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1 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS Desenho da Paisagem Urbana para Assentamento de Baixa Renda Charrette do Projeto para a Vizinhança Pintassilgo Santo André, Brasil Escrito e Organizado por: Don Luymes, UBC Joanne Proft, UBC Contribuições: Erika de Castro, UBC Catharina Cordeiro Lima, FAU-USP Paulo Pellegrino, FAU-USP Tradução: Cláudia M. Sardenberg de Matos, UBC Editado por: Christine Evans, UBC University of British Columbia Centre for Human Settlements Centre for Landscape Research James Taylor Chair in Landscape and Liveable Environments Parceiros no Projeto de Gerenciamento Participativo em Áreas de Mananciais em Santo André: Centro de Assentamentos Humanos da Universidade de British Columbia Municipalidade de Santo André Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional

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1 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS

Desenho da Paisagem Urbana para Assentamento de Baixa Renda

Charrette do Projeto para a Vizinhança Pintassilgo

Santo André, Brasil

Escrito e Organizado por:

Don Luymes, UBC

Joanne Proft, UBC

Contribuições:

Erika de Castro, UBC

Catharina Cordeiro Lima, FAU-USP

Paulo Pellegrino, FAU-USP

Tradução:

Cláudia M. Sardenberg de Matos, UBC

Editado por:

Christine Evans, UBC

University of British Columbia

Centre for Human Settlements

Centre for Landscape Research

James Taylor Chair in Landscape and Liveable Environments

Parceiros no Projeto de Gerenciamento Participativo em Áreas de Mananciais em Santo André:

Centro de Assentamentos Humanos da Universidade de British Columbia

Municipalidade de Santo André

Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional

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3 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

- In memorian –

Prefeito Celso Daniel

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5 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

ÍNDICE

Agradecimentos 6

Prefácio 7

Introdução 9

Projeto GEPAM 10

A Charrette Pintassilgo 13

Porquê esta localização? 13

Porquê uma Charrette? 15

Princípios da Charrette 16

Tipos de Charrette 17

O processo da Charrette 18

As três questões da Charrette 19

Proposta das equipes 23

Equipe Um 24

Equipe Dois 30

Equipe Três 36

Equipe Quatro 44

Apêndices 53

Parâmetros de Projeto da Charrette 53

Participantes da Charrette 59

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 6

A AGRADECIMENTOS

charrette desenvolvida para a favela Pintassilgo foi o resultado de uma parceria

entre três instituições: a Universidade de British Columbia – UBC (através do

Centro de Assentamentos Humanos – CHS, a James Taylor Chair para Paisagismo e Meio

Ambiente Adequado – JTC, e o Centro de Pesquisa em Paisagismo), a Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU-USP, e a municipalidade de

Santo André.

A UBC, juntamente com a FAU-USP, propôs e organizou a charrette. O CHS é o

principal parceiro canadense no projeto Gerenciamento Participativo em Áreas de Mananciais

em Santo André – GEPAM, um projeto financiado pela Agência Canadense de Desenvolvimento

Internacional – CIDA, que tem como principal objetivo tornar o gerenciamento municipal de

mananciais em Santo André mais efetivo e participativo, atendendo às necessidades dos

assentamentos informais.

A charrette faz parte desse grande esforço, e serviu como projeto piloto para a

implementação de alguns objetivos específicos do projeto (veja página 10).

A JTC e o Centro para Paisagismo da UBC foram envolvidos na organização e

implementação da charrette. O GTC tem extensa experiência em organizar, realizar e

publicar os resultados de charrettes de desenho urbano sustentável em toda a América do

Norte. Essas charrettes tem como principal objetivo explorar alternativas de projeto para

comunidades sustentáveis.

A Universidade de São Paulo, a partir do envolvimento da Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo – Área de Concentração de Paisagem e Ambiente do Programa de Pós-graduação,

através de seus estudantes e professores, organizou as equipes da charrette e cedeu o espaço

para a realização do evento, o edifício da FAU Maranhão, no centro da Cidade de São Paulo.

Os professores Catharina Lima e Paulo Pelegrino, da FAU, foram as pessoas-chave nesse

trabalho, colocando a charrette como parte integrante de seu curso em paisagismo.

A municipalidade de Santo André é o parceiro brasileiro no GEPAM. Santo André

trouxe a experiência técnica para a charrette, e sua equipe técnica coletou as informações

básicas, mapas e estudos elaborados referentes à área. A arquiteta Rosana Denaldi, diretora

da Habitação, atuou como uma ligação crítica entre a municipalidade e a charrette. A

municipalidade liberou diversos funcionários dos departamentos de Habitação,

Desenvolvimento Urbano, Participação Cidadã, Meio Ambiente e Subprefeitura para que

servissem como participantes da charrette. Santo André estabeleceu também a ligação com a

comunidade local e assistiu ao CHS na organização de laboratórios participativos com a

comunidade.

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7 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

E PREFÁCIO

m maio de 2001, um grupo de diversos estudantes de pós-graduação e professores

de universidades de dois países e funcionários de várias secretarias municipais de

Santo André, reuniram-se em um edifício histórico na cidade de São Paulo. Essas pessoas se

juntaram para, em conjunto, enfrentar o desafio de resolver, em curto prazo de tempo, um

problema muito difícil: como projetar uma comunidade sustentável para uma das populações

mais carentes da metrópole de São Paulo, numa área de manancial ambientalmente

extremamente sensível. Essa reunião foi inédita pelo fato dos participantes terem sidos

solicitados a desenvolver seus projetos dentro de um espaço de tempo muito curto – quatro

dias – enquanto simultaneamente respondiam a um conjunto complexo de instruções,

englobando sistemas viários, habitação, saneamento e recuperação ecológica. Esta forma de

exercício de projeto é conhecida como Charrette, e viabiliza um trabalho interdisciplinar

onde problemas complexos são enfrentados em um curto e intenso evento, resultando em

cenários que mostram as implicações de políticas específicas de planejamento e gestão.

O local escolhido para esse exercício foi a favela Pintassilgo, um assentamento

informal próximo ao reservatório Billings, em Santo André, na borda sudeste da região

metropolitana de São Paulo. Embora os projetos resultantes dessa charrette sejam específicos

ao local e à situação da Pintassilgo, os conceitos derivados dos projetos podem ser

generalizados para outras comunidades de baixa renda em áreas sensíveis, na periferia de

grandes cidades nos países em desenvolvimento.

Esta publicação é um dos resultados dessa Charrette, o primeiro passo em um

processo cuja intenção é melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem na pobreza e,

ao mesmo tempo, proteger áreas ambientalmente sensíveis. Os passos mais significativos

estão por vir: articular uma mistura das alternativa apresentadas, desenvolver detalhes dos

planos propostos, construir uma nova comunidade Pintassilgo, e desenvolver um manual com

diretrizes de projeto para orientar o futuro desenvolvimento de comunidades de baixa renda

localizadas em áreas com ecossistemas sensíveis.

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) no Edifício

da Universidade de São Paulo, onde as equipes

prepararam suas propostas para a Pintassilgo.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 8

Duas imagens contrastantes da área. A imagem da esquerda mostra a extensão do desenvolvimento urbano ao

longo das encostas. A água da chuva provoca erosão e a desestabilização da encosta, o que representa riscos

críticos para as casas existentes a para a represa, mostrada na imagem à direita, vista da borda do Parque do

Pedroso. Para tratar desses aspectos, a charrette propôs-se a encontrar um balanço sustentável entre a qualidade

do meio ambiente e as condições adequadas de vida para a comunidade.

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9 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A INTRODUÇÃO

s colunas florestadas que contornam a borda sudeste/sul da região metropolitana

de São Paulo abrigam dois reservatórios. Esses reservatórios foram construídos

com vários objetivos, inclusive a produção de energia elétrica e o abastecimento de água

potável, assim como controle de enchentes. As represas, construídas na década de 50,

formam os reservatórios Billings e Guarapiranga. Em 1975, em um esforço para proteger a

integridade e qualidade da água nesses reservatórios, o governo estadual sancionou a Lei de

Proteção dos Mananciais (898/75, 1172/76) que estabelecia padrões para o uso do solo nas

áreas de mananciais. Esses padrões estabeleciam e limitavam desde as dimensões mínimas

dos lotes em certas sub-bacias até a definição de posturas extremamente restritas que

essencialmente, proibiam a ocupação e sub-divisão da terra nas partes mais sensíveis da área

de proteção aos mananciais e junto aos reservatórios.

Entretanto, em décadas recentes, a lei se provou ineficaz no controle da expansão

urbana, e a ocupação informal das áreas dos mananciais aumentou significativamente.

Estima-se que mais de um milhão de pessoas vivam hoje dentro das áreas de mananciais em

sub-divisões legais (anteriores a 1975), sub-divisões ilegais – porém com sub-divisões formais –

(subseqüentes a 1975), e em assentamento informais (favelas) em áreas públicas ou privadas.

Durante décadas, chegaram à área metropolitana de São Paulo migrantes em grande número,

procurando empregos e oportunidades para suas famílias, vindos de áreas rurais empobrecidas

no norte e nordeste do país. Esses migrantes, que não conseguiam obter uma habitação

formal na cidade, tiveram como única opção construir habitações informais, as chamadas

favelas, em terras desocupadas, públicas ou privadas. Devido ao baixo custo da terra nas

áreas de mananciais – congeladas para desenvolvimentos industriais e loteamento menores –

essa se tornou a única terra acessível aos imigrantes sem recursos.

Esse assentamento não tem infra-estrutura sanitária básica, são construídos em áreas

de encostas, em barrancos erodíveis e diretamente nas bordas dos reservatórios. Como

resultado, existem problemas significativos de siltagem e poluição da água por água servida e

esgotos nos reservatórios. A vegetação dentro e no entorno desses assentamentos é muitas

vezes destruída, expondo o solo à chuva forte e aumentando os problemas de erosão e de

degradação do habitat. O resultado são mananciais altamente poluídos, com a qualidade da

água muitas vezes inadequada ao consumo e em alguns lugares, tão poluída que qualquer

contato humano com essa água é prejudicial à saúde, e a fauna aquática é virtualmente

inexistente. A situação abordada nessa charrette não é encontrada unicamente em São Paulo

– é encontrada também, com importantes variações, nas principais cidades do Brasil e, de

fato, em muitas partes do mundo em desenvolvimento. As lições aprendidas nesse exercício

têm relevância além da aplicação imediata à região de São Paulo, embora o projeto da

Charrette tenha sido explicitamente elaborado a partir da localização da favela Pintassilgo.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 10

A

O Projeto de Gerenciamento Participativo de Santo André

Charrette constitui parte

de um projeto piloto

desenvolvido dentro do projeto de

Gerenciamento Participativo de Áreas

de Mananciais de Santo André

(GEPAM), uma parceria entre a UBC e

a cidade de Santo André, município ao

sul da cidade de São Paulo e parte da

região metropolitana. Esse projeto é

financiado pela Agência Canadense de

Desenvolvimento Internacional (CIDA),

e tem o seguinte objetivo: tornar o

gerenciamento municipal de mananciais em Santo André mais efetivo e participativo e,

principalmente, responder às necessidades dos assentamentos informais dentro de uma

perspectiva de proteção ambiental.

Dentro desse objetivo principal definem-se os seguintes objetivos específicos:

1. introduzir os métodos de gerenciamento participativo nas áreas de proteção de

mananciais am Santo André com aplicabilidade a outras comunidades

2. melhorar a qualidade e disponibilidade de informações necessárias para o

processo de tomada de decisões a nível municipal relacionadas ao gerenciamento

de mananciais; e

3. expandir as ligações institucionais entre o Canadá e o Brasil

Para atingir esses objetivos o projeto está centrado nas seguintes áreas-chave: 1)

planejamento sócio-econômico, que inclui desenvolvimento econômico-comunitário através

do empoderamento das pessoas que vivem na pobreza, com particular ênfase no aumento da

participação da mulher em lideranças comunitárias; 2) reurbanização de assentamentos

informais, com particular atenção à recuperação de áreas ambientalmente degradadas; 3)

estímulo à institucionalização de práticas sustentáveis e à boa governança; 4) definição de

gerenciamento que inclua o uso integrado do solo e decisões de cunho ambiental,

encorajando atitudes de responsabilidade ambiental e práticas ambientalmente saudáveis

pelas pessoas que vivem em áreas de

mananciais, com particular ênfase na

manutenção e preservação da qualidade da

água.

O local da charrette fica localizado dentro do

município de Santo André, uma das cidades da região do

ABC, área metropolitana de São Paulo.

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11 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Uma descrição completa do

projeto GEPAM está disponível on-line no

web site:

http://www.chs.ubc.ca/brazil/index.html.

A represa Billings (em verde) em relação ao

desenvolvimento urbano adjacente.

Dentro do arcabouço do projeto

GEPAM, o objetivo da charrette foi utilizar a

vizinhança Pintassilgo como projeto-modelo

para assentamentos de baixa renda no

contexto das áreas de proteção de mananciais.

O reconhecimento de que esses assentamentos

informais não podem ser ignorados ou

meramente removidos representa uma nova

direção na política pública. O projeto contido

nesta publicação tem como objetivo mostrar

como esses assentamentos podem ser

melhorados, atendendo a critérios

sustentáveis que ofereçam melhor qualidade

de vida e superando as precárias condições

existentes nos assentamentos atuais.

O GEPAM é um projeto que envolve todos os

interessados nas Áreas de Proteção de Mananciais,

e que representa uma mudança fundamental na

maneira com que o planejamento e manejo de

mananciais tem sido feito tradicionalmente nas

cidades e estados brasileiros. Rejeitando o apoio

falido em estruturas legalistas e restritivas para o

manejo ambiental, este projeto objetiva envolver

as pessoas no processo de desenvolvimento como

“guardiãs” do meio ambiente.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 12

O local de abrangência da charrette Pintassilgo está delimitado pela linha branca. O Parque do Pedroso é a área florestada ao norte e o Parque Miami fica do lado oeste da Pintassilgo.

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13 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A

Mapa de uso do solo baseado em imagem Landsat 1997. A extensão do desenvolvimento urbano no manancial é um problema crítico que afeta a qualidade de água no manancial.

Vista aérea e fotos da Pintassilgo

A CHARRETTE PINTASSILGO

Porque esta localização?

favela Pintassilgo foi a área

escolhida para esta

Charrette devido a diversos motivos.

Primeiramente, existe a proposta de

um projeto para um anel viário

metropolitano patrocinado pelo Estado

de São Paulo, onde esta comunidade

provavelmente deverá ser

parcialmente – ou completamente –

relocada. Seria, portanto, a hora

oportuna e importante para

considerar um novo padrão de projeto

para este tipo de comunidade. Outro

motivo é que a Pintassilgo está localizada diretamente adjacente à Represa Billings, em uma

área de declive acentuado e também parcialmente dentro de um parque destinado à

preservação natural. Desta forma, problemas como a

sensibilidade ecológica da área foram considerados

críticos. A Pintassilgo foi selecionada também por ser

próxima à área urbana. Esta favela é relativamente

acessível à parte urbanizada de Santo André, tornando

as visitas à área fáceis aos participantes da Charrette.

Dados ambientais, incluindo mapas topográficos digitais

e fotografias aéreas reunidos pela Diretoria do Meio

Ambiente de Santo André (SEMASA), O Departamento de

Habitação de Santo André, e pelo Instituto para

Recursos e Meio Ambiente da Universidade da British

Columbia estiveram também disponíveis para informar

as equipes do projeto.

A favela Pintassilgo teve início como uma

expansão não-planejada da subdivisão legal do Parque

Miami, e começou a se desenvolver quando migrantes ocuparam áreas públicas nos anos 1970.

Devido à topografia e outras questões ambientais, a favela cresceu desde então, tornando-se

um assentamento com duas ocupações distintas, a parte norte e a parte sul, separadas por

uma linha de transmissão elétrica. A Pintassilgo ocupa aproximadamente 500 hectares; e é

residência para 1200 famílias, ou seja, aproximadamente 5.000 pessoas.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 14

A parte sul da favela é contígua ao Parque Miami e é densamente ocupada por

edificações ao longo da encosta de um morro voltado para o sul, com grande declive

(aproximadamente 50%) descendo até um dos braços do Reservatório Billings. Essa área abriga

casas que ocupam vários níveis do terreno, desde as margens do reservatório até a linha de

alta tensão (ver foto, página 12). Uma única rua de cascalho conecta esta parte do

assentamento à parte norte. A parte norte tem uma forma linear e sinuosa, seguindo uma

única rua que serpenteia através do vale, entre íngremes colinas coberta por florestas densas.

Ao longo da linha de alta tensão existe um campo de futebol, o qual, juntamente com

algumas pequenas igrejas, constituem os únicos equipamentos comunitários.

Serviços como comércio, saúde e educação não existem na Pintassilgo, mas são

acessíveis em algumas vizinhanças próximas. A rua principal passa por uma área de baixio,

indo para a parte noroeste da favela, interceptando a via principal que leva até o centro

urbano de Santo André. Nessa intersecção há um ponto de ônibus de linhas de coletivos que

vão até o centro de Santo André. Nesse mesmo local há um edifício da Guarda Municipal. A

sudoeste da favela existem comércio e instalações de serviços local (incluindo um posto de

saúde) do Parque Miami. Esta região possui ainda uma escola de ensino primário que é

freqüentada pela maioria das crianças residentes na Pintassilgo. Existe ainda outra escola

primária localizada a nordeste da favela, mas seu acesso se dá através de uma faixa de terra

pantanosa e florestada.

A Pintassilgo se situa em área parcialmente pertencente ao Parque do Pedroso, um

parque municipal de Santo André, cujo objetivo é preservar uma porção da Floresta Tropical

Atlântica. Entretanto, existem algumas áreas próximas à favela que são áreas privadas, não

ocupadas, e que poderiam ser consideradas para relocação parcial da Pintassilgo. Uma área

com declividade relativamente moderada na margem do morro ao noroeste da comunidade,

foi desmatada e oferece potencial para desenvolvimento urbano.

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15 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A

A Cátedra de Paisagem e Ambiente Habitáveis James Taylor, da UBC, averiguou que o processo integrado

de desenvolvimento da charrette traz à tona inúmeras possibilidades para estimular a

sustentabilidade da comunidade. A imagem acima da Charrette Surrey de 1995, ilustra a integração total

do manejo das águas de chuva, as conexões do habitat e os espaços verdes da comunidade.

PORQUE UMA CHARRETTE?

palavra “charrette”, de origem francesa, se refere a um carro empurrado

manualmente por comerciantes e utilizados nas ruas de Paris durante o século

dezenove. No contexto de projetos e planos urbanísticos o têrmo pode ser encontrado na

Escola de Belas Artes. Uma parte integral do currículo em arquitetura na Escola de Belas Artes

referia-se à tradição de dar aos estudantes uma tarefa impossível de ser completada em um

tempo inacreditavelmente curto. Na conclusão desse exercício intensivo, uma carroça

(“charrette”) passava pelas ruas, recolhendo os projetos e todos os seus desenhos para serem

avaliados.

Mais recentemente, o conceito de charrette foi revisto e utilizado novamente por

planejadores e paisagistas na América do Norte, em um esforço para revigorar os processos de

projeto e planejamento com envolvimento comunitário. Os urbanistas norte-americanos

Andres Duany, Elizabeth Planter Zyberg e Doug Kelbaugh da Universidade de Washington, em

Seattle, são reconhecidos com profissionais de vanguarda nessa área. Similarmente, Prof.

Patrick Condon, titular da cadeira James Taylor em Paisagens e Ambientes Habitáveis, na

Universidade da British Columbia, tem usado charrettes como um instrumento para integração

de questões de sustentabilidade dentro do planejamento e projeto de comunidades. O

sucesso destas charrettes tem levado outras comunidades (incluindo Santo André) a buscar

assistência da UBC na organização de charrettes, que incluam aspectos fundamentais relativos

à sustentabilidade, planejamento de comunidades e questões complexas de projeto. Como

instrumento de planejamento e projeto, as charrettes são geralmente caracterizadas por

alguns princípios:

1. Charrettes são usualmente

caracterizadas pela intensidade

na experiência de projetos em

curto espaço de tempo.

Charrettes geralmente duram

poucos dias – criando uma

atmosfera de criatividade e

rapidez na tomada de decisões.

A curta duração das charrettes

muitas vezes permite que

pessoas que normalmente não

seriam capazes de abandonar

seus afazeres cotidianos por

longos períodos, possam ser

reunidas para utilizar suas especialidades na resolução de problemas específicos.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 16

Uma charrette se caracteriza por equipes multidisciplinares, cujos membros vem de diversas disciplinas envolvidas no projeto, planejamento e implementação de um projeto de uma comunidade. Dessa forma, as equipes estão habilitadas a discutir o complexo spectrum de assuntos colocados no sumário dos parâmetros do projeto da charrette.

2. Charrettes também têm a

intenção de serem exercícios de

integração; os problemas são

tipicamente complexos, com

múltiplos – e muitas vezes

conflitantes – objetivos. A

charrette tem a intenção de

prover às agências

patrocinadoras uma gama de

soluções para problemas

extremamente difíceis,

apontando alguns caminhos na

direção da resolução de dilemas

e integração de objetivos

conflitantes.

3. A maioria das charrettes são interdisciplinares em sua formação. Pessoas-chave,

que são especialistas em campos específicos, são usualmente trazidas como

consultores para as equipes de projeto, que por sua vez são compostas por

participantes de diversas disciplinas de projeto e planejamento.

4. Finalmente, muitas charrettes têm uma intenção ilustrativa. Isso significa que o

exercício de projeto é freqüentemente focado na explicação das implicações

físicas e espaciais de certas políticas e valores. Charrettes servem ao propósito

de mostrar ao público e às agências patrocinadoras os resultados visíveis de

políticas alternativas.

Apesar de suas vantagens, charrettes também possuem limitações inerentes. Deve-se

compreender que a charrette não tem a intenção de produzir planos e projetos que são

imediatamente executáveis, ou têm cada detalhe completo. O curto espaço de tempo de uma

charrette pode significar que as equipes não puderam examinar cada detalhe de seus planos,

ou refletir cuidadosamente sobre todos os aspectos envolvidos em uma determinada solução.

Ao contrário, a charrette é o primeiro passo do processo; é uma chance de ilustrar pontos de

partida diferentes e criativos, que devem ser desenvolvidos através de refinamentos

posteriores.

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17 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

E

O objetivo principal de uma “charrette de concepção” é ilustrar a visão de desenvolvimento para uma certa área e explorar futuros usos do solo, desenho urbano e direções para políticas ambientais em lugares semelhantes.

TIPOS DE CHARRETTE

existem diversos tipos de charrettes, cada um com diferentes objetivos e diferentes

qualidades. Esses tipos incluem “charrettes de concepção” e “charrettes de

implementação.” Charretes de concepção tipicamente envolvem a composição de equipes

interdisciplinares de profissionais de projeto para conceber uma mudança físico ambiental.

Estas charrettes são de natureza exploratória. Charrettes de implementação, por outro lado,

colocam juntos tomadores de decisão e representantes de agências – pessoas com a

responsabilidade e habilidade para tomar decisões em relação a mudanças de políticas. Estas

charretes tipicamente não resultam em desenhos bonitos ou projetos inovadores, mas talvez

estejam mais em acordo com a realidade de um processo de planejamento. Cada um deles

sendo mais apropriado para diferentes contextos e em diferentes pontos do processo de

planejamento e projeto.

A Charrette Pintassilgo foi um híbrido desses dois tipos. A participação direta dos

representantes municipais nas equipes de projeto significou que o projeto foi enraizado nas

políticas existentes e nos padrões de planejamento e, portanto, teve o potencial de transferir

diretamente o conhecimento do exercício de charrette para os tomadores de decisão

municipais e membros da comunidade Pintassilgo. Ao mesmo tempo, a charrette tem o

objetivo básico de desenvolver visões que pudessem sugerir como uma comunidade situada

em área de manancial poderia ser auto-sustentável.

A charrette começou com uma oficina seguida por uma visita à comunidade

Pintassilgo. Os participantes da charrette foram informados sobre o terreno e os problemas

em uma reunião realizada na Escola do Parque Miami, uma instituição freqüentada pelas

crianças da Pintassilgo e considerada um importante recurso da comunidade. Pessoas-chave

da municipalidade de Santo André e da agência ambiental municipal (SEMASA) forneceram

informações sobre a história, condições sociais,

desenvolvimento, tipos de construção e ecossistema da

região Pintassilgo, e sobre o contexto ambiental da área

de proteção de mananciais e o parque de preservação.

Também foi feita uma introdução descrevendo o

processo de desenvolvimento de charrettes.

Paralela a explicação sobre a região foi

realizada uma oficina comunitária na qual

representantes dos residentes da Pintassilgo foram

solicitados a dar prioridade às suas necessidades e

desejos, e descrever seus ideais e idéias sobre como

melhorar sua comunidade e vizinhança. Os resultados da oficina foram incorporados ao

relatório de parâmetro de projeto da charrete via apresentação prévia do evento.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 18

A O PROCESSO DA CHARRETTE

Charrette começou com um dia de orientação sobre o processo na escola Parque

Miami. Em seguida foi feita uma visita à vizinhança Pintassilgo. Planejadores de

Santo André e do SEMASA forneceram informações históricas, sociais, ambientais e urbanas

preliminares, no contexto da Pintassilgo e contexto histórico e ambiental da área de proteção

de mananciais e do Parque do Pedroso. Em seguida, houve uma introdução ao processo

conhecido como “charrette”, feita por arquitetos paisagistas da Univesidade da British

Columbia. Concomitantemente à orientação foi realizado um seminário onde os residentes

locais foram solicitados a priorizar seus desejos e necessidades, descrevendo suas idéias sobre

como melhorar a comunidade e a vizinhança. Os resultados desse seminário foram

incorporados ao “relatório do projeto” da charrette (um conjunto de requisitos-padrão,

previamente preparado; ver pp. 53-58) através de uma apresentação feita no inicio do evento

da charrete.

A visita ao local incluiu o reconhecimento de várias áreas com potencial para

ocupação ao redor da favela Pintassilgo, que poderiam ser consideradas para relocação

parcial (ou total) das aproximadamente 1.200 residências existentes.

Para o desenvolvimento da charrette foram organizadas quatro equipes, que tiveram

quatro dias para elaborarem projetos para o local. Baseados em instruções fornecidas pelo

relatório de projeto, as quatro equipes tiveram que responder a uma gama de problemas

apresentados pela área.

Assistência profissional especifica foi assegurada: peritos em vários aspectos do

planejamento de comunidades, recursos e meio ambiente foram convidados a participar da

charrette para fornecer orientações sobre os tópicos tratados no relatório de projeto. Uma

representante dos residentes forneceu informações sobre as condições de vida e os aspectos

que mais pressionavam os residentes na atual favela Pintassilgo. A participação dessa

representante da comunidade foi muito importante, pois ela também trouxe o resumo do

seminário realizado anteriormente com os residentes.

A realização da charrette em quatro dias teve como objetivo sintetizar o relatório de

projeto, a visita e as necessidades dos residentes em quatro visões ilustrativas e coerentes.

Ao final de quatro dias, cada equipe apresentou sua proposta de projeto a uma audiência

composta por residentes da Pintassilgo, líderes de comunidades em Santo André, autoridades

oficiais (presente inclusive o falecido Prefeito Celso Daniel), e público em geral.

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19 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A

Envolvida por uma população de aproximadamente 350.000 pessoas, a Represa Billings está sendo poluída diariamente por mais de 1.000 ton de esgoto sem tratamento e por descargas periódicas de esgoto industrial.

AS TRÊS QUESTÕES DA CHARRETTE

Charrette Pintassilgo tratou de uma série de problemas interligados relativos ao

contexto geral das áreas metropolitanas de proteção aos mananciais. Os três

tópicos apresentados nas próximas páginas, acompanhados dos objetivos propostos do GEPAM,

formaram a base para o relatório de projeto da charrette Pintassilgo (pg. 53-58). Todas as

equipes de projeto seguiram o relatório na formulação de suas propostas de projeto.

1 A integridade da área de proteção de manancial

Um tópico importante enfrentado pelos participantes da charrette foi a integridade

da área de proteção de manancial. Os reservatórios provêm não apenas energia hidrelétrica,

mas também água para consumo municipal e metropolitano – para beber e outros usos

domésticos para milhões de pessoas. A Represa Billings provê água para 1,1 milhões de

pessoas (levantamento feito em 1996), e a qualidade de sua água é classificada como baixa. A

qualidade da água na represa é diretamente ligada à quantidade, local e tipo de

desenvolvimento nas áreas de manancial nos arredores do reservatório. Estima-se que há

350.000 pessoas ao redor das margens deste reservatório, que está sendo poluído por mais de

1.000 toneladas de esgoto não-tratado por dia. Somando-se a isso, a poluição industrial é

periodicamente direcionada à represa, vinda do Rio Pinheiros, extremamente poluído. Este

rio é desviado para a Billings durante períodos de enchentes e também em períodos de seca,

quando suas águas são usadas para manter o reservatório a níveis que possam garantir a

produção de energia elétrica.

O conjunto de lei de Proteção aos Mananciais de 1975, que teve a intenção de

restringir o desenvolvimento nas áreas de mananciais, se provou ineficiente. Nos anos

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 20

As equipes de projeto exploraram maneiras de incorporar a “infra-estrutura verde” nas propostas de projeto como uma forma de reduzir os gastos com infra-estrutura e melhorar a qualidade ambiental.

subseqüentes à promulgação da lei houve uma desordenada onda de ocupação ilegal e

informal, provocando grande desenvolvimento urbano nas áreas de mananciais. Esses

desenvolvimentos são principalmente de dois tipos: favelas informais, e subdivisões “ilegais”.

Em 1997, as leis de proteção aos mananciais foram revisadas, e um processo foi iniciado para

que as comunidades locais assumissem um papel maior na determinação do uso do solo em

áreas de mananciais. A lei prevê um recuo de 50 metros a partir das margens dos

reservatórios, dentro do qual nenhum desenvolvimento é permitido. Entretanto, na

Pintassilgo (assim como em muitos outros lugares), as casas são construídas bem próximas à

beira d’água.

2 Uma ótica de infra-estrutura verde

Para abordar esses desafios complexos, as equipes de projeto foram encorajadas a

aplicar o conceito de “infra-estrutura verde”. Isso significa que espaços abertos e paisagismo

contribuem para múltiplos benefícios à comunidade, como a redução da incidência e efeitos

de enchentes, a redução de erosão do solo e da sedimentação das águas, o tratamento de

efluentes, a criação de áreas de recreação e caminhos seguros através da comunidade, e

oportunidades para se plantar hortas. As pesadas chuvas que são características da região de

São Paulo, combinadas com o solo relativamente impermeável de argila vermelha resultam

em uma significante erosão, acelerada pela perda da floresta nativa. Essa situação é

exarcebada pelo denso desenvolvimento urbano que cobre terrenos com áreas impermeáveis

e telhados, concentrando a vazão de água de chuva que provoca erosão. Nessas condições,

retenção de água de chuva em espaços abertos, combinada com mecanismo para estimular a

infiltração, são de importância crucial. Na ausência de infra-estrutura de esgotamento

sanitário, espaços abertos também podem ser usados para tratar efluentes.

No município de Santo André, áreas ao redor da represa Billings fazem parte de um

parque, o Parque do Pedroso, destinado a preservar porções da Mata Atlântica. Entretanto,

muito do desenvolvimento da favela já está dentro dos limites desse parque. Além disso, o

estado de São Paulo está planejando um anel rodoviário (Rodoanel) ao redor da metrópole,

uma auto-estrada que provavelmente cortará o parque em uma área adjacente à Pintassilgo.

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21 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Restaurar a ecologia ambientalmente sensível do Parque do Pedroso (esquerda) ao lado da favela (direita) foi um desafio importante apresentado pelos participantes.

Até a realização da charrette, o traçado exato desse Rodoanel era incerto, e havia vários

traçados opcionais sendo considerados. Os participantes da charrete tiveram que assumir um

traçado como parte de seu trabalho. Esse requisito teve um grande efeito na localização e

projeto da nova vizinhança. Duas das equipes foram solicitadas a incluir a rodovia em seu

redesenho da favela, enquanto que duas equipes assumiram que a rodovia se localizaria fora

da área de estudo, não afetando, portanto, a nova vizinhança.

3 Estabilidade da comunidade e qualidade de vida

Uma parte significante da charrete foi dedicada ao reconhecimento e formalização da

favela e seus arredores. Atualmente, mesmo quando casas são compradas e vendidas, não há

garantia de propriedade para residentes da favela, pois suas casas são construídas

ilegalmente, em terra pública ou privada cujos títulos de propriedade não estão garantidos.

Em adição a isto, a construção informal e irregular de casas pode resultar em condições

instáveis ou inseguras, criando riscos para os moradores. As casas são freqüentemente

expandidas, de forma descontroladas, e usando técnicas de construção baratas que correm

riscos de desmoronar. Como parte da reformulação, foi solicitado às equipes da charrette

considerar o planejamento da comunidade de forma a estimular a estabilidade de

propriedade para os residentes, e formas de construção que garantissem a qualidade e a

segurança das obras.

Bairros de baixa renda, especialmente na periferia de Santo André, estão geralmente

afastados de serviços e oportunidades de emprego. Foi pedido às equipes que considerassem

maneiras de facilitar o acesso da comunidade a serviços como escolas, comércio, transporte

público, saúde e serviços sociais. Além disso, as equipes deveriam considerar qual a melhor

maneira de dar aos residentes acesso a oportunidades de desenvolvimento econômico

comunitário. Essas oportunidades poderiam incluir o plantio de vegetais para o consumo da

família ou para a venda, assim como oportunidades para o desenvolvimento de produção e

venda em pequena escala de mercadorias e serviços dentro e além da comunidade local.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 22

Muitas das casas na favela são precárias, construídas com materiais inadequados, em áreas de encostas. Os moradores não tem títulos de propriedades, o que torna sua situação muito vulnerável.

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23 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

AS PROPOSTAS DAS EQUIPES

Esta seção contém o trabalho de cada uma das equipes. Os planos, projetos e o texto

refletem um trabalho em andamento, e não pretendem representar um plano completo para

o assentamento.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 24

A

Atrás, da esquerda para a direita: Luiz Carlos Mazzini; Raul Isidoro Pereira (Líder da Equipe); Haydee Melo; Thea Standerski; Newton José Barros Gonçalves; Daniela Ramalho; Selma Scarambone; Luciana TAvassos; Sylvia Dobry; Gisele Tanaka; Mariângela Portela (sentados, da esquerda) Mônica Nobeschi; Denise Pessoa

EQUIPE UM

vizinhança Pintassilgo como tantas outras, está localizada em um área de

manancial, uma reserva natural destinada a uso múltiplos. A legislação atual

permite uma ocupação de 25 hab/ha. Com essa densidade, o valor da terra deveria ser alto.

Entretanto, o valor da área decresceu significativamente quando ela se tornou a única opção

viável para a população metropolitana de baixa renda. Assim surgiram os assentamentos

informais. Porém, as pessoas não escolheram morar ali: “nós não viemos aqui por escolha...”

Essa situação dá origem a um conflito – e nosso desafio foi encontrar uma solução

sustentável para resolver esse conflito – uma solução que permitisse a comunidade continuar

a viver nessa área sem danificar a reserva natural.

Então,como chegar a essa solução? As pessoas são parte integral do meio ambiente;

portanto, o caminho para a sustentabilidade consiste em atingir um equilíbrio entre os

interesses que competem nesse cenário. Também acreditamos que propostas visionárias

podem ajudar a obter esse equilíbrio.

Propomos, então, em conjunto com os residentes, o reconhecimento, a consolidação

e o reforço de um novo objetivo para a vizinhança. Pintassilgo está longe do centro de Santo

André (aproximadamente 10 Km) e seus residentes não se vêem como parte da cidade. Nossa

proposta é salientar a identidade da vizinhança como uma parte integral da cidade de Santo

André – se uma célula não funciona (a vizinhança), o corpo (a cidade) se torna doente. Nosso

primeiro passo foi enfatizar as qualidades naturais da vizinhança e desenvolver conexões

claras para o parque adjacente, Parque do Pedroso: “nós queremos andar no Parque”. Com

essa conexão, emergem opções de recreação ligadas à água: contemplação, passeio a pé,

passeios de barco, pesca, natação. Portanto, a comunidade terá melhores possibilidades de

viver, não só de uma maneira mais digna, mas também de construir um relacionamento e uma

conexão integral com as comunidades vizinhas, assim como as mais distantes. Essa situação

também dá origem a opções de geração de renda para os residentes locais, através do

ecoturismo, por exemplo.

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25 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Um meio importante de se atingir essa estratégia é transformar água em uma

“parceira”, identificar os caminhos da água – de chuva, esgoto, riachos, nascentes – e

transformá-los em parte integral da estrutura do espaço aberto da vizinhança.

Nossa proposta respeita a lei da preservação ao longo das margens da represa Billings,

das nascentes e riachos, permitindo a recuperação do que já foi degradado.

Para apoiar essa parceria, propomos uma praça central, a praça da nascente, que

simbolizará a importância da água para a área. Ela também enfatizará a conexão simbólica

entre os grandes espaços verdes de ambos os lados da rua Pintassilgo, fazendo a presença da

natureza possível entre os edifícios.

De modo a aumentar a segurança e enriquecer a qualidade de vida propomos a

reclassificação, reorganização e rearranjo da área residencial. Mais ainda, propomos

consolidar a expansão do assentamento acomodando todos os residentes atuais dentro da

vizinhança, e estabelecendo habitações permanentes em áreas distintas. Antecipa-se que,

concentrando o desenvolvimento desse modo, tanto a segurança quanto a interação social

entre os residentes serão melhoradas, e assegurar-se-á que as áreas restantes sejam

recuperadas e preservadas. Essa consolidação começaria com a implementação do projeto

atual, mediante um acordo com os residentes. Acompanhando essa iniciativa haveria a

implementação de programas de educação ambiental, informando os benefícios das iniciativas

sustentáveis propostas para tratamento de esgoto, coleta de água de chuva, conservação de

energia e geração de renda. Como resultado, uma conscientização de assuntos relacionados a

sustentabilidade tornar-se-á parte integral da vida diária dos residentes.

Uma série de sistemas institucionais (creches, parque, pequenas empresas) proposta

para o centro da vizinhança, dará aos residentes acesso a serviços essenciais e permitirá aos

mesmos acompanhar as crianças em suas atividades diárias. Residências circundando o espaço

central assegurarão vigilância contínua sobre esse espaço, aumentando as condições de

segurança através do uso contínuo dos espaços públicos.

Em outros locais, a transformação de áreas, anteriormente ocupadas, em espaços

públicos prevê lugares para as pessoas se encontrarem, passearem, brincarem, ou apenas

passar o tempo e participar de atividades culturais. Também provê oportunidades para

geração de renda, promovendo a conservação através do uso.

A entrada para a Pintassilgo é como um microcosmo da inteira vizinhança. As

moradias mais baixas ocupam o lado sul das encostas, enquanto os edifícios de uso múltiplo,

de quatro pavimentos, estão situados em um nível mais baixo. A água tem grande importância

em ambos os lados da rodovia, com o lago do Parque do Pedroso a oeste e uma estação de

tratamento de esgoto através de alagados construídos (há outros no meio da vizinhança) à

leste. Na entrada há um moinho à vento simbolizando a sábia utilização da energia.

Em suma, nossa proposta atende à necessidade de preservar o meio ambiente,

levando em conta os problemas sócio-econômicos que a realidade brasileira apresenta. No

total, 1.338 unidades residenciais são oferecidas, abrigando 5.352 pessoas. Como resultado da

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 26

A estratégia de uso do solo é mostrada superposta à foto aérea. Azul escuro mostra a ocupação existente; vermelho, laranja e amarelo mostram áreas de densidade alta, média e baixa, respectivamente. Verde indica áreas revegetadas e azul claro indica onde a água de chuva é depositada para filtragem inicial através de alagados construídos.

consolidação residencial, a área de impermeabilização do solo foi reduzida de 23.6 ha para 10

ha; a área total impermeabilizada por ruas e edifícios foi consideravelmente reduzida

(aproximadamente 42% da área desenvolvida) e 33.000 mudas de árvores deverão ser

plantadas. Adicionalmente 7.2 ha de área vegetada serão adicionados, através de aquisição

de áreas privadas e 3.6 ha de floresta nativa serão designados reserva permanente.

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27 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A proposta apresentada pela Equipe Um está focalizada em torno da identidade, caráter e significado da comunidade Pintassilgo. A proposta enfatiza o potencial recreativo da comunidade, realçando as conexões evidentes entre a comunidade e o Parque do Pedroso (1). Esta ligação promove as opções recreativas para a região como um todo através de atividades de lazer relacionadas à água: contemplação, passeio, pescaria, canoagem, natação (2). A água é um elemento integrado à estrutura dos espaços abertos do plano e funciona como um elemento organizador do bairro através das áreas de tratamento de esgoto e água de chuva (3), riachos (4), e nascentes (5). A entrada para o bairro está proposta como um microcosmo da comunidade toda: moradias se desenvolvem ao longo das encostas (6), enquanto prédios de uso misto ficam localizados nas áreas mais planas (7). Toda a estrada de acesso está franqueada por água; um alagado construído (8) trata a água servida de um lado e do outro o lago (9) do Parque do Pedroso. A variedade de sub-vizinhanças com moradias de densidade baixa (10), média (11) e alta (12) mantêm os atuais moradores em suas casas durante a consolidação da expansão prevista. Para atender às necessidades de moradia da comunidade, para aumentar sua segurança e seu senso de bem-estar, alguns arranjos para instalações institucionais e espaços livres foram propostos, incluindo creches (13), parques infantis (14) e locais para a instalação de atividades econômicas comunitárias (15)

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 28

Moradias de baixa, média e alta densidade estão organizadas em forma de terraços ao longo das encostas e colinas.

Dois cortes mostram a relação entre assentamento e represa. Essa relação se dá através de uma cadeia de equipamentos para manejo da água que incluem: a captura da água dos telhados em cisternas de forma a filtrá-la diretamente no chão (ao invés de canalizá-la no subsolo); alagados construídos, revestidos com argila para prevenir vazamento antes da água estar suficientemente limpa; e estabilização das encostas com vegetação apropriada com raízes profundas para prevenir siltagem.

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29 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A sustentabilidade social está considerada através da configuração das casas e dos espaços abertos no centro do

bairro. As moradias existentes foram melhoradas e integradas às novas,

criando uma área central comunitária, a qual abriga uma creche, parque infantil

e instalações para manejo de águas de chuva. Na parte oeste propõe-se um

jardim comunitário.

Perspectiva mostrando o acesso da comunidade (mostrado do topo da página). Uma proteção de floresta protege a Represa Billings.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 30

A EQUIPE DOIS

Análise das características físicas da ocupação e sua inserção na paisagem

conduziram o grupo a adotar como princípio de “valor” e de “projeto” a interação

entre dois componentes principais: a dinâmica natural (topografia, hidrologia, vegetação

natural) com a dinâmica humana (disposição do assentamento, relações sociais e distribuição

dos equipamentos). Nossa aproximação começa com a suposição de que, mesmo nos

assentamentos mais precários, existem raízes, identidades e relações sociais que deixam

marcas no solo. Portanto, o projeto deve interpretar esse processo de tal forma que sejam

mantidas essas marcas, e ao mesmo tempo deve tentar conciliá-las com os processos naturais

do lugar onde está localizada a comunidade.

A espacialização destes princípios de valor e de projeto foram desenvolvidos partindo

de duas operações analíticas básicas. Primeiro analisamos o “caminho natural das águas”,

através do estudo das características hidrológicas do local, o que inclui mapear as

declividades, as bacias de drenagem, as nascentes, as áreas de inundação e as encostas. A

esses dados foram adicionados as áreas de proteção à represa (50m), córregos (30m) e

nascentes (diâmetro de 50m). Posteriormente, analisamos “o caminho dos homens” através

do estudo da disposição do assentamento e sua relação com os loteamentos adjacentes. A

superposição dessas duas bases sobre o local mostrou áreas de proteção, áreas que deveriam

ter a população deslocada e também os lugares onde poder-se-ia manter a população

existente ou acomodar as comunidades que fossem deslocadas, além da potencialização de

áreas verdes de lazer pré-existentes.

Estrutura da ocupação

A estrutura da ocupação está organizada ao longo da interseção de dois eixos

estruturais: um indo do norte a sul, consolidando a área já ocupada pela comunidade e

promovendo a conexão entre as vizinhanças adjacentes; e outro de leste a oeste, ligando as

Atrás, da esquerda para a direita: Ezia Neves; Sonia Atinco Giova; Samir José

Geleilette; Maria Lucia; Erica Tortorelli; Norma R. T.

Constantino; Marta Enokibara (líder da equipe); Isis Vidal

Marcondes; Isabela Muniz Barbosa; Maria Izabel Garcia;

Ludmira Moron

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31 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

áreas verdes de lazer pré-existentes, ou seja, o lago e os equipamentos de lazer do Parque do

Pedroso, a represa, e a área verde do bairro Recreio da Borda do Campo. O desenvolvimento

em formato “T” permitirá, simultaneamente, a integração e a restauração das áreas naturais

de recreação que estão atualmente separadas; a criação de uma zona ao longo do eixo norte-

sul onde deverão se concentrar os edifícios e a redefinição dos limites do Parque do Pedroso.

A ocupação linear para a comunidade Pintassilgo, utilizando áreas que já estão

ocupadas ou já foram desmatadas, cria uma estratégia que minimiza a quantidade de área a

ser desmatada e também o incômodo das pessoas residentes em relação ao processo de

reassentamento. O tratamento biológico das águas por alagados construídos (constructed

wetlands), adjacentes às áreas residenciais, tratam os esgotos e águas pluviais e ao mesmo

tempo, controlam a expansão urbana.

A nova ocupação está localizada onde há pouca vegetação e sobre uma área

relativamente plana. As moradias de baixa densidade estão situadas ao longo do eixo

principal norte-sul. Lotes maiores não são propostos, para maximizar a conservação das áreas

naturais e evitar a expansão urbana.

A proposta acomoda 1.320 unidades residenciais para uma população de 5.000 pessoas

acomodadas em edifícios multifamiliares e de uso misto. Localizados ao longo do eixo

principal norte-sul (rua Pintassilgo), os edifícios de uso misto têm usos comerciais e de

serviços no térreo. Este eixo também funciona como um corredor comunitário, abrigando

espaços cívicos e institucionais tais como escola, o Centro de Educação Ambiental e

cooperativas comunitárias. O Centro de Educação Ambiental poderá oferecer cursos, palestras

e atividades de grupo para construir a conscientização ambiental e criar mecanismos para

iniciativas em andamento (por exemplo, através da formação de monitores verdes). Desta

forma, o Centro irá gradualmente transformar atitudes e valores atuais em uma maior

conscientização, enquanto aumenta a responsabilidade local em relação aos problemas

ambientais em áreas de mananciais.

Estratégia para geração de renda

Como meio de estimular as oportunidades locais de geração de renda, programas

governamentais tais como o Banco do Povo, Reciclagem de Lixo, Programa de Alfabetização

MOVA, Programa Médico de Família e o Programa de Salário Mínimo deverão ser desenvolvidos

em parceria com os residentes locais. A isto pode-se adicionar um modelo de cooperativa,

desenvolvido como uma forma de apoiar a iniciativa local relativa às características naturais e

culturais: agricultura em pequena escala, pesca, apicultura, artesanato, etc.

Estratégia para a água

Os alagados construídos propostos deverão inibir a expansão urbana e viabilizar uma

alternativa de renda através da criação de peixes (nos próprios alagados), e a irrigação para a

produção local de alimentos na área sob os cabos de eletricidade (Linhão da Eletropaulo).

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 32

Este sistema de tratamento pode ser integrado ao sistema urbano assim que a revisão da Lei

dos Mananciais para a Represa Billings (atualmente sendo discutida) for posta em prática,

restringindo a descarga de efluentes na represa. Espera-se que a concentração proposta na

vizinhança, em conjunto com o manejo dos sistemas de monitoramento da qualidade da água

e ambiental, deverão melhorar significativamente a qualidade da água da represa.

Estrutura do espaço verde

O sistema de espaço verdes está estruturado ao redor dos fragmentos de floresta

remanescentes que estão ligados a um sistema de 3 corredores verdes contínuos:

1. O primeiro contorna as margens da represa, respeitando, na maioria dos casos,

muito mais do que os 50 metros requeridos pela legislação, o que aumentará

consideravelmente a biodiversidade ao redor da represa. Algumas trilhas também

são criadas para apoiar uma atividade de educação ambiental.

2. O segundo é um caminho-parque que liga as trilhas ao redor do lago do Parque do

Pedroso, as áreas verdes de recreação do Recreio da Borda do Campo e a represa;

e cria uma zona de transição e proteção entre a área a ser conservada e o

desenvolvimento proposto.

3. O terceiro é um sistema de corredores verdes ao longo do córrego existente e das

linhas de drenagem, que une os fragmentos de florestas existentes, as áreas

residenciais, os espaços públicos e as ruas, as áreas reservadas para hortas,

viveiros e pomares, e os alagados construídos.

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33 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A Equipe Dois propõe uma comunidade linear para a Pintassilgo, utilizando as áreas que estão ocupadas ou desmatadas. Essa estratégia minimiza o movimento de terra e a ruptura da vida dos moradores durante o processo de reassentamento. A Rua Pintassilgo existente continua a ser o eixo comercial e de serviços (1), integrado às novas moradias e aos serviços comunitários, tais como a escola (2). A nova ocupação está proposta na área plana (3). As áreas de baixa densidade estão situadas ao longo do eixo norte-sul (4). Os alagados construídos, adjacentes aos eixos residenciais funcionam como coletores das águas pluviais das casas (grey water), o “runoff”, e servem ao mesmo tempo como barreiras à expansão urbana (5). O sistema de espaço verdes está estruturado ao redor dos fragmentos de florestas existentes, e está ligado ao sistema de 3 corredores verdes contínuos: ao longo das margens da represa (6); no vale ao norte (ligando o lago e a represa) (7); e ao longo do riacho existente, que fica adjacente ao eixo principal ao eixo comunitário (8). Essas áreas trazem benefícios ambientais, recreativos, e para horticultura. Os centros comunitários e as escolas que implementarão programas de educação ambiental, viveiros de plantas, e os programas sociais e de desenvolvimento econômico estão localizados no centro da comunidade (9) próximo às “hortas comunitárias” sob o Linhão da Eletropaulo (10).

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 34

Acima Os componentes essenciais do plano da Equipe Dois estão mostrados nestes desenhos conceituais. A comunidade torna-se fortemente interligada ao Parque Miami, assumindo uma forma linear ao longo do topo da colina, com pequenas ocupações cercadas por cinturões verdes e um vale central que inclui alagados construídos ligados entre si.

Abaixo O ideal para a preservação do manancial e a preservação da sua cobertura florestal e a proteção da qualidade de água na represa. Entretanto, a condição atual é de degradação de ocupação descontrolada. A proposta é aceitar o número atual de moradias, mas implementá-las de forma o mais próxima possível às condições através de uma comunidade mais sustentável.

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35 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

À direita Plano detalhado de um dos conjuntos propostos mostrando as moradias em

terraços em encostas suaves. O arranjo das vias reduz corte no terreno e erosão. À

esquerda há uma serie de alagados construídos para tratamento biológico do

esgoto e águas pluviais. Sob a linha de alta tensão (parte de cima do plano) são

criadas hortas para consumo e venda.

À esquerda Cortes esquemáticos mostrando a proposta para moradias em terraço (acima) e o tratamento das águas (abaixo). Ruas são paralelas à encosta. Os níveis existentes e propostas são mostrados ao longo da relação com as ruas públicas com as frentes das casas. Isso permite arranjos flexíveis e maximiza as conexões entre espaços de vivências.

À direita Canaletas plantadas ao longo das vias coletam e permitem a infiltração das

águas pluviais das ruas de forma natural. Isso diminui a velocidade das águas e

aumenta a infiltração, reduzindo tanto a erosão quanto a poluição levada à represa.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 36

O

Atrás, da esquerda para direita: Sérgio Mann

Gonçalves; Luiz Henrique R. Zanetta (líder da equipe); Patrícia Troster Rodrigues

Alves; Andréa Oliveira Villela; Villela Marcos; Reinaldo

Alfredo Caetano Bascchera; Luciana Lessa Simões

Pescarini; Mayra De Mattos Moreno; Vivian M. Lucato;

Maria Aparecida Felicia Laruccia; Adriana. Não está na

Foto: Luiz da Silva

EQUIPE TRÊS

conceito de desenho urbano sustentável envolve a compreensão dos sistemas

biofísicos , sócio-econômicos e culturais. Tendo isso em mente, os princípios sob os

quais baseamos nossa proposta são:

1. acomodar os atuais residentes, obedecendo aos requisitos da legislação vigente

sobre conservação do meio ambiente. As famílias que estão presentemente

assentadas em áreas ambientalmente sensíveis deverão ser reassentadas;

2. prover uma gama de tipos habitacionais que atendam às características sócio-

econômicas da população;

3. incorporar sistemas alternativos de manejo de água de chuva e esgotos e reduzir a

circulação de água em caminhos públicos e fundos de lotes individuais;

4. aumentar as instalações públicas, especialmente as relacionadas à educação,

saúde e recreação;

5. proteger o manancial da represa Billings;

6. restaurar e melhorar as áreas ambientalmente sensíveis degradadas;

7. apoiar iniciativas econômicas locais e que sejam gerenciadas pela comunidade

local;

8. expandir e integrar o Parque do Pedroso com a represa, criando uma melhor

definição de limites entre o Parque e a área urbana;

9. identificar áreas privadas dentro do Parque para aquisição pela Prefeitura, a fim

de incorporá-las ao Parque, ampliando sua área original;

10. utilizar o sistema de tratamento de esgoto existente enquanto se desenvolve

sistema alternativo de manejo de águas de chuva e esgotos;

11. melhorar os acessos à comunidade e áreas circundantes, e minimizar o impacto do

Rodoanel nos sistemas humanos e ecológicos.

Esses princípios foram aplicados nos projetos apresentados nas páginas a seguir: O

projeto pode ser dividido nos seguintes tópicos:

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37 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Desenho Urbano

Propomos aumentar a densidade na parte sul da vizinhança Pintassilgo, nas ruas 5 e 6,

onde já é intensa a ocupação urbana, adjacente ao loteamento Parque Miami. A circulação de

pedestres deverá ser melhorada através de vielas e calçadas e uma malha de ruas locais de

várias larguras. Pretendemos melhorar as condições para preservação do Parque através de

uma melhor definição dos seus limites, relocando as moradias existentes dentro do Parque

para uma área já urbanizada, e eliminando o acesso que o atravessa. A vegetação ao longo

das margens da represa será restabelecida através da relocação da população da zona de

proteção de 50m para diversas áreas, dependendo das diferentes necessidades dos residentes.

As áreas ao longo das margens da represa e a entrada do Parque serão reprojetadas, provendo

uma área de recreação e encorajando os usuários a preservar essas áreas.

Moradias

Aproximadamente 50% das moradias no meio da Pintassilgo – adjacente ao Parque

Miami – serão mantidas. O sistema viário será reprojetado ao mesmo tempo que habitações

existentes serão melhoradas. Novas áreas residenciais são propostas para as famílias

assentadas em áreas identificadas para preservação. As tipologias habitacionais incluem

unidades verticalizadas, localizadas a meio caminho das encostas das áreas com inclinação

acentuada, e outras próximas aos limites das áreas protegidas e da represa. Lotes unitários

com 48m2 terão seus fundos limitados pelas áreas de preservação. Os residentes serão

encorajados a plantar árvores frutíferas e outras espécies passíveis de serem utilizadas para

geração de renda, auxiliando no controle à ocupação das áreas recuperadas.

Transporte

Um sistema de transporte coletivo serve a toda a área do assentamento. As principais

ruas existentes na atual área do assentamento são alargadas e ligadas ao novo sistema viário.

Instalações institucionais nas áreas vizinhas incluindo, por exemplo, as escolas dentro do

Parque Miami e Recreio da Borda do Campo, tornar-se-ão acessíveis por esse transporte

coletivo.

Instalações Sociais

A proposta inclui, como solicitado pela comunidade, áreas a serem reservadas para 3

creches e escolas de ensino médio e fundamental, assim como um centro comunitário. Este

último poderá ser utilizado como local de reuniões de associações dos residentes, eventos da

comunidade e para cursos e seminários de capacitação para a população local.

Infra-estrutura

Para a definição da parte do assentamento que deveria ser mantida, consideramos as

características topográficas da área ocupada e a possibilidade de atendimento da população

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 38

residente pelas redes de infra-estrutura existentes no loteamento vizinho. A proximidade do

assentamento à estação de reversão já instalada no Parque Miami levou-nos à premissa de

que o esgoto gerado será coletado prioritariamente em um sistema tradicional e enviado a

esta estação. Um sistema de alagados construídos está proposto como modelo para um

sistema alternativo de tratamento de efluentes.

Rodoanel

O alinhamento do anel viário proposto será mudado para acompanhar a linha das

margens da represa, diminuindo assim seu impacto sobre a população existente. O leito da

rodovia será elevado 20m acima da cota existente (785m acima do nível do mar) para

minimizar o impacto ao meio ambiente, permitir vegetação sob a rodovia, evitando cortes e

aterros, minimizando o ruído, e assegurando que o acesso à água não seja bloqueado pela

rodovia.

Conclusão

Há necessidade de se revisar as divisões tradicionais entre: cidade/campo,

urbano/rural, represa/parque, represa/cidade, favela/loteamento, quantidade/qualidade,

ocupação/preservação, recreação/sobrevivência, verde/cinza, pobreza/riqueza.

Chegamos a uma proposta que gera mudanças significativas no relacionamento entre a

comunidade Pintassilgo e as áreas naturais circunvizinhas, assim como na legislação vigente,

que apresenta desafios a conceitos mais sustentáveis de planejamento e projeto urbano.

Esperamos revisar os conceitos de “exploração” e “esgotos” em termos do manejo e

utilização de áreas naturais para geração de renda e/ou alimentos e a reutilização da água.

Esperamos também resolver os desafios impostos pelas atuais restrições, tanto físicas

(Rodoanel), quanto legais (legislação vigente), e encará-los como oportunidades para criar

soluções alternativas para obter a sustentabilidade do ecossistema.

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39 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A Equipe Três escolheu remover a ocupação urbana do centro da área e intensificar a ocupação em áreas já urbanizadas. A estrada existente, que cruza a área do Parque, foi removida e áreas previamente degradadas foram recuperadas. Aproximadamente 50% das moradias existentes foram mantidas, onde a comunidade se limita com o Parque Miami (1). O restante da população foi relocada em unidades em forma de terraço, localizadas ao longo das porções planas da encosta (2). Pequenos lotes residenciais (aprox. 48m2) terão os fundos às áreas preservadas (3). A circulação através da área é facilitada através de uma rede formada por ruas locais, unidas a uma rua principal melhorada (4), ligando a nova comunidade ao Parque Miami e ao Recreio da Borda do Campo. Um sistema convencional de tratamento de esgotos é agregado aos alagados construídos que formam um modelo para tratamento alternativo de efluentes (5). Finalmente, para reduzir o dano ambiental oriundo do anel rodoviário proposto (6), o leito carroçável é elevado acima da altura máxima da margem permitindo uma maior diversidade de vegetação e assim evitando excessivo movimento de terra, minimizando o ruído e a poluição visual.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 40

Plano conceitual mostrando o uso do solo e o projeto estruturador da comunidade, em relação ao contexto geral da área. Verde claro indica onde a ocupação foi removida e onde a vegetação foi restabelecida e melhorada. Laranja claro, adjacente ao Parque Miami, indica onde as casas existentes foram mantidas e recuperadas. À leste, ao longo do topo da colina, estão moradias de baixa e media densidade, mostrada em roxo escuro e claro, respectivamente. O sistema viário está mostrado em laranja.

A localização e a forma das moradias novas e recuperadas respeita a topografia e as restrições ambientais. Casas de 2 pavimentos, unifamiliares, mostradas em rosa, estão integradas aos edifícios de 4 e 6 pavimentos, multifamiliares, mostradas em laranja. Um ponto central da vizinhança é uma das 3 creches proposta para a área. As moradias são cercadas em 3 lados por vegetação, o que ajuda na estabilidade das encostas e forma uma zona de proteção à volta da represa. A localização de edifícios na “borda” que limita áreas habitacionais e as áreas de preservação auxilia o controle da ocupação proposta

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41 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Corte das novas residências. Os edifícios estão assentados ao longo do declive, mantendo a vista e maximizando a exposição do sol. A coleta e manejo da água fará parte do projeto dos edifícios. A água de chuva das coberturas será levada a cisternas no sub solo de cada edifício onde poderá ser reciclada para irrigação e/ou ser distribuída em áreas próximas para absorção lenta pelo solo.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 42

O sistema proposto de vias prevê vias exclusivas para pedestres. (Figura superior) e ruas que acomodam todo tipo de tráfego (figura inferior). Obstáculos para redução de velocidade, arborização e recessos estreitos de passagem asseguram que os pedestres se sintam seguros e confortáveis. Faixas gramadas próximas as margens das ruas, coletam e transportam as águas de chuva para áreas de infiltração, localizadas no centro de cada bloco.

Corte de uma vizinhança residencial. As ruas existentes serão estreitadas segundo várias larguras, de modo a reduzir o tráfego local sem comprometer movimentação ou conectividade. Como mostrado, ruas com largura de 3,5m permitem tráfego nos dois sentidos num sistema de filas no estilo “espere a sua vez”, com calçadas estreitas de ambos os lados, enquanto que uma rua com 5m de largura permite 2 faixas carroçáveis, lado a lado. Gramas de raízes profundas plantadas nas canaletas lineares ao longo das ruas auxiliam na remoção de poluentes do “runoff”, antes de serem arrastados pela água que flui para as áreas de infiltração internas ao bloco (mostrado em detalhe à esquerda).

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43 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Sistemas humanos e naturais coexistem ao longo das margens da represa. Trilhas de baixo impacto ambiental, cuidadosamente alinhadas dentro da zona de proteção, não permitem grande perturbação na vegetação, mantendo uma cobertura contínua das copas das árvores. Em alguns lugares, essas trilhas levam a plataformas à beira da água, permitindo vistas da paisagem, ou oferecem lugares para se sentar e pescar. A vegetação plantada ao longo das margens estabiliza o solo e previne erosão.

Vista de topo de um alagado construído no extremo norte do local. Concreto reciclado e alvenaria de demolição formam um contraste expressivo para a vegetação, e criam rotas de acesso através dos alagados. Isso provê não apenas uma vívida lembrança de usos passados do local, como também mostra os alagados como uma importante demonstração de tratamento alternativo de águas servidas e esgotos.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 44

N EQUIPE QUATRO

ossa proposta parte da fixação de três aspectos básicos: 1) a proposta do governo

do Estado de São Paulo da passagem do Rodoanel Metropolitano sobre o local; 2)

respeito à dinâmica social desenvolvida durante os anos de consolidação do núcleo; 3)

necessidade de reversão do quadro de degradação e desrespeito ao manancial da Billings.

Uma visão rápida das imagens aéreas da favela mostra que a devastação das matas

ocorre não somente para a edificação de unidades residenciais, mas, acima de tudo, para a

manutenção de quintais. A história do desenvolvimento dos assentamentos de baixa renda nos

tem mostrado que o adensamento das áreas muitas vezes ocorre pelas relações familiares,

onde na impossibilidade de aquisição de um lote próprio, o filho que se casa constrói mais

cômodos dentro do lote dos pais, expandindo-se a construção inicial até o limite de ocupação

possível; familiares vindos de outras localidades também são recebidos, reforçando a idéia do

“sempre cabe mais um”. Diante desse fato, o controle dessa expansão tornou-se o quarto

foco de nosso trabalho.

O Rodoanel e seu Impacto

De todos os elementos estranguladores do projeto, sem dúvida o Rodoanel

Metropolitano é o que maior impacto causará à paisagem. Pelas suas dimensões imensas

ficará impraticável o seu convívio de forma harmoniosa com a paisagem natural.

Entendemos que uma maneira de minimizar este impacto será situá-lo mais

internamente ao parque, numa cota tão alta que permita a vida transcorrer à parte de sua

existência, por baixo de seus tabuleiros.

A adoção de largos cinturões verdes garantirá a comodidade da população lindeira nos

locais onde esta rodovia tocar o solo.

Atrás, da esquerda para direita: Carmem Silvia Maluf; Aylton Silva Affonso; Luiz Fernando de Oliveira (líder da equipe); Tatiana Morita; Ana Letícia Prado; Regina Helena Vieira Santos; Vitória Rossetti; Lia Martucci de Amorim; Pacita Lopez. Não está na foto: Ana Paula de Freitas; Sebastião Ney Vaz

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45 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Avaliação da Área

Após a análise da legislação incidente sobre a área de estudo, bem como da infra-

estrutura física, fluxos existentes e condições de matas, elaboramos uma série de mapas, que

sobrepostos nos mostram quais as áreas aptas à ocupação. Alguns fatores a respeitar foram:

. Restauração das margens da represa;

. Restauração das matas ciliares;

. Não ocupação de áreas com mais de 45% de declividade.

Tipologias e Estética Urbana

Uma premissa considerada fundamental do projeto foi a adoção da verticalização

como norma a seguir. A verticalização permite, pelo adensamento da área, a liberação de

porções de terreno para restauração das matas. Assim, blocos de edifícios multifamiliares

com quatro pisos foram propostos. A adoção destes blocos trás a vantagem de impedir

aquelas ampliações indesejadas.

Visando também dinamizar a estética urbana e garantir a satisfação de diversos

arranjos familiares, uma série de “vilas” fechadas, com unidade autônomas de dois ou três

pavimentos, foi adotada. Este arranjo, com as casas voltadas para vias de pedestre e o

veículos estacionados ao longo das vias externas, cria lugares seguro para as crianças

brincarem, aumenta as interações sociais e a identidade da vizinhança. As unidades

residenciais estão localizadas em terraços ao longo da encosta, para reduzir movimentos de

terra, maximizar a exposição ao sol e garantir uma dinâmica mais coerente com a topografia

do local. Tais unidades permitirão o abrigo de até duas famílias – casas sobrepostas – para

satisfação das “expansões familiares” e recepção de “agregados”. Poderão também servir à

adoção de pequenos comércios e serviços no térreo, como o bar, a venda etc., soluções tão

encontradas nos núcleos de favelas.

Rua Pintassilgo e os Três Núcleos

Detectadas as áreas aptas à ocupação, optamos pela distribuição do novo

assentamento em três núcleos, distribuídos ao longo do eixo norte-sul, marco da evolução da

Pintassilgo, e agora reforçado pela inserção do Rodoanel. O outro eixo a ser consolidado é o

“caminho da escola”, que liga a Pintassilgo ao bairro Recreio da Borda do Campo, ao norte,

caminho das crianças que se dirigem à escola de segundo grau, ali localizada. Os três núcleos,

embora com a mesma linguagem, possuem características distintas e complementares:

1. Núcleo central

O núcleo central, a leste, é o que possui mais aptidão aos encontros sociais; aí estão

localizados, além dos blocos de quatro pisos, as pequenas vilas, a creche, o centro

comunitário, a cooperativa, o posto de atendimento municipal, o pequeno comércio

local e o centro de desenvolvimento de programas municipais. Estes equipamentos

estão localizados em torno de uma praça, no eixo da Rua Pintassilgo. Esta nova

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 46

centralidade será o marco da mudança para uma nova realidade: local de festas e

encontros cívicos. As vilas estarão dispostas a partir do centro, adaptados à encosta,

de maneira a liberar as belezas visuais e garantir salubridade. Os blocos de edifícios

de quatro pisos estão localizados paralelamente à Pintassilgo, tendo como pano de

fundo o morro, a mata e o Rodoanel, criando um visual ascendente da represa em

direção ao céu.

2. Núcleo de entrada

Neste núcleo os edifícios de quatro pavimentos estão encostados no pé dos morros,

tendo-os como pano de fundo, de forma a não obstruir a visão no nível de observador.

Dois edifícios de um pavimento, em relação direta com a rua, reforçam a noção de

entrada no núcleo: um será o mercado popular, que se prestará ao escoamento de

produtos produzidos no assentamento e o outro trará uma série de salas para

prestação de serviços: imobiliária, serviços profissionais, centro de turismo ecológico,

posto de empresa de ônibus. Uma ampla praça marca esta centralidade: recebe e

atrai a atenção para o novo assentamento que surge.

3. Núcleo habitacional

O terceiro núcleo, ao sul, se presta somente à habitação. Ele recebe as famílias que

faltam, completando um total de 1.340 famílias abrigadas. Por estar próximo à área

urbanizada do Parque Miami, lança mão de sua infra-estrutura e funciona como elo de

transição para o assentamento; ao seu lado, sob a linha de transmissão de energia,

encontra-se a cooperativa de produção de hortaliças, que fornecerá legumes e

verduras frescas a baixo custo. Rumo a norte, em direção ao núcleo central,

encontra-se a escolinha de esportes, que tirará as crianças da rua, criando o hábito da

disputa saudável e desenvolvendo indivíduos bem formados.

O Centro de Educação Ambiental

Um último e importante equipamento presente em nossa proposta é o Centro de

Educação Ambiental. Localizado no caminho da escola, num espaço retirado e tranqüilo, sua

função será despertar a consciência ecológica e preservacionistas das crianças e demais

moradores da região, mostrando, inclusive, o imenso potencial turístico da área de

mananciais. Como acessório a este centro uma grande trilha se desenvolve, margeando a

represa e ligando o Parque Miami, ao sul, com o Recreio da Borda do Campo, ao norte.

Atividades turísticas, de pesca e esportes aquáticos aí se desenvolverão. O “caminho da

escola” ficará, assim, também valorizado.

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47 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Estrutura Ambiental

Uma série de soluções alternativas garantirá a retenção das águas de chuva e

tratamento das águas servidas, de maneira a permitir seu tratamento biológico; assim, além

da restauração das matas ciliares e da restauração das matas da margem da represa, ruas

com um mínimo de solo impermeável serão adotadas, com passeios verdes que permitirão a

infiltração das águas (ver esquema). Parte destas águas serão dirigidas para as lagoas de

retenção dispostas ao lado e sob o Rodoanel, com a intenção de garantir um tempo maior

para a infiltração. Ao lado das lagoas de retenção, numa região mais protegida e interna ao

Parque, um sistema de alagados construídos e propostos; parte de suas águas servirão à

irrigação do viveiro de espécies nativas, que serão aí produzidas para abastecer os programas

de restauração das matas.

Ideologias

O que se pretende com estas ações é resgatar a pureza original das águas, a beleza

das matas e a fauna; mostrar às pessoas as pecularidades e possibilidades do lugar; deixar

claro que com um certo cuidado e alguns critérios é possível habitar e conviver com harmonia

com o ambiente natural; despertar a consciência de que preservar é a única maneira de viver,

tendo a natureza para usufruir.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 48

O plano da Equipe Quatro está orientado no eixo norte-sul, com 3 conjuntos (blocos) de vilas ao longo da rua principal (rua Pintassilgo) (1). Este eixo é o principal acesso e a intenção é que consolide o assentamento existente e promova ligações com o Parque Miami ao sul. Esta equipe escolheu também ligar o Parque do Pedroso a oeste com a represa a leste, em um corredor florestado contínuo (2). Essa conexão, junto com uma série de alagados construídos ao norte (3), forma um sistema verde integrado, ligado por trilhas recreativas e caminhos junto à represa (4). Esse esquema inclui o Rodoanel proposto, colocando-o a oeste da comunidade (5). Essa forma estabelece uma barreira rígida para o Parque, e permite que a comunidade seja ligada às margens da represa por trilhas. As margens da represa deverão ser reflorestadas com plantas nativas (6), da mesma forma que as encostas mais íngremes. Um sistema de alagados construídos para o tratamento de água servida e esgoto está posicionado ao longo do limite oeste da comunidade (7), sob e ao lado do Rodoanel, chegando ao complexo maior de alagados ao norte da área. (3) Esse sistema limpa as águas pluviais antes que ela atinja a represa. Os equipamentos comunitários (incluindo escolas, creches, etc) estarão localizados em cada um dos núcleos, com a maior densidade concentrada junto à rua principal. (8) Hortas comunitárias deverão ser implementadas sob o “Linhão da Eletropaulo”, produzindo alimentos para consumo local e para venda através de micro-empresas.

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49 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

A Equipe Quatro analisou a área de estudo e seus arredores de acordo com certos parâmetros. Esses parâmetros incluem as condições da floresta existente (a) as encostas com mais de 45°, consideradas excessivamente íngremes para ocupação (b) a localização de corpos d’água, riachos e nascentes (c) e a proposta do Rodoanel (d).

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 50

Vista do plano, elevação e perspectiva mostrando o arranjo das casas, reunidas em blocos, perpendiculares às ruas. Esse arranjo cria um conjunto de casas voltadas aos caminhos de pedestres e aos espaços de estacionamento, com os carros parados em pequenas áreas ao longo das ruas. Isso permite também criar espaços seguros para as crianças brincarem, longe do tráfego, e estimula a interação social e a identidade da vizinhança. As unidades de moradias são em forma de terraços ao longo das encostas, para maximizar a exposição ao sol, reduzir o movimento de terra e permitir arranjos flexíveis para diversas famílias.

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51 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Três cortes mostrando a relação proposta entre o Rodoanel e o assentamento Pintassilgo. A altura do Rodoanel está abaixo dos topos das colinas existentes (a) reduzindo o impacto visual dessa rodovia tanto quanto possível. Entretanto, nas áreas mais baixas entre as colinas (b)(c), a altura da rodovia permite o tráfego local e passagens de pedestres. Isso facilita as conexões “verdes” entre a comunidade, os parque e as margens da represa. A localização do Rodoanel serve como limite entre a comunidade e os parques, funcionando como barreira à expansão indiscriminada do assentamento, e como um limite estável para o Parque do Pedroso.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 52

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53 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

U

APÊNDICE

O Relatório dos parâmetros de projetos da Charrette

m dos mais importantes elementos de uma charrette é o relatório de projeto. O

relatório de projeto captura os desafios principais apresentados pelo terreno e

aqueles que surgem ao se discutir políticas locais, regionais e estaduais no tocante ao futuro

uso do solo e à proteção ambiental da área. Esse relatório também traduz estes desafios em

objetivos a serem atingidos. Estes objetivos podem ser tanto quantitativos (como acomodar

um numero específico de pessoas no terreno) ou qualitativos (maximizar a infiltração das

águas pluviais).

A charrette Pintassilgo foi centrada em três tópicos interligados:

1. manter a integridade da área de proteção aos mananciais;

2. restabelecer a integridade do Parque do Pedroso e da paisagem;

3. atender a estabilidade e melhora da qualidade de vida da comunidade.

1) A Charrette começa com uma introdução ao local feita por especialista em assuntos ambientais e sociais. 2) Equipes da Charrette trabalham intensivamente durante quatros dias na síntese do projeto. 3) Participantes da Charrette visitam a área da Pintassilgo. 4) Apresentação pública das quatros alternativas para a Pintassilgo.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 54

Dados da Área Área Total 200 hectares 500 acres

N° Proposto de

Residentes

Mínimo 5.000 Máximo 10.000 p

N° Proposto de Moradias Mínimo 500 Máximo 1.200

Densidade Residencial Mínimo 200 unid/ha Máximo 300 unid/ha

Áreas de Proteção de Manancial Contenção

Urbana

Prever áreas de consolidação

e expansão da malha urbana,

definindo seus contornos e

desenhando a beira da

represa e a interface

urbano/rural.

Infra-

estrutura

Verde

Manter, criar e conectar

espaços livres públicos,

machas de vegetação,

parques e áreas de

recreação. Manter e

melhorar o acesso público

aos cursos d’água e seus

corredores de vegetação,

onde for ambientalmente

sustentável.

Controle de

Enchentes

Examinar o potencial

inerente ao conceito de

‘rede de água verde’ onde o

sistema viário, infra-

estruturas e sistema de

águas pluviais for compatível

com a integração com os

cursos d’água e sua

vegetação.

Saneamento Viabilizar a eficiência de

projetos que protejam e

recuperem áreas

ambientalmente sensíveis

e/ou degradadas (ex.

várzeas, fundos de vale,

erosões, nascentes, áreas de

recarga de água subterrânea

e de solos frágeis e

instáveis) enquanto

mantenham ou otimizem seu

desempenho ecológico (como

habitats de espécie nativas,

hidrologia e relevo).

Estrutura Urbana

Áreas de expansão

• Usar o plano como a base de futuras expansões (onde for

desejável) assegurando situações variadas, especialmente ao

longo das bordas e interfaces entre a cidade e a represa e demais

áreas de preservação.

Transporte público

• Manter a capacidade atual e localização de terminais e linhas de

ônibus e peruas, mas sugerindo maneiras de reconfigurar suas

funções para melhor integração com as estratégias de projeto.

Abastecimento de água

• Considerar como melhor acomodar um reservatório adicional para

atender a população prevista.

Controle de Enchentes

• Considerar a reconfiguração dos espaços livres, praças, pátios,

estacionamentos, etc., para contenção e tratamento das águas

pluviais.

Saneamento

• Reconfiguração de áreas alteradas da várzea em alagados

construídos para tratamento de águas residuários e pluviais.

Parques, áreas institucionais, praças, e corredores verdes

• Prever a utilização de espécies nativas e de processos de sucessão

vegetal, minimizando tratamentos paisagísticos de alta

manutenção, como gramados.

Rede/Infra-estrutura de verde e água

• Explorar maneiras de reduzir o custo imediato e a longo-prazo da

rede de infra-estrutura urbana, procurando formas de trabalhar a

favor e não contra os processos naturais da área;

• Prever sistemas alternativos de manejo das águas pluviais.

Proteção ambiental

• Demonstrar a relação entre uso, custo e compatibilidade

ecológica na forma dada aos espaços livres;

• Aplicar conceito de restauração da cobertura vegetal original;

• Reafeiçoar a topografia aos contornos originais sempre que

possível.

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55 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

Qualidades

Estéticas

Estabelecer Tipologias de

edificações, espaços livres

públicos e de circulação que

respondam aos eixos básicos

estruturadores da paisagem

urbana, bem como aos

elementos referenciais da

paisagem.

Centros

Comunitários

/ Serviços

Trabalhar e resolver a

aparente contradição entre

usos urbanos intensos e a

conservação dos recursos

naturais.

Diversas

Densidades e

Diversidade

de Moradias

Integrar a paisagem natural

com a construída, minorando

os possíveis impactos das

intervenções, mantendo a

visualização dos elementos

referenciais da paisagem.

Ruas e

Circulação

Criar espaços adequados

para o pedestre,

ecologicamente responsáveis

e socialmente diversificados.

Volumetria

das

Construções

Assegurar que uma ampla

gama de densidades

habitacionais, tipologias e

formas de propriedade que

atendam uma grande

variedade de indivíduos e

arranjos familiares estejam

incluídos no plano.

Espaços livres para todos os usos

• Reduzir o impacto do automóvel.

• Permitir que todos os modos de transporte se integrem num

sistema contínuo.

• Criar ruas que viabilizem a arborização, acomodem a drenagem

das águas, fomentem a interação social e façam a circulação de

pedestres ser universalmente acessível.

• 20% da área será reservada para “ruas verdes”.

• Necessidades básicas (como comércio e serviços de transporte

público) em um raio máx. de 300m à 400m.

• Tráfego Maximo futuro de veículos não deve exceder o corrente

nas vias principais.

Valores perceptivos e visuais

Diversidade de uso

• Mistura de residências, comércio e serviços, escritórios e

indústrias compatíveis.

• Explorar usos relacionados como em edifícios de usos mistos.

• Explorar opções que combinem moradia e trabalho como um meio

de aumentar escolhas e o uso das ruas e espaços livres.

• Reduzir em 40% a média dos deslocamentos com veículos

motorizados como resultado de um padrão de uso misto e

integrado.

• 100% das moradias dentro de um raio de 350-400 metros de lojas

e serviços.

Habilidades e eficiência no uso residencial

• Prover uma variedade de escolha de tipos e densidades de

moradias.

• Melhorar a qualidade e oferta dos espaços livres nas áreas já

ocupadas.

• Atender as necessidades da população com moradias e

equipamentos específicos e acessíveis.

Densidade Residenciais

Na relocação de Favelas

• 500 – 1200 unidades

• 45 - 60 m2 / famílias/unidades

• 100 – 300 hab/ha.

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 56

Prover uma mistura

integrada de atividades em

cada vizinhança que inclua

oportunidades de interação

social e econômica.

Habitações para todas as faixas de renda

• Prever moradias para todas as idades, estilos de vida, renda e tipos de

famílias.

• Criar oportunidade para moradias com espaços livres integrados.

• Considerar formas alternativas de habitação como trabalho e moradia

integrados, cooperativas e co-habitação.

• Atingir um mínimo de 55% como unidades familiares com crianças.

• Uma proporção de unidades habitacionais deve integrar trabalho e

moradia.

Estacionamento

• Prever em média uma vaga por unidade.

• Permitir o estacionamento ao longo do meio-fio.

• Considerar o estacionamento compartilhado entre usos adjacentes em

rodízio de horários.

• 1 vaga por unidade habitacional.

• Necessidades de estacionamento para demais usos de acordo com

previsão de usuário/área.

“Centro de Bairro” / Ruas Comerciais”

• Considerar as localizações mais apropriadas que incorporem uma

variedade de espaços livres que propiciem encontros e trocas.

• Atividades comerciais e de serviços que atendam tanto os moradores

locais como visitantes.

• Incorporar áreas comerciais e industriais existentes.

• Prever ente 10% e 20% para espaço livre comercial.

• Prever 5% para espaço institucional.

Plano de quadra/tipologias de edificaçoes

• Estabelecer um plano modelo de quadra que ilustre a configuração

mais adequada para a otimização da integração física dos espaços

livres e edificados (na escala do plano deve-se mostrar mais setores

que edificações).

Equipamentos comunitários e sociais

• Serviços sociais devem atender às necessidades de toda a comunidade

e prover a integração entre os antigos e novos moradores.

• Propor a expansão dos equipamentos de recreação e lazer de forma a

atender a demanda adicional integrando socialmente os novos

moradores à comunidade original.

• Escolas e creches devem ter acesso às áreas de recreação ativa e

contemplativa.

Creche

• Raio ideal para atendimento de 300m a 400m com mínimo de 150m2

de espaço livre.

Escolas

• 1° Grau raio ideal para atendimento de 600m a 1000m.

• 2° Grau raio ideal para atendimento de 5000m.

Delegacia

• Raio ideal para atendimento de 5000m.

Unidade Básica de Saúde

• Raio ideal para atendimento de 5000m.

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57 MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA

APÊNDICE 2

Equipe Um Sylvia Dobry Newton José Barros Gonçalves Luiz Carlos Mazzini Haydee Melo Mônica Nobeschi Raul Isidoro Pereira (Líder da Equipe) Denise Pessoa Mariângela Portela Daniela Ramalho Selma Scarambone Thea Standerski Gisele Tanaka Luciana Tavassos Equipe Dois Isabela Muniz Barbosa Norma R. T. Constantino Marta Enokibara (líder da equipe) Maria Izabel Garcia Samir José Geleilette Sonia Antico Giova Maria Lucia Isis Vidal Marcondes Ludmira Moron Ezia Neves Erica Tortorelli Equipe Três Adriana Patrícia Troster Rodrigues Alves Luiz da Silva Reinaldo Alfredo Caetano Bascchera Sérgio Mann Gonçalves Maria Aparecida Felicia Laruccia Vivian M. Lucato Villela Marcos Mayra De Mattos Moreno Luciana Lessa Simões Pescarini Andréa Oliveira Villela Luiz Henrique R. Zanetta (líder da equipe) Equipe Quatro Aylton Silva Affonso Lia Martucci de Amorim Ana Paula de Freitas Luiz Fernando de Oliveira (líder da equipe) Pacita Lopez Vitória Rossetti Carmem Silvia Maluf Tatiana Morita Ana Letícia Prado Regina Helena Vieira Santos Sebastião Ney Vaz

Consultores Ermínia Maricato (FAU-USP)

Caio Boucinha (SMMA-DEPAVE, SP) Rosana Denaldi (Depto. Habitação, Santo André)

Eduardo Luiz de Oliveira (UNESP/Bauru – Depto. Engenharia Civil) Jandira Líria Biscalquini Talamoni (UNESP/Bauru – Depto. Ciências Biológicas)

Paulo Kageyama (Esaln Piraciacaba) Jorge Oseki (FAU-USP)

Renata Paoliello (NAP-PLAC)

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MANANCIAIS SUSTENTÁVEIS DESENHO DA PAISAGEM URBANA PARA ASSENTAMENTO DE BAIXA RENDA 58