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PONTÍFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Maria Lúcia de Freitas Petrucci Ferreira A INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO TRABALHISTA COM O EMPREGO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2008

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PONTÍFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Maria Lúcia de Freitas Petrucci Ferreira

A INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO TRABALHISTA

COM O EMPREGO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS

MESTRADO EM DIREITO

SÃO PAULO

2008

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PONTÍFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Maria Lúcia de Freitas Petrucci Ferreira

A INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO TRABALHISTA

COM O EMPREGO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS

MESTRADO EM DIREITO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Direito, área Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Doutor Pedro Paulo Teixeira Manus.

SÃO PAULO

2008

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Banca Examinadora

__________________________________

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Enfim, a caminhada chegou ao final... Um filme vem à minha cabeça, desde o

primeiro dia, quando tudo começou. Quantas noites mal dormidas, quantos finais de semana debruçada sobre os livros, quantas viagens, quantos dias de

convívio com a minha amada família deixados de lado ...

No entanto, jamais conseguiria chegar aqui sozinha, pois só foi possível pela existência de uma pessoa muito especial.

Minha alma gêmea, meu marido e amigo, José Carlos...meu amor. Dedico a você, com todo o meu amor, este trabalho.

Depois de muita reflexão, chego à conclusão de que há, no meu íntimo, uma enorme admiração pela sua profissão, pois fico fascinada quando me conta

sobre as inovações tecnológicas, como quem ouve atentamente às lições do professor.

Graças a você, superei todos os momentos de cansaço e desânimo que tive, pois, nos dias em que tive vontade de desistir, você nunca deixou que eu me

abatesse. Você com seu jeito especial, sempre fez o que estava difícil, ou quase impossível, tornar-se possível. Obrigada...

Agradeço por todos os dias em que ficou, numa dedicação sem igual, com nossos filhos, para que eu pudesse estudar. Quantos sábados e domingos! Devo a você todos os momentos em que estudou comigo, sem nunca medir

esforços, mesmo quando cansado. Devo a você o que sou hoje, pois aprendi com você, quando nos conhecemos,

que sempre deveria ser inteira plenamente naquilo que me propusesse fazer. Obrigada por tudo que me ensinou...

Dedico à minha doce filha Mariana este trabalho, ela que, com toda sua delicadeza, vivenciou esta caminhada com paciência desde os seus três anos

de idade; apesar de ainda não entender muito bem, sempre me deu ânimo para continuá-lo e soube, com a sua sabedoria,

entender os meus momentos de ausência.

Dedico ao meu meigo filho Pedro este estudo, ele que estava ainda no meu ventre quando do término deste trabalho,

e que hoje já me olha com seu olhar terno. Ele me ajudou a ser persistente na caminhada.

Dedico, ainda, este trabalho, a meu querido pai Orlando. Ele que nos deixou no início desta caminhada. Fica aqui, pai, meu eterno amor e admiração, você que

foi um brilhante advogado e tanto me ensinou. Meu coração fica apertado de saudade e de dor por não tê-lo neste momento, mas tenho certeza de que,

onde estiver, sempre esteve presente, pois sempre o senti perto de mim. Por fim, dedico à minha mãe Odila este trabalho, ela que sempre incentivou os

estudos e sempre me deu ânimo durante a caminhada. Obrigada por ter se interessado por mais esta etapa dos meus estudos.

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Acima de tudo, agradeço a Deus por nunca

ter me abandonado sempre que tive dificuldades.

Muitas pessoas foram importantes e marcaram o meu caminho;

deixo aqui meu eterno agradecimento a todos, amigos e colegas, que me ajudaram para que este sonho fosse possível. Ficam as lembranças dos

momentos alegres vividos com os amigos e colegas que cultivei nesta minha caminhada, em especial, à minha amiga Cecília.

Minha gratidão ao professor e orientador Dr. Pedro Paulo Teixeira Manus,

pela amizade, pelo otimismo e pela dedicação, que sempre concedeu ao meu trabalho, e por ter acreditado nas minhas idéias.

Agradeço, com muito carinho, a meus pais de coração,

Da. Rita e Sr. José Carlos, minha sogra e meu sogro, pelo amor e atenção que sempre tiveram comigo

e pelas horas que despenderam cuidando de meus filhos em todos os momentos em que meu marido estava trabalhando,

a fim de que me fosse possível me dedicar aos estudos. Minha eterna gratidão...

Agradeço à família do meu marido,

a qual recebi de Deus, em minha vida, como um presente.

Agradeço à minha família, pelo carinho que sempre me foi dado.

Agradeço, com muito amor e carinho à minha grande amiga Maria Izabel de Oliveira Peters, por toda a dedicação despendida para comigo,

pela amizade e pelas horas que nunca poupou para me ajudar nesta caminhada.

Muito obrigada, minha amiga e minha irmã de coração...

Agradeço, em especial, à Profa. Dra. Liana Aureliano e ao

Prof. Dr. João Manuel Cardoso de Mello, diretores da FACAMP, que sempre me incentivaram

e me deram apoio para que eu desse início a esta caminhada.

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RESUMO

O homem busca a solução para os seus conflitos de forma célere e

eficaz, e no processo trabalhista isso não é diferente. Várias tentativas foram

empregadas, nem sempre com sucesso, para atingir a pacificação da

sociedade, pois, muitas vezes, mais pontos de conflito são gerados, em razão

da existência de mecanismos ineficazes e obsoletos para solucioná-los.

Eis que surge o emprego de recursos tecnológicos no âmbito trabalhista,

como forma de obtenção de um processo célere e eficaz.

A informatização da Justiça do Trabalho está ainda em andamento,

tendo-se atualmente apenas o processo eletrônico, mas se pretende chegar ao

ápice, que é o processo virtual. São caminhos a serem percorridos dotados de

uma nova roupagem, em busca de resultados satisfatórios para a pacificação

social.

Essa experiência pôde ser confirmada em pesquisa de campo realizada

no Fórum Virtual da Justiça Estadual da Freguesia do Ó, situado na cidade de

São Paulo; ali, o processo é efetivamente instrumental, com reflexos benéficos

para a sociedade.

PALAVRAS-CHAVES

PROCESSO ELETRÔNICO TRABALHISTA – PROCESSO VIRTUAL

TRABALHISTA – INSTRUMENTALIDADE – PROCESSO CÉLERE E EFICAZ

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ABSTRACT

Society digs solutions for its conflicts in a fast and effective way, and the

same happens in labor disputes. Several attempts were employed, however,

they have not reached society pacification yet, since many times other conflict

points are generated, taking in consideration that the existing mechanisms are

ineffective and obsolete to solve them

Unexpectedly, technological resources have appeared at the labor ambit,

therefore achieving fast and effective judicial proceedings.

Information technology aid at Labor Law, in other words the electronic

proceedings, are still being improved; nevertheless it intends to reach the apex,

which would be the virtual justice proceeding, since they are tracks to be

followed with new clothes, aiming at satisfactory results for social pacification.

This experience can be confirmed by analyzing a field research

performed at State Justice Virtual Forum in Freguesia do Ó, neighborhood in

the city of São Paulo, where the labor proceedings are actually instrumental

with beneficial reflexes to society.

Key-Words

LABOR ELETRONIC JUDICIAL PROCEEDINGS – LABOR VIRTUAL

JUDICIAL PROCEEDINGS – INSTRUMENTALITY – FAST AND EFFECTIVE

JUDICIAL PROCEEDINGS

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10 Capítulo I. Teoria geral do processo ................................................................ 13

1.1. A sociedade e o direito .......................................................................... 13 1.2. A função pacificadora do Estado ........................................................... 16

1.2.1. Meios de solução dos conflitos ....................................................... 19 1.2.2. Antítese entre satisfação de interesse individual e a paz social...... 23

1.3. Processo e direito .................................................................................. 26 1.3.1. Aspectos históricos do processo no Brasil ...................................... 26 1.3.2. A relação entre processo e jurisdição ............................................. 28 1.3.3. A utilização do processo e a satisfação individual .......................... 33

Capítulo II. O processo de informatização da Justiça do Trabalho .................. 36 2.1. A história do computador até os dias atuais .......................................... 36

2.1.1. A nova era tecnológica.................................................................... 38 2.1.2. Do processo físico ao processo virtual............................................ 42

2.2. O início da informatização da Justiça do Trabalho ................................ 44 2.2.1. A prática dos atos processuais por meio eletrônico e a Lei n. 9.800/99 .................................................................................................... 45 2.2.2. Da segurança e da validade dos documentos por meio eletrônico . 49

2.3. Uma nova perspectiva do processo e a lei n. 11.419/2006 ................... 53 2.4. Os recursos tecnológicos implementados na Justiça do Trabalho ........ 58 2.5. A utilização de recursos tecnológicos no âmbito do Judiciário fora do Brasil............................................................................................................. 70

Capítulo III. Princípios aplicáveis aos processos eletrônico e processo virtual trabalhistas ....................................................................................................... 76

3.1. Definição de princípios........................................................................... 76 3.2. Princípios constitucionais....................................................................... 77

3.2.1. Princípio da igualdade de tratamento.............................................. 78 3.2.2. Princípio do devido processo legal.................................................. 85 3.2.3. Princípio do contraditório e da ampla defesa .................................. 95 3.2.4. Princípio da publicidade dos atos processuais.............................. 101 3.2.5. Princípio do acesso à justiça......................................................... 107 3.2.6. Princípio da celeridade.................................................................. 112

3.3. Princípios infraconstitucionais.............................................................. 116 3.3.1. Princípio da oralidade.................................................................... 117 3.3.2. Princípio da imediação .................................................................. 121 3.3.3. Princípio da instrumentalidade ...................................................... 126 3.3.4. Princípio da lealdade processual .................................................. 132 3.3.5. Princípio da economia................................................................... 136

Capítulo IV. A instrumentalidade do processo trabalhista com o emprego dos recursos tecnológicos..................................................................................... 142

4.1. A efetividade do processo eletrônico e do processo virtual na Justiça do Trabalho...................................................................................................... 142 4.2. A proteção ao meio ambiente .............................................................. 154 4.3. A responsabilidade da pessoa que participa dos processos eletrônico e virtual .......................................................................................................... 158

CONCLUSÃO................................................................................................. 164 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 166 GLOSSÁRIO .................................................................................................. 175

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ANEXO I – Imagens de autos de processo digitado ...................................... 179 ANEXO II – Imagens de autos de processo datilografado ............................. 181 ANEXO III – Imagens de autos de processo digitado .................................... 183 ANEXO IV – Lei n. 9.800/ 1999..................................................................... 184 ANEXO V – Medida Provisória n. 2.200-2/2001............................................. 186 ANEXO VI – Lei n. 11.419/2006..................................................................... 192 ANEXO VII – Instrução Normativa n. 30/2007 do Tribunal Superior do Trabalho....................................................................................................................... 203

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INTRODUÇÃO

Na sociedade, sempre houve a busca pela sua pacificação. Foram

criados inúmeros meios de solução dos conflitos, no entanto, o que se percebe,

em muitas das vezes, é que a pacificação social não é alcançada e mais

conflitos são gerados.

No caso da solução dos conflitos pela jurisdição, as pessoas envolvidas

nem sempre obtêm plenamente a sua satisfação pessoal. Essa insatisfação

pode ser gerada por diversos motivos, dentre eles, o enorme tempo

despendido para o desfecho ou, ainda, o emprego de mecanismos ineficazes.

A solução do conflito, pela jurisdição, tem um caminho a ser percorrido -

o processo -, cujo desenvolvimento é dotado de regras próprias, mas esse

ordenamento processual, apesar das inúmeras reformas legislativas efetuadas,

ainda é obsoleto, pois não se conseguiu ainda alcançar a tão pretendida

pacificação social, concomitantemente com a satisfação pessoal dos

envolvidos.

Trata, pois, este estudo, do novo perfil que foi concebido ao “processo”,

especificamente, no âmbito trabalhista, perfil esse que acreditamos, por

propiciar reflexos satisfatórios dentro da sociedade, ser uma nova forma de se

chegar bem próximo, ou, até mesmo, de se obter a pacificação da sociedade a

longo prazo. Essa nova roupagem dada ao processo diz respeito ao emprego

das inovações tecnológicas no processo trabalhista.

Salientamos aqui que o nosso foco de pesquisa são as conseqüências

satisfatórias que o emprego dos recursos tecnológicos já traz, e continuará

trazendo cada vez mais, para o processo trabalhista, ou seja, a sua

instrumentalidade.

Para que fosse feito este estudo, foi preciso analisar a evolução

legislativa que regulamentou a forma para a prática dos atos processuais, até

se chegar à lei n. 11.419/2006, que trata do processo judicial eletrônico, e à

Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho, que a

regulamenta. Assim, aqui ressaltamos que não foi nosso objetivo a análise

integral da referida lei, e reforçamos novamente a idéia de que nossa pesquisa

refere-se aos resultados satisfatórios propiciados pelo processo trabalhista com

o emprego das inovações tecnológicas.

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A informatização do Poder Judiciário, no Brasil, iniciou-se há

aproximadamente uma década e de forma acanhada, mas nos últimos anos

percebeu-se a grande potencialidade destas inovações para se alcançar um

Judiciário eficiente e célere.

É importante esclarecermos que a abordagem feita neste estudo refere-

se a duas situações distintas: a primeira é o “processo em andamento”, uma

vez que o Judiciário Trabalhista ainda está em processo de informatização; e a

segunda é o chamado “processo virtual”, onde não há papel, uma forma para o

qual a Justiça do Trabalho caminhará a curto prazo. Com o intuito de

estabelecermos as devidas diferenciações, denominaremos o primeiro de

“processo eletrônico” ou híbrido, que, de forma sucinta, é o processo com a

utilização concomitante do papel impresso e dos meios tecnológicos; e o

segundo, tão somente de “processo virtual”.

A informatização do Judiciário, como já dito, é muito recente, motivo este

de termos tido enormes dificuldades para desenvolver o tema desta pesquisa:

há, conseqüentemente, escassa bibliografia nacional, e os dados estatísticos

até agora divulgados são exíguos, uma vez que as experiências com o

processo virtual na Justiça Federal e Estadual são muito novas.

Assim, no capítulo um, abordaremos a questão dos interesses não

satisfeitos pelo homem na sociedade, tendo em vista que se busca a

pacificação social. Essa harmonização da sociedade não é alcançada em

razão dos mecanismos então existentes, que não propiciam ao homem a

satisfação do seu anseio. Pretende-se mostrar também que o homem tem,

através da jurisdição, um mecanismo apto para satisfazê-lo, porém, ainda

utilizado de forma inadequada e ineficaz, que é o processo.

No capítulo dois, desenvolveremos a questão da prática da forma dos

atos processuais, desde o seu início até a forma digital. Antes, porém,

apresentaremos uma abordagem histórica do computador até os dias atuais e

da aplicabilidade dos recursos tecnológicos no âmbito da Justiça do Trabalho,

bem como da segurança ali existente. Ressaltaremos, também a evolução da

legislação brasileira que trata sobre a informatização do processo judicial.

No capítulo três, traremos os pilares do processo eletrônico e do futuro

processo virtual a ser implantado no âmbito trabalhista, através da análise

detalhada dos princípios constitucionais e infraconstitucionais inerentes a eles.

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Nessa parte do trabalho damos início à análise dos reflexos que o processo

judicial eletrônico e o pretenso processo virtual trarão para a sociedade e para

os que dele se utilizarem. Eis a justificativa da extensão do capítulo, que trata

da viabilidade e eficiência da nova roupagem — que é o meio eletrônico —

empregada no processo.

Por fim, no capítulo quatro, daremos ênfase aos satisfatórios resultados

do processo judicial eletrônico e do futuro processo virtual no âmbito

trabalhista. Para tanto, traremos à baila a questão da instrumentalidade do

processo trabalhista com o emprego dos recursos tecnológicos, por fim

abordando, por fim, as suas conseqüências para a sociedade.

A título de ilustração para o leitor, há ainda, ao final deste trabalho, os

anexos I, II e III, que dizem respeito a fotografias de autos de processos

obtidas no Centro de Memória, Arquivo e Cultura do Tribunal Regional do

Trabalho da 15ª região. Elas demonstram concretamente a evolução da forma

da prática dos atos processuais, que foram: manuscrita, datilografada e

digitada. Os demais anexos foram trazidos a este estudo a fim de facilitar a

consulta do leitor, e se referem às normas que vieram a regular a prática dos

atos processuais pelo meio eletrônico.

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Capítulo I. Teoria geral do processo 1.1. A sociedade e o direito

O homem, não importa a época, sempre foi dotado de anseios e

interesses, variando estes de acordo com o tempo e o impulso do íntimo, que

leva o homem a buscar seus objetivos.

Ele, como parte integrante de uma sociedade, tem, dentre seus

interesses pretendidos, alguns ou até muitos pretendidos por outros homens.

Eis que surgem na sociedade os conflitos de interesses. O homem moderno

faz parte de uma sociedade conflitante.

Os conflitos de interesses são de todas as ordens: pessoais, éticos,

religiosos, patrimoniais; todavia, sempre terão algo em comum, o anseio do

homem inserido no seu íntimo, da mesma forma como a água está no vinho.

Mas o homem é um ser social e eis o fundamento precípuo do conflito, pois, se

não houvesse sociedade, não haveria resistência e sim uma constante

satisfação. O conflito de interesses consiste na concessão da pretensão de uma das

partes, pois uma terá a sua pretensão excluída ou limitada, em razão da

satisfação da outra, sendo que o conflito consiste na incompatibilidade dos

mesmos.1

Aos conflitos de interesses, Francesco Carnelutti denomina lide, definida

como “um conflito (intersubjetivo) de interesses qualificado por uma pretensão

contestada (discutida)”.2

Na lide, há a pretensão e a resistência, onde figuram dois pólos opostos,

sendo importante ressaltar que os sujeitos titulares dos interesses nem sempre

correspondem aos mesmos da relação pretensão-resistência. Como é, por

exemplo, o caso dos absolutamente incapazes, titulares do interesse,

representados pelo seu representante legal, que é o titular da pretensão.

A pretensão é a manifestação de vontade de um dos sujeitos. Já a

resistência à pretensão é o ato pelo qual ainda que “sem lesar o interesse, o

adversário conteste a pretensão ou, pelo contrário, em que, sem contestar a

1 CARNELUTTI, Francesco. Instituições de Processo Civil. Trad. de Adrián Sotero de Witt Batista. Campinas: Servanda, 1999, p. 75. 2 Ibidem, p. 78.

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pretensão, lese o interesse.”3 Na lide, a razão da pretensão, ou melhor, a

concessão ao interesse pretendido consiste na sua conformidade com a norma

jurídica, como bem conceitua Carnelutti:

é seu fundamento conforme o direito; em outras palavras, a coincidência entre a pretensão e uma relação jurídica ativa. Portanto uma pretensão tem razão quando uma norma ou um preceito jurídico estabelece a prevalência do interesse que é o conteúdo da pretensão.4

Assim, havendo conflito, uma das partes terá o seu interesse alcançado,

pois lhe será atribuído o direito, uma vez que “não há sociedade sem direito”.5

Nessa visão de conflito, há, na realidade, um processo cuja sentença, sendo

satisfatória para o autor, terá a solução de um “conflito conforme definido pelo

seu autor”, segundo a doutrina contemporânea, sem se levar em consideração

outros resultados do processo, sendo este assunto desenvolvido de forma mais

profunda no capítulo quatro deste trabalho.

É importante salientar que foi Carnelutti quem mais bem desenvolveu a

definição de conflito, razão pela qual foi trazida a este estudo, ainda que a esta

definição haja resistência da doutrina moderna. Com relação a sua definição,

diz Dinamarco:

Essa construção, além de exageradamente ligada a relações de direito privado, dá destaque a algo que socialmente é quase indiferente, ou seja, ao conflito conforme definido pelo seu autor. Na vida social o que incomoda e aflige não é a teórica incidência de interesses sobre o bem, mas justamente as exigências não satisfeitas. Aí estão os conflitos que o processo visa a dirimir. 6

A sociedade é dinâmica, é uma fonte imensa de conflitos de interesses,

pois o homem, na ordem social, tem cada vez mais interesses, em razão da

sua evolução natural. Mas a forma de solucionar essa desorganização da

sociedade é conferida ao direito:

3 Ibidem, p. 81. 4 Ibidem, p. 82. 5 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 19. 6 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. I. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 136.

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A tarefa da ordem jurídica é exatamente a de harmonizar as relações sociais intersubjetivas, a fim de ensejar a máxima realização dos valores humanos com o mínimo de sacrifício e desgaste. O critério que deve orientar essa coordenação ou harmonização é o critério do justo e do equitativo, de acordo com a convicção prevalente em determinado momento e lugar. Por isso, pelo aspecto sociológico o direito é geralmente apresentado como uma das formas – sem dúvida a mais importante e eficaz dos tempos modernos – do chamado controle social, entendido como o conjunto de instrumentos de que a sociedade dispõe na sua tendência à imposição dos modelos culturais, dos ideais coletivos e dos valores que persegue, para a superação das antinomias, das tensões e dos conflitos que lhe são próprios. 7

As regras, na sua maioria, emanam do Estado e, nesse caso, são

denominadas normas jurídicas. Estas são obrigatórias a todos os homens e

são dotadas de um comando, ou seja, a descrição de um comportamento; além

disso, caso haja o seu descumprimento, será aplicada uma sanção.

O direito positivo - as normas jurídicas escritas - traz o reflexo da

sociedade e sua elaboração é contextualizada no tempo, pois a lei retrata os

conflitos e interesses sociais, numa tentativa de prever todas, ou quase todas,

as situações em abstrato.

Como bem ensina José Roberto dos Santos Bedaque:

o legislador, ao prever em abstrato situações da vida, estabelece posições de vantagem e de desvantagem. Isto é, determina quais interesses devem prevalecer e quais serão sacrificados. Direito subjetivo nada mais é do que essa posição de vantagem assegurada pelo ordenamento jurídico material, que permite ao seu titular, numa situação concreta, invocar a norma em seu favor. Tem direito subjetivo o titular de um interesse juridicamente protegido pela norma substancial.8

Percebe-se que direito material ou substancial é um conjunto de regras

ou normas em abstrato que prevêem as relações e fatos da vida do homem; no

entanto, são previsões que poderão ser ou não invocadas, dependendo do

interesse e do momento.

7 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Op. cit., p. 19. 8 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e Processo: influência do Direito Material sobre o Processo. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 10.

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1.2. A função pacificadora do Estado Na sociedade, há a permanente situação do conflito de interesses, pois

se depara com uma constante insatisfação social, uma vez que o homem tenta

ter seus anseios alcançados, o que nem sempre consegue.

Em muitas das vezes, uma pessoa tem uma pretensão que não é

concedida, ou por não ter razão, ou porque o interesse pretendido não lhe é

concedido pelo outro que deveria satisfazê-lo.9 Assim, haverá a frustração do

indivíduo, gerando a insatisfação pessoal.

E a experiência de milênios mostra que a insatisfação é sempre um fator anti-social, independentemente de a pessoa ter ou não ter direito ao bem pretendido. A indefinição de situações das pessoas perante outras, perante os bens pretendidos e perante o próprio direito é sempre motivo de angústia e tensão individual e social. 10

Dentro da realidade social, as insatisfações também são geradas por

mecanismos ineficazes, que são colocados como tentativa para satisfazer os

interesses sociais.

Ada Pelegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco e Antonio Carlos de

Araújo Cintra11 defendem ter o Estado uma função pacificadora da sociedade,

através da jurisdição. O Estado-juiz é invocado para solucionar os conflitos

que, muitas vezes, não traz a solução eficaz para o caso, ou seja, não há a

realização da verdadeira justiça. A jurisdição nada mais é que a imposição de

uma decisão perante as partes, tendo em vista o processo desenvolvido

perante a figura do representante estatal, o juiz.

“O poder estatal, hoje, abrange a capacidade de dirimir os conflitos que

envolvem as pessoas (inclusive o próprio Estado), decidindo sobre as

pretensões apresentadas e impondo as decisões.”12

Mas um dos grandes problemas é a imposição da decisão. Esta é

colocada como um mandamento entre as partes, que deverão acolhê-la;

todavia, em muitos dos casos há a insatisfação e, conseqüentemente, a não

solução real do conflito individual daquele que não teve a sua pretensão 9 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Op. cit., p. 20. 10 Ibidem, p. 20. 11 Ibidem, pp. 24-25. 12 Ibidem, p. 24.

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satisfeita, gerando, assim, mais conflitos, como mostram os infindáveis

recursos interpostos perante os Tribunais. Ocorre que o Estado, através da

jurisdição, tem apenas sua função pacificadora e que necessita ser

efetivamente alcançada, a fim de se obter a justiça. Podemos denominar esta

função pacificadora de uma “tentativa pacificadora”, pois, como já dito, nem

sempre se obtém a real e efetiva solução do conflito.

Por outro lado, cresce também a percepção de que o Estado tem falhado muito na sua missão pacificadora, que ele tenta realizar mediante o exercício da jurisdição e através das formas do processo civil, penal ou trabalhista.13

Nota-se nesta esteira, que a inefetividade do processo em obter a

pacificação social se deve a diversos fatores, tais como o formalismo

processual e a morosidade do processo, que são colaboradores para a não

obtenção do objetivo precípuo da jurisdição.14

Os processualistas modernos buscam através de meios alternativos a

pacificação social, por intermédio de instrumentos tais como a conciliação e o

arbitramento,15 além de outras tentativas através das reformas processuais.

Mas a efetividade do processo ainda não foi alcançada plenamente, ou

ainda de forma próxima à plenitude. A inefetividade é ainda um grande

obstáculo no mundo jurídico, pois, embora haja muitas tentativas de solução,

estas ainda não foram satisfatórias. É preciso que haja maiores reformas do

Judiciário, principalmente no que diz respeito aos meios de funcionamento e à

operacionalização dos instrumentos processuais já existentes.

Atualmente, os magistrados têm um número excessivo de processos,

sendo o tempo de que dispõem exíguo se considerada a quantidade de

trabalho, pois os interessados no conflito pretendem sempre uma solução, a

mais rápida possível, o que, todavia, nem sempre ocorre. Os processos são

morosos, em razão de diversos fatores, como a falta de juízes, a falta de

funcionários e sistemas operacionais adequados, a legislação processual

muitas vezes obsoleta para os tempos atuais, e a existência de infindáveis

recursos. Além desses fatores, muitos outros poderiam ser elencados; para 13 Ibidem, p. 26. 14 Ibidem, pp. 26-27. 15 Ibidem, p. 27.

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todos eles, muitas tentativas de solução foram feitas, como reformas

processuais, que dizem respeito, por exemplo, à concessão de tutelas

antecipadas. Mas a insegurança quanto à efetividade do processo permanece,

trazendo até um dos piores problemas já existentes, o fato de as pessoas

falecerem sem ter visto ao menos uma decisão final no seu processo.

Situações como essas são as piores, pois denunciam a total impotência do

Estado perante a sua função pacificadora de conflitos.

E hoje, prevalecendo as idéias do Estado Social, em que ao Estado se reconhece a função fundamental de promover a plena realização dos valores humanos, isso deve servir, de um lado, para pôr em destaque a função jurisdicional pacificadora como fator de eliminação dos conflitos que afligem as pessoas e lhes trazem angústia; de outro lado, para advertir os encarregados do sistema, quanto à necessidade de fazer do processo um meio efetivo para a realização da justiça. Afirma-se que o objetivo-síntese do Estado contemporâneo é o bem-comum e, quando se passa ao estudo da jurisdição, é lícito dizer que a projeção particularizada do bem comum nessa área é a pacificação com justiça.16

José de Albuquerque Rocha17 tem uma visão diferente, defendendo que

a expressão “função de pacificação social do direito” é inadequada, uma vez

que o direito tem a função de direção das condutas, pois o comportamento do

homem em sociedade deve estar de acordo com o ordenamento jurídico,

sendo as suas condutas guiadas por este último. Os conflitos surgem em razão

da inefetividade das normas de direção de condutas18; portanto, o direito deve

intervir antes da ocorrência do conflito, e não posteriormente, através da função

pacificadora. O direito tem uma função de tratamento dos conflitos pois,

o direito oferece não só as regras que servem de critério para dirimir o conflito, como também as chamadas regras processuais. Assim, é a categoria do conflito que vai possibilitar explicação racional da diferença entre os dois tipos de normas do sistema jurídico: normas substanciais e normas processuais.19

16 Ibidem, p. 25. 17 ROCHA, José de Albuquerque. Teoria Geral do Processo. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 27. 18 Ibidem. 19 Ibidem.

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Nessa esteira, percebe-se que o direito terá maior efetividade com a sua

função de direção da conduta do comportamento do homem, do que com sua

função posterior de pacificação social. Esta intervenção a priori traz para a

sociedade uma maior satisfação individual, pois há uma prevenção do conflito,

que muitas vezes não será resolvido de forma eficaz em razão do interesse

não concedido à parte da relação.

A função de tratamento dos conflitos sociais caracteriza-se por consistir em uma intervenção do direito posterior ao conflito, enquanto na função de direção das condutas sua intervenção é anterior ao conflito. Isso mostra que o conflito nasce da inefetividade das normas de direção das condutas, ou seja, o conflito nasce quando falha a função de direção das condutas. 20

Porém, entendemos que este caráter preventivo do direito não é ainda

suficiente para se atingir a pacificação social plena, ou quase plena, uma vez

que, dependendo do caso concreto, será inevitável a busca de uma solução em

juízo, havendo, portanto, a imposição de uma decisão e não se alcançando a

paz social.

1.2.1. Meios de solução dos conflitos

Os meios de solução dos conflitos são de três ordens, conforme doutrina

e, em especial, também no âmbito trabalhista,21 quais sejam, a autotutela, a

autocomposição e a heterocomposição.

No presente trabalho, esse tema será brevemente abordado; porém, não

obstante a sua relevância, não fará parte de estudo mais detalhado, uma vez

que não é o objeto precípuo deste estudo.

A autotutela é a situação em que uma das partes envolvidas no conflito

impõe-se unilateralmente em face da outra parte. “Como se vê, a autotutela

permite, de certo modo, o exercício de coerção por um particular, em defesa de

seus interesses.”22

Mas a autotutela, na atualidade, tem restrições, pois implica na solução

do conflito por força imposta por uma das partes, e esta situação é condenada, 20 Ibidem. 21 NASCIMENTO, Amauri Mascaro do. Direito Sindical. São Paulo: LTr, 1982a, pp. 248-250. Apud MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 226. 22 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 1444.

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havendo, ainda, alguns preceitos no Código Civil aplicáveis, como a legítima

defesa (art. 188, I , CC), o esbulho imediato (art. 1210, parágrafo 1º, CC) e o

penhor legal ( art. 1470, CC).

Já no âmbito trabalhista, “a greve constitui importante exemplo da

utilização da autotutela na dinâmica de solução de conflitos coletivos

trabalhistas”23; no entanto, o que ocorre na prática é o movimento paredista

funcionar como instrumento de pressão para solução do conflito.24 A autocomposição é o meio pelo qual se põe fim ao conflito sem a

intervenção de terceiro, havendo somente o

despojamento unilateral em favor de outrem da vantagem por este almejada, seja pela aceitação ou resignação de uma das partes ao interesse da outra, seja, finalmente, pela concessão recíproca por elas efetuada. Na autocomposição não há, em tese, exercício de coerção pelos sujeitos envolvidos.25

A autocomposição ocorre por excelência nas atividades conciliatórias.26

A autocomposição pode ocorrer das seguintes formas: pela renúncia,

aceitação e transação. Há a renúncia na situação em que a pessoa dispõe de

direito próprio em benefício de outrem.27 Já a aceitação ocorre se uma pessoa

reconhece o direito da outra e age de acordo com ele.28 Segundo ensina

Maurício Godinho Delgado,

a aceitação pode comportar situações algo diferenciadas (embora muito próximas, é claro), segundo o estado de espírito e conduta da parte que confere a aquiescência. Ela envolve a aceitação, no sentido estrito, e a resignação ou submissão – que são a inércia em reagir em face da manifestação do direito de outrem. Registre-se, por fim, que também se utiliza a expressão composição para designar a aceitação ou reconhecimento do direito de outrem.29

A transação é a situação pela qual as partes realizam concessões

mútuas, a fim de pôr fim ao conflito. 23 Ibidem. 24 Ibidem, p. 1445 25 Ibidem. 26 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Op. cit., p. 30. 27 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit., p. 1445 28 Ibidem. 29 Ibidem.

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No âmbito trabalhista, segundo Pedro Paulo Teixeira Manus, “a

autocomposição é sinônimo de negociação direta. E esta se expressa pela

convenção coletiva de trabalho ou pelo acordo coletivo de trabalho,

dependendo do âmbito de sua aplicação”.30

Nas situações conflituosas, pode-se pôr fim às mesmas através da

heterocomposição.

A heterocomposição é o meio pelo qual as partes solucionam o

conflito, em razão da intervenção de um terceiro. As formas de

heterocomposição são: jurisdição, arbitragem, conciliação e mediação.

Na jurisdição, as partes recorrem ao terceiro, o Estado, representado

pela figura do juiz, que analisará o caso concreto, aplicará a lei em abstrato, a

fim de pôr fim ao conflito. A jurisdição tem como característica própria a

imposição da decisão, uma vez que as partes deverão aceitá-la, pois não há

concessões ou renúncia a direitos. “A jurisdição tem como instrumento próprio

de agir a coerção, utilizável frente a resistências descabidas a seu exercício

regular.”31

Já a arbitragem, a conciliação e a mediação são os chamados meios

alternativos colocados como tentativas de se alcançar a pacificação social,

tendo-se em vista que o Judiciário nem sempre é capaz de resolver o conflito,

uma vez que se encontra emperrado, moroso e com acúmulo de processos,

sendo estas algumas das razões que o fazem ser ineficiente.

No momento em que se buscam novas e mais eficientes fórmulas para solucionar os conflitos surgidos, o processo, instrumento de garantia do restabelecimento de direitos violados, transforma-se em obstáculo para a pacificação dos interesses em choque. Por causa disso, renascem outros mecanismos como a mediação, a conciliação e a arbitragem que, na realidade, apenas são reativados, porque mostraram-se eficazes para a solução dos conflitos de interesses. Assim é que, nos países denominados de primeiro mundo, a mediação, a conciliação e a arbitragem são agrupados sob o título de Juízos Conciliatórios.32

30 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 226. 31 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit., p. 1448. 32 SOUZA, Zoraide Amaral de. Arbitragem, Conciliação e Mediação nos Conflitos Trabalhistas. São Paulo: LTr, 2004, p. 47.

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Como diz Adriana Noemi Pucci, citada por Fernando Horta Tavares, os

meios alternativos de solução dos conflitos “são formas de solucionar

controvérsias fora da participação estatal”33; a autora reforça ainda que a

utilização destes meios visa à “obtenção de conflitos com maior rapidez,

economia e confidencialidade da que se obteria recorrendo à justiça estatal.”34

A arbitragem, no direito brasileiro, vem regulada pela lei n. 9.307/96 e é

o meio de pôr fim ao conflito através da nomeação de um terceiro — um árbitro

— que imporá a solução através de um lado arbitral.

A arbitragem pode ser obrigatória ou voluntária, legal ou convencional,

de direito ou de equidade, nacional ou internacional; no entanto, essas

modalidades não serão desenvolvidas neste trabalho, uma vez que não fazem

parte do foco de estudo.

Quanto à conciliação, é o meio de pôr fim ao conflito que ocorre quando

as partes são conduzidas por um terceiro, não obrigatoriamente representado

pelo juiz, que obtém um resultado conciliatório diverso daquele pretendido

pelas partes. A finalidade da conciliação

é levar as partes a um entendimento, através da identificação de problemas e possíveis soluções. O conciliador apazigua as questões sem se preocupar com a qualidade das questões. Interfere, se necessário, nos conceitos e interpretações dos fatos, utilização de aconselhamento legal ou de outras áreas.35

Especificamente no âmbito da Justiça do Trabalho, surgiu a lei n.

9.958/2000, que criou as comissões de conciliação prévia e que inseriu os arts.

625-A até 625-H da Consolidação das Leis do Trabalho.

A comissão de conciliação prévia,

na realidade, cuida-se de organismos ou instituições de conciliação extrajudicial, cujo objetivo é tentar conciliar os conflitos individuais de trabalho, não possuindo qualquer relação, seja de cunho administrativo, seja jurisdicional com o Ministério do Trabalho e Emprego ou com a Justiça do Trabalho e não se encontra subordinada a qualquer registro ou reconhecimento de órgãos

33 PUCCI, Adriana Noemi. “Medios alternativos de solución de disputas”. In: BASSO, Maristela (org.). Mercosul: seus efeitos jurídicos, econômicos e políticos nos estados-membros. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, pp. 318-339. Apud TAVARES, Fernando Horta. Mediação e Conciliação. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p. 41. 34 Ibidem. 35 TAVARES, Fernando Horta. Op. cit., p.43.

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públicos, ressalvado o depósito do instrumento normativo instituidor na Delegacia Regional do Trabalho competente.36

A comissão de conciliação prévia veio como um meio de tentar

solucionar, através da conciliação, os conflitos trabalhistas existentes, sem a

necessidade da intervenção estatal.

Na mediação, o terceiro aproxima as partes, a fim de conduzi-las ao acordo.

É mera técnica de auxílio à resolução de conflitos, pela qual um terceiro cumpre o papel de aproximar as partes, com elas debatendo os pontos de divergência e aproximação, sugerindo-lhes consenso sobre um resultado final pacificatório.37

Já Luiz Carlos Amorim Robortella afirma que

a mediação propicia um diálogo verdadeiro entre as partes, cada qual confiando suas razões aos mediadores, com maior autenticidade e abertura para negociação de propostas e contrapostas. Os mediadores realizam seu trabalho de aproximação baseando-se, além dos aspectos legais, também em razões de conveniência e oportunidade. Estas últimas têm enorme potencial sedutor porque os critérios fundados apenas no sistema legal nem sempre trazem justa composição para o litígio. É um instrumento de comprovada eficácia, tanto nos litígios individuais quando nos coletivos, como se verifica no direito comparado.38

O terceiro, que aproxima as partes, denomina-se mediador. Ele não tem

poderes decisórios, como o árbitro, mas tem o objetivo de contribuir para o

diálogo entre as partes, a fim de que estas resolvam o conflito.

Percebe-se, portanto, que os meios de solução dos conflitos,

especificamente os alternativos, são caminhos diversos buscados a fim de se

chegar de forma mais célere e eficaz, à pacificação social.

1.2.2. Antítese entre satisfação de interesse individual e a paz social

O homem, quando em conflito, tem o seu interesse individualmente

considerado, que é resistido pelo de outrem. Essa resistência é conseqüência 36 SOUZA, Zoraide Amaral de. Op. cit., p. 201. 37 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit., p. 1450. 38 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. “Mediação e Arbitragem. Solução extrajudicial dos conflitos do trabalho”. Revista Trabalho e Doutrina, São Paulo, n. 14, set/1997, pp.69-80. Apud TAVARES, Fernando Horta. Op. cit., p. 64.

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de dois interesses individuais, em que um se pretende mais importante que o

outro, gerando, assim, o conflito.

Todavia, há diversos meios para a solução do conflito, como acabamos

de mostrar, havendo ou não a interferência de terceiro.

Pela jurisdição, busca-se, com a solução dessa situação conflitante, o

restabelecimento da paz social. Mas, visando a esse objetivo, deixa-se de lado,

muitas das vezes, ou quase sempre, a questão da insatisfação individual, em

benefício da obtenção da chamada “paz social”. O que se pretende, na

verdade, é mascarar a pacificação social através de uma falsa realidade, sendo

que uma das partes teve contra si uma decisão imposta, tendo que aceitá-la

por falta de outra alternativa de busca da sua satisfação individual.

Assim, surge a antítese entre a paz individual e a paz social. O que, na

realidade, se pretende é que a sociedade viva em harmonia, dentro de uma

ordem jurídica que lhe proporcione segurança.

Mas as chamadas decisões injustas talvez tenham sido originadas pela

ineficiência da própria máquina estatal, ou por falta de mecanismos capazes de

obter um maior grau de justiça. É evidente que não se pode fugir da realidade,

pois a justiça plena nunca será alcançada, mas é preciso chegar mais próximo

dela, através de mecanismos capazes e eficazes que propiciem ao Judiciário a

prolatação de decisões as mais justas possíveis.

É preciso levar em consideração, nesta reflexão, dois fatores

preponderantes dessa antinomia, a morosidade do processo e a acessibilidade

ao processo por parte de todos envolvidos, inclusive do próprio Judiciário.

O fator de duração do processo é um antigo problema dentro do

Judiciário, trazendo diversas consequências não só no plano individual das

partes envolvidas, mas também no que diz respeito ao funcionamento da

máquina estatal.

A solução de um conflito de forma demorada gera, muitas vezes, mais

expectativas e maiores angústias e decepções dos envolvidos, chegando-se

até, freqüentemente, a decisões inócuas, pois as partes inicialmente

interessadas podem nem estar vivas no momento da decisão final, e sim seus

herdeiros, que têm outros interesses individuais e não mais aqueles

originariamente existentes na relação inicial de conflito. O processo torna-se

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um meio racional de prolatação de sentenças que não traz a satisfação

individual verdadeira.

A acessibilidade ao processo consiste no direito tanto das partes

envolvidas quanto do juiz de terem um processo realmente mais acessível,

mais próximo, mais eficaz.

É preciso se ater à seguinte idéia: se todas as sentenças fossem

prolatadas por juízes experientes, com grande conhecimento jurídico e com

maturidade e senso de justiça, talvez as partes obtivessem sentenças bem

próximas da justiça. Mas nem sempre isto é possível, seja pela própria situação

do juiz na sua carreira (no caso, por exemplo, de um juiz recém-ingresso na

magistratura), seja pelo enorme volume de processos a serem julgados por

magistrados, pela vasta pauta de audiências a ser cumprida, ou até mesmo

pela falta de tempo dos magistrados para se atualizarem e se dedicarem mais

às reflexões sobre o que é realmente a justiça e sobre como pacificar os

conflitos que lhe chegam às mãos para serem julgados.

Só tem acesso à ordem jurídica justa quem recebe justiça. E receber justiça significa ser admitido em juízo, poder participar, contar com a participação adequada do juiz e, ao fim, receber um provimento jurisdicional consentâneo com os valores da sociedade.39

O instrumento denominado “processo” deve estar mais próximo das

partes; para tanto, deve ser um processo simplificado, desburocratizado, célere

e com informações transmitidas de forma cristalina e acessível. Essas

informações mais acessíveis trarão, a longo prazo, um Judiciário mais maduro

e uniforme.

O que não pode acontecer é uma acomodação social, ou seja, elimina-

se pura e simplesmente o conflito, a fim de que se estabeleça a aparente paz

social, dando-se pouca importância ao individual.

Esta contingência do processo, que relativiza o valor justiça individual, é um imperativo do interesse social em que o conflito desapareça. Claro está que o ideal consiste em que a justiça se logre no menor tempo possível. Obra humana, o processo padece, porém, da imperfeição de nossa natureza, e o que se verifica, na

39 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. I, 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 134.

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verdade, é uma transigência, com sacrifício maior ou menor de um dos fins em proveito do outro.40

Dentro desse contexto da realidade, as sentenças tendem a ser

prolatadas de forma racional e sem a preocupação com a distância que separa

os interesses individuais ali envolvidos da simples solução daquele conflito.

Percebe-se que, se houvesse uma maior preocupação em diminuir essa

distância, poder-se-ia chegar a decisões próximas da Justiça plena. Todavia,

para haver uma atenuação desta antinomia, é preciso uma maior

“acessibilidade ao processo” por parte de todos os participantes, partes, juiz,

procuradores, enfim, de todos os envolvidos.

1.3. Processo e direito 1.3.1. Aspectos históricos do processo no Brasil

O Brasil, no início, sendo colônia portuguesa, era o espelho desta. Na

época do descobrimento, vigoravam em Portugal as Ordenações Afonsinas,

que depois foram substituídas pelas Ordenações Manuelinas. As Ordenações

Afonsinas foram consideradas a primeira codificação da Europa, no reinado de

Dom Afonso V, quando foram compiladas as leis portuguesas, as normas de

direito foraleiro, as normas costumeiras, a Lei das Sete Partidas, e foram

consagrados o direito romano e o direito canônico. Depois, em 1521, Dom

Manuel promulgou as Ordenações Manuelinas, que mantiveram a influência do

direito canônico.41

O Marquês de Pombal percebeu que a justiça no Brasil era ruim, em

razão do número volumoso de demandas, da falta de conhecimento dos

magistrados e do não cumprimento da legislação; então, resolveu promulgar a

Lei da Boa Razão em 18 de agosto de 1769,

que estipulava a observação e guarda dos preceitos expressos nas Ordenações e prescrevia regras a serem utilizadas para solucionar dúvidas surgidas entre as partes envolvidas nos litígios. Ficou estipulado, ainda, que a Casa de Suplicação de Lisboa passaria a

40 LACERDA, Galeno. Teoria Geral do Processo. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 5. 41 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I,17. ed., São Paulo: Saraiva, 1994, p. 50. Apud DE PAULA, Jônatas Luiz. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Manoel, 2002, p. 42.

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esclarecer todas as consultas provenientes das Relações existentes no Império Ultramarino Português. Com a chegada da Corte de Dom João VI no Brasil, a Casa de Suplicação foi remodelada e implantada no Rio de Janeiro, transformando-se num verdadeiro colegiado, destinada a julgar recursos.42

Havia as comarcas, onde atuavam o Ouvidor, o Juiz Ordinário e o Juiz

de Órfãos. Foram instituídos também, por D. João VI, os cargos de Juiz

Conservador da nação inglesa, com competência para as questões do reino

inglês, e de Intendente da Polícia da Corte e do Estado do Brasil, que cuidava

das causas atinentes à segurança pública, à saúde e à família.43

Com a proclamação da independência do Brasil (1822), continuaram a vigorar no país as leis até então vigentes, promulgadas em Portugal ou no Rio de Janeiro, naquilo que não contrariasse a soberania nacional e o regime instaurado e enquanto não fossem legisladas outras leis, conforme Decreto de 20 de outubro de 1823. Assim, o primeiro diploma processual vigente no Brasil foram as Ordenações Filipinas.44

No decorrer do tempo, o processo civil sofreu várias influências e

alterações, tais como as operadas pelo anexo baixado pelo Governo Imperial

junto com o Código de Processo Criminal em 29 de novembro de 1832, o

Regulamento n. 737 de 25 de novembro de 1850, que tratava dos processos

comerciais e estabelecia um procedimento simplificado, enquanto que os

processos civis continuavam a seguir as Ordenações Filipinas.45

No entanto,

com a proclamação da República em 1889, o Governo Provisório expediu o Decreto n. 359, de 26 de abril de 1890, pelo qual foi abolida a conciliação como formalidade preliminar e essencial para serem intentadas ou prosseguidas as ações cíveis e comerciais, salvo se as partes desistirem, confessarem ou transigirem, nos caso em que for admissível, para pôr termo ao processo, ou mediante compromisso arbitral. O Decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890, organizou a Justiça Federal e estabeleceu as regras para serem

42 Ibidem, p. 43 Cf. SERRÃO, Joel; MARQUES, A. H. Oliveira (dir.); SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Nova Expansão Portuguesa - O Império Luso-Brasileiro (1750-1822). Vol. VIII. Lisboa: Estampa, 1986. pp. 316-318. 43 Ibidem, Cf. SERRÃO, Joel; MARQUES, A. H. Oliveira (dir.); SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Op. cit. pp. 319-320. 44 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I, 17.ed., São Paulo: Saraiva, 1994, p. 51. Apud DE PAULA, Jônatas Luiz. Op. cit., p. 44. 45 DE PAULA, Jônatas Luiz. Op. cit., p. 44.

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processadas as ações cíveis e comerciais, na esfera dos juízes e tribunais federais. Contudo, foi com a Constituição de 24 de fevereiro de 1891, que marcou a primeira fase do direito processual brasileiro no período republicano, pois além de ratificar a dualidade da justiça (Federal e as estaduais), permitiu-se aos Estados-membros a faculdade de legislar sobre matéria processual civil e criminal e organização judiciária. A partir de então, surgiu o período dos “códigos estaduais.46

A Constituição de 1934 atribuiu à União a competência para legislar

sobre matéria processual, sendo que, em 18 de setembro de 1939, foi

promulgado o Código de Processo Civil — Decreto-lei n. 1.608/39 — e, em 3

de outubro de 1941, o Código de Processo Penal — Decreto-lei n. 3.689/41.47

O Código de Processo Penal sofreu algumas alterações, tal como a que

diz respeito à Lei de Execução Penal.

Já o processo trabalhista veio ao ordenamento jurídico brasileiro através

da Consolidação das Leis do Trabalho — Decreto-lei n. 5.452 de 1º de maio de

1943 —, também com várias alterações, tais como a criação do procedimento

sumaríssimo e das Comissões de Conciliação Prévia, salientando-se que o

Código de Processo Civil tem função de aplicação subsidiária ao processo

trabalhista, conforme preceitua o art. 769, CLT.

No entanto, em 11 de janeiro de 1973, foi promulgado o vigente Código

de Processo Civil — lei n. 5.869 —, que sofreu várias reformulações (em 1994,

1995 e 2006), com a introdução da tutela antecipatória, da ação monitória, e de

alterações que dizem respeito à execução.

1.3.2. A relação entre processo e jurisdição

Primeiramente, é necessário esclarecer que, no presente trabalho, será

utilizada a nomenclatura “processo” para se referir à jurisdição contenciosa,

uma vez que a jurisdição voluntária não será objeto de estudo. Assim, fica

convencionado que todas as referências ao “processo” são relativas à

jurisdição contenciosa.

46 Ibidem, p. 45. 47 Ibidem.

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Processo, etimologicamente, “significa ‘marcha avante’, ‘caminhada’ (do

latim procedere = seguir adiante).”48 No entanto, não se confunde processo e

procedimento, como ora interpretado, pois a denominação processo teve, na

sua história, um significado equivocado, “como a simples sucessão de atos

processuais (procedimento).”49

O processo deve ser visto sob o aspecto da sua finalidade, ou seja,

é o conjunto de atos que se realizam com o objetivo de resolver a lide, ao passo que procedimento significa a seqüência de cada um dos vários atos que integram este complexo. De modo que há uma distinção conceitual entre processo e procedimento. Processo é uma visão de conjunto, procedimento é uma visão parcelada, fragmentária dos vários atos que o integram.50

Percebe-se, assim, que todo acontecimento, quando chega ao fim,

passou por um caminho para atingir o seu objetivo, ou seja, por um processo, o

mesmo acontece com o homem, quando se depara com um interesse

pretendido, no entanto, resistido por outrem. O alcance dessa pretensão é o

objetivo do homem, que, para atingi-lo, deverá percorrer um caminho, um

conjunto de atos, situações e pessoas envolvidas que o levará ao fim, que é a

imposição, por um ente superior, o Estado, de uma decisão que lhe concederá

ou não o direito àquela pretensão. Esse caminho percorrido é o processo, ao

passo que os atos praticados no percurso pelo pretendente ao direito e por

aquele que resiste à pretensão é o procedimento.

No entanto, no final do processo, há a entrega da prestação jurisdicional, a sentença, pois

o processo é indispensável à função jurisdicional exercida com vistas ao objetivo de eliminar conflitos e fazer justiça mediante a atuação da vontade concreta da lei. É, por definição, o instrumento através do qual a jurisdição opera (instrumento para a positivação do poder).51

Dentro dessa perspectiva, há mais um interesse do homem na ordem

social, uma vez que existe uma relação de interesse entre o direito subjetivo e

o direito processual, pois, através do processo, há o interesse, por parte do 48 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Araújo. Op. cit., p. 279. 49 Ibidem. 50 LACERDA, Galeno. Op. cit., p. 35. 51 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Araújo. Op. cit., p. 279.

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homem, de fazer valer a sua pretensão. O direito processual é o meio do qual

aquele que pretende fazer valer o seu interesse previsto em abstrato — direito

material — se utiliza para garantir a si o direito substantivo ou material, através

da jurisdição.

O direito processual são as regras processuais utilizadas como

instrumento, pelo Estado, para exercer a sua função jurisdicional, o que se faz

através do juiz, que determina a concessão do direito material ou substancial,

que são as regras que regulam a vida cotidiana.

Ora, com maestria Cândido Rangel Dinamarco ensina tais conceitos

através da lição a seguir transcrita:

Chama-se direito material, ou substancial o corpo de princípios e normas que disciplinam fatos e relações emergentes da vida. Há coisas que sucederiam, ainda que o direito não existisse, ainda que existissem leis. O casamento, por exemplo, como união de um homem e uma mulher para o fim de constituir família. Se não houvesse o direito, mesmo assim aconteceria a união de casais, pois isso é decorrência da própria natureza humana. Ainda que não houvesse é decorrência da própria natureza humana. Ainda que não houvesse direito, crianças nasceriam e necessitariam do amparo dos pais. Ainda que não existissem leis, haveria o comércio, haveria patrimônio, haveria vida e haveria morte. A função das normas de direito material é, então, disciplinar as relações que derivam desses acontecimentos. Os direitos e deveres que há entre os cônjuges e o que tem o pai diante dos filhos. As situações que decorrem dos contratos, dos negócios. A pertinência de um patrimônio a uma pessoa. A transmissão desse patrimônio a outras pessoas (sucessores), quando falece o seu titular. O castigo que merece quem tira a vida a um semelhante. Tudo isso é que constitui objeto das leis de direito material (direito civil, comercial, administrativo, penal). Ora, justamente porque tais normas regulam fatos e relações emergentes da vida de todo dia, o direito material é muito mais facilmente compreendido, pelo leigo ou pelo principiante. Todos têm já alguma experiência com o casamento, ou com contratos, ou patrimônio, ou sucessão hereditária. São coisas que nos cercam em nossas vidas. O direito processual, porém, já é menos espontâneo. O processo é um instrumento de que dispõe o Estado para o exercício de uma função específica e soberana, que é a jurisdição. É através dele que o Estado (pela mão do juiz) julga as pretensões que lhe são trazidas, dizendo através de uma sentença quem tem razão e quem está contra os ditames do direito. É através dele que o Estado executa suas próprias decisões, invadindo o patrimônio do devedor inadimplente e retirando daí o que baste para a satisfação do credor,

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ou impondo restrições ao jus libertatis do criminoso, para submetê-lo a uma pena corporal. Já se vê, portanto, que o processo não é um fato da vida cotidiana do leigo. Só tem contato com suas normas os profissionais do foro. O leigo, por exemplo, tem a intuição do que é justo e do que não é; mesmo sem ter estudado direito, acha que é dever do pai fornecer alimentos, merecendo até prisão se não o fizer. Mas não tem intuições sobre as regras processuais, pois o processo não faz parte da sua vida.52

Nesta perspectiva, o homem pretende fazer valer o seu interesse —

direito subjetivo —; no entanto, irá buscar, por intermédio do processo, a

satisfação do seu anseio, que lhe será entregue, ou não, pela jurisdição. Essa

idéia é defendida pelos processualistas por meio da denominada teoria

dualista.

A teoria dualista, que é a aceita pelo direito positivo brasileiro53 e

defendida por Chiovenda, Liebman e Cândido Rangel Dinamarco, estabelece a

existência de dois planos, o da legislação e o da jurisdição. O direito subjetivo

existe independentemente do processo, pois o que ocorre é que através da

jurisdição há a concessão, ou não, à pessoa daquele direito já preexistente em

abstrato no ordenamento jurídico.

Assim disse Chiovenda:

a norma concreta se forma automaticamente com o suceder de fatos previstos na norma abstrata, que ao processo de cognição (condenatório, constitutivo ou meramente declaratório) não toca senão declará-la e que a função do processo executivo é atuá-la praticamente.54

Segundo a teoria dualista, a norma existe independentemente da

atuação dos órgãos jurisdicionais.

No entanto, há, em contrapartida a teoria unitária, que tem por

defensores Carnelutti e Calamandrei. Esta explica que o ordenamento jurídico

consiste em um único plano, pois o direito nasce com a jurisdição, com a

função do juiz exercida no processo. A norma em abstrato (substancial) não

tem a aptidão de resolver os conflitos de interesses de forma independente,

52 DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. 2. ed. São Paulo: RT, 1987, pp. 56-57. 53 Ibidem, p. 32. 54 Apud DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. 2. ed. São Paulo: RT, 1987, pp. 21-22.

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uma vez que ela depende da jurisdição para solucioná-los; conseqüentemente,

conforme defendem esses autores o direito nasce com o processo. O direito

subjetivo depende do processo para a sua existência.

Como bem ensina Carnelutti, o efeito da sentença, diz ele, é tornar concreto ou particular o preceito abstrato ou genérico contido na norma legal; o comando abstrato é representado por um arco, o qual só se fecha em círculo quando houver o comando complementar; este reside na sentença (não dispositiva) e no negócio jurídico.55

Uma vez que, pela teoria unitária, a norma jurídica enuncia determinado

comportamento, caso haja a não observância deste, haverá uma sanção a ser

aplicada pela jurisdição56, que consiste exatamente na solução do conflito.

Após essas considerações sobre a relação do direito processual e o

direito subjetivo, é importante salientar que o processo tem como objetivo o

acesso à “ordem jurídica justa”57, ou seja, à concreta satisfação daquele que

buscou a concessão do seu interesse no conflito.

Eis a questão da instrumentalidade do processo, que é a “efetividade do

processo como meio de acesso à justiça”58, ou seja, a ordem jurídica justa,

questão sobre a qual nos aprofundaremos no capítulo quatro do presente

estudo.

Havendo o conflito de interesses entre duas pessoas, estas poderão não

recorrer aos meios de solução da contenda, tais como a mediação, a

arbitragem e outros, uma vez que, para pôr fim a este ponto de desequilíbrio

social, pode ser que esses meios se tornem, muitas vezes, ineficazes.

A parte que se sente lesada acaba por fim recorrendo à jurisdição, que

“é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares

dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do

conflito que os envolve, com justiça.”59

Mas o que ocorre é que, para se chegar à solução deste conflito por

meio da jurisdição, será preciso percorrer um caminho — o processo — pois 55 Apud DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. 2.ed. São Paulo: RT, 1987, p. 20 56 Ibidem, p. 35. 57 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Araújo. Op. cit., p. 45. 58 Ibidem. 59 Ibidem, p. 129.

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essa pacificação é feita mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentando em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (através de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (através da execução forçada).60

O processo é o meio, o caminho para se chegar ao fim do conflito, sendo

que ele exterioriza, ou seja, materializa a jurisdição, uma vez que o magistrado

conduz as partes nesse caminho, a fim de que forme um processo válido, o

devido processo legal.

O Estado, através da jurisdição, tem como escopo a pacificação social,

tendo como meio o processo, sendo que uma das partes, a lesada, pretende

ver o seu direito concedido em contrapartida ao da outra parte no conflito. Mas

o que se nota é que a jurisdição tenta trazer a pacificação da sociedade, e não

dos indivíduos envolvidos no conflito, pois, no processo, o objetivo é a

realização do direito material, a fim de se obter uma harmonização social.

Como bem leciona Ada Pelegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco e

Antonio Carlos de Araújo Cintra,

A realização do direito objetivo e a pacificação social são escopos da jurisdição em si mesma, não das partes. E o Estado aceita a provocação do interessado e a sua cooperação, instaurando um processo e conduzindo-o até ao final, na medida apenas em que o interesse deste em obter a prestação jurisdicional coincidir com aquele interesse público de atuar a vontade do direito material e, com isso, pacificar e fazer justiça.61

1.3.3. A utilização do processo e a satisfação individual

Como já explanado anteriormente, o processo é um conjunto de atos

ordenados de forma individualizada (procedimento), o qual tem por objetivo a

solução da lide.

Esse conjunto de atos é praticado, de acordo com as formas

estabelecidas pelo direito processual, sendo-lhe ainda facultado praticar os

atos processuais livremente, desde que a lei não lhe preveja expressamente

60 Ibidem. 61 Ibidem, p. 132.

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outra forma; assim, o ato que atingir a sua finalidade será considerado válido,

não trará prejuízo a alguém, e, conseqüentemente, não será declarado nulo.

Mas os atos processuais faziam parte, até antes da lei n. 9.800/99 e da

lei n. 11.280/06, de um processo totalmente físico, ou seja, o processo era

inteiramente formado por atos praticados de forma escrita no papel.

É importante salientar que, no presente trabalho, estabelecemos que a

nomenclatura referente ao “processo físico” significa o processo realizado

através da forma tradicional, ou seja, de forma escrita, à tinta e no papel, cujos

atos iniciais serão autuados e formarão o que se denomina de “autos do

processo”.

Ocorre que, no processo físico, os atos processuais seguem o

procedimento e acabam sofrendo um grande prejuízo, a morosidade da

entrega da prestação jurisdicional.

Como já foi dito, há processos que perduram por muitos anos, de forma

que, em alguns casos, as partes, no momento da solução da lide, nem sequer

estão vivas. Em situações como essas, depara-se com a maior situação de

impotência do Poder Judiciário, pois o poder jurisdicional foi invocado para

solucionar um conflito, sendo que uma das partes — pretendente e resistente à

pretensão — não mais figura na lide, uma vez que houve a insatisfação

pessoal desta pessoa que não mais é viva e a quem a concessão chegou, em

momento tardio. Casos como esse são prova da mais alta ineficiência do

Estado na pacificação da paz individual na sociedade. A responsabilidade é

também do Estado, que dispõe de um processo físico ineficaz e moroso.

Há outras situações de ineficiência do Estado em razão da utilização do

processo físico, como é o caso de processos em que há a condenação, mas a

parte vencedora não tem a efetividade da prestação jurisdicional em razão da

não localização de bens para satisfazer a dívida. Há falta de acesso às

informações, gerando, assim, uma maior inefetividade da prestação concedida

através da sentença condenatória, ou seja, concede-se o direito, mas não se

consegue fazê-lo valer, e, conseqüentemente, não há a satisfação pessoal da

parte vencedora.

Como bem ensina Cândido Rangel Dinamarco, diferente é o posicionamento moderno, agora girando em torno da idéia do processo civil de resultados. Consiste esse postulado na

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consciência de que o valor de todo sistema processual reside na capacidade, que tenha, de propiciar ao sujeito que tiver razão uma situação melhor do que aquela em que se encontrava antes do processo. Não basta o belo enunciado de uma sentença bem estruturada e portadora de afirmações inteiramente favoráveis ao sujeito, quando o que ela dispõe não se projetar utilmente na vida deste, eliminando a insatisfação que o levou a litigar e propiciando-lhe sensações felizes pela obtenção da coisa ou da situação postulada. Na medida do que for praticamente possível, o processo deve propiciar a quem tem um direito tudo aquilo e precisamente aquilo que ele tem o direito de receber (Chiovenda), sob pena de carecer de utilidade e, portanto, de legitimidade social. O processo vale pelos resultados que produz na vida das pessoas ou grupos, em relação a outras ou aos bens da vida – e a exagerada valorização da ação não é capaz de explicar essa vocação institucional do sistema processual, nem de conduzir à efetividade das vantagens que dele se esperam. Daí a moderna preferência pelas considerações em torno da tutela jurisdicional, que é representativa das projeções metaprocessuais das atividades que no processo se realizam e, portanto, indica em que medida o processo será útil a quem tiver razão.62

Todavia, nota-se que, várias reformas ocorreram na tentativa de haver a

satisfação pessoal da parte no final do processo, como a criação da ação

monitória e dos Juizados Especiais Cíveis; na esfera trabalhista, a criação do

procedimento sumaríssimo e das comissões de conciliação prévia, além de

outras reformas da legislação processual que dizem respeito ao processo de

execução.

Mas tais reformulações ainda não foram plenamente suficientes a ponto

de trazerem o acesso à ordem jurídica justa e eficaz, uma vez que não

abrangem todos os âmbitos do Poder Judiciário, e não abarcam de forma

ampla todos os direitos materiais ou subjetivos.

Dentro de uma nova reformulação do processo, que antes era físico,

surge, inicialmente, a prática de alguns atos processuais através do meio

denominado “virtual”, cuja nomenclatura será melhor explicada no capítulo dois

deste estudo. Eis que surge, então, o “processo eletrônico”.

O processo eletrônico é uma nova roupagem que se dá ao processo, a

fim de que se obtenha um processo eficaz.

62 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. I, 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 127.

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Capítulo II. O processo de informatização da Justiça do Trabalho 2.1. A história do computador até os dias atuais

A matemática, desde os primórdios da organização social humana, foi a

base da computação.

Há registros de que os primeiros dispositivos computacionais, chamados

de ábaco, surgiram por volta de 3.500 a.C., no Oriente Médio e depois foram

aperfeiçoados pelos chineses, por volta de 2.600 a.C. Tratava-se de era um

mecanismo manual para realizar operações matemáticas, tais como subtrações

e adições.

Em 1.700 a.C., os babilônicos já trabalhavam com o sistema de

numeração sexagesimal, que deu origem ao contemporâneo sistema de hora,

minuto e segundo63.

Por volta de 1614, o escocês John Napier inventou uma máquina

manual denominado “Bastões de Napier”, invento que fazia operações de

multiplicação.

Décadas mais tarde, em 1642, o francês Braile Pascal inventou, para

auxiliar seu pai na cobrança de impostos, uma calculadora que ficou conhecida

como “Máquina Aritmética de Pascal”.

Cerca de dois séculos mais tarde, em 1822, o britânico Charles Babbage

desenvolveu um invento denominado “Máquina Analítica de Babbage”, que era

capaz de calcular diferenças, superando os mecanismos matemáticos da sua

época, que apresentavam muitos erros; a máquina, todavia, não chegou a ser

construída, em razão da carência de peças e utensílios para a sua montagem.

Charles Babbage é considerado, pela maioria, como o pai do computador,

apesar de haver opiniões divergentes.

Em 1880, em razão do lento processo de recenseamento dos Estados

Unidos da América do Norte, que durava aproximadamente oito anos para ser

concluído, um norte-americano, Herman Hollerith, desenvolveu a “Máquina de

Recenseamento de Hollerith”. Este foi o primeiro computador existente, pois

era uma máquina capaz de coletar os dados do censo em cartões que eram

perfurados, tabulados e contabilizados, chegando-se, assim, à operação

63 PIMENTEL, Alexandre Freire. O Direito Cibernético: Um Enfoque Teórico e Lógico-Aplicativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 5.

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matemática final. A partir desse invento, o censo americano durou no máximo

três anos. Em 1890, Hollerith criou sua empresa, que, posteriormente, se

transformou na International Business Machines Corporation – IBM. Herman

Hollerith foi o precursor da era computacional na área de documentação, pois

seu invento foi capaz de documentar informações através de um

processamento técnico e não mais manual.64

O espanhol Leonardo Torres Quevedo desenvolveu, em 1914, “uma

máquina que simulava movimentos de jogos de xadrez”.65 Em 1936, o inglês

Alan M. Turing criou uma máquina que, baseada em algoritmos, era capaz de

resolver vários problemas matemáticos. Assim, surgiu a Teoria Matemática da

Computação. No ano seguinte,

nos Estados Unidos, HOWARD AIKEN, desenvolveu uma calculadora de relés na Universidade de Harvard. A primeira calculadora automática, controlada por programa, construída por AIKEN, ficou pronta em 1944 e recebeu o nome de MARK I. 66

Entre 1934 a 1946, na Universidade da Pensylvania, foi desenvolvido o

primeiro computador eletrônico denominado ENIAC.67

Assim, de 1940 a 1952, surgiram as máquinas da chamada primeira

geração de computadores; nessa época, eles eram utilizados mais na área

militar e a “sua programação era realizada em linguagem de máquina e sua

memória resumia-se às informações armazenadas em cartões perfurados e em

linhas de retardo de mercúrio.”68

A segunda geração de computadores surgiu entre 1952 e 1964, quando

os equipamentos ganharam mais velocidade, passaram a ocupar menor

espaço e houve redução do consumo de energia. Os computadores foram

utilizados nas áreas administrativas e gerenciais das empresas.

A terceira geração de computadores surgiu entre 1964 e 1971, com o

aparecimento dos chips de memória, dos discos magnéticos e com uma

evolução dos softwares.

64 Ibidem. p. 41. 65 Ibidem. p. 11. 66 COSTA, Marco Aurélio Rodrigues da. “Crimes de Informática”. Jus Navigandi, Teresina, ano 1, n. 12, maio 1997. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1826>. Acesso em: 07/03/2008. 67 Ibidem. 68 PIMENTEL, Alexandre Freire. Op. cit. p. 16.

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Na quarta geração, compreendida entre 1971 e 1981, surgiram os

microprocessadores, difundiu-se o uso do disquete para armazenar dados e

houve o início da telemática. Esta é a ciência que estuda o uso do computador

com os meios de telecomunicação. Nessa época, há o surgimento da

Microsoft, fundada por Bill Gates.

E, por fim, temos a última geração de computadores, que se iniciou em

1981 e vai até os dias atuais, com o surgimento de inovações diárias para os

softwares e hardwares.

2.1.1. A nova era tecnológica

Alexandre Freire Pimentel assim conceitua o computador como:

a constituição de uma máquina eletrônica composta de elementos físicos e lógicos, capaz de efetuar, em linguagem natural, uma notável multiplicidade de tarefas unindo os pressupostos da velocidade aos da precisão operacional.69

Vários são os conceitos elaborados por cientistas e pesquisadores,

alguns dando a conotação de atividade voltada para a documentação científica,

independentemente do uso do computador, outros se referindo ao

processamento eletrônico de dados, e outros, ainda, entendendo que é o

processamento da informação voltada para a documentação. A informática

moderna tem como sustentáculos o elemento físico, denominado hardware, e o

lógico, que é o software.

Assim diz Alexandre Freire Pimentel:

Recentemente, a informática fora apresentada como um setor da documentação geral, chegando o dicionário russo de terminologia da informação, a defini-la como: ”Um ramo da ciência que estuda as regras de coleta, processamento, conservação, recuperação e disseminação da informação científica e que organiza de forma “ótima” a atividade informativa com base nos modernos meios técnicos.70

Todavia, houve a necessidade de se transportar os dados, gerados num

lugar, para outro, onde eles seriam empregados; o transporte foi feito através

de cabos de telefonia e microondas, e eis que surgiu a telemática. Esta nada

mais é que a informática aplicada à telecomunicação. “A telemática pode ser 69 Ibidem, p. 21. 70 Ibidem, pp. 38-39.

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conceituada como a técnica que trata da comunicação de dados entre

equipamentos informáticos distantes uns dos outros.”71

Surge o modelo de computador mainframe, que era um computador

central com vários outros interligados a ele, como se fosse uma “estrela do

mar”.

Ocorre que os Estados Unidos da América, durante a Guerra Fria, com o

intuito de evitar um ataque nuclear que destruísse as informações da defesa

civil americana, criaram uma descentralização destas informações, pois, com o

modelo mainframe, elas poderiam ser destruídas, caso houvesse um

bombardeio em um dos “tentáculos da estrela”.

Assim, surge a rede, que são computadores localizados em locais

diversos e interligados entre si, utilizando-se da mesma base de informações.

Após a Guerra Fria, a rede continuou a ser utilizada, porém, foi expandida para

a sociedade em geral e, posteriormente, deu origem à internet.

A internet é a “rede das redes”, pois é a maior já existente, que interliga

pessoas de todas as partes do mundo, dando-lhes acesso a informações

comuns existentes em qualquer localidade, através de terminais de

computadores interligados por cabos, linha telefônica ou, ainda, sem fio, no

caso da rede denominada wireless.

Nos dias atuais, a internet é fundamental para a vida em sociedade, pois

há a necessidade do acesso à informação em curto espaço de tempo.

Na era computacional, o homem, dentro de um mercado competitivo e

globalizado, busca cada vez mais evoluir a fim de alcançar uma melhor

capacitação profissional. Todavia, dentro desse contexto, ele necessita otimizar

o seu tempo, sendo assim essencial o uso da internet. Surge, dessa forma,

uma nova concepção de sociedade, a “sociedade da informação”72, apesar de

opiniões divergentes quanto à nomenclatura, como as dos que preferem

“sociedade da comunicação”73 .

Adotamos, para o objetivo do presente estudo, a nomenclatura

“Sociedade da Informação”, definida como um estágio de desenvolvimento 71 Ibidem, p. 40 72 TELEFONICA. “A Sociedade de Informação no Brasil”. 2002. Disponível em: http://telefonica.com.br/sociedadedeinformacao/socinfo1.htm. Acesso em: 25/07/07. 73 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito da internet e da sociedade da informação. Rio de Janeiro: Forense, 2002. Apud ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Processo Eletrônico e Teoria Geral do Processo Eletrônico. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 14.

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social caracterizado pela capacidade de seus membros (cidadãos, empresas e

administração pública) de obter e compartilhar qualquer informação

instantaneamente, de qualquer lugar e da maneira mais adequada.74

Nessa nova concepção de sociedade, a da informação, há novas regras

a serem cumpridas, novos conflitos a serem resolvidos, sendo que os

integrantes dessa sociedade respeitam uma hierarquia que lhes foi imposta.

Estamos no território virtual, com quebras de barreiras geofísicas (através da informática) e comunicações velozes, quase que imediatas. Um território sem idéia de poder central, mas com hierarquia em sua estrutura que, estranhamente, foi aceita pelo mundo inteiro. Trata-se do poder geral da Internet, ou ICANN.75

A ICCAN é o órgão responsável pelas regras e funcionamento da

internet a nível mundial.

A ICANN - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (órgão mundial responsável por estabelecer regras do uso da Internet) é uma entidade sem fins lucrativos e de âmbito internacional, responsável pela distribuição de números de “Protocolo de Internet” (IP), pela designação de identificações de protocolo, pelo controle do sistema de nomes de domínios de primeiro nível com códigos genéricos (gTLD) e de países (ccTLD) e com funções de administração central da rede de servidores. Esses serviços eram originalmente prestados mediante contrato com o governo dos EUA, pela Internet Assigned Numbers Authority (IANA) e outras entidades. A ICANN hoje cumpre a função da IANA.

Sendo uma sociedade de capital misto, a ICANN se dedica à manutenção da estabilidade operacional da Internet, à promoção da concorrência, a obter uma ampla representação das comunidades globais congregadas na Internet e ao desenvolvimento de uma política adequada à sua missão, com processos consensuais, implantados através da abordagem "bottom-up"(de baixo para cima).76

Nessa sociedade da informação, que é a existente no âmbito virtual, há

regras a serem cumpridas; há uma hierarquia dentro dos parâmetros impostos

pela ICANN, que tem poder de controle a nível mundial, sendo que o Brasil faz

parte da sua diretoria. 74 TELEFONICA. Op. cit., p. 16. Acesso em: 25.07.07. 75 ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Op. cit., pp. 8-9. 76 ICANN. “A comunidade internacional da Internet trabalha em equipe para promover a estabilidade e a integridade da Internet”. Disponível em: http://www.icann.org/tr/portuguese.html. Acesso em: 25/07/07.

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Dentro da estrutura da ICANN, governos e organizações de tratados internacionais trabalham em parcerias com empresas, entidades e indivíduos altamente qualificados, envolvidos no desenvolvimento e manutenção da Internet global. A inovação e o crescimento contínuos da Internet criam novos desafios para a manutenção da estabilidade. Nesse trabalho conjunto, os participantes da ICANN lidam com as questões diretamente ligadas à missão de coordenação técnica da ICANN. Fiel ao princípio de total auto regulamentação em uma economia de alta tecnologia, a ICANN é, talvez, o exemplo máximo de trabalho em equipe, dado pelos vários membros da comunidade que compõe a Internet.

A ICANN é administrada por uma diretoria internacional diversificada, que supervisiona o processo de desenvolvimento de políticas. O presidente da ICANN administra uma equipe internacional que opera de três continentes, garantindo que a ICANN cumpra seu compromisso operacional com a comunidade da Internet.

Projetado para atender às exigências das tecnologias e economias em constante mudança, esse processo de desenvolvimento de políticas, flexível e de implementação imediata, é ditado pelas três organizações de suporte (Supporting Organizations). Os comitês consultivos (Advisory Committees) de organizações de usuários individuais e comunidades técnicas colaboram com as organizações de suporte para criar políticas adequadas e eficazes. Mais de oitenta governos prestam à Diretoria um serviço constante de assessoria, através do Comitê Consultivo Governamental (Governmental Advisory Committee).

A diretoria da ICANN conta com cidadãos da Alemanha, Austrália, Brasil, Bulgária, Canadá, China, Coréia, Espanha, Estados Unidos da América, França, Gana, Holanda, Japão, México, Portugal, Quênia, Reino Unido e Senegal.77

A utilização de novas tecnologias em todas as áreas já é uma realidade

que faz parte da rotina normal da sociedade. Na atualidade, nas áreas médica,

administrativa, da engenharia, aeronáutica, biológica, acadêmica, empresarial,

enfim, em todos os âmbitos é imprescindível o uso do computador e da

internet. Para a área jurídica, esta realidade não poderia ser diferente.

Hoje, já temos no Brasil a total utilização, pelo Tribunal Eleitoral, da urna

eletrônica, o que trouxe um enorme avanço no processo de fazer a informação

chegar de forma precisa e rápida, do momento da votação, até a apuração

eleitoral. A antiga votação, o voto escrito no papel e depositado nas urnas, hoje

não faz mais parte da realidade brasileira, pois seria um retrocesso a volta de

77 Ibidem.

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tal sistema, uma vez que a população do Brasil já absorveu a urna eletrônica

como fazendo parte da sua cultura.

Da mesma forma, está ocorrendo essa mudança cultural no âmbito do

Poder Judiciário do Brasil, pois a informatização já vem sendo implantada há

algum tempo, ainda que de forma lenta. Todavia, alguns Tribunais já estão

anos à frente com relação a essa nova era tecnológica, tais como os Tribunais

Trabalhistas e os Federais.

2.1.2. Do processo físico ao processo virtual

No Brasil, o processo de informatização do Judiciário é muito recente; no

que diz respeito à Justiça do Trabalho, seu início se deu há menos de dez

anos.

Façamos um brevíssimo retrocesso na memória da prática dos atos

processuais no âmbito trabalhista. Getúlio Vargas criou, para dirimir os conflitos

trabalhistas, as Comissões Mistas de Conciliação e as Juntas de Conciliação e

Julgamento. A partir da Constituição de 1946, a Justiça do Trabalho passa a

ser órgão do Judiciário.78 Nesse início da Justiça do Trabalho, os atos

processuais eram praticados nos autos do processo de forma manuscrita,

conforme anexo I. Posteriormente, passaram os atos processuais para a forma

datilografada (anexo II) e, depois, passaram a ser digitados (anexo III).

Os autos de processo digitados são diferentes dos datilografados, pois

os textos digitados são estéticos, não necessitam da antiga utilização do sinal

da barra (“/”) no final da linha do texto datilografado. Há inúmeras facilidades

geradas com a digitação, como a correção do texto antes da impressão, o

aproveitamento do mesmo texto para gerar documento semelhante e outros.

Por fim, deu-se início ao processo digitalizado, que consiste na prática dos atos

processuais por meio eletrônico. Com a implantação do processo digitalizado,

caminha-se a curto prazo para o processo completamente digital ou virtual.

Esses conceitos serão explicados mais à frente neste estudo.

A procura pela Justiça do Trabalho, no decorrer da sua história, teve um

aumento assustador, o que começou a torná-la lenta e onerosa, de forma que, 78 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª. REGIÃO – RIO DE JANEIRO/RJ. Histórico. Disponível em: http://www.trtrio.gov.br/comunicacao/historico/htm. Acesso em: 29/07/07.

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em alguns casos, não mais se atingia o objetivo buscado com a mesma. Além

do acúmulo de trabalho, os processos e papéis foram tomando um vulto de

difícil e dispendioso armazenamento.

A intenção inicial do legislador foi estabelecer um processo que

tramitasse perante a Justiça do Trabalho de forma célere, uma vez que

O processo trabalhista não pode ser demorado, arrastando-se interminavelmente perante os órgãos judiciais, porque a matéria versada é, basicamente, de natureza alimentar, como os salários etc. Assim, propugna-se por um processo rápido, o quanto possível simples e informal, sem prejuízo das garantias fundamentais do processo.79

Assim, no Brasil, houve a busca de modernização da Justiça do

Trabalho, através do processo de informatização.

Vários problemas foram enfrentados para se dar início à informatização.

Os entraves encontrados foram os mais diversos, indo desde a falta de

equipamento até a de pessoal especializado e treinado.

As diretrizes iniciais foram tomadas, com a compra de equipamentos

mais modernos para os Tribunais Regionais e as Varas Trabalhistas, bem

como com o treinamento dos servidores.

Atualmente, os vinte e quatro Tribunais Regionais do Trabalho, bem

como o Tribunal Superior do Trabalho, foram informatizados e houve a

instalação de rede com acesso através da internet.

O uso da informática vem contribuindo para a modernização das atividades da Justiça do Trabalho. A essência da Internet está em propagar informações abertas, acessíveis por qualquer um em qualquer lugar, um meio de comunicação em velocidade e amplitude incomparáveis com as até então existentes, que cresce de modo mais rápido que as redes de televisão e de telefonia e permite a conexão de maior número de pessoas ao mesmo tempo. A Internet mudou o comportamento das pessoas, das empresas, dos sindicatos, dos governos, de grupos e subgrupos sociais, apresentando perspectivas de futuro até agora com estimativas e previsões infindáveis.

79 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Processo do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2005, p.167.

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Portanto, a Internet é uma rede de conexão que interliga os usuários em todo o mundo por meio de computadores, englobando milhares de outras redes menores, de modo a permitir a circulação de textos, imagens e sons com temas dos mais variados, em velocidade e proporção antes desconhecidas.80

Mas apenas o acesso à informação pela internet não foi suficiente para

agilizar o trâmite dos processos, uma vez que outros recursos foram

necessários e serão, ainda, essenciais para se alcançar a finalidade do

processo, ou seja, a entrega da prestação jurisdicional num curto espaço de

tempo, a fim de se realizar um dos princípios processuais trabalhistas, o da

economia processual.81

O trabalhador, ao ingressar na Justiça do Trabalho, tem assegurado um

processo célere, mediante a menor prática de atos processuais, pois o

empregado busca o seu direito, que é a origem do seu sustento e de sua

família, o pagamento do seu salário, das verbas rescisórias, a reintegração ao

emprego e demais direitos trabalhistas.

Felizmente há, atualmente, um projeto a nível nacional em todas as

esferas do Judiciário, e ao qual a Justiça trabalhista também já aderiu. É a

informatização do processo judicial, que deu ensejo à lei n. 11.419/2006. A

idéia desse projeto é que o Judiciário seja gradativamente informatizado e que

seja implementado o processo virtual, ou seja, o processo sem papel, do qual

trataremos mais à frente, neste estudo.

2.2. O início da informatização da Justiça do Trabalho

O homem, antes da era digital, não imaginava o que seria celular,

palmtop, internet com banda larga, teleconferência, reconhecimento pela íris,

(denominado biometria), tecnologia bluetooth, documento digitalizado, cartório

digital, certificação digital, rede wireless, ou mesmo um computador com as

ferramentas atuais.

Todavia, com a evolução da humanidade, houve o surgimento da

tecnologia, e esta traz a cada dia mais inovações. O homem desta era

80 Ibidem, pp. 74-75. 81 CORDEIRO, Wolney de Macedo. Fundamentos do Direito Processual do Trabalho Brasileiro. São Paulo: LTr, 2005, p. 30.

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tecnológica, hoje, não vive mais sem o computador, sem a internet, sem o seu

celular. Tais tecnologias são essenciais à sua vida em sociedade.

A informação precisa ser transmitida de forma assustadoramente

crescente com o surgimento diário de novas tecnologias.O homem passou a ter

novos hábitos, os quais eram, anteriormente, para ele desconhecidos, sendo

que agora, os juízes, advogados e demais operadores do Direito, no início do

seu expediente de trabalho, não se sentam somente à mesa e iniciam mais um

dia de labor. Hoje, primeiramente, eles acessam seus e-mails e lêem as

notícias on-line obtidas pela internet nos jornais ali virtuais.

Assim, antes do advento da internet, o operador do Direito não

imaginava que iria realizar tais atos de forma tão simplificada, os quais antes

necessitavam obrigatoriamente do papel. Hoje, a tendência é a extinção do uso

do papel e a existência, no futuro, apenas de processos e cartórios digitais,

bem como de audiências telepresenciais.

Dessa forma, o uso da grande rede — a internet — trouxe um benefício

sem igual à Justiça do Trabalho, que está ainda nos primórdios desta nova era,

a digital. O seu processo de informatização está ainda em formação, pois ele é

desenvolvido lentamente.

A busca de digitalização das informações dos processos conferiu uma

maior rapidez na prestação jurisdicional e uma economia significativa dos

recursos antes despendidos para o armazenamento de processos em papel.

2.2.1. A prática dos atos processuais por meio eletrônico e a Lei n. 9.800/99

O processo de informatização da Justiça é muito amplo, abrangendo

desde a parte judicial até a administrativa do Poder Judiciário.

Quanto aos serviços da atividade jurisdicionada, a informatização da

Justiça do Trabalho teve por preocupação a prática dos atos processuais de

forma mais célere e menos dispendiosa, criando facilidades que permitissem a

economia de tempo e de custos.

Para Liebmann, o ato processual é

uma declaração, ou manifestação de pensamento, feita voluntariamente por um dos sujeitos do processo, enquadrada em uma das categorias de atos previstos pela processual e pertencente

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a um procedimento, com eficácia constitutiva, modificativa ou extintiva sobre a correspondente relação processual.82

Segundo Amauri Mascaro Nascimento, ato processual “é manifestação

de vontade que emana das pessoas vinculadas à relação jurídica processual, à

qual se destina.”83 Diz ainda o mesmo autor que, para Moacyr Amaral Santos,

são atos processuais aqueles que têm efeito de constituir, conservar, desenvolver, modificar ou cessar a relação processual. Arruda Alvim acrescenta que há mais um elemento a ser considerado: todo ato processual tem de ser necessariamente aquele praticado no processo. “Todo e qualquer ato processual, materialmente elaborado antes do início do processo, somente adquirirá relevância jurídica e então produzirá efeitos, precisamente quando se constituir ou formar o processo. O ato de conservação, igualmente, só terá validade se praticado perante o juiz e no processo. Da mesma forma, os atos de desenvolvimento e modificação, bem como de cessação da relação jurídica processual. O que marca o ato processual, pois, é sua ligação ao processo, e justamente o efeito que produzirá nos atos que se lhe seguirem, se for ato de constituição.” Uma vez praticado, o ato processual transforma-se em forma processual. Há, portanto, uma movimentação dinâmica partindo do plano subjetivo das pessoas relacionadas com o processo, objetivando-se no processo materialmente considerado. A forma processual é a concretização do ato processual.84

O ato processual, portanto, é o praticado pelas partes, pelo juiz ou por

terceiros dentro do processo, objetivando a entrega da prestação jurisdicional,

ou seja, a sentença. Assim, o ato processual se materializa, através da forma.

Como diz Amauri Mascaro Nascimento,

as formas processuais são os atos concretizados, materializando-se no processo. Enquanto o mundo onde vive e de onde parte o ato processual é o sujeito, a esfera em que existe a forma processual é o objeto. A forma torna possível o conhecimento do ato.85

82 LIEBMAN, Enrico Tullio. Manual de direito processual civil. V. I. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1985, p.222. Apud CORDEIRO, Wolney de Macedo. Op. cit., p. 107. 83 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit., p. 251. 84 Ibidem, p. 251-252. 85 Ibidem, p. 252.

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Os atos processuais têm várias formas, que se classificam, segundo

Amauri Mascaro do Nascimento86, pelo modo do seu registro, pela natureza do

idioma e pelo modelo.

Pelo modo do seu registro, os atos processuais podem ser manuscritos,

datilografados, fotocopiados, carimbados ou por outros meios mecânicos, tais

como gravação em fita magnética. Com a evolução da tecnologia, é admissível

a prática de atos processuais através do uso de computadores, como é o caso

do emprego da internet.

Pela natureza do idioma, devem ser produzidos na língua portuguesa ou

se for documento estrangeiro, deve ser anexada a tradução por tradutor

juramentado.

Pelo modelo, o ato processual pode ser produzido por meio de petição,

ata, termo, impresso, autos, guia, pautas, mandados, ofícios e outros.

As principais particularidades dos atos processuais trabalhistas, sob o

aspecto da Consolidação das Leis do Trabalho em seus artigos 771, 772 e 773,

são: publicidade, documentação e certificação da produção do ato pela parte

que o praticou.

Todavia, tal texto normativo remonta a 1943, sendo preciso

contextualizá-lo na realidade atual, em que os recursos tecnológicos, tais como

o uso de computador e de internet, são utilizados na documentação dos atos

processuais. É interessante ressaltar que, à época da entrada em vigor da

Consolidação das Leis do Trabalho, em 10 de novembro de 1943, havia, no

âmbito da Justiça, somente o emprego da máquina de datilografia.

Com o advento do Código de Processo Civil em 1973, a forma dos atos

processuais trabalhistas não ficou mais restrita somente ao art. 771 da

Consolidação das Leis do Trabalho, pois a aplicação subsidiária do texto

processual civil trouxe ao operador do direito uma amplitude no que diz

respeito à forma.

Em 1973, no âmbito da Justiça, não se cogitava ainda a utilização dos

recursos de informática para a prática dos atos processuais, conforme se

percebe na redação do seu art. 154: “Os atos e termos processuais não

dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir,

86 Ibidem, pp. 252-253.

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reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a

finalidade essencial.”

Entretanto, em 1994, o artigo 170 do Código de Processo Civil recebeu

nova redação pela Lei n. 8.952 de 13 de dezembro de 1994, prevendo o uso da

taquigrafia, estenotipia ou outro método idôneo para a prática de atos dos

escrivães ou chefes de secretaria. Assim diz o art. 170: “É lícito o uso da

taquigrafia, da estenotipia, ou de outro método idôneo, em qualquer juízo ou

tribunal.”

É importante salientar que o legislador começa a conceder uma certa

liberdade para a prática dos atos processuais, sendo esta condicionada apenas

à não existência de nulidade processual.

Vê-se, portanto, que o ato é considerado válido, desde que atinja o seu

objetivo e não haja cominação de nulidade pelo fato de ter sido praticado de

forma diversa, conforme prescrevem os artigos 243 e 244 do Código de

Processo Civil.

Essa liberdade encontra forte relação com o emprego de recursos

tecnológicos, pois houve, em 1994, a liberação do uso da internet para fins

comerciais, o que não ocorria anteriormente, pois esta, até então, era apenas

utilizada para fins militares e educacionais.

Com o aumento assustador de processos, a entrega da prestação

jurisdicional tornou-se cada vez mais lenta, levando o operador do direito a

recorrer aos avanços tecnológicos da era digital.

Esse panorama levou o legislador a adequar a legislação à realidade

processual. Foi com o advento da Lei n. 9.800, de 26 de maio de 1999, que

houve um grande passo da legislação com relação às normas processuais.

Diz o artigo 1o da referida lei: “É permitida às partes a utilização de

sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar,

para a prática de atos processuais que dependam de petição escrita.” (grifo

nosso)

No ano em que a referida lei foi promulgada, o fac-símile era o meio

mais moderno e revolucionário de comunicação e trouxe inúmeros benefícios.

A parte, ao enviar a petição por fac-símile ou através de outro meio

eletrônico, tem o ônus de encaminhar o original dos documentos apresentados,

no prazo máximo de cinco dias, após o término do prazo processual; portanto,

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“a utilização do meio eletrônico não substitui o ajuizamento da petição escrita,

mas apenas antecipa o seu recebimento”.87

Com o advento dessa lei, dá-se início ao emprego da internet no

processo, uma vez que houve a autorização da transmissão de informações,

que dependam de petição escrita, por “outro similar”; no entanto, o grande

entrave enfrentado foi com relação à fidelidade da informação transmitida via e-

mail, que seria juntada aos autos. 2.2.2. Da segurança e da validade dos documentos por meio eletrônico

A Medida Provisória n. 2.200-2/2001 instituiu a Infra-Estrutura de Chaves

Públicas Brasileiras — ICP-Brasil — a fim de garantir a autenticidade, validade

jurídica e integridade dos documentos produzidos pela forma eletrônica e que

utilizam certificados digitais.

A Certificação Digital é um arquivo eletrônico que acompanha um documento assinado digitalmente e cujo conteúdo é criptografado. Ela contém informações que identificam a empresa e/ou pessoa com quem se está tratando na Internet. Um documento eletrônico que possui Certificação Digital tem garantia de autenticidade de origem e autoria, de integridade de conteúdo, de confidencialidade e de irretratabilidade, ou seja, de que a transação, depois de efetuada, não pode ser negada por nenhuma das partes. Certificação Digital é o equivalente eletrônico de carteiras de identidade, passaportes e cartões de associados. Você pode apresentar uma Identificação Digital eletronicamente para provar sua identidade ou seu direito a acessar informações ou serviços on-line. Identificações Digitais, também conhecidas como Certificados Digitais, vinculam uma identidade a um par de chaves eletrônicas que pode ser usado para criptografar e assinar informações digitais. Uma Identificação Digital torna possível verificar o direito de alguém utilizar determinada chave, ajudando a evitar a falsificação de chaves para uso por impostores. Usadas com a criptografia, Identificações Digitais fornecem uma solução de segurança mais completa, garantindo a identidade de todos os envolvidos em uma transação.88

87 CORDEIRO, Wolney de Macedo. Op. cit., p. 112. 88JUSTIÇA DO TRABALHO. “Certificados Digitais”. Disponível em: http://www.jt.gov.br/sistema/edoc/certificados.htm. Acesso em: 21/02/08.

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Um documento produzido por meio eletrônico com certificação digital é

dotado da garantia da autenticidade de origem e autoria, da integridade do

conteúdo e da irretratabilidade pelas partes, ou seja, não se pode negar o

documento entre os envolvidos.

Isto ocorre porque o documento com certificação digital tem resguardada

a sua autenticidade através da criptografia, sendo que o seu emissor tem duas

chaves: a pública e a privada.

Assim, o remetente do documento envia a mensagem usando a chave

pública do destinatário, que criptografa o texto. Este é codificado e enviado

pela internet e será decifrado com outra chave, a privada. O destinatário recebe

a mensagem e usa a chave privada para decodificar e ler a mensagem

recebida. As chaves pública e privada estão ligadas por uma operação

matemática com algoritmos, sendo que a criptografia garante a fidelidade do

emitente do documento.

Criptografia é um “conjunto de técnicas que permitem tornar

incompreensível, com observância de normas especiais consignadas numa

cifra ou num código, o texto de uma mensagem escrita com clareza.”89

A chave privada é a assinatura digital do documento. Já a chave pública

é a certificação digital ou identificação digital, que consiste na “carteira de

identidade” do mundo virtual.

Toda pessoa física ou jurídica pode ter o seu certificado digital, que é

adquirido na Autoridade de Registro, conforme art. 6o da Medida Provisória

2.202-2/2001. A Autoridade de Registro é a autoridade competente para

cadastrar o certificado emitido pela Autoridade Certificadora, art. 7o da mesma

Medida Provisória. A pessoa interessada na certificação digital deverá lá

comparecer pessoalmente com os documentos necessários. No certificado

digital constarão: “a Chave Pública do proprietário; nome do proprietário; a data

de vencimento da Chave Pública; nome do emissor (a AC que emitiu a

89 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Eletrônico Século XXI. Versão 3.0. [s.1.] Nova Fronteira e Lexicon Informática, 1999. CD-ROM. Apud CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Processo Judicial Eletrônico Curitiba: Juruá, 2007, p. 15.

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Identificação Digital); o número de série da Identificação Digital; a assinatura

digital do emissor.”90

Assim, a pessoa que transmitir um documento eletrônico com

certificação digital estará acompanhado de um arquivo com a chave privada, ou

seja, a sua assinatura digital. A pessoa receptora desse documento, ao recebê-

lo, terá certeza da validade do mesmo, da fidelidade do emissor, bem como do

seu conteúdo. Isto ocorre através da conjugação das duas chaves, ou seja, da

chave privada, enviada junto do documento, e da chave pública constante da

Autoridade Certificadora (AC). Esta autoridade irá certificar a validade daquela

assinatura digital, funcionando, assim, como um “cartório virtual”, através do

“reconhecimento da firma digital” do emitente daquele documento.

A Medida Provisória 2.200-2/2001 criou a Infra-Estrutura de Chaves

Públicas Brasileira (ICP – Brasil), possibilitando a segurança das transmissões

de documentos eletrônicos através da internet, e, conseqüentemente, dos

usuários envolvidos, como nas transações bancárias, compras virtuais,

serviços eletrônicos, assim como na prática de atos processuais, como é o

caso do Judiciário.

A prática de atos processuais por meio eletrônico é bem aceita pelo

Judiciário já há algum tempo, conforme r. decisão91 do Tribunal Superior do

Trabalho a seguir transcrita:

ORIGEMTRIBUNAL: TST DECISÃO: 30 09 2003 NUMERAÇÃO ÚNICA PROC: ROMS - 86704-2003-900-02-00 RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA TURMA: D2 ÓRGÃO JULGADOR - SUBSEÇÃO II ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS PARTESRECORRENTE: ZILBERTO FERREIRA MARQUES. RECORRIDA: FYRE CONTROLE DE PORTARIAS, CONSERVAÇÃO E LIMPEZA S.C. LTDA. AUTORIDADE COATORA: JUIZ TITULAR DA 2ª VARA DO TRABALHO DE DIADEMA.

90 JUSTIÇA DO TRABALHO. Op. cit., Acesso em: 21.02.08. 91 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Disponível em: http://www.tst.gov.br. Acesso em: 29/12/2005.

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RELATORMINISTRO IVES GANDRA MARTINS FILHO EMENTA1. MANDADO DE SEGURANÇA - PETICIONAMENTO ELETRÔNICO -POSSIBILIDADE. A interpretação do art. 1º da Lei nº 9.800/99 não deve impor-lhe um programa normativo que sinalize a impossibilidade de equiparação do fax aos meios eletrônicos de transmissão de dados, fazendo crer que a interposição de recurso por e-mail (ou por sistema de peticionamento eletrônico) seja substancialmente diversa daquela feita pelo fac-símile. Isso porque a literatura especializada informa que, tecnicamente, não há diferença substancial entre tais meios de transmissão de dados. A jurisprudência restritiva que discutia a possibilidade (ou não) do peticionamento eletrônico deve ser superada (reconhecendo-se validade a tal prática), para que, no lugar dela, instaure-se uma nova linha de discussão: a da segurança do sistema para a prática de atos processuais pelas vias eletrônicas (seja e-mail, seja peticionamento eletrônico pela internet), considerando que não se pode admitir que falhas primárias do sistema tecnológico dificultem ou mesmo inviabilizem a concretização do direito (adjetivo e substantivo) das partes. Na hipótese dos autos, o próprio TRT da 2ª Região desenvolveu tecnologia de segurança (por meio de criptografia) para a certificação do peticionamento eletrônico, por meio de senha individual que resguarda a lisura da assinatura eletrônica, atestada no art. 3º do Provimento GP-5/02 daquele Tribunal. O recurso interposto por meio do sistema de peticionamento eletrônico (PET), apesar de não trazer assinatura física, mas apenas assinatura eletrônica, deve ter reconhecida a sua regularidade de representação, merecendo, portanto, conhecimento. 2. PRAZO DECADENCIAL NÃO RESPEITADO - EXTINÇÃO DO FEITO POR DECADÊNCIA. Se o despacho da autoridade dita coatora, ora atacado pelo "mandamus", foi publicado no DOE de 04/07/00 e o "writ" foi impetrado em 24/11/00, conclui-se pela sua decadência, tendo em vista o desrespeito ao prazo decadencial de 120 dias, de que cogita o art. 18 da Lei nº 1.533/51. Recurso ordinário desprovido. DECISÃOPor unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário, ainda que por fundamento diverso. FONTEDJ DATA: 17-10-2003

Dessa forma, certificação digital ou identificação digital é a garantia,

através de um órgão virtual devidamente autorizado, de que um documento

eletrônico é autêntico, ou seja, é o reconhecimento da firma por um “cartório

digital”. Um documento eletrônico dotado de certificação digital possui a

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garantia de fidelidade do emitente, pois possui um par de chaves eletrônicas,

que é usado para criptografar e assinar o documento. Essas chaves, a pública

e a privada, são um conjunto de códigos que são descodificados pelo

remetente e lhe dão a garantia da fidelidade do emitente.

2.3. Uma nova perspectiva do processo e a lei n. 11.419/2006

Após a lei n. 9.800/99, o Poder Judiciário vem, em suas diversas

esferas, caminhando para o uso da tecnologia a serviço de um processo mais

célere e menos burocrático e, conseqüentemente, que atinja de forma mais

efetiva os seus objetivos.

No entanto, a utilização de ferramentas tecnológicas em algumas

esferas surge de forma tímida e, noutras, há grandes investimentos e

treinamento de pessoal, como é o caso da Justiça Federal.

Há os Juizados Especiais Federais, que funcionam de forma totalmente

virtual, onde não há papel, pois o processo físico foi substituído pelo virtual. É o

caso dos Juizados Especiais Federais afetos ao Tribunal Regional Federal de

São Paulo e Mato Grosso do Sul, da 3ª região, cujos trabalhos tiveram início

através de comissão constituída pela Portaria n. 3.222 de 08.08.2001.92 A

Justiça Estadual em alguns estados como os da região sul do país e em

algumas comarcas no estado de São Paulo, já iniciaram o processo de

implementação do processo virtual.

Já no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que abrange os estados

do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foram implementados os

Juizados Especiais Federais, através da Resolução n. 13 de 11.03.2004, sendo

somente permitido o ajuizamento de ações pelo sistema eletrônico. Os

Juizados Especiais Federais de Blumenau, Florianópolis, Londrina e Rio

Grande já têm esse sistema implementado.93

Outros Tribunais também iniciaram a utilização de tecnologia a serviço

da Justiça, como o Tribunal de Justiça do Distrito Federal94, que tem

certificação digital desde 18.02.2004. Nesse Tribunal, desde então, os

92 CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 73. 93 Ibidem, pp. 74-75. 94 Ibidem, p. 77.

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acórdãos da jurisprudência são visualizados pela internet com a certeza da sua

autenticidade.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul95 também iniciou, em

18.02.2004, o sistema de assinatura digital dos seus acórdãos

simultaneamente ao encerramento da sessão de julgamento. Já o Supremo

Tribunal Federal iniciou a utilização dos recursos tecnológicos por meio da

Resolução n. 287 de 14.04.200496, com a implantação do e-STF, que, hoje,

está regulamentado pela Resolução n. 344 de 25.05.2007. Esta resolução

regulamenta o meio eletrônico de tramitação de processos judiciais,

comunicação de atos e transmissão de peças processuais no Supremo

Tribunal Federal.97

Como se nota, a lei n. 9.800/99 deu início à era da informática no Poder

Judiciário, mesmo que de forma acanhada, pois os benefícios, a agilidade, a

praticidade e os menores custos do processo foram muito satisfatórios, sendo

que cada Tribunal desenvolveu o seu projeto de informatização

individualmente.

Todavia, no Congresso Nacional, houve discussão de diversos projetos

de lei no sentido da “utilização da Via Eletrônica como instrumento eficaz para

a persecução dos objetivos fundamentais do Poder Público, bem como para

combater a morosidade dos Processos Judiciais.”98

Dentre esses diversos projetos, o mais expressivo foi o da Associação

dos Juízes Federais — AJUFE —, que apresentou o projeto de lei n.

5.828/2001 à Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados,

o qual foi aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados e remetido ao

Senado Federal. Houve algumas críticas do relator do Senado e o projeto foi

aprovado com alterações, passando a ser projeto de lei n. 71/2002. Houve,

ainda, o veto de alguns dispositivos e, por fim, o projeto de lei teve mais

algumas alterações, passando a ser convertido na Lei n. 11.419/2006

publicada no Diário Oficial em 20 de dezembro de 2006 e vigorada em 20 de

março de 2007. 95 Ibidem. 96 Ibidem. 97 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. “Resolução no. 344, de 25 de maio de 2007”. Disponível em: http://www.stf.gov.br/ARQUIVO/NORMA/RESOLUCAO344-2007.PDF. Acesso em: 10/06/2007. 98 CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit,. p. 79.

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A lei n. 11.419/2006 alterou alguns dispositivos do Código de Processo

Civil e veio para regulamentar a informatização do processo judicial nos

âmbitos cível, penal e trabalhista.

A iniciativa do processo eletrônico surgiu a partir da criação dos

Juizados Especiais Federais, uma vez que a lei n. 10.259/2001, que os

regulamenta, estimulou o uso de tecnologia no seu funcionamento. E, no

estado de São Paulo, foi inaugurado, em 29 de maio de 2007, o seu primeiro

fórum virtual localizado na própria capital, no bairro da Freguesia do Ó.

O Juiz Auxiliar da Presidência do Conselho Nacional de Justiça, Sérgio

Renato Tejada Garcia, que é secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça,

disse em entrevista concedida ao jornal da Amatra XV sobre a criação do

processo virtual, conforme texto a seguir transcrito:

“A idéia surgiu a partir da criação dos Juizados Especiais Federais. A lei que criou os juizados já tinha um artigo incentivando o uso da tecnologia, o uso de meios eletrônicos. A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) trabalhou muito neste projeto de lei. A partir daí, a idéia foi evoluindo e vimos que era possível avançar muito mais. Nesta época, o atual ministro do Superior Tribunal de Justiça, Teori Zavascki, presidia o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, e foi um grande incentivador da informatização. Depois, a ministra Ellen Gracie, já integrando o Supremo Tribunal Federal, deu o apoio indispensável para que o processo virtual fosse avante. Em abril do ano passado, quando assumiu a presidência do STF e do Conselho Nacional de Justiça, ela estabeleceu a disseminação do processo virtual como uma de suas prioridades. Estudo feito pelo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – demonstrou que uma Justiça ineficiente provoca redução da taxa de crescimento de longo prazo do País em 25%. Ao contrário, com uma justiça eficiente, o Brasil pode crescer 0,8% ao ano, aumentar a produção nacional em até 14%, a taxa de desemprego cairia quase 9,5% e o investimento aumentaria em 10,4%. Já o Banco Central do Brasil anunciou que 20% da composição do “spread” bancário se deve à margem de segurança inserida na taxa de juros. Enfim, a morosidade da Justiça interfere não só na vida do cidadão que recorre a ela, mas também no dia-a-dia do brasileiro, que tanto reclama da falta de emprego, da falta de crescimento do País, dos juros altos, etc. Vale a pena para todos, portanto, investir para que tenhamos uma Justiça mais rápida e célere. O interesse pelo processo virtual foi tamanho que até extrapolamos as fronteiras do País e oferecemos o sistema para o Poder Judiciário do Panamá, sem custos. Nos próximos meses, a Justiça panamenha já deverá

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começar a usar o sistema desenvolvido aqui no Brasil, o que reforça a liderança do País nesta área.”99

Mas, mesmo com essa nova perspectiva do Poder Judiciário a nível

nacional, a Justiça do Trabalho já vem desenvolvendo há algum tempo o seu

processo de informatização.

É importante salientar, no presente trabalho, que há dois momentos

distintos na informatização da Justiça do Trabalho: o primeiro, que é o

processo de informatização da Justiça Trabalhista antes da lei n. 11.419/2006,

e o segundo, estabelecido pela lei n. 11.419/2006 de processo judicial

eletrônico, que está em fase de implantação.

Todavia, o “processo judicial eletrônico”, assim denominado pela lei n.

11.419/2006, tem duas situações distintas a serem estabelecidas e elucidadas

para a finalidade deste estudo: o processo com utilização do meio eletrônico, a

que denominamos “híbrido”, e o processo virtual.

O processo virtual é aquele que não tem a existência do papel, ou seja,

virtual é a “característica ou dispositivo que na realidade não existe mas que é

simulado por um computador e pode ser usado por um usuário como se

existisse.”100 Como exemplo, há o processo virtual implementado na Justiça

Federal.

Já o processo com a utilização do meio eletrônico ou “híbrido” é a

existência de um processo físico, ou seja, impresso no papel, onde há a

utilização de certos recursos tecnológicos para a transmissão de petições ou a

realização de alguns atos no processo, que serão impressos e juntados aos

autos físicos. Eis aqui o que denominamos de processo híbrido, uma vez que o

processo existe fisicamente, diferentemente do virtual, que não é palpável. Um

exemplo seria o atual processo da Justiça do Trabalho.

É importante ressaltar outra questão com relação aos processos híbrido

e virtual, a que diz respeito ao acesso às suas informações. O processo com a

utilização do meio eletrônico ou híbrido existe pelo meio físico (papel) e está

disponível pela internet, mas não na sua integralidade. Já o processo virtual

99 GARCIA, Sérgio Renato Tejada. “Processo Virtual ajuda no Crescimento do País”. Jornal da Amatra XV, Campinas, n. 10, Ano 5, junho/2007, p. 5. 100 COLLIN, S. M. H. Michaelis: Dicionário prático de informática. Tradução e atualização de Regina Borges de Araújo e Antônio Carlos dos Santos. São Paulo: Melhoramentos, 1993, p. 339.

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não existe pelo meio físico e está disponível pela internet na sua integralidade,

ou seja, todas as petições e demais atos processuais estão na íntegra

disponíveis virtualmente, sendo que a petição inicial e os documentos foram

escaneados para se tornarem digitais nos “autos do processo virtual”.

Assim, no presente estudo, denominaremos processo com a utilização

do meio eletrônico ou “híbrido” ou somente “processo eletrônico”, àquele em

que ainda há papel, ou seja, em que se utiliza do meio eletrônico para a prática

dos atos processuais, mas em que há a impressão da petição enviada

eletronicamente no juízo de destino e a junta ao processo físico.

Já o processo virtual é a utilização dos recursos tecnológicos para a

prática de todos os atos processuais, sem o emprego do papel, ou seja, o

processo é virtual e não se utiliza do meio físico. Este processo é a tendência

do Judiciário brasileiro, segundo o objetivo da lei n. 11.419/2006. Dessa forma,

fica estabelecido, neste estudo, que a menção ao chamado processo virtual é

aquele em que não existe papel e é o regulamentado pela lei n. 11.419/2006.

Dentro de uma análise sistemática e terminológica, é preciso ser feita

uma crítica à lei n. 11.419/2006, que nasceu já com impropriedades, ou seja, o

legislador não se utilizou, na mesma, de terminologia adequada.

Conforme já explanado anteriormente, o processo ali estabelecido é o

virtual e não o híbrido; assim, o legislador deveria ter tido a cautela de utilizar a

nomenclatura “processo judicial virtual”, uma vez que, neste, não há papel e foi

esta a intenção quando da criação do projeto de informatização do Judiciário a

nível nacional. É claro que há uma fase de transição entre o processo híbrido e

o virtual, que a lei n. 11.419/2006 também prevê quando estabelece situações

sobre o meio físico; todavia, a intenção é de que este, com o decorrer da

informatização do Judiciário, venha a desaparecer, a fim de que o processo

virtual prevaleça e traga resultados eficazes, como acontece nas experiências

já implantadas.

Assim, o objetivo deste trabalho é o da informatização da Justiça do

Trabalho, com a devida cautela para se saber separar os dois momentos, pois

futuramente o Judiciário Trabalhista chegará a um ápice, no qual haverá uma

única forma de processo, totalmente sem papel, o virtual. Para tanto, há muitas

adaptações a serem feitas, visando ao fornecimento de equipes especializadas

aos Tribunais, ao treinamento do Poder Judiciário, à compra de equipamentos

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e softwares compatíveis, enfim, é preciso que haja um período de adaptação

que contemple o que existia, o que já estava em andamento nos projetos da

equipe de informática do Tribunal Superior do Trabalho e Tribunais Regionais,

e o que foi proposto com a nova legislação do processo virtual. Essa fase de

adaptação, ou seja, de fusão dos sistemas, levará ainda algum tempo, uma vez

que também será preciso compatibilizar os sistemas já existentes com aqueles

a serem implementados.

O Tribunal Superior do Trabalho editou a Instrução Normativa n. 30 de

13 de setembro de 2007, que regulamenta, no âmbito da Justiça do Trabalho, a

lei n. 11.419/2006 (que trata sobre a informatização do processo judicial) e veio

revogar a Instrução Normativa n. 28 do Tribunal Superior do Trabalho.

2.4. Os recursos tecnológicos implementados na Justiça do Trabalho

A informatização da Justiça do Trabalho no Brasil é recente, tendo-se

iniciado há menos de dez anos. Ela veio para modernizar o judiciário trabalhista

e otimizar os trabalhos dos juízes, servidores, advogados e demais operadores

do direito.

Com a Lei 9.800/99 e a Medida Provisória 2.200-2/2001, houve, pela

primeira vez, embasamento jurídico para a prática dos atos processuais pela

forma eletrônica, ensejando assim, na Justiça do Trabalho, diversos projetos já

implementados nos Tribunais Regionais do país. Há a utilização de várias

facilidades para a prática de atos pelo meio eletrônico, as quais são

denominadas, no meio computacional, de “ferramentas”.

É importante fazer uma distinção quanto às ferramentas existentes na

Justiça do Trabalho, pois eles podem consistir em: serviços para a prática dos

atos processuais, que produzem efeito jurídico; e serviços facilitadores de

acesso às informações, sem caráter intimatório, citatório ou notificatório para

fins legais, e que são meramente informativos.

Há também as ferramentas utilizadas no âmbito da Justiça do Trabalho,

as quais dizem respeito à parte administrativa, bem como à operacionalização

dos trabalhos das Varas Trabalhistas e Secretarias dos Tribunais, o que

possibilita uma grande melhoria da qualidade do trabalho dos servidores. Há,

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como exemplo, o Projeto de Modernização da 1a Instância da Justiça do

Trabalho da 2a Região, promovido pelo convênio firmado entre o Tribunal

Regional do Trabalho da 2a Região e a Fundação Getúlio Vargas (FGV),

convênio esse iniciado em dezembro de 2003.

Quanto aos serviços para a prática dos atos processuais, houve o

desenvolvimento e a implementação de diversos projetos, tais como o serviço

do e-darf e de guia de depósito judicial on-line, a inscrição para sustentação

oral on-line, o desarquivamento de processos, a penhora on-line, o Processo

Eletrônico Trabalhista (PET), o Sistema Integrado de Protocolização e Fluxo de

Documentos Eletrônicos (o e-Doc), as informações cadastrais dos contribuintes

junto à Receita Federal (InfoJud), a carta precatória eletrônica, as informações

sobre depósitos de FGTS por e-mail, a interposição de recurso extraordinário,

(e-STF), o desarquivamento de processos e inscrição para sustentação oral on-

line, gravação digital de audiências e outros.

É importante ressaltar que, tendo em vista o fato de o processo de

informatização do Judiciário Trabalhista estar em ritmo muito acelerado, outras

ferramentas poderão não ter sido citadas, em razão de terem sido

implementadas após o término deste estudo, de forma que não houve tempo

hábil para elencá-las neste rol.

Para uma maior visão do processo de informatização da Justiça do

Trabalho, comentaremos brevemente, a seguir, a respeito destes serviços na

prática dos atos processuais.

Sistema Integrado de Protocolização e Fluxo de Documentos Eletrônicos – e-Doc

O Tribunal Superior do Trabalho, embasado na permissão do art. 1º da lei n.

9.800/1999 — que permite a prática dos atos processuais através de fac-símile

ou outro similar —, na Medida Provisória n. 2.200-2/2001 — que institui a Infra-

Estrutura de Chaves Públicas Brasileiras (ICP-Brasil) para garantir a

integridade, a autenticidade e a validade jurídica dos documentos em forma

eletrônica — e se utilizando das vantagens oferecidas pela Tecnologia da

Informação através do ICP-Brasil — que proporciona facilidade de acesso, em

curto espaço de tempo, a custos mais reduzidos —, criou, através da Instrução

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Normativa n. 28, de 7 de junho de 2005, o Sistema Integrado de Protocolização

e Fluxo de Documentos Eletrônicos, o e-Doc.

Com o advento da Lei n. 11.419/2006, o Tribunal Superior do Trabalho

editou a Instrução Normativa n. 30/2007, que trata da informatização do

processo trabalhista.

O capítulo III da Instrução Normativa n. 30/2007 estabelece que a prática

dos atos processuais, por meio eletrônico, pelas partes, advogados e peritos,

será realizada através do Sistema Integrado de Protocolização e Fluxo de

Documentos Eletrônicos — e-Doc. No âmbito da Justiça do Trabalho, ficou

estabelecido que os atos processuais serão realizados pelo e-Doc, portanto, há

uma uniformização do processo eletrônico trabalhista, uma vez que,

inicialmente, ele fora desenvolvido com diversas ferramentas nos mais variados

Tribunais do Trabalho.

A intenção é que haja a unificação da ferramenta, tendendo a generalizar a

virtualização do processo, momento este em que não existirá mais o processo

físico, mas somente o virtual, conforme preceitua o art. 10 da Instrução

Normativa n. 30/2007 do Tribunal Superior do Trabalho.

Fala-se em tendência porque embora, pelas experiências até então

existentes, o processo virtual já implementado em outros Tribunais, conforme

explanação a ser feita neste estudo, tenha obtido resultados muito satisfatórios,

todavia, a própria Instrução Normativa n. 30/2007, no art. 5º parágrafo 1º,

prevê, no entanto, que o e-Doc é um serviço de uso facultativo. Poder-se-ia até

cogitar uma certa contradição na Instrução Normativa no seu art. 5º, parágrafo

1º, em face do art.10, I. Mas não há essa contradição, pois, como já dito, a

virtualização do processo trabalhista é uma tendência e será implementada

gradativamente, em razão dos resultados já obtidos no Judiciário.

O jurisdicionado poderá se utilizar desses serviços processuais através do

uso da assinatura eletrônica, que, no âmbito da Justiça do Trabalho, poderá ser

obtida de duas formas: pela assinatura digital, baseada em certificado digital

emitido pelo ICP-Brasil, com uso de cartão e senha; ou pela assinatura

cadastrada, que será fornecida pelo Tribunal Superior do Trabalho ou Tribunais

Regionais do Trabalho, com o fornecimento de login e senha, conforme dispõe

o art. 4º da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho.

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Com a utilização do e-Doc, ter-se-á um sistema integralizado de protocolo,

via internet, sendo que os jurisdicionados poderão se valer de tal procedimento

sem se deslocar dos seus locais de trabalho até o Fórum Trabalhista ou

Tribunal Regional, evitando-se assim as filas de atendimento nas unidades

judiciais. Todavia, os Tribunais receptores ficarão incumbidos de imprimir as

petições e os documentos, bem como, de verificar diariamente a existência de

petição eletrônica enviada e pendente de processamento, conforme preceitua o

artigo 10, incisos I e II da Instrução Normativa 30 do Tribunal Superior do

Trabalho.

Conforme arts. 11 e 12 da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior

do Trabalho, são da responsabilidade do usuário do e-Doc o sigilo da

assinatura digital, os dados informados na petição que dizem respeito ao

número do processo e Vara ou Turma, as condições de comunicação e acesso

ao seu provedor da internet, a redação da petição de conformidade com a

formatação, tamanho e tipo do arquivo exigidos pelo serviço, o conhecimento

dos períodos em que o serviço não fica disponível, em razão de manutenção

do site do Tribunal, e a observância das exigências estabelecidas com relação

à tempestividade do prazo.

Com relação à tempestividade do prazo, o art. 12 da Instrução Normativa n.

30 do Tribunal Superior do Trabalho estabelece duas situações referentes ao

horário e ao dia do término do prazo. No que se refere ao horário, é necessária

a observância da diferença de fuso horário, dependendo da unidade judiciária

que irá receber a petição eletrônica, sendo que esta é considerada tempestiva

se recebida dentro do horário estabelecido pela unidade receptora da Justiça

do Trabalho. Com relação ao dia do término do prazo da petição, é

considerada tempestiva se for transmitida até as vinte e quatro horas do último

dia do prazo, observada a ressalva com relação ao horário estabelecido para o

recebimento.

Para o envio da petição pelo e-Doc, houve uma padronização, a fim de que

se obtenha êxito na transmissão; isso é expresso no art. 6º da Instrução

Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho, que exige as petições em

formato PDF e no tamanho máximo de dois megabytes.

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Antes do e-Doc, havia o peticionamento eletrônico com base na Lei n.

9.800/1999, uma ferramenta hábil para a transmissão de petição e documento

pelo meio eletrônico.

No entanto, atualmente, o projeto e-Doc teve a sua adesão dos vinte e

quatro Tribunais Regionais e do Tribunal Superior do Trabalho, havendo, com

isso, uma substituição dos serviços. E, com a Instrução Normativa n. 30 do

Tribunal Superior do Trabalho, esse projeto foi uniformizado a nível nacional.

Processo Eletrônico Trabalhista (PET) e Sistema de Protocolização de Documentos Físicos e Eletrônicos (SISDOC)

O Processo Eletrônico Trabalhista (PET) foi criado como aprimoramento do

Sistema de Petição Eletrônica (SIPE), sendo implementado pelo Tribunal

Regional Trabalhista da 2a Região, conforme Provimento GP n. 05/2002 de 10

de setembro de 2002. A criação do PET seguia conclusões de um estudo de

redesenho do fluxo de trabalho feito no Programa de Modernização da Justiça

do Trabalho através de parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV/GV

Consult), Poupatempo, Fundap e Casa Civil.

Esse serviço teve como objetivo padronizar os registros de autuação dos

processos e unificar a coleta e envio dos dados estatísticos no momento da

distribuição e autuação, mas não possui certificado digital.

O PET surgiu devido ao fato de o peticionamento eletrônico ter trazido bons

resultados, devido ao aumento dos benefícios oriundos do uso da internet pelo

operador do direito e em razão da constante busca da melhora do fluxo de

trabalho e do processamento das petições. No Processo Eletrônico Trabalhista,

o advogado faz um cadastro prévio junto ao Tribunal com todos os seus dados

e recebe uma senha, que dá direito à utilização de vários serviços: o uso do

peticionamento eletrônico, o recebimento do andamento processual através da

caixa postal do correio eletrônico e o cadastro de ações trabalhistas.

Na 2ª região da Justiça do Trabalho, o PET e o e-Doc são utilizados para a

transmissão das petições de processos em andamento na 2ª instância, sendo

que para os processos em 1ª instância, é utilizado o SISDOC, que é um

sistema similar ao e-Doc.

O SISDOC está totalmente integrado ao sistema de informática da 2ª

região, o que não ocorre com o e-Doc. Este é utilizado na 2ª região somente

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para a 2ª instância. Na prática, ocorre que, no SISDOC, o jurisdicionado pode

enviar petição com certificado digital ou sem certificação digital (somente com a

assinatura digital que é o login e a senha); já no e-Doc, embora a Instrução

Normativa n. 30 do TST não faça esta exigência, o usuário pode enviar petição

somente com certificação digital.

No entanto, a previsão de que o PET e o SISDOC venham a desaparecer

com o tempo, uma vez que, quando a 2ª região fizer a integração completa do

e-Doc ao seu sistema, haverá então a migração do seu sistema informatizado

para o projeto nacional de informatização. Nesse momento, o processo judicial

informatizado da 2ª região não terá mais razão para se utilizar do PET, que é

uma ferramenta mais limitada se comparada ao e-Doc e ao SISDOC.

Penhora por meio eletrônico ou penhora on line

Em 08 de agosto de 2001, o Banco Central do Brasil, o Superior Tribunal

de Justiça e o Conselho de Justiça Federal firmaram, primeiramente, um

Convênio de Cooperação Técnico-Institucional, com fulcro na Lei n. 9.800/99.

Todavia, em 05 de março de 2002 foi firmado um convênio entre o Tribunal

Superior do Trabalho e o Banco Central do Brasil, tendo como objetivos o

fornecimento de informações, via correio eletrônico, sobre valores existentes

nas contas correntes e aplicações financeiras em nome do devedor, e a

realização do bloqueio de numerário para a garantia da execução trabalhista

definitiva.

Esse convênio, quando criado, foi denominado “BACEN-JUD”, sendo que

há novas versões que visam ao aprimoramento da operacionalização do

sistema.

O convênio é denominado “penhora on-line”, mas há críticas a essa

denominação, uma vez que o “convênio é meio de acesso”101 e penhora é “a

apreensão física de bens do executado para a satisfação do julgado”102. Assim,

101 BASTOS, Bianca. “A Garantia do Juízo e as Cautelas Necessárias”. Seminário apresentado no Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2005. 102 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Execução de Sentença no Processo do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 66.

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é importante ressaltar que o convênio representa a mesma operação antes

realizada manualmente e que atualmente é feita por meio eletrônico.

Assim, o convênio é apenas um instrumento novo de um ato que vinha

sendo realizado há muito tempo, pois o

referido convênio Bacen/TST 2000 introduziu simplesmente a possibilidade de a penhora em conta bancária ser viabilizada através da Internet, substituindo o antigo sistema de penhora diretamente na agência bancária, ou através de ofício requisitório do juiz ao Banco Central do Brasil, ambos os processos morosos e infrutíferos.103

Acrescente-se, ainda, que

cada um dos 24 Tribunais Regionais do Trabalho tem um gestor da senha, que, por sua vez, distribui senhas individuais a todos os juízes de primeiro grau. O que antes era realizado por meio da postagem de ofícios ao Banco Central do Brasil agora é feito mediante acesso on-line ao sistema do Banco Central, o que possibilita o cumprimento imediato das ordens expedidas pelos magistrados.104

Ressalta-se, portanto, que a jurisprudência já é pacífica quanto à utilização

da penhora on-line em execução definitiva, conforme Orientação

Jurisprudencial nº 60 da SDI - II Tribunal Superior do Trabalho.

O instrumento regulado pelo convênio BACEN-JUD pode ser utilizado de

duas formas105: como penhora on-line e como bloqueio on-line.

À penhora on-line, os artigos 882 da Consolidação das Leis do Trabalho e

655 do Código de Processo Civil dão fundamento legal, uma vez que é preciso

que seja observada a ordem legal, sob pena de a nomeação ser considerada

ilegal. Assim, o inciso I do art. 655 do Código de Processo Civil prevê como

preferencial o dinheiro, pois

o legislador estabeleceu a preferência da penhora em dinheiro, de modo a assegurar a agilização da execução. Com efeito, estando o juízo garantido com dinheiro do executado, este deixa de ter interesse no prosseguimento da execução, o que não acontece quando o juízo está garantido por bem móvel, que como regra

103 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Execução de Sentença no Processo do Trabalho. 2. ed. São Paulo, Atlas, 2005, p. 75. 104 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit., p. 337. 105 BASTOS, Bianca. Op. cit.

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continua na posse do executado, não representando ônus que o estimule a pôr fim na execução.106

Quanto ao bloqueio on-line107, é utilizado como medida acautelatória no

processo de execução, conforme preceitua o artigo 615, III do Código de

Processo Civil, a fim de dar segurança à execução. Conforme entende Bianca

Bastos, “trata-se de medida similar às cautelas de ofício previstas no artigo 797

do Código de Processo Civil, que visam a segurança da execução.”108

A ferramenta da penhora por meio eletrônico ou on-line, embora seja

assunto de grandes discussões e de suma importância, não será desenvolvido

com profundidade neste trabalho, para que não percamos nosso foco de

estudo no mesmo.

Informações cadastrais dos contribuintes junto à Receita Federal –InfoJud

Foi assinado um convênio entre o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª

região e a Receita Federal em 06 de junho de 2007, a fim de obter, por meio

eletrônico, informações cadastrais dos contribuintes e as respectivas

declarações de imposto de renda.

Eis aqui mais uma facilidade implementada para agilizar o processo.

A intenção da SRF ao oferecer este serviço é facilitar o fornecimento de informações que possam auxiliar e acelerar o trabalho da Justiça. Com o uso da nova ferramenta as informações são enviadas diretamente para o juiz que as solicita, com segurança e confiabilidade, garantindo-se o sigilo absoluto dos dados. Os técnicos da Receita ponderam que “antes do convênio, o juiz tinha de elaborar o ofício, encaminhá-lo para o setor de expedição dos tribunais, que, por sua vez, o enviava para os Correios e só depois chegava à Receita; o retorno dos dados também fazia o mesmo caminho”. O serviço, acessado mediante certificação digital, faz parte do chamado Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (e-CAC). “ e convênio com a Secretaria da Receita Federal (SRF) para utilização, no Regional, da ferramenta conhecida como InfoJud - Informações ao Poder Judiciário. Com o InfoJud, os magistrados, por meio da certificação digital, poderão ter acesso direto e on line

106 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Execução de Sentença no Processo do Trabalho. 2.ed. São Paulo, Atlas, 2005, p. 69. 107 BASTOS, Bianca . Op. cit. 108 BASTOS, Bianca . Op. cit.

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às informações cadastrais dos contribuintes e às respectivas declarações de renda apresentadas à SRF, o que permitirá agilizar as execuções dos créditos trabalhistas.109

Informações por e-mail sobre depósitos de FGTS

O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região firmou convênio com a

Caixa Econômica Federal, a fim de que os juízes possam enviar ordem de

conversão dos depósitos recursais para contas judiciais, através do meio

eletrônico.

Convênio firmado entre o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª

Região (TRT-SP) e a Caixa Econômica Federal permitirá que os

juízes do Trabalho de São Paulo tenham acesso a informações e

possam enviar ordem de conversão dos depósitos recursais para

contas judiciais. Na solenidade de assinatura do acordo, o TRT-SP

foi representado pelo presidente Antônio José Teixeira de Carvalho

e a Caixa pelo Superintendente Regional de São Paulo, Augusto

Bandeira Vargas e pelo gerente Gildasio Freitas Silveira. A partir de

agora, os juízes e servidores do TRT-SP poderão encaminhar seus

pedidos de informação sobre contas do FGTS por e-mail, utilizando

identidade digital.110

Essa facilidade vem também para propiciar maior agilidade ao

processo.

Carta precatória eletrônica

O sistema da carta precatória eletrônica é uma facilidade para agilizar o

cumprimento das cartas precatórias em cidades diferentes daquela em que o

processo original tramita.

109 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO. 15ª. REGIÃO – CAMPINAS/SP. “TRT e Receita Federal firmam convênio para implantação do INFOJUD”. Disponível em: http://www.trt15.gov.br/noticias/noticias.shtml#98. Acesso em: 10/06/2007. 110 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª. REGIÃO – TRT/SP. Disponível em: http://www.trt02.gov.br. Acesso em: 17/07/07.

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Segundo notícia do Tribunal Superior do Trabalho de 12 de julho de

2006, há agilidade no cumprimento da carta precatória pela via eletrônica,

sendo que

Dois Tribunais Regionais do Trabalho já têm implantado o sistema de Carta Precatória Eletrônica, uma ferramenta criada para agilizar o serviço de emissão de cartas precatórias. Desde o ano passado, o serviço está em fase de mudança, passando do modelo tradicional de documentos em papel para o meio digital. A Carta Precatória Eletrônica possibilita a comunicação e atuação de magistrados de locais diferentes por meio eletrônico. O sistema foi desenvolvido pelo TRT da 18ª Região (Goiás), onde funciona desde abril de 2005. No Estado, já foram expedidas 6 mil cartas precatórias até maio deste ano. No mês passado, o Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região (Rondônia e Acre) iniciou a implantação do sistema, hoje, em funcionamento nas Varas do Trabalho de Guajará-mirim e de Porto Velho. O Sistema de Carta Precatória Eletrônica é utilizado para o envio de documentos como intimação de testemunhas, pedido de penhora de bens e até execução de créditos trabalhistas em jurisdição diferente de onde a ação foi originada. Para a Justiça do Trabalho, o sistema traz economia em tempo, transporte, correios e material de consumo. Antes, uma comunicação que podia levar até 10 dias para atingir seu destino, hoje pode alcançá-lo em até 10 minutos. O presidente do TST, ministro Ronaldo Lopes Leal, comemora o novo sistema. “Com a carta precatória eletrônica, em questão de minutos, o juiz expede a carta precatória e, de imediato, o juiz de outra vara recebe a comunicação e passa a exercer e praticar aquele ato solicitado”, afirmou. A implantação da Carta Precatória Eletrônica nos TRTs é gerenciada pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) que conta com a Consultoria-Geral de Informática para a implementação dos projetos desenvolvidos pelo TST e TRTs. Segundo o diretor de informática do TRT da 14ª Região, Mateus Damasceno, até setembro deste ano todas as 32 Varas do Trabalho de Rondônia e Acre estarão com o sistema instalado. Para implantação do sistema, basta que a Vara do Trabalho tenha um computador e uma impressora multifuncional (impressão e scanner) ligada à Internet. Os documentos são compactados com todas as suas características originais e enviados ao seu destino.111

No, entanto, atualmente, todos os Tribunais Regionais e o Tribunal

Superior do Trabalho já aderiram a essa ferramenta.

111 “Carta Precatória Eletrônica é implantada em dois TRT’s”. DireitoNet. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/noticias/x/91/82/9182. Acesso em: 17/07/07.

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Interposição de recurso extraordinário – e-STF

O Supremo Tribunal Federal, regulamentado pela Resolução n.344 de

25 de maio de 2007, passou, a partir de 22 de junho de 2007, a oferecer o e-

STF. Essa ferramenta consiste na interposição do recurso extraordinário por

meio eletrônico e passa a funcionar em conjunto com quatro tribunais – o

Tribunal Superior do Trabalho, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região e os

Tribunais de Justiça do Espírito Santo e de Sergipe.112

Inscrição para sustentação oral on-line

Esse serviço permite ao advogado a sua inscrição, via internet, para a

realização de sustentação oral em processo que tramita no Tribunal.

Desarquivamento de processos

Esse serviço oferece ao advogado o desarquivamento dos autos via

internet, sem precisar se deslocar à Vara Trabalhista.

Gravação digital de audiências Trata-se de serviço utilizado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª

região, que grava a audiência em tempo real, propiciando diversos benefícios.

Trata-se de um conjunto de mecanismos a serviço do magistrado e sua equipe, que funciona em tempo real, registrando e arquivando audiências em mídia digital, compactados como MP3, consagrado como o mais popular dos formatos de arquivos sonoros. O sistema objetiva oferecer uma gama de recursos extras ao processo de registro e condução de audiências, demonstrando diversos benefícios, dentre os quais - Aumento de produtividade durante uma audiência com redução do tempo para até 60%;

112 “Processo Eletrônico”. DNT. O Direito e as Novas Tecnologias. Supremo entra de vez na era da informática (22.06.2007) Disponível em: http://www.dnt.adv.br/processo_eletrnico/index.html. Acesso em: 20/07/07.

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- Economia de mão-de-obra e espaço físico de arquivamento; - Possibilidade de disponibilização do acervo sonoro para acesso via intranet e internet; - Acesso ao arquivo de som no final de uma audiência com a utilização de CD-ROM, pen-drive, etc.; - Facilidade na localização de trechos específicos no material gravado com redução do tempo de transcrição e estudo em até 30%.113

Nota-se que esta ferramenta traz muitas vantagens para o processo.

Quanto aos serviços facilitadores ao acesso às informações, são

diversas as ferramentas implementadas, tais como: acompanhamento

processual por e-mail, acesso ao processo através do celular, serviço do e-darf

e de guia de depósito judicial on-line, consulta processual e de protocolos,

consulta à pauta e ata de audiência das Varas Trabalhistas, consulta à data

dos leilões e recebimento de informativo de jurisprudência via e-mail.

A seguir, comentaremos brevemente cada uma das ferramentas.

Acompanhamento processual por e-mail

Essa ferramenta é oferecida pelos Tribunais, devendo o advogado fazer

o seu cadastro junto ao site do Tribunal para passar a receber, diretamente no

seu e-mail, os principais andamentos processuais dos processos que tramitam

em 1a ou 2a Instância.

Há Tribunais em que este serviço recebe outras denominações, tais

como serviço-Push, cadastro de e-mail, aviso eletrônico, andamento

processual, TRT-mail e outros.

Acesso ao processo através do celular

Este serviço é denominado TRT-WAP. Trata-se de uma ferramenta que

permite o acesso, através do celular, à última tramitação do processo.

113 “Processo Eletrônico”. DNT. O Direito e as Novas Tecnologias. TRT da 2ª região implanta sistema digital de gravação de audiências (26.02.2008). Disponível em: http://www.dnt.adv.br/processo_eletrnico/index.html. Acesso em: 11.03.08.

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Serviço do e-darf e de guia de depósito judicial on-line

Há o serviço de emissão da guia DARF e de depósito judicial diretamente

no site do Tribunal, devendo apenas haver o preenchimento dos dados

corretamente.

Consulta processual e de protocolos

O interessado terá acesso ao andamento do processo através da internet,

sendo que há Tribunais que trazem a íntegra do mesmo. O advogado também

poderá consultar as últimas petições protocoladas naqueles autos.

Consulta à pauta e ata de audiência das Varas Trabalhistas

Há Tribunais que permitem o acesso, via internet, à ata e às pautas de

audiências em 1a, bem como à pauta de julgamentos em 2a Instância.

Consulta à data dos leilões

Alguns Tribunais disponibilizam, via internet, as datas marcadas para os

leilões na fase de execução.

Recebimento de informativo de jurisprudência via e-mail

É um serviço oferecido por alguns Tribunais; através dele, o usuário, ao se

cadastrar, recebe diretamente, na sua caixa postal, o informativo

jurisprudencial daquele Tribunal.

2.5. A utilização de recursos tecnológicos no âmbito do Judiciário fora do Brasil

O emprego dos recursos tecnológicos no âmbito do Judiciário traz

muitos benefícios, dentre eles, um processo mais rápido e com custos

reduzidos.

Essa experiência vem sendo desenvolvida não só no Brasil, onde,

apesar de recente o processo de informatização do Judiciário ser recente, é

feito de forma célere, através de tecnologia desenvolvida no país, como é o

caso da Justiça comum no estado de São Paulo, que se utiliza de software

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desenvolvido no sul do país. No entanto, há outros países que também

empregam a tecnologia a serviço do Judiciário. Podemos mencionar o caso da

Europa, especificamente o de Portugal, onde há o emprego de recursos

tecnológicos a serviço do Judiciário.

Em Portugal, a Portaria n. 593/2007, publicada no Diário da República

português em 20 de abril de 2007, regulamenta a prática dos atos processuais

por meio eletrônico. Essa portaria trata dos atos praticados por juízes e oficiais

da justiça, que poderão assinar atos e documentos do processo judicial através

da assinatura eletrônica, que lhes concede segurança, podendo ser a

assinatura eletrônica avançada ou a eletrônica qualificada. A primeira tem

certificado emitido pelo Instituto das Tecnologias da Informação da Justiça

(I.P); a segunda, pelo Sistema de Certificação Eletrônica do Estado.114

Um grupo de alunos do curso de pós-graduação em Direito de

Informática da Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do

Brasil de São Paulo esteve em Portugal e redigiu o relatório a seguir transcrito,

que descreve como Portugal está à frente na informatização do Judiciário

português.

Através da Diretiva Comunitária 1999/93/CE de 13 de dezembro de 1999, e posteriormente através do Decreto-Lei 290-D de 2 de agosto de 1999, foram definidas as bases para que uma assinatura digital avançada baseada em um certificado qualificado tenham validade perante todos os países membros referentes ao comércio eletrônico, bem como âmbito das administrações nacionais e comunitárias, e nas comunicações entre essas administrações, assim como com os cidadãos e os operadores econômicos, por exemplo: contratos públicos, sistemas de fiscais, de segurança social, de saúde, e judiciário, tal como se infere através do considerando 19 da aludida Diretiva. Em um primeiro momento, a Ordem dos Advogados de Portugal celebrou contrato com a empresa VeriSign, mas, posteriormente verificou-se que essa empresa não estava credenciada para esse tipo de certificação em Portugal, assim, os certificados emitidos não eram válidos, mas logo depois, ao descobrir tal fato, a Ordem dos Advogados contratou a empresa MultCert, que até a presente data emite os certificados dos advogados portugueses, que tem um grau 3, sendo, portanto, qualificado com grau de segurança maior do que a própria lei portuguesa impunha.

114 DIÁRIO DA REPÚBLICA (PORTUGAL). Portaria n. 593/2007. Disponível em: http://dre.pt/pdf1sdip/2007/05/09200/31413142.pdf. Acesso em: 08/11/07.

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A legislação portuguesa que trata sobre esse assunto não obriga que determinada entidade tenha exclusividade para identificar determinadas pessoas, onde é privilegiado o principio da livre escolha, desde que essa empresa esteja apta a certificar o envio de uma mensagem eletrônica. A lei não diz que há obrigatoriedade de se utilizar os certificados da Ordem dos Advogados, mas os Tribunais têm tido diversas reservas em aceitar outros certificados diversos daquele emitido pela própria Ordem. Assim, Portugal foi um dos primeiros países a se adequar a essas disposições, no tocante a implementação do processo eletrônico, e para a produção de atos processuais por meio eletrônico, mediante a assinatura eletrônica com a utilização de um certificado avançado. Diante disso, entrou em vigor o Decreto-Lei n. 183/2000, onde teve início a um atribulado processo de reforma de procedimentos e modernização da Justiça, introduzindo-se no normativo português o certificado qualificado e a assinatura digital avançada como ferramentas de base para a remessa de atos processuais. Em um primeiro momento, o Decreto Lei 183/00, que alterou o artigo 150 do Código de Processo Civil Lusitano, estabeleceu um período transitório e de adaptação, em que os utilizadores poderiam optar pelo envio tradicional (protocolo, fax, correio) ou pela remessa por correio eletrônico com a aposição de certificado qualificado e assinatura digital avançada. Terminado esse período transitório, previa a lei que o uso do correio eletrônico e da assinatura digital deixasse de ser uma opção, passando a ser uma obrigação e o único meio de praticar os atos processuais. Porém, após o término da vacatio legis de 2 (dois) anos prevista no supracitado Decreto-Lei, o legislador viu-se pressionado em adiar aquela imposição legal em mais 1 (um) ano, em virtude de uma forte resistência cultural, ausência de preparação geral dos Tribunais e dos próprios advogados para aquela nova realidade, mesmo com todos os esforços da Ordem dos Advogados para a conscientização de seus membros, mas sem sucesso. Através do advento do Decreto-Lei n.º 324/2003 e com a Portaria n.º 642/2004 atingiu um ponto de convergência, que decorre da sua amplitude e da manutenção em vigor dos procedimentos tradicionais, tal como expresso no artigo 150 do Diploma Processual Civil Português, acrescentando apenas o meio eletrônico como forma de prática dos atos processuais. A mencionada Portaria estabeleceu as regras para o envio de peças processuais por correio eletrônico com a utilização de assinatura digital avançada e certificado digital qualificado, conferido equivalência deste procedimento ao envio pela via postal. Entretanto, os documentos que devem acompanhar a peça encaminhada por via eletrônica devem ser entregues no prazo de 5 dias no Tribunal a que se destina e, em se tratando de petição inicial, esse prazo terá inicio quando da efetiva distribuição do processo a uma das Varas do Tribunal.

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No entanto, o legislador foi mais longe do que anteriormente, ao admitir no artigo 10º da portaria, que a apresentação de peças processuais por correio eletrônico simples ou sem validação cronológica tem o mesmo regime que o estabelecido para o envio através de “telecópia”, devendo as peças serem apresentadas posteriormente em seus originais em papel. Outro serviço de ampla utilização prática com o uso da certificação eletrônica em Portugal pela Justiça é a marca de dia eletrônica também conhecida como MDDE. Trata-se de um serviço criado em 2004, concebido por CTT (empresa de correios) e MULTICERT (empresa certificadora), que coloca um" selo eletrônico " num documento eletrônico (por exemplo, uma mensagem enviada por correio eletrônico), que não só assegura a veracidade da data e hora de envio, como também a integridade do conteúdo do dito documento. Sumariamente, o MDDE é o equivalente digital ao "AR", tendo como característica principal o comprovativo temporal do ato de envio do correio eletrônico (emitido pelos CTT), que não pode ser repudiado por qualquer uma das partes envolvidas. Em relação ao "AR", este serviço garante adicionalmente a integridade e não repúdio do conteúdo do correio eletrônico, permitindo que remetente e destinatários tenham a garantia e prova que o correio eletrônico não sofreu alterações. Em relação ao correio eletrônico normal, este serviço adiciona um comprovante temporal de envio adicionado por uma terceira entidade de confiança independente, assim como um comprovante da integridade e não repúdio do conteúdo do correio eletrônico (assunto, remetente, destinatários, corpo principal da mensagem e anexos), permitindo que remetente e destinatários tenham a garantia e prova que o correio eletrônico não sofreu alterações. Na falta deste comprovante, não existe qualquer prova do envio da mensagem por parte do remetente, nem da integridade do conteúdo recebido pelos destinatários. Em conclusão, o MDDE é um serviço inovador que os disponibilizam a empresas e particulares de modo a poderem, pela primeira vez, utilizar o correio eletrônico com a mesma confiança com que utilizam o correio físico. Para a prática desses atos, por cada mensagem enviada, com a chamada marca do dia e da hora eletrônica, certificada através do Observatório Nacional de Portugal, com a validade cronológica da data de envio, o chamado “selo”, o advogado paga a cada remessa o valor de € 0,25. Porém, um dos problemas que pudemos identificar ao longo de nosso encontro é que a lei ainda não definiu os critérios para o envio de peças se o sistema estiver indisponível na data ou hora em que o ato tiver que ser praticado, ficando o advogado “refém” desse selo para efetivamente provar a tempestividade da peça. Se o advogado utiliza o meio eletrônico para a distribuição de um processo, a lei dá a ele um “incentivo”, com a redução das custas processuais em 10% do valor total a ser quitado, o que, em muitos

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casos não é atraente porque o valor não é substancialmente reduzido, a não ser que a causa seja de valor elevado. Os advogados não pagam diretamente para obter o certificado digital perante a Ordem dos Advogados de Portugal, este custo é diluído na anuidade que os inscritos pagam para a Ordem. O custo médio do certificado é de € 30 ou € 35, com validade anual de cada certificado emitido. Quando do inicio da implementação desse novo sistema, os Tribunais ainda não estavam preparados para tanto, pois as mensagens eram apagadas ou mesmo ignoradas, uma vez que os servidores achavam que se tratava de SPAM ou até mesmo vírus, além de não haver adequação e interoperabilidade dos sistemas, sendo em seis meses houve um acumulo de mais de 90 mil processos porque havia necessidade de digitar todos os dados de cada processo por falta de inadequação e incompatibilidade dos programas. Segundo informações do Dr. Rui Maurício, foi necessário que os estagiários da Ordem dos Advogados ajudassem a incluir todos esses dados no sistema do Tribunal, sendo que tal fato acarretou diversos problemas que ainda hoje estão sendo sanados. A criação do projeto HabilusNet, permitiu o acesso pela internet aos advogados a uma área de consulta dos processos, e ao novo sistema de entrega dos requerimentos executivos. Em concreto, este novo sistema permite o preenchimento e entrega do requerimento executivo num ambiente de secretaria virtual, em que o ato é praticado numa plataforma, sendo confirmada a submissão e entrega do requerimento em tempo real e com imediata confirmação por parte do serviço disponibilizado pelo Ministério da Justiça. Infere-se que o Poder Judiciário Português é de certa forma subordinado ao Ministério da Justiça, uma vez que todas as regulamentações no âmbito do Judiciário provêm desse Ministério. Tal como se pode verificar, o processo civil eletrônico em Portugal encontra-se operante a mais tempo do que no Brasil, com a possibilidade de prática de diversos atos por meio eletrônico, tanto por e-mail, bem como pelos próprios aplicativos on line, o que demanda maior celeridade. Fato idêntico ocorre com a certificação digital, que está implantada desde 2000, com certa aceitação da classe dos advogados, porém com diferenças daquela implantada no Brasil, uma vez que lá, mesmo havendo a possibilidade de se escolher a empresa de certificação, todos os advogados utilizam o certificado expedido pela Ordem dos Advogados, pois é aquela que os Tribunais aceitam mesmo sem haver expressa imposição legal. Há possibilidade de se praticar atos processuais sem a utilização da certificação digital, mas esse ato passa a ter a mesma validade de um ato praticado através do fax, sendo que o advogado passa a ter duplo trabalho, pois tem que encaminhar a peça através do e-mail e depois, no prazo de 5 (cinco) dias apresentar o original.

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Estes foram os fatos mais relevantes que os alunos tiveram ciência durante esta profícua troca de experiências com a Ordem dos Advogados de Portugal. Agradeço mais uma vez a V.Exa. pela prestatividade para a valiosa contribuição acadêmica que nos propiciou.115

Há também outros países em que há o uso dos avanços tecnológicos

junto ao Judiciário, como é o caso dos Estados Unidos e do Panamá. A Justiça

panamenha utiliza-se do sistema computacional desenvolvido no Brasil.116

Ressalte-se que o emprego de recursos tecnológicos varia de acordo

com as necessidades dos usuários e com a realidade existente; portanto, as

experiências são diversas de um país para o outro.

115 ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. CONSELHO FEDERAL. “Processo Eletrônico de Portugal é visitado por alunos da ESA”. Disponível em: http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=10827&arg=PROCESSO%20and%20ELETRÔNICO. Acesso em: 11/03/08. 116 GARCIA, Sérgio Renato Tejada. “Processo Virtual ajuda no Crescimento do País”. Jornal da Amatra XV, Campinas, n. 10, Ano 5, junho/2007, p. 5.

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Capítulo III. Princípios aplicáveis aos processos eletrônico e processo virtual trabalhistas 3.1. Definição de princípios

A palavra “princípio” significa “proposições diretoras de uma ciência, às

quais todo o desenvolvimento posterior dessa ciência deve estar subordinado”;

“preceito, regra, lei”117.

A doutrina não é unânime quanto às definições de princípio, no entanto,

trouxemos à baila, a seguir, algumas delas.

Para Crisafulli, citado por Paulo Bonavides,

Princípio é, com efeito, toda norma jurídica, enquanto considerada como determinante de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem, desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direções mais particulares (menos gerais), das quais determinam, e portanto resumem, potencialmente, o conteúdo: sejam, pois estas efetivamente postas, seja, ao contrário, apenas dedutíveis do respectivo princípio geral que as contém.118

Já Celso Ribeiro Bastos, com ênfase na função, entende que

princípio é, por definição, o mandamento nuclear de um sistema ou se se preferir, o verdadeiro alicerce dele. Trata-se de disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência. O princípio, ao definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, acaba por lhe conferir a tônica e lhe dar sentido harmônico.119

No mesmo sentido, José Afonso da Silva com a colaboração de outros

doutrinadores, acrescenta que “os princípios são ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas, são [como observam Gomes Canotilho e Vital Moreira] `núcleos de condensações´ nos quais confluem valores e bens constitucionais.”120

Assim, os princípios são norteadores, inseridos no ordenamento jurídico,

da direção que determinado fato, de que ele trata, deverá seguir em seu

117 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 529, s.v. 118 CRISAFULLI, V. La Costituzione e le sue Disposizioni di Principio. Milão, 1952. Apud BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 257. 119 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Celso Bastos Editor, 2002, p. 80. 120 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 92.

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caminho, a fim de que alcance o seu objetivo, salientando-se, ainda, também a

sua função de interpretação das demais normas aplicáveis àquele fato.

Os princípios são preceitos abstratos que regem o direito, mas que não

concebem o direito subjetivo, pois são diretrizes do direito, norteadores, vetores

que propiciarão o rumo para o qual a própria Constituição e demais legislações

deverão seguir.

Em síntese, os princípios são de maior nível de abstração que as meras regras e, nestas condições, não podem ser diretamente aplicados. Mas, no que eles perdem em termos de concreção ganham no sentido de abrangência, na medida em que, em razão daquela sua força irradiante, permeiam todo o texto constitucional, emprestando-lhe significação única, traçando os rumos, os vetores, em função dos quais as demais normas devem ser entendidas. Os princípios são, pois as vias mestras do texto constitucional e que vão ganhando concretização, não só a partir de outras regras da Constituição (como é o caso do princípio federativo), mas também de uma legislação ordinária, que deverá guardar consonância com o princípio...121

Se não bastasse a divergência das definições de “princípio”, a sua

classificação também não é unânime. Tendo em vista o estudo sobre o

processo eletrônico, adotaremos a classificação dos princípios de Edilberto

Barbosa Clementino, que é baseada numa visão teleológica dos mesmos:

princípios constitucionais e infraconstitucionais.122

3.2. Princípios constitucionais

Os princípios são, como já explanado, regras abstratas e de aplicação

metajurídica. Na Constituição, os princípios têm uma função transcendental123.

Em razão deste caráter de abstração, os princípios constitucionais

passam por fim a serem concretizados de acordo com a edição de normas para

a sua efetivação124, uma vez que eles se encontram no corpo da Carta Magna

como que vetores programáticos, que não são normas jurídicas geradoras do

121 BASTOS, Celso Ribeiro. Op. cit., p. 81. 122 CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 134. 123 BASTOS, Celso Ribeiro. Op. cit., p. 79. 124 Ibidem, p. 82.

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direito subjetivo. A Constituição Federal apresenta, muitas vezes, as diretrizes

a serem seguidas com relação a determinado fato.

Os princípios constitucionais devem ser aplicados amplamente na seara

do Direito, e, principalmente, no que diz respeito ao âmbito do Direito

Constitucional; no entanto, a Carta Republicana traz as balizas relevantes para

todo o ordenamento jurídico pátrio.

A seguir, exporemos e analisaremos os princípios constitucionais

referentes ao processo eletrônico e mostraremos como podem ser usados na

interpretação das normas jurídicas inerentes a ele.

3.2.1. Princípio da igualdade de tratamento

Esse princípio vem proclamado no art. 5º, caput da Constituição Federal,

que diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade”.

Com relação à igualdade, é necessária a distinção doutrinária, entre

igualdade formal e igualdade substancial.

A igualdade substancial diz respeito ao tratamento igualitário de todos os

homens sem serem consideradas as suas diferenças, uma vez que não é um

“tratamento igual perante o direito, mas de uma igualdade real e efetiva perante

os bens da vida.”125

A igualdade substancial faz parte de uma utopia, pois não é possível,

dentro da realidade social, atingir-se um tratamento igual das pessoas, sendo

que estas são diferentes, em diversos fatores, culturais, sociais, econômicos,

religiosos e outros. Assim, há, de acordo com o contexto, uma incidência muito

grande de variáveis que trazem as diferenças entre os homens, impedindo,

portanto, o tratamento igualitário. Nos países democráticos, a igualdade

material assenta-se na Constituição através de normas programáticas, mas isto

não quer dizer que seja atingida. Há apenas as regras que lançam os

programas, a fim de se obter ou chegar próximo da igualdade, diminuindo o

desequilíbrio social.

125 Ibidem, p. 317.

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No entanto, a Constituição Federal Brasileira contém, no seu art. 5º,

caput, a igualdade formal. Esta consiste em tratar igualmente os iguais e,

desigualmente, os desiguais.

A igualdade formal “consiste no direito de todo cidadão não ser

desigualado pela lei senão em consonância com os critérios albergados ou ao

menos não vedados pelo ordenamento constitucional.”126

Assim, quando a Constituição se refere à igualdade formal e diz que as

pessoas desiguais serão tratadas com desigualdade, quer dizer que se deve

adotar um critério razoável para tratar as pessoas consideradas desiguais, e

este critério acaba por igualar esses desiguais. No entanto, se o critério

adotado desigualar mais ainda os desiguais, então ele deverá ser

desconsiderado.

De forma didática, Celso Ribeiro Bastos ilustra o tema:

por exemplo, o portador de um título acadêmico profissionalizante tem direito a desfrutar do privilégio (uma vez que os não portadores desse título não o podem fazer) de exercer uma determinada profissão, como a advocacia, medicina e outras. O problema, então, passou a se constituir nos limites da diferenciação possível de ser feita. Algumas discriminações, como aquela agora referida, sempre se legitimaram muito facilmente perante a sociedade. Parecia razoável que se reservasse essa profissão somente àqueles que tivessem seguido um aprendizado considerado suficiente para ministrá-la, com conhecimento e segurança para os seus clientes. Outras, todavia, tentam se insinuar na ordem jurídica através de leis que não vêm acompanhadas desta razoabilidade. Imaginemos que uma lei tentasse cobrar tributos de uma pessoa só por ela ser magra ou alta ou gorda. Uma lei com essas características seria repudiada pelo meio social que veria nela uma injustiça notória porque diferenciou em função de caracteres que nada têm a ver com as razões que podem racionalmente tornar compreensível a cobrança de um tributo. É este o sentido que tem a isonomia no mundo moderno. É vedar que a lei enlace uma conseqüência a um fato que não justifica tal ligação.127

Percebe-se, pois, que, dentro de uma idéia de igualdade substancial, ou

seja, de absoluta igualdade jurídica, esta não é possível de ser alcançada, pois

há as diferenças econômicas, sociais, políticas e outras. Assim, seguindo a

igualdade formal ― segundo a qual as pessoas iguais não podem ser tratadas

126 Ibidem, p. 319. 127 Ibidem, pp. 320-321.

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de modo desigual, e as desiguais de forma desigual ― e tentando alcançar a

inatingível igualdade substancial, chega-se a uma situação realista, através da

igualdade proporcional.128 Desta forma, devem ser oferecidas iguais condições

a todos, a fim de se obter a igualdade proporcional.

Após essa importante diferenciação doutrinária e de interpretação do

texto constitucional, passemos à aplicabilidade do princípio da igualdade ao

processo eletrônico.

Essa igualdade diz respeito a “todos” e, no âmbito do processo, partes e

procuradores deverão receber tratamento igual.

A diminuição de desigualdades no processo deve ser feita com cautela,

uma vez que as partes e procuradores devem ter tratamento igualitário, de

forma a não ocorrer o desequilíbrio econômico.

Primeiramente, trataremos a questão das partes. O artigo 791 da

Consolidação das Leis do Trabalho trata do jus postulandi, que é o direito de a

pessoa praticar atos processuais imprescindíveis à propositura da ação e ao

andamento do processo. Saliente-se que tal assunto é de grande extensão,

devendo ser abordado de forma mais específica no que tange ao presente

estudo, pois o desenvolvimento do tema de forma mais detalhada não será

objeto no trabalho, por não ser este o nosso objetivo. O jus postulandi refere-se

ao direito das partes, empregado ou empregador, de poder reclamar

pessoalmente perante a Justiça do Trabalho, não sendo obrigatória a presença

do advogado.

No entanto, a Constituição Federal, em seu artigo 133 ensejou grande

discussão sobre a permanência do jus postulandi na esfera trabalhista, uma

vez que sua redação assegura como indispensável a presença do advogado

para a administração da Justiça. A lei n. 8.906 de 4 de julho de 1994, que

instituiu o Estatuto da Advocacia, veio a reforçar, em seu artigo 1º, inciso I, a

idéia da indispensabilidade do advogado em qualquer órgão do Poder

Judiciário e nos juizados especiais. No entanto, essa lei ordinária não veio para

revogar o texto laboral, pois a Carta Magna é clara ao mencionar que ficará a

critério da lei infraconstitucional estabelecer os limites. Mas a lei n. 8.906/94 é

lei especial e não tratou do jus postulandi no âmbito trabalhista de forma

128 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Op. cit., p. 54.

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singular e, como diz o jargão, se o legislador não restringiu, não compete ao

intérprete restringir.

Acrescente-se, ainda, que esta lei ordinária é totalmente contrária à idéia

dos Juizados Especiais, que foi regulamentada pela lei n. 9.099/95, a qual

concedeu o acesso a qualquer cidadão a este órgão especial do Judiciário. A

implantação dos Juizados Especiais veio para propiciar uma Justiça mais

célere e menos onerosa, não podendo, portanto, outra lei ordinária, a lei

8.906/94, que é anterior à lei n. 9.099/95, retirar das partes o jus postulandi.

Saliente-se que é preciso também se questionar se não houve uma revogação

tácita no que se refere a este assunto, uma vez que ambas as leis são

ordinárias e estão no mesmo grau hierárquico no conflito de normas. A não

aplicação do jus postulandi nos Juizados seria um retrocesso dentro da história

do Judiciário.

Voltemos à questão do jus postulandi no que se refere ao âmbito

trabalhista. Se tal direito ainda permanece nos Juizados Especiais, uma vez

que a sua subtração à parte geraria um procedimento totalmente contrário aos

princípios desse órgão especial, então, embora ainda haja resistência por parte

de alguns órgãos do judiciário trabalhista, o jus postulandi ainda prospera para

a parte, em razão da mesma linha de raciocínio. A tendência do Poder

Judiciário, principalmente na esfera trabalhista, é de uma justiça célere,

desburocratizada e menos onerosa para as partes, principalmente no que diz

respeito ao trabalhador.

Acrescente-se, ainda, que o artigo 133 da Constituição Federal não teve

o condão de revogar o artigo 791 da CLT, uma vez que, no final do dispositivo

constitucional, se refere a “nos limites da lei”. Todavia, não há ainda norma

federal que tenha revogado expressamente o dispositivo do artigo 791 da CLT

no que se refere especificamente ao âmbito trabalhista. Assim, prevalece o

entendimento de que o artigo 791 da CLT não foi revogado e o jus postulandi

permanece.

Destarte,

embora ainda se discuta a eliminação ou sobrevivência do jus postulandi, na doutrina, e um pequeno número de órgãos trabalhistas insista na obrigatoriedade da intervenção do advogado, há firme jurisprudência, no Tribunal Superior do Trabalho, em favor

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da manutenção da faculdade das partes de reclamar, pessoalmente, na Justiça do Trabalho.129

Vai nesse sentido a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho130 a

seguir colacionada: ORIGEM TRIBUNAL: TST DECISÃO: 31 10 2001

PROC: RR NUM: 509744 ANO: 1998 REGIÃO: 06 RECURSO DE REVISTA

TURMA: 04 ÓRGÃO JULGADOR - QUARTA TURMA FONTE DJ DATA: 16-11-2001 PG: 600 PARTES RECORRENTE: USINA SÃO JOSÉ S/A. RECORRIDO: RAIMUNDO FRANCISCO DA SILVA FILHO. RELATOR MINISTRO MILTON DE MOURA FRANÇA EMENTA

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - SUBSISTÊNCIA DO ART. 791 DA CLT - SENTIDO E ALCANCE DO ART. 133 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Sempre foi da tradição do Direito Processual do Trabalho poderem, empregado e empregador, postular e defender pessoalmente seus direitos, independentemente da assistência dos profissionais do Direito, devendo ser destacado que, antes mesmo da atual Constituição prescrever a indispensabilidade do advogado à administração da Justiça (art. 133), idêntica norma já existia na legislação infraconstitucional (art. 62 da Lei nº 4215, de 27-4-63 - Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil), mas nem por isso entendeu-se que fora revogada a norma consolidada (art. 791). Assim, ao elevar ao nível constitucional o princípio que consagra a indispensabilidade do advogado à administração da Justiça, o constituinte não pretendeu, por certo, extinguir o "jus postulandi" das partes no Judiciário Trabalhista, visto que condicionou sua aplicação "aos limites da lei" (art. 113 - parte final), o que autoriza a conclusão de que, enquanto não sobrevier norma federal dispondo em sentido contrário, a subsistência do art. 791 da CLT, que é federal, revela-se compatível com a nova ordem constitucional.

Recurso de revista provido, no tema. SÍNTESE Tema(s) abordado(s) no acórdão:

I - Honorários advocatícios - requisitos - Lei nº 5584/1970 -"jus postulandi" - Justiça do Trabalho.

129 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Cláudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. revista, ampliada, atualizada e adaptada. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 123. 130 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Disponível em: http://www.tst.gov.br. Acesso em: 27/06/07.

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- Conhecido por contrariedade ao Enunciado nº 329 do TST e por divergência jurisprudencial - Mérito - provido.

DECISÃO Por unanimidade, conhecer do recurso de revista exclusivamente quanto aos honorários advocatícios, por contrariedade ao Enunciado nº 329 do TST e divergência jurisprudencial, e, no mérito, dar-lhe provimento para excluir da condenação o pagamento da referida verba de honorários.

Considerando-se que as partes poderão recorrer à Justiça do Trabalho

sem advogado, elas poderão se deparar com o problema da questão da

chamada “exclusão digital”. Embora estejamos na era digital, em que um

grande número de pessoas possui celular, aparelhos digitais e computador, há

ainda aquela porcentagem de pessoas que não têm acesso a esses recursos

tecnológicos, como o computador. A este fenômeno dá-se o nome de “exclusão

digital”. Tais pessoas não têm computador por motivos financeiros, culturais,

por serem pessoas com mais idade que resistem aos avanços tecnológicos, ou

até mesmo por falta de interesse ou oportunidade em obter o equipamento.

No entanto, muitas dessas pessoas que não têm a oportunidade ou

mesmo a possibilidade financeira ou que resistem em adquirir um equipamento

fazem parte do mundo jurídico. Eis que, com a implantação do processo

eletrônico a nível nacional, tais pessoas poderão ter neste um sério obstáculo,

até mesmo para o acesso à Justiça.

A utilização do processo eletrônico no âmbito trabalhista poderia ser

vista como tratamento desigual no que diz respeito às partes que postularem

em juízo sem advogado, ou mesmo com advogado, e que não possuírem um

computador. Mas esse argumento de tratamento desigual aos desiguais não é

suficiente para macular o processo eletrônico judicial, pois compete ao

Judiciário, como já fez em diversas localidades, disponibilizar equipamentos

acessíveis aos advogados, e, para aqueles que estão postulando sem

advogado, fornecer máquinas e pessoal especializado no âmbito do Poder

Judiciário, conforme dispõe o art. 2º da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal

Superior do Trabalho.

A referida Instrução Normativa, em seu art. 5º, parágrafo 4º prevê a

hipótese de a parte se utilizar do processo eletrônico desacompanhada de

advogado, devendo o interessado, porém, se cadastrar antes nos termos da

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referida norma, para depois poder se utilizar do e-Doc. Esse cadastro consiste

na obtenção da assinatura eletrônica perante o Tribunal Superior do Trabalho

ou Tribunais Regionais do Trabalho, com fornecimento de login e senha,

conforme preceitua o art. 4º, inciso II da Instrução Normativa. No entanto, para

o uso das duas modalidades de assinatura eletrônica, o interessado deverá

também se credenciar perante o Tribunal Superior do Trabalho ou Tribunal

Regional do Trabalho, conforme preceitua o parágrafo 1º do art. 4º da Instrução

Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho.

Para a utilização do e-Doc, é necessário que a parte interessada se

utilize da sua assinatura digital, conforme estabelece o art. 8º da Instrução

Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho.

O próprio Conselho Nacional de Justiça, em notícia publicada em 21 de

junho de 2007, anunciou que iria distribuir um mil oitocentos e sessenta

equipamentos e digitalizadores nos próximos dois meses para quinze Tribunais

de Justiça do país que implementaram o software livre desenvolvido e

distribuído gratuitamente pelo próprio Conselho Nacional de Justiça, cujo

projeto se chama Projudi. Essa distribuição de equipamentos e pessoal fez

parte do início do processo de informatização do país, sendo que o intuito do

Conselho Nacional de Justiça foi primeiramente informatizar todos os Juizados

Especiais da nação.131

Acrescente-se, ainda, que, em pesquisa realizada entre julho e agosto

de 2006132 pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto br-NIC.br,

entidade civil e sem fins lucrativos que implementa as decisões e projetos do

Comitê Gestor da Internet no Brasil, foi constatado que 51,15% das pessoas

utilizam o computador diariamente, sendo 71,34% pessoas com nível superior

e 50,26% com nível médio. Esse índice de 51,15% ainda é baixo, mas tende a

aumentar com os incentivos do governo em conceder empréstimos para a

aquisição de computador, bem como financiamentos e programas

desenvolvidos para que o computador seja mais acessível à população.

131 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. “CNJ distribui equipamentos para implementação do processo virtual”. Disponível em: http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3085&Itemed=167. Acesso em: 20/07/07. 132 NIC.br. “Uso do computador”. Disponível em: http://www.cetic.br/usuarios/tic/2006/rel-comp-03.htm. Acesso em: 01/07/07.

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Há pouco tempo, o telefone celular era um equipamento adquirido

somente por pessoas de renda alta; na atualidade, porém, é uma tecnologia

acessível a todos pelo reduzido custo com que se encontra no mercado.

Percebe-se que a tendência, a curto prazo, é que o computador seja de fácil

aquisição para a população, havendo assim uma diminuição da chamada

“exclusão digital”.

Pelo princípio da igualdade, não há que se falar, sob o aspecto formal,

de desigualdade no processo eletrônico trabalhista, uma vez que, aos

desiguais, partes ou advogados, o Poder Judiciário tende cada vez mais a

atenuar esta desigualdade através da disponibilização de terminais e

computadores. O Judiciário já vem fazendo isso nos Juizados Especiais

Federias da região sul do país.

Nesse sentido, a própria lei n. 11.419/2006 prevê, no art. 10, parágrafo

3º, que o Poder Judiciário “deverá” disponibilizar equipamentos de digitalização

e acesso à internet para distribuição de peças processuais, sendo o ônus,

portanto, do Judiciário, com o objetivo de se difundir a idéia da inserção nos

meios tecnológicos, bem como da realização da verdadeira inclusão digital.

E quanto aos que têm acesso a recursos tecnológicos, ou seja, às

pessoas iguais quanto ao acesso, o processo eletrônico trabalhista é um

instrumento para agilizar o caminho e tornar a justiça mais célere e efetiva,

uma vez que essa tendência no âmbito da Justiça do Trabalho já vem sendo

implantada há alguns anos, e agora, através da lei 11.419/2006, veio para

modificar o processo dentro de todo o Poder Judiciário.

3.2.2. Princípio do devido processo legal

O princípio do devido processo legal “tem origem no direito inglês. A

maioria da doutrina aponta como tendo surgido com a Magna Carta de 1215.

Derivou do Capítulo 39, que garantia a todo indivíduo o direito de ser julgado

pela lei da terra.”133 E, sobre a origem do princípio do devido processo legal,

Marcos Destefenni citando Ada Pellegrini Grinover, discorre que,

133 DESTEFENNI, Marcos. Curso de Processo Civil: processo de conhecimento e cumprimento da sentença. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 11.

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compelido por seus barões João Sem Terra outorga, em 1215, a Magna Charta Libertatum, confirmada em 1297 por Eduardo I (Confirmatio Chartarum). Vista por muitos séculos como garantia solene de direitos individuais, a crítica moderna contribuiu para colocar em seu devido lugar o documento que apesar da forma de outorga de direitos, disfarçou, na realidade, um acordo de vontade entre o monarca e os súditos revoltados. Chegou-se a sugerir que a Carta foi ditada exclusivamente para proteger os interesses da nobreza, mas na realidade ela constitui, com os demais pactos medievais, um antecedente das modernas Constituições, no que tange à forma escrita e à proteção de direitos individuais, ainda que de caráter imemorial e destinados a determinados homens. Pela primeira vez, a nobreza opõe ao monarca o princípio da supremacia de uma lei que se impõe ao próprio governante, antecipando a idéia fundamental do constitucionalismo do século XVIII.134

Assim, por meio do devido processo legal, o “Poder Judiciário pode

controlar os atos do Poder Legislativo, examinado o conteúdo das leis.”135

No texto constitucional brasileiro, o princípio do devido processo legal

surge pela primeira vez em 1988, no artigo 5º, inciso LIV, que diz que “ninguém

será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Eis,

neste preceito constitucional, a garantia de que, para uma pessoa ter uma

restrição ao seu direito, deverá antes ter sido observado um processo com

regras e critérios especificados na lei, e com respaldo na Constituição Federal.

Como bem ensina Celso Ribeiro Bastos,

o processo, no mundo moderno, é manifestação de um direito da pessoa humana. Por esta razão, as Constituições se interessam por discipliná-lo, a fim de impedir que leis mal elaboradas possam levar à sua desnaturação, com o conseqüente prejuízo dos direitos subjetivos que deve amparar.136

O processo tem um curso, um caminho a percorrer que vem

estabelecido na lei; a garantia da obrigatoriedade deste percurso se encontra

na Carta Magna. No âmbito do processo do trabalho, as regras estão

especificadas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), bem como com a

aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. Há exigências específicas a

134 GRINOVER, Ada Pellegrini. As garantias constitucionais do direito de ação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p. 23. Apud DESTEFENNI, Marcos. Op. cit., p. 12. 135 DESTEFENNI, Marcos. Op. cit., p. 12. 136 BASTOS, Celso Ribeiro. Op. cit.. p. 385.

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serem cumpridas, a fim de que se obtenha a garantia do superprincípio137 do

devido processo legal, pois abarca todos os demais princípios processuais.

O artigo 154, caput do Código de Processo Civil, dá ampla liberdade

para a prática dos atos processuais, segundo o chamado princípio

infraconstitucional da instrumentalidade das formas, conforme prescreve: “Os

atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando

a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro

modo, lhe preencham a finalidade essencial.” O princípio da instrumentalidade

das formas consiste no aproveitamento dos atos processuais o máximo

possível, de forma a haver uma maior flexibilidade na prática dos mesmos, ou

seja, desde que alcancem a sua finalidade, serão considerados válidos se

praticados de forma diferente da que é exigida pela lei.

O princípio da instrumentalidade das formas será melhor desenvolvido

neste trabalho quando tratarmos dos princípios infraconstitucionais; no entanto,

foi importante lembrá-lo neste momento, haja vista que se refere à forma como

os atos processuais serão praticados no curso do processo, ou seja, através do

devido processo legal.

Após a definição sobre os princípios do devido processo legal e da

instrumentalidade das formas, passemos à questão do “ato processual” em si.

Como bem ensina Francesco Carnelutti, citado por Jônatas Luiz Moreira

de Paula, “o ato processual é espécie de ato jurídico e é praticado em razão de

uma relação processual. A processualidade do ato não se deve ao seu

cumprimento no processo, mas por criar efeitos no processo.” 138

“O ato processual tem por objetivo adquirir, extinguir ou modificar direitos

processuais”139; assim, o processo é formado por atos processuais. Os atos

processuais são classificados pela doutrina segundo diversos critérios; no

entanto, trouxemos a classificação, feita por Jônatas Luiz Moreira de Paula140,

baseada na pessoa que os pratica: assim, os atos processuais podem ser

praticados pelas partes, pelo juiz ou pelos auxiliares da justiça.

137 DESTEFENNI, Marcos. Op. cit., p. 14. 138 CARNELUTTI, Francesco. Instituciones del Proceso Civil. Traducción de la quinta edicion italiana por Santiago Sentis Melendo. Vol. I. Buenos Aires: Ediciones Juridicas Europa-America, 1956, pp. 424-425. Apud DE PAULA, Jônatas Luiz Moreira. Op. cit., p. 194. 139 ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Op. cit., p. 165. 140 DE PAULA, Jônatas Luiz Moreira. Op. cit., p. 195.

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Os atos processuais praticados pelas partes são atos postulatórios,

instrutórios, dispositivos e reais ou materiais. Os atos processuais postulatórios

são aqueles que a parte pratica a fim de obter um pronunciamento do juiz,

como, por exemplo, a petição inicial.141 Os atos processuais instrutórios são os

atos produzidos com o objetivo de provar o direito pretendido, tais como a

juntada de documento.142 Já os atos dispositivos são aqueles por meio dos

quais a parte renuncia a um direito no processo, ou seja, trata-se da hipótese

de a parte desistir da ação.143 Os atos reais ou materiais são aqueles

praticados pessoalmente pela parte, como o comparecimento à audiência.144

Dando continuidade à classificação dos atos processuais, os praticados

pelo juiz podem ser145: atos decisórios, de documentação, reais,

administrativos. Os atos decisórios ou de provimentos são aqueles pelos quais

o juiz aprecia uma pretensão da parte, podendo ser subclassificados em:

despacho de mero expediente, decisão interlocutória e sentença.146 O

despacho de mero expediente é o ato pelo qual o juiz dá andamento ao

processo, sem caráter decisório. Na decisão interlocutória, há a solução de

questão incidental sem extinção do processo. Já a sentença é o ato pelo qual o

juiz extingue o processo com ou sem julgamento de mérito.147 Os atos de

documentação são os que têm por finalidade “dar regularidade e atestar

validade aos atos e termos processuais”148, como o exemplo dado pelo próprio

Jônatas Luiz Moreira de Paula, a assinatura do juiz na sentença. Os atos reais

são os praticados pessoalmente pelo juiz. E, por fim, os atos administrativos

são os inerentes à esfera administrativa em que o juiz pode atuar, como,

exemplificativamente, na situação em que inspeciona o funcionamento da

secretaria ou cartório afeto a sua Vara.

Já os atos praticados pelos auxiliares da justiça consistem em atos de

documentação, atos materiais e atos de movimentação, segundo classificação

de Jônatas Luiz Moreira de Paula, que também traz de forma clara a definição

desses atos. Atos de documentação são aqueles onde há “registros, anotações 141 Ibidem. 142 Ibidem. 143 Ibidem. 144 Ibidem, p. 196. 145 Ibidem, pp. 196-197. 146 Ibidem, p. 196. 147 Ibidem. 148 Ibidem, p. 197.

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e certidões dos atos e termos processuais”149; os atos materiais são os

“praticados direta e pessoalmente pelos auxiliares, como o depoimento da

testemunha”150; e os atos de movimentação “são aqueles destinados a

promover o desenvolvimento do processo, como a conclusão ao juiz”151.

Retornando ao texto do art. 154 do Código de Processo Civil com a

redação dada pela lei n. 5.869/1973, se o ato processual atingir a sua

finalidade e não tiver forma determinada em lei, poderá ser praticado com

liberdade de forma; eis aqui a margem que o legislador concedeu, antes da

existência dos atos processuais praticados por meio eletrônico, para que estes

assim começassem a ser praticados.

Assim, com o advento da lei n. 9.800/1999, que regulamenta a utilização

de sistema de transmissão de dados para prática de atos processuais através

de fac-símile ou outro similar, inicia-se uma revolução no sentido da busca de

um processo mais célere, mas com atos processuais válidos dentro do devido

processo legal. Houve, com a entrada em vigor desta lei e da Medida

Provisória n. 2.220-2 de 24 de agosto de 2001, mais um avanço no sentido das

exigências a serem cumpridas para a prática de atos processuais.

Com essa abertura do legislador, os Tribunais do Trabalho deram início

à regulamentação do “devido processo legal” eletrônico, através de portarias,

resoluções e instruções normativas. Percebe-se que, no processo eletrônico,

além de todas as exigências específicas de um sistema informacional a ser

implementado pelos profissionais da área de tecnologia da informação,

também é preciso que sejam respeitadas as exigências legais para a prática

dos atos, a fim de que estes não venham ferir os princípios constitucionais,

como o próprio devido processo legal.

No processo eletrônico trabalhista, o e-Doc é uma ferramenta que foi

implementada com fundamento, inicialmente, na Instrução Normativa n. 28 do

Tribunal Superior do Trabalho, que foi baseada na Lei 9.800/2001. Essa

facilidade de envio de documento e petição inicial trouxe uma grande agilidade

no âmbito do processo, pois os procuradores das partes economizam tempo e

custo através do envio seguro de petições, a partir de locais distantes.

149 Ibidem. 150 Ibidem. 151 Ibidem.

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Mas essa normatização não foi suficiente para disciplinar o sistema

informático, pois muitos problemas foram surgindo, dando ensejo ao projeto de

lei n. 5.828/2001, que dispunha sobre a informatização do processo judicial.

Houve depois o projeto de lei da Câmara n. 71/2002, e, por fim, foi promulgada

e entrou em vigor a lei n. 11.419/2006, que trata do processo eletrônico judicial

de todo o Poder Judiciário. Veio então a Instrução Normativa n. 30 do Tribunal

Superior do Trabalho para regulamentar a lei n. 11.419/2006, no âmbito da

Justiça do Trabalho.

Com o advento da lei n. 11.419/2006, houve alteração de diversos

dispositivos do Código de Processo Civil, dentre eles, o artigo 154, que diz

respeito à forma dos atos processuais; foi inserido nesse artigo o parágrafo 2º

e, através da lei n. 11.280/2006, foi acrescentado o seu parágrafo único. Nota-

se que faltou técnica legislativa, pois, com a lei n. 11.419/2006, o legislador não

se preocupou em renumerar os parágrafos, a fim de organizar

sistematicamente o texto do artigo 154 do Código de Processo Civil; ao

contrário, somente inseriu o parágrafo 2º sem se preocupar com a

renumeração dos parágrafos do artigo citado.

Assim, o caput do artigo 154 do Código de Processo Civil ficou

inalterado e seus parágrafos receberam a redação que a seguir se transcreve:

... Parágrafo único. Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disciplinar a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira ― ICP-Brasil. Parágrafo 2º - Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos, transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrônico, na forma da lei.”

Mas, no processo físico, esses atos processuais têm uma roupagem que

difere totalmente do processo eletrônico, uma vez que, para eles estarem aptos

à garantia constitucional do devido processo legal, deverão ser “revestidos de

autenticidade, integridade e segurança, uma vez que deverão ser praticados

com a adoção da infra-estrutura de chaves públicas,”152 cujos requisitos de

152 ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Op. cit., pp. 165-166.

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validade estão previstos no art. 10 da Medida Provisória n. 2.200-2/2001.

Esses requisitos de validade dizem respeito ao ato processual produzido de

forma eletrônica e exigem a certificação digital emitida pela ICP-Brasil ou, no

caso de certificados não emitidos por esta, exigem que o documento ― o ato

processual ― produzido seja admitido pelas partes como válido ou aceito pela

pessoa contra quem o processo for oposto.

Percebe-se que, agora, no processo eletrônico, o ato processual tem

outros requisitos a serem cumpridos, a fim de que seja garantido o princípio

constitucional do devido processo legal, conforme prescrevem o art. 1º,

parágrafo 2º, inciso III; art. 2º, parágrafos 1º, 2º, 3º; art. 8º, parágrafo único; art.

9º; parágrafos 1º e 2º; art. 10, parágrafos 1º e 2º; art. 11; art. 13; art. 19, todos

da Lei n. 11.419/2006.

Os requisitos exigidos no processo eletrônico dizem respeito, a maioria

deles, à autenticidade, à integridade e à validade do ato, pois, com as novas

tecnologias, embora o ato processual seja o mesmo, a forma com que é

praticado é, no entanto, diversa. A forma do ato processual por meio eletrônico

é virtual, dissipando-se assim, no meio físico. Essa desmaterialização do ato

exige segurança, a fim de que se garanta a autenticidade de origem e autoria,

integridade de conteúdo, bem como a irretratabilidade entre os envolvidos na

prática do ato processual. Para que se tenham assegurados esses requisitos,

os atos processuais deverão ser praticados com certificação digital, que é um

novo requisito processual, ao qual podemos chamar “requisito processual

eletrônico”. No entanto, o legislador permitiu a prática do ato processual por

meio eletrônico, sem a certificação digital, sendo suficiente a senha e login, que

originará a assinatura cadastrada. Essa possibilidade é uma contradição, uma

vez que é cediço que, no âmbito virtual, a segurança é concedida pela

certificação digital.

Analisemos os requisitos processuais eletrônicos previstos na lei n.

11.419/2006. O art. 1º, caput, prevê que o uso de meio eletrônico na tramitação

de processos judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças

processuais será admitido nos termos da lei n. 11.419/2006, esclarecendo

ainda, em seu parágrafo 2º, inciso III, alíneas “a” e “b”, que será considerada

assinatura eletrônica, de forma inequívoca, com relação ao signatário; a

assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade

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Certificadora credenciada, conforme estabelece a Medida Provisória n. 2.200-

2/2001, ou a feita através de cadastro de usuário no Poder Judiciário, conforme

disciplinados pelos respectivos Tribunais.

Já o art. 2º, parágrafos 1º, 2º, 3º da lei n. 11.419/2006, estabelece que o

envio de petições e de recursos e a prática de atos processuais em geral por

meio eletrônico serão admitidos, por esse meio, respeitados dois requisitos: o

uso de assinatura eletrônica e o credenciamento prévio no Poder Judiciário,

podendo este ser único para todas as esferas.

Há, nos dispositivos elencados acima, requisitos processuais eletrônicos

para tentar propiciar segurança, validade e integridade aos atos processuais

praticados por meio eletrônico; consistem basicamente em: assinatura

eletrônica com certificado digital ou cadastro do usuário no Poder Judiciário, e

credenciamento prévio, obrigatório e pessoal do interessado junto ao Poder

Judiciário.

Mas houve, como já mencionado, uma contradição do legislador no art.

1º, parágrafo 2º, inciso III, alínea “b” da lei do processo eletrônico, que traz uma

possibilidade de prática de atos processuais por meio eletrônico de forma frágil

e sem segurança alguma, indo, portanto, totalmente contra os cuidados

necessários no meio cibernético. Essa parte do dispositivo permite a prática do

ato processual sem a assinatura eletrônica, bastando apenas o “cadastro do

usuário no Poder Judiciário”; assim, poderá qualquer cidadão produzir o ato

processual pela via eletrônica, inclusive aqueles que, diferentemente dos

advogados, peritos judiciais, procuradores e outros profissionais do direito, não

são afetos ao meio forense.

Diante dessa impropriedade do art. 1º, parágrafo 2º, inciso III, alínea “b”,

da lei do processo eletrônico, a Ordem dos Advogados do Brasil153, através do

seu Conselho Federal, propôs, ainda que com outros argumentos, perante o

Supremo Tribunal Federal, em 30 de março de 2007, Ação Direta de

Inconstitucionalidade com pedido de liminar (ADIN n. 3.880), em face de vários

artigos da lei n. 11.419/06, tendo como relator o ministro Ricardo Lewandowski.

O fundamento era de que vários dispositivos da referida lei ferem as 153 “Adin sobre processo eletrônico será julgada pelo plenário do STF”. DNT. O Direito e as Novas Tecnologias. Disponível em: http://www.dnt.adv.br/adin/index.html. Acesso em: 10/07/07.

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prerrogativas constitucionais da Ordem dos Advogados do Brasil, dentre eles o

art. 1º, inciso III, alínea “b” e o art. 2º da referida lei.

A Ordem dos Advogados do Brasil argumenta que o art. 1º, parágrafo 2º,

inciso III, alínea “b”, fere o princípio da proporcionalidade, uma vez que a

exigência de cadastro prévio para envio de documento no processo eletrônico

consiste em exigência excessiva para o livre exercício da advocacia, pois é

preciso haver uma ponderação entre a intervenção que esta exigência

acarretará para o advogado e o objetivo a ser almejado pelo legislador com

esta exigência. Argumenta também que, no art. 2º, há a previsão de que, para

o envio de petições, recursos e demais atos processuais, será preciso o

“obrigatório credenciamento prévio no Poder Judiciário”; todavia, não poderá o

Poder Judiciário exigir este credenciamento, uma vez que tal prerrogativa de

ordenar os advogados brasileiros é exclusiva da respectiva instituição da

classe, que é a Ordem dos Advogados do Brasil.

Mas é importante salientar que a lei n. 11.419/2006 entrou em vigor

somente em 30 de março de 2007 e, no âmbito trabalhista, mesmo sem a

regulamentação por meio de lei ordinária, a Justiça do Trabalho já tinha o seu

processo de informatização em curso, regulamentado pela Instrução Normativa

n. 28 de 07 de junho de 2005, que exigia o credenciamento obrigatório para a

utilização da ferramenta e-Doc. Todavia, em 13 de setembro de 2007, foi

aprovada a Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho, que

veio revogar a Instrução Normativa n. 28 do mesmo Tribunal. A Instrução

Normativa n. 30 continua tratando da mesma forma a questão do

credenciamento obrigatório para a utilização do e-Doc. Percebe-se que, há

pelo menos dois anos, a Justiça do Trabalho já vinha exigindo esse requisito

processual eletrônico, não tendo havido qualquer irresignação por parte da

Ordem dos Advogados do Brasil.

Outro requisito processual eletrônico previsto na lei n. 11.419/2006 diz

respeito ao art. 8º, parágrafo único, que prega que todos os atos processuais

deverão ser assinados eletronicamente. Todavia, trata-se da mesma situação

do disposto no artigo 1º, parágrafo 2º, inciso III, alínea “b”, já explanada acima,

em que há, neste requisito processual eletrônico, fragilidade na prática do ato,

em razão da assinatura eletrônica ser considerada como identificação

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inequívoca do signatário através de simples cadastro do usuário no Poder

Judiciário.

O art. 9º, parágrafos 1º e 2º, da lei do processo eletrônico, e o art. 23 da

Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho tratam da citação,

intimação e notificação feitas pela via eletrônica. Tais institutos continuam

sendo regulados pelos mesmos requisitos legais já previstos na legislação

pertinente, porém acrescidos de outros requisitos, que são os processuais

eletrônicos, quando tais atos disserem respeito ao processo eletrônico.

O art. 10, parágrafos 1º e 2º, da lei do processo eletrônico, e o art. 24 da

Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho trazem uma

novidade com relação a mais um requisito processual eletrônico. As petições,

recursos, petições iniciais, contestações poderão ser juntadas aos autos

automaticamente, sem intervenção do cartório ou secretaria, sendo que, no

processo físico, tal ato processual é exclusivo dos auxiliares da justiça. Esses

atos serão praticados automaticamente pelo advogado subscritor da petição no

processo eletrônico.

O art. 11 da lei do processo eletrônico também traz outro requisito

processual eletrônico que diz respeito à produção de documento. No processo

eletrônico, o documento enviado pelo meio eletrônico, embora não seja

fisicamente o original, será considerado pela lei como tal, para todos os efeitos

legais. Desta forma, o documento digital enviado é considerado como o

original, uma vez que é dotado de certificação digital, o que lhe dá

autenticidade e integridade, diferentemente do que previa a lei n. 9.800/99, que

exigia a juntada posterior do documento físico original.

O art. 13 da lei n. 11.419/2006 refere-se aos atos necessários à

instrução do processo, que consistem nos antigos ofícios expedidos aos órgãos

públicos, tais como Receita Federal, Banco Central e outros. Esses atos, no

processo eletrônico, recebem uma maior elasticidade na sua prática, pois o

magistrado tem o mesmo instrumento nas mãos, sendo que, anteriormente, era

praticado através da expedição de ofício aos órgãos públicos; agora, no

processo eletrônico, a sua prática é mais célere, pois basta o envio da ordem

judicial pela internet para que, em minutos, o órgão público destinatário a

receba.

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O art. 19 da lei n. 11.419/2006 trata da convalidação do ato processual

praticado por meio eletrônico; foi esse artigo que inseriu na lei do processo

eletrônico o princípio da instrumentalidade das formas, então previsto no art.

154, caput do Código de Processo Civil. Antes da vigência da lei n.

11.419/2006, os atos processuais praticados por meio eletrônico no processo

trabalhista já eram considerados válidos, tendo em vista o art. 154, caput do

Código de Processo Civil, mesmo que regulamentados especificamente pela

Instrução Normativa n. 28, que fora substituída pela Instrução Normativa n. 30,

ambas do Tribunal Superior do Trabalho.

Desta forma, percebe-se que o princípio constitucional do devido processo

legal está inserido no texto infraconstitucional, que traz as exigências para o

seu efetivo cumprimento.

3.2.3. Princípio do contraditório e da ampla defesa

Segundo preceitua o artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal, “aos

litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são

assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ele

inerentes”.

A ampla defesa diz respeito a garantir a igualdade de possibilidades de

defesa para ambas as partes do processo, a fim de que todos os elementos

esclarecedores da verdade sejam trazidos a ele.

Já o contraditório é a polarização do processo, posto que

a defesa ganha um caráter necessariamente contraditório. É pela afirmação e negação sucessivas que a verdade irá exsurgindo nos autos. Nada poderá ter valor inquestionável ou irrebatível. A tudo terá de ser assegurado o direito do réu de contraditar, contradizer, contraproduzir e até mesmo de contra-agir processualmente.154

No processo trabalhista há também a aplicação do princípio do

contraditório e da ampla defesa, uma vez que cabe ao reclamante e ao

reclamado terem a isonomia de oportunidades no processo dentro de um

sistema bipolar da contradição, a fim de que se chegue à ordem jurídica justa.

Com relação ao processo eletrônico trabalhista, este não merecerá

tratamento diferenciado quanto aos princípios em estudo, ainda que o caminho

154 BASTOS, Celso Ribeiro. Op. cit.,. p. 387.

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percorrido ser diferente, ou seja, o meio eletrônico. Ocorre que os envolvidos

são os mesmos, reclamante e reclamada, cabendo a estes utilizar do processo

eletrônico de forma adequada, pelo princípio do devido processo legal, mas

não se deixando intimidar em razão do meio eletrônico. Os mecanismos de

defesa deverão ser empregados da mesma forma que no processo físico, pois

o que muda é somente a forma, o meio.

Como bem diz Edilberto Barbosa Clementino155,

o processo judicial eletrônico deve observar os seguintes requisitos em respeito ao Princípio da Ampla Defesa e do Contraditório: a) garantir, com eficiência e eficácia, a comunicação dos atos processuais; b) assegurar às partes o conhecimento das alegações contrárias; c) ensejar oportunidade para produção de todas as provas que sejam aptas à demonstração dos direitos alegados em Juízo.

Passemos a analisar esses requisitos.

No que diz respeito a garantir, com eficiência e eficácia, a comunicação

dos atos processuais, a lei 11.419/2006 trata desse assunto no seu capítulo II.

Há duas formas de comunicação dos atos processuais: por meio do Diário da

Justiça Eletrônico e pela via de cadastro no portal.

Na primeira forma prevista no art. 4º da Lei n. 11.419/2006, os Tribunais

poderão criar o Diário da Justiça Eletrônico, através do sítio da rede mundial de

computadores, a internet. A comunicação dos atos judiciais e administrativos

será feita através desse meio, sendo que o sítio e o conteúdo das publicações

deverão ser assinados digitalmente com certificação digital, emitida por

Autoridade Certificadora, conforme dispõe a Medida Provisória n. 2.200-2/2001.

O Tribunal que adotar o Diário da Justiça Eletrônico, uma vez que este é

uma faculdade e não uma obrigatoriedade, passará a ter a publicação

eletrônica em substituição a qualquer outro meio de publicação oficial; no

entanto, o Diário da Justiça por meio físico não estará extinto, conforme

interpretação do art. 5º da lei do processo eletrônico.

Esse dispositivo prevê que “as intimações serão feitas por meio

eletrônico, em portal próprio, aos que se cadastrarem na forma do art. 2º desta

155 CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 148.

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Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.” (grifo

nosso)

Nota-se que, se o Diário da Justiça Eletrônico é uma faculdade dos

Tribunais, o Diário da Justiça por meio físico continuará a existir, pois a lei

assim prevê ao dispensar a publicação “no órgão oficial, inclusive eletrônico”. O

Diário da Justiça Eletrônico já foi adotado, no âmbito trabalhista, por vários

Tribunais, tais como o da 12ª região, em Santa Catarina; o da 2ª região, em

São Paulo, e outros.

Já a segunda forma de comunicação dos atos processuais vem

estabelecida no art. 5º da lei do processo eletrônico. Esta diz respeito à

intimação via acesso ao portal do Tribunal, sendo que o interessado deverá se

cadastrar, conforme preceitua o art. 2º da referida lei.

Havendo o cadastramento, a intimação do advogado ou da pessoa

interessada será realizada através do acesso ao portal do Tribunal, sendo

indispensável o cadastro para a efetivação da mesma. No entanto, nesta

segunda situação, a própria lei, no seu parágrafo 4º do art. 5º, prevê a

possibilidade de envio de intimação por e-mail, em caráter meramente

informativo. Eis aqui uma ferramenta que alguns Tribunais já disponibilizam, o

chamado push, que consiste no cadastro do advogado no site do Tribunal, a

fim de receber em seu endereço eletrônico intimações sobre os movimentos

dos seus processos. Essa possibilidade é até um certo retrocesso, pois, com a

comunicação dos atos processuais via Diário da Justiça Eletrônico e sem

caráter informativo, estabelecida na própria lei n. 11.419/2006, houve um

grande avanço no sentido da desburocratização. No entanto, agora, vem o

legislador, dentro de uma idéia contrária à celeridade do processo eletrônico,

prever a intimação com caráter meramente informativo. Por fim, nessa

possibilidade de envio da intimação para o endereço eletrônico, a pessoa

interessada deverá manifestar interesse no serviço, junto ao Tribunal.

Com relação ao ato da citação, denominada no processo trabalhista de

notificação, o art. 6º da lei n. 11.419/2006 prevê que “poderá” ser realizado pelo

meio eletrônico, observadas as formas e cautelas estabelecidas para as

intimações via eletrônica. Todavia, esse ato processual é da mais importante

relevância dentro do processo, pois é o que forma a relação jurídica

processual, assim, deve ser realizado com cautela pela via eletrônica.

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A cautela da notificação pela via eletrônica no processo trabalhista é de

suma importância, uma vez que a Súmula 16 do Tribunal Superior do Trabalho

estabelece que: “Presume-se recebida a notificação 48 (quarenta e oito) horas

depois de sua postagem. O não-recebimento ou a entrega após o decurso

desse prazo constitui ônus de provado destinatário.” Dessa forma, entendemos

que a utilização da notificação da reclamada através do endereço eletrônico é

ainda precoce, pois irá talvez acarretar muitas situações de revelia, sem

formação válida da relação processual e, conseqüentemente, causará nulidade

no processo por ferir os princípios do contraditório e da ampla defesa. A

tendência é de que a notificação da reclamada pela via eletrônica será utilizada

a longo prazo, ou seja, daqui a algum tempo, quando a cultura do processo

eletrônico já estiver realmente fazendo parte da rotina das pessoas e a

comunicação com efeito legal estiver mais difundida e aceita pela sociedade.

Com relação à comunicação dos atos processuais através do meio

eletrônico, ela terá garantida a eficiência e eficácia, uma vez que as intimações

serão recebidas diretamente pelo interessado no endereço eletrônico que

cadastrar, conforme dispõem os arts. 2º e 5º da lei n. 11.419/2006. A

responsabilidade da informação do endereço eletrônico é exclusiva do

interessado no momento do cadastramento, sendo a situação idêntica, por

exemplo, a do advogado que informa a Associação dos Advogados a respeito

do seu endereço, a fim de receber as intimações pelo correio. Como já

dissemos anteriormente, no processo eletrônico, os atos praticados são os

mesmos, somente o meio é diferente.

Outra questão interessante a ser analisada diz respeito ao Diário da

Justiça Eletrônico não ter mais um caráter informativo. Antes do advento da lei

n. 11.419/2006, o acesso às publicações dos atos processuais era meramente

informativo; no entanto, passou a ter efeito de ciência ao interessado, conforme

dispõe o art. 4º, parágrafo 2º da referida lei.

Assim, o interessado que optar em utilizar o processo eletrônico e se

cadastrar no mesmo, conforme dispõe o art. 2º da lei n. 11.419/2006, passará a

ser intimado via Diário da Justiça Eletrônico, se o Tribunal o tiver criado; no

entanto, não poderá simultaneamente se valer do Diário da Justiça físico.

Com relação às cartas precatórias, rogatórias e de ordem, estas vieram

disciplinadas no art. 7º da lei n. 11.419/2006. No que diz respeito ao processo

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trabalhista, os Tribunais Regionais do Trabalho já estão se utilizando dessa

ferramenta através da “Carta Precatória Eletrônica”, um sistema desenvolvido

pelo Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, Goiás. Para a implantação

deste sistema nos Tribunais Regionais do Trabalho, o responsável pelo

gerenciamento é o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, sendo que a

Consultoria-Geral de Informática implementa o sistema nos Tribunais

Regionais e no Tribunal Superior do Trabalho156.

Segundo notícia do Tribunal Superior do Trabalho da época da

implantação do projeto,

o Sistema de Carta Precatória Eletrônica é utilizado para o envio de documentos como intimação de testemunhas, pedido de penhora de bens e até execução de créditos trabalhistas em jurisdição diferente de onde a ação foi originada. Para a Justiça do Trabalho, o sistema traz economia em tempo, transporte, correios e material de consumo. Antes, uma comunicação que podia levar até 10 dias para atingir seu destino, hoje pode alcançá-lo em até 10 minutos. 157

Com relação ao segundo requisito trazido anteriormente por Edilberto

Barbosa Clementino, diz respeito a assegurar às partes o conhecimento das

alegações contrárias.

O princípio do contraditório visa ao tratamento igualitário dado às partes,

sendo que, no processo eletrônico, ambos os pólos deverão ter isonomia de

oportunidades, sob pena de nulidade do processo, não cabendo exceção

alguma, pois se trata de princípio absoluto.

Sobre isso Humberto Theodoro Júnior ensina:

embora os princípios processuais possam admitir exceções, o do contraditório é absoluto, e deve sempre ser observado, sob pena de nulidade do processo. A ele se submetem tanto as partes como o próprio juiz, que haverá de respeitá-lo mesmo naquelas hipóteses em que procede a exame e deliberação de ofício acerca de certas questões que envolvem matéria de ordem pública. 158

Nota-se que é necessária a concessão igualitária de oportunidades às

partes, como se elas integrassem uma pirâmide, estando localizadas nos

156 “Carta Precatória Eletrônica é implantada em dois TRT’s”. DireitoNet. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/noticias/x/91/82/9182. Acesso em: 17/07/07. 157 Ibidem. 158 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 45. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006, pp. 30-31.

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ângulos eqüidistantes, sendo esta igual distância uma referência ao tratamento

isonômico que deverá receber uma em relação à outra parte.

Neste tratamento igualitário, quando uma parte se pronunciar, deverá

ser concedida a mesma oportunidade, à outra parte, para se manifestar,

estabelecendo-se, assim, a polaridade, pois, como já dito, o princípio do

contraditório é absoluto; se assim não fosse, ter-se-ia um desequilíbrio da

relação.

E, por fim, o terceiro requisito elencado pelo doutrinador diz respeito a

ensejar oportunidade para a produção de todas as provas que sejam aptas à

demonstração dos direitos alegados em juízo.

No processo eletrônico, as provas não terão qualquer espécie de

restrição quanto à produção, sob pena de infringir o princípio do contraditório e

da ampla defesa.

Portanto, com relação à produção de prova documental, o artigo 11 da

lei n. 11.419/2006 trata sobre o assunto dispondo que os documentos

produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com garantia

da origem e de seu signatário serão considerados originais, e não cópias. A

partir de então, desde que a validade do documento digital não seja

contestada, ele é considerado válido. O documento original por meio físico

deverá ser preservado pelo seu detentor até o trânsito em julgado da sentença,

ou, quando admitida, até o final do prazo para a propositura da ação rescisória,

conforme estabelece o parágrafo 3º do art. 11 da lei do processo eletrônico.

Todavia, para o processo eletrônico no âmbito cível e penal eis mais um

avanço, pois com a lei n. 9.800/1999, era preciso a juntada no prazo de cinco

dias do documento original aos autos.

Já no âmbito da Justiça do Trabalho, a Instrução Normativa n. 30 do

Tribunal Superior do Trabalho trata da produção de prova documental por meio

eletrônico sem maiores inovações em relação ao que está estabelecido na lei

n. 11.419/2006, ou seja, a determinação de que o documento digital é

considerado original.

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3.2.4. Princípio da publicidade dos atos processuais

O Código de Processo Civil, em seu art. 155, disciplina a respeito da

publicidade dos atos processuais, que é garantida, no texto constitucional, no

seu art. 5º, incisos XIV e LX, combinado com o art. 93, inciso IX, este último

com a redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional n. 45/04.

A publicidade do processo traz uma maior oportunidade de fiscalização

da atividade funcional dos juízes, bem como um acesso mais célere às

decisões por parte das partes e do próprio Judiciário.

É necessário que sejam estabelecidas algumas distinções nas situações

existentes no cenário do Poder Judiciário a nível nacional. Ocorre que, embora

a publicidade do processo seja ampla, com exceção da hipótese de segredo de

justiça, há, na prática, diferentes situações de acesso a esta publicidade dos

atos processuais.

A primeira diz respeito ao processo físico. Embora o processo seja

público, o acesso à informação ali contida fica adstrito à ida ao Fórum, da

pessoa interessada, do advogado ou de terceiro, que pretendem verificar os

autos do processo; esse fato contraria o contexto dos dias atuais, em que os

meios tecnológicos anularam as fronteiras e as distâncias.

Nesse caso, o processo, que é público, está à disposição de quem quer

que seja para manuseá-lo no balcão do cartório ou secretaria. No mundo

moderno, o tempo é algo precioso, o homem contemporâneo quer cada vez

mais despender menos tempo para obter um maior resultado nos seus atos

diários. Há dez anos, a cultura e a mentalidade do homem aceitavam a sua ida

fisicamente ao Fórum, a fim de despender, em muitas das vezes, uma tarde

inteira para ter acesso a um processo. No entanto, hoje, há uma tendência do

homem em não mais aceitar despender seu tempo com idas ao Fórum para

manuseio de autos de processo pelo meio físico. A longo ou até a médio prazo,

o homem, advogado ou parte, não mais deixará seu escritório ou seu ambiente

de convivência para deslocamento físico, a fim de obter informações, pois elas

estarão disponíveis virtualmente através do acesso ao processo pelo meio

eletrônico. Tal acesso virtual traz uma enorme economia de tempo e de

dinheiro para os interessados, uma vez que não há a necessidade de

deslocamento e até de desgaste físico em esperas em filas de atendimento nos

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balcões das secretarias e cartórios dos Fóruns. Assim, o acesso à publicidade

dos atos processuais no processo físico, embora exista, não é amplo, uma vez

que exige o deslocamento físico de pessoas que estão a longas distâncias,

contrariando a dinâmica dos tempos modernos.

A segunda situação refere-se ao processo por meio eletrônico. Temos

aqui duas realidades distintas que exigem explicação e detalhamentos das

peculiaridades. Uma diz respeito ao processo eletrônico implementado na

Justiça do Trabalho; a outra, ao implementado nos Juizados Especiais

Federais.

O processo eletrônico trabalhista, como já explicado, é híbrido, uma vez

que uma parte dele se dá ainda por meio físico, através dos autos formados

por papel, e a outra parte se dá através de atos praticados por meio virtual.

Esses atos virtuais são transportados para o meio físico a fim de compor os

autos do processo. Ocorre, ainda, que, no processo eletrônico trabalhista,

alguns atos praticados por meio físico (por exemplo, as atas de audiências) têm

as suas informações disponibilizadas virtualmente, mas a ata por meio físico é

juntada aos autos do processo físico. Nota-se que, no processo eletrônico

trabalhista, não há o chamado “processo virtual”, pois, embora haja a prática de

atos processuais pelo meio eletrônico, estes ainda são transportados para o

meio físico, em razão do processo físico ainda existente. É certo que a

tendência, a longo prazo, é de que estes autos de processo físico da Justiça do

Trabalho se tornem virtuais, ou seja, haja a denominada “justiça sem papel”, já

existente em algumas esferas, como, por exemplo, nos Juizados Especiais

Federais.

A publicidade do processo eletrônico da Justiça do Trabalho não é

ampla, uma vez que, para se obter a informação através da internet sobre o

andamento processual, o acesso é feito somente pelo número do processo ou

pelo nome do advogado, não sendo possível através do nome das partes.

Percebe-se que a publicidade do processo é “restrita” àqueles que têm essas

informações (número de processo ou nome do advogado), de forma que não

há uma ampla publicidade da informação. A palavra “público” significa aquilo

que é “aberto a quaisquer pessoas; conhecido de todos; manifesto, notório.”159

159 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Op. cit., p. 537, s.v.

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No caso do processo eletrônico trabalhista, o acesso à publicidade é restrito,

não é conhecido de todos, uma vez que a publicidade depende de informações

que nem todos os cidadãos possuem.

Dentro desse contexto, desde que a pessoa tenha os dados, número do

processo ou nome do advogado, terá acesso ao processo por meio eletrônico.

Há aqui um outro problema a ser levantado. No processo eletrônico trabalhista,

há um conflito de valores, ou seja, de um lado, a questão da publicidade dos

atos processuais, e, de outro, a preservação da intimidade das partes

envolvidas no processo.

A publicidade do processo eletrônico trabalhista é uma seara muito

delicada, pois é preciso que se mantenha a harmonização dos bens jurídicos e

valores a serem tutelados. O processo deve ser público, com exceções quando

o interesse social ou a intimidade exigir o contrário. Todavia, a questão a ser

aqui analisada é a do processo público, e não de suas excepcionalidades. De

um lado, é preciso manter resguardada a intimidade das partes, conforme

preceituam o art. 5º, inciso LX, e o art. 93, inciso IX, ambos da Constituição

Federal; e de outro, há a necessidade de um Judiciário cristalino no exercício

da função judicante.

Primeiramente, trazemos, de forma breve, a distinção entre os conceitos

de intimidade e de privacidade, previstos no art. 5º, inciso X da Constituição

Federal.

O direito à privacidade é o gênero, e a intimidade é a espécie.

Como bem diz André Ramos Tavares,

utiliza-se a expressão “direito à privacidade” em sentido amplo, de molde a comportar toda e qualquer forma de manifestação da intimidade, privacidade e, até mesmo, da personalidade da pessoa humana. Pelo direito à privacidade, apenas o titular compete a escolha de divulgar ou não seu conjunto de dados individuais, e, no caso de divulgação, decidir quando, como, onde e a quem. Os dados em questão são todos aqueles que decorram da vida familiar, doméstica ou particular do cidadão, envolvendo fatos, atos, hábitos, pensamentos, segredos, atitudes e planos de vida. O direito à privacidade engloba, portanto, o direito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas.160

160 TAVARES, André Ramos. Op. cit., p. 453.

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Já a intimidade diz respeito ao íntimo da pessoa, seus hábitos e seu

comportamento. Segundo André Ramos Tavares,

significa a intimidade tudo quanto diga respeito única e exclusivamente à pessoa em si mesma, a seu modo de ser e de agir. Abrange a inviolabilidade do domicílio, o sigilo das comunicações e o segredo profissional.”161

Muito embora todos os julgamentos e processos devam ser públicos, as

partes não devem ter a violação de seu direito à intimidade e privacidade.

Ocorre que, no processo eletrônico, a informação é facilmente acessível a

todos, pois qualquer pessoa da sua residência ou qualquer advogado do seu

escritório acessa o processo e verifica o andamento do mesmo, desde que

tenha o número de identificação do processo.

Assim, no meio virtual, há a aplicação do princípio da publicidade por

excelência. Nos Fóruns onde o processo eletrônico já foi completamente

implantado ― como, por exemplo, nos Juizados Especiais Federais e no

Fórum da Justiça Estadual da Freguesia do Ó, na cidade de São Paulo, e na

cidade de Ouroeste, respectivamente inaugurados em 29 de maio de 2007 e 18

de outubro de 2007 ―, o processo é inteiramente virtual, sendo que, após o

advogado ingressar com a sua ação, um setor do Fórum digitaliza a petição

inicial e os documentos, através de scanner, e, a partir daí, o advogado tem um

prazo para retirar os documentos e a inicial em papel, sob pena de serem

incinerados. A partir da digitalização, todos os atos processuais passam a ser

virtuais, pois não há papel. O acesso ao processo se dá através de terminais

de computadores lá instalados e as audiências são realizadas e suas atas são

digitadas, assinadas digitalmente e inseridas no processo virtual. Para o

advogado enviar uma petição, poderá fazê-lo do seu escritório, e esta será

recebida e juntada ao processo através da internet. No entanto, caso o

processo tramite sob segredo de justiça, o acesso será restrito às partes e seus

procuradores. Caso contrário, o processo virtual será público a todos.

Nessa questão, é preciso, pois, que haja uma harmonização de valores

no que diz respeito à publicidade do processo eletrônico trabalhista.

Entendemos que essa harmonização deve ser alcançada através da 161 Ibidem, p. 454.

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responsabilidade no acesso ao processo eletrônico. Este deve ser acessado de

forma responsável e não com ampla liberalidade do uso da informação.

Qualquer pessoa tem acesso à informação ali contida, não podendo utilizá-la

indevidamente, ou seja, formulando “condenações e juízos de valores” sem

antes haver uma sentença transitada em julgado.

O que ocorre, principalmente com a mídia em nosso país, é que as

informações chegam por ela à população como se já houvesse uma sentença

transitada em julgado, ou seja, a “mídia condena” sem ter havido a condenação

judicial e sem terem sido respeitadas as garantias constitucionais da ampla

defesa e do contraditório. As informações que digam respeito à intimidade

pessoal e profissional da parte cabem somente a esta e a seus procuradores,

quando o caso exigir segredo de justiça; todavia, há situações em que, não

sendo este o caso, o processo eletrônico, sendo público, tem ali revelados

detalhes da vida pessoal e profissional das partes. Em situações como essas,

as informações contidas nos autos não podem ser utilizadas indevidamente e

principalmente pela mídia, ou por qualquer cidadão, uma vez que o processo,

mesmo sendo público, dá o direito da utilização das informações ali contidas

para outros fins que não sejam os do processo em si. No capítulo quatro do

presente trabalho, abordaremos a questão da responsabilização pelo uso

indevido das informações disponibilizadas pelo meio eletrônico.

Dentro desta discussão, não se pode deixar de lado um dos objetivos

que a publicidade do processo eletrônico visa, ou seja, um Judiciário cristalino

e suscetível de uma maior fiscalização da sua função judicante; assim,

reforçamos a idéia da utilização da informação do processo eletrônico da forma

responsável.

Com relação ainda à publicidade dos atos processuais, outra questão

relevante foi a ventilada pela Ordem dos Advogados do Brasil, através da Ação

Direta de Inconstitucionalidade n. 3.880 proposta pelo Conselho Federal da

Ordem dos Advogados do Brasil. A Ação, dentre outros pedidos, pleiteia a

declaração da inconstitucionalidade dos artigos 4º e 5º da Lei n. 11.419/06,

alegando que o Diário Oficial por meio físico deixaria de existir em substituição

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ao eletrônico, e que isto geraria restrição à publicidade dos atos processuais

para aqueles que não têm computador. A referida ação ainda não foi julgada.162

Segue trecho da referida ação,

Prevêem os artigos 4º e 5º da Lei 11.419 meios eletrônicos de intimação de atos processuais. O artigo 4º institui diário de justiça eletrônico e estabelece que a publicação eletrônica “substitui qualquer outro meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos legais”.. Já o artigo 5º estabelece que as intimações dar-se-ão eletronicamente “em portal próprio aos que se cadastrarem” junto aos órgãos judiciários “dispensando-se”, nessa hipótese de cadastro, “a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico”. O artigo 4º, portanto, acaba com o diário de justiça em meio físico, criando o meramente eletrônico; o artigo 5º dispensa a publicação das intimações até mesmo no diário eletrônico, quando houver cadastramento dos interessados para fins de identificação eletrônica. Os dispositivos, a não mais poder, agridem o artigo 5º, inciso LX da Constituição Federal que estabelece que “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”. A interpretação constitucional não pode se dissociar do fato social por ela regrado. Nesse contexto, a publicidade dos atos processuais, constitucionalmente exigida, há de ser examinada segundo a realidade nacional. Os preceitos legais, em especial o primeiro, ao acabarem com o diário de justiça impresso em papel, limitando o conhecimento dos atos processuais a apenas aqueles que disponham de computador ligado à Internet, estão a restringir indevidamente a publicidade do processo. Isso porque o acesso dos advogados brasileiros e da própria população nacional à rede mundial de computadores é ainda muito baixo. 163

Em contrapartida, há o entendimento164, ao qual nos filiamos, de que o

Diário Oficial Eletrônico não substituirá o Diário Oficial por meio físico, uma vez

que o próprio caput do art. 5º da referida lei prevê que os interessados

cadastrados em portal próprio receberão as intimações por meio eletrônico,

“dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.”

Percebe-se que é sem razão o argumento trazido na Ação de

Inconstitucionalidade, pois o Diário da Justiça eletrônico e o físico existirão,

concomitantemente.

162 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em: http://www.stf.gov.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp. Acesso em: 20/02/08. 163 ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. CONSELHO FEDERAL. “OAB Nacional ajuiza Adin contra lei do processo eletrônico”. Disponível em: http://www.oab.org.br/noticias.asp?id=9429. Acesso em: 20/02/2008. 164 ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Op. cit., p. 232.

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Ocorre que há Tribunais, como o de Sergipe, que substituíram o Diário

da Justiça por meio físico pelo eletrônico, tornando este último o meio exclusivo

de comunicação dos atos judiciais e administrativos daquele Estado, o que

motivou outra Ação Direta de Inconstitucionalidade (n. 3.875) proposta pela

Ordem dos Advogados do Brasil165, em 19 de março de 2007. Nesse caso

ocorreu situação diversa da outra Ação Direta de Inconstitucionalidade, pois o

Diário Eletrônico já era adotado há muito tempo. Assim, o Tribunal de Justiça

determinou a extinção do Diário da Justiça por meio físico através da

Resolução n. 7, de 24 de janeiro de 2007, editada pelo Tribunal de Justiça do

Estado de Sergipe e publicada no Diário da Justiça daquele Estado no dia 26

de janeiro de 2007; o Diário físico foi então substituído pelo Diário da Justiça

eletrônico a partir de 23 de abril de 2007. A referida ação também não foi

julgada ainda.166

No âmbito da Justiça do Trabalho, o Diário da Justiça do Trabalho foi

tratado em consonância com a lei do processo eletrônico, conforme preceituam

o art. 14, inciso I, art. 15 e 16, da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal

Superior do Trabalho.

Conclui-se, portanto, que a publicidade dos atos processuais por meio

eletrônico precisam ser analisadas de forma cautelosa, a fim de que não haja

distorções do processo eletrônico.

3.2.5. Princípio do acesso à justiça

A expressão “acesso à justiça” tem, no contexto doutrinário, diversos

significados.

Há aqueles que a interpretam como o direito de ingressar em juízo com

uma ação, conforme preceitua o art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal.

165 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Íntegra da Ação Direta de Inconstitucionalidade disponível em: http://www.stf.gov.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=3875&processo=3875. Acesso em: 20/02/08. 166 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em: http://www.stf.gov.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=3875&processo=3875. Acesso em: 20/02/08.

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“O princípio em questão significa que toda controvérsia sobre direito,

incluindo a ameaça de lesão, não pode ser subtraída da apreciação do Poder

Judiciário.”167

No entanto, no presente trabalho, pretende-se estudar o acesso à ordem

jurídica justa168, uma vez que

o acesso à justiça é pois, a idéia central a que converge toda a oferta constitucional e legal desses princípios e garantias. Assim, (a) oferece-se a mais ampla admissão de pessoas e causas ao processo (universalidade de jurisdição), depois (b) garante-se a todas elas (no cível e no criminal) a observância das regras que consubstanciam o devido processo legal, para que (c) possam participar intensamente da formação do convencimento do juiz que irá julgar a causa (princípio do contraditório), podendo exigir dele a (d) efetividade de uma participação em diálogo —, tudo isso com vistas a preparar uma solução que seja justa, seja capaz de eliminar todo resíduo de insatisfação. Eis a dinâmica dos princípios e garantidas do processo, na sua interação teleológica apontada para a pacificação com justiça.169

Na sociedade moderna, o homem faz parte de um grupo em constante

conflito, quer seja individual, que seja coletivo, pois há pretensões e anseios

que, em muitas das vezes, não convergem e são resistidos por outros que têm

o mesmo anseio ou pretensão, o que chamamos de bem.

Esses pontos de conflito podem ter uma dimensão pequena ou até uma

abrangência enorme, envolvendo outros bens e, conseqüentemente, mais

pessoas.

Como exemplo de conflitos nos dias atuais, tivemos, no ano de 2007, o

enorme problema da crise do tráfego aéreo que o nosso país enfrentou.

Quantos conflitos foram gerados a partir de um primeiro que não foi

solucionado e, por conseqüência, quantos outros pontos de tensão máxima

dentro da sociedade! Bem lá no início, quando ainda não havia tanta

divulgação na mídia, tínhamos controladores e outros profissionais envolvidos

167 TAVARES, André Ramos. Op. cit., p. 498. 168 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições do Direito Processual Civil. Vol. I. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 133. 169 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Op. cit., p. 34.

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na operacionalização do tráfego aéreo trabalhando em condições de trabalho

lamentáveis, com jornadas excessivas e baixa remuneração.

Essa situação não era do conhecimento da sociedade, mas o conflito já

existia, pois havia um grupo de profissionais reivindicando melhores condições

de trabalho que nunca foram atendidas. Houve a necessidade da ocorrência de

uma agravante a mais neste contexto conflituoso para que aquela situação

inicial viesse à tona; o acidente com um avião estrangeiro. Antes tínhamos um

conflito na relação de trabalho, mas que começou a ganhar um vulto maior,

passando para a segurança do tráfego aéreo e para a perda de dezenas de

vidas, gerando conseqüentemente, mais conflitos, pois vidas foram tratadas de

forma simplesmente descartável dentro do contexto da sociedade, e famílias

sofreram a dor da perda moral, econômica e social. Falamos em “descarte”

porque o conflito aumentou ainda mais, mas nada mudou dentro do enorme

cenário de tensão. Os problemas continuaram, mas, se antes eram de relação

de trabalho, passaram depois para os âmbitos patrimoniais, sucessórios,

indenizatórios, psicológicos dos familiares, enfim, problemas da sociedade que

viveu a insegurança das autoridades.

Aquele conflito, como dissemos no início, não acabou aqui no dito

“enorme conflito”, pois passou a ser um “conflito gigantesco”, com uma

dimensão ainda maior, uma vez que outro acidente ocorreu com mais vítimas e

mais familiares sofrem. A precária relação de trabalho dos controladores já foi

até esquecida, mas ela continuou existindo, embora agora concomitante com

uma quantidade duplicada ou triplicada de interesses patrimoniais, sucessórios,

indenizatórios, psicológicos dos familiares. Todas estas pessoas ― antes uma

categoria, depois parte da sociedade e, por fim, toda ela ― ficaram fragilizadas

com o descaso daqueles que deveriam tomar alguma atitude e não tomaram. A

sociedade viveu um “conflito gigantesco”, houve pretensões das mais variadas

espécies, resistências também de diversas ordens, principalmente política.

Tomamos como exemplo o contexto da aviação aérea civil vivido em

nosso país no ano de 2007 para ilustrarmos o presente trabalho e podermos

passar, a todos que o lerem, o real significado de um conflito.

Esse “conflito gigantesco” clamou e clama, até hoje, por uma urgente

solução; todavia, dentro dos seus subníveis, algumas pretensões não poderão

ser satisfeitas integralmente, pois as vidas perdidas não poderão ser

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retomadas. Porém, através de respostas plausíveis proporcionadas pela devida

apuração dos culpados e a respectiva responsabilização dos mesmos, haverá

ao menos um conforto e a adequação da satisfação do anseio dentro da

realidade social. Pretende-se, com isto, o que Kazuo Watanabe, citado por

Cândido Rangel Dinamarco170, denomina ordem jurídica justa.

As pessoas, quando trazem consigo seus anseios e pretensões, buscam

satisfazê-las através do acesso à justiça. Esse mecanismo tem como garantia

e pano de fundo os princípios constitucionais da ampla defesa, contraditório e

devido processo legal. Mas a pessoa que busca o Judiciário nem sempre tem a

sua pretensão satisfeita plenamente, ou porque não tinha razão pleitear aquele

direito, ou porque teve a pretensão concedida de forma não adequada, ou

ainda porque a concessão foi feita muito tardiamente, ensejando assim

ineficácia de resultado na concessão. Exemplo desta última situação é a

pessoa que ingressa em juízo e a concessão da decisão judicial definitiva leva

vinte anos, sendo que o autor falece no decorrer do processo.

O acesso à justiça não implica pura e simplesmente no direito à ação,

pois é preciso que haja um Judiciário eficaz, a fim de se obter uma sentença

justa.

Esta eficácia é almejada há muito tempo, pois

para a plenitude do acesso à justiça importa em remover os males resistentes à universalização da tutela jurisdicional e aperfeiçoar internamente o sistema, para que seja mais rápido e mais capaz de oferecer soluções justas e efetivas. É indispensável que o juiz cumpra em cada caso o dever de dar efetividade ao direito, sob pena de o processo ser somente um exercício improdutivo de lógica jurídica. Tal é mesmo um dever do juiz, estabelecido no art. 125, inc. III, do Código de Processo Civil.171

Para se chegar a essa ordem jurídica justa, é preciso que haja o acesso

à justiça eficaz, através de um processo célere, com decisões eficazes e

170 WATANABE, Kazuo. Apud DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições do Direito Processual Civil. Vol. I. 5. ed. revista e atualizada de acordo com a emenda constitucional n. 45, de 8.12.2004 (DOU de 31.12.2004) e com um estudo sistemático da Reforma do Judiciário (na Apresentação da 5ª edição). São Paulo: Malheiros, 2005, p. 133. 171 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições do Direito Processual Civil. Vol. I. 5. ed. revista e atualizada de acordo com a emenda constitucional n. 45, de 8.12.2004 (DOU de 31.12.2004) e com um estudo sistemático da Reforma do Judiciário (na Apresentação da 5ª edição). São Paulo: Malheiros, 2005, p. 133.

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adequadas à realidade, bem como um processo operacionalmente

desenvolvido com eficácia, ou seja, “com qualidade dos serviços

jurisdicionais”.172

Várias reformas da lei processual foram realizadas na tentativa de se

chegar à entrega da prestação jurisdicional justa, tais como, os institutos da

ação monitória, o pedido de tutela antecipada, o procedimento inovador dos

juizados especiais, as formas alternativas de solução dos conflitos (mediação,

conciliação e arbitragem) e, especificamente no âmbito trabalhista, a criação do

procedimento sumaríssimo e das comissões de conciliação prévia.

Mas ocorre que essas tentativas, embora tenham vindo para melhorar o

sistema, ainda não foram suficientes para satisfazer os interesses daquele que

perdeu seu ente querido, como no cenário recente de conflito vivido pela nossa

sociedade, o qual descrevemos acima.

Percebe-se, ainda, que todas as reformas processuais não foram ainda

efetivamente e plenamente capazes, nas mais diversas contendas submetidas

ao Judiciário, para se obter uma ordem jurídica justa.

Acesso à justiça não equivale a mero ingresso em juízo. A própria garantia constitucional da ação seria algo inoperante e muito pobre se se resumisse a assegurar que as pretensões das pessoas cheguem ao processo, sem garantir-lhes também um tratamento adequado. É preciso que as pretensões apresentadas aos juízes cheguem efetivamente ao julgamento de fundo, sem a exacerbação de fatores capazes de truncar o prosseguimento do processo, mas também o próprio sistema processual seria estéril e inoperante enquanto se resolvesse numa técnica de atendimento ao direito de ação, sem preocupações com os resultados exteriores. Na preparação do exame substancial da pretensão, é indispensável que as partes sejam tratadas com igualdade e admitidas a participar, não se omitindo da participação também o próprio juiz, de quem é a responsabilidade principal pela condução do processo e correto julgamento da causa. Só tem acesso à ordem jurídica justa quem recebe justiça. E receber justiça significa ser admitido em juízo, poder participar, contar com a participação adequada do juiz e, ao fim, receber um provimento jurisdicional consentâneo com os valores da sociedade. Tais são os contornos do processo justo, ou processo équo, que é composto pela efetividade de um mínimo de garantias de meios e de resultados.173

172 Ibidem. 173 Ibidem. p. 134.

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Dentro desse raciocínio, a busca da ordem jurídica justa vem sendo feita

com as diversas reformas processuais, sendo que a lei n. 11.419/2006 é mais

uma forma de se alcançar tal objetivo. O legislador, através dessa lei,

conseguiu uma maior abrangência de aplicabilidade ao caso concreto, sendo

que, antes, as reformas atingiam somente determinados casos específicos, por

exemplo, como a ação monitória, o pedido de tutela antecipada, a lei 9.099/95,

o procedimento sumaríssimo e outras.

Com a lei do processo eletrônico, o objetivo é aplicá-lo a diversas áreas

do direito sem distinção do tipo de ação ou de pedido, uma vez que diz respeito

ao mesmo processo, mas operacionalizado por um caminho diferente. Esse

caminho trará a entrega da tutela jurisdicional de forma mais rápida e

econômica e, a longo ou até a médio prazo, deverá trazer ao julgador mais

elementos formadores para a sua convicção, já que ele terá mais acesso à

informação, por estarem as decisões acessíveis a todo o Judiciário de forma

on-line. Tal acesso à informação trará maiores e mais rápidos reflexos aos

julgadores a respeito do caso concreto que lhes competir julgar.

Essa nova tendência é uma mudança cultural do Judiciário do nosso

país e trará imensos benefícios à sociedade, pois ela estará cada vez mais

próxima da ordem jurídica justa.

3.2.6. Princípio da celeridade

O Poder Judiciário sempre teve consciência da demora na entrega da

prestação jurisdicional, sendo que processos demoravam anos sem terem

prolatada uma decisão final. Várias reformulações na legislação foram feitas na

tentativa de solucionar este problema, pois é necessário que o Estado dê

meios aos cidadãos de ter acesso à ordem jurídica justa. Para se chegar à

efetiva paz social não foi suficiente propiciar o direito a ação ou, até mesmo, as

formas alternativas de solução dos conflitos e as outras reformulações

processuais anteriormente citadas

Se essas reformulações fossem suficientes, hoje teríamos um Judiciário

eficaz, com processos realmente produzindo resultados satisfatórios, ou seja,

com a entrega da prestação jurisdicional de forma a satisfazer realmente os

anseios daqueles que procuram uma resposta para as suas angústias.

Todavia, o que há ainda é a movimentação de uma máquina judiciária lenta e

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não satisfatória e, em razão disto, o próprio Judiciário deu ensejo a novas

discussões e propostas que resultaram na chamada Reforma do Poder

Judiciário.

Nessa reforma, foram feitas várias reformulações estruturais,

operacionais e funcionais desse poder, a fim de se obter uma Justiça mais

justa, democrática e cristalina, com a criação do Conselho Nacional de Justiça

e de diversas inovações.

Dentre estas últimas, a Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro

de 2004, elevou o princípio da celeridade a nível de garantia constitucional,

conforme redação do texto constitucional a seguir transcrito:

“art. 5º, LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são

assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a

celeridade de sua tramitação.”

Para a obtenção de um processo célere, são necessárias reformulações

estruturais que estão intimamente ligadas entre si, pois não basta garantir a

rapidez do processo sem propiciar meios para que o mesmo atinja seu objetivo.

Um dos instrumentos de obtenção da celeridade do processo é a

informatização do Poder Judiciário a nível nacional. É sabido que já há alguns

anos a região do sul do Brasil vem obtendo êxito com a informatização dos

Juizados Especiais Federais, sendo que lá, atualmente, o processo virtual já

totaliza 80% dos juizados.174

Em entrevista concedida à revista eletrônica Consultor Jurídico e

publicada no dia 22 de julho de 2007, o Secretário-Geral do Conselho Nacional

de Justiça, Dr. Sérgio Renato Tejada Garcia, fala sobre a informatização como

meio de trazer a celeridade do processo, uma vez que o processo físico é

burocrático, o que acarreta um tempo morto despendido. Acrescenta, ainda,

que a informatização do Judiciário, pelo fato de a resistência do meio jurídico

aos recursos tecnológicos estar diminuindo cada vez mais, será rápida,

estando completa dentro de aproximadamente, quatro anos. Defende ainda o

174 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. “Rádio CBN entrevista o secretário-geral do CNJ, Sérgio Tejada”. Processo em papel deixará de existir em quatro anos. CNJ em Dia Disponível em: http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3162&Itemed=167. Acesso em: 20/02/08.

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Dr. Sérgio Renato Tejada Garcia que deverá haver uma homogeneização do

Poder Judiciário, com todas as suas esferas se comunicando, como já é o caso

do convênio Bacen-Jud, que realiza a penhora on-line de contas bancárias em

qualquer lugar do país.

A seguir transcrevemos alguns trechos da entrevista:

ConJur - O que o CNJ fez até agora para tornar a Justiça mais rápida? Sérgio Tejada - São dois eixos principais. O primeiro deles é o incentivo a soluções alternativas dos conflitos, chamado de movimento Conciliar é legal. A cultura de conciliação não faz parte do Brasil, que tem a cultura de litigância. Com o movimento, em um só dia, 8 de dezembro, foram conciliados 40 mil processos. O outro eixo de atuação do Conselho para acelerar a Justiça é a modernização. O CNJ está investindo R$ 60 milhões para implantar o processo virtual, que é a melhor ferramenta de combate à morosidade. O processo virtual pode ser até cinco vezes mais rápido do que em meio físico, já que quase 70% do tempo do processo é gasto com a burocracia. É o chamado tempo morto. ConJur - Quer dizer que a principal causa da morosidade da Justiça é a burocracia. Sérgio Tejada - É esse tempo morto. Essa maneira de fazer andar o processo vem da Idade Média, quando tudo era feito dentro dos muros e as pessoas estavam próximas. A burocracia permaneceu até hoje e está emperrando toda a Justiça. O processo virtual acaba com isso. O advogado não precisa mais ir até o balcão, apresentar a petição, carimbar, guardar. No processo eletrônico, ele junta a petição pela internet em segundos. ConJur - Por que o Judiciário resiste tanto à modernização? Sérgio Tejada - É o conservadorismo, esta mentalidade que permanece desde a Idade Média. ConJur - Enquanto o Judiciário resiste, a informática pegou em todo o Brasil. Sérgio Tejada - Mas no Judiciário essa resistência está diminuindo rapidamente. Aqueles que resistem à informatização usam argumentos improcedentes, por exemplo, de que o cidadão comum não vai saber lidar com o processo virtual. Não é verdade. Todo mundo vota em urna eletrônica, não vota? Dizem também que os juízes mais experientes são os que mais resistem, mas no órgão máximo da Justiça, o Supremo Tribunal Federal, existe um grande projeto de tornar o Recurso Extraordinário eletrônico e o primeiro despacho virtual dado foi do ministro Sepúlveda Pertence, decano da corte. O Supremo luta para mudar a realidade de hoje. Só no ano passado, foram 680 toneladas de processos desaguados lá. ConJur - O Judiciário está muito atrasado nesse processo de informatização, não?

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Sérgio Tejada - Não é bem assim. O Judiciário engloba diversas realidades. Temos, por exemplo, ilhas de tecnologia, como a Justiça Federal, a Trabalhista e a Justiça de Santa Catarina. Por outro lado, temos a Justiça de Piauí e de São Paulo, que estão muito atrasadas. ConJur - Mas na média geral, como está a Justiça brasileira em relação à informatização? Sérgio Tejada - No geral, o Poder Judiciário é muito informatizado. Não perde para os outros ramos do serviço público. Aliás, até ganha deles. A informática é bastante usada pela Justiça para localizar os processos em papel guardados nos arquivos. Se o sistema eletrônico for desligado, o Judiciário não funciona, ninguém acha um processo. O que queremos agora é usar a tecnologia no trâmite do processo, que é a Justiça que chega na mão da população. E, nisso, o Brasil é pioneiro, já que o conservadorismo da Justiça não é só uma prerrogativa brasileira, mas um problema mundial. No mundo inteiro, o distanciamento que o Judiciário tem de ter para julgar com equilíbrio faz com que seja um Poder conservador. ConJur - Em quanto tempo todo o processo estará informatizado?

Sérgio Tejada - Quatro anos. ConJur - Rápido assim?

Sérgio Tejada - Eu acho que sim. A informatização do processo está indo muito rápido. O processo virtual já foi instalado na Justiça Federal e está avançado na Justiça do Trabalho. Todos os estados ou já têm um piloto de processo virtual ou terão em seguida.

ConJur - Como homogeneizar a Justiça brasileira? Sérgio Tejada - Uma missão importante do CNJ é mudar a visão de que cada Justiça é uma ilha. Afinal, há processos que tramitam entre as diferentes esferas da Justiça. O CNJ está liderando o movimento pela informatização do processo para que as Justiças possam se comunicar entre si. Um exemplo bom é o Bacen-Jud, que é a penhora online. O juiz determina a penhora do seu gabinete e o sistema procura valores depositados nos bancos do Brasil inteiro.175

O processo virtual tende cada vez mais a trazer a celeridade efetiva à

tramitação do processo, sendo que já foi constatado, no Fórum virtual instalado

no Amazonas, que um processo que tramita pelo meio físico leva de 1.545 dias

na tramitação, caindo para 57 dias quando pelo meio virtual.176

Assim, o processo eletrônico trará maior celeridade à tramitação do

processo, uma vez que, segundo as informações da entrevista reproduzida 175 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. “Consultor Jurídico publica entrevista do secretário-geral do CNJ, Sérgio Tejada”. Processo digital será implantado em quatro anos no Brasil. CNJ em Dia. Disponível em: http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3162&Itemed=167. Acesso em: 20/02/08. 176 SISTEMA DE AUTOMAÇÃO DA JUSTIÇA (SAJ). “Quanto vale o processo digital?”. Disponível em: http://www.softplan.com.br/saj/noticias.do?id=355. Acesso em: 27/10/07.

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acima, o processo virtual poderá ser até cinco vezes mais rápido que aquele

por meio físico.

A informatização do Judiciário atingirá o seu primordial objetivo, uma

Justiça célere e, conseqüentemente, com decisões mais justas e efetivas.

3.3. Princípios infraconstitucionais

Os princípios são os vetores do Direito. Os princípios constitucionais

encontram-se inseridos na Carta Magna como o pano de fundo de todo o

ordenamento jurídico. No entanto, há os princípios que se encontram não na

Constituição Federal, mas sim nas legislações infraconstitucionais (penal

trabalhista, cível, processual), como se fossem os afluentes de uma enorme

bacia, a Carta Republicana.

Como bem ensina Paulo Bonavides ao citar o pensamento dos juristas

espanhóis F. de Castro e Luís-Diez Picazo,

a idéia de princípio, segundo Luís-Diez Picazo, deriva da linguagem da geometria, “onde designa as verdades primeiras”177. Logo acrescenta o mesmo jurista que exatamente por isso são “princípios”, ou seja, “porque estão ao princípio”, sendo “as premissas de todo um sistema que se desenvolve more geométrico.178

Nota-se, pois, que os princípios infraconstitucionais são o primeiro passo

das leis infraconstitucionais a fim de nortear o ordenamento jurídico dentro do

mesmo objetivo a que ele foi proposto, ou seja, para que ele atinja a sua

finalidade.

No processo eletrônico, há princípios infraconstitucionais a serem

aplicáveis, a fim de lhe propiciar um percurso legal para que se obtenha a

finalidade pretendida com essa nova forma de caminho processual, a

tecnológica.

177 PICAZO, Luís-Diez. “Los principios generales del Derecho en el pensamiento de F. de Castro” In: Anuario de Derecho Civil, t. XXXVI, fasc. 3º, out./dez. 1983, pp. 1267-1268. Apud BONAVIDES, Paulo. Op. cit., pp. 255-256. 178 Ibidem.

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3.3.1. Princípio da oralidade Os atos processuais praticados oralmente têm a sua origem no

denominado processo civil romano no período de 754 a.C. a 568 d.C.

O processo civil romano foi subdividido em três fases: período das legis

actiones (754 a.C. a 149 a.C.); período do processo formulário (149 a.C. a 209

d.C.) e o período da extraordinaria cognitio (209 d.C. a 568d.C).

No período das legis actiones, havia, na realidade, uma relação entre o

direito e a ação, uma vez que o Direito Romano foi se formando através do

instrumento processual.179

Já no período do processo formulário, o processo começou a ser

realizado de forma escrita, preponderando, no entanto, a forma oral. Houve,

nessa fase, a expansão do Direito Romano para toda a Península Itálica.

Antes dessa expansão, somente os romanos tinham o direito de invocar a jurisdição (isto é, o magistrado), dado que o ius civile abrangia exclusivamente os romanos. Com o expandir do Direito romano, houve a necessidade de se criar uma nova magistratura de molde a que o Judiciário também se fizesse presente nessa expansão, ao lado da conquista política. Surgiu o praetor peregrinus. Este não podia aplicar, aos não romanos, a sistemática das legis actiones, e, desta forma, se fez necessário um sistema adequado à distribuição da justiça. Encontraram-se as fórmulas, fornecidas pelo praetor, àqueles que viessem submeter-lhe um conflito de interesses. Dados os evidentes inconvenientes do sistema anterior, as fórmulas acabaram, inclusive, sendo estendidas aos próprios romanos.180

Por fim, no período da extraordinaria cognitio, o processo já não era

essencialmente oral e a sentença era a consequência da aplicação do direito

aos fatos provados.181

Os historiadores ressaltam que o processo inicialmente era produzido

oralmente, sendo que a forma escrita veio mais tarde182, mas, na verdade, a

forma oral foi sendo substituída gradativamente, em razão principalmente da

179 ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. Vol. I. 10. ed. São Paulo: RT, 2006. pp. 45-46. 180 Ibidem. p. 47. 181 Ibidem. p. 48. 182 CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 160.

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necessidade de registro das demandas e do aumento da população, o que

tornava inviável o processo produzido oralmente.

A substituição da forma oral pela forma escrita deu-se em razão de diversos fatores, mas principalmente por motivo da necessidade de registro das soluções dadas às demandas, para obstar-se a sua repetição sobre o mesmo objeto litigioso. O aumento expressivo da população somente ampliou essa necessidade, haja vista que hodiernamente a quantidade de feitos julgados supera a capacidade de memória de qualquer ser humano, diante do grande aumento populacional e do elevado grau de especialização das funções judicantes que se alcançou com o tempo.183

O que se percebe, com o decorrer do tempo, é que essa relação do ato

processual com a necessidade de ser produzido por escrito começa a ter uma

inversão, ou seja, as demandas aumentaram cada vez mais com o decorrer do

tempo, a Justiça ficou cada vez mais lenta e houve a necessidade de se tentar

solucionar o problema da morosidade. Isto deu ensejo à produção de atos

processuais de forma oral, mas com a utilização de recursos tecnológicos:

a observância da oralidade não implica a mesma falta de registros, consoante ocorria no passado. Enquanto que a oralidade resultava na dependência da memória do julgador e do grupo social que presenciava o julgamento público, ou que dele tivesse notícia, hoje a oralidade já não mais se associa à intangibilidade posterior dessa forma de instrução probatória. Desnecessários se fazem os registros escritos das provas produzidas em audiência, quando a instância recursal pode-se valer da mesma prova coletada pelo Juízo singular, pela simples gravação das audiências de instrução em arquivos de Computador (em formato MP3 ou similar), inclusive com imagens (formatos JPEG e outros), se preciso, sem necessidade de transcrições ou de outros meios que, “filtrando” a prova, muitas vezes podem fazer perderem-se sutilezas impossíveis de transcrição.184

A tendência foi de que os atos processuais viessem a ser praticados

novamente pela forma oral, a fim de se tentar dar celeridade ao processo, mas,

com os recursos tecnológicos, o processo continua sendo o mesmo. Todavia, o

que mudou foi a sua roupagem, ou seja, o ato processual praticado através dos

183 Ibidem. 184 Ibidem, pp. 160-161.

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meios tecnológicos existentes passaram a ser mais rápidos e são

armazenados de forma mais segura. Essa situação pôde ser percebida quando

houve a implantação dos Juizados Especiais Cíveis através da lei n.

9.099/1995, que tem, como um de seus princípios, a oralidade.

Nos Juizados Especiais Cíveis, os atos processuais podem ser

praticados oralmente e serão gravados em fita magnética; no entanto, na

atualidade, com os novos recursos tecnológicos, eles poderão ser gravados,

por exemplo, em arquivo no formato MP3, pois

MP3 é um formato que permite armazenar músicas e arquivos de áudio no computador em um espaço relativamente pequeno, mantendo a qualidade do som. Arquivos com extensão .mp3, também chamados de MPEG1 Layer 3, são semelhantes aos arquivos .wav (wave), mas extremamente compactados, ou seja, muito menores. Normalmente, um arquivo MP3 com 1 MB contém cerca de um minuto de música. Para ouvi-los basta um programa do tipo "player" (tocador) disponível na Internet. Há programas para PC, Mac e Linux.185

Com a utilização de recursos tecnológicos, garante-se a conservação da

prova produzida oralmente, através da gravação de arquivo eletrônico de

armazenamento fácil, havendo, portanto, uma maior economia no que diz

respeito também ao espaço físico.

Os atos processuais praticados oralmente são, via de regra, os

realizados na audiência, momento este em que as partes praticam atos

verbalmente e estes são registrados na ata. Mas, com a utilização dos recursos

tecnológicos existentes na atualidade, há equipamentos capazes de gravar os

depoimentos das partes e testemunhas na íntegra, sem que haja mais a

necessidade da chamada “transcrição na ata”. Dessa forma, evita-se qualquer

tipo de equívoco por parte do juiz ao ditar o depoimento para o serventuário ou

secretário da sala de audiências. Isso é um aspecto muito positivo do processo

eletrônico, já que a audiência é realizada da mesma forma, mas o formato do

seu registro é que é diverso e mais eficaz, pois assegura todos os mecanismos

de segurança, tais como assinatura digital e demais ferramentas garantidoras

da autenticidade e validade do ato. Com essa prática da audiência gravada, há

185 UOL Música. Guia MP3. Glossário. Disponível em: http://musica.uol.com.br/mp3/glossario.jhtm. Acesso em: 13/03/08.

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um enorme benefício para as partes, pois o juiz, no momento da valoração da

prova, terá na íntegra o depoimento das partes e das testemunhas.

Como explanado pela Ministra do Superior Tribunal de Justiça, Fátima

Nancy Andrighi, na palestra “Juizado Especial Federal”, proferida no Centro

Acadêmico de Direito da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, em 19

de abril de 2001, os recursos tecnológicos utilizados nos Juizados Especiais

trazem uma maior produtividade em razão da oralidade na prática dos seus

atos e da celeridade dos mesmos.

A seguir transcrevemos um trecho

Os princípios da oralidade e da celeridade são incompatíveis, por exemplo, com as arcaicas máquinas de escrever e os tradicionais carimbos. Esses mobiliários são inconciliáveis e incompatíveis com a Justiça do Terceiro Milênio, por isso as salas de audiências dos Juizados Especiais só podem ser concebidas com gravadores, microcomputadores ou o uso da estenotipia computadorizada com decodificação em tempo real. A instalação adequada e moderna da Justiça Especial, sempre e especialmente aliada à informatização, se faz imprescindível, sob pena de violarmos o princípio da oralidade, e em muito pouco tempo, frustrarmos a esperança do processo rápido, que por vários meios de comunicação (televisão, rádio) se prometeu ao cidadão. O Poder Judiciário também tem que observar o Código de Defesa do consumidor (entenda-se cidadão), não podemos fazer propaganda enganosa dos serviços jurisdicionais. Todos nós conhecemos as causas e as razões que impedem um juiz da Justiça tradicional de designar mais de duas audiências de instrução por período de trabalho. São as vetustas máquinas de escrever, ou computadores usados como máquina de escrever mais sofisticada, as deficiências pessoais dos datilógrafos, que fazem surgir os mais desagradáveis incidentes que por causa das divergências havidas entre juiz e advogado tanto na colheita da prova testemunhal, quanto na compreensão da pergunta mas, principalmente quanto à resposta e o correspondente registro. Todos esses fatores fazem com que as audiências se prolonguem muito mais do que o programado, impedindo que se cumpra ou se amplie a pauta diária. Não tenho dúvidas de que se fossem gravadas ou registradas mediante a estenotipia computadorizada, especialmente com decodificação em tempo real, atendendo ao princípio da oralidade, teriam os juízes condições de ampliar o número de audiências de instrução a serem realizadas por dia.186

186 BIBLIOTECA DIGITAL DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. “Juizado Especial Federal”. Palestra proferida pela Ministra Fátima Nancy Andrighi no C.A. de Direito da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 19 de abril de 2001. Disponível em: http://bdjur.stj.gov.br/dspace/bitstream/2011/727/4/Juizado_Especial_Federal.pdf. Acesso em: 20/02/2008.

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Dessa forma, no processo eletrônico, a prática de atos processuais de

forma oral traz maior produtividade ao Judiciário e, como, já dito, propicia mais

elementos ao juiz para a formação da convicção no momento do julgamento,

uma vez que nem sempre o magistrado julga no ato da audiência.

Ocorre que, no processo físico, o julgador, posteriormente à realização

da audiência, irá prolatar a sentença e, em muitas das vezes, não ficam

consignadas na ata as reais impressões. No entanto, no caso do processo

eletrônico, o magistrado, no momento da valoração da prova e prolatação da

sentença, poderá rever com mais vagar o depoimento das partes e

testemunhas, a fim de ter mais elementos para a formação do seu

convencimento. Essa situação não ocorre nos processos físicos, onde as

audiências têm os depoimentos ditados rapidamente e de forma resumida pelo

juiz ao serventuário, que reduz a termo aquela prova produzida oralmente.

Os recursos tecnológicos aliados ao princípio da oralidade no processo

eletrônico são essenciais para se alcançar sentenças mais justas e para a

obtenção de uma Justiça mais célere.

3.3.2. Princípio da imediação

O princípio da imediação refere-se ao fato de a colheita da prova no

processo estar diretamente e imediatamente vinculada ao juiz que for julgar a

demanda; eis aqui mais um princípio a ser aplicado no momento da audiência,

além do princípio da oralidade.

Como bem ensina Chiovenda, citado por Moacyr Amaral Santos, é necessário que o juiz

tenha assistido ao desenrolar das provas nas quais vai haurir a sua convicção, tenha entrado em direta ligação com as partes, testemunhas e com os objetos do juízo, de modo a poder avaliar as declarações de tais pessoas e a condição dos lugares etc., baseado na imediata impressão recebida, e não apoiada nos relatórios alheios.187

187 CHIOVENDA. Procedimento Oral. RF, 74:171; A oralidade e a prova, RF, 74:232. Apud SANTOS, Moacyr Amaral dos. Prova Judiciária no Cível e no Comercial. Vol. 1. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1983, p. 454.

121

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Ocorre que, para a formação da convicção do juiz, é preciso que ele

agregue para si as provas produzidas e as suas impressões quanto a elas;

somente dessa forma poderá ter condições de prolatar a sentença.

Essa foi a intenção do legislador no texto do artigo 132 do Código de

Processo Civil:

“O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo

se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou

aposentado, caso em que passará os autos ao seu sucessor.”

O princípio da imediação tenta diminuir o abismo existente entre a

verdade formal e a real, uma vez que o juiz, para julgar um processo, está

adstrito às provas nele produzidas. Dessa forma, muitas sentenças poderão ser

injustas por falta de provas produzidas nos autos. Mas, através da imediatidade

do juiz na produção da prova, o julgador poderá obter mais elementos para a

formação da sua convicção, uma vez que os fatos ocorridos no passado nem

sempre são transportados com fidedignidade para os autos pelas partes e suas

testemunhas188. Assim, as impressões obtidas pelo julgador no ato da

produção da prova, como, por exemplo, no depoimento de uma testemunha,

podem, em muitas das vezes, trazer ao magistrado elementos imprescindíveis

para se chegar próximo à verdade real, ou até mesmo conseguir atingi-la na

sua totalidade.

O objetivo do princípio da imediação é exatamente de auxiliar na

formação da convicção do juiz através do contato direto com a produção

probatória.

No processo do trabalho, o princípio da imediatidade é também aplicável

na fase probatória, uma vez que ao juiz caberá formar sua convicção da melhor

maneira possível, a fim de prolatar uma sentença justa ou a mais próxima da

justiça.

Todavia, é de se considerar que, nos dias atuais, em que a Justiça

brasileira sofre de um grande mal; a morosidade processual e a insatisfação

dos conflitos, a imediatidade do juiz pode também causar no processo o seu

desenvolvimento de forma não tão eficaz, de forma que o processo não atinge,

então, um dos seus objetivos, que é a pacificação do conflito. Na produção

188 FAVARETTO, Isolde. Comportamento processual das Partes como Meio de Prova. Porto Alegre: Editora Livraria Editora Acadêmica, 1993, p. 29.

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probatória, os elementos colacionados pelo juiz de forma satisfatória são

essenciais para formação verdadeira da sua convicção, mas poderá acontecer

de, na audiência de instrução, o julgador não conseguir fazer consignar

exatamente as palavras das testemunhas, partes ou peritos ouvidos; ou, ainda,

o magistrado, talvez pela falta de tempo, pelo acúmulo gigantesco de

audiências e por uma pauta sempre além da capacidade, pode acabar não

tendo tempo suficiente para analisar com mais cautela os aspectos

psicológicos das pessoas ouvidas, aspectos esses de que se podem extrair

elementos preciosos para a compreensão real dos fatos.

Na Justiça do Trabalho, o volume de processos é imenso e as pessoas,

às vezes, se deparam com situações de grande tristeza e de total desrespeito,

com audiências sendo realizadas rapidamente, já que é preciso cumprir a

pauta do dia; a parte que recorre à Justiça acaba tendo o seu caso tratado

apenas como mais um dentro daquela rotina diária.

Mas esse problema não é somente do magistrado. O problema é de

ordem conjuntural, pois é preciso que os processos sejam mais céleres e

tenham instrumentos que lhes propiciem um caminho melhor para se chegar à

decisão final, tendo respeitada a dignidade das partes e garantidos os

mecanismos processuais de busca de uma sentença justa.

No processo físico, há outra situação que não proporciona um

mecanismo eficaz para o processo no que diz respeito à produção probatória.

Trata-se da carta precatória.

A legislação processual permite a expedição de carta precatória para a

oitiva de testemunhas, por exemplo; eis aqui um contra-senso do legislador,

que defende a imediatidade do juiz, sendo-lhe ressalvadas as hipóteses

previstas no final do artigo 132 do Código de Processo Civil. Há que se

concordar que o juízo deprecado não tem todos os elementos dos autos

originais, uma vez que lhe compete somente ouvir as pessoas especificadas na

deprecata. Há uma enorme falha do legislador, que fere o princípio da

imediatidade do juiz na produção probatória, pois, em um processo, por

exemplo, em que há a intervenção do Ministério Público do Trabalho, a atuação

do membro que acompanha o processo no juízo deprecante não será a mesma

do juízo deprecado. A persuasão do Procurador do Trabalho do juízo

deprecado, por maior que seja, não é a mesma do procurador do juízo

123

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deprecante, pois aquele nem ao menos tem conhecimento de todos os fatos,

uma vez que os autos originários não foram remetidos na íntegra ao juízo

deprecado. Assim, há uma situação de falha no mecanismo processual.

A falta de imediação por parte do juiz nas cartas precatórias acarreta um

enorme prejuízo na produção probatória. Ocorre que, para a efetividade do

processo, é necessária a apuração da verdade mais próxima possível da

realidade, e não, pura e simplesmente, a satisfação da verdade obtida

formalmente, que será a considerada pelo julgador no momento da decisão da

lide. É preciso que haja meios mais efetivos para obtenção de uma sentença

justa e de um processo eficaz.

No processo do trabalho, a questão levantada a respeito das cartas

precatórias pode ser resolvida através do recurso tecnológico, posto à

disposição do Judiciário, que se denomina “teleconferência”, ou mesmo através

da webcam. Tais recursos tecnológicos constituem ferramentas que propiciam

ao juiz presidir audiências de instrução à distância, através da transmissão de

som e imagem.

Através da videoconferência ou do uso da webcam, os depoimentos das

testemunhas poderão ser gravados na íntegra em arquivos tipo MP3 e

utilizados a qualquer momento no processo, inclusive em fase recursal, uma

vez que são gravados digitalmente, com a garantia da assinatura digital. É o

que já vem ocorrendo há algum tempo

no Juizado Especial Federal de São Paulo, os depoimentos são gravados em arquivo MP3, sendo que os advogados acessam os depoimentos a partir de microcomputadores na sala dos advogados. Entretanto, para a utilização de gravações digitais nas audiências, sem a degravação, há necessidade de que os atos processuais, registrados em arquivo eletrônico, tenham a garantia da assinatura digital, para garantia da integridade e autenticidade.189

Com o uso desses recursos tecnológicos, além de evitar a produção de

prova testemunhal por carta precatória, o juiz poderá, ao prolatar a sua

sentença, assistir novamente, com mais calma, ao depoimento das partes,

189 BENUCCI, Renato Luís. O Processo Civil à luz dos avanços tecnológicos. São Paulo, 2005. Tese (Doutorado em Direito), Faculdade de Direito, USP, p. 169.

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apurando das testemunhas sensações que, antes, no depoimento em forma

reduzida a termo, não era possível.

Mas, no âmbito criminal, o depoimento através da teleconferência não é

plenamente aceito, havendo muita resistência a ele. Em decisão190 do Supremo

Tribunal Federal prolatada no Habeas Corpus n. 88.914-0-São Paulo, de 14 de

agosto de 2007, o relator Ministro César Peluzo, em seu voto, foi contrário ao

uso da teleconferência para o depoimento prestado pelo réu, e, por

conseqüência, julgou nulo o ato do interrogatório. O voto do relator teve como

fundamentos a falta de previsão legal para a prática de tal ato, a garantia ao

acusado do direito de estar presente perante o juiz no interrogatório, que é ato

de suma importância para a aferição de sensações, e a garantia dos princípios

do contraditório, ampla defesa e devido processo legal.

Com relação ao uso tecnológico da teleconferência ou videoconferência,

há resistência no âmbito dos Tribunais, mas é preciso, no processo trabalhista,

sob a ótica do princípio da proporcionalidade, mensurar qual valor é mais

relevante. No caso da carta precatória no processo trabalhista, é preciso

sopesar o que é mais importante: simplesmente a oitiva da testemunha pelo

juízo deprecado, como mero cumprimento de formalidade, ou a utilização de

recurso tecnológico (por exemplo, a teleconferência) para a oitiva da

testemunha pelo próprio juiz de origem do processo?

Nossa posição é no sentido de que deve prevalecer o uso dos recursos

tecnológicos à disposição do Judiciário, não só em razão dos motivos já

expostos, mas também para se ter garantido um processo mais célere e

efetivo. Mesmo porque as razões argumentadas pela posição resistente em

aceitar a utilização da teleconferência no interrogatório do réu no âmbito

criminal não podem ser aplicadas ao processo trabalhista, pois, nesse último,

os bens a serem tutelados são de dimensões diferentes. No processo do

trabalho, pretende-se ouvir a testemunha, pois reclamante e reclamada

precisam estar presentes nas audiências, sob pena de ensejar,

respectivamente, o arquivamento e a revelia do processo; assim, somente para

a produção da prova testemunhal poder-se-á cogitar o emprego do recurso da

teleconferência ou videoconferência. Já no processo criminal, a utilização de

190 A íntegra do voto está disponível em http://www.georgemlima.xpg.com.br/video.pdf . Acesso em: 17.08.2007.

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tais recursos é defendida para o interrogatório do réu preso, a fim de preservar

a segurança da sociedade com a não locomoção do réu para o prédio do fórum

e evitar os elevados custos com escoltas policiais e segurança que são

utilizados para transportar os presos.

Percebe-se que não são aplicáveis ao processo trabalhista os

argumentos utilizados para o processo penal, pois há valores a serem tutelados

de esferas totalmente diferentes. Assim, o recurso da teleconferência é

totalmente plausível para o processo trabalhista, com vistas a se obter uma

produção probatória testemunhal de qualidade e apta a propiciar ao magistrado

mais elementos para a formação da sua convicção.

3.3.3. Princípio da instrumentalidade

É importante esclarecer que será feita uma análise da instrumentalidade

das formas e do processo, haja vista que é preciso estabelecer a distinção191

entre ambas.

Como já mencionado anteriormente, o princípio da instrumentalidade

das formas encontra-se previsto no artigo 154 do Código de Processo Civil que

a seguir transcrevemos: “Os atos e termos processuais não dependem de

forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se

válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencheram a finalidade

essencial.”

O princípio da instrumentalidade das formas consiste na liberdade da

prática dos atos, a fim de que se chegue ao objetivo da forma mais satisfatória

e eficaz possível, sem gerar prejuízo às partes. Eis o que Cândido Rangel

Dinamarco denomina de deformalização do processo192.

Esse aproveitamento dos atos processuais, a deformalização do

processo, aplica-se plenamente ao processo físico. Já no processo eletrônico,

o mesmo princípio deve ser aplicado com cautela, pois temos duas situações

distintas: uma em que o ato processual será praticado pela via eletrônica ou

191 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Op. cit., p. 42. 192 DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. Vol. I. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. Apud ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Op. cit., p. 169.

126

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pelo meio físico, e outra em que o ato processual será praticado somente por

meio eletrônico.

Na primeira situação, o ato pode ser praticado pela via eletrônica ou pela

física; assim, a pessoa que o pratica já está deformalizando o ato processual. É

o que denominamos de processo híbrido ou eletrônico, que ainda é o caso da

Justiça do Trabalho. Antes do advento da lei 11.491/2006, o ato processual

praticado pela via eletrônica era realizado de forma diversa da forma que era

prevista na lei, ma, desde que atingisse a sua finalidade, era considerado

válido. Eis a típica situação de deformalização do processo. Com o advento da

lei do processo eletrônico n. 11.419/2006, a questão foi resolvida pelo art. 19

da mesma, o qual prevê que “ficam convalidados os atos processuais

praticados por meio eletrônico até a data de publicação desta Lei, desde que

tenham atingido sua finalidade e não tenha havido prejuízo para as partes.”

Percebe-se, portanto, que, antes da lei n. 11.419/2006, se o ato processual

fosse praticado pelo meio eletrônico, e não pelo físico, havia a deformalização

do processo, em razão da opção, na sua prática, de forma diversa da

estabelecida. Todavia, mesmo com a entrada em vigor da referida lei do

processo eletrônico, há ainda alguma margem de liberdade para as novas

tecnologias ali previstas, como, por exemplo, o uso de webcam para a

realização de audiências. Assim, caso algum ato processual seja praticado de

forma diferente do estabelecido na lei do processo eletrônico, haverá também a

deformalização, desde que o ato atinja sua finalidade.

A segunda situação diz respeito ao processo virtual, em que o

interessado deve praticar os atos processuais seguindo as exigências

estabelecidas no processo virtual. Por exemplo, na Justiça Especial Federal é

obrigatória a digitalização da petição inicial. Nessa situação, vislumbramos que

já houve um passo à frente em relação à primeira hipótese, pois o interessado,

ao praticar o ato processual, já estará inserido no contexto tecnológico. O

indivíduo que pratica o ato pelo meio eletrônico terá superado, com essa

atitude, a fase de deformalização, ou seja, com a prática pelo meio eletrônico,

não há a aplicação do princípio da instrumentalidade dos atos processuais

eletrônicos.

127

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Ocorre que não há, no ambiente cibernético, outra forma de o ato

eletrônico, ser praticado, pois ele deverá seguir as formas estabelecidas, que

dizem respeito, por exemplo, à segurança, não podendo haver flexibilidade.

Nesse sentido, José Carlos de Araújo Almeida Filho defende que

apesar de manifestarmos nossa posição em favor do princípio da instrumentalidade das formas e da deformalização do processo, admitimos que em matéria de informatização judicial devemos ser extremamente técnicos e não transigir com as formas. Por outro lado, podemos admitir o processo eletrônico já é uma forma de deformalização, se o compararmos com o processo físico, ou convencional. E é exatamente por esta razão que não admitimos a inserção do princípio da instrumentalidade no mesmo.193 E, ainda, se estamos diante de um procedimento eletrônico, com necessidade de adoção de certificados digitais, para a garantia de integridade, autenticidade e segurança, os atos processuais deverão obedecer, estritamente, estes três requisitos, sob pena de abrirmos espaço para os mais diversos problemas de adulteração dos atos já praticados.194

Portanto, percebe-se que o princípio da instrumentalidade das formas

traduz o máximo de aproveitamento do ato processual, uma vez que este não

deve ser considerado em si mesmo, de forma isolada, mas deve ser visto em

razão da finalidade almejada. Havendo a liberdade na forma do ato processual,

é preciso verificar o resultado que ele deverá atingir com a sua forma. Eis o

caráter da instrumentalidade da forma, uma vez que o ato processual faz parte

de um conjunto de atos, o processo, e é preciso que se considere o ato

praticado dentro deste conjunto e se observe se ele atingiu a sua finalidade.

Já no que diz respeito à instrumentalidade do processo, este deve se

desenvolver para chegar ao seu resultado, que é a solução do conflito de forma

justa. Eis que “a ciência processual no Brasil encontra-se na fase de sua

193 ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Processo Eletrônico e Teoria Geral do Processo Eletrônico. Rio de Janeiro: Forense, 2007, pp. 170-171. 194 Ibidem, p. 171.

128

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evolução que autorizada doutrina identifica como instrumentalista.195 É a

conscientização de que a importância do processo está em seus resultados.”196

O processo não pode mais ser visto como um simples conjunto

ordenado de atos, uma vez que tem seus objetivos a serem alcançados em

benefício de quem o utiliza. O interessado, que necessita ingressar com

determinada ação, é um ser dotado e composto de várias facetas, ou seja, o

homem é um ser complexo composto de diversos anseios de ordem moral,

psíquica, econômica, social e política.

Para melhor elucidação dessa assertiva, tomemos como exemplo uma

pessoa que foi dispensada por justa causa, sendo que não praticou ato algum

que a justificasse. Esse trabalhador ingressará com a ação pretendendo ver

revertida a justa causa, mas, no seu íntimo, não tem somente esse anseio da

simples declaração da sua dispensa sem justa causa. Essa forma de dispensa,

ainda mais quando não foi praticado o ato ensejador, traz grandes seqüelas ao

trabalhador, principalmente psicológica, moral, social e econômica. A pessoa

que sofre essa situação constrangedora busca na Justiça a satisfação de

vários anseios, não somente o econômico. Pretende que seja provado que ela

não deu motivo a tal dispensa, pois, para o trabalhador honesto, isso é uma

vergonha, sendo que, dependendo do caso, até poderá dar ensejo à

indenização por danos morais. Numa situação como essa, se não ficar provado

que a pessoa não deu ensejo à justa causa, haverá na sua vida, uma

repercussão irreparável, principalmente no que diz respeito ao fator

psicológico. Percebe-se que, nesse exemplo, o “processo” não foi utilizado

pura e simplesmente para a satisfação do interesse econômico; foi um

processo muito mais complexo, pois deu ensejo a muitos resultados, que

poderão ser decisivos na vida daquele que busca várias respostas para as

suas angústias.

O “processo”, como bem diz a moderna doutrina processual, é

instrumental, uma vez que ele se traduz como uma ponte sobre um rio, a qual

195 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e Processo: Influência do Direito Material sobre o Processo. 4. ed. revista e ampliada São Paulo: Malheiros, 2006, p. 15. 196 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1993; 12. ed, 2005, pp. 271-272. Apud BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Op. cit., p. 15.

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conduz a parte de um lado ao outro da margem, seguindo, para isso, uma

direção.

Assim é o processo, que foi idealizado pelo legislador com o intuito de

atender às necessidades daqueles que necessitam utilizá-lo. Com efeito, há

certos atos que podem ser praticados e outros não em determinados

processos, a fim de se chegar ao resultado almejado com estes. Temos como

exemplo a não utilização da citação por edital nos Juizados Especiais; o motivo

que levou o legislador a vedar tal instrumento é a celeridade que se pretende

com a opção de se adotar este procedimento. Assim, o interessado, ao

ingressar com uma ação pelo procedimento da lei n. 9.099/95, busca uma

resposta mais rápida e um processo mais simplificado, sendo, portanto,

incompatível a dispendiosa citação por edital utilizada na Justiça Comum.

O que se pretende com o processo não é somente a entrega da

prestação jurisdicional, uma vez que ele é complexo, é um conjunto de atos

que não são mais vistos somente pela sua prática, como pode ser visto neste

exemplo da citação editalícia, em que o legislador estabeleceu, na norma,

situações em abstrato que buscam assegurar a satisfação do interessado no

caso concreto.

Nesse sentido, defende José Roberto dos Santos Bedaque que A natureza instrumental do direito processual impõe sejam seus institutos concebidos em conformidade com as necessidades do direito substancial. Isto é, a eficácia do sistema processual será medida em função de sua utilidade para o ordenamento jurídico material e para a pacificação social. Não interessa, portanto, uma ciência processual conceitualmente perfeita, mas que não consiga atingir os resultados a que se propõe.197

E, de uma forma que lhe é peculiar, Dinamarco fala sobre a

instrumentalidade, ressaltando que o processo em si e o que denomina de

“técnica processual” têm ambos, como objetivo, o resultado a que se

predispõem, e, ao que nos parece, que a “técnica processual” é o ato

processual em si.

Toda técnica, por isso, é eminentemente instrumental, no sentido de que só se justifica em razão da existência de alguma finalidade a

197 BEDAQUE, José Roberto dos Santos Bedaque. Op. cit., p. 17.

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cumprir e de que deve ser instituída e praticada com vistas à plena consecução da finalidade. Daí a idéia de que todo objetivo traçado sem o aporte de uma técnica destinada a proporcionar sua consecução é estéril; e é cega toda técnica construída sem a visão clara dos objetivos a serem atuados. Nesse contexto bipolar, acontece então que se todo instrumento, como tal, destina-se a ajudar o homem a obter determinados resultados, por outro lado ele exige do homem a sua manipulação segundo normas adequadas, sob pena de inutilidade ou distorção: “não há instrumento, por simples que seja, que por sua vez não requeira algo de quem pretende utilizá-lo para a consecução dos seus próprios objetivos.”198 A técnica está a serviço da eficiência do instrumento, assim como este está a serviço dos objetivos traçados pelo homem e todo o sistema deve estar a serviço deste.199

Assim, o processo tem os seus objetivos, que Dinamarco chama de

“escopos”200; eis a razão para dar-lhe o caráter instrumental, pois instrumento é

meio, é algo que se utiliza para chegar a algum lugar. E a concepção

instrumental do processo dá-lhe esta conotação de meio para se chegar a um

fim, no entanto, para considerar a sua instrumentalidade é preciso entender “os

escopos do processo, ou seja, dos propósitos norteadores da sua instituição e

das condutas dos agentes estatais que o utilizam.”201

Há, segundo a doutrina202, os escopos social, político e jurídico. De

forma muito sintética, passaremos a eles, uma vez que não é nosso objetivo

transportar essas idéias para este estudo e desenvolvê-las com profundida,

mas sim trazê-las na sua essência, conforme será abordado no capítulo quatro,

a fim de que complementem os argumentos deste trabalho. O escopo social é

o objetivo do processo em obter a pacificação social, através da ordem jurídica

justa. O escopo político é a íntima relação do processo com a política, ou seja,

o intenso comprometimento do sistema processual com a Política (a Justiça faz parte desta), ou seja, a sua inserção entre as instituições atinentes à vida do próprio Estado como tal e nas suas relações com

198 CARNACINI, Tito. “Tutela giurisdizionale e tecnica del processo”. In: Studi in onore de Enrico Redenti. Milão: Giuffrè, 1951, n. 1, p. 697. Apud DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 274. 199 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, pp. 273-274. 200 Ibidem, pp. 180-181. 201 Ibidem, p. 181. 202 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Op. cit., p. 25.

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os membros da população, conduz à necessidade de definir os modos pelos quais ele é predisposto a influir politicamente.203

Quanto ao escopo jurídico, é “o exato ponto de inserção do processo no

universo do direito”204, segundo as teorias dualista e unitária já analisadas

neste trabalho.

Seguindo essa idéia da instrumentalidade, o processo eletrônico se

utiliza da instrumentalidade da forma por excelência, sendo que suas

finalidades são as mesmas do processo físico, mas alcançadas de forma mais

efetiva, conforme abordagem feita neste trabalho.

3.3.4. Princípio da lealdade processual O princípio da lealdade processual está previsto no artigo 14 e seguintes

do Código de Processo Civil, cabendo às partes e seus procuradores o dever

da boa fé para estar em juízo. Estes deverão sempre agir com lealdade,

expondo os fatos conforme a verdade e não formulando pedidos infundados,

bem como, não produzindo provas protelatórias com a intenção de tornar os

meios processuais inócuos.

Assim, para estar em juízo, é preciso que a parte e seus procuradores

tenham em mente o dever da lealdade processual, uma vez que trarão ao

processo as suas versões e as provas que formarão a convicção do juiz.

O julgador prolatará uma decisão que deverá ser justa, mas se as partes

não agirem de boa fé, o juiz não terá elementos suficientes capazes de gerar

uma decisão calcada na justiça.

Assim, em juízo, é defeso tanto às partes quanto aos seus procuradores não dizerem a verdade ou proceder contrariamente, às condições determinadas pelo referido texto legal. É dever, pois, de todos dizerem a verdade, isto é, cumprir com o dever de veracidade, a obrigação que as partes tem em praticar os atos processuais e de se comportarem processualmente dentro dos limites dos acontecimentos reais pertinentes, ocorridos na fase pré-processual ou mesmo judicial. Então, alterando a verdade seria um comportamento negativo da parte, que influiria na decisão judicial.205

203 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 204. 204 Ibidem, p. 217. 205 FAVARETTO, Isolde. Op. cit., p. 30.

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A lei prevê, àquele que age de má fé no processo, a penalidade

correspondente à chamada litigância de má fé, em que há a utilização indevida

do processo como mecanismo para desvirtuar a sua finalidade.

No andamento processual, as partes têm, em todos os momentos, o

dever de lealdade comportamental, e em especial na fase probatória, haja vista

que, nesta, as partes trarão os elementos probatórios ao direito pleiteado, os

quais, se desvirtuados, comprometem todo o desfecho do processo, através

até da pior das decisões, a sentença injusta.

Já no processo virtual, tal princípio formará um pano de fundo garantidor

de um resultado satisfatório do processo. Ocorre que as partes, agindo com

lealdade, colaborarão com o andamento e o desfecho do processo.

No universo virtual não há papel, não há processo físico, o que existe,

na realidade, é um processo digitalizado, sendo que aquela “segurança” até

então existente no meio físico “parece até não existir” no meio virtual. Todavia,

a segurança existe até em maior intensidade e é por falta de informação dos

usuários e pelo problema cultural de mudança de mentalidade para se

acostumar à não existência do papel impresso que os envolvidos no processo

acabam por temer pela falta de material físico, o papel.

O processo virtual é mais seguro que o físico, uma vez que, neste

último, há os perigos do extravio dos autos, incêndio ou até inundação nas

instalações do fórum. Situações como estas são irreversíveis e acarretam um

grande transtorno para as partes, que terão de reconstituir os autos através de

peças e documentos ainda existentes nos escritórios dos seus advogados,

sendo que nem sempre é possível reconstituir os autos do processo na sua

integralidade.

Acrescente-se, ainda, que, no meio virtual, há uma base de dados

dotada de segurança através de backup, que assegura a integridade dos dados

ali armazenados. Backup é “fazer cópia reserva; fazer uma cópia de um

arquivo ou dados ou disco.” 206

206 COLLIN, S.M.H. Op. cit., p. 26.

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Essa segurança existente no processo virtual, aliada à boa fé das partes,

é um elemento importante para uma sentença justa, sobretudo se combinada

com uma produção probatória dotada também de boa fé.

Com relação à produção probatória no processo virtual, há a questão do

documento eletrônico. Existem aqui duas situações distintas a serem

analisadas.

Inicialmente analisaremos o que é documento e seus elementos.

Segundo João Batista Lopes, documento “é toda representação de um

fato ou de um ato. A representação poderá ser feita com o aproveitamento do

papel (uma nota promissória, uma fotografia), mas também, embora

excepcionalmente, da madeira, do metal etc.” 207

Já Vicente Greco Filho, esclarece que “o documento liga-se à idéia de

papel escrito. Contudo, não apenas os papéis escritos são documentos.

Documento é todo objeto do qual se extraem fatos em virtude da existência de

símbolos, ou sinais gráficos, mecânicos, eletromagnéticos etc.” 208

Assim, o documento tem como elementos: o meio de ser exteriorizado, o

seu autor e o seu conteúdo.209

Com relação ao meio, pode ser por escrito (por exemplo, carta escrita),

por gráfico (por exemplo, um desenho), por meio direto, “quando o fato

representado se transmite diretamente para a coisa representativa —

fotografia”210, por meio indireto, “para os quais o fato representado se transmite

através do sujeito do fato representado”211.

Com relação ao autor, o art. 371 do Código de Processo Civil prevê:

Art. 371 – Reputa-se autor do documento particular: I – aquele que o fez e o assinou; II – aquele, por conta de quem foi feito, estando assinado; III – aquele que, mandando compô-lo, não o firmou, porque, conforme a experiência comum, não se costuma assinar, como livros comerciais e assentos domésticos.

207 LOPES, João Batista. A prova no direito processual civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 102. Apud DESTEFENNI, Marcos. Op. cit., p. 387. 208 GRECO FILHO,Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. Vol. 2. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 224. Apud CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit.,. p. 91. 209 SANTOS, Moacyr Amaral dos. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. 2. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 387. Apud CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 92. 210 Ibidem, p. 93. 211 Ibidem, p. 94.

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Assim, é considerado autor do documento particular aqueles

especificados no dispositivo legal acima, ou seja, sendo a pessoa que deu

origem ao documento. Já o documento público é originado por tabelião ou

escrivão no exercício da função pública.212

Ainda com relação ao conteúdo Moacyr Amaral Santos classifica os

documentos em formais e não formais. Os primeiros são “aqueles que têm a

eficácia de valer como prova do ato”213, e os segundos são aqueles em que “a

forma é livre, donde o ato que encerram pode ser provado pelos meios

admissíveis em direito, sem restrições”.214

Como já analisamos o que é documento, passaremos agora ao estudo

da sua produção por meio eletrônico, havendo duas situações diferentes para

abordarmos.

A primeira diz respeito ao documento relacionado aos atos processuais,

que são produzidos através da utilização da assinatura digital, sendo que estes

são dotados de autenticidade do documento, integridade do conteúdo e

validade jurídica, como, por exemplo, no caso de um laudo pericial assinado

digitalmente.

A segunda situação refere-se ao documento por meio físico, ou seja,

impresso no papel e depois digitalizado. Estabelece-se uma polêmica quanto a

este tipo de documento, pois a assinatura eletrônica concede-lhe a garantia a

partir da digitalização, ou seja, garante que não houve alteração do documento;

no entanto, em momento anterior à digitalização, não há qualquer espécie de

garantia de que o documento não sofreu rasuras ou adulterações de seu

conteúdo215. Esses documentos serão dotados de autenticidade somente se

forem expedidos ou autenticados eletronicamente através de cartórios que

adotem a tecnologia da assinatura digital.

Assim, ou a parte produz o documento dotado de assinatura digital, ou

seja, autenticado ou expedido eletronicamente no cartório, ou, então, a parte

produz o documento no processo eletrônico sem tal garantia e simplesmente

digitaliza o documento, através de scanner. Nesta última hipótese, a lei n.

212 CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 92 213 SANTOS, Moacyr Amaral dos. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. 2. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 387. Apud CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 94. 214 Ibidem. 215 CLEMENTINO. Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 171.

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11.419/2006 transfere a responsabilidade à parte que produziu o documento,

através do seu art. 11, sendo que este assunto será objeto de estudo no

capítulo quatro deste trabalho.

O princípio da lealdade processual é um dos pilares do processo

eletrônico, uma vez que os atos processuais por meio eletrônico são dotados

de segurança, desde que produzidos com assinatura digital, o mesmo

ocorrendo com a produção probatória. Assim, a lealdade das partes em praticar

os atos no processo virtual contribui para que haja uma sentença justa e,

conseqüentemente, um processo eficiente.

3.3.5. Princípio da economia

O princípio da economia deve ser visto sob dois aspectos: processual e

da economia em si.

Com relação à economia processual, diz respeito ao menor número de

atos praticados no processo, com o objetivo do seu maior rendimento.

Na lei n. 11.419/2006, há, em seu art. 7º, a hipótese da aplicabilidade

desse princípio, no que se refere à carta precatória. No processo eletrônico, a

carta precatória será enviada pela rede mundial diretamente à central de cartas

precatórias, evitando-se assim a expedição e impressão da mesma no papel e

a sua remessa ao juízo deprecado.

No processo eletrônico e no virtual, no âmbito trabalhista, estabelecem

os arts. 17 ao 21 da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior Trabalhista

sobre a carta precatória, que é denominada Carta Eletrônica (CE), sendo

abrangida pelo Portal da Justiça do Trabalho (Portal-JT), que é o sítio

corporativo da mesma.

Assim, para cumprimento da deprecata, dispensa-se a remessa física de

documentos, sendo que, no âmbito da Justiça do Trabalho, tal remessa se dará

exclusivamente pela forma eletrônica, conforme estabelece o art. 17 da

Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho.

Dessa forma, ficará assegurada uma enorme economia processual no

que diz respeito à operacionalização da carta precatória a ser remetida ao juízo

de destino, uma vez que não haverá mais a necessidade da retirada da

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precatória pelo advogado no juízo deprecante e a sua distribuição no juízo

deprecado.

Outra situação de economia do processo eletrônico diz respeito às

publicações a serem feitas no Diário Oficial, dispensando-se a impressão do

extrato das publicações no papel e a sua remessa à imprensa oficial. No Diário

Oficial eletrônico, há a remessa do extrato digitalmente, sem a necessidade da

impressão no papel.

O art. 24 da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho

prevê uma interessante situação de economia dos atos processuais, na qual,

para a distribuição da petição inicial e juntada de contestação, recursos ou

petições em geral, estas peças serão juntadas ao processo virtual sem a

intervenção do servidor público da secretaria judicial, uma vez que o próprio

interessado o fará através do meio eletrônico, no ato da transmissão da peça e

do recebimento pelo destinatário, dispensando-se, assim, os atos praticados de

juntada e autuação do processo físico.

Em visita realizada, em 24 de agosto de 2007, ao primeiro Fórum da

Justiça Estadual paulista totalmente digital, instalado na cidade de São Paulo,

no bairro da Freguesia do Ó, e inaugurado em 29 de maio de 2007, foi

constatada uma economia processual gigantesca. Nesse fórum, não há papel,

sendo que existe um setor de digitalização dos documentos e petição inicial, e

é concedido prazo ao advogado para retirada dos documentos e inicial, sob

pena de incineração dos mesmos. Após essa fase, é dado andamento ao

processo, na forma virtual, sendo o processo concluso para recebimento da

inicial e posterior expedição de mandado de citação. Os demais atos inerentes

ao andamento do processo são todos digitais, uma vez que não há processos

empilhados à espera de andamento, haja vista que há somente mesas com

computadores que operacionalizam o andamento processual de forma virtual.

Por exemplo, um mandado de citação, ao ser assinado digitalmente pelo diretor

do cartório, poderá receber publicidade no mesmo ato. A expressão “assinar e

dar publicidade”, no processo virtual do programa lá implantado, significa

assinar e juntar ao processo. Este ato é feito com a simples digitação da senha

do diretor do cartório ao assinar digitalmente o mandado e dar um enter. Tal

procedimento tão singelo demora dias no processo físico, pois é preciso enviar

o mandado para o diretor assinar, e este possui aquelas pilhas imensas de

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processos cujos mandados esperam assinaturas antes de serem juntados aos

autos. Tal operacionalização demora dias e, às vezes, até uma semana.

A economia processual no processo eletrônico é incomensurável para o

andamento célere do processo, uma vez que os seus atos praticados são mais

simples e geram uma efetividade muito satisfatória.

Já se apurou que o processo que tramita pelo meio físico pode demorar

mais de dois anos para ter sua sentença prolatada, enquanto que, no processo

virtual, como é o caso do Fórum da Freguesia do Ó na cidade de São Paulo, a

sentença é prolatada em seis ou sete meses.

Enquanto isso, no fórum não digitalizado, o juiz Carlos Roberto de Souza analisa processos. Ele tem um computador na mesa, que acessa um banco de dados com decisões antigas e o andamento dos processos. Para exemplificar a morosidade da Justiça, ele nos mostra um processo de reparação de danos morais que começou em 2005 e até agora não está concluído. E se tudo estivesse digitalizado? "Em um espaço de seis ou sete meses ele estaria solucionado com a sentença", afirma Souza. Já o juiz Paulo Sorci, do fórum digital, usa seu computador para várias outras coisas. Depois do acesso por meio de um cartão de segurança, ele recebe a agenda de audiências, consulta todos os documentos do processo, analisa provas e faz seus despachos. Na sala de audiências, nada das tradicionais pilhas de papel. Diante das partes, o juiz consulta o processo e dá a sentença direto no computador. "Casos que, normalmente, são resolvidos em 30 dias, simplesmente no dia já temos a solução", afirma Sorci” 216

Com relação à economia em si, ou seja, à economia de custos, remonta

ao Direito Romano, pois

já existiam os ancestrais das chamadas “custas do Processo”. À época exigia-se a prestação de caução, que era perdida pela parte vencida. Contudo mesmo eles dispensavam tal exigência daqueles que fossem comprovadamente pobres.217

No entanto, no processo, há, além das custas e demais despesas

processuais, as despesas de locomoção das partes, testemunhas e advogados

para o Fórum, a fim de atender ao andamento processual. Todavia, esse custo

216 SISTEMA DE AUTOMAÇÃO DA JUSTIÇA (SAJ). “Fórum digital reduz tempo de tramitação de processos”. Disponível em: http://www.softplan.com.br/saj/noticias.do?id=368. Acesso em: 27/10/07. 217 CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Op. cit., p. 169.

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é, com o processo eletrônico, diminuído sensivelmente diante da possibilidade

de os advogados darem andamento ao processo sem a necessidade de se

deslocar ao Fórum. Há também a economia para as partes e testemunhas, que

não mais precisarão, futuramente, se deslocar para outras cidades para a

realização da audiência, em razão de recursos como a teleconferência e, se for

adotada no âmbito do Judiciário futuramente, a webcam.

Pode-se tomar como experiência o recente sistema eletrônico

implantado no Tribunal de Justiça do Amazonas, onde o processo é virtual, ou

seja, não tem papel, e os advogados o acessam através de senha, sem

necessidade de locomoção. Até mesmo nas comarcas sem tráfego rodoviário,

como Tabatinga, cidade há 1600 quilômetros de Manaus, haverá o acesso

virtual ao processo que lá tramita. O Presidente do Tribunal de Justiça do

Amazonas disse, na notícia publicada em 13 de setembro de 2007 pelo

Conselho Nacional de Justiça, que uma vara virtual produz por cinco varas que

não estejam totalmente informatizadas, sendo o processo virtual, portanto, um

grande alicerce para a solução da morosidade da justiça.

A seguir transcrevemos a notícia retro mencionada:

Chegou à Amazônia o sistema eletrônico em tempo real que dispensa o uso de papel em todas as fases de tramitação dos processos na Justiça. O Projudi foi lançado nesta quinta-feira (13/09) no Tribunal de Justiça do Amazonas, já passando a funcionar experimentalmente. Apenas dispondo de nome de usuário e de senha de acesso ao sistema, advogados poderão protocolar documentos e acompanhar processos pela internet de qualquer lugar do estado. Juízes e promotores também terão acesso rápido aos documentos mesmo que o processo se encontre em Tabatinga, município a 1600 quilômetros de Manaus e sem tráfego rodoviário. O processo virtual está sendo implantado em quatro comarcas no Amazonas: Tefé, Tabatinga, Envira e Iranduba. Além de assegurar rapidez e economia, o programa, desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça, multiplicará o atendimento do Judiciário. O presidente do TJ-AM, desembargador Hosannah Florêncio de Menezes, disse que uma vara virtualizada produz por cinco tradicionais. "Se tivermos todas as comarcas virtualizadas é como se multiplicássemos nosso elenco de 150 juízes e magistrados por cinco, o que, com certeza, resolveria o problema da morosidade." Pelo Projudi, O TJ-AM recebeu 80 computadores e 80 digitalizadores. Até o fim de 2007, o CNJ terá investido R$ 69 milhões na compra de equipamentos para distribuir a tribunais de

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justiça de todo o país, além de também oferecer treinamento para a implantação do sistema.218

Ocorre, que existe ainda o custo do processo com relação aos insumos,

conforme notícia publicada em 20 de junho de 2007 pelo Conselho Nacional de

Justiça: já foi constatado que os materiais, tais como papel, envelopes,

grampos e pastas, custam, a cada processo físico R$ 20,00 (vinte reais), sendo

que, a cada mil processos novos distribuídos virtualmente, economiza-se o

suficiente para recuperar o investimento com as instalações de um Juizado

Especial virtual, conforme notícia a seguir transcrita:

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai investir este ano 42 milhões de reais na compra de equipamentos de informática para tribunais de justiça de todo o país, num esforço para modernizar a prestação de serviços do Judiciário. A quantia se soma a outros 27 milhões de reais alocados pelo Conselho em 2006 com o mesmo objetivo. O principal projeto a ser implementado nos tribunais com este aporte é um sistema de processo virtual desenvolvido pelo próprio CNJ em software livre, o Projudi. Este sistema, já em funcionamento em oito tribunais e em teste em diversos outros, permite a tramitação totalmente eletrônica de processos ― sem o uso de papel ― via web. Além de encurtar o tempo de tramitação para 20% ou menos, permite grande economia de recursos. Com os recursos, serão adquiridos 3 mil computadores, 3 mil digitalizadores e mil servidores, além de notebooks, nobreaks e outros equipamentos. Para reduzir custos e evitar desvios, o próprio CNJ faz as aquisições e repassa os equipamentos aos tribunais. O montante ainda é pequeno para atender toda a necessidade da Justiça Estadual, mas representa um grande avanço na modernização da prestação de serviços do Judiciário. Principalmente em Estados com menos recursos, como Roraima, Rondônia, Tocantins, Pará e Piauí. Em Rondônia, onde o Projudi funciona há dois meses, já tramitam cerca de 450 processos pelo sistema. Isto significa economia direta de pelo menos 9 mil reais, apenas com insumos. O cálculo é feito multiplicando os 450 processos eletrônicos pelo custo estimado de 20 reais por processo, gastos em insumos como papel, envelope, grampos e pastas. O sistema eletrônico economiza ainda em despesas com correio, mobiliário (armários para arquivar processos) e transporte dos processos, entre outros. Segundo levantamento feito pelo CNJ, cada 1 mil processos novos distribuídos já são suficientes para

218 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. “Projudi começa a funcionar na Amazônia”. CNJ em Dia. Disponível em: http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3286Itemid=1. Acesso em: 14/09/07.

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recuperar o investimento da instalação de um novo juizado especial virtual. A implantação do sistema proporciona ao tribunal uma melhor gestão dos recursos humanos, pois extingue serviços como distribuição, intimações e carga de autos, entre outros. A distribuição de 160 mil processos por meio eletrônico libera cerca de 40 servidores para serem aproveitados em outras atividades.219

A economia existente no processo virtual é, sem dúvida alguma, imensa,

uma vez que há um menor custo com pessoal, com material e com a

operacionalização da tramitação do processo, o que, a curto e médio prazos,

trará um enorme benefício ao Judiciário e à sociedade, que necessita se utilizar

da máquina estatal de forma eficaz.

219 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. “CNJ investe R$ 48 milhões para modernizar a Justiça”. CNJ em Dia. Disponível em: http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3080&Itemid=167. Acesso em: 31/08/07.

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Capítulo IV. A instrumentalidade do processo trabalhista com o emprego dos recursos tecnológicos 4.1. A efetividade do processo eletrônico e do processo virtual na Justiça do Trabalho

Primeiramente, voltaremos à questão do estudo dos dois planos

existentes no ordenamento jurídico, quais sejam, o direito material ou

substancial e o direito processual.

O direito material, sob uma visão abstrata, consiste em normas que

estabelecem como os direitos deverão ser atribuídos às pessoas em

sociedade. Assim, são normas que prevêem, em abstrato, certas situações,

certos fatos que, quando ocorrem em concreto, já estão previstos por modelos

através da norma jurídica em abstrato. Já o direito processual revela220 a

norma de direito substancial que deverá ser a norteadora para a solução do

conflito existente, em razão do caso concreto. Os fatos ocorridos em sociedade

são anteriores, ou seja, o fato que dá origem ao direito de uma determinada

pessoa está inerente a ela, sendo que o processo apenas irá propiciar o

caminho para se enxergar quem tem este direito, que já lhe é inerente mas que

precisa apenas lhe ser atribuído concretamente. O direito material já está no

íntimo da pessoa, mas precisa ser atribuído com relação a todos que o cercam

(em sociedade), ou seja, de forma concreta, e o caminho para que isto ocorra

tem os seus critérios estabelecidos no direito processual. Eis o caráter

instrumental do processo.

Como bem ensina Dinamarco,

nascem as situações subjetivas substanciais, invariavelmente, do concreto acontecimento de algum ato ou fato previsto em norma jurídica geral – como o direito de propriedade é efeito da ocorrência de algum dos modos de aquisição, definidos no Código Civil (originários, derivados), como o crédito nasce do mútuo ou do dano causado, como o direito à separação judicial vem da prática de atos desonrosos ou grave violação aos deveres do matrimônio etc. O devedor não o é porque o juiz haja constituído tal, mas porque já o era antes do processo e da sentença; o possuidor não se torna dono por obra da sentença que julga procedente a ação de usucapião mas porque, tendo exercido a posse adequada por tempo suficiente,

220 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições do Direito Processual Civil. Vol. I. 5. ed. revista e atualizada de acordo com a emenda constitucional n. 45, de 8.12.2004 (DOU de 31.12.2004) e com um estudo sistemático da Reforma do Judiciário (na Apresentação da 5ª edição). São Paulo: Malheiros, 2005, p. 60.

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a lei civil o considera assim; etc. As sentenças judiciais limitam-se a revelar essas situações criadas pela vida e regidas pelo direito material, eliminando dúvidas e valendo como palavra final a respeito (coisa julgada). Elas não criam situações jurídicas novas. Direitos e obrigações preexistem ao processo.221

O autor afirma ainda que,

às normas substanciais compete definir modelos de fatos capazes de criar direitos, obrigações ou situações jurídicas novas (fattispecie), além de estabelecer as conseqüências específicas das ocorrências desses fatos (sanctiones juris). As normas processuais ditam critérios para a descoberta dos fatos relevantes e revelação da norma substancial concreta emergente deles, com vista à efetivação prática das soluções ditadas pelo direito material.222

Essa é a visão moderna dos processualistas com relação à autonomia

do direito processual, originando a chamada teoria dualista, em contrapartida à

até então existente teoria unitária, que defendia que o direito material nascia da

aplicação da norma ao caso concreto mediante regras do direito processual, o

processo. Assim, o ordenamento jurídico era unitário, ou seja, direito material e

processo se fundiam num só, de maneira que a “produção de direitos

subjetivos, obrigações e concretas relações jurídicas entre sujeitos fosse obra

da sentença e não da mera ocorrência de fatos previstos em normas gerais.”223

Dentro da concepção da teoria dualista, a sentença tem, como função,

revelar e descobrir o direito já preexistente, e não criá-lo.224 No entanto, há

nessa visão pontos de intersecção entre os dois planos, pois estes não se

encontram inteiramente isolados um do outro. É o que Chiovenda chamou de

direito processual material, que compreende os seguintes institutos: ação,

competência, fontes, ônus da prova, coisa julgada e responsabilidade

patrimonial.225 Esses institutos são híbridos, pois se expressam concretamente

no processo; no entanto, sofrem uma enorme influência de fatores externos ao

processo, ou seja, fatores referentes à vida dos que dele participam.

O destaque às faixas de estrangulamento e ao direito processual material é vital para a correta compreensão do tema da divisão do ordenamento jurídico em dois planos funcionalmente distintos, sem a

221 Ibidem, pp. 59-60. 222 Ibidem, p. 60. 223 Ibidem, p. 151. 224 Ibidem, p. 154. 225 Ibidem, p. 62.

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ilusão de que sejam estanques. Privar o sujeito da possibilidade de levar ao Judiciário as suas pretensões (ação), ou privá-lo do juiz previamente competente em certos casos (juiz natural), ou dos meios estabelecidos em lei para que obtenha a tutela a que tiver direito (bens, fontes de prova), ou ainda da estabilidade do julgado que o beneficia (coisa julgada) é subtrair-lhe ou reduzir sua possibilidade de acesso à justiça – e, na prática, isso pode equivaler a impor-lhe uma situação contrária aos ditames de direito material e às garantias constitucionais.226

É importante salientar que, no processo, há o direito processual puro, ou

processual formal, que são as normas reguladoras das situações internas do

processo, ou seja, sem influência alguma da vida externa das pessoas

envolvidas; os atos assim praticados esgotam a sua eficácia dentro do próprio

processo. São exemplos as normas sobre a forma dos atos processuais, os

prazos e os meios de prova.227

Sob a ótica da autonomia do direito processual, tem-se um processo

voltado para os acontecimentos externos dos envolvidos, uma vez que o que

se busca é a satisfação de interesses, que já são preexistentes ao processo.

É como se montássemos um enorme quebra-cabeça, cujas peças já têm

os encaixes pré-estabelecidos antes de ser montado, havendo, no entanto, um

caminho a percorrer a fim de se chegar à figura que ele irá retratar ao final,

sendo preciso descobrir quais são os encaixes corretos para se chegar a esta

imagem pretendida. As peças e os seus respectivos encaixes já existiam antes

mesmo do início do quebra-cabeça. Assim são o direito material e o direito

processual. Nesse jogo, o que se busca é o resultado, resultado este que é a

finalidade que se pretende ao terminar o quebra-cabeça. O seu término pode

ter diversas finalidades, pois alguns simplesmente desmontam o jogo, outros

fazem um quadro da imagem, outros têm o prazer de mostrar a imagem final

para todos os familiares e amigos, a fim de demonstrar que o desafio foi

vencido, e outros têm como prazer montar quebra-cabeças cada vez maiores,

sem ter a intenção do desafio.

Essa singela metáfora é aplicável ao processo, uma vez que, para este,

a sentença ao final, é o resultado a ser atingido. No entanto, antes de

226 Ibidem, pp. 64-65. 227 Ibidem, p. 63.

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analisarmos os seus resultados, é preciso verificar a tutela jurisdicional que se

obtém através dele.

Tutela jurisdicional é o amparo que, por obra dos juízes, o Estado ministra a quem tem razão num litígio deduzido em processo. Ela consiste na melhoria da situação de uma pessoa, pessoas ou grupo de pessoas, em relação ao bem pretendido ou à situação imaterial desejada ou indesejada. Receber tutela jurisdicional significa obter sensações felizes e favoráveis, propiciadas pelo Estado mediante o exercício da jurisdição.228

A entrega da tutela jurisdicional depende não só do cumprimento dos

requisitos processuais e do exercício do direito de ação do autor, mas também

da prova dos fatos trazida ao processo, e a da real titularidade (afirmada por tal

prova) do autor em relação ao direito material pleiteado no processo.

Na visão moderna do processo, pode ser que o autor, ao exercitar o seu

direito de ação, não obtenha uma sentença que lhe seja favorável, mas o que

se pretende hoje com o processo são os resultados que ele propiciará. Nota-

se, que há a preocupação quanto à real satisfação da parte, que é o verdadeiro

titular do direito material. Na atualidade, não se pretende mais, com o

processo, simplesmente dizer se o autor tem ou não o direito pleiteado; o que

se tem por finalidade com o processo é a obtenção da satisfação verdadeira da

parte, autor ou réu, que é o real titular do direito material discutido na demanda.

A preocupação, nessa visão contemporânea do processo, é com a verdadeira

pessoa titular do direito material, independentemente de ser o autor, ou seja, é

com uma satisfação que vai além dos atos praticados no processo, pois está

muito além deste, atingindo o âmbito pessoal e íntimo dos envolvidos.

Poderíamos dizer que o processo tem por resultado algo que está além do

âmbito processual, pois busca a satisfação pessoal da parte que é o verdadeiro

titular do direito material em discussão.

Nesse sentido, explica Dinamarco que

diferente é o posicionamento moderno, agora girando em torno da idéia do processo civil de resultados. Consiste esse postulado na consciência de que o valor de todo sistema processual reside na capacidade, que tenha, de propiciar ao sujeito que tiver razão uma situação melhor do que aquela em que se encontrava antes do processo. Não basta o belo enunciado de uma sentença bem estruturada e portadora de afirmações inteiramente favoráveis ao

228 Ibidem, p. 121.

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sujeito, quando o que ela dispõe não se projetar utilmente na vida deste, eliminado a insatisfação que o levou a litigar e propiciando-lhe sensações felizes pela obtenção da coisa ou da situação postulada. Na medida do que for praticamente possível, o processo deve propiciar a quem tem um direito tudo aquilo e precisamente aquilo que ele tem o direito de receber (Chiovenda), sob pena de carecer de utilidade e, portanto, de legitimidade social. O processo vale pelos resultados que produz na vida das pessoas ou grupos, em relação a outras ou aos bens da vida – e a exagerada valorização da ação não é capaz de explicar essa vocação institucional do sistema processual, nem de conduzir à efetividade das vantagens que dele se esperam. Daí a moderna preferência pelas considerações em torno da tutela jurisdicional, que é representativa das projeções metaprocessuais das atividades que no processo se realizam e, portanto, indica em que medida o processo será útil a quem tiver razão.229

Assim há, na doutrina, os denominados escopos do processo, dentre os

quais há o social e o político230.

O escopo social do processo diz respeito à insatisfação da parte, que

busca, através do processo, a pacificação da sociedade, com a eliminação do

seu conflito. A sociedade, como já inicialmente dito neste trabalho, tem, no seu

universo, situações diversas de conflitos entre as pessoas, uma vez que a

“litigiosidade contida é perigoso fator de infelicidade pessoal e desagregação

social (Kazuo Watanabe) e por isso constitui missão e dever do Estado a

eliminação desses estados de insatisfação.”231

No entanto, o que se percebe é que é preciso estabelecer um mínimo de

segurança e boa convivência em sociedade, uma vez que a paz social absoluta

não é possível. As insatisfações sempre ocorrerão, mas o que o Estado

pretende é diminuí-las, pois eliminá-las totalmente da sociedade seria utopia; é

preciso, porém, que haja uma redução das angústias individuais. Através do

processo, o Estado é provocado a diminuir os pontos conflituosos, uma vez que

a procura por uma solução, a jurisdição, traduz a real insatisfação dos

envolvidos. Mas os meios alternativos de solução dos conflitos também tentam

trazer como resultado a pacificação da sociedade.232

É também valioso ressaltar que,

229 Ibidem, p. 127. 230 Ibidem, p. 146. 231 Ibidem. 232 Ibidem, p. 147.

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o exercício continuado e correto da jurisdição constitui elemento de valia, no sentido de educar as pessoas para o respeito a direitos alheios e para o exercício dos seus. As demoras da justiça tradicional, seu custo, formalismo, a insensibilidade de alguns aos verdadeiros valores e ao compromisso com a justiça, a mística que leva os menos preparados e leigos em geral ao irracional temor reverencial perante as instituições judiciárias e os órgãos da Justiça – eis alguns dos fatores que ordinariamente inibem as pessoas de defender convenientemente seus direitos e interesses em juízo e consequentemente acabam por privá-las da tutela jurisdicional.233

Eis que há aqui o escopo social, no que se refere à educação.234

Já com relação ao escopo político do processo, tem por finalidade não

só a entrega da prestação jurisdicional ao indivíduo, pois, através da jurisdição,

o Estado tem também por finalidade organizar a sociedade como um todo.

Se o Estado deixasse cada um à sua própria sorte, talvez no caos da autotutela e sem o amparo da jurisdição pacificadora, por certo que de nada valeria o melhor dos sistemas jurídico-substanciais; seria a renúncia à própria subsistência da organização política da sociedade, sendo inconcebível a sociedade política sem o processo e a jurisdição. A confiança no Estado pacificador e respeitoso do valor liberdade é indispensável fator legitimante do poder, do ordenamento e do Estado mesmo.235

É através da jurisdição que o Estado também propicia, além da sua

função no caso concreto, a organização e a manutenção do seu objetivo

pacificador da sociedade. Ao Estado compete organizar, politicamente, a

sociedade, ou seja, estabelecer e manter os indivíduos em harmonia dentro da

mesma.

A esses escopos do processo podemos dizer que são reflexos do

mesmo, como raios que refletem na sociedade. Todavia, a fim de que se

possam obter os resultados pretendidos com o processo, é preciso que haja

mecanismos satisfatórios inerentes ao próprio direito processual.

Há alguns anos, tínhamos somente o chamado processo físico, que

ainda continua existindo concomitantemente com o denominado processo

virtual e eletrônico.

233 Ibidem, pp. 147-148. 234 Ibidem, pp.147-148. 235 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. pp. 206-207.

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No processo físico, os atos processuais são praticados de forma escrita

e impressa no papel, formando os “autos do processo”. Como já analisado

neste trabalho, o processo físico é lento, burocrático e de custo mais elevado,

sendo que fatores como esses contribuem para que os resultados do processo

não sejam sempre satisfatórios, e que nem sempre se consiga trazer de forma

eficaz o que se pretende com o processo. Por exemplo, a fim de que se chegue

ao resultado de uma sentença justa, não é suficiente que, no processo, apenas

se obtenha uma produção probatória satisfatória. É preciso aprimorar os

mecanismos referentes à qualidade dos serviços jurisdicionais, à

tempestividade da tutela a ser obtida no processo, e à sua efetividade.236

Assim, o problema reside no fato de que o processo é um todo universal, uma

vez que ele necessita de resultados satisfatórios, obtidos em espaço de tempo

razoavelmente reduzido e desenvolvidos dentro de um sistema prático e eficaz

a ponto de se chegar aos seus resultados almejados. Eis o que a doutrina

denomina acesso à ordem jurídica justa, explicado a seguir por Cândido

Rangel Dinamarco:237

Acesso à justiça é acesso à ordem jurídica justa (ainda, Kazuo

Watanabe), ou seja, obtenção de justiça substancial. Não obtém justiça substancial quem não consegue sequer o exame de suas pretensões pelo Poder Judiciário e também quem recebe soluções atrasadas ou mal formuladas para suas pretensões, ou soluções que não lhe melhorem efetivamente a vida em relação ao bem pretendido. Todas as garantias integrantes da tutela constitucional do processo convergem a essa promessa-síntese que é a garantia do acesso à justiça assim compreendido.238

O que se pretende é a solução dos conflitos em sociedade de forma

cada vez mais próxima da verdade real, a fim de que se obtenham decisões

justas e, ao mesmo tempo, céleres. Todavia, a verdade absoluta não é

possível, uma vez que é preciso alcançar uma certeza provável, a fim de se

obter um ponto de equilíbrio.

O risco de errar é inerente a qualquer processo e a obsessão pela verdade é utópica. Ainda quando se prescindisse por completo do valor celeridade e se exacerbassem as salvaguardas para a

236 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições do Direito Processual Civil. Vol. I. 5. ed. revista e atualizada de acordo com a emenda constitucional n. 45, de 8.12.2004 (DOU de 31.12.2004) e com um estudo sistemático da Reforma do Judiciário (na Apresentação da 5ª edição). São Paulo: Malheiros, 2005, p. 133. 237 Ibidem. 238 Ibidem, pp. 133-134.

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completa segurança contra o erro, ainda assim o acerto não seria uma certeza absoluta.”239 E, ainda, “no contexto do desejado equilíbrio ganha realce o valor da probabilidade, como parâmetro a ser observado pelo legislador ao modelar os institutos processuais e pelo juiz em cada uma de suas manifestações no processo. Probabilidade é mais do que mera credibilidade ou mesmo que verossimilhança, mas é necessariamente menos que certeza. Não passa da preponderância dos elementos convergentes à aceitação de uma proposição, sobre os elementos divergentes: quando há mais razões para acreditar numa afirmação, diz-se que o fato afirmado é provável e, havendo mais razões para rejeitá-la, ele é improvável (Nicolò Framarino dei Malatesta). E, como a certeza absoluta é sempre inatingível, precisa o operador do sistema conformar-se com a probabilidade, cabendo-lhe a criteriosa avaliação da probabilidade suficiente.240

Para o acesso à ordem jurídica justa, mediante um processo célere,

houve inúmeras reformas na legislação processual, dentre elas a criação dos

Juizados Especiais Cíveis e Federais, a ação monitória, a audiência preliminar

de conciliação prevista no art. 331 do Código de Processo Civil, os meios

alternativos de solução dos conflitos, na esfera trabalhista, o procedimento

sumaríssimo e as comissões de conciliação prévia, na esfera trabalhista, e

muitas outras.Todavia, o que se percebe é que essas tentativas abrangem

questões singulares, e não com abrangência geral, pois, por exemplo, os

Juizados Especiais têm a competência material restringida na sua legislação,

para que a pessoa interessada possa se utilizar da prerrogativa da celeridade

deste procedimento além de outras restrições com relação às partes que

podem figurar naquela relação.

Eis, então, que, após várias tentativas, surge uma solução mais

abrangente no âmbito do Judiciário e que não limita o seu campo de atuação

em razão da especificidade da relação jurídica. Trata-se do processo eletrônico

judicial. Este vem como uma forma de se obter resultados eficazes, graças a

experiências bem sucedidas no âmbito das inovações tecnológicas

implementadas no Judiciário e na Receita Federal do Brasil.

Tais experiências dizem respeito às eleições realizadas com a urna

eletrônica e à entrega, por meio eletrônico, da declaração de imposto de renda

à Receita Federal. 239 Ibidem, p.162. 240 Ibidem.

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A urna eletrônica241 começou a ser implementada no Brasil em 1996,

sendo o Ministro Sepúlveda Pertence, então Presidente do Tribunal Superior

Eleitoral, o maior incentivador desse projeto, em 1994. No ano de 2000, houve

a maior eleição pelo voto eletrônico a nível mundial, uma vez que em todo o

Brasil foi implementada a urna eletrônica com grande êxito, principalmente no

que diz respeito à segurança da votação e da apuração e à rapidez nos

resultados. Nos dias atuais, o voto eletrônico é uma prática normal dentro da

sociedade brasileira, sendo que houve, inicialmente, resistência ao sistema, por

desconhecimento do novo e pela mentalidade cultural que ainda não estava

madura o suficiente para passar a conviver com essa inovação tecnológica.

Todavia, atualmente, o que se percebe é que tal sistema já faz parte da rotina

do brasileiro, assim como a utilização dos caixas eletrônicos e do sistema

homebanking; portanto, fica superada a resistência inicial por total

desconhecimento e por receio da falta de segurança, estaque é totalmente

assegurada pela assinatura digital e pela criptografia.

Quanto ao cumprimento da obrigação anual dos contribuintes com a

Receita Federal, é realizada por todos os brasileiros, na atualidade,pelo meio

eletrônico. Tal procedimento já é corriqueiro e não gera insegurança, como no

início da sua implantação. Hoje, a entrega da declaração do imposto de renda

pela internet é prática rotineira e dotada de ampla segurança.

Essas situações que implicaram na utilização de inovação tecnológica

geraram resultados de enorme repercussão a nível nacional, uma vez que

trouxeram grande celeridade aos procedimentos inerentes aos seus sistemas e

resultados seguros.

Assim, em 15 de dezembro de 2004, foi apresentado pelo Presidente da

República, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Presidente do Supremo Tribunal

Federal, Ministro Nelson Jobim, pelo Presidente do Senado Federal, José

Sarney e pelo Presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, o

“Pacto República em Favor de um Judiciário mais Rápido e Republicano”242,

documento publicado na íntegra no Diário Oficial da União n. 241, em 16 de

dezembro de 2004, seção I, pág. 8. Nesse pacto, houve a proposta, através 241 FUNDAÇÃO CENTROS DE REFERÊNCIA EM TECNOLOGIAS INOVADORAS. “Urna Eletrônica Brasileira: Uma História de Sucesso”. Disponível em: http://www.certi.org.br/Images/Documentos/UE_2000.pdf. Acesso em: 05/10/07. 242 Para o texto na íntegra ver ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Op. cit., pp. 362-368.

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dos três poderes do Estado, de execução da Reforma do Judiciário. Dentre as

propostas, estava a informatização do Poder Judiciário, tendo em vista a tão

bem sucedida experiência com a Justiça Eleitoral através da urna eletrônica.

Fez parte ainda desse pacto, no plano legislativo, a inclusão dos projetos de lei

que visaram a implementação de novas tecnologias no âmbito do Judiciário,

como o PL n. 71/2002, que emendou o PL n. 5.828/2001 e ensejou a lei do

processo eletrônico n. 11.419/2006.

O processo eletrônico, no Brasil, está ainda em fase de implementação;

no entanto, já há resultados satisfatórios com relação à celeridade, economia

processual e maior publicidade dos atos processuais, como as experiências

nos Juizados Especiais Federais e nos Fóruns da Justiça Estadual da

Freguesia do Ó, na cidade de São Paulo e na cidade de Ouroeste.

Como já dito anteriormente, há na Justiça do Trabalho, um processo

híbrido, denominado processo eletrônico, que consiste num processo físico,

mas que utiliza o meio eletrônico para a prática dos atos processuais.

O processo trabalhista ainda não é virtual, ou seja, há tão somente a

utilização das ferramentas pelo meio eletrônico para a prática dos atos

processuais, pois os documentos produzidos eletronicamente são impressos

pelos servidores do juízo de destino e juntados aos autos do processo físico.

Assim, não há o processo virtual, que é aquele sem a existência do papel.

A Justiça do Trabalho está caminhando rapidamente para a realização

do processo virtual. Para que o processo trabalhista se torne totalmente virtual,

haverá ainda essa fase de transição, uma vez que os processos físicos

deverão, com o decorrer do tempo, ser escaneados, a fim de que todos os

processos, inclusive os antigos, sejam virtuais.

A lei n. 11.419/06 veio para dar um maior impulso à celeridade do

Judiciário em todas as áreas, trabalhista, penal e cível. Já a Instrução

Normativa n. 30, que revogou a Instrução Normativa n. 28, ambas do Tribunal

Superior do Trabalho, veio regulamentar, no âmbito da Justiça do Trabalho, a

informatização do processo judicial, conforme estabelece o art. 18 da lei n.

11.419/2006.

O processo eletrônico trabalhista é regido pelos princípios

constitucionais e infraconstitucionais já analisados, conforme se depreende do

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capítulo três deste trabalho, princípios esse que propiciam a linha mestre para

o desenvolvimento do processo.

Assim, no processo eletrônico trabalhista, há uma obtenção muito maior

de resultados, uma vez que é alcançada a sua celeridade e a sua efetividade,

em razão das inovações tecnológicas.

O objetivo do processo trabalhista é a satisfação do direito violado do

trabalhador, que é, na maioria das vezes, de ordem econômica. Dessa forma,

tendo em vista o caráter alimentar do processo trabalhista, há uma

preocupação maior em se alcançar a entrega da prestação jurisdicional de

forma mais célere, com vistas precipuamente à satisfação do direito do

trabalhador, que implica, muitas vezes, na subsistência dele e de sua família.

Com o processo eletrônico trabalhista, pode-se chegar ao fim almejado em um

espaço de tempo mais curto, uma vez que, como já dito, a utilização do

processo eletrônico traz grande economia processual e, conseqüentemente,

um resultado mais célere.

Como bem ensina Estêvão Mallet,

se a demora ou a protelação no cumprimento das decisões judiciais constitui sempre fato grave e inaceitável, torna-se ainda mais intolerável quando o que se pretende assegurar é a observância de obrigação trabalhista. O crédito devido ao empregado reveste-se de privilégio legal (CLT, art. 449, parágrafo 1º), o que não significa apenas atendimento com vantagem sobre outros créditos, como ainda satisfação de modo mais célere, por conta de sua natureza alimentar. Se, consoante enfatiza Cappelletti, menor capacidade econômica significa também menor capacidad de resistência y de espera243, um processo do trabalho que não seja rápido na satisfação dos direitos do empregado torna-se logo inacessível. Força o trabalhador a conciliar-se em termos que, antes de significarem pacificação social, apenas ocultam a capitulação de quem é incapaz de aguardar durante largo tempo o cumprimento da decisão.244

Nessa linha, podemos citar diversas facilidades implementadas no

processo eletrônico trabalhista pelas inovações tecnológicas e geradoras de

243 CAPPELLETTI, Mauro. “Por uma nueva Justiça del Trabajo”: In: Proceso, Ideologías, Sociedad. Buenos Aires: EJEA, 1974, p. 247. Apud MALLET, Estêvão. Direito, trabalho e processo em transformação. São Paulo: LTr, 2005, p. 271. 244 MALLET, Estêvão. Op. cit., p. 271.

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resultados satisfatórios para o processo, como a utilização da penhora por

meio eletrônico.

Antes da criação dessa facilidade, a realização da penhora era

burocrática e nem sempre satisfatória, pois, em muitas das vezes, conquanto

houvesse a ordem para a realização da penhora, esta não se concretizava.

Isso ocorria em razão da demora, uma vez que o crédito do empregado

acabava por não ser satisfeito por falta de bens ou por levantamento de erário

da conta bancária momentos antes da efetivação da penhora. Na atualidade,

basta simplesmente o envio eletrônico de ordem judicial, através de senha, que

é a assinatura eletrônica, para bloquear a conta bancária, já garantindo, assim,

o crédito trabalhista e evitando os antigos ofícios enviados aos bancos, com as

ordens judiciais de penhora das contas bancárias.

Deve-se mencionar que há muitas outras ferramentas já implementadas

por conta dos avanços tecnológicos na Justiça do Trabalho, as quais formam o

caminho para o futuro processo virtual trabalhista: o serviço do e-darf e de guia

de depósito judicial on-line, a inscrição para sustentação oral on-line, o

desarquivamento de processos, a penhora on-line, o Processo Eletrônico

Trabalhista (PET), o Sistema Integrado de Protocolização e Fluxo de

Documentos Eletrônicos (o e-Doc), as informações cadastrais dos contribuintes

junto a Receita Federal (InfoJud), a carta precatória eletrônica, as informações

sobre depósitos de FGTS por e-mail, a interposição de recurso extraordinário

(e-STF), o desarquivamento de processos, a inscrição para sustentação oral

on-line, gravação digital de audiências, além de outras que estão em

desenvolvimento ou prestes a ser implementadas, ou que até poderão ser

implementadas no decorrer deste trabalho e que acabarão não sendo nele

citadas, dada a rapidez com que ocorre o processo de informatização da

Justiça do Trabalho.

Enfim, todas essas facilidades trazem, para o Judiciário Trabalhista, a

concretização dos resultados pretendidos com o processo, através da

satisfação do crédito trabalhista, chegando-se, consequentemente, bem

próximo (ou, em determinados casos concretos, atingindo efetivamente) à

pacificação social.

A pacificação social, no âmbito dos conflitos trabalhistas, é também,

além da satisfação do crédito do empregado, a certeza de que houve o resgate

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do equilíbrio entre a desigualdade havida entre empregado e empregador, uma

vez que este violou direito daquele, e de que se obteve, através de um

processo mais célere, uma resposta eficaz capaz de, a longo prazo, até vir a

mudar a mentalidade daqueles que pretendem violar os direitos dos

trabalhadores, já que o processo eletrônico trabalhista trouxe resultados ao

trabalhador.

O processo eletrônico trabalhista tende a buscar o resgate da cidadania

do trabalhador, uma vez que modificará a mentalidade do empregador, que

ponderará melhor os riscos quando pretender violar os direitos dos seus

empregados. Podemos citar, como exemplo disto, a penhora por meio

eletrônico, que é vista por muitos como um ato de autoritarismo, mas que trará,

de certo modo, um desestímulo àquele que tem a intenção de se omitir com

relação às suas obrigações trabalhistas, pois perceberá a eficiência da

ferramenta ao realizar um ato processual — a penhora — que somente ganhou

nova roupagem.

Dentro, ainda, desse raciocínio, as demais ferramentas criadas no

processo eletrônico agregam um conjunto de atos processuais que fazem do

processo um instrumento mais célere, eficaz e tendente à obtenção da plena

pacificação social. Como já dito anteriormente, essa plenitude dificilmente é

alcançada, mas um processo com resultados eficazes trará uma maior

aproximação da plena pacificação social e da concessão do direito substancial,

inerente ao homem, que foi violado.

4.2. A proteção ao meio ambiente Nessa concepção do processo eletrônico trabalhista propiciador de

resultados, ou seja, instrumental, é necessária uma visão mais universal do

mesmo, contextualizando-o no tempo e no espaço. É preciso que ele traga não

só resultados no processo em si, mas também fora dele, ou seja, efeitos que

deverão ser o reflexo da sua essência, como se fosse um espelho.

O processo eletrônico foi criado objetivando a celeridade, efetividade,

menores custos, melhor qualidade do processo em si e do trabalho dos nele

envolvidos, enfim, resultados intraprocessuais, ou seja, introspectivos na

relação processual. Mas é importante que não sejam esquecidos outros

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reflexos provocados pelo processo eletrônico trabalhista, efeitos

extraprocessuais, que propiciarão conseqüências benéficas exteriores à

relação processual.

O processo eletrônico, além da sua contextualização no tempo, ou seja,

além de estar adequado à realidade dos dias atuais, fazendo o Judiciário

Trabalhista se enquadrar às inovações tecnológicas em prol da sociedade e do

trabalhador, vem ao encontro de uma grande preocupação da atualidade que é

a preservação do meio ambiente.

No entanto, é relevante, primeiramente, analisar o que é meio ambiente.

Não há um consenso, na doutrina, sobre a expressão, havendo, portanto

diversas idéias a respeito.

Édis Milaré traz o conceito de Bernard J. Nebel, baseado numa visão

mais técnica, de que meio ambiente é “a combinação de todas as coisas e

fatores externos ao indivíduo ou população de indivíduos em questão.”245

Já Celso Antonio Pacheco Fiorillo assim tenta explicar “meio ambiente”:

primeiramente, verificando a própria terminologia empregada, extraímos que meio ambiente relaciona-se a tudo aquilo que nos circunda. Costuma-se criticar tal termo, porque pleonástico, redundante, em razão de ambiente já trazer em seu conteúdo a idéia de “âmbito que circunda”, sendo desnecessária a complementação pela palavra meio. O legislador infraconstitucional tratou de definir o meio ambiente, conforme se verifica no art. 3º, I, da Lei n. 6.938/81 (a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente): Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.246

Podemos, portanto, dizer que meio ambiente é tudo o que está ao

alcance externo do homem, seja com ou sem vida, e que propicia a ele o

envolvimento dentro de uma relação recíproca de existência.

O meio ambiente é tutelado pela Constituição Federal no seu art. 225,

que prevê:

245 NEBEL, Bernard J. Environmental science. The way the world works. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1990. p. 576. Apud MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo: RT, 2000, p. 52. 246 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 18.

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Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

A tendência mundial é uma enorme preocupação com o meio ambiente,

pois este corre riscos com práticas desregradas e violentas realizadas pelo

homem. Assim, o direito ambiental vem para garantir a tutela do meio

ambiente, estabelecendo regras e desenvolvendo estudos para que se possa

propiciar para o futuro a sua preservação.

Mas essa preservação depende de um complexo número de ações e

projetos de proteção, prevenção e conscientização ambiental em todos os

níveis, desde o municipal, estadual e federal até mundial, os quais atuam em

conjunto dentro do mesmo objetivo, a preservação do meio ambiente.

Assim, há diversas frentes de trabalho que lutam pela proteção

ambiental, pois a própria Constituição Federal, no seu art. 225, traz o

denominado princípio do desenvolvimento sustentável.

Constata-se que os recursos ambientais não são inesgotáveis, tornando-se inadmissível que as atividades econômicas desenvolvam-se alheias a esse fato. Busca-se com isso a coexistência harmônica entre economia e meio ambiente. Permite-se o desenvolvimento, mas de forma sustentável, planejada, para que os recursos hoje existentes não se esgotem ou tornem-se inócuos. Dessa forma, o princípio do desenvolvimento sustentável tem por conteúdo a manutenção das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantimdo igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente, para que as futuras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos hoje à nossa disposição. 247

A compreensão do instituto reclama a sua contextualização histórica. Isso porque sabemos que o liberalismo tornou-se um sistema inoperante diante do fenômeno da revolução das massas. Em face da transformação sociopolítica-econômica-tecnológica, percebeu-se a necessidade de um modelo estatal intervencionista, com a finalidade de reequilibrar o mercado econômico. Com isso, a noção e o conceito de desenvolvimento, formados num Estado de concepção liberal, alteraram-se, porquanto não mais encontravam guarida na sociedade moderna. Passou-se a reclamar

247 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco; DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no direito ambiental brasileiro. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 31. Apud FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Op. cit., p. 24.

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um papel ativo do Estado no socorro dos valores ambientais, conferindo outra noção ao conceito de desenvolvimento.”248

A essa tendência da busca do desenvolvimento sustentável o processo

eletrônico trabalhista vem ao encontro, pois com a realização de tal processo,

há uma enorme proteção ao meio ambiente.

Com a continuidade da implantação do processo eletrônico trabalhista e

com o futuro processo virtual, haverá ainda muito mais economia de

combustível, água, energia e papel.

Os advogados, com efeito, não precisam mais se locomover aos Fóruns

Trabalhistas para protocolar as suas petições, bastando, de forma segura e

célere, enviar através da internet peças processuais. Há, portanto, uma

economia de combustível, proporcionando grande benefício ao meio ambiente,

já que não se despendem tantos poluentes no ar com a utilização de transporte

de locomoção para os Fóruns.

Já no que diz respeito à economia de papel, não se pode dizer que é

alcançada de forma plenamente satisfatória no processo eletrônico, pois este,

como já dito anteriormente, é ainda híbrido: as peças processuais são enviadas

pelo meio eletrônico e, depois, impressas em papel e juntadas aos autos

físicos. Nessa situação, há ainda uma pequena economia, uma vez que alguns

atos processuais são abreviados através da utilização das inovações

tecnológicas, como, por exemplo, a autuação, que é feita automaticamente no

ato da distribuição, sem a necessidade da intervenção do cartório ou secretaria

judicial, conforme prevê o art. 10 da lei n. 11.419/2006 e o art. 24 da Instrução

Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho.

Mas, como já dito anteriormente neste trabalho, o processo eletrônico

trabalhista tende, a médio prazo, a ser virtual, conforme se depreende até da

Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho; não haverá,

portanto, papel, e diante dessa situação haverá uma economia brutal. Trata-se

da economia de papel, com a conseqüentemente, preservação de muitas

árvores, proporcionando pela redução da utilização do papel.

248 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 24.

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É sabido que o Poder Judiciário gasta mais ou menos duas mil

toneladas de papel por ano, sendo que, para a produção desse montante, são

necessárias pelo menos trinta mil árvores todo ano, além de sessenta e quatro

mil metros cúbicos de água, utilizados no processo fabricação. 249

A utilização do processo virtual na Justiça do Trabalho trará um

resultado plenamente satisfatório para proteção ambiental, reforçando ainda

mais a política adotada pela Constituição Federal no que diz respeito ao

desenvolvimento sustentável.

Essa economia de papel, água e combustível auxilia o homem para que

chegue a tal ponto de equilíbrio buscado, uma vez que o processo virtual

trabalhista realizará plenamente esse objetivo dentro do âmbito do Judiciário.

Os resultados já podem ser percebidos nos processos virtuais já

implementados, como, por exemplo, nos Juizados Especiais Federais e no

Fórum Estadual da Freguesia do Ó em São Paulo e na cidade de Ouroeste,

repartições onde não se usa mais papel nos processos.

Assim, o processo virtual da Justiça do Trabalho trará a sua maior

efetividade, uma vez que alcançará, além dos resultados já mencionados, a

proteção do meio ambiente, bem como, uma sociedade com qualidade de vida

preservada nas gerações futuras. Esta melhor qualidade de vida refere-se tanto

ao meio ambiente preservado, bem como, com a diminuição da liberação de

poluentes no ar, através dos combustíveis eliminados pelos meios de

transporte.

4.3. A responsabilidade da pessoa que participa dos processos eletrônico e virtual

As partes envolvidas em um conflito são parciais e tendem a proteger

única e exclusivamente os seus direitos. No entanto, essa autoproteção deve

ser exercida com cautela e responsabilidade, a fim de que não haja uma

exacerbação do exercício do direito ou até a autotutela, que não é acolhida

pelo nosso ordenamento jurídico.

No momento em que as partes buscam uma solução deste conflito

através da jurisdição, elas têm outras responsabilidades ali envolvidas, uma

249 GARCIA, Sérgio Renato Tejada. “Processo Virtual ajuda no Crescimento do País”. Jornal da Amatra XV, Campinas, n. 10, Ano 5, junho/2007, p. 7.

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vez que, fazendo parte de uma relação processual, há um caminho a ser

percorrido, o qual não pode ser desviado, sob pena de responsabilização pelo

seu uso indevido.

Mas, além das partes que participam do processo para solucionar o seu

conflito, há também no processo trabalhista eletrônico seus procuradores,

peritos, servidores da Justiça do Trabalho, juízes, procuradores do Ministério

Público do Trabalho e demais autoridades e auxiliares do Judiciário. Todos os

que participam do processo eletrônico trabalhista devem ser responsabilizados

pela sua utilização indevida.

A primeira questão a ser apontada com relação à responsabilidade no

processo virtual e no processo eletrônico diz respeito ao acesso às informações. Todas as pessoas que participam desses dois tipos de processo

deverão se utilizar das informações ali apresentadas com as cautelas devidas,

uma vez que, nos processos que não tramitam em segredo de justiça, o acesso

a tais informações ocorre de forma mais fácil que no processo físico, sendo que

qualquer pessoa — terceiro —, as partes e seus procuradores podem acessar

este processo a qualquer momento e em qualquer lugar.

Todavia, há, na atualidade, no âmbito da tecnologia da informação,

mecanismos computacionais capazes de rastrear de qual computador o acesso

à determinada informação foi feito pela internet. Entretanto, no âmbito do

Judiciário, tal recurso ainda não foi implementado, mas a ferramenta de

rastreamento será certamente utilizada no futuro, a fim de facilitar a

responsabilização da pessoa, que se utilizar indevidamente das informações

dos processos disponibilizadas nos portais dos Tribunais.

Mas, antes da implementação desta ferramenta de rastreamento, que

servirá como meio de prova para a responsabilização da pessoa, esta deverá

ser responsabilizada, por enquanto, por outros meios. A pessoa que se utilizar

indevidamente das informações dos processos deverá ser responsabilizada

nos âmbitos cível e até criminal, se for o caso.

Outra questão a ser levantada é a que diz respeito à responsabilização quanto à prova documental produzida no processo eletrônico e no virtual.

No processo físico, quando há a juntada aos autos de xerocópia

autenticada, esta foi conferida com o original no Cartório de Notas, que tem fé

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pública para certificar a autenticidade daquela cópia; assim, o Cartório se

responsabiliza caso esta última não confira com o original.

Já no processo virtual ou no processo eletrônico, os documentos

produzidos por meio eletrônico serão considerados originais para todos os

efeitos, conforme preceituam o art. 11, parágrafo 1º, da lei n. 11.419/2006 e o

art. 25, caput, da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho.

Assim, o documento produzido com a garantia digital, ou seja, dotado de

autenticidade do conteúdo e garantia da origem e do seu signatário, será

considerado original.

Todavia, no processo virtual ou no eletrônico, há várias situações a

serem estabelecidas e diferenciadas entre si.

A primeira situação diz respeito ao advogado distribuir a petição inicial

com documentos pelo meio físico, devendo todos eles serem “escaneados” e

devolvidos para o mesmo, que terá prazo para retirá-los. Nessa hipótese,

sendo os documentos originais, a responsabilidade na conferência é do próprio

Judiciário, pois o servidor digitalizou o documento original, portanto conferindo-

lhe fé pública. Tal operacionalização pôde ser acompanhada na visita ao

Fórum Regional da Freguesia do Ó, na cidade de São Paulo.

A segunda situação é aquela em que o advogado, a parte não assistida

por este, os órgãos e seus auxiliares da Justiça do Trabalho, o Ministério

Público e seus auxiliares, as procuradorias e demais autoridades juntam

documento digitalizado aos autos do processo virtual, sem ter a intervenção na

autuação do servidor, no caso da petição inicial, conforme art. 10 da lei n.

11.419/2006 e art. 25 da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do

Trabalho. Nesse caso, a responsabilidade pela autenticidade dos documentos

digitalizados é de quem o juntou ao processo virtual, uma vez que serão

considerados originais; caso tenha havido adulteração do documento antes da

digitalização, ela poderá ser alegada, seguindo a argüição de falsidade de

documento na forma da lei processual. Conforme preceituam o art. 11,

parágrafo 3º, da lei n. 11.419/2006 e o art. 25, parágrafo 3º, da Instrução

Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho, os originais dos documentos

digitalizados deverão ser preservados por quem o produziu até o trânsito em

julgado da sentença ou até o final do prazo para ingresso da ação rescisória.

Eis que prevalece o princípio da boa fé da pessoa que produziu o documento

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digital e que tem o dever de agir com lealdade, conforme preceitua o artigo 14

do Código de Processo Civil:

São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo : I – expor os fatos em juízo conforme a verdade; II – proceder com lealdade e boa-fé; III – não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento; IV – não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito; V – cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final. Parágrafo único - ...

Assim, aquele que proceder de má fé enviando, pelo meio eletrônico,

documento adulterado, além de responder criminalmente, poderá também

receber, do Juiz do Trabalho, a penalidade da litigância de má fé, com

fundamento no art. 17, II do Código de Processo Civil, por alterar a verdade

dos fatos.

Como bem diz Bolívar Viégas Peixoto,

A questão é mais de consciência do que deve ser e do que pode ser feito e, mesmo tendo o indivíduo o seu direito de ação, o devido processo legal, assegurado pela Constituição, não pode deduzir pretensões sabidamente destituídas de razoabilidade. ... O cidadão não é honesto porque a lei assim o exige, mas porque tem discernimento de que alguns dos seus atos não são aprováveis pela sociedade e, antes de tudo, pela sua consciência ou pela sua própria dignidade, que não lhe deve permitir praticá-los. Mas, mesmo que tal não ocorra - e não se pode amoldar a índole humana – a lei processual civil o impõe, nos seus arts. 14 a 18. 250

Destarte, a lei tenta corrigir o desvirtuamento de conduta da pessoa, que

se utiliza do meio eletrônico de má fé, sendo que a presunção da conduta de

boa-fé é relativa. Neste sentido, é a previsão do art. 25, parágrafo 1º, da

Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho que estabelece que

é “ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou 250 PEIXOTO, Bolívar Viégas. Iniciação ao Processo Individual do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 98.

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durante o processo de digitalização”; assim, a boa fé é presumida para aquele

que produziu o documento.

Nesse sentido, o artigo 544, parágrafo 1o, do Código de Processo Civil,

com a redação dada pela lei n. 10.352 de 26 de dezembro de 2001, também já

atribuiu a boa-fé ao advogado imputando-lhe, portanto, a responsabilidade pela

autenticidade das cópias que compõem as peças do agravo de instrumento

interposto ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça,

quando da inadmissibilidade do recurso extraordinário ou do recurso especial.

Da mesma forma é a responsabilidade pessoal do advogado quanto à

autenticidade dos documentos produzidos digitalmente. Todavia, é importante

ressaltar que essa responsabilidade não diz respeito à parte, pois esta

desconhece as exigências dos Tribunais com relação à transmissão do

documento, cabendo ao seu advogado o conhecimento sobre tais requisitos

para a transmissão. Portanto, caberá ao advogado, sob sua responsabilidade,

transmitir o documento digitalizado, dando assim autenticidade ao mesmo. O

dever da veracidade, além das partes, cabe também ao advogado, pois é ele

que participa do processo.251 Por outro lado, caso a parte entregue ao seu

procurador o documento já digitalizado, aí sim será sua a responsabilidade.

É também importante salientar a questão da responsabilidade pela utilização do e-Doc na transmissão das petições pelo meio eletrônico.

Como já foi explanado, no processo eletrônico e no virtual, as partes e

os envolvidos no processo deverão se utilizar do e-Doc para a transmissão das

petições por meio eletrônico. As pessoas ali envolvidas devem agir com

responsabilidade, uma vez que têm o dever da lealdade e da boa fé previsto no

art. 14 e seguintes do Código de Processo Civil, conforme já analisado. Dessa

forma, assim como há, no processo físico, a responsabilização daquele que se

utiliza indevidamente dos mecanismos do processo, no eletrônico e no virtual o

mesmo ocorre, pois o processo em si é um só e o que muda é a sua forma.

O art. 13 da Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho

prevê a penalidade imposta pelo uso inadequado do e-Doc que venha a causar

prejuízo às partes ou à atividade jurisdicional. A pessoa infratora terá o

251 CRESCI SOBRINHO, Elicio de. Dever de Veracidade das Partes no Processo Civil. Lisboa: Cosmos, 1992, p. 71.

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bloqueio do cadastro de usuário, não podendo, assim, se utilizar do meio

eletrônico. Eis que consiste na responsabilização dentro das esferas

computacional e até cível e não na restrição de acesso ao processo. Ocorre

ainda que o Tribunal, para impor tal penalidade, deverá, primeiramente,

respeitar os princípios do contraditório e da ampla defesa, a fim de apurar o

responsável pelo uso indevido do e-Doc no processo eletrônico ou virtual, e só

depois imporá tal penalidade de bloqueio, sob pena da decisão ser arbitrária e

efetivamente ferir o direito a ser resguardado do acesso à Justiça.

Analisadas as questões inerentes ao processo eletrônico e virtual

trabalhista que dizem respeito à responsabilização, das pessoas que dele

participam, quanto ao acesso à informação, à produção probatória e à

utilização do e-Doc, é importante ressaltar que o processo eletrônico dá uma

nova feição às situações que já existiam, porém, que estão agora com uma

nova roupagem, o meio eletrônico.

No processo trabalhista, essa nova forma de realização do processo

trará, como já dito anteriormente, resultados muito satisfatórios, sendo que a

responsabilização daqueles que dele se utilizam também será mais eficiente,

até mesmo com a utilização de facilidades tecnológicas que propiciarão meios

mais eficazes na apuração das responsabilidades, como é o caso das

ferramentas de rastreamento já existentes e que futuramente serão utilizadas

pelo Judiciário. Com relação à adulteração do documento produzido de forma

eletrônica, a própria Instrução Normativa n. 30 do Tribunal Superior do

Trabalho, em seu art. 25, parágrafo 2º, refere-se à argüição de falsidade do

documento original, que será realizada eletronicamente na forma da lei

processual em vigor.

É sabido que os resultados do processo eletrônico são de diversas

ordens, dentre eles, os que dizem respeito à celeridade e à economia

processual. Assim, a apuração da responsabilidade daqueles que se utilizam

indevidamente do processo eletrônico trabalhista também sentirá os reflexos

desses bons resultados, uma vez que se chegará de forma mais rápida e eficaz

aos que fizeram uso indevido do processo eletrônico, e a punição,

conseqüentemente, será mais célere.

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CONCLUSÃO

Percebemos que, nos dias atuais, a imagem do Judiciário no Brasil se

encontra desgastada, por inúmeros motivos: ou pelo emprego de mecanismos

obsoletos, ou pela sua morosidade, ou até mesmo pela falta de motivação dos

servidores e escreventes, bem como dos magistrados. Essa figura desgastada

reflete na sociedade de forma negativa, uma vez que os cidadãos acabam nem

sempre procurando o Judiciário e, conseqüentemente, os conflitos e as

insatisfações pessoais são mantidos.

No entanto, a informatização do Judiciário, especificamente, do

Trabalhista, vem para dar uma nova feição a este órgão estatal de suma

importância para a obtenção da pacificação social.

Concluímos, neste estudo, e pudemos confirmá-lo principalmente na

pesquisa de campo feita no Fórum virtual da Freguesia do Ó, na cidade de São

Paulo, que a informatização do processo trouxe realmente um novo ânimo para

aqueles que buscam o Judiciário, bem como àqueles que nele trabalham. É

interessante ressaltar que o processo virtual traz uma melhor qualidade de vida

para as pessoas que nele trabalham, não só os magistrados, mas também

todos os servidores ali envolvidos, gerando, assim, uma maior produtividade,

um trabalho de melhor qualidade, uma enorme economia de papel, mobiliário e

espaço, além da celeridade, que é algo inevitável. E há, ainda, a questão da

preservação ambiental, que é garantida com a economia de papel.

A Justiça do Trabalho também caminha para essa mesma situação do

Fórum virtual mencionado; no entanto, o processo eletrônico, mesmo que ainda

não virtual, já traz alguns dos benefícios acima citados, ainda que em menor

escala, já que ainda não eliminou totalmente o papel.

Hoje, com as ferramentas já implementadas, dá-se início à

desmistificação da negativa imagem do Judiciário, que as pessoas consideram

“moroso e burocrático”. Percebemos que, com a vinda, no âmbito trabalhista,

do processo virtual, os resultados serão muito satisfatórios.

Defendemos que o processo virtual, que é o ápice do processo

eletrônico, veio para fazer parte da sociedade, uma vez que ele, daqui a alguns

anos, será tão corriqueiro como o uso do celular, que, no início, poucas

pessoas possuíam e hoje é essencial na rotina do homem. O mesmo ocorrerá

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com o processo virtual trabalhista, que veio para fazer parte da sociedade, de

forma eficaz, célere, econômica e com uma maior produtividade de trabalho e

melhoria de qualidade.

Entendemos, ainda, que, com o processo virtual, o trabalhador que se

sentir lesado buscará o Judiciário realmente acreditando que obterá um melhor

resultado, ou seja, que vai obter a concessão do seu direito violado de forma

mais célere e eficaz.

No processo virtual, a qualidade de vida e de trabalho dos magistrados

será melhorada, uma vez que os processos, sendo mais céleres e

simplificados, propiciarão, aos seus julgadores, mais tempo para se

debruçarem sobre os casos, que lhes forem submetidos para julgamento. Tal

situação, a longo prazo, permitirá, ao magistrado, uma maior reflexão sobre os

casos concretos julgados por outros colegas, pois, no processo virtual, o

acesso à informação se torna mais rápido (um juiz do Sul do país, por exemplo,

poderá consultar em tempo real uma sentença prolatada no Nordeste).

Acreditamos, portanto, que os processos eletrônico e virtual, no âmbito

trabalhista, trarão reflexos muito significativos. Dado o seu caráter instrumental,

seus resultados são expressivos na sociedade, de forma que constituem uma

maneira eficaz de a sociedade se aproximar da real obtenção da pacificação

social.

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª. REGIÃO – RIO GRANDE DO

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 5ª. REGIÃO – BAHIA. Disponível

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª. REGIÃO – PERNAMBUCO.

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª. REGIÃO – CEARÁ. Disponível

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 8ª. REGIÃO – PARÁ E AMAPÁ.

Disponível em: www.trt8.gov.br. Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª. REGIÃO – PARÁNÁ -

Disponível em: www.trt9.gov.br. Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª. REGIÃO – DISTRITO

FEDERAL E TOCANTINS. Disponível em: www.trt10.gov.br. Acesso em:

10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 11ª. REGIÃO – AMAZONAS.

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª. REGIÃO – SANTA

CATARINA. Disponível em: www.trt12.gov.br . Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 13ª. REGIÃO – PARAÍBA.

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª. REGIÃO – RONDÔNIA E

ACRE. Disponível em: www.trt14.gov.br . Acesso em: 10/06/07.

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“TRT e Receita Federal firmam convênio para implantação do INFOJUD”.

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 17ª. REGIÃO – ESPÍRITO

SANTO. Disponível em: www.trt17.gov.br . Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª. REGIÃO – GOIÁS. Disponível

em: www.trt18.gov.br. Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 19ª. REGIÃO – ALAGOAS.

Disponível em: www.trt19.gov.br . Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 20ª. REGIÃO – SERGIPE.

Disponível em: www.trt20.gov.br . Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 21ª. REGIÃO – RIO GRANDE DO

NORTE. Disponível em: www.trt21.gov.br . Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 22ª. REGIÃO – PIAUÍ. Disponível

em: www.trt22.gov.br . Acesso em: 10/06/07.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª. REGIÃO – MATO GROSSO.

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª. REGIÃO – MATO GROSSO

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174

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GLOSSÁRIO

Autoridade Certificadora – são “entidades credenciadas a emitir certificados

digitais vinculando pares de chaves criptográficas ao respectivo titular, e tem

por competência emitir, expedir, distribuir, revogar e gerenciar os certificados,

bem como colocar à disposição dos usuários listas de certificados revogados e

outras informações pertinentes e manter registro de suas operações.”252

Autoridade de registro – são “entidades operacionalmente vinculadas a

determinada AC, compete identificar e cadastrar usuários na presença destes,

encaminhar solicitações de certificados às AC e manter registros de suas

operações. “253

Backup – “fazer cópia reserva.”254

Biometria – é “dentro do ramo de Direito de Informática entende-se por

biometria a medida de características únicas do indivíduo que podem ser

utilizadas para reconhecer sua identidade. Tais características podem ser tanto

físicas (análise das impressões digitais, reconhecimento da íris, dentre outras),

como comportamentais (assinatura manuscrita, reconhecimento de voz

etc.).”255

Certificação digital - é “um arquivo eletrônico que acompanha um documento

assinado digitalmente e cujo conteúdo é criptografado. Ela contém informações

que identificam a empresa e/ou pessoa com quem se está tratando na Internet.

Um documento eletrônico que possui Certificação Digital tem garantia de

autenticidade de origem e autoria, de integridade de conteúdo, de

confidencialidade e de irretratabilidade, ou seja, de que a transação, depois de

efetuada, não pode ser negada por nenhuma das partes. Certificação Digital é

o equivalente eletrônico de carteiras de identidade, passaportes e cartões de 252 Art. 6º da Medida Provisória n. 2.200-2/2001. 253 Art. 7º da Medida Provisória n. 2.200-2/2001. 254 COLLIN, S. M. H. Michaelis: Dicionário prático de informática. Tradução e atualização de Regina Borges de Araújo e Antônio Carlos dos Santos. São Paulo: Melhoramentos, 1993, p. 26. 255 KAZIENKO, Juliano Fontoura. Assinatura Digital de Documentos Eletrônicos através da Impressão Digital. Santa Catarina, 2003. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: http://www.inf.ufsc.br/~kazienko/dissert-pdf/monografia.pdf . Apud CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Processo Judicial Eletrônico. Curitiba: Juruá, 2007, p. 13.

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Page 176: Maria Lúcia de Freitas Petrucci Ferreira A ... · Devo a você o que sou hoje, pois aprendi com você, quando nos conhecemos, que sempre deveria ser inteira plenamente naquilo que

associados. Você pode apresentar uma Identificação Digital eletronicamente

para provar sua identidade ou seu direito a acessar informações ou serviços

on-line. Identificações Digitais, também conhecidas como Certificados Digitais,

vinculam uma identidade a um par de chaves eletrônicas que pode ser usado

para criptografar e assinar informações digitais. Uma Identificação Digital torna

possível verificar o direito de alguém utilizar determinada chave, ajudando a

evitar a falsificação de chaves para uso por impostores. Usadas com a

criptografia, Identificações Digitais fornecem uma solução de segurança mais

completa, garantindo a identidade de todos os envolvidos em uma

transação.”256

Chips – “pequeno pedaço de silício (material semicondutor) sobre o qual são

gravados ou fabricados (por dopagem) um número de componentes tais como

transistores, resistores e capacitores, que juntos executam uma função

(tarefa).”257

Criptografia - é um “conjunto de técnicas que permitem tornar incompreensível,

com observância de normas especiais consignadas numa cifra ou num código,

o texto de uma mensagem escrita com clareza.”258

E-Doc – é o sistema que “permite o envio eletrônico de documentos referentes

aos processos que tramitam nas Varas do Trabalho dos 24 TRTs e no TST,

através da Internet, sem a necessidade da apresentação posterior dos

documentos originais.”259

Hardware – são “unidades físicas, componentes, circuitos integrados, discos e

mecanismos que compõem um computador ou seus periféricos.”260

256 JUSTIÇA DO TRABALHO. Certificados Digitais. Disponível em: http://www.jt.gov.br/sistema/edoc/certificados.htm. Acesso em: 21/02/08. 257 COLLIN, S. M. H. Michaelis: Dicionário prático de informática. Tradução e atualização de Regina Borges de Araújo e Antônio Carlos dos Santos. São Paulo: Melhoramentos, 1993, p. 54. 258 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Eletrônico Século XXI. Versão 3.0. [s.1.] : Nova Fronteira e Lexicon Informática, 1999. CD-ROM. Apud CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Processo Judicial Eletrônico Curitiba: Juruá, 2007, p. 15. 259 JUSTIÇA DO TRABALHO. Perguntas e Respostas. Disponível em: http://www.jt.gov.br/sistema/edoc/ajuda/perguntas_respostas.htm#oque. Acesso em: 13/03/08. 260 COLLIN, S. M. H. Michaelis: Dicionário prático de informática. Tradução e atualização de Regina Borges de Araújo e Antônio Carlos dos Santos. São Paulo: Melhoramentos, 1993, p. 148.

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ICANN – “Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (órgão

mundial responsável por estabelecer regras do uso da Internet) é uma entidade

sem fins lucrativos e de âmbito internacional, responsável pela distribuição de

números de “Protocolo de Internet” (IP), pela designação de identificações de

protocolo, pelo controle do sistema de nomes de domínios de primeiro nível

com códigos genéricos (gTLD) e de países (ccTLD) e com funções de

administração central da rede de servidores. Esses serviços eram

originalmente prestados mediante contrato com o governo dos EUA, pela

Internet Assigned Numbers Authority (IANA) e outras entidades. A ICANN hoje

cumpre a função da IANA.”261

ICP-Brasil (Infra ― estrutura de Chaves Públicas) - é a “arquitetura,

organização, técnicas, práticas e procedimentos que suportam, em conjunto, a

implementação e a operação de um sistema de certificação baseado em

criptografia de chaves públicas.”262

Identificação digital – são “também conhecidas como Certificados Digitais,

vinculam uma identidade a um par de chaves eletrônicas que pode ser usado

para criptografar e assinar informações digitais. Uma Identificação Digital torna

possível verificar o direito de alguém utilizar determinada chave, ajudando a

evitar a falsificação de chaves para uso por impostores. Usadas com a

criptografia, Identificações Digitais fornecem uma solução de segurança mais

completa, garantindo a identidade de todos os envolvidos em uma

transação.“263

Internet – é o “conjunto de redes de computadores ligadas entre si por

Roteadores, de âmbito mundial, descentralizada e de acesso público.”264

261 ICANN. “A comunidade internacional da Internet trabalha em equipe para promover a estabilidade e a integridade da Internet”. Disponível em: http://www.icann.org/tr/portuguese.html. Acesso em: 25/07/07. 262 Glossário constante do anexo II do Decreto 3.587/00 ( revogado pelo Decreto 3.996, de 31.10.2001, DOU 05.11.2001). Apud CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Processo Judicial Eletrônico. Curitiba: Juruá, 2007, p. 16. 263 Fonte : http://www.jt.gov.br/sistema/edoc/certificados.htm. Acesso em 21.02.08. 264 CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Processo Judicial Eletrônico. Curitiba: Juruá, 2007, p. 16.

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Login – “entrada no sistema.”265

Mainframe – é um “computador de grande porte; sistema de computação em

grande escala e alto potencial de processamento que pode manipular memória

de alta capacidade e dispositivos auxiliares de armazenamento bem como um

número de operadores simultaneamente.”266

MP3 – “é um formato que permite armazenar músicas e arquivos de áudio no

computador em um espaço relativamente pequeno, mantendo a qualidade do

som. Arquivos com extensão .mp3, também chamados de MPEG1 Layer 3, são

semelhantes aos arquivos .wav (wave), mas extremamente compactados, ou

seja, muito menores. Normalmente, um arquivo MP3 com 1 MB contém cerca

de um minuto de música. Para ouvi-los basta um programa do tipo "player"

(tocador) disponível na Internet. Há programas para PC, Mac e Linux.“ 267

Scanner – “dispositivo que examina ou efetua varredura; (...) scanner de

imagem – “dispositivo de entrada que converte documentos ou desenhos ou

fotografias em uma forma digitalizada, legível para o computador.” 268

Software – é “qualquer programa ou grupo de programas que instrui o

hardware sobre a maneira como ele deve executar uma tarefa, inclusive

sistemas operacionais, processadores de texto e programas de aplicação.”269

Wireless – é o “sistema de comunicação que não requer fios para transportar

sinais.”270

265 COLLIN, S. M. H. Michaelis: Dicionário prático de informática. Tradução e atualização de Regina Borges de Araújo e Antônio Carlos dos Santos. São Paulo: Melhoramentos, 1993, p. 192. 266 Ibidem, p. 197. 267 UOL Música. Guia MP3. Glossário. Disponível em: http://musica.uol.com.br/mp3/glossario.jhtm. Acesso em: 13/03/08. 268 COLLIN, S. M. H. Michaelis: Dicionário prático de informática. Tradução e atualização de Regina Borges de Araújo e Antônio Carlos dos Santos. São Paulo: Melhoramentos, 1993, p. 285. 269 Ibidem, p. 300. 270 Ibidem, p. 344.

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ANEXO I – Imagens de autos de processo digitado

Ano – 1940

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ANEXO II – Imagens de autos de processo datilografado

Ano - 1978

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ANEXO III – Imagens de autos de processo digitado

Ano – 2001

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ANEXO IV – Lei n. 9.800/ 1999

Presidência da República271

Casa Civil Subchefia para Assuntos

Jurídicos

LEI Nº 9.800, DE 26 DE MAIO DE 1999.

Permite às partes a utilização de sistema

de transmissão de dados para a prática de

atos processuais.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o É permitida às partes a utilização de sistema de transmissão de

dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de atos

processuais que dependam de petição escrita.

Art. 2o A utilização de sistema de transmissão de dados e imagens não

prejudica o cumprimento dos prazos, devendo os originais ser entregues em

juízo, necessariamente, até cinco dias da data de seu término.

Parágrafo único. Nos atos não sujeitos a prazo, os originais deverão ser

entregues, necessariamente, até cinco dias da data da recepção do material.

Art. 3o Os juízes poderão praticar atos de sua competência à vista de

transmissões efetuadas na forma desta Lei, sem prejuízo do disposto no artigo

anterior.

271 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. “Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos.” Lei n. 9.800/1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9800.htm . Acesso em: 03/03/08.

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Art. 4o Quem fizer uso de sistema de transmissão torna-se responsável

pela qualidade e fidelidade do material transmitido, e por sua entrega ao órgão

judiciário.

Parágrafo único. Sem prejuízo de outras sanções, o usuário do sistema

será considerado litigante de má-fé se não houver perfeita concordância entre

o original remetido pelo fac-símile e o original entregue em juízo.

Art. 5o O disposto nesta Lei não obriga a que os órgãos judiciários

disponham de equipamentos para recepção.

Art. 6o Esta Lei entra em vigor trinta dias após a data de sua publicação.

Brasília, 26 de maio de 1999; 178o da Independência e 111o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Renan Calheiros

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 27.5.1999

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ANEXO V – Medida Provisória n. 2.200-2/2001

Presidência da República272 Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

MEDIDA PROVISÓRIA No 2.200-2, DE 24 DE AGOSTO DE 2001.

Institui a Infra-Estrutura de

Chaves Públicas Brasileira - ICP-

Brasil, transforma o Instituto Nacional

de Tecnologia da Informação em

autarquia, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe

confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com

força de lei:

Art. 1o Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas

Brasileira - ICP-Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade

jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das

aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização

de transações eletrônicas seguras.

Art. 2o A ICP-Brasil, cuja organização será definida em

regulamento, será composta por uma autoridade gestora de políticas e pela

cadeia de autoridades certificadoras composta pela Autoridade Certificadora

272 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. “Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos.” Medida Provisória n. 2.200-2/2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/Antigas_2001/2200-2.htm. Acesso em: 03/03/08.

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Raiz - AC Raiz, pelas Autoridades Certificadoras - AC e pelas Autoridades de

Registro - AR.

Art. 3o A função de autoridade gestora de políticas será exercida

pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil, vinculado à Casa Civil da Presidência da

República e composto por cinco representantes da sociedade civil, integrantes

de setores interessados, designados pelo Presidente da República, e um

representante de cada um dos seguintes órgãos, indicados por seus titulares:

I - Ministério da Justiça;

II - Ministério da Fazenda;

III - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

IV - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;

V - Ministério da Ciência e Tecnologia;

VI - Casa Civil da Presidência da República; e

VII - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da

República.

§ 1o A coordenação do Comitê Gestor da ICP-Brasil será exercida

pelo representante da Casa Civil da Presidência da República.

§ 2o Os representantes da sociedade civil serão designados para

períodos de dois anos, permitida a recondução.

§ 3o A participação no Comitê Gestor da ICP-Brasil é de relevante

interesse público e não será remunerada.

§ 4o O Comitê Gestor da ICP-Brasil terá uma Secretaria-Executiva,

na forma do regulamento.

Art. 4o Compete ao Comitê Gestor da ICP-Brasil:

I - adotar as medidas necessárias e coordenar a implantação e o

funcionamento da ICP-Brasil;

II - estabelecer a política, os critérios e as normas técnicas para o

credenciamento das AC, das AR e dos demais prestadores de serviço de

suporte à ICP-Brasil, em todos os níveis da cadeia de certificação;

III - estabelecer a política de certificação e as regras operacionais

da AC Raiz;

IV - homologar, auditar e fiscalizar a AC Raiz e os seus prestadores

de serviço;

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V - estabelecer diretrizes e normas técnicas para a formulação de

políticas de certificados e regras operacionais das AC e das AR e definir níveis

da cadeia de certificação;

VI - aprovar políticas de certificados, práticas de certificação e

regras operacionais, credenciar e autorizar o funcionamento das AC e das AR,

bem como autorizar a AC Raiz a emitir o correspondente certificado;

VII - identificar e avaliar as políticas de ICP externas, negociar e

aprovar acordos de certificação bilateral, de certificação cruzada, regras de

interoperabilidade e outras formas de cooperação internacional, certificar,

quando for o caso, sua compatibilidade com a ICP-Brasil, observado o disposto

em tratados, acordos ou atos internacionais; e

VIII - atualizar, ajustar e revisar os procedimentos e as práticas

estabelecidas para a ICP-Brasil, garantir sua compatibilidade e promover a

atualização tecnológica do sistema e a sua conformidade com as políticas de

segurança.

Parágrafo único. O Comitê Gestor poderá delegar atribuições à AC

Raiz.

Art. 5o À AC Raiz, primeira autoridade da cadeia de certificação,

executora das Políticas de Certificados e normas técnicas e operacionais

aprovadas pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil, compete emitir, expedir, distribuir,

revogar e gerenciar os certificados das AC de nível imediatamente

subseqüente ao seu, gerenciar a lista de certificados emitidos, revogados e

vencidos, e executar atividades de fiscalização e auditoria das AC e das AR e

dos prestadores de serviço habilitados na ICP, em conformidade com as

diretrizes e normas técnicas estabelecidas pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil, e

exercer outras atribuições que lhe forem cometidas pela autoridade gestora de

políticas.

Parágrafo único. É vedado à AC Raiz emitir certificados para o

usuário final.

Art. 6o Às AC, entidades credenciadas a emitir certificados digitais

vinculando pares de chaves criptográficas ao respectivo titular, compete emitir,

expedir, distribuir, revogar e gerenciar os certificados, bem como colocar à

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disposição dos usuários listas de certificados revogados e outras informações

pertinentes e manter registro de suas operações.

Parágrafo único. O par de chaves criptográficas será gerado

sempre pelo próprio titular e sua chave privada de assinatura será de seu

exclusivo controle, uso e conhecimento.

Art. 7o Às AR, entidades operacionalmente vinculadas a

determinada AC, compete identificar e cadastrar usuários na presença destes,

encaminhar solicitações de certificados às AC e manter registros de suas

operações.

Art. 8o Observados os critérios a serem estabelecidos pelo Comitê

Gestor da ICP-Brasil, poderão ser credenciados como AC e AR os órgãos e as

entidades públicos e as pessoas jurídicas de direito privado.

Art. 9o É vedado a qualquer AC certificar nível diverso do

imediatamente subseqüente ao seu, exceto nos casos de acordos de

certificação lateral ou cruzada, previamente aprovados pelo Comitê Gestor da

ICP-Brasil.

Art. 10. Consideram-se documentos públicos ou particulares, para

todos os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata esta Medida

Provisória.

§ 1o As declarações constantes dos documentos em forma

eletrônica produzidos com a utilização de processo de certificação

disponibilizado pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação aos

signatários, na forma do art. 131 da Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916 -

Código Civil.

§ 2o O disposto nesta Medida Provisória não obsta a utilização de

outro meio de comprovação da autoria e integridade de documentos em forma

eletrônica, inclusive os que utilizem certificados não emitidos pela ICP-Brasil,

desde que admitido pelas partes como válido ou aceito pela pessoa a quem for

oposto o documento.

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Art. 11. A utilização de documento eletrônico para fins tributários

atenderá, ainda, ao disposto no art. 100 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de

1966 - Código Tributário Nacional.

Art. 12. Fica transformado em autarquia federal, vinculada ao

Ministério da Ciência e Tecnologia, o Instituto Nacional de Tecnologia da

Informação - ITI, com sede e foro no Distrito Federal.

Art. 13. O ITI é a Autoridade Certificadora Raiz da Infra-Estrutura

de Chaves Públicas Brasileira.

Art. 14. No exercício de suas atribuições, o ITI desempenhará

atividade de fiscalização, podendo ainda aplicar sanções e penalidades, na

forma da lei.

Art. 15. Integrarão a estrutura básica do ITI uma Presidência, uma

Diretoria de Tecnologia da Informação, uma Diretoria de Infra-Estrutura de

Chaves Públicas e uma Procuradoria-Geral.

Parágrafo único. A Diretoria de Tecnologia da Informação poderá

ser estabelecida na cidade de Campinas, no Estado de São Paulo.

Art. 16. Para a consecução dos seus objetivos, o ITI poderá, na

forma da lei, contratar serviços de terceiros.

§ 1o O Diretor-Presidente do ITI poderá requisitar, para ter

exercício exclusivo na Diretoria de Infra-Estrutura de Chaves Públicas, por

período não superior a um ano, servidores, civis ou militares, e empregados de

órgãos e entidades integrantes da Administração Pública Federal direta ou

indireta, quaisquer que sejam as funções a serem exercidas.

§ 2o Aos requisitados nos termos deste artigo serão assegurados

todos os direitos e vantagens a que façam jus no órgão ou na entidade de

origem, considerando-se o período de requisição para todos os efeitos da vida

funcional, como efetivo exercício no cargo, posto, graduação ou emprego que

ocupe no órgão ou na entidade de origem.

Art. 17. Fica o Poder Executivo autorizado a transferir para o ITI:

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I - os acervos técnico e patrimonial, as obrigações e os direitos do

Instituto Nacional de Tecnologia da Informação do Ministério da Ciência e

Tecnologia;

II - remanejar, transpor, transferir, ou utilizar, as dotações

orçamentárias aprovadas na Lei Orçamentária de 2001, consignadas ao

Ministério da Ciência e Tecnologia, referentes às atribuições do órgão ora

transformado, mantida a mesma classificação orçamentária, expressa por

categoria de programação em seu menor nível, observado o disposto no § 2o

do art. 3o da Lei no 9.995, de 25 de julho de 2000, assim como o respectivo

detalhamento por esfera orçamentária, grupos de despesa, fontes de recursos,

modalidades de aplicação e identificadores de uso.

Art. 18. Enquanto não for implantada a sua Procuradoria Geral, o

ITI será representado em juízo pela Advocacia Geral da União.

Art. 19. Ficam convalidados os atos praticados com base na

Medida Provisória no 2.200-1, de 27 de julho de 2001.

Art. 20. Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua

publicação.

Brasília, 24 de agosto de 2001; 180o da Independência e 113o da

República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

José Gregori

Martus Tavares

Ronaldo Mota Sardenberg

Pedro Parente

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 27.8.2001

191

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ANEXO VI – Lei n. 11.419/2006

Presidência da República273 Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.419, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006.

Mensagem de veto

Dispõe sobre a informatização

do processo judicial; altera a Lei no

5.869, de 11 de janeiro de 1973 –

Código de Processo Civil; e dá outras

providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso

Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DA INFORMATIZAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL

Art. 1o O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais,

comunicação de atos e transmissão de peças processuais será admitido nos

termos desta Lei.

§ 1o Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil,

penal e trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de

jurisdição.

§ 2o Para o disposto nesta Lei, considera-se:

273 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. “Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos.” Lei n. 11.419/2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11419.htm. Acesso em: 03/03/08.

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I - meio eletrônico qualquer forma de armazenamento ou tráfego de

documentos e arquivos digitais;

II - transmissão eletrônica toda forma de comunicação a distância com a

utilização de redes de comunicação, preferencialmente a rede mundial de

computadores;

III - assinatura eletrônica as seguintes formas de identificação

inequívoca do signatário:

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por

Autoridade Certificadora credenciada, na forma de lei específica;

b) mediante cadastro de usuário no Poder Judiciário, conforme

disciplinado pelos órgãos respectivos.

Art. 2o O envio de petições, de recursos e a prática de atos processuais

em geral por meio eletrônico serão admitidos mediante uso de assinatura

eletrônica, na forma do art. 1o desta Lei, sendo obrigatório o credenciamento

prévio no Poder Judiciário, conforme disciplinado pelos órgãos respectivos.

§ 1o O credenciamento no Poder Judiciário será realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificação presencial

do interessado.

§ 2o Ao credenciado será atribuído registro e meio de acesso ao

sistema, de modo a preservar o sigilo, a identificação e a autenticidade de suas

comunicações.

§ 3o Os órgãos do Poder Judiciário poderão criar um cadastro único

para o credenciamento previsto neste artigo.

Art. 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio

eletrônico no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciário, do que

deverá ser fornecido protocolo eletrônico.

Parágrafo único. Quando a petição eletrônica for enviada para atender

prazo processual, serão consideradas tempestivas as transmitidas até as 24

(vinte e quatro) horas do seu último dia.

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CAPÍTULO II

DA COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art. 4o Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico,

disponibilizado em sítio da rede mundial de computadores, para publicação de

atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem

como comunicações em geral.

§ 1o O sítio e o conteúdo das publicações de que trata este artigo

deverão ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei específica.

§ 2o A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer

outro meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos

casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal.

§ 3o Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte

ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico.

§ 4o Os prazos processuais terão início no primeiro dia útil que seguir ao

considerado como data da publicação.

§ 5o A criação do Diário da Justiça eletrônico deverá ser acompanhada

de ampla divulgação, e o ato administrativo correspondente será publicado

durante 30 (trinta) dias no diário oficial em uso.

Art. 5o As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio

aos que se cadastrarem na forma do art. 2o desta Lei, dispensando-se a

publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

§ 1o Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando

efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a

sua realização.

§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, nos casos em que a consulta se

dê em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro

dia útil seguinte.

§ 3o A consulta referida nos §§ 1o e 2o deste artigo deverá ser feita em

até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de

considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse

prazo.

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§ 4o Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de

correspondência eletrônica, comunicando o envio da intimação e a abertura

automática do prazo processual nos termos do § 3o deste artigo, aos que

manifestarem interesse por esse serviço.

§ 5o Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo

possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for

evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá

ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade, conforme determinado

pelo juiz.

§ 6o As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda

Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais.

Art. 6o Observadas as formas e as cautelas do art. 5o desta Lei, as

citações, inclusive da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos

Processuais Criminal e Infracional, poderão ser feitas por meio eletrônico,

desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando.

Art. 7o As cartas precatórias, rogatórias, de ordem e, de um modo geral,

todas as comunicações oficiais que transitem entre órgãos do Poder Judiciário,

bem como entre os deste e os dos demais Poderes, serão feitas

preferentemente por meio eletrônico.

CAPÍTULO III

DO PROCESSO ELETRÔNICO

Art. 8o Os órgãos do Poder Judiciário poderão desenvolver sistemas

eletrônicos de processamento de ações judiciais por meio de autos total ou

parcialmente digitais, utilizando, preferencialmente, a rede mundial de

computadores e acesso por meio de redes internas e externas.

Parágrafo único. Todos os atos processuais do processo eletrônico

serão assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Lei.

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Art. 9o No processo eletrônico, todas as citações, intimações e

notificações, inclusive da Fazenda Pública, serão feitas por meio eletrônico, na

forma desta Lei.

§ 1o As citações, intimações, notificações e remessas que viabilizem o

acesso à íntegra do processo correspondente serão consideradas vista pessoal

do interessado para todos os efeitos legais.

§ 2o Quando, por motivo técnico, for inviável o uso do meio eletrônico

para a realização de citação, intimação ou notificação, esses atos processuais

poderão ser praticados segundo as regras ordinárias, digitalizando-se o

documento físico, que deverá ser posteriormente destruído.

Art. 10. A distribuição da petição inicial e a juntada da contestação, dos

recursos e das petições em geral, todos em formato digital, nos autos de

processo eletrônico, podem ser feitas diretamente pelos advogados públicos e

privados, sem necessidade da intervenção do cartório ou secretaria judicial,

situação em que a autuação deverá se dar de forma automática, fornecendo-se

recibo eletrônico de protocolo.

§ 1o Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado

prazo, por meio de petição eletrônica, serão considerados tempestivos os

efetivados até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia.

§ 2o No caso do § 1o deste artigo, se o Sistema do Poder Judiciário se

tornar indisponível por motivo técnico, o prazo fica automaticamente prorrogado

para o primeiro dia útil seguinte à resolução do problema.

§ 3o Os órgãos do Poder Judiciário deverão manter equipamentos de

digitalização e de acesso à rede mundial de computadores à disposição dos

interessados para distribuição de peças processuais.

Art. 11. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos

processos eletrônicos com garantia da origem e de seu signatário, na forma

estabelecida nesta Lei, serão considerados originais para todos os efeitos

legais.

§ 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos

autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus

auxiliares, pelas procuradorias, pelas autoridades policiais, pelas repartições

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públicas em geral e por advogados públicos e privados têm a mesma força

probante dos originais, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de

adulteração antes ou durante o processo de digitalização.

§ 2o A argüição de falsidade do documento original será processada

eletronicamente na forma da lei processual em vigor.

§ 3o Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no § 2o

deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o trânsito em

julgado da sentença ou, quando admitida, até o final do prazo para interposição

de ação rescisória.

§ 4o (VETADO)

§ 5o Os documentos cuja digitalização seja tecnicamente inviável devido

ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deverão ser apresentados ao

cartório ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de petição

eletrônica comunicando o fato, os quais serão devolvidos à parte após o

trânsito em julgado.

§ 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrônico

somente estarão disponíveis para acesso por meio da rede externa para suas

respectivas partes processuais e para o Ministério Público, respeitado o

disposto em lei para as situações de sigilo e de segredo de justiça.

Art. 12. A conservação dos autos do processo poderá ser efetuada total

ou parcialmente por meio eletrônico.

§ 1o Os autos dos processos eletrônicos deverão ser protegidos por

meio de sistemas de segurança de acesso e armazenados em meio que

garanta a preservação e integridade dos dados, sendo dispensada a formação

de autos suplementares.

§ 2o Os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser remetidos a

outro juízo ou instância superior que não disponham de sistema compatível

deverão ser impressos em papel, autuados na forma dos arts. 166 a 168 da Lei

no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, ainda que de

natureza criminal ou trabalhista, ou pertinentes a juizado especial.

§ 3o No caso do § 2o deste artigo, o escrivão ou o chefe de secretaria

certificará os autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos,

acrescentando, ressalvada a hipótese de existir segredo de justiça, a forma

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pela qual o banco de dados poderá ser acessado para aferir a autenticidade

das peças e das respectivas assinaturas digitais.

§ 4o Feita a autuação na forma estabelecida no § 2o deste artigo, o

processo seguirá a tramitação legalmente estabelecida para os processos

físicos.

§ 5o A digitalização de autos em mídia não digital, em tramitação ou já

arquivados, será precedida de publicação de editais de intimações ou da

intimação pessoal das partes e de seus procuradores, para que, no prazo

preclusivo de 30 (trinta) dias, se manifestem sobre o desejo de manterem

pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais.

Art. 13. O magistrado poderá determinar que sejam realizados por meio

eletrônico a exibição e o envio de dados e de documentos necessários à

instrução do processo.

§ 1o Consideram-se cadastros públicos, para os efeitos deste artigo,

dentre outros existentes ou que venham a ser criados, ainda que mantidos por

concessionárias de serviço público ou empresas privadas, os que contenham

informações indispensáveis ao exercício da função judicante.

§ 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-á por qualquer meio

tecnológico disponível, preferentemente o de menor custo, considerada sua

eficiência.

§ 3o (VETADO)

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS

Art. 14. Os sistemas a serem desenvolvidos pelos órgãos do Poder

Judiciário deverão usar, preferencialmente, programas com código aberto,

acessíveis ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores,

priorizando-se a sua padronização.

Parágrafo único. Os sistemas devem buscar identificar os casos de

ocorrência de prevenção, litispendência e coisa julgada.

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Art. 15. Salvo impossibilidade que comprometa o acesso à justiça, a

parte deverá informar, ao distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial, o

número no cadastro de pessoas físicas ou jurídicas, conforme o caso, perante

a Secretaria da Receita Federal.

Parágrafo único. Da mesma forma, as peças de acusação criminais

deverão ser instruídas pelos membros do Ministério Público ou pelas

autoridades policiais com os números de registros dos acusados no Instituto

Nacional de Identificação do Ministério da Justiça, se houver.

Art. 16. Os livros cartorários e demais repositórios dos órgãos do Poder

Judiciário poderão ser gerados e armazenados em meio totalmente eletrônico.

Art. 17. (VETADO)

Art. 18. Os órgãos do Poder Judiciário regulamentarão esta Lei, no que

couber, no âmbito de suas respectivas competências.

Art. 19. Ficam convalidados os atos processuais praticados por meio

eletrônico até a data de publicação desta Lei, desde que tenham atingido sua

finalidade e não tenha havido prejuízo para as partes.

Art. 20. A Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo

Civil, passa a vigorar com as seguintes alterações:

"Art. 38. ...........................................................................

Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com

base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma

da lei específica." (NR)

"Art. 154. ........................................................................

Parágrafo único. (Vetado). (VETADO)

§ 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos,

transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrônico, na forma da lei."

(NR)

"Art. 164. .......................................................................

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Parágrafo único. A assinatura dos juízes, em todos os graus de

jurisdição, pode ser feita eletronicamente, na forma da lei." (NR)

"Art. 169. .......................................................................

§ 1o É vedado usar abreviaturas.

§ 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrônico, os

atos processuais praticados na presença do juiz poderão ser produzidos e

armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrônico inviolável, na

forma da lei, mediante registro em termo que será assinado digitalmente pelo

juiz e pelo escrivão ou chefe de secretaria, bem como pelos advogados das

partes.

§ 3o No caso do § 2o deste artigo, eventuais contradições na transcrição

deverão ser suscitadas oralmente no momento da realização do ato, sob pena

de preclusão, devendo o juiz decidir de plano, registrando-se a alegação e a

decisão no termo." (NR)

"Art. 202. .....................................................................

.....................................................................................

§ 3o A carta de ordem, carta precatória ou carta rogatória pode ser

expedida por meio eletrônico, situação em que a assinatura do juiz deverá ser

eletrônica, na forma da lei." (NR)

"Art. 221. ....................................................................

....................................................................................

IV - por meio eletrônico, conforme regulado em lei própria." (NR)

"Art. 237. ....................................................................

Parágrafo único. As intimações podem ser feitas de forma eletrônica,

conforme regulado em lei própria." (NR)

"Art. 365. ...................................................................

...................................................................................

V - os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, desde

que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações

conferem com o que consta na origem;

VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento, público ou

particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus

auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas

repartições públicas em geral e por advogados públicos ou privados,

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ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou

durante o processo de digitalização.

§ 1o Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no inciso

VI do caput deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o final

do prazo para interposição de ação rescisória.

§ 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou

outro documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar o

seu depósito em cartório ou secretaria." (NR)

"Art. 399. ................................................................

§ 1o Recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo máximo e

improrrogável de 30 (trinta) dias, certidões ou reproduções fotográficas das

peças indicadas pelas partes ou de ofício; findo o prazo, devolverá os autos à

repartição de origem.

§ 2o As repartições públicas poderão fornecer todos os documentos em

meio eletrônico conforme disposto em lei, certificando, pelo mesmo meio, que

se trata de extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou do documento

digitalizado." (NR)

"Art. 417. ...............................................................

§ 1o O depoimento será passado para a versão datilográfica quando

houver recurso da sentença ou noutros casos, quando o juiz o determinar, de

ofício ou a requerimento da parte.

§ 2o Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o disposto nos

§§ 2o e 3o do art. 169 desta Lei." (NR)

"Art. 457. .............................................................

.............................................................................

§ 4o Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o disposto nos

§§ 2o e 3o do art. 169 desta Lei." (NR)

"Art. 556. ............................................................

Parágrafo único. Os votos, acórdãos e demais atos processuais podem

ser registrados em arquivo eletrônico inviolável e assinados eletronicamente,

na forma da lei, devendo ser impressos para juntada aos autos do processo

quando este não for eletrônico." (NR)

Art. 21. (VETADO)

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Art. 22. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua

publicação.

Brasília, 19 de dezembro de 2006; 185o da Independência e 118o da

República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Márcio Thomaz Bastos

Este texto não substitui o publicado no DOU de 20.12.2006

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ANEXO VII – Instrução Normativa n. 30/2007 do Tribunal Superior do Trabalho

INSTRUÇÃO NORMATIVA N° 30 de 2007274

Editada pela Resolução nº 140

Publicada no Diário da Justiça por 30 dias a partir de 18-09-07

Regulamenta, no âmbito da Justiça do Trabalho, a Lei n° 11.419, de 19 de

dezembro de 2006, que dispõe sobre a informatização do processo judicial.

CAPÍTULO I

INFORMATIZAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL

NO ÂMBITO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Art. 1° O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais,

comunicação de atos e transmissão de peças processuais, na Justiça do

Trabalho, será disciplinado pela presente instrução normativa.

Art. 2° Os Tribunais Regionais do Trabalho disponibilizarão em suas

dependências e nas Varas do Trabalho, para os usuários dos serviços de

peticionamento eletrônico que necessitarem, equipamentos de acesso à rede

mundial de computadores e de digitalização do processo, para a distribuição de

peças processuais.

Parágrafo único. Os Tribunais Regionais do Trabalho terão o prazo de um

ano da publicação da presente instrução normativa para atenderem ao disposto

no presente artigo.

274 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Disponível em: http://www.tst.gov.br. Acesso em: 03/03/08.

203

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CAPÍTULO II

ASSINATURA ELETRÔNICA

Art. 3° No âmbito da Justiça do Trabalho, o envio de petições, de recursos e

a prática de atos processuais em geral por meio eletrônico serão admitidos

mediante uso de assinatura eletrônica.

Art. 4° A assinatura eletrônica, no âmbito da Justiça do Trabalho, será

admitida sob as seguintes modalidades:

I – assinatura digital, baseada em certificado digital emitido pelo ICP-Brasil,

com uso de cartão e senha;

II – assinatura cadastrada, obtida perante o Tribunal Superior do Trabalho ou

Tribunais Regionais do Trabalho, com fornecimento de login e senha.

§ 1° Para o uso de qualquer das duas modalidades de assinatura eletrônica,

o usuário deverá se credenciar previamente perante o Tribunal Superior do

Trabalho ou o Tribunal Regional do Trabalho com jurisdição sobre a cidade em

que tenha domicílio, mediante o preenchimento de formulário eletrônico,

disponibilizado no Portal da Justiça do Trabalho (Portal-JT).

§ 2° No caso de assinatura digital, em que a identificação presencial já se

realizou perante a Autoridade Certificadora, o credenciamento se dará pela

simples identificação do usuário por meio de seu certificado digital e remessa

do formulário devidamente preenchido.

§ 3° No caso da assinatura cadastrada, o interessado deverá comparecer,

pessoalmente, perante o órgão do Tribunal no qual deseje cadastrar sua

assinatura eletrônica, munido do formulário devidamente preenchido, obtendo

senhas e informações para a operacionalização de sua assinatura eletrônica.

§ 4° Ao credenciado será atribuído registro e meio de acesso ao sistema,

de modo a preservar o sigilo (mediante criptografia de senha), a identificação e

a autenticidade de suas comunicações.

§ 5° Alterações de dados cadastrais poderão ser feitas pelos usuários, a

qualquer momento, na seção respectiva do Portal-JT.

§ 6° O credenciamento implica a aceitação das normas estabelecidas nesta

Instrução Normativa e a responsabilidade do credenciado pelo uso indevido da

assinatura eletrônica.

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CAPÍTULO III

SISTEMA DE PETICIONAMENTO ELETRÔNICO

Art. 5° A prática de atos processuais por meio eletrônico pelas partes,

advogados e peritos será feita, na Justiça do Trabalho, através do Sistema

Integrado de Protocolização e Fluxo de Documentos Eletrônicos (e-DOC).

§ 1° O e-DOC é um serviço de uso facultativo, disponibilizado no Portal-JT,

na Internet.

§ 2° É vedado o uso do e-DOC para o envio de petições destinadas ao

Supremo Tribunal Federal.

§ 3° O sistema do e-DOC deverá buscar identificar, dentro do possível, os

casos de ocorrência de prevenção, litispendência e coisa julgada.

§ 4° A parte desassistida de advogado que desejar utilizar o sistema do e-

DOC deverá se cadastrar, antes, nos termos desta Instrução Normativa.

Art. 6° As petições, acompanhadas ou não de anexos, apenas serão aceitas

em formato PDF (Portable Document Format), no tamanho máximo, por

operação, de 2 Megabytes.

Parágrafo único. Não se admitirá o fracionamento de petição, tampouco dos

documentos que a acompanham, para fins de transmissão.

Art. 7° O envio da petição por intermédio do e-DOC dispensa a

apresentação posterior dos originais ou de fotocópias autenticadas, inclusive

aqueles destinados à comprovação de pressupostos de admissibilidade do

recurso.

Art. 8° O acesso ao e-DOC depende da utilização, pelo usuário, da sua

assinatura eletrônica.

Parágrafo único. Salvo impossibilidade que comprometa o acesso à justiça,

a parte deverá informar, ao distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial

em meio eletrônico, o número no cadastro de pessoas físicas ou jurídicas,

conforme o caso, perante a Secretaria da Receita Federal.

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Art. 9° O Sistema Integrado de Protocolização e Fluxo de Documentos

Eletrônicos (e-DOC), no momento do recebimento da petição, expedirá recibo

ao remetente, que servirá como comprovante de entrega da petição e dos

documentos que a acompanharam.

§ 1° Constarão do recibo as seguintes informações:

I – o número de protocolo da petição gerado pelo Sistema;

II – o número do processo e o nome das partes, se houver, o assunto da

petição e o órgão destinatário da petição, informados pelo remetente;

III – a data e o horário do recebimento da petição no Tribunal, fornecidos

pelo Observatório Nacional;

IV – as identificações do remetente da petição e do usuário que assinou

eletronicamente o documento.

§ 2° A qualquer momento o usuário poderá consultar no e-DOC as petições

e documentos enviados e os respectivos recibos.

Art. 10. Incumbe aos Tribunais, por intermédio das respectivas unidades

administrativas responsáveis pela recepção das petições transmitidas pelo e-

DOC:

I – imprimir as petições e seus documentos, caso existentes, anexando-lhes

o comprovante de recepção gerado pelo Sistema, enquanto não generalizada a

virtualização do processo, que dispensará os autos físicos;

II – verificar, diariamente, no sistema informatizado, a existência de

petições eletrônicas pendentes de processamento.

Art. 11. São de exclusiva responsabilidade dos usuários:

I – o sigilo da assinatura digital, não sendo oponível, em qualquer hipótese,

alegação de seu uso indevido;

II – a equivalência entre os dados informados para o envio (número do

processo e unidade judiciária) e os constantes da petição remetida;

III – as condições das linhas de comunicação e acesso ao seu provedor da

Internet;

IV – a edição da petição e anexos em conformidade com as restrições

impostas pelo serviço, no que se refere à formatação e tamanho do arquivo

enviado;

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V – o acompanhamento da divulgação dos períodos em que o serviço não

estiver disponível em decorrência de manutenção no sítio do Tribunal.

§ 1° A não-obtenção, pelo usuário, de acesso ao Sistema, além de eventuais

defeitos de transmissão ou recepção de dados, não serve de escusa para o

descumprimento dos prazos legais.

§ 2° Deverão os Tribunais informar, nos respectivos sítios, os períodos em

que, eventualmente, o sistema esteve indisponível.

Art. 12. Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrônico

no dia e hora do seu recebimento pelo sistema do e-DOC.

§ 1° Quando a petição eletrônica for enviada para atender prazo processual,

serão consideradas tempestivas as transmitidas até as 24 (vinte e quatro)

horas do seu último dia.

§ 2° Incumbe ao usuário observar o horário estabelecido como base para

recebimento, como sendo o do Observatório Nacional, devendo atender para

as diferenças de fuso horário existente no país.

§ 3° Não serão considerados, para efeito de tempestividade, o horário da

conexão do usuário à Internet, o horário do acesso ao sítio do Tribunal,

tampouco os horários consignados nos equipamentos do remetente e da

unidade destinatária, mas o de recebimento no órgão da Justiça do Trabalho.

Art. 13. O uso inadequado do e-DOC que venha a causar prejuízo às partes

ou à atividade jurisdicional importa bloqueio do cadastramento do usuário, a ser

determinado pela autoridade judiciária competente.

CAPÍTULO IV

COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS NO

PORTAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Art. 14. O Portal da Justiça do Trabalho (Portal-JT) é o sítio corporativo da

instituição, abrangendo todos os Tribunais trabalhistas do país, gerenciado pelo

Conselho Superior da Justiça do Trabalho e operado pelo Tribunal Superior do

Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho, incluindo, entre outras

funcionalidades:

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I – o Diário da Justiça do Trabalho Eletrônico (DJT), para publicação de atos

judiciais e administrativos dos Tribunais e Varas do Trabalho;

II – Sistemas de Pesquisa de Jurisprudência, de Legislação Trabalhista e

Atos Normativos da Justiça do Trabalho, de acompanhamento processual, de

acervo bibliográfico, com Banco de Dados Geral integrado pelos julgados e

atos administrativos de todos os Tribunais trabalhistas do país;

III – Informações gerais sobre os Tribunais e Varas do Trabalho, incluindo

memória da Justiça do Trabalho, dados estatísticos, magistrados, concursos e

licitações, entre outros;

IV – Informações sobre o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT),

incluindo seu Regimento Interno, suas resoluções e decisões, além de seus

integrantes e estrutura do órgão;

V – Informações sobre a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento

de Magistrados do Trabalho (ENAMAT), incluindo quadro diretivo, de

professores, de alunos e de cursos, bem como disponibilizando ambiente para

o ensino à distância;

VI – Sistemas de Assinatura Eletrônica, Peticionamento Eletrônico (e-DOC)

e de Carta Eletrônica (CE).

VII – Informações sobre a Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho.

Parágrafo único. O conteúdo das publicações de que trata este artigo deverá

ser assinado digitalmente, na forma desta Instrução Normativa.

Art. 15. A publicação eletrônica no DJT substitui qualquer outro meio e

publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos casos que, por

lei, exigem intimação ou vista pessoal.

§ 1° Os atos processuais praticados pelos magistrados trabalhistas a serem

publicados no DJT serão assinados digitalmente no momento de sua prolação.

§ 2° Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao

da disponibilização da informação no DJT.

§ 3° Os prazos processuais terão início no primeiro dia útil que seguir ao

considerado como data da publicação.

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Art. 16. As intimações serão feitas por meio eletrônico no Portal-JT aos que

se credenciarem na forma desta Instrução Normativa, dispensando-se a

publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

§ 1° Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando

efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a

sua realização.

§ 2° Na hipótese do § 1° deste artigo, nos casos em que a consulta se dê

em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro dia

útil seguinte.

§ 3° A consulta referida nos §§ 1° e 2° deste artigo deverá ser feita em até

10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de

considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse

prazo.

§ 4° A intimação de que trata este artigo somente será realizada nos

processos em que todas as partes estejam credenciadas na forma desta

Instrução Normativa, de modo a uniformizar a contagem dos prazos

processuais.

§ 5° Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo

possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for

evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá

ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade, conforme determinado

pelo juiz.

§ 6° As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda

Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais.

§ 7° Observadas as formas e as cautelas deste artigo, as citações, inclusive

da Fazenda Pública, poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a

íntegra dos autos seja acessível ao citando.

Art. 17. As cartas precatórias, rogatórias e de ordem, no âmbito da Justiça

do Trabalho, serão transmitidas exclusivamente de forma eletrônica, através do

Sistema de Carta Eletrônica (CE) já referido, com dispensa da remessa física

de documentos.

§ 1° A utilização do Sistema de Carta Eletrônica fora do âmbito da Justiça do

Trabalho dependerá da aceitação pelos demais órgãos do Poder Judiciário.

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§ 2° Eventuais falhas na transmissão eletrônica dos dados não desobriga os

magistrados e serventuários do cumprimento dos prazos legais, cabendo,

nesses casos, a utilização de outros meios previstos em lei para a remessa das

cartas.

Art. 18. As petições e demais documentos referentes às cartas precatórias,

rogatórias e de ordem, não apresentados pelas partes em meio eletrônico,

serão digitalizados e inseridos no Sistema de Carta Eletrônica.

Art. 19. Os documentos em meio físico, em poder do Juízo deprecado,

deverão ser adequadamente organizados e arquivados, obedecidos os critérios

estabelecidos na Lei n° 8.159, de 8 de janeiro de 1991, e no Decreto nº 4.073,

de 3 de janeiro de 2002.

Parágrafo único. Poderá o Juízo deprecante, em casos excepcionais,

solicitar o documento físico em poder do Juízo deprecado.

Art. 20. Serão certificados nos autos principais todos os fatos relevantes

relativos ao andamento da carta, obtidos junto ao sistema Carta Eletrônica

(CE), com impressão e juntada apenas dos documentos essenciais à instrução

do feito, nos casos de autos em papel.

Art. 21. Os Tribunais Regionais do Trabalho ficarão obrigados a comunicar à

Presidência do Conselho Superior da Justiça do Trabalho qualquer alteração

na competência territorial de suas Varas do Trabalho.

CAPÍTULO V

PROCESSO ELETRÔNICO

Art. 22. Na Justiça do Trabalho, os atos processuais do processo eletrônico

serão assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Instrução

Normativa.

Art. 23. No processo eletrônico, todas as citações, intimações e

notificações, inclusive da Fazenda Pública, serão feitas por meio eletrônico.

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§ 1° As citações, intimações, notificações e remessas que viabilizem o

acesso à íntegra do processo correspondente serão consideradas vista pessoal

do interessado para todos os efeitos legais.

§ 2° Quando, por motivo técnico, for inviável o uso do meio eletrônico para a

realização de citação, intimação ou notificação, esses atos processuais

poderão ser praticados segundo as regras ordinárias, digitalizando-se o

documento físico, que deverá ser posteriormente destruído.

Art. 24. A distribuição da petição inicial e a juntada da contestação, dos

recursos e das petições em geral, todos em formato digital, nos autos de

processo eletrônico, podem ser feitas diretamente pelos advogados públicos e

privados, sem necessidade da intervenção do cartório ou secretaria judicial,

situação em que a autuação deverá se dar de forma automática, fornecendo-se

o recibo eletrônico de protocolo.

§ 1° Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado prazo,

por meio de petição eletrônica, serão considerados tempestivos os efetivados

até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia.

§ 2° No caso do § 1° deste artigo, se o serviço respectivo do Portal-JT se

tornar indisponível por motivo técnico que impeça a prática do ato no termo

final do prazo, este fica automaticamente prorrogado para o primeiro dia útil

seguinte à resolução do problema.

Art. 25. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos

processos eletrônicos com garantia da origem e de seu signatário, na forma

estabelecida nesta Instrução Normativa, serão considerados originais para

todos os efeitos legais.

§ 1° Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos autos

pelos órgãos da Justiça do Trabalho e seus auxiliares, pelo Ministério Público e

seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas autoridades policiais, pelas

repartições públicas em geral e por advogados públicos e privados têm a

mesma força probante dos originais, ressalvada a alegação motivada e

fundamentada de adulteração antes ou durante o processo de digitalização.

§ 2° A argüição de falsidade do documento original será processada

eletronicamente na forma da lei processual em vigor.

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§ 3° Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no § 1° deste

artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o trânsito em julgado da

sentença ou, quando admitida, até o final do prazo para interposição de ação

rescisória.

§ 4° Os documentos cuja digitalização seja tecnicamente inviável devido ao

grande volume ou por motivo de ilegibilidade deverão ser apresentados ao

cartório ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de petição

eletrônica comunicando o fato, os quais serão devolvidos à parte após o

trânsito em julgado.

§ 5° Os documentos digitalizados juntados em processo eletrônico somente

estarão disponíveis para acesso por meio da rede externa para suas

respectivas partes processuais e para o Ministério Público, respeitado o

disposto em lei para as situações de sigilo e de segredo de justiça.

Art. 26. A conservação dos autos do processo poderá ser efetuada total ou

parcialmente por meio eletrônico.

§ 1° Os autos dos processos eletrônicos serão protegidos por meio de

sistemas de segurança de acesso e armazenados de forma a preservar a

integridade dos dados, sendo dispensada a formação de autos suplementares.

§ 2° Os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser remetidos a

outro juízo ou instância superior que não disponham de sistema compatível

deverão ser impressos em papel e autuados na forma dos arts. 166 a 168 do

CPC.

§ 3° No caso do § 2° deste artigo, o escrivão ou o chefe de secretaria

certificará os autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos,

acrescentando, ressalvada a hipótese de existir segredo de justiça, a forma

pela qual o banco de dados poderá ser acessado para aferir a autenticidade

das peças e das respectivas assinaturas digitais.

§ 4° Feita a autuação na forma estabelecida no § 2° deste artigo, o processo

seguirá a tramitação legalmente estabelecida para os processos físicos.

§ 5° A digitalização de autos em mídia não digital, em tramitação ou já

arquivados, será precedida de publicação de editais de intimações ou da

intimação pessoal das partes e de seus procuradores, para que, no prazo

212

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preclusivo de 30 (trinta) dias, se manifestem sobre o desejo de manterem

pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais.

Art. 27. O magistrado poderá determinar que sejam realizados por meio

eletrônico a exibição e o envio de dados e de documentos necessários à

instrução do processo.

§ 1° Consideram-se cadastros públicos, para os efeitos deste artigo, dentre

outros existentes ou que venham a ser criados, ainda que mantidos por

concessionárias de serviço público ou empresas privadas, os que contenham

informações indispensáveis ao exercício da função judicante.

§ 2° O acesso de que trata este artigo dar-se-á por qualquer meio

tecnológico disponível, preferentemente o de menor custo, considerada sua

eficiência.

CAPÍTULO VI

DISPOSIÇÕES GERAIS, FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 28. Os credenciamentos de assinatura eletrônica já feitos pelos

Tribunais Regionais do Trabalho antes da publicação desta Instrução

Normativa e que estejam em desacordo com as regras nela estabelecidas

terão validade por 180 (cento e oitenta) dias da última publicação desta

Resolução, devendo os interessados promover o credenciamento adequado

até essa data.

Art. 29. Os casos omissos desta Instrução Normativa serão resolvidos pelos

Presidentes dos Tribunais, no âmbito de suas esferas de competência.

Art. 30. Para efeito do disposto no § 5° do art. 4° da Lei n° 11.419, de 19 de

dezembro de 2006, a presente Instrução Normativa será publicada durante 30

(trinta) dias no Diário Oficial em uso, dando-lhe ampla divulgação.

Art. 31. A presente Instrução Normativa entra em vigor 90 (noventa) dias

após a sua última publicação, revogada a Instrução Normativa n° 28 desta

Corte.

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Page 214: Maria Lúcia de Freitas Petrucci Ferreira A ... · Devo a você o que sou hoje, pois aprendi com você, quando nos conhecemos, que sempre deveria ser inteira plenamente naquilo que

Sala de sessões, 13 de setembro de 2007.

ANA LÚCIA REGO QUEIROZ

Secretário do Tribunal Pleno e da Seção Especializada em Dissídios Coletivos

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