marcelo derzi livro quelonios

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QUELÔNIOS

Criação e Manejo de

no Amazonas

Organização:

Paulo Cesar Machado Andrade

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Criação e Manejo de Quelônios no

Amazonas

 

(Projeto Diagnóstico da criação de animais silvestres no Estado doAmazonas)

 

Organização: 

Paulo César Machado Andrade  - M.Sc.  

Laboratório de Animais Silvestres - Ufam  

Coordenador do Projeto Pé-de-Pincha  

Apoio: Programa Trópico Úmido/CNPq 

 

Publicação:

Dr.Luís Alberto dos S.Monjeló- Ufam

Sônia Luzia de O.Canto, MSc. -SDS

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CDU(2.ed.)639

Criação e Manejo de Quelônios noAmazonas. Projeto Diagnóstico da Criação deAnimais Silvestres no Estado do Amazonas.2008. ISeminário de Criação e Manejo de Quelônios daAmazônia Ocidental. Ed. Paulo César MachadoAndrade. 2ªEdição. ProVárzea/FAPEAM/SDS.

Manaus/AM. 528 p. Palavras-chave: Quelônios; Tartaruga; Criação ; Podocnemis

ii

C967 Criação e manejo de quelônios no Amazonas. / Paulo César MachadoAndrade (coordenador) – Manaus: Ibama, ProVárzea, 2008.528 p. : il. color.;21 cm.

BibliografiaISBN 978-85-7300-262-1

1. Quelônios. 2. Tartaruga. 3. Manejo. 4. Criadouro. I. Andrade, PauloCésar Machado. II. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis. III. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea.V. Projeto Pé-de-Pincha. VI. Título.

Catalogação na FonteInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Capa: Paulo Andrade

Foto da Capa: Jane Dantas - ProVárzea/Ibama

Foto Orelhas: Jane Dantas, Paulo Andrade

Revisão: Auristela Webster - Edições Ibama e EnriqueCalaf Calaf - Edições Ibama

Normatização Bibliográfica: Helionidia C. Oliveira

Copyright@ProVárzea 2008

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Equipe do ProVárzea/IbamaAlzenilson Santos Aquino, Antônia Barroso, Anselmo de Oliveira,Arlene Souza, César Teixeira, Cleilim Albert de Sousa, Cleucilene

da Silva Nery, Flávio Bocarde, Gionete Pimentel de Miranda, KateAnne de Souza, Maria Luiza G. de Souza, Mário Thomé de Souza,Patrícia Maria Ferreira, Raimunda Queiroz de Mello, TatianePatrícia Santos de Oliveira, Tatianna Silva Portes, Valdênia Melo eWiller Hermeto.

ProVárzea/Ibama - Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/nº -Distrito Industrial - 69.075-830. Manaus, AM. Tel. (92) 3613-3083 / 6246 / 6754. Fax. (092) 3237-5616.

Site: www.ibama.gov.br/provarzea

Ministério do Meio Ambiente – MMAMarina Silva

Secretaria Executiva João Paulo Ribeiro Capobianco

Departamento de Articulação de Ações da AmazôniaAndré Rodolfo de Lima

Programa-Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do BrasilNazaré Lima Soares

Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis – Ibama

Bazileu Alves Margarido Neto

Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e FlorestasAntônio Carlos Hummel

Coordenação Geral de Autorização de Uso e Gestão de Fauna eRecursos Pesqueiros

 José Dias Neto

Projeto Manejo dos Recursos Naturais da VárzeaCoordenador: Marcelo Bassols Raseira

Gerente Executivo: Manuel da Silva LimaGerente Componente Iniciativas Promissoras: Marcelo DerziEquipe GTZ: Viktor U. Dohms, Wolfram Maennling

Assessora de Comunicação: Jane Dantas

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“Dona lebre só queria correr o dia inteiro,porém, dona Tartaruga andando chegou primeiro!”(La Fontaine)

Aos meus pais, Manuel e Regina,Por todo o incentivo, sempre!

À Ediana e ao Gustavo por todo amor e paciência!

Ao Rosinaldo da Costa Machado,Professor do Centro Agropecuário, UFPA e

Manuelino Bentes, “Seo” Mocinho Lobo, pelo exemplo devida

(in memorian)

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Agradecimentos

Ao Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – 

ProVárzea/Ibama, pelo reconhecimento ao Programa Pé-de-Pincha como

iniciativa promissora para as várzeas amazônicas e por tornar real o sonho

desta publicação.

Ao Governo do Amazonas, que através da Fapeam e da Secretaria de

Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável apoiaram a realização do I

Seminário de Criação e Manejo de Quelônios da Amazônia Ocidental, em

2004, que deu origem a este livro.

Ao Programa Trópico Úmido, do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq, ao Ibama-AM e à

Universidade Federal do Amazonas pelos recursos financeiros, humanos e

logísticos empregados nesses nove anos de pesquisa, e pelo reconhecimento

da importância estratégica da fauna para a região amazônica.

Ao Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) pela

trajetória de luta.

Ao coordenador do PTU/CNPq, Dr. Luís Alberto dos Santos Monjeló,

por todo o apoio, boa vontade e, fundamentalmente, otimismo, mesmo nas

horas mais difíceis.

Ao ex-Presidente do Ibama, Hamilton Casara, incentivador dos

trabalhos interinstitucionais e da pesquisa com fauna no Amazonas.

Ao sr. Geraldo Lima, nosso motorista, que vem acumulando

“milhas” de estrada e de biometria de tartaruga junto com a nossa equipe.

Aos técnicos do Ibama, acadêmicos da Ufam, bolsistas e voluntários

de todas as horas trabalhadas com quelônios (João, Pedro, Francimara,

Paulo Henrique, Francivane, Sandra, Renata, Luís, Kildare, Clóvis,

Anndson, Eleisson, Wander, Jonathas, Carlos, Hugo, Hellen, Cléo, Midian e

Vickson).

À Ediana e ao Gustavo, por terem conseguido suportar toda essa

loucura que foi acompanhar as pesquisas e editar este livro em três meses.

Ao Stones Júnior, pela paciência e horas de conserto dos

problemáticos computadores desta edição.

Aos meus pais, familiares e, sobretudo, à Deus!

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Sumário

Introdução........................................................................ 1 Capítulo 1: Manejo comunitário de quelônios – a

parceria ProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha........................ 12

 

Capítulo 2: Revisão sobre as características dasprincipais espécies de quelônios aquáticosamazônicos..................................................................... 24

 

Capítulo 3: Áreas de reprodução de quelôniosprotegidas pelo RAN-Ibama/Amazonas e Ufam................. 55Capítulo 4: Ecologia de quelônios pelomedusídeosna Reserva Biológica do Abufari......................................

 127

Capítulo 5: Genética molecular das populações das

espécies de quelônios do gênero Podocnemis naAmazônia: resultados preliminares.................................

 

174Capítulo 6: Fisiologia e bioquímica de quelônios esuas implicações para o manejo e a criação emcativeiro.........................................................................

 

193Capítulo 7: Instalações para a criação de quelônios....... 222Capítulo 8: Alimentação e nutrição de quelôniosaquáticos amazônicos (Podocnemisspp.)........................ 259

 

Capítulo 9: Desenvolvimento de tartaruga-da-

amazônia (P.expansa) e tracajá (P. unifilis) emcativeiro, alimentados com dietas artificiais emdiferentes instalações.....................................................

 

287Capítulo 10: Manejo em criações de quelôniosaquáticos no Amazonas: adubação, densidade decultivo, desempenho de diferentes espécies,populações e sexo..........................................................

 

329Capítulo 11: Manejo reprodutivo, predação esanidade.......................................................................

 367

Capítulo 12: Caracterização socioeconômica eambiental da criação de quelônios no estado doAmazonas e comercialização...........................................

 

408Capítulo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia (P.expansa): alternativa ecológica, técnica e econômicaao agronegócio amazônico..............................................

 

437Capítulo 14: Abate experimental da tartaruga-da-amazônia (P. expansa) criada em cativeiro.....................

 449

Referências bibliográficas........................................... 487

vi

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Introdução

O homem da Amazônia sempre aproveitou os recursos dafauna como alimento ou fonte de subprodutos (peles, penas, óleos,

etc.) para a venda. A proibição da caça, em 1967, não extinguiu

essa atividade, mas a reduziu drasticamente, retirando uma das

fontes de renda dos ribeirinhos.

Desde o século XVII que a região onde hoje se situa o estado

do Amazonas é conhecida como o grande berçário de quelônios deágua doce. A exploração realizada pelos portugueses trazia à

capitania de São José da Barra do Rio Negro, milhões de tartarugas

(Podocnemis expansa), tracajás (Podocnemis unifilis) e iaçás

(Podocnemis sextuberculata) para serem abatidos. Em 1792,

segundo relatos de Silva Coutinho apud Andrade (1988), registra-

se em apenas um ano o abate de 24 milhões de tartarugas na cidade

da Barra do Rio Negro, a futura Manaós. A primeira proibição surge

em 1849, restringindo a produção de manteiga de ovos e proibindo

o consumo de filhotes. Em 1855, surge a primeira Resolução de nº

54 protegendo os tabuleiros do Solimões, Amazonas, Urucurituba,

Negro e outros, pois as espécies, principalmente a tartaruga,

começavam a desaparecer. Todavia, na Manaus dos idos de 1950 e

1960, era comum vender tartarugas em carrinhos de mão pelasruas. No Mercado Adolpho Lisboa, o principal da cidade, havia uma

área com “curral” para armazenamento dos animais vivos que,

posteriormente, eram abatidos. No Careiro, Terra Nova e outras

áreas próximas a Manaus, eram mantidos grandes depósitos de

quelônios para abastecer a capital amazonense (Andrade, 1988)

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. Antes da proibição total do comércio e captura de quelônios,

em 1967, o então presidente Castelo Branco publicou uma portaria

proibindo o comércio de tartaruga em feiras e mercados. Essa

medida criou uma situação de conflito no Amazonas, pois a

comercialização de produtos de animais silvestres constava,inclusive, na pauta de cobrança de impostos da Secretaria da

Fazenda. Pelo transporte em embarcação fluvial de 20 tartarugas

adultas era cobrado Imposto de Circulação de Mercadoria (ICM) de

Cr$80,00 (oitenta cruzeiros) equivalente, hoje, a cerca de R$15,00.

Em Parintins, por onde passavam embarcações advindas do Pará,

trazendo tartarugas do rio Trombetas, Tapajós e do Xingu, houve1problemas entre a coletoria do estado e a Delegacia local .

Com a Lei de Proteção à Fauna, Lei Nº 5.197 de 1967, o

comércio de quelônios foi oficialmente proibido, todavia, o mercado

clandestino vem tornando-se cada vez mais forte e organizado. Essa

mesma lei já previa em seu Artigo 6º, item b, a “construção de

criadouros destinados à criação de animais silvestres para fins

econômicos e industriais”. Em 1969, saiu a primeira portariatentando normatizar esse novo tipo de empreendimento, a Portaria

Nº 1.136/1969. Em 1973, com a Portaria Nº 1.265P, ficava

autorizada na Amazônia a implantação de criadouros da fauna. Um

dos primeiros grandes projetos de criação de quelônios da Amazônia

começou, na verdade em 1964, sendo, posteriormente,

acompanhado pelo extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento

Florestal (IBDF). Foi o do Lago do Salé, em Juruti, em que filhotes detartaruga oriundos do rio Trombetas eram criados até atingirem 8 kg

1- Manuel Andrade, Gerente de Operações da A. Raposo e Cia. – Distribuidora decombustível no Baixo Amazonas, no período de 1960 a 1975. Informação pessoal.

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  com, aproximadamente, 6 anos de idade, quando eram

comercializados. O criatório pertencia ao sr. José Maria Vieira que,

segundo relatos, recebeu em um único lote 100.000

tartaruguinhas.No Estado do Amazonas, as atividades do Projeto Quelônios

da Amazônia tiveram início em 1975 com trabalhos no rio Branco

(afluente do rio Negro) e em Codajás, sendo que em 1977 foram

criados oficialmente vários tabuleiros no Purus (Axioma, Santa

Luzia, Aramiã, e outros) e no Juruá (próximo a Carauari: Deus é Pai,

Pão, Pupunha, Manariã; e em Itamarati: Walter Buri, Marimari,

Iracema, etc.). Grande parte dessas áreas eram tabuleiros oriundos

do trabalho de conservação executado por grandes seringalistas

daquela região. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal

(IBDF), com apoio dos proprietários locais e da experiência das

comunidades próximas, treinou pessoas e, já naquele ano, houve

produção de cerca de 55.000 filhotes nas áreas protegidas do Juruá

(RAN-AM, 2001). Em 1989, a proteção passou a ser realizada apenasnos tabuleiros do Abufari (rio Purus) e em Walter Buri (rio Juruá),

sendo a produção desses dois tabuleiros estimada em 108.319

filhotes de quelônios. A partir de 1995, os trabalhos de proteção

passam a se concentrar na Reserva Biológica do Abufari (onde se

encontra o tabuleiro/praia de maior produção de quelônios no

Amazonas), em Walter Buri e na Reserva Extrativista do Médio Juruá

(maior área produtora de quelônios do estado). A produção da praia do

Abufari foi de 67.680 filhotes em 1977, subindo para 415.000 em

1994, caindo para 170.000 em 2000. Em 2003, a produção estimada

de filhotes de tartaruga em Abufari foi de 260.000 animais. A Resex do

Médio Juruá protege cerca de dez tabuleiros remanescentes das áreas

protegidas pelos antigos donos de seringais: Jacaré (seringal

Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é Pai, Manariã, Ati

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(comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana, Bom Jesus, Marari

(comunidade do Pau-Furado), Itanga, Mandioca. A produção média é

estimada em 250.000 filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá. Desde 2001,

o Ibama tem trabalhado em 73 áreas diferentes, em oito calhas de rio

(Juruá, Purus, Madeira, Negro, Uatumã, Amazonas, Nhamundá e

 Trombetas), com uma produção média anual de 1.500.000 filhotes de

quelônios (Andrade, 2002).

A venda ilegal de quelônios capturados na natureza ainda é

extremamente elevada no Estado do Amazonas. A tartaruga e o tracajá

são as espécies mais procuradas para a criação comercial. A criação dequelônios depende da retirada de milhares de filhotes dos tabuleiros

protegidos pelo Ibama. O principal fornecedor, de 1995 a 1998, era a

Reserva Biológica do Abufari, sendo que a retirada anual de filhotes

carecia de qualquer critério científico, com cotas arbitrariamente

estabelecidas. Não existiam informações ou qualquer investigação

sobre os estoques naturais. Nada se sabia sobre a abundância e

densidade, área de vida, uso de habitats, taxas de sobrevivência de

filhotes em diferentes estágios de vida (filhotes, jovens, subadultos e

matrizes). Hoje, os principais fornecedores de filhotes para os

criadores do Amazonas são os tabuleiros de Walter Buri, no rio Juruá,

monitorado pelo Posto de Eirunepé, e Sororoca e Toró, no rio

Branco/RR. No Estado do Amazonas existem aproximadamente 196

projetos de criação comercial de animais silvestres, em análise, juntoao Ibama-AM, sendo que já encontram-se registrados 78 criadouros

em Manaus, 21,66%; Manacapuru, 21,66%; Itacoatiara, 21,7%;

Iranduba, 4,7%; Rio Preto da Eva, 21,66%; Lábrea, 4,7%; São Gabriel

da Cachoeira, 2%; e Urucará, 2% (Canto et al., 1999). Destes, 88,46%

são criatórios de tartaruga. O Estado é o que possui o maior número

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de criatórios

crescente passando de 11 criadouros registrados, em 1997, para 33

criadouros em 2000, atingindo em 2001, 52 criatórios registrados.

Ao final de 2003 eram 69 criadouros com cerca de 400.000 animais

em cativeiro (Andrade et al., 2003).

Quanto ao potencial de mercado, os quelônios são,

freqüentemente, encontrados nas feiras e nas embarcações, em todo

o Amazonas, tendo como principal ponto de comercialização (90%),

Manaus, representando a ordem de animais mais apreendida, com

52,2%. A venda de quelônios (tartaruga e tracajá) sob encomenda

representa 22% do total de animais silvestres comercializados paraalimentação. Os municípios onde ocorre o maior número de

apreensões são Manaus (59%), Tefé (12%), Manacapuru (7%) e

  Tapauá (2%). Na área urbana de Manaus o maior número de

apreensões incide em áreas de populações de baixa renda advindas

do interior (zona leste). A tartaruga (80%), a paca (33%) tracajá (30%)

são os animais silvestres de maior interesse para os restaurantes,

onde os preços variam de R$ 7,57 a 18,76/kg. Nas feiras, os preçosde venda ilegal da carne variam de R$ 2,00 a R$ 4,00/kg (Canto et

al., 1999).

O consumo de quelônios na Amazônia ainda é um hábito

arraigado na população local, o que tem levado à caça e

comercialização ilegal de ovos e de animais adultos. A criação

comercial, permitida pela Portaria Nº 142/92, ainda não consegue

atender o mercado e seus preços, ainda são elevados. A demanda por

filhotes para criação, também é grande e o Ibama não está

conseguindo atender a todos que querem criar, pois não possui um

número suficiente de tabuleiros protegidos (Andrade et al., 2003 e

1999). O esvaziamento do meio rural e a falta de incentivos para a

agricultura levaram a um quadro em que os que sobreviviam no

interior passaram a trabalhar quase que exclusivamente como

comerciais de quelônios do país, com uma demanda

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vaqueiros na pecuária, na agricultura de subsistência ou como

pescadores. Como essas atividades não geram tanta renda, a

subsistência e a captação de recursos são conseguidas pela

exploração dos recursos naturais. Nesse contexto, entram a

castanha, a madeira e a fauna, em sua grande maioria exploradasde maneira predatória e irracional (Smith & Pinedo, 2002).

Devido à caça de adultos e à coleta de ovos, as populações de

quelônios vêm desaparecendo. Adultos e ovos são coletados pelas

comunidades locais para consumo ou venda para Manaus. Em

Carauari, Juruá e Parintins/AM, todavia, algumas áreas foram

protegidas por iniciativa dos próprios produtores rurais e por

associações comunitárias ambientalistas. Desde 1999, aUniversidade Federal do Amazonas (Ufam) e o RAN/Ibama-AM, com

o apoio das comunidades de Parintins, Nhamundá, Barreirinha,

  Terra Santa, Juruti e Oriximiná, das prefeituras locais, CNPq,

Fapeam, Programa Universidade Solidária e ProVárzea vêm

realizando o manejo participativo de quelônios, tendo realizado as

seguintes atividades: Seminário Sobre Manejo Sustentável de

  Tracajás (255 participantes) e reuniões (21.630 participantes);Capacitação de 101 agentes ambientais; Curso e Reciclagem em

Educação Ambiental para 405 professores; Construção de

cercados nas áreas protegidas e transferência de ninhos; 5.

Fiscalização; Palestras nas escolas e comunidades (67.606

participantes) sobre meio ambiente e alternativas de

desenvolvimento; Minicursos (tecnologia do pescado, criação

caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias,

manejo de quelônios, etc., 1.021 participantes); Treinamento de

campo para 86 professores, 684 alunos e 238 comunitários, e visita

a campo com 660 participantes; Participação de 850 famílias,

envolvimento direto de 3.455 pessoas, e abrangência de 23.400

pessoas nas 83 comunidades e na sede. Nos primeiros anos, em

1999 - 2000, foram transferidos 1.847 ninhos, 38.229 ovos

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e soltos 29.476 filhotes na natureza (Andrade et al., 2001). O

número total de filhotes devolvidos à natureza de 1999 a 2007 chega

a 646.459 (74,4% tracajás, Podocnemis unifilis; 7,6% tartarugas,

P.expansa; 10,9% iaçás, P.sextuberculata; e 7,1% irapucas,

P.erythrocephala) em oito anos. Através deste programa deconservação de recursos naturais e extensão, denominado “Pé-de-

Pincha”, o Ibama e a Ufam conscientizaram e capacitaram essas 83

comunidades de 7 municípios do Médio-Baixo Amazonas para o

manejo racional de quelônios.

Apesar de explorados de forma predatória, sem técnicas para

o extrativismo de forma sustentável, a tartaruga (Podocnemisexpansa), o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) têm ampla

distribuição e potencial reprodutivo, sendo uma alternativa real de

proteína (qualidade e quantidade) na dieta dos habitantes da

Amazônia. Contudo, para o uso desse recurso é necessário que seja

desenvolvido um programa de manejo para evitar uma

superexploração (Voigt, 2003). As taxas de exploração da

população, sua sobrevivência, recrutamento e tamanho podem serestimados através do estudo de dinâmica de populações. A

avaliação dos estoques (grupos discretos de animais com

parâmetros populacionais constantes na área de distribuição) tem

como finalidade fornecer orientações sobre o nível ótimo da

exploração desses recursos aquáticos renováveis (Ibama, 2003;

Bataus, 1998).  A criação de quelônios em cativeiros licenciados

poderá, de certa forma, amenizar a situação desses animais quanto àpressão de caça e à extinção. Através da Portaria nº 142/92 do

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis – Ibama, que normatiza a criação comercial da tartaruga-

da-amazônia e do tracajá, em cativeiro, o Governo brasileiro

pretendeu proporcionar ao consumidor de produtos da fauna, a

oportunidade de conseguir o animal para consumo, de forma legal,

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contribuindo para a

espécies e para a diminuição da caça predatória, oferecendo uma

nova alternativa comercial para os produtores rurais locais (Duarte,

1998).

Hoje, a venda ilegal ainda é “quantitativa e qualitativamente”

uma forma de concorrência desleal para a queloniocultura

amazonense. Entretanto, espera-se que o aumento da oferta de

produtos oriundos de criadouros licenciados de animais silvestres

diminua a pressão de caça sobre os estoques naturais, cujo manejo

natural será um fator importante para manter a conservação das

espécies de elevado valor econômico.Apesar da importância estratégica dessa atividade, até

meados da década de 1990, poucas pesquisas haviam sido

realizadas que pudessem oferecer subsídios científicos para

tecnologias adequadas e eficientes de manejo em cativeiro. Até bem

pouco tempo, não se tinha idéia de parâmetros como taxa de

crescimento, alimentação e exigências nutricionais, densidade dacriação, instalações, entre outros, para a criação em cativeiro (Silva,

1988; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994). A maioria das informações,

possivelmente geradas pelo Ibama, ainda não haviam sido

disponibilizadas em livros ou periódicos científicos para o público.

Hoje, na Amazônia brasileira, as espécies economicamente

expressivas e autorizadas pelo Ibama para criação comercial são a

tartaruga (Podocnemis expansa) e o tracajá (P. unifilis). Para

estimular a criação desses animais em cativeiro, o antigo Centro

Nacional dos Quelônios da Amazônia – Cenaqua, hoje RAN (Centro

de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios), criou os Núcleos

Experimentais de Tecnologia de Criação de Quelônios. No

Amazonas, esses núcleos não foram criados e os queloniocultores

conservação e a preservação de ambas as

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pioneiros não tiveram

criações no conhecimento empírico e em algumas informações

repassadas pelo Cenaqua – Ibama, Amazonas (Duarte, 1998).

Diante da real situação da criação em cativeiro de tartaruga e

tracajá no estado do Amazonas, percebeu-se a necessidade de

determinar parâmetros zootécnicos para a queloniocultura e a partir

desse quadro, diagnosticado, propor formas de manejo para garantir

melhores desempenhos desses animais em cativeiro.

A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Ibama

iniciaram em 1997 o projeto Estudos de Zootecnia, Biologia e Manejo

de Animais Silvestres para a Região Amazônica e em 1998 o

Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do

Amazonas, com apoio do Programa Trópico Úmido/CNPq. Através

dessa parceria, um grupo de pesquisadores das duas instituições

passou a desenvolver trabalhos sistematizados de manejo, nutrição,

genética, fisiologia e bioquímica, parasitologia, ecologia reprodutiva,

biologia do crescimento e estudos socioeconômicos sobre oscriatórios. Em visitas bimestrais aos criadores, os pesquisadores

passaram a prestar assistência técnica repassando,

simultaneamente, os resultados das pesquisas que estavam

realizando. Além dessa atividade de extensão direta, os trabalhos do

grupo foram divulgados através da mídia, o que gerou uma procura

muito grande por implantação de projetos individuais e

comunitários, cursos e material bibliográfico.

A Ufam e o Ibama conseguiram, nos últimos nove anos,

aprovar projetos na área de criação e manejo de animais silvestres,

que totalizam R$ 827.828,19 destinados à pesquisa básica e

aplicada, sendo que a Ufam destinou recursos de capital e custeio

assistência técnica adequada, baseando suas

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de mais de R$ 61.533,10 como contrapartida para o projeto

“Diagnóstico.../PTU” e para projetos PIBIC, e de R$ 65.000,00 para o

Projeto de Extensão “Pé-de-Pincha”, além da concessão de bolsas

institucionais de iniciação científica e de extensão, totalizando R$

58.560,00. As principais unidades de pesquisa com criação de

animais silvestres são a Fazenda Experimental da Universidade,

com criatórios comerciais de quelônios e capivaras, e científicos, de

caititus, queixadas, pacas, cutias e jabutis, e o Centro Experimental

de Criação de Animais Nativos de Interesse Econômico (Cecan), do

Ibama-AM. Além desses, completam as unidades de pesquisa os

laboratórios de criação de animais silvestres, de zoologia, deparasitologia e de genética. O campus avançado de Parintins é a base

logística para os trabalhos com manejo participativo de quelônios,

por comunidades no Baixo Amazonas e oeste do Pará.

Essas informações demonstraram a importância estratégica

que a Universidade Federal do Amazonas e a Divisão de Fauna do

Ibama-AM conferiram à pesquisa com criação e manejo de animais

silvestres, sendo que, graças aos resultados alcançados, pode-se

dizer que, hoje o Amazonas possui um pacote tecnológico mínimo

para servir de referência aos criadores de quelônios, capivaras,

pacas e cutias no estado (densidade de cultivo; tipo de instalação;

alimentos preferidos; comportamento; desempenho de diferentes

populações; aspectos de nutrição; avaliação socioeconômica das

criações; índices zootécnicos; principais parasitas, local e época deabate). Além da pesquisa aplicada, o projeto gerou inúmeras

informações sobre a variabilidade genética e citogenética de animais

silvestres, parâmetros fisiológicos dos animais pesquisados e sobre a

ecologia reprodutiva e predação de quelônios. O trabalho junto aos

criadores permitiu o repasse imediato dos resultados da pesquisa e

uma conseqüente melhoria nas técnicas de criação. 

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Os

congressos locais, nacionais e internacionais, através de periódicos,

fôlderes e, finalmente, em cartilhas.

Este livro serviu de base de discussões durante o I Seminário

de criação e manejo de quelônios da Amazônia ocidental, realizado

em Manaus, em 2004, pela Ufam, Ibama e Secretaria Estadual de

Desenvolvimento Sustentável (SDS). Com o apoio do

ProVárzea/Ibama, a edição deste trabalho tem por objetivo servir de

material didático e de consulta para produtores, técnicos do setor

primário e estudantes de graduação, ou cursos técnicos, quedesejam obter informações compiladas sobre as técnicas de criação e

manejo desse importante recurso faunístico das áreas de várzea, que

são os quelônios, resultado dos estudos realizados com os

queloniocultores do Amazonas, nos últimos dez anos.

resultados foram amplamente divulgados na mídia e em

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Capítulo 1

Manejo comunitário de quelôniosA parceria ProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha

1Marcelo Derzi Vidal2 Tiago Viana da Costa

A várzea

A várzea é um dos ecossistemas mais ricos da baciaamazônica em termos de produtividade biológica, biodiversidade erecursos naturais. Meio de vida para mais de 1,5 milhão de

2ribeirinhos, a várzea ocupa 300 mil km , ao longo da calha dos riosAmazonas/Solimões e seus principais tributários, tamanhoequivalente a 6% da superfície da Amazônia Legal (Santos, 2004).Seus rios e lagos, bem como outros corpos de água da Amazônia,abrigam 25% das espécies de peixes de água doce do mundo e outronúmero expressivo de anfíbios, répteis, aves e mamíferos que

interagem em um complexo e exuberante, porém frágil, ecossistema.Apesar de sua capacidade produtiva e resiliência natural, o atualmodelo humano de utilização dos recursos naturais está levando àdegradação progressiva de suas áreas. Entre as principais causasdesse processo podemos destacar (a) a gestão ineficiente; (b) a faltade políticas específicas para promover o desenvolvimentosustentável em seu ambiente – crédito, desenvolvimento tecnológico,

infra-estrutura e regularização fundiária; (c) a escassez de sistemas

1- Gerente do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama – [email protected] [email protected]

2 -    Técnico do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama – [email protected]

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efetivos de manejo dos recursos naturais; (d) a deficiência do sistemade monitoramento e controle; e (e) a falta de uma estratégia deconservação específica para o ecossistema de várzea (Santos, 2005).

O ProVárzea/IbamaVisando atenuar a progressiva degradação nessa região,

considerada uma das mais vulneráveis da Amazônia, o ProjetoManejo dos Recursos Naturais da Várzea (Ibama, 2002) surgiu parafomentar a conservação e o desenvolvimento sustentável da várzea,incentivando a participação das populações tradicionais que nelahabitam. Vinculado ao Programa-Piloto para Proteção das Florestas

 Tropicais do Brasil – PPG-7 e executado pelo Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, oprojeto tem como objetivo estabelecer as bases técnica, científica epolítica para a conservação e o manejo sustentável dos recursosnaturais das várzeas da região central da bacia amazônica.

Uma das ações para o alcance de seu objetivo é o apoio aprojetos que desenvolvam sistemas inovadores de manejo dos

recursos naturais, que sejam sustentáveis dos pontos de vistasocial, econômico e ambiental, e que possam ser multiplicáveis nãosomente em outras áreas da várzea amazônica, mas também emoutras regiões do país. No período de 2002 a 2006, oProVárzea/Ibama, por meio do Componente IniciativasPromissoras, investiu um montante de R$ 8.451.456,57 em 25projetos nas seguintes linhas temáticas: (a) manejo dos recursos

florestais; (b) manejo dos recursos pesqueiros; (c) agropecuária; e (d)fortalecimento institucional. Desse total de recursos, umaexpressiva parcela foi destinada a atividades de capacitação,monitoramento e manejo de recursos, e escoamento ecomercialização da produção. Ao todo, 115.486 pessoas foramatingidas diretamente nos 38 municípios dos estados do Amazonas ePará, por meio dos projetos (Figura 1).

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F i   g ur  a

1  .

M uni   cí   pi   o s a b r  an gi   d  o s p el   o s pr  o j   e t  o s a

 p oi   a d  o s p el   o C om p o

n en t  e

I  ni   ci   a t i  v a sP r  omi   s s or  a s d  oP r  oV

 á r z e a / I   b  am a .

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O Projeto Pé-de-Pincha

O Projeto Pé-de-Pincha surgiu em 1999 dentro daUniversidade Federal do Amazonas – Ufam, a partir da demanda de

alguns comunitários do município de Terra Santa, no Pará, quesolicitaram apoio para a realização de atividades que levassem aouso racional da fauna, com ênfase em quelônios, recurso outroraabundante na região mas que, devido ao uso desregrado epredatório, havia se tornado escasso.

Para iniciar as ações do projeto, os técnicos e professores daUfam firmaram parcerias com o Ibama, as prefeituras e oscomunitários. Atualmente, o Projeto Pé- de-Pincha é desenvolvidopor uma equipe multidisciplinar que integra professores, técnicos,estagiários e voluntários de diversas instituições e comunidades.Suas ações são executadas em 76 localidades nos municípios deParintins, Barreirinha e Nhamundá, no estado do Amazonas, e TerraSanta, Oriximiná, Faro e Juruti, no estado do Pará.

Entre os objetivos do projeto, além da preservação de tracajás(Podocnemis unifilis), pitiús (P. sextuberculata), tartarugas (P.

expansa) e irapucas (P. erythrocephala), pelos próprioscomunitários, estão presentes as possibilidades de utilização dorecurso para subsistência, a criação em cativeiro e a comercializaçãode filhotes para criatórios autorizados. Soma-se a isso todo umprograma de educação ambiental com palestras, capacitação deprofessores e alunos, formação de agentes ambientais voluntários,atividades de incentivo ao ecoturismo e organização das

comunidades em associações e cooperativas.

A parceria

No ano de 2003, a Ufam, por meio da Fundação Rio Solimões – Unisol, apresentou a proposta do Projeto Pé-de-Pincha no processoseletivo de apoio a projetos de manejo dos recursos naturais doProVárzea/Ibama.

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Em agosto de 2004, após uma seleção que contou com mais

de 27 propostas, o ProVárzea/Ibama iniciou o apoio às atividades do

projeto Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis sp.) por

comunidades do Médio e Baixo Amazonas – Projeto Pé-de-Pincha. O

custo total do projeto é de R$ 482.921,00. Sendo R$ 338.130,00 derecursos oriundos do ProVárzea/Ibama e R$ 144.791 fazem parte da

contrapartida da Ufam.

Aspectos ambientais

A estratégia de preservação adotada pelo Pé-de-Pincha ébaseada em diversas fases e atores que, sendo complementares,

resultam em ações significativas.Inicialmente, Agentes Ambientais Voluntários – AAVs credenciados

pelo Ibama e comunitários realizam, anualmente, no período de

desova a fiscalização das praias utilizadas para a nidificação dos

quelônios. O segundo passo é a identificação e transferência dos

ninhos das praias naturais para as artificiais, também denominadas

“berçários”, seguido do acompanhamento do nascimento dosfilhotes e da obtenção de dados biométricos (Fig. 2). Finalmente,

após três meses de nascidos, ocorre a soltura dos filhotes nas praias

originalmente utilizadas para desova e a distribuição de

aproximadamente 20% do número de nascidos para criadores

credenciados, sejam eles com fins comerciais ou de subsistência.No período de 2004 a 2006, as ações do Pé-de- Pincha

resultaram em uma elevação do número de filhotes devolvidos ànatureza, que representaram um aporte de 192 mil e 195 novos

indivíduos ao ambiente natural. Quando comparamos o número de

ninhos, o número de ovos e o número de filhotes devolvidos à

natureza (Fig. 3), podemos inferir que a permanência dos filhotes nos

berçários, por cerca de três meses após o nascimento, tem permitido

maiores chances de sobrevivência quando devolvidos ao ambiente

natural.

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Figura 2. (A) Ninho de quelônio em praia natural; (B) Ninhos de

quelônios em praias artificiais; (C) Biometria de filhotes.

Devido às ações desenvolvidas pelo projeto, é provável que o

número de filhotes produzidos pelo Pé-de- Pincha seja superior em

relação ao que poderia ser produzido em ambiente natural. Isso é

ainda reforçado, segundo os comunitários, pela maior quantidade

de indivíduos adultos que vem sendo observada nas áreas

manejadas, o que há muito tempo não acontecia. Entretanto,

analisando por espécie manejada, pode-se verificar um grandeaumento no número de ninhos e ovos de irapucas, ao contrário das

demais espécies de quelônios trabalhadas pelo projeto que,

praticamente, mantiveram-se constantes ao longo de três anos

(Tab. 1). Esses valores podem estar relacionados à grande pressão

antrópica sobre espécies culturalmente utilizadas para consumo

 

A B

C

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0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

2004 2005 2006

Nº Ninhos Nº de Ovos Soltura

e que apresentam um valor comercial elevado, tais como a tartarugae o tracajá.

 Tabela 1. Acompanhamento das desovas de quelônios no período de2004 a 2006.

Figura 3. Gráfico comparativo entre o número de ninhos, número de

ovos e soltura no período de 2004 a 2006.

18

  2004 2005 2006Espécie Nº de

ninhosNº deovos

Nº deninhos

Nº deovos

Nº deninhos

Nº deovos

Tracajá 2.504 55.384 3.315 67.034 2.823 61.525Pitiú 830 12.791 797 11.004 537 9.030Tartaruga 83 5.964 39 3.888 64 6.331Irapuca 70 597 282 2.059 755 5.838Total 3.487 74.736 4.433 83.985 4.179 82.724

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Aspectos sociais

Um fator de sucesso do Pé-de-Pincha é o excelente trabalho

de educação ambiental desenvolvido nas instituições de ensino dos

municípios abrangidos. O projeto consegue mobilizar professores,

técnicos e alunos de escolas municipais e estaduais, e os professores

têm se mostrado extremamente satisfeitos com os conhecimentos

adquiridos e materiais didáticos utilizados.As atividades realizadas com o intuito de promover a

educação ambiental foram baseadas em cursos, palestras, gincanas

e apresentações artísticas e culturais desenvolvidas pelos técnicos e

comunitários participantes do projeto. Até o momento, foram

realizadas 356 atividades de educação ambiental com umaparticipação média de 4.179 pessoas por semestre e capacitando

252 professores nas diversas áreas de atuação do projeto.

O projeto conta ainda com uma excelente participação de

crianças e adultos nas atividades de transferência de ninhos e

soltura de filhotes, sendo este último um evento festivo e que

congrega representantes de diferentes idades, sexo, religião, classesocial e cor, e cria condições básicas para um trabalho de

conservação que apresenta retorno produtivo em médio e longo

prazo (Fig. 4).

O sucesso das atividades desenvolvidas pelo Pé-de- Pincha

também pode ser medido pela expectativa que tem gerado nos

municípios vizinhos, onde é visto como um exemplo de sucesso a ser

seguido, sendo os técnicos e monitores constantemente convidadosa proferirem palestras e cursos sobre a experiência desenvolvida.

Aspectos econômicos

 A criação em cativeiro promovida pelo Pé-de- Pincha visa

suprir uma demanda cultural nas áreas de várzea – 

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o consumo de carne e ovos de quelônios – e ainda satisfazer as novastendências dos mercados nacional e internacional, que cada vezmais têm procurado alternativas de produção que promovam evalorizem o manejo de fauna silvestre por populações tradicionais.

Nesse aspecto, até o momento, foram implementados 26criadouros autorizados pelo Ibama (Fig. 5), distribuídos nosmunicípios de Barreirinha, Parintins, Terra Santa e Oriximiná, ealojados 8.187 animais. No entanto, a comercialização ainda nãoocorreu, pois os indivíduos ainda não apresentam o tamanho deabate que requer o mercado.

A experiência da criação em cativeiro promove um aporte deinformações biológicas (taxas de crescimento, densidade de

indivíduos por área, recursos alimentares, doenças, entre outros)sobre as espécies manejadas e que podem ser comparadas comexperimentos em condições melhores controladas e com dadosobtidos a partir de animais provenientes de áreas naturais.

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Figura 4. Soltura de filhotes no município de Terra Santa, Pará.

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Figura 5. Modelo de tanque utilizado para a criação de quelônios emcativeiro.

Disseminação

O projeto Pé-de-Pincha alcançou uma boa articulação eparceria com instituições locais (associações, escolas, grupos de jovens, etc.), prefeituras, organizações de ensino e pesquisa (Inpa,Ufam, ONGs), de conservação e controle (Ibama) e tem utilizado umamplo leque de instrumentos de difusão (rádio, matérias natelevisão, jornais, cartilhas, etc.), o que tem feito com que as açõesnão somente sejam divulgadas em outras áreas, mas que ocorra areplicação baseada nas experiências do projeto (Fig.6).

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Outra relevante estratégia de disseminação é o intercâmbiodas iniciativas promissoras. O evento, realizado anualmente desde2002 pelo ProVárzea/Ibama, promove a troca de experiências entretécnicos, lideranças comunitárias e coordenadores dos projetosapoiados. O evento permite ainda ampliar a visão dos participantes,

compartilhar avanços e dificuldades e criar laços de amizade ecolaboração para a execução dos projetos.

Figura 6. Cartilha produzida a partir das experiências do Projeto Pé-de-

Pincha.

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Conclusão

Quando analisamos os avanços obtidos pela parceria

ProVárzea/Ibama – Projeto Pé-de-Pincha podemos concluir que a

iniciativa não é somente promissora. Hoje a parceria está

consolidada e promove um diálogo de saberes acadêmicos e

empíricos, diferentes sim, porém complementares.

Ao longo da parceria verifica-se a qualificação e oaperfeiçoamento dos participantes que passaram a ter um

vocabulário mais rico, melhorando sua capacidade para transmitir e

adquirir informações de forma contínua. Muitos passaram a se

entender como pessoas, com uma riqueza de conhecimentos sobre

seu ambiente, o que lhes ajuda a viver e conviver com os limites do

ecossistema local, promovendo a busca de melhores metodologias, a

replicação de atividades bem-sucedidas e, principalmente, adiscussão de políticas públicas socioambientais mais efetivas e

adequadas ao cenário amazônico.

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Capítulo 2

Revisão sobre as características das principais

espécies de quelônios aquáticos amazônicos

 João Alfredo da Mota DuarteFrancimara Sousa da Costa

Paulo Cesar Machado Andrade

Os quelônios existem, aproximadamente, desde o Jurássico

(250 milhões de anos) até hoje, e possuem de 211 a 335 espécies de

água doce, salgada (8) ou terrestre (34) (Garschagen, 1995). Durante

o fim do Cretáceo e o começo do Paleoceno, os répteis sofreram uma

extinção, quando muitas tartarugas de diversas famílias foram

extintas.

No Cretáceo, o gênero Podocnemis existia na América doNorte. Durante o Cretáceo superior e o Eocênico são encontrados

fósseis desse gênero na Europa e África. Hoje, esse gênero existe em

Madagascar (África) e na América do Sul, indicando ser bastante

antigo (Alho, Carvalho & Pádua, 1979).

Na Amazônia brasileira, os quelônios do gênero Podocnemis

são a tartaruga (Podocnemis expansa), o tracajá (P. unifilis), o iaçá oupitiú (P. sextuberculata) e a irapuca (P. erythrocephala) (Figura 1).

Sendo encontrados também outros quelônios como cabeçudo

(Peltocephalus dumerilianus), jabuti (Geochelone carbonaria e o G.

denticulata), matamatá (Chelus fimbriatus) muçuã (Kinosternon 

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scorpioides), aperema (Rhinoclemmys punctularia), jabuti-machado

(Platemys platycephala) e lalá ou cágado (Phrynops nasutus) (Molina

& Rocha, 1996).

Figura 1: Filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis), irapuca (P. erythrocephala),

iaçá (P.sextuberculata) e tartaruga (P.expansa) (de cima para baixo, sentido anti-

horário).Foto: Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.).

 Tartaruga (Podocnemis expansa)

No Estado do Amazonas há a ocorrência natural da

tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) que, na linguagemindígena, é denominada por jurará-açu, araú e, provavelmente,

aiuçá para indivíduos novos (Figura 2). Sendo conhecida por tortuga,

tortue, tartarucha, turtle, schildkrote, tataroukhos, em espanhol,

francês, latim, inglês, alemão e grego, respectivamente (Garschasen,

1995). É encontrada na bacia Amazônica desde o leste dos Andes até

a bacia do Orinoco.

 

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Figura 2: Tartaruga (P. expansa). Foto: RAN/Ibama-AM(Oliveira, P.H.).

A tartaruga-do-amazonas pertence ao filo Chordata, subfilo

Vertebrata, classe Reptilia, subclasse Anapsida, ordem Chelonia

(Testudinata), subordem Pleurodira, superfamília Chelonioidea,

família Podocnemidae, gênero Podocnemis e espécie P. expansaSchweigger (1812) (Cenaqua, 1992).

O macho de Podocnemis expansa denomina-se comumente

por capitari ou capitaré, sendo, aproximadamente, duas vezes

menor em tamanho corporal do que a fêmea, segundo Coimbra Filho

(1967) apud Nogueira Neto (1973).

Sendo o maior quelônio de água doce da América do Sul, a

tartaruga (P. expansa) pode chegar a medir de 75 a 107 cm de

comprimento, sendo em média 91 ± 22,627 cm (Lima, 1967; Molina

& Rocha, 1996) por 50 a 75 cm de largura, com média de 62,5 ±

17,67 cm (Lima, 1967) pesando cerca de 60 kg de peso vivo (Smith,

1979).

 

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Para o TCA (1997) a idade pode ser determinada a partir dos

anéis das placas da carapaça, sendo que uma fêmea com 45,2 cm de

carapaça apresentava oito anéis na placa dorsal da carapaça,

indicando, provavelmente, que teria oito anos de idade.

 Tracajá ( Podocnemis unif il is)

O tracajá (P. unifilis) – Figuras 3 e 4 – encontra-se distribuído

por toda a Bacia Amazônica. As fêmeas são maiores do que os

machos. Possui a forma ovalada, carapaça gris escura quando

molhada, com o plastrão de coloração escura. Apresenta patas

curtas e cobertas com pele rugosa, cabeça achatada e cônica, de

pequeno tamanho em relação ao corpo. Possui manchas amareladas

na cabeça, na parte dorsal. Os olhos, bastante juntos, são separados

por um sulco. Vive, principalmente, em lagos, rios e igarapés. Supõe-

se estar maduro sexualmente após os sete anos. Alimenta-se de

frutas, sementes, raízes, folhas e, ocasionalmente, de insetos,

crustáceos e moluscos (Reis, 1994). Procura desovar isoladamente

em barrancos, em covas de, aproximadamente, 30 cm de

profundidade onde coloca 35 ovos em média (Soini, 1995).

Figura 3: Filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis), Piraruacá/Terra Santa-

PA. Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

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Figura 4: Fêmea de tracajá (Podocnemis unifilis), Valéria/Parintins-AM. Foto:

Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.).

Os ninhos consistem de escavações com uma entrada quase

circular e uma câmara ligeiramente ovóide (Fig. 5). A profundidade

pode variar de 18 a 25 cm. O número de ovos por ninho varia de 9 a

40, com média de 28,8 ± 9,2 ovos. O tamanho médio dos ovos pode

variar de 42,2 x 29,5 mm e peso médio de 21,7 ± 2,1 g. A desovaocorre principalmente à noite, dependendo do local, nos meses de

 junho a agosto, no oeste do Amazonas; de setembro a outubro no

Baixo Amazonas; e em novembro no rio Negro e afluentes. O tamanho

médio da carapaça é de 40,9 ± 1,7 mm e peso de 14,7 ± 1,35 g (Terán

et al., 1995).

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Figura 5: Ninho de tracajá (P.unifilis). Piraruacá/Terra Santa-PA. Foto: Pé-de-

Pincha (Andrade, P.C.M.).

O tracajá é encontrado na Amazônia brasileira vivendo nos

rios e lagos, dificilmente migrando aos tabuleiros de desova no

período de estiagem. Muitas fêmeas desovam duas vezes por

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temporada, com intervalos observados de 9 e 10 dias. O número e o

tamanho dos ovos diminuem com o avanço da temporada de desova.

Os ovos possuem uma taxa de infertilidade de até 70% ao final da

desova. As fêmeas são maiores que os machos e chegam a medir

cerca de 50 cm de comprimento de carapaça e pesar até 12 kg (Soini,1995).

Estudos realizados por Terán et al. (1992) sobre a

reprodução de P. unifilis em praias artificiais, em Iquitos, Peru, em

um período de cinco meses (junho a novembro), verificaram que

houve apenas 27,6% de eclosão (Fig. 6) e desenvolvimento completo

dos sobreviventes, fato ocorrido pela falta de fertilidade em 14,4%

dos ovos e morte prematura dos embriões. O pico de postura nessa

região ocorreu principalmente na segunda quinzena de julho.

As covas de tracajá são identificadas pelo monte de argila e

de capim umedecidos, com os quais a espécie fecha a cavidade da

postura (beiju) – Figura 7, não ocorrendo tal fato quando a desova é

em terreno não argiloso (Alho, 1986).

Figura 6: Eclosão de ovo de tracajá (P. unifilis). Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

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Figura 7: Ninho e ovos de tracajá (P. unifilis) no barro. Observar ovos aderidos

ao tampão do ninho. Macuricanã/Nhamundá-AM. Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

Os ovos de tracajá (Fig. 7) são de forma elipsoidal, de casca

calcárea e de cor esbranquiçada. Quando estão recém-postos são

duros, transparentes e cobertos de um líquido ligeiramente viscoso.

No segundo dia de incubação a superfície dos ovos fica seca ecomeça a ficar opaca. Ao decorrer da primeira semana de encubação

a casca está, na maioria dos ovos, completamente opaca e começa a

suavizar-se. Também se nota um ligeiro inchaço dos ovos que dura

até o final do período de incubação, resultando no aumento do

diâmetro dos ovos (Soini et al., 1997). A determinação de sexo em P.

unifilis depende da temperatura de incubação (Souza & Vogt, 1994).

Os tracajás parecem ser mais rústicos do que as tartarugas,

o que tem lhes conferido uma melhor adaptação ao cativeiro (Reis,

1994). Essa é uma espécie que pode ser manejada em cativeiro para

fins de repovoamento de áreas onde está em número reduzido, ou

para fins comerciais. Possui um grande potencial devido a algumas

vantagens como: fácil adaptação às condições bióticas e abióticas de

cativeiro, resistência à manipulação, elevada taxa reprodutiva em

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cativeiro, fácil adaptação aos alimentos de origem animal e vegetal,

rápido crescimento inicial (Acosta et al., 1995), ovos e carne de boa

qualidade e boa aceitação pelos camponeses.

Observações realizadas por Terán (1993), sobre ensaios dediferentes dietas em cativeiro de tracajás jovens e adultos,

identificaram um aspecto notável em relação à perturbação da água

e ao consumo dos alimentos. Efetivamente, observou-se que quando

uma pessoa entrava no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro,

a água ficava turva, fazendo com que os animais não viessem comer

os alimentos disponíveis. Nesses dias o consumo reduzia bastante

(até 15% do total dos alimentos oferecidos). Uma situaçãosemelhante foi observada quando o tanque era esvaziado para

realizar as amostras mensais. Esse comportamento,

provavelmente, se deve ao fato de que o tracajá não se encontra em

lugares de águas turvas para evitar o ataque de predadores (guiam-

se principalmente pelo olfato e não pela visão). Através disso se

deduz por que o tracajá, em seu meio natural, habita águas de cor

escura.

Iaçá ou pitiú (Podocnemis sextuberculata )

A Podocnemis sextuberculata é denominada vulgarmente deiaçá, pitiú e cambéua. Smith, 1979, cita que essa espécie éencontrada somente nos rios de água barrenta como o Branco,

Solimões e Amazonas (Figuras 8 e 9). Essa espécie é tambémencontrada nos rios Trombetas e Tapajós, considerados de águaclara. A fêmea possui manchas amarelas com dois barbelos embaixoda boca. A carapaça tem cor marrom-claro e marrom-escuro. Oplastrão apresenta, principalmente nos indivíduos jovens, seispontas salientes de cor cinza ou marrom. A postura média é de 15 a20 ovos de casca mole. O macho é chamado de anori e possui

tamanho menor que o da fêmea, conhecida como pitiú ou cambéua.

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 Figura 8: Fêmea de iaçá (P.sextuberculata). Xiacá/Terra Santa-PA. Foto: Pé-

de-Pincha (Andrade, P.C. M.).

O iaçá é de menor tamanho que o tracajá. Soini (1997)

sugere que essa espécie desova quase sempre em praias arenosas,

geralmente próximo da água. A desova ocorre geralmente à noite.

Em geral, os ovos de iaçá são pequenos e mais largos que os de

tracajá. A casca é mais clara, mais delgada e mais flexível.

Figura 9: Iaçá (P. sextuberculata). Foto: RAN-AM (Andrade, P.C. M.).

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Estudos feitos por Pezzuti (1997), no rio Japurá (estado do

Amazonas), demonstraram que a altura do ninho tem efeito

pronunciado na discriminação dos ninhos em pontos aleatórios. As

fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A

profundidade do ninho influi significativamente sobre o período deincubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de

incubação e na sobrevivência dos mesmos.

A eclosão dos ovos ocorre, geralmente, de 55 a 70 dias. As

crias eclodidas permanecem dentro da cova, normalmente, num

período de 1 a 4 semanas. Portanto, o período médio de nidificaçãodura 69 dias. A saída dos filhotes ocorre geralmente à noite,

sobretudo após a queda de uma forte chuva (Soini, 1995).

Estudos feitos por Pezzuti (1998) na Reserva Biológica do

Abufari identificaram através de monitoramento de um único

transecto, um total de 3.135 ninhos de iaçá espalhados por toda a

praia do Abufari, produzidos em 1998. Registrou-se a predação de

145 ninhos por jacurarus (  Tupinambis nigropunctatus, lagartos

grandes pertencentes à família Teidae). Comparando a distribuição

de ninhos predados e não predados, verificou-se que os primeiros são

os que se encontram mais próximos à vegetação. Embora não exista

o padrão de agregamento de ninhos, as fêmeas de iaçá mostram-se,

também, seletivas quanto à escolha do local de nidificação,preferindo locais mais altos e distantes da água. O monitoramento de

219 ninhos permitiu estimar uma taxa de sobrevivência de 71,6% e

razão sexual de 28,5% de machos.

Os predadores de filhotes de iaçás identificados na Reserva

Biológica do Abufari, Amazonas, foram: Phractocephalus

hemioliopterus (pirarara), Osteoglossum bicirrhosum (aruanã),

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Leiarius marmoratus (jandiá) e Sorubimichthys planiceps (peixe-

lenha) (Garcia, 1999).

O iaçá é, das espécies de quelônios, a mais consumida emManaus. Sua carne se encontra à venda, de forma ilegal, nas feiras a

R$ 3,59/kg (Canto et al., 1998).

Anatomia e fisiologia

Evaristo (1995) apud Duarte & Andrade (1998), cita que os

quelônios são répteis que possuem uma carapaça óssea que protege

os órgãos internos. Essa carapaça é formada pela fusão das

costelas, externo e vértebras. Em geral, denomina-se casco ao

conjunto das partes rígidas dorsal e peitoral. Contudo, a parte

superior denomina-se carapaça, sendo achatada, mais larga na

região posterior, com coloração marrom, cinza ou verde- oliva, e a

inferior plastrão, sendo ambos compostos por placas ossificadasrevestidas por uma camada queratinosa de forma convexa e

achatada, quase horizontal, unidas por uma estrutura óssea

conhecida por ponte (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina &

Rocha, 1996).

Na P. expansa, a carapaça (Fig. 10) é composta por 37

escudos (2 cervicais seguidos de 5 escudos vertebrais com duas

séries de 4 pleurais, no total de 8; no lado de fora dos pleurais e

estendendo-se pelos dois lados a partir dos cervicais há 22 escudos

marginais). Os escudos do plastrão são divididos em pares por uma

linha longitudinal. Anteriormente, há um escudo gular intercalado

por dois intergulares. Seguem-se um par de humerais, peitorais,

abdominais, femurais e anais, respectivamente, totalizando 13

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escudos com possibilidade de haver variações em forma e número.

Os ossos do casco são cobertos por escudos córneos. A divisão entre

escudos adjacentes denomina-se costura, que poderia ser uma

espécie de sulco (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina & Rocha,

1996).

Figura 10: Desenho esquemático de carapaça de Podocnemis expansa.

Os quelônios apresentam um tubo digestivo completo, com

digestão extracelular, sendo o estômago uma dilatação do tubo

digestivo, terminando em um orifício denominado cloaca,

semelhante ao de ave, pelo qual desemboca a urina, fezes e material

seminal, ocorrendo também a vascularização nas paredes como“brânquias cloacais” (essa região, possivelmente, realiza uma

respiração cutânea mínima: sangue-parede vascular-água). A

digestão é auxiliada pelo fígado e pâncreas, ocorrendo parcialmente

no estômago e finalizada no intestino, havendo, neste último, a

absorção do alimento digerido no duodeno. No intestino grosso

ocorre a formação de fezes. A circulação é fechada (vasos e veias),

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ramificando-se até formar uma rede de capilares dupla e

incompleta. O sangue passa duas vezes pelo coração onde se

mistura o venoso e o arterial, devido a uma comunicação mediana

nas duas metades do ventrículo. O coração possui duas aurículas e

um ventrículo, parcialmente dividido em duas porções (Evaristo,1995).

As espécies podem ser identificadas por características

externas da carapaça. O comprimento da carapaça pode ser medido

em linha reta, no ponto de maior amplitude entre a borda anterior e

posterior, e a altura pode ser medida transversalmente no ponto demaior amplitude entre as placas marginais (Medem, 1976, apud

Duarte & Andrade, 1998).

As potentes patas podem ser recolhidas para dentro como

medida de segurança e descanso. São duas dianteiras de cores

escuras e cobertas com pele rugosa e cinco unhas largas, firmes,

semicurvadas e acanaladas na parte inferior, e duas traseiras com

quatro unhas e características idênticas, pois o nome genérico

atribui-se aos calcanhares das patas posteriores, dotados de unhas

para reptar e cavar (Lima, 1967; Nomura, 1977).

As tartarugas são ectotérmicas (heliotérmicas), como os

lacertílios e os crocodilianos e podem atingir um grau consideradode estabilidade da temperatura corpórea por meio da regulação

através da troca de energia térmica com o ambiente

(termorregulação). A temperatura corporal de tartarugas que se

aquecem ao sol é mais elevada do que a temperatura da água e do ar

e pode acelerar a digestão, o crescimento e o desenvolvimento dos

ovos. Além disso, o aquecimento pela luz do sol pode auxiliar as

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tartarugas aquáticas a livrarem-se de algas e sanguessugas (Pough,

Heiser & McFarland, 1993).

No comportamento social, as tartarugas podem empregar

sinais táteis, visuais e olfativos. Na época do acasalamento, os

machos nadam à procura de fêmeas e a cor e o padrão das patas

posteriores permitem que os machos as identifiquem. Utiliza-se

também o ferormônio para a identificação das fêmeas (Pough, Heiser

& McFarland, 1993).

Dácio, 1995, apud Duarte & Andrade (1998), ao estudar oefeito da submergência de longa duração sobre o balanço

energértico dos diferentes tecidos e caracterizar os padrões

eletroforéticos da enzima lactato desidrogenase (LDH) de

Podocnemis expansa, bem como suas principais características

funcionais em 35 indivíduos (sendo 18 indivíduos para o balanço

energértico e 17 para os padrões eletroforéticos) com tamanho médio

de 9,114±0,081 cm e peso médio de 85,574±2,92 g, concluiu que atartaruga, provavelmente, usa a via glicolítica anaeróbica quando

submetida ao mergulho forçado, elevando sua taxa de lactato no

músculo e no cérebro, para manter suas funções metabólicas. Foi

observado que após 100 minutos de mergulho forçado o nível de

glicose aumentou significativamente, (P>0,05) sugerindo que há

uma mobilização do glicogênio do fígado para, provavelmente, suprira demanda inicial do metabolismo glicolítico anaeróbico nos tecidos

do cérebro e músculo. Isso indica que essa espécie detém

mecanismo de sustentação em períodos de anoxia semelhante às

tartarugas de região temperada.

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Sexo e reprodução

O sexo nas espécies aquáticas do gênero Podocnemis pode

ser identificado pelo tamanho, altura da carapaça, forma do plastrão

e fenda da placa anal (formato de U para machos e de V para fêmeas

adultas) (Pritchard & Trebbau, 1984) – Figura 11.

 

Figura 11: Sexagem de jovens de tartaruga (P. expansa

): macho (esquerda) efêmea (direita) Foto: RAN-AM (Andrade, P.C.M.).

Para Danni & Alho, 1985, apud Duarte & Andrade (1998)

não há dimorfismo externo em tartarugas jovens, antes da

maturidade sexual. A determinação sexual pode ser feita através do

exame dos órgãos reprodutores em amostragens dissecadas de

filhotes. No entanto, para Molina & Rocha (1996) há dimorfismo

sexual para Podocnemis expansa, pois os jovens apresentammanchas amarelas na cabeça, o macho possui a cauda comprida e a

fêmea tem a cauda curta.

Diversos trabalhos sobre a determinação do sexo em

quelônios encontraram relação entre a temperatura e a razão sexual

do ninho, sendo que no caso de tartarugas, tracajás e iaçás,

temperaturas acima de 32ºC , ou ninho em locais com amplitude

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térmica elevada (grande variação entre a temperatura umbral e a

máxima) determinam o nascimento de mais fêmeas (Bull & Vogt,

1979; Morreale et al., 1982; Vogt & Bull, 1982, 1984; Wilhoft et al.,

1983; Spotila et al., 1987; Souza & Vogt, 1994).

Segundo Alho & Pádua (1982) há uma sincronia entre o

regime de vazante e o desencadeamento do comportamento de

nidificação. É necessária uma observação no período reprodutivo,

proteção aos animais adultos em área de desova, captura de filhotes

(recém-nascidos) para criá-los em cativeiros e/ou soltá-los em lagos

naturais ou artificiais.

P. expansa tende a entrar na fase de reprodução entre

cinco e sete anos de idade, em condições naturais (Lima, 1967).

Para o Ibama (1989), a tartaruga (Podocnemis expansa)

apresenta a maior parte do desenvolvimento biológico entre 5 e 10

anos de idade. A maturidade sexual acontece aos 7 anos para os

machos e 11 a 15 anos para as fêmeas, aproximadamente,

realizando o acasalamento na água após a desova entre os meses de

 janeiro e março. Após seis meses faz a postura na praia de desova,

denominada de tabuleiro, podendo estar acompanhada pelo

capitari.

O tempo de postura de P. expansa pode estar relacionado

diretamente com a idade do animal ou com a variação do fenômeno

de enchente e vazante do rio, no qual há uma combinação com o

desenvolvimento do processo de nidificação da tartaruga, que

cumpre o determinismo biológico de retornar ao mesmo local de

postura, podendo ser isolado ou em faixas marginais. (Pough,

Heiser & McFarland, 1993; Alho & Pádua, 1982).

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Por ter um hábito gregário na época de desova, diferente do

tracajá, P. unifilis (que desova isoladamente em solo íngreme à

margem do rio, aproveitando local menos exposto) é nessa fase que a

tartaruga fica mais vulnerável à predação antrópica.

Os mecanismos de orientação que as tartarugas utilizam

para encontrar a área de oviposição são, provavelmente, os mesmos

utilizados para encontrar seu caminho entre área de forrageio e de

repouso. A familiaridade com sinais locais é um método eficiente de

navegação para as tartarugas que podem utilizar o sol como

orientador (Pough, Heiser & McFarland, 1993).

Nesse processo, os animais permanecem em “repouso” no

leito do rio durante 4,5±0,7 dias observando a praia de dentro

d'água, ou as fêmeas realizam 5,5±0,7 subidas na praia de desova

durante a noite, sem desovar. Depois fazem um “passeio” para

verificar os possíveis pontos de abertura da cova e formação do

ninho, cuja profundidade está relacionada com o lençol freático que

tem uma variação natural de 0,63±0,27 m, podendo ser depositados

de 50 a 136 ovos (Alho e Pádua, 1982) ou de 80 a 300 ovos (Lima,

1967; Nogueira Neto, 1973; Nomura, 1977; Pritchard, 1979; Smith,

1979).

Para Espriella (1972), o número aceitável para tartarugasem cativeiro está numa média de 80 ovos, de forma esférica, com

peso médio de 39-43 g, que serão cobertos com areia, pela fêmea,

após a desova. A oviposição pode durar de 1,5 a 4 horas,

aproximadamente, sendo geralmente à noite e, ocasionalmente, à

tarde ou de manhã.

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No período reprodutivo de P. expansa são observados os

mesmos comportamentos das tartarugas marinhas na fase de

desova (Vanzolini, 1967):

(1) Assoalhamento – essa etapa caracteriza-se pelaagregação dos animais em águas rasas, com subidas ocasionais na

margem do tabuleiro (praia de desova) para exporem-se aos raios

solares;

(2) Subida à praia para a escolha do local da cova;

(3) Deambulação ou caminhada de vistoria – nessa fase os

animais sobem a praia e exploram o tabuleiro à procura de um local

de postura;

(4) Escavação da cova – a primeira atividade é a limpeza da

areia solta com o auxílio das quatro patas, girando em torno de si

mesma. Quando atinge a profundidade de 30 cm a 40 cm passa a

usar as patas traseiras até que seu corpo atinja uma posição de 45 a

60 em relação à horizontal, fazendo uma câmara.

(5) Postura – nessa fase as tartarugas não mais se

importam com a presença de estranhos e podem ser tocadas sem

reação. O valor adaptativo da estereotipia durante a oviposição de P.

expansa está relacionado ao sucesso da estratégia evolutiva dessa

espécie. A evolução da eficiência crescente da técnica

estandardizada da postura de ovos resulta numa taxa de

reprodução melhor como conseqüência dos padrões motores

(trabalho muscular) de tal maneira a uniformizar o processo de

oviposição, independente da experiência ou aprendizado. O corpo

do animal move-se para frente e para trás e também executa uma

lenta rotação para a direita e a esquerda. Quando aumenta a

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profundidade, as patas traseiras têm mais ação. Com as unhas para

baixo, uma pata é inserida na câmara de postura, em escavação,

fazendo pressão para o fundo e com uma ligeira rotação modela a

forma e tamanhos exatos da câmara, com 13-18 cm de altura e

diâmetro de 20-25 cm. A câmara é feita a uma profundidade de 50-100 cm. Durante esse processo, as patas dianteiras ajudam na

sustentação do animal. O ato é repetido, inserindo a outra pata na

abertura da câmara de postura. Assim que ela estiver pronta, com o

ovipositor inserido e o corpo cobrindo a cavidade de postura, inicia-

se a oviposição. Cada fêmea deposita um ovo a cada 10-15

segundos. Durante a postura, o pescoço da tartaruga, se mantém

esticado formando junto com a cabeça um ângulo igual ao do corpoem relação à horizontal. Há contrações peristálticas a cada 10-15

segundos seguidas de liberação de ovos e líquidos;

(6) Reenchimento da cova – assim que começa a escavação

os animais entram num processo de ritualização do

comportamento, com grande teor de estereotipia, fazendo

movimentos lentos no corpo para a direita e a esquerda, colhendoareia com as patas dianteiras e traseiras, alternadamente. Em geral,

a carapaça, cabeça e os olhos ficam cobertos de areia lançada

durante o fechamento da cova;

(7) Retorno à água – quando a tartaruga deixa a cova,

normalmente faz uma trilha formada de secreção mucóide que

escorre da “cloaca” ao caminhar. A cauda posiciona-se para trás,rastejando a ”cloaca” ainda em contração, sendo uma indicação da

postura realizada (marca da cauda arrastada entre as pegadas).

Soini (1997), no Peru, observou fêmeas de Podocnemis

expansa formando uma trilha pela liberação de secreção mucóide

antes e depois da desova, fazendo um sulco na areia. A caminhada

para a água é lenta devido ao cansaço, caminhando 3-4 m,

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alternadamente. As patas traseiras podem sangrar devido ao atrito

na borda da carapaça, assim como na parte posterior da carapaça

durante a escavação. Após retornar à água, a população adulta

permanece nas cercanias da praia até o nascimento dos filhotes.

Nas horas mais quentes do dia pode-se observar as cabeças dosadultos fora d'água.

Na época próxima à eclosão os adultos ficam cada vez mais

difíceis de serem vistos nas cercanias da praia (Vanzolini, 1967;

Alho & Pádua, 1979).

Os ovos de Podocnemis expansa ficam incubados de 40 a70 dias, sendo em média 55 ± 21,21 dias e apresentam uma taxa de

fecundação de 85 a 98%, desde que permaneçam em equilíbrio a

umidade e temperatura na câmara de incubação, pois a

temperatura, umidade e as concentrações de oxigênio e dióxido de

carbono podem exercer efeitos profundos sobre o desenvolvimento

embrionário das tartarugas (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Alho &

Pádua, 1982; Santos, 1995; Ibama, 1989).

A temperatura do ninho afeta a taxa de desenvolvimento

embrionário e temperaturas excessivamente altas ou baixas podem

ser letais. A determinação do sexo dependente da temperatura foi

demonstrada em algumas, mas não em todas as famílias de

tartarugas, em duas espécies de lagartos e nos crocodilianos

(Pough, Heiser & McFarland, 1993).

Em estudos laboratoriais realizados por Vogt & Bull (1982)

em 14 gêneros e cinco famílias de tartarugas com temperatura de

25ºC e de 31ºC durante a incubação, produziu-se machos e fêmeas,

respectivamente. A mudança de um sexo para outro ocorre dentro

de um intervalo de 3ºC ou 4ºC, dependendo da espécie.

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Nas tartarugas, o segundo terço do desenvolvimento

embrionário consiste no período crítico de determinação do sexo,

portanto, o sexo dos embriões depende da temperatura a que ficam

expostos durante essas poucas semanas (Pough, Heiser &

McFarland, 1993).

Quando os ovos são expostos a um ciclo diário de

temperatura, o ponto mais alto do ciclo é o mais crítico para a

determinação sexual, com a temperatura podendo diferir entre o

topo e o final do ninho (Pough, Heiser & McFarland, 1993).

Entretanto, em condições úmidas, produzem filhotesmaiores do que em condições secas, provavelmente, por que a água é

necessária para o metabolismo do vitelo (reserva nutritiva do

embrião até a eclosão). Quando a água é limitada, as tartarugas

eclodem mais cedo e com tamanho corporal reduzido e o seu

intestino contém uma quantidade de vitelo que não foi utilizado

durante o desenvolvimento embrionário (Pough, Heiser &

McFarland, 1993).

A profundidade da cova varia de 30 a 83 cm, com média de

56,5 ± 37,476 cm, fato relacionado à nebulosidade atmosférica

(Soini, 1997).

O transplante de ninhadas de tartaruga, tracajá e iaçá para a

incubação artificial dos ovos, em lugares protegidos, pode ser umamedida importante para a conservação. Para conseguir ótimos

resultados os ovos devem ser extraídos, transportados e colocados

em ninhos artificiais, sem demora, mantendo sua posição original,

ou seja, sem revolvê-los. Exceto durante as primeiras horas depois

da desova, a manipulação e a rotação dos ovos afeta,

significativamente, a viabilidade deles. As condições térmicas do

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ninho têm uma marcada influência sobre a duração do período de

incubação e sobre a viabilidade dos ovos. Os ovos incubados em

ninhos expostos à sombra requerem maior tempo de incubação e

têm menor porcentagem de viabilidade dos ovos em relação aos

ninhos expostos ao sol (Soini, 1997).

As tartarugas, por serem pecilotérmicas, apresentam

amplitude térmica de 22ºC a 32ºC, e ideal entre 27ºC a 30ºC, na qual

eclodem as crias medindo em torno de 50 mm de comprimento e 40

mm de largura. A atividade espontânea de alguns indivíduos põe o

grupo em movimento, uns rastejando sobre os outros, agindo sobre

os demais (Lima, 1967; Ferreira, 1994).

 Todos os filhotes saem do ninho num período muito curto e

todos, de diferentes ninhos, deixam os ninhos numa mesma noite,

talvez porque seu comportamento seja estimulado. Sendo as

tartarugas auto-suficientes ao nascer, as interações entre os filhotes

são essenciais para permitir que abandonem o ninho. Os sinais

podem ser sonoros, táteis, visuais e/ou olfativos (Pough, Heiser &McFarland, 1993).

Essa emergência simultânea é uma característica

importante para a reprodução. Nessa fase, os animais jovens estão

propensos à agressão em decorrência do equilíbrio biológico imposto

pela natureza. A ação dos animais aquáticos ou aves silvestres sobre

as crias chega a 80% de predação em alguns tabuleiros (Pough,Heiser & McFarland, 1993).

Assim, a interferência do manejo para diminuir essa taxa

poderá beneficiar os estoques de tartaruga: (1) destinando uma

porcentagem das tartarugas eclodidas para criadouros

seminaturais; e (2) tornando compulsório que determinado número

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de animais desses criadouros, um número predeterminado seja

restituído à natureza quando as tartarugas atingirem a condição

reprodutiva, acelerando o recrutamento nas populações naturais e

maximizando a taxa de natalidade (Alho & Pádua, 1984).

Na Reserva Biológica do Abufari/Tapauá – AM, o Ibama

desenvolve o programa de proteção às áreas de desova. Através do

Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia – Cenaqua, atualmente

Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Afíbios – RAN, realiza-

se a proteção do tabuleiro (praia de desova) assim como das matrizes

e dos filhotes recém-nascidos. Sendo que estes filhotes, em sua

maioria de tartaruga, logo ao abandonarem as covas ficam retidosem cercados de tela para serem apanhados, contados e

transportados para a base física. Posteriormente, é feita a soltura dos

animais em local com uma incidência, provavelmente, menor de

predadores naturais aquáticos (Armond & Armond, 1990, apud

Duarte & Andrade, 1998).

Essa atividade é realizada na Venezuela com certasimilaridade, como cita Ojasti (1995; 1967), assim como em outras

áreas de concentração de tartaruga que servem de referência a

programas de manejo, como no rio Trombetas, entre outros

(Nomura, 1977; Alho & Pádua, 1984; Pough, Heiser & McFarland,

1993; Ferreira, 1994; Soini, 1997).

Segundo Nogueira Neto (1973), é possível obter areprodução de tartaruga em cativeiro. Na prática, tem-se a

possibilidade da reprodução de quelônios em cativeiro, sem a

migração, desde que haja uma praia artificial para a desova.

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Valor nutricional

Segundo Pádua (1981), Ibama (1989) e Cenaqua (1994)

citando estudos realizados por Ferreira e Graça (1961), Leunge e

Flores (1961) e Morrisson (1955), na carne da tartaruga-da-amazônia, foram obtido um nível protéico de 88,03% a 94,68%.

Pelos valores citados, ao comparar-se com as carnes tradicionais

(frango 43,66% a 66,47%; Vaca 44,83%) percebe-se uma

superioridade protéica. Em análise realizada quanto à qualidade

protéica, em 100 g de proteína, apresentou: Lisina 7,70 g; Histidina

2,21 g; Arginina 4,11 g; Treonina 3,91 g; Ácido glutâmico 16,56 g;

Glicina 5,8 g; Valina 6,25 g; Isoleucina 5,41 g; Tirosina 10,64 g eMetionina 5,32 g.

Aguiar, 1996, apud Duarte & Andrade (1998), obteve em

quatro análises realizadas em carne de Podocnemis expansa: 1,10 g

de lipídio/100 g; 21,17 g de proteína/100 g; 94,58 Kcal de

energia/100 g; 0,00 g de carboidrato/100 g; onde cita que em geral

a carne de animal silvestre é magra.

Maués, 1976, apud Duarte & Andrade (1998), ao comparar

os aspectos bromatológicos de ovos de galinha e codorna, ambos

oriundos de feiras livres de São Paulo, e tartaruga Podocnemis sp.,

oriundo de feiras livres de Bélem – PA, mostra que os ovos de

tartaruga pesaram em média 23,67 g, onde a gema, a clara e a casca

pesaram respectivamente 18,55 g; 3,74 g e 1,62 g, com umpercentual médio de 15,38% para a clara, 73,44%, correspondendo

à gema e 11,18% equivalente à casca.

O teor de lípides totais, verificado no ovo inteiro, clara e

gema em ovos de tartaruga é particularmente 7,92 mg/100 g; 0,08

mg/100 g e 18,26 mg/100 g; em ovos de galinha obteve-se 13,08 g/

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100 g; 0,10 g/100 g e 28,70 g /100 g; e nos de codorna foram 10,30

g/100 g; 0,08 g /100 g e 24,03 g/100 g (Maués, 1976).

O teor de proteína no ovo de tartaruga na porção inteira,

clara e gema foi na ordem de 12,70 g /100g; 1,56 g/100 g e 20,58 g/100 g, enquanto que nos de galinha foram 9,98 g/100 g; 9,28 g

/100 g e 16,19 g /100 g e nos de codorna obteve-se 9,78 g /100 g;

9,43 g /100 g e 12,07 g/100 g (Maués, 1976, apud Duarte &

Andrade, 1998).

A composição de cinzas no ovo de tartaruga na porção gema

foi superior (1,68 g/100g) ao de galinha (1,25 g/100 g) e codorna

(1,36 g/100g) (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998).

O teor mineralógico de ferro e fósforo na porção gema nos

ovos de tartaruga foi superior (10,9 mg/100 g e 495 mg/100 g) ao de

codorna (8,2 mg/100 g e 415 mg /100 g) e galinha (5,0 mg/100 g e

260 mg /100 g) e com um teor de cálcio na gema inferior (120,19mg/100 g) em relação ao de galinha (152,25 mg/100g) e codorna (

168,13 mg/100 g) (Maués, 1976 apud Duarte & Andrade, 1998).

 

O teor vitamínico de ß-caroteno foi baixo em ovo de

tartaruga (6,06 mg/100 g) relacionado ao de galinha (30,63 mg/100

g), e vitamina A (57,83 mg/100 g), contra os de galinha (69,87

mg/100 g) e codorna (73,95 mg /100 g). Em relação ao tocoferol(total), o ovo de tartaruga estudado foi superior (2,78 mg/100 g) ao

de galinha (1,94 mg/100 g) e inferior ao de codorna (3,55 mg/100 g)

(Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998).

O teor de colesterol na porção clara mais gema, e gema no

ovo de tartaruga foi inferior (226,5 mg/100 g e 329,1 mg/100 g) aos

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de galinha (682,0 mg/100 g e 1.018 mg/100 g) e de codorna (506,4

mg/100 g e 946,9 mg/100 g) (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade,

1998).

Importância econômica

A tartaruga tem sido de grande importância para o homem

amazônico desde o período colonial. Santos (1995) cita que os

colonizadores espanhóis e portugueses relataram que os índios

durante a vazante capturavam um grande número de tartarugas.

Segundo Smith (1979), durante o século XVII as tartarugasdesovavam em um grande número de praias na área de

Itacoatiara/AM durante os meses em que o nível da água estava

baixo. Esse fenômeno atraiu comerciantes portugueses e uma praia

Real ficou estabelecida para alimentar os soldados do rio Negro,

enquanto outras praias foram exploradas por serem consideradas

grandes e abundantes, porém, até hoje, esses quelônios continuam

fazendo parte da dieta do interiorano. Historicamente, a tartaruga,P. expansa, foi um quelônio de fácil captura para suprir a

alimentação do homem amazônida através de carne e ovos. Sendo

exportado, na época do Brasil Colônia, em 1719, pela capitania de

São José do Rio Negro 192 libras de “manteiga” de tartaruga. Ihering

(1968) cita que para produzir 1 kg de manteiga são necessários 275

ovos de P. expansa.

Alho, Carvalho & Pádua (1979) citam que o preço da

tartaruga em Manaus chegou a alcançar US$ 180,00, Pádua, Alho &

Carvalho (1983) citam que em 1980 um exemplar de 30 kg de peso

vivo chegou a custar cerca de US$ 200,00 em Belém.

Wetteberg et al. (1976) determinaram o mercado potencial

para espécies silvestres da fauna amazônica nos 23 restaurantes

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existentes em Manaus, de 1974 a 1975, bem como tentaram

identificar mercados para as espécies em outras cidades brasileiras

ou no exterior. Esses autores citam que 78,78% dos restaurantes

expressaram interesse em vender carne de fauna silvestre, sendo

denotado interesse pelo público desses restaurantes, em primeirolugar, pela tartaruga (P. expansa) com peso médio de 28,82 kg e um

preço médio (estimado pelos restaurantes) que os clientes pagariam

por quilograma de US$ 21,81, com um lucro potencial por

quilograma para os restaurantes de US$ 19,31.

Espriella (1972) e Nomura (1977) citam uma grande

demanda comercial em países como os Estados Unidos e o Japão,

sendo a comunidade nipônica considerada a pioneira em criação de

tartarugas, desde 1866, por considerarem seu alto valor nutritivo.

Eles recomendam que os criadouros sejam uma das maneiras de

conservar e preservar a tartaruga ou o tracajá. Os criadouros podem

também fornecer filhotes para exportação e ovos para extração de

óleo, sendo que essa extração parece inviável porque o valor

comercial da tartaruga é elevado, embora 100 g de ovos produzamcerca de 100 g de creme facial.

Segundo o Cenaqua (1994), na Amazônia um boi necessita

de 3-4 ha para produzir 40 kg de carne/ano. Enquanto que em 1 ha

de água pode-se criar até 4.500 tartarugas, com um mínimo de

1.800 kg/ano e um custo aproximado para cada quilo das carnes de

peixe, boi e tartaruga de US$ 1,00, US$ 2,30 e US$ 6,00,

respectivamente.

O Cenaqua (1994) cita que em 1991 as tartarugas com peso

médio de 25 kg tiveram preço médio de US$ 80,00. Indicando, por

esses valores, que a tartaruga constitui um item acessível à classe

alta.

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O Sebrae (1995) admite uma relação de 65% do peso vivo

(PV) correspondente à carne, e 35% PV equivalente ao peso do casco.

No entanto, o Cenaqua (1994) menciona que um animal de 25 kg

fornece 13 kg de carne e vísceras, ou seja, 52% do peso vivo (P.V.) em

rendimento de carcaça.

Para o TCA (1997), o preço por tartaruga viva no Brasil,

Colômbia, Peru e Venezuela foi de US$ 97,00 a 122,00; US$ 5,00 a

61,00; US$ 8,00 a 20,00; US$ 18,00 a 47,00, respectivamente. Na

Colômbia o preço por um quilo é de US$ 4,80.

No Peru, devido aos ovos de Podocnemis expansa seremapreciados para consumo humano, o preço por unidade chegou a

US$ 0,22 (TCA, 1997).

Para o TCA (1997), o preço de um exemplar adulto de

Podocnemis expansa varia, dependendo do local e tamanho do

animal. O preço pago nos centros urbanos amazônicos (Iquitos e

Manaus) é cerca do dobro do preço pago ao povo ribeirinho, e mais dotriplo do que recebe o trabalhador rural.

Segundo Terán et al. (1997), os quelônios foram e

continuam sendo uma das principais fontes de proteínas para os

índios e ribeirinhos em toda a Amazônia. Na Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Brasil, onde realizou-se

entrevistas com 50 famílias e observações de campo, obteve-se oconsumo de quatro espécies de tartarugas na alimentação familiar,

como Podocnemis sextuberculata (68,2%), P. unifilis (27,1%),

Geochelone denticulata (4,3%), Chelus fimbriatus (0,4%).

Rebelo et al., 1997, apud Duarte & Andrade (1998) ao

mostrarem a evolução do consumo de animais de caça e a

determinação das populações de quelônios no Parque Nacional do

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 Jaú – Amazonas, concluíram que a mandioca (Manihot esculenta 

Crantz) e o peixe são a base da alimentação dos moradores. Os

animais de caça (quelônios, mamíferos e aves) ocupam o quinto

lugar na citação. A criação doméstica foi citada em apenas 0,5% das

refeições. O monitoramento de longo prazo do consumo comcalendário de caça revelou que 50% dos animais caçados foram

quelônios aquáticos (Peltocephalus dumerilianus, Podocnemis

unifilis e Podocnemis erythrocephala), 38% mamíferos terrestres e

17% aves. Sendo o consumo médio de 24,3 animais/família/6

meses, ou 48,6 animais/família/ano.

Canto et al. (1999), ao realizarem um levantamentopreliminar da comercialização ilegal de produtos da fauna no estado

do Amazonas, registram que as classes mais apreendidas são

répteis (principalmente, quelônios) com 52,2%, mamíferos 30% e

aves 17,8%. Nas feiras, a maior comercialização de carne é para

mamíferos (68%), aves (19%) e quelônios (13%). Sendo os quelônios

(tartaruga e tracajá), mais apreciados, a comercialização feita sob

encomenda cuidadosa, representando 22% dos animaiscomercializados para alimentação e o preço relativo por um

quilograma (peso vivo – PV) da tartaruga de R$ 30,00.

A carne de tartaruga-da-amazônia proveniente de

criadouros legalizados pelo Ibama, no Amazonas, foi vendida

inicialmente ao preço de R$ 12,00 a 18,00/kg de peso vivo em

supermercados de Manaus (A Crítica, 1996), sendo pago aoprodutor até R$ 13,00/kg. Hoje, os produtores estão

comercializando com preços que variam de R$ 8,00 a 12,00, por

quilograma de animal vivo.

Segundo Andrade et al. (2003), o custo com ração é de

US$ 1,45 para produzir um quilo de tartaruga e em um cultivo

superintensivo em tanques-rede pode-se obter renda líquida de

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US$

os custos fixos em R$ 0,74 e os custos variáveis em R$ 2,19 para

produzir um quilo de tartaruga. Considerando os atuais preços de

venda do produtor, temos uma margem de lucro possível de

104,78% a 241,30%, o que caracteriza a queloniocultura como umaatividade altamente rentável.

3246,24/m . Lima (2000), estimou, nos criadouros do Amazonas

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Capítulo 3: Áreas de reprodução de

q u e l ô n i o s p r o t e g i d a s p e l o R A N -Ibama/Amazonas e Ufam

Paulo Cesar Machado Andrade João Alfredo da Mota Duarte

Paulo Henrique Guimarães de Oliveira

Pedro Macedo da CostaAgenor VicenteAnndson Brelaz

Carlos Dias de Almeida JúniorWander Rodrigues

 Jonathas NascimentoHellen Christina Medeiros

Luiz Mendonça NetoSandra Helena Azevedo

 José Ribamar da Silva Pinto

Quando chega o verão na Amazônia, a vazante se inicia e com

ela surgem milhares de praias ao longo dos rios. Sejam praias de

areia bem branquinha em rios de águas negras e claras, ou praias

amareladas em rios de águas barrentas, todas se transformam em

verdadeiros depositários de vida com o período reprodutivo de

quelônios (tartarugas, tracajás, iaçás, irapucas) e aves (gaivotas,

corta-águas, quero-queros, etc.). A gerência do Ibama no estado do

Amazonas, através do Centro de Conservação e Manejo de Répteis e

Anfíbios (RAN) tem desenvolvido uma série de atividades que visam a

conservação dos quelônios na região.

Esse trabalho envolve parceria com a Universidade Federal

do Amazonas (Ufam), comunidades e prefeituras dos municípios.

Em um primeiro momento, as comunidades são visitadas e

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realizadas reuniões em que cada comunidade decide como poderá se

envolver no trabalho, que praias deverão ser protegidas e quais

pessoas formarão as equipes de campo. Depois, através dos técnicos

do RAN e da Universidade, são treinados agentes de praia que

atuarão no controle, monitoramento e fiscalização de cada praia dedesova de quelônios, os chamados tabuleiros.

O Projeto Quelônios ampliou, desde 2001, sua atuação para

os municípios amazonenses de Parintins, Juruá, Manicoré, Lábrea,

Borba, Tapauá, Eirunepé, Carauri, Barreirinha, Nhamundá,

Canutama, Barcelos, Novo Airão, Itamarati e São Sebastião do

Uatumã, atingindo 407.504 habitantes que constituem as

populações desses municípios. Atingimos, ainda, em parceria com a

Ufam, através do projeto de extensão de manejo sustentável de

tracajás, o Projeto Pé-de-Pincha, três municípios limítrofes no

Estado do Pará, Terra Santa (16.500 habitantes), Oriximiná (60.000

habitantes) e Juruti (20.000 habitantes).

Em cada município temos diretamente envolvidos com os

trabalhos de campo e os treinamentos as comunidades e osprofessores da rede pública de ensino: 1) Em Parintins são 15

comunidades com cerca de 490 famílias e 62 professores em

treinamento e 26 agentes ambientais voluntários; 2) Em

Barreirinha, 12 comunidades com 160 famílias, 35 professores e 1

agente ambiental; 3) Em Nhamundá, são 10 localidades com 63

famílias; 4) Em Eirunepé e Itamarati, nas praias de Walter Buri,

cerca de 30 famílias; 5) Em Carauari, na Resex do Médio Juruá, em10 tabuleiros, 200 famílias; 6) No Juruá, nos tabuleiros de Joanico,

Renascença, Antonina, Vai-quem-quer e Botafogo, 100 famílias; 7)

Em Manicoré, na praia do Nazaré, envolvendo 30 famílias que

trabalham no local; 8) Em Lábrea, nas comunidades do Buraco,

Luzitânia, Jurucuá, Bananal, Santa Cândida, Novo Brasil,

Porongaba e Realeza, 370 habitantes; 9) Em Borba, no rio Matupiri,

cerca de 100 habitantes; 10) Em Tapauá, na Rebio Abufari e nas

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comunidades da praia da Enseada, Piranhas e Curuzu,

aproximadamente 80 famílias; 11) Em Canutama, nas reservas do

 Jamanduá, Axioma e Seringal Nazaré, participação de cerca de 40

famílias; 12) Em Nova Airão, na praia da Velha, em frente ao Parque

do Jaú, cerca de 8 famílias; 13) Em Barcelos, na praia da Dulumina,Ponta da Terra e campina do Careca; 14) Em São Sebastião do

Uatumã, no tabuleiro do Abacate, no Jarauacá e no Livramento,

atingindo cerca de 50 famílias; 14) Em Terra Santa (10

comunidades), Oriximiná (9 comunidades) e Juruti (19

comunidades) no Pará, cerca de 850 famílias e 7.500 habitantes,

sendo que lá já existem 78 professores treinados, 101 agentes

ambientais voluntários e 45 professores em treinamento.

Em todas essas áreas está sendo feita a proteção das matrizes

de tartarugas, iaçás e tracajás, durante a desova, sendo feito o

acompanhamento da postura até a eclosão, quando é desenvolvido o

trabalho de proteção e manejo dos filhotes. A fiscalização pelo Ibama

e pelos comunitários é bastante rígida nesses locais. Acompanhando

esses trabalhos de monitoramento e controle, é desenvolvida uma

estratégia de conscientização através da educação ambiental e dadiscussão sobre alternativas de desenvolvimento. Nesse aspecto, a

parceria com a Universidade tem permitido ao Ibama levar cursos e

projetos de desenvolvimento para algumas comunidades como:

criação caipira de galinhas, beneficiamento de pescado, utilização

de plantas medicinais, piscicultura, criação de animais silvestres e

ecoturismo. O apoio das prefeituras tem sido fundamental para a

realização dessas atividades, que passam a se consolidar em cadamunicípio como estratégias de conservação e possível geração de

renda no futuro, através da criação e manejo de quelônios e do

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ecoturismo, entre outras.

Coroando os trabalhos de campo em 2001, nasceram e foram

soltos 1.077.768 de filhotes provenientes do monitoramento de

3.886 covas de tartaruga, 7.263 covas de tracajá, 42.606 covas de

iaçás e 4.671 covas de irapuca. O trabalho visa aumentar o número

de praias de desova de quelônios protegidas, ampliar o número

médio anual de filhotes soltos na natureza (Tabela 1), garantindo a

proteção de populações de quelônios de diferentes calhas de rios e

diferentes ecossistemas (Figura 1), permitindo que o trabalho de

conservação se baseie não somente em produção de filhotes, mas,

também, na variabilidade genética das espécies. E, além disso,

consolidar novos tabuleiros para o fornecimento de filhotes para

criadouros (Conservação ex situ). O RAN do Estado do Amazonas,

com apoio da Gerência Executiva e da Ufam, ampliou seu espectro

de ação e áreas protegidas, atingindo, praticamente, todos os

ambientes aquáticos do Amazonas, mesmo com toda a sua

dimensão territorial.

Áreas de Conservação de Quelôniospelo RAN-Amazonas

2 10 11 1012

59 63

87

318 19 16

020

40

60

80

100

2000 2001 2002 2003

       n

Rios

Localidades

Municípios

Figura 1: Ampliação das áreas de conservação de quelônios no Amazonas entre

2000 e 2003.

A Figura 1 apresenta os dados da ampliação das áreas

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reprodutivas de quelônios protegidas pelo RAN- AM, em 2000-2003.

Esse avanço significativo só foi possível graças ao volume de

recursos destinados pelo RAN, em 2001, e pelas diversas parcerias

com a Ufam, prefeituras e a participação em editais de

financiamento de projetos científicos e de extensão. O número detécnicos também foi ampliado (de dois para sete), graças à fusão do

RAN com o Núcleo de Fauna Silvestre, em uma única Divisão de

Fauna, no Ibama-AM.

O RAN-AM vem trabalhando com o monitoramento e a

conservação de populações de quelônios nas seguintes áreas:

Rio Purus 

1)  Tabuleiro do Abufari na Rebio Abufari, em Tapauá;2) Tabuleiros de Piranhas e Enseada, em Tapauá;3) Tabuleiro do Curuzu e Vista Alegre, em Tapauá;4) Reserva do Jamanduá, em Canutama;5) Tabuleiro do Nazaré e Axioma, município de Canutama.

Rio Uatumã1) Tabuleiro do Abacate /Balbina;2) Tabuleiros do rio Jarauacá/comunidade do Livramento,

Balbina;3) Rebio Uatumã e rio Pitinga: Ilha do Limão, do Bacaba, Sororoca,

Arapari, do Açaí, do Papagaio.

Rio Juruá

1) Resex do Médio Juruá/Carauari: 10 tabuleiros (Gumo do Facão,

Nova Esperança/Jacaré, Roque/Ati, Bauana, Deus é Pai, Bom

 Jesus, Manariã, Monte Carmelo/Pau Furado, Itanga, Mandioca)2) Tabuleiro do Joanico e Renascença/Juruá;3) Tabuleiro de Botafogo, Antonina e Vai-quem-quer/Juruá;

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4) Tabuleiro de Walter Buri/Itamarati-Eirunepé;5) Tabuleiros de São Francisco, Dois Irmãos, do Gado/Itamarati;

Rio Madeira 

1)Praia do Nazaré/Manicoré;2)Rio Matupiri/Borba: diversos tabuleiros;

Rios Solimões-Japurá

1) Tefé – RDS Mamirauá: Pirapucu, Praia do Meio, Horizonte, Ingá;2) Coari: Ilha do Geral;

Rio Negro

1) Praia da Velha/Parna Jaú, Novo Airão;2) Praia do Cabuano/Parna Jaú/Novo Airão;3) Praia Dulumina/Barcelos.

Áreas do Programa Pé-de-Pincha: Médio-Baixo Amazonas

a) Rio Amazonas:

Ilha de Vila Nova/Parintins.

b) Municípios do Amazonas:

1) Barreirinha: Piraí, Granja Ceres, Ipiranga, Tucumunduba, São

Francisco, São Pedro, Proteção Divina, Lírios do Vale, Matupiri,

Ariaú, Coatá, Ponta Alegre e Pindobal;

2) Parintins: Anhinga, Parananema, Macurani, Valéria, Murituba,

Laguinho, Maximo, Ze-Açu, Badajós, Terra-Preta, Tracajá, São

Pancrácio, Parintinzinho e Santa Lourdes do Mamuru;

3) Nhamundá: Fazenda Duas Bocas, Praia Boa Esperança, Boiador,

Galiléia, Espelho da Lua, Apéua, Sr. Santos, Castanhal,

Marcolino, São Francisco e Vista Alegre.

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c) Municípios do oeste do Pará:

4)  Terra Santa: Lago do Piraruacá (Aliança, Desengano, Itaubal,

Camaiateua), Lago Xiacá, Igarapé dos Currais (Pintado,

 Tucunaré e Pirarucu), Igarapé do Nhamundá (Conceição Casa

Grande), Igarapé do Jamary (Alemá e Chuedá) e Lago do Abaucu

(Capote e Jauaruna).

5) Oriximiná: Região do Jarauacá, Acapu, Samaúma, Lago do

Sapucuá (Ascensão, Casinha, Barreto), Maria Pixi, Acapuzinho,

Cachoeiry;

6)  Juruti: Maravilha, Santa Madalena, Açaí, Zé Maria, Caapiranga,

Surval, Uxituba, Prudente, Capelinha, Pompom, Ingrassa,

Capitão e Vila Muirapinima.

Na Figura 2 e na Tabela 1, observamos que, mesmo com

todos os recursos que o RAN-Cenaqua/NUC aplicava na Rebio

Abufari, em 2001-2002, ela perde o status de maior produtora de

quelônios do Amazonas para áreas com trabalhos comunitários emtabuleiros pequenos e próximos, como é o caso das Resex do Médio e

B a i x o J u r u á , s e n d o q u e a s á r e a s c o m m a n e j o

comunitário/participativo de quelônios passaram a responder pela

maior parte da produção do Amazonas (60,01% = 646.848 filhotes)

em relação às áreas de proteção estrita do Governo (39,98% =

430.920 filhotes).

Esse envolvimento e conscientização comunitária

permitiram reduzir o custo médio por filhote protegido de R$ 0,37-

0,78/unidade para R$ 0,08/unidade. Todavia, o grande corte nas

verbas governamentais, destinadas ao trabalho com quelônios, a

partir de 2003, levou ao abandono de algumas áreas de reprodução

monitoradas em 2001 e 2002, registrando uma queda de 15,49% na

produção de filhotes. Em áreas de grande produção, como Abufari e

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Walter Buri, com um trabalho de muitos anos de proteção, as

populações de quelônios parecem ter atingido certo equilíbrio e

estabilidade, não havendo grandes variações. Contudo, em outras

áreas, onde o trabalho havia iniciado há poucos anos, o impacto foi

muito mais significativo.

A situação foi mais grave ainda nas grandes áreas

produtivas onde o governo trabalhava em parceria com as

comunidades. A redução da presença e, em muitos casos, a

completa ausência de técnicos do Governo e de recursos,

amparando os ribeirinhos, levou desânimo ao trabalho

comunitário que, com a falta de incentivos, registrou uma queda de

646.848 filhotes, em 2001, para 343.679 em 2005, ou seja,

46,86%. Apenas em áreas de manejo comunitário, onde o governo

se fez presente através dos trabalhos da Ufam e recursos do

ProVárzea-Ibama, como as trabalhadas pelo Programa Pé-de-

Pincha, a produção comunitária cresceu mantendo o ritmo de

2001-2002 e permitiu a sistematização dos dados de produção.

Segundo Pinto & Pereira, 2004, que analisaram os

incentivos institucionais em áreas de manejo comunitário de

quelônios do Programa Pé-de-Pincha: “os locais onde os usuários

foram mais bem-sucedidos em criar e manter esquemas de manejo

conservacionistas correspondem àqueles cujas instituições são

mais efetivas e eficazes e possuem um melhor grau de

contribuição”. Eles sugerem, para efetivação de uma co-gestão dos

recursos pesqueiros, uma nova forma de incentivo às organizações

comunitárias através da institucionalização do “subsídio azul”,

definido como um recurso público a fundo perdido, destinado

àquelas comunidades devidamente regularizadas e

comprovadamente efetivas no manejo participativo da fauna

aquática e dos recursos hídricos. Outra forma de incentivo seria a

geração de renda através da criação comunitária semi-intensiva ou

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Figura 2: Variação na produção de filhotes de quelônios em áreas protegidaspelo RAN/Ibama-AM em 2001 e 2005.

extensiva (prevista na minuta da nova portaria de criação deanimais silvestres – Anexo VI – Quelônios – Item II) e/ou da venda defilhotes de áreas de manejo comunitário para criadores.

Principais tabuleiros

A) Rio Juruá:

A.1) Alto Juruá: tabuleiros de Walter Buri, Nova Olinda/São

Francisco, Matupá e outros.

Nesse rio de águas barrentas, estreito e cheio de curvas, no trecho

compreendido entre as cidades de Eirunepé e Itamarati, existem

diversas praias de desova de quelônios. Muitos desses tabuleiros

foram protegidos por antigos donos de seringais. O mais famoso

deles é o tabuleiro de Walter Buri, em italiano, o Castelo de Ouro,

localizado em frente à vila do seringal que tinha o mesmo nome.

Desde 1983, o então IBDF realiza o monitoramento, controle e

Produção de filhotes de quelônios em áreas protegidas noAmazonas

050000

100000150000200000250000300000

350000400000

  P  é -  d e -  p  i  n  c  h  a

  C  a  n  u  t  a  m  a

  B o  r  b  a

  C  a  r  a  u  a  r  i

  W  a  l  t e  r  b  u  r  i

  J  u  r  u  á

  M  a  n  i  c o  r  é

  B  a  r  c e  l o s  /  J  a  ú

  U  a  t  u  m  ã

  A  b  u  f  a  r  i  /  T  a  p  a  u  á

  T e  f  é -  M  a  m  i  r  a  u  á

  C o  a  r  i

Áreas

     N    o

 .20012002200320042005

 

63

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manejo das populações de quelônios que desovam naquela área.

Entretanto, existem outras praias promissoras como a do tabuleiro

de Nova Olinda/São Francisco, praia do Gado, Dois Irmãos,

Matupá, Estirão do Óbito e São João (esta última a 30 minutos de

Eirunepé). Walter Burí situa-se a 416 km de Eirunepé (238 km emlinha reta), ou seja, a 8 horas de viagem em um bote com motor de

popa 60 HP (coordenadas: 6º28'10”S; 68º26'24”W; 120 m de

altitude). Essas áreas são controladas pelo Escritório do Ibama em

Eirunepé, através dos Agentes de Defesa Florestal João Dejacy e

Carlos Augusto Bié.

O RAN/Ibama possui um flutuante, reformado em maio de22001, com bóias de ferro, uma balsa de 80 m de área e uma casa de260 m de área construída (dois quartos, um banheiro, uma sala-

cozinha), toda mobiliada, e com gerador de energia a diesel. Essa

base, ancorada anualmente em frente ao tabuleiro de Walter Buri,

do outro lado do rio, próximo à vila, serve de alojamento para a

equipe de agentes de praia, chefiada pelo sr. Raimundo Nonato

“Curisco”, que é auxiliado pelos srs. Francisco Amâncio e SílvioSantos. Os trabalhos de proteção têm início em maio, quando os

quelônios saem dos lagos para o rio para reproduzirem-se. Nesse

período, a vigilância das “bocas” desses lagos é fundamental para

que os quelônios consigam chegar até as áreas de postura. Dois

lagos merecem especial atenção: o Lago do Tarira, de propriedade da

Empresa Macacuera, do sr. Naochi Kubota, vigiada há três anos pelo

sr. Amâncio; e o Lago do Maturani, vigiado há dois anos pelo sr.Sílvio Santos. O trabalho se estende durante todo o período

reprodutivo (junho-setembro), passa pela eclosão e nascimento dos

filhotes (outubro-novembro) e vai até fevereiro, quando é necessário

vigiar novamente as bocas dos lagos, pois ocorre outra migração dos

quelônios, do rio para os lagos (de alimentação).

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Figura 4: Base flutuante de Walter Buri – Rio Juruá/AM. Foto: RAN/AM.

(Andrade, P.C.M.).

O tabuleiro de Walter Buri tem fornecido filhotes para os

criadouros de quelônios do Amazonas desde 1999 (cerca de 25.000

filhotes de Podocnemis expansa/ano). Os demais filhotes de

tartaruga são soltos no lago da Cachoeira, lago do Maturani, igarapé

de Nova Olinda e, do outro lado do rio, próximo a Walter Buri, desde

que haja bastante capim. Tracajás (P. unifilis) e iaçás (P.

sextuberculata) saem espontaneamente de seus ninhos e correm

para a água (as covas de tartaruga são marcadas e manejadas; as

dos tracajás apenas contadas e as das iaçás são estimadas). Na

 Tabela 2 apresentamos o georreferenciamento das praias de desova

de quelônios e dos lagos de alimentação.

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Figura 5: Transporte de filhotes de tartaruga (P. expansa) de Walter Buri paracriadores registrados no Amazonas, 2002. Foto: RAN/AM (Andrade, P. C. M.).

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Tabela 2: Tabuleiros e lagos de alimentação de quelônios situados entre Eirunepé e Itamarati,no Alto rio Juruá

Local

 

 Tipo

 

Coordenadas

 

Dimensões

 

da praia

 Nº deninhos em2001

  Nº

 

defilhotesproduzi_ 

dos ousoltos

 

WalterBuri

  Tabuleirode desova

 6º28’54’’S;68º25’54”W e119 m dealtitude

 

4.000 m X200 m

  Tartaruga=560

 

 Tracajá=600

 

Iaçá=1000

 72.588

 

SãoFrancis_ co

   Tabuleirode desova

 6º29’25” S;68º31’56” W

 4.500 m X200 m

  Tartaruga=15

 

 Tracajá=321

  10.178

 

Matupá

 

Praia dedesova

 6º26’46”S;

 

68º29’16”W

 4.000 m X150 m

  Tartaruga=2

 

 Tracajá=23

Iaçá=125

  2.885

 

Do Gado

 

Praia dedesova

 6º27’55”S;

 

68º27’29”W

  Tartaruga=5

 

418

 

Maturini

 

Praia dedesova

 6º30’22”S;

 

68º27’29”W

 1.000 m X100 m

  Tartaruga=1

 

84

 

Dos DoisIrmãos

 Praia dedesova

 6º26’8”S;

 

68º28’55”W

 1500 m X80 m e2.800 m X80 m

  Tartaruga=5

 

418

 

 TOTAL DE FILHOTES PRODUZIDOS EM 2001

 

86.571

 

Local

 

 Tipo

 

Coordenadas

 

Espécie

 

Nº/espécie

 

Nº t otal

defilhotes

 

Estirãodo Óbitoe São

 João

 Potenciaispraias dedesova

  30 minutos deEirunepé,descendo o riona margemdireita

 

 Tartaruga

 

 Tracajá

 -

 

-

 

Lago doMaturanie do

 Tarira

 Lagos dealimenta_ ção

  6º30’37”S;

 

68º27’24”W

  Tartaruga

 

2.300

 

2.300

 

Igarapéde NovaOlinda

  Rota demigração

 

6º28’19”S;

 

68º 30’45”W

 

 Tartaruga

 

1.000 1.000

 

LagoCachoei_ ra

  Soltura

 

-

 

 Tartaruga

 

3.500 3.500

 

WalterBuri

 

Soltura

 

-

 

 Tartaruga

 

 Tracajá

 

Iaçá

  1.031

 

31

 

16

  1.078

 

FILHOTES SOLTOS EM OUTROS LUGARES EM 2001

 

7.878

 

68

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A.2) Médio Juruá: Tabuleiros da Reserva Extrativista(Resex) Médio Juruá em Carauari/AM.

A atividade de produção de quelônios em praias manejadas

está inserida no programa de manejo de uso múltiplo dos recursosda Resex, sendo mais uma alternativa de renda para ascomunidades, ao mesmo tempo que conserva essas espécies que, naregião, já estiveram bastante ameaçadas. Na Tabela 3, verificamosum aumento proporcional na produção de quelônios em relação aotempo de criação da área de proteção, o que leva a crer que taliniciativa pode estar proporcionando condições para melhorar areprodução dos quelônios. As comunidades da Resex decidiramproteger particularmente a tartaruga-da-amazônia (Podocnemisexpansa), evitando a captura de adultos e a coleta de seus ovos,ficando o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) sob proteçãorelativa, posto que eles fazem parte do cardápio daquelaspopulações tradicionais durante a vazante do rio.

 Figura 6: Tabuleiro Deus é Pai – Resex Médio Juruá/Carauari-AM. Foto:RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).

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 Figura 7: Tabuleiro do Ati, comunidade do Roque, Resex Médio Juruá,Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.).

 

Figura 8: Rastros de P. expansa, tabuleiro do Ati, Resex Médio Juruá,Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).

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 Tabela 3: Produção de quelônios nas praias manejadas da Resex do Médio Juruá, no período de 1994 a 2006.

Fonte: Ibama/CNPT, RAN-AM (2003) e Andrade & Brelaz (2006).

Os tabuleiros da Resex são remanescentes das áreas

protegidas pelos antigos donos de seringais. São, ao todo, dez áreas: Jacaré (seringal Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é

Pai, Manariã, Ati (comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana,

Bom Jesus, Marari/Pau-Furado (comunidade Monte Carmelo),

Itanga, Mandioca.

Oficialmente, pelo Ibama, o trabalho começou em 14 de

agosto de 1994 com registro da 1ª postura no tabuleiro doPupunhas. Naquele ano foram monitorados os tabuleiros Deus é Pai

ou Pão, Pupunha e Manaria pelo Agente do Ibama, sr. João de Deus

Coelho.

O tabuleiro do Jacaré, protegido pelos agentes da

comunidade Nova Esperança, está localizado no antigo seringal

Pupunha. Nele, o seringalista Basílio Coelho Bastos pagava vigias de

praia e recebia a produção de de filhotes no grande barracão.

71

Iaçá Tartaruga Tracajáano filhote covas filhotes covas filhotes

vivo morto vivo morto1994 150.000 465 43.721 - 1029 24.949 -1995 - 249 28.418 - 1.033 33.572 -1996 - 460 40.376 - 704 6.163 -1997 98.781 - 43.046 - - 13.140 -1998 121.666 542 58.804 174 666 25.949 1001999 144.783 616 76.521 8.256 712 23.008 4492000 165.530 876 101.644 - 946 29.882 -2001 186.086 - 118.332 - 1106 36.313 -2002 81.096 600 69.696 142 574 15.598 9

2003 89.656 679 78.784 140 976 27.345 1202004 103.608 426 49.416 219 396 8.741 -2005 70.230 426 42.531 - 735 13.709 -2006 54.133 467 47.423 - 834 20.109 -

  Total 1265569 5341 798.712 8.931 11338 278.478 678

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Soltava todos em um pequeno igarapé que permitia, quando enchia,

que os filhotes saíssem naturalmente para o rio Juruá. Depois, o

seringal foi vendido para a Maginco. Quando o IBDF assumiu a

proteção da área já havia o trabalho que foi mantido com o sistema

de contrato de agentes de praia, acampamento e marcação detartarugas. Tudo isso acompanhado pelo sr. João Tomaz/IBDF.

Com o tempo e o crescimento de Carauari, começaram a invadir o

tabuleiro, então ficou muito ruim até criarem a Resex. No Jacaré,

desovam 32 tartarugas. Segundo os agentes, em 2001 desovaram 24

tartarugas e 140 tracajás, em 2000, haviam desovado 34 tartarugas

e 130 tracajás. O período de boiadouro para iaçá e tracajá é em junho

e a desova destes ocorre em julho/agosto, já as tartarugas desovamem agosto/setembro.

O tabuleiro do Ati também pertence à área do seringal

Pupunha, sendo manejado pela comunidade do Roque, que fica

distante da margem do Juruá (tem de entrar em um lago e caminhar

uma hora na mata de várzea até chegar à comunidade). Esse

tabuleiro é o que detém, hoje, a maior produção, cerca de 280 covas

de tartaruga. O Manariã é o segundo mais produtivo, entretanto é

manejado por uma só família. O terceiro em produção é o Mandioca,

seguido do Gumo do Facão ou do Bauana. No Marari, desovam mais

tracajás. A Tabela 4 apresenta as coordenadas e informações sobre

os tabuleiros.

O tabuleiro Deus é Pai já foi o mais produtivo na área do

antigo seringal Pão, todavia, houve o encalhe de uma balsa com8.000 sacos de farinha e a movimentação das máquinas para

desencalhar a balsa e a dragagem da praia espantaram as

tartarugas. Hoje, a presença de gado na praia também prejudica.

No Jacaré, Manariã e Deus é Pai, os agentes de praia usavam o

capitari (macho da tartaruga) preso em um cercado como “indez”

ou“chama”. Na Fig. 9, a reprodução de aves nas praias da Resex.

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 Na mesma época da nidificação dosquelônios, os tabuleiros também sãobrindados com muitas aves reproduzindonas praias como corta água, gaivotas e

bacurau. Os filhotes lutam pelasobrevivência quando não são assadospelo sol abrasador ou servem de alimentopara os jacarés, mucuras etc.

Os ovos do corta-água e gaivotassão tão camuflados que sãoconfundidos com a coloração daárea nos tabuleiros. Os filhotes

também possuem uma pelageminicial muito parecida com a areiada praia.São estratégias dos animais para selivrarem dos predadores.Os tabuleiros já estão tambémf a z e n d o u m c o n t r o l e d aovoposição das aves e também dasiguanas que desovam em grandequantidade, em algumas praias.

73

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 Tabela 4: Informações sobre tabuleiros e localidades referenciais na ResexMédio Juruá.

 Tabuleiro/localidade

Coordenadas Nº defamílias(nº hab.)

Pupunha(Jacaré)

5º8’51” S; 67º7’35”W à 1 .500 m deNova Esperança (5º5’29”S; 67º10’5” W;alt.=74m)

27 (168)

Ati 

5º10’57”S; 67º11’45”W 

Praia 

Porto do Roque 

5º6’13”S; 67º11’59”W 

59 (298) 

Gumo do facão 

5º4’33”S; 66º53’42”W - 

alt.=74m 21(110) 

Bauana

 

5º25’18.7’’S;

 

67º’17’12’’W

 

18(117)

 

Deus é Pai

 

5º42’44”S e 67º35’72”W-alt=64 m

 

3 (11)

 

Bom Jesus

 

5º22’37.9’’S; 67º12’55”W

 

22(143)

 

Mari-Mari

 

5º45’94”S e 67º45’04”W-alt.=68m

 

3(15)

 

Manariã

 

5º28’15”0S;

 

67º28’31”W-alt.=68 m

 

5(18)

 

Monte-Carmelo (PauFurado)

  5º53’70”S e 67º56’52”W-alt.=74m

 

9 (18)

 

Itanga

 

5º45’48’’S;

 

67º49’56’’W -

 

alt.=77m

 

13(67)

 

Mandioca

 

5º59’86”S e 67º58’55”W - alt.=73m

 

14(77)

 

O IBDF/Ibama administrava os tabuleiros dando para os agentesrancho e combustível. No começo, eles não tinham motor, depois

conseguiram comprar motores tipo rabeta (apenas dois ou três

ainda não têm). Quando foi criada a Resex, o CNPT passou a pagar

um salário para duas pessoas (nesse período, contribuíram para os

trabalhos o Conselho Nacional de Seringueiros e o Greenpeace).

Hoje, os tabuleiros são administrados por associações da Resex,

como a Asproc (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), quepaga R$ 200,00 para duas pessoas e fornece dez litros de gasolina,

durante seis meses. Ao todo, 27 famílias de agentes são beneficiadas

diretamente pelo recurso, embora em 2001 todos os agentes tenham

reclamado do atraso e no pagamento incompleto (só R$ 50,00 em

dinheiro e R$ 50,00 de rancho/pessoa). Os recursos são

provenientes de um projeto junto ao BNDS, coordenado pela Asproc.

Em maio foram liberados R$ 14.400,00 para pagamento

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dos agentes. A Asproc também faz o escoamento dos principais

produtos agrícolas da Resex: farinha e banana (atualmente,

prejudicada pelo mal da Sigatoga Negra).Em 2003 o projeto de preservação dos tabuleiros teve

financiamento do Ministério do Meio Ambiente – MMA, através deum trabalho técnico proposto pela Asproc, sendo as atividades

coordenadas por um membro da diretoria da associação, que atuou

como coordenador do projeto,Manoel Cruz “Manoelzinho”, e por

técnicos do Ibama, lotados na Resex do Médio Juruá, João de Deus,

Mônia e Aldízio Lima, respectivamente. Esse projeto previa auxílio

para os vigias na forma de alimentação, a cada mês, recursos para

viagens de monitoramento mensal das atividades dos vigias ecompra de equipamentos para a implementação das ações de

preservação dos quelônios.O trabalho de vigilância dos tabuleiros é realizado pelos

ribeirinhos, através da construção de uma base (normalmente uma

casa de madeira coberta de palha) na margem oposta do rio onde

está localizado o tabuleiro, dessa forma, os vigias possuem uma

base para que possam permanecer durante o dia e a noite. Otrabalho de preservação consiste na vigilância dos tabuleiros para

evitar a invasão por estranhos para a retirada de ovos e a coleta de

animais desovando, a marcação das covas dos animais para o

controle do número que desova em cada praia, e o controle da data

de eclosão dos filhotes. Também é realizado através de fichas: o

controle do número de animais que desovaram nas praias, o número

de filhotes que nasceram e que morreram e os ovos não eclodidos.

De 2004 a 2006, foi realizado um projeto na Resex Médio

 Juruá pela Ufam e CNPT-Ibama, com recursos da Fapeam, para

estudar parâmetros de dinâmica populacional de tartaruga

(Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis unifilis) e iaçá

(Podocnemis sextuberculata) da região do Médio rio Juruá/AM,

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através de manejo extensivo de ovos, filhotes e adultos, por

comunidade. Utilizou-se captura-marcação-recaptura, com

armadilhas/redes em diferentes microambientes e próximas às

áreas de nidificação. Os quelônios foram marcados com perfuração

de carapaça (Figura 10).

Figura 10: Captura de quelônios com rede trammel-net no sacado do Mari-Mari  – Resex Médio Juruá, biometria, marcação, soltura e aplicação dequestionários. Fotos: C.Dias A.Jr. (2005).

Foram aplicados 45 questionários em nove comunidades naResex Médio Juruá. Foram identificadas oito espécies de

quelônios : Podocnemis expansa ( 16 % ) , P.  unifilis ( 16 % ),

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  P. sextuberculata (16%), Peltocephalus dumerilianus (4%), R.

punctularia (11%), G. denticulata (16%), G. carbonaria (5%) e C.

fimbriatus (16%). Os comunitários informaram que os quelônios

alimentavam-se principalmente de flores (21%), frutos (17%),

sementes (17%), insetos (15%) e peixes (13%). No Médio Juruá, asprincipais espécies consumidas são P. unifilis (tracajá) 31%, P.

expansa (tartaruga) 26%, Geochelone spp. (jabuti) 17% e P.

sextuberculata (iaçá) 16%. Cerca de 28% dos moradores utiliza a

gordura de quelônios como remédio (Nascimento & Andrade, 2005).

Os apetrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no

Médio Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).

No Médio Juruá, o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ±

40,8, o iaçá R$ 3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3.

Há maior abundância de iaçás (Podocnemis sexturbeculata)

na Resex Médio Juruá (59%). O período com maior número de

capturas é à tarde. No fim da tarde e à noite, foram os momentos de

captura dos animais maiores em comprimento e peso. No período de

cheia dos rios os quelônios concentram-se nos lagos e na florestaalagada, pela maior oferta de alimentos e proteção contra

predadores. Os aparelhos de pesca de maior eficiência para tracajás

e iaçás foram as caçoeiras, dos comunitários. E, para as tartarugas,

as malhadeiras. A comunidade Bom Jesus mostrou maior

quantidade de cascos utilizados em casas de farinha (para tirar a

massa) e em residências. Os cascos mais utilizados são os de iaçá,

talvez por serem quelônios em maior abundância na região, uma vezque os comunitários preferem utilizar cascos de tracajá por serem

médios.

O maior pico de desova do iaçá ocorre no período de julho e

agosto. A tartaruga e o tracajá apresentam seu período de desova nos

meses de agosto e setembro . Os maiores tabuleiros : Deus

é Pai , Ati ( Roque ) e Monte Carmelo . As médias de

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ovos por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4 ovos; iaçá=7,9

ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matá-matá=12,5 ovos

(Nascimento & Andrade, 2005).

Os maiores quelônios foram capturados na seca. Na cheia, opeso de animais capturados foi: tartaruga=1.652,32 1.619,81g,

idade=3,68 0,98 anos (100% fêmeas), tracajás=2.413,27 1.696,14

e idade= 6,25 1,95 anos (9,09% fêmeas), iaçás=637,58 535,32 g e

idade=2,91 1,25 anos (43,32% fêmeas). Na seca: tartaruga=4.355

7.635 g, idade=6,78 8,76 anos (máximo=30 anos) e 81,12% fêmeas,

tracajás=2.018 2.703,6g, idade=2,63 2,13 anos e 84,05% fêmeas; e

iaçá=612,1 324,2g, idade=5 1,5 anos e 65% fêmeas. O crescimentomédio de iaçás na natureza, com base na recaptura de animais

marcados, foi de 0,10 ± 0,95 g/dia (Almeida Jr. & Andrade, 2006).

A.3) Baixo Juruá: tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina e

Botafogo, em Juruá/AM

O município do Juruá (antigo Caetaú) possui tabuleiros

comunitários tradicionais como o da Antonina e Botafogo etabuleiros estabelecidos graças aos esforços da prefeitura daquela

cidade, através do sr. Tabira Ramos Dias Ferreira. O tabuleiro do

 Joanico teve um trabalho de conservação iniciado em 1983, sendo

conduzido nos períodos de 1983 a 1988 e de 1996 até hoje. São

realizados trabalhos de proteção com o objetivo de manter o recurso

quelônio e recuperar as populações de tartarugas, tracajás e iaçás do

rio Juruá. Através da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo (criadaem 1996) e de 36 agentes ambientais voluntários são realizados os

trabalhos de conservação.

O tabuleiro do Joanico mede 2.600 m x 200 m. O boiador

acontece da seguinte forma: 2ª quinzena de junho – iaçás;

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tracajás; 1ª quinzena de agosto – tartarugas.

O período de desova vai de julho a setembro (julho-agosto, as iaçás;

agosto-setembro, tracajás e tartarugas). As iaçás põem de quatro a

nove ovos, os tracajás de 20 a 25, podendo chegar a 36 ovos, e as

tartarugas podem colocar de 120 a 230 ovos. Em 2001 forammarcadas 195 covas de tartaruga e 165 de tracajá. No tabuleiro

Renascença, próximo ao Joanico, o agente registrou três covas de

tartaruga e 120 de tracajá. Os principais predadores de ovos são:

  jacuraru, camaleão, urubu, gavião-de-bico-vermelho; os

predadores de filhotes são: urubu, gaivota, jacaré, gavião e peixes

lisos (bagres). A eclosão ocorre de outubro a novembro e os agentes

estimam como período de incubação: 60 dias para a tartaruga e otracajá e 90 dias para as iaçás (informações dos agentes).

2ª quinzena de julho – 

Figura 11: Equipe do tabuleiro do Joanico, Juruá/AM, 2001. Foto: RAN/AM

(Andrade, P.C.M.).

O trabalho no Joanico consistiu em piquetear as covas de

tartaruga e tracajá, coletar filhotes e soltar no rio ou nos lagos. Em

2001, pela primeira vez, foram utilizados oito berçários de 1,5 m x

1,5 m x 1,5 m, de madeira, telado com sombrite. Antes, trabalhava só

um agente de praia, o sr. José de Nascimento Santana. Nos últimos

anos tem trabalhado uma equipe de fiscalização:

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Coordenador/Secretário de Meio Ambiente e Turismo: 1º

Sargento PM Francisco Jesus Barbosa de Souza; Agentes

Ambientais Voluntários: GM Enéas Pereira da Silva; GM Damião

Cavalcante Oliveira; GM José Ilson Gomes da Silva; GM Luís Carlos

Gomes Ribeiro; GM Francisco Roberto Mesquita Cabral; GMFrancisco Deusimar da Silva; GM Antônio Israel de Araújo Filho; GM

Wagner Pedrosa da Silva Júnior; Antônio Maximiniano Mendonça

de Brito (Jabuti), agente de praia do tabuleiro da Renascença/Boca

do Breu.

A fiscalização começa em junho (saída dos quelônios dos

lagos de alimentação) e vai até o final de setembro. É feita em barcosou voadeiras e através de denúncias. Em 1999, a pressão sobre os

quelônios era grande pelos pescadores vindos de Manacapuru para

contrabandear quelônios. A equipe ambiental do Juruá realizou a

maior apreensão de quelônios do Brasil, em todos os tempos. Foram

44.000 animais apreendidos em oito barcos de Manacapuru, no ano

de 1999, sem nenhuma participação do Ibama. Os animais foram

colocados em uma balsa na frente da cidade, para que a populaçãovisse e, então, soltos no rio Juruá. Algumas pessoas choravam na

multidão ao presenciarem a cena com muitos iaçás já mortos.

A.3.1. Tabuleiros de nidificação dos quelônios aquáticos na calha do

rio Juruá

O maior tabuleiro de quelônios é o tabuleiro do Joanico,

localização 3º51'21,0”S; 66º21'59,5”W. É um tradicional tabuleiro

com mais de 30 anos de conservação. No passado era controlado por

seringueiros e o único indicativo para impor certo respeito eram as

bandeiras (bandeira branca indica paz na praia e bandeira vermelha

indica perigo, área com grande concentração de ninhos). No ano de

2003, o tabuleiro tinha 1,7 km de praias com largura de 320m na

calha do rio Juruá.

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Naquele mesmo ano, desovaram 251 tracajás (P. unifilis), 63

tartarugas-da-amazônia (P. expansa), centenas de aves que

encontraram no tabuleiro de Juanico um raro lugar seguro para

fazer seus ninhos, e as incontáveis iaçás (P. sextuberculata) lá

nidificaram. O tabuleiro de Joanico é a grande prova de que a vidaexplode do calor do solo quando não é interrompida pela ganância

humana.

Nos tabuleiros protegidos nos impressionou a abundância de

pássaros nidificando, ocorrendo principalmente gaivota (Phaetusa

simplex e Sterna superciliaris), corta-água (Rynchops nigra),

maçarico (Charadrius collaris e Vanellus cayanus ) e bacurau

(Chordeiles rupestris). As praias protegidas ficam tomadas pelas

aves aquáticas e seus ninhos, provocando grande algazarra à medida

que chegávamos perto, tentando defendê-los, dando rasantes em

nossas cabeças e na dos predadores que ousam se aproximar.

 

Figura 12: Filhotes de trinta-réis (Phaetusa simplex). Fonte: Paulo

Henrique Oliveira.

A.3.2. Pressão de caça e predação

Detectamos algumas dezenas de praias, ao longo do caminho, que

pareciam desertas, inteiramente desabitadas e predadas, vítimas da

intensa predação, como a retirada de ovos das aves aquáticas e dos

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quelônios, arrastões na margem das praias e coleta das fêmeas no

ato da postura. Os iaçás (P. sextuberculata) e tracajás (P. unifilis), que

ocorrem em maior freqüência, são os mais coletados.

A preferência alimentar pelas famílias usuárias da Resex do

Baixo Juruá são, respectivamente: tracajá (Podocnemis unifilis),

tartaruga (Podocnemis expansa), Jabuti-amarelo (Geochelone

denticulata), iaçá (Podocnemis sextuberculata), tartaruga de igapó

(Phrynops raniceps) e matá-matá (Chelus fimbriatus).

Os subprodutos utilizados na medicina tradicional são: 

banha da tartaruga – para confecção de creme para a pele e o cabelo,1rendidura e dor muscular; chá da escama da carapaça do jabuti – 

para tosse, asma e assadura. Se o paciente for homem tem que ser

de jabuti fêmea e vice-versa; chá da escama assada da carapaça do2matá-matá – para assadura; carapaça – capitari , fêmea do tracajá

3e iaçá e zé-prego - é usada como comedouro p/ animais domésticos

e principalmente para remover a massa de mandioca, para o forno,

na casa de farinha.

As espécies mais comercializadas na cidade de Juruá e na

Resex são: tracajá R$ 25-30,00, tartaruga R$ 200,00 ou R$ 4,00 o

quilo, iaçá R$ 5-6,00. Existem muitos regatões na margem do rio

 Juruá navegando em chalanas. Eles transportam os quelônios para

comercializar nas cidades de Juruá, Fonte Boa, Tefé, Manacapuru e

Manaus-AM. Muitos comunitários também levam, há comércio nas

comunidades, mas não é tão intenso quanto na cidade.

¹Rendidura – hérnia escrotal;²Capitari – macho da tartaruga;³Zé-prego – macho do tracajá;

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Figura13: Tracajá (P. unifilis) sendo comercializado na cidade de Juruá.

Fonte: P.H. Oliveira.

É freqüente o encontro com vários barcos peixeiros na calha dorio Juruá, sempre acompanhados por muitas canoas e cheios decaixas de isopor. Nas margens do rio observamos outras váriascaixas de isopor dispostas nos portos das casas. Não há controle dofluxo de embarcações que navegam o rio Juruá. Com trânsito livre, aregião fica vulnerável e grande parte dos recursos da região é

retirada. Alguns exemplos que mostram o grau de predação: no anode 1999, a polícia de Juruá prendeu oito barcos que, juntos,transportavam cerca de 44.000 quelônios e dois meses depois, mais800 indivíduos. Por informações dos comunitários, sabe-se que noano de 2002 passaram 8.000 animais para o município de Alvarães,pelo Igarapé do Breu.

São vários os predadores de quelônios encontrados nostabuleiros do rio Juruá na época da desova dos quelônios.Predadores de ovos: homem, jacuraru ( Tupinambis sp.), mucura(Didelphis marsupialis), gavião-preto (Buteogallus urubitinga),urubu (Coragyps atratus), paquinha (Orthoptera, Gryllotalpidae),macaco-prego (Cebus apella). Predadores de filhotes: bagres emgeral e aruanã (Osteoglossum sp.), piranha (Pygocentrus nattereri),pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), jacaré (Caiman 

crocodylus e Melanosuchus niger), corta-água (Rynchops nigra),

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gaivota (Phaetusa simplex), gavião-preto (Buteogallus urubitinga),urubu (Coragyps atratus ), gato-maracajá (Leopardus wiedii).

Relato da sra. Raimunda – comunidade do Socó: “O tracajáaumentou, mas o iaçá diminuiu, os bichos de casco estãodiminuindo, tartaruga nem se vê falar meu irmãozinho”.

A.3.3. Envolvimento comunitário

Na região do Baixo Juruá, somente quatro praias possuem umhistórico de conservação: Tabuleiros de Joanico, Renascença,Antonina e Botafogo. O sistema de vigilância das praias era feito porrevezamento entre os comunitários (um fica durante o dia todo e ooutro fica à noite). As praias não eram estáveis, todos os anos,devido às correntes do rio e à inundação anual, as praias mudam deforma (altura, largura e, muitas vezes, crateras são criadas ao longoda praia). O sistema de sinalização das praias é herdado dosseringais e tem uma bandeira como um marco indicando que a praiaé protegida. As áreas de uso e de conservação da praia eramdemarcadas na época de reprodução dos quelônios, usando

bandeiras brancas e vermelhas.

As comunidades Botafogo e Antonina têm um histórico demais de 15 anos de proteção dos tabuleiros, que eram saqueados poríndios da etnia Deni e Culina, no trajeto em direção à cidade de  Juruá, para receber benefícos do governo, como aposentadoria.Essa falta de sintonia entre irmãos indígenas e ribeirinhosenfraquecia as ações de conservação dos quelônios aquáticos.

A.3.4 Produção nos tabuleiros

A produção de filhotes no tabuleiro do Joanico cresceubastante de 1998 a 2002, como mostra a Tabela 5.

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 Tabela 5: Estimativa de filhotes nascidos no tabuleiro do Joanico de1998 a 2002.

Ano  Espécie

 

Númerode

ninhos

  Filhotessoltos

 

1998

 

P. expansa

 

76

 

7.618

 

P. unifilis

 

132

 

3.571

 

P. sextuberculata

 

5.210

 

52.101

 

 Total

 

5.418

 

63.290

 

1999

 

P. expansa

 

152

 

18.496

 

P. unifilis

 

157

 

4.782

 

P. sextuberculata 

6.720 

67.204 

 Total

 

7.029

 

90.482

 

2000

 

P. expansa

 

158

 

19.000

 

P. unifilis

 

160

 

4.986

 

P. sextuberculata

 

7.510

 

80.753

 

 Total

 

7828

 

104.739

 

2001

 

P. expansa

 

170

 

21.490

 

P. unifilis

 

170

 

5.200

 

P. sextuberculata

 

8.075

 

80.735

 

 Total

 

8.415

 

107.425

 

2002

 

P. expansa

 

185

 

27.900

 

P. unifilis

 

185

 

6.275

 

P. sextuberculata

 

10.050

 

100.500

 

 Total

 

10.420

 

132.225

 

Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Juruá-AM e RAN-

Ibama/AM, 2003.

O número médio de ovos foi: tartaruga=130 ± 30,8 ovos,

tracajás=29,11 ± 1,25 ovos e iaçás=8,33 ± 2,31 ovos (Andrade,

2001). O comprimento médio dos ovos ficou em torno de 40 mm para

o tracajá, 40,5 para a iaçá e a circunferência do ovo da tartaruga

ficou em torno de 41,5 mm. Quanto à largura: tracajá 28 mm e iaçá

26 mm.

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O peso médio dos ovos de tartaruga ficou em torno de

37,46 g, tracajá 23,30 g, iaçá 22,40 g. Geralmente o ovo do

tracajá é mais pesado que o de iaçá. Essa diferença pode ser

pelo número pequeno de amostras dos ninhos. O número

médio dos ovos nos ninhos fica em torno de 25-30 ovos(tracajá), 70-130 (tartaruga) e 9-12 (iaçá). A taxa de eclosão foi

de 88,56% para Podcnemis expansa , 96,4% para P.unifilis e

92,3% para P. sextuberculata (Andrade, 2001).

No tabuleiro de Renascença foram produzidos, em 2001,

273 filhotes de tartaruga (P. expansa ), 360 de tracajá (P.

unifilis) e 5.441 de iaçá (P. sextuberculata ).

A.3.5 Tabuleiros comunitários da Resex Baixo Juruá:

Botafogo, Antonina e Itaúna

A produção dos tabuleiros, dentro do que viria a ser a

Resex Baixo Juruá, foi estimada, por Andrade (2001), em

130.011 filhotes (1,30% P. expansa , 6,79% P. unifilis, 91,92%P. sextuberculata ). Isso foi equivalente a 65,81% dos filhotes

gerados em áreas protegidas no Baixo Juruá (Joanico e

Renascença produziram 67.520 filhotes). Observou-se um

aumento percentual em relação à participação dos tabuleiros

da Resex na produção total do Baixo Juruá, já que em 1995 o

tabuleiro de Botafogo colaborou com apenas 13,91% do total

produzido (231.902 filhotes de quelônios – 3,4% detartarugas, 5,16% de tracajás, 91,42% de iaçás) sendo o

restante oriundo do Joanico (Andrade, 2001). A Tabela 4

apresenta a produção de filhotes de quelônios em Antonina,

Botafogo e Itaúna, em 2001.

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  Tabuleiro Espécie Nº deNinhos

NºMédiodeovos

Nº Totalde ovos

NºEstimadodefilhotes

Antonina Tartaruga 6 125-133

800 780

(3º23’40”S e66º4’18”W)

   Tracajá 70 34 2380 1200

 Iaçá

 2600

 10-11

 27560 

26000 

Botafogo Tartaruga

 

5

 

120-140  700

 

660

 

(3º20’8”S e65º97’30”W)

   Tracajá 

170 

30 

5100 

3400 

Iaçá

 

9200

 

9-11

 

98924

 

92000

 

Itaúna

 

 Tartaruga

 

2

 

110-142

 284

 

250

 

(3º1’20”S e65º54’24”W)

  Tracajá

 

170

 

26

 

4.420

 

4230

 

Iaçá

 

213

 

10

 

2.130

 

1491

 

 Total

 

12436

 

142394

 

130011

 

Obs. A área total dos tabuleiros é: Botafogo=3.600 m x 280 m, Antonina=

1.770 m x 150 m e Itaúna= 1.240 m x 239 m. Fonte: Andrade (2001).

A Figura 14 e a Tabela 7 mostram a evolução da produção

de quelônios nessas áreas da Resex. Observa-se uma tendência

gradual de aumento para cada ano de proteção, similar à

tendência observada por Andrade et al. (2006) para a Resex do

Médio Juruá e demais calhas de rios do Amazonas, onde ocorre o

trabalho de proteção, o que significa que poderemos utilizar o

modelo proposto para verificar a sustentabilidade das taxas de

extração anual.

87

  Tabela 6: Produção de ninhos e filhotes de quelônios em

Antonina, Botafogo e Itaúna – Resex Baixo Juruá, 2001.

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Produção de ninhos de quelônios em Botafogo

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Ano

     N .     T    r    a    c    a     j     á    s     /     t    a    r     t    a    r    u    g    a    s

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

     N .     I    a    ç     á    s Tartaruga

Tracajá

Iaçá

 

Figura 14: Histórico da produção de ninhos de quelônios no tabuleiro

de Botafogo – Resex Médio Juruá. Fonte: Andrade (2001).

Em função dos trabalhos de proteção dos tabuleiros, os

comunitários conseguiram aumentar a produção em 3,75 vezes

para tartarugas, 4,4 vezes para tracajás e 9,4-17,7 vezes para iaçás,

ou seja, um aumento de 1.648% em 12 anos de proteção (1990-

2002).

A.3.6 Monitoramento de quelônios na Resex Baixo Juruá

Entre 2005 e 2006, o CNPT-Ibama/AM, Ufam e Inpa

realizaram, com recursos do Funbio e Arpa, o monitoramento de

quelônios para avaliar as populações de Podocnemis na Resex do

Baixo Juruá (Figura 15), através da aplicação de 51 questionários,

captura e marcação de indivíduos, em que foram obtidos dados

biométricos , razão sexual e outras informações sobre a

88

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estrutura populacional dessas espécies. Essas informações

subsidiaram o plano de manejo da Resex. O monitoramento

contínuo fornecerá – associado aos dados de produção das áreas

reprodutivas – elementos sobre a dinâmica dessas populações, o

que nos permitirá analisar mais eficientemente os estoques everificar a sustentabilidade de taxas de desfrute anuais de ovos,

filhotes ou animais subadultos. 

  Tabela 7: Histórico da produção de quelônios em praias

protegidas na Resex Baixo Juruá.

Produção nos tabuleiros da Resex

Botafogo Ninhos FilhotesAno Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá

1990 1 25 559 130 500 5.200

1991 2 52 1.075 265 1.040 10.000

1992 3 80 1.613 390 1.600 15.000

1993 4 93 2.151 520 1.860 20.000

1994 4 110 2.688 530 2.200 25.000

1995 4 120 3.175 536 2.400 29.530

1996 5 126 3.468 680 2.520 32.2501997 5 134 4.970 680 2.680 46.220

1998 5 140 5.161 635 2.800 48.000

1999 5 148 5.726 642 2.960 53.250

2000 5 155 7.903 640 3.100 73.500

2001 5 170 9.892 660 3.400 92.000

Antonina Ninhos Filhotes

Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá

1998 2 35 2.400 220 860 24.0001999 3 55 2.752 420 970 27.520

2000 4 65 2.600 662 1.100 26.000

2001 5 70 2.600 780 1.100 26.000

Fonte: Andrade (2001) e Secretaria de Meio Ambiente do Juruá (2002).

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Figura 15: Locais de monitoramento de quelônios na Resex Baixo

 Juruá – 2005/2006.

A.3.6.1 Informações baseadas nos questionários – espécies

de quelônios (habitat, alimentação, reprodução) e sua

utilização

Os comunitários identificaram dez espécies de quelônios

entre os animais mostrados nas pranchas coloridas: Podocnemis

expansa (tartaruga), Podocnemis unifilis (tracajá), Podocnemis

sextuberculata (iaçá), Peltocephalus dumerilianus (cabeçudo),

Rhinoclemmys punctularia ( perema ),

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Platemys platycephala ( jabuti-machado) , Geochelone

denticulata (jabuti-amarelo), Geochelone carbonaria (jabuti-

vermelho), Chelus fimbriatus (matá-matá) e Phrynops raniceps 

(lalá ou tartaruga-de-igapó). Verificou-se que a designação ou

nomenclatura popular é diferenciada de outros locais daAmazônia, pois chamam de perema a Phrynops nasutus, e lalá o

Platemys platycephala, tartaruga-de-igapó é a Phrynops

raniceps.

A alimentação desses animais é muito variada. Segundo

os comunitários, eles alimentam-se de frutos diversos,

inflorescências, sementes, animais em putrefação e algas. Os

alimentos disponíveis nos lagos e matas alagadas são bem

diversificados. Exemplo de frutos de igapó e matas alagadas: 

abiorana, cajurana, caimbé, castanha, apuí, caxingubu, camu-

camu, socoró, marajá, muruxi, caimbé, tamaquari, jauari,

oxirna, bacuri e castanharana; macrófitas aquáticas e

gramíneas: canarana, mururé, mureru, taboca e capim-

membeca.

No Baixo Juruá, segundo os comunitários, os quelônios

alimentam-se de frutos (30,77%), plantas aquáticas (29,59%),

sementes (18,93%), peixes (14,79%) e flores (5,92%). Na Resex

Médio Juruá, segundo Andrade & Nascimento (2005), os

comunitários informaram que os quelônios alimentavam-se

principalmente de flores (21%), frutos (17%), sementes (17%),

insetos (15%) e peixes (13%).

Observou-se que, para os comunitários, a maioria das

espécies vive em rios, lagos, igarapés e cabeceiras (exceção do

  jabuti que vive na floresta). Essa opinião é similar ao Médio

  Juruá, onde, segundo os moradores, 66% dos quelônios

habitariam em lagos, rios e igarapés (Andrade & Nascimento,

2005).

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Verificamos que os valores registrados para o número de

ovos não diferem significativamente dos encontrados por

Andrade (2001) para as principais espécies (tartaruga=130,8

ovos; tracajá=29,11 ovos; e iaçá= 8,33 a 11 ovos). No Médio

 Juruá, Andrade & Nascimento (2005) registraram as seguintesmédias de ovos, por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4

ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matá-

matá=12,5 ovos. Essas médias foram inferiores às encontradas

no Baixo Juruá, principalmente, para os Podocnemis, o que,

provavelmente, resulta da influência maior, nessa região, de

quelônios do rio Solimões, que são animais muito maiores do que

a média dos animais da calha do Juruá (Andrade et al. 1999).

No Baixo Juruá, os quelônios preferidos para consumo são

os tracajás (43%), jabutis (15%), tartarugas e iaçás (12%), e mata-

matá (6%). No Médio Juruá, as espécies preferidas são: tracajá

(31%), tartaruga (26%), jabuti (17%), iaçá (16%). Verificou-se que

nas três regiões da Resex Baixo Juruá o preferido é o tracajá. Em

segundo lugar, dependendo da abundância ou não do recurso nolocal, está a tartaruga. Em locais onde existem poucas

tartarugas, a preferência recai sobre o jabuti. O iaçá, apesar de

ser o mais abundante, não está entre os três preferidos.

Os apetrechos mais utilizados na captura de quelônios são:

a malhadeira (28,79%), o arrastão (18,18%), o jaticá (15,15%) e o

espinhel (9,09%). Andrade & Nascimento (2005) verificaram queos petrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no Médio

 Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).

A Tabela 8 apresenta o preço médio de venda das

principais espécies de quelônios, praticada nas comunidades

dentro da Resex (35%) e na cidade de Juruá (47%).

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Os ovos de tracajá e iaçá são vendidos de R$ 15,00 a R$

20,00 , o cento.

 Tabela 8: Preço médio de venda de quelônios e ovos na Resex

Baixo Juruá.Espécie Tracajá Tartaruga Tartaruga Iaçá Jabuti

(R$) unidade unidade (kg) unidade unidade

Média 34,06 123,33 4,29 3,88 15,00

DP 8,41 66,53 0,70 1,32 3,54

Máximo 50,00 200,00 5,00 5,00 20,00

Mínimo 15,00 20,00 3,00 1,50 10,00 

Observou-se que, assim como a carne de mamíferos e aves

silvestres, os preços de quelônios no Baixo Juruá são relativamentemais caros quando comparados aos de outras regiões. No Médio Juruá,

o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ± 40,8, o iaçá R$

3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3 (Andrade & Nascimento, 2005). 

Na Resex Baixo Juruá, 41,4% usam a banha de quelônios

como remédio e 48,3% usam o casco como pegador ou bacia, para

descansar a massa da farinha. Foi relatado que o casco do jabutitorrado, diluído em água e tomado em jejum pela manhã,

combate a hemorróida. A banha da tartaruga é usada para

bronquite. No Médio Juruá essa utilização como remédio cai para

apenas 28% (Andrade & Nascimento, 2005).

A.3.6.2 Parâmetros de estrutura populacional de quelônios

na Resex Baixo Juruá

Na primeira excursão, no final da seca, foram capturados

115 indivíduos, dos quais: 26 eram tracajás (Podocnemis unifilis),

12 fêmeas e 14 machos; 84 iaçás (Podocnemis sextuberculata), 59

machos e 22 fêmeas e 3 indeterminados; 4 tartarugas (Podocnemis

expansa), 3 machos e 1 fêmea; e 1 Phrynops raniceps. Também

foram medidos 77 filhotes recém-eclodidos de tracajás e 4 filhotes

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de tartaruga, de um mês, mantidos em cativeiro no igarapé do

Breu. O esforço de captura foi estimado em 0,5 quelônio/hora-

homem (76 horas, 3 pescadores, 3 redes). Na segunda excursão

foram capturados 67 iaçás (Podocnemis sextuberculata), uma P.

expansa, 1 P. unifilis e 2 Phrynops nasutus.

Na seca, 89,3% dos animais foram capturados à noite. Do

total de animais capturados, 68,5% eram machos. Quanto ao

local de captura, 67,5% foram capturados em enseadas, ressacas

ou remansos, em frente às praias de desova. Quanto à espécie, a

maior parte dos iaçás foi capturada à tarde (39%) ou à noite (49%),

sendo que 73% eram machos. Destes, 84% estavam em enseadas

ou ressacas na frente das praias, sendo que nesses ambientes,

58,3% foram machos. Na Tabela 9, apresentamos os dados

biométricos, razão sexual e média de idade dos animais

capturados e, na Figura 16 apresentamos as diferentes espécies

capturadas.

 Tabela 9: Parâmetros biométricos, idade e razão sexual de

quelônios capturados no final da vazante, na Resex Baixo Juruá.

Parâmetro Tartaruga(P.expan-

sa)

 Tracajá(P. unifilis)

Iaçá (P.sextuber_ 

culata)

Phrynopsraniceps

Número deanimais

4 26 84 1

Comprimentoda carapaça(cm)

34,7±8,9 22,2±5,1 17,3±3,7 27,5

Peso (kg) 4,1±2,8 2,2±1,5 0,61±0,3 2,45Idade (anos) 8 6,7±2,2 3,6±0,8 -Razão sexual 75%

Machos53,8%machos

72,8%machos

1 fêmea

Esses valores são similares aos encontrados por Andradeet al. (2006) para quelônios capturados no início e no final da

vazante, na Resex Médio Juruá, para comprimento de

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carapaça (tartarugas= 21,0-29,59 cm; tracajás=21,27-5,96 cm;

iaçás=17,2-8,71cm) , peso ( tar tarugas=1,65-4,3 kg ;

t raca jás=2,01-2,41 kg ; iaçás=0,61-0,64 kg ) , idade

(tartarugas=3,68-6,7 anos; tracajás=2,6-6,25 anos; iaçás=2,91-5

anos) e razão sexual (tartarugas=18,2% machos; tracajás=90,9%machos; iaçás=56,67% machos).

Figura 16: Quelônios capturados na Resex Baixo Juruá: a) Podocnemis

unifilis; b) Phrynops raniceps; c) Podocnemis sextuberculata; d) Podocnemis

expansa. Fonte: Vinicius T. Carvalho.

Os filhotes de tracajás, recém-eclodidos, apresentaram

média de comprimento da carapaça igual a 4,29 ± 0,26 cm, sendo

o peso médio de 15,18 ± 3,53 g. Filhotes de tartaruga encontrados

em cativeiro no igarapé do Breu apresentaram 5,65 ± 0,06 cm de

comprimento da carapaça e 31 ± 0,82 g de peso. No Médio Juruá,

Andrade & Nascimento ( 2005 ) encontraram filhotes de

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tracajás com comprimento de carapaça igual a 5,4 ± 0,38 cm e peso

de 28,25 ± 5,6 g. Andrade et al. (2006) verificaram que no Médio

 Juruá filhotes de tartaruga tinham comprimento de carapaça igual a

4,9 cm e peso médio de 22 g.

Na cheia, capturamos um espécime de Phrynops nasutus 

infestado por mais de 200 sanguessugas no igapó do Socó, em águas

pretas. Andrade & Alves (2006) e Andrade & Rodrigues (2005) já

haviam relatado a infestação por sanguessugas em Podocnemis

unifilis e P. erythrocephala quando confinados em gaiolas ou

tanques-rede em ambientes rasos de água preta. A Figura 17

apresenta o Phrynops nasutus infestado.

 

Figura 17:  Phrynops nasutus infestado por sanguessugas e

capturado no igapó do Socó, Resex Baixo Juruá, maio de 2006.

Fonte: Ermelinda Oliveira.

O levantamento da estrutura e dinâmica das populações de

quelônios das Resex do Médio e Baixo Juruá, através do projeto

com a Ufam, permitiu a criação de modelos que analisam as

possibilidades de manejo do recurso, apresentados no final deste

capítulo.

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B) RIO PURUS

B.1) BAIXO PURUS: TABULEIROS DA RESERVA BIOLÓGICA

DE ABUFARI, PRAIA DO BANANAL NA COMUNIDADE DA

ENSEADA, PIRANHAS E OUTROS EM TAPAUÁ/AM

O tabuleiro do Abufari, na boca do igarapé de mesmo

nome, situado em área de Reserva Biológica, é monitorado desde

1976 pelo então IBDF, sendo seu controle sistemático iniciado a

partir de 1985. Através do Diagnóstico da Criação de Animais

Silvestres no Estado do Amazonas, o Ibama-AM, com apoio do

PTU/CNPq e parceria da Universidade Federal do Amazonas

(Figura 18) vêm realizando, desde 1998, diversas pesquisas

naquela área, monitorando não só a produção dos filhotes, mas,

também, o deslocamento dos adultos, as predações natural e

humana, índice fisiológico-bioquímico, parâmetros genéticos,

parasitológicos e populacionais do grupo de quelônios que

desova no tabuleiro. A sistematização das informações pela

Ufam, bem como um acompanhamento técnico maisespecializado, tem fornecido ao RAN melhores indicadores sobre

a situação daquele tabuleiro. No Capítulo 3, apresentamos

maiores informações sobre essa que é a maior praia de

reprodução de quelônios do Amazonas.

PROJETO FNMA “MANEJO SUSTENTÁVEL DE QUELÔNIOS

DA AMAZÔNIA”

Em 2001, através do projeto “Manejo Sustentável de

Quelônios da Amazônia”, aprovado pelo Fundo Nacional do Meio

Ambiente (FNMA), o Cenaqua/RAN disponibilizou recursos para

que trabalhássemos outras comunidades na calha do rio Purus.

Para a gestão do RAN-AM, foi estabelecida a comunidade

Piranhas, em Tapauá.

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Figura 18: Tabuleiro do Abufari, Equipe da Ufam, 1998. Foto:

Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).

Em julho daquele ano iniciamos os trabalhos em Tapauá

participando da primeira excursão o engenheiro-agrônomo Pedro

Macedo (RAN-AM), a bióloga Maria Gorete e a socióloga Sarah

(RAN Central). Nessa viagem foram feitas várias reuniões de

prospecção nas comunidades Enseada, Piranhas, Bem-te-vi,

Fazenda e Pupunhas. Ficou acertado então que a comunidadeEnseada trabalharia na proteção da praia do Bananal, com os

agentes Daniel, Noel, Isaquiel e Oziel. A comunidade Piranhas

também aceitou realizar os trabalhos. Na praia do Bananal, os

trabalhos de fiscalização e monitoramento de quelônios foram

realizados contando com o treinamento e o apoio por parte da

Rebio Abufari. Em 2002 e 2003, por falta de recursos, o trabalho

naquelas praias foi abandonado.

B.2) MÉDIO PURUS:  TABULEIROS DA RESERVA MUNICIPAL 

DO JAMANDUÁ, AXIOMA, NAZARÉ, CURUZU E PORTO ALEGRE,

EM CANUTAMA/AM

Os tabuleiros Curuzu, Nazaré, Axioma, Santa Bárbara

e Santa Cora, no trecho do barrento e enovelado

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Purus, que vai de Tapauá a Lábrea, passando por Canutama, têmrecebido proteção desde 1984, pelo IBDF/Ibama-AM, tornando-se áreas conhecidas pela produção de quelônios. Naquelas áreasde antigos seringais, alguns herdeiros de seringalistas, como a

sra. Sebastiana Paixão Menezes, a sra. Dulce Bezerra Menezes(Praia do Nazaré) e o sr. Damião Santos (Praia do Curuzu, PortoAlegre e Aramiã), preocuparam-se em, anualmente, solicitarautorizações para protegerem suas praias, o que tem sido feitoregularmente, sem acarretar gastos para o Ibama. Todavia, semuma presença mais efetiva do órgão federal de fiscalização econtrole ambiental, desde 1996, a situação tornou-se crítica.

O abandono daqueles tabuleiros de Canutama levou a

prefeitura (Prefeito Raimundo Amorim) a criar reservasmunicipais de quelônios, em Jamanduá e em Axioma. No  Jamanduá, a prefeitura mantém um flutuante e paga quatroagentes de praia através da sua Secretaria de Meio Ambiente e

 Turismo. Em Axioma, em 2000 e 2001, uma parceria com o Poder Judiciário permitiu que um rancho mensal e bandeiras fossemdestinados para o trabalho de praia. A prefeitura arcava com osalário de um agente.

Figura 19: Equipe da Reserva Municipal do Jamanduá, Canutama/AM. Foto:RAN/AM (Costa, P.M.).

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Figura 20: Base do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa,P.M.).

Figura 21: Placa do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM

(Costa, P.M.).

Em 2001, com a predisposição do RAN-AM em aumentar

o número de populações de quelônios protegidas no Amazonas,

100

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foram retomados os trabalhos em Canutama nas áreas do

 Jamanduá, Axioma, Nazaré, Curuzu e Porto Alegre.

Figura 22: Ninho de tartaruga (P. expansa), Praia do Curuzu,Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.).

O Jamanduá é um tabuleiro que fica a 40 minutos, de botecom motor de popa 40HP, da sede do município e mede 1.500 m x300 m. Seu monitoramento pela prefeitura começou em 1998quando foram registrados 11 ninhos de tartaruga e 7 de tracajá.

Em 1999, foram 56 ninhos de tartaruga e 27 de tracajá e, em2000, 117 tartarugas e 100 tracajás desovaram naquela praia, oque demonstra mais uma vez que, se existe uma população boa dequelônios, na região, eles rapidamente ocupam o espaço, propíciopelas áreas conservadas, tornando os resultados altamentepositivos em curto espaço de tempo. A administração municipaldo sr. Raimundo Amorim, com apoio do sr. Antônio Apolinário, daFunasa, possibilitaram o monitoramento do RAN-AM a partir de

2001. No tabuleiro Nazaré, que mede 800 m x 250 m, o apoio foidado pela sra. Dulce Paixão.

B.3) ALTO PURUS

Os tabuleiros a partir de Lábrea/AM, no rio Purus, sãomonitorados pela equipe do RAN/AC, em função da maior

proximidade daquelas áreas com a Gerex do Acre.

101

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Mesmo assim, enviamos técnico do RAN-AM e do Esreg, de Bocado Acre e Lábrea, para acompanharem, em 2001, os trabalhos deexecução do projeto FNMA, nas comunidades do rio Purus, noAmazonas.

Figura 23: Reunião com comunidades em Lábrea, Projeto

Quelônios, FNMA. Foto: RAN.

C) RIO MADEIRA

C.1) PRAIA DO NAZARÉ – MANICORÉ/AM

A praia do Nazaré está situada próxima à cidade de

Manicoré, no leito do rio Madeira. Essa praia servia de porto para

comunitários que trabalham grandes roçados na várzea. Todavia, diversos quelônios dela se utilizam durante o período

reprodutivo. Através das informações do CNPT/AM fomos

orientados sobre a possibilidade de realizarmos o trabalho de

conservação de quelônios naquela praia, com o apoio do Esreg do

Ibama local. A Tabela 10 apresenta a evolução dos trabalhos de

conservação de quelônios naquela praia.

102

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2001  2002  2003 Espécies 

Ninhos  Filhotes  Ninhos  Ovos  Filhotes  Ninhos  Ovos  Filhotes 

Iaçá  140  681  1.252  18.200  17.565  1.338  21.595  18.516 

 Tracajá 

25 

103 

71 

1.980 

1.620 

71 

2.206 

1.737 

 Tartaruga 

359 

866 

636 

15 

1.604 

1.158 

 Total 

171 

1.143 

1.332 

23.076 

19.821 

1.424 

25.405 

21.411 

  Tabela 10: Histórico de produção de quelônios no Tabuleiro doNazaré/Manicoré. Fonte: Esreg/Ibama Manicoré (2003).

A desova do iaçá inicia em junho e estende-se até setembro,

com o pico de desova em agosto (1.000 ninhos). Os tracajás desovam

de julho a setembro, com pico em agosto. Tartarugas desovam de

agosto a outubro, com o pico de desova em setembro.

Figura 24: Praia do Nazaré, Manicoré. Foto: Esreg/Ibama,

Manicoré/AM.

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C.2.) RIO MATUPIRI (afluente) – BORBA/AM: TABULEIROS DO

IGARAPÉ DO BOTO, IGARAPÉ DO MURUTINGA, IGAPÓ AÇU.

O rio Matupiri faz parte da bacia do rio Madeira, com águas

escuras e margens cobertas de folhiço, em um tipo de solo

encharcado onde a areia é coberta por uma espessa liteira e a

vegetação se assemelha à campinarana. Nesse ecossistema

diferenciado dos tradicionais tabuleiros de desova, com praias de

areia ou barrancos de várzea, tracajás (Podocnemis unifilis) e,

principalmente, irapucas (P. erythrocephala) desovam no meio do

folhiço úmido, como as muçuãs (Knosternon scorpioides) que

desovam no mangue.

As características diferentes desse sítio reprodutivo de

quelônios foram estudadas pelo RAN/AM naquela área,

monitorando-as e obtendo informações mais precisas sobre a

reprodução de tracajás e irapucas no rio Matupiri. Foram realizadas

três excursões para Borba, em 2001, com a produção de 31.041

filhotes de irapuca e 294 filhotes de tracajás monitorados. Por faltade recursos, não houve continuidade nos trabalhos nos anos de

2002 e 2003.

Figura 25: Área de desova do rio Matupiri, Borba/AM. Foto: RAN/AM

(A.Vicente).

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D) RIO NEGRO

As praias do rio Negro, historicamente, abastecem acidade de Manaus com quelônios e seus ovos, seja para a

culinária ou, em tempos idos, até para a iluminação pública.Durante os séculos XVIII e XIX, milhões de animais foramcapturados no rio Negro e abatidos em Manaus. Essa enormepressão levou a uma drástica diminuição dos estoques daspopulações naturais. Hoje, no Médio e Baixo rio Negro, poucassão as áreas de desova da tartaruga, que se refugiou nostabuleiros do rio Branco, tais como o de Sororoca, Toró eMussum.

Na tentativa de resgatar os tabuleiros do rio Negro, oRAN/AM em parceria com os alunos e pesquisadores da Ufam,Daniely Félix, Juarez Pezzuti e Jackson Pantoja, iniciaram ostrabalhos de proteção nas praias da Velha e da Dulumina, em2001. Foram produzidos 4.353 filhotes de quelônios (12% detartarugas, 28,9% de tracajás, 15% de iaçás e 43,1% de

irapucas).D.1) PRAIA DA VELHA – PARNA JAÚ – NOVO AIRÃO/AM

É uma praia situada próxima à base do Parque Nacional do Jaú, em Novo Airão. Essa praia de areia branca e fina abriga ossítios reprodutivos de gaivotas, corta-águas, iaçás, tartarugas,irapucas e tracajás. Com recursos do RAN/AM, os técnicos da

Ufam contrataram dois agentes de praia na comunidade maispróxima porque a praia já está bastante depredada, visto que,além dos comunitários que tiram ovos e animais adultos, ela éalvo de barcos de recreio ou de particulares que alcançamfacilmente suas margens, já que ela fica em área de tráfego fluvial(canal navegável do rio), sendo rota obrigatória dos barcos quesobem o rio Negro. Em 2000, foi registrado um ninho de tartarugana praia da Velha.

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Em 2001, com o trabalho dos agentes, não houve predação

humana, entretanto, lotes de queixadas (  Tayassu pecarie)

atravessaram a área diversas vezes e destruíram alguns ninhos,

duas tartarugas fizeram ninho. Os ninhos foram transferidos

para a ilha do Cauixi, mais próxima da base do parque, o quepermitiu um melhor controle, sendo, posteriormente, os filhotes

alocados em berçários na mesma ilha.

Figura 26: Placa da Praia da Velha, Parna Jaú, Novo Airão/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix eJ. Pezzuti).

Em 2002, 10 tartarugas desovaram em Cauixi. A produção em

2003, foi de 171 ninhos de iaçá e 13 de tartaruga, com produção de

1.189 iaçás, 36 tracajás, 9 irapucas e 656 tartarugas, o que

demonstra, como comentamos anteriormente, a rápida recuperaçãodos tabuleiros por meio de trabalhos efetivos de conservação. A

partir de 2003, foram protegidas outras praias no parque, como

Maquipana, do Boi, Traíra e dos Pretos, o que permitiu a proteção de

16 ninhos de tartaruga. Em 2004, 18 ninhos de tartaruga e 85 de

iaçás foram protegidos. Desde 2002 esses trabalhos vêm sendo

realizados pelos analistas do Parque Nacional do Jaú, como o

médico-veterinário Marcelo Bresolin.

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Figura 27: Praia da Dulumina, Barcelos/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e J.

Pezzuti).

Em 2006, os trabalhos em Barcelos foram retomados pela Ufam.

O acadêmico de engenharia de pesca, Radson Rógerton Alves,começou a desenvolver com a Secretaria de Meio Ambiente o

Programa Pé-de-Pincha com as comunidades de Ponta da Terra,

Campina do Quatro, Campina do Careca, Campina do Cairara e

Praia da Alegria. Foram transferidos 32 ninhos de tracajá e 50 de

irapuca, em um total de 1.200 ovos, dos quais 408 filhotes nasceram

e foram devolvidos à natureza.Em 2007, nasceram 1200 irapucas.

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Figura 27.a: Transferência de ninhos na Campina do Careca- Barcelos.

Foto: Radson Alves.2006.

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E) RIO UATUMÃ

 TABULEIROS DO ABACATE E REGIÃO DO JARAUACÁ, EM

PRESIDENTE FIGUEIREDO E SÃO SEBASTIÃO DO UATUMÃ/AM.

O tabuleiro do Abacate já foi monitorado, pelo então IBDF,desde 1986, todavia, foi abandonado pelo Ibama a partir de 1996. A

Manaus Energia, através dos trabalhos do Centro de Preservação e

Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA), na UHE de Balbina, tem

trabalhado na conservação e no monitoramento de quelônios a

montante e a jusante da barragem da hidrelétrica. Com o apoio do

RAN/AM (combustível, pagamento de agentes de praia, ranchos,

etc.) a bióloga Sandra do Nascimento treinou agentes de praia emonitorou sítios reprodutivos de quelônios no igarapé do Jarauacá,

tabuleiro do Abacate e áreas de postura, dentro da Reserva Biológica

do Uatumã.

 Figura 28: Praia artificial da UHE Balbina, Presidente Figueiredo/AM.

Foto: CPPQA/Rebio Uatumã.

Em 2003, conforme informação do CPPQA, foram soltos naquele rio

2.048 filhotes de P. unifilis e 1.421 de Podocnemis expansa,

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20 de P. sextuberculata e 22 de P. erythrocephala, no Lago do Maracanã,nas praias artificiais de Balbina e no igarapé do Jarauacá.

Figura 29: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto:RAN/NA (J.A.M. Duarte).

Figura 30: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto:RAN/NA (J.A.M. Duarte).

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Figura 31: Mapa das Áreas de reprodução de quelônios na RebioUatumã. Foto: Rebio Uatumã/Ibama-AM.

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F) RIO AMAZONAS

MÉDIO AMAZONAS – TABULEIRO DE VILA NOVA, EM

PARINTINS/AM

O tabuleiro de Vila Nova é uma grande área de desova de

quelônios formada pela junção de praias de ilhas situadas no meio

do leito do rio Amazonas. Essas praias, juntas, possuem mais de 8

km de extensão e 1.500 m de largura. Durante o período da vazante

elas eram invadidas por pescadores e barcos de passeio de Parintins,

Urucurituba e até de Itacoatiara, em busca dos ninhos de iaçás que,

naquela região, são animais de porte bastante avantajado se

comparados aos do Purus e Juruá.

Figura 32: Rastro de tartaruga (P. expansa) no Tabuleiro de Vila Nova,

Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F. Clóvis).A comunidade de Vila Nova realizava na década de 1940 até

1960 a conservação da área, inclusive com marcação e manejo de

ninhos, manutenção de filhotes em berçários e festas de soltura. Com

o aumento da pressão da pesca e a coleta predatória sobre aquela

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população de quelônios, a comunidade deixou de fazer o

trabalho. Todavia, eles procuravam o posto do Ibama, em

Parintins desde 1998, em busca de auxílio para reiniciar a

proteção do tabuleiro e para fiscalizar a área. Em 2000, com a

chegada do Projeto Pé-de-Pincha em Parintins, o Ibama e a Ufamcomeçaram a buscar parceiros para realizar os trabalhos de

conservação em Vila Nova e adjacências.

Figura 33: Placa de alerta do tabuleiro de Vila Nova,

Parintins/AM.Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F.Clóvis).

O RAN/AM começou então a enviar equipes de fiscalização

a partir de abril de 2001. Em maio foi realizada reunião com as

lideranças comunitárias de Vila Nova e marcado o início dos

trabalhos para julho (treinamento de pessoal e monitoramentode praia). Além das comunidades de Vila Nova, Ilha das Onças e

Guaribas, o trabalho conta com o apoio do sr. Dodó Carvalho,

empresário local e proprietário de parte da área.

O RAN/AM colocou 5 placas de 4 m x 2 m – que avisam

do tabuleiro e proíbem a pesca e caça no local – e

enviou fiscais e técnicos com o apoio da equipe de

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professores e alunos do Projeto Pé-de-Pincha (Ufam), para realizar o

trabalho de proteção da área.A equipe de fiscalização foi constituída pelos srs. Salvador

Leal, José Ribeiro e Jailson Souza, os técnicos do Nufas/RAN, Paulo

Henrique Oliveira, Pedro Macedo e Lauri Corso, e o técnico da Ufam,Francisco Clóvis. A Ufam cedeu seu bote de alumínio e o sr. Dodó

Carvalho cedeu um motor de popa de 15 HP e a casa da fazenda

como base. A produção em 2003 foi estimada em 11.088 filhotes,

sendo monitorada a soltura de 6.317 filhotes de ninhos transferidos

que foram mantidos em berçário.

 Tabela 11: Produção de ninhos transferidos de quelônios no

tabuleiro de Vila Nova – Parintins.

Ano/ninho Pit iú Tracajás Tartarugas

2001 108 15 12

2002 120 16 12

2003 276 79 12

2004 186 13 13

2005 47 19 24

2006 217 54 35Ano/ovos

2001 3.363 467 379

2002 3.615 502 944

2003 5.041 313 1.433

2004 3.120 438 1.116

2005 950 624 2.570

2006 3.472 1.134 3.850

Ano/filhotes2001 3.610 160 750

2002 3.143 477 900

2003 4.536 281 1.289

2004 4.232 569 1.516

2005 1.990 411 1.667

2006 3.980 484 2.576

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G) PROGRAMA “PÉ-DE-PINCHA” – MANEJO PARTICIPATIVO DE

QUELÔNIOS EM BARREIRINHA, PARINTINS E NHAMUNDÁ/AM

E TERRA SANTA, ORIXIMINÁ e JURUTI/PA (Zona Fisiográfica

Médio-Baixo Amazonas)

O “Pé-de-Pincha” vem sendo desenvolvido como Programa de

Extensão e Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam),

desde 1999, estimulando a conservação de quelônios através de seu

manejo participativo. Tendo como espécie focal o tracajá

(Podocnemis unifilis), recebeu o apelido de “pé-de-pincha”, devido às

pegadas desse animal na areia, que se parece com tampinhas de

refrigerante. Ufam e Ibama vêm trabalhando em 78 comunidades doMédio Amazonas, nos municípios de Nhamundá, Parintins e

Barreirinha/AM e Terra Santa, Juruti, Faro e Oriximiná /PA. O

programa visa o manejo racional e sustentável de quelônios, pelas

próprias comunidades.

Figura 34: Rastro de tracajá (P. unifilis), pé-de-pincha no lago do Piraruacá, Terra Santa/PA.Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

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Figura 35: Equipe de campo (comunitários e universitários), lago do

Macurani, Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.G.).

Diversas comunidades rurais do Médio-Baixo Amazonas

que produziam juta, cacau, farinha, hortaliças, etc.,

abandonaram a agricultura, dedicando-se, principalmente, à

pecuária extensiva, à pesca e ao extrativismo, aumentando a

pressão sobre a fauna silvestre. Devido à caça predatória e à

coleta de ovos, as populações de quelônios vêm desaparecendo

desses municípios. Animais adultos e ovos são consumidos ou

vendidos para Manaus, Parintins e Santarém. Algumas áreas,

entretanto, foram protegidas pelos comunitários e por

associações, como o Granav (Grupo Ambientalista Natureza

Viva) e Asase-3, em Parintins, a Ascon/Acplasa/ARQMO, no

Lago do Sapucuá/Oriximiná, e ATAAV, em Terra Santa, com o

objetivo de conservar esse recurso natural.

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Figura 36:Agente Ambiental retira filhotes de quelônios de berçário, para soltura, Aliança, Lagodo Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

Em 1999, o sr. Manuelino Bentes “Mocinho Lobo” e

comunitários de Terra Santa/PA procuraram a Universidade

Federal do Amazonas (Ufam) para obter informações sobre

conservação de quelônios. A Ufam reuniu-se com os produtores, o

Ibama e as prefeituras locais para a criação do projeto “Pé-de-

Pincha”. Inicialmente, foram trabalhadas áreas de Terra Santa e

Nhamundá. Em 2000 e 2001, o projeto foi ampliado para

Oriximiná/PA, Parintins/AM e Barreirinha/AM. E em 2004, para

  Juruti, Boa Vista do Ramos e Faro. O plano inicial de ação foi

definido em maio de 1999, no I Seminário Sobre Manejo Sustentável

de Tracajás (255 participantes) em Terra Santa (Andrade et al.,

2005).

Foram capacitados 385 professores das escolas

municipais em educação ambiental; realizadas palestras nas

escolas e comunidades para mais de 67.606 ouvintes; treinados

49 agentes ambientais voluntários; realização de cursos de

alternativas para geração de renda (tecnologia do pescado, criação

caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias,

manejo de quelônios, etc.) para mais de 1.021 pessoas; e foram

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instaladas mais de 20 unidades de criação comunitária com 9.339

quelônios (2003-2006) e implantação de aviário comunitário (1).

  Treinamento de campo para 86 professores, 684 alunos e 238

comunitários, visita à campo para 660 participantes; três oficinas

com idosos, 61 participantes; sete gincanas ecológico-culturais;divulgação nas rádios, jornais e televisões; com a participação de

850 famílias, envolvimento de 3.455 pessoas e abrangência de

23.400 pessoas nas comunidades e sede.

Desde 2004 o programa conta com o apoio do ProVárzea-

Ibama e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).

Figura 37: Ninhos de quelônios protegidos em Aliança, Lago do Piraruacá, Terra Santa/PA.Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

Na região foram identificadas 13 espécies de quelônios:

tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá (P. unifilis), iaçá (P.

sextuberculata ), irapuca (P.erythrocephala ) , cabeçudo

(Peltocephalus dumerilianus ) , perema (Rhinoclemmyspunctularia ), lalá (Phrynops nasutus), muçuã (Kinosternon

scorpioides), jabuti (Geochelone denticulata e G. carbonaria),

matá-matá (Chelus fimbriatus), jabuti-machado (Platemys

platycephala) e Phrynops spp. De 1999 a 2006, o programa

devolveu à natureza 629.183 filhotes de quelônios (74,4%

tracajás; 7,6% tartarugas; 10,9% iaçás; e 7,1% irapucas),

provenientes de ninhos manejados,

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com taxa de eclosão média de 81,97 ± 7,76% contra 54,51 ± 16,27%

de ninhos naturais. Os ninhos de tracajá possuíam 22,23 ± 4,93

ovos e as de iaçá 16,95 ± 3,53 ovos. A temperatura média nos locais

de transplante foi igual a 32,55º ± 3,17 º C. Os tracajás nasceram

pesando 14,89 ± 1,38 g, iaçás 14,26 ± 1,83 g, tartarugas 22,52 ±1,43g e irapucas, 11,21 ± 2,57 g.

Figura 38: Eclosão em ninho de tracajá (P. unifilis), igarapé dosCurrais, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

Figura 39: Técnico do RAN-AM e universitário coletam dados deninhos de quelônios, lago do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-

Pincha (Andrade, P.C.M.).

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Através do programa Jovem Cientista, da Fapeam, Oliveira

et al. (2006) registraram que os ribeirinhos observaram, no

Médio Amazonas, que os quelônios alimentavam-se de peixes

(23%), frutos (22%) e plantas (20%), ocupando maior diversidade

de habitats do que no rio Juruá, com uma predominância de15,1% nos rios, 11,9% nos lagos e 11,5% nas florestas. Devido à

disponibilidade, os quelônios mais consumidos são os tracajás

(55%), jabutis (21%) e cabeçudos (10%), embora a preferência

seja pelo tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti (17%) e iaçá

(16%). Com uma maior diversidade de ambientes de captura,

como a captura em igapós, várzea baixa e capinzal, são

utilizados como apetrechos a malhadeira (27%), o espinhel

(17%) e o arpão (16%). Nessa região, apenas 47,73% dos

ribeirinhos afirmam comercializar esses animais, enquanto que

no Juruá, esse número pode atingir de 64-99%. O preço médio é

de R$ 20,17/tracajá e R$ 83,48/tartaruga, sendo que, além do

consumo de carne e ovos, os quelônios são utilizados como

remédio (banha, 36,99%) e artesanato (27,05%).

Desde 2004, entre os filhotes soltos foram marcados

28.303 animais com sistema de picos na carapaça (10% com

microchips) para monitoramento através de recaptura (CMR) e

estimativa da taxa de sobrevivência e crescimento. Dos filhotes

manejados, marcados e soltos, recapturamos 1,53% e estimou-

se em 5,74% a sobrevivência total até 12 meses. O maior índice

de recaptura foi o do tracajá, com 6,19%. A sobrevivência médiade tracajás na natureza, até 12 meses de idade, foi estimada em

17,76 ± 10,23%. A sobrevivência de P. erythrocephala foi

estimada em 12,5%. O recrutamento anual médio de fêmeas nas

áreas de reprodução aumentou 37,11 ± 55,83%.

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Figura 40: Marcação de filhotes de tracajás, com microchips,por jovens cientistas – Fapeam, em Barreirinha-AM. Fonte: Jane – ProVárzea. 2007

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Figura 41: Comunitários da Granja, Barreirinha-AM, soltando os filhotes de

quelônios resultado de seu trabalho. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (P.H.G.

Oliveira).

O custo médio do filhote, produzido nesse sistema de manejo

comunitário, é de R$ 0,71 ± 0,06. A rentabilidade para osinvestimentos em conservação de quelônios foi estimada em

120,21%, em conscientização ambiental foi de 165,76% e em criação

de quelônios de 183,44%. Através desse programa de conservação

de recursos naturais e extensão, a Ufam tem conscientizado as

comunidades do Médio-Baixo Amazonas para o manejo racional de

quelônios, utilizando a metodologia de pesquisa participativa ou

pesquisa-ação. Os resultados alcançados mostram, a princípio, queabordar a questão ambiental com a parceria da comunidade tem um

grande impacto na redução do problema, pela valorização do meio

ambiente, o que resultou em ações concretas para a melhoria da

qualidade de vida.

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Figura 42: As diversas faces do Pé-de-Pincha. Educação Ambiental através defantoches e da dança com a Escola de Educação Especial de Terra Santa. Foto:

Projeto Pé-de-Pincha (2004-2005).

Hoje, em seu oitavo ano, o programa tem sido procurado por

inúmeras comunidades de diferentes municípios do estado do

Amazonas e do oeste do Pará, solicitando que seja implantado

também em suas áreas. Na busca de atender a esse anseio, o Ibama

e a universidade pretendem, através de novas parcerias,

redimensionar esse projeto e somar esforços a fim de treinar o

pessoal técnico e das comunidades (cursos teóricos e de campo,

cartilhas, implantação de unidades demonstrativas, etc.) em toda a

Amazônia. Dessa forma, vislumbramos que as instituições possam

interagir com as comunidades e que com o seu conhecimento

empírico somado ao domínio das técnicas, sejam capazes de, em um

futuro bem próximo, manejar sozinhos e racionalmente seus

recursos faunísticos, garantindo a sobrevivência das espécies e o

sustento do homem ribeirinho.

2.3. Modelos de crescimento populacional de quelônios, análise

da sustentabilidade e propostas de manejo racional

122

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Andrade et al. (2006), tabularam e analisaram os dados de 23

anos do Programa de Conservação de Quelônios em diferentes

praias de reprodução no Amazonas (rios: Purus, Juruá, Negro,

Solimões, Uatumã e Médio Amazonas), em especial nas do Médio e

Baixo rio Juruá, verificando a regressão existente entre o tempo deproteção e a produção de filhotes de cada praia. A análise da série

temporal do rio Juruá revelou que existe regressão entre as variáveis

ana l i sadas ( r egressão l inear= P<0 ,018; r egressão

quadrática=P<0,072). O melhor modelo de ajuste encontrado foi a2regressão quadrática: P= - 108391+37439,3. t – 778,616. t , com

R2=38%. Na Figura 43, apresentamos o ajuste dos pontos e a curva

quadrática para a série temporal de produção no rio Juruá.

0 10 20

0

200000

400000

600000

800000

C11

     C     1     0

C10 = -108391 + 37439,3 C11

- 778,616 C11**2

S = 174695 R-Sq = 38,0 % R-Sq(adj) = 26,7 %

Regression Plot

Figura 43: Regressão entre o tempo de proteção de um tabuleiro e a

produção estimada de filhotes de quelônios no rio Juruá.

Andrade et al. (2006) estimaram, ainda, o melhor modelo de curva

para explicar o crescimento populacional de quelônios, em áreas-0,8313.tprotegidas, como sendo o de Von Bertallanfy, Yt= 187.014 (1- e ),

sendo o crescimento populacional máximo (k) estimado

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em 207.889 animais (tartarugas, tracajás e iaçás), com taxa de

crescimento anual (r) igual a 0,8313. Quando esse modelo foi

comparado aos dados reais do rio Juruá, observou-se que mesmo

com falhas na proteção, em alguns anos, as populações mantêm

uma tendência de crescimento que se estabiliza em torno de 10 a 13anos de trabalho.

Curva de Crescimento Populacional de Quelônios

020000400006000080000

100000120000

140000160000180000200000

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25Anos de Proteção

     N .     F

     i     l     h    o

    t    e    s

Yt= 187014 (1 - e-0,8313. t)

 

Figura 44: Modelo de curva de crescimento de Von Bertallanfy,para a produção de filhotes de quelônios, pelo tempo de proteção da

área de reprodução.

Ao aplicar-se o referido modelo de crescimento

populacional à série histórica do Baixo Juruá (produção de

filhotes de Joanico, Botafogo e Antonina), notamos que a

produção máxima de filhotes no crescimento populacional

máximo (k) foi estimada em 540.507 filhotes, com uma taxa decrescimento anual (r) igual a 0,09125. O modelo estimado de

produção de filhotes para a região do Baixo Juruá foi o seguinte:-0,09125 . tProdução de filhotes Y(t)= 540.507 (1 – e ).

Se somarmos a produção de filhotes dos tabuleiros de

 Joanico, Botafogo e Antonina temos uma produção anual estimada

em torno de 262.236 filhotes de quelônios (76 a 91% de iaçás, 4,7 a

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a 6,8% de tracajás e 1,3 a 21,1% de tartarugas), ou seja, 48,52% da

capacidade produtiva, prevista pelo modelo, para tabuleiros

conservados por cerca de 15 anos.

Deve-se considerar, contudo, que no primeiro ano de vidaexiste uma elevada taxa de mortalidade. Andrade & Soares (2005) e

Andrade & Rodrigues (2005) verificaram que dos filhotes de

quelônios marcados e soltos em lagos naturais (Médio Amazonas e

Médio Juruá) foi estimada em 5,74% a taxa de sobrevivência total,

até 12 meses, sendo que para os tracajás (Podocnemis unifilis) a taxa

de sobrevivência média na natureza foi estimada em 17,76 ±

10,23%.Se considerarmos o valor de k (constante de equilíbrio

populacional, valor populacional de produção máximo)= 262.236

animais no Baixo Juruá, e a taxa de crescimento anual média

estimada por Andrade et al. (2006) para a calha do rio Juruá, ou seja

r=0,8313, observa-se que, a cada ano, 217.997 animais deveriam

ser recrutados pela população. Todavia, a taxa de crescimento que

estimamos neste trabalho, para o Baixo Juruá, foi de r=0,09125,logo, o número de indivíduos estimados para recrutamento cairia

para 48.646 animais (10.264 tartarugas, 2.286 tracajás e 36.971

iaçás).

Contudo, deve-se observar que as taxas de sobrevivência são

relativamente pequenas. Portanto, ao se considerar as taxas por

espécie (estimadas por Andrade & Soares, 2005, e Andrade &Rodrigues, 2005), esse recrutamento anual cairá para 2.122 iaçás,

406 tracajás e 157 tartarugas.

Esses valores naturais de recrutamento impossibilitam a

extração de quelônios de forma racional, em vida livre, com o número

atual de praias manejadas, posto que, estima-se para a região do Baixo

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 Juruá, a extração clandestina de cerca de 8.000 quelônios/ano. Se

aumentarmos o número de praias conservadas e o número de rios

protegidos, possivelmente, elevaríamos a taxa de recrutamento e

com isso o número de animais adultos chegariam até o período de

desova. Somente isso, permitiria, em um período de 8 a 10 anos detrabalho de proteção, atingir-se o máximo da capacidade produtiva e

com isso, a possibilidade de exploração racional de adultos de

espécies como o iaçá e o tracajá, em vida livre. Diante da

impossibilidade do manejo extensivo imediato, sugere-se algumas

propostas que possibilitarão a obtenção de renda a partir da

conservação de quelônios.

Para aumentarmos a taxa de recrutamento e gerarmos

quelônios excedentes para consumo ou geração de renda, quatro

medidas de manejo devem ser adotadas: a) Proteção dos ninhos

naturais e transferência de ninhos ameaçados; b) Manutenção de

filhotes recém-eclodidos de tartarugas e tracajás, em berçários, até o

segundo ou terceiro mês de vida; c) Soltura destes filhotes em lagos

ou lagoas centrais em locais de farta alimentação e abrigo (restart);

d) Criação comunitária em gaiolas ou tanques-rede. A extração de

ovos e de filhotes para criadores seria uma possibilidade de geração

de renda desde que adotado rigoroso controle sobre os tabuleiros e

sobre a captura ilegal de adultos e que fossem seguidas as quatro

sugestões de manejo propostas.

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C a p í t u l o 4 : E c o l o g i a d e q u e l ô n i o s

pelomedusídeos na Reserva Biológica do Abufari

 Juarez Carlos Brito Pezzuti – NAEA/UFPADaniely Félix da Silva - MPEG Jackson Pantoja Lima – Inpa

Alexandre Kemenes – InpaMarcelo Garcia - Ipaam

 Norival Dagoberto Paraluppi - UfamLuiz Alberto dos Santos Monjeló - Ufam

A comunidade de quelônios aquáticos da bacia amazônica,

uma das mais diversas do mundo, sempre constituiu elementoimportante na dieta dos habitantes da região. A tartaruga,

Podocnemis expansa, espécie de maior porte e a mais abundante, era

rotineiramente consumida e também armazenada em currais, nas

aldeias indígenas, para ser utilizada na cheia quando os peixes eram

menos acessíveis.

o

Mesmo com a Lei de Proteção à Fauna (N 5.197/1967), essaspopulações permanecem sujeitas à forte pressão de pesca

clandestina de animais adultos, e não somente durante o período

reprodutivo. Durante outras épocas, os sistemas aquáticos são

constantemente invadidos, e a sua extrema complexidade facilita

essa atividade. A conseqüência óbvia é o declínio populacional

evidente. No Trombetas, o número de fêmeas reproduzindo-se nos

tabuleiros vem diminuindo gradativamente. Na Rebio Abufari, a

despeito da presença mais constante da fiscalização, centenas de

animais adultos são capturados todos os anos por pescadores

financiados por traficantes de Manacapuru.

Os ovos também foram e ainda são, em algumas

localidades, uma fonte importante de proteínas para a população

local. , sugere que, possivelmente, a coleta da tartaruga e de seus

ovos é a atividade etnozoológica mais importante de toda a região

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amazônica, vindo desde o período pré-colombiano até hoje, que

registrou a apreensão de 261 quelônios em operação de fiscalização

do IBDF.

Some-se a isso a ausência de informações básicas sobre a

ecologia desses animais, como área de vida e padrões migratórios. Os

esforços para a conservação de quelônios têm sido direcionados para

a proteção de ninhos e diversas espécies ameaçadas tiveram seu

manejo baseado num conhecimento incompleto da dinâmica

populacional, sem informações demográficas sobre classes de idade,

área de vida e padrões migratórios. No entanto, a aplicação deprogramas de manejo, apenas recentemente, tem levado em

consideração aspectos básicos da biologia reprodutiva desses

animais. Um dos processos críticos é a influência da temperatura de

incubação sobre a determinação do sexo dos embriões, ainda mais

porque a metodologia, geralmente aplicada pelos programas de

conservação de quelônios no mundo, tem sido a de transplantar

ninhos para locais protegidos, sem a verificação do sexo produzido

pela incubação dos ovos em tais condições .

Na Amazônia, estudos sobre determinação sexual foram

desenvolvidos com Podocnemis expansa , P. unifilis e Peltocephalus

dumerilianus . Destes, apenas Valenzuela (2001) e Souza & Vogt

(1994) investigaram a relação entre as características de ninhosnaturais com a temperatura de incubação e outros parâmetros

físicos. As demais espécies amazônicas permanecem desconhecidas

quanto a esses aspectos de sua biologia reprodutiva. Os ninhos estão

ainda sujeitos à predação natural e a variações ambientais súbitas

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como a repentina subida do nível do rio ; .

A tartaruga e o tracajá são as espécies mais procuradas naAmazônia para criação com finalidade comercial. O fornecimentoaos criadores depende da retirada anual de milhares de filhotes

dos tabuleiros protegidos pelo Ibama, para formar o plantel dascriações comerciais, cujo número aumenta todo ano. O principalfornecedor, até o ano de 1998, era o tabuleiro do Abufari, que sesitua na unidade de conservação que recebe o mesmo nome(Reserva Biológica do Abufari).

Esses fatores, associados com a questão básica da

determinação do sexo pela temperatura em quelônios e suasconseqüências para qualquer prática de conservação e manejodesses animais, fazem com que seja imprescindível ainvestigação dos aspectos mais elementares da ecologia dasespécies com que estamos lidando, sobretudo quanto ao processoreprodutivo.

O quadro, portanto, é de franca carência de estudos sobre

esses valiosos recursos que vêm sendo milenarmente exploradospor populações indígenas, para subsistência, e há pelo menos 300anos em intensa escala comercial rumo ao seu esgotamento. Diantedo exposto, a Universidade Federal do Amazonas, em cooperaçãocom o Ibama, realizaram estudos sobre a ecologia, fisiologia,parasitologia e genética para a conservação dos quelônios daReserva Biológica do Abufari, com apoio financeiro do CNPq atravésdos projetos “Diagnóstico da criação de animais silvestres noestado do Amazonas” (Fase I/1998 e Fase II Proc. nº49.9940/2000-0 PTU/CNPq). Subprojeto Ecologia Reprodutiva dosquelônios da Rebio Abufari (Ibama Proc. nº 02005.002248/98-13).As pesquisas continuaram com financiamento do Banco daAmazônia (Basa) ao projeto “Bases Ecológicas para o manejo dosquelônios no Estado do Amazonas”. Finalmente, em 2003,contamos com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do

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Estado do Amazonas (Fapeam) para a continuação das pesquisasdessa equipe multidisciplinar, com a execução do Projeto “Ecologiareprodutiva, dinâmica populacional, genética de populações emanejo de quelônios na Amazônia”.

Portanto, este produto inclui o resultado de vários projetosexecutados ao longo do período entre 1998 e 2004. O objeto principalde estudo durante esses anos foram as populações de Podocnemis

expansa, P. sextuberculata e P. unifilis que se utilizam da Praia doAbufari para reprodução. Investigamos aspectos básicos de ecologiareprodutiva dessas espécies e investimos em um programa demarcação para determinar a estrutura populacional, a área de vida e

a rotas migratórias sazonais de dispersão entre essa praia e as áreasde alimentação. Ainda monitoramos a pesca clandestina dequelônios aquáticos na Rebio. Muito ainda precisa ser feito,sobretudo para conhecer os padrões anuais de movimentação dosadultos e para isso daremos continuidade, em 2006, a essaspesquisas, intensificando o programa de captura, marcação esoltura de animais adultos e monitorando fêmeas adultas de P.

expansa, utilizando radiotelemetria.O Tabuleiro do Abufari

A Reserva Biológica do Abufari situa-se no primeiro terço dorio Purus, o último grande afluente do Rio Solimões antes doencontro com o rio Negro, formando o Amazonas. Trata-se de umtípico rio de águas brancas e, portanto, carregadas de sedimentos

que depositaram-se ao longo do tempo formando os solos quesustentam o ecossistema de várzea. A planície alagável, recortadapor um complexo sistema de corpos de água formado por paranás,canos, ressacas e lagos, está sujeita a profundas alterações emfunção da variação anual do nível da água (Figura 1). Durante acheia, esse conjunto torna-se um único corpo de água contínuo,preenchido pela floresta inundada. Nessa região, o Ibama realiza

fiscalização direta, patrulhando os rios, canais, igarapés e lagos,

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Reserva Biológica do Abufari (288.000 hectares)

 

apreendendo animais e aparatos de pesca.

Figura 1. Carta-imagem da Reserva Biológica do Abufari, rio Purus (em azul), município

de Tapauá, Amazonas, Brasil (Legenda: 1 – praia do Abufari; 2 – rio Abufari; 3 – complexo

de lagos do Chapéu; 4 – lago Macapá; 5 – Paraná do iragapé Chapéu; 6 – lago Panelão; 7 -

lago do Campina; 8 – lago Pupunha; 9 – igarapé  Tauamirim; verde-escuro – floresta de

terra firme e verde-claro – planície de inundação).

Monitoramento das desovas

A praia anualmente é mapeada no seu comprimento

com estacas de 50 em 50 metros, dispostas paralelamente à

vegetação. Para fazermos as estimativas da quantidade de

ninhos depositados na praia do Abufari é necessário marcar

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áreas de 10 metros de largura distantes umas das outras a cada 150

metros. Essas áreas são chamadas de transectos, que são locais

onde o monitoramento será intenso e todas as desovas ali existentes

serão monitoradas. Pelo conhecimento do número de ninhos de

iaçás e tracajás nestes locais, foi possível estimarmos o número deninhos existentes na praia e também o número de fêmeas dessas

espécies que ali subiram para desovar.

Como as tartarugas desovam em um grande agrupamento

(tabuleiro, Figura 2), o número total de ninhos é estimado dividindo-

se a produção de filhotes desse cercado e dos ninhos isolados pela

média de filhotes produzidos por ninho. Os números e as

respectivas densidades de ninhos da praia do Abufari, nos anos de1999, 2000 e 2001 estão na Tabela 1.

Pelo esforço direcionado no estabelecimento e

monitoramento de transectos, ou seja, locais com área conhecida e

onde todas as desovas foram marcadas e mapeadas, foi possível

estimar o número total de ninhos e a densidade dos ninhos na praia

do Abufari.

Nossa equipe de trabalho todos os anos monitora o

tabuleiro do Abufari, a partir do mês de agosto, pois é o momento

em que as fêmeas já migraram dos lagos e paranãs para a praia.

Durante o período da desova, entre setembro e meados de outubro,

há um monitoramento noturno das desovas que são depositadas

ali. Além desse trabalho noturno, visitas diárias são necessárias,

pois a localização dos ninhos não encontrados durante a noite sóserá possível com o solo recentemente perturbado com nítidos

rastros deixados na noite anterior e os ninhos cobertos

externamente com areia úmida removida pelas fêmeas (Souza &

Vogt, 1994; Fachin, 1992). Com esse monitoramento sistemático

dos transectos é possível detectarmos os ninhos predados ou

inundados pela subida repentina do nível da água do rio. Para cada

ninho encontrado registramos a data da postura, a distância do

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ninho à parte mais alta da praia e até a margem do rio e a

profundidade do ninho. Os ninhos são marcados com estacas de

identificação numeradas.Com o monitoramento dos animais que sobem a praia para

desovar foi possível observarmos que a menor iaçá (P.sextuberculata) que desovou na praia do Abufari tinha 24

centímetros de comprimento retilíneo da carapaça e 1,1 quilograma.

Dentre as tartarugas (P. expansa), o menor animal encontrado

desovando na praia tinha 61 cm de comprimento retilíneo da

carapaça e 22,0 quilogramas.

 Tabela 1: Número e densidade de ninhos encontrados na praia do

Abufari, durante o monitoramento diário realizado no período de

agosto a dezembro de 1999, 2000 e 2001.

Espécie Número de ninhos Densidade (ninhos/m2)

1999 2000 2001 1999 2000 2001

Iaçá 9.054 3.900 5.782,74 0,019 0,02 0,014

  Tracajá 238 195 337,57* 0,0005 0,0012 0,00084

  Tartaruga 2.123 2.300 2.475 0,004 0,014 0,0061

Espécie

 Total de filhotes

1999 2000 2001

Iaçá 88.004 37.908 75.523

  Tracajá 5.983 4.900 9.829

  Tartaruga 152.200 170.000 17.000

O processo de sexagem de fi lhotes

O monitoramento dos ninhos nos transectos nos permitiu

um acompanhamento completo do período de incubação. Ao

atingirem 40 dias de incubação, os ninhos passam a ser revisados a

cada dois ou três dias para a identificação de sinais indicando

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a eclosão dos filhotes, ou seja, o nascimento dos filhotes. Esses

sinais são a casca do ovo quebradiça e um pouco transparente e a

presença de gotículas de água e pequenas rachaduras na sua

superfície.

Para cada ninho eclodido foram contados o número de

filhotes vivos, o número de ovos sem desenvolvimento aparente,

os ovos de gordura, o número de embriões mortos e, quando

possível, a causa da morte. Os filhotes vivos foram medidos,

pesados e posteriormente libertados na praia. Tendo em vista a

necessidade de sacrifício de filhotes para a identificação do sexo,

foi expedida uma autorização pela Direc/Ibama para a realização

dessa atividade (autorização nº 32/99, expedida pela

Direc/Ibama – DF, renovada em 2003). Em geral são sacrificados

10 filhotes por ninho, em média, 10 ninhos de cada espécie, com

injeção de 0,1 ml de Nembutal (substância que leva o animal a

uma parada cardíaca) por indivíduo. Esses filhotes foram fixados

em solução de formol tamponada (1 litro de formol a 10%, 4g de

H NaPO .H O, 6,05g de HNa PO .H O), para determinação do sexo2 4 2 2 4 2

dos filhotes, realizado através do exame posterior das gônadas

com o auxílio de microscópio óptico (Figura 3).

A razão sexual foi determinada como sendo a proporção de

machos na ninhada (número de machos dividido pelo número de

filhotes vivos) e a sobrevivência como o número de filhotes

eclodidos vivos, dividido pelo número total de ovos. Na Tabela 2

estão os dados de número de ninhos amostrados e a média donúmero de ovos coletados em setembro de 1999, 2000 e 2001.

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Figura 3: Gônada masculina, em detalhe, no centro da figura.

O resultado da sexagem dos filhotes, a partir das amostrascoletadas, demonstra que no ano de 2000 houve um desvioacentuado para a produção de fêmeas de tartaruga, no entanto, iaçáteve um desvio para a produção de machos (Tabela 4). Infelizmente,os dados de temperatura de incubação registrados pelos data-loggers foram perdidos por falha nos aparelhos e, portanto, nãopodemos testar quaisquer relações entre a temperatura média ou a

temperatura acumulada, com a razão sexual dos ninhosmonitorados. As gônadas masculinas (testículos) apresentamformação cilíndrica e aspecto opaco com uma granulaçãoesbranquiçada, efeito provocado pelas circunvoluções dos ductos doepidídimo. As gônadas femininas (ovários) têm um formato maisalongado e o contorno mais irregular em relação às masculinas e nãoapresentam granulações.

O estudo de marcação e recaptura dos quelônios (avaliação dostatus populacional)

Estão sendo realizadas pescarias experimentais utilizandoredes de espera do tipo “capa-saco” e redes de cerco. A técnica decaptura chamada de capa-saco é bastante utilizada na região doPurus. Esses apetrechos consistem de grandes redes de comprimentomédio de 60 metros e altura de 10 metros, que são instaladas nos

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canais dos paranás, quando os animais estão migrando para o rio

ou mesmo retornando para os lagos. Essas redes também são

instaladas no canal do rio Purus. O esforço amostral de captura de

animais na área da Rebio vem sendo exercido sobre a calha principal

do rio Purus, nos lagos internos (lago Comprido – região do Chapéu elago do Almoço no sistema do rio Abufari) e os principais canais de

ligação entre ambos. Nos anos de 2006, 2007 e 2008 pretendemos

replicar as parcelas de pesca experimental durante as seguintes

fases do ciclo hidrológico anual: cheia (junho-julho), vazante

(agosto-setembro), seca (outubro-novembro) e enchente (dezembro-

maio).

Os dois primeiros aparelhos foram verificados de 3 em 3 horas,

minimizando a possibilidade de morte dos animais por afogamento,

conforme descrito em . As redes de cerco foram utilizadas

principalmente no canal do rio Purus, em números variados de

lances, dependendo das taxas de captura. Em cada pescaria foi

registrado o horário de saída, a embarcação e os equipamentos

utilizados, o tempo gasto para chegar até o local escolhido, o tempogasto na captura de animais, as características do habitat e

microhabitat onde o animal foi coletado, a profundidade, a

velocidade da correnteza e a temperatura do local. Os locais de pesca

foram georreferenciados com auxílio de GPS (Global Position

System).

Cada animal capturado foi identificado, medido

(comprimento retilíneo e curvilíneo da carapaça, comprimento doplastrão, largura máxima da carapaça e largura da cabeça), pesado

e marcado com etiqueta numerada presa na carapaça através de

pequenos orifícios perfurados nos escudos marginais (técnica de

marcação permanente, padronizada e aplicada por estudiosos de

v á r i a s p a r t e s d o m u n d o , s e m c a u s a r d a n o s

136

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aos animais). Posteriormente, os animais foram soltos no local de

captura.A abundância relativa de cada espécie foi determinada em

função do rendimento dos aparelhos de pesca utilizados, com base

no número ou biomassa dos animais, por pescaria, por dia de pesca.Neste estudo a CPUE (captura por unidade de esforço) foi utilizada

como o índice de densidade populacional e foi calculada com base na

seguinte equação:

å= diaPescaria N CPUE   /  / 

Onde:∑

N = somatório do número de indivíduos capturados;Pescaria = pescaria (em geral leva 15 a 20 minutos); dia de pescaria.

A estimativa de biomassa foi baseada na massa dos animais

capturados, dividida por pescaria e por dia.

Os habitats registrados foram: igapó, rio, lago (Figura 4); a

época do ano: enchente, cheia, vazante, seca. A profundidade nos

locais amostrados foi registrada com uma corda metrada e com

trena. Durante o período reprodutivo, que vem sendosistematicamente acompanhado pela equipe deste projeto, desde

1998, foi realizada a marcação de fêmeas durante a desova. Ao final

de cada noite de desova coletiva as fêmeas que acabavam de enterrar

seus ovos foram interceptadas para biometria, pesagem e marcação,

como descrito anteriormente.

137

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138

CC

Figura 4. Vista aérea da praia do Abufari durante o período de descida do níveldo rio em 2004 (A) e durante o período de seca do ano de 1999 (B). Habitat delagos da Rebio Abufari, durante o período de enchente do rio Purus, janeiro de2005. (C) (Foto: Jackson P. Lima).

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Quelônios e seus predadores

O fenômeno da predação é comum nos quelônios amazônicos.

Foram encontrados diversos ninhos predados por jacurarus,

urubus e mucuras. Durante esses anos de estudo verificamos quevários ninhos marcados são predados, mas somente uma pequena

porcentagem deles não é possível identificar o predador.

Gaivotas são excelentes predadoras. Essas aves são

observadas predando filhotes na praia tanto de dia como de noite, e

no rio durante o dia. Na praia, a estratégia mais comum é a gaivota

realizar vôos cada vez mais baixos sobre o filhote, até conseguir

apanhá-lo com as patas sem pousar na areia. Na água, as gaivotassobrevoam o local à espera que um filhote venha à tona. Quando isso

acontece, realizam uma descida rápida e capturam os filhotes com

as patas, erguendo-se novamente.

Durante as primeiras horas da manhã, é comum observarmos

repetidas vezes a presença de gaviões (várias espécies ainda não

identificadas), gaivotas e urubus atacando filhotes isolados e dentrode cercados de tartaruga, mesmo quando já existem agentes e

estagiários trabalhando na retirada de filhotes. Gaviões e urubus

pousam próximo à presa e a seguram no solo, ao passo que as

gaivotas normalmente capturam os filhotes em vôos rasantes e os

levam consigo. Pudemos também observar interações agonísticas

(disputa) entre as aves.

Nas noites em que milhares de filhotes emergemsimultaneamente nos cercados, observamos que grupos de urubus

passam a noite dentro dos cercados alimentando-se deles. Nas

manhãs seguintes, centenas de cascos são encontrados dentro dos

cercados e nas imediações.

139

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  Jacarés-açus (Melanossuchus niger) e tingas (Caiman

crocodilus) investem em grupo de tartarugas que escapam dos

cercados e também sobre os cercados, quando estes estão próximos

à margem da praia. No período de emergência de filhotes, vários

cascos comidos por mucuras foram encontrados perto dos locais emque eles foram capturados. Nesses cascos, havia marcas de dentes

que permitiram a identificação do predador.

A predação de filhotes na água também é um fenômeno

muito comum de ser observado na praia do Abufari. A aruanã

(Osteoglossum bichirrosum) é um dos principais predadores

aquáticos dos filhotes de quelônios que nascem na praia.

Ecologia reprodutiva

O principal local de nidificação dos quelônios na Rebio é a

praia do Abufari. A altura média da praia é de 4,5 m (±1,8m), onde

desovam em média 8.802 ±2.516 quelônios: tracajás, iaçás e

tartarugas.

Considerando os anos de 1997-2004, exceto 2002, aprodução média anual de filhotes de tartarugas na Rebio Abufari foi

de 177.000 ±53.250 (Figura 5). Rebêlo (1985) reporta que na praia

do Abufari foram produzidos cerca de 40 mil filhotes de tartarugas

no ano de 1984. Informações entre os anos de 1985 a 1997 e 2002

são escassas e duvidosas e, portanto, não estão sendo utilizadas

neste relatório.

Segundo dados diários da produção de filhotes de tartaruga

encontrados em planilhas do arquivo da Rebio, no ano de 1997 a

produção foi de 287.686 filhotes.

140

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0

50

100

150

200

250

300

350

1984 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Anos

     P    r    o     d    u    ç     ã    o     d    e     F     i     l     h    o     t    e    s     (    m     i     l     )

 

Figura 5. Registros da produção de filhotes de tartaruga da RebioAbufari, Amazonas, Brasil (dados de 1984 obtidos em Rebêlo, 1985).

Pelo esforço direcionado no estabelecimento emonitoramento dos transectos, ou seja, locais com área conhecida eonde todas as desovas foram marcadas e mapeadas, foi possível

estimar o número total de ninhos e a sua densidade, na praia doAbufari, para os anos de 1999, 2000 e 2001 (Tabelas 1 e 2).

No ano de 2004 a produção de filhotes na Rebio Abufari foimenor em relação à média dos anos anteriores, devido à subidarápida do nível do rio Purus (repiquete). Os tabuleiros de desova dastartarugas são atingidos pelas águas do rio Purus, em anosconsiderados normais, por volta da primeira quinzena de dezembro

e, no entanto, em 2004 eles foram inundados pelo menos 20 diasantes, comprometendo a produção de filhotes. Mesmo depois deeclodidos, os filhotes permanecem por, no mínimo, uma semanaenterrados absorvendo completamente o vitelo exposto. Somenteapós a completa cicatrização do umbigo é que eles podem emergir.Em várias ocasiões encontramos ninhos piquetados atingidos pelaágua, desenterrando-os encontramos os filhotes afogados, mesmo já

eclodidos e fora da casca.

141

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 Tabela 2. Número médio de ovos, por ninho, na praia do Abufari, em setembrode 1999, 2000 e 2001.

Média nº

ovos /ninho 

Média nº

filhotes /ninho 

Espécie 

1999 2000 2001 1999 2000 2001Iaçá 13,31 13,87 12,82 9,72 10,52 11,16

  Tracajá 30,00 30,71 29,12 25,14 14,89 27,00

 Tartaruga  98,15 133,00 . 71,69 100,7 .

* Em 2000 e 2001 obtivemos um número amostral baixo (N=12 e 03, respectivamente).

SobrevivênciaEspécie  

1999 2000 2001

Iaçá 0,730 0,749 0,910

  Tracajá 0,838 0,502 0,920

  Tartaruga* 0,730 0,735 .

No ano de 2000, encontramos em um ninho de tartaruga umfilhote albino. No ano de 2003, foram encontrados um filhote albino,

um melânico (carapaça e patas parcialmente brancas e olho de

coloração normal) e um com características mistas (metade albino e

metade normal) (Figura 6). Com relação à posição onde os ninhos

dos Podocnemis foram depositados na praia, os animais escolhem os

pontos mais altos. A distância dos ninhos em relação à vegetação é

muito similar entre tracajá e iaçá. Para as três espécies estudadas napraia do Abufari a taxa de eclosão ficou em torno de 80% (Tabela 2).

142

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Figura 6. Filhotes albinos e melânicos de Podocnemis expansa encontrados na praia do Abufari em 2000 (acima) e 2003 (abaixo).

A escolha dos locais de nidificação é um fator importante nosucesso da reprodução dos quelônios da Rebio Abufari. Verificamosque a distância da vegetação influencia na perda de ninhos peloalagamento. Embora o resultado da regressão logística para a alturados ninhos alagados e eclodidos tenha sido superior a 5%, o valorencontrado é bastante próximo. Assim, consideramos que a altura,de fato, está relacionada com a probabilidade do sítio de desova seratingido pela água. No caso de Podocnemis unifilis não foi verificadauma influência direta da perda de ninhos, pelo pulso de inundação,

em função da sua localização na praia.

143

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Podocnemis expansa

O tamanho médio das fêmeas de P. expansa que desovaram

no Abufari entre os anos de 1998 e 2004 foi de 74,3 cm (±3,97 cm,

N=158; Figura 7), e o peso médio 37,4 kg (±6,8 kg; N=18; Figura 10).A menor fêmea de tartaruga que registramos desovando na praia do

Abufari durante esse período mediu 61 cm de comprimento de

carapaça e pesou 22 kg.

O número médio de ovos depositados por essas fêmeas é de

96,89 ovos (± 31,2 ovos), no entanto, registros de 163 ovos/ninho já

foram observados na praia do Abufari. Em um ninho foi registrada

massa total dos ovos de 4,126 kg. O peso médio dos ovos detartaruga é de 36,48 gramas (± 6,38 gramas, N = 7 ninhos).

O número médio de filhotes de tartaruga produzidos por

ninho é de 64,38 filhotes (±40,47 filhotes; N = 103 ninhos), com

sobrevivência média de 77,8% (±34,3%; N = 144 ninhos). O

comprimento médio dos filhotes é de 39,24 mm (±04,98 mm; N = 18

ninhos) e o peso médio de 17,89 gramas (±2,38 gramas; N = 18ninhos).

Foram encontrados em média 4 filhotes natimortos por ninho

(± 9, 5 filhotes; N=20 ninhos). O número máximo de natimortos por

ninho foi de 44 filhotes. Encontramos, em média, 10,4 ovos de

tartaruga por ninho sem sinais de desenvolvimento aparente (± 11,9

filhotes; N= 49 ninhos). Em 69 ninhos analisados registramos uma

média de 21,27 ovos em putrefação, por ninho (±24 ovos).

Provavelmente, são ovos fertilizados em que o embrião morreu, pois

ovos inférteis normalmente não apodrecem.

144

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Figura 7. Distribuição de comprimentos de Podocnemis expansa 

encontrados nidificando na praia do Abufari (L – comprimento de50

primeira maturação).

Em oito ninhos foi verificada a presença de filhotes aleijados

ou deformados, com uma média de 4,62 filhotes/ninho (±4,59

filhotes).

A razão sexual (proporção de machos no total da ninhada) foi,

em média, 0,185 (18,5% de machos no total) para tartarugas, 0,378

para iaçás e 0,031 para tracajás. A proporção de filhotes fêmeas e

machos nos ninhos de tartaruga variou em função da sua2profundidade (R = 0,348, N=15; p= 0,021; Razão Sexual (ln) = 0,366

 – 0,014 profundidade; Figura 8).

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20 30 40 50 60 70 80Nest deph (cm)

-1.0

-0.5

0.0

0.5

     N

    e     s 

     t      s 

    e     x    r    a 

     t      i    o      (       l    n     N

 .    m    a 

     l    e     s 

     /      N .     t     o 

     t     a      l     )  

 

Figura 8. Relação entre a razão sexual dos ninhos de P. expansa em

função da variável independente – profundidade do ninho, monitorados

na Rebio Abufari.

A relação entre peso e comprimento dos filhotes de tartaruga é2significativa (R = 0,469, N=18; p= 0,002; Peso = 1,367+0,143 *

comprimento).

Podocnemis sextuberculata

O comprimento médio dos iaçás que desovaram na RebioAbufari entre os anos de 1998-2003 foi de 28,34 cm (±3,39 cm). O

comprimento da carapaça de 50% das fêmeas que se encontravam

desovando na praia do Abufari foi de 27 cm (L ) - N=74; Figura 9.50

O número médio de ovos depositados pelas fêmeas de iaçá

na praia foi de 12,67 ovos / ninho (± 4,3 ovos ; N = 312 ) ,

146

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sendo que o ninho mais numeroso continha 26 ovos. O peso médio

dos ovos foi de 16,67 gramas (± 3,13 gramas; N= 29 ninhos). O

número médio de filhotes por ninho foi 10,4 filhotes (±5 filhotes;

N=324 filhotes), e o peso médio dos filhotes de 13,1 gramas (± 2,36

gramas). O comprimento médio dos filhotes foi 31,8 mm (±05,4mm) ea largura da carapaça 27,42 mm (± 05,74mm). O número médio de

ovos sem desenvolvimento aparente, por ninho, foi de 2,6 ovos (±3,2

ovos; N=86), e o número médio de filhotes natimortos foi de 2,2 (± 1,9

filhote; N= 86). A presença de filhotes deformados foi observada em

três ninhos (N= 86) e a de larvas em 08 ninhos (N=86).

A sobrevivência média dos ninhos de P.sextuberculata foi de

80% (± 29,5%; N=280 ninhos). A amplitude de sobrevivência

apresentou variação máxima, indo de 0 a 100%, ou seja, houve

ninhos em que nenhum ovo eclodiu e no outro extremo ninhos com

eclosão de todos os embriões. A razão sexual média (proporção de

machos na ninhada) foi de 0,348, portanto, temos predomínio de

fêmeas entre os filhotes desta espécie produzidos no local entre 1998

e 1999. A razão sexual dos filhotes de P. sextuberculata não diferiu

significativamente entre os anos 1998 e 1999 (t= - 0,586; G.L. = 27;

p=0,563), não apresentando relação com a altura onde o ninho foi2depositado (R = 0,001; N=7; p= 0,952), com a distância do ninho até

2a vegetação (R = 0,021; N=17; p= 0,575) nem tampouco com a sua2profundidade (R = 0,008; N=19; p= 0,723).

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Figura 9. Distribuição de comprimento da carapaça das fêmeas de

Podocnemis sextuberculata que desovaram na praia do Abufari entre osanos de 1998-2003 (L – tamanho de primeira maturação).50

A taxa de eclosão de Podocnemis sextuberculata foi diferenteentre os anos monitorados (KW=10,272; N=348; G.L. 4; p=0,036),tendo sido menor em 2000 em comparação com o ano anterior e oposterior. Esse dado também variou em função da profundidade doninho (rs= - 0,2213, t= -3,2177, N=203, p=0,0015, Figura 10), numa

relação inversa onde as menores taxas de sobrevivência de embriõesforam observadas em ninhos mais profundos. Entretanto, a taxa deeclosão não foi influenciada pela altura do ninho em relação à água(rs= 0,0294, t= 0,2681, N=85, p=0,7893), nem tampouco peladistância da vegetação (rs= 0,1371, t= 1,4903, N=118, p=0,1388). Otamanho da ninhada (número de ovos por ninho) influencia no peso

2total da ninhada em Podocnemis sextuberculata (R =0,977, N=28,

p<0,001).

148

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2O peso médio do ovo foi influenciado pelo tamanho (R =0,43;2N=17 ninhos; p=0,004) e também pelo peso da fêmea (R =0,285;

N=17 ninhos; p=0,027, Figura 11).

 

0 10 20 30

Nest deph (cm)

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

     N    e     s 

     t      e 

    c      l    o 

    s      i    o 

    n    r    a 

     t     e 

     (       N

     h    a 

     t     c      h     l     i    n

    g      s 

     /      N    e     g      g      s      )  

Figura 10: correlação entre a taxa de eclosão de ninhos de P.sextuberculata e a profundidade dos ninhos na praia do Abufari, rioPurus, Amazonas (taxa de eclosão = número de filhotes eclodidos vivos).

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10001500200025003000350040004500female weight (g)

10

15

20

25

    m    e     a     n    e     g      g      m    a     s     p      e     r     n    e     s 

     t (      g  

     )  

 Figura 11. Relação entre o peso das fêmeas e a massa média dos ovos,

por ninho, em Podocnemis sextuberculata na Rebio Abufari, entre os

anos de 1999-2003 (massa média ovo/ninho = 13,836+0,002(massa da

fêmea)).

Podocnemis unif il is

O número de tracajás que desovam na praia do Abufari é

muito reduzido em comparação com as duas primeiras espécies.

Foram capturadas somente cinco fêmeas nas praias durante os

períodos reprodutivos monitorados. Elas apresentaram um

comprimento médio de carapaça de 48,3 cm (±80,87 cm), sendo que

o menor indivíduo encontrado desovando tinha 29 cm de

comprimento. O peso médio desses indivíduos foi de 6,066 kg

(±1,677 kg; N=3).

150

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O número médio de ovos de tracajás observados nos ninhos

encontrados dispersos pela praia foi de 29,6 ovos (±5,87 ovos; N=46

ninhos). A massa de um ninho foi de 1 kg e o peso médio dos ovos

desse ninho foi de 23,97 g. O número médio de filhotes produzidos

por ninho é de 20,2 filhotes (±11,04 filhotes/ninho; N=31 ninhos). Asobrevivência média foi de 76,6% (±23,5%; N = 24 ninhos). A menor

sobrevivência encontrada para essa espécie foi de 30%. A média de

comprimento e de peso dos filhotes foi de 34,04 mm (±5,7 mm; N= 10

ninhos) e de 14,72 gramas (±2,75 gramas; N=10 ninhos),

respectivamente.

A razão sexual da pequena amostra dos ninhos de tracajá

depositados na praia do Abufari é desviada para a produção de

fêmeas, com um percentual médio de 3,1% de machos (±8,8%; N=8).

A razão sexual dos filhotes de P. unifilis que nascem na Rebio Abufari2não sofreu influência da profundidade do ninho (R = 0,122; n=6;

p=0,497). Os dados não são conclusivos, pelo pequeno tamanho da

amostra, tanto para definir o que a praia está produzindo em termos

de proporção sexual dos filhotes como no tocante aos fatores que

influenciam no processo.

Os ninhos dessa espécie apresentaram em média 4,1 ovos

sem desenvolvimento aparente (± 4,3 ovos, N = 19) e 4 ovos em

putrefação (±4,3 ovos; N= 10 ninhos). A quantidade de filhotes

natimortos foi, em média, de dois indivíduos por ninho (±1,41 filhote,

N= 4 ninhos). Foi registrado um ninho com filhotes deformados e três

ninhos com presença de larvas de dípteros.

A taxa de eclosão de ovos de tracajá não foi influenciada nem2pela distância da vegetação (R =0,215, N=11, p=0,150), nem pela

profundidade do ninho (Correlação de Spearman, coef. = 0,133; t =

0,571; p = 0,575).

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Ecologia populacional

Abundância e densidade de quelônios nos ambientes da

Rebio

Durante todo o monitoramento da Rebio foram marcados

1.259 quelônios, de diversas procedências, como captura na praia,

captura com redes de cerco e redes do tipo capa-saco e animais de

apreensão. O número de tartarugas, iaçás e tracajás foi 524, 688 e

47 animais, respectivamente.

Redes de cerco são aparelhos de pesca bastante utilizados no

sistema de pesca ilegal e contrabando de quelônios na Rebio Abufaridurante a estação seca. Da mesma maneira, esse apetrecho é

utilizado pela nossa equipe para captura, biometria, marcação e

soltura de tartarugas, tracajás e iaçás. Realizamos pesca

experimental, com esse tipo de petrecho, em frente a praia do

Abufari e em trechos do Purus, logo acima e abaixo da praia, nos

meses de outubro, novembro e dezembro. Redes de cerco foram

utilizadas somente nesses meses por dois motivos: 1 – como medidamitigadora dos impactos da pesquisa sobre o ciclo reprodutivo das

tartarugas, iaçás e tracajás, pois nesses meses os animais já

desovaram e a possibilidade de provocar estresse nos animais

durante o período reprodutivo é evitada; 2 – somente nesse período

do ano as populações de tartarugas, tracajás e iaçás estão

concentradas na calha principal do rio, quando são também alvo da

pesca ilegal.A captura média de quelônios com arrastos feitos com rede de

cerco foi de 35,9 indivíduos/pescaria/dia (±35,6 indivíduos), sendo,

portanto, maior do que a CPUE média do capa-saco, que foi de 11,77

indivíduos/pescaria/dia (± 9, 20 indivíduos).

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Estrutura populacional

Podocnemis expansa

Das 524 tartarugas marcadas na Rebio Abufari, 67 eram

machos e 457 eram fêmeas. Esta não é uma amostragem real daproporção sexual dos animais, pois boa parte das fêmeas foi

capturada na praia, após a desova. O comprimento médio de machos

foi de 35,80 cm (±6,08 cm) e fêmeas de 56,34 cm (±19,57 cm; Figura

18). A menor fêmea mediu 55,10 cm, e a maior 82,50 cm. Os

tamanhos do menor e maior macho foram, respectivamente, de

14,09 e 49,20 cm. Machos capturados no estudo tinham, em

média, comprimento de carapaça de 35,47 cm (±5,68 N= 46indivíduos). Machos apreendidos mediram em média 36,51 cm

(±6,96 cm; N= 21 indivíduos). O comprimento médio da carapaça de

fêmeas capturadas foi de 62,80 cm (±14,57 cm; N=297) e de fêmeas

apreendidas foi 44,34 cm (±21,92 cm; N= 160).

Female MaleSex

0

100200

300

400

500

600

700

800

900

     S      t     r    a      i

    n    g  

     h     t 

c     a     r    a     p      a     c     e 

     l    e     n    g  

     t      h     (      m

    m     )  

Figura 12. Distribuição de comprimento de Podocnemis expansa 

capturados e apreendidos na Rebio Abufari entre os anos de 1999 e

2004.

153

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  Tabela 3. Número de tartarugas (N), comprimento (média, desvio-padrão, mínimo emáximo) capturado na Rebio Abufari.

Ano Procedência Sexo N Média Desv. Pad. Min. Max

1998 desovando fêmea 24 69,57 3,37 64,52 78,47

1999 apreendido fêmea 13 64,42 8,82 41,00 78,00

desovando fêmea 114 70,27 3,97 57,33 79,01

2000 apreendido fêmea 23 61,22 15,79 26,90 78,00

apreendido macho 2 30,75 3,89 28,00 33,50

rede de cerco fêmea 21 58,56 16,91 23,50 82,50

rede de cerco macho 3 33,50 8,06 24,20 38,30

capa-saco fêmea 14 39,94 8,51 24,50 58,00

capa-saco macho 8 35,35 6,26 29,20 49,20

desovando fêmea 23 72,48 3,25 65,00 79,00

2001 apreendido fêmea 71 51,91 13,90 26,00 77,00

apreendido macho 9 39,06 2,81 35,50 43,00

rede de cerco fêmea 42 52,29 13,05 26,50 78,70

rede de cerco macho 14 33,33 7,69 14,09 45,30

desovando fêmea 12 67,83 3,80 61,00 73,50

2002 rede de cerco fêmea 1 66,20 0,00 66,20 66,20

capa-saco fêmea 4 45,63 17,26 30,00 70,30

capa-saco macho 3 38,40 3,29 34,60 40,30

2003 rede de cerco fêmea 15 46,07 18,26 29,80 79,40

rede de cerco macho 15 36,94 2,75 32,60 42,10

capa-saco fêmea 8 24,60 2,46 22,50 30,00

2004 apreendido fêmea 53 21,96 16,46 5,51 69,00

Apreendido macho 10 35,38 9,15 17,31 44,50

rede de cerco macho 2 36,70 1,70 35,50 37,90

capa-saco macho 1 39,40 0,00 39,40 39,40

Desovando Fêmea 19 72,03 3,42 66,00 78,50

  Todos os grupos 524 53,71 19,64 5,51 82,50

154

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A proporção sexual de animais apreendidos durante o2período de enchente foi 0,769:1 ( = 0,3913, G.L.=1; p>0,05). Durante

o período de seca foi apreendido um total de 30 fêmeas de tartaruga e2nenhum macho ( = 30; G.L.=1; p<0,001). Na época da vazante foram

apreendidos pelo Ibama 117 fêmeas e 11 machos de tartarugas, ou2seja, uma proporção de 0,094:1 ( = 87,78, G.L.=1; p<0,001).

Portanto, entre os animais capturados na pesca ilegal, temos o

predomínio de machos durante a enchente e de fêmeas quando o rio

está secando.

A variação no incremento do peso de fêmeas adultas de P.

expansa nidificando na praia do Abufari está relacionadapositivamente com o incremento no comprimento da carapaça2(R =0,744; N=18; p=0,000; Peso fêmea = -83703,7+168,379

*comprimento). A análise discriminante utilizada confirma a

existência de dimorfismo sexual de tamanho na tartaruga ( = 80149;

F (2,180)=22,291 p< 0,001), mas a mesma técnica não indica

diferença com relação ao peso.

Comparando as regressões entre o comprimento da carapaçade machos e fêmeas de tartarugas e a sua massa corporal, observa-

se que o valor da inclinação dessas retas parece ser diferente (Figura

13), o que evidencia uma diferença também na forma ou no peso

específico entre os sexos.

A razão sexual de indivíduos de P. expansa capturados com2

redes de cerco foi 0,494:1; sendo, portanto, desviada para fêmeas ( =14,226; G.L.=1; p<0,001). Fêmeas também predominaram nas

capturas realizadas com rede capa-saco, onde a razão sexual foi de20,462:1 ( = 5,158; G.L.=1; p<0,05).

155

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Carapace length (mm)

W ei     gh  t     (     g  )   

0 100 200 300 400 500 600 700 800 9000

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

Female weight =371,8954*exp(0,0063*x)

Figura 13. Relação entre o comprimento da carapaça e o peso de

tartarugas capturadas na Rebio Abufari entre os anos de 1999-2004( fêmeas: r = 0,9456: p = 0,000; machos: r = 0,9499, p = 0,000).

A temperatura cloacal de Podocnemis expansa variou emfunção da temperatura da água onde os animais foram capturados2(R = 0,718; N= 12; p =0,001).

Podocnemis sextuberculata

Foram marcados na Rebio Abufari 688 indivíduos de

Podocnemis sextuberculata, sendo 259 fêmeas e 429 machos. O

comprimento médio geral desses animais foi de 19,3 cm (± 3,6 cm).O comprimento médio de fêmeas foi de 21,8 cm (±4,3cm) e o dos

machos 17,8 cm (±2,0 cm). Durante todo o estudo de marcação

foram registradas fêmeas com comprimento de carapaça entre

10,8 cm e 35,1 cm e machos com variação entre 14,1 cm

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e 22,5 cm. Os machos de P. sextuberculata apreendidos emacampamentos e embarcações dentro da Rebio mediram em média16,6 cm (±22,0 cm; N=166 indivíduos). Machos capturados na nossapesca experimental mediram em média 18,6 cm (±13,0 cm; N=260

indivíduos). O comprimento médio da carapaça de fêmeasapreendidas e capturadas pela nossa equipe foi de, respectivamente,19,6 cm (±4,1 cm; N=118) e 23,6 cm (±3,5 cm; N=236).

A razão sexual dos indivíduos de P. sextuberculata apreendidos nos vários acampamentos e embarcações de transportede cargas e passageiros dentro da Rebio Abufari durante o período deenchente foi desviada em favor de machos (proporção sexual =

22,182:1; =19,314; G.L.=1; p<0,001). Durante o período de secaforam apreendidas somente fêmeas (N=5). Na baixada das águas dorio Purus, pescadores oriundos de comunidades ribeirinhaspróximas e de centros urbanos mais distantes, como Manacapuru,vêm pescar clandestinamente para capturar centenas de animaisdurante o período em que a água começa a correr dos lagos, dointerior da Rebio para a calha principal do Purus. É o período em que

o Ibama apreende um maior número de animais. Durante a vazantede 2004, foram encontrados em um único acampamento 2.068quelônios, sendo 1.156 machos e 681 fêmeas de P. sextuberculata,

2uma razão sexual de 1,697:1 ( = 128,2743; G.L.=1; p<0,001). Combase nesses dados, podemos inferir que a proporção sexual dosindivíduos de P. sextuberculata capturados pela pesca ilegal édesviada para machos.

O mesmo padrão foi observado nas pescarias experimentais,onde foram capturados 248 machos e 84 fêmeas nas redes de cerco,

2isto é, uma razão sexual de 2,952:1 ( = 81,012; G.L.=1; p<0,001). Aocontrário do padrão encontrado nas capturas com redes de cerco,nas capturas com redes do tipo capa-saco observamos que a razãosexual dos animais capturados não difere da razão esperada de 0,5

2(RS capa-saco = 0,586:1; ( = 3,13; G.L.=1; p>0,05).

157

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O aumento no peso das fêmeas de P. sextuberculata que

nidificaram na praia do Abufari está correlacionado positivamente

com o incremento do comprimento da carapaça desses indivíduos2(R =0,896; N=50; p=0,000; Peso fêmea= - 4704,63+25,76

*comprimento).

 Também com o emprego de análise discriminante foi possível

confirmar dimorfismo sexual de tamanho com fêmeas maiores para

P. sextuberculata ( = Wilks' Lambda = 0,56317; F (2,373) =144,66;

p<0,0000; Tabela 13). Tanto a variável comprimento como a variável

peso foram diferentes entre os sexos. A regressão entre o

comprimento da carapaça de machos e fêmeas de iaçá e a massa

corporal desses animais mostra que o valor da inclinação dessas

retas parece ser diferente.

A temperatura cloacal média de Podocnemis sextuberculata 

foi de 29,3ºC (± 0,79ºC). A temperatura cloacal não sofreu influência2da temperatura do meio onde os animais foram capturados (R =

0,085; N= 28; p =0,407).

Podocnemis unif il is

Durante o estudo na Rebio foram marcados 47 tracajás,

sendo 41 fêmeas e 6 machos. O comprimento médio de todos os

animais marcados foi de 36,2 cm (±5,4 cm). O comprimento médio

das fêmeas foi de 37,51 cm (±4,19 cm) e dos machos foi 27,28 cm

(±5,22 cm). A amplitude de tamanhos de machos e fêmeas foi de 14,2

cm e 18,9 cm, respectivamente.

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O tamanho médio dos machos capturados com redes decerco e capa-saco foi de 25,7 cm (±1,54 N= 4 indivíduos) e dosmachos apreendidos 30,4 cm (±10,0 cm; N= 2 indivíduos). Ocomprimento médio de fêmeas capturadas nas redes é de 37,7 cm

(±5,07 cm; N= 26 indivíduos) e das fêmeas apreendidas 37,2 cm (±2,0cm; N=15). Com a mesma técnica que analisamos as diferenças entremachos e fêmeas de tartarugas e iaçás, também confirmamos asdiferenças morfométricas entre machos e fêmeas de P. unifilis ( =40311; F (2,30)=22,211 p< 0,001), tanto para peso comocomprimento. A regressão entre o comprimento da carapaça demachos e fêmeas de tartarugas e a massa corporal desses animaismostra uma boa relação para fêmeas, mas não para machos,possivelmente, pelo número reduzido de machos para a realizaçãoadequada do teste (Figura 14). A temperatura cloacal média de 

Podocnemis unifilis foi de 29,4ºC (±0,7ºC). A temperatura média daágua foi de 29,3ºC (±0,3ºC), com uma variação pequena de 1ºC. Nãofoi constatada a existência de relação entre a temperatura cloacal detracajás com a temperatura da água (R²= ,0564; N=18; p=0,342);( fêmeas: r = 0,9486, p = 0,000; machos: r = 0,6814, p = 0,2053).

 

Carapace length (mm)

W ei     gh  t     (     g  )   

0 100 200 300 400 5000

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

Figura 14. Relação entre o comprimento da carapaça e o peso de

tracajás capturados em Abufari, de 1999-2004.

159

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Pesca ilegal de quelônios

Mesmo com um monitoramento precário e insuficiente da

Rebio Abufari nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2004, período no qual

estiveram como chefes da UC os senhores Gabriel Marchioro,

Alexandre Kemenes, José Ribamar da Silva Pinto e Jackson Pantoja

Lima, respectivamente foram apreendidos 6.406 quelônios em

embarcações e acampamentos dispersos pela floresta inundada,

próximo aos maiores afluentes na Rebio Abufari. Do total de animais

apreendidos, 5.647 (88,15%) pertenciam à espécie P.

sextuberculata, 635 (9,91%) a espécie P. expansa e somente 124(1,94%) pertenciam à espécie P. unifilis. Na Figura 15 observamos a

existência de um padrão estritamente sazonal de apreensões, em

1999, que reflete a variação anual na atividade de pesca ilegal (P.

unifilis não aparece na figura devido à baixa presença de indivíduos

no total de apreensões). No período de vazante, ou seja, durante a

descida das águas, a atividade clandestina dos pescadores de

quelônios na Rebio Abufari se intensifica. Em 2004, justamente em

agosto, em um único acampamento, foram apreendidos 2.086

quelônios em currais de madeira na água (Figura 16). Deste

montante, 2.020 animais pertenciam à espécie P. sextuberculata.

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0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

     N     ú    m    e    r    o     d    e    q    u    e     l     ô    n     i    o    s

0

500

1000

1500

2000

2500

     C    o     t    a    m     é     d     i    a    m    e    n    s    a     l     (    c    m     )

P. expansa P. sextuberculata Nível do rio  

 Figura 15. Padrão de exploração ilegal de quelônios na Rebio Abufari,em 1999.

Figura 16. Apreensão de 2.086 quelônios (esquerda) em currais demadeira (direita) no paraná do Chapéu, em agosto de 2004. (Fotos:

 Jackson Pantoja Lima).

161

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Movimentos migratórios

Durante o período de seca, grandes aglomerações de

tartarugas e iaçás são observadas na frente da praia do Abufari. Os

animais concentram-se em alguns locais mais profundos da calhado Purus, naquele trecho, denominados boiadouros. Alguns animais

também são avistados boiando em trechos a montante e a jusante da

praia (praia do Camaleão e praia do Bem-te-vi, respectivamente),

dentro de um trecho de rio de 15 a 20 km. Baseado no padrão do ciclo

de atividade de pesca ilegal e apreensão, assim como da natureza

dos artefatos de pesca utilizados nessa atividade, nos depoimentos

colhidos durante esses anos e do nosso esforço de captura (que

consideramos o ponto mais fraco da pesquisa até agora, pelo esforço

de captura desigual tanto espacialmente quanto temporalmente),

propomos a categorização do padrão sazonal de movimentos de

quelônios aquáticos na Rebio Abufari da seguinte maneira:

1 – No início da vazante, os quelônios adultos movimentam-se em

direção ao canal principal, deixando a planície de inundação, pelos

afluentes do rio Purus, como o rio Abufari e paraná do Chapéu,ambos conhecidos como principais rotas migratórias dos quelônios

do Abufari. Acompanhando o pulso de vazante do próprio ciclo

hidrológico, animais adultos, principalmente indivíduos de P.

expansa e P. sextuberculata, e em menor escala, P. unifilis, descem

para a calha principal e lá permanecem em locais mais profundos,

aguardando a emersão dos bancos de areia que formarão as grandes

praias fluviais.

2 – No final da vazante e durante o período em que o rio atinge seu

nível mais baixo, milhares de quelônios desovam no tabuleiro do

Abufari. Após a desova, os animais permanecem na calha principal e

aguardam a enchente para retornar para os locais de alimentação

nas restingas e chavascais, nas planícies de inundação.

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3 – Migrações do rio para lagos e floresta inundada (Figura 29).Durante a enchente, os indivíduos que se encontravam no rio Purus,principalmente tartarugas e iaçás, migram em direção aos lagos docomplexo do rio Abufari (pontos 6 e 9) e lagos da região do Chapéu

(p1-lago do Ati, p2 – lago Comprido, p3 – lago Sacopema), através dosparanás e também pela planície de inundação da Rebio, poisdurante a enchente ela pode alcançar cerca de 30 a 40 quilômetrosde largura. Uma proporção, provavelmente, sai dos limites da Rebiodeslocando-se a montante e a jusante. Nessas áreas alagadas osquelônios permanecem alimentando-se até o período de vazante eseca para, então, reiniciarem os movimentos que antecedem adesova em um novo ciclo anual.

Os canais anteriormente mencionados são apontados pormoradores da região como as principais rotas migratórias dosquelônios da Rebio, e nelas, a pressão de pesca concentra-se justamente durante o período de vazante. Nesses locais, o Ibamaapreende anualmente grande quantidade de quelônios, como jádemonstrado. O padrão de pesca ilegal, tanto em escala espacialcomo temporal, corrobora o modelo proposto.

A captura de grande quantidade de fêmeas adultas nosboiadouros, realizada entre os meses de novembro e dezembro, emanos distintos, já no final da época de eclosão e emergência dosfilhotes, comprova que as fêmeas permanecem próximas aos locaisde reprodução, por vários meses, após desovarem. Nesse período, oscanais de drenagem encontram-se ainda com nível bastante baixo e

os lagos total ou parcialmente isolados. Constatamos esse períodode ausência de deslocamentos significativos em todos os anosestudados, o que indica claramente a existência de um padrão.

o oNo lago Comprido (ponto 2- S5 18'01''/ W62 58'55''), nas coletasrealizadas em novembro de 2001, período de enchente no rioprincipal, mas ainda de águas baixas nos lagos da região do Chapéu,foram encontrados indivíduos jovens de Podocnemis expansa e

Podocnemis sextuberculata e adultos de Podocnemis unifilis (Figura

17).

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Com base no esforço de captura foi possível observar quetartarugas e iaçás marcados, que estavam migrando da planície deinundação da região do Chapéu, em agosto de 2004, foramcapturados por contrabandistas e depois apreendidos por fiscais do

Ibama.

Figura 17. Mapa resumido das possíveis rotas migratórias de quelôniosna Rebio Abufari (1 – lago do Ati; 2 – lago Comprido; 3 – lago Sacopema;4 – lago Macapá; 5 – igarapé e lago do Tauamirim; 6 – lago do Almoço; 7 – 

praia; 8 – paraná do Panelão; 9 – rio Abufari; 10 – lago Pupunha; setascontínuas – movimentos migratórios durante a enchente; setaspontilhadas – movimentos migratórios durante a vazante dos rios).

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Com o registro de apreensões de animais marcados no canal

do igarapé do Chapéu e rio Abufari e também próximo à comunidade

Beabá, podemos inferir que a migração durante o ciclo anual pode

atingir 100 km ou mais de extensão. Temos, ainda, depoimentos

indicando que pelo menos uma tartaruga marcada na Rebio (comfuros codificados nas escamas marginais e etiquetas plásticas) foi

capturada próximo à sede do município de Canutama, situada no

médio rio Purus (rio acima), cerca de 550 km de distância, via fluvial,

da Rebio Abufari. Nessa área, há um pequeno tabuleiro, onde, em

1998, nidificaram cerca de 10 tartarugas. Também desovam

anualmente no local entre 100 e 200 tracajás e iaçás.

No Purus, observamos em mais de uma estação reprodutiva

que tanto a tartaruga quanto o tracajá e o iaçá começaram a desovar

bem antes de o nível do rio atingir a sua cota mínima. Em outros

anos, quando as águas do Purus baixaram ainda mais lentamente, e

as praias não emergiram a tempo, as tartarugas nidificaram em

áreas de barranco, onde o solo é diferente do que ocorre nas alvas

praias de areia preferidas por essa espécie. Também houve anos emque as fêmeas das três espécies iniciaram a desova com o grande

tabuleiro completamente exposto, pois o rio secou rapidamente. Do ponto de vista de maximização das chances de

sobrevivência dos ninhos, as fêmeas esperarem o rio baixar

completamente não faz muito sentido, pois com isso, resta menos

tempo para que os embriões completem seu desenvolvimento,eclodam e abandonem o ninho antes que a subida das águas os

atinja. Seguindo esse raciocínio, quanto antes desovarem, melhor,

pois isso minimiza as chances de que o ninho seja alagado pelo

repiquete. As fêmeas também necessitam, entretanto, de um tempo

determinado para que os ovos fecundados se desenvolvam

completamente para que possam ser depositados em uma cova.

No ano em que as águas baixam muito cedo ,

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pode ser que a maior parte da população de fêmeas da praia ainda

não esteja completamente pronta para desovar. Esse pode ter sido,

na verdade, o caso particular observado, naquele ano, por Alho e

Pádua (1982). Além disso, se os animais esperam o rio atingir sua

cota mínima têm que percorrer uma distância bem maior (no caso doAbufari, isso pode significar até 500 metros a mais), expondo-se aos

predadores.

A alta densidade de quelônios foi o motivo que levou o então

IBDF, hoje Ibama, a enviar o biólogo Glênio Bruck de Andrade ao rio

Purus, em novembro de 1980, para fazer o levantamento da

potencialidade biológica da então Rebio Abufari (Andrade, 1981).

Segundo relatos dos moradores locais da Rebio, a densidade de

quelônios no rio Purus era muito superior à que observamos hoje, e

não era concentrada somente nessa praia, mas em várias outras,

tanto a jusante como a montante. No entanto, o que se tem nos

registros do IBDF até 1980 é uma produção de cerca de 80 mil

filhotes de quelônios, por ano, somando as áreas do rio Purus e

 Juruá. Esse fato parece ser verdadeiro, uma vez que Rebêlo (1985)

registrou a produção de filhotes de tartaruga no Abufari emaproximadamente 40 mil no ano de 1984.

Podemos concluir que a produção anual aumentou daquele

período para a década de 1990 e para o início deste século. Saracura

(1995) comenta que a produção de filhotes nos tabuleiros do

Abufari, em média, é de 330.000 filhotes de quelônios por ano. Essa

informação parece ser aproximada quando somamos a produçãodas 3 espécies (Tabela 1).

No caso do Abufari a razão sexual dos filhotes de tartarugas e

iaçás foi desviada para fêmeas, o que pode não ser um bom reflexo do

que acontece em outras praias do Purus, pois o tabuleiro do Abufari

é uma das praias mais altas da região, podendo atingir um máximo

superior a dez metros em anos de seca forte. Raeder ( 2003 )

166

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demonstrou que em praias

curto, indicando temperaturas mais elevadas. O mesmo fator pode

significar maior produção de fêmeas em praias altas.

A variação na altura, entretanto, não explicou a variação entreos ninhos em uma mesma praia, o que pode significar a existênciade um padrão realmente bem definido de desova nos locais maisaltos, com pouca variação entre as fêmeas que utilizam uma mesmapraia.

Em P. expansa, a profundidade do ninho influenciounegativamente na razão sexual, ou seja, maiores profundidades

produzindo uma baixa razão sexual, o que quer dizer uma maiorprodução de fêmeas. Possivelmente, em maiores profundidades, atemperatura seja mais elevada ou então se mantenha maisconstante, não sofrendo diretamente com as mudanças do ciclodiário (noite e dia). Por outro lado, ninhos mais superficiaisdeveriam estar experimentando temperaturas de incubação maiselevadas, pelo menos durante as horas mais quentes do dia. Outrapossibilidade é que o calor gerado pela grande quantidade de ninhosque, na prática, formam um grande aglomerado de ovos, pode geraruma quantidade de calor metabólico que mascara o efeito datemperatura. O monitoramento com coletores remotos de dados detemperatura (data-loggers) em locais distintos, tanto na superfíciequanto junto aos ovos, e também entre ninhos isolados e no centrodo tabuleiro, seriam necessários para elucidar essa questão.

A posição dos ninhos de quelônios aquáticos é fator críticopara o seu sucesso quanto às principais causas de perda, a saber:predação e alagamento. Ninhos de quelônios amazônicos são alvosde diversas espécies de animais, incluindo insetos, répteis, aves emamíferos (Soini, 1995, Batistella, 2003, Félix-Silva et al., 2003).

Em anos que o nível do rio desce de forma lenta,geralmente observamos no Abufari a formação de um único

mais altas o período de incubação é mais

167

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tabuleiro, o que aumenta a perda por reescavação. Não se tem ao

certo um valor da quantidade de ovos de tartarugas que são perdidos

dessa forma, a cada ano, pois após dias e dias de desovas em grupo o

que temos nos tabuleiros são grandes aglomerados de ovos em que

não há mais como individualizar os ninhos. Isso inviabiliza,inclusive, a possibilidade de determinarmos com precisão o número

de fêmeas de tartarugas que desovam nos grandes tabuleiros.

  Também não podemos contar simplesmente os ovos que são

arrancados pois, certamente, muitos são danificados e rompidos,

permanecendo enterrados. O material apodrecido no interior de um

ninho atingido pode provocar a perda de ovos nesse ninho e em

ninhos adjacentes.

Embora esse comportamento pareça ser desfavorável em

termos de produção de filhotes, seu significado adaptativo pode

estar relacionado com dois outros fatores: primeiro, após alguns

dias de intensa atividade escavatória, a areia do tabuleiro fica

completamente descompactada, facilitando a escavação e,

potencialmente, diminuindo o tempo de postura. Essa possibilidade

poderia ser testada quantificando-se as durações das posturas em

dias distintos, ao longo do período de posturas. Outro possível

componente adaptativo do comportamento de desova em grandes

grupos relaciona-se com a hipótese de saciedade do predador. A

oferta de centenas de milhares de presas, tanto na forma de fêmeas

adultas quanto de ovos e, posteriormente, filhotes, reduzem suas

probabilidades individuais de predação se essa oferta for

extremamente concentrada tanto espacialmente quantotemporalmente.

Atualmente, no rio Purus existem dois grandes tabuleiros de desova

de quelônios. Um está situado no médio rio Purus, no município de

Canutama, na Reserva Ecológica do Jamanduá, onde desovam 350

tartarugas, 100 tracajás e 3.500 iaçás. O outro é no próprio Abufari.

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Com relação à Podocnemis expansa, considerando o L como50

medida base para distinguir uma população de fêmeas adultas deuma população de fêmeas imaturas, podemos dizer que, do total deindivíduos observados, 25,8% da população são fêmeas adultas. Se

considerarmos o tamanho da menor fêmea marcada na praia,desovando, podemos concluir que 66,2% das fêmeas capturadasestavam maturas.

No caso de Podocnemis sextuberculata, se também utilizarmoso tamanho das fêmeas como indicador do tamanho médio dapopulação adulta, podemos dizer que, utilizando o L como medida-50

base, temos no Abufari 17,9% da população composta por fêmeas

adultas. No entanto, se considerarmos o tamanho da menor fêmeamarcada no estudo, podemos afirmar que 42,02% das fêmeascapturadas são fêmeas maturas. Segundo Shine & Iverson (1995), opadrão de maturidade sexual é de cerca de 70% do comprimentomáximo da carapaça. No nosso estudo, o comprimento estimadopara a maturidade de tartaruga corresponde a 66%, se utilizarmos otamanho da menor fêmea de tartaruga capturada na praia do

Abufari, e 90,2% se utilizarmos o valor do L , onde, 50% das fêmeas50

com esse comprimento podem estar maduras ou não.

Segundo Gibbons (1990), a razão sexual desviada parafêmeas pode estar associada às aglomerações da espécie nasproximidades das áreas de nidificação. Essa hipótese é plausível seobservamos novamente a Figura 21, em que a maior proporçãocapturada foi de fêmeas, para as três espécies, exceto quando

utilizamos a rede de cerco para a captura de iaçás que, ao contráriodas outras, mostrou uma maior captura de machos do que defêmeas. Esse efeito das aglomerações de fêmeas na praia pode serexcluído quando analisamos a razão sexual dos indivíduoscapturados pela pesca ilegal, quando os animais estão migrando doslagos para o rio Purus. Nesse período de vazante, com base nos dadosde animais apreendidos, foi observada uma maior proporção de

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fêmeas, tanto para tracajá como para a tartaruga, e uma maior

proporção de machos para iaçá. Portanto, tanto os resultados da

análise da proporção de sexos na pesca experimental quanto das

apreensões estão de acordo. São diversos os fatores que podem

influenciar nesse resultado, como a taxa de mortalidade naturaldiferenciada e também o impacto da pesca ilegal.

A pesquisa desse grupo no Abufari iniciou-se em junho de

1998, com uma visita inicial do coordenador, que acompanhou as

atividades de fiscalização do Ibama, na época, coordenadas pelo

então chefe da Rebio, sr. Agenor Vicente da Silva. Foram percorridos

os principais canais de drenagem do complexo de lagos localizado

na margem esquerda do rio Purus. Esses canais são o do Abufari, do

Chapéu e do Panelão. Nessa época, ocorre a migração de animais

adultos para a calha principal onde, em breve, estarão expostas as

grandes praias fluviais utilizadas para a reprodução por quelônios

aquáticos. Descem principalmente tartarugas e iaçás, ao passo que

os tracajás apresentam comportamento mais diversificado,

desovando em ambientes variados que vão desde as praias arenosas

até os barrancos e folhiços.

Nesse período, pescadores clandestinos estão instalando

grandes capa-sacos para a captura dos animais que descem. Em

 junho de 1998, o Ibama realizou três apreensões de animais e de

equipamentos, todas vinculadas à atividade. Nas duas primeiras

foram detectados e retirados os capa-sacos instalados com o

auxílio de poitas (âncoras de ferro com ganchos que se prendemna corda superior do capa-saco submerso), exatamente nos

canais apontados por moradores da região como as principais

rotas de migração dos animais que desovam na praia do Abufari.

Numa dessas situações, no canal do Abufari, em cuja foz fica a

base flutuante do Ibama, além dos vários animais retirados dos

próprios apetrechos também foram encontrados acampamentos

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com cerca de 350 animais mantidos em sacos e currais. Ospescadores são, em sua maioria, provenientes de Manacapuru,comprovando a forte pressão de pesca ilegal associada aosmovimentos migratórios que antecedem o início do período

reprodutivo.

Desde 1998 nossas at iv idades concentram-seprincipalmente no período reprodutivo e num esforço concentradona captura, biometria, marcação e soltura de tartarugas, iaçás etracajás nas praias (após a desova), assim como nos boiadouros.Dependendo do recurso disponível, também investimos na capturade adultos, em outras épocas.

Pudemos também contar com depoimentos de antigosmoradores, nascidos na região e que continuam ali morando comsuas famílias, filhos e netos. Um deles, o sr. Julinho, morador dacomunidade do Bem-Te-Vi, já trabalhou na praia como vigia durantedoze anos, no período em que ela era de propriedade do seringalistaAbdom Said. Esse chefe local não permitia que se interferisse nadesova dos animais, mantendo proteção ostensiva e, eventualmente,comercializando certa quantidade de fêmeas adultas com osbatelões aviadores. Julinho conta que, após o fim da atividadeseringueira, a proteção do grande tabuleiro do Abufari passou a serrealizada pela comunidade que levava o mesmo nome, situada nocanal de drenagem de lagos internos, em frente à parte superior dobanco de areia e que também recebia este nome, Abufari. Acomunidade foi retirada na ocasião da criação da unidade de

conservação.

Em várias ocasiões, enquanto nos recebeu em sua casa, nacomunidade Bem-Te-Vi, assim como nas ocasiões em que nosajudou durante estudo realizado com os peixes predadores, o sr. Julinho nos contou sobre as extensas áreas alagadas ao redor dolago do Lira (ou do Ira), apontado como o “coração da reserva”. Outrodepoimento importante sobre o comportamento dos quelônios

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aquáticos, nesse trecho do Purus, nos foi dado por um ex-morador

da comunidade Abufari, extinta com a criação da Rebio, como já

dito, o sr. Dudu Mangabeira, morador da atual comunidade

Fazenda. O sr. Dudu chegou a esboçar, em um desenho, um mapa

cognitivo com a rota migratória realizada anualmente pelosquelônios aquáticos para dentro e para fora do sistema de lagos,

utilizando os três canais principais também já mencionados.

Existem evidências consistentes de que pelo menos P.

expansa é capaz de realizar longas migrações após a desova. O mais

provável é que tenhamos uma boa parcela dessa população

migrando para o sistema de lagos que se encontram dentro dos

limites da Rebio Abufari, e outra que migre pelo Purus a jusante e

ainda outra que sobe rio acima. Sobre o caso acima relatado, de um

animal marcado na Rebio e recapturado em Canutama, centenas de

quilômetros a montante, e considerando que marcamos animais

desde 1999 e a extensão percorrida, podemos levantar a

possibilidade da existência de fluxos de dispersão não

necessariamente relacionados com o pulso anual de migração entre

áreas de reprodução e alimentação, acima descritas. Uma parcela

da população pode estar simplesmente se dispersando.

Considerações gerais

É fundamental que se continue a monitorar anualmente os

tabuleiros. Em primeiro lugar, a variação climática anual pode

provocar, como já discutido, profundas mudanças nas taxas desobrevivência, na razão sexual dos filhotes e na proporção de ninhos

atingida pelo repiquete do rio. A continuação desse trabalho

possibilitará uma melhor compreensão desses fenômenos, suas

variações anuais e a potencialidade dos diversos fatores

influenciando a reprodução dos quelônios amazônicos. Além disso,

como avaliação do status populacional, a continuidade das atividades

permitirá que analisemos as tendências das populações.

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Agradecimentos

Agradecemos ao Conselho Nacional de Pesquisas Científicas

e Tecnológicas/Programa do Trópico Úmido (Proc. 469940-00) e ao

Banco da Amazônia pelo suporte logístico para a realização destetrabalho. Agradecemos também ao Doutor Luiz Alberto dos Santos

Monjeló, coordenador do Projeto de Diagnóstico da Criação de

Animais Silvestres. Somos muito gratos ao Ibama pelo apoio

logístico e de licenciamento da pesquisa. Agradecemos ao senhor

 Júlio Ferreira e seus filhos, pelo suporte em campo.

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Capítulo 5: Genética Molecular das Populaçõesdas Espécies de Quelônios do GêneroPodocnemis da Amazônia: Resul tados

Preliminares

1Maria das Neves Silva Viana2Izeni Pires Farias2Rafaela Cardoso dos Santos3Maria Iracilda Sampaio2Luiz Alberto dos Santos Monjeló

INTRODUÇÃO

Os quelônios são os mais antigos répteis existentes.

Surgiram na era dos répteis, há milhões de anos, sendo de linhagem

mais antiga do que os dinossauros fósseis. De um modo geral, sãoencontrados em locais diversos como lagos, rios, açudes, mares,

pântanos, desertos e florestas. Existem espécies adaptadas para

viverem exclusivamente em terra, enquanto outras passam a vida

toda nas águas dos rios ou mares. O tamanho do corpo é variável de

acordo com as espécies, encontrando-se formas de dois a três

metros de comprimento e também pequenas formas que atingem de

sete a doze centímetros.

¹Universidade Federal do Amazonas - Instituto de CiênciasBiológicas – Laboratório de Bioquímica.² Universidade Federal do Amazonas - Instituto de CiênciasBiológicas – Laboratório de Genética.³ Universidade Federal do Pará – Centro de Ciências

Biológicas-Campus de Bragança.

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Estudiosos citam que esses répteis têm vida mais longa quequalquer outro vertebrado, podendo, as espécies terrestres, vivermais de cem anos. No entanto, a maior parte do desenvolvimentobiológico desses animais só ocorre durante os primeiros 5 a 10 anos

de existência e, segundo pesquisas, a maturidade sexual sóacontece aproximadamente aos sete anos, para os machos, e 11 a 15anos para as fêmeas. Muitas espécies de quelônios estão em vias deextinção, conseqüência da perseguição desmedida do homem quedestrói os ovos e pratica a caça predatória na época de reprodução,além de promover a destruição do habitat desses animais.

Família Pelomedusidae

Os representantes da família Pelomedusidae sãodenominados de "tartarugas de cabeça escondida" porque recolhema cabeça dobrando-a lateralmente. Em muitos aspectos, esseprocedimento é considerado como mais primitivo e menos eficazpara a defesa. Essa família é caracterizada pelo pescoçolateralmente retrátil, apresenta especializações vertebraisassociadas, 13 escudos plastrais, pélvis fundida tanto à carapaça

quanto ao plastrão, a mandíbula é forte e tem a área articularconvexa (Pritchard & Trebbau, 1984).

São encontradas nas águas da África, Austrália e Américado Sul, existindo três tipos distintos: pelomedusa africana, que dánome à família; pelúsia, encontrada facilmente na África comoanimal doméstico; e Podocnemis, encontrada nos rios da América doSul e de Madagascar. A razão dessa distribuição geográfica do

gênero Podocnemis parece ter como causa a dispersão ampla dasformas de seus antepassados, que se acredita terem sido animaismarinhos, de mares pouco profundos. Alguns taxonomistasacreditam que o gênero Podocnemis e Peltocephalus constituemuma família à parte, a Podocnemidae.

Na América do Sul, encontramos seis espécies do gêneroPodocnemis: Podocnemis vogli, P. lewyana, P. expansa, P. unifilis, P.

sextuberculata e P. erythrocephala; sendo as quatro últimas

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Podocnemis expansa Schweigger, 1812

Podocnemis expansa (Figura 1), no Brasil e na Bolívia é

conhecida popularmente como tartaruga-gigante-da-amazônia;

arrau (Venezuela); charapa (Equador, Colômbia e Peru); chapanera,sumarita (oriente da Colômbia). É o maior quelônio de água doce

encontrado na América do Sul. Apresenta uma ampla distribuição

na Amazônia que se estende desde a desembocadura do rio

Amazonas até pelo menos o rio Morona e rio Marañón, Peru. Sua

distribuição inclui também o rio Orinoco e rio Essequibo (Pritchard

& Trebbau, 1984). Está presente nos seguintes, países: Bolívia,

Brasil, Colômbia, Equador, Guianas, Peru e Venezuela. É

estritamente aquática e só sai da água para realizar a desova. Habita

os rios, lagos, pântanos, ilhas e bosques inundados. Durante a

estiagem dos rios, as populações encontram-se confinadas nos leitos

dos rios e lagos relativamente profundos. Durante a subida das

águas se dispersam pelas extensas áreas inundadas que rodeiam os

rios e outros corpos permanentes de água.

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  Figura 1. Exemplar de P. expansa.. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.)

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 Podocnemis expansa se reproduz tipicamente em grandes

grupos de fêmeas, em determinadas praias tradicionais de desova.Em áreas onde a espécie é pouco abundante devido tanto a fatoresnaturais quanto à intervenção antropogênica, desovam

principalmente em pequenos grupos dispersos e tambémsolitariamente (Soini & Soini, 1995c).

Graças a um vigoroso programa de recuperação de P.expansa pelo IBDF, durante muitos anos, a população desovadora doBrasil está aumentando consideravelmente (Vogt, 1990). Como umnotável exemplo de crescimento pode-se citar o caso da praia deMonte Cristo, do rio Tapajós, onde, mediante a proteção da praiaassim como a implementação de algumas outras medidas de manejo,

a população desovadora aumentou de 78 fêmeas, em 1969 (Alfinito etal., 1976a), para 1.600 fêmeas em 1988 (Vogt, 1990).

Podocnemis unif il is Troschel, 1848

Podocnemis unif il is (Figura 2), conhecida popularmente como

tracajá, possui a carapaça cinza-escuro quando molhada. Apresenta as

patas curtas e cobertas com pele rugosa, cabeça achatada e cônica, de

pequeno tamanho em relação ao corpo. Os olhos, bastante juntos, sãoseparados por um sulco. A fêmea adulta pesa em torno de oito quilos e

mede cerca de 38 cm. É uma tartaruga essencialmente aquática.

Pritchard & Trebbau (1984) e Iverson (1992) citam que essa espécie

pode ser encontrada nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco e seus

afluentes, no norte da América do Sul, sendo considerada generalista.

Ocorre em rios de água preta, clara e branca, bem como em lagos e

reservatórios. 

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Figura 2: Exemplar de P. unif ilis .Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.G.)

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Essa é considerada a segunda espécie mais consumida na

região amazônica, parecendo possuir melhor adaptação em

cativeiro, por ser mais generalista que P. expansa. A fêmea do tracajá

procura desovar isoladamente em barrancos às margens dos rios e

lagos, geralmente antes das enchentes. As covas são deaproximadamente 30 cm de profundidade, apresentando uma

média de 20 ovos por ninho. Estudos em cativeiro demonstram que o

número de ovos, por ninho, pode variar de nove a quarenta, com

uma média de 28,8 ovos. O período de incubação vai de 101 a 136

dias.

Podocnemis sextuberculata Cornalia, 1849Podocnemis sextuberculata (Figura 3) é conhecida

popularmente como iaçá, pitiú ou cambéua (Smith, 1979). A

carapaça tem coloração que vai de marrom-claro a marrom-escuro.

O plastrão nos indivíduos jovens apresenta seis tubérculos de cor

cinza ou marrom, os quais conferem o nome à espécie (P.

sextuberculata), cuja função, provavelmente, seja para segurar o

animal em lugares onde existe muita correnteza. A fêmea possuimanchas amarelas com um par de barbelos logo abaixo da boca. A

média de postura vai de 20 a 25 ovos de casca mole. O macho é

menor do que a fêmea (Ibama, 1989).

Figura 3: Exemplar de P. sextuberculata Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.).

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Fonte: Turtle of the World

Sua distribuição geográfica abrange a drenagem do rioAmazonas no Brasil, Peru e Colômbia (Iverson, 1992). No Brasil, é

encontrada em rios de água barrenta como Solimões, Japurá eBranco e em rios de água clara como Trombetas e Tapajós (Cantarelli& Herde, 1989). Na Reserva de Desenvolvimento SustentávelMamirauá-RDSM, é encontrada em águas pretas e barrentas, noscanais dos rios, paranás, ressacas e lagos, sendo relativamenteabundante e constituindo uma importante fonte alimentar para apopulação local.

Podocnemis erythrocephala Spix, 1824

Podocnemis erythrocephala (Figura 4), é a menor espécie dogênero, facilmente distinguida de suas congêneres devido ao seupequeno tamanho (medindo menos que 32 cm. Geralmente, as fêmeas

medem em torno de 27 cm e os machos são menores ainda), acoloração vai do marrom-escuro ao preto, a carapaça é expandida naporção posterior; apresenta um par de barbelos embaixo do queixo e

uma faixa vermelha brilhante que se estende da parte de trás dacabeça até os tímpanos.

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Figura 4: Exemplares de P. erythrocephala em Barreirinha. Foto: Jane Dantas.

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Vários autores, incluindo Williams (1954a) e Wermuth &Mertens (1961), citam que P. erythrocephala ocupa uma grande áreaao norte da América do Sul, contudo, Mittermeier & Wilson (1974)

relatam que as amostras com informações de procedências segurasforam todas coletadas no sistema do rio Negro. É quasecompletamente confinada a rios de água preta e a maioria dosexemplares conhecidos é proveniente do rio Negro, o maiortributário de água doce do Amazonas. Dentro do sistema do rioNegro, a espécie mostra preferência por pequenos lagos de águapreta e seus afluentes, sendo raramente encontrados no leitoprincipal do rio (Mittermeier & Wilson, 1974).

Essa espécie coloca seus ovos no período que vai do final domês de agosto até o início de novembro, nas praias do rio Negro,sendo que o pico da estação de postura, aparentemente, ocorre entresetembro e outubro. O número de ovos varia de 5 a 14 e a posturaocorre geralmente à noite, na areia, em áreas chamadas decampinas. Os ovos são brancos e alongados podendo apresentar a

casca dura ou levemente flexível. Apesar dessa espécie não ter muitaimportância na economia, é intensamente caçada na região do rioNegro para consumo de sua carne e seus ovos. A captura é feita porarpão e linha de pescar e as fêmeas também são capturadas noslocais de desova.

Os indivíduos adultos dessas quatro espécies são utilizados

tanto como fonte de alimento, para as populações ribeirinhas da

região amazônica, como para a venda no mercado negro, pelo altovalor comercial, para consumo da carne ou como animal de

estimação. Conseqüentemente, essas espécies estão classificadas

como vulneráveis e dependentes de cuidados (Cites I e II). Em adição

aos dados ecológicos, são necessárias informações sobre estrutura e

variabilidade genética para dar suporte a programas de manejo

adequados para conservação de cada uma dessas espécies.

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VARIABILIDADE GENÉTICA

A variação genética é uma condição fundamental para que

haja evolução adaptativa, uma vez que a seleção natural atua entre

as variantes que ocorrem dentro das populações, em função daadaptação ao ambiente, convergindo essa variação entre populações

e, finalmente, para a variação entre espécies. Chetverikov (1926,

1927) foi pioneiro em mostrar que a análise genética de populações

naturais é necessária para revelar a quantidade de variabilidade

genética potencial de uma população.Marcadores moleculares

Marcador molecular pode ser definido como toda e qualquer

característica molecular proveniente de uma seqüência do DNA(Ferreira & Grattapaglia, 1995). Quando seu comportamentoquanto à segregação segue os padrões mendelianos de herança, omarcador é definido como "marcador genético". Quando usamosmarcadores genéticos estamos tentando estimar o número demodificações (mutações) na seqüência de pares de bases queconstituem o DNA dos indivíduos. Existem numerosas técnicas

moleculares disponíveis para avaliar a diversidade genética entreindivíduos e entre populações. Segundo Queller et al. (1983), omarcador genético ideal para estudos em população seria um defácil uso e que distinguisse características que são determinadas poruma combinação de fatores, que fornecesse valores não ambíguos e,preferivelmente, com alta variação, como é o caso de genes do DNAmitocondrial.

DNA mitocondrial em estudos populacionais (DNAmt)A mitocôndria é uma organela encontrada na maioria dos

organismos superiores e sua função nas células está relacionadacom a degradação de açúcares e gorduras importantes para ofornecimento de energia para os seres vivos. O material genético damitocôndria constitui-se de seqüências de DNA que estão presentesnormalmente em cópia única e servem como códigos para aformação das proteínas necessárias para a manutenção de suas

funções e para a expressão gênica.

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O genoma mitocondrial (conjunto total do DNA damitocôndria) dos animais é uma molécula de DNA circular, de fitadupla, pequena e contida em múltiplas cópias na mitocôndria. Seutamanho é relativamente estável para animais, em torno de 16 - 21

kilobases (kb) (Ray & Densmore, 2002).

Características particulares como a herança, geralmentematerna, ausência de recombinação (não há participação domaterial genético do pai) e as altas taxas de variação, quandocomparadas com o material genético que se encontra no núcleo dacélula, fazem do DNA mitocondrial uma ferramenta muitoimportante no estudo das relações evolutivas entre indivíduos,

espécies e populações (Avise, 1994).

Para determinar o grau de variação genética entre aspopulações e dentro de cada população, nós utilizamos as pequenasvariações ou polimorfismos, que ocorrem especificamente naseqüência de bases do DNA mitocondrial de cada indivíduo.

As seqüências de DNA que apresentam variação (mutações)

são classificadas como haplótipos, sendo que as que apresentaremos polimorfismos mais semelhantes e mais antigos serão agrupadascomo um único haplótipo (representada em um cladograma por umquadrado); as seqüências que apresentam polimorfismos muitodiferentes ou raros serão classificadas, cada uma, como umhaplótipo separado e são representadas no cladograma como umaelipse. Nesse segundo grupo de polimorfismos cada haplótipo pode

conter um ou mais indivíduos, e isso será determinado pelo tamanhoda elipse. Cada população que apresentou estrutura genéticadiferenciada das demais foi considerada como uma unidade demanejo e conservação.

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 JUSTIFICATIVA

Com a publicação da Portaria do Ibama Nº 142/92-P,

regulamentando a criação da tartaruga-da-amazônia (P.expansa) e

do tracajá (P. unifilis) em cativeiro, houve um aumento na demandacomercial dessas espécies, o que contrasta com o seu atual nível de

informação. O projeto “Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres

do Estado do Amazonas” PTU/CNPq reúne uma equipe

multidisciplinar e interinstitucional da Ufam/Ibama, que visa à

conservação e um possível manejo sustentável, de algumas espécies

silvestres do Amazonas, incluindo os quelônios P. expansa 

(tartaruga-da-amazônia), P. unifilis (tracajá), P. sextuberculata (iaçá)e P. erythrocephala (irapuca).

Este trabalho dará suporte ao projeto “Diagnóstico da

Criação de Animais Silvestres do Estado do Amazonas”,

proporcionando informações sobre o nível de variabilidade e

características da estrutura genética de populações locais das

espécies do gênero Podocnemis, contribuindo para estudos

posteriores relacionados ao impacto de manejo, reprodução tanto na

natureza como em cativeiro e outras informações que permitirão um

planejamento adequado em programas de melhoramento genético

em criadouros.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL 

O objetivo deste trabalho foi identificar unidades de

conservação e manejo de quatro espécies de tartarugas da Amazônia

(P. expansa, P. unifilis, P. sextuberculata e P. erythrocephala) através

do marcador molecular de DNA mitocondrial, para que os resultados

provenientes deste estudo possam dar suporte a programas de

manejo na natureza e aos criadores.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS

ØCaracterizar e analisar o grau de variação genética encontrada

dentro das populações naturais de quatro espécies de tartarugas

do gênero Podocnemis: P. expansa, P. unifilis, P. sextuberculata eP. erythrocephala. ØDeterminar se os haplótipos do DNA mitocondrial estão

associados com a distribuição geográfica.

ØVerificar a ocorrência de estrutura populacional das diferentes

espécies usando a região controle do DNA mitocondrial.

METODOLOGIA

OBTENÇÃO DE AMOSTRAS DE SANGUE E EXTRAÇÃO DO DNA

As coletas foram realizadas com o apoio do Ibama. Utilizamos

indivíduos jovens, recém-eclodidos, de tartarugas com uma

amostragem em torno de 15-20 indivíduos provenientes das

seguintes localidades: (1) Uatumã, AM; (2) Abufari, rio Purus (AM);

(3) Itamarati, rio Juruá (AM); (4) Manicoré, rio Madeira (AM); (5)

Barcelos, rio Negro (AM); (6) Parque Nacional do Jaú, AM; (7) Terra

Santa, PA; Oriximiná, PA, e Jarauaca, em Oriximiná (PA),

(8)Parintins e Barreirinha(AM)(Figura 5).

Como o principal objetivo deste trabalho é a preservação das

espécies, nenhum animal foi sacrificado e foram retiradas amostras

de 0,1 ml de sangue, através de punção da veia femural. Esse sangue

foi preservado em álcool em temperatura ambiente até o momento da

extração do DNA. Em seguida, os animais foram devolvidos para a

natureza no local onde foram coletados.

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Figura 5: Mapa dos locais de coleta.

O procedimento utilizado para a extração do DNA foi

baseado em protocolos específicos (método Fenol/Clorofórmio,

segundo Sambrook et al., 1989) com algumas modificações. Após a

extração o DNA foi amplificado, via PCR, utilizando-se iniciadores

específicos para a região controle do DNA mitocondrial de

Podocnemis. O produto do PCR foi então seqüenciado em

seqüenciador automático Megabace 1000 na Universidade Federal

do Amazonas – AM. Para a obtenção do cladograma de haplótipos

foi utilizado o programa TCS (Clemente et al., 2000). As análises

populacionais foram realizadas através do programa Arlequin

(Schneider et al., 2000). 

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RESULTADOS E DISCUSSÃOQuanto às localidades, as quatro espécies apresentaram uma

amostragem diferenciada. Para P. erythrocephala foram amostrados

indivíduos das localidades de Jaú (6), Barcelos (5), Oriximiná (8) e

  Terra Santa (7); para P. unifilis foram coletados indivíduos deItamarati (3), Manicoré (4), Terra Santa (7), Oriximiná e Jarauacá (8);

para P. sextuberculata as localidades foram Abufari (2), Manicoré (4),

 Terra Santa (7) e Oriximiná (8); e para P. expansa foram amostrados

indivíduos de Uatumã (1), Abufari (2) e Terra Santa (7).O alinhamento final das seqüências de DNA foi composto por

aproximadamente 580 pares de bases (com exceção de P. expansa,

que foi de 996 pares de bases) e definiu o número de haplótipos, que

está representado em forma de cladograma para cada espécie(Figuras 6 a 9). Os resultados aqui apresentados devem ser

considerados como preliminares uma vez que apesar da ampla

amostragem, as espécies diferem nos locais de coleta. A continuação

do projeto visa ampliar os locais de coleta para evitar falha nas

amostragens.De uma maneira geral, as três espécies P. sextuberculata, P.

erythrocephala e P. unifilis apresentaram um padrão populacionalpan-mítico muito bem visualizado pelo cladograma dos haplótipos

(Figuras 7, 8, e 9), onde não se observa a presença de uma associação

entre os haplótipos com a distribuição geográfica. A presença de

populações diferenciadas (estrutura de população) foi observada

somente para os locais de Abufari (em P. sextuberculata), Jaύ (em P.

erythrocephala) e Itamarati (em P. unifilis), o que pode ser um artefato

de coleta causado pela ausência de locais intermediários não-

amostrados entre as localidades aqui analisadas. A falta de uma forte

estrutura de população favorece o manejo para essas espécies.Somente P. expansa apresentou uma forte estrutura de

população (todas as populações foram geneticamente diferenciadas),

como pode ser observado no cladograma (Figura 6). Os indivíduos, em

sua maioria, se uniram em grupos formando um haplótipo, por

localidade, com adicionais haplótipos raros.

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 Figura 6: Cladograma de haplótipos de P. expansa

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Figura 7: Cladograma de haplótipos de P. unifilis.

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Figura 8: Cladograma de haplótipos de P. sextuberculata

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Figura 9: Cladograma de haplótipos de P. erythrocephala..

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Na Tabela 1 podem ser observados os parâmetros

genéticos obtidos para todas as espécies e evidenciam bons níveis de

variabilidade genética.

 Tabela 1: Parâmetros genéticos para as espécies de Podocnemis.

Nota: T. Santa = Terra Santa; PNJ = Parque Nacional do Jaú.

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População N No. dehaplótipos

DiversidadeGênica

DiversidadeNucleotídica

Podocnemis sextuberculata  

Abufari 19 05 0,66±0,0744 0,0022±0,0016

 T. Santa 12 02 0,30±0,1475 0,0005±0,0006

Manicoré 18 05 0,41±0,1428 0,0007±0,0008Oriximiná 13 04 0,60±0,1306 0,0017±0,0014

Podocnemis erythrocephala  

Barcelos 17 07 0,79±0,0783 0,0031±0,0021

PNJ 18 04 0,74±0,0596 0,0023±0,0017

 T. Santa 14 04 0,49±0,1506 0,000972±0,0010

Oriximiná 15 04 0,47±0,1478 0,000910±0,001

Podocnemis unif ilis 

 T.Santa 21 10 0,81±0,0809 0,0078±0,0044

Manicoré 15 06 0,74±0,0943 0,0058±0,0035

Itamarati 12 04 0,45±0,1701 0,0028±0,0020

Oriximiná 11 09 0,95±0,0659 0,0101±0,0059

 Jarauacá 09 07 0,94±0,0702 0,0062±0,0039Podocnemis expansa 

Abufari 14 12 0,98±0,0345 0,0003±0,0003

Uatumã 17 17 1,00±0,0202 0,0015±0,0011

 T. Santa 18 13 0,72±0,1198 0,0012±0,0009

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CONCLUSÃO

ØO DNA mitocondrial mostrou ser um bom marcador

molecular para o estudo de populações de tartarugas.ØAs populações de tartaruga-da-amazônia (P. expansa), por

terem apresentado estrutura de população, devem ser

consideradas como unidades de manejo diferenciadas. Deve

ser evitado misturar animais de uma localidade com as

outras, tendo-se o cuidado de repovoar áreas com problemas

utilizando-se indivíduos de locais próximos da região

afetada.ØAs populações das outras três (com exceção daquelas que

apresentaram-se geneticamente diferenciadas) podem serconsideradas como fazendo parte de uma única e grande

população pan-mítica, conseqüentemente, podem ser

manejadas sem restrição.

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer aos colegas que coletaram as

amostras de P. erythrocephala: Jackson Pantoja, Juarez Pezzuti e

Daniele Felix; aos colegas do Ibama: Paulo Henrique, Pedro, João

Alfredo e Paulo César Andrade, por todo o apoio desde o início do

projeto; e ao Dr. Richard Vogt, do Inpa. Agradecemos também ao Dr.

 Tomas Herbek, da Universidade de Washington, pelo apóio técnico.

Este trabalho teve apoio financeiro da Universidade Federal do

Amazonas, do CNPq e do Ibama.

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Capítulo 6: Fisiologia e bioquímica de quelônios

e suas implicações para o manejo e a criação emcativeiro

1 Jaydione Luiz Marcon2Michele Gonçalves da Silva2Gelson da Silva Batista3

Raimunda de Souza Farias 3Leonardo Bruno Barbosa Monteiro

I - Introdução

Os quelônios do gênero Podocnemis são animais endêmicosdas bacias do Amazonas, do Orinoco e do Araguaia e historicamenteligados aos hábitos culturais das populações humanas locais, queutilizam a carne, a gordura e seus ovos como fontes de alimento(Smith, 1979). Segundo informações obtidas na literatura, bemcomo nos documentários de Silvino Santos, pioneiro no registrocinematográfico da história e da cultura do Amazonas (Souza, 1999),as populações desses quelônios eram enormes e se distribuíam aolongo de toda a região amazônica. Entretanto, dois séculos de

intensa exploração foram suficientes para causar uma diminuiçãosignificativa das populações naturais e, em alguns locais, o

¹Professor do Departamento de Ciências Fisiológicas. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federaldo Amazonas. Manaus, AM. Fone: (92) 644-3359. e-mail: [email protected].² Bolsista do Pibic e Acadêmica do Curso de Engenharia de Pesca, da Faculdade deCiências Agrárias. Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM.³ Bolsistas do CNPq e Acadêmicos do Curso de Engenharia de Pesca, da Faculdade deCiências Agrárias. Universidade Federal do Amazonas. Manaus, AM.

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desaparecimento completo desses animais, principalmente datartaruga-da-amazônia, Podocnemis expansa (Alho et al., 1979;Smith, 1979), espécie de maior porte e muito visada pelo mercadoilegal.

Apesar do quadro alarmante que se estabeleceu no início doséculo passado, pouca atenção foi dada ao problema, até 1982,quando o antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal(IBDF), hoje Ibama, passou a incentivar a criação da tartaruga emcativeiro no estado do Amazonas, como forma de atenuar a pressãoexercida pela captura ilegal de exemplares da espécie na natureza(Alho et al., 1979; Smith, 1979). Essa iniciativa se deu através do

fornecimento de tartarugas recém-eclodidas, oriundas dostabuleiros naturais da Reserva Biológica do Abufari (Tapauá, AM) edo rio Branco (RR), para serem criadas em cativeiro em diversasfazendas credenciadas naquela Instituição. No entanto, duranteesse período, os progressos tecnológicos obtidos no setor foramtímidos e limitados pela carência de estudos técnicos e científicosdesenvolvidos no setor. Como conseqüência, houve pouca

integração dos órgãos de pesquisa e agentes financiadores,presentes na região, com os criadores credenciados no Ibama.

Dentro do projeto “Diagnóstico da criação de animaissilvestres” nosso grupo procurou estabelecer as primeirasinformações sobre as características fisiológicas dos quelônios emcondições naturais, bem como da criar exemplares da tartaruga(P.expansa) e do tracajá (P. unifilis) em cativeiro. Contudo, o que

podemos entender por características fisiológicas ou fisiologia?

De acordo com um dos pioneiros da fisiologia animalcomparada, Schmidt-Nielsen (1996), a fisiologia é o ramo dabiologia que estuda as funções dos organismos vivos, i.e., como elesse alimentam, respiram, movimentam, reproduzem, etc. A fisiologiatambém procura estabelecer os mecanismos que os animais

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desenvolveram para interagir com as variações em seus ambientes e

entender as estratégias naturalmente adotadas para resolver os

problemas e assegurar a sua sobrevivência.

Uma estratégia eficiente utilizada por muitos animais,

inclusive quelônios, é promover ajustes no seu metabolismo, i.e.,

ajustar a relação entre a velocidade ou intensidade com que as

células consomem energia, para manterem seu funcionamento, e a

capacidade de gerar energia necessária para suprir essa demanda.

Em condições normais, geralmente, existe um equilíbrio entre a

quantidade gerada e gasta de energia pelo corpo, o que mantém o

seu funcionamento estável ao longo do tempo. A manutenção desse

equilíbrio depende, por sua vez, da necessidade rotineira da maioria

dos animais em realizar processos fisiológicos normais, tais como

ingerir alimentos, beber água, produzir calor, gás carbônico, suor,

excretas (fezes, urina), produzir células reprodutivas, entre outros.

Na natureza, os quelônios do gênero Podocnemis vêm sendo

expostos a pressões evolutivas distintas entre as espécies, que se

reflete em seus estilos de vida, seus padrões de distribuição, além demecanismos genéticos e comportamentais característicos. Estudos

enfocando a genética de populações das três espécies mais

importantes do gênero, a tartaruga, o tracajá e o iaçá (P.

sextuberculata), apresentados por Viana et al. (2004), ilustram de

forma inédita estes aspectos. De acordo com os resultados dessas

pesquisas, as populações naturais da tartaruga e do iaçá

apresentam amplo fluxo gênico, o que nos leva a supor que cadauma dessas espécies apresenta uma única grande população

distribuída ao longo da bacia Amazônica. Já para o tracajá, as

populações naturais são distintamente estruturadas em cada um

dos diferentes locais estudados, sugerindo que se devem ter ações

específicas para a preservação de cada população dessa espécie.

Essas informações nos

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alertam para a relevância de dispormos desse conhecimento para a

elaboração de planos de manejo, em populações naturais, ou ainda

para aplicação no melhoramento genético do plantel de animais

destinados à criação.

Entretanto, em cativeiro, as condições impostas ao animal

podem ser bastante diferentes daquelas encontradas nos ambientes

naturais e, muitas vezes, até desfavoráveis. Para manter uma

tartaruga em cativeiro, é necessário que o criador tenha à sua

disposição um conjunto mínimo de informações sobre a biologia e o

estilo de vida desse animal como, o que e quanto ele come, como ele

cresce, como ele se reproduz, como ele tolera as variações natemperatura e na qualidade da água, entre outras. A princípio,

essas indagações parecem aspectos triviais e, teoricamente, fáceis

de serem resolvidas durante a rotina da criação. No entanto, o que

tem sido constatado, na prática, pelo menos no estado do

Amazonas, é que a carência extrema dessas informações

praticamente estagnou o avanço da criação de quelônios em

cativeiro nesses últimos dez anos. Os progressos existentes no setor

são resultados de esforços isolados de alguns criadores que

desenvolveram seus procedimentos de criação embasados na

observação e em suas próprias experiências.

Nesse sentido, é imprescindível que sejam disponibilizadas

aos criadores de quelônios informações técnicas e científicas

relacionadas não apenas com a densidade de estocagem e engorda e

com o padrão das instalações, mas, principalmente, informaçõesligadas ao comportamento e às respostas funcionais que esses

animais manifestam nos ambientes de criação em relação à

qualidade nutricional (ainda um dos maiores desafios a serem

desenvolvidos), à temperatura e qualidade físico-química da água,

além da presença de parasitoses, de ocorrência comum nos

ambientes de criação. Esses fatores em conjunto podem

desencadear respostas negativas no processo de adaptação e no

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crescimento dos quelônios e, em médio e longo prazo, podem se

traduzir no insucesso dessa atividade de agronegócio, quando se

considera a relação custo/benefício.

II - O sangue como parâmetro fisiológico e bioquímico de análise

Por que eleger o sangue como indicador de saúde ou do status

nutricional de um animal? A análise desse material biológico nos

oferece algumas vantagens e, talvez, a mais importante seja o fato de

que o animal não precisa ser sacrificado para se obter um

diagnóstico. Além disso, diferentes parâmetros podem ser

analisados em uma amostra de sangue. Esse aspecto nos permite

ter, em uma mesma amostra, acesso a um conjunto variado deinformações sobre a fisiologia e a bioquímica do animal.

Apesar de sua aparência líquida, o sangue é, na verdade, um

tecido complexo constituído por um conjunto de células em

suspensão (células vermelhas, células brancas e plaquetas) que

desempenham diferentes funções à medida que circulam no

organismo e por uma parte líquida, o plasma. Nos répteis, aocontrário dos mamíferos, as células vermelhas ou eritrócitos são

bem maiores por apresentarem núcleo no seu interior (Figura 1).

Essas células são responsáveis pelo transporte dos gases

respiratórios (oxigênio e gás carbônico), enquanto as células

brancas ou leucócitos (Figura 1) atuam na regulação do potencial

imunológico e na manutenção da integridade dos tecidos contra

agentes infecciosos e corpos estranhos ao organismo. As plaquetasparticipam do processo de coagulação sanguínea. No caso de

rompimento dos vasos, as plaquetas produzem uma substância que

dá início a uma cascata de reações químicas que resultam na

produção do fibrinogênio e da fibrina, responsáveis pela formação do

coágulo e posterior restauração do vaso.

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Figura 1. Fotografia de esfregaço sanguíneo da tartaruga-da-amazônia,

mostrando as células vermelhas ou eritrócitos nucleados e, ao centro, um tipo

de célula branca, o eosinófilo.

O plasma, por sua vez, é constituído principalmente por

água, além de uma variedade de substâncias que incluem os saisminerais (ex. sódio, potássio, cálcio e cloreto), os produtos finais da

digestão das proteínas (aminoácidos), açúcares (glicose) e lipídeos

(triglicerídeos e colesterol), vitaminas, hormônios, metabólitos,

gases, além de produtos de excreção, como a uréia, amônia e ácido

úrico, entre outros (Verrastro et al., 1998).

O sangue é responsável pela integração dos diferentessistemas de um animal, mantendo os líquidos que estão distribuídos

nos diferentes compartimentos do corpo em constante movimento. À

medida que o coração bombeia o sangue para os diferentes vasos, os

tecidos recebem os nutrientes, os sais minerais e o oxigênio

necessário para manter suas funções normais. Essas substâncias

em suspensão no sangue deixam os vasos através do movimento do

plasma, para os espaços entre as células (compartimento

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extracelular), e se misturam aos líquidos ali existentes, passando a

se movimentar para o espaço existente no interior das células

(compartimento intracelular). Nas células, o oxigênio e os nutrientes

são consumidos para a produção da energia e, em contrapartida,

são formadas substâncias de excreção (gás carbônico e outrosmetabólitos) que precisam ser transportados para fora das células e

posteriormente eliminados. Como o organismo da maioria dos

animais é formado por cerca de 60 a 75% de água (Aires, 1999;

Davies et al., 2002), esse movimento contínuo do sangue e dos

líquidos ao longo do corpo é responsável pela manutenção da

distribuição de água nos diferentes compartimentos e pelo

equilíbrio geral das funções do organismo.

Em humanos, exames de sangue envolvendo a análise da

série vermelha do sangue (hemograma) e dos metabólitos presentes

no plasma (análise bioquímica) já são feitos de forma rotineira em

laboratórios, que utilizam técnicas específicas bastante

desenvolvidas e, em sua maioria, automatizadas. Parte dessa

tecnologia vem sendo transferida para a aplicação em outros grupos

de animais como bovinos, eqüinos e caprinos, para o

estabelecimento de intervalos normais que servem como

referenciais no diagnóstico da saúde desses animais (Silva et al.,

1999; Sharma et al., 2000; Birgel Júnior et al., 2001). Mais

recentemente, diversos grupos de pesquisa científica e veterinária

distribuídos no país vêm padronizando técnicas de diagnóstico

clínico para animais silvestres mantidos em zoológicos e criados em

cativeiro, como jacarés (Kindermann et al., 2003; Marcon et al.,

2003) e quelônios (Mundim et al., 1999; Marcon et al., 2000).

As técnicas que avaliam o hemograma se baseiam na análise

de algumas propriedades do sangue conhecidos como parâmetros

hematológicos, que incluem o hematócrito, a concentração de

hemoglobina e o número de células vermelhas presentes no sangue.

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O hematócrito representa a proporção de células vermelhas

ou eritrócitos sedimentados no sangue (Figura 2). Esse parâmetro

nos fornece indicações sobre a viscosidade (“consistência”, grau de

atrito que o sangue tem quando friccionado entre os dedos) e a

relação entre o volume total de sangue e a proporção de elementossólidos presentes, que estão sendo continuamente bombeados pelo

coração. Torna-se cada vez mais difícil para o coração bombear o

sangue, quanto maior for sua viscosidade. Nos quelônios, o sangue

circula dentro dos vasos fechados, de forma idêntica aos demais

vertebrados. Aumentos do hematócrito podem dificultar o fluxo do

sangue e, com isso, exigir mais do coração para que esse fluxo seja

mantido dentro dos níveis necessários para o bom funcionamento doanimal.

Figura 2. Obtenção do hematócrito por sedimentação ou centrifugação, a partir

de uma amostra de sangue.

Em humanos e outros animais terrestres sujeitos à

desidratação pode ocorrer uma concentração do sangue nos vasos,

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como resultado da perda anormal de água, uma condição

clinicamente chamada de hemoconcentração e facilmente

diagnosticada pela análise do hematócrito. Este se mostra elevado

quando comparado com o de animais não sujeitos a esse tipo de

condição. Hematócritos diminuídos podem refletir, por exemplo, umdiagnóstico de anemia, distúrbio do sangue muito comum entre os

humanos causado por vários fatores, como desnutrição, carência de

ferro e, em alguns casos, por características determinadas

geneticamente, como a anemia falciforme, muito freqüente em

populações endêmicas do continente africano.

A concentração de hemoglobina reflete a capacidade que o

sangue tem de transportar o oxigênio, que é retirado da atmosfera

pelos pulmões para ser fornecido aos tecidos e, com isso, permitir

que eles possam produzir a energia necessária para manter suas

funções normais. A hemoglobina é uma proteína de estrutura

complexa que é produzida e confinada dentro do citoplasma das

células vermelhas do sangue. Cada molécula da hemoglobina pode

transportar até quatro moléculas de oxigênio que se ligam em locais

específicos chamados heme, onde há a presença do átomo de ferro

(Leninhger, 1984). Aliás, é graças à presença do ferro no interior das

células vermelhas ou eritrócitos (eritro = vermelho; citos = célula)

que o sangue dos animais tem coloração tipicamente vermelha. O

ferro é também responsável pelo aspecto corado da pele, observado

nos humanos saudáveis, não observado em pacientes portadores de

anemia, por exemplo, que normalmente possuem a pele de

coloração pálida (Verrastro et al., 1998).

O número de eritrócitos é também outro parâmetro do

sangue muito importante na avaliação do estado de saúde de um

animal. Ele retrata a estimativa do número de células vermelhas que3 -6circulam em cada milímetro cúbico de sangue (1 mm equivale a 10

litros; quantidade menor do que uma gota). Nos mamíferos, os

eritrócitos não possuem núcleo e, por isso, possuem vida curta (120-

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180 dias) e precisam ser constantemente repostos pelos tecidos que

produzem essas células, denominados tecidos hematopoiéticos. No

homem, eles se localizam na medula espinhal. Nos quelônios, como

  já mencionado, os eritrócitos possuem núcleo e podem viver por

muitos anos na circulação no animal. Os tecidos hematopoiéticosdos quelônios e répteis, em geral, estão situados no fígado, no baço e,

em menor proporção, na medula (Schmidt-Nielsen, 1996).

O número de eritrócitos, assim como a concentração de

hemoglobina, está geralmente correlacionado ao nível de atividade

do animal (Schmidt-Nielsen, 1996). Quanto maior a atividade do seu

metabolismo, mais oxigênio deve ser consumido para que as célulasdo organismo possam gerar a energia necessária. Essa necessidade

pode ser facilmente suprida pelo aumento do número de células

vermelhas (e de moléculas de hemoglobina), aumentando, com isso,

a oferta de oxigênio transportado, através do sangue, para os

tecidos. Em humanos e outros animais, o estabelecimento de um

quadro clínico de anemia geralmente está associado a uma

diminuição do número de eritrócitos presentes no sangue (Verrastro

et al., 1998; Davies et al., 2002)

A partir da obtenção dos parâmetros hematológicos descritos

acima, é possível calcularmos os chamados índices hematimétricos,

representados pelo volume celular médio (VCM), hemoglobina

celular média (HCM) e a concentração de hemoglobina celular média

(CHCM). Esses índices nos fornecem informações sobre o

comportamento do eritrócito diante de alterações no volume de águano organismo, bem como na quantidade de íons como ferro, sódio

+ - 2+(Na ) potássio (K+), cloreto (Cl ) e cálcio (Ca ), entre outros.

O VCM representa o volume que uma única célula vermelha

pode apresentar no momento em que o sangue foi retirado do

animal. Se em uma dada condição o animal perder água

excessivamente, seu volume sanguíneo diminuirá e, com isso, as

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células vermelhas do sangue podem murchar, causando

diminuições no VCM. Em situação oposta, se houver excesso de

água corpórea, o aumento do volume de sangue pode ser

acompanhado por um aumento do VCM. A análise desse parâmetro

hematimétrico é, portanto, uma ferramenta simples e rápida paraidentificar se o animal está ou não em equilíbrio hídrico ou

eletrolítico.

 Já, o HCM, representa a quantidade de hemoglobina presente

em um único eritrócito. Além de também fornecer indicações sobre o

comportamento do volume celular, que se reflete em maior ou menor

quantidade de hemoglobina no seu interior, para os eritrócitosnucleados esse parâmetro pode ser importante, pois a síntese de

novas moléculas de hemoglobina pode ocorrer repetidas vezes,

dependendo das necessidades metabólicas do animal. Essas

características também podem influenciar o CHCM, que representa

a proporção de hemoglobina em relação ao volume do eritrócito.

Como o ferro é necessário para a síntese de hemoglobina, a carência

desse mineral também pode induzir a diminuições na CHCM.

Além do estudo da função dos elementos celulares do sangue,

a avaliação da composição química do plasma pode fornecer um

outro conjunto importante de informações sobre o estado de saúde e

das características nutricionais dos animais. Através da análise do

plasma é possível termos uma visão das quantidades dos principais

nutrientes exigidos e consumidos pelo organismo, como a glicose, os

triglicerídeos, o colesterol e as proteínas totais, além da quantidade+ + -de íons (Na , K e Cl , entre outros) e produtos de excreção. Condições

ambientais e nutricionais variáveis ou desfavoráveis podem

provocar mudanças dramáticas na composição química do plasma,

que podem ser facilmente diagnosticadas através da análise desse

constituinte do sangue.

O estudo das características do sangue pode, portanto,

203

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fornecer informações clínicas importantes para o entendimento do

estado geral de saúde e do próprio desempenho do animal, seja em

seu ambiente natural ou quando submetido aos procedimentos

inerentes da criação em cativeiro.

III - Procedimentos para coleta, armazenamento e análise do

sangue de quelônios

Como pudemos perceber, a análise do sangue se torna

vantajosa pela quantidade de informações que podem ser obtidas

para diagnosticar o estado de saúde de um animal. Entretanto, fora

do corpo, o sangue é um líquido muito suscetível à degradação e

alteração de suas propriedades. Para assegurar a qualidade desse

material, são necessários, portanto, observar alguns critérios de

procedimento que visam a praticidade e agilidade em todas as etapas

envolvidas na análise, i e., desde a etapa de captura do animal e

coleta do sangue até o seu tratamento e armazenamento. A seguir

são definidas as etapas e os principais procedimentos recomendados

para a aplicação em cada uma delas:

a) Captura: dependendo das dimensões e das condições dos açudes

e/ou tanques de criação (profundidade e transparência da água,

presença de paus e troncos no fundo, tipo de fundo, etc.), os animais

podem ser capturados com o auxílio de puçás, redes de cerco,

malhadeiras e até tarrafas (Figura 3). Essa deve ser feita

rapidamente e, dependendo no número de exemplares necessários,

em várias etapas.

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Figura 3. Captura dos animais em uma das fazendas visitadas, utilizando

tarrafa.

b) Coleta da amostra: após serem capturados, os quelônios

devem ser retirados da água e rapidamente imobilizados, por

viração, para a coleta da amostra de sangue. É importante que esse

período de tempo não exceda o intervalo de 2 a 5 minutos para cada

animal, pois a partir daí, os hormônios de estresse começam a

exercer seus efeitos, que resultam em alterações nas propriedades

do sangue do animal. Por esses motivos, recomendamos que os

quelônios a serem amostrados sejam capturados paulatinamente e

de acordo com as possibilidades de trabalho da equipe, pois, à

medida que esperam, esses animais vão ficando estressados e,

conseqüentemente, inadequados para o diagnóstico do estado geral

de saúde daquele lote e/ou população de animais.

A punção do sangue pode ser feita a partir da veia femoral

(Figura 4), utilizando seringas plásticas descartáveis (volumes entre

1 e 5 ml), contendo heparina ou liquemina como substâncias

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anticoagulantes. Em fêmeas grandes da tartaruga-da-amazônia, a

punção pode ser feita na veia caudal. Não recomendamos o uso de

EDTA em quelônios, anticoagulante utilizado em humanos e muito

comum em postos de saúde e laboratórios clínicos, pois

constatamos em trabalho realizado com tartarugas selvagens naRebio Abufari, que o EDTA causa alterações no volume do eritrócito

e principalmente hemólise (destruição dos eritrócitos e liberação de

hemoglobina no plasma), o que pode levar a interpretações errôneas

quando da análise do sangue.

 

Figura 4. Obtenção de amostras de sangue em uma tartaruga, através dapunção da veia femoral.

Durante a coleta, é importante o uso de luvas deprocedimento e jaleco (bata) para assegurar proteção contra acontaminação por eventuais agentes infecciosos presentes nosangue. Os quelônios não são considerados vetores de doenças parahumanos e peixes. Entretanto, como os resultados obtidos são aindaescassos e inconclusivos, deve-se ter cautela e evitar contato direto

com o sangue desses animais.

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c) Medidas biométricas: normalmente essas medidas se baseiam nocomprimento retilíneo e curvilíneo da carapaça, comprimento doplastrão, altura, peso e, pelo menos em animais de cativeiro, suasrespectivas idades. É importante mencionar que os dadosbiométricos devem ser obtidos sempre após a retirada do sangue,

pois, caso aconteça o inverso, a manipulação do animal durante abiometria poderá ocasionar alterações significativas em seusparâmetros hematológicos e metabólicos plasmáticos, o que podelevar a conclusões errôneas na análise dos resultados. Existemrelatos científicos com uma espécie de tartaruga (Clemys insculpta),demonstrando que ela sofre uma condição de febre temporária(aumento rápido da temperatura corpórea) quando manipulada emcondições de cativeiro (Cabanac & Bernieri, 2000). Aumentos datemperatura corpórea podem causar alterações nas propriedades do

sangue.

d) Análise e armazenamento do sangue: durante a análise de suaspropriedades, tanto no campo como nas fazendas de criação, osangue deve ser mantido constantemente em gelo. A baixatemperatura deprime o funcionamento das células e contribui parapreservar a composição química e hematológica do sangue.

Se a análise do sangue prevê a utilização do plasma, essepode ser separado do sangue total por centrifugação, acondicionadoem tubo apropriado e bem vedado, devidamente identificado e,finalmente, congelado em freezer -20ºC ou em nitrogênio líquido,mais adequado, já que promove o congelamento instantâneo daamostra a uma temperatura aproximada de -183ºC.

IV - Métodos analíticos aplicados à avaliação das propriedadesdo sangue em quelônios

Parâmetros hematológicos

Hematócrito (Ht): a proporção relativa (%) dos eritrócitospresentes no sangue pode ser determinada de acordo com o métodoque emprega o uso de tubo capilar (75 mm x 1 mm) de vidro, no qualum volume qualquer de sangue total é introduzido e centrifugado a

10.000 rpm, durante 5 minutos.

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Concentração de hemoglobina sangüínea (Hb): édeterminada por meio de uso de um método colorimétrico queemprega o uso de um reativo de cor especial (reagente de Brabkin)que reage diretamente com a hemoglobina presente no sangue. Como uso de um aparelho denominado espectrofotômetro (que mede a

intensidade de luz que passa pela solução de cor contendohemoglobina), é possível quantificar a concentração (expressa emg/dl) desse pigmento, que tipicamente tem a coloração vermelha. 

Contagem do número de eritrócitos (NE): a contagem donúmero total de células vermelhas presentes no sangue pode serrealizada pelo método de leitura em microscópio óptico, a partir dadiluição de uma amostra de sangue total (10ml) em 2 ml de soluçãode formol-citrato (citrato de sódio e formol), utilizando a câmara deNeubauer, uma placa de vidro dividida em quadros milimétricos, nosquais as células são contadas. O resultado da contagem é expresso

6 3em milhões de eritrócitos (NE) por milímetro cúbico (10 /mm ) desangue.

Índices hematimétricos: o volume corpuscular médio(VCM), a hemoglobina corpuscular média (HCM) e a concentração dehemoglobina corpuscular média (CHCM) podem ser facilmente

calculados a partir das relações entre os valores obtidos para osparâmetros do sangue, citados acima, por meio das seguintesequações:

3VCM (m ) = (Ht / nº de eritrócitos) x 10

HCM (pg) = ([Hb] / nº de eritrócitos) x 10

CHCM (%) = ([Hb] / Ht) x 100

Metabólitos plasmáticos

Glicose plasmática: os níveis (mg/dl) de glicose foramdeterminados por meio de uma reação enzimática, utilizando um kit.comercial (Glicose enzimática líquida, Doles reagentes, Goiânia-GO), seguido de leitura em espectrofotômetro a 510 nm.

 Triglicerídeos: Os triglicerídeos (mg/dl) foram determinadosatravés de um método enzimático colorimétrico (Triglicerídeos

enzimático líquido, Doles reagentes, Goiânia-GO), que se baseia na

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hidrólise com lipases. A leitura foi feita em espectrofotômetro a 510nm.

Colesterol: Os níveis plasmáticos (mg/dl) de colesterol totalforam analisados através de um kit. comercial enzimático-

colorimétrico (Colesterol enzimático líquido, Doles reagentes,Goiânia-GO), com leitura em 510 nm.

Proteínas totais: As proteínas totais do plasma foramdeterminadas por meio de um teste colorimétrico em 540 nm,utilizando-se o reagente de Biureto (Doles, GO) e seus níveisexpressos em g/dl.

Uréia plasmática: Os níveis de uréia (mM) foramdeterminados em 600 nm através de um kit. comercial enzimático-colorimétrico (Uréia enzimática líquida, Doles reagentes, Goiânia-GO).

V - Estudos de caso

Durante a apresentação de alguns estudos de caso

desenvolvidos pelo grupo de fisiologia e bioquímica com quelôniosem várias fazendas próximas a Manaus, o leitor vai ter uma visão decomo as propriedades do sangue podem ser empregadas comoferramentas para diagnosticar a saúde, bem como o caráternutricional de quelônios criados em cativeiro, utilizando atartaruga-da-amazônia como objeto de estudo.

 Três situações distintas: parasitismo, perda anormal de águapor dessecação e o acompanhamento de tartarugas submetidas a

diferentes métodos de criação, foram estudadas e parte dessesresultados são mostrados a seguir:

Animais parasitados

Em 1999, os técnicos do Ibama-Manaus informaram aos

membros do projeto Diagnóstico que um lote de tartarugas

mantidas nas dependências daquele órgão estavam doentes. Os

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animais estavam sendo mantidos em tanques de fibra de vidro de

1.000 litros, parcialmente preenchidos com água estagnada e de

qualidade precária. O diagnóstico foi realizado no local e

confirmou a presença de parasitismo múltiplo (Santos, 1999). As

tartarugas apresentavam pele ressecada, hematomas e sinais dehemorragia no plastrão e nas patas, manchas e proliferação de

fungos ao longo da pele, na membrana timpânica e nos olhos.

Além disso, a autopsia realizada em nove exemplares

encaminhados ao Laboratório de Parasitologia, da Universidade

Federal do Amazonas, revelou quantidade muito elevada de

vermes helmintos aderidos às paredes internas do trato

gastrointestinal.

Com o objetivo de comparar o quadro diagnosticado nos

animais doentes, nove tartarugas consideradas saudáveis

também foram abatidas para autopsia e houve confirmação da

não incidência de parasitas gastrointestinais e cutâneos. Estes

animais serviram como grupo controle. A presença de helmintos

em quelônios amazônicos selvagens coletados na natureza já foidescrita na literatura para a tartaruga e o tracajá (Gibbons et al.,

1997), contudo, a freqüência e o grau de infestação são

geralmente baixos.

Além dos sinais externos provocados pelo parasitismo

múltiplo, as tartarugas também apresentaram modificações

importantes nas propriedades do sangue. Diminuiçõessignificativas (p<0,05) no hematócrito, na concentração de

hemoglobina e, principalmente, no número de eritrócitos foram

observados nas tartarugas parasitadas, em comparação ao

grupo-controle (Tabela 1), indicando a presença de um quadro

representativo de uma condição de anemia. De acordo com os

resultados obtidos, torna-se evidente que as tartarugas

parasitadas sofreram perda de seu volume sanguíneo provocado,

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principalmente, pela elevada carga de helmintos presentes no

trato gastrointestinal. Em mamíferos em geral, esses parasitas

são reconhecidos por causarem, além da anemia, uma série de

distúrbios como letargia, morbidade (falta de estímulo e

movimento), parada no processo de crescimento e, em casosextremos, a morte do animal. Os resultados também demonstram

que as tartarugas parasitadas respondem de forma semelhante

aos mamíferos, quando infestadas por helmintos. Como esses

parasitas não apresentam tubo digestivo completo, alimentam-

se por meio da sucção do sangue, contendo as células e os

nutrientes do plasma, absorvidos durante o processo digestivo,

aspectos que explicam os baixos valores observados em seus

parâmetros hematológicos.

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  Tabela 1. Efeito da infestação por parasitas sobre os parâmetroshematológicos e índices hematimétricos (média DP) obtidos no sangue de

tartarugas-da-amazônia criadas em cativeiro.

* Indica diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os animais sadios e osparasitados.

212

Animais controle Animais parasitados Parâmetro

28,14 ± 0,94 18,09 ± 0,74* Ht (%)

9,39 ± 0,40 5,84 ± 0,28* [Hb] (g/dl)

0,32 ± 0,02 0,20 ± 0,01* NE (106/mm3)

935.42 ± 65,31 930,09 ± 62,99 VCM (mm3)

298,87 ± 14,45 301,07 ± 23,18 HCM (pg)

32,45 ± 1,83 32,46 ± 1,31 CHCM (%)

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O parasitismo não parece influenciar os índices

hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) nas tartarugas estudadas

(Tabela 1). Geralmente, as alterações observadas nesses índices

estão relacionadas a distúrbios do balanço hídrico e eletrolítico do

organismo, como por exemplo, em animais sujeitos à perda anormalde água ou acúmulo excessivo de sais.

Situações de infestação por parasitas podem ser muito

freqüentes em animais mantidos em ambientes de criação, por isso é

necessário que o criador observe o comportamento de seus animais

durante a criação e, periodicamente, realize exames parasitológicos

para evitar a possibilidade de infestação por helmintos ou outros

tipos de parasitoses.

Animais sujeitos à perda excessiva de água, por

dessecação

O diagnóstico de perda de água corpórea em exemplares da

tartaruga (P. expansa) foi obtido em duas fazendas de criação

situadas no município de Manacapuru-AM, durante osprocedimentos de despesca desses animais para acompanhamento

da biometria. No primeiro local de criação (fazenda A), os animais

foram capturados com rede de cerco, confinados em sacos de náilon

de 50 litros (n=10) e expostos ao ar por um período aproximado de 3

horas consecutivas, até a conclusão da biometria. As amostras de

sangue foram obtidas imediatamente após o término desse

intervalo. Paralelamente, outro lote de tartarugas (n=10) foicapturado, mantido em água por um período máximo de 15 minutos

e, em seguida, amostrado para a obtenção do sangue. Esses

indivíduos foram analisados para servirem como controles em

relação aos animais expostos à dessecação. Na fazenda B, um grupo

de tartarugas (n=10) também foi submetido ao mesmo procedimento

de captura e confinamento, só que por um período aproximado de 6

horas consecutivas. A exemplo da fazenda anterior, um grupo de

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tartarugas mantidas em água foi analisado para servir como

controle em relação aos animais dessecados.

Quando os animais sujeitos à dessecação são comparados

com seus respectivos grupos de controle, é possível observar que osparâmetros hematológicos não sofreram variações nas tartarugas

da fazenda A (Tabela 2). Entretanto, nos animais da fazenda B,

expostos à dessecação durante 6 horas, já foi possível verificar

aumentos significativos na concentração de hemoglobina. Esse

aumento da hemoglobina no sangue é resultado da diminuição do

volume do eritrócito, que se refletiu nos baixos valores de VCM

(p<0,05) observados para ambos os grupos de tartarugas sujeitas à

dessecação (Tabela 2).

 Tabela 2. Mudanças observadas (média DP) nos parâmetros hematológicos e

índices hematimétricos provocados pela perda de água corpórea em

exemplares da tartaruga-da-amazônia submetidos por três (fazenda A) e seis

* Indica diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os animais dessecados eaqueles mantidos em água.

É importante mencionar que, pelo menos nas tartarugas

expostas à dessecação por 6 horas consecutivas, todos os índices

hematimétricos se mostraram alterados (Tabela 2), indicando que

esses animais estavam enfrentando uma situação de estresse

214

Parâmetro Fazenda A Fazenda B

Normais Dessecados Normais Dessecados

Ht (%) 23,9 ± 1,4 23,0 ± 1,8 28,5±1,6 25,9±1,1

[Hb] (g/dl) 6,7 ± 0,4 7,42 ± 0,5 7,0 ± 0,4 9,0 ± 0,5*

NE(106/mm3)

0,28±0,02 0,31 ± 0,02 0,31±0,02 0,34 ± 0,02

VCM (mm3) 859,5±27,3 745,7±35,0* 890,8±18,7 777,6± 31,1*

HCM (pg) 241,1±7,4 245,4± 16,5 226,9±6,1 269,1± 11,1*

CHCM (%) 28,1 ± 0,7 32,1 ± 1,6* 25,3 ± 0,7 34,6 ± 0,6*

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hídrico intenso, pois a diminuição da quantidade de água corpórea

 já vinha sendo acompanhada por um decréscimo da proporção de

líquido em relação à quantidade de elementos celulares, que leva os

eritrócitos a ficarem menos volumosos e com maior concentração de

hemoglobina em seu interior. Diminuições no volume doseritrócitos, bem como no volume sanguíneo total, foram também

observadas em porcos jovens sujeitos à deprivação de água por 12

horas consecutivas (Houpt & Yang, 1995), indicando que

mamíferos e quelônios sofrem os efeitos negativos da perda de água

corpórea, de maneira similar.

No caso dos quelônios, para reverter essa situação de

estresse, é necessário que após o manejo os animais sejam

rapidamente devolvidos à água, para que possam restabelecer o seu

equilíbrio hídrico. Nesse sentido, é importante que durante o

processo de criação os animais sejam mantidos fora da água, o

menor tempo possível, para que não sejam expostos a situações de

estresse hídrico e deprivação de água.

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Animais submetidos a diferentes métodos de criação em

cativeiro

Como um dos objetivos principais do projeto era realizar um

diagnóstico das condições gerais de criação dos quelônios, entre os

anos de 1998 e 2000, as equipes do projeto promoveram visitas

periódicas em diversas fazendas de criação localizadas em Manaus e

municípios próximos. Inicialmente, a equipe de fisiologia selecionou

fazendas que haviam recebido lotes de recém-eclodidos provenientes

da Rebio Abufari, onde foram realizados os primeiros estudos com osangue de tartarugas selvagens, para a obtenção de valores de

referência para os parâmetros hematológicos e metabólitos do

plasma (Marcon et al., 2000). Com o intuito de preservar a

privacidade dos proprietários que apoiaram esse estudo, as fazendas

de criação foram aqui identificadas apenas por letras. Nesse sentido,

foram eleitas quatro fazendas: fazenda A (Manaus), fazenda B

(Iranduba), fazenda C (Manacapuru) e fazenda D (Rio Preto da Eva).

Paralelamente à coleta de sangue, foram realizadas

entrevistas com os proprietários e/ou responsáveis das fazendas,

com o objetivo de obter informações mais detalhadas sobre as

condições de criação, o tipo de tanque utilizado, alimentação (tipo e

quantidade), qualidade da água, relatos de parasitismo, etc.

As fazendas monitoradas neste revelaram procedimentos de

criação variados. Os animais da fazenda A estavam sendo criados em

tanques escavados (aprox. 20m x 40m), contendo água de coloração

barrenta. A alimentação era notoriamente insuficiente e consistia

basicamente da sobra de vegetais (alface picada, repolho e outros

tipos de verdura) obtidos em feiras. Na fazenda B, a alimentação se

resumia à oferta de uma macrófita aquática (mureru, Eichhornia 

216

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sp.), de restos de pão e, quando disponível, de ração comercial para

peixes. Em ambas as fazendas, os indivíduos amostrados estavam

magros e pequenos e apresentavam sinais claros de inanição, em

comparação aos indivíduos de mesma faixa etária, amostrados nos

outros dois criadores (Tabela 3).

Na fazenda C, os animais eram criados em um pequeno lago

contendo água preta e de boa qualidade. Os animais estavam sendo

alimentados com uma ração comercial à base de peixes, oferecida

em quantidades aparentemente suficientes e apresentavam aspecto

saudável. Já na fazenda D, as tartarugas estavam sendo criadas em

uma barragem, em consórcio com tilápias ( Tilapia sp.) e pirarucus(Arapaima gigas), com água também de coloração preta e de boa

qualidade. A alimentação, a exemplo da fazenda C, também

consistia na oferta de ração comercial à base de peixes. Entretanto,

além da ração, o criador fazia uma complementação alimentar diária

com macaxeira. Os animais estavam aparentemente saudáveis, com

peso e tamanho superiores ao observado nos animais analisados

nas demais fazendas (Tabela 3).

Esse histórico inicial é fundamental para entendermos como

as condições gerais de criação podem influenciar os parâmetros

hematológicos da tartaruga. Os resultados obtidos nas diferentes

fazendas revelam dois extremos importantes: os animais das

fazendas A e B apresentaram os parâmetros hematológicos

estatisticamente (p<0,05) inferiores aos registrados para os animaisda natureza (controle). Esse comportamento foi ainda mais evidente

na fazenda B (Tabela 3). Isso é um forte indicativo de que os

procedimentos empregados nas duas primeiras fazendas não

estavam sendo satisfatórios para propiciar um crescimento

adequado para a tartaruga em cativeiro.

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  Tabela 3. Biometria, hematologia e níveis dos principais metabólitos

plasmáticos (média DP) obtidos em exemplares (n=10) da tartaruga (Podocnemis

expansa) criados em 4 fazendas próximas a Manaus. * indica diferença estatística

(p<0,05) em relação aos animais controle.

Nota: 1) indivíduos selvagens (n=10) da tartaruga, provenientes da Rebio Abufari. PT =

proteínas totais; TG = triglicerídeos; COL = colesterol total.

A avaliação das condições gerais dessas fazendas demonstradescaso com a alimentação e a manutenção da qualidade da água.Apesar de condizente com o hábito herbívoro atribuído à tartaruga-da-amazônia (Fachin et al., 1995; Soini et al., 1989), tanto aquantidade, como a qualidade (restos de feira e mureru) do alimentofornecido não pareciam estar satisfazendo as necessidadesfisiológicas da espécie. Isso se reflete claramente no peso dos

animais cultivados nessas fazendas: os quelônios analisados na

218

Parâmetro Animaiscontrole1 

FazendaA

FazendaB

FazendaC

FazendaD

Hematologia

Ht (%) 28,1±4,2 19,6±3,8 18,6±3,3*

22,4±5,0 29,9±6,7

[Hb] (g/dl) 8,2±1,4 5,4±1,0* 5,5±0,7* 6,4±1,9 9,0±1,81NE(106/mm3)

0,30±0,04 0,28±0,05 0,22±0,02*

0,27±0,08 0,41±0,07*

VCM (mm3) 803±144 722±199 847±157 893±249 728±104HCM (pg) 249 ± 45 198±42* 249±33 248±91 221±36CHCM (%) 31,2±2,2 28,5±8,1 29,8±4,6 28,4±3,4 30,8±6.5Metabólitos

PT (g/dl) 2,8±0,7 2,4±0,3 1,7±0,3* 1,5±0,3* 4,0±0,7*Glicose(mg/dl)

94,9±30,6 102,5±15,1 59,7±19,5*

90,1±16,0 86,7±15,7

 TG (mg/dl) 31,3±20,9 53,6±61,0 69,2±33,6 18,6±11,7 209,4±98

COL (mg/dl)

38,3±38,6 31,4±8,4 27,8±7,7 33,3±12,4 26,1±7,9

Uréia (mM) 1,6±

1,5 1,0±

0,4 2,4±

0,8* 2,5±

1,6* 5,9±

3,8*

Biometria Carapaça(cm)

37,9±5,0 14,1±1,2 14,2±1,1 22,6±4,3 24,5±3,0

Peso (kg) 5,74±2,6 0,37±0,1 0.32±0,1 1,33±0,7 1,78±0,6Idade(anos)

? 4,0±0 2,5±0,5 2,7±0,5 2,0±0

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fazenda A possuíam uma faixa etária de aproximadamente 4 anos eum dos menores pesos registrados entre os diferentes locais.Situação semelhante pode ser observada nas tartarugas da fazendaB que, apesar de mais jovens, também revelaram pesos muito abaixoda média, observados para outras fazendas (Tabela 3), indicando

que os animais dessas fazendas estavam sendo submetidos a umadieta destinada tipicamente à manutenção de suas funçõesorgânicas e distantes daquela esperada para um bom crescimentoem condições de criação.

A fazenda C e, especialmente a fazenda D, parecem estar

mais preparadas para a criação de P. expansa em cativeiro. A

manutenção desses animais em açudes de igarapé represados e/ou

lagos naturais, bem como a utilização de rações mais equilibradas ericas em proteínas, parecem ser procedimentos que melhor

satisfazem as necessidades naturais dessa espécie e se refletem

positivamente no crescimento dos animais (Tabela 3). Na fazenda C,

apenas os níveis de proteínas totais estiveram diminuídos em

relação aos animais de controle, enquanto que os níveis de uréia

encontraram-se aumentados. O proprietário da fazenda estava em

fase de negociação do imóvel durante o período de acompanhamento

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e, provavelmente, deve ter reduzido a quantidade de ração oferecida

aos animais. Isso poderia explicar, em parte, a diminuição dos

valores de proteínas totais, observada no plasma. Já, as

propriedades do sangue das tartarugas criadas na fazenda D foram

semelhantes aos dos animais de controle, com exceção do númerode eritrócitos, bem como dos conteúdos de proteínas totais, uréia e,

principalmente, de triglicerídeos, provavelmente devido ao tipo de

complementação alimentar, à base de macaxeira, ingerido por esses

animais.

Informações obtidas em tartarugas selvagens (Marcon et al.,2000, Duncan et. al., 2001) indicam que esses animais são versáteis

quanto ao uso de diferentes substratos energéticos, desde asprimeiras fases de vida. Nesse sentido, é provável que o excesso decarboidratos ingeridos pelas tartarugas da fazenda D estariamsendo convertidos em triglicerídeos e transportados no plasma emgrandes quantidades, por parte das proteínas aí presentes, até osdiversos tecidos, onde podem ser metabolizados ou armazenados naforma de gordura. A quantidade de triglicerídeos foi tão expressivanesse grupo, que dois indivíduos chegaram a apresentar 449 e 680mg/dl, respectivamente, valores bem superiores aos considerados

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normais para animais da natureza (Marcon et al., 2000). Oresultado desse complemento alimentar se refletiu no peso médioatingido por esses animais, que supera os valores obtidos nasoutras fazendas de criação. Entretanto, os níveis de triglicerídeostambém indicam que esse procedimento de criação pode induzir as

tartarugas a ficarem excessivamente gordas. Naquelaoportunidade, foi sugerido ao proprietário da fazenda diminuir aoferta de macaxeira para balancear melhor a quantidade dealimento fornecido aos seus animais. Uma dieta mais equilibradapode permitir que o animal converta a maior parte dos nutrientesabsorvidos e metabolizados em massa muscular (carne) e não emgordura.

Por fim, torna-se evidente que o acompanhamento periódico

das características do sangue pode se constituir em uma excelenteferramenta, tanto para o diagnóstico do estado de saúde como parao entendimento das necessidades nutricionais dos quelônioscriados em cativeiro. Estudos complementares são aindanecessários para que possam ser definidos com maior adequação,critérios e procedimentos de acompanhamento das condições geraisde criação de quelônios no Estado do Amazonas.

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Capítulo 7: Instalações para a criação dequelônios

Paulo César Machado Andrade

 João Alfredo da Mota Duarte

Francimara Souza da Costa

Wander Rodrigues

Hugo R. Bezerra Alves

Anndson Oliveira Brelaz

Na criação comercial de quelônios em cativeiro, asoinstalações precisam ser conforme exige o Ibama na Portaria n

142/92, para as fases de reprodução, cria, recria, alimentação e

manutenção, para que, ao submeter o animal a um ambiente

artificial, com características aproximadas ao habitat natural, se

consiga um crescimento satisfatório (Duarte, 1998).As principais instalações para um criatório de quelônios são:

a) Berçário: Instalação onde os filhotes ficaram durante o

primeiro ano de vida, recebendo maior proteção contra predadores e

uma alimentação que propicie melhor crescimento inicial. Em geral,

são feitos de cercas de madeira em barragens, pequenos tanques

escavados, tanques em alvenaria ou tanques-rede. Em média,2trabalha-se com uma área de 70-150 m para 4.000-4.500 filhotes

em berçários de cerca de madeira ou tanque escavado, ou de 353animais/m em tanques-rede ou gaiolas (Figuras 1, 2, 3).

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Figura 1: Modelos de berçários de quelônios na fazenda experimental da

Universidade Federal do Amazonas: a) Balsa com berçário em gaiolas flutuantes outanques-rede; b) Berçário com cercado de madeira. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade,P.C.M.)

 

Figura 2: Berçário com cerca de madeira, cantos arredondados e plataforma deareia como solário. Fazenda Águas Claras, Manacapuru/AM. Foto: Projeto Diagnóstico(Andrade, P.C.M.)

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Figura 3: Berçário tipo gaiola em lagos naturais. Macuricanã, Nhamundá/AM.Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.)

b) Tanque ou barragem de crescimento: Instalação para

onde os animais são transferidos após a saída do berçário. Em geral,

são tanques escavados ou barragens, onde os quelônios têm maior

espaço disponível para deslocamentos, permitindo um melhor

desempenho. Essa instalação serve para animais de 12 a 36 meses,2e em geral trabalha-se com cerca de 1 animal/m , sendo, entretanto,2possível, trabalharmos intensivamente com até 20 animais/m no

segundo ano (Figura 4).

Figura 4: Tanques de crescimento e barragem como área de reprodução compraia artificial. Novo Israel, Manaus/AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.)

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c) Tanque ou barragem de reprodução: Esta instalação

destina-se aos reprodutores e matrizes, selecionados entre animais

acima de 4 anos ou 7 kg de peso vivo, no caso das tartarugas, e 4 anos

ou acima de 3 kg, no caso dos tracajás. Trabalha-se com uma

2densidade de um animal para cada 2,5 m , preferencialmente, embarragens de um hectare ou grandes tanques escavados (acima de

21.000 m ). Em uma de suas margens deverá ser construída uma

praia artificial com areia fina ou média, com no mínimo um metro de

altura acima do nível d'água (Figura 5).

Figura 5: Tanque circular de reprodução de quelônios em alvenaria. CPPQA,

Balbina/AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).

Outras instalações poderão ser construídas, como berçários

para animais com dois anos, tanques de engorda para animaisacima de três anos, que ainda não atingiram peso de abate, etc.

Quanto mais divididos forem os lotes, preferencialmente, por classe

de tamanho ou peso, menor a competição e mais uniformemente os

animais terão acesso ao manejo e alimentação oferecidos.

  Todas as instalações deverão ser cercadas com cercas de

madeira, tela de alambrado ou mureta de alvenaria, com, no

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mínimo, 60 cm de altura e com cantos arredondados. Este tipo de

estrutura evitará a fuga de animais (principalmente tracajás),

quando de eventuais problemas de secagem acidental dos tanques e

barragens (Figura 8).

Nos berçários, é recomendável que se coloque uma estrutura

de proteção para evitar predadores aéreos (gaviões, garças, socós,

etc.). Isso pode ser feito com redes de pesca, tela tipo sombrite ou fios

de náilon esticados (Figuras 6 e 7).

Figura 6: a) Berçário com cerca de madeira em barragem; b) Detalhe do sistema

de fios de náilon para proteger contra predadores aéreos. Vide praia de reprodução ao

fundo. Fazenda do sr. Chico Lima/Manacapuru-AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade,

P.C.M.).

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Figura 7: Berçário de alvenaria redondo e com proteção contra predadores, feitacom rede de pesca. Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade,P.C.M.).

Figura 8: Detalhe de cerca de madeira em barragem com quelônios.Eirunepé/AM. Foto: RAN-AM (Duarte, J.A.M.).

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A seguir, temos uma pequena revisão sobre dados de

instalações para quelônios e, posteriormente, apresentamos os

resultados de estudos realizados em instalações para

queloniocultura no Amazonas.

5.1. Instalações para quelônios: uma pequena revisão

Espriella (1972) indica algumas condições para a criação

em cativeiro, como a renovação de água (oxigenação); tamanho da

fonte de água, que deve ser adequado para fomentar a espécie, pois

cada tartaruga necessita, em função do manejo, de um espaço vital

de 2 m³ de água (2.000 litros) onde a água deve fluir tranqüilamente;

a elevação do nível da água não deve comprometer a barragem, com

profundidade de 1,0 m a 2,20 m; deve-se dispor de bosques, dentro

da área, com o objetivo de manter a presença de insetos ou outros

organismos úteis que possam fazer parte da alimentação; a

localização da praia de desova deve ser para o oriente, porque ao

nascer, os filhotes caminham nesse sentido até a submersão, e a

área de praia necessária para cada tartaruga é de 1m² numaprofundidade de 80 cm, com areia retirada de rio.

A areia da praia de desova não pode ser úmida (poços

d'água), pois a desova poderia ocorrer em terra firme, “compacta”. A

disponibilidade de plantas variadas através de cultivo ou não para

complementar a alimentação é muito importante. A ração deve

variar para permitir um maior crescimento corporal e produção de

ovos.

O tamanho da área física, recomendado por Morlock (1979)

para o funcionamento do cativeiro é de 1 m² para cada 1 cm de casco

de tartaruga. Sendo o proposto pelo Sebrae (1995), uma área de21.250 m para 5.000 filhotes, de 1 kg cada animal,

aproximadamente, no período de adaptação.

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O Cenaqua (1994) e o Ibama-AM recomendam por 1 ha de

lâmina d'água 4.500 e 4.000 indivíduos, respectivamente.

A princípio, para o investimento físico, é necessário o

levantamento topográfico da área escolhida, demarcação paralimpeza e construção de barragem. Na limpeza é importante que

sejam retirados troncos que correspondam a 20% da área a ser

inundada para a captura e nos 80% restante, corta-se rente ao solo

(Espriella, 1973; Sebrae, 1995).

Para Espriella (1972) e o Sebrae (1995), praias de desova2

devem margear o criatório e possuir 250 m , aproximadamente. Ouso de cercas, caso haja necessidade, deve ser feita após a

construção com mourões distanciados a cada 2,0 m. A

profundidade do mourão e da estaca deve ser de 30 cm, a uma

altura de 1,5 m e no caso da superfície da água deve estar a 1m

acima da superfície para evitar a entrada de animais indesejáveis ou

a saída das tartarugas do berçário ou represa. Por isso, não é

recomendado construir porta comum e, quando for o caso, o tipoguilhotina seria o indicado, incluindo também rampa para acesso

dos animais, cultivos de plantas para ampliar/diversificar a

alimentação dos quelônios.

Alfinito, Viana & Silva (1976) enfatizam a importância do

berçário de tartarugas, na qual os animais confinados

desenvolvem-se satisfatoriamente, não sendo registrado perdasuperior a 1%.

Recomenda-se a construção de berçário para diminuir ou

evitar o índice de mortalidade, nos primeiros meses de vida, dada às

adaptações naturais biológicas, com solário e comedouro

submerso, sendo o primeiro com 10 m x 8 m, comprimento e

largura, respectivamente, a uma profundidade de 1 m, ou menor,

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podendo essas medidas variar segundo as circunstâncias de

disponibilidade, características técnica e econômica do material

encontrado no local, desde que não comprometam o crescimento do

animal, podendo ser coberto com tela de arame ou fio de náilon, a

fim de evitar o ataque de predadores avícolas silvestres. O solário e arampa de alimentação devem ter lâmina d'água para diminuir o

consumo de água de reposição no reservatório, controle de

alimentação e realizar a higienização diária (Alfinito, 1980).

Pela qualidade da água amazônica, em termos de sais

dissolvidos, ser pouco produtiva e com certa acidez, sendo causado

por fatores geológicos ou pelo índice pluviométrico, deve haver apossibilidade de renovação para que a taxa de oxigênio dissolvido

esteja acima de 9,0 ppm (Sebrae, 1995).

Sobretudo o período após a alimentação dos quelônios,

para o Sebrae (1995), é extremamente essencial porque esses

animais necessitam de flutuadores (natural ou artificial) para,

através da sua exposição aos raios solares, acelerar seumetabolismo e a digestão, após a alimentação em cativeiro.

Na barragem, o escoamento controlador do nível d'água

deve ser feito através de gravidade em direção do monge e

sangradouro, telados. Para facilitar a captura dos animais, a caixa

de coleta deve ser de 10% da área inundada com 0,75 m de

profundidade. Após o esvaziamento deve ser feita a calagem com

calcário dolomítico, em função da análise química d'água, com solo

úmido, sem nenhuma tartaruga, e após 7 dias, a barragem deverá

ser enchida e os animais colocados depois de 15 dias de espera

(Sebrae,1995).

Observações realizadas no Núcleo de Criação de Quelônios

em Cativeiro, na Fazenda Vale do Sol, em Goiás, demonstraram que

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a baixa temperatura ambiente é um fator que causa a morte em

tartarugas jovens em cativeiro. Como conseqüência do frio, os

filhotes podem desenvolver um quadro de pneumonia, evidenciado

por sintomas como perda do apetite, presença de uma membrana

esbranquiçada cobrindo o globo ocular, secreção nasal comobstrução das vias respiratórias, insuficiência respiratória

caracterizada pelo comportamento atípico dos animais, que

permanecem boiando com o corpo em posição inclinada, e

mortalidade (Ferreira, 1994). Isso indica que em locais com períodos

mais frios, além dos solários, os berçários podem receber cobertura

plástica para propiciar temperaturas maiores e mais constantes.

Para a criação de tartarugas é necessário que haja alguns

cuidados, principalmente em áreas adaptáveis ao seu habitat

natural como: a água deve ser renovável; o viveiro deve ser fertilizado

para que ocorra uma reprodução de microplâncton, útil ao equilíbrio

ecológico do açude; é necessária a construção de tanques de engorda

e crescimento inicial (Duarte, 1998).

Os criadouros comerciais de quelônios, instalados em

represa ou açudes, deverão apresentar sistema que permita seu

completo esvaziamento. Os criadouros instalados em braços de

lagos devem prever sistemas de captura dos animais através de

cercados ou redes, mediante condicionamento alimentar (Duarte,

1998).

Para a criação comercial de quelônios em cativeiro,

sugere-se a construção de um tanque e de um lago de barragem. Os2lagos deverão ter 10.000 m , destinando-se aos últimos 36 meses de

engorda, de onde sairão 4.500 tartarugas adultas, pesando, no

mínimo, 25 kg a unidade (Sebrae, 1995).

Para implementar um criatório de quelônios, é necessário

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dispor de uma área adequada que contenha igarapé com uma

lâmina de água não inferior a 1,0 ha (Duarte, 1998).

Os investimentos físicos para a implantação de um criatório

de tartaruga consistem em atividades da construção civil como:seleção e demarcação da área, cuidado com a qualidade da água,

limpeza da área, praia de desova, cerca de proteção, sistema de

escoamento, monges, sangradouros, barragens, tanque de filhotes e

local de captura (Sebrae, 1995).

5.2 Instalações para quelônios no Amazonas: Etapa I:

diagnóstico da criação de quelônios no estado do Amazonas

Através do projeto Diagnóstico da Criação de Animais

Silvestres no Amazonas, a Universidade Federal do Amazonas e o

Ibama realizaram o levantamento dos principais tipos de instalações

de quelônios utilizadas no Amazonas.

5.2.1 Localização do diagnóstico

As propriedades visitadas, bimestralmente, foram os

criadouros registrados no Ibama-AM apresentados na Tabela 1.

5.2.2 Procedência dos animaisOs filhotes de tartaruga (Podocnemis expansa) foram doados

pelo Ibama-AM ao(s) queloniocultor(es), mediante a aprovação do

projeto para a criação comercial, sendo os animais provenientes,

inicialmente, da Reserva Biológica do Abufari (Lat. S 0451' – 0530' eLong. W 6247' a 6322'; Criada pelo Decreto Federal nº 87.585 de

20/9/1982) no município de Tapauá (Lat. S 0545' e Long. W 6424') e

depois nos tabuleiros de Sororoca, Rio Branco, Roraima e Walter

Buri, Rio Juruá, Itamarati.

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Propriedade Animais recebidos

Manoel Neuzimar Pinheiro - Sítio Vida Tropical 1.000Carlos A. de Souza 835

  José V. dos S. Lima 1.300Águas Claras Piscicultura Ltda. 3.000Agropecuária Exata Ltda. 22.100Francisco de S. Campos 15.000Antônio B. Penha 8.000Manoel Neuzimar 1.000Francisco O. Jordão - Agropecuária Punã Ltda. 19.433

Pedro de Q. Sampaio - Agropecuária PEC Ltda. 25.000  José da S. Vasconcelos 5000Ocimar Lopes – Aq. Sypiri 2.000Arlindo Apolinário Pereira 3.000Ufam 1.200Ivan Menezes – Fazenda D. Diego 2.000

  José Itamar da Silva 4.000  José Bastos de Oliveira 4.000Stênio Lima da Silva 5.000

  Total (unidades) 122.868

5.2.3 Material para captura, biometria e pesagem dos

animais

Para a captura e biometria dos animais foram utilizados

puçá, rede de pesca (tipo tarrafa ou malhadeira), paquímetros

metálicos, plásticos e/ou de madeira, caçapas plásticas, trena,

coletor plástico para amostras, máquina fotográfica, etiquetas de

identificação, ficha de biometria de quelônios, prancheta, lápis,

borracha, papel-lenço, balanças com capacidade respectiva de

1,610 kg (graduação de 1g), 2,610 kg (graduação de 1g), 15 kg

(graduação de 5 g) e 50 kg (graduação de 100 g). Foram realizadas

biometrias e pesagens amostrais em 100 animais de cada criadouro,

bimestralmente.

233

 Tabela 1: Criadouros de tartaruga (Podocnemis expansa) do Estado do Amazonas analisados e

total de animais recebidos do Ibama até 2000.

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Figura 9: Captura para biometria de quelônios. Fazenda Chico Lima,

Manacapuru/AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.)

5.2.4 Metodologia do diagnóstico

Foram realizadas visitas bimestrais aos criadouroslicenciados pelo Ibama, no estado do Amazonas, onde foram

aplicados questionários para caracterizar os criadores através de

informações sobre questões referentes à qualidade da água, tipos e

dimensões de instalações, densidade de cultivo, etc. Para a coleta

dos dados, foi feita uma amostragem de 100 animais em cada

criadouro. Eles foram medidos e pesados (biometria)

bimestralmente. Após a biometria os animais eram submersos emsolução antifúngica em bacias plásticas de tamanho apropriado

para evitar quaisquer possíveis problemas fúngicos.

Posteriormente, eles eram soltos nos berçários.

Cada animal foi medido linearmente, com paquímetro. As

variáveis mensuradas foram comprimento e largura da carapaça e

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do plastrão, altura e peso. Sistematicamente, na carapaça, mediu-

se o comprimento entre a união dos dois primeiros escudos/placas

laterais. Até os dois últimos e para a largura adotou-se como

referência a união dos sextos e sétimos escudos laterais.

No plastrão, o comprimento foi realizado na parte externa

do escudo/placa intergular, até o final da sutura médio-ventral, e a

largura mediu-se pelo centro dos escudos abdominais, coincidindo

com o sexto e sétimo escudos laterais.

A altura, envolvendo a carapaça e o plastrão, foi medida

com paquímetro inserido verticalmente na união do quinto e sexto

escudos laterais (ou marginais), na parte superior da carapaça e

inferior do plastrão.

5.2.5 Resultados e discussões

O tamanho das propriedades variou de 9 até mais de 5.000

hectares (ha). Sendo a maioria entre 9 –35 ha, com média de 2218,38 ha (Figura 10).

As represas variaram de 0,1 a 6,0 ha, embora a maioria

estivesse entre 1 e 2 ha (Figura 11).

2

A área dos berçários foi, em maioria, de 30 m até mais de21.000 m (Figura 14a, b e c). A maior parte dos criadouros possui a

2densidade no berçário entre 0,5 e 5 indivíduos/ m (Figuras 12, 13 e

15).

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Figura 10: Tamanho das propriedades (Duarte, 1998).

Figura 11: Tamanho das represas (Duarte, 1998).

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Figura 12: Densidades de cultivo utilizadas pelos criadores doAmazonas (Duarte, 1998).

Figura 13: Número médio de animais, por criadouro, no Amazonas(Duarte, 1998).

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Figura 14 b: Berçário de filhotes de Podocnemis expansa com áreasuperior a 1.000 m². Fazenda Exata, Manacapuru-AM. Foto: ProjetoDiagnóstico (Andrade, P.C.M.).

Figura 14 a:Fazenda Águas Claras/Manacapuru-AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade,P.C.M.).

2Berçário de filhotes de Podocnemis expansa com 30 m .

238

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Figura 14 c: Equipe da Ufam/Ibama no diagnóstico dos criadouros de

quelônios no Amazonas. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).

5.3 Instalações para quelônios no Amazonas: Etapa II:

experimento sobre os efeitos de três tipos de instalações sobre o

desempenho de filhotes de tartaruga (P. expansa ) criados emcativeiro

O experimento foi realizado em área de terra firme na fazenda

experimental da Universidade do Amazonas, localizada no Km 38 da

BR-174, Manaus-Boa Vista.

5.3.1 Instalações uti lizadas e metodologia

Baias experimentais: Os filhotes utilizados no experimento

foram alojados em um berçário tipo tanque-rede colocado em um2tanque escavado de 400 m de espelho d'água, na Fazenda

Experimental, conforme demonstra a Figura 15. O berçário tipo

tanque-rede se constitui em duas balsas de madeira de 2,40m x

1,80m, com dois flutuadores (camburões metálicos de 200 litros).

Cada balsa está dividida em 18 baias de 0,9m x 0,9m, sendo que

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cada baia possui uma área para o banho de sol, uma abertura para

água, devidamente telada, com aproximadamente 0,9 m de

profundidade.As baias foram recobertas, sendo 50% cobertas com telas de

fio de náilon, para evitar ataque de predadores. As outras baiasforam cobertas com plástico para simular o efeito de uma estufa,

mantendo a temperatura mais elevada e constante. Foram utilizadas3as seguintes densidades de estocagem: 30, 20 e 10 animais/m . Em

anexo, apresentamos o croqui das baias experimentais.

Figura 15: Baias experimentais destinadas a filhotes de tartaruga

(Podocnemis expansa), Fazenda Experimental-Ufam, Manaus. Foto: Projeto

Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).

O berçário destinado aos outros filhotes de tartaruga,

provenientes de Abufari, foi um curral de estacas de madeira2(berçário convencional) de 16 m situado no mesmo tanque escavado

2de 400 m de espelho d'água, dentro da fazenda. O berçário

encontra-se recoberto por tela para evitar o ataque de possíveis

predadores, bem como possui pequenas balsas que permitem aos

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filhotes a exposição ao sol.

Os animais foram medidos com paquímetros e pesados em

balança mecânica de prato, com capacidade para 1.610g e precisão

de 1g. Para medir a temperatura da água foram utilizadostermômetros de imersão. A temperatura do ar bem como a umidade

relativa foi obtida através de psicrômetro.

Neste experimento foram avaliados os efeitos de três tipos de

instalações (com e sem estufa em tanques-redes berçário), três2densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m ) e três níveis de energia bruta

(3.500, 4.000 e 4.500 kcal/kg) em ração utilizada na alimentação,

sobre o desempenho de filhotes de tartarugas (Podocnemis expansa)em cativeiro. Os resultados sobre densidade de cultivo e nutrição são

apresentados em capítulos posteriores relativos ao tema. Foram

medidos os seguintes parâmetros: comprimento e largura da

carapaça, comprimento e largura do plastrão, altura, peso, ganho

diário de peso e conversão alimentar.

Os tratamentos foram distribuídos em um delineamentointeiramente casualizado, com esquema fatorial 3x2x3, sendo2consideradas três densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m ), três

instalações (com e sem estufa e berçário) e três níveis de energia

bruta em rações (3.500, 4.000 e 4.500 kcal de EB/kg).

Foi considerada como parcela a densidade e como

subparcelas as instalações e os níveis de energia da ração. Foram

tomadas medidas repetidas ao longo do tempo, sendo cada períodode medição considerado uma repetição. As variáveis foram

analisadas pelo programa SAS, através da análise com aplicação da

Anova e LSMEANS (teste t).

Os animais da balsa (tanque-rede) foram comparados com os

animais do berçário através do teste t do LSMEANS.

241

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O experimento teve duração de 422 dias. No início, os animais

foram separados e devidamente marcados, com esmalte e picos no

casco, indicando o seu número e o correspondente tratamento, para

não haver mistura entre as baias. Os tratamentos ficaram divididos

de acordo com alimentação, instalação e densidade.

Concomitantemente à biometria, foram tomadas as medidas

de temperatura da água e do ar e umidade relativa referente a cada

baia. Essas medidas serviram para se ter uma idéia das condições de

temperatura e umidade às quais os animais estavam submetidos.

5.3.2 .Resultados obtidos com os filhotes de tartaruga dos 3 aos

7 mesesO experimento conduzido na fazenda experimental sobre

densidade, tipo de instalação e nível de energia na ração durou, em

sua primeira fase, 153 dias, sendo iniciado com filhotes de tartaruga

provenientes da Rebio Abufari, Tapauá/AM, com 3 meses de idade e

peso médio de 45,66 3,63 g.

Além do experimento nos tanques-rede foramacompanhados, também, 353 animais de diferentes populações

(Abufari, Rio Branco e Uatumã) colocados no berçário circular de

estacas de madeira com, aproximadamente, 16 m2 de área e 1 m de2profundidade (Figura 1), na densidade de 22 animais/m .

As variáveis ambientais registradas para avaliar o efeito da

cobertura plástica (estufa) sobre metade dos tanques-rede foram atemperatura do ar, a temperatura da água e a umidade do ar.

Com relação a essas variáveis foi observado que a

temperatura da água foi maior nas instalações ao ar livre (31,05

0,81C) do que nas instalações com estufa (30,52 0,90C). Já, a

temperatura do ar, foi maior nas instalações com estufa (33,5C) do

que nas sem estufa (31,82C). Isso pode ser devido ao fato de que o

242

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plástico das estufas tornou-se opaco pelo acúmulo direto de sujeira,

o que, de certa forma, impediu a entrada total dos raios solares,

funcionando como uma espécie de sombreamento. Contudo, da

mesma forma que impediu a total irradiação solar, a estufa impediu

a rápida dissipação do calor nas instalações, o que foi verificadoatravés de uma menor variação de temperatura, dentro das

instalações, com uma menor amplitude térmica entre dia e noite, e

ao longo do dia, como pode ser observado na Figura 15.

A umidade relativa do ar foi maior nas instalações com

estufa, 76,25%, do que nas ao ar livre, 69,90%.

Temperatura da água nos tanques-redes ao longo do dia

27282930

313233

10 11 12 13 14 15 16

horas

    o

     C ar livre

estufa

oFigura 16: Variação da temperatura ( C) ao longo do dia nostanques-rede do experimento (Costa & Andrade, 1999).

243

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A Tabela 2 e as Figuras 17 e 18 apresentam os resultadosencontrados para algumas das variáveis analisadas nesteexperimento (comprimento e largura de carapaça, comprimento elargura de plastrão, altura, peso e ganho diário de peso).

Tabela 2: Efeito do tipo de instalação sobre o comprimento e altura da carapaça (mm)de filhotes de tartaruga (P. expansa) de 4 a 7 meses (Costa & Andrade, 1999).

Tratamento\ idade 4 meses 5 meses 6 meses 7 meses

Comprimento da carapaça (mm)Tanque-rede semcobertura plástica

82,7±0,1 99,2±1,8 107,2±4,2 109,8±4,3

Tanque-rede com

cobertura plástica(estufa)

82,0±2,0 101,2±1,9 108,3±1,8 115,9±2,9

Altura da Carapaça (mm)Tanque-rede semcobertura plástica

32,8±0,6 40,8±0,9 41,5±1,5 43,5±1,2

Tanque-rede comcobertura plástica(estufa)

32,4±0,6 41,2±0,9 41,3±1,3 44,9±0,3

As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, peso

e ganho médio diário de peso não apresentaram diferenças

significativas, ao nível de 5%, pelo teste F e teste t do LSMEANS, para

o fator tipo de instalação (análise do SAS). Todavia, conforme é

possível verificar nas Tabelas 2, 3 e 4, existe uma tendência para que

animais criados em estufa apresentem maior desenvolvimento

(GDP=0,91 g/dia) do que aqueles que foram criados ao ar livre. Issoé, provavelmente, relacionado a uma maior estabilidade da

temperatura e à conservação do calor no ambiente, por mais tempo,

permitindo um taxa metabólica mais regular, visto que o

metabolismo destes animais é influenciado pela temperatura

externa (ectotérmicos).

244

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Efeitos da densidade X energia bruta X tipo de instalação sobre o peso final (g)

050

100150200

250

sest3500 sest4000 sest4500 cest3500 cest4000 cest4500Tratamentos

    g    r    a    m

    a    s 10

20

30

Figura 17: Efeitos da densidade e do nível de energia bruta nas rações sobre o peso, aos7 meses, de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa & Andrade, 1999).**-Tanques-rede sem cobertura plástica (alimentados com T1=3.500 kcal de EB;

  T2=4.000 kcal de EB; T3=4.500 kcal de EB); Tanques-rede com cobertura

plástica–estufa, (alimentados com T1=3500 kcal de EB; T2=4000 kcal de EB;T3=4500

kcal de EB.

Peso(g) X niveis de energia bruta X tipo de instalação

050

100150200250

4 5 6 7idade (meses)

    g    r    a    m    a    s

T1

T2

T3

T4

T5

T6

Figura 18: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta nas raçõessobre o peso, aos 7 meses, de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa &Andrade, 1999).

245

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Tabela 3: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta sobre oganho médio diário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa &Andrade, 1999).

Instalação

  /nível deEnergiaBruta

3.500 kcal

de EB/kg

4.000 kcal

de EB/kg

4.500 kcal de

EB/kg

Médias

Estufa 0,88±0,60 0,98±0,41 0,88±0,41 0,91Ar livre 0,65±0,47 0,89±0,59 1,02±0,20 0,85Médias 0,77 0,93 0,95

Com relação aos animais do berçário, nos sete primeirosmeses de vida eles apresentaram maior ganho de peso do que osanimais dos tanques-rede (1,52 0,79 g/dia contra 0,88 0,13 g/dia).

Tabela 4: Efeitos do tipo de instalação e da densidade sobre o ganho médiodiário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa & Andrade, 1999).

5.3.3 Recomendação para berçário de filhotes de

quelônios nos primeiros 7 meses de vida:

a) Com base nos resultados deste experimento podemos

concluir que filhotes de tartaruga criados em tanques-rede com

cobertura plástica, simulando um efeito estufa, na densidade de 252animais/m podem alcançar um melhor desempenho.

b) Animais criados em berçários circulares de madeira

apresentam maior desenvolvimento do que os criados

intensivamente em tanques-rede.

246

Instalação /densidade

12animais/m2

25animais/m2

37animais/m2

Médias

Estufa 0,91±0,44 1,04±0,46 0,79±0,39 0,91Ar livre 0,86±0,44 0,85±0,38 0,91±0,28 0,87Médias 0,88 0,94 0,85

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c) A densidade e o tipo de alimento fornecido aos quelônios

são fatores limitantes. Um grande número de animais numa

pequena área diminui a taxa de crescimento e o ganho de peso. Nos

primeiros anos, o crescimento é melhor com o fornecimento de

alimentos à base de proteína animal. A densidade que propicia um2maior desenvolvimento é a de 65-80 animais/m em berçário tipo

curral com estacas de madeira.

d) A espécie que obtém melhor ganho de peso nos primeiros

anos é o tracajá (Podocnemis unifilis).

5.3.4 Resultados obtidos com os filhotes de tartaruga dos8 aos 16 meses

As Tabelas 5, 6, 7 e 8 e a Figura 19 apresentam os resultados

encontrados para algumas das variáveis analisadas neste

experimento (comprimento e largura de carapaça, comprimento e

largura de plastrão, altura, peso e ganho diário de peso).

  Tabela 5: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre a

variação no comprimento da carapaça (mm), peso (g) e ganho de peso (g/dia) de

filhotes de tartaruga –  P. expansa.(Costa, 1999).

247

  T r at a m en to / id a de 8 m es es 1 3 m es es 1 6 m es esC om p r im en to d e c a r ap a ç a (m m )

 Tanque-rede semcobertura plástica

125,7±1,5 168,9±3,8 198,9±15

 Tanque-rede com

cobe rtura plástica (estufa)

121,4±3,7 166,2±7,5 179,6±13,9

Pe so (g ) Tanque-rede semcobertura plástica

248,0±7,7 619,1±1,8 851,2±98

 Tanque-rede comcobe rtura plástica (estufa)

233,1±19 588,9±45,9 770,6±73,3

Ganho d iár io de p eso ( g/d ia ) Tanque-rede semcobertura plástica

1,2±0,2 2,1±0,4 1,3±0,1

 Tanque-rede com

cobe rtura plástica (estufa)

1,0±0,2 2,3±0,2 1,2±0,1

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As variáveis comprimento, largura e altura da carapaça, peso

e ganho médio diário de peso para tartarugas dos 8 aos 16 meses,

também não apresentaram diferenças significativas, ao nível de 5%,

pelo teste F e teste t do LSMEANS, tanto para o fator densidade,

como tipo de instalação e nível de energia. Todavia, conforme épossível observar-se na Tabela 6 e na Figura 19, existe uma

tendência para que esses animais criados em estufa apresentem

maior desenvolvimento (GDP=1,215 g/dia) do que aqueles que

foram criados ao ar livre.

 Tabela 6: Efeito do tipo de instalação sobre o ganho diário de peso de tartarugas

(P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).

Figura 19: Efeitos do tipo de instalação (CE=com estufa e SE=semestufa) sobre o ganho diário de peso (g/dia) de tartarugas (P. expansa) criadasem cativeiro. (Costa, 1999).

248

  Tipo de instalação/idade

6meses

8meses

13meses

16meses

Com estufa (g/dia) 0,45 1,68 2,39 1,25Sem estufa (g/dia) 0,38 0,48 2,27 1,18

Efeitos do tipo de instalação sobre o ganho diário de peso de

tartarugas (P. expansa ) criadas em cativeiro

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

6 8 13 16Idade (meses)

     G     D     P

     (    g     /     d     i    a     )

CE

SE

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Não houve diferença significativa em crescimento e ganho de

peso relacionando-se animais alojados em berçário circular de

madeira e animais alojados em baias tipo tanque-rede, porém,

através da Tabela 7 observa-se que há uma tendência para que

animais alojados em baias tipo tanque-rede obtenham um melhordesempenho na idade de 8 a 16 meses.

 Tabela 7: Crescimento de filhotes de tartaruga (P. expansa) de acordo com o tipo

de instalação. (Costa,1999).

Var iáve is/Insta lação

Balsa (Tanque-r ede )

Berçár io c i rcular demade i ra

C o m p r i m e n t oda c arap aç a( m m )

186,77 ± 15,92 167,85 ± 21,36

A ltura dacarapaça (m m )

69,76 ± 5,84 61,71 ± 7,22

Pe so (g ) 810,87 ±141,80

754,71 ± 202,38

Ganho d iár iode peso (g/d ia)

1,218 ± 0,65 1,200 ± 0,87

 Tabela 8: Efeitos do tipo de instalação e densidade de cultivo sobre o ganhomédio diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (P. expansa), aos 16 mesesde idade (Costa, 1999).

Instalação/

Densidade de

cult ivo

12

animais/

m 2  

25

animais/

m 2  

37

animais/

m 2  

Médias

Estufa 1,2±

0,6 1,2±

0,4 1,3±

0,4 1,2±

0,5Ar l ivre 1,1±0,5 1,2±0,2 1,1±0,2 1.2±0,3

Médias 1,2±0,5 1,2±0,3 1,2±0,3

5.3.5 Recomendações sobre instalações para filhotes até

os 16 meses: Com relação aos animais de 8 a 16 meses, há uma

tendência para que sejam alojados em baias tipo tanque-rede com

estufa para obter um melhor desempenho.

249

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5.3.6 Criação em gaiolas ou tanques-rede em ambientes

naturais (lagos, rios)

Para tartarugas em vida livre Hernandez (1999) estimou que

animais que foram soltos com um ano de idade, pesando 358,30 g emedindo 90,2 mm de comprimento de carapaça, chegavam aos

quatro anos com peso vivo de 4 kg.

Andrade et al. (2001) observou que crescimento em vida livre

de tracajás (P. unifilis), ao final de um ano, variava conforme a água e

o ambiente que se encontravam. Em águas pretas, atingiam aos 12

meses um peso médio de 87 a 103 g, com ganho diário de peso de0,25 g/dia. Em águas barrentas, atingiam um peso bem superior,

de 108 a 125 g, com ganhos de peso de 0,3 g/dia.

Em tanques-rede de ambientes artificiais como barragens ou

tanques escavados, tartarugas atingem ao final de 12 meses peso

médio de 810,9 g (máximo=1.400g), em densidades de até 373

animais/m , com ganho diário de peso (GDP) de 1,23 g/dia (Costa,1999). Andrade et al. (2001) em estudo realizado com tracajás

criados em tanques-rede, em lagos de várzea ou margens de rio, a3uma densidade de 22 animais/m , estimou o peso médio final

variando de 350 a 700 g, com ganho diário de peso de 3,8 g/dia, até

os três meses de vida.

Em 2002, foi realizado um estudo com modelos de gaiola outanques-rede, à venda no mercado de Manaus, para a criação de

peixes. Foram montadas duas unidades demonstrativas, uma no

lago do Puraquequara e outra no rio Preto da Eva. Filhotes de P.3expansa foram alojados na densidade de 30 animais/m e

alimentados com ração para peixe com 36% de PB, 3.800 kcal de

EB/kg e sangue bovino coagulado. Os animais foram monitorados

até os quatro meses de vida.

250

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Ao final de 120 dias de cultivo os animais haviam atingido

84,51 ± 12,06 mm de comprimento de carapaça e pesavam, em

média, 153,54 ± 46,55 g (máximo=269 g; mínimo=45,9 g), com

ganho médio diário em peso de 1,06 ± 0,42 g/dia.

Esses valores, considerando-se que os animais não foram

acompanhados até um ano nem receberam ração regularmente, são

bastante promissores sobre o cultivo de quelônios nesse tipo de

instalação, em áreas naturais, o que poderá ser uma saída para

pequenos produtores e para as comunidades que ajudam na

conservação das áreas de reprodução de quelônios que, até o

presente, não podiam criar os animais que ajudavam a preservar,pelo alto custo inicial para a implantação de tanques e barragens ou,

mesmo, por não possuírem documentação legal das terras que

tradicionalmente habitam.

5.3.7 Instalações em criações comunitárias de quelônios

Com o apoio do ProVárzea, através do ComponenteIniciativas Promissoras, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do

Amazonas (Fapeam), desde 2004, estão sendo realizados estudos

para analisar o potencial da criação comunitária de quelônios em

diferentes instalações, principalmente, em tanques-rede ou gaiolas.

A criação comunitária de quelônios é uma possibilidade de

exploração do recurso ex-situ, e sempre foi uma demanda daqueles

ribeirinhos que, tradicionalmente, protegem as praias de desova.

Através do Programa Pé-de-Pincha, 78 comunidades manejam, de

forma participativa, quelônios na região do Médio Amazonas. No

Baixo e Médio Juruá, as comunidades das reservas extrativistas

também protegem tabuleiros de desova. Contudo, embora essas

comunidades devolvam por ano, respectivamente, próximo a 100 e

200 mil filhotes de quelônios para a natureza, por se encontrarem

251

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em área de várzea, em sua maioria não possuem documentação

legal da terra que habitam há muitos anos. Também não dispõem de

recursos para construção de tanques escavados ou barragens,

geralmente utilizados na criação comercial de quelônios. Dessa

forma, pela Portaria nº 142/92 de criação de quelônios, ascomunidades que protegem as praias de reprodução dessas

espécies jamais poderiam criá-las legalmente.

Em 2002, a Diretoria de Fauna e o RAN começam a elaborar a

minuta da nova instrução normativa de criação, onde está inserida a

questão da criação comunitária de quelônios. Como forma de

estimular esse tipo de criação pelas comunidades, implantamos as

primeiras unidades demonstrativas de criação com os quelônios

nascidos nas praias protegidas, utilizando diferentes tipos de

instalação: tanques de fibra, tanques de alvenaria, tanques

escavados e tanques-rede (Figura 20), e comparamos com o

desempenho dos filhotes soltos na natureza.

Foram marcados 7.960 filhotes, 2004-2005, sendo criados

2.305 (1.100 em tanque de fibra-alvenaria, 805 em tanque-rede e400 em tanque escavado) e os demais soltos em lagos. Inicialmente,

os filhotes foram alojados em 14 unidades (três lagos, cinco

tanques-rede, cinco tanques de alvenaria-fibrocimento de 1,76 m3,2um tanque escavado de 1.350 m ). Analisou-se comprimento,

largura e altura da carapaça, peso, ganho diário de peso (GDP) e

sobrevivência de filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis), tartaruga

(P. expansa), iaçá (P. sextuberculata), irapuca (P. erythrocephala) ecabeçudo (Peltocephalus dumerilianus) – Figura 21.

252

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Figura 20: Diferentes instalações de criação comunitária: de cima para baixo – gaiola, tanque de piso de concreto e parede de cinta de borracha, e tanque de

alvenaria (Foto: ProVárzea).

253

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Figura 21: Diferentes espécies de quelônios utilizadas nas unidades

demonstrativas: irapuca (P. erythrocephala), iaçá (P. sextuberculata),

tracajá (Podocnemis unifilis) e tartaruga (P. expansa) – de cima para

baixo (Foto: Oliveira, P.H.).

 Tartarugas e cabeçudos são as espécies que mais crescem

nos primeiros 16 meses (Figura 22). Todavia, a espécie

Peltocephalus dumerilianus (cabeçudo) é extremamente agressiva,

atacando e mordendo indivíduos de espécies diferentes, por isso

aconselha-se criá-los separados.

Os animais foram monitorados por um período de 28 meses,

sendo que os quelônios criados em tanques-rede demonstraram um

ganho diário de peso (GDP) superior (0,41g/dia) aos criados em

tanques fixos de alvenaria ou fibra (0,18g/dia). P. unifilis, em

tanques-rede apresentam, aos 16 meses, comprimento superior aos

dos animais criados em tanques de fibra (99,66 ± 6,14 mm vs. 70,37

± 10,07 mm), e inferior aos do tanque escavado ou lagos (181,42 ±

17,6 mm) – Figura 23.

254

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Peso médio de quelônios

0,00

20,00

40,00

60,0080,00

100,00120,00

140,00

   0  m   ê  s

   3  m  e  s  e  s

  6  m  e  s  e  s

   8  m  e  s  e  s

   1   0m  e  s  e  s

   1   2m  e  s  e  s

   1  4m  e  s  e  s

   1  6m  e  s  e  s

     g

Tracajá

Tartaruga

Iaçá

Cabeçudo

Irapuca

Figura 22: Crescimento de tracajá (Podocnemis unifilis), tartaruga (P.expansa), iaçá (P. sextuberculata), irapuca (P. erythrocephala) e cabeçudo(Peltocephalus dumerilianus) durante 16 meses, em criações.

255

  Crescimento em carapaça de tracajás em cativeiro e em vida livre

0

50

100

150

200

0 3 6 8 10 12 14 16

meses

    m    m

Trede

Natureza

Tfibra

Tescavado

Figura 23: Distribuição de crescimento em comprimento da carapaça (mm)

de tracajás (Podocnemis unifilis). criados em diferentes tipos de instalações

(tanque-rede, tanque de fibra ou alvenaria, tanque escavado e na natureza).

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A melhor densidade de cultivo para esse sistema foi de 40-653indivíduos/m , sendo que a sobrevivência com um ano foi de 89,42 ±

10,56%, não havendo diferença entre instalações, sendo a espécie

com menor taxa a P. sextuberculata, com 76,92%. Os quelônios

foram alimentados com ração com 36% de proteína, obtendo melhordesempenho que com alimentos alternativos (peixe, macrófitas

aquáticas, beldroega). Sanguessugas foram registradas parasitando

principalmente tracajás, em tanques-rede colocados em áreas de

água preta, com pouca movimentação e baixa profundidade.

Parasitas identificados em tanque-rede em água preta (sanguessuga)

e em ovos transferidos (larvas de Diptera, Ephydridae, 1%).

Animais alimentados com ração com 25% de proteína tiveram

melhor desempenho em GDP do que com alimentos alternativos

(peixe, macrófitas aquáticas, beldroega). A Figura 24 apresenta o

crescimento em peso, de tracajás em cativeiro comunitário, até os 28

meses. Tartarugas criadas em tanques-rede atingem, aos 28 meses,

média de peso de 1.537,6 g (mínimo= 937,33 g; máximo= 3.166,67 g).

Em 2005, com recursos do ProVárzea, adquirimos 10 tanques-rede padrão, medindo 2 m x 2 m x 1,5 m (tela de alambrado,

estrutura em aço, Figura 25), os animais puderam ser colocados em

áreas mais profundas e com fluxo de água mais intenso,

proporcionando melhores condições e melhor desempenho do que

nas outras instalações (GDP= 0,488 ± 0,202 g/dia). Existe uma

tendência a um melhor desenvolvimento dos filhotes de tartarugas e

tracajás acondicionados em gaiolas do tipo tanque-rede na margemde rios/lagos, pelo fato de apresentarem características mais

próximas do ambiente natural, como por exemplo, fluxo contínuo de

água, que acarreta uma maior circulação de nutrientes no ambiente

do cativeiro, e menor carga de estresse aos animais.Os 3.130

quelônios criados nesse sistema propiciaram em 16 meses de cultivo

uma produção total de 866 kg.

256

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Peso méd io do Tracajá/Instalação

0

50

100

150200250

300

350

     0    m     ê    s

     3    m    e    s    e    s

     6    m    e    s    e    s

     8    m    e    s    e    s

     1     0    m    e    s    e    s

     1     2    m    e    s    e    s

     1     4    m    e    s    e    s

     1     6    m    e    s    e    s

     2     2    m    e    s    e    s

     2     4    m    e    s    e    s

     2     8    m    e    s    e    s

    gT. Rede

T. Fibrocimento

 Figura 24: Distribuição do peso da carapaça de tracajás (Podocnemisunifilis) criados em diferentes instalações no período de 28 meses.

Figura 25: Diferentes modelos de tanques-rede utilizados na criação de

quelônios.

257

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Em Terra Santa, a comercialização experimental de 10

unidades de criação comunitária alcançou o preço de venda similar

ao praticado em Manaus, ou seja, R$10,00/kg, contra o preço

clandestino que, na região, é de cerca de R$3,36-5,56 com potencial

de venda estimado em R$8.660,00. A construção de tanques-redecom material local e a utilização de alimentos disponíveis na

comunidade como macaxeira, peixe, piracuí, beldroega ou erva-de-

  jabuti, reduzirá os custos com instalações e alimentação,

aumentando a lucratividade, hoje em torno de 12,55%. A Tabela 9

apresenta os custos e receitas da criação comunitária de quelônios

para uma unidade familiar.

258

 Tabela 9: Orçamento simplificado de unidade de criação familiar dequelônios.

O r ç a m e n t o – 1 6 m e s e s d e c r ia ç ã oC u s t o s (R $ )C u s to s f ix o s 2 1 6 , 9C u s to s v a r i á v e is 2 7 6 , 2 6C u s to s t o t a is 4 9 3 , 1 7R e c e i t a (R $ )

N . a n i m a is 5 0 0B i o m a s s a t o ta l 1 5 5 , 9 2 k gP r e ç o/ k g ile ga l 3 , 3 6 -5 , 5 6P r e ç o / k g c r ia ç ã o 1 0R e c e it a b r u t a 1 . 5 5 9 , 2 0R ec e it a líq u id a 1 . 0 6 6 , 0 3

A rentabilidade para os investimentos em manejo comunitário

de quelônios foi estimada em 120,21% e para a criação de quelônios,

pelo sistema de tanques-rede, em 183,44%. As unidades comunitárias

de criação de quelônios demonstram que esse sistema poderá,

perfeitamente, servir como modelo de manejo, tipo ranching, em que as

comunidades que protegem áreas de reprodução de quelônios

adquirem o direito de criar um percentual dos filhotes produzidos (30%

de tracajás e 10% de tartarugas). As instalações mais eficientes e

práticas são os tanques-rede, e a alimentação é produzida na própria

comunidade. Isso garantirá geração de renda aliada à conservação

dessas espécies.

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Capítulo 8:Alimentação e nutrição de quelônios

aquáticos amazônicos (Podocnemis spp.)

Francimara Sousa da Costa João Alfredo da Mota Duarte

Paulo Henrique Guimarães de OliveiraPaulo Cesar Machado Andrade

O tipo de alimento fornecido aos quelônios para criação

em cativeiro é um fator decisivo para que os animais o peso vivo

mínimo de 1,5 kg para comercialização, conforme determinam as

Portarias Normativas Nº 142/92 (Criação) e Nº 70/96

(comercialização).

A alimentação de Podocnemis expansa é bastante variada,

sendo considerada por muitos autores como uma espécie onívora,oportunista, ou seja, alimenta-se tanto de raízes, frutas, sementes e

folhas, quanto de crustáceos, moluscos e pequenos peixes

(Cenaqua, 1994).

Estudos feitos por Téran, Vogt e Gomez (1995), no rio

Guaporé – Rondônia, demonstraram que a principal fonte de

alimento nessa área, para esses animais, são matérias vegetaisincluindo-se sementes pertencentes às famílias Anonaceae,

Leguminosae, Sapotaceae e Rubiaceae e frutas (Leguminosae,

Euforbiaceae, Convolvulaceae).

Os frutos citados como alimento de tartaruga incluem as

seguintes espécies: Astrocarium jauari, Bactris spp., Spondias 

mombin, Genipa americana, Inga spp., Hevea spp., Macrolobium

259

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acaciaefolium, Symphonia globulifera, Tachigalia paniculata, e

espécies adicionais dos gêneros: Brosimum, Calophyllum,

Campsiandra, Curatella, Desmoncus, Gustavia, Lonchocarpus e

Sideroxylon (Soini, 1997).

Os estômagos de P. expansa adultas examinados na

temporada de reprodução, por Ramirez (1956) e Ojasti (1971), em

Orinoco, e Pádua e Alho (1984), em Trombetas, estavam vazios e

continham somente fragmentos de madeira decomposta, lodo e

areia, o que torna evidente que P. expansa experimenta um amplo

“cardápio” durante o período de estiagem. O estômago de uma

fêmea que morreu durante a desova no rio Trombetas continhacascas vazias de ovos da mesma espécie (Pádua, 1981).

Portal et al. (2002), estudaram a alimentação natural de

tracajás (P. unifilis) na região do Pracuúba, Amapá, Brasil, e

encontraram 35 diferentes espécies vegetais, sendo a maioria de

leguminosas (22,81%) e gramíneas (8,57%). Das plantas

analisadas, 12 espécies apresentam teores de proteína superiores a

10%. Entre essas, oito espécies apresentam boa possibilidade deservirem como ingredientes de uma ração regional, em função de

suas propriedades nutricionais e disponibilidade na natureza. São

elas: Commelina longicaulis (maria-mole) (20,78%); Polygonum

acuminatum (pimenteira-brava) (20,19%); Aschymene sensitiva 

(corticeira)(19,93%); Macrolobium acaiaefolium (jandaruá)(17,06%), 

Oryza glandiglumes (canarana-grande)(15,00%); Thalia geniculata 

(14,14%); Nymphaea rudgeana (11,55%) e Hymenachneamplexicaulis (10,11%).

Em cativeiro, essa espécie é eminentemente onívora. Aceita

uma grande variedade de produtos vegetais, pescado e carne picada

(Alho e Pádua, 1982; Terán et al., 1992, FPR, 1988). Os recém-

nascidos demonstram maior preferência pela dieta carnívora do que

os animais mais velhos (Ojasti, 1971).

260

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Em geral, a tartaruga e o tracajá têm uma dieta herbívora

na natureza, mas em condições de cativeiro consomem carne e

peixe (Molina & Rocha, 1996).

Segundo Best & Souza (1984), pouco se conhecia sobre a

nutrição adequada dos quelônios em cativeiro, na fase de pós-

eclosão, até um ano de idade. Para Alfinito (1980), P. expansa

apresenta uma demorada digestão, justificando-se os jejuns

prolongados pelo qual o curso no trato digestivo é considerado

bastante significativo, e suas fezes são liberadas após 170 horas de

digestão, correspondendo a 7 dias, significando 5% do volume

alimentar, podendo o restante ser expelido até 880 horas,

equivalente a 36 dias. No habitat natural, o forrageamento

condiciona-se às contingências momentâneas.

Em condições de cativeiro, Espriella (1972) cita que o

alimento deve ser fornecido em pequenos pedaços ou amarrados e

suspensos, para facilitar a deglutição, onde um animal adulto pode

consumir 1.816g de alimento em 10 dias, repartidas entre 7:00 e16:00 horas.

Para o Sebrae (1995), os filhotes devem receber uma

complementação de proteína à base de fígado e caramujos, no

entanto, não cita como seria feito o fornecimento. A partir do

segundo ano, deverá ser complementada com resíduos vegetais e

peixe, carne ou outros alimentos de origem animal, tratados e

fornecidos em pequenos pedaços, para facilitar a deglutição, com

preferência por palmito, vísceras, leguminosas e, naturalmente,

por frutos silvestres das margens dos rios.

Nos primeiros anos, o crescimento é melhor com o

fornecimento de alimentos à base de proteína animal,

provavelmente, devido a um maior nível protéico e uma

concentração de aminoácidos essenciais, superior.

261

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Segundo Quintanilha et al. (1997), há indícios de que a

qualidade de proteína (origem animal e vegetal), influência no

desenvolvimento de P. expansa em cativeiro.

Cantarelli (1994), em experimento sobre metodologiaalimentar para quelônios em cativeiro, testou rações formuladas

com diferentes níveis de proteína bruta, 18, 21, 24, 27 e 30% de PB e

ração comercial para peixes com 30% de PB. Concluiu que há

indícios de que a qualidade da proteína (origem animal ou vegetal)

influencia no desenvolvimento dos animais e que os animais

crescem melhor, se alimentados com alta taxa de proteína bruta (27

a 30%).Maria das Graças Houssaine-Lima (comunicação pessoal,

1999) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, testou

diferentes fontes de proteína (farinha de peixe e farelo de soja) na

dieta de tartaruga (P. expansa) nos primeiros anos de vida. Neste

experimento conduzido no Centro de Preservação e Pesquisa de

Quelônios Aquáticos (CPPQA) da UHE Balbina/AM, foram usadas

rações que variavam a fonte protéica em diferentes níveis desubstituição do farelo de soja por farinha de peixe (100% e 0%; 75% e

25%; 50% e 50%; 25% e 75%; 0% e 100%; respectivamente). Os

animais apresentaram maior crescimento em dietas com 100% de

farinha de peixe, contudo, também apresentaram uma maior taxa de

mortalidade, mesmo em animais acima de 1,5 kg. Concluiu-se que a

melhor ração foi aquela em que a fonte protéica tinha 50% de farelo

de soja e 50% de farinha de peixe.

Comparativamente, Viana & Abe (1998), ao avaliarem o

desenvolvimento de 198 filhotes de tracajá Podocnemis unifilis com

dieta de 21, 26 e 31% de proteína bruta - PB e isocalóricas (energia

bruta = 3.850 kcal/kg) durante 240 dias, obtiveram nos animais

alimentados com ração de 26 ou 31% de PB maior desenvolvimento.

262

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Então, sugeriram utilizar ração com 21% de PB, até 8 meses de

idade, e com 26% de PB para filhotes até completarem 12 meses para

diminuir o custo com ração.

Esses dados são semelhantes aos encontrados por Best &Souza (1984) ao testarem quatro rações peletizadas, com teores de

40%, 60%, 70% e 80% de proteína em matéria seca, e balanceada em

termos de energia, utilizando 60 tartarugas com peso médio 26,0g e

pesos médios finais, respectivamente, em relação aos teores de

proteína: 174,0 ± 39,9 g; 194,1 ± 58,1 g; 221,4 ± 67,3 g e 165,4 ± 62,7

g, onde o GDP para a ração com 70% proteica foi 0,71 g/dia, à base

de 2% do peso corporal, uma maior eficiência de utilização igual a47,8 g de tartaruga/100g ração. Eles citam haver uma estreita

relação entre a quantidade de alimento fornecido e o crescimento das

tartarugas.

Na Venezuela, Hernandez et al. (1999) verificaram também

que filhotes de tartaruga cresciam mais com o fornecimento de

rações com maior nível protéico e sugerem que no primeiro ano seja

fornecida uma ração básica para peixes carnívoros com 48% deproteína e que, no segundo ano, uma ração de crescimento para

peixes com 24% PB. Com essa dieta os animais atingiram, ao final de

um ano 90,2 a 143 mm de comprimento de carapaça e 100,6 a 358,3

g de peso, com uma conversão alimentar de 1:1, ou seja, para cada

grama de ração consumida os filhotes engordaram um grama.

De certa forma, deve haver uma complementação quecontenha cálcio para a formação do casco e deve-se ter atenção para

a alimentação dos animais jovens, mantidos em cativeiro, para

evitar a ocorrência de processos fermentativos (Lima, 1967; Morlock,

1979; Alfinito, 1980).

Estudos feitos por Terán (1993), testando o tipo de

alimentação para tracajá em cativeiro, demonstraram que uma dieta

263

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onívora (constituída de espécies comuns de peixes, Curimatus

rutiloides, e folha de bananeira, Musa paradisiaca), influi

significativamente no crescimento de P. unifilis, durante os

primeiros 8 meses de vida. Isso reafirma o fato de que os indivíduos

 jovens necessitam de uma abundante ração de proteína, cálcio ecarboidratos, que são usados na construção dos tecidos e como

combustível de crescimento. Essas dietas são de baixo custo e ideal

para serem usadas para a criação do tracajá em cativeiro. Folhas

frescas de puerária (Pueraria phaseoloides) não foram aceitas pelos

filhotes.

Estudos realizados por Navarro (1997), para determinar omelhor tipo de alimentação para a criação de tracajá em cativeiro,

tiveram como fonte: peixes (Psectrogaster amazonica, Curimatus

rutiloides e Potamohrina altamazonica) e banana (Musa spp.)

Em condições de cativeiro Espriella (1972) cita que o

alimento deve ser fornecido em pequenos pedaços ou amarrados e

suspensos para facilitar a deglutição. Um animal adulto pode

consumir 1.816g de alimento, repartidos em 10 dias, de 7:00 às

9:00h ou às 16:00h.

Em cativeiro, os filhotes de tartaruga começam a se alimentar

com microorganismos gerados na flora bacteriana do tanque.

Entretanto, a alimentação deve ser complementada com

substâncias protéicas, principalmente à base de fígado de animais e

caramujos. É importante que, a partir do segundo ano a alimentaçãoseja complementada com resíduos vegetais e subprodutos de origem

animal (vísceras, sangue coagulado, restos de filetagem de peixes)

devidamente tratados e fornecidos com o uso de equipamentos

adequados, como cochos, caixas de madeira, canoas, pranchas

(Sebrae, 1995). Terán (1993), ao realizar estudos sobre diferentes dietas em

cativeiro, para tracajás jovens e adultos, observou um aspecto

264

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importante com relação à perturbação da água e o consumo dos

alimentos. Efetivamente, verificou que quando uma pessoa entrava

no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro, a água ficava turva,

fazendo com que os animais não viessem comer os alimentos

disponíveis. Nesses dias, o consumo reduzia bastante (até 15% dototal dos alimentos oferecidos). Uma situação semelhante foi

observada quando o tanque era esvaziado para realizar as amostras

mensais. Esse comportamento deve-se provavelmente, ao estresse

provocado por modificações no ambiente e manipulação do animal.

7.1 Tipos de alimentos fornecidos

A alimentação fornecida pelos criadores de quelônios doAmazonas é variada sendo distribuída entre vísceras, verduras,

tubérculos e peixe, Figura 1 (Duarte, 1998). Desde 2000, muitos

criadores, sob orientação do RAN-AM e da Ufam têm dado mais

atenção à alimentação, no primeiro ano de vida dos filhotes,

fornecendo rações de crescimento para peixe com cerca de 25-30 %

de proteína bruta.

265

Figura 1: Tipo de alimento fornecido para P. expansa em cativeiro

(Duarte, 1998).

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A Tabela 1 apresenta a média de crescimento de filhotes de

tartaruga conforme o tipo de alimentação fornecida. Esses dados

foram obtidos através de biometrias bimestrais, em onze

queloniocultores do Amazonas (Manacapuru, Iranduba,

Itacoatiara, Rio Preto da Eva e Manaus) (Duarte, 1998).

7.1.1 Alimentação desde o nascimento até 12 meses 

Conforme observado na Tabela 1 existe crescimento

diferenciado entre os animais dos criatórios, ou seja, há animais

crescendo mais do que outros, apesar de terem a mesma

característica (idade e origem). Isso sugere que há um tipo de

alimento melhor que outro. Isso pode, também, estar sendo

influenciado pelo potencial orgânico e fisiológico de cada indivíduo,

pela densidade, pelo tipo de alimentação fornecida (qualidade) ou,

ainda, pela imprescindível necessidade de exposição dos animais ao

sol, que são fatores que influenciam diretamente no crescimento

diferenciado dos animais no cativeiro, obtendo-se assim um maior

ou menor crescimento.

266

Dieta VÍSCERASBOVINAS

PEIXE VEGETAL 

Inicial* Final** Inicial* Final** Inicial* Final**Ccp¹(mm)

69,0± 5,7

137,5± 14,8

81,4± 6,0 134,9± 18,5

57,0± 7,1

91,4± 8,8

Lcp¹(mm)

60,6± 

5,0

116,8± 

11,52

66,1± 4,7 104,2± 

12,9

48,8± 

2,5

76,3± 

6,4

Htp¹(mm)

29,8± 2,3

52,5± 3,79

34,2± 2,8 51,7± 5,9

21,1± 1,3

35,7± 3,1

Peso¹(g)

54,7± 12,5

281,5± 85,41

64,7± 14,2

261,0± 115,8

25,4± 3,55

103,3± 24,1

 Tabela 1: Crescimento médio em função do tipo de alimentação fornecida para

Podocnemis expansa, em cativeiro, no primeiro ano de vida (Duarte, 1998).

* - Primeira biometria: animais com 4 meses de idade.** - Última biometria: animais com 16 meses de idade.

1- As variáveis referem-se: Ccp - Comprimento da carapaça; Lcp - Largura da carapaça; Hcp -

Altura da carapaça e plastrão; Peso.

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De acordo com o diagnóstico dos criadouros de quelônios,

constatou-se que os animais alimentados com vísceras bovinas ou

peixe (proteína animal) apresentaram uma tendência a um melhor

crescimento e ganho de peso em relação aos que foram alimentados

basicamente com verduras e tubérculos (proteína vegetal). Observa-se melhor desempenho em locais onde os animais são alimentados,

basicamente com proteína animal, em todas as variáveis analisadas,

como comprimento e largura de carapaça e plastrão, altura da

carapaça e peso.

As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, peso

e ganho de peso dos animais que receberam diferentes tipos dealimentação, apresentaram, pela análise multivariada, uma

diferença significativa ao nível de 5% pelo teste F (P< 0,019; CV =

86,54%), entre aqueles criadores que alimentaram com maior

quantidade de proteína animal (pescado, GDP = 0,66 0,55g;

vísceras, GDP = 0,42 0,88g) do que com proteína vegetal (50% de

puerária, Pueraria phaseoloides mais 50% de pescado, GDP = 0,388

0,44g; “sobra ou resto verduras de feira”, GDP = 0,135 0,07g).

Esse fato pode estar ligado à digestibilidade das proteínas, em

função de que nos primeiros anos de vida os quelônios fazem melhor

digestão de proteínas de origem animal por não conseguirem, ainda,

fazer grande aproveitamento das fibras, o que reduz a digestibilidade

dos nutrientes em alimentos de origem vegetal.

É importante, porém, não privar os animais de alimentos à

base de proteína vegetal, visto que ela propicia a manutenção e

estimula a flora microbiana na mucosa intestinal. São esses

microrganismos que fazem a fermentação das fibras dos alimentos

de origem vegetal, o que tende a melhorar a eficiência digestiva das

tartarugas. Conforme crescem, esses animais assumem um caráter

mais onívoro e, além disso, os alimentos de origem vegetal, com

267

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maior teor de fibra, em geral, são mais baratos para manter animais

em crescimento ou engorda. Pelos resultados apresentados do

crescimento médio em função do tipo de alimentação fornecida para P.

expansa em cativeiro, verifica-se uma superioridade desses se

comparados aos de TCA – SPT (1997) e Alho & Pádua (1982), que citamque, em cativeiro, quando os animais são criados em condições

favoráveis, alcançam no primeiro ano de vida 85 mm de comprimento

da carapaça, com peso de 85g. As Figuras de 2 a 5 apresentam uma comparação entre dois

grupos de criadores distribuídos de acordo com o tipo de alimentação

que fornecem, ou seja, maior parte em vísceras de boi ou peixe

(proteína animal) ou a maior parte em verduras, raízes e restos de feira,ou em puerária+pescado (proteína vegetal). Observa-se o melhor

desempenho dos criadores que alimentam os animais basicamente

com proteína animal, em todas as variáveis analisadas (comprimento,

largura e altura da carapaça e plastrão, e o peso).

268

Comprimento de carapaça X tipo de alimentação

0

50

100

150

0 4 6 8 10 12 14 16

Idade (meses)

    m    m

visc.bov.

pescado

pueraria+pesc

rest.feira

Figura 2: Crescimento de tartaruga (P.expansa) em comprimento de carapaça (mm), de acordo

com o tipo de alimentação (Duarte, 1998).

Alimentos de origem vegetal foram enriquecidos com farelo de

soja ou puerária para atingirem níveis similares aos alimentos de

origem animal, em teores de proteína bruta (PB), permitindo, assim, a

comparação entre dietas praticamente isoprotéicas, em torno de 45%

de PB.

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Altura X tipo de alimentação

0

20

40

60

4 6 8 10 12 14 16idade (meses)

    m    m visc.bov

pescado

pueraria+pesc

rest.feira

Figura 3: Crescimento de tartaruga (P.expansa) em altura da carapaça (mm),

de acordo com o tipo de alimentação (Duarte, 1998).

Figura 3: Crescimento de tartaruga (P.expansa) em altura da carapaça (mm),

de acordo com o tipo de alimentação (Duarte, 1998).

Peso (g) X tipo de aliment ação

0

100200

300

400

0 4 6 8 10 12 14 16

idade (meses)

    g    r    a

    m    a    s

visc.bov.

pescado

pueraria+pescrest.feira

Não houve diferença nas variáveis analisadas entre os

animais de criadores que alimentaram com pescado e vísceras

bovinas, contudo, tartarugas que se alimentaram com pescado

apresentaram uma tendência de maior peso e comprimento de

carapaça. A forma do casco desses animais, entretanto, é diferente.

Animais alimentados com vísceras bovinas são mais altos e animais

269

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alimentados com peixe têm casco mais baixo e achatado (abaulado),

o que pode representar um menor volume interno no casco e,

portanto, um menor rendimento de carcaça.

Essa diferença no modo de desenvolvimento, conforme a

alimentação fornecida provavelmente relaciona-se ao fato de o

pescado conter maiores teores de cálcio e fósforo do que as vísceras

bovinas, permitindo que o organismo do quelônio invista mais no

desenvolvimento de tecido ósseo como o casco, gerando um

desenvolvimento mais acelerado da carapaça. Sob a ótica de que os

quelônios são comercializados vivos, animais alimentados com

pescado apresentam um maior atrativo visual por pareceremmaiores e mais pesados. Quando a comercialização for baseada

apenas no rendimento de carcaça, a alimentação com vísceras torna-

se mais interessante.

Observa-se, na Figura 4 (peso x idade x tipo de alimentação),

que os animais alimentados com puerária apresentam uma

tendência a ganho compensatório de peso, a partir dos 10 meses,

devido a uma mudança na proporção da dieta. Deste período em

diante foi fornecido, basicamente, pescado, o que garantiu maiores

ganhos diários de peso (GDP) aos animais, como podemos observar

na Figura 5. Observa-se também uma grande queda no GDP dos

animais alimentados com pescado a partir dos 14 meses. Esse fato

foi devido ao grande período de seca (efeito do El Niño) pelo qual

passou a região desse criador, o que o levou a transferir,provisoriamente, seus animais de berçário, acarretando estresse e,

conseqüentemente, perda de peso. Contudo, na avaliação geral de

ganho de peso, tartarugas alimentadas com pescado apresentaram a

maior média.

270

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Ganho diário de peso (g) X tipo de alimentação

0

0,5

11,5

2

4 6 8 10 12 14 16

idade (meses)

    g    r    a    m    a    s

visc.bov.

pescado

pueraria+pesc

rest.feira

Figura 5: Ganho diário de peso em tartarugas (P. expansa), sob

diferentes tipos de alimentação (Duarte, 1998).

A análise dos dados coletados no diagnóstico, comparada

com os dados de biometria apresentado nos processos dos demais

criadores, nos permite observar que existe, realmente, uma

tendência de que animais alimentados com maior quantidade de

proteína animal apresentem maior ganho de peso do que aqueles

alimentados com proteína de origem vegetal, embora não haja

diferença estatística significativa pelo teste F. A Tabela 2 apresenta

esses resultados.

Isso se deve, provavelmente, não só a uma menor

digestibilidade de alimentos de origem vegetal, para as tartarugas de

um ano, como também devido a uma menor disponibilidade deaminoácidos essenciais, de maior importância para quelônios em

crescimento, como a lisina. Animais alimentados com peixe

apresentaram desempenho superior àqueles alimentados com

vísceras e sangue coagulado.

271

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 Tabela 2: Ganho diário de peso (GDP) de tartaruga (P. expansa) sob diferentesdietas – Relatórios Ibama (Duarte, 1998).

Variáveis Proteína animal Proteína vegetalGDP médio (g) 0,554 ± 0,13 0,375 ± 0,31GDP mínimo (g) 0,257 ± 0,17 0,02 ± 0,03GDP máximo (g) 1,22 ± 0,62 0,489 ± 0,27GDP do PV (% ) 0,402 ± 0,09 0,476 ± 0,34

Essa diferença de crescimento entre animais alimentados

com matéria de origem animal e vegetal também está ligada ao nível

protéico dos alimentos, muito superior nos de origem animal, como o

pescado utilizado (branquinha –  Curimata spp.) com teores de

proteína (19,2 ± 2,545 g/100g), lipídio (15,95 ±0,636 g/100g),quando comparado ao teor de proteína dos alimentos de origem

vegetal, como por exemplo, a batata-doce (Ipomoea batatas Lam.)

(0,94 g/100g) e o cará-roxo (1,24 g/100g) (Aguiar, 1996).

A Figura 6 ilustra bem essa tendência quando compara

filhotes de tartaruga, em que o animal de maior tamanho corporal

recebeu pescado, o médio, acima, recebeu vísceras bovinas e o

menor (abaixo do maior) recebeu proteína vegetal, todos com um ano

de idade. O lado direito do paquímetro é um animal de dois anos

alimentado com proteína vegetal.

7.1.2 Alimentação na recria (12 a 24 meses)

O tipo de alimento fornecido aos quelônios pode ser um fator

limitante para a produção comercial. Como reflexo doacompanhamento bimestral, iniciado em 1997, e das orientações

técnicas dadas pelos pesquisadores da Ufam e do Ibama-AM,

durante essas visitas, houve uma modificação no tipo de

alimentação fornecida pelos queloniocultores do Amazonas, a partir

de 1999, quando registramos que entre eles 10% passaram a utilizar

ração para peixe, pelo menos no primeiro ano de vida ou

suplementarmente a outra alimentação fornecida.

272

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Figura 6: Tartarugas (P.expansa) com crescimento diferenciado emfunção do tipo de alimento. Animais à esquerda do paquímetro têm 12 meses: ode cima foi alimentado com vísceras bovinas, o do meio com pescado e o de baixocom 70% de puerária e 30% de pescado; à direita, animal de 24 mesesalimentado com puerária (Duarte, 1998).

 Buscando maior crescimento dos filhotes, 40% passaram a

alimentar suas tartarugas com peixe, 10% com vísceras e 20%forneceram uma proporção de 60-70% de peixe e 30-40% depuerária. Apenas 20% mantiveram a dieta baseada em folhas,verduras, tubérculos e frutas, obtidas em restos de feiras emercados (Costa & Andrade, 1999).

De acordo com o observado no diagnóstico, pode-se constatarque os jovens de tartaruga, até 24 meses, alimentados com víscerasbovinas (GDP=0,3 g/dia) e peixe (GDP=0,421 g/dia), que sãoalimentos à base de proteína animal, continuam apresentandotendência a um melhor crescimento e ganho de peso em relação aosdemais tipos de alimentos fornecidos, sendo que as víscerasbovinas(GDP= 1,818 g/dia) superam o peixe (GDP=1,168 g/dia) emganho de peso, no segundo ano.

273

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A utilização de ração peletizada para peixes tem demonstradopromover bom crescimento. Apesar dessa ração não ser balanceadapara quelônios, apresenta muitos nutrientes essenciais para ocrescimento e engorda de tartarugas. Em geral, utiliza-se a ração tipo

alevinagem (mais protéica – 36 a 42%PB – e com pellet menor) parafilhotes, no primeiro ano de vida, e a ração para crescimento paraanimais com mais de 12 meses.

Os animais que recebem peixe + puerária também crescem deforma razoável. No caso dos criatórios analisados, observou-se queem determinado ponto os animais têm um ganho de pesocompensatório, pois inicialmente os animais recebiam muita

puerária e depois passaram a aumentar a quantidade defornecimento de peixe em relação à puerária. Animais alimentados àbase de verdura (proteína vegetal) demonstraram menor ganhodiário de peso (0,211 g/dia) em relação aos outros tipos de alimentos.

Esses fatos podem ser observados na Figura 8 que demonstrauma comparação entre os criadores distribuídos de acordo com o tipode alimentação que fornecem, entre eles: vísceras bovinas, peixe,restos de feira (principalmente verduras e tubérculos), ração e peixe +

puerária. O fato de o alimento à base de proteína animal demonstrarmelhor crescimento pode estar ligado, como já mencionamos, àdigestibilidade das proteínas, sabendo-se que nos primeiros anos devida os quelônios fazem melhor digestão de proteínas de origemanimal. É importante, porém, ressaltar novamente que não se deveprivar os animais de alimentos à base de proteína vegetal, poispossuem fibra, minerais e vitaminas (principalmente carotenóides)essenciais para um melhor desenvolvimento. Nesse caso, pode-seoptar por produtos ou subprodutos baratos ou disponíveis na

propriedade. Próximo à criação, recomenda-se plantar algumas dasespécies vegetais de melhor palatabilidade e valor nutritivo, citadasna revisão do início deste capítulo.

A ração de peixe balanceada peletizada, como base alimentar,vem proporcionando um bom desempenho dos animais, talvez porconter os níveis nutricionais aproximados dos valores necessáriospara quelônios, dando ao animal os ingredientes essenciais para umbom crescimento.

274

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A Tabela 3 apresenta uma comparação de médias de ganho

diário de peso (g/dia) relacionado ao tipo de alimento fornecido no

primeiro e segundo ano de vida.

 Tabela 3: Médias de ganho diário de peso (g/dia) – GDP, em relação ao tipo dealimento fornecido no primeiro e segundo ano de vida para filhotes de tartaruga

(P. expansa) (Costa & Andrade, 1999).

Tipo de alimento 1o ano GDP(g/dia)

2o ano GDP(g/dia)

 Peixe 0,304 ± 0,29 1,315 ± 1,04 Ração (30% PB) 0,769 ± 0,71 1,061 ± 1,26 Peixe + puerária 0,296 ± 0,35 1,071 ± 1,3 Restos de feira (verdura) 0,121 ± 0,17 1,199 ± 1,27Vísceras bovinas 0,30 ± 0,43 1,818 ± 0,97

275

Comprimento da carapaça ( mm )

0

50

100

150

200

250

0 4 6 8 10 12 15 17 19 21 23 25

Idade ( mes es )

     C    o    m    p    r     i    m    e    n    t    o

     d    a    c    a    r    a    p    a    ç    a

     (    m    m

     )

Peixe

Vísceras

Peixe +puerária

Restos deFeira

(verdura)Ração

Figura 8: Efeito do tipo de alimentação no crescimento de

comprimento de carapaça (mm) de tartarugas (Podocnemis expansa) criadas

em cativeiro no estado do Amazonas (Costa & Andrade, 1999).

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PROGRAMA DE MANEJO ALIMENTAR

Recomenda-se ao queloniocultor que, sempre que possível,

para reduzir custos e utilizar subprodutos originados em sua

propriedade ou de fácil aquisição nas proximidades, seguir o

seguinte programa:

a) Horário de arraçoamento: uma vez ao dia, às 10:00h, ou duas

vezes ao dia, às 9:00h e às 15:00h.

b) Forma de fornecimento da alimentação: preferencialmente,

deve-se fornecer os alimentos sempre em um mesmo local. Essecondicionamento alimentar facilitará, posteriormente, a captura dos

animais para atividades de rotina como biometria ou despesca.

Para animais pequenos e mesmo os adultos, a alimentação na

superfície da água é mais difícil de ser realizada, exigindo maior

esforço dos animais. Os alimentos devem afundar rapidamente e não

ser jogados a lanço, o que causa um maior desperdício. Pequenos

cochos de madeira colocados no fundo, em uma das margens do

berçário ou barragem, ou cochos suspensos que possam ser

afundados ou suspendidos através de fios e roldanas, também são

interessantes. Uma simples rampa de madeira em que se coloque o

alimento próximo à margem permitirá visualizar melhor os animais e

evitar o estrago dos alimentos.

Evitar fornecer alimentos contaminados por fungos ou

estragados, pois poderão causar doenças no plantel.

c) Alimentação inicial dos filhotes de quelônios: ao receber os

animais do Ibama, sugerimos que na primeira semana, forneça

fígado bovino moído ou gema de ovo cozida, misturada com pó de

casca de ovo, na proporção de 1 g por filhote. Essa alimentação

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servirá para estimular o quelônio a comer e poderá servir para

condicioná-lo a comer em cochos ou rampas.

Quando os filhotes estiverem acostumados a comer, fornecer

ração balanceada para peixe, em alevinagem, com o menor tamanhode pellet disponível e que afunde rapidamente, com cerca de 30-36%

PB e 4.000-4.500 kcal de EB/kg. Essa ração deverá compor 100% da

dieta nos 6 primeiros meses, posteriormente, poderá ser substituída

por 30% de subprodutos de origem animal e/ou 30% de

subprodutos de origem vegetal. Nesse período, o cálculo da

quantidade de alimento é feito com base em 5% do peso da

biomassa.

d) Acima dos 12 meses: a ração é fornecida suplementarmente e

trabalha-se com uma ração de crescimento (com 25-30% de PB).

Para baratear custos, pode-se ir cortando gradativamente o

fornecimento de ração até que ela represente apenas 10% da

quantidade diária fornecida. A partir dessa fase, o fornecimento é

com base em 3% da biomassa, passando a 1% da biomassa a partirdo quarto ano de cultivo. Lembrar que se desejar manter uma

alimentação 100% baseada em ração diminuirá o tempo de

produção, pois o animal crescerá mais rápido, o que acaba por

reduzir custos com mão-de-obra, equipamentos e instalações.

7.2 Exigências nutricionais

Além do horário de fornecimento, do tipo, da forma e da

quantidade de alimento fornecida, é de fundamental importância

para as criações de quelônios conhecer suas exigências nutricionais

específicas e por categoria de idade. A determinação dos níveis de

energia, proteína, cálcio, fósforo e demais minerais e vitaminas para

atender a demanda de filhotes, jovens e adultos reprodutores de

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tartarugas e tracajás em cultivos comerciais, ainda é uma incógnita.

Alguns experimentos foram conduzidos para determinação,

principalmente, das exigências protéicas (origem e níveis). Contudo,

ainda faltam muitas pesquisas para que possamos chegar a umatabela de exigências nutricionais para as diferentes espécies (P.

expansa, P. unifilis e P. sextuberculata) e diferentes categorias de

quelônios aquáticos cultivados na Amazônia.

7.2.1 Energia bruta

A quantidade de alimento ingerida por um animal é emfunção direta de sua necessidade energética, por isso,

primeiramente, devemos pensar no atendimento das exigências de

energia dos quelônios. No próximo capítulo, trataremos das

necessidades protéicas e suas inter-relações com a energia.

Através do Projeto Diagnóstico/PTU-CNPq foi realizado em

área de terra firme na Fazenda Experimental da Universidade do

Amazonas, localizada no Km 38 da BR-174, Manaus-Boa Vista,

experimento para determinar as exigências energéticas de filhotes

de tartaruga até os 16 meses.

Neste experimento foram utilizados 360 filhotes de tartaruga

(Podocnemis expansa), com 3 meses de idade. Esses animais foram

obtidos no Ibama/AM e são oriundos da Reserva Biológica de

Abufari, localizada no município de Tapauá/AM, tinham, ao nascer,

peso médio de 23,1 ± 3,07g, e foram alojados em baias em balsas tipo

tanques-rede. Outros filhotes de mesma origem foram alojados em2um berçário circular de 16 m , feito curral de estacas de madeira.

Os filhotes foram alojados em berçário tipo tanque-rede2colocado em um tanque escavado de 400 m de espelho d'água. Esse

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berçário foi constituído de duas balsas de madeira de 2,40m x

1,80m, com dois flutuadores (camburões metálicos). Cada balsa foi

dividida em 18 baias de 0,9m x 0,9m, sendo que cada baia possuía

uma área para o banho de sol, uma abertura para água devidamente

telada, com aproximadamente 0,9 m de profundidade. Ostratamentos foram distribuídos em um delineamento inteiramente

casualizado, com esquema fatorial 3x2x3, sendo considerados três2densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m ), 3 instalações (com e sem

estufa e berçário) e 3 níveis de energia bruta em rações (3.500, 4.000

e 4.500 kcal de EB/kg). Para a alimentação dos animais foi utilizada

ração experimental com três níveis de energia (3.500, 4.000 e 4.500

kcal de Energia Bruta/kg), conforme a Tabela 4: Tabela 4: Nutrientes e ingredientes da ração experimental utilizada

como alimento para os animais do experimento.

279

Nutrientes EB3.500 EB4.000 EB4.500 BerçárioUmidade (%) 13 13 13 13Proteínabruta (%)

38,75 38,75 38,75 32,33

Energiabruta (kcal/kg)

3.629 3.985 4.302 3.432,8

Extratoetéreo (%)

3,33 8,8 13,68 3,66

Fibra bruta(%)

7 7 7 7

Extrato não-nitrogenado(%)

40,94 35,47 30,59 46,01

Matériamineral (%)

9,98 9,98 9,98 11

Ca (%) 3,84 3,84 3,84 2,5P (%) 0,83 0,83 0,83 0,7IngredientesRação Basal* 1 1 1 2Óleo de soja(ml/100 kg)

0 6.000 12.000 0

* Ração Basal 1: Composta de 67,10% da ração comercial com 42% de proteína e 32,89% de ração

com 30% de PB; Ração Basal 2: composta de 66,66% de ração com 42% de PB e 33,33% de ração com

30% de PB. Os ingredientes dessas rações são os seguintes: farinha de peixe, milho, farelo de soja,

farelo de trigo, farinha de sangue, carbonato de Ca, sal, premix mineral e vitamínico.

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Os filhotes utilizados no experimento, foram alojados nas

baias experimentais e, diariamente, foram alimentados. A

alimentação era fornecida mediante a deposição da ração dentro das

baias, no horário de 9:00h às 10:00h da manhã, numa quantidadede 5% do peso vivo dos animais. O experimento conduzido na

fazenda experimental sobre o nível de energia na ração, durou 422

dias, sendo iniciado com filhotes de tartaruga da Rebio Abufari,

 Tapauá/AM, com 3 meses de idade e peso médio de 45,66 3,63 g.

A temperatura da água medida nas instalações ao ar livre foi

de 31,05 0,81C e, em berçário com estufa de 30,52 0,90C. A

temperatura do ar foi nas instalações com estufa era igual a 33,5C, e

nas sem estufa de 31,82C. A umidade relativa do ar maior em

instalações com estufa, 76,25%, do que nas instalações ao ar livre,

69,90%.As Tabelas 5, 6 e 7 apresentam os resultados encontrados

para algumas das variáveis analisadas nesse experimento

(comprimento e largura de carapaça, comprimento e largura de

plastrão, altura, peso e ganho diário de peso).

  Tabela 5: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre a

variação no comprimento da carapaça (mm) de filhotes de tartaruga (Costa,

1999).

 Tratamento/idade

3 meses 5 meses 8 meses 13 meses 16meses

 T1 82,61 102,42 127,18 166,20 207,91

 T2 82,59 110,35 124,23 167,34 207,12 T3 82,75 108,87 125,6 173,22 181,57 T4 83,11 110,36 118,28 161,45 165,96 T5 83,14 107,34 120,53 162,25 178,97 T6 79,67 107,29 125,51 174,9 193,76

* T1: CE x 3.500 kcal de EB/kg; T2: CE x 4.000 kcal de EB/kg; T3: CE x 4.500 kcal de

EB/kg; T4: SE x 3.500 kcal de EB/kg; T5: SE x 4.000 kcal de EB/kg; T6: SE x 4.500 kcal

de EB/kg; SE: instalações sem cobertura plástica; CE: instalações com cobertura

plástica.

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  Tabela 6: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre a

variação do peso (g) de filhotes de tartaruga (Costa, 1999).

 Tratamento/idade

3 meses 5 meses 8 meses 13 meses 16meses

 T1 32,12 40,73 256,63 617,07 855,46 T2 33,19 40,52 241,99 619,68 947,01 T3 33,04 43,22 245,45 620,44 751,1 T4 32,48 40,6 220,26 577,75 731,72 T5 32,97 40,54 224,47 549,55 724,87 T6 31,82 42,9 254,44 639,28 855,07

* T1: CE x 3.500 kcal de EB/kg; T2: CE x 4.000 kcal de EB/kg; T3: CE x 4.500 kcal de

EB/kg; T4: SE x 3.500 kcal de EB/kg; T5: SE x 4.000 kcal de EB/kg; T6: SE x 4.500 kcal

de EB/kg; SE: instalações sem cobertura plástica; CE: instalações com cobertura

plástica.

 Tabela 7: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre o ganho

diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (Costa, 1999).

 Tratamen

to/idade

3 meses 5 meses 8 meses 13 meses 16 meses

 T1 0,696 0,770 1,466 2,263 1,335 T2 0,758 0,295 1,066 1,672 1,116 T3 0,727 0,450 1,209 2,372 1,311 T4 0,737 0,461 0,823 2,262 1,100 T5 0,666 0,578 0,825 2,067 1,082

 T6 0,740 0,592 1,202 2,479 1,346

*-Mesmos tratamentos citados anteriormente nas Tabelas 5 e 6.

As variáveis comprimento, largura e altura da carapaça, pesoe ganho médio diário de peso não apresentaram diferenças

significativas, ao nível de 5%, pelo teste F e teste t do LSMEANS,

tanto para o fator densidade, como tipo de instalação e nível de

energia.

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 Tabela 8: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta sobreo ganho médio diário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa) (Costa,1999).

Instalação

/nível deEnergia

3.500 kcal

de EB/kg

4.000 kcal

de EB/kg

4.500 kcal de

EB/kg

Médias

Estufa 0,88±0,60 0,98±0,41 0,88±0,41 0,91Ar livre 0,65±0,47 0,89±0,59 1,02±0,20 0,85Médias 0,77 0,93 0,95

Observa-se uma tendência linear de que tartarugas até os

sete meses alimentadas com rações com maior nível de energia

bruta apresentem maior ganho de peso (GDP3.500= 0,77 g/dia;GDP4.000=0,93 g/dia e GDP4.500=0,95 g/dia). Não foi aplicada a

regressão linear para analisar o comportamento dos dados visto que

a Anova resultou não significativa.

Observa-se, também, para animais dos 7 aos 16 meses, uma

tendência de que ao serem alimentados com rações com maior nível

de energia bruta apresentem maior ganho de peso (GDP3.500=

1,217 g/dia; GDP4.000=1,099 g/dia e GDP4.500=1,328 g/dia),

conforme pode-se observar na Tabela 9 e Figura 11. Não foi aplicada

a regressão linear para analisar o comportamento dos dados visto

que a Anova resultou não significativa.

 Tabela 9: Efeito do nível de energia na ração sobre o ganho diário de peso de

tartarugas (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).

Nível de energia(kcal de EB/kg) /idade

6 meses 8 meses 13 meses 16 meses

3.500 0,288 1,102 2,263 1,2174.000 0,401 0,945 1,869 1,0994.500 0,534 1,205 2,242 1,328

282

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Figura 9: Efeitos do nível de energia bruta na ração sobre o ganho diário de peso

(g/dia) de tartaruga (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).

A Tabela 10 apresenta as interações entre o nível de energia

bruta na ração e o tipo de instalação, sendo que elas não afetaram

significativamente o ganho de peso de filhotes de tartaruga.

 Tabela 10: Efeitos do tipo de instalação e nível de energia bruta sobre o ganho

médio diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (P. expansa), aos 16 meses

de idade. (Costa, 1999)

Instalação/Nível de

energiabruta

3.500 kcalde EB/kg

4.000 kcalde EB/kg

4.500 kcalde EB/kg

Médias

Estufa 1,35±0,4 1,81±0,5 1,427±0,39 1,254±0,43Ar livre 1,1±0,4 1,14±0,4 1,276±0,28 1,176±0,36

Médias 1,22±0,4 1,099±0,42 1,328±0,335

283

0

0,5

1

1,5

2

2,5

     G     D     P

     (    g     /     d     i    a     )

6 8 13 16

Idade (meses)

Efeitos do nível de energia na ração sobre o ganho diário depeso (g/dia) de tartaruga (P. expansa ) criadas em cativeiro

3500

4000

4500

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Com base nos resultados destes experimentos, podemos

concluir que filhotes de tartaruga criados em instalações com

cobertura plástica (efeito estufa), com uma ração com 4.500 kcal de2

EB/kg, na densidade de 25 animais/m (tanques-rede) ou 402animais/m (berçário circular de madeira) podem alcançar um

melhor desempenho.

7.2.3 Análise econômica

O experimento teve duração de 422 dias, onde foi fornecida,

no total, a quantidade de 21 sacos de ração de peixe (saco de 25 kg)

para alimentar 360 animais. A análise econômica do experimento foi

baseada nos gastos com a ração fornecida para alimentação dosanimais e o óleo de soja que era adicionado de acordo com cada

tratamento, sendo um total de seis tratamentos.

Nos dois primeiros meses de condução do experimento, com

animais de idade entre 3 e 5 meses, foi fornecido inicialmente um

total de 21,12 kg de ração, por tratamento. Nos dois últimos meses, a

quantidade de ração fornecida foi de 40,04 kg, quando os animais

estavam com idade de 22 meses. Cada saco de ração custou R$

22,50, portanto, o gasto inicial por tratamento foi de R$ 19,01, com

total de R$ 114,048 e o final de R$ 36,036, com total de R$ 216,216.

Esses cálculos foram baseados na quantidade de fornecimento

diário de ração, por tratamento, nos dois primeiros meses (inicial) e

dois últimos meses (final).

O peso médio final dos animais, por tratamento, foi de:

 T1:10.23,75 g ; T2: 9.33,33 g; T3: 1.168 g; T4: 9.55,83 g; T5:1.292,5 g e T6: 1.017,5 g.

O custo total de ração mais óleo de soja adicionado, nos 16meses de condução do experimento foi:

284

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 T1: ração basal = R$ 85,29

 T2: ração basal + 600 ml de óleo de soja = R$ 92,1615

 T3: ração basal + 1.200 ml de óleo de soja = R$ 99,028

 T4: ração basal = R$ 85,29

 T5: ração basal + 600 ml de óleo de soja = R$ 92,1615 T6: ração basal + 1.200 ml de óleo de soja = R$ 99,028

A receita líquida foi calculada baseando-se na venda dos

animais ao preço de R$13,00/kg de peso vivo. Através dos

resultados pode-se observar que o custo total de ração foi de R$

552,959, a renda bruta (peso médio/tratamento x 13,00) foi de R$

4.985,166 e a receita líquida total foi de R$ 4.432,207. Isso vemdemonstrar que é extremamente viável a criação de tartaruga

utilizando como alimentação ração disponível no mercado, para

peixes em crescimento, mesmo sem incluir nos custos os gastos

com mão-de-obra e instalações.

Muitos criadores vêm testando formulações diversas derações balanceadas. Na Tabela 11 apresentamos a variação

percentual dos ingredientes em algumas rações testadas. Tabela 11: Variação percentual de ingredientes de rações testadas por

alguns queloniocultores do Amazonas e Rondônia.

Ingredientes Valor m áximoutilizado (%)

Valor mínim outilizado (%)

Farelo de soja 54,1 31,0Milho 49,1 29,0Farinha de carne 12,0 0,0Farinha de peix e 23,0 0,0Fosfato bicálcico 2,0 0,0Farelo de arroz 10,0 0,0Sal 0,5 0,5Premixmineral/vitamínico

0,4 0,4

B.H.T.(antioxidante) 0,03 0,03Óleo de soja 4,0 0,0

**- Premix para peixes carnívoros (truta).

285

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As rações com farinha de peixe e óleo vegetal (mais proteína e

energia) tiveram melhores efeitos sobre o desempenho de quelônios

aquáticos cultivados. Animais alimentados com rações com farelo

de arroz não tiveram bom crescimento.

Luz et al. (1993) compararam rações com 20 e 25% de

proteína bruta na alimentação de filhotes recém-eclodidos de

tracajás (P. unifilis), cultivados com uma densidade de 253animais/m , obtendo, ao final de 8 meses, animais com mais de 120

mm de comprimento de carapaça e de 200 a 280 g de peso, sendo que

houve uma tendência para que animais alimentados com ração com

25% de PB tivessem melhor desempenho. As rações utilizadastinham os seguintes ingredientes:

a) Ração com 20% de proteína e 4,71% de fibra: 38% de milho,

28,45% de farelo de soja, 18,55% de farelo de trigo, 5% de talo

e folha de mandioca, 1,5% de fosfato bicálcico, 8% de calcário

calcítico, 0,5% de premix.

b) Ração com 25% de proteína e 4,8% de fibra: 29,6% de milho,

43,9% de farelo de soja, 11,5% de farelo de trigo, 5% de talo e

folha de mandioca, 1,5% de fosfato bicálcico, 8% de calcário

calcítico e 0,5% de premix.

Conclusão

A alimentação representa entre 60 a 80% dos custos de

produção de tartarugas e tracajás cultivados. Enquanto não estão

totalmente definidas as exigências nutricionais por espécie e

categorias de idade e sexo, cada criador deverá buscar utilizar

aqueles alimentos que já foram testados e que apresentam melhores

efeitos no desempenho dos quelônios e, certamente, um menor

custo, a fim de baratear sua produção.

286

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287

Capítulo 9: Desenvolvimento de tartaruga-da-

amazônia (P. expansa) e tracajá (P. unifil is) emcativeiro, alimentados com dietas artificiais em

diferentes instalações

Francimara Sousa da CostaPaulo Henrique Guimarães de Oliveira

Paulo César Machado Andrade

Pedro Macedo da CostaAugusto Shynia Abe

Pouco se conhece sobre a nutrição adequada dos quelônios

em cativeiro na fase de pós-eclosão até um ano de idade (Souza,

1984). A importância de estudos morfológicos para as diversas áreas

de pesquisas em quelônios pode ser ressaltada através de alguns

exemplos, como o fato do comprimento do intestino ser, na maioria

dos casos, proporcionalmente maior em animais herbívoros quandocomparado aos carnívoros.

Em estudos realizados por Terán (1998), com animais de vida

livre, observou-se que não houve variação sazonal na alimentação

entre machos e fêmeas de P. unifilis. Sementes e frutos foram mais

consumidos por fêmeas, e talos, por machos. Houve aumento no

consumo de sementes e frutos em função do tamanho, sendo que o

volume de peixe consumido diminuiu com o tamanho do animal.

 Também foi observada a influência da alimentação consumida em

função do tipo de habitat. Sementes e frutos foram consumidos na

floresta inundada do que nos lagos e no rio. Apesar de machos e

fêmeas de P. unifilis serem herbívoros, existem diferenças na

alimentação entre os sexos. As fêmeas consomem principalmente

sementes e frutos, e os machos, talos. Os exemplares menores

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288

consomem proporcionalmente mais produto de origem animal do

que os maiores, ainda que em baixa proporção do volume total.

Mudanças na dieta de jovens e adultos são comuns nos quelônios.

Em geral, espécies onívoras tendem a ser carnívoras quando jovens

e herbívoras quando adultas.

Lima (1998) avaliou o efeito de dietas contendo diferentes

fontes de proteína na matéria seca (100% vegetal; 75% vegetal e 25%

animal; 50% vegetal e 50% animal; 25% vegetal e 75% animal; e

100% animal), como alimentação de filhotes de P. expansa em

cativeiro, pós-eclosão até 12 meses de idade, e observou que a ração

com 50% de proteína animal e 50% vegetal foi a que proporcionou

maior ganho de peso, 512,79% ± 12,48g, e melhor homeostase.

A principal dificuldade enfrentada pela queloniocultura é a

questão alimentar. Pouco se conhece sobre as reais exigências

nutricionais da tartaruga. Estudos têm indicado que 90% da

alimentação da tartaruga, em condições naturais, são compostas de

vegetais. O item alimentar mais utilizado na criação de tartaruga

tem-se constituído de ração para peixes, com níveis protéicosvariando de 28% a 30% de proteína bruta e é considerado o melhor

alimento disponível no mercado (RAN, 2001). Duarte et al., 1998, ao

fazer um diagnóstico da queloniocultura no estado do Amazonas,

verificaram que tartarugas alimentadas com ração para peixes

superaram em crescimento àquelas alimentadas com produtos de

origem animal e vegetal, tendo com este último produto, o pior

desenvolvimento dos animais.

Apesar de apresentar boas qualidades zootécnicas, poucos

são os conhecimentos tecnológicos disponíveis para o cultivo

intensivo de quelônios, havendo a necessidade de mais pesquisas

para que se viabilize sua produção em larga escala. As exigências

nutricionais elementares para quelônios, como as concentrações de

proteína e energia na dieta, são indicadas entre 20 e 40%, porém, é

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necessário diminuir essa faixa visando minimizar os custos do

produtor com ração.

O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito de diferentes

níveis de proteína e energia bruta em dietas artificiais nodesenvolvimento de tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) e

tracajá (Podocnemis unifilis). Avaliar a influência de tipos de

instalações no desenvolvimento: tanques-rede com e sem cobertura

plástica e tanque escavado.

Localização: Esse experimento teve duração de 14 meses e

foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Federal do

Amazonas, localizada na BR-174, Km 37, Manaus/AM.

Animais: Foram utilizadas 270 tartarugas (Podocnemis

expansa) com comprimento médio inicial de 13,27 ± 2,0cm e peso

médio inicial de 320,05 ± 0,6g e 270 tracajás (Podocnemis unifilis),

com comprimento médio inicial de 9,58 ± 0,8cm e peso médio inicial

de 120,40 ± 1,5g, avaliados de 10 a 24 meses de idade, provenientes

da Reserva Biológica de Abufari, município de Tapauá/AM.2A densidade de estocagem era de 15 indivíduos/ m .

2Instalações: Em um tanque escavado de 120m de espelho2d'água, foram depositadas quatro balsas de madeira de 9m , cada

uma com quatro flutuadores (camburões metálicos). Cada balsa2estava dividida em 9 baias de 1,0m x 0,6m de profundidade, num

sistema de gaiolas tanques-rede flutuantes, sendo que do total de 36baias, metade foi coberta com plástico transparente para simular o

efeito de uma estufa (com estufa), e a outra metade estava sem

cobertura plástica (sem estufa). Cada baia possuía uma área para

banho de sol, e as baias sem cobertura foram teladas para evitar o

ataque de possíveis predadores.

289

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Para a análise da variação de temperatura nas baias, foram

utilizadas medidas de temperatura da água e do ar. A temperatura

ambiente foi medida por meio de um par de psicômetros, um de

bulbo seco e um de bulbo úmido, instalados dentro da baia. As

leituras foram feitas de 10:00h às 16:00h, em intervalos de umahora.

De 0 aos 10 meses de idade, as tartarugas e tracajás foram

alimentados com uma ração constituída de 60% da ração comercial

Nutripescado e 40% da ração comercial Nutritruta. Os ingredientes

dessas duas rações são: farinha de peixe, milho, farelo de soja, farelo

de trigo, farinha de sangue, carbonato de Ca, sal, premix vitamínico

e mineral. A Tabela 1 apresenta os nutrientes desta ração. Neste

período, os animais estavam depositados num tanque escavado de2 2120 m , numa densidade de 9 animais/m .

 Tabela 1: Nutrientes da ração fornecida aos animais de 0 a 10

meses de idade.

Nutrientes %

Umidade (%) 13,0Proteína bruta (%) 32,33Energia bruta (kcal/kg) 3.432,80

Extrato etéreo (%) 3,66Fibra bruta (%) 7,0

Extrato não nitrogenado (%) 46,01Matéria mineral (%) 11,00

Ca (%) 2,50P (%) 0,7

A alimentação dos animais durante o período experimental (10

a 24 meses), foi uma ração fabricada na Universidade Federal do

Amazonas, com três níveis de proteína bruta (20, 30 e 40% de PB) e

dois níveis de energia bruta (3.500 e 4.500 kcal de EB/kg). A Tabela

2 apresenta os nutrientes desta ração.

290

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 Tabela 2 - Nutrientes e ingredientes da ração experimental.

Ingredientes (%)

20/3.500 30/3.500 40/3.500 20/4.500 30/4.500 40/4.500

Milho 63,81 37,03 12,936 63,81 37,03 12,936F. soja 23,40 48,66 71,388 23,40 48,66 71,388

F. carne 6,25 7,76 9,126 6,25 7,76 9,126F. trigo 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00F. osso 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50Calcário 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50Sal 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30Óleo - - - 5,8L 5,8L 5,8LPremixvit.Mineral

0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25

Total 100Kg 100Kg 100 Kg 100Kg 100Kg 100Kg

Nutrientes (%) 

ProteínaBruta

20,19  30,74  40,01 20,08  30,52  40,25

EnergiaBruta

3.524 3.513 3.535 4.546 4.537 4.523

EE 4,56 5,25 6,34 4,98 5,70 6,86Fibra 7,63 7,98 8,47 7,85 7,46 8,54Cinzas 12,25 12,90 11,98 12,11 12,56 11,87Cálcio 4,25 4,28 4,44 4,32 4,12 4,56

Fósforo 1,81 1,69  1,87  1,78  1,79  1,98 *PB(%)/EB(kcal/kg)

Delineamento experimental e análise dos resultados

Os resultados de crescimento foram obtidos através debiometria bimestrais. Todos os animais eram medidos e pesados. Osdados foram tabulados em planilha eletrônica Excel e submetidos à

análise estatística no programa SPSS for Windows 8.0. Os dadosforam tabulados por espécie, por nível de proteína e energiatestados, e por tipo de instalação a que foram submetidos osanimais. As variáveis analisadas foram comprimento da carapaça(cm), altura da carapaça (cm), peso (g), ganho diário de peso (g/dia) erendimento de carcaça (%). Os tratamentos foram organizados emum delineamento experimental inteiramente casualizado. Osresultados foram submetidos à análise de variância (Anova) e ascomparações foram realizadas através do teste t. O nível de

significância utilizado em todos os testes estatísticos foi de P < 0,05.

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As rações foram fornecidas na forma de péletes, por

promover maior facilidade no momento da apreensão. Proporciona

também maior estabilidade na água e maior agregação dos

ingredientes, já que o fornecimento da ração farelada promove

grande perda de alimento, pois os animais ao se alimentarem ficamcom a ração aderida ao corpo (Vianna, 2000).

Figura 1: Produção da ração experimental. Setor avicultura da FCA/Ufam,Manaus.

292

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 Tabela 3: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg) sobre o comprimentoda carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa), em tanques-rede.

Idade(mês)

 TI 20/

3.500

30/

3.500

40/

3.500

20/

4.500

30/

4.500

40/

4.500

10 (T0)   13,27± 2,0

13,27± 2,0

13,27± 2,0

13,27 ±2,0

13,27± 2,0

13,27± 2,0

12  CE

SE

14,53± 1,5

13,73± 2,3

15,02± 1,4

14,62± 1,6

16,27± 2,2

14,89± 2,0

15,08 ±2,3

14,16 ±1,1

14,96± 1,6

14,23± 1,3

15,54± 1,7

14,56± 1,3

16 

CE 

SE 

15,48

± 0,5

 

15,35± 1,2

 

15,80

± 1,2

 

15,56± 0,7

 

16,35

± 1,2

 

15,69± 1,0

 

15,85 ±

1,0

 

14,86 ±1,1 

15,16

± 1,4

 

15,00± 1,0 

15,85

± 1,7

15,67± 0,5 

18 

CE 

SE

  15,71± 1,3

 

15,55± 1,4

 

16,43± 1,7

 

16,03± 0,6

 

17,63± 1,8

 

16,44± 1,2

 

15,69 ±0,7

 

15,26 ±0,4

 

17,05± 1,4

 

15,70± 1,1

 

17,05± 1,1

 

16,06± 1,5

 

20

 

CE

 

SE

  17,79± 1,8

 

16,29± 1,7

 

18,08± 1,6

 

17,35± 1,0

 

18,65

 

± 1,8 

17,67± 0,8

 

18,03 ±0,8 

16,84 ±1,1

 

18,18± 2,0 

17,13± 1,2

 

19,17± 1,2 

18,27± 1,3

 

22

 

CE

 

SE

  18,33± 1,3

 

18,21

± 1,7

 

19,78± 1,8

 

19,17

± 1,3

 

20,97± 2,8

 

20,69

± 1,5

 

18,46 ±1,3

 

17,49 ±

1,6

 

19,72± 1,6

 

18,06

± 1,7

 

21,41± 1,3

 

21,19

± 0,9

 

24

 

CE

 

SE

 21,29± 2,4

 

20,22± 3,6

 

21,57± 2,0

 

21,12± 2,1

 

21,93± 2,0

 

21,45± 2,0

 

21,31 ±1,1

 

20,64 ±1,5

 

21,69± 0,6

21,19± 1,1

 

22,06± 2,3

 

21,76± 1,1

 

* TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa(sem cobertura plástica).

293

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Quanto ao comprimento da carapaça (Tabela 3), não houve

diferença significativa ao nível de P<0,05, do efeito dos níveis de PB e

EB testados, tanto para os tratamentos com animais confinados em

instalações com cobertura plástica (CE), quanto para os confinados

em instalações sem cobertura (SE). Porém, observa-se que dos 12aos 18 meses de idade, ocorre uma tendência à obtenção de maior

crescimento em valores médios, com o fornecimento de ração com

40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg para as duas instalações testadas.

A partir dos 18 meses de idade, até o final do experimento, obteve-se

tendência para maiores valores de comprimento da carapaça,

aumentando-se o teor de energia bruta para 4.500 kcal de EB/kg,

em rações de 40% de PB.

Para a variável altura da carapaça também não foi observada

diferença significativa ao nível de P<0,05, do efeito dos níveis de PB e

EB testados para nenhuma das instalações. Observa-se, porém, que

aos 12 meses de idade a maior altura foi obtida nos animais

alimentados com rações de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg, tanto

para aqueles alojados em instalações com cobertura, quanto aos

alojados em instalações sem cobertura. Dos 16 aos 24 meses de

idade, observa-se que há tendência à obtenção de maior

desenvolvimento, com o aumento do teor de energia bruta associado

ao maior nível de proteína bruta (40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg).

294

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 Tabela 4: Efeito do tipo de instalação e níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração,sobre o peso (g) de Podocnemis expansa em tanques-rede.

*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa

(sem cobertura plástica).

Analisando-se os dados de peso (Tabela 4), também não foi

encontrada diferença significativa ao nível de P<0,05. Pôde-se

observar, porém, que durante todo o período experimental animaisalimentados com rações de 3.500 kcal de EB/kg, tendem a superar

em desenvolvimento aqueles alimentados com rações de 4.500 kcal

de EB/kg, sendo que a maior média foi alcançada com o

fornecimento de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg. Em todos os

tratamentos, o maior peso e ganho diário de peso foram alcançados

com animais alimentados com rações de 40% de PB.

295

I dade( mês )

 T I

2 0 /3 .500

3 0 /3 .500

4 0 /3 .500

2 0 /4 .500

3 0 /4 .500

4 0 /4 .500

10

(T0)

320,05

± 0,6

320,05

± 0,6

320,05

± 0,6

320,05

± 0,6

320,05

± 0,6

320,05

± 0,612 CESE

465,41± 1,2

380,72± 2,4

488,87± 2,9

401,00± 2,2

539,33± 1,9

433,33± 3,6

453,02± 2,8

348,50± 3,8

483,50± 8,2

377,50± 2,8

525,93± 9,1

422,97± 7,1

16 CESE

548,25± 2,0

470,00± 7,3

568,75± 1,4

481,25± 4,0

685,00± 1,3

502,61± 1,2

457,77± 2,6

421,60± 1,0

525,93± 6,8

507,85± 7,4

564,64± 4,1

526,33± 1,3

18 CE

SE

641,53± 5,0

525,85± 1,8

648,41± 1,2

548,16± 5,0

748,75± 2,6

587,77± 2,0

483,88± 1,5

595,00± 3,8

579,12± 1,3

523,75± 5,7

701,25± 4,5

602,66± 7,1

20 CESE

701,00± 2,5

576,87± 2,6

736,81± 9,6

648,41± 1,0

1.217,3± 3,3

773,03± 1,9

600,00± 2,1

561,11± 1,8

762,54± 3,5

619,86± 1,2

773,67± 9,4

732,22± 8,2

22 CESE

770,78± 1,6

708,57± 2,1

1.051,3± 1,2

940,50± 2,0

1.350,0± 2,1

1.055,0± 2,5

778,33± 6,9

625,55± 1,7

978,68± 4,6

970,58± 2,0

1.262,7± 1,3

1.007,0± 1,5

24 C

ESE

1.124,4

± 3,81.046,3

± 2,8

1.378,2

± 1,01.305,0

± 3,8

1.542,4

± 3,51.435,0

± 3,2

1.116,4

± 2,2872,5± 1,3

1.296,9

± 6,71.136,3

± 1,8

1.496,7

± 4,81.373,6

± 2,1

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A Figura 2 demonstra o peso dos animais aos 24 meses de

idade, alimentados com três níveis de proteína bruta em rações de

3.500 kcal de EB/kg, e a figura 3 compara os dois níveis de energia

de acordo com o tipo de baia. O efeito das baias cobertas e sem

cobertura não foi significativo ao nível de P<0,05. Porém, pode-seobservar que animais alojados em baias cobertas (CE) possuem peso

superior aos animais instalados em baias sem cobertura (SE), assim

como aqueles alimentados com rações de 40% de PB superam em

peso os animais alimentados com 20 e 30% de PB. O nível de energia

que teve tendência a proporcionar melhor resposta de crescimento

foi o de 3.500 kcal de EB/kg.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

     P    e    s    o     (    g     )

20 30 40

Proteína bru ta (%)

Peso de tartaruga em diferentes instalações

CE

SE

Figura 2: Peso(g) de tartarugas criadas em tanques-rede alimentadas comração de 3.500 kcal de EB/kg.

296

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Figura 3: Peso de tartarugas em tanques-rede alimentadas com ração de

40% de PB e dois níveis de energia bruta.

A Figura 4 compara os níveis de proteína bruta na ração de 3.500kcal de EB/kg dos animais confinados nos tanques-rede com

cobertura plástica. Os resultados sugerem que a ração de 40% de PB

proporciona uma resposta de maior ganho diário de peso em relação

aos níveis de 20 e 30% de PB, durante todo o período experimental,

sendo que essa diferença não foi significativa ao nível de P<0,05. A

Figura 5 demonstra o ganho diário de peso (g/dia) de animais

alimentados com ração de 40% de PB e dois níveis de energia bruta(3.500 e 4.500 kcal de EB/kg) confinados em baias com estufa.

Pode-se observar que o nível de 3.500 de energia bruta promove um

maior ganho diário de peso a partir dos 16 meses de idade.

Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira (2000),

inferindo que tartarugas criadas em gaiolas flutuantes

apresentaram maior desenvolvimento com rações de 40% de PB e

3.500 kcal de EB/kg, avaliadas no primeiro ano de vida.

297

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Figura 4: Ganho diário de peso de tartarugas criadas em tanques-rede comestufa, alimentadas com ração de 20, 30 e 40% de proteína bruta.

0

0 ,5

1

1 ,5

2

2 ,5

3

3 ,5

     G     D     P

     (    g     /     d     i    a     )

1 2 1 6 1 8 2 0 2 2 2 4

Id a d e (m e s e s )

G a n h o d i ár io d e p e s o d e ta r t ar u g a e m c a t iv e i r o

3 5 0 0

4 5 0 0  Figura 5: Ganho diário de peso de tartarugas criadas em tanques-rede

com estufa, alimentadas com ração de 3.500 e 4.500 kcal/kg.

Em resumo, no comprimento e altura da carapaça, a

tendência a um maior crescimento nos primeiros meses de

experimento é observada com o fornecimento de ração com 40% de

298

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PB e 3.500 kcal de EB/kg, a partir dos 18 meses. Esse resultado é

alcançado aumentando-se o nível de energia bruta para 4.500 kcal

de EB/kg. A diferença nos resultados apresentados entre as

variáveis analisadas talvez indique um crescimento alométrico para

esta espécie, conforme sugerido por Vianna, 1999, para P. unifilis, sendo que alguns autores indicam crescimento isométrico para

animais de carapaça externa. Pelas controvérsias, são necessários

estudos específicos complementares para confirmarem esses

parâmetros. Pode indicar também que sejam necessários maiores

níveis de energia bruta para o crescimento em comprimento já que

com o aumento do nível protéico da dieta ocorre uma redução na

energia não protéica disponível. Porém, como os quelônios sãovendidos por peso vivo esse resultado é irrelevante, sendo

importante considerar os resultados encontrados para peso e ganho

diário de peso e, para essas variáveis, o melhor desenvolvimento foi

alcançado com rações de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg, durante

todo o período experimental. Pode ser que as rações com 40% de PB

apresentem melhor perfil de aminoácidos essenciais, assim como

apresentaram melhores níveis de cálcio e fósforo, permitindo, dessaforma, um maior atendimento das exigências nutricionais.

As variáveis ambientais registradas no experimento, a fim de

que se pudesse avaliar o efeito da cobertura plástica (estufa) sobre

metade dos tanques-rede, foram a temperatura do ar e a

temperatura da água. Com relação a essas variáveis, a temperatura

da água foi maior nas instalações com cobertura plástica (30,55

1,53 C) se comparada às instalações sem estufa (27,22 0,73 C),

assim como a temperatura do ar que, nas instalações com estufa, foi

de 33,5 2,98C e nas baias sem estufa foi de 28,82 2,47C. Isso pode

ser devido ao fato de que o plástico das estufas tornou-se opaco pelo

acúmulo direto de sujeira, o que, de certa forma, impediu a rápida

dissipação do calor nas instalações, provocando um efeito estufa.

299

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É importante considerar que os animais alojados em baias

sem cobertura podem ter tido acesso a outro tipo de alimentação

diferente da ração experimental, como larvas, insetos e alguma

vegetação carreada pela chuva, sendo que nas baias cobertas esse

controle era mais rigoroso. Isso pode ter influenciado no menordesenvolvimento dos animais nas instalações sem estufa, visto que

essa alimentação alternativa disponível poderia ser mais palatável e,

assim, ter desencadeado a preferência dos animais, levando ao

menor consumo voluntário de ração.

De um modo geral, não houve diferença significativa ao nível

de P<0,05 quanto ao efeito dos níveis de proteína e energia bruta

testados e o tipo de instalação. Porém, há uma tendência para que

animais instalados em baias com cobertura plástica superem em

desenvolvimento aqueles alojados em instalações sem cobertura

plástica, em todos os tratamentos e em todas as variáveis analisadas

(aos 24 meses, GDP=3,3 ± 1,8g/dia e GDP=2,815 ± 1,74g/dia,

respectivamente, para ração de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg).

Esses resultados corroboram com os encontrados por Costaet al., 1998, onde P. expansa confinada em tanques-rede com

cobertura plástica, apresentou maiores valores de ganho diário de

peso em relação aos animais alojados em baias sem cobertura (1,37

0,36 g/dia e 1,08 0,48g/dia, respectivamente), com temperatura

ambiente em torno de 30C, acompanhados no primeiro ano de vida.

Oliveira (2000), estudando o desenvolvimento de P. expansa em tanques-rede encontrou resultados semelhantes aos resultados

desse estudo. Aos 12 meses de idade, os animais apresentaram GDP

de 1,26 0,25, em baias cobertas, e GDP de 1,09 0,35 em baias sem

cobertura, explicando que a cobertura plástica proporciona maior

estabilidade da temperatura e conservação do ambiente, por mais

tempo, permitindo uma taxa metabólica mais regular, visto que o

metabolismo desses animais é influenciado pela temperatura

300

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ambiente (ectotérmicos).

Como o consumo de alimento está diretamente relacionado

ao metabolismo dos quelônios, pode-se inferir que a cobertura

plástica promova um maior desenvolvimento dos animais, pelamanutenção de temperaturas mais altas dentro das baias. O baixo

desenvolvimento referente à menor temperatura, pode estar

relacionado à mudança de comportamento termorregulatório dos

animais.

Pouco se conhece quanto às exigências nutricionais de

quelônios, portanto, é necessário determinar a necessidade de

aminoácidos para cada fase de produção e a relação de aminoácidosideal em rações de baixo teor de proteína. A qualidade da proteína é

um fator a ser considerado para o fornecimento de ração aos

animais, visando oferecer os níveis de aminoácidos essenciais

adequados para atender suas necessidades iniciais. Duarte, 1998,

infere em estudos com Podocnemis expansa, que proteína de origem

animal (vísceras de peixe e bovina) proporciona maior ganho de peso

relacionado ao fornecimento de proteína de origem vegetal. Asmatérias-primas de origem vegetal ou animal, usadas na fabricação

de ração comercial, possuem proteína variando entre 5 e 10%. Assim

como varia o teor de proteína bruta, também varia o teor de

aminoácidos que compõem cada uma dessas matérias-primas. No

entanto, essas variações não são lineares, ou seja, um ingrediente

mais rico em proteína não é necessariamente mais rico em todos os

aminoácidos essenciais.

Nos tanques-rede, os animais não têm acesso ao meio

ambiente e a ração é a única fonte alimentar. Por esse motivo, o

alimento deve ser de excelente qualidade, com o devido

balanceamento dos nutrientes necessários ao desenvolvimento do

animal. O nível protéico das rações para criação em tanques-rede

deve ficar entre 32% e 40% (RAN, 2001). Rações de maior nível

301

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protéico são mais caras, mas esse custo se justifica, se o ganho de

peso for considerável. Vale ressaltar que os gastos com alimentação

nesse sistema situam-se entre 50% e 70% dos custos totais da

produção, porém, é imprescindível investir na dieta correta, pois a

resposta virá em produtividade e, conseqüentemente, em lucro.

Quanto aos níveis de proteína bruta e energia bruta

utilizados nas rações experimentais, de modo geral, observou-se

tendência das rações com 40% de PB proporcionarem maior

crescimento em todas as variáveis analisadas. É observado um

crescimento linear dentro de cada nível de PB e EB avaliado, de

acordo com o aumento da idade do animal, em todas as variáveisanalisadas. À medida que é aumentado o nível de proteína bruta,

observa-se também um aumento linear dentro das variáveis.

Costa et al., 1998, em estudos com P. expansa em cativeiro,

observaram que animais alimentados com 20% de PB obtiveram

melhor ganho de peso (0,523 ± 1,08 g/dia) em relação aos que foram

alimentados com 30% de PB (0,489 ± 0,89 g/dia) e 40% de PB (0,492

± 1,13 g/dia). Animais alimentados com 3.000 Kcal de EB/kg (0,536± 1,16 g/dia) superam os animais alimentados com 4.000 Kcal de

EB/kg (0,466 ± 1,93 g/dia), no primeiro ano de vida. Esse resultado

pode indicar que essa espécie, no segundo ano de vida, necessite de

um maior teor de proteína bruta para atender à exigência dietética

por aminoácidos necessários ao seu crescimento máximo.

Como não houve diferença significativa no efeito dos níveis dePB e EB testados, sugere-se a utilização de dietas com 30% de PB e

3.500 kcal de EB/kg, já que a ração de 20% de PB tende a

proporcionar desenvolvimento mais baixo. Para a criação de

tartarugas em tanques-rede pode-se optar pela utilização de

cobertura plástica, para conservar maior temperatura da água

dentro das baias, permitindo um metabolismo mais eficiente.

302

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Rendimento de carcaça de P. expansa em tanque-rede

O abate foi realizado conforme os procedimentos sugeridos

por Silva Neto (1998). Para a insensibilização, os animais foram

colocados em um recipiente contendo água e gelo a umatemperatura de 4ºC, durante 15 minutos. Inicialmente, foi realizada

a secção da cabeça. Após a retirada do plastrão, com auxílio de uma

serra elétrica, foi efetuada a retirada manual das vísceras do trato

digestivo, fígado, pâncreas, gordura, baço, pulmões, aparelho

excretor e órgãos reprodutores. Foram abatidos 5 animais de cada

tratamento, após a última biometria realizada (24 meses de idade).

303

  Tabela 5: Rendimento de carcaça (%) de P. expansa de acordo com otratamento.

Parte docorpo

  TI 20/3.500

30/3.500

40/3.500

20/4.500

30/4.500

40/4.500

Carcaça CESE

29,928,89

30,8530,12

33,8533,52

31,4530,95

32,031,74

33,2832,88

Vísceras CESE

9,959,21

10,129,77

12,7512,11

10,6410,0

11,010,84

11,8511,25

Gorduraext ra-

muscular

(nãocavi tár ia )

CESE

5,014,95

5,105,0

6,15,87

5,265,12

5,565,23

5,955,85

 T ot al (% ) CESE

44,8643,05

46,0744,89

52,7051,50

47,3546,07

48,5647,81

51,0849,98

Carapaça CESE

22,5622,0

22,9822,11

25,7625,0

23, 9723,0

24,4623,54

25,2424,56

Plastrão CESE

8,788,23

8,938,65

10,410,0

9,08,8

9,459,2

9,989,6

*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: em estufa (sem

cobertura plástica).

A Tabela 5 mostra o rendimento de carcaça (%) de P. expansa deacordo com o tratamento. Observa-se que animais de maior tamanho e

peso (de acordo com as Tabelas 5 e 7), apresentaram maior rendimento

de carcaça e partes comestíveis do que animais de categorias menores.

Os resultados de rendimento de carcaça convergem com os

encontrados para as outras variáveis analisadas. Animais instalados

em baias com cobertura (CE), alimentados com ração de 40% de PB e

3.500 kcal de EB/kg tendem a obter maior rendimento em relação aos

animais instalados em baias sem cobertura (SE).

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Valores aproximados foram encontrados por Gaspar &

Rangel-Filho (2001), verificando que depois da retirada dos ossos o

rendimento de carne de tartaruga foi de 30%, o conteúdo de proteína

e lipídio foi de 17,39 e 1,83%, respectivamente, com valor calórico

baixo (86,03 kcal/100 g carne).Estudos na China mostram que o conteúdo de proteína e

lipídio no músculo da tartaruga-chinesa-de-casco-mole ( Trionyx

sinensis) foram 18,21 e 1,23%, respectivamente, e o conteúdo de

lipídio do bloco de gordura foi de 86,72% (Zhan et al., 2000).

Efeito do tipo de instalação e da ração experimental no

desenvolvimento de tracajá (Podocnemis unif il is) criados em

cativeiro

As Tabelas 6 e 7 apresentam resultados de crescimento para

peso (kg) e ganho de peso (g/dia) de tracajá (P. unifilis) criado em

gaiolas flutuantes.

Os animais foram alimentados diariamente com ração de 20,

30 e 40% de proteína bruta e 3.500 e 4.500 kcal de energia bruta/kg.A ração experimental utilizada tem a mesma composição da ração

descrita no experimento com P. expansa.

 As variáveis ambientais registradas no experimento, a fim de

que se pudesse avaliar o efeito da cobertura plástica (estufa) sobre

metade dos tanques-rede foram a temperatura do ar e temperatura

da água. Com relação a essas variáveis, a temperatura da água foi

maior nas instalações com cobertura plástica (31,5±2,22ºC)comparada às instalações sem estufa (30,1±1,25ºC), bem como a

temperatura do ar, que nas instalações com estufa foi de

33,1±1,27ºC e nas baias sem estufa de 29,31±1,95ºC.

304

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Tabela 6: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração, sobre o peso (g) de tracajá (P.unifilis) em tanques-rede.

Idade

(meses)

 T I

20/3.500

30/3.500

40/3.500

20/4.500

30/4.500

40/4.500

10(T0)

120,40±0,3

120,40±0,3

120,40±0,3

120,40±0,3

120,40±0,3

120,40 ±0,3

12 CESE

186,00±2,2

184,60±2,1

217,00±1,1

210,00±1,8

238,00±1,3

230,00±1,1

190,00±1,9

169,16±1,5

231,25±2,3

259,00±1,8

281,37 ±0,9218,4±1,8

16 C

ESE

289,60

±1,4255,00

±1,0

332,00

±2,1263,33±1,3

384,00

±1,3332,50

±1,2

333,33

±2,1250,00

±2,2

376,25

±1,4373,75

±1,7

348,0

0 ±1,4341,00 ±2,1

18 CESE

425,00±2,1

343,33±1,8

497,00±1,5

394,16±1,1

515,00±1,1

419,16±2,4

465,00±1,8

397,50±1,3

755,00±2,1

400,00±2,2

527,50 ±2,3455,00 ±2,4

22 CE

SE

628,70±0,9

530,00±2,5

706,00±0,9

628,33±1,5

775,00±2,1

752,50±2,2

581,66±1,4

562,50±1,7

785,00±2,3

660,00±1,9

617,50 ±1,7

610,00 ±1,8

24 CESE

631,16±0,6

615,00±0,8

718,20±0,6

635,00±0,8

760,00±2,3

641,00±1,6

785,00±1,9

650,33±2,1

935,00±2,1

868,33±1,9

819,0±1,9

765,0±1,5

*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa(sem cobertura plástica);

305

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 Tabela 7: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração, sobre o ganho depeso (g) de tracajá (P. unifilis) em tanques-rede.

Idade(meses)

  TI 20/3.500

30/3.500

40/3.500

20/4.500

30/4.500

40/4.500

12 CE

SE

0,412±2,1

0,398±2,3

0,596±1,9

0,458±1,8

0,740±0,3

0,591±1,5

0,780±1,8

0,546±2,4

0,898±0,8

0,700±1,9

0,710±0,6

0,654±0,7

16 CE

SE

0,499±1,8

0,444

±1,5

0,650± 2,10,586

±2,2

0,850±0,6

0,812

±1,8

0,980±1,9

0,673

±1,6

1,214±1,4

0,956

±1,6

1,123±0,5

1,055±1,6

18 CE

SE

1,224±1,4

1,112±0,9

1,680±2,3

1,416±2,7

1,720±1,7

1,444±2,4

1,530±1,1

1,437±1,5

1,990±2,1

1,890±2,3

1,800±2,1

1,720±2,3

22 CE

SE

1,470±1,3

1,391±2,5

1,730±2,4

1,472±1,6

1,890±1,9

1,567±1,4

1,740±1,3

1,585±2,8

2,420±1,4

2,150±2,2

2,100±1,8

1,960±1,5

24 CE

SE

1,620±1,1

1,5551±2,1

1,990±1,7

1,858±0,5

2,350±1,5

2,180±2,2

2,490±1,9

2,270±1,6

2,760±1,4

2,680±1,6

2,500±1,6

2,458

±1,3

*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa(sem cobertura plástica);

  De um modo geral, não houve efeito significativo ao nível de

P<0,05, dos níveis de proteína bruta e energia bruta utilizados nas

rações experimentais, para nenhuma das variáveis analisadas.

Porém, os animais confinados em instalações com cobertura (CE)

306

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apresentaram um crescimento superior quando comparados aos

animais alojados em baias sem cobertura (SE), tanto para

comprimento e altura da carapaça, quanto para peso e ganho diário

de peso. Esse resultado corrobora com os encontrados para P.

expansa, confirmando que pelo fato da cobertura plásticaproporcionar maior estabilidade da temperatura e manutenção de

temperaturas mais altas, dentro das baias cobertas, considerando

que estes animais tinham dentro das baias uma rampa para

tomarem sol, provavelmente esse fator pode influenciar no

metabolismo de quelônios criados em cativeiro, por serem

ectotérmicos e, conseqüentemente, numa taxa de desenvolvimento

positiva.

Observa-se um aumento linear, nas rações com 3.500 kcal de

EB/kg, quanto ao aumento do nível de proteína bruta nas variáveis

estudadas, sendo que para o nível de energia bruta de 4.500 esse

resultado não foi observado. Comparando-se os resultados quanto

aos níveis de proteína bruta, as variáveis apresentaram maiores

valores quando referentes aos tratamentos com 30% de PB,

diferindo dos resultados encontrados para P. expansa, nesse

estudo, onde 40% de PB proporcionou melhor resposta em

desenvolvimento, em valores médios.

Oliveira (2000), em estudos com tracajás (P. unifilis), de zero a

um ano de idade, em temperatura ambiente em torno de 28C, cita

uma tendência para que animais alimentados com rações de 40% de

PB e 4.500 kcal de EB/kg tenham maior crescimento. Nesse estudo,obteve-se como resultado para o segundo ano de vida, tendência a

maior desenvolvimento com 30% de PB, o que pode indicar que

ocorre uma diminuição da necessidade protéica dessa espécie, de

acordo com a fase de vida. No habitat natural, animais jovens

consomem mais proteína de origem animal do que os adultos (Teran,

1992).

307

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Rendimento de carcaça de P. unifil is

O abate foi realizado conforme os procedimentos sugeridos

por Silva Neto (1998). Para a insensibilização, os animais foram

colocados em um recipiente, contendo água e gelo a umatemperatura de 4ºC, durante 15 minutos. Inicialmente, foi realizada

a decapitação. Após a retirada do plastrão com auxílio de uma serra

elétrica, foi efetuada a retirada manual das vísceras do trato

digestivo, fígado, pâncreas, gordura, baço, pulmões, aparelho

excretor e órgãos reprodutores. Foram abatidos 10 animais de cada

tratamento, após a última biometria realizada (24 meses de idade).

 Tabela 8: Rendimento de carcaça (%) de P. unifilis de acordo com o tratamento.

*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa (semcobertura plástica);

A Tabela 8, mostra o rendimento de carcaça (%) de P. unifilisde acordo com o tratamento. Observa-se que animais de maiortamanho e peso apresentaram maior rendimento de carcaça epartes comestíveis do que animais de categorias menores. Osresultados de rendimento de carcaça convergem com os

encontrados para as outras variáveis analisadas. Animais

308

Parte docorpo

  TI 20/3.500

30/3.500

40/3.500

20/4.500

30/4.500

40/4.500

Carcaça CESE

27,026,88

27,9527,12

28,4527,63

28,9728,12

29,0328,36

29,5528,77

Vísceras CESE

9,038,46

9,468,64

9,879,03

10,09,36

10,649,78

10,9810,01

Gordura

extra-muscular(nãocavitária)

CE

SE

4,35

4,02

4,87

4,42

5,10

5,0

5,36

5,15

5,55

5,20

5,72

5,42

  TOTAL (%) CESE

40,3839,36

42,2840,18

43,4241.66

44,3342,63

45,2243,34

46,2544,20

Carapaça CESE

21,2720,97

21,9821,03

22,0521,85

22,4522,01

22,8822,25

23,022,63

Plastrão CESE

7,987,12

8,027,86

8,368,0

8,478,25

8,988,36

9,058,65

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instalados em baias com cobertura (CE), alimentados com ração de30% de PB e 4.500 kcal de EB/kg tendem a obter maior rendimentoem relação aos animais instalados em baias sem cobertura (SE). Osresultados para rendimento de carcaça foram semelhantes aosencontrados para P. expansa, no experimento I, quanto ao tipo de

instalação.

Desenvolvimento de duas espécies de Quelônios criados em Tanque-Rede

As Tabelas 9 e 10 comparam os valores médios decrescimento e altura da carapaça de tartaruga (Podocnemisexpansa) e tracajá (P. unifilis), criados em tanques-rede (comcobertura plástica e sem cobertura) aos 24 meses de idade.

 Tabela 9: Efeito da ração experimental e tipos de instalações sobre ocomprimento da carapaça (cm) de duas espécies de quelônios.

*SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura plástica, TI=tipo de instalação.

309

Espécie T I

20/3.500

30/3.500

40/3.500

20/4.500

30/4.500

40/4.500

 Tartaruga

 Tracajá

CECE

21,29± 2,417,25± 0,8

21,57 ±2,0

18,00 ±2,3

22,06 ±2,0

17,80 ±1,4

21,31± 1,116,25± 1,9

21,69 ±0,6

19,00 ±1,8

21,98 ±2,3

17,10 ±2,3

 Tartaruga

 Tracajá

SESE

20,22± 3,615,90± 0,9

21,12 ±2,1

16,62 ±1,7

21,76 ±2,0

17,66 ±1,7

20,64± 1,516,10± 1,4

21,19 ±1,1

18,50 ±1,7

21,45 ±1,1

16,90 ±2,4

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 Tabela 10: Efeito da ração experimental e tipos de instalações sobre a alturada carapaça (cm) de duas espécies de quelônios.

*SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura

plástica, TI= tipo de instalação.

Comparando-se o crescimento das duas espécies de

quelônios estudadas em tanques-rede, não houve diferença

significativa ao nível de P<0,05 nas variáveis analisadas. Observa-

se, porém, que, de um modo geral, a tartaruga supera emdesenvolvimento (comprimento e altura da carapaça) em relação ao

tracajá, tanto nos animais alojados em baias com cobertura plástica

quanto nos alojados em baias sem cobertura. Tartarugas obtiveram

tendência a alcançar maior crescimento com a ração de 40% de PB e

3.500 kcal de EB/kg, já, entre os tracajás, esse resultado foi

alcançado com a ração de 30% de PB e 4.500 kcal de EB/kg.

Os mesmos resultados foram obtidos para peso (Figura 6) eganho diário de peso (Figura 7), em que tartarugas tendem a superar

os tracajás, tanto entre os animais confinados em tanques-rede, com

cobertura plástica, quanto nos animais confinados em tanques sem

cobertura. As tartarugas obtiveram maior ganho de peso com a ração

de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg, e os tracajás alcançaram

melhores resultados com a ração de 30% de PB e 4.500 kcal de

EB/kg.

310

Espécie TI 20/3.500

30/3.500

40/3.500

20/4.500

30/4.500

40/4.500

 Tartaruga

 Tracajá

CE

CE

8,07 ±0,4

6,90 ±1,8

8,18 ±0,5

7,50 ±2,7

8,60 ±0,3

7,66 ±2,6

7,80 ±0,7

6,80 ±2,3

8,04 ±0,9

7,88 ±2,2

8,42 ±0,7

7,20 ±1,6

 Tartaruga

 Tracajá

SE

SE

7,96 ±0,4

6,20 ±1,9

7,59 ±0,7

7,00 ±2,8

7,70 ±0,9

7,12 ±2,2

7,30 ±0,6

6,70 ±1,7

7,54 ±0,6

7,73 ±1,1

7,42 ±0,6

6,90 ±1,7

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Figura 6: Peso de duas espécies de quelônios alimentados com raçãoem tanques-rede com cobertura plástica.

Figura 7: Ganho de peso de duas espécies de quelônios alimentadoscom ração em tanques-rede com cobertura plástica.

311

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Os resultados da comparação de crescimento das duas

espécies coincidem com os encontrados por Oliveira (2000), citando

que a tartaruga cresce melhor do que o tracajá, em cativeiro, tanto no

primeiro quanto no segundo ano de vida, citando GDP de 1,05 ± 0,14

para a tartaruga no primeiro ano e 1,97 ± 0,24 no segundo ano, epara o tracajá 0,87 ± 0,15 no primeiro ano e 1,51 ± 0,27 no segundo

ano (Tabela 11).

 Tabela 11: Comparação entre o peso, ganho diário de peso, ao final de 18 meses

de cultivo, entre três espécies de quelônios criadas em tanque-rede (tartaruga,

P.expansa; tracajá, P. unifilis;e iaçá, P. sextuberculata) (Oliveira, 2000)

Espéc ie s Peso (g) GDP (g/dia) GDP (% dopeso v ivo)

 Tartaruga 853 1,51 0,17

 Tracajá 598 1,19 0,19

Iaçá 333 0,59 0,17

Neste experimento, Oliveira (2000) observou que o iaçá

apresenta, no primeiro ano, maior crescimento com rações de 3.500kcal de EB/kg e 40% de PB (peso=340 g e GDP =0,38 g/dia). No

segundo ano, não há diferença significativa em termos de energia,

embora animais alimentados com rações de 4.500 kcal de Eb,

apresentem maior ganho de peso (GDP=0,83 g/dia). Existe uma

tendência, no segundo ano, de que animais alimentados com rações

com 20% de PB tenham maior crescimento (peso médio=370 g e

GDP=0,88 g/dia).

312

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Estudo do desenvolvimento de tartaruga-da-amazônia

(Podocnemis expansa) alimentada com ração de três níveis de

proteína bruta e dois níveis de energia bruta, criadas em

tanque escavado.

Este experimento teve duração de 14 meses e foi conduzido

em criatórios comerciais de tartaruga, legalizados pelo Ibama/AM,

localizados na estrada AM 070, Km 26, Iranduba/AM e na rodovia

AM-010, Km 100, Rio Preto da Eva (Figuras 8 e 9).

Figura 8: Experimento em baias com cerca de madeira em tanque escavado

em criadouro no Iranduba/AM. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.).

313

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Figura 9: Experimento em baias com tela plástica em tanque escavado em

criadouro no Rio Preto da Eva/AM. Foto: RAN/AM (P.C.M. Andrade).

Animais: Foram utilizados um total de 3.600 tartarugas

(Podocnemis expansa), de 10 meses de idade, com comprimento

médio inicial de 13,27 ± 2,0cm e peso médio inicial de 320,05 ± 0,6g,

acompanhadas dos 10 aos 24 meses de idade. Os animais foram2distribuídos numa densidade de estocagem de 75 indivíduos/ m .

Esses animais pertenciam ao mesmo lote dos animais utilizados no

experimento I.

Instalações: Os animais foram distribuídos em tanques2cercados com madeira, tipo curral, de 48,0 m e 1,80m de

profundidade, situados em uma barragem de 1,5 ha de espelho2d'água. Os tanques foram divididos com tela, em 6 baias de 8 m ,

sendo alojados 600 animais em cada baia. Sobre o tanque foram

colocados fios de náilon para evitar o ataque de predadores como

gavião (Spizastur sp.) e urubu (Coragyps atratus).

314

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Alimentação: De 0 aos 10 meses de idade esses animais

foram alimentados com uma ração constituída de 60% da ração

comercial para peixe (Tabela 1). Nesse período, os animais estavam2depositados num tanque escavado de 400m , numa densidade de 9

2animais/m .

A alimentação dos animais durante o período experimental

foi uma ração fabricada na Universidade Federal do Amazonas, com

três níveis de proteína bruta (20, 30 e 40% de PB) e dois níveis de

energia bruta (3.500 e 4.500 kcal de EB/kg). Os animais foram

alimentados com as mesmas rações utilizadas no experimento I

(Tabela 2).O experimento foi dividido em seis tratamentos, de acordo

com o tipo de alimentação fornecida. Os animais eram alimentados

uma vez por dia, com base em 5% de seu peso vivo, sendo esse valor

ajustado bimestralmente, de acordo com os resultados da

biometria.

Para a definição dos teores de proteína bruta e energia brutautilizados nas rações experimentais, foram tomados por base teores

utilizados em outros experimentos realizados no estado do

Amazonas, onde foram testados 27 e 30% de PB e 3.000 e 4.000 kcal

de EB/kg (Lima, 1998). Os níveis de PB e EB das rações

experimentais também estão bem próximos dos níveis utilizados

nas rações comerciais para peixes. As rações foram fornecidas na

forma de péletes.Delineamento experimental e análise dos resultados: Os

animais foram medidos e pesados bimestralmente, tirando-se uma

amostragem de 100 indivíduos/baia. Os dados foram tabulados em

planilha eletrônica Excel e submetidos à análise estatística no

programa SPSS for Windows 8.0. Os dados foram tabulados por

nível de proteína e energia testados. As variáveis analisadas foram

comprimento da carapaça (cm), altura da carapaça (cm), peso (g),

315

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ganho diário de peso (g/dia), rendimento de carcaça (%). Os

tratamentos foram organizados em um delineamento experimental

inteiramente casualizado. Os resultados foram submetidos à análise

de variância (Anova), as comparações foram realizadas através do

teste t. O nível de significância utilizado em todos os testesestatísticos foi de P < 0,05.

As Tabelas 12, 13, 14,15 e a Figura 10 apresentam resultados

de crescimento para comprimento de carapaça (cm), peso (kg) e

ganho de peso (g/dia). Os resultados foram analisados

bimestralmente utilizando como covariável os valores das

observações obtidas na medição anterior.

 Tabela 12: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o

comprimento da carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.

Idade (meses) 20/3.500

30/3.500

40/3.500

20/4.500

30/4.500

40/4.500

10 (T0) 13,27± 2,0

13,27± 2,0

13,27± 2,0

13,27± 2,0

13,27± 2,0

13,27± 2,0

12 15,03± 2,8

15,46± 2,0

15,26± 2,0

15,40± 1,8

15,60± 2,2

16,30± 1,9

16 16,82± 2,6

17,35± 1,9

17,62± 1,7

18,11± 1,4

18,35± 2,0

18,44± 2,2

18 17,06± 1,8

17,52± 2,6

17,97± 2,4

18,30± 1,6

18,80± 1,8

19,00± 1,4

22 17,75± 1,6

17,98± 1,6

18,10± 2,0

18,61± 2,4

18,90± 1,5

19,23± 1,8

24 18,07

± 2,3

18,40

± 1,9

19,33

± 1,9

19,70

± 2,2

20,00

± 2,5

21,50

± 1,7

316

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 Tabela 13: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o

comprimento da carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.

Comparação das médias.

Efeito de níveis de pro teína e energ ia no crescimentoem peso de tartarugas

0

200

400

600

800

1000

1200

10 (T0) 12 16 18 22 24

idade(meses)

     P    e    s    o     (    g     )

20/ 3500

30/ 3500

40/ 3500

20/ 4500

30/ 4500

40/ 4500

Figura 10: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o peso(g) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.

 Tabela 14: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre opeso(g) de tartaruga (P. expansa) em Tanque escavado. Comparação dasmédias.

317

Energia/Prot. 20%PB 30%PB 40%PB Médias

3.500 kcal deEB/kg 18,07 19,33 20,00 19,13±0,98

4.500 kcal deEB/kg

18,40 19,70 21,50 19,87±1,56

Médias 18,23±0,23 19,51±0,26 20,75±1,06

Energia/Prote ína 20%P B 30%P B 40%P B Médias3.500 kc al de EB/kg 752,61 790 836,46 793,02±

42,04.500 kc al de EB/kg 932 1.030,6 1.081,4 1.014,6

±75,9Médias 842,30

±126,8910,27

±170,09958,93

±173,20

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 Tabela 15: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre oganho diário em peso(g/dia) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.Comparação das médias.

20%PB 30%PB 40%PB Médias3.500 kcal de EB 0,712 0,77 0,8102 0,76±0,054.500 kcal de EB 1,004 1,3626 1,5794 1,31±0,29Médias 0,858±

0,2064751,0663±

0,4190311,1948±

0,543907

De modo geral, não houve diferença significativa ao nível de

P<0,05, dos níveis de proteína e energia bruta estudados. Observa-

se, porém, um aumento linear de crescimento, com o aumento dos

níveis de proteína e energia bruta para todas as variáveis analisadas.

O ganho diário de peso também foi crescente com o aumento da

idade dos animais. Não houve diferença significativa para

comprimento e altura da carapaça, porém, há uma tendência para

que os animais alimentados com rações de 40% de PB e 4.500 kcal

de EB/kg obtenham maiores medidas de carapaça. Esse resultado

também é observado para peso e ganho diário de peso, sendo que,

analisando-se a variável peso, apesar de não significativa ao nível de

P<0,05, ocorre uma maior variação dos valores médios entre os

tratamentos testados. Vale ressaltar que a temperatura média da

água ficou em torno de 29°C.

Os resultados encontrados neste estudo corroboram com os

encontrados para P. expansa no experimento I, com animais criados

em tanques-rede, em que observou-se tendência a um maior

desenvolvimento em animais alimentados com ração de 40% dePB. Porém, diferem quanto ao nível de energia, pois, um maior

crescimento tende a ser alcançado com a ração de 4.500 kcal de

EB/kg. Talvez, animais instalados em tanques escavados

mantenham-se mais isolados e tenham mais espaço para se

movimentar, ocorrendo maior gasto energético e necessitando de

níveis mais altos de energia na ração para compensar essa perda.

318

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0

0,5

1

1,52

2,5

     G     D     P     (    g     /     d     i    a     )

20/3500 40/3500 30/4500

Níveis de PB e EB

Ganho d iár io de pes o de tartarug a em tanqueescavado

Figura 11: Ganho diário de peso de P. expansa alimentada com ração de três

níveis de proteína bruta e 3.500 e 4.500 kcal de EB/kg em tanque escavado.

A Figura 11 mostra o ganho diário de peso dos animais aos 24

meses de idade. Observa-se que há uma tendência de maior

desenvolvimento com a ração de 40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg.

Pes o de tartaruga em tanque es cavado

0

500

1000

1500

12 16 18 22 24

I d a d e ( m e s e s)

20/450030/4500

40/4500

Figura 12: Peso de P. expansa alimentada com ração de três níveis de proteína

bruta e 4.500 kcal de EB/kg em tanque escavado.

319

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A forma como os quelônios utilizam os nutrientes e a energia

que consomem, é um aspecto fisiológico ainda pouco estudado e tem

implicações importantes para a produtividade de animais

cultivados.

Desenvolvimento de tartaruga-da-amazônia (Podocnemis

expansa) criada em tanque-rede e tanque escavado

O tanque-rede é um conjunto flutuante que permite o

confinamento de animais aquáticos em quantidade planejada,

possibilitando maior produtividade e diminuindo o impacto

ambiental causado pela intervenção do homem. O material utilizado

na confecção do tanque deve seguir as orientações técnicas (telas,armação de sustentação e bóias) para evitar danos ao meio

ambiente. Para tanto, o material deve resistir à corrosões, pressões,

choques mecânicos e predadores (Santos, 1995).

Neste capítulo, objetivou-se comparar os resultados de

crescimento para P. expansa em tanques-rede, com e sem cobertura

plástica e tanque escavado. A Tabela 16 compara os valores médiosde comprimento da carapaça.

 Tabela 16: Comprimento da carapaça (cm) de (P. expansa) em tanque-rede e

tanque escavado.

*SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura plástica, TE=tanque escavado.

320

Instalações 20/3.500

30/3.500

40/3.500

20/4.500

30/4.500

40/4.500

CE 21,29± 2,4

21,57± 2,0

22,06 ±2,0

21,31± 1,1

21,69 ±0,6

21,98 ±2,3

SE 20,22± 3,6

21,12± 2,1

21,76 ±2,0

20,64± 1,5

21,19 ±1,1

21,45 ±1,1

 T E 18,07± 2,3

18,40± 1,9

19,33 ±1,9

19,70± 2,2

20,00 ±2,5

21,50 ±1,7

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A comparação entre as instalações apresentou diferença

significativa ao nível de P<0,05. Animais alojados em tanque

escavado obtiveram menor resposta em relação aos animais

confinados em tanque-rede, em todas as variáveis analisadas. Para

comprimento e altura da carapaça, a ração que proporcionoutendência a um maior desenvolvimento foi a de 40% de PB e 3.500

Kcal de EB/kg para as tartarugas em tanque-rede, e de 40% de PB e

4.500 kcal de EB/kg para os animais criados em tanque escavado.

Entre os animais confinados em tanque escavado, há um aumento

linear de acordo com o aumento de nível de proteína e energia bruta,

para comprimento e altura, já, nos animais em tanque-rede, esse

efeito só é observado comparando-se os níveis de energia bruta.

Quanto ao peso e ganho diário de peso (Figura 13), animais

confinados em tanque-rede obtiveram tendência a melhor

resultado, com a ração de 40% de PB, sendo que nesse tipo de

instalação, para essas duas variáveis, o melhor resultado tende a ser

alcançado com o menor nível de energia bruta estudado. Para os

animais estudados em instalações em tanque escavado, a ração que

tende a proporcionar melhor ganho diário de peso foi a de 40% e

4.500 kcal de EB/kg.

Praticamente, todos os organismos presentes em um viveiro,

contribuem para a alimentação de quelônios criados em cativeiro. A

maior ou menor quantidade desses organismos irá influenciar

diretamente a produção (Souza et al., 2003). No ambiente natural,

quelônios aquáticos têm nos alimentos naturais suas exigênciasnutricionais atendidas, porém, em viveiros, para o aumento da

produtividade, a utilização de alimentos artificiais é imprescindível

(Sebrae, 1995).

Os animais alojados no tanque escavado podem ter tido

acesso a outro tipo de alimentação diferente da ração experimental,

como larvas, insetos e alguma vegetação carreada pela chuva,

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apesar de ser efetuada a limpeza do tanque. Isso pode explicar a

tendência a melhor desenvolvimento com os maiores níveis de

proteína e energia bruta, pois essa alimentação alternativa,

disponível, poderia ser de menor teor nutritivo, porém, mais

palatável, e assim ter desencadeado a preferência dos animais,levando ao menor consumo voluntário de ração.

Figura 13: Efeito do tipo de instalação (CE=tanque-rede com cobertura plástica;SE=Tanque-rede sem cobertura; TE=tanque escavado) sobre o ganho diário em peso(g/dia) de tartarugas em cativeiro.

Outro fator que pode ter influenciado a sugestão de que

animais em tanque escavado necessitam de um maior teor de

energia bruta na ração é a densidade utilizada. Costa et al., 1998,

citam que no caso de quelônios, um grande número de animais emuma área considerada pequena, pode gerar competição por

alimento, espaço, entre outros, resultando em estresse, levando-os a

uma redução na taxa de crescimento e ganho de peso. Em

contrapartida, um pequeno número de indivíduos, numa grande

área, também pode comprometer o crescimento, pois os animais vão

demorar mais a encontrar o alimento. Existe, pois, uma densidade

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ótima, em que os animais são distribuídos adequadamente na área

disponível e obtêm um bom desempenho no crescimento e ganho de

peso, não havendo grande competição para o animal encontrar o

alimento. Como não se tem parâmetros para a comparação de uma

densidade ótima, não podemos inferir corretamente até que ponto adensidade utilizada, neste estudo, influenciou nos resultados

obtidos.

Quanto ao rendimento de carcaça, as tartarugas alojadas em

tanque-rede, com estufa (CE) e sem estufa (SE), obtiveram maior

rendimento em relação àquelas alojadas em tanque escavado (TE),

tendo os animais deste último, o rendimento mais baixo. A ração de

40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg tende a proporcionar um melhor

resultado em rendimento de carcaça nas instalações em tanque

escavado e a ração de 30% de PB e 3.500 kcal de EB/kg tende a

proporcionar melhor resultado nas instalações em tanque-rede.

É importante salientar que antes da adoção da implantação

do sistema de tanques-rede para a queloniocultura, sugere-se um

estudo de mercado das características do sistema e de projetos deimplantação, buscando locais que possuam condições para fomento

técnico da atividade.

Análise econômica dos experimentos

A criação de quelônios em cativeiro é uma alternativa para o

produtor rural que planeja viabilizar economicamente sua

propriedade, através de uma diversificação, e que visa aproveitar osrecursos existentes (Quintanilha, 2003).

Os aspectos considerados para a análise econômica

simplificada foram a construção das instalações, os gastos com

alimentação e o combustível. Os custos são compostos de todos os

itens que entram direta ou indiretamente para a manutenção do

experimento, de forma a estabelecer os padrões necessários para a

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avaliação dos resultados e foram classificados em custos fixos e

custos variáveis. Para o cálculo do custo variável consideram-se os

custos que variam em proporção à quantidade produzida em um

ciclo produtivo. Os custos fixos são todos os que incorrem sobre a

propriedade, independentemente de haver ou não produção (Souzaet al., 2003).

Para o cálculo da depreciação considerou-se 4% para as

instalações, 10% para máquinas e motores e 20% para veículos. A

taxa de manutenção foi estimada em 5% e os juros de 6% para

remunerar o capital estável, conforme modelo proposto por Lima,

2000. O tempo médio da mão-de-obra envolvida com a atividade,

por dia, é de duas horas. A participação dos custos variáveis é de 92%

devido, especialmente, aos gastos efetuados com ração.

O experimento I teve duração de 14 meses, sendo fornecido

um total de 190,24 sacos de ração de 21 kg. Os animais eram

alimentados numa quantidade baseada em 5% de seu peso vivo,

ajustada mensalmente de acordo com o crescimento. Quanto ao

experimento II, a Tabela 17 demonstra uma análise econômicasimplificada do experimento. Essa análise pretendia fornecer

subsídios aos produtores quanto ao modelo de manejo proposto

neste estudo, referente à alimentação e instalações a serem

utilizadas na produção de quelônios.

324

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 Tabela 17: Análise econômica simplificada dos custos do experimento I.

Discriminação Valor (R$)

Custos fixos  

Depreciação, conservação e apetrechos 1.000,00

Eventuais 1.000,00

Instalações  

Custos variáveis  

Ração 4.438,89

Alimentação de pessoal 960,00

Combustível 1.600,00

Mão-de-obra 2.400,00

 Total 11.398,89 

O experimento II teve duração de 14 meses, sendo fornecido um total

de 1.564,30 sacos de ração de 21 kg, para alimentar 3.600 animais,

numa quantidade baseada em 5% de seu peso vivo, ajustada

mensalmente de acordo com o crescimento. A Tabela 18 demonstra

uma análise econômica simplificada do experimento.

Observa-se que até mesmo os custos com criação em tanque

escavado são mais elevados do que em tanques-rede. Lima (2000),

cita que em sistemas convencionais, admitindo-se um peso médio

de 2,66kg/animal, com cinco anos e meio de idade e preço de venda

de R$ 10,00 o quilo, a atividade proporcionará uma receita bruta de

R$ 25,00, por animal, e lucro unitário de R$ 10,00. Neste estudo, seconsiderarmos o peso médio de 1,5 kg e venda a R$13,00 o quilo de

peso vivo, a receita líquida pode chegar a R$ 8,00/animal no sistema

de tanques-rede, com animais de apenas dois anos de idade.

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 Tabela 18: Análise econômica, simplificada, dos custos do experimento II.

Discrim inação Valor (R$)

Custos f ixo s

Depreciação, conservação e apetrechos 1.300,00

Eventuais  1.100,00

Instalações

Custo s v ariávei s

Ração  36.499,51

Alimentação de pessoal 1.025,00

Combustível  1.800,00  

Mão-de-obra  3.000,00  

 Total 44.724,51

Considerações e conclusão

A partir do momento que aumentar o número de criatórios

intensivos, com baixo custo de produção, e oferta regular expressiva

do produto, a tendência será o crescimento do consumo e o fim dopreconceito em relação à opção alimentar com carne de tartaruga.

Sob o ponto de vista de mercado, a região Norte é a mais

indicada para a absorção do suprimento em demanda. É possível

optar por outros canais de escoamento da produção, principalmente

a venda in natura, simulando o sistema pesque-e-pague, e para o

consumo direto (mercado regional e supermercados). No caso devenda in natura, o criador necessita oferecer preço, qualidade e

volume compensadores. Daí decorre a necessidade da organização

de queloniocultores em associações ou cooperatiavas, pois entre

outras, obtém-se vantagens na comercialização e na compra de

insumos, como também na implantação de infra-estrutura

adequada para atender às exigências de um mercado dinâmico.

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Os produtos utilizados para a produção de rações podem ser

substituídos de acordo com a época do ano e disponibilidade no

mercado local, observando a não-alteração brusca, na composição

química, para não afetar o fornecimento dos nutrientes, bem como

suas quantidades. A quantidade de proteína bruta mínima na raçãode recria para quelônios deve ser de 25%.

A principal condicionante na comercialização de quelônios é

a qualidade do produto e a periodicidade do abastecimento. Um

produto de boa qualidade começa com jejum dos animais de dois

dias antes do abate, para limpar as vias digestivas. Os animais

devem ser transportados, de forma a não sofrerem danos físicos,

para agregar maior valor ao produto.

São necessários investimentos em estudos de nutrição de

quelônios, pois, essa é uma informação essencial para a produção

em cativeiro, já que o interessante para os criadores comerciais é

utilizar uma alimentação, com níveis nutricionais adequados, que

atendam às necessidades de desenvolvimento desses animais,

proporcionando um aumento da produção.

As conclusões desses experimentos com quelônios em

cativeiro foram:

? Não houve diferença significativa na influência dos níveis

de proteína e energia bruta estudados sobre o desenvolvimento de

tartaruga (Podocnemis expansa) e tracajá (P. unifilis), em animais

criados em tanque-rede.

? Apesar da não significância dos níveis nutricionais,

utilizados nas rações experimentais ao nível de P<0,05, há uma

tendência para que tartarugas criadas em tanque-rede obtenham

maior ganho de peso com rações de 40% de PB e 3.500 kcal de

EB/kg.

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? Tracajás criados em tanques-rede tendem a obter maior

desenvolvimento com rações de 30% de PB e 4.500 kcal de EB/kg.

? Foi observada uma tendência de maior crescimento e ganho

de peso de tartarugas, quando comparado ao crescimento de

tracajás, criada em tanque-rede, em todas as variáveis analisadas e

em todos os níveis nutricionais testados.

? Não houve efeito significativo da cobertura plástica no

experimento com tanque-rede, porém, tartarugas e tracajás

confinados em tanques com cobertura plástica, simulando o efeito

de uma estufa, tendem a obter maior crescimento em todas as

variáveis analisadas e em todos os níveis nutricionais testados.

? Tartarugas criadas em tanque escavado tendem a um

melhor crescimento e ganho de peso quando alimentadas com

rações de 40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg. Pôde-se observar um

aumento linear nas médias biométricas, com o aumento do nível de

proteína e energia, sendo que não foi observada diferença

significativa da influência desses níveis na análise estatística.? Comparando-se as três instalações experimentadas, sendo

tanques-rede com e sem cobertura plástica e tanque escavado,

houve diferença significativa ao nível de P<0,05, em que tartarugas

confinadas em tanque escavado, obtiveram o pior desenvolvimento e

os animais alojados em tanques-rede cobertos obtiveram o melhor

desempenho das três instalações.

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Capítulo 10: Manejo em criações de quelônios

aquáticos no Amazonas: adubação, densidade

de cultivo, desempenho de diferentes espécies,

populações e sexo

Paulo Cesar Machado Andrade João Alfredo da Mota DuarteSônia Luzia de Oliveira Canto

Pedro Macedo da CostaFrancimara Sousa da CostaAna Cristina Leite Menezes José Raimundo da Silveira

Os criatórios de quelônios têm suas vantagens e

desvantagens considerando os diferentes tipos e métodos de manejo

(Schulte, 1990). Quatro tipos e quatro subtipos podem manejar

répteis e anfíbios da fauna amazônica: o primeiro é o criatório

intensivo com dois subgrupos: um manejo sem rotação (A) e comrotação (B). O segundo tipo é o criatório extensivo com dois

subgrupos: de limite aberto (A) e de limite fechado (B). O terceiro tipo

é a reserva extrativa e, o último, é o mais importante e conhecido, o

criatório sem reprodutores, usado em nível mundial para o resgate

de tartarugas marinhas, lagartos etc.

O manejo de animais silvestres, por ser uma das atividades

mais antigas no mundo, já trouxe benefícios para a conservação e

desenvolvimento de regiões utilizadoras desse recurso e no Brasil

percebe-se que ainda há pouco desenvolvimento referente a essa

atividade, principalmente, pela falta de pesquisas que possam

oferecer subsídios científicos para tecnologias adequadas e

eficientes de manejo (Magnusson & Mariano 1993). Não são

estudados parâmetros como: taxa de crescimento, alimentação e

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exigências nutricionais, densidade de cultivo, instalações etc. (Silva,

1998; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994).

Os quelônios são os répteis mais antigos (surgiram há mais de

200 milhões de anos), possuindo diferentes estratégiasbiocomportamentais para escaparem de inimigos naturais ou dos

rigores climáticos. São os únicos que possuem a carapaça como

instrumento de defesa. Podem recolher a cabeça, as pernas e a cauda

para o interior da carapaça, servindo de escudo de proteção, ou

possuem mandíbulas e fortes maxilares usados para morder

vorazmente o inimigo, ou ainda, desenvolvem um tipo de natação

muito rápida. O conhecimento dessas características biológicas éfundamental para melhorar o manejo das espécies em cativeiro

(Cenaqua, 1994).

O Ibama fornece os animais ao criador registrado (Portaria Nº

142/92), destinando de 4.000 a 4.500 filhotes, por hectare, de área

alagada de cada projeto. Dos animais recebidos, 10% deverão ficar

para reprodutores e matrizes, podendo o restante ser

comercializado. O controle da venda é feito através de um lacre com

numeração seqüencial, número do registro, ano e logomarca do

Ibama. Esse lacre acompanha as tartarugas, praticamente, até a

mesa em que a carne será degustada. Os animais podem ser

comercializados quando atingem 1,5 kg de peso vivo.

Em cativeiro, a tartaruga pode ter seu crescimento acelerado,

dependendo do tipo de manejo utilizado e da disponibilidade de

alimento. Pode alcançar até 1,5 kg de peso vivo no primeiro ano de

cultivo (Costa, 1999; Duarte, 1998). A carne de tartaruga apresenta

de 88 a 94% de proteína, quantidade superior à encontrada na carne

bovina (44%), carne suína (44%) e de lagosta (82%)(Alho apud Portal

& Silva, 1996).

Para a criação de tartarugas é necessário ter alguns cuidados,

330

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principalmente, em áreas adaptáveis ao seu habitat natural como: a

água deve ser renovável; o viveiro deve ser fertilizado para que ocorra

uma reprodução de microplâncton, útil ao equilíbrio ecológico do

açude; é necessária a construção de tanques de engorda e

crescimento inicial.

Os criadouros comerciais de quelônios, instalados em

represa ou açudes, deverão apresentar sistema que permita seu

completo esvaziamento. Os criadouros instalados em braços de

lagos devem prever sistemas de captura dos animais, através de

cercados ou redes, mediante condicionamento alimentar.

Através do projeto Diagnóstico/PTU-CNPq, a Universidade

Federal do Amazonas e o Ibama-AM realizaram o monitoramento

periódico dos criadores do estado e diversos experimentos que nos

permitem inferir sobre algumas práticas mais adequadas de manejo

para esses animais em cativeiro, tais como: o efeito da adubação da

água das instalações de cultivo sobre o crescimento dos quelônios; a

densidade de cultivo ideal; os índices zootécnicos de acordo com aespécie cultivada; a população de origem do plantel e o sexo. Além

disso, o conhecimento dos índices médios das criações do Amazonas

possibilitou, também, a proposta de um plano básico de manejo e de

evolução do plantel mais adequado à realidade dos queloniocultores.

9.1 Efeitos da adubação da água de cultivo no

desenvolvimento de filhotes de tartaruga (P. expansa ) em

cativeiro

Foi realizada uma pesquisa na fazenda experimental da

Universidade Federal do Amazonas, localizada no Km 38 da BR-174,

Manaus-Boa Vista. Foram utilizados 800 filhotes de tartaruga

(Podocnemis expansa), com dois meses de idade, obtidos junto ao

Ibama/AM, provenientes do tabuleiro do Abufari, rio Purus,

331

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 Tapauá/AM.

Esses animais foram alojados em tanques de fibro-cimento

com capacidade de 1.000 litros. Os filhotes foram divididos em

quatro tanques, em sistema superintensivo, onde cada tanque tinhaum total de 200 animais.

Para a alimentação dos filhotes, utilizou-se a ração comercial

para trutas que tem como ingredientes: farinha de peixe, milho,

farelo de soja, farelo de trigo, farinha de sangue, carbonato de Ca,

sal, premix mineral e vitamínico e é composta de 46% de proteína

bruta e 3.800 kcal de energia bruta/kg. Os animais eram

alimentados com uma quantidade correspondente a 5% do seu peso

vivo.

A avaliação foi realizada com filhotes dos 2 aos 9 meses de

idade, através da análise de ganho diário de peso (GDP), consumo

diário de alimento (CDR), conversão alimentar e medidas

morfométricas (comprimento, largura e altura da carapaça,

comprimento e largura do plastrão e peso).

O experimento foi acompanhado com medidas mensais dos

animais, em que os dados foram anotados e, posteriormente,

tabulados em planilha eletrônica. Os resultados foram analisados

através de medidas repetidas no tempo e comparados através do

teste t não pareado.

Os tratamentos foram divididos de acordo com a quantidade

de esterco bovino adicionado diariamente durante a troca de água3 3 3dos tanques: 0 kg/m ; 7,37 kg/ m ; 14,75 kg/m ; e 22,12 kg de

3esterco/m .

Através das Figuras de 1 a 4, pode-se observar que não houve

diferença significativa quanto ao acréscimo de esterco, como

332

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adubação na água de tanques destinados ao alojamento de filhotes

de tartaruga em cativeiro. Porém, é possível observar uma tendência

para que na idade de 7 e 9 meses a quantidade de 14,75 kg de3esterco/m proporcione melhor desenvolvimento dos animais em

relação às outras quantidades utilizadas.

A Tabela 1 demonstra valores médios aos 9 meses de idade das

variáveis analisadas durante as biometrias.

 Tabela 1: Efeitos da adubação com esterco de gado no crescimento de tartaruga

(P. expansa) em cativeiro, de dois aos nove meses de idade.

*Ccp: comprimento da carapaça; Lcp: largura da carapaça; Cpl: comprimento do plastrão;Lpl: Largura do plastrão; Alt: altura; GDP: ganho de peso.

ariáveis 0 kg deesterco/1.000lit ros deágua

7,37 kg deesterco/1.000lit ros deágua

14,75 kg deesterco/1.000lit ros deágua

22,12 kg deesterco/1.000lit ros deágua

cp (mm ) 69,5 ±7,2 70,6±6,6 71,3±7,4 69,5±8,2cp (mm ) 60,9±5,9 61,9±5,4 61,9±5,8 61,4±6,4

Cpl (mm ) 58,7±5,9 59,6±6,2 60,0±6,4 58,8±6,9Lpl (mm ) 28,3±2,5 29,1±3,8 28,7±2,9 28,3±2,9Alt (mm 30,3±2,6 30,6±2,8 30,9±3,0 30,3±3,0Peso (g ) 81,0±15,0 80,9±15,5 83,2±19,8 78,0±18,0GDP (g ) 0,18±0,10 0,25±0,05 0,27±0,03 0,30±0,05

0

0,2

0,40,6

0,8

    g    a    n     h    o

    m     é     d     i    o     d

    e

    p    e    s    o     (    g

     )

5 7 9

idade (meses)

Ganho Médio de Peso de filhotes de tartaruga(Podocnemis expansa )

0 kg deesterco/m3

7,37 kg deesterco/m3

14,75 kg deesterco/m3

22,12 kg deesterco/m3

Figura 1: Efeitos da adubação no comprimento de carapaça (mm) de

tartaruga (P. expansa) em cativeiro.

333

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010

20

30

40

    a     l     t

    u    r    a

     (    m

    m

     )

0 5 7 9

idade (meses)

Altura da tartaruga (Podocnemis expansa ) 0 kg deesterco/m37,37 kg deesterco/m314,75 kg deesterco/m322,12 kg deesterco/m3

0

20

40

6080

100

120

    p    e    s    o     (    g     )

1 2 3 4

idade (meses)

Peso de filhotes de tartaruga (Podocnemis expansa 

) 0 kg deesterco/m3

7,37 kg deesterco/m3

14,75 kg deesterco/m3

22,12 kg deesterco/m3

00,20,40,6

0,8

    g    a    n     h    o

    m     é     d     i    o     d    e

    p    e    s    o     (    g     )

5 7 9

idade (meses)

Ganho Médio de Peso de filhotes de tartaruga (Podocnemis 

expansa ) 0 kg deesterco/m3

7,37 kg deesterco/m314,75 kg deesterco/m322,12 kg deesterco/m3

Figura 2: Efeitos da adubação na altura (mm) de tartaruga (P. expansa) emcativeiro.

Figura 3: Efeitos da adubação no peso (g) de tartaruga (P. expansa) em cativeiro.

Figura 4: Efeitos da adubação no ganho diário de peso (g/dia) de tartaruga

(P. expansa) em cativeiro.

334

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De acordo com os resultados obtidos, pode-se observar que

não houve diferença significativa no crescimento dos animais em

relação à quantidade de adubo adicionada, porém, foi possível notar3uma tendência para que a adição de 14,75 kg de esterco fresco/m

proporcione um melhor desenvolvimento dos animais (Peso aos 93meses de idades: 0 kg de esterco fresco/m = 80,99 15,05g; 7,37 kg

3 3de esterco fresco/m = 80,89 15,52g; 14,75 kg de esterco fresco/m3= 83,17 19,76g; 22,12 kg de esterco fresco/m = 78,02 18,03g).

Essa quantidade de esterco é superior à proposta pelo Sebrae

(1995) que é de 2.000 kg por mês, ou 100 kg de esterco/hectare/dia,

em dias ensolarados, e de 40 kg/hectare/dia, em dias nublados.

335

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9.2 Densidade de cultivo

A densidade e o tipo de alimento fornecido aos quelônios são

fatores limitantes. Um grande número de animais em uma pequena

área diminui a taxa de crescimento e o ganho de peso. O número de

indivíduos distribuídos por unidade de área pode influenciar no

crescimento dos animais em cativeiro.

Nos quelônios, um grande número de animais em uma área

considerada pequena pode levá-los à competição por alimento,

espaço, abrigo, entre outros, o que pode promover um estresse nos

animais, levando-os a uma redução na taxa de crescimento e ganho

de peso (Figura 5).

Em contrapartida, um pequeno número de indivíduos, em

uma área grande, também pode comprometer o crescimento, pois os

animais vão demorar mais a encontrar o alimento em virtude da

maior dispersão pela área das instalações. Os animais costumam se

movimentar em grupos e estabelecem comunicação. A comunicação

química e sonora parecem ser fatores importantes na agregação esentido de defesa dos filhotes. Se eles estão dispersos, a localização

do alimento fica prejudicada, acarretando menor desempenho.

Existe uma densidade ótima em que os animais são

distribuídos adequadamente na área disponível e obtêm um bom

desempenho no crescimento e ganho de peso, não havendo grande

competição e, sim, uma disponibilidade para o animal encontrar o

alimento. Os criadouros do Amazonas foram monitorados quanto aonúmero médio de tartarugas que possuíam e as densidades de

cultivo que utilizavam (Figura 5). A Figura 6 apresenta o resultado da

análise da relação entre três grupos de densidades e ganho de peso,

referentes aos criadouros avaliados.

De 1976 a 1988, os criadouros de quelônios registrados pelo

então IBDF (Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal)

336

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recebiam, para iniciar sua criação, matrizes e reprodutores de

tartarugas e tracajás. Esses animais deveriam se reproduzir em

cativeiro e os seus filhotes seriam engordados e vendidos. Em

função do desaparecimento dos animais adultos doados e da

inviabilidade econômica de projetos com esse sistema de criação

(tempo demasiadamente longo para os quelônios se acostumar ao

cativeiro, se reproduzir e seus filhotes atingir peso mínimo de abate

de 12 kg), esse tipo de criação foi substituído pelo de recria de

filhotes, estabelecido pela Portaria Nº 133 de 5 de maio de 1988

(substituída em 1992 pela Portaria Nº 142).

A Portaria Nº 133/88 trazia, além da novidade da recria defilhotes, normas técnicas para sua criação, de acordo com a idade do

animal:

a) Filhotes de 0 a 2 anos: deveriam ser criados isolados de outros

animais (sem consórcio), em berçários de, no mínimo, um metro de

profundidade, com renovação constante de água, com áreas de sol e

sombra, pequena praia de areia (1/3 da área) e proteção contra2predadores. As densidades foram estipuladas em 5 animais/m , no2primeiro ano, e 2,5 animais/m , no segundo ano.

b) Jovens e adultos: para efeito de cálculo da lotação dos tanques e2barragens, considerava-se como exigência mínima 5,2 m de

superfície de água/animal, com profundidade média superior a 23metros. Como volume mínimo por animal, prescrevia-se 15,81 m .

Só se considerava profundidade média entre 2 e 3 metros, sendo que

o excedente a 3 metros era desconsiderado. A fórmula proposta por

aquela portaria para o cálculo da taxa de lotação máxima

consentida era:LMC= (superfície x profundidade média)/15,81

337

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A densidade de cultivo está relacionada às diversas variáveis

de cada sistema de criação (tipo de alimento, instalação, taxa de

renovação da água, etc.), sendo que o desempenho dos animais,

para uma determinada densidade, poderá ser melhor ou pior,

dependendo do criadouro. Para o Amazonas, como veremos a seguir,esses valores de taxa de lotação são baixos, podendo a criação ser

2mais intensificada, com mais tartarugas/m .

2Figura 5: Berçários em alvenaria com densidade de mais de 100 filhotes/m . A

competição por espaço e água gera um estresse tão forte que os animais

preferem ficar fora da água tentando fugir, Manacapuru/AM. Foto: Projeto

Diagnóstico (P.C.M.Andrade).

338

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Com os dados obtidos através dos questionários feitos aos

criadores, ou técnicos de cada propriedade, foi possível avaliar os

criadores quanto ao tamanho das propriedades, instalações

(barragens ou represas e berçários), número de animais de cada

criadouro e, conseqüentemente, da densidade de cultivo utilizadapor cada um deles, com a determinação da melhor.

Figura 6: Relação entre o ganho de peso e a densidade em criação

comercial de P. expansa (animais/m²).(Duarte, 1998).

Em alguns criadouros, há o consórcio de tartaruga (P.

expansa) com peixes (tambaqui Colossoma macropomum ou

matrinxã Brycon spp.). Ainda não há estudo da viabilidade técnica eeconômica de quelônios com peixes. No entanto, esse procedimento

parece ser desfavorável para a tartaruga e para o peixe, em relação à

apreensão do alimento, espaço físico, competição por alimento,

qualidade da água. Os peixes sendo mais ágeis na água do que os

quelônios comem mais rapidamente, deixando as tartarugas sem

alimento. Isso influencia no comportamento alimentar das

339

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tartarugas, não sendo recomendado o consórcio pelo fato de que não

se sabe qual seria a influência no crescimento em peso da tartaruga

da criação junto com peixe, e vice-versa, em um mesmo ambiente

aquático, e também por não haver mecanismos eficientes para

separar a alimentação de ambos em consórcio.

Figura 7: Berçário com cerca de madeira medindo 800220.000 animais (densidade=25 tartarugas/m ), em margem de barragem.

Para esse local foram trazidos os animais da Figura 5, quando então, bemalimentados, apresentaram melhor desempenho, Manacapuru/AM. (Duarte,1998).

2m , para

Navarro & Dias (1997), ao realizar estudo para determinar a

melhor densidade em função do crescimento e incremento de pesototal, ao final do experimento, utilizando alimento de origem animal

e vegetal, testou para filhotes de Podocnemis unifilis, densidades de

4,8 e 12 animais/m², e constatou na proporção de 18 animais por

4,5 m² como sendo a melhor.

340

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Portal & Silva (1996), em experimento realizado no Amapá, testaram

três densidades de cultivo (10, 20 e 30 animais/m²) para filhotes de

tartaruga, dos 8 aos 14 meses, que receberam dois tipos de alimento:

ração de 25% PB e 2.400 kcal e verduras (couve, Brassica oleracea;

alface, Lactuca sativa; repolho, B. oleracea capitata; e cariru,Amaranthus sp.) com frutas (mamão, Carica papaya; e goiaba,

Psidium guayava). O ganho de peso em 6 meses foi maior para

animais alimentados com ração na menor densidade (Densidade

10=73,5 g/6 meses; densidade 20=67,6 g/6 meses; densidade

30=59,7g/6 meses), provavelmente, pelo acúmulo de excretas

nitrogenadas em instalações com densidades maiores. Em animais

alimentados com verduras e frutas, o melhor desempenho foi com adensidade de 30 animais/m² (densidade 10=24,04 g/6 meses;

densidade 20=21,51 g/6 meses; densidade 30=33,16 g/6 meses).

2Figura 8: Berçário com cerca de madeira medindo 16 m , para 1.000 animais2(densidade=62,5 tartarugas/m ), em margem de tanque escavado e com solário.

Instalação simples e animais com excelente desempenho. Manacapuru/AM (Duarte,

1998).

Analisando os dados obtidos encontrou-se a mesma

tendência de maiores ganhos de peso em criadores com uma

densidade no berçário entre 65-100 animais/m². O menor ganho

diário de peso de 0,034 g/dia, foi obtido com uma densidade acima

de 100 animais/m², representando 10% dos criadouros.

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Esses resultados foram similares aos encontrados por

Hernandez et al. (1999), na Venezuela, onde testaram para filhotes

de tartaruga densidades de 10, 25, 50 e 75 animais/m². Verificaram

que no primeiro ano, por possuírem hábito gregário e se sentirem

mais seguros em grupo, desde que haja água limpa e em quantidadeadequada e boa alimentação, suportam grandes densidades de

cultivo, apresentando melhor desempenho com 75 filhotes/m².

 Tabela 2: Relação entre densidade e ganho diário de peso em P. expansa em

Densidade (animal/m²) GDP (g)

0,5 – 5 0,454

5 – 65 0,43865 – 100 0,678

Maior que 100 0,034

Em estudo realizado na fazenda experimental da Ufam,

BR-174, Manaus/AM, foram testadas 3 densidades de cultivo em

tanques-rede (12, 25 e 37 animais/m²) para 360 filhotes de

tartaruga, no período de três aos dezesseis meses de idade. Os

animais experimentais apresentaram efeito semelhante ao

encontrado nos resultados do diagnóstico realizado nos

criatórios de tartarugas do Amazonas, ou seja, em uma menor2densidade (10 indivíduos/baia ou 12 animais/m ) os animais

permanecem muito isolados, tendo dificuldades em encontrar o

alimento (tartaruga possui hábito gregário na hora de localizar oalimento, uma segue a outra, e o alimento é encontrado pela

olfação ou pela comunicação química enviada por outro animal,

como nos alevinos). À medida que a densidade foi aumentada2para 25 animais/m , houve um aumento no GDP, 0,94 g/dia,

2todavia, quando se chega à densidade mais alta (37 animais/m )

o GDP cai para 0,85 g/dia, ressaltando o efeito da competição,

acúmulo de dejetos e estresse sobre esses animais (esses

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resultados podem ser observados na Tabela 3 e Figuras 9 e 10).

Logo, a densidade apresenta uma tendência para um

comportamento quadrático, embora não tenhamos aplicado a

regressão em função da não significância do teste F.

 Tabela 3: Efeito da densidade de cultivo sobre o ganho diário de peso (g/dia) de

tartarugas (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).

Densidade decult ivo/idade

6 m eses(g/dia)

8 m eses(g/dia)

13 m eses(g/dia)

16meses

12 ind/m 2 0,389 1,136 2,484 1,20525 ind/m 2  0,441 1,141 2,246 1,22137 ind/m 2  0,333 0,976 2,231 1,219

peso (g) X densidade

050

100150200

250

3 4 5 6 7

idade (meses)

    g    r    a    m    a    s 10

20

30

Figura 9: Efeitos da densidade sobre o peso, aos 7 meses, de filhotes detartaruga (P. expansa). (Costa & Andrade, 1999).

343

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As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, pesoe ganho médio diário de peso não apresentaram diferençassignificativas, ao nível de 5%, pelo teste F e teste t doLSMEANS/SAS, para o fator densidade.

00,5

1

1,5

2

2,5

     G     D     P

     (    g     /     d     i    a     )

6 8 13 16

Idade (meses)

Efeitos da densidade sobre o ganho diário de peso detartarugas (P. expansa ) criadas em cativeiro

12

25

37

Figura 10: Efeitos da densidade de cultivo sobre o ganho diário de peso

(g/dia) de tartarugas (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).

A Tabela 4 apresenta o estudo das interações entre

densidade e tipo de instalação. As interações não foram

significativas (teste F, 5%).

 Tabela 4: Efeitos do tipo de instalação e densidade de cultivo sobre o

ganho médio diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (P. expansa), aos 16

meses de idade (Costa, 1999).

Instalação \Densidadede cultiv o

12animais/

m 2 

25animais/

m 2 

37animais/

m 2 

Médias

Estufa 1,2±0,60 1,19±0,41 1,31±0,41 1,25±0,47Ar livre 1,1±0,47 1,24±0,20 1,13±0,20 1,18±0,29Médias 1,2±0,53 1,22±0,30 1,22±0,30

Como não houve diferença significativa entre as densidades,

devemos utilizar a maior, a fim de reduzir custos com instalações.

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Andrade et al. (2001), criando tracajás (P. unifilis) em gaiolas

nos lagos de várzea do Macuricanã, Nhamundá/AM, em uma2densidade de 22 animais/m , obtiveram um ganho de peso de 3,8

g/dia nos três primeiros meses de vida.

Recomendações quanto à densidade de cultivo para

tartaruga (P. expansa)

a) Em berçários em tanques escavados, ou de cercados de

madeira em margem de barragem utilizar no primeiro ano de vida265-80 animais/m . No segundo ano, reduzir para 30-40

2animais/m .

b) Em tanques-rede ou gaiolas, trabalhar apenas até os 18

meses de idade ou até atingirem o peso de 1,5 kg (peso de abate), em3densidade de 25 a 37 indivíduos por m .

9.3 Índices zootécnicos de acordo com a espécie cultivada, a

população de origem do plantel e o sexo

A partir dos dados do diagnóstico dos produtores dequelônios no Amazonas e de ensaios de competição entre tartaruga,

tracajá e iaçá, no Ibama-AM e fazenda da Ufam, podemos inferir

sobre qual das três espécies do gênero Podocnemis apresenta

melhor desenvolvimento. Os animais foram analisados também em

relação ao sexo, quanto ao desempenho de machos e fêmeas de

tartarugas em cativeiro e ao local de origem dos filhotes de cada

plantel.

9.3.1 Avaliação do desempenho de machos e fêmeas de

tartarugas (Podocnemis expansa ) em cativeiro

Para Alho, Danni & Pádua (1984), não há dimorfismo sexual

em tartarugas antes da maturidade sexual. No entanto, Molina &

Rocha (1996) citam que há dimorfismo sexual em P. expansa, em

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que os jovens apresentam manchas amarelas na cabeça, com o

macho tendo a cauda comprida e a fêmea a cauda curta.

A avaliação do desempenho de machos e fêmeas de

tartaruga em cativeiro foi feita através da análise dos dados obtidosatravés de biometrias bimestrais em animais com idade de seis

meses, criadouros comerciais de quelônios legalizados no

Amazonas, durante os três primeiros anos de vida. Os animais eram

submetidos a diferentes tipos de alimento e densidades de cultivo.

Em relação ao ganho diário de peso de machos e fêmeas, na

análise geral dos dados de criadores não foi encontrada diferença

estatística significativa (machos = 0,94 ± 0,82 g/dia; fêmeas = GDP= 0,89 ± 0,77 g/dia), ao nível de 5% pelo teste t não pareado e pelo

LSMEANS do SAS, durante os dois primeiros anos de vida.

 Tabela 5: Ganho diário de peso (g/dia) em machos e fêmeas de tartaruga (P.

expansa), considerando o tipo de alimento fornecido.

Alime ntação Machos (g/dia) Fêm eas (g/dia)Peixe 0,534 0,536

Vísceras bovinas 1,284 1,130Peixe+puerária 1,032 0,966Restos de feira(verduras, frutas etubérculos)

0,925 0,921

Ração balanceada 0,877 0,995Média 0,93±0,27 0,91±0,22

346

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9.3.2. Avaliação do desempenho de três espécies de quelônios:

tartaruga (Podocnemis expansa ), tracajá (P. unifi lis) e iaçá (P.

sextuberculata ), criadas em cativeiro.

A Tabela 6 compara a tartaruga (Podocnemis expansa Schweigger, 1812), o tracajá (P. unifilis Trochel, 1848) e o iaçá (ou

pitiú) (P. sextuberculata Cornalia, 1849) em cativeiro. De acordo com

os dados, observa-se que a tartaruga tem maior peso, ao nascer, do

que o tracajá, porém, o ganho de peso por dia e o ganho de peso por

porcentagem do peso vivo é maior no tracajá. Esse é um fato de

grande importância e que deve ser levado em consideração pelos

criadores, já que se deseja que a espécie tenha crescimento e ganhode peso mais rápido. O iaçá tem valores inferiores em relação às

outras duas espécies. O tracajá tem reproduzido eficientemente, em

cativeiro, em alguns criadouros visitados.

  Tabela 6: Avaliação de três espécies de quelônios em cativeiro.

Espécies /Parâmetros

Podocnemisunifilis

P. expansa P.sextuber

culata

Peso aonascer

13,27 ± 1,42 g 18,22 a 23,13 15,36 ±2,05 g

GDP (g) 0,59 0,24 a 0,87 0,04GDP (% doP.V.)

2,9 0,42 0,25

 Taxa deeclosão em

cativeiro

83,15 ± 11,06%

- -

Ovos porcova

21,0 ± 6,0 - -

2meses 12 meses

PV¹ 1,7 PV¹ 4,7

Consumoaparente (g)

-

PA² 3,6 PA² 15

-

-Conversãoalimentar

- PA²15:1

PV¹14:1

-

1- PV = Proteína vegetal; 2 - PA = Proteína animal (Duarte, 1998).

347

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A conversão alimentar verificada na Tabela 6, para tartaruga,

provavelmente, ocorreu em condições de dificuldade em adquirir o

tipo de alimento, a mudança ou diminuição da quantidade de

alimentação fornecida, a falta de solários, ou de um número

pequeno, para os animais exporem-se ao sol, em função do númerode animais na instalação, a falta de acompanhamento técnico em

alguns criadouros durante a realização deste trabalho, o horário

inapropriado de fornecimento da alimentação, para aproveitar o

horário de 10:00 às 15:00 horas, a variação no tipo de alimentação,

consórcio com peixes, o efeito do El Niño, etc.

Para avaliar o desempenho de três diferentes espécies dequelônios: tartaruga, tracajá e iaçá, criadas em cativeiro, foram

realizadas biometrias bimestrais de 360 animais entre 4 e 14 meses

de idade, alojados em gaiolas experimentais tipo tanque-rede, de um

metro cúbico, com densidade de 25 animais/baia.

As Figuras 11 e 12 mostram a comparação entre as três

espécies analisadas, relacionando-se ganho médio diário de peso(g/dia) e ganho de peso em percentual de peso vivo. De acordo com

as figuras, observa-se que a tartaruga tem maior ganho diário de

peso do que o tracajá e o iaçá, porém, o ganho de peso em percentual

do peso vivo é relativo, de acordo com a idade. Esse é um fato de

grande importância e que deve ser levado em consideração para

quem deseja uma criação comercial desses quelônios, já que se

deseja que a espécie tenha crescimento e ganho de peso maisprecoce.

348

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Figura 11: Comparação de ganho diário de peso (g/dia) de trêsdiferentes espécies de quelônios, criadas em cativeiro (Costa, 1999).

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

     G     D     P     (     G     )

4 6 14

Idade ( meses )

Ganho diário de peso ( g )

Tartaruga

Tracajá

Iaçá

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

     G     D     P     %

     P     V     (    g     )

4 6 14

Idade ( meses )

Ganho de peso em percentagem do peso vivo

TartarugaTracajáIaçá

Figura 12: Comparação de ganho diário de peso em percentual do peso

vivo (%) de três diferentes espécies de quelônios, criadas em cativeiro (Costa,

1999).

349

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9.3.2 Avaliação do desempenho em função da população de

origem do plante l

Os primeiros criadores de quelônios do Amazonas

recebiam filhotes de tartaruga oriundos do tabuleiro do Abufari,

Médio rio Purus. Em 1999, essa prática foi abolida pela Câmara

Multiinstitucional de Fauna, do Ibama-AM, justamente por

estar, aquele tabuleiro, em área de reserva biológica e que,

portanto, pela lei, deveria ficar intocado. Então, os

queloniocultores do estado passaram a receber filhotes do rio

  Juruá (tabuleiros do Walter Buri, Joanico) e do rio Branco(afluente do rio Negro), dos tabuleiros de Sororoca, Caracaraí,

Roraima, sendo transportados de avião e caminhão.

  Já a partir de janeiro de 1998, os criadores

acompanhados pelo projeto Diagnóstico receberam animais

provenientes de Rio Branco-RR, o que nos permitiu avaliá-los

confrontando com os dados de animais recebidos anteriormente

(novembro de 1997), provenientes da Reserva Biológica do

Abufari, município de Tapauá-AM. A Tabela 7 compara os

valores de comprimento de carapaça (mm), peso (g) e ganho

diário de peso (g/dia) das duas populações de tartarugas criadas

em cativeiros.

350

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 Tabela 7: Comparação entre o comprimento da carapaça (mm), peso

(g) e ganho diário de peso (g/dia) de duas populações diferentes de tartaruga

em cativeiro (Abufari e Rio Branco). (Costa & Andrade, 1999).

As Figuras de 13 a 15 mostram a comparação de duas

populações de tartarugas (Podocnemis expansa) de 0 a 12 meses em

que os animais provenientes do Abufari demonstram em geral

valores maiores de peso e ganho de peso em relação aos animais

provenientes de Rio Branco-RR, sendo que os de Rio Branco têm

maior carapaça. Isso indica, provavelmente, maior rendimento de

carcaça dos animais provenientes do Abufari.

351

Comprimento da carapaça (mm)

População 0 4 6 8 10 12Abufari 56,7±2,5 66,1±5 67,2±

578,7±7,2 85,0

±9,189,4±11,4

RioBranco

52,7±2,5 69,8±4,9

74,9±6,6

68,9±4,8 86,9±7,2

92,2±8,6

Peso (g)População  0 4 6 8 10 12Abufari 34,5±4.6 49,2

±10,190,5 ± 18,7

83,7 ± 19,3

110,2± 39,15

141,6±53,.4

RioBranco

24,6±2,4 45,6±7,3

71,5±14,7

63,8±8,3 86,98±22,2

108,4± 24,9

Ganho de peso (g/dia).

População  0 4 6 8 10 12Abufari 0,172 0,18 0,37 0,47 0,.48RioBranco

0,084 0.19 0,04 0,109 0,53

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Figura 13: Comprimento de carapaça (mm) de tartarugas (Podocnemisexpansa) criadas em cativeiro no estado do Amazonas, provenientes de duaspopulações (Costa & Andrade, 1999).

Figura 14: Peso (g) de tartarugas (Podocnemis expansa) criadas em cativeirono estado do Amazonas, provenientes de duas populações (Costa & Andrade,1999).

352

0

20

40

6080

100

     C    c    p     (    m    m     )

0 4 6 8 10 12

Idade ( mes es )

Comprimento da carapaça (mm)

Abufari

RioBranco

020406080

100120140160

     P    e    s    o

     (    g

     )

0 4 6 8 10 12

Idade ( mes es )

Peso ( g )

Abufari

RioBranco

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Figura 15; Ganho de peso (g) de tartarugas (Podocnemis expansa) criadas em

cativeiro no estado do Amazonas, provenientes de duas populações (Costa &

Andrade, 1999).

Um experimento foi realizado na Fazenda Experimental da

Universidade do Amazonas, onde foram utilizados 350 filhotes de

tartaruga (Podocnemis expansa) que foram alojados em um curral2

de estacas de 16 m , provenientes de três locais: Rio Purus, ReservaBiológica do Abufari-Tapauá/AM; Rio Branco-RR; Rio Uatumã-

Balbina/AM. Com este estudo pôde-se fazer uma comparação, sob

as mesmas condições experimentais, do crescimento e ganho de

peso de animais originados de três diferentes populações, criadas

em cativeiro, verificando-se que os resultados obtidos em campo,

nos criadouros se repetiam.

As Figuras 16 e 17 demonstram a comparação decrescimento de comprimento de carapaça (mm), peso (g) e ganho de

peso (g) das três populações. Não houve diferença significativa entre

o desempenho das tartarugas de diferentes populações.

353

00,10,20,30,4

0,50,6

     G     D     P     (    g     /     d

     i    a     )

0 4 6 8 10 12

Idade (m eses )

Ganho de peso (g/dia)

Abufari

RioBranco

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Comprimento da carapaça (mm)

0

50

100

150

200

0 2 4 6 12

Idade ( mes es )

     C    c    p     (    m    m

     )

Abufari

RioBrancoUatumã

Figura 16: Comparação de comprimento de carapaça (mm) de três

diferentes populações de tartaruga (P.expansa) criadas em cativeiro (Costa &Andrade, 1999).

Peso ( g )

0

200

400

600

800

0 2 4 6 12

Idade ( m es es )

     P    e    s    o     (    g     )

Abufari

RioBrancoUatumã

Figura 17: Comparação de peso (g) de três diferentes populações detartaruga (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa & Andrade, 1999).

354

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Através das figuras podemos observar que os animais

provenientes de Uatumã apresentaram uma ligeira tendência a um

melhor crescimento e ganho de peso em relação às outras

populações, porém, os animais do Abufari apresentam crescimento

maior em relação aos animais de Rio Branco, o que confirma osdados dos criadores que apresentaram resultados semelhantes nos

primeiros 12 meses de vida.

As Figuras 18 e 19 demonstram a comparação de

crescimento de comprimento de carapaça (mm) e ganho diário de

peso (g/dia) das três populações até os 16 meses de vida.

0

20

40

60

80

100120

140

160

180

     C    c    p

     (    m    m     )

0 2 4 6 12 16

Idade (meses)

Comparação de comprimento da carapaça (mm) de tartarugaprovenientes de diferentes populações

Abufari

Rio Branco

Uatumã

Figura 18: Comparação de comprimento de carapaça (mm) de trêsdiferentes populações de tartaruga (P.expansa) criadas em cativeiro (Costa,1999).

355

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Figura 19: Comparação de ganho diário em peso (g/dia) de três

diferentes populações de tartaruga (P.expansa) criadas em cativeiro (Costa,

1999).

Apesar de não haver diferenças significativas (teste t não

pareado, 5%), é possível observar que os animais provenientes de

Uatumã apresentam melhor crescimento e ganho de peso em relação

às outras populações no primeiro ano, porém, os animais do Abufari

os superam em desempenho dos 12 aos 16 meses, embora animais

do Uatumã mantenham maiores incrementos em peso. Contudo,

mantém-se a tendência de animais do Purus apresentar crescimento

maior em relação aos animais de Rio Branco.

Sugere-se que o Ibama e os criadores procurem trabalhar

com filhotes de tabuleiros próximos à região do criadouro,

fomentando o trabalho de proteção nesses lugares (apoio aos

comunitários do local, criação de infra-estrutura básica,

alternativas de desenvolvimento com geração de renda, etc.).

Provavelmente, animais mais adaptados ao clima local tenham

melhor desempenho, como é o caso de animais do Uatumã (área de

356

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terra firme similar à dos criadouros de Manaus) e do Abufari (clima

similar aos dos criadouros de Manacapuru, margem do rio Solimões,

onde deságua o rio Purus).

9.4 Roteiro básico para o planejamento do manejo emcriadouros de quelônios

9.4.1 DESCRIÇÃO DA ÁREA E INSTALAÇÕES:A área destinada à criação de quelônios deverá ser

apresentada ao Ibama em croqui ou planta detalhada do criadouro.

Recomenda-se que a propriedade possua um lago ou barragem de 1

a 2,5 ha, que será destinado a receber os animais após os dois anos,

matrizes e reprodutores. Essa área alagada poderá ser alimentada

por um igarapé com vazão média de 2 l/s, em área cercada por

floresta equatorial de terra firme, mata de capoeira ou pastagens. As

bordas da represa deverão ser inclinadas, em sua maior parte, com

declives de até 30%. O tipo de solo ideal é o latossolo para reduzir o

problema de perda de massa líquida, por infiltração, sendo que

poderá haver, próximo à barragem, manchas de podzóis com faixas

de terreno arenoso que poderá ser utilizado para a formação de uma

praia artificial para desova.O berçário I para receber os filhotes de tartaruga doados pelo

2Ibama deverá medir aproximadamente de 60 a 100 m , para lotes de

4.000 animais. A cerca do berçário será de aproximadamente 50 cm

de altura, feita em tela ondulada com malha de meia polegada, fio nº

12 ou com estacas de madeira. Recomenda-se que os animais no

segundo ano de vida sejam transferidos para um segundo berçário,2com 500 a 1.000 m para lotes de 4.000 animais, cercado por campos

de puerária, gramíneas nativas ou implantadas, capoeira, mata e

fruteiras. Essa área receberá uma cerca de 1,80 m de altura total,

com metade em estacas de madeira (0,5 m) e o restante com arame

farpado ou tela de alambrado, para evitar predadores e furto de

animais.

357

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9.4.2 ANIMAIS: quantidade e aquisição

Utiliza-se como base de cálculo um total de 4.000 animais

por hectare de espelho d'água, considerando-se a somatória das

áreas alagadas que, efetivamente, serão utilizadas na propriedadepara criar quelônios: lago ou barragem de reprodução (1,0-2,5 ha),

mais o tanque ou açude de crescimento e engorda (berçário II) e o

berçário I. O projeto deverá prever um total de 12.000 animais, para

3 ha de área alagada, a serem doados pelo Ibama em lotes anuais de

4.000 indivíduos, sempre que houver disponibilidade.

9.4.3 MANEJO

a) ALIMENTAÇÃO

A alimentação será fornecida a cada 24h, no horário entre 9 e

10 horas da manhã, em vista do metabolismo dos animais ser

favorecido nas horas mais quentes, aumentando sua eficiência

digestiva. O alimento será fornecido em cocho submerso a 50 cm do

nível da água, tendo por base de consumo 5% da biomassa total dequelônios, para indivíduos até um ano, e de 3% da biomassa para

indivíduos acima de um ano.

O tipo de alimentação fornecida será ração, vísceras e sangue

coagulado de frango, suínos e bovinos, pescado moído, verduras e

frutas (resto de feiras) e macaxeira e milho (é interessante que seja

feito um roçado só para atender à criação). O alimento dependerá da

disponibilidade na propriedade e do custo.

b) RENOVAÇÃO DA ÁGUA, CONTROLE DE FUGA E DE

PREDADORES

A renovação de água na represa será feita conforme o fluxo de

água do igarapé e a vazão do excedente por tubos de PVC de 4

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polegadas ou monge situados na barragem. Para evitar que a água

se suje rapidamente os excedentes de alimento nos cochos serão

removidos, diariamente, por volta das 17h.

Para evitar a fuga dos animais da represa serão construídascercas de estacas de madeira, com 50 cm acima do nível do solo.

Essas cercas não possuirão cantos (cantos arredondados) e terão os

mourões colocados pelo lado de fora. O controle de predadores na

represa será feito por um tratador que deverá residir próximo às

instalações, e poderá vigiar a criação dia e noite, evitando não só o

ataque de aves, jacarés e alguns mamíferos, mas o furto de animais.

Além disso, deve-se construir uma cerca de arame farpado de 1,80m ao redor de todo o criatório o que deverá dificultar ainda mais o

furto. No caso específico de aves nos berçários (gaviões, garças etc.),

deve-se colocar uma rede ou fios de náilon para evitar o pouso de

predadores no local.

c) PROFILAXIA E TRATAMENTO

Os berçários e a represa serão vistoriados diariamente embusca de animais doentes ou mortos. Animais doentes serão

isolados e submetidos à tratamento veterinário; animais

encontrados mortos serão necropsiados, imediatamente, pelo

técnico responsável. Não sendo possível, o animal será guardado em

freezer para posterior análise.

A renovação da água dos berçários e da represa,periodicamente, também consiste em uma medida profilática para

evitar o acúmulo de sujeira e a proliferação de microorganismos que

possam adquirir caráter patogênico.

d) MARCAÇÃO, BIOMETRIA E CAPTURA DOS ANIMAIS

Os animais acima de três anos, selecionados para

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reprodutores e matrizes, receberão uma plaqueta metálica na

carapaça constando as iniciais do proprietário, o número de registro

do criadouro, no Ibama, e o número do animal. A plaqueta será

presa por arrebites nas escamas caudais da carapaça.

Animais para venda receberão o lacre plástico específico,fornecido pelo Ibama, mediante solicitação do produtor, com pelo

menos um mês de antecedência. Hoje, o lacre custa R$1,10 a

unidade (aproximadamente, U$0,35).

As biometrias serão realizadas bimestralmente em animais

até um ano, e semestral ou anualmente nos demais animais.

Para a biometria os animais dos berçários serão capturadoscom puçás ou com malhadeira. Os animais da represa serão

capturados com malhadeira após o seu esvaziamento, bem como

construiremos uma “manga de cerca” (espécie de labirinto com

estacas ou tela) em alguns pontos da cerca, de forma que, ao

esvaziarmos a represa, caso os animais tentem fugir durante a noite,

acabam ficando presos nesse artifício.

9.4.4 EVOLUÇÃO DO PLANTEL 

Para efeito de planejamento do plantel, em um prazo de 5

anos, consideramos os seguintes aspectos: mortalidade em torno de

5% dos animais, no primeiro ano; comercialização de animais acima

de 1,5 kg (considera-se que a partir do terceiro ano, quando bem

alimentados, 50-65% dos animais atingiriam ou superariam essepeso); seleção de 10% dos animais, acima de quatro anos, para

reprodutores e matrizes (em geral, os animais maiores são

separados e marcados com plaqueta metálica e rebite).

360

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Figura 20: Evolução do plantel.

No que diz respeito à atividade de criação de quelônios, os

problemas começam no momento do planejamento, pois é realizadasem critérios ou acompanhamento técnico, e sem a determinação de

um calendário prévio, que acaba por resultar em desperdícios de

recursos, tempo e sobrecarga dos órgãos licenciadores.

Nos criadouros, mesmo depois de implantados, deverão ser

realizados trabalhos de inventários para determinar qualitativa e

quantitativamente a viabilidade técnica e econômica, o potencial de

produção nos criadouros de quelônios para a certificação e posterior

comercialização racional dos produtos in natura e beneficiados,

agregando valores.

a) Metodologia para o monitoramento do plantelPara a realização dos levantamentos qualitativos e

quantitativos das áreas a serem manejadas será usada a

361

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metodologia determinada pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis, que definiu o manejo simplificado coletivo para facilitar,

como apoio técnico para os criadores de quelônios, observando as

normas da Vigilância Sanitária da legislação estadual.

A amostra-padrão é a de um tanque que apresente um

ambiente de fácil observação e captura. O tamanho amostral vai

depender da área e do plantel a ser explorado, e será variável

conforme o tamanho da gleba do produtor (criador) a ser

inventariada.

Os animais serão distribuídos em tanques, de maneira a ter

fácil acesso no momento da captura, para posterior manejo,

análises e emplacamentos, sendo respeitados a quantidade para

cada lote e o tipo de procedimento aplicado.

Para a medição das amostras, será feita a captura no local de

criação, onde serão definidas as porcentagens de animais

distribuídos para os tanques, de acordo com a idade, peso, altura,largura e comprimento para cada espécie.

Paralelamente, o modelo de projeto e inventário deverá realizar

observações quanto à maturação sexual dos animais, merecendo

especial atenção às espécies mais requisitadas no mercado

consumidor, para um melhor controle na reprodução e manutenção

do estoque natural. O material não identificado no local da capturaserá coletado e posteriormente identificado em estudos de

laboratório.

362

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b) Cronograma proposto para a evolução do plantel

Exemplo 1: Área alagada de 3,5 ha, considerando-se seleção paracomercialização no quarto ano (65% dos animais atingiram o peso deabate) e seleção das matrizes e reprodutores (10%) a partir do

terceiro ano.

b.1) Projeção dos gastos com ração para o plantel do exemplo 1,

considerando-se a taxa de 5% da biomassa para o arraçoamento no

primeiro ano, de 3% do segundo ano e 1% do terceiro em diante.

CUSTO COM RAÇÃO ANO 01

Nº DE ANIMAIS 3800

PESO (g) 361

% BIOMASSA 0,05

QUANT. ALIMENTO 68,59

CUSTO UNITÁRIO 1,15

CUSTO TOTAL DIÁRIO 79,01CUSTO ANUAL R$26.547,36

363

 

EVOLUÇÃO DO PLANTEL 

INSTALAÇÃOANO01

ANO02

ANO03

ANO04

ANO05  TOTAL 

BERÇÁRIO 4000 5000 5000 0 0 0 TANQUE DECRESCIMENTO 0 3800 4712 4712 0 0

 TANQUE DE

ENGORDA 0 0 2400 5552 6361 6361REPRODUÇÃO 0 0 1400 1400 1400 1400

MORTOS 200 288 288 0 776

VENDA 0 0 1560 3903 5463

 TOTAL GERAL  3800 8512 13224 10104 3858 14000

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(Cont inuação) GASTOS COM RAÇÃO

CUSTO COM RAÇÃO ANO 02 ANO 01  TOTAL Nº DE ANIMAIS 3800 4712 8512

PESO (g) 1100 361 -

% BIOMASSA 0,03 0,05 -

QUANT. ALIMENTO 125,40 85,05 210,45

CUSTO UNITÁRIO 1,15 1,15 -

CUSTO TOTAL DIÁRIO 144,21 97,81 242,02

CUSTO ANUAL R$48.454,56

R$32.864,16

R$81.318,72

CUSTO COMRAÇÃO ANO 03 ANO 02 ANO 01 TOTAL

Nº DE ANIMAIS 3800 4712 4712 13224PESO (g) 2250 1100 361 -% BIOMASSA 0,01 0,03 0,05 -QUANT.ALIMENTO 85,50 155,50 85,05 326,05CUSTO UNITARIO 1,15 1,15 1,15 1,15CUSTO TOTAL DIÁRIO 98,32 178,82 97,81 374,95

CUSTO ANUAL R$33.037,20

R$60.083,65

R$32.864,16

R$125.985,01

OBS.: Sugerimos que a ração deverá ser ministrada apenas no Ano

01, como única fonte de alimento, sendo nos anos subseqüentes

complementada com outras culturas (macaxeira, folhas de

hortaliças, etc.), devido ao alto custo, para não se tornar inviável a

produção de quelônios.

364

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Exemplo 2: Área alagada de 3,0 ha, considerando-se a seleção para

comercialização no terceiro ano (50% dos animais atingiram o peso

de abate) e seleção das matrizes e reprodutores (10%) a partir do

terceiro ano.

c) Manejo dos animais por lote de tamanho ou peso, e seleção

para venda

Se os animais não recebem a quantidade adequada de

alimento vai ocorrer uma grande heterogeneidade no tamanho dos

animais do plantel. Uns crescem muito e outros não crescem nada.

Se esses animais são mantidos juntos, a tendência é aumentar essa

diferença. Portanto, é adequado que, quando da seleção de animais

para venda ou para o plantel de reprodutores, se aproveite a ocasiãopara selecionar os animais pelo tamanho e colocá-los em tanques

diferentes. Com isso, passamos a ter maior controle sobre o número

e o peso dos animais em cada instalação e podemos melhorar o

controle no fornecimento adequado de alimentos. A Figura 21

mostra como é o processo de captura de animais para venda e

seleção de lotes por tamanho e plantel reprodutivo.

365

Item/Instalação 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º anoBerçário I 3.500 4.000 4.500 -Berçário II /Crescimento

3.325 3.800 4.275

Lago oubarragem(Matrizes/Reprodutores)

- - 350 750 1.200

Barragem outanque (animaispara venda)

2.975 4.441 5.015

Mortos * 175 200 225 - -Comercializados 1.934 3.251 3.676

 TOTAL  3.325 7.125 9.466 6.215 2.539

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Os animais que formaram o plantel de reprodutores e

matrizes deverão ser marcados com sistema codificado de furos na

carapaça e plaquetas metálicas rebitadas nas escamas caudais da

carapaça. Cada plaqueta deverá conter um número de série

identificador do animal e o número de registro do criador no Ibama.

Figura 21: Seleção de lote de 5 toneladas de quelônios para venda: a e

b) captura dos animais; c) lançamento de quelônios até o caminhão; d e

e) carroceria dividida para separar animais de diferentes tamanhos; f)

Separação de animal doente.

A B

C D

E F

366

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Capítulo 11: Manejo reprodutivo, predação e

sanidade

Paulo Cesar Machado Andrade João Alfredo Mota Duarte

Maria Linda Flora de N. BenettonRaimunda Lenice da Silva

Francivane Fernandes José Ribamar da Silva Pinto

Agenor Vicente da SilvaWelton Oda

Anndson BrelazWander Rodrigues

11.1 Manejo reprodutivo

As fêmeas de tartaruga têm condições de procriar entre 5 e 7

anos de idade. No início do verão, geralmente, nos meses de

setembro a novembro, machos e fêmeas sobem os rios em direção às

praias para reprodução, procedimento denominado “arribação”, em

que se aglomeram em frente às praias, observando o ambiente, e

passam algum período em processo chamado “assoalhamento”, que

é a agregação dos animais, em águas rasas, com subidas ocasionais

na margem do tabuleiro (praia de desova) para exporem-se aos raios

solares, para depois as fêmeas subirem às praias na busca do sítio

ideal de postura, considerando condições de temperatura e umidade

(Cenaqua, 1994).

A tartaruga-da-amazônia cumpre o determinismo biológico

de retornar à mesma área de desova. A desova é única e anual. Após

longa jornada de viagem ao tabuleiro, o bando ou cardume

permanece alguns dias em completo repouso, na parte mais funda

do rio, denominada de poção ou boiadouro (Alfinito, 1980).

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Segundo Alho & Pádua (1982), há uma sincronização entre a

vazante e o desencadeamento do comportamento de nidificação da

tartaruga-da-amazônia. O comportamento de nidificação só começa

quando a água se estabiliza em seu nível mais baixo. A

imprevisibilidade dos níveis de água no Rio Trombetas, umtributário do Amazonas, no Pará, é um fator seletivo importante que

influencia a data e a escolha do local da postura de P. expansa. A

cheia rápida e imprevisível (conhecida como repiquete) matou, em

1980, 99% dos embriões nos ovos em contraste com as estações de

nidificação de 1978, 1979 e 1981, quando 95% dos ovos eclodiram

com sucesso.

O cruzamento ocorre dentro da água. É fácil observar esse

movimento nas águas mais ou menos paradas, próximo às margens

dos grandes rios. Macho e fêmea passam horas juntos, vindo

freqüentemente à tona ora o macho ora a fêmea ou os dois juntos. O

acasalamento ocorre particularmente nos meses de maio e junho

(Ferrarini, 1980).

Após a seleção do sítio de postura, as tartarugas sobem àpraia, geralmente à noite, onde, após uma perambulação, escolhem

o local específico de desova, iniciando a abertura da cova,

alternadamente, jogando a areia para trás. Com movimentos do

corpo para a direita e para a esquerda, vão modelando aos poucos a

cova, encaixando a parte posterior no buraco e aumentando a ação

das patas traseiras. Preparada a câmara de postura, começam a

deposição dos ovos. Nessa etapa, elas tornam-se quietas, realizandomovimentos estereotipados, podendo até serem tocadas sem que

haja reação. Terminada a postura, as tartarugas iniciam o processo

de fechamento da cova, utilizando as patas traseiras. A seguir,

através de batidas com o plastrão, fazem a compactação da cova

(Alho, 1979).

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Como camuflagem no momento da saída jogam areia nas

proximidades da cova (2 a 3 metros), iniciando, a partir de então, o

retorno ao rio, que é geralmente lento, fato que demonstra o cansaço

pelo esforço despendido. A quantidade de ovos por cova varia de 40 a

160, com média em torno de 100 (Cenaqua, 1994). As posturassituam-se em torno de 75 ovos por cova, com variação mínima de 54

e máxima de 136. Os ovos são lançados no fundo da cova, ao acaso, e

sobre eles descarrega grande quantidade de muco misturado com

urina. Retornando à atividade, espalha bastante areia sobre a cova,

com ágeis movimentos sobre as patas anteriores e posteriores, como

também do plastrão (peito). A profundidade da cova oscila entre 44 e

83 cm, sendo a média de 54 cm, podendo, naturalmente, variaresses limites. A concentração de covas nessas áreas, chamadas

2tabuleiros, é, em média, de 4 a 7/m (Alfinito, 1980).

A cova pode ser identificada pela areia molhada, extraída

pelo animal, das partes mais profundas da cavidade, pelo rastro

deixado na areia, por ocasião da subida para a desova ou, ainda,

utilizando-se um estilete (varinha) que, introduzido na areia fofa,

penetre facilmente na cova (Pádua & Alho, 1982).

O período embrionário do ovo da tartaruga é de 45 dias,

permanecendo os filhotes no fundo da cova (câmara de incubação)

até completarem 60 ou 90 dias, prazo que coincide com a absorção

total da bolsa da gema, implantada na parte externa do plastrão, em

que se forma o umbigo. Os ovos mantidos em incubação natural são

85% gerados, desde que permaneçam em equilíbrio a umidade e atemperatura (Pádua & Alho, 1982).

As tartaruguinhas que nascem estão sujeitas ao ataque

maciço dos inimigos naturais e dos predadores aquáticos, como a

piranha (Serrasalmus sp.), pirarara (Phractocephalus

hemioliopterus), tucunaré (Cichla sp.), traíra (Hoplias malabaricus) e

outros. Porém, trabalhos realizados em Fordlândia demonstraram

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que filhotes lançados no rio, por ocasião de grandes cheias, não

sofriam os ataques intensivos dos predadores habituais (Alfinito,

Vianna, Silva, 1976).

Os adultos são de hábitos solitários. No entanto, durante a

temporada de reprodução tornam-se gregários em lugares

tradicionais de desova para realizar a cópula e a desova (TCA, 1997).

Em 1994, Meri Ushiñahua Alvarez calculou um custo de US$

5,00 por cada filhote de P. unifilis produzido na comunidade

ribeirinha de Manco Capac, na periferia da Reserva Nacional de

Pacaya-Samiria. Foram produzidos 2.197 filhotes e o manejo

utilizado foi transplantar as ninhadas de um banco de areiaconstruído na comunidade, no qual foram incubados ninhos quase

naturais, escavados à mão. Para P. expansa o custo seria muito

similar ao de P. unifilis. No Amazonas, o RAN-Ibama estimou o custo

de produção de filhotes em áreas protegidas em torno de R$0,16-

0,21 por unidade (U$0,07), isto ocorre em função do volume da

produção de filhotes do estado e, em parte, devido ao trabalho

voluntário de muitas comunidades.

O tracajá (P. unifilis) encontra-se distribuído por toda a bacia

amazônica, sendo as fêmeas maiores do que os machos (que

possuem manchas amareladas na cabeça), possuindo em torno de 8

kg e medindo cerca de 38 cm. Vivem em lagos, rios e igarapés e

desovam isoladamente em barrancos, em covas de,

aproximadamente, 30 cm de profundidade em que colocam, em

média, 20-30 ovos (Soini, 1995). Supõe-se estar maduro

sexualmente após os 7 anos e, alimentam-se de frutas, sementes,

raízes, folhas e, ocasionalmente, de insetos, crustáceos e moluscos.

Parecem ser mais rústicos do que as tartarugas, o que lhes confere

uma melhor adaptação ao cativeiro (Terán-Fachin, 1992).

A Podocnemis sextuberculata é denominada vulgarmente de

iaçá, pitiú ou cambeuá (Pezzuti, 1997). Smith, 1979, cita que essa

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espécie é encontrada somente nos rios de água barrenta como o

Branco, o Solimões e o Amazonas, mas ela também é encontrada nos

rios Trombetas e Tapajós, considerados de água clara. A fêmea

possui manchas amarelas com dois barbelos embaixo da boca. A

carapaça tem coloração marrom-claro e marrom-escuro. A posturamédia é de 15 a 20 ovos de casca mole. O iaçá é menor do que o

tracajá. Soini (1980) sugere que esta espécie desova quase sempre

em praias arenosas, geralmente próximo da água. A desova ocorre

geralmente à noite. Em geral, os ovos de iaçá são pequenos e

compridos, com a casca mais clara, mais delgada e mais flexível.

Recomendação para a reprodução natural em cativeiro Os tanques ou represas em que ficam matrizes e

reprodutores devem ter constante renovação de água, ser limpos

sem tocos ou vegetação, que dificulte a locomoção, e com

profundidade média de 2 m. Ainda não se sabe a razão sexual mais

adequada para a reprodução em cativeiro. Segundo o Dr. Richard

Vogt/Inpa (informação pessoal), a proporção de machos e fêmeas

adultos também é variável na natureza, não podendo servir comoindicativo. Contudo, sabe-se que uma fêmea de tartaruga pode ser

coberta por vários machos, podendo apresentar ninhadas com

filhotes de diferentes pais. Portanto, sugere-se uma proporção de

reprodutores e matrizes que varie de 1 macho:1 fêmea até 1 macho:5

fêmeas.

Em cativeiro, as praias artificiais para tartarugas devem serfeitas com areia fina ou média, ser colocadas à margem dos tanques e

barragens, ou ao centro, em forma de ilha (mais difícil manutenção e

reposição da areia perdida pela movimentação da água e dos

animais). A altura mínima deverá ser de um metro acima do nível da

água, entretanto, é preciso verificar até que altura a água do tanque

infiltra na areia. Deve haver uma faixa mínima de 30 cm isolando a

areia úmida do tabuleiro, separando-a do fundo do ninho. No caso da

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2tartaruga, deve haver 1 m de praia para cada matriz em reprodução.

No caso de tracajás, podemos trabalhar a densidade de 52matrizes/m de praia.

10.1.1 Transferência de ninhos

Em situações de extrema predação humana dos ovos e

impossibilidade de fiscalização sistemática do tabuleiro ou, no caso

de perigo de inundação e perda dos ninhos, pode-se executar a

transferência dos ninhos para praias protegidas pelo Ibama ou pelas

comunidades. Em cativeiro, o mesmo pode ser feito quando há uma

predação natural (lagarto teiú, Tupinambis spp.; formigas; cupins,

etc.), acentuada, ou a praia artificial às margens do tanque oubarragem não possua condições adequadas para a incubação dos

ovos.

Andrade et al. (2004) vêm desenvolvendo desde 1999, na

região do Baixo Amazonas (Parintins, Nhamundá, Barreirinha,

  Terra Santa, Oriximiná e Juruti) um programa de manejo

comunitário participativo de quelônios. Nesse projeto, chamado de“Pé-de-Pincha”, os comunitários são treinados para realizar a

transferência de ninhos de áreas muito ameaçadas.

Em setembro e outubro é realizada a transferência dos

ninhos. Essa atividade é feita por cinco equipes com o apoio de um

ou dois guias locais. O deslocamento é feito em botes de alumínio

com motor de popa 15-40 HP, ou motores tipo rabeta. A

transferência dos ninhos é um processo simples desde que se saiba

a idade dos ninhos (ela não pode ser executada com ovos entre o

terceiro e o vigésimo sétimo dia de incubação). Como é difícil

precisar a idade de covas mais velhas, trabalhamos com covas

novas.

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Os ninhos são abertos e os ovos colocados em caixas de

isopor (24,5 e 37 l) forradas com areia. Ao transferir os ovos para a

caixa, eles são mantidos na mesma posição que estavam no ninho.

De cada cova encontrada, são registrados em fichas o número da

cova, a procedência, a espécie, a quantidade de ovos, a distânciapara a vegetação e para a água, a profundidade, o diâmetro e a

temperatura delas e, a cada cinco covas, é feita a biometria dos ovos.

As covas artificiais são construídas de modo similar ao da

natureza, com uma câmara de ar e profundidade em torno de 30 cm.

Cada cova recebe uma estaca em que está escrito um número

indicando a ficha do ninho (na ficha estarão registrados dados como

o local de coleta, o número de ovos, a distância da água, o tipo de

solo, etc.) e a provável data de eclosão. Os locais de transplante

foram selecionados pela textura da areia ou argila, pela ausência de

pedregulhos e/ou raízes de árvores e vegetação abundante, pela

menor umidade, distância do lençol freático e temperatura. As

covas transplantadas ficam sob os cuidados dos proprietários ou de

comunitários. Foi feito também o registro da temperatura da área

onde foram implantadas as covas, a fim de avaliar, posteriormente,

a sua influência sobre o nascimento de machos e fêmeas. As

temperaturas foram registradas em termômetros de solo (10 por

área) colocados aleatoriamente em covas transplantadas, sendo as

leituras feitas de hora em hora, das 5:00h às 22:00h durante o

período de incubação.

Algumas covas naturais também são mantidas nas áreasprotegidas com cercas individuais com, aproximadamente, 60 cm

de altura, feitas de ripa, tela plástica e com bandeira vermelha de

marcação.

No período de transferência das covas, a equipe da Ufam e

Ibama escolhem uma área para receber a visita de alunos da rede

municipal de ensino, que vêm observar como é feito o trabalho de

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campo, bem como ministrar palestras nos colégios locais. Os temas

são diversificados, de acordo com as especialidades do pessoal

envolvido no projeto (quelônios, ecologia, horticultura, pecuária,

criação de animais silvestres, parasitismo e profilaxia, uso de

agrotóxicos, plantas medicinais, criação caipira de galinhas, etc.).

Em novembro, com o início das eclosões e o nascimento dos

filhotes nas covas transplantadas, a equipe da Ufam retorna às

localidades para a construção dos berçários, o treinamento do

pessoal nos cuidados com os filhotes (alimentos, horário de

alimentação, conservação dos ovos não eclodidos e filhotes mortos,

etc.), coleta de dados de biometria e parasitologia e marcação dosfilhotes. Os filhotes são mantidos nos berçários até completarem

dois meses de idade, período em que já possuem cascos mais

resistentes, tornando-se, provavelmente, menos susceptíveis à2predação. Cada berçário feito em alvenaria mede cerca de 100 m , já

os berçários tipo gaiola (madeira e tela) construídos de peças de2madeira (itaúba) e tela, tipo galinheiro, têm em torno de 5-10 m . A

escolha do tipo de berçário depende do local onde ele é implantado edo número de filhotes. Cada berçário é recoberto de fios de náilon

trançados, para evitar a predação dos filhotes por aves, e possui

pequenas balsas flutuantes de madeira que servem como solário,

além disso, são colocados aguapés e murerus que servem de abrigo

e alimentação para os filhotes.

Durante o processo de eclosão dos ovos são registrados os

considerados férteis, os inférteis (quando não se encontra sinais doembrião na gema), os com fungos, os parasitados por larvas, os

gorados e os animais natimortos, bem como é feita, também, a

biometria dos animais vivos, sendo estes, posteriormente,

transferidos para as gaiolas e tanques. Nessa fase, eles são

alimentados por plantas aquáticas murerus, aguapés, vísceras de

peixes, pão e ração para peixes.

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a) Resultados de transferência de ninhos pelo Projeto Pé-de-

Pincha

Foram monitoradas pela Ufam/Ibama-AM, em 1999, as

transferências de 306 ninhos, com um total de 6.426 ovos (79,96%de tracajá, P. unifilis, e 20,04% de pitiú ou iaçá, P. sextuberculata).

Até o final do período de coleta, as comunidades e seus agentes

ambientais voluntários conseguiram transferir 654 ninhos, com um

total de 14.214 ovos (86,29% de tracajá, P. unifilis, 10,25% de pitiú

ou iaçá, P. sextuberculata, 2,59% de tartaruga, P. expansa, e 0,87%

de irapuca ou calalumã, P. erythrocephala), e realizaram a proteção

de 85 covas naturais. Em 2000, foram coletados 24.015 ovos,21.482 de tracajá, 2.393 de pitiú, 20 de calalumã e 120 de tartaruga

(um total de 1.193 covas transferidas, sendo 89,45% de tracajás,

9,96% de pitiú, 0,5% de tartaruga e 0,08% de calalumã) e foram

protegidas 9 covas naturais.

A coleta dos ovos foi realizada, principalmente, nas horas

mais frias do dia, entre 6-9 h (74%), sendo feita em caixas de isopor

de 24,5 litros (cada caixa comportava de 3 a 4 ninhadas, dependendodo número de ovos). Os ovos ficavam nas caixas até 16:00 horas,

quando eram transplantados para as covas artificiais nas áreas

protegidas. A temperatura média nos locais de transplante com 25

cm de profundidade = 33,62 ± 1,45º C, com 30 cm = 32,55ºC ± 3,17ºC

e com 50 cm = 31,69º ± 1,30ºC. A temperatura média na areia foi de

32,58 ± 1,94ºC e no barro foi de 35,83 ± 0,764ºC. As maiores

temperaturas foram registradas no período das 14 às 16:00 horas.

É importante verificar a influência da temperatura de

incubação sobre a determinação sexual dos embriões (Vogt, 1994).

Em programas de conservação de quelônios, como o "Pé-de-Pincha",

que trabalham com o transplante de ninhos, isso é extremamente

importante. A razão sexual é influenciada não somente pela

temperatura média de incubação, mas, também, pela temperatura

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pivotal, oscilação ou amplitude térmica, local e período da desova.

Nas covas transplantadas para a areia, tivemos uma temperatura

média que poderia provocar o nascimento apenas de fêmeas,

entretanto, como a variação ao longo do dia foi pequena, existe uma

tendência de masculinização de alguns ovos.

Cerca de 50,12% das covas de tracajás foram transferidas da

areia com uma profundidade média de 17,2 ± 2,7 cm e largura de

12,2 ± 2,1 cm, com 22,3 ± 4,7 ovos (máximo=36 e mínimo=12),

pesando 24,5 ± 2,8 g. As covas retiradas do barro (49,88%)

apresentaram profundidade de 13,2 ± 2,1 cm e largura de 13,6 ± 2,9

cm, com 23,3 ± 5,4 ovos (máximo=34 e mínimo=10), pesando 23,7 ±

2,6 g. A distância das covas de tracajá da água variou de 18,4 ± 14,1

m na areia e 15,4 ± 16,1 m no barro, e a distância da vegetação variou

de 3,8 ± 6,7 m na areia e 2,2 ± 6,1 m no barro. As covas de pitiú foram

todas retiradas de praias e apresentaram, em média, 16,9 ± 3,5 ovos

(máximo=25 e mínimo=6), com peso de 20,8 ± 5,6 g, sendo

encontradas a 18,25 ± 20,89 m da vegetação, bem próximo à água

(em média 6 metros). A Tabela 1 apresenta os resultados da

transferência por área e espécie.

Fachin (1992) registrou que P. unifilis desova no Peru, no rio

Samiria, no período de julho e agosto em praias de areia (44,7%),

praias semi-arenosas (22,4%), praias com pedregulhos (17,6%) e

barrancos (15,3%).

Os tracajás podem desovar em praias ou no barro a até 15-50

metros da água em covas com, aproximadamente, 18-20 cm de

profundidade e 8-11 cm de diâmetro e uma média de 24,4 ovos

(Vanzolini, 1979; Paez, 1995). No rio Guaporé, os ninhos de P. unifilis

têm uma temperatura pivotal de 32,1ºC e uma média de 23,7 ovos,

sendo que, em condições de laboratório, ovos incubados a 31ºC

produziram 80% de machos (Souza e Vogt, 1994). Soini (1995)

estudou P. unifilis que desova de 2 a 12 metros da água, em covas

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com 8 a 16 cm de profundidade, com uma média de 30,3 ± 7,27 ovos

com 83,3 ± 6,8 dias de incubação. Alho et al. (1984) encontraram

temperaturas médias de 34,5ºC em ninhos de P. expansa, no

  Trombetas, com razão sexual média dos ninhos desviada para

fêmeas (0,033).

Para tracajás, na Venezuela, no rio Capanaro,

 Thorbjarnarson et al. (1993) encontraram desovas médias de 23,3

ovos com um período de incubação de 60-65 dias. No Peru, no rio

Samiria, Terán-Fachin (1993) encontrou uma média de 31,3 ovos e

66,5 dias de incubação. Terán et al. (1995) encontraram covas de

tracajá no Peru com 28,8±9,2 ovos em covas de 21,4 ± 2,2 cm deprofundidade e tempo de incubação de 111,8 ± 13,5 dias.

Pezzuti (1997) observou que fêmeas de pitiú, no rio Japurá,

desovam nos locais mais altos e distantes da linha d'água,

entretanto, a temperatura média dos ninhos foi de 29,3ºC e doºsubstrato de 29,8 C, o que resultou em um maior percentual de

machos (razão sexual=0,967). Os ninhos tinham em média 15,8 ±

4,99 ovos, pesando 19,49 ± 7,42 g e 17,5 cm de profundidade.

Pelos resultados, verificamos que os tracajás, ao desovarem

na areia, distanciam-se mais da água, chegando até próximo à

vegetação, fazem covas mais profundas e menos largas do que no

barro. Isto talvez se deva ao fato de a areia ser mais fácil para cavar,

bem como as covas serem mais distantes, para evitar a umidade, já

que a areia possuiria maior capilaridade. Elas são mais fundas paragarantir uma temperatura mais baixa. No barro, as covas são mais

próximas da água e da vegetação (na maioria dos casos, no meio do

capim-murim, Axonopus sp.), contudo, a argila retém melhor a

umidade. As covas rasas são para reduzir o aquecimento excessivo.

Na areia, os pitiús desovam em covas mais profundas do que as dos

tracajás, contudo, o fazem mais próximo da água, longe da

vegetação, por não possuírem as mesmas habilidades do tracajá,

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para andarem em terrenos mais íngrimes.

Estudos feitos por Pezzuti (1997) com pitiú, no rio Japurá

(Estado do Amazonas), demonstraram que a altura tem efeito

pronunciado na discriminação dos ninhos, em pontos aleatórios. As

fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A

profundidade do ninho influi significativamente sobre o período de

incubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de

incubação e na sobrevivência dos embriões.

b) Eclosão e desenvolvimento dos filhotes

Os primeiros filhotes (18 pitiús) nasceram na área da Aliançano Lago do Piraruacá. O tempo médio de incubação na areia foi: para

tracajás = 57,88 ± 2,68 dias (mínimo=54; máximo=65); para pitiús =

59,23 ± 3,34 dias (mínimo= 46; máximo= 66); e para tartaruga =

57,67 ± 5,69 dias (mínimo= 53; máximo= 64). No barro, os ovos de

tracajá tiveram um tempo de incubação de cerca de 63,85 ± 2,31 dias

(mínimo= 62; máximo=71). Pelos resultados, pode-se observar que

apesar da temperatura média do barro ser maior, devido a umamaior umidade, o tempo de incubação para tracajás é maior no barro

do que na areia. O tempo de incubação é maior para pitiús do que

para tracajás e tartarugas.

Fergusson & Joanen(1983), Georges (1989), Lang (1987),

Webb et al. (1987), Packard et al. (1989), Rhen & Lang (1995) apud

Pezzuti (1997) verificaram que a temperatura de incubação

influencia também a termorregulação, o tamanho, o padrão depigmentação e a massa do filhote, ao nascer, e o crescimento.

Segundo Pezzuti (1997), a eclosão dos ovos de pitiú ocorre,

geralmente, de 55 a 70 dias. As crias eclodidas ainda permanecem

dentro da cova, normalmente, num período de 7 a 15 dias. Portanto,

o período médio de nidificação dura 69 dias. Esse autor encontrou

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que a profundidade do ninho e o período de incubação são

inversamente proporcionais em pitiús. O mesmo comportamento

que podemos verificar entre os tracajás que desovaram na areia e no

barro, e entre tracajás e pitús, isto é, quanto mais rasas as covas

maior o período de incubação.

Os filhotes, ao nascerem (Figura 1), foram colocados em

berçários (tanque de alvenaria, gaiolas e tanques de alumínio),

sendo que a taxa de eclosão foi: para tracajás de 85,6 ±18,19%, para

pitiús de 73,7% e para tartarugas de 43,16%, na areia. No barro, a

taxa para tracajás foi de 53,68 ± 13,70%. A reduzida taxa de eclosão

no barro foi motivada pelo acúmulo de água no fundo das covas,principalmente, no igarapé dos Currais, onde a argila era muito mais

fina. Os filhotes, muitas vezes, já estavam prestes a sair do ovo, mas

como as chuvas inundavam a cova os filhotes morriam afogados

dentro dos ovos. Alguns ninhos foram salvos, colocando-se capim e

folhas secas no fundo, e afofando-se novamente a terra. Em 2000, foi

feita uma praia artificial com uma camada de 40 cm de areia no local

de transplante dos ninhos no igarapé dos Currais, o que elevou a

taxa de eclosão para 80%.

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Figura 1: Eclosão e filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis)

do igarapé dos Currais - Terra Santa/Pará.

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As covas transferidas de tartaruga tiveram uma taxa de

eclosão baixa devido à profundidade da cova artificial ter sido muito

pequena. As covas ficaram pequenas e os ovos não puderam se

expandir, comprimindo e matando os embriões. Em 2000, o

problema foi solucionado com a divisão de cada cova natural, emduas transplantadas. Encontramos duas desovas de tartaruga no

barro, na área do igarapé dos Currais. Cada cova possuía 60 ovos e,

em uma delas, devido à pouca profundidade da cova e ao trabalho de

compactação da fêmea, metade dos ovos estavam quebrados.

Covas naturais de tracajás e pitiús, na areia, tiveram uma

taxa de eclosão inferior (teste T, P<0,01) à das covas transferidas,37,74 (n=61) e 55,55 % (n=18) contra 85,6 (n=103) e 73,7 (39)%,

respectivamente. Acredita-se que isso se deva, em parte, a uma noite

de pisoteio por búfalos no local onde se encontravam as covas

naturais protegidas e, em parte, à predação de ovos e filhotes por

larvas de dípteros (moscas) da família Sarcophagidae (foram

registradas duas espécies ainda em processo de identificação),

encontradas em vários ninhos naturais. No barro, a presença daslarvas se deu em número muito menor e não houve problema de

pisoteio, sendo a taxa de eclosão das covas naturais de 95,45%.

Pezzuti (1998) também encontrou filhotes de pitiú predados por

larvas dessas moscas.

O maior predador de ninhos naturais nas comunidades do

projeto, depois do homem, foi o jacuraru ou teiú ( Tupinambisteguixin). Nos ninhos transferidos, tivemos problema apenas com

um cachorro que entrou à noite no cercado de proteção da Aliança -

Lago do Piraruacá, e comeu os filhotes e ovos de duas covas, em

1999 e duas covas naturais em 2000.

Alho et al. (1984) e Vogt (1994) afirmam que a manipulação

dos ovos em programas de conservação alterariam as condições

380

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microclimáticas dos ninhos, retardando a eclosão, aumentando a

mortalidade e influenciando a razão sexual com a masculinização

dos embriões. Isso, entretanto, não ocorreu na maioria das áreas do

projeto, onde as covas transferidas tiveram maior taxa de eclosão e

sobrevivência de filhotes do que as covas naturais. Quanto àsexagem dos filhotes, embora sabendo que é extremamente

importante para determinar a razão sexual do que estamos

produzindo, ao transferir os ninhos, não realizamos por ser

extremamente difícil convencer os comunitários e colaboradores,

pelo menos nesse primeiro ano do projeto, da utilidade que teria

sacrificarmos alguns exemplares dos animais que estamos

querendo conservar. A sexagem será realizada nos próximos anos.

Os tracajás apresentaram uma taxa de ovos inférteis (sem

vestígios de embrião) de 3,44 ± 3,37% e os pitiús 4,22 ± 14,07%.

Quanto aos ovos gorados, os tracajás apresentaram uma taxa de

15,75 ± 12,80% e os pitiús, 22,17 ± 22,14%. A taxa de ovos inférteis

pode ser considerada normal, mas em alguns lugares como no lago

do Abaucu e no Macuricanã, onde foram próximas à 10%, podemsignificar a falta de machos ou a desova por fêmeas muito jovens, o

que pode ser um indicativo de uma predação humana excessiva

sobre machos e fêmeas adultas. Em 2000, a taxa de ovos inférteis,

gorados e natimortos, foi superior à 1999 (teste T, P<0,05), o que

associamos a um atraso no período das chuvas. Os filhotes que

conseguiram eclodir nas covas naturais que acompanhamos, não

tiveram forças para sair da cova e acabaram sendo predados porlarvas de moscas (Diptera: Ephydridae).

Os esforços de conservação de quelônios nesses municípios,

entretanto, vêm sendo comprometidos em alguns lugares

(Oriximiná/PA: Lago do Sapucuá, Jarauacá, Igarapé dos Currais;

Parintins/AM: Valéria, Murituba), em função dos danos causados

pelas larvas desses dípteros pertencentes à família Ephydridae. O

381

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adulto é uma mosca de coloração preto-metálico, medindo cerca de

três milímetros de comprimento. Essa mosca, por apresentar

hábitos muito variados, inclusive saprofíticos, ataca na fase de

maior suscetibilidade do ciclo evolutivo dos quelônios. As larvas

predam ovos e filhotes, sendo os adultos, provavelmente, atraídospelo odor característico de ovo, logo após o primeiro filhote eclodir,

ou pelo odor de putrefação de ovos contaminados por fungos ou

gorados.

Os tracajás (n=617) nasceram medindo o comprimento de

carapaça, 39,3 ± 1,7 mm, os iaçás (n=101) com 40,5 ± 2,4 mm e as

tartarugas (n=201) com 46,9 ± 1,4 mm. Os tracajás pesaram emmédia 14,9 ± 1,4 g, iaçás 14,3 ± 1,8 g, tartarugas 22,5 ± 1,4g e

calalumãs (n=110) 11,2 ± 2,6 g. Os filhotes que nasceram em covas

transplantadas para o barro foram significativamente (teste T,

P<0,01) maiores (comprimento da carapaça = 39,8 ± 0,9 mm), mais

pesados (peso=15,6 ± 0,2 g) e menos pigmentados do que aqueles

que nasceram na areia (comprimento da carapaça=39,0 ± 2,2 mm;

peso=14,3 ± 1,7 g). Até os dois meses de vida, os tracajás quenasceram no barro tiveram um ganho diário de peso (GDP) de 0,05

g/dia, enquanto que os que nasceram na areia tiveram um

GDP=0,08 g/dia. Os iaçás tiveram GDP=0,06 g/dia e as tartarugas,

GDP=0,15 g/dia. Ao completarem dois meses, os filhotes foram

soltos nos seus locais de origem, em áreas com menos predadores

e/ou lagos com bastante alimentação natural disponível.

10.1.2 Incubação artif icial de ovos de Podocnemis expansa no

AmazonasComo o sexo dos filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá são

determinados pela temperatura de incubação, os criadouros

poderiam, através da incubação artificial, estabelecer o sexo dos

filhotes que estivessem gerando em sua propriedade, optando por

produzir mais machos ou fêmeas.

382

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Pensando nessa possibilidade e buscando adaptar a

tecnologia já existente ao material disponível no Amazonas, em

1999, a Ufam e, o então Cenaqua desenvolveram na sede do Ibama-

AM, Manaus, um experimento de incubação artificial de ovos de

tartaruga avaliando os efeitos de diferentes substratos (vermiculita eserragem) e de diferentes temperaturas (27, 30 e 32ºC), no período

incubatório e no sexo e desempenho dos filhotes.

a) Procedência dos ovos de tartaruga (Podocnemis expansa)

Foram utilizados 316 ovos coletados por funcionários do1Ibama/AM, localizado no tabuleiro da Reserva Biológica do Abufari

(Lat. S 04 51' – 05 30' e Long. W 6247' a 6322'; criada pelo Decreto

Federal Número 87.585 de 20/9/1982) no município de Tapauá

(Lat. S 05 45' e Long. W 64 24') administrada pelo Ibama no Estado

do Amazonas, em 1997.

b) Material usado para incubação artificial de ovos de tartaruga

Como incubadoras foram utilizadas 3 caixas de isopor de170 litros cada, montadas com aquecimento interno automático.

Sendo necessário em cada incubadora 4 lâmpadas de 25 W, 1

termostato, 2 termômetros de solo, 1 psicrômetro, 1 visor de

vidro, 1 suspiro, 1 divisória interna de vidro, 1 placa de Petri,

substratos (vermiculita e serragem), fio paralelo, e para as três

incubadoras, 1 estabilizador eletrônico, 1 extensão elétrica, 1

balança de 1.610g (graduação de 1g), ovos de tartaruga.

1 - Termo utilizado para a praia de desova. 

383

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c) Montagem das incubadoras artificiais

Para a montagem de cada incubadora, gastou-se cerca de

2 horas, envolvendo as fases de instalação e teste. Inicialmente,

instalou-se as lâmpadas, o termostato, a divisória interna devidro, seguido do teste de funcionamento e identificação das

incubadoras. Após a instalação e teste, colocou-se 1,66 g de

vermiculita em 3 incubadoras e 0,021 m³ de serragem em 2

incubadoras Em ambas as condições foi utilizada a metade do

espaço físico interno das incubadoras para ambos os substratos,

devido à falta de recurso financeiro para aquisição de material e o

espaço físico para mais incubadoras. A serragem utilizadapassou por 3 lavagens, visando a retirada de possíveis compostos

químicos que poderiam ser prejudiciais durante a incubação dos

ovos, e após estar parcialmente seca foi colocada dentro das

incubadoras.

d) Transporte, biometria, pesagem e colocação dos ovos nas

incubadorasO transporte dos ovos incubados na vermiculita foi

realizado numa caixa de isopor com areia da praia de desova para

evitar atrito e, principalmente, que eles virem dentro da caixa

durante o transporte. Entretanto, os ovos incubados na serragem

foram condicionados numa caixa de papelão contendo areia da

praia de desova. Comparando ambos, o primeiro mostrou-se

mais seguro.

A instalação do experimento consistiu de biometria dos

ovos e pesagem em balança de 1.610 g, com o cuidado de não girá-

los para evitar movimento precipitado do embrião, seguido de

delicada colocação em cada substrato.

384

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e) Condução do experimento

No monitoramento da incubação dos ovos registrou-se a

temperatura interna e externa (acima) no substrato, a cada uma

hora, através de termômetros de solo para cada temperatura,verificando-se a consonância com a temperatura predeterminada

no termostato.

Quando a temperatura interna, elevava ou abaixava além

do desejado, em cada substrato, diminuía-se ou aumentava-se o

indicador do termostato.

No início, após a colocação dos ovos em cada substrato,distribuiu-se 1 litro d'água na vermiculita. Não foi necessário na

serragem porque o material estava úmido após três sucessivas

lavagens. Durante a condução do experimento, a umidade

interna foi mantida pela água, contida numa placa de Petri, ou

pulverizando-a sobre o substrato. O momento da manutenção da

umidade dentro desse sistema é determinado pela leitura do

psicrômetro interno (umidade relativa) observado pelo visorexterno em cada incubadora, a cada uma hora após a leitura da

temperatura no termômetro de solo em cada substrato.

f) Resultados e discussões

O peso médio dos ovos incubados na vermiculita foi de

28,5 2,629g a 27,5 3,034 g, na serragem 20,568 6,074g a

21,203 2,710g. No entanto, Espriella (1972) cita que o peso

médio para o criadouro deve ser de 43g e Maués (1976), ao fazer a

comparação bromatológica em ovos de Podocnemis sp., obteve

peso médio de 23,67g. Sendo o tamanho do ovo variável de 2,056

0,607 cm a 3,614 0,164 cm, para ambos os substratos.

385

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Os substratos foram utilizados devido: (a) apresenta

menor tendência à compressão durante o desenvolvimento do ovo

e embrião; (b) identificar qual o substrato para incubação

artificial, pois, no caso da areia do tabuleiro poderia haver uma

compressão no ovo (embrião) durante o período de incubação; (c)utilizar um material estéril (vermiculita), que é caro e não

acessível, e um material regional barato, que é a serragem. Na

incubação artificial deve-se observar o emprego e a

granulometria da areia para que não comprometa o

desenvolvimento do ovo e do embrião.

A temperatura média da incubação artificial, em funçãodas horas, oscilou em ambos os substratos, mantendo mais

constante na serragem em relação a vermiculita (Figura 2).

386

T e m p e r a t u r a m é d i a d e i n c u b a ç ã o X H o r a s

2 6 , 5

2 7 , 5

2 8 , 5

2 9 , 5

3 0 , 5

3 1 , 5

3 2 , 5

3 3 , 5

  0  6  :  0  0

  0  7  :  0  0

  0  8  :  0  0

  0  9  :  0  0

  1  0  :  0  0

  1  1  :  0  0

  1  2  :  0  0

  1  3  :  0  0

  1 4  :  0  0

  1  5  :  0  0

  1  6  :  0  0

  1  7  :  0  0

  1  8  :  0  0

  1  9  :  0  0

H o r a s

     T    e    m    p    e    r    a    t    u    r    a

     (    o     C     )

V 2 7 V 3 0 V 3 2 S 3 0 S 3 2

Figura 2: Temperatura média de incubação em relação as horas do dia (Duarte, 1998).Foram incubados 316 ovos. A taxa de eclosão, nos cinco

tratamentos foi de 66,1±27,817%; na vermiculita (V) registrou-se

75,912±34,279% e na serragem 51,380±4,781% (A taxa de eclosão foi

maior na vermiculita (V), sendo especificamente na V32ºC = 91,07%;

V30ºC = 36,67%; V27ºC = 100%, em relação a serragem (S), obteve-se

na S30ºC = 48,0%; S32ºC = 54,76 %.

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Quanto às temperaturas a eclodibilidade a 27°C obteve-

se 100,0±0,0%; a 30°C, 42,33±8,01%; e a 32°C, 72,92± 25,67 %.

Na natureza a temperatura média de incubação é 23,3 a 37,6ºC,

sendo a taxa de eclosão entre 85% a 98% de eclosão (Morlock,

1979; Alfinito, 1980; Alho & Pádua, 1982; Alho, Danni & Pádua,

1984; TCA-SPT, 1997).

A contagem dos filhotes de tartaruga que nasciam por

período (dia ou hora), não foi possível por poder haver (1) o

comprometimento da vital absorção do vitelo (reserva nutritiva – 

composta de gema, aderida ao plastrão por uma película); (2)

Perda do microclima interno em cada incubadora; (3) Estresseaos animais e o (4) Empilhamento.

O período de incubação em função da temperatura de

incubação a 27°C foi de 43,00±0,0 dias; a 30°C, foi 42,0±7,07

dias; e 32°C,foi 40,71±7,07 dias. Sendo, de 39 dias, a 32ºC, na

vermiculita, 46 dias, a 30ºC, na serragem (Tabela 1), havendo

evidência da premissa de que quanto maior a temperatura,menor será o período de incubação, resultado obtido no substrato

vermiculita. Em condições artificiais no Museu Goeldi, Alho,

Carvalho & Pádua (1979) observaram que esse período pode

ultrapassar 60 dias.

O fechamento do “umbigo” em filhotes de P. expansa

incubados artificialmente na vermiculita e na serragem ocorreu

no quarto e no sétimo dias de idade, respectivamente. O tempo de

absorção do vitelo foi menor na vermiculita ( 2,666 ± 0,288 dias) e

maior na serragem (4,0 ± 0,0 dias).

O percentual de natimortos foi pequeno, de 0% a 4,76%,

sendo maior na incubadora a 30ºC com substratos vermiculita e

serragem, V30ºC = 15,56% e S30ºC = 12% devido à presença do

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fungo Aspergillus nigrans e nos ovos inviáveis houve influência

na taxa de eclosão.

Esse fungo envolveu toda a casca do ovo e durante a

incubação alguns ovos tinham sido forrageados por ácaro. A.nigrans pode ser encontrado em outros ambientes (frutas e

verduras, geladeiras) e compromete o processo respiratório dos

filhotes e prejudica a troca gasosa nos ovos. Isso faz com que os

ovos estraguem, os embriões morram ou se desenvolvam com

deformações.

Os ovos inviáveis parecem contribuir bastante para a

contaminação dos ovos viáveis, por fungo, matando os filhotes

nos ovos ou após o nascimento e reduzindo a taxa de eclosão. O

que, provavelmente, está ligado a alguma substância que não é

liberada por ovos não fecundados e que atuaria como fungicida

natural.

A utilização dos ovos inviáveis serviu para comprovar a

importância da seleção dos ovos e suas conseqüências biológicaspara a criação comercial, em que os ovos de P. expansa devem ser

selecionados, visando o descarte de ovos inviáveis.

Na Reserva Biológica do Abufari – AM, também foi

observada a contaminação dos ovos por fungo durante o período

de incubação natural, na qual ocorreu a morte dos filhotes, nas

diferentes idades, aliada ao ataque de formigas ou de larvas demoscas.

O custo da incubação artificial foi de R$ 400,00 para as

incubadoras, referente à aquisição do material supracitado (US$

133,33).

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A temperatura recomendada para a queloniocultura

seria, inicialmente, para a formação do plantel de fêmeas, de

32°C e, posteriormente, para o plantel de machos, de 27°C, desde

que se tenha os cuidados básicos ao manejar o ovo,

movimentando-o lentamente, sem girar, devido ao embrião

aderir na parte superior da casca, por cima da gema. O controle

da temperatura de incubação é importante para determinação

sexual.

Figura 3: Vista externa das incubadoras com caixas de isopor de 170

litros, termostato (até 100ºC, graduação de 1ºC) e 4 lâmpadas incandescentes.

Foto: RAN/AM (Duarte, 1998).

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 Tabela 1: Dados sobre incubação artificial de ovos de Podocnemis expansa.(Duarte, 1998).

I tens \Tratament os V32ºC

*

V30ºC

*

V27ºC

*

S32ºC

**

S30ºC

**

-Número de ovos 57 100 60 54 45-Peso dos ovos 28,5 ± 

2,6- 27,5 ± 

3,021,2 ± 

2,720,3 ± 

1,2-Período de incubação(dias)

39 40 45 45 47

-Taxa de eclosão (% ) 91,07 36,67 100,00

54,76 48,00

-Número de ovosinférteis

1 10 1 12 -

-Natimortos (% ) 3,57 15,56 - 4,76 12,00

-Absorção do vitelo(dias) 3 2,5 2,5 4 4-Fechamento do“umbigo” (dias)

4 4 4 7 7

-Peso ao nascer (g) 19,96±1,12

17,46±1,11

19,80± 1,08

18,49± 1,51

16,48±0,66

-Passagem para otanque (dias)

8 13 10 8 7

-Morte após colocaçãonos tanque.

2 3 1 - -

*V32°C/V30°C/V27°C = vermiculita a 32°C /30°C/27°C** S32°C/S30°C = serragem a 32°C/30°C

390

Figura 4: Eclosão dos filhotes de Podocnemis expansa.Foto: (Duarte, 1998).

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O peso ao nascer, dos filhotes, foi maior na vermiculita,

18,96±1,32 g, do que na serragem 17,13±1,00 g. A umidade variou

de 93,098 ± 0,300% a 93,00 ± 0,00%, com isto pode ter ocorrido uma

tendência para os animais serem mais pesados do que outros,

devido a um substrato reter mais umidade do que o outro. Embora

Morlock (1979) cite que deve-se umedecer os ovos para incubá-los,

na literatura citada não foram encontradas definições sobre a

influência da umidade na incubação e no desenvolvimento do

embrião e peso, ao nascer, do filhote de tartarugas como citam Vogt

& Villela (1986). A absorção do vitelo e o fechamento do “umbigo” foi

mais rápido nos filhotes nascidos na vermiculita, 3 e 4 dias,

respectivamente, em relação à serragem, 4 e 7 dias. Em seguida, os

animais foram medidos e pesados antes de serem levados para

tanques de 1.000 litros, após 7,5± 0,71 dias (serragem) a 10,33±2,52

dias (vermiculita) de nascidos. As mortes ocorridas foram de ordem

técnica no manejo dos animais.

Os animais nascidos a 32ºC apresentaram uma tendência a

um maior crescimento (ganho diário de peso, GDP = 0,24 g/dia), emrelação aos que nasceram a uma temperatura mais baixa, 27ºC,

GDP = 0,18 g/dia. No entanto, os animais obtidos na vermiculita

apresentaram maior GDP = 0,20± 0,03 g/dia do que os da serragem,

GDP = 0,10±0,0 g/dia. Os animais de 30ºC apresentaram maior

consumo diário de ração, CDR = 3,36±1,86 g/dia em relação aos de

32ºC, 1,83g/dia, e 27ºC, 1,19 g/dia. Os animais da vermiculita

apresentaram menor consumo, 1,66±0,43 g/dia, enquanto os da

serragem tiveram 3,28±1,97 g/dia. A umidade parece ter

influenciado no metabolismo dos filhotes. Filhotes nascidos na

serragem (ambiente mais úmido) demoraram mais para absorver o

vitelo, apresentaram menor GDP e maior consumo do que os da

vermiculita (menor umidade).

391

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A sexagem dos animais foi realizada aos seis meses de idade,

em que verificou-se uma tendência para um maior número de

fêmeas nas temperaturas mais elevadas, 32ºC igual a 50,55%, 30ºC

igual a 41,15% e a 27ºC igual a 28,07%. Em relação aos outros

substratos, a vermiculita apresentou um maior número de fêmeas47,16%, do que a serragem, 35%. A determinação sexual

dependente da temperatura ocorre no segundo terço do

desenvolvimento embrionário pelo efeito acumulativo da

temperatura de incubação, devido às tartarugas não possuírem

cromossomas sexuais heteromórficos (Vogt & Villela, 1986).

10.1.3 A reprodução de quelônios em cativeiro

Em 2005, os primeiros espécimes de P. expansa doados

pelo Ibama (em 1995), para criação, realizaram sua primeira

postura, completando assim, o ciclo de criação através da

reprodução em cativeiro. Entre as prioridades de pesquisa

elencadas foi queloniocultores fez-se necessário avaliar o

crescimento nas categorias de engorda e reprodução de animais

submetidos a diferentes tipos de alimentos, em complementação

aos primeiros estudos feitos nas fases de berçário e crescimento.

A avaliação dos parâmetros reprodutivos de quelônios em

cativeiro foi realizada em dois criadouros comerciais (Iranduba e

Manacapuru). Foram analisados os parâmetros e a eficiência

reprodutiva através das variáveis tamanho e idade das fêmeas em

postura; abundância e distribuição dos ninhos; número deovos/ninho.

A idade média do plantel reprodutivo nas primeiras desovas

em cativeiro foi de 8,57 ± 0,79 anos. Em animais alimentados com

proteína de origem vegetal (rações com farelo de soja, verduras e

frutas) o peso médio foi de 14,19 ± 2,29 kg nas fêmeas e 11,87 ±

2,06kg nos machos. O peso ao final de cinco anos de cultivo, que era

392

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em média 2,66 kg em 1997, aumentou para 9,2 ± 2,25 kg em mais de

65% dos animais dos lotes comercializados.

Na criação com razão sexual de 4F:1M foram registradas

desovas desde 8 anos de idade, sendo que aos 7 anos algunsanimais “experimentaram” fazer ninhos na praia artificial. Em

2003-2004, foram conferidos mais de 20 ninhos com uma média de

70 ovos. Em 2005, registrou-se 5 ninhadas, com média de 73,80 ±

2,5 ovos, havendo predação por jacuraru ( Tupinambis spp.). A taxa

de eclosão foi baixa, sobrevivendo apenas 150 filhotes. Em 2006,

foram produzidos 300 filhotes. Em criadouros cujos animais eram

alimentados principalmente por fontes de proteína animal (sanguecoagulado bovino, restos de filetagem de peixe), o peso médio dos

animais comercializados com 5 anos variou em média de 7,25 a

18,55 kg (158 animais comercializados).

No criadouro com razão sexual de 2,2F:1M, sendo o peso

médio das fêmeas=20,875 ± 11,91kg e machos =4,219 ± 0,787kg,

foram registradas desovas desde o ano de 2003. Alguns animais

subiram na praia de reprodução e formaram cardumes na margem

em comportamento similar ao da fase de boiadouro e

assoalhamento na fase reprodutiva em áreas naturais. Nenhuma

cova foi identificada embora suspeite-se que alguns a tenham feito.

Em 2005, foram identificados três ninhos com número médio de

ovos de 80/ninho. Houve uma taxa de eclosão de 90%, sendo

totalizados 216 novos filhotes de tartaruga no plantel. Em 2006,

foram registrados nove ninhos e nasceram 440 filhotes.

Em 2007, foram registrados o número, o peso, o diâmetro

de ovos em amostra de 5 ovos a cada 5 ninhos. Monitoramos os

ninhos. Após a eclosão, contamos o número de filhotes vivos,

número de embriões mortos e número de ovos sem desenvolvimento

aparente. Após a absorção total do vitelo, os filhotes foram medidos,

pesados e marcados com a biometria.

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A razão sexual variou de 3:1 até 11:1, com matrizes

pesando entre 17,6 a 20,87 kg e reprodutores pesando entre 4,2 e

8,2 kg. Os ovos de tartaruga mediram 33,3 ± 3,54 mm e pesaram

19,8 ± 7,08 g, já os de tracajás mediram 34,3 ± 0,89mm e pesaram

16,4 ± 1,67g. O número médio de ovos de tartaruga por ninho(n=2)foi de 60,5 ± 4,95 ovos, e o de tracajá foi de 26,43 ± 8,81 ovos (n=11).

Os ovos gorados em ninhos de tartaruga foram 21,05 %, e nos de

tracajá 25,52%. Foram predados por jacuraru 78,95% ovos de

tartaruga e 64,5 % de tracajá.

Figura 5: Biometria e marcação de plantel reprodutivo.

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Figura 6: a e b) Ninho e praia de reprodução de tartaruga (P. expansa)

em criador de Manacapuru; c) Marcação com furos na carapaça; d) Comparação

entre a fêmea, matriz de tartaruga, e seu filhote; f)Ninho predado; g)Filhote

natimorto;h)Eclosão ninho de tracajá;i) Larvas de mosca no ninho predado.

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A B

C D

F G

H I

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10.2 Sanidade e predação10.2.1 Sanidade

A tartaruga Podocnemis expansa pode ser considerada

rústica em relação à incidência de doenças. Para a criação em

cativeiro, no estado do Amazonas, ainda estamos estudando quais

seriam os agentes microbiológicos e os fatores que poderiam causar

danos à biologia do animal e à produtividade.

Baixas temperaturas causam a morte de tartarugas jovens

em cativeiro. No frio, os filhotes desenvolvem um quadro de

pneumonia com sintomas de perda do apetite; presença de uma

membrana esbranquiçada cobrindo o globo ocular; secreção nasal

com obstrução das vias respiratórias; insuficiência respiratória

caracterizada pelo comportamento atípico dos animais em

permanecerem boiando com o corpo em posição inclinada e

mortalidade (Chelonia, 1994).

Análises necroscópicas realizadas em tartarugas jovens de

cativeiro constataram infecção bacteriana múltipla por Escherichiacoli, Klebsiella sp., Pseudomonas sp., Proteus sp. e Salmonella sp.,

que apresentaram no teste de antibiograma resistência antibiótica,

principalmente Pseudomonas sp. Entre os antibióticos

administrados, os do grupo quinolona apresentaram melhor

eficácia associados a medidas profiláticas como limpeza e

desinfecção dos tanques, banho dos animais com permanganato de

potássio, desobstrução nasal e a transferência dos animais dostanques de fundo de terra, pois, devido ao tratamento, houve uma

expressiva diminuição na taxa de mortalidade (Chelonia, 1994).

Alfinito (1980) cita a ocorrência do Micobacterium

tuberculosis chelonei isolado por Friedmam nos pulmões de

tartaruga de aquário, em Berlim.

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Para Morlock (1979), as doenças de tartarugas em cativeiro

são provenientes de grupos formados indevidamente, sanidade no

local da criação, introdução de animais infectados.

Para Alfinito (1980), as principais causas de mortalidadeestão relacionadas aos estados de desidratação, inanição e asfixia,

podendo haver a possibilidade de albinismo (leucodermia congênita

e acromatose congênita) entre as tartarugas, sendo que estas devem

ser descartadas para evitar a multiplicação de animais albinos no

lote.O Ibama (1989) cita que a fotofobia e alteração congestiva,

em casos agudos, podem apresentar inflamações das pálpebras comderrame purulento, sendo a mais temível doença, o moquilo que

parece ser vírus filtráveis e bactérias associadas. Os sintomas são

debilidade, perda do apetite, inflamação das pálpebras, úlcera na

córnea, lacrimejamento contínuo. Em sua etapa final, apresenta

uma secreção gastrointestinal aguda, defecando substância

semelhantes às que apresentam nas fossas nasais. Quando

acometido o animal não quer permanecer na água e busca sempreproteger-se em local escuro e úmido.

Em relação à parasitologia, Paixão & Thatcher (1984), ao

analisarem alguns exemplares de tartaruga (Podocnemis expansa),

tracajá (P. unifilis) e iaçá (P. sextuberculata), provenientes da Reserva

Biológica do Abufari, AM, encontraram helmintos dos filos

  Trematoda em tartaruga (  Telorchis spp.; Nematophila grandis;Braunotrema pulvinatum), tracajá (Nematophila grandis;

Braunotrema pulvinatum; Telorchis spp.; Haltrema avitelina) e iaçá

(Paramphistomiformes) e Nematoda em tartaruga (Paratractis sp.) e

tracajá (Ancyracanthus pinnatifidus) fixados à mucosa do estômago

e intestino, que se encontravam espessados com pontos

hemorrágicos nos locais de fixação.

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Matos & Fedullo (1996) apud Duarte (1998), ao realizarem

exames bacteriológicos em amostras fecais de 60 quelônios para

detectar a presença de bactérias do gênero Salmonella, obtiveram

em filhotes de Trachemys scripta elegans, obtidos de feiras e lojas de

animais, maior índice de infecção, 23,07 %, enquanto filhotes de

Geochelone denticulata, da Fundação Rio Zoo, tiveram índice de 10%

e T. dorbignyi, Chrysemys picta picta, Graptemys pseudogeografica e

G. carbonaria oriundos de ambas as fontes, obtiveram resultado

negativo foram encontrados os sorovares   Typhimurium, Albany,

Kottbus, Loanda e o sorovar 0:50 de S. enterica subespécie

houtenae. As visíveis implicações à saúde pública são discutidas em

virtude da crescente popularidade desses répteis como animais deestimação.

a) Problemas de sanidade nos criadouros do Amazonas

Os técnicos do projeto Diagnóstico/PTU analisaram

material fecal, regurgitados e material do trato digestivo de

quelônios de cativeiro. As amostras foram coletadas em criadouros

em Manaus, Iranduba e Manacapuru.

As fezes e regurgitados foram coletados durante as

biometrias bimestrais realizadas nos criadouros. Foram coletadas

em vidro limpo com tampa rosqueável contendo conservante MIF.

Este material foi tamizado em cálice com formol a 10%. Após sua

sedimentação espontânea (método de Lutz), procedeu-se a leitura

em lâminas no microscópio ótico. Tomou-se uma fração dosedimento em lâmina de vidro e acrescentou-se uma gota de lugol,

homogeneizando-se, cobrindo com uma lâminula. A leitura foi feita

em aumento de 100X e detalhada em aumento de 400X. As

estruturas parasitárias observadas (larvas, ovos de nematelmintos e

amebas) foram fixadas em lâminas semipermanentes, para posterior

identificação.

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O conteúdo do trato digestivo foi obtido de tartarugas

abatidas oriundas de criadouro comercial em Manaus. Coletou-se

material do estômago, intestino delgado e grosso. O conteúdo dos

diversos segmentos foi colocado em solução aquosa e feita a leitura

do material a fresco. Foram preparadas lâminas semipermanentes

de algumas estruturas para confecção de fotografias e identificação.

O material foi fotografado em microscópio especial (Zeiss).O material do segmento estomacal apresentou uma

densidade parasitária imensa no estádio larval de nematelmintos,

em todos os estômagos analisados. À medida que progrediu-se no

sentido caudal do trato digestivo, a carga parasitária foi diminuindo

sensivelmente. No intestino delgado encontrou-se larvas em apenas

45% do material analisado (Tabela 2).

 Tabela 2: Freqüência de parasitismo no trato digestivo em tartarugas

(P.expansa) de cativeiro, Manaus/AM.

Segmento dotrato digest ivo

nº pesquisado n º parasitado % deparasitados

Estômago 19 19 100

Intest inodelgado 11 5 45

Intest inogrosso

1 0 0

Os animais analisados em criadouros apresentaram mais

parasitas no período das chuvas (40,62 4,42%).

Em 1999, registramos em filhotes de tartaruga (P. expansa)

criados em tanques de fibra de vidro com 250 litros, na densidade de3100 animais/m , alimentados com ração de peixe, 40% de proteína,

os seguintes sintomas: inchaço das membranas timpânicas, com

deformação da cabeça e olhos saltados; abcessos e feridas, de

aspecto caseoso (cor amarelada) nos membros posteriores próximos

às articulações femurais; derrame na parte inferior interna do globo

ocular seguido de embaçamento do olho; manchas avermelhadas

tendendo para o roxo no plastrão.

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Os animais que foram acometidos desse sintoma estavam

em área mais exposta ao sol do que os outros tanques. Filhotes de

tracajá (P.unifilis) e iaçá (P. sextuberculata) que estavam em tanques

próximos não apresentaram esses sintomas.

Foi realizada punção timpânica em alguns animais

enfermos, a fim de coletar material para análise. Todavia, o material

que enchia a membrana não era secreção purulenta. Tratava-se de

gás acumulado que cedeu após a punção, desinchando. No dia

seguinte, os animais puncionados apresentavam novamente o

inchaço.

Os exsudatos recolhidos nos animais enfermos, bem como o

material retirado do sangue, fígado e rins de um animal doente, que

foi sacrificado, foram inoculados e analisados pelo Dr. Januário, do

Laboratório de Patologia da Universidade Federal do Amazonas. A

cultura dos exsudatos e do material recolhido dos tecidos revelou a

presença de bactérias do gênero Proteus e Citrobacter. Não foram

observadas alterações, em nível macroscópico no fígado, tratogastrointestinal e rins do animal sacrificado. Cortes histopatológicos

não foram realizados.

O diagnóstico da doença foi feito a partir de revisão

bibliográfica (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1994) cruzada com o

resultado dos exames patológicos dos animais doentes.

Na bibliografia, encontramos que das quatro categorias depatógenos causadores de infecções em quelônios (patógenos gram

positivos; bacilos gram negativos móveis que possuem citocromo

oxidase e que não possuem; bacilos gram negativos não móveis), os

gêneros Aeromonas e Citrobacter causavam sintomatologia similar

ao caso estudado.

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O Aeromonas, bactéria gram negativa, causa a chamada

red leg, que são manchas avermelhadas nos membros com

ulcerações e equimoses, além de anemia macrocítica, leucopenia e

trombocitopenia (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1986).

O Citrobacter freundii é bactéria gram negativa que destrói

os glóbulos vermelhos, causando danos aos órgãos internos, perda

de apetite, letargia, ulcerações e necrose na pele e posterior

paralisia dos membros inferiores com multilação nos dedos, além de

filamentos de sangue que cobrem os olhos até atingir um quadro

fatal de septicemia, síndrome conhecida como SCUD (Scepticemic

cutaneous ulcerative disease), que acomete tartarugas aquáticas.Nestes casos, o parasita pode ser isolado do fígado, coração, sangue,

rins. É uma doença transmitida pela água, sendo mais susceptíveis

tartarugas com escarificações (ferimentos) nas patas (Murphy &

Collins, 1982; Fowler, 1986).

Os tratamentos recomendados na literatura são:

Para Citrobacter:1) Glorioso et al. (1974): uma dose inicial de 8 mg/100g,

intramuscular de Kaba, quemicetina ou quemisulfan, continuando

o tratamento durante 7 dias, com duas doses de 4 mg.

2) Murphy & Collins, 1982: Clorafenicol foi usado

eficientemente em alguns casos com uma dosagem inicial de 6

mg/200 g de peso vivo, no primeiro dia, seguida por uma dosagemde 3mg/200 g de PV por sete dias. Ou 250 mg de clorafenicol por 2,6

litros de água. Colocar nesta proporção na água do reservatório

duas a três vezes por semana, e melhorar a alimentação e exposição

ao s raios de sol (colocar solário).

3) Fowler, 1986: Aplicação de betadina ou iodina (iodo)

localmente, e clorafenicol parenteralmente.

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Para Aeromonas:

1)Pode ser feito também um tratamento à base de

tetraciclina (5 mg em 2 ml de água destilada), via estômago, duas

vezes ao dia, durante 5 dias (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1980).

Entretanto, enquanto pesquisávamos o caso, voltamos a

adotar o mesmo procedimento utilizado para a água de filhotes

recém-chegados ao criadouro, ou seja, colocamos 10 gotas de

iodo/100 litros de água no tanque dos animais doentes.

Em 5 ou 7 dias houve uma redução progressiva dos

sintomas dos animais doentes. Animais aparentemente sadios queforam separados para outro tanque, antes do início do tratamento,

apresentaram os sintomas naquela outra instalação (5 dias depois),

sendo imediatamente medicados.

Outro caso observado em criadouros de Itacoatiara foi o

aparecimento de ulcerações na carapaça de tartarugas juvenis

(Figura 5). Os animais foram trazidos ao Ibama, isolados e deixados

em recipiente com pouca água (para que o local da lesão se

mantivesse seco). Na lesão foi aplicado iodo e colocado unguento.

Foram feitas aplicações diárias até a perfeita cicatrização do local.

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Figura 7: Jovem de tartaruga (P. expansa) de cativeiro com lesão na

carapaça causada por fungos e bactérias. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).

O mesmo tipo de lesão foi encontrado em dois exemplares

de P. expansa em criadouro no Iranduba. Um animal apresentava

uma única lesão na carapaça e outro apresentava várias lesões na

carapaça e no plastrão. Aplicou-se, o mesmo tratamento descrito

anteriormente mas, antes foi feita a raspagem do local e realizada

cultura do material biológico recolhido. Não houve resultados para

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contaminação bacteriana e na análise micótica foi identificado

novamente o fungo Aspergillus niger. A Figura 8 apresenta os

animais com essas lesões.

Figura 8: Tartaruga, P. expansa com lesões na carapaça e plastrão,

provenientes do ataque de fungos (Fotos: Ikaro).

10.2.2 Predação

Como predadores em condições naturais, pode-se reunir

três categorias: (1) os que aproveitam os ovos, (2) os que consomemos filhotes recém-nascidos e (3) os que consomem os adultos, em

decorrência do equilíbrio biológico natural e captura pelo homem

pois, em ambas o animal encontra-se nos cursos d'água ou na praia

de desova. A pior das predações parece ser apanhar os ovos, não

obstando que as demais não sejam prejudiciais. Entre os

predadores, tem-se formigas-de-fogo (Prenolepis sp.), jacuraru

(  Tupinambis nigropuctatus, T. teguxin), aves (urubu, Coragypisatratus ; gavião, Spazastur spp.; gaivota, Phaetusa simplex). Em

uma praia venezuelana, 6% das crias recém-eclodidas foram

predadas por aves, desde o momento de saída do ninho até

chegarem à água: peixes carnívoros (traíra, Hoplias malabaricus;

tucunaré, Cichla sp.; piranha, Serrasalmus sp.; pirarara,

Phractocephalus hemioliopterus; pirarucu, Arapaima gigas, aruanã

Osteoglossum bicirrhosum), lontra (Lutra platensis); ariranha

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(Pteronura brasiliensis), sucuri ( Eunectis murinus), jacaré (Caiman

crocodilus), felinos (Leopardus pardalis e Panthera onca) e o homem

(Alfinito, 1980; TCA-SPT, 1996).

Figura 9: Urubus atacando filhotes de quelônios em Abufari, Purus,

 Tapauá. Foto: Projeto Diagnóstico (Duarte, J. A.M.).

Na Reserva Biológica do Abufari – AM (Figuras 9 e 10), foram

observados, em 1998, pelos autores, predadores como aves (urubu e

gavião) e peixes (pirarara, etc.), com ambos realizando um tipo de

“vigilância” na praia onde desovam a tartaruga, o tracajá e o iaçá

(também conhecido por pítiú). No período de eclosão dos filhotes as

aves ficam 24 horas por dia na praia de desova para capturar os

filhotes logo que saíssem da cova. Sendo, no caso das aves, que o

primeiro comportamento observado é o decepamento dos filhotes

para depois forrageá-los. No caso dos peixes, estes ficam a margem

da praia de desova para forragear os filhotes logo que estes entram

na água, pois este caso ocorre com algumas covas distantes umas

das outras.

Na grande maioria, devido ao número de animais que

desovam ser elevado, é feita uma cerca circular, em que há um

considerado número de covas. No período da eclosão, os

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funcionários da Rebio Abufari/Ibama-AM monitoram atentamente a

praia, vigiando as cercas de tabuleiros desde a madrugada, evitando

que os filhotes sejam predados ainda durante a noite, por aves que

dormem na praia. Nessa época, também realizam contagem (Figura

12) e, posteriormente, a transferência e a soltura dos filhotes. Estaúltima é realizada em outra margem distante da praia, onde realizam a

soltura dos filhotes no meio de plantas aquáticas para reduzir a chance

da predação, por peixes, sobre os filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá

(Figura 11).

406

Figura 10: Filhotes de tartaruga predados por urubu. Observe que só a partedianteira foi consumida. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M., 1998).

Figura 11: Soltura de filhotes de tartaruga na reserva biológica do Abufari, rio

Purus. Observe que ela é feita a noite, no meio da vegetação e distante do

tabuleiro, para reduzir a predação. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.

1998).

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Figura 12: Contagem de filhotes de tartaruga em cercado no tabuleiro doAbufari. Abaixo: equipe da Universidade Federal do Amazonas e Ibama nabase flutuante da Rebio Abufari, rio Purus/AM. Foto: Projeto Diagnóstico(Andrade, P.C.M. 1998).

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Capítulo 12: Caracterização socioeconômica

e ambiental da criação de quelônios no estado

do Amazonas e comercialização

Aldeniza Cardoso de LimaPaulo César Machado Andrade João Alfredo da Mota Duarte

Luiz Alberto do Santos MonjelóRichard Vogt

 Janderson Rocha GarcezWander Rodrigues

Anndson BrelazIntrodução

Os quelônios são uma ordem de espécies silvestres da

Amazônia que, durante séculos, têm sido intensamente exploradas

para comércio e consumo humano, entre outras finalidades,

principalmente Podocnemis expansa e Podocnemis unifilis 

classificadas como espécies em estado vulnerável e de baixo risco,

respectivamente, dependente de estratégias de conservação (UICN,

1996).

Para contrapor essa superexploração e consciente de seu

potencial para o uso sustentável, implantou-se a criação artificial

com a finalidade de desenvolver a criação com finalidades comerciais

(Acosta, 1996; Vogt, 1990).

No Brasil, a criação de quelônios surgiu devido ao estímulo à

captura ilegal na natureza; à oferta de produtos e subprodutos; porser adaptada à condição ambiental; e aos resultados de trabalhos de

proteção e manejo nas áreas de desovas (Alfinito, 1980; Luz, et al.,

1994). Na Amazônia tiveram início ações para contrapor a

exploração com a finalidade de domesticar e obter excedentes que

permitam o repovoamento onde têm diminuído ou desaparecido as

espécies (Fachin, 1999).

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No entanto, apesar de as estratégias de manejo estarem

sendo desenvolvidas desde 1986, o processo de criação animal em

sistema artificial foi implantado com práticas impróprias devido à

falta de conhecimentos adequados da biologia das espécies,

constituindo em ameaça (Soini, 1997). Por outro lado, não foramestabelecidas políticas sustentáveis de manejo que se orientam

primordialmente a eliminar e/ou mitigar o impacto negativo das

ameaças ao ambiente.

Conforme a espécie explorada, a ação repercute na

incorporação direta e primária da natureza, em que não são medidos

por seus planejadores, o impacto direto e o indireto quanto ao

controle dos resíduos e ao uso dos recursos. Esses fatores são

essenciais para avaliar a viabilidade da atividade e articular as

relações econômicas, sociais e ambientais (Kubitza, 1998). Essas

relações com o meio ambiente são essenciais para o

desenvolvimento efetivo da gestão do meio ambiente.

A gestão do meio ambiente é um processo de mediação que

define e redefine, continuamente, a forma como as diferentesorganizações, através de suas práticas, alteram a sociedade, a

qualidade do meio ambiente e como se distribuem na sociedade os

custos e os benefícios decorrentes da ação desses agentes (Ibama,

1992). Para realizá-la é indispensável acompanhar e atuar sobre os

elementos envolvidos na transformação ambiental e realizar a

gestão de cada um deles (Macedo, 1995), podendo, com isso,

equacionar e/ou levantar os recursos/benefícios, reconhecer ereavaliar o desenvolvimento dos animais e articular a participação

dos diferentes segmentos sociais, proporcionando o

comprometimento dos seus gerenciadores.

Para contextualizar a criação de quelônios em criadouros

licenciados, futuramente, exigirá a necessidade de estabelecer um

planejamento ambiental antes da sua implantação, priorizar

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pesquisas, levantar estratégias zootécnicas, considerar os fatores

  jurídicos e ambientais e proporcionar treinamentos para os

funcionários, com a perspectiva de que as relações e as

interferências sobre o ambiente tornem-se irreversíveis.

Em 1997, a Ufam e o Ibama, iniciaram um diagnóstico dos

criatórios de quelônios no Amazonas. Posteriormente, em 2000, foi

realizada a caracterização socioeconômica e ambiental dessas

criações comerciais de quelônios. Os resultados desses dois estudos

e as informações sobre a primeira comercialização ocorrida no

estado, em 1999, são apresentados neste capítulo.

11.1 Diagnóstico dos criatórios de quelônios no estadodo Amazonas

Com os dados obtidos nos questionários feitos aos criadores,

ou técnicos, de cada propriedade foi possível o diagnóstico da

situação quanto ao tamanho das propriedades, instalações

(barragens ou represas e berçários), densidade do berçário, número

de animais de cada criadouro, atividades do criador, tipo dealimentação fornecida aos animais, doenças, predadores, etc.

Neste estudo foram acompanhados os criatórios de

tartaruga (P. expansa) e tracajá (P. unifilis), licenciados pelo Ibama

no estado do Amazonas até 1999, onde pôde-se fazer a análise dos

novos criatórios registrados e a avaliação do desempenho da nova

população explorada pelo Ibama para fornecimento dos filhotes

(Tabuleiro de Sororoca-Rio Branco/RR). Esse acompanhamento foi

feito através de biometrias bimestrais nos criadouros, onde

registrava-se, através de questionários específicos e entrevistas, as

características de cada sistema de produção, tais como:

alimentação, tipo e tamanho de instalações, densidade de cultivo,

características da água, manejo, equipamentos, etc. Os animais

foram medidos e pesados. Os dados obtidos foram sistematizados

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para caracterizar a produção de quelônios no estado, o que serviu

para inferir sobre o melhor sistema de criação utilizado.

Quanto à localização, 21,66% dos criadores estão situados

em áreas do município de Manaus, 21,66% em Manacapuru,21,66% em Iranduba, 21,66% em Rio Preto da Eva, 6,6% em

Manicoré, 3,7% em Itacoatiara, 1,8% em São Gabriel da Cachoeira e

1,8% em Lábrea.

O tamanho das propriedades variou de 8 a mais de 6.000 ha,

sendo a maioria entre 9–35 ha, com média de 22 18,384 ha (Figura

1). As represas variaram de 0,1 a 6,0 ha, embora a maioria estivesse2entre 1 e 2 ha, e os berçários de 30 a mais de 1.000 m . A maior parte

dos criatórios possui densidade de berçário entre 0,5 e 52indivíduos/m .

Quanto às atividades dos criadores, têm-se a maior parte

exercendo a atividade de comerciantes, encontrando-se também

agricultores, advogados e donos de rede de hotelaria (Figura 2).

O número de animais por criador variou de 600 a mais de

22.000 indivíduos, sendo 60% com número de 1.000 a 5.000

indivíduos, o que é considerado um número pequeno para a

atividade comercial. A alimentação fornecida ficou distribuída entre

vísceras bovinas, restos de feira (verdura), peixe, peixe + puerária e

ração, sendo que a maioria fornece peixe, havendo uma tendência

para adotar ração, pelo menos na fase inicial, seguindo as novas

orientações técnicas fornecidas.

411

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Quanto ao tipo de alimento fornecido, observou-se que

animais alimentados à base de proteína animal superam os

alimentados com proteína vegetal em ganho de peso. Observou-se2que a densidade de 78 indivíduos/m proporciona um bom

desempenho aos animais. A tartaruga (P. expansa) parece superar otracajá (P. unifilis) e o iaçá(P. sextuberculata) em ganho de peso.

Animais provenientes de Uatumã-Balbina/AM possuem tendência a

obter maior ganho de peso que os provenientes do Abufari-  Tapauá/AM e Rio Branco-RR.

Figura 1: Tamanho das propriedades.

412

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Atividades dos queloniocultores

30%

30%10%

10%

20% Outras atividadesComerciantesProdutor RuralConstruturaHotelaria

Figura 2: Atividades dos queloniocultores.

11.2 Caracterização socioeconômica e ambiental das

criações comerciais de quelônios

Neste outro trabalho, iniciado em 2000, teve-se por objetivo

caracterizar as condições de funcionamento dos criadouros dequelônios, através de um levantamento mais detalhado, como forma

de garantir novas alternativas de uso sustentável diante das atuais

técnicas de manejo dos recursos naturais, estabelecer o perfil

socioeconômico dos criadores/criadouros, identificar fatores de

impactos ambientais, bem como verificar a viabilidade econômico-

ambiental, a fim de propor um modelo de gestão socioambiental para

as atividades de produção animal.

Área de estudo

O Estado do Amazonas possui fortes tradições culturais, e por

dispor de recursos naturais diversos, as características de usos e

costumes de seus habitantes concentram-se nesses recursos.

Assim, os recursos da fauna amazônica vêm servindo a alimentação

humana há milhões de anos, com a alteração dos ecossistemas em

413

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função de modelos de desenvolvimento exploratórios e predatórios.

As propriedades escolhidas para os estudos foram em função

dos criadouros licenciados pelo Ibama, localizados em Manaus e

municípios próximos.

Metodologia

Em um primeiro momento, foram realizados contatos iniciais

com os proprietários dos criadouros, a fim de solicitar autorização. A

partir daí iniciou-se o trabalho com observações diretas das

instalações, rede hidrográfica, dimensões dos viveiros e a

composição da vegetação, com a finalidade de realizar o diagnósticoambiental.

Entrevistas foram feitas com 13 criadores que detalharam

questões sobre o levantamento dos aspectos relacionados aos meios

socioeconômico e físico, a fim de estabelecer o perfil dos

criadores/criadouros. Também foi verificada a estrutura

operacional dos criadouros.

Posteriormente, definiu-se a análise da água para avaliar

entre os parâmetros químicos os efeitos de impactos diretos e

indiretos causados ao ambiente. Para isso, efetuaram-se medidas

no campo da condutividade elétrica, temperatura e oxigênio

dissolvido, utilizando um condutivímetro digital tipo WTW e

peagômetro tipo WTW, para determinar o pH.

Amostras de água foram coletadas em garrafas de polietileno

e frascos de vidro com tampa esmerilada. Análises foram realizadas

no Laboratório de Limnologia /Depesca/Ufam, segundo Golterman,

et al. (1978), para determinar os parâmetros químicos: DBO

(Demanda Biológica de oxigênio0, DQO (demanda química de

oxigênio), compostos nitrogenados: nitrato (N02), nitrito (N03) e

amônia, fósforo (P04) e dureza.

414

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Os dados foram elaborados em uma planilha e aplicou-se

estatística descritiva com distribuição de freqüências e teste de

Kruskal-Wallis (P>0,05), a fim de comparar as variações dos

parâmetros encontrados entre os criadores e o padrão estabelecido

pelo Conama (1996) Resolução nº 020/96, para estabelecer o nívelde significância entre as médias e agrupar, entre os criadouros, os

que apresentam melhores condições de funcionamento.

Resultados e discussões

A criação de quelônios no estado do Amazonas é atualmente

composto por 33 criadouros legalizados, funcionando de acordo

com a disponibilidade dos recursos de cada um e a utilização de

práticas impróprias de manejo.

O perfil socioeconômico dos criadores revelou faixa etária em

torno dos 40 anos, grau de escolaridade no ensino médio,

profissões, com maior freqüência, de comerciante e de agricultor.

Dados consistentes com Costa (1999), renda familiar com maior

percentual na faixa de 5 a 10 salários mínimos (Tabela 1).

A estrutura operacional dos criadouros é, na maioria,

localizada em zona rural, abastecida de água de igarapé e energia

elétrica pelas Centrais Elétricas do Amazonas (Ceam). São, na

maioria, manejados por pessoas físicas (61,5%), com sistema de

criação do tipo semi-intensivo (69%), e objetivos de criar quelônios e

o comércio dos animais (84,5%). Não há normas para oestabelecimento das dimensões e tipos de recintos, como tamanho

da área variando de 2.000,52 + 3.650,98m, represas de 1.430,9 +

1.304,42m, berçário de 1.027,89 + 2.212,87m e tanque de 421 +

384,43m (Tabela 2). Neste caso, a recomendação deveria estar

condicionada à qualidade de animais e fase de criação.

415

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 Tabela 1: Perfil socioeconômico dos criadores de quelônios.

FAIXAETÁRIA

 FREQ

 %

NÍVEL ESCOLAR

 FREQ.

 %

20-39

anos

 40-59

anos

 60-79

anos

1

 

8

 

3

 

8,5

 

66,7

 

25,0

Semi-analf.

 1ºGrau inc.

 1ºGrau comp.

 2ºGrau comp.

 Sup. Inc.

 Sup. Comp.

 

1

 3

 1

 3

 1

 3

 

8,3

 25,0

 8,3

 25,0

 8,3

 25,0

 PROFISSÕES

 FREQ.

 %

RENDAFAMILIAR

 FREQ.

 %

 AdministradorAdvogado

Agricultor

Aposentado

Comerciante

Engenheiro

Pescador

 11

3

1

4

1

1

 8,38,3

25,0

8,3

33,3

8,3

8,3

 1-10 SM11-15 SM

16-20 SM

 54

3

 

41,733,3

25,0

 

416

 TAMANHO DA

ÁREA

MÉDIA DP Mínimo Máximo N

 BARRAGEMBERÇÁRIO TANQUEPROPRIEDADE

 1.430,961.027,89

4212.000,52

 1.304,422.212,87384,4313.650,98

 2,6304,000

251,000

 3.0006.844900

131,40

 99613

 

2 Tabela 2 – Tamanho da área (m ) entre os criadouros.

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A efetivação da criação de quelônios ocorreu por volta dos

anos de 1970, em função da implementação da primeira portaria,

registrando-se um interesse maior nos últimos cinco anos, maior

aprovação dos projetos técnicos nos anos de 1995/2004 (Tabela 3).

  Tabela 3 – Intervalos de aprovação dos projetos técnicos entre os criadores.

 APROVAÇÃO DOS

PROJETOSFREQÜÊNCIA (%)

1995-19961997-1998

1999-20002001-2004

44

533

8,78,7

10,971,7

O acompanhamento técnico foi efetuado por profissionais

indicados por pessoas ou órgão (Figura 3), apenas para efetivar a

aprovação do empreendimento, sem assegurar, no entanto, o seu

comprometimento para monitorar as atividades.

417

RESPONSÁVEL TÉCNICO

0

1

23

4

5

6

BIOLOGOENGPESCAIDAMUAMÉD. VETERINÁRIOTECNOLABORATÓRIO

 

Figura 3 – Responsável técnico

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. A maioria dos funcionários foi selecionada principalmente

por indicação de outras pessoas, observando-se a não-exigência de

critérios e conhecimentos para o desenvolvimento das atividades,

assim como foi notada a falta de programas de treinamento e/ou

sensibilização dos funcionários.

Na avaliação dos custos, observou-se que não há registros

sistematizados dos fatos que ocorrem nas propriedades. Os dados

foram estimados com base em informações provenientes de

anotações e de estimativas. A participação dos custos fixos sobre

os custos totais é de 25,38% e os custos variáveis participam com

74, 62%. A alta participação destes últimos é a alimentação com,a p r o x i m a d a m e n t e , 5 2 % . O g a s t o c o m r a ç ã o

(alimentação/ano/animal) ficou em torno de R$1,53. Resultado

consistente com o estudo realizado por Costa (1999), com 350

animais em cativeiro, que identificou um custo de

R$1,58/animal/ano, referente à alimentação.

Os dados representados no Quadro 1 mostram um custoanual, por tartaruga, de R$ 2,93, indicando que em média uma

tartaruga com cinco anos de idade pode estar custando R$ 15,00,

aproximadamente.

418

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Quadro 1 – Custos totais, médios e participação percentual da criação de

quelônios no estado do Amazonas, no ano de 1999.

CUSTOSFIXOS

CUSTOS VARIÁVEIS %PARTICIPAÇÃO

S/ CUSTOS TOTAIS

ITENS

(R$) (%) (R$) (%) (%)

DepreciaçãoRem. CapitalMão-de-obraAlimentaçãoMão-de-obraCombustível

Manutenção TransporteOutros

 Total%participaçãos/ custo total

Custo médio

16,021,5019.050,9011.575,00

---

---

46.647,40

25,38

0,74

34,3540,8424,81

---

---

100,00

-

-

---

96.047,257.871,5010.644,00

14.773,255.970,001.817,20

137.123,20

74,62

2,19

---

70,055,747,76

10,774,351,33

100,00

-

-

8,7210,356,30

52,504,485,80

8,403,350,10

100,00

100,00

2,93

419

Entre as espécies doadas para criação verificou-se

Podocnemis expansa e Podocnemis unifilis. O total de animais

recebido por criador variou de 7.392,15 + 7.522,68 animais (Tabela

4).

 Tabela 4 – Números de animais doados para criação.

 Número deanimais doados

Média DP Mínimo Máximo 

N

 QUANTIDADE

RECEBIDA

QUANTIDADEATUAL  TEMPO DE

RECEBIMENTO

 7.392,15

 7.979,15

 1,9231

 7.522,68

 6.841,90

 0,77595

 835

 835

 1,000

 25.000

 21.000

 5,000

 13

 13

 13

 

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Os meios utilizados para transportar os animais do tabuleiro

de desova para os criadouros foram barco e avião (Tabela 5).

Segundo os criadores, o avião parece ser o melhor meio, embora seja

o mais caro, sendo a melhor opção, pois, a mortalidade dos animais é

menor, em virtude do acondicionamento que deixa os animais

menos vulneráveis a doenças.

 Tabela 5 – Meio de transporte dos animais dos tabuleiros para os criadouros.

  TIPO FREQ. (%) TEMPOGASTO

FREQ.(%)

AVIÃOBARCO

310

23,176,9

DIASHORAS

SEMANAS

73

3

53,8

23,1

23,1

420

Quanto à finalidade dos criadouros, para a conservação da

espécie, as respostas destacaram-se em ajudar na diminuição da

predação dos animais e a manutenção das matrizes, embora

verificou-se que 84% dos criadores ainda não construíram o sistema

para a reprodução dos animais, o que mostra o não atendimento da

exigência da Portaria N. 142/92 (Ibama, 1992b), art.7º, § 2º.

A opinião dos criadores sobre:

1) combate ao comércio ilegal de quelônios: sugeriram fiscalização

rigorosa envolvendo as forças do exército, marinha e aeronáutica.2) a importância principal em criar quelônios é ganhar dinheiro.

Entre os criadores, um pretende, com a criação, saldar sua dívida

com um empréstimo realizado no banco.

Na avaliação ambiental observou-se o uso direto dos cursos

d'água nas instalações, que funcionam como meio de captação de

água e onde são lançados os efluentes que podem comprometer a

qualidade dentro e fora dos viveiros. Impor aos outros usuários uma

série de custos sociais, uma vez que as descargas dos restos

orgânicos são lançadas ao ambiente sem nenhum controle da

poluição (Quadro 2).

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Quadro 2 – Instruções/procedimentos para a construção de barragens.

S=sim N=não

Nas últimas décadas, o crescimento das atividades de

produção e consumo e, conseqüentemente, o aumento de

lançamentos de resíduos nos meios receptores, bem como a

utilização excessiva

421

Itens (%) TIPOS F

Á

GUA

N=30,4

S=69,2

Escoamento/abastecimento

Faz controle com calProcurou conversar com engenheiroRenovação natural na barragemUsou saco de serrapilheiraConstruiu fora do leito do igarapéAproveitou os mananciaisExaminou a qualidade d’água antes deconstruir a barragem

1

1111111

SOL O

N=53,8

S=46,2

Escolheu o tamanho mínimo paraescavaçãoFoi aterrado, antes era encharcadoFoi aterrado conforme recursos técnicosO solo foi analisado por técnicos da Emater

1

121

VEGE

 T AÇÃO

N=38,5

S=61,5

Deixou a vegetação natural ao redor dabarragemEstá plantando fruteiras para recuperar olocal

Manteve uma área com vegetação naturalAcima da barragem onde há vários animaissoltosObedeceu recomendação de técnicos doInpaNão respondeu

5

2

1

1

1

1

Resíduo

Orgânico 

N=92.3

S=7.7

Embora controlando, há poluição devido

aos restos orgânicos

1

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dos recursos, proporcionaram a criação de normas e legislação

ambiental que têm exigido das organizações de qualquer grandeza

ou tamanho a incorporação da variável ambiental na alocação de

recursos (Assayag, 1999). A não inclusão da internalização dos

efeitos externos ao meio ambiente, na ocasião da implantação docriadouro, poderá, futuramente, comprometer a atividade e

inviabilizá-la devido à incorporação primária e direta da natureza. A

falta de normas na infra-estrutura do local pode implicar na

captação de água – o percurso do igarapé – com mortes ou aumento

de outros organismos, além do comprometimento da água usada

pela população circunvizinha.

A efetivação recente dos criadouros pode estar relacionada à

desburocratização do órgão fiscalizador que fomentou a atividade,

para que os que estivessem irregulares viessem para a legalidade

e/ou por ter despertado nos criadores uma nova opção de renda.

Para que seja uma atividade de perspectiva de renda deverá assumir

um compromisso com o melhoramento contínuo, considerando os

problemas reais e potenciais, conforme sugere a ABNT (1996). O

objetivo é proporcionar competências ao pessoal envolvido, com base

em educação, treinamento e/ou experiências apropriadas,

proporcionando compreensão, atitudes e valores.

A ABNT (1966) recomenda que as organizações estabeleçam e

mantenham procedimentos para identificar as necessidades de

treinamentos dos envolvidos. A criação de quelônio tem caráter

técnico e é necessário que o responsável e todos os envolvidosrecebam treinamentos para assegurar a qualificação, assim como é

preciso responsabilizar atribuições na área técnica e ambiental para

proporcionar melhor desempenho das atividades.

422

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O acompanhamento dos custos é muito importante por

garantir compensações econômicas, além de diversas outras

vantagens. Para isso, é necessário que o criador conheça os custos

associados à implementação do criadouro, assim como os

benefícios obtidos para que sua propriedade torne-se competitivano mercado e possa proporcionar sustentabilidade ao

empreendimento.

A falta de conhecimento do número de animais a serem

doados para criação torna-se um fator negativo, pois não se sabe o

impacto que a retirada desses animais da natureza poderá

proporcionar ao ambiente, sem causar desequilíbrios naspopulações.

A implementação da criação de quelônios requer o uso de

mecanismos capazes de internacionalizar os custos dos recursos,

com base no princípio poluidor/pagador. De acordo com a ABNT 

(1996), a exigência pela conservação ambiental faz com que os

empreendimentos implementem a gestão ambiental, com a

finalidade de equacionar as diferentes práticas com a qualidade domeio ambiente e a internalização dos custos/benefícios para a

sociedade.

Considerções finais

A criação de quelônios surgiu a partir das condições que a

legislação criou, em que a questão ambiental foi tratada nos

empreendimentos apenas como uma exigência legal, tendo comoresponsabilidade técnica apenas o caráter fiscalizador, não

contemplando ações educativas que proporcionem o

comprometimento de todos os participantes no processo.

Os criadores, por serem, na maioria, de outro estado,

possuem pouco conhecimento da realidade amazônica e apesar de

desenvolverem atividades com a criação animal, observou-se

423

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que o interesse pela criação de quelônios é apenas um fator

econômico e , portanto , não há compromet imento,

conhecimentos básicos das espécies, dos custos, entre outros

aspectos, para a efetividade da sustentabilidade da atividade.

Os criadouros funcionam de acordo com a disponibilidade

do local e são implantados sem qualquer planejamento, controle

dos resíduos, condições ambientais e disponibilidade dos

recursos que atendam às recomendações das normas ambientais

(ABNT, 1996), e assim, proporcionem bom funcionamento aos

criadouros implantados ou que venham a ser implantados.

Para a operacionalização recomenda-se a adoção efetivade um técnico habilitado, com o objetivo de disciplinar o

gerenciamento, supervisionar, planejar, bem como proporcionar

treinamento do pessoal envolvido, assegurando um desempenho

melhor das funções e evitando as conseqüências potenciais dos

procedimentos operacionais.

Recomendações

O órgão fiscalizador deverá propor mudanças de

comportamento passando de uma ação fiscalizadora para uma

gerenciadora do planejamento e administração, baseada em

compromissos ambientais e sociais.

Com base nas constatações realizadas, pode-se propor

que os estabelecimentos pesquisados propiciem a gestãoambiental nos modelos propostos por Macedo (1995) e ABNT 

(1996) visando maior sustentabilidade dos recursos e maior

produção, tendo como estratégias básicas:

424

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1) Criar critérios técnicos ambientais para instalação para

estabelecer diagnóstico ambiental no sentido de prever

conseqüências potenciais necessárias para a instalação,

operação e manutenção das condições ambientais.

2) Desenvolver instrumentos e metodologias visando o

desenvolvimento de pesquisas sobre metodologias, materiais

educativos e outros instrumentos para a prática da criação

animal;

3) Implementar um de sistema de informação para estabelecer um

sistema de manutenção de informações para organizar a

documentação e todas as informações necessárias à execução da

atividade;

4) Proporcionar ações educativas e de capacitação visando

estimular e apoiar a participação dos responsáveis na

formulação de políticas para o meio ambiente, bem como a

concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do

meio natural, social e cultural, através da implementação daeducação ambiental.

5) Controle operacional para estabelecer e manter instrumentos

para verificar, investigar e corrigir através de inspeções,

auditorias ambientais e ações corretivas e preventivas.Agradecimentos

Especial agradecimento à profa. Cassandra Guimarães deFreitas, por acertadas críticas e sugestões valiosas, igualmente à

Fachin-Teran e aos professores Gilberto Peixoto, Ubirajara Boechar,

Andrea Waichman e Elizabeth Santos, pelo apoio e colaboração. À

todas as pessoas que colaboraram direta e indiretamente para a

realização deste trabalho. Ao programa do Trópico Ùmido-

PTU/CNPq, pelo apoio logístico.

425

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11.3 Comercialização

Durante o diagnóstico da criação de quelônios um criador do

Puraquequara, Manaus, que recebeu 17.000 animais doados pelo

Ibama-AM, desde 1992, realizou a primeira comercialização detartarugas legalizadas no Amazonas, vendendo, em 17/07/1998,

parte dos animais recebidos (Podocnemis expansa), conforme prevê

a Portaria Nº 070/96 do Ibama, específica para a comercialização de

P. expansa e P. unifilis, oriundos de criadouro licenciado.

O processo de comercialização dos animais iniciou-se com o

queloniocultor, solicitando a liberação do estoque para venda

através de vistoria e de parecer técnico favorável do Ibama–AM, bem

como o fornecimento dos lacres de identificação para os animais que

seriam comercializados. Cada lacre plástico, em cores, que varia a

cada lote (verde, vermelho, branco), possui o número de registro do

criador, o estado de origem, a sigla Ibama e um número seqüencial.

Os lacres são vendidos ao criador a um preço de R$1,10

(aproximadamente U$0,36) a unidade.Após a autorização da venda realizou-se a captura através de

redes de pesca (Tipo arrastão). Foi feita a biometria (carapaça e

plastrão), a pesagem dos animais em balanças de capacidade de 15

kg e de 50 kg, e posterior seleção dos animais que estavam com peso

vivo – P.V. acima de 1,5 kg, ou seja, o peso mínimo para venda,

conforme determina a Portaria Nº 070/96. Após selecionados, os

animais com P.V. inferior a 1,5 kg foram devolvidos à barragem

pelos trabalhadores do criadouro.

A seleção de 10% dos animais do lote para reprodução do

plantel, por ocasião da venda (Portaria Nº 142/92), se ainda não foi

feita, deverá ser realizada nessa ocasião. As matrizes e reprodutores

426

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deverão receber marcação diferencial com plaquetas de alumínio de

4,0 cm X 1,5 e 2 mm de espessura. Esse material recebe o nome

Ibama, numeração seqüencial e registro do criadouro. Na plaqueta

são feitos dois furos através dos quais se passarão dois arrebites

para a fixação na carapaça do animal. Os furos e a colocação daplaqueta são feitos com o auxílio de furadeira, nas escamas caudais

da carapaça.

O rendimento de carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) foi de

32,83 ± 9,09% em relação ao peso corporal de 2,66 kg obtidos. Isso

difere do citado pelo Sebrae(1995), em que 35% do peso corresponde

ao casco e 65% à carne e que, ao final de 4 anos, a tartaruga estarácom 20 kg, crescimento e rendimento que verificou-se com base em

todos os estudos realizados, praticamente impossível de se obter nas

atuais condições tecnológicas de criação.

Hoje, o tamanho mínimo permitido deve ser esclarecido à

população para uma possível mudança no hábito alimentar, pois a1tartarugada regional refere-se, em geral, a um animal de tamanho

grande.

Após a biometria, pesagem e seleção, cada animal com peso,

para venda, foi marcado pelo queloniocultor com um lacre oficial

(de material plástico), com identificação específica, adquirido no

Ibama-AM para ser fixado no escudo posterior da carapaça

(Figuras 4, 5 e 6).

¹Designação gastronômica para o preparo da tartaruga.

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Figura 4: Tartaruga sendo comercializada com lacre plástico em aquário juntocom peixes regionais (acima) e animal após a colocação de lacre plástico paravenda. Fotos:P.C.M. Andrade.

Figura 5: Lacre plástico para venda de quelônios. Foto: Projeto

Diagnóstico (P.C.M. Andrade).

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Figura 6: Colocação do lacre plástico para a venda de quelônios com perfuraçãoda escama caudal da carapaça com auxílio de furadeira elétrica. Foto: ProjetoDiagnóstico (P.C.M. Andrade).

Após marcados, os animais foram vendidos vivos para umsupermercado local, que exibia os animais ao público em um grandeaquário, com uma placa com o registro do supermercado comocomerciante de produtos da fauna (Portaria Nº 117/97), a origem

dos animais e o número de registro/autorização do criador.Acompanhou-se, ainda, a venda aos consumidores regionais, nopróprio supermercado, que era feita da seguinte forma: oconsumidor escolhia o animal, um atendente o capturava noaquário com um puçá e ele era pesado em uma balança digital quefornecia, imediatamente, uma etiqueta com o preço a ser pago.Então o animal era levado em um carrinho de supermercado para

ser pago no caixa, sempre com o lacre identificador de sua origemlegal.

O comportamento dos animais dentro do aquário, nosupermercado, era bastante agitado, devido, provavelmente, àclimatização interna do supermercado, pois pela observação, anatação era bastante rápida, como se fosse uma forma de“aquecimento” corporal, seguido de algumas mordidas quando os

animais submersos tocavam-se.

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A propaganda não deixou claro que os animais eram

provenientes de criadouro licenciado. Para uma atividade nova, em

termos legais é importante divulgar que os animais são de criadouro

licenciado, para dar suporte à queloniocultura regional. Foi

detectado (durante as observações dos animais no tanque) quealguns clientes no supermercado, e outras pessoas em conversa

pessoal, deduziram, por equívoco, que os animais expostos estavam

liberados para venda como se fossem capturados da natureza, sem

autorização, como ainda ocorre no Estado do Amazonas.

O preço relativo pelo qual foi vendida, inicialmente, no

supermercado, de R$ 18,00 (US$ 6,00) por kg do peso vivo-PV detartaruga se comparado às carnes de peixe (tambaqui, cerca de R$

7,00/kg PV), frango e bovina, foi elevado para um produto

amazônico.

Existe uma tendência para que esse preço diminua com o

aumento do número de animais postos à venda por outros

criadouros licenciados. Caso contrário, o preço cobrado tende acomprometer a venda legal, pois a forma de comercialização para

alguns possíveis compradores torna-se desinteressante pelo fato de

ter que pagar R$ 18,00/kg PV por uma parte do animal que não será

consumida (carapaça e plastrão).

Além disso, existe o problema da concorrência com o animal

de origem ilegal, cujo preço, hoje, está em torno de R$ 300,00

(U$100,00) para um animal com peso médio de 25-30 kg de PV, ou

seja, o produto clandestino está saindo cerca de R$ 10-12,00/kg

de PV (U$3,33-4,00). Muitos queloniocultores já reduziram seu

preço de venda para R$6,00 a R$10,00/kg, ou seja, um preço que

concorre com o produto ilegal. Todavia, os custos médios de

produção no Amazonas giram em torno de R$1,45 a 2,93 (conforme

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foi demonstrado neste capítulo e no capítulo 8, deste livro), isto é,

reduzindo um pouco sua margem de lucro e melhor estratégia de

marketing e venda, os queloniocultores legalizados poderão

facilmente estabelecer preços mais competitivos e desbancar,

definitivamente, o produto ilegal.

A queloniocultura, provavelmente, deverá direcionar os

produtos e subprodutos em termos de qualidade e/ou quantidade,

em função do mercado, pois, historicamente, o hábito alimentar do

consumidor, em relação à tartaruga, refere-se (em geral) ao animal

com aproximadamente 25 kg PV. Sendo necessário, para isso, um

esclarecimento visando uma possível mudança no hábito, assimcomo a forma de venda dos animais, a estrutura de abate, etc.

O empréstimo bancário para a queloniocultura deve ser

estudado em função das características da criação e ao período em

que atividade trará resposta do investimento, pois a linha de crédito

é um dos suportes para o desenvolvimento dessa atividade.

Durante a fase de comercialização, alguns animaisdeixaram de apresentar, em uma das placas marginais, na parte

posterior da carapaça, o lacre plástico identificando que eram

provenientes de criadouro licenciado. Eles foram quebrados pelas1patas posteriores dos animais (Kohashi ).

Recomenda-se que os animais sejam inspecionados para

consumo humano por terem sido encontrados, na amostra deanimais analisados para venda, endoparasitas.

Observou-se que os machos (comercializados) de P. expansa 

apresentam a cauda mais comprida e espessa, a abertura “cloacal”

¹ Kohashi, Moysés. Administrador. Informação pessoal.

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espessa, a abertura “cloacal” mais próxima da extremidade final da

cauda e sutura média no plastrão em formato em “U” e o tamanho

corporal menor se comparado à fêmea. A fêmea tem a cauda mais

curta e menos espessa em relação ao macho, a abertura “cloacal”

localiza-se medianamente na extremidade da cauda e a base e asutura médio-ventral no plastrão da fêmea tem formato em “V” e o

tamanho corporal é maior do que o macho. Antes de atingir de 2 a 3

anos de idade observou-se que a sutura médio-ventral no plastrão,

no macho, apresenta-se em “V” e na fêmea expressa-se em “U”.

Estes indicadores invertem-se em animais de 2,5 ± 0,71 anos de

idade.

Foi aplicado um questionário aos compradores dos

animais, no supermercado, visando saber qual a opinião do público

em relação ao sabor do animal de cativeiro, o seu tamanho, e o preço

por kg do peso vivo, forma de preparo, qual a freqüência de

consumir tartaruga, etc.

10.3.1 ANÁLISE DE CARCAÇA DOS ANIMAISCOMERCIALIZADOS

Os animais apresentaram, em média, os seguintes valores:

Idade: 5,5 anos

Comprimento da carapaça: 29,56 cm

Largura da carapaça: 24,85 cm

Altura: 12,8 cm

Peso: 2,66 kg

Porcentagem Sexual: macho 55%; fêmea 45 %

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Foram capturados 1.172 animais, sendo realizada a

biometria em 884 animais. Do total, 65% apresentavam-se abaixo do

peso mínimo para venda, ou seja: 1,5 kg PV. A distribuição em

categoria de peso pode ser observada na Figura 7.

 

Distribuição do peso em relação ao número

de indivíduos

0

100

200

300

400

500

600

700

0 -1 kg 1 - 5 kg 5 - 10

kg

10 - 15

kg

20 kg

Peso ( kg )

       I     n       d       i     v       í       d     u     o     s

No. de Indivíduos

Figura 7. Distribuição, em peso, dos animais analisados pelo Ibama

para venda. (Duarte, 1998).

Quanto aos parâmetros de carcaça dos animais, foram

abatidos 5 de diferentes categorias, que apresentaram os valores de

rendimento percentual em relação ao peso corporal em jejum:

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Sangue = 3,66 ± 0,79%

Carapaça = 23,11 ± 0,82%

Plastrão = 10,54 ± 1,17%

Cabeça = 3,94 ± 0,78%

Carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) = 32,83 ± 9,09%

Vísceras = 7,96 ± 1,31%

Fígado = 1,48 ± 0,29%

Coração = 0,16 ± 0,03%

Quartos dianteiros = 15,24 ± 4,15%

Quartos traseiros = 17,56 ± 5,01%

Rendimento de partes comestíveis (sangue, carne, fígado,

rins, pulmão, coração) = 39,62 ± 9,63%.

Animais de maior tamanho e peso apresentam maior

rendimento de carcaça e partes comestíveis do que animais de

categorias menores (maior porcentagem de casco). Este fator pode

ser direcionado de acordo com o mercado consumidor.

Em alguns animais foram encontrados endoparasitas ao

longo do trato gastrointestinal. Eles foram coletados e fixados em

lâminas, para posterior identificação. Foram observadosnematelmintos (níveis elevados) principalmente no estômago, além

de protozoários e bactérias. Não foram encontrados parasitas

sangüíneos e nem sanguessugas.

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Foi verificado o prolapso retal em alguns machos de P.

expansa separados para a venda (Figura 8). É possível que isso

esteja associado à traumatismo causado pela aglomeração dos

animais em ambiente seco, por tempo prolongado. A reversão

ocorreu em 3 dias. Este comportamento foi observado por Duarte(1998) em alguns filhotes recém-nascidos, com 4 dias de idade (não

sexados) na Reserva Biológica do Abufari, em Tapauá, Amazonas.

Ele acredita ter sido ocasionado pelo estresse ao manejo de captura

e transporte, pelo atrito da cauda dos animais com superfícies

rígidas, pela mudança de ambiente, ou por agentes parasitológicos

que podem provocar mudança no sistema fisiológico do animal.

Figura 8: Prolapso retal verificado em alguns machos depara venda. Fotos:Duarte, 1998;Ikaro,2006.

A expectativa com a criação licenciada e com o mercado pelos

queloniocultores, em geral, é que haja uma demanda significativa

dos produtos e subprodutos oriundos desses quelônios legalizados,

através de um monitoramento envolvendo os queloniocultores,

instituições de pesquisas, extensão rural, vigilância sanitária,

consumidores, mercado, etc., visando propiciar o desenvolvimento

P. expansa separados

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da criação de quelônios, em cativeiro, na região.

Espera-se, também, a efetiva e necessária organização da

cadeia produtiva, principalmente, através dos itens: a) colocação do

produto no mercado; b) propaganda e marketing; c) construção deabatedouro licenciado pela inspeção federal; d) definição das formas

de comercialização e abate; e) agroindústria agregada ao abate para

fabricação de cosméticos, farmacoterápicos e peças de artesanato.

 Tudo isto, entretanto, deverá estar associado à manifestação real de

interesse e ao firme propósito dos possíveis órgãos fomentadores do

setor primário no Estado (Governo, Basa, Suframa-Distrito

Agropecuário). Hoje, podemos dizer que já existe uma tecnologia deprodução e, principalmente, um volume muito grande de produto

para ser colocado no mercado (estima-se hoje, no Amazonas, cerca

de 600.000 animais em cativeiro, dos quais 100.000 já estariam em

ponto de abate), faltando acertar detalhes da cadeia para que a

atividade rentável e viável seja uma alternativa produtiva para o

Norte do país.

Em 2005, os criadores do Amazonas, conseguiram vencerum dos entraves na cadeia produtiva que era, justamente, a

comercialização, direta e em escala, de seu produto. Em função da

organização dos criadores em uma associação, e do fomento da

agência de agronegócios do Estado, a maior parte do plantel

produtivo dos criadores pioneiros (1995 e 1996) já foi comercializada

com o animal vivo em feiras, em 2005 e 2006, garantindo o retorno do

investimento com alta rentabilidade (375,4%), em que o custo deprodução médio foi de R$2,93/kg em peso vivo e receita com a venda

de R$11,00/kg. A média de peso dos animais comercializados subiu

para R$7,8±5,5 kg, com animais de 5 a 7 anos, o que demonstra um

avanço, também, na adoção das técnicas de manejo e alimentação

disseminadas pela Ufam desde 1997.

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Capítulo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia

(Podocnemis expansa ): alternativa ecológica,1técnica e econômica ao agronegócio amazônico

2Luiz Antelmo Silva Melo3Antônio Cláudio Uchôa Izel4Maria das Graça Hossaine-Lima5Agenor Vicente da Silva6Paulo Cesar Machado Andrade

Introdução

O hábito alimentar arraigado de consumir carnes de animais

silvestres nativos da região é inerente ao amazônida, pois seus

ancestrais já o praticavam. Dentre as espécies mais apreciadas por

essa população, destaca-se a tartaruga-da-amazônia, devido às

excelentes características organolépticas de suas partes

comestíveis, o que levou a espécie ao risco de extinção.

Considerando a conhecida dificuldade de mudança de hábito

alimentar de uma população, assim como a necessidade de

preservação da espécie e de recuperação do estoque natural, pode-se

afirmar que a criação comercial de tartaruga é uma alternativa

potencial para atender diversas situações.

¹ Os dados apresentados neste trabalho são oriundos da publicação Criacão de

tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa). 14 p., 2003. (Embrapa, Amazônia

Ocidental. Documentos, 26).2Engenheiro-Agrônomo M.Sc. – Embrapa Amazônia Ocidental.

3Zootecnista M.Sc. – Embrapa Amazônia Ocidental.Bióloga M.Sc. – Seduc/AM.Biólogo B.Sc. – Ibama/AM.Engenheiro-Agrônomo M.Sc. – Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

4

4

5

6

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O agronegócio amazônico, que apresenta reduzidas opções

de sistemas de produção animal sustentáveis, tem, com este

trabalho realizado pela Embrapa Amazônia Ocidental e seus

parceiros, ampliado o seu leque de alternativas.

Objetivos

Disponibilizar um sistema de produção de tartaruga-da-

amazônia técnica e economicamente viável, como uma nova opção

ao agronegócio amazônico.

Disponibilizar informações técnicas que, entre outros

fatores, permitam aumentar a oferta de tartaruga para atender àdemanda existente, diminuindo a pressão do extrativismo e

proporcionando o estabelecimento de políticas ambientais voltadas

para a conservação e a recuperação do estoque natural.

Materiais e métodos

Os estudos foram realizados em propriedade particular

parceira da Embrapa Amazônia Ocidental, para a realização de

atividades de pesquisa e desenvolvimento, desde 1994, localizada no

município de Rio Preto da Eva-AM, cuja atividade principal é a

piscicultura intensiva. A implantação da Unidade de Observação

(UO) foi em 1/7/1999 e o período de coleta de dados foi de 45 meses,2utilizando um viveiro escavado em argila com área de 1.792 m com

cerca de contenção (distante 2 metros do corpo d'água), de tela(sarão), com altura de 80 cm e enterrada 20 cm. O viveiro recebe

água por gravidade originária de igarapé de água preta, ácida (pH 5),

que apresenta baixa fertilidade natural. A renovação diária de água

no viveiro é da ordem de 2,5%.

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Solo e clima

As condições edafoclimáticas predominantes na área são:

latossolo amarelo, textura muito argilosa, precipitação

pluviométrica anual de 2.400 mm, média de umidade relativa do arde 88%, temperatura média anual de 26,5°C, média diária de brilho

solar de 5,4 horas, velocidade média do vento de 0,7 m/s e altitude

de 50 m acima do nível do mar.

 Tartarugas

Foram utilizadas, na fase de engorda, 896 tartarugasoriundas da Reserva Biológica do Abufari-Tapauá/AM. As

tartarugas passaram por um período pré-experimental de dez meses

na Embrapa Amazônia Ocidental, sendo transferidas para dar início

à Unidade de Observação. Foram coletados os seguintes dados

biométricos: 1) carapaça: comprimento: 13,30 cm, 12,50 cm de

largura; 2) plastrão: 10,15 cm de comprimento e 10,10 cm de

largura; 3) peso vivo médio: 234 g.

Preparo e povoamento do viveiro

Após uma semana de exposição aos raios solares, aconteceu

a limpeza do fundo e das laterais do viveiro, deixando-o livre de

restos vegetais, materiais de construção, vidros, plásticos etc. Emseguida, realizou-se o abastecimento do viveiro e o seu povoamento,

obedecendo à densidade de 1 tartaruga/2m² de área inundada

(5.000 tartarugas/ha).

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Manejo alimentar

As tartarugas, nos primeiros treze meses de cultivo, foram

alimentadas duas vezes ao dia, às 11:00 e às 15:00h, sempre que

possível com ração comercial extrusada, recomendada paraalimentação de peixes onívoros, contendo 34% de proteína bruta e a

taxa de alimentação diária, nesse período, foi de no máximo 1,5% da

biomassa inicial do viveiro. Na segunda fase (13 a 45 meses), as

tartarugas foram alimentadas uma única vez ao dia, sempre às 15

horas, com dieta à base de ração extrusada contendo 24% de PB e a

taxa diária de alimentação de, no máximo, 1,0% da biomassa do

viveiro, observada no início dessa fase.

O fornecimento diário de rações obedeceu ao consumo

espontâneo das tartarugas, limitando-se, no máximo, às taxas

citadas anteriormente. Observou-se que nos dias nublados e de

temperaturas mais amenas as tartarugas ingeriam menores

quantidades de ração.

Biometrias

Durante todo o cultivo (45 meses), a cada período de 4 meses

foram realizadas avaliações biométricas utilizando-se uma amostra

de 10% do lote, com o objetivo de avaliar o desenvolvimento corporal,

ganho de peso, conversão alimentar do período e a presença de

ectoparasitas.

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Determinação do sexo

A determinação do sexo foi realizada de acordo com a

metodologia descrita por Ibama (2001):

· Macho: apresenta a cauda mais espessa e comprida, com a

cloaca mais próxima da extremidade, e tamanho corporal

menor quando comparado ao da fêmea de mesma idade.

· Fêmea: tem a cauda mais curta e menos espessa enquanto a

cloaca se localiza intermediariamente entre a base e a

extremidade da cauda.

Análise de viabilidade econômica

A análise de viabilidade econômica seguiu a metodologia

adotada por Martin et al. (1995), Scorvo Filho et al. (1998) e Melo et

al. (2001), na determinação de custos de produção, rendas líquidas,receitas, taxas internas de retorno (TIRs) e tempo de recuperação de

capital (TRC), para diferentes sistemas de produção e preços de

venda.

Resultados

Pela amplitude temporal do trabalho (45 meses) e o seu

pioneirismo, torna-se impraticável a comparação dos resultados

obtidos com os disponíveis na literatura para a mesma espécie, visto

que eles foram realizados sob condições de manejo alimentar,

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instalações e tempo de duração completamente diferentes aos deste

estudo. Entretanto, as comparações serão realizadas com

resultados obtidos em cultivos comerciais, acompanhados pelo

Ibama.

Os resultados observados sobre o desempenho zootécnicosão apresentados na Tabela 1.

 Tabela 1: Desempenho zootécnico de tartaruga, após 45 meses de cultivo. 

Início12 meses24 meses36 meses45 meses

Pesomédio

(g)

2341.8533.6096.3388.480

Biomassainicial(kg)

209,66209,66

1.658,443.230,065.690,41

Biomassafinal(kg)

---1658,443230,065690,417589,15

Ganho deBiomassa

(kg)

---1.448,783.020,405.480,757.379,90

Produção/Unidadede Área(kg/ha)

---8.08516.75530.25041.230

RaçãoConsumida

(kg)

---3.1886.83413.08318.875

ConversãoAlimenar

---2,202,262,392,56

Tempo deCultivo(meses)

Comprimento(cm)

13,3023,1537,4842,0044,00

Largura(cm)

12,5020,3031,9235,0037,50

Carapaça

Esses resultados foram consideravelmente superioresquando cotejados com os obtidos da análise dos cultivos comerciais,

registrados no Relatório Final 98-2000 do projeto: Diagnóstico da

Criação de Animais Silvestres no Estado do Amazonas – 

Ufam/Ibama, conforme a Tabela 2.

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 Tabela 2. Parâmetros zootécnicos de tartarugas de diferentes cultivos.

Parâmetros

Tempo de cultivo (em meses)

Densidade de cultivo (tartaruga/ha)Conversão alimentarComprimento de carapaça (cm)Largura de carapaça (cm)Peso médio (g)Produção/unidade de área (kg/ha)

Trabalho

45

5.0002,56:144,0037,508.48041.230

Cultivos Comerciais

66

5.00014:129,5624,852.66013.300

Observou-se também, após sexagem, que 17,41% dos

exemplares eram machos e 82,59%, fêmeas; os pesos médios para

machos e fêmeas foram 4,63 e 8,84 kg, respectivamente. Diantedessa constatação, o interessante, quando possível, seria realizar a

sexagem antes do povoamento do viveiro de engorda, optando-se

pela criação de fêmeas. Neste caso, os machos deveriam ser

destinados à reprodução ou ao comércio ornamental.

A análise dos dados econômicos deve ser focada no mercado

existente para tartaruga, mesmo que ilegal, e no risco inerente à

atividade, comum a todas as outras do ramo zootécnico, quando

praticadas em cultivos de longa duração. Atualmente, o mercado

demanda tartarugas vivas com peso vivo acima de 15 kg

(preferencialmente) e paga de R$12,00 a R$15,00 o quilo,

dependendo da época do ano. Quanto aos riscos, aconselha-se não

estender por muitos anos o tempo de cultivo para que o produtor não

seja surpreendido por eventualidades, tais como: parasitas,

doenças, fugas, roubo, etc. Além disso, em qualquer atividade

econômica, quanto menor o tempo do giro do capital empregado

mais saudável é o negócio.

443

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A duração do ciclo de cultivo deve ser aquela em que se

produza a tartaruga com o maior ganho de peso, pelo menor custo

total, para a obtenção de maior renda líquida por quilo de tartaruga

produzida. Quanto ao preço de venda, maior fator de competição de

mercado, o da tartaruga produzida em cativeiro deve ser bem inferioraos praticados no mercado marginal, para que possa haver

competitividade.

Para fugir da comparação entre o tamanho de tartarugas

provenientes do comércio marginal e de cativeiro, estas,

preferencialmente, devem ser comercializadas abatidas, com cortes

selecionados, permitindo agregação de valor ao produto.

Os investimentos fixos para a criação de tartarugas são da

ordem de R$25.000,00/ha, conforme a Tabela 3.

 Tabela 3. Investimentos fixos.

Discriminação

Const rução Civi l Movimentação de terraMongeCerca de proteção

Total

Unidade

m³um

---

Quantidade

10.0001

400

---

Valor Unitário(R$)

2,151.500,00

5,00

---

Valor Total(R$)

21,500,001.500,002.000,00

25.000,00

As tartarugas produzidas com 36 meses de cultivo

apresentaram melhores resultados quanto ao custo total de

produção, renda líquida e lucratividade, se comparadas com as

produzidas nos demais períodos de cultivo estudados. A

rentabilidade, mesmo inferior à alcançada com a produção de

tartaruga após 45 meses de cultivo, é excelente, pois para cada real

aplicado na produção de 1,0 kg de peso vivo houve um ganho de

R$1,54, conforme a Tabela 4.

444

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O capital de giro necessário para a condução do criatório em

quaisquer dos períodos de cultivo é apresentado na Tabela 4.

 Tabela 4. Parâmetros econômicos após 45 meses de cultivo de tartaruga, ao

preço médio de venda de R$6,00.

Discriminação

Rendimento (kg/ha)Preço médio de venda (R$/kg)Custo Operacional Efetivo (R$/kg)Custo Operacional Total (R$/kg)Custo Total de produção (R$/kg)Renda Líquida I (R$/kg)

Renda Líquida II (R$/kg)Renda Líquida III (R$/kg)*Rentabilidade (%)**Lucratividade (%)Capital de Giro/Custeio (R$/ha) (1X3)

12 meses

8.0856,003,573,793,992,43

2,212,01

68,0636,83

28.863,00

24 meses

16.7556,002,662,963,233,34

3,042,77

125,5650,67

44.568,00

36 meses

30.2506,002,362,722,943,64

3,283,06

154,2454,66

71.246,00

45 meses

41.2306,002,342,823,043,66

3,182,96

156,4153,00

96.478,00

Períodos de Cultivo

12345

(2 - 3)

(2 - 4)(2 - 5)

*Rentabilidade = renda líquida I / custo operacional efetivo.**Lucratividade = renda líquida II / preço médio de venda.

A Tabela 5 mostra a composição percentual do custooperacional total para diferentes períodos de cultivo de tartaruga,

em área de 1 hectare, com densidade de 5 mil unidades. Ressalta-se

que em todos os períodos estudados o item ração desponta como o de

maior relevância, o que é comum em todos os criatórios de

monogástricos.

445

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 Tabela 5. Composição do custo operacional total da criação de tartaruga sobdiferentes ciclos de produção.

Discriminação

FilhotesRaçãoMão-de-obraEncargos sociaisAdministração e logísticaManutençãoDepreciaçãoJuros de custeioCusto operacional total

12 meses(%)

32,6153,960,880,684,491,631,634,12100

20,0461,521,080,844,282,022,028,20100

12,1666,750,980,764,141,841,84

11,53100

8,6167,020,870,674,141,661,66

15,37100

24 meses

(%)

36 meses

(%)

45 meses

(%)

Períodos de Cultivo

Na Tabela 6, são apresentadas as taxas internas de retorno (TIRs) e

tempos de recuperação do capital (TRCs).

Foi considerada como taxa de atratividade a de 15% a.a., que

seria um excelente ganho líquido (abatidos os impostos e taxas) para

aplicações no mercado de capitais. Para que o investidor faça a

opção de aplicar no agronegócio, a TIR a ser obtida deverá ser duas

vezes superior à taxa de atratividade, no mínimo.

446

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 Tabela 6. Taxa Interna de Retorno (TIR) e Tempo de Recuperação de Capital

(TRC).

Preço de

venda(R$/kg)

4,005,006,007,008,00

TIR(%)

---10335984

TCR(ano)

---8643

TIR(%)

1535526782

TCR(ano)

104422

TIR(%)

 2437496069

TCR(ano)

63333

TIR(%)

920293744

TCR(ano)

84444

12 meses 24 meses 36 meses 45 meses

Períodos de Cultivo

No teste de sensibilidade a diferentes preços de venda, que dá

segurança e poder de barganha ao produtor para enfrentar

quaisquer oscilações de mercado, observa-se que o cultivo realizado

em um período de 36 meses apresentou melhor desempenho que os

demais, com TIRs acima da taxa de atratividade, a partir de

R$4,00/kg, como preço de venda. Caso o criador venda o seu

produto a R$4,00 o quilo, em dois cultivos (6 anos), ele recupera ocapital investido. A partir de R$5,00/kg, o tempo de recuperação de

capital será de 3 anos.

447

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Conclusão

A criação de tartaruga-da-amazônia, em escala comercial,com ciclo de 36 meses é uma atividade técnica e economicamenteviável e constitui-se em uma nova opção ao agronegócio amazônico.

O cultivo de tartaruga-da-amazônia é um dos maispromissores instrumentos para a sustentação de políticasambientais voltadas à preservação e ao restabelecimento deestoques naturais da espécie.

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Capítulo 14: Abate experimental da tartaruga-

da-amazônia (Podocnemis expansa ) criada em

cativeiro

 Alexander Dornelles & Leonardo Quintanilha

 Trabalho requisitado pelo Centro Nacional de Manejo e Conservação

de Répteis e Anfíbios (RAN/Ibama-Goiânia), realizado pela empresa

Xamã Veterinária Ltda.

A tartaruga-da-amazônia tem uma carne muito apreciada naregião Norte, mas alcança o mercado das demais regiões. A produção

da tartaruga-da-amazônia, bem como dos demais animais silvestres

é regulamentada pelo Ibama.

O Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios

(RAN/Ibama), com o objetivo de gerar renda aos produtores rurais e

promover a conservação da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis

expansa), vem incentivando e dando diretrizes para uma exploração

comercial visando ao atendimento desses mercados.

O primeiro criatório comercial de tartaruga-da-amazônia foi

registrado em 1993 no estado do Amazonas mas, somente em 1995,

os primeiros animais atingiram o peso permitido para o abate

(1,5kg), sendo comercializados vivos e abatidos, sem inspeção

veterinária. Somente no final de 2000, alguns animais foramabatidos experimentalmente no matadouro de pequenos e médios

animais no município de Iguape, no interior de São Paulo.

A exploração comercial da tartaruga-da-amazônia, dentro da

atual visão do agronegócio, deve ser vista como uma cadeia

produtiva. Todos os elos dessa cadeia devem estar organizados e

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Até recentemente, a experiência científica de abate se

resumia ao sacrifício de exemplares de porte maior, retirados da

natureza. A criação comercial foi um caminho obscuro para os

pioneiros. Não era conhecida a forma de se manejar em cativeiro e a

velocidade de crescimento, sem idéia do tempo necessário para queos animais atingissem o peso para abate (1,5kg).

Os primeiros criadouros comerciais de tartaruga-da-

amazônia começaram a produzir e alguns animais atingiram o peso

de abate. A partir daí, ficou evidente a inexistência de uma

metodologia de abate que atendesse a todos os critérios higiênico-

sanitários e tecnológicos previstos na legislação.

Dessa forma, este trabalho teve por objetivo estudar e

estabelecer parâmetros para o abate visando atender aos requisitos

tecnológicos e higiênico-sanitários para um aproveitamento

racional e econômico da carne de tartaruga-da-amazônia para o

consumo humano.

Os trabalhos para a definição dos procedimentos básicos deabate foram realizados durante o período compreendido entre os

dias 23 de outubro e 11 de dezembro de 2002. Foram abatidos um

total de 40 animais com o objetivo de estabelecer as etapas,

propondo uma metodologia de abate para a espécie Podocnemis

expansa (tartaruga-da-amazônia).

Os 40 animais foram divididos em seis episódios de abates

experimentais realizados no entreposto de pescados da empresaRander, localizada no Gama/DF e registrada sob o SIF nº 2840 na

Delegacia Federal de Agricultura do DF, do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O referido estabelecimento

destina-se, principalmente, ao abate da rã-touro-gigante (Rana

catesbeiana) para a obtenção de carne congelada.

450

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Os 40 animais foram doados por três criadouros comerciais,

dois do estado de Goiás e um do Pará, ambos registrados e

autorizados pelo Centro de Conservação e Manejo de Répteis e

Anfíbios (RAN/Ibama).

14.1 Considerações gerais

O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de

Produtos de Origem Animal (Riispoa) classifica os quelônios, na

denominação genérica de pescados, todavia, não existe uma

regulamentação específica para quelônios. Esse fato tornou o abate

experimental um tanto quanto empírico, pois não havia informações

preliminares que pudessem direcionar os primeiros passos doabate.

Além disso, os quelônios são répteis singulares, com

características anatômicas e fisiológicas particulares que indicam a

necessidade de experimentações e estudos específicos para a

definição de uma metodologia de abate.

A inexistência de mecanismos intrínsecos de regulação da

temperatura corporal (heterotermia), a presença de esqueleto

externo (carapaça e plastrão) e o baixo metabolismo basal são

alguns dos pontos que influenciam e exigem diferenciação nos

procedimentos de abate.

Entre as espécies de pescados utilizadas comercialmente

temos a rã-touro-gigante (Rana catesbeiana) que foi a espécie quemais se assemelhou biologicamente à tartaruga-da-amazônia. Por

isso, os padrões microbiológicos usados neste trabalho foram os

mesmos utilizados para a carne de rã, pelo Codex Alimentarius.

Devido às características do estabelecimento industrial em

que foram realizados os trabalhos de abate experimental, o produto

final obtido foi a carne de tartaruga-da-amazônia congelada.

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As análises microbiológicas foram realizadas pelo

Laboratório de Higiene dos Alimentos da Faculdade de Ciências da

Saúde da Universidade de Brasília, e as análises físico-químicas pelo

Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária daUniversidade Federal de Goiás.

  Também foram realizadas avaliações parasitológicas e

histopatológicas pelo Departamento de Medicina Veterinária da

Upis – Faculdades Integradas do DF.

Os trabalhos foram acompanhados por médicos-veterinários

do Serviço de Inspeção Federal do Setor de Pescados doDepartamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

14.2 Descrição das instalações, equipamentos e

utensílios

Uma proposta de estabelecimento industrial destinado ao

abate e ao processamento de tartaruga-da-amazônia deve possuiras principais dependências exigidas para o abate das demais

espécies utilizadas na alimentação humana, visando ao

aproveitamento sustentável e econômico dos produtos e

subprodutos oriundos do abate. As dependências exigidas são:

I - Área externa: próxima ao abatedouro, devendo estar, no

mínimo, a 10 metros de distância do prédio principal.

¹ É um código internacional de alimentos coordenado por comissões da Food andAgriculture Organization (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS).

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1) Box de espera ou descanso: destinado a receber os

animais, provenientes dos criadouros, para um período de

descanso.2) Box de observação: destinado a receber os animais que

apresentaram alterações clínicas nos boxes de espera.3) Departamento de necropsia:

3.1 – Sala de necropsia: destinada à realização de necropsia em

animais que chegarem mortos, que morrerem nos boxes de espera

ou que apresentarem alterações clínico-patológicas que justifiquem

tais medidas.

3.2 - Forno crematório: destinado à cremação dos despojos animais

que foram a óbito ou que apresentem doenças infecto-contagiosasque representem grave perigo à saúde humana ou animal.

453

Figura 1: Vista de um box de espera, vazio, com piso revestido em epóxi.

4) Dependências para a elaboração de subprodutos.5) Dependências para o tratamento dos efluentes: conforme

legislação específica (ambiental e sanitária, federal e estaduais).

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II – Prédio principal: para o desenvolvimento das operações de abate,

propriamente ditas, que devem possuir gabinetes de higienização

(botas, braços e antebraços) nos locais de entrada das áreas de

processamento.

O prédio será composto pelas seguintes áreas ou salas:

1)Área suja: onde se realizam as etapas de pré-lavagem,

insensibilização, sangria e serragem das pontes (Figura 2).

Figura 2: Vista da área suja. Passagem do trilho da área suja para a área limpa.

2) Área limpa: onde se realizam as etapas de retirada do plastrão,

evisceração, esfola, toalete, pré-lavagem, retirada da carapaça,

embalagem e congelamento. Deve existir uma área equivalente a 5%

dessa área, para o Departamento de Inspeção Final (DIF), para a

avaliação minuciosa das alterações encontradas durante as

operações de abate.

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3) Área de lavagem e guarda de caixas plásticas.

4)Área de lavagem e guarda de utensílios.

5)Área de armazenamento de embalagens.

6)Área de expedição: adjacente à estocagem, com porta de

saída para o exterior.

7)Área de produção e armazenamento do gelo: adjacente à

área limpa.

8)Área de estocagem: câmaras de congelamento.

9)Área para recebimento de pele, carapaça, plastrão e

resíduos.

10) Salas de máquinas: unidade de produção de frio

industrial.

III – Prédio administrativo:

1) Escritório.

2) Banheiros: masculinos e femininos.

3) Vestiários: masculinos e femininos.

4) Sede do Serviço de Inspeção: municipal, estadual ou

federal.

5) Lavanderia: higienização dos uniformes dos

manipuladores.

6) Almoxarifado.

 Todas as edificações destinadas à elaboração de produtos e

subprodutos comestíveis devem possuir, nos locais de acesso de

pessoal, gabinetes de higienização. Os gabinetes de higienização

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devem possuir boxes metálicos profundos para a higienização dos

braços e dos antebraços, bem como pedilúvio e lava-botas. Todas as

dependências que realizarem manipulação também devem possuir

boxes metálicos para a higienização de braços, antebraços e de

alguns utensílios.

O estabelecimento deve possuir localização estratégica

distante de quaisquer fontes contaminantes que possam

comprometer a qualidade dos produtos. Neste caso, o

estabelecimento deve seguir as boas práticas de fabricação,2conforme a Portaria Nº 368/98 da SDA/Mapa .

Os equipamentos e os utensílios também deverão seguir a

portaria citada no que se refere à construção, manutenção e higiene.

Os trilhos devem ter aproximadamente 2,00 m de altura com

nora e ganchos metálicos resistentes para a fixação dos animais

durante as operações. Devem ser utilizados equipamentos para a

produção de gelo e calor, serra para a secção das pontes, compressor

para a produção de jatos de água, termômetros, cronômetros, mesasmetálicas com fixadores para os animais, durante as serragens,

mesas para pesagens, mesa para embalagem, forno crematório,

mesa para necropsia, esterilizadores (para serras, facas, fuzis,

tesouras e trinchantes), balanças, embaladoras, seladoras e

climatizadores de ambiente, paletes para caixas e câmaras de

estocagem.

2 Disponível em: http:// www.agricultura.gov.br.html.

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Figura 3: Nora automática com ganchos sobre a bancada.

Os utensílios deverão ser de materiais plásticos resistentes

ou metálicos (aço inoxidável), de fácil higienização, para evitar as

contaminações cruzadas. Os principais são: facas exclusivas para

cada área ou operação, fuzis ou chairas, tesouras, trinchantes,

cestas ou caixas metálicas e monoblocos plásticos brancos e

vermelhos.

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O Departamento de Inspeção Final bem como o

Departamento de Necropsias devem ser providos de mesas e

utensílios necessários (facas, fuzis, termômetros, tesouras de ponta

romba, frascos para coleta de material, etc.) aos trabalhos.

  Todos os manipuladores deverão estar providos de dois

conjuntos de jalecos brancos, duas calças brancas, dois pares de

botas brancas de borracha, dois gorros com máscaras que devem

ser higienizadas diariamente em lavanderias, para evitar

contaminações durante as diversas operações.

14.3 Inspeção

A inspeção corresponde às atividades realizadas pelo serviço

veterinário oficial, que poderá ser municipal (Serviço de Inspeção

Municipal – SIM), estadual (Serviço de Inspeção Estadual – SIE) e

federal (Serviço de Inspeção Federal – SIF) que têm como missão

garantir que o produto de origem animal seja sadio, seguro e

confiável para o consumidor.

A atuação dos serviços de inspeção é fundamentada emcritérios higiênico-sanitários e tecnológicos, a fim de que a indústria

possa ofertar um produto adequado ao consumo. Entretanto, não é

responsabilidade exclusiva dos serviços de inspeção a garantia da

qualidade dos produtos. As empresas devem estabelecer seus

próprios sistemas de controle e garantia da qualidade, que devem

ser coordenados por profissionais capacitados à utilização das3principais ferramentas . Dessa forma, todos os empreendedores

interessados em desenvolver a atividade de abate de quelônios

deverão seguir as orientações dos serviços veterinários oficiais,

desde a elaboração dos projetos até o seu funcionamento.

3Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Padrão de Higiene Operacional(PPHO) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).

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As atividades de inspeção deverão ser realizadas de forma

semelhante aos procedimentos adotados para as espécies

genericamente denominadas pescados e quando aplicável às

demais espécies animais.

A inspeção se divide em duas grandes etapas chamadas de

inspeção ante-morteme inspeção post-mortem.

A inspeção ante-mortemcompreende os trabalhos realizados

na recepção dos animais, na verificação da documentação, na

avaliação dos animais nos boxes de espera e observação, no

encaminhamento dos eventuais animais ao departamento de

necropsia, na realização das necropsias e no encaminhamento dosmateriais para avaliação laboratorial.

A inspeção post-mortem compreende todos os trabalhos

realizados antes, durante e após as operações realizadas na área

suja (pré-lavagem, insensibilização, sangria, lavagem e serragem

das pontes), na área limpa (retirada do plastrão, evisceração, esfola,

toalete, pré-lavagem, retirada da carapaça, embalagem econgelamento) e nas demais áreas.

A visualização macroscópica das partes externas, internas,

bem como suas vísceras e órgãos celomáticos, durante a

evisceração, será fundamental para a verificação das possíveis

alterações patológicas que possam comprometer a qualidade do

produto final. É possível, a critério do médico-veterinário oficial,

após uma avaliação minuciosa no DIF, liberar, aproveitarcondicionalmente ou rejeitar as partes, o todo ou até mesmo um lote

de animais que apresentem alterações que impliquem em algum

prejuízo aos consumidores. Além disso, os veterinários oficiais

poderão auditar os sistemas de controle e garantia de qualidade,

implantados pelas empresas processadoras.

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14.4 Operações pré-abate

As operações pré-abate acontecem desde os cuidados na

aquisição dos insumos, criação, transporte, recepção no

estabelecimento, encaminhamento para os boxes de espera oudescanso, até o transporte para a edificação de abate. Assim sendo,

descreveremos os principais cuidados realizados durante os

trabalhos experimentais que foram e/ou devem ser adotados

durante o período de pré-abate.

CRIADOURO – Os animais foram criados em conformidade à

regulamentação específica. Os criadouros estão estabelecidos em

ambientes que não possuam resíduos de contaminantes ambientais(pesticidas e resíduos de agrotóxicos) que constituam risco à saúde

dos animais. Os ingredientes e as rações usadas na alimentação dos

animais devem ser elaboradas e armazenadas de forma a minimizar

os riscos para a saúde animal. As drogas veterinárias utilizadas

durante o período de criação devem respeitar as doses e os períodos

de tratamento preconizados, bem como o prazo de carência

específico para o aproveitamento humano dos produtos animais. Osanimais somente podem ser encaminhados ao abatedouro quando

apresentarem o peso vivo igual ou superior a 1,5 kg. Todos os

animais destinados ao abatedouro deverão proceder de criadouros5registrados e autorizados pelo RAN/Ibama .

 TRANSPORTE – Os animais foram acondicionados em

recipientes plásticos atóxicos, previamente higienizados, semqualquer tipo de contaminante, em condições de temperatura e de

umidade medianas.

Conforme a Portaria nº 142/92 de 30 de dezembro de 1992 do Ibama/MMA.5

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O transporte do criadouro ao abatedouro poderá ser

terrestre, aéreo ou fluvial, mas deve ser conduzido de maneira a

minimizar o estresse aos animais. Para o transporte, os animais

deverão possuir a autorização do Ibama.

RECEPÇÃO   – Os animais foram recepcionados no abatedouro,

sendo realizados os procedimentos para a avaliação geral. Também

foi verificada a documentação do Ibama, sendo feito o

encaminhamento dos animais para os boxes de espera ou descanso.

DESCANSO – Os animais permaneceram nos boxes de espera ou6descanso do abatedouro por um período específico . Os currais ou

boxes de espera devem ter água clorada corrente, a 5 (cinco) ppm de

cloro residual livre, para reduzir a carga de contaminantes e7estimular a defecação .

14.5 Elaboração do fluxograma de processo

Inicialmente, o fluxograma foi estabelecido com base na

metodologia de abate usada atualmente por alguns

estabelecimentos que realizam abate para fins comerciais. Durante

os trabalhos realizados, algumas etapas foram modificadas e/ou

incluídas no processo. Entretanto, ainda há a necessidade de

utilizar métodos de validação dessas etapas aqui descritas.

A proposta de fluxograma foi realizada com o objetivo de

obter a carne de tartaruga-da-amazônia embalada e congelada com

as devidas características das instalações do estabelecimento ondeforam realizados os trabalhos experimentais.

Os trabalhos realizados não permitiram estabelecer o período de descanso adequadopara essa espécie. As peculiaridades fisiológicas dessa espécie deverão ser maisestudadas para a obtenção dos resultados desejados nessa etapa.Como ocorre nas rãs, observamos que a presença de água corrente estimula a defecação

das tartarugas.

6

7

461

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 RECEPÇÃO

DESCANSO

PRÉ-LAVAGEM 

INSENSIBILIZAÇÃO 

SANGRIA

LAVAGEM

SERRAGEM DAS PONTES

RETIRADA DO PLASTRÃO

PENDURA(POSTERIORES)

 

PENDURA(ANTERIORES) 

PENDURA (POSTERIORES) 

ESFOLA

EVISCERAÇÃO 

TOALETE

PRÉ-LAVAGEM 

RETIRADA DACARAPAÇA

EMBALAGEM 

CONGELAMENTO

 

ESTOCAGEM 

EXPEDIÇÃO

FLUXOGRAMA DE OBTENÇÃO DE CARNE EMBALADA ECONGELADA

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14.6 Operações de abate e processamento

PRÉ-LAVAGEM – Os animais foram transportados dos boxes de

espera ou descanso em caixas plásticas previamente higienizadas

até a área suja, onde foi realizada uma pré-lavagem dos animais8com jatos de água clorada a 5 ppm sob pressão de,9aproximadamente, 3 atm para remover as sujidades maiores,

principalmente nas regiões da carapaça e do plastrão. Deve-se

tomar o cuidado de não utilizar pressão excessiva para não lesar o

epitélio, estressando os animais.

Figura 4: Pré-lavagem utilizando água clorada sob pressão.

Partes por milhão. Unidade de medida equivalente à mg/kg.Atmosfera. Unidade de pressão

8

9

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INSENSIBILIZAÇÃO – Os animais foram insensibilizados sob a ação

do gelo em água, permanecendo em recipiente de plástico atóxico em

temperatura de 0 a 2ºC por um período de 15 minutos, quando se

obteve a flacidez e a ausência dos reflexos da cabeça e dos membros.

Figura 5: Recipiente com água e gelo utilizado para insensibilização. Animalsendo insensibilizado.

464

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PENDURA – Os animais foram pendurados pelas membranas

interdigitais dos membros posteriores, nos ganchos dos trilhos com

nora, visando a facilitar a etapa de sangria, agilizando o processo.

Figura 6: Pendura dos animais através das membranas interdigitais dos

membros posteriores.

SANGRIA – Foram realizados testes através da secção total e da

secção parcial da porção anterior do pescoço. O melhor método foi a

secção parcial (como na maioria das espécies domésticas) com o

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período de sangria de 15 minutos. Obteve-se melhor escoamento do

sangue, aparência menos avermelhada da musculatura e o volume

médio de sangue escoado foi de 3,11% do peso vivo dos animais.

Figura 7: Secção parcial dos vasos da porção anterior do pescoço.

LAVAGEM – Foi iniciada por um primeiro enxágüe com jatos de água

sob pressão com água clorada a 5 ppm, seguida por uma escovação10

(escova pequena) com detergente alcalino a 0,2% em todo o animale nas regiões axilares que não foram acessadas durante a pré-

lavagem. Finalmente, foi realizado o último enxágüe para a remoção

dos resíduos de sujidades com o detergente.

É sugerido o uso de luvas, pelo manipulador, para evitar a ação corrosiva dosdetergentes alcalinos

10

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SERRAGEM DAS PONTES – Na serragem, os animais foram

apoiados em decúbito dorsal, no suporte metálico, para facilitar a

operação e evitar acidentes com os manipuladores. As pontes foram11serradas com o auxílio de uma serra elétrica manual . O disco da

serra deve ter aproximadamente 7 cm de raio. Foi usado um planoparalelo com a superfície ventral do plastrão, serrando-se medial e

superficialmente para evitar a ruptura das vísceras e órgãos. Para a

desarticulação final das pontes utilizou-se um trinchante de ponta

romba.

Figura 8: Seqüência de operações de serragem e desarticulação das pontes.

PENDURA – Pendura-se pelos membros anteriores nos ganchos dos

trilhos com nora, passando à área limpa do abatedouro para a

retirada do plastrão.

RETIRADA DO PLASTRÃO – Dissecação do plastrão, no sentido

longitudinal, até a sua porção posterior.

Makita ¼” (6 mm): modelo 906 com potência de 240 w.11

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Secciona-se a junção óssea da plastro-pelviana com o auxíliode tesouras metálicas.

Figura 9: Remoção do plastrão realizada na área limpa.

REVERSÃO DA PENDURA – Para facilitar a evisceração reverteu-se

a posição do animal, tornando a fixá-lo nos ganchos dos trilhos danora pelos membros posteriores.

EVISCERAÇÃO – Ao acessar a cavidade celomática pela incisão na

linha alba, seccionou-se uma porção transversal do fígado que

comunica as porções hepáticas direita e esquerda. Procedeu-se a

dissecação da porção terminal da cloaca junto à cauda, realizando-

se uma dissecação da porção terminal do trato digestivo, até os rins,

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com o auxílio de facas (higienizadas a cada utilização). A partir daí,

procedeu-se uma retração manual de todo o trato digestivo até a

porção anterior (esofágica). Deve-se ter o cuidado de remover as

partes do fígado que permanecem bem aderidas lateralmente,

próximo à inserção dos membros anteriores e posteriores. Ospulmões ficam bem aderidos à carapaça e também são retirados por

tração manual (arrancamento). A retração das vísceras

gastrointestinais deve ser realizada cuidadosamente para evitar a

ruptura e a contaminação da carcaça por conteúdo fecal. As facas

utilizadas nessa fase devem ser de uso restrito dos manipuladores

que trabalham nessa etapa do processo de abate.

Figura 10: Seqüência de operações para a remoção das vísceras.

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DECAPITAÇÃO – Após a retirada das vísceras realizou-se a ablação

(retirada) da cabeça.

ESFOLA – Realizou-se, com o auxílio de uma faca, a esfola dos

membros posteriores e da cauda e reverteu-se a posição dos animaisnos ganchos. Eles foram fixados pelos membros anteriores para a

realização da esfola do pescoço e dos membros anteriores. Foram

feitos cortes das regiões metatarsianas e metacarpianas, separando

a pele do membro da pele da pata. Assim, seguiu-se com a

dissecação da pele dos membros até a completa retirada.

Figura 11: Remoção da pele.

  TOALETE – Foram removidas as partes distais dos membros

(patas) pela secção do tarso e do carpo, da cauda e quaisquer

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resquícios de fáscias musculares ou fragmentos que permaneceram

após as operações de evisceração e de esfola.

Figura 12: Remoção das patas.

PRÉ-LAVAGEM – Foi realizado um enxágüe com água clorada para

a remoção de pequenos resíduos que permaneceram na carcaçadurante as etapas anteriores.

Figura 13: Lavagem da carcaça.

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FRACIONAMENTO – Podem ser realizados cortes na carcaça de

acordo com as necessidades do mercado, sob as mesmas condições

de higiene na manipulação e do ambiente climatizado (temperaturas

do ambiente menor ou igual a 15ºC) utilizadas na etapa anterior.

Figura 15: Carcaça sem a gordura extramuscular não cavitária 

EMBALAGEM – As embalagens poderão ser de polietileno ou outro

material de embalagem que evite contaminação física, química ou

microbiológica dos produtos, que também devem ser rotulados,

conforme a legislação vigente.¹²

¹² Legislação da Anvisa. disponível em: http:// www.anvisa.gov.br/alimentos/legis/especifica/rotuali.htm

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CONGELAMENTO – As carcaças foram congeladas em armários de

placas sob temperaturas de -25 a -40ºC, por um período de 2 a 6

horas.

Figura 17: Armário ou cogelador de placas.

ARMAZENAMENTO/ESTOCAGEM – Os produtos foram

armazenados e estocados em câmaras frigoríficas sob temperaturas

inferiores a -18ºC.

EXPEDIÇÃO – Os produtos foram expedidos em condições que

evitaram a elevação da temperatura do produto. A área de expediçãofuncionou como antecâmara provida de portas de saída para a

expedição. As portas de saída foram providas de portais de

borrachas para permitir o embarque em veículos transportadores,

minimizando a elevação da temperatura dos produtos expedidos.

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14.7 Resultados

Os principais parâmetros avaliados foram: as observações

macroscópicas dos tecidos durante o abate, as análises

microbiológicas, as análises físico-químicas, o volume sanguíneo e orendimento de carcaça e demais partes.

14.7.1 Necropsia, histopatologia e parasitologia 

Os animais foram observados durante o período de descanso,

sendo detectado o óbito de um animal. A necropsia foi realizada em

local inadequado, pela inexistência de uma dependência específica

para essa finalidade e não foi possível observar qualquer alteraçãomacroscópica sugestiva da causa mortis.

No transcorrer das operações de evisceração dos 39 animais

foram detectadas alterações macroscópicas em 3 baços, 2 fígados,

nas mucosas estomacais e intestinais de alguns animais.

Os tecidos com as alterações foram encaminhados para uma

avaliação histopatológica que confirmou a suspeita de degeneraçãogordurosa ou esteatose em dois fígados. Essa alteração

normalmente está relacionada a problemas metabólicos. Não foram

verificadas alterações histopatológicas nos baços e nas mucosas.

 Também foram observadas infestações parasitárias por cestódeos e13trematódeos (digenéticos) nos estômagos e intestinos dos animais.

14.7.2 Físico-química

Uma amostra de carne foi encaminhada para a realização das

análises necessárias à adequação das exigências das informações

nutricionais de rotulagem. Os resultados encontram-se na tabela

abaixo:

¹³Trematódeos que passam parte de sua fase larvária em hospedeiros

intermediários, geralmente pequenos moluscos

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 Tabela 1: Resultados das análises físico-químicas da carne da tartaruga-da-amazônia

Os resultados das análises físico-químicas podem ser

utilizados como referência na elaboração dos dizeres de rotulagem

(composição centesimal e informação nutricional), conforme14legislação vigente no país.

 Tabela 2: Resultados das análises para a avaliação da composição química.

¹ Legislação de rotulagem. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br

4

475

Análises Físico-químicas Resultados

Proteínas 22,0g/100g

Gorduras totais ou lipídeos 5,50g/100g

Gordura Saturada Mínima 2,68g/100g

Colesterol 68,0mg/100g

Carboidratos 0,0g/100g

Fibra Alimentar 0,0g/100g

Cálcio (Ca) 18,5mg/100g

Ferro (Fe) 1,60mg/100gSódio (Na) 46,3mg/100g

Composição centesimal da carne de tartarugaParâmetros ValoresUmidade (%) 78,80 (±0,16)Proteína (%) 17,39 (±0,80)Cinzas (%) 0,91 (±0,07)

Lipídeos (%) 1,83 (±0,75)Valor calórico (Kcal/100g) 85,99 (±5,72)

Valores médios; números entre parênteses representam o desvio-padrão.Fonte: Gaspar (1997). 

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 Tabela 3: Comparação da composição química das carnes bovina e suína.

Composição química das carnes bovina e suínaComponentes Carne bovina Carne suínaUmidade (%) 76,77 71,20Proteínas (%) 20,00 19,00Lipídeos (%) 3,00 9,34Cinzas (%) 1,09 1,00

Valor calórico(kcal/100g)

107 160

Fonte: Gaspar (1997). Obs.: valores médios.

Os valores demonstram que a carne de tartaruga apresenta

1,83% de lipídeos enquanto as carnes bovina e suína apresentam 3

e 9,34%, respectivamente. O valor calórico também é mais reduzido

para a carne de tartaruga (85,99%) do que o que foi obtido para acarne bovina (107%) e suína (160%).

14.7.2.1 Potencial hidrogeniônico (pH)

Foram encaminhadas 14 amostras para avaliação do pH da

carne. Foram aferidos, aproximadamente, 6 e 24 horas após o

sacrifício dos animais.

Os valores citados de pH apresentaram uma média de 6,28 e

5,85 após 6 e 24 horas do sacrifício. Esses resultados mostram-se

favoráveis porque estão próximos dos valores utilizados como15referência para os pescados e para as demais carnes .

14.7.3 Microbiologia

Foram enviadas 39 amostras da carne para avaliar a cargamicrobiana. Pela inexistência de um padrão microbiológico para a

carne de quelônios, ficou estabelecido que para o estudo seriam

utilizados os critérios microbiológicos do Codex Alimentarius para a

carne de rã, conforme tabela a seguir.

JAY, J. M. Modern Food Microbiology. 199215

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 Tabela 4: Padrões microbiológicos utilizados como referência para a análise dacarne da tartaruga-da-amazônia.

Entre as 39 amostras analisadas, somente 11 (28,2%)

atenderam aos padrões estabelecidos para os quatro parâmetros.

As conformidades e as não-conformidades para cada parâmetro

microbiológico apresentaram-se da seguinte forma:

  Tabela 5: Proporção de carcaças obtidas conforme as exigênciasmicrobiológicas estabelecidas.

Nas amostras que apresentaram não-conformidades para o

parâmetro coliformes fecais (64,10%) foram encontradas 8 amostras

com as cargas máximas ( 2.400 NMP/g) para a metodologia analítica

utilizada (método do número mais provável) representando 20,51%

do total das amostras.

477

Parâmetromicrobiológico

Padrão

Coliformes fecais (g) 10Estafilococos coagulasepositiva (g)

100

Contagem total deaeróbios mesófilos (g)

500.000

Salmonella sp. (g) Ausência

Parâmetrosmicrobiológicos

% Amostras emconformidade

% Amostras emnão-conformidade

Coliformes fecais (g) 35,90 64,10Estafilococoscoagulase positiva (g)

100 00

Contagem total deaeróbios mesófilos (g)

78,40 21,60

Ausência deSalmonella sp. (g)

100 00

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Em relação aos parâmetros Estafilococos coagulase positiva

e Salmonella sp. todas (100%) as amostras apresentaram-se em

conformidade.

Nas amostras avaliadas para o parâmetro contagem total de

bactérias mesófilas, 21,60% das amostras se apresentaram não-

conformes aos padrões estabelecidos. Entre as 39 amostras, 4

apresentaram resultados incontáveis.

 Também foram realizadas duas análises microbiológicas de

amostras de urina coletadas de dois animais distintos e os

resultados seguem conforme a tabela a seguir:

 Tabela 6: Avaliação microbiológica da urina de dois animais.

As não-conformidades encontradas nas amostras de carne

podem estar relacionadas à metodologia de abate utilizada. Os

procedimentos de serragem das pontes bem como o acesso à

cavidade celomática levaram à ruptura da bexiga, na maior partedos casos, promovendo a contaminação da carne.

Os resultados indicam que a contaminação da carne, pela

urina, a torna inadequada ao consumo humano, por exceder os

padrões microbiológicos estabelecidos.

478

ResultadosParâmetro

microbiológicoA B

Contagem total debactérias mesófilas(UFC/ml)

520.000 1.200.000

Coliformes fecais (UFC/ml) Zero >2.400Salmonella Ausência Ausência

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Para avaliar a eficiência da primeira pré-lavagem e da

lavagem foram realizados um total de 8 swabs, sendo 4 para a pré-

lavagem e os outros 4 para a lavagem. Nos dois casos, foram

realizados dois swabs antes e mais dois após cada operação em doislocais distintos. No caso da pré-lavagem as pontes direitas e

esquerdas foram escolhidas, enquanto na lavagem foram feitas na

pele junto à cauda.

Os resultados indicam uma redução da microbiota

equivalente a 11,76% da carga microbiana inicial, na região da

ponte direita. A redução foi de 33,33% na região da ponte esquerda. 

Os resultados das análises microbiológicas dos swabs

realizados para avaliar a etapa de lavagem não foram adequados

por falha na coleta do material. Assim sendo, será necessária uma

reavaliação mais criteriosa dessa etapa.

14.7.4 Rendimento de carcaça e demais partes

Para efeito deste trabalho, considera-se carcaça o conjunto

formado pela musculatura, ossos dos membros, vértebras

coccígeas e cervicais. Também foram avaliados o rendimento de

carcaça e demais partes.

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 Tabela 7: Rendimento da carcaça e das principais partes obtidas durante oabate.

Partes do corpo Rendimento %

Carcaça 34,66

Carapaça 25,41

Vísceras 11,87

Plastrão 7,91

Gordura extramuscular(não cavitária)

5,54

  Total 85,39

Os percentuais de 25,41% da carapaça e 7,91% do plastrão

perfazem um total de 33,32% do animal, similares aos 34,66% da

carcaça. Fato que demonstra a necessidade de se estabelecer um

aproveitamento comercial para o conjunto carapaça-plastrão.

 Também deve-se considerar as demais partes como subprodutos

que devem ter um aproveitamento econômico sustentável.

14.7.5 Volume de sangue escoado

O escoamento sangüíneo é fundamental para a qualidade da

carne. O sangue possui o pH próximo da neutralidade e por ser rico

em nutrientes pode facilitar a multiplicação dos microrganismos

deteriorantes e/ou patogênicos. Assim sendo, foi avaliado o

escoamento em função do tempo e do método de sangria.

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 Tabela 8: Resultados obtidos na sangria por decapitação

Sangria por decapitação

  Tempo de sangria % de sangue escoado

12 minutos 2,44

14 minutos 1,92

15 minutos 2,32

16Considerando que normalmente 8% do peso dos animais é

representado pelo seu volume sangüíneo; que uma boa sangria é17aquela que remove até 50% do sangue; que o conjunto carapaça e

plastrão representam 33,32%; que o aspecto da carne obtida deve

ser rósea ou vermelho-claro (indicando pouco sangue na

musculatura); e que o pH final obtido está dentro de valores

aceitáveis, o melhor resultado foi obtido pelo período de 15 minutos,

obtendo-se 3,11% de escoamento de sangue pela secção parcial do

pescoço. Observou-se a coagulação sangüínea quando o período de

sangria foi maior do que 15 minutos.

14.8 Comentários e proposições

Os trabalhos de abate foram realizados e permitiram

evidenciar alguns aspectos importantes do processo de obtenção da

carne embalada e congelada para o consumo humano, que deverão

ser mais estudados. Os principais pontos são os seguintes:

1) Criadouros: o tipo de alimentação, a utilização de drogas

veterinárias, a qualidade da água e o nível de contaminantesambientais são importantes para a obtenção de animais e,

posteriormente, da carne, sem riscos para a saúde dos

consumidores. Tais aspectos têm influência direta no nível de

contaminação química, física e microbiológica dos animais enviados

Kolb, Fisiologia Veterinária. 1987.

Pardi et al., Ciência, Higiene e Tecnologia da Carne. 2001.

16

17

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ao abate. A carne oriunda de animais contaminados poderá

apresentar riscos para a saúde dos consumidores, fato que pode

comprometer a comercialização. Assim sendo, deve-se elaborar um

sistema de controle de qualidade da alimentação, dos

medicamentos veterinários usados e do nível de contaminantesquímicos e microbiológicos da água dos boxes de criação.

2) Descanso: esse período deve ser definido após a verificação do

tempo necessário para ocorrer o esvaziamento gastrointestinal e

vesical, visando a reduzir os riscos de ruptura dessas vísceras

durante as operações de evisceração. Os estudos mostraram que

animais em privação hídrica e alimentar de até 15 diaspermaneceram com suas bexigas repletas. Possivelmente, a

temperatura ambiental teve influência na fisiologia renal, sendo

uma variável importante a ser melhor analisada. Acreditamos que a

utilização de água corrente estimule a defecação, como é observado

nas rãs, embora possa contribuir para promover a repleção da

bexiga.

3) Pré-lavagem (pré-abate): essa etapa requer muito cuidado para

evitar o estresse dos animais, porque poderá influenciar

negativamente no pH final da carne. A água sob pressão não deve

exceder 3 atm. A pressão excessiva poderá, inclusive, remover o

epitélio do revestimento externo, provocando pequenas

hemorragias. Animais com alto nível de sujidades externas poderão

estimular o uso de água, sob pressões elevadas, que poderáinfluenciar negativamente nos valores finais de pH, reduzindo a

vida útil da carne, por apresentar um pH elevado e adequado ao

desenvolvimento microbiano.

4) Insensibilização: a utilização do gelo durante 15 minutos nos

permitiu evidenciar que os animais apresentaram-se um estado de

torpor. Entretanto, foram observadas contrações musculares e

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movimentos de pedalagem em alguns animais após o sacrifício e

durante a evisceração. Assim sendo, sugerimos que sejam

avaliados os resultados obtidos por outros métodos. A

eletronarcose é usada amplamente para as aves, de uma formamais eficiente e humanitária. A quantificação do cortisol

sangüíneo poderá ser analisado para avaliar o possível estresse

sofrido pelos animais insensibilizados pelos diferentes métodos,

nos trabalhos futuros.

5) Sangria: o método mais eficiente verificado nesse trabalho, tal

como nas espécies domésticas, foi através da secção parcial dopescoço, mantendo-se a integridade da coluna cervical e da

medula espinhal. Essa integridade mantém por mais tempo a

função cardíaca, facilitando o escoamento sangüíneo. Sugerimos a

verificação da influência da eletronarcose como método de

insensibilização, para avaliar o gotejamento de sangue, com o

objetivo de reduzir o tempo e/ou verificar o aumento do volume

gotejado.

6) Lavagem: essa etapa deve ser reavaliada através da utilização

de swabs antes e após a lavagem, para uma avaliação da eficiência

do processo, visando a adequar as formas e as concentrações de

uso dos agentes detergentes utilizados.

7) Serragem das pontes: essa etapa é muito crítica porque a

utilização da serra pode causar acidentes nos manipuladores epromover contaminação da musculatura pela ruptura das vísceras

e órgãos. Para evitar acidentes, os animais devem ser fixados em

suportes metálicos, antes do início da serragem. A serragem deve

ser realizada com uma serra com potência igual ou superior à

utilizada neste trabalho. O disco da serra deve ter,

aproximadamente, 7 centímetros de raio. A desarticulação da

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 junção óssea das pontes com o plastrão, em alguns casos, poderá

ser feita para completar a operação de serragem. Para essa

desarticulação, deve-se utilizar um trinchante de ponta rombuda,

evitando a ruptura da musculatura superficial, das vísceras eórgãos.

8) Retirada do plastrão: a secção da junção plastro-pelviana foi

bastante difícil de ser realizada com tesouras, por isso sugerimos

uma utilização experimental de outra serra elétrica manual,

pequena, para facilitar essa operação. Todavia, a serra deve ser

usada com muito cuidado para evitar a ruptura da musculaturasuperficial, bem como das vísceras e órgãos.

9) Retirada da carcaça da carapaça: o objetivo desse trabalho foi a

obtenção da carne embalada e congelada, devido ao fato de o

estabelecimento não possuir túnel de congelamento para promover

o devido abaixamento da temperatura do conjunto carapaça-

carcaça, no tempo adequado. Entretanto, para a elaboração doproduto final da carcaça-carapaça devem ser estudadas formas

mais eficientes para higienizar a carapaça, de maneira que ela não

represente contaminação para a carcaça. As áreas onde se realizam

essas manipulações devem ser climatizadas para evitar grandes

elevações de temperatura da carne.

10) Fracionamento e embalagem: essas etapas não foram bem

estudadas porque deve-se realizar um levantamento de mercado

para a verificação das porções cárneas preferidas, bem como o

método de embalagem mais adequado às exigências dos

consumidores. A rotulagem poderá ser feita com base na legislação,

seguindo-se os manuais de orientação das indústrias disponíveis

no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(www.anvisa.gov.br).

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11) Congelamento: esse trabalho foi realizado através do armário

ou congelador de placas, que é utilizado para porções cárneas com

espessura reduzida. Esse motivo estabeleceu que os trabalhos

deveriam ser realizados para a obtenção da carne embalada e

congelada. Para obter a carne congelada com a carapaça, o

estabelecimento deverá possuir túnel de congelamento para

promover o abaixamento da temperatura da carne, em tempo

adequado, para evitar a formação de grandes cristais de gelo e

prejuízos à qualidade final do produto.

12) Potencial hidrogeniônico (pH): sugerimos que sejam melhorestudadas as variações de pH em função das manipulações dos

animais vivos, desde o transporte até a sangria. Essas

manipulações, principalmente, no período imediatamente antes do

abate, levam à mobilização excessiva do glicogênio muscular,

refletindo no pH final elevado e na conseqüente diminuição da vida

útil dos produtos cárneos.

13) Microbiologia: a ausência de Salmonella sp. nas carnes

indicou que os trabalhos foram realizados sob um bom nível de

higiene. Entretanto, a escassez de pessoal para auxiliar nas

diversas atividades de abate experimental pode ter influenciado

negativamente nos níveis de contaminação para os parâmetros

coliformes fecais e contagem total de aeróbios mesófilos. Os

resultados indicaram que a metodologia empregada no abate deveser mais estudada para evitar, principalmente, a contaminação da

carne pela urina. Também devem ser realizadas novas análises

microbiológicas para validar as duas pré-lavagens e a lavagem.

14) Rendimento de carcaça e demais partes: deve ser

considerado, na continuação dos trabalhos de pesquisa, o estudo de

viabilidade econômica do empreendimento, levando em conta a

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utilização racional dos produtos bem como dos subprodutos do

abate que apresentem interesse comercial, evitando-se a produção

de resíduos possivelmente poluentes ao meio ambiente.

14.9 CONCLUSÃO

A metodologia de abate de tartaruga-da-amazônia ainda não

está bem estabelecida. O processo ainda requer mais estudos e

pesquisas visando a definir as condições e o período de descanso, o

melhor método de insensibilização, o tempo de sangria, a melhor

forma de remover o plastrão e o acesso à cavidade celomática, sem aruptura da bexiga.

Sugerimos que os estudos sejam continuados a partir das

informações e dos dados produzidos neste trabalho, visando a

estabelecer uma metodologia de abate que atenda a todos os

requisitos higiênico-sanitários e tecnológicos. Também sugerimos

que sejam realizados estudos de mercado para verificar as

necessidades e demandas que poderão nortear os trabalhosfuturos.

 Assim sendo, o trabalho desenvolvido foi importante para

delinear os principais pontos-chave no processo de abate,

fornecendo diretrizes para o desenvolvimento das próximas

pesquisas aplicadas para a exploração econômica dos produtos e

subprodutos da tartaruga-da-amazônia.

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A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Ibama iniciaramem 1997 o projeto “ Estudos de Zootecnia, Biologia e Manejo de AnimaisSilvestres para a Região Amazônica” e, em 1998, o “ Diagnóstico da Criaçãode Animais Silvestres no Estado do Amazonas”, com apoio do Programa

 Trópico Úmido/CNPq. Através dessa parceria, um grupo de pesquisadores

passou a desenvolver trabalhos de manejo, nutrição, genética, fisiologia ebioquímica, parasitologia, ecologia reprodutiva, biologia do crescimento eestudos socioeconômicos sobre os criatórios. Em visitas aos criadores, osresultados das pesquisas eram repassados, demonstrando a importânciaestratégica que a UFAM e o Ibama-AM conferiram à pesquisa com criação emanejo de animais silvestres. Hoje, o Amazonas possui um pacotetecnológico mínimo para servir de referência aos criadores de quelônios noEstado. Estas informações serviram de base científica, também, para umprograma de manejo comunitário sustentável de quelônios, o Projeto “ Pé-de-pincha” , que com apoio do ProVárzea, atualmente atinge 7 municípios e

86 comunidades do Médio-Baixo Amazonas. Este livro serviu de base dediscussões durante o I Seminário de criação e manejo de quelônios,realizado em Manaus, em 2004. Através do ProVárzea, a edição destetrabalho tem por objetivo servir de material didático e de consulta paraprodutores, técnicos do setor primário e estudantes de graduação, oucursos técnicos, que desejam obter informações compiladas sobre astécnicas de criação e manejo desse importante recurso faunístico das áreasde várzea, que são os quelônios, resultado dos estudos realizados com osqueloniocultores do Amazonas, nos últimos dez anos.

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