marilena chauí_ _brasil atual fará 1964 parecer simples

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    bloglimpinhoecheiroso

    O Limpinho & Cheiroso um blog independente e transparente, que tem a pretenso de

    replicar as principais notcias publicadas em stios confiveis, alm de dar seus pitacos.

    Marilena Chau: Brasil atual far 1964

    parecer simples.

    (https://novobloglimpinhoecheiroso.files.wordpress.com/2016/02/marilena_chaui05.jpg)Voc conversa com algum da direita e v que ele capaz de dizer quatro frases

    contraditrias e sem perceber as contradies. Voc conversa com algum da extrema esquerdae v o totalitarismo que tambm opera com a ausncia do pensamento. Ento ns estamos

    ensanduichados entre duas maneiras de recusar o pensamento. Foto de Bob Sousa.

    SOCIEDADE BRASILEIRA: VIOLNCIA E AUTORITARISMO POR TODOS OS LADOSA filsofa Marilena Chau analisa a situao poltica e econmica brasileira e comenta aocupao das escolas paulistas.uvenal Savian Filho e Las Modelli, via Revista Cult

    (http://revistacult.uol.com.br/home/2016/02/sociedadebrasileiraviolenciaeautoritarismoportodososlados/), edio 209

    Desde o incio dos anos 1980, Marilena Chau tem proposto como chave de leitura de nossopas a ideia de que a sociedade brasileira autoritria e violenta. Em obras como Cultura edemocracia: O discurso competente e outras falas, de 1981 (que ser reeditado em seus Escritos,publicados pela Editora Autntica), a filsofa contraria a imagem de uma cultura nacionalpretensamente formada pelo acolhimento recproco e pela cordialidade, revelando estruturasenraizadas de hierarquizao e de seduo pela autoridade.

    http://revistacult.uol.com.br/home/2016/02/sociedade-brasileira-violencia-e-autoritarismo-por-todos-os-lados/http://limpinhoecheiroso.com/http://revistacult.uol.com.br/home/2016/02/sociedade-brasileira-violencia-e-autoritarismo-por-todos-os-lados/https://novobloglimpinhoecheiroso.files.wordpress.com/2016/02/marilena_chaui05.jpghttp://limpinhoecheiroso.com/
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    No se trata, porm, de considerar os brasileiros como individualmente violentos. Tratase deesclarecer as estruturas histricas que produzem uma vida social em que o espao pblico erepublicano minguado, transferindose ao Estado o papel de sujeito da cidadania ereproduzindose, no cotidiano, relaes de poder.

    Essa chave de leitura permanece, aos olhos de Marilena Chau, extremamente atual paraanalisar o momento vivido pelo Brasil. Apesar dos percalos ticos, polticos e econmicos das

    duas ltimas dcadas, o pas tenta entrar na Modernidade, que exige necessariamente inclusosocial. Essa mesma incluso, no entanto, desperta resistncia. Se os auxlios financeiros parainsero econmica, distribudos por pases como Alemanha e Frana s populaes maispobres, so considerados por l sinais de desenvolvimento, o Bolsa Famlia, no Brasil, chamado de assistencialismo e de estratgia eleitoreira. Se a ao do Estado no controle domercado vista como necessria em outras partes do mundo, aqui ela chamada de ameaacomunista e de inchao da mquina pblica.

    O problema que ainda no sabemos muito bem o que o espao pblico, porque no agimoscomo sujeitos, transferindo a responsabilidade pela construo da cidadania aos aparelhos degoverno. Focamonos nas salvaes que podem vir do poder e no obrigamos o poder pblicoa representar de fato todos os setores sociais. O resultado dessa prtica (ou ausncia de prtica) o fortalecimento da violncia e do autoritarismo, que atualmente se intensificam nas formasde controle policial, por exemplo, e a falta de pensamento no jogo poltico (no somente dedireita, mas tambm de esquerda!).

    Chamar ateno para essa dinmica perversa o que faz Marilena Chau na entrevista queconcedeu CULT.

    CULT: Como a senhora v a situao poltica vivida pelo Brasil hoje?Marilena Chau: uma situao gravssima. gravssima no por causa daquilo que a mdiaapresenta como falncia do governo, mas pelo movimento conservador, reacionrio, deextrema direita e protofascista que est tomando conta da pauta poltica. Quando examinamosos pontos da pauta poltica discutidos de outubro de 2015 at agora, vemos o poder dos gruposdos 3B: o boi, a bala e a Bblia. uma regresso sociopoltica fora do comum. uma pautaregressiva, antidemocrtica, de violao de todos os direitos que foram conquistados ao longodos ltimos quinze anos. Todo o fundo reacionrio protofascista que existe no Brasil e que alimentado pela classe mdia urbana brasileira veio tona e pegou as esquerdascompletamente desprevenidas. As esquerdas tinham pautas como o antineoliberalismo, osdireitos, a questo da Palestina e do Oriente Mdio, do surgimento do Estado Islmico, enfim,pautas voltadas aos problemas da democracia e do socialismo, e foi pega completamentedespreparada por uma onda de extrema direita que reps para o Brasil os tpicos queestiveram em vigncia no incio dos anos 1960. uma ameaa de golpe para reverter oprocesso de consolidao dos direitos sociais obtidos nos ltimos anos e sustentada pela pautaboi, bala e Bblia. Alis, a atuao de grupos religiosos muito preocupante e vai alm deuma questo propriamente poltica, porque, apesar de se manifestar na representao poltica,ela uma questo socioeconmica: a maneira como as igrejas evanglicas interiorizaram ereformularam a concepo neoliberal.

    CULT: Como se d essa interiorizao e reformulao evanglica da concepo neoliberal?Marilena: Uma das caractersticas do neoliberalismo a maneira como ele concebe oindivduo, que no entendido nem como parte de uma classe social, nem como ser emformao que vai se relacionar com o restante da sociedade. O indivduo no pensado nem

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    como tomo nem como classe, mas como um investimento. Na medida em que um indivduo um investimento, o salrio no entendido como salrio, mas como provento, como renda.Ento, o ser humano programado para ser rendoso e rentvel. A famlia, a escola e o empregopassam a ter por funo a rentabilidade do indivduo, porque ele um investimento. As igrejasevanglicas se apropriam desse iderio e o desenvolvem por meio de uma teologia a teologiada prosperidade, que considera cada indivduo justamente como um investimento ou umaempresa. Ele no um empresrio, mas uma empresa, e, como tal, precisa de uma srie de

    condies para funcionar. Ento as igrejas, alm de convencerem a pessoa de que ela nasceupara vencer na vida e ser rentvel, levam a tica calvinista ao mximo, explorando a crena deque ser rentvel um sinal de salvao, porque isso que Deus espera.

    Como se sabe, a maior parte das igrejas evanglicas possui franquia. Elas se espalham nocampo da produo e do comrcio e empregam todas as pessoas, fazendo com que elasprovem que Deus as escolheu e que so um investimento rendoso. Pouco a pouco, as pessoasse apropriam da franquia; depois abrem outra e assim por diante. H, portanto, um fenmenode fortalecimento da ideologia neoliberal e das concepes conservadoras da classe mdia por

    meio da maneira como as igrejas evanglicas incorporam o neoliberalismo, com uma teologiapara isso. Se voc juntar o conservadorismo com o reacionarismo da classe mdia urbana e apresena avassaladora das igrejas evanglicas, alm de toda a discusso sobre a vida no campo(a reforma agrria), vai entender por que politicamente se exprime, de modo efetivo, nosgrupos do boi, bala e Bblia, a pauta ultraconservadora que est a.

    A minha preocupao , evidentemente, por um lado, denunciar de todas as maneiraspossveis a tentativa de golpe. Por outro, assegurar que governos voltados para os direitossociais (e, desse ponto de vista, com uma pauta antineoliberal) sejam garantidos. Ao lado disso,a minha preocupao com a sociedade, ou seja, com a ideologia. Depois de muito tempo, l

    retorno eu questo da ideologia. preciso refletir sobre como erguer um dique para impedira entrada avassaladora da ideologia neoliberal na sua forma teolgica. Estamos vivendo ummomento que vai fazer 1964 parecer uma coisa muito simples. 1964 estava inserido na GuerraFria, no poderio dos Estados Unidos sobre os pases da Amrica Latina. Por causa do exemplode Cuba, acreditavase ser possvel uma revoluo socialista. Os componentes eram muitobvios. Havia uma clareza na compreenso do momento vivido. Agora no h clareza. Tudo muito difuso, muito opaco, obscuro, porque h fundo teolgico.

    CULT: A senhora acredita em um golpe militar?

    Marilena: Est fora de questo.CULT: O que pode acontecer?Marilena:Se as coisas continuarem no ritmo em que esto e se o golpe dos 3B se concretizar,haver uma efervescncia social enorme, porque todos aqueles cujos direitos foram garantidospelo Estado depois da era militar tero esses mesmos direitos cortados. E haver ameaas:ameaa no campo, ameaa urbana, uma situao de vigilncia e intimidao em todas asinstituies. Isso provocar reao, uma resposta social enorme. um risco que o PSDB noquer correr porque ele no tem condio de conter essas reaes; e esse risco tambm nointeressa ao PMDB, porque o partido est dividido. Ento, no fim das contas, as foras que

    poderiam produzir um golpe no tm mais interesse que ele acontea, porque a convulso queele vai provocar, direita e esquerda, no pode ser controlada nem pelo PSDB e nem peloPMDB. Eles no tm quadros e condies institucionais para controlar convulses sociais.

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    CULT: E o que daria as condies de governabilidade nesse possvel contexto?Marilena:Se houver golpe, a prtica ser a pura intimidao e a violncia. Aquilo que a genteviu com os Atos Institucionais. Um Ato Institucional poderia concretizar, por meio da polcia que o Exrcito no se misturar , a intimidao e a violncia.

    CULT: Pensando na materializao da violncia, que espao resta ao dilogo nesse momentocondicionado truculncia?

    Marilena: Nenhum. Vamos tomar o caso de So Paulo como exemplo. H uma coisa muitointeressante: quase ningum se d conta de que o estado de So Paulo o nico estadorealmente capitalista no Brasil, j que os outros so semicapitalistas governado desde o finaldos anos 1980 por um nico partido poltico. Economicamente, So Paulo um estadocapitalista, mas politicamente uma capitania hereditria. Parece haver um contrassenso entreo conservadorismo poltico e o desenvolvimento econmico. Mas s na aparncia que isso contraditrio, porque o conservadorismo poltico a base de sustentao desse tipo dedesenvolvimento capitalista. Vejam o que acontece com o governador. H o problema da gua,da luz, das escolas, da sade escndalos , mas nada gruda no Geraldo Alckmin. Escorre. Isso

    acontece porque ele representa o tipo de poder poltico do estado de So Paulo: forte eautoritrio. A juventude sai s ruas e faz uma manifestao? Polcia nos jovens, bate neles! Opessoal do transporte sai para se manifestar? Polcia neles, bate neles! Isso referendado pelasociedade paulista, no s a paulistana, que est de acordo e espera que isso seja feito.Esperaramos uma reao profunda, mas no o que acontece. Eu me lembro de ter visto pelateleviso estudantes algemados durante a ocupao das escolas. Eu disse, Meu Deus, no sealgema estudante!. Eles no s foram algemados, como isso foi dado pela mdia como algonatural; e pela sociedade, como uma coisa necessria.

    Ento ns temos a consagrao, da maneira menos retrica possvel, da violncia estrutural da

    sociedade brasileira. No uma violncia pontual, de modo que possamos falar em ondas deviolncia. No. H uma violncia estruturante. a estruturao violenta de uma sociedadehierrquica, vertical, oligrquica, conservadora, que defende os privilgios contra qualquerforma de direitos; a mesma que d a sustentao ideolgica e poltica para a manifestao daviolncia governamental. Essa violncia governamental a expresso da violncia no spaulista e paulistana, mas brasileira, e ela que legitima essas aes. Se consideramos todo oiderio da burguesia e da alta classe mdia brasileira, vemos que qualquer contestao,qualquer revolta uma crise. A noo de crise est identificada por essa classe com a ideia dedesordem e perigo. Ora, diante da desordem e do perigo, o que que se pede? Represso.

    Cada vez que h uma luta por direitos contra privilgios, essa luta vista como violenta eprecisa ser reprimida. H, portanto, uma inverso ideolgica fantstica no Brasil: a violncia vista como ordem.

    CULT: A senhora ainda acredita na desobedincia civil?Marilena:Eu acho necessria! Outro dia um colega me disse: Marilena, voc tem que levar emconta que a juventude que tinha 13, 14 anos em 2000 s conhece o PT como governo, noconhece a histria do PT como movimento social e sindical, como presena contestadora e dedesobedincia civil no interior da ordem brasileira. Isso quer dizer que a figura do PT seapagou e sobrou somente esse pedao, esse triste pedao que o PT no aparelho de Estado.

    Seria preciso lembrar, por exemplo, a criao do Cedec [Centro de Estudos de CulturaContempornea]. Existia no Brasil o Cebrap [Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento], que eradirigido pelo Fernando Henrique Cardoso. O Francisco Weffort, em 1976, disse que o Cebrap

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    era muito economicista e que precisvamos de um centro que pensasse as questes polticas esociais. Reunimonos, ento, o Francisco Weffort, o Jos Guilhon de Albuquerque, o Joslvaro Moiss, o Lcio Kowarick e eu, criamos o Cedec. A Sociologia, a Cincia Poltica e aHistria explicavam (e ainda explicam) o Brasil sempre a partir do aparelho de Estado. AHistria do Brasil era contada como histria das mudanas no aparelho de Estado e dasdecises tomadas pelo Estado. O Estado aparecia como o sujeito histrico, poltico eeconmico, como se no existisse uma sociedade nem uma luta de classes. O Cedec props

    inverter esse processo e lembrar que a sociedade brasileira existe, com os movimentos sociais epopulares. Era o momento em que surgia o Movimento dos Sem Terra, o movimento feminista,o movimento sindical. Os movimentos comeavam a se organizar; os sindicatos criam ascomisses de fbrica no ABC e fazem as greves. desse momento histrico que nasce o PT.Ns surgimos da ideia de que a histria do Brasil e a sociedade brasileira no so feitas peloaparelho de Estado e de que o Estado no o sujeito social. Existe a luta de classes e nointerior do conflito que se criam as bases da democracia. O PT se originou, ento, de atos dedesobedincia civil. Mas isso os jovens no sabem, porque eles s conhecem o PT como umpartido institucionalmente posto, envolvido nas questes do Estado e governamentais, como se

    isso desse conta de toda a histria do PT. isso que permite entender tambm por que jovens de esquerda querem outras opes, emvez de ligarse ao PT. Proliferam os pequenos partidos de esquerda porque toda a histriasocial e poltica ficou encolhida nesses ltimos 15 anos. Isso tambm explica o quanto ns doPT ficamos despreparados na hora em que surgiu o atual golpe. Imagine o PT do qual euvenho, o PT dos anos 1980 e 1990 Ele no teria aceitado minimamente aquilo que iriadesencadear o golpe. Ele nem permitiria que isso sequer aflorasse. Muito do que estamosvendo em termos de pauta conservadora na poltica est ligado ao encolhimento de tudoaquilo que representa uma pauta de esquerda.

    CULT: A esquerda tornouse obediente?Marilena: Sim, claro. O PT ficou desarmado no momento em que teria de tomar uma posiopblica e esclarecer as coisas. Agora, de um lado temos o Eduardo Cunha, com as igrejasevanglicas, e, do outro, o Alckmin, com a Opus Dei. demais da conta! Eu venho de umatradio em que a grande aliana era sustentada pela Teologia da Libertao e as ComunidadesEclesiais de Base. Ver os cristos perdidos entre os evanglicos e a Opus Dei demais; insuportvel para a minha cabea porque eu vi a outra experincia que o cristianismo capazde ter e que teve na Amrica Latina inteira.

    CULT: A senhora interpreta a frase Meu partido meu pas, comum nas manifestaes de2013, como a manifestao de um desejo de algo novo ou como uma frase conservadora?Marilena: Meu partido meu pas uma frase nazista. Ela nasceu na luta contra a socialdemocracia, sobretudo quando o nazismo se ope Repblica de Weimar e leva a pensar queos partidos polticos roubam ou tomam para si as aes polticas que caberiam exclusivamenteao governante. O governante aparece, ento, como o chefe. dele que deve emanar,transcendentemente, toda a deciso poltica. Desse ponto de vista, se os partidos polticosusurpam uma funo que no deles, preciso eliminlos. Da a ideia de que meu partido meu pas.

    CULT: Falando de encolhimento da pauta de esquerda, como a senhora interpreta a ao desetores do movimento estudantil que consideram os docentes como inimigos ourepresentantes do capital? delicado tocar nesse ponto, porque no se trata de ser contra o

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    movimento estudantil. Mas entender a universidade como espao de tenso entreestudantes, servidores (tcnicos) e docentes no tambm uma forma de violncia ou deexcluso de diferenas?Marilena:H algo que marca com fora a histria da poltica de esquerda no Brasil: o fato deque, periodicamente, vindos da baixa classe mdia ou da classe mdia, h grupos que seapropriam do marxismo e do leninismo e se apresentam como revolucionrios. Na verdade, oencolhimento do espao pblico e de tudo o que ele representa alimenta pequenas formas

    privatizadas do pensamento de esquerda, dando origem a pequenos movimentos e pequenospartidos. No vou nomear nenhum deles, mas estou apontando para a origem deles, a maneirapela qual eles privatizam um iderio. Isso significa, em primeiro lugar, fazer com que esseiderio no aparea como um iderio em expanso, mas como um iderio de excluso. Essespartidos e movimentos se fecham sobre si mesmos, porque a condio de sobrevivncia delesest na recusa de qualquer incluso e de qualquer ampliao. Eles se mantm pela suapequeneza e pelo fato de que eles excluem tudo o que no se restrinja a uma pauta mnimaproduzida por eles mesmos. uma mescla da vulgata marxista, da vulgata leninista e dostalinismo puro, simples e cru. mais do que uma coisa reacionria, uma vertente totalitria.

    E por essa maneira totalitria, privatizada e excludente de se organizar que esses gruposencaram todo o restante como inimigo que precisa ser destrudo. O outro no inimigo porcausa disso ou daquilo. Ele inimigo porque simplesmente outro. a mesma lgica de CarlSchmitt, incorporada por grupos pretensamente de esquerda.

    CULT: A senhora sabe que um curso seu, de leitura rigorosa da tica de Espinosa, seria hojeconsiderado, em alguns contextos, como um trabalho burgus, no sabe?Marilena:Eu sei!

    CULT: Ento, por que a cultura erudita ou o pensamento associada por alguns movimentos

    a uma prtica burguesa?Marilena: O pensamento associado prtica burguesa porque esses movimentos operampela ausncia de pensamento. Estamos em uma situao aterradora: do lado da direita e daesquerda h ausncia de pensamento. Voc conversa com algum da direita e v que ele capaz de dizer quatro frases contraditrias e sem perceber as contradies. Voc conversa comalgum da extrema esquerda e v o totalitarismo que tambm opera com a ausncia dopensamento. Ento ns estamos ensanduichados entre duas maneiras de recusar opensamento. L onde o pensamento estiver se exercendo, ele receber mil e um nomes, e comopara esse pessoal de esquerda xingar chamar de burgus, eles tratam a cultura erudita como

    coisa de burgus. Mas se voc perguntar o que a burguesia e o que o capital, se pedir umaexplicao, ver que eles no sabem muita coisa; apenas repetem um chavo. Nesses grupos huma coisa muito parecida com o que acontece nas igrejas evanglicas: uma teologia e umalavagem cerebral. um esvaziamento de qualquer capacidade de pensamento. No por acasoque dos dois lados o exerccio da violncia igual, e vai da violncia verbal fsica, exignciade sangue. Quando o Joo Grandino Rodas foi reitor da USP e houve a segunda ocupao dareitoria, ns, professores, fomos negociar com os alunos e com a prpria reitoria, e os alunosfinalmente aceitaram desocupar. Veio ento um membro desses pequenos partidos deesquerda e disse: Ningum sai; ns queremos ver sangue. Por que ele queria ver sangue?Porque ele achava que ganharia poder pela destruio fsica do outro uma destruio que no nem poltica, nem social.

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    CULT: H um encolhimento da capacidade humana de refletir e fazer escolhas ponderadas?Tanto do lado da polcia como do de certos grupos de esquerdaMarilena:Eu entendo isso com Espinosa. O que h nos seres humanos? H paixes. A maneiracomo entendemos o mundo, a ns mesmos e aos outros dada pela maneira como o mundo eos outros nos afetam. Eles causam em ns a sensao de perigo ou de aumento da nossacapacidade de viver. Se tudo o que se passa em mim produzido pela maneira como o que estfora age sobre mim, eu sou passiva e todos os meus sentimentos so apenas paixes: o amor, a

    esperana, o cime, a misericrdia, a honra, a glria etc. O que eu sinto pura e simplesmenteuma reao passiva ao que vem de fora.

    Ao contrrio, se eu tenho fora interior para saber que eu posso ser a causa dos meussentimentos e, que se sinto raiva de voc, no por sua causa, mas por aquilo que eu sinto comrelao ao que eu penso a seu respeito, ento me vejo como a causa da raiva que sinto por voc,em funo do modo como eu penso em voc ou percebo voc. A partir do momento em que eusou capaz de me reconhecer como causa dos meus sentimentos, eu sou ativa e descubro queno tenho de responsabilizar os outros por aquilo que se passa em mim. Se eu for passiva,

    nunca serei livre; tudo o que eu fizer ser determinado pelo que os outros exigem de mim; e,mesmo que eles no faam nenhuma exigncia, eu sinto como uma exigncia. Ento s obedeoao que eu imagino que seja o desejo do outro. Ao contrrio, se o meu desejo que determina oque eu vou fazer e como vou fazer, eu sou livre.

    Dessa perspectiva, o que a violncia? aquilo que se passa inteiramente no campo daspaixes, porque l que os desejos entram em conflito. Se eu me entregar a elas, fao o meudesejo valer destruindo o desejo do outro; e o outro faz a mesma coisa: ele acha que, paraexistir, deve dobrar o meu desejo, deve se apropriar de mim e me dominar fsica epsicologicamente, pela manipulao dos desejos e sentimentos, pela ideologia, por uma srie

    de manipulaes sociais, amorosas etc. Pense no caso da violncia policial: a fora fsica purae simples. Um policial no capaz de tomar uma deciso em que ele enfrentaria uma ordemrecebida, dizendo, por exemplo: Puxa vida, um filho meu poderia estar entre osmanifestantes. Mas isso no acontece s porque ele recebeu uma ordem. porque essaordem constitui o modo como ele , pensa e opera. Ele encarna essa ordem, o portador dela eopera em um contexto de pura paixo. Essa uma anlise puramente psicolgica. precisopensar tambm em termos sociais: o policial encarna a represso; ele a realiza em nome daordem, da paz e da segurana. Psicologicamente, ele no capaz de deliberar sobre comopoderia agir diante de manifestantes que gritam por direitos e denunciam privilgios, porque

    ele , naquele instante, pura paixo. Social e institucionalmente, ele s existe como policialporque recebe, cumpre ou d uma ordem. A polcia existe, ento, como instituio socialgarantidora de determinados privilgios de classe. Tratase do embate entre o direito e oprivilgio. Esse embate se realiza, na sociedade brasileira, por meio da violncia.

    CULT: A senhora diria que o movimento de ocupao das escolas foi um bom uso polticodas paixes?Marilena:Um excelente uso

    CULT: E que diferena a senhora v entre esse movimento e o das ruas de 2013?

    Marilena: Em 2013, o movimento foi algo inesperado. Pouco antes das manifestaes, euestava dando um seminrio na faculdade e ouvi um tambor pelos corredores. Me falaram: omovimento do Passe Livre, que est convocando uma reunio. Havia s uns 30, 40 gatospingados. At que eles puseram nas redes sociais e aconteceu aquela movimentao toda. Mas

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    na primeira manifestao tinha de tudo. Era um evento com a motivao mais diversa possvel.No estou dizendo que era um movimento totalmente despolitizado, mas que tinha umpequeno contedo determinado pelo grupo do Passe Livre, ao qual se juntaram outras formasde descontentamento. Foi estarrecedor ver que, na segunda manifestao, quando a juventudecomeou a comemorar, levando bandeiras do PT, do PSTU, do PSOL, do movimento dos semteto, apareceram jovens embrulhados na bandeira do Brasil, atacando, espancando eensanguentando os manifestantes de esquerda. Assim, em lugar do conflito democrtico,

    passouse ao combate violento e agresso ao adversrio. Mas algo curioso aconteceu:construiuse um sentido poltico para toda aquela movimentao. A prpria mdia, que falavados vndalos das primeiras manifestaes, depois passou a falar de manifestantes. Houveuma construo poltica de uma manifestao que no existiu realmente como algo poltico.Ningum prestou ateno nisso! Eu procurei falar do assunto e fui violentamente agredida,mesmo pela esquerda. Disseram que eu no tinha entendido o momento histrico. Mas fizerammais: pegaram a afirmao que eu fiz sobre o carter fascista dos jovens vestidos com a

    bandeira e disseram que eu havia considerado todas as manifestaes como fascistas. Na pocadas eleies, o Fernando Gabeira chegou a escrever um artigo de uma pgina inteira no jornal

    O Globo contra mim, afirmando que, na minha opinio, a presena do povo na rua erafascismo. O que eu tinha dito era: houve um momento fascista nessas manifestaes e ningumest prestando ateno nisso. A, quando comearam os panelaos de 2015, ficou evidente oque eu queria dizer. O que veio a seguir? Veio a demanda de retorno da ditadura, a presenada TFP [Grupo de extrema direita intitulado Tradio, Famlia e Propriedade] e a afirmao dapauta conservadora dos 3Bs.

    CULT: Na verdade, em 2013, a senhora previu, em entrevista CULT, que no Brasil iriamacontecer panelaos parecidos com os da Argentina.Marilena:Fui a nica. Eu no sei por que as pessoas algumas delas inclusive feridas por 1964

    e 1968 muito mais do que eu, como o prprio Gabeira no se deram conta do que estavavindo. No sei se eu conseguia ver porque presto muita ateno no Brasil como uma sociedadeviolenta e autoritria No sei se por isso, mas eu fiquei muito surpresa ao perceber quemuita gente de esquerda no percebia o que estava se montando e que junho de 2013 no eramaio de 1968. Maio de 1968 foi a ocupao das escolas agora. Isso foi maio de 68.

    CULT: Por qu?Marilena:Porque, no caso da ocupao das escolas, h, em primeiro lugar, um movimento deincluso e ampliao. A marca dos movimentos realmente libertadores sempre a incluso e a

    ampliao. Em segundo lugar, pelo fato de que ele foi se dando maneira do que, no meutempo, se conhecia como greve pipoca. Em uma fbrica, por exemplo, s seis horas damanh, um setor para por 40 minutos. Durante o tempo em que ele parou, outros trs ouquatro setores no conseguiram funcionar. Ento, aquele primeiro setor volta a funcionar, mas,da, em outra ponta, outro setor para por 40 minutos. Tudo o que est em volta no funciona.Assim, sobretudo quando a greve era proibida, ia pipocando paralisao, de modo que asinstituies (uma fbrica, uma escola etc.), mesmo sem parar, ficavam inteirinhas paralisadas.Nos lugares estratgicos pipocava a paralisao. Foi assim que a ocupao das escolas seguiu oprincpio da greve pipoca. Quando os administradores da educao achavam que iam resolvera ocupao de uma escola, comeava na outra; quando eles iam resolver nessa outra, comeavaem outra. Ou seja, ela foi pipocando at o instante em que parou tudo.

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    Alm disso, a maior diferena entre a ocupao das escolas e o movimento de 2013 que aparalisao aconteceu no interior de uma instituio pblica e social para a garantia do carterpblico dessa instituio. No foi um evento em favor disso ou daquilo; foi uma ao coletivade afirmao de princpios polticos e sociais. Os dois grandes princpios foram, primeiro, oprincpio republicano da educao a educao pblica; segundo, o princpio democrtico daeducao a educao um direito. A ao dos estudantes e professores foi to significativaporque eles disseram: O espao da escola nosso. Somos ns, alunos e professores, que somos

    a escola. Ento, foi a integrao de posse das escolas pelos alunos e professores. gigantesco o fato de algum no Brasil pensar que algo pblico nosso! diferente dasocupaes de reitorias, em que os estudantes dizem: Ns somos contra isso que o reitor fezAgora, os estudantes disseram: Esse lugar, essa instituio pblica; ela nossa e no vamossair daqui. Eles se posicionaram contra algo tpico do neoliberalismo posto em prtica, sobcertos aspectos, no decorrer da Ditadura e, depois, explicitamente nos governos FernandoHenrique Cardoso: a ideia de que um direito social e poltico aquilo que pode sertransformado em servio e comprado no mercado. As pessoas falam das privatizaes como seelas fossem apenas a da Vale e das grandes empresas isso tambm, mas o ncleo da

    privatizao est em outro lugar, est na transformao de um direito social em servio que secompra e vende no mercado. Isso foi feito com a educao, com a sade, com o transporte, comtodos os direitos sociais. E, em So Paulo, com grandes baterias, isso foi feito. Os estudantesmostraram que a escola pblica no mercadoria; fizeram uma ao republicana e democrticade um alcance incrvel. Eu s vi algo parecido, em termos de configurao social no Brasil, nasgreves de 1978 e 1979 no ABC. Por qu? No pela repercusso, mas pelo sentido que elastiveram.

    Pensem no fato de que, durante as ocupaes, s foram chamados para dar entrevistascientistas polticos, socilogos, historiadores, mas nenhum professor ou estudante das escolas

    ocupadas! Nenhum professor ou estudante foi considerado capaz de explicar o que se passava.S se ouviu gente que estava fora das salas de aula e que vinha explicar falando disparates.Quando a mdia entrevistava algum estudante, s perguntava coisas do tipo: O que vocsente? Do que voc gosta e no gosta? O que voc quer?. Ou seja, ficava no nvel puro esimples do sentimento, no do pensamento. Apesar disso, a palavra deles chegou sociedadepor outras vias; e isso mostra o tamanho da ao que eles realizaram. Houve umasolidariedade que h muitos e muitos anos no se via no estado de So Paulo inteiro. Por fim,as ocupaes deixaram claro o motivo de fechar as escolas. Em um pas como o nosso, no sefecha escola; se abre. Mas o governador de So Paulo queria os terrenos para uma explorao

    imobiliria gigantesca. E para fazer o qu? Para fazer fundo de campanha. claro que agora oGeraldo Alckmin vai tentar fragmentar tudo e implantar devagarzinho o seu projeto. Hoje essaescola, amanh aquela. No sei se ele vai conseguir, mas vai tentar. Como o EnsinoFundamental praticamente todo municipal, o Ensino Mdio estadual e, de um modo geral,o Ensino Universitrio responsabilidade federal, essas instncias operam de modofragmentado; e isso permite tentativas de reestruturao como as de So Paulo e de Gois. Detodo modo, os estudantes revelaram que a ideia de fechar uma escola no significava fecharuma escola, significava vender um terreno. Portanto, eles denunciaram o carter corrupto dasuposta poltica de reestruturao escolar.

  • 7/25/2019 Marilena Chau_ _Brasil Atual Far 1964 Parecer Simples

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    (https://novobloglimpinhoecheiroso.files.wordpress.com/2016/02/marilena_chaui04.jpg)A ao dos estudantes e professores foi to significativa porque eles disseram: O espao da

    escola nosso. Somos ns, alunos e professores, que somos a escola. Foto de Bob Sousa.CULT: Como a senhora v o atual momento da economia brasileira?Marilena:No primeiro ministrio montado pela presidente Dilma, enfatizouse, por um lado, acrise internacional em que o elemento financeiro decisivo, e, por outro, o fato de haver, noBrasil, uma disputa entre a indstria, o comrcio e o setor agrrio. A Dilma ps representantesdesses setores no governo e deu a eles a responsabilidade de resolver o conflito. Um banqueirounto com o agronegcio. Eles no resolveram. No sei se a presidente foi maquiaveliana, masela parecia prever que eles fracassariam e que o fracasso mostraria para onde o barco deve ir.Ento, o que ela est fazendo agora? Ao chamar o principal assessor do Guido Mantega, ela

    sinaliza claramente que vai retomar a poltica de desenvolvimento e crescimento econmico, acomear pelo aumento do salrio mnimo.

    claro que h uma crise internacional gigantesca e que vai pegar os membros do BRIC. Jpegou a China, est pegando a ndia; a situao vai complicar. Mas, de todo modo, a opoagora a do desenvolvimento. Sem desenvolvimento e crescimento no se faz, efetivamente, apoltica dos programas sociais. Se no h mudana no mercado de trabalho com aumento doemprego e da escolaridade, a manuteno dos programas sociais vira assistncia.

    CULT: Como a senhora entende a crtica da classe mdia alta e de alguns economistas queafirmam ser o Brasil um pas protecionista e que faz pouco investimento?Marilena:O grito contra o protecionismo o grito da direita. So os republicanos nos EUA, oLe Pen na Frana, o pessoal da Alemanha. O que eles entendem pr fim do protecionismo? Umliberou geral, um capitalismo adulto. A ideia de que o Estado intervenha o que eleschamam de protecionismo. Mas se o Estado no limitar a ao do capital, caise na barbrie.Com relao ao investimento, a gente sabe que o Estado brasileiro investe. H dadosinacreditveis. Na verdade, no so inacreditveis se conhecermos bem a burguesia brasileira.Vejam: o BNDES liberou todos os recursos possveis para os empresrios brasileiros, mas elesno investiram; eles puseram tudo nos bancos, nas ilhas Cayman, em Miami, onde quiseram.

    Em vez de investir no pas, o dinheiro do BNDES foi parar no setor financeiro fora do Brasil. Eda se diz que o pas no investe! Eu adoro a burguesia brasileira. Quando ela disse querocaf, foi timo. No mundo inteiro, quem vai plantar caf constri estrada de ferro para levar ocaf at os pontos de distribuio. Aqui no Brasil, porm, o Estado que tem de construir

    https://novobloglimpinhoecheiroso.files.wordpress.com/2016/02/marilena_chaui04.jpg
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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

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    estradas de ferro. A burguesia s plantava o caf. Se ela precisa de porto, no mundo inteiro elaconstri portos. Aqui no. o Estado que tem de construir o porto para a burguesia mandar ocaf. A burguesia quer industrializar, mas o Estado que tem de fornecer eletricidade. A

    burguesia brasileira mama nas tetas do Estado desde que ela nasceu. E tem a ousadia de secolocar contra os programas sociais, quando ela depena o Estado sistematicamente.

    CULT: Recentemente, a senhora afirmou que o Bolsa Famlia fez pelas mulheres o que seis

    dcadas de feminismo no mundo no conseguiuMarilena:Esses dados esto consagrados em um livro feito pela Walquria Leo Rego sobre oBolsa Famlia [Bolsa Famlia: autonomia, dinheiro e cidadania, em coautoria com AlessandroPinzani, Editora da Unesp]. O que ela mostrou? Primeira coisa: como o dinheiro vai para asmulheres, elas foram transformadas em chefes de famlia. Na tradio brasileira, o dinheirocostuma ir para o homem, e s uma parte vai para a famlia; a outra parte vai para os gastospessoais dele. Com o Bolsa Famlia, quebrase o monoplio masculino sobre a administraoda casa. Em segundo lugar, as mulheres passaram a cuidar mais de si mesmas. Juntando odinheiro do Bolsa Famlia com os servios do SUS, por exemplo, elas fizeram diminuir o

    nmero de doenas femininas. Finalmente, elas tm participado mais de atividades pblicas,filiaramse a movimentos sociais e criaram cooperativas. H uma quantidade enorme decooperativas criadas pelas mulheres com o que sobra do uso do dinheiro do Bolsa Famlia.

    CULT: Qual seria o papel do Estado na promoo da igualdade e dos direitos das mulheres?Marilena: A funo do Estado no a de promover. Ele tem de reconhecer os direitos dasmulheres e decretlos. Sua funo consignar na lei, institucionalmente, aquilo que osmovimentos das mulheres exigem e produzem, mas essa ao social. A poltica se faz pelasociedade. O Estado brasileiro precisa parar de agir como se no houvesse uma sociedade. Aele cabe salvaguardar tudo o que h de republicano e democrtico nas aes polticas da

    prpria sociedade. Mais do que promover, o Estado tem de garantir.

    uvenal Savian Filho professor de Histria da Filosofia da Unifesp; e Las Modelli reprterda revista CULT.

    Leiatambm: Coletnea de textos: FHC, o vendilho da Ptria (http://wp.me/p2vU7H69j) Coletnea de textos: Lula, o melhor presidente da histria do Brasil(http://limpinhoecheiroso.com/2015/10/23/coletaneadetextoslulaomelhorpresidentedahistoriadobrasil/) Coletnea de textos: Dilma, a guerreira do povo brasileiro(http://limpinhoecheiroso.com/2015/10/23/coletaneadetextosdilmaaguerreiradopovobrasileiro/) Coletnea de textos: Zelotes, Mais Mdicos, Bolsa Famlia, SUS, BNDES, ONU(http://limpinhoecheiroso.com/2016/01/02/coletaneadetextosmaismedicosbolsafamiliasusbndesonueobrasilreal/) Coletnea de textos: Lista de Furnas, Mariana, Acio Neves e o brilho de sua carreira(http://wp.me/p2vU7H69f) Coletnea de textos: Alckmin e sua mediocridade (http://wp.me/p2vU7H69n)

    Coletnea de textos: Trensalo tucano e a grande quadrilha (http://wp.me/p2vU7H69z) Coletnea de textos: Jos Serra, o Zezinho entreguista(http://limpinhoecheiroso.com/2015/10/15/coletaneadetextosjoseserraozezinhoentreguista/)

    http://wp.me/p2vU7H-69Qhttp://limpinhoecheiroso.com/2015/10/15/coletanea-de-textos-jose-serra-o-zezinho-entreguista/http://wp.me/p2vU7H-69zhttp://wp.me/p2vU7H-69nhttp://wp.me/p2vU7H-69fhttp://limpinhoecheiroso.com/2016/01/02/coletanea-de-textos-mais-medicos-bolsa-familia-sus-bndes-onu-e-o-brasil-real/http://limpinhoecheiroso.com/2015/10/23/coletanea-de-textos-dilma-a-guerreira-do-povo-brasileiro/http://limpinhoecheiroso.com/2015/10/23/coletanea-de-textos-lula-o-melhor-presidente-da-historia-do-brasil/http://wp.me/p2vU7H-69j
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    Coletnea de textos: O incio do fim da era plimplim (http://wp.me/p2vU7H69Q) Coletnea de textos: A mdia como ela golpista e manipuladora(http://limpinhoecheiroso.com/2016/01/02/coletaneadetextosamidiacomoelaegolpistaemanipuladora/) Coletnea de textos: Por que a justia no rela no Perrella? (http://wp.me/p2vU7H69V) Coletnea de textos: Prefeito Fernando Haddad enfrenta a mfia demotucana(http://wp.me/p2vU7H69D)

    Coletnea de textos: O que voc precisa saber para no ter saudade da ditadura civilmilitar (http://limpinhoecheiroso.com/2014/04/16/coletaneadetextosoquevoceprecisasaberparanaotersaudadedaditaduracivilmilitar/) Coletnea de textos: Joaquim Barbosa, o exmenino pobre que mudou (pra pior) o Brasil(http://wp.me/p2vU7H69L) Coletnea de textos: lvaro Dias, Beto Richa, Banestado e outros personagens daRepblica do Paran (http://wp.me/p2vU7H69a) Coletnea de textos: Sonegao crime, estpido!(http://limpinhoecheiroso.com/2015/10/26/coletaneadetextossonegacaoecrimeestupido/)

    Coletnea de textos: Gilmar Mendes, o defensorgeral do retrocesso(http://limpinhoecheiroso.com/2015/10/26/coletaneadetextosgilmarmendesodefensorgeraldoretrocesso/) Coletnea de textos: O nome Petrobras e no Petrobrax, estpido! (http://wp.me/p2vU7H69Z) Coletnea de textos: Quem tem Cunha, tem medo(http://limpinhoecheiroso.com/2015/10/13/coletaneadetextosquemtemcunhatemmedo/) Coletnea de textos: Brasil, Cuba e Amrica Latina(http://limpinhoecheiroso.com/2014/04/15/coletaneadetextosbrasilcubaeamericalatina/) Coletnea: 470 textos que faro voc pensar 13 vezes antes de votar em qualquer tucano(http://limpinhoecheiroso.com/2014/10/23/coletanea470textosquefaraovocepensar13vezesantesdevotaremqualquertucano/) Coletnea de textos: Os coxinhas marchadores, o fascismo e o imptiman(http://limpinhoecheiroso.com/2016/01/02/coletaneadetextososcoxinhasmarchadoresofascismoeoimpitiman/) Coletnea de textos: Doutor Srgio Moro e sua Operao LavaJato(http://limpinhoecheiroso.com/2016/01/02/coletaneadetextosdoutorsergiomoroesuaoperacaolavajato/) Coletnea de textos: Temas internacionais e EUA so a verdadeira ameaa paz mundial

    (http://limpinhoecheiroso.com/2016/01/02/coletaneadetextoseuasaoaverdadeiraameacaapazmundial/) Coletnea de textos: O Judicirio brasileiro, que serve s elite, caro e ineficiente(http://limpinhoecheiroso.com/2016/01/02/coletaneadetextosojudiciariobrasileiroqueservesoaeliteecaroeineficiente/) Coletnea de textos: Eduardo Campos, o socialista de araque (http://wp.me/p2vU7H69t)

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  • 7/25/2019 Marilena Chau_ _Brasil Atual Far 1964 Parecer Simples

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    03/03/2016 Marilena Chau: Brasil atual far 1964 parecer simples. | bloglimpinhoecheiroso

    2 Respostas to Marilena Chau: Brasil atual far 1964

    parecer simples.

    John Jahnes Says:23 de fevereiro de 2016 s 9:30E o doutor MORO continua sendo a salvao da lavoura tucana. Foi s aparecer e alastrarna midia as verdades sobre seu poltico favorito, o Fernando Henrique Dutyfree Cardoso,que ele lanou a bia de salvao do afogado, a OPERAO ACARAJ, que tirou ocorrupto tucano das manchetes e colocou novamente Lula rumo cadeia do MORO. (Serque o Moro tem alguma doena mental que o faz perseguir o LULA?)O FHDUTYFREE saiu das mdia e MORO colocou o LULA novamente em destaque.A Fazenda de 20 dlares do FHC em MG, nunca incomodou o Moro?O maior escndalo de lavagem de dinheiro do Brasil, o BANESTADO, no incomodou o

    MORO, mesmo ele tendo participado das investigaes?Os dois apartamentos que FHDUTYFREE comprou em Higidnpolis, um dele e um danamorada, no incomoda o MORO e nem causa desconfiana?O apartamento em Paris numa das ruas mais caras do mundo, no incomoda o MORO?A a empresa agropecuria de Fernando DUTYFREE, na cidade de OSASCO, que no temrea rural, no incomoda o MORO?A delao de que deram 100 mil dolares para FHC, no preocupou o Dr. MORO?A DUTYFREE e sua relao espria com o FHC no incomoda o MORO?

    TEM, SE TEM, TEM COISA A.Eliane Barroso Says:23 de fevereiro de 2016 s 9:02Perfeito!

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