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1 Manual sobre Proteções Coletivas contra Queda de Altura em obras de Construção Civil Claudio Cezar Peres Auditor Fiscal do Trabalho Eng. de Segurança do Trabalho Mestre em Eng. de Produção com ênfase em Ergonomia 2016

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Manual sobre Proteções Coletivas

contra Queda de Altura em obras de

Construção Civil

Claudio Cezar Peres

Auditor Fiscal do Trabalho

Eng. de Segurança do Trabalho

Mestre em Eng. de Produção com ênfase em Ergonomia

2016

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Agradecimento

- ao Auditor Fiscal do Trabalho Luis Rossi Bernardes, Chefe da SEGUR/SRTE/RS e

Coordenador do Projeto Construção Civil, que sempre apoiou as ações fiscais de

auditoria do trabalho que levaram à compreensão do que está relatado neste manual;

- à Auditora Fiscal do Trabalho Marta Dorneles Macedo, que participou das referidas

ações fiscais;

- ao Auditor Fiscal do Trabalho Guilherme Candemil, que leu e apresentou sugestões

para este manual;

- ao Auditor Fiscal do Trabalho Marcos Cruz Walsh Monteiro, que pesquisou as

reportagens sobre acidentes do trabalho envolvendo plataformas de proteção em

balanço.

Dedico este manual às

vítimas de acidentes do trabalho.

A reprodução deste Manual é autorizada desde que citada a fonte.

Porto Alegre, 28 de abril de 2016.

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Resumo

A acidentalidade por queda, em obras de construção civil, tem feito muitas

vítimas no Brasil. Daí a razão deste manual ter como objetivo mudar a cultura, revelar

os fatos com imagens reais, demonstrar a precariedade dos sistemas de proteção

contra quedas de pessoas de altura nos canteiros de obra brasileiros e também propor

sistemas eficientes para evitar as quedas de pessoas ou para evitar as consequências

dessas quedas.

Assim, partimos da premissa de que o sistema de proteção contra quedas de

altura constituído pela combinação de Plataformas de Proteção em Balanço

(Bandejas), Sistema Guarda-Corpo Rodapé - GCR, Telas para evitar a projeção de

materiais para fora das plataformas de proteção em balanço e, por fim, Pontos e/ou

Linhas de Ancoragem (ou de Vida) feitas com precários cabos de aço improvisados, o

sistema usual instalado nos canteiros de obra brasileiros, não são eficientes em si

mesmo, não constituem proteção coletiva e devem ser abandonados, pois sua

montagem e desmontagem representam risco grave e iminente.

Causa decepção o fato dos esforços envidados para controlar essas quedas não

surtirem o efeito esperado, o que é uma ilusão. O dicionário talvez nos ajude a

compreender isso. Ele nos permite ver de outra maneira. Se decepção também

significa “desilusão” e decepcionar é “desiludir-se”, então devemos nos perguntar se

não estávamos iludidos, se não vivíamos uma ilusão com os sistemas de proteção

contra queda de altura de pessoas regulamentados na NR 18 e ordinariamente

utilizados no Brasil. Tentemos ver pelo lado positivo. Perder as ilusões nos emancipa

do objeto/pessoa que nos iludia. Desiludir-se é estar livre, liberto!

Aquele que muito confia, muito se decepciona! Logo, para não nos

decepcionarmos mais, haveremos de reconhecer os riscos desse sistema, não confiar

mais nele e não o utilizar mais.

No segmento reporta-se o uso de proteções coletivas que representam o

estado internacional da arte na questão aqui abordada, tais como Andaimes

Fachadeiros, Andaimes em Balanço, Plataformas Cremalheira, Plataformas para

Trabalho em Altura - PTA - para evitar quedas e, finalmente, Redes de Segurança para

evitar as consequências das quedas em altura.

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Sumário

1. A precariedade do sistema de proteção contra quedas de pessoas de altura

regulamentado na NR 18 do MTPS para os canteiros de obra brasileiros - combinação

de Plataformas de Proteção em Balanço (Bandejas), Sistema Guarda-Corpo Rodapé -

GCR, Telas para evitar a projeção de materiais para fora das plataformas de proteção

em balanço e Pontos e/Linhas de Ancoragem (ou de Vida) feitas com precários cabos

de aço improvisados.

1.1 Imagens de alguns acidentes envolvendo bandejas.

1.2 Sequência de desmontagem de bandeja na 5° laje em condição de risco.

1.3 O sistema projetado é precário, não se consegue executá-lo sem expor o

trabalhador a risco grave e iminente, assim como não se consegue cumprir a NR 35 e

a NR 18 concomitantemente.

2. Sistemas eficientes para evitar as quedas de pessoas - andaimes fachadeiros,

plataformas cremalheira, PTA - plataformas para trabalho em altura e sistemas

eficientes para evitar as consequências das quedas de pessoas - redes de segurança.

3. Conclusão e Recomendações.

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1. A precariedade do sistema de proteção contra quedas de pessoas de

altura regulamentado na NR 18 do MTPS para os canteiros de obra

brasileiros - combinação de Plataformas de Proteção em Balanço

(Bandejas), Sistema guarda-corpo rodapé - GCR, Telas par evitar a

projeção de materiais para fora das plataformas de proteção em balanço

e Pontos e/Linhas de Ancoragem (ou de Vida) feitas com precários cabos

de aço improvisados.

Ocorrem acidentes fatais por queda durante a montagem, limpeza e

desmontagem de plataformas de proteção em balanço da forma como elas têm sido

utilizadas nas obras de construção predial. Geralmente são compostas por treliças

constituídas de chapas de 2 a 3,5 mm, dobradas sobre as quais são pregadas

taboas. Também ocorrem acidentes fatais na montagem e desmontagem de

guarda-corpos tipo GCR, que demandam muito tempo de exposição dos

trabalhadores ao perímetro da laje em construção para construir o cercamento de

madeira, obrigando os trabalhadores a exporem parte do corpo para fora da laje.

Considerando que risco é exposição de pessoas ao perigo, percebe-se que há

exposição de pessoas ao perigo de queda desnecessário nestas atividades, pois há

tecnologias como andaimes fachadeiros pré-fabricados e redes associadas a guarda-

corpos pré-fabricados que ensejam menos risco e que podem evitar mortes por

quedas.

As plataformas de proteção em balanço, embora previstas na NR 18, não

são proteção coletiva contra queda de pessoas porque, se um trabalhador cair da

segunda ou terceira laje acima da plataforma sobre o assoalho da plataforma em

balanço (bandeja), ele sofrerá um impacto de queda de mais de 2 m de altura sobre

o piso rígido da plataforma. Se no lugar da plataforma em balanço houvesse rede

de segurança, a rede absorveria o impacto da queda, e o trabalhador nada sofreria.

Portanto, plataformas de proteção em balanço não são proteção coletiva contra

queda de pessoas e não atendem o disposto no item 18. 13. 1 da NR 18 para

aparar a queda de pessoas. Se o trabalhador cair sobre o assoalho da plataforma,

provavelmente a plataforma ruirá e cairão ambos, trabalhador e plataforma.

Estas plataformas, também conhecidas como bandejas, só servem para

aparar a queda de materiais e não servem para aparar a queda de pessoas. As

bandejas não servem para aparar a queda de pessoas porque elas são constituídas

de elementos rígidos como as treliças e o assoalho em madeira, conforme desenho

dos projetistas das empresas, embora isso não esteja prescrito na NR 18. Em caso

de queda de trabalhador contra a bandeja, do primeiro, do segundo ou do terceiro

pavimento acima da bandeja, o trabalhador poderá fraturar membros ou mesmo

falecer em razão do impacto sofrido contra o seu assoalho. Diferentemente, as

redes de proteção previstas no item 18.13.12.25 da NR 18, por sua característica

construtiva, elas absorvem a queda do trabalhador sem que ele sofra impacto. Por

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esse motivo, a auditoria do trabalho recomenda a utilização de redes de proteção,

que também podem servir para aparar a queda de materiais. Há diversos tipos de

rede: as redes tipo forca, as redes horizontais e as redes verticais, todas previstas

no item 18.13.12.25 da NR 18. O tipo de rede a ser utilizado depende da atividade a

ser exercida.

Considere-se, também, que além do impacto do trabalhador contra

superfície rígida, as bandejas secundárias são limitadas para aparar a queda de

pessoas devido a sua dimensão horizontal, que é menor do que a dimensão exigida

nas redes de proteção. As plataformas secundárias têm dimensão de apenas 1,40

m, e as redes horizontais tem dimensão normatizada de 3,70m. As bandejas

permitem que o trabalhador caia em queda natural do segundo ou do terceiro

pavimento acima da plataforma e se projete em trajetória por fora da área de

projeção da bandeja. Cito o caso de trabalhador que faleceu de queda da 15° laje

de obra de construção, em Porto Alegre, desmontando um guarda-corpo tipo GCR

em 03/04/2013, conforme registrado na CAT 0000201240000.HTM, acidente esse

que foi investigado pela SRTE RS. Esse trabalhador estava dois pavimentos acima

da plataforma secundária e quando caiu projetou-se por fora da plataforma

secundária caindo direto no pavimento garage, caindo 13 andares, falecendo.

Portava cinto de segurança duplo talabarte e, provavelmente, não o tinha ligado à

linha de vida porque a tarefa a executar não podia ser feita com o cinto conectado,

dada a distância necessária para executar a tarefa. Outra possibilidade da não

conexão do cinto à linha de vida é a falha da mola que pressiona o gancho Y que

conecta o talabarte do cinto de segurança ao cabo de aço da linha de vida. A queda

deste trabalhador em trajetória por fora da bandeja secundária é esperada, de

acordo com o que é referido na publicação Précis de Chantier (Prescrições de

Canteiro de Obras) publicado pela AFNOR - Associação Francesa de Normas.

Reproduzo a tabela da trajetória de uma queda de trabalhador se projetando da

construção, que consta na figura 11, página 220 da referida publicação:

Desnível ou altura de queda em metros 3 4 5 6

Projeção máxima ou afastamento

máximo em metros

1,2 1,4 1,6 1,8

Os dados desta tabela demonstram que, para uma queda de 6 metros (dois

pavimentos), é necessária uma projeção horizontal de 1,8 m para aparar a queda

do trabalhador. A plataforma secundária, prevista na NR 18, deve ter, conforme

disposto no item 18.3.7 da NR 18, um metro e quarenta centímetros (1,40) de

balanço e um complemento de 0,80 m de extensão, com inclinação de 45° a partir

de sua extremidade. Isso é insuficiente, portanto, para aparar a queda de

trabalhador que cai de dois pavimentos acima da bandeja secundária, de desnível

de 6 m acima da plataforma secundária, como no caso da CAT

0000201240000.HTM acima referida. Caso houvesse rede de proteção instalada um

ou dois pavimentos abaixo da laje de onde o trabalhador caiu, provavelmente ele

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teria sido aparado pela rede, que deve ter uma projeção horizontal de 3,70 m. Com

a rede prevista no item 18.13.12.25 da NR 18, desde 2006, provavelmente o

trabalhador nada teria sofrido, nem morte, nem fraturas.

Este acidente foi investigado pelos Auditores Fiscais do Trabalho, Claudio

Cezar Peres e Marta Dorneles de Macedo. A investigação constatou que:

O acidentado estava desmontando sistema de guarda-corpo provisório na

periferia da 15° laje. Ele tinha de retirar caibro da periferia e necessitava movimentá-

lo para o soltar, pois estava pregado. Provavelmente teve de soltar o cinto de

segurança por não poder fazer o movimento para desprender o caibro sem soltar o

cinto, ou o gancho de seu cinto de segurança não se afixou adequadamente na linha

de vida, ou o gancho de seu cinto de segurança estava com a mola do gancho Y

estragada e não garantiu a fixação do cinto ao cabo de aço da linha devida e,

quando o caibro se desprendeu para fora da laje, o corpo do trabalhador

acompanhou esse movimento se projetando para fora da laje 15°. O trabalhador foi

encontrado, sobre a laje do estacionamento, com o cinto de segurança no corpo.

Caiu 12° andares.

A queda fatal de trabalhador na data, de 02/04/2013, da laje mais elevada (15º

pavimento), com trajetória que permitiu que caísse sem ser amparado pela

plataforma de proteção em balanço, que está dois pés direito abaixo da última laje,

demonstra a ineficácia da plataforma de proteção de plataformas em balanço para

evitar a queda de trabalhadores da periferia da obra. Fica caracterizado e

evidenciado o descumprimento da NR 35. O sistema de proteção contra quedas de

altura é precário, pois obriga o trabalhador a desconectar seu cinto da linha de vida

para dar conta da pressão de produção, assim como pela impossibilidade de afixá-lo

em alguns trechos onde há emendas de cabos com vários grampos, emendas essas

que impedem que o gancho, em forma de Y do talabarte do cinto, deslize na linha de

vida.

Do ponto de vista da ergonomia e da análise ergonômica do trabalho,

considera-se que há sempre um desvio, às vezes considerável, entre o trabalho

prescrito e o trabalho real, um desvio às vezes ignorado, não compreendido e, às

vezes, não percebido pela própria empresa. Este desvio pode explicar a ocorrência de

acidentes, como a queda do trabalhador nesta obra de construção. Conforme

RABARDEL, CARLIN, CHESNAIS, LANG, LE JOLIFF e PASCAL, em Ergonomie

Concepts et Méthodes publicado por OCTARES EDITIONS – 1° edition 1998 ;

Sixième, a distinção entre trabalho real e trabalho prescrito tem múltiplas origens.

Por exemplo:

- é impossível prescrever o trabalho em todos os seus detalhes e, de fato, o trabalho

real extrapola sempre o trabalho prescrito;

- o operador gera permanentemente variabilidade e diversidade próprias em todas as

situações de trabalho na realização de seu trabalho real que, assim, se distancia do

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prescrito.

- o operador pode ter dificuldades para se posicionar num trabalho cuja prescrição é

às vezes obscura ou incompleta;

- o operador redefine igualmente o trabalho a partir de seus próprios objetivos e

sistemas de valor.

A tarefa a realizar é a tarefa como é concebida pelo projetista do processo ou

do meio de produção. No caso em tela, se observa que foi disponibilizado cinto de

segurança com duplo talabarte para ser afixado em linha de vida constituída de cabo

de aço para realizar a tarefa.

Utilizando os conceitos propostos por Rabadel et al, apresentamos a seguinte

análise para o caso em tela:

- A tarefa prescrita é a tarefa tal como é apresentada por quem comanda a

execução. Ela visa orientar a atividade definindo as metas, as condições e

constrangimentos da realização, os critérios e valores a respeitar. No caso em tela, é

representado pela prescrição do treinamento elaborado pela construtora, que não

previu a dificuldade de dar conta da produção exigida utilizando o sistema de cinto

de segurança com duplo talabarte. Esta dificuldade se deve a impossibilidade de

deslizar o cinto de segurança em trechos em que há emenda de cabos de aço presas

por inúmeros grampos, assim como utilizar o cinto de segurança em trechos onde a

linha de vida está muito afastada da periferia. Também há tarefas como pregar

peças de madeira constituintes do sistema de guarda-corpo provisório para

concretagem da laje, as quais os trabalhadores não conseguem fazer com o cinto

afixado na linha de vida. Tarefas como essas tornam o não usar o cinto algo

rotineiro.

- A tarefa esperada é a tarefa cuja realização realmente é esperada. A tarefa

esperada pode não coincidir com a tarefa prescrita na medida em que tudo não é

decidido ou avaliado: a prescrição pode, por exemplo, indicar que é obrigatório

seguir os procedimentos definidos pelo sistema de qualidade, embora se espere na

realidade que ele não os aplique, pois isso retardaria uma liberação urgente. A tarefa

esperada no caso em tela é execução de trabalhos em periferia nas condições dadas,

apesar das contradições que o sistema gera.

- A tarefa redefinida é aquela que, confrontado com a tarefa prescrita ou esperada, o

operador a interpreta em função dos meios que dispõe e dos constrangimentos nas

quais se fixa (ou que nós lhe fixamos). A meta e/ou as condições prescritas e

esperadas pela empresa podem nem sempre corresponder àquelas a que se fixa o

operador. É o que está acontecendo no caso em tela, quando os operadores se

obrigam a não utilizar o cinto de segurança conectado na linha de vida porque ela

está muito distante da periferia, ou porque há emenda no trecho que tranca o

deslizamento do gancho Y, ou por causa de um detalhe da tarefa especifica.

Considere-se que é o operador que pode em geral reensinar o analista sobre a tarefa

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redefinida.

- A tarefa efetiva é a tarefa efetivamente realizada pelo operador em função das

exigências de cada situação singular. A cada realização de uma tarefa redefinida

corresponde uma tarefa efetiva (ou tarefa real). A tarefa efetiva é a tarefa redefinida

realizada. Ela pode ser descrita a partir da observação da atividade. No caso em tela,

o operador desmonta o guarda-corpo provisório, no momento da queda,

movimentando o caibro vertical e com o cinto de segurança desconectado, ou mal

afixado ou com o gancho Y estragado, e cai da 15° laje portando ou vestindo o cinto

de segurança. Não dispunha de cinto de segurança com trava quedas retrátil, que lhe

permitiria deslocamento por uma distância maior com mais facilidade. Só havia um

trava quedas retráteis na obra, portanto ele não estava disponível facilmente para o

acidentado. O fato do acidentado portar o cinto de segurança tipo paraquedista

simula ser possível cumprir as prescrições do sistema de proteções contra quedas

constituído de linha de vida, entretanto, para cumprir a tarefa esperada, ou o

trabalhador solta seu cinto de segurança tipo paraquedas da linha de vida para

alcançar os pontos mais distantes da linha de vida, ou não faz a tarefa, não

alcançando os resultados esperados do seu trabalho.

- A atividade é o que se faz dentro de uma situação singular. Cada tarefa tem as

suas exigências (que dependem do sistema sócio-técnico, da organização...), e cada

individuo tem suas próprias exigências (físicas, fisiológicas, psicológicas...). A

atividade é a resposta que o indivíduo considera para realizar a tarefa. No caso em

tela ficou evidente a diferença entre a tarefa e a atividade.

Assim, entendemos que o operador não é culpado da diferença entre o prescrito e o

real, mas vítima do processo. Infelizmente, no caso em tela, o trabalhador já caiu da

obra e já faleceu. O caso referido foi devidamente encaminhado para suas

cominações na esfera judicial.

A foto abaixo ilustra que as plataformas de proteção secundárias não têm

dimensão suficiente para aparar a queda do trabalhador em sua trajetória esperada.

10

Foto de prédio em

construção com plataforma

primária e secundária

instaladas.

Se um trabalhador cai de

dois níveis acima da

plataforma, ela não tem

largura suficiente para

aparar a queda do

trabalhador em sua

trajetória.

É esperado que a trajetória

de queda do trabalhador se

dê por fora da plataforma,

em especial se for uma

secundária.

Portanto, é uma ilusão

esperar que a plataforma

em balanço sirva como

proteção contra queda de

pessoas. Mesmo que o

trabalhador caia sobre a

plataforma, que é rígida,

ele será ferido ao se chocar

contra a sua estrutura. De

outra parte, provavelmente

a plataforma ruirá

juntamente com o

trabalhador em queda.

Esta limitação das bandejas - aparar somente a queda de materiais - justifica

a sua substituição por redes de segurança que apararam a queda de pessoas e

materiais, conforme previsto no citado item 18.13.12.25 da NR 18.

Adicionalmente, a montagem, desmontagem e limpeza de plataformas de

proteção ensejam risco grave e iminente porque os trabalhadores têm de subir na

bandeja para executar essas operações, podendo sofrer queda em caso de ruptura

de treliça, quebra de taboa de assoalho, queda da bandeja inteira ou em parte, ou

queda do trabalhador simplesmente por estar executando essas operações. Estas

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plataformas são montadas, desmontadas e limpas com pessoas se deslocando,

rastejando, se pendurando sobre elas em modo operatório inseguro e em desacordo

com a NR 35 - Trabalho em Altura do MTE e em desacordo com a alínea "b" do item

17.6.2 da NR 17 - Ergonomia do MTE. As treliças utilizadas na montagem das

plataformas têm dimensão mínima e não podem suportar o peso de mais de um

trabalhador. Dessa forma, as plataformas não suportam o peso de socorristas sobre

a plataforma para retirar um eventual trabalhador caído. Quantos trabalhadores

seriam necessários para suspender um trabalhador caído? A plataforma e a linha de

vida não estão dimensionadas para suportar o peso desses trabalhadores. Os

sistemas de ancoragem para afixação de cinto de segurança comumente utilizados

em plataformas de proteção em balanço não cumprem a NR 35 do MTE, inclusive

no que se refere ao plano de emergência necessário para que socorristas evitem a

permanência de trabalhador caído da plataforma em suspensão inerte. A operação

de montagem, desmontagem e limpeza das plataformas em balanço não atendem à

NR 35, pois falta o vão livre de 5,2 m para absorver a queda do trabalhador sem

impactar no piso da obra se ele cair da primeira plataforma. No caso de queda de

plataformas secundárias, o trabalhador fará movimento pendular contra a estrutura

da edificação nas plataformas secundárias, conforme ilustrado no desenho abaixo.

Estudos evidenciaram que a suspensão vertical por cinto pode causar a

perda de consciência, sem qualquer trauma, ou perda de sangue. Esta

progressão do quadro clínico em indivíduos que permaneceram inconscientes

pela redução do fluxo sanguíneo cerebral, pode causar a morte em 4 a 6

minutos. É conhecida como síndrome da suspensão inerte. Fonte: “Síndrome del

arnés”, Trauma de la suspensión; M. Avellanas Chavala (Servicio de Medicina

Intensiva. Hospital San Jorge. Huesca), D. Dulanto Zabala (Servicio de

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Anestesiología y Reanimación. Hospital de Basurto. Bilbao), SEMAC (Sociedad

Española de Medicina y Auxilio en Cavidades).

Considerar que, no cenário atual, quando a empresa opta por usar

andaime suspenso, também é necessário o apoio de andaime suspenso

(balancim) sobre a plataforma em balanço principal (bandeja), quando de sua

montagem e desmontagem, o que sobrecarrega indevidamente a plataforma de

proteção em balanço principal. Essa plataforma não é projetada para suportar o

peso do andaime suspenso, e não há como montá-lo sem apoiá-lo na

plataforma principal em balanço hoje exigida na NR 18.

Para evidenciar que a instalação das redes entre plataformas expõe os

trabalhadores à condição de risco grave e iminente, apresento foto de colocação

da rede na obra. Em uma semana de uso, a rede rasgou pela ação do vento e

de nada mais serve.

13

A rede instalada entre plataformas representa a exposição dos trabalhadores a risco sem benefício, pois logo as redes rasgam.

Nessa foto fica destacada a contradição entre a tarefa e a atividade. O

trabalhador não consegue utilizar sempre o cinto de segurança para pregar as

últimas taboas da bandeja e se expõe ao risco para executar a tarefa. Se o

trabalhador cair, dirão que ele é culpado da própria morte porque não portava o

cinto de segurança.

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Outro aspecto crítico é a falsa sensação de segurança que as bandejas transmitem. Olhando de dentro da obra para a bandeja, o que se vê é um amplo assoalho de madeira e parece ser seguro pisar sobre ele. Isso é um grande engano, pois as plataformas são extremamente frágeis, no que se distinguem dos andaimes em balanço, que devem suportar o peso de pessoas sobre seu assoalho, conforme projeto e exigências da NR 18. A falsa sensação de segurança gerada pelas plataformas em balanço favorece o não uso de EPI.

A montagem e a desmontagem de guarda-corpos tipo GCR também implica importante exposição ao risco de queda de pessoas, pois se permanece muito tempo no perímetro da obra montando, serrando e pregando peças de madeira, como se vê na foto abaixo.

Na foto há 3 trabalhadores. O

da direita está com o cinto

afixado em uma coluna. Os

dois à esquerda usam cinto

sem afixá-los em linha de vida,

em desconformidade com a

NR 18 e com a NR 35. Na

condição de montagem, eles

não conseguem manter o cinto

fixado o tempo todo. Isso é a

atividade real, diferente da

prescrita, da imaginada.

É um grande equívoco avaliar o risco pela atividade prescrita. O risco deve ser

avaliado pela atividade exercida. Avaliação de risco que permite a montagem e

desmontagem de plataformas em balaço e de sistema GCR desconsidera o

modo operatório que impõe muito tempo de exposição de parte ou do corpo

todo do operador para fora da laje. A regra de segurança básica a seguir é

"jamais colocar o corpo do trabalhador para fora da laje, sem um piso seguro,

quando outro sistema pode ser adotado".

1.1 Imagens de alguns acidentes envolvendo bandejas

Para melhor avaliação do risco que envolve a montagem, desmontagem e limpeza de plataformas em balanço, apresento imagens de acidentes que ocorreram recentemente nessas atividades.

Em 2011 aconteceu acidente envolvendo a queda de dois trabalhadores, em construção predial, devido à ruptura da bandeja primária no momento de sua instalação. Ver fotos.

15

Este acidente foi investigado pelos Auditores Fiscais Claudio Cezar Peres e Marta Dorneles de Macedo. O canteiro de obras foi embargado imediatamente.

A seguir apresento imagens de acidentes envolvendo plataformas de

proteção em balanço (bandejas) que tiveram divulgação na internet.

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"Operário de obra cai de andaime, fica pendurado e é resgatado por

colegas”.

http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2015/02/operario-de-obra-cai-de-

andaime-fica-pendurado-e-e-resgatado-por-colegas.html

Episódio ocorreu na Avenida Almirante Cochrane, em Santos, SP.

Pendurado pela corda, o trabalhador teve apenas arranhões no braço.

Trabalhador fica pendurado em andaime em Santos (Foto: Claudinei

Parada de Almeida/Arquivo Pessoal)

Um operário de um prédio em construção caiu de um andaime e ficou pendurado

alguns minutos por uma corda, na manhã deste sábado (7), na Avenida Almirante

Cochrane, em Santos, no litoral de São Paulo. O trabalhador não sofreu

machucados graves e foi resgatado pelos próprios colegas.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, a corporação foi acionada por vizinhos do

edifício, que ficaram assustados com a cena, mas, antes mesmo da chegada da

equipe ao local, o funcionário já havia sido salvo pelos colegas de trabalho. Ele

teve apenas arranhões leves no braço e não precisou ser levado para nenhuma

unidade de saúde.

17

“Seis pessoas despencam de andaime de obra em Guarujá e ficam

feridas”.

http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/01/seis-pessoas-despencam-de-

andaime-de-obra-em-guaruja-e-ficam-feridas.html

22/01/2014 13h35 - Atualizado em 22/01/2014 13h35

Seis pessoas caíram de um andaime (leia-se BANDEJA) em uma obra na cidade de

Guarujá, no litoral de São Paulo, nesta quarta-feira (22). A queda foi de

aproximadamente seis metros de altura. Todos foram resgatadas com vida e

encaminhados ao hospital. Ainda não há informações sobre o estado de saúde das

vítimas.

O acidente aconteceu em uma obra localizada na Rua Uruguai, no bairro Enseada.

O Corpo de Bombeiros informou que seis pessoas estavam no andaime (leia-se

bandeja) quando a estrutura despencou. Três vítimas foram encaminhadas ao

Hospital Santo Amaro e as outras três foram levadas à Unidade de Pronto

Atendimento da Enseada.

Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura de Guarujá, os três trabalhadores

que foram atendidos inicialmente na UPA da Enseada fizeram raio X e foram

encaminhados ao hospital Santo Amaro, onde passaram pelo setor de ortopedia.

Ainda de acordo com a assessoria, eles estão conscientes.

Seis pessoas ficaram feridas após queda (Foto: Nina Barbosa / TV Tribuna)

18

“Operário fica 15 minutos pendurado no 11º andar de prédio no Distrito

Federal”.http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1304284-5598,00-

OPERARIO+FICA+MINUTOS+PENDURADO+NO+ANDAR+DE+PREDIO+NO+DF.ht

ml

Testemunhas disseram que o operário escorregou do andaime onde trabalhava, se

agarrou ao ferro de sustentação do equipamento, mas não conseguiu suportar por

muito tempo. Então, o homem se soltou e ficou pendurado apenas pela corda

amarrada ao cinto de segurança.

A vida do operário, ainda não identificado, foi salva pelos colegas de trabalho, que

abriram um buraco na parede em obras e o puxaram para dentro do prédio.

Segundo os vizinhos da obra, o Corpo de Bombeiros chegou dez minutos depois do

resgate.

Vale destacar a precariedade do resgate do trabalhador. Vários trabalhadores

expostos ao risco de queda por conta da ruptura da bandeja. Observa-se que os

participantes do resgate não possuem qualquer sistema de proteção individual

contra quedas.

Homem escorregou de andaime e

ficou 15 minutos preso por uma

corda.

Ele foi salvo por colegas, que

abriram buraco em parede da

construção. Um operário ficou

pendurado pelo cinto de segurança

no 11º andar de um prédio em

construção na cidade de Águas

Claras, a 10 km de Brasília, por

cerca de 15 minutos, até ser

socorrido. A cena foi fotografada por

um morador vizinho da obra.

19

“Operários despencam de uma altura de seis metros em construção em

SE”; http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2012/12/operarios-despencam-de-

uma-altura-de-seis-metros-em-construcao-em-se.html

Dois operários que trabalham na construção de um prédio no Bairro Jardins, em

Aracaju (SE), caíram de uma altura de seis metros por volta da 9h desta terça-feira

(11). O acidente aconteceu enquanto eles estavam montando uma espécie de

bandeja que sustenta os trabalhadores que fazem o revestimento da varanda dos

apartamentos.

A estrutura se soltou de um lado, e os cintos de segurança, que deveriam deixar os

carpinteiros suspensos até o resgate, romperam. O carpinteiro ..., de cerca de 40

anos, deslocou o punho direito e teve ferimentos leves por todo o corpo. Ele ficou

consciente durante todo o atendimento médico e reclamava de muita dor na região

lombar, pois caiu de pé. Outro operário..., 59 anos, também caiu da estrutura que

estava na altura do playground. Ele estava bastante nervoso com o susto e disse

que estava sentindo muita dor no ombro. Os dois receberam os primeiros cuidados

da técnica em segurança do trabalho ... que estava na obra. “Eles estão bem, na

medida do possível. Por sorte eles estavam no primeiro andar”, afirma a técnica.

Ela os acompanhou até o hospital onde estão sendo submetidos a exames. Dois

socorristas em motolâncias chegaram ao local pouco tempo depois do acidente e

em seguida a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Estrutura se soltou de um

lado e funcionários

despencaram (Foto:

Marina Fontenele/G1 SE)

Segundo o engenheiro de

segurança da construtora ...,

o equipamento é feito para

suportar 100 kg e nenhum

dos dois operários tem esse

peso. “Vamos encaminhar os

cintos que se romperam para

análise para identificar o que

houve, pois esse tipo de coisa

não deveria ter acontecido e

ainda mais dessa forma,

quando os cintos dos dois

rasgaram. A empresa se

preocupa com a integridade

física dos seus

colaboradores”, explica.

20

“Operário morre após cair do quarto andar de edifício em MT”;

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/09/operario-morre-apos-cair-do-

quarto-andar-de-edificio-em-mt.html

Servente de obra estava sentado em estrutura de madeira que quebrou.

Segundo a perícia, ele não usava cinto de proteção. Do G1, em São Paulo

Operário caiu do quarto andar de prédio em construção em Cuiabá (Foto: Iara Vilela/ TVCA)

Um servente de obras, de 20 anos, caiu, na manhã desta quinta-feira (9), da plataforma dez,

equivalente ao quarto andar, de um prédio residencial em construção, em Cuiabá (MT). O

Samu foi chamado, mas ao chegar ao local, já encontrou o operário morto. Segundo a polícia,

o servente estava sentado num caibro (estrutura de madeira) esperando a chegada de uma

extensão de energia, para iniciar o trabalho. Ele conversava com um colega de trabalho que

estava em pé na frente dele, quando a estrutura de madeira quebrou, e ele caiu de costas do

quarto andar. O amigo não se machucou. Segundo a polícia, um funcionário do instituto de

criminalística esteve no local e detectou que a vítima usava o macacão de obras, botas e

capacete, mas nem ele e nem o colega usavam o cinto de proteção, já que não tinham

começado o trabalho. O prédio também não tinha rede de proteção. O jovem de 20 anos

trabalhava para uma empresa terceirizada da construtora do edifício, que informou, em nota,

que os materiais de segurança foram entregues ao funcionário, bem como, dispõe de técnicos

para orientação e acompanhamento dos canteiros de obra numa ação preventiva de

acidentes de trabalho. A polícia vai apurar as circunstâncias da morte e se houve negligência

ou imprudência por parte da empresa ou dos trabalhadores. O corpo já foi liberado.

21

Acidente 23/01/2015 | 12h23 em Caxias do Sul

O operário estava sobre

a plataforma secundária

no 12º andar, quando a

plataforma ruiu. Ficou

gravemente ferido,

perdeu o antebraço na

queda e faleceu na

semana seguinte ao

acidente. O acidente foi

investigado pelo MTE.

Ver fotos a seguir.

O acidente de trabalho ocorreu na desmontagem de plataforma secundária. O

trabalhador resultou gravemente ferido e, segundo o Corpo de Bombeiros, que

realizou o resgate, ele fraturou as pernas e teve o braço esquerdo decepado

(ver reportagem do jornal PIONEIRO em

http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/cidades/noticia/2015/01/homem-cai-de-

predio-e-tem-braco-decepado-em-caxias-do-sul-4686478.html). No hospital teve o

baço extraído e estava em como induzido no momento da inspeção da SRTE em

26/01/2015. O acidente ocorreu em Caxias do Sul no dia 23 de janeiro de 2015. A obra

foi paralisada pela SRTE em 26/01/2015 por não dispor de proteções coletivas contra

queda de pessoas. Na semana seguinte o trabalhador faleceu.

22

1.2 Sequência de desmontagem de bandeja na 5° laje em condição de

risco

Para visualização do risco a que o trabalhador se expõe ao desmontar (ou montar)

uma plataforma de proteção em balanço secundária, apresento uma sequência de fotos desta

operação.

Trata-se de uma sequência de imagens de ocasião da desmontagem de bandeja, na

altura da 5° laje, tomadas em um sábado. As empresas normalmente não fazem essa operação

em dias úteis, talvez, para que a fiscalização do trabalho não as flagre expondo os seus

trabalhadores ao risco grave e iminente.

23

O cinto de segurança está amarrado por uma corda atada a uma taboa na janela. A

corda permite a movimentação ao longo da plataforma, mas está em desconformidade com a

NR 35.

Estas taboas não

resistem ao esforço

gerado pela

eventual queda do

trabalhador.

24

25

As fotografias sequenciais, acima apresentadas, da desmontagem de uma

bandeja ou plataforma em balanço secundária evidenciam o grave e iminente risco

desta operação e justificam a iniciativa da Auditoria do Trabalho de orientar sobre o

não uso deste sistema.

1.3 O sistema projetado é precário, não se consegue executá-lo sem

expor o trabalhador a risco grave e iminente, assim como não se

consegue cumprir concomitantemente a NR 35 e a NR 18

A execução das plataformas em balanço primária e/ou secundárias

(bandejas) usualmente é feita em desconformidade com o projeto, não atendendo

diversas especificações, como a seguir:

- por ter treliças subdimensionadas estruturalmente (espessura inferior à projetada,

furação em desacordo com projeto);

- por ter treliças mais afastadas umas das outras em prejuízo da resistência

estrutural;

- por ter treliças não contra-pinadas para evitar sua oscilação por ação do vento;

- por ter treliças não estaiadas com cabos de aço para evitar oscilação causada pelo

vento;

- por ter treliças apoiadas na estrutura da edificação por calços improvisados e

frágeis em madeira que prejudicam a resistência estrutural do conjunto.

As fotos a seguir ilustram a condição de execução corriqueira das

plataformas em balanço, em desconformidade com os projetos, tal como são

executadas em sua grande maioria. O fato é que o projeto é precário e não

considera a atividade real para instalar e retirar as referidas plataformas.

26

Foto - Medição com paquímetro digital - verificou-se 2,02 mm da espessura da treliça instalada, em contradição com o projetado de no mínimo 3,5 mm.

Foto - Medição com paquímetro digital de 2,39 mm da espessura da treliça instalada, em contradição com o projetado de no mínimo 3,5 mm.

Foto - Plataforma de proteção em balanço primária desabada, ruída.

Foto - Treliça quebrada, caída.

Foto - Não foram instalados pinos de travamento para evitar que a ação do vento faça as treliças oscilarem e se desprenderem da laje.

Foto - Não foram instalados pinos de travamento para evitar que a ação do vento faça as treliças oscilarem e se desprenderem da laje.

27

Foto - Uma treliça caída e também tacos de madeira improvisados para tentar compensar o desalinhamento junto à parede da construção.

Foto - idem

Foto - Medição de 35° C no termômetro de

bulbo seco. A empresa não avalia o IBUTG

previsto no anexo 3 da NR 15, também não

dimensiona o regime de trabalho descanso a

fim de evitar câimbras de calor, prostração e

intermação.

Sem controlar a exposição ao calor, expõe os

trabalhadores de qualquer atividade,

inclusive as de montagem e desmontagem de

bandejas, ao risco de intermação e insolação.

Esta exposição pode causar vertigens e

provocar a queda do trabalhador no

momento em que estiver montando ou

desmontando bandejas.

28

2.

Sistemas eficientes para evitar as quedas de pessoas:

- Andaimes Fachadeiros e Andaimes em Balanço,

- Plataformas Cremalheira,

- PTA - Plataformas para Trabalho em Altura

Sistemas eficientes para evitar as consequências das quedas de pessoas,

- redes de segurança.

A foto a seguir compara a execução da construção de um prédio com a

utilização de plataformas em balanço (bandejas) com a execução de um prédio com

a utilização de andaime fachadeiro envelopando a obra.

Imagem de exemplo de construção, em Porto Alegre, utilizando bandejas

para evitar exclusivamente a queda de materiais em primeiro plano e exemplo de

construção utilizando andaime fachadeiro para evitar a queda de pessoas e de

materiais no segundo plano da foto. O andaime fachadeiro oferece escada interna

tipo alçapão, permitindo acesso seguro à obra. Oferece plano de trabalho no

entorno da obra para execução das atividades na periferia. Se o andaime dista até

20 cm do perímetro da construção, o uso de cinto de segurança é dispensado,

conforme a lei francesa e a lei espanhola. O andaime fachadeiro atende o estado

atual da arte e é utilizado em vários países. O sistema de bandejas não previne o

risco de queda de pessoas, sua montagem, desmontagem e limpeza implicam

29

exposição do trabalhador a riscos de queda não controlados. Os andaimes

fachadeiros telados oferecem sombreamento reduzindo a exposição ao calor,

reduzindo o risco de intermação ou insolação. Os andaimes fachadeiros também

podem proteger contra radiação UV nas fachadas, assim como podem fixar tela de

sombreamento na cobertura da construção.

As informações aqui relatadas não são novidade e já foram debatidas no I,

II e III SEMINÁRIOS SOBRE NOVAS TECNOLOGIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

promovidos conjuntamente pela SRTE e várias outras instituições. O III SEMINÁRIO

foi realizado no Auditório da AMRIGS, em Porto Alegre/RS,

em 05/12/2014.

As apresentações deste III SEMINÁRIO foram disponibilizadas gratuitamente

no site da AGITRA - ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DOS INSPETORES DO TRABALHO - em

http://www.agitra.org.br/, portanto são de domínio público e já foram amplamente

divulgadas.

Mais recentemente, novamente os citados riscos e seu controle foram debatidos

no Seminário Técnico: Trabalho Seguro e Saudável na Indústria da Construção,

realizado em 26 de novembro, no auditório do SENGE - Sindicato dos Engenheiros -

em Porto Alegre.

Nestes eventos foi esclarecido que os sistemas utilizados no Brasil para prevenir

a queda da altura já não atendem o estado atual da arte, como se ilustra a seguir.

O quadro acima faz a apresentação comparada das normas técnicas e

regulamento mantidos ainda pelo Brasil e das normas UNE atuais. As RTP 01 e 04 da

30

FUNDACENTRO, a NBR 7678:1983 e a NR 18 do MTE estão desatualizadas, se referem

à tecnologia superada, que não considera o risco da atividade real e permitem a

exposição de trabalhadores ao grave e iminente risco de morte por queda de altura.

Estão em contraposição à tecnologia atual já normatizada nas UNE EN 12810 e 13374.

Face a tudo que já se disse, recomenda-se utilizar sistema de proteção

coletiva efetivo como, por exemplo, andaimes fachadeiros resistentes, com parede

de no mínimo 3,0 mm nos tubos estruturais para poder suportar a carga em altura,

como das edificações na obra em questão. Neste caso, apresentar projeto,

memorial descritivo e anotação de responsabilidade técnica do conselho profissional

competente. Estes andaimes, desde que adequadamente instalados, envelopando a

obra, oferecem proteção contra queda de materiais e de pessoas, proteção contra

insolação excessiva, inclusive reduzindo a exposição ao ultravioleta e ao calor

dentro da obra. Estes andaimes também dispensam o uso de plataformas de

proteção em balanço, bem como de andaimes suspensos ou balancins que

envolvem risco considerável em sua operação. Os andaimes fachadeiros e andaimes

em balanço também poderão ser utilizados para a desmontagem das plataformas

secundárias em balanço já instaladas nas edificações. Ver desenho esquemático a

seguir.

≤ 0,20m

Andaime de fachada, com indicação de dimensões a respeitar (INSHT – ES)

Sobre andaimes fachadeiros composto de tubos e pranchas, o decreto francês de 08 de janeiro de 1965 (art. 115) e a lei de 30 de novembro de 1990, conforme citado em PRÉCIS CHANTIER (AFNOR, p. 139), especificam o seguinte para os andaimes fachadeiros: - do lado exterior: os planos de trabalho devem ser munidos, no comprimento e nas extremidades, de dois tubos ou travessas e de rodapé;

31

- do lado interior: três casos são possíveis conforme a distância entre a parede da fachada e o piso de trabalho do andaime: - a menos de 20 cm da fachada: nenhuma proteção particular; - entre 20 e 40 cm da fachada: um guarda-corpo deve ser colocado a uma altura compreendida entre 70 e 90 cm acima do piso de trabalho do andaime; - com mais de 40 cm da fachada: a mesma proteção do lado exterior. Do nível do primeiro piso, a empresa poderá também optar por utilizar

plataforma de proteção principal tipo galeria, constituída por andaimes tubulares, e

utilizar, como medida alternativa às plataformas de proteção secundárias, as redes

de segurança, que atendam às Normas EN 1263-1 e EN 1263-2, de acordo

com o prescrito na NR 18, em seu item 18.13.12. A imagem a seguir

apresenta tipos de rede de segurança.

Alternativamente às plataformas secundárias e ao sistema GCR - Guarda-

Corpo Rodapé -, que é uma cerca de madeira construída em condição de risco de

queda da beira da laje, pode-se instalar andaime em balanço seguro com

guarda-corpos pré-fabricados e de rápida instalação na periferia,

dispensando a construção da cerca GCR no perímetro da laje.

O sistema GCR- guarda-corpo rodapé - implica prolongada exposição do

trabalhador ao risco de queda para construir a cerca no perímetro da laje. Os

guarda-corpos pré-fabricados podem ser feitos em metal, construídos no solo e

32

apenas montados no perímetro da laje, evitando assim a demorada exposição do

trabalhador ao risco de queda quando da montagem de cercas tipo GCR. Ver foto

abaixo.

Há que se considerar também que, conforme a atividade que a ser realizada,

é necessário combinar mais de um sistema de proteção coletiva contra queda de

altura. Por exemplo, pode ser necessário combinar um sistema de rede de

segurança tipo forca com um sistema de rede de segurança tipo U ou tipo S, todos

previstos nas Normas EN 1263-1 e EN 1263-2, previstas na NR 18, em seu item

18.13.12, desde 2006.

Pode ser necessário combinar um sistema de andaime fachadeiro com um

sistema de guarda-corpo pré-fabricado nas situações em que o piso do andaime não

coincide com a laje, ou nas situações em que o andaime está muito afastado da

estrutura. Por exemplo, a lei francesa admite trabalho em andaime de fachada já

instalado sem o uso de cinto de segurança em seu interior, desde que a distância

entre o andaime e o corpo da edificação seja menor do que 20 cm.

Pode ser necessário usar plataformas cremalheira para a conclusão de

trabalhos na periferia no momento da retirada das redes de segurança.

A escolha do(s) sistema(s) de proteção coletiva a ser(em) utilizado(s)

depende do tipo de construção e das atividades que envolverão o revestimento de

acabamento. Por exemplo, um prédio de alvenaria estrutural provavelmente não

suporta redes tipo forca nem andaimes em balanço, sendo necessário o uso de

andaimes fachadeiros que descarregam seu peso no solo. Um prédio estruturado

com vigas e lajes em concreto armado suporta as redes tipo forca e pode ter sua

Sobre guarda-corpos, ver

norma EN sobre proteções

de periferia pré-fabricadas:

UNE-EN 13374 - Sistemas

provisionales de proteccion

de borde

Especificaciones del

producto, métodos de

ensayo.

Foto (Montreal) - Auditora

Fiscal do Trabalho Marta

Dorneles Macedo

33

estrutura erguida com a combinação de redes e guarda-corpos pré-fabricados. O

uso de redes de segurança implica uso de gruas para elevação das peças metálicas

das redes. Essas considerações devem ser indicadas no PCMAT, justificando a

escolha do tipo de proteção coletiva.

No emprego de andaimes

fachadeiros deve-se ter o

cuidado de instalar a

estrutura do andaime de

baixo para cima, colocando

forração completa em cada

nível. Desta forma, se houver

queda de um trabalhador

internamente no andaime, ela

não passará de 2 m de altura.

A foto (Paris) apresenta a montagem de um andaime fachadeiro dotado de piso

com forração completa. Observar que as escadas internas de acesso são instaladas

em posições alternadas, nunca na mesma projeção, para evitar a queda do

trabalhador de mais de um nível.

Ao desmontar o andaime, se faz o contrário. Se retira o piso de cima para

baixo, mantendo sempre a forração completa no piso abaixo. Ao mesmo tempo que

se faz a desmontagem do andaime, se faz a operação de acabamento e de pintura

do prédio, como se pode ver na foto abaixo.

34

Foto de andaime

fachadeiro que foi

utilizado para auxiliar no

levantamento da

superestrutura. Está em

fase de desmontagem

simultânea com a

operação de acabamento

externo e pintura do

prédio.

3. Conclusão e Recomendações

A montagem, desmontagem e limpeza de plataformas de proteção em balanço

conforme usualmente é feita no Brasil é intrinsecamente insegura e representa risco grave

e iminente de morte por queda de trabalhadores em altura porque:

1°) a execução de bandeja (ou plataforma em balanço primária e/ou secundária) é feita em

desconformidade com o projeto, por ter treliças subdimensionadas estruturalmente

(espessura inferior à projetada, furação em desacordo com projeto), e/ou treliças mais

afastadas umas das outras em prejuízo da resistência estrutural, e/ou treliças não contra-

pinadas para evitar sua oscilação por ação do vento, e/ou treliças não estaiadas com cabos

de aço para evitar oscilação causada pelo vento, e/ou treliças apoiadas e/ou calçadas na

estrutura da edificação por calços improvisados e frágeis em madeira não previstos em

projeto que prejudicam a resistência estrutural;

35

2°) há impossibilidade de atender às exigências da NR 35 no que se refere à zona livre de

queda nas operações de limpeza, montagem e desmontagem, assim como impossibilidade

de realizar o resgate de trabalhadores em suspensão inerte em tempo hábil de menos de

04 minutos;

3° ) verifica-se o não atendimento do disposto no item 18.13.1 da NR 18, pois as bandejas são

elementos rígidos e não absorvem o impacto de quedas de pessoas, não podendo ser

usadas como proteção contra queda de pessoas, diferentemente das redes de segurança

horizontais e tipo forca previstas no item 18.13.12 da NR 18 desde 2006 (Portaria n° 157, de

10-04-2006);

4°) há impossibilidade de atender à exigência de modo operatório adequado às

características psicofisiológicas dos trabalhadores previsto na alínea "b" do item 17.6.2

combinado com o item 17.1.1 da NR 17 - Ergonomia do MTE nas operações de limpeza,

montagem e desmontagem de bandejas.

Não há alternativas técnicas ou legais às plataformas e bandejas, pois quando muito

elas servem apenas para aparar a queda de materiais e não servem para aparar a queda de

pessoas.

Propõe-se a utilização de proteções coletivas efetivas. Propõe-se a supressão das

referências às plataformas de proteção em balanço, tanto primárias como secundárias da

NR 18. No lugar das plataformas primárias podem ser utilizadas galerias para evitar a queda

de materiais sobre pessoas, com as mesmas dimensões das plataformas primárias, mas sem

o risco de queda de pessoas em sua montagem e desmontagem, que deverá ser executada

com apoio de andaimes, ou de PTAs ou de plataformas cremalheira. No lugar das

plataformas secundárias, pode-se usar redes de segurança e/ou andaimes fachadeiros.

A NR 18 refere redes de segurança, que são equipamentos utilizados para aparar a

queda de pessoas, podendo servir também para aparar a queda de materiais, se

sobrepostas por redes de malha mais fina. A NR 18 também refere andaimes em balanço e

andaimes fachadeiros que são, por definição, plataformas de trabalho elevadas para

executar com segurança trabalho em altura. Portanto, redes de segurança são

equipamentos de segurança utilizados pela comunidade internacional para evitar as

consequências da queda de pessoas. São equipamentos de proteção coletiva. Andaimes

fachadeiros e andaimes em balanço não são equipamentos de segurança, são plataformas

de trabalho elevadas que dispõem de elementos de segurança como guarda-corpo, roda-

36

pé, tela para evitar a queda de materiais, escadas de acesso etc. Por conseguinte, tanto

redes de segurança como andaimes em balanço e andaimes fachadeiros são equipamentos

utilizados para execução segura do levantamento da superestrutura da edificação, sendo

que os andaimes também podem ser utilizados para executar o acabamento. As redes

podem ser combinadas com equipamentos como plataformas cremalheira e como PTAs -

plataformas de trabalho aéreo. Há também plataformas de trabalho que são utilizadas em

construções de concreto armado executadas com placas metálicas, plataformas essas que

contornam o perímetro da edificação e que são elevadas à medida que a edificação ganha

altura. Outro sistema é de guarda-corpos pré-fabricados que são elevados a medida que a

alvenaria ganha altura.

É recomendável que o governo brasileiro implemente, na prática dos canteiros de

obras, a Convenção 167 sobre Segurança e Saúde na Construção da OIT - Organização

Internacional do Trabalho, bem como adote as normas UNE-EN 12810-1 e 2: 2003 Andamios de

fachada de componentes prefabricados e UNE-EN- 13374: 2004 Sistemas provisionales de

protección de borde.

Pretende-se com essas recomendações reduzir significativamente a incidência de

acidentes e mortes de trabalhadores por quedas em obras de construção civil no Brasil.

37

5 - Referências

- RABARDEL P.; CARLIN, N.; CHESNAIS, M.; LE JOLIFF, N. L. G.; PASCAL, M. Ergonomie

Concepts et Méthodes. Toulouse, 2010, Sixième réimpression. OCTARES EDITIONS – 1°

edition 1998.

- Précis de Chantier (Prescrições de Canteiro de Obras) publicado pela AFNOR - Associação

Francesa de Normas

- Guía Técnica para la evaluación y prevención de los riesgos relativos a la utilización de

equipos de trabajo - Minstério de Empleo y Seguridad Social; INSHT - Instituto Nacional de

Seguridad e Higiene en el trabajo. 2011.

“Síndrome del arnés”, Trauma de la suspensión; M. Avellanas Chavala (Servicio de

Medicina Intensiva. Hospital San Jorge. Huesca), D. Dulanto Zabala (Servicio de

Anestesiología y Reanimación. Hospital de Basurto. Bilbao), SEMAC (Sociedad Española de

Medicina y Auxilio en Cavidades).

- Convenção 167 sobre Segurança e Saúde na Construção da OIT - Organização Internacional

do Trabalho;

- UNE-EN 12810-1 e 2: 2003 Andamios de fachada de componentes prefabricados

- UNE-EN- 13374: 2004 Sistemas provisionales de protección de borde

- NR 17 - Ergonomia. MTE

- NR 18 - Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção. Redação dada

pela Portaria SSST 04, de 04-07-1995 e alterações posteriores. MTE

- NR 35 – Trabalho em Altura. Redação da Portaria SIT 313, de 23-032012, e alterações

posteriores. MTE

- Manual de Aplicação da NR 17. MTE. Brasília, 2004. Revisão 2013.

- OIT. Safety and health at work. http://www.ilo.org/global/topics/safety-and -health-at-

work.