maio de 2006 • ano 3 • nº 22 do...

62
Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 www.desafios.org.br do desenvolvimento Democracia MODO DE USAR Neste ano, quase 130 milhões de brasileiros irão às urnas. A questão é como garantir votos conscientes e políticos mais coerentes desafios Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 desafios CIDADES As campeãs de crescimento estão no Centro-Oeste, mas a expansão não se reflete em qualidade de vida INFRA-ESTRUTURA Estudo inédito do Ipea radiografa e apresenta o ranking dos 24 portos exportadores do Brasil MUNDO Opção preferencial pela África abre novos mercados, mas não traz saldo comercial positivo Ian Mckinnell/GettyImages R$ 8,90 Capa22 02/05/06 17:59 Page 1

Upload: dokiet

Post on 11-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

M a i o d e 2 0 0 6 • A n o 3 • n º 2 2 w w w . d e s a f i o s . o r g . b r

do desenvolvimento

DemocraciaMODO DE USAR

Neste ano, quase 130 milhões de brasileiros irão às urnas. A questão é como garantir votos conscientes e políticos mais coerentes

desafios

Maio de 2

00

6 • A

no 3 • nº

22

desafios

CIDADESAs campeãs de crescimento estão no Centro-Oeste, mas a expansão não se ref lete em qualidade de vida

INFRA-ESTRUTURAEstudo inédito do Ipea radiografa e apresenta o ranking dos 24 portos exportadores do Brasil

MUNDOOpção preferencial pela África abre novos mercados, mas não traz saldo comercial positivo

Ian

Mckin

nell/

Getty

Imag

esR

$ 8

,90

Capa22 02/05/06 17:59 Page 1

Page 2: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 3

Rafael Melo e SilvaIraque: oportunidades para o Brasil

Daniel da MataO sucesso de algumas cidades

Debate sem fronteirasO dilema do ajuste fiscal

desafiosdo desenvolvimento

8

16

24

32

40

48

54

Entrevista Nobuo TanakaO jeito é inovar, diz o diretor de ciência, tecnologia e indústria da OCDE

Sociedade A escolha é nossaIniciativas tentam garantir que o voto seja cada vez mais responsável

Urbanização Metrópoles em movimentoEstudo mostra que as cidades que mais crescem são as do Centro-Oeste

Comércio exterior África em focoO continente volta a ser destaque entre as prioridades de empresários e diplomatas

Infra-estrutura O mapa dos portos

Ipea traça o perfil e apresenta o ranking dos portos exportadores

Meio ambiente Vidas secasNo Brasil o avanço da aridez dobrou nas duas últimas décadas

Melhores práticas SUS PlusHospital de Clínicas de Porto Alegre usa tecnologia para melhorar o atendimento

14

31

38

Sumário

Artigos Giro

Circuito

Estante

Indicadores

Cartas

6

60

62

64

66

Seções

16

Beto

Bar

ata/

Folh

a Im

agem

32Mi

chae

l Mel

ford

/Get

tyIma

ges

40

Edso

n Le

ite/M

T

48

Anto

nio

Gaud

ério

/Fol

ha Im

agem

� 6XPiULR� � � � � � � � � � � � � � � � � � � 3DJH� �

Page 3: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

4 Desafios • maio de 2006

desafiosdo desenvolvimento

Faltam cinco meses para o primeiro turno das eleições e, como eraprevisível, o tema já ocupa as manchetes. Candidatos, propostas,coligações, denúncias… o clima de disputa que precede o pleito tomacorpo. Pela quinta vez consecutiva, a população decidirá o nome dopresidente, dos governadores e parlamentares. Haverá a festa da vitóriae a posse, como manda o figurino da boa democracia. Mas o que virádepois? O que temos assistido é um processo no qual, ao longo do tempo, a euforia e a esperança são gradativamente minadas porescândalos que provocam insatisfação e indignação em relação aocomportamento de alguns políticos. Desafios elaborou uma série dereportagens discutindo o que é possível fazer para que a história nãotenha esse final frustrante.A primeira trata justamente docompromisso entre o político e o eleitor. Como garantir que o cidadãoconheça de fato as idéias e o perfil do candidato, e não apenas a facetasuperficial? E depois, o que é necessário para que o eleito cumpra suaspromessas? Constatamos que a responsabilidade de melhorar odesempenho da classe política está nas mãos de todos. Há bastanteinformação disponível para o eleitor, mas ele muitas vezes não teminteresse nem condições de investigar melhor antes de apertar o botão“confirma”da urna. Por outro lado, ainda há espaço para melhorar aforma como a informação é oferecida, facilitando a pesquisa em meioao bombardeio propagandístico. Também descobrimos que faltamprocessos de controle para que o candidato vitorioso mantenha suapalavra. Uma vez empossado, ele tem poder para tomar decisões quecontrariam as propostas pré-eleição, e essa cultura precisa mudar.Mas o lado bom é que há muita gente pensando nesse assunto,propondo iniciativas para tornar mais transparentes o discurso e aprática. Talvez elas não sejam aplicadas já no próximo pleito, masseguramente ajudarão a dar mais um passo no sentido de amadurecera jovem democracia nacional.Além dessa reportagem, Desafiostambém aborda o crescimento das cidades brasileiras, que avançarumo ao Centro-Oeste. Traz um ranking inédito dos portos queoperam com comércio exterior e analista os frutos da opção dogoverno federal em transformar a África em parceira privilegiada doBrasil. Para encerrar, uma excelente novidade vinda do Hospital deClínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que, por meio dainformatização de seus sistemas, conseguiu melhorar muito oatendimento aos pacientes e a utilização dos recursos materiais ehumanos. Boa leitura!

Andréa Wolffenbüttel, Editora-Chefe

Cartas ou mensagens eletrônicas devem ser enviadas para: [email protected] de redação: SBS Quadra 01, Edifício BNDES, sala 801 - CEP 70076-900 - Brasília, DFVisite nosso endereço na internet: www.desafios.org.br

Carta ao leitorwww.desafios.org.brInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)PRESIDENTE Glauco Arbix

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)REPRESENTANTE INTERINO NO BRASIL Lucien Muñoz

DIRETOR-GERAL Luiz Henrique Proença Soares

ASSISTENTE Mary Cheng

CONSELHO EDITORIAL Andréa Wolffenbüttel, Bruno Araújo, Divonzir Gusso,Glauco Arbix, João Carlos Magalhães, Karla P. Correa, Leonardo Rangel,Lucien Muñoz, Luiz Fernando L. Resende, Luiz Henrique P. Soares,Mary Cheng, Murilo Lobo, Pérsio Davison, Renato Villela

RedaçãoEDITORA-CHEFE Andréa Wolffenbüttel

EDITOR Ottoni Fernandes Jr.

EDITORAS ASSISTENTES Lia Vasconcelos e Marina Nery

REPÓRTER Manoel Schlindwein

COLABORADORES Eliana Simonetti, Patrícia Marini (redação),Anderson Schneider,Tánia Meinerz (fotografia), Ivana Gomes (revisão),Renato Breder (arte)

PROJETO GRÁFICO E DIREÇÃO DE ARTE Renata Buono

ARTE Rafaela Ranzani

FOTO DA CAPA Ian Mckinnell/GettyImages

PublicidadeDIRETORA Bia Toledo • [email protected]

REPRESENTANTES

BAHIA E SERGIPE Canal C ComunicaçãoTel. ( 71) 358-7010, (71) 9988-4211• e-mail: [email protected]ÍRITO SANTO • Mac Marketing e Assessoria de ComunicaçãoTelefax (27) 3229-2579 • e-mail: [email protected]Á • Sec Soluções Estratégicas em Comercialização Ltda.Tel. (41) 3019-3717 – Fax (41) 3019-3716 • e-mail: [email protected] GRANDE DO SUL • RR Gianoni RepresentaçõesTel. (51) 3388-7712 • e-mail: [email protected] CATARINA • Sec Soluções Estratégicas em Comercialização Ltda.Tel. (48) 348-4121, (48) 9977-9124 • e-mail: [email protected]

Circulação GERENTE Flávia Cangussu • [email protected]

AtendimentoPaula Galícia (coordenadora) • [email protected]

RedaçãoSBS Quadra 01, Edifício BNDES, sala 801 - CEP 70076-900 - Brasília, DFTel.: (61) 315-5188 Fax: (61) 315-5031

Circulação e PublicidadeRua Urussuí, 93, 13° andar, CEP 04542-050 - São Paulo, SPTel./Fax: (11) 3073-0722

Administração Instituto UniempAv. Paulista, 2198, conjunto 161 – CEP 01310-300 - São Paulo, SPTel.: (11) 2178-0466 Fax: (11) 3283-3386

Assinaturas TeletargetTel.: (11) 3038-1479 Fax: (11) 3038-1415 • [email protected]

Atendimento ao Jornaleiro LM&X - Tel.: (11) 3865-4949

Impressão Globo-Cochrane Gráfica e Editora

Distribuição Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações

Instituto de Pesquisa Econômica AplicadaMinistério do Planejamento, Orçamento e Gestão

Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoOrganização das Nações Unidas

OS ARTIGOS E REPORTAGENS ASSINADOS NÃO EXPRESSAM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO IPEA E DO PNUD.É NECESSÁRIA A AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES PARA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DO CONTEÚDO DA REVISTA.

JORNALISTA RESPONSÁVEL • Andréa Wolffenbüttel

Patrocínio Apoio

CARTA AO LEITOR 02/05/06 18:02 Page 4

Page 4: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

6 Desafios • maio de 2006

GIRO

As belas e compridas araucárias, típicas do sul dopaís, estão desaparecendo. Paulo Kageyama, diretorde conservação da biodiversidade do Ministério doMeio Ambiente (MMA), lamenta que “em 500 anosconseguimos acabar com 99% da floresta de arau-cárias existente no Brasil ”.Agora, qualquer ação quevise melhorar essa situação é muito bem-vinda.Uma proposta do MMA para a criação de um cor-redor ecológico para as araucárias foi apresentadadurante a 8ª Conferência das Partes da Convençãosobre Diversidade Biológica (COP 8), realizada em

março em Curitiba. Kageyama é o autor do projetoque pretende interligar as unidades de conservaçãoda árvore que já existem no Paraná e em SantaCatarina com o corredor para possibilitar a disper-são da espécie e a recolonização das áreas degra-dadas. As últimas negociações para a implantaçãodo projeto estão em andamento, mas ainda falta adefinição da área que abrigará o corredor. Espera-se que tudo esteja resolvido até o final deste mês.Os recursos virão de um programa conjunto coma Alemanha.

“Não basta decidir que o obje-tivo é ter uma Justiça ágil e de boaqualidade, é preciso complemen-tar essa intenção dizendo que ca-sos do tipo X terão uma soluçãodo tipo A, em Y dias, e que a satis-fação dos usuários seja N% maiorque a do ano anterior.” Essa é aprincipal conclusão de um estudoelaborado pelo Programa das Na-ções Unidas para o Desenvolvi-mento (Pnud), encomendado pe-lo Ministério da Justiça para orien-

tar os trabalhos do Conselho Na-cional de Justiça, órgão respon-sável pelo controle externo do Ju-diciário. O documento apresentaanálises de experiências de Con-selhos de Justiça ou órgãos simi-lares na Argentina, Chile, Colôm-bia, México, Portugal e Espanha, eafirma que para um bom fun-cionamento é preciso estabelecermetas claras. O texto menciona oexemplo do Chile, onde uma co-missão formada por representantes

da Corte Suprema e da Corpora-ção Administrativa do Poder Judi-cial define, anualmente, objetivosde gestão para os tribunais.No de-correr do ano, são feitas avaliaçõespara acompanhar o desenvolvi-mento das metas.E,ao final do pe-ríodo, os resultados são medidosde acordo com uma série de indi-cadores criados com esse objetivo.Toda essa estrutura permite que oJudiciário preste contas de seu de-sempenho para a população.

Justiça

Agilidade e clareza

Monitordas reformas

Apenas três reformas têm ocu-pado de forma mais intensa otrabalho dos parlamentares: ada Constituição, a do Judiciá-rio e a Tributária. O presidenteda Câmara propôs a votação,pelo menos, da minirreformatributária apresentada pelogoverno, cujo principal tópicoé o Fundo de Desenvolvimentodos Estados. Mas o processoesbarrou nas restrições feitaspelos governadores que se di-zem prejudicados por umaeventual unificação das alí-quotas do Imposto sobre Cir-culação de Mercadorias ePrestação de Serviços (ICMS).A oposição, por sua vez, con-corda apenas em aprovar oaumento de um ponto percen-tual no Fundo de Participaçãodos Municípios. Quanto à se-gunda etapa da reforma doJudiciário, ela continua estásendo debatida e foi assunto,inclusive, de um chat promovi-do pelo site da Câmara, du-rante o qual a população pôdeexpor suas dúvidas e dar su-gestões ao relator da comis-são que analisa a reforma, odeputado Paes Landim (PTB-PI). A reforma Constitucionalainda está em fase inicial. Oscongressistas estão discutin-do quais capítulos da Consti-tuição podem ser alterados,assim como as condições ne-cessárias para fazê-lo.

Meio ambiente

Para não acabar

DivulgaçãoPesquisa Nair Rabelo

Texto Andréa Wolffenbüttel

GIRO 02/05/06 18:03 Page 6

Page 5: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 7

O Sindicato Nacional de Com-ponentes Automotivos (Sindipe-ças) está preocupado com a con-corrência dos fabricantes chine-ses.As exportações de autopeçasdaquele país cresceram 55,38%entre janeiro e fevereiro deste ano,em relação a 2005. Cerca de umquarto da produção brasileira évendida ao exterior e os empre-sários temem perder mercadopara os chineses.

China

Autopeças

A concessionária Biogás Ener-gia Ambiental, responsável pelagestão do aterro sanitário Ban-deirantes, na cidade de São Pau-lo, e o banco alemão KFW fir-maram o que está sendo conside-rado o maior contrato do mun-do para comercialização de cré-ditos de carbono. De janeiro de2004 a fevereiro de 2006,o aterroproduziu cerca de 1,5 milhão detoneladas de crédito com a quei-ma do gás metano. Com a tone-lada cotada a 5 euros no merca-do europeu,a venda do que já foiproduzido deve render quase 20milhões de reais, que serão divi-didos pela metade entre a pre-feitura – proprietária do aterro –e a Biogás. O contrato vale paraos próximos 15 anos.“Converteressas perdas de metano em todasas opções possíveis é fundamen-tal para o controle da emissão degás na atmosfera e a redução doefeito estufa”, afirma Hélio Ne-ves, chefe de gabinete da Secre-taria do Verde e Meio Ambienteda prefeitura de São Paulo.

Créditos de carbono

Contrato milionário Como se visualiza a liderança?

Que imagem poderia represen-tar o ideário que envolve a po-sição de destaque? Essa pergun-ta guiou uma pesquisa feita nauniversidade de administraçãoWharton, na Pensilvânia, nosEUA, na qual 2 mil calouros ti-veram de escolher uma imagempara representar a liderança.Ana-lisados os dados, foram classifi-cados três tipos de resposta: pre-visível, incomum e de múltiplaspartes interconectadas. Repre-sentando as tradicionais, esta-vam fotos de Nelson Mandela,Mahatma Gandhi e outros quefizeram história.Várias imagensde cadeados, peças de quebra-cabeças e apertos de mãos sur-giram. Todas representariam aidéia de equipe unida. Os exem-plos incomuns são árvore, vo-lante e bolinha de borracha. Ovegetal simboliza a posição du-plamente firme e visionária, ovolante apontaria a direção e abolinha evocaria a flexibilidade.Inusitado mesmo foi o travessei-ro, interpretado como a acomo-dação do chefe.

Comportamento

A cara do chefe

Saúde

Obediência cresce 940%

A peça Um porto para Eliza-beth Bishop, escrita pela drama-turga brasileira Marta Góes, foiencenada em Nova York. O textotrata da conturbada vida da poe-tisa norte-americana ElizabethBishop, que viveu no Brasil entreos anos 1951 e 1967. Com umainfância solitária e problemascom álcool, Bishop teria afirma-do que seus anos mais felizes fo-ram aqueles passados em terrasbrasileiras, quando viu desabro-char seu talento literário. O mo-nólogo é interpretada pela atrizAmy Irving. A peça, publicadaoriginalmente em 2001, foi ence-

nada nas maiores capitais brasi-leiras, tendo Regina Duarte comoprotagonista. Em cartaz desde 21de março, o espetáculo alcançouum bom público e resenhas favo-ráveis nos jornais The New YorkTimes e The Wall Street Journal.Irving, que também já morou noBrasil, recebeu boas críticas porsua atuação. Num total de 42 a-presentações, o monólogo foi vis-to por mais de 4 mil pessoas. Napré-estréia, a platéia contou coma presença do prestigiado autorde Quem tem medo de VirginiaWolf?, Edward Albee, ganhadorde três prêmios Pulitzer.

Cultura

Peça brasileira nos palcos de NY

Crianças brincam, correm, pu-lam, machucam-se e voltam abrincar mais uma vez. Essa dispo-sição é uma das características daidade que os adultos mais invejam.Mas uma onda de consumo demetilfenidato, um remédio pres-crito para a hiperatividade, podeestar diminuindo o ritmo da brin-cadeira.Pesquisa feita no início doano pelo Instituto Brasileiro deDefesa dos Usuários de Medica-

mento (Idum) mostrou um cres-cimento exagerado na compra doproduto: 940% entre os anos de2000 e 2004. O Idum acredita queesse movimento não esteja relacio-nado ao aumento da incidência dodistúrbio, mas à massiva publici-dade feita pelos laboratórios.“A in-fluência da propaganda nos médi-cos mostra o poder da mídia sobrea prescrição de medicamentos”,dizAntônio Barbosa,coordenador do

Idum. No meio médico, a contro-vérsia ganha espaço. O metilfe-nidato é indicado para portadoresdo transtorno de déficit de atençãoe hiperatividade (TDAH), queatinge de 3% a 5% das crianças nopaís.Alguns profissionais apontamum excesso no uso do produto,enquanto outros crêem que o dis-túrbio está sendo mais conhecido,o que gera um número maior dediagnósticos acertados.

Divulgação

GIRO 02/05/06 18:03 Page 7

Page 6: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

8 Desafios • maio de 2006

A polít ica de inovação é bem mais abrangente do que uma polít ica de ENTREVISTA

pós participar da Conferência Global da Organização para a Cooperação e o DesenvolvimentoEconômico (OCDE) realizada no mês passado, em Brasília, o diretor de ciência, tecnologia e in-dústria da organização, Nobuo Tanaka, disse, em entrevista a Desafios, que sem inovação não há

crescimento. E que a criatividade mora nas pequenas e médias empresas. O encontro, aliás, tratou justa-mente do financiamento aos pequenos negócios. Mas, segundo Tanaka, para estimulá-los é preciso cui-dar das pessoas, desregulamentar a economia e fazer mais, muito mais. A boa notícia é que os paísesestão se dando conta dessas necessidades.

A

Nob

uo T

anak

a

O jeito é inovarP o r L i a V a s c o n c e l o s , d e B r a s í l i a

Anderson Schneider

ENTREVISTA 02/05/06 18:05 Page 8

Page 7: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 9

Desafios – Por que o Brasil foi escolhido para

sediar essa reunião da OCDE?

Tanaka – Porque sabemos que as difi-culdades das pequenas e médias em-presas são muito maiores em países emdesenvolvimento. E que é justamentenesses países que elas podem ter papelmais importante. O Brasil foi escolhi-do por ter uma política para pequenase médias empresas comparável à depaíses mais ricos. Esse evento é umareunião comparativa para identificaro papel que pequenas e médias podemdesempenhar no crescimento econô-mico. O Brasil é, de certa forma, umlíder diplomático do mundo em de-senvolvimento, atrai a atenção dos quetêm características e problemas seme-lhantes. Cerca de 60 países, com seusministros, vice-ministros e políticos dealto escalão, estiveram presentes, alémde representantes de financiadores e depequenas e médias empresas. Juntos,construímos e revelamos ao mundouma agenda para o crescimento.

Desafios – Quais foram os principais resulta-

dos da conferência?

Tanaka – Nessa reunião ficou claro queo papel das pequenas e médias empre-sas na revitalização da economia é cadavez maior. Tempos atrás, os países ten-tavam desenvolver as grandes corpo-rações. Considerava-se estratégico sub-sidiar grandes empresas. Era o antigomodelo de política industrial. Agoraessas indústrias estão passando porum processo de enxugamento, redu-zindo o número de empregos. Muitasvezes se mudam para países onde oscustos de produção e trabalho sãomenos elevados. Para enfrentar a si-tuação, as políticas industriais preci-sam ser mudadas dramaticamente.Vi-vemos no tempo da economia do co-nhecimento. Pequenos e médios em-preendimentos têm papel de destaquenesse ambiente. São mais criativos einovadores. Por serem pequenos, po-dem mudar rapidamente, adaptar-se a

novas realidades e, assim, contribuirpara o desempenho da economia.

Desafios – Como se percebeu a mudança nas po-

líticas nacionais?

Tanaka – A OCDE identificou a mu-dança estrutural e perguntou aos repre-sentantes dos países-membros que tipode atitude seus governos vinham ado-tando em relação às pequenas e médias.No passado, quando a grande corpo-ração tinha mais vantagens compara-tivas em relação às empresas menores,a política buscava protegê-las da con-corrência.Mas agora desco-brimos quediversos países já identificam negóciosmenores que podem crescer, especial-mente se tiverem acesso a novas tecno-logias e adotarem modelos inovadoresde administração. Então, os técnicosdas esferas públicas passaram a buscarpequenas empresas em condições deexercer papel de destaque na econo-mia, para definir como o governo po-deria ajudá-las a crescer – com apoio àpesquisa e ao desenvolvimento, à for-mação de recursos humanos ou, porexemplo, com a concessão de incen-tivos fiscais.

Desafios – Como se dá, nos países, a per-

cepção da importância do estímulo à inovação?

Tanaka – Em geral, os governos ten-tam promover o crescimento econô-mico, mas seus recursos são limita-dos. A maioria deles não se encontraem situação fiscal realmente boa.Muitos têm déficits nos gastos gover-namentais, e estimular a macroecono-mia com redução na taxa de juro nãoé tarefa fácil. Inúmeros responsáveispelas políticas de desenvolvimento es-tão com as mãos atadas. Nessas con-dições, como promover o crescimen-to? O mais comum é o investimentoem setores estruturais, iniciativas naárea de mercado de trabalho, de desre-gulamentação. Agora parece ter ficadoclaro que o estímulo à inovação é muitoimportante. Ela ocorre essencialmente

c iênc ia e tecno log ia – inc lu i educação, t raba lho, impostos e custos compet i t i vos

O economista Nobuo Tanaka, nascido nodia 3 de março de 1950 em Yokohama, distan-te 30 km da capital japonesa, tem 56 anos deidade. É casado, pai de dois filhos e tem umcurrículo impressionante. Graduou-se na Uni-versidade de Tóquio e cursou MBA na CaseWestern Reserve University de Cleveland, nosEstados Unidos. Estreou profissionalmente em1973, no Ministério da Economia, Comércio eIndústria do Japão.Servia de ponte entre o mi-nistério, sua embaixada em Washington e a Or-ganização para a Cooperação e o Desenvolvi-mento Econômico (OCDE). Foi vice-diretor e di-retor de energia nuclear, do departamento derecursos naturais, e da tecnologia e indústria.Nomeado vice-diretor de ciência, tecnologia eindústria da OCDE em 1989, logo foi promovi-do a diretor. Passou pela embaixada japonesaem Washington e em Paris.Voltou ao ministériojaponês e viabilizou o mercado de opções. Emtrês décadas, participou de incontáveis nego-ciações internacionais.Conheceu culturas,pes-soas,empresas e governos com característicasdiversificadas.

Desde 2004 coordena o departamento deciência, tecnologia e indústria da OCDE. Suafunção é ajudar os 30 países da organizaçãoa compreender a necessidade de adaptaçãoaos desafios impostos, pela globalização epela evolução tecnológica, às pessoas, às em-presas e aos governos – sem falar dos orga-nismos multilaterais. Sua equipe coleta dados,faz análises e propõe debates.“Há 20 anosbuscamos compreender como a internet podecontribuir para a melhoria da performanceeconômica dos países”, diz. Nesse meio tem-po, outra questão ocupou corações e mentesde seu pessoal: a biotecnologia. E já surgiumais uma inquietação: a nanotecnologia.“Es-tamos tentando identificar as potencialidadesdessa área para definir a agenda de deba-tes”, explica.Tanaka corre contra o relógio. Ospesquisadores têm sido mais ágeis do que osgovernos. Como bom maratonista, entretanto,ele é incansável. E otimista.

Maratonista daexuberância econômica

ENTREVISTA 02/05/06 18:06 Page 9

Page 8: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

10 Desafios • maio de 2006

Anderson Schneider

ENTREVISTA 02/05/06 18:06 Page 10

Page 9: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 11

no setor privado, ajuda a criar empre-gos e estimula o crescimento, sem re-querer grande dispêndio público. AEuropa, por exemplo, criou a chama-da Agenda de Lisboa no ano 2000. Es-tabeleceu a necessidade de incremen-tar a atenção às políticas de inovaçãopara que a competição com os Esta-dos Unidos não se tornasse inviável.Os países começaram a reformar suaspolíticas incentivando as empresas a i-novar e contribuir para o desenvolvi-mento regional. Perceberam que essaé uma forma mais eficiente de usarseus recursos. Que, em vez de gastarem rodovias ou prédios, é melhor es-timular as empresas a inovar. Essa é achave para uma economia bem-suce-dida e competitiva. Nos Estados Uni-dos ocorreu o mesmo. O Japão se deuconta agora e está iniciando um pou-co tardiamente esse movimento, masestá começando.

Desafios – A fórmula é a mesma para os paí-

ses em desenvolvimento?

Tanaka – Sim. Mas, para que ocorraum crescimento real da economia, es-se processo deve ser auto-sustentável,com a expansão das atividades do se-tor privado. Investimentos estrangei-ros ajudam muito, estimulam a eco-nomia e a produtividade, como é pos-sível constatar nos casos da China e daÍndia. Pequenas e médias empresastêm de ser inovadoras ou não cresceme não competem. Para criar um am-biente em que elas possam se desen-volver, a palavra-chave é inovação. Es-sa é uma questão determinante e ho-je compõe a agenda de quase todosos países.

Desafios – Como o senhor compara as tra-

jetórias da China e da Índia com a do Brasil?

Tanaka – Brasil, Rússia, Índia, China eÁfrica do Sul. Esses cinco países sãoconsiderados, pela OCDE, as princi-pais economias emergentes. O Brasil édiferente em termos de alocação de re-cursos, material humano, condiçõesgeográficas, ou seja, tem característicasdistintas da China e da Índia, mas, em

termos de potencial econômico, de li-derança no mundo em desenvolvimen-to, pode exercer papel de destaque. NaAmérica Latina, o México já participada OCDE.O Brasil compõe muitos co-mitês dessa organização, como os quediscutem investimentos, agricultura ecomércio. Agora pleiteia o posto deobservador do comitê de política cien-tífica e tecnológica. Essa é uma formamuito natural de ganhar experiência.AChina já usou desse expediente, já foiobservadora do comitê de políticacientífica e tecnológica por saber que

ali estavam as chaves do desenvolvi-mento econômico. Os chineses, assimcomo os brasileiros, querem aprendervendo o que os outros países estão fa-zendo. Recentemente, a China pediu àOCDE que fizesse sugestões para a re-formulação de sua política de inova-ção, que estudasse seu caso, pesquisas-se o assunto. E as recomendações daorganização ajudaram o país. Eu espe-ro que o Brasil venha a participar docomitê de política científica e tecnoló-gica e alcance o mesmo sucesso que aChina obteve.

Desafios – O que a OCDE faz para estimular a

inovação e as pequenas e médias empresas?

Tanaka – Fazemos muitos estudos so-

bre inovação.Mantemos discussão per-manente em torno da agenda de polí-ticas nessa área. Por exemplo, dos gas-tos públicos com pesquisa e desenvol-vimento e da formação de recursoshumanos. Muitas vezes, universidadese organizações públicas criam conhe-cimento que não é transmitido ao setorprivado. Incentivar a interação entreuniversidade e o mundo dos negóciosé bastante importante. Os membros daOCDE estão construindo núcleos detransferência de tecnologia, criandocentros de excelência nas universidadese promovendo o investimento priva-do nesses centros. O trabalho conjun-to dos setores privado e público ajudaa descobrir novas tecnologias e a co-mercializá-las. As políticas que favo-recem a ligação entre os dois mundosvêm se multiplicando. O Japão incen-tiva a criação de companhias dentrodas universidades utilizando os escri-tórios de transferência de tecnologia.A França desenvolveu uma estratégiade inovação industrial em diferentesregiões do país em cooperação com aAlemanha. O governo francês ajuda osetor privado a investir em pesquisa edesenvolvimento. Criou pólos de na-notecnologia e biotecnologia. Os clus-ters atendem aos setores público e pri-vado. Essas são políticas de inovaçãorecentes que surtem efeito.

Desafios – Isso funciona também em regiões

mais pobres?

Tanaka – Sim. Recentemente, soube-mos de um caso de sucesso em Extre-madura, a área mais pobre da Espa-nha. Lá foi feito algo muito interessan-te: a criação de um pólo de software li-vre, com a implantação de programasnão proprietários em todos os com-putadores das escolas, dos escritóriosgovernamentais, dos hospitais, etc.Depois de cinco ou seis anos, Extre-madura se tornou a capital mundialdo software livre. Quando ocorre umproblema, logo é organizado um se-minário on-line com especialistas e co-laboradores do mundo inteiropara re-solvê-lo. Dessa forma, o conhecimento

O Brasil tem características

distintas da China e da

Índia, mas tem potencial para

exercer papel de destaque.

Espero que participe do

comitê de política científica

e tecnológica da OCDE

e alcance o mesmo sucesso

que a China

ENTREVISTA 02/05/06 18:07 Page 11

Page 10: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

12 Desafios • maio de 2006

apresentam resultados mais positivosdo que os maiores. Isso porque, se umpaís pequeno tem um cluster muitobem-sucedido, ele é suficiente para me-lhorar o desempenho econômico co-mo um todo. Economias maiores pre-cisam de muitos clusters para obter omesmo resultado. É o caso dos EstadosUnidos, onde há muitos, inovadores ede alta tecnologia. A Irlanda deixoude ter uma economia essencialmenteagrícola. Como? O primeiro passo foitransformar Dublin, a capital, em desti-no atraente para investimentos estran-geiros. Agora, o país atrai e mantémcorporações em seu território com in-vestimentos em pesquisa e desenvolvi-mento de alta tecnologia. Resultado:seus trabalhadores especializados, quetinham emigrado, estão voltando. Eessa é uma experiência que pode ser

aproveitada em países como Brasil, Ja-pão ou França. Para a OCDE a criaçãode clusters inovadores é uma das políti-cas mais importantes – e, quanto maisnumerosos eles forem, melhor.

é criado, acumulado e multiplicado.Como conseqüência, surgiram muitasempresas e agora a região está venden-do seu modelo a outros países, comoBrasil, Peru e Chile. É uma boa políticapara a inovação.

Desafios – O Brasil deveria seguir o modelo de cri-

ação de clusters?

Tanaka – É interessante, mas não vaifuncionar se os países fizerem todos amesma coisa. A experiência de Extre-madura foi muito peculiar.

Desafios – Por quê?

Tanaka – Qualquer conhecimento queesteja acumulado numa região espe-cífica deve ser utilizado. Mas, entre ossócios da OCDE, temos observado queos menores países – Irlanda, Finlân-dia, Dinamarca, Suíça, Luxemburgo –

Os governos federais

precisam parar de intervir

demais em questões

regionais. Quem está nas

regiões conhece melhor suas

potencialidades, forças,

recursos e limitações. É mais

sensato deixar o governo

regional decidir

ENTREVISTA 02/05/06 18:07 Page 12

Page 11: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 13

Desafios – Qual é o papel do Estado no f inancia-

mento e na promoção da inovação?

Tanaka – Os governos federais deveri-am deixar as decisões com os governoslocais. Quem está na região conhecesuas potencialidades, forças, recursos elimitações. É mais sensato deixar o go-verno regional decidir, pensar, planejare competir com outras regiões. Muitasvezes até as universidades federais sãotolhidas. É preciso deixá-las livres pa-ra fazer pesquisas, estabelecer parce-rias e desenvolver conhecimentos ecompetências para atender à deman-da local. Os governos federais devemparar de intervir.

Desafios – Mas, além dos clusters, qual o papel do

Estado na promoção da inovação?

Tanaka – A OCDE parte do pressu-posto de que é preciso deixar o merca-

do agir. O Estado pode contribuir am-pliando a mobilidade e a flexibilidadedos trabalhadores. Concedendo in-centivos fiscais a empresas inovadoras.Aumentando os recursos de financia-mento à pesquisa, atraindo estudio-sos, facilitando a entrada de pesquisa-dores no país.Pode ainda oferecer atra-tivos para a formação de trabalhado-res em setores de alta tecnologia. Edu-cação e saúde de qualidade, entre ou-tras coisas, são fundamentais na atra-ção de talentos.A política de inovaçãoé bem mais abrangente do que umapolítica de ciência e tecnologia – in-clui educação, trabalho, impostos ecustos competitivos.

Desafios – A produção científ ica brasileira tem

crescido muito nas últimas décadas, mas o número de

pedidos de patentes não tem acompanhado o ritmo.

Como mudar esse cenário?

Tanaka – Se os gastos com ciência etecnologia não estão contribuindopara o aumento de registro de paten-tes, talvez haja um problema de liga-ção entre os setores privado e públicono Brasil. Mas o número de patentesnão é necessariamente um bom indi-cador de inovação. Algumas vezes oregistro reflete somente o interesse emproteger um conhecimento. Há doisaspectos relacionados às patentes. Oprimeiro é positivo, elas incentivamos inventores a fazer mais, já que ga-rantem um período de monopólio doconhecimento, e com isso o retornodo investimento. O segundo, negati-vo, é que as patentes impedem que oconhecimento se torne público, rapi-damente, retardando assim a difusãotecnológica. d

Fotos: Anderson Schneider

ENTREVISTA 02/05/06 18:08 Page 13

Page 12: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

14 Desafios • maio de 2006

R a f a e l M e l o e S i l v aARTIGO

o atual mercado, um dos principais de-safios das empresas é manter e aumentara demanda por seus produtos e serviços.A acirrada competição torna cada vez

mais disputado o mercado interno. Surgem, as-sim, limitações ao desenvolvimento dos negó-cios. Como uma das principais opções para su-peração desses obstáculos tem-se a internacio-nalização, com vistas à exportação de bens.

As exportadoras nacionais têm buscado ga-nhar maior espaço nos principais mercados mun-diais,como o norte-americano e o europeu.Essesmercados, tradicionais, no entanto, se encontramnum estado já maduro.A penetração da concor-rência internacional,ali, é muito forte,o que limi-ta a ação de novos entrantes. Uma alternativa dedestaque para contornar esta dificuldade estános mercados não tradicionais. África, Caribe eOriente Médio apresentam oportunidades exce-lentes, sobretudo para países como o Brasil, comimagem neutra e aceitação internacional.

Contudo,mercados não tradicionais,sobretu-do em países subdesenvolvidos,despertam outraspreocupações.Instabilidade financeira,riscos po-líticos e fragilidade econômica tornam as oportu-nidades não tão interessantes e seguras. Nessecontexto, desponta um mercado com demandacrescente, necessidade de modernização e fun-dos para isso: o Iraque.

Desde 2003, com o fim do regime de SaddamHussein, o Iraque encontra-se destruído pelasguerras. Inicia-se o projeto de reconstrução na-cional. Investimentos em infra-estrutura, indús-trias, comércio, saúde, agricultura e outras áreasvêm sendo feitos no país com auxílio financeirointernacional. Atualmente o Iraque conta comverbas superiores a 50 bilhões de dólares, avali-zadas por bancos de primeira linha mundial, aserem aplicadas nesses setores.

Historicamente, Brasil e Iraque sempre man-tiveram relação de amizade e proximidade co-mercial. Durante a década de 1980, o comérciobilateral foi bastante expressivo.As importaçõesbrasileiras restringiam-se, sobretudo, ao petróleoe seus derivados. Já a pauta exportadora conti-nha produtos de diversos segmentos, com desta-

que para o setor alimentício.Durante a década de 1990, houve redução sig-

nificativa das transações entre os dois países emfunção do embargo comercial imposto pela Orga-nização das Nações Unidas (ONU). Mas nos úl-timos anos os volumes de trocas voltaram a se in-tensificar. De 2003 a 2005, as exportações nacio-nais para o Iraque superaram os 150 milhões dedólares, e as importações, em 2005, atingiram 522milhões de dólares.

Parte do empresariado brasileiro já despertoupara as possibilidades da região.A Agência de Pro-moção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) vem investindo na divulgação do país noIraque, com a viabilização da participação deempresas brasileiras de diversos setores em fei-ras na região, como ocorreu no caso do RebuildIraq. Como reflexo direto, as exportações vêmcrescendo significantemente. Já no primeiro bi-mestre de 2006, as vendas para o Iraque totali-zaram mais de 16 milhões de dólares, quandono mesmo período em 2005 ficaram abaixo dos400 mil dólares.

País em reconstrução, carente em diversos se-tores, e especialmente afeito e simpático ao Brasil,o Iraque reúne imensa capacidade de crescimen-to econômico e expansão de sua demanda inter-na.Essas oportunidades latentes de mercado vêmatraindo as principais empresas mundiais.O Bra-sil pode se destacar nesse processo e se consolidarna região.O Iraque abriu suas portas e a corridaestá apenas no início. Assim, este é o momentode investir e fazer valer a qualidade e a competi-tividade dos produtos brasileiros.

Rafael Melo e Silva é empresário de comércio exterior do setor de agribusi-

ness, graduado em Relações Internacionais e consultor em comércio exterior

Iraque: oportunidades para o Brasil

“Já no primeiro

bimestre de 2006,

as exportações para

o Iraque totalizaram

mais de 16 milhões

de dólares, quando

no mesmo período em

2005 ficaram abaixo

dos 400 mil dólares”

NDivu

lgaç

ão

ART_MELLO 02/05/06 18:09 Page 14

Page 13: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Pela quinta vez consecutiva, os brasileiros elegerão o presidente da República, governadores e

SOCIEDADE

Beto

Bar

ata/

Folh

a Im

agem

Democracia 02/05/06 18:11 Page 16

Page 14: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

parlamentares. Iniciativas tentam garantir que o voto seja cada vez mais responsável e consciente

A escolha é nossa

P o r M a n o e l S c h l i n d w e i n , d e B r a s í l i a

Democracia 02/05/06 18:12 Page 17

Page 15: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

18 Desafios • maio de 2006

Só nas ú l t imas e l e i ções, 120 m i l hões de e l e i tores foram às urnas, o que reforça

tafolha de setembro do ano passado.O fenômeno não é exclusivamente bra-

sileiro e também ocorre nos países vizinhos.O estudo “A democracia na América Lati-na”, elaborado pelo Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento (Pnud),verificou que apenas 35,6% dos latino-americanos estão satisfeitos com a demo-cracia no país onde vivem. Pior: 64,4% de-les afirmam que os políticos não cumpremas promessas proferidas durante a campa-nha porque mentem. Apesar dos diversoselementos que garantem transparência àseleições, como propaganda gratuita, direi-tos de resposta e imprensa livre, o clima dedecepção persiste.

Renovação Não é de hoje que intrincadosesquemas de desvios de dinheiro público epráticas antiéticas ganham as manchetes donoticiário. A corrupção provoca rombosnos cofres da nação.As denúncias maculamimagens pessoais,de partidos e instituições.

Uma pesquisa do Departamento Intersin-dical de Assessoria Parlamentar (Diap) ve-rificou que quase metade dos quadros doCongresso Nacional é alterada em eleiçõespós-crise, como a deste ano. Em 1994, de-pois dos escândalos envolvendo o ex-pre-sidente Fernando Collor de Mello (PRN),54% das cadeiras ganharam novo ocupan-te, em função do descrédito dado à classepolítica (leia tabela na pág. 20).

Especialistas do Diap acreditam que ofenômeno deva se repetir em 2006 e aí vema pergunta: há algo mais que o eleitor pos-sa fazer para modificar a história? De certaforma, sim. Ele precisa ser mais criterioso.O bombardeio propagandístico aliado aodesinteresse da maioria da população geral-mente acaba em desastre.Segundo AntônioAugusto de Queiroz, diretor de documen-tação do Diap, as escolhas muitas vezes sãofeitas com base na presença dos candidatosna mídia, na indicação de políticos e artis-tas influentes ou em serviços prestados à

altam cinco meses para as próxi-mas eleições e o debate político játoma os mais diversos setores dasociedade, desde os meios de co-

municação até as conversas de bar. Com ointuito de contribuir para a discussão eaprofundar o entendimento sobre o pro-cesso eleitoral, Desafios publicará, a par-tir desta edição,uma série de cinco reporta-gens sobre a democracia brasileira. Esta é aprimeira. Nas próximas, o corpo editorialda revista sairá a campo para pesquisartemas como transparência nos gastos pú-blicos; financiamento de campanhas políti-cas e combate à corrupção; papel das insti-tuições para a estabilidade política e eco-nômica; e representatividade geográfica dovoto – uma polêmica que se arrasta há dé-cadas e que envolve inúmeros interesses.Areportagem de abertura trata da importân-cia do voto responsável para a consolidaçãoda democracia – uma prática na qual oBrasil tem relativamente pouca experiên-cia, já que em sua história o país experi-mentou períodos longos de autoritarismo.A geração atual tem a oportunidade deeleger livremente, pela quinta vez, o presi-dente da República. O marco, por si só, édigno de atenção. Mas vale a pena se per-guntar por quê,apesar da soberana vontadedo povo ser respeitada, há tanta frustraçãoem relação ao resultado final e ao desem-penho da classe política. E o que pode serfeito para que o fenômeno não se repitaindefinidamente.

Eleitor Nas últimas eleições, 120 milhõesde eleitores foram às urnas exercer o princí-pio fundamental da cidadania, o que re-força a noção de uma representatividadelegítima no país. Mesmo assim, pouco sesabe sobre o que pensa e como age o eleitor.Muitas pesquisas foram feitas procurandodescobrir a opinião do cidadão sobre a de-mocracia e a classe política, e os resultadosnão são bons. Metade dos brasileiros é in-capaz de dizer o nome de um político ho-nesto,21% afirmam que eles simplesmentenão existem e 28% não sabem sequer res-ponder à pergunta,aponta pesquisa do Da-

F

A participação dos eleitores é maciça, mas pesquisas mostram que muitos ignoram a importância do voto

Jefferson Coppola/Folha Imagem

Democracia 02/05/06 18:14 Page 18

Page 16: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 19

comunidade, como distribuição de cestasbásicas ou ajuda financeira.“A maioria doeleitorado não é atenta nem vigilante”, diz.Para ele, a dificuldade aumenta ao se con-siderar o número de políticos no páreo –não há como conhecer todos.

Pior do que não ter informações sobreos políticos é nem sequer entender direitoqual é sua função. Uma pesquisa nacionalfeita pelo Ibope em 2000, ano de eleiçõesmunicipais, verificou que os eleitores nãose sentiam estimulados a votar – 28% emcandidatos a prefeito e 32% para vereador.Mais: 45% disseram que o trabalho dosvereadores tem pouca ou nenhuma im-portância em seu cotidiano e, surpresa, oíndice é de 49% quando se trata do pre-feito. Como a melhora do quadro de diri-gentes está nas mãos da população, deve-se prestar mais atenção nos candidatos. Éfundamental conhecer sua trajetória, tan-to pessoal como política.“De onde veio, oque fez no passado, quais interesses repre-

senta. Além disso, é preciso identificar opartido ao qual ele pertence: qual a linhaideológica seguida, qual o programa degoverno? Por fim, é bom observar os ava-listas do postulante: ele tem o apoio daigreja, do sindicato ou de alguma organi-zação não-governamental?”,detalha Quei-roz.Para ele, em relação aos que já são par-lamentares, é fundamental verificar se a re-lação entre o discurso e a prática se con-cretizou ao longo do mandato.

Informação Uma grande aliada dos elei-tores nesse processo é a Internet.Ao menosna instância federal não falta transparênciana veiculação de informações relativas aotrabalho dos parlamentares.Nos portais daCâmara e do Senado, é possível localizar oendereço e o telefone de cada um dos po-líticos,a que comissões pertencem,sua fre-qüência e, ainda, como se comportam nasvotações. Todos os senadores e partidospolíticos mantêm sites na Internet. Os de-

putados dispõem de correio eletrônico.Os sites do Congresso Nacional são

considerados referência mundial, segun-do informa o cientista político Carlos Ra-nulfo Felix de Melo, professor do departa-mento de Ciências Políticas da Univer-sidade Federal de Minas Gerais (UFMG).Então o que falta? Consciência política.Aspessoas têm outras prioridades na vida. Édifícil encontrar tempo para acompanharos desdobramentos da política. Quando ocidadão decide buscar informação, emgeral liga o rádio ou o aparelho de televi-são, fontes em que as notícias aparecem deforma desordenada e confusa. E filtrá-lasnão é tarefa simples. Para conhecer a fun-do um candidato, é preciso gastar tempoe procurar dados em veículos especializa-dos, como sites de políticos e partidos, doCongresso e do governo.

O Pensamento Nacional das Bases Em-presariais (PNBE), entidade não-governa-mental formada por empresários, tomou

a noção de uma representa t i v i dade l eg í t ima no pa ís

e as funções dos eleitos. O desconhecimento gera decepção com as escolhas feitas diante da urna

Sérgio Lima/Folha Imagem

Democracia 02/05/06 18:14 Page 19

Page 17: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

20 Desafios • maio de 2006

P e s q u i s a d o D i a p v e r i f i c o u q u e q u a s e m e t a d e d o s q u a d r o s d o C o n g r e s s o

afirma Maricato, que também atua comoadvogado e é vice-presidente da AçãoBrasileira de Apoio ao Setor de Serviços(Abrasse). Mesmo repleto de boas in-tenções, tirar o CDE do papel não é tare-fa simples. Há muitos interesses em jogo eo projeto pode levar anos para ser aprova-do.“É um projeto polêmico”, sintetiza adeputada Luiza Erundina (PSB/SP), rela-tora do Código na comissão de legislaçãoparticipativa da Câmara.

Outra forma de dar mais subsídios aoeleitor e isonomia às campanhas seria a re-gulamentação do conteúdo dos horáriosde propaganda política gratuita no rádioe na televisão, principal canal de comuni-cação entre população e candidatos. Mascomo a questão é delicada, outros tipos decampanha começam a ser regulamenta-dos.Algumas mudanças foram aprovadaspelo Congresso em abril. Os programas derádio e televisão não poderão mais ter ce-nas externas nem usar recursos como com-putação gráfica e desenho animado. Osoutdoors foram proibidos e também a dis-tribuição de brindes como camisetas, cha-veiros e bonés. A nova lei também acabacom os “showmícios”, espetáculos polí-ticos cujo maior atrativo é a apresentaçãode artistas famosos. Pretende-se, assim,evitar que candidatos com mais recursostenham vantagens sobre os outros. No en-tanto, ainda não se sabe se as novidades

terão validade neste ano. Também estáproibida a divulgação de pesquisas a me-nos de 15 dias da eleição. Alguns achamque as novas normas são rígidas demais.“O programa eleitoral não é de todo ruim.Dá à população a oportunidade de co-nhecer os participantes. Nessa era do mar-keting, vendem-se tanto sabão como can-didato, não há meios para escapar dessafórmula”, diz o professor Felix de Melo.

Virtual Longe dos sites oficiais e das leis,a sociedade começa a criar mecanismospara aprimorar a qualidade da relaçãoeleitor-eleito. Em 2002, surgiu um instru-mento inédito para monitorar os candi-datos. Meses antes das eleições, o prove-dor Universo On-Line colocou no ar o siteControle Público,de iniciativa do jornalistaFernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo,

uma iniciativa procurando, entre outrascoisas, padronizar as informações para fa-cilitar a tomada de decisão. Elaborou umprojeto de lei, o Código de Defesa do Elei-tor (CDE). O texto inicial foi apresentadoao presidente da Câmara dos Deputados,Aldo Rebelo (PCdoB/SP), no final do anopassado, pelo primeiro coordenador doPNBE, Percival Maricato. Propõe discus-sões com a sociedade e o estabelecimentode princípios de conduta ética para pos-tulantes a cargos públicos.

Dentre as iniciativas, uma ganha espe-cial destaque. Gestores de primeiro e se-gundo escalão e candidatos e parlamenta-res das três esferas deverão obrigatoria-mente apresentar em suas páginas na Inter-net informações que incluem currículo,programa de governo e propostas.Deverãoexpressar claramente sua opinião a respeitode 23 tópicos, como meio ambiente, car-ga tributária, reforma agrária, violência eburocracia. E terão também de enumerareventuais condenações em processos pe-nais.A partir daí, seriam monitorados porum conselho nacional a ser criado e, claro,pela população.

“Os políticos precisam enxergar que ademocracia pertence à sociedade e as insti-tuições são do povo. E não o contrário. Aclasse política está absolutamente desgasta-da hoje em dia.O CDE não é punitivo nemcontrolador, ele aprimora a democracia”,

Um trabalho lançado recentemente pelo Centro de Estudos daMetrópole (CEM) ajuda a compreender melhor o comportamento da po-pulação diante das urnas.A entidade mapeou o número de votos dos can-didatos de acordo com o endereço do eleitor. No site www.centrodame-tropole.org.br/eleicoes_especial.html, o internauta confere como políti-cos de certos partidos ganham grande número de votos na periferia, ecomo o eleitorado de outros se concentra em determinados bairros. Apesquisa, coordenada pela cientista política Argelina Figueiredo, pes-quisadora do CEM e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento(Cebrap), revelou: independentemente do poder – executivo ou legislati-vo – ou da esfera – federal, estadual ou municipal –, os eleitores votamem políticos do partido com o qual sentem maior afinidade. Uma e sur-

presa num país onde sempre se considerou que o eleitor concede o vo-to às pessoas, e não às legendas.

A cidade selecionada para a primeira etapa da pesquisa foi SãoPaulo.Ali, a população da periferia votou no PT, a do centro no PSDB e aque vive na região mais ao norte votou no PP, antigo PPB. Observou-se,ainda, que não existe relação direta entre a classe social do eleitor e seuvoto. Pessoas de baixa renda, que vivem na periferia, fazem escolhas dife-rentes daquelas, de mesmo poder aquisitivo, que vivem no centro. E emcertos redutos da cidade a opção é pelo partido, e não pelo candidato.“Passamos dois anos levantando os dados, agora vamos interpretá-los”,diz Argelina Figueiredo, que não se constrange ao admitir não recordar onome dos deputados em que votou – apenas dos partidos.

Votos em partidos ou em políticos?

Índice de renovação nos quadros da Câmara

Fonte: Diap

1990 1994 1998 2002

62%

54%

43% 46%

Democracia 02/05/06 18:15 Page 20

Page 18: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 21

em que era possível conferir as contas dospleiteantes às eleições de 1998 e 2002.O re-sultado foi espantoso. Só na semana de es-tréia houve 1 milhão de acessos. Rodriguesacha que a Internet terá um papel relevanteeste ano.“Como se trata de um meio novo,sobretudo num país pobre como o Brasil,não é certo que todos os políticos estejamdando a devida atenção a esse tema. Oscandidatos que se preocuparem com umacampanha estruturada também na Inter-net levarão vantagem sobre os demais.”Osite está fora do ar e deve voltar no segun-do semestre. Apesar da quantidade decomputadores pessoais no Brasil ainda sermodesta – 32 milhões, conforme pesquisada Escola de Administração de São Pauloda Fundação Getulio Vargas (FGV) –, elacresce a taxas de 25% ao ano, e o númerode internautas domésticos, que está nafaixa de 13,2 milhões, aumenta a passosmuito maiores. Tudo isso leva a crer que arede será bastante usada pelos eleitores quequerem tomar conhecimento das açõesdos políticos.

A tendência é mundial e foi confirma-da por um levantamento do Centro Pew,instituto norte-americano que pesquisa ocomportamento dos políticos e da im-prensa. O estudo, publicado no início deabril no jornal norte-americano New YorkTimes, revelou: o número de eleitores quese conectaram em busca de notícias sobrepolítica nos Estados Unidos saltou de 13%em 2002 para 29% em 2004, ano em queocorreu a última eleição para a Casa Bran-ca. Naquele país, 70% dos lares têm acessoà Internet. No Brasil, a ferramenta aindanão é tão popular,mas,segundo o advoga-do Maricato e a deputada Erundina, é amais eficaz no processo de participaçãopopular e aperfeiçoamento da democracia.

O fato, entretanto, é que não há satis-fação garantida. A frustração pode vir demuitos lados. Um deles é o hábito de al-guns parlamentares de trocar de sigla co-mo trocam de roupa. A cientista políticaArgelina Figueiredo fez um mapa da dan-ça das cadeiras e constatou que as mudan-ças geralmente ocorrem entre políticos

que gravitam ao redor dos partidos de di-reita.“É raríssimo um parlamentar sair deum partido de esquerda rumo a um de di-reita ou vice-versa”,diz.Segundo ela,os queabandonam partidos de esquerda nor-malmente o fazem por questões ideológi-cas, e fundam novas legendas, como ocor-reu com o P-Sol e o PSTU, dissidências doPT.Para o professor Ranulfo Felix de Melo,

da UFMG, os políticos trocam de partidopor dois motivos: para resolver conflitos nasbases eleitorais e para permanecer no poder.A solução para o problema, na opinião deQueiroz, do Diap, é aumentar o tempo depermanência do político num partidoantes de ele poder se apresentar à eleição.O Código de Defesa do Eleitor prevê doisanos de filiação e penalidades que vão da

N a c i o n a l é a l t e r a d a e m e l e i ç õ e s p ó s - c r i s e , c o m o a d e s t e a n o

Democracia consolidada: na última transição de cargo, Fernando Henrique Cardoso aguarda o presidente

eleito Luiz Inácio Lula da Silva na rampa do Palácio do Planalto

Alan Marques/Folha Imagem

Democracia 02/05/06 18:16 Page 21

Page 19: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

22 Desafios • maio de 2006

O s s i t e s d o C o n g r e s s o N a c i o n a l s ã o c o n s i d e r a d o s r e f e r ê n c i a m u n d i a l

São Paulo não é um caso isolado. Devidoao calendário de eleições, sempre que qui-ser concorrer ao governo um prefeito de-verá deixar sua incumbência a meio ca-minho. Para evitar o abandono, a data dopleito para as três esferas – municipal, es-tadual e federal – poderia ser unificada.Esse modelo traria também a vantagem deevitar que o país parasse a cada dois anospara realizar eleições, em compensaçãoprovocaria uma mudança integral no co-mando do país a cada quatro anos.

Mais um fator de frustração: a ausên-cia de parlamentares no Congresso. Pes-quisa desenvolvida pelo site independenteCongresso em Foco sobre a freqüênciados parlamentares em dias de votação em2005 mostrou que 111 deputados faltarama mais de 25% das sessões deliberativas.Três deles, Vicente Cascione (PTB-SP),Paulo Gouvêa (PL-RS) e Gerson Gabrielli(PFL-BA), tiveram mais ausências do quepresenças e outros 19 não compareceram

a mais de 60% das sessões do ano passa-do. A proposta do Código de Defesa doEleitor, do PNBE, prevê permanência mí-nima de 160 horas por mês e presença emtodas as votações, sob pena de perda desalário e até de mandato.

Nada, entretanto, deixa o cidadão maisirritado do que a constatação de que, apóso pleito, alguns vitoriosos não cumpremcom o “combinado”. O Código de Defesado Eleitor afirma que o político tem obriga-ção de ser coerente com os princípios ex-plicitados em seu site de candidato.Se con-trariar seus compromissos, passa por umprocesso de avaliação e pode ser punidocom censura pública ou cassação.

Claro que todos esses aperfeiçoamentosnão serão colocados em prática simultâneaou rapidamente, até por envolverem inte-resses diversos e requererem debate amplo.Enquanto os mecanismos da democraciaainda deixarem a desejar, o professor titu-lar do Instituto de Filosofia e Ciência daUniversidade de Campinas (Unicamp),Roberto Romano,propõe paliativos.“A saí-da são as manifestações.Cidadãos honestosdevem se postar nas saídas do Parlamento,do Executivo e do Judiciário sempre quemedidas desastrosas para a fé pública foremimpostas. Trata-se de uma versão nova dasMães da Praça de Maio ou das iniciativasde Gandhi e Luther King.”

Seja como for,o importante é que os bra-sileiros sintam a proteção das asas da liber-dade para criticar, debater, reclamar e lutarpor um país onde todos tenham voz.

censura pública à cassação de mandatopara quem trocar de legenda. A novidadeporém, não resolveria outra questão: aspropostas partidárias são confusas. “Háuma pasteurização generalizada a ponto detodos os partidos serem mais ou menos decentro-direita, com programas de governosemelhantes”,diz Cláudio Abramo,diretorda organização não-governamental Trans-parência Brasil.Mas nem todos concordamcom essa avaliação. Para a cientista políticaFigueiredo, as cisões partidárias demons-tram que ainda existem discordâncias pro-fundas entre as agremiações.

Frustrações Outra fonte de decepção é oabandono do mandato do político interes-sado em concorrer a outro cargo. Isso aca-ba de acontecer, por exemplo, com o co-mando da cidade de São Paulo, que foipassado ao vice-prefeito dois anos e novemeses antes do final do mandato concedi-do pelo eleitorado a José Serra (PSDB). E

Senado Federal

www.senado.gov.br

Câmara dos Deputadoswww.camara.gov.br

Pensamento Nacional das Bases Empresariaiswww.pnbe.org.br

Congresso em Focowww.congressoemfoco.com.br

Transparência Brasilwww.transparencia.org.br

Saiba mais:

A escolha do eleitor às vezes é feita com base na presença dos candidatos na mídia ou na indicação de artistas

Roos

evel

t Cás

sio/F

olha

Imag

em

d

Democracia 02/05/06 18:16 Page 22

Page 20: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

URBANIZAÇÃO

Metrópolesem movimento

P o r L i a V a s c o n c e l o s , d e B r a s í l i a

Andr

é Po

rto/F

olha

Imag

em

Imagem

aérea

da capital

paulista,

megalópole

brasileira

que é uma

das maiores

cidades

do planeta

CIDADES_MAT 02/05/06 18:18 Page 24

Page 21: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Novo estudo mostra que as cidades brasileiras cuja populaçãomais cresce são as do Centro-Oeste, mas que isso não garantemelhora na renda nem na qualidade de vida dos habitantes. Ascapitais do Sul continuam sendo as campeãs em bem-estar

m 1970, 56% dos brasileiros mo-ravam em áreas urbanas. Hoje são80%. Até 2050, segundo estimati-vas da Organização das Nações

Unidas (ONU), 90% se concentrarão emgrandes centros e a população nacional gi-rará em torno de 200 milhões de pessoas(veja gráfico na pág. 28). Isso significa queas aglomerações urbanas devem receber63 milhões de novos habitantes nos pró-ximos 44 anos. Apesar de o crescimentoacontecer em praticamente todo o canto,ocorre de forma bastante desequilibrada.Atualmente, os moradore urbanos se con-centram em nove regiões metropolitanas.As maiores tendem a permanecer grandes,mas quais são os fatores que fazem uma ci-dade crescer mais do que outra?

A expansão econômica pode ter sidoum dos principais motivos que levaram oCentro-Oeste a registrar as maiores taxasde aumento populacional das últimas trêsdécadas – Campo Grande (MS), Cuiabá(MT), Goiânia (GO) e Brasília (DF) foramas metrópoles que mais cresceram no paísentre 1970 e 2000 (leia tabela na pág. 29). Éinegável que o incremento populacionaldessa região foi importante para equili-brar o processo de urbanização brasileiro,revertendo a tendência histórica de con-centração no Sudeste. Por outro lado, o fe-nômeno requer atenção para que as conhe-cidas tragédias urbanas nacionais – polui-ção dos recursos hídricos e do ar, desma-tamento, déficit de moradias, congestiona-

mento de veículos, moradores de rua, vio-lência, enchentes e desmoronamentos –não se repitam.

A cidade que mais inflou, em termospopulacionais, nas três últimas décadas,foi Campo Grande. Em 1970, a capital doMato Grosso do Sul contava 140 mil ha-bitantes. Em 2000, eram 663 mil, quasecinco vezes mais. Cuiabá viu sua popula-ção aumentar de 226 mil para 1 milhão e,em Goiânia, o salto foi de 450 mil para1,6 milhão no mesmo período. No Dis-trito Federal e no seu entorno, os morado-res somavam 761 mil em 1970. Em 2000eram 2,9 milhões. Somente essas quatroáreas abrigaram 4,7 milhões de habitantesadicionais nos últimos 30 anos. Acolhemquatro vezes mais gente hoje do que em1970. Suas taxas de crescimento popula-cional variaram de 4,3% a 5,2% ao ano,enquanto a média nacional foi de 2,7%.

Centro-Oeste O bom desempenho doagronegócio, principal atividade econô-mica da região Centro-Oeste, é conside-rado o grande motor dessa explosão. Odiagnóstico foi apresentado no estudo“Um exame dos padrões de crescimentodas cidades brasileiras”, realizado peloInstituto de Pesquisa Econômica Aplica-da (Ipea) em conjunto com o Banco Mun-dial (Bird) e a Universidade Brown, nosEstados Unidos. Dados do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE)mostram que de 1985 a 2003 o Produto

E

CIDADES_MAT 02/05/06 18:19 Page 25

Page 22: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

26 Desafios • maio de 2006

A c i d ad e q u e ma i s c r e s c e u n o p a í s em t e rmos p opu l ac i o n a i s n a s t r ê s ú l t ima s

De acordo com a pesquisa do Ipea, osindicadores sugerem que a atração de no-vos residentes resulta da necessidade deatendimento à demanda por serviços nafronteira agrícola em rápida expansão. “Ogoverno e a prefeitura têm realmente umainiciativa agressiva para atrair novos inves-timentos por meio de incentivos fiscais. Aprefeitura chega a doar áreas, dependendodo volume de investimento. O agronegó-cio foi de fato o grande esteio do estado deMato Grosso do Sul,e mais especificamen-te de Campo Grande, entre 1970 e 2000, ea circulação de riquezas atrai pessoas”, dizRodolfo Vaz de Carvalho, secretário muni-cipal de agronegócio de Campo Grande.

Agronegócio Bernardo Palheiros, pesqui-sador do Centro Brasileiro de Análise ePlanejamento (Cebrap), registra que a ex-pansão econômica se dá apenas nos gran-des centros urbanos da região, especiali-zados em atender à demanda rural, pois aatividade rural tem uma característica mo-derna e globalizada, que traz consigo umasérie de serviços especializados.“O agro-negócio não gera apenas a renda agrícola,mas também a renda urbana, que ajuda a

impulsionar o crescimento das cidades aseu redor, transformando-as em centrosfinanceiros”, afirma Palheiros, especialis-ta em economia da região do cerrado.

Isso é muito bom, mas se não acon-tecer de forma organizada pode trazer di-ficuldades. “As cidades do Centro-Oesteestão sendo ocupadas do mesmo modocomo ocorreu com as mais antigas. Osproblemas tendem a se repetir e isso tema ver com o modelo de desenvolvimentoeconômico do agronegócio, que é con-centrador, pois não gera pequenas e mé-dias cidades, de apoio”, diz Rolnik.Atual-mente, além da soja e da pecuária, o Cen-tro-Oeste começa a atrair produtores dealgodão, cana-de-açúcar e a indústriatêxtil, o que tende a tornar a situação maiscomplexa.“Uma atividade puxa a outra esão todas ligadas”, explica o pesquisadordo Cebrap.

Para Ermínia Maricato, professora daFaculdade de Arquitetura e Urbanismo(FAU) da Universidade de São Paulo(USP) que durante quase três anos foisecrerária executiva do Ministério dasCidades, os centros urbanos do Centro-Oeste ainda são agradáveis e têm quali-

Interno Bruto (PIB) da região cresceu103%. Quase o dobro da média nacionalregistrada no mesmo período, de 55%.Na safra 2002/2003, a produção de sojafoi responsável ocupou 1,4 milhão de hec-tares em Campo Grande. O milho cobriu708 mil hectares e o trigo 90 mil hectares.Em 1997, a agropecuária representava1,66% do PIB de Campo Grande. Trêsanos depois respondia por 1,97% do PIB.“Esse movimento de interiorização da ur-banização era esperado e teve início com ainauguração de Brasília. Nesse sentido, oresultado do estudo não é surpreendente,pois o processo migratório veio com a ex-pansão da oferta de emprego, e uma dasmaiores motivações da migração é a buscapor trabalho”, afirmar Raquel Rolnik,secretária nacional de programas urba-nos do Ministério das Cidades. Daniel daMata, pesquisador e um dos autores doestudo do Ipea, lembra que a evolução doCentro-Oeste, que passou a ser tambémárea de processamento do agronegócioatraiu a indústria de transformação, alémdos setores de alimentação e bebidas, ocomércio varejista e atacadista e os servi-ços de transporte e logística.

Em 1970, nas aglomerações urbanas doBrasil com média de 4 milhões de habitantes, aindústria empregava 31% das pessoas e o setorde serviços 58%.Nas regiões metropolitanas me-nores, com média de 130 mil habitantes, naque-le mesmo ano, 19% da população trabalhava naindústria e 47% na prestação de serviços. Para2010,a estimativa é de que,nas maiores cidades,22% dos trabalhadores estejam em indústrias e76% nos serviços.Nas menores,a indústria deve-rá ter em seus quadros 26% da população, en-quanto o setor de serviços empregará 69%.As-sim, com o desenvolvimento do sistema urbanoa indústria tende a se deslocar das grandes ci-

dades para a periferia e depois para cidadesmenores. O trabalho “Um exame dos padrões decrescimento das cidades brasileiras” mostraque esse movimento acontece porque a indús-tria procura sempre custos, como salários e alu-guéis, mais baixos.

“Em 2010, cerca de 80% da população dosgrandes centros urbanos do Brasil estará empre-gada no setor de serviços,o que indica a descen-tralização da indústria e a mudança da fonte prin-cipal de emprego dos habitantes das maiorescidades. Embora o setor de serviços cresça tan-to nas grandes como nas pequenas aglomera-ções, a indústria cai nas primeiras, mas cresce

de forma considerável nas de menor porte”,analisa da Daniel Da Mata, um dos autores do es-tudo. Segundo ele, os países desenvolvidos jápassaram por essa transição e o movimento noBrasil só agora começa a ser notado. Para ele,essa tendência também indica que a dinâmica dosistema urbano no Brasil apresenta um processode diversificação crescente nas grandes cidadese de maior especialização econômica naquelasde porte médio. Em relação ao setor secundário,o volume de mão-de-obra empregada diminuicom o aumento do tamanho das cidades.

“A indústria está se deslocando para ci-dades mais baratas, mas ainda próximas dosgrandes centros, o que não colabora para a re-dução da desigualdade espacial e territorialbrasileira. Desta forma é posível explicar porque

Nem tudo converge para as grandes cidades

CIDADES_MAT 02/05/06 18:20 Page 26

Page 23: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 27

d é c ad a s d o s é c u l o p a s s ado fo i C ampo G ra nd e

dade de vida,mas padecem de um mal queum dia vai cobrar seu preço.“A urbanzaçãoestá ocorrendo de forma dispersa. Isso sig-nifica terra ociosa e, portanto, cara, o queexpulsa gente para a periferia e eleva ocusto da infra-estrutura urbana. A urba-nização em curso no Centro-Oeste cami-nha para uma segregação que vai, em al-gum momento, se traduzir em violência econflitos”, avalia. Em sua opinião, o mo-delo paulistano e de muitas outras metró-poles não deveria ser reproduzido. Esti-ma-se que cerca de 33% dos pobres brasi-leiros vivam em grandes centros do Su-deste. Concentram-se também nas regiõesmetropolitanas 80% dos que vivem em fa-velas. E a tendência é de que o país tenhaum número crescente metrópoles.Das 123regiões analisadas pelo Ipea, somente trêsestavam na faixa de 2 milhões de habi-tantes em 1970. Em 2000 eram dez.

Os números comprovam que, depoisde formados os bolsões de pobreza, é mui-to difícil lidar com as conseqüências queacompanham o fenômeno. Os dados de1999 do Programa de Aprimoramento dasInformações de Mortalidade do municí-pio de São Paulo (PRO-AIM) mostram

cerca de 80% da população urbana ainda seconcentra em nove ou dez regiões metropo-litanas”, afirma Carlos Roberto Azzoni, profes-sor da Faculdade de Economia,Administraçãoe Contabilidade (FEA) da Universidade de SãoPaulo (USP). Para ele, algumas mudançascontribuíram para esse movimento. Hoje, como avanço das telecomunicações, é possívelcontrolar tudo a distância e os processos pro-dutivos estão mais padronizados e automati-zados.“A fábrica pode ficar em uma cidadeonde salários e aluguéis sejam reduzidos, en-quanto a inteligência da empresa continua nogrande centro urbano. O setor de serviços,por outro lado, tem natureza essencialmenteurbana e concentradora, pois tem de estarpróximo a seu mercado consumidor”, diz.

Campo Grande, no Mato Grosso do Sul: qualidade de vida ameaçada pela urbanização dispersa e acelerada

Zig Koch/Opção Brasil Imagens

CIDADES_MAT 02/05/06 18:21 Page 27

Page 24: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

28 Desafios • maio de 2006

“A s c i d a d e s d o C e n t r o - O e s t e a i n d a s ã o a g r ad á v e i s e t êm q u a l i d a d e d e v i d a ,

de Rolnik, ainda há tempo para reverter asituação desde que se conceba um plane-jamento territorial com estratégias delibe-radas para induzir e estimular a ocupaçãode espaços. “No Brasil nunca houve essadiscussão. O Ministério das Cidades atétentou fomentar o debate, mas não houveavanço”,afirma.Para ela,o Brasil tem o be-nefício de seu território ainda estar sendoocupado.“É um grande desafio, mas exis-tem chances de equacioná-lo, porque hámuitas regiões em formação no país”.

Em 2001, foi aprovado o Estatuto daCidade, lei que regulamenta a política ur-bana.Atribui aos municípios obrigação decumprir sua função social, garantindoqualidade de vida aos moradores e susten-tabilidade à existência da urbe.“Se o esta-tuto da fosse aplicado, o Brasil poderia sercompletamente diferente. Mesmo assim éimportante lembrar que, além colocá-loem prática, é preciso dar o direito de aspessoas morarem nas cidades”, afirmaMaricato.A lei, entre outras medidas, pre-vê garantia do direito à terra urbana, àmoradia, ao saneamento ambiental, à in-fra-estrutura urbana, ao transporte e aosserviços públicos, ao trabalho e ao lazer,.

Prevê também a gestão democrática naformulação, na execução e no acompa-nhamento de planos, programas e proje-tos de desenvolvimento urbano E mais: acooperação entre os governos, a inicia-tiva privada e os demais setores da socie-dade no processo de urbanização e a ofertade equipamentos e comunitários.Enfim,oBrasil teria cidades perfeitas, se para criá-las bastasse o arcabouço legal.

Um dos vários pontos positivos, e fac-tíveis, do estatuto é a exigência de que ascidades tenham um plano-diretor, um ins-trumento básico da política de desenvol-vimento do município.“Estamos incenti-vando a criação de planos Brasil afora.Atualmente, 1.000 municípios estão ela-borando seu plano pela primeira vez”, dizRolnik. A secretária explica que as cida-des com mais de 20 mil habitantes, ou quefazem parte de aglomerações urbanas,têm até outubro para aprovar seus planos.Os municípios turísticos, ou que sofremalgum tipo de impacto ambiental, tam-bém são obrigados a fazer seus planos,mas ainda não têm prazo definido paraaprovação.

Outro grande obstáculo que está sendo

uma relação direta entre espacialidade eviolência.As áreas mais violentas são aque-las em que predominam a perversa con-junção de níveis baixos de renda e de esco-laridade, elevado desemprego, maior nú-mero de moradores em favelas e piorescondições de moradia.

Na cidade de São Paulo, dos 10,5 mi-lhões de habitantes, aproximadamente 1,2milhão moram em favelas (aí incluídosdomicílios em áreas de risco, bem comoem região de mananciais),1,6 milhão ocu-pa loteamentos irregulares e cerca de 600mil moram em cortiços.“A verdade é queo Brasil está dando um tiro no próprio pé.Em nenhum país a urbanização ocorreusem um plano territorial. Depois que osproblemas estão instalados, é muito maisdifícil lidar com eles”, avalia Rolnik.

Marta Lúcia da Silva Martinez, diretorade urbanismo do Instituto Municipal dePlanejamento Urbano (Planurb), de Cam-po Grande, informa que dos 760 mil ha-bitantes da cidade, por volta de 12 mil es-tão em favelas, proporção bastante inferiorà registrada em São Paulo.“Os dois maio-res problemas detectados na cidade foramo transporte público e a política de habi-tação. Desde 1936, Campo Grande temum plano diretor constantemente revisa-do. Como a população está espalhada, oscustos de infra-estrutura são altos. Agoraestamos revendo a política habitacionalpara motivar a ocupação de áreas ociosase disponíveis”, explica Martinez.

Planejamento “A urbanização no Brasil sedeu de forma desigual. Esse elemento au-menta a brecha de exclusão social, tônicano desenvolvimento das cidades. Existemações para corrigir essa realidade, mas nãopara preveni-la. É preciso um esforço na-cional para favorecer a desconcentração efazer com que as cidades médias funcio-nem melhor, para que possam absorver aperiferia das grandes”, pondera AlbertoParanhos, oficial principal no escritórioregional do Programa das Nações Unidaspara Assentamentos Humanos (UN-Ha-bitat) para a América Latina. Na opinião

250

200

150

100

50

01950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030

Total Urbana Rural

População brasileira e projeções (em milhões de habitantes)

Fonte: ONU

CIDADES_MAT 02/05/06 18:21 Page 28

Page 25: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 29

mas padecem de um ma l que um d i a va i c ob ra r s eu p r eço”

atacado é a regularização fundiária, ou se-ja, a legalização da posse de terra e imó-veis. O Ministério das Cidades tem umplano para oficializar as propriedades eaté agora 1 milhão de famílias de 218 mu-nicípios têm processos em andamento.Dessas, 214 mil famílias já tiveram seus tí-tulos concedidos. O programa atua so-mente na área urbana – 70% das famíliasestão em regiões metropolitanas – e comfamílias de baixa renda.

A qualidade de vida nas aglomeraçõesurbanas também foi objeto de estudo dapesquisa do Ipea. Verificou-se que, com oaumento do tamanho das cidades, a qua-lidade de vida piora – essa deterioraçãopode ser mensurada, por exemplo, pela in-fra-estrutura, pela rede de serviços de saú-de e educação, pelos gastos do governo lo-cal com bens públicos, e ainda pelo aces-so à coleta de lixo e à água encanada, pelaexpectativa de vida e pela mortalidadeinfantil. “Os gastos em saúde e educaçãoestão positivamente relacionados com onível de renda per capita de uma cidade e,para a maioria dos indicadores de quali-dade de vida, as com alta renda e as da re-gião Sul oferecem uma melhores condi-

Crescimento Cidades Região anual (em %)

Florianópolis Sul 4,65

Cuiabá Centro-Oeste 4,35

Teresina Nordeste 4,16

Joinville Sul 3,86

Brasília Centro-Oeste 3,75

As cinco cidades com maior aumento

na renda entre 1970 e 2000

Crescimento

Cidades Região 1970 2000 anual (em %)

Campo Grande Centro-Oeste 140.233 663.621 5,2

Cuiabá Centro-Oeste 226.437 1.051.183 5,1

Brasília Centro-Oeste 761.961 2.965.951 4,5

Goiânia Centro-Oeste 450.538 1.651.691 4,3

Manaus Norte 534.060 1.865.901 4,2

As cinco cidades cuja população

mais cresceu entre 1970 e 2000

Divulgação

Teresina: capital nordestina que proporcionalmente mais cresceu sua representatividade na população estadual, de 13,1% em 1970 para 25,2% em 2000

Fonte: Ipea

CIDADES_MAT 02/05/06 18:22 Page 29

Page 26: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Esperança de vida ao nascer

Mortalidade até um ano

Taxa de alfabetização

Papulação comágua encanada

População comenergia elétrica

30 Desafios • maio de 2006

Segundo o Ipea, cidades com menor renda per capita em 1970 vêm inf lando mais rapidamente

Esperança de vida ao nascer

Mortalidade até um ano

Taxa de alfabetização

Papulação comágua encanada

População comenergia elétrica

68,7 71,6

30,2 20,9

94,5 96,6 96,4 99,0 98,5 99,9

67,5 69,x

38,7 32,7

79,985,9

68,977,7

92,0 98,9

68,0 70,4

32,624,4

91,0 94,0 87,195,9 98,5 99,8

Indicadores de Campo Grande (em %)

Indicadores de Curitiba (em %)

Indicadores de Teresina (em %)

Esperança de vida ao nascer

Mortalidade até um ano

Taxa de alfabetização

Papulação comágua encanada

População comenergia elétrica

1970 2000

Fonte: Ipeadata

no Mato Grosso (4,35%).Não foi só nesse quesito que Teresina

evoluiu. “Ela foi a capital nordestina queproporcionalmente mais cresceu sua re-presentatividade no total da populaçãoestadual, passando de 13,1% em 1970para 25,2% em 2000. Cerca de 46% do va-lor adicionado pelas empresas comerciaise industriais do Piauí são gerados em Te-resina, segundo dados da Secretaria Es-tadual de Fazenda”, revela Felipe Mendesde Oliveira, secretário de Finanças da ca-pital piauiense. Para ele, por sua locali-zação geográfica no interior do estado, acidade se transformou em importante pó-lo de comércio e serviços, especialmenteno setor de saúde, e atrai pessoas dos vi-zinhos Maranhão, Ceará, Pará e Tocan-tins.“Há no Piauí uma ausência de centrosdinâmicos no interior, por isso Teresinaadquire tamanho destaque. Em outros es-tados, a desigualdade entre as cidades émenor”, explica Oliveira.

Subdesenvolvimento Como disse o geó-grafo Milton Santos em seu livro As ci-dades nos Países Subdesenvolvidos, “tantodo ponto de vista da organização regio-nal como do ponto de vista da organiza-ção interna, a cidade é, enfim, uma autên-tica e total representação da região a quepreside e do mundo com o qual comer-cia”. As grandes cidades brasileiras, comsuas conhecidas tragédias urbanas, refle-tem, assim, muito mais do que problemaslocais Elas são expressão do subdesen-volvimento. Tentar melhorar a qualidadede vida de seus habitantes é tarefa urgen-te, mas o desafio não é pequeno, já que osproblemas urbanos se confundem comos dilemas do país. É necessário, portan-to, que o Brasil desenvolva uma políticainstitucional para as regiões metropoli-tanas. Ações compensatórias pontuais,como a experiência tem mostrado, sãoinsuficientes para reverter a realidade deuma urbanização perversa, em que a mar-ginalização de crescentes segmentos po-pulacionais é apenas uma das pontas deum imenso iceberg de problemas.

ções a seus habitantes”, diz Da Mata.Curitiba é um exemplo. Em ranking

elaborado em 2005 pela Fundação Getú-lio Vargas (FGV), a cidade foi eleita pelosseus habitantes como o município commelhor qualidade de vida no Brasil.“Cu-ritiba tem cerca de 1,8 milhão de habitan-tes. Os transportes públicos são usadospor 1,2 milhão de pessoas por dia. Osistema já sofre com alguns picos de lo-tação e estamos elaborando um estudo pa-ra o futuro do transporte da cidade”, dizLuís Henrique Cavalcanti Fragomeni, pre-sidente do Instituto de Pesquisa e Plane-jamento Urbano de Curitiba, ligado à pre-feitura.Na sua opinião,o maior desafio en-frentado pela capital paranaense é a polí-tica habitacional. “Precisamos evitar o

inchaço. Se a taxa de crescimento atual formantida, em pouco tempo teremos 2 mi-lhões de habitantes, o que deve trazer pro-blemas. Nossa idéia é oferecer alternativasde ocupação espacial”.

O estudo do Ipea analisou também quetipo de impacto a renda per capita pode terno crescimento das cidades.Verificou que,apesar de a renda per capita ser mais eleva-da em cidades maiores, municípios commenor receita por habitante em 1970 vêmobtendo avanços em ritmo mais acelerado(leia tabela abaixo). Teresina, a capital doPiauí, é a cidade do Nordeste cuja rendaper capita mais cresceu entre 1970 e 2000 –a taxa média foi de 4,16% ao ano. Em ter-mos nacionais, só perde para Florianópo-lis, em Santa Catarina (4,65%), e Cuiabá,

d

CIDADES_MAT 02/05/06 18:22 Page 30

Page 27: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 31

D a n i e l d a M a t a ARTIGO

Brasil é um país extremamente urba-nizado.Aproximadamente 80% da po-pulação vive em áreas urbanas e 90%de seu Produto Interno Bruto (PIB) é

produzido nas grandes cidades. A Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) estima que o cresci-mento populacional das próximas três décadasocorrerá basicamente nas áreas urbanas, cuja po-pulação será de mais de 200 milhões de pessoas.Isso adicionará 63 milhões de novos habitantesàs grandes metrópoles. Para enfrentar essa situa-ção, haverá a necessidade de investimento em in-fra-estrutura e serviços públicos a fim de aaten-der às novas demandas. Caso contrário, os pro-blemas urbanos atuais poderão ser exacerbados.

Concomitantemente ao crescimento popula-cional no sistema urbano brasileiro, a descentra-lização fiscal e administrativa amplificou o papeldas cidades no que concerne à atração de inves-timentos e ao fornecimento de serviços públicos.Nesse cenário é essencial identificar as políticaspúblicas que estimulam o crescimento econômi-co das cidades. As questões que se levantam sãoas seguintes. O “sucesso”das cidades é guiado porfatores externos (como localização privilegiadaou um porto num período de crescimento do co-mércio internacional) ou são as políticas públi-cas que influenciam o crescimento e o desenvol-vimento dessas regiões? Qual a contribuição rela-tiva de políticas de âmbito nacional vis-à-vis po-líticas locais? Quais os determinantes do cresci-mento das cidades brasileiras?

O crescimento de renda do trabalho não podeser considerado o único sinal de “sucesso” dascidades.Algumas localidades experimentam ele-vado dinamismo no mercado de trabalho semaumento da massa salarial, pois a migração embusca de novas oportunidades estanca o cresci-mento da renda do trabalho. Em alguns casos, oelevado crescimento do emprego indica uma ci-dade de sucesso. Desta forma, é preciso conside-rar tanto os aspectos de demanda quanto os deoferta na análise dos determinantes do cresci-mento das cidades.

Em recente artigo acadêmico, em co-autoriacom pesquisadores do Banco Mundial e da

Brown University, identificamos que governançalocal, acúmulo de capital humano e melhora dainfra-estrutura são fatores que influenciam o de-sempenho das cidades brasileiras.A diminuiçãode oportunidades de renda em áreas rurais e oaumento do potencial de mercado (isto é, a am-pliação do mercado consumidor vizinho) cau-sam forte impacto no crescimento das cidades.O sistema educacional exerce, também, papel im-portante.A melhora na qualidade da força de tra-balho e os transbordamentos da acumulação deconhecimentos são fatores relevantes.

Os significantes investimentos em infra-es-trutura realizados pelo governo (a maioria entre1950 e 1980) para integrar a economia nacionale diminuir os custos de transações de regiões pe-riféricas foram essenciais, já que a redução noscustos de transporte é apontada como outro fa-tor para o inchaço urbano.A falta de investimen-to, e as deficiências em infra-estrutura, são con-sideradas alguns dos maiores riscos ao cresci-mento de longo prazo das cidades e, conseqüen-temente, da economia brasileira.

Melhorias na qualidade de vida da populaçãourbana estão, também, correlacionadas com umamelhor performance econômica.A criminalida-de (homicídios, assaltos etc.) é um entrave ao ocrescimento.Da mesma forma,influem no desem-penho econômico as políticas de zoneamento.

As concepções de políticas públicas devem seradequadas a diferentes realidades.Por exemplo,hápolíticas distintas apropriadas a centros de tama-nhos diversos.O crescimento das cidades deman-da,ainda,o entendimento de problemas urbanos,como a formação de favelas. Assim se torna pos-sível a prescrição de políticas cujo efeito seja o au-mento do bem-estar agregado da população.

Daniel da Mata é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

O sucesso de algumas cidades

“O crescimento de

renda do trabalho não

pode ser considerado

o único sinal de

‘sucesso’ das cidades.

Há localidades com

alto dinamismo no

mercado de trabalho

sem aumento da

massa salarial”

O

ARTIGO_MATA 02/05/06 18:23 Page 31

Page 28: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

COMÉRCIO EXTERIOR P o r O t t o n i F e r n a n d e s J r . , d e S ã o P a u l o

Mich

ael M

elfo

rd/G

ettyI

mage

s

Africa 02/05/06 18:24 Page 32

Page 29: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

O cont inente vo l ta a ser destaque entre as pr ior idades de empresár ios e d ip lomatas

bras i le iros, como na década de 1970. Sua economia vem crescendo. As exportações

para lá aumentaram 153% no ano passado, mas a inda são insuf ic ientes para

reverter a balança comercia l , que segue negat i va para o Brasi l

África em foco

Africa 02/05/06 18:25 Page 33

Page 30: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

34 Desafios • maio de 2006

A Áfr ica Mer id iona l soma 54 pa íses e 800 mi lhões de hab i tantes . Sua popu lação é

sultados, portanto, são positivos e promis-sores, mas não tiram o continente da mi-séria de um ano para outro. Para isso serãonecessárias décadas de crescimento ace-lerado – e sustentado não apenas num pro-duto, que é o que vem se verificando.

Em seu relatório sobre perspectivas daeconomia mundial, o FMI prevê que ospaíses africanos localizados abaixo do de-serto do Saara (no subcontinente denomi-nado África Meridional) crescerão 5,8%neste ano, depois de uma expansão de5,5% em 2005. Motivo: a alta cotação dopetróleo no mercado internacional.Ango-la, cujo PIB inflou 14,7% em 2005, poderáalcançar a taxa inédita de 27,6% neste ano.“O país deverá produzir 2 milhões de bar-ris de petróleo por dia em dois anos. Hojeproduz 1,5 milhão”, diz Roberto Dias, di-retor de relações institucionais da Cons-trutora Norberto Odebrecht, que mantémnegócios no país desde a década de 1980(leia quadro na pág. 36).

Historicamente, a definição da políticaexterna brasileira e as providências toma-das no sentido de atender aos interesses na-cionais são alvos de debates e críticas. Nu-ma situação de economia globalizada e al-tamente competitiva, no entanto, não exis-te grande desacordo: todo e qualquer po-tencial mercado comprador de produtosbrasileiros é muito bem-vindo. É o caso daÁfrica Meridional, que soma 54 países e800 milhões de habitantes. É uma área ri-quíssima em bens naturais – especialmenteminérios –,embora sua população seja pau-pérrima.A situação, aparentemente para-doxal,tem duas explicações fundamentais.A primeira está nos conflitos étnicos,resul-tantes de séculos de intervenção estrangeiraque dividiram os países do continente naprancheta, a régua, sem considerar os há-bitos e costumes dos povos.A outra está nacorrupção,prática comum durante o perío-do colonial que,em vez de desaparecer apósa independência, só fez crescer. A África,portanto,embora abrigue a população maismiserável do planeta, tem riquezas.

Para os brasileiros,o cenário não é ruim.Abre a possibilidade de troca de alimentos

e produtos industrializados por petróleo oudiamantes,por exemplo.Segundo Arman-do de Mello Meziat,secretário de ComércioExterior do Ministério do Desenvolvimen-to,Indústria e Comércio Exterior (MDIC),as perspectivas são boas.“A grande vanta-gem de vender para países dos quais im-portamos petróleo é a garantia de que nos-sos exportadores receberão por suas ven-das. Além disso, temos objetivos maiores,como diversificar os mercados e os produ-tos ofertados”, diz. Ali, hoje, o Ministériodas Relações Exteriores mantém 21 repre-sentações. Camarões, Guiné, Tanzânia eSudão ganharam embaixadas brasileirasem 2005.Sinal de que o subcontinente vemretomando a importância que teve nosanos 1970. É uma segunda onda do Brasilna África, por assim dizer.

“Na década de 1970, o governo brasi-

s países africanos voltaram a ga-nhar importância na agenda dosexportadores e diplomatas bra-sileiros. Especialmente as ex-co-

lônias portuguesas. Nos três últimos anos,15 dos 53 países do continente foram visi-tados pelo presidente da República e pormissões de empresários organizadas pelogoverno. O crescimento das exportaçõespara essas regiões entre 2002 e 2005 foi de167%. Só perdeu para o resultado alcança-do no Mercosul (leia tabela abaixo).A polí-tica externa sozinha não explica esse avan-ço. A abertura de novos mercados exigeesforço empresarial e as estatísticas mos-tram que a tarefa tem sido cumprida combons resultados. De maneira geral, no anopassado as vendas para a África bateramem 6 bilhões de dólares, o que representa5% do total dos negócios externos brasi-leiros e um salto da ordem de 153% em re-lação a 2002. África do Sul, Nigéria,Ango-la, Argélia e Gana absorveram 57% dasvendas nacionais. Campeões nessa rubri-ca, os sul-africanos compraram 1,4 bilhãode dólares em 2005.“A diplomacia brasi-leira, ao dar prioridade à África, caminhana mesma direção do fluxo de comérciointernacional”, diz Gilberto Dupas, coor-denador-geral do Grupo de Análise daConjuntura Internacional da Universi-dade de São Paulo (Gacint-USP).

Crescimento De fato, a economia africana,especialmente a de países produtores depetróleo,como Angola,Argélia ou Nigéria,está em ascensão. De acordo com infor-mações do Fundo Monetário Internacional(FMI),nos 15 países visitados pelas missõesbrasileiras o Produto Interno Bruto (PIB)aumentou,em média,5% – índice superiorà média mundial, que ficou em 4,8% – epoderá crescer ainda mais em 2006 (leia ta-

bela na pág. 37). Os dados devem ser ana-lisados em perspectiva. Em países extre-mamente depauperados, como é o caso demuitos dos africanos, um crescimento de5% do PIB não se torna visível nas ruas ounas casas. Não é suficiente para resultar emenriquecimento nas vilas e cidades. Os re-

Variação nas exportaçõesbrasileiras (2002/2005)Países visitados nos últimos três anos

Gabão 813,3%

São Tomé 595,5%

Camarões 567,4%

Guiné-Bissau 475,8%

Senegal 352,3%

Argélia 342,5%

Cabo Verde 337,8%

Gana 281,2%

Benin 267,0%

Namíbia 239,3%

África do Sul 186,7%

Angola 160,9%

Nigéria 87,8%

Moçambique 0,4%

Botsuana -5,2%

Média visitados 166,6%

Mercosul 254,2%

Total África 153,0%

Total do Brasil 96,0%

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

O

Africa 02/05/06 18:25 Page 34

Page 31: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 35

paupérr ima, mas a área é r iqu íss ima em bens natura is, espec ia lmente em petró leo

Presidente Lula chegando a São Tomé e Prícipe, um dos quinze países africanos visitados por ele durante seu mandato

Ricardo Stuckert

Africa 02/05/06 18:26 Page 35

Page 32: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

36 Desafios • maiol de 2006

Os negócios entre brasileiros e africanos vêm aumentando, mas a balança comercial ainda

leiro tinha interesse geopolítico na ÁfricaOcidental porque países como Nigéria eAngola, ricos em petróleo, reduziam a in-certeza de abastecimento resultante de ma-nobras do cartel dos produtores do OrienteMédio”, explica Dias, da Odebrecht. Em1973, a Organização dos Países Exporta-dores de Petróleo (Opep) deixou os paí-ses industrializados em polvorosa ao re-duzir as exportações do combustível, queteve seu preço elevado. Antes mesmo, em1972, o então ministro das Relações Exte-riores, Mário Gibson Barbosa, visitou di-versos países africanos.“O governo brasi-

leiro queria diminuir a dependência emrelação aos Estados Unidos e estreitou oslaços com nações do Terceiro Mundo”, dizIvo Santana, doutor em ciências sociais es-pecializado em relações empresariais en-tre Brasil e África. Na primeira missãobrasileira, de 1973, representantes de 37empresas e associações visitaram oitopaíses. Havia muito a fazer: identificar osprodutos com maior potencial, abrir li-nhas de navegação marítima, encontrarrepresentantes confiáveis, além de buscarapoio diplomático. O trabalho rendeu fru-tos e,em 1981,as exportações para a região

chegaram a 8,4% dos 23 bilhões de dólaresvendidos pelo Brasil ao exterior. Depois osnegócios minguaram, devido à instabili-dade política na África e à crise da dívidaexterna que afetou o Brasil e outros paíseslatino-americanos.“A estratégia de recolo-car a África Ocidental no rol de priorida-des é correta, mas a agenda brasileira ain-da não é tão ativa como era nos anos 1970,no período militar”, alerta José Maria Nu-nes Pereira, professor de História Africanada Universidade Cândido Mendes, do Riode Janeiro.

Atualmente, empresários e diplomatastratam de pavimentar o caminho para aampliação dos negócios.O MDIC pretendereverter os resultados da balança comercial,desfavoráveis ao Brasil. No ano passado, osaldo comercial foi deficitário em 680 mi-lhões de dólares. E há muito espaço para aexpansão das vendas de bens industria-lizados e serviços brasileiros na África.

Oportunidades A Nigéria é o país africanomais populoso, com 114 milhões de ha-bitantes. É o quinto maior produtor daOpep, que, aliás, é presidida pelo nigeri-ano Edmund Daukoru. Mas tem experi-mentado conflitos internos que tornaminstável seu fornecimento de petróleo. Nosquatro últimos meses, rebeldes do Movi-mento para a Emancipação do Delta doNíger promoveram uma série de ataquesa instalações petrolíferas e reduziram aprodução do país de 2,5 milhões parapouco menos de 2 milhões de barris pordia.A crise vem aumentando com a apro-ximação da eleição que, pela primeira vezem 47 anos de independência, poderálevar ao poder um civil. Está visto que aNigéria tem problemas, mas mesmo assimfoi responsável pela compra de 80% dasexportações brasileiras nos três primeirosmeses deste ano.

Outro alvo verde-amarelo é a Argélia.Oministro Luiz Fernando Furlan,do MDIC,liderou uma missão comercial para a Ar-gélia em novembro do ano passado. Nesseano, o país exportou 2,8 bilhões de dólarespara o Brasil,sendo quase 90% em petróleo

A guerra de libertação do domínio colo-nial português mal tinha terminado, em Angola,e o país estava mergulhado em conflitos inter-nos, encerrados apenas no ano passado, quan-do os primeiros representantes da Construto-ra Norberto Odebrecht (CNO) deixaram o Brasilpara plantar obras naquele território. Corriamos primeiros anos da década de 1980. O Brasilvivia em plena ditadura militar, alinhado comos Estados Unidos contra a expansão do comu-nismo promovida pela União Soviética.Angolaera governada pelo Movimento Popular de Li-bertação de Angola (MPLA), ligado aos comu-nistas. Por contraditório que pareça, no entan-to, o governo militar brasileiro não fez qual-quer oposição quando os soviéticos oferece-ram a oportunidade para que a construtora en-trasse no mercado angolano. Àquela altura, aspreocupações relativas ao mercado do petró-leo eram mais fortes do que as relacionadas avertentes político-ideológicas.

Ocorreu que a Odebrecht trabalhava emparceria com exportadores de equipamentossoviéticos na construção da usina hidrelétricade Olmos, no Peru.“Em 1981, nossos represen-tantes foram chamados a Moscou onde nosofereceram o contrato das obras de construçãocivil da hidrelétrica de Capanda, em Angola”,conta Roberto Dias, diretor de relações institu-cionais da construtora. Firmado o contrato, que

previa o pagamento dos serviços da Odebrechtcom petróleo angolano vendido à Petrobras, te-ve início a aventura. Não havia estradas, pistaspara pouso de aviões, produção de alimentospara os trabalhadores, mão-de-obra qualifica-da.Angola era carente de tudo, além de ofere-cer pouca segurança a quem trabalhasse ali.Entre muitos contratempos, o acampamento daCNO em Capanda foi invadido duas vezes pelastropas da União Nacional para a IndependênciaTotal de Angola (Unita), grupo guerrilheiroapoiado pelo governo da África do Sul que seopunha ao MPLA.“Os trabalhos ficaram parali-sados durante muitos meses, com a destruiçãode parte das instalações e do canteiro”, recor-da Dias.Passaram-se quase 25 anos até que asobras civis da usina fossem concluídas, embo-ra ainda faltem ser instaladas duas das quatroturbinas.A operação, entretanto, serviu de cre-dencial para que a Odebrecht assumisse novosempreendimentos no país.

Atualmente, a construtora participa, entreoutras, de obras de habitação popular, con-domínios residenciais e shopping centers. Cui-da da ampliação do serviço de água e esgotoem Luanda, capital angolana, com 4,5 milhõesde habitantes.Além disso, tem participação mi-noritária num consórcio que explora petróleoe é sócia de uma estatal angolana numa mine-radora de diamantes.

Pioneirismo e resultados positivos

Africa 02/05/06 18:26 Page 36

Page 33: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Bom desenpenhoeconômico(variação do Produto Interno Bruto)

África do Sul 4,3% 4,3%

Angola 14,7% 27,6%

Argélia 4,8% 5,3%

Benin 3,9% 4,4%

Botsuana 3,8% 3,5%

Cabo Verde 6,3% 7,7%

Camarões 2,8% 4,3%

Gabão 2,2% 2,7%

Gana 5,8% 5,8%

Guiné-Bissau 2,3% 2,6%

Moçambique 7,7% 7,4%

Namíbia 3,6% 3,8%

Nigéria 3,9% 4,9%

São Tomé e Príncipe 3,2% 4,5%

Senegal 5,7% 5,0%

Média 5,0% 6,3%

Fonte: Fundo Monetário Internacional (FMI)

2005 2006

Desaf ios • maio de 2006 37

é desfavorável ao Brasil. No ano passado, o saldo foi def icitário em 680 milhões de dólares

bruto e o restante em insumos para a in-dústria petroquímica. Na outra mão, im-portou açúcar e óleo de soja – 54% dos 46milhões de dólares de vendas brasileiraspara o país no primeiro trimestre de 2006–,além de tubulação para oleodutos e gaso-dutos e automóveis.

As oportunidades existem, mas, comoadverte Marco Marconini, especialista emcomércio exterior e consultor da Fede-ração das Indústrias do Estado de SãoPaulo (Fiesp),“é preciso construir víncu-los, o que é um processo demorado, querequer esforço continuado dos empre-sários e do governo brasileiro”. Mais:“Paí-ses de grande população, como a Índia,despertam cobiça de exportadores, masnão há tradição de comércio bilateral e fal-tam linhas marítimas de transporte, o quedificulta a consecução de resultados”.

Aliança A diplomacia brasileira buscaaliados africanos também em áreas maispolíticas. Uma delas é a Rodada de Dohada Organização Mundial do Comércio

(OMC), em que se pretende levar paísesdesenvolvidos a reduzir barreiras comer-ciais e subsídios à agricultura. Os resulta-dos podem ser minguados, alerta JoãoAlberto De Negri, diretor de pesquisas se-toriais do Instituto de Pesquisa Econô-mica Aplicada (Ipea), pois “muitos paísesafricanos já contam com tarifas preferen-ciais em suas exportações para os merca-dos europeu e norte-americano”. O prin-cipal parceiro brasileiro nessa contenda éa África do Sul, que faz parte, assim comoo Brasil, do G-20, grupo que pretendeampliar suas exportações agrícolas paraUnião Européia e América do Norte. En-tretanto, Dupas, da USP, considera o G-20uma estrutura pragmática, variável e cir-cunstancial, que hoje se alinha em tornode certos objetivos, mas pode se desali-nhar amanhã. As considerações de Negrie Dupas permitem inferir que o sucessodo comércio exterior entre Brasil e Áfricanão implica necessariamente a criação deum bloco coeso nas pendências diplomá-ticas com os países desenvolvidos. d

Ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernado Furlan, (o quarto à direita) participa de evento de promoção de negócios na Argélia

Divulgação/MDIC

Africa 02/05/06 18:27 Page 37

Page 34: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

38 Desafios • maio de 2006

Tema de abril: “O dilema do ajuste fiscal”Mensalmente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) promove o “Debate semfronteiras”, em que são apresentados dois pontos de vista sobre questões fundamentaispara o desenvolvimento do país. Desaf ios publicará, a partir deste número, em todas asedições, artigos que resumem as idéias discutidas. Os encontros, abertos ao público,ocorrem no auditório do Ipea em Brasília. Maiores informações no site da Desaf ios

Embora o Brasil tenha feito alguns avan-ços fiscais importantes, combinando ummix de reformas institucionais de fundo le-gal,como a Lei de Responsabilidade Fiscal,com a criação do hábito de repetir supe-rávits primários na vizinhança de 4% doPIB,houve nos últimos anos certa perda dedinamismo reformista,e novos avanços sãonecessários.Um deles é a eliminação do dé-ficit público.Pela primeira vez desde que asestatísticas fiscais referentes ao déficit públi-co no conceito atual começaram a ser apu-radas,na primeira metade dos anos 1980,oBrasil tem a possibilidade concreta de esta-belecer e atingir o alvo de “zerar” o déficitnominal do setor público.Até 1994,isso es-tava fora de questão,pelas dimensões gigan-tescas que a conta de juros nominais assu-mia no contexto de uma inflação altíssima.E durante todo o período 1995-2004 os ju-ros reais elevados e a magnitude da dívidapública conspiraram contra esse objetivo.

Atualmente,com superávit primário nafaixa de 4% a 5% do PIB,é viável a aspiraçãode “congelar” esse resultado primário à es-pera de que,ao longo da próxima gestão degoverno (2007-2010),a combinação de ju-ros reais em queda com redução da relaçãodívida pública/PIB, gere uma despesa de ju-ros que,em trajetória declinante,se iguale àdiferença entre a receita e a despesa não fi-nanceira.Isso levaria,portanto,a um resul-tado fiscal nulo, o que poderia favorecer aobtenção do tão almejado investment grade.Mais de 20 anos depois de iniciado,um lon-go processo de ajuste das contas públicas

que, a rigor, começou em meados dos anos1980, o Brasil estaria, nesse caso, comple-tando, a tarefa.

Os últimos dois períodos de governoregistram dois marcos que definiram pon-tos de inflexão importantes.Um deles ocor-reu em 1999, quando foi feito um ajusta-mento primário expressivo. O outro se deunos anos 2003-2004,quando,pela primeiravez desde 1994,a relação dívida pública/PIBexperimentou uma queda,refletindo o ajus-te iniciado anteriormente.Esse ajuste tinhasido em parte ofuscado pelos efeitos patri-moniais de 1999-2002,ligados ao reconhe-cimento de dívidas antigas (“esqueletos”),epelos efeitos da desvalorização cambial so-bre a dívida indexada ao dólar.

Hoje, como em 2002, são quatro os de-safios que o setor público tem pela frente.Primeiro, melhorar a qualidade do gasto;depois, evitar a continuidade da pressão dasdespesas previdenciárias; em terceiro lugar,procurar viabilizar um processo que per-mita diminuir a carga tributária; e, por fim,aumentar o investimento público. Resta es-perar que, antes de as circunstâncias setornarem adversas algum dia no futuro, oBrasil dê prosseguimento ao ciclo de re-formas.E a previdenciária deveria ser a pri-meira da fila.

Fábio Giambiagi é técnico de planejamento e pesquisa do Ins-

tituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

*Artigo extraído do Texto para Discussão nº 1.169, “A política f iscal do

governo Lula em perspectiva histórica: qual é o limite para o aumento

do gasto público?”, publicado em março de 2006 pelo Ipea.

m 14 anos (de 1991 a 2005), o gas-to primário do governo central au-mentou de 14% para 23% do Pro-duto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Em meados da década de 2000, a situaçãofiscal do Brasil registrou alguns destaques:a obtenção de níveis de déficit público iné-ditos desde que o indicador das Necessida-des de Financiamento do Setor Público(NFSP) começou a ser apurado no país; euma ligeira queda na trajetória da relaçãodívida pública/PIB depois de 2002. No la-do negativo do balanço,aparecem novo au-mento da relação gasto público/PIB; piorado problema previdenciário; e elevação dacarga tributária; além da continuidade darigidez orçamentária e do baixo valor do in-vestimento público.

Dentre os problemas fiscais brasileiros,a despesa previdenciária/assistencial é, delonge, o maior. Quando se comparam osgastos de 2005 com a média do primeirogoverno Fernando Henrique Cardoso(1995-1998),observa-se que,embora tenhaocorrido aumento expressivo nas transfe-rências a estados e municípios, no caso dasdemais rubricas o que houve foi um saltodas despesas do Instituto Nacional de Se-guridade Social (INSS) com benefícios,e doTesouro com a Lei Orgânica da AssistênciaSocial (Loas) e as Rendas Mensais Vitalícias(RMVs). A soma desses itens aumentouquase três pontos do PIB entre 1995-1998 e2005, enquanto o conjunto das demais ru-bricas se manteve relativamente estável emtorno de 10% do PIB.

F a b i o G i a m b i a g i

DEBATESEM FRONTEIRAS

Os obstáculos da política fiscal*

E

debate 02/05/06 18:28 Page 38

Page 35: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 39

do PIB, superior aos 19,11% registradosentre 1995 e 1998, quando a política fiscalaplicada foi relativamente frouxa. O au-mento do superávit e dos gastos primáriossão mais um indício de que o ajuste fiscalbrasileiro tem se concentrado no cresci-mento das receitas. Ora, esse não é umbom sinal, pois grande parte dessas re-ceitas corresponde a contribuições cumu-lativas – isto é, incidentes “em cascata”, emcada fase do processo produtivo –, quedistorcem as decisões dos agentes e preju-dicam a produtividade e a competitivida-de da economia como um todo.

Salta aos olhos a importância dos be-nefícios previdenciários do INSS para ex-plicar a dinâmica do gasto não financeiroda União. Os dados levam a crer que qual-quer tentativa de conter o crescimento dosgastos requererá algum mecanismo decontrole dos dispêndios feitos com bene-fícios previdenciários. Em simulação daevolução das despesas rígidas do Orça-mento da União, no período 2006-2008 –com base na trajetória esperada de supe-rávit primário da União (2,5% do PIB),deduzindo-se a série da despesa não fi-nanceira total e dada a hipótese de que areceita não financeira permaneça cons-tante em relação ao PIB –, vê-se que existeuma tendência de queda relativa nos in-vestimentos públicos. Isso ocorre porqueos gastos considerados rígidos crescemnuma velocidade superior aos gastos nãorígidos, em geral, e aos investimentos, emparticular.A queda dos investimentos não

é novidade, mas a simulação mostra que,dada a estrutura orçamentária rígida, es-sa queda será tanto mais acentuada quan-to mais perto do limite superior estiveremas receitas do governo.

O grande desafio é a elaboração de re-gras específicas de flexibilização fiscal quecontemplem simultaneamente os objeti-vos das políticas sociais e as metas de esta-bilização, promovendo cortes ou redu-ções sistemáticas daqueles segmentos degastos considerados ineficientes. Os me-canismos de flexibilização orçamentária“abririam espaço” para o aumento do su-perávit primário, caso necessário, ou parao incremento gradual dos investimentospúblicos.

Nas atuais circunstâncias, ambos osprincípios – responsabilidade fiscal e pro-teção social universal – estão em conflito.Portanto, é preciso que a sociedade discu-ta profundamente o perfil de Estado quedeseja. Isso requer que sejam colocadosclaramente os dilemas envolvidos na bus-ca pela consolidação da estabilidade ma-croeconômica, pelo crescimento susten-tado e pela redução da pobreza e da desi-gualdade social.A discussão em torno dasregras de flexibilização fiscal apenas ex-plicita parte desses dilemas.

Maurício Mota Saboya Pinheiro é economista, f ilósofo e

técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econô-

mica Aplicada (Ipea)

importância da discussão da ri-gidez orçamentária no Brasil evi-dencia-se no contexto da histó-ria recente da economia brasilei-

ra, já que uma das condições para o cres-cimento sustentado do país é o ajuste fis-cal estrutural do setor público. O pro-cesso apresenta problemas, principal-mente em relação à despesa. O crescimen-to contínuo dos dispêndios obrigatórios– fruto, em parte, de uma opção políticaque prioriza os gastos sociais – reflete aelevação do grau de enrijecimento da es-trutura orçamentária, em que uma par-cela crescente de despesas obrigatórias écoberta por uma parcela crescente de re-ceitas vinculadas.

As despesas discricionárias, que cons-tituem a margem de manobra da políticafiscal pelo lado do dispêndio, são cada vezmais comprimidas pelos gastos obrigató-rios e pelo superávit primário. Isso signifi-ca que é muito reduzida a capacidade dogoverno de aumentar seu superávit primá-rio além dos níveis atuais,porque as despe-sas discricionárias já se encontram numnível baixo e,na prática,não podem ser to-talmente eliminadas – sob pena de para-lisação da máquina pública.Além disso, asreceitas públicas têm crescido bastante (acarga tributária em 2005 atingiu cerca de37,8% do PIB) e não é razoável supor quepossam seguir essa rota indefinidamente.

Os dados mostram, ainda, que o perío-do de efetivo ajuste fiscal (a partir de 1999)apresentou gasto anual médio de 21,55%

M a u r í c i o M o t a S a b o y a P i n h e i r o

Rigidez orçamentária e regras de flexibilização fiscal

A

debate 02/05/06 18:28 Page 39

Page 36: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

INFRA-ESTRUTURA

O mapa dos portos

Estudo do Ipea apresenta o ranking dos 24 terminais portuários exportadores do país. O campeão,

P o r M a n o e l S c h l i n d w e i n , d e B r a s í l i a

Edso

n Le

ite/M

T

Portos_mat 02/05/06 18:30 Page 40

Page 37: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Santos, responde por mais de 30% de todos os embarques de mercadoria para o exterior

Portos_mat 02/05/06 18:32 Page 41

Page 38: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Estados Estados Valor Valor sob área de que usam Participação Setores movimentado agregado

Class. Porto UF influência os serviços no PIB (%) de atividade (US$ bilhões) (US$/tonelada) Pontuação

1º Santos SP 13 27 6,32 14 29,4 6,9 156,5

2º Paranaguá PR 10 23 1,67 12 7,6 3,3 75,6

3º Vitória ES 5 19 1,86 11 8,2 0,8 65,6

4º Rio de Janeiro RJ 4 23 1,08 9 5,2 7,8 62,8

5º Rio Grande RS 2 21 1,42 11 6,2 5,1 62,5

6º Itajaí SC 5 19 0,66 8 2,9 10,6 54,1

7º Salvador BA 2 22 0,50 8 2,3 8,3 49,6

8º S. Fco. do Sul SC 2 19 0,54 7 2,5 4,4 42,3

9º Fortaleza CE 4 21 0,22 4 1,1 7,3 41,6

10º Manaus AM 2 13 0,47 6 2,3 11,2 41,2

11º Sepetiba RJ 2 20 0,41 4 1,8 0,4 34,3

12º Pecém CE 4 15 0,07 1 0,4 10,0 32,1

13º Belém PA 2 21 0,11 1 0,6 4,3 32,0

14º Suape PE 2 16 0,10 1 0,6 7,4 30,0

15º São Luís MA 3 11 0,44 4 2,1 0,4 26,9

16º Recife PE 2 16 0,08 2 0,4 2,7 24,9

17º Aratu BA 1 8 0,36 2 1,6 2,6 20,8

18º Antonina SC 1 12 0,06 1 0,2 4,3 20,1

19º Imbituba SC 0 13 0 0 0,2 1,7 15,9

20º Niterói RJ 0 6 0 1 0,2 6,7 14,9

21º Natal RN 1 8 0,04 0 0,1 3,7 14,2

22º Maceió AL 1 8 0,07 1 0,3 1,6 13,6

23º João Pessoa PB 1 7 0,01 0 0,1 1,2 10,4

24º Aracaju SE 1 4 0,01 0 0 1,0 7,1

42 Desafios • maio de 2006

Para compor o ranking foram consideradas sete variáveis, entre elas valor agregado das

Ranking dos portos brasileiros (2003)

Fonte: Ipea

comércio internacional marítimobrasileiro ganhou uma radiografiadetalhada.Uma investigação feitapor Carlos Álvares da Silva Cam-

pos Neto, pesquisador do Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea), resultouno perfil dos 24 portos que operam com ex-portação e importação de cargas no Brasil.Eles são classificados em diferentes catego-rias,entre elas área geográfica de influência,participação do valor do comércio externo

no Produto Interno Bruto (PIB),principaisprodutos transacionados, setores de ati-vidade, porte, peso movimentando e valoragregado médio.

No balanço final,o porto de Santos atin-giu 156,5 pontos, ao passo que Paranaguá(PR), segundo colocado, obteve 75,6. San-tos é o único porto de influência nacional,e atende plenamente a 13 estados.Em 2003,37% do comércio exterior brasileiro rea-lizado por via marítima passou por ali, o

que corresponde a 6,32% do PIB.Além deSantos,apenas quatro portos apresentaramvalores de comércio internacional superi-ores a 1% do PIB: Vitória (1,86%), Para-naguá (1,67%), Rio Grande (1,42%) e Riode Janeiro (1,08%).E,para completar,San-tos é o único dos portos estudados a regis-trar movimento acima de 100 milhões dedólares em todos os 14 setores de atividadeindustrial pesquisados.

“Ao observar os dados,constatamos que

O

Portos_mat 02/05/06 18:32 Page 42

Page 39: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 43

mercadorias, participação no PIB, área de inf luência e número de estados usuários do porto

Fonte: Ministério dos Transportes

Santos é duas vezes maior do que o segun-do colocado, o que lhe garante o posto delíder inquestionável no setor”, diz CarlosCampos. Outras conclusões dignas de a-tenção: com mais de 8 mil quilômetros delitoral e uma necessidade indiscutível deaumentar suas vendas para o exterior, oBrasil tem apenas cinco terminais de gran-de porte; e embora o Centro-Oeste,o Nortee o Nordeste do país produzam bens quesão exportados, dos dez primeiros classifi-

cados no ranking somente Salvador (séti-mo colocado) e Fortaleza (nono colocado)estão fora das regiões Sul e Sudeste. Sãoquestões a serem resolvidas.

O trabalho está disponível na Internet epode ser baixado,na íntegra,do site do Ipea,na rubrica Textos para Discussão sob o nú-mero 1.164. Seu título:“Portos brasileiros:área de influência,ranking,porte e os prin-cipais produtos movimentados”. Interes-sante e rico em detalhes, é um importante

instrumento para a definição de políticaspúblicas para o setor.

O governo federal tem tomado diversasmedidas a fim de modernizar a estruturaportuária no país, considerando que inú-meras pesquisas apontam ser esta um dosgargalos que estrangulam o crescimento docomércio exterior brasileiro. Em fevereirodeste ano, o Ministério dos Transportes(MT) contratou o Serviço Federal de Pro-cessamento de Dados (Serpro) para desen-volver um sistema que integre os portos na-cionais, uniformize suas informações e, as-sim,funcione como uma ferramenta de ges-tão do setor logístico. Por simplificar e agi-lizar o intercâmbio de informações, deveráagregar qualidade às operações e resultar noincremento das exportações.A construçãoda estrada da margem direita do acesso aoporto de Santos, cuja licitação está na de-pendência de decisões na esfera judicial,também compõe os projetos do ministérionessa área.“O porto é fundamental na re-lação do país com o mundo”, argumenta odiretor do Departamento de Programas deTransportes do MT, Paulo de Tarso.

Como efeito colateral das preocupaçõescom o setor portuário e das medidas ado-tadas pelo governo, o Conselho Diretor doFundo da Marinha Mercante aprovou pro-jetos de financiamento de construção na-val no valor de 1 bilhão de dólares em 2005.Tem havido crescimento constante e ace-lerado nessa área. Em 2000, foram libe-rados 186 milhões de reais; em 2001, 150milhões de reais; e, em 2002, 298 milhõesde reais. Em 2003, a soma dobrou para 614milhões de reais e em 2004 ficou próximaa 716 milhões de reais.

Veja, nas páginas a seguir, a relação dos24 portos estudados pelo Ipea.

Saiba mais:

>>Íntegra do Texto para Discussão “Portosbrasileiros: área de inf luência, ranking, porte e os principais produtos movimentados”www.ipea.gov.br/pub/td/2006/td_1164.pdf

Localização dos portos analisados

Portos_pag43 03/05/06 15:54 Page 43

Page 40: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

44 Desafios • maio de 2006

Porto de Santos 1ª posição no ranking

Localização: Santos/SP

Porte: Nacional

Área de inf luência: SP, GO, MT, MS, MG, RJ, PR,

ES, BA, RS, TO, RO e DF

Participação no comércio exterior de SP: 84,5%

Movimentação (2003): US$ 29.400 milhões

Quantos estados usam esse porto: 27

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Indústria mecânica, Indústria

química, Alimentos e bebidas, Material

de transporte, Agroindústria e madeira

Destaques (2003): É o principal porto brasileiro

em todos os aspectos, e o único que escoou

produtos de todos os 24 estados brasileiros

Porto de Paranaguá2ª posição no ranking

Localização: Paranaguá/PR

Porte: Grande

Área de inf luência: PR, MT, SC, SP, RJ, RS, RN,

AC, TO e GO

Participação no comércio exterior do PR: 27,1%

Movimentação (2003): US$ 7.600 milhões

Quantos estados usam esse porto: 4

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Alimentos e bebidas

Destaques (2003): O valor das mercadorias

exportadas tem maior signif icância do que o das

importadas. Os 20 principais produtos exportados

apresentaram valor superior a US$ 30 milhões

Porto de Vitória 3ª posição no ranking

Localização: Vitória/ES

Porte: Grande

Área de inf luência: ES, MG, GO, BA e SP

Participação no comércio exterior do ES: 53,9%

Movimentação (2003): US$ 8.200 milhões

Quantos estados usam esse porto: 19

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Metalurgia, Produtos minerais,

Celulose e papel, Agroindústria e madeira

Destaques (2003): A principal especialização

do porto é a comercialização de ferro e minério

de ferro

Porto de São Franciscodo Sul 8ª posição no ranking

Localização: São Francisco do Sul/SC

Porte: Médio

Área de inf luência: SC e PR

Participação no comércio exterior de SC: 36,0%

Movimentação (2003): US$ 2.500 milhões

Quantos estados usam esse porto: 19

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Indústria mecânica, Produtos minerais

Destaques (2003): O complexo soja totalizou

exportações no valor de mais de 430 milhões

de dólares

Porto de Fortaleza9ª posição no ranking

Localização: Fortaleza/CE

Porte: Médio

Área de inf luência: CE, PI, RN e PB

Participação no comércio exterior do CE: 67,8%

Movimentação (2003): US$ 1.600 milhões

Quantos estados usam esse porto: 21

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Indústria têxtil, Calçados e couro, Eletroeletrônica

Destaques (2003): Os principais

produtos exportados foram crustáceos, coco

e castanha-do-pará

Porto de Salvador 7ª posição no ranking

Localização: Salvador/BA

Porte: Médio

Área de inf luência: BA e SE

Participação no comércio exterior da BA: 46,4%

Movimentação (2003): US$ 2.300 milhões

Quantos estados usam esse porto: 22

Valor agregado dos produtos exportados: Alto

Principais setores: Material de transporte,

Indústria química, Metalurgia, Produtos minerais,

Agroindústria e madeira

Destaques (2003): Os principais produtos

exportados foram automóveis, totalizando quase

400 milhões de dólares. Em segundo lugar vem

o petróleo bruto, com 170 milhões de dólares

Foto

s:Di

vulg

ação

Portos_mat 02/05/06 18:34 Page 44

Page 41: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Porto do Rio de Janeiro 4ª posição no ranking

Localização: Rio de Janeiro/RJ

Porte: Grande

Área de inf luência: RJ, MG, SP e ES

Participação no comércio exterior do RJ: 37,6%

Movimentação (2003): US$ 5.200 milhões

Quantos estados usam esse porto: 23

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Metalurgia, Material

de transporte, Indústria química, Indústria

mecânica, Produtos minerais

Destaques (2003): A pauta é bastante diversif icada

e concentrada em produtos da indústria de

transformação, o que signif ica maior valor

agregado por unidade de produto exportado

Porto de Rio Grande5ª posição no ranking

Porto de Itajaí 6ª posição no ranking

Localização: Itajaí/SC

Porte: Médio

Área de inf luência: SC, PR, RS, SP e AC

Participação no comércio exterior de SC: 44,2%

Movimentação (2003): US$ 2.900 milhões

Quantos estados usam esse porto: 19

Valor agregado dos produtos exportados: Alto

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Indústria mecânica

Destaques (2003): É o segundo porto com

maior valor agregado de produtos movimentados,

registrando cerca de 1.000 dólares por tonelada

Porto de Sepetiba11ª posição no ranking

Localização: Sepetiba/RJ

Porte: Médio

Área de inf luência: RJ e MG

Participação no comércio exterior do RJ: 24,9%

Movimentação (2003): US$ 1.800 milhões

Quantos estados usam esse porto: 20

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Produtos minerais, Metalurgia

Eletroeletrônica, Indústria mecânica

Destaques (2003): Apenas oito produtos

de exportação tiveram movimentação acima

de 10 milhões de dólares. O principal deles é

o minério de ferro

Porto de Pecém 12ª posição no ranking

Localização: Pecém/CE

Porte: Pequeno

Área de inf luência: CE, PI, RN e PB

Participação no comércio exterior do CE: 19,9%

Movimentação (2003): US$ 400 milhões

Quantos estados usam esse porto: 15

Valor agregado dos produtos exportados: Alto

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Calçados e couro, Indústria têxtil

Destaques (2003): Porto local, mais voltado

para exportações, sendo que as frutas ocupam

a primeira posição no ranking de produtos

vendidos ao exterior

Porto de Manaus 10ª posição no ranking

Localização: Manaus/AM

Porte: Médio

Área de inf luência: AM e MT

Participação no comércio exterior do AM: 42,8%

Movimentação (2003): US$ 2.300 milhões

Quantos estados usam esse porto: 13

Valor agregado dos produtos exportados: Alto

Principais setores: Eletroeletrônica, Indústria

mecânica

Destaques (2003): É o porto com maior valor

agregado de produtos movimentados, registrando

1,1 mil dólares por tonelada

Desaf ios • maio de 2006 45

Localização: Rio Grande/RS

Porte: Grande

Área de inf luência: RS e SP

Participação no comércio exterior do RS: 57,9%

Movimentação (2003): US$ 6.200 milhões

Quantos estados usam esse porto: 21

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Calçados e couro, Indústria química, Indústria

mecânica, Alimentos e bebidas

Destaques (2003): Quarenta e quatro produtos

apresentaram valores de exportação superiores a

US$ 10 milhões e, dos 20 produtos mais importados,

todos superaram os US$ 40 milhões

Portos_mat 02/05/06 18:34 Page 45

Page 42: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

46 Desafios • maio de 2006

Porto de Belém 13ª posição no ranking

Localização: Belém/PA

Porte: Médio

Área de inf luência: PA e AP

Participação no comércio exterior do PA: 27,1%

Movimentação (2003): US$ 598,7 milhões

Quantos estados usam esse porto: 21

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Agroindústria e madeira

Destaques (2003): É um porto concentrado

basicamente em exportação. Os produtos

da agroindústria e de madeira responderam

por 77% do volume de comércio exterior realizado

pelo porto

Porto de Suape14ª posição no ranking

Localização: Suape/PE

Porte: Médio

Área de inf luência: PE e PB

Participação no comércio exterior de PE: 33,8%

Movimentação (2003): US$ 600 milhões

Quantos estados usam esse porto: 16

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Produtos minerais,

Agroindústria e madeira, Eletroeletrônica,

Indústria têxtil

Destaques (2003): Apenas três produtos, todos de

características locais, apresentaram valores de

exportação superiores a 15 milhões de dólares:

crustáceos, roupa de cama e gás de petróleo

Porto de São Luís15ª posição no ranking

Localização: São Luís/MA

Porte: Médio

Área de inf luência: MA, PA e TO

Participação no comércio exterior do MA: 2,9%

Movimentação (2003): US$ 2.100 milhões

Quantos estados usam esse porto: 11

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Produtos minerais, Metalurgia

Destaques (2003): É o porto com menor valor

agregado das mercadorias exportadas, tendo

registrado 0,4 dólar/tonelada

Porto de Niterói20ª posição no ranking

Localização: Niterói/RJ

Porte: Pequeno

Área de inf luência: Não tem

Participação no comércio exterior do RJ: 2,9%

Movimentação (2003): US$ 200 milhões

Quantos estados usam esse porto: 6

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Plásticos e borracha,

Agroindústria e madeira

Destaques (2003): Não há produtos de exportação

relevantes. Quanto às importações, três produtos

podem ser mencionados: tubos de borracha, trigo,

torneiras e válvulas

Porto de Natal 21ª posição no ranking

Localização: Natal/RN

Porte: Pequeno

Área de inf luência: RN

Participação no comércio exterior do RN: 46,4%

Movimentação (2003): US$ 185 milhões

Quantos estados usam esse porto: 8

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Eletroeletrônica, Produtos minerais

Destaques (2003): Na relação dos produtos mais

exportados, os óleos brutos de petróleo vêm em

primeiro lugar, seguidos do açúcar

Porto de Imbituba 19ª posição no ranking

Localização: Imbituba/SC

Porte: Pequeno

Área de inf luência: Não alcança todo o estado de SC

Participação no comércio exterior de SC: 2,9%

Movimentação (2003): US$ 200 milhões

Quantos estados usam esse porto: 13

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Indústria química

Destaques (2003): Porto de pouca relevância

para o comércio exterior brasileiro

Foto

s:Di

vulg

ação

Portos_mat 02/05/06 18:35 Page 46

Page 43: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 47

Porto de Recife 16ª posição no ranking

Localização: Recife/PE

Porte: Pequeno

Área de inf luência: PE e SE

Participação no comércio exterior de PE: 32,6%

Movimentação (2003): US$ 400 milhões

Quantos estados usam esse porto: 16

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Alimentos e bebidas

Destaques (2003): Porto mais voltado para

importação do que para exportação. Cereais

e maltes foram os produtos mais desembarcados

do exterior. Um único produto responde por quase

80% das exportações: o açúcar

Porto de Aratu17ª posição no ranking

Localização: Aratu/BA

Porte: Médio

Área de inf luência: BA

Participação no comércio exterior da BA: 33,8%

Movimentação (2003): US$ 1.800 milhões

Quantos estados usam esse porto: 8

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Produtos minerais, Indústria

química

Destaques (2003): Exportação de US$ 443 milhões

em óleos de petróleo. Em geral, o porto atua

com mercadorias ligadas ao Pólo Petroquímico

de Camaçari

Porto de Antonina 18ª posição no ranking

Localização: Antonina/PR

Porte: Pequeno

Área de inf luência: PR

Participação no comércio exterior do PR: 2,9%

Movimentação (2003): US$ 320 milhões

Quantos estados usam esse porto: 12

Valor agregado dos produtos exportados: Médio

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Metalurgia, Indústria química

Destaques (2003): É um porto especializado

na importação de adubos e fertilizantes,

que representaram 95% do valor de todas

as importações

Porto de Cabedelo23ª posição no ranking

Localização: João Pessoa/PB

Porte: Pequeno

Área de inf luência: PB

Participação no comércio exterior da PB: 13%

Movimentação (2003): US$ 100 milhões

Quantos estados usam esse porto: 7

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Alimentos e bebidas, Produtos

minerais

Destaques (2003): O principal produto

exportado foi o álcool etílico, que movimentou

US$ 27,8 milhões

Porto de Aracaju 24ª posição no ranking

Localização: Aracaju/SE

Porte: Pequeno

Área de inf luência: SE

Participação no comércio exterior de SE: 27,1%

Movimentação (2003): US$ 34 milhões

Quantos estados usam esse porto: 4

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Agroindústria e madeira,

Alimentos e bebidas

Destaques (2003) Exportação de

US$ 9,1 milhões em sucos de frutas,

Importação de US$ 15,1 milhões em trigo

Porto de Maceió 22ª posição no ranking

Localização: Maceió/AL

Porte: Pequeno

Área de inf luência: AL

Participação no comércio exterior de AL: 92,8%

Movimentação (2003): US$ 307,6 milhões

Quantos estados usam esse porto: 8

Valor agregado dos produtos exportados: Baixo

Principais setores: Açúcar

Destaques (2003): O porto é responsável

por praticamente todas as vendas ao exterior do

estado e um único produto, o açúcar, representa

74% de todo o valor exportado

Portos_mat 02/05/06 18:35 Page 47

Page 44: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

MEIO AMBIENTE

Vidas secasP o r M a r i n a N e r y , d e B r a s í l i a

Anto

nio

Gaud

ério

/Fol

ha Im

agem

meio_ambiente 02/05/06 18:37 Page 48

Page 45: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

A natureza parece estar se vingando da ação do homem. Desde que a temperatura passou

a ser registrada, no século XIX, 2005 foi o segundo ano mais quente. A ONU def iniu 2006

como o Ano Internacional dos Desertos e da Desertif icação. No Brasil, o avanço da aridez

dobrou nas duas últimas décadas. O processo é irreversível, mas pode e deve ser contido

meio_ambiente 02/05/06 18:38 Page 49

Page 46: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

50 Desafios • maio de 2006

mais 1 bilhão de hectares sujeitos à deser-tificação ou à degradação pelo uso indis-criminado da terra. O risco à sobrevivên-cia das populações resulta em êxodo paraos grandes centros urbanos – o que crianovas dificuldades.

O problema, que como se vê é grave, sóentrou para a agenda internacional depoisque uma grande seca assolou o Sahel, naÁfrica, entre o final da década de 1960 e oinício da década de 1970. Na época, mor-reram 200 mil pessoas e milhões de ani-mais. O Sahel é considerado o coraçãocultural da África. Fica entre o deserto doSaara e as terras mais férteis ao sul, e incluipaíses como Senegal, Mauritânia, Mali,Burkina Faso, Níger, Chade, Sudão, Etió-pia, Eritréia, Djibuti e Somália – todosmuito populosos e ricos em petróleo eoutros minerais. Então, em 1977, na Con-ferência das Nações Unidas sobre Deser-tificação, realizada em Nairóbi, foi elabo-rada a definição de aridez, em função dovolume de precipitação e evaporação.Tam-bém se estabeleceu que o conceito de de-

sertificação seria restrito à degradação daterra em zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, excluindo, por exemplo, osdesertos gelados.A degradação resulta tan-to de fatores naturais quanto da atividadehumana. Uma determinada área é consi-derada em processo de desertificação sem-pre que o seu índice de aridez aumenta aolongo do tempo. Esse índice é calculadopela razão entre o nível de chuva e o deevaporação, ou seja, quanto menor for acapacidade da terra de reter a água, maiorserá a aridez.

Providências A partir de então começa-ram a ser tomadas providências. Lenta-mente, como tudo que envolve interessesdiversos e muitas vezes contraditórios.Quinze anos depois, na Eco-92, como fi-cou conhecida a Conferência das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente e Desen-volvimento (Cnumad), realizada no Riode Janeiro, dirigentes solicitaram a pre-paração da Convenção de Combate à De-sertificação. Ela levou quatro anos para ser

s escolas ensinam às crianças,desde a mais tenra idade, que avida depende da água. Foi assimque tudo começou, na Terra, mi-

lhões de anos atrás, e assim prossegue.Sem água, as plantas e os animais não so-brevivem.A vida desaparece. O que todossabem, e constatam no dia-a-dia, no en-tanto, não se reflete em seus atos. A hu-manidade está consumindo mais do a Ter-ra pode suportar.A um ponto que o ritmode desertificação tem se tornado assom-broso – provocando fome e pobreza, pro-blemas que, paradoxalmente, estamos em-penhados em combater.

O Programa das Nações Unidas para oMeio Ambiente (Pnuma) faz o alerta: aárea afetada pela seca aumentou mais de50% durante o século XX em todo o glo-bo.Atualmente, soma cerca de 5,1 bilhõesde hectares.Aproximadamente 2,3 bilhõesde pessoas, ou seja, mais de um terço dapopulação mundial, vivem nessas áreas.Desse total, cerca de 1 bilhão estão na zonarural e são pobres, muito pobres. E há

Em termos g loba is, as perdas econômicas resu l tantes da deser t i f icação chegam a

Ocorrência

Muito grave

Grave

Moderada

Núcleos de desertif icação

Áreas de atenção especial

Mapa 2 • Zonas atingidas

Categorias de suscetibilidade

Muito alta

Alta

Moderada

O avanço da aridez no Brasil

Mapa 1 • Zonas em estado de atenção

A

Fontes: MMA

meio_ambiente 02/05/06 18:39 Page 50

Page 47: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 51

organizada, mas finalmente aconteceu, emdezembro de 1996. Promulgou a adoçãode medidas específicas e estabeleceu 17 dejunho como o Dia Mundial de Luta nessaárea.

Agricultura A preocupação da Orga-nização das Nações Unidas (ONU) é evi-tar, entre outras coisas, a perda do soloarável. Só na América Latina e no Caribe,todos os anos 24 bilhões de toneladas deterra deixam de ser aptas para produção.Os prejuízos com as quebras de safra, nosquais o Brasil se insere, ultrapassam 975milhões de dólares ao ano. Mas a soma ge-ral é bem maior. “As perdas econômicasanuais chegam a 4 bilhões de dólares, comum custo de recuperação de 10 bilhões dedólares ao ano, em todo o mundo”, dizGertjan B. Beekman, coordenador do Pro-grama de Combate à Desertificação e Mi-tigação dos Efeitos da Seca na América do

Sul, do Instituto Interamericano de Coo-peração para a Agricultura (IICA).

A questão envolve a sobrevivência degente comum e interesses econômicos degrandes conglomerados internacionais,como os ligados à exploração mineral.Também abrange uma vasta gama dequestões ambientais. A desertificação éprovocada por vários fenômenos, entreeles a ausência de chuvas, a alternância en-tre enchentes e estiagens, a monocultura ea expansão das fronteiras agrícolas. Suaface mais cruel é o empobrecimento daspessoas.“A desertificação é um problemasocioeconômico-ambiental. Para lutarcontra ela é preciso, ao mesmo tempo,combater a pobreza”, afirma José RobertoLima, coordenador técnico de combate àdesertificação da Secretaria de RecursosHídricos do Ministério do Meio Ambiente(MMA).Segundo ele,são necessárias ações,estratégias e políticas que melhorem o

manejo da terra. Devem ser consideradosos aspectos ambientais, sociais e econômi-cos dos ecossistemas e da vida das pes-soas. E é preciso que se valorizem o conhe-cimento da população e suas experiênciasbem-sucedidas.

Brasil No Brasil, o quadro geral é o seguin-te.A aridez cresce à taxa de 3% ao ano. Há2,7 mil municípios em regiões de climaspropensos à desertificação e, desses, 1,5

4 bilhões de dólares anuais. O custo de recuperação é de 10 bilhões de dólares ao ano

Os alvos da aridez no Brasil

• 1.482 municípios vulneráveis

• 1,3 milhões de km2, ou 15% do território

• 32 milhões de habitantes,

ou 18,6% da população

Fonte: MMA

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente alerta: no século XX, a área global afetada pela seca aumentou mais de 50%

Marcos Santana/Ministério do Meio Ambiente/Secretaria de Recursos Hídricos

meio_ambiente 02/05/06 18:42 Page 51

Page 48: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

52 Desafios • maio de 2006

mil são mais vulneráveis. Eles se encon-tram no polígono formado pelos estadosdo Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Pa-raíba e Alagoas. Os dados compõem umestudo inédito elaborado pelo MMA. Eleinclui o “índice de vulnerabilidade a secase enchentes” (IVSE), indicador construí-do com base em variáveis de impacto so-cioeconômico.“O índice é uma ferramen-ta para identificar, monitorar e avaliar osimpactos econômicos e sociais de secas eenchentes. Justifica maior ligação entre aspolíticas de redução da pobreza e os pro-gramas de desenvolvimento para as áreasafetadas”, diz Ruth Quadros, técnica espe-cializada da Secretaria de Recursos Hí-dricos do MMA, componente da equiperesponsável pela elaboração do IVSE, for-mada também por José Roberto Lima,Jonair Bessa e Márcio Magalhães.

Outras pesquisas de estudiosos daUniversidade de Brasília (UnB), em 2003,mostraram o risco de desertificação no

país: é muito elevado em 120 mil quilô-metros quadrados, moderado em 430 mile baixo ou muito baixo noutros 400 mil.Em resumo, o país pode ter 15% de seuterritório transformado num Saara ounum Atacama.As áreas mais críticas foramidentificadas pelo MMA e denominadasNúcleos Desertificados. Estão nos mu-nicípios de Gilbués, no Piauí, Irauçuba, noCeará, Seridó, no Rio Grande do Norte, eCabrobó, em Pernambuco (leia quadro

abaixo).Do ponto de vista da administração

estatal, a desertificação é uma questão queafeta diversos ministérios – o do MeioAmbiente, o da Educação, o da Inte-gração e o da Agricultura, entre outros.Adefinição de diretrizes e ações nessa áreaestá a cargo do Programa de Ação Na-cional de Combate à Desertificação e Mi-tigação dos Efeitos da Seca (PAN), umaarticulação de poderes públicos e da so-ciedade civil sob a coordenação da Se-

cretaria de Recursos Hídricos do MMA.O programa resulta de um ano de debatese foi elaborado de acordo com a Con-venção da ONU para o Combate à De-sertificação e com o Plano Plurianual2004-2007, entre outros parâmetros rele-vantes.“Nele, a seca não é vista apenas co-mo um problema de falta de água, mas dedesenvolvimento sustentável”, diz o de-putado federal Edson Duarte (PV-BA).

Bons frutos Alguns resultados desses mo-vimentos político-administrativos já po-dem ser percebidos no mundo real.A Ar-ticulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA)é um fórum de cerca de 750 entidades dosmais diversos segmentos da sociedade ci-vil, criado em julho de 1999. Uma de suasfrentes de trabalho tem sido especialmentebem-sucedida. É o Programa Um Milhãode Cisternas, que tem plantado depósitosde água da chuva em casas e comunida-des. “Constatamos que nos últimos três

No Brasi l , a seca vem sendo tratada de forma mul t id isc ip l inar. Seu combate envolve

Gilbués (PI)Situação: grave quadro de erosão em sulcos.Causas: pecuária, desmatamento e, residual-mente, mineração.Ações: treinamento de técnicos da Emater locale de um tratorista da associação dos produtoresem práticas de conservação de solo adequadasàs condições locais. Formação de um ConselhoMunicipal de Meio Ambiente. Outras ações decaráter educativo.

Irauçuba (CE)Situação: processos de erosão predominante-mente laminar. Rareamento e empobrecimentoda vegetação.Causas: sobrepastoreio e retirada de lenha.Ações: trabalhos junto ao Conselho de Desen-volvimento Sustentável (criado com o apoio dogoverno estadual), a fim de estimular a comu-

nidade a atuar nas questões ambientais. Reati-vação de projeto do Centro Nacional de Pesqui-sa de Caprinos (CNPC/Embrapa), localizado nodistrito de Juá, com o objetivo inicial de avaliarespécies nativas e exóticas para a recuperaçãoda caatinga.

Seridó (RN)Situação: empobrecimento da vegetação eexaustão dos recursos naturais.Causas: sobre-exploração da caatinga pelaagricultura, pecuária e retirada de lenha.Ações: criação de áreas experimentais de mane-jo da caatinga e agricultura de várzea, além deum amplo programa de educação ambiental, aser patrocinado pelo Fundo Nacional de MeioAmbiente (FNMA), que já está sendo articuladoentre as lideranças locais das áreas de edu-cação e meio ambiente.

Cabrobó (PE)Situação: salinização das áreas irrigadas. Gra-ve processo erosivo observado em Petrolândia,em áreas de reassentamento da barragem deItaparica que ainda não foram ocupadas.Causas: desmatamento ocorrido há oito anos.Mais de 600 hectares já estão inutilizados nasmargens do riacho Barreiras.Ações: criação de comissão, formada por lide-ranças da cidade, da Emater, associações co-munitárias e representante do Pólo Sindical dePetrolândia para organizar ampla discussãosobre o tema com a sociedade local. Estímuloa iniciativas que visem à melhoria das con-dições de vida no semi-árido, como um sistemapara abertura de poços apoiado pelo Pólo Sin-dical, conhecido como bate-estaca, cuja tec-nologia é simples, barata e se baseia no uso datração animal.

Os pontos mais críticos do Brasil

Fonte: Programa Nacional de Combate à Desertificação/Ministério do Meio Ambiente

meio_ambiente 02/05/06 18:42 Page 52

Page 49: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 53

anos surgiram iniciativas novas, especial-mente programas sociais, e com elas as po-pulações estão em melhores condições”,diz Silvio Santana, da Fundação GrupoEsquel Brasil, que integra a ASA.

Educação Outras ações vêm sendo desen-volvidas no sentido de melhorar o abas-tecimento de água, a divulgação de técni-cas para conservação do solo e de formasalternativas ao uso da lenha, e a capacita-ção de agentes para a elaboração de proje-tos de zoneamento ecológico-econômico.Um exemplo é o trabalho da Empresa deAssistência Técnica e Extensão Rural doRio Grande do Norte (Emater-RN), órgãoligado ao governo do estado, na cidade deSeridó, uma daquelas identificadas comonúcleo desertificado.Ali técnicos, produ-tores rurais e lideranças comunitárias es-tão recebendo treinamentos.“Nosso obje-tivo é promover uma transição gradual daagricultura convencional para um modeloecológico”, diz Adauto Teixeira, gerente es-

tadual para o meio ambiente e agroecolo-gia da Emater. O custo desse projeto, de 2milhões de reais,é coberto pelo governo doestado do Rio Grande do Norte e peloMinistério da Ciência e Tecnologia.

A exploração descontrolada de recur-sos naturais é prática comum no Brasil,herança dos tempos coloniais. Florestas,rios, recursos minerais, o que puder ser ex-traído e usufruído, da forma mais baratae rápida, com certeza é. Esse é um lado damoeda. O cultural, histórico, do capitalis-mo predatório que se estabeleceu no país.O outro lado é político. Tem relação como coronelismo, o chamado voto de cabres-to, sistema de manutenção do poder emmãos de famílias tradicionais e abastadasque se implantou de maneira informal háséculos e pressupõe a perpetuação da de-pendência das populações que habitamregiões mais áridas e menos urbanizadas.Em outras palavras, a busca de garantiados resultados nas urnas fez com que osproblemas resultantes da seca não fossem

eficientemente enfrentados.Os fenômenos recentes podem, assim,

ser interpretados como resultantes de duaslinhas de mudanças estruturais. Uma, e-conômica, tem a ver com a percepção deque os recursos naturais são finitos, não sepode explorar um ambiente indefinida-mente e as conseqüências dos atos daque-les que vão com sede demais ao pote atin-gem a todos. O caso do petróleo é um íco-ne nesse sentido e pode perfeitamente seraplicado à água.

Direitos A outra linha de interpretação é po-lítica,tem relação com a democratização dopaís.O acesso à informação e sua decodifi-cação, especialmente por agentes de orga-nizações não-governamentais (ONGs),além da maior abrangência do sistema e-ducacional, estão gradualmente revelandoàs pessoas que elas têm direitos e institui-ções para defendê-las.Ainda não se podeafirmar que ninguém mais crê que um diao sertão vá virar mar e o mar virar sertão,como preconizava o beato Antônio Con-selheiro. Mas o número de crédulos e in-gênuos, sem dúvida, vem diminuindo. Asações governamentais e as organizaçõessociais, em todas as esferas, multiplicam-se. O resultado está diante dos olhos. As-sim como a desertificação, a tomada deconsciência é um processo sem retorno,mas ainda há muito por fazer para que ocenário de Vidas Secas, romance de Gra-ciliano Ramos, seja somente coisa de ro-mance mesmo.

educação, saúde, meio ambiente, produção agropecuária e urbanização, entre outras áreas

Ministério do Meio Ambientewww.mma.gov.br/port/redesert/desertmu.html

Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA)www.asabrasil.org.br

Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA)www.iica.org.br/d/Oqueedesert/index_oquee.htm

Saiba mais:

d

Erosão: o desmatamento para a expansão das fronteiras agropecuárias é uma das importantes causas do

crescimento da desertificação

Marcos Santana/Ministério do Meio Ambiente/Secretaria de Recursos Hídricos

meio_ambiente 02/05/06 18:43 Page 53

Page 50: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

MELHORES PRÁTICAS P o r P a t r í c i a M a r i n i , d e P o r t o A l e g r e

Tâni

a Me

iner

z

Melhores 02/05/06 18:44 Page 54

Page 51: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Hospital de Cl ín icas de Porto Alegre uti l i za tecnolog ia com intel igência para melhorar

procedimentos, condições de trabalho e atendimento à população

SUS Plusuma manhã de abril de 2006, omédico entra no quarto do pa-ciente no Hospital de Clínicas dePorto Alegre para uma visita de

rotina. Em vez de pegar o prontuário pen-durado ao pé do leito, tira do bolso umpalm top. No pequeno equipamento, lê oprontuário do internado, o resultado dosexames recém-feitos, os últimos procedi-mentos e as observações registradas pelasenfermeiras. Na mesma telinha, faz suaprescrição e pede novos exames. Antes desair para mais uma visita, comenta com

alunos e residentes o encaminhamento da-do ao caso.“É fascinante. O trabalho ficoumais fácil e eficiente”,resume o pneumolo-gista Renato Seligman, vice-presidentemédico. Em seu palm top há, ainda, meiadúzia de compêndios médicos que podemser consultados sem que ele precise deixaro leito do paciente.

O Clínicas de Porto Alegre é uma ex-ceção no universo dos depauperados emalfalados hospitais públicos brasileiros.Merece observação atenta. O que se vêali, desde abril deste ano, os tais pron-

tuários acessíveis em computadores demão, é um estágio de um processo maisamplo que, nos últimos cinco anos, en-volveu toda a comunidade hospitalar.Para o segundo semestre de 2006, plane-ja-se aproveitar a renovação da rede decomunicação e introduzir a tecnologiawireless, sem fio. Assim, os médicos nemsequer precisarão se conectar aos com-putadores da rede para baixar os pron-tuários dos pacientes – estando em seuposto, as informações aparecerão dispo-níveis em seus equipamentos.

Desaf ios • maio de 2006 55

N

Clóvis Prates/ divulgação HCPA

Melhores 02/05/06 18:44 Page 55

Page 52: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Uma história diferente

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre foiconcebido com uma fórmula diferente dos de-mais hospitais universitários brasileiros.Cria-do por lei federal aprovada no Congresso Na-cional em 1970,nasceu como empresa públi-ca de direito privado, ou seja: é academica-mente ligado à Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), integra a rede dehospitais do Ministério da Educação,que ban-ca sua folha de pagamento, mas tem orça-mento próprio e autonomia administrativa.

A especificidade foi conseguida graçasà influência do reitor da UFRGS, Eduardo Fa-raco, cardiologista do general Emílio Médiciantes de sua nomeação à Presidência da Re-pública. O hospital foi instalado, em 1972,num prédio que estava em obras desde 1931,durante o primeiro governo de Getúlio Vargas.

Atualmente, passam pelo Clínicas todosos dias, em média,16 mil pessoas, entre elasfuncionários, pacientes e visitantes (mais doque a população de 65% dos municípios gaú-chos).O prédio consome mais de 1 milhão dequilowatts/hora por mês de energia elétrica,o equivalente ao consumo de uma cidade de25 mil habitantes. O ambulatório registra 2mil atendimentos diários.

A arrecadação total de 2005 foi de335 milhões de reais, considerando todasas fontes, as inscrições de portarias em re-cursos a receber e o saldo do exercício an-terior.A maior parte, 65,4% do total, vem doTesouro Nacional para o pagamento de pes-soal e encargos sociais. As receitas pró-prias, provenientes de serviços hospitalares(aí incluídos os repasses do SUS), totaliza-ram 31%. Outros recursos, provenientes daexecução de convênios com outros órgãos,inclusive o Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES), comple-mentam a receita.

As contas fecham, praticamente não háfilas, a qualidade do atendimento melhorou,os recursos são mais bem explorados e ospacientes confiam no hospital.

56 Desafios • maio de 2006

Nos úl t imos anos, o invest imento em tecnolog ia da informação e da comunicação tem

Pioneirismo Num ambiente em que apenaspouco mais de um terço dos quase 7 milhospitais brasileiros possui algum nível deinformatização, o Clínicas de Porto Alegrese destaca.Na década de 1980,foi pioneiro,ao lado do hospital-escola da UniversidadeFederal de Campinas (Unicamp), em apli-car a Informática Médica, então uma no-víssima área de conhecimento, para arma-zenamento, recuperação e uso da infor-mação na solução de problemas e na to-mada de decisões.Enquanto na maior par-te das organizações a informatização estálimitada à automatização das ordens médi-cas (prescrição e solicitação de exames),no Clínicas porto-alegrense seu espectro ébem mais amplo. Criou-se ali um sistemade informações útil à assistência, à pes-quisa e ao ensino, que também serve comoferramenta de gestão.“O Hospital de Clí-nicas de Porto Alegre tem sido uma refe-rência pelos seus sistemas de informação eestá entre os hospitais universitários maisbem geridos do país”, atesta Ana MariaMalik, coordenadora da área de gestão em

saúde pública da Escola de Administraçãode Empresas da Fundação Getulio Vargasde São Paulo.

A razão de tal status não está na tecno-logia, que o dinheiro pode comprar, masem sua aplicação integrada aos sistemas deinformações desenvolvidos no Clínicasdesde antes da existência de computado-res. O casamento das duas inteligências ge-rou resultados que dificilmente seriam al-cançados com um pacote pronto. A Co-missão de Prontuários atua no Clínicasdesde que o hospital abriu as portas, em1972, embora a obrigatoriedade de exis-tência dessa comissão nos hospitais só te-nha vindo em 2002,por resolução do Con-selho Federal de Medicina. Em seguida, oConselho passou a aceitar que os docu-mentos fossem guardados por 20 anos, enão para sempre, como era antes. Coinci-dência ou não,os critérios estabelecidos noClínicas para compor o chamado prontuá-rio essencial, elegendo os documentos aserem preservados e os que podem ser des-cartados ou arquivados, são os mesmos

No HCPA, cada médico tem um palmtop onde consta a integra dos prontuários dos pacientes. A informatização

Clóvis Prates/divulgação HCPA

Melhores 02/05/06 18:46 Page 56

Page 53: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 57

s i do equ i va l e n te a 4% do fa t u ramen to do Hosp i t a l d e C l í n i c as po r to -a l eg rense

posteriormente adotados pelo Conselho.Como os prontuários inativos há mais

de 20 anos podem ser destruídos, 15 tone-ladas de papel foram embora, mas a Co-missão de Prontuários garantiu que as in-formações necessárias à assistência, à pes-quisa e ao ensino estivessem disponíveis.Cada prontuário traz o registro de todas aspassagens do paciente pela instituição, deconsultas no ambulatório a internações,sumários de alta,enfim,um histórico com-pleto. Depois de organizados esses dados,foi possível pensar em informatização. Erapreciso combater o excesso de papel, a fal-ta de espaço físico (para guardar 1,025milhão de documentos), o volume exces-sivo dos prontuários (difíceis de manuse-ar e de encontrar as informações), a faltade qualidade dos registros (letras ilegíveis,dados incompletos) e a ausência de nor-matização para consultas.

Após criteriosa seleção, os prontuáriosde interesse histórico ou científico foramdigitalizados. Cerca de 1 milhão de docu-mentos estão em CDs, que ocupam uma

pequena gaveta. Duas cópias estão arma-zenadas em outros lugares, por questão desegurança.Além disso, muitos documen-tos não vão para o prontuário eletrônico,mas não podem ser destruídos. Eles sãotransferidos para uma área externa e con-stituem o “prontuário legal”. Dessa forma,o arquivo, que chegou a ocupar mais de

1.000 metros quadrados do prédio, de-volveu à administração quase 200 metrosquadrados. Com o dinheiro da venda dopapel para reciclagem, foram construídosnovos banheiros e uma copa para osfuncionários do setor.

Informações à mão Do início de 1997 ajulho de 2000, o Grupo de Sistemas traba-lhou para ingressar na era dos microcom-putadores.“Em 30 meses estávamos pron-tos para crescer, priorizando as demandasdos usuários da área médica”, conta SérgioFelipe Zirbes, coordenador dos 45 profis-sionais do grupo, que se reporta direta-mente à presidência do hospital. Foi comomudar de computador de bordo em plenovôo.“A partir dali, passamos a nos guiarpor um novo norte: o prontuário eletrôni-co do paciente”, diz. O Grupo de Sistemase o Comitê Gestor de Acesso aos SistemasInformatizados, composto de represen-tantes de médicos, enfermeiros e adminis-tração, criado em 2001 para gerenciar aspermissões de acesso dos usuários aos

Melhor aproveitamentoVariação de desempenho entre 2004 e 2005

Procedimentos em consultório +13,61%

Sessões terapêuticas +13,01%

Procedimentos cirúrgicos +6,94%

Exames +6,55%

Pessoas atendidas +3,06%

Transplantes +2,48%

Internações com emergência +0,98%

Fonte: Hospital de Clínicas de Porto Alegre

também ajudou a organizar o atendimento e a reduzir filas e tempo de espera

Tânia Meinerz

Melhores 02/05/06 18:46 Page 57

Page 54: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

58 Desafios • maio de 2006

A l ém d a s a t i s f a ç ã o d e t r a ba l h a d o r e s e u s u á r i o s , a q u a l i d a d e d o t r a ba l h o d o

tização e o compartilhamento das infor-mações levam a um aumento do compro-metimento.”

A reformulação da rede de informáticafoi o primeiro de seus projetos.“Antes, eurecebia laudos de autópsia, ou seja, toma-va conhecimento do que acontecia quan-do já não havia nada a fazer.Agora, acom-panhamos custos e resultados em temporeal e podemos fazer correções de rumo”,conta Machado.Nos últimos anos, o inves-timento em tecnologia da informação e dacomunicação tem sido equivalente a 4%do faturamento próprio do hospital – cer-ca de 100 milhões de reais em 2005.“Dos 6milhões de reais previstos nos projetos apre-

sentados pelo Grupo de Sistemas, 3,5 mi-lhões de reais serão liberados em 2006,prin-cipalmente para a renovação da rede, comaquisição de 500 novos PCs e troca de im-pressoras”,diz o economista Fernando To-relly, vice-presidente administrativo. Maisum detalhe importante: todos os aplicativossão desenvolvidos em softwares livres de di-reitos autorais, conforme diretrizes do go-verno federal.

Comunidade O segundo projeto, a cons-trução de uma Unidade Básica de Saúdeintegrada à rede municipal, foi realizadoem 2004.“É o braço comunitário do hos-pital: atende à população e proporcionaaos alunos o aprendizado da medicina pre-ventiva.” O terceiro de seus planos, a am-pliação dos investimentos, também já sematerializou. O hospital conta com umcentro de pesquisa básica de 4 mil metrosquadrados e, dentro de dois anos, umaunidade de investigação clínica ganharáseu próprio prédio.“Tudo isso foi obtidograças à informática”, garante Machado.Por que graças à informática? Em parteporque o Sistema Único de Saúde (SUS)ocupa 90% dos 751 leitos de internação edos demais atendimentos. Ele é fonte de80% do faturamento do Clínicas, que vemcrescendo à taxa média de 57%, em valo-res absolutos, desde o ano 2000. O hospi-tal tem trabalhado a todo vapor, com taxade ocupação de quase 90%. O aperfei-çoamento dos registros de procedimen-tos, de cada centavo gasto em material ouexame, tornou possível a cobrança efi-ciente e efetiva do governo e, também, oavanço na qualidade do atendimento e nocontrole de segurança dos pacientes.

Ivan Gonçalves,morador da região me-tropolitana, há 15 anos viaja a Porto Alegretrês vezes por semana para se submeter asessões de quatro horas de hemodiálise.“Jápude escolher entre freqüentar um hospi-tal que me oferece a condução ou conti-nuar vindo ao Clínicas, mas continueiaqui. O Clínicas, para mim, é o melhorplano de saúde: é o SUS Plus”, diz (veja ao

lado gráficos sobre a avaliação dos pacientes

processos informatizados do hospital, ti-veram importante papel nesse processo.“Decidimos levar o projeto adiante quan-do percebemos que a maioria dos médicosjá tinha palm top”,lembra Zirbes em marçodeste ano, com financiamento de 78 milreais provenientes do Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tecnoló-gico (CNPq), as primeiras enfermeiras deuma unidade de internação receberam 20palms.“Há três anos as enfermeiras traba-lham nos terminais de computadores parafazer seus registros. Muitas das suas avali-ações são de grande importância e regis-trando-as no prontuário eletrônico elas fi-cam mais completas”, diz a coordenadorada área,Ana Maria Müller Magalhães.

O prontuário eletrônico, repositório deinformações acuradas e produzidas emtempo real, criou as condições para o de-senvolvimento de um sistema gerador deindicadores de qualidade assistencial. Issotem permitido o acompanhamento e a a-nálise do desempenho dos processos da á-rea clínica do hospital e de seus resultados.“O prontuário eletrônico só tem vantagensem relação ao de papel: é mais ágil, limpo,completo, legível e seguro”, avalia a coor-denadora da Comissão de Prontuários doHC e vice-presidente da Sociedade Brasi-leira de Informática Médica,Mariza Klück.

Projetos É claro que todo esse movimen-to dependeu de decisão e mobilizaçãopolíticas. O líder, nesse processo, é o psi-quiatra e psicanalista Sérgio Pinto Macha-do, presidente da instituição em terceiromandato, cuja primeira gestão teve iníciono final de 1996. Antes de assumir o car-go, impôs uma condição:“Assumo, desdeque continue tendo alunos, residentes epacientes”. Ele mesmo justifica:“O podere a responsabilidade provocam isolamen-to. Por isso continuo ensinando e clinican-do: para ver como as coisas de fato estãofuncionando.” Elegante, simpático, olhose ouvidos abertos ao mundo, Machadotem outra convicção, relativa à importân-cia de envolver os profissionais da casa nasdiscussões.“Sempre achei que a democra-

Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo

Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo

19,5%

2,5% 0,4% 0,3%

42,6%

38,4%

12,7%

2,9% 3,5%

Pesquisa de satisfação de pacientes ambulatoriaisem relação ao atendimento(2005)

Pesquisa de satisfação de pacientes internados em relação ao atendimento(2005)

Fonte: Hospital de Clínicas de Porto Alegre

77,4%

Melhores 02/05/06 18:47 Page 58

Page 55: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Desaf ios • maio de 2006 59

atendidos pelo hospital). Sua explicaçãosobre o SUS Plus: há anos ele não vê filaspara agendamento de consultas, pois ospacientes chegam com hora marcada pelacentral de atendimento; e há o prontuárioeletrônico.“Antes, cada vez que eu era in-ternado subia comigo um enfermeiropuxando um carrinho com uma pilha depapéis de dois palmos de altura: era omeu prontuário.”

Em 2005 foi implantada a primeira faseda informatização da Emergência, con-templando acolhimento, check-in, tria-gem, escalas de gravidade, agendamentoda consulta e check-out do paciente. Osque necessitam de atendimento urgente

são recebidos de forma mais ágil e efici-ente.“Antes, eu encaminhava um pacientepara marcar uma consulta, ele precisava irà secretaria e ficar esperando. Eu não tinhacomo saber se ele fora atendido ou se de-cidira ir embora.Agora ele não sai da salae tenho como checar se a consulta foi fei-ta”, diz o enfermeiro Jeferson Veiga, umdos responsáveis pela triagem de risco naemergência. No último dia 17 de abril teveinício a suspensão gradativa do envio deprontuários de papel aos consultórios.Num prognóstico otimista, em dois anosterá sido possível abolir o papel.

Além da satisfação de trabalhadores eusuários, o hospital tem colhido outros

frutos: o reconhecimento nacional e inter-nacional.Klück conta:“Não passa uma se-mana sem que recebamos uma solicitaçãode visita. Na semana passada, veio umaequipe de um hospital privado da Bahia e,nesta semana, ligaram-nos do Hospital deClínicas da Universidade de São Paulo.”OClínicas tem participado de inúmeroseventos científicos e distribuído seu Ma-nual de Prontuários para diversos hospi-tais. Durante um congresso internacionalno Rio de Janeiro, em 2003, Edward Short-liffe, um importante pesquisador da áreade Informática Médica (das universidadesde Stanford e Columbia, nos Estados Uni-dos), considerou:“O prontuário eletrôni-co do Hospital de Clínicas é um dos dezmais completos do mundo”.

Acreditação O Hospital de Clínicas dePorto Alegre foi a primeira instituiçãogaúcha e brasileira de grande porte e oprimeiro hospital universitário do país areceber, em 2001, o Certificado de Acre-ditação. É o mais importante reconheci-mento de qualidade do setor, conferidopela Organização Nacional de Acredita-ção, ligada ao Ministério da Saúde. Em2003, foi recertificado para o nível 2, quesignifica acreditação plena.“Para atingir oterceiro e último estágio, o nível ótimo,precisamos conseguir nível 3 em 44 itensavaliados. Já temos mais da metade dameta atingida”, conta Klück. Para comple-tar, o ambulatório foi um dos premiadosno 10o Concurso de Projetos de Inovaçãoda Gestão Pública, da Escola Nacional deAdministração Pública (Enap). Motivo dadistinção: no início de 2005, todos os seus144 consultórios, que cobrem 70 especial-idades médicas, estavam equipados commicrocomputadores.“Nossa atitude não écriticar o SUS. Fazemos nossa parte paraque o serviço melhore”, diz FernandoTorelly, vice-presidente administrativo.Nem parece que falamos de Brasil. Mas éisso mesmo. Prova de que competência,disposição e tecnologia resolvem proble-mas aparentemente insolúveis. Boa fór-mula para ser replicada.

h o s p i t a l é r e c o n h e c i d a em n í v e l n a c i o n a l e i n t e r n a c i o n a l

Mariza Klück, coordenadora da Comissão de Prontuários: 1 milhão de documentos cabem em uma gaveta

d

Tânia Meinerz

Melhores 02/05/06 18:47 Page 59

Page 56: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Agricultura

A vez da nano

60 Desafios • maio de 2006

Design

Olhos de vidroPesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia

(INT), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, fica-ram entre os finalistas de uma competição promovida pe-la Microsoft e pela Industrial Designers Society of Améri-ca (Isda). O objetivo da disputa era apresentar inovaçõesem computadores que melhorassem a rotina dos milhõesde usuários do Windows. Concorrendo com 308 partici-pantes, os cariocas Marcos Garamvölgyi e Rubem Di Flo-riani ficaram entre os 32 primeiros colocados no rankinggeral e em segundo lugar pelo júri popular na categoriaLiving/Lifestile. Eles conquistaram a posição com o apa-relho Glass Eyes, um computador cujos monitor e teclado

são virtuais e projetados em qualquer superfície plana.Atéagora, só foi construído um protótipo,mas o pedido de pa-tente já foi feito. Contatos com empresas que se interes-sam em produzir um modelo comercial já estão em anda-mento. Garamvölgy diz que Glass Eyes é interessante paradesigners que precisam de projeções gigantescas e tam-bém para pessoas com alguma limitação que dificulte ouso do mouse, já que o modelo substitui o mouse por umcontrole remoto multifuncional e atende a comandos devoz.Além dessas vantagens,o Glass Eyes é ecologicamentecorreto porque economiza em material, uma vez que dis-pensa o teclado, a tela do monitor e a torre de comandos.

Não sem motivos, a nanotec-nologia conquistou o lugar de ve-dete internacional no meio cientí-fico. Para acompanhar o movimen-to internacional, o governo brasi-leiro acaba de liberar 4 milhõesde reais para a instalação do La-boratório Nacional de Nanotecno-logia para o Agronegócio (LNNA),em São Carlos, no interior de SãoPaulo. Lançada no dia 17 de abril,a iniciativa da Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (Embra-pa) foi financiada pelo Ministérioda Ciência e Tecnologia. A verbaservirá para aquisição de 22aparelhos, a maioria importados,que equiparão o laboratório. Re-presentando um terço do ProdutoInterno Bruto (PIB) brasileiro, 40%das exportações e 37% das fontesde emprego no país, o agronegó-cio agora tem mais um motivo pa-ra evoluir. Segundo Ladislau Mar-tin Neto, chefe-geral da EmbrapaInstrumentação Agropecuária,a na-notecnologia será importante paraagregar valor aos produtos agrí-colas, além de reduzir sua vulne-rabilidade às barreiras comerciaisimpostas pelo mercado interna-cional. Pretende-se usar o labora-tório para a criação de sensoresde qualidade de produtos,como lei-te e sucos, e para o desenvolvimen-to de nanofilme para embalar fru-tos, o que servirá para aumentarseu tempo de durabilidade. No pri-meiro momento, uma rede de pes-quisa será formada entre institui-ções de ensino, iniciativa privada e15 unidades da Embrapa.Espera-seque, em dois anos, o laboratório jáesteja apresentando resultados.

CIRCUITOciência&inovação

Aids

Procuram-se voluntáriosOs trabalhos de pesquisa, no

Brasil, para desenvolvimento deuma vacina contra a Aids estão pa-rados por falta de voluntários. Oprazo para inscrição dos candida-tos deveria ter terminado em 31 demarço, mas foi prorrogado até 31de maio na esperança de que ou-tras pessoas se apresentem. Os tes-tes serão realizados pelo Centro deReferência e Treinamento DST/Aids

(CRT-DST/Aids), de São Paulo, e ocentro de pesquisa Praça Onze, daUniversidade Federal do Rio de Ja-neiro, ambos em parceria com a re-de internacional de pesquisas HIVVaccine Trials Network. Cada umadas instituições deve contar com20 voluntários, mas até agora sóoito pessoas estão aptas a colabo-rar. Inicialmente, cerca de 900 in-divíduos se interessaram em par-

ticipar do programa, mas não se en-caixavam nas condições exigidas.Gabriela Calazans, responsável pe-lo recrutamento de voluntários doCRT, esclarece que não há nenhumrisco de contaminação para os par-ticipantes. Mais informações podemser obtidas nos sites www.crt.sau-de.sp.gov.br/vacinas e www.praca-onze.ufrj.br/pesquisas/pesqui-sas.html.

Pesquisa Nair RabeloTexto Andréa Wolffenbüttel Divulgação

CIRCUITO 02/05/06 18:48 Page 60

Page 57: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Estados Unidos

Cingapura

Dinamarca

Islândia

Finlândia

Desaf ios • maio de 2006 61

Propriedade intelectual

Livres por naturezaLevantamento realizado pela As-

sociação Brasileira de PropriedadeIntelectual (Inpi) constatou que 84nomes típicos da fauna e flora brasi-leiras são usados como marcas emoutros países. A descoberta levou ogoverno a confeccionar uma listacom 3 mil nomes tradicionais dabiodiversidade nacional que serãodivulgados em todo o mundo para evi-tar casos como o da empresa japone-

sa Asahi Food, que em 1998 regis-trou a palavra cupuaçu e passou acobrar 10 mil dólares em royaltiespara qualquer produto que usasse onome em seu rótulo. Só em 2004uma ação impetrada por uma orga-nização não-governamental conse-guiu derrubar a patente. A lista, naqual constam itens como açaí, ma-racujá, pinhão, umbu, cajá e, claro,cupuaçu, será distribuída em forma

de software aos principais escritó-rios de patentes do planeta. A com-pilação dos nomes foi elaboradapor pesquisadores do Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Re-cursos Naturais Renováveis (Ibama),da Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa) e do Ins-tituto Brasileiro de Propriedade In-telectual (Inpi). A iniciativa é inédi-ta no mundo.

Tecnologia

Brasil cai no ranking do Fórum EconômicoPelo segundo ano, o Brasil cai

no ranking mundial de tecnologiaelaborado pelo Fórum EconômicoMundial. Entre os 115 países ana-lisados, ficamos na 52.ª colocação,seis abaixo da registrada em 2005e 23 posições atrás do Chile, opaís latino-americano mais bemclassificado. O mau desempenho éatribuído, em parte, ao ambientedifícil para os negócios. O Fórumdestaca quatro pontos: a burocra-cia para dar início a uma empresa,a dificuldade para alterar a legis-lação,o tempo para abrir um negó-cio e o peso dos impostos.

Inovação

Querido diárioJá se foi o tempo em que as

mocinhas escondiam suas aventu-ras e seus segredos mais íntimosem diários com capa cor-de-rosatrancados a chave.Eles foram supe-rados pelos nada discretos blogs,nos quais os detalhes do cotidianoestão à disposição de todos, espa-lhados pelo grande espaço virtual.Agora a IBM lançou um protótipoque pode dar um passo adiante naarte de registrar a vida diária.Tra-ta-se do Magic Block, um pequenogravador digital com capacidadepara acumular as conversas detodo um dia. A inovação, porém,não está no tamanho da memória,mas em um novo sistema de rec-onhecimento de voz que permite aodono encontrar a conversa exataque procura. No entanto, ao con-trário do que acontece nos blogs,no Magic Block a preocupaçãocom a privacidade foi preservada.O aparelhinho traz um eficiente sis-tema de segurança que só destra-va quando ativado pelo contato comas impressões digitais do proprie-tário. A novidade foi apresentadano Fórum Internacional de Designde 2006, realizado em Hannover,na Alemanha, sendo reconhecidopelo seu potencial de transformara indústria.

Os cinco primeiroscolocados no ranking

Status em relação ao relatório de 2004

Os cinco primeirosda América Latina

Colocação Status em relaçãoao relatório de 2004

Chile 29º

Brasil 52º

Jamaica 54º

México 55º

El Salvador 59º

Malária

Mosquitos transgênicosA malária é uma infecção cau-

sada por parasitas que contaminamas pessoas por meio de mosquitos,e mata anualmente mais de 1 milhãode pessoas em todo o mundo. Umaequipe de pesquisadores da Funda-ção Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Mi-nas Gerais, após dois anos de tra-balho, conseguiu criar mosquitostransgênicos que devem ser imu-nes ao parasita transmissor da ma-lária aviária. Um tipo de DNA foi in-

jetado nos ovos dos embriões parainibir a disseminação da doença.Quando adultos, os mosquitos Aedesfluvistilis modificados cruzarãocom outros da colônia e terão fi-lhos que já nascerão com a alte-ração. Daqui um mês, testes serãofeitos para comprovar a eficáciados insetos. De acordo com a Fio-cruz, esses são os primeiros mos-quitos transgênicos da América La-tina. Para custear os estudos, foram

gastos cerca de 40 milhões de dó-lares, fornecidos pela Fiocruz e pe-la Organização Mundial da Saúde.Passada a primeira fase, serão ini-ciadas pesquisas com o mosquitoAnopheles Aquasalis, que atinge oshumanos. Luciano Andrade Moreira,coordenador da pesquisa, lembraque a iniciativa está em fase labo-ratorial e ainda não há previsão pa-ra liberar os insetos modificados noambiente.

Divulgação

CIRCUITO 02/05/06 18:48 Page 61

Page 58: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

autor é reincidente nesse tipo dedenúncia.“Previu”, em 1999, TheCrash of the Millenium, que ocor-reu no final de 2000, embora não

pelas causas alinhadas por ele. Na seqüên-cia da quebra das bolsas de 1987 – mais im-portante, pela incidência, do que a crise de1929, sem seus efeitos traumáticos, já quea história não se repete –, publicou, em1989, o “manual” Surviving the Great De-pression of 1990, que só apareceu como mi-nirrecessão, em 1992, aliás superada pelapolítica fiscal responsável de Clinton, aju-dado pelo homem que constitui o foco des-se livro alarmista.

Batra não faz o tipo “profeta do apoca-lipse”. Ostenta grande saber econômico,adquirido na docência universitária, e sabetraduzir para os leigos a aridez financeira.Repetindo uma piada de economistas, sou-be prever nove das últimas cinco recessões,mas, assim como falhou nas catástrofesanunciadas, exagera agora ao tentar des-montar o mito Greenspan. O ex-presidentedo Fed tinha se convertido em guru da neweconomy, pela capacidade de incorporar aeconomia da informação à análise conven-cional. Nas audiências no Congresso, as-sim como nas reuniões do Fundo Mone-tário Internacional, era quase reverencia-do como um deus da prosperidade.

Sua capacidade de influenciar os desti-nos da economia planetária foi, entretan-

to, parafraseando Mark Twain, altamenteexagerada. Essa é a principal acusação deBatra, feita no subtítulo do original ameri-cano:“Como duas décadas de suas políti-cas minaram a economia mundial”. Nadamais distante da realidade. Embora a forçaimperial da “nova Roma”, no terreno mili-tar, seja incontrastável, seu poderio eco-nômico está seriamente ameaçado, haven-do quem preveja sua derrocada, em virtu-de da dependência americana de “mensa-lões”asiáticos, sob a forma de US Treasurybonds adquiridos com saldos comerciaisresultantes da enorme voracidade consu-mista desse império de novo tipo. Se as po-líticas fossem outras – protecionistas, co-mo Batra talvez preferisse –, a Ásia orien-tal não seria hoje tão próspera.

Que dizer, então, das demais acusaçõesde Batra? Greenspan teria “complotado”para diminuir os benefícios e aumentar ascontribuições da previdência social, parareduzir o salário mínimo e os impostos dosricos, assim como para aprofundar o défi-cit comercial ao preconizar abertura totalàs importações.Ainda que possa ter opina-do em todos esses temas, seu papel na ca-deia decisória da política econômica dosgovernos republicanos (Reagan, Bush paie Bush filho) e democrata (Clinton), dasúltimas duas décadas, provavelmente nãofoi decisivo. Ele foi, sem dúvida, importan-te como banqueiro central ao fixar os ju-

ros, a política financeira e a regulação ban-cária.Também atuou decisivamente,no mo-mento da moratória russa (1998), ao “tra-ncar” banqueiros de Nova York – comotinha feito Morgan 90 anos antes – e dizer-lhes que só sairiam se deixassem algunsmilhões no chapéu. Assim, evitou a que-bra do gigantesco hedge fund LTCM.

Greenspan foi menos eficiente na bai-xa do Nasdaq, a queda brusca do valordas ações da nova economia, que consu-miu 7 trilhões de dólares da riqueza ame-ricana, como lembra Batra. O presidentedo Fed,na verdade,pouco podia fazer.Qua-tro anos antes já havia alertado o mercadoa respeito dos riscos da “exuberância ir-racional” dos investimentos especulativos.

Mais preocupante, e aqui Batra tem ra-zão, foi o corte de impostos efetuado porBush em 2001, sem previsão de suspensãose houvesse desequilíbrio fiscal. EmboraGreenspan preferisse diminuir o superávit(deixado por Clinton) via redução de im-postos, antes que pelo aumento de gastos,não disse uma palavra quando Bush der-rubou os tributos, ampliou despesas e dei-xou o déficit chegar às alturas.

A acusação de fraude contra Greenspané mais de ordem intelectual do que de na-tureza legal. Nisso, Batra é impiedoso, di-zendo que a única ortodoxia permanenteno poderoso presidente do Fed era a suapredileção pelo poder. Mas nisso a “greeno-mia”não é diferente de outras ambições hu-manas, bastante conhecidas e previsíveis.O autor, que falhou em várias catástrofes,acertou pelo menos nessa “previsão”.[Paulo Roberto de Almeida]

Greenspan: uma fraude ex-post?

Greenspan: a FraudeRavi BatraNovo Conceito Editora, 2006, 410 p., R$ 49,90

O

62 Desafios • maio de 2006

ESTANTElivros e publicações

estante_22 02/05/06 18:49 Page 62

Page 59: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Países não são empresas

A nova ordem, para iniciantes

história da administração públi-ca no Brasil sempre foi marcadapor avanços e recuos,um proces-so de modernização longe da li-

nearidade e da construção de consensos es-táveis. O último capítulo dessa históriaaconteceu na década de 1990,durante o pri-meiro mandato do ex-presidente FernandoHenrique Cardoso. Nestes anos, o governofederal embarcou na onda da “reforma doEstado”. Enquanto se privatizava, um con-junto de instrumentos e dispositivos legaisfoi implementado no setor público,para re-desenhar a estrutura administrativa federal,redefinir carreiras,enxugar o Estado,enfim,inaugurar supostamente uma nova era deeficácia gerencial. No mundo das idéias, foia hegemonia da escola chamada “nova ges-tão pública”. Uma coletânea de recomen-dações e princípios que prometiam abrir aporta para uma nova administração, pre-tensamente mais pragmática,ágil e eficiente,à moda das melhores práticas empresariais.

A “nova gestão pública”, nascida e cria-da nos países de cultura anglo-saxônica(Estados Unidos, Inglaterra, Nova Zelân-dia etc.), espalhou-se pelo mundo comoautêntico pensamento único, determinan-do programas políticos, agendas de pes-quisa e pautando formadores de opinião.A professora Ana Paula Paes de Paula pro-põe corajosamente a inversão dessa lógi-ca, vai contra a corrente. Desnuda didati-camente o contexto em que surgiu a novagestão pública, seus atores e paradigmas,numa linguagem objetiva e cristalina. Fazisso para,pedagogicamente,apresentar ou-tra perspectiva,que ela chama de “adminis-tração pública societal”. Não se trata – co-mo pode parecer – de uma rejeição infan-til e fundamentalista do legado de Druckerou de Tom Peters, tampouco de pura ne-gação dos avanços teóricos da terceira via(a autodenominada progressive governan-ce) ou de outros “gurus” do gerencialismoatual, mas de colocá-los no seu devido lu-gar. Não se governam países ou cidadescomo se administram empresas, não coma mesma lógica! É óbvio que técnicas es-

pecíficas fazem sentido aqui e acolá, nasolução tópica de problemas operacionais.O que a autora propõe é retomar o tema dagestão pública em sua dimensão sociopo-lítica, como campo de tensões, como rela-ção dialógica entre o saber técnico e a críti-ca social.A dimensão da participação políti-ca dos cidadãos nos negócios do Estado.

Introduzindo o tema com um balançocrítico dos anos FHC e das circunstânciashistóricas da aliança “social-liberal”, a au-tora vai além.Ao observar atentamente asexperiências locais de participação e a “de-mocracia deliberativa”, a profusão de fó-runs temáticos e de conselhos de políticaspúblicas, ela propõe uma abordagem maispolissêmica de gestão pública. Superandoo “discurso da competência”, sua propos-ta de agenda desafia o leitor a imaginar quetipo de engenharia institucional ou orga-nização administrativa do Estado poderiamaterializar os princípios da participaçãoe do controle social. Que arranjo institu-cional poderia inserir a participação nadefinição de programas, projetos e gestãodos serviços? Neste livro não há respostasdefinitivas, mas suas perguntas são umaenorme contribuição para a lucidez do de-bate. [Jackson De Toni]

livro é modesto em dimensões,apresenta alguns problemas, mascumpre sua missão: é uma intro-dução à ordem mundial atual. Di-

dático, traz em cada capítulo “questões paradiscussão”, um glossário e bibliografia. Bus-ca os elementos constitutivos da “nova or-dem mundial” e tenta identificar os eventosde curta duração, os processos de média in-tensidade e as estruturas de lento desen-volvimento. Faz uma síntese sobre a ONU,comparando-a à Liga das Nações. Cuida dedireitos humanos, das missões de paz e dosObjetivos do Milênio. O capítulo 3 trata dahegemonia dos EUA, com enfoque especialna América Latina e no Brasil.A União Eu-ropéia, mais adiante, seria uma “verdadeirasuperpotência”, com condições de “influen-ciar decisivamente as relações internacio-nais”, algo desmentido pelos fatos. Dois ca-pítulos tratam da América Latina, da Áfricae do Oriente Médio, regiões fracassadas pormotivos diferentes. A seção sobre o Merco-sul tem erros conceituais e factuais. A Ásiacentral ainda está sob a influência da Rússia,e a Ásia do sul experimenta tensões inter-es-tatais. A região do Pacífico tem dinamismoeconômico e graves problemas de segurança,o que abre espaço para a influência dos EUA.O livro,em suma, merece ser complementa-do pela leitura de obras especializadas.[Paulo Roberto de Almeida]

Por uma Nova Gestão PúblicaAna Paula Paes de PaulaFGV Editora, 2005, 204 p., R$ 25,00

A

O

Desaf ios • maio de 2006 63

Política Internacional Contemporânea:Mundo em TransformaçãoHenrique Altemani de Oliveira e Antonio Carlos LessaEditora Saraiva, 2006, 115 p., R$ 29,00

estante_22 02/05/06 18:50 Page 63

Page 60: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Novos postos de trabalho...

...na indústria de transformação

...na construção civil

Fevereiro bom

Trabalho

INDICADORES

p o r A n d r é a

W o l f f e n b ü t t e l

64 Desafios • maio de 2006

Depois de um mês de janeiro muito ruim, queregistrou o pior desempenho em termos decriação de postos de trabalho desde 2004,fevereiro veio para virar a página. O númerode empregos formais criados durante o se-

gundo mês de 2006 foi elevado, obtendo va-riações de até 2 mil porcento, quando com-parados ao mesmo mês do ano ano passado.Assim com janeiro foi o pior mês desde 2004,fevereiro foi o melhor.

Investimento estrangeiro direto (IED) é todo aporte de dinheiro vindo doexterior que é aplicado na estruturaprodutiva doméstica de um país, isto é, na forma de participação acionáriaem empresas já existentes ou nacriação de novas empresas. Esse tipo de investimento é o mais interessanteporque os recursos entram no país,ficam por longo tempo e ajudam aaumentar a capacidade de produção, aocontrário do investimento especulativo,que chega em um dia, passa pelomercado financeiro e sai a qualquermomento. Entre as décadas de 1960 e 1980, o Brasil recebeu grandes volumesde investimento estrangeiro direto, masperdeu o posto para países do LesteEuropeu recém-saídos do comunismo.Com a globalização, o fluxo de capitaisficou mais fácil e os investimentosaumentaram. Atualmente, o Brasildisputa com economias emergentes,como Índia, China e África do Sul.

O que é?

Investimentoestrangeiro direto

...no comércio ...em serviços

23.558

810

14.993

910

77.966

50.660

19.258

8.647

Investimentos estrangeirosdiretos no Brasil (em US$ bilhões)

2000 2001 2002 2003 2004 2005

32,8

22,5

16,6

10,1

18,2

15,2

Fonte: Banco Central

Fonte: Cadastro Geral de Empregados e Desempregados/Ministério do Trabalho

Feve

reiro

/ 20

06

Feve

reiro

/ 20

05

Feve

reiro

/ 20

06

Feve

reiro

/ 20

05

Feve

reiro

/ 20

06

Feve

reiro

/ 20

05

Feve

reiro

/ 20

06

Feve

reiro

/ 20

05

Crescimentodo número de empregos:53,9%

Crescimentodo número de empregos:122,7%

Crescimentodo número de empregos:2.808,4%

Crescimentodo número de empregos:1.547,6%

Indicadores#22_1 02/05/06 18:50 Page 64

Page 61: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Por que trabalhardepois da aposentadoria (em %)

Como resolver o problema da previdência social (em %)

Um futuro de liberdade

Aposentadoria

Pelo segundo ano consecutivo, o banco HSBC pro-moveu uma pesquisa mundial sobre aposentadoria. Otrabalho foi elaborado por três entidades diferentes,que entrevistaram 21 mil pessoas em 20 países. Asrespostas fornecidas pelos brasileiros mostram que amaioria encara a aposentadoria como um período de li-berdade e satisfação, e estão dispostos a pagar paragarantir o futuro, admitindo que a criação de uma pou-

pança compulsória adicional possa ser a solução paraa crise da previdência social.Os brasileiros também de-monstraram confiança no apoio da família, apesar deque muitos admitem a idéia de continuar trabalhandoapós a aposentadoria, pelos mais diversos motivos.Mesmo vivendo em um país cheio de problemas, a po-pulação brasileira se mostrou otimista em relação aofuturo ante as respostas de outros povos.

Quem vai ajudar na velhice

A decisão de parar

Qual a hora de seaposentar (em %)

A expectativa em relação aos filhos (em %)

Fonte: HSBC/Pesquisa "O futuro da aposentadoria: o que o mundo quer"

Desaf ios • maio de 2006 65

A decisão de continuar

Ainda dá para continuar

Quem paga a conta

Quem deve arcar com a maiorparte dos custos financeiros da aposentadoria (em %)

Em busca de solução

No mundo, 43% acham que o trabalhador deve arcar com a maiorparte dos custos da aposentadoria

No mundo, 37% acreditam que asolução passa pela criação de umapoupança compulsória adicional

No mundo, 52% esperam cuidadosdos filhos durante a velhice, e umterço pretende morar com os filhos

Sentimentos

Aposentadoria cheira a... (em %)

No mundo, cerca de 66% associamaposentadoria a liberdade, satisfaçãoe felicidade

52

30

13

4

Esperam que os f ilhos cuidem deles

Quando o trabalhador achar que chegou o momento

Quando não consegue mais trabalhar

Quando alcança determinada idade

Quando tem condições f inanceiras

Para manter-se f isicamente ativo

Para ganhar dinheiro

Para ter algo importante a fazer

Para manter a mente estimulada

Para manter o contato social

Igualmente conf iáveis

Igualmente leais

Igualmente produtivos

Igualmente tecnologicamente atualizados

Igualmente motivados

Igualmente f lexíveis

Aprendem na mesma velocidade

Governo

Trabalhador

Família do trabalhador

Empregador

Esperam que os f ilhos ajudem nas despesas médicas

Esperam viver com os f ilhos

Esperam que os f ilhos ajudem nas despesas da vida

57

35

35

24

Poupança compulsória adicionalliberdade

satisfação

felicidade

medo

tédio

solidão

Aumento da idade mínima para aposentadoria

Redução do valor das aposentadorias

Aumento de impostos

53

69

97

95

80

70

66

61

54

66

62

26

25

23

13

8

3

35

31

20

12

Na opinião dos empregadores, emcomparação com os funcionários jovens, osmais velhos são (em %)

32

23

17

16

10

Indicadores#22_1 02/05/06 18:51 Page 65

Page 62: Maio de 2006 • Ano 3 • nº 22 do desenvolvimentorepositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6933/1/Desafios...sobre Diversidade Biológica (COP 8),realizada em março em Curitiba.Kageyama

Li a matéria sobre a Copa doMundo, publicada na edição deabril, e fiquei impressionado comvolume de informações. Pratica-mente tudo foi novo para mim,particularmente a utilização datecnologia nos jogos, na vestimen-ta dos jogadores e torcedores etc.Excelente reportagem.

Maílson da NóbregaConsultor

São Paulo - SP

Sou assinante de Desafios e gos-taria de saber se vocês têm algumamatéria ou estudo sobre o consumode etanol (ou álcool combustível)no Brasil desde a década de 1990até 2004. Caso não tenham, gos-taria que indicassem onde possoachar dados mais detalhados.

Eduardo André GentilVitória da Conquista - BA

Prezado Eduardo, Desafios pu-blicou uma reportagem sobre bio-diesel, que também engloba o eta-nol, no número 7, de fevereiro doano passado.Você pode acessar essematerial em nosso site (www.desa-fios.org.br), por meio da pesquisade edições anteriores.Além disso, vo-cê encontrará estatísticas sobre pro-dução de álcool no Brasil durante o

período solicitado na home page daUnião da Agroindústria Canavieirade São Paulo (Unica), no endereço:www.unica.com.br.

No final do mês de dezembro de2005, fui procurado por um jor-nalista da revista Desafios,que mepediu colaboração para uma maté-ria que estava escrevendo sobre apesca no Brasil.Apesar de ter sidoquase na véspera de Natal, me pro-pus a ajudá-lo e deixei de lado algu-mas atividades para atendê-lo damelhor maneira possível, como decostume. Questionei se antes damatéria ser publicada eu poderiadar uma olhada e a resposta foi po-sitiva,mas ontem,ao chegar na uni-versidade, encontrei na caixa decorreio um envelope com a revista.Li a reportagem. Fui citado apenasna sexta página e fiquei muito con-trariado com o que vi. Fui classifi-cado como especialista na iden-tificação de fraudes econômicas empescados congelados, categoria naqual não me enquadro. Fica muitodifícil para um profissional que tra-balha com o setor pesqueiro emsuas pesquisas visando ao cresci-mento do setor ser intitulado “espe-cialista na identificação de fraudeseconômicas”.Isso vai contra os par-ceiros que tenho no setor e medeixou extremamente preocupado.Sou professor do curso de Enge-nharia de Alimentos na Unisinos eprofessor convidado na Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS), onde ministro a disci-plina Tecnologia do Pescado, masna reportagem consto apenas comocoordenador do Grupo de Inte-resse-Pescado, professor de Tecno-logia do Pescado na UFRGS, dou-tor em Engenharia de Produção econsultor internacional da Orga-nização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação (FAO).Sendo assim, gostaria que os edi-

tores de Desafios publicassem osdevidos esclarecimentos.

Alex Augusto Gonçalves Professor

Porto Alegre - RS

Prezado professor, queremos a-gradecer sua colaboração com nos-sa equipe e lamentar profunda-mente sua decepção ao ler a repor-tagem.A seguir, o esclarecimento detodos os pontos elencados em suamensagem. Primeiramente, nenhu-ma pessoa externa à revista Desa-fios tem acesso aos textos antes dapublicação. Isso seria inviável, umavez que conversamos com quaseuma centena de entrevistados paraelaborar cada edição. Também ge-raria a oportunidade para que in-teressados exercessem pressões outentativas de censura à independên-cia editorial, questão de fundamen-tal importância para a revista. Emsegundo lugar, quanto à sua recla-

mação por ter sido apresentado co-mo especialista na identificação defraudes econômicas em pescadoscongelados, gostaríamos de lembrá-lo que no documento que nos enviouo senhor informa: “tenho enfocadominhas pesquisas com o assunto domomento, ou seja, a fraude econô-mica em pescado congelado”. Cer-tamente essas palavras levaram orepórter a acreditar que o senhor fos-se especialista no tema. Como não é,pedimos desculpas. Por fim, o se-nhor se queixa que não foi mencio-nado como professor da Unisinos.De fato, entre as oito qualificaçõesque nos apresentou, consta em pri-meiro lugar o trabalho na Unisinos.Porém, como não era possível citartodas, optamos apenas por duasbastante significativas, as referentesà UFRGS e à FAO. Mais uma vezlamentamos se a escolha foi incor-reta. Esperamos, assim, ter apresen-tado justificativas que satisfaçamaos seus reclamos.

CARTAS A correspondênc i a para a redação deve se r env i ada para car tas@desaf i os .o rg .b r

ou para SBS Quadra 01 - Ed i f í c io BNDES - Sa la 801 - CEP: 70076-900 - Bras í l i a DF

Repr

oduç

ão

66 Desafios • maio de 2006

Acesse o conteúdo da revista Desaf ios do Desenvolvimento no endereço:

www.desafios.org.br

O leitor José Aldemir Freire, deNatal, no Rio Grande do Norte,nos escreveu informando quehá um erro de identificação nalegenda da foto publicada napágina 35 da edição número20, de março deste ano, na re-portagem “Muito além doastronauta”, que trata do Pro-grama Espacial Brasileiro. Frei-re esclarece que a terceira fotoda série é uma imagem da foz do Rio Piranhas-Açu, no Rio Gran-de do Norte, onde se pode ver as salinas da cidade de Macau, bemcomo o cordão de dunas móveis, em branco. A fotografia foi erro-neamente identificada como sendo do Baixo Vale do Rio Açu, noRio Grande do Sul.

ErramosFonte: CBERS/INPE/Divulgação

Cartas#22 02/05/06 18:51 Page 66