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Manual para o uso não sexista da linguagem O que bem se diz... bem se entende

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  • Manual para o uso no sexista da linguagem

    O que bem se diz... bem se entende

  • MANUAL PARA O USO NO SEXISTA DA LINGUAGEM O que bem se diz... bem se entende

  • Coordenao do Projeto: Julia Prez Cervera Autoras: Paki Venegas Franco e Julia Prez Cervera Reviso de estilo: Enrique Manzo Mendoza Ilustraes: Xirldez Verso em portugus: Beatriz Cannabrava

    O original terminou-se de imprimir em dezembro de 2006, nas oficinas de Aliusprint S.A. de C.V. Esta nova impresso foi realizada por PROTECA

    Esta terceira impresso foi realizada com fundos do UNIFEM

    A edio em portugus foi realizada com o apoio da REPEM (Rede de Educao Popular entre Mulheres da Amrica Latina) para ser distribuda por Internet para o Brasil e pases africanos de lngua portuguesa.

  • NDICE _____________________________________________________________________________

    Apresentao

    Captulo 1: O papel da linguagem como agente socializante de gnero

    Captulo 2: O gnero na Gramtica

    Captulo 3: O sexo das Pessoas

    Captulo 4: A Gramtica e a Semntica

    Captulo 5: O uso do neutro. O uso de genricos

    Captulo 6: Profisses exercidas por mulheres

    Captulo 7: O uso de Gerndio e outras estratgias

    Captulo 8: A linguagem Administrativa

    Captulo 9: Documentos com linguagem sexista

    Bibliografia e anexos

    Equipe de trabalho

  • Apresentao

    No se esquea que o pensamento se modela graas palavra, e que s existe o que tem nome (1) Em um mundo onde a linguagem e o nomear as coisas so poder, o silencio opresso e violncia (2)

    O porqu deste manual

    Na atualidade no existe qualquer sociedade no mundo onde mulheres e homens recebam um tratamento equitativo, pois se constata uma discriminao generalizada para elas em todos os mbitos da sociedade. Essa discriminao sustentada unicamente no fato de ter nascido com um determinado sexo (mulher) atravessa categorias sociais como o nvel scio-econmico, a idade ou a etnia que se pertena e se transmite atravs de formas mais ou menos sutis que impregnam nossa vida.

    Uma das formas mais sutis de transmitir essa discriminao atravs da lngua, pois esta nada mais que o reflexo de valores, do pensamento, da sociedade que a cria e utiliza. Nada do que dizemos em cada momento de nossa vida neutro: todas as palavras tm uma leitura de gnero. Assim, a lngua no s reflete, mas tambm transmite e refora os esteretipos e papis considerados adequados para mulheres e homens em uma sociedade. Pensemos naquilo que tenta transmitir frases cotidianas como ser velha o ltimo, os filhos so os que as mes fizeram deles, em briga de marido e mulher no se mete a colher, mulher que muito aprende, no tem marido que a agente.

    Existe um uso sexista da lngua na expresso oral e escrita (nas conversaes informais e nos documentos oficiais) que transmite e refora as relaes assimtricas, hierrquicas e no equitativas que se do entre os sexos em cada sociedade e que utilizado em todos os seus mbitos. Dentro deles queremos destacar o administrativo, uma vez que no uma prtica habitual contemplar e incluir em seus documentos um uso adequado da linguagem. Basta ler alguns documentos ou escutar as mensagens telefnicas das reparties pblicas para poder detectar que se continua usando o masculino como linguagem universal e neutra. Nega-se a feminizao da lngua e ao faz-lo esto tornando invisveis as mulheres e rechaando as mudanas sociais e culturais que esto ocorrendo na sociedade.

    Tudo isso torna patente a necessidade e a urgncia de fomentar o uso de uma linguagem inclusiva para ambos os sexos nas instituies pblicas, evitar a confuso, negao ou ambigidade; isso que iremos aprofundando ao longo destas pginas. Em si, a lngua no sexista, embora o seja o uso que dela fazemos. Por isso, a nica forma de mudar uma linguagem sexista, excludente e discriminatria, seja explicar qual a base ideolgica em que ela se sustenta, assim como oferecer alternativas concretas e viveis de mudana.

  • Todas essas consideraes colocam em questo a necessidade de elaborar um recurso didtico que facilite o uso correto da lngua e foram elas que levaram formulao do presente manual cujo objetivo geral precisamente proporcionar s e aos funcionrios pblicos uma ferramenta clara e simples que lhes sirva para a implementao e o uso de uma linguagem inclusiva nas prticas escritas e orais das instituies onde trabalham, especialmente aquelas que desenvolvem, direta ou indiretamente, programas de atendimento populao.

    Com a consecuo deste objetivo aspiramos promover, dentro das instituies pblicas, o uso de uma linguagem inclusiva onde seja visvel a presena, a situao e p papel das mulheres na sociedade em geral e no discurso da administrao pbica em particular, tal e como ocorre com os homens. Pretendemos assim contribuir para eliminar dos documentos, ofcios, relatrios, circulares, convocatrias, cartazes, materiais didticos, etc. (elaborados nessas instituies) o uso de uma linguagem sexista-discriminatria e utilizar uma alternativa de uso correto que contribua para a equidade de gnero.

    Sua estrutura e contedo

    Nos nove captulos que formam este manual o que se pretende desenvolver e contribuir com as bases conceituais necessrias, bem como opes de mudana para conseguir o objetivo geral que nos propusemos anteriormente.

    O primeiro captulo: O papel da linguagem como agente socializante de gnero, constitui o marco conceitual deste manual e por isso de vital importncia seu entendimento. Os contedos que a se tratam so: a teoria sexo-gnero, a socializao de gnero, o papel ativo da linguagem dentro dela e como ela pode contribuir para criar e fomentar a discriminao exercida contra as mulheres.

    Nos restantes captulos sero intercaladas as bases conceituais com as opes de mudana. Os contedos abordados abrangem desde as principais manifestaes do sexismo e androcentrismo na lngua, manifestaes desenvolvidas atravs do uso do masculino como presumvel genrico, os saltos semnticos, os vazios lxicos at o uso diferenciado nos tratamentos, nos usos de cortesia ou na invisibilidade das mulheres em ofcios e profisses. Tambm se aborda de maneira especfica a linguagem administrativa e so analisados diferentes tipos de documentos utilizados na administrao pblica para oferecer sugestes de melhoria, de forma que se faa um uso adequado da lngua, um uso que no reproduza injustias de gnero.

    Em geral, quisemos fazer um manual com um carter propositivo porque seu objetivo mais imediato proporcionar ferramentas que contribuam para mudar a sociedade atual, pois ao promover que as mulheres sejam nomeadas por elas mesmas estaremos potencializando uma mudana de mentalidades que conduziro criao de uma sociedade mais justa e

  • equitativa. Este o desafio. Esperamos poder contagiar nosso entusiasmo e a iluso com a qual elaboramos este manual e que sua leitura e posta em prtica sejam um prazer e uma aprendizagem para todas e todos a cujas mos chegue, da mesma forma que foi para ns.

  • Captulo 1____________________________________

    O papel da Linguagem como Agente Socializante de Gnero

    Caladinha voc mais bonitinha

  • As lnguas no se limitam a ser um simples espelho que nos devolve a imagem de nosso rosto: como qualquer outro modelo idealizado, como qualquer outra inveno cultural, as lnguas podem levar-nos a compor nossa percepo do mundo e inclusive a que nossa situao se oriente de uma determinada maneira. (3)

    Desde nosso nascimento, a inclusive antes, quando nossa me est grvida, todos os nossos comportamentos e pensamentos esto condicionados pelo gnero. O primeiro que se pergunta a uma mulher grvida ou a seu companheiro o sexo do futuro beb y qual seria sua preferncia a respeito. De forma que, da futura me ou pai comum ouvir frases do tipo: prefiro menina porque elas so mais carinhosas, prefiro menina para que me cuide quando seja mais velha ou prefiro menino porque so mais independentes, prefiro um menino que continue com o negcio da famlia. Em sua explicao j atribuem ao futuro beb caractersticas, comportamentos, atitudes, interesses, prioridades... que sero diferentes conforme se trate de uma menina ou de um menino.

    Nossa identidade, feminina ou masculina, est, portanto, condicionada, determina-nos em nosso agir, sentir e pensar conforme sejamos mulheres ou homens. Tudo isso unido crena de que somos diferentes e em funo disso, a sociedade nos valoriza de forma desigual.

    No obstante, as nicas diferenas reais entre mulheres e homens so as biolgicas: diferenas que so inatas, ou seja, nascemos com elas. Assim, temos cromossomas diferentes; dos 23 pares de cromossomas que tem a espcie humana, um par se diferencia sendo XX para as mulheres e XY para os homens. Desse modo mulheres e homens tm caractersticas sexuais diferentes: genitais internos e externos, e caractersticas secundrias como os pelos, a voz ou os seios. Portanto, o sexo faz referncia s diferenas biolgicas que existem entre mulheres e homens, So congnitas, nascemos com elas e so universais, ou seja, so iguais para todas as pessoas. (4)

    Todas as demais diferenas que se atribuem a mulheres e homens, sensibilidade, doura, submisso, dependncia, fortaleza, rebeldia, violncia, independncia so culturais e, portanto, aprendidas; uma construo cultural chamada gnero. O gnero, feminino ou masculino, que nos adjudicam ao nascer, alude ao conjunto de atributos simblicos, sociais, polticos, econmicos, jurdicos e culturais, atribudos s pessoas de acordo com seu sexo. So caractersticas histricas, social e culturalmente designadas a mulheres e homens em uma sociedade com significao diferenciada do feminino e do masculino, construdas atravs do tempo e que variam de uma cultura a outra. Portanto, modificveis (5). Da mesma forma, o gnero est institucionalmente estruturado, isto , construdo e se perpetua atravs de todo um sistema de instituies sociais (famlia, escola, Estado, igrejas, meios

  • de comunicao), de sistemas simblicos (linguagem, costumes, ritos) e de sistemas de normas e valores (jurdicos, cientficos, polticos). (6)

    A partir do conceito gnero surge o que se denomina de sistema sexo-gnero que consiste em que pelo fato de nascer com um determinado sexo, mulher/homem, isto , com algumas diferencias biolgicas, nos atribudo um gnero, feminino ou masculino, como mencionamos anteriormente. Alm disso, h uma valorizao social das habilidades, comportamentos, trabalhos, tempos e espaos masculinos e uma desvalorizao dos femininos. Assim, partindo de uma diferena biolgica, constitui-se uma desigualdade social que coloca na sociedade as mulheres em uma posio de desvantagem com relao aos homens. (7)

    O sistema de gnero em uma sociedade determinada estabelece, dessa maneira, o que correto, aceitvel e possvel para mulheres e homens. Os papis que se atribuem para mulheres e homens (mulher-me, dona de casa, responsvel pelas tarefas associadas reproduo familiar; homem-pai, provedor, chefe de famlia) juntamente com as identidades subjetivas, cumprem um papel importante na determinao das relaes de gnero.

    Esse sistema de gnero transmitido, aprendido e reforado atravs de um processo de socializao que vamos aprofundar em seguida.

    A socializao de gnero

    A socializao o processo de aprendizagem dos papis sociais. um processo no qual se est imerso inclusive antes de nascer, nas expectativas que nossa futura famlia tem sobre ns e pelo qual aprendemos e interiorizamos as normas, valores e crenas vigentes na sociedade. Uma das caractersticas mais importantes da socializao, dada sua relevncia, a socializao de gnero; processo pelo qual aprendemos a pensar sentir e comportar-nos como mulheres e homens segundo as normas, crenas e valores que cada cultura dita para cada sexo.

    Basicamente seria a aprendizagem dos papis expressivos para as mulheres e dos papis instrumentais para os homens, associada valorizao superior dos homens e s caractersticas estereotipadas femininas e masculinas. Atravs dessa socializao, diferente em cada cultura, que nos ensinam, como j dissemos, aqueles modelos de conduta que so aceitos socialmente para mulheres e homens e quais no so, assim como as conseqncias que tem a adoo ou transgresso desses modelos.

    O processo de socializao de gnero se desenvolve ao longo de toda a vida e transmitido por meio dos diferentes agentes de socializao: famlia, escola, meios de comunicao e linguagem, entre outros.

  • A famlia o primeiro lugar onde nos inculcam o que ser mulher e o que ser homem e isso se reflete no tratamento cotidiano: atitudes que se reforam e sancionam a umas e outros, jogos e brinquedos que se presenteiam, contos que se lem a filhas e filhos... Assim, por exemplo, como se considera que as meninas so mais frgeis, brinca-se com elas com brinquedos menos brutos. Isso, ao longo do tempo pode efetivamente feminizar a conduta das meninas e masculinizar a dos meninos, no com base nas diferencias biolgicas pr-existentes, mas atravs do progressivo amoldamento que se efetua no processo de aprendizagem social. Com relao aos jogos e brinquedos tem havido uma evoluo: as meninas cada vez brincam mais e tm mais brinquedos considerados como tipicamente masculinos; no obstante, esse fato no se deu ao contrrio, ou seja, encontramos muito poucos meninos brincando com panelinhas ou com bonecas.

    A escola tambm desempenha um papel muito importante na socializao de gnero ao transmitir, dentro do currculo aberto e do oculto, esteretipos e condutas de gnero, reforando dessa maneira os papis adequados para mulheres e para homens em uma sociedade. Atravs do currculo oculto, o professorado d um tratamento diferente a meninas e meninos. J ficou demonstrado, por exemplo, que as professoras e os professores se conformam quando as meninas tiram notas baixas em matemtica e, pelo contrrio, redobram sua ateno quando o mesmo se d com os meninos. O esteretipo subjacente que como as meninas vo ser futuras donas de casa, a matemtica lhes ser menos til que para os meninos que vo ser os provedores do lar e que seguramente seguiro alguma carreira universitria (8). Os materiais educativos tambm participam desta progressiva socializao discriminatria; as mulheres quase no aparecem nos livros didticos e quando o fazem, aparecem como pouco ambiciosas, assustadias, dependentes e no muito inteligentes. Os homens, pelo contrrio, aparecem como indivduos valentes e autnomos, ambiciosos e fortes. A isso h que acrescentar o uso de uma linguagem genrica masculina, entendida como neutra e que os protagonistas das histrias so quase trs vezes mais homens que mulheres, o que tende a perpetuar a idia de que os homens so mais importantes que as mulheres.

    Os meios de comunicao constituem hoje em dia um dos mais importantes agentes de socializao de gnero. Atravs deles se transmite, de modo muito sutil e inconsciente, uma viso parcial e estereotipada das mulheres e dos homens. De forma que o papel atribudo s mulheres, onde alm do mais aparecem em menor porcentagem que os homens, o de vtimas, artistas, objetos sexuais e ultimamente se est transmitindo muito a imagem da mulher superwoman, bonita, inteligente, com estudos superiores, me de famlia e trabalhadora assalariada, amante e feliz com sua vida. raro que apaream mensagens nas quais se questione a dupla jornada de trabalho

  • desempenhada por essas mulheres ou nas que as protagonistas sejam mulheres que detenham o poder ou sejam consultadas como especialistas.

    Por outro lado, os homens costumam ser representados em profisses de mais status social: polticos, esportistas ou empresrios e muito poucas vezes aparecem em anncios relacionados com a manuteno da casa. Alm disso, a maior parte da publicidade de artigos caros como carros e casas costuma ser dirigida a eles e se transmite a posio de autoridade masculina usando sua voz em off em anncios publicitrios ou jornalsticos.

    A comunicao nas instncias pblicas. Da mesma forma que para muitas pessoas o que aparece na televiso totalmente certo e no cabe nenhum questionamento sobre a informao que esse meio oferece, aquilo que se comunica a partir das instncias pblicas. Administrao Estatal, Gabinetes Governamentais, etc. para a maioria inapelvel. De forma que se uma instncia pblica fala dos indgenas (dando por entendido que esto includas as indgenas) na realidade o que se est fazendo uma excluso que tem tido como conseqncia que os homens sejam os perptuos interlocutores com os poderes pblicos e os que tm manejado a direo e os interesses das mulheres indgenas.

    Se j de entrada a liderana social tem estado durante sculos em mos dos homens, as instncias pblicas ao convocar em seus documentos aos adultos, aos ambulantes, aos funcionrios, etc. continuam falseando, mediante um uso incorreto da linguagem, a realidade social. Com isso fomentam-se as excluses de sempre e se reproduzem esteretipos que mantm uma cultura sexista, e convencimentos que mantm falsas crenas e discriminao na populao.

    Ser difcil alcanar uma maior equidade se quando falamos continuamos reproduzindo os esquemas, as formas e os atavismos que historicamente conduziram marginalizao, excluso e discriminao das mulheres, a saber, a utilizao da linguagem para torn-las invisveis entre outros mtodos.

    Finalmente, e embora tenhamos acabado de vislumbrar brevemente alguns dos seus alcances, outro dos agentes de socializao de gnero, considerado muito importante, a linguagem. No obstante, dada a importncia que este agente se reveste para este manual, vamos abord-lo mais detidamente na epgrafe seguinte.

    O papel da linguagem na socializao de gnero

    A lngua um fato to cotidiano que a assumimos como natural e muito poucas vezes nos detemos a perguntar-nos o seu alcance e a sua importncia. Neste sentido, menciona Edward Sapir que falta apenas um momento de reflexo para convencer-nos de que esta naturalidade da lngua uma impresso ilusria. (9) Mas a linguagem no algo natural, mas sim

  • uma constituio social e histrica, que varia de uma cultura para outra, que se aprende e que se ensina, que forma nossa maneira de pensar e de perceber a realidade, o mundo que nos rodeia e o que mais importante: pode ser modificada.

    Atravs da linguagem aprendemos a nomear o mundo em funo dos valores imperantes na sociedade. As palavras determinam as coisas, os valores, os sentimentos, as diferenas.

    A primeira coisa que a menina e o menino aprendem a existncia de uma mame e de um papai, depois aprender que existem meninas e meninos y que h comportamentos diferentes, adequados ou no, para umas e outros. Atravs da linguagem aprender muitas diferenas que esto em funo do sexo, bem como a sua hierarquizao. que a lngua, ao ser o reflexo da sociedade que a utiliza, transmite a ideologia imperante nela, pois reflete e refora as desigualdades derivadas das discriminaes exercidas contra as mulheres atravs do androcentrismo e do sexismo.

    Segundo Teresa Meana (10) o androcentrismo o enfoque nas pesquisas e estudos de uma nica perspectiva: a do sexo masculino. Supe, segundo esta autora, considerar os homens como o centro e a medida de todas as coisas. Os homens so considerados, assim, os sujeitos de referncia e as mulheres seres dependentes e subordinados a eles.

    Esse androcentrismo se manifesta graas desigualdade na ordem das palavras, no contedo semntico de certos vocbulos ou no uso do masculino como genrico para ambos os sexos. Fazendo referncia a isso, preciso assinalar que o que no se nomeia no existe e utilizar o masculino como genrico tornou invisvel a presena das mulheres na histria, na vida cotidiana, no mundo. Basta analisar frases como: Os homens lutaram na revoluo francesa por um mundo mais justo, marcado pela liberdade, igualdade e fraternidade. E as mulheres? Onde ficam nessa luta? No nos enganemos: quando se utiliza o genrico est se pensando nos homens e no certo que ele inclua as mulheres. A esse respeito diz Teresa Meana (11) que no sabemos se atrs da palavra homem se est pretendendo englobar as mulheres. Se for assim, elas ficam invisveis e se no for assim, ficam excludas.

    Por sua parte, o sexismo segundo vrios dicionrios atitude de discriminao fundamentada no sexo, sendo as mulheres, como j vimos, o sexo tradicionalmente discriminado. Enquanto que para Teresa Meana (2004.7) o sexismo a atribuio de valores, capacidades e papis diferentes a homens e mulheres, exclusivamente em funo do seu sexo, desvalorizando tudo o que fazem as mulheres diante do que fazem os homens que o que est certo o que tem importncia-. Um exemplo desse sexismo so algumas das expresses vistas ao longo do manual: ser velha o ltimo, caladinha voc mais bonitinha, ou as seguintes definies do Dicionrio Espasa (12) que no faz falta comentar:

  • Homem: ser racional pertencente ao gnero humano e que se caracteriza por sua inteligncia e linguagem articulada.

    Mulher: pessoa do sexo feminino. A que chegou puberdade. A casada, com relao ao marido.

    Em sntese, segundo Teresa Meana (13) os efeitos que produzem na lngua o sexismo e o androcentrismo poderiam ser agrupados em dois fenmenos. Por um lado o silncio sobre a existncia das mulheres, a invisibilidade, o ocultamento, a excluso. Por outro, a expresso do desprezo, do dio, da considerao das mulheres como subalternas, como sujeitos de segunda categoria, como subordinadas ou dependentes dos homens.

    No obstante, e a pesar de tudo o que foi visto at agora, necessrio assinalar, como j dissemos na introduo deste manual, que a lngua em si no sexista como sistema, mas o que sexista o mau uso que se faz dela, uso consolidado, aceito e promovido pela sociedade. Em todas as lnguas existem, sim, mltiplos recursos para incluir a mulheres e homens sem preconceito ou omisso de umas e outros. Mas isso raramente feito.

    Por outro lado, a lngua um instrumento flexvel, em evoluo constante, que pode ser perfeitamente adaptada a nossa necessidade ou ao desejo de comunicar, de criar uma sociedade mais equitativa. Portanto, as lnguas no so inertes, seno instrumentos em trnsito, pois se uma lngua no mudar, se no evoluir para responder s necessidades da sociedade que a utiliza, est condenada a perecer, converte-se em uma lngua morta. As lnguas vivas mudam continuamente, incorporando novos conceitos e expresses e, nesse sentido, no h nenhum problema em criar palavras para adaptar-se nova realidade social, como o caso de toda a nova linguagem gerada pelo uso da Internet (e-mail, chat, web, etc.), ou as mudanas que supem a incorporao de mulheres a profisses e cargos que antes lhes seriam vetados ou de difcil acesso: surgem ento ministras, executivas, presidentas... Estes so exemplos de uma mudana nos usos da linguagem: o que antigamente se considerava como um erro gramatical hoje aparece como algo cotidiano e aceitvel. Ao mesmo tempo, cada lngua permite utilizar termos utilizados em outros pases que tambm a falam. Por exemplo, na Espanha se utiliza Dom/Duea que no tem a conotao sexista de Senhor/Senhora/Senhorita utilizados em muitos pases da Amrica latina, inclusive no Brasil

    O problema no est, portanto, na lngua em si, que como vimos ampla e mutvel, mas sim nas travas ideolgicas, na resistncia em dar um uso correto a ela, a utilizar palavras e expresses inclusivas e no discriminatrias para as mulheres.

    Em sntese, a linguagem um dos agentes de socializao de gnero mais importantes ao moldar nosso pensamento e transmitir uma discriminao por motivo de sexo. A lngua tem um valor simblico enorme, o que no se nomeia

  • no existe, e durante muito tempo, ao utilizar uma linguagem androcntrica e sexista, as mulheres no existiram e foram discriminadas. Foi-nos ensinado que a nica opo ver o mundo com olhos masculinos, mas essa opo oculta os olhos femininos. No , portanto, correto, ou uma repetio, nomear em masculino e feminino, pois no supe uma duplicao da linguagem, pois como dizem Carmen Alaria et al. (14) duplicar fazer uma cpia igual a outra e esse no o caso. simplesmente um ato de justia, de direitos, de liberdade. necessrio nomear as mulheres, torn-las visveis como protagonistas de suas vidas e no v-las apenas no papel de subordinadas ou humilhadas. necessria uma mudana no uso atual da linguagem de forma que apresente equitativamente as mulheres e os homens. E para isso, qualquer lngua, ao estar em contnua mudana, oferece milhares de possibilidades que analisaremos mais detidamente nos captulos seguintes.

    (1) Ma.AngelesCalero(2002.51)(2) AdrianeRich(1983:241)(3) Calero(2002.7)(4) Escudero,PulidoyVenegas(2003)(5) Escudero,PulidoyVenegas(2003)(6) OPS(1997)(7) Escudero,PulidoyVenegas(2003)(8) Comrelaoaesteesteretipo,osdadosdoPrimeirolevantamentoNacionalsobre

    DiscriminaonoMxico(2005)determinaramque14,5%daspessoasentrevistadasopinaramquenohquegastartantoparaeducarasmeninasquelogosecasam.

    (9) CitadoporCristinaPrezFraga(1997)(10) (2004.7)(11) (2004.7)(12) DicionrioconsultorEspasa.Ed.EspasaCalpe.Madrid,2001(13) (2004.17)(14) CarmenAlarioetal.(Nombra:1997)

  • Captulo 2:_________________________________________ O Gnero na Gramtica

    As Regras Gramaticais de Convenincia.

    Professora: como se forma o feminino? fcil: s palavras que terminam em o se troca essa letra por a.

    Professora: e o masculino? O masculino no se forma! Existe!!!

    Sei que a lngua corrente est cheia de armadilhas. Pretende ser universal, mas leva, de fato, as marcas dos machos que a elaboraram. Reflete seus valores, suas pretenses, seus preconceitos

    Simone de Beauvoir

  • Algumas consideraes prvias

    Existem usos gramaticais que, com clara inteno social e poltica se generalizaram em nossos pases e que no tm coerncia nem justificativa razovel para seu uso.

    Assim, nos fizeram crer que ao nomear um grupo misto de pessoas no masculino estamos nomeando tambm as mulheres desse grupo. Isso absolutamente falso.

    Que todos se sentem!

    Os homens so violentos.

    Os heris morrem jovens.

    Os mexicanos avanaram muito na pesquisa.

    Tomemos as frases anteriores e respondamos agora s seguintes perguntas:

    Na primeira frase, poderamos afirmar que se est referindo a um grupo misto?

    Na segunda frase, poderamos assegurar que se refere a mulheres e homens?

    Na terceira: Ao ler, imaginamos mulheres e homens ou s soldados homens?

    Na ltima frase: pensamos em pesquisadoras e pesquisadores?

    verdade que nenhuma dessas frases se identifica claramente com um grupo no qual h mulheres. Pelo contrrio, quando se fala em masculino como se fosse neutro, na realidade se excluem as mulheres e se cria uma idia muito concreta de quem so os heris, os pesquisadores e quem so os violentos. Principalmente se falamos de temas que foram atribudos aos homens e que so valores supostamente masculinos.

    O masculino masculino e no neutro. O neutro, segundo as prprias regras da gramtica, que veremos mais adiante, para as coisas e as situaes: mido, absurdo, inventrio, cmico...

    As palavras no podem significar algo diferente do que nomeiam. O conjunto da humanidade est formado por mulheres e homens, mas em nenhum caso a palavra homem representa a mulher.

    Para que a mulher esteja representada necessrio nome-la. Como fazemos quando queremos especificar que j entramos no inverno. O vero, o outono e a primavera so estaes, mas no dizemos que entramos em uma estao quando queremos nos referir ao comeo do inverno.

    A discriminao de gnero tambm foi construda a partir da linguagem. Assim, sua desconstruo passa por eliminar todas aquelas palavras que

  • mantm as mulheres no apenas invisveis, o que , como dissemos, uma forma de discriminao mediante a excluso, mas por eliminar tambm o uso de palavras que as desvalorizam, subordinam-nas, rebaixam-nas ou que no so equitativas.

    Construir uma nova e justa concepo da vida e das relaes entre pessoas nos obriga necessariamente a desterrar palavras que durante sculos criaram injustia.

    Vrios exemplos nos podem ajudar a entender como foi essa construo e como podemos desconstru-la.

    Se consultarmos qualquer dicionrio podemos ver que a palavra homem se define como indivduo macho da espcie humana (oposto a mulher) ou o que chegou a idade adulta (oposto a menino).

    Mas se procuramos a palavra mulher encontramos: pessoa do sexo feminino/ a que chegou idade da puberdade/ a casada ou de idade madura.

    Observao: O homem no definido por sua relao com a mulher. A mulher se define por sua relao com o homem (casada).

    Se continuamos nos fixamos em como se usa a palavra idade, podemos ver que para o homem idade adulta, enquanto que para a mulher puberdade. O conceito idade adulta sinnimo de virilidade.

    Para se distrair um pouco podem procurar palavras como dama/cavalheiro; av/av; cortes, corteso/entretida/entretido, verdureiro, verdureira...

    Com isso se poder ver com clareza como a partir da linguagem foi criado um mundo absolutamente desigual quando aos valores atribudos a mulheres e homens, saltando inclusive a barreira da gramtica.

    Vejamos agora algo sobre essas regras.

    Algumas Regras Sobre o tratamento do Gnero Masculino e Feminino

    J dissemos que o masculino masculino e no neutro, nem feminino nem genrico.

    Vejamos agora o que diz a gramtica sobre o gnero masculino e feminino, no sem antes assinalar que h uma grande diversidade de regras, bem como uma grande quantidade de formar de analisar os aspectos lingstico-gramaticais. Isso depende do assunto de interesse, ou seja, das palavras, das regras e de sua anlise que se possa fazer delas atravs da gramtica normativa, descritiva, especulativa, estrutural, funcional, generativa, tradicional, transformacional ou transformativa.

  • Neste caso, vamos no deter unicamente na gramtica normativa. Mais que nada porque o que nos interessa fazer constar algumas normas que de forma incorreta tm sido utilizadas para que, aquelas que se regem por aqueles que tm o ttulo da sabedoria, possam utilizar corretamentea linguagemsemtemoracairnaquiloquealgumaspessoasconsideramcomoargumentosfeministas.

    Dicionrio DefiniesdenomeNomeprprio Classedepalavrascomgneroinerentequepodefuncionarsozinhaoucom

    algumdeterminante,comosujeitodaorao.Tradicionalmentecategoriadepalavrasquecompreendeonomesubstantivoeonomeadjetivo

    Nomeabstrato

    Oquenodesignaumarealidadematerial

    Nomeambguo

    Nomecomumdecoisaqueseempregacomomasculinooucomofeminino

    Nomecomum Oqueseaplicaapessoas,animaisoucoisasquepertencemaumamesmaclasse,espcieoufamlia,significandosuanaturezaousuasqualidades:porexemplo,laranjaumnomecomum,queseaplicaatodososobjetosquepossuemaspropriedadesdeforma,cor,cheiro,sabor,etc.,quedistinguemumalaranjadequalqueroutracoisa.

    Nomecomumquantoaognero

    Oquenopossuignerogramaticaldeterminadoeseconstituicomartigos,adjetivosoupronomesmasculinosefemininosparaaludirapessoasdesexofemininoemasculinorespectivamente.Porexemplo:omrtirouamrtir;oartistaouaartista.

    Nomecoletivo

    oquenosingularexpressaumconjuntohomogneodecoisas,animaisoupessoa:porexemplo:talheres,exrcito,enxame.

    Nomeepiceno

    Nomecomumpertencenteclassedosanimadosque,comapenasumgnerogramaticalpodedesignarseresdeumeoutrosexo.Porexemplo:beb,ona,pantera,vtima.

    Como se pode ver, no existe nenhuma definio que diga que o masculino seja o genrico do feminino, nem que diga que o masculino serve para nomear o feminino. Tampouco o ambguo ou o epiceno se ajustam ou justificam o uso do masculino para nomear o feminino.

    Se, alm disso, lermos com cuidado como se define o gnero masculino e o gnero feminino, podemos perceber que o famoso neutro no aparece em nenhuma parte como uma forma que inclua grupos diferentes ou heterogneos.

    Sobre as Definies de Gnero

    Gnero - Conjunto de Seres que tm um ou vrios caracteres comuns - Classe ou tipo a que pertencem pessoas ou coisas

    Gramtica: Classe qual pertence um nome substantivo ou um pronome pelo fato de combinar com ele uma forma. E geralmente apenas uma, da flexo do adjetivo e do pronome. Nas lnguas indo-europias estas formas so trs em determinados adjetivos e pronomes: masculina, feminina e neutra.

  • - feminino

    1. m Gram. Nos nomes e em alguns pronomes, trao inerente das vozes que designam pessoas do sexo feminino, alguns animais fmeas e, convencionalmente, seres inanimados

    Em alguns adjetivos, determinantes e outras classes de palavras, trao gramatical de concordncia com o gnero feminino.

    - masculino

    1.m Gram. Nos nomes e em alguns pronomes, trao inerente das vozes que designam pessoas do sexo masculino, alguns animais machos e convencionalmente, seres inanimados.

    2.m. Gram. Em alguns adjetivos, determinantes e outras classes de palavras, trao gramatical de concordncia com os substantivos do gnero masculino.

    -neutro

    1.m.Gram. Em algumas lnguas indo-europias, o dos substantivos no classificados como masculinos nem femininos e o dos pronomes que os representam ou que designam conjuntos sem noo de pessoa. Nas lnguas latinas (espanhol e portugus, por exemplo) no existem substantivos neutros, nem h formas especiais na flexo do adjetivo; apenas o artigo, o pronome pessoal da terceira pessoa, os demonstrativos e alguns outros pronomes tm formas neutras diferenciadas em singular.

  • Captulo 3:________________________________

    O Sexo das Pessoas e a Linguagem

    Trs ou quatro homens esto reunidos. Comentrio de um deles: Que corpo, no ? ... o do administrador! Comentrio do outro. Eu gosto mais do novo fotgrafo! Resposta do terceiro: Ah, vocs tambm so gays? Resposta dos dois primeiros: NO! Falamos da Mercedes e da Juanita!

  • Um Lastro do Patriarcado

    Como em muitas reas da vida, a identidade, os valores, a comunicao se construram desde o patriarcado a partir do sexo das pessoas.

    A linguagem, a forma de comunicao entre mulheres e homens, no est isenta desta forma de construo e foram elaboradas, no s como diz Simone de Beauvoir, a partir dos interesses dos homens, mas est carregada de uma clara intencionalidade por remarcar o carter negativo do sexo feminino e supervalorizar o sexo masculino. Assim, encontramo-nos com que muitas das palavras que usamos mudam radicalmente seu significado segundo de quem se est falando.

    Homem pblico... o que intervm publicamente nos negcios polticos

    Mulher pblica. prostituta

    Governanta... a que dirige os empregados de uma casa

    Governante... o que dirige um pas

    Esclarecer os falsos argumentos e as falsas afirmaes que se utilizam sobre a confuso que h entre o gnero gramatical e o sexo das pessoas fundamental para no continuar ocultando e subordinando as mulheres.

    Alm desses argumentos se darem de forma involuntria ou intencionalmente, a verdade que so tpicos que mantm, sem qualquer justificativa, invisveis as mulheres, pois oculta a realidade e reproduz a subordinao diante dos homens. nesse sentido que falamos de sexismo na linguagem. O uso de uma linguagem sexista, reprodutora da atribuio de valores, capacidades e papis diferentes a homens e mulheres em funo de seu sexo, desvaloriza as atividades femininas com relao s masculinas, em relao com o que est bem ou mal; isso expressado em qualquer palavra.

    Outro exemplo:

    Mundana... puta, prostituta, meretriz.

    Mundano... frvolo, ftil, elegante, cosmopolita, conhecedor, experiente.

    interessante observar como nestes casos no se usa a definio da palavra em masculino para todas as pessoas e, pelo contrrio, faz-se uma clara e detalhada lista diferenciada para homens e outra para mulheres.

    E tambm curioso ver como quem escreve os dicionrios no considera reiterativo por 5, 10 ou 20 adjetivos para que fique claro o que corresponde aos homens e o que se atribui s mulheres.

    Podia o dicionrio ter escrito:

  • Mundano/a pessoa que se prostitui, ftil, elegante, meretriz...

    Mas no, nesses casos o feminino no se forma s trocando o o pelo a posto que no se quer definir mundano como homem que se prostitui. Para aqueles que fizeram os dicionrios, os homens no se prostituem, portanto, o significado da palavra muda substancialmente.

    Si ficarem muito curiosas, procurem no dicionrio a palavra prostituta e comparem com prostituto.

    obvio que os dicionrios, ou seja, aqueles que fazem os dicionrios, no apenas recopilam palavras. Do significado a essas palavras e com isso, a gente aprende uma realidade.

    Ao aprender a falar vamos assimilando conceitos dos quais derivaro condutas e formas de pensar. Uma idia concreta do mundo e a informao que inclui valores, preconceitos e esteretipos sero parte fundamental da forma como nos decidirmos a relacionar com outras pessoas.

    A lngua sempre carrega cargas sociais estruturais que levam a uma inrcia difcil de modificar em pouco tempo. Mas possvel gerar aes que incidam na sociedade e na linguagem ao mesmo tempo.

    Posto que as palavras definem a realidade, ou seja, modelam-na, e posto que afirmamos tambm que a realidade tem uma grande carga no significado que se d s palavras podemos, portanto, impulsionar propostas dirigidas a mud-las, mediante um uso no sexista das palavras e conseguir, assim, a sua modificao.

    A linguagem cria conscincia, cultura, ideologia e modifica o pensamento das pessoas. Podemos, portanto, ao mudar a forma de falar e escrever, modificar a mentalidade das pessoas, suas condutas e como conseqncia a prpria sociedade.

    Dado que a lngua uma ferramenta e um mtodo vivo que permite a mudana, perfeitamente possvel (depende de nossa vontade) comear a incluir algumas modificaes que dem uma viso muito mais real da diversidade deste mundo e de nossa sociedade.

    Mudanas que H que Comear a Fazer

    No usar o feminino para a questo privada ou que denote posse das mulheres: A mulher do Pedro. Deu a mo de sua filha. As pessoas no se possuem.

    No usar frases estereotipadas que consolidem papis tradicionais: a galinha protege seus pintinhos; se queria trabalhar, por que teve filhos?

  • No usar o masculino como universal: o mundo dos homens; a origem do homem; os jovens de hoje.

    Mais adiante, no uso do neutro, e na formao do masculino e do feminino, veremos que o masculino no neutro.

    E, evidentemente, no neutral.

    Temos que evitar o silncio que a invisibilidade e deixar de usar supostos genricos que so masculinos.

    Os alunos que no se matricularam..., os cidados que foram votar... Naquele tempo o homem era nmade.

    No incorrer em saltos semnticos comeando a falar em masculino como se fosse genrico e continuar com uma frase que se refere s ao masculino.

    Os mexicanos viajam sempre com sua esposa e seus filhos Os indgenas que trabalham a terra contam com a ajuda das mulheres da comunidade

    No usar falsas dualidades raposo/raposa astuto/astuta

    No manifestar frmulas de tratamento que implicam inferioridade, menosprezo ou desvalorizao: Fox e Martinha, Plcido Domingo e a Caball o deputado Gonalves e a deputada Patrcia

    Enfim se trata, sobretudo, de no reproduzir o que no correto, o que falso, o que discrimina, desvaloriza ou no reconhece a realidade, seja mediante refros, esteretipos sexistas, frases feitas ou palavras que consolidam uma constituio social negativa para as mulheres. Vamos colocar atravs destas pginas exemplos prticos e reais que nos ajudem a usar uma linguagem mais equitativa para aqueles que desejem contribuir com seu gro de areia para a eliminao do sexismo.

  • Captulo 4:_______________________________ A Gramtica e a Semntica

  • O significado e O significante. Esclarecendo Algumas Confuses. claro que as coisas nomeadas pela lngua possuem um gnero gramatical que no tem relao alguma com o sexo das pessoas. Assim, as palavras lua, casa, serra tm gnero feminino e as palavras lar, mato, planeta so masculinas. Inclusive h palavras que se podem usar no masculino e feminino indistintamente como rdio, atleta, f. Mas isso vamos ver mais adiante. Tambm bvio que as palavras que denominam mulheres e homens tm coincidncia entre gnero gramatical e o sexo das pessoas s quais nomeia: Professora, camponesa, cidad, meninas o gnero feminino coincide com o sexo da pessoa nomeada. Mineiro, cidado, meninos, campons coincide com o sexo da pessoa nomeada. Se levarmos em conta o anterior, podemos ento concluir que quando se utiliza o masculino para nomear uma mulher ou um grupo de mulheres, seja involuntariamente ou por costume, estamos pelo menos tornando invisveis as mulheres e no pior dos casos, estamos excluindo-as da representao simblica e real da sociedade que a lngua produz. Se h palavras adequadas para nomear cada pessoa, usar o masculino para nomear as mulheres , no mnimo, ocultar a realidade. Mas, alm disso, h que dizer queles que resistem a falar com propriedade, e preferem o costume e o uso tradicional da lngua, que segundo as regras gramaticais, tampouco correto utilizar o masculino para se referir ao feminino. H toda uma srie de matizes, opes e excees que formam parte da gramtica normativa para que a linguagem seja precisa e adequada, isto , clara, transparente, no discriminatria, e inclusiva. No podemos argumentar a favor do uso do masculino como neutro ou genrico, Primeiro porque no existem substantivos neutros para as pessoas, tal como dissemos nos temas 3 e 6. E segundo, e mais importante, porque manter em uso qualquer forma irreal de representao do mundo, da vida cotidiana e das pessoas , pelo menos, tendenciosa e prejudicial para o conjunto da sociedade, uma vez que constitui no imaginrio coletivo idias e imagens falsas do seu entorno.

  • No captulo 5 deste manual vamos ver algumas dessas opes, como por exemplo? O uso de genricos, o uso de neutros, conjugaes verbais e alternativas que nos permitem falar e levar em conta, no s o que a realidade , mas que a equidade exige e uma sociedade respeitosa dos direitos que as pessoas demandam. Vamos prtica. J vimos como se podiam substituir os artigos os e o por as pessoas; a humanidade, a juventude, etc. Como se pode evitar o uso de aquele e aqueles? Se em seguida temos o relativo que, podemos substituir por quem Porexemplo:Aquelesquesaibamassinarqueofaamnofinaldaaula NORECOMENDADOQuemsouberassinarqueofaanofinaldaaula RECOMENDADOAquelequequisercomerdegraadeverseinscrever NORECOMENDADOQuemquisercomerdegraadeverseinscrever RECOMENDADOPodemossubstituirousodehomemporalgum,qualquerPorexemplo:Quandoohomemnotemsadetudomaisdifcil NORECOMENDADOQuandoalgumnotemsadetudomaisdifcil RECOMENDADOSeohomemouverdioseanimaumpouco NORECOMENDADOSealgumouverdioseanimaumpouco RECOMENDADO Quandoohomemseconfundeaofazeralgo NORECOMENDADO Quandoqualquerpessoaseconfundeaofazeralgo RECOMENDADOOspronomeseadvrbioscomgneromasculinopodemsertrocadosporoutraspalavrasquetmomesmosentidoequesepodemusarsemamarcadeumgneroespecfico.Pronomes(seu,seus)NoNatalsemprevaivisitarosseus NORECOMENDADONoNatalsemprevaivisitarsuafamlia RECOMENDADOVocdevedefenderosseus NORECOMENDADO Vocdevedefendersuagente RECOMENDADO Sempretrabalhoucuidandodosoutros NORECOMENDADO Sempretrabalhoucuidandodeoutraspessoas RECOMENDADOPorexemplo:

  • Advrbios(muitos,poucos) Muitostmdvidasevotaroouno NORECOMENDADOMuitaspessoastmdvidasevotaroouno RECOMENDADOAmaioriaduvidasevotarouno RECOMENDADOPoucossoospremiadosnaloteria NORECOMENDADOUmaminoriapremiadanaloteria RECOMENDADO

    OSaltoSemntico comum o uso do masculino como genrico em uma frase para referir-se a homens e mulheres e em seguida fazer referncia a particularidades unicamente masculinas. Isso se chama salto semntico. Uma definio mais acadmica seria: Quando ao falar se usa o masculino como genrico em uma primeira frase e imediatamente depois se usa o mesmo masculino, mas dessa vez em sentido estritamente masculino. Uns exemplos nos ajudaro a entender melhor. Exemplos Os nordestinos emigram prioritariamente s capitais, suas mulheres costumam ficar no povoado. S homens emigram das Capitais? A lei probe a bigamia, mas quase todos tm duas mulheres. Ser que a bigamia est proibida s para os homens? Ou se supe que as mulheres tambm costumam ter duas mulheres? Em lugar dessas frases, para evitar confuses s quais se presta essa forma de falar, podemos dizer: No Nordeste os homens emigram majoritariamente s capitais. As mulheres costumam ficar na sua cidade Embora a bigamia esteja proibida, quase todos os homens tm duas mulheres. Outros exemplos: S. Semntico: Todos os trabalhadores podero ir ao jantar com as suas esposas Alternativa: O pessoal poder ir ao jantar acompanhado. S. Semntico: Os estudantes no podero receber visitas femininas nos dormitrios.

  • Alternativa: No se permitem visitas nos dormitrios Outras Estratgias Semnticas Mudar a forma de redao de uma frase e modificar o lugar do sujeito ou dos verbos e sua conjugao alternativa possvel. Por exemplo, podemos dizer: O nvel de vida em So Paulo bom Em lugar de: Os paulistanos tm um bom nvel de vida Podemos dizer: O pessoal docente da Universidade protestou por... Em lugar de: Os professores da Universidade protestaram por... Estamos plenamente convencidas de que ser a influncia social que far possvel que as palavras representem devidamente a diversidade existente e que, do mesmo modo que conceitos e idias evoluram, mediante uma mudana em nossa forma de falar e escrever mude a representao das mulheres no mundo e a imagem estereotipada, minimizada ou desvalorizada que ainda hoje reproduzimos ao falar, embora seja sem inteno, sem interesse e sem pensar, ou simplesmente por falta de informao. Esperamos que esta informao fosse til e proporcione ferramentas para influir positivamente, desde cada espao, com uma nova maneira de falar, para a evoluo social.

  • Captulo 5___________________________________________ O Uso do Neutro e o Uso de Genricos

    As lnguas no se limitam a ser um simples espelho que nos devolve a realidade de nosso rosto: como qualquer outro modelo idealizado, como qualquer outra inveno cultural, as lnguas podem nos levar a moldar a nossa percepo do mundo e inclusive que nossa atuao se oriente de uma determinada maneira (3)

  • J comentamos o suficiente sobre o masculino como pretenso genrico. Em seguida proposta uma srie de exemplos para esclarecer exatamente o que so os genricos. Mas brevemente queremos referir-nos a outro mal-entendido: o uso do masculino como neutro. Muita gente confunde neutro com genrico ou com indeterminado ou indefinido. Antes de passar a ver os genricos queremos esclarecer que o neutro inexistente em nossa lngua para substantivos. Neste manual, s proporcionaremos alguns poucos exemplos para explicar em que casos se pode usar o neutro e o que exatamente o que representa ou significa. -Gnero neutro 1.m.gram. Em algumas lnguas indo-europias, o dos substantivos no classificados como masculinos nem femininos e o dos pronomes que os representam ou que designam conjuntos sem noo de pessoa. Tanto no espanhol como no portugus no existem substantivos neutros, nem h formas neutras especiais na flexo do adjetivo; apenas o artigo, o pronome pessoal da terceira pessoa, os demonstrativos e alguns outros pronomes tm formas neutras diferenciadas no singular. Em nossas lnguas s existe como neutro o artigo o, os demonstrativos esse, este e aquele, o pronome pessoal da terceira pessoa e os reflexivos se e si. Porexemplo:Oshabitantesnuncaestocontentescomotransporte NORECOMENDADO Nuncaseestcontentecomotransporte RECOMENDADOOspaulistaseconomizambastante NORECOMENDADOEmSoPauloseeconomizabastante RECOMENDADOElesnuncacolaboram NORECOMENDADOEssegruponuncacolabora RECOMENDADOAquelequequiserpeixequesemolhe NORECOMENDADOQuemquiserpeixequesemolhe RECOMENDADO

  • Os Genricos Pensamos que o mais adequado para dar um significado real representao das pessoas e recuperar a visibilidade das mulheres na sociedade usar o feminino e o masculino. Ou seja, nomear meninas e meninos, mulheres e homens da mesma maneira que nomeamos as pessoas quando queremos deixar claro a quem nos referimos. Geralmente no dizemos Reuniram-se os presidentes para falar de..., mas dizemos reuniram-se o Presidente do Brasil e o Presidente do Uruguai ou reuniu-se o Sr. Rodrigues, representante de... com o Sr. Alves, representante de... Tudo bem, diante das resistncias de que pesado e aborrecido dizer as senhoras deputadas e os senhores deputados, temos alternativas que podemos utilizar e que no invisibilizam. E que so realmente inclusivas. Trata-se do genrico. Ateno! Genrico no os homens, Isso masculino plural e representa apenas um coletivo: o de homens. Genricos reais so: Infncia As crianas ou a infncia .................em lugar de: os meninos A populao.....................................em lugar de: os homens A cidadania......................................em lugar de: os cidados A descendncia...............................em lugar de: os filhos O pessoal....................................... em lugar de: os trabalhadores Professorado O pessoal docente....em lugar de: os professores O eleitorado............. em lugar de: os eleitores A juventude............. em lugar de: os jovens A humanidade......... em lugar de: os homens Exemplos prticos

    RedaoexcludenteNorecomendada

    RedaoinclusivaRecomendada

    Osindgenasterocrdito... Apopulaoindgenatercrdito...Osjovensquedesejemestudar... Ajuventudequedesejeestudar...OsvotantesdoDistritoFederaltendema... OeleitoradodoDistritoFederaltendea...Oscidadossemanifestaram... Acidadaniasemanifestou...Osalagoanosnoqueremque... ApopulaodeAlagoasnoquerque...Osinteressadosemparticipar... Aspessoasinteressadasemparticipar...Osmaioresdeidadereceberouma... Aspessoasmaioresreceberouma...Osmeninosteroatenomdica... Ascrianasteroatenomdica,ou

    Asmeninaseosmeninosteroatenomdica

  • No to difcil, uma questo de clareza na linguagem e de vontade pessoal, de coerncia e concordncia entre o significado de nossas palavras e o significante que realmente queremos comunicar. Mais Opes: Os Abstratos muito comum que, inclusive sem saber o gnero das pessoas s quais nos referimos, usemos o masculino ou o que mais incoerente ainda, sabendo que se trata de uma mulher utilizemos o masculino em adjetivos, profisses ou cargos. Exemplos prticos

    Asalternativasrecomendveis

    OinadequadoDesaconselhvel

    Assessoria Emlugarde Assessores/oassessorOrientao Emlugarde Orientadores/oorientadorChefia Emlugarde Oschefe/ochefeADireo Emlugarde Odiretor/osdiretoresACoordenao Emlugarde Ocoordenador/oscoordenadoresARedao Emlugarde Osredatores

    Exemplos prticos No sexista Sexista Convoca-se a coordenao de... Convoca-se os Coordenadores de... A direo do centro comunica... O diretor do centro comunica... A assessoria recomendou que... Os assessores recomendaram que... A atual legislao estabelece... Os legisladores estabeleceram... Pediu-se ao poder judicirio... Pediu-se aos juzes... Necessitam-se pessoas formadas em... Necessitam-se formados em... Existem outros recursos lingsticos que veremos, tais como a forma de utilizar diferentes conjugaes verbais para evitar a referncia a nomes universais que no o so, como, por exemplo, usar homens para toda a humanidade. Exemplos prticos Norepresentaatodaahumanidade RepresentaahumanidadeH2.000anosohomemviviadacaa H2.000anosseviviadacaaNapocaprhistricaoshomensescreviammediantehierglifos

    Napocaprhistricaseescreviamediantehierglifos

    Otrabalhodohomemmelhorasuavida Otrabalhodahumanidademelhoraavidabenficoparaohomem benficoparaasociedade/benfico

    paraaspessoas

  • Em muitas ocasies, ao utilizar instrues ou ao falar dando por entendidas determinadas situaes tornamos a utilizar o masculino como genrico. E de novo encontramos alternativas para evitar que alguns setores fiquem excludos ou no se dem por aludidos. Trocar o verbo no masculino pela terceira pessoa do singular ou plural. (voc ou vocs). Exemplos prticos Opossuidordepassagemdometrsprecisaintroduzirnacatraca

    Sevocstmpassagemdometrsprecisamintroduzirnacatraca

    Osleitoresdojornalpoderoparticipardoconcurso

    Sevocslemojornalpoderoparticipardoconcurso

    Oconsumidorestarmaissegurosecomprovaradatadevalidadedoprodutonaembalagem

    Vocsentirmaisseguranasecomprovaradatadevalidadedoprodutonaembalagem

    Existem muitas alternativas para que a lngua seja coerente exatamente com o que quer representar ou refletir. A gramtica normativa tem uma srie de regras que nos ajudam a expressar-nos com clareza. Assim, a regra sobre concordncia em gnero e nmero (no correto dizer a crianas. o atriz, a boxeador, ou as peixes) nos explicam que se queremos nos referir a um grupo o artigo e o substantivo devem estar no plural. Na mesma maneira, se falamos em feminino, o artigo e o substantivo devem estar no feminino (Salvo excees previamente previstas como: chefe, artista e outros que veremos mais adiante no que se refere a profisses). Parceria um erro se escutssemos: A pedreiro Antonio foi despedida. Seguramente, pelo menos pensaramos que se enganaram ao escrever a frase ou que talvez haja uma mulher que se chame Antonio. Mas nunca nos ocorreria pensar que a um homem se possa dizer a pedreiro. No entanto, no nos choca ouvir dizer ou escrever o advogado Maria, Rosa, Doutor em Cincias, ou A chefe da seo. So frases incoerentes e no concordantes que no obedecem a qualquer regra gramatical. Mas tm um significado na vida real que vai alm do que imaginamos. No captulo seguinte vamos falar um pouco deste tema, do significado e da transcendncia que tem referir-nos a uma mulher como O Diretor, O Inspetor, etc. 1

    1Notadatradutora:NoBrasiljseusapoucoessasformasmasculinasdenomearprofisses.Jdizemos,namaiorpartedasvezes:aadvogada,adiretora,ainspetora,etc.

  • Captulo 6:_______________________________ Profisses Exercidas por Mulheres

    - A senhora trabalha? -No, senhorita, sou dona de casa. - E o senhor? - Eu tampouco. - Ah! Tambm dona de casa!

  • A realidade do trabalho se representa, como qualquer outra atividade social, fundamentalmente por meio das palavras. A cada objeto, a cada ao, a cada emoo ou situao corresponde uma palavra. assim que sabemos que existe o mar mesmo que jamais o tenhamos visto; que h um estado no norte que se chama Par, mesmo que nunca tenhamos viajado pra l e inclusive, mediante a descrio de sua geografia podemos imagin-lo e ter uma idia bastante aproximada de como ele . As palavras nos do conta das caractersticas da populao, de seus traos fsicos, de seu nvel de vida, de suas habilidades e at de aspectos mais imateriais ou abstratos como seu carter ou suas crenas. Pelo contrrio, o que no se nomeia , embora exista, passa ao terreno do invisvel, do que no existe. Assim, para muita gente que nunca ouviu a palavra Aldrava aquilo que corresponde a essa palavra no existe. E se lhe pedssemos que representasse num desenho uma aldrava, no poderiam faz-lo. No poderiam imaginar a que nos referimos nem ter uma idia do que essa palavra significa, Simplesmente, para quem nunca ouvir falar da aldrava, a aldrava no existe. Com muitas tarefas e atividades das mulheres aconteceu isso durante muito tempo. No foram nomeados seus afazeres cotidianos. No se falou do trabalho que realizam. Permaneceram no terreno do invisvel, do que no existe. Assim, por exemplo, quando a uma mulher dedicada ao trabalho em casa, lhe perguntavam: Voc trabalha? A mulher respondia: no, sou dona de casa. Nunca foram nomeadas as tarefas domsticas como um trabalho. Por outro lado, como os trabalhos remunerados eram fundamentalmente ocupados por homens, e terem sido eles que, durante dcadas, puderam freqentar os cursos universitrios, a realidade do trabalho e os ttulos correspondiam, logicamente, ao mundo masculino e assim se nomeava a existncia de Engenheiros, Doutores, Diretores, Pedreiros, Condutores, Antroplogos. Hoje em dia, tanto o mundo do trabalho como o acadmico tm uma composio totalmente diferente. H tantas mulheres graduadas como homens e tantas Doutoras como Doutores. No entanto, continua-se falando do mundo do trabalho e profissional no masculino; Isso tem uma clara e negativa repercusso na representao da realidade, pois para muitas pessoas, ao no ouvir nunca a palavra Engenheira tero uma falsa idia da realidade ao pensar que elas no existem. Ou se s se ouve a palavra Diretor, vai se continuar pensando que no h nenhuma Diretora e sua imagem do mundo ser distorcida.

  • Quando nomeamos a realidade como ela , conseguimos transmitir uma idia exata dela. Se falarmos das profisses em feminino estaremos ajustando nossa comunicao, seja escrita ou verbal, realidade do mundo real e diverso em que vivemos, onde h mulheres, e homens que realizam atividades, que sofrem, que estudam, que sentem e que compartilham situaes e sentimentos. Assim permitiremos que as pessoas possam imaginar, conhecer e localizar-se em um mundo plural, no mundo que existe e ao qual devem ter acesso. Um mundo com muito mais alternativas e oportunidades se o uso irreal da lingstica no invisibilizar mais nem sancionar ou ocultar por mais tempo as mulheres. As resistncias a feminizar uma profisso ou cargo nunca se baseia em argumentaes estritamente lingsticas, porque as resistncias no vm da lngua, as lnguas costumam ser amplas e generosas, dcteis e maleveis, hbeis e em perptuo trnsito; as travas so ideolgicas... (1) NOMEAR em feminino as profisses , portanto, no apenas reconhecer que h mulheres que trabalham em todas as profisses que existem, mas tambm que as habilidades das mulheres no tm limitaes pelo fato de serem mulheres, reconhecer que o futuro das mulheres no est limitado por seu sexo, eliminar esteretipos ideolgicos e abrir a porta a uma nova percepo do mundo, sem travas, onde o sexismo no seja barreira para as opes pessoais, para os desejos, as vocaes, as profisses, o desenvolvimento pessoal e para a satisfao de poder fazer o que mais gostamos, o que mais nos satisfaz... No site do Instituto de la Mujer de Espaa, em Publicaes NOMBRA podem ser encontradas de a a z as profisses em masculino e feminino (em espanhol, mas em muitos casos se aplicam ao portugus tambm. N. da T.) Aqui apresentamos algumas regras que podem nos ajudar a saber como se forma o feminino nas profisses conforme o caso. Formao do Masculino e do Feminino em Profisses e Cargos Regras 1 Regras de morfologia 1.1. Casos com dupla soluo

    O feminino de profisses ou cargos se forma acrescentando a letra a no final da palavra e o masculino acrescentando a letra o.

    Exemplos: terminaes em a/o

  • Adivinha Adivinho Cmica Cmico

    Exemplos: terminaes em eira / eiro

    Cozinheira Cozinheiro Padeira Padeiro Doceira Doceiro

    Exemplos: terminaes em letras dentais (t ou d) mais ora / ero tora / tor dora / dor

    Relatora Relator Cuidadora Cuidador

    Exemplos: terminaes em loga / logo

    Psicloga Psiclogo Antroploga Antroplogo

    Exemplos: terminaes em noma / nomo

    Astrnoma Astrnomo Ecnoma Ecnomo

    Exemplos: terminaes em ria / rio

    Veterinria Veterinrio Donatria Donatrio

    Exemplos: terminaes em ica / ico

    Mdica Mdico Diplomtica Diplomtico

    Exemplos: terminaes em ona / o

    Patrona Patro Peona Peo

    Exemplos: terminaes em enta / ente

    Presidenta Presidente Regenta Regente

    1.2. Casos de gnero comum

    Este tipo de formao a que se usa para o feminino e o masculino a mesma terminao.

    Exemplos: terminaes em ente

  • Docente/Expoente/correspondente

    Exemplos: terminao em ista

    Jornalista/comentarista/telefonista/dentista

    Exemplos: terminao em AL

    Industrial/fiscal/comensal

    Exemplos: terminaes em e

    Grumete/forense/demente

    2. Regras de concordncia ou sintticas

    Sempre estejamos falando de casos comuns ou no, utilizaremos os determinantes femininos para acompanhar um ofcio, profisso ou cargo exercido por uma mulher e os determinantes masculinos quando se trate de um homem

    Uma fiscal.........um fiscal uma patroa......um patro aquela cavaleira...aquele cavaleiro a juza..............o juiz a industrial......o industrial

    Da mesma forma trataremos os adjetivos e os particpios

    A juza adjunta ao tribunal / a segunda cavaleira da lista O juiz adjunto ao tribunal/ o segundo cavaleiro da lista A guia encarregada do grupo/ o guia encarregado do grupo Uma grande especialista/ um grande especialista Uma engenheira em computao/ Um engenheiro em computao

    SUGESTES: para a utilizao do feminino e masculino em cargos ofcios e profisses

    A No usar nunca formas sexistas. Tornar visveis as mulheres e, portanto, no usar o masculino como genrico (o masculino masculino, no genrico)

    B Quando se fizer uma oferta de emprego deve aparecer o feminino e o masculino. Preferentemente (como uma ao positiva) colocar sempre primeiro o feminino e depois o masculino.

    Enquanto a linguagem continuar carregada de esteretipos, no convm dissimular a visibilidade das mulheres. Por isso importante evitar as barras diagonais: oferece-se trabalho a costureira/o. No se devem usar parnteses buscamos um (a) advogado (a). Nesse mesmo sentido preciso eliminar os

  • smbolos que no so legveis ou que no so verdadeiramente representao do feminino: querid@s amig@s.

    C. Quando usamos o feminino, os textos so muito mais claros e entendveis. Se nos custa muito tempo ou trabalho nomear em feminino e masculino, o que recomendamos que se usem palavras abstratas ou genricas: o pessoal docente, a assessoria legal, a comunidade hospitalar, a vizinhana... se o que se quer fazer uma referncia coletiva aos dois sexos.

    A identidade social est diretamente relacionada com a linguagem e da mesma forma que uma imagem nos leva a ter uma idia das coisas (as imagens, as pinturas, so tambm meios de comunicao) as palavras nos dizem como a pessoa de um lugar, como um pas. Para muita gente, por causa das imagens que se difundiram todos os nordestinos so baixinhos, de cabea chata.

    Para muitas outras pessoas, as mulheres so, em sua maioria, donas de casa.

    Frases como: S voc queria trabalhar, por que casou? Cuide do seu irmo, para isso voc mulher

    formaram uma idia que, no apenas nega s mulheres o direito de poder se desenvolver plenamente como pessoas, mas tambm criam um modelo de comportamento que pareceria o que devem ter as mulheres, deixando outras atividades em segundo plano ou como inadequadas.

    Se a isso somamos que a mdia fala s de Interventores, Governadores, carpinteiros, encanadores, desenhistas...

    E as ofertas de trabalho pedem: cozinheiros, tcnicos, tradutores, arquitetos... Dificilmente mudaremos as expectativas que uma jovem possa imaginar para o seu futuro.

    responsabilidade de qualquer pessoa quando fala colaborar para abrir todas as oportunidades existentes.

    Pelo contrrio, quando uma mulher profissional definida em masculino, o que se est promovendo :

    1. A invisibilidade das mulheres que desempenham essas profisses 2. A excepcionalidade que confirma que no algo normal para as

    demais mulheres 3. Reservar o masculino para determinadas atividades remuneradas ou de

    prestgio 4. Que a cidadania continue pensando que tal ou qual profisso no

    pode ser dita em feminino.

  • Qualquer dessas idias sem dvida contrria ao desenvolvimento da humanidade e de uma sociedade equitativa, contrria igualdade de oportunidades; atavismos histricos que perpetuam o sexismo e a misoginia.

    Trs ou quatro homens esto reunidos Comentrio de um deles: que corpo, no ? O do Administrador! Comentrio do outro. Eu gosto mais do novo fotgrafo! Resposta do terceiro: Ah, vocs tambm so gays? Resposta dos dois primeiros: NO! Falamos da Mercedes e da Joaninha!

    Para corroborar a informao que estivemos manejando neste manual solicitamos a Real Academia Espanhola sua opinio em relao formao do feminino na denominao de profisses (ver anexos). Consulta que qualquer pessoa pode fazer na Internet (no caso do Brasil s consultar qualquer dicionrio) e se pode obter rapidamente a resposta.

    (1) Eulalia Lled Cunil. Ministras y Mujeres. En femenino y en masculino, Cuadernos de educacin no sexista N 8. Instituto de la Mujer. Madrid. 2002.

  • Captulo 7______________________________

    O Uso do Gerndio e Outras Estratgias teis para Construir uma Linguagem Equitativa.

    Silva tinha um irmo. O irmo de Silva morreu. No entanto o homem que morreu nunca teve um irmo. Adivinha? (1)

  • Mestras, Historiadoras, Pedagogas, Lingistas, Fillogas, Filsofas e um nmero enorme de pessoas interessadas em melhorar nossa comunicao, nossas relaes e especialmente a situao de marginalizao em que, durante sculos, foram colocadas as mulheres, dedicaram anos de sua vida a pensar e a aportar alternativas que, sem invisibilizar, menosprezar e desvalorizar a ningum sirvam para entender-nos melhor a partir de uma anlise sria da linguagem e das possibilidades que ela oferece para salvaguardar o respeito diversidade.

    s vezes questo de inteno e de conhecimento, porm sempre que queremos encontrar uma soluo para um problema, se nos pomos a trabalhar, vamos encontrar mais de uma possibilidade.

    Estas so algumas sugestes e estratgias propostas por mulheres com vontade de melhorar a linguagem.

    O Uso do Gerndio

    Sintaticamente possvel utilizar o gerndio para evitar o uso de algumas palavras que geralmente se identificam com os homens como, por exemplo, polticos, diplomatas, mdicos ou gentlicos a que recorremos por costume, embora a sociedade tenha se transformado e as palavras j no respondam com exatido ao que literalmente estamos dizendo.

    Referimo-nos a frases como:

    Seosdiplomatastivessemmaiscompetncia,agestoseriamelhor. INADEQUADATendomaiscompetncia,melhorariaagestodiplomtica ADEQUADA

    Seospoliciaistrabalhassememmelhorescondieshaveriamaissegurana INADEQUADATrabalhandoemmelhorescondiesaseguranapolicialaumentaria ADEQUADA

    Seoseleitoresoptaremporessepartidoganharemospouco INADEQUADAVotandoporessepartidoganharemospouco ADEQUADA

    Ospaulistastmmuitasplantaesdecaf INADEQUADAEmSoPaulohmuitasplantaesdecaf ADEQUADA

    Oscaiarascomemmuitopeixe INADEQUADANacostasecomemuitopeixe ADEQUADA

    Outras Estratgias

    Existem outras opes que evitam a referncia sexual ou abrangem o feminino e o masculino.

    MORFOLGICAMENTE o uso de pronomes, adjetivos e substantivos (sem a anteposio de determinantes), que no variam no que se refere a gnero, permite-nos falar ou escrever sem que ningum fique invisvel ou oculto.

  • Exemplos

    Representantes do bairro............. em lugar de .... os representantes do bairro porta voz do setor empresarial... em lugar de .... o porta voz do setor empresarial

    Canta no grupo............................... em lugar de ... o cantor do grupo Eram inteligentes e amveis...........em lugar de ...Eles eram inteligentes e amveis Voc pode escolher seu defensor ... em lugar de... O acusado pode escolher seu defensor

    No imprescindvel colocar o sujeito de forma explcita em todas as oraes. Alm do mais isso se torna quase uma reiterao, pois o sujeito se pode deduzir da forma verbal que usamos. Para quem necessita economizar palavras, esta uma frmula ideal que nem sequer exige pensar em substitutos do masculino ou buscar genricos. uma frmula para no complicar a vida e muito fcil.

    Queremos garantir a equidade................. em lugar de... Eles querem garantir a equidade. Buscavam melhores condies................. em lugar de... Eles buscavam melhores condies Disse que viria mais tarde......................... em lugar de... Ele disse que viria mais tarde Pensavam que tudo ia dar certo............... em lugar de... Eles pensavam que tudo ia dar certo Ganharo o partido................................... em lugar de... Eles ganharo o partido

    No verdade que fcil?

    SINTATICAMENTE existe o recurso das oraes passivas reflexivas. No um recurso to fcil como o anterior, mas se pensamos em coletivos como instncias, mais que como soma de pessoas, podemos ter um resultado til, inclusive para desmistificar algumas imagens e recuperar o protagonismo dessas instncias, dando delas, ao mesmo tempo, uma idia mais democrtica e plural.

    Por exemplo

    Seriacorretodizer NomuitodemocrticodizerOCongressoestbuscandosolues OsdeputadosestobuscandosoluesSerdecididonamesadiretiva OsintegrantesdamesadiretivadecidiroOtemaserdebatidonadireodosetor OsdiretoresdosetordebaterootemaSerodadasalternativaspelopartido Osmembrosdopartidodaroalternativas

  • Ainda temos algumas questes para revisar, mas vamos deix-las para o captulo seguinte porque tm muito que ver com a Administrao do Estado, as Instncias de Governo e o que se fomenta desde esse lugar privilegiado.

    (1) Soluo: Silva uma mulher.

  • Captulo 8________________________________

    A Linguagem Administrativa Prega, prega... que algo fica!

    A gente ataca os discursos androcntricos e sexistas fundamentalmente quando h conscincia de sua existncia e desenvolvendo outros discursos e formas de representao alternativas que as pessoas possam, com o tempo, incorporar a seu prprio mtodo de entender a realidade (Camern, citada por Mercedes Bengoechea) (1)

  • O Exemplo das Autoridades

    Em muitas ocasies o discurso que chega populao por parte daqueles que atuam como autoridades ou representantes da sociedade, uma vez que so pessoas que trabalham para um governo eleito democraticamente, est construdo a partir de um sujeito gramatical: o masculino.

    No discurso de muitos funcionrios e funcionrias, as mulheres s existem na medida em que tm alguma relao com os homens, pois unicamente ao seu lado podem chegar a ser algum. Uma vez que esse discurso errneo por sua falta de equidade e da subordinao que submete as mulheres, necessrio elimin-lo.

    Como afirma Luce Irigaray (2)

    As mulheres raramente designam a si mesmas e a outras mulheres como sujeitas do discurso. Quando uma mulher sujeita de uma frase, raramente se dirige a ela mesma ou a outra mulher, mas quase sempre ao homem. Os homens designam a si mesmos ou a outros homens como sujeitos da frase. Os homens falam, dirigem-se a eles mesmos e a outros homens.

    Existe uma sria dificuldade para romper esse crculo vicioso, pois se os homens falam de e para eles mesmos e as mulheres nunca se autonomeiam: quem, ento nomear a realidade de que elas formam parte? Quem ter peso suficiente para influir na maneira de falar da sociedade se o poder pblico, que atua como autoridade, define, nega ou confirma, fala insistentemente e reiteradamente com uma linguagem que utiliza sempre o referente masculino como presena, onipotncia e nica representao possvel da vida?

    A mensagem que transmitida pela Administrao e as instncias de governo , como j dissemos, atinge a muitas pessoas, e um exemplo do que se pode dizer ou no, e do que se deve fazer ou no.

    Por isso, importante a postura que funcionrios e funcionrias assumam a esse respeito. Naqueles que ocupam altos cargos est, em grande parte, a responsabilidade de fomentar uma cultura que no foi ensinada nas escolas e que apenas a partir dos lineamentos dos diferentes programas desenvolvidos pelas secretarias pode ser impulsionado com certa eficcia. Pelo menos no que diz respeito elaborao de documentos, convocatrias, circulares e comunicados que tm uma ampla difuso.

    No obstante, se quem dirige ou preside uma instituio no d o exemplo, se as poucas secretrias e diretoras elaboram discursos onde o sujeito masculino: os que trabalhamos nesta instituio; o que todos perseguimos; ou o que conseguimos entre todos, se o referente, o sujeito principal, o protagonista est em funo do homem, do governo (presidido por um homem) como fazer que a poltica de equidade que se quer desenvolver se

  • consolide tambm por meio das palavras? A incoerncia na atuao funciona de maneira automtica contra o que dizemos, se aquilo que dizemos no tem uma conexo clara e uma correspondncia adequada com a linguagem que utilizamos.

    Quando uma diretora diz: O que queremos eliminar a discriminao contra as mulheres, no est falando dela, nem da instituio, mas sim de uma equipe, onde os homens querem ou permitem fazer certas coisas e desenvolver certos programas.

    Quando uma secretria, ou presidenta diz Eu quero que esta instituio seja um exemplo de equidade, a imagem formada pelas pessoas diferente.

    No a mesma coisa, mas surte o mesmo efeito discriminatrio que uma mulher ou homem falem em masculino. O correto que as mulheres falem em feminino para referir-se a elas mesmas ou que, pelo menos, no usem o masculino.

    Uma diretora dizer: Fizemos um grande esforo para alcanar a equidade no trabalho no a mesma coisa que dizer: Aqui foi feito um grande esforo para alcanar a equidade no trabalho.

    Com o fato de atribuir a terceiros, perde-se a pessoa que est fazendo esse esforo. Quem foi? Quem est definindo os instrumentos? Quem dirige essa instituio? a mesma coisa direo estar a cargo de um homem ou de uma mulher? isso que queremos transmitir?Ou se trata de comunicar s pessoas que o fato de uma mulher dirigir essa instncia o que menos importa?

    Esse tema merece reflexo, pois existem diversas burlas, piadas e depreciaes da proposta sobre a linguagem no sexista. H quem se dedique a dizer de brincadeira, ele, ela, os que estamos aqui, ou alguma ou outra autoridade que querendo ser engraado ou mais feminista que qualquer pessoa, ao fazer seu discurso diz que vai falar em feminino e fala de si mesmo como se fosse mulher. Evidentemente, quando Senhor Presidente se refere a si mesmo dizendo eu estou surpreendida o que produz so risos e um desprezo pelo tema que no corresponde de maneira alguma com o respeito s pessoas, sua diferena e seus direitos.

    Talvez seja por falta de informao, mas o que se pretende ao promover um uso no sexista da linguagem, no que se inverta o uso do masculino pelo feminino. Nenhuma feminista to desrespeitosa dela mesma e dos demais, nem to incoerente como para pedir que se imponha aos homens a invisibilidade, a desvalorizao ou a discriminao que as mulheres tm sofrido. Trata-se simplesmente de promover uma linguagem adequada realidade sem negar qualquer pessoa.

    Ns, que elaboramos este material, pensamos que todas as instncias de Governo, desde os Ministrios, Secretarias e at a menor repartio pblica,

  • tm a obrigao de eliminar as diferentes formas de discriminao contra as mulheres e o uso a linguagem sexista uma delas. Por isso, oferecemos algumas alternativas que podem ser implementadas em seus respectivos documentos.

    Documentos Abertos

    Se no sabemos a quem vo dirigidos, temos as seguintes opes: Chefia do servio/ Direo do servio/ Assessoria do Departamento/ Secretaria do Tribunal/ Coordenao

    Se soubermos a quem nos dirigimos muito mais fcil. Porque nesse caso no h nenhum problema em dirigir-se Coordenadora da rea, Mercedes...

    O que se faz s vezes de maneira errnea por o nome da mulher e sem seguida o cargo em masculino. Pede-se que nunca se faa isso. Tratando-se de uma mulher o cargo deve ir no feminino.

    A mesma forma deve ser utilizada por quem assina o documento.

    incorreto assinar: Vitria Alves, Subdiretor (parece que estamos assinando em nome de outro porque est ausente).

    Documentos para Pessoas Usurias de um Servio

    Nesses casos temos diferentes possibilidades conforme de quem se trate.

    Noutilizar Utilizar OSolicitante Solicitante ou AssinaturadequemsolicitaOabaixoassinado Assina AssinaturadequemsubscreveOcomparecente Comparece AssinaturadequemcompareceODenunciante Denncia Assinaturadequemdenuncia:SenhoraouSenhor

    provvel que na ltima opo a maioria apague Senhora, mas a questo que as mulheres tenham reconhecida sua existncia (tambm juridicamente).

    Por outro lado, sabemos que no comum em nossos pases o uso de Senhor/Senhora (palavras sem conotao sexista), mas isso no supe impedimento algum para comear a utiliz-las em nossa linguagem cotidiana, j que como vimos a lngua no esttica, mas dia a dia se nutre de novas palavras e expresses.

    Se uma mulher que ocupa o cargo ou posto, este dever ir no feminino. E o tratamento dever ser do mesmo nvel que se lhe daria se fosse homem.

  • Se um Chefe de Seo tratado como Senhor, uma Chefa de Seo ser tratada como Senhora.

    (1) Mercedes Bengoechea (2002). Una propuesta de manual de crtica textual desde la lingstica feminista. En femenino y en masculino. Madrid. Instituto de la Mujer.pags. 61-64

    (2) 92) Luce Irigaray (1992) El sexismo y el androcentrismo en el lenguaje. Cuadernos para la Coeducacin N 3. Institut de cincies de lEducacin.

  • Captulo 9:______________________________

    Documentos com Linguagem Sexista

    Poucas palavras bastam... se forem as palavras adequadas!

  • Este ltimo captulo se converte na parte prtica do manual, uma vez que nele se analisam documentos especficos utilizados na administrao pblica, nos meios de comunicao escritos e em documentos de Organismos Internacionais. Trata-se de ver quais so algumas das palavras ou termos que mais usualmente aparecem nesses textos e contribuir, a partir de fatos concretos, com alternativas para ir mudando algumas prticas.

    Em nenhum caso pretendemos citar qualquer pessoa ou instituio. Sabemos que falar no masculino, invisibilizando ou desvalorizando as mulheres algo aprendido e que a maioria de ns o reproduz de maneira inconsciente.

    Tambm sabemos que muita gente est disposta a mudar esse tipo de linguagem na sua prtica cotidiana. Por isso fizemos este manual, que oferece ferramentas para que essas pessoas materializem seu desejo de utilizar uma linguagem mais equitativa.

    Por isso, foram retirados os nomes de quem escreveu os documentos, em geral, e os das instituies substituindo-os por xxxx ou yyyy ou algum smbolo. S em alguns casos em que quem escreve faz meno de alguma pessoa, mas essa no a autora do documento, foram deixados os nomes, j que nesses casos servem como exemplo do que se argumentou ou refletem com clareza o que se quer dizer.

    Os nomes que aparecem seguidos de xxxx ou sobrenomes so inventados e no correspondem a nenhuma pessoa concreta.

    Haveria muitssimos outros documentos que poderiam ser includos neste manual, mas no foi possvel por falta de espao. Na maioria deles aparecem exemplos de tudo o que estivemos falando. Assim, que nos que se referem a cursos ou aulas, parece que s comparecem homens, j que neles se fala dos alunos. Em outros, como na enquete elaborada pelo Centro de Estudios de la Mujer da Escuela Nacional de Trabajo Social de la Universidad Nacional de Mxico (UNAM), tudo est redigido em masculino, at o ponto de que h perguntas que no podem ser respondida porque s falam do Diretor, dos trabalhadores, do coordenador... Percebemos que ser um centro de estudos da mulher no significa que tenha uma perspectiva de gnero e muito menos, conscincia da importncia de no utilizar uma linguagem estereotipada e sexista. Queremos fazer um apelo a essas organizaes, pois muito infeliz que uma organizao que se dedica, supostamente, ao estudo da mulher, seja aquela que a exclua de seus textos.

    Dito isso, passemos a ver alguns exemplos:

    Documento 1

    Entrevista com Diretora

    Coordena: Nome do coordenador da entrevista XX julho de 2005.

  • XX. A partir de hoje at o dia 20 de julho ser realizado um encontro sobre a co-responsabilidade. o primeiro frum desse tipo que ser realizado em nosso pas e tem como objetivo principal promover um espao de dilogo entre as organizaes da sociedade civil, com o objetivo de fomentar a co-responsabilidade no desenvolvimento do pas, mas um encontro com o Governo Federal.

    Para falar desse tema nos acompanha YY, titular de... Bom dia e obrigado por estar conosco.

    YY: Bom dia. Agradeo o convite.

    XX. Pois ento, o primeiro evento que temos neste pas e parece que no h muitos parecidos em outras partes do mundo. um evento em que todo o Governo Federal vai comparecer diante das organizaes da sociedade civil e vai lhes informar o que est fazendo em relao a fomentar o que eles fazem. um evento que d continuidade lei de fomento s organizaes que foi assinada pelo Presidente apenas no ano passado, uma lei que foi desejada por mais de 12 anos pelas organizaes da sociedade civil. Eles bateram em todas as portas e finalmente neste governo se cumpriu graas a que deputados e legisladores em geral puderam apoi-la.

    ALTERNATIVA AO DOCUMENTO 1

    Entrevista com Diretora

    Coordena: Nome do coordenador da entrevista XX julho de 2005.

    XX: A partir de hoje at o dia 20 de julho ser realizado um encontro sobre a co-responsabilidade. o primeiro frum desse tipo que ser realizado em nosso pas e tem como objetivo principal promover um espao de dilogo entre as organizaes da sociedade civil, com o objetivo de fomentar a co-responsabilidade no desenvolvimento do pas, mas um encontro com o Governo Federal.

    Para falar desse tema nos acompanha a Senhora YYY, titular de... Bom dia e obrigado por estar aqui, por aceitar o convite.

    YYY: Bom dia, obrigada pelo convite

    XX: Em que consiste esse evento, esse primeiro encontro?

    YYY: Pois o primeiro encontro que temos neste pas e parece que no h muitos parecidos em outras partes do mundo. um evento em que todo o Governo Federal vai comparecer diante das organizaes da sociedade civil e lhes vai informar o que est fazendo em relao ao fomento, ao que fazem (no necessrio colocar eles ou elas, mas em todo caso, para manter a

  • concordncia de gnero, como est falando das organizaes, pode-se dizer o que elas fazem, mas no o que eles fazem.

    um evento que d continuidade lei de fomento s organizaes que o Presidente s firmou no ano passado, uma lei que foi o desejo por mais de 12 anos das organizaes da sociedade civil. Bateram em todas as portas e finalmente neste governo foi cumprida graas a que, em geral, a cmara federal pde apoi-la. (Aqui deputados e legisladores uma reiterao. Outra coisa seria se tivesse dito deputadas e deputados, ou em geral aqueles que legislam, ou as pessoas que legislam...)

    Documento 2

    Artigo na Imprensa

    Os governos de Nestor Kichner e de sua esposa Cristina Fernandez promoveram o turismo em El Calafate, o povoado mais prximo do famoso glaciar Perito Moreno. Isso no gratuito: diretamente ou por meio de familiares ou testas-de-ferro, ambos possuem hotis e participam de obras pblicas e propriedades.

    Revista Processo, 20 de abril de 2009. Negocios de Familia, Santiago Igarta. Pag. 46.

    ALTERNATIVA AO DOCUMENTO 2

    Como j falamos ao longo do manual muito comum que as mulheres sejamos valorizadas em funo de sermos esposas ou mulheres dos homens. Este fragmento do artigo Negcios de Famlia uma prova disso. Apesar de que a senhora Cristina Fernandez j era presidenta da Argentina quando foi escrito esse artigo, continuou sendo valorizada em funo de seu casamento com o senhor Kirchner, coisa que no caso contrrio no se faz, pois em nenhuma parte do artigo aparece: a senhora Cristina Fernandez e seu esposo Nestor Kirchner.

    O correto nesse artigo, se o que se quer tratar de maneira igualitria o homem e a mulher devia ser: os governos do senhor Nestor Kichner e da senhora Cristina Fernndez.

    Documento 3

    Comunicado imprensa

    Assemblia Legislativa do Distrito Federal

    IV LEGISLATURA

  • Para que

    Funcione

    O Distrito Federal

    Os deputados locais colocaram em discusso a legislao em matria de Sade Pblica.

    Na Cidade do Mxico, depois de dois anos de aprovada a interrupo da gravidez at 12 semanas de gestao, mais de 23 mil mulheres fizeram valer o seu Direito a Decidir.

    ALTERNATIVA AO DOCUMENTO 3

    A Assemblia Legislativa do Distrito Federal est composta por mulheres e homens. Escrever Deputados Locais est tornando invisveis as mulheres deputadas. O correto colocar: os Deputados e as Deputadas Locais.

    Documento 4

    Direo Geral Adjunta de Fomento e Profissionalizao para as OSC

    Objetivo:

    Promover e coordenar aes e programas de capacitao, formao, assessoria, informao e profissionalizao dirigidas ao fortalecimento das capacidades dos atores do desenvolvimento para que participem de maneira articulada nas aes do desenvolvimento social e na superao da pobreza.

    Aes:

    Fomentar a participao das organizaes vinculadas por sua natureza com os programas e tarefas de desenvolvimento social, especialmente nas regies mais pobres do pas e com os setores mais vulnerveis.

    Planejar e programar aes de formao e capacitao dirigidas a servidores pblicos e a organizaes da sociedade civil.

    Proporcionar assessoria, capacitao e orientao em matria de organizao e participao social aos governos das entidades federativas, bem como ao setor social e privado

    ALTERNATIVA AO DOCUMENTO 4

    Objetivo:

    Promover e coordenar aes e programas de capacitao, formao, assessoria, informao e profissionalizao dirigidas ao fortalecimento das capacidades daqueles que intervm no desenvolvimento para que

  • participem de maneira articulada nas aes do desenvolvimento social e na superao da pobreza.

    Aes:

    Fomentar a participao das organizaes vinculadas por sua natureza com os programas e tarefas de desenvolvimento social, especialmente nas regies mais pobres do pas e com o setor mais vulnervel.

    Planejar e programar aes de formao e capacitao dirigidas ao funcionalismo e a organizaes da sociedade civil.

    Proporcionar assessoria, capacitao e orientao em matria de organizao e participao social aos governos das entidades federativas, bem como ao setor social e privado.

    Documento 5

    Comunicados

    Ajuda aos danificados pelo furaco Stan

    Inscreveram-se mais de mil organizaes de 27 estados da Repblica para participar no espao de dilogo A caminho da responsabilidade. Encontro sociedade civil Governo Federal.

    De 18 a 20 de julho ser realizado o espao de dilogo A caminho da responsabilidade. Encontro sociedade civil Governo Federal.

    Continua a inscrio de Organizaes da Sociedade Civil

    Concluiu o Terceiro Encontro de Pesquisa Aplicada sobre Desenvolvimento Social

    Assinatura do Convnio Sedesol- Associao Nacional do Notariado Mexicano, A.C.

    Ser constitudo o Conselho Tcnico Consultivo que dar continuidade ao registro Federal de Organizaes da Sociedade Civil. Tomaro Posse Membros do Conselho Tcnico Consultivo da Lei de Organizaes Sociais.

    ALTERNATIVA AO DOCUMENTO 5

    Danificados: Substituir por pessoas danificadas

    Membros: Substituir por integrantes, quem integra

    Tomar Posse o Conselho Tcnico.

    Documento 6

  • Direo Executiva de Gnero, Pesquisa e Desenvolvimento de Modelos

    Objetivos:

    Elaborar, coordenar e operar a estratgia de atendimento e promoo s instituies e organizaes referentes sua participao no programa de pesquisa para o desenvolvimento local na implementao de polticas sociais com enfoque de gnero.

    Dirigir as capacidades e conhecimentos das instituies com vocao acadmica para o desenvolvimento de pesquisas e estudos que contribuam para fortalecer aes pblicas de poltica social.

    Integrar a perspectiva de gnero nos programas de desenvolvimento social e institucionalizar os critrios de equidade internamente na Secretaria de Desenvolvimento Social, bem como impulsionar projetos a favor da equidade de gnero apresentados por Organizaes da Sociedade Civil (OSC) e instituies acadmicas.

    Coordenar o trabalho interinstitucional para contar com um sistema de informao que permita elaborar as estatsticas de gnero da Secretaria de Desenvolvimento Social e dar seguimento aos compromissos do tema com outras instncias do governo.

    Assessorar e apoiar a Direo Geral e as demais reas atravs da realizao, anlise, pesquisas pontuais, pareceres, propostas e apresentao de programas, projetos e aes do instituto, bem como a exposio em diferentes fruns.

    Aes

    Introduo pesquisa de gnero em todas as regras de operao e monitoramente na introduo da referida perspectiva na operao dos programas. Capacitao sobre perspectiva de gnero a funcionrios da SEDESOL e representantes das OSC, capacitao a distncia atravs de teleconferncias e oficinas presenciais. Elaborao de material didtico e de difuso em colaborao com as OSC e instituies educativas.

    ALTERNATIVA AO DOCUMENTO 6