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Boi. San. Veg. Plagas, 31: 253-265, 2005 Efeito da temperatura e concentração na sobrevivência de nematóides entomopatogênicos em condições de armazenamento, visando seu uso no controle microbiano de pragas V. ANDALÓ, A. MOINO JR, J. P. MOLINA ACEVEDO, R. S. CAVALCANTI, F. A. CARVALHO Fatores como temperatura e concentração de juvenis infectivos, podem influenciar no armazenamento de nematóides entomopatogênicos, afetando a sobrevivência e a infectividade. Neste bioensaio o objetivo foi avaliar a influência da temperatura e con- centração na sobrevivência desses nematóides, a fim de melhorar o armazenamento obtendo juvenis infectivos mais virulentos. Foram avaliadas variáveis como viabilidade e infectividade (sobre larvas de Galleria mellonella) de Steinernema carpocapsae, S. riobrave, Heterorhabditis sp. CCA e Heterorhabditis sp. JPM 4, nas concentrações de 100, 1.000, 5.000 e 10.000 JI/mL em seis temperaturas (8, 12, 16, 20, 24 e 28°C). As avaliações foram feitas aos 15, 30, 60, 120, 150 e 180 dias de armazenamento. Obser- vou-se que todas espécies apresentaram viabilidade e infectividade semelhantes nas con- centrações testadas, com variação nas diferentes temperaturas. Assim, tanto Heteror- habditis sp. CCA como Heterorhabditis sp. JPM4 tiveram viabilidade reduzidas nas temperaturas de 8, 12, 24 e 28°C. 5. carpocapsae e 5. riobrave apresentaram redução de viabilidade a partir de 60 dias a 24 e 28°C. Heterorhabditis sp. CCA e Heterorhab- ditis sp. JPM4 tiveram redução de infectividade a partir de 15 dias para 8°C e a partir dos 60 dias a 24 e 28°C. S. carpocapsae e S. riobrave tiveram redução de infectividade a partir de 60 dias a 24 e 28°C. As diferenças encontradas entre nematóides evidenciam a importância do estudo de fatores favoráveis para a manutenção de suas características em diferentes condições de armazenamento a fim de prolongar o tempo de sobrevivên- cia e infectividade. V. ANDALÓ, A. MOINO JR, R. S. CAVALCANTI, F. A. CARVALHO. Universidade Federal de Lavras. Departamento de Entomologia, C.P.37, CEP 37200-000, Lavras, MG, Brasil. E- mail: [email protected] J. P. MOLINA ACEVEDO. Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), CCTA/Laboratório de Proteção de Plantas, CEP 28015-620, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. E-mail: [email protected] Palavras chave: Nematóides entomopatogênicos, temperatura, concentração, arma- zenamento, controle microbiano, infectividade, sobrevivência INTRODUÇÃO Os nematóides entomopatogênicos (Rhab- ditida: Steinemematidae, Heterorhabditidae) têm sido estudados nos sistemas agrícolas para controle de insetos praga, com variações no grau de sucesso e comalta potencialidade para controle de pragas do solo e de hábitos crípticos (MOLINA e LÓPEZ, 2003). Os nema- tóides no terceiro estádio, juvenil infectivo (JI), podem viver livremente, procurando o solo para buscar um hospedeiro suscetível. Durante esse estágio os nematóides não se ali- mentam nem se desenvolvem. Uma vez pene- trando em um inseto hospedeiro, liberam sua bactéria simbionte, a qual em combinação

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Page 1: Efeito da temperatura e concentração na sobrevivência de ... · vidade de nematóides entomopatogênicos em armazenamento Considerando a proporção de nematóides vivos obtidos

Boi. San. Veg. Plagas, 31: 253-265, 2005

Efeito da temperatura e concentração na sobrevivência denematóides entomopatogênicos em condições de armazenamento,visando seu uso no controle microbiano de pragas

V. ANDALÓ, A. MOINO JR, J. P. MOLINA ACEVEDO, R. S. CAVALCANTI, F. A. CARVALHO

Fatores como temperatura e concentração de juvenis infectivos, podem influenciarno armazenamento de nematóides entomopatogênicos, afetando a sobrevivência e ainfectividade. Neste bioensaio o objetivo foi avaliar a influência da temperatura e con-centração na sobrevivência desses nematóides, a fim de melhorar o armazenamentoobtendo juvenis infectivos mais virulentos. Foram avaliadas variáveis como viabilidadee infectividade (sobre larvas de Galleria mellonella) de Steinernema carpocapsae, S.riobrave, Heterorhabditis sp. CCA e Heterorhabditis sp. JPM 4, nas concentrações de100, 1.000, 5.000 e 10.000 JI/mL em seis temperaturas (8, 12, 16, 20, 24 e 28°C). Asavaliações foram feitas aos 15, 30, 60, 120, 150 e 180 dias de armazenamento. Obser-vou-se que todas espécies apresentaram viabilidade e infectividade semelhantes nas con-centrações testadas, com variação nas diferentes temperaturas. Assim, tanto Heteror-habditis sp. CCA como Heterorhabditis sp. JPM4 tiveram viabilidade reduzidas nastemperaturas de 8, 12, 24 e 28°C. 5. carpocapsae e 5. riobrave apresentaram reduçãode viabilidade a partir de 60 dias a 24 e 28°C. Heterorhabditis sp. CCA e Heterorhab-ditis sp. JPM4 tiveram redução de infectividade a partir de 15 dias para 8°C e a partirdos 60 dias a 24 e 28°C. S. carpocapsae e S. riobrave tiveram redução de infectividadea partir de 60 dias a 24 e 28°C. As diferenças encontradas entre nematóides evidenciama importância do estudo de fatores favoráveis para a manutenção de suas característicasem diferentes condições de armazenamento a fim de prolongar o tempo de sobrevivên-cia e infectividade.

V. ANDALÓ, A. MOINO JR, R. S. CAVALCANTI, F. A. CARVALHO. Universidade Federal deLavras. Departamento de Entomologia, C.P.37, CEP 37200-000, Lavras, MG, Brasil. E-mail: [email protected]. P. MOLINA ACEVEDO. Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF),CCTA/Laboratório de Proteção de Plantas, CEP 28015-620, Campos dos Goytacazes,RJ, Brasil. E-mail: [email protected]

Palavras chave: Nematóides entomopatogênicos, temperatura, concentração, arma-zenamento, controle microbiano, infectividade, sobrevivência

INTRODUÇÃO

Os nematóides entomopatogênicos (Rhab-ditida: Steinemematidae, Heterorhabditidae)têm sido estudados nos sistemas agrícolaspara controle de insetos praga, com variaçõesno grau de sucesso e com alta potencialidadepara controle de pragas do solo e de hábitos

crípticos (MOLINA e LÓPEZ, 2003). Os nema-tóides no terceiro estádio, juvenil infectivo(JI), podem viver livremente, procurando osolo para buscar um hospedeiro suscetível.Durante esse estágio os nematóides não se ali-mentam nem se desenvolvem. Uma vez pene-trando em um inseto hospedeiro, liberam suabactéria simbionte, a qual em combinação

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com toxinas produzidas pelos nematóidesmatam o hospedeiro dentro de 2 a 3 dias. Asbactérias e tecidos degradados do hospedeirofornecem fontes de nutrientes para o desen-volvimento dos nematóides. Estes geralmentepassam duas gerações dentro do hospedeiroem um período de dez dias, dependendo datemperatura e da densidade inicial de inoculo(ADAMS e NGUYEN, 2002).

As estratégias usadas pelos nematóidesentomopatogênicos para sobreviver em con-dições adversas (dessecação, anhidrobiose,congelamento, radiação ultravioleta,doenças e predação) são pouco conhecidas,podendo estar relacionadas com a permanên-cia do nematóide no solo em estado quies-cente, a migração, evitando as condiçõesadversas e a permanência no cadáver dosinsetos por períodos extensos (GLASER,

2002). De acordo corn MOLINA e LÓPEZ

(2003), uma baixa umidade favorece proces-sos anidrobiose, o que incide negativamentena infectividade dos nematóides entomopa-togênicos. Assim mesmo, é necessário estu-dar os parâmetros que influenciam um curtoou longo período de persistência dos nema-tóides, aspecto importante para sua liberaçãono campo em programas de controle biológi-co, para garantir a supervivencia dos juvenisinfectivos no meio ambiente (BROWN e GAU-

GLER, 1997).A sobrevivência desses nematóides tem

sido muito discutida, já que em condições delaboratório ocorre alta mortalidade, empouco tempo de armazenamento. A tempera-tura é um importante fator que influenciatanto na sobrevivência de nematóides, comona mobilidade e infectividade. Temperaturaextrema é um dos fatores que limitam asobrevivência desses organismos (GLASER,

2002), porém pouco é conhecido sobre aecologia de sobrevivência dos nematóidesentomopatogênicos.

A baixa temperatura pode facilitar asobrevivência pelo abaixamento no númerode nematóides produzidos por cadáver, dimi-nuindo as taxas metabólicas das bactérias e ademanda por oxigénio, sugerindo que asobrevivência pode estar associada em parte

à densidade (concentração) (BROWN e GAU-GLER, 1997).

Assim, o objetivo desse trabalho foi ava-liar a influência da temperatura e concen-tração na sobrevivência de nematóides ento-mopatogênicos, a fim de melhorar as con-dições de armazenamento desses organis-mos, mantendo os juvenis infectivos cornalta virulência e viabilidade, para serem usa-dos como agentes de controle biológico.

MATERIAL E MÉTODOS

Manutenção e multiplicação dos nema-tóides

A produção dos nematóides foi realizadano Laboratório de Patologia de Insetos doDepartamento de Entomologia da Universi-dade Federal de Lavras, Minas Gerais, Bra-sil. Os nematóides foram mantidos em fras-cos Erlenmeyer na geladeira corn temperatu-ra de 8 a 10C, em suspensão aquosa corn500 juvenis infectivos/mL (JI/mL).

Para a multiplicação foram usadas lagar-tas de Gallería mellonella L. (Lepidoptera:Pyralidae), criadas no Laboratório de Patolo-gia de Insetos de acordo com DUTKY et ai.(1964), utilizando-se dieta artificial modifi-cada por PARRA (1998).

Cinco destas lagartas foram selecionadas,corn tamanho aproximado, e posteriormentecolocadas em uma placa de Petri de 9 cm dediâmetro corn uma folha de papel filtro nofundo, sendo neste inoculado 1 mL da sus-pensão corn os nematóides, corn concen-tração de 20±5 JI por lagarta. As placasforam mantidas em câmara BOD por 2 a 3dias, até a morte das lagartas. As lagartasmortas foram retiradas e colocadas em pla-cas de Petri de 9 cm com papel filtro secopor 4 dias (MOLINA e LÓPEZ, 2001).

Após esta fase foi montada a armadilha deWHITE (1927), onde foram colocadas cincolagartas mortas por nematóides e cerca de 3mL de água no fundo da placa. As armadil-has foram colocadas em BOD por um perío-do de 3 a 7 dias. A suspensão recolhida pas-sou por um processo de filtragem e decan-tação, a fim de retirar nematóides adultos e

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corpos gordurosos do inseto. Para a filtra-gem foi usado um funil, uma proveta e umapeneira de 150 mesh, abertura de furo de0,106 mm. Na proveta foram adicionados750 mL de água destilada mais espalhanteadesivo Tween 80 a 0,1% e a suspensão denematóides foi filtrada, deixando decantarpor 1 dia. Depois de realizado o processo depurificação dos nematóides, realizou-se aquantificação da suspensão em placas depoliestireno para testes serológicos. Asdiluições para armazenamento foram feitasaté cerca de 500 JI/mL, os quais foram arma-zenados em geladeira para, posteriormente,serem utilizados nos bioensaios.

Bioensaios para avaliação da temperaturae concentração no armazenamento de nema-tóides

Os nematóides utilizados foram Steiner-nema carpocapsae (WEISER, 1955), S. rio-brave Cabanillas, Poinar e Raulston, 1994,Heterorhabditis sp. CCA (isolado nativo daregião de Araras-SP, Brasil) e Heterorhabdi-tis sp. JPM4 (isolado nativo da região deLavras-MG, Brasil), provenientes do bancode microrganismos entomopatogênicos doLaboratório de Patologia dos Insetos (Depto.de Entomologia, Universidade Federal deLavras, Lavras-MG).

Suspensões desses nematóides foram pre-paradas nas concentrações de 100, 1.000,5.000 e 10.000 JI/mL. Depois de preparadas,as suspensões foram individualizadas emcopos plásticos de 110 mL com tampa, deacordo corn os tratamentos e as repetições,colocando 50 mL de suspensão em cadarepetição. As tampas foram perfuradas, dei-xando um orifício de aproximadamente 2 cmde diâmetro para possibilitar aeração.

Estas suspensões foram submetidas adiferentes temperaturas (8, 12, 16, 20, 24 e28°C), em câmara climatizada do tipo BODcom escotofase de 24 horas, e 10 repetiçõespara cada tratamento. As avaliações foramfeitas aos 15, 30, 60, 120, 150 e 180 dias,sendo avaliados os parâmetros viabilidade einfectividade. Para o teste de viabilidade foicontado o número de nematóides vivos emortos. Para isso, uma alíquota de 0,1 mL da

suspensão, de cada repetição, foi colocadaem placa de poliestireno para testes serológi-cos e a contagem realizada corn auxílio deum estereoscópio. No teste de patogenicida-de uma larva de G. mellonella foi colocadaem uma placa de Petri de 5 cm corn papel fil-tro ao fundo. Uma alíquota da 0,2 mL decada suspensão foi retirada e aplicada nalagarta. Estas placas foram colocadas emBOD, corn temperatura controlada de 24 ±1°C, e após 3 dias avaliada a porcentagem demortalidade das lagartas.

Determinação da viabilidade e infecti-vidade de nematóides entomopatogênicosem armazenamento

Considerando a proporção de nematóidesvivos obtidos por meio da razão entre onúmero de nematóides vivos e número totalde nematóides, ajustaram-se os modelospara os quatro nematóides. Para isso, foramutilizados os seguintes parâmetros: Ji¡¡k indi-cando a proporção de nematóides mortossubmetidos à concentração (C¡) (i=100,1000, 5000 e 10000); Temperatura (Tej)0=8,12,16,24 e 28); Tempo (Xk) (k=15,30,120,150); yyk correspondente ao número denematóides mortos na concentração (i),Temperatura 0) e Tempo (k) e m definidocomo total de nematóides (Vivos + Mortos).

O preditor linear i¡jk foi obtido através dafunção definida como:

(D

Logit jz¡jk=- Inn>

A proporção de nematóides mortos foiestimada por qualquer combinação linear:

P=1 + é ?Mijki

Para o parâmetro infectividade, em virtu-de da variável de interesse ser caracterizadapor apenas dois valores, lagarta viva ou

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morta, procedeu-se através, do cálculo deporcentagem de mortalidade das larvas, àanálise estatística por um modelo deregressão logística.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Viabilidade de nematóides entomopa-togênicos em armazenamento

Pode-se inferir que os modelos propostossão adequados para predizer a proporção denematóides vivos. Esse fato é confirmadopelo valor da deviance estar próximo ao graude liberdade. Essa proximidade é interpreta-da pela razão (Deviance/GL) (Tabela 1).

Os dados obtidos na avaliação de viabili-dade dos nematóides após 180 dias em arma-zenamento, não se adequaram ao modeloproposto, desta forma, foi feita análise des-critiva dos resultados.

Os nematóides Heterorhabditis sp. CCA eHeterorhabditis sp. JPM4 não apresentaramredução de viabilidade enquanto armazena-dos por até 15 dias nas diferentes temperatu-ras testadas. Após 30 dias Heterorhabditissp. JPM4 teve redução acentuada de viabili-dade na temperatura de 8°C, porém, a partirde 60 dias essa redução ocorreu tambémpara as temperaturas de 12,24 e 28°C. Deco-rridos 120 dias, não foram encontradosnematóides viáveis nas temperaturas de 8 e28°C, sendo também observado decréscimona viabilidade para as temperaturas de 12 e24°C, nas avaliações subsequentes de 150 e180 dias. Desta forma, as temperaturas de 16e 20°C foram consideradas mais adequadaspara armazenamento desses nematóides emsuspensão aquosa. As diferentes concen-trações testadas (100, 1.000, 5.000 e 10.000JI/mL) proporcionam resultados semelhan-

Tabela 2. Tratamentos utilizados nos experimentos.

tes, não diferindo entre si em relação à via-bilidade dos nematóides Heterorhabditis sp.CCA e Heterorhabditis sp. JPM4 (Tabela 2;Figuras 1 e 2).

Para os nematóides S. riobrave e 5. carpo-capsae observou-se a manutenção da viabili-dade até 60 dias de armazenamento, sendoque após esse período houve um decréscimoprincipalmente para temperaturas de 24 e

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Figura 1. Viabilidade de Heterorhabditis sp. CCA. A. 100 Jl/mL; B. 1 .OOOJI/mL; C. 5.000 JI/mL; D. 10.000 Jl/mL;E. 180 dias.

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Figura 2. Viabilidade de Heterorhabditis bacteriophora JPM 4. A. 100 JI/mL; B. 1 .OOOJI/mL; C. 5.000 JI/mL;D. 10.000 JI/mL; E. 180 dias.

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Figura 3. Viabilidade de Steinernema riobrave. A. 100 JI/mL; B. 1 .OOOJI/mL; C. 5.000 JI/mL; D. 10.000 JI/mL;E. 180 dias.

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28°C. Essa redução foi se acentuando a cadaavaliação para essas temperaturas, até quecorn 150 dias não foram encontrados nema-tóides viáveis na temperatura de 28°C e após180 dias esse resultado também foi observa-do para a temperatura de 24°C. Assim, astemperaturas de 8, 12,16 e 20°C foram con-sideradas preferenciais para armazenamentode S. rióbrave e S. carpocapsae em sus-pensão aquosa. Em relação às concentraçõesavaliadas não foram observadas diferençaspara esses nematóides quanto à perda de via-bilidade (Tabela 2; Figuras 3 e 4).

Infectividade de nematóides entomopa-togênicos sobre larvas de Gallería mello-nella após armazenamento

Conforme os resultados na Tabela 3, nívelde significancia em 5%, há evidência de queconcentração, temperatura e tempo apresen-tam efeitos diferenciados entre si.

Os nematóides Heterorhabditis sp. CCA eHeterorhabditis sp. JPM4 apresentaramresultados semelhantes em relação à infecti-

vidade sobre larvas de G. mellonella, paratodas as temperaturas testadas nos diferentesintervalos de avaliação. Assim, houveredução de infectividade a partir dos 30 diasnas temperaturas de 8 e 12°C. Após 120 diasarmazenados essa redução também ocorreupara as temperaturas de 24 e 28°C. Aos 150dias, apenas os nematóides em 16 e 20°Cforam infectivos, sendo que após 180 aindaforam capazes de causar 50% de mortalida-de em G. mellonella. Desta forma, as tem-peraturas de 16 e 20°C foram consideradasas melhores para armazenamento dessesnematóides em relação ao parâmetro infecti-vidade (Figura 5 A e B).

Já os nematóides S. rióbrave e 5. carpo-capsae tiveram maior adaptação às tempera-turas testadas do que os nematóides do géne-ro Heterorhabditis, apresentando uma amplafaixa de temperatura onde se mantiveraminfectivos. Houve uma redução gradativa deinfectividade principalmente para as tem-peraturas de 24 e 28°C até o período de 60dias de armazenamento. Porém, a partir de

Tabela 3. Análise dos efeitos principais relativos à variável infectividade.

Heterorhabditis sp. CCA

Efeito

Concentração

Temperatura

Tempo

Heterorhabditis sp. JPM 4

Efeito

Concentração

Temperatura

Tempo

Steinernema rióbrave

Efeito

Concentração

Temperatura

Tempo

Steinernema carpocapsae

Efeito

Concentração

Temperatura

Tempo

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Figura 4. Viabilidade de Steinernema carpocapsae. A. 100 JI/mL; B. 1.000JI/mL; C. 5.000 JI/mL; D. 10.000 JI/mL;E. 180 dias.

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Figura 5. Infectividade de nematóides entomopatogênicos, armazenados em diferentes temperaturas, sobre larvas deGallería mellonella, ao longo do tempo. A. Hetewrhabditis sp. CCA; B. H. bacteriophora JPM4; C. S. riobrave;

D. S. carpocapsae.

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120 dias houve uma redução drástica deinfectividade a 28°C e a partir de 150 diastambém para 24°C. Após 180 dias não foramencontrados nematóides capazes de causarinfectividade em G. mellonella. A tempera-tura de 16°C e 20°C foram consideradasmelhores para armazenamento de S. carpo-capsae e S. riobrave em relação à infectivi-dade, pois apesar de nas outras temperaturasainda existirem nematóides infectivos, houvemaior redução dessa infectividade (Figura 5C e D).

Em relação às diferentes concentraçõestestadas, para os quatro nematóides, obser-vou-se maior infectividade dos juvenis infec-tivos armazenados nas maiores concen-trações, como 5.000 e 10.000 JI/mL, emtodas as temperaturas.

De acordo corn WESTERMAN (1999) exis-tem diferenças entre as condições ideais paracada nematóide, como por exemplo, Hete-rorhabditis sp. que em baixas temperaturasapresentam diminuição de mobilidade,infectividade e surgimento de um processode agregação entre eles. Este comportamen-to também foi observado no presente estudo,onde Heterorhabditis sp. CCA e Heteror-habditis sp. JPM4 tiveram redução de viabi-lidade e infectividade em temperaturas de 8e 12°C. BROWN e GAUGLER (1997) tambémobservaram que baixas temperaturas impe-dem a emergência completa de H. bacteriop-hora causando por fim a morte dos juvenisinfectivos, que, em geral, apresentam per-sistência curta, de 2 a 3 semanas, encontran-do-se em raras ocasiões nematóides que per-sistem por estações ou anos (LEWIS e SHAPI-RO-ILAAN, 2002).

Essas características também foram cita-das por KAYA e STOCK (1997), onde nema-tóides entomopatogênicos podem ser arma-zenados por um pequeno tempo em frascosde cultura corn água destilada, sem pre-sença de aeração. No entanto, de formageral, os steinernematídios podem serarmazenados de 4 a 15°C por cerca de 6 a 9meses, enquanto os heterorhabditídios por 3a 4 meses nesse mesmo intervalo de tem-peratura.

Temperatura extrema é um dos fatoresque limitam a sobrevivência desses organis-mos, influenciando tanto na sobrevivência,como na mobilidade e infectividade (GLA-SER, 2002). Além disso, juvenis infectivos deheterorhabditídios são afetados em baixatemperatura, diminuindo a proporção denematóides infectivos e a habilidade paraprocurar hospedeiros. Na temperatura de9°C Heterorhabditis sp. foi menos infectivoa Otiorhynchus sulcatus e a G. mellonella doque a 20°C (WESTERMAN, 1999). Os resulta-dos observados nesse estudo, onde tantoaltas como baixas temperaturas foram consi-deradas prejudiciais para os nematóides tes-tados, principalmente para aqueles do géne-ro Heterorhabditis, estando de acordo comos dados apresentados anteriormente.

De acordo com LEWIS e SHAPIRO-ILAAN(2002) existem grandes diferenças de longe-vidade de dessecação entre os nematóides,pois H. bacteriophora já foi encontradosobrevivendo em temperaturas de até 40°C, einfectando e reproduzindo em hospedeirosem 30°C. Já os nematóides S. carpocapsae,S. glaseri e S. riobrave, podem tolerar tem-peraturas de congelamento de -4o C. Noentanto, estas diferenças parecem estar rela-cionadas com sua adaptação térmica. Alémdisso, GREWAL (2000), cita que a pequenalongevidade de S. feltiae em 25°C pode serdevido à baixa sobrevivência em temperatu-ras altas, pois é uma espécie de região tem-perada, em contraste, S. riobrave é umaespécie tropical, corn seu ótimo para arma-zenamento de 15°C. Com isso, pode-se dizerque existe uma grande variação mesmo den-tro da mesma espécie, sendo preciso adequaras condições ideais para cada isolado denematóide.

Em 5°C S. carpocapsae sobrevive pormaior tempo que os demais nematóides emágua, já que adota forma de ' J', ficando quies-cente e conservando energia, enquanto S. rio-brave e S. feltiae permanecem ativos. Destaforma, a longevidade dos steinernematídeos abaixas temperaturas pode ser mais dependen-te da sua tolerância ao frio do que a quantida-de de reservas energéticas (GREWAL, 2000).

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Segundo JAGDALE e GREWAL (2003) a dife-rença na adaptação termal está associada àacumulação de trealose, reserva de carboidra-tos, durante a aclimatação ao frio (5°C) ou aocalor (35°C), auxiliando na manutenção davirulência durante um estresse termal, sendoassim, a quantidade acumulada de trealose édiferente para cada espécie de nematóide emdiferentes temperaturas.

A agregação ocorre principalmente quan-do os nematóides estão em baixas tempera-turas, onde é notada uma diminuição deinfectividade. Quando os nematóides estãoagregados o número de infectivos para pene-trar e matar os insetos é menor, já que váriosirão penetrar no mesmo inseto e poucosserão infectados e mortos, escapando muitosinsetos vivos (WESTERMAN, 1999). Assim,

pode-se considerar que a agregação estámais associada à diminuição de temperatura,formando agregados em forma de rosetas emespécies do género Heterorhabditis, do que àconcentração, já que estas formas não sãoobservadas em nematóides do géneroSteinernema.

Entender os parâmetros que influenciamum curto ou longo período de persistênciados nematóides é um aspecto importantetanto para garantir a sobrevivência dos juve-nis infectivos em armazenamento, comotambém para liberação desses organismos nocampo em sistemas de controle biológico.Conhecer as condições ideais para manu-tenção e multiplicação desses nematóidespode potencializar seu uso em programas demanejo integrado de pragas.

RESUMEN

ÁNDALO V., A. MOINO JR, J. P. MOLINA ACEVEDO, R. S. CAVALCANTI, F. A. CARVAL-HO. 2005. Efecto de la temperatura y concentración en la supervivencia de nematodosentomopatógenos en condiciones de almacenamiento, determinando su uso potencialcomo agentes de control biológico. Bol. San, Veg. Plagas, 31: 253-265.

Factores como la temperatura y concentración de juveniles infectivos, puedeninfluenciar el almacenamiento de nematodos entomopatógenios, afectando la supervi-vencia y la infectividad. Este bioensayo tuvo por objetivo evaluar la influencia de la tem-peratura y concentración de juveniles infectivos en su supervivencia, a fin de mejorar elalmacenamiento, obteniendodo juveniles infectivos mas virulentos. Fueron evaluadosvariables como viabilidad e infectividad de juveniles infectivos (sobre larvas de Galleríamellonella) de especies de nematodos entomopatógenios como Steinernema carpocap-sae, S. riobrave, Heterorhabditis sp. CCA e Heterorhabditis sp. JPM 4, en concentracio-nes de 100,1.000,5.000 e 10.000 JI/mL en seis temperaturas (8,12,16,20,24 e 28°C).Las evaluaciones fueron hechas a los 15,30,60, 120,150 y 180 dias de almacenamien-to. Se observó que todas las especies presentaron viabilidad e infectividad similar en lasconcentraciones provadas, con variación en las diferentes temperaturas. Así, tanto Hete-rorhabditis sp. CCA como Heterorhabditis sp. JPM4 presentaron viabilidad reduzida enlas temperaturas de 8,12,24 e 28°C. S. carpocapsae y S. riobrave presentaron reducciónen su viabilidad a partir de 60 dias de almacenamiento a 24 e 28°C. Heterorhabditis sp.CCA e Heterorhabditis sp. JPM4 presentaron reducción en su infectividad a partir de 15dias para 8°C y a partir de 60 dias a 24 e 28°C. 5. carpocapsae y S. riobrave presentaronredución en su infectividad a partir de 60 dias a 24 e 28°C. Las diferencias encontradasentre nematodos evidenciaron la importancia del estudio de factores que favorecan lamanutención de las características de nematodos entomopatógenos en diferentes condi-ciones de alamacenamiento, a fin de prolongar el tiempo de supervivencia e infectividad.

Palabras clave: Nematodos entomopatógenos, temperatura, concentración, almace-namiento, control biológico, infectividad, supervivencia.

Page 13: Efeito da temperatura e concentração na sobrevivência de ... · vidade de nematóides entomopatogênicos em armazenamento Considerando a proporção de nematóides vivos obtidos

ABSTRACT

ÁNDALO V., A. MOINO JR, J. P. MOLINA ACEVEDO, R. S. CAVALCANTI, F. A. CARVALHO.2005. Effect of temperature and concentration in the survival of entomopathogenic nema-todes under storage conditions, glimpsing their use in biological control of pests. Bol.San, Veg. Plagas, 31: 253-265.

The temperature and concentration of infective juniles, can influence the storage ofentomopathogenic nematodes, affecting the survival and infectivity. In this bioassay, theobjective was to evaluate the influence of temperature and concentration on entomopat-hogenic nematodes survival conditions, to improve the storaging, obtaining more virulentIJ. The viability and infectivity (on larvae of Gallería mellonella) of Steinernema carpo-capsae, S. riobrave, Heterorhabditis sp. CCA and Heterorhabditis sp. JPM 4, in concen-trations of 100, 1.000,5.000 and 10.000 IJ/mL at six temperatures (8, 12, 16,20, 24 and28°C) was also evaluated. The observations were made at 15, 30, 60, 120,150 and 180days of storage. It was observed that all species presented similar viability and infectivitywithin different concentrations, but varied in different temperatures. Thus, so much Hete-rorhabditis sp. CCA like Heterorhabditis sp. JPM4 at reduced viability at temperaturesof 8, 12, 24 and 28°C. 5. carpocapsae and S. riobrave presented reduced viability star-ting first at 60 days at 24 and 28°C. Heterorhabditis sp. CCA and Heterorhabditis sp.JPM4 showed reduced infectivity starting at 15 days at 8°C and 60 days at 24 and 28°C.5. carpocapsae and 5. riobrave had reduction infectivity starting after 60 days at 24 and28°C. The differences in viability among entomopathogenic nematodes support theimportance of this study of favorable factors for the maintenance of the characteristics indifferent storage conditions, in order to prolong the time of entomopathogenic nemato-des survival and infectivity.

Key words: Entomopathogenic nematodes, temperature, concentration, storage, bio-logical control, infectivity, survival.

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(Recepción: 22 octubre 2004)(Aceptación: 17 marzo 2005)