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i MARIA LUISA DE ANDRADE FREITAS ESTUDO EXPERIMENTAL SOBRE OS NOMINALIZADORES –ÇÃO E –MENTO: LOCALIDADE, CICLICIDADE E PRODUTIVIDADE CAMPINAS, 2015

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MARIA LUISA DE ANDRADE FREITAS

ESTUDO EXPERIMENTAL SOBRE OS NOMINALIZADORES –ÇÃO E –MENTO:

LOCALIDADE, CICLICIDADE E PRODUTIVIDADE

CAMPINAS,

2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

MARIA LUISA DE ANDRADE FREITAS

ESTUDO EXPERIMENTAL SOBRE OS NOMINALIZADORES –ÇÃO

E –MENTO: LOCALIDADE, CICLICIDADE E PRODUTIVIDADE

Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutora em Linguística.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Filomena Spatti Sandalo Co-Orientador: Prof. Dr. Andrew Ira Nevins

CAMPINAS, 2015

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Ficha catalográficaUniversidade Estadual de Campinas

Biblioteca do Instituto de Estudos da LinguagemCrisllene Queiroz Custódio - CRB 8/8624

Freitas, Maria Luisa de Andrade, 1983- F884e FreEstudo experimental sobre os nominalizadores -ção e -mento : localidade,

ciclicidade e produtividade / Maria Luisa de Andrade Freitas. – Campinas, SP :[s.n.], 2015.

FreOrientador: Maria Filomena Spatti Sandalo. FreCoorientador: Andrew Ira Nevins. FreTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos

da Linguagem.

Fre1. Língua portuguesa - Brasil - Sintaxe. 2. Língua portuguesa - Sintagma

nominal. 3. Língua portuguesa - Fonologia. 4. Língua portuguesa - Formação depalavras. I. Sândalo, Maria Filomena Spatti,1965-. II. Nevins, Andrew. III.Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. IV.Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Experimental study on -ção and -mento nominalizers : locality,cyclicity and produtivityPalavras-chave em inglês:Portuguese language - Brazil - SyntaxPortuguese language - Noun phrasePortuguese language - PhonologyPortuguese language - Word formationÁrea de concentração: LinguísticaTitulação: Doutora em LinguísticaBanca examinadora:Maria Filomena Spatti Sandalo [Orientador]Plinio Almeida BarbosaAna Paula ScherLuiz Carlos da Silva SchwindtAlessandro Boechat de MedeirosData de defesa: 24-04-2015Programa de Pós-Graduação: Linguística

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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Bill Watterson, Calvin and Hobbes

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ABSTRACT

This dissertation describes and analyses morphophonological and morphosyntactic aspects of the deverbal nouns formed by the nominalizing suffixes –ção and –mento in Brazilian Portuguese, combining an experimental and quantitative approach with a diachronic investigation. These suffixes can take both roots and verbs to form derived nouns and they are described together as the most productive nominalizers (Basílio 1980, 1996; Rocha 1999; among others). In a quantitative study (Freitas 2014), I found clear tendencies in the distribution of these affixes from the analysis of a database of 2715 words collected from the electronic version 1.0 of the Houaiss Dictionary of Portuguese: (i) There is a preference relation between the verbs of second conjugation (in –er) and the suffix –mento. Interestingly, in the deverbal nouns formed by this suffix there is an obligatory raising of the theme vowel –e- to [i] (e.g. mover/movimento), triggering neutralization between the second and the third verbal conjugations. However, in nouns formed by –ção, the raising is not categorical (e.g. fazer/fazeção/*fazição); (ii) the argument structure type of the verbal base is a conditioning factor for the selection of –ção and –mento: transitive and unergative verbs preferably select –ção and unaccusative verbs preferably select –mento. In this dissertation, I investigate whether these lexical trends are synchronically productive, exhibiting or not psychological reality for native speakers. To do so, I developed three wug-tests in order to test the hypothesis that speakers have internalized two conditioning factors in the preferential selection of –ção and –mento: (i) the phonological factor, i.e. the thematic classes of the verbal bases; (ii) the syntactic factor, i.e. the argument structure type of the verbal bases. The experimental results attest there is a significant correlation between these factors and the choice of nominalizing suffix, as we have found in the lexicon. Therefore, taking into account a syntactic model of word formation such as Distributed Morphology (Halle; Marantz 1993; 1994; among many others), I argue that the argument structure of verbal bases is responsible for the morphophonological and morphosyntactic behavior of the nouns formed by –ção and –mento. I defend the hypothesis that the presence of a DP as complement of a root may trigger differences in the computational point at which the roots are sent to the phonological component to be phonologically processed, resulting in surface differences to the derived nouns. Additionally, in this work, I also address questions relating to the diachronic variation in the morphological productivity of the competing morphemes based on a pilot study using the electronic version of the Houaiss Dictionary of Portuguese.

Keywords: Nominalizers –ção and –mento; Theme Vowel; Argument Structure; Word Formation; Locality; Cyclicity; Morphological Productivity.

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RESUMO

Esta tese descreve e analisa aspectos morfofonológicos e morfossintáticos dos nomes deverbais formados pelos nominalizadores –ção e –mento no Português Brasileiro, aliando uma abordagem experimental e quantitativa a uma investigação diacrônica. Esses sufixos formam nomes derivados a partir de raízes e verbos e são descritos conjuntamente como os nominalizadores mais produtivos em PB (Basílio 1980, 1996; Rocha 1999; entre outros). Em um estudo quantitativo (Freitas 2014), averiguamos tendências claras na distribuição desses afixos nominalizadores, a partir da análise de uma base de dados composta de 2175 palavras: (i) Há uma relação de preferência entre os verbos da segunda conjugação (em -er) e o sufixo –mento. Interessantemente, nos nomes deverbais formados por este afixo há um alteamento obrigatório da vogal temática -e- (e.g. mover/movimento), causando neutralização entre a segunda e a terceira conjugação. Contudo, nos nomes formados por –ção, este alteamento não é categórico (e.g. fazer/fazeção/*fazição). (ii) A estrutura argumental da base é fator condicionante na escolha dos sufixos –ção e –mento: verbos transitivos e inergativos são preferencialmente nominalizados com –ção, e os verbos inacusativos são nominalizados com –mento. Neste trabalho, investigamos se as tendências lexicais identificadas são produtivas sincronicamente, quer dizer, se as distribuições observadas no léxico apresentam realidade psicológica ou não para os falantes de PB. Para isso, desenvolvemos três experimentos com logatomas (ou pseudo-palavras) com intuito de averiguar a hipótese de que os falantes têm internalizados dois fatores que condicionam a seleção preferencial dos sufixos –ção e –mento: (i) o fator fonológico, i.e., as classes temáticas verbais; e (ii) o fator sintático, i.e., a estrutura argumental do verbo base. Os resultados dos experimentos atestam que existe uma correlação significativa entre os fatores investigados e a escolha do sufixo nominalizador, assim como averiguamos no léxico. Dessa maneira, tendo em vista um modelo sintático de formação de palavras como o da Morfologia Distribuída (Halle; Marantz 1993; 1994; Marantz 2001, 2007; Embick 2010), argumentamos que o tipo de estrutura argumental dos verbos determina o comportamento morfofonológico e morfossintático dos nomes deverbais formados pelos sufixos –ção e –mento. A hipótese que defendemos é a de que a presença de DP complemento na estrutura argumental de verbos desencadeia diferenças no ponto computacional em que as raízes são enviadas ao componente fonológico para serem processadas, gerando diferenças de superfície nos nomes resultantes desse processo derivacional. Adicionalmente, abordamos nesta tese a questão da variação na produtividade morfológica dos nominalizadores –ção e -mento em uma perspectiva diacrônica, a partir de um estudo piloto acerca da datação das palavras contidas na versão eletrônica do dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

PALAVRAS-CHAVE: Nominalizadores –ção e -mento; Vogal Temática; Estrutura Argumental; Formação de Palavras; Localidade; Ciclicidade; Produtividade Morfológica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO I. OS SUFIXOS NOMINALIZADORES EM PB E OUTRAS LÍNGUAS

ROMÂNICAS 9

1. Considerações iniciais 9

2. Os sufixos –ção e –mento em PB 11

2.1. O sufixo –mento 14

2.2. O sufixo –ção 19

3. Outras línguas românicas 23

3.1. Espanhol: Fábregas (2010) 23

3.1.2. Classes verbais e a distribuição dos sufixos –do/-da e –miento 25

3.1.2. O sufixo –ción 27

3.1.3. Proposta teórica 28

3.2. Francês: Martin (2010) 31

3.2.1. -ment vs. –age 32

3.2.2. –ment vs. –ion 36

3.2.3. –age vs. –ion 38

CAPÍTULO II. FORMAÇÃO DE PALAVRAS, NOMINALIZAÇÃO E ESTRUTURA ARGUMENTAL:

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 41

1. Considerações iniciais 41

2. A Morfologia Distribuída 43

2.1. Conceitos fundamentais da MD 44

2.2. O léxico explodido e a arquitetura de gramática da MD 47

2.3. Operações Morfológicas 49

2.3.1. Concatenação Morfológica 50

2.3.2. Fusão 51

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2.3.3. Fissão 52

2.3.4. Empobrecimento 52

3. Ciclicidade e Formação de palavras 54

4. Nominalizações 59

5. Hale e Keyser (2002): Estrutura Argumental 70

CAPÍTULO III. RESULTADOS QUANTITATIVOS E EXPERIMENTAIS: DESCRIÇÃO E

ANÁLISE 73

1. Considerações iniciais 73

2. Resultados quantitativos: Freitas (2014) 78

2.1. Vogal temática 81

2.2. Alteamento da vogal temática /e/ 83

2.3. Terminações verbais 84

2.4. Tipos de verbo 85

2.5. Formas duplas 87

2.6. Identidade com a base 87

2.7. Interpretando os fatos 89

3. Resultados experimentais 95

3.1. Experimentos 1 e 2: Classes Temáticas 96

3.1.1. Desenho dos experimentos 96

3.1.2. Tratamento da base 102

3.1.3. Resultados descritivos e testes de hipóteses 104

3.1.3.1. Experimento 1 104

3.1.3.2. Experimento 2 108

3.2. Experimento 3: Estrutura Argumental 112

3.2.1. Desenho do Experimento 3 113

3.2.2. Tratamento da base 117

3.2.3. Resultados descritivos e testes de hipóteses 119

3.3. Interpretando os fatos 123

3.3.1. Sumário dos principais resultados 124

3.3.2. Proposta teórica 126

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CAPÍTULO IV. PRODUTIVIDADE MORFOLÓGICA, DIACRONIA E FORMALIZAÇÃO

TEÓRICA 135

1. Considerações iniciais 135

1.2. Quantificando a produtividade 137

1.3. Variação diacrônica na produtividade morfológica 140

1.4. Objetivos do capítulo 143

2. Tang e Nevins (2013) 143

3. Variação diacrônica na produtividade de –ção e –mento 146

3.1. Resultados 150

3.2. Interpretando os resultados 152

4. Formalização Teórica 156

CONCLUSÕES 165

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 169

ANEXO 179

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Agradecimentos

Agradeço a todos os falantes nativos do Português do Brasil que, de maneira anônima, participaram

desta pesquisa e tornaram possível a construção deste trabalho.

Agradeço à minha orientadora desde o mestrado, professora Filomena Sandalo, pela orientação

dedicada, pelo apoio e incentivo, e também pelo carinho, respeito e amizade que construímos nessa

jornada de seis anos que trilhamos juntas. Os seus conselhos sempre representaram um norte nos

momentos mais incertos e difíceis. A minha formação como linguista estará para sempre marcada

pelo seu rigor teórico e sua objetividade na condução do trabalho científico.

Agradeço ao meu co-orientador e orientador da minha qualificação de área, professor Andrew

Nevins, pela orientação segura e competente, pela escuta cuidadosa e pelas questões precisas e

perspicazes imprescindíveis à construção das análises teóricas. Agradeço também por me puxar

sempre para muito além da minha zona de conforto, me apresentando novas possibilidades e novas

fronteiras do meu fazer científico.

Agradeço ao professor Norvin Richards por ter me recebido, como meu supervisor, no

Departamento de Linguística e Filosofia do Massachusetts Institute of Technology, no período do

meu Doutorado Sanduíche. Agradeço pela gentileza e por ter conduzido de maneira tão clara,

serena e competente a orientação do meu trabalho, ouvindo com atenção e generosidade a qualquer

esboço rudimentar de análise que eu tentasse traçar. Foi uma oportunidade única conhecer alguém

com um conhecimento tão enciclopédico de tipologia linguística e, ao mesmo tempo, um domínio

tão profundo da teoria gerativa.

Agradeço aos professores Plinio Barbosa e Ana Paula Scher que estiveram na minha banca de

qualificação e cujos comentários e sugestões foram imprescindíveis para a finalização desta tese.

Agradeço aos membros da banca de defesa do Doutorado, os professores Plinio Barbosa, Ana Paula

Scher, Luiz Schmidt e Alessandro Boechat por uma experiência de troca e de aprendizado única.

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Agradeço a todos pela gentileza na condução da arguição, pelo cuidado na leitura deste trabalho e

pelos comentários valiosos.

Agradeço ao CNPq pela concessão da bolsa de Doutorado, que permitiu a realização deste trabalho.

Agradeço à CAPES pela concessão da bolsa de Doutorado Sanduíche (PSDE), que me possibilitou

uma experiência profissional e pessoal ímpar.

Agradeço aos professores do IEL/UNICAMP que foram fundamentais à minha formação, em

especial, aos professores do ForMA: Bernadete Abaurre, Charlotte Galves, Sonia Cyrino, Ruth

Lopes e Juanito Avelar.

Agradeço aos professores de outras universidades que contribuíram de maneiras diversas ao meu

trabalho e enriqueceram a minha formação, em particular, Fábio Bonfim Duarte, Bruna Franchetto,

Gean Damulakis, Luiz Amaral, Roberta Pires de Oliveira, David Pesetsky, Donca Steriade e

Michael Becker.

Agradeço aos funcionários do IEL pela gentileza, especialmente, ao Cláudio, Rose e Miguel, da

secretaria de Pós-Graduação, por solucionarem todo e qualquer problema com rapidez e

competência.

Agradeço aos amigos Natália Salgado Bueno, Rogério Barbosa e Frederico Coutinho por dividirem

comigo seus conhecimentos sobre estatística, sem os quais não seria possível a realização deste

trabalho.

Agradeço aos queridos amigos do IEL que compartilharam comigo conquistas e dúvidas e,

certamente, fizeram os anos de pós-graduação dos mais felizes: Cristina Prim, Aroldo Andrade,

Lilian Teixeira, Magnum Rocha, Tatiane Macedo, Juliana Trannin, Priscila Toneli, Pablo Faria,

Livia Cucatto, Harley Toniette, Antonio Almir Silva e Eduardo Vasconcelos.

Agradeço à querida amiga Eva-Maria Roessler pelo companheirismo, generosidade, pelos mil casos

que compartilhamos e pelas conversas sérias (teóricas ou não).

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Agradeço aos amigos do PRODOCLIN pela oportunidade de aprendizado e de convivência, em

especial, Ingrid Lemos Costa e Angela Chagas. Agradeço aos Ikpeng pela acolhida e por todo

ensinamento.

Agradeço aos amigos que fiz no Paraguay, em particular, Jan David Hauck, Warren Thompson e

Marilin Rehnfeldt. Agradeço aos Aché, Avá, Mbyá, Pai Tavyterã, Guaraní Ocidental e Ñandeva,

pela generosidade com a qual compartilharam comigo sua língua e seu conhecimento.

Agradeço aos amigos que a Linguística me apresentou e que foram importantes nessa minha

caminhada: Sam Al Khatib, Eduard Artés, Elena Nulvesu, Michael Becker, Ana Lúcia Pessotto,

Thiago Coutinho-Silva, Rafael Nonato, Suzi Lima, Cristiane Oliveira e Antonia Fernanda Nogueira.

Agradeço, em especial, aos queridos amigos Glauber Romling e Joana Autuori, que foram dos

encontros mais felizes dos últimos tempos e que vou levar para sempre comigo.

Agradeço aos amigos queridos de São Paulo, que foram a minha família dos últimos anos e sem os

quais eu não teria sobrevivido (!!!): Lívia Santiago, Felipe Bier, Júlia Goyatá, Bel Lüscher,

Bernardo Silveira, Vitor Duarte, Viviane Andrade, Pedro Reis, Sofia Calvit e Frederico Coutinho.

Por fim, agradeço à minha família querida, a base, o começo, o rumo e o propósito de tudo! Meu

pai Antonio Eustáquio, minha mãe Sandra Freitas, minhas irmãs Maria Carolina e Júlia Maria e

minhas sobrinhas Beatriz e Marina.

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Lista de Tabelas

Tabela 01: Diferenças semânticas/aspectuais entre os sufixos estudados

Tabela 02: Distribuição total dos verbos (-ar,-er, -ir, -or)

Tabela 03: Distribuição dos verbos na amostra (-ar, -er, -ir, -or)

Tabela 04: Cruzamento de Vogal temática vs. Sufixo (ção, mento)

Tabela 05: Cruzamento Alteamento da Vogal Temática -e- vs. Sufixo (ção, mento)

Tabela 06: Cruzamento Bases verbais (-izar, -mentar, -ciar/-cionar, -ecer) vs. Sufixo (ção, mento)

Tabela 07: Frequência de Verbos

Tabela 08: Cruzamento Categorias verbais vs. Sufixo (-ção, -mento)

Tabela 09: Cruzamento Verbo Intransitivo* vs. Sufixo

Tabela 10: Cruzamento "Apenas intransitivo" vs. Sufixo

Tabela 11: Frequência de Duplos

Tabela 12: Cruzamento Sufixo (-ção, -mento) vs. Identidade com a base verbal

Tabela 13: Frequência dos Fatores Fonológicos

Tabela 14: Pseudo-verbos dos Exp. 1 e 2

Tabela 15: Exp.1: Intervalo de confiança a 95% das proporções de –ção e –mento nos grupos AR,

ER, IR

Tabela 16: Exp.2. Intervalo de confiança a 95% das proporções de –ção e –mento nos grupos AR,

ER, IR

Tabela 17: Pseudo-verbos do Experimento 3

Tabela 18: Intervalo de confiança a 95% das proporções de –ção e –mento nos grupos TRANS,

BITRANS, INERG, INAC

Tabela 19: Quadro sinóptico dos resultados quantitativos e experimentais

Tabela 20: Novas dormas derivadas em –ment e -ity

Tabela 21: Distribuição dos casos selecionados

Tabela 22: Exemplos de padronização das palavras por século

Tabela 23: Distribuição das palavras em –ção e –mento por século

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Exp.1 - Distribuição dos verbos em AR

Gráfico 02: Exp.1 - Distribuição dos verbos em ER

Gráfico 03: Exp.1 - Distribuição dos verbos em IR

Gráfico 04: Exp.2 - Distribuição dos verbos em AR

Gráfico 05: Exp.2 - Distribuição dos verbos em ER

Gráfico 06: Exp.2 - Distribuição dos verbos em IR

Gráfico 07: Exp.3 - Distribuição dos verbos TRANSITIVOS

Gráfico 08: Exp.3 - Distribuição dos verbos BITRANSITIVOS

Gráfico 09: Exp.3 - Distribuição dos verbos INERGATIVOS

Gráfico 10: Exp.3 - Distribuição dos verbos INACUSATIVOS

Gráfico 11: Distribuição das palavras em –ção e –mento por século

Anexo: Gráfico 12: Exp.1 - Distribuição dos verbos em AR

Gráfico 13: Exp.1 - Distribuição dos verbos em ER

Gráfico 14: Exp.1 - Distribuição dos verbos em IR

Gráfico 15: Exp.2 - Distribuição dos verbos em AR

Gráfico 16: Exp.2 - Distribuição dos verbos em ER

Gráfico 17: Exp.2 - Distribuição dos verbos em IR

Gráfico 18: Exp.3 - Distribuição dos verbos TRANSITIVOS

Gráfico 19: Exp.3 - Distribuição dos verbos BITRANSITIVOS

Gráfico 20: Exp.3 - Distribuição dos verbos INACUSATIVOS

Gráfico 21: Exp.3 - Distribuição dos verbos INERGATIVOS

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1

INTRODUÇÃO

Esta tese descreve e analisa aspectos morfofonológicos e morfossintáticos dos

nomes deverbais formados pelos nominalizadores –ção e –mento no português brasileiro

(doravante PB), aliando uma perspectiva quantitativa e experimental a uma investigação

quantitativa diacrônica. Esses sufixos formam nomes a partir de raízes e verbos e são

descritos conjuntamente como os nominalizadores mais produtivos do PB (Basílio 1980,

1996; Rocha 1999; entre outros).

O ponto de partida para esta pesquisa é um estudo quantitativo que

desenvolvemos focando nos aspectos morfofonológicos complementares dos sufixos –

ção e –mento, relativos ao alteamento da vogal temática dos verbos de segunda

conjugação (em –er) e à alomorfia contextual desencadeada por determinadas bases

verbais1 (Basílio 1983; 1996; Santos 2006). Nesse trabalho, averiguamos tendências

claras na distribuição desses afixos nominalizadores, tendo em vista a análise de uma

base de dados composta de 2175 palavras2 coletadas a partir da versão eletrônica 1.0 do

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:

1 Diversos trabalhos (Basílio 1983; 1996; Santos 2006) apontam que os sufixos –ção e –mento exibem determinadas preferências e restrições de ocorrência com certas classes verbais (e.g. –mento ocorre preferencialmente com –ecer; e –ção ocorre preferencialmente -izar, etc.). Existe, contudo, uma complementaridade nessa distribuição: as classes preferencialmente selecionadas por um sufixo, não o são pelo outro, e vice-versa. Abordaremos essa questão no Capítulo I. 2 Essa base de dados representa uma amostra aleatória de aproximadamente 37% do universo de 7352 palavras em –ção e –mento disponíveis nesse dicionário. Geramos essa amostra utilizando o software SPSS Statistics Data Editor, conforme discutiremos, em detalhes, no Capítulo III desta tese.

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2

(i) Há uma relação de preferência entre os verbos da segunda conjugação (em -er)

e o sufixo –mento. Interessantemente, nos nomes deverbais formados por este

afixo há um alteamento obrigatório da vogal temática -e- (e.g.

mover/movimento/*movemento), causando neutralização entre a segunda e a

terceira conjugação. Entretanto, nos nomes formados por –ção, esse alteamento

não é obrigatório (e.g. fazer/fazeção/*fazição). Por outro lado, os verbos da

primeira e terceira conjugação (em –ar e –ir) selecionam preferencialmente o

sufixo –ção.

(ii) A estrutura argumental da base é fator condicionante na escolha dos sufixos –

ção e –mento: verbos transitivos e inergativos são preferencialmente

nominalizados com –ção, e os verbos inacusativos são nominalizados com –

mento.

Contudo, nos interessava saber se as tendências lexicais identificadas são

produtivas sincronicamente, quer dizer, se as distribuições observadas nos dados

apresentam realidade psicológica ou não para os falantes de PB. Essa questão se localiza

em uma discussão mais geral na literatura, na qual pesquisadores buscam averiguar

experimentalmente a produtividade sincrônica de determinadas regras morfológicas, a

partir da identificação de padrões lexicais possibilitada pela análise quantitativa dos

dados linguísticos (Albright 2003; 2009; Nevins e Rodrigues 2012; Nevins 2014; entre

outros). Para isso, desenvolvemos três experimentos com logatomas (ou pseudo-palavras)

com intuito de investigar a hipótese de que os falantes têm internalizados dois fatores que

condicionam a seleção preferencial dos sufixos –ção e –mento: (i) o fator fonológico, i.e.,

as classes temáticas verbais; e (ii) o fator sintático, i.e., a estrutura argumental do verbo

base.

Tendo em vista as tendências localizadas no léxico, com relação ao fator

fonológico, a nossa hipótese de trabalho era que os verbos em –ar e em –ir selecionam

preferencialmente o sufixo –ção, ao passo que os verbos em –er selecionam

preferencialmente o sufixo -mento. Os resultados dos experimentos atestam que existe

uma correlação significativa entre a classe temática e a escolha do sufixo nominalizador,

assim como averiguamos no léxico. Contudo, observamos uma mudança no padrão da

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classe dos verbos em -ir: sincronicamente, estes verbos selecionam preferencialmente o

sufixo -mento, da mesma forma que os verbos em -er. Esse fato traz evidências do padrão

convergente das classes temáticas II e III, que tendem a se comportar de maneira

neutralizada (Oltra-Massuet 1999; Tang; Nevins 2013). Por outro lado, a classe em -ar

mantém a tendência lexical, selecionando preferencialmente o sufixo -ção.

Considerando o fator sintático, a hipótese que estávamos investigando era a de

que os verbos transitivos, bitransitivos e inergativos selecionam preferencialmente o

sufixo -ção, enquanto os verbos inacusativos selecionam prioritariamente o sufixo -

mento. Em geral, os resultados nos permitiram corroborar a nossa hipótese de maneira

estatisticamente significativa. O único grupo que não exibiu uma tendência clara de

preferência foi o dos verbos transitivos.

Adicionalmente, iremos abordar nesta tese a questão da variação na produtividade

morfológica dos nominalizadores –ção e -mento em uma perspectiva diacrônica, a partir

de um estudo piloto acerca da datação das palavras contidas na versão eletrônica do

dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Essa metodologia tem sido utilizada em

diversos trabalhos (Bauer 1983; Anshen; Aronoff 1999; entre outros) como um

mecanismo para se traçar, através do tempo, a produtividade de uma determinada forma

linguística (Bauer 2001; Aronoff; Lindsay 2014). Os nossos resultados mostram uma

variação diacrônica na produtividade desses nominalizadores: até o século XV,

encontramos mais formas do sufixo –mento; contudo, a partir do século XVI, notamos

um aumento robusto na produtividade do sufixo –ção, com um pico de crescimento no

século XIX.

Com esses resultados, pudemos estabelecer um paralelo com o estudo diacrônico

de corpora conduzido por Tang e Nevins (2013). Os autores evidenciam que houve, em

português (bem como em italiano e espanhol), um aumento do tamanho vocabulário

verbal e da produtividade da primeira conjugação (em –ar), a partir do século XVI, com

um pico de crescimento após a segunda metade do século XVIII. Considerando a relação

de preferência atestada entre a conjugação em –ar e o sufixo –ção, argumentamos que o

aumento de produtividade desta classe temática teve uma implicação positiva no aumento

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de produtividade desse sufixo nominalizador, uma vez que houve um crescimento

robusto no número de alvos/bases relevantes para aplicação desse processo morfológico

(Anshen; Aronoff 1999).

A associação entre metodologias experimentais, quantitativas e de corpora tem

sido apontada na literatura recente como uma estratégia interessante na pesquisa

linguística. Gilquin e Gries (2009) sugerem que ainda hoje há pouco consenso sobre

como os dados linguísticos devem ser obtidos, analisados, avaliados e interpretados. O

que se tem notado, atualmente, é que nenhum método em isolamento é perfeitamente

eficaz, por isso a importância de se combinar metodologias, buscando solucionar

questões relativas à diversidade da natureza dos dados, além de permitir uma

multiplicidade de perspectivas nos estudos dos diversos fenômenos linguísticos.

Assim sendo, a nossa intenção é ampliar e aprofundar o nosso estudo de aspectos

morfofonológicos e morfossintáticos dos sufixos nominalizadores –ção e –mento em PB,

a partir de diferentes perspectivas metodológicas, de modo a obtermos dados

complementares que nos permitam checar nossas hipóteses e estabelecer uma análise

derivacional que busque explicar os fenômenos em questão.

Nesta tese, tendo em vista um modelo sintático de formação de palavras como o

da Morfologia Distribuída (Halle; Marantz 1993; 1994; Marantz 2001, 2007; Embick

2010), argumentaremos que o tipo de estrutura argumental dos verbos determina o

comportamento morfofonológico e morfossintático do nomes deverbais formados a partir

dos sufixos –ção e –mento. A hipótese que iremos explorar é a de que a presença de DP

complemento na estrutura argumental de verbos desencadeia diferenças no ponto

computacional em que as raízes são enviadas ao componente fonológico para serem

processadas, gerando diferenças de superfície nos nomes resultantes desse processo

derivacional.

A escolha desse quadro teórico se deve ao fato de que a Morfologia Distribuída

(doravante MD) é um modelo que traz insights importantes no que concerne os processos

de formação de palavras. Diferentemente de modelos lexicalistas, na MD tanto os

processos derivacionais quanto os flexionais acontecem na sintaxe. A ideia é que a

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sintaxe que forma palavras não se difere daquela que gera sentenças: em ambas

derivações, o objeto sintático (output) resultante estará sujeito à interpretação e

processamento nos componentes de interface semântico e fonológico, respectivamente.

Nessa abordagem, uma palavra é o resultado da concatenação de uma raiz a um

núcleo funcional que determina sua categoria. Na derivação sintática, os núcleos

funcionais não apresentam informação fonético-fonológica (cf. Harley; Noyer 1999,

Embick; Halle 2004). Esses núcleos são supridos de traços fonológicos tardiamente por

meio do mecanismo denominado de inserção vocabular, que ocorre no componente

fonológico pós-sintático. Cada par contendo um expoente fonológico e o conteúdo

gramatical sobre o contexto no qual o expoente deve ser inserido é denominado de item

vocabular. A aplicação dos itens vocabulares é regida pelo princípio do subconjunto

(subset principle) que prevê que itens mais específicos (aqueles que contêm o maior

número de traços especificados no morfema abstrato) serão prioritariamente escolhidos

para serem inseridos. Desse modo, a primeira razão pela qual escolhemos esse modelo

como suporte teórico é devido ao fato de que processos derivacionais e alomorfias

contextuais são facilmente derivadas nessa arquitetura de gramática: como os núcleos

funcionais estão no mesmo constituinte da raiz quando a inserção vocabular ocorre, a

identidade da raiz pode imprimir uma condição contextual à escolha do expoente

fonológico a ser inserido.

Adotando desenvolvimentos recentes do minimalismo, como a proposta de fases

de Chomsky (2000, 2001), diversos trabalhos em MD (Marantz 2001; 2007; Marvin

2002; Arad 2003; Embick 2010; entre outros) têm discutido questões relacionadas aos

domínios cíclicos relativos aos processos de formação de palavras. Ao passo que se

incorporam a uma teoria sintática intuições importantes da Fonologia Lexical (Kiparsky

1982 e trabalhos subsequentes), esses trabalhos em MD passam a discutir e explicar

questões de atribuição de acento, opacidade morfológica e diferenças semânticas e

fonológicas entre concatenações afixais a um domínio interno (i.e. diretamente à raiz) ou

externo (i.e. à palavra formada). Essas discussões serão bastante pertinentes para análise

que desenvolveremos acerca dos fenômenos em questão nesta tese, sendo essa a segunda

motivação para elegermos este quadro teórico.

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Assim sendo, esta tese apresenta dois principais momentos de análise.

Primeiramente, a partir da discussão dos resultados descritivos e experimentais,

argumentaremos que a estrutura argumental do verbo base e o ponto computacional

cíclico no qual a raiz é enviada ao componente fonológico desencadeiam as diferenças

morfofonológicas de superfície relativas às vogais temáticas exibidas pelos nomes em –

ção e –mento. Nesse sentido, é possível traçar uma relação entre o fator sintático e o fator

fonológico que condicionam a inserção desses nominalizadores. Em seguida, tendo em

vista os resultados de variação diacrônica da produtividade e o paralelo com o estudo de

Tang e Nevins (2013), proporemos uma formalização teórica em termos do conceito de

marcação (Oltra-Massuet 1999) para o sistema de classes temáticas verbais do PB, que

capture a relação de preferência que estas estabelecem com os nominalizadores

abordados neste estudo. A proposta que defenderemos é a de que as classes temáticas II e

III (em –er e –ir) compõem um grupo marcado em oposição à classe I (em –ar) não-

marcada. O grupo marcado exibe diversas irregularidades e sincretismos morfológicos,

além de um tamanho bastante reduzido de vocabulário. Por outro lado, a classe I é a mais

regular, produtiva e a que apresenta o maior vocabulário (cerca de 90% dos 13.011

verbos disponíveis no dicionário Houaiss pertencem à primeira conjugação).

Os dados que analisaremos nesta tese são:

(i) Reportaremos os resultados de Freitas (2014) relativos à análise quantitativa de

uma base de dados de 2175 palavras coletadas a partir da versão eletrônica 1.0

do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

(ii) Discutiremos dados experimentais resultados de três experimentos que

conduzimos por meio da plataforma Online Pesquisa

(https://www.onlinepesquisa.com/), com um total de 359 participantes (140

participantes no primeiro experimento; 103 participantes no segundo

experimento e 116 participantes no terceiro experimento). Os testes eram

realizados inteiramente online e de forma anônima.

(iii) Dados relativos à datação das palavras em -ção e –mento que compõem a nossa

base de dados (Freitas 2014) e que constam no Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa.

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Os dados estarão numerados no corpo do texto de maneira continua,

independentemente do capítulo. Eventualmente, pares de dados semelhantes poderão ser

diferenciados por letras, associadas a um mesmo número de identificação do dado (por

exemplo, (1).a, (1).b.).

Esta tese está organizada em quatro capítulos. No Capítulo I, descreveremos as

principais características gramaticais dos sufixos nominalizadores –ção e –mento em PB,

descritas em diversos trabalhos (Sandmann 1988; Basilio 1983; 1996; 2004; Monteiro

1991; Rocha 1999; Santos 2006; entre outros). Apresentaremos, também, dois trabalhos

que abordam propriedades sintáticas e semânticas de nominalizadores cognatos de –ção e

–mento em duas línguas românicas: em espanhol (-ción e –miento, cf. Fábregas 2010) e

em francês (-ion e –ment, cf. Martin 2010).

No Capítulo II, discutiremos os pressupostos teóricos fundamentais para a análise

que iremos traçar nesta tese. Abordaremos a arquitetura de gramática proposta pela MD,

bem como as principais propriedades desse quadro teórico. Apontaremos, também,

questões relacionadas à noção de ciclicidade nos processos de formação de palavras e ao

tratamento das nominalizações no quadro da MD. Finalmente, discutiremos brevemente a

abordagem de Hale e Keyser (2002) acerca da estrutura argumental verbal.

No Capítulo III, primeiramente, reportaremos os principais resultados de Freitas

(2014), resultantes do estudo quantitativo que desenvolvemos acerca de aspectos

morfofonológicos dos sufixos –ção e –mento. Em seguida, discutiremos detalhadamente

o desenho (design), o tratamento da base e os resultados de três experimentos com

logatomas. Adicionalmente, iremos propor uma interpretação teórica para os resultados

obtidos, levando em consideração os pressupostos teóricos abordados no Capítulo II.

Finalmente, no Capítulo IV, apresentaremos os resultados de um estudo piloto

acerca da variação diacrônica da produtividade dos sufixos –ção e –mento. Estes

resultados serão contrastados com o estudo diacrônico de corpora conduzido por Tang e

Nevins (2013). Além disso, tendo em vista tanto os resultados diacrônicos, quanto os

resultados experimentais discutidos no Capítulo III, iremos propor uma formalização

teórica em termos de marcação para as classes temáticas verbais do PB.

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CAPÍTULO I

OS SUFIXOS NOMINALIZADORES EM PB E EM OUTRAS LÍNGUAS

ROMÂNICAS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Segundo Rocha (1999), o processo de nominalização stricto sensu é um fenômeno

morfológico que consiste na formação de nomes a partir de verbos. Assim, a partir de um

determinado verbo, é possível derivar um nome abstrato, cujo sentido se relaciona a ‘ato,

processo, fato, resultado, estado, evento ou modo de X’, sendo X o verbo que constitui a

base do processo (e.g. consagrar/consagração, julgar/julgamento, contar/contagem,

etc.).

O autor aponta, ainda, que uma forma nominalizada pode apresentar extensões de

sentido generalizadas (Ibidem, p.11), como as de ‘coletivização’ (e.g. administração,

direção, gerência, governo, criação, etc.), ‘evento’ (e.g. exposição, casamento, batizado,

jantar, formatura, etc.), ‘concretização’ (e.g. construção, decoração, exposição,

estacionamento, etc.); ou extensões de sentido idiossincráticas, como nos casos de

declaração (‘de amor’), estabelecimento (‘comercial’), impressão (‘opinião vaga,

noção’), escritura (‘documento’) e balanço (‘molejo, gingado’). Além disso,

determinadas formas nominalizadas podem apresentar mais de um sentido a depender do

contexto semântico em que ocorrem; por exemplo, a palavra gravação pode significar

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‘ato de gravar’, ‘evento’ ou ‘objeto concreto’.

O processo de formação das nominalizações no PB se dá, principalmente, por

meio de derivação sufixal. Quer dizer, diferentes sufixos ao serem adicionados a bases

verbais mudam a categoria lexical dessas bases, formando nomes. Segundo Basilio

(2004), morfologicamente, a formação de um substantivo sempre corresponde à formação

de uma palavra cujas categorias de gênero e número desencadeiam concordância de seus

modificadores (pronomes e adjetivos) e determinantes (artigos). Basílio (2004, p. 39-41)

sugere três principais motivações à formação de nomes a partir de verbos:

(i) A motivação semântica ou denotativa, que permite a utilização do

significado verbal como uma entidade ou um conceito em si, fora da

situação de predicação, sem a necessidade de especificações

particulares, como as noções de tempo, modo, número e pessoa, bem

como a presença obrigatória de argumentos (sujeito e complemento).

(ii) A motivação gramatical, que possibilita o uso de um verbo em

estruturas que sintaticamente exigem um substantivo.

(iii) A motivação textual, que corresponde ao uso anafórico de um

substantivo derivado do verbo para fazer referência a uma estrutura

verbal anteriormente utilizada no texto.

Os sufixos nominalizadores mais produtivos do PB e, por isso, mais descritos são

(cf. Monteiro 1991, Basílio 1996, 2004; Rocha 1999):

• -ção: abolição, criação, correção, liquidação, alucinação, combinação, abolição, etc.

• -mento: casamento, fechamento, sofrimento, afogamento, conhecimento, etc.

• -ncia/-nça: insistência, ocorrência, pendência, lembrança, cobrança, poupança, etc.

• -do/-da: comida, mordida, despedida, chegada, ferida, pedido, chamado, etc.

• -agem: barragem, modelagem, moldagem, sabotagem, pilhagem, etc.

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• -ura/-tura/-dura: clausura, abertura, escritura, formatura, mordedura, ditadura, etc.

• -zero (derivação regressiva): enfeite, grito, agito, descanso, censura, sufoco, etc.

Dos sufixos apresentados acima, os nominalizadores –ção e –mento se destacam

por exibirem ampla vantagem em termos de produtividade em relação aos demais, como

discutiremos na próxima seção.

2. OS SUFIXOS –ÇÃO E –MENTO EM PB

Segundo Oiticica (1955), o sufixo –ção se origina do latim -tione, composto de -

ti, sufixo de nomes verbais, acrescido do sufixo -en (on) que designa ação. O sufixo –

mento é derivado da forma latina -mentum que formava substantivos neutros de ação,

instrumento, serventia, etc. A forma plural -menta gerou alguns substantivos coletivos em

português, como ferramenta, vestimenta, tormenta, etc.

Como apontamos anteriormente, os sufixos –ção e –mento são descritos

conjuntamente como sufixos nominalizadores mais produtivos do PB. Diversos trabalhos

(Sandmann 1988; Basilio 1996; 2004; Grodt 2009; Marozene 2011) evidenciam, contudo,

a existência de mais formas nominais formadas a partir do sufixo –ção. Basílio (1996)

mostra, a partir de dados do projeto NURC (Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio

de Janeiro), que de um total de 362 formas nominalizadas sufixais, há 218 (60,2%)

ocorrências de –ção, um número três vezes maior do que as 73 (20,1%) ocorrências de –

mento. Dentre os demais sufixos, a distribuição encontrada mostra 48 ocorrências

(13,2%) do sufixo –n(c)ia, 18 ocorrências (4,9%) de –da e 5 ocorrências (1,4%) de –

agem. Esses resultados apontam, segundo a autora, condições nitidamente superiores de

produtividade do sufixo –ção na língua falada, em detrimento dos demais sufixos.

A autora busca mapear os fatores semânticos e/ou morfológicos que poderiam

condicionar a distribuição dos nominalizadores e, em especial, a distribuição de –ção e -

mento. A hipótese inicial seria a de que verbos com semântica de processo e contextos

formais privilegiariam o uso de -mento. Contudo, essa hipótese se mostrou ineficaz,

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primeiramente, porque a ocorrência de –mento com verbos de processo é neutralizada

pela incidência das formações em –izar, que apresentam semântica de causatividade de

processo e condicionam o uso de –ção; e segundo, porque de um total de 132

nominalizações em –ção e –mento encontradas em textos formais, 76% são formas em –

ção, contra 23,4% de formas em –mento.

Uma segunda hipótese seria que a grande incidência de –ção se relacionasse, em

parte, com a função semântica denominadora sobre a função gramático-textual nos

inquéritos pesquisados. Entretanto, os resultados mostraram que de um total de 291

ocorrências de –ção e –mento, há 99 (34%) ocorrências de –ção em função gramático-

textual, contra 119 (40,8%) de função semântica designadora; e 32 (10,9%) ocorrências

de –mento em função gramático-textual, contra 41 (14%) em função semântica

designadora. Segundo a autora, essas proporções refletem, por um lado, as proporções

gerais encontradas entre –ção e –mento, e por outro, as proporções gerais encontradas

entre nominalizações de função gramático-textual versus nominalizações de função

semântico denominadora. Desse modo, a hipótese de uma proporção mais significativa de

–ção em função semântica designadora também se desqualifica.

Uma hipótese relacionada a fatores morfológicos se mostrou mais interessante:

mais de 60% das formações em –ção ocorrem sobre bases derivadas e, portanto, menos

de 40% sobre bases primitivas. Com –mento ocorre o oposto, cerca de 65% das

formações em –mento são a partir de bases primitivas e cerca de 35% a partir de bases

derivadas. Embora esses resultados não sejam suficientes para explicar a diferença de

proporção de –ção e –mento no corpus do PGPF, segundo a autora eles apontam para

uma tendência clara: dado que o número de verbos derivados tende a aumentar mais

rapidamente que o de primitivos, espera-se que –ção tenha melhores condições de

produção que –mento.

No livro Formação e classes de palavras no português do Brasil, Basilio (2004)

aponta, ainda, que uma das razões para o uso mais frequente de –ção e –mento é o fato de

esses sufixos serem ‘semanticamente vazios’, enquanto outros sufixos como -agem e -da

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apresentam especificações semânticas que restringem suas possibilidades de combinação

com diferentes bases ou radicais.

Em um trabalho recente, Quadros (2011) busca quantificar a produtividade

morfológica de –ção e –mento (e de outros sufixos nominalizadores) levando em

consideração o número de hapax legomena3 encontrado em um corpus de textos de blogs

(Quadros 2009 apud Quadros 2011). Aplicando índice de produtividade de Baayen

(1992), que considera a frequência de tokens dos processos morfológicos, Quadros

(2011) apresenta um resultado interessante: o padrão de –mento se mostra mais produtivo

do que o de –ção, no que se refere à possibilidade de formação de novas palavras.

Contudo, Quadros (2011) ressalta que a medida de produtividade que utiliza é

indireta e pode ser influenciada por diversos fatores. Isso porque ela depende da premissa

de que hapax legomena compreendam necessariamente palavras novas. Entretanto, outras

palavras de baixa frequência, como arcaísmos e palavras formais, podem compor esse

grupo. Desse modo, se o padrão de -mento apresentar uma distribuição maior dentre esses

tipos de palavras, é possível que ele constitua um conjunto amplo de itens de frequência

1, sem que isso revele necessariamente a formação de palavras novas.

Além disso, o autor discute ainda que o índice de Baayen (1992) é sensível ao

tamanho do corpus considerado, uma vez que se baseia na ideia de que palavras já

existentes tendem a se repetir em uma amostra, ao passo que palavras novas têm natureza

mais esporádica. No entanto, o corpus precisa ser suficientemente extenso para que as

palavras existentes se repitam. Quanto maior for o corpus, maior será a proporção de

palavras genuinamente novas no conjunto de hapax legomena e menor será a proporção

de palavras já existentes, que casualmente têm frequência baixa na variedade linguística

considerada. Portanto, Quadros (2011) conclui que se o resultado observado entre -mento

e -ção expressa um fato verdadeiro sobre produtividade relativa desses afixos, é esperado

que -mento continue apresentando um índice maior do que -ção mesmo com um aumento

do tamanho do corpus. Essa previsão não é, no entanto, aprofundada nesse trabalho.

3 Palavras que possuem frequência igual a 1 em um corpus, i.e., palavras que ocorrem uma única vez. No Capítulo IV desta tese, discutimos a proposta de Baayen (1992) relativa à quantificação da produtividade morfológica.

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Os sufixos -ção e -mento formam nomes derivados a partir de verbos e de raízes

acategoriais e podem descrever (i) ações; (ii) resultados de um processo; (iii) estados

(Santos 2006). Embora esses sufixos tenham propriedades semânticas similares, sendo

descritos como concorrentes (Sandmann 1988, Rocha 1999), podemos notar diferenças

semânticas sutis (cf. Freitas 2014, p.88), como mostram os exemplos abaixo.

(1) a. A medicação dos pacientes demorou muito tempo.

b. ?O medicamento dos pacientes demorou muito tempo.

(2) a. A afinação da guitarra demorou muito tempo. b. ?O afinamento da guitarra demorou muito tempo.

No caso das formas duplas, verificamos que os nomes formados por –ção,

diferentemente dos nomes formados por –mento, facilitam/permitem uma leitura

eventiva, selecionando argumentos como complementos. Ao considerar uma perspectiva

diacrônica, Sandmann (1988) discute casos particulares de duplos e argumenta, por

exemplo, que as formas atendimento e recebimento surgiram em paralelo às formas

atenção e recepção, respectivamente, em virtude da perda do caráter dinâmico destas

últimas formas. De maneira semelhante, as palavras ressurgimento e salvamento foram

formadas em paralelo às formas ressurreição e salvação, pela especialização de sentido

(de cunho religioso) assumido por estas formas. Nas próximas subseções, apresentamos

as características particulares dos dois sufixos.

2.1. O sufixo –mento

Este sufixo forma nomes derivados a partir de raízes e de verbos, como mostram

os exemplos abaixo.

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(3) Nominalizações de raízes

Raiz Nome

a. frag- => fragmento b. argu- => argumento c. ci- => cimento d. ali- => alimento e. au- => aumento f. ele- => elemento

(4) Nominalizações de verbos

Verbo Nome

a. afundar => afundamento b. amarelecer => amarelecimento c. ferir => ferimento d. assentar => assentamento e. aquecer => aquecimento f. sofrer => sofrimento

Como é possível observar em (4), os nomes deverbais formados por -mento

apresentam a seguinte estrutura: Base verbal + Vogal temática +-mento. Esta estrutura é

bastante regular em todos os nomes deverbais formados por esse sufixo. Por outro lado,

nos nomes em (3), diferentemente dos nomes em (4), não observamos a presença da

vogal temática verbal que antecede o sufixo nominalizador nas formações deverbais, o

que indica que não houve a formação de um verbo na derivação desses nomes4.

Uma evidência adicional de que esses nomes são formados a partir de raízes é o

processo de nominalização de verbos denominais como fragmentar, argumentar,

alimentar, etc. Os verbos em –mentar não podem ser nominalizados com o sufixo –mento

e, em geral, selecionam o sufixo –ção (e.g. fragmentação, argumentação, alimentação).

4 Oltra-Massuet (2010, p. 25), ao discutir os adjetivos formados com –ble em inglês, mostra que alguns deles não são formados a partir de verbos em –ate existentes, mas em formas menores: e.g. exculpate => exculpable *exculpatable. Em alguns casos, as duas formas coexistem: e.g. demonstrate => demonstrable; demonstratable. Por vezes, a opcionalidade é aparente e as duas formas apresentam significados distintos: e.g. tolerable = ‘moderadamente bom, justo’; toleratable = ‘capaz de ser tolerável’.

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Essa restrição parece indicar o seguinte percurso derivacional: √raiz- => -mento5 =>-a-

=>-ção. Como o sufixo –mento ocorre no primeiro estágio derivacional no qual a raiz é

nominalizada, ele não pode atuar novamente na nominalização do verbo denominal, em

virtude de uma restrição morfofonológica que bane dois elementos homófonos

adjacentes.

Os nomes em -mento podem se referir ao produto, ferramenta ou local da ação

verbal (Santos 2006), em adição às propriedades semânticas compartilhadas com o sufixo

-ção (i.e. ações; resultados de processos; e estados). Esses nomes apresentam o traço de

gênero [masculino] e podem ser pluralizados.

(5)

a. o casamento – os casamentos b. o nascimento – os nascimentos

c. o assentamento – os assentamentos d. o faturamento – os faturamentos

Santos (2006) aponta que o sufixo -mento exibe determinadas preferências e

restrições de ocorrência em relação a certas bases verbais:

(6) Preferências:

a. –ecer emagrecer – emagrecimento

amarelecer –amarelecimento

b. -ciar/cionar estacionar – estacionamento

funcionar – funcionamento

5 A vogal temática nominal -o- é suprimida diante da vogal temática verbal na formação do verbo denominal.

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(7) Restrições:

a. -izar

comercializar - *comercializamento

b. -mentar fundamentar - *fundamentamento

Em Freitas (2014), atestamos essa distribuição em nossa base de dados, conforme

discutiremos no Capítulo III desta tese. Gamarski (1984) descreve, ainda, uma relação de

preferência entre as bases verbais em –ear, verbos parassintéticos e prefixados e o sufixo

-mento.

Há um questão interessante com relação às vogais temáticas. Línguas românicas

classificam idiossincraticamente os verbos de acordo com conjugações ou classes

temáticas (Oltra-Massuet 1999). Como sabemos, existem em PB quatro classes temáticas

ou conjugações:

(8) Classes temáticas em PB

a. Classe I – vogal temática -a-: cant-a-r; jog-a-r; and-a-r. b. Classe II – vogal temática -e-: corr-e-r; com-e-r; beb-e-r.

c. Classe III – vogal temática –i-: dorm-i-r; part-i-r; fug-i-r. d. Classe IV – vogal temática –o-: rep-o-r; imp-o-r; exp-o-r.

Assim como em outras línguas românicas (Oltra-Massuet 1999, Tang; Nevins

2013), a primeira conjugação ou a classe temática em –ar é a mais produtiva em PB. Na

versão eletrônica 1.0 do Dicionário Houaiss, encontramos a seguinte distribuição dos

verbos por classes temáticas: dos 14.581 verbos listados, 13.011 (89,2%) pertencem à

classe I em -ar; 788 (5,4%) pertencem à classe II em –er; 742 (5,1%) pertencem à classe

III em –ir; e apenas 40 (0,3%) verbos pertencem à classe IV em -or. Além dessa

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distribuição absolutamente desigual entre as quatro conjugações, quando novos verbos

são criados, em geral, eles são alocados na classe I em –ar. Assim, há uma oposição

bastante clara entre a primeira conjugação em relação às demais (especialmente, em

relação às classes II e III que se comportam de maneira convergente em distintos

processos morfológicos). Esta oposição, que também ocorre em Catalão, é capturada por

Oltra-Massuet (1999) em termos de uma hierarquia de marcação (Theme vowel

markedness hierarchy), que discutiremos em detalhe no Capítulo IV.

Nos nomes deverbais formados por -mento, a vogal temática verbal é mantida.

Contudo, há um fenômeno morfofonológico interessante: a vogal temática /e/ é

obrigatoriamente alteada para [i], resultando em uma neutralização entre as classes II e

III, conforme mostram os exemplos a seguir.

(9)

a. mo-e-r – mo-i-mento b. faz-e-r – faz-i-mento

d. fing-i-r – fing-i-mento e. sent-i-r – sent-i-mento

Essa neutralização é um fenômeno bastante recorrente em PB. Por exemplo, os

particípios regulares apresentam somente duas formas: -ado para Classe I; e -ido para

classes II e III.

(10)

a. cantar – cant-ado; amar – am-ado; chorar – chorado

b. correr – corr-ido; trazer – traz-ido; comer – com-ido c. dormir – dorm-ido; fugir – fug-ido; falir – fal-ido

Certos adjetivos deverbais (Oltra-Massuet 2010) também envolvem somente dois

sufixos derivacionais: -ável para classe I; e –ível para classes II e III.

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(11)

a. cantar – cant-ável; amar – am-ável

b. comer – com-ível; beber – beb-ível c. falir – fal-ível; discutir – discut-ível

Interessante notar que os nomes deverbais formados por -ção não apresentam essa

neutralização obrigatória, conforme discutiremos na próxima seção.

2.2. O sufixo –ção

O sufixo -ção forma nomes derivados a partir de raízes e de verbos, como

mostram os exemplos abaixo.

(12) Nominalizações de raízes

Raiz Nome

a. ca- => cação b. emo- => emoção c. mon- => monção d. na- => nação e. efra- => efração f. tui- => tuição

(13) Nominalizações de verbos

Verbo Nome

a. admirar => admiração b. perseguir => perseguição c. privatizar => privatização d. conversar => conversação e. inibir => inibição f. obrigar => obrigação

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Como discutimos anteriormente para os casos em que –mento nominaliza raízes,

também em (12), não verificamos a presença da vogal temática verbal, o que indica que

não houve formação de verbo. Além disso, em alguns casos, encontramos essas raízes em

outras palavras, como nativo, nato, emotivo, etc.

Como vemos em (13), em geral, a estrutura dos nomes deverbais em –ção é: Base

verbal + vogal temática + -ção6. Contudo, em Freitas (2014) mostramos, a partir da

análise quantitativa de uma base de dados, que alguns nomes não mantêm uma completa

identidade com a base verbal. Isso geralmente ocorre quando a última sílaba da base

verbal começa com um segmento fricativo. Nesses contextos, a última sílaba do verbo é

suprimida no nome derivado.

(14)

a. corrigir – correção (*corregição)

b. locomover – locomoção (*locomoveção)

c. maldizer – maldição (*maldizeção)

d. distorcer – distorção (*distorceção)

Como apontamos anteriormente, os nomes formados por -ção exibem as

propriedades semânticas de ação, resultado de um processo e/ou estado, e permitem uma

leitura eventiva do predicado. Adicionalmente, esse sufixo também pode apresentar uma

semântica particular de iteratividade. Rocha (1999) propõe uma distinção entre um -ção

iterativo e o -ção neutro. Segundo o autor, verbos como bater, xingar, abrir, abanar, 6 Com relação às variações possíveis do sufixo –ção, Santos (2006) aponta que:

Não há consenso entre os linguistas acerca da identidade formal do sufixo: de um lado temos como sufixo a forma –ção, com possibilidade de variações como –ão, –são e –ação – essa parece ser a opção da grande maioria dos estudiosos; de outro lado, temos a forma –ão como sufixo, sendo consideradas variantes –ção, e -(s)são, conforme é defendido por Borba (2003). A distinção entre as duas noções, via de regra, conduz à discussão entre entendimento sincrônico e retomada diacrônica.

Neste trabalho, contudo, não aprofundaremos esse debate, restringindo nossa análise à forma –ção.

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chorar, etc. podem ser nominalizados com o -ção iterativo, produzindo um sentido de

ação que se repete, além de ‘ato de x’. Contudo, alguns verbos não aceitam o -ção

iterativo, são eles: (i) verbos cuja nominalização apresenta um sentido e um emprego já

consagrado, como preparar/preparação, confirmar/confirmação, realizar/realização,

etc.; (ii) verbos monossilábicos, como ir, crer, ter, ler, etc.; (iii) verbos próprios da

linguagem formal, como desempenhar, aconselhar, exceder, incumbir, etc.; (iv) verbos

que indicam estado, como existir, possuir, amar, permanecer, etc.; (v) verbos que

especificam características de elementos inanimados em geral, como caber, custar, valer,

etc; (vi) verbos terminados em –ecer e em –cionar/-cinar/-ciar, como acontecer,

agradecer, conhecer, emocionar, selecionar raciocinar, etc.

Os nomes formados por -ção apresentam o traço de gênero [feminino] e também

podem ser pluralizados.

(15) a. a medicação – as medicações

b. a reivindicação – as reivindicações c. a aflição – as aflições

d. a conjunção – as conjunções

Santos (2006) aponta que nomes formados por -ção também exibem preferências

e restrições de ocorrência em relação a determinadas bases verbais. Existe uma notável

complementaridade entre os dois sufixos: as classes que são preferencialmente

selecionadas por um sufixo são restritas para o uso do outro sufixo, e vice-versa.

(16) Preferências:

a. -izar

comercializar – comercialização centralizar – centralização

b. -mentar

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fundamentar – fundamentação movimentar – movimentação

(17) Restrições:

a. –ecer

emagrecer – *emagreceção

b. -ciar/cionar estacionar – *estacionação

Conforme mencionamos, as vogais temáticas verbais são mantidas nos nomes

deverbais formados por -mento e -ção. No entanto, diferentemente de -mento, a vogal

temática /e/ são sofre alteamento obrigatório para [i].

(18)

a. comer – começão/*comição b. fazer – fazeção/ *fazição (cf. fazimento)

c. bateção/*batição (cf. batimento)

Esse fato sugere uma transparência de -ção em relação às classes II e III. Uma

questão que surge é: se existe uma regra na língua que neutraliza as classes II e III das

vogais temáticas verbais em ambientes não-verbais, por que -ção é imune a ela? Em

Freitas (2014), propomos uma análise sintática para esses fatos, conforme discutiremos

no Capítulo III.

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3. OUTRAS LÍNGUAS ROMÂNICAS

Nesta seção, discutiremos os trabalhos de Fábregas (2010) e Martin (2010) que

abordam sufixos nominalizadores em espanhol e francês, respectivamente, a partir de

enfoques sintático-semânticos. É interessante observar que os achados de Freitas (2014) e

os resultados experimentais que apresentaremos no Capítulo III, com relação aos sufixos

-ção e -mento em PB, são comparáveis ao comportamento dos sufixos nominalizadores

tratados nesses trabalhos. Assim, essa comparação poderá trazer contribuições para a

análise dos fenômenos discutidos nesta tese.

3.1. Espanhol: Fábregas (2010)

Fábregas (2010) propõe uma abordagem sintática para contextos de rivalidade

afixal, estabelecendo distinções em relação às propriedades das nominalizações de evento

construídas a partir de três sufixos produtivos do espanhol: –do/-da, -miento e -ción.

Segundo o autor, as propriedades estruturais do verbo e seus efeitos semânticos

determinam a distribuição desses afixos. Assim, o autor considera em sua análise o tipo

de estrutura argumental do verbo base, focando especificamente na natureza do

argumento interno do verbo.

Determinadas classes de objetos diretos podem conferir diferentes fases

aspectuais ao evento verbal. A primeira classe considerada é a dos objetos denominados

de rheme path. Estes argumentos internos co-descrevem o evento e suas propriedades

referenciais (distinção massivo/contável, pluralidade) influenciam na (a)telicidade do

predicado. Esses objetos se comportam semanticamente como escalas (paths): suas

extensões podem ser representadas como uma série de pontos que são mapeados na

estrutura aspectual do verbo. Desse modo, no exemplo (19) abaixo, sopa sendo um nome

massivo pode ser categorizado como uma escala não-ligada (unbounded path), de

maneira que seus pontos ao serem mapeados na estrutura aspectual do verbo comer,

tornam o verbo atélico. Por outro lado, o nome contável pastel é uma escala ligada

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(bounded path) com uma série finita de pontos. Quando o ponto final é alcançado, o

evento termina; por isso, com esse objeto, o predicado comer se torna télico. Verbos

como comer, que selecionam objetos do tipo rheme path, são nominalizados com o afixo

-do/-da: comer/comida.

(19)

a. Juan comió sopa durante / *en media hora.

Juan ate.3SG.PAST soup for/in half an hour. Juan comeu uma sopa durante/em meia hora.

b. Juan comió un pastel *durante/en media hora.

Juan ate.3SG.PAST a cake for/in half an hour. Juan comeu um pastel durante/em meia hora.

A segunda classe relevante é a de argumentos internos undergoers. Um undergoer

é definido como uma entidade que experencia um processo, mas que não delimita a

extensão desse processo; assim, esses objetos não co-descrevem o evento e não

influenciam nas propriedades aspectuais do predicado. Verbos como desplazar ‘mover’

normalmente selecionam objetos do tipo undergoer. Nesses casos, independentemente de

o objeto ser massivo ou contável, em ambos os casos, é possível ter uma leitura atélica do

predicado.

(20)

a. Juan desplazó arena durante cinco minutos.

Juan moved.3SG.PAST sand for five minutes.

Juan moveu areia durante cinco minutos.

b. Juan desplazó una silla durante cinco minutos.

Juan moved.3SG.PAST a chair for five minutes.

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Juan moveu uma cadeira durante cinco minutos.

Verbos como desplazar são nominalizados com o afixo -miento: desplaza-miento.

Outros verbos dessa classe em espanhol são: destripar ‘estripar’; ocultar ‘ocultar’;

recibir ‘receber’; processar ‘processar’; someter ‘submeter’; silenciar ‘silenciar’; cujas

nominalizações são destripa-miento; oculta-miento; recibi-miento; processa-miento;

someti-miento; silencia-mento.

3.1.1. Classes verbais e a distribuição dos sufixos –do/-da e –miento

Considerando essas duas classes de objetos e sua relação com a distribuição dos

afixos -do/-da e -miento, Fábregas (2010) discute detalhadamente o comportamento de

diferentes classes verbais como evidências para a sua predição.

VERBOS DE MUDANÇA DE ESTADO - Verbos de mudança de estado que selecionam

um objeto rheme path são nominalizados com -do/-da: pelar - pela-do ‘descascar’;

broncear - broncea-do ‘brozear’; bordar - borda-do ‘bordar’; barnizar - barniza-do

‘barnizar’; esquilar - esquila-do ‘escalpelar’; sembrar - sembra-do ‘semear’. Por outro

lado, verbos de graus de completude (degree achievement verbs), que projetam um

argumento interno undergoer, são nominalizados com –miento: enfriar - enfria-miento,

‘esfriar’; calentar - calenta-miento ‘aquecer, empobrecer - empobreci-miento

‘empobrecer’; alargar - alarga-miento ‘alargar’; endurecer - endureci-miento ‘endurecer;

ensanchar - ensancha-miento ‘alargar’; engrosar - engrosa-miento, ‘engrossar’.

VERBOS PSICOLÓGICOS - Undergoers são definidos como entidades que

experienciam um processo e o conceito de experenciador está diretamente relacionado a

verbos psicológicos. Assim, seria esperado que todos os verbos psicológicos rejeitassem

nominalizações com –do/-da e selecionassem –miento. O autor apresenta alguns

exemplos que confirmam essa predição: sentir - senti-miento ‘sentir’; pensar - pensa-

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miento ‘pensar’; descubrir - descubri-miento ‘descobrir; reconocer - reconoci-miento

‘reconhecer’; entender - entendi-miento ‘entender; aburrir - aburri-miento ‘aborrecer’;

convencer - convenci-miento ‘convencer’; enamorar - enamora-miento ‘apaixonar-se’;

relajar - relaja-miento ‘relaxar’.

VERBOS DE MOVIMENTO – Estes verbos apresentam duas subclasses relevantes

para a proposta: verbos de direção inerente, cuja semântica os força a introduzir uma

escala; e verbos de movimento induzido, que denotam que o movimento foi causado em

um objeto. No primeiro caso, os verbos são nominalizados com -do/-da: llegar - llega-da

‘chegar’; ir - i-da, ‘ir’; venir - veni-da ‘vir’; caer - caí-da ‘cair’; entrar - entra-da

‘entrar’; salir - sali-da, ‘sair’. No segundo caso, o objeto que sofre mudança de posição é

um undergoer, assim, esses verbos são nominalizados com –miento: desplazar -

desplaza-miento ‘deslocar’; mover - movi-miento ‘movimentar’; asentar - asenta-miento

‘assentar; deslizar - desliza-miento ‘deslizar’; lanzar - lanza-miento ‘lançar’; posicionar -

posiciona-miento ‘posicionar; acercar - acerca-miento ‘acercar’.

VERBOS QUE DENOTAM UMA RELAÇÃO ESTÁTICA ENTRE ENTIDADES – estes verbos

selecionam um undergoer e são nominalizados com –miento: mantener – manteni-miento

‘manter’; acompañar – acompaña-miento ‘acompanhar’; enfrentar – enfrenta-mento

‘enfrentar’; acatar – acata-miento ‘acatar’; solapar – solapa-miento ‘sobrepor’.

O autor discute ainda casos em que um mesmo verbo pode apresentar duas formas

nominalizadas com –do/-da e com –miento, como é o caso do verbo crecer – creci-

miento; creci-da. A nominalização com –miento se relaciona a uma mudança de estado

associada a uma escala. Por outro lado, crecida denota um evento no qual um rio está

cheio em virtude do excesso de chuvas. Nesse caso, a leitura implica em uma mudança de

direção do rio, assim, crecer assume uma leitura de verbo de direção inerente. Portanto,

conforme Fábregas (2010), mesmo em casos de formas duplas, as duas nominalizações

seguem os padrões descritos.

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3.1.2. O sufixo –ción

Segundo o autor, comportamento de -ción difere drasticamente dos padrões

descritos para sufixos –do/-da e –miento. O afixo -ción pode nominalizar tanto verbos

que selecionam um undergoer (e.g. elegir – elec-ción ‘elegir’) quanto verbos que

selecionam um objeto rheme path (e.g. construir – constru-ción ‘construir’). Além disso,

-ción não requer a presença da vogal temática, como outros dois afixos requerem:

mantener ‘manter’ – manutención; mantenimiento.

Assim, uma característica importante é que –ción, diferentemente dos sufixos –

do/-da ou –miento7, não seleciona necessariamente uma base verbal, mas pode admitir

unidades menores (como raízes, nos termos da MD, cf. Marantz 2007): fun-ción - *fun-

ar; rela-ción - *rel-ar; reac-ción - *reac-ar /*reag-ir. Segundo o autor, essas

propriedades se relacionam ao fato de que as nominalizações em -ción não podem ser

caracterizadas como evento ou resultado, mas nomes que denotam propriedades gerais

como estados, qualidades ou entidades físicas.

Desse modo, os afixos nominalizadores em espanhol compreendem dois grupos:

os que são sensíveis à estrutura argumental do verbo e os que não são. O sufixo -ción,

sendo o mais produtivo, não é sensível; já a distribuição de –do/-da e -miento pode ser

explicada pela natureza estrutural do verbo.

7 O autor não considera nesse trabalho o alomorfe –mento em espanhol, que assim como -ción, também pode nominalizar raízes, como em fragmento, aumento, argumento. Fábregas (com. pess.) aponta que –mento sincronicamente não se mostra produtivo como –miento e que a distinção semântica entre esses dois sufixos se deve ao fato de que os nomes em –mento não apresentam um caráter eventivo e, em geral, designam participantes.

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3.1.3. Proposta teórica

A proposta sintática de Fábregas (2010) para as generalizações empíricas

descritas segue uma versão do Minimalismo de Gärtner (2002), na qual a derivação

sintática se relaciona à teoria de conjunto: cada nódulo sintático representa um conjunto

de itens que este domina. Nessa proposta, a inserção lexical se restringe aos nódulos

terminais, uma vez que tanto o terminal quanto os nódulos máximos são representações

da mesma entidade: o conjunto (set). Assim, na análise de Fábregas, o spell-out de

sintagmas (i.e. inserção de material lexical) ocorre somente sob nódulos não-terminais.

Com relação ao afixo -miento, o autor aponta que ele é introduzido inicialmente

em uma posição argumental da projeção verbal ProcP, uma vez que esse afixo requer a

presença de uma base verbal e é sensível à presença de um undergoer.

(21)

A posição de complemento de Proc, na qual –miento é inserido, é a posição do

argumento rheme path (cf. Ramchand 2008 apud Fábregas 2010). Segundo o autor, isto

esclarece porque –miento não apenas requer um undergoer, como é incompatível com um

objeto do tipo rheme path.

Contudo, é preciso esclarecer uma questão relativa à implementação técnica de

como -miento poderia nominalizar a estrutura a partir dessa posição. Seguindo Gärtner

A syntactic account of affix rivalry in Spanish nominalisations 79

them, is not sensitive, while the distribution of -miento and -do /-da can be explained by the nature of the internal argument of the verb. 4. A syntactic account In this section we will make a proposal with respect to the syntactic account of these empirical generalizations. Our proposal follows the version of Mini-malism argued for in Gärtner (2002), in which the syntactic derivation is related with set theory: each node represents a set consisting of the items that it dominates, if any. In this proposal, lexical insertion can only be re-stricted to terminal nodes as a stipulation, because both terminal and maxi-mal nodes are representations of the same entity: sets. Therefore, in our proposal we will crucially phrasal spell out, that is, the insertion of lexical material under non-terminal nodes (cfr. Caha 2007; Neeleman and Széndroi 2007; Ramchand 2008). A lexical item, thus, can lexicalize a terminal node (Lexical1 in 26) or a maximal node (Lexical2 in 26), in which case it lexi-calizes the constituents contained under that node. (26) XP 3 /Lexical2 / /Lexical1 / > X0 Y 4.1. The syntactic behavior of -miento. The affix -miento requires the presence of a verbal base, that is, it cannot take roots as its base. It is also sensitive to the presence of an undergoer. For this set of reasons, I propose that the position of the affix is the one in (27), where I do not represent yet the features of the affix.

(27) ProcP 3 DP Proc UNDERGOER 3 Proc -miento If the affix -miento is introduced first in one of the argument positions of the verb, then we explain that it requires verbs as its morphological base. If the verbal projection that introduces the affix is ProcP, then we explain that

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(2002), Fábregas propõe que movimento sintático pode ser visto como uma

reconcatenação (remerge) de um constituinte de uma posição mais baixa para uma

posição mais alta na configuração. Assim, -miento seria reconcatenado em uma projeção

acima de ProcP, nominalizando toda a estrutura. Para motivar este movimento, o autor

propõe que o sufixo –miento consiste em um conjunto de traços que inclui um DP pleno e

um traço N. Antes da reconcatenação, o traço D é licenciado por estar em uma posição

argumental, contudo, o traço N não pode ser licenciado nessa posição. Isto desencadeia a

reconcatenação de –miento, como mostra a figura abaixo.

(22)

Essa análise, segundo o autor, é necessária para qualquer afixo que apresente

propriedades semelhante as de –miento: cancelar um argumento ao passo que introduz

uma projeção que muda a categoria gramatical da base.

As propriedades do sufixo –ción independem da base verbal, uma vez que -ción

pode ser combinado a raízes e é compatível com todos os tipos de argumentos verbo.

Assim, essas propriedades são explicadas se –ción for compreendido como o spell-out

lexical de uma camada NP que subordina a estrutura verbal, como mostra a figura em

(23).

(23)

82 Antonio Fábregas

(33) XP YP Y ZP Z X In (33), X is a member which belongs to more than one set: the set XP and the set ZP. This is possible in a system which views syntactic trees as rep-resentations of sets of units, such as the one developed in detail in Gärtner (2002: 145–171). X in (33) would correspond to -miento in (27), after remerge which brings as a consequence that it nominalizes the structure. The crucial question at this point is what makes it need to remerge. We pro-pose that the set of features lexicalized by -miento include a full DP with an additional N feature. In the representation in (27), before remerge, the D feature of -miento is already licensed by its being in an argument position, but the N feature cannot be licensed in this context. This is what triggers remerge of -miento: the affix needs to remerge in order to project this N feature, with the result that the whole construction is not headed by an NP. (34) NP …ProcP UNDERGOER Proc Proc -miento <D, N> Once that -miento remerges, the structure is nominalized and the projection of its N feature blocks insertion of the projections that normally dominate a verb, such as Aspect and Tense.8

8 A fair question at this point is why the nominalizations in -miento do not denote

paths if the affix is merged in the position reserved for paths. Compare this situation with the ‘agentive’ suffix -dor/-er, which shares its properties with -miento. As shown in Booij and Lieber (2004), this suffix does not always pro-duce nominalizations that denote agents. The nominalizations in -er denote many kinds of semantic notions appart from agent (e.g., six packer, third grader, Lon-

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30

Fábregas aponta que o comportamento do afixo –do/-da pode trazer problemas

potenciais à representação sintática, uma vez que esse afixo é sensível à estrutura

argumental do verbo, mas não cancela nenhum argumento da base. Contudo, essa

aparente contradição é resolvida porque esse afixo é idêntico à forma de particípio

passado. Assim, o afixo nominalizador é, na realidade, o morfema de particípio e os

traços nominais são introduzidos por encaixamento-N (N-embedding). Dessa forma, o –

do/-da não pode ser analisado como –miento, uma vez que os traços nominais não são

introduzidos como parte da projeção verbal, mas como no caso de –ción, eles são

inseridos como uma projeção NP independente, que domina a estrutura verbal. Isso

explica porque as nominalizações com particípio passado não cancelam nenhuma parte

da estrutura argumental do verbo, mas não esclarece porque o afixo requer a presença de

objetos do tipo rheme path.

Objetos do tipo rheme path apresentam um status especial na estrutura funcional

do verbo. Eles influenciam o aspecto externo do predicado, de maneira que suas

propriedades referenciais determinam se o evento é télico ou atélico. Seguindo Borer

(1994, 2005) e outros, Fábregas propõe que existe uma projeção aspectual externa que

define a (a)telicidade do evento ao atrair um objeto rheme path, como mostra a estrutura

em (24).

(24)

A syntactic account of affix rivalry in Spanish nominalisations 83

We suggest that the analysis with remerge is necessary for any affix which has the relevant properties of -miento: it cancels an argument, while requiring at the same time the presence of the projection that introduces such argument, and it changes the grammatical category. This set of prop-erties are straightforwardly accounted for by generating such an affix in the position of the argument and remerging it as the highest node of the struc-ture, and, therefore, changing its category label. Some candidates for this class of syntactic objects are the suffixes -ble, ‘-able’, -dor, ‘-er’ and -nte, ‘-er’, so, as we can see, the properties of -miento are not idiosyncratic in the grammar of Spanish.9 4.2. Position of -ción The properties of the affix -ción are those that we expect from a nominali-zation process where the nominal features are introduced independently from the verbal structure: it is not sensitive to argument structure, it can combine with roots and it is compatible with all the arguments of the verb, because, not being introduced by the verbal structure, it does not occupy any of the argument positions. These properties are explained if -ción is the lexical spell out of an NP layer which subordinates the verbal structure, as represented in (35). (35) NP 3 N vP/ 4.3. The syntactic behavior of past participle nominalizations. Potential problems for a syntactic representation may come from the behav-ior of -do /-da, because this affix is sensitive to the argument structure of the verb – it requires rheme path objects – but does not cancel any part of

doner…). I suggest that a general property of affixes, as opposed to stems, is that their denotation is not determined by their position, maybe due to a defective conceptual semantics. However, this requires further research.

9 For a specific analysis of the agentive suffix -dor in Spanish, following the same proposal presented here, cf. Fábregas 2008. The analysis can also be extended to some cases of compounds in Romance, such as the famous agentive VN type (cf. Scalise, Fábregas & Forza in press).

A syntactic account of affix rivalry in Spanish nominalisations 85

conceptual misunderstanding, I will label this projection External Aspect (EA).

(37) EAP 3 Rheme EA 3 EA …ProcP 3 Proc Rheme We propose that the past participle morpheme in Spanish lexicalizes (at least) EAP; notice, however, that as we assume that this projection is pre-sent also with atelic events, this implies that the participle is not always perfective (as is indeed the case empirically).10 If -d- requires EAP for in-sertion, the configuration explains that object rhemes are necessary in no-minalizations that use -do /-da: the participial morpheme does not come from inside the argument structure of the verb, but it is associated with a projection that interacts with path objects. Therefore, we expect this class of nominalizations to require a path object and, also, to require the presence of the verbal structure that introduces this path object.

The nominal layer is merged on top of the verbal structure, as in (38).

(38) NP 3 N EAP 3 Rheme EA -d- 3 EA… ProcP Now the question is what spells out the nominal layer. Clearly, the presence of the gender markings (-o or -a)11 which appears in the participle in these

10 Given Phrasal Spell Out, which was already introduced, it could be the case

that -d- spells out other parts of the structure; hopefully, this could give us a unified account of the syntactic representation of all kinds of participles, but this goal is way beyond the restricted limits of this paper.

11 We will not analyse the correlations found between the distribution of gender and the mass-count parameter, noticed, among other authors, by Bordelois (1993). We suggest that this correlation takes place at the level where correspondences between gender class and some properties of the semantics of the noun are dealt with, and, therefore, they are not immediately crucial for our analysis.

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31

Nessa análise, o morfema de particípio passado lexicaliza o aspecto externo

(doravante EAP). Se o afixo -d- requer EAP para ser inserido, a configuração explica

porque os objetos rheme path são necessários nas nominalizações com –do/-da: o

morfema de particípio não é gerado dentro da estrutura argumental do verbo, mas está

associado à projeção que seleciona objetos rheme path. Na camada nominal, que

nominaliza a estrutura, o spell out é realizado por meio dos marcadores de gênero (-o ou -

a).

Uma questão final discutida pelo autor relacionada ao afixo -ción busca

compreender por que nem todos os verbos aceitam a nominalização com esse afixo, se

ele não seleciona nenhum tipo específico de estrutura argumental? A resposta para essa

questão se refere ao bloqueio morfológico: se existe uma nominalização com um

determinado afixo, os falantes evitam formar outra palavra com um sufixo diferente, a

não ser que exista uma motivação independente.

Para concluir, Fábregas retoma as duas estratégias que permitem a introdução de

traços nominais em uma nominalização:

- Reciclagem do traço-N: traços nominais em uma das posições argumentais

do domínio verbal são reconcatenados no topo da estrutura verbal (cf. –

miento).

- Encaixamento do traço-N: traços nominais são fornecidos por um núcleo

nominal que domina a estrutura verbal (cf. –do/-da e –ción).

Na próxima seção, discutiremos o trabalho de Martin (2010) sobre os sufixos

nominalizadores –age, -ion e –ment em francês.

4.2. Francês: Martin (2010)

Martin (2010) discute a distribuição dos nomes deverbais em francês formados a

partir dos sufixos –age, -ment, e –ion. A hipótese explorada pela autora é a de que esses

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sufixos apresentam um valor semântico abstrato, que esclarece: (i) porque verbos

selecionam diferentes sufixos na operação de nominalização, dada a premissa de que a

semântica da raiz verbal e do sufixo devem combinar; (ii) a interpretação de nomes

deverbais eventivos, incluindo as diferenças semânticas de duplos; (iii) a aceitabilidade

de neologismos.

A autora mostra que alguns diagnósticos de eventividade usados por Grimshaw

(1990), como a pluralização do nome deverbal e o uso de modificadores fréquent ou

constant, não se aplicam ao francês porque não permitem diferenciar as leituras eventivas

das estativas. Assim, a autora usa como diagnóstico de eventividade o predicado assister

à ‘assistir a, testemunhar’, em que o nome deverbal denota o evento a ser assistido.

Analisando ocorrências dos sufixos deverbais na internet, Martin (2010) investiga

se (a)telicidade do verbo tem influência na escolha do sufixo. Os resultados mostram que

não há uma correlação entre a escolha dos sufixos e esse valor aspectual da base verbal.

Contudo, a autora afirma que outros valores aspectuais estão envolvidos na distribuição

desses afixos. Para isso, propõe uma análise em termos de multi-traços, considerando

cinco propriedades: (P1) a extensão da cadeia eventiva; (P2) o grau de agentividade do

sujeito; (P3) a relação incremental entre o evento e o tema; (P4) o domínio ontológico da

cadeia eventiva; (P5) descontinuidade.

4.2.1. -ment vs. -age

• Propriedade P1 – Extensão da cadeia eventiva

A propriedade P1 está ativa nas bases verbais que apresentam um certo tipo de

subespecificação semântica8, podendo denotar cadeias eventivas longas ou curtas. Assim,

com essas bases verbais, -age seleciona a leitura mais longa e –ment seleciona a leitura

mais curta. Em bases verbais causativo-incoativas, os nomes deverbais em –age denotam 8 Piñon (2001a apud Martin 2010) propõe que as versões transitivas e intransitivas de verbos causativo-incoativos são derivadas de uma mesma base subespecificada, que se deriva de um adjetivo.

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causação plena e os nomes correspondentes em –ment denotam mudança de estado do

objeto (Martin 2010, p.118-119):

(25) Pierre a assisté au gonflage des ballons. ‘Pierre witnessed the inflating of the balloons.’

‘Pierre assistiu ao enchimento dos balões’ Ø Pierre assiste à causação completa.

(26) Pierre a assisté au gonflement des ballons.

‘Pierre witnessed the inflation of the balloons.’ ‘Pierre assistiu ao enchimento dos balões’

Ø Pierre assiste à mudança de estado apenas.

A autora aponta que os nomes em –ment podem ser usados com um sintagma par

X, que denota o agente responsável pela interpretação de causa do evento.

(27) Pierre a assisté au gonflement des ballons par X.

‘Pierre witnessed the inflation of the balloons by X.’ ‘Pierre assistiu ao enchimento dos balões por X’

Ø Pierre assiste à causação completa.

Em bases verbais com leitura iterativa, -age seleciona a leitura mais longa

(iterativa), enquanto –ment seleciona a leitura mais curta (um único evento). Por

exemplo, com os verbos intransitivos miauler ‘miar’ e secouer ‘tremer’, os nomes

deverbais miaulement e secouement denotam uma única produção de som/movimento,

enquanto miaulage e secouage implicam em iteração.

Em bases verbais que não exibem a relevante subespecificação (não exibem

leitura longa ou curta), como pousser ‘empurrar’ ou tirer ‘tirar’, a propriedade P1 é

neutralizada e os nomes deverbais em –ment e em –age denotam o mesmo tipo de evento.

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• Propriedade P2 – Grau de agentividade do sujeito

Em geral, os nomes em -age são mais agentivos do que os nomes em –ment. A

proposta da autora é que a leitura dos nomes em -age deve ser agentiva, enquanto os

nomes em –ment podem tolerar essa leitura, sem a implicar necessariamente. Assim, a

cadeia eventiva denotada pelo nome em –age deve começar com uma ação ou deve ser

desencadeada por uma ação (intencional). Por exemplo, com o verbo pousser ‘empurrar;

crescer’, poussage é normalmente usado para descrever uma técnica que intrinsicamente

implica em um agente dotado com intenção, enquanto poussement é preferido quando o

processo não é intencional.

(28) La dent pousse. > le poussement/#poussage de la dent. ‘The tooth is growing.’ > ‘the growing of the tooth.’ ‘O dente está crescendo.’ > ‘o crescimento do dente.

• Propriedade P3 – Relação incremental entre o evento e o tema

A propriedade P3 se refere a uma relação entre o evento denotado e o seu tema.

Observe os exemplos.

(29) Marie a intentionnellement plissé sa jupe. > Le plissement / -age de la jupe.

‘Marie intentionally pleated her skirt.’ ‘The pleating of the skirt.’ ‘Marie intencionalmente plissou sua saia.’ ‘O plissado da saia.’

(30) Marie a intentionnellement plissé les yeux. > Le plissement / #plissage des yeux. ‘Marie intentionally squinted her eyes.’ ‘The squinting of the eyes.’

‘Maria intencionalmente piscou seus olhos.’ ‘A piscamento dos olhos.’

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A hipótese é de que para -age ser aceitável, deve haver uma relação incremental

entre o evento e e o tema x: for every (relevant) proper part y of the Theme x, y stands in

the relation θ denoted by the verb to some proper part e’ of e (Martin 2010, p. 125).

Esta relação pode ser satisfeita em (29), onde toda parte relevante da saia pode ser

tema do evento de plissar/preguear; mas não em (30), porque não faz sentido dizer que

toda parte relevante dos olhos é tema do evento de fechar/piscar os olhos.

P3 também esclarece o fato de que, algumas vezes, os nomes em -age são

melhores com temas plurais. De fato, temas formados por uma pluralidade de entidades é

uma maneira alternativa de satisfazer uma relação incremental que não pode ser satisfeita

por uma única entidade.

• Propriedade P4 – Domínio ontológico da cadeia eventiva

A propriedade P4 que atua na competição entre os sufixos –ment e –age se refere

ao domínio ontológico ao qual pertence a cadeia eventiva. A hipótese é de que –age é

marcada por um domínio específico (físico), e –ment é ontologicamente não-marcado.

Assim, a primeira predição dessa hipótese é de que –age não será selecionado por

verbos que não têm uma leitura física, como os verbos psicológicos (e.g. penser

‘pensar’, préoccuper ‘preocupar’, effrayer ‘assustar’, imaginer ‘imaginar’). A segunda

predição é que quando a base for subespecificada em relação ao domínio ontológico do

evento denotado, -age seleciona a leitura física e –ment as demais.

(31) Le gonflement des prix/le gonflage du ballon. ‘The inflating of the prices [abstract Theme] / the inflating of the balloon.’ [physical Theme] ‘A inflação dos preços/ o enchimento do balão’

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4.2.2. -ment vs. –ion

Segundo a autora, a competição entre esses dois sufixos representa uma área mais

difícil do que a anterior, uma vez que –ion e –ment são tidos como improdutivos no

francês moderno, diferentemente do sufixo -age. Assim, para esse par, são investigadas

três propriedades: (P1) duração da cadeia eventiva; (P4) domínios ontológicos; e (P5)

descontinuidade.

• Propriedade P1 – Duração da cadeia eventiva

Em relação a essa propriedade, -ion se assemelha a –age, na maneira em que

competem com –ment. Com bases causativo-incoativas, os nomes em –ion tendem a ser

subespecificados, podendo denotar tanto a causação completa quanto mudança de estado;

enquanto –ment denota apenas a mudança de estado.

(32) L’isolement de la maison.

‘The house’s isolation.’ i. o estado isolado da casa. ii. #a ação de isolar a casa.

(33) L’isolation de la maison.

‘The house’s isolation.’ i. o estado isolado da casa. ii. a ação de isolar a casa.

Com algumas bases, contudo, os nomes em –ion acessam apenas a leitura longa.

Isso indica que –ion é orientado para a ‘causação’ e –ment é orientado ao ‘resultado’. A

autora nota que o sufixo latino –tio era mais causativo que o sufixo –men(tum).

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Com relação aos verbos intransitivos que denotam iteração, P1 parece não

desempenhar nenhum papel na competição de –ment e –ion, uma vez que nenhuma

tendência clara é encontrada.

• Propriedade P4 – Domínios Ontológicos

Com relação aos domínios ontológicos, a autora aponta que existe, em geral, uma

correspondência entre os nomes em –ment e em –ion. Contudo, a especificação trazida

por –ion pode desencadear uma mudança no domínio ontológico, transferindo o evento

denotado a um domínio mais abstrato do que os nomes correspondentes em –ment.

• Propriedade P5 - Descontinuidade

Outra intuição sobre a diferença entre esses sufixos é a de que –ion é mais

prototipicamente télico do que –ment. Com verbos que denotam evento e mudança de

estado, -ion parece requerer que o evento seja concebido como realizado em diferentes

passos, enquanto –ment parece preferencialmente selecionar bases que denotam um

evento que acontece, por default, sem interrupção.

(34) a. J’ai éclaté le ballon #en plusieurs étapes. ‘I exploded the balloon in several steps.’

‘Eu eclodi o balão em diversas etapas. b. éclatement/*éclatation

(35) a. Samira a alphabétisé Pierre en plusieurs étapes.

‘Samira alphabetized Pierre in several steps.’ ‘Samira alfabetizou Pierre em várias etapas’

b. alphabétisation/*alphabétisement

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4.2.3. -age vs. –ion

Esses sufixos denotam eventos de domínios ontológicos diferentes, quando

concatenados à mesma base.

(36) a. un cassage de doigt, #une cassation de doigt. (evento físico)

‘A breaking of a finger.’ ‘A quebra de um dedo.’

b. la cassation d’une décision juridique, #le cassage d’une décision

juridique. (evento jurídico) ‘The canceling of a juridical decision.’

‘O cancelamento de uma decisão judicial’

(37) a. le fixage d’un tableau. (não metafórico) ‘The fastening of a painting.’

‘A fixação de um quadro’

b. le fixage des prix (metafórico) vs la fixation des prix. (não metafórico) ‘The setting of the prices.’

‘A fixação dos preços.’

Outra diferença é que –age implica a presença de uma ação (cf. P2), enquanto -

ion pode denotar mudanças de estado.

(38) a. La tribu s’est fixée dans cette région.

‘The tribe settled in this region.’ ‘A tribo está fixada nesta região’

b. La fixation de la tribu/#le fixage de la tribu.

‘The settling of the tribe.’

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‘A fixação da tribo.’

Uma última predição é que -ion é preferido em relação a -age quando há uma

relação incremental entre o evento e o tema (cf. P3).

(39) Le codifiage d’un texte / ?d’un nombre.

‘The codifying of a text / of a number.’ ‘A codificação de um texto/de um número.’

(40) La codification d’un texte / d’un nombre.

‘The codification of a text / a number.’ ‘A codificação de um texto/de um número.’

Para concluir, a autora apresenta a seguinte tabela que resume as diferenças entre

os três sufixos analisados.

Tabela 01: Diferenças semânticas/aspectuais entre os sufixos estudados

age ment ion

preferência pelo domínio abstrato

[−DESCONTINUIDADE] [+DESCONTINUIDADE]

P4

P5

domínio físico todos os domínios

P3

leitura longa com bases subespecificadas

leitura curta com bases subespecificadas

leitura longa ou curta com bases subespecificadas

P1

P2 [+AGENTIVO] [±AGENTIVO] [±AGENTIVO]

incrementalidade entre evento e tema

não-marcado não-marcado

Fonte: Adaptado de Martin (2010, p. 136)

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É interessante salientar que as propriedades semânticas descritas por Martin

(2010) para os sufixos –ion e –ment se assemelham às diferenças entre as leituras

eventiva vs. resultativas que identificamos nos sufixos –ção e –mento em PB. A diferença

relevante entre as duas línguas se relaciona à produtividade desses sufixos, já que em

francês esses nominalizadores não são sincronicamente produtivos, diferentemente do

PB.

No próximo capítulo, discutiremos os pressupostos teóricos que serão

fundamentais para análise que iremos desenvolver nessa tese. Tendo em vista que essa

trabalho trata de sufixos nominalizadores em PB, será fundamental discutirmos conceitos

relativos aos processos de formação de palavras no quadro teórico da Morfologia

Distribuída, além de noções acerca do tratamento que Grimshaw (1992) e Hale e Keyser

(2002) desenvolvem sobre estrutura argumental e, no caso da primeira autora

especificamente, o tratamento dado às nominalizações.

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CAPÍTULO II

FORMAÇÃO DE PALAVRAS, NOMINALIZAÇÃO E ESTRUTURA

ARGUMENTAL: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A relação de interface entre a morfologia e a sintaxe tem sido uma questão

amplamente discutida na teoria gerativa. A partir do início dos anos 70, fortalece-se a

ideia de se separar esses dois componentes da gramática, deixando a cargo do léxico a

responsabilidade pelos processos morfológicos de formação de palavras.

No trabalho Remarks on Nominalization, Chomsky (1970) propõe que nominais

derivados de verbos são formados diretamente no léxico e inseridos sob os nódulos

terminais na estrutura profunda (deep structure – DS). Assim, diferentemente de

nominais gerundivos, os nomes derivados não são formados por meio de diversas

transformações no componente transformacional. Segundo o autor, as diferenças nos

processos derivacionais de formação desses nominais esclarecem o comportamento

distinto dos mesmos em relação: (i) à produtividade - nominais gerundivos são altamente

produtivos, e nominais derivados apresentam produtividade restrita; (ii) às relações

semânticas entre os nominais e as proposições associadas – no caso dos gerundivos é

bastante regular e no caso dos nominais derivados é bastante variada e idiossincrática;

(iii) à estrutura interna – nominais derivados apresentam estruturas de sintagmas

nominais, podendo ser pluralizados e ocorrer com diversas classes de determinantes.

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Esse trabalho inaugura a chamada Hipótese Lexicalista, que prevê uma separação

clara entre o componente sintático e o léxico, o domínio no qual os processos de

formação de palavras acontecem e as regras morfológicas são aplicadas. Nessa

abordagem, processos sintáticos atuam sobre os itens lexicais, mas a estrutura interna da

palavra é invisível para a sintaxe (Di Sciullo; Williams 1987).

O modelo lexicalista tradicional apresenta duas versões: a Hipótese Lexicalista

Forte (Chomsky 1970, Halle 1973, Kiparsky 1982; Levin; Rappaport Hovav 1986, Di

Sciullo; Williams 1987) e a Hipótese Lexicalista Fraca (Siegel 1974, Aronoff 1976,

Wasow 1977, Anderson 1982, Lieber 1982, Baker 1988, Booij 1996). Na versão forte do

modelo, a morfologia e a sintaxe são completamente distintas; desse modo, tanto os

processos morfológicos derivacionais quanto os flexionais acontecem no léxico, um

componente pré-sintático. Por outro lado, para a versão fraca da Hipótese Lexicalista, os

processos derivacionais de formação de palavras ocorrem no léxico, contudo, os

processos flexionais ocorrem no componente sintático por meio de regras sintáticas.

Uma noção importante apresentada por Chomsky (1970) é a de que os itens

lexicais aparecem no léxico com traços selecionais fixos que indicam os tipos possíveis

de complementos (e.g. se um sintagma nominal ou uma sentença reduzida). Entretanto,

esses itens são neutros em relação aos traços categoriais como [nome], [verbo] ou

[adjetivo]. Assim, regras morfológicas determinam a forma fonológica das entradas

lexicais, quando estas se associam aos traços categoriais. Essa noção é, por vezes,

considerada a ideia embrionária de um quadro teórico que viria a surgir no início nos

anos 90 e que se opõe aos modelos lexicalistas, a Morfologia Distribuída (doravante MD,

cf. Halle; Marantz 1993; 1994, Marantz 1997). Segundo Halle e Marantz (1993), esse

termo que alcunha o modelo ressalta o fato de que o maquinário, do que tradicionalmente

tem sido chamado de morfologia, não está concentrado em um único componente, mas

distribuído em diversos deles. Desse modo, os processos de formação de palavras que

são, na realidade, a criação de núcleos sintáticos complexos, podem acontecer em

qualquer nível da gramática, por meio de movimento de núcleo e adjunção ou

concatenação de núcleos estruturalmente ou linearmente adjacentes.

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Na seção 2, a seguir, apresentamos os principais pressupostos da MD e

argumentamos por que esse modelo é adequado ao tratamento dos dados que iremos

apresentar neste trabalho. Na seção 3 deste capítulo, discutimos como a noção da

ciclicidade (proposta incialmente por Chomsky, Halle e Lukoff 1956), incorporada pela

Fonologia Lexical (Kiparsky 1982 e trabalhos subsequentes) e expandida pelo

Minimalismo à teoria sintática (Chomsky 2000, 2001), é relevante aos processos de

formação de palavras sob a ótica da MD. Na seção 4, abordamos a questão das

nominalizações no quadro da teoria gerativa (especialmente a análise de Grimshaw 1990)

e da MD (cf. Marantz 1997; Harley 2006). Na seção 5, apresentamos brevemente a

abordagem de Hale e Keyser (2002) para a questão da estrutural argumental verbal.

2. A MORFOLOGIA DISTRIBUÍDA

A MD é uma proposta teórica que busca refletir (cf. Embick; Halle, 2004) sobre a

relação entre os processos de formação das palavras e os componentes da competência

gramatical: a sintaxe, a semântica e a fonologia. Nesta proposta cada palavra é formada

por operações sintáticas que concatenam uma raiz acategorial a núcleos funcionais que

determinam sua categoria lexical (n, v, a) e a outros núcleos que introduzem informação

de tempo, aspecto, número, etc. Assim, a sintaxe consiste em um conjunto de regras que

geram estruturas sintáticas que estão sujeitas a outras operações nos componentes de

interface fonológico e semântico.

A MD surge no início dos anos 90 com os trabalhos inaugurais de Halle e

Marantz (1993; 1994) e se estabelece como uma alternativa às abordagens morfológicas

dos modelos lexicalistas. Halle e Marantz (1993) apontam que a MD contrasta

especialmente com duas abordagens: (i) a teoria conhecida como A-morphous (Anderson

1992), na qual se propõe que os afixos ou morfemas são o resultado de regras de

formação de palavras, que são sensíveis aos traços associados às categorias lexicais,

chamadas de lexemas; (ii) a proposta de Lieber (1992), que redefine a noção tradicional

de que afixos e raízes lexicais são morfemas cuja entrada lexical relaciona a forma

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fonológica com significado e função. Para Lieber e outros lexicalistas, a combinação de

itens lexicais cria palavras que são manipuladas na sintaxe.

Contudo, os autores apontam que a MD apresenta características comuns a essas

abordagens. Como a teoria de Anderson, a MD endossa a separação dos elementos

terminais envolvidos na sintaxe de sua forma fonológica. Como Lieber e outros

lexicalistas, a MD assume que a realização fonológica dos elementos terminais na sintaxe

é governada por entradas lexicais (Vocabulário) que relaciona feixes de traços

morfossintáticos a feixes de traços fonológicos. Nas próximas seções, apresentamos os

pressupostos fundamentais da MD.

2.1. Conceitos fundamentais da MD

Na arquitetura de gramática proposta nesta abordagem, não há um léxico como

sugerido nos modelos lexicalistas. Ao contrário, as tarefas anteriormente atribuídas ao

léxico (Harley; Noyer 1999) se distribuem em três listas acessadas em distintos

componentes da gramática: a lista dos Morfemas; a lista do Vocabulário e a lista da

Enciclopédia. Os conteúdos dessas listas serão discutidos a seguir.

Tradicionalmente, em MD, o termo morfema se refere às unidades que estão

sujeitas às operações sintáticas, ou seja, morfemas são os nódulos terminais das estruturas

arbóreas, formados por um complexo de traços fonético-fonológicos ou

gramaticais/sintático-semântico. Desse modo, existem duas classes de morfemas

(Embick; Halle 2004): (i) raízes que são complexos de traços fonéticos e, em algumas

situações, traços diacríticos, sem informação gramatical; (ii) morfemas abstratos que são

compostos por traços gramaticais como [PASS] ou [PL], sem conteúdo fonético-

fonológico.

Propostas mais atuais, como as de Acquaviva (2009, 2014) e Harley (2014), têm

discutido o pressuposto de raízes são inseridas na sintaxe com sua forma fonológica

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especificada. Harley (2014) argumenta que se as raízes entrassem plenamente

especificadas com seus traços fonológicos, uma forma supletiva não poderia competir por

um núcleo √, condicionado pelo contexto sintático da sentença.

Conforme mencionamos anteriormente, a partir de noções discutidas em

Chomsky (1970), um pressuposto importante para a MD é o de que as raízes não

apresentam categoria gramatical, quer dizer, categorias gramaticais tradicionais como

nome e verbo são rótulos que se referem a estruturas sintáticas nas quais uma raiz é

concatenada a um núcleo funcional que define sua categoria. Assim, um mesmo item

vocabular pode aparecer em categorias morfológicas diferentes, dependendo do contexto

sintático no qual a raiz é inserida. Por exemplo, a raiz √DESTRUI- é realizada como um

nome destruição, quando concatenada a um núcleo nominalizador n (ou a núcleo

determinante D, cf. Marantz 1997) ou como um verbo destruir quando concatenada a um

núcleo verbalizador v.

Uma propriedade importante da MD é a inserção tardia (late insertion, cf. Halle;

Marantz 1994). A hipótese é de que os terminais sintáticos compostos por morfemas

abstratos são supridos de traços fonológicos pós-sintaticamente por meio do mecanismo

de inserção vocabular. Cada par contendo um expoente fonológico com o conteúdo

gramatical sobre o contexto no qual esse expoente deve ser inserido é denominado item

vocabular. Os itens vocabulares são regras que atribuem conteúdo fonológico aos

nódulos compostos por traços abstratos. Embick e Halle (2004) discutem um exemplo de

inserção vocabular relacionada à formação de plural nos nomes em inglês. A inserção do

expoente fonológico regular de plural /-z/ pode ser expressa pelo item vocabular abaixo:

(41) Item vocabular de plural nominal regular em inglês

[pl] ↔ /-z/

O processo de inserção vocabular é regido pelo princípio do subconjunto (subset

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principle)9 que prevê que itens mais específicos (aquele que contém o maior número de

traços especificados no morfema abstrato) serão prioritariamente escolhidos para serem

inseridos. Com relação ao plural nominal em inglês, é importante considerar que o traço

de [pl] também apresenta outros expoentes como -Ø (e.g. moose-Ø) e -en (e.g. ox-en).

Como o traço [pl] está no mesmo constituinte da raiz quando a inserção vocabular é

aplicada, a raiz imprime uma condição contextual à escolha do expoente para o nódulo de

[pl]. O efeito resultante dessa condição é denominado de alomorfia contextual e

formalmente representado por condições adicionais de inserção, como apresentamos em

(42). Como somente um único expoente pode ser inserido no nódulo terminal, os itens

mais especificados serão escolhidos. Assim, a depender do contexto de inserção,

expoentes defaults não podem ser aplicados.

(42) Alomorfia contextual

[pl] ↔ /-z/

[pl] ↔ -en / 𝑂𝑋, 𝐶𝐻𝐼𝐿𝐷, …

[pl] ↔ - Ø / 𝑀𝑂𝑂𝑆𝐸, 𝐹𝑂𝑂𝑇, …

O conceito de alomorfia contextual será de fundamental importância para

analisarmos a inserção dos sufixos nominalizadores –ção e –mento em PB, como

discutiremos no capítulo III.

9 Conforme Halle (1997, p. 128):

The phonological exponent of a Vocabulary Item is inserted into a position if the item matches all or a subset of the features specified in the terminal morpheme. Insertion does not take place if the Vocabulary Item contains features not present in the morpheme. Where several Vocabulary Items meet the conditions for insertion, the item matching the greatest number of features specified in the terminal morpheme must be chosen.

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2.2. Léxico explodido e a arquitetura de gramática da MD

Tendo discutido conceitos iniciais da MD, podemos retomar a questão das listas

acessadas durante a produção e o processamento da linguagem:

Lista A: Morfemas – esta lista é composta pelas raízes e pelos morfemas abstratos e é

acessada pela sintaxe no momento da derivação.

Lista B: Vocabulário – é a lista dos itens vocabulares, que são as regras que fornecem

conteúdo fonológico aos morfemas abstratos10.

Lista C: Enciclopédia – a lista de informação semântica que deve ser listada, i.e. as

interpretações previsíveis e aquelas que não são previsíveis a partir da estrutura

morfossintática das raízes (e.g. o fato de a raiz 𝐺𝐴𝑇𝑂 em português se relacionar a um

felino) e as interpretações idiomáticas construídas sintaticamente (e.g. ‘chutar o balde’

em PB significa desistir de algo de maneira repentina/brusca).

Harley e Noyer (1999) apresentam um esquema da organização da gramática

segundo a MD, que reproduzimos adaptado a seguir.

10 Como mencionamos anteriormente, existe um debate atual na literatura com relação à natureza das raízes na MD. Harley (2014) discute evidências empíricas (como a questão das raízes supletivas) e argumenta que propriedades fonológicas ou semânticas são suficientes para individualizar nódulos de raízes na sintaxe. Dessa maneira, a autora propõe que uma notação de raiz puramente formal é necessária à computação sintática: as raízes são identificadas na numeração por meio de um índice numérico, e.g. √322 (cf. Pfau 2000, 2009; Acquaviva 2008). Assim, as propriedades fonológicas e semânticas são atribuídas às raízes no ponto computacional relevante, por meio de listas que apresentam instruções acerca do spell-out e da interpretação que essas raízes devem receber nos componentes de interface sintático e semântico, respectivamente.

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(43) Arquitetura de Gramática proposta pela MD (adaptado de Harley; Noyer

1999)

Traços Morfossintáticos

[Det] [Raiz] [+pass] [1pessoa] [pl] etc..

Lista A

Operações Sintáticas Concatenação, Movimento, Cópia

Forma Lógica

Interface Conceitual

‘Significado’

Operações Morfológicas

Forma Fonológica (Inserção Vocabular, Reajustamento,

regras fonológicas)

Itens Vocabulares /-s/: [num] [pl] /-va/: [pass]

etc…

Lista B

Enciclopédia Conhecimento não-linguístico

Lista C

gato: animal, felino, quatro patas, etc.. chutar o balde: desistir de algo repentinamente

etc….

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2.3. Operações Morfológicas Como verificamos na seção anterior, na arquitetura de gramática proposta pela

MD, a sintaxe gera estruturas hierárquicas que são interpretadas e modificadas no

componente fonológico, nos processos de inserção vocabular e de linearização. Como

vimos, na inserção vocabular, os morfemas abstratos são providos de traços fonológicos.

A linearização, por outro lado, é uma operação binária, representada pelo operador (*),

que estabelece a ordem linear das estruturas hierárquicas geradas pela sintaxe. Dada uma

estrutura formada por núcleos funcionais [X Y], a linearização é definida abaixo.

(44) Linearização

LIN [x y] → (x * y) ou (y * x) A linearização pode ser aplicada tanto antes quanto após a inserção vocabular (cf.

Embick; Halle 2004): no primeiro caso, a linearização é aplicada aos morfemas abstratos;

e no último caso, aos expoentes fonológicos. Os processos de inserção vocabular e

linearização, embora apresentem requerimentos particulares nas diversas línguas, são

aplicados no componente fonológico em todas as línguas do mundo.

Há situações, contudo, em que a relação entre os componentes sintático e

morfológico não é tão direta, em virtude da aplicação de regras que produzem estruturas

morfológicas diferentes das estruturas sintáticas das quais foram derivadas. Entretanto,

essas operações morfológicas não abandonam a premissa central da teoria de que a

estrutura sintática e a estrutura morfológica são, no caso default, a mesma e as regras

aplicadas na forma fonológica são reajustamentos mínimos motivados por requerimentos

particulares das línguas. As principais operações morfológicas discutidas na literatura são

apresentadas nas subseções a seguir.

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2.3.1. Concatenação morfológica (morphological merger)

Proposta inicialmente por Marantz (1984) e desenvolvida em trabalhos

subsequentes (Marantz, 1988; Bobaljik, 1994; Embick; Noyer, 2001) essa operação se

relacionava, originalmente, aos princípios de boa formação entre os níveis de

representação na sintaxe. Embick e Noyer (2001) ampliam essa noção inicial e discutem

que as propriedades de localidade de uma operação de concatenação são determinadas

pelo estágio na derivação em que a operação acontece: a concatenação que ocorre antes

da inserção vocabular, nas estruturas hierárquicas, difere daquela que ocorre após a

inserção vocabular/linearização. A primeira, denominada de abaixamento (lowering),

envolve adjunção de núcleo para núcleo, e em virtude desses núcleos não serem

necessariamente adjacentes, essa operação tem um caráter não-local, não-adjacente. Para

a segunda, denominada deslocamento local (local dislocation), a relação relevante para

afixação não é hierárquica, mas as de precedência linear e adjacência.

Com relação ao deslocamento local, Embick e Noyer (2001) discutem que se uma

operação de movimento é sensível às propriedades providas pela inserção vocabular, essa

será necessariamente aplicada aos elementos adjacentes. Um exemplo de aplicação dessa

operação é a formação dos comparativos e superlativos em Inglês, em que há uma

condição prosódica sobre o hospedeiro: o morfema comparativo/superlativo somente

pode ser combinado a um adjetivo de uma sílaba métrica. Além disso, para os autores, as

estruturas são linearizadas por inserção vocabular; isto esclarece porque o morfema de

comparativo/superlativo não pode figurar no adjetivo quando há um advérbio

interveniente.

Com relação ao abaixamento, os autores propõem a hipótese do abaixamento

tardio (late lowering hypothesis), segundo a qual todo abaixamento ocorrido no

componente morfológico opera somente nas estruturas presentes no output da sintaxe e

não pode remover um ambiente criado por movimento sintático.

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2.3.2. Fusão (fusion)

Proposta por Halle e Marantz (1993), essa operação toma dois nódulos terminais

que são irmãos sob um único nódulo categorial e os funde em um único nódulo terminal.

Assim, somente um Item Vocabular pode ser inserido e este deve apresentar um

subconjunto de traços morfossintáticos do nódulo fundido, incluindo o conjunto de traços

de ambos os nódulos presentes no input. Diferentemente da Concatenação, a Fusão reduz

o número de morfemas independentes em uma árvore sintática, como mostra a

formalização abaixo.

(45) Fusão

Xi[α] Xj [β] → X[α,β]

O processo de fusão é acionado quando dois morfemas abstratos, motivados

morfossintaticamente, são realizados como um único nódulo sob condições específicas.

Embick e Halle (2004, p. 54) discutem um exemplo do latim, em que as formas do

presente do indicativo ativo e passivo se diferenciam pela presença de um morfema -r

que indica as formas passivas, em adição aos expoentes de número e pessoa encontrados

em ambas as vozes, como mostra o exemplo a seguir.

(47) a. laud-ō ‘eu elogio’ b. laud-o-r ‘eu sou elogiado’

No entanto, a forma da segunda pessoa plural passiva -minī difere da forma

ativa e do restante do paradigma. Esse fato é interpretado pelos autores em termos de uma

regra de fusão que une os nódulos discretos de concordância e de voz em um único

nódulo possível para inserção vocabular. O item mais especificado bloqueia a inserção

dos itens regulares.

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Uma questão importante é que a operação de fusão atua somente em morfemas

abstratos11: essa operação só poderá ser identificada quando um único expoente é

realizado na posição de dois outros expoentes esperados. Como as raízes não estão

sujeitas à inserção vocabular e a fusão realiza a aplicação de tipos específicos de itens

vocabulares, não é possível realizar a fusão de uma raiz e um núcleo funcional.

2.3.3. Fissão (Fission)

Esta operação foi proposta, inicialmente, por Noyer (1992, 1997 apud Harley;

Noyer 1999) para dar conta de situações nas quais um único morfema pode corresponder

a mais de um item vocabular. Em situações regulares, um único item vocabular pode ser

inserido em um dado morfema, no entanto, quando a fissão ocorre, a inserção vocabular

não é finalizada até que um único Item Vocabular seja inserido. Ou seja, os itens

vocabulares são aplicados ao irmão do morfema fissionado até que todos os itens

vocabulares possíveis sejam inseridos, ou todos os traços de um morfema tenham sido

descarregados. Um traço é descarregado quando a inserção de um dado item vocabular é

condicionada por sua presença.

Harley e Noyer (1999) discutem um exemplo relacionado aos afixos de

concordância da língua Tamazight Berbere, que em alguns casos podem ser realizados

por até três diferentes itens vocabulares. Desse modo, no morfema fissionado, os itens

vocabulares não irão competir por uma única posição de expoente, ao contrário, uma

posição adicional é automaticamente disponibilizada sempre que um item vocabular for

inserido.

11 Siddiqi (2009) propõe, diferentemente, que raízes podem se fundir aos nódulos funcionais que lhes atribuem categoria, evitando a proliferação de núcleos realizados por itens de vocabulário fonologicamente nulos.

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2.3.4. Empobrecimento (Impoverishment)

Esta operação proposta inicialmente por Bonet (1991) atua nos nódulos terminais

apagando traços sob condições específicas de marcação. Embick e Halle (2004) ressaltam

que as regras de empobrecimento possibilitam o apagamento de traços, mas não

permitem mudar ou introduzir novos traços. Nesse sentido, essas regras são uma maneira

de se estabelecerem certos sincretismos, por meio da eliminação de traços dos nódulos

muito especificados, alimentando, assim, a aplicação de itens vocabulares menos

especificados.

Um exemplo de empobrecimento bastante discutido na literatura (Cf. Halle;

Marantz, 1994; Bonet, 1995; Embick; Halle, 2004) é encontrado no caso do “spurious se”

em espanhol, na situação em que os clíticos dativo e acusativo co-ocorrem em uma

mesma sentença simples: a forma do clítico dativo em espanhol é le(s), contudo, este se

realiza como como se, nos contextos em que se encontra próximo ao clítico acusativo lo,

como vemos nos exemplos abaixo.

(47)

a. A Pedro, le dieron el premio ayer.

PREP Pedro 3.DAT dar-3PL D DET prêmio ADV ‘Ao Pedro, deram o prêmio ontem.’

b. A Pedro, el premio se lo dieron.

PREP Pedro DET prêmio 3.DAT 3.ACUS dar-3PL ‘Ao Pedro, deram o prêmio ontem.’

Este fenômeno pode ser interpretado (cf. Embick; Halle 2004) por meio de uma

regra de empobrecimento que apaga o traço [dativo] antes da inserção vocabular.

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(48) Regra de empobrecimento

[DATIVO] → Ø/___ [ACUSATIVO]

Assim, o item vocabular que em outros contextos insere o expoente /l-/ no nódulo

que apresenta o traço [dativo] não pode ser aplicado e, como resultado, o item vocabular

default insere o expoente regular /s-/ no nódulo empobrecido.

Na próxima seção, discutiremos a noção de ciclicidade relacionada aos processos

de formação de palavras no quadro da MD.

3. CICLICIDADE E FORMAÇÃO DE PALAVRAS

A noção de ciclo é inicialmente sugerida em Chomsky, Halle e Lukoff (1956

apud Rubach 1984). Na Fonologia Gerativa Padrão (Chomsky; Halle 1968), o conceito

de ciclo fonológico é usado como um princípio que governa a aplicação de regras: regras

fonológicas cíclicas são reaplicadas na mesma ordem a cada passo sucessivo na

derivação; regras pós-cíclicas são aplicadas à sequência toda, uma única vez.

Aplicação cíclica de regras disponibiliza fatos acerca da derivação de um

determinado constituinte e esses fatos são relevantes para a estrutura como um todo.

Quer dizer, em algumas situações, a aplicação de uma regra em um estágio anterior

fornece informações cruciais para aplicação de outra regra em um ciclo posterior. A

análise do inglês feita no SPE (The Sound Pattern of English) fornece um exemplo

clássico: comp[əә]nsation vs. cond[ε]nsation. Em alguns dialetos do inglês, a segunda

sílaba da palavra compensation é átona, assim sua vogal é reduzida ao schwa. Na segunda

palavra, entretanto, não há redução vocálica, uma vez que esta se deriva do verbo

condénse, no qual a vogal [ε] é acentuada. Se a regra de acento é aplicada ciclicamente,

condensation apresenta sua segunda sílaba acentuada em um ciclo anterior e a presença

do acento bloqueia a redução vocálica. Por outro lado, compensation não apresenta sua

sílaba medial acentuada (já que se deriva de cómpensàte), assim, a redução vocálica pode

ser aplicada a essa palavra.

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A partir dessas noções, ao longo dos anos setenta, diversos trabalhos exploraram

diferentes aspectos da estrutura da palavra, discutindo propriedades das regras

fonológicas e suas relações com morfologia e com léxico (Kiparsky 1968, 1973; Aronoff

1976; Mascaró 1976; Siegel 1974; 1977; Pesetsky 1979; entre outros). Kiparsky (1982),

no trabalho que inaugura a teoria da Fonologia Lexical, afirma que os processos

derivacionais e flexionais de uma língua podem ser organizados em uma série de níveis.

Cada nível é associado a um conjunto de regras fonológicas que define o domínio de

aplicação. O ordenamento desses níveis define também o possível ordenamento dos

processos morfológicos de formação das palavras. Isso estabelece a divisão básica entre

regras fonológicas que são aplicadas ao léxico e aquelas que operam após as palavras

terem sido combinadas em sentenças na sintaxe. As primeiras, as regras da fonologia

lexical são intrinsecamente cíclicas, porque são reaplicadas a cada passo do processo de

formação de palavras no nível morfológico. Por outro lado, as regras da fonologia pós

lexical são intrinsecamente não cíclicas.

A noção de ciclicidade é também fundamental para a teoria sintática. De uma

certa forma, desde a proposta da Condição da Ciclicidade Estrita (Chomsky 1973) até a

proposta de fases (Chomsky 2000; 2001), a ideia é de que a derivação sintática procede

em termos de domínios cíclicos (construídos de baixo para cima), que imprimem

restrições de localidade às regras ou operações sintáticas. Nesse último modelo, cada fase

é um fragmento da estrutura sintática, de caráter proposicional (sintagma verbal com

estrutura argumental plena e sintagma complementizador com os indicadores de força),

composto por itens lexicais da numeração localizados na memória ativa. As fases são

enviadas ciclicamente ao componente fonológico por meio da operação de Spell-Out.

A partir dessa proposta de Chomsky (2000; 2001) acerca da natureza cíclica da

computação sintática e com o desenvolvimento da teoria da MD (Halle; Marantz 1993;

1994 e trabalhos subsequentes), a noção de ciclicidade é revisitada no que se refere aos

processos de formação de palavras (Marantz 2001; 2007; Marvin 2002; Arad 2003;

Embick 2010; entre outros). Nesses trabalhos, os autores apontam duas importantes

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distinções: (i) domínio interno vs. domínio externo da formação de palavra12; e (ii)

núcleos funcionais cíclicos vs. núcleos não-cíclicos.

A primeira distinção se refere à possibilidade de um dado núcleo funcional (n, v,

a) ser concatenado diretamente à raiz (domínio interno ou baixo, cf. Arad 2003) ou a uma

estrutura já categorizada, i.e., uma estrutura que exibe um núcleo funcional que determina

sua categoria lexical (domínio externo ou alto, cf. Arad 2003), conforme mostra a

estrutura abaixo.

(49) Domínios interno e externo da formação de palavras (cf. Marantz 2007)

A concatenação no domínio interno pode produzir idiossincrasias tanto

fonológicas quanto semânticas e parece ser menos produtiva, uma vez que as raízes

podem selecionar núcleos categorizadores arbitrariamente (Arad 2003, p.739). Por

exemplo, em inglês, a raiz √CLUMS seleciona –y como núcleo adjetival, enquanto a raiz

√MALIC seleciona –ious. Outro exemplo é discutido por Marantz (2000); o autor

argumenta que o mecanismo sugerido como truncamento por Aronoff (1976) para o

contexto supostamente derivacional de atrocious e atrocity (*atroc-ious-ity) pode ser

compreendido, na realidade, como uma concatenação no domínio interno, em que a raiz

√ATROC cria atrocious em um contexto adjetival e atrocity no contexto nominal, sem

que haja uma relação derivacional entre elas. 12 Nos termos da Fonologia Lexical (Kiparsky 1982 e trabalhos subsequentes): stem-level vs. word-level.

√" x

x

y

y

Domínio Interno

Domínio Externo

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Por outro lado, a concatenação no domínio externo prevê regularidades

semânticas e fonológicas, uma vez que toma como input uma raiz já categorizada. O

processo de criar palavras a partir de palavras já existentes é bastante produtivo. Por

exemplo, em inglês, é possível formar um nome abstrato a partir de um nome concreto

com a afixação do morfema –ness, ou um adjetivo a partir de um nome com afixação de –

al.

A segunda distinção importante que esses trabalhos discutem se relaciona às

propriedades dos núcleos funcionais cíclicos e não-cíclicos. Esse contraste resulta do

caráter cíclico da derivação sintática imposto pelas fases. Conforme Marantz (2007), cada

núcleo funcional que determina uma categoria lexical define uma fase. Isto significa que

núcleos cíclicos ao serem concatenados à estrutura sintática desencadeiam spell-out do

material presente na posição de complemento. Essa hipótese estabelece restrições ao

conjunto de informações disponíveis em um dado ciclo do componente fonológico

(doravante FF), restringindo potenciais interações alomórficas. Por outro lado, núcleos

não cíclicos não definem uma fase, i.e. não desencadeiam spell-out; contudo,

caracterizam outros tipos de núcleos funcionais, como tempo, aspecto, número, etc.

Considerando essas distinções, Embick (2010, p. 48) estabelece três

generalizações relacionadas aos domínios de localidade alomórfica.

(G1) Root-attached cyclic x can see the Root.

(G2) A non-cyclic (i.e. non-category-defining) head X can see a Root in spite of intervening cyclic x, but this seems to happen only when x is non-overt.13

G3) When there are two cyclic heads x and y in a structure like [[√ROOT x] y], it seems that y cannot see the Root, even if x is not overt. That is, outer or “category-changing” cyclic heads do not seem to be sensitive to the Root14.

13 Um exemplo de (G2) fornecido por Embick (2010) é o morfema de passado do inglês. O nódulo T[past] pode ver a raiz, uma vez que exibe alomorfia contextual e é realizado por diferentes alomorfes (e.g., ben-t e hit-∅, em oposição ao morfema default play-ed). 14 Um exemplo de (G3) é evidenciado pelo gerúndio em inglês, em construções como John’s destroying the files. Embick (2010) afirma que, diferente de nomes como laugh-ter, marri-age, destruct-ion, cujas nominalizações envolvem sufixos distintos, gerúndios sempre são formados a partir do sufixo -ing. Isto demonstra que um núcleo cíclico externo (e.g. o n nominalizador em gerúndios) não é capaz de ver a raiz, mesmo se o núcleo interno não é realizado (overt).

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Essas generalizações seguem de um modelo cíclico de derivação sintática

(Embick 2010). Considere a estrutura sintática em (50).

(50) Exemplo de estrutura (Embick 2010, p.52)

Em (50), o componente sintático deriva o sintagma √P e o concatena a x. Dado

que x é um núcleo cíclico, spell-out é desencadeado. Assim, o domínio cíclico

complemento de x é sujeito à inserção vocabular e ao processamento fonológico. A

derivação sintática subsequente concatena os núcleos não-cíclicos Z e W a xP. Quando o

núcleo cíclico y é concatenado a esse objeto, spell-out é novamente desencadeado nesse

ponto. Assim, x, W e Z serão submetidos à Inserção Vocabular nesse ciclo de FF (Forma

fonológica).

A hipótese é de que somente o complemento cíclico de um núcleo cíclico x será

enviado a FF na fase desencadeada por x. Desse modo, a raiz, o próprio núcleo x e

qualquer material concatenado à borda (edge) do domínio de x serão enviados a FF

somente quando outro núcleo cíclico for concatenado à estrutura. Contudo, se assumimos

que um DP é uma fase (cf. Embick 2010), a presença de um DP como complemento de

uma raiz pode desencadear o spell-out da raiz no ponto derivacional mostrado em (51).

24

(21) Sample Structure (Embick 2010:52)

yP V y WP

V W ZP V Z xP V x √P

√𝑅𝑜𝑜𝑡 In (21), the syntactic component derives the √P, and merges x with it. Since x is a cyclic

node, spell out is triggered. So, cyclic domains in the complement of x are spelled out; the result

is that any cyclic domains in the √P are subject to Vocabulary Insertion and phonological

processing. Subsequent syntactic derivation merges non-cyclic Z and W to the xP; to this object,

cyclic y is then merged, and again spell-out is triggered at this point. That means that x, W and Z

undergo Vocabulary Insertion in this PF cycle.

The general assumption is that only the cyclic complement of a cyclic head x is spelled

out in the cycle triggered by x. So, the root, the head x itself and any edge material attached to x’s

domain are spelled-out only when another cyclic head is merged to the structure. However, if

one assumes that DP is a phase (Embick 2010), thus, the presence of DP as complement of a root

could trigger the root spell-out at the derivational point shown in (22).

(22) Root with DP complement xP V x √P V √𝑅𝑜𝑜𝑡 DP

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(51) Raiz com DP complemento15

Em (51), quando o núcleo cíclico x é concatenado à estrutura, o domínio cíclico

em posição de complemento (i.e. a raiz e o DP complemento) é enviado ao componente

fonológico. Na seção 5 deste capítulo, discutiremos a proposta de Hale e Keyser (2002)

acerca dos diferentes tipos de estruturas argumentais verbais e tentaremos estabelecer um

paralelo com as questões discutidas nesta seção relativas aos domínios cíclicos da

derivação sintática.

Na próxima seção, abordaremos questões relacionadas ao tratamento dado às

nominalizações no quadro da gramática gerativa (Grimshaw 1992; Alexiadou e Rathert

2010) e da MD (Marantz 1997; Harley 2006).

4. NOMINALIZAÇÕES

Nominalizações têm tido um papel central na teoria linguística (Chomsky 1970,

Aranoff 1976, Grimshaw 1990) uma vez que apresentam comportamentos sintático-

semânticos não homogêneos nas diversas línguas. Alexiadou e Rathert (2010) apontam

15 Ao reinterpretar o trabalho de Jackendoff (1977) sobre as assimetrias do one-replacement em inglês, Harley (2005, 2014) argumenta que raízes podem selecionar complementos e projetar um constituinte √P. Contudo, essa é uma questão em debate na literatura. Algumas propostas recentes (Borer 2003, 2009) sugerem que as raízes são sintaticamente deficientes e não apresentam estrutura gramatical interna. Segundo Borer, isso explica porque as raízes devem sempre ocorrer no contexto de um núcleo funcional categorizador. Neste trabalho, adotamos a sugestão de Harley (2014) de que as propriedades selecionais de verbos e nomes deverbais derivados podem ser capturadas no nível de projeção da raiz, uma vez que o conteúdo enciclopédico de condição de verdade, em ambos os sintagmas, está associado à raiz.

24

(21) Sample Structure (Embick 2010:52)

yP V y WP

V W ZP V Z xP V x √P

√𝑅𝑜𝑜𝑡 In (21), the syntactic component derives the √P, and merges x with it. Since x is a cyclic

node, spell out is triggered. So, cyclic domains in the complement of x are spelled out; the result

is that any cyclic domains in the √P are subject to Vocabulary Insertion and phonological

processing. Subsequent syntactic derivation merges non-cyclic Z and W to the xP; to this object,

cyclic y is then merged, and again spell-out is triggered at this point. That means that x, W and Z

undergo Vocabulary Insertion in this PF cycle.

The general assumption is that only the cyclic complement of a cyclic head x is spelled

out in the cycle triggered by x. So, the root, the head x itself and any edge material attached to x’s

domain are spelled-out only when another cyclic head is merged to the structure. However, if

one assumes that DP is a phase (Embick 2010), thus, the presence of DP as complement of a root

could trigger the root spell-out at the derivational point shown in (22).

(22) Root with DP complement xP V x √P V √𝑅𝑜𝑜𝑡 DP

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dois principais modelos que atribuem a presença de estrutura argumental no domínio

nominal a partir de diferentes pontos de vista teóricos: o modelo lexicalista e o modelo

estrutural/sintático. Para o primeiro modelo, que teria Grimshaw (1992) como

representante, os nomes herdam sua estrutura argumental do verbo encaixado no léxico.

Assim, possíveis ambiguidades semânticas (leitura eventiva vs. resultativa dos nomes,

por exemplo) ocorrem em virtude da estrutura de evento atribuída à representação lexical

do nome. Para o segundo modelo (Alexiadou 2001; Embick 2000; 2004), a presença da

estrutura argumental do nome e a possível interpretação de evento se devem à existência

de uma projeção funcional de VP interna à estrutura nominal. Ambos os modelos

concordam que a estrutura argumental nominal é herdada do verbo. Alexiadou e Rathert

(2010) afirmam que somente nomes que apresentaram verbos em sua história

derivacional podem licenciar estruturas argumentais. Isso sugere uma estreita relação

entre morfologia e semântica.

Desde Chomsky (1970), a questão da relação entre nomes e verbos tem ocupado

uma posição central na teoria linguística. Tem sido geralmente assumido que os nomes se

diferem dos verbos por não serem aptos a atribuir Caso; contudo, as diferenças e

similaridades dessas categorias lexicais em relação à estrutura argumental e à teoria theta

são temas ainda bastante discutidos. A partir de diversos testes e diagnósticos (uso de

quantificadores, pluralização, determinantes, etc.), Grimshaw (1992) argumenta que

nomes não apresentam um comportamento uniforme em relação à capacidade de

selecionar argumentos. Determinadas classes de nomes, que denotam eventos complexos,

exigem obrigatoriamente a presença de argumentos. Por outro lado, outras classes de

nomes como as que denotam eventos simples e a dos nomes resultativos, não apresentam

estrutura argumental e, por conseguinte, não selecionam complementos.

Segundo Grimshaw (1992, p. 48), a ambiguidade presente nas nominalizações

gera uma ambiguidade na interpretação dos sintagmas que se relacionam sintaticamente

com esses nomes. Quer dizer, quando um nome é ambíguo entre duas leituras (e.g. evento

complexo vs. evento simples), um sintagma possessivo pode também ser ambíguo entre

uma leitura de modificador, encontrada com nomes concretos, ou uma leitura relacionada

à estrutura argumental da nominalização. Observe o exemplo:

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(52) a. John’s examination was long.

b. John’s examination of the patients took a long time.

Em (52).a, o modificador possessivo de examination pode ser possuidor, autor ou

paciente do exame. Contudo, em (52).b, John é necessariamente interpretado como

agente da ação. A presença de um possessivo interpretado como agente força a leitura de

evento complexo do nome.

Segundo Grimshaw (1992), verbos e nomes exibem significados associados a sua

representação semântica lexical, o que a autora denomina de estrutura conceitual lexical

(lexical conceptual structure - lcs). Entre outras informações, essa estrutura define o

conjunto de participantes envolvidos no significado do item lexical. Verbos e nomes de

eventos complexos projetam participantes em suas estruturas e, assim, tornam esses

participantes argumentos gramaticais. Outros tipos de nomes (como os resultativos)

podem apresentar participantes, contudo, não projetam argumentos gramaticais.

No âmbito da MD, a questão da relação entre nomes e verbos é solucionada

derivacionalmente na sintaxe: as raízes são neutras em relação às categorias lexicais N

ou V; assim, quando raízes são inseridas em um contexto nominal, o resultado é a

formação de um nome; quando, por outro lado, as raízes são inseridas em um ambiente

verbal, elas se tornam verbos.

Um trabalho importante em MD que retoma os argumentos de Chomsky (1970)

acerca das nominalizações e os atualiza para uma teoria de Bare Phrase Structure é o

artigo de Marantz (1997). Esse trabalho é talvez o que estabelece críticas mais severas

aos modelos lexicalistas e discute que é possível encontrar no próprio Remarks on

Nominalization argumentos contrários ao lexicalismo, ainda que este seja considerado o

trabalho que inaugura o modelo.

Segundo Marantz (1997), para Chomsky (1970), o que explica o comportamento

sistemático das nominalizações, em oposição ao comportamento de verbos em

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sentenças, é que, enquanto certas operações sintáticas podem permear tanto sintagmas

verbais como nominais (e.g. o movimento de NP tanto na passivização como em “the

city’s destruction t”), determinadas estruturas requerem necessariamente ambientes

verbais. Em particular, a presença de um agente transitivo de verbos como grow

‘crescer’ (em that John grows tomatoes ‘que João cresce/germina os tomates’), que não

codifica um argumento da raiz, mas um tipo de agente causativo projetado somente em

ambientes verbais (*John’s growth of tomatoes).

Considerando essas noções, Marantz (1997) apresenta uma breve revisão acerca

das assimetrias entre nominalizações e sentenças, que representam um importante desafio

empírico para a teoria sintática. Verbos da classe de grow ‘crescer’ podem ser tanto

transitivos como intransitivos (i.e. inacusativos), mas sua nominalização é apenas

intransitiva (*John’s growth of tomatoes). Por outro lado, verbos da classe de destroy

‘destruir’ são geralmente apenas transitivos, mas sua nominalização pode ser transitiva ou

intransitiva. Este comportamento paradoxal faz parte de um amplo e geral padrão, não

sendo apenas propriedade de algumas palavras especiais. O autor propõe, assim, três

classes de verbos (com referência ao trabalho de Levin; Rapport Hovav 1995):

(53) Classes verbais (cf. Marantz, 1997)

Raiz Classe

√DESTROY mudança de estado, causada não internamente. (implica em uma causa ou agente externo)

√GROW mudança de estado causada internamente

√BREAK resultado (de mudança de estado)

Nos ambientes em que essas raízes se tornam verbos, o autor propõe a existência

de dois núcleos funcionais: ‘v-1’ que projeta um agente; e ‘v-2’que não projeta agente. O

ponto relevante é a existência de uma incompatibilidade entre v-2 e raízes que implicam

uma causa ou um agente externo como √DESTROY. Essa combinação ou força uma

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leitura medial (e.g. these carefully constructed sets will destroy easily during the crucial

earthquake scenes of the movie ‘estes conjuntos construídos cuidadosamente ‘irão

destruir’ facilmente durante as cenas de terremotos do filme’) ou não encontra

interpretação semântica. O núcleo v-1, que projeta um agente, verbaliza raízes

como √DESTROY e atua em nominalizações gerundivas, como mostram as estruturas

abaixo.

(54) John destroyed the city.

(55) John’s destroying the city

Um aspecto crucial da análise de Marantz é a observação de que a raiz √GROW,

diferentemente de √DESTROY, é não-agentiva. Desse modo, quando √GROW é inserida

no contexto nominal não é gerado um argumento agentivo para o sintagma possessivo,

produzindo sentenças como the growth of tomatoes ou the tomatoes’ growth ‘crescimento

v-1

v-1 √DESTROY

√DESTROY the city

v-1

v-1 √DESTROY

√DESTROY the city

D

D

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dos tomates’. Contudo, no contexto verbal, um agente sintaticamente projetado pode ser

derivado, formando John grows tomatoes ‘João cresce os tomates’.

(56) the growth of the tomatoes

(57) John grows tomatoes; tomatoes are growing

Desse modo, Chomsky (1970) resolve o aparente paradoxo (o verbo

obrigatoriamente transitivo ‘destroy’ que gera a nominalização alternante ‘destruction’ e

o verbo alternante ‘grow’ que gera o nome obrigatoriamente intransitivo ‘growth’)

restringindo o agente de ‘growth’ ao ambiente verbal, enquanto o agente de ‘destroy’ é

determinado pela raiz.

Marantz (1997) aponta que essa análise pode ser compreendida como um

argumento crucial contra a abordagem lexicalista, uma vez que se as palavras são

derivadas no léxico, não é possível evitar, sem estipular regras particulares, a derivação

da nominalização ‘growth’ com sentido transitivo. Entretanto, a impossibilidade de

√GROWTH

√GROWTH tomatoes

D

D

v-1/v-2

v-1/v-2 √GROW

√GROW tomatoes

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formar um nome ‘growth’ causativo é facilmente motivada se a morfologia derivacional é

sintática e se a única fonte estrutural de agentes é um núcleo funcional v-1 que verbaliza

as raízes.

Marantz sugere, ainda, que o argumento de Chomsky relacionado à

nominalização ‘growth’ pode ser mais robusto, se este for compreendido como evidência

contra a noção de que o léxico correlaciona um significado especial a um som também

especial. Como exemplo, o autor discute o comportamento da raiz √RISE ‘subir,

levantar’, que pode pertencer tanto a classe de √GROW quanto a de √BREAK, como

mostram os exemplos abaixo.

(58) a. the elevator is rising. [v-2] ‘O elevador está subindo’.

b. John is raising his glass. [v-1] ‘João está levantando seu copo’.

É interessante notar que o verbo ‘rise’ apresenta uma pronúncia especial em seu

uso transitivo, no contexto de v-1. Como seria previsível para um verbo das classes de

√GROW e √BREAK, a nominalização transitiva de ‘raise’ não é permitida (*John’s

raise of the glass). Na leitura de causa interna como ‘grow’, o nominal intransitivo ‘rise’

pode selecionar um argumento (the elevator’s rise to the top floor). Na leitura sem causa

interna semelhante a ‘break’, o nominal raise não seleciona argumentos (??the raise of

the glass). Evidentemente, a nominalização gerundiva pode ser transitiva (John’s raising

of the glass).

Raízes podem assumir um significado não-composicional especial em ambientes

particulares. √RISE pode apresentar um significado especial no contexto de v-1, mas não

no contexto de v-2: John raised a pig for bacon ‘João criou um porco para bacon’. Este

significado especial se assemelha ao sentido causativo de ‘grow’ (e.g. to grow plants

‘crescer plantas’). Mesmo havendo um som especial para o sentido especial no ambiente

de v-1, este especial ‘raise’ também não pode aparecer em nominalizações: *John’s raise

of the pig for bacon. Esta discussão revela, segundo Marantz (1997), outro argumento

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contra o léxico: se o léxico armazena som e significado especiais e fornece o locus para a

correlação entre eles, então o causativo ‘raise’ deveria ser formado no léxico. Contudo,

isso não esclareceria por que a nominalização do causativo ‘raise’ é impossível.

Trabalhos subsequentes em MD (Borer 2003, Harley 2009, entre outros) buscam

discutir outros desafios empíricos que as nominalizações trazem para a teoria, em

especial: (i) a impossibilidade de licenciamento de caso acusativo ao seu argumento (com

obrigatória inserção de preposição), embora apresentem um núcleo verbal como parte de

seu histórico derivacional; e (ii) o comportamento misto que essas estruturas apresentam

em relação às leituras eventivas e resultativas.

Harley (2009) discute que morfemas verbais como –ize em inglês realizam o

núcleo v°, que seleciona uma projeção FP que licencia acusativo. Abaixo apresentamos a

estrutura proposta pela autora para uma sentença como Linguists often nominalize verbs

‘linguistas frequentemente nominalizam verbos’.

(59) Estrutura interna do vP de Linguists often nominalize verbs (Harley 2009, p.334)

334 Morphology of nominalizations and syntax of vP

13.4 The morphology of [[[[nomin]√al]Aiz]Vation]N

The problem is that all these verbal suffixes occur perfectly happily insidenominalizing affixes, to create de-verbal nouns that then require of-insertionto license their objects. This is essentially the problem of inheritance notedby Ackema & Neeleman (2004: Ch. 2), and discussed extensively by Borer(2003a) and Alexiadou (this volume). If the syntax is the morphology, and themorphology of the verb is present, where are the verb’s syntactic properties?Why, for instance, can’t the nominal nominalization license accusative caseon its internal argument? Recall that above we assume that -ize realizes a v,which (when agentive) may select for an accusative-licensing FP. But, alsoin the analysis above, it is the absence of a verbalizing v that accounts forthe need for adjectival rather than adverbial modification, and the possibil-ity of a determiner or pluralization in OF-ing nominals as well as in otherderived nominals like destruction. Yet it is perfectly clear that these derivednominals can contain verbalizing morphemes like -ize. In other words, v

must be absent to account for the absence of verbal extended projectionproperties, but v must be present to account for the presence of -ize within thenominalization.

Given our discussion of categorizing morphemes above, the structure of theverb phrase to nominalize verbs and its nominalization (the) nominalization ofverbs would be as illustrated in (18) below:

(18) a. Internal structure of the vP (to) nominalize verbs, as in Linguistsoften nominalize verbs, on analysis of the vP given in (6) above:

vP

DP v′

Linguists v° FP

izeDPACC F′

verbs F°ACC aPSC

ØDP a′

-al nomin-

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Considerando a derivação em (59), a estrutura da sentença the nominalization of

verbs ‘nominalização de verbos’ deveria ser a estrutura apresentada abaixo.

(60) Estrutura da sentença the nominalization of verbs (Harley 2009, p. 335)

Se o morfema verbalizador –ize está presente na estrutura, então, o núcleo

nominalizador precisa estar concatenado ao vP. Sendo assim, tanto o argumento externo

quanto o caso acusativo deveriam estar disponíveis, mas não estão. Segundo a autora, a

inevitável conclusão é de que o verbalizador v° não introduz o argumento externo e não

seleciona o núcleo licenciador de Caso. O núcleo agentivo e o núcleo de Caso são, na

realidade, projetados externos ao núcleo verbalizador v°, e por isso não compõem a

estrutura da nominalização. O complexo Agente+Caso toma o verbalizador v° como

complemento, como mostra a estrutura abaixo.

Morphology of [[[[nomin]√al]Aiz]Vation]N 335

b. Given (18a), the structure necessarily contained within the nomi-nalization of verbs

nP

vP-ation

Agent? v′

FPize

AccObj? F′

aPSC

ØDP a′

verbs a°

F°ACC

-al nomin-‘(the) nominalization (of) verbs’

In short, if the verbalizing v morpheme -ize is there, then the nominalizermust be attaching to the vP. If the nominalizer is attaching to the vP, thenthe external argument and accusative case should be available. They are notavailable.14

The inevitable conclusion, then, is that the verbalizer v is not the external-argument-introducing head. Further, the verbalizer v does not select forthe Case-checking head – rather, a separate external-argument-introducinghead does.15 The Agent head and the Case head must project outside the

14 Fu et al. (2001), in fact, do claim that the external argument and accusative case are availablein nominalizations, but that approach runs into trouble in ECM contexts as noted at the end ofsection 13.2 above. I also follow Chomsky (1970), as interpreted in Marantz (1997), in assuming thattrue verbal external arguments are not available in OF nominalizations, but rather that certain kindsof agency are licensed in the possessive ‘nexus’, contra Fu et al. and Roeper & van Hout (this volume). Ifthe verbal external-argument introducer were present in nominalizations, the impossibility of #John’sgrowth of tomatoes, or Causer external arguments like #Adultery’s separation of Jim and Tammy FayeBakker would be mysterious. If Agents, but not Causers (‘Stimuli’), can license the possessive nexus,however, the discrepancy in types of possible external arguments between verbs and their nominaliza-tions can be accounted for.

15 I have argued against the presence of an intermediate verbal head in past work (Harley (1995),Harley (2005), for example), and I still feel there are significant puzzles associated with the presenceof this intermediate verbalizer. Why, for instance, can it not introduce the external argument, or someargument, on its own? Why is there not a distinguishable scope for again-type adverbials at this level?Why is there so little morphological attestation of the distinct Voice vs. v heads cross-linguistically?One doesn’t see both vCAUS and Voice independently and simultaneously realized in the morphology

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(61) Estrutura verbal completa incluindo o núcleo que introduz o agente (Harley 2009, p. 336)

Tendo em vista a estrutura em (61), a estrutura de nominalization of verbs, então,

deve incluir um núcleo verbalizador, mas exclui as projeções VoiceP e FP, como

apresentamos em (62). Dessa maneira, uma estrutura nominalizada é incapaz de atribuir

Caso e projetar uma posição de agente.

(62) Estrutura da nominalização (Harley 2006, p.337)

336 Morphology of nominalizations and syntax of vP

verbalizing v head, and hence be excludable from nominalizations while stillallowing v to be included. The Agent+Case-head complex, then, takes theverbalizing v head as its complement – in other words, the complement ofVoiceP really is vP, not an acategorial root. The v is really the lower V head inthe split-VP structure; its complement is the SC or event-or-entity-denotingthing which determines the extent of the event via a homomorphism, in theterms of Harley (2005) and Folli & Harley (2006). I assume the v head isequivalent to the ProcP head of Ramchand (2008).16

(19) Full verbal structure thus far including agent-introducing headVoiceP

DPAgent Voice′

Voice°

F°ACC

FP

(DPACC) F′

vP

PSC, P

(DPInnerSubj)′

(DPGoal)°

of verbs (Harley (2005)). However, see Marantz (2001a), Pylkkänen (2002), Collins (2005), Merchant(2007), Travis (to appear) and Harley (2007) for additional arguments in favour of VoiceP =/ vP.

16 I shudder to confess, but an apparent difference between OF-ing nominalizations and irregularevent nominals in -tion and similar affixes may motivate a reorganization of the structure in (19) andyet more structure on top of that. The judgements are unclear, but it seems that OF-ing nominals mayallow any kind of agent argument – John’s growing of tomatoes, Adultery’s separating of Jim and TammyFaye. (These NPs improve to perfection in the ACC-ing form, but are noticeably better than growthand separation, to my ear.) Assuming this is not just a garden-path effect, we are faced with a situationwhere true external arguments are licensed, but not accusative case, nor auxiliary stacking. A structuralaccount of the putative three-way contrast between OF-tion, OF-ing, and ACC-ing, then, could go likethis: the accusative-case-checking FP appears outside VoiceP (Chomsky’s original placement of AgrO,cf. Chomsky (1995)). OF-tion nominals are formed below VoiceP, and do not include a true externalargument. OF-ing nominals are formed on a VoiceP with no FP above it, thus explaining the availabilityof true external arguments but the absence of accusative case. In the verbal domain, the placement ofthe verb to the left of accusative objects, then, would mean that verbs move even higher than FP (whichis now above VoiceP) – to an Auxiliary or Aspect head. The true ACC-ing gerunds, then, would beformed on this uppermost head (see Alexiadou (2005) for an analysis along these lines). Alternatively,the assumption in Fu et al. (2001) that of just IS accusative case as it is spelled out in the nominaldomain could be adopted (though cf. the discussion below example (9) and footnote 17).

Process vs. result nominals 337

The structure of nominalization of verbs, then, must pretty much be what anymorphologist would have told you it was. It includes a verbalizer but excludesthe VoiceP and FP:17

(20) nP

n° vP-ation

v° aPSC

-iz-DP a′

verbs a°-al- nomin-

13.5 Process vs. result nominals

We now have a syntactic analysis of nominalizations which can account for thepresence of verbalizing morphology but the absence of other syntactic proper-ties associated with the verb phrase. However, we have not yet addressed onecrucial aspect of the nominalization equation, namely, the question of whethernominalizations have the verbal semantics that above we have associated withthe vP. This is the crucial problem addressed by Borer (2003a) in her discussionof this issue, and the central issue is the process vs. result nominal distinctiondiscovered by Grimshaw (1990).

The central results of Grimshaw’s typology of de-verbal nouns are summa-rized in (21) below (see also the more comprehensive discussion in Alexiadou(this volume)). Process nominals take arguments (21a), accept aspectual mod-ification, modifiers like ‘frequent’ and ‘constant’, and aspectual modification,

17 Recall that of-insertion is impossible in typical ECM-small-clause contexts, as in ∗John’s con-sideration of Bill a fool, as noted in the text below example (9); yet a small clause is present in thenominalized structure here in (20), in which of-insertion is licensed. Assuming that the treatment ofof-insertion as a dissociated morpheme outlined below (9) is correct, this means that the context forthe dissociated-morpheme insertion rule is met in small-clause cases like nominalization but not inconsideration . . . a fool. This could have to do with the clause-union effect of incorporation of the resultpredicate, or with the fact that a matrix verb like consider is itself made up of a

√+v+Voice, unlike the

‘light’ matrix complex of v+Voice in cases like nominalization here or in resultative small clauses likewriting up of the paper, or, an example provided by Andrew McIntyre, drinking dry of the pub. Thanksto McIntyre for bringing this important question to my attention.

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Com relação à semântica das nominalizações, Harley (2009) retoma a distinção de

Grimshaw (1990) com relação aos nominais de processo vs. nominais resultativos, e

aponta que nomes de processo em inglês são, em geral, massivos. Contudo, quando estes

figuram em sentenças sem seus argumentos internos, eles se tornam nomes contáveis e

não permitem mais serem modificados pelos advérbios frequent, constant, etc. Quer

dizer, nomes de processo devem ter uma estrutura argumental semelhante a dos verbos

correspondentes de modo a licenciar a leitura de processo, caso contrário, eles adquirem

uma semântica resultativa.

Borer (2003) propõe uma análise para esses fatos argumentando que esses

nominalizadores podem formar palavras por meio de processos sintáticos e morfológicos.

A formação sintática resulta em um nominal eventivo com estrutura sintática interna, ao

passo que, formação morfológica (pré-sintática) produz um nominal com uma

interpretação resultativa. Contudo, essa análise não é compatível com os pressupostos da

MD. Além disso, como os nomes resultativos mantêm a estrutura morfológica completa,

uma abordagem em MD deve considerar que eles são tão internamente complexos quanto

os nomes eventivos. Desse modo, Harley (2009) sugere uma alternativa considerando o

fato de que nomes resultativos são contáveis, diferentemente dos eventivos. Em inglês, é

possível imprimir uma interpretação contável a nomes massivos: two (cups of) coffees

‘dois/duas (xícaras de) café’, those (kinds of) wines ‘aqueles (tipos de) vinhos’, many

(seasons of) rains ‘muitas (estações de) chuva’. Nomes massivos de processo quando

coagidos a nominais contáveis, tendem a apresentar uma interpretação resultativa. Assim,

a autora propõe que a coerção de massivo a contável gera um efeito colateral semântico

de excluir a presença do objeto sintático.

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5. HALE E KEYSER (2002): ESTRUTURA ARGUMENTAL

O termo estrutura argumental se refere à configuração sintática projetada por um

item lexical e envolve as relações estruturais estabelecidas entre núcleos e seus

argumentos. Existem apenas dois tipos de relação sintática possíveis, complemento e

especificador, permitindo concatenações binárias. Ao discutir diferentes tipos de

estruturas argumentais, Hale e Keyser (2002) argumentam que as sentenças em (63) e

(64) são estruturalmente distintas.

(63) a. The pot broke. ‘O pote quebrou.’

b. I broke the pot. ‘Eu quebrei o pote.’

(64) a. The engine coughed. ‘O motor tossiu.’ b. *I coughed the engine.

Verbos inacusativos como break ‘quebrar’ admitem a transitivização causativa-

incoativa. Segundo os autores, esse tipo de verbo consiste de dois elementos: um

componente verbal que toma uma raiz como complemento que, por sua vez, requer um

especificador, como vemos na estrutura abaixo.

(65)

The properties that distinguish these two verbs are the following. The

verb break, as illustrated in (1) and (3), consists of two structural ele-

ments: a root (R) and a verbal host (V).

(5) R, V

The verbal component takes a complement, realized here as the root. The

latter contains the semantic and phonological features associated with the

dictionary entry break. The root component requires a specifier, as shown

in (6).

(6)

This is an essential feature of the root (R ¼ break), accounting for the

central syntactic feature of the verb, namely, the transitivity alternation

observed in (1) and (3).

The verb cough, illustrated in the grammatical sentence (2) and the un-

grammatical sentence (4), likewise consists of two elements: a root and a

verbal nucleus. Unlike the root component of break, however, the root

component of cough does not require a specifier; thus, the verb does not,

and cannot, project a specifier.

(7)

A verb, in and of itself, does not project a specifier, and the verb’s com-

plement in this case (i.e., root element) does not motivate the projection

of a specifier. These properties account for the ill-formedness of (4).

Transitivization of the type represented by (3) is in principle automatic,

by virtue of the complement relation. The structure of (3) results from the

combination, via Merge, of (6) and a verbal nucleus V, as in (8).

2 Chapter 1

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Nesse tipo de estrutura, a transitivização é, em princípio, automática, em virtude

da relação entre o núcleo e complemento, e pela presença de um especificador. Por outro

lado, verbos inergativos (como cough ‘tossir’, cry ‘chorar’, dance ‘dançar’, gallop

‘galopar’, laugh ‘rir’, run ‘correr’, etc.) não participam em alternâncias transitivas uma

vez que o núcleo lexical desses verbos pertencem à estrutura monádica em (66), cuja base

é de natureza nominal. Esta configuração não apresenta especificador, por isso, não pode

ser transitivizada de maneira simples.

(66)

Além dos inergativos, os verbos transitivos também projetam uma estrutura

monádica e tomam um nome como complemento, não requerendo, portanto, uma posição

de especificador (e.g. make a fuss V[V DP]). É evidente que, na sintaxe sentencial,

verbos transitivos são compreendidos como diádicos, na medida em que apresentam tanto

sujeito como objeto. Hale e Keyser (2002) ressaltam, contudo, que usam o termos

monádico e diádico em relação aos argumentos que devem aparecer internos à

configuração estrutural associada a um item lexical.

Embora a proposta de Hale e Keyser (2002) seja uma abordagem lexicalista para

a estrutura argumental, seria interessante relacionar essas considerações à noção de

ciclicidade da derivação sintática, no que se refere aos processos de formação de

palavras. Conforme discutimos na seção anterior, se uma raiz tem um DP como

complemento, isto pode desencadear o spell-out de ambos os elementos, tão logo um

núcleo cíclico seja concatenado à estrutura. Assim, se assumirmos, como Hale e Keyser

(2002) sugerem, que verbos transitivos e inergativos apresentam o mesmo tipo de

estrutura (i.e. a estrutura monádica), podemos argumentar (cf. Freitas 2014) que no exato

ponto em que essas raízes entram na derivação sintática, elas imediatamente requerem

26

structure in (26), with a base that is nominal in nature. This configuration lacks a specifier and

therefore cannot transitivize in the simple manner.

(26) V V V N/DP

cough In addition to the unergatives, transitive verbs also belong to the monadic structure,

taking a noun as complement and projecting no specifier position (e.g make a fuss: V[V DP]).

While the proposal of Hale and Keyser is a lexicalist approach on argument structure, it

may be interesting if I can tentatively relate these considerations to the cyclic notion of the

syntactic derivation. As we have seen, if a root takes a DP as complement, it can trigger the

spell-out of both elements as soon as the cyclic head is merged to the structure. Thus, if one

assumes, as Hale and Keyser (2002) suggest, that transitive and unergative verbs have the same

type of argument structure (i.e. the monadic one), it is possible to argue that at the right point in

which these roots enter in syntactic derivation, they immediately require a DP as complement for

convergence (Harley 2005)8. If DP is a phase, thus, the presence of DP as complement of a root

may trigger the root spell-out in the first derivational stage. Consequently, transitive and

unergative verbs could show distinct morphophonological properties (in relation to unaccusative

verbs) in subsequent derivational processes, since their roots9 had been sent to PF to be

8 Re-interpreting Jackendoff’s work (1977) on one-replacement, Harley (2005) argues that roots themselves can in fact select arguments and project a √P constituent. 9 It has been assumed by hypothesis that roots do not undergo Vocabulary Insertion, but they can be phonologically processed in PF (Embick 2010, among others). However, Harley (to appear) shows a different point of view based on the phenomenon of root suppletion. She argues that if roots went into the syntax fully specified for their phonological shape, a suppletive form could not compete to realize a √ node postsyntactically, conditioned by the syntactic context of the sentence construction.

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um DP como complemento (Harley 2005, 2014) por convergência. Se o DP é uma fase,

então, a presença do DP como complemento da raiz desencadeia spell-out da raiz no

primeiro estágio derivacional. Consequentemente, verbos transitivos e inergativos podem

exibir propriedades morfofonológicas distintas, em relação aos inacusativos, uma vez que

suas raízes são enviadas à interface FF para serem fonologicamente processadas em

ciclos distintos. Essas considerações serão fundamentais para análise que iremos propor

no Capítulo III desta tese.

No próximo capítulo, apresentaremos os resultados da análise quantitativa do

léxico, desenvolvida em Freitas (2014), relativos aos aspectos morfofonológicos dos

sufixos –ção e –mento e descreveremos, detalhadamente, o processo de elaboração de

três experimentos com logatomas, bem como o tratamento da base e analisaremos os

resultados. Adicionalmente, tendo em vista os pressupostos teóricos discutidos neste

capítulo, proporemos uma interpretação teórica para os fatos abordados.

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CAPÍTULO III

RESULTADOS EXPERIMENTAIS E QUANTITATIVOS: DESCRIÇÃO E ANÁLISE

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Conforme apontamos na introdução desta tese, a associação entre metodologias

experimentais, quantitativas e de corpora tem sido apontada na literatura recente como

uma estratégia interessante na pesquisa linguística. Desde que a linguística se estabelece

como disciplina (cf. Gilquin; Gries 2009), linguistas de diversas áreas têm lidado com

diferentes tipos de dados, contudo, ainda hoje há pouco consenso sobre como os dados

linguísticos devem ser obtidos, analisados, avaliados e interpretados. Linguistas europeus

comparativos na primeira metade do século 20 e os estruturalistas americanos

privilegiavam uma ampla coleta de dados. Harris (1993, p. 27 apud Gilquin; Gries 2009)

aponta que ‘the approach began with a large collection of recorded utterances from some

language, a corpus. The corpus was subjected to a clear, stepwise, bottom-up strategy of

analysis.’

Uma mudança substancial de perspectiva ocorre por volta dos anos 50 e 60, com

o advento da gramática gerativo-transformacional, que promoveu o abandono de dados

coletados em favor de julgamentos linguísticos de aceitabilidade coletados de maneira

bastante informal (muitas vezes feitos pelo próprio analista), como fonte primária de

pesquisa. Segundo Chomsky (1969 apud Gilquin; Gries 2009):

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The gathering of the data is informal; there has been very little use of experimental approaches (outside of phonetics) or of complex techniques of data collection and data analysis of a sort that can be easily devised, and that are widely used in the behavioral sciences. The arguments in favor of this seem to me quite compelling; basically, they turn on the realization that for the theoretical problems that seem most critical today, it is not at all difficult to obtain a mass of crucial data without the use of such techniques. Consequently, linguistic work, at what I believe to be its best, lacks many of the features of behavioral sciences.

Essa posição, contudo, tem mudado ao longo dos anos e os problemas quanto a

essa orientação metodológica têm sido discutidos mais abertamente. O trabalho de

Schütze (1996 apud Gilquin; Gries 2009) foi talvez o primeiro estudo a abordar a

multiplicidade de fatores que podem influenciar nos julgamentos de aceitabilidade,

incluindo fatores relacionados tanto aos sujeitos (como treinamento linguístico, nível

educacional, etc.) quanto à tarefa (e.g. ordem de apresentação, frequência de exposição,

conteúdo lexical, valores de verdade, etc.). Desde então, o que diversos trabalhos têm

mostrado é que julgamentos de aceitabilidade tendem a ser menos objetivos, ruidosos e

menos generalizáveis do que se considerava anteriormente. Contudo, o abandono total de

dados de julgamento não parece ser uma boa opção, uma vez que estes coletados de

maneira cautelosa podem ser uma ferramenta valiosa.

Essas e outras questões levaram à criação de distintas culturas empíricas em

muitas áreas da linguística, de modo a permitir o estabelecimento de diferentes

evidências que não se restrinjam apenas à intuição dos sujeitos ou do próprio

pesquisador. Na realidade, áreas da linguística como a fonética, a sociolinguística, a

psicolinguística e a linguística de corpus, têm se mostrado há mais tempo

metodologicamente mais diversificadas do que a sintaxe teórica e a semântica. O que se

tem notado é que nenhum método em isolamento é perfeitamente eficaz, por isso a

importância de se combinarem metodologias, buscando solucionar questões relativas à

diversidade da natureza dos dados e permitir múltiplas perspectivas nos estudos dos

diversos fenômenos linguísticos.

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Com relação à linguística experimental, Menn e Ratner (2000) apontam que antes

dos anos 50, os estudos de produção de linguagem eram feitos naturalisticamente, com

raros esforços de eliciação do conhecimento linguístico por meio de paradigmas

experimentais. Um marco no desenvolvimento da pesquisa psicolinguística e

aquisicionista é a publicação do experimento linguístico denominado de wug-test, criado

em 1958 pela pesquisadora Jean Berko Gleason, com intuito de investigar a aquisição de

padrões morfológicos em crianças falantes de inglês. A proposta era a de apresentar às

crianças palavras inventadas (logatomas ou pseudo-palavras), ou seja, palavras que a

criança nunca havia escutado antes, que apresentavam combinações de sons possíveis do

inglês, de modo a verificar se a criança aplicava corretamente ou não regras morfológicas

da sua língua. O uso de logatomas, ao invés de palavras reais do vocabulário, demonstrou

que as crianças podiam acessar e aplicar regras abstratas e não apenas recorrer a padrões

memorizados.

Berko (1958) descreve 28 tarefas que foram aplicadas como parte do wug-test em

duas escolas no estado de Massachusetts nos EUA: (i) na Harvard Preschool, em

Cambridge, as tarefas foram aplicadas a 19 crianças (12 meninas e 7 meninos) entre 4 e 5

anos; e (ii) na Michael Driscoll School, em Brookline, o experimento foi aplicado a

crianças do primeiro ano, com idades entre 5;6 e 7 anos. No total, o experimento foi

aplicado a 56 crianças. Como grupo controle, a autora aplicou o experimento a 12

adultos. A tarefa clássica, que dá nome ao teste, pretendia investigar a aquisição da

morfologia de plural nominal em inglês. A aplicação dessa tarefa era conduzida da

seguinte forma: a pesquisadora apresentava às crianças uma imagem de animal

semelhante a um pássaro e dizia: This is a wug ‘Isto é um wug’. Em seguida, apresentava

a imagem de mais um animal e completava: Now, there is another one. There are two of

them. There are two... ‘Agora, há outro dele. Há dois deles. Há dois....’ A criança deveria

produzir a palavra que completaria a lacuna corretamente. Assim, a criança que já havia

adquirido a morfologia de plural nominal do inglês deveria responder para esse contexto

wugs /ˈwʌɡz/. As respostas eram anotadas fonemicamente pela pesquisadora. Abaixo

apresentamos uma imagem do wug-test disponibilizada em Berko (1958).

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Imagem 01. Wug-teste (Berko 1958)

(Fonte: http://childes.talkbank.org/topics/wugs/wugs.pdf)

Essa tarefa era complementada por outras pseudo-palavras, de maneira a

apresentar às crianças todos os contextos fonológicos que permitem a realização dos

possíveis alomorfes do plural nominal em inglês /-s -z -əәz/. Outras questões morfológicas

investigadas pelo experimento foram a flexão verbal e adjetival, a formação do

possessivo e a morfologia de derivação e de composição. Em algumas tarefas que

exigiam a aplicação de morfologias irregulares (passado irregular de alguns verbos, por

exemplo) ou menos produtivas (como o alomorfe /-əәz/ de plural), foram usados itens do

vocabulário real da língua.

Os resultados do experimento apontaram que as crianças compreenderam e

executaram muito bem as tarefas solicitadas, indicando que as regras morfológicas não

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são apenas lexicalmente memorizadas. Com relação ao gênero das crianças, a autora

aponta que não houve diferenças substanciais entre as respostas dos meninos e das

meninas. Em relação às idades, foram observadas diferenças significativas entre as

crianças da pré-escola e as outras, especialmente no que se refere a determinadas flexões

verbais, as quais não puderam ser produzidas pelas crianças menores. As crianças foram

aptas a formar o plural em /-s/ e /-z/ e apresentaram maiores dificuldades com o alomorfe

/-əәz/. A conclusão geral é a de que as crianças não tratam palavras novas de acordo com

padrões idiossincráticos; i.e. elas não aplicam às palavras novas padrões infrequentes na

língua. Desse modo, as melhores performances foram aquelas cujas formas eram mais

regulares e apresentavam menos variação. Em relação aos morfemas que apresentam

muitos alomorfes, as crianças lidam melhor com alomorfes mais comuns antes de

dominarem os alomorfes que mostram uma distribuição limitada.

Esse trabalho pioneiro forneceu as primeiras evidências experimentais de que

crianças apresentam um conhecimento linguístico de padrões morfológicos de sua língua

bastante produtivo e passível de ser aplicado a novas palavras (cf. Menn; Ratner 2000).

Considerado um grande avanço metodológico, o wug-test tem sido muito utilizado na

pesquisa linguística desde a sua publicação original em 1958. Muitos pesquisadores

estenderam a aplicação do teste para crianças monolíngues e bilíngues de outras línguas;

crianças com diagnósticos de atraso e prejuízo linguístico; crianças e adultos com

deficiência mental, etc. O paradigma de palavras nonsense (cf. Menn; Ratner 2000)

continua a alimentar um debate ativo acerca da adequação de diferentes modelos que

buscam explicar a aquisição morfológica e o papel potencial da modularidade na

aprendizagem e no uso da linguagem.

Menn e Ratner (2000) salientam ainda que, em qualquer campo de investigação, a

descoberta de fatos é de fundamental importância para o progresso do conhecimento.

Contudo, a descoberta de técnicas é igualmente importante, uma vez que estas iluminam

o caminho da pesquisa. Além disso, o método pode ser determinante na validação de uma

teoria: os dados são capazes de dar suporte a uma determinada teoria a depender do

procedimento utilizado para obtê-los.

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Tendo em vista essas questões, nesse capítulo apresentaremos resultados da

associação de duas metodologias de pesquisa: a quantitativa descritiva e a experimental.

Os dados descritivos resultam da análise de uma base de dados de 2175 palavras

coletadas a partir da versão eletrônica 1.0 do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Os dados experimentais são provenientes de três experimentos com logatomas que

realizamos com intuito de verificar se as tendências lexicais encontradas no léxico são

interpretáveis sincronicamente para os falantes nativos de PB. Como vimos,

experimentos com logatomas se mostram uma ferramenta interessante para o estudo de

padrões morfológicos, uma vez que, em se tratando de palavras nunca ouvidas pelos

sujeitos, é possível promover a aplicação de regras abstratas baseadas em contextos

fonológicos ou sintáticos específicos. Além disso, como apontam Rodrigues e Nevins

(2014), o uso de wugs pode minimizar questões relativas à aplicação da norma padrão da

língua (evitar julgamentos de ‘certo’ e ‘errado’ no sentido da gramática tradicional) e o

‘congelamento’ diacrônico de determinadas formas.

2. RESULTADOS DESCRITIVOS: FREITAS (2014)

Em Freitas (2014) , desenvolvemos um estudo quantitativo acerca de aspectos

morfofonológicos dos sufixos –ção e –mento no PB. Tendo em vista um modelo sintático

de formação de palavras como o da Morfologia Distribuída, aventamos a hipótese de que

a estrutura argumental do verbo base é responsável pelo comportamento morfofonológico

dos morfemas concorrentes, em adição a quaisquer efeitos semânticos possíveis. Para

isso, analisamos esses sufixos nominalizadores, a partir de uma base de dados de 2715

palavras, coletadas na versão eletrônica 1.0 do Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa. Conforme mencionamos na introdução desta tese, nesse trabalho, focamos

nos aspectos morfofonológicos desses sufixos, a saber: (i) a neutralização das vogais

temáticas -i- e -e-: os nomes em –mento, diferentemente dos nomes em –ção, apresentam

alteamento obrigatório da vogal temática –e-, resultando em neutralização das classes

temáticas II e III; e (ii) alomorfia contextual condicionada pela raiz: verbos terminados

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em –izar e –mentar preferencialmente selecionam o sufixo -ção; ao passo que, verbos

terminados em -ecer e -ciar/cionar selecionam -mento. Há, dessa forma, uma distribuição

complementar: os verbos que preferencialmente selecionam -ção, não selecionam -mento

e vice-versa.

Assumindo que a derivação sintática procede em termos de fases (Chomsky 2000,

2001), enviadas ciclicamente ao componente fonológico, argumentamos que as

diferenças morfofonológicas dos sufixos -ção e -mento são resultado de duas

propriedades sintáticas: primeiro, o tipo de estrutura argumental da base verbal; e

segundo; o ponto derivacional no qual a estrutura sintática é enviada à interface FF.

Assim, as hipóteses teóricas desse trabalho foram:

(H1) Existe uma relação estreita entre os aspectos morfofonógicos dos nomes formados

por -ção e -mento e a estrutura sintática na qual esses afixos são inseridos.

(H2) Diferentes tipos de estruturas argumentais do verbo base são responsáveis pelos

traços de superfície dos sufixos nominalizadores.

(H3) É distinto o ponto derivacional no qual as raízes encaixadas são enviadas ao

componente fonológico.

No dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, existem 4580 palavras

que apresentam o sufixo -ção e 2772 palavras que apresentam o sufixo -mento

(totalizando 7352 palavras). Usando o software SPSS Statistics Data Editor, geramos

uma amostra aleatória de aproximadamente 37% desse universo de palavras, totalizando

2715 palavras (1045 formadas por -mento e 1670 formadas por -ção). Dessa amostra,

excluímos as palavras que não eram derivadas de bases verbais, como fragmento,

argumento, cupim-cabeção, vegetação, etc. Também excluímos os nomes cujas bases não

apresentavam uma entrada individual no dicionário. Nesses casos, normalmente o

dicionário sugere uma possível base verbal, contudo, essa base não é atestada (indicada

no dicionário por uma interrogação diante da palavra): hadronização => ?hadronizar. Os

casos excluídos resultaram em um total de 540 palavras. As 2175 palavras consideradas

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na análise foram classificadas a partir das seguintes variáveis:

(67) Variáveis

a. SUFIXO – esta variável indica o tipo de sufixo da palavra (-ção ou –mento).

b. BASE VERBAL – esta variável indica base verbal a partir da qual se derivam os

nomes.

c. DUPLOS – esta variável indica se o nome apresenta ou não um duplo, formado a

partir da mesma base verbal (e.g. afinação/afinamento; medicação/medicamento).

d. VOGAL TEMÁTICA – esta variável indica a vogal temática da base verbal -a-,-e-, -

i-, -o-.

e. ALTEAMENTO DA VOGAL TEMÁTICA – esta variável indica se a vogal temática –e-

apresenta ou não alteamento para [i] nos nomes formados por -ção e -mento (e.g.

moer => moeção/ moimento).

f. TIPO DE VERBO – esta variável indica se a base verbal é transitiva, intransitiva ou

ambos (alternante). A categoria intransitiva foi subdivida em inergativo e

inacusativo.

g. TERMINAÇÕES VERBAIS – esta variável indica as terminações das bases verbais

(e.g. –izar, -mentar, -ecer, etc.).

h. IDENTIDADE COM A BASE – esta variável indica se o nome derivado apresenta

identidade com a base verbal ou não, i.e. se preserva os mesmos segmentos

fonológicos da base (e.g. absorver => absorção/absorvimento).

Apresentamos, nas subseções a seguir, um resumo dos principais resultados da

análise estatística de Freitas (2014).

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2.1. Vogal temática

De acordo com dicionário Houaiss, dos 14.581 verbos existentes, 13.011

pertencem à classe I dos verbos em –ar. Essa distribuição é bastante desigual, uma vez

que este número representa 89,2% dos verbos e os 10% restantes dos verbos estão

divididos entre as outras três conjugações, como vemos na tabela abaixo.

Vogal Temática N %a 13,011 89.2e 788 5.4i 742 5.1o 40 0.3Total 14,581 100.0Fonte: Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa

Tabela 02: Distribuição total dos verbos (-ar,-er, -ir, -or )

Na base de dados analisada, a distribuição dos verbos base16 (formadores dos

nomes em –ção e –mento) em relação às classes temáticas é bastante similar à

distribuição total dos verbos.

Tabela 03: Distribuição dos verbos na amostra (-ar, -er, -ir, -or) Vogais temáticas N %

a 1838 88,2

e 133 6,4

i 107 5,1

o 7 0,3

Total 2085 100,0

16 No total das palavras (i.e. 2175 palavras), há 180 casos em que a base verbal foi selecionada duas vezes na amostra, em virtude da presença dos duplos. Assim, para não superestimar os resultados, em algumas tabelas em que a base verbal era o foco da análise, incluímos essas bases uma única vez. Nessas situações, consideramos 2085 casos (= 2175 – 90 verbos repetidos).

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Contudo, foi observada uma mudança nessa distribuição quando realizamos o

cruzamento da variável dependente (sufixo -ção e -mento) por vogal temática17: (i) 59,7%

dos verbos em –ar ocorrem com –ção; e 40,3% ocorrem com –mento; (ii) 79,7% dos

verbos em –er ocorrem com –mento; 20,3% ocorrem com –ção; (iii) verbos em –ir:

63,6% ocorrem com -ção; 36,4% ocorrem com -mento. Essa diferença na distribuição dos

verbos indica uma relação de preferência dos verbos da segunda conjugação (classe II em

–er) e o sufixo -mento, em oposição às outras duas classes temáticas verbais que

apresentam um predomínio do sufixo –ção, como vemos na Tabela 04 abaixo.

Tabela 04: Cruzamento de Vogal temática vs. Sufixo (ção, mento)

Vogal Temática Sufixo

Total mento ção

a N 740 1098 1838

% em VT 40,3% 59,7% 100,0%

e N 106 27 133

% em VT 79,7% 20,3% 100,0%

i N 39 68 107

% em VT 36,4% 63,6% 100,0%

o N 0 7 7

% em VT ,0% 100,0% 100,0%

Total N 885 1200 2085

% em VT 42,4% 57,6% 100,0%

É interessante notar que esses resultados indicam comportamentos opostos em

relação a essa morfologia derivacional para os verbos das classes II e III, podendo, a

princípio, desafiar abordagens (cf. Oltra-Massuet 1999) que indicam que essas

conjugações tendem a formar um grupo marcado, que é em geral neutralizado. Contudo,

esses resultados apresentados em Freitas (2014) divergem dos nossos resultados

experimentais, nos quais averiguamos um comportamento mais homogêneo entre as

17 Não consideramos aqui os resultados para a vogal temática -o-, em virtude do número baixo de ocorrências dessa classe temática tanto na amostra, como no dicionário como um todo.

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classes II e III, em oposição à classe I, indicando uma convergência entre as classes

mencionadas, conforme iremos discutir na próxima seção deste capítulo.

2.2. Alteamento da vogal temática /e/

Com relação ao alteamento da vogal temática -e-, encontramos evidências de sua

obrigatoriedade no grupo dos nomes em –mento: 100% dos casos mostraram alçamento

da vogal em questão. Este é, portanto, um fenômeno categórico neste grupo, que participa

da regra fonológica que neutraliza as vogais temáticas das classes II e III em contextos

não-verbais18. Por outro lado, embora o grupo de -ção apresente uma ocorrência baixa

com os verbos da classe II, esse afixo não desencadeia o alteamento obrigatório da vogal

temática: 78,7% dos casos não apresentaram alteamento da vogal -e-. As únicas seis

exceções são: perder/perdição; lamber/lambição 19 ; reeleger/reeleição;

retrovender/retrovendição; revender/revendição; reconhecer/recognição.

Tabela 05: Cruzamento Alteamento da Vogal Temática -e- vs. Sufixo (ção, mento)

Sufixo (ção, mento) Alteamento da Vogal

Temática –e- Total Sim Não

-mento N 108 0 108

% em Sufixo 100,0% 0% 100,0%

-ção N 6 21 27

% em Sufixo 22,2% 77,8% 100,0%

Total N 114 21 135

% em Sufixo 84,4% 15,6% 100,0%

18 Como discutimos no capítulo I desta tese, em PB, há uma regra morfofonológica bastante produtiva que neutraliza as classes temáticas II e III em contextos não-verbais (e.g. formas dos particípios regulares em -ado e –ido; morfemas dos adjetivos deverbais em –ável e -ível). 19 É importante mencionar que o Dicionário Houaiss também atesta a forma lambeção, que não exibe o alteamento da vogal temática –e-.

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2.3. Terminações verbais

Conforme apresentamos no capítulo I desta tese, Santos (2006) descreve uma

complementaridade entre -ção e -mento em relação a diferentes terminações verbais: -ção

ocorre mais com -izar e -mentar e apresenta restrições de ocorrência com -ecer e -

ciar/cionar; ao passo que -mento ocorre preferencialmente com -ecer e -ciar/cionar, mas

apresenta uma restrição de ocorrência com –izar e –mentar. Na análise dos nossos dados,

também atestamos essa distribuição. 95,4% dos verbos em –izar e 100% dos verbos em -

mentar são nominalizados com -ção. 98,1% dos verbos em -ecer e 53,7% dos verbos em

–ciar/cionar são nominalizados com o sufixo –mento, como vemos na tabela abaixo.

mento ção

N 11 230 241% em Base Verbal 4.6% 95.4% 100.0%N 0 19 19

% em Base Verbal .0% 100.0% 100.0%N 22 19 41

% em Base Verbal 53.7% 46.3% 100.0%

N 53 1 54% em Base Verbal 98.1% 1.9% 100.0%

-mentar

-cionar, -ciar

-ecer

Bases Verbais

Tabela 06: Cruzamento Bases verbais (-izar, -mentar, -ciar/-cionar, -ecer) vs. Sufixo (ção, mento)Sufixo

Total

-izar

2.4. Tipos de verbo

Esses resultados refletem a análise de duas variáveis binárias: transitivo e

intransitivo. Assim, um mesmo verbo, a depender dos diferentes contextos semânticos,

podia ser classificado como transitivo, intransitivo ou ambos. Se um verbo era

classificado como intransitivo, ele era ainda subclassificado em inergativo ou inacusativo

(cf. Levin; Rappaport-Hovav 1995; Hale; Keyser 1993, 2002; Duarte, 2003). Desse

modo, trabalhamos com três categorias de análise: verbos transitivos e intransitivos (ou

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seja, verbos alternantes); verbos somente transitivos e verbos somente intransitivos. Na

Tabela 07 abaixo, vemos a distribuição dessas três categorias na amostra.

Categorias verbais N %Transitivo e intransitivo 752 36.1Apenas transitivo 1256 60.2Apenas intransitivo 77 3.7Total 2085 100.0

Tabela 07: Frequência de Verbos

Quando realizamos o cruzamento dessas categorias verbais com a variável

dependente –ção e –mento, obtivemos os seguintes resultados: 54,4% dos verbos

transitivos e intransitivos selecionam –mento; 64,3% dos verbos somente transitivos

selecionam –ção; e 63,6% dos verbos somente intransitivos selecionam -ção.

mento çãoN 409 343 752% em Verbos 54.4% 45.6% 100.0%N 448 808 1256% em Verbos 35.7% 64.3% 100.0%N 28 49 77% em Verbos 36.4% 63.6% 100.0%N 885 1200 2085% em Verbos 42.4% 57.6% 100.0%

Total

Tabela 08: Cruzamento Categorias verbais vs. Sufixo (-ção, -mento)

Sufixo (ção, mento)Total

Transitivo e Intransitivo

Apenas transitivo

Apenas intransitivo

Tipos de verbos

Ao considerarmos a distribuição de verbos inergativos e inacusativos na categoria

de intransitivos notamos um resultado bastante interessante: 67,7% dos inergativos

selecionam -ção e 67,7% dos inacusativos selecionam -mento (p<0,001)20. Embora haja

uma pequena diferença em termos numéricos (há na amostra 353 verbos inergativos e

20 Conduzimos o teste não paramétrico Qui-quadrado de Pearson para todas as tabelas de cruzamento cujas células apresentavam no mínimo 5 casos.

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477 verbos inacusativos), a proporção nos dois grupos é bastante simétrica, porém

espelhada, como vemos na Tabela 09 abaixo.

mento ção

N 114 239 353

% em Verbo 32.3% 67.7% 100.0%N 323 154 477

% em Verbo 67.7% 32.3% 100.0%

N 437 393 830% em Verbo 52.7% 47.3% 100.0%

*Todos os verbos intransitivos ("Apenas Intransitivo" e "Transitivo e Intransitivo")

Total

Tipo de IntransitivoSufixo (ção, mento)

Total

Inergativo

Inacusativo

Tabela 09: Cruzamento Verbo Intransitivo* vs. Sufixo (ção, mento)

Se, por outro lado, consideramos unicamente a categoria de ‘apenas intransitivos’

(i.e. não-alternantes), a distribuição é ainda mais nítida: 70,5% dos verbos inergativos

selecionam –ção e 62,5% dos verbos inacusativos selecionam –mento (p=0,020), como

podemos observar na tabela abaixo.

mento çãoN 18 43 61% em Verbo 29.5% 70.5% 100.0%N 10 6 16% em Verbo 62.5% 37.5% 100.0%N 28 49 77% em Verbo 36.4% 63.6% 100.0%

Inergativo

Inacusativo

Total

Tabela 10: Cruzamento "Apenas intransitivo" vs. Sufixo

Tipo de IntransitivoSufixo

Total

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2.5. Formas duplas

Formas duplas compreendem as palavras formadas com os sufixos -ção e -mento

a partir da mesma base verbal, como em afinação/afinamento. A frequência de formas

duplas na base de dados é de 16,6%.

2.6. Identidade com a base

Conforme apontamos anteriormente, identificamos na base de dados casos em que

os nomes em –ção não apresentavam uma total identidade com a base verbal, em virtude

da supressão de uma sílaba em relação ao verbo base: locomover => locomoção

(*locomoveção). A frequência encontrada para esses nomes em -ção é de 5,9%. No caso

dos nomes em -mento, 99,9% apresentaram total identidade com a base. A única exceção

é a palavra amalgamento (*amalgamamento) => amalgamar.

Tabela 11: Frequência de Duplos

Duplos N % % Válida

Sim 346 15,9 16,6 Não 1739 80,0 83,4 Total 2085 95,9 100,0

As duas formas foram selecionadas na amostra 90 4,1

Total 2175 100,0

!

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Mapeando os fatores fonológicos que desencadeiam esse fenômeno, encontramos

dois fatores condicionantes: (i) primeiro e mais produtivo, quando a última sílaba da base

verbal começa com um segmento fricativo [v, s, z, ʒ], como em absorver/absorção;

predizer/predição; proteger/proteção; (ii) segundo e menos produtivo, quando a base

verbal termina em -tar, como em sujeitar/sujeição; interditar/interdição; atritar/atrição.

A frequência do primeiro fator é de 64,8% e do segundo 9,9%.

Essas tendências e os padrões encontrados nos dados nos permitiram corroborar

nossas hipóteses teóricas, conforme discutiremos na próxima seção.

Tabela 12: Cruzamento Sufixo (-ção, -mento) vs. Identidade com a base verbal

Sufixo Identidade com a base verbal

Total Yes No

-mento Count 940 1 941

% em Sufixo 99,9% ,1% 100,0%

-ção Count 1161 73 1234 % em Sufixo 94,1% 5,9% 100,0%

Total Count 2101 74 2175

% em Sufixo 96,6% 3,4% 100,0%

!

Tabela 13: Frequência dos Fatores Fonológicos Fatores

condicionantes N % % Válida

Segmento Fricativo 46 2,2 64,8

-tar 7 0,3 9,9

Nenhum 18 0,9 25,4

Total 71 3,4 100,0

Não aplicável 2014 96,6

Total 2085 100,0

!

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2.7. Interpretando os Fatos

Tendo em vista a natureza cíclica da derivação sintática, argumentamos que os

aspectos morfofonológicos dos nomes em –ção e –mento resultam de duas propriedades

sintáticas: primeiro, o tipo de estrutura argumental do verbo; e segundo, o ponto da

computação no qual a estrutura sintática é enviada ao componente fonológico.

Nomes derivados (aqueles que exibem estrutura argumental) apresentam, nas

diversas línguas, propriedades distintas dos nomes referenciais (Grimshaw 1992).

Embick (2000, p. 217) capta esse fato argumentando que nominalizações e outras

formações deverbais exibem uma projeção aspectual interna à estrutura sintática, como

mostra a estrutura abaixo.

(68)

Assumindo a estrutura em (68), argumentamos que os nomes deverbais formados

por -mento e -ção apresentam, em sua estrutura sintática, uma raiz concatenada a um

núcleo cíclico v e a um núcleo não cíclico Asp, que fornece informações de ação,

processo, resultado, etc. A hipótese é de que o núcleo Asp é o domínio local no qual os

expoentes /-mento/ e /-ção/ são inseridos por meio da inserção vocabular, quando o

núcleo cíclico n é concatenado à estrutura.

Há, contudo, uma importante distinção com relação à estrutura argumental do

verbo base. Os dados mostraram uma clara tendência que aponta para a preferência dos

27

phonologically processed in previous stages. These assumptions are the key of our analysis to the

data shown in section 4, as I will discuss in the next section.

5.2. Interpreting the Facts As noted in the introduction of this paper, assuming that the syntactic derivation proceeds

in terms of phases (Chomsky 2000, 2001), I take the morphophonological aspects of –mento and

–ção nouns to be the surface result of two syntactic properties: first, the argument structure type

of the embedded verb; and second, the derivational point at which the syntactic structure is sent

to PF.

Derived nouns (those which have argument structure) seem to show crosslinguistically

distinct properties in relation to referential nouns (see Grimshaw 1992). Embick (2000:217)

captures this fact arguing that nominalizations and other deverbal formations exhibit an aspectual

projection within their syntactic structure, as shown in (27).

(27) AspP

V Asp vP

V v √P

√𝑅𝑜𝑜𝑡 Assuming the structure in (27), I argue that the deverbal nouns formed by –mento and –

ção show, in their syntactic structure, a Root attached to a cyclic head v and a non-cyclic head

Asp, providing information of process, action, etc. The hypothesis is that the head Asp is the

local domain in which the exponents /-mento/ and /-ção/ will be inserted, when the Vocabulary

Insertion takes place. That is, when the cyclic head n is merged to the structure.

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verbos inacusativos pelo sufixo -mento e dos verbos inergativos e transitivos pelo sufixo -

ção. Assim, foram propostas duas estruturas para os dois tipos de nomes deverbais:

(69) Estrutura de -ção

(70) Estrutura de -mento

Argumentamos que as diferenças nas estruturas sintáticas são responsáveis pelo

comportamento morfofonológico dos nomes em -ção e -mento, uma vez que eles têm

suas raízes processadas em momentos distintos no caminho derivacional que leva ao

componente fonológico. Considerando a estrutura monádica de Hale e Keyser (2002), o

verbo inergativo/transitivo em (69) é primeiramente concatenado ao seu complemento,

i.e. ao DP. Se o DP é uma fase (cf. Embick 2010), quando o núcleo cíclico v é

28

However, as I have been discussing, there seems to be an important difference

concerning the argument structure of the embedded verb. Our data has shown that there is a

preference for the –mento suffix to occur with unaccusative verbs and for –ção suffix to occur

with unergative and transitive verbs. Thus, we would have the following structures forming the

two types of deverbal nouns:

(28) –mento structure

nP V Spell-Out n AspP V Asp vP V v √P

√𝑅𝑜𝑜𝑡

(29) –ção structure

nP V Spell-Out n AspP V Asp vP V v √P Spell-Out V

√𝑅𝑜𝑜𝑡 DP

I claim that these differences relating the forming syntactic structures in which –mento

and –ção enter are responsible for the morphophonological behavior of the surface nouns,

because they have their root processed in distinct points in the path leading to PF. The embedded

unergative/transitive verb in (29) is firstly merged to its complement, i.e. to DP. As the DP is a

phase, when the cyclic head v is merged to structure, the root and DP are spelled-out. By

28

However, as I have been discussing, there seems to be an important difference

concerning the argument structure of the embedded verb. Our data has shown that there is a

preference for the –mento suffix to occur with unaccusative verbs and for –ção suffix to occur

with unergative and transitive verbs. Thus, we would have the following structures forming the

two types of deverbal nouns:

(28) –mento structure

nP V Spell-Out n AspP V Asp vP V v √P

√𝑅𝑜𝑜𝑡

(29) –ção structure

nP V Spell-Out n AspP V Asp vP V v √P Spell-Out V

√𝑅𝑜𝑜𝑡 DP

I claim that these differences relating the forming syntactic structures in which –mento

and –ção enter are responsible for the morphophonological behavior of the surface nouns,

because they have their root processed in distinct points in the path leading to PF. The embedded

unergative/transitive verb in (29) is firstly merged to its complement, i.e. to DP. As the DP is a

phase, when the cyclic head v is merged to structure, the root and DP are spelled-out. By

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concatenado à estrutura, a raiz e o DP são enviados à FF (spelled-out). Por outro lado, em

(70), o verbo inacusativo não requer um DP como complemento. Assim, a raiz, o núcleo

v e o núcleo Asp serão enviados à interface (spelled out) somente quando o outro núcleo

cíclico n é concatenado à estrutura.

Com relação à vogal temática, existem diferentes propostas de análise desse

morfema comumente encontrado em línguas românicas (Oltra-Massuet 1999, Bermúdez-

Otero 2012, entre outros). Em Freitas (2014), seguimos a proposta de Embick (2010) de

que as vogais temáticas são morfemas dissociados 21 . A ideia é que raízes são

especificadas com traços diacríticos relativos às diferentes classes temáticas. De acordo

com Embick (2010), morfemas temáticos são peças ‘ornamentais’ de morfologia, i.e.

itens que são aparentemente relevantes para a boa formação morfológica, mas não fazem

parte da sintaxe22.

Como discutimos anteriormente, existe uma regra na língua que neutraliza as

classes II e III das vogais temáticas verbais (e.g. formas dos particípios regulares em -ado

e -ido). Essa regra é formalizada em Freitas (2014) da seguinte forma:

(71) Regra de neutralização em PB

Neutralize as conjugações II e III das vogais temáticas verbais em ambientes não

verbais.

21 Embick (1998:2): A morphological signal is dissociated when the morphosyntactic position/features it instantiates are not features figuring in the syntactic computation, but are instead added in the Morphological component under particular conditions. 22 Trabalhos recentes têm apontado problemas quanto à proposta de que as vogais temáticas são morfemas dissociados relacionados a critérios de boa formação morfológica. Alexiadou e Müller (2005) sugerem que a inserção de um nó terminal pós-sintaticamente fere a Condição de Inclusividade (Inclusiveness Condition, cf. Chomsky 1995, 2000), que estabelece que novos traços não devem ser inseridos no curso da derivação, além daqueles presentes inicialmente na numeração. Uma tese recente sobre morfologia nominal no PB (Armelin 2015) apresenta um argumento empírico interessante sobre a questão da interpretação dos morfemas temáticos. A autora argumenta que, em pares como mato-mata, barco-barca, é preciso assumir que a interpretação da vogal final ou fica a cargo da própria raiz, o que implica assumir que a raiz é provida de propriedades semânticas, ou a cargo da postulação de raízes homônimas.

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Desse modo, em virtude da regra de neutralização em (71), se temos um

paradigma de três classes temáticas (sem considerarmos a vogal temática -o- bastante rara

e residual), as formações deverbais preservam somente duas vogais temáticas: -a- e -i-. A

implementação da regra pode ser pensada em termos de classes de traços funcionais.

(72) Regra de neutralização em termos de traços (Freitas 2014, p. 109)

Contudo, essa regra não se aplica aos nomes em -ção. Considerando a estrutura

em (69) e os pressupostos teóricos discutidos no Capítulo II, argumentamos que os nomes

em -ção não seguem a regra de neutralização em (71), em virtude do ponto derivacional

no qual a raiz é enviada ao componente fonológico, i.e. no momento em que o núcleo v é

concatenado à derivação. Assim, os traços diacríticos da raiz são fonologicamente

processados em um estágio de FF ainda pertencente a um ambiente verbal. Dessa

maneira, quando a posição TH é adicionada à estrutura, as vogais temáticas inseridas são

aquelas relevantes aos verbos, i.e. as três classes diferenciadas: [+I], [+II], ou [+III].

Dessa maneira, a vogal temática se mostra imune à regra de neutralização. A estrutura em

(73) mostra a estrutura baixa de vP e a posição temática adicionada.

Input Classe –a- [+I] Classe –e- [+II] Classe –i- [+III]

Output I

+I -I

+II +III

Aplicação da regra

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(73) Estrutura baixa dos nomes em -ção: posição TH adicionada

Por outro lado, a regra de neutralização é plenamente aplicada aos nomes em –

mento. Em nossa proposta, este fato se deve à hipótese de que há somente um único

ponto derivacional em que a operação de spell-out é desencadeada na derivação sintática

de -mento: tão logo o núcleo n é concatenado à estrutura. Assim, nesse caso, o morfema

dissociado é adicionado como parte de um domínio que não é mais um ambiente verbal,

mas uma estrutura mais complexa, pertencente a uma derivação nominalizada. Por isso,

no momento em que a inserção vocabular acontece, a regra de neutralização é aplicada e

as vogais temáticas inseridas são as aplicáveis aos contextos não verbais, i.e. [+I] ou [-I],

como mostra a estrutura abaixo.

(74) Estrutura baixa dos nomes em –mento: posição TH adicionada

30

(31) Input Output

I Class -a- [+I] Rule application Class -e- [+II] +I -I Class -i- [+III]

+II +III

–Ção nouns, however, do not participate in such rule. Why this happens is the guiding

question of this work. Considering the structure in (29) and the theoretical assumptions

discussed, I argue that –ção nouns do not follow the rule in (30) because of the early derivational

point in which the root is sent to PF. That is, the root is spelled-out by the v head merged to the

structure. Thus, it is still a verbal environment at the PF stage in which the diacritic feature of the

root is processed. Hence, when the derivation proceeds and TH position is added to the structure,

the inserted theme vowels are those relevant to verbs, the three differentiated classes: [+I], [+II],

or [+III]. Therefore, the theme vowel will be immune to the neutralization rule in (30). The

structure in (32) shows the lower structure of vP and the added thematic position.

(32) Lower structure of –ção nouns: added TH position V vP […] V

v [TH, +I,+II,+III] V

√P v V

√𝑅𝑜𝑜𝑡 DP

On the other hand, the –mento nouns fully comply with the neutralization rule. In my

proposal, this is due to the hypothesis that there is one sole derivational point where the spell-out

operation is triggered within the –mento syntactic derivation (i.e. as soon as the head n is merged

31

to the structure). Thus, in such case, the dissociated morpheme is added as part of a domain that

is not anymore in a verbal environment, but a more complex structure belonging to a

nominalized derivation. That is, the diacritic feature of the root is jointly processed with the

nominal domain. Hence, at the moment where the Vocabulary Insertion takes place, the

neutralization rule is applied and the theme vowels inserted are only those applicable to non-

verbal environments, i.e. [+I] or [-I].

(33) Lower structure of –mento nouns: added TH position

V AspP […]

V vP Asp V

v [TH, +I,-I] V

√P v

√𝑅𝑜𝑜𝑡

Here, it would be interesting to relate this proposal to the facts found relating to the

distribution of the thematic vowel -e-. As shown, there is a preference relation (about 80%)

between the –mento nouns and the verbs with theme vowel -e-. A prospective hypothesis would

regard this ‘choice’ to the regular behavior of –mento nouns in relation to neutralization rule.

That is, if there are two competing suffixes in a language that show a complementary behavior

concerning a morphophonological rule (i.e. one suffix fulfills the rule; and the other does not), it

is not surprising that the suffix which feeds the rule is preferably chosen in order to maximize the

rule application (see Kiparsky 1968).

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Tentamos ainda relacionar essa proposta aos fatos relacionados à distribuição da

vogal temática -e-. Como mostramos, há uma relação de preferência entre o sufixo –

mento e os verbos com vogal temática -e-. Uma hipótese possível seria a de relacionar

esta ‘escolha’ ao comportamento regular dos nomes em -mento em relação à regra de

neutralização. Quer dizer, se há dois afixos concorrentes na língua que apresentam

comportamento complementar em relação a uma regra morfofonológica (i.e. um afixo

participa da aplicação da regra e o outro não), não é surpreendente que o sufixo que

alimenta a regra seja preferencialmente escolhido de modo a maximizar a sua aplicação

(cf. Kiparsky 1968). Essa hipótese será discutida na seção 3 deste capítulo, quando

discutiremos os resultados dos experimentos.

As diferenças das estruturas argumentais bases podem ser também apontadas

como responsáveis pela alomorfia contextual condicionada pela raiz. Argumentamos,

seguindo Embick (2010), que o núcleo cíclico v ao se concatenar à raiz tem acesso a ela.

Assim, os formativos verbalizadores estão sujeitos à estrutura da raiz. O formativo -ecer

em muitos casos se relaciona aos verbos inacusativos: escurecer, amarelecer, adoecer,

etc. Por outro lado, o formativo -izar em muitos casos forma verbos agentivos (tanto

transitivos como inergativos): gramaticalizar, hospitalizar, etc. Assim, a relação de

preferencia entre -mento e -ecer, e entre -ção e -izar pode ser explicada pelo tipo de

estrutura argumental que o núcleo Asp seleciona. O mecanismo de Inserção Vocabular é

formalizado abaixo.

(75)

32

The differences regarding the embedded argument structures are also responsible for the

contextual allomorphy root-conditioned. I argue, following Embick (2010) that the cyclic head v

attached to the root have access to it. So, the verbalizing formatives are subject to the argument

structure of the root. The formative –ecer in most cases relates to unaccusative verbs: escurecer

“to darken”, amarelecer “to yellow”, etc. By contrast, the formative –izar forms in most cases

agentive verbs (both unergative and transitive): gramaticalizar “to grammaticalize”, hospitalizar

“hospitalize”;; etc. So, the preference relation between –ção and –izar; and between –mento and –

ecer is due to type of argument structure that the Asp head is selecting. The mechanism of

Vocabulary Insertion is formalized as follows.

(34) Contextual Allomorphy

[ASP] ↔ -mento / √𝑋 − 𝑒𝑐𝑒𝑟, ...__

[ASP] ↔ -ção / √−𝑖𝑧𝑎𝑟,√𝑋 −𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟...__ Regarding to the formative –mentar and its impossibility to occur with –mento suffix, it

seems to follow from a morphotactic constraint that does not allow two similar items together.

Thus, as result of a dissimilative process, the exponent –ção is inserted to the Asp node.

A final remark regards to the fact of 7% of –ção nouns do not show identity with verbal

base. I consider that phenomenon a late rule, i.e. a final phonological adjustment (Booij; Rubach

1987).

6. CONCLUSION

This work discussed morphophonological aspects of two nominalizing suffixes in BP: -

ção and -mento. For this, I have focused on quantitative data in order to verify patterns and

tendencies of behavior in a more robust number of data. Furthermore, I have attempted to argue

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Com relação à impossibilidade de ocorrência dos formativos -mentar com o

sufixo -mento e o formativo -cionar23 com o sufixo –ção, é possível argumentar que há

uma restrição morfotática que não permite dois itens similares consecutivos. Assim,

como resultado de um processo dissimilativo, os expoentes –ção e –mento são inseridos

alternadamente no núcleo Asp.

3. RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Nesta seção, apresentaremos os resultados de três experimentos que realizamos

com intuito de verificarmos se as tendências lexicais encontradas nos dados descritivos

extraídos do dicionário apresentavam realidade psicológica para os falantes, quer dizer,

se essas tendências identificadas são produtivas sincronicamente. Desse modo,

elaboramos três experimentos com logatomas (pseudo-palavras), que visavam investigar

especificamente duas questões: (i) se as classes temáticas dos verbos base influenciam na

escolha dos sufixos –ção e –mento; (ii) se a estrutura argumental dos verbos base

determina a escolha dos sufixos –ção e –mento.

Os experimentos foram realizados online, por meio da plataforma Online

Pesquisa (https://www.onlinepesquisa.com/). Nos três experimentos, tivemos um total de

359 participantes (140 participantes no primeiro experimento; 103 participantes no

segundo experimento e 116 participantes no terceiro experimento). Os testes eram

respondidos anonimamente. Nas subseções a seguir, apresentamos detalhadamente as

hipóteses, o desenho dos experimentos, os resultados descritivos e os testes de hipóteses.

23 O sufixo -ção apresenta o alomorfe -cio- no meio de palavras: constituição/constitucional; habitação/ habitacional.

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3.1. Experimentos 1 e 2: Classes temáticas

Os dois primeiros experimentos que realizamos tinham por intuito investigar a

hipótese de que as classes temáticas (em -ar, -er e -ir) dos verbos base influenciavam a

escolha dos sufixos –ção e –mento. Conforme apontamos na seção 2.1 deste capítulo, a

análise descritiva dos dados revelou um comportamento diferenciado entre a II e a III

conjugação, com relação à escolha preferencial dos sufixos nominalizadores:

surpreendentemente, os verbos em –ir se comportam como os verbos em –ar

selecionando preferencialmente o sufixo –ção; por outro lado, os verbos em –er

selecionam preferencialmente o sufixo -mento. Esse resultado poderia desafiar a proposta

de que há neutralização das classes temáticas II e III, mobilizada por uma noção de

marcação (cf. Oltra Massuet 1999): nas diversas línguas românicas, há um agrupamento

entre essas duas classes temáticas marcadas em oposição à classe I em –ar não-marcada

(ou default). Tendo em vista esses resultados, a hipótese que estávamos testando era:

• Hipótese – Experimentos 1 e 2

Os verbos com vogal temática -a- e -i- selecionam preferencialmente o sufixo -ção,

ao passo que, os verbos com vogal temática -e- selecionam preferencialmente o

sufixo -mento.

3.1.1. Desenho dos experimentos

Desenvolvemos dois experimentos com logatomas, nos quais o participante

recebia como estímulo uma forma infinitiva de um pseudo-verbo no primeiro período de

uma sentença-teste (frame). No segundo período da sentença, havia uma lacuna a qual

deveria ser preenchida com nominalização deverbal em –ção ou –mento24, formada a

24 Para todas as sentenças-teste elaboradas, era necessário que os participantes escolhessem somente as opções de nominalização em –ção e –mento. Assim, não incluímos no experimento a possibilidade de

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partir desse pseudo-verbo. Desse modo, o teste consistia em a pessoa escolher uma das

duas formas possíveis, a partir de uma escala de cinco pontos, conforme mostra o

exemplo abaixo.

(76)

Os participantes receberam a seguinte instrução ao início do teste, esclarecendo

como deveriam interpretar a escala de cinco pontos.

(77) Apresentação e instruções para realização do teste

Seja bem-vindo e muito obrigada pela sua participação! Lembre-se de que não existem respostas certas ou erradas, boas ou ruins, o importante é a

sua intuição de falante nativo do português sobre os dados apresentados. Tente responder

cada questão com o que parecer mais natural para você!

Atenção! É importante que você faça o teste de uma única vez, pois não é permitido que

você retome um teste não finalizado. Na próxima página você receberá instruções sobre o

funcionamento do teste.

Clique na seta para continuar e divirta-se!

escolha de outro sufixo nominalizador (e.g. –do/-da, -agem, -ncia, etc.) para os contextos dados. Dessa forma, um procedimento metodológico alternativo, que pretendemos considerar futuramente, seria o de incluir um pré-teste no qual daríamos aos participantes uma escolha forçada de três alternativas (-ção, -mento e outro) e pediríamos que, caso selecionassem a opção ‘outro’, especificassem qual sufixo era preferível para o dado contexto. Os frames em que mais da metade dos participantes selecionassem a opção ‘outro’ seriam substituídos. Acreditamos, contudo, que a escolha forçada com três alternativas não é uma opção ótima para o experimento em si, dado que sua interpretação não é tão clara e é menos óbvia.

mento e os verbos inergativos e transitivos selecionarem o sufixo –ção.

• Averiguando tendências experimentalmente:

Com intuito de averiguar se as tendências lexicais identificadas em Freitas (2014) tinham realidade psicológica para os falantes ou não, realizamos dois experimentos com logatomas. 1. Primeiro experimento: Classes Temáticas

! Hipótese: -mento ocorre preferencialmente com os verbos em –er e –ção ocorre preferencialmente com os verbos em –ir e –ar.

Desenho do experimento:

18 sentenças-teste: 6 verbos com vogal temática -a-; 6 verbos com vogal temática -e-; and 6 verbos com vogal temática -i-. 6 sentenças distratoras: morfologia de diminutivo (-inho/a vs. –zinho/a). Escolha forçada com duas alternativas e escala de 1 a 5.

Duas versões do experimento: Primeira Versão: os nomes em –mento formados a partir dos verbos da 2° conjugação apresentavam alçamento da vogal temática –e- para [i].

Segunda Versão: os nomes em –mento formados a partir dos verbos da 2° conjugação não apresentavam alçamento da vogal temática –e- para [i].

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Instruções para a realização do teste:

Em cada uma das sentenças que serão apresentadas, haverá uma lacuna a ser preenchida.

Para preencher essa lacuna, serão oferecidas duas opções de palavras que estão dispostas

em dois extremos de uma escala. ATENÇÃO: As palavras que serão dadas como opção

para o preenchimento da lacuna são palavras INVENTADAS! Ou seja, não são palavras

existentes no Português. Observe o exemplo:

Minha irmã adora dar bila de presente. Ano passado no natal, ela me deu uma __________ linda.

1 2 3 4 5

bilinha bilazinha

A escala deve ser interpretada da seguinte maneira:

Valor 1 – a opção da esquerda (‘bilinha’) é, definitivamente, a melhor alternativa e a

opção da direita (‘bilazinha’) está totalmente excluída.

Valor 2 – a opção da esquerda (‘bilinha’) é a melhor alternativa, mas a opção da direita

(‘bilazinha’) não está totalmente excluída.

Valor 3 – as duas opções são igualmente boas.

Valor 4 – a opção da direita (‘bilazinha’) é a melhor alternativa, mas a opção da esquerda

(‘bilinha’) não está totalmente excluída.

Valor 5 – a opção da direita (‘bilazinha’) é, definitivamente, a melhor alternativa, e a

opção da esquerda (‘bilinha’) está totalmente excluída.

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Os dois primeiros experimentos consistiram de:

- 18 sentenças-teste: 6 verbos com vogal temática -a-; 6 verbos com vogal temática

-e-; e 6 verbos com vogal temática -i-, como mostra a Tabela 14 abaixo.

- 6 sentenças distratoras: morfologia de diminutivo (-inho/a vs. –zinho/a).

Tabela 14: Pseudo-verbos dos Exp. 1 e 2

Para cada uma das categorias verbais (AR, ER, IR), criamos três pseudo-verbos

dissilábicos e três trissilábicos. Depois de criados os pseudo-verbos, conduzimos um pré-

teste com 3 falantes a fim de que pudessem avaliar se a sonoridade25 destas formas lhes

parecia apropriada, como possíveis verbos do PB. Na preparação dos frames, a nossa

intenção para estes dois primeiros experimentos era a de esvaziar o máximo possível

qualquer tipo de semântica particular (iteração, agentividade, afetação, etc.) que pudesse

estar associada aos sufixos –ção e –mento, de modo a evitar a interação de fatores

condicionantes semânticos aos fatores fonológicos sob investigação. Apresentamos, a

seguir, exemplos de sentenças-teste e distratoras.

25 É possível observar que alguns dos itens exibem vizinhança fonológica com verbos do vocabulário real do Português (e.g. demovir, penter, etc). Observando os resultados para esses itens, averiguamos que esse fator parece não ter tido influência significativa nos resultados gerais. Contudo, o fator de vizinhança fonológica deverá ser notado com cautela em experimentos futuros.

AR ER IRCajar Fluger FolirSolfar Treter CerdirPrecibar Penter SurzirDuflar Entaver PacuntirTolicar Goleger RefuirSalidar Familer Demovir

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100

(78) Exemplos de sentenças-teste26

(79) Exemplos de sentenças distratoras

Os estímulos apresentados aos participantes nos experimentos 1 e 2 eram

sutilmente diferentes. Como discutimos diversas vezes ao longo desta tese, os nomes em

–mento exibem um alteamento obrigatório da vogal temática -e- para [i]. Adicionalmente,

localizamos na análise dos dados quantitativos que há uma relação de preferência entre os

verbos de vogal temática -e- e o sufixo -mento. Teríamos, assim, uma sobreposição de

fatores: a relação de preferência entre os verbos em –er e o sufixo –mento está

26 As sentenças-teste e as distratoras são apresentadas integralmente no anexo desta tese.

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3 4 5 6 7

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condicionada somente à vogal temática -e- ou a regra de alteamento também influencia

esta preferência?

Tendo em vista essa sobreposição de fatores, criamos duas versões para os verbos

em –er: na primeira, os nomes em –mento apresentavam alteamento da vogal temática; e

na segunda, em uma versão controle, os nomes não apresentavam alteamento da vogal

temática, conforme mostram os exemplos abaixo.

(80) Experimento 1: os nomes em –mento formados a partir dos verbos da 2a

conjugação apresentavam alçamento da vogal temática -e- para [i].

(81) Experimento 2: os nomes em –mento formados a partir dos verbos da 2a

conjugação não apresentavam alçamento da vogal temática -e- para [i].

A nossa intenção com essa segunda versão era a de isolar os possíveis fatores de

influência na relação de preferência dos verbos em –er e o sufixo –mento. Conforme

discutiremos na seção 3.1.3., esta separação foi fundamental para a análise dos

resultados.

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Em ambos os experimentos, aleatorizamos a ordem das sentenças-teste e das

distratoras. Também garantimos que a distribuição das opções de –ção e –mento na

margem esquerda da página web fossem simétricas (ou seja, 9 opções de –ção e 9 opções

de –mento). Essa medida buscava garantir que o padrão de leitura do PB (da esquerda

para direita) não influenciasse na escolha preferencial dos itens posicionados à esquerda,

ou seja, os itens que eram visualizados primeiro. Além disso, solicitamos aos

participantes que somente respondessem o experimento 2 caso não tivessem participado

do experimento 1.

3.1.2. Tratamento da base

Todo o tratamento da base foi realizado no software SPSS Statistics Data Editor.

A plataforma de pesquisa que utilizamos, a Online Pesquisa, disponibiliza a opção de

extrairmos os resultados em formato .xls ou .cvs. Os dados exportados compõem uma

base de dados em que as sentenças-teste estão dispostas nas colunas e cada participante

constitui uma linha na tabela. Como respostas dadas são anônimas, a identificação de

cada participante é feita por meio de um número identificador (Id_resposta).

Além dessas informações, a base inicial contava duas colunas que indicavam a

data e o horário do início e do final da participação e uma coluna indicando o estado da

participação (participado e completo ou participado e incompleto). Na análise dos dados,

consideramos apenas as respostas dos testes que haviam sido inteiramente completados e

finalizados.

Conforme mencionamos na descrição do desenho do experimento, nas opções de

respostas de cada tarefa tínhamos uma escala de 1 a 5. Nas extremidades desta escala, os

sufixos –ção e –mento apareciam, de maneira simétrica, alternados na margem esquerda

da página web. Quer dizer, em metade das sentenças (i.e. 9 das 18), tínhamos o –ção

como 1 e –mento como 5; e na outra metade, tínhamos o reverso, o –mento como 1 e o –

ção como 5. Assim, a primeira operacionalização que realizamos foi a de igualar todas as

respostas de modo que o –ção sempre fosse 1 e o –mento sempre fosse o 5.

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103

Em seguida, empilhamos a base de dados de maneira que cada resposta de cada

participante constituísse uma linha na tabela. Desse modo, cada participante aparecia 18

vezes na base, o que correspondia às 18 questões respondidas por ele. Das 18 questões

respondidas, 6 apresentavam verbos com vogal temática -a-; 6 verbos com vogal temática

-e-; e 6 verbos com vogal temática -i-. Essa informação era codificada por uma variável

que indicava a classe temática AR, ER ou IR. As respostas dadas pelos participantes

constituíram uma variável que denominamos de 5_Cat. Esta variável era composta por

cinco categorias (1 a 5), de modo que cada resposta dada equivalia a um valor da escala

usada no experimento, da seguinte forma:

- 5_Cat:

Valor 1 = Apenas -ção Valor 2 = -ção, mas -mento não excluído Valor 3 = Ambos Valor 4 = -mento, mas -ção não excluído Valor 5 = Apenas -mento

A partir dessa variável, criamos outra variável composta de três categorias,

resultantes do agrupamento dos valores 1 e 2; 4 e 5. Essa variável, que denominamos de

3_Cat, apresentava a seguinte distribuição:

- 3_Cat:

Valor 1 = Apenas –ção Valor 2 = Ambos Valor 3 = Apenas –mento

A criação da variável 3_Cat foi importante para verificarmos, com maior clareza e

de maneira menos difusa, as tendências localizadas nos dados.

Com a base organizada dessa forma, pudemos exportá-la para o software livre R

no qual extraímos os resultados, que discutiremos em detalhe na próxima seção.

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3.1.3. Resultados descritivos e testes de hipóteses27

Nesta seção, apresentaremos os resultados dos dois experimentos que realizamos

com intuito de investigar se as classes temáticas dos verbos base influenciam a escolha

dos sufixos –ção e –mento. Discutiremos, primeiramente, os resultados descritivos e os

testes de hipótese do primeiro experimento e, em seguida, discutiremos os resultados do

segundo experimento.

3.1.3.1. Experimento 1

No primeiro experimento, tivemos um total de 305 participantes, contudo, apenas

140 participantes completaram o teste. Ao empilharmos a base, ficamos com um total de

2520 casos (=140 x 18 sentenças). Esse valor dividido pelas três classes temáticas, daria

840 casos por conjugação. Entretanto, algumas questões não foram respondidas pelos

participantes, assim, o número final de casos por conjugação foi de: AR = 837 casos; ER

= 835 casos; e IR = 839 casos.

Apresentamos, a seguir, os gráficos com os resultados descritivos. Iremos

considerar aqui apenas os resultados da variável (Cat_3) que considera três categorias

analíticas: apenas –ção; ambos e apenas –mento. Os resultados descritivos para a

variável Cat_5, que considera as cinco categorias da escala, estão disponíveis no anexo

desta tese.

27 Testes de hipóteses ou testes de significância são técnicas de inferência estatística que permitem verificar se os dados amostrais fornecem evidência suficiente para que se possa aceitar como verdadeira a hipótese de pesquisa, precavendo-se, com certa segurança, de que as diferenças observadas nos dados não são meramente casuais (Barbetta 2005, p. 196). Assim, esses procedimentos estatísticos possibilitam testar a veracidade das hipóteses sobre a população em estudo.

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Gráfico 01: Exp1 - Distribuição dos verbos em AR (N = 837)

Gráfico 02: Exp1 - Distribuição dos verbos em ER (N = 835)

Gráfico 03: Exp1 - Distribuição dos verbos em IR (N = 839)

48.90

17.90

33.20

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

ção Ambos mento

34.40

14.10

51.50

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

ção Ambos mento

38.50

15.00

46.50

0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 50.00 60.00

ção Ambos mento

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Como podemos observar nos gráficos acima, há uma distribuição desigual entre

os grupos, assim como a distribuição da variável dependente não é uniforme em cada um

dos grupos. Os resultados revelam as seguintes tendências: os verbos em –ar ocorrem

mais com o sufixo –ção, ao passo que os verbos em –er e –ir ocorrem mais com o sufixo

–mento.

Para nos certificarmos de que as distribuições observadas indicam realmente uma

diferença significativa entre os grupos, estabelecemos duas estratégias analíticas: (i)

estimamos o intervalo a 95% de confiança28 das proporções de –ção e –mento nos grupos

AR, ER e IR; (ii) realizamos um teste não-paramétrico29 de significância de comparação

em pares entre os grupos AR, ER e IR. A hipótese nula H0 que estávamos testando é de

que não há diferença estatisticamente significativa entre as médias dos grupos. A seguir,

apresentamos esses resultados

.

-­‐ Comparando proporções de –ção e –mento dentro das conjugações AR, ER, IR

Considerando um nível de confiança de 95%, o intervalo de confiança das

proporções de –ção e –mento nos grupos AR, ER e IR é o seguinte:

28 O intervalo de confiança de uma proporção indica a faixa na qual devem ocorrer aproximadamente 95% dos valores do atributo investigado na amostra (cf. Barbetta 2005). Fixando o nível de confiança a 95% (i.e. ±1,96), o intervalo de confiança para uma proporção P pode ser calculado como sendo: (P – 1,96 x SE, P+1,96 x SE); onde SE (standard error) indica o erro padrão da distribuição amostral. O erro padrão é uma medida que avalia a dispersão do conjunto de valores em análise e é calculado como sendo SE =

P. (1-­‐P)/n. 29 Usamos um teste não paramétrico uma vez que a distribuição dos nossos dados não obedece ao pressuposto de normalidade. Em uma distribuição normal de probabilidades, há um valor médio ou típico em torno do qual os intervalos têm altas probabilidades de ocorrência. As probabilidades de ocorrência diminuem à medida em que se afastam desse valor médio, indiferentemente se do lado esquerdo (para valores menores) ou do lado direito (para valores maiores). Assim, a distribuição normal é caracterizada por uma função cujo gráfico descreve uma curva em forma de sino (Barbetta 2005, p. 152).

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Tabela 15: Exp.1. Intervalo de confiança a 95% das proporções de –ção e –mento nos grupos AR, ER, IR

AR ER IR

-mento 30.02 36.40 48.11 54.89 43.11 49.86

-ção 45.48 52.25 31.15 37.59 35.21 41.79

Como podemos observar na Tabela 15, os intervalos de confiança das proporções

de –mento e –ção nos grupos AR, ER e IR não se sobrepõem.

- Teste de Hipóteses

No teste estatístico aplicado, foram consideradas as seguintes hipóteses de

trabalho:

Hipótese Nula (H0): as médias de -ção e -mento nos grupos AR, ER e IR são iguais.

Hipótese Alternativa (H1): as médias de -ção e -mento nos grupos AR, ER e IR são

diferentes.

Tendo em vista essas hipóteses de trabalho e considerando uma comparação em

pares entre os grupos, a aplicação do Teste de Wilcoxon (Wilcoxon Signed-ranks Test)

gerou os resultados apresentados a seguir.

(82) Teste de Wilcoxon: Comparação entre os grupos AR, ER e IR

• AR vs. ER: p-valor = 0,000 • AR vs. IR: p-valor = 0,000 • ER vs. IR: p-valor = 0,037

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108

Como estamos estabelecendo comparações múltiplas entre os grupos, iremos

aplicar a correção de Bonferroni, dividindo o alpha desejado (α=0,05) pelo número de

comparações realizadas, que no caso deste experimento são três (AR vs. ER; AR vs. IR e

ER vs. IR). Desse modo, iremos considerar estatisticamente significativos os resultados

cujos p-valores sejam menores que 0,017 (= 0,05/3). Essa medida é importante para se

controlar a taxa de erro em procedimentos de comparações múltiplas.

Assim sendo, como vemos nos resultados em (82), na comparação dos grupos AR

vs. ER e AR vs. IR, podemos aceitar a hipótese alternativa (H1) de que são diferentes as

médias entre os grupos. Contudo, na comparação entre os grupos ER vs. IR (p-valor =

0.037) a diferença não é significativa.

3.1.3.2. Experimento 2

No segundo experimento, tivemos um total de 186 participantes, entretanto,

apenas 103 participantes finalizaram o teste. Ao empilharmos a base, ficamos com um

total de 1854 casos (=103x18 sentenças). Esse valor dividido pelas três classes temáticas,

daria 618 casos por conjugação. Entretanto, também nesse experimento, algumas

questões não foram respondidas pelos participantes, assim, o número final de casos por

conjugação foi de: AR = 614 casos; ER = 617 casos; e IR = 616 casos.

Apresentamos, abaixo, os gráficos com os resultados descritivos para a variável

(Cat_3) que considera três categorias analíticas: apenas –ção; ambos e apenas –mento.

Os resultados descritivos para a variável (Cat_5) que considera as cinco categorias da

escala estão disponíveis no anexo desta tese.

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109

Gráfico 04: Exp2 - Distribuição dos verbos em AR (N = 614)

Gráfico 05: Exp2 - Distribuição dos verbos em ER (N = 617)

Gráfico 06: Exp2 - Distribuição dos verbos em IR (N = 616)

45.8

20.2

34.0

.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0

ção Ambos mento

41.2

17.0

41.8

.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0

ção Ambos mento

38.5

19.5

42.0

.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0

ção Ambos mento

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110

Como podemos observar nos gráficos acima, a distribuição do grupo AR e do

grupo IR apontam para a tendência localizada no experimento 1: os verbos em –ar

ocorrem mais com o sufixo –ção e, embora mais sutil, os verbos em –ir tendem a ocorrer

mais com o sufixo –mento. Entretanto, houve uma mudança significativa se

considerarmos os resultados do grupo ER: a relação de preferência entre os verbos em –

er e o sufixo –mento desapareceu no experimento 2. Esse resultado é bastante

interessante, uma vez que a mudança no estímulo (alternativas de escolha que não

apresentavam alteamento da vogal temática –e- para [i]) teve uma repercussão

significativa na escolha dos sufixos em questão.

Para o experimento 2, seguimos o mesmo procedimento estatístico estabelecido

para o experimento 1: (i) estimamos o intervalo de confiança a 95% das proporções de –

ção e –mento nos grupos AR, ER e IR; e (ii) realizamos o teste de Wilcoxon comparando

em pares os grupos AR, ER e IR. A hipótese nula H0 que estávamos testando é de que

não há diferença entre as médias dos grupos.

-­‐ Comparando proporções de –ção e –mento dentro das conjugações AR, ER, IR

Considerando um nível de confiança de 95%, o intervalo de confiança das

proporções de –ção e –mento nos grupos AR, ER e IR é o seguinte:

Tabela 16: Exp.2. Intervalo de confiança a 95% das proporções de –ção e –mento nos grupos AR, ER, IR

AR ER IR

mento 30.29 37.79 37.92 45.71 38.15 45.94

ção 41.82 49.71 37.28 45.05 34.63 42.32

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111

Como podemos observar na Tabela 16, os intervalos de confiança de –mento e –

ção no grupo AR não se sobrepõem, entretanto, nos grupos ER e IR30 esses coincidem.

- Testes de Hipóteses

Assim como no experimento 1, no teste estatístico aplicado para o experimento 2,

foram consideradas as seguintes hipóteses de trabalho:

Hipótese Nula (H0): as médias de -ção e -mento nos grupos AR, ER e IR são iguais.

Hipótese Alternativa (H1): as médias de -ção e -mento nos grupos AR, ER e IR são

diferentes.

Tendo em vista essas hipóteses de trabalho e considerando uma comparação em

pares entre os grupos, a aplicação do Teste de Wilcoxon (Wilcoxon Signed-ranks Test)

gerou os seguintes resultados.

(83) Teste de Wilcoxon: Comparação entre os grupos AR, ER e IR

• AR vs. ER: p-valor = 0,005

• AR vs. IR: p-valor = 0,001

• ER vs. IR: p-valor = 0,579

30 É necessário ressaltar que o valor do erro padrão é muito semelhante nos experimentos 1 e 2, desse modo, podemos considerar que houve, de fato, uma diminuição na proporção do sufixo –mento no grupo de –ir no experimento 2. Uma hipótese que podemos aventar para explicar esse padrão se relaciona à neutralização existente entre as classes II e III. Como as duas classes tendem a se comportar sincronicamente de maneira semelhante, a mudança no estímulo da classe II gerou um efeito colateral também na classe III. Iremos discutir essa hipótese, em detalhes, na interpretação teórica dos resultados.

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112

Para esse experimento, também iremos considerar um alpha efetivo de 0,017,

resultante da correção de Bonferroni (α/3). Desse modo, os resultados para os grupos

comparados em pares em (83) nos permitem aceitar a hipótese alternativa (H1) de que são

diferentes as médias entre os grupos AR vs. ER e AR vs. IR. Contudo, na comparação

entre os grupos ER vs. IR (p = 0,579), não podemos aceitar a hipótese alternativa de que

sejam diferentes as médias dos grupos.

Na próxima seção discutiremos a elaboração, o tratamento da base e os resultados

do experimento 3, que investiga a questão influência da estrutura argumental do verbo

base na formação dos nomes em –ção e –mento.

3.2. Experimento 3: Estrutura Argumental

O terceiro experimento que desenvolvemos tinha por intuito investigar a hipótese

de que a estrutura argumental dos verbos base influenciava a escolha dos sufixos –ção e –

mento. Conforme apontamos na seção 2.1 deste capítulo, a análise quantitativa dos dados

nos permitiu corroborar a nossa hipótese de que verbos transitivos e inergativos

selecionam preferencialmente o sufixo -ção, ao passo verbos inacusativos selecionam

preferencialmente o sufixo -mento. Tendo em vista esses resultados, a hipótese que

estávamos testando era:

• Hipótese – Experimento 3

Verbos transitivos, bitransitivos e inergativos selecionam preferencialmente o

sufixo –ção e verbos inacusativos selecionam preferencialmente o sufixo –mento.

Na preparação deste experimento, tomamos como base o procedimento descrito

por Nevins e Rodrigues (2014) para o desenvolvimento de um experimento com

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113

logatomas com intuito de investigar se a estrutura argumental dos verbos condiciona a

formação das formas irregulares do particípio em PB. Uma categoria importante que os

autores consideram é a dos verbos psicológicos, atentando para a distinção proposta por

Belletti e Rizzi (1988) de que os verbos psicológicos se distinguem entre os que

apresentam o sujeito experenciador (classe de temere) e aqueles que exibem o objeto

experenciador (classes de preoccupare e piacere).

Antes, contudo, de considerarmos a inclusão da categoria dos verbos psicológicos

em nosso experimento, buscamos realizar um estudo quantitativo com esses verbos a fim

de verificar se havia alguma tendência lexical clara de seleção entre os verbos

psicológicos e os sufixos –ção e –mento. Desse modo, partimos do trabalho de Cançado

(1995), que propõe a classificação da grade temática de 300 verbos psicológicos do PB, a

partir da proposta de Belletti e Rizzi (1988). Considerando essa classificação e utilizando

o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, criamos uma variável ‘sufixo’ que indicava

o sufixo nominalizador responsável por nominalizar estes verbos (-ção, -mento, ambos ou

outro). Dos 300 verbos analisados por Cançado (1995), 197 verbos podem ser

nominalizados por –ção (N = 82; 27,3%) e –mento (N = 67; 22,3%) ou por ambos (N =

48; 16%).

Entretanto, os resultados dos cruzamentos entre os tipos temáticos de sujeitos e de

objetos e os sufixos nominalizadores não exibiram nenhuma tendência clara que

apontassem para alguma relação de preferência entre as categorias analisadas. Desse

modo, decidimos não incluir a categoria dos verbos psicológicos neste experimento sobre

estrutura argumental. Na próxima seção, discutiremos o desenho deste terceiro

experimento.

3.2.1. Desenho do Experimento 3

De maneira semelhante aos dois primeiros experimentos, neste terceiro

experimento com logatomas, o participante recebia como estímulo uma forma infinitiva

de um pseudo-verbo no primeiro período de uma sentença-teste (frame) e uma forma

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114

flexionada (no passado perfeito), no segundo período da sentença. No terceiro período,

havia uma lacuna a qual deveria ser preenchida com nominalização deverbal em –ção ou

–mento formada a partir deste pseudo-verbo. Desse modo, o teste consistia em a pessoa

escolher uma das duas formas possíveis, a partir de uma escala de cinco pontos, conforme

mostra o exemplo abaixo.

(84)

Ao iniciar o teste, os participantes receberam a mesma instrução apresentada na

seção 3.1.1., item (78), esclarecendo como deveriam interpretar a escala de cinco pontos.

Este terceiro experimento consistiu de:

- 24 sentenças-teste: 6 verbos transitivos; 6 verbos bitransitivos; 6 verbos

inacusativos; 6 verbos inergativos, como mostra a Tabela 17.

- 8 sentenças distratoras: morfologia de particípio regular (-ado/-ido) vs. formas

irregulares.

Tabela 17: Pseudo-verbos do Experimento 3

Transitivo Bitransitivo Inacusativo Inergativo

duflar cajar solfar serdar

talicar flugar cidar cirular

cedalar refadar precibar atundar

sorifar pentar felhar modar

balhar pacuntar golar cerdar

litar colifar sipodar supladar

( (- &* (*) 73$ ########### 3

; < = > ?

) * = ):* )###########

; < = > ?

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> * ? " ############### >

; < = > ?

.

- @! ,################# (

; < = > ?

2

(( ) ,( ##############A

; < = > ?

4

5($$* ; , ( > B##############3

; < = > ?

6

5*( >5 * '(> 5> *###############

; < = > ?

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115

Como é possível notar na Tabela 17, todos os pseudo-verbos desse experimento

apresentavam a vogal temática –a-, uma vez que não queríamos a confluência de fatores

fonológicos e sintático-semânticos. Diferentemente dos outros experimentos, neste era

preciso que os frames tivessem mais informação semântica, de maneira que os

participantes recebessem subsídios sintático-semânticos suficientes para apreenderem a

estrutura argumental que queríamos testar.

Para garantirmos que conseguiríamos a leitura desejada, aplicamos um pré-teste

para 4 participantes (todos com formação em linguística em nível de pós-graduação), no

qual solicitávamos que lessem cada um dos frames e indicassem: (i) a qual verbo do

português o pseudo-verbo se assemelhava31, considerando o contexto em questão; e (ii)

se o pseudo-verbo se comportava como transitivo, bitransitivo, inergativo ou inacusativo,

no contexto solicitado. Após analisarmos os resultados desse pré-teste, foi necessário

alterarmos três frames, os quais não apresentavam a leitura esperada (dois bitransitivos e

um inergativo) para nenhum dos participantes. Apresentamos, a seguir, exemplos de

sentenças-teste e distratoras.

(85) Exemplos de sentenças-teste32

Transitivo:

31 No caso deste experimento, em que era necessária a apreensão da estrutura argumental do verbo testado, a associação do contexto sintático-semântico a determinados itens verbais do vocabulário real da língua poderia indicar que o frame apresentava a leitura desejada. Contudo, é importante considerar se todos os participantes do pré-teste elegem um único verbo real como possível para um determinado contexto, uma vez que o comportamento desse verbo poderia ser usado como base para a seleção dos sufixos nominalizadores, enviesando os resultados. 32 As sentenças-teste e as distratoras são apresentadas integralmente no anexo desta tese.

( (- &* (*) 73$ ########### 3

; < = > ?

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%

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2

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4

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; < = > ?

6

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116

Bitransitivo:

Inergativo:

Inacusativo:

(86) Exemplos de sentenças distratoras

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&' " ( ) " )#*+ ", #

-

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8

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; < = > ?

2

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6

7 & 7#############

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5$ >* > & F) ###########

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; < = > ?

53 * , 3##############G3

; < = > ?

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; < = > ?

2

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; < = > ?

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4

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6

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8

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53 * , 3##############G3

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2

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8

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; < = > ?

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; < = > ?

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117

Neste terceiro experimento, aleatorizamos a ordem das sentenças-teste e das

distratoras. Também garantimos que a distribuição das opções de –ção e –mento na

margem esquerda fossem igualadas.

3.2.2. Tratamento da base

Assim como nos dois primeiros experimentos, todo o tratamento da base foi

realizado no software SPSS Statistics Data Editor, a partir da base de dados inicial gerada

pela plataforma Online Pesquisa, em formato xls. Na análise dos dados, também

consideramos apenas as respostas dos testes que haviam sido inteiramente completados e

finalizados.

Conforme mencionamos anteriormente, na escala de 1 a 5 disponibilizada, os

sufixos –ção e –mento apareciam, de maneira simétrica, na margem esquerda. Assim,

também para essa base de dados, igualamos a distribuição de todas as respostas, de modo

que –ção sempre fosse 1 e o –mento sempre fosse o 5.

Neste experimento, a base de dados também foi empilhada, de maneira que cada

resposta de cada participante constituísse uma linha na tabela. Desse modo, cada

participante aparecia 24 vezes na base, o que correspondia às 24 questões respondidas por

ele. Das 24 questões respondidas, 6 apresentavam verbos transitivos; 6 verbos

bitransitivos; 6 verbos inergativos e 6 verbos inacusativos. Esta informação era

codificada por uma variável que indicava o tipo de verbo: TRANS, BITRANS, INERG,

INAC. As respostas dadas pelos participantes constituíram uma variável que

denominamos de 5_Cat. Nesta variável, cada resposta dada equivalia a um valor da

escala usada no experimento, da seguinte maneira:

- 5_Cat:

1 = Apenas -ção 2 = -ção, mas -mento não excluído 3 = Ambos 4 = -mento, mas -ção não excluído

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118

5 = Apenas -mento

Seguindo o procedimento descrito para os dois primeiros experimentos, a partir

dessa variável, criamos outra variável composta de três categorias, resultantes do

agrupamento dos valores 1 e 2; 4 e 5. Essa variável, que denominamos de 3_Cat,

apresentava a seguinte distribuição:

- 3_Cat:

1 = Apenas –ção 2 = Ambos 3 = Apenas –mento Como mencionamos anteriormente, a criação da variável 3_Cat foi importante

para verificarmos, com maior clareza e de maneira menos difusa, as tendências

localizadas nos dados.

Os resultados deste experimento também foram extraídos no software livre R, os

quais discutiremos em detalhe na próxima seção.

3.2.3. Resultados descritivos e testes de hipóteses

No terceiro experimento, tivemos um total de 178 participantes, entretanto,

apenas 116 participantes completaram o teste. Ao empilharmos a base, ficamos com um

total de 2784 casos (=116 x 24 sentenças). Esse valor dividido pelas quatro classes de

verbos, daria 696 casos por tipo de verbo. Entretanto, algumas questões não foram

respondidas pelos participantes, assim, o número final de casos por conjugação foi de:

TRANS = 696 casos; BITRANS = 694 casos; INERG = 689 casos e INAC = 693 casos.

Apresentamos, a seguir, os gráficos com os resultados descritivos. Iremos

considerar aqui apenas os resultados da variável (Cat_3) que considera três categorias

analíticas: apenas –ção; ambos e apenas –mento. Os resultados descritivos para a

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119

variável (Cat_5) que considera as cinco categorias da escala estão disponíveis no anexo

desta tese.

Gráfico 07: Exp.3 - Distribuição dos verbos TRANSITIVOS (N = 696)

Gráfico 08: Exp.3 - Distribuição dos verbos BITRANSITIVOS (N = 694)

41.2

18.8

39.9

.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0

ção Ambos mento

48.3

17.6

34.1

.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0

ção Ambos mento

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120

Gráfico 09: Exp.3 - Distribuição dos verbos INERGATIVOS (N = 689)

Gráfico 10: Exp.3 - Distribuição dos verbos INACUSATIVOS (N = 693)

Como podemos observar nos Gráficos 07-10, há uma distribuição desigual entre

os grupos observados, bem como a distribuição da variável dependente não é uniforme

em cada um dos grupos. No Gráfico 07, podemos notar que a distribuição dos sufixos –

ção e –mento dentro do grupo dos transitivos é bastante equitativa, não havendo,

portanto, uma tendência clara de seleção neste grupo. Nos Gráficos 08 e 09, encontramos

uma tendência clara: verbos bitransitivos e inergativos selecionam preferencialmente o

sufixo –ção. No Gráfico 10 encontramos também uma tendência clara, que aponta,

contudo, para uma direção oposta a dos demais: verbos inacusativos selecionam

preferencialmente o sufixo –mento.

56.9

17.0 26.1

.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0

ção Ambos mento

33.6

17.3

49.1

.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0

ção Ambos mento

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121

Para o experimento 3, seguimos o mesmo procedimento estatístico estabelecido

para os outros experimentos: (i) estimamos o intervalo de confiança das proporções de –

ção e –mento nos grupos TRANS, BITRANS, INERG e INAC; e (ii) realizamos o Teste

de Wilcoxon de comparação em pares dos grupos TRANS, BITRANS, INERG e INAC.

A hipótese nula H0 que estávamos testando é de que não há diferença entre as médias dos

grupos.

-­‐ Comparando proporções de –ção e –mento dentro das conjugações AR, ER, IR

Considerando um nível de confiança de 95%, o intervalo de confiança das

proporções de –ção e –mento nos grupos TRANS, BITRANS, INERG e INAC é o

seguinte:

Tabela 18: Proporções de –ção e –mento nos grupos TRANS, BITRANS, INERG, INAC

TRANS BITRANS INERG INAC

-mento 36.30 43.58 30.62 37.68 22.84 29.41 45.34 52.78

-ção 37.58 44.89 44.55 51.99 53.20 60.59 30.10 37.14

Como podemos observar na Tabela 18, somente no grupo TRANS, os intervalos

de confiança de –mento e –ção se sobrepõem; nos demais grupos (BITRANS, INERG e

INAC) os intervalos de confiança não coincidem. Desse modo, podemos afirmar com

95% de confiabilidade, que nos grupos BITRANS, INERG e INAC são distintas as

proporções entre –mento e –ção. No entanto, no grupo TRANS não podemos afirmar que

são diferentes as proporções de –mento e –ção.

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122

- Testes de Hipóteses

No teste estatístico aplicado para o experimento 3, foram consideradas as

seguintes hipóteses de trabalho:

Hipótese Nula (H0): as médias de -ção e -mento nos grupos TRANS, BITRANS, INERG

e INAC são iguais.

Hipótese Alternativa (H1): as médias de -ção e -mento nos grupos TRANS, BITRANS,

INERG e INAC são diferentes.

Tendo em vista essas hipóteses de trabalho e considerando uma comparação em

pares entre grupos, a aplicação do Teste de Wilcoxon gerou os seguintes resultados.

(87) Teste de Wilcoxon: Comparação em pares dos grupos TRANS, BITRANS,

INERG e INAC

• TRANS vs. BITRANS: p-valor = 0,001

• TRANS vs. INAC: p-valor = 0,001

• TRANS vs. INERG: p-valor = 0,000

• BITRANS vs. INERG: p-valor = 0,000

• BITRANS vs. INAC: p-valor = 0,000

• INERG vs. INAC: p-valor = 0,000

Para esse experimento, como também estamos estabelecendo comparações

múltiplas entre os grupos, iremos aplicar a correção de Bonferroni, dividindo o alpha

desejado (α=0,05) pelo número de comparações realizadas, que no caso deste

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123

experimento são seis. Desse modo, iremos considerar estatisticamente significativos os

resultados cujos p-valores sejam menores que 0,008 (= 0,05/6). Assim sendo, os

resultados em (87) nos permitem aceitar, com 95% de confiabilidade, a hipótese

alternativa (H1) de que são diferentes as médias para todos os grupos comparados.

3.3. Interpretando os fatos

Conforme apontamos no início deste capítulo, considerando que a derivação

sintática procede em termos de fases (Chomsky 2000, 2001), enviadas ciclicamente ao

componente fonológico, argumentamos em Freitas (2014) que as diferenças

morfofonológicas dos sufixos -ção e -mento são resultado de duas propriedades

sintáticas: primeiro, o tipo de estrutura argumental da base verbal; e segundo; o ponto

derivacional no qual a estrutura sintática é enviada à interface FF. Assim, as hipóteses

teóricas que levaram à construção deste trabalho são seguintes:

(H1) Existe uma relação estreita entre os aspectos morfofonógicos dos nomes formados

por -ção e -mento e a estrutura sintática na qual esses afixos são inseridos.

(H2) Diferentes tipos de estruturas argumentais do verbo base são responsáveis pelos

traços de superfície dos sufixos nominalizadores.

(H3) É distinto o ponto derivacional no qual as raízes encaixadas são enviadas ao

componente fonológico.

Essas hipóteses puderam ser corroboradas a partir da análise quantitativa dos

dados lexicais e parecem também se sustentar se incluirmos na análise os resultados

experimentais, conforme discutiremos nas próximas seções. Contudo, vamos antes

recapitular os principais resultados discutidos até agora.

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124

3.3.1. Sumário dos principais resultados

Os resultados experimentais apresentados indicaram, em geral, uma consonância

com os resultados descritivos localizados por Freitas (2014). Houve, contudo, algumas

divergências, conforme apresentamos no quadro sinóptico abaixo.

Tabela 19: Quadro sinóptico dos resultados quantitativos e experimentais

Como podemos observar na Tabela 19, com relação aos resultados acerca das

classes temáticas, somente os verbos em –ir apresentaram diferenças significativas entre

os resultados quantitativos e experimentais: na análise dos dados do dicionário, os verbos

em –ir exibiram uma preferência pelo sufixo –ção, ao passo que, nos resultados

experimentais, observamos uma preferência pelo sufixo –mento (embora no experimento

2 essa tendência não tenha sido tão forte quanto no experimento 1). Esse resultado parece

revelar uma distinção entre um padrão lexical diacrônico, evidenciado pela tendência

Resultados Quantitativos

(Freitas 2014) Resultados Experimentais

Classes temáticas

Verbos em -ar Selecionam preferencialmente o sufixo -ção

Selecionam preferencialmente o sufixo -ção

Verbos em -er Selecionam preferencialmente o sufixo -mento

Selecionam preferencialmente o sufixo -mento

Verbos em -ir Selecionam preferencialmente o sufixo -ção

Selecionam preferencialmente o sufixo -mento

Estrutura Argumental

Verbos Transitivos

Selecionam preferencialmente o sufixo -ção Não apresentou tendência clara

Verbos Bitransitivos Não foi investigado Selecionam preferencialmente o sufixo -

ção

Verbos Inergativos

Selecionam preferencialmente o sufixo -ção

Selecionam preferencialmente o sufixo -ção

Verbos Inacusativos

Selecionam preferencialmente o sufixo -mento

Selecionam preferencialmente o sufixo -mento

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125

localizada nos dados do dicionário e uma reanálise sincrônica e possível mudança ainda

em curso na língua, que neutraliza as classes II e III, tratando-as de maneira semelhante.

Estas questões serão abordadas no Capítulo IV, quando discutiremos a questão da

produtividade diacrônica dos sufixos –ção e –mento.

Ainda sobre as classes temáticas, são interessantes os resultados experimentais

obtidos para a classe II dos verbos em –er. Assim como nos resultados quantitativos,

localizamos, no experimento 1, uma clara tendência de preferência dos verbos em –er

pelo sufixo –mento. Entretanto, esta tendência desaparece no experimento 2, quando

alteramos o estímulo e retiramos o alteamento da vogal temática -e- para [i]. Usamos essa

versão ‘patológica’ do experimento como estratégia para isolarmos os possíveis fatores

que condicionariam a relação de preferência entre as variáveis analisadas. Essa estratégia

se mostrou eficaz, porque averiguamos que a preferência dos verbos em -er pelo sufixo –

mento está condicionada ao alteamento da vogal temática. Quer dizer, no momento em

que a regra não se aplica, a tendência de preferência não é mais atestada.

Finalmente, considerando a classe temática não-marcada em -ar, notamos um

comportamento bastante regular: tanto nos dados quantitativos como nos experimentos 1

e 2, os verbos em –ar demonstraram uma clara preferência pelo sufixo –ção.

Com relação aos resultados acerca da estrutura argumental dos verbos base,

corroborando a nossa hipótese, atestamos que verbos inergativos selecionam

preferencialmente o sufixo –ção e verbos inacusativos selecionam preferencialmente o

sufixo –mento. Embora não tenhamos investigado a distribuição dos verbos bitransitivos

na análise descritiva do léxico, os resultados experimentais indicam que esses verbos

selecionam preferencialmente o sufixo –ção. O grupo dos verbos transitivos foi o único

que não exibiu uma tendência clara, uma vez que as proporções de –ção e –mento são

bastante equitativas.

Na próxima seção, discutiremos uma proposta teórica de interpretação para os

resultados quantitativos e experimentais apresentados neste capítulo.

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126

3.3.2. Proposta teórica

Como vimos na discussão dos resultados quantitativos e experimentais, existem

ao menos dois tipos de fatores que condicionam a inserção dos sufixos –ção e –mento na

formação de um dado nome deverbal: (i) fator sintático: o tipo de estrutura argumental do

verbo base; (ii) fator fonológico: a classe temática do verbo base (a que se soma o

alteamento da vogal temática /e/, neutralizando as classes II em –er e III em -ir).

Em um modelo derivacional de formação de palavra como o da MD, tanto os

processos derivacionais de mudança categorial quanto processos flexionais acontecem na

sintaxe e a atribuição de material fonológico é feita tardiamente, no componente pós-

sintático. Ao assumirmos essa arquitetura de gramática, é preciso considerar que os

processos derivacionais de formação de um nome deverbal acontecem na sintaxe por

meio da concatenação cíclica de uma raiz a núcleos funcionais distintos.

Como discutimos no capítulo anterior, diversos trabalhos (Grimshaw 1990,

Alexiadou e Renhart 2010, entre outros) mostram que nomes deverbais exibem uma

estrutura complexa, que apresenta camadas verbais pertencentes ao verbo que integra a

história derivacional desse nome. Sendo assim, o primeiro estágio derivacional, no

processo de formação do nome, envolve a formação de um verbo. Isto significa que há a

concatenação de uma raiz a um núcleo funcional cíclico v que verbaliza esta raiz.

Contudo, como propusemos na seção 2.1. deste capítulo, determinadas raízes podem

selecionar, por convergência, um DP como complemento. Essa proposta segue a

abordagem de Hale e Keyser (2002) de que verbos transitivos e inergativos apresentam

uma estrutura monádica, composta por um núcleo verbal e um argumento nominal (e.g.

make a fuss V[V DP]). Se assumirmos que o DP é uma fase (cf. Embick 2010), a sua

presença como complemento da raiz pode desencadear o spell-out da raiz no primeiro

estágio derivacional, tão logo o núcleo cíclico v é concatenado à estrutura. Verbos

inacusativos, por outro lado, que apresentam sujeitos derivados (gerados na posição de

complemento), não exibiriam um DP complemento como requisito de convergência.

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127

Assim, as estruturas formadas a partir desses verbos teriam suas raízes processadas

fonologicamente em estágios derivacionais comparativamente mais tardios.

Nesse sentido, é possível argumentarmos que é nesse ponto que temos a

influência do fator sintático na formação dos nomes em –ção e –mento: verbos que

apresentam complementos internos (transitivos, bitransitivos e inergativo)

preferencialmente formam nomes com o sufixo –ção, enquanto verbos inacusativos

preferencialmente formam nomes com o sufixo –mento. Podemos aventar duas hipóteses

de por que temos essa distribuição. A primeira delas se relaciona aos conceitos de

marcação e de produtividade. Como vimos no Capítulo I, o –ção é o sufixo

nominalizador mais produtivo em PB, exibindo larga vantagem em termos numéricos em

relação ao sufixo –mento, que seria o segundo mais produtivo. Este fato já é em si um

critério de explicação por que este sufixo é encontrado em maior número de contextos

sintáticos. Além disso, sendo o sufixo –ção o mais usado e mais geral, é possível

considerá-lo menos marcado do que o sufixo –mento, o que o permite figurar em mais

ambientes, com menos restrições de ocorrência.

A segunda hipótese se relaciona a um aspecto semântico. Embora esses sufixos

sejam tradicionalmente descritos como concorrentes sem bloqueio semântico (cf.

Sandmann 1981, Rocha 1999) e, por vezes, semanticamente neutros (cf. Basílio 1996),

podemos notar sutis diferenças entre eles. Como apontamos no Capítulo I desta tese, é

possível perceber que os nomes em –ção favorecem uma leitura mais eventiva do que os

nomes em –mento, que apresentam uma semântica mais resultativa. Em uma linha

semelhante de análise, Oliveira (2007) também discute as diferenças sintático-semânticas

entre os sufixos -ção e -mento a partir de considerações da MD. Segundo a autora, a

diferença fundamental entre esses dois sufixos nominalizadores é que –ção é um

morfema agentivo/causativo que se adjunge a sintagmas verbais que apresentam a

propriedade de causação não-interna (ou a v-1 nos termos de Marantz 2007), ao passo

que –mento é um morfema não-agentivo, que se concatena a sintagmas verbais que

exibem a propriedade de causação interna, denotando mudança de estado.

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128

Parece interessante relacionar essa abordagem com a nossa proposta, no sentido

que verbos que exibem a propriedade de causação não-interna implicam,

necessariamente, a presença de um agente. Isto é capturado neste trabalho em termos de

classes verbais, uma vez que verbos transitivos, bitransitivos e inergativos, que tendem a

selecionar preferencialmente o sufixo –ção, implicam na projeção de uma posição

especificador, muitas vezes ocupada por um sujeito cujo papel temático é o de agente.

Por outro lado, verbos que apresentam a propriedade de causação interna e denotam

mudança de estado são exatamente os verbos inacusativos, que é a única classe verbal

considerada em que atestamos a preferência pela seleção do sufixo –mento.

Desse modo, parece que a nossa proposta parece se manter e retomamos aqui as

estruturas propostas para a formação dos nomes em –ção e –mento, apresentada nos itens

(69) e (70) deste capítulo e repetidas abaixo.

(88) Estrutura de -ção

28

However, as I have been discussing, there seems to be an important difference

concerning the argument structure of the embedded verb. Our data has shown that there is a

preference for the –mento suffix to occur with unaccusative verbs and for –ção suffix to occur

with unergative and transitive verbs. Thus, we would have the following structures forming the

two types of deverbal nouns:

(28) –mento structure

nP V Spell-Out n AspP V Asp vP V v √P

√𝑅𝑜𝑜𝑡

(29) –ção structure

nP V Spell-Out n AspP V Asp vP V v √P Spell-Out V

√𝑅𝑜𝑜𝑡 DP

I claim that these differences relating the forming syntactic structures in which –mento

and –ção enter are responsible for the morphophonological behavior of the surface nouns,

because they have their root processed in distinct points in the path leading to PF. The embedded

unergative/transitive verb in (29) is firstly merged to its complement, i.e. to DP. As the DP is a

phase, when the cyclic head v is merged to structure, the root and DP are spelled-out. By

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129

(89) Estrutura de -mento

Nas estruturas propostas em (88) e (89), os nomes deverbais formados por -ção e

-mento apresentam uma raiz concatenada a um núcleo cíclico v e a um núcleo não cíclico

Asp, que fornece informações de ação, processo, resultado, etc. A hipótese é de que o

núcleo Asp é o domínio local no qual os expoentes /-mento/ e /-ção/ são inseridos por

meio da inserção vocabular, quando o núcleo cíclico n é concatenado à estrutura.

As diferenças entre essas estruturas se localizam no primeiro estágio derivacional,

no ponto computacional em que a raiz é inserida na sintaxe, que pode requisitar ou não a

presença de um DP complemento por convergência. Assim, raízes que exibem DPs

complementos (como as dos verbos transitivos, bitransitivos 33 e inergativos) são

primeiramente concatenadas a seu complemento, como vemos em (88). O DP sendo uma

fase (cf. Embick 2010), quando o núcleo cíclico v é concatenado à estrutura, a raiz e o DP

são enviados à FF (spelled-out). Por outro lado, em verbos que não requerem a presença

de um DP como complemento (como os inacusativos), a raiz, o núcleo v e o núcleo Asp

serão enviados à interface (spelled out) somente quando o outro núcleo cíclico n é

concatenado à estrutura, como vemos em (89).

Argumentamos que essa diferença no ponto derivacional em que a raiz desses

verbos é enviada ao componente fonológico para ser processada é responsável pelo

33 Nessa abordagem, diferentemente de uma construção de objeto duplo que envolva a presença de uma projeção aplicativa, assumimos aqui que a estrutura de um verbo bitransitivo inclui um sintagma preposicional (SP) que licencia a presença do objeto interno. Este SP não é, contudo, projetado na formação do nome deverbal.

28

However, as I have been discussing, there seems to be an important difference

concerning the argument structure of the embedded verb. Our data has shown that there is a

preference for the –mento suffix to occur with unaccusative verbs and for –ção suffix to occur

with unergative and transitive verbs. Thus, we would have the following structures forming the

two types of deverbal nouns:

(28) –mento structure

nP V Spell-Out n AspP V Asp vP V v √P

√𝑅𝑜𝑜𝑡

(29) –ção structure

nP V Spell-Out n AspP V Asp vP V v √P Spell-Out V

√𝑅𝑜𝑜𝑡 DP

I claim that these differences relating the forming syntactic structures in which –mento

and –ção enter are responsible for the morphophonological behavior of the surface nouns,

because they have their root processed in distinct points in the path leading to PF. The embedded

unergative/transitive verb in (29) is firstly merged to its complement, i.e. to DP. As the DP is a

phase, when the cyclic head v is merged to structure, the root and DP are spelled-out. By

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comportamento morfofonológico dos nomes em -ção e –mento em relação ao alteamento

da vogal temática -e- (categórico nos nomes em –mento) e a alomorfia contextual

condicionada pela raiz. Isto nos levaria ao segundo fator que condiciona a seleção dos

sufixos nominalizadores em questão: o fator fonológico.

Contudo, antes de prosseguirmos, é preciso tecermos alguns comentários sobre a

categoria dos verbos transitivos. Como discutimos, no experimento 3, este foi o único

grupo que não exibiu uma tendência clara de preferência entre os sufixos -ção e –mento.

Essa categoria é a mais volumosa em termos numéricos. Como mostramos na Tabela 06,

60.2% das bases verbais disponíveis em nossa base de dados são transitivos. Desse modo,

essa é possivelmente a classe verbal menos marcada e que abarca, com menos requisitos,

diferentes tipos de sufixos nominalizadores. Além disso, é possível aventarmos também

que, no que se refere a esta classe, outros fatores condicionantes fonológicos e/ou

semânticos podem atuar de maneira mais decisiva na seleção dos sufixos

nominalizadores. Como no experimento 3, buscamos isolar essa variável sintática,

faltaram aos participantes os subsídios necessários à seleção preferencial de um sufixo

em detrimento do outro, resultando em uma distribuição equitativa dos sufixos -ção e –

mento dentro desse grupo.

Retomando a questão do fator fonológico que condiciona a escolha do sufixos

nominalizadores aqui estudados, vimos que há uma correlação entre as classes temáticas

em I, II e III e a escolha preferencial de –ção e –mento: atestamos experimentalmente que

os verbos –ar selecionam prioritariamente o sufixo –ção e os verbos em –er e em –ir

selecionam preferencialmente o sufixo –mento. Essa tendência divergiu parcialmente da

distribuição encontrada no léxico, uma vez que os resultados quantitativos mostraram que

os verbos em –ir ocorriam mais com o sufixo –ção. Somado a isso, averiguamos que, no

que se refere aos verbos em –er, o alteamento da vogal temática –e- para [i] desempenha

um papel fundamental na relação de preferência que esses verbos demonstram pelo

sufixo –mento.

Em Freitas (2014), assumimos a proposta de Embick (2010) de que as vogais

temáticas são morfemas dissociados, inseridos pós-sintaticamente como peças relevantes

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para a boa formação morfológica. A ideia seria a de que raízes são especificadas com

traços diacríticos relativos às diferentes classes temáticas. Adicionalmente, discutimos a

questão da regra em PB que neutraliza as classes II e III das vogais temáticas verbais em

virtude do alteamento da vogal temática –e- (e.g. formas dos particípios regulares em -

ado e –ido; morfemas adjetivais em –ável e -ível). Desse modo, mostramos que se o

paradigma verbal inclui três classes temáticas (sem considerarmos a vogal temática -o-

bastante rara e residual), as formações deverbais preservam somente duas vogais

temáticas: -a- e -i-.

Contudo, essa regra não se aplica aos nomes em -ção. Considerando a estrutura

em (91), argumentamos que os nomes em -ção não seguem a regra de neutralização, em

virtude do ponto derivacional no qual a raiz é enviada ao componente fonológico, i.e. no

momento em que o núcleo v é concatenado à derivação. Assim, o traços diacríticos da

raiz são fonologicamente processados em um estágio de FF ainda pertencente a um

ambiente verbal. Dessa maneira, quando a posição TH é adicionada à estrutura, as vogais

temáticas inseridas são aquelas relevantes aos verbos, i.e. as três classes diferenciadas:

[+I], [+II], ou [+III]. Como consequência, a vogal temática se mostra imune à regra de

neutralização.

Por outro lado, a regra de neutralização é plenamente aplicada aos nomes em –

mento. Em nossa proposta, este fato se deve à hipótese de que há somente um único

ponto derivacional em que a operação de spell-out é desencadeada na derivação sintática

de -mento: tão logo o núcleo n é concatenado à estrutura. Assim, nesse caso, o morfema

dissociado é adicionado como parte de um domínio que não é mais um ambiente verbal,

mas uma estrutura mais complexa, pertencente a uma derivação nominalizada. Por isso,

no momento em que a inserção vocabular acontece, a regra de neutralização é aplicada e

as vogais temáticas inseridas são as aplicáveis aos contextos não verbais, i.e. –a- ou –i-.

Isto também esclarece parte dos resultados experimentais que indicaram que o

alteamento da vogal temática -e- é condição sine qua non para a escolha preferencial do

sufixo –mento: simplesmente porque no ambiente no qual o sufixo –mento é inserido só

há disponível a vogal temática neutralizada [i]. Desse modo, quando alteramos o estímulo

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no experimento 2 e retiramos o alteamento da vogal, criamos um ambiente que já não

mais favorecia a inserção do sufixo –mento.

Aqui, é possível também relacionarmos a questão do fator fonológico ao conceito

de marcação. Como argumenta Oltra-Massuet (1999), nas diversas línguas românicas, as

classes temáticas II e III são consideradas marcadas em oposição à classe temática I. Essa

oposição é atestada por Tang e Nevins (2013) que evidenciam, em um estudo diacrônico

de corpora, o crescimento lexical da primeira conjugação verbal em detrimento das

demais conjugações em espanhol, italiano e português. Interessantemente, os autores

mostram que esse crescimento acontece quase concomitantemente nas três línguas

estudadas, principalmente a partir de 1750, período do início da Revolução Industrial.

Como mostramos na análise do léxico do PB, é de fato absolutamente desigual a

distribuição dos verbos entre as conjugações, uma vez que quase 90% dos verbos

atestados pelo dicionário Houaiss pertencem à primeira conjugação. Isto nos possibilita

aventar a hipótese de que a relação de preferência dos verbos em –ar com o sufixo –ção e

dos verbos em –er e –ir com o sufixo –mento também se vincule a um critério de

marcação: o sufixo derivacional menos marcado é preferido pela conjugação verbal

menos marcada, ao passo que o sufixo mais marcado é preferido pelas classes temáticas

mais marcadas. Esta questão será discutida detalhadamente no próximo capítulo.

É interessante salientar aqui o comportamento dos verbos em –ir observado no

experimento 2. Como apresentamos anteriormente, nesse experimento, alteramos o

estímulo referente aos verbos –er, retirando, nas formas nominais, o alteamento da vogal

temática –e-. Como esperado, houve uma alteração significativa nos resultados:

desaparece a tendência de preferência desse grupo pelo sufixo –mento, observada no

experimento 1. Contudo, houve ainda outra alteração interessante: no grupo dos verbos

em –ir, averiguamos também uma diminuição na relação de preferência desta conjugação

pelo sufixo –mento. A nossa hipótese é que esta alteração identificada no grupo dos

verbos em –ir se relaciona a questão da neutralização das classes II e III. É tamanha a

convergência dessas duas classes, que uma alteração em um dado processo morfológico

em uma das classes pode ter repercussão na outra. Esse resultado parece indicar que essas

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classes realmente compõem um grupo coeso, marcado, que se contrapõe a classe não-

marcada em –ar.

Finalmente, diferenças das estruturas argumentais bases podem ser também

apontadas como responsáveis pela alomorfia contextual condicionada pela raiz.

Argumentamos, seguindo Embick (2010), que o núcleo cíclico v ao se concatenar a raiz

tem acesso a ela. Assim, os formativos verbalizadores estão sujeitos à estrutura da raiz. O

formativo –ec(er) em muitos casos se relaciona aos verbos inacusativos: escurecer,

amarelecer, adoecer, etc. Por outro lado, o formativo –iz(ar) em muitos casos forma

verbos agentivos (tanto transitivos como inergativos): gramaticalizar, hospitalizar, etc.

Assim, a relação de preferencia entre -mento e -ecer, e entre -ção e -izar pode ser

explicado pelo tipo de estrutura argumental que o núcleo Asp seleciona.

Somado a isso, podemos considerar que essa relação de preferência se

circunscreve também no padrão geral de preferência que atestamos entre as classes

temáticas e os nominalizadores –ção e –mento. Desse modo, embora possamos perceber

uma semântica inacusativa no formativo –ec e uma semântica agentiva no formativo –iz,

é preciso considerar também a vogal temática desses verbos: verbos com vogal temática

–e- selecionam preferencialmente –mento e verbos com vogal temática –a- selecionam

preferencialmente –ção. Assim sendo, parece que existe uma confluência de fatores

favorecedores que atuam nessa relação de preferência.

Com relação à impossibilidade de ocorrência dos formativos -mentar com o

sufixo -mento e o formativo -cionar com o sufixo –ção, argumentamos que há uma

restrição morfotática que não permite dois itens similares consecutivos. Assim, como

resultado de um processo dissimilativo, os expoentes –ção e –mento são inseridos

alternadamente no núcleo Asp.

Apresentamos, abaixo, uma representação esquemática do modelo interpretativo

proposto para os fatos discutidos neste capítulo.

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(90)

No próximo capítulo, iremos discutir a questão da produtividade diacrônica dos

sufixos –ção e –mento e traçaremos uma formalização em termos de marcação para as

classes temáticas verbais do PB.

Sintaxe Componente Fonológico

TRANS, BITRANS, INERG

TH

-a-, -e-, -i- /-ção/

INAC -a-, -i- /-mento/

ASP

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CAPÍTULO IV

PRODUTIVIDADE MORFOLÓGICA, DIACRONIA E FORMALIZAÇÃO TEÓRICA

Consulting a dictionary (…) is the closest we can come to the lexicon of a speaker’s language.

(Aronoff, 1976; p. 116)

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O termo produtividade é amplamente utilizado em estudos de morfologia

derivacional (Aronoff 1976, p.34). Hockett (1958, p.575 apud Bauer 2001) denomina de

‘produtividade’ a propriedade da língua que nos permite dizer coisas que nunca foram

ditas antes. Para alguns autores, um processo morfológico é produtivo ou não (Booij

1977; Zwanenburg 1983); já para outros, existem diferentes graus de produtividade. Por

exemplo, para Dik (1967), um processo morfológico é plenamente produtivo se este se

aplica a uma classe aberta de bases e todos os possíveis outputs são aceitos pelos falantes

nativos; e semi-produtivo se este se aplica a uma classe aberta de bases e somente

determinados outputs são aceitos pelos falantes nativos. Se a classe de bases é fechada

(i.e. se é possível listar as bases apropriadas) a formação é improdutiva.

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Rainer (1978 apud Bauer 2001) afirma que, em geral, as definições de

produtividade disponíveis na literatura levam em consideração: (i) a frequência de

palavras formadas (outputs); (ii) o número de bases disponíveis (inputs); (iii) a proporção

de palavras potencialmente criadas por um processo particular; (iv) a possibilidade de

formação de novas palavras; (v) a probabilidade de novas formas ocorrerem; (vi) o

número de novas formas que ocorrem em um determinado período de tempo.

Segundo Aronoff e Lindsay (2014), a linguística moderna tem se pautado, de

maneira bastante bem sucedida, no entendimento de que línguas são sistemas, cujos

padrões são, em geral, tidos como discretos. Contudo, a morfologia e os estudos de

produtividade morfológica têm representado um desafio para qualquer teoria de

linguagem que foca em regularidade e discrição (discreteness). No âmbito da morfologia

flexional, por exemplo, diversos autores (Aronoff 1976, Pinker 1999, entre outros)

buscam integrar fenômenos regulares e irregulares, explorando a ideia de que itens

irregulares, listados no léxico, poderiam bloquear suas contrapartes regulares. Desse

modo, o passado irregular do verbo ‘cantar’ em inglês sang bloquearia a forma regular

*singed, que seria produto da aplicação da regra default de passado que adiciona o sufixo

–ed aos verbos. Regras default são altamente produtivas, uma vez que se aplicam

amplamente a diversos ambientes, com exceção daqueles domínios cobertos por regras de

escopo limitado.

No que concerne aos processos derivacionais de formação de palavras, um

trabalho fundamental que discute questões de produtividade relativa de sufixos

concorrentes em inglês é o de Aronoff (1976). Nesse estudo, o autor define a competição

de sufixos concorrentes também em termos de bloqueio, sugerindo que a não ocorrência

de uma determinada forma se deve a simples existência de outra (Aronoff 1976, p.43).

Nesse sentido, bloqueio seria uma propriedade discreta (cf. Aronoff; Lindsay 2014).

Contudo, pesquisas mais recentes têm mostrado que existem interações sutis que são

dificilmente capturadas em termos discretos: considerando a rivalidade entre pares (ou

conjuntos) de afixos, e não somente entre pares de palavras, é possível verificar que,

quando uma palavra bloqueia a outra, a palavra ‘bloqueada’ pode ainda ocorrer com um

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sentido distinto, que não seria o normalmente atribuído a ela, caso ela não exibisse um

rival.

Aronoff e Lindsay (2014) discutem, por exemplo, a distribuição dos sufixos –

ness, -ce e –cy em inglês que formam nomes abstratos a partir de adjetivos, em palavras

como pleasantness, elegance e buoyancy. O sufixo –ness é, em geral, o sufixo default

formador de nomes abstratos no amplo domínio dos adjetivos; contudo, os outros dois

sufixos -ce e –cy podem ser mais produtivos em determinados ambientes. O sufixo –cy,

mesmo sendo o menos produtivo, é o mais favorecido quando a palavra termina em –ate:

piracy, profligacy, delegacy. Por outro lado, -ce é mais produtivo quando as palavras

terminam em –ent e –ant: diligence, dependence, resistance. Entretanto, em nenhum

desses casos, é possível dizer que os sufixos rivais são completamente bloqueados. Pares

como coherence/coherency, persistence/persistency, e compliance/compliancy são

recorrentes e se distinguem em virtude dos nomes em –nce exibirem um sentido de ação

ou processo e os nomes em –ncy exibirem um sentido de qualidade, estado ou condição.

Os autores concluem, dessa forma, que a tentativa de conceituação da produtividade nos

processos de formação de palavras em termos discretos tem se mostrado infrutífera.

Contudo, progressos têm sido alcançados quando a produtividade é abordada em termos

de gradações, a partir do uso de métodos quantitativos.

1.2. Quantificando a produtividade

Segundo Bauer (2001), a primeira tentativa de se mensurar produtividade foi

proposta por Aronoff (1976), a partir da razão entre as palavras realmente produzidas por

uma dada regra de formação de palavras (doravante RFP) e as palavras potencialmente

produzidas a partir desta regra. Baayen e Lieber (1991, p.803) formalizam essa razão

como:

(91) I = V/S

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Em (91), I é o índice de produtividade, V é o número de tipos reais e S é o

número de tipos que uma dada RFP poderia originar. Os autores apontam, contudo,

alguns problemas nessa fórmula de medição. Primeiro, a noção de palavra real não é

facilmente mensurável. A única possibilidade de se encontrar um número concreto de

ocorrências seria em um corpus, que pode, entretanto, não exibir todos os usos de um

determinado processo produtivo. Segundo, não é sempre claro qual o número de palavras

potenciais formadas a partir de um processo. Assim, se S se mantém, em princípio,

inumeravelmente infinito, toda RFP produtiva apresentaria o índice de produtividade

zero. Embora não seja necessariamente verdade que o número de bases possíveis é

infinito, o ponto importante é que processos produtivos podem não diferir drasticamente

por meio dessa medição. Por essa razão, os autores concluem que a fórmula de Aronoff é

interessante para se medir casos não produtivos de formação de palavras.

Aronoff (1983), ao comparar as palavras em –ivity e em –iveness em inglês, nota

que a média da frequência de tokens de palavras formadas por processos produtivos é

geralmente mais baixa do que a das palavras correspondentes formadas por processos não

produtivos. A explicação para esse padrão se relaciona ao fato de que palavras que

pertencem a processos não-produtivos devem ser, por definição, lexicalizadas. Um

aspecto da lexicalização é a especialização semântica, i.e., a idiomatização. Assim,

palavras lexicalizadas apresentam significados especializados. Por outro lado, palavras

produzidas produtivamente podem ter um único significado composicional, que emerge

do processo morfológico. A implicação disso é que frequência de tokens é apontada como

uma medida indireta da complexidade semântica que, por sua vez, se relaciona a certos

graus de produtividade.

Além disso, há um consenso de que produtividade se relaciona à capacidade de

um dado processo morfológico dar origem a novas palavras (Baayen 1993, p. 183). Uma

maneira de se localizarem neologismos, especialmente em grandes corpora, seria por

meio do estudo das denominadas hapax legomena, ou seja, palavras que ocorrem uma

única vez em determinado corpus. Tendo em vista essas noções, Baayen (1989) sugere

uma nova medida de produtividade (P), que denomina de Category-Conditioned Degree

of Productivity:

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139

(92) P = !1!

Em (92), n1 é o número de palavras formadas pelo processo morfológico

apropriado que ocorrem uma única vez em um corpus (hapax legomena) e N é frequência

total de tokens das palavras criadas por esse processo no corpus. Essa medida de Baayen

é uma tentativa de dar tratamento estatístico à probabilidade de se encontrarem novas

palavras que revelem novos tipos (Baayen 1993, p. 183). Entretanto, essa medida não

considera a frequência de tipos. Baayen (1992; Baayen; Lieber 1991) inclui esta

frequência em uma medida de produtividade global que o autor denomina de P*. P* é

mostrado em um gráfico bidimensional, com P no eixo horizontal, e V (número de

diferentes tipos em um corpus) no eixo vertical. Se nesse gráfico um processo é marcado

no canto inferior esquerdo, é possível dizer que o processo é improdutivo; e se o processo

for marcado no canto superior direito, o processo é extremamente produtivo.

Baayen (1993:192) propõe ainda uma terceira medida de produtividade, que

também rotula de P*, denominada de grau de produtividade condicionado à hapax

(hapax-conditioned degree of productivity). A medida P* considera o número de hapaxes

de uma categoria apropriada como uma proporção do número total de hapaxes no corpus.

(93) P* = !1,!,!1!1

Em (93), E indica a categoria morfológica apropriada (e.g. nomes terminados em

–ism), t indica o número de tokens no corpus e h é o número de hapaxes. Assim, a linha

superior da fórmula deve ser lida como ‘o número de palavras da categoria morfológica

apropriada que ocorrem uma única vez no corpus’. Segundo Baayen (1993), essa medida

apresenta uma função distinta da medida P. O principal uso de P é diferenciar entre

processos produtivos e não produtivos de formação de palavras, ao passo que P* permite

ranquear processos produtivos de acordo com seus graus de produtividade.

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140

Bauer (2010, p.150) aponta que é importante questionar se hapaxes em um corpus

podem corresponder de maneira significativa a novas palavras em uso real. Quanto maior

o número de tipos possíveis, maior será a possibilidade de nem todos estarem presentes

em um determinado corpus. Adicionalmente, é fundamental considerar o tamanho da

amostra, uma vez que quanto menor for a amostra, menos confiáveis serão as possíveis

conclusões a respeito da produtividade de um dado processo.

1.3. Variação diacrônica na produtividade morfológica

Os estudos de produtividade morfológica em termos diacrônicos têm mostrado

que dicionários eletrônicos são ferramentas interessantes de pesquisa, porque permitem a

investigação de como uma determinada estrutura morfológica se tornou mais ou menos

produtiva através do tempo (Aronoff; Lindsay, 2014).

Anshen e Aronoff (1999) discutem mudanças na produtividade dos sufixos –ity e

–ment através do tempo, a partir do Oxford English Dictionary (doravante OED). Usando

as ferramentas de pesquisa avançada, é possível buscar todas as palavras que apresentam

um determinado critério de busca, por exemplo, todas as palavras que terminam no sufixo

–ity. Cada entrada lexical no OED contém definições, informação etimológica e a datação

da primeira e da última citação da palavra. Essa datação pode ser usada como um

indicador aproximado do nascimento e da morte de um dado processo morfológico na

língua (Anshen; Aronoff 1999, p.19).

Segundo os autores (Ibidem, p. 20), comparações entre pares de afixos podem ser

desafiadoras. Um exemplo bastante estudado é o paralelo entre os sufixos –ity e –ness,

uma vez que ambos competem produtivamente, durante uma boa parte de um milênio,

pelo mesmo ‘nicho ecológico’ na língua. Os dois sufixos formam nomes abstratos a partir

de adjetivos, contudo, -ness é um sufixo germânico cuja origem é anterior à história do

inglês escrito; ao passo que –ity é um sufixo de origem latina, cujas formas mais recentes

são emprestadas do francês.

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141

Contudo, quando o sufixo –ity é comparado com o sufixo –ment, que também

apresenta origem latina, são atestadas diferenças interessantes em suas distribuições:

enquanto –ity permanece como um sufixo produtivo em inglês moderno, o sufixo –ment

não é mais produtivo sincronicamente e seu uso se restringe, como componente

fossilizado, a palavras estabelecidas (Aronoff; Lindsay 2014). Ambos os sufixos

apresentam um declínio das formas emprestadas a partir de 1651, a diferença é que o

sufixo –ment não exibe um crescimento de formas derivadas como mostra o sufixo –ity,

como podemos observar na tabela abaixo adaptada de Anshen e Aronoff (1999, p. 23).

Tabela 20: Novas formas derivadas em –ment e -ity

Meio século -ment derivado -ity derivado

1251–1300 6 1

1301–1350 10 1

1351–1400 19 11

1401–1450 15 11

1451–1500 37 16

1501–1550 60 22

1551–1600 174 64

1601–1650 217 206

1651–1700 76 241

1701–1750 40 108

1751–1800 37 177

1801–1850 158 435

1851–1900 142 502

1901–1950 26 298

1951–2000 4 179

Fonte: Anshen e Aronoff (1999, p. 23)

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142

Interessantemente, até 1551 havia aproximadamente o mesmo número de novos

verbos e de novos adjetivos compondo o léxico em inglês. Durante esse período, o

sufixo –ment era mais produtivo do que o sufixo –ity. Contudo, é observada uma

diminuição no número de novos verbos quando comparado ao número de novos

adjetivos, especialmente a partir de 1601. Desse modo, os autores concluem que –ity teve

um aumento sucessivo no número de possíveis alvos para atuar, ao passo que o declínio

das formas derivadas em –ment coincide com a mudança no número de novos verbos.

Essa diminuição no número de possíveis bases para formação dos nomes em –ment

parece ter alterado o padrão de produtividade desse sufixo.

As palavras em –ment que sobreviveram no léxico do inglês nunca possibilitaram

o ressurgimento da produtividade desse sufixo. É interessante notar que uma língua pode

exibir em seu léxico um número considerável de palavras de um dado processo

morfológico sem que isto implique, necessariamente, a existência sincrônica de um

padrão produtivo.

A mudança na produtividade do sufixo –ment também é atestada por Bauer (1983

apud Bauer 2001), a partir das datações também indicadas no OED. Segundo o autor, a

produtividade do sufixo –ment em inglês apresenta dois picos de crescimento: o primeiro

no início do século XVII e outro no início do século XIX. Contudo, a sua produtividade

diminui drasticamente no século XX, com apenas uma única palavra nova atestada a

partir dos anos 50 (e.g. underlayment em 1956). Os resultados de Bauer variam um pouco

em relação aos resultados apresentados por Anshen e Aronoff (1999), especialmente no

que se refere ao número de novas ocorrências em –ment atestadas no século XX. Essa

diferença nos resultados provavelmente está relacionada às versões do OED consultadas

para a realização das pesquisas.

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143

1.4. Objetivos do Capítulo

Tendo em vista as noções discutidas até aqui, este capítulo tem por intuito,

primeiramente, apresentar e discutir os resultados de um estudo piloto que realizamos

visando traçar um percurso diacrônico dos padrões de produtividade dos sufixos –ção e –

mento, a partir das datações das palavras disponíveis no Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa. As palavras cujas datações foram investigadas são aquelas que compõem a

nossa base de dados (Freitas 2014), uma vez que queríamos nos certificar de dois

pressupostos: primeiro, que a amostra fosse aleatória; e segundo, que as palavras

investigadas fossem deverbais.

Iremos, ainda, estabelecer um paralelo entre os nossos resultados com os

resultados de um estudo diacrônico de corpora desenvolvido por Tang e Nevins (2013),

relacionados ao aumento do tamanho do vocabulário verbal e crescimento da

produtividade da conjugação –ar, em detrimento das conjugações –er e –ir, em

português, italiano e espanhol.

Tendo apresentado e discutido os dados de variação diacrônica da produtividade

dos sufixos –ção e –mento, o segundo objetivo deste capítulo é propor uma formalização

teórica que articule a proposta desenvolvida no Capítulo III desta tese, especialmente no

que se refere às classes temáticas verbais, ao conceito de marcação.

2. TANG E NEVINS (2013)

Tang e Nevins (2013) discutem a perda da produtividade do padrão morfológico

em L, em português, italiano e espanhol, em um estudo diacrônico de corpora. Em

diversas línguas românicas, existem verbos que exibem um padrão morfológico em que

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144

há uma relação entre a primeira pessoa singular do indicativo e as formas do subjuntivo,

como mostra o exemplo abaixo em português.

(94) Padrão em L em português (Nevins; Rodrigues 2012 apud Tang; Nevins 2013)

Indicativo Subjuntivo

1sg dig-o dig-a

2sg diz-es dig-as

3sg diz dig-a

Diacronicamente, a forma em L é uma consequência da vogal temática que segue

as raízes causando palatalização. Na II/III conjugação, as formas de 1sg do indicativo e as

formas do subjuntivo apresentam uma vogal [+posterior] que combina com a alternante

velar, enquanto as demais formas exibem uma vogal [-posterior] que combina com a

alternante palatal/coronal.

Em um estudo experimental, Nevins e Rodrigues (2012) mostram que esse padrão

não é mais sincronicamente produtivo para os falantes de português, espanhol e italiano.

Para Tang e Nevins (2013), padrões morfológicos irregulares deixaram de ser produtivos

nos sistemas verbais de línguas românicas em virtude do aumento significativo do

número total de verbos. Para verificarem essa hipótese, os autores estabelecem duas

questões de pesquisa:

(1) O tamanho do vocabulário verbal aumentou ou permaneceu constante

diacronicamente?

(2) Se os novos verbos que entram na língua são alocados na classe em –ar, isto

poderia gradualmente obscurecer os verbos que pertencem às conjugações em –er

e –ir, que exibem a forma em L?

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145

Para responder a essas questões, os autores conduziram um estudo em corpora

históricos de acesso livre. A questão 1 foi testada para o inglês, português, italiano e

espanhol. A questão 2 foi examinada para português, italiano e espanhol. Os corpora

estudados foram:

- Inglês: CLMET 3.0 (Diller; De Smet; Tyrkkö 2011).

- Português: Corpus do Português (Davies; Ferreira 2006) e Colonia (Marcos;

Martin 2013).

- Italiano: Google Italian Ngram (Lin et al. 2012) e DiaCoris (Onelli; Proietti;

Seidenari; Tamburini 2006).

- Espanhol: Google Spanish Ngram (Lin et al. 2012) e IMPACT-es (Sánchez-

Martínez, Martínez-Sempere, Ivars-Ribes; Carrasco 2013).

Ao conduzirem a investigação nos corpora mencionados, os autores

estabeleceram três estratégias metodológicas: (i) para terem dois corpora de tamanhos

comparáveis, os autores reduziram o tamanho do maior corpus por meio da criação de

amostras aleatórias; (ii) para estimarem mudanças temporais, três períodos de tempo

foram considerados: 50, 25 e 10 anos; (iii) foram consideradas duas formas verbais

quando o corpus não era lematizado: a forma infinitiva e a primeira pessoa singular do

tempo passado.

Para a questão 1, os autores mensuraram o tamanho do vocabulário verbal nas

três línguas românicas analisadas e em inglês e verificaram que em todas as línguas

houve um aumento do tamanho do vocabulário através do tempo. Em inglês, foi

observado um aumento consistente do tamanho do vocabulário em um período de 200

anos, entre 1710 e 1909. Em português, o vocabulário aumenta em um período de 400

anos, entre 1525 e 1924, com um pico de crescimento entre 1750-1774. Em italiano, o

vocabulário cresce em um período de 450 anos, entre 1550 e 1999, com um aumento

substancial entre 1750-1774, de maneira semelhante ao português. Em espanhol,

vocabulário aumenta em um período de 475 anos, entre 1522 e 1996, com um aumento

substancial entre 1722-1746, assim como foi identificado em português e italiano.

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146

Interessantemente, os picos de crescimento localizados nas três línguas românicas

coincidem com o período da revolução industrial na Europa.

Para investigar a questão 2, os autores consideraram a produtividade relativa das

conjugações em –ar, -er e –ir, por meio de dois métodos: (i) calculando a razão entre –ar

e a soma de –er e –ir (∑ar/∑er +∑ir); e (ii) usando o teorema de Yang (2005) para

estimar a produtividade dos verbos em –ar (M≈N/ln(N)), onde M é o número de formas

irregulares e N é o número de verbos). Os dois métodos utilizados exibiram tendências

quase idênticas. Em português, foi localizado um aumento na produtividade de –ar

depois do período entre 1750-1774. Em italiano, a tendência encontrada aponta para um

aumento da produtividade de –ar de 1861 até 2001. Em espanhol, a tendência também

aponta para um aumento da produtividade de –ar, com um pico entre 1747 e 1771.

Para verificarem se as tendências de produtividade localizadas estariam

relacionadas com o aumento do tamanho do vocabulário, os autores conduziram um teste

de correlação nas amostras aleatórias dos corpora Colonia, Google Italian Ngram e

Google Spanish Ngram. Em todas as três línguas analisadas, foi encontrada uma forte

correlação (r entre 0.7-0.8, p<0.007) entre a produtividade da conjugação –ar e o

aumento do vocabulário.

Segundo os autores, esses resultados conjuntamente sugerem que quando um

verbo novo entra na língua, é bastante provável que ele seja alocado na classe em –ar,

assim, com o passar do tempo, a saliência das formas irregulares em –er e –ir é superada,

deixando o padrão da forma em L sincronicamente improdutivo.

3. VARIAÇÃO DIACRÔNICA NA PRODUTIVIDADE DE –ÇÃO E –MENTO

Neste estudo piloto, buscamos seguir os procedimentos sugeridos por autores

(como Bauer 1983; 2001; Anshen e Aronoff 1999; entre outros) que estudaram

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diacronicamente questões de produtividade morfológica a partir do uso de dicionários.

Como apontam Aronoff e Lindsay (2014):

Detailed historical dictionaries, such as the Oxford English Dictionary (OED), can provide a rough, but nonetheless insightful, diachronic survey of productivity. They allow us to address a different question from most studies of morphological productivity. Rather than what it means for a given morphological structure to be more or less productive than another, they allow us to study how a given morphological structure has become more or less productive over time.

A nossa intenção aqui é traçar um percurso preliminar da variação diacrônica

ocorrida no padrão de produtividade dos sufixos –ção e –mento. Como mencionamos

anteriormente, esses sufixos são considerados os nominalizadores mais produtivos

sincronicamente (Sandmann 1988; Basilio 1996; 2004; entre outros). Contudo, nos

interessava rastrear essa produtividade ao longo do tempo, de modo a verificar os padrões

diferenciais que esses morfemas por ventura exibissem.

Adicionalmente, iremos confrontar os nossos resultados com os resultados de

Tang e Nevins (2013), no que se refere ao aumento do vocabulário verbal e a

produtividade das conjugações verbais –ar, -er e –ir em português, espanhol e italiano. A

hipótese que pretendemos investigar é que o crescimento da produtividade da conjugação

–ar, em detrimento das conjugações em –er e –ir, teve implicação sobre a produtividade

dos sufixos –ção e –mento, uma vez que atestamos (no Capítulo III desta tese) que a

classe temática é fator condicionante na seleção destes morfemas. Assim, a expectativa

seria de que o aumento na produtividade da classe em –ar, a partir principalmente da

segunda metade do século XVIII, pudesse favorecer a produtividade do sufixo –ção.

Assim, a hipótese que estávamos testando era:

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• Hipótese – Variação diacrônica da produtividade de –ção e –mento

A produtividade do sufixo –ção é incrementada a partir do século XVIII, quando é

observado um aumento do vocabulário verbal e da produtividade da primeira

conjugação.

Para realizarmos este estudo, utilizamos a versão eletrônica 1.0 do Dicionário

Houaiss da Língua Portuguesa. Nesse dicionário, as entradas lexicais contam, em geral,

com informações etimológicas e a datação do primeiro registro escrito da palavra, além

de definições e sinônimos. Contudo, não são todas as entradas que dispõem de

informação sobre a datação. Além disso, as datações variam de registro: algumas indicam

o ano exato (e.g. 1789, 1836, etc.); outras indicam períodos de tempo (e.g. 1847-1881,

etc.) e outras indicam o século (e.g. s XIII, s XVII, etc).

As palavras que analisamos neste estudo compunham a nossa base de dados

(Freitas 2014). Decidimos trabalhar com essas palavras por dois motivos: primeiro,

porque queríamos garantir a aleatoriedade da amostra; e segundo, porque queríamos focar

nas palavras formadas por –ção e –mento que atestadamente fossem derivadas de

contextos verbais.

Como apresentamos no Capítulo III desta tese, no dicionário eletrônico Houaiss

da Língua Portuguesa, existem 4580 palavras que apresentam o sufixo -ção e 2772

palavras que apresentam o sufixo -mento (totalizando 7352 palavras). A partir desse total

de palavras, geramos uma amostra aleatória composta de 2715 palavras (1045 formadas

por -mento e 1670 formadas por -ção). Como mencionamos anteriormente, dessa

amostra, excluímos as palavras que não eram derivadas de bases verbais (fragmento,

argumento, cupim-cabeção, vegetação, etc.) Os casos excluídos resultaram em um total

de 540 palavras. Na tabela 21, a seguir, vemos a distribuição dos casos selecionados na

amostra.

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Tabela 21: Distribuição dos casos selecionados

Sufixos N %

mento 941 43,3

ção 1234 56,7

Total 2175 100,0

Das 2175 palavras presentes em nossa base de dados, encontramos no dicionário a

datação de apenas 1064 palavras (699 palavras com –ção e 365 palavras com –mento), o

que representa 48,9% do total das palavras investigadas. Como mencionamos, as

datações apresentavam diferenças de registro, por isso, padronizamos todas as datações

por século, como mostram os exemplos abaixo, organizados pela coluna ‘Século’. A base

de dados com a datação das palavras é apresentada integralmente no anexo desta tese.

Tabela 22: Exemplos de padronização das palavras por século

Palavra Sufixo Datação_Houaiss Século

perfilhação ção 985 X

partição ção 1192 XII

povoação ção 1255 XIII

alçamento mento XIII XIII

reconhecimento mento 1320 XIV

tiramento mento XIV XIV

reclamação ção 1409 XV

canonização ção XV XV

instrução ção 1501 XVI

talamento mento XVI XVI

libertação ção 1562 - 1575 XVI

consolidação ção 1601 XVII

cruzamento mento XVII XVII

atilamento mento 1645 - 1647 XVII

cintilação ção 1704 XVIII

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calafetamento mento XVIII XVIII

pressentimento mento 1805 XIX

acanalamento mento XIX XIX

amuamento mento 1817 - 1819 XIX

desconcentração ção 1907 XX

embalsamento mento XX XX

reflorestação ção 1935 - 1958 XX

Como é possível verificar nos exemplos da Tabela 22, um mesmo século pode

corresponder até três tipos de notação: ano, período e século. Desse modo, criamos uma

variável século cuja função era a de padronizar as informações disponíveis na variável

datação. Além dessas duas variáveis relativas aos períodos temporais, mantivemos

também a variável sufixo, que indica se a palavra é formada por –ção ou –mento. O

tratamento da base de dados foi realizado em Excel e, em seguida, exportamos a base

tratada ao software SPSS Statistics Data Editor, no qual extraímos os resultados. Na

próxima seção, discutiremos os resultados da análise estatística da base de dados.

3.1. Resultados

Nesta seção, apresentaremos os principais resultados da análise de estatística

descritiva que fizemos da base de dados. Como tínhamos a intenção de traçar um

percurso preliminar dos padrões de produtividade dos sufixos –ção e –mento

paralelamente, analisamos os dois sufixos em conjunto, a partir do cruzamento da

variável sufixo e da variável século. Os resultados descritivos34 desse cruzamento podem

ser verificados na Tabela 23 e no Gráfico 11 a seguir.

34 Não incluímos testes de inferência estatística para esse cruzamento, em virtude das características das variáveis, que exibem células com menos de cinco casos.

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151

Tabela 23: Distribuição das palavras em –ção e –mento por século

Como mencionamos anteriormente, é atestado para o português (cf. Tang; Nevins

2013) que houve um aumento do vocabulário verbal, bem como da produtividade da

conjugação –ar, principalmente a partir da segunda metade do século XVIII. Assim, é

interessante observar na Tabela 23 que até o século XV (especialmente após o século

XIII) havia mais formas com o sufixo –mento. Contudo, essa tendência se inverte a partir

do século XVI, podendo ser observado um aumento substancial das formas em –ção, com

ção mento

N 1 0 1

% em Séc. 100.0% .0% 100.0%

N 2 0 2

% em Séc. 100.0% .0% 100.0%

N 18 29 47

% em Séc. 38.3% 61.7% 100.0%

N 35 50 85

% em Séc. 41.2% 58.8% 100.0%

N 65 77 142

% em Séc. 45.8% 54.2% 100.0%

N 65 18 83

% em Séc. 78.3% 21.7% 100.0%

N 77 21 98

% em Séc. 78.6% 21.4% 100.0%

N 99 26 125

% em Séc. 79.2% 20.8% 100.0%

N 239 93 332

% em Séc. 72.0% 28.0% 100.0%

N 98 51 149

% em Séc. 65.8% 34.2% 100.0%

N 699 365 1064

% em Séc. 65.7% 34.3% 100.0%

SufixoTotal

XIX

XX

Século

Total

X

XII

XIII

XIV

XV

XVI

XVII

XVIII

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152

um pico de crescimento no século XIX. Essas tendências podem ser observadas no

Gráfico 11 abaixo.

Gráfico 11: Distribuição das palavras em –ção e –mento por século

3.2. Interpretando os resultados

Como discutimos anteriormente, Tang e Nevins (2013) apresentam dois principais

resultados de um estudo diacrônico de corpora: (i) houve um aumento no tamanho do

vocabulário verbal em português, espanhol e italiano, com destaque para o período por

volta de 1750, que coincide com o início da revolução industrial na Europa, em que todas

as três línguas exibiram um pico de crescimento; e (ii) nas três línguas foi observado um

aumento da produtividade da conjugação em –ar, em detrimento das outras duas

conjugações em –er e –ir. Estes dois resultados se mostraram correlacionados, indicando

que o aumento da produtividade dos verbos em –ar coincide com o aumento no tamanho

do vocabulário verbal nas três línguas. Isto significa que se um verbo novo entra na

0

50

100

150

200

250

300

X XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX

Século

ção

mento

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153

língua, ele é provavelmente alocado na primeira conjugação. Uma consequência deste

fato é o obscurecimento de padrões irregulares pertencentes às classes temáticas II e III,

como o padrão em L analisado pelos autores.

No que se refere aos sufixos estudados nesta tese, nossos resultados apontaram

para um aumento da produtividade do sufixo –ção a partir do século XVI, com um pico

de crescimento no século XIX. O sufixo –mento, por outro lado, apresentava mais formas

até o XV (em relação ao sufixo –ção) mas, entre o século XVI e XVIII, exibe uma

diminuição em sua produtividade, que é retomada apenas no século XIX. Contudo,

mesmo com esse crescimento observado nesse período, o padrão de produtividade do

sufixo –mento se mostra aquém daquele exibido pelo sufixo –ção.

Esses resultados coincidem de maneira interessante com os resultados de Tang e

Nevins (2013). Como discutimos no Capítulo III desta tese, atestamos, tanto na análise

quantitativa do léxico quanto nos dados experimentais, que a classe temática da base

verbal é um importante fator que condiciona a seleção dos sufixos –ção e –mento. Na

análise quantitativa lexical, averiguamos que os verbos em –ar e em –ir selecionam

preferencialmente o sufixo –ção, ao passo que os verbos em –er, selecionam

preferencialmente o sufixo -mento. Por outro lado, os nossos resultados experimentais

evidenciaram que, sincronicamente, tanto os verbos em –er quanto os verbos em –ir

selecionam preferencialmente o sufixo –mento, enquanto que os verbos em –ar

selecionam o sufixo –ção.

Desse modo, a primeira relação que podemos estabelecer seria entre o aumento da

produtividade da conjugação –ar e o aumento da produtividade do sufixo –ção. Em

ambos os casos, é notado um crescimento na produtividade a partir do século XVI. Além

disso, é interessante salientar que, no caso da conjugação –ar houve um pico de

crescimento da produtividade a partir do período entre 1750-1774 (cf. Tang; Nevins

2013), i.e. final do século XVIII. Em relação ao sufixo –ção, o pico de crescimento da

produtividade do sufixo –ção ocorreu no século XIX, conforme localizamos em nossos

resultados. Evidentemente, se houve um aumento considerável no número alvos/bases

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que favorecem a escolha do sufixo –ção, é compreensível que tenha havido um aumento

na produtividade deste processo morfológico.

Isto se assemelha aos fatos relativos às mudanças nos padrões de produtividade

dos sufixos latinos –ity e –ment em inglês, discutidos por Anshen e Aronoff (1999).

Como mencionamos anteriormente, os autores apontam que as diferenças nos padrões de

produtividade desses sufixos se relacionam ao número de possíveis bases que, em um

determinado período, passam a entrar na língua (adjetivos no caso de –ity; e verbos no

caso de –ment).

Como salientam Tang e Nevins (2013), o aumento da produtividade de –ar

obscureceu processos irregulares salientes nas conjugações –er e –ir. Tendo em vista

esses resultados, é possível aventarmos a hipótese de que esse ‘achatamento’ sofrido pela

segunda e terceira conjugações, em virtude do crescimento de produtividade e

consequente aumento de vocabulário da primeira conjugação, desencadeou a

neutralização entre essas duas classes temáticas, que se tornaram marcadas ao longo do

tempo, em oposição à classe não marcada ou default em –ar.

Desse modo, uma segunda relação que nos parece possível de estabelecer seria a

implicação que essa questão parece ter tido também sobre a mudança que observamos do

padrão lexical para os dados experimentais e sincrônicos: a conjugação –ir deixa de

selecionar preferencialmente o sufixo –ção e passa a selecionar preferencialmente o

sufixo –mento. Podemos argumentar que, em virtude da neutralização ocorrida entre as

classes II e III, processos morfológicos variados presentes em ambas as conjugações

passaram a exibir comportamentos convergentes, resultando na indistinção dessas classes

temáticas. Como, a priori, o sufixo –mento apresentava a tendência lexical de ocorrer

com a classe marcada –er, e o sufixo –ção era preferido pela classe não-marcada –ar, ao

fim do processo de neutralização, o sufixo –ção se manteve como o morfema

nominalizador preferido da classe default e o sufixo –mento passou a compor a

contraparte marcada, ou seja, se tornou o sufixo selecionado das classes neutralizadas –

er/-ir. Apresentamos esquematicamente, a seguir, a aplicação do processo de

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neutralização sobre as classes temáticas verbais, que resulta na mudança de seleção dos

sufixos nominalizadores.

(95) Processo de neutralização das classes temáticas II e III

Uma questão que poderia ser levantada seria a de por que o sufixo -mento não

deixou de ser produtivo em português, como aconteceu no inglês e no francês com sufixo –

ment, uma vez que as condições foram mais favoráveis ao sufixo concorrente –ção? Este

parece ser o mesmo mistério que acompanha também os sufixos concorrentes –ity e –ness35

em inglês, que disputam o mesmo ‘nicho’ (cf. Anshen e Aronoff 1999) na língua há quase

um milênio e ambos sobrevivem produtivamente. No caso do português, de fato, o sufixo –

ção parece ser o nominalizador default, sendo amplamente aplicado a diversas bases

verbais (inclusive pela relação de preferência que estabelece com a classe –ar, que é a mais

numerosa e produtiva). Contudo, existem outros fatores que condicionam a seleção de um

ou outro sufixo, como os semânticos (e.g. leitura eventiva vs. resultativa) e os sintáticos.

Em relação a esses últimos, evidenciamos, nesta tese, que o tipo de estrutura argumental

dos verbos base também atua de maneira crucial na seleção desses afixos. Atestamos, tanto

no léxico quanto experimentalmente, que verbos inacusativos selecionam

35 Embora ambos afixos formem nomes a partir de adjetivos, com significados, em geral, semelhantes, -ness é amplamente o sufixo default (Aronoff; Lindsay 2014), podendo ser aplicado a uma enorme gama de domínios adjetivais, sem apresentar restrições morfológicas; já –ity exibe mais restrições morfológicas (e.g. –ity não pode ser concatenado à bases que terminam –ant e –ent), sendo, por isso, não tão produtivo quanto o seu rival.

Classe –ar [+I] Classe –er [+II] Classe –ir [+III]

-ção -mento -ção

Processo de Neutralização

-ar/-er + -ir

Classe –ar [+I] Classe –er [-I] Classe –ir [-I]

-ção -mento

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preferencialmente o sufixo –mento. Assim, é possível dizer que esse sufixo exibe uma

especialização sintática, ou seja, há um contexto sintático que favorece prioritariamente a

aplicação desse morfema. Nos demais contextos, i.e. com outros tipos de estruturas

argumentais, o sufixo default –ção será priorizado. Além disso, embora não tenhamos

analisado em profundidade as propriedades semânticas desses morfemas, podemos

averiguar que o sufixo –mento apresenta uma leitura mais resultativa, enquanto que o

sufixo –ção evidencia uma leitura mais eventiva.

Dessa maneira, a distinção fundamental que parece se estabelecer entre esses

sufixos nominalizadores se relaciona ao conceito de marcação: o sufixo –ção é o

nominalizador não-marcado, que ocorre amplamente em domínios morfológicos diversos,

sendo alimentado por fatores fonológicos (preferencialmente selecionado pela classe

produtiva em –ar) e sintáticos (ocorre com diferentes classes verbais, como as dos verbos

transitivos, bitransitivos e inergativos) bastante produtivos. Já o sufixo –mento apresenta

maiores restrições contextuais, exibindo especialização fonológica (ocorre prioritariamente

com as classes marcadas -er/-ir) e sintática (ocorre prioritariamente com verbos

inacusativos). Essa distinção esclarece porque o sufixo –mento, embora não seja tão

produtivo como seu rival –ção, permanece ativo na língua com um escopo marcado de

atuação.

Na próxima seção, apresentaremos a formalização teórica em termos de marcação

para os resultados relativos às classes temáticas discutidos nesta tese.

4. FORMALIZAÇÃO TEÓRICA

Apresentamos e analisamos, nesta tese, resultados da análise de dados acerca dos

sufixos nominalizadores –ção e -mento de naturezas distintas: (i) dados descritivos da

análise do léxico; (ii) dados experimentais; e (iii) dados sobre a variação diacrônica de

produtividade. Na abordagem desenvolvida no Capítulo III, a partir da análise dos dados

quantitativos e experimentais, argumentamos que existem (ao menos) dois fatores que

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condicionam a inserção desses nominalizadores nos contextos verbais: o fator fonológico

(i.e. as classes temáticas) e o fator sintático (i.e. o tipo de estrutura argumental). Neste

capítulo, a partir da análise da datação das palavras, averiguamos variações diacrônicas

nos padrões de produtividade dos sufixos –ção e –mento. Assim, nesta seção, iremos

discutir a formalização teórica proposta para esses resultados. A nossa intenção é traçar

uma análise sincrônica para os fatos, contudo, os resultados diacrônicos atuam como um

contraponto interessante que fornece pistas elucidativas para os fatos que desejamos

interpretar.

Como discutimos anteriormente, assumindo a arquitetura de gramática proposta

pela MD, compreendemos a sintaxe como um componente gerativo, que manipula feixes

de traços abstratos, no qual se desenvolvem tanto os processos derivacionais de formação

de palavras, quanto os processos flexionais que resultam da interação de concordância

que se estabelece entre os núcleos funcionais e elementos argumentais. Nesse

componente, as operações sintáticas36 estão sujeitas a restrições de localidade impostas

pelo caráter cíclico da derivação sintática. Os objetos sintáticos, resultantes das operações

sintáticas, são enviados ciclicamente aos componentes de interface (fonológico e

semântico) para serem processados e interpretados. Um pressuposto importante para a

MD é o de que os traços abstratos manipulados pela sintaxe são supridos de material

fonológico tardiamente, por meio da operação denominada de inserção vocabular, que

ocorre no componente fonológico.

Tendo em vista esse modelo, discutimos que a formação do nome deverbal

acontece na sintaxe, por meio da concatenação de raízes a núcleos funcionais cíclicos,

que atribuem mudança categorial. Além dos núcleos cíclicos, a estrutura do nome

deverbal apresenta também um núcleo aspectual não-cíclico que fornece informações de

processo, resultado, etc. Primeiramente, a raiz inserida na sintaxe é concatenada a um

núcleo v, que verbaliza a raiz e, posteriormente, esse objeto é concatenado a um núcleo n

que nominaliza a estrutura. Devido ao caráter cíclico da derivação sintática, quando um

36 Chomsky (2000, 2001) distingue dois tipos de concatenação (merge): (i) a concatenação externa (external merge) que toma dois elementos distintos (e.g. itens lexicais da numeração) e os une para formar uma unidade maior; (ii) a concatenação interna (internal merge) que toma parte de um objeto existente e a concatena em uma nova posição, gerando efeitos de movimento sintático.

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núcleo cíclico entra na derivação e é concatenado à estrutura, o material cíclico presente

na posição de complemento é enviado ao componente fonológico para ser processado (no

caso das raízes) e/ou sujeito à inserção vocabular (no caso de morfemas abstratos).

O argumento central dessa tese é que diferentes tipos de estruturas argumentais do

verbo formador do nome deverbal geram estruturas nominalizadas em que as raízes são

processadas em momentos distintos: raízes que compõem estruturas argumentais que

exigem a presença de um DP complemento são processadas em momentos anteriores em

relação às raízes cujas estruturas não selecionam complementos. Consequentemente, os

nomes deverbais resultantes de diferentes tipos de estruturas argumentais exibem

características morfofonológicas também distintas.

Nesse sentido, o fator sintático e fator fonológico que condicionam a inserção dos

sufixos nominalizadores –ção e –mento estão intrinsecamente relacionados. Os nomes em

–ção são formados por estruturas argumentais que exibem um DP na posição de

complemento, i.e. verbos transitivos, bitransitivos e inergativos. Assumindo que um DP é

uma fase, a sua presença como complemento cíclico da raiz desencadeia o spell-out do

objeto sintático [√ DP] quando o núcleo cíclico v é concatenado à estrutura. Assim,

quando a raiz é processada no componente fonológico e o morfema dissociado TH é

gerado, serão inseridos os traços diacríticos das vogais temáticas disponíveis aos

contextos verbais, ou seja, os traços das três classes temáticas [+I, +II e +III].

Por outro lado, os nomes em –mento são formados prioritariamente por verbos

inacusativos que não exibem um DP na posição de complemento. Assim, na estrutura

formadora desses nomes, a raiz é enviada ao componente fonológico somente quando o

segundo núcleo cíclico (i.e. o núcleo nominalizador n) é concatenado. Desse modo,

quando a raiz é processada e a posição TH é gerada, o domínio é nominal. Nesse

contexto, estão disponíveis somente as vogais temáticas resultantes da regra de

neutralização, ou seja, [+I e –I]. Isto gera o efeito de alteamento obrigatório da vogal

temática –e- para [i] observado nos nomes em –mento.

Nesta seção, gostaríamos de fazer uma articulação desta proposta, especialmente

no que se refere às classes temáticas, com a noção de marcação. Este conceito está

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presente na linguística desde a sua formulação inaugural em 1921 por Roman Jakobson,

como uma importante articulação tanto para as teorias que trabalham com significado e

enunciação, quanto para as teorias formalistas (cf. Andrews 1990).

Em fonologia, a oposição marcado/não-marcado é uma distinção fundamental,

desde as abordagens estruturalistas, especialmente as da Escola de Praga (Trubetzkoy

1931 e outros), como para a Fonologia Gerativa Padrão (Chomsky e Halle 1968).

Segundo Hooper (1976, p.136 apud Andrews 1990) o termo não-marcado em fonologia

representa o que é mais natural, enquanto que o termo marcado se relaciona aos

fenômenos menos naturais.

Os traços fonológicos distintivos definem a relação de marcado/não-marcado de

maneira diferente dos traços morfológicos (cf. Andrews 1990). Na fonologia, um dado

traço está presente ou ausente em uma classe particular de fonemas, assim, a oposição é

privativa. Em morfologia, por outro lado, o termo marcado implica necessariamente a

presença de um elemento, enquanto o termo não-marcado significa que o elemento pode

ou não estar presente, sendo apenas não especificado.

Um trabalho interessante no quadro da MD, que considera questões relacionadas à

teoria da marcação, é a proposta de Oltra-Massuet (1999) sobre a organização interna do

sistema verbal do Catalão. As diferentes conjugações, i.e. os expoentes fonológicos das

conjugações são analisados como feixes de traços binários, como é apresentado na

estrutura em (98). Essa proposta é denominada de hierarquia de marcação da vogal

temática (Theme vowel marked hierarchy).

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(96) Hierarquia de marcação da vogal temática (Oltra-Massuet 1999)

Esta proposta de hierarquia de marcação pretende capturar a organização interna

do sistema verbal e, em particular, a complexa alomorfia exibida pelas vogais temáticas.

Em Catalão, a escolha de um determinado alomorfe temático é condicionada pelos

sufixos de tempo e concordância que o seguem. Para Oltra-Massuet (1999), assim como

para Harris (1999), os morfemas temáticos são requerimentos de boa formação

morfológica exigidos por todos os núcleos funcionais F, cujas posições são adicionadas

pós-sintaticamente no componente morfológico. A seguir, apresentamos um exemplo da

derivação pós-sintática da forma de 2sg do verbo aguditzar ‘afiar’ em Catalão.

th

unmarked [-α] marked [+α]

unmarked [-β] marked [+β]

unmarked [-γ] marked [+γ]

(I) cantar

(II) témer/batre

(IIIa) unir

(IIIb) sortir

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(97) Verbo ‘aguditzar’ após as operações morfológicas e a inserção vocabular

(Oltra-Massuet 1999, p.14)

É evidente que o nosso objetivo aqui não é propor um modelo para a organização

do sistema verbal do PB. Contudo, a proposta de Oltra-Massuet (1999) traz insights

interessantes sobre uma possível classificação das vogais em termos de uma teoria de

marcação. Desse modo, a nossa intenção é estabelecer um paralelo com essa abordagem

que colabore na compreensão dos fatos discutidos nesta tese acerca dos nominalizadores

–ção e -mento.

Considerando as classes temáticas verbais em PB, apresentamos evidências tanto

sincrônicas (a distribuição em termos numéricos encontrada no léxico) quanto

diacrônicas, de que existe um contraste claro entre a classe I em –ar (mais numerosa e

produtiva) e as classes II em –er e III em –ir, que tendem a se comportar de maneira

neutralizada. Tendo em vista essas questões, é possível propormos a seguinte estrutura de

organização das vogais temáticas, em termos de marcação.

T

M T

M T Agr v

v √

th v M th T th

[-α] [+α] [-α] [Fut] [+Past] [+Part, -Auth, -PL]

agud idz a r a i z ø

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(98) Organização das vogais temáticas do PB

Em virtude de sua produtividade e do tamanho de seu vocabulário (13.011 verbos,

o que representa 89,2% dos verbos listados no dicionário Houaiss), a conjugação –ar é,

sem dúvida, a classe temática não-marcada em PB.

No grupo das classes marcadas, ambas exibem um tamanho de vocabulário

similar (788 verbos em –er e 742 verbos em –ir segundo o dicionário Houaiss), bastante

reduzidos em relação à primeira conjugação, e ambas tendem apresentar mais

irregularidades. Contudo, a classe em –ir parece ser a que exibe o maior número de

idiossincrasias, por exemplo, os verbos defectivos37 (cf. Cunha e Cintra 2013), em sua

grande maioria, pertencem a essa classe (e.g. latir, banir, balir, abolir, parir, imergir,

explodir, grunhir, etc.). A vogal temática -i- é a que permanece em mais ambientes

(inclusive nos deverbais), em oposição à vogal default -a-.

Além disso, as duas classes marcadas exibem ainda determinados sincretismos

morfológicos: (i) A forma de primeira pessoa singular do pretérito perfeito é –i (e.g.

comer/comi; dormir/dormi); (ii) a forma do presente do subjuntivo é -a para a segunda

37 Os verbos defectivos não apresentam a primeira pessoa do presente do indicativo e, consequentemente, não apresentam nenhuma das pessoas do presente do subjuntivo e do imperativo que dela derivam. Para uma discussão recente sobre o tema, veja Nevins, Damulakis e Freitas (2014).

TH

Não-marcado Marcado

[+I] cantar

[+II] Não-marcado Marcado

comer dormir [+III]

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e terceira conjugações e -e para a primeira conjugação. É interessante notar que há na

formação do subjuntivo uma complementaridade: as classes marcadas formam o

subjuntivo com a vogal não marcada –a e a classe não marcada seleciona a vogal –e, que

representa a subparte não-marcada das classes temáticas marcadas.

Se considerarmos os resultados de Tang e Nevins (2013), podemos compreender

esse contraste entre a classe –ar versus as classes –er/-ir como resultado de uma mudança

linguística diacrônica iniciada no século XVI em português, empreendida pelo aumento

do vocabulário verbal e da produtividade da conjugação –ar que se torna, ao longo do

tempo e especialmente no período por volta de 1750, a classe temática que quase

exclusivamente aloca novos verbos na língua.

A organização em termos de marcação possibilita, a nosso ver, a compreensão do

comportamento que as classes temáticas exibem também nos contextos deverbais. Como

argumentamos, existe uma regra na língua que neutraliza as classes II e III nos contextos

não verbais, que tendem a se comportar de maneira bastante convergente. Tendo em vista

a estrutura em (100), é possível dizer que, nos contextos deverbais, o sistema tripartido de

classes temáticas verbais é reanalisado em termos da oposição marcado/não-marcado, de

tal forma que as classes marcadas funcionam conjuntamente.

Uma evidência disso, que se refere aos sufixos nominalizadores abordados nesta

tese, é a mudança que observamos com relação à seleção preferencial da classe –ir: na

análise descritiva do léxico, esta classe exibia uma preferência pelo sufixo –ção; contudo,

na análise dos dados experimentais, notamos uma preferência pelo sufixo –mento. É

interessante notar que, sincronicamente, as classes em –ir e em –er convergem na seleção

prioritária do mesmo sufixo nominalizador. E mais, nos nomes em –mento averiguamos o

alteamento categórico da vogal temática -e- para [i], gerando uma completa neutralização

entre essas duas classes. Em nossa proposta teórica desenvolvida no Capítulo III, esse

processo resulta da aplicação de uma regra na língua que, em contextos nominais,

permite a realização de apenas duas vogais temáticas verbais: a não marcada –a- e a

marcada –i-.

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Uma evidência adicional para a proposta de marcação das classes –er/-ir é o

resultado que obtivemos no experimento 2. Como discutimos anteriormente, ao

alterarmos o estímulo no grupo –er, os resultados do grupo –ir também foram afetados.

Quer dizer, ao retirarmos o alteamento da vogal temática -e-, observamos uma

diminuição significativa na preferência pelo sufixo –mento nos dois grupos, embora mais

drástica no grupo –er. Isto é uma consequência, segundo a nossa hipótese, da regra de

neutralização que disponibiliza somente as vogais –a- e –i- para a formação morfológica

em contextos não-verbais. Assim, a não aplicação dessa regra torna agramatical a

formação dos nomes em -mento.

Finalmente, como apontamos anteriormente, é possível argumentarmos que a

relação de preferência observada entre as classes temáticas e os sufixos nominalizadores

estudados também se estabelece por critérios de marcação. O sufixo –ção é o

nominalizador mais produtivo e que exibe menos restrições morfológicas e sintáticas de

ocorrência, sendo, portanto, não-marcado. Já o sufixo –mento não é tão produtivo como o

seu concorrente e, em virtude de apresentar maiores restrições contextuais (morfológicas

e sintáticas), pode ser considerado mais marcado. Interessantemente, estes sufixos se

alinham, em critérios de marcação, com as classes temáticas que preferencialmente os

selecionam, como mostra o esquema abaixo. Apresentamos, a seguir, as considerações

finais e as conclusões desta tese.

(99) Relação de preferência em termos de marcação

Classes Temáticas Nominalizadores

Não-marcado [+I]

Marcado [-I]

Não-marcado -ção

Marcado -mento

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CONCLUSÕES

Nesta tese, discutimos aspectos morfofonológicos e morfossintáticos dos nomes

deverbais formados pelos nominalizadores –ção e –mento em PB, a partir de uma

abordagem experimental e quantitativa. Investigamos também questões relacionadas à

variação diacrônica da produtividade desses sufixos, tendo em vista um estudo piloto

acerca da datação das palavras disponíveis no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Mostramos que existem (ao menos) dois fatores que condicionam a seleção

preferencial dos nominalizadores –ção e -mento: (i) o fator fonológico, i.e. as classes

temáticas do verbo base; (ii) o fator sintático, o tipo de estrutura argumental do verbo

base. A existência desses fatores condicionantes foi identificada, primeiramente, a partir

de um estudo descritivo do léxico (Freitas 2014) e atestada sincronicamente por meio dos

resultados experimentais discutidos neste trabalho.

Com relação ao fator fonológico, evidenciamos, a partir da análise quantitativa do

léxico, que os verbos da segunda conjugação em –er selecionam preferencialmente o

sufixo –mento, ao passo que os verbos da primeira e da terceira conjugações (em –ar e –

ir, respectivamente) selecionam preferencialmente o sufixo –ção. Esses resultado exibem,

ao menos, duas características relevantes para a nossa análise: (i) à relação de preferência

observada entre os verbos em –er e o sufixo –mento, se soma o alteamento categórico da

vogal –e-, que resulta em neutralização entre as classes temáticas II e III; os nomes em –

ção, por outro lado, não exibem esse alteamento obrigatório; (ii) os verbos da segunda e

terceira conjugações apresentam no léxico comportamentos divergentes em relação aos

nominalizadores os quais preferencialmente selecionam.

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Contudo, os resultados experimentais evidenciam tendências um pouco distintas

em relação aos resultados descritivos: tanto os verbos em –er quanto os verbos em –ir

selecionam preferencialmente o sufixo –mento, enquanto os verbos em –ar selecionam

preferencialmente o sufixo –ção. Argumentamos que essa mudança observada nos dados

sinaliza o comportamento convergente que, sincronicamente, as classes temáticas II e III

exibem, não somente em PB como também em outras línguas românicas (cf. Oltra-

Massuet 1999; Tang; Nevins 2013).

Em relação ao fator sintático, observamos no léxico que verbos transitivos e

inergativos selecionam preferencialmente o sufixo –ção, enquanto que verbos

inacusativos selecionam preferencialmente o sufixo –mento. Em geral, esses resultados

foram também atestados nos dados experimentais sincrônicos. Contudo, os verbos

transitivos não apresentaram uma tendência clara de preferência. Além disso, incluímos

nos experimentos a categoria dos verbos bitransitivos, que não havia sido investigada na

análise descritiva do léxico. Essa categoria exibiu uma clara preferência pelo sufixo –ção.

Tendo em vista esse resultados e considerando uma arquitetura de gramática

como a proposta pela MD e a noção de domínios cíclicos na formação de palavras,

argumentamos que a formação dos nomes deverbais em –ção e –mento acontece na

sintaxe por meio da concatenação cíclica de uma raiz a distintos núcleos funcionais. A

hipótese que defendemos é que a presença de DP complemento na estrutura argumental

de verbos desencadeia diferenças no ponto computacional em que as raízes são enviadas

ao componente fonológico para serem processadas, gerando diferenças de superfície nos

nomes resultantes desse processo derivacional.

A noção relevante para essa proposta é que a presença de um complemento fásico

(i.e. um DP) promove o spell-out da raiz tão logo o núcleo cíclico v é concatenado à

estrutura. Assim sendo, a raiz de verbos transitivos, bitransitivos e inergativos são

processadas no componente fonológico no primeiro estágio da derivação, pertencente a

um ambiente verbal. Desse modo, quando a posição temática (TH) é gerada como um

morfema dissociado no componente fonológico, existe a possibilidade de inserção dos

traços diacríticos diferenciados, relativos às três classes temáticas verbais (+I, +II e +III).

Por isso, os nomes em –ção não exibem o alteamento obrigatório da vogal temática –e-,

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uma vez que a regra de neutralização não é aplicada no estágio em que ocorre a inserção

das vogais temáticas.

Por outro lado, os verbos que não apresentam um DP como complemento (como

os verbos inacusativos), terão suas raízes enviadas ao componente fonológico no segundo

estágio derivacional, i.e. somente quando o segundo núcleo cíclico n é concatenado à

estrutura. Assim, a posição temática (TH) é gerada como parte de um domínio

nominalizado, em que se aplica a regra de neutralização entre as classes temáticas II e III.

Dessa maneira, para esse contexto de inserção, apenas se encontram disponíveis os traços

diacríticos neutralizados: +I e –I. Isto resulta no alteamento categórico da vogal temática

–e-, observado nos nomes em –mento.

A nossa intenção futuramente é expandir e explorar essa análise para outros

contextos deverbais em que averiguamos a aplicação da regra de neutralização, como por

exemplo na formação dos particípios regulares e dos adjetivos deverbais (em –ável e -

ível).

Adicionalmente, discutimos nesta tese questões relativas à variação diacrônica na

produtividade morfológica dos sufixos –ção e –mento, a partir de um estudo piloto acerca

das datações das palavras disponíveis no dicionário Houaiss. Nossos resultados

mostraram que até o século XV havia mais formas com o sufixo –mento. Contudo, essa

tendência se inverte a partir do século XVI, havendo um aumento robusto das formas em

–ção, com um pico de crescimento no século XIX. Argumentamos que esses resultados

se alinham, de maneira interessante, com o estudo diacrônico de corpora de Tang e

Nevins (2013) sobre o aumento do vocabulário verbal e da produtividade da primeira

conjugação em português, italiano e espanhol. A hipótese que aventamos é que o

aumento massivo do vocabulário da primeira conjugação teve uma implicação positiva

no aumento de produtividade do sufixo –ção, uma vez que houve uma ampliação

significativa no número de alvos/bases relevantes para aplicação desse processo

morfológico.

Finalmente, propusemos uma interpretação teórica em termos de uma hierarquia

de marcação para as classes temáticas verbais do PB. A nossa proposta sugere que a

primeira conjugação pode ser compreendida como a classe temática não marcada, em

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virtude tanto de sua produtividade como do tamanho de seu vocabulário. Por outro lado, a

segunda e terceira conjugações podem ser consideradas classes marcadas, uma vez que

exibem um tamanho reduzido de vocabulário (em relação à primeira conjugação) e

apresentam muitas formas irregulares e idiossincráticas. Além disso, essas duas classes

tendem a se comportar de maneira convergente e sincrética em diversos processos

morfológicos. Argumentamos, ainda, que a distribuição das conjugações verbais em

termos de marcação pode esclarecer a relação de preferência sincrônica que localizamos

entre classes temáticas e os nominalizadores em foco neste estudo: a classe verbal não

marcada em -ar seleciona preferencialmente o sufixo não-marcado –ção; as classes

verbais marcadas em –er e –ir selecionam o nominalizador marcado –mento.

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Anexo

I. Frames dos experimentos

1. Frames: Experimento 1

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2. Frames: Experimento 2

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186

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187

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188

II. Resultados dos Experimentos – Variável 5_Cat

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189

1. Resultados do Experimento 1

Gráfico 12. Exp. 1. Distribuição dos verbos em AR

Gráfico 13. Exp. 1. Distribuição dos verbos em ER

Gráfico 14. Exp. 1. Distribuição dos verbos em IR

28.7

20.2 17.9

15.5 17.7

0

5

10

15

20

25

30

35

Apenas ÇÃO ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não excluído

Apenas MENTO

AR

18 16.4 14.1

19.8

31.7

0

5

10

15

20

25

30

35

Apenas ÇÃO ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não excluído

Apenas MENTO

ER

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190

2. Resultados do Experimento 2

Gráfico 15. Exp. 2. Distribuição dos verbos em AR

Gráfico 16. Exp. 2. Distribuição dos verbos em ER

21.1 17.4

15 17.9

28.6

0

5

10

15

20

25

30

35

Apenas ÇÃO ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não excluído

Apenas MENTO

IR

24.59 21.17 20.2

17.75 16.29

0

5

10

15

20

25

30

35

Apenas ÇÃO ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não excluído

Apenas MENTO

AR

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191

Gráfico 17. Exp. 2. Distribuição dos verbos em IR

3. Resultados do Experimento 3

21.88 19.29

17.02 18.64

23.18

0

5

10

15

20

25

30

35

Apenas ÇÃO ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não excluído

Apenas MENTO

ER

21.75

16.72 19.48

17.63

24.51

0

5

10

15

20

25

30

35

Apenas ÇÃO ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não excluído

Apenas MENTO

IR

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192

Gráfico 18. Exp. 3. Distribuição dos verbos TRANSITIVOS

Gráfico 19. Exp. 3. Distribuição dos verbos BITRANSITIVOS

Gráfico 20. Exp. 3. Distribuição dos verbos INACUSATIVOS

23.4

17.8 18.8

13.2

26.7

.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 35.0 40.0 45.0

Apenas ÇÃO

ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não

excluído

Apenas MENTO

TRANS

31.8

16.4 17.6 12.8

21.3

.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 35.0 40.0 45.0

Apenas ÇÃO

ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não

excluído

Apenas MENTO

BITRANS

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193

Gráfico 21. Exp. 3. Distribuição dos verbos INERGATIVOS

III. Base de Dados – Datação das palavras em –ção e –mento

19.9

13.7 17.3

15.2

33.9

.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

40.0

45.0

Apenas ÇÃO ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não excluído

Apenas MENTO

INAC

39.9

17.0 17.0

11.3 14.8

.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 35.0 40.0 45.0

Apenas ÇÃO ÇÃO, mas mento não excluído

AMBOS MENTO, mas ção não

excluído

Apenas MENTO

INERG

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194

(Fonte: Dicionário Houaiss)

Palavra Sufixo Datação Século perfilhação ção 985 10 inquirição ção 1114 12 partição ção 1192 12 acordamento mento 1255 13 povoação ção 1255 13 acrescentamento mento 1257 13 confirmação ção 1257 13 aprestamento mento 1259 13 saimento mento 1261 13 maldição ção 1271 13 alheamento mento 1273 13 restituição ção 1274 13 coração ção 1278 13 aboamento mento 1281 13 ajuntamento mento 1287 13 afagamento mento 1287 13 prazimento mento 1291 13 afretamento mento 1297 13 reconhecimento mento 1320 14 arrendação ção 1320 14 fornimento mento 1340 14 desconhecimento mento 1344 14 aficamento mento 1344 14 afogamento mento 1344 14 avisamento mento 1344 14 consagração ção 1344 14 apercebimento mento 1344 14 confrontação ção 1344 14 corrimento mento 1344 14 transação ção 1351 14 regimento mento 1361 14 menção ção 1365 14 refreamento mento 1371 14 correção ção 1373 14 ancoração ção 1389 14 rematação ção 1390 14 repetição ção 1407 15 reclamação ção 1409 15 embarcamento mento 1414 15 conservação ção 1426 15 revocação ção 1435 15

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195

replicação ção 1441 15 cancelamento mento 1446 15 refrescamento mento 1446 15 talhamento mento 1446 15 vereamento mento 1446 15 caudilhamento mento 1446 15 consignação ção 1446 15 liberação ção 1447 15 atempação ção 1450 15 demarcação ção 1451 15 descarregamento mento 1460 15 aprovação ção 1460 15 liação ção 1474 15 aumentação ção 1484 15 abalamento mento 1495 15 instrução ção 1501 16 exortação ção 1514 16 comutação ção 1515 16 expugnação ção 1515 16 encaixamento mento 1515 16 abjuração ção 1531 16 graduação ção 1532 16 cominação ção 1534 16 comportamento mento 1534 16 contratação ção 1534 16 estremecimento mento 1536 16 argumentação ção 1537 16 elevação ção 1537 16 impetração ção 1538 16 cessação ção 1540 16 escoamento mento 1540 16 aditamento mento 1540 16 disjunção ção 1540 16 apegação ção 1541 16 copulação ção 1543 16 abonação ção 1546 16 deprecação ção 1547 16 abnegação ção 1549 16 importunação ção 1549 16 varação ção 1552 16 gratificação ção 1552 16 interpolação ção 1552 16 consumição ção 1553 16 alçação ção 1553 16 arrumação ção 1553 16

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196

assolação ção 1553 16 convocação ção 1553 16 desencantamento mento 1559 16 gratulação ção 1559 16 amotinação ção 1561 16 adoecimento mento 1562 16 adormecimento mento 1562 16 debilitação ção 1562 16 acautelamento mento 1562 16 arrematação ção 1562 16 emperramento mento 1562 16 encruamento mento 1562 16 enxovalhamento mento 1562 16 atordoamento mento 1562 16 acumulação ção 1563 16 fascinação ção 1563 16 inflação ção 1563 16 reverberação ção 1563 16 esfregação ção 1563 16 computação ção 1563 16 erradicação ção 1563 16 erudição ção 1563 16 deploração ção 1566 16 arqueação ção 1567 16 quietação ção 1572 16 suputação ção 1572 16 transfiguração ção 1573 16 recuperação ção 1582 16 narração ção 1582 16 coabitação ção 1589 16 degeneração ção 1589 16 regeneração ção 1589 16 translação ção 1589 16 amplificação ção 1589 16 castrametação ção 1589 16 imolação ção 1589 16 miseração ção 1589 16 repurgação ção 1589 16 resignação ção 1590 16 ab-rogação ção 1593 16 modulação ção 1597 16 validação ção 1597 16 arbitramento mento 1600 17 consolidação ção 1601 17

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197

reconcentração ção 1601 17 sanguificação ção 1601 17 anatematização ção 1606 17 colocação ção 1608 17 alijação ção 1608 17 alimentação ção 1610 17 acentuação ção 1610 17 aposição ção 1610 17 desolação ção 1611 17 açulamento mento 1611 17 recenseamento mento 1613 17 dilatação ção 1614 17 desarticulação ção 1614 17 propagação ção 1614 17 refutação ção 1614 17 legação ção 1615 17 apelamento mento 1617 17 averiguação ção 1617 17 ablactação ção 1619 17 agitação ção 1619 17 quilificação ção 1619 17 refendimento mento 1619 17 fixação ção 1621 17 comoção ção 1623 17 procriação ção 1624 17 putrefação ção 1624 17 desvanecimento mento 1627 17 lixação ção 1632 17 agregação ção 1632 17 rebatimento mento 1634 17 tragamento mento 1634 17 riscamento mento 1634 17 revisitação ção 1635 17 arrojamento mento 1641 17 ulceração ção 1642 17 detestação ção 1643 17 alumbramento mento 1645 17 alegramento mento 1647 17 aperreamento mento 1647 17 arremessamento mento 1647 17 desabrimento mento 1648 17 abolição ção 1649 17 precaução ção 1650 17 destilação ção 1651 17 atrição ção 1651 17

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198

devoração ção 1651 17 opugnação ção 1651 17 licenciamento mento 1654 17 reeleição ção 1654 17 rateamento mento 1655 17 arrogação ção 1655 17 arruamento mento 1657 17 lucubração ção 1660 17 condução ção 1660 17 criminação ção 1660 17 subalternação ção 1660 17 exacerbação ção 1661 17 indicação ção 1661 17 obstrução ção 1661 17 alheação ção 1664 17 adstrição ção 1668 17 seqüestração ção 1668 17 pulsação ção 1670 17 vaporação ção 1673 17 simbolização ção 1674 17 correlação ção 1675 17 dedução ção 1675 17 irritação ção 1676 17 organização ção 1679 17 aglutinação ção 1679 17 devastação ção 1680 17 consternação ção 1683 17 exterminação ção 1683 17 nutrição ção 1686 17 penetração ção 1690 17 afiguração ção 1690 17 cooperação ção 1690 17 trituração ção 1691 17 estazamento mento 1693 17 arruação ção 1695 17 sugilação ção 1695 17 fabulação ção 1696 17 manutenção ção 1696 17 afixação ção 1697 17 agravação ção 1697 17 predição ção 1697 17 remigração ção 1697 17 rogação ção 1699 17 cintilação ção 1704 18 futuração ção 1706 18

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vociferação ção 1708 18 depravação ção 1708 18 magnificação ção 1708 18 ablegação ção 1710 18 mordicação ção 1710 18 liquefação ção 1710 18 incubação ção 1710 18 afilamento mento 1712 18 alucinação ção 1712 18 calcinação ção 1712 18 coagulação ção 1712 18 congelação ção 1712 18 assimilação ção 1712 18 conciliação ção 1712 18 coordenação ção 1712 18 gravidação ção 1713 18 desmembração ção 1713 18 filtração ção 1713 18 deportação ção 1713 18 destinação ção 1713 18 embrulhamento mento 1713 18 encabeçamento mento 1713 18 entoação ção 1713 18 estimulação ção 1713 18 evicção ção 1713 18 exinanição ção 1713 18 lealdação ção 1716 18 prolongação ção 1720 18 ramificação ção 1720 18 renovamento mento 1720 18 prostituição ção 1720 18 recondução ção 1720 18 redibição ção 1720 18 reiteração ção 1720 18 reação ção 1720 18 espiritualização ção 1721 18 transubstanciação ção 1721 18 transcoação ção 1721 18 testificação ção 1721 18 vituperação ção 1721 18 desestimação ção 1723 18 giração ção 1726 18 laxação ção 1726 18 lenimento mento 1726 18 gravitação ção 1726 18

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dissertação ção 1727 18 hesitação ção 1727 18 argüição ção 1727 18 baldeação ção 1728 18 subtilização ção 1735 18 crispação ção 1735 18 insolação ção 1735 18 secação ção 1735 18 levigação ção 1735 18 sarjação ção 1735 18 pandiculação ção 1735 18 verminação ção 1735 18 reagravação ção 1748 18 desinibição ção 1748 18 decoração ção 1752 18 nunciação ção 1758 18 fardamento mento 1762 18 fabricação ção 1764 18 desmembramento mento 1772 18 obduração ção 1772 18 mancomunação ção 1772 18 formigamento mento 1775 18 abarracamento mento 1775 18 amolação ção 1775 18 malversação ção 1775 18 contravenção ção 1777 18 junção ção 1780 18 laboração ção 1780 18 recriminação ção 1780 18 pipocação ção 1781 18 dizimação ção 1781 18 abastecimento mento 1783 18 abajoujamento mento 1783 18 adjunção ção 1783 18 adução ção 1783 18 ressupinação ção 1788 18 prolificação ção 1788 18 catequização ção 1789 18 seleção ção 1789 18 acampamento mento 1789 18 encarniçamento mento 1789 18 expectoração ção 1789 18 legislação ção 1789 18 ossificação ção 1789 18 petrificação ção 1789 18

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praguejamento mento 1789 18 revezamento mento 1789 18 saturação ção 1789 18 atribulação ção 1789 18 bajulação ção 1789 18 deputação ção 1789 18 desaprovação ção 1789 18 descaramento mento 1789 18 endeusamento mento 1789 18 endossamento mento 1789 18 integração ção 1789 18 rejeição ção 1789 18 vitrificação ção 1789 18 concreção ção 1789 18 vadiação ção 1789 18 suturação ção 1789 18 persuadimento mento 1789 18 engraxamento mento 1790 18 incorrimento mento 1790 18 abstenção ção 1791 18 pulverização ção 1794 18 lavação ção 1794 18 realização ção 1795 18 restagnação ção 1795 18 configuração ção 1796 18 traçamento mento 1796 18 fiação ção 1797 18 desarmamento mento 1798 18 engajamento mento 1798 18 granulação ção 1799 18 depuração ção 1799 18 municiamento mento 1801 19 florescimento mento 1801 19 morigeração ção 1801 19 pressentimento mento 1805 19 legalização ção 1813 19 exploração ção 1813 19 injeção ção 1813 19 castração ção 1813 19 arroteamento mento 1813 19 atarantação ção 1813 19 desobstrução ção 1813 19 aforação ção 1813 19 ruminação ção 1815 19 afiação ção 1818 19

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insurreição ção 1818 19 abdução ção 1818 19 aerificação ção 1818 19 aglomeração ção 1818 19 lactação ção 1819 19 delação ção 1819 19 adaptação ção 1821 19 bifurcação ção 1828 19 preenchimento mento 1831 19 apascentamento mento 1832 19 autorização ção 1836 19 carbonização ção 1836 19 temporização ção 1836 19 canalização ção 1836 19 carbonação ção 1836 19 demonetização ção 1836 19 desorganização ção 1836 19 porfirização ção 1836 19 depreciação ção 1836 19 aquecimento mento 1836 19 comparecimento mento 1836 19 decifração ção 1836 19 decretação ção 1836 19 arbitração ção 1836 19 rateação ção 1836 19 retardação ção 1836 19 alistamento mento 1836 19 aturdimento mento 1836 19 cabimento mento 1836 19 confabulação ção 1836 19 deflagração ção 1836 19 deglutição ção 1836 19 depilação ção 1836 19 desmantelamento mento 1836 19 desopilação ção 1836 19 empastamento mento 1836 19 enroscamento mento 1836 19 esboroamento mento 1836 19 exsudação ção 1836 19 fechamento mento 1836 19 improvisação ção 1836 19 mendigação ção 1836 19 oxidação ção 1836 19 perduração ção 1836 19

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prematuração ção 1836 19 procrastinação ção 1836 19 adquirição ção 1836 19 atracação ção 1836 19 concitação ção 1836 19 congeminação ção 1836 19 desregramento mento 1836 19 distorção ção 1836 19 empanamento mento 1836 19 envolvimento mento 1836 19 estrangulação ção 1836 19 exoneração ção 1836 19 expatriação ção 1836 19 expilação ção 1836 19 nitrificação ção 1836 19 oxigenação ção 1836 19 reportamento mento 1836 19 rescaldamento mento 1836 19 retrovendição ção 1836 19 roçamento mento 1836 19 salitração ção 1836 19 serração ção 1836 19 traimento mento 1836 19 urticação ção 1836 19 locomoção ção 1836 19 menstruação ção 1836 19 hibernação ção 1839 19 ustulação ção 1839 19 hepatização ção 1840 19 conspurcação ção 1840 19 lacrimação ção 1840 19 volatilização ção 1841 19 intumescimento mento 1841 19 solidificação ção 1841 19 abalançamento mento 1841 19 gaseificação ção 1841 19 mundificação ção 1841 19 polpação ção 1841 19 elucubração ção 1844 19 flutuação ção 1844 19 apedrejamento mento 1844 19 desocupação ção 1844 19 inoculação ção 1844 19 interpelação ção 1844 19

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irrogação ção 1844 19 numeração ção 1844 19 reconstrução ção 1844 19 abortamento mento 1845 19 abevacuação ção 1845 19 abirritação ção 1845 19 mineralização ção 1858 19 polarização ção 1858 19 inficionação ção 1858 19 confecção ção 1858 19 pronunciamento mento 1858 19 emplastração ção 1858 19 descoloração ção 1858 19 empedramento mento 1858 19 enduração ção 1858 19 manducação ção 1858 19 ofuscamento mento 1858 19 relicitação ção 1858 19 retroação ção 1858 19 sofisticação ção 1858 19 aforramento mento 1858 19 arrenegação ção 1858 19 desqualificação ção 1858 19 dissociação ção 1858 19 eletrolisação ção 1858 19 envenenamento mento 1858 19 esfolamento mento 1858 19 estivação ção 1858 19 estupefação ção 1858 19 intuição ção 1858 19 isolação ção 1858 19 iteração ção 1858 19 nivelação ção 1858 19 reexportação ção 1858 19 refinamento mento 1858 19 remedição ção 1858 19 reordenação ção 1858 19 resinificação ção 1858 19 saponificação ção 1858 19 titubeação ção 1858 19 meneamento mento 1858 19 metalificação ção 1858 19 amancebamento mento 1858 19 reduplicação ção 1859 19 parlamentação ção 1861 19

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abençoamento mento 1864 19 decapitação ção 1865 19 afloramento mento 1865 19 abstraimento mento 1866 19 enliçamento mento 1866 19 persignação ção 1866 19 ajeitamento mento 1867 19 abafação ção 1870 19 acovardamento mento 1871 19 afabulação ção 1871 19 apoquentação ção 1871 19 acolchoamento mento 1871 19 artilhamento mento 1871 19 cloroformização ção 1873 19 imortalização ção 1873 19 impermeabilização ção 1873 19 magnetização ção 1873 19 nasalização ção 1873 19 instrumentação ção 1873 19 medicamentação ção 1873 19 ornamentação ção 1873 19 equipamento mento 1873 19 internamento mento 1873 19 hebetação ção 1873 19 causticação ção 1873 19 digitação ção 1873 19 intoxicação ção 1873 19 mumificação ção 1873 19 obnubilação ção 1873 19 osculação ção 1873 19 panificação ção 1873 19 conglomeração ção 1873 19 dação ção 1873 19 epilogação ção 1873 19 gustação ção 1873 19 inalienação ção 1873 19 inseminação ção 1873 19 jactação ção 1873 19 objetivação ção 1873 19 objurgação ção 1873 19 divagação ção 1873 19 estridulação ção 1873 19 sulfatização ção 1874 19 utilização ção 1874 19

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vascularização ção 1874 19 reabsorção ção 1874 19 reptação ção 1874 19 sacarificação ção 1874 19 abaulamento mento 1875 19 avoamento mento 1875 19 aeração ção 1875 19 humanização ção 1877 19 monetização ção 1877 19 regularização ção 1877 19 recognição ção 1877 19 ingurgitação ção 1877 19 meação ção 1877 19 silabação ção 1877 19 supersaturação ção 1877 19 alindamento mento 1877 19 codificação ção 1877 19 cotação ção 1877 19 enucleação ção 1877 19 hibridação ção 1877 19 nobilitação ção 1877 19 reconstituição ção 1877 19 reimposição ção 1877 19 reocupação ção 1877 19 reticulação ção 1877 19 vesicação ção 1877 19 ululação ção 1877 19 animalização ção 1881 19 caracterização ção 1881 19 especialização ção 1881 19 fracionamento mento 1881 19 amortecimento mento 1881 19 obscurecimento mento 1881 19 obumbração ção 1881 19 formicação ção 1881 19 internação ção 1881 19 abarrotamento mento 1881 19 abespinhamento mento 1881 19 acarretamento mento 1881 19 descarrilamento mento 1881 19 desfloramento mento 1881 19 desprendimento mento 1881 19 empenamento mento 1881 19 reanimação ção 1881 19

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triangulação ção 1881 19 trifurcação ção 1881 19 agrupação ção 1881 19 peneiração ção 1881 19 apalpação ção 1881 19 compulsação ção 1881 19 empalmação ção 1881 19 empreendimento mento 1881 19 esbatimento mento 1881 19 incriminação ção 1881 19 inculpação ção 1881 19 nasalação ção 1881 19 reaquisição ção 1881 19 subemprazamento mento 1881 19 editoração ção 1885 19 reinação ção 1885 19 gabação ção 1886 19 agremiação ção 1886 19 apadrinhamento mento 1886 19 alquilação ção 1889 19 ideação ção 1890 19 agachamento mento 1895 19 dramatização ção 1899 19 meteorização ção 1899 19 prismatização ção 1899 19 descentralização ção 1899 19 desnacionalização ção 1899 19 desvalorização ção 1899 19 faradização ção 1899 19 imunização ção 1899 19 industrialização ção 1899 19 labialização ção 1899 19 racionalização ção 1899 19 regulamentação ção 1899 19 movimentação ção 1899 19 agrupamento mento 1899 19 apassivação ção 1899 19 envasilhamento mento 1899 19 filtramento mento 1899 19 acalcanhamento mento 1899 19 acinzamento mento 1899 19 aluamento mento 1899 19 charqueação ção 1899 19 desenrolamento mento 1899 19

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desidratação ção 1899 19 deslocamento mento 1899 19 desnorteamento mento 1899 19 encachoeiramento mento 1899 19 faiscação ção 1899 19 floração ção 1899 19 mascateação ção 1899 19 reconsideração ção 1899 19 abalaustramento mento 1899 19 aleitação ção 1899 19 alvitramento mento 1899 19 aportuguesamento mento 1899 19 assalariamento mento 1899 19 cilindramento mento 1899 19 cimentação ção 1899 19 cremação ção 1899 19 degustação ção 1899 19 delibação ção 1899 19 desnudamento mento 1899 19 enlaçamento mento 1899 19 ensaibramento mento 1899 19 entrançamento mento 1899 19 linchamento mento 1899 19 mestiçamento mento 1899 19 mitificação ção 1899 19 motivação ção 1899 19 reinstituição ção 1899 19 substantivação ção 1899 19 sulfuração ção 1899 19 tinção ção 1899 19 transliteração ção 1899 19 aforçuramento mento 1899 19 escarnicação ção 1899 19 involução ção 1899 19 levitação ção 1899 19 reencarnação ção 1899 19 rutilação ção 1899 19 latinização ção 1899 19 obstipação ção 1899 19 poluição ção 1899 19 renegação ção 1899 19 desconcentração ção 1907 20 contraventamento mento 1910 20 abalizamento mento 1913 20 anatomização ção 1913 20

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escravização ção 1913 20 hipnotização ção 1913 20 funcionamento mento 1913 20 açambarcamento mento 1913 20 assombreamento mento 1913 20 atestamento mento 1913 20 bombeamento mento 1913 20 caldeamento mento 1913 20 dedilhamento mento 1913 20 galação ção 1913 20 legiferação ção 1913 20 papagueamento mento 1913 20 abaluartamento mento 1913 20 abastardamento mento 1913 20 aceração ção 1913 20 adubação ção 1913 20 arrobação ção 1913 20 atelhamento mento 1913 20 capação ção 1913 20 desarrumação ção 1913 20 efetivação ção 1913 20 humificação ção 1913 20 inadaptação ção 1913 20 campeação ção 1913 20 climatização ção 1920 20 alactamento mento 1922 20 impacção ção 1922 20 cassação ção 1922 20 deflação ção 1926 20 insalivação ção 1926 20 intubação ção 1926 20 acafajestamento mento 1926 20 apartação ção 1929 20 desinsetização ção 1932 20 descontaminação ção 1935 20 pressurização ção 1937 20 aporrinhamento mento 1938 20 geniculação ção 1938 20 aparação ção 1949 20 atrofiamento mento 1949 20 arreamento mento 1949 20 ambulação ção 1949 20 acoplamento mento 1950 20 texturização ção 1950 20

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desflorestamento mento 1951 20 extrapolação ção 1954 20 descongestionamento mento 1954 20 desvirtuamento mento 1954 20 estatização ção 1958 20 financiamento mento 1958 20 acamamento mento 1958 20 desajustamento mento 1958 20 desinflação ção 1958 20 locupletação ção 1958 20 densificação ção 1958 20 detecção ção 1958 20 descompensação ção 1959 20 globalização ção 1960 20 ejetamento mento 1961 20 escaneamento mento 1964 20 desertificação ção 1965 20 informatização ção 1969 20 desmonetização ção 1970 20 dolarização ção 1970 20 dedetização ção 1975 20 gozação ção 1975 20 diagramação ção 1975 20 estofamento mento 1975 20 pentelhação ção 1980 20 declanchamento mento 1981 20 biodegradação ção 1981 20 somatização ção 1986 20 desbatização ção 1986 20 açambarcação ção 1986 20 destombamento mento 1987 20 terceirização ção 1991 20 computadorização ção XX 20 sintonização ção XX 20 africanização ção XX 20 europeização ção XX 20 lexicalização ção XX 20 maximização ção XX 20 monitorização ção XX 20 protocolização ção XX 20 xerardização ção XX 20 fundamentação ção XX 20 vivenciamento mento XX 20 chumbregação ção XX 20 esfarelamento mento XX 20 interação ção XX 20

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calibração ção XX 20 cavitação ção XX 20 descafeinação ção XX 20 ensacamento mento XX 20 acusamento mento XIII 13 alçamento mento XIII 13 moimento mento XIII 13 acusação ção XIII 13 inquirimento mento XIII 13 acabamento mento XIII 13 acorrimento mento XIII 13 assentamento mento XIII 13 colação ção XIII 13 conspiração ção XIII 13 esquipação ção XIII 13 mandamento mento XIII 13 salvamento mento XIII 13 tardamento mento XIII 13 torneamento mento XIII 13 vagação ção XIII 13 absolvimento mento XIII 13 aguardamento mento XIII 13 apreçamento mento XIII 13 atrevimento mento XIII 13 escusação ção XIII 13 guisamento mento XIII 13 remembramento mento XIII 13 sujeição ção XIII 13 tentação ção XIII 13 tribulação ção XIII 13 consentimento mento XIII 13 cobrição ção XIV 14 tiramento mento XIV 14 adivinhamento mento XIV 14 aliviamento mento XIV 14 escorregamento mento XIV 14 formação ção XIV 14 respiramento mento XIV 14 abraçamento mento XIV 14 acolhimento mento XIV 14 apressuramento mento XIV 14 desbaratamento mento XIV 14 dispensação ção XIV 14 encantação ção XIV 14 esconjuração ção XIV 14 exposição ção XIV 14 mortificação ção XIV 14 oposição ção XIV 14 provação ção XIV 14 provimento mento XIV 14 purificação ção XIV 14

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significação ção XIV 14 soltamento mento XIV 14 abancamento mento XIX 19 acanalamento mento XIX 19 adsorção ção XIX 19 aguardentação ção XIX 19 alambicamento mento XIX 19 fuzilamento mento XIX 19 moqueação ção XIX 19 canonização ção XV 15 interdição ção XV 15 renunciamento mento XV 15 apodrecimento mento XV 15 emagrecimento mento XV 15 endurecimento mento XV 15 adoração ção XV 15 afirmação ção XV 15 apegamento mento XV 15 gabamento mento XV 15 increpação ção XV 15 retardamento mento XV 15 tapamento mento XV 15 abafamento mento XV 15 abstração ção XV 15 assombramento mento XV 15 cessamento mento XV 15 abatimento mento XV 15 afundamento mento XV 15 alagamento mento XV 15 alargamento mento XV 15 aleijamento mento XV 15 alojamento mento XV 15 animação ção XV 15 apagamento mento XV 15 aparelhamento mento XV 15 aprazimento mento XV 15 arrancamento mento XV 15 arrepiamento mento XV 15 aspiração ção XV 15 assopramento mento XV 15 cegamento mento XV 15 cerramento mento XV 15 cozimento mento XV 15 decaimento mento XV 15 declinação ção XV 15 deposição ção XV 15 desenvolvimento mento XV 15 diminuição ção XV 15 engelhamento mento XV 15 espreguiçamento mento XV 15 evacuação ção XV 15

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maginação ção XV 15 medição ção XV 15 mordimento mento XV 15 negamento mento XV 15 opilação ção XV 15 pioramento mento XV 15 quebramento mento XV 15 queimamento mento XV 15 resfriamento mento XV 15 rompimento mento XV 15 tocamento mento XV 15 torcimento mento XV 15 prolongamento mento XV 15 aceitação ção XV 15 acertamento mento XV 15 adição ção XV 15 admiração ção XV 15 alanceamento mento XV 15 aviltamento mento XV 15 ampliação ção XV 15 aniquilamento mento XV 15 apregoamento mento XV 15 aprisionamento mento XV 15 arrebatamento mento XV 15 carregamento mento XV 15 certificação ção XV 15 compungimento mento XV 15 conformação ção XV 15 coroação ção XV 15 danificação ção XV 15 departição ção XV 15 derrubamento mento XV 15 desavergonhamento mento XV 15 desentendimento mento XV 15 desobrigação ção XV 15 detração ção XV 15 difamação ção XV 15 empachamento mento XV 15 encaminhamento mento XV 15 ensinação ção XV 15 entretimento mento XV 15 especificação ção XV 15 exação ção XV 15 ferimento mento XV 15 forramento mento XV 15 habitação ção XV 15 inibição ção XV 15 instigação ção XV 15 interdição ção XV 15 lavramento mento XV 15 leixamento mento XV 15

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lembramento mento XV 15 nomeação ção XV 15 obsecração ção XV 15 operação ção XV 15 punição ção XV 15 relevamento mento XV 15 remordimento mento XV 15 reputação ção XV 15 simulação ção XV 15 tolhimento mento XV 15 usurpação ção XV 15 duração ção XV 15 escapamento mento XV 15 exultação ção XV 15 razoamento mento XV 15 retornamento mento XV 15 adivinhação ção XV 15 caotização ção XX 20 institucionalização ção XX 20 nebulização ção XX 20 robotização ção XX 20 pigmentação ção XX 20 realimentação ção XX 20 posicionamento mento XX 20 embranquecimento mento XX 20 enegrecimento mento XX 20 enriquecimento mento XX 20 reabastecimento mento XX 20 dessecamento mento XX 20 acasalamento mento XX 20 aconselhamento mento XX 20 entrosamento mento XX 20 escalonamento mento XX 20 opacificação ção XX 20 paulificação ção XX 20 plastificação ção XX 20 surgimento mento XX 20 acetilação ção XX 20 enfeitiçamento mento XX 20 entonação ção XX 20 esculhambação ção XX 20 explotação ção XX 20 imantação ção XX 20 intercambiamento mento XX 20 intermediação ção XX 20 miscigenação ção XX 20 percolação ção XX 20 prenotação ção XX 20 puxação ção XX 20 quantificação ção XX 20 reatamento mento XX 20

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reeducação ção XX 20 soerguimento mento XX 20 subarrendamento mento XX 20 televisionamento mento XX 20 tipificação ção XX 20 caulificação ção XX 20 esquiação ção XX 20 evaginação ção XX 20 anovulação ção XX 20 perdição ção XIII 13 perseguição ção XIII 13 sagração ção XIII 13 sorteamento mento XIII 13 sustentação ção XIII 13 desfalecimento mento XIV 14 esmorecimento mento XIV 14 esquecimento mento XIV 14 procedimento mento XIV 14 falecimento mento XIV 14 partimento mento XIV 14 renegamento mento XIV 14 afilação ção XIV 14 afirmamento mento XIV 14 abrimento mento XIV 14 acendimento mento XIV 14 achegamento mento XIV 14 amontoamento mento XIV 14 deleitação ção XIV 14 deliberação ção XIV 14 desesperação ção XIV 14 desvairamento mento XIV 14 enfadamento mento XIV 14 inclinação ção XIV 14 inovação ção XIV 14 percebimento mento XIV 14 pungimento mento XIV 14 retração ção XIV 14 sofrimento mento XIV 14 terminação ção XIV 14 cobrimento mento XIV 14 abaixamento mento XIV 14 cometimento mento XIV 14 condenação ção XIV 14 congregação ção XIV 14 conjuração ção XIV 14 plantação ção XIV 14 postulação ção XIV 14 recobramento mento XIV 14 sustimento mento XIV 14 transmudamento mento XIV 14 vexação ção XIV 14

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conversação ção XIV 14 induzimento mento XIV 14 afinação ção XV 15 humilhação ção XV 15 imploração ção XV 15 levantamento mento XV 15 denegação ção XV 15 inquietação ção XV 15 louvamento mento XV 15 predestinação ção XV 15 proteção ção XV 15 ressaudação ção XV 15 subjugação ção XV 15 suprimento mento XV 15 encarecimento mento XVI 16 logramento mento XVI 16 alvidramento mento XVI 16 demonstração ção XVI 16 liquidação ção XVI 16 talamento mento XVI 16 cruzamento mento XVII 17 decrepitação ção XVII 17 ligação ção XVII 17 educação ção XVII 17 inventariação ção XVII 17 macetação ção XX 20 majoração ção XX 20 premonição ção XX 20 recolocação ção XX 20 superlotação ção XX 20 sentimento mento XIV 14 acatamento mento XIV 14 embaimento mento XIV 14 sublevação ção XVII 17 sufumigação ção XVII 17 velamento mento XVIII 18 calafetamento mento XVIII 18 embalsamento mento XX 20 reprovação ção XIV - XV 14 autenticação ção 1846-1853 19 acanhamento mento 1562 - 1575 16 libertação ção 1562 - 1575 16 reciprocação ção 1562 - 1575 16 mastreação ção 1597 - 1617 16 atilamento mento 1645 - 1647 17 amuamento mento 1817 - 1819 19 turvamento mento 1847 - 1881 19 pidginização ção 1935 - 1940 20 reflorestação ção 1935 - 1958 20 sopitamento mento 1847 - 1890 19 increpamento mento XIV 14

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adnumeração ção XIX 19 incitação ção 1535 - 1583 16 tangimento mento XIV 14