manual civilizador para um peso sem nome

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Manual Civilizador Para Um Peso Sem Nome Artigo apresentado para Poéticas Contemporâneas: Linguagem do Corpo ministrada pela professora Juliana Moraes. [RENAN MARCONDES] www.renanmarcondes.com

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Revista de apresentanção do trabalho de conclusao de curso de Renan Marcondes. Por: Aline Ferreira Arcuri Isabela Contini Jacqueline Faus Joice Palloma

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ManualCivilizadorParaUmPesoSemNomeArtigoapresentadoparaPoéticasContemporâneas:LinguagemdoCorpoministradapelaprofessoraJulianaMoraes.

[RENANMARCONDES]

w w w . r e n a n m a r c o n d e s . c o m

SOBRE

RenanMarcondes é Graduando emArtes Visuais pelo CentroUniversitário

Belas artes de São Paulo e curso técnico em interpretação pelaOficina de Atores

NiltonTravesso.

Atravésdaperformance,vídeoedocumentaçãotextualfazquestionamentos

acerca do corpo e seu consequente comportamento a partir do que chama de

"ProcessoCivilizatório".

Percurso

Épossívelobservardeterminadospadrõesenormasaqueohomemfoieé

condicionado,queexigem‐nouma“boaconduta”ecertocomportamentoperantea

umtodosocial.Osmaisdiferentesestudostantonasciênciasquantonapsicologia

são feitos todos os dias rotulando e trazendo resoluções práticas para a vida. Em

meio a tantos rótulos, o homem parece esquecer de seu modo intuitivo e sua

subjetividade,seguindopadrõesesperadospelasociedadequeacabapormoldarum

sercontidoemsimesmo,contençãoesta,queasvezesbeiraaloucura.

Em seu vídeo “Extração Liquidadeum corpo empedaços” de 2012, Renan

aparece em três frames que correm simultaneamente, onde podemos vê‐lo em

diferentes momentos – de costas, de frente com close em seu rosto, e

movimentando‐seentregirosepulosde formaaquererextrapolar limites.O som

queacompanhaasimagenssedifundi,dafluidezdaágua,aagilidadedamáquinade

escrever.Comaspossibilidadesde intervençõesoferecidaspelo vídeo, as imagens

recebem interferências gráficas como grades e cálculos matemáticos que ao

acompanharemosmovimentosdocorpo,produzemcertacontençãoeobjetivação

dasações,numatentativaderacionalizaroquesesucede.

RenanMarcondes–“Extraçãoliquidadeumcorpoempedaços”–2012

NestevídeoenocorpogeraldeseustrabalhosRenannosfazlembrarovalor

e a necessidade de um balanço entre a racionalização, ai então a linguagem e o

animal,subjetividade.

“Como se houvesse um papel milimetrado no qual o corpo deita e se

estrutura, acredito ser necessário que o corpo pese a ponto de se desmanchar,

desmontar, perder sua forma quando em cima daquele espaço ultrapassar essa

gradeemminuciosospedaços”RenanMarcondes.

Ressaltandoessaquestãodobalançoentreo racional e subjetivo,Merleau

Pontyem“Conversas‐1948”fazumapontamentoarespeitodaciência:

“....aquestãoqueopensamentomodernocolocaemrelaçãoaciêncianãose

destina a contestar sua existência ou a fechar‐lhe qualquer domínio. Trata‐se de

saber se a ciência oferece ou oferecerá uma representação do mundo que seja

completa, que se baste, que se feche de algumamaneira sobre si mesma, de tal

formaquenãotenhamosmaisnenhumaquestãoválidaacolocaralémdela.Nãose

tratadenegaroudelimitaraciência;trata‐sedesaberseelatemodireitodenegar

ou de excluir como ilusórias todas as pesquisas que não procedam como ela por

medições, comparações e que não sejam concluídas por leis, como as da física

clássica,vinculandodeterminadasconseqüênciasadeterminadascondições”Pag.5

Apresençadeobjetoscomocaixas,cadeiraselivrosérecorrentedurantesua

produção.Esseinteressepartiuquandoemumsebo,sedeparoucomumamalaque

continhaemseuinteriordiversascontaspagaseumcartãoBradesco,todoscomo

nome de Antonio Carlos Chapela Nores, possível proprietário da mala. Em

conseqüência,essamalatrouxeapercepçãodosobjetoscomoextensoresdoeu,já

queestescarregavamumapossívelleiturasobrequemseriaAntonioCarlos.

SegundoMerleauPonty:

“Ascoisasnãosão,portanto, simplesobjetosneutrosquecontemplaríamos

diante de nós; cada uma delas simboliza e evoca para nós uma certa conduta,

provoca de nossa parte reações favoráveis ou desfavoráveis, e é por isso que os

gostosdeumhomem,seucaráter,aatitudequeassumiuemrelaçãoaomundoeao

exteriorsãolidosnosobjetosqueeleescolheuparaterasuavolta...”

Nossarelaçãocomosobjetossetornacadadiamaisestréiaedifusadevidoa

grandeproduçãodemercadoriasedoconsumismo,assim:

“Oefeitoespetacularfazdosujeitoumobjeto;aomesmotempo,transforma

omundodosobjetosnumaextensãoouprojeçãodoeu.”ChristopherLasch

RenanMarcondes–Ensaioparaumaabdicação‐2012

A partir da relação com certos objetos presentes em nossa volta,estes,

passamaterumcertovalorafetivoganhandoqualidadesdesujeito.Umacadeiraé

escolhidanãoapenaspor sua função,mas tambémpor suas características como

corematerial.Damesmaformaacadeiraexigeumacertaposturadosujeito,que

tendeparaaobjetividade.

RenanMarcondes‐Conviteparaumcorpo–2011

Emseutrabalho“Desassossego”,‐queseguecomomesmonomedolivrode

Fernando Pessoa, por ter sido influencia direta para construção de tal trabalho ‐

Renan faz uma desconstrução da relação esperada com objetos de âmbitos

acadêmicos como lousa, cavalete e cadeira. Estes encontram‐se juntos e

amontoados uns sobre os outros onde Renan em meio a movimentos leves,

permeia‐os,numatentativadeachar‐seperantetalestruturaqueaomesmotempo

tendeacamuflá‐lo.

RenanMarcondes–Desassossego–2011

ManualCivilizadorparaumpesosemnome

Seguindo no âmbito das questões burocráticas e acadêmicas o Manual

Civilizador pretende levantar observações sobre o corpo que se constrói em tais

ambientes.Esteinteressepelocorpoqueseformaemconseqüênciaaumconjunto

denormascomeçouapartirdepesquisassobremanuaisdecomportamentoscomo,

DeveresdeCícero.Duranteoperíodode trêsmesesmuitos testespúblicos foram

feitos e registrados até se chegar na ação final. Estes testes foram selecionados e

documentadosnoqueRenanchamadeDiáriodeBordo,ondeépossívelpercebera

evoluçãodoprocessoatravésdeexperimentaçõescomdiversosmateriaiscomo,giz,

lápis,caixaseatépedaçosdecarne.Asaçõessedavamdeformasinusitadascomo

cobrirorostocometiquetasparapreços,seadentraremcaixaseamaisrecorrente,

queacontecenoatodeapoiarseucorposobre lápisegizdeixando‐o pesarsobre

taismatériaisnumaprocuraporsustentação.Atravésdestasações,Renanprocurava

tentativasdesairdocamposuperficialaquesomossubmetidosealcançaropesode

seucorpo.

RenanMarcondes‐TestesparaManualCivilizadorparaumPesoSemNome.

Na ação final, a performance acontece em um espaço pré‐estabelecido de

3x3mquecontememseuinterior,inúmerosgizesbrancos.Renanmove‐seseguindo

asmarcaçõeslimitesdesseespaço,eemconjuntocomosomquevariadoorgânico

ao mecânico, seu corpo reage conforme os impulsos oferecidos tais como água,

maquina de escrever e impressora. Durante aproximadamente uma hora Renan

percorreesteperímetroeconformeseusmovimentosacontecemosgizesquebram

eesfarelamsujandooambienteetambémaroupasocialqueRenanestausando.

FatopercebidoeconfirmadoporRenan,éodistanciamentodosobjetos–da

cadeiraacaixa;dacaixaaolápis;dolápisaogiz;dogizaopó.Assimsobraocorpo

comoprópriocorpo,orgânicoetambémmaquina.

RenanMarcondes‐testeparaManualCivilizadorparaumPesosemnome

ENTREVISTACOMRENANMARCONDES

A: Renan, você pode nos apontar as principaisquestões que te

moveram para a criação do“Manual cilivizador para um peso sem nome”.

Elesencontramrelaçõescomtrabalhosanteriores?

RM:As principais questões que hojememovem noManual são bem

diferentesdasquestõesiniciais,quedefatoserelacionavamcomosManuais

de comportamento. Hoje, especificamente, me move entender qual o lugar

domeu trabalho dentro das linguagens que busco. Meu trabalho em

performance tem um foco na ação do corpo quepor vezes o aproxima das

artes"cênicas"(mesmoeunãoenxergandomuitoessadissociação),eeucada

vez mais quero entender como poder lidar com

essaslinguagens/escolhas/procedimentos. É um trabalho que eu sinto aos

poucos fugir de um campo específico das artes visuais e entrar em outros

lugares, e é preciso ter tato pra lidar bem com isso. Da relação com os

trabalhosanteriores,acreditoqueexistaesejaforte,poissemprebusqueiessa

relaçãocomportamentalvistapelaóticadosujeitoxobjeto.

A:Sobreosmanuaisde comportamento,quandoeporqueapareceo

interessedeseaprofundarnessesmetodos?

RM:Nuncafalei issopraninguém,masaos12,13anoseueraviciado

emlivrosdeautoajuda.Nãopornecessidade,masporcuriosidade.LiQuem

amaeduca,Criandomeninas,Criandomeninos,Omongeeoexecutivo,enfim,

ascoisasmaisbizarras.Hoje,com20anos,euconsigoterumdistanciamento

crítico do quanto eles nos moldam socialmente.E, historicamente, eles são

umaderivaçãodiretadessesmanuaisdecomportamento,queindicamoque

devemos ou não fazer, com adiferença que hoje temosessa sindrome da

"subjetividadealegre",quepermeiaquase todosos livros.Masé importante

dizerqueotrabalhonaotemmaisnadadesseslivrosemsi...

A: NaPerformance‐teste Volume 1: hipótese sobre a construção

(2012)quandoserelacionoucomgiz,olápiseopapel,objetosvindosdeum

contextoacademicoouburocratico,oquearelaçãodepeso,forçaequilíbrio

evidenciavaparavocê?

RM: Naquele contexto específico, ela me evidenciava frustração.

Depoisdeumahoraepouco, estava transtornadopornão terumpesoque

pudessesersustentadoporumapontador...Foiquandocomeçeiajogartodo

opesodocorponos lápisequebrarumporum.Mascomotodasasminhas

ações terminam quando o relógio apita, em horários redondos, foi nomeio

dessemomentoquetivequeparar.

A: EmPerformance ‐ teste Volume 2: o lápis, o percurso, o afeto

(2012)porqueogizeolápisgrafiteforamosmatériasescolhidos?

RM:Eulevanteimuitacoisanosensaios:acaixadecorreio,amaquina

deescrever,a fitacrepe,a folhasulfite,etc...NoTuca(onderolouosegundo

teste)recorriaolapiseaogizpelamovimentaçãoqueelesgeravam,queeram

as coisas quemaisme interessavam. Foi a primeira formatação de fato da

performance,quehoje játabemalterado...tinhatambémacarnenomeioe

tals, que eu acho que agregou pouco...De qualquer forma, os objetos

escolhidospraotrabalhofinalsãodefatoogizeolapis.

A:Porqueopeso,movimentaasuarelaçãocomoobjeto?

RM:Aeducaçãoretiranossopeso.Olhaodesenhodeumacriançaaindanão

alfabetizada,porexemplo.Elaentracorporalmentenodesenhoeopesodelafica

integralmentelá.Agora,fazerumAigualaodetodomundorequerqueopesodo

corposecomporteparaaquelegestosair.Algumtraçoaindareside,eporissocada

umtemsuacaligrafia(quedesenvolveconformedesenvolvesuasubjetividade).

Comoeubuscomuitoamovimentaçãomasnãovenhodadança,meucorpopor

vezespesademaiseimpedederealizarcertasaçõescomoprojeto,entãoficosempre

lembrandodessepesodele.

A:Faleumpoucosobreasuaintençãodedesfragmentarocorpo?

RM:Vocênãoconstróinadasemteraspartesseparadas.Paraeureconstruir

essecorpo,precisoprimeiroentende‐loedividi‐loparasódepoispoderreorganizá‐

lodeformasinceraeautonoma(nolimitedopossivel,claro).Umcorpoconformado

éumcorpocom‐forma,eagenteprecisasempreestaratentopraqueformassão

essaseoquantoelas sãode fato internasanósounão.Comodiria Foucault, éa

éticadocuidadodesicomopráticadeliberdade...

A:Quaissãosuasexpectativasparapróximasproduções?

RM: Hoje euestou integralmente mergulhado no Manual...pois ele é um

projeto bem complexo. Mas pra frente, quero emendar um mestrado que

compreendaasmesmasquestões,masprovavelmente foradasartesvisuais, e sim

noteatro,ounadança.Temmuitascoisasdcorpoqueeutoquerendopesquisarque

achoquepodemagregarmuitonomeutrabalho,comooButoh,porexemplo,que

sempreassistimuitomastiveumcontatopráticomuitopontual,emworkshopsetal.

Minhautopiaéfalardoquefalousandosóocorpoenadamais.Mesmoeuachando

isso impossível, é uma boa meta para que eu me aprofundecada vez mais nas

questõesfisicasdemeucorpo.

Entender‐Analisar‐Escrever

Oqueescreverarespeitodeumsupostoentendimentodotrabalhodeum

artista,quandoopróprioquestionaessaideiadeentendimento?

EmseudiáriodebordoRenanMarcondesemdeterminadotrechocontade

uma experiência de após ter apresentado um esboço de seus trabalhos em um

evento, e o público composto por pessoas de algumas áreas como artes, dança,

performanceetc,nãoconseguiremfalarsobreseutrabalho,ficaramolhandopara

oartistaaesperadesuafala,diantedatalrelatomesurgiramalgumasquestões.

Seráqueosilenciocausadopormuitosdeseustrabalhos,comofoirelatado,

érealmenteporcontadeumnãoentendimento?Oquedemonstraoquesignifica

esse silêncio, essa ausência de palavras ditas? O silêncio é resultado de uma

tentativadereflexãoouapenasdeumconformismodenãoteracessadoenãoter

compreendidootrabalho?

Seráquecompreenderalgoénecessariamenteconseguircolocarempalavras

oqueaquilotedesperta,tecomove,perturba,inquietaesensibiliza?

Diantenãoapenasdessesquestionamentos,mas tambémdodesafioqueé

lereanalisarobras,foifeitoumacoletadeleiturasdasperformancesrealizadaspelo

RenanMarcondesdisponívelemseusite,comintuitodeseterumaaproximaçãode

possíveisleiturasecomoasperformancesestãoatingindooespectador.

LEITURASEANÁLISES

Juan Manuel Wissocq, 25 anos Estudante de antropologia na

PontifíciaUniversidadeCatólicadeSãoPaulo.

Impossível negar a importância do corpo na produção do Renan, mas

não para se tornar a obra em si, mas sim como mais um elemento de

construçãodesuasideias.Juntocommóveis,madeiras,lápis,mapasecaixas,amão,

acabeçaeocorpotornam‐setambémobjetos,histórias,informação.

Na verdade, creio que todo seu trabalho reflete sobre a produção e

necessidadede informação,emqueocorpoévistocomoomais importantemeio

de investigação, exploração e catalogação. Alcançando sentido somente pela sua

funçãoepelousodesuaspartes,sejaumacabeçaseconectandoporumlápisauma

brochuradepapelouocorposecamuflandoentremóveis.

NayaWhitaker,22anos,estudantedejornalismonoMackenzie.

Aminha impressão sobreovídeoéqueele retrataapartirdeobjetosque

representam a criação (o papel, borracha, lápis, giz) a aflição e pressão que a

sociedade do homem impõem sobre o próprio homem para que estejamos em

constante produção,mesmo quando esta produção tenha que ser a intelectual, a

qualmuitasdasvezesnãopossuíomesmoritmodaproduçãoindustrialemecânica.

Pelo fato de ser um jovem e ele criar situações de aflição ‐ como o lápis

contra a pele e a pressão do grampo/clips sobre o peso da cabeça ‐ o vídeome

remeteualgunsconceitoscolocadospeloBaumansobreaModernidade.Aprópriaa

figura do Fausto, a volutibilidade das relações, a constante substituilção do velho

pelonovoepressãoparaqueestejamossempretendoquereinventar,mesmoque

esseprocessosejadoloroso.

João Claro, 21 anos, estudante de artes visuais no Centro

UniversitárioBelasArtesdeSãoPaulo.

Delta

Tendo o corpo como materialização do ser (de um ser), como uma

(in)viabilização do sujeito, como constar dentro do âmbito social, da condição, do

encaixesemsezeraraequação?Oqueéexporumeuquandoafalapodenãodizer

eocorpotendeasersilencioso?Comogritaraquiloquehámuitoésilenciado?Qual

éopesodocorpodefato?Porqueodeltapertenceàequação?

Atravésde taisquestionamentosepontuaçõesmeenvolvoemumaanálise

aostrabalhosdeRenanMarcondesempontosque,segundominhasleituras,tratam

da importância do valor da variável, da incerteza da equação. Como quantificar,

qualificar,encaixar,padronizaretornaráureooserqueexisteparaaincerteza,para

avariação,paraabusca.Otempoécurtoeatentativaéconstante.Nãoháfórmula,

nemparaoindivíduo,nemparasuainserçãomoldadanasociedade.

Comaçõesquetomamocorpodeformavisceral,enérgicaeesquizóide,eem

situações que demonstram tentativas de conforto e de confronto, o os trabalhos

analisados expõem o corpo propriamente dito, como parte do espaço, como

conteúdodocontinente,emsituaçõesdeembateemrelaçãoà legitimaçãodesua

condição,de seuencaixeedecomoseencontrardentrodacartografia cartesiana

social.

Comotornarosubstantivoemadjetivo?

Conhecer a variação do indivíduo implica em re‐conhecer, experimentar,

experimentar não só o substantivo como sendo adjetivo, mas como sendo

factualmentelegítimoelegível(ouilegível).Porém,quandoopensareocentrode

utopia já não dão mais conta de se exprimir a confissão do Homem sobre suas

angústiaseanseios,ocorpotodo‐queabsorveeexpelecomoestáticaemreaçãoao

atrito–passaaseexpressardeformaaseatingiroobjetivo.Comisso,talcorpose

apresentando de forma a atingir o alcance do limite, do esgotamento, da

quantificação da constância, tentando realizar o encaixe no padrão, a inserção na

proporção áurea, acaba por ocasionar o surgimento da gota como resposta do

centrodemassadequepodenãoirtãolonge.

Relacionando‐seaindaassimcomoambienteemque se insere,o corpo já

tanto citado toma algumas formas de se padronizar com tentativas constantes de

inquietação, de dês‐amortecimento. Logo, Renan Marcondes, utilizando‐se de

corpos que são passivos à sua existência, mostra o embate da carne como seu

condicionadoremsituaçõesdeconfortoeoudesconforto.

Contudo, a relaçãoentreodesconforto (induzidopelanão compatibilidade

entrecorpodosujeitoecorpoaconvidá‐lo)eoconforto(questionávelemtentativas

constantes como forma de se aproximar e testar outros campos de vivência –

encaixes)dadapelorelacionamentocorpo‐objeto,acabaportornar(decertaforma)

oindivíduopassivoaos(seus)mesmos.

Com isso, ainda não concluo nenhum apontamento sobre qual a força da

subjetividade,qualseupeso,eoqueprendeelaàrealidade.Quegravidadeéessa

quepodeencaixarasubjetividadenumarealidadequeabafaosujeito?Hágravidade

nisso?Nisso,ondeconvergiroqueéosercomoqueeleesperaser?Novamente,o

tempoécurtoeatentativaéconstante.

Joice Palloma, 22 anos, estudante de Artes Visuais no Centro

UniversitárioBelasArtesdeSãoPaulo.

RenanMarcondesemmuitasdesuasperformancescolocaseucorpoemum

embate físico comomaterial, até chegarumpontoquepossa ficar anestesiadoe

nãosentirmaisnada, tornando‐se tãoobjetoquantoosobjetosescolhidos,poiso

objetonãosenteapenassofreasconsequênciasdeaçõesquesãoinvestidascontra

ele.

Após uma conversa informal com Renan a respeito do uso dos materiais

(como lápis,papel sulfite, clips,etc),porexemplo,emExercício#1,hipótese sobre

uma construção, 2012 , discutimos sobre como é esperado que do uso desses

objetossejaprodutivo,tantonoâmbitoacadêmicoquantoburocrático.

Nessa performance o queme chamou a atenção foi que por ele estar de

relógiodáparasaberquehorasfoirealizadaação,eaquestãodaprodutividadeestá

namaioriadasvezesatreladaaodomíniodotemposejaqualforatarefaexecutada,

quantomaiscoisasseconsigafazeremmenortempo,maisprodutivoseé.

Essarelaçãodocorpocomsuaeficiênciaprodutivavincula‐seademandade

umcorpomáquina,umcorpoque temqueproduzir,que temque sereficiente,e

nãodardefeito,poisocorpomáquinanãodevesentir,apenasrepete,seprograma

eautoprograma,ocorpomáquinaobedeceaumacoreografia“mecânica”.

Não quero com isso dizer que as ações de Renan Marcondes são

“robotizadas”esimquepormaisquehajasubjetividade,osmovimentostendema

seaproximardealgomecânico, tendoemvistaqueparacadapartemovimentada

docorpoécomoseacionasseumaengrenagem,éumacombinaçãodepartesque

precisam estar coordenadas para que haja a ação, funcionando a partir de um

sistema.

SuzanaCardoso,22anos, formadaemHistórianaUniversidade

CruzeirodoSul

Assistindoàperformancepercebiprimeiramenteuma relaçãoentrepontos

detensãoedeequilíbrio,ocorpotenciona‐se,pordebaixodacamisaosmúsculos

parecem rijos. As linhas do rosto alternam‐se em linhas severas e suaves.

Considerandoestaslinhasdeoposiçãoeasescolhasdemateriaisdetrabalho(lápis,

borracha, giz, régua e folhas de papeis) poderíamos pensar na construção de

imagenscomoumaaçãocompostaporlinhasdetensões.

Ao mesmo tempo o corpo se transforma em objeto e em tela desta

construção,ocorpoéolugarondeseconstróieondesetenciona.

Por fim, a ação começa de formametodicamente organizada, e durante a

performanceoqueocorreéumdescontrole.Odescontroledocorpo,dosobjetos,

da ação, e de novo existe uma linha de oposição: a construção e a destruição.

Aofim,jánãoseisetrata‐sedaaçãododesenhosobreumasuperfície,oudaação

docorposobforçasesensaçõesquenãocontrolamos.

Bibliografia

• MERLEAUPonty,Maurice.Conversas‐1948/MauriceMerleau–Ponty.

Tradução:FabioLanda,EvaLanda–SãoPaulo:MartinsFontes,2004

• LASCH, Christopher. OMínimo eu. Tradução: João RobertoMartins

Filho.4edição–SãoPaulo:editoraBrasiliense,1987.

• MARCONDES,Renan.OCorpo Insustentável:ManualCivilizadorPara

umPesosemNome.SãoPaulo:FBSP,2012.

• MARCONDES, Renan. Vídeos. Disponível em:

http://www.renanmarcondes.com/Acessadoem2/12/2012as14:00