marcelo odebrecht ameaça derrubar a república

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 Marcelo Odebrecht ameaça derrubar a República “Terão de construir mais 3 celas: para mim, Lula e Dilma”, dizia Emilio Odebrecht, sobre possível prisão do filho. O presidente da Odebrecht, Marcelo, foi preso nesta sexta FILIPE COUTINHO, THIAGO BRONZATTO E DIE GO ESCOSTEGUY 20/06/2015 - 00h11 - Atualizado 20/06/2015 00h14

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“Terão de construir mais 3 celas: para mim, Lula e Dilma”, dizia Emilio Odebrecht, sobre possível prisão do filho. O presidente da Odebrecht, Marcelo, foi preso nesta sexta

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Marcelo Odebrecht ameaça derrubar a República

“Terão de construir mais 3 celas: para mim, Lula e Dilma”, dizia Emilio Odebrecht, sobre

possível prisão do filho. O presidente da Odebrecht, Marcelo, foi preso nesta sexta

FILIPE COUTINHO, THIAGO BRONZATTO E DIEGO ESCOSTEGUY

20/06/2015 - 00h11 - Atualizado 20/06/2015 00h14

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Marcelo Odebrecht, preso pela PF. “Não haverá República na segunda-feira” (Foto: Luis

Ushirobira/Valor/Folhapress)

>> Trecho de reportagem de capa de ÉPOCA desta semana 

Desde que o avançar inexorável das investigações da Lava Jato expôs ao Brasil o desfecho que,

cedo ou tarde, certamente viria, o mercurial empresário Emilio Odebrecht, patriarca da família

que ergueu a maior empreiteira da América Latina, começou a ter acessos de raiva. Nesses

episódios, segundo pessoas próximas do empresário, a raiva – interpretada como ódio por

algumas delas – recaía sobre os dois principais líderes do PT: a presidente Dilma Rousseff  e o

ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A exemplo dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha,

e do Senado, Renan Calheiros, outros dois poderosos alvos dos procuradores e delegados da

Lava Jato, Emilio Odebrecht acredita, sem evidências, que o governo do PT está por trás das

investigações lideradas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Se prenderem oMarcelo (Odebrecht, filho de Emilio e atual presidente da empresa), terão de arrumar mais três

celas”, costuma repetir o patriarca, de acordo com esses relatos. “Uma para mim, outra para o

Lula e outra ainda para a Dilma.”

Na manhã da sexta-feira, 19 de junho de 2015, 459 dias após o início da Operação Lava Jato,

prenderam o Marcelo. Ele estava em sua casa, no Morumbi, em São Paulo, quando agentes e

delegados da Polícia Federal chegaram com o mandado de prisão preventiva, decretada pelo

 juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal da Justiça Federal do Paraná, responsável pelas

investigações do petrolão na primeira instância. Estava na rua a 14ª fase da Lava Jato,

preparada meticulosamente, há meses, pelos procuradores e delegados do Paraná, emparceria com a PGR. Quando ainda era um plano, chamava-se “Operação Apocalipse”. Para

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não assustar tanto, optou-se por batizá-la de Erga Omnes, expressão em latim, um jargão

 jurídico usado para expressar que uma regra vale para todos – ou seja, que ninguém, nem

mesmo um dos donos da quinta maior empresa do Brasil, está acima da lei. Era uma operação

contra a Odebrecht e, também, contra a Andrade Gutierrez, a segunda maior empreiteira do

país. Eram as empresas, precisamente as maiores e mais poderosas, que ainda faltavam no

cartel do petrolão. Um cartel que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, fraudou licitações daPetrobras, desviou bilhões da estatal e pagou propina a executivos da empresa e políticos do

PT, do PMDB e do PP, durante os mandatos de Lula e Dilma.

Os comentários de Emilio Odebrecht eram apenas bravata, um desabafo de pai preocupado,

fazendo de tudo para proteger o filho e o patrimônio de uma família? Ou eram uma ameaça

real a Dilma e a Lula? Os interlocutores não sabem dizer. Mas o patriarca tem temperamento

forte, volátil e não tolera ser contrariado. Também repetia constantemente que o filho não

“tinha condições psicológicas de aguentar uma prisão”. Marcelo Odebrecht parece muito com

o pai. Nas últimas semanas, segundo fontes ouvidas por ÉPOCA, teve encontros secretos com

petistas e advogados próximos a Dilma e a Lula. Transmitiu o mesmo recado: não cairiasozinho. Ao menos uma dessas mensagens foi repassada diretamente à presidente da

República. Que nada fez.

Quando os policiais amanheceram em sua casa, Marcelo Odebrecht se descontrolou. Por mais

que a iminência da prisão dele fosse comentada amiúde em Brasília, o empresário agia como

se fosse intocável. Desde maio do ano passado, quando ÉPOCA revelara as primeiras

evidências da Lava Jato contra a Odebrecht, o empresário dedicava-se a desancar o trabalho

dos procuradores. Conforme as provas se acumulavam, mais virulentas eram as respostas do

empresário e da Odebrecht. Antes de ser levado pela PF, ele fez três ligações. Uma delas para

um amigo que tem interlocução com Dilma e Lula – e influência nos tribunais superiores em

Brasília. “É para resolver essa lambança”, disse Marcelo ao interlocutor, determinando que orecado chegasse à cúpula de todos os poderes. “Ou não haverá República na segunda-feira.”

Antes mesmo de chegar à carceragem em Curitiba, Marcelo Odebrecht estava “agitado,

revoltado”, nas palavras de quem o acompanhava. Era um comportamento bem diferente de

outro preso ilustre: o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. Otávio Azevedo,

como o clã Odebrecht, floresceu esplendorosamente nos governos de Lula e Dilma. Tem uma

relação muito próxima com eles – e com o governador de Minas Gerais, o petista Fernando

Pimentel, também investigado por corrupção, embora em outra operação da PF. Otávio

Azevedo se tornou compadre de Pimentel quando o petista era ministro do Desenvolvimento

e, como tal, presidia o BNDES.

Não há como determinar com certeza se o patriarca dos Odebrechts ou seu filho levarão a

cabo as ameaças contra Lula e Dilma. Mas elas metem medo nos petistas por uma razão

simples: a Odebrecht se transformou numa empresa de R$ 100 bilhões graças, em parte, às

boas relações que criou com ambos. Se executivos da empresa cometeram atos de corrupção

na Petrobras e, talvez, em outros contratos estatais, é razoável supor que eles tenham o que

contar contra Lula e Dilma.

A prisão de Marcelo Odebrecht encerra um ciclo – talvez o maior deles – da Lava Jato. Desde o

começo, a investigação que revelou o maior esquema de corrupção já descoberto no Brasil

mostrou que, em 2015, é finalmente possível sonhar com um país com menos impunidade.Pela primeira vez, suspeitos de ser corruptores foram presos – os executivos das empreiteiras.

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Antes, apenas corruptos, como políticos e burocratas, eram julgados e condenados. E foi

precisamente esse lento acúmulo de prisões, e as delações premiadas associadas a elas, que

permitiu a descoberta de evidências de corrupção contra Marcelo Odebrecht, o empreiteiro

que melhor representa a era Lula. Foram necessárias seis delações premiadas, dezenas de

buscas e apreensão em escritórios de empresas e doleiros e até a colaboração de paraísos

fiscais para que o dia 19 de junho fosse, enfim, possível.

As provas contra a Odebrecht

Os documentos obtidos pela Lava Jato mostram como a empreiteira seguiu o roteiro de obras

superfaturadas e obteve informações privilegiadas para acertar contratos com a Petrobras

Sobrepreço

Em e-mail, assessor de Marcelo Odebrecht fala em superfaturamento. O chefe não se fez de

rogado. E respondeu: é para acelerar as tratativas com os concorrentes (Foto: Reprodução)

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Informação privilegiada

O diretor da Odebrecht Rogério Araújo avisa que sabia de orçamento interno da Petrobras.

Horas antes ele se encontrara com o diretor Paulo Roberto Costa (Foto: Reprodução)

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Amigo do peito

A Polícia Federal anexou na investigação mensagens de outro empreiteiro, Léo Pinheiro, da

OAS. Lula era sempre citado e tinha até apelido. E, claro, era sempre elogiado(Foto:

Reprodução)

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