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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO Ilvandro Barreto de Melo Mapeamento da cadeia produtiva da erva-mate no município de Machadinho: Desafios e Propostas São Leopoldo 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

Ilvandro Barreto de Melo

Mapeamento da cadeia produtiva da erva-mate no

município de Machadinho: Desafios e Propostas

São Leopoldo

2010

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Ilvandro Barreto de Melo

Mapeamento da cadeia produtiva da erva-mate no

município de Machadinho: Desafios e Propostas

Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão do Agronegócio, pelo MBA em Gestão do Agronegócio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Orientador: Prof. Miguel Sellitto

São Leopoldo

2010

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São Leopoldo, dia de mês de 2010.

Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Ilvandro Barreto de Melo encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação oral e escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do MBA em Gestão do Agronegócio.

________________________________________

Miguel Sellitto Professor Orientador

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 5

2 REVISÃO................................................................................................. 7

3 METODOLOGIA....................................................................................... 14

4 PESQUISA............................................................................................... 14

4.1 FASE I - Modelo em Machadinho......................................................... 19

4.1.1 Insumos externos............................................................................. 19

4.1.2 Sementes........................................................................................... 19

4.1.3 Produção de mudas........................................................................ 21

4.1.4 Produção dos ervais........................................................................ 23

4.1.5 Pesquisa e assistência técnica....................................................... 24

4.1.6 Colheita da matéria prima e transporte........................................... 26

4.2 Fase II – Modelo em Machadinho.................................................... 29 4.2.1 Energia............................................................................................. 29 4.2.2 Recepção da matéria prima.............................................................. 30 4.2.3 Sapeco............................................................................................. 31 4.2.4 Cancheamento................................................................................. 32

4.2.5 Secagem.......................................................................................... 33

4.2.6 Moagem........................................................................................... 34

4.2.7 Empacotamento............................................................................... 35

4.2.8 Distribuição....................................................................................... 36

5 DISCUSSÃO........................................................................................... 38

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 45

7 REFERÊNCIAS........................................................................................ 46

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1 INTRODUÇÂO

A erva mate, (ilex paraguariensis, St. Hill), herança deixada pelos índios

guaranis, foi elemento básico na alimentação desse povo, num território vasto

banhado pelos rios Paraná, Uruguai e Paraguai. Hoje, sua presença é

conhecida em todos os Países do mundo. Sua história inicia em 1554 e durante

a sua trajetória muitas medidas políticas foram adotadas, de natureza pública e

setorial, mas não tiveram forças suficientes para tirarem a erva mate do cenário

quase extrativista que se insere. Linhares (1969).

Atividade praticada, de modo geral, em caráter de extrativismo com pouca

profissionalização, mostra os efeitos danosos da sua natureza, como a falta de

integração, de cooperação, de união, de abertura com capacidade de diálogo e

de um planejamento apropriado que modifique positivamente o mecanismo

individual e coletivo das unidades produtivas de erva mate, contribuindo, então

para maior valorização do produto, para um ajuste equilibrado, pró-ativo e

unificado de todos os segmentos da cadeia produtiva ervateira.

Nesse contexto, já se passaram 456 anos e ainda não há uma organização

efetiva na cadeia produtiva da erva mate e nenhuma política eficiente de

desenvolvimento estratégico para o setor.

Para Dürr, 2005, organizar uma cadeia produtiva depende basicamente de

conscientização e de vontade política. Ou seja, cada elo deve perceber

claramente os benefícios advindos das mudanças para que se disponha a fazer

a sua parte.

Como agravante é característica no setor ervateiro uma dose elevada de

individualismo. Os princípios do associativismo e do cooperativismo são pouco

praticados. Os avanços tecnológicos e científicos, embora já existam em

pequena escala, têm uma extrema dificuldade em serem assimilados pelos

atores do processo exploratório da erva mate; bem como, enfrentam

dificuldades extremas em serem multiplicados e transferidos à comunidade

ervateira.

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A infra-estrutura da cadeia produtiva da erva mate é bastante limitada,

principalmente no que se refere à industrialização do produto e as dificuldades

que os proprietários de unidades de beneficiamento possuem em modernizar

seus parques industriais, considerando o alto custo a ser investido e o baixo

poder aquisitivo; com exceção, de algumas empresas mais estabilizadas.

A erosão genética provocada pelo arranque da erva mate, entre os anos

setenta e oitenta, em especial dos ervais nativos, para abrir espaço a uma nova

matriz produtiva centrada na produção de grãos, debilitou a oferta de matéria

prima de excelente qualidade para o uso no chimarrão, já nos anos oitenta e

noventa. O plantio de reposição, nesse mesmo período, com objetivo de

recuperar a oferta da matéria prima eliminada pelo arranquio em questão, foi

tão veloz e descontrolado, que na ânsia de atender a demanda, incorreu no

erro de repor erveiras com característica genética inferior as nativas

arrancadas, se analisado a qualidade da muda e o mercado do chimarrão. O

sabor forte, mais amargo desse material introduzido somado à entrada da erva

mate da Argentina em grande quantidade, também de sabor forte, reduziu o

preço da erva mate brasileira e forçou a adição de açúcar para suavizar o

sabor do produto, situação ainda não revertida.

O município de Machadinho localiza-se na Região Nordeste do Rio Grande do

Sul e pertence à Associação dos Municípios do Nordeste Rio-grandense,

Amunor, na latitude 27º34'01" sul e na longitude 51º40'04" oeste, estando a

uma altitude de 757 metros, faz divisa pelas águas do rio Uruguai com os

municípios de capinzal, Zortea e de Piratuba, ambos no Estado de Santa

Catarina. Distante 400 km de Porto Alegre.

Com atividades basicamente primárias, possui a economia embasada na

agropecuária, destacando-se a soja, o milho, o trigo, o feijão, a erva mate e os

citros; na pecuária, os bovinos de corte e de leite. Tem na atividade ervateira

uma aptidão natural, uma tradição histórica e um reconhecimento a nível

internacional pela forma com que estruturou a cadeia produtiva da erva mate

local. Atualmente tem forte destaque no turismo de águas termais. Na figura 1,

o mapa com a localização do município.

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Figura 1- Localização do Município de Machadinho,RS.

Possui um área de 334,5 Km²; uma população de 4719 habitantes, A

colonização é predominantemente italiana encontrando-se também

descendentes de poloneses e alemães.

2 Revisão:

A história do município remonta ao ano de 1893 quando o Rio Grande do Sul

vivia convulsionado pela revolução federalista e o capitão Gumercindo Saraiva,

com sua legião, veio transpor o rio Uruguai. Desse modo, o revolucionário,

estava pondo os pés e abrigando-se no solo Machadinhense. Pelas picadas

abertas por Gumercindo Saraiva, começaram a chegar os primeiros

moradores, dentre eles o Sr. Manoel Machado de Campos, em 1901. Deste,

vem à origem do nome do município, homem popular e de baixa estatura,

apelidado pelos amigos de “Machadinho”.

O município foi criado pela Lei Estadual nº 3.716, de 16 de fevereiro de 1959,

desmembrando-se de Lagoa vermelha, sendo a data de emancipação política

28 de maio de 1959.

Os relatos iniciais da erva mate datam de 1917, quando os primeiros

exploradores, vindos de Criúva, RS, se embrenhavam nas matas, onde é hoje

o município de Machadinho, em busca do chamado “Ouro Verde”. As árvores

distribuídas em grande quantidade ficavam escondidas sob uma vasta cortina

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de taquarais, protegidas pela copa da abundante mata de araucária. No ano de

1918, foi construído o primeiro “Carijo”, processo artesanal utilizado para a

secagem das folhas, que permitia após a sua desidratação o cancheamento

realizado por grandes facões de madeira, fragmentando a erva mate em

pedaços menores, para posterior transporte em bruacas de couro no lombo de

mulas e cavalos em direção a Criúva e Caxias do Sul. O processo de sapeco

era realizado próximo ao carijo, antecedendo o período de secagem.

No ano de 1921 foi construído onde hoje é a comunidade de Santa Catarina,

interior do município, o primeiro barbaquá. Sistema de secagem de erva mate

mais moderno e evoluído que o carijo. A diferenciação básica do carijó e do

barbaquá, está no fato de no primeiro os ramos e folhas de erva mate receber

o calor de maneira direta, visto que o fogo é aceso embaixo dos feixes de erva;

enquanto que no segundo recebe o calor de forma indireta, já que o fogo é

aceso distante da erva, sendo o calor conduzido por uma espécie de túnel até

as folhas afastado cerca de 8 a 10 metros.

Paul Walle em 1910, citado por, Linhares (1969), descreve o carijó como “uma

construção feita de grade armada de travessas grosseiras de madeira de três a

quatro metros de comprimento, colocados sobre forquilhas de dois metros de

altura. Por baixo, em toda a extensão e espaçados de cinqüenta centímetros se

acendiam vários fogos. Com a erva sapecada pequenos feixes se formavam

então, os ramos dispostos no mesmo sentido e assim colocados sobre o carijo.

Durante 24 horas consecutivas e em diferentes vezes a erva era sujeita a longa

torrefação, de preferência à noite. Protegido por um teto rústico ou um toldo

contra as intempéries, o carijó, apesar de todos os cuidados, se tornava

suscetível de incêndio.” Segue o autor, “O barbaquá é uma construção de

taquaras entrelaçadas que cobre, em forma de meia lua, um buraco feito no

solo. Esse buraco representa a boca de um conduto que se faz por baixo da

terra a certa distancia do barbaquá, na extremidade oposta da qual é

alimentado um fogo constante, de modo que o calor atravessando o conduto e

saindo pelo buraco em questão, esquenta as folhas da erva colocada na grade

do barbaquá. Geralmente ele funciona dentro de um galpão coberto de bambus

ou folhas de palmeira, quando não de telhas de madeira. Um homem, o Uru,

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comanda a operação, revolvendo com um bastão a erva que seca. Ao fim de

14 a 16 horas, a torrefação é considerada acabada”.

Nesse período, o comércio de erva mate foi ganhando significativa importância.

Foram construídos vários barbaquás e a atividade ervateira cada vez mais

ganhava impulso. Entre os anos de 1940 a 1950 o município de Machadinho

contava com mais de quarenta barbaquás que produziam grande quantidade

de erva mate. O produto beneficiado, agora já transportado por carretas,

puxadas a mulas e juntas de bois abastecia o mercado regional.

Nesse período o mercado de erva mate, principalmente o internacional

alcançava grande vulto e a participação brasileira era representativa, embora a

produção do Brasil, já tivesse sido ultrapassada pela Argentina, conforme

mostra o gráfico abaixo, na figura 2.

Figura 2 - Gráfico da Produção Mundial de Erva Mate, 1937.

Fonte: Lessa, B. 1986; adaptado por Melo, I. B.

Dessa produção brasileira estava computada aquela pertencente aos ervais de

Machadinho, que pela qualidade do produto alcançava bons preços e volume

comercializado.

No entanto, o período de fartura, não perdurou por muito tempo, visto que por

ordem superior, alegando a irregularidade dos empreendimentos e o não

recolhimento de impostos, foram queimados quase que todos os barbaquás

existentes no município. Encerrado o ciclo dos carijos e barbaquás, a região

começou a experimentar uma mudança na matriz produtiva local, o abandono

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do trabalho na floresta com a erva mate e a própria exploração da madeira

através das serrarias, principalmente, abatendo a araucária, deu lugar aos

cultivos agrícolas com a larga exploração das terras para a produção de soja.

Mesmo assim, com uma produção em menor escala passou a fornecer erva

mate para a empresa Hilton Garcez Agricultura Indústria e Comércio, no

município de Lagoa Vermelha, empresa exportadora de erva mate para o

Uruguai, Chile e Argentina, entre as décadas de 60 a 80. De Machadinho a

erva mate chegava a Lagoa Vermelha e dali rumava com destino aos países

vizinhos. A empresa, de nome “Erva Mate Machadinho”, também produzia para

atender o mercado interno.

No início dos anos oitenta, o município de Machadinho, começava um novo

ciclo ervateiro, com a chegada do primeiro secador rotativo de erva mate,

administrado pelo tarefeiro e comprador de folhas “Lole” em parceria com a

ervateira “Ouro Verde” de Erechim; no entanto, após quase dois anos de

funcionamento o empreendimento acabou sendo desativado.

De acordo com Dros, 2004, nas décadas de 1970 e 1980, a expansão da

agricultura, por meio do dominante cultivo da soja, causou o quase

desaparecimento da Mata Atlântica no sul do Brasil. Atualmente, a Mata

Atlântica no Paraguai também está ameaçada pela expansão da soja, assim

como as florestas baixas Yungas e Chiquitano, na Argentina e na Bolívia. Estas

diferentes florestas, juntas, representam uma impressionante diversidade

biológica, apresentam elevadas taxas de endemismo, e são mundialmente

singulares. A soja constitui uma importante ameaça indireta para as florestas

Amazônicas, devido o desenvolvimento de infra-estruturas e a capitalização

dos criadores de gado - a pecuária é a principal causa da conversão direta de

florestas tropicais. A expansão da soja extrapola as fronteiras das florestas

tropicais e ameaça os biomas de savana da América do Sul. Ao contrário das

florestas, as savanas podem ser diretamente convertidas para o cultivo de soja,

e milhões de hectares do Chaco argentino, e do Cerrado brasileiro, foram

convertidos na última década.

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A soja foi introduzida na região sul do Brasil, em 1914, para a produção de

alimentos para o gado. Em 1941 a soja aparece, pela primeira vez, nas

estatísticas agrícolas do país (640 ha cultivados). Nas décadas de 1960 e

1970, impulsionada pelos subsídios oferecidos pelo governo brasileiro, a

produção de soja cresceu drasticamente. Em 1980, a soja já havia se tornado

um dos principais produtos agrícolas de exportação do país, com uma

produção de 15 milhões/t em 8.8 milhões/ha. Durante este período, os três

estados do sul do país, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina,

responderam por 80% da produção.

A expansão da soja também se deu na região de Machadinho, onde muitos

ervais nativos foram erradicados, como se vê na figura 3, dando lugar à

instalação de lavouras destinadas ao cultivo da soja e do trigo. O cultivo de

mandioca também teve uma boa expressão, abastecendo a industrialização

local de algumas atafonas, na produção de farinha. Com essa alteração na

matriz produtiva local, já se abria espaço ao Cooperativismo que teve seu auge

com a fundação da Cooperativa Agrícola Mista Ourense, Ltda, Camol, no

município de São José do ouro no ano de 1968; e que posteriormente, em

1977 viria criar sua filial em Machadinho.

Figura 3 – Arranquio de ervais impróprios

O arranquio demasiado e sem controle dos ervais entre os anos sessenta e

setenta determinou uma redução drástica na oferta da matéria prima de erva

mate para as indústrias ervateiras na década de oitenta. Os preços da arroba

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de folhas se alteraram positivamente e alcançaram os mais altos patamares na

história da erva mate. A procura pela folha foi tão intensa que a colheita

realizada costumeiramente de cada dois a três anos passou ser feita com

intervalo anual.

Com o preço atrativo pago pela folha de erva mate em razão de sua escassez,

outro movimento começou a ser realizado, no sentido de implementar novos

investimentos, agora, para o plantio de erva mate. Passada a febre do

arranquio, novos ervais começaram a ser implantados na tentativa de

recuperar o déficit de folha registrado pelo mercado. O novo panorama que

começou a se desenhar com a intensificação de plantios em toda a região sul

do País, não levou em consideração fatos importantes que determinam com

presteza o sucesso ou insucesso na atividade ervateira, como a localização

dos plantios e a distância destes até o parque industrial de beneficiamento, a

qualidade da muda, a origem genética das sementes, a tecnologia de plantio,

cultivo e manejo, a mão de obra para a colheita, o custo do transporte e o

planejamento adequado.

A onda de plantio foi tão grande que extrapolou os limites do ervateiro comum,

atingindo e contagiando muitos e diversificados produtores rurais, empresários,

profissionais liberais e um diferenciado público cuja aptidão própria não tinha

intimidade com a exploração ervateira. O número de viveiros (Unidades

produtoras de mudas) de erva mate multiplicou-se rapidamente e a corrida para

a “atividade salvadora” contagiava a cada dia quantidade maior de adeptos. O

problema se agravou nos anos noventa, quando os ervais entraram em

produção e a oferta foi superior a demanda, ocorrendo um processo inverso,

agora com super produção e queda brusca no preço pago para a folha.

No início da década de 1970, o pronunciado avanço da fronteira agrícola, no

sul do Brasil, foi o responsável pelo sacrifício de grande parte das florestas

nativas. A erva-mate, componente destas florestas, repentinamente, teve suas

reservas diminuídas, para dar lugar às culturas de trigo e soja. Parte dos ervais

remanescentes foi, também, exaurido pelo desconhecimento de técnicas

adequadas de cultivos de I. paraguariensis. A exaustão dos ervais acarretou,

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gradativamente, na diminuição da oferta de produtos industrializados à

disposição do consumidor e, conseqüentemente, a elevação do preço. Em

função desses aspectos, fez-se necessário o florestamento e o reflorestamento

com a espécie, no sentido de regularizar o mercado. A destruição das florestas

nativas, o aumento da área de plantio, a formação de plantios puros e a

condução de ervais nativos como se fosse uma monocultura, proporcionaram,

nos últimos cinco anos, o aparecimento de vários surtos de insetos na erva-

mate. Iede (1989).

Em muitas regiões a exemplo de Machadinho, o problema foi tão grave que a

área de produção era extensa, inexistiam unidades industriais de

beneficiamento ou ficavam distantes dos ervais produtivos que inviabilizavam o

transporte da folha; além de que, os ervais implantados possuíam qualidade de

folha significativamente inferior a proveniente dos ervais nativos.

Desse modo, o abandono dos ervais pelos proprietários machadinhenses foi

uma prática comum, devido ao baixo preço pago pela folha da erva mate, a

qualidade inferior do produto, o alto custo na logística de colheita, de transporte

e da extrema dificuldade de mercado para a colocação do produto.

O desânimo tomou conta geral e o avanço das plantas daninhas passou a ser

uma nova ameaça a produtividade dos ervais, em função da concorrência

estabelecida pelo uso da água, dos nutrientes e da luminosidade. O ataque das

pragas também possibilitou perdas irrecuperáveis não apenas no prejuízo de

uma planta ou outra, mas no aumento da população e na disseminação dessas

espécies nocivas que passaram a ter presença continua nas plantações de

mate.

Os produtores que permaneceram na atividade tentavam comercializar sua

erva mate com as indústrias ervateiras localizadas em Erechim, distante cerca

de 80 km de Machadinho, já que ali não existia unidade beneficiadora. À

distância e as condições precárias de trafegabilidade da estrada devidas

grande parte dela não ser pavimentada criavam maior dificuldade; além de que,

o sabor forte da matéria prima na maioria dos ervais se constituía em outro

entrave, pois o material genético usado na implantação não tinha boa aceitação

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de mercado, causando restrição no uso para chimarrão e reduzindo as

possibilidades de venda bem como de se conseguir um preço adequado e

compatível para viabilizar a atividade.

3 Metodologia

Como metodologia utilizada nesse trabalho foi realizada pesquisa de campo no

município de Machadinho (entrevista oral) com moradores mais antigos,

detentores do conhecimento e que acompanharam parte da evolução histórica

e cronológica da comunidade local.

Algumas informações foram repassadas por parte dos produtores de erva mate

associados da Associação dos Produtores de Erva Mate de Machadinho,

APROMATE, diretores, gerente e funcionários da indústria de erva mate

Cambona, empresa da Cooperativa Agrícola Mista Ourense, Ltda, CAMOL,

através de entrevistas orais, visitas técnicas e contatos telefônicos.

Fez parte do conteúdo no documento o conhecimento próprio do autor,

alicerçado na vivência quando da estruturação da cadeia produtiva de erva

mate em Machadinho, por um período de seis anos (1994 a 2000) e

acompanhamento no setor ervateiro no Rio Grande do Sul.

Constam no trabalho informações retiradas da literatura especializada

consultada, dos documentos técnicos, arquivos fotográficos e nos sites

http://www.portoalegrense.com.br/pessoal/hilton.htm,

http://www.pmmachadinho.com.br/historico.php,

http://www.laticinio.net/inf_tecnicas.asp?cod=49,

http://www.cnhttp://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Leite/

GadoLeiteiroZonaBragantina/paginas/cadeia.htmpf.embrapa.br/publica/boletim/

boletarqv/boletim18_19/iede.pdf

4 Pesquisa

A estrutura da cadeia produtiva de erva mate no município de Machadinho, de

forma ordenada começou a ser esboçada no ano de 1994, com a criação da

APROMATE. Na figura 4 é mostrada a foto da reunião de fundação da

associação.

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Figura 4 – Reunião de Fundação da Apromate – Novembro de 1994.

Nas últimas décadas, a relação das atividades agropecuárias com o mercado

(agronegócio) tem passado por uma significativa transformação. Na atual

conjuntura, onde a globalização econômica é a palavra de ordem, os fluxos

mercadológicos e comerciais têm que ser considerados com muita atenção,

num complexo sistema interligado de rede ou cadeia produtiva. Veiga (2005).

Cadeia produtiva é definida como "a rede constituída por diversos atores que

geram relações de força coletiva, que influenciam diretamente as estratégias

mercadológicas e comerciais, assim como a tomada de decisão de cada um

dos atores" (Jank et al.1999), citado por Veiga, 2005.

De maneira geral a estrutura produtiva da erva mate tem duas fases distintas:

Fase I: Caracterizada pelo processo produtivo da matéria prima, envolvendo o

fornecimento de insumos externos, como fertilizantes químicos, adubos

orgânicos, sementes de plantas para adubação verde, embalagens para a

produção de mudas, tesouras, serrotes de poda, materiais e equipamentos

diversos. A produção, coleta e preparo das sementes também se insere nesse

contexto produtivo, como também a produção de mudas destinadas aos

plantios. Nessa fase os ervais assumem papel relevante, pois são os

responsáveis pela produção da matéria prima destinada ao processo industrial.

Com função não menos importante está o conhecimento adquirido pela

pesquisa e assistência técnica responsáveis pelo nivelamento e incremento

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tecnológico. No fechamento da fase, está o abastecimento e o transporte da

matéria prima até a unidade fabril, como esquematizado na figura 5.

Figura 5 - Esquema clássico nos elos da cadeia produtiva da erva mate,

Fase I:

Fonte: Melo,I.B; 2010.

Fase II: Caracterizada pelo processamento industrial do produto que passa

pela recepção das folhas de erva mate, pelo fornecimento de insumos como

lenha, de equipamentos para o beneficiamento industrial e materiais de uso

contínuo como embalagens e artigos diversos. Nessa fase se destacam os

processos de sapeco da erva mate, secagem, cancheamento, moagem,

empacotamento e distribuição para o mercado interno e o de exportação,

conforme esboço na figura 6. A elaboração de subprodutos, também, integra

esta fase produtiva, porém não será analisado visto não serem objetos deste

trabalho.

Figura 6 - Esquema clássico nos elos e do processamento industrial na

cadeia produtiva da erva mate, Fase II:

Fonte: Melo,I.B; 2010.

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O atual modelo da cadeia produtiva ervateira de Machadinho é resultante da

evolução que o segmento da erva mate apresentou no município, atribuído às

ações e aos mecanismos que foram utilizados na tratativa de ajustar esse

arranjo produtivo, descritos logo a seguir:

A mobilização dos agricultores e a criação da APROMATE, no ano de 1994,

liderados por Arcângelo Grison, in memorian, foram fundamentais para que o

processo de revitalização do setor ervateiro local tivesse êxito. Dado as

dificuldades encontradas pelos produtores de mate na época, uma das

alternativas foi a aproximação da APROMATE com a CAMOL, cooperativa esta

que desde 1977, estava atuando no município e onde a grande maioria dos

agricultores ervateiros já era sócia.

Sensibilizada com a problemática da erva mate e de seus associados à

diretoria da CAMOL na época, não mediu esforços para atenuar as dificuldades

e num exemplo de grandiosidade buscar a solução para a melhoria do quadro

por que passava a erva mate, embora não fosse seu ramo de atividade.

Num amplo estudo através do Censo Rural Municipal e Agropecuário, no ano

de 1995, realizado pelo CETRAM, Centro Técnico Rural e Agropecuário de

Machadinho, que reunia profissionais técnicos das mais diversas áreas e

instituições, foi possível visualizar na erva mate uma forte alternativa de

desenvolvimento local, incluindo-a a partir daí no Programa Rural e

Agropecuário de Machadinho, PRAMA, representado na figura 7.

Figura 7 - Símbolo de identificação do PRAMA

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A entrada da CAMOL com seus departamentos administrativos e técnicos,

somada ao empenho da APROMATE, fortaleceu o propósito de desenvolver

uma estratégia suficiente para reanimar a atividade ervateira, tão tradicional e

histórica em Machadinho.

A parceria entre APROMATE e CAMOL, embora com enormes adversidades,

teve pleno sucesso quando da construção da Indústria de Mate Cambona,

iniciada no ano de 1995 e concluída no ano de 1997. Presenteando os

associados ervateiros com uma moderna unidade de industrialização de erva

mate, conforme visto na figura 8.

Figura 8 – Fachada lateral externa da Indústria de mate Cambona

inaugurada em 1997 e da fachada de frente da indústria de exportação

inaugurada em 2000.

O curioso é que para a construção da indústria todo o investimento financeiro

da obra, os equipamentos de fabricação e a mão de obra especializada foram

da CAMOL; mas, a mão de obra bruta para erguimento do pavilhão, foi

canalizada pelos associados num regime de mutirão e algumas doações da

comunidade machadinhense. Esse fato parece ter tido um imenso valor e

significado, visto a forma com que agricultores e comunidade se orgulham e

reverenciam a erva mate no município, considerando-a como um patrimônio,

um legado, uma propriedade de todos.

Hoje a APROMATE, conta com oitenta associados produtores de erva mate,

além de uma sede social em conjunto com a CAMOL, para reuniões e

despachos administrativos, como se observa na figura 9.

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19

Figura 9 – Sede social e administrativa da Apromate e da indústria de

mate Cambona

4.1 FASE I – Modelo em Machadinho

4.1.1 Insumos Externos:

O fornecimento de insumos externos como fertilizantes, sementes,

ferramentas, equipamentos e demais bens adquirido em sua quase totalidade é

feito pela CAMOL, para uso na produção de erva mate ou nas demais

atividades da propriedade rural. Na relação comercial com o ervateiro,

geralmente a moeda de troca é a erva mate. O produtor compra o bem ou

insumo e paga a troco de erva. Essa relação ocorre ao natural, no momento da

compra ou posterior quando da colheita da folha.

Para o produtor Adroaldo Brandão, depoimento oral, “o erval é uma espécie de

banco, quando o agricultor precisa de dinheiro, colhe as folhas e deposita na

ervateira Cambona”. Ainda prossegue, “Folha por folha, a da erva mate é um

cheque a vista”.

4.1.2 Sementes

A tecnologia empregada para a produção de sementes tem o objetivo de

adaptar ou criar métodos adequados para determinada espécie, para se ter,

como resultado final, uma melhoria no padrão de qualidade das sementes.

Zanon (1988).

A produção de sementes em Machadinho foi uma das primeiras preocupações

no início dos trabalhos, pois de uma boa semente se formam bons ervais.

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20

Foram selecionadas oito matrizes e monitoradas desde o início da floração até

a colheita dos frutos. Foram denominadas de Cambona 1, Cambona 2,

Cambona 3, Cambona 4, Camol, Camol 68, Camol Polar e Raído Lourenço.

Duas dessas oito árvores tiveram aproveitamento satisfatório: Raído Lourenço

e Cambona 4. Mas foi a Cambona 4, que ultrapassou todas as expectativas

iniciais, por agregar virtudes como suavidade de bebida, alta herdabilidade,

velocidade de rebrote, alta produtividade e boa germinação. Inclusive sendo o

primeiro material genético de erva mate bi- parental do Brasil.

A Cambona 4 é resultado do cruzamento de uma árvore de erva-mate feminina

e uma masculina, que, a partir de 1999, foram clonadas por enraizamento de

estacas. Esses clones formaram o pomar de sementes da primeira progênie bi-

parental do Brasil, considerada as plantas quando se conhece o pai e a mãe.

Montoya & Corrêa (2008). Na figura 10, se observa as árvores envolvidas no

cruzamento.

Figura 10 - No primeiro plano a árvore feminina da progênie Cambona 4 e

ao fundo a árvore masculina.

O modelo lá empregado leva em consideração as características desejáveis da

planta fêmea e da planta macho no cruzamento, que é controlado, tanto que ao

redor da área de produção, num raio de 500 metros todas as outras árvores

masculinas existentes recebem tratamento com podas anuais para não

florescerem, visto que a erva mate só floresce em ramos com mais de dois

anos de idade.

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21

Para ampliar a base de produção de sementes foram produzidos clones,

através da técnica de estaquia, das plantas Cambona 4 (pai e mãe). Os clones

foram plantados juntos na área de produção, o que possibilita hoje uma maior

oferta de sementes dessa progênie.

Em relação ao comportamento das flores, a erva-mate é unissexual em árvores

diferentes (espécie dióica). As flores, que são pequenas, pedunculadas,

agrupadas em cimeiras fasciculadas nas axilas das folhas, possuem uma

característica especial, pois, embora em todas elas se encontrem estames e

pistilos, ocorre que, nas femininas, os estames não funcionam e, nas

masculinas, o pistilo aborta. Em função disso, ocorre certa dificuldade na

polinização natural (FERREIRA FILHO 1957).

O monitoramento é contínuo e incrementado no período reprodutivo das

erveiras que começa no mês de setembro e se estende até o mês de março.

4.1.3 Produção de Mudas

Definida pela Camol e Apromate os investimentos no setor ervateiro, uma das

primeiras ações do departamento técnico foi realizar um diagnóstico da

produção de mudas e de folhas de erva mate na área geográfica de

abrangência da CAMOL, envolvendo seis municípios: Machadinho, São José

do Ouro, Barracão, Tupanci do Sul, Santo Expedito do Sul e Cacique Doble.

No estudo o que mais chamou a atenção foi a quantidade expressiva de

viveiros produtores de mudas (106 estabelecimentos), a baixa qualidade das

mudas, a baixa produtividade dos ervais e o sabor acentuadamente forte das

erveiras plantadas, com finalidade para chimarrão, diferenciando-se dos ervais

nativos locais, que apresentavam um sabor mais suave de bebida.

No gráfico da figura 11, se visualiza quais indicativos técnicos os produtores de

erva mate levavam em consideração para aquisição de mudas para o plantio.

Nota-se que o tamanho da muda e o preço eram os mais relevantes, enquanto

que a “Procedência da Semente”, nem sequer foi citada. Erros como esse

permitiram com o tempo a formação de ervais com qualidades indesejáveis e

inviabilizados.

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Figura 11 – Gráfico do indicativo técnico na compra de mudas de erva

mate – visão do ervateiro.

Fonte: Melo I.B, 1995.

A reestruturação do setor ervateiro começou pelo segmento da produção de

mudas, e pelo treinamento dos viveiristas. Com o tempo, houve significativa

melhora na qualidade da muda produzida; e, aqueles não adaptados ao novo

sistema logo foram sendo eliminados pela restrição de um mercado mais

exigente, que já comparava a influência e o desenvolvimento de uma boa muda

na formação do erval com uma de menor qualidade.

As mudanças foram drásticas, que atualmente a produção de mudas na região

é feita por apenas três viveiristas, que conseguiram acompanhar a evolução

tecnológica e colocar padronização. Bem como o controle de qualidade, ficou

mais fácil de ser feito.

O rigor na produção de mudas obedece à seleção de matrizes e o

monitoramento em sua fase reprodutiva, a colheita dos frutos, a limpeza, a

armazenagem da semente, a estratificação, a semeadura, a repicagem e os

tratos culturais até o momento da expedição. A infra-estrutura de produção

como as instalações do viveiro, o substrato, as embalagens, a qualidade da

água e o desenvolvimento a campo também são itens observados.

Os plantios realizados com as mudas procedentes desses viveiros são

monitorados posteriormente e em cada erval instalado, a partir do terceiro ano

é realizado o georreferenciamento com anotação de suas coordenadas, se as

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23

mudas são procedentes da progênie Cambona 4, o produtor recebe um

certificado de garantia CAMOL/APROMATE.

4.1.4 Produção dos Ervais

A transformação ocorrida nos ervais talvez seja a que mais se visualiza. O

incremento de produtividade que era de 400 arrobas por hectare no início dos

anos noventa, hoje se situa ao redor de 1500 arrobas por hectare a cada safra.

A uniformidade das plantas, a redução do ataque de pragas, o uso de

cobertura verde e morta, a adubação e o sistema de poda usado no município

e o controle das plantas daninhas, fazem parte dessa mudança tecnológica.

O fomento realizado em conjunto Camol, Apromate e Prefeitura Municipal, no

final dos anos noventa, financiando a implantação dos ervais, auxiliou na troca

de ervais impróprios ou de baixa produção por ervais com melhor qualidade de

muda e de maior potencial produtivo; além, de novos plantios. O reflexo dessa

operação é sentido na atualidade, como mostra a foto na figura 12.

Figura 12 - Erval de Cambona 4, propriedade de Lourenço Pieri,

Machadinho, RS

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A introdução do Sistema Agroflorestal de erva mate SAF Cambona 4, com a

inclusão de arborização sobre os ervais é outro diferencial produtivo. A

qualidade da erva mate também evoluiu significativamente, o que proporciona

uma maior segurança para a indústria ervateira nos termos de oferta de

matéria prima.

Outro fator aglutinante foi a parceria com o Consórcio Machadinho,

responsável pela Usina Hidrelétrica Machadinho, que possibilitou o incremento

da área plantada através do fomento de produção e subsidio de plantio, desde

o início desta década. A inclusão do financiamento bancário via Pronaf, para o

sistema agroflorestal Cambona 4, também contribuiu para a ampliação dos

plantios.

Verifica-se que os incentivos para o plantio existem das mais diferentes formas;

no entanto, a intenção de plantio não segue a mesma desenvoltura. Produtores

que estão na atividade ampliam suas áreas mesmo que timidamente, até

porque, a estrutura fundiária local é caracterizada por pequenas áreas de terra

por propriedade e a adoção por produtores ou investidores não atrelados a

atividade ervateira não está acontecendo, até mesmo pelo desconforto

causado nos anos oitenta com produção volumosa de folha e dificuldade de

comercialização. Hoje, o problema é ao inverso. Existe o mercado, mas a

oferta de folha é baixa, levando a indústria local importar matéria prima de

outras regiões e até mesmo de outros estados.

Cerca de 300 produtores produzem erva mate no município e a área de

produção gira em torno de 470 hectares, sendo que 170 hectares são de ervais

cultivados com a progênie Cambona 4.

4.1.5 Assistência Técnica e a Pesquisa

Passa pela assistência técnica e a pesquisa, o grande salto do setor ervateiro

de Machadinho. Por nada é considerado hoje, como um dos pólos ervateiros

de maior nível tecnológico no cultivo da erva mate. A revitalização da erva mate

no município nasceu junto com um vasto plano de assistência técnica

viabilizada pela CAMOL. Posteriormente foram se agregando a Embrapa

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Florestas, o Senar, RS, a URI - Campos Erechim, a Emater, RS, a secretaria

municipal da agricultura e a própria Apromate.

O primeiro choque cultural foi a realização de duas viagens técnicas com os

agricultores do município para as províncias de Missiones e Corrientes na

Argentina nos anos de 1995 e 1996, o que possibilitou conhecer o diferente e

criar uma nova mentalidade sobre a erva mate. As viagens também serviram

para integrar e aglutinar os agricultores.

Um intenso programa de treinamento e profissionalização foi estabelecido em

conjunto com o Senar, RS para viveiristas e produtores ervateiros, abordando a

produção de mudas, o manejo e o cultivo da erva mate. A realização de

eventos técnicos através do PLANTIMATE, Encontro Técnico Nacional da Erva

Mate, também possibilitou firmar a região de Machadinho como um pólo difusor

de tecnologia na atividade. Na figura 13, o conjunto de entidades diretamente

envolvidas na geração e no repasse de tecnologia.

Figura 13 – Estrutura atual de pesquisa e assistência técnica na cadeia

produtiva de erva mate em Machadinho.

No ano de 1996, com a chegada da Embrapa Florestas e da Uri, o município

passou a criar um novo cenário voltado para a geração de pesquisa

participativa em erva mate, junto com o agricultor. Foram instalados vários

experimentos e gerados um volume significativo de trabalhos de pesquisa.

Essa metodologia aproximou mais o agricultor ao pesquisador e os resultados

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foram extremamente significativos, perdurando trabalhos e projetos dessa

natureza até os dias atuais.

A mobilização com eventos técnicos é uma constante, Dias de campo,

Seminários Técnicos e cursos de atualização, já fazem parte do calendário

anual municipal da erva mate. A força dessa integração rendeu a criação da

FESTCHÊMATE, Festa Latino Americana do Mate, Feira da Indústria,

Comércio, Turismo e Agropecuária, festa oficial do município que leva de

motivo principal no seu nome a erva mate, conforme destaque na figura 14.

Figura 14 - Material publicitário do 3º PLANTIMATE e da 1ª

FESTCHÊMATE

O aspecto mais relevante é a intimidade entre o produtor ervateiro, o técnico da

extensão rural e o pesquisador. Uma relação maior do que puramente

profissional, expandindo-se por horizontes outros como valores de confiança,

credibilidade, amizade, convivência e responsabilidade. Essas virtudes fazem

de Machadinho um reconhecido Pólo difusor de tecnologia em erva mate do

mundo ervateiro.

4.1.6 Colheita da matéria Prima e Transporte

O abastecimento da indústria Cambona se dá de três maneiras distintas: A

primeira delas o agricultor colhe a erva e a indústria realiza o transporte, na

segunda o produtor colhe e coloca a erva mate no pátio da indústria e na

terceira equipes especializadas colhem e transportam o produto até a unidade

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processadora. Numa análise mais pormenorizada dessas possibilidades podem

ser verificados aspectos importantes olhados os pontos de vista da indústria,

do produtor e da mão de obra terceirizada.

A legislação trabalhista de forma como está definida em lei dificulta em muito

para a indústria ervateira realizar o trabalho de colheita e transporte do produto,

forma tradicional e mais usual na produção de erva mate até pouco tempo

atrás. O distanciamento da indústria nessa tarefa colocou sobre o produtor a

responsabilidade de fazer a própria colheita e transportar até o parque

industrial ou recorrer às equipes especializadas terceirizando essa etapa na

produção. A figura 15 mostra, um erval recém podado de acordo com a técnica

recomendada.

Figura 15 – Vista parcial de um erval recém colhido

A tendência é a indústria se retirar dessa etapa e passar só a comprar a erva

mate posta no chão da fábrica, para evitar problemas maiores com relação à

legislação.

Para o produtor o fato de ele colher e fazer o transporte trás a vantagem de

maior rentabilidade, visto que o custo de colheita e transporte muitas vezes

chega de 35 a 40% do valor da arroba. Nessa hipótese, o ervateiro estaria

vendendo a sua mão de obra para si própria; e, em conseqüência tendo maior

rentabilidade. Como complemento realizar uma poda mais tecnicamente

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recomendável em seu erval já que quando a indústria a faz, esse item

geralmente não é observado.

A terceira possibilidade além de evitar problemas da indústria com a legislação

abre espaço para a geração de mão de obra; no entanto, para o agricultor ela

reduz consideravelmente a renda líquida por arroba.

A etapa de colheita da erva mate talvez seja o maior ponto de estrangulamento

de toda a cadeia produtiva, principalmente porque a mão de obra disponível

nas famílias rurais está reduzindo e com o tempo ocorrendo o envelhecimento

da população rural.

A colheita é realizada com a utilização de ponchos (Panos para a proteção das

folhas evitando seu contato com o solo) que permanecem protegendo durante

o transporte até a chegada na indústria. Cursos de treinamento em poda e

colheita são realizados temporariamente com o objetivo de aperfeiçoar o

conhecimento técnico dos agricultores para essa prática. Em geral, quando a

erva mate é colhida pelos agricultores é usado o sistema de mutirão, quando

uns auxiliam os outros, trocando dias de trabalho para a realização da tarefa. A

figura 16 mostra folhas de erva mate recém colhidas envoltas pelo poncho.

Figura 16 – Folhas de erva mate protegidas pelo poncho

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Os materiais usados na poda são o facão para os ervais de menor tecnologia;

e, a tesoura e o serrote, nos ervais tecnificados. O intervalo de poda não

ultrapassa ano e meio; e nos ervais de Cambona 4, são realizados anualmente

em função da maior demanda por essa matéria prima. O custo por arroba paga

ao produtor posta na indústria é R$ 4,50 (Quatro reais e cinqüenta centavos)

para a erva mate comum e R$ 7,50 (Sete reais e cinqüenta centavos) para a

erva nativa ou a Cambona 4, devido à melhor qualidade de bebida.

O diferencial de preço pago por arroba, basicamente é em função da qualidade

da erva mate. A erva que alcança um padrão de bebida aceito pelo consumidor

tem um maior valor de mercado; no entanto, aquela que não atinge esse

padrão exigido recebe um preço significativamente inferior.

O desenho e a estrutura esquemática da cadeia produtiva, fase I, em

Machadinho pode ser visto na figura 17.

Figura 17 - Esquema Clássico nos elos da cadeia produtiva da erva mate,

Fase I, em Machadinho, RS.

4.2 FASE II – Modelo em Machadinho

O processamento industrial da erva mate em Machadinho conta com uma

unidade fabril da Indústria de mate Cambona, inaugurada no ano de 1997 e

com uma unidade industrial processadora de erva mate para exportação

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inaugurada no ano de 2000, ambas pertencentes à CAMOL, sendo que a

unidade de exportação funciona em sistema de parceria com outros grupos

exportadores. Nessa fase de produção cada processo embora interligado, tem

seu funcionamento diferenciado.

4.2.1 Energia:

A energia utilizada no processo de industrialização da erva mate possui duas

fontes. Os equipamentos e a maquinaria são movidos por energia elétrica, já a

energia de ação direta no produto é fornecida através de biomassa florestal

(Lenha de Eucalipto).

A lenha tem sua origem na propriedade dos associados da CAMOL e da

APROMATE, que comercializam diretamente com a indústria ervateira. O preço

pago pela lenha posta no pátio da empresa é R$ 45,00 / mst. (quarenta e cinco

reais). Na figura 18, se observa o estoque de lenha para ser usado no sapeco e

na secagem da erva mate.

Figura 18 – Lenha de eucalipto como fonte de energia

4.2.2 Recepção da Matéria Prima

A recepção da matéria prima é feita diretamente na balança, no momento de

pesagem, emitindo-se ali toda a documentação necessária. Posteriormente a

descarga é realizada junto à área de recepção que fica no interior do pavilhão

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próximo a uma esteira dosadora automática que leva a erva mate ao

sapecador. Nesse momento é feito uma análise e revisão da matéria prima,

principalmente sobre a padronização no diâmetro dos ramos, a inexistência de

sujidades e materiais estranhos como cipós e partes de outros vegetais. O

trabalho de descarga e abastecimento da esteira é manual auxiliado por um

guincho fixo. Na figura 19 se visualiza a esteira dosadora carregada de erva

mate, sendo conduzida em direção ao sapeco.

Figura 19 – Esteira dosadora de erva mate

4.2.3 Sapeco

O sapeco é uma das etapas mais importantes no processo de industrialização

da erva mate. Sua finalidade é fazer a primeira desidratação na folha, retirando

cerca de 20 a 30% de sua umidade. Nessa operação o cuidado maior é para

que não ocorra a queima das folhas e ramos já que eles caem diretamente na

labareda do fogo; ou para que, não fique mal sapecada (Crua), quando o fogo

é insuficiente. O sistema de sapeco utilizado é composto por um túnel rotativo

que gira sobre si, enquanto a folha vai passando no seu interior. Na figura 20

se identifica uma fornalha com fogo aceso para sapeco da erva mate e na

figura 21 a erva mate sendo sapecada num sapecador rotativo.

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Figura 20 – Fornalha a Lenha usada para sapeco e secagem de erva mate

O choque direto na labareda e o calor interno reduzem a umidade natural da

folha que geralmente varia de 65 a 70%. As folhas e partes do ramo sapecados

caem sobre uma esteira que os leva ao cancheador.

Figura 21 – Sapecador Rotativo de erva mate

4.2.4 Cancheamento

Este processo também é importante pelo fato de fazer a fragmentação das

folhas e ramos da erva mate após seu sapeco, transformando em pedaços

menores para facilitar posteriormente a sua secagem.

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O cancheador é um equipamento composto por um conjunto de facas que

giram em alta velocidade e fazem a fragmentação da erva em pequenos

pedaços uniformizados. Quando a erva mate não estiver bem sapecada ou as

facas não estiverem bem afiadas o corte não fica perfeito. Após o

cancheamento a erva é direcionada ao secador.

4.2.5 Secagem

A secagem tem por finalidade desidratar as folhas e ramos da erva mate já

cancheada, trazendo a umidade para valores que variam de 8 a 10%. A

secagem é realizada em túnel rotativo aquecido por fogo a lenha. No secador

são usados troncos mais grossos de lenha, que produzem mais calor e menos

labareda; enquanto que no sapecador os troncos são mais finos, com o

objetivo de produzir mais labareda.

A figura 22 mostra o conjunto rotativo de secagem de erva mate utilizado na

indústria ervateira Cambona.

Figura 22 – Secador rotativo de erva mate

Após a secagem a erva mate é sugada por um exaustor, ensacada e

armazenada em local protegido com baixa umidade e luminosidade, por um

período mínimo de 24 horas antecedendo a moagem.

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A capacidade máxima de secagem da indústria é de 2000 kg de folha verde por

hora, mas em média, são secos e cancheados 1500 kg/ hora, para se obter um

produto de melhor qualidade. A figura 23 mostra a erva mate já seca e

plenamente cancheada.

Figura 23 – erva mate seca e cancheada

4.2.6 Moagem

O processo de moagem da erva mate para o mercado brasileiro é realizado por

um soque de 24 mãos, visto na figura 24, que batem alternadamente até a

moagem completa do produto, numa granulometria que pode variar de marca

para marca ou de indústria para indústria. Se for moída grossa, sua

granolumetria é maior. O produto moído vai por meio de elevadores

automáticos até um misturador homogenizador, responsável pela separação da

goma de erva mate e do palito por meio de peneiras próprias capazes de

padronizarem a granolumetria e o percentual de palito adicionado a erva. A

capacidade de socagem na indústria é de 640 kg/ hora.

O processo da moagem da erva mate necessita de uma matéria prima seca,

com teor de umidade ao redor de 8%. Os fragmentos de erva mate cancheada

deverão estar livres dos chamados fiapos, que são fibras do tecido da folha da

erva mate, provocados pelo cancheamento quando as facas do cancheador

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não estiverem bem afiadas ou quando a erva mate não teve uma boa

secagem.

Figura 24 – Modelo de equipamento para soque de erva mate

A erva mate usada para exportação ao invés de seguir ao soque passa por um

processo de peneiramento e separação de palito, pois enquanto na erva do

mercado nacional se adiciona de 20 a 30% de palito, na exportação se usa

pura folha, ou seja, 0% de palito. O palito tem sua origem do ramo ou galho da

planta. A erva para exportação deve ficar armazenada (estacionada) cerca de

oito a dez meses para obter uma coloração mais amarelada e só então ser

comercializada. A erva para o mercado interno, precisa manter uma coloração

verde intenso, sem passar pelo estacionamento, conforme exigência dos

consumidores.

4.2.7 Empacotamento

O empacotamento é realizado por intermédio de uma empacotadora

automática com seladora de pacotes também automática que pode empacotar

e colar até 18 kg de erva mate por minuto. Em geral, na indústria são

empacotados 14 kg de erva por minuto. Os pacotes são acomodados em

fardos de 20 kg e encaminhados para a distribuição.

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O empacotamento compreende a fase final da produção da erva mate, que

antecede o carregamento e a distribuição para o mercado consumidor,

conforme visto na figura 25.

Figura 25 – Empacotadora automática de erva mate

4.2.8 Distribuição

A distribuição do produto ocorre de maneiras diferentes, em função de a

empresa trabalhar com comercialização de erva mate cancheada, empacotada

e pura folha.

A erva mate cancheada é comercializada em sacos de ráfia ou bags plásticos,

para empresas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, especialmente da

progênie Cambona 4, usada para o blend (mistura) que as ervateiras fazem

para padronizar o produto. A Cambona 4 é bastante procurada por causa da

sua suavidade e capacidade de substituir a erva mate nativa com semelhança

de qualidade para a padronização final do produto, com um custo menor.

A erva mate empacotada para chimarrão é distribuída diretamente pela

Indústria de mate Cambona e por distribuidores autorizados em alguns

municípios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de uma forma aleatória,

sem um estudo tecnicamente mais detalhado dos mercados. Na figura 26, se

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verifica as diferenças visuais da erva mate moída grossa, do palito e da erva

mate pura folha, esta última, comercializada exclusivamente para a exportação.

Figura 26 – Erva mate moída grossa, palito e pura folha.

A erva mate moída grossa se caracteriza por apresentar maior granulometria. A

erva mate pura folha, produzida em parceria com outras empresas

exportadoras, segue o caminho do Uruguai e Chile. A matéria prima utilizada

para a erva mate de exportação é produzida na região de Machadinho, mas a

empresa ainda compra erva mate cancheada de outras regiões do Estado para

ampliar a sua escala.

O esboço da cadeia produtiva da erva mate, em Machadinho, embora com

estremas dificuldades em sua montagem e estruturação, forma um modelo

interessante de se trabalhar, quando se somam esforços coletivos

(Associativismo e Cooperativismo). Essas dificuldades iniciais deram

alternativas que hoje são fundamentais no processo, mas que precisaram ser

montadas do marco zero pela estrema necessidade na solução dos problemas

da época: Inexistência e distância de um parque fabril industrializador de erva

mate.

Na figura 27, se observa a estrutura criada em Machadinho para recompor a

fase II, da cadeia produtiva ervateira local, que a tornou independente e auto-

suficiente. A figura mostra o início do processo de industrialização até a

distribuição do produto no atacado, no varejo ou se diretamente para a

exportação.

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Figura 27 - Esquema dos elos e no processamento industrial na cadeia

produtiva da erva mate em Machadinho, RS.

Fonte: Melo I.B; 2010.

5 Discussão

O esboço da cadeia produtiva ervateira em Machadinho apresenta uma

sistemática própria e única, embora siga a estrutura comum da cadeia

produtiva ervateira; no entanto, o tratamento e as estratégias usadas para a

atividade se transformaram num exemplo de sucesso e modelo desafiador para

a evolução de todo o setor ervateiro, numa visão de ordenação, planejamento e

aproximação de cada um dos elos dessa cadeia de produção.

Por outro lado, enfrenta dificuldades em alguns pontos fundamentais que se

resolvidos poderão ampliar o desempenho da atividade ervateira no município

e região. A manutenção de pontos estratégicos que funcionam adequadamente

e a mudança naqueles que enfrentam dificuldade se fazem necessário, para

que ocorra de maneira uniforme um equilíbrio na cadeia produtiva ervateira

local.

Visualiza-se como entrave a redução drástica ocorrida nos ervais nativos da

região, o que limita até certo ponto o mercado para a erva mate empacotada

com melhor qualidade. Por outro lado, os 170 hectares com cambona 4, não

são capazes de suprirem essa demanda vista serem ervais jovens que ainda

não atingiram o seu potencial máximo de produtividade.

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O pequeno incremento anual de novos plantios também é um limitador, à

medida que não evoluiu significativamente em área cultivada na mesma

velocidade que se amplia a demanda pela matéria prima local, especialmente

pela originada dos ervais de cambona 4.

A extensão fundiária do município concentra-se em pequenos

estabelecimentos rurais que mesmo que desejem ampliar a produção de erva

mate são limitados pela reduzida área de terras disponível. Os

estabelecimentos de médias e grandes proporções embora tenham alguns

resquícios de erva mate, se dedicam preferencialmente a outras atividades

produtivas como os cultivos agrícolas de soja, milho e trigo, a bovinocultura de

leite e a avicultura de corte.

Analisando-se a estrutura fundiária de uma amostra de produtores de erva

mate em Machadinho, constatou-se que a área própria das propriedades rurais

varia de 5,3 a 71 hectares. É importante ressaltar que a erva mate ocupa boa

parte das terras das lavouras permanentes, variando de 0,5 a 9 hectares na

amostra. Todavia na maioria das propriedades predominam os ervais com área

média de até três hectares e idade de seis anos. Dossa (2000).

De acordo com Dossa, 2000, a participação da erva mate na renda das

propriedades é em média 23%. Todavia pode chegar a quase 50%; e em

algumas exceções de 80 a 100%. Logo a erva mate é importante na formação

da renda familiar dos pequenos produtores da região.

Com relação ao uso da tecnologia em função da extensão fundiária, Dossa

(2000), constatou que os produtores do grupo com áreas abaixo de 20 hectares

e os rururbanos (produtores em cuja renda há uma forte participação de fontes

provenientes do meio urbano), usam tecnologia próxima aquelas

recomendadas pela pesquisa e extensão rural, todavia, aquém do desejável

para serem competitivos no setor ervateiro. Já os produtores do segundo

grupo, com áreas superiores a 20 hectares, têm seu nível tecnológico para a

erva mate abaixo do recomendável.

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Outro fator preponderante e limitante é o envelhecimento da população rural,

que a cada ano vê diminuída suas forças de trabalho, reduzindo o número de

atividades produtivas na propriedade e a extensão delas. Cada vez mais, a

aposentadoria eleva a importância no percentual da renda das famílias. A

redução da mão de obra no meio rural, através da saída do jovem para a

cidade, à procura de estudo e trabalho, de certo modo tem comprometido a

atividade ervateira local; bem como as outras atividades produtivas da

propriedade. No caso especial da erva mate, em que a mão de obra é um fator

preponderante para o plantio, manejo e colheita da cultura.

Dos trezentos produtores de erva mate no município oitenta são associados na

APROMATE, representando um valor de 26,66% apenas. O individualismo na

cadeia produtiva de erva mate é uma cultura dominadora, visto várias

iniciativas serem feitas no sentido de agregação a maioria delas resultou em

fracasso. No Rio Grande do Sul, nos anos noventa existiam três associações

de produtores de erva mate: ASPEMAI, associação dos produtores de erva

mate de Ilópolis, ASPEMATE, Associação dos produtores de erva mate do Alto

Uruguai e a APROMATE. Passado o tempo dessas três, apenas a APROMATE

está em funcionamento, completando 16 anos de existência, que para o setor

ervateiro é um tempo significativo na duração de uma sociedade.

Embora a APROMATE, tenha resistido ao tempo o índice de associados é

consideravelmente baixo, pela expressão que a associação possui em termos

de representatividade no setor ervateiro de Machadinho e do Brasil. Sendo que

se constitui numa associação multi premiada pelo seu reconhecido trabalho e

importância, de valor social, ambiental e econômico aos seus associados como

é percebido nas premiações recebidas: “Prêmio Futuro da Terra”, Segmento

Cadeias de Produção - Sistemas Agroflorestais - Expointer - Edição 1999

Jornal do Comércio e Fapergs; “Prêmio Brasil de Meio Ambiente – 2007”,

Sistema Agroflorestal Cambona 4, SAF Cambona 4 - Categoria Fauna e Flora

Petrobrás, FIRJAN, Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil; “Prêmio Brasil

Ambiental – 2008”, SAF Cambona 4 - Categoria Meio Ambiente - Câmara de

Comércio Americana; “Prêmio LIF 2008 de Responsabilidade Social” -

Sistema Agroflorestal de Erva-mate Cambona 4 - Categoria Meio Ambiente

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Câmara de Comércio França – Brasil e “17º Prêmio Onda Verde Expressão

de Ecologia” – Sistema Agroflorestal Cambona 4, Categoria Agropecuária. A

figura 28 apresenta os Associados da Apromate, quando do recebimento do

“Prêmio LIF 2008, de Responsabilidade Social”.

Figura 28 – Associados da Apromate no recebimento do “Prêmio LIF

2008, de Responsabilidade Social”.

Outro fator limitante no processo é a localização geográfica de Machadinho que

o deixa relativamente longe dos grandes centros consumidores de erva mate,

dificultando a logística de distribuição do produto.

O sistema utilizado para a comercialização e distribuição do produto parece ser

um dos pontos mais fracos e frágeis da cadeia produtiva ervateira do

município, atendendo demandas que surgem de maneira aleatória em diversas

praças de mercado, sem o uso de um estudo mais aprofundado. A inexistência

de um planejamento estratégico mercadológico que defina a estratégia de

comercialização e distribuição da erva mate, comprovado por este estudo, cria

uma imagem amadora desse elo na cadeia, além de gerar problemas como

inadimplência, rodízio de produto na prateleira e retorno de erva mate

envelhecida.

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A inexistência desse planejamento, do controle de vendas e distribuição,

também gera dificuldades para análises mais profundas e complexas do

comportamento do mercado, das possíveis flutuações, do sortimento da

matéria prima, da visão futura e das estratégias necessárias para manutenção

e ampliação das vendas, aumento dos territórios de abrangência, bem como da

maior difusão e consagração das marcas produzidas em Machadinho.

Para o atual gerente da Indústria de Mate Cambona, Altair Ruffato, depoimento

oral, o comportamento do câmbio atual com a desvalorização do dólar tem sido

um dos transtornos que interferem negativamente no processo de exportação;

aliado a inexistência de linha de crédito, para financiar o estoque de erva mate

no período de estacionamento, até estar pronta para a exportação.

O setor ervateiro de Machadinho quando comparado a outros municípios

produtores de erva mate apresenta peculiaridades significativas que o tornam

diferente. Um desses pontos é a extrema jovialidade que possui com a sua

cadeia produtiva estruturada, produção de matéria prima, industrialização e

comercialização do produto elaborado, desde 1997, com treze anos apenas,

enquanto as outras regiões produtoras tradicionais já militam com sua cadeia

produtiva instalada por várias décadas.

Geralmente os municípios tradicionais produtores de erva mate possuem várias

indústrias instaladas competindo entre si; no caso de Machadinho, só se tem a

Indústria de mate Cambona, com uma unidade de processamento para o

mercado interno e outra para a exportação. A existência de uma única indústria

cria um vínculo forte entre a fonte de matéria prima e a de industrialização, se

constituindo numa uma relação de harmonia e fidelidade.

O preço da arroba de erva mate em Machadinho acompanha os melhores

preços praticados para a erva mate no Brasil, fato inusitado para um município

onde a concorrência pela compra do produto praticamente não existe, por ser

feita unicamente por uma indústria. A manutenção de bons preços faz parte

dessa relação harmônica já citada anteriormente; e que de certo modo, afasta

uma possível concorrência.

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O grande diferencial de Machadinho está na chamada “Fase I” de produção, a

começar pela organização no processo de produção de sementes e mudas,

com um rigor de controle sobre os viveiristas e posteriormente a emissão do

certificado de garantia quando o erval já está instalado. Essa organização não

é observada em outros municípios ervateiros no que tange a produção de

mudas, ao contrário, se observa uma grande desorganização e descontrole

dessa etapa produtiva. Além de que o surgimento da Cambona 4, encantou,

destacou e tornou Machadinho reconhecido no cenário ervateiro mundial.

O uso de tecnologia na produção dos ervais, a alta produtividade, o manejo, na

condução da cultura e o sistema de poda de formação e colheita praticadas

pelos agricultores locais, é outro diferencial que Machadinho conseguiu

implantar na sua cadeia produtiva e que não é vista comumente em outros

municípios. O conhecimento expressivo do produtor, a participação em cursos,

palestras, treinamentos e viagens técnicas são os diferenciais adotados por

estes agricultores, que tem ainda, o apoio cooperativo e associativo da Camol

e da Apromate, não observado com tamanha intensidade em outros

municípios.

A pesquisa e a assistência técnica direcionada ao setor ervateiro em

Machadinho, também não é observada com tamanha intensidade e

continuidade em outros municípios. Vários pesquisadores e técnicos prestaram

e prestam seu trabalho no sentido de gerar e difundir tecnologias. O conjunto

de instituições como a Emater, RS, a Embrapa Florestas, a Camol, a

Apromate, a URI, a Prefeitura Municipal, através da Secretaria da Agricultura e

o Senar, RS tem sua atuação ativa e permanente junto à cadeia produtiva

local, modelo não praticado em outras regiões ervateiras.

O Sistema de colheita da erva mate, também se diferencia de outras regiões,

principalmente se considerados o padrão técnico de poda utilizada e o sistema

de mutirão, que vai num sistema rotativo, colhendo a erva mate de propriedade

em propriedade através da troca de serviço; o que também possibilita um maior

ganho para o produtor ervateiro.

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No que se refere à fase II, industrialização, comercialização e Distribuição do

produto, o setor ervateiro do município apresenta algumas carências e

dificuldades na organização, na infra-estrutura e na estratégia, já superada por

outros municípios e regiões ervateiras.

Diante do exposto, é possível sugerir algumas alternativas que possam

fortalecer os elos da cadeia produtiva ervateira de Machadinho com bom

funcionamento e melhorar aqueles em que dificuldades são visualizadas.

Manter ativa e coesa a união entre as instituições que colaboram com a

pesquisa e assistência técnica, além de elaborar um planejamento estratégico

de ações futuras para o tema direcionadas ao setor ervateiro de Machadinho.

Criar um plano de mobilização e conscientização para ampliação do número de

Associados da APROMATE, bem como uma participação mais ativa e

constante dos associados. Manter a promoção de eventos técnicos e sociais

que se caracterizem com a atividade ervateira.

Dar continuidade ao programa de seleção de matrizes e produção de mudas,

bem como manter um rigoroso controle nessa etapa produtiva.

Para ampliar a oferta de matéria prima de boa qualidade incrementar a

produtividade dos ervais de Cambona 4, começando pelo uso de tecnologias

que ainda não foram utilizadas como quebra vento, irrigação, fertilização

individualizada por erval de acordo com análise do solo e a extração de

nutrientes pela colheita.

Para os ervais que não foram constituídos com mudas de Cambona 4, ampliar

o fomento para a arborização de sombreamento, já que a erva mate é uma

planta de sombra e nessas condições produz uma matéria prima de melhor

qualidade.

Criar incentivo para novos plantios, limitados pela estrutura fundiária e

disponibilidade de mão de obra, com os agricultores locais e /ou através de

condomínios florestais com investidores externos que possam comprar e

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arrendar áreas de terra e bancar mão de obra contratada, desde que seja feito

controle e respeitado a relação entre oferta e demanda de folhas.

Manter uma política de bom preço pago pela arroba para manter o produtor

motivado com a atividade ervateira; e quem sabe, operacionalizar um sistema

de retorno de sobras no final do período, que beneficie o associado e o

funcionário da empresa.

Criar um planejamento estratégico mercadológico de vendas e distribuição,

com mapeamento de áreas de atuação e futuros mercados (territórios). Ampliar

o investimento de planejamento financeiro na fase II de produção, relacionado

a melhorias na industrialização, na comercialização, na distribuição e no

Marketing da Marca e da região geográfica de produção. Ser mais agressivo no

mercado.

Incorporar um sistema de certificação de erva mate, principalmente pela

avançada estrutura e organização da fase I de produção. Readequar a fase II e

se inserir no mercado com selo de certificação, valorizando o efeito Cambona 4

e a denominação geográfica na região de Machadinho.

Buscar diálogo no sentido de se conseguir linha de crédito para a formação de

estoque de erva mate para estacionamento direcionada a exportação, seguindo

exemplo, do que já se conseguiu com a inclusão dos plantios do SAF Cambona

4 no Pronaf. (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar); e, mais

recentemente a inclusão da erva mate na política do Programa Federal Mais

Alimento.

6 Considerações finais

O presente trabalho buscou compreender o funcionamento da cadeia produtiva

de erva mate no município de Machadinho, compará-la com outros municípios

ervateiros e sugerir algumas soluções que venham manter e ampliar melhorias

no andamento uniforme e equilibrado dessa cadeia produtiva local.

Para tanto, buscou-se informações diretamente no município de Machadinho

com atores que acompanharam a evolução do setor ervateiro em outros

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tempos, além do acompanhamento e visualização de como se estrutura a

cadeia produtiva ervateira local, como se arranjam os elos, desde a

organização dos agricultores, a produção de sementes e de mudas, o cultivo

dos ervais, o comportamento da pesquisa e da assistência técnica, a colheita

da matéria prima, a industrialização, a comercialização e a distribuição do

produto.

Foram identificados alguns obstáculos limitantes da cadeia produtiva ervateira,

como estrutura fundiária, envelhecimento da população rural, redução da mão

de obra disponível, inexistência de um planejamento estratégico para a

comercialização, distribuição e marketing; bem como linhas de crédito que

favoreçam a manutenção de estoques para exportação.

Surgiram algumas sugestões que possam ratificar os acertos e outras que

auxiliem na melhoria daqueles pontos e elos que ainda não alcançaram seu

melhor desempenho, como manter o programa de produção de sementes e

mudas, ampliar o fomento de incentivo a novos plantios, criar um plano de

mobilização e conquista de novos sócios para a Apromate, manter políticas de

bom preço pago pela arroba de erva, criar um plano estratégico de

comercialização e distribuição, vitalizar as vendas, buscar a certificação e

linhas de crédito para a formação de estoques. Fica a sugestão de que outros

estudos mais específicos sejam realizados em cada um dos elos da cadeia

produtiva local, no sentido de melhor contribuir para o efetivo desenvolvimento

da erva mate no município de Machadinho.

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