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Manual de Direitos Difusos 2ª ed. Fechado em Junho de 2012 direitos difusos_miolo.indd 1 7/27/12 11:08 AM

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Manual de Direitos Difusos2ª ed.

Fechado em Junho de 2012

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Manual de Direitos Difusos2ª ed.

Vidal Serrano Nunes Júnior(Coordenação)

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Manual de direitos difusos / Vidal Serrano Nunes Júnior, (coordenador). – 2. ed. – São Paulo : Editora Verbatim, 2012.

Vários autores.

ISBN 978-85-61996-59-8

1. Interesses difusos (Direito) I. Nunes Júnior, Vidal Serrano.

12-06039 CDD-347.44

Índices para catálogo sistemático:1. Direitos difusos : Manuais : Direito civil 347.44

EDITOR: Antonio Carlos Alves Pinto SerranoCONSELHO EDITORIAL: Antonio Carlos Alves Pinto Serrano, André Mauro Lacerda Azevedo, Fernando Reverendo Vidal Akaoui, Fulvio Gianella Júnior, José Luiz Ragazzi, Hélio Pereira Bicudo, Luiz Alberto David Araujo, Luiz Roberto Salles, Marcelo Sciorilli, Marco Antônio Moreira da Costa, Marilena I. Lazzarini, Motauri Ciochetti Souza, Oswaldo Peregrina Rodrigues, Roberto Ferreira Archanjo da Silva, Suelli Dallari, Vanderlei Siraque, Vidal Serrano Nunes Júnior, Vinicius Silva Couto Domingos.ASSISTENTES EDITORIAIS: Bárbara Pinzon de Carvalho Martins e Klaus PrellwitzCAPA E DIAGRAMAÇÃO: Manuel Rebelato Miramontes

Direitos reservados desta edição porEDITORA VERBATIM LTDA.Rua Zacarias de Góis, 2006CEP 04610-000 – São Paulo – SPTel. (0xx11) 5533.0692www.editoraverbatim.com.bre-mail: [email protected]

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SUMÁRIO

AUTORES................................................................................................................................................................ 7

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................... 11

DIREITO AMBIENTAL .................................................................................................................................... 13Fernando Reverendo Vidal Akaoui

DIREITO DA EDUCAÇÃO ............................................................................................................................... 81Motauri Ciocchetti de Souza

DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE ................................................................................................. 137Martha de Toledo Machado

DIREITO DO CONSUMIDOR ....................................................................................................................... 215Vidal Serrano Nunes Júnior e Antonio Carlos Alves Pinto Serrano

DIREITO SANITÁRIO ..................................................................................................................................... 303Geisa de Assis Rodrigues

DIREITO URBANÍSTICO ............................................................................................................................... 399José Carlos de Freitas

DIREITOS DO IDOSO ..................................................................................................................................... 439Oswaldo Peregrina Rodrigues

DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................................... 549Flávia Piovesan

PROBIDADE ADMINISTRATIVA ................................................................................................................ 563Nilo Spinola Salgado Filho

PROCESSO COLETIVO ................................................................................................................................... 653José Luiz Ragazzi, Raquel Schlommer Honesko, Soraya Gasparetto Lunardi

PROTEÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA .................................................................................... 711Luiz Alberto David Araujo e Eliana Franco Neme

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6 Sumário

ORDEM ECONÔMICA E DEFESA DA CONCORRÊNCIA ................................................................... 761Marcelo Sciorilli

INQUÉRITO CIVIL .......................................................................................................................................... 791Marcelo Sciorilli

COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA ..........................................................................809Marcelo Sciorilli

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AUTORES

Vidal Serrano Nunes Júnior

É Procurador de Justiça, integrando o Conselho Superior do Ministério Público do estado de São Paulo. Mestre, Doutor e Livre-Docente em Direito Constitucional pela PUC-SP. É também professor dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da PUC-SP, do programa de Pós-Graduação da Instituição Toledo de Ensino e da Escola Superior do Ministério Público do estado de São Paulo.

Antonio Carlos Alves Pinto Serrano

Advogado e editor.

Eliana Franco Neme

Mestre e Doutora em Direito Constitucional; Professora dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da Instituição Toledo de Ensino, ITE - Bauru.

Fernando Reverendo Vidal Akaoui

Doutor e Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela PUC/SP - Professor Titular e Coordenador Pedagógico da Faculdade de Direito da UNISANTA - Professor convi-dado dos programas de pós-graduação da UNISANTA, PUC/SP, FAAP, UNIAN-CHIETA, UNIMEP e da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo - Conse-lheiro do CONAMA - Membro do Conselho Editorial da Editora Verbatim e da Revista de Direito Ambiental (RT).

Flávia Piovesan

Professora doutora em Direito Constitucional e Direitos Humanos da Ponti-fícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), professora de Direitos Humanos dos Programas de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Universidade Pablo de Olavide (Sevilha, Espanha); visiting fellow do Human Rights Program da Harvard Law School

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8 Autores

(1995 e 2000), visiting fellow do Centre for Brazilian Studies da University of Oxford (2005), visiting fellow do Max Planck Institute for Comparative Public Law and Inter-national Law (Heidelberg - 2007 e 2008), procuradora do Estado de São Paulo, membro do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), membro do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e membro da Human Rights University Network (SUR).

Geisa de Assis Rodrigues

Procuradora Regional da República da 3ª Região. Doutora em Direito pela Univer-sidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora licenciada da Universidade Federal da Bahia.

José Carlos de Freitas

1º Promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo de São Paulo/SP – Foi coor-denador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Habitação e Urbanismo do Estado de São Paulo - CAOHURB, de março de 1998 a fevereiro de 2003 - Especialista em Interesses Difusos e Coletivos pelo Centro de Estudos e Aper-feiçoamento Funcional da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo (ESMP) - Professor Convidado no Curso de Especialização em Interesses Difusos e Coletivos da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, na Sociedade Brasileira de Direito Público e na Escola Superior da Advocacia - OAB/SP - Coordenou os livros Temas de Direito Urbanístico, 1, 2 e 3, coedição Ministério Público e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (IMESP) - Compõe o Conselho Editorial da revista Fórum de Direito Urbano e Ambiental, da Editora Fórum, Minas Gerais - Membro do Conselho Científico da Revista de Direito Imobiliário, publicação da Revista dos Tribunais.

José Luiz Ragazzi

Mestre em Direito – ITE/Bauru, Doutor em Direito Processual Civil – PUC/SP, Professor do Curso de Mestrado da UNIMAR, Professor de vários cursos de pós--graduação no país, Professor da Escola da Magistratura do Paraná, Advogado.

Luiz Alberto David Araujo

Mestre, Doutor, e Livre-Docente em Direito Constitucional. Professor titular de Direito Constitucional da PUC-SP (Graduação e Pós-Graduação). Professor  e Coor-denador do Curso de Pós-Graduação da Instituição Toledo de Ensino (Mestrado e

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Doutorado) - Bauru, São Paulo. Foi Procurador do estado de São Paulo. É Procurador Regional da República aposentado.

Marcelo Sciorilli

É membro do Ministério Público do estado de São Paulo. Mestre e Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Professor da Escola Superior do Ministério Público do estado de São Paulo. Autor dos livros “A ordem econômica e o Ministério Público” e “Direito de Propriedade e Política Agrária”, publicados pela Editora Juarez de Oliveira e “Mandado de Segurança” (em coautoria com Vidal Serrano Nunes Jr.), publicado por esta Editora.

Martha de Toledo Machado

É mestre e doutora em Direito pela Faculdade de Direito da PUC-SP, onde é profes-sora concursada, regente de Direito da Criança e do Adolescente e Direitos Humanos. É procuradora de justiça, membro do Ministério Público do Estado de São Paulo desde 1988.

Motauri Ciocchetti de Souza

Promotor de Justiça em São Paulo. Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Doutor em Direito do Estado pela PUC/SP. Professor da PUC/SP, do Curso Marcato Preparatório para Concursos e de Cursos de Especialização. Autor da obra “Direito Educacional”, editada por esta Editora.

Nilo Spinola Salgado Filho

Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo. Mestre em Direito das Relações Sociais, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo. Professor do Complexo Educacional Prof. Damásio de Jesus.

Oswaldo Peregrina Rodrigues

Doutor e Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Promotor de Justiça em São Paulo/SP. Assessor da Procuradoria Geral de Justiça (desde março/2008). Coordenador dos Cursos de Pós-Graduação da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo (dezembro/2001 a fevereiro/2007). Professor de Direito Civil na PUC/SP.

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10 Autores

Raquel Schlommer Honesko

Mestre em Direito – ITE/Bauru, Professora da EMAP - Escola da Magistratura do Paraná e da FEMPAR - Fundação Escola do Ministério Público de Paraná - núcleos Londrina, Advogada.

Soraya Gasparetto Lunardi

Pós doutora em direito pela Universidade de Athenas na Grécia, Doutora em direito pela PUC/SP, Coordenadora e Professora do Mestrado em Direito de Marília e Professora da ITE/Bauru.

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APRESENTAÇÃO

A ideia que orientou a concepção deste Manual de Direitos Difusos foi a de propi-ciar ao estudante e ao profissional do Direito um único livro que reunisse todas as matérias habitualmente tratadas sob essa rubrica.

Dentro desta perspectiva, era absolutamente inviável, sob o aspecto científico, que todas elas fossem abordadas por um único autor, tamanha a variação dos conteúdos a serem manejados.

Com efeito, algumas das matérias foram inauguradas, do ponto de vista de um tratamento normativo sistemático, recentemente (ex. Direito do Idoso), outras são pouco abordadas pela doutrina tradicional (ex. Direito Sanitário), outras reclamam abordagens específica e refratária ao trato cotidiano dos operadores do Direito (ex. Habitação e Urbanismo), outras ainda devem ser integradas por uma abordagem de Direito Internacional (ex. Direitos Humanos).

Exatamente por isso, deliberamos organizar a presente edição, convidando experts, da mais alta suposição e da mais larga experiência, em cada um dos temas tratados.

Todos, em verdade, professores e profissionais consagrados nas respectivas áreas, dispensando, verdadeiramente, uma apresentação individual, vez que, pela notória especialização, já são suficientemente conhecidos nas áreas em que prioritariamente atuam.

Finalmente, cabe registrar ainda que houve uma preocupação com a padronização das formas, com o objetivo de fazer com que cada tema pudesse, de um lado, ser isola-damente estudado, mas sem que houvesse perda da noção de conjunto, em relação àqueles que pretendam um estudo minucioso e sistemático da matéria.

Prof. Vidal Serrano Nunes JúniorProcurador de Justiça, integrando o Conselho Superior do Ministério Público

do Estado de São Paulo. Mestre, Doutor e Livre-Docente em Direito Constitucional pela PUC-SP. É também Professor dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da PUC-SP,

do programa de pós-graduação da Instituição Toledo de Ensino – Bauru e da Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo.

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DIREITO AMBIENTAL

Fernando Reverendo Vidal Akaoui1

Sumário: 1. Bem ambiental 1.1 Introdução 1.2 Conceito 1.3 Natureza jurídica 1.4 Classificação didática 2. Proteção constitucional do meio ambiente 2.1 Panorama geral 2.2 Competência le-gislativa 2.3 Competência material 2.4 Responsabilidade por danos ambientais 3. Princípios constitucionais do meio ambiente 3.1 Princípios da precaução e da prevenção 3.2 Princípio do desenvolvimento sustentável 3.3 Princípio do poluidor-pagador 3.4 Princípio da participação 3.5 Princípio da ubiidade 4. Política Nacional do Meio Ambiente 4.1 Princípios 4.2 Objetivos 4.3 Instrumentos 4.4 CONAMA 5. Licenciamento ambiental 5.1 Noções gerais 5.2 Classificação das licenças ambientais 5.3 Estudo prévio de impacto ambiental – EIA 6. Proteção jurídica da f lora 6.1 Áreas especialmente protegidas 6.2 Áreas de preservação permanente 6.3 Unidades de conserva-ção 6.4 Reserva legal 7. Proteção jurídica da fauna 8. Proteção jurídica do patrimônio cultural 8.1 Classificação didática e aspectos gerais 8.2 Meios de proteção 9.Outros temas ambientais de re-levância 9.1 Poluição sonora 9.2 Recursos hídricos 9.3 Resíduos sólidos 9.4 Mineração 10. Tutela Penal do Meio Ambiente 10.1 Considerações preliminares 10.2 Responsabilidade penal da pessoa jurídica 10.3 Sujeito do crime. Pessoa física. Crimes omissivos 10.4 Penas aplicáveis 10.5 Aspectos processuais 10.6 Aspectos polêmicos da Lei de Crimes Ambientais.

1. Bem ambiental

1.1 IntroduçãoAo iniciarmos nosso estudo sobre a tutela do meio ambiente, é de suma impor-

tância fixarmos, de uma vez por todas, que a defesa deste bem jurídico, além de uma obrigação constitucional, é um dever de sobrevivência de toda a humanidade.

Aquela visão ingênua, e absolutamente simplista, de protetores do meio ambiente como pessoas radicais, que sempre estão pleiteando coisas insignificantes ou impossí-veis, já não tem mais espaço diante da magnitude dos problemas hodiernamente veri-ficados em decorrência das agressões múltiplas a este bem jurídico difuso.

Não há dúvidas de que a verdade está nas palavras de José Renato Nalini, quando afirma que “a ameaça ao ambiente é questão eminentemente ética. Depende de uma

1 Doutor e Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela PUC/SP - Professor Titular e Coordena-dor Pedagógico da Faculdade de Direito da UNISANTA - Professor convidado dos programas de pós-graduação da UNISANTA, PUC/SP, FAAP, UNIANCHIETA, UNIMEP e da Escola Su-perior do Ministério Público de São Paulo - Conselheiro do CONAMA - Membro do Conselho Editorial da Editora Verbatim e da Revista de Direito Ambiental (RT).

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PROTEÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Luiz Alberto David Araujo1

Eliana Franco Neme2

Sumário: 1. O painel existente antes da Emenda Constitucional nº. 45 de 2004 2. A Emenda Cons-titucional 45 e § 3º, do art. 5º 3. A Convenção sobre direitos das Pessoas com Deficiência e o sistema interno 4. O inegável conteúdo de Direitos Humanos da Convenção 5. O direito interno e a Convenção: a aplicação da vedação § 4º, do artigo 60 da Constituição Federal 6. As normas já existentes face à Convenção: incorporação da norma e a maior efetivação dos direitos 7. A definição de pessoa com deficiência, a Convenção e o decreto regulamentar 8. A Convenção e a legislação ordinária futura 9. Conclusão.

1. O painel existente antes da Emenda Constitucional n. 45 de 2004

O texto da Constituição Federal de 1988, que foi originariamente publicado em 5 de outubro de 1988, deixava claro que os tratados internacionais faziam parte da ordem jurídica interna e que poderiam trazer direitos para o sistema. Essa era a primeira posição trazida da leitura do § 2º, do art. 5º, no entanto não era a única. Paralelamente, existia uma corrente doutrinária que entendia que os direitos incorporados, por força do mencionado parágrafo, o seriam no patamar constitucional, e não como lei ordi-nária. A ideia era defendida por nomes e argumentos de peso, que sustentavam sua posição basicamente na principiologia constitucional em relação às relações interna-cionais e aos direitos humanos, e na efetiva manifestação de vontade do Executivo e do Legislativo para a incorporação dos tratados no sistema interno. De outro lado, a falta

1 Mestre, Doutor, e Livre-Docente em Direito Constitucional. Professor titular de Direito Cons-titucional da PUC-SP (Graduação e Pós-Graduação). Professor  e Coordenador do Curso de Pós-Graduação da Instituição Toledo de Ensino (Mestrado e Doutorado) - Bauru, São Paulo. Foi Procurador do estado de São Paulo. É Procurador Regional da República aposentado.

2 Mestre e Doutora em Direito Constitucional; Professora dos cursos de Graduação e Pós-Gra-duação da Instituição Toledo de Ensino, ITE - Bauru.

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de tutela normativa específica, clara, deixava de consignar tal posição – argumento dos que entendiam que os direitos trazidos por tal parágrafo entrariam no patamar ordinário –, abrindo a porta dos tratados para o sistema, sem, no entanto, reconhecer o patamar de norma constitucional, mas apenas de lei ordinária. O Supremo Tribunal Federal havia consagrado tal posição, colocando fim à discussão.

Pelo entendimento da Corte, o sistema permitia que os tratados se incorporassem e integrassem o direito interno, como não podia deixar de ser. No entanto, tal incor-poração se dava como norma ordinária e não como norma constitucional. Esse era o quadro vigente até 2004, quando do advento da Emenda Constitucional n. 45. As normas decorrentes dos tratados deveriam ser assinadas pelo presidente da República, ratificadas pelo Congresso Nacional, por força de decreto legislativo e, por fim, ainda havia a necessidade de um decreto de promulgação. A emenda do voto do ministro Celso de Melo, na ADI - MC 1480/DF - Distrito Federal, é didática e merece transcrição:

EMENTA: - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CONVENÇÃO Nº 158/OIT - PROTEÇÃO DO TRABALHADOR CONTRA A DESPEDIDA ARBI-TRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA - ARGUIÇÃO DE ILEGITIMIDADE CONSTI-TUCIONAL DOS ATOS QUE INCORPORARAM ESSA CONVENÇÃO INTER-NACIONAL AO DIREITO POSITIVO INTERNO DO BRASIL (DECRETO LEGISLATIVO Nº 68/92 E DECRETO Nº 1.855/96) - POSSIBILIDADE DE CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE DE TRATADOS OU CONVENÇÕES INTERNACIONAIS EM FACE DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚ-BLICA - ALEGADA TRANSGRESSÃO AO ART. 7º, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E AO ART. 10, I DO ADCT/88 - REGULAMENTAÇÃO NORMATIVA DA PROTEÇÃO CONTRA A DESPEDIDA ARBITRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA, POSTA SOB RESERVA CONSTITUCIONAL DE LEI COMPLEMENTAR - CONSE-QUENTE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DE TRATADO OU CONVENÇÃO INTERNACIONAL ATUAR COMO SUCEDÂNEO DA LEI COMPLEMENTAR EXIGIDA PELA CONSTITUIÇÃO (CF, ART. 7º, I) - CONSAGRAÇÃO CONSTI-TUCIONAL DA GARANTIA DE INDENIZAÇÃO COMPENSATÓRIA COMO EXPRESSÃO DA REAÇÃO ESTATAL À DEMISSÃO ARBITRÁRIA DO TRABA-LHADOR (CF, ART. 7º, I, C/C O ART. 10, I DO ADCT/88) - CONTEÚDO PROGRA-MÁTICO DA CONVENÇÃO Nº 158/OIT, CUJA APLICABILIDADE DEPENDE DA AÇÃO NORMATIVA DO LEGISLADOR INTERNO DE CADA PAÍS - POSSIBILI-DADE DE ADEQUAÇÃO DAS DIRETRIZES CONSTANTES DA CONVENÇÃO Nº 158/OIT ÀS EXIGÊNCIAS FORMAIS E MATERIAIS DO ESTATUTO CONS-TITUCIONAL BRASILEIRO - PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR DEFERIDO,

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SUMÁRIO

ORDEM ECONÔMICA E DEFESA DA CONCORRÊNCIA ................................................................. 7I. A ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 .......................................71. Considerações iniciais ...........................................................................................................................72. Princípios Constitucionais da Atividade Econômica ....................................................................10

2.1 Princípio da soberania nacional .............................................................................................102.2 Princípio da propriedade privada ......................................................................................... 122.3 Princípio da função social da propriedade .......................................................................... 132.4 Princípio da livre concorrência ..............................................................................................142.5 Princípio da defesa do consumidor .......................................................................................162.6 Princípio da defesa do meio ambiente ..................................................................................182.7 Princípio da redução das desigualdades regionais e sociais ............................................. 202.8 Princípio da busca do pleno emprego ...................................................................................212.9 Princípio do tratamento favorecido às empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país ................................. 22

II. A DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA e o ABUSO DO PODER ECONÔMICO ........... 241. A defesa da livre concorrência ........................................................................................................... 242. Abuso do poder econômico e infrações à ordem econômica ....................................................... 26III. ORDEM ECONÔMICA, DEFESA DA CONCORRÊNCIA e INTERESSES DIFUSOS ...... 301. O caráter difuso da ordem econômica e da defesa da concorrência ........................................... 302. A legitimidade do Ministério Público para a defesa da ordem econômica e da livre concorrência .............................................................................................................................333. Competência para o processo e julgamento das ações civis públicas ......................................... 35BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 37

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ORDEM ECONÔMICA E DEFESA DA

CONCORRÊNCIA1

Marcelo Sciorilli2

I.A Ordem Econômica na Constituição Federal de 1988. 1.Considerações iniciais. 2.Princípios Constitucionais da Atividade Econômica 2.1 Princípio da soberania nacional 2.2 Princípio da propriedade privada 2.3 Princípio da função social da propriedade 2.4 Princípio da livre concorrência 2.5 Princípio da defesa do consumidor 2.6 Princípio da defesa do meio ambiente 2.7 Princípio da redução das desigualdades regionais e sociais 2.8 Princípio da busca do pleno emprego 2.9 Princípio do tratamento favorecido às empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país. II.A Defesa da Concor-rência e o Abuso do Poder Econômico. 1. A defesa da livre concorrência 2. Abuso do poder econômico e infrações à ordem econômica. III. Ordem Econômica, Defesa da Concorrência e Interesses Difusos 1. O caráter difuso da ordem econômica e da defesa da concorrência 2. A legitimidade do Ministério Público para a defesa da ordem econômica e da livre concorrência 3. Competência para o processo e julgamento de ações civis públicas.

I. A ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

1. Considerações iniciaisSeguindo a linha de muitas das constituições contemporâneas, nossa Carta

Magna destinou um título próprio à disciplina da atividade econômica e do sistema financeiro (Título VII, arts. 170 a 192). Partindo-se de uma interpretação sistemá-tica desses preceitos constitucionais, conclui-se que no Estado brasileiro vigora a

1 Para um exame mais detalhado da matéria, cf. o nosso A Ordem Econômica e o Ministério Público, publicado pela Editora Juarez de Oliveira (2004).

2 Mestre e Doutor em Direito do Estado pela PUC-SP. Professor da Escola Superior do Minis-tério Público do Estado de São Paulo e de Cursos de Pós-Graduação em Direito. Promotor de Justiça-SP

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INQUÉRITO CIVIL

Marcelo Sciorilli1

Sumário: 1. Origem e fundamento normativo 2. Conceito, natureza jurídica e objeto 3. Caracte-rísticas 4. Procedimento Preparatório de Inquérito Civil 5. Instauração do inquérito civil 6. Ins-trução. 7. Prazo de conclusão, arquivamento, desarquivamento, propositura de ação civil pública 8. Valor probatório do inquérito civil.

1. Origem e fundamento normativoA origem do inquérito civil está atrelada, de forma indissociável, à necessidade

de aparelhar o Estado, sobretudo o Ministério Público, para a defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.

De fato, diante do incremento gradativo ao rol de atribuições conferidas ao Minis-tério Público brasileiro, percebeu-se que a instituição carecia de um instrumento hábil à realização de investigações que pudessem embasar as ações por ela ajuizadas.

Foi nesse contexto que, em palestra promovida na cidade de Ourinhos-SP, no dia 21 de junho de 1980, o promotor de Justiça paulista José Fernando da Silva Lopes propôs a criação de um inquérito civil, à semelhança do inquérito policial, que seria conduzido por organismos administrativos e posteriormente encaminhado ao Minis-tério Público para subsidiar futura ação civil pública. Embora a sugestão, por si só, já representasse elogiável avanço, formou-se o consenso de que o modelo do inquérito policial, conduzido por instituição alheia ao Ministério Público, que era o titular da ação penal, não se afigurava o mais adequado. Era necessário um instrumento que conferisse ao próprio Parquet mecanismos diretos de investigação na área civil2.

1 É membro do Ministério Público do estado de São Paulo. Mestre e Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Professor da Escola Superior do Mi-nistério Público do estado de São Paulo. Autor dos livros “A ordem econômica e o Ministério Público” e “Direito de Propriedade e Política Agrária”, publicados pela Editora Juarez de Oli-veira e “Mandado de Segurança” (em coautoria com Vidal Serrano Nunes Jr.), publicado por esta Editora.

2 MAZZILLI, Hugo Nigro. O Inquérito Civil. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 42.

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792 Inquérito Civil

Assim, em dezembro de 1983, os então promotores de Justiça paulistas Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz, Édis Milaré e Nelson Nery Júnior apresentaram no XI Seminário Jurídico de Grupos de Estudos do Ministério Público do Estado de São Paulo um anteprojeto que serviu de base à Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública). Nesse anteprojeto se consagrou o inquérito civil, tal como concebido atualmente, estabelecendo-se que sua presidência competiria ao Ministério Público, que poderia instaurá-lo para subsidiar futura ação civil pública3.

Tem-se, pois, no art. 8º, § 1º, da Lei nº 7.347/85 (LACP), a primeira previsão legal expressa, em nosso ordenamento jurídico, do inquérito civil. Pouco depois, o instru-mento ganhou assento constitucional, posto que sua instauração restou inserida no rol de funções institucionais do Ministério Público (art. 129, inciso III, da CF/88).

Seguiram-se, então, outros diplomas normativos que consagraram o inquérito civil como instrumento, posto exclusivamente à disposição do Parquet, voltado à apuração de danos aos mais diversos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Nesse sentido, o art. 6º da Lei 7.853/89 (dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência), o art. 201, V, da Lei 8.069/90 (ECA), o art. 90 da Lei 8.078/90 (CDC), os arts. 25, IV, e 26, I, ambos da Lei 8.625/93 (LONMP), os arts. 6º, VI, e 7º, I, ambos da Lei Complementar Nacional 75/93 (LOMPU), o art. 19, § único, da Lei 9.605/98 (Meio Ambiente) e o art. 74, I, da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso).

Anote-se, ainda, que segundo o art. 128, § 5º, da CF, “leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público”.

O Estado de São Paulo, atendendo ao predito comando constitucional, e também ao que preconizam o art. 94 da Carta Paulista e o art. 2º da Lei 8.625/93, editou a Lei Complementar Estadual 734/93 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo), em cujos artigos 105 a 113 são contempladas disposições acerca da tramitação do inquérito civil. Visando à regulamentação de todos esses preceitos constitucionais e infraconstitucionais, o Colégio de Procuradores de Justiça do MP/SP expediu o Ato Normativo nº 484, de 05-10-2006, a fim de disciplinar o inquérito civil e as demais investigações do Ministério Público paulista na área dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, as audiências públicas, os compromissos de ajustamento de conduta e as recomendações.

Assim como o Ministério Público bandeirante, o Ministério Público da União e os demais Ministérios Públicos Estaduais seguiram regulamentando, cada um a seu modo, a tramitação do inquérito civil no âmbito de suas respectivas atribuições.

3 MAZZILLI, Hugo Nigro, op. cit., p. 44.

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COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE

CONDUTA

Marcelo Sciorilli1

Sumário: 1. Conceito e natureza jurídica 2. Legitimados ativos e passivos 3. Objeto e Compro-misso Preliminar 4. Requisitos e procedimento 5. Efeitos 6. Súmulas do Conselho Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo sobre compromisso de ajustamento de conduta.

1. Conceito e natureza jurídicaEm tempos de excessivo congestionamento da máquina judiciária, o compromisso

de ajustamento de conduta surge como relevante instrumento de solução extrajudi-cial (e também judicial, conforme o caso) de controvérsias que envolvam interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos. Sua celebração permite que, de forma negociada, ágil, econômica e eficaz, se promova a proteção ou reparação a interesses metaindividuais, com a participação espontânea do próprio responsável pela lesão ou ameaça de lesão a esses interesses.

O compromisso é formalizado, em geral, por meio de um termo que contém as obrigações assumidas, prazos para cumprimento e respectivas cominações. Esse termo, que constitui o instrumento de formalização da avença, é comumente conhe-cido por TAC (Termo de Ajustamento de Conduta).

A previsão para a lavratura do compromisso de ajustamento de conduta vem estampada no art. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347/85 (acrescentado pela Lei nº 8.078/90):

1 É membro do Ministério Público do estado de São Paulo. Mestre e Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Professor da Escola Superior do Mi-nistério Público do estado de São Paulo. Autor dos livros “A ordem econômica e o Ministério Público” e “Direito de Propriedade e Política Agrária”, publicados pela Editora Juarez de Oli-veira e “Mandado de Segurança” (em coautoria com Vidal Serrano Nunes Jr.), publicado por esta Editora.

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810 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Também preveem o instituto o art. 211 da Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o art. 79-A da Lei nº 9.605/98 (Meio Ambiente) e o art. 53 da Lei nº 8.884/94 (Defesa da Concorrência), além do art. 14 da Resolução nº 23/2007 do Conselho Nacional do Ministério Público.

No âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo, a elaboração do ajuste é disciplinada pelos arts. 83 e seguintes do ATO nº 484/06-CPJ.

Por compromisso de ajustamento de conduta entende-se, então, o negócio jurídico celebrado perante um órgão público para a adequação de conduta de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, às exigências legais, mediante cominações necessárias à prevenção, cessação ou reparação do dano a interesses supraindividuais.

Das mais variadas são as opiniões sobre a natureza jurídica desse compromisso: transação2, transação atípica3, acordo em sentido estrito4, ato administrativo negocial5, dentre outras. No Superior Tribunal de Justiça, tem prevalecido a orientação de que o compromisso de ajustamento de conduta constitui uma transação6.

Levando em consideração, porém, o disposto no art. 841 do Código Civil, que admite a transação apenas quanto a direitos patrimoniais de caráter privado, parece--nos que o ajuste de conduta previsto no art. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347/85, não pode ser classificado, pura e simplesmente, como transação. Embora guardem pontos de contato, tais como o consenso para pôr cobro a situação conflituosa e alguma flexi-bilidade quanto a aspectos secundários da obrigação a ser adimplida, afigura-se--nos indubitável que o compromisso não versa sobre direitos patrimoniais de caráter privado.

2 FERRARESI, Eurico. Inquérito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 85; MÔNACO DA SIL-VA, José Luiz. Inquérito Civil. São Paulo: Edipro, 2000, p. 82.

3 MORAES, Voltaire de Lima. Ação Civil Pública. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007, p. 50.

4 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Compromisso de Ajustamento de Conduta Ambiental. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 67.

5 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 385.

6 Resp 802060/RS, 1ª T., rel. Min. Luiz Fux, DJe 22-02-2010.

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DIREITO DA EDUCAÇÃO

Motauri Ciocchetti de Souza1

Sumário: 1. A educação: conceito e relevância 2. Educação e ensino 3. A ordem constitucio-nal da cultura e a educação 4. A educação como direito fundamental 5. Iniciativa legislativa em matéria educacional 6. A Lei Federal n. 9.394/96: estrutura 7. Finalidades e princípios básicos da educação 8. Deveres constitucionais do Estado voltados à educação: natureza imperativa 9. Obrigatoriedade da oferta do ensino básico em todos os seus níveis 10. Princí-pios comuns de regência do ensino básico 11. A educação infantil 12. O ensino fundamental 13. O ensino médio 14. Outros deveres impostos ao Estado pelo art. 208 da Constituição Federal 15. A divisão de competências na oferta do ensino entre as Pessoas Políticas 16. As universidades e o ensino superior 17. Profissionais da educação 18. Recursos financeiros da educação

1. A educação: conceito e relevânciaEducação “é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se

encontram preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela socie-dade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine”2.

Assim, o processo educacional consiste na transmissão de valores e experiências entre as gerações, permitindo às mais novas alcançar perfeita interação social e propi-ciando-lhes meios e instrumentos para que possam manter, aprimorar e, posterior-mente, retransmitir a seus sucessores o arcabouço cultural, os valores e os comporta-mentos adequados à vida em sociedade.

Nessa senda, a educação é direito social, consagrado pelo artigo 6º da Constituição de 1988, ao qual se contrapõe dever voltado ao Estado, à família e à sociedade, nos moldes do artigo 205 da Magna Carta.

1 Promotor de Justiça em São Paulo. Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Dou-tor em Direito do Estado pela PUC/SP. Professor da PUC/SP, do Curso Marcato Preparatório para Concursos e de Cursos de Especialização. Autor da obra “Direito Educacional”, editada por esta Editora.

2 Cf. Émile Durkheim. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1978, p. 41.

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82 DIREITO DA EDUCAÇÃO

A educação é direito de trato contínuo e permanente, não se resumindo ao ensino formal. Começa com o nascimento da criança, momento em que se encontra particu-larmente afeta à família, prosseguindo durante toda a existência da pessoa humana, sendo posta sob a forma de experiências de vida e transmissão de valores culturais e sociais.

Abarca, dessarte, todas as práticas sociais e vivências a que exposto o ser humano, assim como os ensinamentos que lhe são transmitidos por terceiros – seja nos bancos escolares, no convívio social, ou mesmo (e principalmente) no núcleo familiar.

Os objetivos da educação se encontram descritos no próprio artigo 205 da Magna Carta, reproduzidos pelo artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente: o pleno desenvolvimento da pessoa humana, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Envolve, pois, valores culturais, políticos e profissionais. Sua democratização é o vetor primordial para que possa implementar-se o princípio da igualdade, consagrado pelo artigo 5º caput da Constituição, assim como para que seja observada a dignidade da pessoa humana, fundamento do Estado Democrático de Direito em que se assenta a República Federativa do Brasil, consoante o disposto no artigo 1º, II, da Carta de Princípios.

Com efeito, a igualdade de oportunidades e a asseguração do mínimo existencial somente poderão surgir se a todos for assegurado o direito a processo educacional adequado.

Nessa quadra, difere a educação de outros direitos sociais e fraternos, igualmente consagrados pela Magna Carta: a educação é premissa e não proposta. Em outras pala-vras, o acesso efetivo à educação é o condicionante para o próprio e efetivo exercício dos demais direitos fundamentais eleitos pelo legislador constituinte.

Demais disso, a educação de crianças e adolescentes deve observar o primado da prioridade absoluta instituído pelo artigo 227 da Constituição Federal e reafirmado pelo artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente.

2. Educação e ensinoComo acima exposto, a educação é um processo complexo de transmissão de

conhecimentos, valores e experiências.Em corolário, o seu desenvolvimento se dá em qualquer tipo de ambiente, em qual-

quer espaço de convivência social, com especial ênfase ao núcleo familiar, onde se inicia.

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DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

(revisto e atualizado em razão das Emendas Constitucionais 59 e 65, das Leis Federais 11.698/2008, 12.010/2009, 12.318/2010 e

12.415/2011, e da ADI 4.277, j. 05.05.2011)Martha de Toledo Machado1

Sumário: 1. Sistema constitucional de proteção (CF/ECA) 2. Princípios constitucionais do direito da criança e do adolescente 2.1. Princípio da proteção integral 2.2. Princípio do respeito à pecu-liar condição de pessoa em desenvolvimento 2.3.Princípio da prioridade absoluta 2.4. Princípio da igualdade de crianças e adolescentes 2.5. Princípio da participação popular 3. Efetivação dos direitos fundamentais – políticas públicas e programas de atenção 3.1. Políticas sociais básicas e políticas ou programas de atenção específica 4. Participação popular na definição, controle e exe-cução de políticas específicas e programas de atendimento 4.1. Conselhos de direitos das crianças e adolescentes 4.2. Fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos conselhos de direitos 4.3. Conselhos Tutelares e controle das políticas públicas e programas de atendimento 5. Efetiva-ção dos direitos fundamentais e tutela jurisdicional coletiva 5.1. Proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos na lei especial 5.2. Sistema constitucional de proteção e tutela jurisdicional diferenciada 6. Personalidade infantojuvenil e direito ao desenvolvimento íntegro 7. Direito ao respeito e à dignidade 8. Direitos de liberdade 8.1. Liberdade de refúgio 8.2. Liberdade de brincar (fantasiar/experimentar) 8.3. Liberdade de atuar – Direito de ser informado e escutado 9. Direito de convivência familiar na Constituição e no ECA 9.1. Conceito de direito de convivên-cia familiar no Sistema CF/ECA 9.2. Excepcionalidade da quebra da convivência familiar 9.2.1. Família natural 9.2.2. Família extensa ou ampliada 9.2.3. Família substituta nacional e adoção internacional 9.2.4. Acolhimento institucional e familiar 9.3 Alienação parental. 9.4. Excepcio-nalidade da quebra da convivência familiar e políticas públicas e programas de atendimento 10. Emenda Constitucional 65 – jovem e estatuto da juventude

1 É mestre e doutora em Direito pela Faculdade de Direito da PUC-SP, onde é professora concur-sada, regente de Direito da Criança e do Adolescente e Direitos Humanos. É procuradora de justiça, membro do Ministério Público do Estado de São Paulo desde 1988.

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138 DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

1. Sistema constitucional de proteção (CF/ECA)

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.2

Ancorada no paradigma da proteção integral, a Constituição brasileira de 1988 inaugurou novo tratamento jurídico a crianças e adolescentes3, fundado na concepção central de que eles vivem peculiar situação (pessoas em processo de desenvolvimento físico, psíquico, cognitivo, social etc.). Condição que demanda respeito e especial proteção jurídica, também pela maior vulnerabilidade deles na fruição, reivindi-cação e defesa de seus direitos, quando comparados aos adultos. Condição especial que demanda o reconhecimento de direitos especiais, que lhes permita construir suas potencialidades humanas em sua plenitude, para que a dignidade4 da criança e do adolescente seja efetivamente resguardada. É condição que impõe a construção de mecanismos específicos de tutela desses direitos fundamentais, para que a eles seja assegurada proteção integral e prioritária. Proteção prioritária que veio também como um caminho eleito pela Assembleia Constituinte, para atingir os objetivos de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, de erradicação da pobreza e da marginalização e redução das desigualdades sociais5. Priorizando a efetivação

2 Com redação dada pela Emenda Constitucional 65, de 13.07.2010; o ponto tangente aos direitos dos adultos jovens vem comentado no item 10 infra.

3 Para pormenorização dos postulados a seguir resumidos e bibliografia, veja-se Martha de To-ledo Machado, A Proteção Constitucional de Crianças e Adolescentes e os Direitos Humanos. São Paulo: Manole, 2003.

4 Na Constituição, a dignidade humana vem configurada como um dos fundamentos da Re-pública Federativa do Brasil (art. 1º), considerada por muitos como o princípio fundante de todo o ordenamento jurídico. A propósito, conferir, entre diversos outros constitucionalistas brasileiros, José Afonso da Silva, A Dignidade da Pessoa Humana como Valor Supremo da Democracia. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, 1998, 212: 89-94, abr./jun. 1998; Idem, Curso de Direito Constitucional Positivo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1992; Luiz Alberto David Araújo; Vidal Serrano Nunes Junior, Curso de Direito Constitucional. 16. ed. São Paulo: Verbatim, 2012.

5 Dispõe o art. 3º da Constituição: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I- construir uma sociedade livre, justa e solidária; II- garantir o desenvolvimen-to nacional; III- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

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DIREITO DO CONSUMIDOR

Vidal Serrano Nunes Júnior1 Antonio Carlos Alves Pinto Serrano2

Sumário: I. Princípios Constitucionais de defesa do consumidor 1. Introdução 2.Microssistema jurídico 3. Princípio da vulnerabilidade II. Da relação de consumo 1.Introdução 2. Normas de ordem pública e interesse social 3. Relação de consumo 4. Consumidor: conceitos legais 5. O fornecedor III. Direi-tos Básicos do Consumidor 1.Introdução 2. Direito à vida, saúde e segurança 3. Direito à educação e à liberdade de escolha 4. Direito à informação 5. O direito à proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços 6. Direito à modificação e revisão de cláusulas con-tratuais 7. Direito à prevenção e à reparação dos danos causados aos consumidores 8. Direito à inversão do ônus da prova 9. Direito à adequada e eficaz prestação dos serviços públicos 10. Responsabilidade solidária IV. Da responsabilidade dos fornecedores pelo fato do produto ou do serviço 1. Vício e defeito 2. Classificação dos vícios e defeitos 3. Fato do produto e do serviço 4. Da responsabilidade objetiva 5. As hipóteses de exclusão da responsabilidade objetiva 6. Responsabilidade dos profissionais liberais V. Da responsabilidade por vício do produto ou do serviço 1. O vício do produto ou do serviço 2. As espécies de vício 3. Formas de solução dos vícios 4. A reparação dos vícios de quantidade 5. A garantia legal e a contratual 6. O vício do produto ou serviço e a especialização da arte VI. Da Decadência e da Prescrição VII. Desconsideração da Personalidade Jurídica VIII. Das Práticas Comerciais 1. A oferta 2. Direito de aceitação 3. A publicidade comercial 4. As práticas abusivas IX. Da cobrança de dívidas X. Da Proteção Contratual 1. A dicotomia desigualdade/equilíbrio contratual 2. Princípio da transparência 3. Princípio da interpretação favorável 4. Vinculação do fornecedor 5. Princípio da preservação dos contratos 6. O di-reito de arrependimento 7. Das cláusulas abusivas 8. Cláusulas exageradas 9. Contrato de financiamento de crédito na relação consumerista 10. Contratos de compra e venda de móveis ou imóveis 11. Contratos de adesão XI. Das Sanções Administrativas 1. Das penalidades 2. Cumulação de sanções XII. Do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor XIII. Da Convenção Coletiva de Consumo 1. Natureza jurídica da convenção coletiva de consumo.

1 É Procurador de Justiça, integrando o Conselho Superior do Ministério Público do estado de São Paulo. Mestre, Doutor e Livre-Docente em Direito Constitucional pela PUC-SP. É também professor dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da PUC-SP, do programa de Pós-Gradu-ação da Instituição Toledo de Ensino e da Escola Superior do Ministério Público do estado de São Paulo.

2 Advogado e editor.

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216 DIREITO DO CONSUMIDOR

Capítulo IPRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE

DEFESA DO CONSUMIDOR

1. IntroduçãoA Constituição de 1988 inovou o constitucionalismo brasileiro, contemplando

expressamente em seu texto a defesa do consumidor. Fê-lo de maneira cabal, pois três de suas disposições estão dedicadas ao tema.

O artigo 5º, XXXII, concebeu a defesa do consumidor como um Direito Funda-mental, erigido, inclusive, à condição de cláusula pétrea, junto com os demais direitos e garantias individuais, pelo artigo 60, § 4º, IV, também de nossa Lei Maior.

O artigo 170, V, indicou a defesa do consumidor como um dos princípios da ordem econômica, concorrendo, deste modo, para delimitar que o exercício da livre-iniciativa – entendida como a faculdade de exploração de qualquer atividade econômica com objetivo de lucro – deve ficar adstrito ao imperativo de observância das normas de proteção do consumidor.

Finalmente, o artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias deter-minou que tal principiologia recebesse condensação em um Código de Defesa do Consumidor (CDC), determinação esta que foi concretizada pela Lei 8078/90, ora em exame.

2. Microssistema jurídico Importante notar que os parâmetros constitucionais aludidos deram lugar à cons-

trução de um autêntico microssistema jurídico, revelando, pois, que o Direito do Consumidor apresenta-se com moldagem própria, refratária aos influxos de princípios e regras de outras províncias do Direito, que sejam incompatíveis com os ideários que presidiram sua organização.

Em outras palavras, o caráter microssistêmico do Direito do Consumidor acaba por lhe emprestar um caráter auto-referente, na medida em que os parâmetros que lhe demarcam as fronteiras, bem como os princípios que lhe emprestam harmonia, seriam próprios do Direito do Consumidor, de tal modo que normas de outras leis ou codifi-cações só seriam por ele apropriáveis quando compatíveis com sua natureza.

Lapidando dúvidas, as palavras do saudoso professor Orlando Gomes: “Esses microssistemas são refratários à unidade sistemática dos códigos porque têm a sua

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DIREITO SANITÁRIO

Geisa de Assis Rodrigues1

Sumário: 1. Introdução 2. Configuração do direito à saúde 2.1 O direito à saúde como um direito fundamental 2.2 O direito à saúde como um direito humano 2.3 O direito à saúde como um di-reito transindividual 2.4 Credor do direito à saúde 2.5 Devedor do direito à saúde 2.6 Objeto do direito à saúde 3. Competência legislativa do direito à saúde 4. Tutela administrativa do direito à saúde 4.1 O sistema único de saúde 4.1.1. O SUS como um valor constitucional 4.1.2 Disciplina normativa do SUS na Lei Orgânica da Saúde 4.1.3 Financiamento do SUS 4.1.4 Terceirização no Sistema Único de Saúde 4.2 Responsabilidade administrativa sanitária 5. Responsabilidade civil pela violação do direito à saúde na esfera coletiva 6. A atuação do Ministério Público na promoção do direito à saúde 7. À guisa de conclusão

1. Introdução O direito sanitário é hoje, reconhecidamente, um ramo autônomo do Direito,

porque possui normas, princípios e categorias jurídicas próprios. A tendência, cada vez mais acentuada, de estruturar o pensamento jurídico a partir da proteção de bens que pressupõem uma lógica de tutela diferenciada legitima a concepção de um ramo do Direito que se ocupa das normas que protegem a saúde humana, em suas mais variadas dimensões. Resta evidente que o direito sanitário não pode ser enquadrado na deca-dente summa divisio entre direito público e privado2, pois é integrado por normas que seriam típicas de direito público, como as que disciplinam o Sistema Único de Saúde (SUS), e também por aquelas que seriam consideradas de direito privado, como as que regem as relações que se travam entre particulares a respeito da prestação de um deter-minado serviço de saúde. Tudo porque a convergência de suas normas e princípios não se dá em função da natureza dos destinatários, ou da eventual existência de um regime

1 Procuradora Regional da República da 3ª Região. Doutora em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora licenciada pela Universidade Federal da Bahia.

2 Na verdade, os direitos transindividuais desafiam tal divisão clássica. Especificamente sobre o tema, v. Gregório Assagra Almeida. Direito Coletivo Brasileiro; autonomia metodológica e a superação da summa divisio direito público e direito privado pela summa divisio constitucio-nalizada e relativizada direito coletivo e direito individual. São Paulo: Programa de Doutorado da Pontifícia Universidade Católica, 2005.

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304 DIREITO SANITÁRIO

de direito público ou de direito privado, mas sim da necessidade de fornecer ampla tutela a um determinado bem jurídico que é a saúde.

A afirmação um pouco tardia do direito sanitário, praticamente a partir do fim do século XIX, mas com impulso na última metade do século XX, conforme Sueli Dallari, não significa que anteriormente não houvesse normas que, de alguma forma, tutelassem a saúde, mas o fato é que não havia a ideia de uma proteção jurídica sistê-mica da saúde humana3. O nascimento do direito sanitário só se torna possível quando a ciência jurídica abandona seus paradigmas exclusivamente individualistas e patri-monialistas, passando a assumir a relevância da dimensão coletiva do homem para sua plena proteção jurídica e a valorização de vários bens e direitos que não possuem equivalente econômico. Segundo Fernando Aith,

o direito sanitário é o ramo do Direito que disciplina as ações e serviços públicos e privados de interesse à saúde, formado pelo conjunto de normas jurídicas- regras e princípios- que tem como objetivos a redução de riscos de doenças e agravos e o estabelecimento de condições que assegurem o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde4.

Como não poderia deixar de ser, o direito sanitário brasileiro, seguindo nossa tradição jurídica romano-germânica, tem na norma jurídica positivada sua fonte prin-cipal, assim, as normas constitucionais, as leis ordinárias de esfera federal, estadual e municipal, incluindo os tratados que tratam da matéria e as normas regulamentadoras das leis como os decretos, as portarias, instruções normativas etc. desempenham um relevante papel na construção do direito sanitário. Obviamente que a doutrina, a juris-prudência e a prática administrativa também devem ser conhecidas para que se possa realmente compreender a extensão e o alcance das normas jurídicas sanitárias.

Sem olvidarmos que a enunciação de princípios na ciência jurídica tem uma certa dose de subjetivismo, optamos pelo seguinte rol de princípios, que reputamos os mais relevantes do direito sanitário pátrio: a) princípio da universalidade do direito à saúde, segundo o qual todos têm o direito de terem sua saúde protegida, sem a necessidade de contraprestação, ou do preenchimento de algum requisito especial; b) princípio da

3 Direito Sanitário. In: http://www.cip.saude.sp.gov.br/CEREST/Ferramenta_de_Comunica-cao/cdrom/CD%20colet%C3% A2nea%20leis%20e%20textos/Artigos/10.doc. Último acesso em 02/12/2008.

4 Fernando Aith. Curso de Direito Sanitário: a proteção do direito à saúde no Brasil. São Paulo: Quartier Latin, 2007.

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DIREITO URBANÍSTICO

José Carlos de Freitas1

Sumário: 1. Introdução 2. O Urbanismo e o Direito Urbanístico 3. Normas de Direito Urba-nístico 4. O meio ambiente urbano 5. As quatro funções urbanísticas 5.1. Habitação 5.2. Tra-balho 5.3. Circulação 5.4. Recreação 6. Hipóteses de interesses metaindividuais urbanísticos 7. Ordem urbanística e estatuto da cidade 8. Planejamento urbano como princípio orientador da ordem urbanística 9. Casos de inexigibilidade do plano diretor – o papel das diretrizes 10. Ausência de plano diretor e ação civil pública urbanística 11. Ação civil pública urbanística e o controle do poder legislativo 11.1. Controle difuso da constitucionalidade de lei munici-pal por ação civil pública urbanística 12. Ação civil pública urbanística e controle do poder executivo 13. Desordem urbana: ação civil pública e a tutela coletiva dos vizinhos urbanos.

1. IntroduçãoA Constituição Federal de 1988 incumbiu o Ministério Público da defesa da ordem

jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput). Atribuiu-lhe também função institucional para a tutela de pretensões de massa, sob a rubrica de interesses difusos e coletivos (art. 129, III), por intermédio de dois instrumentos nascidos com a Lei 7.347/85: o inquérito civil e a ação civil pública.

A legislação da ação civil pública abriu um canal para a população agrupada ter acesso ao Judiciário nas demandas coletivas. Opera-se uma mutação na jurisdição, que “transmuda seu tradicional modus operandi, de singela subsunção do fato à norma de

1 1º Promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo de São Paulo/SP – Foi coordenador do Cen-tro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Habitação e Urbanismo do Estado de São Paulo - CAOHURB, de março de 1998 a fevereiro de 2003 - Especialista em Interesses Difusos e Coletivos pelo Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo (ESMP) - Professor Convidado no Curso de Especialização em Interesses Difusos e Coletivos da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, na Sociedade Brasileira de Direito Público e na Escola Superior da Advocacia - OAB/SP - Coor-denou os livros Temas de Direito Urbanístico, 1, 2 e 3, coedição Ministério Público e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (IMESP) - Compõe o Conselho Editorial da revista Fórum de Direito Urbano e Ambiental, da Editora Fórum, Minas Gerais - Membro do Conselho Cientí-fico da Revista de Direito Imobiliário, publicação da Revista dos Tribunais.

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regência, para entrar em ponderações outras, de cunho sociológico, cultural, político e econômico...”2.

A legislação infraconstitucional da espécie deu os contornos à legitimação do Parquet para promover a defesa dos mais variados direitos metaindividuais (lei 7.347/85, art. 1º) por meio de ações coletivas, de que são exemplos os diplomas editados à tutela do meio ambiente (Lei 6.938/81, art. 14, § 1º); do consumidor (Lei 8.078/90, art. 82); da probidade administrativa (Lei 8.429/92, art. 17); do patrimônio público e da moralidade administrativa (Lei 8.625/93, art. 25, IV, “b” - LONMP); dos direitos da criança e do adolescente (Lei 8.069/90, art. 210); dos deficientes físicos (Lei 7.853/89, arts. 3º e 7º); dos investidores do mercado de valores mobiliários (Lei 7.913/89, arts. 1º e 3º); do mercado financeiro (lei 6.024/74, art. 46); da ordem econômica (8.884/94, art. 88); e do patrimônio genético (Lei 8.974/95, art. 13, § 6º).

Mas os interesses pluri-individuais não se exaurem num rol taxativo. Não se compreendem numa latitude estreita, normatizados tão-somente em leis específicas, pois a lei da ação civil pública, secundando a Carta Magna (art. 129, III), expressa-mente alargou o campo dos interesses transindividuais que, igualmente, estão aptos a merecer tutela pelas ações coletivas (art. 1º, IV, lei 7.347/85)3.

Daí ter o legislador empregado a expressão “outros interesses difusos e coletivos”, ou assemelhada, nos textos legais da espécie, inclusive no artigo 25, IV, “a”, da lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), indicando um conceito jurídico inten-cionalmente vago para colher as mutações históricas dos fatos e valores. Pode ser chamada de “norma aberta ou de extensão”4.

É tarefa do operador do Direito identificá-los, apreender seu objeto, sistematizá-los dentro do ordenamento e estabelecer o alcance de seus institutos. Vem a pelo a lição de José Carlos Barbosa Moreira, para quem: “Na fixação de conceitos juridicamente indeterminados, abre-se ao aplicador da norma, como é intuitivo, certa margem de liberdade. Algo de subjetivo sempre haverá nessa operação concretizadora, sobre-tudo quando ela envolva, conforme ocorre com frequência, a formulação de juízos de valor”5.

2 Rodolfo de Camargo Mancuso, Interesses Difusos e Coletivos, Revista dos Tribunais, vol. 747, p.68.

3 Neste sentido: Hugo Nigro Mazzilli, A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 7. ed., São Paulo. Saraiva, p. 100-101.

4 Antônio Augusto Mello de Camargo Ferraz, Constituição e Defesa dos Interesses Difusos, O Estado de S. Paulo, 31.07.1991.

5 José Carlos Barbosa Moreira. Regras de Experiência e Conceitos Juridicamente Indetermina-dos. Temas de Direito Processual, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1988, 2ª série, p. 65.

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DIREITOS DO IDOSO

Oswaldo Peregrina Rodrigues1

Sumário: Introdução I) Disposições preliminares 1. A pessoa idosa 2. A igualdade e a proteção integral 3. A prioridade absoluta II) Direitos fundamentais 1. Direito à vida 2. Direito á liberdade, ao respeito e à dignidade 3. Dos alimentos 4. Do direito à saúde 5. Da educação, cultura, esporte e lazer 6. Da profissionalização e do trabalho 7. Da previdência social 8. Da assistência social 9. Da habitação 10. Do transporte III) Das medidas de proteção 1. Das disposições gerais 2. Das medi-das específicas de proteção IV) Da política de atendimento 1. Disposições gerais 2. Das entidades de atendimento 3. Da fiscalização das entidades de atendimento 4. Das infrações administrativas 5. Da apuração administrativa de infração às normas de proteção 6. Da apuração judicial de irre-gularidades V) Do acesso à justiça 1. Disposições gerais 2. Do ministério Público 3. Da proteção judicial dos interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis ou homogêneos VI) Dos crimes 1. Disposições gerais 2. Dos crimes em espécie VII) Disposições finais e transitórias.

IntroduçãoA Constituição Federal de 1988 estatui em seu artigo 230, caput, que “a família,

a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo--lhes o direito à vida”, estabelecendo, pois, uma relação jurídica obrigacional na qual figuram, no polo passivo, com deveres jurídicos, a família, a sociedade e o Estado (Poder Público), e, como sujeito ativo, titular dos direitos, o idoso.

Neste texto estão condensados os direitos e deveres inerentes à pessoa idosa, com expressa garantia a seu direito basilar, o direito à vida. A partir dos paradigmas cons-titucionais e das normas legais infraconstitucionais, inclusive dos tratados internacio-nais, analisar-se-ão os interesses, direitos e garantias da pessoa humana idosa, como também, quando e se o caso, seus deveres para com terceiras pessoas, valendo-se, para isso, de estudos doutrinários e decisões judiciais acerca dos principais assuntos já abordados.

1 Doutor e Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Promotor de Justiça em São Paulo/SP. Assessor da Procuradoria Geral de Justiça (desde março/2008). Coordenador dos Cursos de Pós-Graduação da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo (dezem-bro/2001 a fevereiro/2007). Professor de Direito Civil na PUC/SP.

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Em 4 de janeiro de 1994 foi publicada a Lei n. 8.842, que estabelece a Política Nacional do Idoso, cujo objetivo é “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na socie-dade”, consoante seu artigo 1°. Essa lei federal foi regulamentada pelo decreto n. 1.948, de 3 de julho de 1996, no qual foram fixadas as competências para a efetiva implemen-tação da Política Nacional.

Dias antes dessa legislação, no ano de 1993, foi promulgada a Lei Federal n. 8.742, em 7 de dezembro, intitulada Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), a qual, dentre seus objetivos, ostenta “a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice” (art. 2°, I), nos ditames das regras constitucionais estabelecidas nos artigos 203 e 204 da Carta de 1988.

Com a edição do decreto n. 4.227, de 13 de maio de 2002, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI), órgão inicialmente consultivo e integrado à estrutura do Ministério da Justiça (art. 2°), o qual sofreu poucas modificações decor-rentes do decreto n. 4.287/2002. Todavia, ambos foram expressamente revogados com a vigência do decreto n. 5.109, de 17 de junho de 2004, cujo artigo 1° disciplina:

O Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI, órgão colegiado de caráter deliberativo, integrante da estrutura básica da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, tem por finalidade elaborar as dire-trizes para a formulação e implementação da política nacional do idoso, obser-vadas as linhas de ação e as diretrizes conforme dispõe a Lei n. 10.741, de 1° de outubro de 2003 – Estatuto do Idoso, bem como acompanhar e avaliar a sua execução.

Em 2003, surgiu no cenário jurídico brasileiro o Estatuto do Idoso, instituído pela edição da Lei n. 10.741, de 1° de outubro, cuja vigência ocorreu em 1° de janeiro de 2004, em face do determinado em seu artigo 118.

Por essas anotações, infere-se que existe uma gama razoável de normas legais que regulamentam a proteção jurídica aos interesses e direitos relacionados à pessoa idosa. Verificar-se-á, igualmente, que as garantias ao idoso têm como marco histórico, no direito pátrio, a promulgação da Carta da República Federativa de 5 de outubro de 1998.

Em seara internacional, esse marco histórico está solidificado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo artigo II, item 1, genericamente, proclama: “Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião,

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DIREITOS HUMANOS

Flávia Piovesan1

Sumário: 1. Introdução 2. A Construção Histórica dos Direitos Humanos e a Declaração Univer-sal de 1948 3. Considerações finais.

1. IntroduçãoComo compreender o processo de construção histórica dos direitos humanos?

Qual é o legado da Declaração Universal de 1948? Em que medida introduz uma nova concepção a respeito dos direitos humanos?

Tais questões centrais inspiram o presente estudo, cujo objetivo maior é enfocar a proteção dos direitos humanos, sob a referência do legado histórico da Declaração Universal de 1948.

2. A Construção Histórica dos Direitos Humanos e a Declaração Universal de 1948

Os direitos humanos refletem um construído axiológico, a partir de um espaço simbólico de luta e ação social. No dizer de Joaquín Herrera Flores, compõem uma racionalidade de resistência, na medida em que traduzem processos que abrem e

1 Professora doutora em Direito Constitucional e Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), professora de Direitos Humanos dos Programas de Pós-Gradu-ação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Universidade Pablo de Olavide (Sevilha, Espanha); visiting fellow do Human Rights Program da Harvard Law School (1995 e 2000), visiting fellow do Centre for Brazilian Studies da University of Oxford (2005), visiting fellow do Max Planck Institute for Compara-tive Public Law and International Law (Heidelberg - 2007 e 2008), procuradora do Estado de São Paulo, membro do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), membro do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e membro da Human Rights University Network (SUR).

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consolidam espaços de luta pela dignidade humana2. Invocam uma plataforma eman-cipatória voltada à proteção da dignidade humana. No mesmo sentido, Celso Lafer, lembrando Danièle Lochak, realça que os direitos humanos não traduzem uma história linear, não compõem a história de uma marcha triunfal nem a história de uma causa perdida de antemão, mas a história de um combate3.

Enquanto reivindicações morais, os direitos humanos nascem quando devem e podem nascer. Como realça Norberto Bobbio, os direitos humanos não nascem todos de uma vez e nem de uma vez por todas4. Para Hannah Arendt, os direitos humanos não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, em constante processo de construção e reconstrução5.

A partir de uma perspectiva histórica, observa-se que o discurso jurídico da cida-dania sempre enfrentou a tensa dicoto mia entre os valores da liberdade e da igualdade.

No final do século XVIII, as modernas Declarações de Direitos refletiam um discurso liberal da cidadania. Tanto a Declaração francesa de 1789 como a Declaração americana de 1776 consagravam a ótica contratualista liberal, pela qual os direitos humanos se reduziam aos direitos à liberdade, segu rança e propriedade, complemen-tados pela resistência à opres são. Daí o primado do valor da liberdade, com a supre-macia dos direitos civis e políticos e a ausência de previsão de qualquer direito social, econômico e cultural que dependesse da interven ção do Estado.

Caminhando na história, verifica-se, por sua vez, que, especialmente após a Primeira Guerra Mundial, ao lado do dis curso liberal da cidadania, fortalece-se o

2 Joaquín Herrera Flores, Direitos Humanos, Interculturalidade e Racionalidade de Resistência, mimeo, p. 7.

3 Celso Lafer, Prefácio. In Flávia Piovesan, Direitos Humanos e Justiça Internacional, São Paulo: Saraiva, 2006, p.XXII.

4 Norberto Bobbio, Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Cam-pus, 1988.

5 Hannah Arendt, As Origens do Totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro, 1979. A respeito, ver também Celso Lafer, A Reconstrução dos Direitos Humanos: um diálo-go com o pensamento de Hannah Arendt, São Paulo: Cia das Letras, 1988, p.134. No mesmo sentido, afirma Ignacy Sachs: “Não se insistirá nunca o bastante sobre o fato de que a ascensão dos direitos é fruto de lutas, que os direitos são conquistados, às vezes, com barricadas, em um processo histórico cheio de vicissitudes, por meio do qual as necessidades e as aspirações se articulam em reivindicações e em estandartes de luta antes de serem reconhecidos como direi-tos” (Desenvolvimento, Direitos Humanos e Cidadania. In: Direitos Humanos no Século XXI, 1998, p. 156). Para Allan Rosas: “O conceito de direitos humanos é sempre progressivo. (…) O debate a respeito do que são os direitos humanos e como devem ser definidos é parte e parcela de nossa história, de nosso passado e de nosso presente.” (Allan Rosas, So-Called Rights of the Third Generation. In: Asbjorn Eide; Catarina Krause; Allan Rosas, Economic, Social and Cultural Rights, Boston, Londres: Martinus Nijhoff Publishers,, 1995, p. 243).

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PROCESSO COLETIVO

José Luiz Ragazzi1 Raquel Schlommer Honesko2 Soraya Gasparetto Lunardi3

Sumário: 1. O Princípio da perfeita integração entre a LACP e o CDC 2.Interesses transindivi-duais 2.1 Os interesses tutelados pela ação civil pública 2.1.1 Interesses Difusos 2.1.2. Interesses Coletivos (Stricto Sensu) 2.1.3. Interesses Individuais Homogêneos 2.2. Tutela Individual 2.3. Tutela Coletiva 3. Legitimidade 4. Prestação da Tutela na Forma Específica e Antecipada 4.1. A Utilização da Tutela Específica 4.2. Requisitos para concessão de Tutela Específica e Antecipação de Tutela do CPC 4.3. Métodos de coação da Tutela Específica 5. Gratuidade com relação às des-pesas processuais 6. Competência 7. Publicidade da ação coletiva 8. Sentença de procedência com conteúdo genérico 9. Execução 10. Litispendência 11. Coisa julgada.

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) apresenta uma tutela jurisdicional diferente, específica do processo tradicional, que leva em consideração as peculia-ridades das relações de consumo com uma preocupação de tutelar os interesses dos consumidores de maneira integral e sob os aspectos individual e meta-individual.

No Título III, do Código de Defesa do Consumidor, nos deparamos com a tutela jurisdicional denominada, na legislação, “Da Defesa do Consumidor em Juízo”, esta-belecendo regras e princípios relativos à defesa do consumidor em juízo para efeti-vação dos seus direitos.

O legislador não apresentou de maneira exaustiva o processo aplicável às relações de consumo, ou seja, não disciplinou “toda matéria processual destinada a regular as relações de consumo, mas efetivamente trouxe em seu arcabouço normas que

1 Mestre em Direito – ITE/Bauru, Doutor em Direito Processual Civil – PUC/SP, Professor do Curso de Mestrado da UNIMAR, Professor de vários cursos de pós-graduação no país, Profes-sor da Escola da Magistratura do Paraná, Advogado.

2 Mestre em Direito – ITE/Bauru, Professora da EMAP - Escola da Magistratura do Paraná e da FEMPAR - Fundação Escola do Ministério Público de Paraná - núcleos Londrina, Advogada.

3 Pós doutora em direito pela Universidade de Athenas na Grécia, Doutora em direito pela PUC/SP, Coordenadora e Professora do Mestrado em Direito de Marília e Professora da ITE/Bauru.

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modificam o tratamento processual dado pelo Código de Processo Civil e pela legis-lação processual extravagante”4.

Os novos direitos não garantem, como nas Constituições de inspiração liberal, direitos meramente individuais, mas envolvem conjuntos humanos em que o indi-víduo se integrava como um ser anônimo e despersonalizado. Isso levou à superação da summa divisio, forjada nas origens do direito, segundo a qual os únicos centros de imputação de direitos eram os indivíduos e o Estado, bem como à modificação dos esquemas tradicionais da legitimação para agir5.

Com base nas transformações pelas quais vinha passando o direito processual civil desde o início da década de 80, com a edição da Lei da Ação Civil Pública (LACP – Lei n. 7.347/1985) e as inúmeras discussões sobre um processo civil coletivo, o CDC consi-derou, de forma expressa, que a defesa dos direitos dos consumidores em juízo poderá ser realizada de forma individual ou de forma coletiva6.

A partir de então, aquele processo individualista passou a ser insuficiente para atender às solicitações das sociedades contemporâneas e incorporaram-se ao catálogo de bens protegidos pelo legislador uma nova pauta de bens. Estes são produzidos em massa, vendidos em massa e precisam ser tutelados coletivamente. Esse processo deve estar apto a tutelar um conflito de interesses que, via de regra, se dará entre grandes fornecedores e um consumidor, logo, uma relação jurídica desigual em razão da hipos-suficiência deste último.

Após a entrada em vigor da Lei da Ação Civil Pública surge o Código de Defesa do Consumidor. O que se conclui pela leitura do artigo 90 do Código de Defesa do Consu-midor e do artigo 21 da Lei de Ação Civil Pública é que as legislações se fundem para a resolução de qualquer problema referente ao direito processual coletivo.

Antes do advento do CDC, já havia leis que disciplinavam, de forma esparsa, os direitos do consumidor, entre elas, a Lei de Ação Civil Pública. O legislador, ao esta-belecer normas materiais e processuais relativas aos direitos dos consumidores, sentiu necessidade de criar mecanismos de adaptação entre os sistemas já existentes e o do Código, sob pena de ensejar duplicidade de regimes e possíveis conflitos normativos com as, então, novas disposições processuais do Código de Defesa do Consumidor.

4 Ronaldo Alves de Andrade. Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: Manole, 2006, p. 451.5 Idem.6 Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida

em juízo individualmente, ou a título coletivo.

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