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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS MANANCIAIS SUPERFICIAIS DO PROJETO PÓLO DE FRUTICULTURA IRRIGADA SÃO JOÃO - PORTO NACIONAL TO Fabrício de Oliveira Ramos 1 Caroline Lopes Barros 1 Iracélia Coêlho de Sousa 1 Leila da Costa Barros 1 Rochele Barboza Cezar 1 Graduandos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental da Faculdade Católica do Tocantins 1 . 1. [email protected] 2. [email protected] 3. [email protected] 4. [email protected] 5. [email protected] Orientador: Prof° Msc.GIULLIANO GUIMARÃES RESUMO Dentre os recursos disponíveis para o homem, a água é um dos mais importantes. Ela é um dos elementos indispensáveis para as diversas atividades humanas, além de fazer parte direta e indiretamente do metabolismo vegetal e animal. A relação entre o uso da água e a capacidade hídrica é direta e contribui para agravar sua escassez, o que leva à geração de conflitos entre seus diversos tipos de usos e usuários. A agricultura é considerada a base para o sustento, sendo de grande importância para a economia do país. No entanto, através da irrigação, pode-se alterar a qualidade das águas superficiais em conseqüência do uso de defensivos agrícolas, onde o escoamento superficial ou infiltração podem influenciar nos resultados dos parâmetros comparativos analisados. Este trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade de água dos mananciais situados no Pólo de Fruticultura Irrigada São João, município de Porto Nacional TO. A pesquisa foi realizada através da avaliação dos parâmetros físico-químicos da água de três Córregos. Este estudo seguiu a metodologia da CETESB (2005) e da Apha (2005). Os resultados revelaram que todos os Parâmetros estão de acordo com a resolução 357/05 do CONAMA. PALAVRAS-CHAVE: Qualidade da água, Parâmetros físico-químicos, Mananciais superficiais.

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS MANANCIAIS

SUPERFICIAIS DO PROJETO PÓLO DE FRUTICULTURA IRRIGADA

SÃO JOÃO - PORTO NACIONAL – TO

Fabrício de Oliveira Ramos1

Caroline Lopes Barros1

Iracélia Coêlho de Sousa1

Leila da Costa Barros

1

Rochele Barboza Cezar1

Graduandos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental da Faculdade Católica do Tocantins1.

1. [email protected] 2. [email protected] 3. [email protected] 4. [email protected]

5. [email protected]

Orientador: Prof° Msc.GIULLIANO GUIMARÃES

RESUMO

Dentre os recursos disponíveis para o homem, a água é um dos mais importantes. Ela é um dos elementos indispensáveis para as diversas atividades humanas, além de fazer parte direta e indiretamente do metabolismo vegetal e animal. A relação entre o uso da água e a capacidade hídrica é direta e contribui para agravar sua escassez, o que leva à geração de conflitos entre seus diversos tipos de usos e usuários. A agricultura é considerada a base para o sustento, sendo de grande importância para a economia do país. No entanto, através da irrigação, pode-se alterar a qualidade das águas superficiais em conseqüência do uso de defensivos agrícolas, onde o escoamento superficial ou infiltração podem influenciar nos resultados dos parâmetros comparativos analisados. Este trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade de água dos mananciais situados no Pólo de Fruticultura Irrigada São João, município de Porto Nacional – TO. A pesquisa foi realizada através da avaliação dos parâmetros físico-químicos da água de três Córregos. Este estudo seguiu a metodologia da CETESB (2005) e da Apha (2005). Os resultados revelaram que todos os Parâmetros estão de acordo com a resolução 357/05 do CONAMA.

PALAVRAS-CHAVE: Qualidade da água, Parâmetros físico-químicos, Mananciais

superficiais.

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1.0 INTRODUÇÃO A água é um bem finito fundamental e imprescindível para a existência da

vida na Terra, ocupa aproximadamente 70% da superfície terrestre, deste total cerca

de 97% está concentrada nos oceanos, restando somente 0,3% de água doce. A

água está presente em toda a Natureza, nos estados sólido, líquido e gasoso e se

renova através de processos físicos do ciclo hidrológico.

Os recursos hídricos possuem atributos para múltiplos fins, sendo eles:

abastecimento público, doméstico e industrial, geração de energia elétrica,

navegação, dessedentação de animais, irrigação, conservação da flora e da fauna,

recreação, lazer, harmonia paisagística, entre outros. Eles recebem, diluem e

transportam esgotos domésticos, efluentes industriais e resíduos das atividades

rurais e urbanas.

A inter-relação entre o uso da água e a capacidade hídrica é direta e contribui

para agravar sua escassez, o que leva à geração de conflitos entre seus diversos

tipos de usos e usuários. Portanto, exige-se a adoção de medidas que garantam a

manutenção de suas características mais puras, de forma que seja efetivamente

própria para o consumo.

A situação dos corpos hídricos em relação aos efeitos antrópicos pode ser

verificada através dos parâmetros que medem a qualidade da água, que é

determinada por suas características físicas, químicas e biológicas, variando de

acordo com seus diversos fins.

A agricultura é considerada a base para o sustento, sendo de grande

importância para a economia do país. No entanto, através da irrigação, pode-se

alterar a qualidade das águas superficiais em conseqüência do uso de defensivos

agrícolas, onde o escoamento superficial ou infiltração podem influenciar nos

resultados dos parâmetros comparativos analisados.

Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade da

água dos mananciais superficiais do Pólo de Fruticultura Irrigada São João em Porto

Nacional – TO.

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2.0 REVISÃO DE LITERATURA

Dentre os recursos disponíveis para o homem, a água é um dos mais

importantes. Ela é um dos elementos insubstituíveis para as diversas atividades

humanas, além de fazer parte direta e indiretamente do metabolismo vegetal e

animal.

Segundo Tundisi (2003) a água nutre as florestas, mantêm a produção

agrícola, assim como, a biodiversidade nos sistemas terrestres e aquáticos.

Portanto, os recursos hídricos superficiais são recursos estratégicos para a vida do

Planeta Terra.

A importância dos corpos hídricos está descrita na Lei 9.433 da Política

Nacional de Recursos Hídricos que define, dentre seus objetivos:

“assegurar à atual e às futuras gerações a

necessária disponibilidade de água, em padrões

de qualidade adequados aos respectivos usos”

(Cap. II, Art. 20).

Os recursos hídricos são utilizados para múltiplos usos, os consuntivos:

abastecimento doméstico, industrial, irrigação e dessedentação de animais e os não

consuntivos: recreação e lazer, conservação da flora e fauna, geração de energia

elétrica, transporte e navegação e diluição de despejos. (BASSOI & GUAZELLI,

2004).

De acordo com Setti et al (2001) os usos consuntivos são os que retiram a

água de sua fonte natural, diminuindo suas disponibilidades quantitativas, espacial e

temporalmente; e os não consuntivos, referem-se aos usos em que praticamente a

totalidade da água utilizada, retorna à fonte de suprimento, podendo haver alguma

modificação no seu padrão temporal e de disponibilidade quantitativa.

Telles e Domingues (2006) ressaltam que a agricultura e a pecuária,

principalmente a irrigação de culturas, são as principais atividades do grupo dos

usos consuntivos da água, que juntas utilizam 65% do total.

A participação percentual do setor agrícola vem caindo ao longo do tempo,

sendo que a tendência para 2020 é de uma redução de apenas 5%. (TELLES &

DOMINGUES, 2006).

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A disponibilidade hídrica vem sofrendo ameaças em quantidade e qualidade,

em decorrência da degradação ambiental advinda das atividades humanas. Tucci

(2006), afirmou que o aumento populacional agrava a poluição doméstica e

industrial, criando condições ambientais inadequadas e propicia o desenvolvimento

de doenças de veiculação hídrica.

Segundo Sperling (2005), a poluição das águas é a adição de substâncias ou

de formas de energia que direta ou indiretamente, alteram a natureza do corpo

hídrico, prejudicando os legítimos usos que dele são feitos. Tundisi, (1999) apud

Pontieri et al (2008) afirma que as alterações na quantidade, distribuição e qualidade

dos recursos hídricos, ameaçam a sobrevivência humana e as demais espécies do

planeta.

A resolução n.º 357/05 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA)

apresenta os diversos parâmetros para o enquadramento dos corpos hídricos

brasileiros e é uma ferramenta importante e decisiva para o monitoramento da

qualidade da água, além de ser um referencial para a gestão dos recursos hídricos.

Para Araújo e Santaella (2001) a qualidade da água é um conjunto de

características físicas, químicas e biológicas que possam atender aos múltiplos usos

a que se destina. Hespanhol (2001) fala ainda, que as condições geológicas e

geomorfológicas da cobertura vegetal da bacia de drenagem, do comportamento dos

ecossistemas terrestres e de águas doces e das ações do homem, também são

determinantes para a qualidade da água.

De acordo com o relatório realizado pela Geo Brasil Recursos Hídricos em

2007, juntamente com a Agência Nacional das Águas (ANA), Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e Ministério do Meio Ambiente (MMA), o

Brasil detém cerca de 12% da quantidade de água doce superficial do mundo,

entorno de 1,5 milhões de m³/s, sendo portanto, privilegiado em termos de recursos

hídricos.

Segundo a ANA (2005), o Estado do Tocantins possui grande riqueza hídrica

concentrada na Bacia Araguaia-Tocantins, apresenta relevância nacional em termos

de expansão agrícola, no cultivo de grãos e um grande potencial hidroelétrico,

destaca ainda, a região como uma das áreas de maior interesse, para a expansão

econômica nas próximas décadas.

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3.0 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Localização geográfica da área Com o enchimento do reservatório da UHE Luis Eduardo Magalhães

ocorrido em fevereiro de 2002, houve a necessidade de deslocamento dos

moradores ribeirinhos para áreas mais afastadas, em um processo denominado

reassentamento. O Pólo de Fruticultura Irrigada São João, surgiu originalmente

como reassentamento Córrego da Prata.

A área em estudo compreende o Pólo de Fruticultura Irrigada São João,

situado no município de Porto Nacional – TO, localizando-se entre as bacias do

Córrego Chupé e do Ribeirão São João na Bacia Hidrográfica do Rio Tocantins,

como mostra a Figura 1.

A área do Projeto corresponde a 5.128,8 hectares, onde 3.224 hectares estão

sendo utilizados para plantação de espécies frutíferas.

Figura 1. Mapa de localização dos pontos de amostragem da área de influência do Pólo de

Fruticultura Irrigada São João, Porto Nacional – TO.

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3.2. CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS AMOSTRAIS

Foram realizadas coletas em três pontos amostrais, localizados dentro do

perímetro do Projeto. Os pontos foram caracterizados das seguintes formas:

Córrego Prata (PM1 – régua), coordenadas UTM 22L 0788490m E e

8843994m N – está localizado na Área de Reserva Legal do Pólo de Fruticultura e

possui como características as matas ripárias conservadas.

Córrego Prata (PM2 – Canal), coordenadas UTM 22L 0790632m E e

8841724m N – está localizado à montante do ponto PM1 e do canal principal de

irrigação que cortou este manancial.

Córrego Retiro (PM3 – Ponte), coordenadas UTM 22L 0793101m E e

8846388m N. Sua mata ripária está bem conservada, porém o local da coleta se

encontra degradado por apresentar usos antrópicos, como captação d’água e uso

recreacional.

3.3. COLETAS E ANÁLISES

As coletas foram realizadas nos meses de junho, setembro e dezembro de

2008: período seco (junho e setembro) e período chuvoso (dezembro). Elas foram

realizadas de acordo com a metodologia da Companhia Ambiental do Estado de São

Paulo - CETESB (2005) e Standard Methods for the Examination of Walter and

Wastewater APHA (2005).

Para a obtenção e o armazenamento das amostras de água foram utilizados

frascos de polietileno (2L), previamente lavados com água deionizada e água do

local. A amostragem compreendeu a coleta de água bruta a aproximadamente 10

cm, com a boca do frasco contra a corrente completando-o por inteiro, deixando

FIGURA 3: PM2 – CÓRREGO PRATA (CANAL) FONTE: Autor

f

FIGURA 4: PM3 – CÓRREGO RETIRO (PONTE) FONTE: Autor

FIGURA 2: PM1 – CÓRREGO PRATA (RÉGUA) FONTE: Autor

f

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apenas um pequeno espaço vazio para a homogeneização da amostra. Terminada a

coleta, as amostras foram identificadas e mantidas em caixa de isopor, após isso, foi

efetuado o transporte até o laboratório, onde foram refrigeradas a 4°C até o

momento de execução das análises.

As análises foram realizadas de acordo com as metodologias de

espectrofometria descritas pela Apha (2005), utilizando um espectrofotômetro HACH

DR 4000U. Os parâmetros temperatura, turbidez, pH, condutividade e sólidos totais

dissolvidos foram obtidos in loco, por meio de uma sonda multiparamétrica (HORIBA

U-22XD).

4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Temperatura A temperatura da água é um dos parâmetros físicos mais importantes nos

estudos dos ecossistemas aquáticos, uma vez que influencia diretamente a cinética

dos processos metabólicos oxidativos vitais, como a respiração; a solubilidade dos

gases dissolvidos, como o oxigênio; a densidade da água que interfere na mistura e

movimentos das massas de água e interage com todas as demais propriedades da

água (QUEIROZ, 2003).

Observa-se com os resultados de temperatura nos pontos amostrais da figura

5, que há uma variação entre 23,1ºC a 28,0ºC. Nos meses de junho e setembro

Figura 5. Valores de temperatura na área estudada

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período da estação seca na região foram registradas as maiores elevações na

temperatura.

Vale ressaltar que o ponto PM3 – Ponte, apesar de ter a menor profundidade

e maior cobertura vegetal degradada, teve os menores resultados entre 23,1ºC a

25,9ºC. Isso se deve principalmente ao período do dia em que foi realizada a

medição, pela manhã. Tais resultados foram encontrados dentre os fatores que

influenciam a temperatura da água, descritos pela CETESB (2005) que afirma que a

temperatura superficial é influenciada pela latitude, altitude, estação do ano, período

do dia, taxa de fluxo e profundidade.

.

4.2. Condutividade, Sólidos Totais Dissolvidos e Turbidez

A figura 6 mostra os resultados de sólidos totais dissolvidos, condutividade e

turbidez durante o período de junho, setembro e dezembro de 2008 nos três pontos,

iniciando-se com o ponto PM1 – régua, ponto PM2 – canal e PM3 – ponte.

Figura 6. Valores de Sólidos Totais Dissolvidos (a), Condutividades (b) e Turbidez (c) nas áreas estudas.

6a 6b

6c

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De acordo com a figura 6a, os valores de condutividade variam de 3,00 a 7,39

µS/cm2. O mês de junho obteve o índice de maior condutividade com média de 6,12

µS/cm2, seguido por setembro com 3,66 µS/cm2 e dezembro com 3,56 µS/cm2.

O decréscimo da condutividade sugere que não ocorreu dissolução de sais e

sólidos totais dissolvidos, essa afirmação é constatada na relação das figuras 6a e

6b. Quanto mais sólidos dissolvidos estiveram presentes na água, maior será a

condutividade. Os pontos PM2- canal e PM3- ponte, obtiveram os mesmos valores

de condutividade, tanto para o mês de setembro como para o de dezembro.

Cabe ressaltar, que as concentrações de condutividade não indicam algum

tipo de impacto no meio. A resolução 357/05 do CONAMA não preconiza limites

aceitáveis de condutividade.

O parâmetro Sólidos Totais Dissolvidos está diretamente relacionado com a

condutividade, ele variou entre 3,55 ppm e 2,00 ppm. O resultado do mês de junho foi

proporcional ao resultado da condutividade, os demais meses tiveram valores

similares entre si.

Entre os pontos analisados, o PM3-ponte registrou os maiores valores de

sólidos totais dissolvidos em todos os meses, portanto, sugere-se que isso ocorreu

devido ao grau de degradação das suas margens, o que ocasionou o carreamento de

sedimentos para o corpo hídrico. Com a interpretação dos resultados, foi possível

observar, que a concentração de sólidos totais dissolvidos foi praticamente o dobro da

condutividade.

Conforme os dados disponíveis na figura 6c, a turbidez variou de 37,0 NTU a

0,0 NTU. Ao contrário dos sólidos totais dissolvidos e da condutividade, a turbidez foi

crescente ao longo dos meses, principalmente no PM3- Ponte, onde a mata ripária

está degradada. O ponto PM1- régua registrou o menor valor de turbidez em

decorrência de sua conservação. Vale lembrar, que o limite de turbidez estabelecido

pela Resolução CONAMA 357/05 para rios de Classe II é de até 100 NTUs, o qual

não foi excedido em nenhuma das amostras efetuadas neste trabalho.

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4.3. Oxigênio Dissolvido e Demanda Bioquímica de Oxigênio

As concentrações de oxigênio dissolvido (OD) tiveram uma variação de 5,50

mg/L a 11,94 mg/L, esses teores de OD estão de acordo com o estabelecido pela

resolução CONAMA 357/05 para rios de classe 1, 2 e 3.

Segundo a figura 7a, houve um crescimento da concentração de OD temporal

nos três pontos. No mês de dezembro (período de chuva), foram registradas

elevadas concentrações de OD, fato que pode ter relação direta com a precipitação

ocorrida na região neste período. Scandolera et al. (2001) também encontrou

resultados semelhantes em épocas de chuva.

No ponto PM3 – ponte, a concentração de OD teve um crescimento

significativo ao longo dos meses estudados, tal fato pode estar relacionado com a

menor profundidade do córrego, luminosidade intensa e ventos, fatores que

permitem a troca de oxigênio entre a atmosfera e o fluxo de água, contribuindo

assim, para a oxigenação do meio.

Nas figuras 7a e 7b, evidencia-se que o oxigênio dissolvido e a demanda

bioquímica de oxigênio possuem uma correlação inversamente proporcional entre si,

ou seja, à medida que o oxigênio eleva sua concentração, a DBO diminui. Latuf

(2004) afirma que a DBO é proporcionalmente inversa a OD, ou seja, quanto menos

oxigênio estiver presente no meio para estabilização da matéria orgânica, maiores

serão as taxas de DBO.

Os resultados descritos nas figuras acima mostram que existe um equilíbrio

no meio aquático, pois águas poluídas apresentam baixa concentração de oxigênio

dissolvido, isso ocorre em decorrência do consumo de OD pelos microorganismos,

na disponibilidade de matéria orgânica em excesso, no entanto, elevada

Figura 7. Valores de Oxigênio Dissolvido (a) Demanda bioquímica de oxigênio (b) nas áreas estudadas

7a 7b

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concentração de OD indica água limpa e de boa qualidade para os diversos usos,

que são descritos pela resolução 357/05.

Com relação a DBO5,20 na figura 7b, verificou-se uma média de 2,3 em todos

os resultados. O mês de junho registrou a maior média com um total de 3,0 de

DBO5,20, seguido do mês de setembro com 1,93 e dezembro com 1,96,

respectivamente.

Nos dois últimos meses, a DBO manteve valores similares nos três córregos,

indicativo de que não houve introdução de matéria orgânica capaz de causar

perturbação ao meio, ou seja, a quantidade de matéria orgânica existente ou

introduzida é menor do que a capacidade de assimilação do corpo hídrico, tal fato

corresponde à correlação inversa entre OD e DBO visualizado pela figura 7.

Portanto, as amostras ficaram com níveis dentro do estabelecido pelas

exigências da resolução 357/05, que preconiza um valor de até 5 mg/L para os

corpos hídricos de classe 2.

4.4. pH

Segundo Mota (2008), o potencial hidrogeniônico (pH), representa o equilíbrio

entre íons H+ e íons OH-, onde o pH inferior a 7 é ácido, o pH igual a 7 é neutro e o

maior do que 7 é alcalino.

Conforme os resultados aferidos na figura 8, o pH apresentou média de 5,7

(levemente ácido). O mês de junho apresentou a maior concentração de pH, seguido

Figura 8. Valores do Potencial Hidrogeniônico (pH) nas áreas estudadas.

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por setembro e dezembro respectivamente. Observa-se que no ponto PM3 - ponte,

ocorreu a maior elevação de pH, ficando próximo da neutralidade.

Os pontos PM1 - régua e PM2 - canal, mantiveram variações e valores

semelhantes em todos os meses analisados, o que indica um equilíbrio nessa

microbacia.

4.5. Nitrogênio

4.5.1. Amônia, Nitrito e Nitrato

A figura 9 mostra os resultados de amônia, nitrato e nitrito, durante o período

de junho, setembro e dezembro de 2008 nos três pontos.

As concentrações do íon amônia tiveram uma variação de 0,019 a 0,181

mg/L. O mês de junho foi o que teve a maior concentração de amônia com uma

média de 0,296 mg/L, seguido de dezembro com 0,265 mg/L e setembro com 0,128

mg/L.

Figura 9. Valores de Amônia (a), Nitrito (b) e Nitrato (c) nas áreas estudadas.

9a 9b

9c

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O ponto PM3 – ponte apresentou uma redução de amônia ao longo dos

meses. Em junho houve uma concentração significativa se comparado com os

demais resultados, possivelmente, ocorreu algum tipo de poluição.

Existe uma estreita relação do resultado elevado de amônia com a menor

concentração de oxigênio dissolvido no mesmo, ou seja, à medida que a

concentração de amônia foi elevada, decresceu o oxigênio, figura 9a e figura 7a.

Esteves (1998) comenta que altas concentrações de íon amônio, poderão

influenciar fortemente na dinâmica do oxigênio dissolvido do meio, uma vez que para

oxidar 1,0 miligrama do íon amônio, são necessários cerca de 4,3 miligramas de

oxigênio. Este autor enfatiza ainda, que concentrações de 0,25 mg/L ou superiores a

esta, afetam o crescimento dos peixes e superiores a 0,5 mg/L são letais para 50%

dos mesmos. As concentrações encontradas nos três córregos estão abaixo do

limite preconizado pela Resolução CONAMA nº357/05, para classe I e II.

A concentração de nitrito dos pontos amostrais revelou uma variação de

0,0001 a 0,0039, com média de 0,0014 mg/L. Nota-se que no mês de dezembro

ocorreram os maiores teores, seguido por setembro e junho. No ponto PM2 - canal,

verificou-se a maior concentração de nitrito no mês de dezembro (0,0039 mg/L) e no

ponto PM3 - ponte, observou-se a menor concentração no mês de setembro

(0,000.1mg/L) figura 9b. Tal fato pode estar correlacionado com a concentração de

oxigênio dissolvido elevado neste ponto, figura 7a. Esteves (1998) comenta que o

nitrito é encontrado em baixas concentrações em ambientes oxigenados.

Os valores amostrais revelam concentrações insignificantes, se comparadas

a resolução CONAMA nº357/05, que preconiza 1,000mg/L para as águas de classe I

e II.

Nas análises realizadas, as concentrações de nitrato oscilaram de 0,1 a 1,5

mg/L. Nota-se que o mês de setembro registrou valores acima do esperado em

todos os pontos amostrais. O ponto PM3 - ponte, semelhantemente aos outros

parâmetros, teve a maior concentração de nitrato. Os resultados encontrados de

nitrato em todos os pontos amostrais estão dentro do limite estabelecido pela

Resolução CONAMA nº357/05, que preconiza para água de classe I e II até 10

mg/L.

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5.0 CONCLUSÕES

Com base no trabalho realizado, conclui-se que:

Os valores encontrados de temperatura nos pontos amostrais informam

que há um equilíbrio no meio, diretamente influenciado pela estação

seca e chuvosa e pelo período do dia. A resolução 357/05 não

estabelece limites para tal parâmetro.

As concentrações de condutividade foram relativamente baixas,

indicando pouca dissolução de sais e sólidos. O ponto PM3 – ponte

mostrou valores acima dos demais, provavelmente existe relação deste

resultado com a degradação da mata ripária. Para tal parâmetro, a

resolução 357/05 do CONAMA não preconiza limites aceitáveis.

No parâmetro sólidos totais dissolvidos, as concentrações encontradas

foram baixas em todos os pontos amostrais, porém, o ponto PM3 –

ponte foi o que apresentou a maior concentração.

Foram encontrados valores de turbidez dentro do limites estabelecidos

pela resolução 357/05 do CONAMA em todos os pontos amostrais.

Destaca-se que o ponto PM3 – ponte apresentou a maior concentração

no mês de dezembro, isto se deve provavelmente, devido ao período

chuvoso, aliado à falta de mata ripária neste ponto.

De acordo com as análises realizadas, o ambiente em estudo mostrou-

se bem oxigenado com valores dentro dos limites estabelecidos pela

resolução 357/05 do CONAMA.

Os valores encontrados para DBO em todos os pontos amostrais estão

de acordo com os limites preconizados pela resolução 357/05 do

CONAMA.

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Os valores de pH obtidos em todos os pontos das amostras, indicam

que as águas em estudo se encontram levemente ácidas.

Para os parâmetros amônia, nitrito e nitrato, as concentrações

encontradas em todo o período amostral, encontram-se de acordo com

os limites da resolução 357/05 do CONAMA para águas de classe II,

mostrando assim, que o ambiente está conservado.

O ambiente em estudo no que se refere à qualidade da água, encontra-

se em bom estado de conservação. No entanto, o monitoramento

limnológico contínuo, faz-se necessário para garantir a sua qualidade e

conservação.

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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