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MAR AZUL > HORIZONTE GEOGRÁFICO 32 HORIZONTE GEOGRÁFICO 33 O MAR BRASILEIRO TEM UMA DIVERSIDADE ESPANTOSA DE PEIXES E OUTRAS ESPÉCIES. O PROBLEMA É QUE A QUANTIDADE É REDUZIDA. E BOA PARTE ESTÁ EM PERIGO TEXTO MARTHA SAN JUAN FOTOS MARISTELA COLUCCI Paraíso ameaçado Cardume de paulistinhas no fundo rochoso de Alcatrazes, litoral de São Paulo: a ilha é da Marinha, mas ambientalistas querem transformá-la em parque

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HOrIzONTE GEOGrÁFICO32 HORIZONTE GEOGRÁFICO 33

O mar brasileirO tem uma diversidade espantOsa de peixes e Outras espécies. O prOblema é Que a Quantidade é reduzida. e bOa parte está em perigOtexto martha san juan fotos maristela cOlucci

Paraíso ameaçado

Cardume de paulistinhas no fundo rochoso de Alcatrazes, litoral de São Paulo: a ilha é da Marinha, mas ambientalistas querem transformá-la em parque

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As águas de Búzios (RJ) são alimentadas por correntes oceânicas do sul do continente, daí a riqueza da fauna marinha exemplificada pelos pequeninos néons (acima). Na Reserva do Atol das Rocas (RN), recifes de corais coloridos abrigam espécies como o porquinho-pintado (abaixo)

o mar brasileiro não está para peixe. Estranho num país que é invejado mundialmen-te por sua diversidade de espécies. Mas, infelizmente,

é verdade. Segundo o recém-lançado relatório do megaestudo patrocinado pelo governo federal sobre o potencial pesqueiro na costa brasileira, aqui há poucos peixes. “Nossas águas não permitem o desenvolvimento de gran-des cardumes como acontece, por exemplo, no Atlântico Norte, onde se pesca o arenque”, afirma o pesquisador Roberto Ávila Bernardes, do Instituto Oceanográfico da USP. “Ou na costa do Peru, com a maior quantidade de an-chovetas na América Latina.” Na maior parte da costa, as águas são aquecidas e pobres em nutrientes. A temperatura

média anual da superfície marinha gira em torno de 20 graus, criando um ambiente inóspito à ocorrência de enormes concentrações de vida.

O Programa de Avaliação do Poten-cial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva, ou mais simplesmente Revizee, lançou este alerta sobre os limites da pesca bra-sileira há alguns meses. Não foi uma surpresa. Há tempos que os pescadores e estudiosos do mar brasileiro sabem que a grande extensão do litoral do País não está associada à abundância de seres vivos. Programas de preservação e exploração racional de caráter regional, com a participação das comunidades que vivem da pesca, foram criados para proteger o que resta. Mas, ainda assim, a situação é preocupante. “Nossa pesca

“E este mar visível levanta para mim uma face espantosa.E retrai-se, ao dizer o que preciso.E é logo uma pequena concha fervilhante,nódoa líquida e instável,célula azul sumindo-seno reino de um outro mar:ah! do Mar absoluto.”

Cecília Meireles, ‘Mar Absoluto’

Cardume de pirajicas no fundo rochoso da ilha de Trindade. Aqui, começa o declínio da plataforma continental, deixando as águas em degradé de azul

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O mar de Fernando de Noronha divide-se em dois: o de dentro, voltado para o continente, e o de fora, que dá face para o oceano aberto. Ali se encontram imensos cardumes dos mais variados peixes, como o frade-real. Nos dois casos, a água é transparente

A costa brasileira possui uma variedade de espécies de peixes inigualável, principalmente nos recifes de corais nordestinos. São exemplos: 1. xiras-brancas; 2. moréia-pintada; 3. peixe-cofre; 4. peixe-borboleta-amarelo; 5. peixe-trombeta

não é sustentável e milhares de pessoas já estão sofrendo com a queda dos recursos marinhos”, afirma Bernardes, que participou das pesquisas do Revi-zee na Região Sudeste-Sul.

Para conhecer melhor a costaA importância do programa, no

entanto, não se resume às advertências sobre a oferta de peixes de interesse comercial no País. O Revizee, que du-rou dez anos, fez um levantamento da Zona Econômica Exclusiva brasileira, com uma extensão de 3,6 milhões de quilômetros quadrados, tendo como limites ao norte, a foz do Rio Oiapoque, e ao sul, o Chuí, projetando-se, ainda, para leste, para incluir as áreas em torno do Atol das Rocas, arquipélagos de Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo e as ilhas de Trindade e Martim Vaz. Pela primeira vez foi feito um estudo tão amplo da costa brasi-leira, que levou em conta também a biodiversidade em águas profundas, ou seja, abaixo dos 200 metros e na altura da plataforma continental.

O programa contou com a partici-

pação de mais de 300 pesquisadores, representando cerca de 60 universi-dades e instituições de pesquisa de 17 estados litorâneos. Além das ocorrên-cias de peixes conhecidos em outros locais, foram identificadas espécies novas. Na Região Sudeste-Sul, por exemplo, que vai do Cabo de São Tomé (RJ) ao Arroio Chuí (RS), com cerca de 2 mil quilômetros de extensão, foram encontradas 14 espécies que estão sendo agora objeto de atenção. O que mostra que, apesar de não ter grande quantidade de peixes, o mar brasileiro tem, sim, uma ampla variedade.

Os mergulhadores, acostumados a enxergar – e fotografar – a vida marinha embaixo d’água, são os primeiros a re-conhecer essa diversidade. Ela se deve principalmente aos recifes coralinos que se estendem por 3 mil quilôme-tros, do Maranhão à Bahia, formados por esqueletos calcários de animais e vegetais, como algas, moluscos e corais, que oferecem proteção e alimento para diferentes espécies marinhas. Recifes de corais, normalmente só existentes em águas com temperatura acima de 20 graus, são apelidados de “florestas marinhas” por abrigarem grande núme-ro de espécies.

Destaque entre essas espécies para os peixes coloridos que são, por assim dizer, a “vitrine” do Brasil submerso. É o caso dos pequeninos néons, ou dos frades-reais, dos sargentinhos e dos peixes-papagaios, também chamados de budiões, cujos dentes formam

Linha base

MAR TERRITORIAL12 milhas (22,2 km)

ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (ZEE)200 milhas (370,4 km)

PLATAFORMAOCEANO ATLÂNTICO

CROSTA CONTINENTAL

PLATAFORMA CONTINENTAL

PLANÍCIEABISSAL

TALUDE

ELEVAÇÃO

CROSTA OCEÂNICA

1 milha náutica = 1,852 km

HORIZONTE GEOGRÁFICO 37

1 2

3

4

5

ESCALA:0 180 360 540km

Atol dasRocas

Arquipélago deFernandode NoronhaCEARÁ

Parcel deS. Pedroe S. Paulo

Arquipélagode Abrolhos

Ilhas de Trindadee Martim Vaz

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PARAÍBA

PERNAMBUCO

ALAGOAS

SERGIPE

BAHIA

GOIÁS

MINAS GERAIS

ESPÍRITOSANTO

RIO DEJANEIRO

SÃO PAULO

PARANÁ

STA. CATARINA

RIOGRANDEDO SUL

Pargo

Peixes demersais

Sardinha

Piramutaba

Lagosta

Camarões

Atuns e afins

Amazônia AzulNa década de 50 as Nações Unidas começaram a discutir o que viria a ser, mais tarde, a Convenção sobre o Direito do Mar, que está em vigor desde 1994. Por essa convenção, todo país costeiro tem o direito de estabelecer um mar territorial de até 12 milhas náuticas (cerca de 22 km), uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e uma Plataforma Continental estendida. Cada país exerce soberania plena sobre o mar territorial. Na ZEE e na plataforma, sua jurisdição se limita à exploração e ao aproveitamento dos recursos naturais. Na ZEE todos os bens econômicos na água, sobre o leito do mar e no subsolo são privativos do país. O Revizee teve o objetivo de inventariar os recursos vivos na ZEE das diversas regiões brasileiras.A plataforma é o prolongamento natural da massa terrestre do país costeiro. Pela convenção, os países podem pleitear a extensão de sua plataforma até o limite de 350 milhas náuticas (648 km). É o caso do Brasil, que apresentou, em setembro de 2004, o seu pedido de extensão da plataforma às Nações Unidas. A Marinha chama o conjunto do mar brasileiro de Amazônia Azul, em comparação com a Amazônia Verde – que é terrestre.

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No mundo todo há cerca de 300 espécies de tubarão, a maioria não ataca o homem. Acima, o tubarão-lixa, espécie que não ameaça os banhistas pois come apenas peixes. Abaixo, um chapeirão, formação coralina endêmica de Abrolhos, e uma piraúna, também de Noronha

uma placa como se fosse um bico de papagaio. Alguns são peixes solitários, como a moréia, que passa o dia en-tocada. Outros têm formas eficazes de defesa, como o baiacu, que infla o corpo e solta uma toxina venenosa. Ou o peixe-barbeiro, cujo espinho da cauda se parece com uma lanceta, e o peixe-cofre, encapsulado numa armadura óssea cheia de espinhos.

Bonitos, os peixes de corais torna-ram-se alvo de coleta indiscriminada, principalmente por parte dos que bus-cam espécimes exóticos para aquários ornamentais. Os pescadores também estão atrás dos peixes de passagem, que não habitam os corais, mas, nadam por ali – tubarões, cações e atuns. Isso acaba representando um perigo a mais para os peixes e para os próprios recifes. Pelo menos em teoria, eles

estão protegidos em nove unidades de conservação, mas os especialistas se preocupam com os estragos provoca-dos pela poluição, o assoreamento dos rios costeiros, o pisoteio das pessoas durante a maré baixa.

As formações do Arquipélago dos Abrolhos, no sul da Bahia, e do Parcel Manuel Luiz, no Maranhão, são as mais ricas e complexas do litoral. Em Abrolhos, podem ser encontradas cha-peirões, nome de formações únicas que parecem cogumelos, com uma base estreita e uma área junto à superfície bastante alargada. Abrolhos também é o local mais adequado para avistar as baleias-jubarte. Entre julho e novem-bro, vindas da Antártida, elas procuram a região para reprodução e cria de filhotes. Segundo os pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte, ONG que se dedica à pesquisa e conservação desses animais, a área é fundamental para o ciclo migratório da espécie.

O Parcel Manuel Luiz, pouco conhecido da maioria dos brasileiros por causa da sua distância da costa, faz parte de um parque estadual marinho localizado na Zona Econômica Exclu-siva (86 km do litoral do Maranhão). É o maior banco de corais da América Latina e o único no litoral norte. Ali se reproduzem ouriços, lagostas, estrelas-do-mar e moluscos. Abriga também cerca de 180 navios naufragados desde o século 16, entre eles o Ville de Bou-

longe, a bordo do qual se encontrava o poeta Gonçalves Dias em 1864.

Há recifes de corais também em ilhas oceânicas, como o Atol das Ro-cas e o arquipélago de Fernando de Noronha. Embora sejam do mesmo tipo daqueles encontrados ao largo do continente, as águas cristalinas, pobre em matéria orgânica em suspensão, fazem dos recifes nas ilhas o paraíso para observação de peixes.

Catálogo das espécies marinhasSegundo o pesquisador Naércio

Menezes, do Museu de Zoologia da USP, a faixa costeira do Brasil con-centra altos níveis de endemismo, ou seja, de espécies marinhas encontra-das apenas aqui. “Cerca de 50% dos corais e 20% dos peixes dessa parte do Atlântico não são observados em outros oceanos”, afirma Menezes. O Catálogo

Baleias-jubarte procuram a região de Abrolhos (BA) entre julho e novembro para reproduzir e criar os filhotes

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Fonte: ibama (2001)

Potencial de produção anual de pescado (em 1.000 toneladas)

REGIÃO RECURSOS PELÁGICOS RECURSOS DEMERSAIS (Cardumes na coluna d´água) (Vivem no fundo rochoso ou arenoso)

Norte 235 150-240

Nordeste 100 100-175

Sudeste 195 70-95

Sul 370 189-290

TOTAL 900 510-800Fonte: dias-neto & mesquita

Produção de pesca extrativa

1994

450

494,3

1995 1996 1998 1999 200 2001

TOTAL

ANO400

500

425

475

413,7 422,2

465,7

1997

432,6

418,5

467,7

498

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Os manguezais são o berço e a fonte de alimentação de várias espécies como 1. o baiacu-de-espinho (que incha quando atacado), 2. o caranguejo-ermitão, 3. o peixe-boi marinho (em extinção, na foto no centro de Itamaracá, PE) e 4. as lagostas e outros crustáceos

Cinco espécies de tartarugas freqüentam a costa brasileira e as ilhas em alto-mar como Fernando de Noronha e Trindade. Acima, a tartaruga-de-pente, ameaçada no passado pela pesca predatória. Sua carapaça era usada para fazer adornos, pentes etc.

de Espécies de Peixes Marinhos do Brasil registra 1.298 espécies (quatro de lampreias e peixes-bruxa, 139 de tubarões e raias e 1.155 de peixes ósseos). Dessas, 243 (20% do total) são exclusivas da costa atlântica da América do Sul, e 123 (10% do total) só existem no Brasil. Por causa disso, a ONG Conservação Internacional coloca o mar brasileiro como uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade marinha mundial.

Um dos motivos da diversidade na faixa litorânea do Brasil está nos manguezais, ecossistemas que ficam na faixa de transição entre o ambiente ma-rinho e o terrestre, nos lugares onde os rios deságuam no mar. No Brasil, pelo menos 70% das espécies de peixes ex-ploradas economicamente dependem dos manguezais para sobreviver, entre eles, a tainha, o robalo e o baiacu. A grande quantidade de detritos vegetais

nas águas salobras serve de alimentos para microorganismos e funcionam como base da cadeia alimentar. Parte dessa produção é levada pela maré às áreas costeiras próximas onde prolife-ram siris, peixes e camarões nativos. Outros animais que freqüentam esses ecossistemas são as aves e alguns ma-míferos, entre eles, o peixe-boi marinho – hoje em risco de extinção.

A destruição dos manguezaisO levantamento dos pesquisado-

res do Revizee mostrou que 80% dos manguezais do País estão nas regiões Norte e Nordeste, especialmente nos estados do Amapá, Pará e Maranhão. O programa dividiu a costa brasileira em quatro zonas de acordo com a sua diversidade. O Norte, por exemplo, é muito influenciado pelo delta do rio Amazonas, que lança no mar até 240 mil metros cúbicos por segundo de água doce carregada de sedimentos. As inúmeras restingas e mangues fun-cionam como berçário de camarões, caranguejos e ostras, além de várias espécies de peixes.

Os manguezais do Nordeste, no entanto, estão sendo destruídos aos poucos pelo desmatamento, expansão urbana e lançamento de esgotos sem tratamento. “Outro problema são as instalações de engorda do camarão que contaminam as águas e favorecem a erosão costeira”, afirma Roberto Ávila

Bernardes “É preciso controle dessas áreas.” O pesquisador lembra também o caso das lagostas que já serviram de sustento para os jangadeiros, do Piauí a Natal, local dos baixios, que são regiões marinhas com profundidades menores de 20 metros, estendidas até 30 quilômetros além da costa. “Hoje, os pescadores precisam ir cada vez mais longe para encontrar as lagostas e peixes como garoupa, agulhas, cavalas, ciobas e dentões”, lamenta.

A interferência humana parece afetar a presença de outra espécie de peixe que, no imaginário de quem entra no mar, está associado ao perigo. Trata-se dos tubarões das espécies tigre e cabeça-chata, acusados de atacar surfistas em Pernambuco. Os pesqui-sadores apontam o impacto ambiental da construção do Porto de Suape ao sul de Recife, o aumento do tráfego marítimo, a extinção de espécies que lhes servem de alimento (tartarugas

Para quem defende as espécies marinhasInstituto Baleia Jubarte (www.baleiajubarte.com.br) – Desenvolve atividades de pesquisa sobre esse animal na região de Abrolhos e a melhoria da qualidade de vida das comunidades litorâneas no sul da Bahia.Projeto Baleia-Franca (www.baleiafranca.org.br) – Visa garantir a proteção da população remanescente de baleias-francas austrais em sua área de reprodução no sul do Brasil, especialmente em Santa Catarina.Projeto Tamar (www.projetotamar.org.br) – Tem o objetivo de proteger as espécies de tartarugas marinhas por meio da geração de alternativas econômicas sustentáveis para a população da costa brasileira. É executado pelo Ibama e pela Fundação Pró-Tamar.Projeto Golfinho-Rotator (www.golfinhorotador.org.br) – Faz o monitoramento científico e contínuo desse mamífero no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha para preservar seu comportamento e o ambiente do arquipélago.Projeto Albatroz (www.projetoalbatroz.org.br) – Atua em diferentes áreas tendo em vista reduzir a captura incidental de aves marinhas nas pescarias oceânicas por meio da introdução de medidas mitigadoras no dia- a-dia da pesca.

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As ilhas oceânicas são locais de procriação para diversas espécies de aves marinhas, como o atobá (acima), encontrado no Atol das Rocas e Fernando de Noronha, e a fregata (macho com papo inflado), de Alcatrazes. Abaixo, cardume de papudinhas em Noronha

Chamada de “broche-de-Iemanjá”, a formação coralina de Abrolhos chama a atenção: de dia, ela se abre como estrela branca, à noite, fica fechada

marinhas, peixes-papagaios e outros) como as causas dos ataques.

Cinco espécies de tartarugas fre-qüentam as praias da costa brasileira, mas preferem ilhas oceânicas como Fernando de Noronha e Trindade para a reprodução. Depois que nascem, correm para o mar, onde são objeto de ataque de predadores como tubarões, caranguejos e polvos. As que conse-guem sobreviver, passam o ano vagando em mar aberto e só então retornam às áreas de alimentação da costa.

As ilhas também são o hábitat de aves como fragatas, viuvinhas, atobás e outras. O Atol das Rocas, por exemplo, detém a maior colônia de aves marinhas do Brasil, sendo área de reprodução de cinco espécies – o atobá-mascarado, o atobá-marrom, o trinta-réis-do-manto-negro, a viuvinha-marrom e a viuvinha-negra. É também ponto de

alimentação e proteção para outras 24 espécies vindas do Hemisfério Norte nas suas rotas migratórias.

Efeitos da pesca excessivaSegundo o Programa Revizee, na

Costa Central, zona de transição entre o norte e o sul, a plataforma continental se alarga e a pesca comercial aumenta com a presença de manjubas, ciobas, xaréus, tainhas, garoupas, robalos, can-gulos etc. É ao largo da costa central, na altura de Vitória, que se encontram os peixes oceânicos, que vivem geral-mente em cardumes no mar aberto e não apenas na costa brasileira, como os marlins, dourados e anchovas.

Pesquisadores do Revizee lançaram um livro sobre os peixes encontrados durante o projeto nas regiões Sul e Su-deste do Brasil. O objetivo era mostrar a fauna que vive entre 100 e 1.500 metros de profundidade, de pequeno tamanho e ciclo de vida curto. Esses peixes servem de alimento para outros mais conhecidos, como os atuns e as sardinhas. Foram coletadas 185 espé-cies – algumas desconhecidas e pito-rescas. Nessa região, a partir de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, convergem massas de água de origem antártica, ricas em nutrientes, o que provoca o aumento da fauna marinha. Em alguns locais, como em Cabo Frio, ocorre o

fenômeno da ressurgência, o que favo-rece a proliferação de espécies.

No entanto, como nas outras regi-ões do Brasil, no Sul e no Sudeste as notícias não são boas. “Não há como aumentar de forma responsável a quan-tidade de peixes hoje já retirados do mar dessa região”, afirma Bernardes. “As espécies tradicionalmente capturadas, como os camarões e as sardinhas estão sumindo. Esta última representa um caso conhecido de pesca excessiva que prejudicou a recuperação do estoque.” O pesquisador cita, porém, o aprovei-tamento de espécies emergentes como o peixe-sapo, a anchoíta e o caranguejo de profundidade, como possibilidade para os pescadores. Mas, como ocorre em todo o litoral brasileiro, a meta é

utilizar esses recursos racionalmente antes que também acabem.

A falta de peixes no mar brasileiro não constitui um problema isolado. Estudo divulgado no fim de outubro pela revista Science mostra que a pesca comercial marinha do mundo pode acabar em 2048 em razão da captura de peixes em um ritmo maior do que as espécies conseguem se reproduzir. Segundo o estudo, até agora, 29% das espécies de pescado já entraram em colapso e deve acontecer o mesmo com outras ainda disponíveis. O problema tem que ser enfrentado no Brasil.

Corais em Noronha: substância de esponjas pode virar medicamento

Remédios que vêmdo marQuase ninguém sabe, mas um dos medicamentos usados no tratamento da Aids vem do mar. Em 1944, um pesquisador americano isolou de uma esponja substâncias com propriedades anti-virais. Desse modelo natural foram sintetizados compostos usados no AZT, o medicamento anti-Aids, e contra a herpes simples e a leucemia. Esse é um exemplo do rumo das pesquisas atuais sobre produtos do mar que vêm demonstrando potencial, não só na indústria de medicamentos, mas também na de cosméticos e na alimentar. Além das esponjas, as algas também são aproveitadas, geralmente como agentes espessantes em sorvetes, pasta de dentes e alimentos para recém-nascidos. No litoral nordestino colhe-se a alga para extração do agar, entre outras coisas, usado para a produção de cerveja, e a carragena, aplicada como emulsificante e estabilizante no preparo de sucos, geléias e doces.Dos pepinos-do-mar vem a heparina brasileira, uma substância utilizada na prevenção de acidentes cardiovasculares há mais de 50 anos. Até agora, ela era obtida de intestinos de bovinos e suínos. Mas pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram que ela está presente em vários invertebrados marinhos. Da mesma forma, pesquisas realizadas na USP e no Instituto Butantan tentam isolar substâncias presentes nos moluscos que vivem nas águas do arquipélago de Fernando de Noronha como base para remédios contra a dor, hipertensão e distúrbios neurológicos.

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Esta é a primeira parte de um estudo sobre o mar brasileiro. Na próxima edição: como o Brasil aproveita os recursos do mar