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MANEJO INTEGRADO DE NEMATÓIDES EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO NO CERRADO Roberto G. Torres (1) , Neucimara R. Ribeiro (2) , Carlos Adriano Boer (3) , Odnei Fernandes (4) , André G. Figueiredo (5) , Antonio Ferreira Neto (6) , Edson Corbo (7) Introdução Em países com clima tropical e subtropical os nematóides encontram condições como umidade e temperaturas ideais para reprodução e alimentação. Tais fatores são agravantes no controle destes patógenos, os quais após terem se estabelecido em uma área, são de erradicação muito difícil. No Brasil, as espécies que causam os maiores danos às grandes culturas como soja, algodão, cana-de-açúcar e milho são Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis. Obrigatoriamente, o controle de nematóides em culturas extensivas, que possibilitem a redução populacional para tornar viável o cultivo de determinadas culturas, deve ser planejado e sistematizado de modo a integrar vários métodos e apresentar baixo custo. De um modo geral, são considerados os princípios fitopatológicos da: - Exclusão (evitar a infestação de áreas indenes por espécies ou novas raças, na propriedade ou numa região geográfica maior, ou seja, evitar a introdução e a disseminação); - Erradicação (rotação de culturas com espécies de verão e de inverno não hospedeiras e/ou antagonistas, objetivando a redução da densidade populacional do nematóide); - Regulação (modificação do ambiente e nutrição das plantas); - Imunização (utilização de cultivares resistentes a determinadas espécies ou raças). Métodos culturais, a exemplo da rotação de culturas com espécies não hospedeiras e/ou antagonistas, têm sido efetivos como prática de manejo de nematóides (Santos e Ruano, 1987; Costa e Ferraz, 1990). Alguns trabalhos também mostram que o cultivo de plantas não hospedeiras apenas na entressafra (maio a agosto) não apresentou ser uma boa opção para redução da população de nematóides e que apenas a semeadura de cultivares resistentes não deve ser a única opção de controle de nematóides. Logo, a rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas e tampouco deve-se trabalhar também com a rotação de culturas de cobertura (Fotos 1,2,3 e 4) em sistema de plantio direto (SPD = Sistema em Equilíbrio = M.O elevada + inimigos naturais). Com isso, o controle de nematóides não se dá apenas por meio de uma única ação, mas através de um conjunto de boas práticas agronômicas que irá manter as populações dos nematóides abaixo do limiar de dano econômico, elevando a produtividade da cultura sem oferecer riscos ao meio ambiente, promovendo no campo uma relação de convivência com estes patógenos. Já que sua eliminação em áreas infestadas é muito difícil e existem as particularidades de cada gênero de nematóides a serem respeitadas e tratadas diferencialmente para o seu manejo, deve-se conhecer melhor sua ocorrência, biologia, formas de dispersão, sobrevivência, hospedeiros e forma de manejo de cada uma delas e assim melhorar essa relação de convivência.

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MANEJO INTEGRADO DE NEMATÓIDES EM SISTEMA DE

PLANTIO DIRETO NO CERRADO

Roberto G. Torres(1)

, Neucimara R. Ribeiro(2)

, Carlos Adriano Boer(3)

, Odnei

Fernandes(4)

, André G. Figueiredo(5)

, Antonio Ferreira Neto(6)

, Edson Corbo(7)

Introdução

Em países com clima tropical e subtropical os nematóides encontram condições como

umidade e temperaturas ideais para reprodução e alimentação. Tais fatores são agravantes no

controle destes patógenos, os quais após terem se estabelecido em uma área, são de

erradicação muito difícil. No Brasil, as espécies que causam os maiores danos às grandes

culturas como soja, algodão, cana-de-açúcar e milho são Meloidogyne javanica, Meloidogyne

incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis.

Obrigatoriamente, o controle de nematóides em culturas extensivas, que possibilitem a

redução populacional para tornar viável o cultivo de determinadas culturas, deve ser planejado

e sistematizado de modo a integrar vários métodos e apresentar baixo custo. De um modo

geral, são considerados os princípios fitopatológicos da:

- Exclusão (evitar a infestação de áreas indenes por espécies ou novas raças, na propriedade

ou numa região geográfica maior, ou seja, evitar a introdução e a disseminação);

- Erradicação (rotação de culturas com espécies de verão e de inverno não hospedeiras e/ou

antagonistas, objetivando a redução da densidade populacional do nematóide);

- Regulação (modificação do ambiente e nutrição das plantas);

- Imunização (utilização de cultivares resistentes a determinadas espécies ou raças).

Métodos culturais, a exemplo da rotação de culturas com espécies não hospedeiras

e/ou antagonistas, têm sido efetivos como prática de manejo de nematóides (Santos e Ruano,

1987; Costa e Ferraz, 1990). Alguns trabalhos também mostram que o cultivo de plantas não

hospedeiras apenas na entressafra (maio a agosto) não apresentou ser uma boa opção para

redução da população de nematóides e que apenas a semeadura de cultivares resistentes não

deve ser a única opção de controle de nematóides. Logo, a rotação de culturas não deve ser

substituída pela sucessão de culturas e tampouco deve-se trabalhar também com a rotação de

culturas de cobertura (Fotos 1,2,3 e 4) em sistema de plantio direto (SPD = Sistema em

Equilíbrio = M.O elevada + inimigos naturais). Com isso, o controle de nematóides não se dá

apenas por meio de uma única ação, mas através de um conjunto de boas práticas

agronômicas que irá manter as populações dos nematóides abaixo do limiar de dano

econômico, elevando a produtividade da cultura sem oferecer riscos ao meio ambiente,

promovendo no campo uma relação de convivência com estes patógenos.

Já que sua eliminação em áreas infestadas é muito difícil e existem as particularidades

de cada gênero de nematóides a serem respeitadas e tratadas diferencialmente para o seu

manejo, deve-se conhecer melhor sua ocorrência, biologia, formas de dispersão,

sobrevivência, hospedeiros e forma de manejo de cada uma delas e assim melhorar essa

relação de convivência.

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- Alternativas de culturas de coberturas para o cerrado brasileiro.

Foto 1: B. ruziziensis Foto 2: Mulch de B. ruziziensis

Foto 3: Crotalária spectabilis Foto 4: Cober Crop (Híbrido de sorgo)

1) Nematóide de Cisto da Soja (Heterodera glycines)

Ciclo Biológico: Heterodera

J2

infestando o

hospedeiro

J2

iniciando a alimentação J2

J3

J4

abandonando a

cutícula do

estágio anterior

J4

Adultos

começando a produzir

ovos

abandonando a raizFêmea alimentando-se

na raiz e realizando

postura fêmea morta

cheia de

ovos

formação dos

juvenis (J1) na

fêmea morta

eclosão e saída

dos juvenis

J2

livres para

futuras

infestações

Desenho: Patrícia Milano

Ciclo Biológico: Heterodera

J2

infestando o

hospedeiro

J2

iniciando a alimentação J2

J3

J4

abandonando a

cutícula do

estágio anterior

J4

Adultos

começando a produzir

ovos

abandonando a raizFêmea alimentando-se

na raiz e realizando

postura fêmea morta

cheia de

ovos

formação dos

juvenis (J1) na

fêmea morta

eclosão e saída

dos juvenis

J2

livres para

futuras

infestações

Desenho: Patrícia Milano

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\

Cistos de H. glycines Ovos de H. glycines

1.1- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide H. glycines.

1. Ovo: Depositado pela fêmea no estado unicelular. Desenvolvimento embrionário (J1)

2. J1: Sofre primeira ecdise no interior do ovo (J2)

3. J2: Eclode livremente e assume forma infectiva, passando por mais duas ecdises (J3 e

J4)

4. J3 e J4: (forma salsichóide) passa para a quarta ecdises (adulto).

- Macho: Retorna a forma vermiforme, sai da raiz e fecunda a fêmea

- Fêmea: aumenta de tamanho, endoparasito sedentário, corpo exteriorizado para que haja

fecundação.

Seu CICLO pode ter duração de aproximadamente três semanas, produzindo de 5 a 6

gerações do nematóide/ciclo da soja. Sua REPRODUÇÃO se dá por reprodução cruzada

(Anfimixia obrigatória). Quando a fêmea é fecundada, apenas 20-30% dos ovos ficam na

matriz gelatinosa e o restante é retido no interior do corpo. Logo após a produção dos ovos

torna-se coreáceo e morre. Cada Cisto poderá conter em média 300 ovos. Os Ovos entram em

diapausa natural, ou seja, não eclodem bem nos meses de março a agosto (em locais onde as

temperaturas são baixas no inverno). Alguns fatores podem interferir no seu ciclo de vida, tais

como, temperaturas abaixo de 10ºC e baixa umidade do solo (< 40% da capacidade de

campo). Tem PREFERÊNCIA por solos arenosos, temperaturas em torno de 20 a 30ºC e

umidade do solo entre 40 e 60% da capacidade de campo. O pH do solo não deve ser elevado,

pois nessa condição a população do NCS sempre permanece mais alta e os danos são maiores

(Garcia et al., 1999).

Há uma elevada DIVERSIDADE GENÉTICA para este nematóide, o que ocorre sob

pressão de seleção, favorecendo a ocorrência de novas raças através da reprodução anfimixia

e diferenciadas pelos cultivares do hospedeiro que ela infecta. No Brasil já foram encontradas

11 raças do NCS (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). Com o objetivo de identificar as raças,

utiliza-se para soja hospedeiras diferenciadoras sendo: Peking, Pickett, PI88788, PI90763,

Lee = suscetível a todas, Hartwig* = resistente a todas (* 4+ e 14+ quebraram a resistência de

Hartwig).

A OCORRÊNCIA do nematóide de cisto da soja (NCS) foi detectado pela primeira

vez no Brasil na safra 1991/92. Atualmente, está presente em 10 estados brasileiros (MG, MT,

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MS, GO, SP, PR, RS, BA, TO e MA), cobrindo mais de 2.500.000 ha (Dias et al., 2007). Em

solos arenosos, esse nematóide causa perdas de 10% a 30% quando em baixas infestações,

podendo chegar a 70% ou mais quando em alta incidência (Inomoto – ESALQ).

- Distribuição de Raça de Heterodera glycine no Brasil

,10

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- Tabela 1. Distribuição de Raça de Heterodera glycine no Estado de Mato Grosso.

Em áreas onde o NCS já foi identificado, o produtor deve conviver com o mesmo,

uma vez que sua erradicação é difícil e economicamente inviável. Algumas medidas ajudam a

minimizar as perdas, destacando-se a rotação de culturas com plantas não hospedeiras e o uso

de cultivares resistentes.

O planejamento da rotação de culturas e de culturas de coberturas para controle do

NCS é relativamente simples, em função da sua limitada gama de hospedeiros. (Tabelas 3 e

4). Entretanto, a adoção dessa prática é muitas vezes limitada pela viabilidade econômica das

culturas em determinadas regiões, porém extremamente necessária. Avaliações sobre o

impacto do cultivo de espécies botânicas de verão, não hospedeiras de H. glycines, (milho,

sorgo, arroz, algodão, mamona e girassol) na população do nematóide, mostraram que a

substituição da soja por uma delas, em uma safra, geralmente reduz a população a nível que

permite o retorno da soja na safra seguinte. Com um único cultivo de soja suscetível, a

população do NCS volta a crescer, havendo a necessidade de, na safra seguinte, retornar à

rotação com a espécie não hospedeira ou semear uma cultivar de soja resistente. Por sua vez,

com dois ou três anos seguidos de milho, pode-se, na maioria das vezes, voltar com a soja

suscetível por dois anos consecutivos, sem riscos de perda. O cultivo de plantas não

hospedeiras na entressafra (maio a agosto) não mostrou ser boa opção para redução da

população do nematóide. Assim, a rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão

de culturas. Por outro lado, a presença de soja voluntária (“tigüera”) ou de espécies

Municípios Raça

Alto Garças 3 e 14

Alto Taquari 3,4,10 e 14

Campo Verde 1,2,3 e 5

Campos de Júlio 5,6 e 9

Campo Novo do Parecis 3 e 9

Deciolândia 3

Diamantino 3

Dom Aquino 2,3 e 5

Guiratinga 3 e 14

Itiquira 3

Jaciara 2 e 5

Juscimeira 2 e 3

Nova Mutum 3

Nova Ubiratã 3

Pedra Preta 2

Primavera do Leste 1,2,3 e 5

Santo Antônio do Leste 3

Sapezal 3,5 e 6

Sorriso 1,2,3,4+,5,14 e 14

+

Tangará da Serra 1,3,4

Tapurah 6

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hospedeiras na área, durante a entressafra, contribui para aumentar o inóculo para a safra de

verão seguinte (Garcia et al., 1999).

Além da rotação de culturas com espécies não hospedeiras e da utilização de cultivares

resistentes, recomenda-se ainda, nas áreas infestadas com o NCS, a adoção da semeadura

direta. Esse modo de cultivo potencializa a ação de inimigos naturais do nematóide e dificulta

a dispersão dos cistos, em função da redução da movimentação de máquinas e,

principalmente, de solo. A utilização dessa prática também reduz o risco de disseminação pelo

vento, sobretudo nas regiões dos chapadões, onde grandes quantidades de solo são carregadas

na época do preparo convencional do mesmo.

Tabela 2. Cultivares de soja com resistência ao nematóide de cisto H. glycines, indicadas para

cultivo no Estado do Mato Grosso. Embrapa Soja, outubro de 2006

Variedade R MR GM

Spring RR (NK7054RR) 3 e 14 5,3

TMG123RR 1 e 3 7,4

ANTA 82 RR 3 7,4

M7639RR 1 e 3 7,6

M-SOY8001 1 e 3 8,1

P98Y11 1 e 3 8,2

TMG113RR 1 e 3 8,2

M8230RR 1 e 3 8,2

M8336RR 1 e 3 8,3

TMG131RR 1 e 3 8,3

P98Y40 3 8,4

P98Y51 1 e 3 8,5

BRS MT Pintado 1 e 3 2,5,6,9 e 14 8,5

TMG132RR 1 e 3 8,5

TMG133RR 1 e 3 8,5

TMG115RR 1 e 3 14 8,6

P98Y70 3 8,7

M-SOY8757 1 e 3 8,7

FMT Tabarana 1 e 3 8,7

AS8380RR 3 8,3

Raças

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> 2000 espécies > 2000 espécies Caupi Abacaxizeiro Abacaxizeiro

Arroz Algodão Crotalária juncea Algodão Algodoeiro

Aveia Acerola Ervilha Amendoim Bananeira

Batata Algodoeiro Ervilhaca Batata Cafeeiro

Beldroega Batata Feijão de Fava Brachiaria spp. Feijão

Cana-de-açucar Beterraba Feijoeiro comum Cafeeiro Mamoneira

Caruru Cafeeiro Guandú Cana-de-açucar Maracujazeiro

Corda-de-viola Cana-de -açucar Soja Ervas daninhas Soja

Feijão Cenoura Tremoço Feijão Tomateiro

Frutíferas Cravo Labe-labe

Fumo Feijão Milheto

Gerânio Figueira Milho

Guanxuma Fumo Mucuna Preta

Hortaliças Mamoeiro Mucunas

Joá-bravo Melão Panicum maximum

Mentrasto Pepino Pessego

Soja Pessegueiro Quiabeiro

Tomate Quiabo Soja

Trigo Soja

Tomate

Videira

Rotylenchulus

reiniformes

Tabela 3. Plantas hospedeiras dos principais gêneros de nematóides

M. javanica (Galha) M. incognita (Galha) H. glycines (Cisto) Pratylenchus (Lesões)

Algodão Amendoim Algodão Aveia Preta Amendoim

Amendoim Brachiaria spp. Amendoim B. decumbens Arroz

Brachiaria spp. Crotalária juncea Arroz Crotalaria breviflora Brachiaria spp.

Crotalária juncea Crotalária spectabilis Aveia Crotalaria juncea* Forrageiros

Crotalária spectabilis Crotalárias spp. Brachiarias Crotalaria mucronata Milheto

Crotalárias spp. Milheto Cana-de açucar Crotalaria ochroleuca Milho

Mamona Milho Cevada Crotalaria spectabilis Nabo forrageiro

Milho Mucuna Preta Crotalária Girassol Pé-de-Galinha

Mucuna Preta Nabo Forrageiro Girassol Guandu Sorgo

Nabo Forrageiro Sorgo Mamona

Panicu,m maximum Mandioca

Sorgo Milheto

Milho

Mucuna

Sorgo

Trigo

* má hospedeira FR = 1,2

Tabela 4. Plantas NÃO E MÁ hospedeiras dos principais generos de nematóides (Rotação/Suscessão)

M. javanica (Galha) M. incognita (Galha) H. glycines (Cisto) Pratylenchus (Lesões)Rotylenchulus

reiniformes

Quanto à SINTOMATOLOGIA observam-se sintomas diretos e sintomas reflexos. No

direto o sistema radicular fica muito pobre ou deficiente. Já os reflexos são: o Nanismo

Amarelo da Soja (o mais comum), plantas de tamanho reduzido e cloróticas, geralmente

ocorrendo em reboleiras, deficiência nutricional (nitrogênio), redução na nodulação por

bradirhyzobium e redução na produção. Normalmente pode estar associado a outros

organismos como Fusarium solani f.sp. glycines e apresentar a Síndrome da morte súbita,

causado por Fusarium oxysporum e Macrophomina phaseolina.

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Fotos: Jaime Maia dos Santos - UNESP

A DISSEMINAÇÃO do Heterodera glicynes pode ser ativa (ineficiente) ou passiva

(dispersão dos cistos) através do vento, água, maquinários, movimentação do solo, sementes,

sapatos, sacaria e aves migradoras.

Como MEDIDAS de CONTROLE pode-se optar pelo método da exclusão, adotando-

se ações quarentenárias, bem como através da utilização de variedades resistentes. O controle

químico tem apresentado alto custo e resultados insatisfatórios, além de promover

contaminação do solo, lençol freático, intoxicação de homens e de animais, por se tratarem de

produtos que apresentam em sua composição os ingredientes ativos Aldicarb, Carbofuran,

Oxamil e Fenamifós. Das opções de controle encontradas, as mais eficientes são a rotação de

culturas e a associação de rotação de culturas ao sistema de plantio direto, com a utilização de

variedades resistentes, plantas não hospedeiras e plantas antagonistas. (Plantas antagonistas:

são as plantas nas quais o nematóide penetra, mas não se desenvolve e/ou apresenta efeito

estimulatório sobre a eclosão dos ovos dos nematóides. Exemplo: Crotalária Spectabilis e

Mucuna).

Na Tabela 5, observam-se algumas opções economicamente viáveis para a rotação de

culturas dentro do contexto de plantio direto, de acordo com os principais seguimentos de

mercado, como também pelo nível de infestação e de novas raças de H. glicynes.

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Sistema I: Baixa Infestação para H. glicynes

VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II

Soja Resistente Milho / B. ruziziensis Algodão

Soja Resistente Sorgo Soja Resistente

Soja Resistente B. ruziziensis Milho

Soja Resistente Cober Crop Soja Resistente

Soja Resistente Milho Soja Resistente

Soja Resistente Milheto Soja Resistente

Soja Resistente Crotalária Milho

Milho SP Algodão Soja Resistente

Milho Crotalária Soja Resistente

Milho / B. ruziziensis ILP - Int. Lavoura Pecuária Soja Resistente

Sistema II: Alta Infestação e novas raças para H. glicynes

VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II

Algodão Manejo de pós-colheita Milho

Cober Crop Algodão Milho

Crotalaria Sorgo Milho

Crotalaria Milho / B. ruziziensis Crotalaria

Crotalaria Milho Crotalaria

Milheto Algodão Milho

Milho Mucuna Algodão

Milho Algodão Milho

Milho Crotalaria Algodão

Milho Cober Crop Algodão

Milho ILP - Int. Lavoura Pecuária Algodão

Tabela 5. Sistemas de plantio em rotação/sucessão de culturas para controle de NCS

2) Nematóide de Galhas (Meloidogyne spp.)

Ciclo Biológico: Meloidogyne

J2

infestando

a raiz

J2

iniciando a

alimentação

J2

Adultos

permanece no interior

da galha

rompe a cutícula e

abandona a galha

juvenil

eclodindo

realizando postura

J2

livres a procura do

hospedeiro

J4

desenvolvimento

do aparelho

reprodutor

Desenho: Patrícia Milano

Ciclo Biológico: Meloidogyne

J2

infestando

a raiz

J2

iniciando a

alimentação

J2

Adultos

permanece no interior

da galha

rompe a cutícula e

abandona a galha

juvenil

eclodindo

realizando postura

J2

livres a procura do

hospedeiro

J4

desenvolvimento

do aparelho

reprodutor

Desenho: Patrícia Milano

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- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS dos nematóides do gênero Meloidgyne spp.

Com seu CICLO de aproximadamente 25 a 40 dias este nematóide compreende as

fases de ovo em quatro estádios juvenis e um adulto, sendo:

1. Ovo: massa de ovos colocadas no solo ou no córtex da raiz;

2. J1: primeira ecdise no interior do ovo;

3. J2: fase infectiva (sai do ovo e inicia sua movimentação no solo em busca de

alimento, penetra as raízes até atingir a região central (estelo) daí começa a sua

alimentação (4 a 8 células nutridoras);

4. J3 e J4: o nematóide cresce e perde a mobilidade, trocando de pele por mais três

vezes;

5. Fase Adulta:

- Macho: Filiforme, vive aproximadamente 7 dias sem se alimentar na planta e sem

função sexual, já que a maioria das espécie de Meloidogyne é de reprodução

partenogenética. A fêmea globosa leitosa, três dias após atingir a fase adulta inicia a

oviposição. Cada fêmea oviposita cerca de 50% dos ovos, ficando o restante retido no

útero após sua morte. A fêmea pode colocar de 200 a 1000 ovos (média 400 ovos).

\

Fases do ciclo: de ovo a adulto do Meloidogyne spp.

Foto: Monsanto

Penetração de

Juvenis J2 nas raízes.

OVO J 2 J 2 a J3 FÊMEAOVO J 2 J 2 a J3 FÊMEA

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Juvenis do 2º Estádio Fêmea de Meloidogyne na raíz

Fêmea de Meloidogyne na raiz com Ooteca Galhas com massa de ovos

Fêmea com ovos e região perineal de Meloidogyne

Juvenis do 2o EstádioJuvenis do 2o Estádio

Massa de ovos( OOTECA )

Fêmea

Massa de ovos( OOTECA )

Fêmea

Deposição de ovos para dentro da OOTECA Deposição de ovos para dentro da OOTECA

Massa de ovosMassa de ovos

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O gênero Meloidogyne compreende um grande número de espécies. Entretanto, M.

javanica e M. incognita são os que mais limitam a produção das grandes culturas como a soja

e o algodão (Tabela 6). No Brasil a OCORRÊNCIA do M. javanica (soja) é generalizada,

enquanto M. incognita predomina em áreas cultivadas anteriormente com café ou algodão

(PR, SP, MG, MS, MT, BA). O nematóide Meloidgyne spp. tem PREFERÊNCIA por solos

arenosos ou médio-Argilosos ( > 25% de argila ). As maiores PERDAS, da ordem de 10% a

40%, são observadas em soja cultivada em solos arenosos. (Prof. Dr. Mario Inomoto,

ESALQ/USP).

A DISSEMINAÇÃO dos nematóides de galha se deu inicialmente através de mudas

de café, estacas enraizadas, mudas de frutíferas, ornamentais e batata semente (tubérculos).

Hoje pode-se contar com sementes e mudas fiscalizadas e certificadas, porém a disseminação

ainda continua sendo um dos grandes entraves no controle destes parasitas, pois são

facilmente levados através de máquinas e implementos agrícolas (terceirizados/emprestados/

transferidos), movimentações excessivas de solo, sementes, calçados, sacarias e até mesmo

enxurradas ou erosões.

Sua SOBREVIVÊNCIA pode variar de 6 a 12 meses e se torna menor em condições

de plantio direto, pois há maior teor de matéria orgânica e conseqüentemente maior presença

de inimigos naturais no solo. Além das características do solo, temperatura e umidade também

interferem na sobrevivência dos nematóides de galha.

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M. M. M. M.

incognita hapla javanica arenaria

Crotalaria spectabilis crotalaria 0 (1)

0 0 0

Cucurbita pepo abóbora 4 (5)

4 4 4

Lectuca sativa alface 4 - 4 -

Medicapo sativa alfafa 3 4 3 3

Gossypium hirsutum algodão 3 0 0 0

Arachis hypogaea amendoim 0 4 0 4

Avena sativa aveia 1 (2)

0 1 1

Musa caverdishii banana - (6)

- 4 -

Solanum tuberosum batata 4 3 3 3

Impomoea batatas batata-doce 2 (3)

2 0 0

Beta vulgaris beterraba 4 2 4 4

Saccharum officinarum cana-de-açucar - - 3 -

Allium cepa cebola 4 1 3 3

Daucus carota cenoura 4 2 4 4

Phaseolus vulgaris feijão 3 (4)

4 4 4

Pelargonium sp. gerânio 0 1 0 0

Cajanus cajan guandu - - 4 -

Ricinus communis mamona 4 - - -

Arracacia xanthorrhiza mandioq. Salsa 4 4 - -

Citrullus vulgaris melancia 4 - - -

Zea mays milho 3 0 3 2

Fragaria sp. morangueiro 0 4 0 0

Hibiscus esculentus quiabo 3 0 3 1

Apium graveolens salsão 4 - - -

Glycine max soja 4 4 4 3

Lycopersicum esculentum tomate 4 4 4 4

Triticum aestivum trigo 4 0 4 3

Fonte: "Nematóides das Plantas Cultivadas" L. G. E. Lordello.

Legenda(1)

Grau 0 = não houve infestação; no caso de terem as larvas pré-parasita penetrado nos tecidos

não se desenvolveram até o estado de fêmeas maduras produtoras de ovos.(2)

Grau 1 = infestação extremamente leve, tendo apenas uma ou outra fêmea com massa de ovos

sido verificada no interior da raiz.(3)

Grau 2 = infestação leve, com fêmeas maduras com massas de ovos facilamente vistas, meso

ao olho nú.(4)

Grau 3 = infestação moderada, sendo as fêmeas maduras e massas de ovos moderadamente

abundantes.(5)

Grau 4 = infestação severa, sendo muito abundantes não só femeas maduras mas também ootecas.(6)

- = a ausência de um numero significa que a susceptibilidade não foi testada ou verificada

em amostra coligada na natureza

Tabela 6. Suceptibilidade de algumas culturas ao ataque de nematóides do genero Meloidogyne , por 4 espécies

Nome comumNome cientifico

Quanto a sua SINTOMATOLOGIA pode-se observar a partir do florescimento os

sintomas reflexos, como a redução na área foliar, deficiências minerais e murchamento

temporário nos horários mais quentes do dia, clorose internerval, diferentemente da que

ocorre com Heterodera glicynes, e em populações mais elevadas até mesmo um

avermelhamento nas folhas, crestamento generalizado (Carijó) e conseqüentemente baixa

produtividade. Os sintomas diretos apresentam redução e distúrbios no sistema radicular,

através do engrossamento das paredes celulares nas raízes promovendo baixa eficiência na

absorção e translocação de água e nutrientes.

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Fotos: Monsanto - Sintomas de galhas nas raízes da soja – Meloidogyne spp.

Foto: Guilherme L. Asmus, Embrapa –

CNPAO, Sintoma de M. incógnita em raiz

de algodão

Para o CONTROLE do nematóide de galhas podem ser utilizadas, de modo integrado,

várias estratégias. Primeiramente devem-se interromper os mecanismos de dispersão que

ocorrem entre e dentro das propriedades rurais. A rotação/sucessão com culturas não ou más

hospedeiras e a utilização de cultivares resistentes são as mais eficientes. A rotação de

culturas para controle do nematóide de galhas deve ser bem planejada, uma vez que a maioria

das espécies cultivadas podem ser atacadas. Quase todas as plantas daninhas também

possibilitam a reprodução e a sobrevivência desses nematóides. Assim, deve ser realizado o

controle sistemático dessas plantas principalmente nas reboleiras. A escolha da rotação

adequada deve-se basear, também, na viabilidade técnica e econômica da cultura na região,

sendo bastante variável de um local para outro. Para recuperação da matéria orgânica e da

atividade microbiana do solo e possibilitar a manutenção populacional de inimigos naturais,

também é importante incluir, na rotação/sucessão, espécies de “adubos verdes” resistentes.

Como existe variação dentro das espécies vegetais com relação à capacidade de multiplicar as

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diferentes espécies de Meloidogyne spp., somente a partir do conhecimento da reação de

cultivares e híbridos a esta espécie, é que se pode desenvolver um planejamento eficiente de

rotação/sucessão de culturas. Em soja a presença de galhas é positivamente correlacionada

com maior reprodução do nematóide e maior dano na planta. Há casos de formação de galhas

incitadas por Meloidogyne spp. em alguns híbridos de milho, mas a regra é a ausência, mesmo

quando ocorre o parasitismo. Os danos em milho são raros também. Mesmo em reboleiras de

elevada infestação, o milho apresenta desenvolvimento normal. Desta forma pode-se dizer

que os genótipos de milho possuem elevada tolerância a danos causados por espécies de

Meloidogyne presentes no Brasil e podem ser de fundamental importância para a redução da

população desses nematóides. A escolha de híbridos de milho e soja resistentes para rotação

auxiliam na manutenção da população dos nematóides em níveis baixos, evitando perdas de

produtividade (Tabela 7).

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GENÓTIPOS CULTURA # ENSAIOS FR REAÇÃO

Soja cv. Conquista Soja 1 128,8 S

Soja cv. Pintado Soja 9 76,1 S

Tomateiro Tomate 2 41,4 S

Soja cv. DOKO Soja 2 32,3 S

Volumax Sorgo 2 15,2 S

DKB390 Milho 2 3,8 S

Flash Milho 8 3,6 S

AG7040 Milho 3 3,4 S

AG2040 Milho 4 3,2 S

AG6040 Milho 1 3,2 S

DKB393 Milho 1 2,6 T

DKB350 Milho 7 2,5 T

DKB455 Milho 2 2,4 T

AG7000 Milho 3 1,9 T

DKB215 Milho 4 1,8 T

DKB747 Milho 3 1,6 T

AG9010 Milho 3 1,6 T

DKB979 Milho 2 1,5 T

DKB466 Milho 2 1,4 T

AG6018 Milho 8 0,9 R

DKB330 Milho 2 0,9 R

AG5020 Milho 3 0,8 R

AG2060 Milho 1 0,8 R

Sara Sorgo 2 0,7 R

DKB599 Sorgo 2 0,7 R

AG8060 Milho 2 0,7 R

AG9020 Milho 8 0,6 R

AG1018 Sorgo 2 0,5 R

DKB214 Milho 1 0,3 R

AG8021 Milho 2 0,2 R

DKB566 Milho 4 0,2 R

Crotalaria spectabilis Adubação Verde 9 0,0 R

AG1051 Milho 1 0,0 R

ESALQ - 2004 / 2005 / 2006 ( 7 ensaios ) R (FR>1) Resistente

EMBRAPA CNPsoja ( 1 ensaio ) T (FR<3 >1) Tolerante

UFU - Universidade de Uberlândia ( 1 ensaio ) S ( >3 ) Suscetível

Tabela 7. Reação dos híbridos de milho e sorgo ao Meloidogyne javanica

Os incrementos da população (FR) de M. javanica em soja são maiores do que aqueles

observados em milho mesmo em cultivares de soja resistentes, como Pequi, Conquista e

Garimpo. Em cultivares de soja suscetíveis, o incremento da população foi ainda mais

elevado. (João Flávio Veloso Silva – EMBRAPA Soja). O método de controle mais eficiente,

barato e de fácil assimilação pelos produtores, é o uso de cultivares e híbridos resistentes.

Atualmente, cerca de 80 cultivares de soja com níveis variados de resistência aos nematóides

de galhas estão disponíveis no Brasil. Todas descendem de uma única fonte de resistência: a

cultivar norte-americana Bragg. Como os níveis de resistência destes cultivares não são muito

altos em situações de populações elevadas do nematóide, antes de semear uma cultivar

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resistente (Tabela 9), o agricultor deverá fazer rotação de cultura com uma espécie vegetal

não ou má hospedeira.

É preciso destacar que quanto maior a infestação do nematóide, mais difícil é seu

controle, ou seja, será necessário utilizar por mais tempo o milho, o sorgo ou outra cultura

resistente para que a população do nematóide fique suficientemente baixa para não causar

perdas à cultura subseqüente de soja. O milho também pode ser utilizado em rotação ou

sucessão com a soja para o controle dos nematóides das galhas. Três ações são importantes

para se obter o controle dos nematóides das galhas por meio de rotação ou sucessão de

culturas (Tabela 8). 1- identificar a espécie de Meloidogyne spp.; 2- conhecer as cultivares ou

os híbridos que são resistentes à espécie identificada; 3- verificar a população do nematóide

no final da safra (Prof. Dr. Mário Inomoto, ESALQ/USP).

Sistema I: Baixa Infestação para Meloidogyne spp.

VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II

Soja Resistente Milho Res.-Tol. / B. ruziziensis Algodão*

Milho Resist. / Toler. Algodão* Soja Resistente

Soja Resistente Sorgo Resistente Soja Resistente

Milho Resist. / Toler. Crotalária Soja Resistente

Soja Resistente ILP - Int. Lavoura Pecuária Soja Resistente

Soja Resistente Milho Resist. / Toler. Soja Resistente

Soja Resistente Cober Crop Soja Resistente

Soja Resistente Milheto Resistente Soja Resistente

Soja Resistente Manejo de Pós-colheita Soja Resistente

Sistema II: Alta Infestação e novas raças para Meloidogyne spp.

VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II

Milho Resist. / Toler. Manejo de pós-colheita Algodão*

Cober Crop Algodão* Milho Resist. / Toler.

Crotalaria Sorgo Milho Resist. / Toler.

Crotalaria Milho Res.-Tol. / B. ruziziensis Crotalaria

Crotalaria Milho Resist. / Toler. Crotalaria

Milheto Resistente Algodão* Milho Resist. / Toler.

Milho Resist. / Toler. Mucuna Algodão*

Milho Resist. / Toler. Sorgo Algodão*

Milho Resist. / Toler. Crotalaria Milho Resist. / Toler.

Milho Resist. / Toler. Cober Crop Algodão*

Milho Resist. / Toler. ILP - Int. Lavoura Pecuária Algodão*

* Quando identificado Meloidogyne incognita no talhão, não rotacionar com Algodão (hospedeiro)

Tabela 8. Sistemas de plantio em rotação/sucessão de culturas para controle de Meloidogyne

spp.

Os sistemas apresentados na Tabela 8 sugerem algumas recomendações de manejo de

acordo com o sistema produtivo e o nível populacional dos nematóides de galha.

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Tabela 9. Cultivares de soja resistentes (R) ou moderadamente resistentes (MR) aos

nematóides de galhas (Meloidogyne incognita e/ou M. javanica) indicadas para o cultivo no

Mato Grosso. Embrapa/Soja, outubro de 2006.

Variedade M . javanica M . incognita GM

Spring RR MR 5,3

M7578RR MR 7,5

M7908RR MR MR 7,9

BRS Valiosa RR R MR 8,2

MG/BR-46 Conquista R R 8,2

BRS Favorita RR R MR 8,2

TMG103RR MR MR 8,3

BRS850GRR MR R 8,5

M8527RR MS MR 8,5

AS7307RR MR 7,3

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Tabela 10. Reação das cultivares de soja ao Nematóide de Galhas, M. javanica e M.

incognita.

Meloidogyne javanica Meloidogyne incognita

Genótipo FR1, 2

Genótipo FR1,2

BRS 133 26,4 Embrapa 20 (Doko RC) 12,4

Embrapa 20 (Doko RC) 32,6 BRSMT Pintado 12,3

BRSMT Pintado 39,4 BRS 133 15,6

GOBR99-464007 29,1 GOBR99-464007 17,7

M-Soy 8001 24 BRS 232 13,9

BRS 230 42,6 BRS 230 31,6

Tropical 30,4 M-Soy 8001 13,1

BRS 232 21,2 MG/BR 46 (Conquista) 12,4

CD 217 27,1 CD 201 9,1

BRSGO Paraíso 22,8 Tropical 9

CD 201 18,2 BRS 233 7,8

BRS 233 12,5 CD 208 12,9

CD 208 17,7 Bragg 4,8

Bragg 23 BRSGO 204 [Goiânia] 5,2

MG/BR 46 (Conquista) 20,5 BRSGO Paraíso 6,4

BRSGO 204 [Goiânia] 11,5 CD 217 7,8 1 Média de 10 repetições. 2FR (Fator de reprodução) população final/população

inicial.

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3) Nematóide Reniforme (Rotylenchulus reniformis)

- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide Rotylenchulus reniformis:

Este nematóide apresenta tipicamente quatro fases juvenis e sua primeira ecdise

acontece ainda dentro do ovo (J1).

1- J1: Primeira troca de pele (dentro do ovo);

2- J2: Eclosão (sai do ovo e entra em movimentação no solo);

3- J3 e J4: Adultos imaturos (Não se alimentam nesta fase);

4- Fase Adulta:

- Macho: comuns no solo, aparentemente não se alimentam e permanecem móveis no

solo;

- Fêmeas imaturas: esbeltas e infectivas. Penetram a parte anterior do corpo no

córtex radicular, onde estabelecem um sítio de alimentação e atraem os machos. Tornam-

se sedentárias, aumentando de tamanho (forma semelhante a um Rim). Cada fêmea coloca

em média 100 ovos (massa gelatinosa recobrindo as fêmeas). O ciclo se completa em 17 a

23 dias.

Ciclo Biológico: Rotylenchulus

J2

livres no solo

J3

livres no solo

J4

livres no solo

Adultos sexualmente

imaturos

(1) Fêmea iniciando a

alimentação no

hospedeiro

(3) macho

permanece no solo

sem se alimentar (1)

(2)(3)

(2) Adultos

sexualmente imaturos

Fêmea

sedentária

Fêmea adulta (formato

de rim)

Fêmea madura

sexualmente pronta para o

acasalamento

e

em cópula

Fêmea realizando

postura J2

eclodindo

Desenho: Patrícia Milano

Ciclo Biológico: Rotylenchulus

J2

livres no solo

J3

livres no solo

J4

livres no solo

Adultos sexualmente

imaturos

(1) Fêmea iniciando a

alimentação no

hospedeiro

(3) macho

permanece no solo

sem se alimentar (1)

(2)(3)

(2) Adultos

sexualmente imaturos

Fêmea

sedentária

Fêmea adulta (formato

de rim)

Fêmea madura

sexualmente pronta para o

acasalamento

e

em cópula

Fêmea realizando

postura J2

eclodindo

Desenho: Patrícia Milano

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Fotos: Guilherme L. Asmus, Embrapa CNPAO – Rotylenchulus reniformis na raíz

Muito embora o algodão seja a cultura mais afetada por R. reniformis, este também

tem parasitado a cultura da soja, feijão, abacaxi entre outras, conforme listado na tabela 3.

Sua OCORRÊNCIA está localizada principalmente nas regiões tropicais e

subtropicais, em especial na região Centro-Sul do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. No

Brasil Central apresenta PREFERENCIA por solos médio-argilosos a argilosos (25 a 35%

de argila) a (> 35% de argila) respectivamente. Nestas condições tem-se verificado perdas

de 10 a 30% na cultura da soja.

Apresenta alta capacidade de SOBREVIVÊNCIA na ausência de hospedeiros, pois

quando em condições de baixa umidade no solo entra em estado de Anidrobiose

(mecanismo de natureza fisiológica pelo qual a escassez de umidade, induz o nematóide a

reduzir drasticamente seu metabolismo, quase ametabolismo), suportando melhor a

dessecação que outras espécies de nematóides (Dr. Guilherme Lafourcade Asmus,

EMBRAPA – CNPAO). Há relatos que mencionam sua sobrevivência por tempo acima de

29 meses. Quando em estado de anidrobiose sua DISSEMINAÇÃO pelo vento é

facilitada, além das demais práticas de dispersão, como qualquer prática que movimente o

solo através de máquinas e implementos agrícolas (terceirizados/emprestados e/ou

transferidos). Em campos infestados, durante operação de plantio e cultivo, foram

encontrados nos pneus do trator 1.200 nematóides/200cm3 de solo aderido, e durante a

operação de colheita, nos pneus da máquina foram encontrados 52 nematóides/200 cm3 de

solo aderido.

Suas SINTOMATOLOGIAS diferentemente dos demais nematóides não apresentam

galhas ou fêmeas visíveis a olho nu (NCS), porém, como sintoma direto mostram um

sistema radicular pouco desenvolvido, caracterizado por apresentar em alguns pontos da

raiz uma camada de terra aderida às massas de ovos do nematóide, que são produzidas

externamente, deixando com aspecto de raiz suja de terra mesmo depois de lavada em

água corrente. Como sintomas reflexos apresentam reboleiras muito grandes, difíceis de

serem percebidas por um observador com pouca experiência. O porte das plantas ficam

menores que as normais (semelhante à compactação de solo) e sem apresentar cloroses,

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plantas “Carijó”, somente em altas populações e conseqüentemente baixas produtividades

na cultura.

O Nível de Dano: EUA – 600 nematóides/200cm3, porém no Brasil ainda não há uma

determinação.

Foto: Guilherme L. Asmus Foto: Jaime Maia dos Santos

Foto: Jaime Maia dos Santos

Para se efetuar um manejo adequado de R. reiniformis, é imprescindível que se adote

medidas integradas, não se limitando a apenas uma ação, mas a um conjunto de ações.

Primeiramente deve-se interromper os mecanismos de dispersão deste parasita, através da

lavagem dos equipamentos e máquinas, antes e após sua utilização; em seguida procurar

deixar as áreas mais infestadas serem trabalhadas por último e adotar medidas culturais

que neste caso são altamente eficientes, como a rotação/suscessão com culturas não

hospedeiras optando por qualquer cultivar ou híbrido de milho, sorgo, soja resistente.

Trabalhar o sistema de plantio direto associado à rotação de culturas, pois a maioria

Rotylenchulus reniformisRotylenchulus reniformis

CARIJÓ TÍPICOCARIJÓ TÍPICO

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das culturas de coberturas, tais como: braquiarias, sorgo, sorgo forrageiro, milheto, pé-de-

galinha, mesmo em sucessão apresentou redução deste nematóide. Dentro deste manejo

integrado a escolha do método de imunização é altamente interessante, pois é facilmente

assimilado pelo agricultor, através da adoção de cultivares e variedades resistentes.

4) Nematóide das Lesões Radiculares (Pratylenchus brachyurus)

- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide Pratylenchus brachyurus:

Seguindo praticamente as mesmas características do R. reniformis durante sua fase juvenil o

nematóide das Lesões Radiculares se diferem basicamente na sua fase adulta e seus ovos

podem ser colocados dentro das raízes e no solo.

1- J1: ocorre à primeira troca de pele ainda dentro do ovo;

2- J2: Eclosão e início da sua alimentação;

3- J3 e J4: continuam a crescer e passa por outras trocas de ecdise;

4- Estádio Adulto: nesta fase o P. brachyurus é composto basicamente por fêmeas, já

que o macho é muito raro para esta espécie e sua reprodução é do tipo partogênica.

- Fêmeas: completam o ciclo dentro da raiz. Após alimentar-se das raízes ou por

excesso de ocupação das mesmas, caminha no solo em busca de raízes em melhores

condições. Uma fêmea chega a colocar cerca de 80 ovos dentro das raízes. No geral seu

CICLO é completado em 45 -65 dias.

No Brasil, as espécies de nematóide do gênero Pratylenchus, conhecidas como

“nematóides das lesões radiculares”, figuram em segundo lugar em termos de importância

para a agricultura, sendo superadas apenas pelos chamados “nematóides de galhas”, do gênero

Ciclo Biológico: Pratylenchus

Desenho: Patrícia Milano

Fêmeas adultas em busca

de novos hospedeiros

Fêmea infestação no

hospedeiro

Fêmea dentro do hospedeiro,

ovipositando

Juvenil eclodindoJ2J3

J4

Ciclo Biológico: Pratylenchus

Desenho: Patrícia Milano

Fêmeas adultas em busca

de novos hospedeiros

Fêmea infestação no

hospedeiro

Fêmea dentro do hospedeiro,

ovipositando

Juvenil eclodindoJ2J3

J4

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Meloidogyne. Dentro do gênero Pratylenchus, a espécie P. brachyurus (Godfrey) Filipjev &

S. Stekhoven é uma das mais destacadas em todo o mundo. Tal relevância está associada a

algumas características mostradas por esse nematóide, entre as quais: i) ampla distribuição

geográfica, ocorrendo na maioria dos países das regiões tropical e subtropical; ii) alto grau de

polifagia, ou seja, capacidade de parasitar e multiplicar-se em grande número de plantas

hospedeiras, filiadas a diferentes famílias botânicas; e iii) ação patogênica pronunciada no

caso de várias culturas de grande interesse agronômico, anuais e perenes, podendo causar

danos marcantes e perdas econômicas vultosas.

Nos estados de Mato Grosso e no Norte do Mato Grosso do Sul, tornou-se mais

favorável a este nematóide, pois apresentam solos de textura média e sucessões constantes de

culturas suscetíveis (soja, milho e algodão), o que tem levado ao aparecimento de populações

elevadas nestas regiões. Levantamento feito em áreas produtoras de soja e algodão no estado

do MT apresentou 94% das amostras com Pratylenchus brachyurus (Silva, 2003), o que

denota importância subestimada deste parasita. Contudo, quase não existem estudos sobre os

efeitos do seu parasitismo nas diversas culturas. (Tabela 3).

Sua PREFERENCIA é por solos médio-arenosos (15 a 25% argila) e tem-se

beneficiado muito com as culturas de soja e algodão, além daquelas áreas degradadas, onde

anteriormente eram pastagens e foram incorporadas para lavouras de soja.

Quando é único nematóide presente na cultura da soja, pode causar PERDAS de 10 a

25%, porém pode ocorrer associado com outros nematóides (NCS e Galha).

O Pratylenchus brachyurus tem baixa capacidade de SOBREVIVÊNCIA na ausência

de hospedeiros, porém consegue sobreviver em restos culturais, tornado seu controle um

pouco mais complicado, pois é favorecido pelas áreas com sistema de plantio direto e cultivo

mínimo, nos quais a formação da palhada assegura no solo a manutenção do teor de umidade

adequado à sobrevivência e boa atividade deste nematóide durante boa parte do ano. É muito

comum e abundante em culturas irrigadas, onde há presença constante de hospedeiros.

Sua DISSEMINAÇÃO é umas das formas mais importantes para inibir sua dispersão,

pois é facilmente levado por máquinas e implementos, além das enxurradas e outros meios.

A SINTOMATOLOGIA causada por este nematóide apresenta o sistema radicular da

planta menos volumoso, pouco desenvolvido, e as raízes presentes mostram áreas parcial ou

totalmente escura, resultantes da coalescência das muitas lesões necróticas causadas

internamente pelo nematóide. Essas anomalias provocadas no sistema radicular limitam a

absorção e o transporte de água e de nutrientes, levando a planta atacada a exibir diferentes

sintomas reflexos na parte aérea, em especial enfezamento, nanismo, murcha nas horas mais

quentes do dia, clorose e outros indicativos de distúrbios nutricionais, como a desfolha, queda

na produtividade, etc. O ataque costuma ocorrer em reboleiras, nas quais os níveis

populacionais do nematóide são elevados e o porte das plantas é menor que o normal.

A interação com outros fungos agrava a murcha por Verticillium (algodão, batata,

morango e tomateiro), murcha por Fusarium e agrava problemas com Rhizoctonia,

Phytophthora e Pythium

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Foto: Jaime M. dos Santos – UNESP Foto: Neucimara R. Ribeiro - APROSMAT

Foto: Neucimara R. Ribeiro – APROSMAT Foto: Prof. Dr. Mário Inomoto – ESALQ/USP

Foto: Jaime Maia dos Santos – Pratylenchus na cultura do algodão

Pratylenchus brachyurusPratylenchus brachyurus

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Há várias medidas de MANEJO que podem ser cogitadas visando à solução de um

determinado problema de natureza nematológica, porém para Pratylenchus brachyurus a

maioria delas não se mostra tecnicamente eficaz ou economicamente exeqüível, ficando as

opções bastante restritas. O emprego do controle varietal, por exemplo, embora fosse o ideal,

não está ao alcance no momento, pois não se dispõe de cultivares de soja altamente resistentes

a P. brachyurus, haja visto que, nos últimos anos, as pesquisas nacionais na área de

melhoramento genético têm visado principalmente à resistência ao nematóide de cisto e aos

nematóides de galhas, assim como os estudos referentes aos híbridos e variedades de milho e

sorgo.

O controle químico também encontra objeções, em especial pelo fato de que os

produtos nematicidas, embora eficientes, não erradicam o nematóide, mas apenas reduzem-lhe

as populações temporariamente, aspecto conflitante com os objetivos do plantio direto e que,

ao longo do tempo, poderia onerar a produção.

A técnica que vem sendo mais indicada ao manejo de P. brachyurus é a rotação de

culturas, alternando plantios de soja com outras culturas de verão e de inverno que sejam

resistentes a esse nematóide (Tabela 11). A eficácia da técnica está ligada ao fato de que,

embora a lista de hospedeiros de P. brachyurus seja extensa, encontram-se ainda algumas

plantas nas quais a sua multiplicação não ocorre ou a taxa de reprodução é extremamente

baixa. Portanto, o cultivo de tais plantas, dentro de esquema bem planejado, poderá ensejar

ao produtor a redução da população desse nematóide na área a níveis toleráveis, a exemplo do

que, já se tem buscado fazer em relação aos nematóides de galhas e ao nematóide de cisto.

Sistema I:

VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II

Crotalaria spectabilis Milheto BN2 B. decumbens

B. decumbens ILP - Integ. Lavoura-pecuária Crotalaria spectabilis

Milheto BN2 B. decumbens Crotalaria spectabilis

Tabela 11. Sistemas de plantio em rotação/sucessão de culturas para controle de Pratylenchus

brachyurus

Alta Infestação de Pratylenchus

Além da soja e algodão, P. brachyurus pode parasitar a aveia, o milho, o milheto, o

girassol, a cana-de-açúcar, o amendoim, dentre outras, alguns adubos verdes e a maioria das

ervas daninhas. Entretanto, existe variabilidade entre e dentro das culturas ou espécies

utilizadas em cobertura ou adubação verde, com relação à capacidade de multiplicar o

nematóide (Tabela 12). Espécies, cultivares e híbridos resistentes ou que multiplicam menos o

parasita, devem ser preferidas para semeadura em rotação/sucessão com as grandes culturas

do cerrado, nas áreas infestadas.

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Tabela 12. Fatores de reprodução (FR) de P. brachyurus em algumas espécies vegetais.

Médias de seis repetições. Embrapa Soja, março de 2007.

Espécies Vegetais FR* Espécies Vegetais FR

Aveia preta

Crotalaria spectabilis

Crotalaria breviflora

Crotalaria mucronata

Crotalaria ochroleuca

Crotalaria junceae

Brachiaria decumbens

Brachiaria brizantha

Milheto „ADR Lab 04-208‟

Milheto „ADR 300‟

Milheto „BN2‟0,0

Milheto „ADR 500‟

Mucuna cinza

Mucuna anã

Mucuna preta

0,9

0,0

0,0

0,0

0,0

1,3

0,6

1,7

0,2

0,2

0,0

1,8

2,6

3,3

11,4

Guandu Fava Larga

Guandu anão „IAPAR 43‟

Milho „BRS 2114‟

Milho „BRS 3123‟

Milho „P 30F80‟

Girassol „Hélio 251‟

Girassol „Hélio 358‟

Girassol „BRS 122‟

Girassol „IAC Uruguai‟

Girassol „Catissol‟

Labe-labe

Sorgo „IG 150‟

Quiabo „Santa Cruz‟

Soja „Peking‟

Soja „Essex‟

0,4

0,6

0,7

0,7

2,9

0,2

0,4

0,7

1,1

0,2

2,2

2,2

6,6

1,6

4,9 *FR= população final de nematóides recuperada em cada planta/população inicial (600 espécimes).

Algumas cultivares norte-americanas foram relatadas (www.soybean.ncsu.edu/soyvar)

como sendo resistentes (Cook, Davis, Deltapine 417, Essex, McNair 600, NK Coker 338 e

Ransom) ou moderadamente resistentes (Hutton, NK Coker 136, Pickett, Asgrow A5979 e

Bragg), porém o controle genético da resistência não foi esclarecido.

O comportamento dos cultivares brasileiros de soja em áreas infestadas com P.

brachyurus, não tem indicado a existência de materiais resistentes ou tolerantes. Todavia,

avaliações em casa-de-vegetação mostraram que as cultivares recomendadas no Brasil Central

diferem bastante com relação à capacidade de multiplicar o nematóide (Tabela 13).

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Tabela 13. Fatores de reprodução (FR) de P. brachyurus em cultivares de soja recomendadas

no Brasil Central. Médias de seis repetições. Embrapa Soja, março de 2007.

Cultivares FR* Cultivares FR* Cultivares FR*

BRSGO Chapadões

M-SOY 8378

M-SOY 8360RR

Conquista

M-SOY 8800

Goiânia

BRS Aurora

M-SOY 8384

CD 219RR

M-SOY 8585RR

TMG 103RR

BRS Valiosa RR

M-SOY 8045RR

M-SOY 8998

M-SOY 8757

BRS Celeste

M-SOY 8248

M-SOY 8000RR

Robusta

M-SOY 8352RR

M-SOY 8329

FMT Kaíbi

Vencedora

BRSGO Iara

ADR Topázio

BRS Favorita RR

1,2

2,2

2,3

3,3

3,3

3,5

3,7

3,7

3,8

4,0

4,2

4,2

4,2

4,3

4,5

4,5

4,5

4,8

5,2

5,5

5,8

6,3

6,3

6,3

6,5

6,5

FMT Tucunaré

M-SOY 8925

M-SOY 8411

M-SOY 9001

M-SOY 7908 RR

M-SOY 7878 RR

M-SOY 8008

FMT Tabarana

M-SOY 8336

FMT Perdiz

Nobreza

M-SOY 9030

M-SOY 8787RR

BRS Pirarara

BRS Sambaíba

BRSMT Pintado

M-SOY 8527

DM 309

M-SOY 8870

M-SOY 8400

CD 217

P 98N31

M-SOY 9010

Luziânia

P 98N71

(Xingu)

6,7

6,7

6,7

6,8

6,8

7,0

7,2

7,2

7,3

7,5

7,5

7,7

7,8

8,0

8,0

8,2

8,2

8,5

8,7

8,8

9,2

9,3

9,3

9,7

9,7

9,8

M-SOY 9056 RR

Uirapuru

BRS Gralha

BRS Jiripoca

M-SOY 8550

M-SOY 8199 RR

M-SOY 8222

M-SOY 8914

TMG 106 RR

M-SOY 8001

M-SOY 8211

M-SOY 8287 RR

M-SOY 8866

TMG 121 RR

M-SOY 8849

Paraíso

TMG 108 RR

M-SOY 6101

M-SOY 9350

TMG 113 RR

M-SOY 109

Embrapa 20

Raíssa

Ipameri

TMG 115 RR

TMG 117 RR

9,8

9,8

10,0

10,0

10,3

10,5

10,7

10,8

11,0

11,2

11,2

11,5

11,7

11,7

12,3

12,5

12,7

12,8

13,0

13,7

13,8

14,7

15,3

15,7

16,8

29,3 *FR= população final de nematóides recuperada em cada planta/população inicial (800 espécimes).

Conclusões/Recomendações

O controle dos nematóides no cerrado não se faz através de ações isoladas e sim

trabalha-se um conjunto delas, buscando um bom planejamento técnico, sistemas produtivos e

estratégias adequadas que viabilizem a convivência econômica com estas pragas. Para tanto,

só se consegue ser assertivo no manejo dos nematóides começando por sua identificação e

quantificação das espécies presentes na lavoura, através de coletas de amostras de solos e

raízes, a uma profundidade de 0 a 30 cm, acondicionadas em sacos plásticos bem amarrados e

acondicionadas em caixas térmicas para que as amostras se mantenham frescas e úmidas. Em

seguida encaminhar ao laboratório de sua preferência para as análises o mais rápido possível.

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A rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas, esta é uma

das ferramentas mais eficientes no combate ao nematóide. E para alguns gêneros, raças e/ou

altas populações, esta ação é imprescindível para redução de nematóides. O cultivo de

plantas não hospedeiras na entressafra (maio a agosto) não mostrou ser boa opção para

redução da população de nematóides, ainda assim se faz necessário à rotação de culturas no

verão.

A utilização de cultivares, variedades e híbridos resistentes no sistema produtivo é um

dos métodos mais seguros e econômicos, porém não deve ser a única opção de manejo de

nematóides, pois poderá haver quebra de resistência em situações de alta população dos

mesmos. Nestes casos antes de semear uma cultivar resistente, o agricultor deverá fazer

rotação de cultura com uma espécie não hospedeira.

A rotação de culturas é um forte componente do Sistema de Plantio Direto e um

agente que auxilia na menor disseminação dos nematóides, além de todos os demais

benefícios encontrados no sistema. Nematóides do gênero Pratylenchus brachyurus podem e

devem ser manejados em Sistema de Plantio Direto com a adoção de culturas botânica

resistentes, além de se buscar variedades, cultivares e híbridos resistentes na recomendação da

cultura subseqüente.

Como pode-se observar, o manejo de nematóides é bastante complexo e tornou-se

imperioso e inadiável. Por se tratar de pequenos vermes microscópicos, a percepção das

perdas pelo produtor é bastante lenta e com isso facilita ainda mais sua dispersão e incremento

populacional.

Somente com este conjunto de ações e atitudes é que os agricultores conseguirão

aumentar suas produtividades e conseqüentemente sua receita.

Autores e co-autores:

(1) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Rondonópolis, MT

(2) Gerente de Pesquisa em Nematologia, Dra. em Nematologia, APROSMAT, Rondonópolis, MT

(3) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Rio Verde, GO

(4) Gerente Técnico em Biotecnologia, Dr em Entomologia, Monsanto do Brasil Ltda, Piracicaba, SP

(5) Gerente Regional Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Goiânia, GO

(6) Gerente Nacional Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, São Paulo, SP

(7) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Sorriso, MT

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- Andréa Luciana Sari Sampaio, Revisora, Graduada em Letras e Especialista em linguagem e

práticas de ensino da Língua Portuguesa, UNIR/FAIR, Rondonópolis, MT

REVISÃO DE LITERATURA:

[1] DIAS, W.P.; SILVA, J.F.V.; GARCIA, A.; CARNEIRO, G.E.S. Nematóides de

importância para a soja no Brasil. In: Boletim de Pesquisa de Soja 2007.

Rondonopólis, Fundação MT (org.), 2007. p.173-183.

[2] INOMOTO, M. M; ASMUS, G. L.; SILVA, R. A.; MACHADO, A. C. Z. Nematóides

uma ameaça a cotonicultura brasileira, 2007.

[3] DIAS, W.P; RIBEIRO, N.R.; LOPES, I. O. N.; GARCIA, A.; CARNEIRO, G. E.S.;

SILVA, J. F. V. Manejo de nematóides na cultura da soja. 2007.

[4] CAMPOS, H. D. Manejo de nematóides na cultura da soja e do milho. FESULV, Rio

Verde, 2006.

[5] FERRAZ, L. C. C. B. O nematóide Pratylenchus brachyurus e a soja sob plantio

direto. Piracicaba: ESALQ/USP, Revista Plantio Direto, 2006.p. 26-27.

[6] INOMOTO, M. M. Principais nematóides na cultura da soja e seu manejo. Piracicaba:

ESALQ/USP, 2006.

[7] FERRAZ, L. C. C. B. As meloidogynoses da soja: passado, presente e futuro. In:

SILVA, J.F.V. (Org.) Relações parasito-hospedeiro nas meloidogynoses da soja.

Londrina: Embrapa Soja/Sociedade Brasileira de Nematologia, 2001. p-15-38.

[8] SILVA, J.F.V.; DIAS, W.P. et all Controle de nematóides de galhas em soja: O uso de

híbridos de milho na rotação. Embrapa Soja, 2001.

[9] GARCIA, A.; SILVA, J.F.V.; PEREIRA, J.E.; DIAS, W.P. Rotação de culturas e

manejo do solo para controle do nematóide de cisto da soja. In: Sociedade Brasileira

de Nematologia (Ed.) O Nematóide de cisto da soja: a experiência brasileira.

Jaboticabal: Artsigner Editores, 1999. p-55-70.

[10] ROBBINS, R.T.; RAKES, L. Resistance to the reniform nematode in selected soybean

cultivars and germplasm lines. Journal of Nematology, 28 (4S): 612-615, 1996.

[12] TOWNSHEND, J.L. Methods for evaluating resistance to lesion nematodes,

Pratylenchus species. In: STARR, J.L. (ed.). Methods for evaluating plant species for

resistance to plant-parasitic nematodes. Hyattsville: The Society of Nematologists,

1990.

[13] LORDELLO, L.G.E. Nematologia das plantas cultivadas.