revista brasília maputo 2012

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Brasília Maputo Ano 2012 N° 03 www.cciabm.com Revista da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique - CCIABM AGRONEGÓCIO Especial ProSavana: Moçambique aumenta seu potencial em atração de investimentos Entrevista com o Diretor África da Camargo Corrêa Entrevista com o Diretor Geral da Vale em Moçambique EXCLUSIVO VEJA TAMBÉM: Diretor da Eletricidade de Moçambique fala sobre a expansão da rede elétrica nacional

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A revista Brasília-Maputo, pretende apresentar Brasil e Moçambique aos empresários dos mesmos, bem como seus contextos atuais. Com um conteúdo diversificado, predominantemente econômico, a revista objetiva informar e, principalmente, apresentar as oportunidades de negócios existentes em ambos os países, cuja aproximação se faz imperiosa.

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Page 1: Revista Brasília Maputo 2012

Brasília MaputoAno 2012N° 03

www.cciabm.com

Revista da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique - CCIABM

AGRONEGÓCIOEspecial ProSavana: Moçambique aumenta seu potencial em atração de investimentos

Entrevista com o Diretor África da Camargo Corrêa

Entrevista com o Diretor Geral da Vale em Moçambique

EXCLUSIVO

VEJA TAMBÉM: Diretor da Eletricidade de Moçambique fala sobre a expansão da rede elétrica nacional

Page 2: Revista Brasília Maputo 2012

Fundada em 2008, a Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambiqulucrativos, cujo principal objetivo é fomentar o relacionamento socioeconômico entreoportunidades que cada país tem a oferecer. Com unidades ao longo de todo o território escritório próprio em Maputo, com uma equipe totalmente capacitada para atender às suas

Atividades Desenvolvidas- Desenvolvimento do Comércio Bilateral entre Brasil e Moçambique;- Atração e promoção de investimentos recíprocos;- Pesquisas de mercado;- Organização de Missões Empresariais para ambos os países;- Recepção de delegações de empresários e autoridades moçambicanas ao Brasil;- Auxílio na entrada de empresas e desenvolvimento de negóciosentre os dois países;- Fornecimento de informações entre os dois países;- Fonte de contatos empresariais e governamentais;- Prospecção de parcerias visando interesses mútuos.

Envie um email para [email protected] ou ligue para +258 84 951 9413 para receber a nossa visita.

A CCIABM inaugurou seu escritório em Maputo, trazendo as oportunidadpara mais perto de você

“Por um melhor relacionamentre Brasil e Moçambique”

Page 3: Revista Brasília Maputo 2012

mbique - CCIABM, é uma associação sem fins entre Brasil e Moçambique, aproveitando as ório brasileiro, a CCIABM conta agora com um suas necessidades

idades de negócios do Brasil

namento socioeconômico ue”

Page 4: Revista Brasília Maputo 2012

Queremos fazer você ver melhor!

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acredita que a sua visão é um de seus bens mais

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Page 5: Revista Brasília Maputo 2012
Page 6: Revista Brasília Maputo 2012

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Page 7: Revista Brasília Maputo 2012

É com imenso prazer e satisfação que apresento a 3ª edição da Revista Brasília Maputo, última que assino como Presidente Honorário da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique – CCIABM. Uma excelente fonte de informação, visto que são mais de 04 anos atentos aos interesses dos nossos associados e parceiros, e direcionada para o vasto público interessado no relacionamento socioeconômico entre Brasil e Moçambique.

Moçambique e Brasil são países que compartilham forte semelhança histórica, especialmente em razão de ambos terem sido colônia portuguesa. Além da herança linguística, os dois países estão muito próximos em termos culturais, criando uma atmosfera extremamente favorável à integração e cooperação. O Brasil tem grande potencial para promover, junto aos moçambicanos, o desenvolvimento do país, como já vem sendo feito através de profícuas parcerias com os seto-res público e privado.

Nos últimos anos, os índices de desenvolvimento de Moçambique têm obtido destaque no cenário internacional. Sua economia atingiu o 8º lugar no ranking publicado pelo Banco Mundial em janeiro de 2011 sobre as economias em crescimento, atingindo uma média de 7,9% de expansão do PIB ao ano. Isso reforça minha colocação, enquanto represen-tante de Moçambique em solo brasileiro, de que o Brasil, sendo a 7ª economia do mundo, possa encontrar em meu país uma fonte de parcerias e negócios favoráveis para ambos.

Baseio minha fala em fatos concretos, de projetos desenvolvidos por grandes empresas brasileiras, que demons-traram pioneirismo e visão ao acreditar em Moçambique. Pode-se citar a ampla diversifi cação dos negócios, entre diversos exemplos, o apoio do BNDES com fi nanciamentos nos projetos de cooperação, os Centros de Formação em Maputo, a construção do aeroporto de Nacala e uma barragem na Província de Maputo; a criação de uma fábrica de medicamentos antirretrovirais pelo Governo brasileiro; a parceria trilateral entre Brasil-Japão-Moçambique na agricultura, com o projeto PROSAVANA, que pretende aplicar modelos de desenvolvimento agrícola sustentável e segurança alimentar; o projeto Moatize, desenvolvido pela mineradora Vale, tem atraído muitas empresas fornecedoras de suprimentos vindas do Brasil; entre outras grandes como OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa.

Já são mais de 04 anos de trabalho intenso e próspero da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil--Moçambique – CCIABM estimulando relações bilaterais entre os dois países. Nós, Embaixada e Câmara, estamos unidos em um relacionamento voltado à divulgação das oportunidades de negócios e investimentos existentes entre os dois países, principalmente os apresentados nesta publicação.

Aproveito este espaço para despedir-me como Embaixador de Moçambique, grato pelo suporte oferecido a mim no Brasil, explicitando minha satisfação por trabalhar neste esplêndido país. Enveredarei novos desafi os com a certeza de que construí fortes laços com a nação brasileira. Desejo a esta equipe, da qual muito me orgulho, um futuro promissor no fomento das relações socioeconômicas entre Brasil e Moçambique.

Parabenizo a CCIABM pela realização da Revista Brasília Maputo que em sua 3ª edição continua a nos surpreen-der com a qualidade inquestionável de seus artigos elaborados por ilustres personalidades atuantes no mercado moçam-bicano. Além disso, a publicação nos presenteia com informações coesas e precisas sobre as oportunidades de negócio, mercado, logística, comércio, curiosidades e entrevistas de interesse para as duas nações.

Exmo. Sr. Murade Isaac Murargy - Embaixador da República de Moçambique no Brasil e Presidente Honorário da CCIABM

Palavra da CCIABM

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

7PALAVRA DA CCIABM | N°03 - 2012

Page 8: Revista Brasília Maputo 2012

Entrevista Camargo Corrêa1012 Cultura

14 Legislação

17 Entrevista Africare

Curiosidades20Entrevista Vale22

28 Desenvolvimento Sustentável

32Especial ProSavana - Entrevista ABC36Especial ProSavana - Entrevsita JICA38Especial ProSavana40

Especial ProSavana - Embrapa43Perfi l de Negócios48Encontro50

SUMÁRIO

Geografi a26

Energia em Moçambique

Expediente – Revista Brasília Maputowww.cciabm.com

Editor ChefeSr. Carlos Eduardo Miranda

CoordenaçãoSra. Giovanna Samia Lopes

RedaçãoRua da Paisagem, 220 – Bairro Vila da Serra – Belo HorizonteMinas Gerais – Brasil

Para [email protected] +55-31-3243-3012

CirculaçãoBrasil e Moçambique

Tiragem2.000 exemplares

Projeto Gráfi coCarlos Eduardo MirandaJornalista Diagramador sob registroMG 0016580www.losdoda.com

Presidente HonorárioExmo. Sr. Murade Isaac Murargy

DiretoriaSr. Rodrigo Coelho de OliveiraSr. Paulo Henrique RageSr. Fábio Lopes ValeSr. Flávio Sotelo Pimentel

Gerências RegionaisSr. Joaquim FirminoSr. Éverson JúniorSr. Roberto MarinhoSr. Tiago Alvim Benevides

*Os artigos e entrevistas presentes nesta revista foram redigidos de acordo com a gramática utilizada pelo país (Brasil e Moçambique) de origem do articulista ou entrevistado.

Sr. Ricardo Saad, Diretor da Vale Moçambique, fala sobre os projetos em África

Coordenador Técnico do ProSavana, Sr. Calisto Bias, apresenta dados do programa de cooperação técnica entre Brasil-Japão-Moçambique

PTJT

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Page 9: Revista Brasília Maputo 2012

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Page 10: Revista Brasília Maputo 2012

1. Considerando os anos que o senhor tem vivido em África, principalmente agora a frente da dire-toria da Camargo Corrêa, quais são suas princi-pais motivações e os maiores desafi os em relação aos trabalhos em Moçambique?

Considero que o Continente Africano sem qual-quer duvida, hoje apresenta as maiores oportuni-dades para desenvolvimento de negócios em inú-meras áreas e segmentos. Portanto as empresas que desejam se internacionalizar e estabelecer suas operações de forma global não podem negligenciar esta realidade, sob a pena de fi carem de fora de um futuro bem próximo. Sobre Moçambique desde que chegamos, além dos projetos que estavam sen-do desenvolvidos temos presenciado dia após dia as descobertas de grandes reservas minerais com riquezas que deverão ser exploradas em médio e longo prazo, o que tem mudado completamente o ritmo de crescimento do país.

2. A Camargo Corrêa é um grupo com varias frentes e potenciais de atuação no mercado. Atu-almente, quais são os projetos em andamento em Moçambique que a Camargo Corrêa está envol-vida e quais já foram concluídos?

Primeiramente estivemos envolvidos na Primeira Fase da Mina de Carvão de Moatize. Este projeto foi desenvolvimento na modalidade contratual de

Aliance com a Vale e foi concluído em Dezembro de 2011. Também nesta mesma modalidade em Aliance tivemos participação no Desenvolvimen-to de Engenharia e Planejamento do Projeto do Corredor Moatize – Nacala, um projeto Ferroviá-rio que inclui novos trechos a serem implantados, bem como a restauração e modernização de vários outros. Agora estamos participando de várias lici-tações e esperamos a adjudicação de alguns trechos para execução dos serviços entre Moçambique e Malawi. Outro Projeto de grande relevância para o país que estamos particiapando como “Develo-per” é na area de energia com geração hidráulica, a UHE – Mphanda Nkuwa proximo a cidade de Tete, no rio Zabeze com capacidade de 1.500 MW. A Ca-margo Corrêa estuda este projeto e desenvolve em Project Finance com parceiros locais desde 2005, agora está entrando na fase de fi nalização para o Financial Close e as obras deverão arrancar no se-gundo semestre do proximo ano.

3. Tendo em vista os grandes projetos que a Ca-margo Corrêa tem desenvolvido em Moçambi-que, de que forma o senhor avalia o cenário atual do país, principalmente no que tange a entrada de novas empresas brasileiras que buscam inter-nacionalização?

Estamos diante de um grande desafi o, mas tam-bém de grandes oportunidades e se constitui num

Obras ferroviárias são um dos focos de atuação da Camargo Corrêa em Moçambique

Entrevista com o Diretor daCamargo Corrêa na África

Sr. Edilson Rocha Dias

Estamos diante de

um grande desafi o, mas

também de grandes

oportuni-dades

10 N°03 - 2012 | ENTREVISTA CAMARGO CORRÊA

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ambiente propício a entrada de novos “players” no mercado, atraídos pela possibilidade de realizar novos negócios com qualidade e excelência de per-formance. No entanto, não adianta só o entusias-mo. Será preciso muito trabalho e dedicação para acompanhar a tragetória e evolução do mercado de forma equilibrada, conjugando as diferenças cultu-rais e mesmo a escassez de pessoal treinado para realizar as principais tarefas da operação. Então, vemos uma grande atratividade para as empresas brasileiras que buscam a interncionalização, mas ressaltamos que será preciso uma boa preparação, capital e espírito de empreendedorismo até viabi-lizar a operação e conseguir sustentabilidade em projetos de interesse nacional.

4. Os projetos envolvem uma vasta cadeia de pro-dução e transporte especializado, além da gran-de variedade de equipamentos de grande porte. Como a Camargo Corrêa está buscando fornece-dores e prestadores de serviços para seus projetos em Moçambique? O país consegue suprir toda a demanda que tais empreendimentos exigem? Se não, qual tem sido a solução encontrada?

Com a crise na Europa estamos tendo muitas ofer-tas de empresas portuguesas e mesmo espanholas que desejam atuar no mercado de África, sem dei-xar de lado a grande infl uência da South Africa, cujas principais empresas do ramo já se fazem pre-sentes ou representadas em Moçambique. Estamos estudando várias possibilidades de utilização de parceiros locais (são muito poucos a desenvolver), e outros que vêm de fora para compor nossas estra-tégias de atuação. Agora, do Brasil traremos apenas o pessoal das posições estratégicas, pois, não há disponibilidade (bons profi ssionais no Brasil estão empregados e muito demandados), e os custos de expatriação praticamente inviabilizam esta mobili-zação.

5. A Camargo Corrêa possui participação na concessão para construir a barragem de Mphanda Nkuwa, este que possivelmente é o maior empreendimento da Camargo Corrêa em Moçambique. Quais são as projeções acerca do projeto, visto o enorme potencial energético do país? Como o senhor avalia este empreen-dimento no que diz respeito aos negócios que ele pode gerar em relação a investimentos e ex-portação?

Como já informamos este é um Projeto Âncora, pois agrega todo o potencial de tecnologia e Gestão da Camargo Corrêa, que construiu mais de 50% de todo o potencial hidrelétrico instalado no Brasil. Assim, estamos trazendo todo o nosso conheci-mento e expertise para um projeto específi co e que hoje tem um apelo extraordinário, tanto para Mo-

çambique como para toda a região da África Aus-tral. O projeto está sendo desenvolvido em Project Finance, com venda de energia e deverá contar com a participação de vários operadores de gran-de importância a nível mundial (EDF – francesa, a Eletrobrás – Brasileira, a ESKOM – Sul Africa-na, entre outros), como Shareholders da empresa HMNK – Hidroelétrica de Mphanda Nkuwa cria-da para ser a SPE para o projeto. As oportunidades serão inumeras para empresas que queiram se mo-bilizar para prestar serviços neste grande empreen-dimento, mas estamos também dedicando atenção especial para o “Local Content”, pois faz parte da nossa fi lisofi a de atuação a formação e desenvolvi-mento de empresas locais para participar de toda a cadeia de suprimentos e execução de serviços ao longo da implantação do Projeto. 6. O senhor acredita que o crescimento econômi-co e o desenvolvimento humano em Moçambique estão atrelados aos investimentos que empresas comprometidas com a sustentabilidade, como a Camargo Corrêa, têm feito no país? Quais são as ações praticadas pela Camargo Corrêa?

Um dos grandes pilares da nossa estratégia é exac-tamente este: o crescimento econômico deverá estar atrelado ao desenvolvimento humano, como forma de legado que pretendemos deixar no Conti-nente através da sustentabilidade das nossas opera-ções. A nossa atuação tem sido muito direcionada desde já para as comunidades no entorno de cada projeto e notadadamente no caso de Mphanda, já estamos trabalhando dentro deste conceito. Temos uma equipe da area de Meio Ambiene e Respon-sabilidade Social que está desenvolvendo um tra-balho alinhado com todos os requisitos legais e das principais entidades fi nanciadoras de projetos similares em todo o mundo, a fi m de já estarmos adiante quando for realizado o reassentamento, proporcionando treinamento profi ssional e apoio para as comunidades se desenvolverem mesmo durante a implantação do projeto. Por exemplo, temos um projeto na área de agricultura para as-segurar que as atuais “machambas”, sejam desen-volvidas e adequadas para a produção de alimentos em condições de atender os próprios refeitórios dos canteiros de Obras onde estarão no pico da ordem de 5.000 trabalhadores. No treinamento já temos convênio fi rmado com o Instituto de Forma-ção Profi ssional presente em Tete e mesmo antes de começar a mobilização queremos dar oportuni-dade para os trabalhadores locais, que até o inicio das obras estarão em condições de ingressar nos quadros das empresas que lá estarão trabalhando. Entendo sim que este será o maior legado que dei-xaremos para a população, o seu desenvolvimento profi ssional e sustentável.

EntrevistaCâmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

11ENTREVISTA CAMARGO CORRÊA | N°03 - 2012

Page 12: Revista Brasília Maputo 2012

A história da Cinevideo com o continente africano começou em 2007. Durante a MIP-

COM, uma feira internacional da área, contatamos, pela primeira vez, uma emissora de televisão de Mo-çambique. No ano seguinte, a TV nos convidou para comandar um projeto especial: formar uma equipe qualifi -cada de profi ssionais moçambicanos. Decidimos que a melhor solução para o desafi o seria transmitir as técnicas para o grupo na prática. Montamos uma equipe de vinte e cinco profi ssio-nais brasileiros e mais de cem moçam-bicanos, e dessa troca de experiências, produzimos a minissérie N’Txuva – Vidas em Jogo, a primeira telenovela

do país. N’Txuva tornou-se rapida-mente um sucesso de audiência e opi-nião por tratar de temas da saúde pú-blica moçambicana, com o principal objetivo de sensibilizar a população local sobre assuntos como combate à malária, cólera, HIV/SIDA, entre ou-tros temas relevantes para o país.Depois da incrível experiência obti-da por meio do projeto, percebemos a necessidade de investir em uma es-trutura de produção audiovisual lo-cal para compreendermos melhor as demandas de trabalho dos mercados africanos em geral. Assim, em 2009 surgiu nosso primeiro escritório no exterior, em Maputo, sob o nome de Cine Internacional. Tínhamos convic-

ção que era importante conviver com este mosaico de culturas e realidades africanas, despindo-nos dos estereó-tipos que recaem injustamente sobre o continente. Hoje, nosso escritório de Maputo conta com uma equipe de profi ssionais moçambicanos com alto grau de qualifi cação que oferece servi-ços de padrão técnico elevado - uma prática que buscamos manter nas pro-duções audiovisuais.O dia-a-dia da Cinevideo em Maputo envolve produções em Moçambique e em alguns países vizinhos como Tanzânia, Malawi e Angola. Nossas produções são destinadas às organi-zações e instituições governamen-tais e não governamentais, empresas

ÁFRICA em focoSra. Mônica Monteiro - Presidente da Cinevídeo

Nosso envolvimento com o continente africano tem se intensifi cado cada vez mais. Acreditamos no potencial desse continente que mostra um crescente interesse pelo mercado televisivo e cinematográfi co e, sobretudo, res-peitamos a sua diversidade cultural.

12 N°03 - 2012 | CULTURA

Page 13: Revista Brasília Maputo 2012

moçambicanas e também empresas multinacionais. Também temos reali-zado diversas parcerias com institui-ções locais para o desenvolvimento de materiais educativos, por exemplo. Já produzimos vídeos educativos sobre a importância dos nutrientes e de uma alimentação diversifi cada, que, inclu-sive, traduzimos para alguns idiomas locais. A Cinevideo também tem em seu portfólio moçambicano, vídeos voltados a professores primários sobre educação inclusiva envolvendo crian-ças portadoras de defi ciências senso-riais.O nosso envolvimento com o conti-nente africano tem se intensifi cado cada vez mais. Aproveitamos nossa estrutura local para diferentes tipos de produção. Em nosso primeiro fi lme documentário em território africano, o Mama África, a equipe visitou dez países – Moçambique, Suazilândia, África do Sul, Tanzânia, Malawi, Mar-rocos, Senegal, Cabo Verde, Guiné--Bissau e Gana. O principal objetivo deste documentário era mostrar a vi-são dos próprios africanos sobre suas realidades, culturas e tradições. Cons-truímos este quebra-cabeça de diver-

sidades com depoimentos de anôni-mos e ilustres. O fi lme teve grande repercussão e acabou participando de diversos festivais.Na produção do documentário Dru-ms – Tambores do Mundo, fi rmamos uma parceria com a TV árabe Aljaze-era para a produção e exibição do do-cumentário em 43 países do Oriente Médio e continente africano. Mostra-mos as infl uências e signifi cados desse instrumento ancestral em seis dife-rentes países: Moçambique, Zâmbia, Catar, Portugal, China e Brasil. Re-centemente fomos contratados para produzir uma série sobre a África que será exibida no Brasil. Mais de oitenta pessoas, entre brasileiros e africanos, foram mobilizados e se envolveram diretamente nas produções gravadas em trinta países do continente. A sé-rie apresenta os países africanos aos telespectadores brasileiros sob uma visão contemporânea, considerando toda sua multiplicidade de culturas e resgatando as infl uências que exerce sob o Brasil.Atualmente estamos no processo de gravação de uma nova e surpreenden-te série televisiva que contará a vida de quinze presidentes africanos. Em Mo-

çambique, durante o Festival do Filme Documentário, o Dockanema, fare-mos o lançamento internacional do nosso mais novo documentário: Mu-lheres Africanas – A Rede Invisível. O fi lme retrata a atuação das mulheres na África e a rede fi namente traça-da por elas na sustentação do tecido social. O documentário conta com a participação de mulheres africanas de projeção internacional: Graça Machel (Moçambique), Leymah Gbowee (Li-béria), Luisa Diogo (Moçambique), Nadine Gordimer (África do Sul) e Sara Masasi (Tanzânia).Acreditamos no potencial desse con-tinente que mostra um crescente inte-resse pelo mercado televisivo e cine-matográfi co e, sobretudo, respeitamos a sua diversidade cultural. Sabemos que ainda temos muito a aprender e, por isso, sempre investiremos na tro-ca de experiências e na formação dos nossos profi ssionais, seja em Moçam-bique ou em qualquer outro país do continente. Com isso, ganhamos mais autenticidade em nossas produções e agregamos conhecimento por onde passamos.

Moçambicanos durante gravação do Documentário Tambores do Mundo

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

13CULTURA | N°03 - 2012

Page 14: Revista Brasília Maputo 2012

O grande potencial econômico e as inú-meras oportunidades de negócios, além de contar com grande disponibi-

lidade de recursos naturais e grande extensão territorial, fazem com que Moçambique seja a porta de entrada no continente africano para empresas brasileiras. Possuindo economia di-versifi cada e apresentando oportunidades de investimento em diferentes setores, Moçam-bique pode ser fonte de bons negócios para as empresas brasileiras que lá desejam investir. Ademais, o volume de comércio entre o Brasil e Moçambique tem se tornado cada vez maior e o país africano é um dos principais focos do investidor brasileiro no continente africano.

Investimentos de empresas brasileiras em Moçambique Aspectos legais relevantes em ambas as legislações

Para investir em Moçambique deverá o investi-dor se atentar para uma série de aspectos legais relevantes em ambas as legislações, para que consiga minimizar custos e riscos, bem como obter o máximo de sucesso no seu empreendi-mento. O início da preparação para o investi-mento se inicia com o planejamento da estrutu-ra societária do negócio, devendo o investidor estrangeiro em Moçambique optar pela forma societária mais adequada, seja através da consti-tuição de uma representação da respectiva em-presa estrangeira, ou constituindo uma empresa controlada de direito moçambicano, que po-derá ser uma sociedade limitada ou anônima, ambas previstas na legislação moçambicana. No lado brasileiro, é importante defi nir quem serão os acionistas, pois refl exos trabalhistas e tribu-tários diversos poderão derivar desta escolha, seja pela defi nição de que a empresa brasileira holding ou operacional será a sócia, seja pela escolha por uma holding localizada no exterior, ou ainda por sócios estrangeiros pessoas físicas. A minimização de riscos do empreendimento e o isolamento contábil para garantir maior efi ci-ência à operação deverão pautar o grau de com-plexidade da estrutura defi nida. Em Moçambique, o investidor estrangeiro tem os mesmo direitos e está sujeito aos mesmos de-veres e obrigações aplicáveis aos nacionais. As sociedades comerciais podem ser inteiramente detidas por investidores estrangeiros, havendo restrições ao capital privado única e exclusi-vamente em áreas de atuação restrita do setor público. Insta enfatizar que o encaminhamento e aprovação prévios do projeto de investimento ao governo moçambicano, via Centro de Pro-moção de Investimento – CPI, poderá facilitar

Dr. Paulo Henrique Teixeira Rage - Diretor da CCIABM e sócio do Bernardes & Advogados Associados

14 N°03 - 2012 | LEGISLAÇÃO

Page 15: Revista Brasília Maputo 2012

inúmeras questões operacionais do empreendimento após a sua consti-tuição.No que tange ao planejamento tri-butário do negócio, em Moçambi-que, os tributos são denominados de impostos e dividem-se em im-postos nacionais e autárquicos, sen-do os primeiros diretos e indiretos, e os segundos fi xados pelo governo do país a cada ano. Os investidores, prestadores de serviços, emprega-dores e trabalhadores estrangeiros, no exercício das atividades, sujeitar--se-ão, tal como os nacionais, aos mesmos deveres e obrigações dis-postos na legislação tributária mo-çambicana. Assim como na legislação brasileira, o principal tributo direto é o Impos-to sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas – IRPC, que se assemelha ao Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas – IRPJ, incidindo sobre o lucro das empresas. Para determina-ção de sua base de cálculo e quan-tum tributável, são computadas do cálculo do imposto algumas parce-las dedutíveis, nos termos da Lei.Em relação aos tributos indiretos, em Moçambique existe o Imposto sobre Valor Adicionado - IVA, que incide sobre o valor agregado, tal como estruturado em diversos paí-ses (a título de exemplo, os integran-tes da União Europeia e os demais países do MERCOSUL). No sistema tributário brasileiro, ele seria similar a vários tributos somados (ICSM, ISSQN, IPI, PIS e COFINS) e incide sobre as operações de circulação ou entrega de bens a título oneroso, a prestação de serviços a título one-roso e a importação de bens. Além do IVA e do IRPC, outros tributos se destacam, como o Imposto sobre Consumos Específi cos – ICE, Di-reitos Aduaneiros, Imposto do Selo, dentre outros.

Detalhe deveras importante para a empresa brasileira que pretende in-vestir em Moçambique é o fato de que o Brasil necessariamente bitri-buta as empresas que possuem fi -liais, controladas ou coligadas no ex-terior. A legislação brasileira obriga que o lucro apurado no exterior seja adicionado ao lucro da matriz ou sócia no Brasil. Sendo assim, para que o investidor não seja bastante onerado e o próprio investimento não se viabilize, torna-se necessá-ria a verifi cação mais aprofundada sobre as possibilidades e condições de compensação do tributo pago em Moçambique com o tributo a pagar no Brasil, bem como um planeja-mento tributário de toda a operação, com o intuito de minimizar este pe-sado ônus que o legislador brasileiro infelizmente optou por imputar às empresas brasileiras que investem no exterior.No que diz respeito aos aspectos trabalhistas, cabe salientar que a legislação moçambicana apresenta princípios básicos muito similares àqueles que imperam no Brasil e foi organizada de forma a corroborar o investimento no país, ou seja, ao mesmo tempo em que garantidora de direitos individuais dos traba-lhadores, não desencoraja o empre-gador, possuindo aspectos liberais, fl exíveis e inovadores. Apesar de possuir encargos signifi cativamente reduzidos em relação aos encargos brasileiros, vale destacar alguns as-pectos específi cos no que diz res-peito à contratação de estrangeiros, devendo o empregador providenciar a comunicação ou autorização ao governo moçambicano, conforme o caso, em consonância com a quota legal permitida. O investidor brasileiro terá, assim, grande facilidade de adaptação ao sistema laboral moçambicano, tendo em vista a sua menor complexidade

frente ao sistema brasileiro. Entre-tanto, muito cuidado é necessário no momento do envio de trabalha-dores brasileiros expatriados para trabalho em Moçambique. Faz-se necessária uma análise meticulosa de ambas as legislações para a veri-fi cação de como proceder com o pa-gamento de cada um dos encargos, para evitar a potencial incidência dos mesmos em ambos os países e a minimização de riscos, principal-mente perante o governo brasileiro, que determina uma série de obri-gações que deverão ser observadas para o envio de trabalhadores bra-sileiros ao exterior para trabalhar em empresas do mesmo grupo eco-nômico da empresa investidora.

Moçambique certamente apre senta inúmeras oportunidades para as empresas brasileiras, e para apro veitá-las com o má-ximo de segurança e mini mizando riscos, o investidor deverá avaliar os impactos das duas legisla-ções, brasileira e moçambica-na, sendo isto determinante para um bom pla-nejamento trabalhista, tributário e societário, com o in-tuito de ma-ximizar o s u c e s s o do seu negócio.

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Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

LEGISLAÇÃO | N°03 - 2012

Page 16: Revista Brasília Maputo 2012
Page 17: Revista Brasília Maputo 2012

Ações que visam a melhoria da segurança alimentar na província de Nampula

1. Srenhor Eric Lundgren, como aconteceu seu envolvimento com a África e com a ONG Afri-care, em especial por Moçambique?

Antes de eu juntar-me a Africare trabalhei para o Millennium Challenge Corporation (MCC), uma agência do governo americano que fi nan-cia projetos para promover o crescimento eco-nômico nos países em desenvolvimento. No MCC eu era responsável pelos programas sociais e ambientais e, em particular, os programas de reassentamento no Nicaragua, Honduras, Cabo Verde e Tanzânia. Quando estava no MCC, o CEO interino deixou a instituição para ocupar a posição de Presidente da Africare. Com base

na nossa relação no MCC, ele convidou-me para ocupar a posição de Diretor Nacional da Africa-re em Moçambique. Foi uma oferta irrecusável, tomando em consideração o grande potencial que Moçambique detém.

2. A Africare atua realizando inúmeros pro-jetos para promover assistência aos países da África, conte-nos um pouco mais sobre a atua-ção da Africare no continente africano.

A Africare foi fundada em 1970 e tem imple-mentado projetos avaliados em cerca de US$1 bilhão em 36 países da África desde então. Es-tamos centrados em três áreas: agricultura e se-

Entrevista com o Diretor nacional da Africare em Moçambique

Sr. Eric Lundgreen

Moçambi-que tem um grande potencial para pas-sar por uma transfor-mação si-milar a do Brasil

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

17ENTREVISTA AFRICARE | N°03 - 2012

Page 18: Revista Brasília Maputo 2012

gurança alimentar; HIV/SIDA e saúde; e água, saneamento e higiene. Atualmente a Africare possui 121 projetos em 20 países estimados em US$224 milhões.

3. Quais os principais projetos executados pela Africare em Moçambique?

Atualmente são cinco projetos desenvolvidos pela Africare em Moçambique. O maior de to-dos é o programa de agricultura e nutrição que tem como objetivo a melhoria da segurança alimentar na província de Nampula. Trabalha-mos com aproximadamente 20 mil camponeses, 23 mil mães e 40 mil crianças neste programa, atingindo grandes resultados, tanto em aumen-to e rendimentos como na redução da desnu-trição infantil. Estamos realizando em todos os dez distritos da província de Manica um grande programa de HIV/SIDA, onde apoiamos orga-nizações locais para melhorar a sua capacidade de resposta aos desafi os do HIV/SIDA a nível da comunidade. Fornecemos fundos e formação a essas organizações para fornecerem serviços de cuidados domiciliares a pessoas vivendo com HIV/SIDA e apoio a crianças órfãs e vulneráveis afetadas pelo HIV/SIDA. Existem três diferentes programas de reassentamento em Moçambique – dois na província de Nampula e um na província da Zambézia – onde ajudamos famílias afetadas pelos projetos locais de desenvolvimento de in-fraestrutura, afi m de reestabelecer as suas vidas.

4. Qual sua opinião em relação aos altos índi-ces de crescimento econômico em Moçambi-que? A seu ver, de que forma isso tem impacta-do na esfera social?

Moçambique é um dos países com um cresci-mento rápido e dinâmico em África, o que está a criar muitas oportunidades para as melhorias a nível social. A grande quantidade de investimen-tos que estão a chegar ao país irão criar opor-tunidades para os moçambicanos que seriam inimagináveis há alguns anos. No entanto, esses investimentos devem ser feitos de uma forma socialmente responsável, consistente na promo-ção do crescimento econômico para todos e não apenas os que têm a sorte de entrar no “boom de recursos”. Até agora, todos os grandes inves-tidores internacionais demonstram o compro-misso de fi nanciar programas sociais ligados aos seus investimentos, contudo, o governo também deve assegurar que os rendimentos estão sendo usados para promover a melhoria e crescimento

econômico com ações compatíveis ao bem-estar da população.

5. Na sua visão, qual aspecto mais importante da cooperação entre Brasil e Moçambique no que tange o desenvolvimento socioeconômico de Moçambique?

Acredito que o ponto mais importante da coo-peração entre Brasil e Moçambique, envolve as entidades brasileiras, empresas do sector priva-do e do governo, trazerem as suas experiências na promoção do “crescimento inclusivo”, onde todos os segmentos da população se benefi ciem. Moçambique tem um grande potencial para pas-sar por uma transformação similar a do Brasil durante os últimos 50 anos, por isso os grupos de brasileiros podem desempenhar um papel pre-ponderante neste processo. Moçambique tem, em particular, um enorme potencial nos setores da indústria extrativa e agricultura e o Brasil já demonstrou sua capacidade de gerir investimen-tos nestas áreas para garantir que os benefícios destes investimentos sejam partilhados por to-dos. Com o intuito de facilitar este intercâmbio, a Africare abriu um escritório no Brasil que forne-cerá ao governo brasileiro e a empresas do setor privado acesso aos nossos 40 anos de experiência no continente africano.

6. A sustentabilidade tem sido um tema mui-to recorrente nos principais debates interna-cionais. Levando em consideração o grande crescimento econômico de Moçambique nos últimos anos, a Africare se envolve na defesa desta causa?

Absolutamente. Conforme mencionei acima, tanto o governo quanto o setor privado devem estar comprometidos para se garantir a susten-tabilidade dos ganhos deste crescimento econô-mico através de sua partilha entre toda a popu-lação e não apenas entre os poucos afortunados. Para ajudar a alcançar este objetivo, a Africare está trabalhando em parceria com o Governo de Moçambique, investidores do sector privado, in-cluindo algumas empresas brasileiras, e doadores estrangeiros tradicionais com vista a garantir que os ganhos conseguidos pelo país sejam partilha-dos com as populações que seriam excluídas, dai que o lema da Africare é “o nosso trabalho come-ça onde a estrada termina”! En

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18 N°03 - 2012 | ENTREVISTA AFRICARE

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Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

19ENTREVISTA AFRICARE | N°03 - 2012

Page 20: Revista Brasília Maputo 2012

Você saO Porto de Nacala é um porto internacional localizado ao norte de Moçambique com 60 metros de profundidade e 800 metros de largura à entrada. O porto serve não apenas às províncias localizadas no interior do país, como também ao Malawi a Oeste - um país que não possui acesso ao mar - através de uma rede ferroviária de cerca de 900 quilômetros. As cargas manuseadas na região são compostas de forma básica por produtos agrícolas, como tabaco, cereais, grãos e madeira, e derivados de minério, como carvão, clinker, cimento e combustíveis. Por ser um porto abrigado, dotado de baía natural, sem necessidade de contenção, e de águas profundas, o Nacala apresenta condições excepcionais de navegabilidade, não dependendo de marés ou dragagem, o que permite o movimento de navios 24 horas por dia, sem restrições de calado e tamanho, com exceção do trânsito ao longo do cais.

Moçambique localiza-se na costa leste do sul da África, banhado pelo no Oceano Índico o país tem uma área total de 801.590 quilômetros, dos quais 2% estão compostos por água. Tem cerca de 1.750 quilômetros de comprimento e largura máxima de 1.100quilômetros. Existem basicamente três divisões geográficas, a faixa litorânea que abrange por volta de 44% do território; planalto médio, variando de 200 - 1.000 metros de altitude e cobrindo cerca de 29% da extensão da região; e um planalto e região serrana (com elevações médias de cerca de 1.000 metros) que localizam-se ao norte do rio Zambeze e abrangem 27% do país. Estima-se que 60 milhões de hectares, ou 78% da área total de Moçambique sejam cobertas por vegetação natural. Esta é composta por floresta alta (0,8%), floresta baixa (13,8%), vegetação rasteira (43,4%), pastagens arborizadas (19,5%) e manguezais (0,5%). O total de terras passíveis de cultivo é calculado em aproximadamente 36 milhões hectares, o que dota ao país grande possibilidade de produção.

20 N°03 - 2012 | CURIOSIDADES

Page 21: Revista Brasília Maputo 2012

sabia?

A bandeira de Moçambique é composta três faixas horizontais de tamanhos iguais em verde, preto e amarelo. Compõe-se ainda por um triângulo isósceles na cor vermelha em uma das laterais, e estreitas faixas brancas intercaladas entre o verde, preto e amarelo. No centro do triângulo existe uma estrela de cinco pontas, com um rifle e uma enxada sobrepostos a um livro aberto. A cor verde representa a diversidade natural do país, a branca a paz que vigora na região, a preta o continente Africano, a amarela as abundantes riquezas minerais, e a vermelha a luta pela independência e

soberania. O rifle simboliza a constante vigilância, a enxada refere-se à força da agricultura no país, o livro aberto salienta a importância da educação, e a estrela representa o marxismo e o internacionalismo.

A Barragem Cahora Bassa localiza-se na província de Tete, no rio Zambeze. Sua reserva artificial é a quarta maior do continente Africano, com profundidade definida em 26 metros e 2.700 quilômetros de extensão. Sua construção foi iniciada em 1969 e finalizada em 1974 através do Plano

de Desenvolvimento do Estado de Zambeze por orientação do governo português, que ainda detinha controle sobre o território de Moçambique. Sua construção foi extremamente controversa por seu alto valor simbólico entre os lados contenciosos. Em 2005

foi assinado o Memorando de Entendimento entre Portugal e Moçambique, sendo o controle da Cahora Bassa

completamente devolvido ao segundo país em 2007 por intermédio de pagamento.

Em julho de 2012 foi aprovada pelo governo moçambicano a construção de uma linha férrea de 780 quilômetros que ligará Moatize, província de Tete a Nampula via Malawi. Orçada em aproximadamente US$1,5 bilhão, as obras que começam ainda em 2012 devem se estender por mais três anos. A linha que será a responsável pelo escoamento do carvão mineral produzido no país, também irá realizar o transporte de diversas outras mercadorias e passageiros. O empreendimento faz parte do projeto Corredor de Nacala, um sistema integrado de logística, que tem como objetivo permitir a distribuição do carvão extraído em Moatize, no centro de Moçambique até o Porto de Nacala, província de Nampula, localizada na região no norte do país. Atualmente apenas a linha de Sena realiza tais operações, ligando Moatize ao Porto da Beira, na província de Sofala.

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

21CURIOSIDADES | N°03 - 2012

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1. Moçambique despertou para o desenvolvimen-to econômico na década de 90 e, após abertura para o mundo, vêm crescendo a altos índices. Conte-nos de que forma ocorreu o interesse da Vale por Moçambique.

Moatize em Tete está estrategicamente posicionada para fornecer carvão de alta qualidade. A partici-pação da Vale na produção de carvão faz parte de sua estratégia para adotar um portifólio diversifi -cado, suprindo clientes da indústria do aço e com-plementando nossas ofertas de diferentes tipos de minérios de ferro, pelota e manganês.A Vale chegou a Moçambique em 2004 quando ganhou o concurso internacional para a realização de pesquisas em uma das grandes reservas carbo-níferas do mundo. O Projeto Carvão Moatize está localizado em um ponto estratégico da África e, por isso, pode abastecer os mercados europeu, asiático e brasileiro.

2. O Projeto Moatize, abriu portas para o desen-volvimento econômico da Região Norte de Mo-çambique, especialmente o Corredor de Nacala. Quais são os Projetos implantados pela Vale Mo-çambique para suportar o escoamento da produ-ção de Moatize?

Desde o início das actividades da Vale em Moçam-bique, identifi camos a necessidade de suportarmos a criação de infra-estrutura de logística para garan-tir o transporte e embarque em navios em escala

associada aos volumes estimados. Foi assim que vislumbramos desenvolver o Corredor de Nacala, a ser realizado em parceria com os CFM e demais accionistas moçambicanos.O Corredor de Nacala consiste na construção e operação de um sistema integrado de logistica que tem como objectivo criar capacidade para o escoa-mento da produção de carvão da região de Moatize até o novo porto de Nacala-a-Velha, que se afi gura como sendo uma alternativa logística para o escoa-mento da expansão da produção de Moatize.

3. Qual o volume de Carvão Mineral exportado atualmente pela Vale Moçambique?

Até agora, já exportamos 1,5 Milhões de toneladas, dos 1,8 Milhões de toneladas produzidas, mas temos capacidade instalada de produção de 11 milhões de toneladas por ano que depende ainda dos investi-mentos que estão sendo feitos nas infra estruturas ferro-portuárias. Com a expansão da mina, a nossa capacidade passará para 22 milhões de toneladas.O carvão exportado, foi vendido para Emirados Árabes, China, África do Sul, India, Paquistão, Es-lovénia, Japão, Países Baixos, Coreia do Sul e Tur-quia. Com a fi nalização das obras de reabilitação na ferrovia, esperamos aumentar signifi cativamente as exportações.

4. De que forma estão sendo feitas as operações logísticas para escoamento da produção de Car-

Entrevista com o Diretor Geral da Vale Moçambique

Sr. Ricardo Saad

A nossa missão é

desenvolver recursos

naturais de modo sus-

tentável.

22 N°03 - 2012 | ENTREVISTA VALE

Page 23: Revista Brasília Maputo 2012

vão Mineral enquanto as obras do Corredor de Desenvolvimento Norte não são concluídas?

Atualmente, a produção de Moatize é toda trans-portada através da Linha do Sena, que parte de Moatize até o Porto da Beira, e que não suportará os planos de duplicação da capacidade nominal de produção. Neste momento, o Porto da Beira afi gu-ra-se como sendo uma alternativa logística para o escoamento da expansão da produção de Moatize.O Terminal de Carvão Cais 8 no Porto da Beira passou recentemente a benefi ciar de um sistema moderno de recepção e descarregamento de va-gões, armazenamento de carvão e carregamento de navios com capacidade de até 6 Milhões de tonela-das por ano.

5. Uma vez prontos, a Linha-Férrea Moatize/Nacala e o Porto de Nacala terão capacidade para atender as necessidades dos outros setores da economia, como por exemplo, o escoamento de grãos para agricultura, e também o trans-porte de passageiros?

O Corredor de Nacala afi gura-se como sendo um complemento de capacidade logística que acredita-mos que trará uma maior capacidade de transporte e aumentará a competitividade e fl exibilidade para a produção moçambicana, além do incremento do transporte de passageiros e carga em geral. 6. Em termos de logística regional, qual será a importância do Porto de Nacala?

O Porto de Nacala é considerado um dos melho-res portos na África Oriental pela profundidade de suas águas e proteção natural garantido pela baía. O Porto terá capacidade para receber navios de grande capacidade, incluindo os navios da classe CapeSize. Quanto à logística regional o que me cabe dizer é que o contrato de concessão garante o embarque de carvão de produtores que manifestem interesse e fi rmem compromissos, além de produtores agrí-colas e outras cargas gerais.

7. Como a Vale Moçambique se posiciona em relação à contratação de empresas que aten-dam às demandas de suprimentos que compre-endem o desenvolvimento da infraestrutura regional?

Um empreendimento deste porte traz consigo na-turalmente demandas de serviços gerais, hotelaria, e serviços mais especializados na área de enge-nharia e tecnologia que se traduzem em inúmeras oportunidades. Nossa política é estimular a parti-cipação das pequenas e médias empresas moçam-bicanas a prestar serviços e fornecer seus produtos. Para isso, temos o Programa de Desenvolvimento

de Fornecedores, que visa justamente nos aproxi-mar das empresas locais ao mesmo tempo que pro-movemos capacitação técnica e gerencial.

8. Algo fundamental para o crescimento de Mo-çambique, como em qualquer outro país, é o in-vestimento em pesquisa e desenvolvimento. Que tipo de investimentos a Vale Moçambique realiza neste contexto?

A Vale está realizando pesquisas geológicas nas Províncias de Cabo Delgado sobre níquel e Niassa para carvão. Também temos o Projeto Fosfato Eva-te, que fi ca no Distrito de Monapo, em Nampula, e está em fase de estudo de viabilidade.

9. Quais são as ações praticadas pela Vale Mo-çambique no que tange o desenvolvimento sus-tentável e suporte às famílias que precisaram ser realocadas para execução do Projeto Moatize?

A nossa missão é desenvolver recursos naturais de modo sustentável. E a nossa visão é ser a nume-ro um na indústria mineira global, considerando valores de sustentabilidade, respeito ao planeta e especialmente às comunidades com que nos rela-cionaremos no entorno das nossas operações. Nós acreditamos que investir nas comunidades com programas sociais, com formação e treina-mento das pessoas e criando oportunidades de emprego, irá ajudar as comunidades no entorno a trabalhar conosco no próprio investimento, ou a trabalhar para nós fornecendo serviços.No Projecto Moatize, a Vale vem realizando diver-sas ações sociais, que vão benefi ciar a comunidade reassentada de Cateme. São ações em obras públi-cas, saúde, esporte e agricultura, irrigação da pro-dução agrícola, expansão da rede de distribuição elétrica, construção de uma clínica médica e viabi-lização do transporte coletivo, entre outros.Os programas sociais visam especialmente dar oportunidades para as famílias promoverem o seu auto-sustento e ao mesmo tempo de gerar renda para promover o seu desenvolvimento.

Entrevista

23

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

ENTREVISTA VALE | N°03 - 2012

Page 24: Revista Brasília Maputo 2012
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Page 26: Revista Brasília Maputo 2012

MAPUTO

OCEANOÍNDICO

TANZÂNIA

ZÂMBIA

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA

DO CONGO

ZIMBABWE

ÁFRICA DO SUL

SUAZILÂNDIA

MALAWI

Mapas do clima de Moça

26 N°03 - 2012 | GEOGRAFIA

Tropical húmidoTropical secoTropical semi-áridoClimas modifi cados pela altitude

Page 27: Revista Brasília Maputo 2012

oçambique e do Brasil

ARGENTINA

URUGUAI

OCEANOATLÂNTICO

OCEANOPACÍFICO

PARAGUAICHILE

BOLÍVIA

PERU

COLÔMBIA

VENEZUELAGUIANA GUIANA

FRANCESASURINAME

BRASÍLIA

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

27GEOGRAFIA | N°03 - 2012

Equatorial úmidoTropical Litoral úmidoTropical semi-áridoSubtropical úmido

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28 N°03 - 2012 | DESENVOLVIMENTO SOCIAL

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Moçambique é um país com uma rica diversidade cul-tural. Formado por diver-

sas etnias, onde destacam-se os Su-ahílis, os Macuas-Lomués, os Macuas e os Ajauas, os Chonas, os Angonis, os Tsongas, os Chopes e os Bitongas, possui ainda uma diversidade lin-guística relevante. As diversas línguas nacionais, nomeadamente cicopi, cinyanja, cinyungwe, cisenga, cisho-na, ciyao, echuwabo, ekoti, elomwe, gitonga, maconde, kimwani, macua, memane, suaíli, suazi, xichanga, xi-ronga, xitswa e zulu, refl etem a com-plexidade e riqueza cultural do país. As manifestações culturais em forma de dança, teatro e música também são aspectos de destaque neste País banhado pelo Oceano Indico.De forma a promover e incentivar a

cultura e o desporto, a Vale e sua Fun-dação, promovem anualmente em Moatize, província de Tete, o Festival de Cultura e Desporto. No Festival são realizadas competições desportivas, atividades culturais, shows musicais, feiras de saúde e do meio ambiente. Destaca-se ainda o cinema, que é le-vado até às comunidades mais longín-quas, o concurso de grupos de dança e as apresentações de teatro com os grupos locais. A Vale está presente em Moçambique desde 2004, quando ganhou o con-curso internacional para a realização de pesquisas em uma das grandes reservas carboníferas do mundo – Moatize, na província de Tete. Com o objetivo de contribuir para o de-senvolvimento econômico-social de Moçambique, foi instituída em Mo-

çambique em 2010, a Fundação Vale. Enquanto a Vale mantém a execução dos projetos sociais necessários à sua operação dentro da sua política de responsabilidade social corporativa, a Fundação colabora com o poder público e instituições sociais, e com a Vale, para a melhoria da vida comu-nitária, implantando projetos sociais de caráter voluntário.A estratégia da empresa é baseada em sua capacidade de gerar e distri-buir valor. Os investimentos da mi-neração resultam em aumentos na arrecadação de impostos, geração de empregos e renda familiar para os territórios. Os investimentos sociais buscam benefi ciar as comunidades com iniciativas que promovam a me-lhoria de sua qualidade de vida.A Vale Moçambique, já realizou diver-sos projetos sociais, investindo mais de US$ 35 milhões em ações sociais voltadas para a melhoria da infraes-trutura pública, desporto, educação, saúde, atividades agrícolas e cultura. Como exemplo de suas ações sociais em Tete, a empresa reformou e ape-trechou o Instituto Médio de Minas e Geologia, reformou e ampliou o Hos-pital de Moatize, doou ambulâncias, realizou ofi cinas de suporte para po-tencializar as atividades agropecuárias de Cateme com doação de insumos melhorados, promoveu cursos de ca-pacitação em atividades como moda e confecção, carpintaria, mecânica de auto, serralheria, atletismo, construiu

Fundação Vale pelo desenvolvimento sustentável em Moçambique

Sr. Jean Espírito Santo - Supervisor de sustentabilidade da Vale em Moçambique

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Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

DESENVOLVIMENTO SOCIAL | N°03 - 2012

Page 30: Revista Brasília Maputo 2012

e reabilitou orfanatos, realizou progra-ma de alfabetização de adultos, entre outros.À Fundação Vale, cabe potenciali-zar as oportunidades de desenvol-vimento dos territórios e de suas populações, dando dimensão mais ampla aos investimentos sociais da Vale. No mês de Julho, a Fundação foi uma das grandes contribuidoras na implantação da primeira Fábrica de Antirretrovirais de Moçambique, fi nanciando em USD$ 4,5 milhões a sua infraestrutura.A moçambicana Joaquina Saranga, Diretora Executiva da Fundação Vale refere que “apesar de ser ainda uma instituição jovem, a Fundação Vale já investiu mais de US$ 5 milhões, e prevê, apenas no segundo semes-tre de 2012, investir mais US$ 8 mi-lhões”. Este investimento, somado ainda ao que será disponibilizado em 2013, irá cobrir as obras do Centro Desportivo de 25 de Setembro, em Moatize, as atividades produtivas na

Fazenda Modelo com a comunidade de Cateme, o Plano Diretor e Projeto Executivo para a expansão da capa-cidade de captação, tratamento e dis-tribuição de água da Cidade de Tete e Vila de Moatize, em parceria com o Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água - FIPAG, o desenvolvimento de um sistema para aumento da oferta habitacional da Cidade de Tete e Vila de Moatize, em parceira com o Fundo de Fomen-to à Habitação - FFH, a reabilitação do Jardim Botânico Tunduro, em parceria com a empresa de Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique - CFM e o Conselho Municipal de Maputo, entre outros.Atualmente, as principais atividades da Fundação estão focadas em Tete e Maputo. Contudo, com a construção do novo Terminal Multiusuário de Carvão, em Nacala-à-Velha, resultan-te da concessão do Governo moçam-bicano, já estão em desenvolvimento novos projetos que serão implemen-tados naquela região, assim como

em Beira. As atividades da Funda-ção nestes locais estarão focadas ini-cialmente na área de educação, com apoio às 11ªs e 12ªs classes do ensino secundário, em Beira, e a implemen-tação de cursos de capacitação técni-ca em Nacala-à-Velha, prevendo-se para 2013, a implementação de novos projetos na área de saúde e atividades econômicas nesta localidade. Ao longo de 2012 potenciais parceiros estão a ser identifi cados. A Fundação quer cooperar com instituições que já atuam em Moçambique, para oti-mizar as experiências positivas e au-mentar a capacidade de investimento em ações sustentáveis que tragam de fato a melhoria de vida das pessoas. A Fundação Vale está determinada a promover o bem-estar da sociedade e o desenvolvimento socioeconômico sustentável de Moçambique, através da cooperação com entidades públi-cas, privadas e comunidades. (Fundação Vale no Brasil: http://www.fundacaovale.org)

Comprometida com a melhoria da qualidade de vida da população, a Fundação Vale promove a capacitação de jovens em Moatize

30 N°03 - 2012 | DESENVOLVIMENTO SOCIAL

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Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

31ENERGIA EM MOÇAMBIQUE | N°03 - 2012

Page 32: Revista Brasília Maputo 2012

Com mais de 1 milhão de clientes, cada vez mais exigentes e dependentes da energia elétrica, a EDM busca, inevitavelmente, conseguir melhorias signifi cativas na qualidade de energia fornecida e na prestação de servi-ços aos seus clientes e parceiros de negócio.

Sr. Jonas Chitsumba - Diretor da Eletricidade de Moçambique

A nossa meta é: eletrificar o País

32 N°03 - 2012 | ENERGIA EM MOÇAMBIQUE

Page 33: Revista Brasília Maputo 2012

Os últimos anos têm sido atí-picos para a economia dos países em via de desenvolvi-

mento, como consequência da crise econômica mundial que os afetou em grande medida. Entretanto, a despeito desta grande contrariedade, várias fo-ram as ações levadas a cabo pela Ele-tricidade de Moçambique em diversas frentes. Sendo também possível desta-car no que diz respeito a uma política de contenção de custos, que preconiza a alocação de recursos para as áre-as onde os investimentos produtivos têm em vista atividades associadas à melhoria da qualidade de energia elé-trica fornecida, bem como à melhoria dos serviços prestados aos clientes. A implementação do modelo de pres-tação regular de contas ao Conselho de Administração por cada unidade orgânica permitiu o monitoramento contínuo do cumprimento dos planos anuais e plurianuais, corrigindo-se, em tempo útil, os desvios que pudes-sem comprometer as metas previa-mente estabelecidas. Para a consecu-ção do seu trabalho, a EDM tem como instrumentos orientadores: (i) Programa Quinquenal do Governo;(ii) Objetivos do PARPA I e II;(iii) Plano Diretor de Eletrifi cação;

(iv) Plano Estratégico da EDM;(v) Contrato Programa com o Governo;(vi) Planos Anuais e Plurianuais de Atividades e Orçamento.

Ao nível da região (SAPP/SADC), a EDM teve um papel determinante para a redução do efeito da crise ener-gética que de forma acentuada se fez sentir. Como atestam as trocas regis-tadas no sector energético, a EDM re-gistou um saldo positivo, tendo atin-gido níveis de exportações de cerca de 670 GWh, o correspondente a um crescimento de 20%. Ao nível interno, vários programas e ações foram de-senvolvidos tendo em vista o alcance dos seguintes resultados:

• Ligação de mais Sedes Distritais à Rede Nacional de Energia, perfazen-do um saldo de 108 ligados;• Ligação de 163.410 Novos Clien-tes à Rede Nacional de Energia, to-talizando, no fi nal de 2011, cerca de 1.010.780 clientes; • Atingido o nível de cerca de 18% do acesso da população à energia eléctrica;• Aumento de mais 100 MW não fi r-mes, como resultado da reversão da HCB;• Abrangidos pelo Sistema Credelc cerca de 81% dos clientes;

• Simplifi cação de procedimentos co-merciais do processo de contratação para a ligação de um novo cliente, de 17 para cinco etapas;• Melhoria da qualidade de forneci-mento dos sistemas de transporte de energia;• Aumento do volume de faturação de energia, tendo atingido a cifra de 3.185 GWh, o correspondente a 79%; • A Ponta Máxima integrada atingiu 610 MW, • O Rácio Clientes/Trabalhador atin-giu a cifra dos 297, o que representou um acréscimo de 17.8% relativamen-te a 2010 (244);• Melhorias signifi cativas em matéria de Higiene e Segurança no Trabalho em consequência da implementação rigorosa das políticas e normas apli-cáveis, tendo sido feitos investimen-tos avaliados em sete milhões de Me-ticais na aquisição de equipamento de proteção individual;• Aumento dos trabalhadores do sexo feminino como resultado de promo-ção da equidade do género, passando a representar 17,9%;• No âmbito da Política de HIV/SIDA, foram levadas a cabo ações na área de prevenção, com a realização de mais de 600 palestras. Paralela-mente, foi implementada a cesta bá-

Trabalhadores da EDM exercendo suas funções para eletrifi cação de Moçambique

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

33ENERGIA EM MOÇAMBIQUE | N°03 - 2012

Page 34: Revista Brasília Maputo 2012

sica, com ênfase para a estratégia de nutrição em toda a Empresa;

A EDM possui hoje mais de 1 milhão de clientes cada vez mais exigentes e dependentes da energia elétrica, colocando a Empresa perante a ine-vitabilidade de conseguir melhorias signifi cativas na qualidade de energia fornecida e na prestação de serviços aos seus clientes e parceiros de negó-cio. Decorrente dos esforços e ações em curso, já se conseguiu grandes resultados. Contudo, apesar dos pro-gressos realizados, algumas difi culda-des subsistem ainda a nível do contro-le de perdas e cobranças.Neste contexto, a EDM iniciou a im-plementação de vários projetos para inverter a situação, potencializando a empresa com uma capacidade de tratamento de informações em tempo real e adequada às exigências para um serviço qualitativo e personalizado. A par dos grandes projetos voltados para a expansão da rede elétrica nacional, visando o aumento do número de ci-dadãos com acesso à energia elétrica, a EDM tem estado empenhada em criar condições para o melhoramento da sua relação com os clientes: o Sistema Credelec simboliza esse esforço. Para tanto, são mobilizados recursos hu-manos e fi nanceiros imprescindíveis na prossecução desta nobre tarefa de interesse público, apesar de todas as difi culdades que a empresa atravessa.No âmbito da Responsabilidade So-cial, várias são as ações que têm sido desenvolvidas para o aprimoramento das áreas com maior necessidade, tais como o apoio concedido ao Instituto do Coração para a operação de crian-ças desfavorecidas, o lançamento do Prêmio Literário 25 de Maio da Pan African Writers Association (PAWA), a montagem de salas de computado-res em diferentes escolas do País, em parceria com o Projeto “Um Olhar de Esperança”, e o Projeto Ambiental “Árvore Amiga”, que visa o plantio de cerca de 10.000 árvores em todo o País. Em 2008, os resultados mostra-ram uma tendência de crescimento, o que infl uenciou positivamente para o

alcance das metas. Este ano em que a empresa completa 35 anos, as perspec-tivas são extremamente boas, sendo claramente o alcance em alguns casos a ultrapassagem das metas defi nidas. Não obstante, os desafi os prevalecem, destacando-se:

• A eletrifi cação de todos os 128 dis-tritos do País;• A melhoraria da qualidade, fi abili-dade e segurança de fornecimento de energia, através da implementação de sistemas redundantes, minimi-zando o efeito dos sistemas de trans-porte radiais;• A melhoraria da prestação dos ser-viços comerciais, o que passa pela implementação de um sistema inte-grado de gestão;• A redução de perdas não técnicas de energia e consolidação de ações com vista ao combate do roubo e vanda-lismo de infraestruturas elétricas de transporte e distribuição de energia elétrica;• Garantir a alocação de energia adi-cional pela HCB, para fazer face ao crescimento das necessidades de con-sumo interno de curto e médio prazo;• A promoção e participação na im-plementação de projetos de Produ-ção e Transporte de energia, com particular destaque para o projeto da Linha Tete-Maputo (Espinha Dorsal), incluindo a reabilitação das Centrais de Mavuzi e Chicamba;• A implementação, com rigor, de ações previstas no âmbito da Políti-ca de Prevenção e Combate ao HIV/Sida;• A adequação dos processos conta-bilísticos às normas internacionais de contabilidade (IAS) e padroniza-ção da produção dos relatórios fi nan-ceiros (IFRS).

Por outro lado, a EDM tem estado envolvida em outros projetos impor-tantes no setor de energia, nomeada-mente:

• Projeto de Mphanda Nkuwa, com uma capacidade instalada para a pro-dução de 1,500 MW, em fase de es-

truturação e com o comissionamento previsto para 2015;• Projeto Cahora-Bassa Norte, com capacidade instalada de 1,245 MW, a iniciar a estruturação e com o comis-sionamento previsto para 2015;• Projeto da Central Térmica de Moatize, para produção de cerca de 2,400MW, estruturação da fase I – 600 MW com o comissionamento previsto para 2013;• Projeto da Linha da Sociedade Nacional de Transporte de Energia Elétrica, em fase de parceria a ser se-guida de estruturação com o comis-sionamento previsto para 2014;• Interligação Moçambique – Malawi;• Phombeya (Malawi) - Nampula, em que já está selecionado o Consultor para o estudo de viabilidade;• Projeto Hidroeléctrico do Lúrio, concluído o estudo de viabilidade e a seleção do Consultor fi nanceiro, prevendo-se o seu comissionamento a partir de 2014. Entre outros.

A Electricidade de Moçambique, como empresa pública, tem a obriga-ção de implementar esses programas, fazendo com que o número de consu-midores seja cada vez maior e contri-buindo para a melhoria das condições de vida e de bem-estar dos cidadãos.

Eletricidade chega a vilarejos distantes

34 N°03 - 2012 | ENERGIA EM MOÇAMBIQUE

Page 35: Revista Brasília Maputo 2012

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

NOVA POTÊNCIA AGRÍCOLAEmbrapa analisa o desenvolvimento socioeconômico impulsionado pela cooperação entre Brasil e Moçambique

COOPERAÇÃO TRILATERALDiretor da JICA no Brasil fala sobre perspectiva dos projetos em andamento

CORREDOR DE NACALASuas potencialidades e vantagens pela visão do Coordenador Técnico do PROSAVANA

DIRETOR DA AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO - ABCDefende interação entre governos para gerar novas oportunidades de negócio

Page 36: Revista Brasília Maputo 2012

1. Exmo. Sr. Ministro Marco Farani, tendo em vista os cerca de 30 projetos de cooperação técnica desenvolvidos em solo moçambicano, quais o senhor destacaria como fundamentais ao progresso econômico, tecnológico e social de Moçambique e quais as maiores motivações para desenvolver estes projetos no país africano.

A cooperação técnica desenvolvida pelo Brasil é materializada por meio de projetos de diferentes portes, seja na vertente bilateral ou em parceria com países doadores ou organismos internacio-nais. Pode-se verifi car sua importância no apoio direto aos objetivos de desenvolvimento setoriais identifi cados a partir de demandas do Governo local. Todas as iniciativas de cooperação repre-

sentam uma contribuição real com relativo im-pacto social, tecnológico ou econômico e, nesse contexto, os chamados projetos estruturantes – como o PROSAVANA – merecem destaque por proporcionarem uma combinação de capacida-des e conhecimentos para o alcance de resulta-dos mais amplos de fortalecimento institucional e desenvolvimento de recursos humanos. Nas áreas de agricultura, saúde e educação, entre ou-tras, o Brasil tem realizado, sob a coordenação da ABC, um crescente trabalho de cooperação em Moçambique com participação de várias ins-tituições brasileiras de excelência que também se benefi ciam dessa atuação internacional, como oportunidade de intercâmbio de experiências e disseminação de boas práticas.

Entrevista com o Diretor da Agência Brasileira de Cooperação

Sr. Ministro Marco Farani

Em diversas áreas, o Bra-sil tem reali-

zado, sob a coorde nação

da ABC, um crescente

tra balho de coopera-

ção em Moçambique

Cooperação visa melhorias das práticas agrícolas em Moçambique

36 N°03 - 2012 | ESPECIAL PROSAVANA - ENTREVISTA ABC

ESPECIAL PROSAVANA

Page 37: Revista Brasília Maputo 2012

Entrevista2. De que forma os programas de cooperação geram novas oportunidades para o desenvol-vimento, tanto no âmbito econômico como so-cial, em Moçambique?

Com a realização de iniciativas de cooperação verifi ca-se a mobilização de instituições moçam-bicanas, sejam do setor público, privado ou da sociedade civil, que passam a se benefi ciar de novos conhecimentos e incorporar boas práti-cas, técnicas e metodologias que podem ajudar na superação de desafi os comuns na busca pelo desenvolvimento. A abordagem da cooperação brasileira valoriza o diálogo horizontal para maior compreensão da realidade local e a dispo-nibilização de políticas públicas exitosas que, em vista das assimetrias, podem melhor responder às necessidades de um país em desenvolvimento. No processo de cooperação com Moçambique há, portanto, espaço para o aperfeiçoamento de políticas setoriais e do arcabouço legal, a moder-nização de instituições e maior qualifi cação do seu corpo técnico.

3. Em relação aos projetos de cooperação que envolvem Brasil-EUA-Moçambique, na área de segurança alimentar, quais são as respon-sabilidades do Brasil e quais as expectativas em termos de resultado?

Existem alguns projetos de cooperação em exe-cução em parceria com os Estados Unidos em Moçambique, sobretudo na área de agricultura e segurança alimentar, nos quais o lado brasileiro aporta conhecimento técnico e fi nancia as ativi-dades sob sua responsabilidade. Basicamente, as ações são voltadas para a capacitação técnica e o fortalecimento institucional, como é o caso do projeto “Suporte Técnico à Plataforma de Inova-ção Agropecuária de Moçambique”, desenvolvi-do com a EMBRAPA e o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), e os projetos de alimentação escolar e de agro processamento, dos quais participam o FNDE e a EMBRAPA, respectivamente. Temos a expectativa de que tais projetos possam favorecer a ampliação da capa-cidade estratégica de produção e distribuição de produtos agroalimentares em Moçambique, bem como apoiar tecnicamente o Ministério da Edu-cação (MINED) no Desenvolvimento de um fu-turo Programa Nacional de Alimentação Escolar de Moçambique (PNAEM).

4. A cooperação bilateral Brasil-Japão para o PRODECER proporcionou o desenvolvimento agrícola do Brasil. Agora temos oportunidade de transmitir esse know-how para Moçambi-que com o PROSAVANA. Quais os objetivos do Brasil com este projeto?

O Brasil acumulou grande experiência e conhe-cimento no campo da agricultura tropical, que inclui o desenvolvimento agrícola no cerrado (savana brasileira). Por meio do PROSAVANA, o Brasil cumpre sua vocação como país solidário, comprometido com o desenvolvimento global, a luta contra a fome e a pobreza. Ainda, o PROSA-VANA representa um importante compromisso político que se tornou ação concreta e indica ser possível a combinação de interesses comuns, como a segurança alimentar mundial.

5. Quais são as vias utilizadas pelo Brasil para captação de investimento visando o desen-volvimento do PROSAVANA? O Governo de Moçambique tem promovido incentivos para receber os investimentos?

O PROSAVANA é um programa de coopera-ção triangular, negociado e formalizado entre o Brasil, o Japão e Moçambique. Deverá ser um programa para mais de dez anos de cooperação, com diferentes componentes como o de pesquisa agropecuária, o estudo para a elaboração do Pla-no Diretor da região do corredor de Nacala, a ex-tensão rural e a promoção produtiva de pequena e média escala. Nesse sentido, a ABC, em parce-ria com a JICA e o Ministério da Agricultura de Moçambique (MINAG), promoveu um seminá-rio em 2010 para apresentação do PROSAVANA ao setor privado e vem coordenando a realiza-ção de missões empresariais para a região alvo do projeto. A captação de investimentos ainda está em fase de discussão, com possibilidades de articulação conjunta do Brasil, Japão e Moçam-bique. Recentemente, no início de julho/2012, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) promoveu o lançamento de um fundo privado para captação de investimentos que apoiarão projetos agrícolas no corredor de Nacala. Entendo que, em todas as etapas do programa, o Governo de Moçambi-que tem um papel central na orientação e viabi-lização de possíveis investimentos. Acredito no sucesso dessa cooperação, pois todas as partes estão bastante comprometidas com a qualidade do trabalho em prol de Moçambique.

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

37ESPECIAL PROSAVANA - ENTREVISTA ABC | N°03 - 2012

Page 38: Revista Brasília Maputo 2012

Entrevista com o Diretor do escritório da Jica no Brasil

Sr. Satoshi Murosawa

Com a me-lhoria na

infraestru-tura, acre-

dito que os moçam-

bicanos terão um mercado no futurogarantido

1. A Jica tem promovido prósperas ações de cooperação, dentre as quais podemos desta-car o projeto PRODECER no Brasil que ge-rou expertise para estender esta atuação para Moçambique com o PROSAVANA. Conte-nos como surgiu o interesse do Japão nos pro-jetos de cooperação, principalmente no que tange o desenvolvimento agrícola de ambos os países.

Isso surgiu em 1973 quando os Estados Uni-dos adotou uma medida para garantir o abas-tecimento interno, e embargou as exportações de grãos e farelos ao Japão. O Japão teve muita difi culdade com isso, já que o país dependia exclusivamente das exportações americanas. Para sanar parte do problema de abastecimen-to, o Japão iniciou junto com o Brasil o projeto PRODECER. Outro motivo é para garantir a segurança alimentar do mundo.

2. Ainda que o ambiente seja favorável ao de-senvolvimento agrário, quais os maiores de-safi os para execução do PROSAVANA?

O maior desafi o é desenvolver um projeto trian-gular. Japão, Brasil e Moçambique trabalhando conjuntamente para atingir os objetivos.

3. O Projeto PRODECER demandou envol-vimento de instituições e parceiros para sua execução. Estes também estão envolvidos no PROSAVANA?

Neste momento está em execução o projeto de Melhoria da Capacidade de Pesquisa e de Transferência de Tecnologia, onde temos a par-ticipação da JIRCAS pelo lado do Japão e a EM-BRAPA pelo Brasil, que foi um dos executores do PRODECER.

Investidores brasileiros e japoneses em visita ao Corredor de Nacala

38 N°03 - 2012 | ESPECIAL PROSAVANA - ENTREVISTA JICA

ESPECIAL PROSAVANA

Page 39: Revista Brasília Maputo 2012

4. Temos conhecimento que a FGV está en-volvida diretamente com a estruturação do Projeto PROSAVANA por meio da GV Agro. Conte-nos a respeito da exata atuação que a fundação terá e a sua importância dentro do Projeto.

A FGV foi a instituição que venceu a licitação que a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) realizou para elaborar o plano diretor conjun-tamente com o Japão, Brasil e Moçambique. O conhecimento que a FGV possui é imensurável e isto será muito importante para a execução do projeto.

5. As previsões para o Projeto PROSAVANA envolvem investimentos em diversos setores, além da produção agrícola em si, entre eles, infraestrutura para escoamento da produção, logística e de maquinário agrícola. Qual a im-portância destas oportunidades para o desen-volvimento de Moçambique? Como o senhor vislumbra a participação de empresários ja-

poneses no desenvolvimento do setor agrícola moçambicano?

A importância destas oportunidades é enor-me, principalmente melhorando a qualidade de vida e renda da população de Moçambique. Há vários empresários japoneses interessados em adquirir os produtos agrícolas que serão produ-zidos em Moçambique. Assim, com a melhoria na infraestrutura, acredito que os moçambica-nos terão um mercado no futuro garantido.

6. Observando toda a cadeia produtiva agrí-cola, especialmente o cultivo de grãos, quais oportunidades surgiram após a Missão que levou empresários brasileiros e japoneses para Moçambique em Abril deste ano?

Foi uma oportunidade para conhecerem o po-tencial que existe em Moçambique, especial-mente na região de Nacala. A participação dos empresários dos três países foi para aproximar e dialogar para no futuro criar parcerias que apoiem o desenvolvimento da região.

Encontro de Autoridades e Empresários durante Missão para reconhecimento das terras agricultáveis

EntrevistaCâmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

39 ESPECIAL PROSAVANA - ENTREVISTA JICA | N°03 - 2012

Page 40: Revista Brasília Maputo 2012

ProSavana: Uma Oportunidade para o Desenvolvimento do Agronegócio em Moçambique

O ProSavana é um programa de cooperação técnica e fi nanceira, envolvendo o Japão, Brasil e Moçambique (Pro-Savana – JBM), desenhado com o objetivo de desenvolver uma agricultura moderna, competitiva, sustentável e socialmente inclusiva. Este programa de cooperação triangular inspira-se em grande medida na experiência de

sucesso no desenvolvimento do agronegócio através da transformação do Cerrado, ou seja, da Savana central do Brasil em região altamente produtiva. Este “milagre do Cerrado” foi possível através do desenho e implementação de uma série de programas de desenvolvimento, tal como o Programa de Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER) que contou com a cooperação Nipo-Brasileira e com pilares importantes como a inovação tecnológica e o desenvolvimento institucional. No contexto da inovação tecnológica, destaca-se o papel da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) no desenvolvimento e disseminação de tecnologias, particularmente relacionadas com a melhoria da fertilidade do solo, desenvolvimento de novas variedades que tornou possível o cultivo em ambiente tropical de espécies como a soja, anteriormente apenas cultivadas nas regiões temperadas.

Sr. Calisto A.F.L. Bias - Coordenador Técnico do ProSavana

O PROSAVANA pretende desenvolver uma agricultura moderna, competitiva, sustentável e socialmente inclusiva

40 N°03 - 2012 | ESPECIAL PROSAVANA

ESPECIAL PROSAVANA

Page 41: Revista Brasília Maputo 2012

Sr. Calisto Bias

largura que varia de 30 a 130 km no sentido Norte – Sul. A população total destes distritos é estimada em cerca de 3.83 milhões de habitantes, sendo a província de Niassa a menos popu-losa. A área total destes 16 distritos é de cerca 90.209 km2, com uma área total cultivada estimada em cerca de 783.000 hectares, principalmente por produtores do setor familiar, resultan-do em uma média de 1.2 hectares por família. As culturas dominantes são o milho, mandioca (cassava) e mapira (sorghum), seguindo em importância por área cultivada as leguminosas, es-pecialmente os feijões e o amendoim. O algodão e o caju são culturas de rendimento tradicionais, seu cultivo e produção concentrando-se mais a leste do corredor, onde a cultura do gergelim vem ganhando expressão, enquanto que a cultura da soja, desen-volvida mais a oeste do corredor vem anualmente incrementando sua área de cultivo. O ProSavana pretende tirar o maior proveito das vantagens comparativas que o Corredor de Nacala oferece, incluindo a disponibilidade de terra para o desenvolvimento de uma agri-cultura competitiva e um quadro legal adequado que facilita o investimento privado, com a Zona Econômica Es-pecial em Nacala. De fato, o Corredor possui recursos naturais que propi-ciam condições agroclimáticas favo-ráveis ao desenvolvimento de uma agricultura mecanizada e diversifi ca-da mesmo em condições de sequeiro, com recursos hídricos que oferecem potencial para irrigação, alargando ainda mais o leque de culturas/pro-dutos que podem ser praticadas na região. Mais ainda, o Corredor possui uma infraestrutura rodoviária e fer-roviária em fase de modernização e expansão, especialmente ao longo do seu eixo central, permitindo a ligação das zonas de produção com o porto de águas profundas no extremo leste em Nacala, a qual associada a sua lo-calização estratégica garante de forma

A formulação do ProSavana ocorre num contexto em que o tema sobre a segurança alimentar e nutricional domina grande parte das agendas nacionais, internacionais e de coo-peração, sobretudo devido a recente crise alimentar e fi nanceira e a contí-nua fl utuação/volatilidade dos preços dos alimentos. No contexto Africano, importa salientar que a agricultura é um setor de relevada importância no contexto social e econômico, cons-tituindo um modo de vida para um segmento importante da população, contribuindo para o emprego, renda e com cerca de 24% para o Produto Interno Bruto (PIB), apesar do reco-nhecido baixo nível de investimentos no setor. Neste âmbito, o ProSavana torna-se relevante pela sua contri-buição para o progresso social, eco-nômico e ambiental de Moçambique, particularmente da região Norte de Moçambique. No contexto global, o programa é também importante pela sua contribuição na disponibilização de alimentos para uma população glo-bal que se projeta duplicar em 2050, alcançando cerca de 9 bilhões de pes-soas e com forte tendência de fi xação em zonas urbanas, criando forte pres-são na produção para suprir a deman-da de alimentos.O ProSavana, a ser desenvolvido ao longo do corredor de Nacala, compre-ende um total de 16 distritos situados nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia. O Corredor de Nacala situa-se na região Norte de Moçambi-que, ligando o Planalto de Lichinga no extremo oeste ao Porto de Nacala no extremo leste. O Corredor apresenta uma graduação no seu relevo, sendo na parte oriental um planalto que de-cresce até planície no extremo leste, com precipitações a variarem no mes-mo sentido, variando de cerca de 800 mm, alcançando valores de 1200 mm ou mais nas regiões planálticas. O Pro-Savana ao longo deste corredor com-preende uma extensão de cerca de 600 km no sentido Este - Oeste, com uma

comparativamente vantajosa a aquisi-ção de insumos/fatores de produção e o escoamento da produção para mer-cados internos, regionais e internacio-nais.O ProSavana compreende três com-ponentes que se interligam, nomea-damente, a investigação, extensão e desenvolvimento. A investigação é a componente que se encontra em fase de implementação e conta com a par-ticipação de investigadores nacionais do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) que ao nível re-gional se organiza em Centros Zonais de Investigação, com investigadores do Japão através da Network of Tech-nology and Confi dence International Co., Ltd. (NTC) e o “Japan Internatio-nal Research Center for Agricultural Sciences” (JIRCAS) e investigadores do Brasil através da EMBRAPA. A agenda de investigação ao longo deste corredor enfatiza os sistemas de pro-dução tanto para pequenos como mé-dios e grandes produtores, bem como a fertilidade de solos, devendo-se para

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Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

ESPECIAL PROSAVANA | N°03 - 2012

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o efeito construir dois importantes laboratórios de solos e planta, um em Nampula e outro em Lichinga os quais terão como referência o laboratório de solos do IIAM em Maputo. Em rela-ção a componente de extensão, prevê--se que a sua implementação inicie a partir de Fevereiro de 2013 com foco no fortalecimento da extensão pública e privada. No contexto da componen-te de desenvolvimento, encontra-se atualmente na fase de elaboração, o Plano Diretor, envolvendo contra-partes Moçambicanas, lideradas pelo Ministério da Agricultura (MINAG), a empresa Oriental Consultants do Ja-pão e a Fundação Getúlio Vargas do Brasil. O Plano Diretor abarca proces-sos e diversas etapas, esperando que na sua conclusão em Junho de 2013, se apresentem, entre outros, um paco-

te de projetos de impacto rápido e um manual com informações relevantes para investidores na área de agricul-tura. Para fi nalizar, o sucesso na implemen-tação do ProSavana vários desafi os terão que ser superados, destacando--se, dentre outros, a promoção do desenvolvimento agrário inclusivo através de parcerias salutares com produtores locais e comunidades em geral e promoção de desenvolvimento agrário com sustentabilidade ambien-tal. De um modo geral, pretende-se promover investimentos responsáveis no desenvolvimento da agricultura no Corredor, tendo como base alguns princípios, dos quais se destacam:

• Os investimentos não representam uma ameaça à segurança alimentar e

nutricional, ao invés, permitem o seu fortalecimento;

• Os investidores garantem que os projetos estão em conformidade com as leis, refl etem as melhores práticas do mercado, são economicamente viáveis e resultam em valor comparti-lhado durável;

• Os investimentos geram impactos sociais desejáveis de forma comparti-lhada e não aumentam a vulnerabili-dade;

• Impactos ambientais de um projeto são quantifi cados e medidas são to-madas para encorajar o uso sustentá-vel dos recursos naturais, enquanto se minimizam os riscos e magnitude de impactos negativos, procurando sem-pre mitiga-los.

Missão Público-Privado Conjunta para o Corredor de Nacala

42 N°03 - 2012 | ESPECIAL PROSAVANA

ESPECIAL PROSAVANA

Page 43: Revista Brasília Maputo 2012

José Bellini e Agricultores em campo

A Cooperação Brasileira pode ajudar Moçambique a ser uma nova potência agrícola?Moçambique tem na agricultura a principal fonte de renda e trabalho para uma grande parte da população, por isso, tem grande importância social, econômica e como pilar da ocupação do território nacional. O Brasil, por intermédio da Embrapa, tem colaborado por meio da implantação de projetos de cooperação técnica, executando atividades de pes-quisa, capacitação e fortalecimento institucional, voltados ao desenvolvimento do setor agropecuário em Moçambique.

Sr. José Luiz Bellini Leite - Coordenardor Geral do Programa Embrapa Moçambique

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Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

ESPECIAL PROSAVANA | N°03 - 2012

Quase cinco séculos de colo-nização Portuguesa chegou ao fi m com a independência

de Moçambique em 1975. Decisões políticas internas levaram ao abando-no do marxismo em 1989, uma nova constituição no ano seguinte que es-tabeleceu processos democráticos e políticas econômicas sólidas, têm mo-tivado o crescimento econômico e in-

centivado o investimento estrangeiro.Moçambique cresceu a uma taxa mé-dia anual de 9% na década até 2007, uma das mais fortes performances da África. No entanto, a forte dependên-cia de alumínio, que representa cerca de um terço das exportações, e fatores adversos como os aumentos dos pre-ços do petróleo e dos alimentos redu-ziram o crescimento do PIB de vários

pontos percentuais. Todavia o cresci-mento do PIB em 2010 foi de 6,8%, e o crescimento real em 2011 foi de 7,2%.Moçambique tem na agricultura a principal fonte de renda e trabalho para uma grande parte da população. De acordo com estudos efetuados no âmbito da defi nição das políticas e es-tratégias governamentais, a situação atual da agricultura em Moçambique

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Tabela 1 – Produção, área e produtividade dos principais produtos – Safra de 2008/09

P P (1000 )

Área

(1000 )

R K /H

T (*)

(%)

R (**)

M 9.576,3 1.228,9 7.793 ... 13.850M 1.854,1 1.741,6 1.064 3,6 3.700A 101,3 400,0 250 5,0 1.750A 265,1 231,3 1.146 15,9 3.900B 81,4 8,5 9.576 17,6 20.190F 193,2 451,0 428 ... 1.400T 21,3 11,3 1.885 77,0 2.420S 9,5 8,0 1.187 52,1 2.770G 10,0 15,2 658 98,5 1.590

Fontes: Plano de ação para a produção de alimentos – República de Moçambique – Junho 2008(*) Taxa de utilização de sementes melhoradas considerando apenas a oferta interna e densidade e plantio recomendada no Brasil (**) Rendimentos agrícolas observados no Brasil – Região Centro Oeste – Safra 2007/09 – IBGE

Todavia Moçambique possui poten-cialidades, tais como: (1) disponibi-lidade de força de trabalho, (2) terra arável (36 contra 5 milhões ha em uso), (4) fl orestas (54.8 milhões ha); (5) potencial para irrigação (3 mi-lhões de ha irrigáveis, dos quais estão em 2%); (6) vastas áreas para pasta-gens (mais de 12 milhões de ha, ape-nas com 1.2 milhões de bovinos e 4.3 milhões de caprinos).Para maximizar esta potencialidade, assegurar o aumento sustentável da produção agropecuária e conseguir a auto sufi ciência, o governo de Mo-çambique lançou em 2011 o Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Setor Agrário (PEDSA). Este busca

estabelecer as condições necessárias e sufi cientes para que a agricultura cresça, em media, 7% ao ano. A es-tratégia cria espaço para que o setor privado possa ter papel atuante nos diferentes elos das cadeias produtivas, notadamente a produção, provisão de serviços, agro processamento e co-mercialização. Outra característica relevante que o PEDSA encerra é o entendimento da importância e a bus-ca de parcerias, especifi camente em inovação tecnológica. Em resposta a esta busca por parcerias o Brasil, por intermédio da Embrapa, tem colaborado por meio da implan-tação de projetos de cooperação téc-nica voltados ao desenvolvimento do

setor agropecuário em Moçambique. Esta cooperação é parte do fortaleci-mento das relações do Brasil no eixo Sul-Sul implicando no crescimento da participação em ações de cooperação técnica. A Embrapa executa ativida-des de pesquisa, capacitação e forta-lecimento institucional conduzindo atualmente três grandes projetos, or-ganizados na forma integrada de um Programa, sendo que o instrumento deste esforço é a cooperação técnica tripartite, coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC). O Programa Embrapa Moçambique inclue adaptação de variedades bra-sileiras e tecnologias às condições lo-cais, o desenvolvimento do Instituto

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caracteriza-se, pelos seguintes aspec-tos: (i) representa cerca de 24% do Produto Nacional Bruto, possui uma taxa média de crescimento de 7,9 e ocupa cerca de dois terços da mão de obra nacional; (ii) Em 2003, cerca de 65% da população nacional era rural, a maior parte dedicada à agricultu-ra de subsistência; (iii) A produção agrária depende maioritariamente do setor familiar, ocupando mais de 97% dos cinco milhões de hectares atual-mente cultivados; (iv) Baixa produção

e produtividade; (iv) O uso de insu-mos agrícolas é incipiente. Apenas 5% dos produtores usam sementes melhoradas e fertilizantes. O nível de utilização da tração animal situa-se em volta de 12%; (v) A rede comercial de insumos e de produtos agrícolas é fraca, parcialmente devido à limitada rede de infraestruturas básicas; (vi) A agricultura de sequeiro, com baixo de uso da irrigação. Todavia o setor agropecuário Mo-çambicano tem grande importância

social e econômica como provedor de alimentos, fonte de trabalho e renda, e como pilar da ocupação do território nacional. Além do milho e da man-dioca, os produtos de maior impor-tância para a cesta básica do país são: o arroz, a batata, o trigo, e oleaginosas como o amendoim, o girassol e a soja. Entretanto, os rendimentos agrícolas, comparativamente aos de outros pa-íses, são extremamente baixos, como mostra a Tabela 1.

ESPECIAL PROSAVANA

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de Investigação Agrária de Moçambi-que (IIAM) e capacitação dos pesqui-sadores e técnicos. Atualmente, os três projetos em execução possuem apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e da Agência Japonesa para a Cooperação Internacional (JICA).O primeiro projeto, chamado de Pro-jeto PLATAFORMA é uma coopera-ção técnica trilateral envolvendo o Brasil, Estados Unidos e Moçambique e materializa a capacitação para a ino-

vação tecnológica do IIAM. Iinclue o fortalecimento de áreas estratégicas como a de solos e sementes, além da comunicação para a transferência de tecnologias e o Planejamento Estra-tégico. Mesmo recente este projeto já disponibiliza informações sistemati-zadas sobre Moçambique e sua agri-cultura no site da Embrapa Monito-ramento por Satélites (http://www.cnpm.embrapa.br/projetos/mocambi-que/conteudo/publicacoes.html). O segundo projeto chamado SEGU-

RANÇA ALIMENTAR E NUTRI-CIONAL é uma cooperação técnica trilateral envolvendo o Brasil, Estados Unidos e Moçambique e visa forta-lecer a produção de hortaliças por pequenos produtores e direcionar os produtos para consumo in natura e processados para o mercado. A Agên-cia Brasileira de Cooperação (ABC) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) são as agências de fi nancia-mento e o projeto é executado pela

José Bellini e Agricultores em campo

Grupo de japoneses e brasileiros durante Missão

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Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

ESPECIAL PROSAVANA | N°03 - 2012 45

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Embrapa, Universidade da Flórida, Universidade Estadual de Michigan e o Ministério da Agricultura de Mo-çambique por meio do IIAM. Equipe trilateral do Projeto (Embra-pa, IIAM, Universidade da Flórida) As primeiras variedades de hortaliças do Brasil estão em fase de testes na Es-tação Agrária de Umbeluzi do IIAM. Para além dos testes de variedades brasileiras, o projeto realizará estudos para o apoio à produção, pós-colheita e processamento de hortaliças, para conhecimento das particularidades da produção e do consumo de hor-taliças em Moçambique e avaliação das tecnologias, produtos e processos a serem transferidos aos técnicos do IIAM; O terceiro é o PROSAVANA. Carac-teriza-se por uma cooperação trila-teral entre o Brasil, Moçambique e Japão e na realidade é um Programa de Desenvolvimento Regional onde se pretende adaptar a experiência brasileira de conquista do Cerrado às Savanas Moçambicanas. Este progra-ma está alicerçado em três projetos, a saber: (i) Prosavana_PE, que tem foco no fortalecimento da capacida-

de de transferência de tecnologias e apoio ao processo de inovação tec-nológica de Moçambique, por meio da estruturação e fortalecimento da extensão pública e privada que atuam no Corredor da Nacala, região norte de Moçambique e alvo do projeto; (ii) Prosavana_PD, que tem foco na estru-turação e implementação de um Pro-grama de Desenvolvimento Regional; (iii) Prosavana_PI, projeto de pesqui-sa a cargo da Embrapa, do IIAM e do consórcio de pesquisa Japonês JIR-CAS-NTCI. Este foi desenhado para melhorar a capacidade de pesquisa e de transferência de tecnologia para o desenvolvimento da agricultura do Corredor da Nacala. Tem por fi nalida-de a construção de uma base tecnoló-gica capaz de desenvolver e transferir tecnologias agrícolas apropriadas e dar sustentabilidade ao aumento da produção e da produtividade agrícola regional, tendo como base a experiên-cia da Embrapa no desenvolvimento de tecnologias para o Cerrado bra-sileiro. Além da presença da Embra-pa e suas homólogas do Japão e de Moçambique, produtores brasileiros reconhecendo as oportunidades de

investirem em Moçambique, tem ini-ciado o estabelecimento de produção por meio da solicitação de terras ao governo local.Considerando a existência de decisão política por parte do governo Moçam-bicano de incrementar a produção e a produtividade das culturas, incluindo atração de investimentos estrangeiros, a criação das bases tecnológicas e de infraestrutura, Moçambique está reu-nindo as condições para se tornar um novo suporte a produção mundial de alimentos, afastando de vez a questão de segurança alimentar de seu povo ao tempo que se habilita a participar como “player” no esforço mundial de prover alimentos de qualidade a pre-ços competitivos no mercado interna-cional. A pergunta que o título deste artigo encerra, tem resposta positiva, pois a cooperação brasileira, por meio de suas instituições, notadamente a Embrapa, tem fortalecido e potencia-lizado Moçambique na direção de se tornar uma potência agrícola, e ela será mais forte, quanto mais forte for a res-posta do empresariado brasileiro, com seu inconteste empreendedorismo, ao chamamento do Governo local.

José Luiz Bellini, Coordenador Geral do Programa Embrapa Mocambique

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ESPECIAL PROSAVANA

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Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

ESPECIAL PROSAVANA | N°03 - 2012

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Nascido e criado em Moçam-bique, Apolinario José Pate-guana licenciou-se em Admi-

nistração de Empresas pela Maharishi University of Management, em Fair-fi eld, Iowa através de uma bolsa de estudos. Sua vida como empreende-dor iniciou-se através da associação a uma agência de turismo e viagens, seguida pela fundação de uma em-presa com foco em rent a car. Pos-teriormente, direcionou suas ações ao ramo de telecomunicações com o intuito de explorar a telefonia móvel, onde teve a oportunidade de interagir com diversas empresas, que ofereciam construção de infraestrutura, comer-cialização e distribuição de produtos e serviços. Trabalhando em várias fren-tes, voltou-se em meados de 2001 às

áreas das telecomunicações. Expandiu então suas ações para as áreas de lo-gística, passando a atuar também com a prestação de serviços de transporte e catering industrial às grandes empre-sas locadas no território.Do conhecimento construído ao lon-go de sua formação acadêmica e das experiências adquiridas no correr dos anos, surgiu a AP Capital, cuja his-tória relaciona-se em larga medida ao próprio histórico de desenvolvi-mento da infraestrutura industrial e economia de Moçambique. Segundo palavras do mesmo “sempre tive o desejo de criar algum negócio e gerar oportunidades para mim e para ou-tros”, e é com essa visão vanguardista que ocorre a fundação de sua empresa em 2007. Com o objetivo de consoli-

dar negócios existentes nas áreas de telecomunicações e desenvolver um portfólio de investimentos diversifi ca-dos, sua construção deu-se com foco nas oportunidades com potencial lu-crativo que tornavam-se crescentes no país em meados da década de 1990, em decorrência do grande fl uxo de Investimento Direto Externo (IDE). O notável aumento da indústria local trouxe consigo um novo nicho para o mercado, que passou a demandar serviços complementares que já não eram suportados pelo mercado básico local. Dinâmica e inovadora, a empresa manteve sua atuação nas novas abertu-ras, unindo-se a outras tantas que atu-almente estão consolidadas no país.Ao longo do tempo, AP Capital pode observar e participar diretamente do

Empreendedor moçambicano detentor de um vasto portfólio de investimentos em setores econômicos diversifi cados.

Perfi l: Apolinário PateguanaApolinário Pateguana, Diretor da AP Capital

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avanço da área de telecomunicações e demais infraestruturas básicas de Moçambique. O campo da comunica-ção é responsável por um dos maio-res índices anuais de crescimento apresentados pelo país. Com cerca de oito milhões de assinantes no seu to-tal, representando uma penetração de telefonia móvel perto de 35%, o que infl uencia diretamente a taxa de usuá-rios de internet. Em menos de quinze anos, a cobertura móvel no território já se estende a todas as sedes distritais, oferecendo serviços de terceira gera-ção e acesso a internet a grande parte da população. No ramo de energia, os indicadores são igualmente inte-ressantes e encorajadores, uma vez que através da acentuada campanha de expansão da rede elétrica, já existe cobertura na maior parte dos distritos e sedes municipais. Nessa perspectiva, com a crescente construção de linhas de transmissão, em especial a que tem como objetivo realizar ligação entre as regiões norte e sul, e o aumento ex-ponencial da capacidade de geração de energia - com vistas a triplicar nos próximos dez anos - Moçambique é hoje um dos maiores centralizadores de grandes oportunidades de investi-mento em todo o território da África. No que diz respeito às áreas de infra-estrutura básicas - devido ao avança-do estado de degradação em que algu-mas se encontravam - em especial as de ferro e rodoviárias, as mesmas têm nos últimos anos sido alvo de grandes investimentos. Considerando o imen-so volume de cargas que se projeta movimentar entre as províncias do interior e os portos de Maputo, Beira, Nacala e Pemba nos próximos trinta anos, a área torna-se extremamente atrativa para investimento. Dotado de um forte senso de opor-tunidade, através de uma visão em-preendedora foi capaz de perceber e fazer-se valer das oportunidades que o mercado local não se mostrava capaz de suprir. Para empresas como a AP Capital, o benefício direto do proces-so de crescimento pode ser resumido através das oportunidades de forne-cer serviços a grandes indústrias que têm se estabelecido em Moçambique ao longo dos anos. Grande visioná-

rio, Apolinario Pateguana expandiu as suas áreas de atuação passando a fornecer serviços de transporte de passageiros e catering industrial. No ramo de telecomunicações, conseguiu atingir cerca de um milhão de novos clientes e criou uma extensa rede de distribuição de produtos e serviços pré-pagos, tendo sido responsável pela introdução da primeira rede vir-tual de distribuição de recargas pré--pagas em Moçambique. Ao longo dos anos, a AP Capital diversifi cou seus investimentos principalmente para as áreas de mineração e energia.

Atualmente, concentra-se em melho-rar a prestação dos serviços oferecidos pela empresa, bem como descobrir e interagir com aspectos potencialmen-te lucrativos, que estejam pouco ex-plorados no mercado moçambicano. Na área de telecomunicações atua via consórcio em uma das maiores opera-doras de telefonia móvel do país, para além de participar no capital de em-presas que fornecem vários serviços complementares como construção de infraestrutura e distribuição de pro-dutos e serviços. Na área de logística, a empresa opera conjuntamente com uma das maiores transportadoras presentes no território, focada para o transporte de trabalhadores, forne-cendo também serviços de catering industrial. De acordo com as palavras

de Apolinario Pateguana, a “AP Capi-tal tem estado a trabalhar incansavel-mente para alcançar o sonho de criar um fundo de investimento virado para Moçambique, cujo mandato se-ria de alavancar empresas moçambi-canas com oportunidade de participar em projetos estratégicos”. Tais planos condizem com os projetos da unidade de Corporate Advisory, que orienta e oferece ajuda a empresas locais para que possam mobilizar fontes alterna-tivas de fi nanciamento no mercado internacional de capitais, com vistas à expansão e/ou participação em novos projetos estratégicos. A manutenção de tal serviço permite a construção de uma base de conhecimentos profun-dos sobre as oportunidades de inves-timento disponíveis no país. Ao focar-se predominantemente nos setores de telecomunicações e logís-tica, a empresa mantém interesse em desenvolver ou participar em negócios com potencial de liderança de merca-do, dedicando-se exclusivamente a estes setores como forma de ter do-mínio total sobre os desafi os e opor-tunidades que oferecem. Nos últimos 20 anos, Moçambique tem trabalhado para aumentar o acesso populacional à educação, saúde e emprego, tal como desenvolver e consolidar bases que permitam o desenvolvimento com-pleto do país, que continua a registrar bons indicadores de crescimento e tem um ambiente de negócios muito favorável ao investimento na África.Em suma, Apolinario Pateguana sem-pre posicionou-se como forte defen-sor do potencial incalculável que o país oferece. Seu sentido de inovação e desenvolvimento direcionou sua trajetória pessoal, tal como dos em-preendimentos por ele construídos para as mais vantajosas e diversifi ca-das áreas de investimento localizadas em Moçambique. Capaz de perceber e gerir as vastas possibilidades que lhe eram oferecidas, assim como de cria--las, tornou-se exemplo não apenas de empresário de sucesso, mas também de empreendedor capaz e dinâmico. Sendo então bem sucedido naquele que foi o plano inicial, de modifi car vidas positivamente.

“Sempre tive o desejo de criar um negócio e gerar oportunidades. Para a AP Capital, os benefícios dos pro-

cessos de atração de investimento estran-

geiro direto resumem--se na oportunidade de

fornecer serviços às grandes indústrias que vem se estabelecendo

em Moçambique”

Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique

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1-Exmo Sr. Murade Murargy discursa durante abertura do Seminário Oportunidade de Negócios em São Paulo.

2- Sr. Manuel Henrique de Farias Ramos, Vice-Presidente da Fecomércio - SP, Sr. Paulo Rage, Diretor da CCIABM, Exmo. Sr. Murade Murargy, Embaixador de Moçambique e Presidente Honorário da CCIABM, Sr. Juscelino Mota, Gerente de Aquisições Estratégicas para África da Vale, Dr. Flávio Bernardes, Sócio-Diretor do Bernardes Advogados e Sr. Sérgio Foldes Guimarães, Superintendente da Área Internacional do BNDES, no Seminário organizado pela CCIABM em São Paulo.

3-Sr. Manuel Henrique de Farias Ramos, Dr. Paulo Rage e Exmo. Sr. Murade Murargy.

4-Mais de 200 empresários presentes no auditório da Fecomércio durante o Seminário Oportunidades de Negócios em Moçambique – São Paulo/SP.

5-Gerente Geral de Operações e Suprimentos da Vale, Sr. Fábio Feijó, durante sua apresentação.

6-Exmo. Sr. Murade Murargy e Sr. José Maria Junqueira, Vice-Presidente da FIEMG, durante abertura do Seminário Oportunidade de Negócios em Moçambique – Belo Horizonte/MG.

7-Público de empresários e autoridades durante o Seminário Oportunidades de Negócios, organizado pela CCIABM em Belo Horizonte.

8-Apresentação do Superintendente Internacional do BNDES, Sr. Sérgio Foldes.

9-Presença de 150 pessoas no auditório da FIEMG para o Seminário Oportunidades de Negócios em Moçambique – Belo Horizonte/MG.

10-Dr. Sherban Cretoiu, Gerente de Negócios Internacionais da Fundação Dom Cabral, durante apresentação do painel “Internacionalização de Empresas”.

11-Painel do Programa Inove da Vale, apresentado pelo Sr. Eduardo Maciel.

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12-CCIABM acompanha comitiva de empresários do ramo de Agronegócios para visitar terras agricultáveis em Moçambique.

13- Comitiva de empresários realiza visita técnica às instalações locais da Embrapa, guiados pelo Sr. José Bellini, Coordenador Geral da Embrapa em Moçambique.

14-Empresários brasileiros e Diretoria da CCIABM durante visita a Embaixada do Brasil em Moçambique.

15-Participantes da Semana do Brasil em Moçambique 2011, em safári turístico ao Kruger Park.

16-Seminário realizado em parceria com a APEX Brasil na Semana do Brasil em Moçambique 2011, em Maputo.

17-Participantes da Semana do Brasil em Moçambique 2011, em momento de matchmaking e rodadas de negócios com empresários moçambicanos.

18-CCIABM participa de apresentação da Vale Moçambique para participantes da concorrência para construção do novo Porto de Nacala-a-Velha.

19- Sr. Fábio Vale, Diretor da CCIABM, acompanha empresários brasileiros em visita à Pedreira em Namialo, na província de Nampula.

20-Participantes da Missão Empresarial: Tecnologia da Informação para indústrias de Mineração, Energia e Infraestrutura, realizada em parceria com a Fumsoft.

21-Sr. Fábio Vale discursa durante apresentação da Intelec para os participantes da Missão Empresarial para empresas de TI.

22-Rodada de Negócios promovida pela CCIABM para a comitiva da Missão Empresarial de TI.

23-Material de divulgação da CCIABM na recepção da festa da Revista Exame Moçambique.

24-Gerente da CCIABM, Sr. Flávio Sotelo, durante a festa de lançamento da Revista EXAME Moçambique.

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25- Exmo. Sr. Murade Murargy, Embaixador de Moçambique e Presidente Honorário da CCIABM, durante o Aniversário da Independência de Moçambique, em Brasília.

26- Sr. Fábio Vale e Sr. Paulo Rage, membros da Diretoria da CCIABM, participam da celebração promovida pela Embaixada de Moçambique no Brasil.

27- Sr. Roberto Marinho, Gerente Regional da CCIABM no Ceará, dá entrevista para canal de televisão sobre oportunidade de negócios na África.

28- Sr. Roberto Marinho, Gerente Regional da CCIABM no Ceará, com o Presidente da FIEC, Sr. Roberto Proença de Macêdo.

29-Em Brasília, a Diretoria da CCIABM presta homenagem ao Exmo Sr. Murade Murargy durante sua despedida como Embaixador de Moçambique no Brasil.

30- Sr. Luiz Cossa, Gerente Geral de Suprimentos da Vale Moçambique e Sr. Flávio Sotelo em evento realizado pela Vale em Tete.

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