies ao longo do caminho.

    Foi sob a lpide deste movimento inicial que se construiu o processo de modernizao

    e a acentuao do modernismo, ao se perceber as idiossincrasias que o moderno

    realizaria nesta parte do subcontinente americano. Neste sentido, caberia apontar como

    caracterstica fundamental deste perodo e dos processos arrebatados em si, o seu duplo

    carter: inveno e pragmatismo.

    Perdidas as vozes dissonantes, como a guerra civil paulista e a runa da Intentona, ao

    final da dcada, o Estado j entrara em processo de rotinizao, atravs da especializao tcnica realizada em seu interior, levada a cabo pela criao de uma rede de intelectuais

    que participariam da ossatura material do Estado, de sua burocracia ou do investimento

    que suas obras fizeram em direo ao Estado. De um modo geral, o grande debate se estabeleceu em torno do Ministrio do Trabalho, com seus juristas e intrpretes do Brasil,

    como Oliveira Vianna, Azevedo Amaral e Francisco Campos, do Ministrio da Educao e

    Cultura, com Capanema e sua constelao; e nos conselhos tcnicos e cmaras setoriais,

    com Roberto Simonsen e o setor industrial.

    O Ministrio do Trabalho, centro da constituio de uma ordem corporativa, cuja

    variedade de intensidade e contedo ao longo do tempo variou, congregou como

    laboratrio o experimento sociolgico do tema dos interesses solucionado pelo Direito e

    por sua legislao trabalhista. A ele e a seus juristas, se formularia uma nova concepo

    de trabalho fundado sobre o mundo da fbrica (WERNECK VIANNA, 1999a), e seria

    entendido pelos contemporneos como o Ministrio da Revoluo, cujo tempo de

    interveno se daria no presente, enquanto a atuao do Ministrio da Educao se

    voltaria para o futuro.

    Nesse Ministrio da Educao se encontraria a florao do modernismo que conjugaria de forma particular a relao entre futuro e tradio. Enquanto o Ministrio do Trabalho

    se centrava sob a chave do interesse, o Ministrio da Educao absorvia a chave da

    virtude, formao de uma nova subjetividade e uma nova cultura. Orquestrados por

    Capanema, Rodrigo de Mello Franco de Andrade, Mrio de Andrade, Carlos Drummond

    de Andrade, Manuel Bandeira, Srgio Buarque de Holanda, Lcio Costa, Alcides da Rocha

    Miranda, Luis Saia, Pedro Nava, Gilberto Freyre, dentre outros, recheariam a estatizao

    do moderno e de seu modernismo a partir de 1930 (BOMENY, 2001).

    Os diferentes aspectos desse perodo demonstram que os intelectuais, enquanto

    membros de profisses especficas e enquanto grupo social, estavam sujeitos s disposies corporativas. Assim, o intelectual foi se inserindo cada vez mais na construo desse

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    processo, o que demonstra a correlao que se pode estabelecer entre a organizao das

    profisses e o processo de formao do Estado (PECAUT, 1990; MICELI, 2001). O tipo de modernizao que ocorrera na sociedade brasileira, pelo alto, reguladora e disciplinadora

    da sociedade, embora acabasse inibindo sua livre manifestao, foi conduzida pelo

    Estado com a audcia de quem portava consigo a novidade, a indstria e a ideologia do

    industrialismo (WERNECK VIANNA, 1999).

    Dessa forma, no final dos anos 1930, o processo de ciso poltica ao longo dos anos, desenhada paulatinamente pela conduo terica dos intelectuais que gravitavam em torno

    do Estado e sua prtica, atravs do Estado, da modernizao da sociedade e da economia,

    conduziram concluso do movimento poltico e social com o qual a dcada se iniciara.

    As transformaes ocorridas dentro do Estado e em suas relaes com os grupos

    sociais possibilitaram a institucionalizao de uma estrutura corporativa, vertical e

    hierarquizada, abrindo espao representao de interesses dos novos atores vinculados

    ordem industrial emergente (WERNECK VIANNA, 1999; DINIZ, 1999; LEOPOLDI,

    1999). O novo sistema consagrou a assimetria e consolidou um corporativismo setorial

    bipartite, criando arenas de negociao entre elites econmicas e estatais.

    No caso brasileiro, o Estado nesse processo de modernizao foi visto pelos intelectuais como

    um lugar de atuao privilegiado. No de se estranhar a direo dos argumentos produzidos

    em uma situao na qual a palavra pblica (LECLERC, 2004), tpica dos intelectuais, orbitava

    a arena estatal. Mas h que se ressaltar as diferenas entre projeto e processo.

    O desfecho da dcada, ao contrrio de seu incio ainda indefinido, j apontara para uma modernizao conservadora. Comparada a outros casos de modernizao, os anos 1930

    no Brasil, primeira manifestao deste tipo de modernizao, tm suas particularidades. No h dvida, de que o pas conheceu diferentes tipos de modernizao na histria

    nacional desde a Independncia, mas a via autoritria aberta em 1930 foi singular (WERNECK VIANNA, 1999).

    Primeiramente, a recusa a mudanas fundamentais na propriedade da terra. Os grandes

    proprietrios manteriam o controle sobre a fora de trabalho rural, que no seria capaz

    de se libertar das relaes de subordinao pessoal e da extrao do excedente econmico

    por meios diretos (WERNECK VIANNA, 1997). Na modernizao conservadora,

    as tradicionais elites agrrias foraram uma burguesia relutante e avessa aos processos

    de democratizao a um compromisso: a modernizao fazia-se conformando um bloco

    transformista, cauteloso e autoritrio em suas perspectivas e estratgias.

    No Brasil, o controle da fronteira agrria fora crucial para a subordinao das massas

    rurais (VELHO, 1979). Por outro lado, abria-se espao para a industrializao e certa

    migrao, cada vez mais acentuada, do campo para a cidade. O baixo custo da fora de

    trabalho podia ser garantido, contudo, pelas limitaes da fronteira agrcola e pelo controle

    poltico que se exercia sobre a classe trabalhadora, sobretudo sobre o sindicalismo,

    o que se deu no Brasil com recurso ao corporativismo estatal.

    Somente por essa via se exigiria o compartilhamento entre setores diferenciados dentro

    do Estado, em uma sensibilidade anti-oligrquica, matriz do movimento inicial da dcada.

    O Estado se estabeleceria, em seguida, como protagonista principal de uma modernizao

    pelo alto, projeto civilizatrio associado a um plano econmico, a industrializao

    e a urbanizao. Portanto, exigiria a presena de interesses industriais capazes de

    impulsionar a transformao mais rpida e plena na direo da economia de mercado e

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    da ordem social competitiva (WERNECK VIANNA, 1997; 1999a; CARVALHO, 1998).

    Alavancando a industrializao como um fenmeno de certa intensidade progressiva e

    constncia ao longo tempo, que se deu nos grandes centros urbanos, em contraponto ao

    campo que no se modernizara.

    Nesse momento, se viveu de forma mais ntida o processo de organizao daquilo que vai

    se tornar a estrutura de classes no campo social, a formao do estado-nao, no campo

    poltico, e na esfera econmica, o Brasil industrial e capitalista. Para o modernismo, isso

    implicava um esforo a fim de construir, pela descoberta e pela inveno, o ser brasileiro moderno. Desta forma, a construo da modernidade no Brasil se transformaria em

    projeto nacional, ao estilizar as identidades. O moderno, agora associado ideia de

    universalizao e de nacionalismo, e no mais como rplica de um padro que apenas

    certos crculos das elites entendiam ser conveniente para o pas, deveria ser construdo.

    O que estava em jogo era a tentativa de uma articulao entre a ao dos intelectuais e a

    produo de temporalidades distintas efetuadas pelo Estado, observadas e consumidas

    pelas classes sociais em constante reformulao (THOMPSON, 1987; HOBSBAWN,

    1988). A partir da tenso entre expectativa e experincia, diagnstico e prognstico, interesse e virtude, se encontraria a vivncia e as interaes sociais, neste perodo observadas a partir da mobilizao da matriz conceitual classe, cujo substrato se

    encontraria na diviso entre capital e trabalho na vertente corporativa e na identidade

    coletiva via modernismo. Dessa forma, os eventos de ao coletiva esto inseridos em

    espaos de ao culturalmente definidos. Isto implica que o efeito de classe sobre a ao coletiva mediado pela textura cultural. (EDER, 2002: 36). Racionalizando o mundo

    atravs de suas diferentes linguagens, como a literatura, as artes plsticas, a fotografia, o cinema, sustentado pelas suas dimenses tcnica, tica e esttica, o modernismo

    conferiu a densidade cultural para a mobilizao de identidades coletivas motivadoras de

    aglutinamentos para a ao social.

    Intelectuais e Modernismo Brasileiro

    No obstante, importante ressaltar que os discursos em defesa da construo de uma

    sociedade moderna, no Brasil, no se daro apenas num nico plano. Podemos dizer que a

    modernidade brasileira, sobretudo na dcada de 1930, ser pensada pelos intelectuais em

    dois planos, ambos dentro do padro instaurado pelo novo contexto. Tal fato pode ser mais

    bem exemplificado se tomarmos como paradigma a ideia do modernismo como projeto para se pensar a relao entre cultura e modernizao na sociedade brasileira. O modernismo

    se ergue atravs da vontade e de um permanente exerccio de plasticidade, politicamente

    conduzido e expressivamente concebido (BARBOSA FILHO, 2005; MORAES, 1978).

    Da a crucial importncia da sociologia modernista, fruto desse movimento.

    Seguindo essa linha de argumentao, pode se estabelecer uma reflexo que privilegia as diversas inseres, seja em determinada tradio nacional, regional, ou mesmo suas

    relaes conflitivas em relao constituio do modernismo em contextos fora do eixo do Atlntico Norte. Posto nestes termos, esse tema se relaciona a algumas questes.

    A primeira diz respeito a tenacidade de prticas cognitivas modernistas em territrios

    fora do eixo europeu e sua imbricao com a forma como as ideias so apresentadas.

    A segunda aponta para uma caracterstica tpica desses territrios, nos quais existiria

    uma confluncia para a inventividade, em seu aspecto construtivo, e o inacabamento, se comparado, como fazem os modernistas, a outros andamentos modernos. O terceiro

    ponto se relaciona aos modos pelos quais o modernismo s margens definiria as relaes

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    do intelectual com a escrita, as formas literrias e a vida pblica. O quarto tema se

    relaciona formao de uma sensibilidade modernista e suas caractersticas nestas

    regies. O quinto mote se refere a uma definio da linguagem modernista e suas dimenses tcnica, tica e esttica e suas relaes com as caractersticas do processo de

    modernizao ocorrido.

    Ademais, a emergncia do modernismo em regies fora do Atlntico Norte mais do que contrapor os axiomas bsicos do modernismo destas regies, se relaciona com ele e

    reinventa o seu modernismo e com ele constituem a prpria modernidade. A hiptese a

    de que a configurao geral do modernismo brasileiro, que se nacionalizara nos anos 1930 e ampliara seu poder de atuao, estava em ntima conexo dialgica com o processo de

    modernizao ocorrido no Brasil. Entretanto, se a prpria noo de modernismo deve ser

    matizada em relao a outros casos de entrada na modernidade, o mesmo procedimento

    deve ser feito em relao ao tema da modernizao.

    Ao estudar o caso brasileiro, Werneck Vianna decifrara o enigma da histria brasileira ao

    coloca-la sob a chave da revoluo passiva, um territrio que chegara modernizao em

    compromisso com o seu passado (WERNECK VIANNA, 1997). No binmio conservao-

    mudana, o termo mudana passaria a comportar consequncias que escapariam inteiramente previso do ator, gerando expectativas de que a via do transformismo

    poderia ser concebida como a melhor passagem para a modernizao do pas, enquanto

    o termo conservao indicaria a possibilidade de constante reatualizao do mundo da

    tradio. Esse processo molecular e de longa durao definiria os modos de articulao entre Estado e sociedade no caminho da modernizao brasileira.

    Se os artistas e intelectuais ligados ao modernismo europeu possuam como caracterstica

    a negatividade e o carcter destrutivo frente s tradies, uma das principais tarefas a

    que se props o modernismo brasileiro foi a construo simultnea de um futuro e sua

    tradio (GORELIK, 1999). No caso brasileiro, o modernismo, ao pensar um cdigo moral

    civilizatrio distinto e animado pela construo nacional ancorada em uma geografia original, permitiria a afirmao do moderno atravs da modernizao, mesmo que a ciso temporal efetuada levasse ao tema da tradio. O fundo comum da experincia intelectual modernista perifrica seria a associao entre o modernismo e o nacionalismo

    (OLIVEIRA, 1982). Nacionalismo intimamente impregnado na vida cultural brasileira e

    habilmente utilizado pelo Estado (BARBOSA FILHO, 2008). Esta premissa modernista

    no permaneceria circunscrita ao campo da arte e da arquitetura, invadindo a formulao

    ensastica e programtica que cercou a modernizao dos anos 30. A estratgia de

    construo do pas por cima adquire uma nova complexidade nesta renovao de

    sua metafsica, em um momento no qual cultura e poltica estariam intimamente

    conexas. Os modernistas, cientes de uma possvel aproximao de desenvolvimentos

    nacionais traduziram uma interpretao do Brasil que articulou a questo nacional

    e o cosmopolitismo num registro marcado pela inventividade e pelo pragmatismo da

    experincia brasileira. Sendo assim, a experincia intelectual dos modernistas esteve atrelada ao modo como a modernizao brasileira dos anos 1930 se desdobrou.

    Se o Estado se burocratizara e abrigara grande parte dos intelectuais, o mercado editorial

    se ampliara e crescera tambm o nmero de leitores e de venda de livros (HALLEWELL,

    2005). No campo grfico, o advento da linotipo, o desenvolvimento de maquinrios para impresso e a progressiva melhora do papel produzido no pas asseguraram o crescimento

    que a indstria editorial experimentaria entre as dcadas de 10 e 30.

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    As editoras mais importantes faziam grandes investimentos na produo de colees de

    livros, seja de literatura ou livros de interpretao do Brasil (PONTES, 1989: 368), como

    a Companhia Editora Nacional (So Paulo e Rio de Janeiro), a Editora Globo (Porto Alegre),

    a Editora Jos Olympio (Rio de Janeiro), a Editora Francisco Alves (Rio de Janeiro),a Editora

    Melhoramentos (So Paulo) e a Livraria Martins Editora (So Paulo), assim como a pioneira,

    a Companhia Grfica Editora Monteiro Lobato, que faliu em 1925 (HALLEWELL, 2005).

    As colees da poca eram fruto de estratgias editoriais que buscavam publicar livros

    em maior escala e com menores preos, tendo como alvo pblicos especiais, o que

    implicou numa segmentao do mercado da leitura. (DUTRA, 2006:300). A edio de

    colees teria como vantagem a padronizao dos livros, com consequente economia de

    tempo, reduo de custos e fcil identificao das obras pelo leitor na hora da compra (AMORIM, 1999: 71-72). Uma das mais importantes colees do cenrio nacional na

    primeira metade do sculo XX foi a Biblioteca Pedaggica Brasileira, projetada pelo

    intelectual e educador Fernando de Azevedo, empreendimento da Companhia Editora

    Nacional, dirigida por Octalles Marcondes Ferreira. A coleo foi idealizada tanto com

    intuito de impulsionar o conhecimento quanto de ampliar o pblico de leitores. Cinco

    subsries faziam parte dessa Biblioteca: Literatura Infantil, Livros Didticos, Atualidades

    Pedaggicas, Iniciao Cientfica, e a Brasiliana.

    De um modo geral, as mais importantes colees de assuntos brasileiros editadas na era

    Vargas foram: a Brasiliana, criada em 1931 pela Companhia Editora Nacional; a Documentos

    Brasileiros, lanada em 1936 pela Editora Jos Olympio; e a Biblioteca Histrica Brasileira,

    produzida a partir de 1940 pela Livraria Martins Editora. Todas tinham como objetivo

    desvendar, mapear, estudar e diagnosticar a realidade brasileira. (PONTES, 1989:359).

    Em termos gerais, pode-se pensar que as colees de livros so uma maneira na qual

    se organizaria o mundo. Deste modo, a escolha das obras e dos autores, a organizao

    e a publicao fazem parte do processo de produo do sentido social. O colecionismo

    retiraria o objeto de determinado contexto e passaria a atribuir-lhe um novo significado dentro da coleo. De outro lado, possibilitaria a transformao de projetos individuais

    em projetos coletivos. Efetuaria uma nova classificao dos livros a partir da seleo daqueles que deveriam ser publicados e da conjugao entre a abertura para novos

    autores e a republicao de antigos.

    A Sensibilidade Temporal da Sociologia Modernista

    O modernismo em geral, e a sociologia modernista brasileira em particular, construiriam

    uma conscincia histrica, e empreenderiam sua historiografia com uma perspectiva de histria pblica, como possibilidade de difundir o conhecimento histrico por meio dos

    arquivos, dos centros de memria, da literatura, do cinema, dos museus, da televiso,

    do rdio, das editoras, dos jornais, das revistas. Em certa medida, o Estado se apropriara

    destas perspectivas e capturara o sentido do tempo descrito pela sociologia modernista,

    como se fosse projeto seu.

    A nova dcada trouxera como marca caracterstica da sensibilidade temporal, a acelerao.

    Desde o incio do sculo XX, principalmente nas grandes cidades, se percebia no mundo

    social a acelerao do tempo. As grandes avenidas, os carros, os passeios, os locais de

    sociabilidade, a interao mais prxima com as notcias e o modismo do exterior (FREYRE,

    2001). Houve ainda a dcada de 1920, com as efervescncias e veleidades de um mundo em instabilidade, que aprofundaram esse processo de acelerao do tempo, principalmente

    atravs da agitao e volubilidade de um mundo ps-guerra (LAHUERTA, 1997). Entretanto,

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    feito o movimento fruto da tumultuada dcada anterior, a nova dcada se apossara

    de sua prpria subjetividade com relao ao tempo. Ningum expressou melhor essa

    sensibilidade do que Azevedo Amaral. Como um protagonista da poca, Azevedo Amaral

    concebeu uma radical oposio entre a temporalidade que denominou evolucionista, e a temporalidade revolucionista (AMARAL,1938). Este tempo contemporneo seria marcado pela ruptura e pela inconstncia, um tempo fraturado e descontnuo, cuja velocidade das

    modificaes alteraria a psicologia coletiva dos contemporneos. Seria o mundo novo aberto pela tcnica e pelos meios de comunicao.

    Essa acelerao deveria ser domada, conduzida. Francisco Campos tambm se apercebera

    dessa caracterstica desordenadora e destrutiva que o prprio tempo engendraria se os

    homens o deixassem correr livre.

    O demnio do tempo, como sob a tenso escatolgica da prxima e derradeira catstrofe,

    parece acelerar o passo da mudana, fazendo desfilar diante dos olhos humanos, sem as pausas

    a que estavam habituados, todo o seu jogo de forma que, nas condies normais, teriam que ser

    distribudas segundo uma linha de sucesso mais ou menos definida e coerente. Da o carter

    problemtico de tudo: acelerado o ritmo da mudana, toda situao passa a provisria, e a atitude

    do esprito h de ser uma atitude de permanente adaptao, no a situaes definidas, mas

    simplesmente de adaptao mudana. (...) A poca de transio precisamente aquela em que o

    passado continua a interpretar o presente; em que o presente ainda no encontrou as suas formas

    espirituais, e as formas espirituais do passado, com que continuamos a vestir a imagem do mundo,

    se revelam inadequadas, obsoletas ou desconformes, pela rigidez, com um corpo de linhas ainda

    indefinidas ou cuja substncia ainda no fixou os seus polos de condensao (CAMPOS, 1940:8-10).

    Se poucos anos mais tarde, esse ensasmo ficaria marcado sobretudo pelo tema da organizao nacional e pela procura das origens da formao do Brasil, o que verdade,

    em todos houve uma preocupao em expressar esse tempo da revoluo brasileira.

    sintomtico que Paulo Prado e Srgio Buarque de Holanda dediquem o ltimo captulo

    de Retrato do Brasil e Razes do Brasil a tratar do tema da revoluo brasileira. Enquanto Nestor Duarte e Afonso Arinos no se eximem de passear pelo tema em A Ordem Privada e a Organizao Nacional e Conceito de Civilizao Brasileira, respectivamente.

    O movimento de oposio desse ensasmo ao anterior se d com relao sensao do

    tempo a partir de sua conceituao e de sua experimentao: a forma como se passa a

    conhecer as relaes entre a dinmica do tempo, expressas nos sentidos de inovao e

    permanncia, rupturas e continuidades, evoluo e involuo, levando a efeito se pensar um tipo de modernidade como a brasileira num esforo comparativo com outros modelos.

    Uma caracterstica deste envolvente modernismo advindo do tipo de modernizao, uns

    como modelo, fonte de inspirao e motivo, outros como intrpretes e criadores, levariam

    as ltimas consequncias essa vontade de descoberta do Brasil, esse apego constante ao senso de realismo4. Impregnao que estaria no Brasil desde o final do sculo XIX, nas vozes de Joaquim Nabuco, em O Abolicionismo, e Euclides da Cunha, em Os Sertes, especialmente se pensarmos na constituio de uma espcie de imaginao sociolgica

    vinculada lgica dos distintos territrios e seus tipos sociais.

    Em todo o subcontinente latino-americano, o modernismo tem papel fundamental

    no processo de interpretao de sua sociedade, de organizao de seu Estado e so

    fundantes de uma certa metafsica americana (DEVEZ VALDEZ, 1992; 1997), que

    associa a lgica do continente: inveno e pragmatismo, tradio e artifcio (BARBOSA

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    FILHO, 2000; MAIA, 2008) fundados no senso de realismo advindos de sua imaginao

    sociolgica. Entretanto, no so mais como no sculo XIX, os intelectuais aconselhando

    o Estado em sua misso civilizatria, em uma tranquila teoria de administrao metafsica

    do tempo (WERNECK VIANNA, 1997).

    Ao final da dcada de 30, Nestor Duarte escreveria A Ordem Privada e a Organizao Poltica Nacional. O ttulo chama a ateno por dois motivos. O primeiro a relao entre ordem e organizao, mundo privado e mundo pblico, cerne do argumento do

    ensasmo sociolgico que lhe contemporneo. O segundo aspecto se refere ao subttulo

    dado, contribuies para uma sociologia poltica brasileira, que nas palavras do autor, se associaria a esses chamados estudos brasileiros que se centrariam na realidade do pas

    (HALLEWELL, 2005; MICELI, 2001). Estudos esses aos quais o prprio autor se refere

    ao longo do texto, constituindo assim, uma boa estratgia de entrada no debate pblico

    da poca. Nestor Duarte dialoga com mais nfase sobre as teses levantadas por Azevedo Amaral, Pedro Calmon, Gilberto Amado, Manuel Bonfim, Oliveira Vianna, Srgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., Afonso Arinos e Gilberto Freyre5. A fina flor do ensasmo que reverberava na dcada de 30.

    Nesta sociologia modernista dos anos 20 e 30, que se formulou com mais vigor a tese

    da hipertrofia do privado, identificando a famlia de tipo patriarcal como a agncia crucial de coordenao da vida social que se veio formando desde a colonizao portuguesa,

    em relao a uma esfera pblica atrofiada identificada ao Estado. Em todos esses autores, os elementos da sociedade brasileira em seu perodo colonial ainda fazem-se

    presentes6, impedindo a consolidao plena de instituies e valores da modernidade

    ocidental clssica. Nessa vertente do pensamento social brasileiro, uma atvica

    herana patrimonial-patriarcal acabara sutilmente assumindo o carter de varivel

    independente, supostamente capaz de explicar, ao longo de toda a histria brasileira,

    especialmente no mundo rural, as formas e as configuraes polticas e sociais que aqui se consolidaram (TAVOLARO, 2005).

    Mais ou menos explcita nas interpretaes propostas por cada um daqueles autores

    encontra-se a ideia de que no Brasil contemporneo, Estado, economia e sociedade civil

    jamais teriam sido capazes de se diferenciar plenamente e, dessa forma, de se dinamizar

    a partir de lgicas e cdigos prprios. O domnio pblico teria sido raptado e subjugado

    lgica e aos propsitos das esferas de convvio familiar, cdigos pessoais e privados,

    razo pela qual as regras impessoais e racionalizadas seriam frequentemente relegadas

    a segundo plano. Nessa sociedade jamais se atingiu o grau e a extenso da diferenciao

    social, da secularizao e da separao entre o pblico e o privado observados nas

    sociedades modernas centrais.

    Vale lembrar que no discurso sociolgico da modernidade clssica, as chamadas

    sociedades modernas centrais so tidas como aquelas em que o Estado, o mercado

    e a sociedade civil ocuparam esferas plenamente diferenciadas entre si, reguladas

    exclusivamente por cdigos prprios e dinamizadas por lgicas particulares. Os mbitos

    pblico e privado, por sua vez, so tambm plenamente separados, cada um dos quais

    ordenado por cdigos e lgicas particulares, comunicando-se apenas atravs de canais

    apropriados que mantm inalterados os termos e as regras de cada um dos domnios.7

    Retomando as teses de Oliveira Vianna sobre nossa formao colonial, podemos afirmar que do meio geogrfico e do latifndio derivariam as principais caractersticas sociolgicas da colonizao, o poder pblico fragmentado e sua dinmica propiciando o desamparo jurdico

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    e poltico do homem comum. O cl rural se apresentaria como a unidade social agregadora,

    geradora do que ele chamou de solidariedade clnica patriarcal (BRANDO, 2005).

    Alm de Oliveira Vianna, ressaltavam-se no ensasmo sociolgico de Gilberto Freyre, Caio

    Prado Junior, Srgio Buarque de Holanda, Nestor Duarte e Afonso Arinos, os elementos

    da vida rural brasileira, com suas caractersticas particulares: o isolamento das suas

    unidades, a ausncia de mercado interno entre setores, a relativa fraqueza dos centros urbanos e de seus personagens, a falta de estradas e comunicao, a ausncia do Estado como normatividade de direitos pblicos internalizados, o sentido da colonizao

    da economia agroexportadora, as vicissitudes da colonizao e do colono, a aventura e a

    rotina com seus interesses e suas virtudes, a diferenciao paulatina entre a Metrpole

    e a Colnia (FREYRE, 2002; PRADO JUNIOR, 1994; HOLANDA, 1995; DUARTE, 1939;

    MELO FRANCO, 1936; VIANNA, 1987).

    Cada ncleo rural, ou cada complexo casa grande & senzala, para ficarmos na expresso de Gilberto Freyre, seria um microcosmo social, um pequeno organismo coletivo, com

    aptides cabais para uma vida isolada e autnoma (VIANNA, 1956:155). Estes fenmenos

    em questo, com suas matrizes culturais e sociodemogrficas, permitiria a Oliveira Vianna, Srgio Buarque, Nestor Duarte e Afonso Arinos, a partir de suas ferramentas conceituais,

    interpretar o modus operandi de certas estruturas oligrquicas de dominao, que seriam incompatveis com a constituio de uma democracia liberal e resultariam altamente

    efetivas para a aquisio, a organizao e o exerccio do poder.

    Este tipo de solidariedade clnica, ligada a nosso passado histrico, no parecia, aos

    seus olhos, destinada a desaparecer como simples consequncia do desenvolvimento ou da modernizao no campo poltico, seria como uma constante cultural, uma espcie

    de amalgama da psicologia coletiva nacional. A existncia desse padro de dominao envolto na inexistncia de uma articulao espontnea de interesses dos grupos sociais com os aparatos do Estado, que por sua vez, obrigar-se-iam a interagir com esses grupos

    sociais, atravs de estruturas verticais de poder, em cujo topo se encontraria o chefe do

    cl rural, demarcaria esse processo civilizatrio.

    Ficaria latente para a sociologia modernista, que o poder poltico e o poder social se

    organizariam piramidalmente, de modo tal que cada chefe rural se conectaria a outro

    de forma a montarem uma estrutura de dominao articulada mediante o intercmbio

    de favores recprocos, como nas anlises sobre os problemas da pupilagem poltica pela

    gratido e amizade, questes relacionadas a uma tica da cordialidade, especificao dos pontos nodais do patriarcalismo, ao fracasso do iderio liberal entre outras questes.

    Concluiriam que neste tipo de atividade poltica no se teria desenvolvido um interesse

    nacional ou pblico, transcendente aos interesses imediatos e particulares. Nessa

    atividade poltica teramos ao invs disso a concepo meramente partidria e excludente,

    exercida e consumida estritamente dentro do pequeno crculo do grupo, do cl, da faco,

    do diretrio local, da famlia.

    A grande propriedade rural e consequentemente a noo do exclusivo agrrio e da funo

    simplificadora dos latifndios tornaram-se fundamentais nesse modelo explicativo sobre as condies nas quais a solidariedade e os interesses foram constitudos no peculiar caso

    brasileiro. Guardadas as diferenas, esses intrpretes do Brasil perceberam que esta funo

    simplificadora impediria o comrcio e a emerso de uma burguesia comercial ou uma classe industrial, que se concentraria no litoral ou nas pequenas cidades do interior, mas

    sem nenhuma fora poltica. Assim, entre a classe dos trabalhadores livres e a aristocracia

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    senhorial os laos no se constituiriam solidamente, situao acentuada pela inexistncia de uma classe mdia do tipo europeia (BOTELHO, 2007; WERNECK VIANNA, 1997; 1999b).

    A partir do latifndio e da vida rural, o tipo de solidariedade que se formava, a estabilidade

    que giraria em torno dos grupos familiares, os quais permitiriam que se formasse uma trama

    de relaes sociais estveis, permanentes e tradicionais, tendo na figura do pater famlias a ascendncia patriarcal, o patrimonialismo no trato da esfera pblica, a subjugao de interesses privados sobre o interesse pblico, tudo isso animava a anlise da dinmica

    de um passado que o ensasmo e sua sociedade consideravam como seus.Da, a nsia no

    controle do tempo e de sua sociedade.

    Nesse momento, o passado seria importante para definir os rumos da sua sociologia. Sociologia essa que exprimiria de fato um caminho alternativo do andamento moderno

    atravs de suas dicotomias: campo e cidade; rural e urbano; litoral e serto; centro e

    periferia; pblico e privado; interesse e virtude; iniciativa e inatividade; empreendimento

    e cometimento; vontade e contingncia, em uma difcil sntese. A tese possuiria seu lugar, ao reanimar as tradies. A anttese, a conjugar a novidade. O modernismo brasileiro, e

    em certa medida o latino-americano, carrega essa contradio como fundamento da sua

    modernidade (GORELIK, 1999) em especial na forma como aborda seus territrios e seus

    personagens postos na ao da histria.

    Ao procurarem explicar essa difcil sntese, conheceriam a modernidade brasileira no

    sentido de contemporaneidade e historicidade, e isso sob a tica de uma espcie de

    Modernidade patolgica (VIANNA, 1999b; WEGNER, 2000). O campo possui sua sociologia,

    seus personagens principais, com sua subjetividade, sua atuao no mundo. O latifndio

    como fundo para as aes realizadoras de interesses e virtudes para o fazendeiro, o

    escravo, o capanga, o homem livre comum, o tempo lento no seu desenrolar a incrustar a

    vida social. A cidade, local das inter-relaes sociais e lcus do tempo clere, da iniciativa,

    da volpia do viver moderno, dos seus personagens liberais e de sua sociabilidade muitas

    vezes subsumida ao mundo rural e incapaz de encontrar terreno frtil para o seu avano.

    A compreenso da cidade e do mundo rural passaria pela anlise de todos os elementos

    que compem o seu quadro: terra, gua, clima, homens, civilizao, cultura, arquitetura,

    trabalho, ideias, smbolos. O campo e a cidade no seriam apenas materialidade,

    possuiriam uma dimenso simblica, subjetiva, que tambm atuaria na construo de suas

    formas espaciais. A significao do espao, urbano ou rural, conferiria aos indivduos e coletividades, unidade e identidade como o seu entorno, em uma espcie de estruturao

    sgnica do espao (MAIA, 2008).8

    Cada local possuiria uma espcie de cartografia semntica, que atribuiria a um determinado tempo-espao, certos modos de viver, pensar e experimentar o mundo,

    certos tipos sociais, certa solidariedade, certa constituio de interesses e virtudes

    em sua sociabilidade, marcada no Brasil, atravs do modernismo e de seu ensasmo

    sociolgico, por certa inventividade e certo pragmatismo.

    Palavras Finais

    Procuramos analisar uma interpretao do Brasil que levaria em conta sobretudo os

    sentidos da ao coletiva brasileira e a cultura poltica da derivados na formao de seu

    Estado-nao. O papel explicativo do moderno, trazido luz a partir de uma interpretao

    realizada pelo pensamento social e poltico brasileiro, trama a dramaticidade das

    evocaes de nossa imaginao sociolgica e poltica. Ao se levar em conta o inventrio

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    desta entrada para a modernidade, emergira os dilemas constitutivos atravs de alegorias

    explicativas. Um movimento processual relacionado a um ordenamento social dinamizado

    pela ao pragmtica de um novo homem em um mundo novo, traduzindo a possibilidade

    de inveno aberta sociabilidade.

    O modernismo, ao pensar um cdigo moral civilizatrio distinto e animado pela

    construo nacional ancorada em uma geografia original, permitiria a afirmao do moderno atravs da modernizao. O fundo comum a associao entre modernismo

    e nacionalismo (BARBOSA FILHO, 2005).9 Esta premissa modernista no permanece

    circunscrita ao campo da arte e da arquitetura (MORAES, 1978), invadindo a formulao

    ensastica e programtica que cerca a modernizao dos anos 30. A estratgia de

    construo por cima do pas adquire uma nova complexidade nesta renovao de

    sua metafsica. Cientes de uma possvel aproximao de desenvolvimentos nacionais,

    no fundo, traduzem uma interpretao do Brasil que articula a questo nacional e

    o cosmopolitismo num registro marcado pela inventividade e pelo pragmatismo da

    experincia brasileira.

    O prognstico realizado produziu o tempo que o engendra e a direo na qual ele se

    projeta. Essa produo de uma configurao estilizada da forma de controle temporal e poltico acarreta um complexo realstico, a fim de extrair do acontecimento histrico uma ordem interna. Assim, a interpretao deste passado ganha relevncia social e poltica no

    atrelamento entre os intelectuais e o prprio Estado.10

    Trata-se, segundo a nossa hiptese, da formao de um ensasmo que, mais do que

    simplesmente relacionar poltica e sociedade, ambiciona especificar os fundamentos e a dinmica social da dominao poltica brasileira. nele que ganha inteligibilidade a

    tendncia a relacionar aquisio, distribuio, organizao estrutura social. Posto nestes termos, a ao social e a ao poltica dispostas nessa historicidade inerente a cada uma,

    produz ritmos temporais diferenciados. Movimento analtico que configura, num certo sentido, a precedncia lgica da sociologia sobre a poltica (WERNECK VIANNA, 1997).

    Em suma, a partir dos anos 1930 no Brasil, na esfera social se observam as transformaes

    das classes sociais e do movimento classista, tanto dos industriais como dos trabalhadores.

    No campo poltico, a reinveno do Estado e as crticas ao liberalismo em 1930, o projeto

    autoritrio-corporativo paulatinamente gestado, e na economia, o aprofundamento do

    industrialismo. desta inter-relao entre o andamento social, poltico e econmico, que se

    deve inserir a produo de significados presentes nos conceitos produzidos pelos intelectuais da poca preocupados em refletir sobre a constituio das classes, sobre a organizao do Estado, sobre a industrializao, revelando os aspectos para o entendimento do caminho

    moderno brasileiro, e colocando o tema do capital e do trabalho como elementos

    fundantes e estruturadores de perspectiva do (e sobre o) social.

    Em certa medida, o modernismo dialogicamente conjecturara com o Estado para a formao

    das classes sociais, propondo modelos de ao coletiva ancoradas pelo nvel mediador da

    cultura, ao ultrapassar o limite do entendimento da classe social a partir das representaes

    coletivas difusas ou inconscientes, no nvel das mentalidades, para uma interpretao que

    consistia em analisar como a ao coletiva e o ordenamento classista foram tematizados nas

    comunicaes e nos discursos pblicos e como esta tematizao contribuiu para a construo

    das aes coletivas e das prprias classes. Em outras palavras, o modernismo atravs do

    Estado, e o Estado atravs do modernismo, possibilitaram os atributos estruturadores da

    cultura de classe, gerando a associao de interesses e a solidariedade horizontal e vertical

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    na constituio da experincia e da expectativa das classes sociais na dcada de 30. Em outras palavras, o Estado no abriria mo do corporativismo como elemento central

    e norteador de suas aes em alguns campos sensveis, como a economia e o direito, mas

    combinaria com o modernismo em sua chave da virtude como artefato estruturador de

    suas projees sobre o social. A chave do transformismo seria encontrada nesta singular

    combinao entre o corporativismo e o modernismo.

    Este ensasmo sociolgico e as suas respectivas expresses vinculam-se ao nosso

    argumento no momento em que realizam um processo de ideias, ou, para ser mais claro,

    idealizam uma concepo de poltica que aos poucos colocada em prtica, concepo

    esta diferente daquela formulada pela tradio anterior. O conceito de poltica sofre

    uma redefinio por onde recebe outros contornos prticos a fim de possibilitar certa aplicao dos seus supostos em uma determinada textura social que , por esta aplicao,

    transtornada de efeitos que se convertem em uma nova leitura, diferente da primeira

    em que foi cunhada, e certamente diferente das sucessivas que sero apropriadas nos

    diferentes momentos histricos. (BOTELHO, 2007; WERNECK VIANNA, 1997 e 1999b;

    BRANDO, 2005 e NOVAIS, 2005)

    Refletir sobre o nosso tempo histrico pode ser frutfero na medida em que prope questes sobre as prprias concepes que temos do momento em que vivemos.

    A sociologia e a histria como parmetros deste tipo de reflexo mostram-se essenciais nos debates que propem, e mais ainda, na criao de conceitos explicativos sobre

    o tempo presente, e consequentemente, atuando de forma direta na criao das

    concepes que temos acerca da contemporaneidade. Na verdade, atuando tambm

    na chamada guerra do imaginrio. As dificuldades em se tratar de um tema complexo como este, exigem o reconhecimento do inevitvel fracasso em se esgotar o tema, pois,

    ao analisarmos como as sociedades passadas interpretaram o seu passado, estamos ns

    tambm, interpretando o nosso passado.

    (Recebido para publicao em setembro de 2013)

    (Reapresentado em outubro de 2014)

    (Aprovado para publicao em julho de 2014)

    Cite este Artigo

    MARTINS, Maro Lara. Entre a Cultura e a Poltica: a sociologia

    modernista dos anos 1930. Revista Estudos Polticos: a publicao

    eletrnica semestral do Laboratrio de Estudos Hum(e)anos (UFF)

    e do Ncleo de Estudos em Teoria Poltica (UFRJ). Rio de Janeiro,

    Vol. 5 | N. 2, pp. 583 599, dezembro 2014. Disponvel em:

    http://revistaestudospoliticos.com/.

    Notas

    1. Agradeo os comentrios e sugestes dos pareceristas, isentando-os

    de meus excessos.

    2. Inspiro-me sobretudo em anlises mais recentes que procuraram

    detectar a partir dos estudos de Werneck Vianna e Florestan Fernandes,

    as caractersticas de longa durao do processo revolucionrio

    brasileiro. Refiro-me especialmente MAIA, 2008 e BARBOSA FILHO, 2000 e 2006. Voltarei a essa discusso no prximo tpico.

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    3. Sobre a relao entre intelectuais e modernizao, as palavras de

    Maria Alice Rezende Carvalho (2006) so exemplares sobre sua dupla

    dimenso: a poltica que dependia de uma adeso dos intelectuais

    ao projeto de reconstruo do pas sendo liderada por Capanema e a

    estrutural, ou sociolgica, resultante da engenharia social concebida

    por Alberto Torres, Oliveira Vianna e Azevedo Amaral, da qual os

    intelectuais eram partes independentemente de sua vontade ou adeso.

    4. de se notar a recorrncia em quase todos os autores deste perodo esse complexo de realismo.

    5. Pelo fato de Nestor Duarte ter publicado seu texto no final da dcada de 30, seria interessante um aprofundamento da leitura que realizou

    destes autores, as possveis semelhanas e diferenas de uma forma

    mais sistemtica e a compreenso da dinmica editorial, como nas

    colees Brasiliana e Documentos Brasileiros.

    6. Variando em intensidade de autor para autor.

    7. Para Oliveira Vianna, por exemplo, no mundo saxo haveria a

    necessidade local de satisfao de interesses comuns, a dinmica da

    vontade e da iniciativa, a preponderncia do urbano, o senso gerador

    de solidariedade nacional, a intelectualizao do Estado, e, o princpio

    imanente da sociedade e impessoalidade do poder.

    8. A partir das sugestes de Joo Marcelo Maia (2008), o tema da terra enquanto espao geogrfico possui dois aspectos que se complementam. A classificao dos meios fsicos que possam produzir tipos sociais especficos, neste caso, o meio como cenrio onde se desenrola o processo civilizador, e, o meio fsico como matriz para a produo de

    imagens e comparaes sobre o mundo social capaz de dar sentido s

    experincias perifricas.

    9. Segundo Barbosa Filho (2005), ao assimilar o nacionalismo, o nosso

    modernismo se ajusta para preservar elementos expressivistas barroco

    e romntico enfraquecendo o sentido anti-subjetivista do modernismo

    ocidental. a permanncia desse subjetivismo que caracterizar o modernismo brasileiro.

    10. Isso no quer dizer que adotavam uma posio na qual o pas

    devesse ser governado exclusivamente pelos intelectuais ou numa chave

    mais dura como a dos positivistas. E sim, que os intelectuais adquirem

    uma importncia fundamental na estrutura do Estado, e dos problemas

    a serem enfrentados, gestando solues (polticas pblicas) para a

    superao destes problemas. Na verdade, estes autores observaram

    com pesar o insulamento da elite tradicional com a realidade social.

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