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De onde vem o Mexilhão? Etnografia na beira da Baia de Guanabara de um grupo de “marisqueiros” em Niterói / Ismael Andres Stevenson 1 De onde vem o Mexilhão? Etnografia na beira da Baia de Guanabara de um grupo de “marisqueiros” em Niterói Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN GT 81 Antropologia das populações costeiras; Práticas Sociais e ConflitosIsmael André STEVENSON PPGSD/ UFF/RJ/Brasil

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De onde vem o Mexilhão? Etnografia na beira da Baia de Guanabara de um grupo de“marisqueiros” em Niterói / Ismael Andres Stevenson

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De onde vem o Mexilhão?

Etnografia na beira da Baia de

Guanabara de um grupo de

“marisqueiros” em Niterói

Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira deAntropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014,Natal/RN

GT 81 “Antropologia das populações costeiras; Práticas Sociais eConflitos”

Ismael André STEVENSONPPGSD/ UFF/RJ/Brasil

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ResumoMexilhão-Marisqueiros-Niterói

Quando comprarmos mexilhão no mercado de Niterói, nos encontramos

diante de uma questão difícil de responder, uma questão que precisa de

conhecimento numa área pouco estudada, pouco conhecida da maioria dos

consumidores. Esta questão simples exigiria uma resposta simples, mas, as

configurações jurídicas em torno do produto e dos lugares de cata complexifica a

questão, a saber, de onde vem o mexilhão?

Ao me socializar com uma comunidade de pescadores numa pesquisa dentro

do Programa da CAPES-Ciências do Mar, enfoquei esta sobre a atividade de

catador de mexilhão por um grupo de marisqueiros da antiga Praia Grande, lugar

hoje que conheceu múltiplas transformações e ressignificações espaciais por parte

desta comunidade também organizada em Associação de Pescadores e Amigos de

São Pedro, a APASP. Com estes marisqueiros membros da APASP e chamados

de Pescadores da Praia Grande. Aprendi que “saber de onde vem o mexilhão”

engaja um conhecimento primeiro, da atividade em si, assim como da organização

sócio econômica desta atividade no local de reprodução cultural destes

marisqueiros.

Assim, proponho neste artigo, descrever a partir de uma etnografia feita na

beira da Baia de Guanabara como se configura esta atividade através da descrição

da cadeia produtiva e da produção e divisão de rendas nesse local.

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Introdução

Quando fui ao mercado de Peixe de São Pedro, perguntei para os

vendedores que tinham mexilhão a venta; “De onde vem o mexilhão?” A resposta

era ou Arraial do Cabo ou Itaipu. Mas a realidade é outra e se complexifica

quando descobri a atividade de marisqueiro no centro de Niterói.

Ao fazer campo com este grupo de pescadores, perguntava frequência de

onde era o mexilhão, a fim de relatar os pontos de cata dos marisqueiros. Com a

minha inserção no campo, descobri que o mexilhão não era necessariamente dos

lugares citados, mas que os lugares que forneciam mexilhão para o mercado de

Peixes de São Pedro eram muitos, tanto na Baia de Guanabara como dos

arredores. Numa conversa com um dos marisqueiros contei da minha visita no

mercado de peixes e da proveniência contada pelos vendedores. Com uma risada

ele me respondeu; “é verdade não, vem das Cagarras”.

Este trabalho não pretende discutir da origem geográfica do mexilhão, nem

do debate polemico sobre os ordenamentos jurídicos destes, mas ao contrario

pretende descrever toda uma atividade que tem se mantido no local. Esta atividade

exercida há anos pelos pescadores artesanais da APASP, pescadores da Praia

Grande, obedece a toda uma cadeia produtiva fruto do conhecimento local e da

adaptação de modos de fazer dentro de espacialidades particulares. Além da

descrição da atividade tratarei das rendas que esta atividade fornece e da divisão

entre parceiros na atividade.

Assim, a intenção é dar valor a uma atividade improvável nas margens da lei

que hoje esta em processo de ressignificação dentro dos territórios nos quais ela

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atua. “De onde vem o mexilhão?” é uma maneira de descrever outro aspecto sobre

a origem do produto que será vendido e consumido elaborando um retrato de

marisqueiros improváveis no centro de Niterói.

O local de reprodução cultural dos marisqueiros,

entender o complexo.Quando cheguei ao local, foi-me dito que a associação tinha 35 pescadores e

marisqueiros, 15 dentre eles recebem “Seguro Defeso” por estarem cadastrados no

novo RGP, os outros não estão cadastrados como pescadores, nem artesanais nem

industriais. Logo fui descobrir que não eram todos “pescadores”. Depois me

falaram que, “pescadores de verdade” só têm 24.

Os “pescadores” da Praia Grande se dividem em quatro categorias,

pescadores e marisqueiros considerados artesanais, mergulhadores e pescadores

amadores. Neste âmbito nos encontramos num local de socialização

extremamente masculino, todos os “pescadores” são homens, embora seja

interessante ressaltar que nos processos de socialização da atividade me encontrei

com varias mulheres que acompanham o processo. Por exemplo, a Mayara,

“filha1” de Del, com cerca de uns 20 anos, que tem uma filha de 3 anos, ela

trabalha em todos os processos produtivos do mexilhão com o Del. Também me

encontrei com as três Marias, que em certos períodos ajudam no descascamento

para poder recuperar pedaços de mexilhão e pescar na baia, onde são jogadas as

conchas, “porque ali tem peixe”. Ao jogar as conchas na Baia, os restos das

conchas, assim como pequenos outros moluscos cozidos juntos com os mexilhões

oferecem um alimento para os peixes, que se concentrarão nesse lugar.

Os pescadores pescam na Baía de Guanabara, sobretudo na ponte, e em

algumas zonas oceânicas entre Maricá e a Barra da Tijuca. Os marisqueiros catam

mexilhão, principalmente na ponte Rio-Niterói, na boca da Baía, nas Ilhas

Cagarras, em Piratininga e Itaipu (nas Ilhas Pai, Mãe e filha) e nas “tijucas”,

lugares hoje quase todos proibidos por lei.

No principio Del me explicou que eram “maricultores”. Não sei se foi por

1 O Del chama a Mayara de filha embora ela não seja « filha biológica ».

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estratégia politica me dizer isso, mas lembro-me que várias categorias locais

surgiram nas conversas, assim como “marisqueiros”, “catadores de mexilhão” e

“arrancador de mexilhão”. Mas a atividade principal de quem cata mexilhão

consiste em “arrancar” (extrair) o mexilhão do banco natural, isto é, de onde o

mexilhão se gruda naturalmente, processo conhecido pelos biólogos, através do

mergulho numa faixa de 0 a 8 metros de profundidade o que corresponderia à

faixa da luz na agua, com a ajuda de uma cavadeira, o instrumento utilizado em

todo o processo.

A questão dos instrumentos ou apetrechos de pesca surgiu numa conversa

sobre a ilegalidade e a fiscalização, quando o Del me explicou que o ministério da

Pesca tinha que ter a responsabilidade de vir passar cinco dias com eles, para ver

quem pesca e quem não pesca; “A primeira coisa que se precisa ver para saber

quem está registrado como pescador profissional artesanal e recebe o seguro

defeso do mexilhão é o seguinte; uma cavadeira, roupa de mergulho, um “sarrico”

(feito por um dos pescadores em inox), e um barquinho, depois tem alguns que

tem compressor e fogão a gás para cozinhar o mexilhão” comentou o Del.

Os catadores de mexilhão acordam cedo, e saem para o mar entre as 4h e 5h

da manhã, para o lugar de destino, isto acontece quando tem mexilhão, assim

como o Del que é “marisqueiro”, tem 47 anos, nasceu e foi criado em Niterói,

segundo ele: “Praticamente na favela, no morro do Cavalão”. Mergulha há mais

de 30 anos e é pescador de “avô pra pai e pai pra filho”, e diz ser esta atividade a

sua paixão.

O marisqueiro através da cavadeira e com roupa de mergulho como

equipamento mergulho na agua para catar o marisco. Catam-se do nível do mar

até os 8 metros de profundidade, o que corresponde à faixa da luz na água, mas

como falam os próprios marisqueiros “depende de como esta a água, se está

clarinha ou não”. Alguns lugares permitem a cata em apneia, em outros mais

complicados, como na ponte, se utiliza compressor para garantir maior segurança.

“Se o mar estiver bom é porque os mexilhões também”. Os marisqueiros

saem dali às 4h da manhã, vão para o lugar de cata e trabalham em média por 4h

mergulhando, para poder fazer em média, entre 120kg (num dia muito bom), e 50

kg de “produto final” (Falamos de « produto final » o mexilhão cozido,

descascado e embalado) num dia normal (Veja figura abaixo).

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Agora vejamos como se processa o mexilhão no espaço do Del:

Figura 1 - Cadeia do processamento do Mexilhão, o espaço do Del,

desenho STEVENSON.

Ao observar o processamento do mexilhão no “espaço do Del”, observam-se

seis etapas essenciais. Neste desenho só foi comentado a espacialidade do

processamento.

1 ) Uma vez catado o mexilhão, a embarcação chega por volta das 11h da

manhã, em tabuleiros. Del e seu ajudante remador desembarcam o “produto” no

ponto de desembarque.

2 ) Uma Vez que o “produto” esta desembarcado ele é levado para a mesa

de triagem, onde se fará uma leve triagem das conchas e sobretudo onde se serão

separadas as conchas.

3 )Depois, o mexilhão será cozido em latas (latas de óleo recuperadas de 10

litros), uma vez a lata cheia de mexilhão, se cobrirá com um pano a fim de manter

mais homogeneidade no cozimento, e será cozido com gás.

4 ) Depois de alguns minutos, o mexilhão cozido passará por um período

transitivo de esfriamento, em um tabuleiro com pequenos buracos sobre outro

tabuleiro.

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5) Uma vez que o mexilhão esta na temperatura adequada para ser

“descascado”, ele será levado para a mesa de descascamento, onde os

descascadores estão separando o produto final das conchas.

6 ) As conchas serão jogadas diretamente na água, e o produto final

enxaguado e embalado em sacolas plásticas.

Uma vez que o mexilhão catado está nos tabuleiros e na embarcação, os

marisqueiros voltam para a associação para processar o mexilhão. Cada um tem

seu espaço próprio e cada processamento obedece a seis etapas, descritas após a

figura. Etapas estas que se adaptarão com a espacialidade que cada marisqueiro

dispõe para exercer sua atividade. Utilizei aqui o espaço que o Del ocupa para

entender as diferentes etapas do processo.

O lugar onde o Del exerce a atividade dele é um pouco diferente dos outros

marisqueiros, ele construiu (Na verdade não foi construído para ele, mais para

todos, como espaço para processar o mexilhão, mas este espaço não pode acolher

mais de uma pessoa) um lugar “um pouco mais apropriado” para poder processar

o mexilhão. Os outros marisqueiros do local utilizam a orla do aterro (Veja Figura

3) onde tiveram que se adaptar às condições de cada espaço, utilizando pedras

para desembarcar, portas no chão como mesas de descascamento, madeira e

plásticos para o fogo.

O lugar é retangular, perfazendo 7 metros de largura e 8 metros de

comprimento. No espaço acontece toda uma cadeia de processamento do

mexilhão que envolve tanto os marisqueiros quanto os descascadores, pessoas

essenciais ao processo. O Del chega a ter cinco descascadores em período “bom”,

isto é quando se produz até 100 kg de mexilhão descascado. Estes descascadores,

geralmente invisíveis das instituições responsáveis da pesca, fazem parte do

processamento do mexilhão. O lugar deles é definido na atividade. Farei, uma

breve descrição sobre o papel, a renda e o lugar deles.

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Figura 2 Espaço do Del com Mayara e Maria descascando, foto STEVENSON.

O produto final será vendido para o mercado São Pedro ou para

atravessadores. Geralmente as transações se fazem às 3h da manhã. De 30kg de

mexilhão com concha, equivalente a um tabuleiro que chega ao ponto de

desembarque, será aproveitado como “produto final” entre 2kg e 3kg de mexilhão

descascado. O que determina a relação entre produto catado para produto final de

1/10.

Este “produto final” será vendido em vários lugares, assim como o Mercado

São Pedro, atravessadores locais, restaurantes e até na Bahia onde não existe o

mexilhão e em São Paulo, “o certo é que nunca faltam os compradores” fala o

Del.

Entretanto este espaço descrito é o espaço que está mais bem organizado até

então, já que não são todos que tem essa facilidade no processamento. O Luisão,

por exemplo, um marisqueiro que vem da Bahia, com 40 anos, ele passou por

Jurujuba. Ele relata que os conflitos internos de Jurujuba fizeram com que ele

fosse expulso da associação, logo depois ele se encontrou num canto com os

marisqueiros da associação e permaneceu. Quando fui visitar o espaço de

processamento dele, pude observar o quanto o mesmo era precário.

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Para poder chegar nesse lugar, caminhei por uma trilha muito estreita que

passa pela borda do aterro, onde lá em baixo, na terra, foi cavado na terra um

espaço de uns 8 metros de comprimento por 3 metros de largura.

O desembarque dos tabuleiros se faz sobre duas pedras situadas na orla.

Depois eles são levados ao lugar do processamento. Sobre uma plancha de

madeira, uma antiga porta de madeira, na qual é feita uma leve triagem. Após essa

etapa, o mexilhão será cozido num tonel de metal cortado ao meio com um pedaço

de tecido a fim de homogeneizar o cozimento, sobre um fogo de madeira e

plásticos, supostamente estes são usados, pois elevam a temperatura do fogo. Uma

vez cozidos, duas pessoas levarão o panelaço com um pau de madeira de uns 2

metros, para a zona de descascamento, onde os descascadores esperarão o

mexilhão esfriar um pouco antes de descasca-lo. As conchas serão jogadas

diretamente na agua da Baia, e o produto final será guardado num tabuleiro antes

de ser embalado em sacolas plásticas próprias para conserva de alimentos. Nesse

espaço chegam a circular umas seis pessoas. Na realidade a maioria delas estão no

processo de descascamento, sendo apenas duas pessoas responsáveis pelo

processo de cozimento e transporte do mexilhão (zona de “circulação” na figura).

Figura 3 - Processamento no espaço do Luisão, desenho STEVENSON.

É importante ressaltar que é como cada um dos marisqueiros tem seu

próprio espaço, adaptando-se ao local e as configurações físicas do espaço. O

interesse dessa descrição comparativa é ver como cada marisqueiro precisa de seu

espaço próprio. Ultimamente os debates sobre a requalificação e a fiscalização da

atividade fizeram com que os atores mudassem os locais de processamento, como

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por exemplo, dentro da embarcação, pois o que me foi explicado é que não pode

ser proibido, se o barco e o registro de pescador artesanal estiverem em dia.

Figura 4 Espaço do Luizão; Triagem e Cozimento, STEVENSON.

Nesta figura podemos ver um marisqueiro fazendo a triagem sobre uma

tabua, separando o mexilhão a ser cozido e quebrando-o com a cavadeira para

facilitar o cozimento. Na foto juntada, vemos como ele é cozido sobre um fogo a

lenha e coberto de um pano para conservar o vapor.

Figura 5 Espaço do Luizão; “Descascamento” do Mexilhão cozido, foto STEVENSON.

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Nesta foto, vemos como se realiza o processo de descascamento dos

mexilhões cozidos. Uma vez cozido, duas pessoas (homens) levaram o envase no

qual o mexilhão está cozido e jogarão o conteúdo acima da mesa. Após um tempo

de espera para que esfrie o mexilhão será descascado e juntado na cestinha azul. O

produto final será embalado em sacolas de plástico e as conchas jogadas na Baia.

No projeto de realocação dos marisqueiros, falava-se sobre um centro de

beneficiamento coletivo para o processamento do mexilhão, como explicarei mais

tarde. Após estas observações, feitas com a descrição do espaço do Del e do

Luisão, podemos ver como cada um trabalha no mesmo espaço temporal.

Precisaria então coletivizar toda a cadeia produtiva ou então oferecer um espaço

para cada “marisqueiro”?

Este debate tem sua relevância, já que se observa nas contendas internas a

vontade de melhoria do processo, tanto no aspecto visual e ergonômico, quanto ao

que se refere aos níveis de segurança.

Figura 6 Espaço do Luisinho; processamento do Mexilhão dentro do barco, foto

STEVENSON.

Nesta foto, vemos como se adaptou o barco ao processamento do mexilhão,

restringindo ainda mais o espaço.

Falando de segurança tive uma experiência bastante forte no espaço do Del,

quando a válvula do gás “estourou” e o botijão começou a pegar fogo. O

bombeiro do terminal se contentou em não fazer nada ficando apenas a observar

um dos pescadores, o Brinquinho, salvar do fogo todo aquele espaço do Del que

seria queimado, não prestando o auxilio devido. Este episodio traumatizante me

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fez pensar que quando se trata de querer melhorar os processos de transformação,

nesse caso do fogo de madeira ao gás, é preciso cogitar outros parâmetros de nível

de segurança, como um acesso para o corpo de bombeiro, o que não era o caso

daquele dia, já que o caminho estava fechado pela prefeitura.

Produção e distribuição de renda no local

Obter informações certas sobre a renda quando se trata de pesca é uma

tarefa bastante difícil, ainda me lembro da fala de uma das Marias que estava

pescando perto de onde se jogam as conchas na agua, no espaço do Del, quando

fui perguntar quanto ela tinha pescado. Perguntei para ela se tinha pegado peixe,

ela me respondeu que sim, quando fui perguntar quanto abrindo a tampa do

envase onde ela guardava os peixes ela chegou rapidamente falando, “Que isso

menino, contar peixe é ser mal educado!”. Nunca tinha pensado, nem feito à

associação na minha cabeça, mas me lembrei do tabu sobre o dinheiro que temos

em nossas sociedades, e o quanto é mal visto perguntar para alguém quanto ganha.

Tive a sorte, na minha socialização com os marisqueiros, de ter a confiança da

parte do Del, que me deixou ter acesso a certas informações pessoais sobre a

renda, é claro que ainda é uma informação que precisa ser contextualizada de

melhor forma, mas pelo menos permite abrir para uma reflexão um pouco mais

ampla sobre as rendas e a distribuição delas no local. Tanto os mecanismos como

as pessoas que se beneficiam dessa atividade, assim como permitem o

desenvolvimento dela.

Para entender melhor da renda dos marisqueiros temos que dizer o quanto

ela é flutuante e incerta. Para um marisqueiro poder exercer a atividade dele,

existem duas condições primordiais: em primeiro lugar o mar tem que estar em

condições propicias, e em segundo o mexilhão tem que estar “maduro”. Essa

incerteza sobre a atividade pode levar o marisqueiro a não trabalhar, de alguns

dias até algumas semanas. Outro fator importante é o preço do mercado,

geralmente o preço do quilo de mexilhão gira em torno dos R$10 o quilo,

chegando a descer a R$9/kg e subir até R$ 12/kg. Quando o preço chega abaixo

dos R$9, segundo os marisqueiros “é tempo de descansar um pouco”. Este

trabalho tem a particularidade de ser muito exigente fisicamente, por isso que é

aconselhado trabalhar dois dias e descansar um, mas na maioria dos casos os

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marisqueiros trabalham seguidamente enquanto o mar e o mexilhão estão bons.

Muitos dos marisqueiros e pescadores que mergulham chegam a ter acidentes, por

exigir muito mais do que o corpo pode suportar. Estes últimos dias, tive uma

discussão com Del sobre isso, e ele me contava que estava catando “direto” fazia

mais de três semanas, e que o corpo dele estava começando a ter reações como

“tonteira” e “extremidades ultrassensíveis”. “A verdade é que é o tempo de parar,

pelo menos até segunda”, me confessou Del em uma quarta-feira.

Mesmo assim, podemos estabelecer uma descrição da renda da atividade,

quando ela funciona. Del compartilhou comigo os valores de seus rendimentos

fruto de nove dias de trabalho.

Tabela 1 Rendimento do DEL em 9 dias de cata.

DiaQuilos de mexilhão

processadoRendimento em R$

Preço por quiloem R$

11-jul 75 674 9

12-jul 55 490 9

13-jul 80 720 9

14-jul 52 465 9

15,16 e 17-jul 100 900 9

18-jul 86 775 9

20-jul 132 1182 9

Total em 9 dias 580kg R$5206

O rendimento de um dia será dividido entre o marisqueiro, o

remador/descascador e os descascadores. O salário do remador descascador e dos

descascadores varia em função do tempo de trabalho e da produção (geralmente

entre 60 e 150 reais/ dia). Assim o Del me comentou, “o outro dia em uma semana

(4 dias) fiz R$ 3800 bruto, contando seis funcionários, dei R$ 100 por dia pra

quem foi ao mar comigo, e R$ 80 pra quem descasca”. Se contarmos são R$ 400

para quem foi para o mar e 5 (descascadores) x R$80 = R$ 400 x 4 dias = R$1600

para os descascadores. Ao total são R$ 2000 para os funcionários e R$1800 para o

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Del. Dos quais podemos descontar o botijão de gás a R$40, mais 5 litros de

gasolina diária, (5x4=20 litros aprox. R$ 40). Ao esclarecer esta distribuição de

renda nos temos que contar dentro os investimentos que envolvem a atividade e

que estão a cargo do mergulhador, como a roupa de mergulho a R$ 600, o

compressor R$2000 entre outros. No que trata da distribuição da renda o Del

afirma que geralmente ele gosta de dividir o bruto em dois, entre ele e os

funcionários, “às vezes dou um pouco mais”.

Em termos de renda se observa uma circularidade da renda entre os

marisqueiros, as famílias destes e os descascadores. Se tomarmos o caso de Del,

ele é declarado, o tempo de trabalho dele se situa entre as 4h e às 12h. Quando o

mar está bom, num dia bom, Del consegue catar aproximadamente 100 quilos de

mexilhão processado, o que representa a R$10 o quilo, R$1000.

Desses R$1000, ele guarda para ele R$600, e divide os outros R$400 com

aquele que esta trabalhando. Geralmente ele tem quatro pessoas trabalhando nas

tarefas de limpar, ferver e descascar o mexilhão. Del afirma que tem no total até

oito pessoas que trabalham com ele. O que representa oito famílias, e até mais de

30 pessoas. Embora, a maioria das vezes são duas ou três pessoas que trabalham

na atividade.

A atividade de Del, na realidade, tem diferentes graus de rendas. Só que, os

que trabalham com ele não são declarados, “eles deveriam ter direito ao seguro

defeso”, afirma Del. “Por isso que também não posso respeitar o defeso, sou

responsável por várias pessoas que contam com essa renda e R$622 não dá”, diz

ele a respeito. Por ser o presidente da associação ele é cadastrado e recebe o

seguro defeso no período do defeso do mexilhão, do 1° de setembro ao dia 31 de

dezembro, o que é equivalente a quatro parcelas de R$622. Mas mesmo assim, ele

continua catando mexilhão no período do defeso, alegando: “O mexilhão é como

uma fruta, quando esta madura se tem que catar”, mas adiante na conversa foi-me

explicado que o trabalho do mexilhão representa muito mais que R$622 por mês,

alias um dos argumentos importantes na valorização da atividade é que mexilhão

é “ouro preto”, que “traz muito dinheiro”, e que se “pode fazer mais de um salario

mínimo em um dia”.

Então têm que se considerar duas coisas importantes na relação ao não

respeito das leis de proteção ambiental da espécie Perna perna, a primeira é que

para a maioria dos marisqueiros desse local consideram a cata como uma coleta,

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como “um presente” da natureza que quando esta maduro se tem que coletar, e

que o ciclo natural do mexilhão faz com que os marisqueiros nunca consigam

catar a totalidade no banco natural, já que o mexilhão esta maduro quando esta

pronto para dissolver, assim como falam, “quando o mexilhão esta maduro, a

gente cata tudo o que puder, porque de um dia para outro dissolve e não tem mais

nada dentro da concha”.

O outro fator, que se revela muito interessante na compreensão como

complemento do primeiro argumento é que o seguro defeso não cobre de maneira

satisfatória o que se ganha quando o mexilhão está pronto para a coleta, e quando

fui perguntar em quando seria o valor justo para eles, o Del respondeu “uns

R$3.000 para um mergulhador e R$1500 para um descascador, ali a gente

respeitaria os períodos de defeso”. O Del diz que uma vez chegou a fazer R$

28.000 brutos em 45 dias trabalhados, bom é claro que se precisa de dois dias ou

até três dias de trabalho e um dia de descanso, mas quando as condições

climáticas estão ótimas os marisqueiros se esforçam para ter uma maior produção.

O discurso à sensibilidade ecológica e ambiental também é importante por

parte do Del, mas a responsabilidade na rede de rendas locais parece ser muito

mais importante. O que me permite ver a distribuição de rendas como círculos

circunscritos da produção pesqueira.

Ao identificar uma rede mais complexa da atividade que acontece realmente

no campo, entre os marisqueiros e as famílias no local, devemos pensar em como

os descascadores fazem parte de uma cadeia produtiva, eles são pessoas essenciais

no processamento do mexilhão. Em período fraco cada marisqueiro tem pelo

menos de um a dois descascadores, e em período gordo até cinco cada um. Esta

rede de rendas apenas visível à primeira vista revela a importância de conhecer o

mecanismo a fim de identificar quem são estas pessoas envolvidas e quais são as

estratégias de renda que elas têm. Pensando numa futura realocação se terá que

conhecer esta rede de rendas, e o numero de pessoas envolvidas no processamento

do mexilhão.

Cada mergulhador marisqueiro tem seus ajudantes, geralmente são os

mesmos, mas em momentos de fricção ou tensões entre as pessoas, pode ter certa

rotatividade que traduz na verdade uma relação de solidariedade com quem

compartilha o local e a atividade há anos, assim, por exemplo, assisti a uma

diferença entre um marisqueiro e um ajudante remador que reclamava da renda

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De onde vem o Mexilhão? Etnografia na beira da Baia de Guanabara de um grupo de“marisqueiros” em Niterói / Ismael Andres Stevenson

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que lhe atribuía. Por motivos de hierarquia e ego, a meu parecer, o mergulhador

marisqueiro não quis mais contrata-lo como ajudante. O ajudante sem trabalho e

triste por motivos afetivos, bebeu muito durante mais de três dias, tentando

chamar a atenção de todos no cais, como para reconquistar a sua posição no cais.

Eu também fui utilizado nessa estratégia, lembro-me do acolhimento “exagerado”

por parte dele que tive aquele dia. Mais adiante no dia, fui falar com outro

marisqueiro, que me confessou que ia catar mexilhão o dia seguinte para poder

dar trabalho ao ajudante desesperado, “mas se ele esta bêbado, não vou!!”

afirmou. Ao outro dia o ajudante foi trabalhar não sem alguma dificuldade, e

desde então ele reganhou sua posição no local. Este exemplo ilustra de maneira

bastante esclarecedora a relação entre as pessoas que compõem a paisagem da

atividade no local, entre hierarquia e solidariedade, se vive uma relação bastante

paternalista entre o marisqueiro mergulhador e os ajudantes descascadores. O que

certamente determina uma relação social baseada na socialização do trabalho, em

partes estruturadas pela espacialidade.

As famílias cumprem também um papel bastante importante neste

processamento, porque muitos dos descascadores são pessoas que pertencem à

família dos marisqueiros ou pescadores, e geralmente são pessoas que estão o

tempo todo, assim como a Mayara quem participa de todos os processamentos do

mexilhão, acompanhada de sua filha (a neta do Del).

Mencionar estes descascadores é bastante interessante porque eles são

trabalhadores avulsos que não pertencem a nenhum tipo de filiação institucional,

eles não têm direito a um seguro desemprego, nem a um seguro-defeso pelo

ministério da Pesca e da aquicultura, Embora sejam parte do processamento o que

é reconhecido pelo novo RGP de 2011. Dois problemas relevantes salientam dessa

descrição, a primeira diz respeito à distribuição de renda e a segunda a quem deve

ter direito a carteira de pescador.

ConclusãoPara concluir, gostaria de mencionar a importância de todo o trabalho de

campo baseado numa etnografia que se teve que fazer para entender todos estes

processos que compõem a cadeia produtiva do mexilhão até chegar ao mercado, e

depois no prato do consumidor.

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De onde vem o Mexilhão? Etnografia na beira da Baia de Guanabara de um grupo de“marisqueiros” em Niterói / Ismael Andres Stevenson

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Ao descrever a cadeia produtiva da atividade e a produção de rendas desta,

nos observamos um numero importante de pessoas que participam da atividade, o

que pode chegar a representar até 80 pessoas ligadas ao local.

Hoje, a Prefeitura de Niterói esta num processo de modernização dos bairros

situados no centro. Este projeto chamado de “Requalificação do Centro” afetaria

diretamente a este grupo de pescadores artesanais, a partir das transformações

urbanísticas previstas. E dentre elas esta programada a construção de uma

plataforma intermodal de transportes programada a ser construída neste local. Os

pescadores estão invitados a ser realocados em outro lugar.

Este projeto de “Requalificação do Centro” traz consigo uma serie de

questionamentos sobre a realocação deste grupo de pescadores, como por

exemplo, o lugar de realocação. Mas entendendo as complexidades locais, é toda

uma atividade que tem que se resinificar, tanto pelos lugares de cata, como pela

cadeia produtiva e o estatuto dos descascadores a fim de garantir a permanência

desta atividade que tem sustentado inúmeras famílias desde os anos 70’.

BibliografiaCARDOSO DE OLIVEIRA, R. O trabalho do Antropólogo, Unesp, 1998

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De onde vem o Mexilhão? Etnografia na beira da Baia de Guanabara de um grupo de“marisqueiros” em Niterói / Ismael Andres Stevenson

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