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1 MAPA DE PROPRIEDADE: UM INSTRUMENTO DE DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO PARA AGRICULTORES FAMILIARES EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO LITORAL PARANAENSE Valdir Frigo Denardin Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ [email protected] Camila A. Alves de Lima Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ [email protected] Franciele Ortis dos Santos Universidade Federal do Paraná – UFPR [email protected] Priscila Cristina dos Santos Universidade Federal do Paraná – UFPR [email protected] Resumo O Litoral do Paraná apresenta os remanescentes de floresta atlântica mais bem conservados do país. Guaraqueçaba, maior município e com população eminentemente rural, se destaca ao possuir 98,76% de seu território coberto por unidades de conservação. No município, a agricultura familiar é representativa, produzindo principalmente banana, mandioca e, atualmente, palmáceas. O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da elaboração de mapas de propriedade como instrumento para auxiliar o diagnóstico e o planejamento das atividades produtivas de pequenos agricultores familiares na comunidade do Açungui, Guaraqueçaba - PR. Palavras chave: Diagnóstico. Planejamento. Agricultura Familiar. Introdução O litoral do Paraná foi a primeira região do estado a ser colonizada. Porém, o fato de ter sido colonizada há séculos, não significa que a região se desenvolveu. Pelo contrário, o litoral paranaense é tido como uma região deprimida economicamente e que apresenta sérios problemas socioeconômicos. Andriguetto Filho & Marchioro (2002) e Estades (2003) afirmam que o litoral do Paraná é uma das regiões mais pobres do estado e paradoxalmente, a região vem se apresentando como a última fronteira de desenvolvimento econômico do Estado. Possui uma área física de 6.057 Km² entre o Oceano Atlântico e a Serra do Mar, distribuídos em sete municípios (Figura 01), sendo

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MAPA DE PROPRIEDADE: UM INSTRUMENTO DE DIAGNÓSTICO E

PLANEJAMENTO PARA AGRICULTORES FAMILIARES EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO LITORAL PARANAENSE

Valdir Frigo Denardin

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ [email protected]

Camila A. Alves de Lima

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ [email protected]

Franciele Ortis dos Santos

Universidade Federal do Paraná – UFPR [email protected]

Priscila Cristina dos Santos

Universidade Federal do Paraná – UFPR [email protected]

Resumo O Litoral do Paraná apresenta os remanescentes de floresta atlântica mais bem conservados do país. Guaraqueçaba, maior município e com população eminentemente rural, se destaca ao possuir 98,76% de seu território coberto por unidades de conservação. No município, a agricultura familiar é representativa, produzindo principalmente banana, mandioca e, atualmente, palmáceas. O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da elaboração de mapas de propriedade como instrumento para auxiliar o diagnóstico e o planejamento das atividades produtivas de pequenos agricultores familiares na comunidade do Açungui, Guaraqueçaba - PR.

Palavras chave: Diagnóstico. Planejamento. Agricultura Familiar.

Introdução

O litoral do Paraná foi a primeira região do estado a ser colonizada. Porém, o fato de ter

sido colonizada há séculos, não significa que a região se desenvolveu. Pelo contrário, o

litoral paranaense é tido como uma região deprimida economicamente e que apresenta

sérios problemas socioeconômicos. Andriguetto Filho & Marchioro (2002) e Estades

(2003) afirmam que o litoral do Paraná é uma das regiões mais pobres do estado e

paradoxalmente, a região vem se apresentando como a última fronteira de

desenvolvimento econômico do Estado. Possui uma área física de 6.057 Km² entre o

Oceano Atlântico e a Serra do Mar, distribuídos em sete municípios (Figura 01), sendo

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Guaraqueçaba o maior, com área de 2.019 Km² e Matinhos o menor, com área de 117

Km². Em termos de população, o Litoral possui 265.392 habitantes, sendo Paranaguá o

município mais populoso, com 140.469 habitantes e Guaraqueçaba o município que

apresenta menor contingente populacional, 7.871 habitantes (Tabela 01).

Tabela 01 – População e área dos municípios do litoral paranaense Municípios População (2010)

Área (Km2

) Antonina 18.891 882 Guaraqueçaba 7.871 2.019 Guaratuba 32.095 1.326 Matinhos 29.428 117 Morretes 15.718 685 Paranaguá 140.469 827 Pontal do Paraná 20.920 201 Total 265.392 6.057 Fonte: IBGE – Contagem populacional 2010 e Scortegana (2005, p. 66) Para Andriguetto Filho e Marchioro (2002) e Raynaut et al. (2002) as heterogeneidades

ambientais e sócio-econômicas da zona costeira paranaense são marcantes e de grande

complexidade, podendo, resumidamente, serem caracterizadas como: i) uma grande

variedade de ecossistemas, dos ambientes marinhos aos refúgios vegetacionais de

altitude; ii) existência de pelo menos 11 atividades agropecuárias ou extrativistas

geradoras de renda, além de atividades de transformação como agroindústrias caseiras;

iii) uma variedade de situações culturais, no meio urbano e rural; iv) diferentes situações

de acesso aos recursos, condicionadas pela posse da terra, capital, complexa legislação

ambiental e grau de participação no mercado; e v) forte polarização industrial e urbana,

com a presença do complexo portuário de Paranaguá e das áreas urbano-turísticas da

orla sul.

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Figura 1. Divisão Geográfica do Litoral Paranaense

Fonte: (SEMA; IPARDES, 2007).

A complexidade e heterogeneidade apresentada no Litoral dão origem a duas fortes

contradições: de um lado, o valor da Região como patrimônio natural e para a proteção

da biodiversidade e, de outro, um quadro de subdesenvolvimento que não corresponde

aos potenciais regionais e ao sucesso de algumas atividades (ESTADES et al., 2006).

Para o ano de 2006, segundo Denardin et al. (2009), o litoral possuía 82,48% de seu

território coberto por Unidades de Conservação (UCs) e/ou áreas protegidas. Entre os

municípios que o compõem, merece destaque Guaraqueçaba com 98,76% de seu

território coberto por UCs e/ou áreas protegidas. Para Rodrigues et. al .(2002) existe na

região um paradoxo de subdesenvolvimento e conservação ambiental no qual a maioria

das famílias de pequenos agricultores vivem em situação inviável economicamente,

uma vez que a agricultura de pequena escala não prove sua reprodução social, sendo

obrigadas a adotar atividades não agrícolas e/ou migrarem para municípios vizinhos,

principalmente Paranaguá.

Entre os produtos cultivados pelos agricultores familiares no litoral paranaense, pode-se

afirmar que a produção de mandioca atua como uma “atividade amortecedora” em dois

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aspectos: i) contribui para a segurança alimentar das famílias no meio rural; e ii)

apresenta-se como atividade com potencial para gerar renda, podendo ser

comercializada in natura ou industrializada (farinha, mandioca chips etc.).

O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da elaboração de mapas de

propriedade como instrumento para auxiliar o diagnóstico e planejamento das atividades

produtivas de pequenos agricultores familiares na comunidade do Açungui,

Guaraqueçaba – PR.

Mapas de Propriedade: Diagnóstico e Planejamento

O mapa de propriedade é uma das ferramentas do Diagnóstico Rural Participativo

(DRP). Segundo Habermeier (1995) o DRP consiste em um conjunto de técnicas e

ferramentas que auxilia na construção e consolidação do planejamento produtivo e

organização social da comunidade, visando melhorar a qualidade de vida dos

agricultores familiares de forma a valorizar o que eles têm no local e aperfeiçoar e/ou

potencializar as experiências vividas por eles, tendo como fundamental no processo, a

participação das pessoas para que essas sejam protagonistas do mesmo.

Diante desse contexto, o Diagnóstico Rural Participativo surge como uma ferramenta

metodológica que permite que a comunidade faça seu próprio diagnóstico e a partir daí

comece a auto-gerenciar o seu sistema e compartilhar as experiências para melhorar as

suas habilidades de planejamento e ação (VERDEJO, 2006).

No DRP os técnicos envolvidos são animadores e/ou agentes de desenvolvimento,

fazendo com que os participantes mostrem as principais dificuldades existentes no local

e em seguida consensuam como resolver os problemas encontrados de acordo com as

condições locais. Os instrumentos mais utilizados em um DRP são: observação

participante, entrevistas semi-estruturadas, mapas e maquetes, travessia, calendários,

diagramas, matrizes e análise de gênero (PETERSEN & ROMANO, 1999; VERDEJO,

2006).

Para este trabalho foi priorizado o uso de mapas das propriedades como ferramenta de

diagnóstico e planejamento. O mapa de propriedade mostra todos os detalhes produtivos

e de infra-estrutura social de uma propriedade, possibilitando, com isso, um melhor

planejamento das atividades produtivas da propriedade rural (VERDEJO, 2006).

Em geral, o mapa, costuma ser feito na mesma propriedade do produtor com a presença

e a participação de todas as pessoas que trabalham nela (família, empregados,

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trabalhadores temporários, etc.). Costuma-se começar o mapa com a casa do agricultor e

estende-se o mapa das áreas ou terras mais próximas até as mais distantes. A travessia

na propriedade permite obter informação sobre os diversos componentes dos recursos

naturais, a vida econômica, as moradias, as características de solos, etc. É realizada por

meio de uma caminhada linear, que percorre um espaço geográfico com várias áreas de

uso e recursos diferentes. Ao longo da caminhada se anotam todos os aspectos que

surgem pela observação e dialogo dos participantes em cada uma das diferentes zonas

que se cruzam (idem, 2006).

Em conjunto a elaboração do mapa da propriedade e a respectiva caminhada fez

interessante aplicar uma entrevista semi-estruturada, que segundo Bailey (1982) é

aquela que combina perguntas fechadas e abertas, e que permite ao entrevistado

discorrer sobre o tema sugerido sem que o entrevistador fixe a priori determinadas

respostas ou condições. Tais informações auxiliam uma melhor compreensão das

atividades produtivas dos agricultores, bem como suas dificuldades.

Metodologia

Os dados que subsidiaram a pesquisa foram coletados em três fases, a primeira com a

aplicação de um questionário socioeconômico em todas as residências da comunidade

de Açungui, em Guaraqueçaba – PR, e a segunda com a visita in loco a 19 propriedades

para a elaboração dos mapas e aplicação simultânea de entrevista semi-estruturada.

Referente ao questionário, foram entrevistadas 50 famílias entre os meses de novembro

de 2009 á janeiro de 2010. Para aplicação do questionário, a equipe se dividiu em

duplas, inicialmente indo aos lugares mais distantes e em seguida aos locais mais

centrais da comunidade. Os questionários possuíam 77 questões abordando as

dimensões social (cultura, educação, saúde, instituições, etc.), econômica e ambiental.

Os mapas de propriedade, por sua vez, foram realizados nos meses de janeiro e

fevereiro de 2011, tendo como principal objetivo complementar o diagnóstico já

realizado, principalmente com informações referentes às dimensões econômica e

ambiental mais específicas das propriedades. Buscou-se levantar informações sobre a

delimitação da propriedade, infra-estrutura (casas, galpões, farinheiras particulares,

etc.), estradas, principais cultivos, possíveis cursos d’água, entre outras informações. A

metodologia que norteou a atividade foi apresentada por Verdejo (2006).

Ao chegar às propriedades havia uma breve conversa com os agricultores explicando o

trabalho, iniciava-se então a travessia pelo entorno de sua área produtiva. Durante a

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caminhada, um dos bolsistas aplicava uma entrevista semi-estruturada que

complementava as informações contidas no primeiro questionário. Ao retornar a casa do

agricultor, o mesmo fazia o desenho de sua propriedade mencionando os aspectos mais

relevantes da mesma.

A atividade foi realizada com 17 agricultores que manifestaram interesse na elaboração

dos mapas, sendo que 2 deles possuíam duas áreas distintas, totalizando assim 19 mapas

de propriedades. Para a tabulação dos dados optou-se por somar as áreas dos

agricultores que possuíam mais de uma área a fim de facilitar a contabilização de

resultados. Optou-se, também, por ocultar o nome dos agricultores, sendo tratados no

presente trabalho como: agricultor 1, agricultor 2, agricultor 3 e assim respectivamente

até o agricultor 17.

Como complemento da metodologia foi adotado a utilização de um GPS para coleta de

pontos no entorno da propriedade, possibilitando assim um trabalho posterior de

criaçãode mapas temáticos da comunidade com a ajuda do Software ArcGIS 9.21.

Mapas de Propriedade: Subsidiando o Diagnóstico e o Planejamento da

Comunidade

Levando em consideração as particularidades da comunidade de Açungui, a realização

dos mapas de propriedade permitiu a obtenção de um diagnóstico da comunidade e

também um posterior planejamento dos agricultores para o uso da farinheira

comunitária, tendo em vista que esta atividade permite verificar variáveis como área

utilizada, quantidade de produção, insumos utilizados, nichos de mercados já existentes

e mão de obra utilizada em todo o processo da cadeia produtiva de farinha de mandioca,

facilitando uma visualização de gargalos e potencialidades, auxiliando a comunidade no

estabelecimento de suas metas, por exemplo, a produção com certificação orgânica.

Na aplicação do questionário sócio-econômico e ambiental na comunidade do Açungui

foram visitadas cinqüenta residências, com total de 168 moradores. Destes 19,6%

apresentam mais de 60 anos, 18,4% entre 11 e 20 anos e 25% entre 21 e 40 anos. Foi

constatado que 92% da população gosta de morar na comunidade, pois podem plantar

seu alimento e desfrutam da tranqüilidade e segurança que se tem ao morar longe de

grandes aglomerações.

A principal fonte de renda da comunidade é a agricultura (47%) seguida de outras fontes

de renda (35%) provenientes do comércio, aposentadoria, pensões, servidores públicos e

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construção civil. No entanto, para muitos destes (35%) a agricultura apresenta-se como

fonte de renda secundária.

Por Guaraqueçaba estar inserida em um mosaico de Unidades de Conservação

verificou-se a necessidade de questionar a comunidade quanto ao seu conhecimento em

relação ao tema. Apesar de 46% dos entrevistados terem conhecimento sobre as

restrições as atividades produtivas na área, 50% afirmou não saber que residiam dentro

de uma Área de Proteção Ambiental (APA). A falta de informação justifica-se quando

78% dos entrevistados mencionam que nunca foram convidados para esclarecimentos

em relação APA.

O mapa de propriedade (Figura 02) possibilitou um maior conhecimento da realidade

dos agricultores, bem como permitiu estreitar a relação da equipe do projeto de

extensão/pesquisa e a comunidade. A atividade permitiu identificar, por exemplo, a área

total de cada agricultor, a área produtiva e o percentual de uso de sua área produtiva

(Quadro 01). Permitiu, também, identificar as características físicas da área, principais

cultivos, insumos utilizados, preços recebidos pelos produtos, mão de obra e tempo de

dedicação, e as principais dificuldades de cada agricultor.

Os dados coletados permitem concluir que a maioria dos agricultores (13) possui área

entre um e dez alqueires. Constatou-se, também, que apenas três agricultores utilizam

100% de sua área produtiva.

. Figura 02 – Mapas de propriedade desenhados por agricultores.

Referente às características físicas das propriedades, foi levantado dados sobre relevo,

qualidade do solo, clima e cursos d’água nas limitações da propriedade. Na região

predominam os solos com baixa aptidão agrícola, devido às limitações topográficas

decorrentes do relevo montanhoso de serra que é dominante em 40% da área total e

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ainda à baixa fertilidade natural e ao hidromorfismo (encharcamento do solo)

característicos da região litorânea (IPARDES, 1995). Nas propriedades visitadas, 3

delas apresentam relevo íngreme (morro), 8 relevo plaino e 6 relevo misto (morro e

várzea), foi relatado que em vários períodos ocorrem chuvas de maior intensidade,

ocasionando enchentes nas áreas de várzea, e o apodrecimento de raízes da mandioca,

cultura presente em 12 agricultores.

Quadro 01 – Área total, produtiva e utilizada pelos agricultores do Açungui. Agricultor Área Total

(alqueires) Área Produtiva (alq.) Área Produtiva

Utilizada (%) Agricultor 1 5 5 100 Agricultor 2 Não soube informar Não soube informar -- Agricultor 3 50 10 20 Agricultor 4 8 2 25 Agricultor 5 8 3 37,5 Agricultor 6 5 3,5 70 Agricultor 7 2 0,3 15 Agricultor 8 120 4 3,33 Agricultor 9 7 Menos de um --

Agricultor 10 2 2 100 Agricultor 11 4 3 75 Agricultor 12 10 5 50 Agricultor 13 40 10 25 Agricultor 14 1 Não soube informar -- Agricultor 15 10 3 30 Agricultor 16 1 1 100 Agricultor 17 8 4 50 Fonte: elaborado pelos autores. A umidade média anual é de 84,8%, sendo fevereiro o mês de maiores chuvas e julho o

mês mais seco (média anual de 2.400 mm e 207 dias de chuva por ano). O clima

configura-se como subtropical úmido, do tipo Cfa, segundo a classificação de Koeppen.

A temperatura média anual gira em torno de 20° C (KASSEBOEHMER, 2007).

Abaixo se observa dois mapas elaborados com dados georreferenciados das

propriedades, onde se podem verificar elementos como relevo, hidrografia, estradas e

área produtiva, em destaque.

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Figura 03 - Mapa de propriedade georreferenciado.

As entrevistas semi-estruturadas realizadas no momento da caminhada permitiram

identificar as principais culturas e sua importância na geração de renda (Quadro 02). A

produção de banana, mandioca e pupunha são as mais significativas, sendo relatadas

também outras culturas como palmeira real, abacaxi, maná, araçá, jambo, chuchu,

couve, cebola, feijão, entre outras, muitas destinadas para o auto-consumo da família.

O cultivo da banana é realizado por 14 dos 17 agricultores, o preço de venda gira em

torno de R$ 4,50 a caixa com 20kg, tendo como principais compradores a fábrica de

bala de banana de Morretes, escolas, Ceasa de Curitiba e a Associação Pró-Horta,

fundada com o apoio da EMATER. Alguns agricultores possuem o bananal com mais

de 60 anos, sem necessidade de realizar novos plantios, empregando um sistema que

pode ser caracterizado como extrativista.

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Quadro 02- Principais culturas geradoras de renda na comunidade do Açungui Agricultor Banana Mandioca Pupunha

1 X X - 2 X X - 3 X X - 4 X X X 5 X - - 6 X X - 7 - X X 8 X - - 9 - - X

10 X X X 11 X - - 12 X X X 13 X X X 14 X - - 15 X X - 16 - X X 17 X X X

Fonte: elaborada pelos autores.

O cultivo da banana é realizado por 14 dos 17 agricultores, o preço de venda gira em

torno de R$ 4,50 a caixa com 20kg, tendo como principais compradores a fábrica de

bala de banana de Morretes, escolas, Ceasa de Curitiba e a Associação Pró-Horta,

fundada com o apoio da EMATER. Alguns agricultores possuem o bananal com mais

de 60 anos, sem necessidade de realizar novos plantios, empregando um sistema que

pode ser caracterizado como extrativista.

A cultura da mandioca está entre os produtos mais cultivados pelos agricultores

familiares no litoral paranaense, por contribuir para a segurança alimentar das famílias

no meio rural e apresentar-se como atividade potencial para gerar renda. Na

comunidade do Açungui parte da produção é transformada em farinha de mandioca que

é comercializada em circuitos curtos, ou seja, entre vizinhos, feiras e mercearias no

município.

A farinha de mandioca do litoral apresenta muitas vantagens competitivas: é produzida

sem a remoção do amido, o que lhe dá um sabor único, e a matéria-prima é produzida

quase em sua totalidade sem adição de produtos químicos. Além disso, é um produto da

agricultura familiar, produzido artesanalmente e com uma forte identidade cultural

(DENARDIN et al., 2009).

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A época ideal para plantar rama, quando o solo e as condições climáticas estão mais

propicias para o cultivo, é de agosto a novembro. Os agricultores têm por tradição

colher a mandioca para a produção da farinha após um ano e meio, alegando que o

rendimento é maior. Diante desta especificidade, é importante que o agricultor planeje

sua atividade com cuidado, o planejamento, neste caso, é essencial para quem quer

produzir todos os anos e manter a frequência no fornecimento para seus clientes.

A comunidade do Açungui conta com uma farinheira comunitária que possui alvará e

licença de funcionamento da Vigilância Sanitária. As informações coletadas junto ao

mapa de propriedade permitem que a comunidade planeje o uso da farinheira, ou seja, a

comunidade tem estimativas de quanto será sua produção de mandioca (Quadro 3). Para

o ano de 2012 e 2013 os agricultores estimam uma produção de 10.140Kg de farinha.

Quadro 3- Previsão de produção de mandioca na comunidade do Açungui

Agricultor Quantidade (pés) Plantio Colheita

1 8.000 Agosto 2011 Novembro 2012

2 1.600 Setembro 2010 Março 2012

3 8.000 Agosto 2009 Novembro 2011

4 4.000 Agosto 2011 Novembro 2012

5 Não produz - -

6 10.000 Agosto 2011 Novembro 2012

7 Não produz - -

8 Não produz - -

9 20.000 Agosto 2011 Novembro 2012

10 10.000 Agosto 2011 Novembro 2012

11 5.500 Agosto 2010 Novembro 2011

12 8.000 Agosto 2010 Novembro 2011

13 Não produz - -

14 2.000 Agosto 2011 Novembro 2012

15 10.000 Setembro 2009 Novembro 2011

16 Não produz - -

17 Não produz - -

Fonte: elaborada pelos autores.

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O cultivo de pupunha vem ganhando espaço entre as principais culturas geradoras de

renda na comunidade, por ser uma espécie de fácil manejo, podendo ser realizado o

corte de 2 a 4 vezes por ano. A quantidade de pés cultivados por agricultor varia entre

600 a 5 mil e foram plantados entre os anos de 2007 a 2009. Na região existe facilidade

para a compra de mudas e/ou sementes da pupunha através de financiamentos por

bancos. Constatou-se que 8 agricultores cultivam a pupunha e vendem a um preço

médio de R$ 2,50 a cabeça, tendo como principais compradores as fábricas de conserva

de Antonina e Guaraqueçaba.

A maioria dos agricultores não utiliza insumos químicos em seus cultivos. Para

melhorar a qualidade do solo utilizam calcário agrícola (dolomítico) e matéria orgânica

e para o controle de pragas e formigas os agricultores utilizam iscas para formiga

(marca desconhecida) e a mandiquera ou manipueira (líquido proveniente do

processamento da mandioca nas farinheiras).

Nas fases de preparação da terra, plantio, colheita e capina, até a elaboração da farinha

de mandioca predomina a utilização exclusiva de mão-de-obra familiar, na qual a

mulher desempenha um papel fundamental para a atividade. Apenas 4 agricultores

relataram a necessidade de contratação de mão-de-obra temporária, contratando entre 1

a 3 pessoas. Os mutirões ou guajus (trabalho em grupo) ainda são praticados, porém

com menos intensidade.

As principais dificuldades relatadas pelos agricultores são os conflitos com os órgãos

ambientais. A comunidade se encontrar inserida em uma APA (Área de Preservação

Ambiental), implicando em restrições quanto ao uso da terra para cortes

(desmatamentos) e novas roçadas para abertura de áreas para o plantio. Segundo

Kasseboehmer (2007), por não se exigir a desapropriação das terras, o proprietário deve

se adequar às novas regras de uso do solo instituídas pelo Plano de Manejo da Unidade.

Devido a esse fato, a APA acaba se tornando a categoria de manejo mais problemática

dentre as Unidades de Conservação previstas no Sistema Nacional de Unidades de

Conservação (SNUC), sofrendo sérias resistências de ordem sócio-econômica e cultural

pelas populações residentes.

Outro item citado como dificuldade é a precariedade da estrada, rodovia PR 405. Por

não ser asfaltada dificulta o escoamento da produção e o deslocamento da população

para escolas, postos de saúde, etc.

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Considerações Finais

Os mapas de propriedade se mostraram uma importante ferramenta de diagnóstico e

planejamento das atividades, pois além de proporcionarem maior interação entre

universidade e comunidade, geraram dados e percepções sobre a forma de organização

dos agricultores em suas propriedades. Ao ter conhecimento desta realidade torna-se

possível levantar discussões sobre problemáticas existentes, e abordar com a

comunidade temas pertinentes as suas realidades e dificuldades. Acredita-se que esta

ferramenta auxiliou não só a equipe de bolsistas a desenvolverem suas atividades, mas

procurou despertar nos agricultores o hábito de captar e refletir informações para

auxiliar no planejamento de sua produção.

Através do diagnóstico realizado na comunidade do Açungui conclui-se que a pressão

exercida pelos compradores de banana (principal produto da comunidade) sob os

produtores os leva a buscar alternativas, com atividades não agrícolas, agricultura de

subsistência e venda em pequena escala de produtos beneficiados, como a farinha de

mandioca, doces e compotas. Apesar de 92% das famílias entrevistadas afirmarem que

gostam de morar na comunidade, a falta de infra-estrutura e condições de trabalho leva

muitos moradores a migrarem para centros urbanos, o que limita ainda mais a

capacidade produtiva das propriedades. Esse quadro gera um ciclo no qual a diminuição

do espaço produtivo leva a diminuição da mão de obra que volta a causar a diminuição

do espaço produtivo. Assim, existe uma ambigüidade nas falas dos agricultores,

desejam o aumento de sua área para plantio, entretanto, sofrem com a falta de mão de

obra.

Na atividade dos mapas de propriedades foram identificados vários empecilhos,

principalmente no que diz respeito à coleta de dados, otimização de tempo, divisão de

tarefas e no desenho dos mapas pelos agricultores. Quanto à coleta de dados a maior

dificuldade foi às unidades de medidas utilizadas pelos agricultores, entre elas:

quilograma, caixa, pé, saco, cacho, entre outros, dificultando assim a tabulação dos

dados. Além dos problemas com a coleta de dados ocorreu a dificuldade em chegar a

algumas áreas produtivas, pois as mesmas eram de difícil acesso e as condições

climáticas não se encontravam favoráveis.

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