manual de ergonomia
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Módulo de Ergonomia
Teresa Patrone Cotrim 1
Curso de Técnico Superior de Higiene e Segurança no Trabalho
MÓDULO DE ERGONOMIA
2004
Teresa Margarida Patrone Cotrim
Módulo de Ergonomia
Teresa Patrone Cotrim 2
Índice
1. Introdução à Ergonomia
1.1. Evolução histórica da ergonomia e instituições de referência
1.2. Definição de Ergonomia
2. Metodologia de Análise Ergonómica
2.1. Quadro global de análise ergonómica
2.2. Noção de tarefa e de actividade
3. Intervenção Ergonómica
4. Carga de Trabalho
4.1. Noção de Carga de Trabalho
4.2. Avaliação da Carga de Trabalho
4.3. Características Individuais
5. Posturas de Trabalho e Força
5.1. Noção de Postura
5.2. Postura de Pé e de Sentado
5.3. Ângulos de Conforto
5.4. Força
6. Lesões Músculo – Esqueléticas Ligadas ao Trabalho
6.1. Características Gerais
6.2. Principais Factores de Risco
6.3. Exemplos de Situações de Trabalho
6.4. Prevenção e Controlo do Risco de LME
6.5. Casos particulares
7. Diversidade Antropométrica das Populações
7.1. Noções Básicas
7.2. Diferenças Individuais
7.3. Diversidade Humana
7.4. Adequação entre a Diversidade Humana e o Envolvimento
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7.5. Medidas Antropométricas Estáticas
7.6. Medidas Antropométricas Dinâmicas
8. Principais Constrições à Concepção de Espaços e Equipamentos de Trabalho
9. Trabalho com Écrans de Visualização
9.1. Tipo de Tarefas
9.2. Elementos do Posto de Trabalho
9.3. Principais Factores de Risco
9.4. Medidas de Prevenção
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1. Introdução à Ergonomia
A Saúde, Segurança e Bem Estar deverá ser um objectivo social e estratégico de
qualquer empresa e é condição de progresso social e económico, contribuindo para a
qualidade das condições de vida e trabalho dos indivíduos e desenvolvimento da
competitividade das empresas.
Para alcançar os objectivos de proporcionar condições de trabalho que garantam a
segurança e saúde dos trabalhadores e contribuir para o desenvolvimento da
competitividade da empresa por via do aumento da produtividade e qualidade,
resultantes da melhoria das condições em que o trabalho é prestado, é importante
uma abordagem transdisciplinar nesta temática, assente numa equipa
multiprofissional.
1.1. Evolução histórica da Ergonomia e Instituições de referência
O termo Ergonomia deriva do grego: ergo = trabalho + nomos = leis.
Etimologicamente, ergonomia significa a ciência do trabalho, o que está para além de
uma perspectiva redutora da criação de leis que regem o trabalho.
A primeira referência à utilização do termo Ergonomia data de 1857, altura em que
Jastrzebowski, estudioso polaco, se lhe refere numa das suas obras «Précis
d’Ergonomie or de la Science du Travail basée sur de verités tirée dês sciences de la
nature», ficando depois esquecido durante anos.
Após a 2ª guerra mundial assistiu-se a um novo impulso no desenvolvimento da
Ergonomia, em particular através de um engenheiro inglês, Murrel, que em 1949
contribui para a criação da primeira sociedade de ergonomia, a Ergonomic Research
Society.
A partir de 1950 a Ergonomia expande-se e assiste-se à criação de associações e
sociedades de Ergonomia, tanto na Europa como nos EUA. Em 1957 foi criada a
Human Factors Society, nos EUA, e ainda hoje o termo Factores Humanos continua a
ser utilizado, sendo naquele país muitas vezes tido como sinónimo de Ergonomia. Na
Europa, a criação da SELF acontece apenas em 1963 e está relacionada com a
Ergonomia da Actividade Humana centrada na necessidade de adequar as condições
de trabalho às características dos operadores.
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Segundo Wisner (1972), a Ergonomia é o conjunto dos conhecimentos científicos
relativos ao homem e necessários para conceber ferramentas, máquinas e dispositivos
que possam ser utilizados com o máximo de conforto, de segurança e de eficiência.
No entanto, o desenvolvimento da Ergonomia ao longo das últimas décadas
determinou algumas mudanças conceptuais, como se verifica no ponto seguinte.
1.2. Definição de Ergonomia
O conceito de Ergonomia tem evoluído ao longo das últimas décadas, no entanto,
actualmente é consensual o seu entendimento como:
• Domínio científico e tecnológico interdisciplinar que visa a compreensão das
interacções entre o homem e os sistemas e a concepção de sistemas de
trabalho, de forma a optimizar a saúde e o bem estar dos trabalhadores e obter
o aumento da produtividade dos sistemas de trabalho (IEA, 2001).
Assim, podemos afirmar que em Ergonomia se realiza o estudo do homem durante o
trabalho, mas também nas suas ocupações dos tempos livres, de modo a melhorar
globalmente as suas condições de vida. O seu objectivo será a optimização da
interacção entre o homem, o sistema de trabalho e o ambiente, através do equilíbrio
entre as exigências das tarefas e do sistema e as características anatómicas,
fisiológicas, sensoriais, perceptivas e cognitivas do homem.
2. Metodologia de Análise Ergonómica
A metodologia de intervenção ergonómica tem sofrido ao longo dos anos sucessivas
adaptações de acordo com a inovação nas técnicas e tecnologias e o conhecimento
que decorre da investigação em Ergonomia.
A actuação dos ergonomistas nas organizações depende dos objectivos do grupo de
trabalho ou serviço em que está inserido e da própria empresa.
No entanto, a metodologia de análise ergonómica é sempre a primeira etapa que
consubstancia o estudo ergonómico do sistema de trabalho, do qual decorre o
diagnóstico ergonómico que, por sua vez, permite definir os princípios nos quais
assenta a intervenção ergonómica propriamente dita.
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2.1. Quadro Global de Análise Ergonómica
A abordagem ergonómica do sistema de trabalho centra-se na identificação e
compreensão das relações existentes entre as condições organizacionais, técnicas,
sociais e humanas que determinam a actividade de trabalho e os efeitos desta sobre o
operador e o sistema produtivo.
A análise ergonómica do trabalho parte de três pressupostos (Daniellou, 1996): a
variabilidade dos contextos e dos indivíduos; a distinção entre tarefa e actividade; a
regulação da actividade pelos operadores.
No que se refere ao sistema de trabalho podemos reconhecer a sua complexidade e o
carácter dinâmico.
O grau de complexidade depende do número de elementos que compõem o sistema e
da natureza e número de relações que se estabelecem entre esses elementos. Estes
elementos referem-se às características das tarefas, características dos indivíduos e
características das relações.
O carácter dinâmico dos sistemas de trabalho relaciona-se com a modificação das
suas características ao longo do tempo e determina a necessidade de adequação das
acções dos indivíduos para alcançar os fins definidos.
A gestão da complexidade da situação de trabalho pelo indivíduo pode traduzir-se em
consequências para a sua saúde. Uma resposta comum é a aceitação de uma carga
de trabalho acrescida. Por exemplo, para responder às exigências da tarefa, o
indivíduo fará esforços acrescidos no plano físico e mental que, a médio ou longo
prazo, poderão traduzir-se em custos para a sua saúde. Outro exemplo, é a aceitação
de um risco acrescido para satisfazer as exigências da tarefa, não cumprindo com as
regras de segurança.
A análise ergonómica conduz à identificação das variáveis e do funcionamento dos
sistemas de trabalho, da variabilidade intra e inter individual dos operadores, dos
resultados alcançados e dos efeitos sobre os indivíduos ao nível da sua saúde e da
produtividade.
A compreensão do trabalho, seus determinantes e consequências para os indivíduos e
para o sistema produtivo, conduz aos objectivos de transformação do trabalho ao nível
das condições de trabalho, dos aspectos organizacionais e da formação.
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2.2. Noção de Tarefa e de Actividade
Nesta análise é fundamental a distinção clara entre os conceitos de tarefa e de
actividade:
1. Tarefa é entendida como o quadro formal que define o trabalho
prescrito para cada indivíduo no sistema de trabalho e engloba os
objectivos, procedimentos, meios técnicos, condições temporais,
envolvente física, entre outros.
2. A Actividade de trabalho corresponde ao trabalho real desenvolvido
pelos trabalhadores; é a acção que pretende alcançar os objectivos
definidos desenrolando-se num contexto estruturado por dispositivos,
regras, normas, etc., que a condicionam, ao mesmo tempo que o
curso das acções desenvolvidas estrutura o contexto, numa relação
mútua de retroacções e regulações.
A análise ergonómica visa o diagnóstico dos problemas, a avaliação das alternativas e
a recomendação das soluções que melhor se adaptem ao homem.
3. Intervenção Ergonómica
A intervenção ergonómica baseia-se em critérios de segurança, de eficácia e de
conforto.
Considerando uma concepção positiva do trabalho, em que este contribui para a
construção da identidade dos indivíduos e dos grupos, a construção de experiência e
competências e é instrumento de suporte social, é objectivo da intervenção
ergonómica a concepção de sistemas de trabalho adaptados ao Homem.
O seu objectivo será, por excelência, a aplicação dos princípios ergonómicos a fim de
optimizar a compatibilidade entre o ambiente de trabalho e o homem, através do
equilíbrio entre as exigências das tarefas e as características anatómicas, fisiológicas
e mentais dos operadores.
Por outro lado, desenvolveram-se os modelos de formação dos profissionais visando o
aumento da sua eficiência. A formação visa a habilitação dos profissionais com
técnicas e conhecimentos acerca dos riscos a que se encontram expostos de modo a
realizarem escolhas informadas e responsáveis na protecção da sua saúde e
prevenção da doença.
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4. Carga de Trabalho
As condições e a natureza do trabalho a realizar implicam uma variedade de efeitos
sobre o operador no que respeita à sua saúde e estado funcional, com repercussões
sobre a sua vida social e económica.
4.1. Noção de Carga de Trabalho
Apesar de o termo carga sugerir a ideia de um fardo imposto ao trabalhador, convém
esclarecer qual o entendimento que, actualmente, no domínio da Ergonomia, se tem
relativamente a este conceito.
Assim, o conceito de carga de trabalho envolve a carga imposta (solicitações e
exigências da situação de trabalho), bem como as suas repercussões sobre o
comportamento e as funções do operador em actividade (www.apergo.pt, 2003).
Em termos da evolução histórica deste conceito, encontramos várias interpretações
para o conceito de carga de trabalho, em função da área científica de formação dos
respectivos autores. Deste modo, alguns autores encaram o termo carga de trabalho
como as consequências da execução da tarefa para o trabalhador e sobre os
resultados, determinadas pelas exigências do trabalho (Leplat, 1977; Scherrer; entre
outros), enquanto que outros a consideram como uma solicitação, sendo o seu nível
determinado pelo conjunto de exigências impostas ao operador, que implicam
necessariamente acções apropriadas por parte deste (Chiles e Alluisi, 1979).
Em síntese, podemos definir Carga de Trabalho como o custo da actividade de
trabalho para um determinado indivíduo, num momento preciso e em condições
específicas, sendo que estas se encontram em permanente mudança.
4.2. Avaliação da Carga de Trabalho
Em Ergonomia, ao avaliarmos a carga de trabalho, colocamos o profissional no centro
das preocupações, criando-se um quadro conceptual que permite analisar os factores
de carga e os seus efeitos sobre o homem, tendo como objectivo a adequação dos
níveis de carga externa às capacidades dos profissionais.
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De facto, a relação entre a carga externa (imposta pela situação de trabalho) e a
interna (percepcionada pelo indivíduo) não é necessariamente linear, para além de
que o custo para um trabalhador em face de determinadas exigências, não é sempre o
mesmo em diferentes momentos. O processo de adaptação do trabalhador é dinâmico
e acompanha o desenrolar da actividade, pois os mecanismos psicofisiológicos de
adaptação respondem aos factores de carga presentes.
A avaliação da carga de trabalho deve permitir perceber os efeitos da actividade sobre
o operador, em termos quantitativos e qualitativos (esforço, fadiga, etc.) como
resultado da sua adaptação às exigências impostas pelo sistema de trabalho. Neste
sentido, procede-se à caracterização e análise das características dos trabalhadores e
do sistema de trabalho.
4.3. Características Individuais
Para avaliarmos as consequências da actividade de trabalho para a saúde dos
operadores, temos que conhecer as bases do funcionamento humano. Seguidamente,
apresentamos de forma resumida algumas das principais características a ter em
consideração na avaliação da interacção do homem com os sistemas de trabalho.
a) Idade - Permite verificar em que faixa etária se encontram os trabalhadores. Na
movimentação manual de cargas é um dos critérios considerados na definição das
cargas máximas permitidas, uma vez que há medida que a idade aumenta, há uma
maior probabilidade do indivíduo sofrer lesões ao nível da coluna vertebral. Como
curiosidade, é de referir que na população em geral se encontra um aumento da
frequência de lombalgias com a idade, assim como da sua cronicidade (De Zwart e
cols., 1997; Thomas e cols., 1999). De destacar ainda as actuais preocupações
decorrentes do envelhecimento da população mundial, o que determina uma
abordagem particular das características específicas dos grupos etários mais elevados
na sua integração no trabalho.
b) Género - Em geral, as mulheres possuem uma musculatura mais fraca, uma força
muscular inferior, em 20 a 25%, à do homem, a sua capacidade física máxima é
também inferior e têm uma menor estatura (Cazamian, 1988; Fundaccion MAPFRE,
1998). Esta característica é, também, um dos critérios considerados relevantes na
definição das cargas máximas permitidas na movimentação manual de cargas.
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c) Peso – A sobrecarga ponderal poderá agravar as lombalgias minor e aumentar o
risco de cronicidade (Leboeuf-Yde e cols, 1997).
d) Estado de Saúde - O estado de saúde de cada trabalhador, num dado momento,
poderá constituir-se como um factor de susceptibilidade individual que importa
conhecer. Por exemplo, indivíduos que já tenham sofrido de algum tipo de lesão a
nível da coluna vertebral, ou que tenham problemas de saúde que condicionem a sua
actividade, estão mais susceptíveis a sofrer algum tipo de lesão.
5. Posturas de Trabalho e Força
As exigências das tarefas, o dimensionamento dos postos de trabalho e dos
equipamentos e a organização do trabalho são factores que interagem entre si e vão
determinar as posturas específicas adoptadas pelos indivíduos, na realização da sua
actividade de trabalho.
5.1. Noção de Postura
A postura consiste na orientação dos diferentes segmentos corporais no espaço,
animados da actividade muscular que lhes permite vencer as forças externas.
De um modo geral, toma-se como referência uma postura neutral e a definição de
ângulos de conforto.
A postura neutra é aquela em que a organização espacial dos diversos segmentos
corporais é confortável e não condiciona esforços acrescidos para o sistema músculo-
esquelético. A postura neutra de referência considera o indivíduo na posição de pé
com:
- Os dois pés bem apoiados e afastados cerca de 20 cm;
- Os membros superiores descontraídos ao longo do corpo;
- O olhar fixo num ponto do horizonte;
- O tronco erecto.
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Por outro lado, uma postura não neutra é aquela em que os segmentos se encontram
fora dos ângulos de conforto, sendo assumida para desempenhar uma determinada
tarefa e implicando um esforço para o sistema músculo-esquelético.
Assim, e considerando a carga como a expressão da actividade de trabalho num
determinado operador, em certas condições, pode dizer-se que a Carga Postural é o
esforço a que o indivíduo fica submetido em termos posturais durante a realização de
uma determinada tarefa.
A avaliação das posturas de trabalho tem duas grandes aplicações segundo
Keyserling (1991):
- Obter dados sobre a exposição de determinadas posturas, que fornecem a base
para estudos epidemiológicos acerca destas e sua relação com as lesões musculo-
esqueléticas.
- Avaliar determinada tarefa, para quantificar a carga postural e identificar as causas
específicas das posturas inadequadas e penosas.
5.2. Postura de Pé e de Sentado
Desvantagens da Postura de Pé – A postura de pé mantida durante longos períodos
condiciona um aumento da pressão hidrostática venosa nos membros inferiores,
redução do arco plantar, fadiga muscular e desconforto.
Desvantagens da Postura de Sentado – A postura de sentado mantida durante
longos períodos condiciona uma redução da lordose lombar com o aumento da tensão
intervertebral, o que tem como consequência a fadiga muscular e desconforto postural.
Conforme podemos observar no quadro seguinte a pressão ao nível dos discos
intervertebrais da coluna lombar varia com a postura:
Postura Tensão intervertebral relativa
De pé com o tronco erecto 100%
Deitado de costas 24%
Sentado com suporte lombar e ligeira inclinação para trás
80%
Sentado com o tronco a 90º relativamente aos membros inferiores
140%
Sentado com o tronco inclinado para a frente 190%
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5.3. Ângulos de Conforto
Os ângulos de conforto permitem definir as posturas que condicionam menor
desconforto durante a realização das tarefas. Para cada articulação estão definidas as
amplitudes máximas, de acordo com os limites biomecânicos osteo-articulares, e os
ângulos de conforto.
Seguidamente, apresentamos, de forma sumária, os ângulos de conforto e as
amplitudes máximas relativas ao membro superior e coluna cervical:
Articulação Movimento Ângulos de Conforto
Amplitudes Máximas
Punho Flexão / Extensão 20º / 20º 90º / 70º
Desvio Cubital / Radial Posição neutra
Cotovelo Flexão 60º - 90º 150º
Pronação / Supinação Posição neutra 90º / 90º
Ombro Flexão / Extensão 30º / 20º 180º /60º
Abdução 30º 180º
Cervical Flexão / Extensão 20º / 5º 70º / 55º
5.4. Força
Podemos definir a força como o nível de contracção muscular necessário para manter
uma postura ou realizar uma tarefa. Durante a actividade muscular, os músculos
podem desempenhar trabalho estático ou dinâmico.
Trabalho Muscular Estático – Caracteriza-se por um estado prolongado de
contracção dos músculos. Este tipo de contracção muscular ocorre, por exemplo,
quando mantemos um objecto na mesma posição durante um determinado período de
tempo, ou na manutenção de uma postura. Durante o trabalho muscular estático o
aporte sanguíneo ao músculo é menor, o que conduz mais rapidamente a fadiga e, em
situações prolongadas, a dor. Sempre que possível, este tipo de contracção muscular
não deve ser mantida por longos períodos de tempo.
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Trabalho Muscular Dinâmico – Caracteriza-se pela alternância rítmica de contracção
e alongamento das fibras musculares, ou de tensão e relaxamento. Nalgumas
circunstâncias, podemos ter a activação de grandes grupos musculares para a
realização do trabalho muscular, o que requer um maior aporte de nutrientes e
oxigénio e consequente uma maior exigência é colocada ao sistema cardiocirculatório.
Quando o trabalho muscular dinâmico se realiza com uma elevada frequência entre
estado de tensão e relaxamento, podemos ter, também, dificuldade no aporte de
nutrientes e oxigénio ao músculo com consequente fadiga, assim como uma
hipersolicitação das estruturas de inserção, como os tendões e bainhas tendinosas.
Fadiga Muscular – Ocorre quando o trabalho muscular é tão intenso que o aporte de
nutrientes e oxigénio, ou a remoção dos metabolítos produzidos, se tornam
insuficientes. A fadiga aumenta progressivamente em função da intensidade do
trabalho muscular e da duração e frequência das pausas. O tempo de recuperação
necessário depende do tipo de trabalho realizado, da sua intensidade e duração.
7. Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho
As sociedades actuais confrontam-se cada vez mais com a problemática das lesões
músculo – esqueléticas ligadas ao trabalho, o que representa não apenas sofrimento
humano, mas também um enorme custo económico. Para além dos custos directos
relativos ao tratamento e reabilitação, há que ter em consideração os custos indirectos
do absentismo e da diminuição da produtividade.
7.1. Características Gerais
Em termos genéricos, as lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho mais
frequentes surgem ao nível do tronco ou dos membros.
Ao nível do tronco as lesões mais frequentes são as lombalgias, as cervicalgias e as
hérnias discais. Em contexto ocupacional as lesões ao nível da coluna lombar ou
cervical têm, frequentemente, como factores desencadeantes ou agravantes a
movimentação manual de cargas, a sua elevação ou transporte, ou a realização das
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tarefas em posturas de flexão extrema do tronco durante longos períodos. No que
respeita, em particular, à coluna lombar há que ter em consideração como factor
desencadeante a exposição a vibrações de corpo inteiro, verticais, na posição de
sentado ao longo dos anos, em profissões como os motoristas.
No que se refere aos membros superiores podemos agrupar as lesões relativamente
às estruturas: ao nível dos tendões e estruturas adjacentes, dos nervos ou
neurovasculares. No contexto ocupacional são referidas frequentemente as seguintes
lesões: tendinite do supra-espinhoso; tendinite da longa porção do bicípete;
epicondilíte; epitrocleíte; tendinite de “de Quervain”; Síndrome do túnel cárpico; entre
outros.
7.2. Principais Factores de Risco
A exposição ocupacional de trabalhadores, em actividades que envolvam pelo menos
um dos factores que apresentamos seguidamente, pode condicionar algum grau de
risco no desenvolvimento a médio ou a longo prazo de lesões músculo – esqueléticas
ligadas ao trabalho: força; postura; repetitividade; ausência de períodos de
recuperação.
Força
No que se refere aos valores de referência relativamente à carga manuseada existem
algumas recomendações, nem sempre consensuais.
Segundo o manual da Verlag Technik & Information (2003) os valores máximos
recomendados para o transporte manual de cargas, frequente e regular, são:
Carga Idade
Mulheres Homens
18 aos 39 anos 15 kg 25 kg
Mais de 40 anos 10 kg 20 kg
A legislação portuguesa (DL 330/93 de 25/9) referente à movimentação manual de
cargas considera uma carga demasiado pesada se for superior a 30 kg em operações
ocasionais, ou superior a 20 kg em operações frequentes.
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Postura
Quando a natureza das tarefas e as suas condições de realização impõem ao
trabalhador a adopção de posturas penosas, estas condicionam uma sobrecarga
biomecânica para as articulações e tecidos circundantes. As posturas penosas ou
inadequadas são aquelas que, pela impossibilidade de alternância de posições, da
realização de movimentos ou de respeitar os ângulos de conforto, determinam
excessiva tensão em determinadas regiões corporais.
As pesquisas recentes consideram que a postura é um factor importante no
desenvolvimento das lesões músculo – esqueléticas ligadas ao trabalho.
Algumas posturas estão relacionadas com patologias específicas, em particular
quando associadas a movimentos repetitivos, realização de força, e / ou ausência de
períodos de recuperação, das quais apresentamos alguns exemplos:
- Tenossinovite dos flexores ou extensores do antebraço e punho – flexão ou
extensão extremas do punho;
- Tendinite de De Quervain – desvio radial ou cubital do punho;
- Lesões ao nível do ombro – flexão ou abdução do ombro acima dos 90º, ou
extensão do ombro com alcance a zonas atrás do tronco;
- Sindroma do Túnel Cárpico – flexão extrema do punho.
Repetitividade
A repetitividade é considerada como um factor de risco de lesão músculo –
esquelética. As tarefas muito repetitivas, ou seja, aquelas que envolvem uma elevada
frequência na realização de determinados movimentos, condicionam maior tensão
muscular e um período de recuperação mais elevado. A necessidade de quantificação
da frequência (número de vezes em que ocorrem) de realização de cada gesto
durante um ciclo de trabalho é um indicador importante na quantificação do risco
potencial de lesão.
Períodos de Recuperação
O período de recuperação é aquele em que os músculos usados se encontram
inactivos, quer seja na realização de pausas, ou na execução de outras tarefas que
solicitem grupos musculares distintos.
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Deve ser verificada a sua duração e distribuição ao longo dos turnos de trabalho,
sendo o rácio recomendado entre o tempo total de recuperação e de trabalho, quando
as tarefas são repetitivas, de 5 a 10 minutos por hora.
7.3. Exemplos de Situações de Trabalho Penosas
Seguidamente apresentam-se alguns exemplos de situações de trabalho que
determinam exigências posturais elevadas:
- Postos de trabalho com grandes restrições de espaço que não permitem a adopção
de posturas confortáveis (salas com tectos baixos, contentores, condutas, tanques,
etc);
- Trabalho de pé e inexistência de possibilidade para sentar;
- Trabalho sentado e inexistência de possibilidade de andar ou de adoptar a postura
de pé;
- Altura ou inclinação inadequada da superfície de trabalho;
- Inexistência de suporte para os antebraços;
- Insuficiente espaço livre para os membros inferiores;
- Controlo podal demasiado alto ou accionado apenas por um pé;
- Disposição inadequada dos objectos de trabalho utilizados frequentemente;
- Disposição inadequada dos objectos a visualizar frequentemente;
- Deficiente configuração dos instrumentos de trabalho;
- Movimentação manual de cargas;
- Etc.
7.4. Prevenção e Controlo do Risco de Lesão Músculo - Esquelética
Qualquer modelo de prevenção do risco de lesão músculo – esquelética ligada ao
trabalho engloba diversas etapas, tais como a identificação da existência de factores
de risco, a avaliação dos níveis de risco potencial presentes em cada situação de
trabalho, o planeamento e implementação de medidas de prevenção e controlo e a
avaliação dos resultados obtidos.
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Dos vários modelos existentes para lidar com esta problemática, no que respeita à
fase de identificação dos factores de risco e sua avaliação, destacamos aquele que
Malchaire e Cook (2002) apresentam, pela sua aplicabilidade e integração dos
trabalhadores nas fases iniciais de triagem. Este modelo engloba 4 fases: 1- Despiste;
2 – Observação; 3 – Análise; 4 - Especializada.
A primeira fase de despiste aplica-se genericamente a todas as situações de trabalho
e permite uma primeira caracterização que engloba a identificação de áreas onde
ocorreram algum tipo de problemas (acidentes de trabalho, incidentes, doença
profissional, queixas de saúde, desconforto, etc.). Os instrumentos utilizados devem
ser simples, tais como as listas de verificação. Um exemplo referido pelo MMBG
(2002) engloba uma lista de verificação simples com uma escala de classificação de 0
a 4. Nesta escala cada valor representa o seguinte:
- 0 (nunca) – o factor em causa não aconteceu neste posto ou é irrelevante para este
tipo de tarefas;
- 1 (raramente) – significa que este factor ocorre esporadicamente e não constitui um
risco;
- 2 (regularmente) – este factor ocorre em intervalos que se repetem semanalmente,
até uma vez por semana, com uma duração que não excede os 30 minutos diários;
- 3 (frequentemente) – o factor ocorre repetidamente diariamente ou com uma
duração superior a 30 minutos, mas não decorre ao longo de todo o turno.
- 4 (muito frequentemente) – significa que este factor ocorre muito frequentemente
durante todo o turno de trabalho.
Nesta fase, os itens que integram este tipo de listas são genéricos e pretendem
apenas a identificação de zonas potencialmente problemáticas. Existem vários
modelos devendo adaptar-se aquele que se adequa às características do trabalha na
empresa. No exemplo que se segue, na coluna da direita o trabalhador encarregue da
verificação coloca o código respectivo, enquanto que na coluna da esquerda estão
descritos alguns dos itens que podem ser considerados:
Tarefas repetitivas
Pressão temporal
Trabalho nocturno
Transporte manual de cargas
Trabalho de pé
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A segunda fase aplica-se quando é identificada uma área problemática e continua a
ser de fácil aplicação, englobando, no entanto, a observação dos postos de trabalho e
a utilização de listas de verificação mais detalhadas.
A terceira e a quarta fases englobam a intervenção de especialistas, nomeadamente
de ergonomistas e a utilização de metodologias específicas tais como OWAS, RULA,
OCRA, NIOSH ou outras de acordo com as problemáticas identificadas.
O diagnóstico ergonómico da situação de trabalho permite estabelecer relações entre
as características da situação de trabalho, a natureza da tarefa, as características dos
trabalhadores e os efeitos sobre a saúde e bem estar e os resultados obtidos. A
caracterização dos aspectos críticos na situação de trabalho e a identificação dos
factores de risco permite estabelecer as medidas mais adequadas para a prevenção e
controlo das lesões músculo – esqueléticas ligadas ao trabalho.
As medidas para optimização da situação de trabalho contemplam a concepção ou
reconcepção dos postos de trabalho e/ou equipamentos, a organização do trabalho e
a formação dos trabalhadores. Estas serão referidas em detalhe no ponto seguinte.
7.5. Prevenção e Controlo do Risco de Lesão Músculo – Esquelética em
Grávidas, Puérperas e Lactantes
No âmbito da Prevenção das Raquialgias nas Mulheres durante a Gravidez, devem
evitar-se as tarefas que:
- Envolvam a movimentação manual, frequente, de cargas acima de 5 kg ou,
ocasionalmente, acima de 10 kg;
- Condicionem a adopção da postura de pé, por mais de 4 horas diárias, após o
quinto mês de gravidez;
- Condicionem a flexão elevada e frequente do tronco ou de forma mantida.
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8. Diversidade Antropométrica das Populações
Os factores antropométricos são de grande importância em Ergonomia, em particular
na concepção de postos e equipamentos de trabalho adequados à variabilidade
humana.
Uma simples observação mostra como a espécie humana apresenta uma enorme
variação de tamanhos físicos. Neste sentido, é necessário dispor de dados objectivos
que permitam adequar o envolvimento às formas e tamanhos das pessoas. Um
exemplo prático ressalta do quotidiano, as peças de vestuário apresentam vários
tamanhos, que diferem não apenas nas alturas, mas também nos comprimentos e
circunferências dos braços e pernas, assim como nas larguras dos ombros e nas
circunferências da cintura e do peito.
8.1. Noções básicas
A antropometria é um ramo das ciências biológicas que tem como objectivo de
estudo as características mensuráveis da morfologia humana, baseada na
mensuração sistemática e na análise quantitativa das variações dimensionais do corpo
humano.
As dimensões físicas de uma população podem ser determinadas através da medição
de comprimentos, profundidades e circunferências corporais.
A avaliação antropométrica das populações requer uma selecção criteriosa das
técnicas, dos instrumentos de medida, do tipo de medidas pretendidas e dos pontos
de referência antropométricos. Deste modo é possível minimizar os erros de
observação que frequentes neste tipo de estudos.
8.2. Diferenças Individuais
As populações, em termos mundiais, são compostas por indivíduos de diferentes tipos
fiscos ou biótipos. As proporções de cada segmento corporal apresentam diferenças
entre populações, que determinam três tipos de características dominantes individuais:
a) Endomorfo: indivíduos de formas arredondadas e macias, com grandes
depósitos de gordura. A sua forma externa é estreita em cima e larga
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em baixo. O abdómen é grande e cheio e o tórax parece ser
relativamente pequeno. Os braços e as pernas são curtos e flácidos. Os
ombros e a cabeça arredondados. O corpo tem baixa densidade.
b) Mesomorfo: indivíduos musculados, de formas angulosas. A cabeça é
cúbica e maciça, os ombros e o peito são largos e o abdómen pequeno.
Os membros são musculados e fortes. Possuem pouca gordura
subcutânea.
c) Ectomorfo: indivíduos de corpo e membros estreitos, com um mínimo
de gordura e de músculos. Os ombros são largos, mas descaídos. O
pescoço é fino e comprido, o rosto é magro e o tórax e abdómen são
estreitos e finos.
A maioria dos indivíduos não se encontram rigorosamente em nenhum destes tipos
básicos, misturando características dos três tipos. Assim, podem ser meso-
endomorfos, endo-ectomórficos, etc.
8.3. Diversidade Humana
O tamanho, forma e força dos seres humanos é influenciado pela idade e pelo sexo,
mas também devemos ter em consideração aspectos como a etnia, classe social e
ocupação. A estas diferenças sobrepõem-se as mudanças que ocorrem nas
populações durante um determinado período de tempo, algumas das quais são
atribuídas à migração e mistura genética de grupos étnicos distintos, enquanto outras
se associam a processos históricos complexos, o que no último século levou a um
aumento geral da altura da população mundial.
a) Diferenças de Género
Os homens e as mulheres apresentam diferenças antropométricas significativas, tanto
nas dimensões absolutas, como nas proporções dos diversos segmentos corporais. A
maioria dos homens tem uma estatura superior à da maioria das mulheres da mesma
etnia. Os homens apresentam membros superiores mais compridos devido ao
comprimento do antebraço ser maior. Na generalidade, as variáveis antropométricas
nos homens são superiores às das mulheres, com excepção para a largura e
circunferência da anca, superiores nas mulheres. No que se refere à composição
corporal, a gordura representa uma maior proporção do peso do corpo na mulher
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adulta (24,2%) do que no homem (13,5%). Também a gordura subcutânea se distribui
de forma diferente entre os sexos. As mulheres acumulam gordura no peito, coxas,
ancas e antebraços.
b) Diferenças Étnicas
Um grupo étnico consiste numa amostra ou população de indivíduos que fazem parte
de uma distribuição geográfica específica e têm em comum certas características
físicas que os distinguem, em termos estatísticos, de outros grupos.
Os grupos étnicos principais são os seguintes: Negróides, Caucasóides e
Mongolóides. Os Negróides incluem a maioria das pessoas de pele escura de África,
conjuntamente com algumas minorias étnicas da Ásia e ilhas do Pacífico. Nos
Caucasóides estão incluídas todas as pessoas de pele clara e escura da Europa,
Norte de África, Ásia Menor, Médio Oriente, Índia e Polinésia. Dos Mongolóides fazem
parte um largo número de grupos étnicos distribuídos através da Ásia Central, do leste
e do sudeste das populações indígenas das Américas.
Os processos de migração e de casamentos cruzados conduziu a que a maioria das
amostras populacionais inclui outros grupos étnicos para além do originário.
Algumas das diferenças mais características é o comprimento dos membros inferiores,
proporcionalmente maiores nos africanos negros do que nos europeus e inferiores nos
Japoneses, chineses e coreanos.
c) Tendência Secular para o Crescimento
Durante o último século ocorreram alterações biossociais na população de quase todo
o planeta que conduziram ao: aumento da estatura nos adultos; aumento da taxa de
crescimento das crianças; aparecimento da puberdade mais cedo.
De 1880 até, pelo menos 1960, em quase todos os países europeus, os EUA, a
Austrália e o Canadá, a magnitude da tendência tem sido similar: 10 mm por década
na estatura adulta.
d) Influência da Idade
Durante as diversas fases da vida o corpo sofre alterações na sua forma e dimensões.
De destacar que o processo de envelhecimento se inicia após os 30 anos de idade, a
partir dos quais o organismo vai perdendo gradualmente a sua capacidade funcional e
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a estatura começa a diminuir. É notório um declínio na estatura por volta dos 50 anos
nos homens e dos 60 nas mulheres, sendo que a diminuição na altura é maior nas
mulheres.
e) Classe Social e Ocupação
Alguns estudos apontam que existem diferenças na estatura entre diferentes classes
sociais, ou associadas à ocupação. No entanto, estes dados não são consensuais.
8.4. Adequação entre a Diversidade Humana e o Envolvimento
A variabilidade humana das populações coloca alguns problemas na concepção dos
vários componentes do envolvimento. A adequação só seria perfeita se cada produto
fosse concebido para um determinado sujeito, mas tal não é viável. Deste modo, a
adequação obtém-se através de técnicas de optimização, em função do material e do
tempo de utilização, obtendo-se artigos estandardizados.
A maioria das dimensões lineares do corpo humano têm uma distribuição normal e a
frequência de distribuição de uma dimensão particular revela uma curva de Gauss.
Assim, a maior parte das medidas individuais cai dentro desta curva. Nos processos
de concepção, não sendo possível acomodar todos os utilizadores, concebe-se para
90% dos utilizadores, sendo o valor mais baixo definido pelo percentil 5 de uma
dimensão e o valor mais alto pelo percentil 95.
8.5. Medidas Antropométricas Estáticas
Os dados antropométricos estáticos, também conhecidos como estruturais, dizem
respeito às dimensões estruturais fixas do corpo humano. Estas medidas são feitas
em posições corporais fixas e entre pontos anatómicos de referência. O número de
medidas possíveis é elevado e muitas estão relacionadas com a concepção de
espaços ou equipamentos específicos. Na concepção de espaços e equipamentos de
trabalho é necessário ter em consideração as correcções para o vestuário a utilizar.
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Figura 1: Exemplo de medidas antropométricas estáticas (Pheasant, 1988).
8.6. Medidas Antropométricas Dinâmicas
Estas dimensões são avaliadas relativamente ao movimento de um ou vários
segmentos corporais, como por exemplo ao alcançar um comando. Este tipo de
medidas vai permitir definir envelopes de trabalho. O conjunto dos arcos obtidos pelo
movimento dos segmentos permite, também, definir volumes de trabalho que resultam
da intersecção dos vários planos.
Figura 2: Zonas de alcance manual (Pheasant, 1988).
Estes dados são importantes para a definição de áreas de trabalho. As áreas de
trabalho preferidas para as mãos e pés situam-se em frente ao corpo, dentro de
envelopes que reflectem a mobilidade do antebraço e braço, ou da perna e coxa.
Estes envelopes são muitas vezes definidos como esferas em redor das articulações
relativas aos movimentos e segmentos em questão.
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Figura 3: Representação das áreas de trabalho manual no plano horizontal.
9. Principais constrições à Concepção de Espaços e Equipamentos de Trabalho
A diversidade antropométrica traduzida no facto de os seres humanos variarem
consideravelmente em todas as dimensões corporais e da probabilidade de encontrar
um indivíduo com o mesmo percentil em todos os segmentos ser mínima provoca
constrições no processo de concepção.
a) Espaço Livre – espaço mínimo para dar acesso pessoal a passagens sujeitas a
limitações espaciais. Os envolvimentos devem fornecer um acesso e espaço de
circulação adequados. Se for escolhido o percentil 95 da população utilizadora, então
a restante população mais pequena será acomodada.
b) Alcance – Resulta do deslocamento dos segmentos corporais no espaço tendo em
vista a execução de uma tarefa. Os constrangimentos do alcance determinam a
dimensão máxima aceitável do objecto, sendo estes definidos pelo percentil 5 da
população utilizadora.
c) Força – Este aspecto diz respeito à aplicação de força no manuseamento de
controlos ou outras tarefas com exigência física. As limitações de força impõem
constrangimentos, pelo que a determinação do nível de força aceitável deve ser
determinado a partir dos utilizadores com menores capacidades.
d) Postura – A postura é determinada pela relação entre as dimensões do corpo e as
dimensões do envolvimento na realização de determinadas tarefas. Este
constrangimento é complexo pois decorre dos que referimos nos pontos anteriores.
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10. Trabalho com Ecrãs de Visualização
A progressiva introdução das novas tecnologias, informática, burótica, robótica,
telecomunicações, nos vários sectores de actividade determina que os trabalhadores
se adaptem as formas de trabalho com exigências visuais, posturais, mentais também
diferentes.
O DL 349/93 de 1 de Outubro estabelece as prescrições mínimas de segurança e de
saúde respeitantes ao trabalho com equipamentos dotados de visor, sendo
regulamentado pela portaria 989/93 de 6 de Outubro. Deste constam como obrigações
dos empregadores a realização de uma análise dos postos de trabalho destinada a
avaliar as condições de segurança e de saúde oferecidas aos trabalhadores,
nomeadamente no que respeita aos eventuais riscos para o sistema visual, músculo-
esquelético e, também, em termos mentais.
10.1. Tipo de Tarefas
As tarefas realizadas com ecrãs de visualização repartem-se essencialmente por dois
tipos:
1. tarefas de entrada de dados – incidindo fundamentalmente na interacção com
o teclado;
2. tarefas de diálogo entre o operador e o equipamento – condicionando uma
interacção mais frequente com o monitor.
10.2. Elementos do Posto de Trabalho
O posto de trabalho e o tipo de assento devem ser concebidos de forma a permitir a
variabilidade da postura de trabalho. Para que o operador tire o maior partido dos
elementos do posto de trabalho deverá conhecer as diferentes formas de regulação e
a eficácia da sua utilização.
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10.2.1. Características do Plano de Trabalho
No caso das actividades tradicionais na utilização dos ecrãs de visualização em
escritórios encontramos um plano único de trabalho ou, frequentemente, dois planos
adjacentes. A segunda situação permite uma melhor rentabilização do espaço e a
proximidade dos vários equipamentos e instrumentos.
Altura, largura e profundidade do plano de trabalho
A altura da superfície de trabalho deve permitir acomodar de forma confortável os
membros inferiores dos operadores do percentil 95 do sexo masculino e ser suficiente
para a sua movimentação.
Se o plano de trabalho é fixo a altura recomendada é de 72 cm.
Se o plano de trabalho é ajustável a sua altura pode variar entre uma altura mínima de
68 cm e os 78 cm.
Por debaixo do plano de trabalho deve ser assegurado espaço livre para
movimentação das pernas tanto lateralmente (mínimo de 60 cm) como em
profundidade (entre 55 e 70 cm).
A largura do plano de trabalho vai depender do tipo de tarefas e de suportes usados
pelo operador, assim como do número de planos que este integra (um ou dois). A
largura recomendada varia entre os 120 cm e os 160 cm.
A profundidade do plano de trabalho relaciona-se com a possibilidade de colocação do
ecrã respeitando a distância de visualização, e organização dos restantes elementos
como o teclado, o rato, ou outros. O valor recomendado é de 80 cm.
De considerar ainda que os planos de trabalho devem possuir os rebordos
arredondados (boleados) de forma a evitar as arestas, e serem de tom mate com um
factor de reflexão que varia entre 0,3 e 0,4, admitindo-se um máximo de 0,5.
Bloco de Gavetas
Os blocos de gavetas podem ser fixos ou móveis em função da actividade de trabalho.
Particular atenção deve ser dada à colocação dos blocos fixos em função da
localização do monitor no plano de trabalho, de forma a que não impeçam uma
correcta aproximação do operador a essa zona.
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10.2.2. Características da Cadeira
A escolha do tipo de cadeira corresponde a imperativos de conforto e respeito pela
diversidade antropométrica, pelas curvaturas anatómicas da coluna, pela circulação
arterio – venosa em função do tipo de tarefas a realizar.
As principais características da cadeira devem respeitar os seguintes critérios:
- Base com cinco apoios rodados. O tipo de rodízio deve ser adaptado ao solo de
forma a garantir uma boa aderência.
- Assento regulável em altura (42-52 cm). A largura do assento pode variar entre 40 e
48 cm e a profundidade entre 38 e 44 cm. O rebordo anterior deve ser arredondado.
O revestimento do assento deve ser constituído de material permeável ao ar.
- Encosto com apoio lombar, regulável em altura e em inclinação. A largura do
encosto pode variar entre 36 e 48 cm. A altura do encosto pode variar, no entanto
um encosto médio ou alto garantem um melhor suporte das costas dos operadores.
- Apoio de braços: em função do tipo de tarefas podem existir ou não. A sua altura e
largura não devem impedir a aproximação da cadeira ao plano de trabalho.
A regulação dos componentes da cadeira deverá ser realizada de forma fácil e sem
esforço, pelo próprio operador na posição de sentado.
10.2.3. Características do Apoio para Pés
O apoio para os pés deve ser previsto para os operadores de menor altura quando se
verifica que, após a regulação da altura do assento da cadeira em relação à secretária,
este não realiza um bom apoio dos pés no solo.
O apoio para os pés deve ser independente dos restantes elementos do posto de
trabalho.
10.2.4. Organização dos Elementos do Posto de Trabalho
Para além do mobiliário inerente ao posto de trabalho que referimos nos pontos
anteriores, há que ter em consideração que a posição do monitor, a distância do olho
ao monitor, a posição do teclado e do rato, são susceptíveis de influenciar a sensação
de conforto e bem estar do profissional.
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Posição do Monitor
O bordo superior do monitor deve posicionar-se ao nível do eixo horizontal do olhar
com o operador com o tronco erecto e correctamente apoiado.
A distância recomendada do olho ao monitor varia entre um valor mínimo de 50 cm e
máximo de 70cm. A distância média recomendada é de 60 cm.
O monitor deverá ser colocado perpendicularmente às fontes de iluminação natural
(janelas), não devendo existir nenhuma janela à frente ou atrás do monitor.
Posição do Teclado e Rato
O teclado deve ser colocado, preferencialmente, em frente ao monitor. Sempre que
esta configuração não é possível tentar colocá-lo o mais próximo possível de modo a
evitar posturas de rotação da cervical ou do tronco.
Deverá manter-se um espaço livre em frente ao teclado de cerca de 10 cm, que
permita o apoio confortável das mãos e dos punhos na superfície de apoio.
O rato deverá ser colocado no mesmo plano do teclado e na sua proximidade.
10.3. Principais Factores de Risco
O trabalho com ecrãs de visualização condiciona elevadas exigências atencionais,
visuais e posturais aos operadores.
Os principais riscos relacionados com o trabalho informatizado são relativos ao
sistema visual e músculo – esquelético, mas não deverão ser esquecidos os aspectos
de carga mental deste tipo de tarefas.
De uma forma geral o trabalho informatizado implica: elevada concentração; visão a
curta distância; movimentos frequentes dos olhos; postura de sentado por longos
períodos de tempo; movimentos frequentes das mãos e dos punhos; posturas
estáticas.
O sistema visual pode apresentar sinais de fadiga relativamente aos seguintes
aspectos: focagem de imagens por períodos de tempo prolongados; adaptação
constante a mudanças de iluminância e de brilho; reflexos; encandeamento entre as
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fontes de referência e o ecrã; falta de nitidez e de contraste; ilegibilidade de certos
caracteres.
Os sinais de fadiga mais frequentes são: lacrimejo; sensação de ardor;
hipersensibilidade à luz; vermelhidão; dores de cabeça.
O trabalho informatizado coloca, também, elevadas exigências de concentração,
podendo algumas das tarefas desempenhadas serem monótonas e repetitivas. A
pressão temporal do trabalho e muitas vezes o isolamento podem conduzir ao
aparecimento de stress.
10.4. Medidas de Prevenção
A prevenção dos riscos relativos ao trabalho com ecrãs de visualização engloba
medidas dirigidas ao ambiente, equipamentos, espaço e organização do trabalho, pelo
que sistematizamos os aspectos mais relevantes.
Equipamentos
Os equipamentos e mobiliário de trabalho não devem constituir fonte de risco para a
saúde e segurança dos operadores, devendo cumprir os requisitos mínimos referidos
nos pontos anteriores.
Alternância e pausas de trabalho
A organização da actividade de trabalho deve permitir a interrupção periódica do
trabalho, seja através de pausas ou pela alternância de tarefas com diferentes
exigências. As pausas devem ser introduzidas após 2 horas de trabalho e ter uma
duração de 15 minutos.
Informação e Formação
Todos os trabalhadores devem receber formação e informação adequadas sobre a
utilização dos equipamentos antes do inicio da sua actividade e sempre que ocorram
mudanças no posto de trabalho.
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Bibliografia:
• Bridger, R.S. (1995), Introduction to Ergonomics, McGraw-Hill, Inc., USA.
• Cazamian, P (1987), Traité d’Ergonomie, Ed Octares,
• Grace, Victoria (1991), The marketing of empowerment and the construction of the health consumer: A critique of Health Promotion, International Journal of Health Services, 21 (2).
• Guérin,F., Laville, A., Daniellou, F., Duraffourg, J. & Kerguelen, A. (1991), Comprendre le Travail pour le Transformer, ANACT.
• Ian Noy, Y. (2000), The need of integrating human-centred considerations in Quality Policy, II Congresso de Ergonomia “Ergonomia na Gestão pela Qualidade”, APERGO, 6 e 7 de Abril, Costa da Caparica.
• Karwowski, W. & Dzissah, J. (2000), Design and Evaluation of system integration efforts for occupational and environmental safety and health, ergonomics and quality management, II Congresso de Ergonomia APERGO, 6 e 7 de Abril, Costa da Caparica.
• Kumar, S. (1999), Biomechanics in Ergonomics, Taylor and Francis.
• Pheasant, Stephen (1988), Anthropometry, Ergonomics and Design, Taylor and Francis, London.
• Putz-Anderson, Vern (1988), Cumulative trauma disorders – A manual for musculoskeletal diseases of the upper limbs, Taylor and Francis, London.
• www.apergo.pt
• www.iea.org
Formador: Teresa Patrone Cotrim
Email: [email protected]