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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros FUJITA, MSL., org., et al. A indexação de livros: a percepção de catalogadores e usuários de bibliotecas universitárias. Um estudo de observação do contexto sociocognitivo com protocolos verbais [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 149 p. ISBN 978- 85-7983-015-0. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org >. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. A linguagem documentária vista pelo conteúdo, forma e uso na perspectiva de catalogadores e usuários Vera Regina Casari Boccato

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros FUJITA, MSL., org., et al. A indexação de livros: a percepção de catalogadores e usuários de bibliotecas universitárias. Um estudo de observação do contexto sociocognitivo com protocolos verbais [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 149 p. ISBN 978-85-7983-015-0. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.

Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

A linguagem documentária vista pelo conteúdo, forma e uso na perspectiva de catalogadores e usuários

Vera Regina Casari Boccato

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6A LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA

VISTA PELO CONTEÚDO, FORMA EUSO NA PERSPECTIVA DE

CATALOGADORES E USUÁRIOS1

Vera Regina Casari Boccato

Introdução

As linguagens documentárias são linguagens estrutura-das e controladas, construídas a partir de princípios e designificados advindos de termos constituintes da lingua-gem de especialidade2 e da linguagem natural (linguagemdo discurso comum), com a proposta de representar pararecuperar a informação documentária.

Os princípios de garantia literária, garantia de uso egarantia cultural norteiam esse processo na construção deuma linguagem documentária consistente que contempletermos correspondentes ao repertório científico do usuárioe do contexto sociocultural em que está inserida. Os estu-dos de Lancaster (1987) sobre a garantia literária e a garan-

1 Extraída da tese de doutorado de Boccato (2009).2 Linguagem de especialidade é a utilizada pelo pesquisador na gera-

ção do conhecimento, proveniente das atividades desenvolvidas emgrupos de pesquisa e/ou no momento da realização do seu discursocientífico (termos especializados constantes nos trabalhos científi-cos como os artigos de periódicos etc.).

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tia de uso e a pesquisa de Beghtol (2002) sobre a garantiacultural subsidiam a nossa afirmação.

As fundamentações teóricas de Zeng (2008) são im-portantes e, também, esclarecedoras sobre a concepçãode sistemas de organização do conhecimento expondoque eles devem ser estruturados em um plano multidi-mensional, transpondo fronteiras culturais e geográficasde acesso e representação, sem desconsiderar suas fun-ções principais, que incluem a eliminação da ambiguida-de, o controle de sinônimos e o estabelecimento de rela-cionamentos semânticos. Eles são representados poresquemas de classificação, listas de cabeçalhos de assun-to, taxonomias, tesauros, ontologias, entre outros.

As linguagens documentárias, caracterizadas como sis-temas de organização do conhecimento e corresponden-tes às listas de cabeçalhos de assunto e aos tesauros, têmcomo primeira função representar o conteúdo dos docu-mentos contidos em um sistema de recuperação da infor-mação – função pelo conteúdo –, e, como segunda fun-ção, mediar a recuperação da informação por meio darepresentação das perguntas formuladas pelos usuários– função pelo uso (Boccato, 2008).

Podemos afirmar que elas possuem um papel funda-mental nos processos de indexação e recuperação da in-formação, possibilitando a representação dos conteúdosdocumentários e facilitando a busca por assunto porusuários que necessitam realizar pesquisas com rapideze precisão informacional.

As considerações de Zeng (2008) e de Boccato (2008)nos fazem refletir sobre a necessidade de atualizaçãoconstante das linguagens documentárias adotadas porcatálogos on-line de bibliotecas universitárias, em razãoda característica natural de evolução científica e do di-namismo e vanguardismo na geração de conhecimentosna universidade.

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Nessa perspectiva, os catálogos coletivos de bibliotecasuniversitárias, inseridos em um contexto de áreas científi-cas especializadas, necessitam de instrumentos de organi-zação e recuperação da informação compatíveis com suascaracterísticas e da sua comunidade usuária.

Para tanto, neste capítulo apresentamos os resultadosobtidos de um estudo de avaliação do uso de linguagensdocumentárias de catálogos coletivos de bibliotecas univer-sitárias no contexto sociocognitivo dos bibliotecáriosindexadores e dos usuários com o objetivo de contribuirpara o uso adequado de linguagens documentárias alfabé-ticas em áreas científicas especializadas nos processos deindexação e recuperação da informação em catálogos cole-tivos on-line de bibliotecas universitárias, visando colabo-rar com o processo de mudanças contínuas nos fazeres bi-bliotecários e, consequentemente, nos de sua comunidadeusuária.

A linguagem documentária nocontexto da indexação e da recuperaçãoda informação

As linguagens documentárias visam à organização e àdisseminação de conteúdos informacionais de sistemas deinformação, tais como as bibliotecas universitárias, que exi-gem melhor controle da terminologia para um desempenhoadequado da recuperação e filtragem de informações.

Segundo a norma técnica Ansi/Niso Z39.19-2005(2005), o controle do vocabulário é usado para otimizar oarmazenamento de informação e dos sistemas de recupe-ração, de navegação eletrônica e/ou em outros ambientesaos que procuram identificar e encontrar o assunto deseja-do por meio da descrição de assunto usando uma determi-nada língua. A finalidade preliminar do controle do voca-

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bulário é conseguir a consistência na representação da in-formação e facilitar a sua recuperação.

A representação da informação – “tradução” – vistacomo uma das etapas da indexação

é a substituição de uma entidade linguística longa e comple-xa – o texto do documento – por sua descrição abreviada. [...]Ela funciona então como um artifício para enfatizar o que éessencial no documento considerando sua recuperação, sen-do a solução ideal para organização e uso da informação(Novellino, 1996, p.38).

O processo de representação é dependente da etapa deanálise de assunto por meio da identificação e seleção deconceitos, com vistas à “tradução” desses conceitos iden-tificados e selecionados por meio de termos constituintesde uma linguagem documentária. O processo de represen-tação mediante linguagem documentária conduzirá o bi-bliotecário indexador à escolha dos termos corresponden-tes à especificidade e exaustividade que a linguagempossui e, consequentemente, à especificidade e exaustivi-dade do sistema.

Observamos, portanto, que o processo de indexaçãodurante a catalogação é de responsabilidade de cada bibli-otecário indexador, voltado para a realização de uma re-presentação temática condizente com os conteúdos dosdocumentos (expressão do autor) e das necessidades in-formacionais de sua demanda, isto é, do usuário do seusistema de recuperação da informação, exemplificado pe-los catálogos coletivos on-line.

No âmbito da recuperação da informação, nossa aten-ção se volta para a construção de uma estratégia de buscae, consequentemente, da relação entre o usuário e o biblio-tecário, ressaltando para a questão da avaliação do usuáriosobre o resultado obtido ante a busca realizada, que, por sua

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vez, está estreitamente relacionado com a questão da rele-vância e, especialmente, com o uso da linguagem documen-tária utilizada no momento da “tradução” das palavras sig-nificantes correspondentes ao assunto do tema a serpesquisado.

Sobre isso, Moura et al. (2002, p.4) apresentam, deta-lhadamente, as funções das linguagens documentárias comdestaque para: “1) recuperar documentos com conteúdosemelhante; 2) recuperar documentos relevantes sobre umassunto específico; 3) recuperar documentos por grandesáreas de assunto; [...] e 4) auxiliar na escolha do termo ade-quado para a estratégia de busca...”.

O julgamento realizado pelo usuário sobre a relevânciaou não do documento recuperado está intimamente relacio-nado ao desempenho da linguagem documentária utiliza-da pelo sistema de recuperação da informação.

A linguagem de busca do usuário deve ser compatívelcom a linguagem documentária do sistema, e esta deve re-presentar as necessidades de informação do usuário, cons-truídas por seus modelos mentais influenciados por seumeio. Sob essa perspectiva, vemos a linguagem documen-tária como um canal de comunicação social, imbuída devalores, em que os conceitos representados por termos de-vem refletir a cultura do indivíduo e do ambiente em queele está inserido e da área de conhecimento a que ela cor-responde.

Além disso, quando a linguagem documentária não ofe-rece compatibilidade com a linguagem de busca do usuá-rio e, consequentemente, não representa a sua área cientí-fica, compromete a qualidade da pesquisa realizada e acredibilidade do catálogo quanto ao seu desempenho narecuperação da informação documentária e satisfação dousuário.

A realização de avaliação do uso da linguagem docu-mentária é norteadora da necessidade (ou não) e do proces-

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so de compatibilidade, fornecendo subsídios para a cons-trução ou o aprimoramento de um sistema de organizaçãodo conhecimento que possibilite ao usuário obter resulta-dos úteis e pertinentes à sua atividade investigativa paraassisti-lo nas tomadas de decisões, nas resoluções de pro-blemas e na geração de novos conhecimentos.

A linguagem documentária vista peloconteúdo, forma e uso na perspectiva decatalogadores e usuários: desenvolvimentometodológico e resultados

A avaliação é considerada uma etapa importante noprocesso de planejamento dos serviços oferecidos por umaunidade de informação. A avaliação permite a verificaçãodo desenvolvimento e dos resultados de atividades e instru-mentos para aprimoramentos e, muitas vezes, reestrutura-ções parciais ou totais.

Segundo Peis Redondo & Fernandéz Molina (1994), aavaliação consiste em determinar, concretamente, a funcio-nalidade de um sistema de recuperação da informação pormeio de um método mais adequado que possibilite a me-lhoria do rendimento daquele.

As linguagens documentárias são instrumentos deapoio para a indexação e busca por assunto, tornando-seum componente fundamental dos sistemas de informaçãoautomatizados para a indexação a recuperação da informa-ção de áreas científicas de alto nível de especialização deassuntos.

As avaliações de uso de linguagens documentárias pos-sibilitam a (re)adequação desses sistemas de organização doconhecimento para a representação e a recuperação da in-formação a partir de suas configurações externas – estru-tura e forma e internas –, relacionamentos entre os concei-

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tos, da política de indexação do sistema e do reflexo doscontextos sociocognitivos do bibliotecário indexador e dousuário que esse processo deve possuir.

A “abordagem sociocognitiva [...] tem como foco o su-jeito que realiza uma determinada atividade e sua cogniçãoem relação ao seu contexto de produção”, e, dessa manei-ra, o contexto sociocognitivo torna-se de fundamental im-portância na indexação, visto que esta condiciona os resul-tados de uma estratégia de busca e, consequentemente, darecuperação da informação (Fujita et al., 2009).

A nossa pesquisa, realizada em nível de doutorado,(Boccato, 2009) ratifica o relato antes apresentado porFujita et al. (2009), demonstrando a viabilidade de estudodo uso de linguagem documentária de catálogos coletivosde áreas científicas especializadas nas perspectivas de bi-bliotecas universitárias e no contexto sociocognitivo dosbibliotecários indexadores e usuários, permitindo-nos ve-rificar “se ocorre o uso” e “como ocorre o uso” da Lista deCabeçalhos de Assunto da Rede Bibliotada (LCARB) nosprocessos de indexação e recuperação da informação docatálogo coletivo on-line Athena da Unesp.

A análise dos resultados obtidos por meio do empregoda metodologia qualitativa com abordagem sociocogniti-va com a aplicação dos protocolos verbais em grupo e in-dividuais foi realizada a partir da elaboração das doze ca-tegorias apresentadas anteriormente no Capítulo 3, pelaperspectiva de três eixos temáticos – linguagem vista peloconteúdo, linguagem vista pela forma e linguagem vistapelo uso – , que, caracterizados, apresentaram os seguintesresultados:

Linguagem documentária vista pelo conteúdo

Refere-se à função que a linguagem possui no contextoda indexação – entrada de dados no sistema.

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O uso da LCARB mostrou-se um instrumento “obri-gatório” da Rede Unesp, sendo empregada para a confir-mação e validação dos cabeçalhos de assunto a serem des-critos no campo 650.3 Essa constatação de fundamentalimportância está associada, especialmente, a dois fatores,também explícitos pelos resultados obtidos.

O primeiro fator corresponde ao fato de a LCARB nãopossuir vocabulário especializado e atualizado, e por nãooferecer uma estrutura sintático-semântica consistente, autilização de sistemas de organização do conhecimentoparalelos tornou-se uma prática frequente na busca pelaespecificidade que o tratamento temático da informação deáreas científicas especializadas exige, por meio da descri-ção de assuntos no campo 690,4 refletindo o universo deconhecimentos em que a biblioteca universitária estáinserida.

A padronização desses assuntos foi uma preocupaçãomanifestada pelos bibliotecários das três áreas do conheci-mento, demonstrando a necessidade de adoção de um únicoinstrumento de controle terminológico para a Rede de Bi-bliotecas para a descrição de assuntos locais, visando à uni-formização dos pontos de acesso de assunto no catálogocoletivo on-line Athena. Sobre isso, a área de Odontologiaapresentou-se também favorável a essa medida, mesmopossuindo e utilizando um vocabulário controlado especia-lizado na descrição dos conteúdos documentários para aindexação, no momento em que a LCARB não cumpre talfunção.

O segundo fator refere-se ao “fazer” bibliotecário nocontexto da indexação. Refere-se à realização inadequada

3 Campo 650 – Assunto Tópico do Formato de intercâmbio de dadosbibliográficos Marc 21.

4 Campo 690 – Assunto Local /Institucional do Formato de inter-câmbio de dados bibliográficos Marc 21.

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da indexação durante a catalogação como atividade quecontempla as etapas de identificação e seleção de concei-tos com vistas à representação por meio de uma linguagemdocumentária.

Observamos a falta de sistematização na realização daleitura documentária e a existência da prática de levanta-mento de assuntos, principalmente retirados de fichascatalográficas resultantes da catalogação na publicação,em detrimento da elaboração de uma análise de assuntofocada efetivamente no conteúdo do documento. Essecenário, por sua vez, conduz a uma representação de as-suntos não correspondentes ao nível de abordagem emque são tratados pelos autores, havendo uma tendênciapela opção do cabeçalho genérico para a representação doconteúdo documentário.

Linguagem documentária vista pela forma

Trata da configuração externa quanto à estrutura e for-ma referentes aos procedimentos de construção, atualiza-ção e gestão da linguagem.

Esse eixo temático resultou nas constatações dos biblio-tecários sobre a necessidade do aprimoramento da LCARBe da construção de um vocabulário controlado específico daRede Unesp e a importância da participação do usuárionesse processo. Essas sugestões justificam-se pelo desem-penho insatisfatório que a referida linguagem obteve nosprocessos de indexação e recuperação da informação, oca-sionado pela presença de termos ambíguos, falta de remis-sivas, de vocabulário especializado, atualizado, de especi-ficidade e de normalização dos cabeçalhos, problemas entrecabeçalhos quanto ao uso de singular e plural, entre outros.

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Linguagem documentária vista pelo uso

Eixo temático correspondente ao uso da linguagem parafins de recuperação dos assuntos de interesse do usuário.

A LCARB, vista como instrumento mediador entre ousuário e o sistema, obteve um desempenho insatisfatório,demonstrando a incompatibilidade entre a linguagem do-cumentária adotada pelo sistema e a de busca do usuário.

Os resultados muito abrangentes apresentados pelo sis-tema foram um dos aspectos mais importantes apontadospelos usuários como fator da realização de buscas por as-suntos não condizentes com suas necessidades investiga-tivas, ocasionando uma alta revocação na recuperação dainformação. O desconhecimento sobre a linguagem dispo-nibilizada pelo sistema e sobre o seu emprego para a ela-boração de estratégias de buscas também colaborou para aformação do elenco de elementos contribuintes para a atua-ção inadequada da linguagem no processo de recuperação.Como solução para esses problemas, os usuários abordamsobre a necessidade da especificidade do sistema e da lin-guagem documentária condicionadas à recuperação precisada informação. Também sugerem a utilização de cabeça-lhos mais específicos para a representação dos conteúdosdocumentários e a construção de um vocabulário contro-lado a partir da linguagem do especialista e do aluno

Os usuários também percebem a necessidade da com-patibilização entre a LCARB e a linguagem de busca dousuário apresentando sugestões sobre a disponibilização nainterface de busca de remissivas Ver e Ver Também comoelos orientadores entre os cabeçalhos procurados por elese os recuperáveis pela linguagem.

Além disso, ressaltam também ser de suma importânciaa disponibilidade de um manual do usuário e a acessibilida-de da linguagem para os usuários locais e remotos comonorteadores para a recuperação precisa da informação.

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Sobre o catálogo Athena, a visão dos usuários mostrou--nos, principalmente, que a especificidade do sistema e dalinguagem documentária é um requisito de suma impor-tância para a recuperação precisa da informação. Além dis-so, eles salientam que o referido catálogo deve funcionar àsemelhança de uma base de dados, possibilitando a recu-peração por assunto de documentos analíticos, como capí-tulos de livros e artigos de periódicos, e a ordenação dos re-gistros recuperados por ordem decrescente de data depublicação, entre outros aspectos.

Conforme, portanto, os resultados descritos, observa-mos que a linguagem documentária foi uma temática muitoabordada pelos bibliotecários catalogadores e pelos usuá-rios docentes e discentes – nos Protocolos Verbais em Gru-po e Individuais das três áreas do conhecimento –, tendosuscitado muitos questionamentos e preocupações sobre odesempenho e a importância desse instrumento de media-ção e comunicação entre a indexação e a recuperação dainformação nos catálogos coletivos on-line de áreas cientí-ficas especializadas de bibliotecas universitárias.

O contexto sociocognitivo do bibliotecário catalogadorda Rede de Bibliotecas da Unesp, formado pela universi-dade, biblioteca, pelo Padrão de Qualidade de Registros Bi-bliográficos da Unesp,5 Lista de Cabeçalhos de Assunto daRede Bibliodata, linguagens documentárias paralelas,6 ca-

5 Padrão internacional de descrição de dados bibliográficos Marc21 critérios estabelecidos pela CGB-Unesp previstos na publicação“Padrões de qualidade de registros bibliográficos da Unesp”(Unesp, 2002).

6 A expressão “linguagem documentária paralela” foi criada pela pes-quisadora e refere-se às linguagens documentárias utilizadas pelosbibliotecários catalogadores da Rede de Bibliotecas da Unesp nadescrição dos assuntos no campo 690, exemplificadas pelo DeCS –Descritores em Ciências da Saúde da Bireme – Centro Latino-ame-ricano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, VocaUSP –

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tálogo Athena e pelos docentes e discentes de graduação dasáreas científicas especializadas influenciaram a realizaçãoda indexação que nos proporcionou importantes resultadossobre o uso da LCARB para a representação dos conteúdosdocumentários no catálogo coletivo on-line Athena.

Concomitantemente, o contexto sociocognitivo dousuário, delineado pelo conhecimento prévio que possuisobre a universidade, pesquisas que desenvolve em nível deiniciação científica, grade curricular das disciplinas cientí-fico-acadêmicas e pelo catálogo Athena, revelou-nos resul-tados relevantes sobre o uso da LCARB no processo derecuperação da informação.

Visando, portanto, ao alcance da compatibilidade entrea linguagem documentária e a linguagem de busca do usuá-rio e, consequentemente, do equilíbrio entre a revocação ea precisão do sistema, apresentamos indicadores como con-tribuição para o aperfeiçoamento e a adequação do uso delinguagem documentária de áreas científicas especializadasde catálogos coletivos, no contexto sociocognitivo de bi-bliotecários indexadores e usuários para a representação erecuperação da informação em bibliotecas universitárias, asaber:

• construção do vocabulário a partir das linguagens de es-pecialidades das áreas científicas e da linguagem de bus-ca do usuário, com vistas à compatibilidade entre a lin-guagem adotada pelo sistema e a de busca do usuário;

• incorporação constante de novos termos, visando àatualização da linguagem que se fizer necessária, pormeio de coleta em fontes de informação formais (dicio-

Vocabulário Controlado do SIBi – USP do Sistema Integrado de Bi-bliotecas; Engineering Index: tesauro da base de dados EngineeringVillage Compendex produzida pela Engineering Information, Siste-mas de Classificação, entre outras (Boccato, 2009).

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nários especializados, glossários técnico-científicos,diretórios, entre outros) e informais (formulários de su-gestões de assuntos preenchidos pelos usuários, catálo-go e listas de assuntos locais elaborados pela biblioteca);

• eleição de termos expressivos, visando à clareza na de-signação do assunto;

• utilização/revisão da tradução de termos existentes nalinguagem, tendo em vista a devida correspondênciaconceitual que deve ocorrer em relação à terminologiadas áreas científicas nacionais;

• eliminação das ambiguidades causadas pela homonímiae polissemia advindas da linguagem natural: adoção determos qualificadores agregados ao termo preferido, demodo a definir diferentes aspectos, conceitos e pontosde vista abordados pelo autor sobre o assunto do do-cumento. Os termos qualificadores possibilitam a espe-cificidade na representação e na recuperação da infor-mação. O uso de singular e plural também é um recursoauxiliar para a distinção entre termos homógrafos;

• incorporação de termos específicos, tendo em vista a es-pecificidade exigida do tratamento de conteúdos do-cumentários para a recuperação precisa da informação;

• controle de sinônimos: controle efetivo dos termos si-nônimos, quase-sinônimos e das variantes lexicais (or-tografia, singular-plural, nome completo divergente daabreviatura), evitando-se a dispersão temática e pro-porcionando maior exatidão na indexação e busca porassunto;

• estabelecimento das relações lógico-semânticas: a cons-trução das relações hierárquicas, de equivalência e nãohierárquicas visa à indicação dos relacionamentos se-mântico-conceituais entre os termos, propiciando aconsistência na representação e na recuperação. O in-cremento das relações não hierárquicas (associativas)promove uma aproximação maior com a linguagem de

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busca do usuário, relevando a função comunicativa quea linguagem deve ter;

• utilização/verificação da sintaxe dos cabeçalhos de as-suntos compostos referentes à ordem das ideias que oscompõem;

• utilização/incorporação de notas de escopos nos cabe-çalhos de assunto;

• intensificação da função comunicativa da linguagem;• representação de conceitos por meio de termos, visan-

do à obtenção de cabeçalhos mais consistentes.

Síntese

A biblioteca universitária inserida em um universo deconhecimento necessita de produtos e instrumentos que de-monstrem essa realidade. A linguagem documentária comoum componente do catálogo deve representar esse conteú-do científico de alta especialização, promovendo a media-ção e a comunicação entre a indexação e a recuperação da in-formação para sua comunidade usuária local e remota,requerendo, portanto, avaliações contínuas de seu desem-penho durante a busca por assunto na recuperação da infor-mação que possa orientar seu aprimoramento e seu uso noprocesso de representação para indexação documentária.

O uso adequado da linguagem documentária no proces-so de representação para indexação está vinculado ao pro-cesso de avaliação constante da busca por assunto, propor-cionando elementos norteadores para o aperfeiçoamento ea adequação de um sistema de organização do conhecimen-to que reflita o contexto informacional, cultural e social emque está inserido.

Esse uso faz-se por meio de linguagens documentáriasde áreas científicas especializadas constituídas por vocabu-lários atualizados, de alta especificidade e representativos

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das necessidades de indexação e recuperação da informa-ção. Essas linguagens devem ser elaboradas a partir de umaconcepção multidimensional, contemplando as relaçõessintático-semânticas entre os termos advindos das áreascientíficas especializadas e da linguagem do usuário.

O êxito da indexação será validado pela recuperaçãoprecisa da informação, por meio de uma linguagem docu-mentária portadora de um repertório terminológico dealto nível de especialização e de rigor na sua construção.Em complementação, a avaliação permanente da lingua-gem deve ser um procedimento que a biblioteca deve ado-tar visando à atualização do vocabulário em consonânciacom o progresso e o vanguardismo que a ciência possui,explicitados pelas comunidades científicas, e à geração doconhecimento.

A abordagem sociocognitiva com Protocolo Verbalcomo método de avaliação tem como foco o sujeito no mo-mento da realização de uma determinada atividade e suacognição em relação ao seu contexto de produção. Referen-te ao bibliotecário indexador, o ponto focal é o tratamentotemático da informação, especificamente a indexação e ouso que faz da linguagem documentária durante essa ati-vidade. Com relação ao usuário, o foco é a busca por assun-to e a recuperação da informação por meio da utilização dalinguagem na satisfação de suas necessidades informacio-nais integradas com seu meio ambiente formado pela uni-versidade, grupo de pesquisa, grade curricular e catálogo.

Nessa perspectiva, torna-se visível a contextualizaçãosocial da Ciência da Informação, pois segundo Hjørland(2002), a realidade é detectada pelo sujeito conhecedor dedomínios específicos e formada pela história e pela cultu-ra, o que se torna tal sujeito capaz de perceber a realidade.

A técnica do Protocolo Verbal corresponde a essa di-mensão metodológica, mostrando-se válida para a avalia-ção do uso de linguagens documentárias de catálogos co-

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letivos on-line de áreas científicas especializadas de biblio-tecas universitárias, proporcionando resultados relevantespara o uso adequado da linguagem documentária no âm-bito da indexação e recuperação da informação, sendo pos-sível sua aplicação em outros contextos.

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