maria josé de lima - o que é enfermagem
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Maria Jos de Lima
O QUE
ENFERMAGEM
editora brasiliense
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SUMRIO
Motivos da atualizao e histrico ............................................................. 7
Introduo ................................................................................................ 11
Um pouco de histria da Idade Mdia aos nossos dias .......................... 16
O que enfermagem ............................................................................... 26
Principais leis do exerccio profissional,
rgos de classe e publicaes............................................................... 51
Dimenses culturais ................................................................................. 61
Avanos Profissionais ............................................................................ 105
Museus, smbolos e comemoraes ..................................................... 109
Notas complementares sobre Florence Nightingale e Ana Nri ........... 112
Indicaes para leitura ........................................................................... 118
Sobre a autora ....................................................................................... 123
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MOTIVOS DA ATUALIZAO E
HISTRICO
No tempo e no espao de uma dcada, desde a primeira edio deste
livro (1993), surgiram muitos estudos sobre enfermagem, o que evidenciou a
necessidade de atualiz-lo. Neste momento de transio da segunda para a terceira
edio, quero compartilhar com o pblico alguns fatos que pontuaram sua trajetria.
Em fins de 1992 Danda Prado, presidenta da Editora Brasiliense,
convidou-me a escrever este livro. Depois de vrias discusses acerca da
repercusso do convite, decidi enfrentar essa responsabilidade.
Quando o livro ficou pronto, foi apresentado ao pblico do Rio de Janeiro,
na Livraria Dazibao, localizada no Pao Imperial, em 14 de outubro de 1993.
Durante o lanamento foram dramatizadas duas performances sobre
cuidados de enfermagem. Uma delas, dirigida por Marlene Ariello, representou o
atendimento de uma criana cigana submetida a uma interveno cirrgica, que foi
salva (p.7) pelos cuidados excepcionais da enfermeira Jussara Sauthier. A outra
performance, dirigida por Ceclia Ktia Limaverde Pessoa, baseou-se em uma
entrevista concedida pelo cineasta Federico Fellini aps uma alta hospitalar, na qual
admitiu ter sido salvo pela atuao mpar da enfermeira Dora.
As representaes tocaram muito a grande platia que compareceu ao
lanamento.
O livro foi divulgado para o pblico nacional no dia 21 do mesmo ms, no
programa Sem Censura; da TVE, coordenado pela jornalista Lcia Leme.
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Seguiram-se lanamentos em Fortaleza no dia 27, na Escola de
Enfermagem da Universidade Estadual do Cear (UECE) - articulado pelas
enfermeiras Maria Dalva Santos AIves e Maria Vilani C. Guedes, e que Rosane Costa
Nbrega dirigiu uma performance baseada no contedo do prprio livro; em 26 de
novembro, em Macei, com o apoio da vice-prefeita Heloisa Helena Lima Morais; no
dia 29 do mesmo ms, no 45 Congresso Brasileiro de Enfermagem (CBEn) e no
Espao Cultural Livro Sete, em Recife; em 7 de dezembro, em Joo Pessoa, na
Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Paraba (UFPB), articulado pela
feminista Gilberta Soares Silva; em 11 de maio de 1994, em Campinas, na Escola de
Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); em 12 de maio, em
Belm, promovido pelo Conselho Regional de Enfermagem do Par (Coren-PA); em
24 de junho, em Curitiba, promovido peta Escola de Enfermagem da Universidade
Federal do Paran (UFPR);em 3 de agosto, em Feira de Santana, promovido pela
Escola de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana (p.8) (UEFS);
no dia17 do mesmo ms, em Salvador, no X Encontro de Enfermagem do Nordeste
(Enfnordeste), resultado de uma articulao de Valdete Santos Botelho
No decorrer da dcada de 1990 frequentemente eu ouvia das(dos)
profissionais de enfermagem elogios pelo trabalho, porm sempre complementados
por ressalvas, observaes no sentido de que faltava alguma coisa. Eu as ouvia e
pedia que me fossem encaminhadas para subsidiar o trabalho de reviso.
Dessas contribuies, destacam-se a de Clesne Maria Silveira, do Coren-
MG; a de Paulo Oliveira Perna, da Escola de Enfermagem da UFPR e a de Iraci
Santos, da Universidade do, Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
A visibilidade deste livro foi conseguida em parte pelo meu esforo
pessoal; da Editora Brasiliense e de muitas enfermeiras que colocaram energia na
sua divulgao.
As idias deste livro tambm motivaram alguns desdobramentos dignos
de nota, como o convite que me foi feito por Maria Ceclia Cordeiro Pedro, no incio
de 1994, para proferir a aula inaugural do ano letivo na Escola de Enfermagem Ana
Nri, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituio da qual ela era
diretora, sobre o tema Pensar em Sade pensar em Enfermagem. O texto foi
imediatamente publicado na Revista Enfermagem, da Escola de Enfermagem da
UERJ, pela editora Iraci Santos, com base no desdobramento do conceito de
enfermagem adotado neste livro.
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Recentemente, a enfermeira Lcia H. R. Costa - da Escola de
Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Minas
Gerais- e o enfermeiro Joel Rolin Mancia (p.9) - diretor de Publcaces e
Comunicao Social: da Associao Brasileira de Enfermagem (ABEn) - agendaram
comigo uma srie de entrevistas destinadas a um livro que pretendem, publicar,
tomando como base a influncia exercida pelas idias deste livro no imaginrio dos
profissionais da rea.
Entre, outras alteraes, exclu os captulos Mercado de trabalho e
guisa de concluso: expectativas e Classe, com a finalidade de obter espao para
incorporar as sugestes que recebi, relativas ao capitulo Dimenses culturais,
presente no livro.
Essa reviso tornou as edies anteriores obsoletas. Sugiro a quem
adquirir esta nova edio, revista e atualizada, que a divulgue em todos os espaos
profissionais e sociais em que as, pessoas tenham interesse em entrarem contato
com um a viso no convencional do que enfermagem.
A autora agradece. (p.10)
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INTRODUO
Este livro tem por objetivo fomentar o dilogo entre os setores da
sociedade que se interessam por entender, o que enfermagem para alm dos
limites ditados pelas instituies. Uma de suas metas introduzir na sociedade
idias que criem um espao de intercmbio no qual leitores e leitoras possam
confrontar, critica e refletidamente, seu contedo com outras formas de divulgao
conhecidas. Prevalece a inteno de transmitir novas vises, sem as impor. Em
sntese, contribuir para tornar possvel a reflexo sobre o assunto envolvendo
opinies diferentes, e atrair a ateno das pessoas interessadas em entender o que
enfermagem e que possam ajudar a transmitir essas fundamentaes a outros.
Quer tambm ser interlocutor acessvel para aqueles que s interessam por
aprofundar seus conhecimentos sobre essa profisso to complexa, j que at hoje
as(os) profissionais da Academia no formularam nem responderam algumas
questes, que permanecem soltas no ar. (p.11)
Chegou o tempo de a enfermagem acadmica sair de sua confortvel
cpsula de assepsia e neutralidade, de poucas problematizaes em relao ao
passado e ao presente, para se dirigir a toda a sociedade. Ela deve ampliar seus
limites para alm das salas de aula e dos ambientes teraputicos, e conquistar outros
espaos, como o dos meios de comunicao, obrigando-se a negociar, articular e
brigar para se fazer compreender em sua complexidade e ser aceita por todos.
Neste ensaio, a produo cientfica tem a mesma importncia que a
relao sensorial criativa, porque ele se ocupa de uma enfermagem entendida: como
a arte do fazer imediato. Explicando melhor, trataremos de um campo de
conhecimento que resolve problemas de conforto e cura do corpo e de satisfao das
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necessidades bsicas provenientes. Do metabolismo individual e coletivo - tais como
as questes referentes ao meio ambiente, higiene, alimentao, lazer -, no mesmo
plano do atendimento s necessidades espirituais. Portanto, a enfermagem deve ser
compreendida como a arte de pessoas que convivem entre si e que se ocupam de
cuidar de outras. E uma profisso dinmica, sujeita a transformaes, que est
continuamente incorporando reflexes sobre novos temas, problemas e aes, porque
seu princpio tico, o de continuamente manter ou restaurar a dignidade do corpo
em todos os mbitos da vida. A vida sob a perspectiva da enfermagem consiste em
fios que se entrelaam, se ligam uns aos outros; em ns que se desatam, que se
desenlaam, e que muitas vezes se cortam. Lidar com a vida humana um assunto
sumamente delicado, que requer muito talento, imaginao e esforo. (p.12)
O corpo vivo , para ns a referncia imediata de que uma criatura existe
enquanto indivduo. No cotidiano, lidamos com gente que nos chega acometida de
enfermidades de vrios tipos - violncias, carncias e misrias -, o que bem
diferente da imagem mitolgica do corpo divulgada pela mdia quase sempre
harmonioso e perfeito. A solidariedade profissional estendida tanto s pessoas
sadias, atendidas na rea de preveno das doenas, quanto s deformadas,
fragilizadas, fracas, confusas, e em condies at repugnantes, encontradas
principalmente entre os(as) clientes dos servios de emergncia.
A enfermagem como cincia procede na prtica de acordo comum
modelo interativo, convivendo com o inacabado com a multifinalidade, com as
diferenas, com a ambiguidade, a incerteza e a morte. Isso leva as equipes de
enfermagem a manter relaes interativas com a clientela, anda que existam
equipes alienadas, que mantm relaes de dominao sobre os doentes. Portanto,
os atos de enfermagem so acontecimentos que requerem esmerada preparao,
constitudos por talento, conhecimento, esforo, competncia e imaginao. Esses
atos acontecem em um tempo imediato, justo, real, previsto e, em algumas
situaes, revisto, s se esgotando quando atingem sua significao - por exemplo,
poder observar o alvio e o bem-estar de uma pessoa que tem uma ferida tratada ou
o prazer e o conforto de um padecente que recebeu um cuidado corporal.
Na nossa viso, o exerccio profissional se pauta por uma comunicao
ativa entre as partes envolvidas, dispensando hierarquias e grandes formalidades,
com a cooperao (p.13) mtua de todos. O(a) profissional deve estar preparado(a)
para realizar gestos e transferncias de gestos do seu corpo para o da pessoa sob
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seus cuidados ajustando-se a cada situao fsico-emocional com liberdade,
equilbrio e expressividade, detectando o momento de ser gil, slido, preciso,
calmo, envolvente, pacfico ou apaziguante. Quem exerce a enfermagem tende a
evidenciar em seu corpo uma musculatura forte, forjada pelo labor rduo, em
contraposio suavidade presente em seus atos. Logo, a preocupao com a
plasticidade do corpo do pessoal de enfermagem deve fazer parte da formao
profissional nos trs nveis de ensino universitrio, tcnico e auxiliar -, em razo de
sua preparao para servir a fins coletivos, cuidando de outros corpos sem
abandonar sua peculiar higidez e humanidade.
O exerccio profissional apresenta uma perspectiva poltica. Por isso, ao
abordar com a clientela questes referentes a gnero, poder, raa, classe,
preferncia sexual e religio, os(as) componentes da equipe de enfermagem devem
evitar o erro de desenvolver suas aes sem verificar qual o peso material e
psicolgico que incide sobre as diferenas pessoais, e como essas peculiaridades
afetam a vida cotidiana.
Uma reflexo deve ser feita sobre o fato de as equipes de enfermagem
possurem uma viso geral dos doentes sob sua responsabilidade sem que esses
doentes detenham qualquer conhecimento sobre o perfil humano das equipes.
A existncia desse saber diferencial constitui uma forma de poder que
deve ser discutida com aqueles(as) de quem cuidamos - ,e que esto, na maioria
dos casos impossibilitados de coordenar as atividades, de uma vida ativa, quer
(p.14) sejam atividades decorrentes do prprio metabolismo individual, quer sejam
as de trabalho de rotina ou de criao. Portanto, o(a) enfermeiro(a) deve estar
aberto(a) para dialogar com cada cliente sobre os enfoques tericos e prticos de
suas aes, reconhecendo que ele tem o direito de dizer com quais atos de
enfermagem concorda e vai colaborar.
Essa percepo dos atos de enfermagem pretende avanar alm das
estruturas culturais e cientficas tradicionais, tateando algo adiante do conhecido;
indo ao encontro do novo; denunciando a opresso que sofre o corpo-objeto, nos
ambientes teraputicos, como mercadoria codificada; alavancando o
reconhecimento do discurso do corpo-sujeito; questionando o jogo das relaes de
submisso presentes nos setores da sade. Na essncia os atos de enfermagem
buscam a sntese entre arte e cincia, filosofia e tcnica; entre o social e o natural,
em seu sentido mais humano. (p.15)
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UM POUCO DE HISTRIA:
DA IDADE MDIA AOS NOSSOS DIAS
As mulheres enfermeiras sempre existiram, desde, tempos imemoriais
circulando de casa em casa, de cidade, em cidade; cuidando de outras mulheres,
crianas, idosos, enfermos, deficientes e pobres. Esses cuidados de enfermagem
incluam partos, assistncia aos recm-nascidos, ensino de higiene, realizao de
curativos e oferecimento de apoio, entre outras atividades.
Os saberes relacionados ao ato de cuidar eram passados de me para
filha, de gerao para gerao, de comunidade para comunidade. Essas mulheres
eram identificadas como sbias pelo povo, e como feiticeiras ou charlats pelas
autoridades. Ao tratar das pessoas desenvolveram grandes conhecimentos ligados
aos ossos e msculos, a ervas e drogas. Sua influncia era to forte que Paracelso,
considerado o pai da medicina moderna, admitia ter aprofundado seus estudos de
farmacologia baseado no conhecimento adquirido com elas. (p.16)
No meio urbano, as mulheres que cuidavam da sade da populao eram
alfabetizadas e tinham confiana na sua capacidade de enfrentar as doenas, a
gravidez, o nascimento e a morte; Suas atitudes no eram religiosas nem passivas.
Eram investigadoras ativas, e sua magia constitua a cincia da poca.
Aos olhos da Igreja, o poder das mulheres que curavam decorria de sua
sexualidade. Como tudo o que poderia parecer sexual, esses poderes eram
condenados como algo que provinha do diabo. Assim foram acusadas nos
processos de feitiaria, de cometer crimes sexuais contra os homens, de serem
organizadas e, por fim, de possurem poderes mgicos que afetavam a sade
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podendo tanto prejudicar quanto curar. Eram acusadas especificamente de possuir
talento mdico e obsttrico.
No sculo XIII, os Estados, junto com as Igrejas Catlica e Protestante, e
contando com o apoio das classes dominantes, decidiu retirar da vida pblica de
vrias cidades europias as pessoas que se ocupavam da sade da populao.
Esse movimento de extermnio de mulheres e de alguns homens -, que
durou quatro sculos (do XIV ao VII), est associado a grandes mudanas sociais
ocorridas na Europa, que abalaram o feudalismo em seus fundamentos:
conspiraes e movimentos de massa no meio rural, o incio do capitalismo e o
fortalecimento do protestantismo.
Foi um perodo que marcou a desapropriao do poder e do
conhecimento que as mulheres detinham em relao sade e a seus corpos. Os
processos de assistncia sade e doena foram progressivamente tecnicizados
e medicalizados, (p.17) e o conhecimento e o poder passaram das mos das
mulheres para os tcnicos e especialistas.
Apesar disso, vale a pena lanar um olhar sobre as parteiras da poca.
Elas haviam conquistado um espao garantido na sociedade, que pode ser avaliado
pela definio dada pelo tratado de Soranus De mulierum passionibus ao seu papel:
Parteira toda mulher que examina as mulheres, instruda e perita na arte de tratar
com eficincia, de tal maneira que, capaz de curar-lhes todas as doenas.
O desprestgio das parteiras teve incio no fim do sculo XI, com o
fortalecimento da Igreja Catlica, que na poca se tornou proprietria de um tero
das terras da Europa Ocidental ocorreu a revoluo gregoriana do direito cannico,
que imps o celibato aos clrigos a fim de garantir que as posses dos religiosos
permanecessem no mbito da Igreja e no fossem disputadas por suas famlias, e
retirar das mulheres as funes eclesisticas, por abominar o contato carnal. A
educao dada s mulheres nos conventos foi, suprimida; estes deixaram de ser
centros culturais e se transformaram em casas de orao e confinamento. A
educao foi repassada s universidades recm criadas, geridas pela igreja e de
freqncia quase que exclusivamente masculina.
Mesmo diante desse quadro, o papel das parteiras extrapolava o ato de
realizar partos: a vida social dependia delas, por deterem o poder de controlar tanto
o mundo feminino quanto o masculino. Destacaram-se Louise Bourgeois (1563-
1636), parteira da corte que publicou um compndio obsttrico em que descreveu os
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riscos dos partos em que o feto apresentava a face em primeiro lugar; Justine
Siegemundim (p.18) (1650-1705), que publicou em 1690, um compndio obsttrico;
Elizabeth Nihell, que publicou em 1760 um livro em que denunciou a prtica
obsttrica dos mdicos cirurgies; Marguerite du Tertre, do Htel Dieu (Centro de
Estudos situado em Paris), que pubIicou em1677 um manual para parteiras; lgnez P.
Semmelweiss (1818-1865), que advogou em 1861 a idia da contaminao dos
corpos vivos com material ptrido dos mortos, comprovada posteriormente - por
Louis Pasteur (1822-1895).
As parteiras autnomas resistiram at 1835. O novo poder mdico, guiado
pela livre competio e apoiado pelo governo, conseguiu coibir a prtica autnoma a
partir de 1902, com uma lei promulgada pelo Parlamento Britnico. Essa lei ps fim
ao exerccio profissional autnomo das parteiras - que passaram a ser submetidas a
seleo e cadastramento, s podendo realizar partos sob superviso mdica - e teve
reflexos no Brasil,onde tampem foram afastadas do seu trabalho pelo poder mdico
da poca.
Nossas ancestrais perderam a vida na forca ou na fogueira, deixando
uma lacuna entre os sculos XVII e XIX. Nos documentos da poca existem poucos
registros sobre elas, e enfatizada a existncia de mulheres carentes que viviam
nos hospitais cuidando de doentes, sem nenhuma qualificao. preciso lembrar
que as condies de vida nessas instituies eram quase intolerveis.
Paralelamente; as congregaes crists foram assumindo a tarefa de
cuidar dos enfermos. Os primrdios da enfermagem que conhecemos hoje se
devem principalmente Confraria das Filhas de Caridade de So Vicente de Paulo,
(p.19) na Frana, e ao Instituto das Diaconisas de Kaiserswerth, na Alemanha, que
treinavam mulheres para cuidarem de enfermos, e se tornarem eficientes na arte da
enfermagem.
Em meados do sculo XIX, ocorreram muitas reformas no Reino Britnico,
tendo se distinguido como reformista da sade Florence Nightingale (1820-1910),
precursora da enfermagem moderna; cujo nome est entre os(as) humanistas que
mudaram o mundo. Essa mulher de esprito inquieto, movida por curiosidade
insacivel, pensou por conta prpria e expressou com franqueza suas opinies
sobre os servios de sade de sua poca. Ela criou a primeira escola de
enfermagem profissional, fruto de uma complexa reflexo que fez para que a
enfermagem adquirisse originalidade e se transformasse em uma cincia/arte da
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sade constituda pelo raciocnio e pela experincia. Com coragem determinao e
inteligncia, transformou tanto o modo como as pessoas encaravam as enfermeiras
quanto o tratamento que era dispensado s mulheres.
Destaca-se, ainda, nessa poca, a atuao da enfermeira Ethel Bedford-
Fenwick, fundadora, em 1887 , da Associao Real de Enfermeiras Britnicas e,
em1889, do Conselho Internacional de Enfermeiras (ICN).
Registra-se no Brasil um fato indito quando Ana Justina Ferreira Nri
(1814-1880), baiana de 51anos, movida por sentimentos humanitrios, decidiu
prestar cuidados aos combatentes na Guerra do Paraguai (1865-1870). Em 8 de
agosto de 1865 ela enviou um ofcio ao presidente da provncia solicitando trabalho,
como enfermeira de guerra. Alegava o desejo de atenuar o sofrimento dos
combatentes e estar junto de seus filhos, que j estavam na frente de batalha.
Obtida a autorizao, (p.20) Ana partiu com destino ao Paraguai em 13 de agosto do
mesmo ano. Na frente de batalha, distinguiu-se, prestando relevantes servios aos
combatentes durante cinco anos.
At o incio do sculo XX, a enfermagem praticada no Brasil era exercida
por religiosas, enfermeiras estrangeiras de famlias de diplomatas, pastores
protestantes, pessoas formadas pela escola de enfermeiros(as) do Hospital Nacional
de Alienados e pela Escola Cruz Vermelha Brasileira, visitadoras treinadas por
sanitaristas e atendentes que adquiriam conhecimentos nos hospitais da poca.
O paradigma da enfermagem dessa poca enfatizava valores
relacionados ao amor, abnegao e desprendimento, desprezando a luta por
remunerao digna, condies ambientais de trabalho adequadas, insero na vida
social e poltica, e desenvolvimento intelectual.
Existem registros que documentam a ruptura entre as enfermeiras
religiosas e os mdicos leigos no Hospital de Alienados, no Rio de Janeiro em 1890.
Como resultado dessa ruptura foi criada a Escola Profissional de Enfermeiros e
Enfermeiras, hoje Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de
Janeiro (UniRio). Em27 de setembro de 1890, o marechal Deodoro da Fonseca
assinou o Decreto 791, que criou essa escola de enfermagem, destinada a formar
enfermeiros(as) para prestar assistncia aos alienados e executar servios civis e
militares. importante relembrar que a iniciativa privada mantinha no Hospital
Samaritano, em So Paulo; um curso de enfermagem orientado por enfermeiras
protestantes nos moldes do sistema nightingaleano. (p.21)
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Em 1921, graas ao esforo de Carlos Chagas, ento diretor do
Departamento Nacional de Sade Pblica do Ministrio da Defesa, foi trazida dos
Estados Unidos; com apoio da Fundao Rockefeller, uma misso com nove
enfermeiras para, entre outras atividades, organizar uma escola e o servio de
enfermagem de sade pblica do Rio de Janeiro. Essa misso permaneceu por dez
anos nesse estado (1921-1931). Ao partir, sua diretora, Ethel Parsons, apresentou
um relatrio que pode ser consultada nos Archivos de Hygiene: Exposies e
Relatrios, que se encontra arquivado no Centro de Documentao da Escola de
Enfermagem Ana Nri, Mdulo A, caixa 1, documento 16.
Em 1926, em reconhecimento aos trabalhos prestados por Ana Nri
durante cinco anos, como voluntria da Guerra do Paraguai, o governo designou
essa nova escola de Escola de Enfermeiras Dona Ana Nri.
Em 1931, no governo de Getlio Vargas, foi promulgada a primeira lei do
exerccio da enfermagem (Decreto 20.109), que considerou a Escola Ana Nri
escola oficial padro.
Em 1922, na mesma poca em que as enfermeiras norte-americanas
iniciaram o trabalho no Brasil, a feminista Bertha Lutz fundou a Liga Eleitoral
Independente de Mulheres, para reivindicar o direito ao voto feminino, obtido em
1932. No contexto poltico da poca, a enfermagem anglo-americana implantada no
Brasil, manteve-se distante das lutas polticas pelos direitos das mulheres.
A despolitizao das enfermeiras pode ser compreendida na atualidade
pela anlise do contexto em que a profisso se estruturou. Dados a esse respeito
podem ser encontrados (p.22) no relatrio de Concluso da misso apresentado por
Ethel Parsons ao governo brasileiro.
Durante o perodo de dez anos de permanncia das enfermeiras norte-
americanas no Brasil, nenhuma outra escola foi criada. S em 1933 veio a ser
instalada a segunda escola, em Belo Horizonte, que hoje pertence Universidade
Federal de Minas Gerais.
Com o passar do tempo, constatou-se que o nmero de enfermeiras
formadas no era suficiente para atender demanda do mercado de trabalho.
Surgiu assim a necessidade de preparar um novo tipo de profissional para assumir
funes de menor complexidade rio interior da profisso. A enfermeira Las Netto
dos Reis implantou, em 1941, na Escola Ana Nri, o primeiro Curso de Auxiliares de
Enfermagem, que rapidamente se expandiu pelo pas inteiro. No final da dcada de
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1960, a enfermeira Ciley C. Rodus implantou o curso de Tcnicos(as) de
Enfermagem, que no obteve o mesmo sucesso que o anterior.
Em Anpolis, Gois, uma misso protestante britnica trouxe enfermeiras
que fundaram a Escola de Enfermagem Florence Nightingale, dessa vez deslocando
o paradigma nightingaleano da Inglaterra diretamente para o Brasil. Essa escola
obteve reconhecimento em 1937, quando foi equiparada Escola Ana Nri, do
governo federal, e considerada de utilidade pblica. Participaram da misso de
instalao dessa escola as enfermeiras Isabel C. Macintyre, Alice Gallear e Mary
Hamilton. A enfermeira Isabel C. Macintyre foi contratada posteriormente pelo
governo brasileiro, tendo implantado o paradigma da enfermagem nightingaleano em
vrias regies do Norte e Nordeste. (p.23)
Em 1962, o ensino da enfermagem passou a integrar o sistema de
formao do ensino universitrio pblico. Em 1972 foi, instalado o primeiro curso de
mestrado na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Escola de Enfermagem da UFRJ) e, em 1981, foi instalado o primeiro curso de
Doutorado na Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (USP). Os
cursos de ps-graduao, inclusive os, de especializao, se expandiram, e hoje
existem no Brasil 13 cursos de Mestrado e seis de Doutorado (dados 2002).
As escolas de enfermagem permaneceram femininas at o advento do
vestibular unificado e classificatrio; exceo feita Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto; da Universidade do Rio de Janeiro (UniRio) que sempre foi mista.
Com o vestibular classificatrio abriu-se espao para a entrada dos vares nos
cursos de graduao. Apesar dessa conquista, pblico de enfermagem
permanece majoritariamente feminino e corresponde a 94% dos alunos no nvel
de graduao; 88,5% no nvel tcnico; 91,5% no nvel de auxiliares de
enfermagem; e 88,5% dos atendentes.
No cenrio brasileiro destacou-se o trabalho de Wanda de Aguiar Horta,
da Escola de Enfermagem da USP como a primeira enfermeira que ousou formular
uma teoria de enfermagem, apresentada em 1968 em concurso pblico de livre-
docncia na Escola de Enfermagem da UFRJ, intitulada: A observao
sistematizada na identificao dos problemas de enfermagem nos, seus aspectos
fsicos. Posteriormente, Ligia Paim apresentou seu trabalho de dissertao de
mestrado, na mesma instituio, intitulado Prescrio de enfermagem: unidade
valorativa do cuidado. (p.24)
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A enfermeira historiadora Marisa Correia Hirata, da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA), desenvolve atualmente
uma pesquisa relevante sobre a imagem mitolgica da enfermeira herona no
cinema e identificou que entre 1918 e 1975 foram feitos 459 filmes tendo uma
enfermeira como protagonista, consultando o livro The changing lmage of the
Nurse de P.A Kalisch e Beatrice J. Kalisch, 1987- Califrnia USA. (p.25)
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O QUE ENFERMAGEM
A palavra enfermagem vem do latim e usada em oposio ao vocbulo
enfermo (aquele que se encontra doente, fraco, dbil; que padece de algum mal
fsico; mental ou moral). Suas referncias etimolgicas esto registradas na 3
edio do Novo Dicionrio da Lngua Portuguesa (Lisboa, 1922), de Cndido de
Figueiredo, existindo registros, sobre seu uso a partir de 1913. O vocbulo
Enfermagem composto do prefixo en, do radical firm(i) e do sufixo agem, que
segundo o diclonrio Houaiss, significam:
en - aproximao, introduo e transformao;
firm(i)- firmeza, solidez, persistncia, fora, fortaleza;
agem- indicativo de ao ou resultado de ao.
A noo no crtica, nem cientfica, nem filosfica do uso lingstico do
vocbulo enfermagem e do seu complemento enfermo foi enfocada com o sentido
de estabelecer uma ponte entre sua origem e a conceituao atual. (p.26)
A enfermagem uma cincia humana, de pessoas e de experincias,
voltada ao cuidado dos seres humanos, cujo campo de conhecimento,
fundamentaes e prticas abrange desde o estado de sade at os estados de
doena e mediado por transaes pessoais, profissionais, cientficas, estticas,
ticas e polticas.
O estado de sade compreende um tnue equilbrio multidimensional de
todo o corpo, determinado predominantemente pelo comportamento de cada ser
humano, pela sua insero social e pela natureza do ecossistema onde ele nasce
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vive e morre. A sade do ponto de vista da comunidade tem a ver com a capacidade
e com os meios de que se dispem as pessoas para serem felizes e lutar pela
felicidade. Logo, a sade est entre os direitos de todo ser humano, pois advm do
direito de acesso s aes que impedem o aparecimento das doenas ou que
servem para tratar as doenas inevitveis, o que Inclui uma enfermagem altura do
desenvolvimento atual das demais profisses da rea.
A sade algo dinmico, indivisvel, que existe quando so mantidas as
condies de equilbrio entre o estilo de vida individual, as condies do meio
ambiente e o acesso s aes que garantem o estado de sade. Entre as teorias da
enfermagem, existe uma certa unanimidade conceitual quanto ao desempenho da
profisso. Em princpio, ela assume a responsabilidade de se solidarizar com
pessoas, grupos, famlias e comunidades, com o objetivo de mobilizar a cooperao
de cada ser humano para conquistar e conservar o estado de sade.
O relacionamento humano proveniente, dessa cooperao (p.27) produz
intencionalmente um contato especial, voltado para manter o bem-estar de pessoas
que apresentam necessidades relacionadas com as qualidades de vida e, portanto,
preocupadas com a preservao da sade ou com o combate s doenas.
O dilogo estabelecido nesse contato visa compreenso do padro de
vida das pessoas, o que respalda a interveno do profissional, ao negociar com a
clientela as aes a serem realizadas, evitando, assim, tomar decises isoladas.
A enfermagem tem entre suas metas a preocupao de reduzir ou evitar
as tenses biofsicas e psicossociais das pessoas que ingressam no sistema de
atendimento sade. Para cumprir essa meta, preciso perceber e saber
reconhecer tanto as tenses biofsicas - como a dor, a dispnia, a nusea a insnia,
a anorexia, a tonteira, o calor, o frio, o retesamento de pele; a sede, o prurido, a
sonolncia, a fraqueza, a distenso do intestino e da bexiga, a fadiga - quanto as
tenses psicossociais - como a ansiedade, a solido, o medo, o vazio, a impotncia,
a frustrao, a depresso, a raiva, a aflio, a irritabilidade, o desamparo, o
constrangimento, a humilhao, a confuso, a incerteza, a culpa, a monotonia e a
averso, entre outras.
Para realizar uma interveno de enfermagem - sinnimo de interao
humana - preciso tambm que os atos do profissional sejam articulados com os
princpios de conservao de energia e integridade pessoal, social, poltica e
estrutural.
-
Como uma atividade em que se lida constantemente com a vida e a
morte, permeada por acontecimentos graves, como doenas, deficincias e
amputaes, cada cuidado (p.28) tem importncia vital.
A experincia de cada ser humano compreende uma rede de relaes e
sentimentos ligados por fios que se entrelaam uns aos outros, ns que se desatam;
se desenlaam e, por fim, se cortam. A vida uma operao unitria, pessoal e
pluridimensional em relao a tudo o que nela intervm, terminando com a morte.
Diante desta o pessoal de enfermagem deve considerar tanto os aspectos da morte
biolgica suspenso das funes vitais e destruio de um organismo - quanto os
aspectos da morte pessoal - a perda de uma vida e sua pretensa imortalidade,
caracterizada pelos vnculos e projetos que a pessoa deixou. Portanto, cada ao
tem um valor inestimvel tanto para quem a executa como para quem a recebe.
O simples fato de mudar a posio periodicamente de uma pessoa
acamada tem inmeras implicaes, como melhoria da respirao e do tnus
muscular, preveno de feridas causadas pela compresso, aumento da circulao
sangnea, diminuio ou aumento de dores, diminuio de gases no trato intestinal,
maior ou menor liberdade de movimento, contato com as pessoas presentes no
cmodo, oportunidade de comunicao e dilogo etc.
O entendimento da experincia de enfermagem humanstica transcende a
abordagem cientfica - cuja marca a impessoalidade e a distncia. Ela s pode ser
compreendida por meio da sensibilidade d imaginao criativa. Dessa forma, o
profissional passa a se sentir responsvel por seu desejo de cuidar e por seus atos,
sem se alienar do desejo e dos atos do padecente, procurando interpretar seus
gestos, seus (p.29) signos, seu comportamento e at seus silncios.
preciso ressaltar que os fundamentos da enfermagem profissional so
os mesmos preconizados pela corrente terico-prtica de Florence Nightingale,
desde 1860, da qual reproduzimos o principal paradigma:
A enfermagem sinnimo de sade. Ela preocupa-se com o meio
ambiente sadio, com habitaes higinicas e com a educao das crianas e das
mulheres; enfim, com toda a coletividade humana.
Os(as) enfermeiros(as) formadas de acordo com esse paradigma devem
fazer cumprir as leis da sade, entendendo que a enfermagem o caminho
-
verdadeiro para infundir na raa humana a arte de preservar a prpria sade. Para
atingir esse objetivo, devem desenvolver um conjunto de conhecimentos sobre a
preveno das doenas que engloba toda a argumentao em favor da arte da
enfermagem.
A enfermagem nightingaleana valoriza o efeito do corpo sobre a mente,
preconizando que, no processo de recuperao de um corpo doente, os (as)
enfermeiros(as) devem levar em conta o esplendor das cores, a beleza da forma dos
objetos, a msica associada ao ar puro e livre, a iluminao, o aquecimento a
limpeza, o silncio e uma dieta adequada.
Com relao ao trabalho com a comunidade, devem tratar de cinco
pontos essenciais para manter a higiene das habitaes: ar puro, gua pura, rede de
esgoto eficiente, limpeza e iluminao. As doenas no devem ser entendidas como
classes, mas como condies provenientes uma das outras. (p.30)
Os (as) enfermeiros(as) devem fazer observaes precisas, acuradas e
completas, sendo a percepo correta dos fatos considerada capacidade essencial,
sem a qual eles(as) seriam inteis, apesar de outras qualidades.
Florence delimitou o territrio da enfermagem, em relao medicina, por
meio da seguinte percepo: Quando a funo de um rgo est impedida, a
medicina ajuda a natureza a remover a obstruo e nada mais alm disso, enquanto
a enfermagem mantm a pessoa nas melhores condies possveis, a fim de que a
natureza possa atuar sobre ela.
O que faz a enfermagem
Nos dias de hoje, a enfermagem pode ser definida, enquanto ao social,
como a atividade realizada por pessoas que cuidam de outras procurando manter a
vida sadia, evitar ou amenizar as doenas, proteger o meio ambiente e prepar-las
para o desenlace da vida perante a morte.
As principais aes propeduticas podem ser agrupadas em sete
conjuntos:
* Aes de proteo da sade: ensinar comunidade noes de
cuidados com a habitao, o que engloba higiene ambiental, controle da
contaminao atmosfrica, aerao e iluminao. Ensinar tambm a manter a gua
potvel, tratar dejetos, acondicionar e retirar o lixo. Alm disso, transmitir noes
-
sobre como exterminar agentes de doenas, como baratas, ratos e mosquitos, e
como prevenir patologias transmitidas por animais domsticos. Aconselhar sobre a
preservao (p.31) das habitaes, bem como sobre higiene alimentar, escolar e do
trabalho, e fornecer orientaes sobre a legislao sanitria.
* Aes de promoo de sade: orientar a comunidade sobre atividades
relacionadas nutrio, educao sanitria, controle da procriao, padres de
sade vivencial, escolar, coletiva, do trabalho; prestar assistncia s pessoas
idosas, frgeis e aos(s) portadores(as) de limitaes fsicas e mentais.
* Aes de preveno das doenas: aplicar e controlar vacinas, informar
sobre concepo e contracepo - fornecendo informaes sobre os meios
contraceptivos, quando for o caso -, efetuar a notificao de doenas contagiosas
aos setores de sade pblica e ensinar como prevenir acidentes e doenas crnicas
como cncer, tuberculose, diabetes, doenas cardiovasculares e aids, entre outras.
* Aes curativas: dirigidas s pessoas doentes, realizadas nos
domiclios, nos hospitais ou em instituies anlogas.
* Aes de reabilitao: a enfermagem colabora na reintegrao das
pessoas sociedade, nos planos fsico, mental, social e vocacional.
* Aes de investigao epidemiolgica, sociolgica, administrativa e
demogrfica: participao em estudos, a fim de verificar se os conceitos com os
quais trabalha podem ser confirmados e se correlacionam a verdade cientfica com a
social e a poltica.
* Aes de ensino: atuar na formao, preparao prtica e
aperfeioamento de todas as categorias, procurando transcender o pensamento
abstrato das teorias e considerando no (p.32) ensino os aspectos concretos,
conexos, complexos, circunstanciais, criativos e transformadores da realidade.
Quem faz parte do elenco profissional
* Os(as) titulares do diploma de Enfermeiro(a), os(as) titulares do diploma
ou certificado de Obstetra(iz) ou Enfermeiro(a) Obsttrico(a), conferidos nos termos
da lei n 7498/86, regulamentada pelo decreto n 94.406/87.
* Os(as) tcnicos(as) de enfermagem, auxiliares de enfermagem,
parteiras(os), portadores de certificado conferido por instituio de ensino; registrado
no rgo competente e de acordo com as leis do exerccio.
-
Em que consistem as aes da enfermagem
O ato de cuidar como ao teraputica de enfermagem envolve aspectos
relacionados preservao, conservao e manuteno da vida. Para prestar esses
cuidados, seus praticantes precisam compreender o que a sade e a doena
provocam no corpo. O ser sadio, constitui um todo dinmico no qual corpo, mente e
esprito formam uma entidade nica, com um campo de energia nico. O corpo
doente sinaliza que houve uma ruptura nessa harmonia; a doena uma mensagem
do corpo que sinaliza um conflito entre suas partes.
A enfermagem como princpio de ao teraputica emprega toda a sua
energia para manter o corpo sadio.
Quando a doena ou as limitaes fsicas se impem ao (p.33) corpo, o
pessoal de enfermagem assume uma parceria com a pessoa doente para, juntos,
lutarem contra a agresso. Quando as pessoas so portadoras de doenas crnicas ou
limitaes fsicas, as intervenes so realizadas de modo a compatibilizar a vida
dessas pessoas com o restante da sociedade. Para tal, imprescindvel estabelecer um
dilogo entre as partes envolvidas para definir os princpios de colaborao entre elas.
Nessa perspectiva, os profissionais colaboram para que a pessoa
assistida tente compreender o que est ocorrendo, para que consiga expressar seus
sentimentos, suas necessidades, e solicitar o atendimento. Deve-se dialogar com
o(a) cliente sobre suas escolhas, demonstrando que, apesar da doena, a
autonomia do(a) doente mantida. O(a) enfermeiro(a) orienta o(a) doente a viver
nas melhores condies possveis, convivendo com seu estresse. necessrio
reforar o significado da vida e ajudar a pessoa assistida a reformular seus projetos,
de acordo com as limitaes impostas pela doena.
Os praticantes de enfermagem, em sintonia com outros membros da
equipe de sade, colaboram com a pessoa quando ela tem de tomar decises
difceis. Esses momentos se configuram, por exemplo, na hora de assinar
autorizao para amputaes, retirada e doao de rgos, continuidade ou
interrupo de determinado tratamento; divulgao de informaes sobre a doena,
pedido de alta hospitalar e escolha do local em que se deseja morrer.
Essas decises se estabelecem entre a pessoa assistida e o(a)
enfermeiro(a). A partir dos dados obtidos na consulta, so feitos um diagnstico e
um plano de intervenes. O (p.34) diagnstico enuncia a situao fsico-emocional
-
em que se encontra a pessoa consultada. Assim, um(a) cliente que foi retirada de
um rgo e que manifesta medo de que a doena se expanda para outros rgos,
alterao de ,bem-estar associada a uma dor crnica, dificuldade de realizar atos
rotineiros - como se vestir e fazer a higiene -, alterao das relaes familiares em
decorrncia da doena e da hospitalizao, apreenso quanto ao xito de uma
interveno cirrgica, apresenta uma situao biofsica e psicossocial que pode ser
diagnosticada assim: Alterao da imagem de si mesmo, devido retirada de um
rgo, acrescida da preocupao com sua reinsero familiar e social.
Esse diagnstico decorre de uma anlise feita pelo(a) profissional com
base na observao de gestos, atitudes e informaes como peso, temperatura,
contagem dos movimentos respiratrios, entre outras.
Concludo o diagnstico, parte-se para a organizao do plano de
intervenes, que deve ser compatvel com as necessidades do(a) cliente, e ser
cumprido por toda a equipe de enfermagem. O(a) profissional responsvel pelo
plano define o grau de complexidade das aes que devem ser realizadas. O ponto
mais importante do diagnstico de enfermagem incide no fato de ele se apoiar em
aspectos culturais, tcnicos e cientficos. Um diagnstico correto considera as
relaes entre o(a) cliente, a doena e o meio social, e indica como a doena afeta o
cotidiano de seu(sua) portador(a). A viabilidade dos planos de interveno de
enfermagem hospitalar depende da deciso poltica da administrao, que deve
fornecer materiais, recursos financeiros e humanos. (p.35)
Em geral, um plano de interveno contempla os cuidados bsicos
comumente prestados para qualquer pessoa doente: a manuteno da boa higiene e
do conforto fsico; a prtica de exerccios; o repouso; a preveno de acidentes,
infeces e outros traumas; a manuteno da boa mecnica do corpo; e a correo
de deformidades, entre outros itens.
Abrange, ainda, os servios relativos manuteno de oxignio e de
nutrio para todas as clulas do corpo, de eliminao (urina, fezes, catarro etc.), de
equilbrio de fluidos, de reconhecimento das reaes fisiolgicas do corpo a doena
de manuteno das funes sensoriais, entre outros.
Outra funo do plano promover o atendimento teraputico, que deve
compreender a manuteno da comunicao verbal eficiente; o desenvolvimento de
relaes interpessoais construtivas; a identificao e aceitao de expresses,
sensaes e reaes positivas e negativas; a aceitao da doena orgnica; o
-
progresso na conquista de metas pessoais: a conscincia de si prprio como algum
com necessidades fsicas, emocionais e de desenvolvimento; e a criao e
manuteno de um ambiente teraputico harmonioso.
Finalmente, atende s necessidades de restaurao, como: aceitar as
limitaes fsicas e emocionais, recorrer comunidade para solucionar problemas
causados pela doena e compreender que os problemas sociais influenciam o
aparecimento das doenas.
Na implementao do plano, cooperam com a enfermagem o(a)
padecente, profissionais de sade, familiares, amigos ou at mesmo outros(as)
padecentes que j vivenciaram a mesma experincia. (p.36)
A atuao da enfermagem individualizada tem como meta oferecer
sociedade servios revitalizados, realizados com competncia, que tenham em sua
origem um diagnstico consciente conjugado com um plano individual de
intervenes que permitam um melhor cuidado, a comunicao da equipe feita em
uma linguagem comum, a reconstruo do saber prprio da enfermagem e a
delimitao de seu campo de ao e competncia.
Os profissionais, ao exercerem seu trabalho, tornam-se extremamente
importantes na vida da clientela: referncia de figuras humanas consistentes;
consideradas assim por estender suas mos para o trabalho com as dificuldades
biofsicas e psicossociais dos seus semelhantes. Devem se manter estveis e fortes
diante de uma pessoa enfraquecida ou desesperada. Cabe a eles estimular os(as)
clientes, a enquadrar e visualizar sua recuperao, assinalando que parte do xito
do tratamento depende muito de sua prpria colaborao.
Ao cuidar dos semelhantes e se permitir o contato com as sensaes do
prprio corpo e da relao entre suas diferentes partes, a equipe de enfermagem
pode motivar cada cliente a querer preservar seus movimentos e ativar sua
recuperao, sem perder de vista a impossibilidade real de algumas pessoas
doentes coordenarem alguns ou vrios aspectos de sua vida ativa.
Quem exerce a enfermagem deve ser capaz de desenvolver todas as
possibilidades do prprio corpo, controlar os gestos da cabea, trax, bacia, pernas,
ps, braos e mos, e manter o controle sobre o corpo em cada situao que se
apresente. Por exemplo, ao ritualizar uma ao de enfermagem (p.37) com uma pessoa
deitada, que precisa sentar e em seguida levantar, necessrio que o(a) profissional
sintonize os movimentos do seu corpo sadio com os movimentos do corpo enfermo.
-
Um ponto importante a ser considerado nesses casos que o (a) agente
de enfermagem deve estar consciente de que o(a) cliente muitas vezes no
consegue se movimentar da mesma forma que ele(a). A confiana com que o(a)
enfermeiro(a) realiza seu trabalho, sem mostrar vulnerabilidade, pondo algo de si na
relao profissional, distinta da confiana sentida pela pessoa enferma, que em
princpio se encontra fragilizada, insegura, fraca e dependente da solidariedade dos
profissionais de sade.
O pessoal de enfermagem detm uma viso global sobre
os(as)usurios(as) dos servios de sade devido ao acesso que tem aos dados de
seus pronturios, ao passo que estes(as) no possuem quase nenhum
conhecimento dos profissionais que lhe atendem. Na relao estabelecida,
importante que ambos reconheam a existncia desse saber que os diferencia, de
modo que a equipe possa compreender os sentimentos de ansiedade expressos
pela pessoa assistida.
Em certas ocasies, devemos esclarecer o significado desses
sentimentos, ouvindo a pessoa doente para saber o que se passa no ambiente e o
que est interferindo em seu estado. Por isso, preciso estar aberto(a) para dialogar
com a pessoa assistida e ouvi-Ia com ateno.
Os profissionais devem ter em mente que qualquer processo profissional
apresenta uma perspectiva poltica. Por isso, ao realizarem suas aes, devem
procurar conhecer a (p.38) perspectiva do(a) cliente, considerando sua classe, raa,
preferncia sexual e nacionalidade, a fim de evitar que seu trabalho incida e pese na
direo de suas prprias preferncias.
Infelizmente, no Brasil, as aes de enfermagem criativas,
individualizadas, cientficas e responsveis ainda no contam com o reconhecimento
verdadeiro da organizao sanitria, nem da sociedade.
O que estuda quem faz enfermagem
Desde 2001, o Ministrio da Educao fixou as novas Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduao em Enfermagem e da Educao
Profissional.
Em linhas gerais, a pessoa que deseja obter a graduao em
enfermagem precisa ingressar na Universidade. O curso de graduao tem durao
-
de quatro anos e desenvolvido por meio da integrao das disciplinas curriculares
ou por sistema de crditos. desenvolvido em dois ciclos: bsico e profissional.
As disciplinas do ciclo bsico ou pr-profissional so comuns a todos os
estudantes da rea de sade. Abrangem o ensino de anatomia, fisiologia,
bioqumica, microbiologia, farmacologia, psicologia e antropologia. Para os(as)
estudantes de enfermagem includa ainda nesse ciclo a disciplina: Introduo e
Histria da Enfermagem.
O ciclo profissional fundamenta e transmite a teoria e a prtica da
enfermagem. Inicia-se por Arte, Fundamentos e Histria da Enfermagem, e
continua com Enfermagem em Clnica Mdica, Cirrgica, de Centro Cirrgico,
Centro de Material, (p.39) Centro de Tratamento Intensivo, Emergncia,
Psiquiatria, Doenas Transmissveis, Obstetrcia e Pediatria. Na rea de Sade e
preveno de doenas, abrange o ensino de Enfermagem em Sade Pblica, que
conjuga princpios de sade comunitria, coletiva e ambiental. O ltimo mdulo do
curso compreende o ensino de Metodologia, Legislao, Deontologia e
Administrao de Enfermagem.
Como uma profisso dinmica, algumas escolas acrescentam a seus
currculos outras disciplinas, como Ecologia Humana, Prticas Alternativas de Sade
e Ateno a Grupos Sociais Especiais (idosos; menores carentes, prostitutas, de-
tentos, deficientes visuais e motores, entre outros).
Para ser tcnico(a) de enfermagem necessrio ingressar em escolas de
ensino mdio especializadas e fazer um curso de dois anos. As disciplinas so as
mesmas do curso de graduao, porm com menor carga horria terico-prtica.
Para ser auxiliar de enfermagem necessrio ter concludo o primeiro
grau. As disciplinas so as mesmas do curso tcnico, tm durao de um ano, e a
carga horria terico-prtica menor.
Quanto formao de parteiros(as), existe um currculo especial
composto de disciplinas voltadas para o ciclo procriativo.
Campo de trabalho
a) Comunidade
Na vida comunitria, a enfermagem implementa aes de (p.40) sade
vivenciais, com a finalidade de estimular as pessoas a lutarem pela felicidade.
-
na comunidade que os (as) profissionais se deparam com questes
ntimas complexas como, por exemplo, orientar as pessoas a encararem com
otimismo seu destino, encontrarem satisfao na vida, terem capacidade para
enfrentar e se adaptar s frustraes, terem disposio para se relacionar
satisfatoriamente com os outros e com o meio ambiente, respeitando o espao de
cada ume o seu prprio.
Uma das formas de transmitir esse tipo de orientao por meio de
dinmicas de criatividade, expressividade e sensibilidade, que despertam o desejo
de realizar aes organizadas, em espaos autnomos de luta e de esperana, a fim
de resolver problemas insuportveis que requerem transformaes. No trabalho
comunitrio est em jogo a dimenso cultural da sade, que no avana por
decreto, receitas ou cuidados; avana apenas quando a participao das pessoas se
d de forma contnua e comprometida.
A atuao das equipes de enfermagem nas comunidades deve estimular
as pessoas a organizarem esforos autnomos de bem-estar coletivo, envolvendo
todos os seus membros.
b) Hospitais
A enfermagem praticada em hospitais promove o encontro profundo e
permanente entre a pessoa com problemas de sade e a equipe de enfermagem.
Quem chega a um ambiente teraputico sente-se como um estranho perante as
pessoas (p.41) com quem vai conviver. Esse mal-estar intensifica-se porque o
hospital constitui um lugar margem da sociedade. As vivncias de quem est nele
so nicas e exclusivas, e tm de ser compartilhadas com pessoas estranhas.
nesse ambiente que os saberes social, cientfico e tecnolgico so
aplicados, o que exige das equipes habilidades para lidar com o outro e seus
problemas. A expresso corporal dos(as) clientes fala mais alto que suas
necessidades objetivas, revelando freqentemente fantasias de salvao, conforto,
satisfao sexual, liberdade, raiva, inveja, ou seja, sentimentos que so
exacerbados naqueles que dependem dos outros.
Em hospitais, os processos interativos de enfermagem exigem das
equipes a capacidade de se comunicar por meio de um corpo que fala, toca e emite
energia. O(a) enfermeiro(a) deve ter a capacidade de se emocionar, sem permitir
que a emoo impea o trabalho tranqilo. As tcnicas implementadas em hospitais
-
devem ser adequadas s melhores condies de segurana possveis, para evitar
que sua aplicao cause processos lesivos e acidentes.
Os hospitais so lugares delimitados e controlados, onde tudo o que
ocorre registrado; Cabe s equipes de enfermagem comprometidas com a
solidariedade procurar dissipar a monotonia a que so submetidas as pessoas
enfermas, implementando formas possveis de convivncia horizontal e participativa.
c) Empresas, organizaes e escolas
enfermagem do trabalho cabe controlar o ambiente, o impacto
tecnolgico e as condies ambientais de empresas, (p.42) organizaes e escolas.
Atuar organizando os(as) trabalhadores(as) e estudantes para defender a boa
qualidade de vida nos espaos ocupacionais, articulando de forma preventiva a
reviso dos locais de trabalho. Orientar patres, doentes, empregados e estudantes
a acrescentarem, nos contratos clusulas de proteo vida e ao bem-estar, de
modo a minimizar impactos negativos que as ocupaes e o ensino podem causar
sade, fazendo cumprir a legislao sanitria geral e a trabalhista. Os(as)
profissionais na rea do trabalho dispem de uma organizao associativa, a
Associao Nacional de Enfermagem do Trabalho (Anent), com sede em So Paulo.
d) Domiclio
Este campo ainda no est totalmente estruturado no pas, porm oferece
oportunidade ilimitada de trabalho. Os(as) profissionais de enfermagem podem
prestar cuidados individuais nos domiclios, tanto na rea profiltica quanto na rea
curativa. Por exemplo, comum o atendimento a purperas e recm-nascidos,
doentes crnicos, pessoas imobilizadas e doentes terminais que optaram por morrer
em sua prpria casa.
e) Pesquisa
O campo de atuao em pesquisa engloba as duas vertentes centrais da
enfermagem - a modalidade de cuidar e a de administrar -, alm de investigaes
nas reas epidemiolgica, (p.43) demogrfica, antropolgica e histrica, entre:
outras.
As pesquisas so efetuadas nos ambientes teraputicos, nas
comunidades, nas instituies de ensino e trabalho, nos rgos fiscalizadores
-
(Cofen - Conselho Federal de Enfermagem e Corens), nas associaes
profissionais, nos sindicatos da categoria, entre outros.
f) Auditoria
As equipes de auditoria trabalham para compatibilizar a qualidade e a
honestidade das aes profissionais com as necessidades da clientela e as regras
do mercado. Procuravam avaliar a qualidade do atendimento, detectando falhas e
possveis solues; examinam os registros e, ao encontrar omisses, procuram
reorientar imediatamente as equipes profissionais; avaliam o uso correto de
materiais e possveis desperdcios.
g) Informtica
O campo de aplicao de informtica enfermagem abrange as reas de
recursos humanos, classificao dos cuidados disponveis, auditorias, gesto,
relatrios e grficos relativos prestao de servios.
As atribuies do elenco profissional
As aes de enfermagem se entrelaam no fazer dirio das equipes. Cabe
ao pessoal universitrio a responsabilidade principal pelo trabalho prescrito/terico de
definio dos mtodos de atuao, entre outras atividades. (p.44)
Cabe ao pessoal de nvel mdio a responsabilidade pela execuo do
trabalho real, definido nos planos desenvolvidos pelos(as) enfermeiros(as) de
formao universitria.
tarefa do(a) enfermeiro(a):
I. Privativamente:
* direo do rgo de enfermagem integrante da estrutura bsica da
instituio de sade, pblica ou privada, e chefia de servio e de unidade de
enfermagem;
* o organizao e direo dos servios de enfermagem e de suas
atividades tcnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses servios;
* planejamento, organizao, coordenao, execuo e avaliao dos
servios da assistncia de enfermagem;
* consultoria, auditoria e emisso de parecer sobre matria de
enfermagem;
-
* consulta de enfermagem;
* prescrio da assistncia de enfermagem;
* cuidados diretos de enfermagem a doentes graves com risco de vida;
* cuidados de enfermagem de maior complexidade tcnica e que exijam
conhecimentos cientficos adequados e capacidade de tomar decises imediatas.
II. Como integrante de equipe de sade:
* participao no planejamento, execuo e avaliao da programao de
sade; (p.45)
* participao na elaborao, execuo e avaliao dos planos
assistenciais de sade;
* prescrio de medicamentos previamente estabelecidos em programas
de sade pblica e em rotina aprovada pela instituio de sade;
* participao em projetos de construo ou reforma de unidades de
internao;
* preveno e controle sistemtico da infeco hospitalar, inclusive como
membro das respectivas comisses;
* participao na elaborao de medidas de preveno e controle
sistemtico de danos que possam ser causados aos clientes durante a assistncia
de enfermagem;
* participao na preveno e controle das doenas transmissveis em
geral e nos programas de vigilncia epidemiolgica;
* prestao de assistncia de enfermagem gestante, parturiente,
purpera e ao recm-nascido;
* participao nos programas e nas atividades de assistncia integral sade
individual e de grupos especficos, particularmente daqueles prioritrios e de alto risco;
* acompanhamento da evoluo da gravidez e do trabalho de parto;
*execuo e assistncia obsttrica em situao de emergncia e
execuo do parto sem distocia (problemas que dificultam o parto);
* participao em programas e atividades de educao sanitria, visando
melhoria de sade do indivduo, da famlia e da populao em geral;
* participao nos programas de treinamento e aprimoramento de pessoal
de sade, particularmente nos programas (p.46) de educao continuada;
* participao nos programas de higiene e segurana do trabalho, e de
preveno de acidentes e de doenas profissionais e do trabalho;
-
* participao na elaborao e na operacionalizao do sistema de
referncia e contra-referncia do(a) cliente nos diferentes nveis de ateno sade;
* participao no desenvolvimento de tecnologia apropriada assistncia
de sade;
* participao em bancas examinadoras, em matrias especficas de
enfermagem, nos concursos para provimento de cargo ou contratao de
enfermeiro(a) ou pessoal tcnico e auxiliar de enfermagem.
Aos(s) profissionais titulares de diploma ou certificado de obstetra(iz), ou
de enfermeiro(a) obsttrico(a), alm das atividades comuns aos(s) enfermeiros(as),
incumbe especificamente:
* prestao de assistncia parturiente e ao parto normal;
* identificao das distocias obsttricas e tomada de providncia at a
chegada do mdico;
* realizao de episiotomia1 e episiorrafia2 (procedimentos de parto
natural), com aplicao de anestesia local, quando necessria. (p.47)
O(a) tcnico(a) de enfermagem exerce as atividades auxiliares, de nvel
mdio tcnico, atribudas equipe de enfermagem, cabendo-lhe assistir
o(a)enfermeiro(a):
* no planejamento, programao, orientao e superviso das atividades
de assistncia de enfermagem;
* na prestao de cuidados diretos de enfermagem a doentes em estado
grave;
* na preveno e controle das doenas transmissveis em geral, em
programas de vigilncia, epidemiolgica;
* na preveno e no controle sistemtico da infeco hospitalar;
* na preveno e no controle sistemtico de danos fsicos que possam ser
causados a padecentes durante assistncia de sade;
O auxiliar de enfermagem executa as atividades auxiliares, de nvel
mdio, atribudas equipe de enfermagem, cabendo-lhe:
* preparar o(a) cliente para consultas, exames e tratamentos;
1 Interveno cirrgica que consiste em seccionar a mucosa vaginal e os msculos superficiais do perneo, a fim
de aumentar o orifcio da vulva e facilitar a expulso do feto no momento do parto. 2 Sutura da vulva e do perneo dilacerado.
-
* observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas, de acordo com sua
qualificao3; (p.48)
* ministrar medicamentos por via oral e parenteral4;
* realizar controle hdrico5;
* fazer curativos;
* aplicar oxigenoterapia6, nebulizao7, enteroclisma8, enema9 e calor ou
frio;
* efetuar o controle de clientes e de comunicantes em doenas
transmissveis;
* realizar testes e proceder sua leitura, para subsdio de diagnstico;
* colher material para exames laboratoriais;
* prestar cuidados de enfermagem pr e ps-operatrios;
* circular em sala de cirurgia e, se necessrio, instrumentar;
* executar atividades de desinfeco e esterilizao;
* alimentar ou auxiliar o(a) cliente a alimentar-se;
* zelar pela limpeza e ordem do material, de equipamentos e de
dependncias de unidades de sade;
* integrar a equipe de sade;
* participar de atividades de educao em sade, orientando os(as)
clientes na ps-consulta, quanto ao cumprimento das prescries de enfermagem e
mdicas; (p.49)
* auxiliar o(a) enfermeiro(a) e o(a) tcnico(a) de enfermagem na execuo
dos programas de educao para a sade;
* executar os trabalhos de rotina vinculados alta hospitalar;
* participar dos procedimentos ps-morte.
A(ao) parteira(o) cabe:
* prestar cuidados gestante e parturiente; 3 A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional eliminou do seu texto anterior os artigos 39, 40 e 41 que
tratam da profissionalizao dos auxiliares de enfermagem, em 20 de dezembro de 1996. Essa deciso foi regulamentada pelo Decreto 2208 do Governo Federal. O contingente de auxiliares de enfermagem atual deve ser submetido a complementao da formao para ter acesso a carreira de Tcnico(a) de Enfermagem. 4 Medicamento que se aplica por outra via que no a digestiva.
5 Controle de gua administrada e eliminada, a uma pessoa doente.
6 Mtodo teraputico do uso do oxignio, aplicado s pessoas que necessitam do mesmo.
7 Administrao de medicamento lquido, atravs de pulverizaes, pelo nariz ou pela boca.
8 Lavagem intestinal ou introduo de substncia nutritiva ou medicinal, no intestino. 9 Introduo da gua e medicamentos lquidos, no organismo, por via retal.
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* assistir ao parto normal, inclusive em domiclio;
* cuidar da purpera e do recm-nascido.
Para conhecer melhor os desdobramentos das competncias do elenco
profissional, vale a pena consultar a legislao especfica (Lei n 7498/86 e o
Decreto de Regulamentao 95.406/87). Ambos dispem sobre a regulamentao
do exerccio da enfermagem. Pode-se complementar a consulta com a leitura da
Resoluo n 240/2000 - COFEN, que aprovou o Cdigo de tica dos Profissionais
de Enfermagem. (p.50)
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PRINCIPAIS LEIS DO EXERCCIO PROFISSIONAL, RGOS
DE CLASSE E PUBLICAES
Leis
A histria da enfermagem moderna pode ser contada a partir da
recuperao dos instrumentos legais que definiram a identidade da categoria na
sociedade brasileira.
Esse roteiro iniciou-se em 1832, atravs de uma lei imperial que
estruturou o curso de parteiras, cujo currculo foi definido em 1854. Em 1890 foi
criada a primeira escola de enfermagem do Brasil, denominada Escola Profissional
de Enfermeiros e Enfermeiras (Decreto n 791, de 27 de setembro de 1890). Essa
escola passou por diversas modificaes at adquirir o nome de Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto, hoje pertencente UniRio.
Em 19 de fevereiro de 1923, foi instalada a Escola de Enfermeiras do
Departamento Nacional de Sade Pblica (Decreto n 15.799/22), cujo
funcionamento foi legalmente consolidado pelo que consta no Decreto n 16.300, de
31 de (p.51) dezembro de 1923. Em 31 de maro de 1926 essa escola passou a
denominar-se Escola de Enfermeiras Dona Ana Nri. Em 1931 essa instituio foi
elevada a condio de Escola Oficial Padro, qual as demais escolas deveriam ser
equiparadas (Decreto n 20.109, de 15 de junho de 1931).
Em 1932, esse decreto sofreu modificaes que concederam s irms de
caridade com mais de seis anos de prtica efetiva direitos iguais aos das
enfermeiras do padro Ana Nri (Decreto n 22.257/32).
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Em 1926 foi criada a Associao Brasileira de Enfermeiras Diplomadas,
que atualmente se denomina Associao Brasileira de Enfermagem, reconhecida
como utilidade pblica pelo Decreto n 31.417/52.
Em 10 de agosto de 1938 foi institudo o Dia da Enfermeira (Decreto n
2.956/38), em 12 de maio, data do nascimento de Florence Nightingale. Em 1960 foi
criada a Semana de Enfermagem, compreendida entre 12 e 20 de maio (Decreto n
48.202/60), para concluir as comemoraes na data de morte de Ana Nri.
Em 1937, a Escola de Enfermagem Ana Nri passou a integrar a
Universidade do Brasil, hoje UFRJ.
Em 1946 foi criada a carreira de auxiliar de enfermagem, reconhecida
pelo Decreto-Lei n 8.772/46. Tambm nesse ano foram regulamentados os exames
de habilitao para parteiras prticas e auxiliares de enfermagem (Decreto n
7.788/46). A jornada de trabalho foi regulamentada em 38 horas semanais (Decreto
n 26.299/49). A lei de regulamentao do ensino foi aprovada (Lei n 775/49).
Em 1955 foi sancionada a lei que regulou o exerccio da (p.52)
enfermagem profissional (Lei n 4.604, de17 de setembro de 1955), oficializando
assim as atribuies da(o) enfermeira(o), da(o) obstetriz(a), da(o) auxiliar de
enfermagem e da(o) parteira(o).
Nos anos 1960, a enfermagem foi incorporada, no nvel tcnico-cientfico,
ao plano de classificao de cargos (Lei n 3.780/60). Na Lei de Diretrizes e Bases
da Educao Nacional, a enfermagem foi reconhecida em seus trs nveis atuais
(Lei n 4.024/61).
Em 1961 foi regulamentado o exerccio da enfermagem, de suas funes
auxiliares e de fiscalizao profissional, a cargo do Servio Nacional de Fiscalizao
da Medicina e Farmcia.
Em 1973 foi sancionada a lei que criou os conselhos federal e regionais de
enfermagem, vinculados ao Ministrio do Trabalho e conceituados como autarquias
de fiscalizao profissional (Lei 5.905/73 e Decretos n 60.900/69 e n 74.000/74).
Os cursos de tcnico(a) e auxiliar foram integrados ao sistema
educacional do segundo grau (Lei n 5.692 e Decreto-Lei n 71.737/71). O Ministrio
do Trabalho integrou as equipes de enfermagem nas equipes de sade ocupacional
(Portaria n 3.460/75).
Em 1980, a lei do exerccio profissional foi revista e ampliada (Lei n
7.498/86 e Decreto n 94.406/87), trazendo significativos ganhos para as diversas
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categorias com atuao na enfermagem, como a obrigatoriedade da habilitao legal,
bem como a inscrio nos conselhos de enfermagem para fins do exerccio. (p.53)
Comentrio sobre a legislao profissional
Os instrumentos jurdicos que regulam o exerccio profissional (Lei na
7.498/86 e Decreto Regulador na 94.406/87) no esto adequados s evidncias da
Constituio brasileira aprovada em 1988. Na Carta Constitucional, homens e
mulheres so iguais em direitos e obrigaes e a cidadania reconhecida igualmente
para ambos os sexos. A legislao do exerccio profissional, quando foi concebida,
considerou o masculino como forma neutra a ser empregada para os dois sexos.
Evidencia-se, assim, a necessidade da reformulao de toda a legislao de
enfermagem para dar visibilidade s mulheres, que predominam na categoria.
Contudo, no devemos perder de vista que na Carta Constitucional de 1988 os
homens integraram o sistema jurdico diretamente, ao passo que a cidadania das
mulheres foi justificada enquanto trabalhadoras, mes, esposas, o que excluiu um
enorme segmento de mulheres que no se enquadram nessas categorias. Os (as)
constituintes apoiaram seus argumentos no fato de que historicamente a poltica
sempre tratou as mulheres a partir de uma referncia vida domstica.
Tudo o que especfico s mulheres interessa sobremaneira ao
delineamento das polticas de enfermagem, por se tratar de uma profisso exercida
majoritariamente por pessoas do sexo feminino. Dentre os direitos sociais
alcanados por essa Constituio est a proteo da mulher no mercado de
trabalho, com o reconhecimento do direito licena de 120 dias no fim da gestao,
sem prejuzo do emprego e salrio (captulo Dos Direitos Sociais, artigo 70, XVIII).
A (p.54) maternidade como estado fsico ainda aparece na seo III, Da
Previdncia Social, no captulo Da Seguridade Social, em que se estipula a
proteo maternidade, especialmente gestante, e na seo IV desse mesmo
captulo, Da Assistncia Social, em que o estipulado a proteo famlia,
maternidade, infncia, adolescncia e velhice.
Verifica-se que o texto constitucional acolhe uma discriminao que,
mesmo sendo positiva por permitir a igualdade entre mulheres e homens, reconhece
dessa maneira que a cidadania da mulher brasileira ainda repousa no fato de ela ser
til ao Estado por sua capacidade de procriar.
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Conhecer a legislao e examin-la luz da questo de gnero
importante para que se estimulem os(as) legisladores a reformular as leis de modo
que elas incorporem necessidades de homens e mulheres.
Principais rgos de classe
ABEn
A primeira associao civil de carter cultural foi a Associao Nacional
de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras, criada em 1929, hoje consolidada na
Associao Brasileira de Enfermagem (ABEn), com sede em Braslia. Filiada ao
Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE) desde 1929, perdeu essa filiao para
o Cofen, em 1997.
Em 1935 a ABEn se integrou ao Comit internacional Catlico de
Enfermeiras e Assistentes Mdico-Sociais. Finalmente, em 1970, filiou-se
Federao Pan-Americana dos Profissionais de Enfermagem. (p.55)
Realizou o I Congresso Nacional de Enfermagem em So Paulo, entre 18
e 22 de maro de 1947, nas dependncias da USP, idealizado pela enfermeira Irm
Maria Domineuc - do Hospital de So Paulo - e por Edith Magalhes Fraenkel, com
o lema Elaborar, em conjunto, um programa eficiente de enfermagem, visando o
desenvolvimento da profisso num plano elevado.
O mais recente congresso realizou-se em Gramado, RS, com o tema:
Enfermagem: Coragem de experimentar muitos modos de ver, entre 24 e 29 de
outubro de 2004.
A ABEn um rgo nacional, composto de uma sede em Braslia, sees
em todas as capitais e distritos nas principais cidades do pas. O conjunto desses
rgos compe- o Conselho Nacional da ABEn (Conaben), que se rene duas vezes
por ano para discutir assuntos de interesse dos(as) associados e formular a
proposta de ao para cada perodo. Os(as) estudantes de enfermagem contam
com um espao na sede da ABEn, em Braslia, para organizar os Encontros
Nacionais de Estudantes de Enfermagem (Eneen) desde 1963 at o presente.
A ABEn tem entre seus rgos o Centro de Pesquisa e Enfermagem
(Cepen), que realiza os seminrios nacionais de pesquisa em enfermagem com o
objetivo de refletir, discutir e analisar a inter-relao das pesquisas com a prtica
concreta do exerccio. Mantm um banco de teses e dissertaes na biblioteca da
sede, em Braslia, com cerca de 2.700 ttulos.
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Os principais eventos nacionais promovidos pela ABEn com periodicidade
definida so: Congresso Brasileiro de Enfermagem, Semana (p.56) Brasileira de
Enfermagem, Seminrio Nacional de Diretrizes para Educao e Enfermagem,
Simpsio Nacional para Diagnstico d Enfermagem e Seminrio Nacional de
Pesquisa de Enfermagem.
No mbito regional a instituio promove os encontros ENF Norte,
Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Nesses eventos so apresentados trabalhos
regionais que posteriormente servem de subsdio para a discusso temtica que
antecede os congressos nacionais de enfermagem.
Destaca-se tambm a concesso de prmios de incentivo produo
cientfica. De acordo com cada rea de estudo, os prmios oferecidos homenageiam
enfermeiras que se destacaram de alguma maneira no Brasil, entre elas: Edith
Magalhes Fraenkel, Marcos Otvio Valado e Edma Rodrigues Valado, Glete de
Alcntara, Isaura Barbosa Lima, Jane de Fonseca Proea, Las Nettodos Reis,
Maria Rosa de Souza Pinheiro, Marina de Andrade Rezende, Noraci Pedrosa
Moreira, Wanda Aguiar Horta e Zaira Cintra Vital.
A associao edita a Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn) desde
1932, que deu continuidade aos Anais de Enfermagem. Edita tambm os Anais dos
Congressos Brasileiros de Enfermagem, que esto neste momento em sua 54
edio, e os Anais dos Seminrios de Pesquisa de Enfermagem.
Entidades de especialistas
Encontramos registros indicativos da existncia de 25 associaes da
especialidade, sediadas em So Paulo (20), Rio de Janeiro (3), Bahia (1) e Rio
Grande do Sul (1). (p.57)
Sindicatos
Os sindicatos se articulam pela Federao Nacional de Enfermagem para
encaminhar os grandes eixos de luta da categoria.
O primeiro sindicato de enfermeiros(as) foi criado no Rio Grande do Sul,
em 1975, tendo se expandido por todo o pas.
Nessa articulao, entre outras reivindicaes, so implementadas tticas
e estratgias de luta por piso salarial digno, menor jornada de trabalho e polticas de
pessoal que atendam s necessidades da categoria.
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Os(as) sindicalistas participam de encontros com outras entidades
sindicais correlatas para discutir e integrar programas de ao conjunta.
Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e
Conselhos Regionais de Enfermagem (Corens)
Esses conselhos foram criados pela Lei n 5.905, de 12 de julho de 1973,
e constituem-se em seu conjunto uma autarquia, vinculada ao Ministrio do Trabalho
e Previdncia Social.
O Cofen, entidade vrtice do sistema, funciona como rgo normativo
dotado de autonomia administrativa e financeira, enquanto os Corens tm tarefas e
atribuies de rgos executivos.
Ambos atuam como rgos colegiados; seus mandatos no so
remunerados e suas decises so tomadas por maioria de votos de seus(suas)
conselheiros(as). Os(as) conselheiros(as) so eleitos trienalmente em assemblia
geral, constituda (p.58) pela totalidade dos(as) profissionais inscritos em cada Coren.
Seus plenrios so constitudos de enfermeiros(as), tcnicos(as) de
enfermagem e auxiliares de enfermagem.
Em 1997 o Cofen filiou-se ao Conselho Internacional de Enfermeiros(as),
e a partir de 1998 passou a realizar anualmente os Congressos Brasileiros dos
Conselhos de Enfermagem (CBCENF).
Os conselhos de enfermagem fixam, cobram e executam as contribuices
anuais devidas por pessoas fsicas e jurdicas, bem como preos de servios e multas.
A Justia Federal o rgo encarregado de apreciar as controvrsias que
envolvem os atos do sistema Cofen e Coren.
Publicaes
Registrou-se na dcada de 1990 um grande aumento na quantidade de
livros editados na rea de enfermagem, alm de vrias publicaes regulares, como
as revistas:
ACTA Paulista de Enfermagem - Escola de Enfermagem da Universidade
Federal de So Paulo (Unifesp);
Enfoque - SP - edio particular;
Revista Campineira de Enfermagem - ABEn Regional- Campinas (SP);
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Revista da Escola de Enfermeira da USP - EE-USP - SP;
Revista de Enfermagem da Unicamp - FCM - Depto. de Enfermagem-
Campinas - SP;
Revista Latino Americana de Enfermagem - EE-USP - Ribeiro Preto - SP;
(p.59)
Revista Nursing Brasileira - edio particular - SP;
Revista Paulista de Enfermagem - ABEn-SP;
SOBECC Revista - SOBEnf. - Sociedade Brasileira de Enfermagem - de
Centro Cirrgico - SP;
Caderno de Pesquisa Cuidado Fundamental - EEAP - Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto - UNIRIO - RJ;
Enfermagem Atual - Editora de Publicaes Biomdicas Ltda. - RJ;
Escola Ana Nri Revista - EEAN - Escola de Enfermagem Ana Nri - UFRJ -
RJ;
Revista Alternativa de Enfermagem - D.Enf HUCFF - Departamento de
Enfermagem do Hospital Universitrio Clementino Fraga - RJ;
Revista Enfermagem UERJ - Faculdade de Enfermagem UERJ - RJ;
Revista Baiana de Enfermagem, EE-UFBA -Salvador;
Texto e Contexto Enfermagem - EE-UFSC - Santa Catarina;
Cogitare Enfermagem - EE-UFPR - Curitiba - Paran;
Revista Gacha de Enfermagem - EE-UFRGS - Porto Alegre - RS;
Revista Brasileira de Enfermagem - ABEN Nacional - Braslia - DF;
Revista Mineira de Enfermagem - EE-UFMG - Belo Horizonte- MG.
Temos conhecimento de que existem outras publicaes de enfermagem
em estados no mencionados acima, porm no dispomos de informaes
suficientes para inclu-la nessa relao. (p.60)
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DIMENSES CULTURAIS
Noes sobre o que cultura
A cultura neste ensaio a programao extragentica que guia e ordena os
comportamentos sociais e ideolgicos expressos pelo que pensa e faz cada pessoa.
Nas diversas culturas passadas e presentes, o sistema cultural
proporciona orientao moral, explica e apresenta modelos de conduta, estabelece
cdigos normativos e ideolgicos, assim como legitima situaes estruturais de
dominao, em muitos casos oferecendo mulher uma imagem de si mesma que
no lhe corresponde, uma identidade que em realidade provm de um padro
concebido e expresso pelo sistema patriarcal, que continua controlando a produo
simblica.
Logo, a cultura, como portadora de sentidos e organizadora das prticas
sociais, no neutra em relao aos sexos; em vrias prticas culturais o princpio
feminino simbolizado (p.61) como dependente, irracional, sentimental, misterioso,
sacrificado, apaixonado, subjetivo, influenciado, tentador, dbil, inferior, vises que
tm servido para alimentar sistemas de controle social com a funo de apagar,
silenciar e ocultar as realizaes das mulheres.
Os (as) praticantes da enfermagem precisam conhecer e desvendar a
cultura, procurando entender que ela concentra um sistema de representaes
simblicas de valores, critrios, regras de conduta que regem e racionalizam a
compreenso dos seres de ambos os sexos; seus pensamentos, sua posio social
e seus comportamentos. pela cultura que se do a aceitao potencial e a
encarnao permanente da criatividade humana.
-
A cultura profissional rene um conjunto de valores e crenas que,
mesmo no escritas em lugar nenhum, nem transmitidas objetivamente pelas
escolas, vo moldando tudo todos. A enfermagem, ao longo de sua histria, vem
formulando e reformulando lenta e continuamente a dinmica cultural, ora
valorizando solues, ora desvalorizando esforos, polticas e processos idealizados
para melhorar a qualidade da atuao profissional.
Uma das metas deste ensaio fazer com que os (as) profissionais de
enfermagem percebam que somente quando compreenderem os aspectos da vida
cultural que podero traar polticas justas, centradas nas atuaes cotidianas e,
por meio dessa nova percepo, oxigenar o processo de trabalho, lutar contra o
sexismo, alertar cada profissional sobre a importncia de desenvolver as prprias
potencialidades, de forma a alcanar, com suas equipes e clientela, (p.62) maiores
nveis de bem-estar individual e social, tanto no trabalho quanto na sociedade.
Escolhi abordar criatividade, tica, poder, dinheiro, corpo, gnero, saber,
linguagem, racismo e a questo religiosa por considerar a compreenso desses
temas muito importante para a vida profissional.
Criatividade: arte/esttica/estilo
Criar significa compreender e integrar o compreendido em um novo nvel
de conscincia. Para criar dependemos do desenvolvimento de:
sensaes ou qualidades sensveis;
percepo e intuio;
memria e percepo de formas constantes;
imagens espaciais com expanso e comunicao de sentimentos, idias e
valores;
sensibilidade, afetividade e intelectualidade.
As sensaes lentamente transformam-se em percepes. A funo do
intelecto procurar o esclarecimento da verdade e o desmascaramento do erro, da
ignorncia, da mentira, dos enganos, das mistificaes. Nesse caso preciso situar
as diferenas entre o mtodo e a forma, considerando contedo, vivncias
individuais, valores e delimitaes, em contraposio ao mtodo instrumental
-
tecnolgico. A forma o modo de ser, o feitio, a aparncia, a disposio, a
configurao. A idia de forma abrange um princpio organizador, (p.63)
estruturador; enfim, uma ordenao que se manifesta quando criamos algo.
A enfermagem como arte aplicada trabalha com a fisicidade dos seres
humanos. A experincia esttica de cada enfermeiro(a) feita de:
atitudes pessoais, contingncias de gestos, critrios formativos, sucesso de
estilos.
Cada profissional trabalha com dados estritamente pessoais, como:
experincias concretas;
histrico de vida;
espiritualidade particular;
reao pessoal ao ambiente histrico em que se vive;
pensamentos, costumes, sentimentos, idias, crenas e aspiraes;
relao com seu prprio corpo e com o prazer.
Portanto, preciso considerar na produo criativa dos rituais de
enfermagem:
o conjunto de meios expressivos de que dispomos;
os mtodos de transmisso de solidariedade dos(as) enfermeiros(as) para as
pessoas padecentes de alguma limitao, evitando a indiferena;
os preceitos codificados - cientficos, tcnicos, sociais, ticos; (p.64)
as vrias linguagens existentes (das escolas, das instituies - ABEn,
sindicato, Coren, servios, Igrejas, entre outras);
os instrumentos disponveis (livros, apostilas, materiais de demonstrao).
Os rituais de enfermagem como parte da arte aplicada se destinam a
evitar ou amenizar o sofrimento dos seres humanos e no constituem uma operao
ideolgica; Antes de tudo, trata-se de uma relao sensorial criativa.
Os (as) enfermeiros(as) precisam ter uma viso moral, econmica e
poltica que lhes permita atender e satisfazer as exigncias materiais e espirituais
dos seres humanos sob seus cuidados.
-
Um ritual de enfermagem compreende um conjunto de gestos, com limites
precisos. irreversvel, incorruptvel; promove a essncia, a luz, a vista; enfim, tudo
o que entra em seu campo. Realiz-lo implica refletir sobre o seu significado e sua
propedutica, pois se trata de um ato emocionante, impressivo, concreto e ao
mesmo tempo abstrato, que atinge seu instante pleno ao assegurar seu potencial de
sentido e de prazer, que advm da luta presente e eficaz da solidariedade que
estendemos s outras pessoas quando exercemos esse ofcio.
A ciso entre a forma e a reflexo sobre a criatividade na formao
terico-tcnica e no exerccio profissional dos(as) enfermeiros(as) traz como
conseqncia a perda da prtica de qualquer dimenso transcendente. - crtica ou
utpica. Prevalecem na cultura da enfermagem moderna os valores da sociedade
pr-industrial e pr-moderna. Para forar a entrada (p.65) da enfermagem na to
almejada modernidade e na industrializao, foram usados os mesmos mecanismos
adotados em outras reas das humanidades:
a ruptura com o passado, comprovada pela carncia de registros dos(as)
enfermeiros(as) e da histria da enfermagem brasileira;
a concepo racionalista da cultura da enfermagem;
a crena no progresso tecnolgico como valor em si mesmo.
Essa trilogia tem desempenhado papel regressivo e impositivo,
debilitando os elementos autnomos, tornando os(as) enfermeiros(as) incapazes de
oferecer resistncia interior e criativa diante dos fenmenos agressivos e totalitrios
que acompanham o desenvolvimento tecnolgico.
A ordem dos espaos de acolhimento nos servios de sade est
totalmente racionalizada, o que combina perfeitamente com os smbolos de solido,
nostalgia e morte; Nessa ordem, a razo instrumental se identifica com a violncia
cultural opressiva, e a tecnologia, com a destruio.
A viso tecnocrata d enfermagem acarreta uma identidade cultural
abstrata, ou melhor, uma no-identidade profissional.
A reproduo tcnica dos rituais em srie liquida a promessa de felicidade,
a vontade de transformao e a esperana de emancipao plena da categoria.
Abordar a criatividade causa de imediato uma reflexo sobre os hbitos
no exerccio da profisso. Fazer enfermagem por hbito muitas vezes constitui um
-
fator reacionrio (p.66) no regime das relaes ticas e sociais relativo aos
costumes profissionais.
A enfermagem exercida como hbito de rotina, se ope evoluo da
sensibilidade e do desenvolvimento das aes mais articuladas, maduras e
complexas. Cada profissional deve se habituar a no se habituar, para ter
oportunidade de ve