maria claudia kohler diss[1][1]

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AGENDA 21 LOCAL: DESAFIOS DA SUA IMPLEMENTAÇÃO. EXPERIÊNCIAS DE SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO, SANTOS E FLORIANÓPLOS. Maria Claudia Mibielli Kohler Dissertação apresentada ao Departamento de Saúde Ambiental, da Fasculdade de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo, para a obtenção do grau de Mestre em Saúde Pública. Área de Concentração: Saúde Ambiental Orientador: Prof. Dr. Arlindo Philippi Jr São Paulo 2003

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AGENDA 21 LOCAL: DESAFIOS DA SUA IMPLEMENTAO. EXPERINCIAS DE SO PAULO, RIO DE JANEIRO, SANTOS E FLORIANPLOS. Maria Claudia Mibielli Kohler DissertaoapresentadaaoDepartamentodeSade Ambiental,daFasculdadedeSadePblica,da Universidade de So Paulo, para a obteno do grau de Mestre em Sade Pblica. rea de Concentrao: Sade Ambiental Orientador: Prof. Dr. Arlindo Philippi Jr So Paulo 2003 Aos meus pais, Armando e Miriam, pelo trabalho, dedicao e estmulo, possibilitando sempre que eu seguisse meus sonhos e desejos profissionais, meu eterno reconhecimento. Aos meus queridos filhos, Marina e Fabio, pela compreenso das muita horas de ausncia e por darem tanto sentido e alegria a minha vida, alm de serem motivo para que eu me torne sempre um ser humano melhor e lute, cada vez mais, por uma Gaiasaudvel. Meus sinceros agradecimentos,AoProf.Dr.ArlindoPhilippiJr.,pelaamizade,ensinamentos,pacinciae credibilidade em mim depositada para o desenvolvimento deste trabalho. Profa.Dra.MariaCecliaFocessiPelicioni,pelocarinho,amizade,incentivoe tantas contribuies neste trabalho. AosProfessoresDr.MarceloRomero,DrGildaColletBruna,Dra.SilviaMaria Sartor, pelas valiosas contribuies. AsbibliotecriasdaFaculdadedeSadePblica,emespecialSra.MariaLcia Evangelista de Faria Ferraz, que sempre auxiliou na pesquisa e nos esclarecimentos sobre as referncias bibliogrficas. Ao Ncleo de Informaes em Sade Ambiental NISAM, pelo apoio prestado para a consecuo deste trabalho. AoPauloGarreta,parceiroemtantascontribuiesepelaforaduranteesterduo processo de crescimento. Asminhasirms,AliceeBeatriz,emeuirmo,Pedro,peloapoioemtodosos momentos.amigaeirmdecorao,MarcinhaGuerra,pelasvaliosascontribuiessobre Agenda 21, sempre me atualizando, prestigiando e enriquecendo meu trabalho. amiga Rita de Cssia Ogera, que sempre esteve pronta a prestar apoio, incentivo e contribuies em diversos momentos desta jornada. amiga Lcia Delagnelo, pela base de apoio e carinho durante a pesquisa realizada em Florianpolis. Aosentrevistadosnascidadesestudadas,agradeoadisponibilidadeeboavontade nas entrevistas realizadas.AoSr.LuisDarioGutierrezMere,doMinistriodoMeioAmbiente,quecontribui com importantes informaes para a realizao da dissertao. Aos amigos Andra Pelicioni, urea Okuma, Renata Ferraz de Toledo, Vera Petilo, CntiaSales,MaryLobas,ElizabethMarcondes,IvanMaglio,SilviadeCastro Barcellar do Carmo, Tathiane Santos, Maria Teresa Lacombe Abud, Evanda Paulino, MariaIgnsCarlosMagno,CarmencitaAmaralBorges,EtieneFerro,Cristina Bonfiglioli,AnaBeckereSandraRosa,pelasdiversasrevises,contribuiese estmulo. Aos integrantes do Grupo APJ e equipe do NISAM, por compartilharem as dvidas, ajudarem a clarear o caminho e pelos momentos teraputicos e de carinho. AosprofessoresdaUNISALe,emespecialacoordenadoraProf.DraRitaMaria Lino,peloincentivo,orientao,compreensoeapoiosalesianonosmomentosde concluso final desse trabalho.Enfim,atodosaquelesqueparticiparamdesteprocesso,compalavrasdeestmulo, incentivo, disponibilidade e carinho, Muito obrigada!RESUMO KohlerMCM.Agenda21Local:Desafiosdasuaimplementao.Experincias deSoPaulo,RiodeJaneiro,SantoseFlorianpolis.SoPaulo,2002. [Dissertao de Mestrado Faculdade de Sade Pblica da USP].AAgenda21,apresentadanestetrabalho,foiumdosprincipaisresultadosda ConfernciadasNaesUnidassobreMeioAmbienteeDesenvolvimento CNUMAD,Rio-92.Comoobjetivodeanalisaraexperinciadequatrocidades brasileiras, duas metrpoles So Paulo e Rio de Janeiro e duas cidades litorneas demdioporteSantoseFlorianpolisnodesenvolvimentodesuasAgendas21 Locais,procurou-secaracterizarosprocessosempregadosemsuaconstruo.Para isso,utilizaram-secomoinstrumentosmetodolgicosapesquisabibliogrfica,a pesquisa documental, e a entrevista com a aplicao de formulrio semi-estruturado. ACidadedeSoPaulofoiaprimeiracapitalbrasileiraainiciaroprocessode construodaAgenda21Local,incorporandosetoresgovernamentais,no-governamentaisesociedadecivil,emmomentosdistintos.NaCidadedoRiode JaneirofoioFrum21oresponsvelpelodesenvolvimentodaAgenda21.Ja Agenda21LocaldeSantosteveinciocomoapoiodoInternationalCouncilfor LocalEnvironmentalInitiatives-ICLEI.OMunicpiodeFlorianpolisiniciouseu processodediscussodaAgenda21LocalcomarealizaodeumSeminrio, criando-se,ento,oFrumAgenda21LocaldoMunicpiodeFlorianpolis.As cidadesdeSoPaulo,RiodeJaneiro,SantoseFlorianpolisderamincio, respectivamente em 1992, 1996, 1994 e 1997 ao processo de construo da Agenda 21,adotando,porm,metodologiasdiferentes.Adescontinuidadeadministrativa impactouprofundaediferentementeosprocessosdeSoPauloeSantos.As Agendasapresentamcomocaractersticasemcomumaformalizaodosgruposde trabalhoatravsdedecretos,acoordenaodasAgendasnasSecretarias,ourgo responsvelpelagestoambientaldomunicpio,arealizaodereuniese seminriosparaenvolverapopulaoegruposmaisdiretamenteligados construodasAgendas21,apublicaodematerialcorrespondente,sendoalguns maiscompletoseconsistenteseoutrosmaissimplificados.Portanto,de fundamentalimportnciaoestabelecimentodeparcerias,oenvolvimentodaalta administrao e o intercmbio de experincias entre os municpios que construram, ouestoemprocessodeconstruo,desuaAgenda21Local.Verifica-se,pelo estudo,aimportnciadomunicpioemcontarcomessepoderosoinstrumentode planejamento, gesto ambiental e participao da sociedade. Descritores:Agenda21.Gestoambiental.Administraoambiental. Desenvolvimento sustentvel. Gesto Local. Administrao pblica. SUMMARY KOHLER,M.C.M.Agenda21Local:desafiosdasuaimplementao. ExperinciasdeSoPaulo,RiodeJaneiro,SantoseFlorianpolis.[Agenda21 and the challenges of its local implementation: Experiments in the cities of Sao Paulo, RiodeJaneiro,SantosandFlorianopolis].SoPaulo(BR);2003.[Dissertaode Mestrado Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo]. Agenda21isoneofthemostimportantofficialdocumentsensuingfromthe1992 United Nations Conference on Environment and Development (UNCED) held in Rio deJaneiro,Brazil.ThisresearchaimstoanalyzetheAgenda21processesof developmentandimplementation in four southeast Brazilian cities: the state capitals ofSoPauloandRiodeJaneiro,andthemediumsizecoastalcitiesofSantosand Florianopolis.Themethodologycomprisedwidebibliographicanddocumentary topicresearch,followedbyinterviewswitheachofthesecitiesmayors.Asemi-structuredquestionformtofillwasspeciallydesigned.SoPaulowentfirstin launchingademocraticprocesstodevelopitslocalAgenda21,recruiting governmentalsectorsandagencies,variousenvironmentalnon-governmental organizations and civil rights groups, which joined in the project in different moments of the public debate.In Rio de Janeiro, a specific coordination group called Forum 21 was created to be in charge of its local Agenda 21 development. As far as Santos isconcerned,thedevelopmentofitsAgenda21wassponsoredbytheInternational CouncilforLocalEnvironmentalInitiatives-ICLEI.InFlorianopolis,acity coordinationboardfortheLocalAgenda21processofdevelopment-Frum Agenda21LocaldoMunicpiodeFlorianpolis-issuedfromapreviousseminar. TheorganizationaldebatesphaseinSoPaulo,RiodeJaneiro,Santosand Florianpolis, in which each city adopted specific strategies both for the development andimplementationofitsownAgenda,beganin1992,1996,1994e1997, respectively.TheunforeseenadministrativediscontinuityinSoPauloandSantos hadaprofoundimpactontheAgendas process of discussion in both cities. Among thecommontraitstothefourlocalAgendas21weretheofficialestablishmentof workgroupsthroughdecrees,theAgendascoordinationeitherbythemunicipal Secretaries or other environment agencies, the organization of meetings and seminars topromotegeneralpublicparticipationandespeciallytheparticipationofgroups relatedtotheissue,andthefinalpublicationofdocumentswhosecontentsvaried fromgenericandsimplifiedinformationtoverycompleteandconsistentmaterial. Thisdemonstratestheparamountimportanceofestablishingpartnerships;ofthe participation of both high level public officers and the general public and issue related NGOs;theexchangingofexperiencesamongcitiesthatalreadyhavetheirAgendas 21orareintheprocessofdevelopingthem.Thisstudyalsoshowshowthese elements are strong tools to help local governments accomplish an efficient planning for their environmental management and citizenship promotion. Descriptors: Agenda 21. Environmental management. Environmental administration. Sustainable development. Local management. Public administration. SUMRIO 1. INTRODUO01 1.1 Agenda 21 no mbito internacional19 1.2 Agenda 21 brasileira34 1.2.1 Agenda 21 no mbito regional41 1.2.2 Agenda 21 no mbito estadual49 1.2.3 Agenda 21 no mbito local 61 2.OBJETIVOS69 2.1 Geral69 2.2 Especficos69 3. METODOLOGIA70 3.1 Cenrio da Pesquisa 703.2 Mtodo, Instrumento e Coleta de Dados 70 3.3 Pesquisa propriamente dita73 4. RESULTADOS E DISCUSSO DA PESQUISA 77 4.1 Municpio de So Paulo77 4.1.1 Agenda 21 Local da Cidade de So Paulo80 4.2 Municpio do Rio de Janeiro93 4.2.1 Agenda 21 Local da Cidade do Rio de Janeiro95 4.3 Municpio de Santos114 4.3.1 Agenda 21 Local da Cidade de Santos 117 4.4 Municpio de Florianpolis131 4.4.1 Agenda 21 Local da Cidade de Florianpolis133 5. CONCLUSES148 6. RECOMENDAES154 7. REFERNCIAS 7.1Citadas 1557.2 Consultada162 Anexo - Modelo de Formulrio NDICE DE QUADROS Quadro 1Pases que dispunham de Agenda 21 Nacional, em 2002..............20 Quadro 2CidadesparticipantesdoProgramaComunidadeModelodo ICLEI, em 1994.............................................................................. 24 Quadro 3 PasesdafricaqueapresentaramAgendas21locais,em 2002................................................................................................ 26 Quadro 4PasessiaPacficoqueapresentaramAgendas21locais,em 2002................................................................................................ 27 Quadro 5PasesdaEuropaqueapresentaramAgendas21locais,em 2002................................................................................................ 28 Quadro 6PasesdaAmricadoNortequeapresentaramAgendas21 locais, em 2002............................................................................... 30 Quadro 7PasesdoOrienteMdioqueapresentaramAgendas21locais, em 2002.......................................................................................... 31 Quadro 8PasesdaAmricaLatinaqueapresentaramAgendas21locais, em 2002.......................................................................................... 32 Quadro 9 Consrcios responsveis pelos temas da Agenda 21 Brasileira....... 37 Quadro 10 Experincias de Agenda 21 no mbito regional por Estado, em 20044 Quadro 11 PanoramadosEstadoscomexperinciasdeAgenda21Estadual2002.................................................................................................. 50 Quadro 12 Experincia de Agenda 21 Local por regies do Brasil, em 2002... 65 Quadro 13 Estados brasileiros que apresentaram Agenda 21 Local, at 2002.66 Quadro 14Histrico Poltico Administrativo da Cidade de So Paulo............80 Quadro 15Descrioda1etapadeelaboraodaAgenda21localdeSo Paulo............................................................................................... 84 Quadro 16Descrioda2etapadeelaboraodaAgenda21localdeSo Paulo............................................................................................... 85 Quadro 17 Aspectos facilitadores e dificuldades encontradas no processo de construo e implementao da Agenda 21 Local de So Paulo... 92 Quadro 18Histrico Poltico Administrativo da Cidade do Rio de Janeiro....95 Quadro 19reas de Planejamento (Aps) na Cidade do Rio de Janeiro...........102 Quadro20Cronologia das etapas de elaborao da Agenda 21 Local do Rio de Janeiro........................................................................................ 107 Quadro 21Descriodasdificuldadesefacilidadesnaelaboraoda Agenda 21 Local do Rio de Janeiro................................................ 113 Quadro 22Histrico Poltico-Administrativo da Cidade de Santos.................117 Quadro 23Etapas de elaborao da Agenda 21 Local de Santos.....................126.Quadro 24Aspectos facilitadores e dificuldades encontradas no processo de construo e implementao da Agenda21 Local de Santos.......... 130 Quadro 25Histrico Poltico-Administrativo da Cidade de Florianpolis......133 Quadro 26DivisodomunicpiodeFlorianpolis,propostapeloFrumda Agenda21Local,paraefeitodoDesenvolvimentoSustentvel Regionalizado................................................................................. 137 Quadro 27 SntesedosprincipaiseventosdaAgenda21Localde Florianpolis................................................................................... 142 Quadro 28Aspectos facilitadores e dificuldades encontradas no processo de construoeimplementaodaAgenda21Localde Florianpolis................................................................................... 147 1 1. INTRODUO Queonossotemposejalembradopelodespertardeuma nova reverncia face vida, por um compromisso firme de alcanarasustentabilidade,pelarpidalutapelajustiae pela paz, e pela alegre celebrao da vida (Carta da Terra). Apartirdadcadade1970,ficaramcadavezmaisevidentesassrias modificaesambientais,impostaspelohomemaoplanetaTerra,muitasdasquais tm aparecido, de forma cada vez mais intensa, na mdia. Dentreasprincipaiscausasdessasalteraes,destacam-se,ocrescimentoda populaomundial,ousoindiscriminadoenoplanejadodosrecursosnaturais,as desordenadasmigraespopulacionais,asimplificaodosecossistemas,e,a conseqenteperdadabiodiversidadeedosrecursosgenticos.Apoluiodoar, decorrentedaqueimadecombustvelfssileosprocessosindustriais,vm acarretando mudanas climticas globais, alm dos mais diversos tipos de poluio, nascoleeshdricasenosolo,capazesdecomprometerasadedoindivduo,ea qualidadedevidadasociedadenaqualeleestinserido.Oconsumismo descontroladoeaconseqenteproduoderesduosindestrutveis,tambmvm interferindonoqueconcerneaohorizontedetemporelativovidahumanano planeta.Octvio Paz, em aulas ministradas no Texas, em 1969 (citado por REIGOTA 1998),jchamavaaatenoparaanecessidadederealizarumnovotipode desenvolvimento: Esqueamo-nosporummomentodoscrimesedasburricesqueforamcometidosem nomedodesenvolvimento,daRssiacomunistandiasocialistaedaArgentina peronistaaoEgitonasserista,evejamosoqueacontecenosEstadosUnidoseEuropa Ocidental: a destruio do equilbrio ecolgico, a poluio dos espritos e dos pulmes, asaglomeraeseosmiasmasnossubrbiosinfernais,osestragospsquicosna adolescncia,oabandonodosvelhos,aerosodasensibilidade,acorrupoda imaginao,oaviltamentodeeros,aacumulaodolixo,aexplosododio.Diante dessa viso, como no retroceder e procurar outro modelo de desenvolvimento? Trata-se deumatarefaurgenteerequerigualmentecinciaeimaginao,honestidadee sensibilidade, uma tarefa sem precedentes, porque todos os modelos de desenvolvimento que conhecemos, venham do oeste ou do leste, levam ao desastre (p. 48-49). 2 Osproblemasambientais,apartirdeento,deixaramdeserreconhecidos apenasemfunodosaspectosbiolgicos,epassaramaserrelacionados,tambm, aomodelodedesenvolvimentoadotado,servindodebase,inclusive,parasuscitardiscusses,arespeitodanecessidadedesepensaremnovosmodelosde desenvolvimentoeconmico,quefossemcapazesdeminimizarasdisparidades sociais,semdescaracterizar,demaneirairreversvel,oecossistemaeabiocenose1 terrestre.O crescimento econmico, baseado na dilapidao do meio natural, e na falta de ateno s suas conseqncias, obrigou a sociedade a redirecionar os rumos desse crescimento, pois, acabou por criar um grave antagonismo, entre o desenvolvimento scio-econmico e a conservao da qualidade ambiental. Aexploraodesenfreadadosecossistemasedosrecursosnaturais,deum lado, e a ampliao da conscincia ecolgica e dos nveis de conhecimento cientfico, deoutro,produzirammudanas,denaturezatcnicaecomportamental,nosseres humanosquehabitamesteplaneta,que,emboraaindatmidaseinsuficientes,vm almejandoultrapassarodilema,quesetemcolocado,constantemente,entreomeio ambienteeocrescimentoeconmico.Oconceitosobredesenvolvimentodeve transcender simples busca pelo crescimento econmico e levar em considerao a harmonia necessria com o equilbrio ambiental. Oconceitodedesenvolvimentosustentvelfoiconstrudonoinciodadcadade70,a partirdeumacontradio,entreoprogressosemlimiteseodiscursodealertados movimentos ambientalistas. A partir da, comeou-se a trabalhar com a idia de um modelo dedesenvolvimentoqueatendessesnecessidadesdopresentesemcomprometera qualidade das geraes futuras (KRANZ 1997, p.12). Ainda,segundoKRANZ(1997),(....)apesardasustentabilidadesermuitas vezesvistacomoidiarecente,naverdade,suasorigensnoseencontramna sociedadeindustrial,mas,nassociedadesindgenasetradicionais,quesempre basearam suas vidas no conceito de sustentabilidade(p.12). 1 Biocenose: conjunto inter-relacionado da fauna e flora, vivendo em determinado bitopo, num determinado tempo (Academia de Cincias do Estado de So Paulo, 1987). 3 FERREIRA(1975)definesustentvel,comoaquele(....)quepodese sustentar;esustentar,como(....)segurar,suportar,apoiar(....),conservar,manter (....),alimentarfsicaemoralmente.Daque,desenvolvimentosustentvelquer dizeraqueledesenvolvimentoquepossacontinuarcomsucessonofuturo;semruir suas bases, ou desequilibrar-se. MALHEIROS (2002) ressalta que o conceito de desenvolvimento sustentvel bastante complexo, e envolve interrelaes como o conceito de qualidade de vida, refletindosobredemandasatuaisefuturas,envolvendoaspectosculturais,sociais, econmicoseambientais.Destaca,tambm,quetaisconceitos,devidosua abrangncia, vm sendo pesquisados e discutidos nos mbitos global e local (p.9). VARGAS(2002)destacaqueodesenvolvimentosustentvelpressupe participao, dilogo, respeito s diferenas, reconhecimento das capacidades e uma viso integradora de suas vrias dimenses econmica, polticas cultural, tecnolgica e ambiental (p.11). sobreestemodelodedesenvolvimento,vigentenoplaneta,emquese perpetuamasdiferenassociais,amdistribuioderendaeadilapidaodos recursosnaturais,queaAgenda21discute.EssaAgendasugereumamudananos padres atuais de vida da populao e na base do sistema produtivo, garantindo um ambiente saudvel e mais equilibrado para a humanidade. Asociedadehumananoselimitaapenassgeraespresentes.Todosos homenssoresponsveispelapropagaodaespcie,nosomente,sobopontode vistabiolgico,mastambm,sobopontodevistaeconmico,histrico,cultural, entreoutros.Cabe,portanto,sociedade,construirummundomelhorparaas geraes futuras.OdesenvolvimentosustentveldefinidopelaComissoMundialsobre MeioAmbienteeDesenvolvimento(CMMAD),noRelatrioBrundtland,NOSSO FUTUROCOMUM(ONU1998),comoaquele,queatendesnecessidadesdo presente, sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem s suas prprias necessidades; pode, tambm, ser empregado com o significado de "melhorar 4 aqualidadedevidahumanadentrodoslimitesdacapacidadedesuportedos ecossistemas" (UICN/PNUMA/WWF 1991, p. 10). SegundoaOrganizaoMundialdaSadeOMS(1996),adefiniode qualidadedevidaabrangeaspercepesindividuaissobresuaposiodevida,no contexto dos sistemas decultura e de valores em que esto inseridos, e em relao s suasmetas,expectativas,padresepreocupaespessoais.ParaPELICIONIMCF (1998),esseumconceitobastanteabrangente,queincorporadeumaforma complexa,asadefsica,oestadopsicolgico,onveldedependncia,asrelaes sociais,ascrenaspessoaiseorelacionamentocomcaractersticasquesedestacam no ambiente (p. 22).PELICIONI MCF (1998) discute a mudana gradativa de estilo de vida, que se vem estruturando na atual sociedade, onde h maior valorizao do Ser do que do Ter,substituindoos padres,at entovigentes, do materialismo e do consumismo. Aculturaurbanaatualvemprivilegiandoatrocadeexperinciasindividuais,por novosvalores,novossignificados,eoenvolvimentocomoambientedavida cotidiana.A UICN / PNUMA / WWF (1991, p. 9-11) definem alguns princpios, para se chegaraumasociedadesustentvel,emnvelindividual,local,nacionale internacional,como:orespeitoeocuidadocomacomunidadedosseresvivos;a melhoria da qualidade de vida humana; a conservao da vitalidade e diversidade do PlanetaTerra;abuscapelaminimizaodoesgotamentodosrecursosnaturais;a manutenodoslimitesdacapacidadedesuportedoPlanetaTerra;amodificao das atitudes e prticas pessoais; o estmulo para que as comunidades cuidem de seu prpriomeioambiente;oestabelecimentodeumaestruturanacionalparaa integrao de desenvolvimento e conservao; e a construo de uma aliana global.Taisprincpiosrefletemvaloresedeveresjbastantedebatidos,ecoma urgentenecessidadedeseremincorporadospelasociedadeatual:Atingiro desenvolvimentosustentvelimportaincorporarapreocupaodesustentabilidade naformulaodepolticaspblicas(definio,diretrizeseestratgias)e 5 implementao (execuo, acompanhamento e avaliao), em todos os nveis, global, nacional e local (MMA 2000, p. 11). REIGOTA(2000)refere-sesustentabilidade,como,....propostapoltica que tem como princpio a utopia de uma sociedade baseada na justia e no direito vida digna, no s da espcie humana, mas de todas as formas de vida (p. 33). Paraqueestasaesalcancemodesenvolvimentosustentvelesejam realmente efetivadas, preciso construir polticas pblicas eficazes, contemplando os aspectossociais,econmicoseambientais.ParaPHILIPPIJReBRUNA(2002) poltica pblica o conjunto de diretrizes, estabelecido pela sociedade, por meio de suarepresentaopoltica,emformadelei,visandomelhoriadascondiesde vida dessa sociedade. A diferena entre poltica de governo e poltica pblica que aprimeira,(...)trazpropostasimplementadaspelogovernoeestodiretamente vinculadasadministraoqueestexercendoopoderequetemasprioridadesde aoduranteoseumandato(....),visandomelhoriadaqualidadedevidada sociedade(p.28).Polticapblica,aocontrrio,frutodeumprocesso participativo,commobilizaosocialdosformadoresdeopinio,delideranasda sociedade, qual seja a dos representantes do poder legislativo, tanto nacional, quanto estadual ou municipal. Da a importncia da educao ambiental, enquanto instrumento de cidadania etransformaodasociedade,quevemsendocadavezmaisutilizada,paralevaro cidado a refletir sobre seus valores e atitudes, e, a uma mudana de postura perante a sociedade.ParaREIGOTA(1998,p.61-2),educaoambientalumaeducao poltica,fundamentadanumafilosofiapoltica,dacinciaedaeducaoanti-totalitria,pacifistaemesmoutpica,nosentidodeexigireatingirosprincpios bsicos de justia social, buscando uma nova aliana com a natureza, por meio de prticaspedaggicasdialgicas.Aeducaoambiental,comoaeducaopoltica, est empenhada na formao do cidado nacional, continental e planetrio, e baseia-se no dilogo de culturas e de conhecimento entre povos, geraes e gneros. 6 PHILIPPI e PELICIONI (2000) complementam que a educao ambiental umprocessodeeducaopolticaquepossibilitaaaquisiodeconhecimentose habilidades,bemcomoaformaodeatitudesquesetransformamnecessariamente emprticasdecidadania,quegarantamumasociedadesustentvel.Destacam, ainda,comoumdeseusprincipaisobjetivos,asaesquepermitemtransformara sociedade em bases mais justas, com maior igualdade, democracia e sustentabilidade. Ocompromissopolticodetodapessoainteressadaempraticareducao ambiental deve estar relacionado com a possibilidade (utpica) de construo de uma sociedade sustentvel baseada na justia, dignidade, solidariedade, civilidade, tica e cidadania (REIGOTA 2000, p.34). grandeodesafioemformarcidadosparticipantesnosprocessosde deciso,sobreassuntosquedizemrespeitoagrupossociaisetnicosmuito diferentes, geralmente controlados por grupos, que dominam a economia e a poltica sob interesses muito mais homogneos.LEFF(1999)destacaquenecessrioreavaliareatualizarosprogramasde educaoambiental,peranteosconsensosgeraisdaAgenda21,inserindo-osnas estratgiaseducativasparaodesenvolvimentosustentvel.Ressaltaaindaquea educaoambientalformalnecessitadediferentesabordagens,paraatingirseus diferentesnveis,sejameles,locaisouregionais.Aeducaovoltadaparao desenvolvimentosustentvelexigenovasorientaes,contedoseprticas pedaggicas,nasquaissejamcontempladas,....asrelaesdeproduode conhecimentoeoprocessodecirculao,transmissoedisseminaodosaber ambiental. Isso traz a necessidade de serem incorporados os valores ambientais e os novosparadigmasdoconhecimentonaformaodenovosatoresdaeducao ambiental e do desenvolvimento sustentvel (p.127). Aindaomesmoautorcitaqueosprocessoseducativosformaisnosoos nicos responsveis pela formao de valores ambientais. Outros e diferentes meios, tambm,produzemefeitoseducativos,comoadiscussodosprincpiosecolgicos gerais,dasquestesticasnapolticaedodireitocultura,quetmavercomos interessessociais,emtornodareapropriao da natureza e da redefinio de estilos 7 de vida, rompendo ento com a homogeneidade e a centralizao do poder na ordem econmica, poltica e cultural atual.Destaforma,aeducaoambientaladquireumsentidoestratgicona conduo do processo de transio para uma sociedade sustentvel. Trata-se de um processohistricoquereclamaocompromissodoEstadoedacidadaniapara elaborarprojetosnacionais,regionaiselocais,nosquaisaeducaoambientalse definaatravsdeumcritriodesustentabilidadequecorrespondaaopotencial ecolgicoeaosvaloresculturaisdecadaregio;deumaeducaoambientalque gere conscincia e capacidades prprias para que as populaes possam se apropriar de seu ambiente, como uma fonte de riqueza econmica, de gozo esttico e de novos sentidoscivilizatrios;deumnovomundonoqualtodososindivduos,as comunidadeseasnaesvivamirmanadosemlaosdesolidariedadeeharmonia com a natureza (LEFF 1999, p.128).A educao ambiental tem o compromisso de refletir e codificar os princpios bsicos da civilizao planetria, juntamente com as luzes da cincia, os recursos da tcnica e com as aspiraes do esprito humano. Civilizao planetria deve ser aqui entendida,comoaquelaemqueeducadoreseeducandosambientaistmum compromissocomacidadaniaplanetria,naqualahumanidaderespeite,nosas constituieseasleis,mastambmadiversidadebiolgica,ecossistmica,social, cultural,buscandoosmeiosnecessriosparareduzirasdesigualdadessociaisno planeta (PHILIPPI JR, et al. 2000, p.231). Buscarodesenvolvimentosustentvelumcompromissoemtodasas sociedades do planeta. Isto no significa um retorno terra, ou negar a importncia docrescimentoeconmicoparaaprosperidadedasNaes.Naverdade,significa atribuir um sentido mais amplo ao conceito de prosperidade, incluindo a melhoria da qualidadedevidadapopulao,commaioracessoeducao,melhorescondies de sade e a preservao dos ecossistemas (VARGAS 2002).Somente a partir da dcada de 1960, e do incio dos anos 70, que a questo ambientaltornou-semarcantenomundo,percebendo-seanecessidadedemudaro modelodedesenvolvimento,quevinhasendoadotadoataqui.Acontecimentos, 8 comoacontaminaopormercrio,naBaadeMinamata,noJapo;olanamento dolivroPrimaveraSilenciosa(SilentSpring),deRachelCarson,em1962,que alertavaparaosproblemasdecontaminaodoambiente,comoresultadodam utilizaodospesticidaseinseticidassintticos;osaltosnveisdepoluioe degradaoambientaldecorrentesdeumprocessodeindustrializaopredatrioe comprometedordoambienteedasade,destacam-se,comoalgunsdosproblemas, quelevaramoGovernodaSuciaapropor,em1968,OrganizaodasNaes Unidas(ONU),arealizaodeumaConfernciaInternacionalparadiscuti-los (PELICIONI AF 1998).Em1972,naSucia,foirealizadaaConfernciadasNaesUnidassobreo MeioAmbienteHumano,maisconhecidacomoConfernciadeEstocolmo,que reuniu 113 pases e 250 organizaes no-governamentais. Os principais documentos deste encontro foram: a Declarao sobre o Ambiente Humano (ou Declarao de Estocolmo), de 1972, conclamando a humanidade quanto necessidade de aumentar o nmero de trabalhos educativos, voltados para as questes ambientais, e, o Plano deAesparaoMeioAmbiente,queestabeleceuasbasespararelacionaromeio ambiente e o desenvolvimento. Essa Conferncia ressaltou, tambm, o conflito entre ospasesdesenvolvidoseosno-desenvolvidos.SegundoBARBIERI(2000),os pasesdesenvolvidosestavampreocupadoscomapoluioindustrial,aescassezde recursosenergticos,adecadnciadesuascidades,ecomoutrosproblemas decorrentes dos seus processos de desenvolvimento.Jospasesno-desenvolvidostinhamsuaspreocupaesvoltadasparaos elevados nveis de pobreza e de desemprego, para os baixos indicadores de qualidade de vida, alm da necessidade de se desenvolverem nos moldes conhecidos, at ento, idealizadospelospasesdesenvolvidosenicosmodelosexistentes(BARBIERI 2000).TALBOT(citadoporMCCORMICK,1992)ressaltaqueaConfernciade Estocolmochamouaatenodosgovernantesparaaquestoambiental,facilitou acordoseconvenesinternacionais,subseqentes,sobrealgumasquestes,e, resultounacriaodoProgramadasNaesUnidasparaoMeioAmbiente PNUMA(UnitedNationsEnvironmentProgrammeUNEP),em1973.Esse 9 Programateveporobjetivosacoordenaodepolticaseaimplementaodeum PlanodeAoMundial,pormeiodeaesrelacionadasavaliaoegesto ambientais, e s diversas medidas de apoio necessrias, que contemplam, a educao, otreinamentopessoal,ainformaopblicaeaassistnciafinanceira.Tais iniciativas deram origem criao de aparatos legais e de estruturas administrativas e executivasdosrgosambientaisestatais,somadosaesforosdecooperao internacional.Estocolmo foi um marco e um divisor de guas no processo de mudana que chegaaosnossosdias.Significouumestmuloparaocrescimentodatemtica ambiental, seja na sociedade civil, seja nas preocupaes da cincia, seja na criao deinstrumentosinstitucionaisedelegislaoapropriadaparatratardosproblemas decorrentesdodesequilbrioecolgicoesuapreveno(SMA1997,p.9).Essa Confernciafoi,tambm,representativanadiscussosobreomodelode desenvolvimentoexistentenoplaneta.Apartirdesteevento,segundoBARBIERI (2000),surgiuumneologismoqueexemplificavaonovotipodedesenvolvimento quesedesejava,oecodesenvolvimento,que,apsorelatrioBrundtland,de1987, foi substitudo pelo termo, desenvolvimento sustentvel. Passados20anosdaConfernciadeEstocolmo,houveacontinuidadedas negociaesquejhaviamsidoiniciadasanteriormente.Comoobjetivode transformaralgumaspropostaseminstrumentosdeao,foirealizadonoRiode Janeiro,em1992,aConfernciadasNaesUnidassobreMeioAmbientee Desenvolvimento CNUMAD, conhecida, por Rio-92, que reuniu, durante 10 dias, representantesde170Naesecercade14milorganizaesno-governamentais(ONGs),cujaparticipaofoimacianosencontrosoficiais,frunseeventos paralelos,namaiorassembliainternacionaljrealizadasobreomeioambiente. CabedestacaromomentohistricosingularemqueestaConfernciafoirealizada. VARGAS(2002)mostraque....odesabamentodasdiferenasideolgicaseas transformaesgeopolticas,ocorridasnofinaldosanos80,especialmentena Europa,concorreramparaaconvicodequeeraimperativaaformaodeum consensocapazdereverterpadresinsustentveisdeconsumoedeproduo,que agravavamasdisparidadesentreasNaesecomprometiamaprpriaestabilidade 10 polticadosistemainternacional(p.12).NestaConferncia,diversosdocumentos foramassinados,comoaConvenosobreMudanasClimticas,aConvenoda DiversidadeBiolgica,aDeclaraodoRioparaMeioAmbientee Desenvolvimento, a Declarao de Princpios para Florestas, e a Agenda 21 Global.AConvenosobreMudanasClimticasteve,comocompromisso, estabilizarasconcentraesdegasesdeefeito-estufanaatmosfera,provenientes, basicamente,daqueimadecombustveisfsseis(carvo,petrleoegsnatural), comoresultadodosmodelosdedesenvolvimentoadotado,apartirdaRevoluo Industrial.EssesgasespodemaumentaroaquecimentodaTerraedaatmosfera, causando o aumento do nvel do mar, turbulncias na atmosfera, e maior ocorrncia de furaces e de chuvas intensas.QuantoConvenodaDiversidadeBiolgicauminstrumento internacional que definiu como objetivo, a compatibilizao da proteo dos recursos biolgicos,frenteaodesenvolvimentosocialeeconmico.Estabelecetambma Conveno, a relao entre a conservao da biodiversidade e o desenvolvimento da biotecnologia, alm da obrigao de se identificar e estimular o desenvolvimento de mecanismos para a conservao, in situ e ex situ, do germoplasma2, e a utilizao do mesmo em bases sustentveis, incorporando-se os custos e benefcios decorrentes.JaDeclaraodoRioparaoMeioAmbienteeDesenvolvimentouma cartaquecontm27princpioseobrigaesdosEstados,emrelaoaosprincpios bsicosdomeioambienteedodesenvolvimento.Taldocumentoestabelecequeos Estados tm direito soberano de aproveitar seus prprios recursos, sem causar danos aomeioambientedeoutrosEstados.Declaraaindaqueaplenaparticipaodas mulheresessencialparaseatingirodesenvolvimentosustentvel;equeapaz,o desenvolvimento e a proteo ambiental so interdependentes. 2 Germoplasma: material hereditrio transmitido prole por meio dos gametas (Academia de Cincias do Estado de So Paulo 1987). 11 NoquedizrespeitoDeclaraodePrincpiosparaasFlorestas,cabe destacarqueumdocumentoquenotemforajurdica.oprimeiroconsenso mundialsobreomanejo,conservaoedesenvolvimentosustentveldasflorestas. DaDeclarao,constaquetodosospasesdevempreservar,conservarerecuperar florestas,equeospasesricosdevemgarantiraospasesemdesenvolvimento recursos destinados conservao das florestas. Finalmente,aAgenda21Global,queoprincipalresultadodaRio-92,e compromisso assumido pelos 179 pases participantes desta Conferncia, possui mais de 2.500 recomendaes prticas. Foi um programa recomendado para os governos, sAgnciasdeDesenvolvimento,OrganizaodasNaesUnidas,eparagrupos setoriais, independentes, colocarem em prtica, a partir da data de sua aprovao, em 14 de junho de 1992, e ao longo do sculo XXI, em todas as reas, onde a atividade humana incida de forma prejudicial ao meio ambiente (SMA 1997, p.9). Tal documento foi resultado da consolidao de diversos relatrios, tratados, protocoloseoutrosdocumentos,elaboradosdurantedcadas,naesferada Organizao das Naes Unidas ONU. A Agenda 21 Global ampliou o conceito de desenvolvimento sustentvel, buscando conciliar justia social, eficincia econmica eequilbrioambiental,emumdocumentoqueprocurouoscaminhosparaalcan-los, indicando as ferramentas de gerenciamento necessrias. Oferece ainda polticas e programasnosentidodeseobterumequilbriosustentvelentreconsumo,a populao e a capacidade de suporte do planeta (SIRKIS 1999). AAgenda21Globalestdivididaem4sees,com40captulos,ondeso definidastambm115reasprioritriasdeao.NoPrembulo,socolocadosos objetivos gerais da Agenda 21 Global e a importncia planetria de implement-la.A Seo I, contm 7 captulos e refere-se s dimenses sociais e econmicas, tratandodarelaoentremeioambienteepobreza.Nele,soabordadasas necessriasmudanasquanto:apadresdeconsumovigentes;promoodo desenvolvimentodeassentamentoshumanossustentveis;integraodomeio ambienteedodesenvolvimentonosprocessosdecisriosdosgovernos; implementaointegradadeprogramasambientaisededesenvolvimentononvel 12 local,levando-seemcontaosfatoresetendnciasdemogrficas;proteoe promoo da sade humana, e ao combate pobreza. Em tal captulo, consagra-se a noodequenopossvelsepararaquestoambientaldassociaiseeconmicas; destaca, tambm, a necessidade de discutir e de propor planos nacionais e locais, que envolvamasquestesscio-econmicasdodesenvolvimentosustentvel,comoa cooperaointernacional,opadrodeconsumo,aspopulaeseosaspectos relacionados sade.ASeoIIcontempla14captulos,queabordamaconservaoeo gerenciamentodosrecursosparaodesenvolvimento,indicandoasformas apropriadasquantoaousodosrecursosnaturais,abrangendo:aproteoda atmosfera; a abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos recursos naturais; destaca o cuidado com os recursos florestais, o combate ao desmatamento e apromoodaagriculturasustentvel,eodesenvolvimentosustentvel;a conservaodabiodiversidade;aproteodosoceanosedosrecursoshdricos;o manejoambientalmentesaudveldabiotecnologia;agestoresponsveldas substnciasqumicasetxicas;eomanejodosresduosslidosedequestes relacionadas aos esgotos.Na Seo III, com 9 captulos, so apresentadas as diferentes modalidades de apoioaosgrupossociaisorganizados,quecolaboramemalcanaro desenvolvimento sustentvel. So destacadas: as iniciativas das autoridades locais; o fortalecimento do papel das ONGs; da participao das mulheres, das crianas, dos jovens,daspopulaesindgenas,dostrabalhadores;e,dossindicatosedos empresrios, na promoo do desenvolvimento sustentvel. Nesta Seo, ressaltada agovernabilidadesustentvel,ouseja,paraatingir-seagestoambientalesocial necessria, e importante, a participao de todos os segmentos da sociedade. Consta, ainda,dessaSeo,refernciassobreaparticipaoeaorganizaodasociedade civil,comoumadasformasdesereverterapobrezaeadestruiodomeio ambiente, alcanando-se assim o modelo do desenvolvimento sustentvel.ASeoIVrefere-seaosmeiosdeimplementaodaAgenda21Global, orientando quanto aos recursos e mecanismos de financiamento paraasua 13 implementao, alm do destaque para o papel institucional voltado para viabilizar as polticasdedesenvolvimentosustentado,comoatransfernciadetecnologiaeda educao,otreinamentoeacirculaodasinformaesnecessriasjuntoao processo de tomada de deciso.Emcadacaptulo,consta,viaderegra,umaintroduoaoproblema referenciadoesreasdeprogramas de ao, com objetivos, atividades e meios de implementao,incluindoestimativasquantoaosrecursosfinanceirosnecessrios sua execuo. Abrangendoasmaisvariadasreas,comosade,educao,meioambiente, saneamento,habitaoeassistnciasocial,odocumentofornecetambmopes paraocombateadegradaodosolo,doaredagua,almdaconservaodas florestasedabiodiversidade.Refere-seaosproblemasrelacionadospobreza,ao consumoexcessivo,squestesdesadeeeducao,tantonomeiourbanoquanto norural.Definiaindaopapeldosatoressociaisenvolvidosnasaespropostas estipuladas,comodosgovernos,emseusdiversossegmentos,osetorempresarial, dos sindicatos, dos cientistas, dos professores, dos povos indgenas, das crianas, dos jovens e das mulheres. Destamaneira,sofornecidososprincpiosnorteadores,capazesde orientar as iniciativas, voltadas para a obteno de melhores condies ambientais e devidadoshabitantesdoplaneta,traando-seaindaasdiretrizes,nasquaisa humanidadedevebasear-se,paraquesejamalcanadososobjetivosdo desenvolvimento sustentvel.Aamplaparticipaopblicatomadadedecisofundamentalparase alcanar o desenvolvimento sustentvel, o fortalecimento da democracia, a formao da cidadania, e, conseqentemente, a efetivao da Agenda 21.Para BORN (2002), ... aps 1992, a Agenda 21 Global incorporou algumas caractersticasquepermitiramqueestafosseinterpretadacomoprodutodeum processoparticipativodasaesedepolticasparaatransformaodopadrode desenvolvimento e governana dos interesses e dos conflitos humanos, lastreados, no 14 dilogo e na pactuao entre atores sociais, inclusive, Governo e Parlamentares, com base no iderio da sustentabilidade (p. 79). SegundodocumentodoMinistriodo Meio Ambiente (MMA 2000, p.11), a Agenda21Globalconsideraque,almdosproblemasjcitados,h...questes estratgicas, ligadas, gerao de emprego e de renda; diminuio das disparidades regionais e interpessoais de renda; s mudanas nos padres de produo e consumo; construo de cidades sustentveis; adoo de novos modelos e de instrumentos de gesto.AAgenda21notemsomenteobjetivosambientaisenemrepresentaum processodeelaboraodeplanodegoverno.umplanejamentodofuturocom aesconcretas,acurto,mdioelongoprazo,commetas,recursose responsabilidadesdefinidas.Asuaelaboraoeimplementaoexigemum planejamentoestratgicoeparticipativoentreogovernoeasociedade,obtidopor acordos, para que as prximas geraes tenham um futuro melhor. ParaBORN(1998/1999,p.11),aAgenda21umprocessovoltadoparaa identificao,implementao,monitoramentoeajuste,deumprogramadeaese transformaes,emdiversoscamposdasociedade.Trata-sedeumprocessoque resgata a raiz bsica ao planejamento, ao apontar para cenrios desejados e possveis, cujaconcretizaopassapelapactuaodeprincpios,aesemeiosentreos diversosatoressociais,nosentidodeaproximarodesenvolvimentodeumadada localidade,regiooupas,aospressupostoseprincpiosdasustentabilidadedo desenvolvimentohumano.Portanto,deveserumprocessopblicoeparticipativo, em que haja o envolvimento dos vrios agentes sociais. Destaforma,odocumentoorientaosplanejadoresparaumnovoestilode desenvolvimento,emqueocrescimentoeconmicosejaambientalmentesaudvel, humanamentejustoeeqitativo,garantindo,assim,oatendimentosnecessidades dasgeraesatuaisefuturas,diferentemente,domodeloadotado,atento,pela maioria das Naes do planeta. 15 No plano global, a Agenda 21, configurou-se como uma soft law, ou seja, um acordo que no cria vnculos legais que tornam sua implementao mandatria para ospasesqueaassinaram.Oschamadosacordoshard-law(aquelesquecriam obrigaesjurdicasparaaspartes)foramfirmadospelospasespresentesna Conferncia,eserestringemaConvenodeMudanasClimticaseaConveno sobre Diversidade Biolgica. Tais acordos ofuscaram a visilidade e a importncia de outrosresultadosdaRio-92,tambminseridosnoconceitodesoftlaw,como,a DeclaraodoRiodeJaneirosobreMeioAmbienteeDesenvolvimento,ea DeclaraodePrincpiossobreConservaoeUsosSustentveisdeFlorestas (BORN 2002, p.80). A Agenda 21 se caracteriza, como j dito anteriormente, como uma soft law, noapresentandocaractersticasqueobriguemasuaimplementaopelospases signatrios. FERREIRA (1998) considera que, alm da Agenda 21 no ter a fora de leidasconvenes,necessitadesubstancialaportefinanceiroparaserimplantada, conforme ficou estabelecido na Rio-92.SIRKIS(1999)destacaqueacomunidadeglobalumreflexodas tendnciaseescolhasfeitasnascomunidadeslocaisdetodoomundo.Emum sistemadeligaescomplexas,pequenasaestmimpactosglobaisemlarga escala (p.195).Da,aimportnciadosdesdobramentosdaAgenda21Global,emAgendas nacionais, regionais e locais, j que, estas, so concebidas, para criar planos de ao que,resolvendoproblemaslocalizados,porconseqncia,sesomaroparaajudara alcanar os resultados globais.ParaconstruirumaAgenda21-sejaela,Nacional,RegionalouLocal- necessriocomporumacomisso,oufrum,naqualparticipemrepresentantesdos setoresdoGoverno,dosetorprodutivo3edasociedadecivilorganizada.A participaocondioessencialparaaelaboraodaAgenda21.NohAgenda 21, qualquer que seja, sem a participao dos diversos atores sociais. O processo de elaborao da agenda participativo e propositivo por excelncia e no visa construir 16 somentediagnsticos,mas,propostas,recomendaes,sugestesdeprojetose programas,aseremimplementadospelogoverno,pelasociedadecivilorganizadae pelo setor produtivo3.Osmunicpiosdeverosupervisionaroplanejamento,oferecerainfra-estruturanecessria,estabelecerasregulamentaesambientais,e,integrar-se implementao de polticas nacionais.CadaAgenda21deverserrevisada,avaliada,replanejada,aolongodo sculoXXI,deacordocomoregulamentointernodascomissesoufruns estabelecidos.Ficoudefinido,ento,que,acadacincoanos,seriamrealizados encontros para a avaliao da implementao e acordos efetuados na Rio-92.Assim,emjunhode1997,realizou-seaRio+5,ocasioemquecinqentae trsChefesdeEstadoreuniram-se,emNovaIorque,comoobjetivodeavaliaros progressos alcanados pelos compromissos assumidos nos cinco anos aps a Rio-92, alm de acelerar a implementao da Agenda 21. Nesta conferncia, reconheceu-se o processodeglobalizaoacelerada,ocrescimentodemercadosdecapitaiseo investimentoexterno.Constataramainda,taxasmenoresdefertilidadeede crescimentopopulacional,emtodoomundo.Ocorreramalgunsavanosno desenvolvimentoinstitucional,noconsensointernacional,naparticipaopblicae nasaesdosetorprivado(KRANZ1997).Poroutrolado,dentreosatrasos constatados,KRANZ(1997)chamaaatenoparaapobrezaeospadresde consumoedeproduo,quepermaneceram,insustentavelmentealtos.As desigualdades de renda se ampliaram, entre e dentro das Naes, alm da degradao ambiental global.Comobalanodoscincoanos,KRANZ(1997)destaca,ainda,quea AssembliadasNaesUnidasdemonstroupreocupaocomafaltadeprogressos naimplementaodaAgenda21,especialmente,nospasesmenosdesenvolvidos, devido falta de vontade poltica dos governos para as mudanas.

3Setor produtivo, aqui entendido como empresrios, banqueiros, fazendeiros, industriais. 17 AindaemrelaoRio+5,oInternationalCouncilforLocalInitiatives (ICLEI),organizaono-governamentalcanadense,apresentaque,empesquisa finalizada em novembro de 1996, cerca de 1800 cidades, em 64 pases, envolveram-se em atividades pertinentes realizao de Agendas 21 locais. O ICLEI constatou, ainda,que,933cidades,em43pases,jtinhamestabelecidoumprocessode planejamento para o desenvolvimento sustentvel, e que outras 879 cidades estavam, apenas, iniciando a Agenda 21 (MMA 2000, p.23). Tais iniciativas aconteceram, em maior nmero, nos pases onde foram deflagradas campanhas nacionais, envolvendo governos locais, governos nacionais e Organizaes No-Governamentais (ONGs).Vriospases,naeminnciadeapresentaremalgumresultadonaRio+10, declararam que vinham efetivamente realizando suas Agendas 21. PHILIPPI (2001) destacaque,nopanoramainternacional,algunspasessesobressaramnoprocesso deconstruodasAgendas21Locais,taiscomo,aAlemanha,aGrBretanha,os EUA,oBrasil,aAustrlia,africadoSul,oCanad,aSua,aChina,dentre outros. Passadosmais5anos,desdeoltimoeventoem1997,reuniu-seem Johanesburgo (frica do Sul), entre os dias 26 de agosto e 4 de setembro de 2002, a CpulaMundialsobreoDesenvolvimentoSustentvel,tambmconhecidacomo CpuladeJohanesburgoouRio+10.Esteeventoreuniulderesgovernamentaisde todoomundo,almdaintensaparticipaodosetorprodutivo,edasautoridades locaiseregionais.Oprincipalintentodesteencontrofoiodedefinir,objetivoe prazosrgidos,paraaefetivaproteodomeioambiente.Omomentohistricoem que este evento ocorreu, foi bem diferente do panorama da Rio-92, quando o mundo tinharecm-sadodaGuerraFria.Foimarcadoparareforarasolidariedade internacional,nocombatesameaassegurana,comprometendoumaefetiva sustentabilidadedodesenvolvimentoemescalaglobal.OtemacentraldaRio+10, propostonasreuniespreparatriasCpuladeJohanesburgo,em2001,foi...a buscadeumanovaglobalizaoqueassegureumdesenvolvimentosustentvel eqitativo e inclusivo (VARGAS 2002, p.11). A Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel, Rio+10, centrou suas discussesemtrsreuniesprincipais:oscompromissosgovernamentaispara 18 reduzirapobrezaeprotegeromeioambienteempasespobres,implementara Agenda21etransferirrecursosetecnologia;asreuniesparalelasparadiscutira propostadeconversodamatrizenergtica,para10%defontesrenovveise polticasdeproteodadiversidadebiolgica;easreunieseeventosparalelos promovidos pelas ONGs, para discutir temas como pobreza, meio ambiente, gnero e direitos humanos. NoprincipaldocumentodaRio+10aprovadoeassinadopor190pases signatrios,foramreafirmadososcompromissosassumidospelasNaes,porm,sem a definio de datas e, muito menos, a obrigatoriedade quanto ao cumprimento das metas definidas na Cpula.Entretanto, um dos pontos positivos firmado na Rio+10, foi a obrigatoriedade dereduzir,metade,nosprximos13anos,onmerodepessoasquenotm condiesadequadasdesaneamentobsiconomundo.Comisso,ospasesricos assumiramocompromissodeajudardoisbilhesdepessoasateracessoagua limpaeesgotonaprximadcada.Talcompromissorepresentouumasignificativa contribuio para minimizar o grave problema da falta de saneamento bsico que os pasespobresenfrentam,gerandodoenas,comprometendoaqualidadedevidaea degradaoambiental.AReuniodaCpulatambmfoimarcadapelacrescente preocupaomundial,comanecessidadeemimplementarfontesrenovveisde energia,ouseja,aquelasfontesquesoinexaurveis,como,porexemplo,aenergia solar. A energia proveniente do carvo e do petrleo possui reservas finitas, alm de poluremoambiente.Olcoolobtidodacana-de-acartambmumcombustvel renovvel, porque a cana, que cortada numa safra, se reconstitui na safra seguinte, ainda que isso implique em destruio de floresta. Passadosquase10anosdaRio-92,aindahmuitoafazerquantos iniciativasdeconstruodeAgendas21nasdiferentesregiesdoplaneta.Deste modo,necessrioconheceropanoramadeexperinciasdeAgendas21 internacionais,bemcomoaquelasrealizadasnoBrasil,emsuasdiversasesferasde Governo,nombitoregional,estadualelocal.Aceitandoessedesafio,essaautora procurou conhecer e analisar algumas Agendas 21 locais brasileiras. Para tal, foram selecionadas as cidades de So Paulo, Rio de Janeiro, Santos e Florianpolis. 19 1.1 Agenda 21 no mbito internacional Agendas 21 nacionais Aseguir,seroapresentadasalgumasexperinciasdeAgenda21nombito internacional,desenvolvidascomoapoioeodesenvolvimentodosgovernos nacionais. OlevantamentomaisrecentesobreoestadodaartedasAgendas21 elaboradaspelospases,aquiintituladasAgenda21Nacional,foirealizadopelo Internacional Council for Local Environmental Initiatives - ICLEI, por ocasio do j citadoeventoRio+10.Nestaocasio,foramavaliadososprogressoseosresultados alcanados, passados 10 anos da Conferncia Rio-92. OICLEI,emconjuntocomoSecretariadodoEncontroMundialde DesenvolvimentoSustentveldasNaesUnidas(SecretariatfortheUNWorld SummitonSustainableDevelopment),eemcolaboraocomoProgramade DesenvolvimentodaONU/Capacity21,realizou,entrenovembrode2000e dezembrode2001,umlevantamentoglobal,atualizandoosprogressosfeitosna implementao da Agenda 21 Local no mundo todo. Nessa pesquisa, intitulada Second Local Agenda 21 Survey, foram obtidas as informaes aqui descritas sobre os pases que possuam na ocasio, sua Agenda 21Nacional.Emnenhumaoutrafontepesquisadaforamencontradasoutras informaes sobre Agendas 21 nacionais.Essesurveydestacoutambmasdificuldadesenfrentadaspelasautoridades locais,almderegistraroapoionecessrioparaqueestesprocessospudessem continuar, em escala nacional e mundial.ApesquisacoordenadapeloICLEIidentificou18pases,desenvolvendo Agenda 21 Nacional, como pode ser observado no quadro 1. Cabe aqui destacar que oBrasilfoitambmincludo(pelapesquisadora)entreospases,emborastenha finalizadosuaAgenda21Nacionalapsaconclusodapesquisarealizadapelo ICLEI, totalizando, assim, 19 pases. 20 Quadro1 - Pases que dispunham de Agenda 21 Nacional, em 2002. Regio Pases fricafrica do Sul sia-PacficoAustrlia China Japo Coria do Sul Monglia Sri Lanka EuropaDinamarca Finlndia Irlanda Islndia Itlia Noruega Reino Unido Sucia Oriente MdioTurquia Amrica LatinaBrasil* Equador Peru Fonte: Adaptado de ICLEI (2002). (*) Includo pela pesquisadora Aps a observao do quadro, torna-se possvel tecer alguns comentrios para cada uma das cinco regies e para os 19 pases que possuam a Agenda 21 Nacional. Nafrica,apenasafricadoSulpossuiaAgenda21Nacional,sendo tambm o nico pas africano que estabeleceu uma campanha nacional para apoiar os governos locais na elaborao de suas Agendas 21 locais. Na regio da sia - Pacfico, seis pases realizaram campanhas nacionais para aelaboraodaAgenda21,destacando-seAustrlia,China,Japo,CoriadoSul, MongliaeSriLanka.Destacam-setambmascampanhasrealizadasnaAustrlia, JapoeCoriadoSul.Essaregioalcanousucessoaoencorajaraelaboraode grande nmero de Agendas 21 locais, nos seus respectivos pases. 21 NaEuropaascampanhasnacionaisestimularamaconstruodaAgenda21 emoitopases:Dinamarca,Finlndia,Islndia,Irlanda,Itlia,Noruega,Suciae Reino Unido. OOrienteMdiofoiaregioquemenosapresentoupasescomAgenda21 Nacional.ApenasaTurquiafoiidentificadaporpossuirumaAgenda21Nacional. VIOLA e LEIS (2002) destacam, em um trabalho sobre governabilidade global, que a Turquia o nico pas islmico que tem hoje um regime democrtico estvel, fato que pode estar auxiliando nas discusses sobre a Agenda 21 Nacional. NaAmricaLatina,oEquadoreoPeruresponderamaolevantamentode dadosdoICLEIcomosejpossussemAgenda21Nacional.OBrasilfoioltimo pas a efetiv-la, lanando seu documento nacional, oficialmente, em julho de 2002, aps a concluso da pesquisa do ICLEI. O processo de implantao da Agenda 21 varia muito de pas para pas. Como j observado por PHILIPPI (2001), em pases ricos, onde h tradio democrtica e participativa,osucessodaAgenda 21 bem ntido, reforando ainda mais a gesto ambientalparticipativa.Jnospasespobresesemtradiodemocrtica,PHILIPPI (2001)consideraqueaimplementaodaAgenda21temsidomaisdifcil,...por contadoconservadorismodasclassespolticas,poucointeressadasemdividiro poderdecisriocomoprescreveaAgenda21,aalienaodamaiorparteda populao,queapresentagrandedificuldadeparaorganizar-seeafazervalerseus direitosmnimos(p.8),soalgunsdosobstculosencontrados.Omesmoautor destaca que a Agenda 21 em pases de terceiro mundo um importante instrumento paraestimular...questesessenciaiscomoparticipao,democraciaedefesado meio ambiente (p.8). AimportnciadoGovernoNacional,emelaboraraAgenda21Nacional, reforadaporPHILIPPI(2001),quandoestedestacaqueexisteapossibilidade,em futuroprximo,daAgenda21tornar-secritrioparaacaptaoderecursos internacionais.Issorefora,aindamais,anecessidadedeseremestimuladosos processosdeelaboraodeAgendas21nacionais,principalmentenospasesmais pobres, onde a carncia de recursos para projetos essenciais maior. 22 Aoanalisarasexperinciasinternacionais,asAgendas21nacionaisno devem necessariamente, repetir todos os tpicos da Agenda 21 Global. Os pases tm selecionadoostemasquemelhorrefletemsuaproblemticasocial,econmicae ambiental,contribuindo,demaneiraefetivanaimplementaodasustentabilidade, como estratgia de desenvolvimento. ParaseconhecermelhoropanoramainternacionaldaAgenda21,cabe tambm destacar a existncia das Agendas 21 no mbito regional e local. Agendas 21 regionais e locais AquiserodestacadasasexperinciasacercadaAgenda21nombito regional e local no contexto mundial. A importncia do aspecto local destacada no captulo28daAgenda21Global,quedescreve,demaneirabastanteclara,a relevncia da construo da Agenda 21 Local, ressaltando o papel econmico, social eambientaldasautoridadeslocaisosprefeitosnarealizaodeplanejamento voltadoaodesenvolvimentosustentvel.Deacordocomessecaptulo,soas autoridadeslocaisaquelasqueexercemonveldeGovernomaisprximoda populao, desempenhando um papel essencial na educao, mobilizao e resposta pblico,emfavordodesenvolvimentosustentvel.Dizaindaocaptulo28da Agenda 21 Global, que cada autoridade local dever aprovar uma Agenda 21 Local, com a ampla participao dos cidados e dos diversos segmentos da sociedade. A primeira pesquisa, realizada sobre o panorama internacional da Agenda 21 Local,foirealizadaem1997,napocadoRio+5,peloICLEI.Naocasio,1.812 cidadesde64pasesresponderamqueestavamrealizandoaAgenda21(ICLEI, 2002a). OICLEI,criadoem1990,temcomoobjetivomobilizareatendero movimento mundial de construo do desenvolvimento local sustentvel. Possui sede em Toronto, no Canad, e conta com o apoio do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente PNUMA, da Organizao das Naes Unidas a ONU, e da Unio InternacionaldasAutoridadesLocaisedoCentroparaumaDiplomaciaInovada IULA,rgoconsultivodaONU,advogandointeressesrelacionadoscomos 23 governoslocaiseestimulandoodesenvolvimentosustentvelnosmunicpios (MENDONA 2000). OICLEIpossuimaisde350membrosfiliadosemtodoomundo,esua principal atuao tem sido formar e capacitar pessoas, bem como fornecer assessoria amunicpios,quequeremimplementarpolticaslocaisdedesenvolvimento sustentvel. Como propsitos e misso do ICLEI, podem ser citados: -Servircomocentrodearticulaointernacionalparaodesenvolvimento sustentvel,apolticasdeproteodomeioambiente,aprogramasetcnicasque sejam implementadas, no plano local, por instituies locais. -Iniciarprojetosecampanhas,agrupandogovernoslocais,parapesquisare desenvolver novas abordagens a problemas prementes nas reas de meio ambiente e desenvolvimento. -Organizarprogramasdetreinamentoepublicarrelatriosemanuaistcnicos sobre as mais avanadas prticas de gesto ambiental. -Advogaracausadosgovernoslocais,frenteaosgovernosnacionais,agnciase organizaesinternacionais,visandoampliarsuacompreensoeseuapoios atividadeslocaisdeproteoambientalefomentoaodesenvolvimentosustentvel (ICLEI 2002c). Apartirdasexperinciasdegovernoslocais,oICLEIdesenvolveuuma estrutura para orientar os governos e as comunidades locais em seus planos de ao paraodesenvolvimentosustentvel,deacordocomresultadosdeprojetos-piloto, criados e aplicados pelo prprio ICLEI. Comesseobjetivo,oICLEIlanou,em1994,oProgramaComunidade ModelodaAgenda21,ondefoientorealizadaumaparceriadequatroanoscom quatorzemunicpiosemtodoomundo,comomostraoquadro2.Ascidadesde Buga,naColmbia,Quito,noEquador,eSantos,noBrasil,foramselecionadas,na Amrica Latina, para participarem desse Programa. 24 Quadro2CidadesparticipantesdoProgramaComunidadeModelodoICLEI,em 1994. ContinentePasCidade Amrica LatinaColmbiaBuga EquadorQuito BrasilSantos fricaTanzniaMwanza UgandaJinja frica do SulDurban Johannesburg Cape Town OceaniaPapua Nova GuinProvncia Manu Nova ZelndiaHamilton AustrliaJohnstone Shire siandiaPimpri Chinchwad EuropaReino UnidoLancashire County Amrica do NorteCanadHamilton Wentworth Fonte: Adaptado de ICLEI (1998) OProgramaComunidadeModelovisavatestardiferentesabordagensde planejamentoeexecuonaprestaodosserviospblicos,almdetestara metodologia para a implantao de Agenda 21 Local, por meio da ao conjunta do governo e sociedade (SOBRAL 1997). Umasegundainvestigao,maisatualizadaenicafontecomdados organizados e obtidos com a mesma metodologia, foi realizada, tambm pelo ICLEI, intitulada,SecondLocalAgenda21Survey,entrenovembrode2000edezembro de 2001, em conjunto com o Secretariado do Encontro Mundial de Desenvolvimento SustentveldasNaesUnidas(SecretariatfortheUNWorldSummiton SustainableDevelopment),eemcolaboraocomoProgramadeDesenvolvimento daONU/Capacity21.Oobjetivodessapesquisafoirealizarumlevantamento global,atualizandoosprogressosfeitosnaimplementaodaAgenda21Localem todasascidadesdomundo.Foramtambmdestacadasasdificuldadesenfrentadas pelasautoridadeslocais,almderegistraroapoionecessrioparaqueestes processos pudessem continuar em escala mundial. 25 Apesquisademonstraque,passados10anosdesdeaRio-92,maisde6.000 governoslocaisvmincorporandoaAgenda21Local,comoumtrabalhodeboa governabilidade,evoltadoparaavanarnosobjetivosestabelecidosao desenvolvimentosustentvel.Almdisso,em113pasesaoredordomundo,os lderes de governo, os trabalhadores e alguns segmentos da populao tm atuado em conjuntoparaaceleraratransioemcomunidadessustentveis,eqitativase seguras.Osprincipaistemas,levantadosnapesquisadoICLEI,foramreferentes gesto de recursos hdricos, preocupao com o desemprego, situao da pobreza, questes relacionadas sade e s mudanas climticas (ICLEI 2002a). Osquadros3,4,5,6,7e8indicam,respectivamente,nafrica,nasia Pacfico, na Europa, na Amrica do Norte, no Oriente Mdio, e na Amrica Latina, o nmero de cidades com Agenda 21 Local em processo de construo. Nafricaso151cidades,em28pases,quevmrealizandooprocessode elaboraodesuasAgendas21locais,conformeobservadonoquadro3.Apenasa frica do Sul estabeleceu uma campanha nacional para apoiar os governos locais na elaborao de suas Agendas 21 locais. Um dos maiores obstculos enfrentados pelas municipalidades africanas a falta de recursos e a dificuldade de obteno de apoio financeiro,almdeinsuficienteapoiodosgovernosnacionais.Somadosaesses aspectos, inclui-se, tambm, o fraco vnculo com as ONGs e a dificuldade na troca de experincias sobre outros processos internacionais. 26 Quadro 3 Pases da frica que apresentaram Agendas 21 Locais, em 2002 frica PasN de Agenda 21 Local PasN de Agenda 21 Local frica do Sul*20Moambique2 Arglia3Nambia5 Benin1Nigria5 Burundi2Rep. Democrtica do Congo2 Camares1Qunia11 Egito7Ruanda1 Gabo1Senegal13 Gana3Sudo 1 Lbia2Tanznia13 Madagascar5Togo2 Mali2Tunsia1 Malawi4Uganda5 Marrocos5Zmbia4 Mauritnia1Zimbbue39 Fonte: ICLEI 2002a (*) Pas que dispe de Agenda 21 Local Na sia - Pacfico, 674 cidades esto em processo de construo da Agenda 21Local,em17pases.Umadasexplicaesparaesseelevadonmerode iniciativaslocaisarealizaodecampanhasnacionais.Nestaregio,comoh citado no item 1,1, seis pases tm realizado campanhas nacionais Austrlia, China, Japo, Coria do Sul, Monglia e Sri Lanka. As campanhas realizadas na Austrlia, JapoeCoriadoSultmalcanadosucessoaoencorajaraelaboraodeelevado nmerodeAgendas21locaisnosrespectivospases.Adificuldadedeapoio financeiro,assimcomooapoiodosgovernosnacionais,tambmumforte obstculo na efetivao das Agendas da sia - Pacfico. O apoio na esfera nacional podeelevarenormementeoxitonaesferalocal,comodemonstraoquadro4,ao indicarqueospasesquepossuamAgendas21nacionais,apresentaramelevado nmero de Agendas 21 locais, como na Austrlia (176 A21L), no Japo (110 A21L) e na Coria do Sul (172 A21L). 27 Quadro 4 Pases da siaPacfico que apresentaram Agendas 21 locais, em 2002 sia-Pacfico PasN Agenda 21 Local PasN Agenda 21 Local Austrlia*176Monglia22 Bangladesh2Nepal4 Cingapura1Nova Zelndia37 Coria do Sul*172Paquisto1 Filipinas28Rep. Pop da China25ndia14Sri Lanka*24 Indonsia8Tailndia21 Japo*110Vietn20 Malsia9 Fonte: ICLEI 2002 a (*) Pas que dispe de Agenda 21 Nacional JaEuropaocontinentequeabarcaomaiornmerodeiniciativasde Agenda21Local,com5.292cidades,em36paseseuropeus,comopodeser observado no quadro 5. Uma das explicaes para o elevado nmero de Agenda 21 Localpodeseroestabelecidoprocessodemocrticoeatradioparticipativa,j incorporadosnaspolticaspblicaseprescritosnademocraciaparticipativada maioriadospaseseuropeus,como,Alemanha,Blgica,Dinamarca,Espanha, Finlndia,Holanda,Itlia,Noruega,ReinoUnidoeSucia,pasesqueapresentam mais de 100 iniciativas de Agendas 21 locais. 28 Quadro 5 Pases da Europa que apresentaram Agendas 21 locais, em 2002. Europa PasN Agenda 21 LocalPasN Agenda 21 Local Albnia7Islndia*37 Alemanha2042Irlanda*29 ustria64Iugoslvia18 Blgica106Itlia*429 Bsnia-Herzegovina1Latvia5 Bulgria22Litunia14 Crocia20Luxemburgo69 Chipre1Montenegro2 Dinamarca*216Noruega*283 Eslovquia30Polnia70 Eslovnia3Portugal27 Espanha359Romnia12 Estnia29Rssia29 Finlndia*303Rep. Checa42 Frana69Reino Unido*425 Grcia39Sucia*289 Holanda100Sua83 Hungria9Urnia9 Fonte: ICLEI 2002a (*) Pas que dispe de Agenda 21 Nacional As numerosas campanhas nacionais e regionais tm estimulado o crescimento deelaboraodasAgendas21locais.Ascampanhasnacionaistemacontecidoem oito pases europeus, como, Dinamarca, Finlndia, Islndia, Irlanda, Itlia, Noruega, Sucia e Reino Unido. NaSucia,porexemplo,100%dosmunicpiosadotaramAgenda21Local, desde 1996. PHILIPPI (2001) destaca que, na Sucia, o programa ecomunicipalidade jexistiamuitoantesdaRio-92.Esteprograma,quevisavaimplantaode estratgiasdesustentabilidadelocal,tevesuaprimeiraecomunicipalidade estabelecida, em 1983. A partir de 1990, esta proposta foi fortalecida e, aps a Rio-92, aumentou o nmero de municpios que aderiram ao movimento. OutroprogramaquemuitotemauxiliadoaimplantaodaAgenda21,na Europa,chama-seBaltic21(PHILIPPI2001).Esteprogramabaseadona cooperaoentresociedadeseNaes,notrabalhoaserexecutadoportodosos pases,quecirculamaregiodoMarBltico,sendoestes:Alemanha,Sucia, 29 Dinamarca,Finlndia,Blgica,Itlia,Frana,Sua,Rssia,Polnia,Litunia, Letnia e Estnia. O Baltic 21 um processo poltico que demonstra tendncia em construirumavisofuturadaregiobaseadanoconceitodedesenvolvimento sustentvel utilizando-a para integrar o desenvolvimento do setor poltico e regional, revitalizandoacooperaoambiental(PHILIPPI2001).Oprazoparaa implementao do programa de 20 anos 1993 / 2012. Um aspecto interessante da Agenda21Blticaareuniodepases,economicamentepoderosos,como Alemanha,SuciaeDinamarca,eoutros,economicamentefrgeis,comoRssia, Polnia, Litunia, Letnia e Estnia, que, como sabido, no demonstravam maiores preocupaes ambientais nos modelos econmicos adotados. O insuficiente apoio financeiro tem sido um fator restritivo para a construo dasAgendas21locaiseuropias.Porm,asmunicipalidadesinformaramter percebidotambmafaltadecompromissodosgovernosnacionais,almdopouco interessedemonstradopelascomunidades.Refora-seaindaanecessidadedos governos nacionais fortalecerem seu compromisso poltico com a Agenda 21 Local, destinandorecursosfinanceirossuficientesparaapoiarosgovernoslocaisemseus esforos.ApesardaEuropaapresentarnumerososprocessosdeAgenda21Locale estaralcanandoresultadospositivos,deve-seestimularquetaisprocessoslocais caminhemparalelamentecomasestratgiasnacionaisdesustentabilidade, alcanando melhores resultados longo prazo. AAmricadoNorte,queincluiosEstadosUnidosdaAmricaeoCanad, registrou101processosdeAgenda21Local,conformepodeserobservadono quadro 6. Muitas destas iniciativas tm acontecido, independentemente de programas nacionais, e esto voltadas para o planejamento sustentvel no mbito regional. No hnenhumacampanhaespecficadeAgenda21NacionalnaAmricadoNorte. Alm da falta de apoio financeiro e poltico, as municipalidades consideraram poder insuficienteparatomardecisesnacriaodeprocessoslocaisfortes.Sugeriu-se tambm que os governos nacionais aumentassem o montante dos fundos destinados sustentabilidade local. 30 Quadro 6 Pases da Amrica do Norte que apresentaram Agendas 21 Locais, em 2002. Amrica do Norte PasN Agenda 21 local PasN Agenda 21 localCanad14EUA87 Fonte: ICLEI 2002a PHILIPPI(2001)citacomoexemplodeexperinciadeAgenda21Localno Canad, a cidade de Hamilton-Wentoworth, onde o departamento de planejamento, a partirde1989,adotouodesenvolvimentosustentvelcomofilosofiaparadirigiros interessesdacomunidade,destacandoaparticipaopblicanaadministrao.Em 1992, aps dois anos de discusso pelo grupo de trabalho formado, foi apresentado o programa,VISO2020:ARegioSustentvel.Apartirda,foramelaboradosos planosparatornarrealidadeodesenvolvimentosustentvel,comaparticipaodos diversos segmentos da sociedade e do setor pblico. No Oriente Mdio, devido escassez de informaes obtidas na pesquisa, foi difcilidentificar-seclaramentecomoascidadesestoenvolvidascomAgenda21 Local. Baseando-se nas informaes disponibilizadas pelos governos locais e outras organizaes, foram identificadas 79 cidades em 13 pases engajadas em processo de Agenda 21 Local, conforme o quadro 7. O ICLEI destaca que improvvel que isso represente, com a adequada aproximao, a totalidade dos processos que vm sendo efetuados. Dos pases do Oriente Mdio, a Turquia foi o nico pas que respondeu pesquisaeafirmouestarimplementandoaAgenda21Nacional.Essepastambm conta com Agenda 21 Local em 50 cidades. Cabe enfatizar que a campanha nacional naTurquiavemsendoapoiadapeloprograma,Capacity21,queintegrapartedo Programa de Desenvolvimento das Naes Unidas. 31 Quadro 7 Pases do Oriente Mdio que apresentaram Agendas 21 locais, em 2002. Oriente Mdio PasN Agenda 21 LocalPasN Agenda 21 Local Arbia Saudita4Jordnia4 Bahrein1Kuwait1 Catar1Lbano6 Emirados rabes2Om1 Yemen2Sria2 Ir2Turquia*50 Israel3 Fonte: ICLEI 2002 (*) Pas que dispe de Agenda 21 Nacional VIOLAELEIS(2002)destacam,emumtrabalhosobregovernabilidade global,queaTurquiaatualmenteonicopasislmicocomumregime democrtico estvel, fato que pode estar auxiliando nas discusses sobre Agenda 21. Narealidade,muitasdasinformaeseiniciativasnoOrienteMdiosoapoiadas porprogramasinternacionais,comooCapacity21.Afaltadeapoiofinanceiroe poltico para Agenda 21 Local no Oriente Mdio tem sido uma limitao importante paraodesenvolvimentodeprogramasemmuitasmunicipalidades.Almdisso, muitascomunidadestmenfrentadosituaesdeagitaosocialepolticanesta regio, o que interfere na efetivao de prticas voltadas aos objetivos da Agenda 21 Local. NaAmricaLatina,119municpios,em17pases,responderampesquisa, como participantes de processos de Agenda 21 Local, conforme observado no quadro 8.Muitosdessesprocessostmocorridodeformaindependentedasestabelecidas porcampanhasnacionais.Apenas,Brasil,EquadorePerudispemdeAgenda21 Nacional. 32 Quadro 8 Pases da Amrica Latina que apresentaram Agendas 21 Locais, em 2002. Amrica Latina PasN Agenda 21 LocalPasN Agenda 21 Local Argentina1Guiana1 Bolvia1Honduras6 Brasil*36Jamaica5 Chile 15Mxico2 Colmbia6Nicaragua5 Costa Rica4Peru*17 Cuba2Trinidad Tobago1 Dominica1Vemezuela3 Equador*13 Fonte: ICLEI 2002a (*) Pas que dispe de Agenda 21 Nacional ComoumexemplodeumaAgenda21LocalnaAmricaLatina,pode-se citar a experincia da Provncia de Cajamarca, no Peru, que comeou, em 1992, um planodedesenvolvimentosustentvel,envolvendoacriaodeseisplanos estratgicostemticos,demdioprazo,chamadoCajamarca2010.Oprocessode planejamentojuntouvriasinstituies,pblicaseprivadas,trabalhandoquestes urbanas e rurais e seis fruns de consulta foram os responsveis por implementar os seguintestemas:recursosnaturaiseagricultura;meioambienteurbano;mulheres, populaoefamlia;produoeemprego;heranaculturaleturismo.Estesfruns so formados por ONGs, associaes profissionais e comunitrias, entre outros. No final do processo a Cmara ratifica as propostas de ao enviadas. AsmunicipalidadesdaAmricaLatinadestacaramquatroobstculos-chave noprocessodaAgenda21Local:apoiofinanceiroescasso;faltadeprogramas nacionais;informaesdisponveisinsuficientes;efracosvnculoscominstituies internacionais.Poroutrolado,humaforteparticipaodacomunidade.Os governoseasagnciasinternacionaisdeveriaminvestirnamelhoriaenas capacitaes locais, o que auxiliaria muito o avano do desenvolvimento sustentvel nesta regio. 33 AindaemrelaoaAmricaLatina,oitem1.2abordaaconstruoda Agenda21brasileiraemseusdiversosmbitosdegoverno,umavezqueesta pesquisapretendeanalisar,comojcitado,asAgendas21locais,em4cidades brasileiras. Concluindoopanoramainternacional,ficouevidentenasseisregies descritas,queosmaioresobstculosnosprocessodasAgendas21locaisforamas dificuldadesparaobtenoderecursosfinanceiroseafaltadeapoiopoltico, principalmentedosgovernosnacionais,paraestabelecerdiscussesedar continuidade ao trabalho. O estabelecimento de um processo democrtico verdadeiro, onde a sociedade j tenha incorporado a tradio participativa nas polticas de governo, assim como o apoiodosgovernosnacionais,facilitarameestimularammuitasexperinciasde Agendas 21 Local, nos pases europeus, e alguns da sia - Pacfico. Apesardealgunsavanosnosltimos11anos,desdequandofoipropostaa Agenda21GlobalnaRio-92,aindahmuitoaserfeitonomundo,como, principalmente, educar e estimular a sociedade a participar de iniciativas voltadas ao desenvolvimento sustentvel. 34 1.2 Agenda 21 Brasileira O maior desafio da Agenda 21 Brasileira internalizar nas polticas pblicas do pas os valoreseprincpiosdodesenvolvimentosustentvel.Estaumametaaseratingidano maisbreveprazopossvel.AchavedosucessodaAgenda21Brasileiraresidenaco-responsabilidade, solidariedade e integrao desenvolvidas por toda a sociedade ao longo desuaconstruo.Oprximodesafioimplement-la,paraqueoBrasilalcancenovo padro civilizatrio em um contexto mundial de profundas transformaes. (Fernando Henrique Cardoso, Presidente da Repblica Federativa do Brasil) A construo da Agenda 21 Brasileira teve como objetivo redefinir o modelo dedesenvolvimentodopas,introduzindooconceitodesustentabilidade,e qualificando-ocomaspotencialidadeseasvulnerabilidadesdoBrasilnoquadro internacional(CPDS2002a,p.1).Destaforma,foramavaliadasaspotencialidades, para se instituir um modelo de desenvolvimento sustentvel para o pas, determinando estratgias e linhas de ao em conjunto com a sociedade civil e o setor pblico (MMA 2000).A Agenda 21 Brasileira iniciou seu processo de construo, em 1997, quando foi, ento,criada,porDecreto Presidencial de 26/02/97, a Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel - CPDS. Tal grupo era composto por representantes de reas do Governo Federal e de setores da sociedade, e tinham como objetivo, definir a metodologia a ser utilizada na elaborao da Agenda 21 Brasileira.Apartirdeseistemasqueenglobamasquestesnacionaiseo desenvolvimentosustentvel,foiorganizadoodocumentoAgenda21Brasileira Bases para Discusso.Realizou-se ento um processo de consulta populao, que incluiudebatesemdiversasfases:aconsultatemtica,em1999;aconsultaaos estados da federao, em 2000; e, finalmente, os encontros regionais, em 2001. S ao finaldesseprocesso,quefoiconcludaaAgenda21Brasileira,lanada, oficialmente, pelo Presidente da Repblica em 16 de julho de 2002. Foi apenas em abril de 1994, que realizou-se no Brasil o Primeiro Seminrio da Agenda 21, intitulado, Implementao dos compromissos da Rio-92: as aes da Agenda21paraSade,SaneamentoeAssentamentosHumano,coordenadopela 35 ONG,VitaeCivilis,ecomoapoiodoMMA,SecretariadeEstadodoMeio AmbientedeSoPaulo;InstitutoFlorestal;CETESB;ComissoEstadualde PrevenoeCombateClera,daSecretariadeEstadodaSade,eProgramadas NaesUnidasparaoDesenvolvimento(PNUD).Nesteeventoforamidentificadasalgumas barreiras para a implementao da Agenda 21 no pas (BORN 2002). TaisobstculosforamentoapresentadosComissodaONUde DesenvolvimentoSustentvel,destacando-se,comoexemplos(VITAECIVILIS 1994),odesconhecimentodaAgenda21,fato,aindamaisagravadopela inexistncia,atento,detraduododocumentoparaoportugus;afaltadeum marcoinstitucional,quecontemplassecoerentementefatoressociais,econmicose ambientaissustentveis;oagravamentodadescontinuidadeadministrativa;os desajustesentreosdiversosnveiseesferasdeGovernos,dificultandoa implementaodaAgenda21;adiversidadedospadresculturaisnadefiniode projetos e programas de desenvolvimento, dentre outros. interessante observar que falava-se em implementar a Agenda 21 Nacional,muitoantesdasAgendas21locaisteremsidolanadas,fatoestequedemonstraa falta de importncia do Governo brasileiro com relao ao processo de construo da Agenda 21. Finalmente,comoobjetivodeoGovernoBrasileirocolocaremprticao compromissoassumidonaexecuodaAgenda21Global,foicriada,peloDecreto n1.160,de21/6/94,eimplementada,em26/2/97,aComissoInterministerialde Desenvolvimento Sustentvel - CIDES, ligada ao Ministrio do Meio Ambiente, dos RecursosHdricosedaAmazniaLegal-MMA.Suafinalidadeprincipaleraade assessoraroPresidentedaRepblicanatomadadedecisessobreasestratgiase polticasnecessriasaodesenvolvimentosustentvel,deacordocomaAgenda21 (MMA 2000b). Devido s presses internacionais para a realizao da Rio+5, e com algumas Agenda 21 locais em processo de discusso nas cidades de So Paulo, Rio de Janeiro eSantos,oGovernoFederalextinguiuformalmenteaComissoInterministerialde DesenvolvimentoSustentvelCIDES,em1997,e,porAtoPresidencial,em 36 seguida, foi criada a Comisso de Poltica de Desenvolvimento Sustentvel e Agenda 21CPDSA21,nodia26/02/97.EstaComisso,subordinadaCmarade RecursosNaturaisdaPresidnciadaRepblica,tinhacomofinalidade,propor estratgiasdedesenvolvimentosustentvelecoordenaraelaboraoea implementao da Agenda 21 Brasileira.A CPDS, como ficou conhecida a Comisso de Poltica de Desenvolvimento Sustentvel, comeou a atuar, um pouco antes da Rio+5, em junho de 1997. Esta era compostapordezmembros,representantesdereasdoGovernoFederalepor setores da sociedade. O Ministrio do Meio Ambiente era quem presidia a Comisso. IntegravamtambmaCPDS,oMinistriodoPlanejamento,OramentoeGesto; MinistriodasRelaesExteriores;MinistriodaCinciaeTecnologia;Cmarade PolticasSociaisdaCasaCivildaPresidnciadaRepblica;FrumBrasileirode OrganizaesNo-GovernamentaiseMovimentosSociaisparaoMeioAmbientee Desenvolvimento;FundaoMovimentoOndaAzul;ConselhoEmpresarial BrasileiroparaoDesenvolvimentoSustentvel;FundaoGetlioVargas;e Universidade Federal de Minas Gerais. SegundoBORN(1999),asdiscussesparaaelaboraodaAgenda21 Brasileira iniciaram-se de fato, depois da Rio+5. A partir de ento, a CPDS discutiu a metodologia a ser utilizada na Agenda 21 Brasileira, como a eleio de macro-temas, dostermosdereferncia,earealizaodeseminrioseaudinciaspblicas,para anlisedosestudosfeitospelosconsultorescontratados,emrazodostemas escolhidos. OstemaseleitosparaoinciodadiscussosobreaAgenda21Brasileira foram:CidadesSustentveis;AgriculturaSustentvel,Infra-EstruturaeIntegrao Regional;GestodosRecursosNaturais;ReduodasDesigualdadesSociais;e CinciaeTecnologiaparaoDesenvolvimentoSustentvel.Ostemasreferem-ses principaisquestesnacionais,suaspotencialidadesefragilidades,visandoao estabelecimento do desenvolvimento sustentvel no pas. Paraaelaboraodestesseisdocumentostemticos,foirealizadoum processodeconcorrnciapblicanacional,emqueforamselecionadoscinco consrcios, que iriam organizar uma consulta nacional, e elaborar os documentos que 37 serviriamdebaseparaasdiscussesnosEstados.Taisconsrcios,indicadosno quadro9,foramformadosporempresas,instituiesacadmicas,ONGse renomados consultores das respectivas reas temticas. Quadro 9 - Consrcios responsveis pelos temas da Agenda 21 Brasileira. CONSRCIO RESPONSVEL4 TEMA Consrcio Parceria 21 (IBAM, ISER, REDEAH) Cidades Sustentveis Consrcio Museu Emlio GoeldiAgricultura Sustentvel Consrcio Sondotcnica / Crescente Frtil Infra-Estrutura e Integrao Regional Consrcio Parceria 21 Reduo das Desigualdades Sociais Consrcio CDS / UnB ABIPTICincia e Tecnologia e Desenvolvimento Sustentvel Consrcio TCBR / FunaturaGesto de Recursos Naturais Fonte: MMA 1998. Os seis documentos temticos foram elaborados, no final de 1998 e incio de 1999.Nelesestavamcontidasaspropostasdeestratgiasedeaes,que constituramumdocumentobsico,intituladoAgenda21Brasileira-Basespara Discusso,queserviucomosubsdioaosdebatessetoriais,iniciadosnoinciode 2001. 4 Instituto Brasileiro de Administrao Municipal IBAM Instituto Social de Estudos da Religio - ISERRede de Desenvolvimento Humano REDEHConsrcio Museu Emlio Goeldi, composto pelo Museu Paraense Emlio Goeldi, Programa de Ps-Graduao em Cincia Ambiental da Universidade de So Paulo e Fundao Aplicaes de Tecnologias Crticas - AtechTecnologia e Consultoria Brasileira S/A - TC/BR Fundao Pr-Natureza Funatura Centro de Desenvolvimento Sustentvel da Universidade de Braslia CDS-UnB, e Associao Brasileira de Instituies de Pesquisa Tecnolgica - Abipti, que elaborou o tema Cincia e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentvel. 38 Emmeadosde2000,odocumento,Agenda21Brasileira-Basespara Discusso,foiapresentadoaoPresidentedaRepblica,FernandoHenrique Cardoso, iniciando-se, ento, a etapa de recebimento de emendas e sugestes, a partir dasconsultasaosEstados.Dejunhode2000amaiode2001,foramrealizados26 debates,nos27Estadosbrasileiros.ApenasnoEstadodoAmap,nofoirealizado umdebateestadualsobreaAgenda21Brasileira,pois,nesteEstado,jhaviasido elaborado, antecipadamente, o Programa de Desenvolvimento Sustentvel do Amap -PDSA,emqueoconceitodedesenvolvimentosustentvelpermeiaapolticade governoadotada,incorporandoasustentabilidadescio-ambiental,econmicae cultural.Oseventosestaduaistinhamcomoobjetivos,ampliarasdiscussessobreas propostascontidasnodocumentoAgenda21Brasileira-BasesparaDiscusso,conheceravisodosEstadossobredesenvolvimentosustentvelnaAgenda21 Brasileira,eafirmaroscompromissosassumidosentreosdiferentessetoresda sociedadecomasestratgiasdefinidasnaAgenda(CPDS2002).Noentanto,cabe esclarecerqueesseseventosforammuitopoucorepresentativospelofatodequea divulgao foi muito pequena. As instituies de ensino, como as universidades, por exemplo, quase no participaram. Dejunhoaoutubrode2001,foiafasedeconsolidaodosconsensose explicar as prioridades, propostas especficas e eventuais dissensos em cada uma das cincoregiesdopas,apartirdaperspectivaregional,combasenasemendas apresentadas na etapa anterior (BORN 2002, p. 85). Dos debates estaduais foram recebidas 5839 emendas propostas por todos os segmentos,sendoqueoseventosrealizadoscontaramcomaparticipaode aproximadamente3.900milpessoas.SegundoodocumentofinaldaAgenda21 Brasileira,aagriculturasustentvelfoiotemaquemaisrecebeupropostas(31%), seguido por gesto dos recursos naturais (21%), infra- estrutura e integrao regional (14%),reduodasdesigualdadessociais(13%),cinciaetecnologiaparao desenvolvimentosustentvel(11%)ecidadessustentveis(10%).Dosparticipantes nos debates estaduais, 7% representaram a regio Sul, 18% na regio Norte, 39% no Nordeste, 20% no Sudeste e 15% no Centro-Oeste (CPDS 2002). 39 Osdebatesregionaistambmenvolveramcentenasdepessoasediversas organizaes de fomento, como a Caixa Econmica Federal, o Banco da Amaznia, oBancodoNordesteeoBancodoBrasil,engajaram-senoprocessodediscusso pblica da Agenda 21. SegundoBORN(2002,p.86),estima-seque40.000pessoasqueleramo documentoAgenda21Brasileira:basesparadiscusso,envolveram-senasaes quemarcaramessasetapas,ouseja,adiscussodaspropostas,emsuasrespectivas organizaesecomunidades;aexposiopblicadesuassugesteseemendas;o exercciododilogoedasnegociao,comvistasaumpassustentvel,e impulsionados pelas demandas e interesses especficos de cada segmento. Tratou-se designificativaexperinciadeparticipaocivil,emprocessonacionalparao estabelecimento de plano (poltica) nacional, com base nas realidades e perspectivas locais , regionais e globais. Cabeaquifazerumparaleloentreoprocessometodolgicoadotadoparaa elaboraodaAgenda21Brasileira,apresentadoem2002,comoaqueleutilizado paraaelaboraododocumentoBrasil92:PerfilAmbientaleEstratgias,em 1990,pelaAssociaoBrasileiradeEntidadesdoMeioAmbienteABEMA,eapresentado por ocasio da Rio-92.Fundada em 1986, a Associao Brasileira de Entidades do Meio Ambiente ABEMA,constituiu-sedeumasociedadecivildedireitoprivadoesemfins lucrativos,quecongregaosrgoseinstituiesestaduaisdemeioambiente, representados em sua maioria, pelas secretarias de meio ambiente de cada Estado da Federao.Comointuitodereuniresforosparacriarumfrumdemocrticoedepossibilitar uma ampla participao nacional dos diversos segmentos da sociedade, a ABEMAdesenvolveuoProjetoBrasil92:PerfilAmbientaleEstratgias.Este relatrionacional,apresentadopeloBrasilnaRio-92,tevesuaconcepobaseada nas seguintes caractersticas (ABEMA 1992): 40 - ElaborarumdiagnsticoambientaldoBrasil,ressaltandosuasimplicaes scio-econmicaseasmedidasquelevemaumnovomodelodedesenvolvimento, adequado s caractersticas brasileiras e as suas especificidades regionais; -contar com a ampla participao da sociedade civil, atravs da incorporao das sugestes e idias, apresentados pelos seus representantes; -representar um espao aberto onde a sociedade tenha manifestado seu modo de pensar a respeito dos problemas de meio ambiente e de desenvolvimento. Oprocessodeelaboraodesterelatrioteveincioemsetembrode1990, quandofoientodecididaqueametodologiadedesenvolvimentodostrabalhos tcnicos, deveria atender a aspectos tcnicos, polticos e administrativos.Destaforma,apreparaododocumentoelaboradoecoordenadopela ABEMAocorreuseguindoquatroetapassucessivas,bastantesimilaresaoprocesso deelaboraodaAgenda21Nacional:EtapaPreliminar,EtapaEstadual,Etapa Regional e Etapa Nacional.Assim, como no processo de elaborao da Agenda 21 Brasileira, a ABEMA considerou em sua metodologia a importncia de contar, tambm, com a participao dosdiversossegmentosdasociedadenaelaboraododocumentonasetapas estaduais e regionais. ConstanodocumentofinaldaABEMA,queosEstadosforamciososem elaborar o seu prprio documento e submet-lo mais ampla discusso democrtica. EmdiversosEstados,osgovernoscriaramoficialmentegruposdetrabalho especficos,numainequvocademonstraodeinteressepelodesenvolvimentodo projeto (1992, p. 17). NaEtapaRegionalforamelaborados,pelascomissesregionaiscriadas,os relatriosregionais,queserviramdebaseparaorelatrionacional.Osrelatrios regionais foram apresentados durante a Conferncia Nacional de Meio Ambiente, em Vitria(ES),emfevereirode1992,esubsidiaramaparticipaodaABEMAna ltimareuniopreparatriadaRio-92,emNovaYork,ondeforamdebatidosos temasprincipais da Conferncia. 41 A Etapa Nacional, realizada em maro de 1992, em So Paulo, s vsperas da ConfernciaRio-92,finalizouumaimportantefasedoProjetoBrasil92:Perfil AmbientaleEstratgias.Foientocriadoumgrupodetrabalhoque,depossedas conclusesobtidasnaConfernciaNacionaldeVitriaecombasenosrelatrios regionais,preparouorelatrionacionalquefoiavaliadoediscutidoemumFrum Nacional.OdocumentoapresentadopelaABEMAnaRio-92incluioresultadodas discusses, avaliaes e acrscimos do Frum de So Paulo. Desta forma, buscou-se, assim como nas discusses da Agenda 21 Brasileira em 2000, garantir e estimular a participao dos diversos representantes da sociedade norelatrionacionalintituladoBrasil92:PerfilAmbientaleEstratgias,que, aindahoje,refernciadeumprimeirodocumentoelaboradocomaintenode buscaraamplaparticipaoediscussodemocrtica,envolvendoasociedade brasileira.Vale aqui citar, conforme ressaltado por ABEMA (1992), ... que apesar da preocupao em estimular a presena atuante dos diversos segmentos da sociedade, em alguns momentos houve dificuldade de se conseguir uma participao maisintensa.Aexperinciadeseelaborarumdocumentodeabrangncianacional marcadaporumametodologiaintencionalmenteparticipativafatoraronostempos atuaisteveassuasimplicaes.Asquejeramprevistaspodemserexplicadaspela complexidade de uma tarefa dessa natureza em um pas de tamanho continental. (p.18)Portanto,cabetambmdestacaralgunsdesafiosimportantesenfrentadosao longo do processo de elaborao da Agenda 21 Brasileira, apontados pelo Ministrio do Meio Ambiente (2002): - Desenvolver mtodo participativo em um pas de dimenses continentais e sem tradio em processos de elaborao de polticas pblicas. -Buscaronivelamentodoconhecimentoedasinformaessobreos entravessustentabilidadeesobreaspotencialidadesdopas,comvistas construodeumcaminhoparaonovomodelodedesenvolvimento.Tais dificuldadesseexplicamdevidodiversidadescio-econmicaecultural,frutoda grande desigualdade social ainda prevalecente no pas. 42 -Perceberomundo,apartirdesetorialidadese/oudereivindicaesde casos particularizados, uma herana imposta pela cultura ocidental.- Contemplar aes que visem um espao de tempo maior do que a vida de um indivduo. - Criar um objetivo comum em um pas de demandas regionais especficas, fruto das desigualdades existentes.AltimafasenaelaboraodaAgenda21Brasileirafoiemmaiode2002, comoseminrionacional,queseconstituiuemcincoreuniessetoriais,asaber: executivo,legislativo,produtivo,academiaesociedadecivilorganizada.Nessas reunies,aCPDSapresentousuaplataformadeao,baseadanossubsdiosda consulta nacional e definiu com as lideranas de cada setor os meios e compromissos de implementao. Finalmente,em17dejulhode2002,foilanadapeloPresidenteda Repblica,aAgenda21Brasileira.DoisdocumentoscompemaAgenda21 Brasileira:aAgenda21BrasileiraAesPrioritrias,queestabeleceorumoda construodasustentabilidadenoBrasileAgenda21Brasileira-Resultadoda Consulta Nacional, fruto das discusses estaduais, ao longo de 4 anos.O lanamento da Agenda 21 Brasileira finaliza a fase de elaborao e marca o incio do processo de implementao, um desafio conjunto para sociedade e governo, eminstituirummodelodedesenvolvimentosustentvelparaopas.Taldocumento representa um importante instrumento no planejamento da gesto, pblica e privada dopas,assimcomo,paraosplanosdedesenvolvimentoqueforemimplementados no futuro. Conhecidooprocessonasesferasinternacionalenacional,caber,ento, ilustrar como tem ocorrido a construo das Agendas 21 no mbito regional, estadual e, finalmente em mbito local. 43 1.2.1 Agenda 21 no mbito regional AAgenda21nombitoregionaldizrespeitoaodocumentoquetemcomo objetivoprincipal,aabordagemdeumespaogeogrficosemelhante,parafinsde planejamentoegestoambiental.Comestafinalidade,podeserconsiderada,por exemplo, uma bacia hidrogrfica que engloba diversos municpios e, s vezes, mais deumEstado;asregiesmetropolitanas;asregiesconurbadas;easregies,com similaridades industriais, comerciais, agrcolas e de turismo. A Agenda 21 no mbito regionalpermiteagregarvaloresquelaregioenvolvida,quesejaobjetodessa Agenda21,mostrandoaresponsabilidadedecadaterritrionaatuaoafavordo bem comum. OBrasil,assimcomooutrospasesjcitadosanteriormente,tambmvem realizandoexperinciasregionaisdeAgenda21,comoemalgumasbacias hidrogrficaseregiesmetropolitanas.Estasexperinciastmsidobastante significativas,poisestasregiescongregamsituaessimilaresequeprecisamde solues em conjunto. Dentreosmecanismosdecooperaodemunicpiosvizinhosnabuscade soluesparaproblemascomuns,valecitarosConsrciosIntermunicipaisCIM, quetmdemonstradoboaspossibilidadesdeimplementaodosprincpiosde sustentabilidadeedaAgenda21,poisproporcionamoespritocooperativoea participao de amplos setores da sociedade (SIRKIS 1999). Assimsendo,seroaquiapontadasasexperinciasbrasileirasdemaior relevnciadeAgenda21,emmbitoregional.Taisinformaesforamobtidasem documentosdisponibilizadospeloMMA,emformatoeletrnico,equeaindano foram apresentados para o pblico. O quadro 10 indica que, em quase todos os Estados, segundo documento doMinistriodoMeioAmbiente(2002c),consultado,soexpressivasas experincias de Agenda 21 no mbito regional. 44 Quadro 10 - Experincias de Agenda 21 no mbito regional por Estado, em 2002. REGIO NORDESTE ESTADOAGENDAS REGIONAIS BAHIA Extremo Sul da Bahia (Prado, Alcobaa, Itamaraju e Ponta Corumbau), Costa doDescobrimento(Belmonte,Canasvieiras,Eunpolis,Itabela,Itajimorim, Itamaraj, Itapebi, Porto Seguro, Prado, Alcobaa, Santa Cruz Cabrlia). CEARSerto Central. MARANHOSul do Maranho (regio de Balsas). PERNAMBUCO Vale do Alto Paje.BaciadoPirapama(CabodeSantoAgostino,JaboatodosGuararapes, Ipojuca, Moreno, Escada, Vitria do Santo Anto e Pombos).RegiodeAldeia(Camaragibe,SoLoureno,PaudAlho,Recife,Paulista, Abreu Lima e Arassoiaba). PARABA Bacia do Rio do Peixe (Bom Jesus, Cachoeira dos ndios, Cajazeiras, Lastro, SantaHelena,SoJoodoRiodoPeixe,Sousa,Triunfo,Uirana, Marizoplia,PooDantas,PooJosdeMoura,SantaCruz,Vierpolis, Santarm, Bernandino Batista, So Francisco e Aparecida). REGIO SUDESTE ESTADOAGENDAS REGIONAIS RIO DE JANEIRO Regio Fluminense. Leste da Guanabara. MINAS GERAIS Bacia do rio Caratinga, Bacia do Rio Doce, Bacia do Rio Meio Paraba, Bacia do Rio Paraopeba(Ouro Branco, Congonhas, Conselheiro Lafayette), Regional doLagodeFurnas(Aguanil,Alfenas,Alterosas,Areado,BoaEsperana, CaboVerde,CampoBelo,CampodeMeio,CamposGerais,CanaVerde, Candeias,Capitlio,CarmodoRioClaro,Coqueiral,Cristais,DivisaNova, Eloi Mendes, Fama, Formiga, Guap, Ilicnia, Lavras, Machado, Monte Belo, Nepomuceno,Paraguau,Perdes,Pimenta,RioVermelho,Glria,Barra, Serrania, Trs Pontas e Varginha). ESPRITO SANTOConsrcio do Rio Guand, Bacia do Rio Machado. SO PAULO ValedoRibeira(Canania,Iguape,Perube,Itarir,PedrodeToledo, Miracatu,Juqui,SeteBarras,Registro,Jacupiranga,Eldorado,Pariquera-Au, Barra do Turvo, Apia, Iporanga e Ribeira), Baixada Santista. REGIO SUL ESTADOAGENDAS REGIONAIS SANTA CATARINABacia do Alto Rio Negro Catarinense. 45 REGIO CENTRO OESTE ESTADOAGENDAS REGIONAIS MATO GROSSO DO SUL Bacias do Rio Apa e Miranda, Bacia do Rio Taquari, Bacia do Rio Vermelho. REGIO NORTE ESTADOAGENDAS REGIONAIS PAR Arquiplago do Maraj, Arquiplago do Mainique. Fonte: Adaptado de MMA (2002c), pela autora. Assim,attulodeexemplo,foramdestacadastrsexperinciasqueilustram comovemsendorealizadooprocessodeAgenda21,nombitoregional:Baciado Pirapama (PE), Regio de Aldeia (PE) e Vale do Ribeira (SP).

Bacia do Pirapama (PE):AAgenda21daBaciadoPirapamasurgiuapartirdaelaboraodoPlano de Desenvolvimento Sustentvel para a Bacia do Pirapama. Nesta regio, j estava emandamentoumametodologiadetrabalhointerdisciplinareparticipativo,oque facilitou o incio do processo. Esta Bacia Hidrogrfica integrada por 7 municpios da Zona da Mata Pernambucana, sendo eles: Cabo do Santo Agostinho, Jaboato dos Guararapes,Ipojuca,Moreno,Escada,VitriadeSantoAntoePombos.Os4 primeiros municpios integram a Regio Metropolitana de Recife (MMA 2002a).OPlanodeDesenvolvimentoSustentvelparaestabaciahidrogrficateve, comoprincipalobjetivo,oadequadoabastecimentodeguaparaaRegio MetropolitanadoRecife,prevendodesdeoincio,ofortalecimentodosmunicpios para a gesto ambiental e a criao de um modelo que pudesse ser disseminado para outrasreasdoEstadoedopas.Dentrodeumavisointegradadeaes,oPlano remeteaproblemasscio-ambientaisqueatingem,sobretudo,osgruposmais vulnerveis desta regio. A pobreza da rea e a degradao dos ecossistemas naturais so marcantes na paisagem da bacia do Pirapama (GAMA 2000).