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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos,Margarida Duarte, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.:218855472; Fax: 218855473. [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - A semana de... Luis Santos16 - Opinião D. Manuel Linda18- Entrevista D. Gilberto Reis24- Dossier Diocese de Setúbal46- DNPJ

48 - Internacional54 - Cinema56 - Multimédia58 - Estante60 - Vaticano II62 - Agenda64 - Por estes dias66 - Programação Religiosa67 - Minuto YouCat68 - Liturgia70 - Fundação AIS72 - Intenção de oração Elias Couto74 - Liberdade de Escola Jorge Cotovio78 - LusoFonias

Tema do dossier da próxima edição:Bento XVI

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

D. Gilberto Reis,25 anos de bispo[ver+]

Posse canónicado ordináriocastrense[ver+]

Apelos ao fim daviolência[ver+] D. Manuel Linda|Paulo Rocha|EliasCouto|Padre Tony Neves|JorgeCotovio

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Mais do que redes de fios

Paulo RochaAgência ECCLESIA

O Papa Francisco publicou a sua primeiraMensagem para o Dia Mundial dasComunicações Sociais. Como noutrascircunstâncias, insiste nos valores e atitudes quetêm marcado o seu pontificado: encontro,proximidade, ternura, periferias, diálogo.Ao olhar os desenvolvimentos tecnológicos e apresença da Igreja, das mensagens doEvangelho nas redes digitais, Francisco inscrevede imediato a marca da humanidade emambientes que são muito mais do que virtuais. Asredes digitais são um “lugar rico de humanidade”.O Papa é firme ao sentenciar que todo esse“continente” não pode ser considerado apenasuma “rede de fios”, mas uma rede “de pessoashumanas”.É sugestiva na mensagem do Papa a analogiaentre a parábola do Bom Samaritano e acomunicação. Para Francisco, a história queJesus conta depois do escriba lhe perguntar“quem é o meu próximo” ilustra o conceito deproximidade, traduzindo a capacidade de umapessoa se tornar semelhante ao outro. Tanto dosque estão na periferia da estrada, feridos, comoos que percorrem as “estradas digitais”,“congestionadas de humanidade, muitas vezesferida”.“Quem comunica faz-se próximo”. De que forma?De novo, como na parábola: “não se trata dereconhecer o outro como um meu semelhante,mas da minha capacidade para me fazersemelhante ao outro”.

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É por causa deste programa que acomunicação não pode permanecerna lista dos assuntos “pendente”, ouconsiderados “a tratar” nas sobrasdo tempo das instituições, tambémda Igreja Católica.Na Mensagem para o Dia Mundialdas Comunicações Sociais, o Papapede “energias frescas” e“imaginação nova” para transmitirmediaticamente a “beleza de Deus”.Desafios colocados pelo PapaFrancisco numa altura em que namarca Ecclesia surgem novasapostas nas diferentes presençasmediáticas: na agência de notícias,no semanário digital, no programade rádio e nos programas detelevisão. Comum a todas está adeterminação em dar passos noimperativo de “fazer-se próximo” detodas as realidades, de todas aspessoas.As novidades vão surgirprogressivamente ao longo daspróximas semanas (num projeto derenovação que termina na últimasemana de Maio, quando seapresentar o Dia Mundial dasComunicações Sociais) e incluemnovos conteúdos e sobretudo novasformas de os produzir e distribuir.A aquisição de recursos, técnicos

e humanos, para mostrar a ação demulheres e homens que inspiram oseu quotidiano no Evangelhopermitirá revelar muitos acontecimentos pelamediação da imagem, pela narrativana primeira pessoa.A renovação em curso na marcaEcclesia vai notar-se também pelomaior relevo dado a espaços deopinião, como o demonstram oscomentários no programa Ecclesiana Antena 1 ao domingo, a partir docontributo de um painel decolaboradores. No semanário digital,quatro bispos e quatro leigosescrevem mensalmente, um emcada semana, traduzindo em textosde opinião pontos de vista sobretemas em debate público. Já naRTP2, o programa Ecclesia propõerubricas relacionadas com a açãosocial (à terça-feira), a formaçãocristã (à quarta), a família (à quinta)e a Bíblia (à sexta).Entre muitos projetos sonhados,permanece sempre essa certezatambém afirmada pelo Papa: “Acomunicação é uma conquista maishumana do que tecnológica” e nãodepende tanto de "truques ouefeitos especiais", mas de nos"fazermos próximo, com amor, comternura, de quem encontramosferido pelo caminho”.

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Grafiti em Roma © LUSA

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“Os militares reclamam a minhaentrada, não só os capelães, masmilitares católicos, alguns dos quaisjá conheci há 30 anos, quandotambém prestei assistência religiosano Exército, e outros que fuiconhecendo.”D. Manuel Linda, bispo das ForçasArmadas e de Segurança, emdeclarações à Agência Ecclesia,24/01/2014 “O Parlamento tem aresponsabilidade da fiscalização daacção do Governo e, portanto, eujulgo que o Parlamento poderia tertido no passado uma pronúnciamais forte sobre esta matéria,nomeadamente no que diz respeitoà fiscalização deste tipo decontratos e deste tipo de obras”.Sérgio Azevedo, relator da comissãoparlamentar sobre as parceiraspúblico-privadas, em entrevista àRádio Renascença, 28/01/2014

“A Constituição, matriz fundadora danossa República, não foi suspensa.Os portugueses revêem-se nomodelo do Estado social de direito equerem que este seja preservadonas suas linhas essenciais”.Aníbal Cavaco Silva, Presidente daRepública, durante a cerimónia deabertura do ano judicial, 29/01/2014 “Um dos efeitos colaterais de níveiselevados de desemprego jovem évermos as pessoas a dizerem:'Estas grandes empresas não têmnada para mim'. Já não funcionaaquele modelo antigo de contratosocial em que se ia trabalhardurante 40 anos para uma grandeempresa. Pensa-se: 'Se eu queroum emprego hoje, é melhor começareu mesmo a fazer as coisas'." Jimmy Wales, fundador daWikipédia, em entrevista ao jornalPúblico, 29/01/2014

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Novo bispo das Forças Armadastomou posse canónicaO bispo das Forças Armadas e deSegurança, D. Manuel Linda, tomouposse canónica do cargo para oqual foi nomeado pelo PapaFrancisco a 10 de outubro de 2013,sucedendo a D. Januário TorgalFerreira.A cerimónia, a 24 de janeiro,aconteceu durante a reunião geralde capelães militares que decorreuem Fátima, e o prelado admitiudificuldades no que diz respeito àdefinição da sua situação comcapelão-chefe no Serviço deAssistência Religiosa das ForçasArmadas e das Forças deSegurança. “Os militares reclamama minha entrada, não só oscapelães, mas militares católicos,alguns dos quais já conheci há 30anos, quando também presteiassistência religiosa no Exército, eoutros que fui conhecendo”, disseD. Manuel Linda à AgênciaECCLESIA.“De facto, alguns interrogam-se:Porque é que o poder político nãodesbloqueia a situação? Não seiresponder, mas estou convencidode que haverá boa vontade

da parte de todos”, acrescentou.O Serviço de Assistência Religiosadas Forças Armadas e das Forçasde Segurança foi regulamentado em2009, na sequência da Concordataassinada entre Portugal e a SantaSé em 2004, sendo constituído pelaCapelania Mor e pelos centros deassistência religiosa da Armada, doExército, da Força Aérea, da GuardaNacional Republicana e da Políciade Segurança Pública.“Se não me derem os instrumentosindispensáveis para exercer o meuministério, não o posso exercer, étão simples quanto isso. Como éque eu de Braga posso prestarassistência, por hipótese, à GNR deVila Real de Santo António?”,questiona D. Manuel Linda.O responsável mostra-se“convencido” de que osresponsáveis do Estado estão a“trabalhar com empenho” paratentar “desbloquear qualquer coisaque a lei poderia ter de menospreciso”.D. Manuel Linda, de 57 anos,

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era bispo auxiliar da Diocese deBraga desde junho de 2009, tendosido ordenado em setembro domesmo ano, na Catedral de VilaReal.Do ponto de vista do DireitoCanónico, a tomada de possedeveria ter acontecido até doismeses após a nomeação do Papacomo ordinário castrense e foi

necessário pedir ao Vaticano umadiamento, que foi concedido “atéfinal de janeiro”.“Outra coisa é o estatuto que oEstado conceda para que eu possadesempenhar funções dentro dasForças Armadas e de Segurança,que são realidades distintas”,acrescenta o prelado.

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Missão: Emigrar por amor aoEvangelhoO casal Luís e Estela Almeida vãopartir para a Ásia com os cincofilhos, numa missão deevangelização por tempoindeterminado, em nome doCaminho Neocatecumenal, com oobjetivo de “anunciar o Evangelho”.“Enquanto alguns emigram pelodinheiro, nós vamos emigrar paraanunciar o Evangelho, por amor aoEvangelho”, diz Luís Almeida, pai decinco filhos com idadescompreendidas entre 10 anos e 7meses, eles que são apresentadascomo “os principaisevangelizadores”.Sair em missão em nome doCaminho Neocatecumenal “requermuita maturidade até do própriomatrimónio, não é algo que se fazcom leviandade”, explica, emdeclarações à Agência ECCLESIA.A mudança logística para um paísda Ásia “gera algumaspreocupações” mas “Deus temestado presente nas dificuldades”,por isso a partida é feita “comtranquilidade”, adianta EstelaAlmeida.Como esta família da Brandoa(Patriarcado de Lisboa) vão partir

mais oito famílias portuguesas, “trêsda Diocese de Setúbal, uma daDiocese de Aveiro, uma da Diocesede Portalegre-Castelo Branco, duasda Arquidiocese de Évora” e quatrojovens, “duas da Diocese de Lisboa,uma da Diocese de Angra e umoutro da Diocese de Setúbal”.As nove famílias e os quatro jovensportugueses vão estar este sábadode manhã no Vaticano para, emconjunto com cerca de 10 milrepresentantes do CaminhoNeocatecumenal, participarem numaaudiência com o Papa Franciscoque através de uma bênção solenee uma oração especial, os vaienviar, em conjunto com mais de 60famílias, para irem em missão pelomundo.

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Praxes abusivas refletem falta deformaçãoO padre António Jorge Almeida,membro da equipa executiva doServiço Nacional da Pastoral doEnsino Superior (SNPES), da IgrejaCatólica, denunciou “a falta deformação e educação” de muitosestudantes que se refletem empraxes abusivas. “Não sou nemcontra nem a favor das praxes: éimportante que as associaçõesfaçam um bom acolhimento dosestudantes, mas vê-se muita coisaque passa pela falta de educação,pela ignorância” o que leva aconcluir que “falta formação eeducação no Ensino Superior”,revelou o assistente do SNPES, emdeclarações à Agência ECCLESIA.Para o sacerdote, as praxes são“uma espécie de entretenimento emque ninguém governa nada e a leifoi posta de lado”.O tema tem estado em debate, deforma particular, após a morte deseis estudantes da UniversidadeLusófona na noite de 15 dedezembro, na praia do Meco, emcircunstâncias ainda por apurar.O padre António Jorge Almeidaentende que este episódio “veioabrir um debate muito sério”,lamentando que alguns queiramcontinuar a “brincar com o EnsinoSuperior”.

Isto porque “há uma ‘entourage’económica nas próprias cidadespara onde os jovens vão estudar eviver, que também prefere estaforma de existir”.O responsável alerta os jovenscaloiros para “não se deixarem levarpelo ‘bicho papão’”, quando chegamà universidade, porque podementrar num “sistema” quecompromete “a vida e o futuro”.“Com as limitações que temos[SNPES], procuramos propor emconjunto com as universidades umambiente, um espaço deacolhimento, mas depois há todauma arquitetura de praxe que ocupamaioritariamente os estudantes comcoisas que não têm a verpropriamente com a formaçãoacadémica”, lamenta.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Igrejas Cristãs assinaram declaração de reconhecimento mútuo doBatismo, Lisboa, 25.01.2014

Entrevista a Frei Filipe Rodrigues, dominicano

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Há que repensar o Aborto

D. Manuel Linda,Bispo das ForçasArmadas e de Segurança

Cumprindo um dos pontos do seu programaeleitoral, o Governo de Espanha aprovou umasubstancial alteração ao estatuto do embriãohumano, com inegáveis implicações no tema doaborto: se, até agora, a lei repousava noprincípio do direito absoluto da grávida, agorapassará a assentar na dignidade do concebido ena obrigação legal da proteção do indefeso, talcomo previsto na jurisprudência.Como era de supor, a opinião pública dividiu-se.Mas, se ao menos, fosse à base de pressupostosracionais… Mas não. Dividiu-se por…irracionalidade. Como o comprovam as cenasdeprimentes e patéticas que as televisõesmostraram. Lembro-me, por exemplo, de umgrupo que assinalava com um cartaz a mudançacomo sendo “vitória de Cristo Rei”. E, no sentidocontrário, de um outro, de menos de duas dúziasde «tias», a quem a provecta idade já, há muito,dispensou dos trabalhos da maternidade, à portade um hospital, a tomar um qualquer comprimidoque apresentavam como sendo a «pílula do diaseguinte», mas que, em meu entender, naquelecontexto, deveria tratar-se antes de ummedicamento para o reumático ou para aarteriosclerose.Sobre o aborto, jamais nos entenderemosenquanto não quisermos refletir e usar a massacinzenta. Não é com cenas dessas quechegaremos ao bom porto da concórdia e dapromoção do humano integral. É de esperar,

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portanto, que os defensores doaborto apresentem razões objetivase consistentes. Porque nós, os quenos opomos, também as temos. Eisalgumas:- não consta que qualquer mulhertenha ido parar à prisão por praticaro aborto, mesmo no tempo em quea lei o proibia; - ninguém de bom senso quer que,hoje ou no futuro, alguém sejapreso por recorrer a ele;- não obstante, também não se querliberalizado, banalizado e quaserecomendado, como a atual leiparece fazer;- por isso, o aborto «legal» está aaumentar a ritmo infernal;- tudo leva a crer que o mesmo sepassa com o clandestino;- assim sendo, não se verifica aúnica razão plausível para adespenalização do aborto –acabarcom o clandestino- e a lei até serevela incentivadora daquilo que dizpretender dissuadir;- neste caso, a lei é criminosa eabominável, porque incentiva ocontrário daquilo que preconiza;- numa cultura de massas, em quese confunde o ético com o legal, alei abaixa, perigosamente, o

tónus moral da sociedade;- neste contexto, a vida humanapassa a ser desvalorizada até aolimite do descartável;- como tal, a legalização do abortoconstituiu um dos mais sériosretrocessos no processo dehumanização da humanidade. Pormais que, a alguns, isso custeaceitar. Porque isto lá está subjacente epela coragem de assumir o«politicamente incorreto», é deaplaudir esta tomada de posição doGoverno espanhol. Até porque issoconstitui uma novidade absoluta anível mundial. O que é tanto mais desublinhar quanto se sabe que adireita partidária, normalmente,sofre de fortes complexos no que serefere a assuntos de natureza éticaou naquilo que implica com adimensão religiosa: quando sedebatem os assuntes fraturantes,diz-se contrária à esquerda; masdepois de aprovados, mantem-nosintocáveis ou até os amplia.Se eu estiver errado, o Governo quemo demonstre.

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A nudez do plátano confidente

Luís Filipe Santos,Agência ECCLESIA

É o confidente de muitos anciãos no outono davida. No meio da sua imponência, aquele plátanoquando se despe das suas roupagens naestação certa, mostra a sua transparência com anudez provocada pelas folhas mortas. Entre osseus longos braços, não existem calafetagens ea ventania do inverno corre entre os seusdedos… Espera que o jardineiro e sua tesouralhe dê uns retoques. Espera no silêncioestacional porque saber esperar é uma virtude.Está despojado de tudo e espera que aprimavera lhe forneça os primeiros rebentos paravoltar a segredar e ouvir os amigos. É umconfidente. A minha varanda é um localprivilegiado para observar a rotina daqueleplátano. Enraizado na terra, autêntica«Clepsidra» – livro de poemas de base simbólicade Camilo Pessanha – aquela árvore é umrelógio que mede o tempo… sem reclamar com otempo.Com frequência os meus olhos tocam no olhardaquele plátano. Tal como dizia o escritor francêse filósofo, Albert Camus (1913-1960), «O Outonoé outra Primavera, cada folha uma flor».Certo dia, ao olhar para o majestoso plátanorecordei um episódio no Santuário de Fátima.Aquele olhar de sofrimento no colo maternal nãosai da minha memória… Não tinha mais de seisou sete anos, mas aquelas lágrimas – tal comoas da sua mãe – indicavam que não era o IVA,IRS ou TSU que estavam no centro

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das suas preocupações. Era oestômago que sentia os efeitos datirânica política.Tal como aquela criança e sua mãe,muitos milhares de lençosacenavam à Mãe que podia dar-lhes alento. Estas pessoasdeixaram de acreditar no poderterreno e deslocaram o sentido dasua vida para o olhar serenodaquela Mulher vestida de branco.As lágrimas daquela multidãomostravam o desespero que osmeus irmãos/as vivem. Não era aemoção… Era súplica.Pobre capacidade a dos senhoresterrenos, embora escolhidos masque não compreendem asdificuldades do povo. Apenasvisualizam o número de pessoaspresentes. Não reflectem sobre oporquê da esplanada daquelesantuário estar cheia… Talvez,pensem que são os efeitos da fé.Nem reparam no olhar sofridodaqueles que pagam promessas oupedem para que no dia seguintetenham pão.Autênticos vendilhões do temploque seriam chicoteados peloMestre, se ele aparecesse naquelemomento. Uma miríade de «anjosnegros» bajula estes vendilhões

que não se apercebem que muitos,a maioria deles, dorme ao relentoporque os euros não chegam paraextravagâncias religiosas. A sandesé o seu sustento…Chorei de raiva… Olhos nos olhos,com aquele plátano. «O mundo é umlivro e aqueles que não viajam lêemapenas uma página», escreveuSanto Agostinho. Aquele plátano,apesar de depenado, é um livro commuitas páginas. Daqui a uns mesesvoltaremos a vê-lo com a suaimponência e a escutar as lamúriasdos idosos…

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Bispo de Setúbal quer Igrejanas periferias e pacto políticopara atender a «quem mais sofre» Aos 73 anos de vida, e quase acompletar 15 à frente da Diocesede Setúbal, D. Gilberto CanavarroReis olha com desassombro parao que ainda não conseguiu fazerem território sadino e lamentauma «pastoral de manutenção». AECCLESIA conversou com o bispoque completa em fevereiro 25anos do episcopado e que serecusa a ver a diocese com«régua e esquadro», enaltecendoa diversidade e a entrega detantos diocesanos na formação,na ajuda social e na liturgia. Agência Ecclesia (AE) - Nascido emVila Real, no concelho de VilaPouca de Aguiar, a sua terra Vreiade Bornes, tem neste momentopouco mais de 600 pessoas. Quemarcas guarda na suapersonalidade das terras de Trás osMontes?D. Gilberto Canavarro Reis (GCR)– Vai fazer 16 anos que estou emSetúbal. Guardo uma consciênciamuito forte da presença de Deusque envolve o mundo. Isso sempreme acompanhou.

Tenho sempre presente aproximidade, o encanto das pessoasque se conheciam, confiavam ese estimavam. As criançasbrincavam à vontade. Não é oambiente das grandes cidades ondeninguém se conhece.Recordo que quando saí dos meuslugares, pouco depois fui paraRoma, e ninguém secumprimentava. Isso magoava-memuito e continua. Não entendo.Guardo a frescura da terra e dosrios. Gosto de estar na cidade, masgosto de ver os campos, asmontanhas, os rios e o mar.Guardo profundamente a fé que memarcou, da minha família, da terra,da Igreja onde celebrava osmistérios de Deus. Tenho aindamuito vivo quando, no Natal, oshomens cantavam «alegrem-se oscéus e a terra». Parece que aindahoje me ecoa no coração. Sei lá,tantas coisas bonitas…

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AE –Há poucos dados sobre o seupercurso, sobre a sua pessoa….GCR - Por um lado nunca gosteimuito de me expor. Já desdepequeno. Recordo que no seminárioos meus colegas disputavam oprotagonismo de presidir àsorações. Eu sempre que podiadeixava que outro o fizesse. Quandotodos procuravam ajudar o senhorbispo na missa, eu só quando eraobrigado. Lembro-me quandopediram para fazer uma homilia, eulá fiz - tinha de fazer - mas subi aoestrado e desci sem ver ninguém.Isso não é próprio de mim. Gosto decolocar os outros em relevo, não amim. AE - É timidez ou é discrição?GCR - É mais uma maneira de ser eacho que cada um é como cadaqual. É o meu estilo. AE - «Ordeno-me para estar onde aIgreja me pede», foram as suaspalavras no momento de ordenação.Continua a seguir este ideal?GCR - É verdade. Tem estadosempre presente no meu coração.Desde sempre fui fiel ao Bispo

e disponível. Em relação ao SantoPadre o mesmo. A disponibilidadede ontem é a mesma que tenhohoje. Quer para estar onde estiver,mas também no sentido desintonizar e entrar dentro dasgrandes linhas de renovação eabertura da Igreja. Procurosintonizar essa disponibilidade.Sempre em acompanhou.Já os meus pais me deixaram amarca de não ser para mim maspara os outros. A partir do encontrocom Jesus. AE - É com essa disponibilidade queem 1988 recebe a nomeação parabispo auxiliar do Porto, onde estevecom D. Júlio Tavares Rebimbas e D.Armindo Lopes Coelho. O queguarda dos nove anos que estevecomo bispo auxiliar no Porto? Daspessoas e da missão episcopal?DGCN - Uma boa recordação.Gostava muito do Senhor D. Júlio,uma pessoa muito discreta, mas umhomem do povo, com um coraçãomuito rico. Havia um grupo debispos com quem fazia uma equipacuja amizade permanece.

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Na diocese do Porto haviacomunidades muito variadas. A zonaque me era atribuída estendia-sedesde o alto da Serra do Marão atéao mar, em Vila do Conde. Faziam-se experiências muito ricas, departicipação. Outras zonas erammuito ricas em juventude, em forçaapostólica, de dinamismo eclesialem Paços de Ferreira, Trofa, SantoTirso. Gostei muito de lá estar.

AE - Essas pessoas e essa missãoensinaram-no a ser bispo emSetúbal?GCR - Naturalmente que aprendimuito. Perceber como as pessoas,os padres e os problemas sãodiferentes e exigem diversasrespostas. Fez-me sentir que aIgreja é plural. Não se pode fazer aesquadro e régua, mas aceitar apluralidade. Foi uma boa escola.

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AE - O que recorda quando o PapaJoão Paulo II o nomeou, em 1998para bispo de Setúbal?GCR - Antes disso, recordo quequando fui chamado para ser bispoauxiliar do Porto, era o dia 1 denovembro, Dia de Todos os Santos.Estava a rezar o terço, na casaparoquial. Tocou o telefone,pediram-me para vir a Lisboa e eu«rabujei» porque vir de Chaves aLisboa era complicado, mas vim. AE - Foi surpreendido pelanomeação episcopal para o Porto?GCR - Sim, fui. Quando foi paraSetúbal, foi diferente porque recebia indicação de que estavaconvidado para vir. E procurei rezar,pensar e ver se realmente Deus mechamava através do Santo Padre. AE - A resposta não foi imediata?GCR - Não, não foi imediata. Aindapensei um bocadinho. AE – Consultou alguém?GCR – Sim. Procurei rezar primeiro,depois falar com um ou outro amigoque me conhece bem e em quemconfiava.

AE - Que relevância tinha virsubstituir D. Manuel Martins?GCR – Por um lado seria fácilporque o D. Manuel Martins tinhaaberto aqui uma autoestrada eandar numa autoestrada é muitofácil. Por outro lado, ele é umafigura que enche, continua muitopresente no coração das pessoas.Ele pôs Setúbal no mapa. É naturalque as pessoas o tivessem e otenham no coração.É importante que se conserve esteamor ao bispo - seria mau se o afetoe a atenção não continuassem. Poroutro lado é importante ajudar aspessoas a dar novos passos. Masacho que o povo é disponível e, seàs vezes não vai mais longe, éporque eu não tenho a arte de asajudar. AE - Ano e meio depois de terchegado a Setúbal, numa entrevista,referiu haver falta de clero, baixaprática dominical, uma tentação deestar nas sacristias, fracapreparação dos leigos. Este quadromantém-se?GCR - Quanto ao clero, não. O cleroaumentou muito nestes anos.Apesar de ser uma diocese

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pequena quanto a prática dominical,ordenámos 26 padres e mais doisvão ser ordenados em julho. É umgrande número.Quanto à saída das sacristiasinfelizmente não consegui ir maislonge. Sinto que a diocese continuamuito fechada dentro em si. Apesardos esforços, que me agradammuito, que louvo os leigos e o clero,continua fechada. Continua a gastarmuitas energias com o que estádentro em vez de ir para fora.As pessoas são muito boas, masnão basta esta bondade que vemda fé. É preciso conhecê-la para umdiálogo com o mundo.

AE - Refere-se a uma fé maisracional?GCR - Diria mais esclarecida paraeste diálogo. Sobre a práticadominical, continua muito baixa,temos poucos jovens. Julgo que onúmero de crianças na catequesediminuiu.Não consegui com o clero, osreligiosos, e os mais comprometidosavançar mais. Quando vou àsparóquias, normalmente estãocheias. Dizem-me que de factoaparece muita gente. Não temosuma forte consciência de queprecisamos de mobilização paralevar o Evangelho e são muitas aspessoas que esperam o Evangelho.Aqui têm-se batizado muitos adultos.No ano passado crismei 500 anos.

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AE - A formação catequética dosadultos é uma das suas prioridades.GCR - Sim, e nós percebemos oencanto das pessoas. O brilho nosolhos de quem não conhecia Jesus.Ficam encantadas. O homem temnecessidade de se encontrar com orosto de Jesus e quando issoacontece ganha luz e esperança,transforma-se.

AE - Percebo pelas suas palavrasque se tem realizado mais umapastoral de manutenção. O que temfaltado?GCR - As necessidades dentro dasparóquias são grandes. As pessoasolham para os que estão dentro egastam ali todo o seu tempo. Éimportante cuidar de quem estádentro, mas quando se vai aoencontro de quem está

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fora, ganha-se uma nova energia,uma nova luz.É um engano dizer: «temos poucagente, vamos cuidar de quem estádentro e depois, vamos para fora».Não. Ainda não consegui ajudar aspessoas a perceber que se têmpouca gente isso não as podeimpedir de sair. Por outro lado, tem-se a ideia de que as pessoas estãoevangelizadas. Naturalmente oconhecimento cultural de Jesustodas as pessoas o têm. Mas oencontro com Jesus, o encontro dafé, não.Muitas pessoas fizeram um percursodentro da Igreja, foram batizadas,casaram, mas não chegou a haverum encontro verdadeiro com Jesusou não foi aprofundado. Creio quemostra que se gastou tempo e nãose saiu ao encontro. Isso tambémme acontece a mim que me deixoagarrar com quem está dentro.Penso que passará por isso. AE - «Combater a ideia de umCristianismo irrelevante» é umapredisposição sua. Qual a missãodo bispo para combater estairrelevância?GCR - O bispo, tal como diz o Papa,deve ir à frente. Deve ser o primeiroa mostrar, pela vida e

pelas palavras e opções pastorais acentralidade de Jesus. Pode pensar-se que Cristo faz parte do passado,mas o encontro com Jesus aconteceà frente, no caminho. Esta é umaconsciência que tenho. O bispodeverá ir à frente, tendo o cuidadode ficar para trás para agarrar quemfica. E estar no meio das pessoas,rezando, entusiasmando-as erenovando as estruturas. Se asestruturas forem mais leves eadequadas, talvez se possa ir maislonge. AE - Sente o apelo do PapaFrancisco de levar a Igreja àsperiferias?GCR - Quando cheguei a Setúbal,escrevi uma carta aos diocesanos:«Setúbal, convoco-te para amissão». A Igreja não pode ficar namanutenção, a cuidar de si, tem deir para a rua, aceitar estar maisdesarrumada dentro para sair. Agrande tentação é querer arrumar acasa e ir amanhã. Assim nunca separte. O desafio é partir e a casavai-se arrumando.

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AE - «Setúbal, convoco-te para amissão», foi a sua primeira cartaaos diocesanos, em 2001, paradinamizar os diocesanos. Anosdepois, faria sentido propornovamente?GCR - Naturalmente. A encíclica queo Papa escreveu «A Alegria doEvangelho», toda ela é umaprovocação para a missão. Ir àsperiferias, fazer-se próximo, renovarestruturas, ganhar a esperança nosagentes pastorais. Trabalhar nãoporque tem de ser mas porque ocoração arde por dentro e não háoutra forma. AE- Nestes anos em Setúbal D.Gilberto procurou formar os leigos,os batizados; lançou o Triéniodedicado à Sagrada Escritura (2005a 2008), o Ano da Eucaristia, o AnoPaulino, Ano Sacerdotal, Ano da fé;promoveu uma reflexão sobre oConcílio Vaticano II. Que frutos sãopossíveis recolher destaspropostas? Em práticas, emvocação laical?GCR - Todos andaram à volta doque me parecia essencial. Procureiajudar as pessoas a ir ao essencial.Tenho dificuldade em avaliar osfrutos. No fim dos anos

foi-se avaliando e os ecos foram departicipação e beneficio.Naturalmente sonho sempre mais,mas a Igreja está sempre a começar.Todos os dias tem de ser feita aproposta com novo encanto e novaluz. AE – Referiu haver poucos jovens aparticipar. De que forma tem adiocese ajudado os jovens aperceber que «são amados e que avida de cada um é irrepetível»?GCR - Tem havido um grandetrabalho. Queria homenagear oclero e os catequistas. Temos 1500catequistas. AE - É um bom número para adiocese?GCR - Para o trabalho atual quetemos, chega. Naturalmente épreciso ir mais longe. Mas muitostêm crescido e feito um esforço deformação. Vejo que há entusiasmo eesforço, preocupação de envolveros pais e fomentar à participação naeucaristia.Mas a formação faz-se naexperiência da Igreja e muitasfamílias já serão menos Igreja .

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doméstica do que foram ontem. Areferência da fé e da Igreja vai-seperdendo. A centralidade daeucaristia na vida cristã perdeu-se.No entanto, tem sido feito umgrande trabalho para ir ao encontrodas crianças e, através delas,chegar ao coração dos pais.

AE - Os pais que se batizaram masque se afastaram da Igreja.Resgatar esses batizados faz partedo seu caminho.GCR - A diocese tem apostadomuito e bem. Os pais valorizam omistério de Deus nos seus filhos eisso abre-os para a experiência.Temos muitos casos, ouço relatossemelhantes e imagino que pelopaís aconteça isso também.

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AE – O ir às periferias, na suarealidade, revela-se na presença daIgreja na arte, no contacto com aspessoas sem-abrigo, nos contatoscom empresários e empresas?GCR - É preciso levar Jesus a todaa parte. O nosso mundo está cheiode pobres. Todos os homens,tenham ou não fé, deveriam olharmais para os pobres. Não é dignoque se deixem homens viver aoabandono, não honra ninguém sejacrente ou não, seja culto ou não.Muito mais para a Igreja. Quando naquinta-feira santa lavo os péssimbolicamente, interpela-me pelofacto que gostaria de cada vez maisir ao encontro deles.A arte é um lugar de encontro.Muitas pessoas através da artedescobrem o raio da beleza e doamor de Deus. Onde há brechas aIgreja deve estar. AE - Também nos empresários eempresas?GCR - Fiz duas grandes visitaspastorais às paróquias e na primeirative a grande

preocupação de me encontrar comassociações, empresas, escolas.Onde estive, procurei dizer que oseu trabalho é importante e daresperança. Dizer também que comocrente, rezava por eles. Que nomeio das suas lutas não estavamsozinhos. AE - Criou o Fundo Social deEmergência, que esgotou. Asrespostas não são suficientes?GCR - As respostas são remédios. Asituação que vivemos precisa que ogoverno e os partidos façam umpacto de entendimento para ir aoencontro de quem mais sofre. Esseé um desafio que os vários partidostêm de assumir. Têm de serrespostas mais profundas. AE - Não mostraram ainda essavontade?GCR - Às vezes dá impressão quesim, mas é difícil acreditar numavontade sincera onde todos deemas mãos, independentemente da corpolítica, olhando para osnecessitados, e em vista do bemcomum. O diálogo não é umacedência, mas uma busca para

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um ponto de encontro para que obem comum vá mais longe.As paróquias são chamadas aavançar mais. Quer dentro dasrespostas que dão, mas tambémcolaborando com entidadesprivadas ou civis. Quanto mais nosjuntarmos, melhores soluçõespodemos oferecer. Alguns passostêm sido dados, mas é precisocontinuar a dar as mãos e aprocurar melhores respostas.Que na sopa e no pão que se dá seofereça mais. Que se ensine apoupar, a ter esperança, aaproveitar o tempo. Que ninguém sedemita. Todos podem dar maisdentro do pouco que têm. Felicito asinstituições e as pessoas; felicitotambém as instituições fora daIgreja, mas penso que precisamoscontinuar e ir mais longe.Nesse sentido vou começar umavisita pastoral temática, emfevereiro, só sobre essa atençãosocial e caritativa.

AE - O poder local procura-o?GCR - Não digo que seja a ideal,mas há uma relação boa com osvários autarcas. Admiro o trabalhoconjunto dos autarcas que procuramservir e fazer bem. Noto que estãoabertos ao diálogo com a Igrejaonde for preciso.

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AE - Onde é preciso servir melhorem Setúbal?GCR - Há muita gente com baixaspensões, desempregada, que vivesozinha. Precisamos inventariar assituações e perceber os casos dehabituação a subsídios. É precisoajudar as pessoas a crescer.Organizar melhor o serviço e apoioa quem vive sozinho e na pobrezaenvergonhada. Ir mais longe naformação dos agentes no serviçofraterno. Não basta ter um coraçãobom, mas ajudar as pessoas a fazerrede, a olhar para além dasnecessidades. Depois de terrecebido algum apoio, que elespossam também ajudar outros. AE – Nos quase 14 anos nadiocese, ordenou 26 padres, embreve vai ordenar mais dois. Qual éo segredo para que as vocaçõessurjam na diocese?GCR - Sempre percebi que adiocese tinha essa preocupação. Jáa tinha o D. Manuel e eu mantenho-a. O apelo tem sido feito, mas é umagraça de Deus.

AE – Era grande o seu desejo deter uma congregação de vidacontemplativa na diocese.GCR - Nós precisamos de sinais. Oamor presente numa congregaçãocontemplativa é muito importante.Quem vai à Arrábida, tenha ou nãofé, fica encantado. Tiveoportunidade indizível deexperimentar a alegria daquelasMonjas de Belém. AE – Disse que não queria que oSantuário do Cristo Rei fosse «ummiradouro». Que lugar tem osantuário enquanto turismo masenquanto local congregador dadiocese?GCR - O santuário do Cristo Rei vaisendo descoberto. O reitor, o padreSezinando Alberto, é um homemdedicado, tem trabalhado para queo santuário seja cada vez menos umlugar de turismo e antes um lugar defé.À medida que o santuário tiver maiscondições, mais pessoas oprocuram para rezar ou para aformação. Essa centralidade emordem à pastoral diocesana cresce,e crescerá cada vez mais, à medidaque for possível construir novasestruturas.

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AE – Sem esquecer o esquecercomo ponto turístico da diocese. Osantuário mas também polos como aArrábida, Troia, Comporta. De queforma o turismo desafia a diocese?GCR - Confesso que não temosorganizado. Mas sinto que éimportante. Há muita gente que

nos visita no verão e o lugar deturismo é também um lugar deencontro com Deus. Setúbal temuma grande potencialidade turística.Onde estiverem as pessoas ai deveestar uma proposta deevangelização.

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AE - A diocese tem muitasgeografias: urbana, a ruralidade, ointerior e as praias extensas…GCR - Apesar de pequena adiocese é muito diversa. Há zonascom um grande aglomeradopopulacional muito diferente dazona litoral na Arrábida e daComporta. AE - Elas têm tido igual atenção porparte do poder local?GCR - Penso que estão próximos eatentos. Julgo que o conjunto dosautarcas é dedicado mas há muitagente. Setúbal é um poucodormitório e assiste diariamente aofluxo rumo a Lisboa. Em outroslocais a população diminuiu, mas emSetúbal cresceu. As necessidadessão grandes e os recursos maisdifíceis.O porto de Setúbal, apesar de estarentre Sines e Lisboa, é um lugar demovimento – de carros, de cimento,de ferros - que mostram a forçapresente. Mas tem de ir mais longe,o desemprego é elevado. Temosmenos imigrantes agora, muitosbrasileiros regressaram às suasterras. Numa visão geral, ascondições de vida do país,pioraram.

AE - Mas no conjunto há qualidadede vida na diocese?GCR - No conjunto, penso que háqualidade de vida, se aentendermos como condições parauma vida digna. Há bolsas depobreza, casas frágeis,desemprego, baixas pensões, semdúvida. Mas posso dizer que háqualidade de vida. AE – Em ordem à celebração dos 40anos da diocese (criada em julho de1975), está em vista umaperegrinação diocesana, marcadapara 25 de outubro. Que planosexistem para esta celebração?GCR - Estas datas são importantespara celebrar e fazer balanço. Vouainda fazer a proposta ao conselhode presbíteros e chegaremos a umconsenso. Trata-se de celebrarolhando para trás, percebendo ocaminho que se andou, epercebendo como se pode ir maislonge. Queremos fazer isso comNossa Senhora, que sempre foimodelo para a Igreja.

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AE - Essa reflexão será feita emSínodo?GCR - Será feita de forma simples.Setúbal precisa, penso quequalquer Igreja só tem vantagem emfazer um Sínodo. Mas não tenhoagora condições para o fazer. Estoua fazer 75 anos e não é do meuestilo começar uma iniciativa queoutro teria de continuar. Mas creioque quem vier amanhã não deixaráde o

fazer, pois é uma experiência ricapara a diocese. É certo que a reflexão a fazer terásempre uma forma sinodal masveremos entre as sugestões arecolher. Gostaria que em cadaparóquia, movimento e serviço sefizesse um exame de consciênciasobre o que se andou, o que não sefez e que passos se podem dar maisà frente.

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AE - Se continuasse por mais tempona diocese convocaria um Sínodo?GCR - Sem dúvida. Parece-me queum Sínodo é um grande momentode crescimento, experiência decomunhão e de arranque para ofuturo.O Concílio Vaticano II, o grandeSínodo da Igreja, foi um marco belopara a Igreja e para o mundo. AE - Foi-o também para si enquantosacerdote?GCR - Eu tive a oportunidade deestar a estar em Roma quando oConcílio aconteceu. É umaexperiência indescritível. Louvo oSenhor por ela porquepessoalmente só me fez bem. AE - Como já indicou, em maio de2015 vai pedir a sua resignação?GCR - Sim. Disse, no princípio, queme insiro na comunhão da Igreja. ODireito Canónico é muito claro e nãodeixarei de estar atento.Pessoalmente, já o disse, se oSanto Padre me perguntasse eudiria que 75 anos é muito - se fosseaos 70 ou 72 não se perderia nada.O bispo com essa idade pode fazeroutra coisa,

pode vir outro com frescura e nãohá mal.Sempre admirei o Papa Bento XVI eadmirei mais ainda quando ele tevea lucidez e a coragem de dizer que émelhor sair.As mudanças trazem frescura,dinâmica. Chegamos a um momentoque mesmo que se queira, já nãovemos, não somos capazes. É bomter a capacidade de sair a tempo. AE - Que plano tem para depois dos75 anos?GCR - Ainda é muito longe para láchegar. Não pensei. Gosto de ler, derezar. Logo se verá. Ainda não meponho esse problema. Penso que éfácil resolver. Os bispos são semprebem acolhidos, aqui ou noutro local. AE - Em Vila Real, por exemplo?GCR - Na minha terra será maisdifícil porque já não tenho ninguémde família. Saí pequeno, mas emVila Real sim, não faltariam lugares.É a minha terra.

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Oração pelas Vocações

Caros DiocesanosNo dia 12 de fevereiro completam-se 25 anos da minha ordenaçãoepiscopal. A Igreja tem a tradição decelebrar os jubileus sacerdotaiscomo momento propício paracrescer na fé e no amor peloministério ordenado.Gostaria de ver, por isso, a Dioceseem oração pelas vocações aoministério ordenado, pelo nossoseminário e pelas vocações à vidareligiosa e missionária. Nestecontexto, peço a todos osdiocesanos que me acompanhemnesta oração.Nesta carta há um quadro para quecada criança, jovem, adulto, são oudoente anote, diariamente, a oraçãoou outro exercício espiritual quefizer por esta intenção. Nos dias 8 e9 de fevereiro, nas missas, serãorecolhidos estes 'cartões ' comofolhas dum grande ramo de oraçãopelas vocações a oferecer a Jesus,na Eucaristia jubilar no dia 12 defevereiro na Sé, às 18h30.Espero que todos participem nacomposição deste ramo, para quefique mais belo.Peço a colaboração

indispensável de cada sacerdote ediácono, dos catequistas junto dascrianças e adolescentes e doSecretariado das Vocações. Peço-atambém às chefias locais do CNE eaos responsáveis dos vários grupose movimentos, especialmente dosque cuidam dos doentes.Que Nossa Senhora ajude aDiocese a reunir-se em oraçãopelas vocações, com renovadofervor.Agradeço a colaboração de cadaum de vós e peço ao Senhor queabençoe a todos.

+ Gilberto, Bispo de Setúbal

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A Igreja de Setúbal nos tempos decrise

Desde há décadas que a região deSETÚBAL tem vivido criseseconómico-sociais tremendas.Lembremos a crise do pós-guerraque levou ao fecho da quasetotalidade das fábricas deconservas de peixe.Recordemos o fracasso das fábricasde montagem de automóveis e até oesgotamento das indústriasquímicas.E já diante dos nossos olhos oestrangulamento das pescas com oabate de treinaras a par do fimduma siderurgia, da Setenave e dosentraves colocados aodesenvolvimento do porto deSetúbal (estrangulado por Lisboa eSines).Eis os ingredientes e os factosgeradores de forte desemprego

e duma pobreza aflitiva, conduzindoa uma fase de verdadeira fome naregião, de fome doença ecriminalidade.Neste contexto a Igreja aparecetentando minorar as consequênciasde todas estas crises, não sóatravés da Cáritas mas também devárias iniciativas de apoio social emalgumas paróquias.E eis-nos em força dentro da criseatual iniciada em 2008 e aos efeitosduma governação assente emtremendas restrições, numa açãoesmagadora sobre o fator trabalho enuma despudorada proteção dofator capital – como diz o atual PapaFrancisco: vivemos num sistema queMATA.Mata a classe média,

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aumenta a pobreza, exclui ajuventude bem formada e concentraa riqueza em meia dúzia de mãos,mata a esperança e a alegria.Sempre foi prioridade, mas é hojemais prioritária que nunca umapresença viva dos cristãos numprocesso de mudança desteparadigma em que se vive nomundo, na Europa, em Portugal e,especialmente, na zona da nossadiocese.Tem o “povo de Deus” – todos osque se dizem cristãos – e os seuspastores de tornar presente no

dia a dia da vida da nossa Diocese,com o seu exemplo e com a suapalavra, a “Boa Nova” que Jesusmandou gritar de cima dos telhadose nos ensinou com o Seu exemplo aviver em prol dos desprotegidos edos pobres.Esta presença é uma prioridade danossa ação pastoral, com o nossoBispo orientando o seu rebanho.

Mário da Silva Moura,Comissão Diocesana Justiça e Paz -

Setúbal

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Santuário de Cristo ReiA 18 de janeiro de 1946, na PastoralColetiva do Episcopado Português,lemos: “A estátua do Redentor,erguida em lugar bem alto com amão estendida, em gesto deabençoar Portugal, ficará atestandoàs gerações vindouras que, nosegundo quartel do século XX, agente portuguesa soube confiar emDeus e por Ele foi paternalmenteacarinhada e defendida”.Neste trecho atestamos que oSantuário de Cristo Rei é fruto da féde um povo que em horas degrande aflição sentiu o amorpaternal de Deus.Passados quase cinquenta e cincoanos, a imagem de Cristo Reicontinua a ser um convite à(re)descoberta desse amor quebrota do próprio Coração doSenhor.No Coração de Jesus sentimos oamor misericordioso de Deus. EsteCoração é fonte inesgotável deforça e de vigor, sempre nova eatual.

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Esta força chega para compensar einquietar os corações humanos.É com esta força que os homensfizeram e fazem maravilhas. Sem elanada. Com ela tudo.No Alto do Pragal, em Almada, CristoRei continua a indicar ao homemque não há outro caminho para oamor e para a paz sem ser pela viado coração.De coração no peito, é um conviteconstante para mergulharmos nomistério desse Amor, que nos enviaa anunciá-Lo neste mundo marcadopor vários tipos de explorações.Amar é o grande desafio que nos écolocado. Quem ama refuta todo otipo de egoísmo, sofre com os quesofrem, alegra-se com os que sealegram. Procura a verdade, operdão, a humildade. Consola osdesamparados, dando a mão aquem está caído. Acima de tudoprocura servir à semelhança deJesus.De braços abertos, diz a todos oshomens que venham a Ele aquelesque procuram a verdade porque Eleé a luz, os que estãosobrecarregados, porque o Seujugo é suave, os que têm fome esede de justiça, porque Ele é o

pão vivo descido do Céu, os queestão escravizados pelo mal, porqueEle é o Cordeiro de Deus que tira opecado do mundo.De braços abertos, coração nopeito, sorriso nos lábios, cabeçainclinada sobre a capital do país,diz-nos:“Vinde a mim vós todos os queandais cansados e oprimidos e Euvos aliviarei. Aprendei de mim quesou manso e humilde decoração”.Por graça de Deus háquinze anos que está confiado àsolicitude pastoral do Bispo deSetúbal. Pelo património de fé queeste local representa, pelaatualidade da mensagem a eleassociada, não há dúvida que esteé um santuário de referência para avida eclesial da Diocese de Setúbal,uma vez que todo o agir cristã partede Cristo e volta a Cristo.A imagem de Cristo Rei é um convitequotidiano à santidade de vida portodos aqueles que têm o nome decristãos.

Padre Sezinando Alberto,Reitor do Santuário de Cristo Rei

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D. Gilberto e a formação sacerdotalna Diocese de SetúbalA formação dos futuros padres bemcomo a pastoral vocacional e aformação permanente do clerodiocesano de Setúbal têm merecidoo maior cuidado ao nosso bispo D.Gilberto e são um dos seus maioresinvestimentos. Ao chegar à Dioceseem 1998, recebeu e acarinhou oSeminário Diocesano já instituídopor D. Manuel Martins, primeirobispo de Setúbal; mas coube já a D.Gilberto concretizar a suatransferência de Setúbal para oSeminário de S. Paulo de Almada.Bem poderíamos dizer que, desdeentão, a Diocese tem a cabeça emSetúbal, o coração em Almada eassim procura agir e caminharharmoniosamente em todo o seuterritório, guiada pelo seu Pastor.No Seminário de Almada, Deusbafejou-nos com um magníficoenquadramento natural e edificado,um manancial histórico quaseinesgotável… e a proximidade dosmestres da “Católica” que estão alimesmo em frente. Com a frequentee interventiva presença do nossoBispo que está muitas vezes

por cá e segue os seminaristasdesde a sua admissão até à suaordenação, aqui vamos formando,em geral em sete anos de SeminárioMaior, aqueles que virão a ser ospadres da Diocese. Louvado sejaDeus: a Diocese de Setúbal vaitendo clero experimentado e clerojovem para as necessidadesimediatas das suas comunidades eaté para os necessários rasgosmissionários a que Deus nos chama. Terra de imigração, é natural que oscristãos e padres desta regiãoviessem inicialmente em grandeparte de fora. Mas, à medida que apopulação foi estabilizando, ascomunidades se foramrobustecendo e se cuidou dasvocações sacerdotais, elas foramsurgindo no território da Diocese.Nos tempos mais recentes quasetodos os seminaristas e jovenspadres residiam na Diocese antesentrarem para o Seminário. APastoral Vocacional, animada emgrande parte pelo Seminário e naqual avulta a Obra do Bom Pastor eo Pré-Seminário que D. Gilberto

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nunca deixou de prover com meioshumanos e materiais necessários(inclusivamente com instalaçõespróprias) têm relevante papel nestecampo.Do Seminário tem igualmentepartido e nele se realiza em grandeparte a Formação Permanente dosnossos padres que D. Gilbertoigualmente muito acarinha. Nela oprograma de vida de cadasacerdote é essencial, bem como osencontros vicariais. Mas procura-setambém que, praticamente ao ritmode uma vez por mês, haja algumaatividade de dimensão diocesana aincentivá-la e dar-lhe contributos:dois plenários do clero,

recoleção, retiro anual, passeio-convívio, jornadas anuais deformação, três terças-feirastemáticas, procuram desempenharesse papel tanto no domínio daespiritualidade como no da teologiae pastoral, sem descurar adimensão humana. E os cuidadosde D. Gilberto também têmconseguido que os padres recém-ordenados beneficiem de apoioespecífico durante os dez primeirosanos de exercício do seu ministério,o que muito os tem ajudado.

Padre J. Rodrigo MendesVice-reitor do Seminário de Almada

e responsável pela FormaçãoPermanente do Clero

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“Setúbal, convoco-te para a missão”– o perfil missionário de um BispoD. Gilberto dos Reis iniciou oministério de Bispo de Setúbal em1998. Os anos precedentes,particularmente os da Igrejadiocesana, foram de intensaatividade evangelizadora.No entanto, a diocese de Setúbal éuma região em constantetransformação, não só peloaumento demográfico resultante daimigração interna e externa, maspela rápida mudança dementalidades, fruto do encontro – edesencontro – de diferentesculturas e também da instabilidadeprovocada por sucessivas ondas decrises económicas e sociais.Por outras palavras: a região emque a Igreja diocesana de Setúbal éterra de missão sempre por fazer,sempre a recomeçar, mesmo depoisde muitos trabalhos e esforços.D. Gilberto chega a Setúbal emvésperas do grande jubileu do ano2000. Tudo o que se fez – e o queficou por fazer – permitiu-lhe umavisão clara da necessidade derecomeçar um esforço renovado naevangelização.

No 3º aniversário da tomada deposse, D. Gilberto publica a suaprimeira exortação pastoral com osignificativo título: “Setúbal,convoco-te para a missão”.Logo neste título, D. Gilberto deixaclaras uma das linhas que vão – econtinuam – a marcar o seuministério: reconhece-se o pastorque tem como incumbênciaconvocar e reunir a Igreja diocesanaem ordem à missão. Cabe ao Bispoir à frente, indicando o caminho. Eleé o primeiro missionário! Relendo osseus escritos, a começar por estaexortação, relembrando as suasintervenções em múltiplos lugares ecircunstâncias, sobressai apreocupação não apenas de lançarprojetos, mas de apontar caminhosconcretos, atitudes e soluçõespráticas, numa atenção minuciosaàs realidades (alguns chamar-lhe-iam “pormenores”).Por isso, esta primeira exortação é,para além de um documento queapontava para a realização de umamissão diocesana (cf. nº 19), umverdadeiro programa de

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vida do pastor que desafia toda acomunidade diocesana a segui-lo. O texto é organizado, não emcapítulos, mas em alíneas (ao todo21), num estilo de carta cordialdirigida aos seus diocesanos. Nãodeixa, porém, de apontar afundamentação teológica e bíblicada missão. Veja-se o nº 2,centrando a missão na pessoa deJesus e colocando como finalidadeprimeira da missão a revelação doamor de Deus por cada pessoa.Depois, vai apresentando de formamuito clara, no estilo de pergunta-resposta, o que é

evangelizar, quem evangeliza, aquem é destinada a evangelização,como evangelizar, o que implicaevangelizar (fazer-se próximo, estarpresente nas realidades, fazercomunidade…), a evangelização e avida sacramental, a oração.Esta exortação, quase treze anosdepois, revela-se muito fresca epróxima em conteúdos e linguagemdaquilo em que hoje o Magistério daIgreja tanto insiste. Um convite àreleitura, até para conhecer melhorD. Gilberto dos Reis, há 25 anosBispo da Igreja.

Padre José Lobato,Vigário-geral da Diocese de Setúbal

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Caminhos de pazPorque é que uma página embranco – ou o branco da página… -tem o nome da “paz” antes,sobretudo, de começar a serescrita? E porque é que as palavrasconvocadas podem perturbar (oumesmo obstaculizar e destruir…)essa paz primordial?...São perguntas que brotamespontâneas e que acompanham oesforço destas breves reflexões nodeclinar de um mês (e de um ano)iniciado com um dia especialmentededicado à paz.Regresso então à Mensagem doPapa Francisco e encontro na ideiae proposta de fraternidade aíaprofundada a chave para asquestões iniciais. Porque a pazentre folhas em branco não é a pazentre “vazios” ou “demissões”, nailusão de pensarmos a não-existência como caminho para a suaedificação. A paz nasce daaceitação e reconhecimento decada um como um dom – “dado”,por isso – em que nosreconhecemos filhos de um mesmoPai e sem o que mais dificilmentenos percebemos como irmãos.

No que escrevemos nas páginas embranco de nossas vidas está aonosso alcance transformarmos odom de sermos filhos na missão denos reconhecermos como irmãos.Talvez porque nem filhos nemirmãos nos fazemos de nós mesmosmas mais como irmãos do que atécomo filhos nos podemosreciprocamente reconhecer.Na Semana de Oração pela Unidadedos Cristãos que neste mêscelebramos, vivemos, no nossopaís, um pequeno mas significativogesto que pode ilustrar tudo isto:várias Igrejas Cristãs reconhecerammutuamente a celebração doBatismo. Filhos de um mesmo Pai,acolhemos e reconhecemos o outrocomo irmão, na diversidade (e porisso riqueza) da própria história etradição. O Pai deu-nos a “páginaem branco” da filiação – nóspodemos escrever nela“fraternidade”.Poderão parecer insuficientes estespassos para a paz tão desejada etão em falta em tantos pontos doglobo de onde se levanta esseanseio

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e clamor. Mas são também passoscomo este que muitos outrospoderão inspirar: diretamente, ànossa volta e, indiretamente, peloprincípio de “vasos comunicantes”em que acreditamos viver, nesses eem tantos outros pontos da terra,nessa e em tantas outrasdimensões.É inevitável também assim referir,neste mês, a Cimeira de Davos etudo o que nega a comum filiação ea universal fraternidade que aí nãose escreveu no fosso, cada vezmais profundo, entre quem ali sereuniu e a vida da gente normal.Mas também é espontâneo citar,exatamente no seu dia, São Tomásde

Aquino que como o Papa Franciscorecordou na mensagem referida,afirmava não só a necessidade dapropriedade dos bensmas ainda, quanto ao seu uso, «nãodever cada um considerar as coisasexteriores que legitimamente possuisó como próprias, mas tambémcomo comuns, no sentido de quepossam beneficiar não só a si mastambém aos outros».Saibamos então escrever “sementesde fraternidade” nas páginas embranco de nossas vidas e com osbens, pouco ou muitos, que nos sãoconfiados para administrar.

Pe. Antóno Bacelar

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Pelo fim da violênciaO Papa Francisco apelou estedomingo ao fim da violência naUcrânia e deixou várias mensagensde paz para o mundo, num domingoem que foram lançadassimbolicamente duas pombasbrancas desde a janela doapartamento pontifício. “Estoupróximo da Ucrânia com a oração,em particular dos que perderam avida nestes dias e das suas famílias.Desejo que se desenvolva umdiálogo construtivo entre asinstituições e a sociedade civil,evitando qualquer recurso a açõesviolentas, e que prevaleça nocoração de cada um o espírito depaz e a busca do bem comum”,declarou, após a recitação daoração do ângelus, perantemilhares de pessoas reunidas naPraça de São Pedro.A Ucrânia tem sido palco desde hácerca de dois meses demanifestações, que já provocaramvários mortos, suscitadas peladecisão do seu presidente, ViktorIanukovitch, de suspender ospreparativos para a assinatura deum acordo com a União Europeia eoptar por estreitar os laçoscomerciais com a vizinha Rússia.

Francisco referiu-se depois aorecente assassinato de uma criançaitaliana Nicola ‘Cocò’ Campolongo,que foi queimado dentro de umcarro, na Calábria (Itália), numajuste de contas da Mafia local, algo“que parece não ter precedentes nahistória da criminalidade”, e pediuorações pela vítima e pelaconversão dos autores do crime.O Papa recordou ainda os “milhõesde pessoas” que vão celebrar o AnoNovo lunar no Extremo Oriente, emparticular “chineses, coreanos evietnamitas, e a celebração do DiaMundial dos Leprosos, instituídopela ONU em 1954, a pedido deRaoul Follereau.“Esta doença, apesar de estar emregressão, atinge ainda infelizmentemuitas pessoas em condições degrave miséria”, sublinhou.Segundo o Papa, é importante“manter viva a solidariedade” comtodos os que são afetados peladoença, a quem Franciscoassegurou a sua oração.O momento de oração concluiu-secom uma saudação aos jovens

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da Ação Católica da Diocese deRoma, que encerraram no Vaticanoa sua iniciativa anual ‘Caravana dePaz’, lendo uma mensagem junto doPapa e lançando duas pombasbrancas, “símbolo de paz”.A tradicional catequese deFrancisco falou da Galileia,

terra onde Jesus iniciou a suamissão pública, como uma zona de“trânsito, onde se encontrampessoas de raças, culturas ereligiões diferentes” que setransformou num “lugar simbólicopara a abertura do Evangelho atodos os povos”.

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Usura viola dignidade da pessoaO Papa Francisco deixou estaquarta-feira apelos à criação deemprego e à luta contra a usura, nofinal da audiência pública semanalque reuniu dezenas de milhares depessoas na Praça de São Pedro,Vaticano. “Deixo votos de que sefaçam todos os esforços possíveis,por parte das instânciascompetentes, para que o trabalho,que é fonte de dignidade, seja umapreocupação central de todos. Quenão falte o trabalho, é fonte dedignidade”, declarou, aocumprimentar uma delegação daempresa ‘Shellbox’ deCastelfiorentino, acompanhadospelo arcebispo de Florença (Itália),o cardeal Giuseppe Betori.O Papa dirigiu-se depois àsfundações associadas ao ConselhoNacional Antiusura da Itália,desejando que estas instituiçõespossam “intensificar o seucompromisso ao lado das vítimas dausura, dramática chaga social”.“Quando uma família não tem o quecomer, porque tem de pagar juros ausurários, isso não é cristão, não éhumano!”,

sublinhou, sob uma salva de palmasdos presentes. “Esta dramáticachaga social fere a dignidadeinviolável da pessoa humana”,acrescentou.Francisco saudou ainda outrasassociações italianas pelo seucompromisso “junto dosnecessitados e dos refugiados”,pedindo que promovam os valores“da solidariedade e dahospitalidade”. O Papa encerrou asua intervenção com uma evocaçãoda figura de “pai e mestre” de SãoJoão Bosco, fundador dosSalesianos, cuja festa litúrgica vaiser celebrada esta sexta-feira.

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Avalanche de cartas no VaticanoMilhares de cartas, ofertas,desenhos e outros objetivos sãorecebidos semanalmente noVaticano pelo Departamento deCorrespondência do Papa, situadono Palácio Apostólico, revelou oresponsável por este serviço, mons.Giuliano Gallorini.Em declarações ao semanário deinformação ‘Vatican Magazine’, doCentro Televisivo do Vaticano(CTV), o sacerdote explica quetodas as cartas são lidas pelodepartamento, procurando distinguiros diferentes conteúdos e, nalgunscasos, encaminhando acorrespondência para o próprioPapa. “São os casos um pouco maisdelicados, como os casos deconsciência. Nesse caso, é feito umapontamento e passam-se as cartasaos secretários, para que o Papa asveja diretamente: ele lê, coloca umaabreviatura e indica-nos comodevemos responder”, relata.As cartas incluem relatos de“dramas pessoais”, pedidos deconselhos e oração ou poemas, esão endereçadas para a Casa deSanta Marta, onde Francisco reside,na Cidade do Vaticano.No total, o departamento recebeaproximadamente 30 sacos de

correspondência por semana emonsenhor Giuliano Gallorini refereque as respostas procuram “fazersentir a proximidade do Papa queacolhe os sofrimentos”.“Naquilo que é possível, procuramosajudar endereçando os pedidospara departamentos específicos: porexemplo, os pedidos de ajudaeconómica são transmitidos àsCáritas diocesanas”, revela.Os responsáveis procuram seguir oestilo do pontificado de Francisco e“ler estas cartas mais com o coraçãodo que com a mente, partilhar osofrimento e procurar as palavrascertas para exprimir o que o Papaquer verdadeiramente que seexprima: a proximidade, a partilha”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial a nível internacional, nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Porta-voz critica artigo da «Rolling Stone» que ridiculariza Bento XVIpara elogiar Francisco

Audiência Geral do Papa Francisco. 29 de janeiro de 2014

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‘Se eu fosse ladrão… Roubava’Um ano após a morte do cineastaportuguês Paulo Rocha, aCinemateca Portuguesa apresentaem antestreia o seu derradeirofilme, ‘Se eu fosse ladrão…roubava’. A exibição ocorre nopróximo dia 31 às 21h30 e espera-se que percorra outras salas dopaís, seja em circuito comercial oucultural.Construção complexa comreferências autobiográficasimplícitas, ‘Se eu fosse ladrão…roubava’ é, nas palavras de JorgeSilva Melo, autor do texto queacompanha a divulgação oficial dofilme a nível internacional, ‘umaimensa despedida, não comarrependimento, mas com vitalidade’.Partindo de uma evocação dainfância e juventude do seu pai, noinício do século XX, do ímpeto e dodesejo por tantos portuguesespartilhado de procurar no Brasilaquilo que Portugal então não lhesdaria, Rocha olha a sua vida,história e identidade, como pessoae cineasta, entrecruzando família eobra, com o mesmo desejo deprocura de um emigrante.

Alguém a quem a geografia ebiografia terrena não bastaram parase cumprir e se prepara para passarfronteira, deixando para trás oregisto do espaço habitado,revisitação e reinterpretação daobra cinematográfica incluídas, elançando adiante uma enormeinterrogação. Uma interrogaçãotocante e por vezes dolorosa, quedestemidamente perscruta a vida,enfrenta a morte, a doença, não selimitando à individualização masantes ampliando-se ao olhar sobreum país, o que de resto sempre fezno seu cinema.Nascido no Porto em 1935, PauloRocha iniciou a licenciatura emDireito que abandonaria para sededicar inteiramente ao cinema. Nadécada de cinquenta, anos antes dafundação da revista ‘O Tempo e oModo’ mas dentro do mesmoespírito não-conformista eprogressista que vibrava num gruposignificativo de jovens da AcãoCatólica de que não fez parte masde que se aproximou, funda oCineclube Católico e o CentroCultural de Cinema, juntamente comNuno de Bragança, Pedro Tamen,Duarte de Almeida

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e Alberto Vaz da Silva. O cinemapulsa assim em Lisboa como motorvivo de transformação.Em 1963, após concluir os estudosde cinema em Paris e ter participadocomo assistente na realização deJean Renoir em ‘O Cabo de Guerra’, realiza ‘Os Verdes Anos’, marco doCinema Novo português e de pelomenos uma geração de público. Umolhar límpido, corajoso erevolucionário sobre o Portugal deentão.No entanto, para algunsrealizadores nacionais, comoJoaquim Sapinho ou Raquel Freire,que assim o expressam emtestemunho divulgado no ‘Público’aquando da sua morte, ‘Mudar deVida’ (1966) é o seu

melhor filme, um dos melhores dacinematografia nacional e o maisinspirador para a sua própria obra.João Salaviza, o jovem realizadordas curtas ‘Arena’ e ‘Rafa’reconhecidas com a Palma de Ourode Cannes e o Urso de Ouro deBerlim, afirma ter recebido de ambasas obras de Paulo Rocha um legadode cinema como ‘veículo deobservação da realidade,apaixonado e comprometido’.Quase cinquenta anos depois, ‘Seeu fosse ladrão… roubava’ é umolhar a longe e para longe sobre umPortugal de que todos somos parte.

Margarida Ataíde

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Associação PortuguesaAmigos de Raoull Follereau

http://www.aparf.pt Sabia que no passado domingo(último de janeiro) celebramos o diaMundial dos Leprosos? Assim, maisuma vez, como forma de chamarmosa atenção para esta celebração,sugerimos uma visita ao sítio daAssociação Portuguesa Amigos deRaoull Follereau (APARF). EstaIPSS sem fins lucrativos, tem porobjectivo “prestar assistênciamaterial, sanitária e moral àspessoas afectadas pela doença deHansen; promover, acções de lutacontra a doença de Hansen e outrascausas de marginalização social;colaborar com as organizaçõescongéneres existentes noutrospaíses e celebrar em Portugal o diamundial dos leprosos, sensibilizandoa opinião pública para a situaçãodos doentes de lepra em Portugal”.Neste espaço virtual poderemosficar “a conhecer a associação,saber quem é o seu fundador, veros seus projectos e ainda

consultar a versão online do jornalda associação”. O grande destaquena página inicial passa pela consultada versão online da publicaçãoperiódica intitulada “O Amigo doLeproso”. Isto porque, todas asopções do menu lateral sãoprecisamente as secções que apublicação possui.Além da consulta do jornal,podemos no menu superior,descobrir quem é esta associação eo que faz, em “quem somos”. Noitem “Raoull Follereau”, acedemos àbiografia deste grande homem, quenasceu em França no ano de 1903e veio a morrer em Paris emDezembro de 1977. A sua vidamudou, após um contacto com osleprosos durante um safari emÁfrica. Posteriormente, com osurgimento da II guerra mundial tevede se esconder num convento dereligiosas, onde a Madre MariaEugénia, tinha o sonho de criar acidade dos leprosos. Então o“apóstolo dos leprosos” disse àreligiosa “avance com o projecto,que no dinheiro penso eu”.

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E assim foi, decidiu percorrer omundo a fazer conferências parasensibilizar as pessoas para estadoença. O sonho das religiosastornou-se realidade em 1953.Caso pretendamos aceder àspublicações anteriores de “O Amigodo Leproso”, basta clicar em“arquivo”.Por último, apenas referimos que deacordo com os mais recentes dadosda Organização Mundial de Saúde,por ano surgem 250 mil novoscasos de lepra em todo o mundo.Fica então aqui a sugestão de visitapara conhecermos mais acerca doenorme trabalho que é feito por estaorganização, pois como dizia estegrande filantropo, “Ser feliz é fazeros outros felizes”.

Fernando Cassola Marques

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Cada vez mais tuA banda SIMPLUS vai apresentarem Fevereiro o seu novo álbum,intitulado ‘Cada vez mais tu’, o seuquarto projeto."«Cada vez mais tu» é uma músicaque fala daquilo que significa paramim o encontro com a Igreja.Quando dentro de nós sopra aquelevento inquieto e desconfortável quenos deixa assustados e tristes, só oencontro com esta companhiahumana nos pode devolver o queprocuramos incansavelmente: onosso eu. Esse certeiro olhar, tãodiferente, tão inimaginável e aomesmo tempo tão desejado, tornou-se carne para que tu,

olhando-o, pudesses ser cada vezmais tu" (Maria Durão) Os SIMPLUS são um grupo musical,formado em 2001 por dois primos:Maria Durão e Luís Roquette,naturais e residentes no Estoril. Ogrupo tem como objetivo, difundiratravés da música, uma mensagempositiva e de esperança, sustentadaem valores Católicos.Estrearam-se em 2001 com o álbum‘Entrega’, na sequência do qualforam dados vários concertos emLisboa e no Porto, nomeadamentena Tenda ‘Por um mundo melhor’ doRock in Rio.

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A arte de educar

S. João Bosco deu a sua vida emprol da educação dos jovens.Poucos, como ele, terão sentido aurgência em formar a juventude querecolhia das ruas de Turim e acolhianos oratórios. Mas ele sabia quesozinho não conseguiria realizar osseus sonhos e projetos. Por isso,desde o início, procuroucomprometer catequistas,professores, formadores, técnicos,educadores, animadores,benfeitores, párocos, autoridadescivis, cooperadores....Escrevia-lhes cartas onde lhes davaconta das suas iniciativas, intuições,dificuldades e preocupações. Destaforma foi estruturando o seu sistemaeducativo, a que deu o nome depreventivo.Neste livro recolhe-se uma boaparte desses textos onde sepercebe, na primeira pessoa, qual aarte de educar de S. João Bosco.Edições Salesianas

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D. António Ferreira Gomes: Um bispoconciliar no exílio II

D. António Ferreira Gomes foi um dos bisposportugueses que participou nos trabalhos do IIConcílio do Vaticano. Só que tinha a particularidadede estar exilado. A Agência ECCLESIA continua aentrevista, iniciada na semana anterior, ao padre einvestigador Nuno Vieira que trabalha na diocese deSegorbe-Espanha sobre o exílio do preladoportuense na Diocese de Valência. AE – Como foi o acolhimento de D. MarcelinoOlaechea [bispo titular de Valência] ao bispoportuguês exilado?NV – Não foi uma situação nova na diocese deValência. Quando o bispo do Porto chegou, já viviaem Valência o arcebispo de Lima, (Peru), D. EmílioFrancisco Lissón Chaves, que estava em condiçõessimilares. Tinha trabalho pastoral na diocese, masestava muito limitado devido à doença e à idade(faleceu dois meses após a chegada do bispoportuguês). Valência contava apenas com um bispoauxiliar, D. Rafael González Moralejo, que se tornouíntimo amigo de D. António Ferreira Gomes. AE – D. António Ferreira Gomes foi fazer o «papel»de um bispo auxiliar?NV - Pode dizer-se que sim. D. Marcelino Olaecheaera um homem muito independente e, em simultâneo,muito organizado. É da tradição dos arcebispos deValência, homens de grande actividade pastoral. Oarcebispo

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titular contou com D. AntónioFerreira Gomes para as visitaspastorais. AE – Nos três anos (1960-63) queesteve nesta diocese espanholarealizou 173 visitas pastorais. Umnúmero muito alto, sabendo quepassou bastante tempo no Vaticanona preparação e no concílio?NV – Verdade. Fez, talvez, aquelasque teria feito na diocese do Porto(risos…). AE – Este número, demonstra o seuempenho pastoral.NV – A diocese de Valência éenorme. D. António Ferreira Gomesdeu uma ajuda preciosa. AE – A chegada do bispo do Porto àdiocese de Valência suscitou uminteresse especial nos movimentoscom sensibilidade social. Estesmovimentos tinham conhecimentodo percurso de D. António FerreiraGomes?NV – Foi uma chegada muitoabafada. Os jornais espanhóis daépoca não dizem absolutamentenada da questão. Visiteia hemeroteca onde pesquisei todosos jornais daqueles dias (antes edepois) e não há nenhumareferência à chegada do bispodo Porto. Excepto a

ECCLESIA (revista espanhola), quenoticia que o bispo do Portoestabeleceu a residência na diocesede Valência. Por outro, através detestemunhos das religiosas queatendiam D. António FerreiraGomes, as visitas eram bastantecontroladas e escassas. AE – Visitas de portugueses?NV – Sim. Essencialmente de padrese, muito poucas vezes, de leigos.Sabe-se também que eram visitasrápidas. As visitas mais alargadasaconteciam quando D. António saíade Valência. AE – O General Franco não mostroureticências em acolher um bispo quefoi expulso por António OliveiraSalazar?NV – Franco era um homemprofundamente católico, com umaeclesiologia antes do II Concílio doVaticano. Sempre respeitou osbispos. Se houve algum temor dopoder político foi na chegada de D.António Ferreira Gomes… Algumtemor por aquilo que pudesseacontecer e da possívelaproximação de alguns grupossociais que pudessem tomar o bispodo Porto para a questão social. Talcomo noutras ocasiões, D. AntónioFerreira Gomes demonstrou a suainteligência e não se deixou expor anenhum tipo de contacto.

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janeiro/fevereiro 2014Dia 31* Fátima - Steyler Fátima Hotel -Reunião da Coordenação Nacionalda Pastoral Penitenciária.* Filipinas - Encerramento da visitado presidente do ConselhoPontifício «Cor Unum» (Santa Sé),cardeal Robert Sarah, às regiõesafetadas pelo tufão Haiyan. * Portalegre - Auditório do Centro deFormação Profissional de Portalegre- Assinatura de protocolo entre oInstituto de Emprego e FormaçãoProfissional e as cáritas diocesanasde Portalegre, Beja e Évora. * Lisboa - UCP - Sessão solene doDia Nacional da UCP que inclui aatribuição do doutoramento«Honoris Causa» a RobertoCarneiro, antigo ministro daEducação, bem como a ArménioMiranda e Fernando van ZellerGuedes. * Coimbra - Casa de Santa Zita(18h00m) - Celebração dos 15 anosdo Centro de AconselhamentoFamiliar (CAF) com conferência deJoão Paulo Barbosa sobre «Famíliae políticas públicas».

* Leiria – Seminário de Leiria – Conferência sobre a exortaçãoapostólica «Evangelii Gaudium» porD. António Marto. * Lisboa - Colégio São João de Brito- Conferência promovidaConfederação Nacional daEducação e Formação (CNEF) comPaulo Portas, Joaquim Azevedo eDavid Justino integrada na «Semanada Liberdade de Escolha da Escola». * Coimbra - Encerramento (início a01 de novembro) da campanha desolidariedade «Vamos aquecerCoimbra» para atenuar o invernodos sem-abrigo e promovida pelaAssociação Integrar.* Porto - Igreja do Corpo Santo deMassarelos - Concerto deencerramento das festas natalíciaspelo coro de São Veríssimo.* Coimbra - Pavilhão Centro dePortugal (21h30m) - Café concertosobre «Musicoterapia: Fundamentose prática» com Daniel Serrão eCarla Baptista Alves.

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* Évora - Encerramento (início a 1de outubro) do concurso fotográficodigital promovido peloDepartamento Diocesano daPastoral da Família. * Funchal - Tecnopolo - I SimpósioInternacional "História, Cultura eCiência na/da Madeira: Quesaber(es) para o século XXI". (31 a01 de fevereiro)* Lisboa - Alfragide (Seminário deNossa Senhora de Fátima -Dehonianos) - Primeiro EncontroInternacional de Formação doVoluntariado Dehoniano orientadopelo padre Adérito Barbosa. (31 a02 de fevereiro) Dia 01* Santarém - Golegã - Reflexãocentrada sobre os direitos dasgerações futuras à luz da ExortaçãoApostólica «Alegria do Evangelho»proferida por Helena Pereira deMelo, professora na Faculdade deDireito da Universidade Nova deLisboa e promovida pelo GRAAL(Movimento Internacional deMulheres). * Vaticano - Sala Paulo VI - O PapaFrancisco encontra-se com cerca de10 mil representantes do CaminhoNeocatecumenal.

* Porto - Igreja de Cedofeita - Celebração integrada na semanado consagrado para todos osreligiosos e religiosas das váriascomunidades locais da diocese doPorto. * Porto - Gaia (Cine Teatro EduardoBrazão) - Espetáculo musical deencerramento do ciclo de conversasamplas. * Santarém - Encontro diocesano decatequistas sobre «Conhecer Cristo-Cuidar do Irmão». * Lisboa - Sé (21h30m) - Concertocom a Liturgia da Apresentação doSenhor, que inclui a tradicionalProcissão das velas, pelo CoroGregoriano de Lisboa. * Guarda - Centro Apostólico D.João de Oliveira Matos - Encontrode formação destinado acooperadores pastorais orientadopor D. Manuel Felício.* Porto - Casa do Vilar - Jornadadiocesana da Família sobre «A Féno coração da família». * Lisboa - Igreja do SagradoCoração de Jesus (21h00m) - Vigíliados Consagrados presidida por D.Manuel Clemente. * Porto - Ermesinde (Seminário doBom Pastor) - Dia dos acólitos dadiocese ao encontro do seminário.* Braga - Barcelos - Encontroarciprestal de catequistas.

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- A Universidade Católica Portuguesa (UCP) vai

assinalar este ano o seu dia nacional a 2 de fevereiro,com o lema ‘Inspirar o Futuro’, perspetivando operíodo pós-crise. A sessão solene presidida pelomagno chanceler da instituição, D. Manuel Clemente,vai realizar-se a 31 de janeiro, pelas 16h30, na sededa universidade, em Lisboa.O arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, vai presidir a 2de fevereiro à missa evocativa do Dia Nacional, às11h30, na catedral da arquidiocese minhota. - Decorre até domingo a semana do consagrado,que teve este ano como tema “Transformados naalegria do evangelho”. Estes dias servem paradar a conhecer que “a vocação de consagração éfruto da descoberta do significado mais profundoda alegria”, como afirma D. Virgílio Antunes, namensagem para a celebração da semana. - Destaque para o I Simpósio Internacional "História,Cultura e Ciência na/da Madeira: Que saber(es) parao século XXI", a decorrer no Tecnopolo do Funchal de31 de janeiro a 1 de fevereiro. O encontro decorre deuma das maiores investigações sobre História, Culturae Ciência do arquipélago e que terá tradução noDicionário Enciclopédico da Madeira. - Ainda este sábado o Papa vai encontrar-se, noVaticano, com 10 mil representantes do CaminhoNeocatecumenal, movimento católico presenteem mais de 120 países, incluindo Portugal. Apósbênção e oração especial, Francisco vai enviar“cerca de 75 famílias do movimento queresolveram deixar tudo para ir em missão pelomundo”.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 02 - percursosde Vida Consagrada. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 03 -Entrevista a Luís e EstelaAlmeida, família em missão naÁsia.Terça-feira, dia 04 -Informação e entrevista sobrea Editorial Cáritas, com LagesRaposo.Quarta-feira, dia 05 - Informação e entrevista sobre adisciplina de EMRC com Dimas Pedrinho.Quinta-feira, dia 06 - Informação e entrevista sobre aFamília, com Luís Reis Lopes.Sexta-feira, dia 07 - Apresentação da liturgia dominicalpelo cónego António Rego e frei José Nunes Antena 1Domingo, dia 02 de fevereiro, 06h00 - Dia doConsagrado: psicóloga Margarida Cordo e asreligiosas Maria Amélia Costa e Eliete Feliciano falamdos desafios da vida religiosa hoje. Comentário com opadre José Luis Borga. Segunda a sexta-feira, dias 03 a 07 de fevereiro,22h45 - A Igreja antes da resignação de Bento XVI:pontos de vista de António Matos Ferreira, OndinaMatos, José Manuel Fernandes, P. Tiago Freitas e P.Manuel Morujão.

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Para que criou Deus o ser humano?

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Ano A - 4º Domingo do TempoComum - Festa da Apresentação doSenhor Consagradospara despertaro mundo

Neste quarto domingo do tempo comum, a liturgiacelebra a Apresentação do Senhor no Templo deJerusalém. Esse ícone do Evangelho de hoje, queexpressa a entrega total de Cristo, desde os primeirosmomentos da sua existência terrena, nas mãos do Pai,convida todos os consagrados e consagradas arenovar a sua entrega nas mãos de Deus e a fazer daprópria existência um dom de amor, um testemunhocomprometido da realidade do Reino, ao serviço doprojeto salvador de Deus para nós. Convidaigualmente todos os cristãos a dar graças a Deus e aconhecer melhor esta forma de vida na Igreja, na suavocação e missão.Jesus é apresentado como “a salvação colocada aoalcance de todos os povos”, a “luz para se revelar àsnações e a glória de Israel”, o Messias com umaproposta de libertação.Acolhemos Jesus como a luz que ilumina as nossasvidas e nos conduz pelos caminhos do mundo? Ele é ocaminho certo e inquestionável para a salvação, paraa vida verdadeira e plena? É n’Ele que colocamos anossa ânsia de libertação e de vida nova? A pessoade Jesus Cristo tem real impacto na nossa vida, nasnossas opções, nos passos que damos no nossocaminho de consagração, cristãos em geral emembros dos institutos religiosos e congregações emespecial, ou é apenas uma figura decorativa de umcerto cristianismo de fachada?A exemplo das figuras de Simeão e Ana apresentadasno Evangelho, temos a responsabilidade deapresentar Jesus ao

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mundo e de O tornar uma propostaquestionadora, iluminadora esalvadora para os nossos irmãos.Toda a Igreja, e em especial osconsagrados, são chamados adespertar o mundo, como pediu hádias o Papa Francisco. Anunciamose propomos Cristo com entusiasmoe alegria, como luz libertadora desituações gritantes e dramáticas nonosso mundo?A Festa da Apresentação do Senhorcoincide com a celebração do Diada Vida Consagrada, celebradotodos os anos a 2 de fevereiro, poriniciativa de João Paulo II desde1997.A Semana do Consagrado que hojetermina na Igreja em Portugal tevecomo lema

«transformados na alegria doEvangelho». Será que isso é atitudepermanente das nossas vidas?À luz do evangelho de hoje,procuremos rezar, conhecer edifundir entre nós esta forma deexistência cristã dos consagrados econsagradas, que assumem oseguimento especial de Cristo nosvotos de pobreza, castidade eobediência.Que isso seja enriquecimento davida da Igreja e apelo para todosvivermos com autenticidade a nossavocação de pessoas sintonizadascom o único Senhor das nossasvidas, que é Cristo Jesus.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Síria: O sofrimento terrível dos refugiados cristãos

A vida num abismo

O olhar diz tudo. São olharescarregados de medo, cheios dememórias de sangue, deviolência, de morte. São olharestambém vazios, de quem estáperdido, sem saber para onde ir,o que fazer da sua vida. Osrefugiados da guerra síria têmisso em comum. Estão como queperdidos na vida. Os refugiados da guerra civil queestá a destroçar a Síria estão numabismo. Deixaram para trás o seupaís, as suas casas, as suas vidas.Fugiram para sobreviver. Adestruição é tanta que já não hápossibilidade de regresso. O futuroserá sempre um recomeço.Líbano. Cidade de Zahle. Com osseus 200 mil habitantes, Zhale é,hoje, a maior cidade cristã do MédioOriente. Fronteira com a

Síria vivem aqui alguns milhares decristãos em fuga da guerra civil.Talvez uns 10 mil. A maior partefugiu da cidade de Homs. O medoque estas famílias têm do que lhespossa vir a acontecer é tanto queevitam registar-se até junto doscentros de apoio das NaçõesUnidas. Se o fizerem, podem seridentificados como Cristãos e sofrerrepresálias. Por causa disso, muitosnão estão sequer nos campos deacolhimento. Estão em casasparticulares, em quartos alugados,quase sempre em condições muitofrágeis, quase indignas. A Igrejalocal tem procurado ajudá-los,descobrindo onde estãoescondidos, procurando apoiá-los,para não serem despejados por nãoterem mais recursos financeiros,

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procurando encontrar-lhes algumtrabalho, secando-lhes as lágrimas. Necessidades básicasO Arcebispo John Darwish,responsável pela Arquidiocese deFurzol, Zahle e Bekaa, no Líbano,não tem mãos a medir. Numa cartaenviada à Fundação AIS, pede-nosajuda. “Muitas destas famíliascristãs precisam de apoio até paraas coisas mais básicas do dia-a-dia”, diz. “Comida, escola para osfilhos, cuidados médicos. Nósprocuramos ajudar estas pobresfamílias cristãs pagando as suasrendas ou tentando encontrar-lhestrabalho. Muitos estão em situaçãomuito difícil, a nível emocional ematerial. Eles deixaram tudo paratrás e chegaram até aquirigorosamente sem nada, estãotraumatizados”. O Arcebispoacrescenta: “Muitos nem tiveramtempo para chorar

os seus mortos”. Ninguém pareceescutar o martírio dos CristãosSírios.Em Portugal, a Fundação AISassociou-se a uma corrente deoração, a nível mundial, pela paz naSíria e lançou uma campanha deajuda de emergência às famíliasque, aos milhares, fogem desteholocausto que parece não ter fim.As palavras do Patriarca GregoriosIII espelham bem a angústia dosCristãos sírios: “Imploramos a Deusque escute as nossas orações,responda aos nossos gritos desocorro e ao sofrimento das vítimas,e que nos conceda o dom da paz”.Como ficar indiferente a este apelo?Apoie os refugiados da Síria. Ligueagora 760 450 190 (0,60 € + IVA)

Paulo Aido | Departamento deInformação da Fundação AIS |

[email protected]

Foto 1 – O apoio da Igreja tem sido paramuitos refugiados a única ajuda querecebem. Foto 2 - Tal como milhares demães, esta mulher aguarda por ajudanum campo de refugiados, no Líbano.Foto 3 - Quantas pessoas têm de morrerpara que as armas se calem e se consigaouvir o choro das crianças, das viúvas,dos velhos? Foto 4 - O Patriarca GregoriosIII, líder da comunidade católica, apela atodos os homens de boa vontade àoração pela paz na Síria.

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APOSTOLADO DE ORAÇÃO

As pessoas valem por elas mesmasPara que a sabedoria e experiência de vida dos idosossejam reconhecidas na Igreja e nasociedade. [Intenção universal do Papa para o mês deFevereiro]1. Durante muito tempo, os idososforam olhados com respeito ecarinho – salvo excepções fruto doegoísmo ou da maldade.Actualmente, porém, nassociedades ocidentais os idosos sãoolhados, sobretudo, como umproblema: porque são cada vezmais e têm uma expectativa de vidacada vez mais longa – o que implicadespesas acrescidas para ochamado “Estado social”; porque asfamílias, desestruturadas ou semcapacidade para os acolher e cuidardeles, esperam do Estado respostapara obrigações que, duranteséculos, foram suas; porque são,com frequência, vítimas de maustratos, burlas e roubos; porquesociedades envelhecidas e comcada vez menos crianças e jovenssão, inevitavelmente, sociedadeseconomicamente pouco dinâmicas,incapazes de produzir riquezasuficiente para responder àsexpectativas dos mais velhos, emtermos de reformas, cuidadosmédicos e serviços sociais.

2. Na Igreja, o problema coloca-se aoutro nível. Durante muito tempo, asparóquias e as diocesespreocuparam-se sobretudo com aeducação na fé das crianças e dosjovens. E quando estes, apesar deterem feito todo o percurso dacatequese, começaram a abandonarem massa a Igreja, as paróquias eas dioceses investiram ainda maisem formas de os «cativar». Os maisvelhos, entretanto, eramconsiderados como «da casa» e,por isso, pouca atenção mereciam.Agora, com as paróquias reduzidaspraticamente aos «mais velhos» ecom um clero também ele, emgrande parte, envelhecido, começaa ser evidente que, sobretudos nasregiões com menos população, asparóquias poderão «fechar asportas» num prazo relativamentebreve. Além disso, é necessárioacorrer às necessidades, não sóespirituais mas também materiais,dos idosos. Como fazê-lo, porém, seas comunidades são

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maioritariamente constituídas poridosos? Haverá quem diga que estaé uma generalização e, como tal,uma caricatura da realidade. Semdúvida. Mas se pensarmos a umadistância de quinze anos, a situaçãoactual das paróquias não deixamargem para muito optimismo. 3. O incontestável aumento dosidosos não deve obscurecer ocontributo que os mesmos podemdar à sociedade e à Igreja. Emmuitos casos, as pessoas reformam-se ainda com uma enormevitalidade. Nas comunidades cristãs,este facto constitui umaoportunidade para conseguircolaboradores mais disponíveis,com sabedoria e experiência,capazes de um contributo generoso,quer na dinamização da vidaparoquial, quer na transmissão dafé e das tradições comunitárias. Ese muitos já não podem, porquestões de saúde, dar um talcontributo, podem e devem sersensibilizados para a importância dasua presença na comunidade epara o valor da sua oração, comoalicerce espiritual de tudo quanto acomunidade procura realizar

em vista ao anúncio do Evangelho.Isso implica, talvez, um trabalho maissério de sensibilização para a vidade oração – e uma fé mais assumidana sua eficácia. 4. Numa sociedade na qual osidosos estão cada vez maispresentes, importa fazer o possívelpara que não se sintam excluídos emenos ainda um peso. Valorizar asua presença, a sua participação, oseu contributo para a vida familiar ecomunitária é uma obrigação detodos. Mas não pode surgir comouma espécie de condescendênciasimpática para com pessoas que, defacto, já não se valoriza muito. Temde ser uma atitude assumida evivida, porque as pessoas valem porelas mesmas, tenham vinte, trinta ouoitenta anos. A Igreja pode e deve,também neste âmbito, ser exemplode humanização numa sociedadecada vez mais tecnocrática, na qualos débeis e improdutivos sãofacilmente relegados para asmargens e olhados como um peso.Pode e deve. Falta saber se o estáa ser verdadeiramente.

Elias Couto

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Liberdade de escol(h)aEstamos em plena Semana daLiberdade de Educação. Com elapretende-se alertar a opiniãopública e os governantes para odireito constitucional que assiste ospais de escolherem a escola paraos seus filhos.Paradoxalmente, quando eraexpetável o consenso, estamosperante uma questão fraturante nasagendas políticas e sociais donosso país. Como é possível istoacontecer a um povo que lutou pelaliberdade e a alcançou (?) há 40anos?Quando se fala de liberdade deescolha, imediatamente nos ocorreo ensino privado. E aqui temos umaprimeira confusão. É que estaliberdade é muito mais ampla: elapermite que um pai opte por umadeterminada escola,independentemente de ela serestatal ou não estatal. Portanto,para a generalidade dos pais, aquestão não se coloca napropriedade da escola, mas sim naqualidade da escola. Nestaperspetiva, não se entende por querazão alguns partidos políticos,alguns sindicatos

e alguns nichos da sociedade querem à força, proteger a escoladita «pública», em detrimento dasescolas privadas. Estasuperproteção e este receio atéparecem esconder a ideia de que aescola estatal é pior e tem menospotencialidades do que a escola nãoestatal. Como esta ideia é errada,não entendo por que razão, numpaís tão adepto da liberdade, hátanto medo da liberdade naeducação. Será porque o Estado éobrigado a ter escolas? Não, oEstado tem sim que “garantir” umarede suficiente de escolas,acessíveis, gratuitamente, a todosos cidadãos; mas não é obrigado a“prestar” esse serviço (aliás talcomo sucede em outros setoresessenciais). Será porque as escolasprivadas financiadas pelo Estadoficam mais caras ao erário públicodo que as estatais? Não, pelocontrário, ficam mais baratas, amaioria dos casos, mesmo muitomais baratas (neste particular,quanta distorção da opinião públicanão tem sido desencadeada porparte de setores estratégicos

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da comunicação social, procurando,intencionalmente, denegrir aimagem de todo o ensino privado;esquecem-se estes senhores quemuitos deles não estariam em

sindicatos ou no Parlamento ou emtelevisões se não fosse a extensarede de colégios que durante oEstado Novo invadiu as nossas vilase cidades). Será porque se quermanter

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a todo o custo os empregos dosprofessores e funcionários dasescolas estatais? Se assim for, àcusta do encerramento de escolasprivadas, gera-se à mesmao desemprego (ou os professores efuncionários destas escolas valemmenos do que os daquelas?).Acolho, pois, todas as iniciativas,governamentais e da sociedadecivil, que visem promover aliberdade de educação, ou seja, queprocurem valorizar as escolasestatais e as escolas não estatais,sem estigmas e preconceitos. O queos pais necessitam é de boasescolas para, em liberdade,escolherem a que mais se adapteao seu estilo de educação. O que opaís precisa para se desenvolveré da inteligência, capacidade detrabalho e criatividade de todos – dagente que labora em escolasestatais e da gente que labora emescolas privadas. O que o paísdispensa são discussões estéreis emarginais sobre esta matéria quenos é tão querida.Também aqui, a Igreja e os cristãostêm um papel

interventivo importante, não sóporque no mundo da educação hámuitas escolas católicas (pioneirasem quase tudo, até na escolarizaçãodo nosso país), mas sobretudoporque a educação católica é umaobrigação de todos os batizados,como refere o Magistério da Igreja.E porque a sociedade, com maisacuidade neste momento, tem muitanecessidade dos valores e da“ideologia” pregada e experienciadanas escolas católicas.A melhor resposta que o ensinoprivado, mormente as escolascatólicas, podem dar às acusaçõesque, volta e meia, em meiosmediáticos de grande audiência,surgem, é a excelência do serviço,colaborando com os pais naeducação dos seus filhos. E nesteaspeto crucial, não tenho dúvidasdo reconhecimento público doimportante e insubstituível contributodas escolas privadas para aeducação das nossas crianças,adolescentes e jovens.Na esteira dos nossos bispos, «oEstado deve apoiar projetoseducativos, confessionais

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ou outros, e velar para quecumpram o serviço à educação, norespeito pela diversidade deopções». E caberá aos pais exercero direito fundamental de escolher aescola, inscrito na Constituiçãodesde há quase quatro décadas.Que esta Semana da

Liberdade de Educação seja maisum contributo válido na busca destedesafio nacional.

Jorge CotovioSecretário-Geral da APEC

- Associação Portuguesade Escolas Católicas

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O holocausto ainda mexe…

Tony Neves

‘O terror de Auschwitz – Birkenau’ foi o título quedei à reportagem que fiz nestes campos deextermínio nazi, em território polaco. A história étriste e dolorosa, com um único dia de alegria eesperança: 27 de Janeiro de 1945. O terror deAuschwitz e Birkenau acabou com a chegada dastropas aliadas. 60 anos depois, nevava eAuschwitz estava vestido de branco, naqueleinverno de 2005. As televisões do mundo inteiromostravam figuras grandes do nosso mundo queali foram recordar os horrores, para que não serepitam outra vez. Como dissera em Nova Iorqueo enviado do Papa à Assembleia Geral da ONU:é importante ‘recordar a libertação de Auschwitzpara não esquecer o terror de que o homem écapaz.’.J. Paulo II enviou uma mensagem a Auschwitz,lida pelo Núncio Apostólico na Polónia, com oobjectivo de ‘recordar o trágico fruto de um ódioprogramado’. Dizia ainda: ‘A ninguém é lícito,diante da tragédia do Holocausto, ignorá-la. (...).É um crime que ameaça para sempre a históriada humanidade. (...). E o Papa pediu que sefizesse justiça histórica à Polónia, ‘esta naçãoque havia enfrentado tantos sacrifícios nalibertação do continente europeu da nefastaideologia nazista, e tinha sido vendida emescravidão a outra ideologia destruidora: ocomunismo soviético.’Em dia gelado, o mundo inteiro pôde escutar avoz rouca e cansada do velho Cardeal Lustigerde Paris, enviado especial do Papa.

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Filho de judeus, Jean-MarieLustiger, fez uma peregrinaçãodolorosa a esta ‘fábrica de morte’,pois a sua mãe ali morreu nosfornos crematórios às ordens deHitler. Com voz embargada, disseque esta tragédia deve soar comoum aviso às gerações presentes efuturas.Escrevi, após a visita: ‘Auschwitz eBirkenau são símbolos eloquentesda barbárie humana. Aqui forammortos (nas câmaras de gás, porfuzilamento...) milhões de pessoas,durante a 2ª Grande GuerraMundial. Uma visita a estes lugaresde morte faz abalar todos osconceitos de dignidade humana quepossamos ter. Ver as roupas, ossapatos, as malas, os óculos, asescovas de

dentes e de calçado, os locais dedormitório, os arames farpados eelectrificados... e, sobretudo, osfornos crematórios e o muro defuzilamento, faz doer a alma. É,apesar de tudo, bom recordar asbarbaridades do passado para asnão repetir no presente e no futuro’.Os Bispos da Alemanha ali estavam,lado a lado, com os Bispos daPolónia e muitos sobreviventes doholocausto. Em declaraçãoconjunta, os prelados germânicosreprovaram a vergonhosahumilhação a que foram submetidosmilhões de seres humanos eformularam um voto: erradicar dahumanidade todas as formas deanti-semitismo.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Já Bocage não sou!... À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura. Conheço agora já quão vã figura Em prosa e verso fez meu louco intento. Musa!... Tivera algum merecimento, Se um raio da razão seguisse, pura! Eu me arrependo; a língua quase fria Brade em alto pregão à mocidade, Que atrás do som fantástico corria: Outro Aretino fui... A santidade Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia, Rasga meus versos, crê na eternidade! Bocage

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