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2020 Gustavo Filipe Barbosa Garcia MANUAL DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO 4 a edição Revista, ampliada e atualizada

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2020

Gustavo Filipe Barbosa Garcia

MANUAL DE DIREITO

PREVIDENCIÁRIO

4a edição Revista, ampliada

e atualizada

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CAPÍTULO

4BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

4.1. BENEFICIÁRIOS E CONTRIBUINTES

Ao se analisar o Regime Geral da Previdência Social, deve-se distinguir as figuras do contribuinte e do beneficiário.

Na realidade, embora muitas vezes o contribuinte também seja segurado (e, portanto, beneficiário, como ocorre com o empregado urbano e rural), há contribuintes que não são beneficiários, como é o caso da empresa e do empregador doméstico.

O contribuinte é o sujeito passivo, isto é, o devedor da contribuição previdenciária. Não se confunde com o responsável pelo recolhimento da referida contribuição.

O art. 33, § 5º, da Lei 8.212/1991 expressamente prevê que o desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que

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deixou de receber ou arrecadou em desacordo com o disposto no mencionado diploma legal.

Cabe ao Estado fiscalizar a regularidade de tais recolhimen-tos, aplicando as sanções devidas ao responsável pela arrecadação previdenciária.

Nesse sentido, o art. 33 da Lei 8.212/1991 dispõe ser atribuição da Secretaria da Receita Federal do Brasil planejar, executar, acom-panhar e avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à arrecadação, à cobrança e ao recolhimento das contribuições sociais previstas no art. 11, parágrafo único, desse mesmo diploma legal, que dispõe sobre as contribuições para a Seguridade Social, das con-tribuições incidentes a título de substituição e das devidas a outras entidades e fundos.

Nesse contexto, é prerrogativa da Secretaria da Receita Federal do Brasil, por intermédio dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil, o exame da contabilidade das empresas, ficando obrigados a prestar todos os esclarecimentos e informações solicitados o segurado e os terceiros responsáveis pelo recolhimento das contribuições pre-videnciárias e das contribuições devidas a outras entidades e fundos.

A empresa, o segurado da Previdência Social, o serventuário da Justiça, o síndico ou seu representante, o comissário e o liquidante de empresa em liquidação judicial ou extrajudicial são obrigados a exibir todos os documentos e livros relacionados com as contribui-ções previstas na Lei 8.212/1991, que dispõe sobre a organização da Seguridade Social e institui o Plano de Custeio.

Ocorrendo recusa ou sonegação de qualquer documento ou infor-mação, ou sua apresentação deficiente, a Secretaria da Receita Federal do Brasil pode, sem prejuízo da penalidade cabível, lançar de ofício a importância devida.

Na falta de prova regular e formalizada pelo sujeito passivo, o montante dos salários pagos pela execução de obra de construção civil pode ser obtido mediante cálculo da mão de obra empregada, proporcional à área construída, de acordo com critérios estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, cabendo ao proprietário,

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 281

dono da obra, condômino da unidade imobiliária ou empresa corres-ponsável o ônus da prova em contrário.

Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro docu-mento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, devem ser apuradas, por aferição indireta, as contribuições efetivamente devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário.

O crédito da Seguridade Social é constituído por meio de notifi-cação de lançamento, de auto de infração e de confissão de valores devidos e não recolhidos pelo contribuinte.

Os contribuintes do Regime Geral da Previdência Social abrangem os segurados, a empresa e o empregador doméstico (arts. 12 e 15 Lei 8.212/1991).

Considera-se empresa a firma individual ou sociedade que assume o risco de atividade econômica urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como os órgãos e entidades da Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art. 14, inciso I, da Lei 8.213/1991).

Considera-se empregador doméstico a pessoa ou família que admite a seu serviço, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico (art. 14, inciso II, da Lei 8.213/1991).

Ademais, equiparam-se a empresa, para os efeitos da Lei 8.212/1991 e da Lei 8.213/1991, o contribuinte individual e a pessoa física na condição de proprietário ou dono de obra de construção civil, em relação a segurado que lhe presta serviço, bem como a cooperativa, a associação ou a entidade de qualquer natureza ou finalidade, a missão diplomática e a repartição consular de carreira estrangeiras. Também se equipara a empresa o operador portuário e o órgão gestor de mão de obra de que trata a Lei 12.815/2013 (art. 12, parágrafo único, inciso III, do Regulamento da Previdência Social).

Os beneficiários da Previdência Social, por seu turno, englobam os segurados e os dependentes (art. 10 da Lei 8.213/1991).

Os segurados e os dependentes são, evidentemente, sempre pessoas físicas (naturais).

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4.2. SEGURADOS

Os segurados podem ser classificados em obrigatórios e facultativos.Os segurados obrigatórios englobam o empregado, o empregado

doméstico, o trabalhador avulso, o contribuinte individual e o segurado especial.

Cabe esclarecer que todo aquele que exercer, concomitantemente, mais de uma atividade remunerada sujeita ao Regime Geral de Previ-dência Social é obrigatoriamente filiado em relação a cada uma delas (art. 11, § 2º, da Lei 8.213/1991).

Ademais, o aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social que estiver exercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por esse Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei 8.212/1991, para fins de custeio da Seguridade Social (art. 11, § 3º, da Lei 8.213/1991).

4.3. SEGURADOS OBRIGATÓRIOS

Como anteriormente indicado, os segurados obrigatórios podem ser: empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual e segurado especial.

4.3.1. EMPREGADO

São segurados obrigatórios da Previdência Social na condição de empregado (art. 11, inciso I, da Lei 8.213/1991):

a) A pessoa física que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado.

Sendo assim, no rol dos segurados obrigatórios tem-se o empre-gado, ou seja, o trabalhador (pessoa física) que presta serviços não eventuais, de forma subordinada (sob a “dependência” do empregador), com pessoalidade e mediante remuneração.

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 283

De acordo com o critério adotado no art. 9º, § 4º, do Regulamento da Previdência Social, entende-se por serviço prestado em caráter não eventual aquele relacionado direta ou indiretamente com as atividades normais da empresa.

O empregado, portanto, é aquele trabalhador que possui relação de emprego com o empregador, decorrente de contrato de trabalho, com a presença dos requisitos dos arts. 2º e 3º da Consolidação das Leis do Trabalho.

A presente hipótese inclui tanto o empregado urbano, regido pela CLT, como o empregado rural, conforme a Lei 5.889/1973.

O empregado rural é a pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual ao empre-gador rural, sob a dependência deste (ou seja, com subordinação) e mediante salário.

Logo, no caso do empregado rural, a sua caracterização depende, essencialmente, da caracterização do empregador como rural.

Considera-se empregador rural a pessoa física ou jurídica, pro-prietária ou não, que explore atividade agroeconômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por meio de prepostos e com auxílio de empregados.

O empregador rural, portanto, é aquele que exerce atividade agroe-conômica. Com isso, o empregado que presta serviço ao empregador rural é considerado rural.

Na atualidade, tem-se admitido, mesmo no âmbito rural, a pre-sença de categoria profissional diferenciada (ou seja, que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condi-ções de vida singulares), conforme art. 511, § 3º, da CLT e art. 19 da Lei 5.889/1973.

Inclui-se na atividade agroeconômica a exploração industrial em estabelecimento agrário não compreendido na Consolidação das Leis do Trabalho e a exploração do turismo rural “ancilar” (ou seja, de forma acessória) à exploração agroeconômica.

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No caso da chamada indústria rural, entende-se que o empregador continua sendo rural, quando não ocorre a transformação da natureza do produto, como o primeiro tratamento dos produtos agrários “in natura”1.

O empregado que trabalha em empresa de reflorestamento, cuja atividade está diretamente ligada ao manuseio da terra e de matéria--prima, é rurícola e não industriário, nos termos do art. 2º, § 4º, do Decreto 73.626/1974, pouco importando que o fruto de seu trabalho seja destinado à indústria. Assim, aplica-se a prescrição própria dos rurícolas aos direitos desses empregados (Orientação Jurisprudencial 38 da SBDI-I do TST).

O diretor empregado, ou seja, quando presente a subordinação jurídica na forma de exercício da atividade, também é considerado segurado empregado, como se depreende da parte final da Súmula 269 do TST2.

Considera-se diretor empregado o que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja contratado ou promovido para cargo de direção das sociedades anônimas, mantendo as caracte-rísticas inerentes à relação de emprego (art. 9º, § 2º, do Regulamento de Previdência Social).

O dirigente sindical mantém, durante o exercício do mandato ele-tivo, o mesmo enquadramento no Regime Geral de Previdência Social de antes da investidura (art. 11, § 4º, da Lei 8.213/1991).

Na verdade, considera-se de licença não remunerada, salvo as-sentimento da empresa ou cláusula contratual, o tempo em que o empregado se ausentar do trabalho no desempenho das funções de dirigente sindical (art. 543, § 2º, da CLT).

1 Cf. ainda Súmula 578 do STJ: “Os empregados que laboram no cultivo da cana-de-açúcar para empresa agroindustrial ligada ao setor sucroalcooleiro detêm a qualidade de rurícola, ensejando a isenção do FGTS desde a edição da Lei Complementar nº 11/1971 até a promulgação da Constituição Federal de 1988”.

2 Cf. Súmula 269 do TST: “Relação de emprego. Contrato de trabalho. Diretor eleito. Cômputo do período como tempo de serviço. CLT, arts. 2º, 3º, 4º e 449. O empregado eleito para ocupar cargo de diretor tem o respectivo contrato de trabalho suspenso, não se computando o tempo de serviço deste período, salvo se permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego”.

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 285

Logo, se o dirigente sindical era empregado, mantém essa mesma condição de segurado especial.

O vínculo empregatício mantido entre cônjuges ou companheiros não impede o reconhecimento da qualidade de segurado do empregado, excluído o doméstico (art. 9º, § 27, do Regulamento da Previdência Social, incluído pelo Decreto 10.410/2020).

b) A pessoa física que, contratado por empresa de trabalho temporá-rio, na forma prevista em legislação específica, por prazo não superior a 180 dias, consecutivos ou não, prorrogável por até 90 dias, presta serviço para atender a necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviço de outras empresas.

Na atualidade, o trabalhador temporário é a pessoa física contratada por uma empresa de trabalho temporário que a coloca à disposição de uma empresa tomadora de serviços, para atender à necessidade de substituição transitória de pessoal permanente ou à demanda comple-mentar de serviços (art. 2º da Lei 6.019/1974, com redação dada pela Lei 13.429/2017).

É proibida a contratação de trabalho temporário para a substituição de trabalhadores em greve, salvo nos casos previstos em lei (art. 2º, § 1º, da Lei 6.019/1974).

Considera-se complementar a demanda de serviços que seja oriunda de fatores imprevisíveis ou, quando decorrente de fatores previsíveis, tenha natureza intermitente, periódica ou sazonal (art. 2º, § 2º, da Lei 6.019/1974).

Não se consideram demanda complementar de serviços: as deman-das contínuas ou permanentes; ou as demandas decorrentes da abertura de filiais (art. 3º, parágrafo único, do Decreto 10.060/2019).

Considera-se substituição transitória de pessoal permanente a subs-tituição de trabalhador permanente da empresa tomadora de serviços ou cliente afastado por motivo de suspensão ou interrupção do contrato de trabalho, tais como férias, licenças e outros afastamentos previstos em lei (art. 3º, inciso V, do Decreto 10.060/2019).

O contrato de trabalho temporário, em relação ao mesmo empre-gador, não pode exceder ao prazo de 180 dias, consecutivos ou não.

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O contrato pode ser prorrogado por até 90 dias, consecutivos ou não, além do mencionado prazo, quando comprovada a manutenção das condições que o ensejaram (art. 10, §§ 1º e 2º, da Lei 6.019/1974, acrescentados pela Lei 13.429/2017).

O art. 27 do Decreto 10.060/2019 esclarece que o prazo de duração do contrato individual de trabalho temporário não pode ser superior a 180 dias corridos, independentemente de a prestação de serviço ocorrer em dias consecutivos ou não. Comprovada a manutenção das condições que ensejaram a contratação temporária, o contrato pode ser prorroga-do apenas uma vez, por até 90 dias corridos, independentemente de a prestação de trabalho ocorrer em dias consecutivos ou não.

Trata-se de modalidade em que, de forma excepcional, apenas para hipóteses de necessidade de substituição transitória de pessoal perma-nente ou à demanda complementar de serviços, admite-se a referida intermediação de mão de obra.

De todo modo, o trabalhador temporário é segurado obrigatório, inserido na modalidade de empregado.

c) O brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior.

A Lei 7.064/1982 regula a situação de trabalhadores contratados no Brasil ou transferidos por seus empregadores para prestar serviço no exterior.

Tem-se, aqui, hipótese de extraterritorialidade da lei previdenciária.

d) A pessoa física que presta serviço no Brasil a missão diplomá-tica ou a repartição consular de carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e repartições, excluídos o não brasileiro sem residência permanente no Brasil e o brasileiro amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou repartição consular.

e) O brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio.

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 287

Portanto, é segurado da Previdência Social, na condição de em-pregado, o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, por exemplo, em embaixada, em organismos oficiais brasileiros ou interna-cionais dos quais o Brasil seja membro efetivo (como a Organização Internacional do Trabalho e a Organização das Nações Unidas), ainda que lá domiciliado e contratado, exceto se já for segurado de acordo com a legislação do país de domicílio.

f) O brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital votante pertença a empresa brasileira de capital nacional.

g) O servidor público ocupante de cargo em comissão, sem vín-culo efetivo com a União, autarquias, inclusive em regime especial, e fundações públicas federais.

Isso é confirmado pelo art. 1º da Lei 8.647/1993, ao prever que o servidor público civil ocupante de cargo em comissão, sem vínculo efetivo com a União, autarquias, inclusive em regime especial, e fun-dações públicas federais, vincula-se obrigatoriamente ao Regime Geral de Previdência Social de que trata a Lei 8.213/19913.

Na realidade, é segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência Social, na condição de empregado, o agente público ocupante, exclusi-vamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego público (art. 40, § 13, da Constituição da República Federativa do Brasil, com redação dada pela Emenda Constitucional 103/2019).

A Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990, não modificou a situa-ção do servidor celetista anteriormente aposentado pela Previdência Social Urbana (Súmula 20 da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais).

3 “[...] 4. A nomeação para cargo comissionado após a Lei nº 8.647, de 1993, não gera direito ao cálculo dos proventos de aposentadoria pelo regime estatutário, mas pelo Regime Geral da Previdência Social, nos moldes do cargo ocupado pelo impetrante à época da edição da Lei. A Lei submeteu os detentores de cargos em comissão ao Regime Geral da Previdência Social. 5. Mandado de segurança denegado” (STF, Pleno, MS 24.024/DF, rel. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, DJ 24.10.2003).

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MANUAL DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Gustavo Filipe Barbosa Garcia288

A previsão em destaque também se aplica ao ocupante de cargo de Ministro de Estado, de Secretário Estadual, Distrital ou Municipal, sem vínculo efetivo com a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, ainda que em regime especial, e fundações (art. 11, § 5º, da Lei 8.213/1991).

Cabe esclarecer que o servidor civil ocupante de cargo efetivo ou o militar da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, bem como o das respectivas autarquias e fundações, são excluídos do Regime Geral de Previdência Social, desde que amparados por Regime Próprio de Previdência Social (art. 12 da Lei 8.213/1991).

Logo, se não estiverem abrangidos por Regime Próprio, como na hipótese de ausência de sua instituição pelo ente político, serão consi-derados segurados obrigatórios do Regime Geral da Previdência Social.

Além disso, caso o servidor ou o militar venham a exercer, conco-mitantemente, uma ou mais atividades abrangidas pelo Regime Geral de Previdência Social, tornam-se segurados obrigatórios em relação a essas atividades.

Se o servidor ou o militar, amparados por Regime Próprio de Previdência Social, forem requisitados para outro órgão ou entidade cujo regime previdenciário não permita a filiação, nessa condição, permanecem vinculados ao regime de origem, obedecidas as regras que cada ente estabeleça acerca de sua contribuição.

Desse modo, são segurados obrigatórios da Previdência Social, na condição de empregado: o servidor da União, Estado, Distrito Federal ou Município, incluídas suas autarquias e fundações, ocupante, exclu-sivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; o servidor do Estado, Distrito Federal ou Município, bem como o das respectivas autarquias e fundações, ocupante de cargo efetivo, desde que, nessa qualidade, não esteja amparado por Regime Próprio de Previdência Social; o servidor contratado pela União, Estado, Distrito Federal ou Município, bem como pelas respectivas autarquias e fundações, por tempo determinado, para atender a necessidade tem-porária de excepcional interesse público, nos termos do art. 37, inciso IX, da Constituição Federal de 1988; o servidor da União, Estado, Distrito Federal ou Município, incluídas suas autarquias e fundações,

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 289

ocupante de emprego público (art. 9º do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto 3.048/1999).

h) O que exerce mandato eletivo federal, estadual, distrital ou muni-cipal, desde que não vinculado a Regime Próprio de Previdência Social.

Aplica-se ao agente público ocupante de cargo temporário, inclu-sive mandato eletivo, o Regime Geral de Previdência Social (art. 40, § 13, da Constituição Federal de 1988, com redação dada pela Emenda Constitucional 103/2019). Cf. ainda Capítulo 9, item 9.14.3.

i) O empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em funcionamento no Brasil, salvo quando coberto por Regime Próprio de Previdência Social.

O art. 9º, inciso I, do Regulamento da Previdência Social (aprovado pelo Decreto 3.048/1999) faz menção, ainda, aos seguintes segurados obrigatórios, na condição de empregado:

– o brasileiro civil que presta serviços à União no exterior, em repartições governamentais brasileiras, que seja lá domiciliado e con-tratado, inclusive o auxiliar local de que tratam os arts. 56 e 57 da Lei 11.440/2006 (que institui o regime jurídico dos servidores do serviço exterior brasileiro), este desde que, em razão de proibição legal, não possa filiar-se ao sistema previdenciário local;

– o bolsista e o estagiário que prestam serviços a empresa, em desa-cordo com a Lei 11.788/2008 (que dispõe sobre o estágio de estudantes);

– o escrevente e o auxiliar contratados por titular de serviços notariais e de registro a partir de 21 de novembro de 1994, bem como aquele que optou pelo Regime Geral de Previdência Social, em conformidade com a Lei 8.935/1994;

– o trabalhador rural contratado por produtor rural pessoa física, na forma do art. 14-A da Lei 5.889/1973, para o exercício de atividades de natureza temporária por prazo não superior a dois meses dentro do período de um ano;

– aquele contratado como trabalhador intermitente para a prestação de serviços, com subordinação, de forma não contínua, com alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade, em conformidade com o disposto no § 3º do art. 443 da CLT.

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MANUAL DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Gustavo Filipe Barbosa Garcia290

Cabe esclarecer que o magistrado da Justiça Eleitoral, nomeado na forma do art. 119, inciso II, ou do art. 120, § 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988, mantém o mesmo enquadramento no Regime Geral de Previdência Social de antes da investidura no cargo (art. 9º, § 11, do Regulamento da Previdência Social).

A Lei 7.998/1990 regula o programa do seguro-desemprego, o abono salarial, institui o fundo de amparo ao trabalhador (FAT) e dá outras providências. A Lei 10.779/2003 dispõe sobre a concessão do benefício de seguro desemprego, durante o período de defeso, ao pes-cador profissional que exerce a atividade pesqueira de forma artesanal.

4.3.2. EMPREGADO DOMÉSTICO

O art. 7º, parágrafo único, da Constituição da República, com re-dação dada pela Emenda Constitucional 72/2013, assegura à categoria dos trabalhadores domésticos, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, a sua integração à Previdência Social.

Nesse sentido, conforme o art. 20 da Lei Complementar 150/2015, o empregado doméstico é segurado obrigatório da Previdência Social, sendo-lhe devidas, na forma da Lei 8.213/1991, as prestações nela arroladas, atendido o disposto na mencionada Lei Complementar e observadas as características especiais do trabalho doméstico.

Portanto, é segurado obrigatório da Previdência Social na condição de empregado doméstico aquele que presta serviço de natureza contínua, mediante remuneração, a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividade sem fins lucrativos (art. 11, inciso II, da Lei 8.213/1991).

O empregado doméstico é considerado o trabalhador que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de fi-nalidade não lucrativa à pessoa (física) ou à família, no âmbito resi-dencial destas, por mais de dois dias por semana, conforme art. 1º da Lei Complementar 150/2015, sobre o contrato de trabalho doméstico.

Diversamente da Consolidação das Leis do Trabalho, que utiliza a expressão “não eventual” (art. 3º), a lei específica sobre o contrato

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 291

de trabalho doméstico, atualmente em vigor, exige a continuidade na prestação de serviços por mais de dois dias por semana para a con-figuração dessa modalidade de vínculo de emprego.

O Decreto 6.481/2008 aprovou a Lista das Piores Formas de Traba-lho Infantil (Lista TIP), na forma do Anexo, de acordo com o disposto nos arts. 3º, d, e 4º da Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho, aprovada pelo Decreto Legislativo 178/1999 e promulgada pelo Decreto 3.597/2000 (atualmente Decreto 10.088/2019).

É proibido o trabalho do menor de 18 anos nas atividades descritas na Lista TIP, a qual inclui o trabalho doméstico.

Desse modo, é vedada a contratação de menor de 18 anos para desempenho de trabalho doméstico, de acordo com a Convenção 182, de 1999, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e com o Decreto 6.481/2008.

4.3.3. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL

São segurados obrigatórios da Previdência Social na condição de contribuinte individual (art. 11, inciso V, da Lei 8.213/1991):

a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agro-pecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a quatro módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a quatro módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses do art. 11, §§ 9º e 10, da Lei 8.213/1991, ao prever casos em que a condição de segurado especial é excluída;

b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral (garimpo), em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;

c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa;

d) Revogada pela Lei 9.876/1999;

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MANUAL DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Gustavo Filipe Barbosa Garcia292

e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo ofi-cial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por Regime Próprio de Previdência Social;

f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração;

Entende-se que a isenção concedida ao síndico quanto ao pagamento do valor da mensalidade de condomínio equivale à remuneração (indireta), o que o enquadra como segurado obrigatório contribuinte individual4.

g) a pessoa física que presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego;

Trata-se do trabalhador eventual, isto é, que presta serviços de modo esporádico, ou seja, casual.

Discute-se a respeito de sua caracterização, havendo entendimento de que o trabalho eventual seria o que não integra as atividades nor-mais e essenciais da empresa.

A rigor, o trabalhador eventual é o que não se fixa a uma fonte tomadora dos serviços, de modo que não há uma repetição automática da prestação dos serviços ao longo do tempo.

Conforme o art. 9º, § 4º, do Regulamento da Previdência Social, entende-se por serviço prestado em caráter não eventual aquele rela-cionado direta ou indiretamente com as atividades normais da empresa. Logo, interpretando-se essa disposição a contrario sensu, o trabalho eventual seria aquele que não se relaciona com as atividades normais da empresa.

4 Cf. SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 174.

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 293

Por não se configurar a relação de emprego, o eventual é segurado obrigatório, enquadrado como contribuinte individual.

h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econô-mica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não.

Tem-se aqui o trabalhador autônomo, ou seja, que presta serviço de forma não subordinada, o que afasta a existência de vínculo de emprego.

O trabalhador autônomo presta serviços por conta própria, or-ganizando e coordenando a sua própria atividade. Embora não seja empregado (art. 442-B da CLT), é segurado obrigatório, na condição de contribuinte individual.

No serviço de transporte remunerado privado individual de pas-sageiro (assim considerado o serviço remunerado de transporte de passageiros, não aberto ao público, para a realização de viagens indi-vidualizadas ou compartilhadas solicitadas exclusivamente por usuários previamente cadastrados em aplicativos ou outras plataformas de comu-nicação em rede), exige-se a inscrição do motorista como contribuinte individual do Instituto Nacional do Seguro Social, nos termos do art. 11, inciso V, h, da Lei 8.213/1991 (art. 11-A, parágrafo único, da Lei 12.587/2012, incluído pela Lei 13.640/2018).

A inscrição como segurado contribuinte individual deve ser feita di-retamente pelo motorista de transporte remunerado privado individual de passageiros, preferencialmente pelos canais eletrônicos de atendimento do INSS. O motorista pode optar pela inscrição como microempreendedor individual, desde que atenda aos requisitos de que trata o art. 18-A da Lei Complementar 123/2006 (art. 2º do Decreto 9.792/2019).

A comprovação da inscrição perante as empresas responsáveis por aplicativos ou por outras plataformas digitais de transporte remunerado privado individual de passageiros é de responsabilidade do motorista e caberá ao INSS fornecer os respectivos comprovantes, preferencial-mente por meio de seus canais eletrônicos de atendimento (art. 3º do Decreto 9.792/2019).

O motorista de transporte remunerado privado individual de passa-geiros deve recolher sua contribuição ao Regime Geral de Previdência

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Social por iniciativa própria, nos termos do art. 30, inciso II, da Lei 8.212/1991 (art. 4º do Decreto 9.792/2019).

O art. 9º, § 15, do Regulamento da Previdência Social indica os seguintes contribuintes individuais abrangidos pelas hipóteses de tra-balhadores eventuais e autônomos:

– aquele que trabalha como condutor autônomo de veículo rodoviário, inclusive como taxista ou motorista de transporte remunerado privado individual de passageiros, ou como operador de trator, máquina de terraplenagem, colheitadeira e assemelhados, sem vínculo empregatício;

– aquele que exerce atividade de auxiliar de condutor autônomo de veículo rodoviário, em automóvel cedido em regime de colaboração, nos termos da Lei 6.094/1974;

– aquele que, pessoalmente, por conta própria e a seu risco, exerce pequena atividade comercial em via pública ou de porta em porta, como comerciante ambulante, nos termos da Lei 6.586/1978;

– o trabalhador associado a cooperativa que, nessa qualidade, presta serviços a terceiros;

– o membro de conselho fiscal de sociedade por ações;

– aquele que presta serviço de natureza não contínua, por conta própria, a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividade sem fins lucrativos, até dois dias por semana;

– o notário ou tabelião e o oficial de registros ou registrador, titular de cartório, que detêm a delegação do exercício da atividade notarial e de registro, não remunerados pelos cofres públicos, admitidos a partir de 21 de novembro de 1994;

– aquele que, na condição de pequeno feirante, compra para revenda produtos hortifrutigranjeiros ou assemelhados;

– a pessoa física que edifica obra de construção civil;

– o médico residente de que trata a Lei 6.932/1981;

– o pescador que trabalha em regime de parceria, meação ou ar-rendamento, em embarcação de médio ou grande porte, nos termos da Lei 11.959/2009;

– o incorporador de que trata o art. 29 da Lei 4.591/1964;

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 295

– o bolsista da Fundação Habitacional do Exército contratado em conformidade com a Lei 6.855/1980;

– o árbitro e seus auxiliares que atuam em conformidade com a Lei 9.615/1998;

– o membro de conselho tutelar de que trata o art. 132 da Lei 8.069/1990, quando remunerado;

– o interventor, o liquidante, o administrador especial e o diretor fiscal de instituição financeira, empresa ou entidade bancária (ou seja, de banco comercial, banco de investimento, banco de desenvolvimento, caixa econômica, sociedade de crédito, financiamento e investimento, sociedade de crédito imobiliário, inclusive associação de poupança e empréstimo, sociedade corretora, distribuidora de títulos e valores mobiliários, inclusive bolsa de mercadorias e de valores, empresa de arrendamento mercantil, cooperativa de crédito, empresa de seguros privados e de capitalização, agente autônomo de seguros privados e de crédito e entidade de previdência privada, aberta e fechada);

– o transportador autônomo de cargas e o transportador autônomo de cargas auxiliar, nos termos do disposto na Lei 11.442/2007;

– o repentista de que trata a Lei 12.198/2010 (repentista é o profis-sional que utiliza o improviso rimado como meio de expressão artística cantada, falada ou escrita, compondo de imediato ou recolhendo com-posições de origem anônima ou da tradição popular), desde que não se enquadre na condição de empregado, em relação à referida atividade;

– o artesão de que trata a Lei 13.180/2015 (artesão é toda pessoa física que desempenha suas atividades profissionais de forma individu-al, associada ou cooperativada), desde que não se enquadre em outras categorias de segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência Social em relação à referida atividade.

Cabe ainda destacar as seguintes hipóteses de contribuintes indi-viduais explicitadas de forma mais detalhada no art. 9º, inciso V, do Regulamento da Previdência Social:

– desde que receba remuneração decorrente de trabalho na empresa:

1) o empresário individual e o titular de empresa individual de res-ponsabilidade limitada, urbana ou rural;

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2) o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima;

3) o sócio de sociedade em nome coletivo;

4) o sócio solidário, o sócio gerente, o sócio cotista e o administrador, quanto a este último, quando não for empregado em sociedade limitada, urbana ou rural.

Considera-se diretor não empregado o que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja eleito, por assembleia geral dos acionistas, para cargo de direção das sociedades anônimas, não mantendo as características inerentes à relação de emprego.

– o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração;

– o aposentado de qualquer regime previdenciário nomeado magistrado classista temporário da Justiça do Trabalho5, ou nomeado magistrado da Justiça Eleitoral, na forma do art. 119, inciso II, ou do art. 120, § 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988;

– o cooperado de cooperativa de produção que, nesta condição, presta serviço à sociedade cooperativa mediante remuneração ajustada ao trabalho executado;

– o Microempreendedor Individual (MEI) de que tratam os arts. 18-A e 18-C da Lei Complementar 123/2006, que opte pelo recolhimento dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos mensais;

– o médico participante do Projeto Mais Médicos para o Brasil, ins-tituído pela Lei 12.871/2013, exceto na hipótese de cobertura securitária específica estabelecida por organismo internacional ou filiação a regime de seguridade social em seu país de origem, com o qual a República Federativa do Brasil mantenha acordo de seguridade social;

– o médico em curso de formação no âmbito do Programa Médicos pelo Brasil, instituído pela Lei 13.958/2019.

5 Esse grupo de segurados tende a não mais existir, pois a Emenda Constitucional 24/1999 extinguiu a representação classista na Justiça do Trabalho.

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 297

É considerado microempreendedor individual (MEI) o empresário individual a que se refere o art. 966 do Código Civil, ou o empreen-dedor que exerça as atividades de industrialização, comercialização e prestação de serviços no âmbito rural, que tenha auferido receita bruta no ano-calendário imediatamente anterior até o limite estabelecido no art. 18-A da Lei Complementar 123/2006, que tenha optado pelo Simples Nacional e não esteja impedido de optar pela sistemática de recolhimento dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos mensais (art. 9º, § 26, do Regulamento da Previdência Social, incluído pelo Decreto 10.410/2020).

4.3.4. TRABALHADOR AVULSO

É segurado obrigatório da Previdência Social na condição de trabalhador avulso quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviço de natureza urbana ou rural (art. 11, inciso VI, da Lei 8.213/1991).

O trabalhador avulso é a pessoa física que presta serviços a diver-sas empresas e tomadores, de natureza urbana ou rural, sem vínculo empregatício.

O avulso diferencia-se do trabalhador eventual, pois a prestação dos serviços é intermediada pelo sindicato da categoria profissional ou pelo Órgão Gestor de Mão de Obra. Ademais, a Constituição Federal de 1988, no art. 7º, inciso XXXIV, garante igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.

O trabalho avulso é comum na área portuária, com a presença do Órgão Gestor de Mão de Obra na administração e no fornecimento da mão de obra do trabalhador portuário avulso, conforme previsto na Lei 12.815/2013.

Apesar disso, também existe o trabalhador avulso não portuá-rio, em que a prestação do serviço é intermediada pelo sindicato da categoria profissional, com a divulgação de escalas de trabalho dos avulsos, com a observância do rodízio entre os trabalhadores, em ati-vidades de movimentação de mercadorias em geral, segundo dispõe a Lei 12.023/2009.

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Desse modo, o trabalhador avulso é aquele que:a) sindicalizado ou não, preste serviço de natureza urbana ou rural

a diversas empresas, ou equiparados, sem vínculo empregatício, com intermediação obrigatória do órgão gestor de mão de obra, nos termos do disposto na Lei 12.815/2013, ou do sindicato da categoria, assim considerados: 1) o trabalhador que exerça atividade portuária de capata-zia, estiva, conferência e conserto de carga e vigilância de embarcação e bloco; 2) o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvão e minério; 3) o trabalhador em alvarenga (embarcação para carga e descarga de navios); 4) o amarrador de embarcação; 5) o ensacador de café, cacau, sal e similares; 6) o trabalhador na indústria de extração de sal; 7) o carregador de bagagem em porto; 8) o prático de barra em porto; 9) o guindasteiro; 10) o classificador, o movimen-tador e o empacotador de mercadorias em portos;

b) exerça atividade de movimentação de mercadorias em geral, nos termos do disposto na Lei 12.023/2009, em áreas urbanas ou rurais, sem vínculo empregatício, com intermediação obrigatória do sindicato da categoria, por meio de acordo ou convenção coletiva de trabalho, nas atividades de: 1) cargas e descargas de mercadorias a granel e ensacados, costura, pesagem, embalagem, enlonamento, ensaque, arrasto, posicionamento, acomodação, reordenamento, reparação de carga, amostragem, arrumação, remoção, classificação, empilhamento, transporte com empilhadeiras, paletização, ova e desova de vagões, carga e descarga em feiras livres e abastecimento de lenha em seca-dores e caldeiras; 2) operação de equipamentos de carga e descarga; 3) pré-limpeza e limpeza em locais necessários às operações ou à sua continuidade (art. 9º, inciso VI, do Regulamento da Previdência Social, com redação dada pelo Decreto 10.410/2020).

4.3.5. SEGURADO ESPECIAL

O segurado especial é, em essência, o pequeno produtor rural e o pes-cador artesanal, previstos no art. 195, § 8º, da Constituição da República.

Nesse sentido, o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem em-

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Cap. 4 • BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 299

pregados permanentes, contribuem para a Seguridade Social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e têm direito aos benefícios nos termos da lei.

Desse modo, conforme o art. 11, inciso VII, da Lei 8.213/1991, é segurado obrigatório da Previdência Social, na condição de segurado especial, a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de:

a) produtor (proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, par-ceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais) que explore atividade: agropecuária em área de até quatro módulos fiscais; de seringueiro ou extrativista vegetal (que exerça suas atividades nos termos do art. 2º, caput, inciso XII, da Lei 9.985/2000),6 e faça dessas atividades o principal meio de vida;

O módulo fiscal é previsto no art. 50 da Lei 4.504/1964, que dispõe sobre o Estatuto da Terra, sendo utilizado para o cálculo do Imposto Territorial Rural.

O número de módulos fiscais de um imóvel rural é obtido dividin-do-se a sua área aproveitável total pelo modulo fiscal do Município.

O módulo fiscal de cada Município, expresso em hectares, é determinado levando-se em conta os seguintes fatores: a) o tipo de exploração predominante no Município: hortifrutigranjeira; cultura permanente; cultura temporária; pecuária; florestal; b) a renda obtida no tipo de exploração predominante; c) outras explorações existentes no Município que, embora não predominantes, sejam expressivas em função da renda ou da área utilizada; d) o conceito de “propriedade familiar”, definido no art. 4º, inciso II, da Lei 4.504/19647.

6 “Art. 2º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: XII – extrativismo: sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais renováveis”.

7 “Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se: I – ‘Imóvel Rural’, o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial, quer através de planos públicos de valorização, quer