julie revifinal 21-10 definitiva-cop

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  • 7/24/2019 Julie Revifinal 21-10 Definitiva-cop

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO)CENTRO DE LETRAS E ARTES

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MSICAMESTRADO EM MSICA

    ASPECTOS ACSTICOS E FISIOLGICOS DO SISTEMARESSONANTAL VOCAL COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DO CANTO LRICO

    JULIANA MARTINS DOS SANTOS

    RIO DE JANEIRO, 2010

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    ASPECTOS ACSTICOS E FISIOLGICOS DO SISTEMA RESSONANTAL VOCALCOMO FERRAMENTA PARA O ENSINOAPRENDIZAGEM DO CANTO LRICO

    por

    JULIANA MARTINS DOS SANTOS

    Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Msica do Centro de Letras eArtes da UNIRIO, como requisito parcialpara a obteno do grau de mestre, sob aorientao da Professora Dra. Mirna Rubim.

    Rio de Janeiro, 2010

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    SANTOS, Juliana Martins dos

    Aspectos acsticos e fisiolgicos do sistema ressonantal vocal como ferramenta para o ensino-aprendizagem docanto lrico / Juliana Martins dos Santos, Rio de Janeiro, 2010.

    xii, 177 p.

    Orientador: Dra. Mirna Rubim de MouraDissertao (Mestrado) Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestrado em Msica.

    Bibliografia: p. 164-168Anexos: p. 169-177

    1. Canto 2. Ressonncia vocal 3. Pedagogia vocal 4. Acstica vocal 5. Fisiologia da voz I. Mirna Rubim deMoura. II. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Programa de Ps-Graduao em Msica. III.Aspectos acsticos e fisiolgicos do sistema ressonantal vocal como ferramenta para o ensino-aprendizagem docanto lrico.

    CDD-???.????

    Catalogado na fonte por: Isabel GrauAutorizo a cpia da minha dissertaoAspectos acsticos e fisiolgicos do sistema ressonantal vocal como

    ferramenta para o ensino-aprendizagem do canto lrico para fins didticos.

    _____________________Assinatura

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    AGRADECIMENTOS

    Deus, por tudo.

    Ao Dilton pelo amor, carinho, pacincia e suporte.

    minha orientadora, Mirna Rubim, inspirao deste trabalho.

    Ao Jos Nunes Fernandes, pela coordenao e batalha pelo Minter e por todos ns.

    Ruth e ao Sebastio, pais queridos pelo apoio incondicional.

    minha famlia pelo sustento e consolo.

    Daniela, minha irm, amiga e direo.

    Aos professores de canto que generosamente participaram desta pesquisa.

    Ao Leonardo Fuks pela gentil contribuio.

    Aos amigos Wladimir Pinheiro, Joo Miguel Aiub, Joubert de Paiva Guimares e Edna Ricci.

    Aos funcionrios do DASC - Hospital de Clnicas da UEL, s enfermeiras Mrcia Pizzo de

    Castro, Rita Domansky e Maringela Chenso, ao Dr Ricardo Rezende, Ana Paula, Dra

    Olegna, e Ricardo Martins, pela significativa colaborao.

    s professoras Carol Mc Davit, Valquria Ferraz e Dra Luciana Oliveira pelo carinho e

    ajuda.

    Aos professores Marcus Bittencourt e Flvio Apro pela colaborao, cuidado e incentivo.

    Aos cientistas e pesquisadores, fontes e esperana do nosso ofcio.

    Aos professores, profissionais, amadores, cantores, mestres, aprendizes e amantes da voz

    cantada.

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    "O amor filho da compreenso;o amor tanto mais veemente

    quanto mais a compreenso exata."(Leonardo da Vinci)

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    SANTOS, Juliana Martins dos. Aspectos Acsticos e Fisiolgicos do Sistema RessonantalVocal como Ferramenta para o Ensino-Aprendizagem do Canto Lrico. 2010. Dissertao(Mestrado em Msica) Programa de Ps-Graduao em Msica, Centro de Letras e Artes,Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

    RESUMO

    O objetivo deste trabalho investigar a importncia da ressonncia vocal como ferramentapara o ensino-aprendizagem do canto lrico. A metodologia adotada contou com doisprocedimentos: (1) uma reviso da fisiologia e acstica vocais com enfoque no sistemaressonantal do trato vocal do cantor lrico com base em estudos de antomo-fisiologia do tratovocal, fonoaudiologia, fsica e tcnicas de canto e (2) a aplicao de um questionrio semi-estruturado a onze cantores/professores de canto para investigar como eles lidam com aressonncia vocal considerando seu processo de aprendizagem, sua performance e como elesensinam esse aspecto tcnico a seus alunos. Dentre os referenciais tericos principais esto:

    (1) os trabalhos de Miller (1986), Appleman (1986), Brown (1996), Ware (1998), Sundberg(1987), Titze (1994) e Vieira (2004) na acstica e pedagogia da voz; (2) Iazzetta (2006) naacstica; (3) Zemlin (2000), Behlau (2004) e Pinho & Pontes (2008) na fisiologia efonoaudiologia e (4) as dissertaes sobre o comportamento vocal de Bjrkner (2006) eSacramento (2009), entre outras teses e artigos. O resultado dessa pesquisa apresentado noCaptulo 3 atravs de um relatrio no qual as respostas dos onze participantes soconfrontadas com a literatura. Os principais achados foram suas informaes claras eobjetivas sobre o processo de ensino da ressonncia vocal, o seu conceito sobre som dequalidade e as expresses que usam em suas aulas.

    Palavras-chave: Canto Ressonncia Vocal Pedagogia Vocal Acstica Vocal Fisiologia da Voz

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    LISTA DE FIGURAS

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    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ IX

    SUMRIO........................................................................................................................... XIII

    INTRODUO..........................................................................................................................1

    Formulao do problema....................................................................................................................................... 1

    Objetivos, delimitao e relevncia.......................................................................................................................2

    Referencial Terico ................................................................................................................................................4

    Metodologia............................................................................................................................................................. 6

    Organizao da dissertao ................................................................................................................................... 7

    CAPTULO 1 BREVES NOES DE ACSTICA.............................................................8

    1.1 Acstica como Fenmeno................................................................................................................................. 8 1.1.1 Ondas Sonoras ........................................................................................................................................... 9 1.1.2 A propagao das ondas sonoras pelo ar ..................................................................................................10 1.1.3 O som e suas propriedades ....................................................................................................................... 11 1.1.4 Freqncia ................................................................................................................................................ 12 1.1.5 Amplitude ................................................................................................................................................. 13 1.1.6 Timbre ...................................................................................................................................................... 15

    1.1.7 Durao..................................................................................................................................................... 18 1.1.8 Sons estranhos ou rudos .......................................................................................................................... 19

    1.2 Processo acstico da fonao......................................................................................................................... 19 1.2.1 O trato vocal ............................................................................................................................................. 20 1.2.2 Produo da fonao ................................................................................................................................. 22 1.2.3 Ressonncia como fenmeno ................................................................................................................... 24 1.2.4 Freqncias de ressonncia naturais ......................................................................................................... 24

    1.3 Teoria fonte-filtro da fonao........................................................................................................................26 1.3.1 Caracterstica da fonte sonora................................................................................................................... 27 1.3.2 Funo de transferncia do trato vocal ..................................................................................................... 30 1.3.3.O trato vocal como um tubo uniforme...................................................................................................... 30

    1.3.4 Freqncias formantes .............................................................................................................................. 32 1.3.5 Efeito das configuraes do trato vocal.................................................................................................... 35 1.3.6 Resistncia propagao.......................................................................................................................... 36

    CAPTULO 2 ACSTICA APLICADA FISIOLOGIA DA VOZ ................................38

    2.1 Postura e alinhamento....................................................................................................................................40 2.1.1 Tnus muscular ......................................................................................................................................... 41 2.1.2 Atitude corporal ........................................................................................................................................ 41

    2.2 Processo Respiratrio.....................................................................................................................................44 2.2.1 Msculos da respirao............................................................................................................................. 45

    2.2.2 Mecanismo gerador da voz ....................................................................................................................... 48 2.2.3 Mecanismo Vibratrio .............................................................................................................................. 49

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    2.3 Laringe............................................................................................................................................................. 50 2.3.1 Funes da laringe .................................................................................................................................... 51 2.3.2 Pregas Vocais ........................................................................................................................................... 53 2.3.3 Presso subgltica..................................................................................................................................... 56 2.3.4 Foco e funo fonatria: Registros ........................................................................................................... 57 2.3.5 Musculatura intrnseca da laringe ............................................................................................................. 62

    2.3.6 Ao do msculo cricotireideo no registro .............................................................................................64 2.3.7 Musculatura extrnseca e outros msculos indiretos ................................................................................65

    2.4 Classificando transies/passagens de registros (passaggio) ......................................................................66

    2.5 Equalizao dos registros...............................................................................................................................68

    2.6 Articulao ...................................................................................................................................................... 70

    2.6 Vogais............................................................................................................................................................... 73 2.6.1 O tringulo das vogais .............................................................................................................................. 73 2.6.2 Caractersticas das vogais ......................................................................................................................... 75 2.6.3 A lngua nas vogais................................................................................................................................... 76

    2.6.4 A laringe nas vogais ................................................................................................................................. 76 2.6.5 Caractersticas especficas vogais ............................................................................................................. 77 2.6.6 Vogais Umlaut .......................................................................................................................................... 79 2.6.7 Vogais neutras .......................................................................................................................................... 79

    2.7 Semivogais (glissando ou deslizando) ...........................................................................................................79

    2.8 Ditongos e Tritongos.......................................................................................................................................79

    2.9 Modificao da vogal (aggiustamento) e eficincia sonora......................................................................... 80 2.9.1 O trajeto dos formantes.............................................................................................................................82 2.9.2 Modificaes nas transies de registros..................................................................................................83 2.9.3 Vogais e legato no canto........................................................................................................................... 85 2.9.4 A posio acstica de descanso ................................................................................................................ 86

    2.10 As vogais cardinais ....................................................................................................................................... 86 2.10.1 O quadriltero voclico........................................................................................................................... 87 2.10.2 Arredondamento dos lbios .................................................................................................................... 89 2.10.3 Os Formantes das Vogais ....................................................................................................................... 89

    2.11 Consoantes..................................................................................................................................................... 91

    2.12 Timbre Vocal ................................................................................................................................................93 2.12.1 Chiaroscuro............................................................................................................................................. 94 2.12.2 Vibrato Vocal ......................................................................................................................................... 95

    2.13 Ressonncia vocal ......................................................................................................................................... 99 2.13.1 Ressonadores vocais ............................................................................................................................. 100 2.13.2 Peito e vias areas subglticas .............................................................................................................. 100 2.13.3 Laringe .................................................................................................................................................. 100 2.13.4 Faringe e Cavidade oral ........................................................................................................................ 101 2.13.5 Cavidade nasal e sinus .......................................................................................................................... 102

    2.14 Amplificao vocal no canto lrico - maximizando a ressonncia vocal................................................ 104 2.14.1 Posicionando a laringe .......................................................................................................................... 104 2.14.2 Posicionando a lngua ........................................................................................................................... 107 2.14.3 Posicionamento farngeo ...................................................................................................................... 107 2.14.4 Posicionando o palato mole.................................................................................................................. 107

    2.14.5 Posicionando a mandbula .................................................................................................................... 110 2.14.6 Posio da boca e lbios ....................................................................................................................... 111

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    2.15 Eficincia vocal ........................................................................................................................................... 113 2.15.1 Ataque vocal (lattacco del suono) ....................................................................................................... 113 2.15.2 O formante do cantor ............................................................................................................................ 114 2.15.3 Colocao e foco...................................................................................................................................116 2.15.4 Consideraes sobre equilbrio vocal ................................................................................................... 119

    CAPTULO 3 METODOLOGIA E RESULTADOS........................................................122

    3.1 Procedimentos ............................................................................................................................................... 122 3.1.1 Populao e Amostra .............................................................................................................................. 123 3.1.2 Tratamento e Anlise dos dados ............................................................................................................. 124

    3.2 Resultados ..................................................................................................................................................... 124 3.2.1 Formao dos professores de canto........................................................................................................ 124 3.2.2 Fontes de conhecimento e informaes..................................................................................................125 3.2.3 Literatura sobre canto lrico.................................................................................................................... 126 3.2.4. Conhecimentos sobre fisiologia da voz e acstica ................................................................................127 3.2.5 Conceito de ressonncia do trato vocal no canto lrico ..........................................................................128

    3.2.6 Lacunas no conhecimento sobre ressonncia do trato vocal ..................................................................129 3.2.7 Conceito de qualidade do som vocal ...................................................................................................... 132 3.2.9 Trabalho tcnico individual para ressonncia /amplificao /desenvolvimento do som vocal .............. 134 3.2.10 Parmetros/Critrios fsicos corporais ..................................................................................................135 3.2.11 Ajustes fsicos ....................................................................................................................................... 137 3.2.12 Dificuldades Tcnicas........................................................................................................................... 138 3.2.13 Tcnicas para melhorar a ressonncia ..................................................................................................139 3.2.14 Ajustes utilizados na transio de registros vocais ...............................................................................140 3.2.15 Modificaes do timbre ........................................................................................................................ 142 3.2.16 Ajustes do trato vocal ........................................................................................................................... 143 3.2.17 Dificuldades tcnicas no incio dos estudos de canto ...........................................................................147 3.2.18 Estratgias de ensino da ressonncia do trato vocal .............................................................................148 3.2.19 Erros/dificuldades/lacunas pedaggicas ...............................................................................................151

    3.2.20 Dificuldades tcnicas dos alunos .......................................................................................................... 153 3.2.21 Termos (palavras, expresses) no ensino do som vocal .......................................................................154 3.2.22 Explicaes sobre o fenmeno da ressonncia vocal aos alunos .........................................................155 3.2.23 Ajustes no trato vocal (garganta, boca e nariz) solicitados ao aluno durante o canto .......................... 156 3.2.24 Ensino do som vocal de qualidade........................................................................................................ 161 3.2.25 Ensino dos Ajustes no trato vocal na transio de registros .................................................................162 3.2.26 Ensino do Timbre vocal........................................................................................................................ 163 3.2.27 Ensino do Vibrato ................................................................................................................................. 164 3.2.28 Problemas no ensino do canto lrico ..................................................................................................... 166 3.2.29 Ensino da Ressonncia Otimizao do som ......................................................................................167 3.2.30 Ensino do foco ...................................................................................................................................... 167 31. Espao livre para comentrios sobre o instrumento de coleta ...................................................................169

    CONSIDERAES FINAIS............................................................................................................................. 170

    REFERNCIAS ...................................................................................................................175

    ANEXOS ...............................................................................................................................180

    Anexo 1 Questionrio adotado ....................................................................................................................... 180

    Anexo 2 Passagens das vozes femininas.........................................................................................................182

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    LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ IX

    SUMRIO........................................................................................................................... XIII

    INTRODUO..........................................................................................................................1

    Formulao do problema....................................................................................................................................... 1

    Objetivos, delimitao e relevncia.......................................................................................................................2

    Referencial Terico ................................................................................................................................................4

    Metodologia............................................................................................................................................................. 6

    Organizao da dissertao ................................................................................................................................... 7

    CAPTULO 1 BREVES NOES DE ACSTICA.............................................................8

    1.1 Acstica como Fenmeno................................................................................................................................. 8 1.1.1 Ondas Sonoras ........................................................................................................................................... 9 1.1.2 A propagao das ondas sonoras pelo ar ..................................................................................................10 1.1.3 O som e suas propriedades ....................................................................................................................... 11 1.1.4 Freqncia ................................................................................................................................................ 12 1.1.5 Amplitude ................................................................................................................................................. 13 1.1.6 Timbre ...................................................................................................................................................... 15 1.1.7 Durao..................................................................................................................................................... 18 1.1.8 Sons estranhos ou rudos .......................................................................................................................... 19

    1.2 Processo acstico da fonao......................................................................................................................... 19 1.2.1 O trato vocal ............................................................................................................................................. 20 1.2.2 Produo da fonao ................................................................................................................................. 22 1.2.3 Ressonncia como fenmeno ................................................................................................................... 24 1.2.4 Freqncias de ressonncia naturais ......................................................................................................... 24

    1.3 Teoria fonte-filtro da fonao........................................................................................................................26 1.3.1 Caracterstica da fonte sonora................................................................................................................... 27 1.3.2 Funo de transferncia do trato vocal ..................................................................................................... 30 1.3.3.O trato vocal como um tubo uniforme...................................................................................................... 30 1.3.4 Freqncias formantes .............................................................................................................................. 32 1.3.5 Efeito das configuraes do trato vocal.................................................................................................... 35 1.3.6 Resistncia propagao.......................................................................................................................... 36

    CAPTULO 2 ACSTICA APLICADA FISIOLOGIA DA VOZ ................................38

    2.1 Postura e alinhamento....................................................................................................................................40 2.1.1 Tnus muscular ......................................................................................................................................... 41 2.1.2 Atitude corporal ........................................................................................................................................ 41

    2.2 Processo Respiratrio.....................................................................................................................................44 2.2.1 Msculos da respirao............................................................................................................................. 45 2.2.2 Mecanismo gerador da voz ....................................................................................................................... 48 2.2.3 Mecanismo Vibratrio .............................................................................................................................. 49

    2.3 Laringe............................................................................................................................................................. 50

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    2.3.1 Funes da laringe .................................................................................................................................... 51 2.3.2 Pregas Vocais ........................................................................................................................................... 53 2.3.3 Presso subgltica..................................................................................................................................... 56 2.3.4 Foco e funo fonatria: Registros ........................................................................................................... 57 2.3.5 Musculatura intrnseca da laringe ............................................................................................................. 62 2.3.6 Ao do msculo cricotireideo no registro .............................................................................................64

    2.3.7 Musculatura extrnseca e outros msculos indiretos ................................................................................65 2.4 Classificando transies/passagens de registros (passaggio) ......................................................................66

    2.5 Equalizao dos registros...............................................................................................................................68

    2.6 Articulao ...................................................................................................................................................... 70

    2.6 Vogais............................................................................................................................................................... 73 2.6.1 O tringulo das vogais .............................................................................................................................. 73 2.6.2 Caractersticas das vogais ......................................................................................................................... 75 2.6.3 A lngua nas vogais................................................................................................................................... 76 2.6.4 A laringe nas vogais ................................................................................................................................. 76

    2.6.5 Caractersticas especficas vogais ............................................................................................................. 77 2.6.6 Vogais Umlaut .......................................................................................................................................... 79 2.6.7 Vogais neutras .......................................................................................................................................... 79

    2.7 Semivogais (glissando ou deslizando) ...........................................................................................................79

    2.8 Ditongos e Tritongos.......................................................................................................................................79

    2.9 Modificao da vogal (aggiustamento) e eficincia sonora......................................................................... 80 2.9.1 O trajeto dos formantes.............................................................................................................................82 2.9.2 Modificaes nas transies de registros..................................................................................................83 2.9.3 Vogais e legato no canto........................................................................................................................... 85 2.9.4 A posio acstica de descanso ................................................................................................................ 86

    2.10 As vogais cardinais ....................................................................................................................................... 86 2.10.1 O quadriltero voclico........................................................................................................................... 87 2.10.2 Arredondamento dos lbios .................................................................................................................... 89 2.10.3 Os Formantes das Vogais ....................................................................................................................... 89

    2.11 Consoantes..................................................................................................................................................... 91

    2.12 Timbre Vocal ................................................................................................................................................93 2.12.1 Chiaroscuro............................................................................................................................................. 94 2.12.2 Vibrato Vocal ......................................................................................................................................... 95

    2.13 Ressonncia vocal ......................................................................................................................................... 99 2.13.1 Ressonadores vocais ............................................................................................................................. 100 2.13.2 Peito e vias areas subglticas .............................................................................................................. 100 2.13.3 Laringe .................................................................................................................................................. 100 2.13.4 Faringe e Cavidade oral ........................................................................................................................ 101 2.13.5 Cavidade nasal e sinus .......................................................................................................................... 102

    2.14 Amplificao vocal no canto lrico - maximizando a ressonncia vocal................................................ 104 2.14.1 Posicionando a laringe .......................................................................................................................... 104 2.14.2 Posicionando a lngua ........................................................................................................................... 107 2.14.3 Posicionamento farngeo ...................................................................................................................... 107 2.14.4 Posicionando o palato mole.................................................................................................................. 107 2.14.5 Posicionando a mandbula .................................................................................................................... 110

    2.14.6 Posio da boca e lbios ....................................................................................................................... 111 2.15 Eficincia vocal ........................................................................................................................................... 113

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    2.15.1 Ataque vocal (lattacco del suono) ....................................................................................................... 113 2.15.2 O formante do cantor ............................................................................................................................ 114 2.15.3 Colocao e foco...................................................................................................................................116 2.15.4 Consideraes sobre equilbrio vocal ................................................................................................... 119

    CAPTULO 3 METODOLOGIA E RESULTADOS........................................................122

    3.1 Procedimentos ............................................................................................................................................... 122 3.1.1 Populao e Amostra .............................................................................................................................. 123 3.1.2 Tratamento e Anlise dos dados ............................................................................................................. 124

    3.2 Resultados ..................................................................................................................................................... 124 3.2.1 Formao dos professores de canto ........................................................................................................ 124 3.2.2 Fontes de conhecimento e informaes..................................................................................................125 3.2.3 Literatura sobre canto lrico.................................................................................................................... 126 3.2.4. Conhecimentos sobre fisiologia da voz e acstica ................................................................................127 3.2.5 Conceito de ressonncia do trato vocal no canto lrico ..........................................................................128 3.2.6 Lacunas no conhecimento sobre ressonncia do trato vocal ..................................................................129

    3.2.7 Conceito de qualidade do som vocal ...................................................................................................... 132 3.2.9 Trabalho tcnico individual para ressonncia /amplificao /desenvolvimento do som vocal .............. 134 3.2.10 Parmetros/Critrios fsicos corporais ..................................................................................................135 3.2.11 Ajustes fsicos ....................................................................................................................................... 137 3.2.12 Dificuldades Tcnicas........................................................................................................................... 138 3.2.13 Tcnicas para melhorar a ressonncia ..................................................................................................139 3.2.14 Ajustes utilizados na transio de registros vocais ...............................................................................140 3.2.15 Modificaes do timbre ........................................................................................................................ 142 3.2.16 Ajustes do trato vocal ........................................................................................................................... 143 3.2.17 Dificuldades tcnicas no incio dos estudos de canto ...........................................................................147 3.2.18 Estratgias de ensino da ressonncia do trato vocal .............................................................................148 3.2.19 Erros/dificuldades/lacunas pedaggicas ...............................................................................................151 3.2.20 Dificuldades tcnicas dos alunos .......................................................................................................... 153

    3.2.21 Termos (palavras, expresses) no ensino do som vocal .......................................................................154 3.2.22 Explicaes sobre o fenmeno da ressonncia vocal aos alunos .........................................................155 3.2.23 Ajustes no trato vocal (garganta, boca e nariz) solicitados ao aluno durante o canto .......................... 156 3.2.24 Ensino do som vocal de qualidade........................................................................................................ 161 3.2.25 Ensino dos Ajustes no trato vocal na transio de registros .................................................................162 3.2.26 Ensino do Timbre vocal........................................................................................................................ 163 3.2.27 Ensino do Vibrato ................................................................................................................................. 164 3.2.28 Problemas no ensino do canto lrico ..................................................................................................... 166 3.2.29 Ensino da Ressonncia Otimizao do som ......................................................................................167 3.2.30 Ensino do foco ...................................................................................................................................... 167 31. Espao livre para comentrios sobre o instrumento de coleta ...................................................................169

    CONSIDERAES FINAIS............................................................................................................................. 170

    REFERNCIAS ...................................................................................................................175

    ANEXOS ...............................................................................................................................180

    Anexo 1 Questionrio adotado ....................................................................................................................... 180

    Anexo 2 Passagens das vozes femininas.........................................................................................................182

    Anexo 3 Passagens nas vozes masculinas ......................................................................................................183

    Anexo 4 - Normas - portugus brasileiro.........................................................................................................179

    Anexo 5 - IPA....................................................................................................................................................185

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    INTRODUO

    Formulao do problema

    Na rea do canto lrico comum que os alunos recebam de seus professoresorientaes de naturezas e pedagogias diversas, algumas delas contraditrias e, em geral,

    transmitidas de gerao a gerao com base em empirismos e tradies. A maioria desses

    alunos freqenta aulas de canto individuais, procura workshops em festivais de msica,

    Masterclasses com cantores renomados e provavelmente tem tido acesso a informaes

    provenientes de diferentes profissionais da rea do canto. Outros grupos envolvidos com o

    canto so os dos regentes e dos preparadores vocais, que lidam com a tcnica vocal de forma

    bastante controversa pela falta de consenso no seu ensino-aprendizagem e de materiais

    didticos embasados na cincia e escritos em portugus. Sobre isso a professora de educao

    musical Helena Coelho comenta:

    Foi assim, numa vivncia musical ecltica, que descobri quo mgico era o ensino de canto.Baseava-se na imitao de modelos, no talento inato, e no empirismo. Certos termos comoapoio, voz empostada, coluna de ar, timbre natural e dezenas de outros, honestavam asuperioridade e a propriedade de pareceres avaliativos (quase sempre desabonadores...) de unscantores e professores de canto sobre outros. Entre eles, em geral, encontrava muita pompa,hermetismo e agressividade disfarada de competncia; mas pouca, bem pouca clareza deconceitos bsicos no processo de ensino-aprendizagem de sua arte. (COELHO, 2005, p. 9)

    Quando conheci o trabalho da Dra. Mirna Rubim, como cantora e professora decanto, constatei que seria possvel a associao de busca da performance eficiente

    curiosidade investigativa, aliadas uma generosidade e clareza no ensino do canto. Atravs

    dela conheci o trabalho publicado do tambm pedagogo vocal Richard Miller e

    posteriormente os demais tericos consultados para a execuo deste trabalho (ver Referencial

    Terico).

    Dentre outras, uma lacuna no ensino-aprendizagem do canto lrico que foi pouco

    esclarecida na nossa formao foi relativa aos conceitos sobre a colocao ou "impostao"da voz, ou seja, de que maneira clara e objetiva o cantor pode otimizar sua produo vocal a

    partir das causas, no dos efeitos. Essas dvidas que assombram o aprendizado e a prtica do

    canto tm sido transmitidas por dcadas a professores e alunos de canto. O empirismo

    comeou a mudar com as primeiras experincias de Manuel Garcia (1805-1906) inventor do

    laringoscpio datado de 1854 e s chegaram a um nmero razovel de professores de canto

    apenas em meados do sculo XX. Outra questo a ser colocada que a maioria dos grandes

    cantores lricos optou pelo foco em suas carreiras e no se preocupam em compartilhar seus

    processos de ensino e aprendizagem. E, por ltimo, raros so os livros que descrevem a

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    Neste trabalho, quando usamos o termo canto, estamos nos referindo ao canto lrico,

    tambm conhecido como canto erudito ou canto artstico. Este se caracteriza pela projeo da

    voz em espaos fsicos de tamanhos variados, desde salas de cmara a grandes teatros, em

    contraste com o canto amplificado (uso de microfones), usado pela msica popular. Para tanto

    o cantor deve valer-se de tcnicas que ajudem a otimizao1do som vocal, tornando-o mais

    forte (potente e com brilho), a fim de percorrer os espaos e competir com o som dos

    instrumentos que o acompanham.

    O professor Richard Miller (1986) comenta que a tcnica vocal serve justamente para

    equipar o cantor com condies de independncia e capacidades/habilidades maximizadas a

    ponto de disponibiliz-las a servio da expresso que se deseja, almeja e sonha. Ele diz que a

    tcnica deve ter como objetivo principal a estabilizao de coordenao apropriada durante o

    canto. O cantor, ao conhecer como seu instrumento vocal funciona e buscando seu

    funcionamento de maneira consistente ele ser dono se seu instrumento e poder colocar esta

    tcnica a servio da arte da interpretao. por isso que uma abordagem sistemtica da

    tcnica vocal a melhor rota de sucesso para o canto artstico (MILLER, 1986). Optamos

    pelo foco na otimizao do som vocal por entendermos que este domnio indispensvel

    queles que pretendem a carreira do canto lrico.

    Miller (1986) complementa que a arte no pode ser realizada sem o significado

    tcnico para sua apresentao. A tcnica vocal sistemtica e expresso artstica so

    inseparveis; elas constituem a estrutura do canto. Uma compreenso da funo fsica ser a

    grande diferena entre a construo de uma tcnica slida e uma vida inteira de lutas com a

    mecnica vocal, geralmente no estudada de forma adequada e embasada. Os cantores de

    modo geral esto mais preocupados com o impacto da performance final (o produto esttico)

    e pensam pouco nos fatores fsicos e acsticos da produo do som e uma informao mal

    formulada na pedagogia vocal pode causar danos voz ou relao do indivduo com a

    msica e com a prtica do canto. Sabemos que existem prticas pedaggicas inconscientes edefasadas permeando nossa realidade em todos os nveis. Pela escassez de material em

    portugus que esclarea a prtica consciente do canto, a educadora musical Helena Coelho se

    mostra indignada com a falta de profissionais que tm coragem e disciplina de expor suas

    idias de forma sistemtica e fundamentada, evitando, assim, a proliferao de prticas

    mecnicas irresponsveis e irrefletidas (COELHO, 2005, p. 9).

    1 otimizao aqui usada como melhoria, habilitao (termo preferido por Titze), aproveitamento mximo dosrecursos, trabalhar para tornar a voz excelente ou nos termos de Richard Miller, uma voz de elite.

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    Miller (1986), ao se referir grande variedade de ensinamentos em tcnica vocal,

    compara a pedagogia vocal com uma mesa de petiscos em um buffet, onde tm-se grande

    diversidade de comidas, ricas e simples, e onde tambm possvel provar todas elas ou at

    mesmo fartar-se vontade, mas adverte que nem tudo o que ir ser ingerido ser nutritivo ou

    benfico.

    A crescente literatura estrangeira em fisiologia vocal, acstica, fonoaudiologia, teses

    de pesquisadores, pesquisas de cientistas da voz (atualmente a cincia da voz tem sido

    chamada de vocologia) muito tm acrescentado aos estudantes ou professores que pesquisam

    esse material, mas ainda se encontra difuso e muito pouco disponvel aos educadores

    brasileiros. Material adequado em portugus ainda no existe e os que so publicados tm

    enfoque na voz falada.

    A pedagogia vocal atual tem procurado estabelecer meios de otimizao da voz

    cantada e de como transmitir ao aluno a idia de que uma voz boa para o canto, a voz

    livre, saudvel, disposta a servir de instrumento msica que representa, qualquer que seja o

    estilo escolhido e tambm disponvel para mostrar sua beleza prpria. Atravs da expresso

    de sua beleza nica e caracteristicamente individual, a voz poder se destacar a ponto de ser

    compartilhada e usufruda artisticamente pelo prprio cantor e pelos seus ouvintes. Apesar de

    um crescente interesse nas pesquisas de tcnicas vocais, tais estudos ainda apresentam

    divergncias e dificuldades na sua comunicao pela vasta terminologia mal definida e mal

    explicada. Este trabalho parte de um processo de reflexo com foco na ressonncia como

    ponto de integrao dos diversos aspectos tcnicos vocais que assombram cantores, alunos e

    professores de canto e demais profissionais da voz cantada.

    Referencial Terico

    Considerando a natureza multidisciplinar do assunto, que abrange vrias rias de

    conhecimento, selecionamos literaturas provenientes da fsica, anatomia, fisiologia,fonoaudiologia, tcnica e pedagogia vocais, com o intuito de estabelecer conexo entre elas e

    esclarecer termos definidos de forma inconsistente na literatura do canto. Entretanto,

    considerando o tempo curto de um curso de mestrado, optou-se pelo foco nos pedagogos

    vocais. O primeiro terico que apresentamos Richard Miller, falecido em 2009, autor de oito

    livros sobre canto: The Structure of Singing(1986), Training Tenor Voices(1993); On the Art

    of Singing (1996); National Schools of Singing (1997); Singing Schumann: An Interpretive

    Guide for Performers (1999); Training Soprano Voices (2000); Solutions for Singers: Toolsfor Performers and Teachers (2004) e Securing Baritone, Bass-Baritone, and Bass Voices

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    (2008). Pioneiro da pedagogia vocal nos Estados Unidos, Miller fundou o Centro de Artes

    Vocais Otto B. Schoepfle, do Conservatrio Obelin, em Ohio, o primeiro laboratrio acstico

    dentro de uma escola de msica. Miller foi um grande pesquisador e dedicado pedagogo da

    voz cantada e seus livros contm vasta bibliografia com nomes importantes da fisiologia vocal

    tais como os mdicos Janwillem van den Berg e Minoru Hirano, que muito contriburam para

    o estudo da voz.

    Outros pedagogos vocais consultados para este trabalho foram Clifton Ware,

    professor da Universidade de Minnesota, no Schuessler Vocal Arts Center, com seu livro The

    Basics of Vocal Pedagogy, um livro de linguagem acessvel muito utilizado em diversos

    cursos de Pedagogia Vocal nos estados Unidos e Ralph Appleman, com seu livro denso e

    cientfico The Science of Vocal Pedagogy, que deve ser livro de consulta obrigatrio para todo

    professor de canto lrico. Tambm foram includos os pedagogos vocais Oren Brown e seu

    livro Discover your Voice: developing healthy habits, onde apresenta as bases da tcnica

    vocal numa linguagem acessvel e objetiva e Cornelius Reid, de viso mais tradicional, porm

    fundamental ao canto lrico, com seu trabalhoBel Canto: Principles and Practices.

    De grande importncia para a fisiologia vocal foram os autores Willard Zemlin,

    Professor Emeritus da Universidade de Illinois e as brasileiras Mara Behlau e Silvia Pinho,

    autoridades em fonoaudiologia que muito tm contribudo sade, estudo e ensino da voz.

    Johann Sundberg mundialmente conhecido como um dos maiores especialistas e

    pesquisadores da acstica vocal. Ph.D. em Musicologia, consultor de vrias universidades e

    publicou inmeros artigos sobre voz cantada. Tambm importantes foram os trabalhos do Dr.

    Ingo Titze, grande pesquisador e professor de voz e fala e diretor executivo do National

    Center of Voice and Speech da Universidade do Iowa.

    Na rea de acstica, de grande auxlio foram os trabalhos de Fernando Iazzetta,

    Professor na rea de Msica e Tecnologia do Departamento de Msica da Escola de Artes da

    USP e pesquisador do Laboratrio de Acstica Musical e Informtica (LAMI). Os sites daWeb na rea de Fsica, principalmente os muito bem elaborados e destinados a fins educativos

    tambm foram de grande ajuda como: AP Physics B e HyperPhysics.

    Duas teses de mestrado e doutorado, dentre as consultadas, foram mais relevantes: a

    de Eva Bjrkner, que em sua tese de doutorado (realizada em 2006, Sucia) abordou aspectos

    de caractersticas vocais em cantores de pera e teatro musicado e a tese de doutorado de

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    Cristina Sacramento (Aveiro, Portugal) que pesquisou o crossover2entre as tcnicas de canto

    lrico e de teatro musicado e nos ofereceu informaes teis e relevantes sobre a realidade

    lrica portuguesa. O vasto referencial abrange cientistas pesquisadores da acstica da voz e

    fonoaudilogos e serve de base para pesquisas complementares a esta.

    Metodologia

    A estratgia metodolgica consistiu na soma das partes: (1) reviso da literatura com

    base nas referncias apresentadas na qual buscamos conceitos bsicos de acstica, anatomia e

    fisiologia da voz. A nfase desejada na correlao entre os assuntos determinou que estes

    fossem amalgamados desde o incio deste relatrio de pesquisa; (2) para alcanar o

    pensamento, prticas e dificuldades de ensino-aprendizagem dos professores de canto em

    relao ressonncia do trato vocal, foram realizadas questes semi-estruturadas com 11

    cantores e professores de canto brasileiros ativos (questionrio no Anexo 1 e o Captulo 3

    apresenta as respostas integrais e comentadas). Considerando a natureza da avaliao semi-

    estruturada, foram formuladas questes que consideramos essenciais para se compreender

    como os professores lidam com o assunto da ressonncia vocal. Como caracterizao geral da

    entrevista semi-estruturada Trivios fornece o seu parecer:

    Segundo o nosso ponto de vista, para alguns tipos de pesquisa qualitativa, a entrevista semi-estruturada um dos principais meios que tem o investigador para realizar a Coleta de Dados.(...) queremos privilegiar a entrevista semi-estruturada porque esta, ao mesmo tempo em quevaloriza a presena do investigador, oferece todas as perspectivas possveis para que oinformante alcance a liberdade e a espontaneidade necessrias, enriquecendo a investigao.(TRIVIOS, 1987, pp. 145-146).

    Segundo Alves-Mazzotti (2001), a entrevista semi-estuturada inclui aspectos

    objetivos e subjetivos, o que consideramos ideais a nossa pesquisa:

    ...Nas entrevistas no estruturadas o pesquisador introduz o tema da pesquisa, pedindo que osujeito fale um pouco sobre ele, eventualmente inserindo alguns tpicos de interesse no fluxoda conversa. Este tipo de entrevista geralmente usado no inicio da coleta de dados, quando o

    entrevistador tem pouca clareza sobre aspectos mais especficos a serem focalizado, e frequentemente complementado, no decorrer da pesquisa, por entrevistas semi-estruturadas.Nestas, tambm chamadas focalizadas, o entrevistador faz perguntas especificas, mas tambmdeixa que o entrevistado responda com seus prprios termos. (ALVES-MAZZOTTI, 2001, p.168).

    A opo pela alternativa metodolgica mais adequada anlise da questo da

    pedagogia vocal do tema escolhido se deve complexidade da linguagem ou dos termos

    utilizados. Uma vez que a terminologia, em canto lrico, no possui uma padronizao fixa, a

    2

    Cruzamento ou transio termo usado para descrever os cantores que tanto cantam como cantores lricoscomo cantores de teatro musical. Tambm se aplica o termo a cantores lticos que cantam musica popular, como o caso de Pavarotti, Domingo e Kiri te Kanawa. (SACRAMENTO, 2009).

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    prpria explicao dos termos, acreditamos, caracterizaria uma interveno significativa do

    pesquisador. Frente a essa questo e diante da possibilidade de se combinar partes

    estruturadas com menos estruturadas, optamos pelas questes semi-estruturadas e pela

    construo do um instrumento de coleta de dados, o questionrio que melhor atendesse s

    questes da pesquisa.

    Da confrontao dos dados obtidos, elaborou-se uma discusso sobre os principais

    aspectos da ressonncia vocal, sua relao com a amplificao vocal natural (sem microfones)

    e de que modo seria possvel facilitar o ensino do canto lrico com enfoque nesse aspecto.

    Organizao da dissertao

    Esta dissertao est organizada em trs captulos. No primeiro captulo

    apresentada uma reviso sobre acstica geral e vocal. No segundo captulo so introduzidos

    os principais aspectos da tcnica vocal com base na fisiologia da voz e enfoque na ressonncia

    vocal. No terceiro captulo so mostrados os resultados dos questionrios, incluindo todas as

    respostas dos professores e, no final de cada tpico, realizada uma discusso confrontando-

    se os achados da literatura que corroboram as indicaes dos participantes. Fecham este

    trabalho as Consideraes finais, as Referncias e os Anexos.

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    CAPTULO 1

    BREVES NOES

    DE ACSTICA

    Este estudo visa o desenvolvimento de fundamentos que auxiliem o ensino do canto

    a professores das mais variadas categorias que trabalham com voz cantada e tambm

    contribuir com a prtica da performance em canto. Desta forma, comearemos por esclarecer

    pontos importantes do processo acstico, anatmico, fisiolgico e tcnico da produo sonora

    vocal como instrumento de fundamentao para a pedagogia e prtica vocal. Nesta parte do

    trabalho, buscamos explicaes para termos como ondas simples, ondas complexas,

    intensidade e loudness, espectro vocal, trato vocal, formante do cantor e outros tocontroversos e pouco esclarecidos na literatura sobre tcnica vocal em portugus.

    1.1 Acstica como Fenmeno

    Os fsicos Halliday, Resnick e Walker (1996) citam as palavras de Leonardo da

    Vinci como um conhecedor de ondas, e fornecem os seguintes conceitos:

    freqente que uma onda de gua fuja de seu local de origem, enquanto a gua no; como asondas criadas pelo vento num campo de trigo, onde vemos as ondas correndo atravs docampo, enquanto os ps de trigo permanecem no mesmo lugar. (Leonardo da Vinci apudHALLIDAY, 1996, p. 111)

    Partculas e ondas tm conceitos opostos. Enquanto partculas so pequenas

    concentraes de matria capazes de transportar energia, onda uma larga distribuio de

    energia que preenche o espao por onde passa. No possvel compreender o fenmeno da

    ressonncia vocal sem a compreenso dos fenmenos acsticos que esto relacionados a ela.

    H vrios tipos de ondas que podem ser classificadas de vrios modos. Podem serclassificadas em: (1) mecnicas, quando precisam de um meio para se propagar (gua, ar,

    uma corda esticada) ou (2) eletromagnticas, quando no precisam de meio, podem se

    propagar no vcuo (luz, Raios X, microondas). As ondas sonoras vocais se enquadram nas

    ondas mecnicas do tipo onda complexa, como veremos mais adiante.

    As ondas tambm podem ser classificadas como (a) transversais e (b)

    longitudinais. A mais simples das ondas mecnicas pode ser explicada atravs das ondas

    vibratrias de uma corda esticada. Um impulso (um puxo para cima e para baixo) gerado

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    em uma extremidade e esse pulso passa de partcula a partcula da corda e desta forma uma

    onda segue atravs da corda com certa velocidade. Se h o movimento (impulso) para cima e

    para baixo de maneira constante, isso se constitui em um movimento harmnico simples, que

    provoca a propagao de uma onda chamada senoidal (Fig. 1.1). Observa-se a forma da onda

    e tambm a direo. No caso da corda, ela oscila de cima para baixo, portanto

    perpendicularmente direo da propagao da onda. Este um exemplo clssico de uma

    onda transversal.

    Figura 1.1: Onda senoidal (EVEREST, 2001, p.10).

    No caso de um pisto, a onda oscila dentro de um tubo e neste tipo de onda mecnica

    a propagao se faz atravs de pequenas concentraes de ar, com massa prpria, que se

    deslocam para trs e para frente, paralelamente propagao da onda. Neste caso, o

    movimento ondulatrio ser chamado de longitudinal.

    1.1.1 Ondas Sonoras

    So ondas mecnicas que podem se propagar atravs de gases, lquidos ou slidos.

    Pode haver dois tipos de ondas num slido. Como explicado acima, as transversais so

    aquelas onde os pequenos elementos do slido so perpendiculares direo de propagao

    da onda. As longitudinais so aquelas onde as oscilaes so paralelas direo de

    propagao. Num gs ou num lquido s h transmisso de ondas longitudinais. Para

    transmitir ondas transversais, o meio deve se comportar de maneira elstica, quando sofrer

    tenses de cisalhamento3, originando assim uma fora restauradora. Os fluidos escoam ou

    fluem, quando submetidos a tais tenses, assim no podem originar foras restauradoras e,

    portanto, transmitir ondas transversais.

    No caso da voz, o som transmitido transversalmentedo trato vocal, originado da

    fonte gltica (pregas vocais), por ondas transversais, via osso, ao ouvido. interessante

    destacar que o cantor escuta sua prpria voz de duas maneiras associadas: pelo osso (ondas

    transversais) audio interna e pelo ambiente, via ouvido externo (ondas longitudinais)

    3 Cisalhamento: cisalhar=cortar. Deformao que sofre um corpo quando sujeito ao de foras cortantes.(FERREIRA,1999, p.479)

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    Figura 1.4: Onda sinuside ou senide. Representao grfica de uma onda bidimensional, onde o eixohorizontal representa a passagem do tempo e o vertical indica a variao de presso. (EVEREST, 2001, p.8).

    Ondas sonoras regulares e repetitivas criam um som musical, enquanto padres

    irregulares produzem rudo. No canto, as ondas regulares e repetitivas so parcialmente

    determinadas pelas vogais, enquanto que padres irregulares, na fala e no canto,

    correspondem ao uso de consoantes. (WARE, 1998.p.129)

    As quatro propriedades mais significantes de um som musical so: (1) Freqncia

    (altura, pitch); (2) Amplitude (intensidade, loudness, volume); (3) Timbre (cor, qualidade)

    produto combinado de freqncia e intensidade; (4) Durao e (5) Som estranho ou rudo que

    tambm uma propriedade integral do som musical, que sero detalhadas a seguir.

    1.1.4 Freqncia

    Um perodo a quantidade de tempo que leva para completar um ciclo inteiro de

    compresso e rarefao, que um ciclo completo de vibrao. Freqncia, que o inverso de

    um perodo, o numero de ciclos por segundo medido em Hertz (Hz).

    Comprimento-de-onda a distncia que a compresso e a rarefao levam para viajar

    pelo tempo ate o incio do outro ciclo, pode ser longo ou curto, dependendo do nmero de

    freqncias. Altas freqncias produzem comprimentos-de-onda curtos, enquanto que baixas

    freqncias produzem comprimentos-de-onda longos (Ver Fig. 1.6).

    A freqncia de vibrao percebidacomo tom (pitch, altura), quanto mais rpida a

    freqncia de vibrao, mais agudo o tom. Por exemplo, para a International Standards

    Association, o chamado tom de concerto em A4 ir resultar em 440 vibraes ou ondas

    sonoras por segundo.

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    Figura 1.5: Onda sinuside (variao de presso [de rarefao a compresso] versus espao); o comprimento deonda (!) est evidenciado. Segundo Iazzetta, esse tipo de grfico pode fornecer vrias informaes sobre o som.Esse som, o som senoidal, chamado som puro porque desprovido de harmnicos e cujo nome deve-se aofato de poder ser representado pelo grfico de uma funo seno.

    O registro audvel ao ouvido humano aproximadamente de 20 a 16.000 Hz. Na falaou canto, o tom determinado pela freqncia da vibrao das pregas vocais, que varivel

    segunda a tenso ou mudana da massa do vibrador (ou oscilador, no caso, as pregas vocais).

    Isto ser discutido no Captulo 2.

    1.1.5 Amplitude

    A quantidade de ar deslocado do ponto de repouso a amplitude da vibrao, e a

    amplitude de deslocamento do corpo vibrador receptor, corresponde diretamente ao

    deslocamento das partculas do ar. Em uma onda sonora percebida, a quantidade de

    deslocamento das partculas de ar corresponde quantidade de presso colocada sobre a

    membrana timpnica (tmpano).

    Quando uma fora (coluna de ar) aplicada a um vibrador (pregas vocais),

    produzida uma onda sonora com determinada amplitude e perodo. O perodo pode

    permanecer o mesmo apesar de mudanas de amplitude, ou o perodo pode mudar e a

    amplitude permanecer constante.

    A amplitude um real atributo da vibrao, porm mais tipicamente medida como

    intensidade, que a quantidade de presso exercida pela onda sonora sobre a membrana

    timpnica. Intensidade pode ser medida de vrias formas, sendo o mais comum o Nvel de

    Presso do Som (SPL, Sound Pressure Level). Medida em decibis (dB), a intensidade um

    atributo mensurvel do estmulo. O nmero de decibis aproximadamente corresponde

    percepo do ouvinte como loudness que considerada o equivalente perceptual de

    intensidade. Medidas em decibis tm sido padronizadas e o limiar de audibilidade tem sido

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    estabelecido em 0 dB. Qualquer SPL acima de 140 dB causa dor e, como referncia para o

    leitor, a conversao comum se situa em 40 a 60 dB.

    Figura 1.6 : Amplitude versus tempo relacionada alta e baixa freqncias (AUDIOSOUP, 2004).

    No caso da vibrao da pregas vocais loudness tambm determinado por forar

    alm da amplitude de vibrao. Por isso, nos referimos intensidade vocal, que a

    intensidade da onda sonora produzida na glote. A menos que a intensidade seja medida

    melhor se referir ao termo loudness quando se fala em sensao de escuta do ouvinte.

    Intensidade atributo de um estmulo e loudness a sensao percebida, o ouvinte percebe

    loudness, no intensidade. Observe que esse conceito muito importante para se estudar e

    compreender os fenmenos da voz cantada. Quando um cantor se refere ao volume de sua

    voz, est ser referindo ao loudness de sua voz. O loudness produzido por seu sistema de

    fonao devidamente treinado para produzir tal amplificao depende de diversos fatores, no

    apenas a intensidade. Depende de alteraes no trato vocal que alteram os harmnicos agudos

    e gera mais estridncia (ring,squillo ou giro, e ping, ou ponta/projeo), que sero abordados

    mais adiante nesse trabalho.

    Uma vez que as ondas sonoras na natureza so compostas de mltiplas ondas

    senoidais com vrias freqncias e amplitudes ocorrendo simultaneamente, elas so raramente

    senoidais. Duas ondas senoidais, quando ocorrem simultaneamente em sua fase de

    compresso, iro reforar ou melhorar uma outra, enquanto a onda de rarefao vai afetar ou

    enfraquecer a onda de compresso, quando elas ocorrerem simultaneamente. A onda

    complexa tpica tem muitas freqncias ocorrendo simultaneamente, com amplitudes

    determinadas pelo reforo e interferncia das ondas sonoras que ocorrem numa base

    momento-a-momento. Apesar da sua complexidade, as ondas sonoras podem ainda repetir a si

    mesmas em intervalos da mesma maneira que as ondas senoidais.

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    Figura 1.7: Ondas regulares e irregulares-(Escola Superior de Tecnologia de Tomar, Portugal4)

    A repetio regular de ondas sonoras peridicas percebida, pelo ouvinte, como tom,

    enquanto ondas sonoras aleatrias e aperidicas so percebidas como rudo (Ver Fig. 1.7).

    1.1.6 Timbre

    So as caractersticas de um som descritas em termos de cor e qualidade. Para

    melhor entender como cantores so capazes de manipular as qualidades do som, precisamos

    entender as freqncias complexas geradas na produo do som, inclusive da voz.

    H um nmero de meios simultneos dentro de uma simples vibrao, dependendo

    das caractersticas do corpo vibrante, a fora de impulso, e outros fatores alm das

    possibilidades deste estudo. Um dado corpo vibrar na sua freqncia fundamental5 e nos

    mltiplos integrais da fundamental; isto , vibra em metade, teras, quartas, quintas e

    seguintes mltiplos. Se uma corda vibra em 100 Hz, est vibrando simultaneamente a 200,

    300, 400, 500 Hz e assim por diante. A vibrao de 100 Hz chamada de som fundamental, a

    vibrao de 200 Hz conhecida como primeiro harmnico, a de 300 Hz o segundoharmnico e assim por diante.

    Outros termos usados por msicos ao discutir harmnicos so overtones (super ou

    sobretons) ou parciais. O termo geralmente se refere a como as sries harmnicas ou parciais

    podem ser demonstradas com um som produzido por um instrumento (Ver Fig. 1.8). Por

    exemplo, quando um piano soa a C2 (65 Hz), o primeiro harmnico ser uma oitava acima C3

    4

    http://portal.estt.ipt.pt/5 A frequncia fundamental na voz determinada pelo nmero de vezes que as pregas vocais abrem e fechampor segundo e origina a altura (nota oupitchpercebida).

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    (131 Hz). O segundo harmnico vai ser uma quinta acima G3 (190 Hz), que

    aproximadamente trs vezes a freqncia da fundamental de 65 Hz.

    A srie harmnica tambm um efeito no caso da fonao, quando as pregas vocais

    vibram de vrias maneiras simultneas. No somente elas tm uma freqncia fundamental de

    vibrao, que percebida como o tom cantado, mas muitos harmnicos esto presentes. A

    ao vibratria das pregas vocais muito complexa e neste aspecto que surgem os principais

    fenmenos ressonantais de extrema importncia para o cantor.

    Figura 1.8: Srie Harmnica em pentagrama. (SCHMIDT-JONES, 2009) e relao com os harmnicos de um dcentral como nota fundamental.

    O que varia de indivduo para indivduo e de uma configurao larngea para a outra

    a forma de onda complexa que resulta do reforo e interferncia de muitas vibraes

    simultneas, que determinam a amplitude de cada harmnico. Por essa razo dois cantores

    no soam idnticos mesmo cantando a mesma freqncia fundamental. Os harmnicos ou

    parciais que definem a identidade vocal de um cantor j esto determinados na fenda gltica

    (SUNDBERG, 1987, p. 49). Chama-se espectro ao grfico que mostra a distribuio da

    energia sonora como uma funo da amplitude (eixo Y) e freqncia (eixo X) (KENT, 1992).

    O espectro mostra as variaes nas formas de onda, mostrando amplitude de vibrao

    (intensidade) e freqncia (Hz), ou seja, a receita ou design (desenho, grfico) de vibrao

    de cada som. As muitas variaes no movimento vibratrio presentes em um dado som

    produzem complexas formas de onda que podem ser concebidas e grafadas como um

    espectro, que ser uma figurao instantnea do som em um especfico momento no tempo

    (Ver Fig. 1.9 e 1.14).

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    Um tipo de grfico desse espectro pode mostrar, por exemplo, a amplitude da

    vibrao no eixo vertical ou pode mostrar intensidade. O eixo horizontal mostra a freqncia,

    contrrio ao eixo horizontal da forma de onda que mostra tempo.

    Figura 1.9: Onda complexa com seu espectro (amplitude versus freqncia). A forma de onda resultante (ondaquadrada) a somatria da fundamental e os harmnicos. Tambm apresentada na forma tridimensional ou emperspectiva, para comparao. (DIGTRX, 2001).

    Em um espectro sonoro todo harmnico pode ser mostrado cada um com sua

    amplitude particular que determinado pelos muitos caminhos complexos nos quais a onda

    poder reforar ou interferir umas com as outras.

    Os diferentes espectros resultaro em diferentes qualidades de som percebidas ou

    cores tonais, geralmente referidas como timbre. Quando percebemos diferenas no timbre, na

    realidade estamos percebendo diferenas no espectro de diferentes fontes sonoras. Para cada

    espectro h uma forma de onda correspondente, uma nica maneira de representar o mesmo

    fenmeno. Quando considerando o numero de sons reconhecveis em ouvindo-os por um

    breve segundo ou dois, incrvel notar que todos os sons so variaes na compresso erarefao que se repetem, mais de mil vezes por segundo. Ou seja, como o ouvido humano s

    percebe freqncias (pelo complexo sistema de clulas ciliadas e outras clulas auditivas

    especializadas), o espectro acstico que permite o reconhecimento de todos os fenmenos

    acsticos, desde freqncia, timbre e amplitude vocais.

    s vezes, o formato geral do espectro igualmente to interessante quanto vendo a

    relativa energia de cada harmnico. Se uma linha desenhada atravs de todos os topos de

    todas as linhas representando harmnicos no espectro, a figura que resulta referida como

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    envelope espectral. Resultam em picos e depresses. Os picos so regies de freqncia nos

    quais h relativamente grande energia acstica e eles so conhecidos como formantes6,

    detalhados mais adiante neste trabalho (Ver Fig. 1.21).

    1.1.7 Durao

    Um outro tipo de envelope bem conhecido pelos msicos chamado de envelope de

    forma de onda e relativo a aspectos de durao do som. Lembrando que o eixo horizontal

    (Eixo X) da forma de onda tempo e o vertical do espectro (Eixo Y) freqncia, a forma de

    onda mostra a amplitude no domnio tempo, e o espectro mostra amplitude no domnio

    freqncia. O formato total de uma forma de onda, o envelope da forma de onda, mostra trs

    caractersticas de durao: (1) ataque o tempo que o som leva para alcanar seu estado

    estvel, que o aspecto mais caracterstico de seu espectro; (2) estado estvel ou sustentado

    o perodo no qual o espectro permanece relativamente estvel; (3) declnio o tempo que o

    som leva para se dissipar. O envelope da forma de onda contribui para a distintiva qualidade

    de um som (Fig. 1.10).

    Por exemplo, um som de xilofone tem um ataque preciso, um estado estvel e

    imediatamente declina. Inversamente, quando um gongo batido, o som ergue-se ao mximo

    ponto, e ento gradualmente cai. O som vocal tambm tem ataque e declnio conhecido como

    onset(comeo ou incio) e decaimento (trmino ou finalizao), e uma poro sustentada, que

    pode ou no ser um estado estvel. Este conceito importante, pois, transportando-o para a

    tcnica da voz cantada, o cantor compreende o controle do envelope do som vocal

    (comeo/onset sustentao finalizao/ declnio/decaimento). Esse assunto ser abordado

    em eficincia vocal.

    Figura 1.10: Ataque, sustentao (ou liberao Segundo Miller (1996)[release]) e finalizao (decaimento[decay]). (HyperPhysics).

    6

    Formantes so picos de energia acstica e em vez do uso do termo ressonncias, em anlise acstica utiliza-se formantes,sendo um formante um modo natural de vibrao (ressonncia) do trato vocal e/ou nasal. (Kent &Read, 1992, p. 18).

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    1.1.8 Sons estranhos ou rudos

    O espectro pode mostrar sons aperidicos, visualizados como clusters (aglomerados)

    de freqncias que ficam entre os harmnicos, mais comuns na parte mais alta do espectro.

    Sons inarmnicos, regularmente repetindo freqncias que no so mltiplas da

    fundamental ocorrem nos sons vocais por causa de algumas irregularidades no padro de

    vibrao. Todas as irregularidades se tornam uma parte do sinal e so percebidas pelo ouvinte

    como rudo. Todos os instrumentos produzem rudo em conjuno com produo de tom, por

    exemplo, um arco de violino raspando nas cordas ou um martelo batendo nas cordas de um

    piano. No caso da voz, os rudos podem ter as seguintes origens: (1) Inalao ruidosa ou

    exalao, especialmente quando as vias areas esto entupidas ou a produo soprosa; (2)

    rgos articulatrios (lngua, maxila, bochechas, lbios, palato mole) usados na produo

    normal de consoantes, inclusive glotais; (3) Distrbios das pregas vocais atribudos a

    inflamao, inchao, ressecamento ou assimetria (patologias). Determinados rudos so

    inerentes produo vocal normal, outros, entretanto, podem ser patolgicos, ou melhor,

    podem caracterizar alteraes funcionais que devem ser investigadas por um fonoaudilogo,

    pois podem indicar disfonias associadas tenso muscular, espessamento ou ndulos de

    pregas vocais. Alguns parmetros vocais acsticos so: medidas de rudo, perfil de extenso

    vocal, espectrografia acstica e a freqncia fundamental e seus ndices de perturbao -jittere shimmer. De acordo com Behlau (2001), o jitter indica a variabilidade da freqncia

    fundamental em curto prazo. O jitter se relaciona s freqncias graves e s intensidades mais

    fracas, sendo medidas expressas em porcentagem com valor limite de normalidade de 0,5%.O

    shimmer indica a variabilidade da amplitude da onda sonora em curto prazo, tambm

    expressas em porcentagem com valor limite de normalidade de 3%.

    1.2. Processo acstico da fonao

    Na expirao, o ar expelido dos pulmes passa pelas pregas vocais, provocando sua

    vibrao. As pregas passam a ser denominadas de fonte sonora que direciona pulsos de ar

    periodicamente na cavidade oral. Os pulsos gerados na fonte so filtrados pelas cavidades

    acsticas do trato vocal, e propagam-se pelo ar. Na irradiao uma parte do som (baixas

    freqncias) espalha-se enquanto outra parte (altas freqncias) propaga-se para frente. A

    seguir, o leitor encontrar uma explicao mais detalhada sobre o processo da fonao, mas

    antes preciso compreender algumas estruturas do aparelho fonador.

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    Figura 1.11: (1) O espectro irradiado em forma de som vocal, produto acstico final do processo de fonao. Osom produzido na glote e filtrado pelo trato vocal antes de sua emisso. Modelo fonte-filtro adaptado de Vieira

    (2004) e Aquino (AQUINO, 2009). (2) Esquema da fonao(http://www.kfs.oeaw.ac.at/content/blogsection/26/396/lang,8859-1/)

    1.2.1 O trato vocal

    Podemos dividir as partes/reas ou sistemas que participam da produo vocal como:

    (1) Sistema Subgltico (inclui traquia e pulmes), (2) Sistema gltico (laringe que contm a

    glote onde esto as pregas vocais) e (3) Sistema Supragltico (trato vocal: cavidade oral, nasal

    e farngea). O trato vocal um dos elementos mais relevantes para a compreenso dos

    fenmenos acsticos vocais. Ele formado pela boca, faringe e laringe (e cavidade nasalquando os sons so nasais) e nele que ocorrem os principais mecanismos de amplificao do

    som que os cantores precisam conhecer. Toda a anatomia (formato) do trato determinada

    geneticamente e essa conformao herdada possui, segundo Zemlin (2005), quatro ou cinco

    ressonncias proeminentes denominadas tessituras cujas freqncias so determinadas pela

    forma e comprimento do trato vocal. De acordo com Miller (2004)

    ... trato vocal o sistema ressonador supragltico que se estende dos lbios internos da laringe(pregas vocais) at os lbios externos da boca. um sistema solto e flexvel que responde demanda articulatria do canto e da fala. Nessa resposta laringe vibrante, ele (o trato vocal)influencia o timbre da voz cantada.7(Miller, 2004)

    A energia em forma estvel de corrente de ar vem dos pulmes, passa pela traquia e

    prossegue laringe, estrutura principal da produo de corrente de ar vibrante pelos seus

    elementos vibrantes que so as pregas vocais. As pregas abrem e fecham com rapidez

    interrompendo a corrente de ar o que produz o som gltico ou som vocal no interior do trato

    7 The vocal tract is the supraglottal resonator system, extending from the internal laryngeal lips (vocal folds) to

    the external lip bastion. It is a flexible, non-fixated system that responds