maputo, moçambique * agosto * 2015 * nº 12 nota … - agir 3 continua pág. 4 ção da sociedade...

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As opiniões e posicionamentos registados neste espaço não reflectem necessariamente as posições dos intermediários e dos doadores do Programa AGIR A 26 de Novembro de 2014, a Assembleia da República aprovou, por una- nimidade e aclamação, a Lei do Direito à Informação, publicada no Boletim da República (BR) do último dia daquele ano, tendo recebido a denominação da Lei número 34/2014, de 31 de Dezembro. Trata-se de uma importante ferramenta para a consolidação do edifício democrático que Moçambique vem erguendo desde 1990. Através desta Lei, todos órgãos ou entidades públicas assim como priva- das, que ao abrigo da Lei ou de contrato realizem actividades de interesse público em que sejam receptores de fundos públicos são obrigadas a dis- ponibilizar, dentro de um prazo de 21 dias (vide o artigo 16 da Lei número 34/2014 de 31 de Dezembro), todo tipo de informação que seja do interesse geral ou público. Este imperativo legal vem ser consubstanciado pelo artigo 9 da mesma Lei quando refere que: “o acesso à informação implica que os órgãos de adminis- tração pública, autarquias locais e entidades privadas que detém informação de interesse público, publiquem e divulguem documentos de interesse públi- co sobre a organização e funcionamento de órgãos públicos e os conteúdos das eventuais políticas que afectem direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e, que é proibida a restrição de acesso à informação de interesse público, excepto as legalmente excepcionada”. É na realidade um marco histórico na jovem democracia moçambicana na medida em que, a ser devidamente materializada, terá um contributo espe- cial visto que, a disponibilização de informação não se limita apenas aos jor- nalistas ou aos órgãos de comunicação social mas, também a todos cidadãos, instituições ou organizações que precisarem, quer públicas ou privadas. Tal como preceitua, o artigo 8 da supracitada Lei, a permanente participa- ção democrática do cidadão na vida pública pressupõe o acesso à informa- ção do interesse público de modo a formular e manifestar o seu juízo de opinião sobre a gestão da coisa pública e assim influenciar nos processos decisórios das entidades que exercem o poder público. Com isso a Lei vem deixar claro que a capacidade que os cidadãos têm de participar na governação depende directamente do nível de informação que têm sobre os processos e, nessa senda, a Lei do Direito à Informação vem garantir que o cidadão moçambicano tenha acesso à informação e daí buscar esclarecimentos e controlar os excessos de poder. É importante destacar o contributo que foi ao processo de aprovação da Lei do Direito à Informação dado pelas organizações da Sociedade Civil; até porque o primeiro texto, em jeito de proposta de ante-projecto, foi por ela autorado com o Misa-Moçambique à cabeça. Nos anos 2012, 2013 e 2014, especial contributo foi dado pelas organiza- ções parceiras do Programa AGIR, com realce para as que estavam agrupados na sua componente de Acesso à Informação. De resto, o próprio Parlamento reconheceu, em plenário o suporte da IBIS, que geriu (gere) a componente Acesso à Informação do AGIR, como tendo sido por demais relevante. Findo esta fase, agora resta garantir a larga aplicabilidade da mesma que, mesmo estando já em vigor desde a data da sua publicação, ainda carece de regulamentação para a efectiva materialização. O artigo 43 desta Lei estabelece que: “Compete ao Governo regulamentar a presente Lei e a criação da entidade responsável pelo seu cumprimento, no prazo de 180 dias, contados da data da sua publicação”. Com este preceito legal, entendemos que urge a regulamentação da mesma para se garantir a plena execução. É também de extrema importância que as Organizações da Sociedade Civil e outros interessados continuem a sua luta com vista a regulamentação e a consequente aplicabilidade da mesma. Dinâmicas da SC e sua influência sobre o processo legislativo Por: SEKELAKANE Lei do Direito à Informação: Que oportunidades para uma Cidadania Activa? Diferentes estudos têm reconhecido um crescimento sig- nificativo do movimento cívico moçambicano, constituído por actores não - estatais de características e dimensões igualmente diversas, desde aquelas de abrangência nacional, àquelas de abrangência local ou comunitária, passando por aquelas de nível provincial. As áreas de intervenção destas organizações são igualmente diversas, percorrendo desde a tradicional prestação de servi- ços a comunidades locais carenciadas, preenchendo lacunas deixadas pelo Estado, nomeadamente em áreas como Educa- ção, Saúde e Agricultura; monitoria à governação, incluindo sobre a despesa pública e desenvolvimento transparente da industria extractiva; até à realização de estudos e pesquisas em torno de questões políticas, incluindo processos eleito- rais, direitos humanos das mulheres e opções ou tendências de políticas macroeconómicas do país. No final do dia, as diferentes actividades das diferentes Or- ganizações da Sociedade Civil (OSCs) a diferentes níveis con- vergem num mesmo objectivo: contribuir para que o cidadão moçambicano tenha uma vida mais digna, construída em cli- ma de liberdade, com acesso mais equitativo aos recursos do país, ao conhecimento e à saúde. O poder legislativo - com as suas diferentes funções - de- sempenha um papel crucial na prossecução daquele objecti- vo, ao legislar, fiscalizar o executivo e representar os interes- ses do cidadão. Ele é, por isso, um espaço muito importante de intervenção das OSCs, almejando influenciar a sua agenda e o conteúdo das suas iniciativas legislativas. Até que medi- das as OSCs têm desempenhado com sucesso esse papel? O presente texto procura responder a esta pergunta. I. A Sociedade civil moçambicana: ambiente político, legal e sócio-económico. Maputo, Moçambique * Agosto * 2015 * Nº 12 Leia também 4 8 9 1 Dinâmicas da SC e sua influência sobre o processo legislativo Resistência dos movimentos da Sociedade Civil ao avanço do ProSavana Dialogo político em Moçambique Lacunas do Código Penal na preservação dos Direitos Humanos Nota de Abertura Continua pág. 2

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As opiniões e posicionamentos registados neste espaço não reflectem necessariamente as posições dos intermediários e dos doadores do Programa AGIR

A 26 de Novembro de 2014, a Assembleia da República aprovou, por una-nimidade e aclamação, a Lei do Direito à Informação, publicada no Boletim da República (BR) do último dia daquele ano, tendo recebido a denominação da Lei número 34/2014, de 31 de Dezembro.

Trata-se de uma importante ferramenta para a consolidação do edifício democrático que Moçambique vem erguendo desde 1990.

Através desta Lei, todos órgãos ou entidades públicas assim como priva-das, que ao abrigo da Lei ou de contrato realizem actividades de interesse público em que sejam receptores de fundos públicos são obrigadas a dis-ponibilizar, dentro de um prazo de 21 dias (vide o artigo 16 da Lei número 34/2014 de 31 de Dezembro), todo tipo de informação que seja do interesse geral ou público.

Este imperativo legal vem ser consubstanciado pelo artigo 9 da mesma Lei quando refere que: “o acesso à informação implica que os órgãos de adminis-tração pública, autarquias locais e entidades privadas que detém informação de interesse público, publiquem e divulguem documentos de interesse públi-co sobre a organização e funcionamento de órgãos públicos e os conteúdos das eventuais políticas que afectem direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e, que é proibida a restrição de acesso à informação de interesse público, excepto as legalmente excepcionada”.

É na realidade um marco histórico na jovem democracia moçambicana na medida em que, a ser devidamente materializada, terá um contributo espe-cial visto que, a disponibilização de informação não se limita apenas aos jor-nalistas ou aos órgãos de comunicação social mas, também a todos cidadãos, instituições ou organizações que precisarem, quer públicas ou privadas.

Tal como preceitua, o artigo 8 da supracitada Lei, a permanente participa-ção democrática do cidadão na vida pública pressupõe o acesso à informa-ção do interesse público de modo a formular e manifestar o seu juízo de opinião sobre a gestão da coisa pública e assim influenciar nos processos decisórios das entidades que exercem o poder público.

Com isso a Lei vem deixar claro que a capacidade que os cidadãos têm de participar na governação depende directamente do nível de informação que têm sobre os processos e, nessa senda, a Lei do Direito à Informação vem garantir que o cidadão moçambicano tenha acesso à informação e daí buscar esclarecimentos e controlar os excessos de poder.

É importante destacar o contributo que foi ao processo de aprovação da Lei do Direito à Informação dado pelas organizações da Sociedade Civil; até porque o primeiro texto, em jeito de proposta de ante-projecto, foi por ela autorado com o Misa-Moçambique à cabeça.

Nos anos 2012, 2013 e 2014, especial contributo foi dado pelas organiza-ções parceiras do Programa AGIR, com realce para as que estavam agrupados na sua componente de Acesso à Informação. De resto, o próprio Parlamento reconheceu, em plenário o suporte da IBIS, que geriu (gere) a componente Acesso à Informação do AGIR, como tendo sido por demais relevante.

Findo esta fase, agora resta garantir a larga aplicabilidade da mesma que, mesmo estando já em vigor desde a data da sua publicação, ainda carece de regulamentação para a efectiva materialização.

O artigo 43 desta Lei estabelece que: “Compete ao Governo regulamentar a presente Lei e a criação da entidade responsável pelo seu cumprimento, no prazo de 180 dias, contados da data da sua publicação”.

Com este preceito legal, entendemos que urge a regulamentação da mesma para se garantir a plena execução.

É também de extrema importância que as Organizações da Sociedade Civil e outros interessados continuem a sua luta com vista a regulamentação e a consequente aplicabilidade da mesma.

Dinâmicas da SC e sua influência sobre o processo legislativo

Por: SEKELAKANE

Lei do Direito à Informação: Que oportunidades para uma

Cidadania Activa?

Diferentes estudos têm reconhecido um crescimento sig-nificativo do movimento cívico moçambicano, constituído por actores não - estatais de características e dimensões igualmente diversas, desde aquelas de abrangência nacional, àquelas de abrangência local ou comunitária, passando por aquelas de nível provincial. As áreas de intervenção destas organizações são igualmente

diversas, percorrendo desde a tradicional prestação de servi-ços a comunidades locais carenciadas, preenchendo lacunas deixadas pelo Estado, nomeadamente em áreas como Educa-ção, Saúde e Agricultura; monitoria à governação, incluindo sobre a despesa pública e desenvolvimento transparente da industria extractiva; até à realização de estudos e pesquisas em torno de questões políticas, incluindo processos eleito-rais, direitos humanos das mulheres e opções ou tendências de políticas macroeconómicas do país. No final do dia, as diferentes actividades das diferentes Or-

ganizações da Sociedade Civil (OSCs) a diferentes níveis con-vergem num mesmo objectivo: contribuir para que o cidadão moçambicano tenha uma vida mais digna, construída em cli-ma de liberdade, com acesso mais equitativo aos recursos do país, ao conhecimento e à saúde. O poder legislativo - com as suas diferentes funções - de-

sempenha um papel crucial na prossecução daquele objecti-vo, ao legislar, fiscalizar o executivo e representar os interes-ses do cidadão. Ele é, por isso, um espaço muito importante de intervenção das OSCs, almejando influenciar a sua agenda e o conteúdo das suas iniciativas legislativas. Até que medi-das as OSCs têm desempenhado com sucesso esse papel? O presente texto procura responder a esta pergunta.

I. A Sociedade civil moçambicana: ambiente político, legal e sócio-económico.

Maputo, Moçambique * Agosto * 2015 * Nº 12

Leia também

4

8

9

1 Dinâmicas da SC e sua influência sobre o processo legislativo

Resistência dos movimentos da Sociedade Civil ao avanço do ProSavana

Dialogo político em Moçambique

Lacunas do Código Penal na preservação dos Direitos Humanos

Nota de Abertura

Continua pág. 2

2 Plataforma - AGIR

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Existem várias definições de sociedade civil. Dentre elas, optamos por aquela consagrada na Agenda 2025 - Visão e Estratégia da Nação - obra de referência do pensamen-to estratégico nacional inclusivo, elaborada e concluída em 2003, que a define como:“O conjunto de cidadãos, elementos da população, de orga-

nizações, de instituições e líderes das comunidades locais, organizadas em grupos ou individualmente, conscientes da plenitude da sua cidadania e da sua força participativa e influenciadora da economia nacional e da criação de con-dições necessárias à realização dos direitos individuais ou colectivos” A Agenda 2025 (entretanto revista e actualizada em 2013)

ʺconstata a emergência de uma sociedade civil cada vez mais informada e formada, que requere espaços de concer-tação, diálogo e debate, e o desenvolvimento de organiza-ções com capacidade de intervenção de forma fundamenta-da e substanciada em estudos que atribuem consistência e coerência nas intervenções. Sugere-se que se abram espaços de consultas regulares com os partidos políticos e as orga-nizações da sociedade civil, em ambiente de liberdade de-mocrática. É importante que existam discursos pedagógicos para induzir a construção de uma sociedade aberta, assente nos valores da liberdade, igualdade, justiça, responsabiliza-ção e no méritoʺ .Uma avaliação do nível e da qualidade da intervenção e

influência da Sociedade Civil sobre processos legislativos implica uma compreensão, ainda que sucinta, do contexto circundante: político, legal, social e económico.A este propósito, foi realizado, no primeiro semestre do

presente ano (2015), um estudo sobre o ambiente políti-co, regulatório e socioeconómico em que operam em Mo-çambique as OSC. O estudo foi realizado sob os auspícios (metodológicos) da Aliança Mundial para a Participação do Cidadão (CIVICUS), em parceria nacional com a JOINT – Liga de ONGs em Moçambique, com o objectivo de fornecer uma caracterização do ambiente propício para a intervenção da Sociedade Civil no país .Este estudo, designado “Avaliação Nacional sobre o Am-

biente Propício para a Actuação (EENA)” das OSCs em Mo-çambique, avaliou o ambiente propício em sete dimensões, nomeadamente: (1) Formação; (2) Operação; (3) Acesso a Recursos; (4) Expressão; (5) Reunião Pacifica; (6) Relações entre o Governo e a Sociedade Civil; e (7) Tributação.Das principais constatações do estudo passamos a citar

as seguintes:

1. Dimensão Formação: o estudo constata que a Lei das Associações (Lei 8/91, de 18 de Julho), encontra-se des-contextualizada da realidade actual do país e do nível de desenvolvimento das OSCs, sendo urgente a sua revisão e adequação ao actual contexto. 2. Operação: a legislação em vigor não é suficientemente

clara em relação à forma como as OSCs devem operar e como elas se relacionam com o Estado/Governo, no âmbi-to da sua intervenção a diferentes níveis. Esta fragilidade na legislação abre espaço para que exista interferência nas operações das OSCs, e em certas situações em violação à

própria legislação.

3. Acesso aos Recursos: não existe em Moçambique legis-lação específica que regule a forma como as OSCs acedem a recursos financeiros para o seu funcionamento, e esse acesso é condicionado de entre outras razões, pela falta de registo das OSCs, principalmente as de base local.

4. Liberdade de Expressão: apesar de existir um quadro legal favorável à liberdade de expressão e opinião, existem na prática, sérias limitações no exercício deste direito, que impedem e constrangem o seu pleno exercício por parte do cidadão, OSCs e órgãos de comunicação social.

5. Reunião Pacífica: a principal constatação nesta dimen-são, a qual está directamente relacionada com o direito à manifestação, mostra que o quadro legal vigente não é ade-quadamente implementado e respeitado na prática, ocor-rendo, amiúde, situações de inibição, ou mesmo de proibi-ção ao exercício deste direito constitucional, pelos cidadãos.

6. Relações entre o Governo: embora exista certa abertura por parte do Estado/Governo para que as OSCs participem e influenciem o processo de governação e a elaboração de políticas e legislação aos diferentes níveis, nem sempre é dado espaço para que estas participem, com influência que se espera, no processo de tomada de decisão, havendo situ-ações de conflito entre ambos.

7. Tributação: as OSCs em Moçambique são consideradas sujeitas passivas do imposto, pagando, portanto, impostos ao Estado: por serem organizações sem fins lucrativos e de interesse publico, deveriam ser consideradas organizações de utilidade pública. O estudo conclui recomendando: • A revisão da Lei 8/91, a Lei das Associações, adequando-

-a aos actuais desafios de desenvolvimento das OSCs e do país de forma a permitir o acesso simplificado ao registo a todos os níveis e facilitar a operação efectiva das OSCs; A criação de uma arquitectura de financiamento mais equi-

tativa para as OSCs, que alivie a dependência dos fundos externos e permita o acesso aos fundos públicos internos;• Tornar a legislação em vigor sobre a liberdade de ex-

pressão e de reunião pacífica efectivamente conhecida e im-plementada em conformidade, garantindo o respeito pelos direitos dos cidadãos e das OSCs em geral;• A criação de um ambiente político que garanta a parti-

cipação efectiva das OSC nos processos de governação aos diferentes níveis; • Estabelecimento de um sistema tributário mais justo e

adequado ao contexto real de operação das OSC em Moçam-bique. II. Dinâmicas da participação da Sociedade Civil em processos legislativos

1. Quadro jurídico-constitucional e político.O primeiro indicador de base, sobre o espaço da participa-

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3Plataforma - AGIR

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ção da sociedade civil e do cidadão em geral em processos legislativos é aquele estabelecido pela própria Constituição da República, a qual designa a Assembleia da República como sendo “a assembleia representativa de todos os cida-dãos moçambicanos” (Art.168º, nº1). Em consonância com este princípio, a Lei Fundamental

consagra ainda como direitos fundamentais dos cidadãos, o sufrágio universal, o referendo e a permanente participação dos cidadãos na vida da Nação, tal como dispõe o Artigo 73º, inserido no Capitulo IV (Direitos, liberdades e garantias e liberdades fundamentais).Como meio de facilitar esta “permanente participação dos

cidadãos na vida da Nação”, a Constituição também reco-nhece que as organizações sociais, que são emanação do exercício da liberdade de associação, desempenham um pa-pel importante na promoção da democracia e na participa-ção dos cidadãos na vida pública (Cf. Artigo 53º CRM).Ante estes princípios jurídico-constitucionais, coloca-se

a pergunta de, até que medida a Assembleia da Repúbli-ca tem desempenhado, de forma sistemática, estruturada e consistente, a função da representação dos cidadãos? A constatação feita pelo próprio órgão acusa um grande défi-ce a este respeito, caracterizado por uma fraca ligação com os cidadãos eleitores.Com vista a preencher esta lacuna, o Plano Estratégico da

Assembleia da República (PEAR), para o período 2013-2022, aprovado em Novembro de 2012, destaca, como áreas de maior focalização: a criação de condições para uma melhor interacção com os cidadãos, melhor produção legislativa, efectiva fiscalização da acção do Executivo, maior dinamis-mo em termos de capacidade institucional e a cooperação com organizações/ instituições nacionais e internacionais. Cortando transversalmente todo o documento, reconhece--se nitidamente uma preocupação evidente na melhoria da acção representativa da AR, através de uma maior e mais sistemática interacção com o cidadão, objectivo expresso num dos seus cinco eixos, assim: Representação dos Cida-dãos; Produção Legislativa; Fiscalização da Actividade do Governo; Desenvolvimento Institucional; e Relacionamento Interinstitucional e Internacional. Relativamente ao pilar da representação dos cidadãos, o

PEAR almeja: “Reforçar o papel do Deputado e da Assembleia da Repú-

blica como legítimos representantes do cidadão no quadro da construção do Estado de Direito Democrático”. A este respeito, o PEAR destaca impor-se:“…a necessidade de, cada vez mais, se aprimorar os insti-

tutos de democracia representativa, no que diz respeito à representação dos cidadãos, defendendo, junto às instân-cias decisoras do Estado, os direitos, garantias e liberdades

Devido ao seu papel na edificação da democracia, o Parlamento é um parceiro incontornável da Sociedade Civil

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4 Plataforma - AGIR

individuais e colectivas, bem como os interesses nacionais”. 2. Experiências de interacção com o ParlamentoVários estudos têm realçado, contudo, o espaço e impac-

to, ainda limitados, da acção das OSCs moçambicanas, num quadro em que as mais dinâmicas estão baseadas em Ma-puto, Beira e outras poucas cidades, sendo dotadas de uma capacidade técnica e de mobilização de recursos relativa-mente elevada (por exemplo, FDC, CIP, Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH) e Grupo Moçambicano da Divida (GMD). As organizações que participam no confronto e no diálogo so-bre políticas caracterizam-se pela formação académica dos seus membros, a sua visibilidade e aceitação obtida através da pesquisa assente em factos documentados. A nível local, o diálogo sobre políticas é feito por fóruns ou plataformas de OSCs, uma vez que as OSCs de menores dimensões ou as organizações comunitárias de base (OCBs) têm poucos recursos e pouca capacidade.Algumas experiencias de colaboração entre OSC e o Par-

lamento:

• Transparência e acesso à informação sobre o Orçamento do EstadoUma experiência de colaboração entre a sociedade civil e

o Parlamento, nomeadamente através da Comissão Parla-mentar do Plano e Orçamento (CPO) tem sido no quadro da monitoria do orçamento do Estado, um importante desafio, cuja abordagem pode sempre suscitar questões controver-sas. A experiência é recente, mas já com indícios de algum impacto, tendo sido iniciada com a criação do Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) em Fevereiro de 2010. O FMO foi fundado como um consórcio de várias OSCs

de orçamentação social e gestão das finanças públicas que trabalham com o objectivo de promover a transparência do governo na gestão de fundos públicos, beneficiando de apoio técnico do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) .O FMO integra, nomeadamente, as seguintes organiza-

ções da sociedade civil: Centro de Integridade Pública (CIP), Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) e Grupo Moçambicano da Dívida (GMD). A interacção do FMO com a Comissão Parlamentar do Pla-

no e Orçamento tem incidido na partilha de informação so-bre as propostas de orçamento e a monitoria do desembolso do orçamento. Graças às intervenções das organizações que fazem parte do Fórum, e principalmente com a presença de figuras públicas influentes, como Graça Machel, da FDC, o Fórum conseguiu, a partir de 2010, influenciar a publicação da proposta de orçamento antes de ser apresentada ao Par-lamento, permitindo assim que as OSCs a comentem.

• Participação com iniciativas legislativas:As OSCs como o Fórum Mulher, a WLSA (Mulher e Lei na

África Austral); CIP, MISA Moçambique, GMD e outras, de-sempenharam papéis de vanguarda na preparação ou deba-te de iniciativas legislativas que culminaram com a aprova-

ção dos seguintes diplomas legais: (a) Lei contra a violência domestica; Lei da Probidade Pública; Lei do Direito à Infor-mação; Lei do Código Penal, entre outras.

III. Por uma acção unitária mais estruturada

Tomando em consideração a experiencia já acumulada pe-las OSCs, de interacção com o poder legislativo, a organiza-ção SEKELEKANI lançou em 2013 uma iniciativa, que tem como principal finalidade o estabelecimento de um Fórum de Dialogo Permanente entre a Sociedade Civil e a Assem-bleia da República.Na prossecução deste objectivo, foi realizado, em 2014, a

Primeira Conferência da Sociedade Civil sobre Colaboração com o Parlamento, com os seguintes objectivos:a) Construir um entendimento comum da Sociedade Civil

sobre estratégias de interacção com o Poder Legislativo;b) Partilhar informação sobre experiências de colaboração,

lobby e advocacia junto da Assembleia da República.c) Reflectir sobre uma Agenda Temática da Sociedade Civil

junto da Assembleia da República, a curto e médio prazos.

Entre os resultados alcançados, são de destacar os seguintes:

• O facto de ter-se tratado do primeiro fórum em que or-ganizações da sociedade civil constroem um discurso parti-lhado sobre uma agenda e estratégia comuns de interacção com a Assembleia da República;• A participação entusiástica e motivada de mais de 50

pessoas, representando mais de 25 organizações da socie-dade civil, prosseguindo missões e objectivos diversos;• A adopção de uma Agenda Temática Indicativa Conjun-

ta, de interacção com a Assembleia da República, escalona-da para curto e médios prazos;• A identificação de estratégias de advocacia e lobby junto

da AR, apoiadas através de uma melhor comunicação e co-ordenação entre as OSC;• A identificação de uma lista de actividades a serem de-

senvolvidas pelas OSC proximamente;• O acordo para o estabelecimento de um Grupo de Con-

tacto da Sociedade Civil, para coordenar a interacção com a Assembleia da República, apoiado por um Secretariado Permanente.• O acordo para a institucionalização de um Fórum Anual

Sociedade Civil e Parlamento para discutir agendas e priori-dades e chegar a um eventual compromisso mútuo.No seguimento das recomendações da conferência, encon-

tra-se em fase de discussão, entre as OSCs, uma proposta de Normas e Procedimentos Regulando a Colaboração entre a Sociedade Civil e a Assembleia da República (sendo exten-sivo a órgãos legislativos de outros escalões).Almeja-se que esta iniciativa culmine com realização do

Primeiro Fórum Nacional de Dialogo entre a Sociedade Civil e o Parlamento, no qual poderá ser rubricado um Memoran-do de Entendimento, estabelecendo marcos de uma partici-pação mais estruturada e sistemática das OSCs em proces-sos legislativos e na fiscalização da acção governativa, lado a lado com o poder legislativo.

Cont. da pág. 3

5Plataforma - AGIR

O novo Código Penal, aprovado em Julho de 2014 e pro-mulgado em Dezembro do mesmo ano, introduziu altera-ções significativas ao paradigma criminológico que orienta os “crimes contra a liberdade sexual”. Aliás, esta nova concepção do bem jurídico que se preten-

de tutelar com as incriminações referentes àqueles tipos le-gais de crime, superam a visão do legislador penal de 1886, que concebia as condutas sexuais ilícitas como ofensivas da moralidade e dos bons costumes, não tendo em vista a tu-tela de um bem jurídico individual, a liberdade sexual, nem a protecção da vítima, que é, na maior parte dos casos, a mulher. O novo Código Penal tem, pois, o mérito de estabelecer que

o bem jurídico em causa nos crimes sexuais é o da liberdade sexual e a integridade física, reconhecendo-se deste modo a autonomia no desenvolvimento da sexualidade e na preser-vação da dignidade da pessoa humana. Entretanto, quando analisados concretamente os tipos cri-

minais previstos no novo Código Penal, o desiderato almeja-do, em alguns casos, fica aquém de ser efectivado.Apesar de reconhecermos os esforços que foram feitos, la-

mentamos que persistam lacunas e violações dos direitos humanos, por nós apontadas durante o processo de revisão, e que contrariam não só a Constituição da República mas também as Convenções regionais e internacionais de que o Estado moçambicano é parte. Essas normas violam os direitos fundamentais elementa-

res sobretudo das mulheres e crianças moçambicanas. Nas linhas abaixo seguem alguns exemplos das lacunas contidas no novo Código Penal no especto referente ais direitos hu-manos.

1. Violação do princípio da igualdade - artigo 35º da ConstituiçãoO artigo 35 da Constituição que estabelece o princípio da

igualdade institui que todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étni-ca, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política.No entanto, existem no Código Penal aprovado algumas

disposições que violam este princípio da igualdade consti-tucionalmente consagrado.

2. Violação dos direitos das crianças – Artigo 47º da ConstituiçãoO nº 1 deste artigo estabelece que as crianças têm direito à

protecção e aos cuidados necessários ao seu bem-estar. O nº 3 do mesmo artigo acrescenta que todos os actos relativos às crianças, quer praticados por entidades públicas ou pri-

vadas, devem ter em conta o superior interesse da criança. É nosso entender que isso se estenda aos actos legislativos.Por outro lado, a Convenção Internacional dos Direitos das

Crianças e a Carta Africana sobre os Direitos e Bem-estar das Crianças, ambas ratificadas por Moçambique, bem como a legislação nacional, definem como crianças todas as pesso-as menores de 18 anos.Para além disso, o artigo 18 da Constituição da República,

estabelece que os tratados e convenções internacionais, uma vez aprovados, vigoram na ordem jurídica nacional. Assim sendo, é inaceitável que o Código Penal não respeite

a idade dos 18 anos, na protecção que deveria dar aos me-nores, não respeitando o princípio do “interesse superior da criança”.

3. Direito à vida – Artigo 40º da ConstituiçãoA Constituição garante o direito à vida e à integridade físi-

ca e moral. Alguns artigos no novo Código Penal falham em responder a este requisito, desprotegendo as cidadãs e os cidadãos.

4. Princípio da Igualdade de Género – Artigo 36º da Cons-tituiçãoRelativamente ao Crime de Violência Doméstica, que desde

2009 é tratado numa lei (Lei nº 29/2009, de 29 de Setembro), especialmente aprovada para coibir esse tipo, a Comissão decidiu, à última hora, criar no novo Código, um capítulo (IX) sob a epígrafe Violência Doméstica, de onde constam os art.º 245 a 257 e nele incorporou os tipos legais de crime de violência doméstica que constavam da referida Lei, dando-

O novo Código Penal não garante eficazmente o direito à liberdade sexual violando o principio de

igualdade preceituado na Constituição

Por: WLSA

Lacunas do Código Penal na preservação dos direitos humanos

Continua pág. 6

6 Plataforma - AGIR

-lhes ali uma definição superficialmente nova. É o caso da violência física simples, física grave, psicológi-

ca, moral, cópula com transmissão de doenças, patrimonial e social.A incorporação da Lei da Violência Doméstica no Código

Penal é precipitada e prematura e, por isso, de desaconse-lhar.Face às lacunas e soluções legais contidas no novo Código

Penal acima apontadas, emergem questões de conformidade com a Constituição da República. De facto, tal é a sua importância que tem foro constitu-

cional o direito à integridade física e moral e a proibição de tortura ou tratamentos cruéis ou desumanos (art. 40, nº 1 da Constituição) que se traduz na inviolabilidade da pessoa no sentido de estarem proibidas todas as condutas que visem afectar o bem-estar moral, emocional ou físico da pessoa. Por outro lado, e face à cláusula prevista no art. 43 da Cons-

tituição, importa igualmente considerar o direito à dignida-de da pessoa humana (vide art. 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e art. 5 da Carta Africana dos Direitos

As Organizações Sociedade Civil (OSCs) têm desempenha-do um papel fulcral na monitoria da gestão da coisa públi-ca. Também intervém na prestação de serviços às comu-nidades locais carenciadas, preenchendo lacunas deixadas pelo Estado em várias vertentes com maior realce a promo-ção dos direitos humanos.

do Homem e dos Povos), que se traduz no respeito pelo nú-cleo essência do ser humano. E daqui resulta a necessidade de garantir o respeito da dignidade sexual.Todavia, persistem diversos aspectos, entre os quais os aci-

ma apontados, que colocam em crise a dimensão jurídica e social da dignidade sexual e a merecida protecção requerida. Ainda convivem com a ultrapassada concepção de que a

sexualidade deve ser controlada por uma pauta moral de comportamento, segundo os padrões ditados pela ideologia patriarcal, como sucede com a criminalização do atentado ao pudor e ultraje público ao pudor. A sexualidade deve ser reconhecida como um atributo da

pessoa humana e como expressão da sua dignidade e liber-dade, e não como um bem comunitário. Por outro lado, a benevolência das penas não confere um

quadro de protecção eficaz e que tenha idoneidade para ini-bir condutas sexuais abusivas.Neste âmbito, é de concluir que o novo Código Penal não

garante eficazmente o direito à liberdade sexual, na medida em que persistem diversos obstáculos para efectivação da desejada e necessária protecção deste valor jurídico.

Nessa luta, as OSCs têm obtido alguns sucessos, sendo de destacar a aprovação de diversa legislação como por exem-plo a Lei de Probidade Pública, Código penal bem como a Lei do Direito à Informação pela Assembleia da República (AR).

Sociedade Civil e servidores públicos unem-se por uma governação transparente e responsável

Continua pág. 7

O engajamento dos stakeholders na melhoria da governação

Cont. da pág. 5

Por: Raul Senda

7Plataforma - AGIR

Para almejar sucessos nas suas acções, a Sociedade Civil conta com forte parceria do Governo e do poder legislativo.É nessa senda e com vista a consolidar a parceria entre as

partes interessadas na promoção de uma governação transparente e responsável, valorizando os

direitos humanos, o programa AGIR privilegia maior pro-moção no engajamento de diversos actores do Governo e outros actores interessados como foi o caso recente do lançamento do subprograma Acesso à Informação e Enga-jamento do Cidadão (AICE) parte integrante do Programa de Acções para uma Governação Inclusiva e Responsável (AGIR) gerido pela IBIS Moçambique que juntou recente-mente, na cidade de Quelimane, província da Zambézia, di-ferentes esferas da sociedade moçambicana para fazer o lançamento público do subprograma AICE. De referir que para além da IBIS, o AGIR conta com a Diako-

nia, Oxfam e We Effect como Organizações Intermediárias Internacionais. .O programa elegeu como grupo alvo diversos actores com

maior enfoque para OSCs que operam em áreas relaciona-das à governação democrática, organizações comunitárias de base, jornalistas e empresas jornalísticas, titulares de direitos e de deveres.O evento juntou à mesma mesa o governador da província

da Zambézia, Abdul Razak; o Conselho Municipal da cidade de Quelimane; presidente e antigo presidente da Comissão de Administração Pública, Poder Local e Comunicação Social da Assembleia da República (AR) Lucas Chomera e Alfredo Gamito respectivamente; representantes dos governos pro-vinciais e das autarquias de Tete, Nampula e Cabo Delgado, bem como a associação moçambicana de municípios onde foram assinados vários memorandos de entendimentos (MoU). A comunidade doadora foi representada pela embai-xadora da Suécia em Moçambique, Irina Schoulgin Nyoni. .

Este é um exemplo de engajamento dos principais actores que o AGIR se propõe a fazer. Contudo, há consciência de que é preciso operacionalizar

o vertido nos MoU ora assinados. Daí que Ericino de Salema, director do AICE, entende que, depois da aprovação e a con-sequente entrada em vigor da Lei de Direito à Informação, a coisa fundamental neste momento é a divulgação e dis-seminação da referida Lei bem como a abertura dos órgãos públicos para que a Lei seja de facto implementada.Salema diz que a sua organização irá trabalhar com par-

ceiros de todo país, desde o nível nacional, passando pela província até local, na divulgação desta Lei e dotar cidadãos de conhecimentos que permitam o seu uso enquanto que a embaixadora da Suécia focalizou a necessidade de se habi-litar e potenciar as instituições de administração pública e do poder local. Outros actores como é o caso do município de quelimane

representado pelo coordenador da comunicação interna e externa do Conselho Municipal de Quelimane, Zito Ossuma-ne, sublinhou que a Lei de Direito à Informação vai dinami-zar as relações ente o público e o servidor público.“Como se pode depreender o Município de Quelimane

possui uma actividade cibernética de alta qualidade, onde diariamente são partilhadas noticias, informações, vídeos e fotos sobre o pulsar da Cidade, disponibilização aos mu-nícipes do mapa diário de arrecadação de receitas e outras realizações inseridos no âmbito de transparência e gover-nação participativa”, vangloriou-se.Ernesto Nhanale, activista e pesquisador do Centro de Es-

tudos Interdisciplinares e de Comunicação (CEC), uma das organizações parceiras do programa AGIR, entende que as OSCs devem empenhar-se na consciencialização dos cida-dãos quanto aos seus direitos fundamentais e a Lei do Di-reito à Informação recentemente aprovada aparece como elemento incontornável para o gozo desses direitos.

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Lucas Chomera, presidente da Comissão de Administração Pública, Poder Local e Comunicação Social da AR, manifestando o comprometimento do Parlamento para com o programa AGIR

8 Plataforma - AGIR

Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e comunidades do Corredor de Nacala resistem desde 2012 o avanço do progra-ma ProSavana, numa ampla campanha jamais vista no país.

Estes movimentos internacionalizaram a luta a partir do momento que articularam-se com as organizações sociais do Japão, Brasil e não só.

Lançado oficialmente em Abril de 2011, o ProSavana é um programa de cooperação triangular entre os governos de Mo-çambique, Brasil e Japão, cujo objectivo é o desenvolvimento de agronegócio numa área superior a 10 milhões de hectares de terra ao longo do Corredor de Desenvolvimento de Nacala, com forte incidência em 19 distritos das províncias de Nam-pula, Zambézia e Niassa mormente: Malema, Lalaua, Ribaué, Mecuburi, Muecate, Monapo, Nampula, Meconta, Murrupula e Mogovolas, Sanga, Lichinga, Majune,Ngauma, Mandimba, Cuamba e MecanhelasAlto Molocué e Gurué.

Essa estratégia de entrada e implementação do ProSavana fundamenta-se na necessidade prioritária de combate à po-breza e no imperativo nacional e humano de promoção do de-senvolvimento económico, social e cultural de Moçambique. Esses são os principais argumentos usados pelo governo de Moçambique para justificar a implementação do programa.

Em Maio de 2013, mais de 20 OSC; de onde inclui-se campo-neses, ambientalistas, congregações religiosas e comunidades abrangidas ao longo do Corredor de Desenvolvimento de Na-cala; assinaram e submeteram junto dos presidentes de Mo-çambique, Brasil e do Primeiro-Ministro do Japão uma carta aberta para “Deter e Reflectir de Forma Urgente o Programa ProSavana”.

Depois seguiu a realização de duas conferências triangula-res dos povos de Moçambique, Brasil e Japão (2013 e 2014), configurando-se como um dos maiores espaços de advocacia

e pressão dos governos. A resposta a carta aberta só foi dada dois anos depois. A

mesma foi apresentada de forma vaga e sem nenhum conte-údo fulcral.

A amplitude e grandeza do programa ProSavana contrasta com o cumprimento da Lei e a total ausência de um debate público profundo, amplo, transparente e democrático, impe-dindo desta forma que os camponeses e outras partes lesadas exerçam o direito constitucional que é o acesso à informação.

Foi em virtude disso que em Junho de 2014, as organizações da sociedade civil lançaram a campanha “Não ao ProSavana”.

Fruto da pressão da campanha “Não ao ProSavana” junto dos governos do Moçambique, Brasil e Japão os três publica-ram em Março de 2015 um novo esboço do projecto antecedi-do de auscultações públicas.

As auscultações públicas foram realizadas nas capitais pro-vinciais das três províncias e alastraram-se em 19 distritos e postos administrativos das províncias abrangidas.

Porém, as audições violaram os princípios básicos estabele-cidos nos termos da do Diploma Ministerial número 130/2006 de 19 de Julho que versa sobre a avaliação do impacto am-biental.

Perante essas anomalias, 88 organizações nacionais e inter-nacionais uniram-se produziram uma petição na qual exigem que os governos de Moçambique, Japão e Brasil restituam imediatamente os direitos humanos dos participantes das auscultações, invalidem as consultas ou auscultações públi-cas realizadas nos dias 20 à 29 de Abril nos 19 distritos das províncias de Nampula, Niassa e Zambézia incluindo as de ní-vel provincial havidas nos dias 30 de Abril, 8 e 13 de Maio de 2015 para além de assumirem as responsabilidade dos man-datos que lhes foram delegados pelos três Povos, garantindo o cumprimento escrupuloso da Lei.

Organizações da Sociedade Civil temem que as comunidades fiquem sem terras para a produção devido ao ProSavana

Foto

: Estácio

Valo

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Resistência dos movimentos da SC ao avanço do ProSavana

Por: UNAC

9Plataforma - AGIR

A questão do diálogo político entre o Governo e a Renamo, cujas rondas passam de mais de uma centena, não passa despercebido por qualquer quadrante da sociedade, dado os impactos que tal representa na comunidade moçambica-na a todos os níveis. O mais importante, não é o diálogo em si, cujos pontos de

agenda são de domínio público, nomeadamente: a legisla-ção eleitoral ou simplesmente o pacote eleitoral; questões militares; despartidarização da administração pública; e fi-nalmente, questões económicas.Não obstante o desenrolar dos acontecimentos e, apesar

dos progressos alcançados até ao momento, os desafios do diálogo político são o reflexo da forma como a sociedade moçambicana está construída e estruturada, para além de como as percepções são interpretadas e usadas no quoti-diano. Analisando a sociedade, percebe-se que a maior parte dos

cidadãos têm orientação ou mente política em detrimento de outras questões que podem ajudar a melhorar o seu ní-vel de vida.O mais importante não deve ser a concentração da atenção

de toda sociedade para o diálogo político em si, mas como este cria outras oportunidades de criação de mecanismos de diálogo para assegurar a paz duradoura que será trans-formada em reconciliação nacional a todos os níveis. Isto é, enquanto o diálogo político acontece, esta é uma

grande oportunidade para a sociedade de forma organizada poder se engajar de forma construtiva, sincera e vertical discutir assuntos estruturantes relacionados com a econo-mia, política, cultura, turismo, entre outros assuntos.A minha opinião em torno do diálogo político entre o Go-

verno e a Renamo é um exercício político que estes usu-fruem, mas a questão de inclusão de outros actores a vários níveis, como mulheres, camponeses e outros, deve ser vis-ta como valor adicional que pode mudar a forma como as duas partes dialogam, uma vez que todos assim o fazem em nome do povo. Me parece que o povo tem várias formas muito peculia-

res de se expressar. Tais mensagens passam, quem as ouve, interpreta e procura praticá-las? O diálogo deve ter único fim – o bem-estar de todos, que se traduz na felicidade do povo moçambicano.

A morosidade do diálogo político entre o Governo e a Renamo e as incertezas em torno da paz preocupam a sociedade moçambicana

Diálogo político na lupa do Observatório Eleitoral

Por: Observatório Eleitoral

10 Plataforma - AGIR

Desde a sua constituição, o programa AGIR sempre apos-tou na busca de mecanismos de financiamento para socie-dade civil que fossem previsíveis, de simples acesso, dispo-níveis a todo o momento, sem descurar da segurança e rigor na gestão dos fundos. Fruto de experiências dos anteriores cinco anos do pro-

grama, o AGIR II melhorou os existentes e instituiu novos mecanismos de financiamento da sociedade civil.Estas mudanças são decorrentes da demanda para além

de que vem dar resposta a diversidade e riqueza de solicita-ções de apoio que o programa teve ao longo dos anos. O AGIR e seus parceiros têm consciência de que a capa-

cidade da sociedade civil como actor fundamental no de-senvolvimento da sociedade moçambicana não se resume a existência de organizações da sociedade civil mas, também passa pelo dinamismo resultante de iniciativas inovadores e emergentes, mesmo as pontuais e isoladas, que trazem mudanças na sociedade.Neste contexto, o programa AGIR na sua fase II terá quatro

mecanismos de apoio à sociedade civil a saber: apoio ins-titucional; a pequenos financiamentos; disponibilização de fundos flexíveis e para iniciativas inovadoras.

O director do semanário Canal de Moçambique, Fernando Veloso e o editor do diário Mediafax, Fernando Banze bem como o académico Carlos Nuno Castel-Branco serão julga-dos pelos crimes contra a segurança do Estado e abuso de liberdade de imprensa, relacionados com uma opinião so-bre o ex-Presidente moçambicano Armando Guebuza.

O julgamento terá lugar no próximo dia 31 de Agosto nas instalações do Tribunal Judicial do Distrito Municipal de

O apoio institucional é um mecanismo de financiamento de longo prazo que visa promover mudanças comporta-mentais sustentáveis e será direccionado aos parceiros cha-ve do programa. Os pequenos financiamentos serão para acções inovadores

e emergentes. Estes fundos serão para actores da sociedade civil “não-tradicionais” tais como movimentos, coligações temporárias, plataformas e redes.Os fundos flexíveis serão disponibilizados para acções im-

previsíveis de carácter urgente apresentadas pelos actores chave do programa e por fim, os fundos para iniciativas ino-vadores servem para encorajar as organizações parceiras a enveredar pela busca de soluções de problemas novos ou antigos através do uso de novas tecnologias, nomeadamen-te as TICs – tecnologias de informação e comunicação.

A presente edição do PlataformAGIR divulga pela primeira vez os critérios e mecanismos para acesso a estes fundos. A informação será ainda disseminada nos jornais, rádios co-munitárias, Website de AGIR e outros meios de comunica-ção para assegurar uma maior disseminação da informação para os diferentes actores da sociedade civil.

Kampfumo, cidade de Maputo.Sublinhar que num post na sua página da rede social face-

book, Carlos Nuno Castel-Branco acusou Armando Guebuza de querer “fascizar” o país, estar “fora do controlo” e de ter empurrado o país para a guerra, numa referência aos con-frontos que na altura se travavam entre as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e da Renamo.A mesma carta viria a ser publicitada nos jornais Canal de

Moçambique e Mediafax.

A Sociedade Civil ganhou mais fôlego com o programa AGIR

As modalidades de financiamento do AGIR

Jornalistas e académico em julgamento

11Plataforma - AGIR

Evento/Actividade Julho Agosto Setembro Observações

1. Encontro de Parceiros da We

Effect

2. Visitas de Monitória aos

Parceiros

4. Encontro entre as OSC da área do ambiente com o

MITADER

6. Treinamento em FRAS (Fair resource allocation system) para as IPO e Em-baixada da Suécia

7. Seminário Internacional sobre Direitos Humanos, Meio Ambiente e

Acesso á Informação

8. Conferência sobre Direito à Informação e

Cidadania

5. Treinamento do staff da We Effect

em HRBA

3. Formação em Administração e Finanças para as organizações

parceiras

2ª Semana

Segunda quinzena

Segunda quinzena

Segunda quinzena

Primeira quinzena

Segunda quinzena

WE

EFFE

CT

IBIS

Artigo 8

Principio de participação democrática

A permanente participação do cidadão na vida pú-blica pressupõe o acesso à informação do interesse público, de modo a formular e manifestar o seu juízo de opinião sobre a gestão da coisa pública e assim in-fluenciar os processos decisórios das entidades que exercem o poder político

Artigo 16

Prazo para disponibilização de informação

As autoridades administrativas competentes devem facultar a consulta de documentos ou processos e pas-sar certidões solicitados, no prazo máximo de vinte e um dias, a contar da data da entrada do pedido.

(Lei número 34/2014 de 31 de Dezembro)

(Tome nota)

Os direitos da criança no Código Penal

A REDE DA CRIANÇA recebeu com grande louvor o facto do legislador moçambicano ter introduzido inovações relevantes no contexto da observância dos Direitos Humanos, em parti-cular dos direitos da criança, no quadro legal moçambicano, através do Código Penal aprovado pela Lei n.º 35/2014, de 31 de Dezembro.

Dos diversos aspectos significativos introduzidos pelo novo Código Penal no quadro dos direitos da criança, a REDE DA CRIANÇA elege a garantia legal, prevista no artigo 250 nº 2 do Código Penal.

Este preceito determina a pena de prisão até seis meses para o progenitor que, num período superior a 60 dias, se abster de prestar alimentos, sustento, habitação, vestuário, saúde, educa-ção e lazer as crianças.

A REDE CRIANÇA entende que o novo Código Penal irá, de certa forma, assegurar o cumprimento do artigo 285 da Lei da Família (Lei n.º 10/2004, de 25 de Agosto), segundo o qual “Os pais estão obrigados a prover ao sustento dos filhos e a assumir as despesas relativas à sua segurança, saúde e educação até que eles estejam legalmente em condições de as suportar através do produto do seu próprio trabalho ou de outros rendimentos.”

O desafio agora está no judiciário e no Executivo. O judiciário tem o desafio de aplicar a medida, enquanto que

o Executivo o de definir procedimentos administrativos claros sobre as bases de determinação dos rendimentos de quem é obrigado à prestação de alimentos para as diversas categorias de trabalhadores, nomeadamente os trabalhadores dependen-tes, os trabalhadores por conta própria, trabalhadores domés-ticos entre outras categorias que caracterizam a forma legal de obtenção de rendimento em Moçambique.

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Rua Fernao Melo e Castronº 124, MaputoTel: +258 21 49 95 22/3Cell: +258 82 30 30 022 +258 82 30 95 250 +258 21 49 95 36E-mail: [email protected]: www.ibismo.org

Rua do Parque nº 19, MaputoTel: +258 21 49 29 48Fax: +258 21 48 87 16Cell: +258 82 30 67 839E-mail: [email protected]: www.oxfam.org/mozambique

Bairro Sommershield 2, Rua 3510, Nº 188, MaputoTel: +258 21 496053Fax: +258 21 496053Cel: +258 82 9859505E-mail: [email protected]: www.diakonia.se

Av. Paulo S. Kamkhomba nº 280 | Tel: +258 2149 7861Fax: +258 2149 7862 | E-mail: [email protected]

Maputo - Moçambique

Por: Rede Criança