maria josÉ morgado pÁgina esquerda · activistas de todo o mundo juntam-se em nairobi ... talvez...

16
Nº 16 | 50 CÊNTIMOS | JANEIRO 2007 MENSAL | JORNAL DO BLOCO DE ESQUERDA ES Q UERDA FÓRUM SOCIAL MUNDIAL Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi em busca de alternativas num Continente assolado pela guerra e pela pobreza PÁGINA 7 MARIA JOSÉ MORGADO Numa entrevista publicada pelo Esquerda, defende que as “questões centrais (da corrupção desportiva) são a contabilidade paralela e a promiscuidade com o poder político” PÁGINA 6 A 11 de Fevereiro as portuguesas e portugueses vão decidir se acabam com o aborto clandestino e a perseguição das mulheres. Saiba como foram julgadas as mulheres da Maia, Aveiro e Setúbal PÁGINAS 2 E 3 vota sim PARA MUDAR A LEI Fim da Perseguição às Mulheres www.esquerda.net «...punida com prisão até 3 anos.» Artigo 140º do Código Penal

Upload: nguyenmien

Post on 10-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

Nº 16 | 50 CÊNTIMOS | JANEIRO 2007 MENSAL | JORNAL DO BLOCO DE ESQUERDA

ESQUERDA

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi em busca de alternativas num Continente assolado pela guerra e pela pobreza PÁGINA 7

MARIA JOSÉ MORGADO Numa entrevista publicada pelo Esquerda, defende que as “questões centrais (da corrupção desportiva) são a contabilidade paralela e a promiscuidade com o poder político” PÁGINA 6

A 11 de Fevereiro as portuguesas e portugueses vão decidir se acabam com o aborto clandestino e a perseguição das mulheres. Saiba como foram julgadas as mulheres da Maia, Aveiro e Setúbal PÁGINAS 2 E 3

votasim

PARA MUDAR A LEI

Fim da Perseguição às Mulheres

ww

w.e

sque

rda.

net

«... punida

com prisão

até 3 anos.»Artigo 140º do Código Penal

Page 2: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

2 | ESQUERDA JANEIRO’07 | REFERENDO À DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO > > > > > > > > > > > > > >

No nosso país, no ano 2001, ocorreu na Maia um julga-mento em que se sentaram no banco

dos Réus, 17 mulheres acusadas pelo crime de aborto.

As instalações do tribunal da Maia eram pequenas para pro-ceder ao julgamento. Foi então montada uma tenda gigante onde decorreu a audiência. O espectá-culo ia começar. Naquele espaço entraram uma a uma as mulheres, sobre as quais pendia a acusação de terem praticado um crime a que correspondia uma pena que podia ir até 3 anos de cadeia.

Estas mulheres viram e ouvi-ram num silêncio obscurecido pelo espanto, os detalhes sórdi-dos das suas vidas mal vividas;

viram e ouviram pela voz sacra-lizada e bem audível do tribunal, naquele cenário pesado, rígido e hostil, publicitar o que queriam esquecer, como se o pesadelo se renovasse e num fôlego brutal se abatesse de repente a estilhaçar sem rodeios a sua intimidade; vi-ram e ouviram o discurso da lei, nas caras sérias dos juízes de be-cas pretas, que discursavam numa oralidade técnica sobre o que fi-zeram e não fizeram, sobre o que deveriam ter feito e deixado de fa-zer, sobre o seu corpo, a sua vida, o seu útero e os seus encontros e desencontros.

Ninguém perguntou – “E o que têm os Meritíssimos com isso?”, ninguém disse - “No meu corpo mando eu”, ninguém ousou se-quer questionar - “onde estão os

Numa altura em que a campanha para o referendo de 11 de Fevereiro está na rua, é importante lembrar-nos dos julgamentos da Maia, Aveiro e Setúbal TEXTO DE ALICE BRITO. FOTO DE PAULETE MATOS

JULGAMENTOS DO ABORTO LEI QUE PERSEGUE MULHERES

MOVIMENTO VOTO SIMWWW.VOTOSIM.BLOGSPOT.COMOito anos após a realização do Referendo sobre a despenalização do aborto a socie-dade portuguesa vai voltar a pronunciar-se sobre uma matéria que é transversal e so-bre a qual o nosso País tem uma legislação restritiva comparando com os outros paí-ses da Europa, sendo um país, para além da Irlanda, Malta e Polónia, que leva mu-lheres a Tribunal por terem interrompido uma gravidez, sujeitando-as a uma pena que pode ir até 3 anos de prisão.Na pergunta do referendo estão colocadas três questões essenciais:- a despenalização, que determina o fim da pena de prisão de 3 anos ou de outra pena para a mulher que abortou, logo no início da gravidez;- o fim do aborto clandestino, garantindo a

sua realização em condições de segurança nos estabelecimentos de saúde;- e o respeito pela mulher que tomou a decisão, sempre difícil, de interromper a gravidez nos casos previstos na LeiA resposta a esta pergunta só pode ser SIM, em nome da dignidade das mulhe-res, em nome da saúde pública.

JOVENS PELO SIMWWW.JOVENSPELOSIM.ORGA criminalização do aborto condena todos os anos milhares de mulheres a um cami-nho de clandestinidade, a que se associam perigos graves para a sua vida, saúde física e psíquica. É um flagelo que afecta em particular jovens e adolescentes. Esta realidade torna indis-pensável intervir activamente no processo

de alteração da lei actual, mobilizando a juventude portuguesa para a participação cívica no referendo que se avizinha e assegurando uma discussão alargada e esclarecida das van-tagens da despenalização do recurso ao aborto.

MÉDICOS PELA ESCOLHAWWW.MEDICOSPELAESCOLHA.PTA ausência das vozes dos profissionais de saúde no debate público sobre o aborto e outras questões ligadas aos direitos sexu-ais e reprodutivos (por exemplo a educação sexual nas escolas) tem sido evidente. Esta omissão tem sido extremamente profícua no que concerne à proliferação de mitos, falsas crenças e desinformação sobre as questões médicas e psicológicas relaciona-das com o aborto. Daí que identifiquemos a

necessidade premente dos profissionais de saúde se organizarem de modo a contribuí-rem para difundir conhecimentos científicos fidedignos e favorecer a formação no que concerne ao aconselhamento e ao exercício das técnicas médicas e cirúrgicas de abor-to mais seguras, eficazes e eficientes.O papel fundamental do profissional de saúde é contribuir e zelar pela saúde (em sentido lato tal como definido pela OMS) e bem estar pessoal da comunidade na qual está inserido, como sabemos o seu contri-buto para a saúde sexual e reprodutiva é crucial na medida em que a sexualidade é uma pedra basilar da saúde nas socieda-des ocidentais actuais.

EM MOVIMENTO PELO SIMPELADESPENALIZACAODAIVG.BLOGSPOT.COMFace à necessidade de aprovar uma nova lei, na Assembleia da República, um grupo de cidadãos e cidadãs criaram, em Feve-reiro de 2006, o Movimento pela Despe-

MOVIMENTOS CÍVICOS PELO SIMPara além da campanha dos partidos políticos, milhares de cidadãos organizam-se em movim entos de opinião para participar no processo de esclarecimento da sociedade portuguesa para o referendo do Aborto. Conheça os vários movi mentos que defendem o sim

Page 3: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

> > > > > > > > > > > > > > REFERENDO À DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO | ESQUERDA JANEIRO’07 | 3

NUNO RAMOS DE ALMEIDAEDITORIAL

A FUGA PARA A DERROTA! “CASO tivesse tomado outra decisão em 2003, Bush não estaria talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ser enforcado, tivesse anunciado o seu novo programa nuclear, em resposta ao dos seus rivais iranianos, que se diria agora de Bush? Em 2003, Saddam não dispunha de a �rmas de destruição maciça. Mas não podia consentir que isso fosse provado pelos inspectores da ONU, porque precisava de parecer que as tinha. Com o colapso inevitável do regime de contenção, tê-las-ia fatalmente adquirido”, escreveu no Público o historiador Rui Ramos.

Pior cego é aquele que não quer ver. Segundo o inefável Rui Ramos, a culpa da invasão é de Saddam, porque enganou a administração Bush fazendo-a pensar que tinha armas de destruição maciça. Aliás, as várias vezes que negou tê-las, não passou de uma estratégia maquiavélica para fingir que as tinha.

A direita portuguesa agarra-se a fábulas para justificar o seu apoio ao desastre total que se tornou a invasão do Iraque. O parágrafo do artigo de Rui Ramos é exemplar. A invasão norte-americana foi feita com a desculpa da existência de armas de destruição maciça no Iraque. Cada vez, que as pessoas que se opunham à carnificina lembravam que os inspectores da ONU não tinham conseguido descobrir tais armas, pessoas como Rui Ramos e Pacheco Pereira garantiam que os iraquianos não tinham conseguido provar que não as tinham e que todo o mundo sabia que elas existiam. Anos depois da invasão, tempos depois de não ter sido encontrada uma única arma de destruição maciça em território iraquiano, o argumento refina-se: já não se trata de provar que as tinham, mas de afirmar que as iriam certamente ter.

Tudo serve para justificar as notícias de uma notícia anunciada: mais 20 mil soldados norte-americanos para o Iraque. A fuga para a frente de George Bush não resolve nada. Antes do início da segunda guerra do Golfo, muitos defenderam que a democracia não se instaura na ponta dos mísseis; que não estava provado que o Iraque tivesse armas de destruição maciça; e, sobretudo, que a guerra só iria piorar a situação na região. Mas mesmo os mais pessimistas não esperavam um desastre tão grande. A guerra já matou mais de 600 mil iraquianos e o massacre está longe de terminar. Os esquadrões da morte actuam impunemente em todo o Iraque. Os civis são bombardeados pelos norte-americanos, torturados e executados pelos xiitas e vítimas de bombistas suicidas sunitas. Com todo o seu poder e o seu armamento multimilionário, a maior potência militar da história da humanidade não é capaz de dominar um só país. O mundo é hoje muito mais inseguro do que antes da invasão do Iraque. A sementeira do ódios lançado pelos norte-americanos vai ter infelizmente uma colheita de muitos mais milhar de mortos. Neste mundo global, esta colheita vai ser em todo o lado.

Apenas a recusa da política da guerra pode tornar o planeta mais seguro. Bush, Blair e os seus apoiantes enredam-se em mentiras e enredam-nos na guerra. Nos dias do início da guerra, o Bloco afixou um cartaz com o quarteto da “Cimeira da Guerra” (Aznar, Bush, Blair e o diligente Durão Barroso) com as palavras: “Eles Mentem, Eles Perdem”. Só a derrota de Bush e Blair pode fazer vencer a verdade e acabar com a carnificina.

JULGAMENTOS DO ABORTO LEI QUE PERSEGUE MULHERES

MOVIMENTOS CÍVICOS PELO SIMnalização do aborto cujo lema é – Interrupção Voluntária da Gravidez: a Mulher decide, a Sociedade respeita, o Estado garante.Do conjunto de acções que foram realizadas, destaca-se o Dia Nacional de Luta pela despe-nalização do aborto (a 28 de Junho) e o lan-çamento de um abaixo assinado subscrito por mais de 41 600 cidadãs e cidadãos - entregue ao Presidente da Assembleia da República a 15 de Setembro – reclamando deste órgão de soberania a aprovação de uma lei de despena-lização do aborto, a pedido da mulher até às 12 semanas, pondo fim a uma criminalização que ofende os mais elementares valores humanos e civilizacionais e representando uma intolerável agressão e ameaça às mulheres portuguesas.

MOV. CIDADANIA RESPONSABILIDADECIDADANIAPELOSIM.BLOGSPOT.COMO movimento apresenta-se como organizando cidadãs e cidadãos responsáveis e comprome-tidos/as com a defesa dos direitos humanos

e queremos intervir neste debate não como eleitoras/es de um ou outro partido político, ou mesmo sem partido, mas antes como pessoas conscientes dos seus deveres e direitos cívi-cos. E propõe-se defender o voto sim no referendo pelas seguintes razões:Porque o que está em causa não é o ‘direi-to ao aborto’, nem ‘ser a favor do aborto’, mas antes o respeito pelas mulheres que decidem interromper uma gravidez até às 10 semanas, por, em consciência, não se sentirem em condições para assumir uma maternidade. Porque a penalização do aborto dá origem à interrupção voluntária da gravidez em situação ilegal e insegura, o que tem consequências gravosas para a saúde física e psicológica das mulheres que a ela recorrem. Porque consideramos que a sujeição das mulheres a processos de investigação, acu-sação e julgamento pelo facto de fazerem um aborto atenta contra os valores da sua autonomia e dignidade enquanto pessoas humanas. Porque uma lei que despenalize o aborto não obriga nenhuma mulher a abortar.

homens, que nos teriam engra-vidado?”, a vergonha a cobrir grotescamente aquele friso de mulheres pobres, mãos húmi-das e gargantas secas, o coração a bater num galope sem freio, o medo a espreitar e em cada gesto a vergar a espinha das palavras que não saíram e a instalar-se num silêncio expectante de ani-mal ferido.

As mulheres da Maia foram na sua quase totalidade absolvidas porque se calaram.

Das duas que optaram por fa-lar, uma foi absolvida, porquanto o Tribunal entendeu ter já ocor-rido a prescrição por terem de-corrido 5 anos sobre a prática do alegado “crime”.

A outra foi condenada.A Europa a que tanto nos ga-

bamos de pertencer, e que ain-da nos olha com indisfarçável altivez, condenou inequívoca e indignadamente o julgamento, a lei, o processo, as condenações que dali saíram e toda esta des-pudorada situação, que nos en-vergonha a todos, habitantes que somos do séc. XXI.

Mirou-nos com a curiosidade e a distância com que se olham os parentes pobres, que compa-recem nas festas com os fatos a cheirar a naftalina, meio boçais e atrasados na sua forma de ler o mundo.

Podíamos ter aprendido algu-ma coisa com a dolorosa expe-

riência do julgamento da Maia. Mas pelos vistos, os poderes e os poderosos deste país gostaram do evento. E aí o temos de novo ree-ditado em Aveiro, onde em 2004 decorreu de igual modo um jul-gamento em que mais uma vez se sentam no banco dos Réus 7 mulheres acusadas da prática de aborto.

Desta vez porém, foi-se mais longe e aí se sentaram também, maridos, namorados, compa-nheiros, pais e até um motorista de táxi que levou uma das mu-lheres ao local onde alegadamen-te teria abortado.

Mais uma vez a polícia utili-zou escutas telefónicas, vigiou entradas e saídas de mulheres do local onde supostamente se rea-lizariam os abortos, e pasme-se, terá inclusivamente obrigado al-gumas das mulheres a realizarem exames ginecológicos.

O afã policial, absolutamente digno da Inquisição, denota com nítida evidência até que ponto o fundamentalismo moral dos defensores da actual lei pode chegar.

Setúbal seguiu-se neste roteiro absurdo; mais três mulheres jul-gadas em 2004, com a polícia a irromper no consultório da par-teira, uma polícia ágil no pesade-lo que ensombrou durante meses e anos, o tempo de decurso do julgamento e respectivos adia-mentos, o dia a dia das arguidas

neste processo-crime.O grande crime das mulheres

da Maia, Aveiro e Setúbal, foi o de não terem dinheiro para se deslocarem a Espanha ou a qual-quer outro país da Europa, para aí com dignidade e respeito pela sua intimidade e saúde, prati-carem este acto médico, que o aborto é.

Aquando do último referendo, todos aqueles que defendiam a continuação desta lei hipócrita, sussurravam numa falsa cordia-lidade que em Portugal as mu-lheres nunca seriam nem julga-das nem penalizadas por terem voluntariamente interrompido a gravidez.

Mentiam e pior do que isso, sabiam que mentiam.

Por isso é fundamental a mo-bilização para o próximo referen-do; é fundamental acertar as con-tas com a dignidade negada, com o cheiro a medo que se exalava destas mulheres mergulhadas num silêncio doloroso que não escondia contudo o barulhar de uma raiva legítima.

Vivemos em democracia há quase trinta anos. A lei que diz que o aborto é um crime é uma excrescência do fascismo que envergonha e humilha o regime democrático.

Mas não só. Envergonha-nos e humilha-nos a todos. Homens e mulheres. E a quem nada fizer para a mudar.

Para além da campanha dos partidos políticos, milhares de cidadãos organizam-se em movim entos de opinião para participar no processo de esclarecimento da sociedade portuguesa para o referendo do Aborto. Conheça os vários movi mentos que defendem o sim

Page 4: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

4 | ESQUERDA JANEIRO’07 | BALANÇO 2006 > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > >

DÉFICEO défice orçamental é o pretex-

to e a linha política. Na sequência dos governos da direita a dimi-nuição do défice é feita à conta de cortes nos serviços públicos es-senciais, no investimento público reprodutivo, nos impostos sobre o consumo. 4,6 % do Produto In-terno Bruto foi o número fetiche do ano: nem pensar em impostos a sério para o capital financeiro, as fortunas, ou medidas de investi-mento público que dinamizassem a economia e o emprego, aumen-tando a receita pública. Nem um único sobressalto pelo facto de 20% do produto não ser taxado.

4,6% extorquido às condições de vida do povo, Como os anuncia-dos 3,7 % para 2007. O défice é o pretexto para “Portugal não ficar fora da Europa”: esconde a linha política de privatizações, favores crescentes aos grupos empresa-riais, desenvolvimento de merca-dos privados em torno da oferta de saúde e de educação. O défice foi o pretexto para manter o desem-prego acima dos 7% da população activa ( números oficiais sub-ava-liados), quase meio milhão de pessoas sem trabalho. O défice foi o pretexto para desencadear um ataque generalizado ao poder de compra dos salários, no sector pú-

blico ou no mercado de trabalho. O resultado, em 2005 e 2006, é o agravamento dos índices de po-breza em Portugal, a desvaloriza-ção do salário médio e o aumento claro da desigualdade social. Para um governo que se diz “de esquer-da” não está mal, como se vê... O governo não quis renegociar as condições do Pacto de Estabili-dade na União Europeia porque quer levar a cabo o “ajustamento estrutural” da economia, como lhe reclamam o sectores financeiros, metendo medo com os castigos de Bruxelas. Isso não chegou porém.E tal como Salomé pediu a cabeça do Profeta numa bandeja, lá veio o

O primeiro-ministro Sócrates classifica a gestão do executivo como “ímpeto reformista”. Na linguagem dominante, oriunda da União Europeia ou de agências como o FMI ou a OCDE, as “reformas” equivalem a reduções do papel do Estado na economia e na sociedade.É o idioma liberal, o programa do mercado de capitais. 2006 foi, de facto, ano de ataque geral ao estado social TEXTO DE LUÍS FAZENDA

POLÍTICA O ÍMPETO ANTI-SOCIAL DE SÓCRATES

PAU

LETE

MAT

OS

Page 5: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

> > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > BALANÇO 2006 | ESQUERDA JANEIRO’07 | 5

O propagandeado crescimento da economia portuguesa é pífio e cada vez mais se alarga o fosso entre a economia portuguesa e os outros países da União Europeia. O ano de 2006 foi mau, o ano de 2007 não será muito melhor TEXTO DE FRANCISCO LOUÇÃ

Aeconomia portugue-sa terá crescido em 2006 cerca de 1,4%, podendo mesmo vir a ficar um pou-

co aquém deste número que constituiu a última projecção do governo. José Sócrates tem insistido em que se trataria de uma grande vitória, visto que o seu governo tinha anteriormen-te previsto um crescimento mais limitado de 1,1%, e que todas as agências internacionais pre-viam igualmente um valor des-sa ordem, que confirmaria que, depois da recessão mais longa entre os países europeus, Portu-gal estaria ainda em estagnação ou próximo dela. Pelo contrário, os 1,4%, puxados pelo valor das exportações - quando o consumo interno se mantém medíocre e os gastos públicos estão fortemente controlados - seria um sucesso, segundo o primeiro-ministro. Nada mais falso.

Mesmo que atingisse os 1,4%, a economia portuguesa estaria ainda muito longe da média de cresci-mento europeu e estaria a perder em comparação com a maioria dos seus parceiros, o que implica ris-cos acrescidos para o futuro. Com este crescimento, por outro lado, acentuam-se as políticas discrimi-natórias e desigualitárias nos sa-

lários e, pior ainda, não se criam empregos.

Assim, os dados do emprego são os mais esclarecedores sobre o tipo de recuperação que estamos a viver - um crescimento pequeno e sem novo emprego. É um cres-cimento, e que gera alguns postos de trabalho pelo simples facto de haver uma recuperação ligeira. Mas é um crescimento medíocre, sendo os níveis de emprego afec-tados pelos efeitos das deslocaliza-ções e pela distorção da procura: só no último trimestre houve mais 14 mil jovens licenciados no de-semprego. No Verão, ao contrário do que costuma acontecer com o emprego sazonal, o desemprego aumentou. No mês de Novembro voltou a aumentar em compara-ção com o mês de Outubro. E o governo prevê que, até 2009 - a data em que tinha prometido que só haveria 300 mil desempregados - o nível total de desemprego ande pelo contrário mais perto dos 400 mil. O fecho da Opel (1100 despe-dimentos directos) e a venda da PT à Sonae (ameaça de 3 mil despedi-mentos) agravam esta situação.

O problema é que os problemas são ainda mais vastos. O endivida-mento das famílias é o mais grave de todos: o rendimento disponível dos portugueses (rendimento to-tal depois de pagarem impostos) é

agora de cerca de 110 mil milhões de euros, mas as suas dívidas são de cerca de 145 mil milhões. Ora, com o aumento dos juros, que é decido no Banco Europeu em fun-ção da economia alemã, teremos o agravamento das dívidas sem que haja nem mais emprego nem mais rendimentos. Algumas famílias vão assim à falência.

Numa palavra, a economia tem ficado mais vulnerável, ameaça mais desemprego no futuro ime-diato, e em qualquer caso agrava a desigualdade. 2006 foi um ano mau para os trabalhadores e para a economia. 2007 pode não ser melhor, tanto mais que começam entretanto os ataques aos funcio-nários públicos, sendo de prever que um número significativo seja colocado na prateleira dos supra-numerários.

Deste ponto de vista, a política seguida, nomeadamente a da re-dução das pensões futuras e de privatização de serviços públicos, é a mais desigualitária, a mais con-servadora e a mais agressiva que o país tem conhecido - e também a mais triunfante. A defesa de servi-ços públicos de saúde, educação e segurança social é por isso o manifesto mais importante para a esquerda socialista que constitui a única alternativa à politica do go-verno Sócrates.

ECONOMIAPORTUGAL MAIS LONGE DA EUROPA

ataque à segurança social: baixou 20% em média o valor da forma-ção das pensões e encapotou um aumento da idade da reforma. O risco social é paulatinamente en-tregue aos fundos de pensões das seguradoras para quem pode fugir de pensões de miséria do sistema público. Esta política deixou os partidos da direita sem espaço próprio e entregues às suas crises. Sócrates , contudo, sublinhou no parlamento, com visível agrado, que o actual governo fez aquilo que os outros prometiam mas não cumpriam. Esta sinceridade tem sido recompensada pelo Presi-dente da República - todos com o “ímpeto reformista”! A dupla libe-ral Cavaco/Sócrates passa ao lado e agrava o maior défice do país: o défice social. Não por acaso os as-suntos fortes das campanhas elei-torais de ambos.

DEMAGOGIAO governo PS mantém uma

pressão forte sobre a opinião pú-blica. Primeiro, tentando dividir sectores populares, apresentando uns como privilegiados e outros como prejudicados. Este efeito já diminuiu porque entretanto as medidas negativas já tocaram a todos. É difícil apresentar um país inteiro como uma imensa “corporação”e os rapazes da Sonae como anjos da guarda.

Sobretudo, o governo artilha a manipulação das expectativas sociais com o discurso da inevi-tabilidade das medidas. Este é o governo que corta na segurança social para defender o estado so-cial, imagine-se! Os cortes na saú-de, na educação, no subsídio de desemprego, o que seja, são todos para defender sistemas públicos,

imagine-se! O governa especula com o medo social. “Antes hoje alguma coisa do que amanhã coisa nenhuma” é o slogan ministerial. Funciona, mas é reaccionário. A rejeição deste terrorismo ideoló-gico é a primeirissima causa de-mocrática dos direitos sociais.

Percebendo isso, o PS tenta arvo-rar consciência social com o com-plemento solidário para idosos ou com o acordo do salário mínimo. Não há que ter dó. O complemen-to de reforma beneficia um núme-ro pequeno de pessoas, no fínal de 2007 cerca de 5% dos reformados. O salário mínimo mantém-se dos mais baixos da Europa e abaixo da Grécia, Eslovénia e Malta.

Os governos de Cavaco introdu-ziram o 14º mês de pensão para os reformados e o novo sistema re-tributivo para a função pública.Os governos de Guterres trouxeram o

rendimento mínimo e a educação pré-escolar. Essas foram medidas com impacto social muito signifi-cativo e, no entanto, não alteraram a característica de governos que foram cumpridores do curso do neo-liberalismo. O governo de Só-crates, em cerca de dois anos, não tem nada de realizado ou anun-ciado que se aproxime sequer dos exemplos mencionados.

A demagogia feita pelo brinde fácil anda ao nível da loja dos tre-zentos. O que sobra é mesmo a demagogia da intimidação sobre as vidas precárias.

DESGASTE2006 assistiu a um pico de luta

social. Manifestações e greves mar-caram a contestação. A megama-nifestação da CGTP, em Outubro, provocou dores de cabeça ao go-verno. Na sequência, Sócrates saiu

com ameaças no congresso do PS. O primeiro-ministro não gosta da voz da rua. Mas é essa voz da rua, exactamente, que vai contrariar a liquidação total do estado social. É a voz da rua que vai afirmar que o défice social tem rostos, tem vítimas que o robótico ministro das finan-ças desconhece. A defesa dos servi-ços públicos, afigura-se como uma batalha prolongada onde o governo pode perder a pele. O desgaste do governo, a passagem de muitos ci-dadãos do luto pelo PS para a luta pelos direito sociais, essa é a via para paralisar o “ímpeto reformis-ta” e para discutir outras soluções que não sejam mais-do-mesmo. 2007 - a inquietação pela rua, cer-tamente com uma luta social mais confiante após a vitória do sim no referendo de 11 de Fevereiro pela despenalização do aborto. Novo ano, ímpetos diferentes.

POLÍTICA O ÍMPETO ANTI-SOCIAL DE SÓCRATES

Page 6: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

Há a sensação de que o caso que agora vivemos – o caso Gondomar – é apenas a ponta do icebergue. Para lá da manipulação de resultados, há uma dimensão criminal que passa por assuntos como os referentes aos processos de Vale e Azevedo e de Pimenta Machado, dimensão que terá mais que ver com práticas de branqueamento de capitais e semelhantes...Gostava de sublinhar que a ne-cessidade da gestão transparente não é apenas a necessidade de um

futebol limpo e sério. É também uma questão de ganhar o melhor, um problema de mérito. Veja-se, por exemplo, a questão fiscal. A questão da evasão fiscal tem uma grande exuberância entre nós. Por volta de 2002, por exemplo, o Expresso referiu a correcção de declarações fiscais de empresários de futebol na ordem dos milhões. Há vários aspectos inexplicáveis e contraditórios entre si. Muitos clu-bes têm despesas superiores às re-ceitas, estão tecnicamente falidos e fazem-se contratações milionárias. De onde vem o dinheiro?

As SAD foram criadas procurando um novo

financiamento aos clubes e, todavia, domina o espectro da falência...Se não há fiscalização devida, em qualquer parte da economia e do mundo, quem tem proventos de actividades desonestas pode cana-lizar os seus lucros para lá e assim lavá-los. A evasão fiscal é aliás um crime precedente do branquea-mento de capitais. Havendo eva-são fiscal, o dinheiro subtraído aos impostos tem que ira para qual-quer lado e tem que ir lavado. Não pode estar ligado ao crime que lhe deu origem. Eu não me quero re-ferir agora a determinadas práticas existentes no interior do futebol. Que também me dizem que, se não são utilizadas, os clubes sufocam. Mas, então, o mal vem de muito longe... Com isto não digo que não há clubes interessados em gestões transparentes. Eu não tenho qual-quer paixão clubística, mas não me custa reconhecer que o Sporting tem tido, pelo menos, um discurso de defesa da transparência. Mas há, cada vez mais, novas situações à margem da lei. Em Itália, por exem-plo, onde o fenómeno será ainda mais sofisticado – porque a fisca-lização será também mais apertada –, há o caso da Parmalat/Parma. Aí, as acções da empresa eram insufla-das artificialmente para cotação na bolsa através de compras e vendas artificiais de passes de jogadores. Por vezes eram mesmo compras fictícias. Chama-se a isso o ‘do-ping contabilístico’. Tudo estoirou agora. Com falências brutais, le-

vando ao desemprego de famílias e prejudicando gravemente a eco-nomia. Com estas práticas sucede que os próprios clubes de futebol se transformam num buraco negro da economia, num offshore, algo subtraído à fiscalização normal. Isso é cada vez mais prejudicial para o próprio futebol em si. A cer-ta altura ninguém sabe muito bem onde está o mérito. Neste contexto, o que é espantoso é que a classe política tenha um fototropismo em relação a esse mundo.

A propósito dos estádios e dos apoios públicos, como se pode defender que clubes transformados em empresas, que visam antes de mais os seus lucros, beneficiem do estatuto de ‘utilidade pública’, estatuto esse que permite as referidas ‘políticas de solo’ ou os benefícios fiscais?A questão é a hipocrisia e a opa-cidade. É claro que se usa o es-tatuto de utilidade pública para benefícios fiscais, doações de terrenos ou para subsídios. Como por exemplo sucedeu em relação ao ‘Euro 2004’, com a criação de empresas ligadas ao negócio do ‘Euro 2004’. Se, por causa disso, mais tarde, até se vier a descobrir que se praticaram determinadas fraudes, descobriremos que o estatuto de utilidade pública foi mais uma facilidade, mais uma cortina. Mas, também, se tirarmos

o estatuto de utilidade pública, tudo continuará a acontecer na mesma. As questões centrais são a contabilidade paralela, a promis-cuidade com o poder político, a acumulação de cargos com confli-tos de interesse.Tratam-se sempre de formas de fi-nanciamento. Há casos que serão legítimos, outros que começam por ser legítimos e que derrapam, outros que pareciam uma coisa e depois outra... A questão é a das contrapartidas políticas relativa-mente a todos esses processos.

Há também um problema que tem que ver com a concertação de gestões. Quando a direcção de um clube é a mesma que a de um canal televisivo, por exemplo, as relações entre as entidades tornam-se progressivamente invisíveis...Essa é a natureza da questão dos conflitos de interesse. É a acu-mulação de cargos e o abuso de posições dominantes que dá a he-gemonia no mercado.

Defende que a justiça desportiva se integre na justiça civil?Sim, defendo uma normalização. A participação em estruturas des-portivas amolece – para não dizer coisas piores – a consciência dos magistrados. Nunca achei bem. É um ponto de vista pessoal que tenho há muito tempo.

6 | ESQUERDA JANEIRO’07 | ENTREVISTA > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > >

A actual responsável pela investigação da corrupção no futebol, Maria José Morgado, e o antigo presidente do Sporting Dias da Cunha deram, em Maio de 2004, uma entrevista à Revista Manifesto. Publicamos no Esquerda excertos desse trabalho, apresentando algumas respostas da actual responsável pela investigação da corrupção no Futebol ENTREVISTA DE HEITOR DE SOUSA E JOSÉ NEVES

«

«

QUESTÕES CENTRAIS SÃO A CONTABILIDADE PARALELA E A PROMISCUIDADE COM O PODER POLÍTICO

MARIA JOSÉ MORGADOAN

TON

IO C

OTR

IM/L

USA

Page 7: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

GLOBALJORNAL DA DELEGAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA NO GUE/NGL NO PARLAMENTO EUROPEU

2007AS FOTOGRAFIAS MOSTRAM-NOS A

PRESENÇA DOS MILITANTES DO BLOCO

A PARTICIPAR NA DELEGAÇÃO DO

GUE/NGL, NUMA MANIFESTAÇÃO

INTERNACIONAL, EM BRUXELAS,

CONTRA AS DESLOCALIZAÇÕES E

O ENCERRAMENTO DA FÁBRICA DA

VOLKSWAGEN NA BÉLGICA.

EM 2007, AS LUTAS NÃO VÃO PARAR. O BLOCO DE ESQUERDA VAI MOBILIZAR ESFORÇOS, JUNTO A ACTIVISTAS DE TODO O MUNDO, NA LUTA CONTRA A GUERRA. NO FINAL DE MARÇO, O BLOCO ORGANIZARÁ COM O GUE/NGL A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL “A CIDADE É DE TOD@S” . EM JUNHO, QUANDO OS GRANDES DO MUNDO PRETENDEREM IMPOR-NOS A SUA AGENDA NA CIMEIRA DO G8, NA ALEMANHA, ESTAREMOS PRESENTES, COM CENTENAS DE MILHAR DE PESSOAS, NAS RUAS DE ROSTOCK, PARA DIZER QUE “UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL”.

DURANTE O VERÃO, VAMOS TER A

ACÇÃO DO BLOCO, DO GUE/NGL, DAS

ESQUERDAS ANTI-CAPITALISTAS E

DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA

SOBRE A CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS

ALTERNATIVAS DAS ESQUERDAS

EUROPEIAS À PRESIDÊNCIA

PORTUGUESA DA UNIÃO EUROPEIA.

DE TODAS AS LUTAS

FOTO

S D

E P

EDR

O V

ICEN

TE

Page 8: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

2006

II | GLOBAL JANEIRO’07 | 2006: BALANÇO GLOBAL > > > > > > > > > > > > > > > > > > > >

Os resultados eleitorais de 7 de Novembro, com uma derrota em toda a linha dos Republicanos, dão voz ao repúdio pela

hiper-concentração de poder nas mãos da direita mais conservadora e pelas políticas que conduziram a América ao bloqueamento que agora vive e que dão corpo a uma situação de estado de emergência continua-do. Bush e o ultra-conservadorismo pagaram também pela arrogância das políticas discriminatórias que tinham tido na incompetente res-posta ao Katrina a sua expressão mais drástica.

A esse autoritarismo castigado nas urnas tem-se associado - e 2006 só acentuou essa tendência - uma condução da política económica profundamente ambivalente. De um lado, uma lógica globalizado-ra traduzida no domínio, de esca-la mundial, de fontes de energia e outras matérias-primas e dos eixos fundamentais da sua circulação. Os depósitos petrolíferos e as grandes redes de distribuição (no Cáucaso, no Médio Oriente, etc.) são hoje o eixo prioritário da geoeconomia mundial conduzida por Washing-ton e motivação maior da sua es-tratégia política imperial. Mas, a par desta estratégia de globalização dos mercados, os Estados Unidos evidenciam traços de fechamento muito claros, decorrentes da deriva securitária adoptada desde 2002. A política de imigração materiali-za este traço: da obstaculização à concessão de autorizações de resi-dência às políticas de expulsão em massa, passando pela construção do muro na fronteira com o México, é a mesma lógica de criminalização da imigração que se insinua, dan-do azo a uma contestação pública de dimensões inéditas como a que trouxe para a rua centenas de mi-lhares de imigrantes e activistas de direitos humanos em Março.

Apesar de tudo, como diagnosti-cou Immanuel Wallerstein, “os que estão dispostos a olhar de frente as falácias das políticas dos Estados Unidos são uma minoria - mais ainda, uma minoria sem uma agen-da clara e certamente sem um líder político de peso para expressar uma visão alternativa”. Nesse sentido, o alcance da vitória democrática de Novembro tem que ser matizado. Sendo uma importante mudança, é uma evidente mistifi cação afi rmar que ganhou a esquerda. Para além

das vitórias locais de candidatos democráticos com uma agenda pro-fundamente conservadora, importa vincar a convergência entre as duas direcções partidárias em torno da convicção no excepcionalismo ame-ricano e na conveniência de uma al-teração de forma (concretizada em mais habilidade diplomática e mais procedimentos multilaterais) , em detrimento de mudanças substanti-vas (uma agenda política diferente).

Ora, a derrota na guerra do Ira-que radicaliza as contradições na sociedade americana e confronta os norte-americanos com a necessida-de de algo bem mais denso do que a simples mudança cosmética. Porque a questão de fundo com que se de-para hoje o povo americano é a de saber se se opera ou não uma rup-tura com o messianismo americano - a crença numa espécie de missão sagrada de civilização atribuída por Deus aos Estados Unidos para pro-moverem os seus valores e ideais por todo o mundo, incendiando-o se necessário for - de que esta Ad-ministração foi protagonista.

Rumsfeld, saído de cena depois das eleições de Novembro, era o protagonista da resposta negacio-nista a esta pergunta. Para ele e para o seu grupo, os Estados Unidos não só não estão em decadência como o seu poder é uma força do bem para o mundo. E sobre essa convicção messiânica construíram uma du-pla estratégia. Externa em primeiro lugar: guerra preventiva e apologia grosseira do estado de excepção, com violação grave das regras bási-cas do direito humanitário, designa-damente da proibição da tortura e do respeito pela dignidade essencial dos prisioneiros de guerra. Interna depois: exacerbação dos poderes presidenciais, no quadro de uma suposta guerra contra agressores da América.

O trauma de mais uma derrota militar séria (quando o síndrome do Vietname não tinha sido resol-vido na sociedade americana) traz consigo um dilema que Wallerstein enunciou: ou o país se deixa domi-nar pela raiva da impotência e faz do cercear das liberdades a sua res-posta, ou assume uma tomada de consciência colectiva, um sobres-salto cívico que proporcione um regresso à melhor América, a dos valores cívicos da liberdade, da crí-tica e da insubmissão.

Essa é já a mãe de todas as bata-lhas para os Estados Unidos..

EUAA MÃE DE TODAS AS BATALHAS

O ano de 2006, para os Estados Unidos, viveu-se no Iraque. A guerra e a derrota política e militar norte-americana foram não só o facto maior da agenda política norte-americana mas o catalisador das crescentes contradições que atravessam aquele país. Essas contradições têm três expressões principais que se acentuaram dramaticamente ao longo de 2006: um ataque inédito às liberdades fundamentais do povo americano, um sentido fortemente regressivo nas políticas económicas e sociais e uma política externa desvairada TEXTO DE JOSÉ MANUEL PUREZA

Protesto contra a execução de Saddam na capital da Jordânia, o país vizinho que acolhe cerca de 750 mil refugiados iraquianos.

EPA

/JA

MA

L N

ASR

ALL

AH

Uma das principais prioridades da esquerda europeia integrada no GUE/NGL foi a exigência da retirada das tropas estrangeiras do Iraque e a necessidade de uma mudança democrática na política dos Estados Unidos da América. José Manuel Pureza, Tariq Ali e Immanuel Wallerstein fazem o ponto da situação acerca do confl ito global que atravessou 2006

Page 9: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

2006

> > > > > > > > > > > > > > > > > > > > 2006: BALANÇO GLOBAL | GLOBAL JANEIRO’07 | III

Mudaram-se os juí-zes em função das ordens de Wa-shington, houve advogados de de-

fesa assassinados e todo o processo assemelhou-se a um linchamento perfeitamente orquestrado.

Onde Nuremberga foi a mais digna aplicação da justiça do ven-cedor, o caso de Saddam foi, até agora, a mais crua e grotesca. A re-ferência do presidente dos Estados Unidos ao julgamento como “um passo no caminho da democracia iraquiana” constitui a melhor indi-cação de que foi Washington quem puxou o gatilho. Os dirigentes da União Europeia, presumidamente contrários à pena capital, optaram pela passividade como de costu-me.

Ainda que em Bagdad algumas facções xiitas tenham comemora-do, os números dados a conhecer por uma organização verdadeira-mente independente, o Iraq Centre for Research and Strategic Studies (ICRSS - Centro de Investigação e Estudos Estratégicos do Iraque), revela que 90% dos iraquianos sentem que a situação do país era melhor antes da ocupação.

O estudo do ICRSC foi baseado em detalhadas entrevistas realiza-das casa a casa durante a terceira semana de Novembro de 2006. Só 5% dos inquiridos responderam que o Iraque está melhor que em 2003. 89% das pessoas disse que a situação política se deteriorou, 79% viu um declínio na situação económica, 12% sente que as coi-sas melhoraram e 9% disse que não houve mudança.

Não é nenhuma surpresa que 95% considere que a situação quanto à segurança está pior que antes. Interessante, cerca de 50% dos inquiridos identifi cou-se sim-plesmente como muçulmanos, 34% como xiitas e 14% como su-nitas. Acrescente-se a isto os da-dos fornecidos pelo Alto Comis-sário das Nações Unidas para os Refugiados: 1 600 000 iraquianos (7% da população) fugiu do país desde Março de 2003 e outros 100 000 abandonam-no em cada mês (cristãos, médicos, engenheiros, mulheres). Na Síria há um milhão de iraquianos, 750 000 na Jordâ-nia, 150 000 no Cairo.

Estes são refugiados que não excitam a simpatia da opinião pública ocidental, já que são cau-

sados pela ocupação dos Estados Unidos (com o apoio da União Eu-ropeia). Estes não são comparados (como foi o caso do Kossovo) com as atrocidades do Terceiro Reich. Talvez tenham sido estas estatísti-cas (e a estimativa de um milhão de mortos iraquianos) que tenha tornado necessária a execução de Saddam Hussein?

Não se discute que Saddam era um tirano, mas o que se quis convenientemente esquecer é que muitos dos seus crimes foram co-metidos quando era um aliado in-condicional dos que agora ocupam o país.

Foi, como ele admitiu numa das sessões do julgamento, a aprovação de Washington (e o gás venenoso fornecido pela Alemanha Ociden-tal) que lhe deu confi ança para ar-rasar Halabja com armas químicas em plena guerra entre o Irão e o Iraque. Ele merecia um verdadeiro julgamento e punição num Iraque independente. Não isto.

Os padrões dúplices usados pelo ocidente não deixam nunca de nos espantar. Suharto, que presidiu à Indonésia por cima de uma mon-tanha de cadáveres (pelo menos um milhão, aceitando números por baixo), foi protegido por Wa-shington. Ele nunca os irritou, como Saddam.

E que é feito dos que criaram o desastre no Iraque de hoje? Dos torturadores de Abu Ghraib, dos carniceiros de Fallujah, dos exe-cutores de limpezas étnicas de Bagdad, do patrão da prisão curda que se vangloria de que o seu mo-delo é Guantánamo. Serão Bush e Blair algum dia julgados pelos seus crimes de guerra? É duvidoso. E Aznar, que agora está empregado como professor da Universidade de Georgetown em Washington, onde o idioma é o inglês, que ele praticamente não fala. A sua re-compensa é uma punição para os estudantes.

É possível que o linchamento de Saddam tenha produzido calafrios nas classes governantes árabes. Se é possível enforcar Saddam, tam-bém se pode enforcar Mubarak, o jóquer hachemita de Amã ou os reis sauditas - sempre que os que os derrubem gostem de fazer o jogo de Washington.

Este artigo foi publicado no jornal britânico The Guardian a 30 de Dezembro de 2006

IRAQUELINCHADO PELA MÁFIA

É simbólico que 2006 tenha terminado com um enforcamento no mais puro estilo

colonial, mostrado quase por completo na televisão estatal do Iraque ocupado.

Foi um ano muito desse estilo em todo o mundo árabe. O julgamento de Saddam foi tão descaradamente manipulado que

até a Human Rights Watch - a maior unidade da indústria americana dos

direitos humanos - teve de condená-lo por o considerar uma farsa TEXTO DE TARIQ ALI

Protesto contra a execução de Saddam na capital da Jordânia, o país vizinho que acolhe cerca de 750 mil refugiados iraquianos.

Uma das principais prioridades da esquerda europeia integrada no GUE/NGL foi a exigência da retirada das tropas estrangeiras do Iraque e a necessidade de uma mudança democrática na política dos Estados Unidos da América. José Manuel Pureza, Tariq Ali e Immanuel Wallerstein fazem o ponto da situação acerca do confl ito global que atravessou 2006

Page 10: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

ESQUERDA/GLOBAL | JORNAL DA DELEGAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA NO GUE/NGL NO PARLAMENTO EUROPEU | WWW.MIGUELPORTAS.NETEDIÇÃO: MIGUEL PORTAS DIRECTOR: NUNO RAMOS DE ALMEIDA EDITOR GRÁFICO: LUÍS BRANCO EDITORA FOTOGRÁFICA: PAULETE MATOS REDACÇÃO: ANDRÉ BEJA, CARLOS SANTOS,

CARMEN HILÁRIO, LUÍS LEIRIA E RENATO SOEIRO IMPRESSÃO: RAINHO & NEVES, LDA / STA. Mª DA FEIRA DEP. LEGAL: 219778/04 DISTRIBUIÇÃO: GRATUITA TIRAGEM: 10 MIL EXEMPLARES

IV | GLOBAL JANEIRO’07 | GUERRA DO IRAQUE > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > >

Éverdade que o presiden-te admitiu pela primeira vez que os Estados Uni-dos ainda não estão a ganhar no Iraque, mas,

diz ele, também não estão a perder. O número de pessoas que acredita nisto, nos Estados Unidos e fora, é cada vez menor. Um sondagem feita no início de Dezembro em seis nações ocidentais mostra que 66% dos americanos estão a favor da retirada das forças da coligação, e na Itália, Alemanha, Inglaterra, Es-panha e França, estes números vão de 73% a 90%. Como o Financial Times disse num editorial, “Raras vezes os Estados Unidos tiveram tanta necessidade de amigos e de aliados.”

E, em 7 de Dezembro, aniversá-rio de Pearl Harbour, um senador republicano, Gordon Smith, que tinha apoiado a guerra desde o iní-cio, anunciou a mudança de posi-ção. “Eu, pela minha parte, estou no fim da linha quando se trata de apoiar uma política que mantém os nossos soldados a patrulhar as mesmas ruas, da mesma maneira, fazendo-se explodir pelas mesmas bombas, dia após dia. Isto é absur-do. Pode até ser criminoso. Já não posso apoiar mais isto.”

Por que está Bush a fazer esta grande encenação sobre uma nova estratégia, quando tenciona clara-mente continuar a antiga? Duas razões: as eleições de Novembro, e o relatório Baker-Hamilton. As eleições mostraram a Bush que a política do Iraque causou um sério desgaste na força eleitoral do Par-tido Republicano. Será claramen-te preciso mais do que despedir Donald Rumsfeld para reverter a actual queda livre dos candidatos republicanos, particularmente se 2007 trouxer aumento nos núme-ros de baixas no Iraque, se trouxer uma limpeza étnica crescente, uma maior queda do dólar e um maior declínio dos padrões de vida dos 80% mais pobres da população dos EUA.

Quanto ao relatório Baker-Ha-milton, a sua frase inicial é “A si-tuação no Iraque é grave e está a deteriorar-se.” Discutiu-se muito se este relatório do Grupo de Estu-dos do Iraque poderia convencer Bush a seguir as suas inúmeras, e

nem todas ousadas, sugestões de mudança. Mas este nunca foi o seu objectivo. Nem Baker nem Hamilton são bobos. Ambos são velhos profissionais da política dos EUA. O objectivo do relatório era legitimar as críticas do establish-ment tradicional do centro da vida política americana, e claramente conseguiu-o. Observem a declara-ção do senador Smith. Observem o crescente arrojo dos oficiais mi-litares quando tornam público o seu cepticismo.

O que vai então acontecer? Bush vai optar pelo plano de ampliar o número de tropas americanas. Como foi assinalado por todos os comentadores sérios, isto não vai fazer qualquer diferença. Claro, se os EUA mandassem 300 mil soldados, talvez conseguissem es-magar tanto a insurgência quanto a guerra civil. Mas enviar mais 30 mil soldados será uma incrível

pressão sobre o estado e a moral dos militares americanos. Em Ju-nho de 2007, o mais tardar, ficará claro até para o mais teimoso cego, como George W. Bush e os neo-conservadores sobreviventes, que os Estados Unidos estão num beco sem saída e feridos de morte.

Mas então porque é que Bush não abandona logo esta estratégia que tanto prejuízo lhe dá? Não pode. Toda a sua presidência gira em torno da guerra do Iraque. Se ele tentar reduzir as perdas, estará a admitir que é o responsável por um desastre nacional. Por isso, não tem escolha senão tentar prosse-guir o bluff até 2009, e entregar o desastre a outro. Quer dizer: não há escolha que seja aceitável por ele. Mas Bush vai aprender uma coisa nos próximos 18 meses. A situação está fora de controle e até o presidente dos Estados Unidos pode ser forçado a fazer coisas que

acha abomináveis.Em primeiro lugar, há a pressão

do eleitorado dos EUA e conse-quentemente dos políticos. O número de republicanos racio-nais e de democratas tímidos que querem distância da guerra cresce diariamente. Já podemos observar este fenómeno nas declarações do senador Joseph Biden - um dos se-nadores democratas mais conser-vadores, e próximo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado - de que fará audições (audições claramente hostis) sobre os objectivos de um aumento de tropas no Iraque. O meu palpite é que, na acalorada disputa demo-crata sobre a nomeação presiden-cial, haverá um impulso - lento, no início e depois muito acelerado - para uma posição abertamente antiguerra. Vemos isto nas posi-ções que estão a ser assumidas pe-los aspirantes à nomeação Barack

Obama e John Edwards. Hillary Clinton não estará muito tempo atrás deles. E, quando isso acon-tecer, ou os aspirantes republica-nos seguem o mesmo caminho ou condenam-se à derrota eleitoral.

Além disso, há os generais. Pare-ce que o novo Secretário da Defesa, Robert Gates, recebeu o encargo de pôr os militares dissidentes na li-nha. O general John Abizaid vai-se “reformar” dentro de poucos me-ses e o general George Casey tem atenuado a sua oposição aberta. O próprio Gates teve provavelmente de engolir muitos sapos para se-guir esta política. Quanto tempo isto vai durar? Seis meses no má-ximo.

A vida é difícil para um coman-dante-em-chefe que perde as guer-ras. Isto vale para todos os lados e todos os tempos. Não vai ser diferente nos Estados Unidos da América..

QUE NOVA ESTRATÉGIA PARA O IRAQUE?O presidente George W. Bush vem proclamando desde há um mês que está à procura de uma “nova estratégia” para a “vitória” no Iraque, e que está a fazer consultas amplas sobre que estratégia deve ser essa. Dadas todas as pistas e informações que chegam, são poucos os que estão de respiração suspensa à espera do discurso presidencial que vai revelar as suas decisões. A nova estratégia promete ser a velha estratégia, talvez com a diferença de um aumento de tropas americanas em Bagdad TEXTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN*

George Bush discursando ao lado de Condoleezza Rice e Robert Gates, o substituto de Rumsfeld à frente da pasta da defesa

EPA

/SH

AWN

TH

EW

*PUBLICADO NO ESQUERDA.NET

Page 11: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

> > > > > > > > > > > > > > > > > FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2007 | ESQUERDA JANEIRO’07 | 7

Sob o lema de Um Outro Mundo é Possível realiza-se o VII Fórum Social Mundial, nos próximos dias 20 a 25 de Janeiro de 2007. O encontro na cidade africana de Nairobi, no Quénia, acontece um ano depois da edição policêntrica do FSM em Bamako, Mali (nas fotos) TEXTO DE ISABEL SEMEDO

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL NO QUÉNIA

É a primeira vez que se re-aliza este encontro no continente africano. Esta edição do FSM trará acti-

vistas, redes, plataformas, ONGs, organizações da sociedade civil e outras forças progressistas da Ásia, América Latina, Caraíbas, Améri-ca do Norte, Europa, África, que convergem a Nairobi, para 5 dias de trabalhos.

Com o lema “As Lutas das Pes-soas, as Alternativas das Pesso-as” (People’s Struggles, People’s Alternatives), as actividades do FSM centram-se em nove eixos centrais:1. Pela construção de um mundo de paz, justiça, ética e respeito pe-las espiritualidades diversas2. Pela libertação do mundo do domínio das multinacionais e do capital fi nanceiro3. Pelo acesso universal e sustentá-vel aos bens comuns da humani-

dade e da natureza4. Pela democratização do conhe-cimento e da informação5. Pela dignidade, diversidade, garantia da igualdade de género e eliminação de todas as formas de discriminação6. Pela garantia dos direitos eco-nómicos, sociais, humanos e cul-turais, especialmente os direitos à alimentação, saúde, educação, habitação, emprego e trabalho digno7. Pela construção de uma ordem mundial baseada na soberania, na autodeterminação e nos direitos dos povos8. Pela construção de uma econo-mia centrada nos povos e na sus-tentabilidade9. Pela construção de estruturas políticas realmente democráticas e instituições com a participação da população nas decisões e controle dos negócios e recursos públicos

APELO DE NAIROBIO FSM 2007, em Nairobi, representa a possibilidade da participação de muitos movimentos sociais africanos. Este é um lugar com bastante signifi cado para as organizações ligadas às migrações. África é hoje o símbolo da pauperização económica e social produzido pela exploração dos países do Sul pelos do Norte, pelo êxodo das pessoas qualifi cadas, pela exploração dos trabalhadores migran-tes não qualifi cados.

Assim, um conjunto alargado de organizações pelos direitos dos imigrantes lan-çou um apelo ao FSM de Nairobi que defende o lançamento das seguintes campanhas:

contra as medidas repressivas e militarização fronteiriça;para a eliminação de todos os campos de concentração de refugiados e para a liberdade de circulação;pelo reconhecimento dos direitos iguais para todos, inde-pendentemente das condições administrativas de cada um e cada uma e o estádio do processo migratório;para a assinatura, a ratifi cação e da colocação em prática da Convenção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e das suas Famílias, Convenção 143 da Organização Internacional do Tra-balho sobre trabalhadores migrantes e a Convenção 49 con-tra o Tráfi co de Seres Humanos;para o alarga-mentodo critério para o reco-nhecimento do estatuto de refugia-do;pelo direito a viver em família.

NO MEIO DE UM CAMPO DE BATALHANum país cercado pelos confl itos da Somália, Etiópia e Sudão, as tensões da guerra serão parte do próximo encontro do Fórum Social Mundial em Nairobi, no Quénia TEXTO DE RITA FREIRE*Neste inicio de 2007, um país e uma região africana em confl ito estão no imaginário dos movimentos sociais e altermundistas que participarão de mais uma jornada do Fórum Social Mundial. Situado no leste africano, o Quénia que em Janeiro receberá activistas de todo mundo é banhado pelo Oceano Índico e cercado por uma vizinhança em guerra .Na fronteira norte do Quénia, sede do encontro, está a Etiópia, que no fi nal de 2006 mo-bilizou as suas tropas para defender o governo transitório de outro país, a Somália, vizinha nordestina do Quénia. O governo não é aceite por uma grande parte da população de religião islâmica.A Etiópia interviu na guerra da Somália com o apoio da União Africana, contra os Tribunais Islâmicos que detinham o controle de toda parte sul do país vizinho, incluindo a capital, Mogadiscio. Estes tribunais, por sua vez, têm apoio de outro país do Corno da África, a Eritreia.Ao lado da Etiópia, a noroeste do Quénia, está o Sudão, que atravessa dias não menos dra-máticos. A tragédia vem de alguns anos, enquanto a ONU decidia se o que estava ocorrendo lá seria ou não seria genocídio. O facto é que mais de 200 mil pessoas foram dizimadas na região de Darfur, desde 2003. A população africana negra acusa as milícias árabes, Janja-weed e apoiantes do go-verno sudanês, de junto com este terem promovi-do o genocídio. Mais de 2,5 milhões de pessoas estão refugiadas. É neste contexto regional que ocorrerá o FSM, pela primeira vez tão perto dos confl itos sangrentos envolvendo questões ét-nicas e culturais, com a miséria e a globalização como panos de fundo.* CIRANDA DA INFORMAÇÃO INTERNACIONAL

ZOU

LZO

UL

Page 12: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

8 | ESQUERDA JANEIRO’07 | DOSSIER CÂMARA DE LISBOA > > > > > > > > > > > > > > > > > > >

A gestão da actual maioria da Câmara Municipal de Lisboa tem estado constantemente envolta em polémica em pouco mais de um ano de mandato. Neste dossier damos conta de alguns escândalos que foram notícia. Os prémios indevidos a administradores da EPUL e associadas, os contratos vitalícios de directores da EPUL, as comissões indevidas recebidas em três concursos públicos lançados pela EPUL, os oito milhões de euros pagos pelos acessos ao novo estádio da Luz não autorizados pelos órgãos camarários, a isenção do pagamento de 600 mil euros ao promotor imobiliário num empreendimento na Av. Infante Santo, o loteamento na Azinhaga da Salgada em Marvila contra o pedido do ministro das obras públicas TEXTO DE LUÍS LEIRIA E CATARINA OLIVEIRA

NEGROS HÁBITOS

Page 13: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

> > > > > > > > > > > > > > > > > > > DOSSIER CÂMARA DE LISBOA | ESQUERDA JANEIRO’07 | 9

Segundo foi tornado público pelo jornal Ex-presso em 23 de Se-tembro passado, 15

directores da EPUL terão um regime contratual “vi-talício”, situação que continua por esclarecer.Uma outra questão, relacionada com os prémios, e que se mantém também em aberto, prende-se com o facto dos administradores que têm assento em diversos Conselhos de Administração da EPUL e suas participadas acumularem as respectivas re-munerações.Segundo as notícias que vieram a público, resulta-do de uma investigação do jornal Expresso (de 23 de Setembro de 2006), existiriam 15 directores da EPUL, que alegadamente ocupariam os seus cargos sob um regime contratual “vitalício”, representando esses contratos um custo anual de 1, 2 milhões de contos ao erário público. De acordo com o semaná-rio os cargos em causa foram criados por Sequeira Braga (ex-secretário de Estado no primeiro gover-no de Cavaco Silva), quando este assumiu a pre-sidência da empresa e Santana Lopes dirigia a autarquia.

EPULPRÉMIOS INDEVIDOS A ADMINISTRADORES

ONZE administradores da EPUL e empresas associadas receberam indevidamente uma verba global de 180 mil euros de prémios de “produtividade” respeitantes a 2004 e 2005. A atribuição violou uma resolução do Conselho de Mi-nistros e foi tomada sem qualquer deliberação dos órgãos sociais ou da tutela. A 19 de Setembro pas-sado, depois de alguma polémica, a maioria do executivo munici-pal acabou por reconhecer que os pagamentos foram indevidos, que não havia decisão da tutela e garantir que seriam devolvidos na totalidade.

Em início de Setembro passado o vereador Sá Fernandes apresen-tou um pedido de esclarecimento à vereadora do Urbanismo, Ga-briela Seara sobre os prémios de gestão atribuídos aos adminis-tradores da EPUL e suas empre-sas participadas (nomeadamente Imohífen-Mediação Imobiliária e GF-Gestão de Projectos e Fiscali-zação de Obras).

Segundo o vereador eleito pelo BE na CML, 11 administradores da EPUL e empresas participadas receberam indevidamente prémios de “produtividade” respeitantes aos anos de 2004 e 2005, que

foram pagos em Junho de 2006, durante a vigência da actual ad-ministração da empresa, presidida por João Teixeira.

Esta mesma denúncia, terá sido feita à Polícia Judiciária, por parte de um quadro da EPUL suspenso pelo conselho de administração, em Julho passado, desencadean-do buscas da Direcção Central de Investigação e Combate ao Crime Económico-Financeiro às instala-ções da empresa municipal, Imo-hífen e GF, a 8 de Setembro.

A atribuição dos prémios violou a resolução de Conselho de Mi-nistros nº 121/2005, datada de 1

de Agosto de 2005 que proíbe a atribuição de “prémios de gestão” a administradores públicos, rela-tivamente a 2004 e 2005, ainda que seja demonstrada a sua pro-dutividade.

Sucede que o Executivo da CML aprovou em Março de 2006 os relatórios de contas de 2005 das empresas participadas pela EPUL, nos quais constava a atribuição de prémios aos seus administra-dores, que viriam a ser pagos em Junho seguinte. Esta decisão, viria a saber-se depois, foi tomada sem qualquer deliberação dos respecti-vos órgãos sociais ou da tutela.

SL BENFICAOITO MILHÕES ENTREGUES SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL

EM MEADOS de Novembro pas-sado a EPUL voltou a ser notícia, desta vez porque através dela a CML terá pago em 2003, ao Sport Lisboa e Benfi ca, cerca de 8 mi-lhões e cem mil euros, valor rela-tivo às obras dos ramais de acesso ao novo estádio que nunca foi autorizado pelos respectivos ór-gãos camarários. Esta informação resultou de uma investigação que o vereador José Sá Fernandes rea-lizou, reunindo vários documen-tos provenientes da própria EPUL, CML e Assembleia Municipal de Lisboa.

O caso remonta a 2002, quando a presidência da autarquia estava a cargo de Pedro Santana Lopes, ten-do-se então celebrado um Acordo de Princípios entre a CML, a EPUL e o SLB, que defi niu a participação das diversas entidades na constru-ção do novo Estádio da Luz.

Nessa altura, Santana Lopes de-terminou, numa sessão da Assem-bleia Municipal, que não «haveria qualquer comparticipação fi nan-

ceira por parte da CML, ou EPUL, no projecto do SLB» mas que a «construção dos ramais de ligação às infra-estruturas de subsolo para o novo estádio, bem como a fi s-calização e consultadoria da obra» seriam asseguradas pela CML, através de uma empresa participa-da pela EPUL. De acordo com o então estipulado por Santana Lo-pes, o custo a suportar pela EPUL nunca deveria ultrapassar os 200 mil contos.

Sucede que, em 2003, à revelia desta determinação, o então Vi-ce-Presidente da CML, Carmona Rodrigues, enviou à EPUL um fax da minuta do «Contrato-Progra-ma» a celebrar entre esta e o SLB, que alargava o âmbito da partici-pação da CML/EPUL nas obras e previa a atribuição de uma com-participação fi nanceira de cerca de 6 milhões e oitocentos mil euros.

De acordo com as informações apuradas pelo vereador do Sá Fer-nandes, Carmona Rodrigues auto-rizou, por sua iniciativa exclusiva,

que a EPUL efectuasse o referido pagamento ao SLB, e decidiu ainda «por sua responsabilidade, modi-fi car o texto do contrato programa (CML/SLB), alterando a expressão “bem como a fi scalização e consul-tadoria da obra” para “bem como a fi scalização e consultadorias do Projecto”».

Acresce que, segundo as infor-mações recolhidas «o orçamento enviado pelo SLB, em Fevereiro de 2003, referente à rubrica “cons-trução dos ramais de ligação” não tem nada a ver com o orçamento junto posteriormente ao contra-to de execução celebrado para o efeito».

Pela análise dos documentos constatou-se que, de facto, a EPUL pagou facturas que, na sua maio-ria, nada têm a ver com a “cons-trução dos ramais de ligação às infra-estruturas de subsolo para o novo estádio do SLB, nem com a fi scalização e consultadoria da obras”, mas sim como pagamento de “consultadorias”. Além disso,

a empresa pública aceitou tam-bém documentos cujas datas são anteriores ao dia de assinatura do contrato de execução, de 2001 e 2002, num valor superior a mais de 4 milhões de euros.

Só que, na verdade, e sem existir explicação cabal para tal, a EPUL pagou cerca de oito milhões e cem mil euros ao SLB, ou seja, mais cerca de um milhão e 300 mil eu-ros a mais do que os seis milhões e oitocentos mil euros, que Car-mona Rodrigues determinou em Fevereiro de 2003.

Face à gravidade dos factos - a atribuição, ao que tudo indica, in-devida, de cerca de oito milhões e cem mil euros a um clube de futebol, sem ter por base as res-pectivas deliberações dos órgãos camarários - Sá Fernandes parti-cipou os factos à Inspecção-Geral das Finanças, Tribunal de Contas, IGAT e Procuradoria-Geral da Re-pública, para investigação.

A 13 de Setembro o vereador

José Sá Fernandes revelou que a Imohífen, uma Sociedade Anóni-ma (S.A.) de Mediação Imobiliá-ria, cujos capitais são detidos na totalidade pela EPUL terá recebido indevidamente comissões, em três concursos públicos lançados pela EPUL. A Imohífen, sub-contratou, por seu turno, os serviços de uma mediadora imobiliária, a Find Land, à qual pagou co-missões, de cerca de um por cento, por vendas de terrenos que, na verdade, teriam sido praticadas pela própria EPUL.Essa situação ter-se-á repetido em 3 concursos públicos - venda dos terrenos do Sport Lisboa Benfi ca em 2003, venda de terrenos para o futuro “Centro Cívico” do Vale de Santo António, em 2004 e venda

de vários lotes de terreno, também no Vale de Santo Antó-nio, em 2005 -, nos quais legalmente não há direito a pagamento de comissões de mediação.A Find Land terá, através destas operações arrecadado cerca de um milhão e 300 mil euros em comissões, sendo de acordo com o vereador eleito pelo BE, possível confi rmar todas estas verbas nos relatórios de contas de 2003, 2004

e 2005 da Imohífen. Os três concursos públicos em causa foram efectuados sem o loteamento aprovado,

e tiveram sempre como vencedor o construtor João Bernardino Gomes. No caso dos terrenos do Benfi ca, a Socie-dade de Construções João Bernardino Gomes S.A. benefi ciou com um preço sensivelmente igual à base

de licitação (38 milhões de euros). No segundo caso do “centro cívico” do Vale de Santo António só foi a concurso a Sociedade

João Bernardino Gomes S.A., que ganhou com um preço igual à da base de licitação (51.242.675 eu-ros). Já no terceiro caso, dos lotes de terreno do Vale de Santo Antó-nio, existiram 3 concorrentes que licitaram a globalidade dos lotes, estando dois deles ligados a Ber-nardino Gomes, que acabou por ganhar o concurso.Face ao que apurou, José Sá Fer-nandes, considerou existirem indí-cios de “gestão danosa” e “tráfi co de infl uências” e defendeu existi-

rem responsabilidades evidentes por parte da actual administração da EPUL e também do

Executivo da CML, sobre os factos expostos.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIAS?TACHOS VITALÍCIOS

Page 14: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

10 | ESQUERDA JANEIRO’07 | DOSSIER CÂMARA DE LISBOA > > > > > > > > > > > > > > > > > >

A CÂMARA Municipal de Lisboa aprovou, a 22 de Outubro, a au-torização para um loteamento na freguesia de Marvila, num local por onde poderá passar a futura linha de alta velocidade ferroviá-ria (TGV) entre Lisboa e Madrid, e que deverá ser ocupado pela ter-ceira travessia sobre o Tejo (Che-las-Barrreiro), de acordo com os estudos já efectuados pelo Gover-no. A proposta passou apenas com os votos favoráveis do PSD, tendo sido viabilizada com a abstenção da vereadora Maria José Nogueira Pinto, do CDS-PP.

A autorização para o projecto de loteamento na Azinhaga da Salga-da, da Veiga e da Bruxa, no Vale de Chelas, requerida pela Lismarvila - Empreendimentos Imobiliários, S.A. (do grupo Obriverca) contra-riou um pedido que o Ministro das Obras Públicas, Mário Lino, dirigiu a Carmona Rodrigues, já que o projecto de urbanização para os terrenos em causa pode-rá colidir com o traçado do canal para a terceira travessia do Tejo, integrada no projecto da Rede de Alta Velocidade (RAVE).

O processo de licenciamento carece também de autorização da Rede Ferroviária Nacional (RE-

FER), que numa carta enviada à autarquia, em Setembro, consta-tou, que «devido ao estudo para o corredor de acesso à terceira travessia do Tejo ‘no corredor Chelas-Barreiro’, a qual incorpora ligações ferroviárias em direcção a Chelas/Olaias e à estação do Oriente» existiria «interferência com os traçados preconizados e em curso de aprofundamento no referido estudo, razão pela qual, nesta fase, é inviável emitir pare-cer conclusivo.»

Este loteamento - que ocupará uma área de 11 hectares, e tem previsto a construção de 1037 fo-gos com o máximo de oito pisos e inclui ainda espaços comerciais - poderá igualmente confi gurar uma violação do Plano Direc-tor Municipal (PDM), já que se encontra parcialmente inserido numa zona industrial, pelo que exigiria a realização prévia de um Plano de Pormenor.

O Governo actuou, logo após ser conhecida a aprovação, anun-ciando a implementação, com a “máxima urgência”, de medidas preventivas do crescimento urba-nístico, na faixa entre a Gare do Oriente e o Braço de Prata/Beato, até que seja escolhido o traçado

defi nitivo do canal da travessia do Tejo.

O titular da pasta das Obras Pú-blicas classifi cou a decisão da câ-mara como «irresponsável e infe-liz», e salientou que «nem sequer foi uma medida consensual dentro da Câmara». Mário Lino defendeu que seria «uma coisa de bom sen-so não se ter avançado precipita-damente», e referiu não perceber «qual a necessidade de se aprovar esse loteamento». Já a secretária de Estado dos Transportes, Ana Pau-la Vitorino, considerou, a atitude da CML como «uma quebra de solidariedade». A SE já tinha asse-gurado que «até fi nal do primeiro trimestre de 2007» iria existir uma decisão, quanto à solução para a amarração da terceira travessia do Tejo. «Até lá, com respeito por to-das as competências, não devem ser feitas aprovações que venham a onerar a construção da terceira travessia do Tejo», advertiu.

Uma vez que as medidas pre-ventivas decretadas poderão ter efeitos suspensivos na operação urbanística, a verifi car-se uma eventual expropriação dos ter-renos - hipótese que já chegou a ser avançada por Mário Lino - o promotor da obra poderá pedir

uma indemnização de cerca de 63 milhões de euros, já que viu apro-vados 163 mil metros quadrados de construção, sobre os quais terá direitos adquiridos.

Para impedir que, neste caso, tenha lugar qualquer tipo de in-demnização, José Sá Fernandes, já pediu a intervenção do Ministério Público (MP) sobre este caso. A queixa apresentada pelo vereador bloquista visa anular a deliberação da câmara, considerando que exis-te uma violação do Plano Director Municipal, para desse modo im-pedir que se constituam direitos adquiridos e o proprietário dos terrenos não possa pedir uma in-demnização com base nisso.

No entendimento do vereador do BE, com a aprovação do lote-amento, a Obriverca, proprietária dos terrenos em questão, adquiriu direitos e poderá pedir ao Estado uma indemnização, se a opera-ção for por diante. Sá Fernandes considera também que se está pe-rante um “grave erro urbanístico”, e critica o facto do promotor ser isentado da obrigação de construir equipamentos colectivos e espaços verdes, já que o texto da proposta refere que estes não são necessá-rios naquela zona.

MARVILACML APROVA LOTEAMENTO EM TERRENOS DA NOVA PONTE

F ui confrontado, no fi nal do mês de Janeiro, faz hoje um ano, com uma acção de corrupção feita pelo principal sócio da Bragaparques, senhor Domingos Névoa. O referido empresário pretendia, a troco de uma avultada verba em dinheiro,que eu tomasse três iniciativas relati-

vamente ao conhecido processo “Parque Mayer/ Feira Popular de Lisboa”: - Produzir,enquanto Vereador,uma declaração, em reunião da Câmara Municipal de Lisboa ou da Assembleia Municipal de Lisboa, que retirasse aos privados qualquer responsabilidade para o anterior Executivo e manifestando o apoio a esses mesmos privados de que,afi nal, nenhuma falta teriam cometido; - Promover a retirada da acção popular que impende sobre o negócio “Parque Mayer/ Feira Popular de Lisboa”; - Convocar uma conferência de imprensa onde fossem tornadas públicas as posições anterior-mente referidas.

As provas sobre os factos mencionados encontram-se na posse da Polícia Judiciária, que actuou com a maior prontidão e efi cácia. A minha atitude foi de denúncia imediata da

situação às autoridades policiais, entendendo que a corrupção constitui um dos mais violentos ataques à Democracia e à República. Entretanto, a CML não quis assumir publicamente que deveria informar os cidadãos de

Lisboa sobre quais os negócios que estão em curso com a fi rma Bragaparques,nem daque- les que ocorreram no passado. Foi solicitado que se aprovasse a elaboração de uma relação exaustiva de todas as situações que envolvam a fi rma Bragapar-ques, mas a CML recusou o pedido. É evidente,até porque a gravidade da situação é reconhecida por entidades

exteriores à própria CML - Ministério Público e Tribunal de Instrução Cri-minal, que este é um momento que tem de ser aproveitado para tornar todo este assunto transparente. Não irei desistir desta luta pela transparência. Não se trata de uma questão partidária, mas tão somente de um problema que interessa a todos e particularmente à instituição Câmara Municipal de Lisboa. A verdade vem sempre ao de cima, quer se queira quer não.

Publicado em www.lisboaegente.net

F ui confrontado, no fi nal do mês de Janeiro, faz hoje um ano, com uma acção de corrupção feita pelo principal sócio da Bragaparques, senhor Domingos Névoa. O referido empresário pretendia, a troco de uma avultada verba em dinheiro,que eu tomasse três iniciativas relati-

vamente ao conhecido processo “Parque Mayer/ Feira Popular de Lisboa”: - Produzir,enquanto Vereador,uma declaração, em reunião da Câmara Municipal de Lisboa ou da Assembleia Municipal de Lisboa, que retirasse aos privados qualquer responsabilidade para o anterior Executivo e manifestando o apoio a esses mesmos privados de que,afi nal, nenhuma falta teriam cometido; - Promover a retirada da acção popular que impende sobre o negócio “Parque Mayer/ Feira Popular de Lisboa”; - Convocar uma conferência de imprensa onde fossem tornadas públicas as posições anterior-mente referidas.

As provas sobre os factos mencionados encontram-se na posse da Polícia Judiciária, que actuou com a maior prontidão e efi cácia. A minha atitude foi de denúncia imediata da

situação às autoridades policiais, entendendo que a corrupção constitui um dos mais violentos ataques à Democracia e à República. Entretanto, a CML não quis assumir publicamente que deveria informar os cidadãos de

Lisboa sobre quais os negócios que estão em curso com a fi rma Bragaparques,nem daque- les que ocorreram no passado. Foi solicitado que se aprovasse a elaboração de uma relação exaustiva de todas as situações que envolvam a fi rma Bragapar-ques, mas a CML recusou o pedido. É evidente,até porque a gravidade da situação é reconhecida por entidades

exteriores à própria CML - Ministério Público e Tribunal de Instrução Cri-minal, que este é um momento que tem de ser aproveitado para tornar todo este assunto transparente. Não irei desistir desta luta pela transparência. Não se trata de uma questão partidária, mas tão somente de um problema que interessa a todos e particularmente à instituição Câmara Municipal de Lisboa. A verdade vem sempre ao de cima, quer se queira quer não.

COMO TENTARAM COMPRAR-ME A Câmara de Lisboa necessita de uma gestão democrática que defenda a cidade de uma série de interesses especulativos. A acção do vereador independente, eleito pelo Bloco, José Sá Fernandes, tem sido fundamental nesse sentido. Neste depoimento, o vereador relata como os grandes grupos tentam corromper o poder autárquico

JOSÉ SÁ FERNANDES

Page 15: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

> > > > > > > > > > > > > > > > > > DOSSIER CÂMARA DE LISBOA | ESQUERDA JANEIRO’07 | 11

CUPÃO DE ASSINATURA:NOME: Nº CONTRIB.

MORADA:

TELEFONE: E-MAIL:

JUNTO CHEQUE Nº: DO BANCO:

ESQUERDA.NETÉ O PORTAL DE NOTÍCIAS QUE DÁ ACESSO A OUTROS CONTEÚDOS: RÁDIO, VÍDEO, DOSSIERS TEMÁTICOS, ETC.

BLOCO.ESQUERDA.NETÉ A PÁGINA DO BLOCO COM INFORMAÇÃO LOCAL, MATERIAIS DE PROPAGANDA, SEDES, DOCUMENTOS APROVADOS, ETC.

BEPARLAMENTO.ESQUERDA.NETÉ AQUI QUE PODES SEGUIR A ACTIVIDADE DO GRUPO PARLAMENTAR E VER VÍDEOS DAS INTERVENÇÕES BLOQUISTAS.

BLOCOMOTIVA.NETACTIVISMO NA WEB, VÍDEOS E ANIMAÇÕES, BLOGUES SOBRE ECOLOGIA E AMBIENTE E ALTER-NATIVAS ANTI-PROIBICIONISTAS

BE-GLOBAL.ORGACOMPANHA O QUE FAZ O BLOCO NO PARLAMENTO EUROPEU. INTERVENÇÕES, DOCUMENTOS E CRÓNICAS DE MIGUEL PORTAS

A assinatura anual do “Esquerda” é de 8 euros (incluindo despesas de envio). Recorte ou fotocopie, preencha e envie este cupão juntamente com um cheque ou vale postal à ordem de Bloco de Esquerda para: Bloco de Esquerda, Av. Almirante Reis, 131, 2º, 1150-015 Lisboa

QUERES FAZER SUGESTÕES, CRÍTICAS OU PUBLICAR A TUA OPINIÃO NO “ESQUERDA”? ESCREVE PARA BLOCO DE ESQUERDA - “ESQUERDA”, AV. ALMIRANTE REIS, 131, 2º, 1150-015 LISBOA OU [email protected] NO CASO DE QUERERES VER A TUA CARTA PUBLICADA NO JORNAL, O TEXTO NÃO PODERÁ TER MAIS DE 1000 CARACTERES E A DECISÃO SOBRE A SUA PUBLICAÇÃO ESTÁ SUJEITA AOS CRITÉRIOS EDITORIAIS DA DIRECÇÃO DO JORNAL.

WWW.ESQUERDA.NETO portal de notícias do Bloco

EM AGOSTO de 2005, um grupo de moradores constituiu o Movi-mento SOS Infante Santo e apre-sentou queixa à Provedoria da Justiça contestando a construção do empreendimento “Condomí-nio Residencial Infante à Lapa”, construção da responsabilidade das empresas ligadas ao constru-tor civil Vítor Santos - Visatejo, Gabimóvel e Portbuilding, por criticar a sua proximidade ao Aqueduto das Águas Livres, o índice de construção excessivo, a ocupação do passeio e a falta de estudos arqueológicos prévios.

Um relatório da autoria da Pro-vedoria da Justiça acusou a Câma-ra Municipal de Lisboa de favo-recer o promotor imobiliário do empreendimento, a nascer então num local onde antes se encon-trava o gasómetro da EDP, situado em plena Avenida Infante Santo, e que à data se encontrava já a ser comercializado.

Perante a gravidade dos factos apurados, o relatório punha a hipótese da dissolução da CML, citando a alínea i) do artigo 9º da Lei da Tutela Administrativa, que determina dissolver o órgão au-tárquico que «incorra, por acção ou omissão dolosas, em ilegalida-de grave traduzida na consecução de fi ns alheios ao interesse públi-co».

O caso foi também participado à Procuradoria-Geral da Repúbli-ca, Inspecção-Geral da Adminis-tração do Território (IGAT) - que está a investigar o caso desde o início de 2006 - ao Tribunal de Contas e ao próprio Presidente da República, Cavaco Silva.

A participação levou à investi-gação da Provedoria, que resultou num extenso relatório onde se ad-mite que foram praticados actos no sentido de ilibar o promotor da imobiliário de pagar uma taxa indispensável à obtenção da licen-ça de obra - a Taxa pela Realização de Infra-estruturas Urbanísticas (TRIU).

Ao que a Provedoria apurou, as obras iniciaram-se antes do defe-rimento da licença de construção, e prosseguiram até então, sem que esta tenha sido emitida, situação que confi gura uma ilegalidade.

Por outro lado, o relatório con-siderou que a obra deveria ter sido precedida de uma operação de lo-teamento, sendo esta uma obriga-ção legal que acautela o interesse público. Loteamento sem o qual a Provedoria considerou que a li-cença de construção é nula.

A Provedoria de Justiça con-cluiu também que o empreendi-mento se encontra numa «parce-la de terreno compreendida no domínio privado do município»,

tendo desse modo existido um «aproveitamento ilegítimo de ter-reno municipal», sendo lesado o município.

Carmona Rodrigues foi um dos principais visados no documento, por ter revogado um despacho da ex-vereadora das Finanças Teresa Maury (vereadora no anterior mandato presidido por Pedro Santana Lopes), ilibando assim o promotor do pagamento dessa taxa, facto que sujeitou o edil à perda do mandato, nos termos do art. 8º da referida Lei da Tutela Administrativa.

O relatório da procuradoria im-plicou também várias entidades municipais na práctica de irregu-laridades, entre as quais os servi-ços de urbanismo, fi scalização, contabilidade e o notariado priva-tivo da CML. Duas ex-vereadoras do Urbanismo - Margarida Maga-lhães e Eduarda Napoleão - e o Presidente da Câmara, são citados no relatório, podendo incorrer em responsabilidade fi nanceira pelos danos eventualmente causados.

Carmona Rodrigues negou ter isentado o promotor imobiliário do pagamento da taxa, alegan-do que, através da revogação do despacho de Teresa Maury, teria fi cado defi nido que o pagamen-to da TRIU seria feito através de uma “garantia bancária” do pro-

motor do empreendimento, que previa a cedência de dois imóveis, localizados em Campo de Ouri-que, à CML, e não em dinheiro efectivo.

Só a 9 de Agosto o presidente anuncia publicamente, em con-ferência de imprensa, o embargo total da obra, reconhecendo fi nal-mente a inexistência da licença de construção, devido à falta de pagamento das taxas respectivas. Afi nal de contas a TRIU ainda não tinha sido paga.

Carmona justifi cou que este facto de deveu ao desinteresse do promotor, em manter como forma de pagamento os tais dois prédios de Campo de Ourique.

Só que o “desinteresse” do pro-motor foi comunicado à autarquia em Junho, pelo que o Presidente sabia, pelo menos desde essa data, que a taxa em causa não tinha en-trado nos cofres da CML.

Dias depois, o promotor do empreendimento pagou os 600 mil euros em dívida, permitindo a emissão de alvará de construção e o levantamento do embargo to-tal da obra.

Não fosse a actuação da Pro-vedoria da Justiça e quem sabe, hoje ainda, restariam por entrar no cofre da autarquia 600 mil euros, em benefício de mais um promotor imobiliário.

INFANTE SANTO600 MIL EUROS EM ISENÇÕES DA CML AO PROMOTOR DO CONDOMÍNIO

Todo o dossier sobre os escândalos na Câmara de Lisboa está aqui:

Page 16: MARIA JOSÉ MORGADO PÁGINA ESQUERDA · Activistas de todo o mundo juntam-se em Nairobi ... talvez em menores apuros. Se Saddam, em vez de ... Apenas a recusa da política da guerra

12 | ESQUERDA JANEIRO’07 | AGENDA PARA 2007 > > > > > > > > > > > > > > > > > > > >

JANEIRO1 de Janeiro – No Brasil, o presidente Lula dá início ao seu segundo mandato.1 de Janeiro – Início da presi-dência alemã da UE. A Bulgá-ria e a Roménia aderem à UE. A Eslovénia adere ao Euro. O gaélico converte-se em língua de trabalho da UE. 1 de Janeiro – Ban Ki-Moon, novo secretário Geral das Nações Unida ss entra em funções1 de Janeiro – Angola aderiu à OPEP.1 de Janeiro – O ISBN (In-ternational Standard Book Number) muda de 10 para 13 dígitos.10 de Janeiro – Nicarágua, tomada de posse de Daniel Ortega da Frente Sandinista de Libertação Nacional.11 de Janeiro – Acção Global contra Guantanamo (http://web.amnesty.org/pages/guan-tanamobay-index-eng)

11 de Janeiro – Adesão oficial do Vietname à OMC14 de Janeiro – Cimeira da ASEAN20/25 de Janeiro – 7º Fórum Social Mundial em Nairobi, capital do Quénia (http://wsf2007.org/)21 de Janeiro – Eleições pre-sidenciais e parlamentares na Sérvia.21 de Janeiro – Eleições par-lamentares na Mauritânia23 de Janeiro – Eleições par-lamentares no Bangladesh25 de Janeiro – Eleições legis-lativas na Gâmbia24/28 de Janeiro – Fórum Económico Mundial em Da-vos, Suiça27 de Janeiro/2 de Fevereiro – Reunião de grupo de peri-tos da ONU para as alterações climáticas, em Paris

FEVEREIRO2 de Fevereiro – Tomada de posse do presidente reeleito da Venezuela Hugo Chavez2/3 de Fevereiro – Conferên-cia Internacional sobre am-biente em Paris, iniciativa de Chirac5/6 de Fevereiro – Conferência Internacional da UNICEF sobre crianças-soldado, em Paris8/18 de Fevereiro – Festival de Cinema em Berlim (57ª Berlinale)11 de Fevereiro – Referendo sobre a despenalização do

aborto em Portugal.11 de Fevereiro – Eleições presidenciais no Turqueme-nistão17 de Fevereiro – Eleições parlamentares no Lesotho18 de Fevereiro – Início do ano 4705 (Ano do Porco) no calendário chinês.25 de Fevereiro – Realiza-se a 79ª cerimónia dos Óscares da Academia, em Hollyood.27 de Fevereiro – Eleições presidenciais no Senegal (pri-meira volta)

MARÇO1 de Março – Início do 4º Ano Polar Internacional2/9 de Março – Festival de Cartagena das Índias na Co-lômbia, homenageará Gabriel Garcia Marquez4 de Março – Eleições parla-mentares na Estónia7 de Março – Eleições parla-mentares na Irlanda do Norte8 de Março – Dia Internacio-nal da Mulher8/9 de Março – Conselho Eu-ropeu em Bruxelas9/18 de Março – Festival In-ternacional do Cinema Docu-mental, “Cinema du Réel” em Paris11 de Março – Referendo Po-pular Federal na Suiça sobre o Sistema Nacional de Saúde11 de Março – Eleições presi-denciais na Mauritânia17 e 18 de Março – Confe-rencia do Bloco de Esquerda e do GUE sobre “A Cidade é de Tod@s”.

18 de Março – Eleições parla-mentares na Finlândia24/25 de Março – Cimeira ex-traordinária de Chefes de Es-tado e de Governo em Berlim, por ocasião do 50º aniversário do Tratado de Roma25 de Março – 50 anos do Tratado de Roma25 de Março – Eleições parla-mentares no Benin30,31 de Março e 1 de Abril – Assembleia Preparatória do Fórum Social EuropeuData desconhecida – Eleições parlamentares na Síria

ABRIL12, 13 e 14 de Abril – 8º Fó-rum Internacional de Software Livre (FISL 8.0) em Porto Ale-gre, RS. Site Oficial (http://fisl.softwarelivre.org/8.0/www/)21 de Abril – Eleições presi-denciais e parlamentares na

Nigéria22 de Abril – Primeira volta das presidenciais em França.24 de Abril – Genocídio armé-nio – 92 anos25 de Abril – 33º aniversário da revolução25 e 26 de Abril – Encontro do Fórum Económico Mundial de Davos, na América Latina, Santiago do Chile.29 de Abril – Eleições pre-sidenciais no Mali (primeira volta)29 de Abril – Data limite im-posta à Líbia para destruir as suas armas químicasData desconhecida – Eleições em Timor-leste, presidenciais e parlamentaresData desconhecida – Eleições parlamentares no ChadeData desconhecida – Abertura da Cidade Nacional da Histó-ria da Imigração, em ParisData desconhecida – Cimeira da SAARC, Associação Regio-nal de Cooperação da Ásia do Sul, em Nova Delhi. A adesão do Afeganistão estará na do dia.

MAIO1º de Maio – Dia Mundial dos Trabalhadores3 de Maio – Eleições na Escó-cia e País de Gales, regionais e locais6 de Maio – Segunda volta das presidenciais em França.11/13 de Maio – Jamestown, Virgínia, Comemoração dos 400 anos da América (www.jamestown2007.org/).12 de Maio – Eleições para o parlamento da Islândia13 de Maio – Eleições para o Parlamento Europeu na Ro-ménia13 de Maio – Eleições no Mali, presidenciais segunda volta14 de Maio – Eleições parla-mentares nas Filipinas16 de Maio fim do mandato de Jacques Chirac.16 a 27 de Maio – 60º edição do Festival de cinema de Can-nes, em França.

18 a 20 de Maio – Encontro do Fórum Económico Mundial de Davos, no Médio Oriente, no Mar Morto, na Jordânia.23 de Maio – Final da Liga dos Campeões, UEFA27 de Maio – Eleições para as autonomias e locais em Espa-nha, excepto na Galiza, País Basco e CatalunhaData desconhecida (antes de

17 de Maio) – Eleições na Ir-landa, parlamentaresData desconhecida – Eleições na Argélia (parlamentares), Arménia (parlamentares), Bahamas (parlamentares), Burkina Faso (parlamenta-res), Congo Brazaville (parla-mentares), Vietname (parlamentares), Montenegro (presidenciais), Turquia (presidenciais), Bul-gária (Parlamento Europeu)Convenção do Bloco de Esquerda

JUNHO6/8 de Junho – 33ª Cimeira do G8 em Heiligendamm, Alemanha6 a 8 de Junho – Bloco e mo-vimentos sociais mobilizam para cimeira alternativa ao G8, Rostock na Alemanha

10 de Junho – Primeira volta das eleições legislativas em França.17 de Junho – Segunda volta das eleições legislativas em França.20 de Junho – Eleições no Togo (parlamentares)21/22 de Junho – Cimeira de Chefes de Estado e de Gover-no da União Europeia24 de Junho – Eleições gerais na Bélgica30 de Junho – Europride Gay 2007 em Madrid (site: http://www.madoweb.com/2007/)Data desconhecida – Nepal (Assembleia Constituinte), Pa-pua Nova Guiné (parlamenta-res), Camarões (legislativas)Data desconhecida- Iniciativa conjunta do Bloco de Esquer-da e o Partido da Esquerda da Alemanha (Die Link), em Portugal, sobre as presidên-cias alemãs e portuguesas da União Europeia.

JULHO1 de Julho – Portugal assume a presidência da União Euro-peia1 de Julho – 10º aniversário do retorno de Hong-Kong à China1 de Julho – Eleições no Mali, parlamentares primeira volta6 de Julho – Centenário do nascimento da pintora mexi-cana Frida Kahlo.7 de Julho – As Novas Sete Maravilhas do Mundo são dadas a conhecer em Lisboa (www.new7wonders.com/)

15 de Julho – Eleição no Ja-pão de 121 membros da Câ-mara dos conselheiros (Câ-mara Alta com 242 membros, todos eleitos)28 de Julho – Eleições na Serra Leoa, parlamentares e presidenciais29 de Julho - Eleições no Mali, parlamentares segunda voltaO Airbus A300 deixa de ser produzido, após 35 anos de produção.Data desconhecida – Eleições na Índia (parlamentares), Al-bânia (presidenciais)Data desconhecida – Tony Blair abandona o cargo de primeiro-ministro da Grã Bre-tanha

AGOSTO6 de Agosto – Referendo à Constituição na Bolívia12 a 18 de Agosto – Encontro Internacional sobre a Água e a Sustentabilidade, em Esto-colmo, na Suécia.29 de Agosto/8 de Setembro - Festival Internacional de Ci-nema de VenezaSem data – A multinacional norte-americana Johnson Controls encerra a fábrica de Portalegre que tem 250 traba-lhadores.

SETEMBRO6 a 8 de Setembro – Fórum Económico Mundial de Da-vos, na China em Dalian.8/9 de Setembro – Encontro anual da APEC (Cooperação Ásia-Pacífico) em Sidney23/28 de Setembro Confe-rência Anual do partido tra-balhista britânico que elegerá o novo líder.

Data desconhecida – Eleições no Vietname (presidenciais), Marrocos (parlamentares).Data desconhecida – Irão inaugu-ra central nuclear de Bushehr.

OUTUBRO10 a 12 de Outubro – Decorre em Belgrado a VI Conferencia sobre Ambiente na Europa promovida pelas Nações Uni-das. 11 de Outubro – Segunda vol-ta das eleições presidenciais na Guatemala19/21 de Outubro – Reunião dos países membros do FMI e do Banco Mundial em Wa-shington28 de Outubro – Eleições na Argentina presidenciais e para o parlamentoData desconhecida – Eleições no Paquistão (parlamentares), Suiça (parlamentares), Kos-sovo (parlamentares), Oman (parlamentares), Jamaica (parlamentares)Data desconhecida – XVII Congresso do Partido Comu-

nista da ChinaData desconhecida – Início da construção do sarcófago em Chernobyl

NOVEMBRO4 de Novembro – Eleições ge-rais na Turquia12/16 de Novembro – 27ª Reunião do grupo de peritos em aquecimento global, em Valência, Espanha24 de Novembro - 50 anos da morte do pinto mexicano Diego Rivera

27 de Novembro – Entrega do último supercondutor do ace-lerador de partículas ao Large Hadron Collider, no CERN em França e Suiça (http://lhc.web.cern.ch/lhc/)30 de Novembro – Dia Mun-dial sem comprasData desconhecida – Eleições parlamentares na CroáciaData desconhecida – Cimei-ra da ASEAN em Singapura, festejará o 40º aniversário da organização

DEZEMBRO2 de Dezembro – Eleições na Eslovénia (presidenciais)2 de Dezembro – Eleições na Rússia (parlamentares)3/4 de Dezembro – Fórum Ásia-Pacífico sobre a água, em Beppu, Japão3/14 de Dezembro – 13ª Con-ferência das Nações Unidas sobre Aquecimento Global, com os países signatários da Convenção-quadro, em Bali, Indonésia19 de Dezembro – Eleições presidenciais na Coreia do Sul23 de Dezembro – Eleições no Uzbequistão (presidenciais)31 de Dezembro – O Acordo de Schengen entra em vigor, para as fronteiras marítimas e terrestres de 9 países dos paí-ses da ampliação da UE em 1 de Maio de 2004 (Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Poló-nia e República Checa – Chi-pre não está incluído).

Data desconhecida – Eleições no Quénia (presidenciais e parlamentares), na R. P. da China (parlamentares).

AGENDA 2007