marketing esportivo: uma ferramenta para o...

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1 MARKETING ESPORTIVO: UMA FERRAMENTA PARA O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Gabriela Strabello Igor Almeida de Carvalho Orientadora: Bettina Ried ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE JUNDIAÍ RESUMO Procura-se nesta pesquisa apresentar o marketing esportivo como subsídio para o profissional de Educação Física. Inicialmente, conceitua-se o marketing tradicional e defini-se o marketing esportivo. Em seguida, demonstra-se o seu desenvolvimento histórico e sua aderência em relação aos investidores. Designa-se o profissional de Educação Física e apontam-se as suas possibilidades de uso do marketing esportivo. Conclui-se que o marketing esportivo pode ser aplicado como uma ferramenta visando aumentar o desempenho do profissional Educação Física como um todo em qualquer função exercida. E sugere-se maior envolvimento dos profissionais especializados em desporto e atividade física nas áreas organizacionais, como na gestão esportiva. Palavras-chave: Marketing esportivo. Ferramenta. Profissional de Educação Física. INTRODUÇÃO Atualmente, é extremamente improvável na esfera do esporte e atividade física não se deparar com empresas demonstrando suas marcas em equipes, complexos esportivos, arenas esportivas, materiais esportivos...

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MARKETING ESPORTIVO: UMA FERRAMENTA PARA O

PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA.

Gabriela Strabello

Igor Almeida de Carvalho

Orientadora: Bettina Ried

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE JUNDIAÍ

RESUMO

Procura-se nesta pesquisa apresentar o marketing esportivo como subsídio

para o profissional de Educação Física. Inicialmente, conceitua-se o marketing

tradicional e defini-se o marketing esportivo. Em seguida, demonstra-se o seu

desenvolvimento histórico e sua aderência em relação aos investidores.

Designa-se o profissional de Educação Física e apontam-se as suas

possibilidades de uso do marketing esportivo. Conclui-se que o marketing

esportivo pode ser aplicado como uma ferramenta visando aumentar o

desempenho do profissional Educação Física como um todo em qualquer

função exercida. E sugere-se maior envolvimento dos profissionais

especializados em desporto e atividade física nas áreas organizacionais, como

na gestão esportiva.

Palavras-chave: Marketing esportivo. Ferramenta. Profissional de Educação

Física.

INTRODUÇÃO

Atualmente, é extremamente improvável na esfera do esporte e

atividade física não se deparar com empresas demonstrando suas marcas em

equipes, complexos esportivos, arenas esportivas, materiais esportivos...

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Como profissionais da área de Educação Física devemos buscar informações a

respeito do que acontece em nosso contexto, pois o marketing esportivo

apesar de ser uma forma de investimento que realmente se afirmou

recentemente, é um dos mercados que mais crescem no planeta, sendo

responsável pela movimentação de bilhões de dólares. Segundo Melo Neto e

Carvalho (2006) o mercado do marketing esportivo em um intervalo de dez

anos cresceu 300% nos Estados Unidos e 150% no resto do mundo.

O trabalho proposto visa demonstrar o poder do marketing esportivo nas

áreas do esporte e atividade física e de que forma o profissional de Educação

Física pode utilizá-lo como ferramenta para alcançar seus objetivos.

OBJETIVOS

Os objetivos desta pesquisa são conceituar o marketing esportivo e

apresentar suas funções e aplicações ao profissional de Educação Física,

propondo a sua utilização como ferramenta para aumentar o rendimento na

busca por seus objetivos profissionais.

Conceito de Marketing Esportivo

Primeiramente para conceituarmos marketing esportivo, é necessário

compreendermos o significado de marketing. Segundo Dolabela (2008, p.136)

“... procurar saber o que o cliente queria e só depois projetar um produto que

atendesse às necessidades dele. E também às necessidades da empresa, em

que o lucro tem papel fundamental. Isso é marketing.” Trilhando a mesma linha

de raciocínio Contursi (1996) define marketing como identificar as

necessidades do consumidor. Já para Kotler (2000) marketing é satisfazer

necessidades e desejos através de um processo de trocas.

Notamos que em todas as definições citadas a palavra “necessidade”

pode ser encontrada, então definimos marketing como alcançar objetivos

mercantilistas oferecendo serviços ou produtos capazes de criar uma

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expectativa ou vontade1 baseada em necessidades2 que quando satisfeitas

correspondam à conquista e manutenção do cliente.

Conseqüentemente, podemos conceituar marketing esportivo como

sendo

“... um dos segmentos do marketing tradicional que se utiliza do

desporto como meio de agregar, fortalecer, construir, ampliar e

preservar a imagem de uma instituição, personalidade, marca

ou produto.” (POIT, 2006, p. 54).

Apesar de utilizarmos neste trabalho a definição acima, esclarecemos

que alguns autores optam por diferenciar entre marketing esportivo e marketing

no esporte. Nessa divisão, marketing esportivo se aplicaria aos atletas, clubes,

entidades e federações enquanto agentes vendendo produtos e serviços aos

seus consumidores de esporte e marketing no esporte corresponderia à

utilização do esporte como meio de comunicação com seus clientes por

empresas. Logo, no marketing esportivo o esporte é seu produto e no

marketing no esporte, o esporte é um meio de agregar valor e promover os

produtos da empresa.

Porém, é necessário compreender que o marketing esportivo é aplicado

por quem estiver executando a ação para o seu cliente, sendo que há

situações em que se pode desempenhar a função de agente e cliente dentro do

mesmo ciclo. Assim por exemplo, se um jogador de futebol é contratado por

uma empresa de material esportivo para utilizar exclusivamente os materiais

desta empresa com fins de divulgá-la e valorizá-la, ele estará prestando um

serviço à empresa de material que o contratou, logo ele é o agente e a

empresa seu cliente. Mas a partir do momento que as pessoas compram os

materiais que o jogador divulgou e valorizou, a empresa torna-se agente, o

jogador meio de comunicação e o papel de cliente destina-se ao consumidor do

material. Logo, o cliente será sempre quem investe em um serviço ou bem.

1 Vontade – De acordo com Norman (2008), é o que a pessoa quer. Determinada pela cultura,

publicidade, auto-imagem.

2 Necessidade – Para Norman (2008), é o que a pessoa precisa para desempenhar uma atividade. Por

exemplo, algum tipo de pasta é necessário para transportar documentos de casa para o trabalho, no

entanto, apesar de uma sacola de papel servir para o transporte, seria constrangedor utilizá-la para uma

reunião de negócios.

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Histórico do Marketing Esportivo

Definirmos uma data para o surgimento do marketing esportivo seria

muito impreciso, pois as opiniões dos pesquisadores não são unânimes. Em

nossas pesquisas o registro mais antigo que encontramos foi relatado por

Sbrighi (2006) indicando que nos anos 30 o esporte eqüestre, mais

precisamente o turfe, teve patrocínio de uma empresa de cigarros na Inglaterra,

no Grande Prêmio de Ascot.

Quanto ao Brasil, Sbrighi (2006) relata o primeiro patrocínio como

ocorrido nos anos 30, pela Cervejaria Caracu, no carro de corrida do Barão de

Tefé em uma prova realizada no Rio de Janeiro.

No futebol, segundo Poit (2006, p.55) “... o Instituto Brasileiro do Café

procurava, nas décadas de 50 e 60, fortalecer sua marca no exterior por meio

das imagens de Pelé e Garrincha.”

“A primeira manifestação de marketing esportivo no

futebol se deu na Itália, em 1952, quando a Stock, uma

empresa fabricante de conhaque, espalhou anúncios por todos

os estádios do país. Para tanto, pagou uma quantia

considerável a todos os times da Série A italiana: 30 mil

dólares.” (LANCELOTTI, 1997 apud GUERRA, 2005, p.194)

De acordo com Smit (2007), desde que Horst Dassler, filho de Adolf

Dassler, fundador da Adidas, entrou no mundo dos negócios nos anos 50, as

empresas fabricantes de material esportivo investiram maciçamente para que

os atletas aparecessem com seus calçados e roupas visando divulgar suas

marcas. “Horst achava que o marketing esportivo tinha um grande futuro...”

(SMIT, 2007, p.194)

O vôlei também demonstrou de forma notória a penetração do marketing

esportivo. A modalidade que era amadora, com a entrada de investidores se

profissionalizou e alcançou lucrativos resultados.

“No Brasil, o marketing esportivo começa a ser visto no final da

década de 1970 e início da de 1980. Primeiro no vôlei, por

meio do presidente da Confederação Brasileira de Vôlei da

época, Carlos Artur Nuzmam, que sempre viu o esporte como

grande negócio, uma grande oportunidade de investimento das

empresas. Por isto, naquela época, Pirelli e Supergasbrás

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montaram equipes fortes de vôlei e foram os primeiros times-

empresa numa modalidade que sempre se disse amadora,

como o voleibol.” (GUERRA, 2005, p.194-195.)

Vaz (1995) relata que a partir da década de 80, em alguns estados

brasileiros havia mais pessoas comparecendo a partidas de vôlei do que em

jogos dos campeonatos de futebol. Em 1993, o campeonato atingiu uma receita

de US$ 50 milhões devido à venda de ingressos, patrocínios e cobertura da

mídia.

“Apesar de a CBV3 ter contrato de exclusividade com um

determinado fabricante, alguns jogadores, atraídos por uma

oferta de US$ 500, propunham que usássemos os tênis de

uma marca concorrente. A polêmica foi encerrada por Nuzmam

(sic): usaríamos o tênis oficial e pronto.” (REZENDE, 2006,

p.50).

No basquete podemos destacar o fenomenal jogador Michael Jordan

que evidenciou o poder do marketing esportivo sendo contratado por várias

empresas como McDonald’s, Nike e Gatorade. A Nike, fabricante de materiais

esportivos, criou uma linha de produtos e calçados que gerava um binômio

produto/esporte, o Air Jordan. Onde “air” correspondia ao sistema de bolsas de

ar dos tênis da empresa.

Rovell (2007) relata que a Gatorade, fabricante de bebida energética,

contratou Jordan por 10 anos, investindo algo em torno de 13,5 milhões de

dólares. No entanto, o energético da empresa Quaker Oats, nas semanas

posteriores a campanha estrelada pelo ícone da NBA4 batizada de “Be Like

Mike”5 superou pela primeira vez em 26 anos as vendas de aveia da própria

empresa. Sem dúvida, Jordan foi um dos maiores exemplos da influência que o

esporte pode causar às empresas quando bem associado.

“... mais do que nunca as empresas estavam

contratando atletas profissionais para ajudá-las a vender seus

produtos. A idéia era que se o indivíduo fosse fã de

determinado atleta, ele teria maior probabilidade de comprar

3 CBV – Confederação Brasileira de Vôlei.

4 NBA – National Basketball Association, sigla da liga americana de basquete profissional.

5 Be Like Mike – Seja como o Mike.

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um produto se aquele atleta o recomendasse ou se seu rosto

estivesse estampado na embalagem.” (ROVELL, 2007, p.80)

Retornando ao futebol, Guerra (2005) relata que em 2003 o clube

espanhol Real Madrid contratou o jogador inglês David Beckham e demonstrou

como o futebol se transformaria em um negócio. A apresentação do jogador

durou cerca de vinte e oito horas, atingindo uma audiência televisiva de dois

bilhões de espectadores e virou manchete em quase todos os jornais do

mundo. A clínica Sanitas pagou 414 mil dólares para efetuar o rotineiro exame

de urina do jogador que foi transmitido e comercializado pela Real Madri TV.

Quando o inglês desembarcou no aeroporto espanhol recebeu dois telefones

celulares da marca Siemens e foi ao clube em um automóvel da marca Audi,

ambos patrocinadores do Real Madrid. A Adidas, fabricante dos uniformes do

clube espanhol, calculou um aumento de 20% nas suas vendas durante

aquelas semana, sendo que durante a apresentação já haviam sido vendidas

oito mil camisas do jogador. Posteriormente, em 2007, Beckham transferiu-se

para o Los Angeles Galaxy dos Estados Unidos proporcionando mais um belo

espetáculo de marketing que foi coroado quando o jogador assinou um

empréstimo de apenas quatro meses para o AC Milan da Itália que o utilizará

para divulgar a equipe e aumentar o volume de vendas, a partir janeiro de

2009. Para Smit (2007), Beckham é o resumo do marketing esportivo moderno

como uma mistura de esporte, celebridade e estilo.

Acompanhando a expansão do mercado do marketing esportivo,

surgiram empresas especializadas neste seguimento prestando serviços de

consultoria, relações públicas, gestão de arenas esportivas, gestão esportiva,

captação de recursos, eventos esportivos e outros.

De acordo com Areias (2008) o futebol brasileiro nos anos 70 negociava

e obtinha receitas apenas dos sócios e torcedores. A partir dos anos 80 houve

a entrada da televisão e dos anunciantes neste grupo, logo a margem de

receitas começava a aumentar. Então nos anos 90 empresas especializadas

em negociações de jogadores e agentes investiram no futebol envolvendo cada

vez mais profissionais.

Baseados nas informações apresentadas, concluímos que por volta dos

anos 30 foram feitas ações esparsas de marketing esportivo que começaram a

se popularizar a partir das décadas de 50, 60 e 70, principalmente devido ao

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crescimento das empresas fabricantes de material esportivo. Nos anos 80, as

empresas de outros segmentos do mercado que não apresentavam nenhum

serviço ou produto relacionados ao esporte, notaram as várias possibilidades

de retorno e investiram no esporte. Isso causou na década de 90 uma

acelerada “explosão” de investimentos. Atualmente, o mercado esportivo

continua quebrando recordes, de forma que seu crescimento cria um grande

número de investidores e de empresas especializadas em prestar serviços

relacionados ao esporte e atividade física.

No entanto, nem sempre o marketing esportivo foi bem vindo ao esporte,

de acordo com Guerra (2005) até 1979, a FIFA6 proibia publicidade nos

uniformes de futebol, permitindo apenas um pequeno espaço destinado ao

fabricante do material esportivo. Porém, o italiano Franco D’Atomma,

presidente do Perugia, adquiriu uma fábrica de uniformes esportivos e tornou-a

homônima ao patrocinador da equipe, a fábrica alimentícia Ponte. Outras duas

grandes empresas utilizaram estratégias semelhantes, a Philips e a Bayer, que

possuíam equipes fundadas há décadas por funcionários, notaram as

possibilidades de se beneficiar do esporte e investiram na profissionalização

das equipes, respectivamente PSV Eindhoven e Bayer Leverkusen. No caso da

Philips, a empresa assumiu o controle acionário da equipe comprando cerca de

80% das ações do clube.

Segundo Smit (2007), a Adidas e a Puma tiveram que muitas vezes

pagar remunerações escondidas aos atletas para que usassem suas marcas,

pois as federações proibiam patrocínios ao esporte, para satisfazer as

exigências das entidades esportivas internacionais de os atletas serem

amadores para poderem, por exemplo, participar dos Jogos Olímpicos. Outra

barreira que estas marcas enfrentaram foi o patrocínio, ou melhor

profissionalismo velado a atletas da Alemanha Oriental, pois os ideais

socialistas não permitiam que os atletas fossem profissionais e nem que

utilizassem marcas da porção capitalista, no entanto eram funcionários de

empresas estatais sendo pagos para não trabalhar, mas para treinar e

competir.

6 FIFA – Fédération Internationale de Football Association, em português, Federação Internacional de

Futebol.

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Alguns recursos utilizados pela Adidas para driblar as proibições foram:

o patrocínio a federações; a utilização das três listras em substituição ao logo e

o nome da empresa; e a fabricação de roupas, já que não havia nenhuma

orientação legal para se proibir que os uniformes apresentassem o nome de

seus fabricantes.

Talvez o maior defensor do amadorismo no esporte foi Avery Brundage,

presidente do COI7 no período entre 1952 a 1972. Mas o dirigente parecia um

pouco contraditório, enquanto proibia que os atletas olímpicos recebessem

remunerações para competir, permitia que os atletas do bloco leste da

Alemanha participassem das competições. Sendo que estes eram mantidos

pelo Estado socialista, dedicando-se apenas a treinar.

Para Smit (2007), o esporte começou a evoluir rapidamente com a posse

de João Havelange como presidente da FIFA em 1974. Apoiado por Horst

Dassler, então um dos proprietários da Adidas, e seu sócio em uma empresa

de marketing esportivo chamada ISL, Patrick Nally. Havelange desenvolveu

inúmeros projetos, conseguiu recursos para organizar grandes eventos e

profissionalizou definitivamente o futebol.

No esporte olímpico não foi muito diferente, Smit (2007) relata que após

os Jogos Olímpicos deixarem a cidade de Montreal com um montante de dois

bilhões de dólares em dívidas, o movimento olímpico estava à beira de um

colapso. Então, Juan Samaranch, também apoiado por Dassler e Nally,

assumiu a presidência do COI em 1980. O plano foi muito semelhante ao

adotado por Havelange, foram atraídos investidores que ajudaram na

profissionalização do esporte.

Com a evolução do esporte, a exploração de espaços publicitários, itens

licenciados e qualquer outra fonte de receitas, se tornaram uma prática cada

vez mais comum. Segundo Guerra (2005), a FIFA durante a Copa do Mundo

de Futebol de 1994 obteve receitas superiores a um bilhão de dólares.

7 COI – Comitê Olímpico Internacional.

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Aderência dos Investidores ao Esporte

Após essa breve retrospectiva do marketing esportivo justificaremos as

vantagens que o tornam tão atrativo ao investidor.

Para Poit (2006) o investidor pode visar os seguintes retornos:

fortalecimento da imagem de sua empresa ou produto, retorno de mídia

espontânea, conquista e manutenção de mercado, comunicar-se com o cliente,

agregar valor à marca ou imagem e aumentar o reconhecimento do público.

Segundo Sbrighi (2006) as principais vantagens do marketing esportivo

são que ele conecta a emoção do esporte com a marca da empresa, cria uma

atitude positiva perante o consumidor, diferencia sua marca do concorrente,

incrementa o mind share8, gera publicidade espontânea, melhora o

relacionamento com os espectadores e possibilita a utilização de produtos

licenciados.

“... O esporte, além de produto, assumiu uma condição

de um dos mais poderosos veículos de comunicação do

mundo. O fato de atingir todo o tipo de público, sem distinção

de raça, sexo, idade etc, com simpatia, sem barreiras de

comunicação, e com alto conteúdo emocional, tornou seus

espaços publicitários altamente desejados pelos anunciantes.”

(AREIAS, 2003, p.74)

Muitos autores defendem que um composto de marketing bem

elaborado deve conter os “4Ps”: preço, praça, produto e promoção.

De acordo com Derzi (2005), preço corresponde ao valor pelo qual o

produto vai ser comercializado. A fixação do preço se baseia no custo do

produto somado a sua margem de lucro, na base de preços da concorrência e

na percepção do valor do produto para o consumidor.

A praça está relacionada ao mercado consumidor, onde o produto vai

ser armazenado, distribuído e comercializado.

8 Mind Share – Também conhecido como Share of Mind, segundo Sbrighi (2006) é uma expressão para

descrever o quanto uma marca está fixada na mente do consumidor. Este dá preferência a comprar marcas

conhecidas, confia mais em algo que já viu, ouviu ou provou a algo novo.

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O produto é considerado adequado quando atinge as necessidades e os

desejos de seu consumidor, ou seja, quando cria e corresponde à expectativa

do cliente.

E a promoção é o sistema de comunicação com o mercado, podendo

ser propaganda, eventos, mala direta...

Um investidor que aplica recursos no esporte e na atividade física pode

alcançar os retornos citados, pois o marketing esportivo é capaz de oferecer

recursos para que os “4Ps” sejam aplicados. No entanto, gostaríamos de

observar que o esporte e a atividade física possibilitam um quinto “P” a um

composto de marketing que é a paixão.

Holanda (1993) define paixão como uma emoção levada a um alto grau

de intensidade. Um torcedor que vai assistir a uma partida de sua equipe está

suscetível a emoções desta natureza, a alegria da vitória e a decepção da

derrota. O investidor muitas vezes deseja comercializar muito mais que um

produto ao seu cliente, busca transmitir emoção para satisfazer o consumidor.

O produto vinculado ao esporte pode proporcionar estes sentimentos ao

cliente, transforma uma montadora de veículos na empresa que ajudou seu

time de coração a vencer um campeonato.

Hatzidakis (2007, p.47) “A empresa que oferecer aos seus clientes

experiências e realização de sonhos sempre estará na mente e no coração

destes clientes, pois ela conseguiu criar atributos diferenciados.”

Outro ponto importante é a teoria do publicitário Hanlon (2007), batizada

de “código primordial”. Ele afirma que uma marca para ser desejada pelo

consumidor necessita de sete itens. São eles: a história da criação; a crença,

sua missão; os ícones, algo que comunique a marca de forma espontânea; os

rituais, as interações repetidas que uma pessoa tem; os pagãos, os

antagonistas à marca; as palavras sagradas, uma linguagem auxiliar para criar

uma cultura; o líder, a pessoa catalisadora.

Se o esporte e a atividade física fossem uma marca e as modalidades

esportivas seus produtos, poderíamos afirmar que ambos, marca e produto,

possuem todos os itens do código primordial. Logo, uma empresa detentora

dos sete itens do código primordial que investe no esporte, cria uma união

harmoniosa, transformando-se em um binômio esporte/empresa, o que a torna

mais desejada. Por outro lado, para uma marca que apresente alguma

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dificuldade para suprir os sete itens do código, o esporte possibilita a

apropriação de seus valores, completando os itens restantes para que ela

consiga ser mais atrativa ao consumidor.

Um bom exemplo de binômio bem sucedido esporte/investidor foi a

seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1994, relativa à qual Areias

(2007) relata que todos os investidores obtiveram o retorno almejado, cada

jogador recebeu cerca de quarenta mil dólares por assinar contrato com quatro

empresas de figurinhas que comercializavam o álbum oficial da Copa do

Mundo de 1994 em diferentes regiões do Mundo. A cervejaria Brahma que não

possuía o direito de imagem da seleção brasileira preferiu patrocinar os

jogadores individualmente, logo criou campanhas publicitárias com um símbolo,

o número um, onde os jogadores apareciam em inserções na televisão,

revistas e jornais fazendo o gesto do número um. A campanha foi tão bem

sucedida que alguns jogadores comemoravam os gols com o símbolo, por

sugestão do patrocinador. Dessa forma, a cervejaria conseguiu fixar na mente

dos consumidores a idéia de sempre relacionar a Brahma como a cerveja

“número um”.

Em sua pesquisa, Plastina (2007) demonstra que o esporte é tão

eficiente para seu investidor no quesito recall9 de marca que a empresa

Parmalat era a quinta marca mais lembrada pelo público mesmo tendo deixado

o esporte há sete anos. Pois quando a Parmalat investiu na equipe de futebol

do Palmeiras, foi uma geração de grandes contratações e conquistas, o que

criou uma fidelidade do torcedor com o investidor de sua equipe.

Existem vários casos de sucesso unindo os investidores ao esporte, pois

como demonstramos acima, o esporte e a atividade física possibilitam que um

investidor promova sua marca, produto ou serviço com muita eficiência devido

a sua exposição na mídia e importância social. Logo, podemos denominá-lo um

efetivo veículo de comunicação possuidor de uma linguagem universal.

9 Recall de Marca – De acordo com Derzi (2005, p.69) “intensidade que um determinado anúncio é

memorizado pelo consumidor em potencial.”

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O Profissional de Educação Física

De acordo com o artigo segundo da Lei Federal nº 9.696/98, designa-se

como profissional de Educação Física qualquer possuidor de diploma de curso

de Educação Física, oficialmente autorizado ou reconhecido; os possuidores de

diploma em Educação Física expedido por instituição de ensino superior

estrangeira, revalidado na forma da legislação em vigor; os que, até a data do

início da vigência desta lei, tenham comprovadamente exercido atividades

próprias dos profissionais de Educação Física, nos termos a serem

estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação Física.

O artigo terceiro dessa Lei Federal nº 9.696/98 relata as atividades

próprias dos profissionais de Educação Física como sendo coordenar, planejar,

programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar

trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de

auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados,

participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes

técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas da atividade física e do

desporto.

Dessa forma, o profissional de Educação Física legalmente habilitado é

um prestador de serviço, o produto que ele vende é o serviço prestado ao

cliente. Todas as profissões possuem um produto, que de acordo com Holanda

(1993) é o resultado da atividade humana, podendo este ser até mesmo um

serviço prestado.

Chamamos a atenção para as profissões que nem sempre lidam

diretamente com a captação de clientes ou vendas, como a grande parte das

funções do profissional de Educação Física. Estes não são treinados

academicamente para comercializar seus produtos ou demonstrar a eficácia de

seus serviços ao cliente. Dessa forma, o marketing esportivo pode ser um

caminho para tornar mais eficiente o contato com o cliente. A partir do

momento que o profissional de Educação Física utilizar seu serviço como meio

para aumentar a captação de recursos e clientes, aderência e atrair novos

investidores para sua área, o seu trabalho se tornará mais valorizado.

“... os centros especializados poderiam ser definidos

como empresas que, com fim lucrativo, disponibilizam

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instalações e pessoal adequado para promover o exercício

físico de forma apropriada, segura e ética, a fim de atender os

anseios de seus clientes, elevando o nível de qualidade de vida

pela prática física. Ostensivamente, encaixam-se na definição

os clubes, os hotéis, os condomínios, as clínicas de

reabilitação, os hospitais, os spas e as academias de

ginástica.” (SABA, 2001, p.52)

Observando as palavras acima, notamos uma ligação entre os conceitos

de marketing incorporados aos serviços prestados pelo profissional de

Educação Física10. Os centros especializados em atividade física objetivando

lucro disponibilizam serviços e recursos para atender as necessidades dos

seus clientes.

É necessária uma visão comercial mesmo para uma profissão

pertencente à área da saúde, pois o profissional de Educação Física assim

como outros profissionais almeja lucro. No entanto, a comercialização de seu

serviço geralmente é realizada por academias, escolas, clubes...,

subentendendo-se que cabe a ele apenas a execução do serviço.

Para Derzi (2005), um produto para atender ao cliente necessita

basicamente de três elementos: qualidade, embalagem e imagem. No caso do

profissional de Educação Física a embalagem não existe por seu produto ser

um serviço, mas a qualidade e a imagem podem ser aperfeiçoadas.

De acordo com Norman (2008), as características de um produto

adorado pelo consumidor podem ser mapeadas em três níveis: visceral,

comportamental e reflexivo. Onde o nível visceral corresponde à aparência ou

primeira emoção que o produto causa no consumidor. O segundo nível está

remetido ao prazer e efetividade do uso. E o terceiro nível à auto-imagem,

satisfação pessoal, lembranças e orgulho que o produto pode desenvolver no

consumidor. Dessa forma os níveis viscerais e comportamentais se referem ao

10

Gostaríamos de esclarecer que utilizamos durante todo o trabalho o esporte e a atividade física como

áreas distintas, pois vários autores, por exemplo, consideram o esporte como uma atividade de alto

rendimento. Dessa forma, como estamos tratando da atividade física como um todo, independentemente

de seu caráter, e um dos nossos objetos de estudo, o marketing esportivo, faz menção ao esporte em seu

nome. Optamos por distingui-los para que as ações de marketing esportivo não aparentassem ficar

restritas apenas ao alto rendimento.

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“agora”, aos sentimentos e experiências enquanto de fato se está usando ou

vendo o produto. Enquanto o nível reflexivo está relacionado com as

lembranças do passado e a consideração do futuro, são relações de longo

prazo que definem a identificação do consumidor com determinado produto,

havendo sentimentos de satisfação por ter, usar e exibi-lo.

O profissional de Educação Física necessita dos três níveis para ser

bem sucedido. O aluno precisa ter uma primeira impressão positiva do

profissional contratado, sentir prazer ao/e ser educado11 e estar satisfeito com

o serviço prestado orgulhando-se de seus resultados

Propomos que o profissional de Educação Física não se restrinja a

atender o cliente somente com qualidade, mas a encarar o seu serviço como o

investimento de um cliente que além de qualidade espera ser surpreendido por

uma imagem positiva. Dessa forma, o profissional de Educação Física estará

contribuído para o marketing pessoal, de sua profissão e da instituição onde ele

trabalha.

Marketing Esportivo: A Ferramenta.

Como afirmamos anteriormente, o marketing esportivo pode ser um

auxílio ao profissional de Educação Física na busca de seus objetivos. Para

atuar como subsídio em distintas possibilidades, é necessário somente que se

faça uma adaptação a cada situação.

O profissional de Educação Física pode utilizar estratégias de marketing

esportivo para captar recursos quando estiver organizando um evento ou

atuando como gestor esportivo. Suponhamos que seja a organização de um

campeonato de futebol, o profissional poderia conseguir apoio da mídia para

divulgar o evento em troca de publicidade, atrair investidores de outras áreas

dispostos a patrocinar, ter fabricantes de materiais esportivos fornecendo as

11

Afirmamos que o aluno deve ser educado, pois o profissional de Educação Física em qualquer

serviço prestado estará de alguma forma educando o seu aluno ao alcance de seu objetivo. Pois para

Holanda (1993), educação é o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do

ser humano.

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15

bolas do campeonato e etc. Esta mesma estratégia poderia ser aplicada até

mesmo para um congresso de Educação Física.

De acordo com Hatzidakis (2007), o evento esportivo intercolegial

Vibração Nestlé, possuía 8 categorias em 11 modalidades esportivas. Em

2003, contou com a participação de 709 escolas de quatro estados diferentes

totalizando aproximadamente 30.000 alunos participando do evento

diretamente. Dentre seus objetivos estavam incentivar a prática esportiva nas

escolas e promover convivência e integração entre estudantes e escolas

brasileiras. O evento organizado por profissionais de Educação Física possuía

interesses comuns entre organização e participantes, no entanto só foi possível

ser realizado devido ao apoio fornecido pela fabricante de alimentos Nestlé.

Hatzidakis (2007) nos fornece outro exemplo semelhante, um

campeonato de futebol masculino e feminino organizado simultaneamente em

quatro cidades, a Copa Guaraná Antarctica. O evento possuía como objetivo

estimular a prática esportiva dentro e fora das escolas e valorizar o professor

de Educação Física das escolas, que de acordo com os organizadores tem

papel fundamental no incentivo a prática do esporte. Além da empresa de

refrigerantes, o evento organizado por profissionais de Educação Física obteve

o fornecimento do material esportivo pela Nike e contou com a chancela da

CBF12.

Dentro do marketing esportivo há uma área de estudo voltada á

captação de recursos. Para o profissional de Educação Física que atue como

treinador de equipe desportiva e necessite de investimento, esta pode ser uma

ferramenta para melhorar a qualidade na construção de um projeto de

patrocínio. Por exemplo, um treinador de handebol que leva uma equipe

anualmente para os jogos regionais e necessita de recursos para que seu time

tenha condições de competir, com a utilização desta ferramenta, pode

alcançar um maior número de patrocinadores e apoiadores ou aumentar o valor

da cota de patrocínio.

Outra área da Educação Física onde a elaboração de projetos tem

importância é na ginástica laboral em empresas. Os profissionais deste ramo

podem usufruir dos recursos do marketing esportivo conquistando maior

12 CBF – Confederação Brasileira de Futebol.

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16

aceitação e valorização em suas propostas de melhoria da qualidade de vida

dos funcionários nos aspectos sociais, psicológicos e físicos resultando em

uma possível satisfação interna, pois para muitos autores o primeiro cliente da

empresa é o próprio funcionário, que precisa acreditar nos valores da

instituição que trabalha. Neste contexto existe um argumento que pode ser

utilizado pelo profissional de Educação Física para implantar seu projeto de

ginástica laboral, o endomarketing13.

O profissional de Educação Física que trabalha com pesquisas

científicas e preparação física também pode utilizar o marketing esportivo como

subsídio. De acordo com Rovell (2007), a Gatorade patrocinou a associação

dos preparadores físicos nos Estados Unidos, oferecendo recursos financeiros

e científicos para a execução de suas funções. E segundo Melo Neto e

Carvalho (2006) a Gatorade criou o GSSI14 voltado para a realização e

patrocínio a pesquisas científicas, pois a instituição possui interesse em

desenvolver a ciência do esporte em todos os continentes.

A Educação Física escolar também pode beneficiar-se dessa ferramenta

desde que adaptada a proposta educacional da escola e sua abordagem de

ensino. Poit (2008) relata a importância de a escola apresentar uma reflexão a

respeito da indústria esportiva. Pois suas estratégias impedem a manifestação

de um pensamento crítico, o que torna os alunos consumidores enganados

pelas empresas que utilizam o esporte como fonte de publicidade e lucro.

Para as abordagens de natureza crítica, por exemplo, a crítico

superadora e a crítico emancipadora, o marketing esportivo pode se tornar uma

excelente tendência a ser estudada, pois oportuna uma discussão envolvendo

a esfera do esporte e atividade física, a sociedade, próprio indivíduo e

13 Endomarketing – Para Iderika (2000) “é um conjunto de ações de marketing para o público interno -

funcionários - das empresas e organizações. É um processo cujo foco é sintonizar e sincronizar, para

implementar e operacionalizar a estrutura de marketing da empresa ou organização que visa ação-para-o-

mercado. Seu objetivo é facilitar e realizar trocas construindo relacionamentos com o público interno,

compartilhando os objetivos da empresa ou organização, harmonizando e fortalecendo estas relações e

assim integrar a noção de cliente nos processos internos da estrutura organizacional propiciando melhoria

na qualidade de produtos e serviços com produtividade pessoal e de processos.”

14 GSSI – Gatorade Sport Science Institute, em português, Instituto Gatorade de Ciência Esportiva.

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17

principalmente a cultura corporal. Há um “leque” de questionamentos e

conceitos que podem se transformar em conhecimento.

Tratando-se das abordagens menos críticas que as anteriores, o

marketing esportivo se transforma em uma estratégia motivacional, pois suas

ações só são eficazes se houverem consumidores diretos e indiretos de

esporte, logo a promoção da prática de esporte e atividade física é

automaticamente realizada pelo investidor. Porém, afirmamos que é preciso ser

cauteloso sem desprezar a opinião crítica para não serem criados

equivocadamente conceitos de culto ao corpo.

“... os jovens e adultos incentivados a propagarem que a

atividade física é imprescindível à saúde do ser humano como um

todo, à medida que o modismo, alicerçado pelo marketing, instala um

falso valor de uso. Valor este, que incentiva a prática da Educação

Física, conectando o culto ao corpo, à venda de agasalhos,

camisetas, tênis, calçados especiais, materiais esportivos,

medicamentos energéticos, alimentos naturais, clínicas de

emagrecimento, disseminação das atividades físicas mais exóticas,

enfim lançamento de uma nova moda.” (GAIO, 2007, p.26)

De acordo com Guerra (2005), durante a Copa do Mundo de Futebol de

2002, o jogador brasileiro Ronaldo utilizou um corte de cabelo exótico como

estratégia de marketing. Rapidamente seu penteado virou moda,

principalmente entre as crianças, pois queriam copiar o que seu ídolo fazia.

Resultados semelhantes foram descritos por Rovell (2007), na campanha da

Gatorade com Michael Jordan, muitas crianças queriam “ser como Mike”.

Observamos que o desenvolvimento das propostas vinculadas à

Educação Física escolar dependem do entendimento do professor a respeito

do marketing esportivo. Caso contrário, um preconceito pode ser criado na

sociedade, o que seria retroceder em um desenvolvimento que, quando bem

executado, tem trazido inúmeros benefícios à esfera do esporte e atividade

física.

Aprender um pouco a respeito de marketing esportivo permite novos

conhecimentos, pois algumas lições de marketing tradicional são universais a

todos seus segmentos, logo estratégias utilizadas em grandes empresas

podem ser adaptadas ao cotidiano do profissional de Educação Física com

finalidade de aumentar a aderência ao seu serviço.

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Para sermos mais claros utilizaremos o exemplo da Disney que de

acordo com Connellan (2005) apresenta uma política de marketing baseada em

sete lições:

A primeira lição afirma que concorrente é qualquer empresa com a qual

o cliente o compara. Se o atendimento que um profissional de Educação Física

realizar ao cliente não corresponder as suas expectativas e no mesmo dia o

consumidor for bem atendido em uma farmácia, provavelmente uma

comparação mesmo que espontânea é feita.

A lição número dois é definida como fantástica atenção aos detalhes, o

que para o profissional de Educação Física pode significar atender os alunos

com maior atenção exercendo a sua sensibilidade interpessoal. Notar um

movimento mais difícil que pode ser aperfeiçoado e chamar o aluno pelo nome

são pequenos detalhes que se tornam pontos positivos.

Todos os profissionais mostram entusiasmo é a terceira lição. O

profissional de Educação Física não pode deixar suas preocupações

particulares interferirem no seu atendimento, principalmente porque nem

sempre é fácil motivar as pessoas a praticar atividades físicas.

Semelhante a anterior, a quarta lição relata que tudo deve mostrar

entusiasmo. O ambiente de trabalho do profissional de Educação Física deve

criar motivação em seus alunos, como os equipamentos, a trilha sonora... Em

casos de profissionais que trabalham em algumas entidades públicas onde há

falta de recursos, a confecção de materiais alternativos tem sido uma

possibilidade muitas vezes viável, o que oportuna a customização de alguns

equipamentos, podendo ser até um meio de motivar os alunos a participar das

aulas e uma estratégia de ensino.

A quinta lição propõe múltiplos postos de escuta, que correspondem a

possuir diferentes meios de medir o feedback15 dos clientes. O profissional de

Educação Física deve munir-se de distintas possibilidades de avaliar o

rendimento do aluno.

15 Feedback – “Termo utilizado em comunicação no sentido da obtenção de uma resposta. Parte do

controle do sistema em que os resultados das ações retornam ao indivíduo, permitindo que os

procedimentos de trabalho sejam analisados e corrigidos.” (DERZI, 2005, p.68)

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19

A lição número seis aborda recompensa, reconhecimento e

comemoração. Esta se aproxima ao cumprimento de metas, a motivar o aluno

com palavras de incentivo, ou premiá-lo de alguma forma quando houver

evolução.

E finalmente a sétima lição aplica o conceito de que todas as pessoas

são importantes. O profissional de Educação Física não trabalha sozinho, em

qualquer função que ele exerça há profissionais que fornecem suporte ao seu

trabalho, como os funcionários da limpeza que fazem a manutenção sanitária

dos ambientes de trabalho. Dessa forma, é necessário respeitar e ouvir as

necessidades de todos os trabalhadores, pois estes auxiliam a criar o ambiente

onde tudo e todos mostram entusiasmo e podem se tornar postos de escuta

em suas avaliações.

Nossa última sugestão na utilização do marketing esportivo como

ferramenta diz respeito ao envolvimento do profissional de Educação Física na

organização do esporte nacional. De acordo com Areias (2007) o modelo de

gestão esportiva utilizado no Brasil vai à contramão do Mundo devido ao seu

amadorismo de muitas vezes utilizar dirigentes voluntários não remunerados.

O esporte brasileiro se tornou uma profissão, empregando inúmeros

profissionais especializados em diversas áreas, porém ocorre um fato contra a

lógica, estes profissionais remunerados para prestar serviço ao esporte são

contratados por voluntários. Transformando o desporto nacional em instituições

onde os chefes são amadores e os subordinados são profissionais.

No entanto, consideramos que esse fato se deve ao profissional de

Educação Física, que muitas vezes não se especializa na gestão do esporte,

limitando-se a ser um executor. Logo, grande parte das entidades esportivas é

administrada por pessoas que não possuem conhecimento aprofundado a

respeito do esporte, possuem uma visão superficial do senso comum.

O marketing esportivo pode ser uma alternativa para mudarmos esse

panorama, o profissional de Educação Física poderá tornar-se um gestor

esportivo com conhecimento aprofundado no produto que está sendo

comercializado, impedindo que ações baseadas no senso comum sejam

tomadas. Dessa forma, o desporto nacional se tornaria muito mais valorizado,

seria regido por profissionais realmente interessados em aumentar os

incentivos públicos e privados ao esporte, revelar novos talentos e mantê-los

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atuando em território nacional, elaborar uma infra estrutura adequada ao

desporto nacional, utilizar o esporte como agente social, ter equipes

desportivas sem dívidas e com superávit...

Porém, antes de finalizarmos gostaríamos de esclarecer que não pode

haver o equívoco em utilizar o marketing esportivo erroneamente para

profissionalizar o esporte amador, este deve ser preservado devido a sua

importância na formação social. Pois atualmente o que encontramos, salvando

raras exceções, é o esporte profissional sendo regido por amadores, enquanto

o esporte amador tenta se profissionalizar contratando mão-de-obra

profissional especializada. Ou seja, é um alerta de que algo está errado.

O esporte amador possui seus benefícios que não podem ser destruídos

com a profissionalização, até porque muitos atletas do esporte profissional

surgiram do amadorismo. Defendemos que o esporte profissional se

profissionalize e almejamos que esta frase se torne uma redundância.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fornecermos, no âmbito do presente trabalho, algumas alternativas

de aplicação das várias que esperamos serem criadas a partir da proposta

deste trabalho, almejamos aos profissionais de educação física que exercem a

função baseados no poder16 e possuem pouca autoridade17, o marketing

esportivo seja uma possibilidade de melhorar seu desempenho e a aderência

de seus clientes. E aos que são bem sucedidos, que o utilizem como meio de

aumentar seu sucesso e desenvolvê-lo contribuindo para que os padrões da

atividade física e o desporto brasileiro sejam elevados. Pois assim como é

possível, conforme demonstramos, que o marketing utilize o esporte e a

atividade física em seu benefício, os profissionais de educação física devem

agir reciprocamente com o marketing.

16 Poder – Para Hunter (2004) é a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de

sua posição ou força, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer.

17 Autoridade – Hunter (2004) a define como a habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o

que você quer por causa de sua influência pessoal.

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21

Logo, acreditamos que nossa proposta possa ser uma nova ferramenta

para aumentar o desempenho da capacitação dos profissionais de Educação

Física.

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