magia do fogo

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 — Composte e impressa n« ~Tip. da~Liorariti Progredioa b .  Rod, d e hrtita», jMî-Pd rto

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M A R T I N S O L I V E I R A  

Mem brot i tularda SociedadeA stronómica de FrancaDirector da Delegapáo Portuguesa da

Sociedade In ternac ional de Recreagoes Científicas

a g í a d o F o g oO homem pode suportar as maiores tem-

pera íuras e até, a 1510 graus,banhar-seemferrofundido!

Explicado científica de lodosos mislériosígneosdos fakiresda india, dos aissaua da África e dos domadores

do fogo da América e da Europa, incluindoos prodigios maravllhosos dos célebres

«DiabosVermelhos»,asmanipularescomferrosem brasa, o forno crematorio, o mistério da prisao em

•chamas, os relámpagos provocados, o homem incombuslível,o vulcSo humano e o incèndio aparente de um teatro.

1 9 4 2

i l V R A R I A P R O G R E D I O R - Editora

158, Rúa de Passos Manuel, '62 - P òrto

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DO M E S M O A U T O R

Em portug ués sO rei das diabruras — 1917 (esgotado)O ilusionista, 2 t o I.  — 1921Inaudismo científico — 1924Recreafoes científicas — 1925 (esgotado)

Recreares científicas (excerto) — 1925Os grandes perigos do hipnotismo — 1925 (esgolado)Mundo científico, 3 vol. — 1925-26Blacaman e os seus trucs — 1926Marte é habitado? — 1926 (esgotado)

 A as tr olog ia é  urna ciencia ? — 1927 (esgotado)Descoberta do planeta Plutáo — 1930 (esgotado)Como se calculam as fases da L úa (até ao ano 3.000)— (1930Os filtros de amor e a ciencia, 2 yol. — 1936 (2.a edifao)

Khronos — 1940Magia teatral — 1940Magia do fogo — 1942

Em francés :Inaudisme scientifique — 1924Le monde occulte — 1924 (esgotado)

E m e s p a n h o l :Educación científica de la v oluntad — 1912 (esgotado)Instrucción y recreo — 1912 (esgotado)El gran diablo — 1914 (esgotado)

T r a d u c e s :O vingador — 1925 (esgotado)

 As duas irmás — (esgotado)O atleta invencível — 1926 (esgotado)

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Como nasceu a piromagia

 A pír ománcia, v elha como o mundo,tem urna histor ia vasta, complicada ccheia dos maiores horrores, que a adivi-nha?ao pelo fogo, ao servido de paixóestorpes e de pensamentos impuros, cons

tantemente originava. A piromagia, muito mais jovem,

nasceu há pouco mais de dois sáculos e teve comoengendradores da sua existéncia a sábia «dúvida», quesempre nos inspira o incompreensível, e a imperiosa«necessidade» de explicar á face da razSo aquilo que arazao nao percebe,

O suplicio do fogo, executado a partir das eras maisremotas e levado a um exagéro inconcebível desde osprincipios do século X V I a meados do século X IX , féz

com que os cientistas das vária s épocas, para explica-rem a si própíios certos íactos notáveis a que assistiam,acreditassem, especialmente depois de 1500, na existéncia de processos misteriosos para se domar o fogo epreservar do calor determinados pseudo bruxos condena

dos á igni?aa, Havia ainda casos mais singulares quecorroboravam de forma eloqüente a suposi^So que nas-d a : Muitas das pessoas acusadas de hipotéticos crimes,

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6   - M A G I A D O F O G O

cuja prova te stemunhal nSo se podia fazer, eram subme-

tidas ao «julgamento do fogo», para se poder deduzir,com certeza absoluta, da sua culpabilidade ou inocència»

 A lg uns dos suplic iados resis tiam de tal modo ao calor eao pròprio f erro em brasa, que eram ¡ mediatamente ili-bados de tèda a culpa e tidos como inocentes das acusares imputadas. Mas os próprios algozes, embora possu'ídores de tóda a ciéncia do tempo, nao adregavam com

a e x plic a do do mistério e como, no seu íntimo, nSoadmitiam o milagre, eram levados a concluir que se tra

tava de qualquer segrédo que ¿les n3o logravam penetrar. Essa conjectura, alimentada de ano para ano edensificada de século para século, cr iara a piromagia

Um facto recente, respigado da historia de Inglaterra por Julia de Fontenelle e inserto por èie proprio apag. 103 e seg uintes do «Nouveau Manuel Compiei deSorciers», é bem elucidativo sobre o que acabo de expor

 A mae de Eduardo IV , rei de Ing laterra, fóracusada de manter relaces demasiado íntimas com obispo de Winchester . 0 rei, crédulo e supers ticiosoquis que eia fosse julgada pela «infalível» prova dfogo ; e a princesa E ma, gritando a sua inocència, conse ntiu em submeter- se ao tre mendiss imo martirio. Ficou

assente que eia daria nove passos, a pés ñus, sòbre novpedras elevadas ao rubro pelo fogo. Depois disso, parque o juízo n3o pudesse oferecer dúvidas, daria aindmais cinco passos pelo bispo de Winchester. Se no fim

da prova nSo se tivesse queimado, a sua inocéncia mostrar-se-ia evidente e a sua absolvigao nSo poderia deixade ser um facto ; mas se, pelo contràrio, o fogo lhe tor

turasse as carnes, o seu crime nào ofereceria discussa©e em face de n5o ex istir a menor dúv ida seria quei

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M A G I A D O F O G O

Erna, banhada em lágrimas, passava as noites emclaro, quási sempre de joelhos, rezand®, aos pés de S.

Secundino.No dia do julgamento, a que assistiu e rei e os

grandes dignatários da córte, procedeu- se às ce rim óniashabituais em casos de semelhante grandeza e, após tudo,a rainha, de pés nus e pernas ao leu até ao joelho, carni*nhou sóbre as nove pedras rubras exactamente como ofaria numa passadeira de veludo ! Dois bispos, um de

cada lado, procurav am auxiliá- la, embora, pelo que se

via, eia nao carecesse de auxilio absolutamente nenhum*De facto, os seus pés ficaram tam frescos, que eia, logoa seg uir ao julg ame nto, a bandonou a igr eja e dirigiu- se a

passo natural aos seus aposentos privados, Entao o rei,chamando os bispos, caíu de joelhos aos pés de sua m2e

e suplicou- lhe per dào. A seg uir, ar dendo em remorsos,pediu às autoridades eclesiásticas que o punissem e oabsolvessem depois do pecado que cometerá.

Fenómenos como éste, aliados a ensinamentos jáexistentes desde os principios da era crista, acabarampor implantar sòlidame nte nos cére bros cultos a hipó-

tese da piromagia.

Rea lmente , M, Gr ebe diz- nos que em fins do século X IX , portanto quás i nos nossos dias, ex perimentara os

segredos de Sim3o o Mago e que com éles obtivera uma

incombustibilidade perfeita,

Gre be refere- se à «Clav is Secretor um ccelisterras»,mas Antephius no seu livro «Claves Majores Sapientise»e Alberto o Grande em «Alberti Parvi Lucii» (Libellusmir abilibus naturae ar canis), oferecem- nos processo idéntico para nos libertarmos dos tremendos efeitos do fogo.

Na segunda parte desta obra tenciono voltar ao assuntoe descrever aos meus leitores o sistema que Grebe diss

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M A G I A D O F O G O

ter experimentado e de cuja eficácia o Dr. Moorne tece

os maiores elogios.Creio que foram os trabalhos de Artephius, de Si'm5o ó Mago e de Alberto o Grande que contribuirampara o alicerce do que hoje podemos classificar a verda-

deira piromagia. Mais tarde, a 15 de fevereiro de 1677,«L e J ournal des S av ants» deu- nos, enfim, a prime ira

e x plica do científica das m a nipu la te s do ferro em brasa,de vida inteiramente à traigào do criado de Richardson,

o primeiro ilusionista europeu que descobrira, na realidade, um processo engenhoso para nos defendermos dofogo (1), Èsse processo, deficientemente exposto em li-vros contemporáneos, mostra- se perigoso e mau, porqueOT seus plagiadores, desconhecendo a razSo científica dofacto, limitam os ensinamentos a fórmulas imprecisas evagas, o que pode conduzir ao èrro e por isso à propria

morte. Nenhum dos autores, para melhor ocultar o plàgio, se refere ao «J ournal des Sav ants». Ex ceptua- sedesta pleiade de ladròes o grande Robert- Houdin, masaté o insigne Mestre, depois de nos agujar o apetite deestudarmos a obra, absolutamente «introuvable», mudaabruptamente de assunto, sem nos fornecer o mais li-geiro detalhe sóbre o magnífico sistema, Eu nSo procederei assim e em lugar adequado, na segunda parte déste

(1) «Le J ournal des S çavans», chez Pierre Witte, ruëSaint- Jacques, vis-à- vis de la ruë de la Parcheminerie, à l ’ A ngeGardien,1que se publicou em Paris, «avec privilege du Roj*«desde 2 de Janeiro de 1675 a 21 de dezembro de 1682. Desta magnifica obra existera très ediçSes : A primeira (1675) insere o curiosissimo estudo a pâg. 41 e seg uintes ; a s eg unda (1677- 1680) publi-

ca- o a pâg. 97, 102, 147 e 148; a terceira (1680) dâ- nos o mesmob lh â

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m a g i a d o f o g o

livro, focarei as próprias palavras do vil criado deRichardson.

 A pós a traigoeira r e v e lado, todos os lív ros modernos que abordam a piromagia falam do ácido sulfúrico,mas s5o tam estúpidos ñas afirmagoes produzidas que,se Ihes déssemos crédito, morreríamos logo a seguir á

«xecu^áo da experiéncia! «Carteira de satan», porexemplo, aconselha, como veremos mais adiante, africcionar o corpo todo com ácido diluido em água, para

podermos, sem perigo, entrar num forno de padeiro! SeDavid de Castro soubesse quais sao as fungoes do ácidoe porque é que se utiliza em determinadas propor<;oes,

nunca daria aos seus leitores conselho tam criminoso,

Mas éle ignorava tudo sóbre a piromagia e foi a suaignorancia que o levou a ensinar um sistema, infelizmente copiado por outros autores, que obtura os poroscutáneos e dá origem a uma das mortes mais horrorosasque se possam imaginar. Citei, de propósito, uma obra

portuguesa, mas nao oculto que no estrangeiro ainda asüá muito piores.

Os próprios livros especialisados, como «Mysteriesof fire», de Barnello, e «Feurzauber», de Conradi, que

tratam ex clusivamente de piromagia, pouco tém quenos merega aten^ao. Conra di ensina- nos só brincadeiras

sem valor alg um e Barnello, apesar de tóda a s ua com-peténcia no ass unto, mostra- se res erv adíss imo, salv opara aqueles que, dirigindo- se- lhe, prov em nSo fazer

questao de prego,.,«Magia do Fogo», que é um livro escrito pelo autor

a pedido do I. I. R. S., tem outros objectivos, porque sedestina a ser uma auténtica obra de estudo.

M, O,

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P R I M E I R A P A R T E

luta pelo prestigio — Fôrça, Inteligência

e V irtude — Orig em dos domadoresdo fogo — Auténtica virtude e virtude

ficticia — Funesto pres tigio de requintada seduçSo — Pegar em ferrosem brasa com as mâos nuas, pô-los

em cima dos cábelos e em directo contacto com o rosto

— Um homem queimado vivo — 0 delirio do brazeiro —Pisar brasas com os pés nus — Danças de loucura —CremaçSo oriental — Destruïçâo, pelo fogo, de um grande<bruxo>, que ressuscita momentos depois do sacrificio— Hipóteses e conjecturas — T es temunho de v iajantesilustres — 0 que escrev em os jornalistas e a firma m osescritores — 0 que pensam os sábios que v isitara m o

Oriente — Confissâo ex traor dinária de uma aïss aua —

ExplicaçSo científica do mistério.

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12 - M A G I A D O F O G O

I

 A luta pelo prestigio

Segundo as leis de persistència do mais forte sóbreo mais fraco, logo no inicio da aparig5o das espécies,cometa imediatamente a fazer-se urna rigorosa selecto,

 A luta com os elementos, com as feras e com o pròprio

homem fornece, após tremendíssimas pelejas, a ragapura dos valentes, dos ousados, dos atletas e, volvidosuns tempos, dà orig em ao prestig io pr imitiv o — na suaforma mais natural, sem deixar, contudo, de ser tambéma mais gross eira : 0 animai mais forte ensaia impór- seaos mais fracos pela energia brutal dos seus músculos,

o poder dilacerante das suas g arras , o impèrio esmaga-

dor dos seus dentes.É o «prestigio da fórga» que nasce e a fraquezacomega a compreender que é indispensável respeitar.

Surge entSo, na raga humana, o primeiro soberano,que exige pesado tributo e impoe aos seus vassalos amais degradante escravidao, Mas, com o rodar dos tempos, os anos enfraquecem- lhe os músc ulos, as garrastornam- se- lhe trémulas e os dentes, já abalados, nao lhe

merecem a confianza de outrora. O «prestigio da fórga»vai, pois, ainda que pouco e pouco, aprox imando- sede zero.

E o tirano, covarde como todos os fortes em declínio

que abusaram do seu poder, comega a notar dentro desi o fantas ma tremendo de pavor. Cerca- se entao de vassalos robustos e fiéis que, em paga de tentadoras mer-cés, lhe juram fidelidade eterna e garantem que o podersó lhe será arrebatado por quem conseguir, primeiro,

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destrtiir- lhes as próprias v idas, Mas a ascensSo cria imprev istas neces sidades ; e desejos inéditos, acompanha-

dos de ambigoes nunca até ali sonhadas, tecem a conspirado. Urna ànsia enorme de grandeza cometa a ger-minar- lhes no peito e, em conse qüéncia diss o, a calumaabjecta e v ii é posta ao se rv ilo da intrig a — que tudoconsporca e desv irtúa. A revolugào estala e o detentor do«prestigio da fórga» é abatido, como reptil que se despresa, a golpes horríveis de silex. A luía continua e comeia a destruígao de todos os obstáculos que se oponhamàs ambigoes daqueles cérebros em fogo. Os próprios lu-

tadores, num delir io crescente de triunfo, aniquilam- seuns aos outros — até se v er surg ir de entre éles o «spe-cimen» da raga que mais coragem ou mais traigáo reve-lou. Éste, após a vitória, empunha por sua vez o látego

do comando e impoe- se, como o outro, pela fórg a bruta ldos seus bragos e a crueldade sanguinària dos seus instintos. Contudo, o declínio espreiía- o e èie comeg a a

compreender, pelo pròprio ex emplo, que será tambémesmagado logo que a energia dos seus músculos tenha

deixado de existir,E temos, natura lmente, por conseqüéncia lóg ica

dos factos, o primeiro lampejo da inteligencia. Eia, paramanter o «prestigio da fórga» e prolongar o seu impèrio,

cria ent5o o prime iro «g abinete» de sub- chefes, que afungSo torna odiosos e a ligagSo com o poder central —responsáveis, O ar dil comeg a a s urtir os seus efeitos :

Os novos atletas nao destroem o chefe, porque tememser destruidos, também, pelos fortes afastados do poder.

 A ssim, o soberano, já convertido num farrapo do quefora, consegue, sem o «prestigio da fórga» pessoal, continuar a ser obedecido, A divisSo criter iosa das res pon

sabilidades e dos odios criara interésses n.últiplos de

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es tabilidade e sSo precisamente ésses interésses , manti

dos em vários graus, que fazem com que os satélitestemendo a treva e o frió, nem sequer pensem em destruir o Sol que os ilumina e acalenta, 0 «prestigio dfórga» comega, pois, a ceder terreno e acaba por se refugiar num plano distante do primeiro.

É assim que nasce o «prestigio da inteligéncia», quse impóe á própria fórga, Umas vezes, poucas, fá-lo coma justiga cristalina da verdade ; outras, muitas, empregpara o mesmo fim a doirada mentira que lhe apraz, Afórga, poderosa e bruta, limita- se a obedecer, visto qulhe é impossível discutir ou criticar: A inteligéncia é

exclusiva detentora da «razao» e a fórga apenas se podegabar de ser a senhora absoluta da «energía» !

E eis os pródromos da política — mixto de intrigasde ambigoes e de invejas,

 A luta — indis pens ável, porque sem luta nao háv ida — manifesta- se agora no campo intelectual, Cs degladiadores já b 5o  se utilizam da fórga nos seus combates formidandos: Preferem a calúnia bem urdida, quedesprestigia o chefe ; a promessa bem arquitectada, que

cria esperangas de império; a sedugSo da grandeza, quefaz delirar os imbecis — que nunca puderam ser alguém

 A revolugao volta a fazer tremer a térra, o soberano éde novo esmagado e substituido por outro, ainda mais

perverso, mais ardiloso e mau. As ligóes da Historia co-megam, porém, a fazer-se notar e o novo chefe principiaa compreender que n§o basta a intelig éncia para se im-por a um povo, como já compreendera o outro que o

«prestigio da fórg a» nSo era suficiente para garantir emanter a estabilidade do mando. Além da fórga, que é

cega, e da inteligéncia, que muitas vezes é surda, era prei i d i i b d d b f j i

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Nàscerà o «prestigio moral» ! A partir dès se mome nto, o homem cometa a im-

pors e mais pela virtude, aliada à inteligència, do quepela inteligència, de m2os dadas com a fórga. E a jus-

tiga, na sua forma mais bela, aparece pela vez primeiraà superficie do nosso mundo. Surge, pois, o verdadeirochefe, o auténtico soberano, que sabe dirigir a fórga e

purificar a inteligència, A sua obra grandiosa e bela fazcrer na ins pira r lo divina e a fama dos seus milagr esex celsos, repletos de beleza e de bondade, atrav ess acontinentes,

 A inte lig ència, esmag ada pela v ir tude, já n5o pode ,só por si, ter impèrio sóbre a fórga,

I I

Origem dos domadores do fogo

Notando a sua impoténcia, faz ent5o fervilhar a in-veja ; e, alime ntada pela intrig a, a ànsia de poder e degrandeza volta a germinar em todos os peitos — seden-tos de arrogáncia vil.

 A fórg a, porém, já nada pode, nem me smo aliada aurna inteligència perversa, ao mesmo tempo disciplinadae luminosa, que a seduz com promessas impregnadasde utopia e a leva a visionar, com requintes de preme

ditada maldade, estonteantes momentos de ventura.T udo em v2o, trabalho estér il — que nada conseg ueproduzir.

 A inte lig ènc ia, fur ibunda com a nogSo conscie nte doProprio aniquilamenío, resolve equacionar o problema da

reabsorbo do prestigio. Mas os «dados» de que dispoe

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mostram- se com aderèncias em av angadíss imo estado putrefacto moral. Contado, sàbiamente ordenados, fonecem urna soluggo pasmosa—digna da equagao abjec— ao mesmo tempo inesperada, ass ombrosa e surpreedente !

Ei-la :Competir ía com a autèntica v irtude, opondo- lhe

virtude ficticia : Os seus «milagres», obedecendo ao ctèrio deduzido, seriam muito mais belos, porque, esc

pando aos principios sacrossantos da verdade, nào estriam submetidos às leis edénicas da pureza, Seriam cloridos do modo mais encantador, mesmo que na arqutectura do conjunto se escondesse a maldade, a vilaniao crime.

E foi assim que nasceu o «prestigio da justiga», epecialmente da justiga de alguns homens, de quási todos homens, que sabem alindar a mentira e cobrir de sdas o mal, 0 funesto prestig io nascente, aninhado sombra de verdades da mais requintada sedugSo, cmeta, a partir désse momento fatal da Historia, a guerear a virtude, Os seus triunfos chegam a originar hiptéticos axiomas, que atravessam séculos e séculos coaparéncias de verdade !

Os falsos inspirados, volvidos uns tempos de ensai

levam a ousadia mais longe e, para que os creiam ecomunhào directa com Deus, manejam o pròprio fogocobrem- se com o prestigio transcendente do milagr e. É forma mais grosseira do ilusionismo vii, da prestigiadmascarada com deslumbrantes roupagens de púrpuCom o decorrer dos séculos e após milénios de e v o lumoral, o entrudo maldito cessa em parte e dà origem

urna verdade nua, maravilhosa de beleza e deslu

brante de grandiosidade, — a ciéncia da ilus3o,

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Nascerà, assim, o primeiro «domador do fogo», quenâo guerreia a virtude, nâo se impôe à inteligência nem

deseja o dominio da força.

I l i

 A prova do fogo

Em tempos, felizmente bem distantes do nosso,existia no Oriente um processo «infalivel» de distinguir

o eleito do réprobo. Consistía na «prova do fogo» e narealizaçâo de «milagres». A primeira, satanicamentedolorosa até ao martirio aniquilador da morte, mostravaà turba ig norante e perver sa o «pecador» merg ulhadoem trevas, que era indispensável esclarecer e purificarpelo fogo ; os s eg undos, de urna espect aculosidade quefazia vergar à idolatr ia, impunham- se pela majestadeaparentemente divina das suas práticas sobrehumanas edavam origem a concepçôes fantásticas de admirativo

respeito e de religioso acatamento dos que nâo possuiamainda, e m gr au suficientemente elevado, a s ublime facul-dade de pensar.

Os brahmanes primitivos e ainda muitos dos actuaiscrêm em milhôes e milhôes de deuses, porque imaginamque os livros sagrados dos Vedas garantem que sâo di-vindades os elementos e as coisas. A idolatr ia é, pois,facto naturalissimo entre êles, especialmente há séculos,

quando os próprios animais de sangue branco tinhamhonras de divindades, Hoje, porém, há na Ìndia, comoem tôda a parte, homens inteligentes e cultos. Existemesmo naquele pais de maravilha urna classe de sábioshindús, cujo saber, em ciéncias naturais, por exemplo,ultrapassa era alguns séculos o dos sábios da Europa.

2

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Mas essa nobreza da ioteligèccia sublimada nunca s

mostra, porque nunca deseja o aplauso nem anseia celebridade. Para ésses homens superiores, verdadeiroZoistas de eleigao, apenas uma coisa tem valor — o islamento quási total do mundo, É por iss o que os seuestudos da fenomenologia natural atingem por vezes tgrandeza, que se tornam inconcebíveis para quem os napossa compreender. O seu dominio interno e externchega entao a parecer auténticos milagres aos ignorante

e verdadeiras fraudes habilíssimas aos cerebros cultivdos pelas universidades europeias. Estes espíritos cheio

de luz, após o noviciado («br ahmatc har i»), convertem- sem iniciados («dwidjas»), renunciam a todos os prazeredo mundo, merecendo a honrosa classificalo d

«sannyassi», e acabam por obter sóbre si próprios o maperfeito dominio. Sao, nesta altura, «yatis», que ma

tarde, sem pass are m por «g rihasta s», visto que preferem o celibato, se elevam logo a «gourous» ou chefesupremos de certo númer o de «v anapras thas», «parivra¡jacas» ou «yoghis» de requintado saber.

Quando atingem o ex celso grau de cultura, domoam os próprios «pourohitas» e, passados uns anos, podem considerar- se A deptos, Um déstes grandes génioK oot- Houni, de quem Sinnett e L eadbeater nos tém

dado páginas formosíssimas, recebeu há tempos umcarta de Saint Yves d’Alveydre, o sábio autor de «LMission des Juifs», que lhe fazia um sem número dpreguntas sóbre as ciéncias orientáis,

K oot- Houni, com a bondade sublime que o car acteriza, respondeu em extensíssimo documento, hoje consderado precioso pela enorme soma de ensinamentos qu

encerra. Tenho pena de o n3o poder inserir aqui, roa

é- me imposs íve l fazé- lo, porque nem o lugar é propri

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ñera o espaço de que disponho me permite liberdadesdêsse género. Contudo, para ilucidar os meus leitores

sóbre as minhas próprias afirmaçôes, que podem, semum esclarecimento, ser tomadas como falsas ou extremamente exageradas, permito- me r espigar uns ligeirospassos do notável documento :

«Exora-me que lhe ensine a verdadeira ciência, aparte desconhecida do inverso conhecido da Natura, eentende ou f inge entender que é tara fácil a res postacomo a pregunta !

«Parece- me que vossa ex celência nâo faz uma idéiaexacta das terríveis dificuldades que haveria a vencerpara expór, mesmo os mais simples elementos da nossaciência, àqueles que foram vasados cerebralmente nomolde dos métodos comesinhos das ciéncias ocidentais.Nâo repara em que, quanto mais se julg am conhecedo-res dos segredos de umas, menos estáo habilitados paracompreenderem a outra.

«Realmente, qualquer homem apenas pode pensarconsoante a rece ptividade da s ua categ oría intele ctual ese nâo puder ir mais além, como tem sucedido no oci-dente, será forçado a acatar os velhos erros em que labora e continuar, de olhos quási vendados, na estreitaesfera cultural em que gravita.

«Permita- me a liberdade de citar alg uns e x emplos.Em conformidade com as ciéncias ocidentais, os senho-

res apenas reconhecem uma energía cósmica. Nâo nota-riam, por isso, nenhuma diferença entre a fôrça v italdispendida por qualquer via jante, que afas ta dos cami-nhos os silvados que lhe dificultam a dolorosa marcha,® o mesmo equiva lente dinámico gasto por um sábio que,apos muitos anos de estudo e de canseiras, poe, final

mente, uma péndula em raovimento. Nós sabemos fazer

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essa d is t in to ; sabemos que ex iste um a bismo entre

viajante e o sábio.«Um dissipa e arruina a fórga, sem nenhum ou

quás i nenhum proveito ; outro concentra- a e armazena- aNesta altura convém notar, para boa interpretado dmeu pensamento, que de for ma alg uma aprecio a utilidade relativa dos nossos dois homens, como poderia supor- se. No pr imeir o caso ex iste simplesmente emissSde fórga impensada, sem que esta últ ima seja v oluntária

mente transformada numa forma mais elevada de energia mental; no segundo caso, nota-se justamente o contràrio do que se observa no primeiro. Mas nao vá, peloque afir mo, tomar- me por qualquer nebuloso metafis icovisto que o meu objectívo foi ùnicamente o de formulaa síntese que segue :

«Quando um cérebro trabalha de forma absoluta

mente científica, a conse qüéncia da s ua mais elev adactividade intelectual é o desenvolvimiento, a e v o lu t o duma forma sublimada da energia mental e esta últimacomo poderia demonstrar, produz na actividade cósmicresultados ilimitados. Por outro lado, o cérebro influenciado por uma ciéncia puramente mnemotècnica, nSsabe criar e funciona automáticamente, apenas armazenando ou acumulando um deter minado equivalente d

energia bruta, absolutamente improdutiva tanto paraindividuo como para a humanidade.

«O cérebro humano é um gerador inesgotável deuma fór?a cósmica da espécie mais delicada e superioa tódas as energías brutas da natureza física, O Adepto

completo é um centro de emanado, do qual irradiarafór?as pasmosas, potencialidades formidandas que, d

correlad« em correlado, penetram nos próprios ciclodos tempos futuros ! Se conhecesse as propriedades ma

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ravilhosas da «akasa», agente muito mais sùbtil e infinitamente mais poderoso do que a electricidade, poderia

utilizar- se da sua energia pasmosa e compre enderiamuito melhor o que acabo de revelar.«A industriosa formiga, a activa abelha, o pàssaro

que constrói o ninho, acumulam, no grau das fór^as deque dispóem, tanta energia còsmica era determinadosentido específico da Natura, como Hayden ou Platào ouainda como um simples lavrador conduzindo a charrúaou coihendo os frutos dos seus campos. Mas o calador

que mata por prazer ou o positiv ista que fatiga a men-talidade a provar que -f- X + = — (1), èsses perdema energia còsmica, tal como os tigres dos juncais quandosaltam sóbre a présa.

«Eis a chave do mistério das faculdades que tem océrebro humano de projectar e tornar sensíveís, no

mundo chamado inv isív el, as fórgas que o seu poder

criador gerou e faz surgir dos elementos do mundo queno ocidente ignoram¿

«O Adepto nada cria de novo, mas utiliza e apro’'veita os mataríais que a natureza acumulou em tornodéle e que, durante eternidades, revestiram tódas asformas possíveis, conhecidas ou ignoradas, que chega-¡ram até nós ou, por transformares subtis, se diluíram

(1) Como a multiplica cáo alg ébrica + X + nos dá um.produto positivo, nao negativo, devemos concluir que toda a ener.gia tendente a propagar o erro, mesmo que ele se deva á ignorancia do autor e, portanto, a má fé possa ser inteiramente posta departe, influe no «cosmus- vital» em sentido diametr almente oposto,lsfo eni Tez de cr iar e ser útil , destrói e torna- se abjecta. (N.do T .).

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no passado. Resta apenas escolher aquilo de que se c

rece e dar- lhe, em pensamento- fór? a, a ex isténcobjectiva. Mas a educado científica da vontade só agocometa a ser conhecida no Ocidente ! (1).

«Os sábios ocidentais , por se imag inar em detentres de tóda a ciéncia do Universo, reputam certameno que fica dito como auténtico sonho de um infeliz a

cinado.«Afirmam os senhores que poucos ramos da cién

deixam de lhes ser familiares e julgam poder ser útá humanidade, grabas as capacidades que conquistaraem muitos anos de trabalho e de estudo ? É possívmas permita- me vossa ex celéncia que eu esboce aíncom mais clareza a diferen^a que existe entre os pcessos das ciéncias que reputam exactas, embora muivezes o fagam por mera delicadeza, e os métodos d

nossos filósofos.<Tais métodos, como vossa exceléncia certamen

nSo ignora, saie m do habit ual e negam- se, por isso

tóda a verificado vulgar do «controle» grosseiro a qos querem submeter. O facto, como deve ser do seu

nhecimento, lev ou T y ndall a classificá- los entre as h e s da poesia, o que faz crer que as ciéncias das c

sas físicas se acham, no Ocidente, condenadas sem missao a uma prova absoluta. Entre nós, pobres filatropos ignorados das multidoes, nenhum fenómeno

qualquer destas ciéncias é interessante, senao em ate

(1) Zoismo Superior , conhecido no Ocidente desd

para o qual nao há Iivros de ensino colectivo, mas únicamente cionaQÓes redimidas de propósito para um estudo individual ab

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gSo à sua capacidade de produzir efeitos moráis — e narazáo directa da sua utilidade humana (1). Ora que maisindiferente pode haver para todos e para tudo, que de

menos necessàrio seja para quem fór e para o que fór,do que essa ciéncia materialista dos factos, no seu isolamento desdenhoso de tudo quanto se ignora ?».

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«No Oriente sabe-se que a energia còsmica è «urnacoisa» eterna e incessante e que a matèria, apesar dateoria electr ónica, continua a inostrar- se indestrutíve l. Eos factos científicos, tal como os observ am, nào ultra-

passam jamais éste limite ! (2), Contudo, tóda esta nomenclatura de factos científicos nunca pòde fornecer aos

investigadores urna unica prova de que, na sua miste

riosa «consciència», a natureza prefere que a matèriaseja mais destrutiva na forma orgànica do que na inorgánica. Nenhum facto material e materialmente observado póde jamais negar que a Natura trabalha lenta,mas incessantemente para a eclosao da vida consciente

— de que a ma tèr ia inerte é apenas um denso véu.«Disto resulta a profunda ignorancia dos homens de

ciéncia do Ocidente sobre a dispersào e concentrado daenergia, encarados debaixo do ponto de vista liiperfísico.

 As des inteligéncias sóbre as teorías de Dar w in e sóbretóda a biologia ; as incertezas re lativ amente ao grau devida consciente contida nos elementos, nos estádios dis-

(1) Carrel, um dos maiores cerebros do Ocidente, demons-tron já que a ciencia, desconhecendo inteir amente o homem, tem--Ihe preparado um »meio» improprio, em que ele, como se sabe,difícilmente pode viver ! (N, do T ,).

(2) A constituícao atómica da anti- matéria continua, por®ra, uta autentico enigma para os sábios ocidentais.

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tintos da substancia: o despréso por todo o fenómen

que se permite saír da esfera da classifica<;5o vulgar eá fortiori,  por tudo quanto o cientista do Ocidente nasabe nem pode compree nder — s3o as causas principáida ignoráncia do excelso mundo de fór^as, cuja existéncia os senhores nao podem admitir, porque estSo infin

tamente longe de compreender.

«Nós, orientáis, vemos uma enorme diferenga entr

duas qualidades de duas quantidades iguais de equivalentes dispendidos por dois homens, dos quais um, supunhamos, caminha tranqüilamente para o trabalho quotidiano e um outro que se dirige para qualquer esquadrpolicial, afim de denunciar um seu semelhante,

«Para os cientistas do Ocidente nao existe entrambos diferenga alguma!

«Nós fazemos, ainda, outra distingo específica entr

a energía do vento e a de uma turbina. Porqué ? Porquena sua evolu^áo invis íve l, iodo o pensamento humanpassa no ponto onde a natureza física representa precsamente o inverso e torna-se, por isso mesmo, uma entdade activa, associando- se, unindo- se intima mente , comum elemento especial, isto é, com uma das formas sem•intelectuais dos reinos da vida. Éste pens amento sobre

vive com inteligéncia activa, como criatura engendrad

pelo espirito, durante um período mais ou menos duradouro e proporcional á intensidade da acgSo cerebral qua gerou, É , pois, fácil de concluir, pelo que acabo dex pór, que um pensamento bom, tal como um pensament

mau, tem o dom de se perpectuar e até, em certos csos, o poder de converter- se numa entidade semi- pensante — capaz do bem e do mal,

«Por conseqüéncia, é fácil de compreender, pel

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menos para nos, que o homem povoa constantemente oespado que percorre — de um mundo, a sua imag em,

repleto das exterioriza^oes das suas fantasías, onde seamalgamam os desejos, os impulsos e as paixSes (1).

«Mas, por seu turno, éste meio invisível reage,pela vibrado á freqüéncia conveniente, sóbre tóda a or

ganizad0 sensitiva ou nervosa, proporcionalmente á suaintensidade dinámica. É o que os Boudhistas chamam•sanda» e os hindús de sig nam por «k ar ma».

« 0 A depto cria cientemente formas- pensamento re

pletas de bondade e de bsle za ; portanto as suas reac-d e s só podem ser de beleza e de bondade. Os outrosgeram essas formas ao acaso e é por isso mesmo quen3o passam de joguetes nos acasos aparentemente mis

teriosos do destino»,Koot Houni, depois de nos instruir sóbre a metodo

logía seguida no Oriente para o desenvolvimento das fa-

culdades nobres do homem, sistema ésse que nao temvalor algum ñas nossas latitudes, porque o seu estudo

prático é absolutamente impossível entre nos, prosse-gue (2):

«E eis a raz3o porque, devido á nossa esfera científica lhes ser absolutamente desconhecida, nos recusamos a saír do nosso mutis mo e nao per mitimos que ossenhores nos triturem em qualquer das engrenagens daciencia ocidental. N a o compreendemos como os senhores

podem afirmar que o calor é apenas um modo de moví*

(1) Zoismo Snperior.(2) Compreende- se que no Ocidente nao se possarn empreg ar

os sistemas orientáis de desenvolvimento do ser. Por isso existemoutros («Neohipnotismo- Zoismo*) especialmente estudados para asaossas latitudes (N. do T.).

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mento e que o movimento gere o calor! Sendo assim

como é poss ivel explicar- se a raz3o pela qual o mo vmento mecánico de urna roda que gira sóbre si mesmatenha na ordem hiperfisica, um valor mais alto do quo calor ero que se transforma e absorve gradualmente?

 A s ciéncias ocide ntais nao resolveram ainda éste s ing ular problema !

«A no^o transcendente dos orientáis de que o pro

gresso final do trabalfao da humanidade, auxiliado pelaincessantes descobertas do hornero, há- de chegar a im itar a energia solar e que désse tacto hSo-de resultaenormes vantagens para todos os habitantes da Terra, menor das quais será, por exeruplo, a transformado dmatèria inorgànica em elementos nutritivos, parece, comcerteza, absurda no Ocidente. Mas se o Sol, o grandalimentador do nosso Sistema Planetàrio, convertessos frangos em carváo e o fizesse de modo acessível observad0 e à experiéncia, os sábios do Ocidente aceitar iam o fenómeno como um facto científico e nao lamentarían! o despovoamento dos galinheiros nem perderiam tempo a estudar se a misteriosa conversáo privaríde alimento os homens que tém fome ! ;T odavia, se umShaberon atravessar os Himaláias em tempos de seca

multiplicar os sacos de arroz, para impedir que pere^amas po pula da s famintas , como pode certamente fazé- lo

entáo, como o íacto náo foi submetido ao «controle» docientistas ocidentais nem mostra nenhum acórdo com

que éles estudaram ñas suas universidades, tais efeitomaravilhosos seráo atribuidos ao lirismo de qualquepoeta sonhador ou a exagéro ou inexactidáo da pesso

que os descreve. Seria até possível, se o facto a qu

aludo fòsse dado como real, que os magistrados ociden

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tais mandassem meter na cadeia o miser o Shaberon —para que èie confessasse de onde roubou e como roubou

o arroz !«Eis no que consiste a vossa ciéncia ocidental, a

vossa sociologia positiva e . . , pràtica !». A pós urna ex te nsíssima li? ào, que conclue afir mando

que os hindus, logo que se capacitem da boa fé dos oci

dentais, trar ào o problema à luz do dia, Koot- Houni continua :

«Quando se lhes provar que as velhas manifes tar e s de ordem divina n5o eram milag res , no sentido vul

gar do vocábulo, mas sim resultados científicos de ordemtranscendente, a supersti?5o científica ocidental cairà porsi mesma — sem que ninguém a empurre.

«Quando a vossa atitude mudar perante a nossa remota intele ctualidade, os príncipes da Ìndia nào deix a-rào de fundar escolas para a educalo dos «Pundits» eos velhos e preciosos manuscritos, até hoje inacessíveisàs pesquizas dos europeus, surgiráo de novo à luz do día

e néles se encontrará a chave de muitas coisas que durante séculos e séculos tém permanecido ocultas às in-teligéncias do Ocidente. A ciéncia lucraría muito comisso e a humanidade também»,

Rcsolvo ficar por aquí,,. porque a carta é enorme

e o lugar dos mais improprios para a sua transcribí0-0 que fica exposto é, contudo, suficientemente claro paracorroborar o que afir mei. Compreende- se, por ém, que

um Adepto nào é um homem qualquer — que se exibañas rúas ou queira falar em público. Evidentemente que

n3o se trata de fakires, dessa plèiade misteriosa de pobres e miserandos hindus que, em troca de meia dúziade moedas, executam ao ar livre os seus mais extraor

dinarios «prodigios» do ílusionismo de outrora. Os seus

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«tr ucs», todos de e x plica do singe la, sSo o seu un

ganha- p2o. Só as s im se ex plica que, nào sendo maos íakires nao hesitem em matar, se lhes surpreend

um segrèdo e demonstram que podem realizar pdigio idèntico ao seu. Mas estes pobres diabos, cpaciéncia natural chega a fazer pasmar os próprmestres do ilusionismo, só me interessam, de mmento, no que diz respeito ao fogo e, neste capítulo, hindus de há milénios sSo-lhes infinitamente superior

porque também o eram na maldade, na inteligencia e cultura que os seus altos cargos exigem.

Para que se ajuíze da minha pref erència e se apra mínha escolha, bastará seguir com ateneo as cetre mendas que descrey ó, Comeijarei pela autèntica p ndo fogo, por èss e martir io destruidor, cuja lembran

s ó por si, parece fazer g er minar dentro de nós os

dromos arrepiantes da loucura !

*

* #

Numa tarde escaldante de sol vertical, do enortemplo politeísta Bhrahmane, um pagode rendilhadolindo, saíam para o recinto da «prova decisiva» os m

tores da humanidade de entSo, Indumentados com drante grandeza e rostos car minados de sábios atlanque havia milhares de anos tínham desaparecido

T er ra, éles faziam- se conduzir, como deuses, em «hdahs» de metáis preciosos, recamados de pedraria raa tribunas construidas em alabastro e atapetadas c

tapetarías multicores de uma riqueza incalculáv el.

pseudo hereje — um desgranado em quem recaíra o odos grandes da época— já se achava, prèso com gros

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cadeias de ferro, no torturante recinto do sacrificio sa

grado. A mult idào ig nara, incons ciente do seu poder e da

sua re sponsabilidade, apupav a com barbar ismo inconce-bível o infeliz condenado à destruido pelo fogo !

E m dado momento a chusma agitava- se nervosa,

como se fòra na realidade um mar imenso de caberas.Ouvira-se, là ao longe, o rufar prolongado de tambores,seguido das notas ag udas dos clar ins, que anuncia-vam para muito breve o inicio tam ansiosamente espe.rado da tre menda cer imonia. U m tam- tam gigantesco

reduz tóda aquela massa humana a uma quietude quesuplanta a das es tátuas de granito. A músic a, logo a seguir executada em cadéncia misteriosa e cruel, vergatodos ao silèncio e à meditado profunda ; odores exci"tantes, arras tados pela dife ren^a tér mica do ar, ondu-lam em pleno espago, perturbando os pensamentos e

exaltando a razao ; palavras monótonas, ditadas majestosamente por um dos hindús cór de fogo, mergulham a

multidao em hipnótico èxtase e criam um ambiente delouca idolatria.

 A subjuga^áo é total. A pròpria im a g ina do adormece e os sentidos, até ai tam exaltados, comegam aperder o detalhe da sensato exterior. Só notam o con

 junto, um todo impossív el de nar rar , composto de m últiplas sobreposigoes sensoriais , que fazem da inteligén-cia um autòmato e da raz2o um farrapo.

 A voz monótona, lúg ubr e, sepulcral, cessa de fa-zer-se ouvir e um homem s emi- nu, des mesuradamentealto, ossudo e feio, obedecendo a um gesto imperioso de

um «g rihasta». corre para a forja de V ulcano e, comuma tenaz, retira de entre os carvóes em fogo um ferro

totalmente em brasa. A voz do «g ourou», cadenciada e

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misteriosa, volta a fazer v ibrar as moléculas gasosas

espago ; mas, desta vez, com vivacidade e clareza, mtrando a cada palavra, que exige compreensgo e obdiéncia cega :

— A v irtude — ex plica o fingido asceta — distano hornera da matér ia e eleva- o á grandíosidade diviQuando se atinge, tal gloria, nem os elementos ñera coisas nem os seres podem desrespeitar o nosso podinexcedível !

Depois , como quem vai submeter- se a urna prode excepcional envergadura, prossegue :

— Este pedazo de ferro vírg em, que o fogo incdesce e devora, nao pode ser tocado por m5os humnas, que nSo sejam, ao mesmo tempo, as de um sábio

de um deus, era perfeita comunhao com a DivindaSuprema.

E, num gesto de triunfo, o pseudo «gourou» q

assumira a presidencia da cerimóaia, arranca com próprios dedos de entre as garras da tenaz o pedago ferro chamejante. A água fria, posta era contacto cele, ferve com enorme ruido. Apesar disso, o «graniniciado» que o aperta ñas mSos, passa- o, sedeoto prestigio que se imponha. por tódas as partes nuas seu corpo. A seg uir, como ente super ior que preten

demonstrar ser, poe-no repetidas vezes em contacto co

a própria pele do rosto e deixa- o em repouso, duranmais de tr inta seg undos, sóbre os seus cábelos

ébano ! A concluir , num rápido movimento teatral, aco

panhado de um gesto majestoso do mais profundo depréso, mergulha- o num vaso de rocha, que um dos esc

vos, momentos antes da conclus5o do maravilhoso

pectáculo, havia enchido de água.

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 A pós a fantàstica cena, todos ajoelham submissos e

curvam a cabega até ao chào. Os clar ins (1) fazem- se

ouvir de novo, a multidSo ergue- se de um pulo, comoimpelida por urna só mola, e o «excelsus brahmane»pronuncia, a seguir, a terrivel sentenza do tribunal. Esta,recebida por todos com o mais estúpido júbilo, declara

fríamente :« 0 hereje, no seu proprio interèss e e para bem da

colectividade, que èie poderia «contagiar», tem de serpurificado pelo fogo.

Depois, num tom piedoso, acrescenta :

«Como o infeliz nSo é um deus nem um «grande

iniciado», perecerá ; mas, em compensalo divina, a suaalma pecadora, liberta da matèria vii, subirà ao reinodos céus»,

Logo a seguir à leitura solene do presidente do«juri», as labaredas comegam a destruir o desgranado,que se debate desesperadamente, prèso por grossas ca-

(1) Par a melhor me fazer compreender, eu procuro subst ituir sempre o instrumenta l de antanho por outro de idéntica fun-(3.0  utilizado em nossos dias, com o qual os meus leitores estejamfamiliarizados. No presente caso, porexemplo, aquiloa que chamoclarins, nao passa de trombetas especiáis e, até em muitos casos,<le simples cornos acústicos — hábilmente soprados por guerreirosatléticos da época. A s ubs ti tui do terminológic a fa cilita tantoa compreensao dos textos, que eu nao hesito em fazé- la, per

suadido mesmo de que, fazendo- a, obtenho a aprova<;áo absolutade todos quantos me léem. De facto, se eu nao empreg asse lingua-íem da actualidade e dissesse aos meus leitores que para se conseguir a incombus tibilida de cutánea bastar ía fr iccionarmo- nos com.uta pouco de <ikaly- mu- já», cometería urna bar bar idade, porque

01s *SrCos dos leitores de «Magia do Fogo» nao sabem sequer o<ine isso é.

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deias de ferro, no rim o de urna fog ueira enorme. seus gritos de dór sao abafados pelos berros de pradaquela multidao bes tializada e pela música selvagque ecóa no espado, A cabera, já sem cábelos e de rodesf igurado pelo martir io, caíra- lhe inconscientemesóbre o peito e as carnes, calcinadas pelo fogo, comega derreter- se — como banha informe de um animal razio. 0 esqueleto, apenas recoberto de músculos se- devorados pelas chamas, estava pres tes a reduzír- s

montSo de cinzas negras,T udo em redor denunciav a contentamento. A fecom as suas danta s macabra s e a g ritar ía infer nal acompanha o ruido dos tambores e dos mil instrumenex óticos que tomam parte no concérto, achava- se em denio. Os perf umes , com o decorrer das horas, haviamfundido no espago e o ar, saturado por um cheiro escial, tornara- se nauseabundo e predispunha para o

mito. Os selv agens «me v lev is», entre os quais abunvam milhares e milhares de «parivrajacas», asceerr antes, comeg av am a debandar , entoando cánti

monótonos em rigoroso sincronismo entre si. O fogo tinguira- se pouco e pouco e convertera- se lentamenum monte de pó cinzento, onde tilintavam, ao contados pés que a calcavam, umas correntes de ferro, qutemperatura e o fumo tinham mudado de cór,

L á ao longe, na f imbria do horisonte, espreitav

clamo dia.

I V 

Cremagáo oriental

O Sol atingira o ponto mais elevado do céu e co

o facto, naquelas paragens, só se realiza quando o a

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radioso é observado no zenith, os homens concluiram que,

precisamente naquele instante, era meio dia solar. O somdos clarins, anunciando o momento solene, cruza, porordem do astrólogo da córte, o espa?o em tódas as direc-góes e a multidao, vergada a um costume várias vezessecular, cai de joelhos, rostos colados ao chao, em tornodo «recinto sagrado».

É ali que, urna vez em cada ano, se efectúa o tremendo sacrificio de um novo iniciado nos mistérios dotogo.

Do grande templo a Brahma comega entao a saír,em passo ritmado e processional, um imponente cortejo.

No centro de um grupo de magos, composto por numerosos « brahmatcharis », «gr ihastas » e «g ourous», cami-nha, de cabera baixa e mSos cruzadas sóbre o peito, um

 jovem brahma ne, suposto « dw idja » — recém inicia do naMagia,

Por ordem do chefe supremo, um grande número

de escravos circunda o novo «deus», que penetrara no«recinto sagrado», logo após o cerimonial do estilo e aimposigao solene do pseudo «gourou», com fungóes, naquele momento, de um excelso «sannyassi». As paredesque o ocultam, afectando a forma cilindrica, s5o de uma

combustibilidade pasmosa e elevam- se a mais de doismetros e meio de altura. Nesta prisáo torturante existeapenas uma porta, por onde os escravos entram e saiem

constantemente, conduzindo óleos sagrados. No fím, os'grandes iniciados», aqueles que em anos pretéritos ha-viam sido submetidos também a tremenda prova do°go, rodeiam o circuito do martirio e um déles, o que

veste com mais requintado luxo e desempenha as fun

des de «pourahita», penetra no interior. Depois de es- Wrgir com esséncias raras o sentenciado ao suplicio, o

3

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M A G I A D O F O

«x orcista brahmane cai de joelhos e . . . reza se

dado pelos outros, A seguir, lança fogo ao «recinto g r a d o » e afasta- se lentamente, corn a sole nidade que

pôe o acto que acaba de realizar.No espaço ergue- se entâo, no meio de espêssos

los de fumo, grande labareda rubra, enquanto o supre«g ourou» e os seus acólitos, de novo sentados nabuna, onde se agitam ricos «pankashs» (1), entoam c

ticos monótonos e fazetn vergar à oraçâo a chusma latra que os venara,Em menos de quinze minutos aquela pilha enor

de lenhos é devorada pelo fogo. O «dwidja» que

ocultara lá dentro fica também reduzido a cinzas,,. solo do «recinto sagrado» só se vé agora um montáopó negro, salpicado aqui e a li por alg uns v imes indescentes, Do jovem «iniciado» nao é possível des

brir nem vestigios do esqueleto.No espaço ondula uma atmosfera de assombro, q

faz vergar à veneraçâo e ao respeito aquela multiddominada pelo médo,

 V 

O delirio do braseiro

 A uma or dem do «cheik », chefe supremo ’«me v lev is», os «der viches», semi- doidos, penetramrecinto sagrado e saltam para cima do braseiro, qatr av es sam ver tig inosamente, a pés ñus, com profudesprês© pela dôr. A multidáo, a um gesto do «de

che- pachá», invade também o recinto do martir io e, c

(1) Enormes leques de plumas.

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os «mevlev is» e os «derv iches», parece resistir comprazer à incandescéncia torturante do solo.

Momentos volv idos, os «derv iches », detém- se e, aseguir, ao som duma gritaría infernal, comegam a girarsòbre si próprios, como se uma fórga estranha à sua osmantivesse em equilibrio, E os «mevlevis», delirandoem fogo, continuara assim por muito tempo, sem que ocansado a mórte la o brilho dos seus olhos, um simplesqueixume Ihes saia do peito ou o menor gesto de dór se

lhes divise no rosto !

Os clarins tocam de novo e tudo cessa. Na tribuna,em lugar de honra, acaba de reaparecer, misteriosamente, o «brux o» que hav ia sido devorado pelo fogo.Èie, agora portador do título de «grande iniciado»,toma, por ordem do «iniciado supremo», a inteira direct o da festa. E após a ex ecu?3 o de vários prodigios, ti-dos pela multidáo como auténticos milagres, o novo«grande iniciado» póe termo ás cer imónias pública s epenetra majestosamente no templo, onde continuam,com grande imponéncia, as solenidades secretas.

 A grandiosidade ragi- hioghy, r indo ta lv ez da mis èria intelectual dos cr entes, oculta- se agora, descuidada,entre as paredes impenetráveis do seu templo, quegrandes lampadários de ouro e prata, alimentados poresséncias odoríferas, enchem de luzes de mil córes.

Cá fora, como que a médo, as trevas caminham lentamente, enquanto o Sol, envolto em labaredas cfir de

púrpura, mergulha no horizonte.

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 V I

Hipóteses e conjecturas

S3o muitos os livros, especialmente em francinglés e alemao, que nos descrevem as maravilhobser va das no Oriente e atr ibuidas, s em o menor cerce que se imponha, a certas faculdades especiáis d

mendigos que se exibem ñas grandes pravas da índE m nenhum déles, porém, é poss íve l encontrar nmes mo o esbógo de urna e x plica do lóg ica dos factos fora do terreno puramente conjectural da concepto

brehumana.Ducret, para citar só um autor, apresenta- nos

trabalho mágnificamente ilustrado e de uma riqueza decritiv a que se pode qualificar de v er dadeiramente admir

ve l, M a s , . , só nos dá «efeitos» e, mesmo assideturpados consciente ou inconscientemente pela simaginado de poeta das idéias. O facto, vulgaríssimem escritores que sacrificam a verdade á beleza do tilo, nao dev e surpreender- nos, pois é notoria a dificdade com que se luta para se manter o equilibr io belo, sem sairmos da rigidés, por vezes demasiado áridque impóe ao observador uma describo exacta. Só u

Flammarion, com o seu genio prodigioso, seria capaz nos descrever, com f idelidade e for mosura, as suposmaravilhas que jornalistas e escritores se limitam colorir. Mas o grande lírico do céu nunca foi ao Orien

e, por essa razSo, nunca nos descreveu as exibifoes dfakires.

Claro que n3o ponho inteiramente em dúv ida

magníficas descrigoes de Et ienne Ducret. Acuso- o apnas de fantasista e de exagerar consciente on

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queiram ser exactos e n5o sacrifiquem o rigor ao estil

falta- lhes competéncia es pecialis ada, para que á razn3o escape aquilo que os olhos nao véem.

 A pesar do ex posto, eu n5o duv ido inteiramentcomo já disse, das afirmagoes de Ducret nem dos «efetos», embora exagerados, descritos por Vergnaud, Sebrook, Pellenc, Betelson e muitos outros que pisaramde facto, o ardente solo da India. De resto, viajantconhecidíssimos de outrora, tam lidos e admirados com

 W illia m L ayd, conf irmam as cerimónias terríficas a qéles aludem e acrescentam até grande número de po

menores sobre a selv ajar ia de muitas outras, de qapenas focam o lado aparente, por ter sido ésse o únia impres sionar- lhes de modo notável as faculdades se

soriais.Ura dos exploradores inais modernos, o coron

Cooks Lands, depois de nos dizer que nunca acreditñas descrigoes dos viajantes de antanho, acrescenta qo que verdadeiramente o levou á India fóra o exclusipropósito de «acabar com as lendas criadas pela imagnagSo doentia de certos escritores sem escrúpulosCrooks L ands esclarece- nos, porém, num outro livro qu

log o que chegou ao Oriente, a sua opiniSo modificou- sE m r esultado dessa modificag §o, mostra- se ainda m

ex ag erado do que os seus antecess ores. Mas é imposvel pór em dúvida a sua boa fé ao referir-se, por exem

plo, á destruígao total do «inic iado » que, seg undo éressurge das próprias cinzas, «como ninguém é capaz ress urgir e muito menos de compreender» ! ! ! A s sudescrigoes extensíssimas e, portanto, repletas de deIhes, apresentam- nos, com a convicg5o do crente — n

do sábio — tóda a pseudo fenomenología dos fakire

como o «enterrado vivo», á «levitag3o em pleno dia»

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«germinado instantánea», a «desaparigáo no espago», o«mistério da corda», etc., e conclue por nos «instruir»sóbre o «poder extraordinário désses homens sublimes,cuja vontade fantástica chega a desintegrar a matéria»!

É ev idente que se trata de urna o piniáo conjecturale, por conseqüéncia, de nenhum valor prático ou teórico (1). Em «Magia do Oriente», onde estes aparentes misterios sao descritos em detalhe pelo mesmo autor de «Magia do Fog o», analisam- se as várias hipóteses ex postas,entre as quais, a do dominio do «akasa» (2) e a da ex-teriorizagao da motricidade, que só verdadeiros iniciados

podetn fazer, e conclue- se por apre sentar ex plicagoesque merecem tóda a garantía de veracidade, n3o só porque reproduzem os fenómenos enunciados pelos viajantes, mas ainda porque tém a corrobora- las «tr ucs* deauténticos fakires, arrancados hábilmente pelo autor emtroca de outros «segredos» de fascinante exibigao.

No próximo capítulo, ao explicar o «Delirio do bra-seiro», apresentarei uma pequeña amostra do muito quese tem feito, para que n3o reste a menor dúvida de queos fakires, os mendigos do Oriente, apenas executam«trucs» de ilusionismo inferior . Distingue- os, é claro, umdom natural especialíssimo, exclusivo quási absoluto dasua raga — uma paciéncia sem limites. Mas isso n3odeve pasmar- nos, visto que tódas as ragas tém os seuslados fortes e fracos. Os persas, por exemplo, n3o se

(1) Cooks Lands conf unde os vulgar es fakires com. os in-vulgaríssimos Adeptos!

(2j «A kasa» ou «ag asa», fluido cosmo- vital que se acha emtodo o univers o, A sua ma nip ul ado consciente, segundo os Mes-*res hindus, pode produzir maravilhas milhoes de vezes superiores áquelas que os sábios obtém com a electricidade.

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mostram equilibristas colossais logo que saiem

bergo ?!Charles Godard, embora nao saiba ex plicar nos causas dos efeitos observados, há ocasióes em que dv ida — pelo menos da tradigao, A ss im, depois de nfazer um sincero elogio désses homeos singulares qnunca se mostram em público — os A deptos — exp

me-se do modo seguinté :♦ Os fakires, segundo se diz, possuem, ap

sua condigao humilde , o poder de secar os rios e mares, de abater as montanhas, dominar o fogo, as chvas e as tempestades ; de conhecerem o passado, o prsente e o futuro e de encerrarem num círculo mági

todos os espíritos maus do universo».E comenta :« É espantoso que tais semi- deuses nao tenha

feito caír o Himaíaia sóbre as caberas dos conquistad

res mussulmanos e cristaos do HindustáoNMais adiante, referindo- se á célebre feiticeira

 A púlia e depois de nos explicar que ela, segundo a trdigSo, tinha o poder de baix ar o céu, acorrentarTerra, deter o caudal dos rios, fender as montanhas, e

curecer o brilho das estrélas e iluminar o Tártaro, motra- se ig ualmente cético e até um pouco v iolento for ma de ex primir o seu cepticismo que, com mui

razáo, brota da sua inte lig éncia e baseia- se nos factos rgistados pela Historia. Realmente, se uma simplbruxa podia realizar e realizava tais prodigios, como ex plica que nós, s imples morta is, nSo nos sentíssem

dominados por tanta g ra ndios idade ? A própria Terrse aquilo fósse verdade, estaría estigmatizada por sínaeternamente indeléveis de semelhante poder!

Godard refere-se aínda á feiticeira de Petrónío

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diz-nos que ela, segundo certos escritores, podia fazerbrotar água de um rochedo, agitar os mares e secar asflores e as plantas, os arbustos e as árvores gigantescasapenas com os raios destruidores emitidos num segundo

pelos seus olhos de bruxa ! A concluir, como que rev oltado com tanta mentira,,

comenta íora de s i :«Tais gabarolices s3o tam dignas de crédito como as

de muitos fakires».

 V I I

Explicagáo científica do mistério

 A hipótese da vontade, que pode realmente levar O'auto- dominio a um grau ex traordinariamente elevado(Zoismo Superior), é a que os viajantes, jornalistas eescritores, apresentam, na sua quási totalidade, comocausa dos aparentes milagres que presenciaram na

India.Náo posso fazer aqui o estudo crítico da tese, por

que a maioria dos «fenómenos» que a impoem por baseestá fora dos objectivos que motivaram éste livro. Convido, sem me desviar um milímetro da rota que souforjado a seguir, eu posso, mesmo assim, apresentar um

pequeño esbógo do que poderia realizar e, em meia dú*zia de linhas, destruir um érro que já subjugou alguns

cerebros de mérito.

Ora vejamos,. ,Se coloco sóbre a pele um pedacito de gélo, as cé

lulas cutáneas, sensíveis ao fr ió, advertem- me logo de

que o contacto obser vado se acha muito abaix o da te m

peratura habitual do corpo. Se, em lugar do gélo, expe-

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rimento um objecto ligeiramente aquecido, as célul

sensíveis ao calor avisam- me no próprio momento que estao a ser flageladas por elevado grau térmico

de torturante sensato.No primeiro caso, a impressgo sensorial, que se

tanto mais desagradável quanto maior fór o grau netivo da matér ia em contacto, é nítidamente í r ia ; no gundo, que igualmente varia com o grau térmico positique empreguemos na experiéncia, a sensato mostra-s

como nao pode deixar de ser, nítidamente de calor. Sporém, empregarmos instrumentos a temperaturas mubaixas ou demasiado elevadas, entSo nao sentiremos fr

nem calor, mas urna impressSo dolorosíssima que o crebro n5o poderá qualificar, porque as células sensíve

de todos os grupos serSo simultáneamente destruida A dmitamos ag ora que, quer por v ia anestésica v

gar, quer pelo esfórgo de uma vontade poderosa, con

guimos uma insensibilidade absoluta. Neste caso, comfácilmente se compreende, nao sentiremos sensato guma, incluindo a da própria dór (1).

(1) Mas a Dór — quem o ignora ? — é a parte mais noda sensacào. Se a Dór nào existisse, a moral, tal como a conhemos, nào existiría também. A própria filosofia dos povachar-se-ia deturpada e as ciéncias biológicas, incluindo a arte

curar, apresentar- se- nos- iam com bar reiras impossíveis de vencRobustece o que afirmo o facto notável, imprevisto, s

preendente, que descrevo a seguir : Walter Eas ler, jovem ame ricano nascido no Estado de Oh

gozava de um privilègio fantástico, — Era insensível à dór, Cmavam- lhe até a . , , «pregadeira de alfinetes». Com essa clascacào espectaculosa, ex ibia- se em público, org ulhoso da suasensibilidade e das quantias enormes que os emprezários lhe gavam.

De facto, podiam reta lhá- lo à v ontade que o jovem art

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E que conclus5o poderemos tirar do facto? Seremos capazes, por nao sentirmos a dór, de pegar em

ferros em bras a ? Náo, porque o acto é urna coisa e asensagSo é outra, Mesmo que esta se domine, aquéle

produz os seus efeitos e, em conseqüéncia déles, fica-ríamos com as m5os devoradas pelo fogo.

Parece demonstrado que os cadáveres n3o sentem. Apesar disso, no forno cr ematorio, sao convertidos emcinzas. Pinóchio nSo sentia, porque era de pau. Mas asua curiosidade ia- lhe fazendo perder o indic ador di-reito !

Fica, pois, demonstrado que a vontade, por maispoderosa que seja, nao serve para explicagao do fenómeno ígneo apontado, visto que a insensibilidade n3oevita a destru'ígao dos tecidos dérmicos — nem a dospróprios ossos — postos em contacto com o fogo. A dmitirque a vontade influe na própria chama e lhe diminue a

temperatura, é érro aínda mais grosseiro, porque, se talse pudesse realizar fácilmente, nunca o fenómeno pode-

nada sentia. Um médico seu amigo, aterrado com semelhante anomalía, chegou aconselhar- lhe cuidados especiáis, pois te mia queurna enfermidade, sem se fazer anunciar pela dór, o pudesse aniquilar.

O médico tinha r azâo : Walte r Easle r fo i atacado de apendi-cite ; mas, como a sintomatologia da doença dormitava no sistemanervoso, o insensível continuava a folgar e a rir, como a pessoamais ditosa do m undo ! Um dia, inesperadamente, faltoa- lheforça para se levantar da cadeira onde, havia momentos apenas,se tinha sentado à mesa,

Surpreendido, Easler preguntou a si mesmo :— Mas que diabo tenho eu ? !E foram as suas últimas palavras, porque a morte, rápida,

ulminante, nem lhe deu te mpo a despedir- se dos amigos !

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ria ser classificado de ordem ígnea, mas únicamenteexteriorizado da motricidade humana (Zoismo) ouconcentrado de certa fórga («akasa») — manejada phomem. Estará essa fenomenología ao alcance dos mdigos do Or iente ? Deas nos liv re que ass im fósse, que até o dire ito inter nacional cheg ar ia a sentir- lhtremendíssimos efeitos !

Resta- nos, portanto, o aux ilio da química e da fou, se quiserem, o do ilusionismo puro, do «truc»

genhoso ou simples, natural ou cheio de artificios técos, para explicarmos e podermos executar essas traordinárias maravilhas do Oriente.

Comegarei, para ser metódico, pela tremenda «pdo fogo>. Depois, sistemáticamente, explicarei o re

*

*

O sacrificio, que foi um verdadeiro crime e

eloqüentemente do fanatis mo e da estupidez incomen

rável da época, nao merece a minha ateneo ; as mpulares teatrais, feíías com o ferro em brasa pbrux o sedento de prestig io, e x plicam se em po

linhas :

Os Vedas conheciam um mineral de propriedacuriosíssimas, cujo nome nunca foi escrito, porqueera confiado, de geragao em geragao, aos grandes indos na Magia. Ésse mineral, extremamenie oxidárelcontacto do ar, nSo era duro e podia ser fácilmeconvertido em tiras com um simples objecto corta

 A s partes cortadas mostrav am- se de uma brancur

prata polida, maravilhosamente linda. Volvidos uns d

perdiam, porém, tóda a beleza e chegavam até a pó

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nho como o da incandescéncia pura! O ferro assim

parado er a entao posto na forja, entre o pó e as pede carv ao, mas distante do núcleo ígneo, que poddestruir o artificio.

Q u a n t o ao resto — pegar néle com a tenaz ou c

as m5os, pó- lo sóbre os próprios cábelos e em estrcontacto com o ros to — , é «teatro* que eu, para alongar o capítulo, me abstenho de e x plic a r ,. . se

g uma e x plic a do merece aquéle ilusionismo v il. Que

 A cuidades pode remos encontrar ñas m a nipula r e sdescritas, sabendo, como sabemos, que se trata de ferro a  temperatura ambiente ? Só estas, que se sinzara numa única pregunta :

Que produto curioso era aquéle, cujas propriedas3o tam notáveis e que só os hindus iniciados na Mdemonstravam conhecer ?

Em linguagem moderna, a substáncia misterdos V edas chama- se «sodium- metal» (1), Os óessenciais n5o o oxidam e portanto, depois de conientemente coloridos, podem pintá- lo como quisermQuanto as palhetas rubras, fulgurantes, elas cbamamentre nós simplesmente papéis de estanho, prepara

de forma especial para simularem a incandescéncia. contram- se, em abundáncia, em todos os bazares

brinquedos. Certas pontas de charutos que inundam

(1) O «potassium» tem as mesmas propriedades, acomo elevado número de «piróforos», obtidos por calcinacomo os de Sérullas, de Decrepas, de Glauber, etc, Creio até no Oriente, ignorando a existencia daqueies metáis, o «sodiuo «potassium», isolados na Europa há pouco mais de um sécse utilizariam, como os Mestres antigos do Ocidente, de «pir

ros» semelhantes aos dos sábios que cito. O «sodium», pore

slo, só foi isolado, por Davy, em 1807.

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mercados por ocas iào do car naval, tém entre a pasta

branca que finge de cinza, vários pedacitos de estanho—

para darem a ilus ào de a ce s os .. . sóbre urna toalha devalor. Fragmentos de lantejoulas vermelhas podemsubstitui- los, porque a ilusS o da incandescéncia mos-tra-se igualmente fiel ao efe ito que se pretende obter,

0 processo, corno se vè, é de um engenho admirà*vel, mas os ilusionistas do Ocidente dispòem de coisa

melhor, visto que podem operar, como explicarei a seatempo, com auténticos ferros em brasa. No capítulo prò

prio veremos e pasmaremos da singeleza do «truc». Agora, par a le var tudo a seg uir , vou dedic ar umas

linhas à «Cremalo Orientai»,

*

* *

Comecemos por nos lembrar que o futuro «grandeiniciado», como verdadeiro espirito de eleigáo, indiferente ao martirio e às grandezas do mundo, se achava

ligeiramente vestido : Nos pés, umas humildes sandáliasde escravo e, a resguardar- lhe o corpo dos ardentesraios do sol, urna tùnica branca muito longa, que ia dacabega ao chao.

Cábelos ao vento, porque se achava sob urna especie de pàlio, o herói do dia, num gesto de extrema re-

signagao, penetrara com passo firme no recinto dos

sacrificios. Porém, logo que se viu oculto pela improvisada muralha, deu aos olhos a liberdade de brilhar e aor°sto a de sorrir, Um escravo fingido, prèviamente misturado com os outros, sorria também.

Quando tudo f icou concluido e os escravos, após acolocagào das essèncias raras, comegaram a sair do re-

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cinto, o «iniciado» tirou a bata nura relámpago e c

verteu- se num dos servos que tinha m abandonadedificio de vime,

Compreende- se que a bata branca tinha apcomo objectivo ocultar a indumentária de escravo qupseudo bruxo vestirá, Depois de se livrar do disfa

que ficava na barraca, enquanto o colega que ia rlá dentro nao o trazia oculto ñas vestes, o novo esc

abandonav a o recinto e misturava- se com os ou A seguir a éle, safa o escrav o cúmplic e, que era, cse compreende, também um dos grandes da época.

Entre vinte ou trinta escravos, nenhum dos pretes, nem mesmo europeu, seria capaz de notar mais Ora ésse «um» era precisamente o «bruxo» que, lapós a destruido das paredes de vime pelo fogo, recía na tribuna ricamente vestido e com as ord

d e , , . «iniciado supremo» !

*

* *

E só resta, para ex plicar todos os «mistér iofogo* que descrevi, expór também os segredos do «

lirio do braseiro».Estes, naturais, sem artificios, vamos nós ouv

dos próprios lábios de um auténtico fakir, A i por 1913 — tinha eu quási dezóíto anos —

sembarcou na Corunha uma «troupe» de fakires, um emprezário alemao trouxera em «tournée» pEuropa, Lembrando- me do que fizera K ar l W illm annSns do século X IX , eu quis, em circunstancias idénti

obter éx ito seme lhante, Meti, pois , ombros ao

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grande investigador berlinense, a compreensao da línguados fakires constituía urna díficuldade que se me afigu-

rava, a cada momento, ve rdadeir amente inve ncível. A s impatía dos pobres diabos tinha- a e u ang ariado já, querpela convivéncia no Teatro Rosália Castro, onde me da-vam acesso livr e, quer pela ex ecugao, propositada-mente espectaculosa, de algumas ilusoes pseudo orien

táis — que os enchia de assombro.Muitas vezes, a julgar pelo que eu supunha, fa-

ziam-me grandes preguntas a respeito dos meus «se-gredos», Porém, como os nao podía interrogar, paraestabelecer permuta — o que é o egoísmo ! — nunca mearrancavam coisa alguma.

Um dia, depois da hipnotizado quási instantáneade um coelho, tentei fazer- me compreender e durantemais de meia hora atirei- lhes com todo o me u «latim-- mímico» — sem re sultado a lg um I

Desesperado, prestes a abandona r tudo, lembrei- mede que se matriculara havía pouco no Instituto um ra

paz indio, filho de espanhóis. que tinha nascido ñas re-¿ioes escaldantes do mister ioso Oriente, L embrar- medo simpático mancebo e corr er a solicitar- lhe que meservisse de interprete foi quási urna única coisa. Mas osfakires ex primiam- se num dialecto horr íve l e o pobred<» indio, n5o obstante os s eus esforgos e a boa vontadeQue puDha ñas suas fungóes de tradutor, só ao cabo de

muito tempo cons eg uía compreendé- los e fazer- se com-

preender, Enf im, depois de um trabalho fatig ante quesena longo narrar, eu propuz aos orientáis a troca de vá-

nos *t°urs», Zangaram- se e iam cortando relag oes co-mig° por eu os supor.,, ilusionistas !

Iratei de ser amável com éles e fingí acreditar no

u poder sobrehumano, V oltei a ganhar- lhes a con-

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fiança e a apossar- me, de novo, da s ua interes seira patia. No dia seg uinte já confrater nizávamos outra

como se nada tivesse havido entre nos. Mas o temvoava e eu nâo conseg uía arrancar- lhes o que qu

Lembrei- me entáo de lhes ex ecutar alguns dos próp«tours» que êles exibiam e que eu estava cheio de nhecer, mas a soluçâo náo me par eceu boa, porqupodía irritar novamente contra mim.

Foi nessa altur a que me ocorreu o process W illmann e que eu, sem per der um momento, puz diatamente em pràtica.

Sem os outros saberem, preguntei a um dos fakmais espartos do grupo, ao ladino Bhagat- Muri- A lgostaria de assistir a urna sessâo completa de mocidental. Respondeu logo afirmativamente. Depois,

flectindo melhor, disse nâo poder aceitar o convite,

se achar prèso, de tarde e à noite, com os seus tralhos no teatro. Como o vi dominado pela curiosidaapresseí- me a garantir- lhe que o «es pectáculo» só coçaria de madrugada e, portanto, só depois de concluas suas obrigaçôes teatrais. A seguir, em voz mbaix a e com certo mistério, acrescentei que era preguardar o mais absoluto segrêdo, nâo só relativame

ao que visse, mas ainda — com muito mais razâo —bre todos os «segredos» que lhe fossem rev

dos, ..O deslumbramento, a partir désse instante, come

a chicotear- lhe o cer ebro e eu, para mante r a excitaque o devora va, resolv i operar nessa mes ma — minutos depois de terem cessado as exibiçôes nos ália Castro, O programa, que íóra cuidados amente e

lhido, or iginara- lhe o maior ass umbro e èie, totalosubjugado pelo que vira quási mendigava que o

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truíssem nos segredos marav ilhosos que permitiam a

realizad0 de tam fantásticos «milagres».

Seguindo as pisadas de Willmann, nào só o instruísòbre a forma de executar duas ou très ilusòes espectaculosas, mas ainda lhe fiz presente de vàrio instrumental, que efectuava, só por si, curiosissimos efeitos.

Porém, nao obstante a promessa feita, a vaidadeque lhe trasbordav a na alma levou- o, como eu esperav a,a exibir os seus novos talentos aos companheiros da

«troupe». Estes, surpreendidos pelo ineditismo dasexibigòes, mostraram- se mar av ilhados e quis eram conhe-

cer as causas. Como èie se negou a revelá- las, os cole-gas passaram do pedido à exigència e desta a vias defacto, Momentos volvidos, o nosso hoinem era conduzidoao hospital, onde o pensaram de um hematoma nacabega e de contusòes múltiplas pelo corpo !

Contudo, apesar da v iolència do interrog atòrio, A linada revelou, o que preocupava de modo visível todos

os componentes do grupo, cuja instrugáo sóbre o assunto

nào permitia esperanzas de se obter, sem auxilio estrad o , o mais ligeiro vestigio de e x plica do do mistério.

Logo que saíu do hospital, o jov em Bhagat- Muricorreu imedia tamente ao Inst ituto e pediu- me que nadarevelasse aos colegas, porque, se o nào fizesse, quandotodos regressassem à Ìndia èie seria o único a realizar«tamanhos milag re s» , e, por essa r azào, classificá- lo- iam

• •«maior fa kir do Unive rs o» ! Respondí que nào po

día oferecer-lhe garantía semelhante, porque, precisamente naquele momento, estabelecera negociares comum dos seus camaradas para a troca de segredos degrande importancia para ambos. Fora de si, num estado

e excitado que o tornava de um ridículo atroz, colocou

 j °lenemente uma das mSos sóbre o peito e jurou que me

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é que sabem com quem tratam, como tratam e porque

motivo tratam. A e x plic a d» é cur iosa e tcm a corroborá- la o

cbeiro a corno queimado que muitos viajantes afirmarater sentido, sempre que presenciavam qualquer cerimo

nia da fenomenologia ígnea, Nào é menos curioso neraoferece menor interèsse o conhecimento do grau térmico,variável segundo os casos, da carbonizado das madeiras.Os «domadores de fogo» do Ocidente sabem, por ex em-

plo, que o pinho entra em ignigào e se carboniza porcompleto a uma temperatura muito mais baixa do que

outra madeira qualquer.No Oriente, esta nod° elementar da química é tida

como grande segrédo e por èsse facto a sua reveladoconstituiu para mim uma prova eloqüentíssima da sin-*

ceridade que o jovem fakir punha nas suas palavras» Apesar disso, n5o me mostr ei satis feito e g aranti quecontinuava persuadido de que éle me ocultava certos se-gredos curiosos, que permitem aos «verdadeiros» fakires

agiientar um grau térmico muito mais elevado do queaquèle que pedería registar- se nos bras eiros em ques tao.

Bhagat- Muri- Ali, continuando a mostrar- se com ev identelealdade, acrescentou ao que já diss era urnas g randes

explicares que, traduzidas e sintetizadas, se podem re-duzir a estes tèrmos :

Os fakires, para aumentarera a resisténcia naturaiQue o contado permanente com o solo desenvolve nosseus pés, pòem- nos, durante progressiv os e spatos detempo, sòbre divers as fontes de calor , o que faz cora

que, após determinado número de exercícios, a sua pelechegue a atingir a dureza formidável do corno. Aléra■sso, antes da «prov a do fog o*, éles f riccionan! os pei-°s dos pés e as pernas até ao joelho com várias gordu

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ras apropriadas, que na Europa se podem substitucomo de íacto se substítuem, por vulgar sebo de c

neiro« És te, quanto mais duro fór, melhores resultadproporcionará na execugao do trabalho. As velas de setém também as suas vantagens e nao há um único kir, em «tournée» pela Europa, que ignore as suas ppriedades e n5o tenba friccionado com essas velas algmas partes do seu corpo.

E eis t u d o ,, . pelo menos quanto ao fogo. O q A li me revelou sóbre outras modalidades das ciénc

da ilusSo n2o interessam a éste livro. A ntes de concluir , quero afirmar honestamente

embora os nossos processos, os europeus, sejam musuperiores e permitam, como se verá a seu tempo,contacto da chama e do próprio ferro em brasa, acabsolutamente admir áve is as revelagoes que acabodescrev er e confesso- me sincer amente pasmado com

soma de conhecimentos que os fakires demonstram psuir, n3o obstante a sua humíl ima classe — mendig

do Oriente,

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 V i l i

 As primeiras exibigòes do Ociden

 A s pr imeir as ex ibig oes no Ocidente devem- sevez aos componentes de urna tribu de aissaua que, gidos por um tal Ben- Ki- Bey, após o naufràg io doveleiro- pirata ñas prox imidades da Mancha, resolve

desembarcar na Europa, Forjados pelas circunstancos bandidos disfargaram- se em altos iniciados nos térios de A lla h e apresentaram- se em Par is como

baixadores da verdadeira Magia africana,U m empres ário da época (15 90 ) ass inou con

com Ben- Ki- Bey e féz ex ibir os aiss aua no TeTivoli,

O trabalho dos filibusteiros, que abria por u

cerimònia pseudo- religiosa de g rande espectáculo chava com a execugáo de auténticos prodigios, agratanto aos paris ienses de entao, que f oi preciso elevprego das entradas, para que os burgueses e os nob

nSo vissem os «seus» lugares invadidos pelo povo !Eis uma síntese ligeira da majestosa descrigáo

o coronel Mayers Prince nos faz, maravilhado, a pósito de uma dessas extraordinárias sessóes :

Os aissaua entram lentamente no palco, de bracruzados sóbre o peito, sentam- se depois em círculchado e, logo a seguir, comegam a cantar em c

 A música, de uma cadéncia que faz vergar ao hipnótico, é acompanhada por um cortejo de súplmonótonas e preces cantadas a meia voz, de um riestranho — que faz lembrar os lamentos doloroso

alg um ente que sofre. T er minada a reza, comeg am

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louvores em honra de Sidi- Mohammet- Ben- A íssa, osanto fundador da Ordem dos aissaua, Só depois disso éque os irmáos e o próprio Mokaddem pegam nos tam

bores e nos t imbale s e comeg am a animar- se, aceler andocada vez mais o ritmo selvagem dos sons, até que aspreces se convertem em auténticos gritos de loucura,

Em dado momento, aos gestos rápidos de todos

— rapidez essa que aumenta de m inuto para minuto —

vem juntar- se a cadencia dos gr itos, cada vez maisacelerada, Or ando tudo — músic a, gestos e canto —chega ao delir io, os aiss aua poem- se de cabeg a para

baix o; andam sóbre os pés e as mSos e produzem mo-vimentos, gestos e gritos que os assemelham a doidoshiperexcitados ou a animais inferiores, atacados de qual-

quer doenga misteriosa muito peor que a raiva.É que os aissaua, crendo na metempsicose, imagi-

nam-se possessos de múltiplos animais das primeirasescalas da Natura , Por es sa raz3o, consciente ou incons

cientemente — conforme os casos — imita m os gestos,os gritos e os movimentos da criatura que supoem ter-

■se-lhes apossado do corpo.De longe a longe ouve-se-lhes pronunciar com toda

a fórga dos seus pulmoes o nome s agr ado de A lla h, Mas

a invocag5o saída das b6cas dos aissaua parece mais umtremendo r ugido feroz, do que uma prece de crente dirigida por fiéis á Divindade Suprema, O barulho, já en-surdecedor, aumenta ainda mais e a desordem, elevada

30 cúmulo, ultrapassa tudo quanto se possa imaginar,

Os turbantes caiem- lhes das cabegas, que alg uns apre-sentam rapadas e polidas como bolas de bilhar, e as“ 'xas de córes viv as e des mesurado comprimento,desenrolam-se-lhes da cinta e caiem também ao chao,enquanto as vestes, se m amparo, lhes deix am a deseo-

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berto urn ve ntre, por vezes, volumoso e de pele emamente grossa, A ex altag ào mostra- se agora inupassável, O cerebro, fatigado, comega a perder a nodas coisas e os ñervos, elev ados ao máx imo de umbragao estranha, ameagam perder o contacto entreÉ neste momento que principiam os «milagres».

Os a'issaua chamam aflitivamente pelo Mokaddo pai, e pedem- lhe de comer. Es te, e m gestos vertisos, entrega a uns, objectos de vidro, que éles devo

pouco e pouco, numa atitude de quem goza o maistra ordinàrio prazer ; a outros dá éle pedras, que imente sao ing er idas com av idez ; na bòca daquintroduz o Mokaddem vários pregos e na déstes peños bichos exóticos, descendo tudo, pelo menos, apatemente, para o interior dos seus estómagos. Uns comfolhas espinhosas, arrancadas de uma pequeña «figudo diabo», e outros carvóes em chamas, prèviam

soprados para tornar o fogo mais vivo e o gósto«manjar» talvez mais apetitoso ! , . .

 A pós a fantàstica refeigào, comeg am as ex ibigque tendem a demonstrar a invulnerabilidade dos mriosos a'issaua.

Um déles pòe-se, com evidente prazer, a lamber

ferro em brasa ; outro, arrebatando- lhe das màos a chamejante, executa com eia vàrias evolugóes a br

nus e, depois disso, pòe- se também a lambé- la,

com gestos de soberba e em atitude ameagadora, coquem defende qualquer coisa verdadeiramente indispsável à vida. Enquanto uns batem com o punho dir

no antebrago es querdo, fazendo a brir longa ferida e jectar sangue em vàrias direcg òes , outr os cortam odos pelas ar ticulagòes e outros a inda submetem- se

tura de grandes espadas, apoiando o ventre nu sóbr

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seus gumes e fazendo- as des aparecer quás i totalmente

entre a enorme fenda que se abrira ñas carnes. Um ou-

tro, depois de mandar examinar urna espada sem «truc»,enfia-a inteiramente pela garganta abaixo, enquanto doís«irm5os>, um de cada lado, soltam gritos horrorosos,

 Após o ex ame de ama outra es pada, cuja s dimens oesespantam, pois tem uma lámina flexível de mais de metro e meio, o Mok adde m deíxa- se atr avess ar por ela,podendo os as sistentes vé- la espetar pouco e pouco noabdomen, até a respectiva ponta fazer a sua aparigSoñas costas !

No fim, o primeiro mostra o seu bra^o como se nada

o tivesse mag oado ; o segundo apresenta- nos os dedossem o menor vestigio dos tremendos lanhos sofridos e oterceiro exibe- nos um v entre onde apenas se pode notaruma ligeiríssima impressSo. Quanto ao Mokaddem, éssen5o se mostra, mas retira ele próprio a espada, tinta desangue, que o atr av ess a de lado a lado e entrega- a paraexame, ficando- se em atitude majes tosa — como quem

acaba de realizar o maior prodigio que é possível con-ceber-se (1).

Os mesmos «invulneráveis» espetam a seguir pre-

gos de doís centímetros no olho esquerdo, onde éles de

saparecen! totalmente, para daí a instantes serem retirados do direito, Nao contentes com isso, espetam- nos de

“ovo no olho direito, onde éles penetram pouco e poucoe a vista de todos, para depois os retirarem da bóca, do

nariz ou dos ouvidos !

(1) Éste «truc» é de iuveng áo ocidenta l. Quem o ens inar iaa° Pseudo Mokaddem ? Estou persuadido, pela vaidade que o co-r°Qel Mayers Prince viu na execugáo, que nem os próprios a'íssauaCo&heciam o «segrédo» do chefe.

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Concluida a demonstraçâo, dois dos irmâos me

hábeis seguram numa espada, enquanto o devoradopregos salta para cima do gume e passeia, sem se tar, ampar ado por quatro ou cinco dos componente«tr oupe», O Mok addem traz entâo para a cena vsacos ou cestos com serpentes venenosas, que os mâos» tomam entre os seus dedos e mete m na bòno seio, como quem pretende mostrar- se superioperigo das mordeduras, Um aïssaua esquelético, mú

los atrofiados, quási morrendo de pé, resolve dar-urna prova da sua «fôrça muscular» e, para isso, cola sua mâo direit a — palma para cima — sóbre mesa robusta, Um outro dos do grupo, aïssaua forte,tr ido e alto, poe- se de pé em cima da mâo, ampapor alguns «irmâos», para náo perder o equilibrio. esquelético aïssaua, contra tódas as leis naturais, elno espaço, com a única mâo que estenderà sôb

mesa, aqueles oitenta quilos de carne !E os «milagres» continuato, sempre variados e

preendentes, até fecharem pelos prodig ios do fogo, andar sôbre chapas de ferro ao rubro, pegar em feem brasa e sustentar sôbre a lingua pequeños pre

incandescentes,O coronel Mayer s Prince é enor memente ext

na sua descriçâo e tam minucioso, que g asta dezena

páginas para elogiar cada exibiçâo que, confessa, limposs iv el ex plicar à luz da ciência ou da lògica,que apenas as s umi o compromis so de ex plicar os «térios do fogo», saïrei um pouco do caminho traporque, para ser ag radável aos meus leitores, reinserir todos os «trucs» dos «efeitos» maravílhosos

acabo de descrever.

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Éste espectáculo formidável, repetido nos fíns doséculo X IX pela s ingular «tr oupe» de indios que o capi»t5o Jacobsen trouxe á Europa era 1885, foi tamberamaravilhosamente descrito por Teunant, que nos ensina,após urnas quinze páginas repletas de beleza, que os«bruxos» persas se classificam a si próprios de grandes

«megh», palavr a esta de onde der iv a o vo cábulo latino«magus» e, por conseqüéncia, «mago», «mágico» e tódas

as outras palavras que a raiz latina originou.0 Dr, Creveaux apresenta- nos idénticos prodigios, a

que assistiu em África e na índia; mas, como tantos

outros v iajantes ilustre s, nao encontra for ma de os explicar e concluí por atr ibuir os factos observ ados a . . .«certas faculdades excepcionais que alguns homenstém demonstrado possuir!»

0 imperador persa Gef angf ir, duv idando da invul-

nerabilidade de que muitos diziam gozar, resolveu- seum dia a convidar uma «troupe» de ilusionistas persas,com o fim. de julgar por si mesmo das extraordinárias®aravilhas que corriam de bóca em bóca e os seusolhos, talvez por demasiado jovens, nunca tinham podido

Ter< Após a ex ibigáo, tam assombrado ficou, que escre-veu pelo seu próprio punho um v olumos o manuscrito,onde eternizou a sua opiniao — de indis cutív el r espeitoP^a todos os persas da época. Segundo o que o sobe-

^ no afirma, todos podem crer na orige m sobre humana0s «fenómenos», visto que nenhuma lei natural se mos-

lfa suficientemente forte para os poder provocar!

5

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I X 

Como no Ocidente se pegaem ferros em brasa

Mas antes déstes aíssa ua, que se ex ibiram, 1889, na Ex posi^ao Inter nacional de Paris, houveilusionista inglés, de nome Richardson, que atravess

a Mancha e, em fevereiro de 1675, se ex ibiu na Cida- Luz como domador do fogo, A s suas ex ibi^oes mara

lhosas sSo cons ider adas pelos técnicos da ilusao cinfinitamente superiores as apresentadas pelos árabpelos indios e pelos persas.

De facto, o ilus ionis ta br itánico devia ser o únprodigiador da época que possuía, na realidade, verddeiros conhecimentos científicos sóbre a magia do fog

Para se ajuízar do que afirmo, bastará dizer que Richason come? av a por ass ar um pedaeito de carne em cda sua própria língua, metendo, para isso, um car

acéso na bóca, cuja incandescéncia mantinha com o alio de um minúsculo fole, apropriado á fun^So de manpermanentemente ao rubro a s ingular íss ima íorja. Ag uir , mane jav a com as maos nuas um grande ferrobrasa e andava, com os pés descalzos, sóbre chap

vermelhas pelo fogo. Infelizmente, um dos seus criadtentado pelo dinheiro, nao hesitou em atrai^oar o Mes

e, aceitando a proposta de um médico que nSo atinab

com a e x pl ic a do do fenómeno, vendeu- lhe o extrao

nário segrédo, que deveria ter custado a Richardson

rios anos de aturadíssimo estudo.És se s eg rédo acha- se publicado, com grande

de detalhes, no «J ournal des Savants », pr imeir a edi

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(1675), pàg. 41 e seg uintes ; s eg unda edi<;2o (1677- 1680),pàg. 97, 102, 147 e 148 ; e terceira edif5 o (168 0), pàg .

24, 142, 252 e seguintes.Também antes dos alssaua terem aparecido em

Franca, um espanhol chamado Leonetto se exibiu emParis.

O fantástico «domador do fogo», que foi visto pelavez primeira em 1809, mostrou se ainda mais cénico doque o espectaculoso Richardson e deixou a perder devista os mistérios dos alssaua de 1590 e dos que maistarde foram vistos na Exposifáo Internacional de Paris,em 1889.

Leonetto, como Richardson, manejava com facili-dade um ferro elevado ao r ubro. Mas distanciava- se doMestre británico de forma notabilissima, quando deixavaera repouso, sóbre os próprios cábelos, o pedalo de ferrochamejante. A lém disso, colocava- o também sóbre a li ngua e, para concluir, punha- o seg uidamente no chSo episava-o a calcanhares nus.

Mas nào é tudo !Leonetto bebia ainda petróleo em chamas e azeite a

ferver, metía as mSos em chumbo derretido e colocavaParte déste sóbre a lingua, cuspindo o metal solidificado numa vasilha de vidro cheia de água. Assombrava^uorantes e sábios, eruditos e incultos, estúpidos e inteligentes. Contudo, nSo se dizia invulnerável nem pretend i fazer milagres.

Leonetto, após a sua ex ibifào em Paris, ex ibiu- se wmbém em Londr es , B er lim, V iena, Moscovo e Nàpole s ,esta última cidade foi visto e admirado pelo eminente

dentista e amador dos mais ilustr es das cièncias da ilu-

!J°, Professor Sementini, cujos trabalhos em químicae deram, naquela época, um relévo universal.

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Sementini, apesar da sua vasta cultura, ignorque o «J ournal des Sav ants» hav ia publicado o segdo grande prodigiador ÍDglés. Des conhecia até quechardson tivesse existido, visto que nunca alude a énem faz a menor re íeréncia áquéle (1), A lém disspouco que sabia dos fakires da índia e dos aíssau

 Á frica e da Pérsia era demasiado vago, par a Ihe m

cer confianza. As descricoes que lera, devidas a obvadores incompetentes , nao podia m, segundo a suaniao, merecer o crédito de um sábio, especialmentéle conhece a ex isténcia de uma técnica cujo objecsupremo é ilusionar multidoes.

Mas L eonetto estav a a l i ; nao na Á fr ica, na Péou na índia, onde nao o poderia observar.

E m Nápoles, os seus olbos ex perientes poder

constatar os fenómenos e talvez descobrir as causas,

S eme ntini, depois do espectáculo, procurou netto e solicitou- lhe a rev elagao do seu segrédo. 0tista es panhol recusou- se delicadamente, afir mandolhe era impossível dar uma coisa que lev aría forzmente consig o o seu modo de g anhar a v ida. O scompree ndeu a forte razao que ímpunha s igilo a netto e nao insistiu mais.

Na noite seguinte voltou ao teatro e, sempre

primeira fila, devorava com os olhos todos os movimetos do artista. Em casa, no seu laboratorio, ensaipór em prática o que o seu luminoso cérebro arqu

tava em teoría. V olv idos uns tempos , o grande cientista italiano

(1) T enho razóes, que mais adiante focarei, par a naosem demonstrado em contràrio, na suposta ignorànria de

mentini.

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coroado pelo éxito o seu aturado estudo. Sigamos a suaobservado e vejamos, depois, a que conclusóes éle

chegou:1.° — Logo que Leonetto colocava o ferro em brasa

sóbre os cábelos, via-se imediatamente elevar no espado

um vapor espésso e denso ;2.a — Quando calcava o ferro ou tocava com éle

nos calcanhares dos seus pés, elevava- se dos pontos emcontacto uma nuvem de fumo tam opaca e tam acre,que o olfato e os olhos se sentiam incomodados

com ela;

3.° — Leonetto pisa o f erro em bras a invar iável-mente com os calcanhares e n5o com qualquer parte ao

acaso dos seus pés ;4.° — O ferro em brasa que Le onetto aperta nos

dentes, nunca toca nos lábios, porque o artista, precisamente para ev itar éss e contacto, afasta- os com o maiorcuidado;

5.° — A o beber o azeite ou o petróleo em chamas,

Leonetto retira o líquido a arder, com uma colherpequeña, de dentro de um recipiente maior, de que bebecérea de um tér^o;

6.“ — Éle merg tilha rápidamente as ex tremidadesdos dedos no chumbo fundido, colocando depois um

pouco déste sóbre a língua. em contacto com a qual poe•ambém um ferro em bras a. Nes sa alt ura o obser vadoratento nota na língua de Leonetto uma camada do quer

que seja, da espessura de um papel e de tonalidade

grisácia. *

* *

Como se vé, S eme ntini apresenta- nos uma obser

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va?ao profunda, absolutamente isenta de fantasías sobretudo, com um rig or tal, que per mite ao investi

dor equacionar o problema. Ele próprio, como se pler a pág. 203 e seguintes do «Nouveau Manuel Coplet des Sor ciers» (nova edig5o — 1853), por M. Come prefaciada pelo grande físico Julia de Fontenelle, d-nos que após numerosas experíéncias, ensaiadas sósi próprio, eonseguiu descobrir o seguinte

1,° — Que P°r meio de fricgoes com ácidos, es

cialmente com o ácido sulfúrico diluido em água, a pse torna insensível á ac^ao do calor produzido por uferro em brasa (1).

Neste seu primeiro estudo, o ilustre químico liano afirma- nos que a pele se torna inseasív el ao ctacto do fer ro incandes cente, mas esquece- se de nos zer porque razáo se obtém essa insensibilidade. Tambénao se sabe porque motivo omitiu as proporgoes

ácido que dev em juntar- se a certo v olume de água pse chegar, sem tentativas perigosas, ao objectivo des

 ja do. Será porque o «J ournal des S av ants» se mos

igualmente ignorante sóbre um e outro caso ?Sementini, como se verá mais adiante, quando

explicar tudo em detalhe, deveria talvez, para ser maexacto e nao desmerecer da sua categoría intelectusubstituir o adjectivo «insensível» pelo de «resistente

que é, de facto, muito mais próprio — e cuja signific$ao revela eloqüentemente a causa da fenomenolog

7 0 — M A G I A D O F O G

(1) Por esta a f ir mado e por outras que se seguem, quais as propor^Ses sao omitidas, sou forjado a nao crerig nora ncia apar entada por Sementini. Inclino- me, antes, para éle fósse um dos eruditos leitores do «Journal des Savants»que conhecesse os trabalhos néle insertos sóbre o prodigiad

Richardson,

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72 - M A G I A D O F O

tis ta esquece- se de novo de que, sem dor ou coma língua ficaria des tr uida ! É que, como veremos

tempo, o sab5o, só por si, n5o resolve o problema.4.° — Urna camada especial, composta de sab

de urna s o l u t o a íerver saturada de alumen, colosóbre a língua, íaz com que ela nao sinta a menor s a t o ao contacto do ferro em brasa,

E is a melhor ind ic a do de Se mentini, emborcompleta e revelando nítidamente o hermetismo

anteriores.5.“ — O azeite a ferver, posto sóbre a língua, podía, em tais circunstáncias, importunar Leonetex plica- nos S ementini. No momento da operagao —tinua — ouvia- se um r uido particular , muito semelháquéle que nos impressiona quando se mete na água

ferro incandescente. O facto prova que o azeiteachava, na realidade, a urna temperatura elevadíss

Contudo, momentos depois do ruido, esfriava naturalme Leonetto podía entSo ingeri- lo se m re cear escalda

S eme ntini c oncluí o seu trabalho por af irmar —diz que experimentou — que Leonetto, banhando os

cábelos com a tal solu^ao de ácido s ulfúrico, podesmo íéz, pór em contacto com éles o ferro em ign

Esta parte final nao parece do grande químinSo ser — o que é improv áv el — que éle desconhec

a solubilidade dos cábelos e os perigosíssimos fennos de into x ic ad o que atinge m, por vía capilar, en

camente o cérebro. A seu te mpo e em lug ar próprio, par a n3o de

a ordem que sigo, voltarei novamente ao assun

explicarei com precisao e clareza tudo quanto nesta

gunda parte nao tem o cunho rigoroso que é

costume pór nos estudos que realizo.

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« A G I A D O F O G O - 73

 X 

Os devoradores de pedrase de vidros

De tóda a exibi^áo dos a'issaua, só a fenomenología

ígnea deveria ser ex posta e ex plicada neste livr o, porque todos os outros aparentes mistérios ou pseudomaravilhas dizem exclusivamente respeito á «Magia doOriente», a g igantesca obra de prodigios fenomenais,

que insere as ilusoes mais fantásticas, atribuidas porescritores, jornalistas e viajantes, a um poder sobrehumano. Contudo, como s ei que o leítor ficaria desapon-

tado se eu nao explicasse muitas outras coisas a que osorientalistas se referem, vou, embora n5o goste de repe-tir-me, gastar mais algumas páginas — na solugSo inesperada e simples désses problemas aparentemente complicados e difíceis . C ome^arei j á pela ex pli ca do do

suposto fenómeno fisiológico revelado pelos aissaua edeixarei voluntariamente para mais tarde as manipulares que os fiéis de Allah fazem com o ferro em brasa.

Está certamente na memória de todos os que meléem os anos da sua meninice e, se bem se lembrarem,

rec°rdar3o que houve um certo período da sua vida decnanga em que, sem pretensoes a alssua ou a fakires,executaram, também, verdadeiros prodigios de ingestSo.

De facto, haverá algum dos meus leitores que se possaíabar, com verdade, de n5o ter comido e até com certaabundancia os carolos das cerejas ? As crianzas, quandocometn frutos de pequeño carolo, n3o se dáo ao trabalho

e separar na bóca éste último, porque, segundo parece,e Preciso devorar o que o prato contém... antes que

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apar eja ra concorrentes, Quando es tes ng0 ex istem

crianga procede de modo idéntico, simplesmente porlhe parece que é pr e c is o ,. . pedir mais . Nao está istmemoria de todos?

Dev e notar- se que eu friso apenas as fungoes nrais, que a observado quotidiana pode confirmar a cmomento e demonstrar, pelo estudo comparativo a qpodemos proceder fácilmente, que o facto, na sua qutotalidade, limita os seus efeitos, quando muito, a u

a ce le r ado funcional do intes tino. Mas o acidente, garíssimo ñas primeiras idades dos seres humanos, itra, ainda melhor, o que eu quero fazer compreendNunca um filho teu, leitor, ingeriu um botao, uma

quena moeda, um anel, uma argolinha, uma chave núscula, um alfinete ?

J á ? E que diss e o médico, certamente chamadtóda a pressa e com as preocupagóes que só um

sabe sentir?Pr imeir o — lembras- te ? — mandou o petiz resp

fundo ; depois, ainda pensativ o, ordenou- lhe que falas

e, para concluir, preguntou- lhe se sentía qualquer impressao na garganta. Se a resposta nao foi ditada psugestao, mostrou- se, em tais cir cunstancias , absolu

mente neg ativ a, Neste caso, tratandc- se de botoes ououtros objectos semelhantes, que nao sao atacados psuco gástr ico nem ferem as paredes do apar elho digtivo, o médico limita- se a mandar vig iar as fes

Quando se trata de moedas de ouro ou dz   prata, embo ácido clorídrico possa atacar esta última, o clínico p

cede da mesma forma, porque o ataque do ácido, diluid

como está, nao tem tempo suficiente para dar origenicomplicagoes des ag radáveis . A ntes que a moeda po

comeg ar a sofrer o ataque, é ela e vacuada pelo pe

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Se a moeda é de bronze, o caso é um pouco mais sérioe o homem de ciencia, por achar conveniente acelerar aevacuagáo do corpo estranho, receita um ligeiro lanchanteapropriado as necessidades do momento. Se, porém, setrata de um objecto perfurante, como o alfinete queacabo de citar, ent3o o médico, visivelmente preocupado,faz mais preguntas á crianga e procede a uma apalpagao

rigorosa, que vai des de a garganta ao ventre. Compreen-dendo que o alfinete já se acha no estómago, o dentistasolta um suspiro de aliv io e nao receita purg as nemlanchantes, porque n2o quere que o intestino, irritado,

dé mil voltas ao alfinete quando o drástico lá chegar. Setem filhos pequeninos e é bom pai, limita- se pacientemente a envolver em algodao hidrófilo o ponteagudo

objecto para que éle nao possa espetar- se ñas par edes doaparelho digestivo, Para isso, toma uma quantidade conveniente de algodao exterilizado e faz quatro ou cincobolinhas do tamanho de uma ervilha, aperta cada umadélas, em vários sentidos, com um pedacito de fio branco

e manda-as fritar tódas em manteiga. Depois de fritas,retira-lhes cuidadosamente os fios, porque a manteiga,csfriando, é suficiente, só por s i, para mante r a com-PressSo, Para terminar o delicado trabalho, o médicomandava vir um copo de água azucarada e faz ingerira° Petiz as quatro ou cinco bolinhas de algodao. Estas,

, á ando ao estómago, sao logo atacadas pelos sucosgástricos, que queimam a manteiga num abrir e fechar

®olhos e deixam, em conseqüéncia disso, o algodSo em

'’oerdade.Ora todos sabem como se porta o algodSo hidrófilo

sua C° ntacto com os líquidos : Espreguiga- se em tóda ados eXtens^° e envolve- se, como polvo fa mélico, em to-

os objectos que cohabitem com éle. O facto, nem

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mesmo neste caso seríssimo do acídente, parece, poíerecer perigos excepcionais. Há apenas a consider

caso raríssimo da moeda ou do objecto ponteagudo terflxado na garganta ou em qualquer outra parte do apalho diges tivo. EntS o, o cientista recorr erá aos raíos depois de conhecer o lug ar ex acto onde o objecto scalizou, corta com fir meza no s itio próprio e ex trai

via artificial o que naturalmente nao tinha podido sMas éste caso é tam raro que nao atinge dois

cento nos acidentes infantis. De resto, os alssauasao cr ianzas e conhece m muito bem a elasticidadegarganta e o volume das pedras, vulgarmente seixin

do mar, que Ihes convém ingerir. As grandes e as mtifor mes , que ta mbém se acham no taboleiro, sSo nas para... espectador ver e supór que irm5o alss

também as come deliciado, juntamente com as outNo fim, o que causa arrepios e é verdadeiramente

pectaculoso, é os als saua pedirero aos assistentescncostem o ouvido aos seus estómagos e notem o ruque as pedras fazem lá dentro. Comendo meia dúziseix os e bebendo uns goles de água, éss e ruido tam impres sionante que faz com que imag inemos umrioso océano a agitar, em dia tempestuoso, urna verdeira praia de calhaus !

** *

 A inges tSo de v idro nao tem outra ex plica

O que se necessita é bons dentes para o tr iturar . A lprofissionais europeus usam placas de protec?5o p

evitar que alguns estilha?os mais agudos se lhes etem na bóca. As lámpadas eléctricas e algumas ta^achampagne s2o de vidro tam fino que, t r i t u r á - l

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comê-las, nâo passa de brincadeira de petizes. Apesardisso, hà quem mande fazer objectos de açucar candi,

que se cooíundem com os de vidro. Concordo que estesúltimos devem ser mais agradáveis, mas suponho quequem precisa de ganhar a v ida nâo dev e olhar ao paladar que o trabalho que escolheu impôe.

Quantas vezes no escritorio, no consultorio, na re-daçâo ou na oficina a funçâo do dever força o advogado,o médico, o jornalista ou o mecánico a provar bocadosbem mais amargos e mais duros de roer !

E a respeito de palmas..,

 X I

Os aïssaua de 1889

Mas tu, leitor, apesar do que afirmei, continuas ater o teu receio, pois se até já ouviste dizer que se pode

matar uma pessoa danlo lhe vidro moído ! Idiotices se-melhantes predispoero para o êrro e fazem germinar noscerebros menos cultivados concepçôes extraordinárias,Que a luz científica da razâo e da verdade nem sempreconsegue destruir.

Para que o receio desapareça de vez da tua const a d a , deixa- me dizer- te que o «Dictionaire des Sciences Médicales» (ano 181 0 — n,° 1143) inséré uma teseCuriosíssima do célebre doutor Lesauvage sôbre a ino

cencia do vidro. Éste dentista dos principios do séculoPassado, já naqueles tempos distantes do nosso quàsi sé-culo e meio, re alizou ex periências múltipla s com diver-

Sos animais domés ticos e acabou, sem nenhum perig o

Para a sua s aúde, por comer êle próprio uma taça de

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c ha m pa g ne .. . Certamente nao lev ou palmas , porqudentistas, em vida, nunca s5o aplaudidos, mas tambnao foi «corrido à bata ta» , embora s eja hábito dos rantes hostilizar os homens de ciéncia que, após anoanos de estudo persistente, nos d3o um mig alhinhluz. Harvey , quando descobriu a cir cuia mo do sanEdison quando inventou o fonógrafo, Hertz quando

lumbrou a T. S. F., Stepheuson quando defendeu a tdos caminhos de ferro, Pasteur quando apresentou

mundo o sóro anti- r ábico,, . for am tratados como latSes da últim a especie e nSo os correram à batataque, certamente naqueles tempos, nSo se tinha a«inventado* semelhante guerra ao genio.

 A ver dade, porém, é que um aís saua, quandoliza o «prodig io» de comer um vidro ou meia dúzpedras, classifica- o logo de milag r e e ofende se de fsolene se alg uém ousa pór em dúv ida o seu pode

brehumano de invulnerável congenito !Lesauvage, sem esperar prémios nem honrad

mas s imples mente para que os seus estudos n3perdes sem inùtilme nte no espago e nao se diluíssetempo, executou as suas experiéncias sob o testemun

- «contr ole» de homens eminentíss imos, como oCayol e o Professor L alle ma nd. Nunca sentiu, apesaquantidades ingeridas atingirem o triplo e muitas ve

o quàdruplo das ingestoes dos aíssaua, a mais ligimpr essào dolorosa ou o menor desar ranjo no apardigestivo.

É ev idente que nem L es auvag e, nem eu somopazes de ingerir pedras demasiado volumosas e romenos vidros enormes, como fundos de frascos defuma r ia ou gargalos de garrafas, Mas os aíss aua tar

o nSo fazem — fora do campo alucinatór io do i

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nismo puro. Metem- nos, de facto, na bóca ; mas , quercas vestes de Mokaddem, quer durante as evolugoes

grotescas a que procedem, desembarag am- se dèles . Assim, também os amador es de ilus ionis mo fazem, nSocom gargalos de garr afa, que n5o estao em uso entrenós, mas com anéis, dedais, moedas, ovos, bolas de bi-

lhar e até cigarros a arder, pedidos aos espectadores (1), Quanto a vidro, se fór fino como certos cálicesdo Pòrto, até abre o apetite, segundo, espirituosamente,nos diz o grande Robert- Houdin («Confidences d’unPrestidigitateur»),

Gastón T issandier, o sabio redactor- chefe de -»LaNature», após a Exposi^So Internacional de Paris de1889, resolveu fazer um ínquérito aos seus leitores epediu a todos aqueles que estivessem preparados paradocumentarem o seu trabalho, que lhe dissessem se erapossível comer vidro, como faziam os aissaua que se«xibiam no importante certame.

De entre as vários respostas, umas de sábios e outras

de simples curiosos, que apenas apontavam factos, citarci as mais interessantes.

Daniel Angé, depois de nos esclarecer de que n3otivera a fel icidade de ass ist ir à g rande Ex posi^áo de1889, exprime- se nestes tèrmos :

«Achando- me de pas sagem em Francfort- sur- Mein,ll*e ocasigo de ver, afixado ñas paredes, um cartaz in

teressantissimo, que nos apresentava um negro, M.

^‘try, a devorar urna lámpa da e léctrica. A ex pressSo doSeu rosto, admiráve l de tonalidade, fazia- nos crer queé'e comia o vidro com a maior satisfarò. Éste cartaz

Edit ‘^a g ia T eatral», do mesmo autor, Liv rar ia Progr edior

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impressionou- me tanto, que eu n5o pude re sistir átagao de assistir, nessa mesma noite, ao singularíssespectáculo.

«O negro, vestido a rigor, apareceu no palco

que o paño subiu e, num francés muito déle, expliaos espectadores que ia servir a si próprio um fa

tico banquete, cujas iguarias constariam das coisas m

ex traordinárias que seja possível conceber- se,

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«Após o discurso, vários criados transportaran! para

o meio do palco urna mesa repleta de pratos, dentro dosqnais se podiam ver os objectos mais estranhos: carvSo,colheres de estanho, discos de gramofone, frascos deridro, muitas lámpadas eléctr icas, um grande númer ode cálices vazios e de tagas de champag ne, caix as defósforos, pedamos de cartao, etc. Ele comegou depois acomer, aparentando a maior satisfarò, um pouco de cadacoisa. Lámpadas eléctricas e cálices de vidro é o que

èie parecia devorar com maior prazer, triturando bemtudo com os os dentes, como se quisesse obter, por uma

mastigagáo perfeita, uma digest5o feliz».Mais abaixo, após a describo pormenorizada dos

fados observ ados, Danie l A ng é conclui por dízer quenao sabe o que pensar de semelhante fenómeno, tantomais que M. V itry , ex aminado e interrog ado por èie,demonstrou usufruir a mais robusta saúde !

Seguem- se depois as respostas de Baudot, B lain-Tille, Edouard Galloo, Lavai, etc., cujos depoimentos,

embora curiosíssimos, me é imposs íve l inserir , sem estender demas iado o capítulo que dedique i aos «devora-dores de vidro».

Para concluir, direi apenas que «U n vieux fora in*escreveu a Gastón T issandier, afirmando- lhe que tinhaa° seu servido um dos membros da «troupe» que se«xibira na Ex posig ao e que éste, a cada passo, execu-

na frente dos camaradas exactamente os mesmos'•Prodigios» que se hav ia m observado e m 1889, Depois

e 0 ter interrogado, o alssaua declarou- lhe que o vidroPoderia fazer- lhe mal , «porque o tr iturav a, antes da

 jngestao, cuidadosamente com os dentes». Quanto aos

naos de copos e de garrafas, que os dentes d3o conse-

m esmagar, limitava- se a fing ir que os comia, pro

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curando desfazer- se déle s logo que a ocasíao se mtrava propicia e a sua técnica sóbre o ilusionismo pofácilmente mascarar o alijamento da carga.

Q u a n d o comia fósforos e as próprias caixas, pro

dia sempre com o maio r cr itér io : acendia primeiropalitos, para lhes des tr uir pelo fogo a mass a venenoinutil iz a va como podia , quer pelo fogo, quer por um

tro processo que se lhe mostrasse prático, a camfosfórica onde se riscam os palitos. A madeir a, ov áo, a cera e o estanho dos discos de g ramofone e qua nto ing ería náo podia m, seg unda éle próprio

fess a, prejudicar- lhe a diges tao. De facto, a s aúde personagem estranho é das melhores e o seu trabalhnorma l — conclui, finalmente, «U n v ieux forain»

sua curiosa comunicado feita ao sábio escritor M. Gton Tissandier.

*■

* *

É preciso nao es quecer que a prática de tododias, a fungáo mil vezes repetida, chega a empresta

operador urna confianza desmesurada em si mes

uma es peranza se m limites de que « tudo correrámelhor». O facto faz com que muitos prodigiadorespec ialmente os míseros e famélicos artis tas de para lutarem pela existéncia, cheguem a comprome

própria vida ! Alguns déles, que a si mesmos se cla

ficam de «Homens - A ves truzes» , ingerem objectos dconvenientes dimensóes, como pregos, fundos de cálpedras m u l t i f o r m e s , etc., obtur ando o ins testino ou

truindo o estómago — quando náo produzem úlcerasves no aparelho digestivo !

$2  — M A G I A D O F O

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Claro que estes desbragados, cuja ignorancia correparelhas com a sua falta de pao, acabam, mais tarde ou

mais cedo, no catre de um hospital, onde os médicos ,apesar de todos os seus esforgos para os ar rancar ámorte, se sentem impotentes na reparagSo de tanto mal.Os infelizes, em tais cir cunstancias , r aras vezes sobrevi-vem aos estragos que a sua ignorancia originou,

E o médico, filósofo e psicólogo para o qual astnisérias da vida nao ocultam grandes segredos, tem

apenas um desabafo— que as multidoes ig naras n5o pode m traduzir nem co mpr eende r :

«É estranho que a necessidade do pSo forcé muitasvezes a comer pedras !»,

 X II

Cenas de sangue

0 ambiente pode, em certos casos, impor- se a talponto & consciéncia, que a raz5o, dominada br utalmente

pelo «meio», fica á mer cé das sensag oes ex teriores —exageradas até ao infinito por sugestoes mentáis inconscientes que destróem totalmente as faculdades de análise.

Se a causa do fenómeno — a vontade de apreens3opartisse do inter ior para o ex terior, a influéncia do

<meio» só agiria solicitada. Como, porém, a consciéncia,00 Presente caso, obra em lugar secundário e, portanto,°ao itnpoe a sua v ontade ao exter ior, mas , pelo contrá-

°i é subjugada por éle, os factos passam- se de for madivi

fluénersa e o observ ador sente- se escr avizado pelas in-

cias de ambiència (1).

(1) A fenomenología da apreensao dos sentidos, assim. as suas respectivas leis, acham- se cient ificamente descr itas

paí- 15 a 26 de «Magia T ea tr al» —Liv ra ria Progredior, Editora,

como

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Se assim nâo fósse, os espectadores que assistiraàs exibiçôes dos alssaua e virara que éles abrira

grandes lanhos nos braços , de onde br ot av am. enorm jactos de sangue, te riam compr eendido a impossibilidado facto, visto, momentos depois, a pele nâo registamais ligeiro ferimento.O raesmo se pode afirmar quanao corte dos dedos pelas ar ticulaçôes, pois que, segdos v olvidos, o sangue desapar ecía como por encantñas falanges digitais era impossível, mesmo com auxide lentes, descobrir a menor incisao.

Mas a consciéncia, dominada pelo delirio provcado pelo «ra eio», propositadamente espectaculoso eaparéncias sobrehumanas, nâo podia seleccionar nedistinguir as sensaçôes que a impressionavam.

 A ntes de pros seg uir mos , ve se te le mbras, leitdestas duas e x ibiçôezitas inocentes que tu, quando f

quentavas o liceu, possivelmente executaste :Mostravam- se as máos de ambos os lados , de for

que todos pudessem constatar que elas se achavam abslutamente livres. Depois, com o fim de darmos propamais éloquentes da nossa «lealdade», arregaçavamo-no

até aos cotovelos e voltavamos a mostrar as máos,continuava m vazias. A pós a espectaculosa a pr e s entapedíamos um cañivete emprestado a algum dos present

que tivesse cañiv ete e fazíamos um pequeño círculoch5o, gar antindo que daí a momentos caíria dentro rodiDha o s angue de um professor que nós íamos r i r . . . em espirito. EntSo, apertando o cabo do canivena mao direita e fazendo no cotovelo com o polegarmao esquerda très círculos concéntricos, pronuncia#

mos em tom misterioso :

« M a j a l á. .. M a j a l á ,. . M a j a l á. .. !>.Depois, sem perdermos um instante, apertára®

8 4 — M A G I A D O F O G

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fortemente o cabo do cañivete com ambas as m5os— lámina voltada para baix o — e sóbre o círculo trag ado no

chao caia uma torrente de sangue ! Y è ag ora se te le mbras dés te outr o pequenino

Fig. 5 — «Ma jalá... Majalá...;Majalá ...!*

“tour», igualmente exccutado com freqüéncia pelos ra-

pazes alegres e despreocupados das escolas:Depois de se mostrar, pelo exterior, o polegar es-

Querdo completamente isento de «truc», pedimos um*-n9o empres tado e amarramo- lo em torno déle até á al-

ra da falange. A seg uir, solicitamos a um dos presea-

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tes que nos ceda por uns minutos o seu cañivet

fíngindo de a'íssaua, cortamos profundamente o dedo prespectiva articulado, O lanho enorme que os espedores obser var a deixá- los- á aterrados, emborar segunvolvidos, se possa mostrar o polegar sem a menor pide sangue nem a mais ligeira incisao E

No pr imeiro caso — lembras- te ? — ocultava- se ada orelha direita urna pequenina esponja embebida tinta encarnada e quando se faziam os trés círculos c

céntricos no cotovelo e nós lev ávamos , em movimenatural, a mao direita à altura da orelha déste lado, aderávamo- nos da esponjazinha, que ficav a logo ocultdis s imula da pelo cañivete. Claro que depois de apermos a esponja e do «sangue» cairnochào, entregávamo cañivete ao dono e tirávamos o lengo do bolso plimpar mos as maos, A esponja, como nSo podia dede ser, era depois metida no bolso, quando lá guardá

mos de novo o leugo que acabava de nos ser útil.Evidentemente que éste «escamoteio» da espo

embora de movimentos naturais, n5o convém a um tista, mas os artis tas possuem outros recursos , de os estudantes nSo carecem («Magia Teatral»),

Quanto à segunda ilusàozinha, o «modus operan

nao é mais difícil nem parece mais complexo : A ntes de mos tr amos o dedo, picamos o sulco e

rior da falange com um simples alfinete, prèviamenteterilizado. O sangue, se conservarmos o dedo aberto, saírá, porque o microscópico or ificio acha- se conven

temente obturado. Contudo, se o dobrarmos e envolv

mos em torno déle um lengo, partindo da raiz do dedsangue correrá em abundancia e nós só teremotrabalho de o espalhar com o cañivete. No fim, bas

l impar o dedo e abri- lo — para que nada se possa no

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Ora éste «ilusionismo» de pequeños escolares eraprecisamente o dos a'issaua, embora executado com origor que a prática empresta a quem se lhe dedica, porconveniéncia ou por amor, algumas horas por dia.

E como julgo ter-me feito perceber, passo a outroassunto, porque éste, segundo creio, nao carece nemmerece mais ampias e x pli ca r e s .

 X I I I

Andar sobre os gumes de espadas

Em «O mundo científico» publique i já desenvolvi-damente, a propósito de uma exibigao que se tornou no-tável, os principáis «trucs» dos fakires e dos a'issaua (1).

Nao gosto de repetir- me. Contudo, como prometíexplicar todos os «efeitos* que des crev i, abro uma pe-quena e x ce pt o.

 As espadas dos a'iss aua cortam mag níf icamente epor isso, antes de as calcar em a pés ñus, éles costu-

mam levá- las prime ir o aos assistentes para que éles asanalisem e cortem com elas papéis, agucem lápis, etc.Há, porém, quem use, como Blacaman usava, espadasQue só podem cortar o ar e, com um bocadinho de es-for?o, u m a ., . sombra de parede, Fala re i das espadasque cortam, que s3o, na verdade, as que os aissaua em-Pregam ñas suas exibigoes,

Devido á flexibilidade do ago, a lámina, logo que se

(1) «Paralisagao das puls ar e s », o «Enterr ado vivo», «Per-da a<'° es cutáneas», Es mag ar vidros com as costas nuas », a «Escada

s espadas», a «Suspensao do fak ir» , «Catalépsia de circo»,■Pnotizaijao de es pec tador es».. .

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lhe poe o pé em cima, descreve um arco de novegraus e fica, no ponto onde se pisa, absolutamente plO brilho niquelado do a^o n3o deixa notar o «trtanto mais que a espada nos extremos continua vertiSó onde se pousam os calcanhares é que as espacom o péso, adquirem por elasticidade a posigao horizon

Mas há espadalhSes demasiado grossos e fo

para resis tire m á tors5o. Es tes conser v am sempposi^ao vertical e o aissaua que os calque tem forz

mente de pór os pés sóbre o respectivo gume. Apdiss o, elas acham- se tam af iadas como as outras

espectadores podem igualmente ex aminá- las.O que o público nao sabe é que o aissaua, muda

de espada, muda também de «truc», Assim, como jámos na India e havemos de ver entre nós, quandovoltar novamente as maravilhas do fogo, estes pisadode coisas esquisitas tém urnas plantas de pés tam

 jadas, que as solas dos nossos sapatos, comparadasa sua res isténcia, mostram- se muito infer iores !Os aissaua podem, pois, sem o menor perigo, p

os gurnes das espadas, sóbre os quais apenas apoiamdécimo do seu péso, visto que os outros nove décisao hábilmente suportados — principio de dis tr ibuidfór^as — pelos colegas que fingem manté- lo em e

brio, No capítulo seg uinte compreender- se- á melh

que esbocei, porque a teoría adoptada para a « E l e vdo aissaua» n2o é estranha á tecnología déste sistem

pisar espadas.O método, muito mais interessante que o anter

mostra se apenas infinitamente mais trabalhoso, vistoas espadas assim tratadas, tém de afiar- se todos os para conservarem a forma e oferecerem á assisténci

aparéncias do prodigio.

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 X I V 

Elevagào do aì'ssaua0 título «Elevagào do a'issaua» pode levar o leitor

que abra o livro nesta parte, a fazer hipóteses que medesagradara, porque se prestam, após a leitura do textorespectivo, a urna censura que nào merego, De facto,quem abrir o livro nestas páginas supoe, a julgar pelaepígrafe do trabalho, que vai estudar nas poucas linhasque seguem algum segrédo de levitagSo. Ora eu, comodisse na primeira parte desta obra, nao posso sair dapirotnagia, porque foi èsse o plano que tracei ao iniciaro livro e n2o disponho de espago para digressSes a ou-tros sectores do vasto campo do ilusionismo, Se, por vezes, me desvio um pouco da mag ia ígnia, o facto deve- se«penas a ter feito, em páginas anteriores, a solene pro*messa de ex plicar em síntese os «efeitos » que des-crevi a propòsito das exibigóes dos a'íssaua.

Estou, pois, a desempenhar- me de urna obrigagS oque ass umi e n5o a inv adir o terreno d a , . . «Mag ia doOriente».

E agora, já tranqiiílo sòbre as conjecturas quepossam fazer os leitores que n5o tém o mag nificohábito de comegar as coisas pelo principio, posso, enfim,referir-me, sem perigo de más interpretagSes, à «Eleval o do alssaua»,

0 artista esquelético e falho de fórgas estende a suam3o direita — palma para cima — sòbre urna mesarobusta. Um outro aissaua, nutrido e forte, amparado por°nco colegas  para nào perder o equilibrio,  pòe os péslontos em cima da mSo e esta, s em o menor esfórgo^Parente, eleva no espago o gordanchudo personagem.

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90 - M A G I A D O F O G

 A parentemente, para os espectadores que só vo lado marav ilhoso do espectáculo, o caso passou- se qual como o descrevo acima. Na realidade, paraobservador atento e habituado á investigado científicos factos passaram- se de forma diver sa :

O a'issaua a elev ar pós- se de pé sobre a mSo, cas pernas bem juntas e os bracos dobrados e unidos

corpo, de modo que os cotovelos se acham, em pósver tical, um pouco ac ima dos quadris , A lém dissosua cabera, embora em posigao natural, revela uma gidez de pescogo exactamente idéntica á que se obserem tódas as partes do corpo.

Os cinco colegas que o agarram,  para que éle n perca o equilibrio,  acham- se, um —em f r ente —apoianos ex tremos dos dedos indi'cidor e médio debaix oque ix o ; dois outros, um de cada lado, ajoelhados sóa mes a, seg uram- no cada qual por sua perna ; os drestantes, de pé, colocam os seus dedos da mao direprecisamente nos cotovelos.

Como se vé, os cinco aissaua empregam umúnica m2o no trabalho de «equilibrio» e, mesmo assiutilizam apenas desta os dedos indicador e médio.

Pois bem. Para levantar um homem em semelhates condifoes bastada apenas um dedo e nSo se explipor que motivo os a'issaua vSo mais além.

Quando os preparat ivos de «e quilibrio» estao prtos, o Mokaddem faz um sinal e as sete pessoas q

tomam parte na e le v a do — que podiam bem ficar redudas a cinco ou seis, o máx imo — come^am a inspilentamente — o elevado, o elev ador e os cinco qmantém o equilibrio — e ao mesmo tempo, em absolusincronismo entre si, tratam de elevar o gordo aissa

no espado. Se alg um dos meus leitores quiser faze

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venosas para se Ihe introduzir na economia alg unlumes de liquido ! 0 caso, por demas iado comuni,

nou- se banal para tóda a genie e os fak ires modeque visitam a Europa, seguindo a tecnologia dos a'iss

FIjf. 6-Irm £ o aiasaua perfura as faces com um espadim

do século passado, preferem atraressar as faces um punhal ou espadim de longa làmina, o que é ia

tamente mais espectaculoso — e menos compreens

para os sifilíticos «fakires» do ocídente. A ss im, ir mào aíssaua ou semi- deus fak ir , depo

provar que o seu espadim é capaz de fazer a barba morto, pega nèle com a mSo direita e, enquanto ta

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m a g i a   d o   f o g o - 93

bóca com a es querda, espeta- o dois ou trés centímetrosna tace do res pectivo lado. A seguir, com um sorr iso de

superioridade retira- o lenta mente e mostra por firn a pe!esem o mais ligeiro ferimento.

Eis um «tour» que nao terá a menor ilusSo da «rea

lidade» que se pretende obter, se um executante gordo e jovem no- lo quis er ex ibir . De facto, se o ilus ionis ta fórnovo e tiver todos os dentes e as faces rochonchudas,mesmo que abra ligeiramente a boca, a ilusao nào subju"

gará os sentidos,

Os aissaua estào na posse déste segrédo e por issoescolhem para executar o traballio o mais velho e esquelético da «troupe». Se èie nào tiver dentes ou possuirmuito poucos, o fenòmeno mostrar- se- à entào de umarealidade chocante. E é natural, porque a elasticidadecutànea, aliada à auséncia total ou quàsi total dos dentes,favorece de forma notável a ilusào dos sentidos. As pes-soas magras e velhas apresentam- nos urnas faces cujapele, pela auséncia de músculos jovens, é de uma elasticidade pasmosa. O aissaua em tais condeces, toma oespadim, lig eir amente rombo na ponía, embora afia-dissímo na lámina, e apoía- o contra a face direita. Comod5o tem dentes, nào carece de abrir a bóca e, portanto,de a tapar com a máo esquerda. O espadim, esticando aPele, penetra vários centímetros no interior da bòca e dá2o observador a impressào indiscutível de que perfuroua face

Na realidade, porém, a ponta romba do espadimarrastou apenas a pele, que penetrou em forma de bolsa

0u de baínha — como quise rem — no interior da bócasemi-cerrada. Ao retirar lentamente o instrumento é na-tura|> portanto, que nào se note na face nem o menorTeslígio de «ferimento».

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O alfanje que penetra no ventre

 A mesma técnica adoptada pelos ais saua para vessarem as faces com o espadim de que falei no ctulo anter ior, aplica- se ig ualmente, v isto a teoríilusao nao diferir , no «tour» que éles ex ecutam

cortarem o ventre.Os aissaua de 1889 eram maus executantes e pdissimularem a sua péssima execu?5o voltavam as tas ao público ! Um déles, de ventre dilatado e ccoloca va o abdóme em cima do alf anje, que se acapoiado sóbre a mesa e sustido por dois dos coleComo se achava de costas voltadas para os obsedores, colocava entre a lámina e o ventre uma c

por ao da camis a. A pe ne tr ado do alfanje era, ncaso, absolutamente ínvisíve l para os ass islentes e

isso os aiss aua procuravam na d e d u j o intelectuaespectadores a ilusao que o olhar directo n3o podia ginar- lhes. Com ésse fim, saltav a para as costas dovulnerável» um outro aissaua, cujo péso fazia germino cerebro dos assistentes a ilusao que se buscava,

 A verdade é que o péso suportado pelo «má

nao era nenhum, porque lá estavam os quatr o ou caissaua a segurarem no gorducho colega — para éle perder o equilibrio, J á v imos no capítulo X IV osignifica esta manobra e qual é o seu objectivo.

Modernamente, porém, tanto os aissaua com

fakires procedem á vista do público: um déles, igmente de abdóme caído e volumoso como o ante

poe o seu ventre ao léu. Outro dos do grupo coloca

 X V I

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sftbre a barriga, um pouco abaixo do umbigo, a làminado alfanje e um terceiro, de mago em punho, bate nas

costas da làmina até eia desaparecer por completo entre,as carnes. Como o « tor turado» se acha de pé e de rostoToltado para a platéia, a ilusào é perfeita, embora a teoriada penetrado seja exactamente a mesma que notamosna execugSo anterior e na penetrado da face.

Claro que o alfanje tem de estar fixo, porque, sehouver deslise, o corte é absolutamente inevitável,

Já  y í   um ilusionista espanhol, disfamado em fakir,

provocar idèntica ilusSo com uma navalha de barba. Naintimidade, gol pea va a propria ling ua, para mostrar aosamigos a sua grande certeza. NSo se recusava, para demonstrar a auséncia do perigo, a experimentar em nóspróprios o que em si praticava, Todos consentíamos queile nos «esfaqueasse», porque tínhamos confianza na

sua destreza inexcedível, mas nunca nenhum da nósteve coragem suficiente para manejar a navalha sem re-

ceio de se cortar,É que para tudo se necessita estudo prolongadoe atento, e poucos sao os amador es do ilusionis mo queíostem de se fazer «virtuoses» em «trucs» de pseudoíakirismo.

 X V I I

Engolir uma espada sem «truc»

0 alssaua que tem a seu cargo o maior prodigio eDei para isso, praticou durante muit o tempo umag inás-

03 Própria, pede um sabre empres tado a um dos mili-

res ass istem à sessSo ou, na sua falta, manda exa-ttlnar “ roa das suas espadas sem «t ruc». Depois, indi-

do a cabera para traz, de modo a obter uma linha

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recta, enfia pela bôca a pon ta do s abre e intr oduz pe pouco a lámina de aço na garganta, até ficar de apenas o seu respectivo punho. O sabre penetra- lh

facto no esófago !Em Portugal, ai por 1920, havia um saltiroba

F i g . 8 - A ï s s a u a e n g o l i nd o ur n a e s pa da

muit o pobre que rea lizar a ig ual prodigio, Mas ignoráncia, a liada a urna d il a t a l o natura l da garg

faziam com que éle nSo se preocupasse com os excios próprios a que deveria submeter- se, para obprodig ioso efeito se m perigo para a sua v ida. E pora maior parte das vezes, o sabre saía- lhe da bòca

mente banhado em sangue, T iv e pena do hometn

lei- lhe, Dias passados procurou- me na r e da ct

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M A G I A D O F O G O - 99

«Jornal de Noticias», onde o instrui convenientemente só-bre a execupao da «maravilha». Satisfeitíssimo, o d o s s o  

ais sa ua... portugués quis ir mais longe e solicitou- mequelhe ensinasse ilusoes menos perigosas e repugnantes,cmbora igualmente espectaculosas e dignas do aplausodo público.

O pobre rapaz, cuja execu^So primitiva ameagava•destruir-lhe a ex isténcia, tornou- se u m , . , fakir de v astos recursos, que o público, nos circos de feir a, distin-¿uia com agrado. Em 1925 desapareceu por completo dosolo pátrio. Supuz que tivesse sucumbido aos estragos deilguma úlcera que o seu trabalho de outrora lhe tivesseoriginado. Enganei- me. E m 1931 o corr eio troux e- me da

 América do Norte uma le mbr ang a principesca, rev eladora da «inolvidável gratid3o» que enchia a alma do jo-▼em artista — agora coberto de g lor ia e animado pelafortuna.

*

* #

Nao aconselho nenhum amador de ilusionismo asecutar semelhante barbaridade, n3o só porque o «truc»Pertence á categoría dos repugnantes, como a «decapitado», o «corte dos bracos», e a « e x tr a c to dos olhos»,•am admirados pelas pla téias de antanho, mas aíndaPorque, devido á difícil esterilizado do sabré, a infecto®°rtal espreita a cada momento o improv isado « invulne-«avel*.

Contudo, como prometí, nao quero, porque n5o devo,

rair- me a ex pór nestas pág inas a ex plic a do do fenómeno.

Etn primeíro lugar é indispensável que o futuroa'$saua», que nao deve ter ultrapassado muito os vinte

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e um anos, seja alto e nào demasiado gordo. Depois

absolutamente necessàrio que se submeta, durante dou trés meses, aos exercicios seguintes ;

a) Dev e praticar diàriamente urna g inàst ica pria à rectificado da coluna vertebral ;

b) A pertar um cinto de couro em torno dos ricaminhar, durante meia hora, todos os dias em bicos pés — com as m3os na cint a e a caber a inclinpara trás ;

c) Dev e introduzir na g arganta, no fim de csessao, uma sonda de cautchú, para obter a necessàelasticidade da garganta e do esófago, Ao mesmo tempa s e n s a to que produz o vómito, irá, com a perda gressiva de sensibilidade, desaparecendo pouco e pou

No fim de dois ou trés meses o futuro «aissaupoderá tragar uma espada qualquer, notando, porém, qa extensao da làmina a introduzir depende da distanc

v ar iáve l de homem para bomem, que v ai da bócafundo do esófago.

E agora só é preciso asséps ia, A es pada, antesser intr oduzida, deve ser esteril izada. O processo mfácil consiste e m submeté- la a uma chama bem grade uma lámpada de alcool, mas é preciso evitar que

repita o facto que, com muita gra^a, conta o meu ame distinto amador de ilusionismo, Dr. Julio Abeilar

Teixeira !Imagine- se que urna ocasiào o ilus tr e méd

aconselhou José A v elino a esterilizar as ag ulhas com éle perfurava os bracos, indicando ao querido ilusioni

bracarense o processo mais pràtico e mais fácil qucircunstancias teatrais impunham — o fogo sem fu

Pois bem. José Avelino, após a esterilizado dostes, limpava- os cuidadosamente a uma toa lha de linho

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« a g í a   d o   f o g o - 101

Se Pasteur se achasse na platéia seria com cer

teza vítima de uma síncope !

 X V I I I

Fascinagáo de serpentes

Os aissaua introduzetn na bóca e metem no seio,em estreito contacto com a pele, as víberas de que seíazem acompanhar, aparentando, assim, um profundo

despréso pela dór e nenhum receio pela morte. Outrosilusionistas, especialmente fakires, fazem com que ostremendos répteis dancem ao som de certa músicaestranha que éles arrancam hábilmente de flautas primitivas ou de assobios improvisados com qualquer pedacitode bambú,

 A conclusáo a que che gam os observadores inex pe-rientes é de que se trata de um curioso fenómeno de

fascinado pela música! Realmente, ninguém ignora opoder encantador que os sons exercem sóbre certos anidáis, especialmente sóbre as cobras. Mas o facto naoPode explicar- nos a razSo porque, fazendo música, a

nbora nao segrega veneno quando, metida no seio, pro-cara libertar- se da pris 2o, cravando- nos os dentes nacarne.

Pode hipnotisar- se f ácilmente um r éptil e n3o é

®uito difícil levá- lo ao estado cataléptico. Mas , se talfizessemos, lutaríamos com as aparéncias da morte e oPúblico teria a ilusa© de que lhe exibiamos répteis narco-

llzados ou já s em o menor sópro de v id a ! T odos os queiSsistem ás minhas experiéncias sóbre animais notam

^Ue a catalépsia empresta, náo só aos répteis, mas aos

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coelhos, aos gatos, aos c2es, ás galinhas, etc,, urna talgidez cadavérica e urna imobilidade tam estranha q

por vezes, chegam a duvidar que o gélo da morte tenha af astado a v ida daqueles corpos inertes , S á o vantamento» a que procede momentos depois os cvence de que os animalitos nSo tinham deixado de e

tir ! A f as cina do, que se confunde com os pródromdos estados profundos, como sucede no sugestivo, é quimpossível nos animais inferiores sem instrumental físiO tam- tam, certos sons agudos e fortes, os objectos m

brilhantes e até a sensagao do fr ió, imobilisa- os parmente, mas o «truc» é fácil de descobrir e os fakiamam o mistério,

Em face do exposto, somos forjados a concluir q

a e x plic a do do fenómeno é outraf visto nenhumaquelas solucionar o problema*

Podia, se quisess e, apresentar- lhes a quí os auté

cos processos de que se servem os fakires e os alsspara obterem os mar av ilhosos efeitos que descrePrefíro, porém, revelá- los em «Magia do Oriente» emomento, dar a palavra ao coronel de Neveu, explodor internacionalmente conhecido e amador dos m

ilustres, a quem a ciéncia da ilusSo deve criades noveis,

E is o que éle nos ens ina no seu magnífico l

«Sur les Ordres religieux chez les Mussulmans de l’gérie» :

« N ó s conseguimos, por vezes, mercé de m a n o b

hábeis, convencer os aiss aua a ex tbirem- se ñas n o s

próprias casas, para onde éles se fazem a c o m p a n h a r

t ó d a a «ménagerie». E assim é f á c i l a qualquer de nconstatar o lógro, pois todos os répteis que éles apresentam como sendo tremendas víboras (lefá),

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esquerdo, perto do reservatório lacrimal, entre a pàlbra inferior e o g lobo ocular , um pequeño prego

lindrico, em chumbo ou prata, nSo sentiremos a mensensato dolorosa e se èie nào tiver mais de centimete meio ou dois centímetros de comprido, ficará no rpectivo lugar absolutamente oculto pela carne. O pblico* como se deduz fàcilmente, ignora a existéndéste prego.

T oma ndo ag ora um prego idéntico — único concido da ass isténcia — , o ilusionista mostra- o aos esptadores e, se nào é um estúpido aissaua, trata de o terilizar. Log o a seg uir, aparentando grande sofrer, peta- o no lugar proprio do olho díreito, onde éle fic

totalmente encoberto pela carne. EntSo, mostrando

màos de ambos os lados, retira- se o prego do olhoquerdo, que os as sistentes véem saír lentamente epoem ser o primeiro que se espetou no olho direi

N5o continuo, A ilusiío, e mbora espectaculosa,

merece, sequer, o espago que ocupa !

 X X 

Um homem atravessado porurna espada

Esta ilus2o, tam horrorosa como a anterior, embo

muito mais cénica e infinitamente mais impressionann3o é invengo de nenhum aissaua ou fakir. Foi, g undo creio, inv entada por um pobre ilusio nista de ra, cujo nome, talvez por demasiado humilde, nu

ninguém escreveu. Os clássicos do ilusionismo rerem- se a èie, mas tratam- no como um mis er árel

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M A G I A d o   f o g o - 105

nimo, embora os contemporáneos do artista tenham ou-

vido dos seus lábios a revelado do segrêdo que tanto

os impressionara !

Os ilusionistas modernos aperfeiçoaram o «efeito»da ilusáo e apresentam- no aos espectadores do nossotempo com tanta graça, que eu nâo resisto à tentaçâode o descr ever , nSo só porque o acho mais dig no dasplatéias cultas dos nossos dias, mas ainda porque meparece mais pròprio do ilusionismo despretencioso e sèrio de hoje.

Ei-lo :

O pano sobe e apresenta à vista dos espectadoresum consultorio médico. A empre gada, r igor osamentevestida de branco, introduz vários clientes, com os quais,um a um, o médico realiza prodig ios. Por fim éintrodu-zido um marinheíro — calças brancas, camisola de malta azul- escuro e casaco prêto. Queix a- se de obturaçâointestinal... O médico receitara vários drásticos, mas

nada produzira efeito ! O caso começa a tornar- se muitosèrio e tem de ser resolvido urgentemente..,

0 médico, visivelmente preocupado, apalpa, ausculta, interroga e, por fim, pede qualquer coisa à enfermera. Esta, fazendo urna careta de pasmo, vai buscaruma enorme ag ulha plana de mais de um metro de com-Pndo, 0 clínico enfia- lhe uma fita de sêda de uns trèstetros, repleta de nós, e prepara- se para a melindro sa°Peraçâo.

0 marinheiro, de pé, ventre v oltado para a assistén-

Cla' es per a., . O médico manda- lhe afastar as abas do^a c o e introduz le ntamente no abdóme a ag ulha, quetarda a ver-se reaparecer ñas costas, arrastando a fita

e séda. O homem é entáo mandado pór de perfil, para

^Ue a assis téncia possa ver melhor o «milag re» , e a

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ag ulha é separada da f ita, A concluir, o médico ppor um ex tremo enquanto a enfer meir a pux a pelo

tro, num cómico mov imento de vai- vem.Es cuso de prosseguir, porque o leitor compreen

perfeitamente a beleza inexcedível do «tour».Comparemos agora éste magnífico «efeito» c

aquéle que os aíssaua pretendem obter com a sua regnante execugao :

O Mokaddem toma a espada e, aparentando gran

sofrer, deixa- se atravess ar pelos aíss aua, pondo- se ig

mente de perfil para que todos notem o grandioso mario e vejam os fios de sangue que escorrem do ventredas costas. Depois, a espada é arrancada lentamentapresentada ainda ensanguentada aos assistentes, quanto o Mokaddem, com o seu poder sobrehumano,

catriza as enormes feridas e faz cessar, em segundos

sofrimento que o devora.

íf * *

 A ex plicag ao do sis te ma aíssaua, como se verseg uir (fig. 10), só diter e no «efeito» do método ocid

tal. Este último, porém, émais próprio da nossa épocamais digno dos ilusionistas que n3o atribuem ao mila

as suas realizagoes.O Mok addem tem e m volta da cinta, em forma

semi- círculo, urna baínha de couro, cujas aberturas

acham colocadas, uma, ao cento do abdóme e outracentro das costas. Os aíssaua introduzem a lámina pabertura da f r e n t e e ela, devido á elasticidade própd o ago, seg ue o trajecto inter ior da baínha, c o n t o r n a n

em semi- círculo, o corpo do Mokaddem, Como n o i

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H A G I A d o   f o g o - 109

rior da bainha de couro se acha tinta còr de sangue, énatural que logo que se abram os extremos, prèviamente

obturados, eia saia em fio por ambos os lados e dé ailusSo da hemorragia.

Os artistas europeus adoptam urna bainha de metal*

F i g . l O - E x p l ic a p i o e s q u e m át ic a d o « t ru c*

construida de propósito para éste fim e v es tem por "cimadéla uma camisola de malha, para que as respectivas

aberturas fiquem absolutamente dissimuladas. A dascostas, rigorosamente, n3o carece de cuidados, visto que

a agulha que já conhecemos passa através do casaco.E eis tudo !

 Agora, v isto que já cumpr i a minha promessa, vol*temos a piromagia.

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110 - M A G I A D O F O

 X X I

Entrar num forno a grandetemperatura

Os livros de ilusionismo que se ocupam de pirogia, entre os quais se acha incluido «Carteira de Satade Dav id de Castro, inserem um processo verdade

mente estúpido para se conseguir, «sem perigo», ennum forno elevado à temperatura de cozer o p3o.

0 sis tema indicado («Carteir a de S ata n», pàg. 6em síntese, o seguinte :

«Par a simular éste milagre, basta f riccionarlongo tempo o corpo todo com ácido sulfúrico diluem água».

 A nalisemos ag ora com o maior cuida do, visto

se trata de assunto muito sèrio, o processo que aconselham para a realizado do prodigio:

Em primeiro lugar é preciso que saibamos quemprego do ácido sulfúrico tem apenas corno objecengrossar e calejar as regiòes cutáneas que, mais tarse hao- de pòr e m contacto com o fogo, A seguir, con

n5o ignorarmos que a pele cale jada tem os respect

poros, em tóda a super ficie calosa, totalmente obtura

Depois, é formoso n3o desconhecermos que sem resp?3o cutànea e s em a e li m in a lo de toxinas querealiza através da superficie da pele, a vida, tal corn

conhecemos, torna-se absolutamente impossivel. Cr

até que se qualquer pessoa resolvesse pintar o cotodo com urna tinta celulósica ou mesmo simplesme

a óleo, morreria momentos depois de ter praticado pe r a io , Sabe- se ainda que certos indiv iduos, lamb

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M A G I A d o   f o g o - I l i

totalmente pela chama de uni incèndio, morrem poucotempo após o desastre, embora as queimaduras que

acusam sejam superficiais e nào poss am, só por si, originar a morte.

 A e x pl ic ado é simple s : A chama, lambendo- lhe a pele, obtura- lhe tòda ou a

maior parte da superficie cutánea. O brilho especial quea pele nos apresenta revela- nos a o b túr e lo dos poros equando esta atinge dois tergos da superficie total docorpo, a morte, precedida de mil sofrimentos horrorosos,

mostra-se absolutamente inevitável.Do exposto é fácil concluir da estupidez do sistema

e das conseqüéncias fatais que èie provocaría : aos s ín

tomas de uma int ox ic ad o ger al, vir iam juntar- se os daasfixia, porque todo o ar existente no mundo, absorvidoem aflitivas in s pir a r e s pela bóca e pelo nariz, mos-trar-se-ia insuficiente para oxigenar o sangue,

0 desgranado experimentador, sacudido por vómitossècos, teria a sensato de se lhe despedagarem as en-

tranhas, Um péso hor rível na cabega obrigá- lo- ia a recocer ao leito, onde, acossado por uma falta de ar que

parece des truir fibra a fibra o cor ado , se se ntiría endoi-decer. No meio de um sofrimento atroz, guela escanciada como peix e fora da ág ua, o nosso infe liz ati-rar’se-ia do leito e, em evolugoes de supremo desespéro,rolaría pelo chSo. Depois , pondo- se de pé, ele v ada as

míos ao peito, como se de lá quisesse arrancar aos pedios todo o aparelho respiratorio, martirizado pela dór,

ntos desesperados, rev eladores de uma a f l i j o indes-Cfitivel, ecoariam no espago, como dilacerantes pedidos

e socorro. A v ida cometaria entSo a extinguir- se- lheP°Uco e pouco, como chama agoitada pelo vento, e ne-

u® poder humano seria capaz de o evitar. Num gesto

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inconscie nte, brutal, atirar- se- ia de novo para cimacama e, segundes v olvidos, tornaría a rolar pelo s

Os olhos, desme sura damente abertos e injectados sangue, pare ceria m saír- lhe das órbitas , Dos s eus lábpenderia um fio de sangue, que os vómitos sécos, infitamente dolorosos, ar rancar iam de lá de dentro, amil estorbos titánicos para reduzir a pedamos as pareddo estómago,

E o infeliz, decorr idos uns minutos de pasmosa lcom a morte, dobrar- se- ia sóbre si mesmo, como

novelo humano, e, pela derradeira vez, calr ia por tésoltando um grito medonho, um désses brados formdandos que jámais se podem esquecer. EntSo, mas entao cessaria o seu martirio, porque o corpo, reduzidoum montao de escombros, já teria exalado de si o

timo sópro de vida,*

* *

 A s primeir as ex periéncias realizadas na Europa bre o «efeito» espectaculoso que descrevo, devem- sum espanhol chamado Martínez, que actuou, em prin

pios do século X IX , no T eatro T ivoli, de París,Eis o que, a propósito da fantástica exibi^ao, n

diz o sábio Brewster (1):« , , , N o T ivoli, um espanhol chamado Martin

entrou num forno, cuja temperatura devía ser muito evada, porque o meu termómetro, que chegou a marccento e quare nta graus, foi reduzido a es tilha^os pelalatazo do mercurio, Buntens e outros físicos eminent

(1) «Magie Naturelle» (1839), pág. 240.

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que ass istiram ao mesmo f ormidável es pectáculo, afir-mam que o grau térmico ragistado ultrapassava cento e

cinqüenta centígrados !»N a o ignoro o segrédo interessantíssimo de Martinez,

que deduzi com r ela tiv a fa cil idade a pos o estudo cuida»doso da describo que em «Nouveau Manuel des Sor-ciers» (pág. 201 e seguíntes) nos dá em 1853, MestreComte, um dos maiores físicos da época e amador dosmais distintos das ciencias da ilus5o. Apesar disso, es-tava resolvido a nao me referir a éle, porque náo Ihe en-

contro mérito bastante para figurar ñas páginas de umlivro do nosso tempo. Contudo, como s uponho que osmeus leitores es timar áo conhecé- lo, vou dedicar- lhe alemas linbas, tanto mais que, segundo me informa umilustre médico portuense, o meu precioso amigo Dr. Manuel de Carvalho, existe em Portugal, como se verá mais»diante, quem realize prodigio idéntico, embora sem artificios nem trucs, sem trabalho nem estudo, sem se rodear de precaugóes nem car ecer de praticar em si

oesmo a menor preparado.

 X X I I

O segrédo de Martinez

Todos sabem, pelo menos todos aquéles que por viaa Prática ou da teor ia conhecem a fundo o calórico e

ís feis da sna condutibilidade, que o corpo humano, con-Ten'enteraente vestido, pode suportar exteriormente as°^ls levadas temperaturas. Com um pouco de treino, é5,e Possível aguentar mais de cento e cinqüenta graus

^ im° que estejamos quás i ntís. O que se ex ige é que0 taja a menor humidade, porque, se a houver, o va-

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por de água produz tais dilatag òes no ar, que a resl o , em circunstancias semelhantes, torna- se quàsposs i vel e a sincope fatai tem probabil idade s de suaniquiladora, de utn momento para o outro. S e, pourna corrente de ar fresco, natural ou artificialmeprov ocada, bater constantemente o interior do forno,perigo nSo só fica reduzido a zero, corno ainda se ppre scindir do habitual resguardo do corpo, v isto qfornalha, minutos depois de batida, desee com rapi

incrível para a temperatura ambiente.Ora o «invulnerável* espanhol dispunha o seu fode modo que urna corrente de ar fresco, logo após ogista da temperatura, o batesse convenientemente. Asar disso, ainda se vestía com o maior cuidado e trav a no forno de costas — nào fòsse o diabo tecé-¡ mandá- lo para o inferno ! . . .

Em Portugal, segundo me informa, como já dio Dr. Manuel de Carvalho, existe um forno de padecujas características natur ais — érro de construy o

fazem com que èie arr efega minutos depois de seabrir a porta e ter experimentado a temperatura. 0 faverdadeiramente curioso, dà origem a exibigòes extr

dinárias, que se repetem com grande número de esp

dores sempre que na l ocalidade se realizara grande

tas . Nes sa altura, pessoas sem preparo alg um, metedentro do forno e, como n5o sentem qualquer m a n eatribuem o fenomeno a causas ignotas, a que nSo p

estranho deter minado po de r .. . que o homem rústic

aldeias n3o pode qualificar !

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 X X I I I

Métodos modernos

Hoje, porém, é fácil entrar dentro de um forno,mesmo que nao exista a tal corrente de ar.

Ora esíudemos um pouco as leis do calórico e dasua condutibilidade :

Se arranjartnos um recipiente de papel, sem rugas,como um hemis fer io de cartolina, por ex empo, e dispu-

sermos de um pedacito de chumbo, poderemos realizarama experiéncia — que derramará muita luz sóbre o queeu desejo que os meus leitores percebam. Todos sabemque o papel se inflama rápidame nte ao contacto de qual-quer chama de inferior temperatura; ninguém ignora,por outro lado, que o c humbo só co meta a fundir- se auns 327 graus ceatígrados. Pois bem. Se colocarmos onosso pedacito de chumbo no recipiente de papel e pu-sermos depois éste em contacto directo com a chama, o

chumbo fundir- se- á, sem que o papel se queime !Mas há mais — e infinitamente mais interess ante :

$e o recipiente é vasto e a quantidade de chumbo ra-zoavel, o metal comeg a a fundir- se ao mes mo tempo que

a temperatura do líquido desee. Mas, antes de prosse-Üutrmos, tentemos compree nder o fenóm eno : no pri-

®eiro caso, o calórico nao destrói o papel, porque éle é®au condutor e concentra- se apenas no metal. A ss im, se

^ ar®os num len^o de s éda e o repux armos em tornoe uraa bola metálica, de modo que nao haja m rugas,

J°de®os colocar sóbre éle um pedazo de carváo era

a! porque o calórico, coccentrando- se na esf era,P'ffio condutor, atravessará o lengo, mau condutor, a

a®a temperatura insuficie nte para o poder danificar.

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No segundo caso, multo seraelhante ao primevis to a e x pli ca do científica ser quási a mes ma, o

concentra- se na parte sólida do chumbo até a liquefaO metal líquido, por urna questSo de nivel a que nes tr anha a g rav idade, espalha- se pelo recipiente e lor, que continua a concentrar- se no sólido, abandolíquido quási tota lmente e só v olta a concentrar- se quando no recipiente nao houver matéria sólida.

Do exposto é fácil de concluir que se aquecerrum íorno de padeiro á temperatura de cozer o pSo e

ficar ao r ubro, a te mperatura des cerá de forma notapós a cozedura — especialmente se tivermos o engende conservar a porta aber ta, enquanto re tiramos o pmaior espado de tempo que pudermos, sem que o faseja interpretado no verdadeiro sentido pelos que prodem á observadlo. Se, após tudo isto, colocarmos dendo forno um enorme pao de cinqüenta ou cem quilocalórico ainda existente concentrar-se á sóbre a mas

cozer e nós poderemos, s em perigo, dar um passeiodentro do forno. É claro que a dilatado do ar difictar-nos-á a respirado e é por isso que os fornos de

nados a ex ibipoes sao altos e de portas elev adas. Asar disso, estas dev em manter- se abertas, para q u e

latapao nao atinja um grau que possa originar a síncoNo fim da sessao, podere mos deix ar f echar a p

durante uns segundos ; mas, logo que a abram, deven

saltar, como fazia Martínez, para dentro de uma tinágua, nao só porque é espectaculoso, mas princ

mente porque o banho tonifica o corado e devolv

tóda a superficie cutánea a frescura de que ela carGaranto, porém, que nao ex iste o menor peri¿

execu^ao da experiéncia, se ela fór levada a cabo co

tigor que as leis do calórico impoem.

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Mas há ainda um processo para evitar até a sensat o do pequeño calórico que, apesa r de tildo, impres-

siona o «inv ulneráve l* . Consiste em isolar- se convenientemente com trajo duplo ou triplo, confeccionado em láe com avultado número de peles, Neste último caso, éimpossível sentir- se o menor mau estar dentro do forno,

salvo o da respirado. Como, porém, tudo se pode remediar, os artistas modernos adaptam um tubo ao forno,de modo que um ex tremo fique dis s imulado lá dentro eoutro venlia ao exterior. Como se acha tapado com umarolha de metal, nao se corre o ris co de se vér o ar

quente saír quando o forno é elevado a grandes temperaturas. O ar tis ta, logo que se acha dentro do forno emanda fechar a porta, des tapa o tubo, aplica- lhe os labios e respira a pulmSo cheio, A s s ím, nem o calor ne m

as dificuldades de r e s pir ado podem opor- se á fácil r ealizado do prodigio.

Passemos agora a outros mistérios ígneos e analise-m°s, um a um, os vários segredos com que os domado

res do fogo de outrora tanto sucesso alcanzaran!.

 X X I V 

O segrédo de Simáo, o Mago

Simao, o Mago, consagr a os capítulos X e X I da

*Da°bra «Clavis Secretorum Coelis errae», ás mar av ilhas°'°go, que inicia por estes térmos:

«Todos vos sabéis que os meus prestigios se de-nSo só á minha divina ainda que hoje humana per-

T ^üdade, mas também á minha v ontade irres istível,^ído magnético que em grandes torrentes circula

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por todo o meu ser e ao prolongado es tudo que fiznatureza, dos elementos e das coisas.

«Por isso, pego-vos que n5o vejáis em mim apenum poder supremo, que ninguem pode igualar. De factqual de vós n3o me viu ainda andar sóbre brasas, pegnelas nas m5os, meter o pròprio fogo na bòca e realioutros prodigios admiráveis com objectos em ignit

«É claro que vos é fácil acreditar que a incombu

tibil idade do meu corpo se deve a um dom naturalminha es tranha e poderosa pessoa, E u pego- vos, poré

que se tal acreditáis, deveis pór de parte ¡mediatamenessa crenga, porque a incombus tibil idade de que gdepende de um prestigio de Alta Magia, cujo segrédo se pode confiar ùnicamente aos inicia dos nos seus pciosos mistérios. Eu fui iniciado nésse grande segrépor Doss ithec e recebi a c onf ir ma do respectiva

grande Menfis.«Como, porém, éste mar av ilhos o segrédo nSo p

tence à categ oria daqueles que nào podem, sob penamorte, ser revelados a estranhos, eu v ou dizer- vos copodereis conseguir a incombustibilidade que me distgue e manipular, como eu manipulo, as próprias cois

em brasa :«T omar eis urna quantidade conveniente de suco

malv as , urna clara de óvo, semente de salsa e cal g em ; pulverisai tudo conveniente mente e misturai o

assim obtido com a clara do òvo e com o suco de ura báñete.

«Se vos friccionardes depois com esta pasta, espcialme nte, as máos e os pés, ser- vos á fácil maneja

fogo e pisar carvoes em brasa. Se o calor a suportar

de g rau elev ado, aconselho- vos a dardes ma is de u

demáo, logo que as precedentes sequem. S e as vá

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camadas estiverem bera secas, podereis, sem receardes

a dór da queima dura, passear por cima do fogo e até

pegar no ferro ein brasa».E eís a fórmula, semelhante á de Artephius e de Alberto, o Grande, a que W . Gr ebe e o Dr , Moor ne te-cem os maiores elogios, concluindo por afi rmar que aexperimentaran! e obtiver am com ela urna incombusti-

bilidade realmente pasmosa.Urna outra fórmula do mesmo autor, «para se obter

a incombustibilidade das maos», a que Grebe liga aindamaior importancia, é a seguinte, que eu traduzo inte

gralmente, embora procurando manter- lhe, na me dida dopossível, o interessante sabor do curiosís s imo o r ig in a l:

«T riturai car mim de qualidade superior, com alu-men de rocha e juntai depois á mistura suco de sempreviras e resina de loureiro, Quando a mistura estiver homogénea, fr iccionai as maos com e la e ass ombrar eis ospróprios iniciados na Magia, pegando no ferro em brasa».

NSo ex per imentei nenhuma das fórmulas , porque

nós, como se verá mais adiante , dis pomos de coisa me-Ihor, Contudo, sou for ja do a concordar que elas sSo

absolutamente admiráveis para a época em que foram¡aventadas, De resto, eu estou convencido de que SimSo,

0 omitiu propositadamente o amianto em pó»í Qe éle conhecia perfeitame nte e cuja incombustibil i-dide nao lhe convinha revelar,

 X X V 

O segrèdo de Richardson

0 «J ournal des Sav ants«, a que jà me referi larga-é a unica obra onde se encontra, mercé da trai

l o que citei, o autèntico seg rédo de Richar dso n, o

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agora revelado se deve inteiramente ao servo do «SieurRicharfon, aquele inglés que há trés ou quatro anos exi-

biu perante nós as mais surpreendentes experiéncias,que grande número de sábios nao atribuem a outracoisa que n3o se ja urna hsbilidade rara ao servido de

um segrédo maravilhosamente fantástico.«Ora ésse seg rédo — continua Pant hot — consiste

em puro espirito de enxófre, com o qual se friccionaraas maos e tódas as partes do corpo que dev em tocar oferro. Éste efprit de souffre  (espirito de enxófre) nSoactúa, como se supós a pr inc ipio, re primindo a activi-

dade do fogo, mas tor na a pessoa que se util iza délebrufle  e cauteriza particular mente a pele, que se endurece tanto como o couro, de maneira que pela pri-meira ou segunda vez nao se aguenta tam fácilmente o

contacto do ferro em brasa, como ñas seguintes, porquequanto mais se pratique mais o couro endurece, tor-Dando-se enormemente caloso. Tanto assim é que háferradores e ferreiros cujos contactos permanentes com

o ferro em brasa fazem com que éles os tomem ñas suas®Sos sem prov ar em a menor dór,

«Contudo, se após várias experiéncias levadas acabo com éste espirito de enxófre, nos lavarmos emagua ou vinho quente, destruiremos a epiderma cauteri

zada e a parte endurecida e n3o poderemos portanto, aPartir désse momento, tocar o ferro em brasa e muitoraenos pegar néle com as fa cil idade s de outrora. Tere-m°s de esper ar que a mesma droga volte a queim ar e

a endurecer a epíderme». A drog a a que Panthot se refere, o espir ito de en-

x^re, é, em linguagem contemporánea, simplesmenteac’do sulfúrico.

0 «valet» de Ricbardson nao levou a sua traf?2o a

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ponto de des cobrir as propor^oes da s olu^ao e do

gressivo aumento do ácido na água, precisamente porq

as desconhecia. O facto, como já vimos , r ef lectiu seobras de todos os plag iadores moder nos , que n2o signoram também, como até, por imperdoável descui

náo sabem que a operadlo tem únicamente por objectengrossar e calejar a pele. Se nSo fóra semelhante igrancia, ter- nos- iam acons elhado, como D av id de Casa friccionar todo o corpo com o líquido sem propor?ou, como Sementini, a banhar os cábelos em ácido s

fúrico diluido em água, para éles n5o serem destruidpelo fogo ? Se nao fósse a inc úria e a lev iandade dobio ital iano, escusav amos de la me ntar a per da de mtos dos mais ilustres amadores das ciéncias da ilusSo, éle tivesse estudado com ateneo o «Journal des vants», conheceria o verdadeiro papel do ácido e sabeque os cábelos nao tém pele que se possa calejar. daría, portanto, conselho tam cr iminos o, que destruí

cábelos e parte do couro cabeludo a dezenas e dezende experimentadores de mérito! Nao seria acertapara bem da humanidade , meter a t empo na cadeisábios—e, com muito mais razao, os autores ignoran— que se poem a versar as suntos que pouco ou nconhecem ?

«Éste segrédo — prossegue Panthot — aliado a *tour de adresse  que nunca póde ser descoberto, p

mite a Richardson pór um carvSo em brasa sóbre a lg ua e manter- lhe a incandes céncia com um fole, assar um pedazo de carne !»■

É que o segr édo de pr e pa r a do da língua, qupróprio serv o de Ric har dson ig norava, na da tem ver, como veremos mais adiante, com o ácido sulfúr

Mas Panthot, consciente da sua ig noráncia — o qu

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H A G I A d o   f o g o - 123

próprio de sábios, verdaderamente dignos déste nome—aconselha a colocar sóbre a língua urna delgada fatia

de carne, afirmando nos depois que a brasa posta entreduas carnes—a que se acha sóbre a língua e a que pretendemos assar — n5o poderá incomodar- nos. Na ver-

dade, o que sucede n3o é bem isto. Contado, o sistemaindicado é bem digno de um grande dentis ta , A fat ia decarne que se acha debaixo do calórico é vinte vezes menos batida por éle do que a que se acha em cima , Olado pertence a  física vulgar e pode, por essa razao, sercompreendido por tóda a g ente, incluindo os próprios

rapazes dos liceus, Apesar dísso, para ilustrar a lei, n2oresisto á tenta ao de lhes contar uma anécdota quetere como principal protagonista o grande filósofo gregoe nao menos cínico — Diógenes (413- 323 a, J. C,),

É e s t a :

Diógenes encontrára um grande número de carvoesincandescentes, que desejava transportar para junto doseu barril. Nao tinha, porém, coisa alg uma a mao que

lhe facilitasse o transporte e resolveu utilizar- se dasmesmas conchas que lhe serviam para se dessedentar—as maos. Notou, porém, que se queima v a horrivel-oente e resolveu pedir auxilio a uma pequeña laje, UmPetiz, cujo nome n5o recordo, porque cito a anécdota de

cor, resolverá o problema e, quando Diógenes regressaraao cal com a pedra, já éle procedia ao tr ansporte dasbrasas ñas suas próprias maos, deixando o filósofo pas

cado, Colocara primeiro sóbre elas uma camada dec,nza fria e, sóbre esta, as brasas que transportava. Ocalórico — quem o disser a ao petiz ? ! — tende constan

temente a subir e por iss o n3o podia queimar- lhe a pele.Compreende- se, portanto, o conselho admir ável de

anthot, embora eu nSo creia que éle resolva inteira-

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mente o problema, Porém, o ilustre médico franagarra- se entusiásticamente à sua hipótes e e conc

como que alicerçando- a :«De resto, a bras a dim inuí constantemente de c

até o fogo se ex ting uir por completo na parte que assesôbre a língua, devido à grande quantidade de saliva qse aglomera na boca, Só a parte superior, avivada pmanentemente pelo fole, se mantem incandescent

Óptimo ensinamento éste, cujo valor continua rpeitáy el ainda em nossos días — a quás í très século

distancia !Com a língua convenientemente preparada e re

berta, apesar disso, com a delgada fatia de carRichardson podia, de facto, assar o pedacito de vit

sena sentir a menor sensaçâo desagradável.Panthot, que até aquí se nos tem mostrado uma

telig ência de eleiçâo, atrapalka- se um pouco ao manitarse a propósito do ferro em brasa :

«Nâo é, pois, dif ícil de compreender — diz élcomo se pode assar um pedaço de carne sôbre a língquando se conhece o respectivo segrédo e se viu, coeu vi, realizar a ex periéncia. Mas andar em cimafer ros ao rubro é uma pro va que n5o es tá ao alcáncenao de certos fakires, de que nos f ala T av ernier suas «Viagens Maravilhosas ao Oriente», Contudocriado de Richards on afirma- me que podemos f o r t i f i c

re médio r ev elado por éle, se juntar mos ao espiritoenxófre (ácido sulfúrico), já indicado, partes iguais sal amoníaco, essência de rosmaninho e suco de albo

Pelo que se vé, o criado de Richardson procedía

pouco às apalpadelas, o que me leva a crer que éle nlinha absoluta certeza das afirmaçôes que produzia. lava por vér o grande prodigiador comprar ou m a n d á

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comprar os produtos que, s em propor? oes, traigoeira-

mente revelou.

 A robustecer a minha suposig ao está o facto do traidor aconselhar como coisa sua a incorporado do sucode alhos, visto ser impossível que ele conhecesse osefeitos do ácido pícrico sóbre as queimaduras da pele.Richardson mandava- o talv ez comprar os alhos, que es-magava na sua presenta e ele, querendo íazer revelares em troca do dinheiro que lhe haviam oferecido, ex-plicava tudo o que sabia, misturado com tudo o que

imaginava saber ! A concluir , Panthot atira- nos, á falta de melhor, com

outra das suas hipótese s — ig ualmente distante daverdade :

«Quanto aos efeitos que os carvoes ígneos, o lacreem fusao, o enxófre a arder e as outras matérias queRichardson ing ere com um á- vontade que pasma, podem,

na realidade, originar lhe no estómago um determinadomau estar. Mas , sendo as sim, éle vomita- as logo após a

sessáo, bebendo água morna e azeite de oliveira».Esta opiniSo de Panthot deve ter como base um

possível descuido de Richardson que, sem querer, inge

ría de facto algum dia uma pequeña porfío de enxófree, para evitar conseqüéncias, teria provocado o vómito na¡rente do maldito criado, que supoz ser manobra habitual,guando a matéria que éle imaginava ser ingerida tódasas noites lhe fizesse s e n s a t o no estómag o !

*

* *

E ai fica a parte essencial da tese defendida no< °urnal des Sa v ants» . É claro que nSo cito idiotices,

Corn° aquela em que Dodart, querendo fazer ciencia,

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d o s afirma que o carv3o nSo podía queimar a línguRichar dson, porque éle mantinha- o e m suspensSo c

lábio superior!Em face desta afirmado, dá vontade de preguna nós próprios se o autor da hipótese está a brincar cnosco ou se na realidade ignora que os lábios sSo mmais sensíveis ao calor do que qualque r outra partcorpo, incluindo a língua !•

 X X V I

O segrédo de Leonetto

Barnello, assim como os mais modernos domadode fogo do Ocidente, n3o tém, para suportar o ferrobrasa, sistema superior ao do célebre ilusionista esnhol. O que possue m — iss o é ineg áve l — é procenovos de prodigiar e, sobretudo, urna técnica especia

sima para obterem, sem o menor perigo, «efeitos» massombrosos do ¿y#  os apresentados em 1809 pelgenhoso Leonetto, Désses processos estupendos ocup-me-ei na terceira parte déste livro. Agora, para evsobreposi?oes de idéias que possam p r e j u d i c a r o est

tratar ei ap3nas do auténtico segrédo do prestig iado

tecentista, visto que éle resolve o problema do ferro bras a e poe térmo a ura ciclo de in v e s tíg a le s cientí

que tanto revolucionou a humanidade culta de outrLeonetto contiecia — diss o n5o tenho a menov ida — os trabalhos de Richardson e resolver á ape?oá-los para se exibir em público. Assim, ao ácido

fúrico diluido em água, juntou a quant idade quepareceu s uficiente de alume n, para obter, ao me

tempo, o calejamento e a incombustibilidade da p

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M A G I A d o   f o g o - 127

Os cábelos eram banhados quotidianamente com umadissoluto saturada de alumen e a lingua «pintada»

com urna camada de amianto em pó misturado comalumen e uma clara de óvo.

Pormenorisando, chegatnos à conclusào de que,provàvelmente, Leonetto conhecia ex actamente os mes-mos processos de que os ar tis tas de hoje se utilizata,Falhatn talvez as proporgòes, de que nào possuímos odetalhe; mas, em conjunto, Leonetto procedía com per-feito conhecimento de causa.

 X X V I I

Sistema contemporàneo

Como n3o quero voltar ao assunto, vou jà descrever

com precisào o método provável de Leonetto, que éexactamente o mesmo que os especialistas no assunto

vendem por milhares de dólares aos artistas e amadoresque desejam exibir- se como «domadore s do fogo».

Ei-lo :

Em mil g ramas de ág ua comum deitam- se duzen-tos e cinqüenta de alumen em pó e aquece- se tudo atécompleta d is s o lu t o Depois da mis tura fría, adiciona- se-•lhe gota a gota cinqüenta g rama s de ácido sulfúrico edeixa-se tudo em repouso durante urnas duas ou trés

oras, No firn, ag ita- se cuidadosame nte e fr iccionam- seas partes a calejar com o líquido assim obtido — o inte*

rior das m5os e as plantas dos pés. No dia seguínte,(Crescenta- se à s o l u t o mais um g rama de ácido sul-

riCo e procede- se a o p e r a io idèntica. Nos quarenta e

Te dias que se se g uirem pratica- se ex actamente a

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mesma coisa, ficando o liquido com cera gramas ácido sulfúrico e os pés e as mSos com cinqüe

f r i c a s . Desde éste momento, deve come?ar- se a tao ferro em bras a, para que a pele, ao seu contactogrosse cada vez mais.

Como já aprendemos, nao devemos la v ar as pdo corpo submetidas á pr e pa r ado e muito menos água quente. Um pouco de «rudí» em água fria, propor^So de um de «rudi* por v inte e cinco de áé o processo mais usado para satisfazer as exigén

da higiene,Há processos violentos para se obter a incombu

bilidade em alguns dias apenas, mas ésses prejudicasaúde e nao devem, por ésse motivo, ser explica

por mim.Se o leitor estivesse condenado á «prova do fo

como a princesa Ema, eu nSo hesitada em prepararos pés, embora tivesse depois que fazer largo uso

água bicarbonatada para diminuir os estragos. Asscomo dispoiaos de tempo suficiente para nm pre

racional e progressivo, n3o vejo aecessidade de prcarmos tolices.

Para os cábelos, devemos empregar uma solusa turada de al umen e cloreto de sodio, que se obté

seguinte forma:Num litro de água a ferver a fogo lento, deita

trezentos gramas de alumen em pó e uns setenta e cide cloreto de sodio, Após a dissolu^So, deixamos esa mistura. Como tanto o alumen como o sal m a r in h o

mais densos que a ág ua logo após a satur ado d

quido, o pó excedente, arrastado pela gravidade, dao fundo da vasilha. Decantada a solu?ao, teremos, Po líquido que necessitamos. Bastará agora banhar

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« a g í a   d o   f o   g o - 129

éle todos os dias os cábelos para, no fim de sete ou oitosemanas, éles ficarem incombustív eis . Note- se, porém,

que tereraos de proceder quotidianamente a ésse traba»lho e n5o esquejamos que os eíeitos cessaiao logo quedeixemos de os banhar com a mistura a que me refiro.

Nao me consta que a operagáo abrevie a queda do

cábelo ou produza o menor mau estar ao cer ebro. A pe-sar disso, gostaria que os meus leitores nSo realizassemesta experiéncia, tanto mais que pór um ferro em brasasóbre os cábelos n3o é mais assombroso para o públicodo que pegar néle com as ir Sos.

Tratemos agora da língua :Numa clara de óvo de galinha, batemos tanto pó de

amianto e alumen (duas partes daquele e uma déste)quanto fór preciso para se obter uma pasta fluídica, mas

densa, com a qual possamos pincelar a lín g ua ; e cá te-nos o que Sementini chama sabao e diz ser utilizado!*lo ilusionista espanhol!

Nao oculto que o sabao, assim como certo número

de gorduras, se mostr am abs olutamente eficazes sóbre a'ID¿ua, para se poder suportar determinado grau de ca-l°r’ Mas nSo quero que os meus leitores ig norem que oerro e[n brasa funde qualquer das substancias gorduro*

apontadas e, segundos depois, ficaria em contactoCo® a língua. O método só é aconselháve l para baix as

temperaturas, como lacre em fusáo e outras materias se-Chantes que fundem a temperaturas inferiores a du-,entos graus.

I de s's*ema (l ue e Que eu suponho nSo diferir do{a e^o sen5o na precisSo das quantidades, empre .

Se em nossos dias até ñas máos e nos pés. De facto,l   se pega num ferro em brasa, o péso déste

a um contacto demasiado estreito com os tecidos

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dérmicos e a calosidade, atingida violentamente, ame

destruir- se. Por isso, em cim a da pele já engr ossadaácido, dáo-se várias demaos da massa reíractária aolor, o que £az com que os objectos incandescentes mpesados n5o produzam a menor sensagao desagradseja qual fór a temperatura a que tenham sido

vados.Nos pés deve proceder- se de idént ico modo,

cialmente nos calcanhares, se é com estes que pisam

de preferéncia, os múltiplos ferros em brasa. Istoquer e dizer que o prepar o que cite i nSo possa, ssi, resistir ao calor e aos efeitos do ierro incandesce

o que se pretende com o s istema duplo é pouderme ao contacto directo com o fogo. Nada mais,

Q uan to ao chumbo em fusao, que Leonetto

na bóca e cuspia depois num recipiente cheio de áes tá absolutamente av er iguado que se trata de

substancia muito seme lhante á lig a de Darcetfunde, como se sabe, a noventa e quatro graus cent

dos e portanto a urna temper atura ainda inferio

vezes, á do café que tomamos.Esta lig a confunde- se tanto, á s imples vis ta,

próprio chumbo, que eu admito per fe itamente quenetto a utilizasse até para fingir que as suas m3os riam suportar uma temperatura superior a trezen

vinte e sete graus. Nao se esqueja, porém, oaf irmei sóbre as leis do calórico, Tendo- as presen

leitor poderá compreender fácilmente que, mesm

Leonetto operasse com auténtico chumbo, nunca te

suportar nem coisa que se parecesse com o grlusS o déste A pesar disso, mantenho a mia ha hipó

continuode citar.

continuo a crer que èie se uti liz av a da lig a que

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Para que os meus leitores conheçam, nSo so a ligade Darcet, que aconselho e que todos os modernos

usam, mas ainda grande numero de outras cujo ponto defus3o se mostra ainda mais baixo, respigo de «O mundo

Ponto de fusào Bismuto Estanho Chumbo Càdmio Zinco Mercurio

53° 80 30 50  _ 2065° 40 20 2 —   _ 1066» 75 20 40 15   _   _

68° 75 20 20   _ 

  _

 _70° 150 40 80 30 —  _75» 42 2 0 23 8   _ , ,88» 70 — 60 10   _ —-92» 50 20 30   _    _   _ 

94» 80 30 50   _   _

96» 20 10 10   _   _ 

100° 80 — 50   _ 30   _

113» 80   _ 80   _ 30 T—.-123» 80 — 80   _ 40   _

130» 80  _

100  _

80Í32» 80 — 120   _  80  ___143» 80 — 160   _ 120   _

146» 80 — 160   _ . 140   _

154» 80 — 220 -- 240   _

160» 80  —  320   _ 363 ,166» 80  —  32   _ 280  _172» 80  —  30   - 240   _ 

186»   -- 30 10189»'   - 70 30

194»   -- 76 24  _232»   _ 100   _

239»   _  16 84241° — 50 50270» 100327» — — 100  —  —

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científico» o elucidativo quadro que publico na pág

anterior.E com isto ponho térmo ao trabalbo que consagrLeonetto e aos sistemas contemporáneos de incombusbilidade . É possível que no decorrer da obra, determdos «eíeitos » chame m de novo a miaba atengao paprime iro «domador do fogo» que a Es panha coahecSe assim fór, voltarei ao assunto — para melhor esclacer aquéles que me honram com a sua leitura e créno rigor absoluto dos conhecimentos científicos que d

crevo.

 X X V I I I

Lavarasmáoscomferroemfusáo

 A s ma rav ilhas dos fak ires da India, os misterdos a'íssaua da velha África, as próprias exibigóes extradinárias de Richar dson e os prodigios estupendos Leonetto, compar ados com o «efeito» inconcebívelpegar no ferro em fusao, nao passam de ninhariadignas únicamente da atengao infantil. Nao há mesurna única pessoa sóbre a Terra que, sem se docum

tar, creia na possibilidade de semelhante realizagáo, squal fór o principio que se evoque, desde o e n g e

mais surpreendente do «truc» aos fenómenos maisinco

preensíveis do milag re . Contudo, logo que o factoobserv e e a e x pli ca do teórica tenha sido ass imilada cérebro, a razao, forg ada pela verdade, curva- se á

déncia e admite, até sem experiéncia prévia, o que

tes se ihe afigurava absolutamente impossível.Para convencer o homem das possibilidades de r

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lizagáo de certa fenomenología julgada irrealizável, háapenas dois processos distintos, igualmente indiscutíveis:o «controle» directo dos factos, que envolv e a experién-cia própria da realizado do suposto mistério, e a expli^cacao científica dos sábios de indiscutível competénciana matéria que se verse.

Focá-los-ei a ambos e, para que me nao acusem deexagerado, quer na ex posigao da teoria, quer ñas realizares que levei a cabo no campo experimental, vou dara palavra a Rober t- Houdin (1 ), Éle , melhor do que eu,saberá instruir os meus leitores sobre o fantástico fenómeno esferoidal das moléculas do ferro em fusao.

Eis o que nos diz o Mestre:

«Folheando um dia a revista científica «C osmos» —escreve Robert- Houdin — , pude 1er o «compte rendu»

de uma obra intitulada «Étude sur les corps a l'étatsphéro'idal», por M. Boutig oy (d’Ev reux ). O redactor domagazine, o sr . A bade Moigno, citav a alg uns pass os dointeressante liv ro, de entre os quais permito- me respigar

os seguintes :«M. Cowlet tomou a iniciativa (é M. Boutigny que

tala) de aparar o ferro em fusSo com as suas próprias®5os, Eu mesmo introduzi também as m5os nos moldese nos cadinhos repletos de ferro fundido que acabava decorrer de um «wilkinson’ e cuja irradiado se mostrava•nsuportável, mesmo a grande distancia. A pesar disso,durante mais de duas horas, continuamos as ex perién-

Clas, que variavamos a cada momento, em busca dascertezas que perseguíamos, Madame Cowlet, que se

(1) »Coafidences d’nn Prestidig itateur» , pág. 342 c sellantes.

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achava presente, assim como a sua filbinha, urna gencrianza de pouco mais de dez anos, meterara também

suas m§os nos cadinhos, sem que o ferro em fusao lhcausasse a menor dór,

«Em face da considerado e respeito que merece

sábio Abade e da elevada posigSo científica do célebfísico M. Boutigny, autor da extraordinária tese, nao m

era possível duvidar do que acabava de 1er, Contudopara que negá- lo ? ! — o prodig io parecia- me de tal forimpos síve l, que o meu espirito recusava- se a aceit

e, para crer, eu, como S. Tomé, desejei ver,«Corri, pois, em busca de M, Boutigny. Logo qu

encontrei, comuniquei Ihe os meus desejos de assistiruma experiéncia prática de tam maravilhosa teoria, etando, é claro, de deix ar transparecer no rosto a medúvida sóbre o facto»,

O sábio, como todos os espiritas verdaderamen

superiores, acolheuo com bondade e até, como se ve

pelo que mais tarde sucedeu, com requintes de admivel gentileza, Prometeu repetir as experiéncias na spresenga e ainda, para o convencer totalmente, permque éle próprio lavasse as maos no ferro incandescen

Rober t- Houdin, cuja oferta o encheu de terror, ctinua com a maior sinceridade :

«A proposta era atrae nte, cientif icamente falanmas, por outro lado, eu tinha cá os meus receios e

leitor, se estivesse no meu lugar, talvez nao pudesevitar, como eu nao pude, que a espinha tivesse unsensagao g ela da e os cábelos se lhe pusesse m de

« E se houvesse um erro científico ? ! Se, por ququer motivo que eu ignorava, a experiéncia falhass

 A s minhas mSos, a pele, os músculos, os ñervos e

ossos ficariam reduzidos a nada, porque uma tempe

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tura de mais de 1500 graus n5o deve respeitar coisa alluma! Ora todos nós precisamos dasmáos, Mas eu, que

lhes devo tudo quanto sou, sinto por elas , ao me smotempo, necessidade e gratidSo.«0 gr ande fisico, parecendo adiv inhar os me us

receios e notando a hesitag ào da resposta que espera va,preguntou- me, um tanto es candaliza do :

« — Dar- se- á o caso de vocè nSo ter confianza eromim ?

« — Deus me livre, senhor ! — respondí eu pronta*

mente e acrescentei quàsi a seguir : — Urna conf ianzailimitada, mas.,. »

« — M a s ... vocé tem médo — interrompeu, rindaM. Boutigny.— P ois bem . P ar ao tranqüilizar, eutacte ar eiprimeiro a temperatura do liquido e só depois disso éque vocé mergulhará nèle as suas m5os.

« — E qual é, pouco mais ou menos, a temperaturado ferro em fusao ?

« — 0 ferro funde a uns 15Í0 graus, mas só entra

em ebuligao a cérca de 245 0.« — Entào eu v ou meter as mSos num líquido cuja

temperatura oscila entre 1510 e 2450 graus, n5o é ver-dade ? !

« — Isso mesmo.«A gr andiosidade da prova amortecera- me o receio*

 Aceitei. Estav a de slumbrado !».

E Robert- Houdin, viv endo ainda a sua enorme an-

s*edade de saber, continua :«No dia fix ado por M, B outigny , re ünimo- nos nas

gandes fundigòes de M. Dav idson, do qual o distinta

Clentista havia obtido a licenza necessària para a realiz o da experiencia.

•A o entrar no vasto estabe lecimento metalúrg ico.,

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nao pude subtrair- me a um arr epio. O bar ulho infede todos aquéles meca nismos , aliado à visào das

guas de fogo que se escapavam dos altos fornos, tziam- me ao cerebro, exagerando- os, os perigos a queia submeter- me. H a via no conjunto observ ado e senqualquer coisa de terrivelmente solene,

«O chele dos altos fornos, a quem M. Davidsha via re comendado facilidades, aprox imou- se de niudicou- nos o forno, onde o meta l, já líquido , aguardque lhe exp;rimentássemos a pasmosa temperatura.

perando que o jacto incandescente corresse, ficamoslenciosos, uns mome ntos , ao pé da g igantesca forna A pós isso, M, Boutig ny esclarece- me :

«— Só vocé s er ia capaz de fazer com que eu r

tisse, urna vez mais, esta experiencia de que nao gosporque embora eu esteja absolutame nte s eguro dosultado, nao posso deixar de sentir, sempre que a ecuto, urna g rande comogao, de que é imposs ível

fender- me,«— Se as s im é — respondí eu prontamente, idido por um terror pánico dif ícil de ex plicar — va

-nos daqui ! Eu creio em vocè sub palavra.,.« — Nao, nao ; é absolutamente neces sàrio qu

lhe fag a compree nder éste fe nómeno e para isso j

indispensável que experimente por si mesmo,«Depois, como quem esquecera algo de ruuíto

portante, continuou :«— A h, mas espera! V ejamos as suas maos...

«E logo a seguir :« — Diabo, dia bo! E la s es tío demas iado sécas

a realizado da nossa experiéncia !

«— Vocé eré isso ?«— Certamente,

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\

« — E o facto é perigoso ?«— Poderá sé- lo,,,

f — Enta o saiamos já daqui, — diss e eu cada vezmais aterr ado e encaminhando- me logo para aporta,

«M. Boutigny , agarrando- me pelo casaco, para eunSo lhe fugir, prosseguiu :

«— Mas para tudo há r e me dio.. . A i t e m, ., Metaas mSos dentro désse balde de água e límpe- as depoismuito bem. A humidade que r estar sóbre a pele serásuficiente para a realizagao da experiéncia.

«Soube mais tarde — afirma Robert- Houdin — queM, Boutigny quís apenas castigar a minha incredulidade,

visto que o acto que me forgou a pra tica r é abs olutamente iadispens áve l. Sem m5os húmidas — húmida s ;n3o molhadas — a ex periéncia ser ia impossíve l. L astimo n3o poder ser mais ex tenso ñas e x plic a r e s domaravilhoso fe nómeno esfer oidal, mas é- me impos síve linserir aqui uma tese cuja ex posig ao gastaría, pelo me

nos, urnas cem páginas . De resto, a obra de M. Bouti-£ny é ins ubst ituível na ciéncia que nos inter essa e oleitor, por isso, deve es tudá- la com v antag em. E m duas

Palavras, direi apenas que o metal em fusáo, a tam

levada temper atura, é mant ido á dist& ncia pelo fe nómeno esferoidal, que origina uma fórga repulsiva ñas

moléculas líquidas, em virtude de uma evaporado instantánea da humidade da pele, Mas o facto parece ter

uáar só no caso de temperaturas formidáveís, como afus5o do ferro, por ex emplo. A lei a pontada por

outigny é colossal e faz- nos um pouco de luz sóbre os

<caprichos» da electricidade, que pode matar a pequeñaT°ltagem e nao mata quando o número de volts atingeÜQla enormidade.

« A G I A D O F O G O - 1 3 7

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«Mas voltemos à experiència, porque eia, mesmsem o aux ilio da teoria, mostra- se eloqüentíss ima :

«Logo  que acabei de limpar as mSos, os operarabriram uni dos fornos e t u   vi sair de dentro déle

 jacto de ierro liquido da grossura de utn brag o. Chisp

ígneas, como um autèntico fogo de artificio, espirravaem todas as direcfòes. 0 calor, mesmo a respeitávdistancia, mostrava- se insuportáve l.

«— Esperemos alguns instantes, para que o jacto torne mais puro e mais homogénio—recomendou o sáb

— Seria pouco aconselhável realizar a experiència nesmomento.

«Cinco minutos depois, a fonte de fogo deixa de fver e de vomitar escorias. Nesta altura o jacto líquitorna- se tam puro e tam brilhante , que ame a^a queima-nos os olhos à distáncia de vários metros.

«Num gesto rápido e decidido, o meu sábio compnheir o aprox ima- se do forno e, aparando o jacto me

lico, acaba por lav ar as suas máos no ferro em fuscom o me smo á- vontade como o far ia em água morn

«NSo posso ocultar- lhes a minha a dm ir a do e o mterror . O c o r a do pulsav a- me tam desordenadamen

que eu cheguei a ter médo que ele me saltasse do peit

Contudo, logo que M, Boutig ny te rminou a sua expriéncia, eu avancei por meu turno e, recalcando o meque me devorava, im ite i os mov imentos que acabava

ver executar ao notabilissimo físico.«E u, como as crianzas , chapinhei literalmente

m5os no líquido chamejante e, notando um extraordinàprazer na fantástica operado, peguei num p u n h a d o

ferro em brasa e lancei- o ao ar, v endo depois caírchao uma auténtica chuva de fogo.

« A impressao que senti ao tocar o ferro incand

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da Companhia de Cristais de Pit ts burg , que construuma urna de grosso cristal para Ihe impedir a fuga.

O seu filme , «T ank humano», que tanto éxitocangou, focava as suas admiráveis {acuidades de ilus

nista especializado naquele género da ilusào.O encontro dos dois artistas mundialmente conh

eidos foi, como é natural, vincado pelos jornais, chegaram até a arquitectar hipóteses sóbre uma possivsociedade ar tis tica a efe ctuar entre ambos . O querotativos nao dísseram, porque o ignoravam, é que o

contro fóra puramente casual e que, apesar dos génerdifer entes que os dois inter nacionais ex plorav am, upontinha de inveja, cuidadosamente disfamada, espic

gava cons tantemente o cérebro de um pela imensa polar ida de do outro. Cada um déles sentia- se mais dide as sombr o e do aplaus o do pública do que o ou«cujo trabalho, sèriamente criticado, nao podia explic

os triunfos que obtinha»,Dos dois, era, contudo, Harry Houdini o mais v

doso. Quando subiu a director da Society of Magiciana sua primeira resolugao foi.., mandar fundir o

pròprio busto em bronze, para que èie perpetuas

atrav és dos tempos, a s ua memor ia na A cademiconstituisse uma imag em constante «do que fór

maior notabilidade no ilusionismo moderno» ! Apeum obs táculo — só um ! — se opunha aos seus proj

tos : o gr ande Robert- Houdin, apesar de f alecido ba

mais de meio século, f azia- lhe muita sombra. De Btier de K olt a nem sequer se lembr av a ; Hermano nlhe ocorria ao cérebro! Só o fantasma de Robert- Hou

o enchia de insónias e lhe cobria de crepes a alma

denta de gloria !U m dia, intoxicado pela vaidade e m a r t i r i z a d o

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à loucura pelos seus insaciáveis desejos de triunfo,

toraou urna resoluçâo heroica e projectou reduzir a pó a.

obra gigantesca do insigne Mestre francés,Todos sabera o que depois sucedeu. A tremenda

campanha fèz levantar contra èie os intelectuais de todoo mundo que, à força de estudarem a v ida de um e deoutro, descobriram, na de Ho udini, ver dadeiras podri-

dôes.Foi a sua morte.Soube-se entâo que muitas das «suas* invençôes

nâo passavam de plágios mais ou menos disfarçados eque o primeiro americano que o notara fòia, por sua in-fluência, ex pulso da Society of Mag icia ns — apenas porque tivera a coragem de revelar tôda a verdade. O facto,

absolutamente revoltante pelo elevado grau de injustiçaque encerra, mais irr itou os investig adores, que chega-rama descobrir a historia de certo livro, que êle prometerá editar e que, sem o menor es crúpulo, publicoucomo autor !

Mas nâo é tudo ! Afinal, veio a saber- se também que as suas ma is

extraordinarias experiências eram devidas a segredos

■aventados por outros e que èie — dis pondo de milhôes®e dólares — comprav a por ele vado preço ou obtinha ,quando a sua enorme inf luência o pir mit ia , por determi-°ados processos, que deixavam os inventores sem a^mbra de um centavo !

0 busto ficou, pois, fora do vestíbulo do grandecentro intelectual de Magia.

Mas vamos ao encontro :Houdini, logo que viu Barnello. afectando um

 j>rande prazer, convidou- o a tomar chá, 0 - rei do fog o»,,

'ndo- se encantado, aceitou o convite e os deis, de

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brapo dado, entraram na pastelaria. Enquanto esperavpelo delicioso veneno, Houdini quis des lumbra r o

r iv al e. para isso, cootou- lhe que inv entar a urna ilus áo tara ex traor dinariamente ass ombros a. que iricher de pas mo o público da A mérica e da Europa. Cfaltavam a índa certos deta lhes - acrescentou a títuconfidéncia — refugiara- se numa cas ita dos arrabalonde trabalhav a em siléncio para ultim ar aquiloclass ificava, sem favor, *a maior i a v e ng o do sácuPara estar sózinho — concluíu — até dispensara os c

dos . Por isso, naqueles dias, comia fora de ca s a ; iria dor mir á quintaziaha, oferecia- lhe hospitalidade,

Barnello aceitou.Pr ecis amente nesta altura , o cr iado serv ia o c

Barnello, c«m aquéle nervosismo que a miude Ihe perder o «contr ole» de si próprio, serviu- se rápidamede adúcar e . . , bebeu um longo trag o do líquido. Mchá. que es tav a quási a cem gr aus, queimou- o horr

mente e B arnello, depois de soltar um grito, disseas lágrimas nos olhos :

— Irra ! A té chorei ! , . ,Houdini, vislvelmente satisfeito com o desas

acudiu logo pressuroso:— Se o teu público assistisse ao significativo f

que eu acabo de observar, adeus popularidade ! A seg uir, num requinte de inconce bív el mald

acrescentou fríamente, como quem  julg a um conden— Se te queimas com chá, como queres qu

«outros» acreditem que derramas sóbre a líogua au

tico chumbo em fus3o ? !Bar nel lo mordeu os lábios até fazer sangue,

calou- se,

 A pesar do s iléncio denso como o chumbo

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atmosfera de guerra que pairava no ambiente, Houdinis o r r i a satisfeíto c procurava até dar ao rosto urna expres-

$2o aroável. Após o chá, os dois «soberanos », o «rei do fogo» e

o «rei da evas5o», meteram- se no automóve l do úliim oe dirigiram- se velozmente para a casa de campo de Houdini. Éste, quando ia abrir a porta, notou que tinha perdido a chave. Furioso, quási fora de si, voltou- se paraBarnello e disse:

— Como vés, temos de ir dormir a um hotel,

Barnello, com a maior serenidade déste mundo, res-pondeu-lhe:

— Vé lá se o teu público te via neste momento ! Setal sucedesse, adeus t ítulo de «re i da ev asüo» e adeuspopularidade que, de resto, nada há que justifique !

E depois, deix ando caír as palavras urna a uma,acrescentou com ironia :

— EntSo como queres tu que te creiam capaz de teevadires de tóda a parte, se nem sequer te é possíve l,

porque perdeste a chave, entrar na tua própria ca s a ? !Se lá estivesses dentro, lá f ica v as .. . á espera, com certeza, que algum servo, a quero pagas, te viesse abrir aporta !

*

* *

Como já diss e e parece fácil de concluir pelo que

sucedeu ao g rande Barnel lo, os mestres contemporáneosn5° nos apres entam sistema melhor do que o de Leo-®etto para s upo r tamos o contacto do ferro ele vado ao

bro, 0 que ex ibem s5o, como ig ualmente já afir mei,

 je it os » de enor me s e ns a t o es pectacular que, embor a

0 ofere^am perigo algum, originam nos espectadores

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144 — M A G I A D O F O

ver dadeiras ondas de assombro. Mas eu reserv ei tésses «segredos» para a terceíra parte desta obra e

possc, por urna ques tao de método, inseri- los nestasg inas, ex clusiv amente dedicadas aos ilus ionis tas detanho.

Contudo, como revelei aos meus leítores os sedos «in- ex tenso» dos prestigiadores mais notáveis, quero finalizar éste capítulo, sem lhes descrever, tambo método pessoal de Barnello.

E i l o :

iDepois de se dissolv ere m — ensina- nos o gradomador do fogo em «Mysteries of Fire» — quinze gmas de cánfora pura em cinquenta de álcool, juntam

á dissolugao trinta gramas de mercurio e trinta e cide estorax líquido. Á parte, num almof ar iz de mármdissolvem*se, também, sessenta g r a m a s de hematite róx ido de ferro) e acrescentam- se depois á solugSo

obtida».

E B ar nello, como que a tranquilisar- nos, conpor afirmar :

«Untando os pés e as máos com éste líquido, poreís pegar no ferro em brasa e dangar a pés ñus, receio, sobre chapas rubras pelo fogo».

Nao se imagine, pois, que os modernos, embmais científicos, dominara as labaredas como os gran

 A deptos do Or iente ! É precisamente essa ídéia, por

tura nascida no cérebro de algum dos meus leitores, Qeu pretendo desfazer. Na Europa creio até que pou

seres hav er á que possam real izar tal prodig io, semcorrerem ao «truc*. Os poucos Zoistas que existem

tam ele vado poder, nunca se ex ibir am, porque acbaexibigSo um crime, Por ésse motivo, nos fícamos s

pre na dúvida se éles podem, de facto, realizar tais

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m a g i a   d o   f o g o - 145

ravilhas. Conheg o um déss es grandes homens que supo-nho capaz das maiores demonstrares inhabituais, tidas

pelos sábios universitários da Europa como inacreditáveisprodigios sobre humanos . Mas é tam esííng ico. tam impe-netrável Da sua íor ma de ser que, mes mo na intimidade, ograu evolutivo a que pertence mais se adivinha do que seconstata. Se o surpreendemos a realizar qualquer fenómeno extrausual, que a razào nào compreende nem a

inteligéncia s abe definir , èie at r ibui o imediat ame nte àtécnica do ilus ionis mo, embora nao nos ex plique o «modus operandi*, porque na realidade se trata de coisa diversa. Infelizmente, porém, a Europa nào é a regíao so

litària da Ìndia e èsse homem ex traor dioário, por fa lta

de isolamento conveniente, é atingido, como todos osoutros, pelas torturas do coragao, que indubitávelmenteinfluem na sua alma , diminuindo- lhe a energ ia e fazendocom que es tacione a meio da ladeir a gloriosa da sua«oluQào excelsa.

 A índa há dias (escrev o em sete mbro de 1941 ) sur-

preendi éste gigante do espirito vergado em meditadoprofunda. O seu pensamento, quási aniquilado pelo mar.,lrio' achava-se muito distante do seu corpo. Em cimada banca de tr abalho, como que a r evelar- me o misteriotorturante daquele coragSo em fogo, estavam os seguin*tes tersos, que èie redigira a làpis :

«Tens a grandeza infinita do Universo,a beleza sacrossanta da Verdade ;sem ti, nào posso lutar pelo progresso,porque me sinto morrer de saiidade»,

I U ^° n^e9° a rapariga adorável — espirito cheío de~~ a quem a quadra se refere. Nào ignoro que eia

io

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sofre tanto conio èie, porque também sente a irrealizadaquele amor impossivel.

Ha ocasiòes em que os grandes homens sofrem finitamente mais do que os homens vulgares !

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T E R C E I R A P A R T E

S o na ta do Diabo — Deitar fogo pe

los olhos e relámpagos pelos dedos — A quár io s chamejantes—

 A cende r ag ua com as m5os —Comer labaredas — Comer grandeschamas — A cender velas com a

tica — Fósforos acesos no bólso do cole te — Dev ora r a'¿ama de uma vela — O cigar ro imat er ial — Comer al-í°d5o e deitar fogo pela bóca — Velas acesas no bólso0 casaco — A cender ve las com os dedos — A cender

’elas com a v ar inha — T ra nspor tar entre as m§os achama de uma vela — V elas acesas com as ex tremida-

dos dedos — 100 velas acesas com um tiro de pisóla - Flores entre chamas — De to na r e s dig itais —

«odieir o humano — B ico de gás humano — B ebercopos de vinho de uma só vez — Caixa forte no es-

— Repux o humano — B eber 100 ou 200 copos

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de petróleo — O vulcSo humano — Corner pedras ,

dros, discos de gramofone, lampadas eléctricas, caixde fósforos, etc, — Comer carvòes ardentes — Beber ptróleo em chamas — Derre ter lacre sóbre a líoguaL av ar as m5os em chumbo em fusSo — B ebe r chumderre tido — A ndar sóbre chapas rubras — Pegar fer ros em bras a — O mistér io da prisào de fogo

 A calde ira infernal — L av ar as maos em fer ro fund— O forno crematorio — A cadeira do suplicio,

 X X X 

Os Diabos Vermelhos

Os célebres «Diabos Vermelhos», norte-americano

cuja fama pode considerar- se re almente univers al, ex

cuta m nos seus es pectáculos de piromag ia duas ou tilusoes preliminares (derreter lacre sóbre a lingua, m

ter as pontas dos dedos em chumbo derretido e bebpetróleo em chamas) e concluem pelo «tour» que é

próprios classificam «Mistério da Prisao de Fogo», A pesar das platéias delirarem com es ta singe

exibigSo, eu quero que o leitor faga mais — muito mae infinitamente melbor. Quero que possa execut

além das ilusoes dos «Diabos Vermelhos», tidas com

enormes prodigios de ilus ionis mo científico, muitas

tras mais valiosas, de espectaculosidade muito maperturbante e de «efe itos», na ver dade, muito mais

compreensíveís.Desejo ainda sistematizar a exibigao, que te

principio, meio e firn, de modo que seja fácil r e a hum es pectáculo mag nífico, de interèss e gradualmeDcrescente, cheio de surpreendentes maravilhas e, e

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H A G I A D O F O G O - 149

conjunto, de um ineditis mo que brade e torne o execu-

tante absolutamente único no género,

Com êsse objectivo, criei urna seriaçâo curiosís-sima, capaz de vergar ao assombro os espectadores maisinsensíveis. Após a apresentaçâo das ilusoes que redijosistemáticamente em número muito superior a trinta,inserirei as ex plicaçoes respectivas — tódas elas com-preensíveis e fáceis de pór era prátic a por todos quan-tos me léem,

Comecemos, pois, pelos extraordinarios «efeítos»,

como é costume começar em assuntos da ilusáo :

Depois do paño subir, depara- se aos espectadoresum palco armado em casa de jantar — censurávelmenteiluminado, Várias serpentinas de prata, onde ardemapenas dois ou très lûmes , acham- se, na sua quási tota-üdade, desprovidas das necessárias velas. Entre as

duas ou très acesas existe, apesar da lamentável esca-cez de luz, uma onde a chama nSo br ilha, A o centro,como urna sombra, vê-se urna pequeña mesa quadrada,com pratos, talheres, garr afas e tudo quanto é cos-tame encontrar- se em idénticas cir cunstancias numamesa de cas a de jantar. A um dos lados, sóbre um velador gentilíssimo, adornado com um moderno tampo de

cristal, notam- se dois lindos aquários cheios de água,onde rodopiam graciosamente vários peixinhos cór defogo. Do lado «posto, era colunatas eng rinaldadas de

fores, está um vaso aparentemente sem nada e um^Ddieiro apagado. Sóbre uma pequeña mes a ripolini-®da a vermelho, prêto e ouro, encontra se uma palma-

*0ria, onde se acha encastiçalada uma outra vela,sem luz,

 A orquestra, num r itmo que verga à meditaçâo,

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ex ecuta uma sinfonia, cuja concepgao marav ilhosa

lembrar o argumento da «Sonata do Diabo».

 A c r ia do mag níf ica de T artini, que faz vibrar ao delirio as im a g ina r e s mais r ebeldes, íorga- nos a

sionar tóda a realidade da sua inspiragao alucinante.as s im, como se fóramos irr es ponsáv eis autómatos m3os incognoscíveis do Destino, vemos que o célebcompositor ital iano passeia maquinalmente de um tremo a outro do seu gabinete de trabalho. Abrupmente , como se um ra io de luz lhe houves se rasgad

alma, detem- se, lev a as maos á fronte e senta- se. pois, cerrando os seus grandes olhos, apoia a cabentre as máos , mete os seus longos dedos no meiosua vasta cabeleira e fica imóvel, estático, vergadouma idéia fix a que parece converté- lo no mais infdos homens.  A sua imobilidade cadavérica e o seu mtismo se pulcral aprox imam- se da quietag ao única que

convencionou ex istir entre as lúgubre s pare des de túmulo.

 A pós quarenta minutos, quarenta séculos de hopilante siléncio, o gr ande violoncelista do século dezo

ergue a fronte vincada por um constante pensamen

fixo e exclama em voz débil r— Nao posso 1E m seguida, curva novamente a cabera e mergul

a sua alma, sedenta de luz, ñas regioes ignotas do AleDe repente, como o blasfemo revoltado contra tu

e todos, levanta- se e, louco de raiv a, pregunta, i

de s i :—   Mas porque s er á que eu nao posso concluir

«sonata», que tam inspiradamente iniciei ? !Uma detonado horrizona, seguida de um tremend

abalo sísmico, acompanham estas palavras ;

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— Porque eu me oponho ao teu desejo e n3o queroque a concluas,..

Tartini, aterrado com a resposta invulgar queameaga destruir- lhe os tímpanos e esfacelar- lhe a raz3o,recua a cabega instintivamente e oculta o rosto com asoíos.

 A voz cavernos a faz- se ouv ir de nov o :

— Nao te assustes, grande genio, Ouve e pensa.,.T artini supoe- se joguete do mais tenebroso dos

sonhos, Esírega os olhos repetidas vezes, para ter a certeza de que está despertó; olha para a sua mesa de trabalho,para se convencer de que está em sua cas a ; tacte ia opulso e a fronte, para se certificar da auséncia da íebre.

Depois, íazendo um esfórgo supremo, exclama t — Já n3o tenho médo !E, quási a seguir, pregunta :

— Quem falou ?— E u ! — diz lhe um pers onagem envolto em fogo,

que se for ma repentinamente ante os seus olhos atónitos*

— E quem és tu ? !— O rei das trevas na T err a e o das chamas no

Inferno !

— Acredito !,,, Mas para que te opoes aos desejosum artista ?

— Porque a «sonata» que tu principiast e há- de seracabada por mim,

E o diabo, depois de fazer urna pirueta vertiginosa*

®°stra ñas suas m3os de fogo um violoncelo incandescente !

— Vés «isto» ?— Vejo !

Pois é neste violoncelo que eu vou tocar agoraResino a tua «sonata» completa,,.

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152 - M A G I A D O F O G

— Completa !?— Sim, completa.

T ar dai j a n3o tem mèdo. A guga cuidadosamentouvido e espera com impaciència os derradeiros acordda s ua obra mag is tr al. Mas o diabo, que parece ter

arrependido, toca só a parte da música que o violonlista compòs.

— Entào nào tocas mais ? Disseste que a ias toccompleta !

— Disse e toco-a, mas,,,— Mas o què ? Fala !

— Mas quero a tua alma em troca da grande famque te vou proporcionar.

T ar imi fica pensativo.

— Entào ? Aceitas ou nào ?— Acho muito o que me pedes !— É s tolo ! Se soubesses quào dulcíss imo é o f

da tua obra, nao hesitarías um só momento ! . . .— Está bem. Aceito.

— E a tua alma é rainha ?— É.— Vé là !— É, jà disse !— E ntà o ou v e , , ,E o diabo, tomando impetuosamente o instrume

chame jante, faz ecoar aos ouvidos de T ar tini a parte

«sonata» que o violoncelista ignorava.

 A pós os derrade ir os acordes, tr eme a terra debados pés; linguas de fogo atravessam o espado em tódas direcgòes; ruidos horrorosos, acompanhados por clar

sinis tros, troam, como o ribombar de m il canhóes gig

tescos, em tor no do celebre compositor , que semi- mde médo e de cansado, cai desamparadamente no cb

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 j l A G I A D O F O G O - 153

Tartini, com a queda «abaixo» do leito, acorda de

repente e, recordando o sonho que tivera, vai concluir asonata — que ainda hoje é conhecida por «S ona ta do

Diabo».

Pr i mei r o a c t o

0 ilusionista entra em cena, entrega a capa, o cha-péu e as luvas ao criado e censura- o mimica me nte porter a casa às es curas. 0 servo desculpa- se, mas o prestigiador, furioso, continua a protestar. Dos seus olhos,com grande assombro de todos, saiem chispas verdes evermelhas e, de quando em quando, uma làgrima defogo cai- lhe do rosto, em chamas . O cr iado continua a

desfazer-se em desculpas, mas o ilusionista, que parecenem sequer ouvi- lo, estende os dedos em vària s direc-Còes e das s uas ex tremidades véem- se projectar no es-pago auténticas línguas de fogo, talvez denunciadoras da

colera que lhe tortura o cérebro. Vendo os aquár ios repletos de ág ua e de peix inhos

Termelhos, o ilusionista estende os dedos na sua direcgSoe--. converte tudo em chamas! 0 servo, aterrado, pegaDos aquários e afasta- os c uidados amente de cena, comreceio que as gigantescas labaredas possam provocar incèndio, 0 prestigiador, cada vez mais irritado, volta os

dedos para a mesa de jantar e enche os pratos de fogo.

UeP°is, sentando se, toma um garfo e póe-se a devorarduelas chamas , que todos véem penetrar- lhe na bóca e

^aparecer na garg anta, A seg uir, como se o apetite lhetl7esse aumentado de forma desmesurada, pega numfcrfo enorme e serve- se de labaredas g igantes, que ig ualmente devora com rapidez surpreendente.

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Entretanto, o criado entra de novo em cena e, paser agradável ao patr3o, busca em tódas as gavetas

gumas velas que guardara. Como, porém, n5o enconnenhuma, volta a desculpar- se e o ilusionis ta, levtando- se de um salto, pega numa das velas apagadaacende- a com a bóca. A outra, a que se acha isolanuma palmator ia sóbre a pequenina mesa, acende- a tabém, mas tirando um fósforo, já aceso, de dentro do sbólso do colete. Depois, devorando lhe a própria chamque se vé penetrar- lhe na bóca por in s pi r a do profun

ergue significativamente o rosto e, como por encanto, ucigarro de ponta dourada aparece- lhe misteriosamenentre os labios, Sem perda de um segundo, éle acende-satisfeito, e comega logo a fumá lo — vis iv elmente bdisposto. A seguir, aspira a chama com mais fórga e dvora-a totalmente, ficando a vela apagada. Pouo castigal e continua a fumar tranquilamente, vedo- se o fumo, em caprichosas es piráis, elevar- se no

pago. V olv idos uns segundos , lembra- se de castigarser vo e, para isso, obriga- o a comer grande quantidade algodSo hidrófilo. Depois, fazendo saír relámpagdos extremos dos próprios dedos, incendeia, á distanco algodSo hidrófilo, o que faz com que saiam da bóca cr iado enor mes rolos de fumo, que pouco e pouco

convertem em chispas de múltiplas cores e, por fim. verdadeiras líng uas de fogo, que aterr am o pobre see fazem pas mar o público. Sorrindo e cruelmente tisfeito com o castigo invulgar que dera ao d e s c u i d a d o s

vente, o ilusionis ta re tira do bólso inter ior da casaseis ou sete velas já acesas e coloca- as, uma após out

ñas ser pentinas vazias , O criado, apalpando- se, nota cmal contido assombro que também tem algo nos bols

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e retira de dentro déles, mas apagadas, também très ouquatro velas.

O pres tig iador sorri de novo ; mas, desta vez, dainferioridade do servo. Com ar majestoso, aproxima oseu indicador direito de uma das velas apagadas e ela,

numa explosao inexplicável, fica imediatamente coroadapor uma chama v iv íss ima. A seg uir, toma a «v ar inhamágica», aproxima um dos seus extremos niquelados aduas ou tres velas apagadas, e elas, obedecendo a umprincipio misterioso, ficam logo cbamejantes. Após isso,

o ilusionista pousa teatr almente a v ar inha, como quemacaba de executar um trabalho de certo vulto e pretendedescansar. Porém, notando que ainda há uma vela apagada, aproxima as suas mâos em forma de concha dachama de uma outra acesa e transporta a labareda parao pavio sem lume da vela apagada. Es ta, com gr ande

pasmo da assistencia, fica imediatamente acesa, emboraoarrebatamento da luz tenha deixado, como é natural, aprimeira vela apagada. O prestigiador, notando o facto,

aProxima o extremo do dedo índece da vela que acabade acender e, inflamando- o, como se fóra um v ulg ar palito fosfórico, reacende tranqüilamente a vela que há mo*®entos deixara sem chama.

Entretanto, o criado, tal vez para ser ag radáv el aopatráo, colocara sóbre as mesas dez serpentinas emorma de T , ex actamente com dez velas cada uma. O

' sionista, reparando que as cem velas se acham apa

g as , mostra- se outra vez furioso e . , . carrega febril—®eQte a pistola. A seg uir, num gesto dominador, apon-

ta‘a ao pobre servo, que foge aterrado do palco. Entáo,’°ltando-se para o friso de velas apagadas, o ilusionistaaPonta e faz fogo, A o ouvir- se a detonaçâo, embor a náo

tsleja ning uém em cena além do pre st ig iador, as cem.

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velas acendem- se como por e ncanto, íicando o palfe er icamente ilumina do. E m tais circunstancias , é- lhe

-cil ver o vaso e o candíeir o, que ime diatameute predem a sua atençâo. A pr ox imando se do pr imeir o, estende para éle

dedos das suas mâos, como quem pretende fulminá-loe, logo a seguir, g randes l íng uas de íogo sa iem do sinterior. Entre as chamas, um lindo ramo de cravos faa sua apar içâo, O ilusionis ta, gentil , dis tr ibuí as fmosas flores pelas senhoras mais re speítáveis qas sis tem ao espectáculo, Depois , toma de novo

pistola de cima do ve lador, com intençâo de fazalv o do candieiro. Notando, porém, que ela se acdescar re gada, poe- na de parte com enfado e, fazendo

talar os dedos, como é natura l íazer- se quando se acuma boa soluçâo para um caso dif ícil de resolver, faz ecoar no espaço auténticas detonaçôes, O candieiro

precis amente quando os dedos produzem a terceira dtonaçâo, acende- se como por milag re , S em perder u

momento, o prest ig iador av ança para ele, desparafusa- lhe o bocal, que arras ta consig o a torcida a pingpetróleo, e intr oduz tudo na própria bóca, continuandotorcida a arder com a mesma intensidade luminosa. Fa

depois s inal ao criado, que se apodera do estojo melico e o parafusa, de novo, no candieiro, conduzind

tudo para fora do palco e trazendo, a seguir, um tu

onde se acha adaptado um vulg ar bico de gás,O pre st ig iador toma- o nas mâos e a plic a os labi

ao ex tremo oposto ao bico. O serv o aprox ima uma vedéste último e éle entra logo em chamas, como se o etómago do ilusionista fósse um verdadeiro g a s ó m e t r

Enquanto se realiza a fantástica experíéncia.cr iado ausenta- se v árias vezes, entr ando outras tant

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para me poupar esforgos, respondeu amàvelmente qun5o se inter essava pelo dinheir o. O meu estómago, s

pondo que eu lhe pedia o «atrazado», fez a devoluto dnota de cinqüenta escudos. Descance, porém, vossa e

celencia que tudo se remedeia. Volto a embrulhar a note . . , engulo- a de nov o. . ,

Unindo o gesto à palavra, o ilusionista engole outrvez a nota de cinqüenta. Depois, contraindo o ventrcorno a principio, cospe no pratinho de vidro um embrulhosito idèntico.

— E is a nota de cem ! O meu estómag o é de urprobidade sem limites, Ora veja, senhor...

E , ao dizer isto, des embr ulha «distraídamenteo cautchú e entrega ao assistente urna nota dobrada ci

 yezes sòbre si me sma. O espectador desembrulha- aconstata que tem nas mSos urna nota de vinte escudo

 V olta a reclama r e o prestig iador , após um estòr

de memoria, explica :— Já sei o que sucedeu ! Há dias, nos principios d

semana passada, executei a experiencia com uma nota

v inte e o me u es tómago, sempre zeloso, hoje quis simplesmente devolver- ma ! . . . Mas n5o se aflija, cavalheir

eu volto a e ngolir a nota e pego ao meu estómago qnSo se engane no tr o co ,. . na troca, é que eu queria zer. Perdao, senhor...

E , procedendo como há pouco, o ilus ionistapela terceira vez mais um embrulho de cautchú e d e

cá para fora outro, que igualmente deposita no p r a t i nde cristal. Com o maior cuidado, abre a nota èie p r ò p r

e depois, como quem já se acha tranquilo, pregunt

— Vossa excelència ainda quere os cem escudo— Pois claro ! — responde certamente o e s p e c t a d o

— A inda bem. É que se vossa ex celència nao q

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M A G I A D O F O G O — 159

sesse a nota, eu era obrigado a ficar com ela e o facto,no futuro, poderia originar novos enganos...

Fi g . 11 — V u lc a o h u m a n o

 A ilus tr ando nao nos d á u?na idé ia ex acta da g randiosidnde da 

Pr<toa. laba re das sdo de ma is de tres metros de diám e tr o, O deser 

*° r i que nunc a v iu a üusáot nao soubeí po r Isso,interpre tá la ,

0 público ri satisfeitíssimo e o prestigiador, afirmando que já níío precisa dos cem copos de vinho noestómago — mesmo porque éles podem querer subir- lhe

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160 - M A G I A D O F O G

à cabeça ! — resolv e converter- se num vistoso repuhumano,

Par a isso, entreg a- lhe o criado um tubo de mecromado, no extremo do quai existe urna abertura aprpriada, circundada por urna cesta de arame, igualmencromado, e dentro da qual descansa urna pequeña bode celuloide. Aplicando os lábios à parte diametralmenoposta à cesta, o ilusionista começa a soprar o vinho qutem no estómag o. Logo a seguir, um jacto de líquieleva- se no espaço e, com êle, a bolinha de celuloideque sobe e desee no ar, segundo a potencialidade do sópr

No palco ex iste urna enor me tina de zinco, paonde cai o vinho que se eleva no repuxo.

Concluida a espectaculosa experiéncia, o prestigdor afirma que já tem o estómago vazio e que, por iss

vai beber,., qualquer coisa.Enquanto o ilusionista faz uma palestra humorístic

sóbre as inconveniêDcias de se ter o estómago vazio, cr iado coloca em uma mes a dez bandejas com dez

pos vazios cada uma e enche a seguir os cem copos dpetr óleo. A lg uns espectadores, a quem o criado or e c e .. . uma pinga , podem cheirar e prov ar o líquivermelho. Quási todos se contentam, porém, apenacom o sentido do olfato.

 A seg uir ao «contr ole» do líquido, o ilusionista tom

um após outro os cem copos de petróleo e bebeu- os cofmesma naturalidade com que, há pouco, beberá a ce

tena de copos de vinho !

Depois, aplica aos lábios um tubo de metal cromadpor onde sopra grandes labaredas. A seguir, p o u s a

tubo e, como se fóra um v ulçâo humano , vomita Paraespaço labaredas enormes, de mais de très m e t r o s

altura.

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M A G I A d o   f o g o - 161

 A pós isto, o paño desee lentamente, para um inter

valo de quinze minutos.

S e g u n d o a c t o

 A seg uir a urna sinf onía mis terios a, o paño sobepela segunda vez. No palco, agora convertido numa oficina de fer reiro, véem- se os utens ilios apropriados ao

trabalho, incluindo urna forja de ventoinha e várias barras de ferro. Sóbre uma pe queña banca véem- se tambera ,dispostos em pratos e bandejas, diferentes objectos devidro, lámpadas eléctricas, pedras vulgares, seixinhos dotamanho de carolos de cereja, palitos fosfóricos, caíxasde fósforos, discos de gramofone, etc.

0 ferreiro, que parece estar na hora da sua refei-$ 0 , devora tudo aquilo, demonstrando pelas atitudes e

 

p e l o s gestos sentir o maior prazer. Pega, por exemplo,

em várias gar raf as e parte- as em pequeños bocados,p o n d o - s e depois a devorá- los, como a coisa ma is de liciosa déste mundo 1 A seg uir a um gale de petróleo,, q u e

 

P a r a é l e substitue perfeitamente o vinho, o nosso horneraP ó e - s e a comer pedras, para em seguida arrancar á d e n

u d a vários pedamos a um disco de gr amof one, que mas-llga deliciado e engole com ma l disfarg ado apetite. De-

P°l3i despedazando uma lámpada eléctrica, póe-se a

^ o r a r - l h e o vidro, mastigando- o como f izera com o d i s c o 

^ gramofone e engolindo- o ig ualme nte, se m oculta r o 

5 e a p r a z e r . Por fim, toma uma caixa de fósforos de pau,i ende-os um a um e, ainda chamejantes, mete- os na^ devorándo os a seg uir. T er mina por comer a pró-pr* c a ix a, que desfaz aos pedacitos para mais fácilmente

■torear. Por cima de tudo isto, bebe ainda mais uns

ii

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162 - M A G I A D O F O

copinhos de petróleo, que èie absorve até à ùltima go

e come grandes nacos de algodSo hidrófilo — depoi

com èie ter cuidadosamente limpo a bóca.Quando o ilusionista, encarnando o papel de clien

faz a sua aparig So em cena ainda o endiabr ado ferestá a chupar os dedos !

O pres tig iador, como é natura l, mostra- se admdís símo. Enta o o ferreiro. que se acha semi- nu da para cima, cha ma o à bóca do palco e pede- lhe mímmente que lhe ausculte o abdóme. O ilusionista ,

ra do, afasta a cabega do misterios o ventre do ferreiéste, com a maior tranqüilidade e um grande sorriso lábios, desee à platéia, onde os próprios espectadopodem confirmar pelo ouvido o que observaram pelasilo. No interior do seu estómago, que èie agita repetivezes , ouve- se um bar ulho infer nal , produzido pelo que de todos os objectos estranhos que o invulgarmem- mistério acaba de ingerir.

Entretanto, o ilusionista descobre a um lado do paum livro tisnado pelo carvào. Lè e sorri. Pela sua exprs5o, é fácil de concluir que éle surpreendera, sem quero «s eg rédo» do farre iro. Quando éste sobe e, furioso

arranca das maos a mister iosa obra, o cliente limita encolher os ombros. Depois , abeirando- se da forja,a maniv ela a funcionar, o que av iv a prontamente o e tomando com um g arfo v ários carv oes em chamas,

vora- os por sua vez. É a ocasi5o do ferr eiro se assforar, Mas o ilusionista n3o fica por ali,,. Pega n

colherao enor me, enche- o de petróleo e lamja- lhe fdepois de prèv iamente o aquecer, A seg uir, torna m a colher mais pequeña, tira com eia petróleo emcmas de dentro da maio r e poe se descansadamente a

bé- lo, como se se tratass e de um espléndido café !

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 j l A G 1 A D O F O G O — 163

0 ferreiro, cada vez mais assombrado, vai folhear

o misterioso livro ; mas, a julgar pela expressâo do seurosto, continua, por mal dos seus pecados, a nSo perce-ber coisa alg uma Por isso, res olve nâo mais o consultar.Fecha-o nam gesto de enfado e, envolv endo- o numalarga tira de papel, lacra- o cuidados ame nte — para, defuturo, nunca mais pôr os olhos no seu texto.

0 ilusionis ta, sorr indo, tira- lhe o lacr e das müos,aproxima-a da chama de uma vela — da que o fer reiroacaba de acender para lacrar o livro — e fà-lo gotejar,emfusao, sôbre a sua pròpria lingua. Nâo contente comisso, aquece- o de nov o e, à v ista de todos, pôe- no emestreito contacto com o mesmo delicado ôrgâo.

0 ferreiro, mais admirado que nunca, solicita- lhemìmicamente a explicaçSo do fenòmeno e o artista, sor

rindo amàvelmente, manda- lhe, para o instr uir no misté-rio, fundir um bloco de chumbo. Èie obedece ; e o artista, depois de mergulhar os dedos no líquido lumegante

e de pegar nêle nas maos, fá- lo gotejar sôbre a ling ua,cuspindo o a seguir, já solidificado, num recipiente de vi-dro cheio de água. Depois, derramando um pouco dechumbo líquido num recipiente de barro, toma uma collier de ferro e devora- o tota lmente , como se se tratass eda mais saborosa canja !

0 ferreiro, aterrado, desiste da explicaçSo. Mas oPrestigiador, v is iv elmente satisfeito, pede- lbe que aqueça

,0 rubro uma chapa de ferro, enquanto descansadamente, póe os próprios pés a nu. A pós iss o, manda colocar a chapa ígnea sôbre um estrado metálico e passeia

ein cima delà. No espaço ondula entáo um cheiro esquisto a carne destruida pelo fogo, mas o ilusionista, como

u® ente superior ao sofr imento, continua a passear e a50rrir, com o maior desprêso pela dór !

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164 - M A G I A D O F O G

Entretanto, a seu pedido, um ierro é posto ao rub

na forja. Logo que o ferreiro o toma entre as garras tenaz, o ilusionis ta cal?a- se rápidamente e, avanzanpar a o fer reir o, arranca- lhe com as maos nuas o pedde ferro chamejante. Depois de fazer com éle várias evlu^oes, tendentes a demonstrar a sua incombustibilidado ar tis ta coloca- o sóbre os seus cábelos, de onde seelevar no espado densíssimos rolos de fumo. A impressdomina nte é a de que os cábelos do ilusionis ta foramduzidos a cinzas, Contudo, éle retira o ferro de cima

cabera e, agitando a sua vasta cabeleira, demonstra qela se encontra absolutamente intacta !

Depois, num gesto de enfado, p5e novaraenteferr o entre as garr as da tenaz e ’ manda- o aquecer ouvez. O f erreiro pref ere e levar ao r ubro um outro femais pequeño, visto que, assim, o calórico necessárse torna muito menor. Logo que o novo ferro principa «calde ar », o f erreir o toma- o com a tenaz por um

ex tremos e apresenta- o ao ar tista, que pega néle enos dentes e lhe arranca um pedazo. Éste, para que nahaja dúvidas a respeito da sua temperatura, é aband

nado no espado, sóbre um recipiente de vidr o cheio água. A sua que da: no liqui dóle a própria visao do por de água que se desprende da superficie, demontr am elo quente mente que se trata, de facto, de aut

tico ferro em brasa. A pós esta cena ar repiante, as luzes diminuem

intensidade, enquanto vários.criados colocam no c e n t

do palco uma enorme gaiola de ferro, assente sóbre uestrado de idéntico metal. Em cima da gaiola é posto, jácon

as luzes á intensidade normal, um grande tejadílhoferro, que ultrapassa o perímetro da gaiola mais de ctqüenta centímetros, para evitar que as chamas, eleva

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168 ~ M A G I A D O F O G

O ilusionista, com a pele tisnada pelas chamaoculta o corpo sob um grande «robe» de felpo, enquano pano desee lentamente e o público, surpreendido e a

nito, aplaude com entusiasmo.

T e r c e i r o a c t o

Decor ridos quinze minutos, o pano eleva- se de n

e mostr a aos espectadores uma cena diver sa da terior :

 A o centr o vé se um enor me «f orno crematorionde pode, entrar, à vontade, uma pessoa de pé, A vibilídade é, pois, absoluta e n5o pode, por essa razSadmitir- se a poss ibilidade de «tr ucs» . Do lado esquerdo forno, um pouco mais à bóca do palco, nota- se uenormissima panela esférica, sob a qual se acha grande estrado de ferr o. Do lado oposto, em simetcom a e norme panela, acha- se um pequeño forno e

trico, onde um lingote de ferro é posto a derreter.O ilusionis ta entra em cena lige iramente vesti

caídas e s apatos brancos, camisa- sport em malba seda, ig ualme nte cór de nev e e, a prender- lhe as cal?

um cinto de couro azul, com uma fivela cromada,O artista e n t r a no palco e dirige- se para a e n o r

panela esférica que assenta, para melhor estabilida

sóbre uma trempe circular, Debaixo da trerape e s ó

o estrado de ferro existe algodáo hidrófilo embebidogasolina, O ajudante pretende lan ar- lhe fogo, m a

prestigiador manda suspender a manobra. D e p o i s ,

gando por um lado e fazendo com que o ajudante pe¿pelo outro, volta a bóca da esfera para os espectador

afina de que èles te nham a certeza d e que o paneleo

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acha, de íacto, absolutamente vazio, O ajudante, apósisso, tenta de novo pór em chamas o alg odao hidrófilo,mas o artista volta a op6r- se e ordena- lhe que t r a g a .. .qualquer coisa que ainda falta.

Logo a seguir, vários criados entram com muitos

baldes cheios de água, que o prestigiador despeja, um

após outro, dentro da colossal panela. Só depois de tudoisto é que o enorme caldeirao esférico é tapado e selanga fogo á gasolina que impregna o algodao hidrófilo,

 A chama é tam viv a e o calor desenv olv ido tam intenso,que volvidos uns minutos a água comega ruidosamentea ferver, fazendo oscilar o panelSo. Na parte superior daesfera vé- se a tampa elevar- se de um dos lados e saírpela trincha aberta grandes rolos de vapor.

Quando a imensa caldeira estremece mais e o vapor se mostr a abundante, s inal de que a água ating iu o

máximo da temper atura, o ilusio nist a abeira- se do fogoe abafa- o. Logo a seguir, r etira a tampa, vendó se elevar no espago urna grande nuvem de vapor. O artista

pousa tranquilamente a tampa e bate as palmas. Ime*diatamente um l indo bando de pombas s ai, voando, doseio da água em ebulig ao. O ilusionis ta volta a bate r as

palmas e, desta vez, é uma formosa rapariga, em trajo debaoho, que faz a sua aparigao. O prestigiador bate asPalmas pela terceira vez e outra gentil menina é retirada

da panela. Esta, depois de tapada, é afastada de cena,*nquanto o ilus ionis ta se aprox ima do forno eléctr ico e

Prova que o lingote de ferro se acha já liquefeito,0 público é convidado a constatar por si próprío

*s afirmagoes que o diabólico artista acaba de produzir.rata-se, pois, de auténtico ferro, cujo elevado grau de

usSo ultrapass a 151 0 gr aus. A pesar diss o, o prestigia-0r abre descang adamente a porta late ra l do cadinho e

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170 - M A G I A D O F O G O

apara com ambas as m3os o jacto incandescente, que cacom enorme ruido dentro de um outro recipiente de barro

É a maior prova que se pode ex igir da incombustibilidad

de um domador do fogo, Nao obstante, o ilusionista pretende ir ainda mais longe e manda retirar o forno eléctrco, agora já desnecessário. Entretanto, com grande quantidade de palha, regada com gasolina, procede ao aquecimentó do gigantesco «íorno crematorio», Um enorm

p3o, seguido de pSes pequeníssimos , é, após a limpezhabitual, introduzido na incandescente fornalha. Volvdos cinco ou dez minutos, as portas do íorno s2o d

novo abertas e de dentro déle retirados vinte ou trintdos pequeninos paes, que se colocara num tabuleiro se lev am á platéia — para obse quiar com éles outrotantos espectadores. Estes, devído ao calor, nao conseg uem pegar néles, motivo porque voltam a recolher- se se distribuem logo que o grau térmico tenha diminuido

 A pós isso, o prodig iador envolve- se numa espesscapa de la, que o oculta até aos pés, e entra no «íorncre mator io», íechando- se- lhe a seg uir as portas . Momen

tos depois, estas sao de novo abertas e o artista sai ma jestosamente e mos tr a a capa forradas de peletóda coberta de suor, Retira- se para tomar um «douche

de chuveiro, enquanto os seus ajudantes arrastam

forno para fora do palco e colocam sóbre o estrado dferro uma cadeira do mesmo metal, que parafusam

plataf orma, para que nao poss a deslocar- se, mesmo qua dór do supliciado quintuplique a fórga dos seus mús

culos, Es ta cadeira, de elev ado es paldar, possui, ncimo, uma corr ente de fer ro, com a qual se prende pesco^o do artista; nos bracos tem ela duas algemas

onde se fixam os pulsos do ilusionista, visto que a dAsofrida parece tam intensa que éle, se nao estivess

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H A G I A D O F O G O 171

F i g . 1 3 - U m h or n e r a d e v o r a d o p e la s c h a m a s

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« A G I a   d o   f o g o - 173

prêso, correría o risco de ser vencido pela tentaçâo de

fugir !Logo que se concluem os trabalhos preliminares, oprodigiador entra em cena e, como a quando do «mis-tério da prisâo de fog o», acha- se quàsi nu — com o«cache-sexes» de ma lha metálica j á muito nosso conhe-cido. Sob a cadeira é entâo colocado muito algodaohidrófilo, que se rega com g asolina e ao quai se lança

fogo depois do ilusionista se sentar e ser conveniente

mente prêso. A mús ic a cessa de repente. Nao se ouv e o ma isleve murmurio. Os espectadores, excitados, aceleram

inconscientemente as pulsaçSes do coraçao.Em dado momento, o artista dá o sinal do martirio

e um dos seus ajudante s lança fogo à gasolina. A s labare-das, crepitando com ruido, circundam o prestigiador portodos os lados , envolvendo- o, desde os pés até muitopróximo da cabeça, numa torrente de chamas.

0 tre mendo espectáculo nao pode prolongar- se pormais de dois ou très minutos , porque as senhoras perde-riam os sentidos e os cav alheiros , horror izados, abando-nariam a sala.

Por isso, logo que o ilusionista começa a ser devorado pelo fogo e a agitar- se des es peradamente, como sepretendesse fugir, o paño, a principio fento, desee numaqueda vertiginosa, enquanto a música se faz ouvir de

h°t o  e o artista, envolto num «robe», aparece à bôca do-Palco.

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174 - M A G I A D O F O G

 X X X I

Mistérios do fogo

Conhego a psicologia dos leitores e sei, por ter eiudado particularmente o assunto, que noventa e sepor cento das pessoas que léem, nunca o fazem, sistemticamente, da primeira pàgina à última dos livros. Esesmagadora maioria, por uma questSo de curiosida

congènita, folheia automàticamente as obras que adquirespreita aqui um boneco, lè ali uma ou duas linhaacolà um tergo ou meia pàgina e, após tudo, julga-na posse absoluta dos conhecimentos da obra !

O facto, duplamente prejudicial, porque nem o ator logra fazer-se perceber nem o leitor é capaz de stetizar uma idéia exacta do que leu, deve ser evitadem «Mag ia do Fog o». Com èsse objectivo, resolvi

pór títulos nos mistér ios ígneos cuja de s cr iv o acaboíazer. Muitos déles acham- se ex plicados ñas páginas

impr es sas e outros, em númer o n5o menos elevado, que redijo a seguir. Garanto, por essa razio, que o leit

nada perceberá, se nao me 1er da prime ira págin

última.E como já tr anquilize i a minha conscíéncia, voud

inicio ás r e v e la r e s misteriosas, que ñas páginas a n

riores nao ficaram rigorosamente esclarecidas.S ei muito bem que os títulos facil itar iam a c

sulta ; mas, como j á disse, quero ev itar os saltos

a t e mb o e , por èsse motivo, sou obrigado a proceder

forma que leve o leitor a sistematizar o estudo e a a

milar metòdicamente as várias experiéncias que &crevo.

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m a g i a   d o   f o g o - 175

 X X X I I

Deitar fogo pelos olhos (l)

Se, com um pouco de goma arábica, adaptarmosás pálpebras superiores pequeninas lantejoulas verdes evermelbas, poderemos orig inar, e m determinadas condi-

(oes de luz, a marav ilhos a ilusao óptica de deitar fogopelos olhos !

Para isso, bas tará colocarmo- nos em lugar poucoiluminado — principio do primeir o acto — , porque osraios luminos os que nos ating em de frente reflectem- señas lante joulas e s áo dev olv idos ao obser vador comochispas vermelhas e verdes, Quando uma lantejoula se

descola e cai ao chao, como se trata de um minúsc uloespelho de face dupla, o fenómeno observado é aindamais curioso, visto que nos dará a ilusSo de uma autén

tica lágrima ígnea.Um estudado movimento de pálpebras e uma dife-fen^a luminosa apropriada, tornarao a cena formidável,Q5o obstante a s implic idade das causas postas em jógo.

(1) J á depois de impressas as páginas anteriores, eu resol-T>i a pedido do I , I . R. S., modificar o plano estabelecido paraforçar o leitor a um estudo proveitoso, Por uma questao de mé-

d°, foi julga do conveniente sistematizar e titul ar as ex periéncias V e publico a seguir, por que assim o es tudante poderá cons ultar

Pinamente, quando tiver necessidade de o fazer, o «tnodus ope-raudi. desta ou daquela ilusao, sem que, para isso, seja obrigado

Proceder à leilura geral do texto. Acedo, portainto, ao pedido do

l u ' ^ 0n*u^0' 0 que fica dito quanto à psicología do leitorPolutamente mantido por mim, porque constitue uma verdade

^controversa, digna de meditaçâo.

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Para se obter idèntica ilus5o, existem vários o u t r

processos, a que nao é estr anha a d il a t a l o provoca

da pupila e o emprég o do fòsf oro branco. Detesto é s tsistemas, que podem converter o experimentador n u

invis ual desg ranado. A d il a t a lo artificial das pupilasobtida por urna soluto de atropina e m água destiladmas a atropina — alcaloide da beladona — é um  v e n e n

ainda mais perigoso que o fòsforo,

 X X X I I I

Fazer saír relámpagos pelasponías dos dedos

Os aparelhos que se acham no mercado para npermitirem o «efeito» de deitarmos chispas pelos dedos3o demasiado teóricos e n3o produzem qualquer ilusS

na pràtica, A ss im, por ex emplo, a fís ica ensina- nos qurna corrente de fogo pode inflamar, com efeito deslumbrante, partículas de estanho ou limalha de ferro doceFundando- se neste principio, os fabr icantes alemSesfranceses «inventaram» urna pequeña làmpada, àquadaptaram urna pera de cautchú repleta de limalha. Soprando a c hama, as partículas de ferro inflamam- se

s5o projectadas à distancia e m for ma de chuv a ígneTeòricamente, a idéia é curiosa, Na pràtica, o aparelh

n3o dá resultado algum !Como nao gosto de produzir afirmacóes sem as faze

acompanhar da de mo ns tr ado que lhes serve de baschamarei a aten?áo do leitor para éste facto eloque

tissimo :Se se opera a meia luz, como convém, a chama &

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H A G I A D O F O G O - 17?

lámpada entre as mâos é perfeitaraente notada pelo pú

blico ; se operarmos de modo que a luz ambiente mascare a que pretendemos disia rçar , as chispas que saie mdos dedos nâo se tornarâo visiveis,

 A lém de todos es tes inconvenie ntes, que fazem docarissimo aparelho um instrumento sem valor algum, hàainda a considerar que nâo temos as mâos livres e que,mudando de ilusâo,temos de nos desem-

baraçar da lámpada !

ga-se de passagem—

hámilhares e milha-

res de «tours», cu jos  Æ ÊHsw«efeitos» maravilho* ^ i I É É J 'sos tentam os ama- ~dores de todo o mun-  S do. A tentaçâo leva-  J 

■o*) por vezes , a / **comprar por elevado Fig' 14-Faisoas àe...  ferro-cério

PreÇ° o objecto dos

seus sonhos ,. , e ficam- se depois a sonhar com a inuti*Made do aparelho, o descaramento do inventor e a des-honestidade do fabricante.

Harry Leat publicou dois livros, «Magic of the De-Ms 1923* e «Ma g ic of the Dépôts 1924- , que nos dâo

amaioria dos «tours» que figuram vistosamente nos cargos ilustrados de muitas casas da especialidade. Maise atenta por cento, nâo obstante o elev ado preço por-

se ve ndem, sâo tam irr ealizáveis como é, com ore!ho citado, a magnífica ilusâo que acabo de descre-

r- Para ev itar semelhantes abusos e prevenir contra

s °s amadores inexperientes, é que em 1912 se fun-

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dou o I. I. R. S . e a Fábrica W íls on Ha tnle y ’s, Chicago, resolveu nSo aceitar nos seus catálogos ess

pseudo invengóss, que sao verdaderamente improprido ílusionismo de hoje,

 V ejamos ag ora como eu resolv í o proble ma e que consiste o meu aparelho — usado agora em todomundo pelos «domadores do fogo» :

Fiz adaptar a um «pouce» de ferro pintado cór carne (cabega óca de polegar) uma pequeña lima de a?

 A uma cabeg a de dedo médio, ig ualmente pintada de carne, mandei fixar uma pedra plana de ferro-cér(pedra de isqueiro). Colocando os instrumentos nos ddos respectivos, onde éles sao invisív eis , mesmo plena luz, é fáci l produzir as chispas, fr iccionando, co

se compreende, apenas um dedo no outro,

* *

Os artistas profissionais, antes da aparig 5o do msistema, usavam um outro processo —- perigoso, mcuriosíssimo — para obterem a mesma ilusao. Consist

no seguinte:Pequeños tubos capilares, como os dos termómetro

er am cheios de ácido sulfúrico e obturados depoismagarico, por ambas as extremidades. Antes da sesscomegar, estes tubozinhos eram embrulhados em *P

pier éclair » (1), juntamente com uma pitada de <Pi

(1) Papel que arde, sem deix ar da za, com a velocidade

zelámpago. Prepara- se pelo mesmo processo que nos easinaOquímica para fabr icar o «algodao- pólvora», É e x t r e m a m e n t e P

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¡ í A G I A D O F O G O - 179

f or o» ( 1 ) e colocados ao alcance das m5os. Bastava t o

m ar n m , parti lo entre os dedos e atira r logo tudo a o

a r , p a r a que a ilus3o de saír relámpagos dos dedostósse verdaderamente admirável. O «efeito» é tamlindo que há ainda muitos artistas que continuam a uti-íizar-se do sistema.

0 «papel relámpago», cuja utilidade em ilusionismoé quási infinita, visto que se emprega na desaparigáo,

reaparigào e transformado de múltiplos objectos, fa-brica-se da forma seguiate :

Mistura- se urna parte de ácido nítrico com duas deácido sulfúrico e deixa- se repousar a mistur a durantedoze ou catorze horas. É necessàrio der ra mar o ácidonítrico pouco e pouco no ácido sulfúrico. A mistur aabrupta produziria grande calor e, embora lhe faltasse aparte conveniente de glicerina (2), poderíamos apanharum susto. Dev emos, pois, manipula r os ácidos com o

®aior cuidado, n3o só porque o seu contacto destrói os

tecidos cutáneos, mas porque os próprios vapores pre-iudicarn a saúde e pòem em per igo a vida. O melhor wia, em lug ar bem ar ejado, fazer a mistura le ntamentea'Jm recipiente de por celana ou de vidro, como os que

ío». porque se infla ma com muita fa cil idade e é tam grande o'olüme de gás que origina, que as suas explosoes sao horrivel"

®<ate destruidoras. Deve ter- se sempre em quantidade mínima e401 lagares onde, mesmo em caso de desastre, nao possa causar3re¡ uízos.

. . O) Pó que se inf lama instantáneamente ao contacto dolc’do sulfúrico e cuja fórmula, simplicíssima, eu pubüquei a

í ■190 de «Magia T eatr al- — Liv rar ia Progredior, Editora.L (2) Se a tivesse, obteríamos a tremenda «nitro- glicer ina»,

fflauipulagao pode ocasionar tragédias.

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se utilizam em fotografía, e deixá- lo ai em repouso drante o meio dia indicado,

 A pós isto, pega- se numa fólha de papel fino, namuito forte, mas de boa qualida de e merg ulha- se no quido durante dois ou très segundos, O papel, que podser branco ou de qualquer outra cor, deve ser logo banhado em grandes águas, de modo que náo fique sóbré le o menor vestig io de ácido. Res ta só pô- lo a secar elug ar fresco — nao ao sol — , para ter mos uma fólha dverdadeiro «papier éclair»,

Nâo se esqueça que se lhe tocarmos com umchama ou qualquer objecto incandescente (o cigarraceso, por exemplo), ele desaparecerá num relámpagosem deixar um átomo de cinza !

 X X X I V

 Aquários chamejantes

Os aquários n3o tém «truc* — sao vulgares. Con

tudo, em cima do líquido que ser ve de *meio» aos peix es, acha- se uma ligeir a cama da de gasolina que, poser de densidade inferior à da água, se mantem à superficie, Inflamando a esséncia, o público terá uma ilusáoperfeitíssima dos aquários em chamas. Como estas seextinguiriam logo que o combustível se consumisse, ocr iado retira- os de cena, como vimos, enquanto as laba-

redas, que sâo de mais de meio metro de altura, se el*

vam no espaço.Há vários processos para inflamar a gasolina e to

dos éles se podem considerar muito bons, se o públicoos n2o puder notar e tiver a ilusâo perfeita de que bast»

a imposiçâo dos dedos,,, para que a água rompa e

chamas !

1 8 0 - M A G I A D O F O G

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É claro que ninguém pode pór em ddvida a reali*dade do «milagre», visto que no líquido, como que a

identificà- lo, acham- se peix inhos v ivos . Nao devemos,por isso mesmo, esquecer um pormenor importante.É éste :

Como o contado da água com o ar nao existe, ospeixínUfes nao podem, em tais circunstáacias, resistirmuito tempo à morte. Portanto, só uns segundos antesdo pano subir é que se deita a gasolina nos aquários enos preparamos para a ilusao. Esta, como se com-

preende, será tanto mais interessante quanto mais enge-nhoso fór o processo de inflamar a esséncia. Indicarei

dois — igualmente práticos e fáceis.0 primeiro consiste em dirig ir- lhe, com os dedos»

um combóio de chis pas de ferro- cerio, produzidas pelomeu sistema ; o segundo, ainda mais singelo, consiste emdeixar cair em cima do liquido um pedacito de potàssioou de sódio- metal. O contacto da água inflamá- lo- á, como

 já vimos (pr imeir a par te), e o fogo comunicar- se- á in s 'tantáneamente ao óleo essencial — que encherá, em menos de um décimo de segundo, os dois aquários dechamas.

 A ex plicado científ ica do fenómeno, que já dei naPrimeira parte déste livro, n3o pode ser repetida aqui,

*

* #

0 leitor já compreendeu certamente que a técnicade encfaer os pratos de fogo n3o difere absolutamente emnada daquela que empregamos na ilusao dos aquários.

queremos utiliza r o sis tema ferro- cério, bastará que^da prato possua uma ligeiríssima camada de esséncia;í’referindo servirmo- Hos dos metáis citados, potàssio ou

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sòdio, entao teremos de proceder de modo diverso e derramar a camada de gasolina depois de se ter pòs

nos pratos urna pequeña por^ào de agua.

 X X X V 

Os devoradores de fogo

Comer labaredas é, realmente, de um efeito pamoso. S ó quem assistiu urna vez à ilus ao pode compreender a grandiosidade do espectáculo e o inexplicàvmistério em que èie mergulha os assistentes !

Contudo, como se verá a seguir, o extraordinàr

prodigio mostra- se de urna facilidade chocante. A teoria do «fenómeno» baseia- se no seguinte:Qualquer veículo da chama, que seja  possh

comer sem perig o, pode ser levado à bòca, apagado pe x pir a do lenta, invisív el para o público, e i n g e r i

depois.

Fundados neste principio, os ilusionistas de outrordeitavam aguárdente forte ou àlcool puro nos pratos e, sbre o líquido, um certo número de uvas passas ou dfigos de seira pequeninos. Os pratos, assim preparadoer am postos em cima da me sa antes do pano subir. Nmomento do espectáculo, o àlcool era inflamado pqualque r processo misterios o — o do ferro- cério é boo preferido—e ¿les, munidos de um garfo, co me cav am

devorar as uvas em chamas. Claro que ao introduzMna bóca expiravam lentamente, de modo a estabelecuma parede ci lindr ica de ar f resco. És te, além de extguir a chama logo que eia ultrapassava os lábios, ti

ainda a enorme vantagem de refrescar a bòca e de *pedir que o fogo tocasse, nem mesmo ao de leve, Q

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quer das suas partes sensíveis. Sucedía, porém, que anva, por ter férv ido no líquido , mantinha- se durante

muito tempo a urna temperatura elevada ; e o ilusionista,neto só a aSo podia ingerir , como se queimav a horrlvel-mente, visto ser fo r jado pelas circunst ancias a conser-vá-la na b6ca.

O facto deu origem a urna nova forma de operar»que mata infelizmente a ilusao. Os prestigiadores modernos, póem, como os antigos, as passas no álcool puro,mas n2o ínf lamam o líquido — para elas nao aquecere m

demasiado, Es petam- nas com o garfo, lev am- nas k chama de urna velaque se acha em cimada mesa e, logo a seguir, metem- nas na

bóca por entr e a camada de ar que jáconbecemos. As uvas

procedendo assim,descem tam rápidamente de temperatu

ra! que se comemcom agrado,

 A ilus5o é que,aPós tanta comodida-

de, fica transformada

Dum fa rrapo!Com preendendo p¡g_ ^ ^ 1m devondor de fogo

lss°. o I, I. R. S„em

Ds de 1925, pediu a todos os seus membros da A mérica

eda Europa que res suscitas se m a ilusao assass inada, fa-

Zend° descer, se poss ível fósse, a temper atura do veí-Cul° Para pouco mais de trinta graus.

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184 - M A G I A D O F O G

 A soluçâo que apr esentei e que foi universalmenadoptada, ex plíca- se em duas linhas :

Um prato é dividido a meio, quer industrialment

como na America do Norte, quer domesticamente—coa m a s imples parede de gèsso. No semi- circulo voltapar a os espectadore s coloca- se o àlcool puro, ao quallança iogo misteriosamente com os extremos dos dedono outro semi- círculo, for rado de mass a de amianto, po tornar r efractário ao calor , deita- se um pouco de ágfria e, sòbre eia, as passas que devemos ingerir. A chamque se provoca, vista do lado dos assistantes, pare

ocupar o prato todo, 0 ilus ionis ta , sentado de modo qo  seu lado esquerdo fique voltado para a sala, espeurna passa com o gario e merg ulha- a no àlcool. Ecomunica- lhe o fogo pela parte ex ter ior e a uva é v ada à bôca, onde, após a ex tinçâo da chama pelo mtodo v ulgar, se nota que o v eículo está quási frió, pque a água, penetrando- lhe no inte rior por capilaridad

nao deix a elevar- se a temperatura. A água que se ac

à super ficie das uvas nao impede o àlcool de ar der, ebora Ihe diminua um pouco a graduaçâo, o que, na vedade, ainda mais fac ilita o írabalho e torna a ingestmuito simples.

Quanto às enormes l aba r e da s ,, , é tudo questuo veículo e de bôca suficientemente grande para o podadmitir . E u uso, par a obter o «e fe ito» descr ito, figos

seir a grandes ou pedaços de banana , Bar nel lo, quefor midável em piromag ia — nâo fòsse èie o «rei fogo» ! — , devora chamas colossais, porque os veícu

que utiliza constara de bananas inteiras !

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 X X X V I

 Acender velas corrí a boca

0 prestigiador torna a vela com a m5o direita e,voltando- se de perfil para os assis tentes (lado esquerdopara a platéia), aproxima o pavio dos lábios e abre abóca, Ao mesmo tempo a mao esquer da eleva- se r ápidamente e oculta por um seg undo— só um — o pavio davela, enquanto o po-

legar da direita faz g irar a rodinha que pro-duz a chispa incen-diária, É ev idente queneste caso a vela éficticia e consta de umtubo de metal pintadoou enrolado etn pa

pel conché cór da vela e terminando, naparte superior, porurna torcida de algo-d3o embebida em gasolina. Em lugar pró-Prio, como se vé na

figura 16, dev e ter- se urna minúsc ula rodinha que produza

a centelha de ferro- cério. Na g ravura, tanto a roda a queme reíiro, como a respectiv a hastezinha, onde se ocultaa Mola em espiral e a pedra de ferro- cério, sao de masiado volumosas para se tornarem bem patentes ao lei-

*or' logo ao primeiro golpe de vista. Contudo, no fabricoa®ericano, isso é tudo tam pequenino, que nSo podeTer-se com a vela apagada e é inteiramente invisível

F i g . 1 6 - V e l a - i s qu ei ro

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186 - M A G I A D O F O G O

quando ela se acender. A própria chama, em vez de mostrar, oculta- a!

Que m nSo ti ver o apare lho, pode realiza r a mesmilus áo com urna v ela v ulgar . Bastar- lhe- á adoptar umdos numerosos sistemas de que dispoe o ilusionísmpara acender as velas comuns.

Eis o que me parece mais prático ñas circunstancias apontadas:

T oma- se uma ve la qualquer e, com uma tesourcorta- se- lhe o pav io re nte. Depois , com um arame ebrasa, faz-se ao lado um buraco de uns dois centímetro

de proíundidade e cérca de dois milímetros de diámetroNesse buraco introduzimos um fósforo de céra. com

cabera para fora. Como a introdujo é feita logo apóse ter retirado o arame quente, a estearina solidifica dnovo e o pavio adere fortemente á vela.

E eis a singela preparado.Para acendermos esta vela «sui generis», bastará

como se deduz fácilmente, lixar a cabega do fósforo

Para ísso, fixamos com «presting» dois circulozinhos dlix a do diámetr o de um centímetr o nos dedos mediopolegar da m2o esquerda. Ao aproximar a vela da bócalix amos a cabe ra f osfórica, pingando- a entre os dedos,

ela, como é natural, ficará logo a arder.

 X X X V I I

Fósforosacesosno bolso do colete

Pega-se numa fólha de lixa número cinco e cort

-se-lhe um rectángulo de quatro por sete centímetro

que se dobra ao meio, no s entido do comprimento, com

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M A G I A D O F O G O - 187

s e vê na figura 17 (A). Corta-se agora um rectángulo se-melhante em paño préto, mas um pouco maior, de

modo que depois de dobrado, como a lixa, a possa conter dentro de si — como se fôra a capa e a lix a as páginas de um liv ro. Cosen-do as partes late rais , obte-remos urna especie de saco, forrado de lix a númerocinco, Aos lábios do sacorecém- confeccionado ada-

ptam-se duas láminas ^ deaço BB , de forma queéles se mantenham constantemente fechados. Aconcluir, espeta- se no e xterior um alfinete prétode segurança e no interiorpóem-se très ou quatro

fósforos de cera — cabeçapara dentro— distantes umcentímetro ou centímetro e meio uns dos outros. E obte-remos, assim, o instrumento C (fig. 17), que náo vale aPena confeccionar, porque o seu preço é baratíssimo ñascasas de ilusionismo,

Se fixarmos o aparelho no interior do bólso do colete, Acaremos log o prepar ados par a realizar o prodigio enun

ciado no prime iro acto da sess3o que des crev i, porquebastará puxar por um fósforo para que éle saia logo aceso•k dentro do ins tr ume nto e, portanto, do bólso do colete .

 A pesar de se tr atar de uma coisa muito simples, a■hsáo mostra- se admir áv el, porque o facto de se tira-

rem>já acesos, vários fósforos do bólso é de um inedi-t!smo surpreendente.

A

P A N O P f f E. T O

P i g . 1 7 —A c e n d e d o r a u t o m á t i c o

de fó s fo r o s

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188 - M A G I A D O F O G O

 X X X V I I I

Devorar a chama de uma vela

Eis um expediente cujo objeetivo principal é impdir que a vela continui a arder, porque, sendo metlic a ou constituida de modo que o pav io nSo passe um fósforo, te m f orzosamente de ser apagada, salvo o fósforo, como é cos tume suceder quando se utilizaseg undo processo, inf lamar no mome nto próprio o ve

dadeiro pavio. A pag ar uma vela quando, como no primeiro act

se faz enor me bar ulho por se notar fa lta de luz, seruma coisa es túpida e absolutamente inex plicável. Pisso recorremos ao «truc», vistosíssimo e aparentmente as sombroso, de devorarmos a chama. T omamosreía , aprox imamos a chama dos lábios e, sem receiaspirámo- la com fórga. Recomendo que se proceda se

receio, porque éste, se existir, faz com que nos queimmos horr ivelmente e mate mos a ilusao. Nao havendo r

ceio, a chama, as pirada com fórg a, entra na bóca meio da camada de ar inspirado e, sob a mesma protec

g5o, percorr e parte da garg anta, onde se ex tingue se

produzir a menor impressao desagradável,Quern já me viu, a título documental, e x e c u t a r

fenómeno com um archote, pode concluir da i n o c é n c

do «tr uc» lev ado a cabo com uma s imples v ela, Só r

comendo que se conserve a l íngua deitada no maxilinfer ior, porque se ela fór apanhada pelo jacto igBqueimar- se- á irr emediávelme nte. Com esta precau?5o

sem receio, garanto que a ilusao se realizará com

maior facilidade.

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« A G I A d o   f o g o - 189

 X X X I X

O cigarro ¡material

 A ilusS o do «cig ar ro imateria l» pode realizar- se por

dois processos distintos, um com aparelhos especiáis e

outro sem aparelho algum.Na descrigao que fiz no primeiro acto da interessante

sessSío de piromagia, dei preferencia ao método mecá

nico, porque me parece muito mais f ácil do que o pro-cesso manual. Posso, contudo, para ser agradável aosmeus leitores, inserir também éste último, que suponho

criagao do grande ilusionista Jó-Jó.Mas comecemos,,. pelo principio:Se nSo quisermos comprar o aparelho já feito e

pronto a funcionar, mandámo- lo construir a qualquer especialista em objectos de metal. O desenho que ilustra

estas páginas (fig. 18,) é, para os técnicos, infinitamentemais eloqüente do que longas e mag udas ex plicagoes. ATela é constituida por um tubo de latao pintado convenientemente para se confundir com a estearina. No cimoJdapta-se-lhe um coto de vela auténtico (C) e dentro poe--se-lhe um mecanismo que nada tem de complicado.

Numa abertura lateral, diametralmente oposta aoPúblico, oculta se um cigarro espetado numa agulha (a),

nidada a uma alav anca (A ), Es ta alav anca gira em tornode uru fulcro (E ) e, quando pux amos o «g at ilho» (G^,

focalizando na asa da palmatoria, o fio (F), apoiado nar°ldana da base (R) faz ele var o cigar ro á posigao hori-z°ntal( fig. 18), de modo que éle se introduz quási auto

máticamente nos lábios do ar tista — quando éle aprox imaa chama da vela da bóca. Libertá- lo da ag ulha por um

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190 — M A G I A D O F O G

lig eir o recuo e acendé- lo a seguir, é manobra simplicsima que dispensa explicares.

Um outro processso semelhante consiste em lib

tar a vela da p

(L  matór ia , de man

 /-'.■'¿yh'-y-.  ra que ela po

 Ir . Wh - -  ser colocada •'T - :'/ qualquer casti'I | ou serpentina.1 . 1 um sistema rec

te, de mecanism

muito mais siples e de fabr

muito mais fácSó difere do descrito na ausécia da roldana (e na do respect

«gatiiho» (G): U

pouco acíma ex tremo inferior

vela acha- se aramito invisí

que o polegar

de arrastar fámente, etn damomento, na di

c?áo vertical. 0 que neste casosubstituido poru

ar ame robusto, obriga a alavanca a descer e o garro a descrever um ángulo de noventa graus, dxando- o, como a té aqui, quási a meter se entre os láb

Fig. 18—Processo mecánico

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« a g í a   d o   f o g o - 191

Quanto ao método que eu atr íbuo a J ó- J ó,, . eis o

respectivo «efeito» :

Depoís de se tactearem os bolsos e de se constatara auséncia de cigarros, descobre- se que apenas se disp5ede mortalhas. T oma- se urna, curva- se lig eir amente como

para se lhe deitar o tabaco, que nao ex iste, e deixa- seentre os dedos da mSo esquerda, enquanto, com a direita,fingimos, por várias vezes, apanhar no espago o tabacode que car ecemos, Á terceira ou quarta vez, enrolámosa mortalha e, com grande assombro de todos, acendemos

o cigarro, v isto que é um auténtico cigarr o que temosagora entre os lábios,

O processo é engenhoso ; mas, após uns treinos, fá-dl de executar.

 A mao esquerda tem em suspens5o italia na (C —65, pág. 216, de «Mag ia T eatr al») um cigarro de

qualquer marca. A s m2os, e m tais circunstancias , conti-nuam apare ntemente liv res , v isto que o cigarro é invisí-

vel e os dedos podem estar abertos, mesmo separadosuns cbs outros.

Quando se pega na mortalha, ela, como é opaca,oculta aos olhos dos assistentes o cigarro que, no momento próprio, se deix a des lizar para trás déla , Enro-lar-lhe em torno o papel e deitar depois fogo ao cigarroParece- me que nSo tem histor ia nem carece de ex plicares. Bastará langar um golpe de vista para a figura ci

tada de pág, 21 6 de «Mag ia T eatral», para que tudo se^■npreenda num relámpag o e se possa ex ecutar a ilus2 o

a maior facilidade. Por conseqüéncia, fico poratlui . . . ou, melhor , vou ex pór um outro sis tema que,enibora nao tenha tanta beleza execucional, serve, con-

tud°. para se obter um «efeito» s emelhante — mesmoseja em plena rúa.

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192 - M A G I A D O F O G

Consiste no seguinte:Procura- se nos bolsos um cigarro e , , , só se enco

tra o mago vasio. Sem nos perturbamos, inflamamum fósforo, lev ámo- lo aos labios e acendemos o cigarque misteriosamente aparece, como por encanto, e

tre éles.Nesta pequenina ilusao, que poderíamos classific

de «micromagia», o «truc», admiravelmente estudadacha- se na caix a de fósforos. Esta, cuja g aveta posum buraco ao canto num dos seus lados mais estreitooculta, num túnel construido em fósforos, um cigar

v ulgar — ligeiramente de fora, para que os dentesposs am pingar logo que a ocasiao o ex ija, Ao lado «túnel» (fig. 19), acham- se os fósforos sóltos, aquéque bao- de s ervir para a produgao da chama, A o abricaix a, colocámc- la ern frente da bóca e pingamos ogarro com os dentes, Acendendo logo o fósforo e fican

com as maos na posig5o de quera protege a chama dvento, posigSo esta muito fa miliar aos fumadores, a i

sao mostrar- se- á admir ável, porque o cigarro, ao rerarmos as maos, aparece inesperadamente entre

lábios. A ntes de concluir e já que fale i de Jó- Jó, que

descr ever ainda outra criagao do mestre — a «decapi

gao do cigarro».Jó- Jó aparece no palco, preparado já para a ma

pulagao de Zirka, Entre as maos traz um cigarro q

mete na bóca e inflama a seguir. Momentos volvidopede uma tes oura e corta- lhe a ponta incandescente, qatir a para o chao, Mostra as maos de ambos os ladinteiramente livres, e pega no cigarro com os dedos

es querda, Sopra- lhe e coloca- o de novo na bóc a — ine

plicavelmente aceso!

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M A G I A d o   f o g o - 193

 A pe que nina ilus áo, apesar de muito linda, me smoespectaculosa, é fácil de provocar:

O cigarro que Jó Jó traz entre os dedos acha- se

aceso. Ele é que oculta a incandescéncia aos olhos dosespectadores, Quando 0 mete na bóca, fá-lo com a pontaacesa para dentro e acende a ex ter ior — naturalme nteapagada. A pós a , . . decapitag áo, limita- se a voltar o c igarro e a pó- lo de novo entre os lábios , o que prov oca ailusao da inflamagáo espontánea.

Os ilusionistas modernos, depois de executarem o

formoso «tour» de Jó- Jó, concluem- no de uma f orma ver-dadeiramente o r ig in a l: Pe-dem um lengo emprestadoá assisténcia, colocam- lbeno centro o cigarro a ardere  dSo tudo, logo a seg uir,para as maos dos especta-i „ 1 1 1   19~ Graveta de caix a da fósforosdores, restes, desembrulhail- convenientemente preparada

do o rectáng ulo de l inho,constatam, assombrados, que éle nao só se acha intacto,sem a menor queimadura, mas ainda surpreendidos,Porque do cigarro que o artista embrulhara no lengo,apesar déle mostrar as máos de ambos os lados, com osdedos bem separados uns dos outros, nao é possível encontrar nem mesmo um átomo de cinza !

Este magnífico «fecho» da interessantíssima ilusáo

de Jó-Jó, que oportunamente foi comunicado a todos oss°cios do I. I. R, S„originou um «tour» completo que,

«o obstante as grandes facilidades de execugao, sem°stra, em conjunto, de uma espectaculos idade estupen-

Tenho pena de o náo poder inserir aqui, mas o^cto é impossível, porque éle constituí ainda segrédoOclusivo dos membros do I. I. R. S, e náo pode, por

13

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194 - M A G I A D O F O G O

es sa razâo, ser revelado numa obra que todo o mund

pode 1er.,.

 X L

Deitar fumo e fogo pela boca

 A ilus áo realizava- se outrora com es topa ou linhem rama e o fumo, seguido de centelhas vivíssimasaía igualmente da bóca, originando em tôda a platéurna atmosfera de assombro. Como o sistema modernoembora mais cómodo e de efeitos mais surpreendenteé filho legítimo do primitivo, comsço por descrever és— para que, depois , me lhor se possa cotnpreend

aquéle.Num prato, juntamente com g ra nde quantidade

es topa em rama, acha- se, oculta por ela, uma bucha algodáo tratado pelo nitrato de potassa — dêsse que susava noutros tempos nos isqueiros de pedreneira,

0 «fak e* preparava- se assim :T omavam- se uns dois ou très cor dôes do referi

algodâo salitrado—que tem, como se sabe, a propriedadde só se apagar no vacuo — e forravam- se convenient

mente de estopa ou linho para se obter o disfarce, Loga seg uir, lançava- se- lhe fogo e a incandescência seíumo ia remoendo pouco e pouco o algodâo, conservan

do- o sempre no estado ígneo até o momento de se utzar o s eu concurso. Es cuso de acrescentar que, nobstante a ig aiçâo, o «f ak e», no meio da estopa, eabsolutamente invisível para os espectadores. Para éle

como convinha, só se achava no prato únicamente estop

em rama. Nada mais.Pois bem, O ilusionista de há vinte anos tomava

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M A G I A d o   f o g o - 195

prato urna pequeña quantidade de estopa — que parecíaenorme por se achar muito sólta — e f ingía comé- la. Na

tealidade, f azia com a líng ua urna pequeña bola e ocul-tava-a a um dos lados da bóca, entre o max ila r infer iore a face. Depois de ter repetido o gesto várias vezes,

pegava ent5o no «f ake» e colocava- o sóbre a líng ua,cuidando era nao inspirar pela bóca a menor partícula dear. Logo a seguir, soprava através do «fake», primeiro,lentamente e, depois, com tóda a fórga dos seus pul-móes. O resultado, interessantíssimo, n3o se fazia espe

rar: comegava por saír da bóca do artista grande quantidade de fumo e acabava por se ver projectar no espago avultado número de centelhas — produzidas pelos

ños fr agmentados de algodSo que, em chamas , se des-prendiam do núcleo ígneo.

 Antes de pros seg uir , vejamos como se prepara o al-god5o, quando nao se dispoe dos necessários cordóes salitrados :

Toma- se uma meada de alg odao branco ou de córe mergulha- se numa f orte solugao de nitrato de potassa,Passadas quatro ou cinco horas , retira se do líquido ePoe se a secar a sombra. Logo que esteja bem seco, tor-ce-se ou entranga- se com o número de fios propor cionala grossura do cordao que se quiser obter.

Éste fio, como já disse, revela as características de*rder lenta e constantemente, o que, no caso em ques

eo, é de uma vantagem enorme. V amos ag ora ao sis tema conte mpor áneo:Manda- se fazer ou compra- se já feito ñas casas de

ilusionismo, um tronco de cone ovalado e óco, cons-lruído em metal e forrado exteriormente de amianto.

parte de menor diámetr o coloca- se uma gradelarga — nío réde — cujo objectivo é evitar que, com o

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1 % - M A G I A D O F O G

sópro, os pedamos de fio s alitr ado saiam antes da cobustSo.

No inicio do espectáculo, envolvemos o aparelho e

estopa, afim de que o confundam com ela, e enchemo-de algodao salitrado, nao só em mecha, mas também epequeños fios solios — des tinados á produgao das cent

Fig .20 - C.r n« metái.cu para de.tar a p a r e n t a ( J o i n g e r i r C e rÍOK O D é l a b o c a r 0

mos na bóca o aparelho — com a parte de maior d

metro para dentro. Soprando, sairá pelo lado mais estrei

grande quantidade de fumo, a que se seguiráo as cent

lhas e até, por vezes, auténticos jactos de labaredO amianto, mesmo que o aparelho aqueça, uáo deix

comunicar o calórico ao exterior. Portanto, se tivermo

o cuidado de abrir os lábios quando soprarmos e de inpirar sempre pelo nariz, a experiencia, a p a r e n t e m e n t

perigosíssima, fica reduzida, na realidade, a uma brinca

deira inocente.E eis. emfim, o moderno sistema em que se con

verteu o primitivo processo de deitar fogo e fumo pe

bóca, Claro que há outros métodos muito mais vistosoque per mite m v omitar no espaço labar edas de dois e a

de tr ès metros de altura. Mas a isso chama- se «vulchumano» e eu, a seu tempo, ocupar- me- ei das i n s t r u f ó

respectivas.

lhas que hao- de seguir fumo. A concluir o prepro, lanzamos fogo ao algdao e colocamos o aparelno prato, ocultando- o na e

topa que fingiremos comeNo momento oportun

isto é, depois de term

quantidade de estopa, met

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m a g i a   d o   f o g o — 197

 X L I

Velas acesas no bólso interiorda casaca

Conservar, durante muito tempo, várias velas acesas

so bólso inte rior da casaca nào parece coisa fácil, Acen-dé-las no pròprio bólso — também nào creio que sejasimples, embora realizável com dete rminadas precau-

$6es. Mas o problema tem uma solugào mais singela e opúblico, nào obstante a s implicidade do « tour», é subju-gado pela ilus ào de que as velas acesas , j á se encontra-vam, nos bolsos, coroadas pela chama!

Para isso, bastar- nos- à acendé- las no preciso instante em que, com uma só máo, as retiramos do bólso,0 trabalho é fácil e ràpidamente praticável ao abrigo dapropria casaca, Só carecemos de sis temas próprios de

ignigào. Ora o ilusionismo dispòe de grande número déles, Em todo o caso, os mais aconselhàveis sào os doisque já expliquei, ao revelar aos meus leitores como seacendem velas com a bóca (X X X V I), 0 primeiro sistema,corno se v iu, deve- se a um processo mecánico e a velautilizada tem forzosamente de ser metálica ; o segundo,que nos é fornecido por um artificio engenhosíssimo,admite o emprégo, como constatamos em X X X V I, de

6®a vela comum. Qualquer déles res olve o problemacom grande facilidade. Mas o seg undo, precisamente

P°r nao carecer de instrumental pròprio, deve ser oPreferido pelos amadores da especialidade.

 A lix a, neste cas o, acha- se colada num rectángulocartao e éste, cotu dois alfinetes de seguranza, fixo

00 fórro da casaca. Ao retirar a vela do bólso, risca-se

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198 - M A G I A D O F O G

o fósforo no aparelho e, logo que a chama deixe de crpitar, apresenta- se aos olhos dos ass istentes e coloca-

na serpentina. É claro que n§o deve esquecer- se qTelas em tais condi?o3s, sob pena de comprometerem ilusao, só dev em ar der uns minutos, Suce de, porém

que o fósforo comunica, por vezes , o fogo ao pavio vela e esta continua a arder, sem que haja interrupg5Se ndo as s im, escusa mos de nos preocupar, porqueilus5o do consumo é tam evidente como real.

 X L 1 1

 Acender velas com os dedos

Ñas páginas anteriores aprendemos já vários processos de acender ve las miste riosa mente — até com

própria bóca! V ejamos ag ora como poderemos obter o mesm

«efeito» com os extremos dos dedos ou com a ponta dr a r i n h a :

No primeir o caso, deix amos arder a vela o temsuficiente para ela cr iar em tórno do pavio uma cavdade cónica bastante larga para conter uma pitadinha d•«piróforo» (1 ), Sóbre é le póe- se um pedacito de sdium — já muito nosso conhecido. U m dedo, molhaem saliv a ou água, inflama r á o metal, que comunicara

fogo ao «piróforo» e éste ao pavio, acendendo- se instatáneamente a vela.

(1) A composig ao do «piróforo», muito simples, apág. 190 de «Magia Teatral»— Livraria Progredior, Editora*

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m a g i a   d o   f o g o - 199

Com o extremo da varinha, o problema é multo

mais fácil, pois bastará urna gota de ácido sulfúrico em

cima do <piróforo» — o sodio met al dispensa- se — paraa vela se inf lamar. A var inha poderá conter um tubosi-nho de vidro cheio de ácido, que a pressSo atmos féricamantém no seu interior . A prox imando- a da vela e baten-do-se-lhe ligeiramente com um dedo, urna gota salrá dotubo e pór-se-á em contacto com o «piróforo». Logo que

o contacto se der, a vela, como por encanto, acender- se- árápidamente.

Há urnas varinhas especiáis, fáceis de construir,mas de concepto originalíssima (1), que inflamam o«piróforo» por s imples contacto com éle — sem o em-

prégo do ácido s ulfúrico. Es sas var inhas, que estSo sem-pre prontas a funcionar , tanto podem acender urna, comocentenas de velas e até arrancar grandes línguas de fogode todos os pontos da sala onde se tenha colocado urnapequeña porgao do nosso curioso «piróforo» (2),

É evidente que se n2o dispusermos déste modernoinstrumento, podemos obter «efeitos» semelhantes comorna varinha a ácido. Bastará, como fácilmente se de-duz, pór montículos de «piróforo» em todos os pontos

da sala de onde devam saír chamas.Uma vareta de ferro incandescente ou um cigarro

em ignigao infl am am igualmente o «piróforo» e poem

a reía a arder.

(1) Inveng ao a presentada recentemeate ao I. I. R. S. e distribuida aos seas socios em 1940 (Cm-51),

(2) «O ilas ionista» , 1.° vol. pág. 201: «Mistério ígneo».

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200 - M A G I A D O F O G O

 X L I I I

Transporte misterioso da chamade urna vela

O transporte da c hama de urna vela para outra

urna ilusào curiosa, porque pretende fazer nascer nconsciència do observador urna concepgào rara. Segundo principio alucinatório que se pretende materializar n

cérebro dos assistentes, a labareda pode sobreviverpropria «source» que a alimenta !

 A ssim, se tomarmos entr e as maos a chama urna vela, esta ficará apagada, mas nós poderemos reacendé- la ou acender urna outra, contanto que flagelemoo respectivo pavio com eia !

T eòrica mente , como «e fe ito», os íactos observadocorroborarli a hipótese ; pràticamente , analis ando

«caus a», o aparente fenómeno apresenta- se ao estudancom urna singelesa que espanta.

Ora vejamos : A daptando a um anel um pequeño tubo, munid

de urna torcida embebida em àlcool, poderemos, segrandes dificuldades, obter o «fenómeno» descrito. Batará enfiá- lo no ane lar da mSo es querda — tubinho pao interior — e aprox imar ambas as m3os, em c o n c h

da vela cuja chama se de?eja arrebatar. Enquanto ecomunica o seu fogo ao anel, a mao direita — c o l o c a

do lado opósto à platéia — asfixia a labareda e deixa vela sem luz,  A s màos, sempre em concha, transporta

depois a chama para outra vela. Logo que eia acende, os dedos da mao direita apagam o anel. Com

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as m5os continuam livres, a ilusao é perfeita — mesmoa curta distáncia.

Há muitos outros s istemas para se obter a mes mailusSo do transporte. Entr e éles , pode citar- se o do ovalmetálico, pintadocór de carne emunido deum tu-bozínho ex actamente igual ao doanel. E m pregado

na palma da m5oesquerda, serve,

como o anel, para transportar a

chama e tem avantagem de nos

podermos livrardéle, por queda na «servante», logo após a extingSo. Um

simples fósforo de cera, entre os dedos, pode tambémsubstituir o anel. Contudo, o auxilio déste último pare-ce-me indis pens áve l a urna boa ilusao, salv o se o ex entante fór artista consumado, porque, se o fór, qualquer

processo lhe serve.*

* *

Urna outra ilus3o admirável consiste em aproximardedo índece de uma vela acesa e, como se fóra umfósforo, inflamá- lo des cans adame nte e lev ar o archote humano a inflamar outra vela.

O «tour», verdadeiramente impressionante, aprésen

menos de realizado tam singela, que qualquer pessoa,Seia qual fór a sua inexperiéncia no assunto, o poderá

M A G I A , D O F O G O — 201

F i g . 2 1 - A .pa re lt ao s « i n v i s í v e i s * p a r a t r a n s p o r t a r

a c h a m a

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202 - M A G I A D O F O G

ex ecutar, Bastar- lhe- á humede cer o ex tre mo do dedo eàlcool puro e aprox imá- lo da chama para èie se inflama

 A ce nde ndo log o a vela e fazendo cessar o fogo, o cal

nào chega a molestar a pele.Os timoratos podem, apesar da auséncia total do p

rig o, utilizar- se de um pequeño art ific io — já indicado pmim quando descrevi o processo de ingerir labaredas

É éste :Mergulha- se prime iro o indica dor em água e só d

pois disso é que se introduz no àlcool. A chama, procedendo assim, arde só à superficie do primeiro liquidoque se evaporará pouco e pouco, dando até ao expermentador urna agradável sensato de frescura,

Creio que nào é preciso acrescentar que tantoágua como o àlcool se acham, ignorados dos espectadores, em pequeninos recipientes que o público n5o podnotar, O mergulho dos dedos deve, portanto, ser feitdisfarfadamente, pois a descoberta do «truc> aniquilarítodo o encanto da interessantissima ilus5o.

 X L I V 

 Acender cem velascom um tiro de pistola

 A cender cem velas com um tir o de pistola, cus

tanto e é tam difícil de realizar, por éste sistema, com

acender uma única ou dezenas de milhoes. A s mesas onde se colocam as serpentinas possue

minúsculas tomadas de energia eléctrica, ligadas a du

pío fio que, descendo por uma das pernas, vai termin

numa pequenina ficha. Esta, adaptada no lugar pròp

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« A G I A d o   f o g o

i

- 203

do solo, íará com que a corrente percorr a, quando sequiser, a superficie do fio duplo e ponha em actividade

as tomadas a que me refiro. Por outro lado, no fundode cada serpentina, existe uma ficha pequeníssima, quese adapta á tomada respectiva logo que as velas metá

licas sao postas em cima da mesa.Como já disse, cada serpentina possui dez velas,

que sSo outros tantos cilindros de metal convenientemente pintados ou forrados de papel. No cimo de cadatubo, existe um pequeño reservatório de gasolina, emíorma de gargalo de vela, e de onde sai um pavio de al-

godao embebido na esséncia.Dos lados, a distancia conveniente — uns milíme

tros apenas — adaptam- se os polos neces sários as c hispas de extracorrente (1). Logo que o servo entre bastidores, vé o artista apontar a pistola, coloca os dedos nointerruptor e espera que a detonado fira os ouvidos dosassistentes. Precisamente nesse instante carrega duasTezes no botáo e acende instantáneamente as velas. O

efeito, como se compreende, é verdadeiramente deslumbrante.

Podemos tam bém realizar a ex periéncia com velas comuns, quer furando- as inte rior mente, para introdu-lirmos os fios, quer utiliza ndo certas velas que já sSofabricadas com vários tubos tr iang ulares , Neste caso,

(1) A ex tracorrente obtém- se pelo fenómeno de in dug io,Produzido numa bobine cons tituida por um núcleo de ferro ma-a° a dois enrolamentos , primàrio e secundário. No primàrio-Passa a corrente da pilha que é a corrente indutora ; no segundo'Produz-se a corrente induzida. Cortando bruscamente o circuito,°btém-se uma corrente instantánea, de grande intensidade, que°ngina a conhecida faísca denominada de extracorrente.

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204 - M A G I A D O F O G O

teremos de usar «pirófor o» (1), que se inf lama comchispa eléctrica e comunica instantáneamente o fogo ao

respectivos pavios.O primeir o sis tema, por ser vir indef inidamente, muitíssimo mais aconselhável. Só carece de muitos cudados, entre os quais há um que nunca se deve esquecer. Come se trata de velas metálicas, o desg aste ntural n3o pode ser vis to pelos assiste ntes. Por éssfacto, impoe- se um ex pediente que a ning uém surpreender á : retiram- se as serpentinas da cena — luz simblica — enquanto o maquinis ta do teatro il umina todo

palco,

 X L V 

Flores entre chamas

Os vasos, que sao opacos, ocultam um sistema dalav ancas muito s imples , A fór a propulsora pode sergravidade, se usarmos um peso, ou a elasticidade, sempregarmos uma mola de a^o. As flores aparecem acimo dos vasos logo que o sistema se poe em movimento

Para isso, é forzoso que se queime o fío que o mantéffem repouso.

 V ejamos como as coisas se pas sam :Num prato metálico, por onde pass a o fio tenso

ex iste m uns g ramas de « pirófor o». Uma gota de ácidsulfúrico ou o simples contacto da varinha apropriada

faz com que grandes labaredas saiam dos vasos, amesmo tempo que os fios s3o destruidos pelo fogo e a

flores naturais fazem a sua apari^o,

(1) Pág ina 190 de «Magia T eatral»

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m a g i a   d o   f o g o - 205

Desprendê- las das pinças e entregá- las às senhorasrespeitáveis de que falo no primeiro acto da sessào, nào

me parece difícil, embora demande de certo critèrio parase nào confundir a beleza com a r e s pe ita bilida de ,. „

 X L V I

Detonaçôes digitais

O processo de f azer detonar os dedos devo- o ao meu

querido amigo Maurice Chevalier, pois foi através da suapena brilhante que èie chegou ao meu conhecimento.Experimentei- o demor adamente e, após um g rande numero de execuçôes, levadas a cabo sempre com o maioréxito, confesso que fi quei mara v ilhado,

Trata-se, porém, de uma experiència delicada, cujaexecuçâo impôe uma série especialíssima de cuidados.Para que os eruditos compreendam o perigo e os leigos

em ciências f ísico- químicas creiam na minha afir maçâo,bastará dizer que o fenómeno detonante se deve à pro-duçâo de atrito entre o fósforo e o clorato de potàssioem pô.

Eis como o grande artista francés aconselha a exe-cutar a magnífica ilusâo :

«Nutn papel de côr semelhante ao tampo da mesa,coloca-se uma peque ña porçâo de fósf oro ; numa outra

®esa distante da primeir a — as substancias nunca sedevem junta r — pôe- se, com idéntica s precauçôes, umaP°rçâo mínima de clor ato de potassa em pô. A poiando0 polegar direito sôbre o primeiro papel e o mèdioda mesma mâo em cima do pó do segundo, êles ficarâolB1pregnados, por aderència, de ligeiras porçôes dos respectivos produtos, Fazendo agora estalar os dedos, como

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206 - M A G I A D O F O G O

se costuma fazer etn cer tas dantas regionais, ouvir seuma detonalo fortissima, sem que, procedendo rigorosamente como indico, possa registar- se qualquer perigou sentir-se nos dedos a mais pequeña sensato».

Como se vé, o que conv ém evitar é a mirtura daduas substancias, porque, ao mais ligeiro atrito, elas explodir iam com tóda a certeza e, se as quantidades econtacto fossem grandes, causariam eleitos de conseqüéncias serissimas,

É, pois, de aconselhar a execu^ào da experiénciapenas com dois ou très gramas de cada produto

0 clorato, sem receio alg um, pode ter- se num irasco dvidro de bòca lar g a; o fòsforo, muito mais perigoso, rquere os maiores cuidados, Eu, para evitar surprésasmantenho- o sempre dentro de uni f ras co cheio deáguaquando o corto à tesoura, fago-o sempre num recipientde vastas dimensòes , prèv iamente cheio do mesmo quido. Operando de baix o de ág ua, o perig o do metaloidfica reduzido a zero.

Sei muito bem que o fòsforo em pò nSo pode ter-sdebaixo de água, mas é aconselhável armazená lo epequenissimas propor<;5es e em frasco bem tapado, drolha convenientemente esmerilada, para diminuir ao nnimo o seu contado com o ar. É preciso nào esquece

que o fòsforo seco, em contacto directo com o ar, es

sujeíto ao curiosissimo fenòneno da inflimiQSo espontànea, 0 facto, em pequeninas proporgòes e em fras

apropriado, mesmo que se realiza, nenhum desgM

poderá ocasionar.

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a a g í a   d o   f o g o - 207

 X L V I I

O candieiro humano

0 «candieiro humano», a julga r pelas descriasespomposas de muitos catálogos de ilusionismo, deve serdos «tours» mais antigos dos «domadores do logo» deoutrora.

Eis o seu sistema, que é exactamente igual ao que

ainda hoje se vende ñas várias casas da especialidade :Um candieiro é convenientemente cheio de petróleo

« pósto a arder, pelos processos vulgares, durante o espado de tempo neces sàrio para que a re spectiva mechase impregne totalmente do líquido. Após isso, apaga-see circunda- se a parte inferior da torcida, logo a seguirao bocal, com um anel de algodao hidrófilo ou uma es-ponjazinha apropriada. Abaixo do anel uns milímetros

apenas, aperta- se a mecha com um fio, de modo quenada mais seja possível passar por aquéle ponto.

Depois de tudo concluido, esvasia- se o candieiro,lava-se muito lav ado e enche- se, a seg uir, com água

comum, colorida prèviamente com a tonaliJade do petróso. Momentos antes da execugSo do »tour», o bocal éPósto de novo no candieiro, langa- se fogo à tor cida e

coloca-se a chaminé de vidro no respectivo lugar,

O ilusionista, quando o ajudante lhe entrega o candieiro, tira- lhe a chaminé, apaga- o e desparafusa- lhe ofocal, A seg uir, bebe um pouco do «petr óleo» contido

n° candieiro, se nSo pref er ir bebé- lo todo, coloca o bocaleQhe os lábios, langa vag aros amente fogo à mecha e . . .

®ais vagarosamente ainda adapta ao conjunto a neces*

^ i a chaminé de vidro,

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208 — M A G I A D O F O G

E assim, como se fóra na realidade um «homemcandieiro», com o esòfago a chupar petróleo do est

mago, o prodigiador mantém- se uns minutos —a percorer as primeiras filas da sala.

Evidentemente que o perigo é qulo visto que nbòca e no estómago do artista só água será possível econtrar !

H á um sistema moder niss imo que eu gostaria inserir aqui. Mas a invengao, que me nSo pertence, fo

 já publ icada em portug ués (1) e eu, por èsse motivnSo posso, porque me parece desnecessário, repeti-

nestas páginas, X L V 1 1 1

O bico de gás humano

Esta ilusáo, o «bico de gás humano», é ainda ma

F i g . 2 2 - T u b o c r o m a d o p a r a o b i c o^d e g á s h u m n w o

inocente do que a inofensiva experiéncia que acabo d

descrever.

(1) * 0 ilusionista» , 2.° voi,, pág. 61-73.

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k a g i a   d o   f o g o - 209

O ilusionista, antes da sessâo começar, desparafusao aparelho em D (fig. 22), embebe em gas olina a es-

ponjazinha que se acha no depósito e que os assistentesconfundem com um adorno do instrumento, v olta a pa-raíusá lo e deixa- o, pronto a funcionar , s óbre um a mesaqualquer.

Quando chegar o momento (vigésimo segundo«tour» do primeiro acto), o ilusionista aplica os lábiosao bocal B e sopra, e nquanto o ajudante aprox ima umíósforo ou uma vela de C. A chama, alimentada pelo

gás da ess éncia, romper á logo v iv íss ima e manter- se- ácom a mes ma intensidade luminosa, apesar da inevi-tável mistura com o ar exalado dos pulmóes.

Como se vé, a experiéncia nao pode ser mais fácilnem menos isenta de perigos.

 X L I X 

Bebercemcoposdevinho

Beber cem copos de vinho, um após outro, ísto é,de uma só vez, náo parece coisa rea lizáve l nem me smo

Para- - . um borrachâo profis sional. E , contudo, se empre-íarmos o meu sis tema, adoptado hoje por todos os ilu-

sionistas que fazem hidro- magia, ser- nos á tam fácil be-

cem ou duzentos copos de líquido, como dois ou très«ecilitros do melhor espumante de Champagne.

0 facto, por aparentemente impossível, deu origema Qma aoedocta que se conta e m duas linhas :

Quando comuniquei o meu processo ao I. I. R. S.,

foi primeiro enunciado, como é costume, aos seus^œerosos membros. 0 dr. Francech Guzma n, sentindo

14

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210 - M A G I A D O F O G

que nao podia esperar pela publicaçao do «modus orandi», que só seria impresso quinze dias depois enunciado , pediu- me que lhe confiasse antecipadameo «s eg rèdo», visto que já per derà très noi tes e nâo seguirà resolver o problema nera conciliar o sono !

Neguei- me, porque me era impossiv el procedertor ma diver sa. No I. I. R. S, nâo hàdis iinçôe s déstenero e muiío menos favoritismos que possam prejuditerceiros, As comunicaçôes sâo sempre rigorosameiguais, seja quai fôr a categoria do socio a que se dtinera ou a lingua em que se achem redigidas, Nâo

dia, portanto, aceder aos desejos do ilustre médico, ebota èie fòsse, como é ainda, um dos meus mais qudos amigos.

 A o ouv ir a minha recusa for mai, Guzmau f

lurioso e . , , jurou vingar- se !Inquirí do genero de vingança e èie respondeu-

que podia beber cinco almudes de vinho em très hormas que, para me fazer rebentar os miolos à proc

da soluçâo, também nâo me comunicav a o s e u., , «maTilhoso segrèdo»,

0 caso er a diferente, pois o dr, Fra ncech Guzmnâo t in ta comunicado coisa alg uma ao I. I. R, S,ta l seg rèdo, se ex istisse, pertencia- lhe interamen

Como, p or é m , èie quer ía ocultá- lo, eu limitei- m

guardar silèncio,

Irritou- se pelo meu desinter èsse e eu, para lhe

ag radável, solicitei- lhe a ex plicaçâo do fenòmeno. com urna ironia que me deixou gelado, preguntou-m— Quantos litros calculas tu que tenha um almu

— Talvez vinte e cinco, — respondi,— Entào cinco almudes devem conter cento e r

è cinco litros, nâo ?

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M A G I A d o   f o g o - 211

— Sim, pouco mais.,.— E quantos ccpos de quarto de litro imag inas que

darâo ésses cento e v inte e cinco litros ?

— Creio que deve andar por uns quinhentos.— Está bem. E que tempo supôes tu que me leva

a beber um copo ?— Sei l á , , . T al vez v inte s egundos.— Lev a m e no s ., . Mas, admitindo que tens razáo,

que íempo calculas que gastarei para beber os quinhen

tos copos ?— Duas horas e quarenta e tal minutos,

' — Isso mes mo, Náo cheg a, como tu próprio afirmas, às très horas que te enunciei,

— Se ja ass im. Mas como conseg ues tu meter tantovinho no estómago ?

— Ora adeus ! Iss o é f ac ílímo, , , Mando- te pegarno relógio e, quando eu estiver a comer, contas os segundos que me leva a beber um copo. Nas refeiçôes dosdias seguintes, procedes de igual modo e no fim, somando

os tempos que registas te, verás que gastei pouco maisde duas horas a dar cabo dos cinco almudes !

Confesso que fíquei desconcertado ! Pelo mesmo sistema, éle poderia ter- me garantido que bebia urna pipade vinho em très dias, porque très dias encerrara setenta* duas horas e s etenta e duas horas equiv alem a dozemil novecentos e sessenta vezes vinte segundos !

0 maroto vingara-se e vingara-se bem. E eu que o

estive a ouvir com a minha melhor atençâo !Mas va mos ao meu sis tema, que é ve rdadeiro ilu-

sl°nismo e nâo subtileza de expressâo :Os copos, de fabrico especial, tém as paredes du-

pías, Es sas paredes, no cimo, acham- se afas tadas urna

outra cinco milímetros apenas e a interior é um cen

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212 - M A G I A D O F OG

tímetro mais baix a que a exterior* No fundo do copex iste um orif icio de poucos milíme tr os de diámetroas bandejas comunicam, por meio de um tubo de cautcha

com um reservatório qualquer, que se oculta debaixo dmesa ou se acha sob o palco.

Quando se enchem os copos, o líquido, subindo a

F i g . 23 — E s q u e m a e l u c i d a t iv o p a r a a f a br i c a g á o do s c op os

á altur a da parede inter ior, introduz- se em B (fig. 23)enche totalmente a cabidade circular, enquanto o cose esvasia pelo orif icio F . Como, porém, a coroa con

nua repleta, a ilusáo de que o copo está chcio náo podoferecer quais quer dúvidas . E as sim, duzentos copos

água colorida — pois é evidente que n2o íamos empgar vinho — nao cheg am, todos somados, a perfaz

meio l itro!

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L

Estómago-caixa forte

Rogensky tinha, como Jonax, um estómago excepcional. Mas nao se imagine que nasceram assim. Foi a ne-cessidade que os lev ou a descobrir processo de contraí-rem a viscera até ao ponto de produzire m consciente

mente o vómito. Pr imeiro, como é natural, proce deram

por ti ti la r e s vulgares, ao alcance de tóda a g e nt e ; de-pois, com o hábito da fungao m il vezes repetida, acaba-ram por dominar as paredes do estómago. E m principioeapós a ingestSo de pequeñas quantidades de água, be-biam porgoes mínimas de auténtico petróleo, que maistarde chamavam á bóca para produzirem as labaredasgigantes com que assombravam multidoes (1).

Mais tarde, como o estómago se ia dilatando de ano

para ano, as porgoes aumentavam até ao inconcebível epermitia-lbes a realizado de verdadeiros prodigios. Rogensky, por exemplo, chegava a ingerir cinqüenta decilitros de água e meio litro de petróleo, Como éste é menos denso do que a quela, ficav a mais perto do esófago,* era. precisamente por isso, o líquido que primeiro lhettudia á bóca, É le pulverisava- o entao sóbre uma chamaprovocada para ésse fim e a labar eda, gig ante, formidá-

Tel. ex traordinariamente cénica, projectava- se no espado.Mas a ingestao do petróleo forgava- o a lavar o es tómagoariamente, o que prejudicav a a fun^ao das mucosa s e

(1) Ex plico mais adiante, referindo- me ao «v nlcao humano»,se pode, sem perigo alg um para a sa úde, provocar- se ilns áo

íntica.

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destruía urna grande parte dos sucos gástricos indispensáveís, como se sabe, aos trabalhos da digestSo,

Especialmente quando se tem vinte anos, talveporque as úlceras e os cancros raras vezes ligara importáncia aos jovens, nada há que nos aflija e os nossoórgSos, robustos e s5os, a dmite m tóda a casta de patfar ias que lhes queira mos íazer. Quando, porém, se utrapassam os trinta e os quarenta se avisinham, oprotestos come^am ent5o a manifestar- se ruidosamente, poucos anos volvidos, as ameagas de todo o aparelh

diges tivo tornam- se insuportáve is,Foi o que sucedeu com ambos os artistas, primeir

com o francés e pouco tempo depois com o russo, Jonan2o póde sobreviv er a urna inter veng ao cirúrg ica e Rogensky, mais atingido, nem tempo teve de a tentar. Amorte, tanto de um como de outro, pode consideiar-s

horrorosa, porque foi dolorosíssima.Nao aconselho, portanto, os processos que distin

guirán! aquéles curiosos espécimes do maldito «struggl

for life*. De resto, como já vimos, o ilusionismo permte- nos apar entar que bebemos uma enormidade de vnho e, como veremos, que somos capazes de ingerircopo a copo, quantidades inacre ditáveis de petróleo estúpida realidade n5o nos interessa, p recisamente po

que é es túpida e ameag a destruir- nos a s aúde e aniqu

lar- nos a v ida.*•

* *

Rogensky, depois de embrulhar as notas empresta

das e m pedacitos de cautchú, ingeria- as de facto, e®bora igualmente usasse do «truc» para obter a substito

C3o. Como tinha o estómago anormalizado, cbamava

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embrulhos à bôca e, pelo volume, fazia a escolha conveniente, metendo esófago abaixo as notas que iliminaya,.

Para que os médicos supuzessem que as paredes do seuestómago possuiam a noçâo do tacto, êle punha os olhosem alvo e aparentava concentrar- se. É teatro que nosdispensamos, porque nâo somos anormais nem queremoslevar os cientis tas à tôla concepç5o do érro, Só deseja-mos ilusioná- los e éles, quási sempre de boa vontade,acedem aos nossos desejos, Dapois , marav ilhados ,aínda, reíerindo- se- nos, adoptam ex press oes g entis como

estas, que tenho ouvidos a clínicos eminentes, como osdoutores A lv ar o Rosas , A ntonio Br aga e J osé Aroso :

<Mas como diabo é que êle faz aquilo ? ! É inegá-vel que se trata de um traballio bem feito !».

E é para merecer a honrosa classificaçâo de óptimoilusionista, de verdadeiro subjugador dos sentidos, queo artista «bebe» cem ou duzentos copos de vinho e fingeigualmente ingerir cem ou duzentos copos de petróleo.

Se em vez de fiDgir, bebesse realmente a inconcebivelporçâo de líquido, o executante seria um anormal ; o quenunca poderia ser era um ilusionista, visto que nao tiohao mérito de provocar nas platéias a alucina çâo colectiva.Para que èsse mérito seja real, é necessàrio que fagamos com as notas o mesmo que fizemos com o vinho etaremos com o petróleo — que, numa palavra, ilusione

mos o nosso público,

Eis o que eu vou explicar:Compram- se numa f armácia dois ou très preserv a*tivos e cortam- se com urna tes oura, de for ma a obter- serectángulos de cautchú suficientemente grandes para cir-

cundarem as notas dobradas em oito partes. Dobramosent3o urna nota de cinqüenta escudos e outra de vinte e

euvolvemo- las em cautchú, amar rando cada embrulho

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com uni pedacito de linha branca, prèviamente fervida.

 A ntes da sessào comeg ar ou pelo menos antes d

iniciar mos o «tour» , colocamos os dois embrulhos nbóca, um do lado direito e o outro do esquerdo. A colocagào deve ser feita no max ilar inferior entre os dentese a lace.

Se iluminarmos a bòca com urna làmpada eléctricacomo fazia Rogensky, os embrulhos serào invisiveisporque tanto as g ingivas como os dentes s ào .. . absolutamente opacos.

O «trac», s implíciss imo, reduz- se, pois, a substituios embrulhos e a orientar a ilusào como já expliquei, aodescrever o enunciado, ñas páginas anteriores.

L I

O repuxo humano

O «repuxo humano», como vimos no inicio destaterceira parte, é urna ilusào interessantissima, quetende a fixar definitivamente no cérebro dos especiado

res a idéia de que ingerimos, na realidade, os duzento

copos de vinho, de que falo, indicando o meu sistema

ñas páginas anteriores.Claro que a ingestào só é feita na aparéncia, p°r

que o nosso estómago é demas iado precioso para o su

bmetermos a dila ta r e s semelhantes. Por conseqiiénciateremos de provocar a ilusào de deitar muitos litros devinho pela bóca, mas s ó a ilusào, visto que nào bebemo

n e m p i ng a . , .Ora essa ilusào, para nào ser repugnante, dev

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« a g í a   d o   f o g o - 217

apresentar-se aos espectadores sob utn aspecto atraente.0 melhor será colocarmos entre os lábios um tubo de

metal cromado, cujo extremo, oposto ao que se acha nabica, possua urna cestinha de ararne e o respectivo re-puxo no iundo. Urna bola de celuloide poderá, as s im,bailar sóbre o jacto líquido, o que emprestará certabeleza ao «tour», sem lhe prejudicar a ilusSo.

 A doptando éste sis tema, procederemos do seg uintemodo :

 A plicamos o tubo aos lábios e fing imos vomitar o

íinbo prèviamente ingerido, o que dará ao acto o aspecto interessantissimo, até espectaculoso e verdaderamente cénico, focado na figura 24.

Na realidade, porém, n2o sai urna góta de líquidoda bóca do executante. embora èie, para produzir a necessària ilusào, inche convenientemente as faces e dé ao

rosto a expressSo de quem emprega certo esfórgo no...

dominio do estómago.Eis a s érie de ar tificios de que temos de utilizar- nos

Para conseguir fácilmente o «efeito» des lumbranteque descrevo:

Um depósito de água colorida com um corante vestal inofensivo, preferivelmente vínico (técnica do

^Magic- Bar», por ex emplo), é colocado, fora dos olhares

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do público, a uns cinco metros de altura. Do fundo ddepósito parte um longo tubo de cautchú, cujo extrem

oposto, munido em lugar conveniente de uma iorneirprópria , deve adaptar- se, por debaíx o do palco, a umválvula de segurança semelhante a uma rolha cónica dborracha.

No tacao do sapato díreíto existe um buraco apropriado, onde termina um outro tubo de cautchú que percorre, por dentro do vestuário, toda a perna direita, sobaté ao ombro direito e sai depoís pela manga do casacdo mesmo lado, Nesse extremo possui o tubo uma ou

tra rolha minúscula adaptável a um orificio existente naparelho, de que mais adiante falarei.

Esta insta laçâo, própria para art istas profíssionaisfíca um pouco dispendiosa e tem o inconveniente de spoder ser montada em salas que disponham de palco

J á realizei a ilusáo sem sapatos especiáis e numa salvulgar, a uns très metros de distáncia das primeiras flas de espectadores,

O sistema que adoptei e que hoje todos os ilusionistas preferem pela sua simplicidade, é o seguinte

No chao, a uns très metros de dist áncia dos assistentes, coloco uma bacía de grande diámetro construid

em zinco ou cautchú. Por detrás da bacia existe um

mesa, onde se colocam os objectos necessários à exibi

çâo. E s ta mesa, que se acha perto do fundo, embor

distante da parede, está coberta por um lindo pan

aleg órico, bordado, que chega até ao solo. Ora é precisamente debaixo desta mesa que, vindo do fundo

se acha o extremo do tubo. Um pouco acima do bord

da calça, l ig ado à perna direita , encontra- se o adaptado

«femea» do tubo de cautchú oculto pelas vestes do ar

tis ta. No momento próprio, éste coloca- se atrás da bacía

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m a g i a   d o   f o g o - 219

o que faz com que os pés nao se vejam, e pega de cima¿a mesa no instr umento cromado, adapta- o aos lábioscom a mào direita e, com a esquerda, coloca dentro dacestinha a bola de celuloide.

Enquanto èie procede a êste serviço preliminar doespectáculo, um ajuda nte , v indo do fundo, mete- se de-baixo da mesa e fixa, oculto pela bacia, os extremos decautchú. Logo que ouve o sinai combinado, o servo abrea torneira e a água colorida eleva no espaço a boia po»licroma de c eluloide. A bacia, como se compre ende, te m,

para os espectadores, a funçâo de re colher o liquido ;para nós, eia nao só presta èsse grande serviço, comoainda nos oculta o pé direito no momento da ligaçâo

tubular,O aparelho cromado nao comunica interiormente

com a bóca do artista. Nesse ex tremo, o tubo acba- seobturado a uns centímetr o dos bordos. A comunicaçS ocom o re pux o é fe ita por rneio de um buraco late ral do

tubo metálico, onde agarra a m5o direita e na palma daqual existe a válvula de cautchú que prèviamente se fèz

descer da manga da casaca.O conjunto funciona admirávelmente e nao fica a

dever coisa alguma ao sistema profissionai,

Num e noutro, náo é de temer a fuga do líquido,porque éste, a pouca pressào, limita- se a percor rer o tra-

 jecto que lhe oferece resis téncia menor e jámais , em

semelhantes condiçôes, èie força as válvulas de junçâo,roesmo que elas nâo funcionem com a justeza precis a.

No fim, após o respectivo sinal do artista, o aju

dante desanda a torneira, desliga o tubo da perna e saide debaixo da mesa. Entretanto, o executante mete aωo esquerda dentro da cesta e retira a bola, que coloca

descansadamente no respectivo lugar. Depois, com igual

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naturalidade, separa os extremos tubulares e coloca oaparelho sóbre a mesa, de modo que a abertura laterafique do lado oposto à platéia,

L 11

Beber cem copos de petróleo

 A ntes de se inic iar o estudo des ta ilus áo, é absolutamente indispeüsável proceder-se, primeiro, áleiturada

que já descrevi (X L IX ) sob o título « Be ber cem coposde vinho»,

E depois, rele mbrado o mec anis mo dos coposser-nos-á fácil compreender o que se afirma a seguir

T odos sabem que é diíicílim o, para nSo dizer im-possível, salvo recorrendo a processos especiáis, fazecom que qualquer vasilha, urna vez cheia de petróleo

perca èsse cheiro característico, mesmo que proceda

mos às mais severas lavagens.Pois bem. Os copos que utilizamos na experiencia

 X L IX ou outr os de f abr ic a do idéntica, devem ser banhados em petróleo e, após isso, cuidadosamente lavados

O cheiro, como já disse, manter- se á no vidro quási com

a intensidade primitiva. Se, portanto, enchermos oscopos com ág ua ting ida cór d e ., , petróleo tiogido, o público terá a ilusSo de que nos servimos désse líquidoquer pondo em pràtica o sentido do olfato quer confiando

apenas no da vis5o. Por conseqüéncia, os cem ou duzentos copos de petróleo nào passarSo, para o executante, dmeio litro de água pura, embora criteriosamente coloridaBeber éste «petróleo», ñas circunstancias apontada

(X L IX ), é, pois, coisa fac ílima e n5o carece de mai

l

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m a g i a   d o   f o g o — 221

explicagoes. Outro tanto, porém, nSo sucedería se se tra-tasse do auténtico fluido, porque, sendo assim, nem

Rogensky nem Jonax nem pessoa alguma no mundo seria capaz de ingeri- lo em se melhante s quantidades. Seo fizessse, morreria minutos depois da estúpida ingestSo,0 perigo, realmente mortal, faz-me lembrar a subtilezade um pobre famélico, descrita oportunamente por mimno «Diário de Coimbra». O nosso homem, que garantíaingerir, sem risco, certa porgáo de ácido sulfúrico, che-¿ou a fazer- me pasmar !

Eis em poucas linhas, embora com os necessáriosdetalhes, a curiosíssima historia :

Num café da Baixa, horas depois do almogo, doiscavalheiros eleg antemente vestidos, discutem as invulga-

ridades do estómago de Rogensky — o conhecido artistarnsso que há tempos se exibiu em Portugal.

Um outro frequentador, tipo de operário desempregado, pede licenpa e mete- se delicadamente na convers a

para, seg undo afirma, ex plicar o . , , fenómeno.Os seus pequeños olhos encovados, semi- ocultos pe

los malares exageradamente salientes, até ai bagos, quásimortos, tém um relámpago de vida. Na cabera daquelehomem, prematuramente encanecida, parece ter passado»m sublime raio de esperanza.

0 desgranado, estendendo a sua m5o esqueléticasfibre a mesa de cristal, comega assim o seu improvisado discurso:

— Infelizmente, só tenho vinte e cinco to s to e s ...®as apostaría uma fortuna, se a tivesse, em como, de-Pois de uma boa refeig5o, o estómago humano pode tole-^r, n5o só qualquer dose de petróleo, mas até um deci

litro de bom ácido s ulfúric o! . . ,

— Sou médico — disse um dos eleg antes solene-

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mente — e posso g arantir- lhe que se tentar semelhanteexperiéncia, morrerá minutos depois, a seguir a um so{rimento atrós !

— E eu afirmo- lhe que se e ngana, porque, devidoàs minhas condigoes fisiológicas, posso realizar o que océlebre prodigiador moscovita nunca póde pòr em pràtica.

— Será possivel ! Se tal fizer,..0 medico ficou pens ativ o. Depois , como quera to

mou urna resoluto inesperada, acrescentou :— Venha connosco !

— Mas eu es tou e m je jum e, e m tal estado, a mi

nha vida ccrre perigo...— Comerá, ,. Venha !

Meia hora depois, o infeliz tr ans pirava, vergada uma r e fe if ào abundante, A sua tez, que apresentava cór amarela dos ossos, està agora exageradamente rosada. O se u aspecto geral modificou- se ta mbé m, Jà nS

mostra aquela indiferenga doentia, que fazia do desgranado um vencido da fatalidade. Os seus olhos, agoriluminados de ventura, emprestavam ao rosto, há momentos morto e sem expressào, urna aura de felicidade

que  já g 3o   se lembrava de viver.O médico, vendo que o homenzinho atacav a a s

bremesa, ofereceu- lhe um càlice de pòrto e colocou depois sóbre a toalha um copo de vidro, com o t r e m e n d

liquido fumegante.

0 nosso herói nem sequer es tre meceu ! T irou leQtamente do bólso a pequenina moeda de prata e, colocando- a ao lado do copo, dis se:

— A i t e m ,. . P e r di! Comi tanto, tanto, que encb

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M A G I A d o   f o g o - 223

o estómago ! Nâo tenho ag ora lugar para o ácido s ulf ú

rico ! . . .

O médico compre endeu, e calou- se. A cena, emvez de o revoltar , comovera- o.

L U I

O vulcào humano

Kogensky, Jonax , T ching- T chung e muitos outrosdomadores do fogo, cometem, como já disse, a tolice de

introduzirem no estómago, logo após a ingestao de água,meio litro de petróleo. Já indiquei os inconvenientes desemelhante procedimento e entendo, como Barnello, queflinguém tem c dire ito de se matar, nem mes mo lu

tando pela vida. V ou, pois , indicar um processo div erso par a se

atingir o mes mo firn. É ev idente que detesto aquêle que,háuns tempos, vem sendo adoptado por certos artistas

de circo e que consiste em encher descaradamente abóca de petróleo e pulv erizá- lo a seguir s óbre urna

chama alimentada a gasolina. A ilusao, por éste s istema. n3o chega a ter um sopro de vida, porque o pri-meiro espectador que vença a repugnancia pelo líquidopoderá executar o «tour» com idéntica facilidade e obter

por igual processo exactamente o mesmo «efeito»,Para que os espectadores suponham que o petróleo

*em realmente do estómago, é absolutamente necessàrioQue o líquido seja pósto na bóca de modo que ninguémseja capaz de notar o facto. Um ajudante lança fogo a

um pedaço de algodâo que, embebido em gasolina, séacba fíxo de uma vareta metálica de uns noventa centímetros de comprido. O artista, depois de mostrar a

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« a g í a   d o   f o g o - 225

Para repetir a cena, bastará pousar o guardanapoem cima das esponjas restantes, livrarmo- nos da já

utilizada e pinçarmos uma outra, completamente impregnada de líquido.

É claro que tanto o «depósito» como o «pinça-mento» devem obedecer a gestos naturalíssimos, cujaacçâo, explicável por um raciocinio singelo e rápido, dé«rigem a uma curva tam imperceptível da razâo, que ainteligência nâo possa diferençâ- la da mais impec ávelrecta. Para isso, bastará, logo que se conclua o jacto e se

lenha íeito o «depósito» ao limpar os lábios , ex amina r osuporte e a chama. Ning uém deve surpreender- se — enío se surpreenderá — de ver pousarmos o guardanapo»0 procedimento é táo natural que nem sequer será notado ; e o ex ecutante poder á, ass im, repetir a pulveriza-çâo très vezes ou mais , o que lançarà no espaço ig ualnúmero de labaredas gigantes que. como afirmo no pri*meiro acto da sessâo maravilhosa que descrevi, se mos

trara de um «efeito* verdaderamente fantástico.E eis, em poucas linhas , no que consiste, na ver-

dade, o moderno «Vulcáo humano».

LIV

Os devoradores de pedras e de vidros

Ocupei me já, quando me r eferi aos prodigios deVitry, da fenomenolog ía inv ulg ar dos dev oradores de

Pedras e de vidros (pág. 73). Nâo repetirei aqui a ex-Plicaçâo científica do facto nem me esforçare i por de-®onstrar que qualquer dos meus leitores, sem o menor

Perigo que se imponha, pode realizar igual «maravilha»

19

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226 — M A G I A D O F O G

com íacilidade surpreendente e urna singeleza tam notá▼el, que nenhum dos seus espectadore s deix ar á de

sentir esmagado pelo assombro. Agora, em complementdo que já disse e apenas com a preocupado do escritoque na da quer e deix ar incompleto, ocupar- me- ei únicmente de certos detalhes, que suponho indispeosávepar a a boa compree ns5o dos tex tos e para a realizadconsciente dos pseudo milagres de que se jactam cert

fa kir es e aíss aua, tidos na A mér ica e na Europa comauténticos invulneráveis.

J á v imos — pág ina 73 e seg uintes — que com

v idros e pedras, lámpadas de ilum in a d o eléctrica pedamos de garrafas, é prodigio simplicíssimo, que todopodem realizar. Comer papel, fósforos ou discos de gramofone é igualmente singelo e do mesmo modo isentde perigo, se se tomarem, como convém, as precaveindispe nsáv eis . A ss im, quando des ejar mos espantmultidSes, ingerindo alguns fósforos de pau, inflamámo-los primeiro, para destruir a massa venenosa, e commos depois a made ira, tr iturando a cuidadosamen

com os dentes. O facto, longe de ser compreendido pelo- espectadores, torna- se- lhes ainda mais assombroso, poque o executante, para obter aquéle «efeito», introduz nsua bóca os fósforos em ignipSo. É claro que os «asfixialogo que éles ultrapassam os lábios, mas os assistente

ig nor am ess a manobra e a visSo das labaredas fazecom que o cérebro n3o fixe a destruido da massa fofórica, visto que á ingestSo do metaloide se sobrep

o fe nómeno da c hama — re almente mais vistoso, ▼erdade ma is ines per ado, de facto m ais surpreM

dente.Se o artista, no fim de tudo isto, devora também

caix a, o público vé que éle come primeiro a gaveta

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M A G I A d o   f o g o - 227

depois o resto, mas «chuchando» as partes onde sea c h a m as pinceladas fosfóricas.

Para concluir, èie mete também na bóca estas últimas — nSo vá o público notar a selecg áo e des cobrir arazáo científica do «fenómeno». Contudo, elas s5o ocultas, como já aprendemos, entre as gengivas do maxilarinferior e a face. Quando, no fim da «ref eigSo», limpa-mos civilizadamente os lábios ao guardanapo ou aolengo (gesto natural) fazemos o necessàrio «depósito» elibertámo-nos do perigoso «fake» pelos processos habi

tuáis, de que já dei aos meus leitores vários exemploseloqüentes.

 A e x plic a do científica des tas ing es t5es sing ulares,assim como de todas as outras que nao cito, acha- señas páginas anter iores. N5o deve, portanto, repetir- se

neste lugar. Se o leitor me seguiu cuidadosamente,

compreenderá tudo quanto afirmo e nüío carecerá de re-petigSes inúteis para assimilar sem esfórgo a razáo científica dos fenómenos.

L V 

Comer carvóes ardentes

O carvSo vegetal, como ninguém ignora, nSo podePrejudicar a s aúde. Ingerí lo, frió e em pó, é até acón-selhável em certas enfermidades do aparelho digestivo,Specialmente na absorpgáo de gases. De resto, a sua

'liminagào n5o dev e preocupar- nos, porque se re aliza ,como a do vidro triturado, pelas vias naturais. Só pre

nsamos de o mastigar bem e, para isso, èie deve ceder

fàcilmente à pressào natural dos dentes. É também in-

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228 - M A G I A D O F O G

dispensável que a temperatura da carbonizaçâo nâo semuito elevada e que, mesmo assim, desça rápidamen

logo que a brasa se ponha em contacto com a saliva dbóca.Tódas estas propriedades existerai, como já vimo

na madeira de pinho, Devemos, por conseqüéncia, prceder do seg uinte modo na realiza çâo do * prodigio*

Na forja que utilizarmos, juntamente com o carvSmineral e portanto oculto por éle, pomos alguns bocadode pinho. O fogo, carbonizando- o. faz com que entre

pedra e a madeira n5o haja diferença notável, espe

cialmente à simples vista. Bastará, pois, espetar comgarfo o carv áo pr óprio, afastá- lo do núcleo ígneo drante alguns instantes, para éle descer de temperaturae meté- lo depois na bôca, prév iamente repleta de salivou tratada pelo sebo. Como poderia parecer estranhconservar o carvâo ao ar livre, nos. para que o públicnáo des cubra a ver dade e nâo po sa compreender qupretendemos esfriar a brasa, tomamos o carváo n

garf o e mostrámo- lo aos as sistentes, de um e de outlado, fazendo o girar entre os dedos.O pinho arrefece com tal facilidade, que  b a s t a r

éste singelís simo «tr uc» para o fazer descer muito dtempera tura . T riturá- lo e ingeri- lo nâo é difícil, visque, como se sabe, o pinho carbonizado mostra-se duma fragilidade tal que até se pode esmagar entre o

dedos. A pesar de tôia s es tas vantagens e das f a c i l i d a d e

execucionais que o sistema nos oferece. há quera usem vez do imcente carváo de pinho, pequeninos no

velos de algoJáo carbonizado, cuja resistência à trituraç2

é aínda menor.Barnello vai mais longe e emprega nas suas e*P

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M A G I A D O F O G O - 229

riéncías pedamos de carne carbonizados, o que reduz ailusSo a urna brincadeira de criangas, Eu, que n2ogosto

de carne assada até aquéle exagerado limíte, dou a pre-

F i g . 2 5 — M o s t r a - s e a b r a s a d e u m l a d o e d e o u t r o . . .

íeréncia, quando nao disponho de boa madeira de pinho,ao p5o de trigo carbonizado. É ste confunde- se tanto como auténtico carvSo que até custa a seleccionar ! A sua

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230 - M A G I A D O F O G O

ingestao — adivinha- se — é aínda mais inofensiva daque a da carne de Barnello.

L V I

Beber petróleo em chamas

Esta ilusáo, das mais espectaculosas dos artistasamericanos , ex ecuta- se fácilmente. S ó se necess ita, comoinstrumentos especiáis, duas colheres de ferro cromadourna grande, mesmo muito grande — semelhante a urna

cagarola — e urna pequeña, de dimeusoes usuais, umpouco menor do que as que se em preg ara na sópa.

 A cag arola, de uns dez centímetr os de diámetr o pouns seis ou setede fundo, possuium longo bra^ode ferro, por ondeo artista pega e a

coloca no fogo. Interiormente, acha--se ela dividida, auns cinco centímetros do fundo,por uma rede metálica, de malhasa p e r t a d í s s i m a s ,C o m o 3 S que S6 2®— Ca?ar° l a de m eta l c r o m a d o

utilizam na célebre lámpada de Davy, Esta rede, como se compreende

deve ser ignorada pelos espectadores, que supoem a va

silha inteirame nte vulgar» A colher,. sem «truc»^ náo

rece descrigáo.

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O ilusionista enche a cagarola de petróleo até ultra*passar a rede uns dez ou onze milímetros. Nestas cir

cunstancias, a maior parte do líquido — uns setecentospor ceoto da totalidade — acha- se na parte inferior dacagarola e a menor, algumas colheres apenas, um centí*metro acima da rede.

Pondo esta cag arola sóbre o fogo, o petróleo aque-cerá rápidamente e poderá inflamar- se com a maior fa-cilidade. As chamas brotarlo entáo do seu interior e

elevar-se-So no espago, em forma de línguas de fogo,

acompanhadas por espessos rolos de fumo, que ernpres«tar2o ao espectáculo um certo ar de maravilha. Mas opetróleo, que a fr ió nao se infl ama nem se evapora ae-nSo muito lentamente, desaparece com grande velocidadelogo que lhe langam fogo.

O artista, sabendo isto, comega a sua experiéncia

imediatamente a seguir á inflamagao do líquido, nao sóporque teme a sua evaporagao, mas ainda porque nSo

lhe convém dar tempo a que a temperatura se eleve.Mer g ulha, pois, a colher no petróleo e trá- la aparente*menie cheia, introduzindo- a a seg uir nos lábios e «engo-lindo» o líquido em chamas. Na realidade, o pouco petróleo que éle traz na colher consome- se por si próprio,

devorado pelo fogo e transformando- se em gás, O ilus ionista limita se, portanto, a introduzir a colher quási vasiana bóca e a «asf ix iar» a chama, pela clássíca ex pirag5o

lenta que expus nos capítulos anteriores.Repetindo a operagSo várias vezes, o petróleo que

se acha na parte superior esgota- se e a chama da caga-rola, como n3o pode ultrapassar a rede (principio dalámpada de Dav y ). acaba por extinguir- se, f icando a va-silha quási cheia. O público, ignorando o facto, sup5e

que o «devorador de fogo» bebeu mais de meio litro de

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petróleo e, para lhe testemunhar a sua admiraçSo, aplaa-de-o coin entusiasmo, enquanto um dos seus ajudaotes

Se apodera da caçarola e a retira do palco. A ntes de conc luir, quero recomendar certos cuidadoscom a colher, visto que ela, em certos casos, chega ultrapassar setenta graus. Se se quiser estar com o tra-balho de prepar ar a bôca, o facto nSo tem importânciaalg uma ; se, porém, quiser mos ex ecutar o «tour* semrecorrermos a qualquer dos sistemas já descritos, tere-mos entâo de proceder com rapidez, para que a colhenâo aqueça demasiado, ou empregar uma colher confec

cionada em substáncia má condutora do calor.

L V 11

Morder ferro em brasa

Q u e m possuir, como Barnello, uns dentes em

magnífico estado, pode realizar com éles, como éle rea

liza, auténticos prodigios de ilusiooismo ígneo.Eis uma das maravilhosas experiéncias do «rei dofog o», que os seus coleg as só tém ex ibido com dentaduras postiças :

Barnello toma entre as suas mâos uma pequeña

barra de ferro quadrangular, de uns noventa c e n t í m e t r o s

de comprido, e mete uma das suas ex tremidades n

forja. Logo que ela se poe ao rubro, pinça a parte chameja nte com os dentes e arranca- lhe um pedaço. queteatralmente deixa caír, incandescente, numa vasilha de

cristal, totalmente cheia de água.O trabalho, para quem dispuser de bons dentes, c

fácil de executar, se — claro está — conhecer o respec

tivo «truc». Éste, simplicíssimo, consiste no seguíais

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Urna barra de ferro de pouco diámetro ou urna tirade uns dez milímetros de espessura é fixa num torno a

nm ou dois centímetros do extremo. Nessa posig5o, ver-¿a-se repetidas vezes da direita para a esquerda e da es-querda para a direita — até que a parte fix a no tornoatneace desprender- se. Ness a altura , poe- se o ferro em

\ \

Fig. 27- Bar ra de ferro preparada

linha recta, para que a barra ou a tira fique direita, e ces-

*a-se a preparado.O trabalho é feito a frío, Apesar dísso, bastará ver-

¿ar o ferro ama vez mais para lhe arrancar o pedacito. A quente, éle sai quás i por si m e s m o: bastar á pingá- lo

dentes — naturais ou artificiáis — para que, após li-ÍWro esfórgo, o bocado fique suspenso.

Langá- lo no re cipiente cheio de água é puro teatro

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234 — M A G I A D O F O G O

— para valorizar a ilusáo — e nSo merece, portanto, referéncia especial.

 A nte s de concluir, quero av is ar os me us leitores dque os lábios corr em g rande perigo e aconselhá- los, poessa ra zio, a procederem como B ar nello — afastaado-os da barra ígnea,

L V 1 1 1

O misterio da prisáo de fogo

Eis como os ilusionistas modernos executam estmagnífica ilus5o, que tanto concorreu para a gloria docélebres «Diabos Vermelhos»,

Uma enorme jaula de ferro, de tejadilho extensiv

e de soleiras de meio metro, como a que descrevo nfim do primeiro acto, é arrastada para a cena e posta nmeio do palco. Dos lados, pela frente e por detraz, asoleiras possuem dispositivos de ferro, semelhantes

alegretes ou a canteiros de flores, que se encheir dcombustível — palha, algodSo hidrófilo ou estopa — e reg am com g asolina. Dentro da jaula, abrangendo todo

solo, procede- se de f orma idéntica.O artista, após ésse trabalho, que é v e r d a d e r a m e n t

emocionante para os espectadores, toma uma vasilha d

água na mao esquerda e um frango cru na direita. Depois, chamando a ateneo do público para ambas as cosas, abre a jiula e penetra «heroicamente» no medonh

recinto de ferro. Como se recordará, o ilusionista, pa1n2o des truir as r oupas, submete- se ao mar tirio do lo¿

quás i totalmente nu. A penas um cache- sex es, tecido em

malha de ferro cromada, satisfaz a s exigéncias impost*pela moral.

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Os ajudantes, munidos de longos archotes, lantanifogo à prisSo, que imediatamente fica envolvida pelaschamas. O prodigiador, que se vè aqui e ali através daslabaredas, luta desesperadamente com o fogo. As líoguas

ígneas lambem lhe constantemente todo o corpo, que osespectadores, comovidos e assombrados, véem escurecerpouco e pouco, até adquir ir , no rosto e no peito, a c órnegra do carvSo.

Em dado momento, os ajudantes apagam o gigantesco incèndio com extintores apropriados e o prodigia

dor, negro como a treva. sai apressadamente da jaula eentrega ao secretário o frango assado e a água em ebu'lifSo. Éste, enquanto o mestre deità pelos ombros calcinados urna capa de felpo azul, dirige- se à plat éia emostra a todos os as sis tentes o frango e a água fume-gantes. Entretanto, o pano desee lentamente e o artista*elevando as m2os ao corado, agradece os aplausos entusiásticos com que a platéia o disting ue.

*

* #

O «truc», singelo, mas bem arquitectado, é o se-guinte :

0 algodSo hidrófilo, sem preparo algum, é posto emgrandes volumes por tedos os lados da  j a u l a , incluindo,

como diss e, o solo do pròprio inter ior , À v as ilha quecontém a gasolina é que se deve a preparacào... Eia,como a «garrafa de Robert- Houdin- , acha- se div idida emduas partes. Na aza existem dois buracos, onde apoiamdois dedos da pessoa que está encarregada de proceder

^ rega do algodSo. Como se sabe, para que um líquidosaia do seu compartimento, é indispensável levantar

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« a g í a   d o   f o g o - 237

modo o recipiente, que se torna impossível pegar néle, a

nio ser pela aza refractária que possui.

 A nte s da e x t ing o das labar edas , o ilus ionis ta de*pendura o frango e transporta- o por urna das pernas,onde prèviamente envolverá uma lira de amianto.

E eis em que consiste o «Mistério da pris5 o defogo», a que os célebres «Diabos Vermelhos», norteamericanos, devem a sua coroa de gloria !

L I X 

 A caldeira infernal

 A caldeir a, rig or os amente esfér ica, deve ser construida em ferro ou em chapa muito grossa. Na partesuperior (fig. 29) tem uma abertura circular de unstrinta e cinco centímetros de diámetro. Uma tampa,

igualmente de ferro, deve ajustar- se a ess a aber tura.Dentro, a «caldeir a infernal» possui um depósito que»comeando um pouco acima do «equador», v ai ala rgándole pouco a pouco até se tornar muito vasto no»polo» inferior da esfera. Esse depósito, na parte supe

rior, tem uma abertura do diàmetro de seis ou setecentímetros, por onde se iatroduz, em dado momento, aparte mais estreita de um f unil de dimensóes apropria-

das ao fim que descreverei a seguir.Dentro desta esfera ser3o acomodadas, como se vé

na fig. 33. duas lindas raparigas, vesiidas ligeiramente°u em s imples «maillot- de séda. Entr e elas será colocado um saco de rede, com algumas dúzias de pombas,0 tal funil de que falo em cima e um apareluo especialPara a pr o d u jo d o . . . vapor. Éste, que nao passa de

fumo branco, é obtido da seguinte forma :

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238 - M A G I A D O F O G O

Lig am- se, por n eio de urna armadur a metálicdois pequeños frascos de vidro, munidos de rolhas dcautchd perfuradas e através das quais passam tubo

também de v idro. Ès ses tubos pequeños acham- se ligdos a um tubo maio

¿pv horisontal, que term

na, de um lado, po

uma P ra borrache, do outro, por um

liV v (< ' ó í c t I b i c o pulverizado(fig. 31).

Se um dos fracos contiver ácido clridrico e o outro amníaco, bastará comprmir a péra para qupelo lado oposto, sauma nuvem de fum

 A esfera, assi

PreParada> conduz

s S H h É !   Para 0 mc '° f'co, juntame nte com

Fig. 2tí — Como os espectadores vém S u p o r te c ir c u la r On

a ealdeira infernal S6 HCha. a po Í3(Í3»

ilusionista, fazendo

des lizar no suporte, volta- lhe a abert ura para os espetadores, afim de os convencer de que ela se acha vas

e, além disso, totalmente isolada do solo. Como dentrda esfera nao há luz e as meninas se acham «coladas»

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M A G I A d o   f o g o - 239

parede, ninguém poderá ver coisa alguma. A esfera está,por hipótese, absolutamente vasia. Como, porém, aquéle

(acto n3o basta, só por si, para impór aos assistentes ano?3o errada que pretendemos fixar nos seus cérebros,

Fig. 3 0 — C o m o ó , n a r e a l i d a d e , a c a l d e i r a i n f e r n a l

mandamos vir de entre bastidores numerosos baldes^ água, que despejamos na esfera, A ss im, a c on c e ptode que dentro déla nao ex iste coisa alg uma fixa- se de

finitivamente no cerebro dos espectadores, O que éles

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n3o contam é com o concurso do funi] , visto que ignrara a sua existéncia, e, portanto, o seu valor.

Ur na das pequeñas , logo que um balde se aproxim

da bóca da esfera, eleva o funil e encaminha o líquipara o depósito latera l. A água nào cheg a, por issotocar, sequer, no espago útil do instrumento e, pelo co

tràrio, vai servir de amortecedor da enormissima fogueique, momentos depois, se acenderá sob a esfera.

 A pós tudo, o ar tista coloca a tampa na «caldeinfernal» e manda acender debaixo déla as labared

que h5c- de — par a os espectadores — fazer ferver too líquido.

Minutos passados, a tampa comega a oscilar grandes nuvens de vapor, saindo pelas frinchas aberta

elevam- se no espago. Urna das meninas — é cl ar o—que faz oscilar a tampa de ferro, enquanto a outra, u

lizando o aparelho próprio (figura 31), origina os rolos dfumo,

Para o público — a panela ferve em cach5o !O ilusionis ta, logo que a idéia se fix a no e

dor, retira a tampa da esfera, o que provoca gigantes

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novem de vapor, e dá inicio á segunda parte do•toar» (1 ): introduz urna das m5os na esfera e ret ira

a bandeira nacional, seguida de muitas outras de redundas dimensoes , que as rapar iga s ! he entreg ain, Depois ,a urna ordem sua, um bando de muitas dezenas de pom-bas eleva- se no espago,

O «efeito» mostra se deslumbra nte e os ass istentes,snpondo que a ilusao atingiu o auge, comegam a aplaudir, Nesse momento, o artista mete os bracos na esferaeretira de dentro déla as duas meninas, o que eleva aodelirio o entusiasmo da platéia.

L X 

Um homem queimado vivo

Esta ilusao, a «cadeira do suplicio», como lhe chama

o meu amigo T ching- T chung, foi inventada por m im háuns cinco ou seis anos e apresentada na América, em1937, pelo grande Maurice K el ly . A e x ibif áo durou apenas dois minutos, mas o estado emocional dos especia»dores atingiu tal grandeza, que eu, após o conhecimentoexperimental do facto, n3o aconselho ning uém a ultr apasar trinta segundos. Torturando mais tempo as placas, os espectadores enervam- se e as senhoras des-■naiam!

De facto, quando as chamas rubras come?am a en-

ífllver o art ist a e éste se debate na cade ira como que

(1) Quando a tampa estiver fechada nao se devem produzir*****1  porque éles sao muito tóxicos. A nuvem final é produzida,**tt° as outras, únicamente para o exterior.

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devorado por urna dòr impossível de descrever, os cavllieiros principiarti a mexer- se nerv osamente ñas poltrone as seahoras, horrorizadas pelo martirio, tapam os olh

com as màos. Prolongar o tremendo espectáculo, em testado de exaltagào dos sentidos, seria impròprio de uartista que conhece a psicologia do público,

Ning uém vai ao teatro pir a adoecer e muito menpara sentir dentro de si o fantasma apavorante da loucurPr ocedendo intelig ente mente e reg ulando a emog5o, assistentes ficarào deslumbrados e, durante muito tempnào faìarào aos seus amigos senào do facto inexplicávr

que tanto os impressionou, De resto, como é hábito dmultidoes , éles se encarreg arào de ex agerar tudo e apresentar o espectáculo de modo que nem o pròprex ecutante ser ia capaz de o compre ender. De Kell

houve jà quem afirmasse que o seu corpo ficava reduzida cinzas e que estas, palpitando misteriosamente, se iaconvertendo, mercè de urna coesào maravilhosa, no seesqueleto completo. Depois , os ossos iam- se recobrinpouco e pouco de carne, onde se adiv inhav am os múculos e os ñervos, e acabavam por se transformarem nhome m primitiv o — garboso e dist into que a principtomara heròicamente lugar na «cadeira do suplicio

Formidável, nào acham ?Mas os espectadores, quando Ihes dà para o ex

géro, nào estào com meias medidas ; e o que é interesante, o que se mostra verdadeiramente digno de estud« que éles chegam a convencer- se de que vira m na v

dade o que descrevem. Se alguém, mesmo que fòssepròprio inventor, lhes dissesse que exageravam, seria tid

como estúpido — se nào fòsse como malcriado !Quando os espectadores tendem para divinizar u

artista e elevar ao máximo a fantasia de um «tour», qu

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Sí A G í A D O F O G O — 243

os íéz verg ar ao ass ombro, ning uém pode contrar iá- los,

rorque corre o risco de passar pelo maior idiota do seu

lempo!

Ora a ilusSo que descrevo presta-se admirávelmentepara o ex agéro das platéias e nós nao devemos procurar

que ésse ex agero chegue a pre judicar o psiquismo daspessoas que se dig nam ass ist ir ao nosso es pectáculo. Eaío devemos, nao só porque o (acto pode considerar - se

timcrírne, mas ainda porque o <truc», apesar da espec-

iaculosidade da ilusSo, é de singeleza surpreendente.O homem que se acha na c adeir a e que o públicovédevorado pelo fogo, nao chega a sentir, sequer, o ca

lor tépido da chama. Esta, que é produzida a grandedistáncia do corpo, nem mesmo pode aquecé- lo — se o

"trac» fór exibido em qualquer noite de invernó,Mas va mos á e x plic a do detalhada do curiosíss imo

<fenómeno»:

 A uns dois metr os da bóca do palco, ex ecuta- se, nottáo, uma abertura rectangular de um metro de largurapor metro e meio de compr ido, É por esta abertura,

■como se ver á mais adia nte , que passar á a ima g em do

fogo. Esta , sobrepondo- se ao corpo semi- nu que se achana cadeira, f ar á nascer nos assistentes a tremenda alu-tinaco que o ilus ionista procura.

Para isso, em frente do rectángulo aberto no chao,

coloca-se a ja ula de ferr o e procede- se a todos os prepa-rativos espectaculosos que eu descrevo no fim do pri-toeiro acto da maravilhosa sessao que abre a terceiraparte do livro,

Em dado momento, quando um dos ajudantes passa

naturalmente diante da abertura, faz-se subir uma lámina^ cristal que, devido á sua transparéncia, continua in-fisível para os espectadores.

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2 4 4 - M A G I A D O F O G

Debaix o do palco p6e- se utn dispos itiv o (fig, conhecidíss imo em ilusioa ismo sob a des ig nado

«metempsic ose», e opera- se de modo que a imagemfogo seja v ista da platéia sobre o corpo do artista

O palco acha- se pouco i lumina do e só um fdis s imulado no inter ior da prisSo ilumina em checorpo do homem que se senta na cadeir a. Nestas cunstáncias, o vidro, tota lmente invis ív el, deix a vér,

transparencia, todos os deíaihes do quadro horroroso, qestá prestes a exibir-se.

O hom em é préso á cadeira de ferro e, como

disse, fixo pelo pescogo a urna coluna do mesmo metPelo chao e enroladas nos bragos e no tronco, sao posabundantes camadas de algodao hidrófilo, que se regcom água. O público, tanto pelo olfato como pela visS

 julg a que nos utiliz amos de auténtica gas olina. Para a ilusáo se imponha, bastará que empreguemos o apaIho, a pressao atmosférica, descrito no capítulo LV1Recorrendo a éste «truc», poderemos derramar, segun

a nossa voatade, gasolina ou água no algodao. Portanse num prato de ferro pusermos urna bucha de algod

( 1) A «metempsicose» consiste na ilusáo seguín te ,

tecnología nao difere muito da que descrevo : A pós a trans formag ao lenta de um homem num esquel

éste converte- se gradualmente num cao felpudo e lindo, quleva aos assistentes par a que éles possam ver que se tratarealidade, de um animal verdadeiro,

 A seguir, o caosito é transformado num esqueleto

mano e éste convertido no art ista que, após tudo, se levan ta

cadeira e vai agradecer os aplausos com que o d ist in g u e o

público. Éste «tour», que foi publicado pela p r i m e ir a vez1921, acha- se a pág. 2 0 e seguiníes do 1.° vol. de »0 i lu s i o n i s

do mesmo autor déste l i v r o .

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hidrófilo e derramarmos sóbre èie um pouco de gasolina,pederemos mostrà- la aos assis tentes, para lhes fazer nas

cer no cerebro a ilusào que desejamos. Após o «controle»,poderemos ainda lanzar fogo à bucha, o que farà comque a vis ao confirme o que o olfato analis ou. Depois, regando com a mesma vasilha o algodSo que se acha sobos pés do ar tis ta e em torno do seu corpo, ning uém se

( A G I A D O F O G O - 2 4 5

F i g . E x p ii c a p a o e s q u e m á t ic a d a « c a a e i r a d o s u p l ic i o »

atreverá a pensar que o líquido que utilizamos náo passa

^ água pura,0 resto percebe- se : Quando um dos ajundantes, de-

Pois da musica cessar, se aproxima da jaula, o electricista apodera- se do interruptor e cumpre cuidadosame nte0 seu dever, Logo que o ajudante aproxima o archote

^amejante do algodSo, èie apaga instantáneamente o

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246 — M A G I A D O F O G

foco de luz e deixa apenas a arder (se n5o dispuser dresisténcia para diminuir a intensidade luminosa) umlámpada que equilíbre os raios laminosos que se r

flectem no vidro, Debaix o do palco, em F 5F ’, ardem covivíssimo clar5o, as fogueiras que o vidro V projecta que os assistentes, por reflecto, vém s6bre o corpo dartista,

Para regular as distáncias, que dependem da altudo palco e da colocagáo do cris tal, procede- se por expriéncia. Maurice Kelly opera de tal modo que os espectdores vém as fog ueira lam be r até as próprias faces sen r osto, env olvido, também, pelas líng uas de fog

No íim, como n2o seria de aconselhar acender novmente o foco, porque se revelaría o «truc», o paño deselentamente até ao meio e cai de um só golpe, depoaté ao chao, O artis ta levanta- se, envolve- se rápidamennuma capa de felpo azul e aparece á bóca de cena para corr esponder aos aplausos do públic o que o d

tingue com o seu entusiasmo,Maurice Kelly, o virtuose americano dos «traes

sensacionais, costuma, antes de aparecer aos e s p e c t a dres, tisnar rápidamente a cara com uma rolha cresta

pelo fogo, A ilus5o fica as sim muito mais completa epúblico, vendo enegrecido o próprio rosto do artista, coclui que o seu corpo deve ter- se conve rtido num  ver d

deiro torresmo!O que é o ílusionismo t

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248 - M A G I A D O F O G O

L X I

O poder da sugestao

Como já afirmei, ao expór o mecanismo da verda*deir a transmis sào do pensa mento (1), nao é possivelencontrar no teatro fenómenos de autèntica sugestSo.

 A pesar disso, as ex ibiçSes fantásticas de Donat o e Onof-

frof, de Casanova e Stevenson, de Mariscal e Rostinelevaram os cientistas a crer na realizaçâo do facto.

Os trabalhos de Sage e os anuncios pomposos deKnowles acabaram por impiantar solidamente nos cerebros a crença de que a fenomenologia teatral nos ofere-cia, por vezes, auténticas maravilhas da imposiçSo davontade e prodigios notabilissimos da exteriorizaçâo do

ser ; e. contudo, só em fins do século dezanove é que ogrande Moutin publicou o seu magnifico livro «Le Nouveau Hypnotisme», onde esboçou, a largos traços, apossibilidade de se dominare m as pess oas—mesmo em

estado de vigilia.Mas foi só em 1912 que o assunto ficou totalmente

solucionado, com a criaçâo, no Ocidente, de uma siste-matologia apropr iada do ensino, visto que a obra deMoutin demonstrou que era impos siv el, nào obstante aseriedade e competència da um autor, ensinar em livros— escritos para tòda a gente em geral e, portanto, paraninguém em part icular — a imposiçâo do pensamento e

a exteriorizaçâo intencional da mctricidade humana. Defacto, os liv ros nâo escolhem os leitores, Êste s é que,

(1) «Magia T eatr al», pág . 234 a 257.

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em maraviihoso sincronismo com as harmonías excelsasda Natura.

Portanto, se os únicos homens que dominara os ho-

mens acordados n3o ace dem a ex ibir- se, os outros — jo-guetes dos seus próprios pensamentos — só podem realizar «trucs», De resto, pela mesma razSo que um individuo que nSo sabe aritmética nSo pode leccionar álgebra,o homem que nao se domine a si próprio n3o pode dominar seja quem íór. Ora n3o é crível que um ilusionista,que pode brilhar fácilmente pelo «truc», estivesse, parase ex ibir, a es tudar Neohipnotismo e ainda, com mais

raz3o, o Zo'ísmo Superior, E nao é crível, porque, alémde muitas outras razoes que eu tomo a liberdade de calar, o ilusicnismo científico moderno apresenta-se-noscom tal abundancia de recursos, que a verdadeira íeno-menologia, posta em paralelo com os seus «trucs» for-

midáveis, teria de empalidecer !«Magia Teatral*, livro consagrado exclusivamente

ao ilusionismo científico moderno, a que aludo, constituíuma prova eloquentíssima do que acabo de afirmar. íma-

gine- se que até é já possível, recor rendo apenas ao «truc»,transmitir- se o pensamento mais c omplicado e adivinhartudo quanto os espectadores de um teatro queiram quese lhe adivinhe — á distancia respeitável de centenas dequilómetros ! As s im, por ex emplo, um ilusionis ta, numteatro de Lisboa, poderá dizer fácilmente ao seu públicoo que os espectadores de um teatro do Pórto lhe trans-mitem com o pensamento (1),

Mas nSo é tudo !

(1) Comunicagao a.° 15, ge ste tnerizada pelo I. I. R. S. en*tevereiro de 1940.

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O ilusíonismo progride de tal modo de ano para anorque até os socios do I. I , R. S ., os conhecedores máx i

mos do ilusionismo científico, se mostrara maravi-Ihados !

Nos dominios da sugestSo ou da pseudo- sugestao,que é a que mais interessa a esta parte especial de«Magia do Fogo», a ciéncia da subjuga^ao dos sentidosíem- nos fornecido «t rucs» ve rdadeiramente estupendos^

Citarei um e x e m plo : E m abr il de 1941 foi comunicadaao I. I. R. S. e distribuida, como habitualmente, a todosos seus membros de Portugal e do estrangeiro, uma invengo curiosíssima, intitulada «Sugestoes Perfumadas»,cujo enunciado é o seguíate :

«De mSos inteiramente livres e sera ajudantes dequalquer espécie que o auxiliem, o artista anuncia quevai, por auto- sugestao, fazer as pirar aos ass isíentes o

perfume das flores que éles puzerem no pensamento.Preguntando depois a cada um o nome da flor preferida^éle pede- lhe o leof o e faz néle alguns «passes» miste

riosos, devolvendo- o em seguida.«O mais curioso nesta fantástica ilusao é que o

len^o, levado logo ao nariz pelo espectador, nSo cheira acoisa alguma. Á medida, porém, que éle concentra o seupensamento na flor que preferiu, o respectivo perfume

vai-se desenvolvendo no len^o até ao ponto de, momentos volvidos, se tornar notado com tal clareza, como se o

quadrilátero de paño se tivesse convertido num auténticoramo das flores que ocupam o pensamento do especta

dor sugestionado !»

* , # « • • * * • » » * . * » » »

Esta invengo, primeiro prémio de 1937, é devidaao grande amador francés, Henri Plantet e foi comuni

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cada ao I. I. R. S,, em abril do ano findo, pelo ilustremédico americano, dr. Lothian Hinsley.

Meses volvidos, em Julho do mesmo ano, um outro

socio apresentou- nos «Ma ra v ilhas da sugestS o» :No palco, banhados por intensos jactos de luz,

vém-se vários cavaletes: Uns com blocos de papelbranco, imaculado, outros com telas prontas a ser esbo

zadas e aínda outros, a maior parte, com molduras automáticas , onde, num instante, se podem adaptar palsa-gens, caricaturas ou retratos, A um dos lados, prestesa serem arrastados para o centro, vém- se diver sos

bustos, de cabe ras e rostos lisos , á espera que máoshábeis Ihes dém íorma definida e lhes emprestem,num momento feliz, o sópro divino do génio. Perto déles, em tabuleiros de mármore, grandes quantidades debarro fresco e, mais ao lado, em suportes de cristal, latas de tinla de tódas as córes, paletas, pinceis, carvóese muitos lápis, convenientemente afiados e prontos para

o trabalho formidáve l que es tá prestes a iniciar- se.Cada cavalete e cada busto dispóem de urna lám

pada própria que, em dado momento, pode iluminar emcheio a obra que se concluíu e se pretende exibir. Sóbreuma cadeira de espaldar, colocada á bóca do palco, estáum grande lengo préto e, a dois passos, um suporte niquelado com urna bata de séda branca, aquí e ali, man

chada de óleos de várias córes,O ilusionis ta, logo que o paño sobe, apresenta

aos espectadores uma crianza ge ntil que — ex plica —

mergulhada em «sono hipnótico» e convenientemente«sugestionada», revela as mais notáveis faculdades deum artista de génio.

 A linda me nina , um sax e for mosíssímo de carne

e ósso, é convidada a vestir a bata e, pouco depoís, a

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sentar- se na cadeira — de rosto voltado para os assisten-

tes. O ilusionista, colocando- lhe a palma da mao es-querda na fronte e elevando a direita, com o indicador

estendido, ordena- lhe que durma, A sua voz é séca erápida, o seu gesto, de quem está habituado a mandarea ser obedecido, n3o se presta a duas interpretares. Nasua atitude, como hipnotizador, há mesmo o quer queseja de crueldade, que contrasta de forma chocante como aspecto bondoso e amabilíssimo que babitualmente o

caracteriza. A crianga, que parece temé- lo e adorá- loao mesmo tempo, comega a fechar lentamente os seusgrandes olhos, enquanto o rosto adquire pouco e poucoa cór branca da cera virgem e o seu coragaozito, após

uma acelerado que nao dura tres segundos, comega amovimentar- se docemente, num ritmo que denuncia a

inteira posse do sono.O artista paga eatao no grande lengo de séda préto

e, depois de o dobrar sóbre si mesmo um certo númerode vezes, v enda- lhe cariahosame nte os olhos, para — segundo afirma — a concent r ado sugestiva atingir o m á

ximo de interpretado, Depois, num gesto sacudido,manda*a lev antar e aprox imar- se do cavalste onde seacha f ixo um bloco de enormes fólhas de papel embranco,

 A gentil menina pega automáticame nte num lápise fica estática, imóvel, á espera, talvez, de ouvir as or-dens do mestre...

O ilusionista dá a escolher aos assistentes os no-mes de várias individualidades internacionalmente coche adas . A pós a escolha, que r ecai em seis ou setepersonagens célebres, nacionais e estrangeiras, lé os no-

mes preferidos em voz alta e ordena ao «sujet» que ca>

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ricaturize o pritneiro, cujo nome lhe répété duas ou trèsvezes seguidas.

E m gestos rápidos, num dese mbaraço que espantae com urna certeza que assombra, o «sujet» traça vigo

rosamente a caricatura da primeira individualidadeescolhida pelos espectadores. O mestre, logo após a con-clusSo do trabalho, arranca do bloco a fólha de papel jáutilizada e adapta- a a uma das molduras automáticas de

um dos cavaletes próximos, sóbre o qual faz incidir umnovo jacto de luz. Depois, no mesmo tom de voz autoritàrio e decidido, que já conhecemos, pronuncia outro dos

nomes preferidos e exige ao «sujet», como há pouco, asua caricatura, O facto repete- se tantas vezes quantassao os nomes escolhidos e, no fim, a menina é de novosentada na cadeira, desvendada e chamada à vida realdas coisas.

No seg undo acto, o pano volta a subir e o «sujet»,depois de ter sido mergulhado em sono hipnótico, paramelhor obedecer à sugestâo mental consciente do seumestr e, dirige- se para um dos cavaletes , onde, fixas emgrades próprias, se acham várias telas virgens. Para

 junto déste cavalete é ar rastado o suporte niquelado, repleto de latas de tinta.

 A uma or dem do «hipnotiza dor», o «suje t» toma apaleta e os pinceis e, em menos de cinco minutos, ofe-rece aos assistentes maravilhados, quer uma païsagem

formosissima, quer o retrato, a óleo, de uma pessoa marcante — de todos os espectadores conhecida.

 A tela, como já sucedeu com as caricaturas , éposta, no fim, num outro cavalete, à parte, onde uma

nova fonte de luz lhe faz realçar a beleza. Entretanto, o«sujet» inicia outro retrato ou outra païsagem — a agua-rela ou a óleo.

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 A seg uir as caricaturas de personagens célebres eás pinturas, a óleo, de v árias paisagens e retratos de

hotnens ilustres, o «sujet», obedecendo a uma nova or-dem mental do seu «hipnotizador», prepara*se para modelar . . . A bandona a paleta e os pínceis e abeira- se de umdos bustos informes que se vém ao lado dos cavaletes.

Depois dos ass istentes terem escolhido os nomesde algumas pessoas notáveis, o ilusionista pronuncia oaome de uma délas e ordena ao «s ujet» que modeleprontamente o s eu busto. A jov em senhora, adrandopara cima do manequim várias chapadas de barro fresco,dá inicio ao trabalho.

Com os instrumentos próprios, talbados em ferro eem arame de tódas as grossuras e tamanhos, cometa a

humanizar o barro. Momentos volvidos, um grande focoluminoso, bombardeando o «gesso» já modelado, faz sol

tar aos assistentes verdadeiras e x cl am ar e s de assombro.O trabalho continua com outras individualidades esdbre outros manequins que, por sua vez, s5o iluminadostambém (1).

Conclui- se, pois, que tudo quanto se ex iba é «tr uc*,

porque nem a própria ciéncia podería, no teatro, brilhartanto como éle. Démos , pois, a sua majes tade o «tr uc*

a preferéncia que o ex ibicionismo impóe — tanto maisque «Magia do Fogo», embora seja um livro vasado emrigorosos moldes científicos, tem como objectivo principal

a psicologia da ilusao.

(1) ComunicacSes númer os 72, 73 c 74, do I. I. R. S.

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L X I I

Esfera ígnea

O ilusionista, logo que o paño sobe, toma urna esfer a entre as mSos e desee com ela á platéia. Mostra- agentilmente a todos quantos querem pegar nela e acabapor a fir mar que se trata de um objecto comum — sempreparo especial.

Realmente, a esfera, de uns quinze centímetros dediámetro, é construida em metal dourado e n3o parece,

mes mo após cuidadoso ex ime , rev elar o menor «truc»,O artista chama a ateneo dos assistentes para éssefacto e pede- lhes que tacteiem cuidadosamente a bola,Depois, com um sorriso nos lábios, acrescenta :

— Desejaria iniciar o espectáculo por algumas su-gestoes interessantes, para que, em face dos curiososfenómenos observados, vossas exceléncias pudessemconcluir da complexidade humana e da realidade incon-

troversa do poder do pensamento. Se eu quisesse, bas-tar-me-ia pensar na desaparigao da esfera, para que elase reduzisse ¡ mediatamente a nada ñas máos do exce-lentíssimo público. Mas n5o fago isso, porque sei que o

fenómeno seria interpretado por muitos como um simples escamoteio. Prefiro vincar bem o facto da sugestáoe, para isso, gostaria que me dissessem o que sentemquando poem as suas m5os em contacto com a esfera.

Momentos depois, dirigindo- se á pessoa a quem en-tregou a bola:

— O qué ? Vossa exceléncia acha que a esfera está

fria ? !E pegando no instrumento e lev ando o a outro dos

assistentes :

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— Vossa exceléncia é da mesma opiniSo ? A esferaestá, na realidade, íria ?

 A o ouv ir a res posta afir mativ a do espectador e notando que ela n3o diíere de muitas outras já provoca,das, o ilus ionista pega de novo na bola e dirige- se, comela, para outro lado da sala. Depois, com a maior leal-dade, prossegue:

— Se mais alg uém quiser tactear a esfera, pe?o agentileza de o exigir, porque eu terei muito gósto em

aceder á exigéncia,Depois de comprazer vários pedidos e de ouvir a

co nf ir ma do da temperatura j á notada — a temperaturado metal sem «truc».,.,— o prodigiador pega mais umavez na esfera e, voltando- se para qualquer um dos presentes, ass eg ura- lhe:

— Vossa exceléncia, a julgar por certas aparénciasdo seu rosto, deve ser muito sugestionável. Ora veja

m o s .. . Es ta esfera está quente, mesmo muito quente !Nao acredita ?

Entrega- lhe a bola para as m5os e o infe liz quás i adeixa caír ao chao !

O ilusionista, fingindo- se admirado, c om e nta :— O que é a sugest5o !Depois, voltando- se para outro dos presentes —

algum dos que experimentaran] já a frialdade da

bola,— diz:— Mas, afinal, vossa ex celéncia t ambém é muito

s uge s tionáve l! Ora repare como a esfera quei-nis $0«

O ass istente agora escolhido para controlar o facto,assim como todos os outros que se lhe seguirem, mesmoque seja a totalidade da platéia, confirmar5o os dotesnotáveis do artista e poderáo verificar por si próprios

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que, na realidade, o singular operador possui, como pou-cos, um enorme poder de sugestáo !

Nao há, certa mente, um único amador de ilusio-aismo que ignore a mecánica singela da clàssica ilusa®dos meados do século dezanove, intitulada o «Diabo nobólso*.

Pois bem. «Esfera ígnea» é urna formosa neta do

nSo pela apresentagSo grandiosa do último processo deexibir.

 A esfer a, como se vé na fig ura 33, é cons tituida pordois hemisférios quási iguais. Um déles, o ligeiramente

menor, atarracha pela parte interior no outro e éste, paraencobrir a jungáo, possui um «equador» vistoso de características o rnamentáis. E ntr e ambos, a separá- los ínter*

F i g . S 3 — M e c a n i s m o d a « e s f e r a í g n e a »

«tour» quási centenàrio que fèz aalegría de milhSesde espectadores doséculo passado edeu origem a verdaderas dis t inse*demuitosprestíma-

nos de outrora. Ab a s e do « tr uc* ,tanto num com®

noutro sistema, ésingelíssima e niodifere, entre si, se-

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ñámente, acha- se fíxo um círculo de metal, provido deurna boa dúzia de orificios.

No hemisferio superior, no que se acha livre do círculo metálico, poem- se várias pedras de cal viva, masde forma que elas fiquem bem apertadas, para que nSopossam oscilar, mesmo que a bola seja agitada. No inferior, onde se fixa o círculo perfurado, deita-se urna determinada porfío de água. Por fim, atarracham se ambas as partes, conservando- se sempre em lug ar superior

a cal, e tem-se a esfera pronta a funcionar.Como a água é fría e o metal nenhum motivo tem

para aquecer espontáneamente, é natural que os espectadores, ao segurarem a bola ñas palmas das m2os, achemque a sua temperatura se encontra muito abaixo da superficie cutánea. Voltando, porém, o hemisfério que con-íém o liquido para a parte superior, para o que bastarádar meia volta á esfera, a água, penetrando pelos orifi

cios do disco me tálico, ir á pór- se em contacto com a cale, em conseqüéncia da hidrataba0 do óxido de cálcio,desenvolver- se- á grande calor,

 A principio, o facto pouco se notará ; mas, segundosvolvidos, quando a cal virgem comegar a converter-seem hidróxido de cálcio, o calórico atingirá urna elevad o tal, que até o ilusionista se sentir á incomodado ao

tocar o hemisfério oposto ao que contém o líquido. Porisso, quando a bola aquece demais, éle toma- a semprepor éste último hemisfério que, por se achar refrescado

pela água, nunca pode aquecer muito.Conhecida a base do «tour», fácil se torna proceder

de modo que, se quisermos, o público n3o possa suportar o contacto do metal e, portanto, o da própria «Esfera

ígnea».

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L X I I I

Varinha de fogo

O ilusionista, depois de pousar a bola, toma entreas suas mSos o clássico «talisman» dos prestidigitadores— a varinha de condom — e desee de novo á platéia. Aseguir, confiando- a a um dos presentes, para que élenote a sua v ulg aridade, ex plica :

— Tem graga... Até agora, urna simples sugestáove rbal, conseg uiu que vossas ex celencias encontrassem

calor onde apenas se pedería notar uma temperaturausual. Desta vez, embora eu tenha procedido só mentalmente, sem pronunciar palavra, vossas exceléncias acu

sara uma temperatura normal num objecto que, na reali-dade, se acha muito mais quente do que se encontrava,há momentos, a esfera que e x ib i!

E , pegando de novo na varinha, dirige- se a outrodos assistentes, acrescentando:

— Vossa exceléncia também acha a varinha á temperatura normal ?

Como todos ouvem uma resposta positiva, o artistapega outra vez no «talisman» e declara :

— Visto que vossas exceléncias parecem tam fácil"mente sugestionáveis, eu tomo a liberdade de lhes afirmar que a minha varinha só estará quente 011 fría»quando eu quiser que ela se mostré com frió ou calor...

Ora v e ja m o s ... V ossa ex celéncia acha que a var inhaqueima, n5o é verdade ?

O espectador solta um grito, muito semelhante a

uma praga, e o ilusionista, depois de ouvir a resposta»

dirige- se a outro dos as s istentes :

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— Mas ros sa ex celéncia nSo acha que e la está

f r í a ?O espectador, que tacteia primeiro a médo a va-

rínha, acaba por confirmar que ela se acha, de facto, átemperatura normal do «meio». Em face disso, o prestig iador aprox ima- se logo de outro e pregunta- lhe de repente, colocando- lhe ñas m5os o instrumento :

— Mas, afinal, a varinha está fría ou quente ?— Irra !— exclama o espectador. — O diabo do pau

está a ferver !

Como as respostas concordara sempre com as su-gestóes, o prodigiador, depois de provar mais algumas

vezes que a varinha se mostra quente ou fría segundo asua vontade, passa a outra ilusSo.

*

* *

 A técnica déste «íour » nao diíere, em principio, daque empregamos, com éxito, na ilusSo anterior. Há sóesta diferen?a : a esfera, após a elevado térmica de umhemisfério, transmite ao hemisf ério oposto grande partedo seu calor. O facto, como se compreeude fácilmente,prejudica um pouco a pseudo sugesí5o, visto que depois

da elevado da temperatura é absolutamente impossívelproduzir sensagoes de frío ou mesmo de grau térmicoambiente. Com a «Varinha de fogo», ésse problema in-teressantíssimo fica inteiramente resolvido, por ela,como se verá a s eg uir, poder dar- nos, ao mesmo tempo,

sensagoes de frió e de calor. Bastará, para que tal serealize, que toquemos com ela as pessoas pelo extremoconveniente.

 A principio, como entr egamos a varinha para as

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cs>

m3os dos assistentes, ela mantém urna temperatura

ig ual em ambas as ex tremidades — a ambiente. Mas,

logo que a voltamos e pomos na parte s uperior o extremo que encerra a água, o extremo oposto cometa aaquecer de modo notável e, momentos pas-

W w sados , o seu contacto torna- se me smo impos-

i] síveL Apes ar disso, o ex tremo que contémo líquido continua á temperatura ambiente»

porque, mercé de um isolador térmico adaptado no ponto de jungSo de ambas as partes, éle n3o pode aquecer. Portanto, a vari-

nha mostrar- se- á íria ou quente confor me asugestao que se quiser impór, ou, mais exactamente, segundo o ex tremo — quente oasfr ió — com que se toquem as mSos daspessoas que pretendemos. , . sugestionar,

Mais detalhadamente: A varinha, como se vé na fig ura 34,

divide- se em duas partes metálicas enver-

nizadas de préto e com extremos niquelados, para que os assistentes a confundamcom as varinhas vulgares. Numa das partes, naquela que chamaremos superior, porser essa a que convém conservar ao alto

Fíg. 34 Meca- para ev itar o aque cimento, intr oduzimosnismo da «vaii- r „ , , , . ■

nha de rogo» como na «E sfer a íg nea», v anas pe dnnnasde cal. Na outra, na inferior, pomos a água

suficiente á produgao do calórico. Entre ambas as meta-

des existe um minúsculo círculo metálico» repleto deburaquinhos para que, como na «Esfera ígnea», aágua, quando quisermos, vá de um extremo ao outro.

 A lé m disso, entre uma e outra partes cons ti tutiv as

da v arinha, ex iste um isola dor de bux o, o que ev ita

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que o calor passe de urna parte para outra. A s s im,

quando desejarmos dar sensagoes de calor, tomaremosa var inha pelo ex tremo fr ió e tocamos com a parteoposta ñas máos dos espectadores; se a sensagSo quepretendermos fór diversa, inverteremos os extremos eprocederemos, depois, conforme a sugestao que tiver-mos pr e f e r ido .,. Neste caso — é evidente — urna su*gestSo de ambiéncia.

*

* *

 A «V arinha de fogo» sofreu intimamente prof undasmo dific ar es , entre as quais pode citar- se a s eg uinte:

Num dos extremos, aquéle que deve apresentar aos

espectadores urna temperatura elev ada, coloca- se interiormente, uma pequeña resisténcia de nicrómio ou niquelina. A seg uir, ligam- se- lhe os polos de uma pilhaséca cilindrica e faz-se com que a torsáo de ambas aspartes sirva de comutador. Procedendo assim, é singe-líssímo elevar, quando quisermos, o extremo preparado

a uma temperatura que pode até avizinhar- se da dos

ferros de bruñir!Sirn.., Tudo isto se mostra fácil, muito fácil, masapenas na teoría. Na prática, éste sistema de varinhasde fogo que modernamente se realiza na América, origina grandes desgóstos e chega, por vezes, a comprome

ter uma sessao.Motivos ? Há vários, mas os principáis sao estes :

 A s pilhas, com o tempo, descarregam- se fácilme nte

e as resisténcias, que a papar energia batem as l&mpa-

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das de incandescéncia e os próprios motores, tambémlambem muitas vezes a que resta, m a s .. . nao aque-cem coisa alguma!

Para ev itar o insucess o, adaptou- se uma pilhaenorme ou uma série de pilhas que ocupa tóda a varinha. Apesar disso, o problema subsiste, pelo menos, en-quanto a compress2o da energía n3o fór um facto.

L X I V

Garrafa escaldante

— Mas como vossas exceléncias podem vér na varinha ou na esfera, simples aparelhos de ilusionism®— continua o ilus ionista , — eu v ou tentar varrer- lhes docérebro tóda a idéia do «truc».

Depois, como quem faz um esfórgo intelectual paradescobrir qualquer coisa, eleva a m5o direita á fronte e,após curtos instantes, sorri. Logo a seguir, como quem

 já resolveu o problema, ordena a um dos seus ajudantesque lhe traga uma garrafa intacta de pórto,

— Esta garrafa — explica — nao pode ser acusadade «truc», visto aínda se achar intacta, como podemconstatar. Pego, pois, a vossas exceléncias que lhetacteiem a temperatura.

E depois :

— Nada de anormal, nSo é verdade ?

Ouvidas meia dúzia de respostas confirmativas, oart ista pega de novo na g arraf a e, fing indo fazer- lhe vá-

rios «passes» magnéticos, exclama:— O vinho comega a elevar- se de tem per atur a!

Olha em torno de si com soberania e continua ’ 

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— E u quero que vossas ex celéncias sintam a

garrafa quente ! Quero mais, muito mais, que sintam ovidro escaldante e vejam o líquido a ferver!

Faz urna ligeira pausa, para estudar o eíeito dassuas palavras e depois acrescenta :

— Eu quero ! E, como o que eu quero sucede sem-pre, pego a vossas exceléncias que experimentem a sens a t o que lhes oferece o co ntac to... Ex perimentem,pego- lhes!

E a concluir :— Nao he s ite m ! Gar anto que n2o há perigo

a l g u m !

 A o terminar as suas palavras, o ilus ionis ta, sorrindo,dá para as m3os dos assistentes a garrafa misteriosa.Mas fá- lo com certos cuidados, vis to que um ou outroma is sensível ao calor, pode atirá- la ao solo e dar cabodo trabalho,

 A gar raf a, passados uns minutos, que ima realmentetanto que ninguém a pode ter ñas m5os. Por isso, o ilusionista entrega- a ao ajudante e pass a a outra expe-riéncia.

*

* #

H á vários processos para a r e al iza do do «tour».Citarei deis — ambos igualmente curiosos e de execugSofací l ima:

Compra- se uma garr afa de pórto e, com o maiorcuidado, abre- se, n2o se lhe inutiliza ndo nem o rótulonem a cápsula. Retira- se- lhe o v inho e deixa- se a garrafa,

vasia, sóbre uma pequeña mesa, oculta entre bastido

res. No respectivo gargalo deve colocar-se um funil devidro, pronto a ser utilizado. Junto da garrafa poe-se uma

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rolha que entre com facilidade no gargalo e o feche omelhor possív el. A seu lado, coloca- se a cápsula e maisadiante, dois copos, um grande e outro pequeño, Neste

último deita-se um tergo da capacidade da garrafa deácido sulfúrico e no grande dois tergos de água comum.

Logo que chega a vez da realizagSo do «tour», o

ajudante, sem que ninguém veja, derrama docemente osdois líquidos na garrafa, retira- lhe o funil e rolha- a convenientemente, concluindo por lhe adaptar a cápsula deestanho litografada e por a vincar com um cordel.

Enquanto n5o se ag itar o líquido, a garr afa só aque-

cerá muito lentamente. Mas, se se agita a mistura, vér--se-á que ela se aproxima da ebulígao e que o vidro,aquecido pelo ácido, nao tardará em adquirir urna temperatura elevada.

*

* *

Outro processo, menos v iolento, consiste em mistu-rar partes ig uais de ácido sulfúrico e de água,,, cór de

v inho, mas lentamente para evitar eferve scéncia, e acres-centar depois a tudo uns gramas de alume n em pó, Olíquido aquece, como e 5o   pode deix ar de ser. V olvidos,porém uns quinze minutos, éle volta á temper atura normal.

Ora é éste líquido, já frió, que se deita na garrafa,com a antecipagao que se quiser. A rolha, que varia daant eiior por nao s er íse nta de preparo, é que nos aque-

cerá a mistura e portanto a garrafa, logo que a fagamos

actuar. V ejamos em que consiste o « apa r e lho » :

Numa rolha vulgar de cortiga, abrimos interiormente um buraco de um centímetro de diámetro e unsquinze milímetros de altura, Depois de se encher a ca>

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▼idade com limalha de zinco lavada, tapa-se-lhe a res

pectiva bóca com um papel de fumar e fecha se cuidadosamente a g arrafa, Se a ag ita mo s , compreende- se queo líquido humedecerá a mortalha e acabará por destruí- la, fazendo com que a lima lha se ponha em contacto com o mordente, Ésse contacto fará ferver a mistura e esta, por sua vez, aquecerá a garrafa,

Como se vé, qualquer dos sistemas é curioso e fácil. T ém apenas um inconveniente, um únic o : se a

garrafa estala e o ácido atinge os espectadores, o ilusionista nSo pode subtraír- se a um enorme desg ósto,

L X V 

Moeda que queima

— E u quero,— afirma o ilusionis ta,— que no espirito

de vossas exceléncias náo reste, sequer, a mais ligeirasombra de dúvida sóbre os fenómenos da sugestSo e doimperio maravilhoso da vontade, Com ésse fim, vou

executar ainda mais algumas experiéncias, A pós o intr ig ante dis curso, o artista pede aos es

pectadores uma moeda de dez escudos e solicita ao seuproprietário a gentileza de a marcar, Depois, com a maiornaturalidade déste mundo, roga a um dos presentes quea seg ure por uns momentos e dirige- se, sem perda de um

instante, a outro ponto da sala.O ilusionista deve aparentar indiferenga, distraedlo

e, sobretudo, muita pressa, porque, quando éle abandonaa moeda ñas maos do espectador, éste, sentindo- se quei-

mado, deixa- a logo caír ao chao, EntS o o artista, voltan-

do- se, dev e apanhá- la num re lámpago e entregá- la a ou

tro dos presentes, preg untando- lhe:

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— Essa moeda nSo queima, pois n3o ? A seg uir á resposta confirmativa das suas patarras,

continua :— Eu logo vi que íoi sugestSo,..Depois, toma de novo a moeda e dá a outro espec

tador, que igualmente a deixa caír ao chao,— Bravo ! — continua o ilusionista — vossa excelén-

cia é, também, infinitamente sugestionável!Par a concluir, dirige- se ao dono da moeda e entre-

ga-lha, dizendo:— V iu, ex celéncia, como a moeda é a mesma, a

que eu lhe solicitei há momentos e que vossa excelénciase dignou marcar?

E logo a seguir:

— O qué ? ! E s tá quente ? ! Mas é a moeda devoss a ex celéncia, n3o é ? Muito bem, senhor, Empres -te-ma por uns momentos,,. Eu sopro-lhe duas vezese . . . ei- la fria, Pode pegar nela á vontade, porque n5ose queimar á. E u nao quero que vossa ex celéncia seque im e ! E x perimente, Faga favor de pegar nela e decontrolar de novo as marcas que a principio lhe féz,

E, após tudo, concluí:— Sao as mesmas , n3o é as sim ? Muito obrigado,

senhor,*

■K *

O prodigiador tem as m2os ligeiramente prepara

das, porque a temperatura a suportar nao vai além decem graus, Q u a l q u e r dos processos já indicados, em

preñado superficialmente durante curtíssimo espago detempo, mostrar-se-á eficaz na realizado do «prodigio»,

O ilusionista, para executar o «tour», necessita, além

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das mâos unrtudo- nada resistentes ao calor, uma moeda

de dez escudos qualquer, à quai íará, com um simplescañivete, duas marcazinhas ao acaso. Esta moeda deveéle colocá- la, durante uns dois ou très minutos , sôbre aplaca metálica de um pequeño fogâo eléctrico. Logo queela se ache a uns noventa ou cera graus, o prestigiador

oculta- a no inter ior da mâo dire ita e toma nas ex tre midades dos dedos um cañivete já aberto.

 A ss im preparado — mâo esquerda liv re — dirig e- se

à platéia e solicita a moeda de dez escudos, pedindo aoamável espectador que aceda à gentileza de a marcar.

 A pós isso, retoma o cañivete com a mâo esquerda e peg ana moeda recém marcada nos dedos da mâo direita. Sem

perder um instante, procede à substituïçâo, isto é, elevaa moeda oculta para as extremidades dos dedos e deixacaír a emprestada no interior da mâo. Os dedos mínimo, anelar e médio escondem- na perf eitamente, em

perfeita atitude normal, 0 índice e o polegar, pingando amoeda «gimmick», afastam tôdas as suspeitas e náo dei-xam gerar nos cérebros as idéias de «controle» (1),

Os espectadores que ag uentem o calor e náo ddx e mcaír a moeda ao cháo, podem, como é natural, quererverificar as marcas que o seu dono lhe fez. Como, porémdesconhecem as auténticas, quaisquer outras os satisfa-

zem, porque sâo forçados, pelas leis imperiosas da ilu-sâo, a súpo las verdadeiras.

Só o proprietário da moeda e as pessoas que lhe es-táo próximas, por conhecerem as marcas de «controle»,

(1) A técnica desta s ubs ti tuido, rigorosamente de acórdocom as leis psicológicas do il usionismo, acha- se claramente ex postaa pág, 279 de «Magia Teatral». Por isso a nao repito aqui.

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seriam diííceis de ilusionar. Mas estas, como se com-preende, só vém a moeda emprestada. Se, no fim, elase acha aquerida, para que todos a confundam em abso

luto com a outra, é porque o prestigiador a pós algunssegundos em contacto, enquanto falava, com a moeda«gimmick*.

O complemento final, engenhoso e bem arquitectado,tem por objectivo principal a prevengo de qualquercurva que por ventura possa surgir a meio da ilus3o.

 A ss im, o pensamento da «unidade » fix a- se por completono cérebro dos assistentes e a recta, sem a menor queda

que a desvirtúe, mantém- se em absoluto na co nc e ptodo «controle» !

L X V I

 A caldeira do suplicio

O prestigiador, depois de operar na platéia, em es-treito contacto com o público, durante mais de quinze

minutos, dirige- se por fim ao palco e dá inicio a outra especie de «sugestoes» tam extraordináriamente especta

culosas, que ninguém, pela invulgaridade e ineditismoque encerram, jámais poderá esquecer.

Comega, para perturbar os cérebros e ficar logo ávontade, pela «caldeira do suplicio».

Chama ao palco vários espectadores de boa vontade

que queiram, por gentileza, controlar as experiéncias,

Depois, dirigindo- se- lhes, pede que re parem na cena quese desenrola aos seus olhos : A qui, barulhenta e suja,

está uma caldeira a ferver, onde o chumbo, já derretido,entra em ebulig3o ; ali, sóbre um pequeño fogao eléctri

co, acha- se uma panela de cristal, onde a água, em ca-

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chSo, at ing iu há muito cem graus ; acolá, numa forjaportátil de ventoínha, encontram- se alg uns ferros aorubro e, mais ao lado, sóbre um velador de mármore,vários frascos com enormes letreiros esquisitos e umalámpada de álcool, já coroada pela chama.

O ilusionista pregunta aos espectadores qual déles,sob o dominio da sugestao, quere mergulhar as suasmáos dentro do chumbo derretido. Para os tranquilizargarante- lhes que, mercé da s ua v ontade, nenhura mal

Ihes poderá suceder. Ele próprio, para que nada temam,é o primeiro a fazer desaparecer todos os seus dedos noseio do líquido fumegante, Depois, como se tivesse notado que o metal n5o é suficiente para cobrir tóda amáo, pega num lingote de chumbo, que mostra a todosos assistentes, e deita-o inteiro da caldeira, onde o líquido se vé aumentar no volume respectivo,

— O chumbo, como sabem — ex plica o artis ta, —

funde a uns trezentos e vinte e sete graus, mas só entraem ebuligSo perto de mil quinhentos e vinte e cinco,..

— Mil quinhentos e v inte e cinco graus ? ! —inter-rompc um dos presentes,— E nós podemos ag uentar se-melhante calor, se m que as nossas m2os fiquem reduzi-

das a nada ?!— É precisamente nesse facto notabilíss imo que

reside todo o encanto da experiéncia, Bem sei que épreciso certa valentía para se realizar tal proeza; mas,como eu garanto que nenhum mal sucederá a quem sequiser sujeitar a ela, espero que vossas exceléncias con-firmar5o com prazer o que acabo de afirmar,

Um dos assistentes, apesar de sentir dentro de sium receio que o apavora, faz das tripas coragSo e pro

mete submeter- se ao suplicio da caldeira, O ilusionista,

encantado com a corag em do cav alheiro, felicíta- o viva-

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mente e fá- lo aplaudir — aplaudindo- o ta mbém. 0 estratage ma faz decidir- se mais dois ou très e o tre mendo

espectáculo, num silèncio quási absoluto — pois até amúsica pára—tem, por fim, o seu inicio.0 primeiro espectador avança, um pouco descon

fiado, para a «caldeira do suplicio» , O prestig iador en-coraja- o e elog ia calorosamente o s eu acto destemido.Em seguida, pede-lhe para arregaçar o braço direito —náo v á queimar a mang a do casaco ! — e ordena- lbe quemergulhe, de repente, os dedos no chumbo em fusSo.

O espectador hesita, mas o prestigiador insiste e èie

acaba por obedecer, embora roído pelo desejo de se meter pelo châo abaixo e maldizendo a hora em que selembrou de ir ao palco.

— Torne a meter ! — ordena o ilusionista, — Comové, nenhum mal Ihe sucedeu,

0 assistente obedece e, desta vez, já com fumaçasde valentia.

O ilusionista, satisfeito pelo éxito alcançado, pois

nem sempre é fácil conseguir que uma pessoa qualquer«ponha por nos as màos no lume», afirma com certo or-gulho :

— Posso gar antir a v ossas e x celências que, mercédo impèrio absoluto da minha vontade, que tanto escra-

viza os seres , como Tactua de forma decisiv a sòbre osobjectos e as coisas, todos podem suportar sem receio atemperatura do chumbo em fusào !

 A corag em do primeiro es pectador e a descar ada

mentira do ilusionista, acabam por arrastar para a caldeira todos os que subiram ao palco. Um a um, todosèles mergulham as mâos no líquido em ebuliçâo !

— E o chumbo, como já disse — afirma o prodigiador — funde a trezentos e vinte e sete graus e íerv ef 

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como igualmente já afirmei, a mil quinhentos e vinte ecinco. Contudo, vossas ex celéncias, apesar da grandiosi-

dade da prova, nao sentiram nos seus dedos qualquerimpressáo desagradável! Pego--Ihes, senhores, que confirmem

ao excelentíssimo público o queacabo de expor.

Os pobres diabos, verdadeiros joguetes das leis psicológicas da

ilusSo, nao só confirmara as pala-vras do singular prodigiador, comoaiada, maravilhados, fazem no díaseguinte aos seus amigos o maiorreclame da sessüo.

*

* *

O «truc» é de uma singeleza tal, que os meusleito-tores v3o ficar mais admirados com a sua ex plic a do doque ficaram, há momentos, com a exibigao do espectáculo !

Realmente, nada mais simples, do que arranjar nmfogSo eléctrico de calor moderado e uma liga metálicaque se confunda com o chumbo ederreta a uma tempera

tura ainda interior á de Darcet. As fórmulas que seacham no quadro do capítulo X X V II podem muito bemres olver o problema e resolvem- no, de facto, v isto quese liquefazem, algumas délas, a uma temperatura pouco

distante daquela que habitualmente se nota á superficietía pele. Mas se quise rmos melhor, se pref erirmos umaliga que, além de se confundir com o chumbo, se funda

a uma temperatura ainda inferior á do corpo humano,18

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entao empreñamos o amàlgama, cuja preparag3o se achaa pàg. 92 do segundo volume de «O ilusionista».

Quanto ao lingote de autèntico chumbo que sedeita no re cipiente, compreende- se que èie n2o sederrete e que apenas aumenta o liquido por deslocar uro

volume proporcional à sua massa.É, pois, teatro puro o que o ilusionis ta r ealizou :

0 chumbo ve rdadeiro continuará, solido, no fundo dorecipiente e, por essa razào, n3o poderá prejudicar asra5os dos espectadores. Se o metal aderir aos dedos,por vezes carregados de impurezas de certos espectado

res pouco limpos, aconselho, para evitar o inconveniente,um pouco de vaselina. Bastará friccionar as màos comeia para que a aderència nSo se realize, 0 facto, longede inspirar suspeitas, valorizará ainda mais a ilusSo, poistodos sabem como a vas elina se empreg a, para isolar oar, logo após as queimaduras.

O i lusionista — homem pr e v ide nt e . , .— utiliza- a

muito antes dos seus espectadores se queimarem.E eis tudo !

L X V I I

 A temperatura das màos

— O que acaba de realizar-se — diz o prestigiador

— carece de urna e x pli ca do ; e eu, que tenho todo ®interèsse em que compreendam o que fago, n3o posso

subtraír- me a dá- la.Depois, de sorriso nos lábios para amenisar a men

tira, continua :— A s minhas m§os, mercé da minha vontade, po-

detn desenvolver dentro de si a temperatura que eu qui-

274 — M A G I A D O F O G O

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s e r . .« A índa há pouco, como v iram, puz urna moeda ao

rubro... Quer em vér do que eu sou capaz ? Empres-tem- me, por uns momentos, uma moeda de dez escudos.Muito bem. A g ora r epar em... Coloco- a na palma da m3oesquerda, fecho a m3o e elevo-a no espago. Por baixodéla, á distancia de uns vinte e cinco centímetros, po-nho a m2o direita semi- aberta, A s s im .,, A perto bem osdedos da mao esquerda, que se acha neste momento a

uma temperatura elevadíssima, e a moeda, como vém,

eomega a liquefazer- se. A prata líquida cai- me em fíona mao direita, onde o frío se acha abaixo de zero. Em

consequéncia disso, cía solidifica rápidamente e, como aminha vontade n3o perde de v ista a cons er v ado daforma, eís, de novo, a moeda intacta na m3o direita. Aesquerda, como podem verificar, n5o contém uma partícula do metal!

E agora — concluí — podem- me tactear as m 2 os : já as puz á temperatur a ha bitua l.. .

*

# *

 A e x plicado do «tour» é das mais s imples, mas aexecugSo demanda de certa técnica.

É preciso, antes de tudo, saber dar a ilusSo de quese coloca um objecto na mSo esquerda e, na realidade,ficar com éle na direita («Mag ia T eatr al», pág, 208 eseguintes) (1). Sabendo fazer isto, o resto fíca reduzidoao seguinte:

(1) O « tour» da fusáo da moeda, inc luindo toda a tecnolo

gía de que se carece para uma boa ilusao, acha- se clar amente exposto a pág. 92 — 2.° vol, de «O Ilusionista».

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T omam- se uns g ramas do amálg ama a que me re-fi'ro no capítulo anterior, que íunde com o simples calorda m2o, e modela- se um disco, uma bola ou qualquer

coisa na qual se possa pegar fácilmente. No momentopróprio, ocultamos o metal sólido na mSo esquerda, en-quanto que, com a direita, nos apoderamos da moeda dedez escudos. Após o «falso depósito», que a ilus2o faztomar por ver dadeiro, e!eva- se a mao es querda e aper-tam- se bem os dedos, o que fará liquefazer pouco epouco a liga metálica a que me refiro. A direita, colocada em plano inferior, apara os pingos que a esquerda

lhe derrama e, no fim, entrega a moeda aos assistentes,desembaragando- se, por qualquer dos processos ha bi

tuáis, dos restos da liga que ainda possua entre os

dedos.Se o leitor conhecer «Magia Teatral», compreenderá

bem o que afir mo e, compreendendo- me, nada lhe pare

cerá difícil.

L X V I I I

Uma fogueira ñas máosdos espectadores

— Mas — continua o pres tig iador — nao é s ó a t

peratura das minhas müos que eu posso. á vontade, fa-zer s ubir ou descer. É- me igualmente fácil, mercé da

impoMpSo do pensamento, fazer germinar noutras pessoasuma sugestflo poderosa e. por via déla, tornar a pele tamfría ou tam quente, que nem o calor nem o frío a possamimpress ionar , . ,

Depois de fixar nos olhos os seus admiradores»

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como quem pretende adiv inhar o efeito que as suas pa-

iavras produziram, o ilusionista continua :

— Assim, por exemplo, eu vou derramar ñas mSosde vossas exceléncias um líquido extraordinariamenteinflamável. Logo a seguir, com a certeza absoluta de queo pseudo martir izado n5o sentirá a menor dór, lango- lhe

fogo com um fósforo ; e o archote humano poderá, en-quanto eu quiser e a minha vontade vibrar, suportar otremendo sacrificio, sem qualquer sensagSo desagra-

d á v e l !Os espectadores sentem, desta vez, urna te nt adoirre sistível de mandar o prodigiador á . . , fava, Contudo,

uns por educagao e outros por fanfarronice, mantém- seem silencio,

— EntSo — pregunta o ilusionista — qual é devossas exceléncias que sente coragem bastante para rea

lizar a experiéncia ?

E voltando- se para o primeiro dos assistentes quemeterá corajosamente as suas maos na caldeira, afirma:

— V ossa ex celéncia, de cuja heróicidade nao épossível duvidar, visto que ainda há momentos nos deu

provas eloqüentes da sua valentía incomparável, vai,certamente. ser o primeiro a controlar o que afirmo. Oradé-me licenga... Abra a sua mao direita e deixe-mederramar- lhe no «copo de Díóg enes » umas gotas déstel íquido, . .

O pobre diabo, em face dos elogios que o ilusionistaIhe faz, n5o pode recusar- se á ex periéncia e é armadoem cobaia. Mas o seu rosto, espelho vivo da sua almatorturada, muda várias vezes de cór.

O ar tista, notando o seu receio, volta a repetir- lheque nenhum mal lhe sucederá e renova os elogios feitos

á sua corag em, Depois, com urna vela, langa- lhe fogo á

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mSo que, mercé do líquido misterioso que Ihe deitara,

se converte numa auténtica lareira. A chama, vivíssima,eleva- se a gr ande a ltura e o espectador aterr ado com a

íogueira que parece devorar- lhe a m3o, mostra- se de urna^   ^ pa lide z i n o r í t a ^

F i g . 36—Urna fogueira rías máos dos espectadores t e r- S e a ^S üg e S tS O ^"

e verificar por si

próprios a gr andiosidade inex cedível da e x te r ior ízal o

da vontade., ,

Se já existisse a luz fría, o «tour» agora enunciad©

nSo teria valor algurn nem, por isso mesmo, espantaríaninguém. A ve rdade é que a chama que nada perca na

sua transformado em calor, ainda nao foi descobertanem o será tal vez, Por essa razSo, o «tour» apresenta-

-se-nos com enorme valor cénico e, portanto, digno deverdadeiro estudo.

Foi o que féz o ilusionismo há mais de urna dezena

de anos; e se nao encontrou a luz fria, no sentido rigoroso do térmo, achou pelo menos uma chama que, na

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sua parte inferior, pouco pode ultrapassar — se ultrapass a r — a temperatura da pele.

Essa chama é produzida peía inflamaba de aralíquido especial, cuja fòrmula se dà a seg uir, e m par*

tes iguais em péso :

Esséucia de terebintina V as elina de petróleo

Banha de pòrco sem sai

Gordura de carneiroCai viva

(Bater bem e distilar depois a fogo lento)

É claro que todo o «tour» g ira à volta déste liquidode Minguet, por ser èie o agente principal da ilusSo quedeve impòr- se, É ev idente, portanto, que a stia distila-g3o deve ser cuidadosa, visto que se houver residuossólidos na solugào, estes, aquecendo, acabarào por impressionar a pele e por queimar as mSos dos especta

dores que se submetam à experiéncia. Se, pelo contràrio, a mistura, após a distilag áo, ficar absolutamentehomogénia, o calor, embora pouco ultrapasse a tempera

tura do corpo humano, só se sentirà no interior e no

vértice da chama. Na sua base, isto é, na parte que seacha em contacto com a carne, a fogueira difícilmenteimpressionará as células dérmicas, porque, se o líquidon5o tiver residuos, a temperatura manter-se-á inferior a

nns trinta e cinco graus.

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280 - M A G I A D O F O G O

L X I X

 Agua a ferver nas màosdos assistentes

Numa grande panela de cristal, posta sóbre um pequeño fogào eléctrico, v ém os espectadores uns litrosde água a ferver , A lém das bolhas de ar quente que seelevanti era grande número até à superficie do liquido, osassistentes podem ainda notar sob a tampa, igualmentede cristal, a ag lom e r ad o de vapor proveniente da ebu-

ligào da água,O ilusionista, como que para encorajar os especta

dores, retira a tampa da panela, o que faz elevar- se noespago uma densa nuvem de vapor, e mergulha descansadamente as m3os na água a ferver. A seguir, tapa denovo o recipiente e solicita aos assistentes que procedamde igual modo.

Garanto- Ihes que, merc è da sugestao que lhes im-porá, éles nao sentirSo calor algum ; mas, pelo contràrio,

terào a sensagSo nítida de te rem, mer g ulhado os dedosem verdadeira água fria !

 A prov a real iza se e os espectadores sSo unánimesem afir mar que, apesar da água estar a ferver, notamsensagoes de frió !

#

tf *

O «tr uc», tam simples como os das ilusoes anteriores, ex plica- se déste modo ;

O fundo da panela de cristal, protegido por uma

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M A G I A D O F O G O — 281

linda cercadura de metal niquelado, comunica, por meío

de um tubo ^hábilmente disfamado, com o interior dofogSo eléctrico.

mn^ica, por sua

mecanis mo pro- F ig - 3 7 —M e r g u l h a r a s m á o s e r a a g u a a f e r v e r

prio adaptado

ao tubo (capítulo L X II) , ura ajudante escondido, aper-tando a pera de borracha, nao só produz as bólhas de.,,vapor, como aínda, se quiser, pode íazer oscilar atampa da panela com a mesma violéncia que as grandesebuligoes originam.

 A ilusSo é tam per feita e o vapor (capítulo L X II)mostra- se tam natural, que o próprio ex ecutante chega aScar surpreendido !

N3o admira, agora, que a agua continui fría, n3oobstante a ilusao pasmosa de que ela se acha a ferver.

S é í S é i

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282 - M A G I A D O F O G O

água a cena graus, bastaria, como faz B arnello, mergulhà--las prèviamente em éter. Mas eu nào aconselho o processo, nào só porque nào nos dà a beleza do anterior ,

mas ainda, porque, devido à grande combustibilidadedo líquido, podemos originar, sem querer, verdadadeirascenas de terror,

L X X 

Um prodigio de sugestào

— Tenho exigido de vossas exceléncias — afirma ©prestigiador—as maiores demonstrares de coragem. Emcompensalo, creio ter correspondido à confianza ilimitada que puzer am na minha ciència, pois dei- lhes, pensoeu, as mais eloqüentes provas do que vale e para queserve a minha vontade- fórga.

Depois, dirigindo- se ex clusiv amente ao gr upo de ra-pazes que o cercam, o ilusionista prossegue :

— E creio que nào se arrependeram de ter confiado

em miin, Como viram, apesar de tudo quanto realizaram— um mundo de invulg ar idades notáve is ! — nenhummal lhes sucedeu,

Um sussurro de aprovag ào coroa as suas última s

palavras, 0 artista finge nao reparar no movimento desimpatia que se desenha na platéia, e continua :

— Friso bem que nada lhes sucedeu, porque desejosubmetè- los, agora, a um grande prodig io da sugestào e

quero que vossas exceléncias continuerà a crer que nenhum mal lhes sucederá,

 A seg uir a urna paus a muito cur ta, destinada a es-tudar o volume de curiosidade que vai crescendo no seu

público, o prodigiador acrescenta :

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— V ossas ex celéncias, sob o dominio da sugestSo,devem, desta vez, suportar nas suas bòcas o proprioferro em brasa !

E, muito sèrio, garante :— Claro que, como até aqui, nenhum mal lhes s u

cederá, porque o imperio da minha vontade respondepelo éxito da experiéncia,

 A seguir as suas últ im as palav ras, o ar tista aproxi-ma- se da forja e ret ira de entre os carvSes em fogo um

dos ferros incandes centes , que uns dez minutos anteshavia posto a aquecer.

EníSo, com uma autoridade nunca até ali revelada,o artista chama um dos do grupo e ordena- lhe que abraa bóca. Èie obedece, aterrado.

0 prestig iador, como se ex ecutasse a coisa maisnatur al déste mundo, enfla- l’ne por entre os lábíos a

parte chamejante do ferro e manda- o depois cerrar osdentes . 0 infeliz espectador, como que subjug ado porum fòrga estranha à sua, obedece,

E, em conseqüéncia da ordem imperiosa que sesobrepSe à sua propria consciència, arranca, como umautòmato, um pedalo de ferro em brasa, que inex plicà-velmente Ihe fica suspenso da bòca !

O prodig iador coloca- lhe sob os lábios um pequeño

pires de cristal e ordena- lhe que deix e cair nèle a provaeloquente do prodigio. Depois, entregando e pires a umdos seus ajudantes , solicita- lhe que o leve à platéia, ondeos assistentes poderSo constatar que o pedacito de ferrose acba ainda em ig n it o !

 A ex periéncia prossegue com alg uns espectadoresmais, após o que o ilusionista agradece a presenta no

palco dos componentes do grupo e passa a outrail S

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*

* *

0 processo adoptado pelos ilusionistas modernospara morderem, sem o menor perigo, qualquer barra de

ierro em brasa, acha- se claramente ex posto no ca pítulo L V II desta obra. Quanto ao «modus operandi» qne

cito e que consiste em íazer com que os espectadoressubstituam o ilusionista, é fácil de concluir que nenhum

dos componentes do público acederá a realizar a expe-riéncia. Por isso, o ilusionis ta deve fazer misturar com

os ass istentes um ou dois dos s eus ajudantes ou representantes da platéia, prèviamente instruidos.

É claro que é preciso ensínar- lhes a afas tar os lá-bios do ferro ardente, para que nSo surjatn compli-caçôes.

 A «debinag e» nao é coisa a temer no «tour»,porque os espectadores ensaiados ficaráo supondo que oilusionista lhes recomenda que afastem os lábios pela

s implicíss ima razáo de nao querer insensibilisá- los,O espectador, se m se preocupar com as razSes queassistem ao ilusionista para proceder daquela forma, li-

mita- se a ex ecutar o tr abalho co ma lhe ordenam e a

fixar a sua atençâo apenas nos vinte ou trinta escudosque o ilusionista lhe oferece no firn de cada sessao.

O público, mesmo que lhe digam que se trata deum «compère», nâo poderá acreditar na versáo, vistoque morder ferro a cérca de mil graus ultrapassa tôdas

as combinaçôes que se poss am imag inar ; e, por isso, aidéia da s ugestâo mantém o mesmo volume. De resto,qua i seria o espectador, sem o tr anqiiilizarem prèviamente, que acederia a submeter- se a uma ex periênciatam invulgar ?

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Posso garantir que nenhum. Por essa razào, é tole-

rável o convènto, tanto mais que — repito— èie, no presente caso, nSo constituí «debinag e» nem é criv el para

o público.É ainda de admitir que os verdadeiros espectadores,

aquéles a quem o artista nào paga, acedam a imitar ospagos e, sendo as s im, o «controle» mostr ar- se á irre>

preensivel,

L X X I

Incèndio aparente de um teatro

0 ilusionista, após a s essào majestos a que acaba dere alizar , dirige- se teatralmente ao seu público, pedindo--lhe, com o à vontade que o prestigio alcanzado lhe con

cede, uns momentos de ateneo,Depois, em palavras rápidas, mas eloqüentes,

afirma :— A cabo de ex ecutar uma curiosa sèrie de suges-

t6es individuáis que, como vossas exceléncias viram, ti-veram o melhor éxito, Desejo agora provocar uma sugestào colectiva de enorme enverg adura : Quero quetodos vejam éste grande teatro em chamas !

E de pois :— Claro que nada poderei íazer, se as senhoras que

me distinguerci com a sua g entil iss ima pres enta naoacreditarem em mím. e supuzerem, por isso, que se po-derSo queimar . Gar anto que- só se queimará a pessoaque se levante da cadeira, Nào posso, pois, responderpor quem saír do seu lugar , E acho até preferível que

as senhoras nervosas e muito impressionáveis, para sepouparem a desgostos, abandonem a tempo a sala, Se

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quisere m conservar- se nos seus lugares , garanto raaisurna vez que nada lhes suceder á, porque tudo quantovírem nao passará de urna ilusao tremenda, obtida comflagrante fideiidade pela projecg2o nos seus cérebros domeu pensamento- fórga, E agora v ai descer o paño porcinco minutos. As pessoas que nSo tenham coragem suficiente para assistirem a um incéndio pasmoso, com tó-das as aparéncias de verdade, devem abandonar a sala.

 A s outr as , as que, suceda o que suceder, n5o se levan-tem dos seus lugares, solicíto- lhes que f iquetn e prome-to- lhes que ass istirSo a um espectáculo inédito e tam

ímpressionante que jámais o poderSo esquecer!

*

* *

0 paño, após urna sinfonía que faz vibr ar os ñerv osao máximo, eleva-se pela última vez, Dois bombeiros decada lado, empunhando agulhetas de metal reluzente,

denunciara a grandiosidade da prova que está prestes arealízar-se. O palco, totalmente livre de instrumental dailusSo, acha- se agora repleto por mecanismos e objectosde exclusivo uso dos bombeiros.

Quando o ilusionista entra em cena, a música cessade repente e o siléncio notado a seguir mostra- se, porcontraste dos sentidos, ainda mais perturbador do que opróprio ruido.

O prestigiador, logo que a música cessa, bate ruido

samente as palmas e duas línguas de fogo atravessam oespapo. Momentos v olvidos, notam- se na platéia g randesclaroes sinistros, que se tornam inexplicávelmente vísí-veis a todos os espectadores, O ilusionista eleva a sua

mSo direita e aponta com o íadece determinada directo

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da sala. Imediatamente urn jacto de fogo, como quenascido no espago, impressiona os assistentes,

0 pres tigiador faz outro gesto e em poDto diver so daplatéia, nova labareda se materializa aos olhos dos espectadores.

Por fim, o artista manda íazer música e logo que seouvem os acordes fortes de urna composigao tempestuosa, no palco e no próprio espago reservado aos assistentes notam se enormes líoguas de fogo, acompanhadas

de relámpagos vivíssimos e de trovóes colossais, inter-meados por silvos penetrantes e sinistros, que fazemarrepiar os seres mais indiferentes aos convites dopavor !

Em dado momento, um estrondo medonho, seguidode labaredas gigantes que se formam em pleno espago ecruzara em tfidas as direcgoes, fazem, na aparéncia, caír

o paño de um só golpe. Voltando a subir, o artista aparece de novo e curva- se lig eiramente em sinal de quemagradece. . .

*

# *

Em principio, há uns cinqüenta anos, o incéadio

aparente de um teatro era f e it o po r ... mirag em. A

chama, oculta em deter minados pontos da sala e dopalco, era vis ta, por um curioso fenómeno de reflex2o,

 junto dos espectadores, Mas n5o se imag ine que qual-quer fonte de labaredas res olvía o problema. A ilusa»fóra, como agora se faz em prestigiagSo dos nossos dias.cuidadosamente estudada por técnicos da especialidade.E foi só após demorados trabalhos práticos. de m3osdadas com ensinamentos teóricos arrancados á química,

á física e k  óptica, que a invengao magnífica surgiu e foi,

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pelos domadores do fogo de entSo, ex ibida nos tea

tros.

Él es , como aínda muitos dos contemporáneos quedesconhecem os progressos do ilusionismo, distribuiampor lugares próprios (ocultos dos espectadores, mas deonde pudess em partir os reflex os provocadores da ilu-s3o) certo númer o de potes de barr o — esf éricos e debóca est reita. Dentro de cada um déles punham a se-¿uinte mistura á qual, no momento preciso, langavam

ou mandavam lanzar fogo :

Cloreto de amonio , . 15 gr amasCánfora . . . . . 30 g ramas

 A l c o o l .........................60 gramas

Quando o líquido, evaporando- se, comega va a pro»duzir nuvens ígneas menos densas que o ar, estas, rubrascomo a chama viva, atravessavam a sala e envolviam osespectadores numa atmosfera de fogo ! (1)

 A gor a, a ilusSo ma is completa e ma is rica, chega acausar desgostos, se o prodigiador inexperiente ou confiante, n5o puser, logo de inicio , o seu público ao factodo que lhe vai suceder,

Hoje, nSo só se provoca a ilusao formidável de umteatro devorado pelas chamas, mas ainda, para fazer vi>brar ao máx imo os ñervos dos espectadores, se criam osruidos próprios das enormes derrocadas, o fragor coios-

sal do trovao e os claróos sinistros do relámpago.

(1) As luzes do teatro estav am apagadas ou, entSo, redudas ao milésimo da sua mtensidade.

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*

* *

 A ntes da sessao começar, estendem- se em váriospontos convenientes, distantes das paredes e do tetocerto número de discos invisíveis, tecidos em malhafiníss ima de metal. Na sua frente (lado dos espectadores) coloca- se- lhes, pre cisamente ao centro, um daque-les filamentos especiáis que se tornam incandescentes

quando um jacto de gás de iluminaçâo os apanha no seutrajecto (1),

 A tr ás désses discos, mas ocultos na par ede, ex is

tera tubos apropriados, cujos extremos opostos se acharaadaptados a enormes vasilbas de aço. Estas, que con-

tém gás a elev ada compressSo, permite m, em dado momento, que o jacto gasoso atioja dois ou très metros de

comprido. E assim, a coluna de gás. depois de atra-vessar o disco metálico e de se inflamar automáticamente com a incandes cência do filamento, continua o sentrajecto, em fogo, até ao centro da sala.

Do número de bicos de gás e da sua localizaçSo no

teatro, depende a boa ou má ilusao do horroroso espec*táculo. Se tudo fór executado inteligentemente e com

arte, as chamas e as línguas de fogo, que começarSopouco e pouco, encheráo, em dado momento, o espaçotodo do teatro, enquanto clarSes sinistros, produzidospelo ■«cachimbo de licopodio» (2) e r uidos formidandos

ocasionados pelos mil instrumentos que já conhecemos,

(1) O ins trumento é conhecidíss imo, porque, ñas cidadesonde aínda o gás impera, se usa em lugar dos fósforos para infla~mar o fluido.

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completarlo a ilusSo tremenda de um teatro em chamas a converter- se, em alg uns minutos , num autènticamonta» de escombros (1).

Os círculos de rede cao deixam, como se sabe, retrog radar os jactos de fogo e é em virt ude désse factoque niDguém pode conhecer a orígem das labaredas, vistoque elas apenas se notam distantes das paredes e doteto (2), A ilusSo é, pois, co mpleta e todos os artis tasmodernos sabem, por experiència pròpria, o terror queeia origina nos seus espectadores.

 A o ex posto conv ém, par a a tr anqüilidade de nos

todos — autor, executante e público — acrescentar o se-guinte :

No espago que existe entre as paredes e os discoso gás nao pode ser queimado, visto que, como já disse,

a chama n3o volta para tráz. 0 facto dà orig em a que hajagás se m queimar, o que cons tituí um perigo para osespectadores. Por isso, quando se produzem os ruidos,convém fechar por segundos as garrafas de fluido, en-

quanto as ventoinhas de absorbo limpam em alguns instantes a atmosfera do teatro,

N3o procedendo assim, é natural que assistamosa fenómenos de asfixia, o que, creio eu, seria levar demasiado longe a ilusào do incèndio,,.

(1) «O Ilusio nis ta» , pág. 45 e seg uintes do 1.° vol.(2) A chama, como se estuda em química, nao pode atra-

■yessar urna rede me tálic a de ma lhas muit o finas. Davy , tirand®partido inteligentíssimo do curioso fenómeno, ofereceu-nos, emprincipios do sáculo fiado, a sua interessante lampada. A ela derea humanidad? a vida de muitos militares de mineiros.

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Q U I N T A P A R T E

arav ilhas do fogo — Des nudar urnamulher em plena rúa — Cartasmisteriosas — H álito destruidor —

 V ela marav ilhosa — Pir ománciateatr al — Cigarros que desapare-

cem das b6cas dos fumadores — R e v e la do ígnea —O vulcáo de L émery — Br indes culturáis do I. I. R. S,

L X X 1 1

Maravilhas do fogo

 A pir omag ia, tanto no seu aspecto profundo, queacabo de versar largamente, como no médio e no ligeiro,

que v ersarei a seg uir, oferece- nos recreagoes científicasd t di á i b l i t i

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predisp5em o estudante para mais ampias relaçôes com

a química, a física e a óptica.

 A té sob o ponto de vis ta pictórico, a mag ia do fogose imp5e, visto que podemos obter, com arte, verda

deras invulgaridades a óleo chamejante, visíveis naescuridáo !

«Os diabos em cena», insertos em «0 Ilusionista»

e, com muito mais razâo, o estudo sóbre «As fosfores-cências», a óleo, publicado em «0 mundo científico»,

robustecem o que afirmo.Quanto aos pequeninos «nadas*-, que originam, por

vezes, «todos» de gr ande valor, éles s2o em tal quanti-dade e ocorrem ao cerebro em tam avultado número,que ser ia preciso consagrar- lhes militas centenas depáginas para os inserir na íntegra. E eu, que disponhoagor a de pouco espaço, vejo- me forçado a seleccionar ea escolher de entre éles os que mais agradem as roulti-dôes e menos dificuldades imponharn ás psssoas que

confiam no meu critério e honram com a sua atençâo a

obra que boje lhes dedico. V ou, pois , com o fim de cont inuar a merece r a con-

fiança com que me distinguem os meus leitores e reve-lam ñas centenas de cartas que recebo a propósito deobras já publicadas, confeccionar o «bouquet* final de«Magia do Fogo» e espero, com a certeza que nos dá odever cumprido, fazer- me verdadeiro cr edor da amizade

e simpatía de todos quantos me léem.

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L X X I I I

Desnudar urna mulher em plena rúa

 A ndr és Pérez Pombo, médico dos mais ilustr es eamador dos mais distintos da A mérica do S ul, cemuni-cou em tempos ao I. I. R. S. a tremenda «ilusSo» que

s e g u e :

0 dr. Pérez Pombo achava- se em La Corufia, onde fdraem viagem de recreio, havia já amas semanas. Um dosseus amigos, Antonio Muñoz, igualmente socio do

I. I. R . S M falou- ihe de certa menina, ex tre mamente vai-dosa, que era preciso,,, domar,

Pérez Pombo, com um sorriso nos lábios, garantiuque a presumiJa senhora, dentro de curto espado de

tempo, seria domes ticada, Muñoz, sat isfeitíssimo, pregun-tou- lhe logo como. Mas o médico, habituado ao se-grédo... profissional, ficou mudo como um peixe.

Passados uns dias, os dois amigos voltaram a en

co ntr ar se e Muñoz, sempre curioso, quis informar- se ávira fórga do género de castigo que o médico americano

resolverá pór em prática.Pérez Pombo limitou- se a preg untar- lhe :

— Conheces o costureiro da formosa menina O. R, ?— Conhego.— A presentas- mo ?

— Para qué ?— Nao me fagas pre g untas .. . A presentas- mo on

n3o ?

— Apresento e hoje mesmo,

— Basta. O resto.., constar-te-á. Agora falemos deoutros assuntos

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O. R., estonteante de beleza, no meio de ara grupode raparigas quási tam lindas como ela, passeia perto do

molhe. Em dado momento, O. R, e o seu gentil cortejo

abandonam o Parque Mendez Nuñez, atravessam o Cantón Grande e entram na Calle Real. Ai, as onze horas danoite, é quási impossível dar um passo, tal é a agióme-

F i g . 3 8 — S e m q u e n i n g u é m l he t o ca s s e , ha v i a f i c a do n u a ?

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raçâo de transeúntes. Ao cimo da rua, perto do TeatroRosalia Castro, 0. R. solta um grito de pasmo, Sem queoinguém lhe tocasse, havia ficado nua !

Do seu vestido, confeccionado há dias, nem mesmoa sombra se via ; e a pobre criança, em combinaçâo deséda, é metida a tôda a pressa num «taxi» e conduzidaa sua casa.

Momentos depois, igualmente de «taxi», chegamo médico e o amigo. Éste, aparentando grande sur-

présa, solicita a O, R., que se envolver á à pressa numelegante kimono, a explicaçâo do facto, 0. R., aindaaterrada, afirma que pouco pode acrescentar ao que as

suas amigas disseram,— A penas sei — esclarece — que fiquei nua em

menos de um décimo de segundo e que o meu vestidose fundiu em pleno espaço como se fòsse constituido porim a nuvem de fumo ! Nada mais sei ; nada mais posso-d i z e r , , .

E quási a seguir :— Só isto : Que estou assombrada e acho que a mi

aba razSo periga ! A o pronunciar as últimas palav ras , eia vé. estarre-

cida, que a criada entra no saláo com o seu vestido nos

braços,

— Afinal, — explica a serva, — o vestido estava noguarda- roupa,,,

— Mas — pregunta o 0, R, fora de si — entSo éledesapareceu- me na r ua e vem aparecer em casa ? ! Oh !

É horrível !Pérez Pombo, que lhe fóra apresentado havia dias,

intervém imediatamennte como médico e força a pobre

pequeña a recolher logo ao leito. Depois, aconselhando

calma , prepara- se para saír. Mas a «doente», impressio»

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nada pelo que sucederá, cometa a mostrar síntomas quepreocupam o cientista.

Pérez Pombo deixa- se ficar e, passados uns minutos ,

como O. R. continuasse nervosa e calada, resolveu con-iar- lhe tudo.

*

* *

Pensando assim, comegou por dizer :

— Sabe, señorita, há ocasiSes e m que a mais inocente «broma» corre o risco de se converter na mais

tremenda tragèdia !O. R. continua silenciosa e o mèdico prosseg ue :— V eja l à . . . T rata- se de urna brincadeira minha,

cujas conseqüéncias , por eu n3o a saber tam nerv osa,me foi impossível prever,

O. R. abre os olhos de repente e fita-os com durno seu amig o, preguntando- lhe atónita :

— 0 què ? Urna brincadeira sua ? !— S i m . ,, N3o me censure sem me ouvir. Depois,

se quiser, poderá até cas tig ar - me,. .— Seja — responde 0. R. mais tranqùila.— N3o Ihe

dire i o que sinto nern Ihe far ei ver o que me v ai na

alma, sem ouvir primeir o as s uas desculpas e os mo tivos que o levar am a brincadeira t a m , ,, estranha,

Pérez Pombo, confiando absolutamente em si e nopoder fantasista da sua imaginado! come^ou por se mostrar apaixonado e concluiu por afirmar que procedeu da-

quele modo simplesmente para que entre ambos se es-treitassem as relagòes e estas, continuando, fizessetngerminar o amor,

 A tirada, falsa de principio ao firn, ag radou muit o a

0, R., nao só porque o médico gozava jà de certa aura

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no mondo intelectual, mas principalmente por ser o her-deiro de urna das maiores fortunas da América do Sul.

Risonha, quási satisfeita, O. R. solicitou- lhe queexplicasse em detalhe tudo quanto sucederá.

— É s imples— continua Pérez Pombo, — Soube quevocé ía fazer am lindo vestido de linho. Fui ao seu cos-tureir o e encomendei outro ex actamente ig ual. A principio, o hornero resistiu ; mas depois de lhe explicar quese tratav a de uma surprêsa, acedeu e eu, v itorioso, im-

puz- lhe uma condiç3o. . .— Quai ?

— E x ig í que me desse o «g immick » do seu vestidocom a antecipaçâo de très dias.

— E éle den ?— De très dias nao, mas de quatro — para me ser

agradável e merecer, talvez, uma recompensa maior.

— Bem ; e depois ?— Depois, logo que me apossei do vestido, tratei-opelo sistema «éclair»,, . (1),

— O que é isso ?— Depois lhe explicarei mais de espaço. Agora dei-

xe-me continuar a narrativa,..— Pois s im, continue.— A seguir, passei- o eu próprio a ferro, v isto qne

tinha de proceder com os maiores cuidados e a baixatemperatura, para o nao fazer desaparecer, e . . .

— Mas entâo um vestido, tr atado pelo tal processo«éclair», desaparece de repente ? !

— Com a v elocidade do re lámpag o. A rde sem dei-

xar um átomo de cinza e tam rápidamente, que nemrnesmo dá tempo a que a pessoa se queime !

(1) V id í l X X X III á 179 dé li

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— Mas é preciso langar- lhe fogo e ning uém me in-cendiou.. .

— Nao. A prox imaram- lhe apenas do vestido o ex

tremo incandescente de um cigarro banal.— Só isso ? !

— S im ; e foi o suficiente.— Mas corno fèz a troca dos vestidos ?

— V alendo- me da sua criada de quarto, que nadasabe a èsse respeito, mas que inconscientemente meprestou os maiores servidos.

— É estranho !

— Nao. É naturai, quando n3o nos supoem capazesde cometer tais loucuras.

— EntSo Eva nào sabia de nada ?— Nào. Quando cheg uei, f ui e u até que Ihe sugerí

a idéia de ir ver ao guarda- roupa se o ve stido là es-t a r a . . .

— Formidàvel !

— S im, est upendo, se v ocè n£o se zanga r comigo.

— Náo zango, descance, porque tenho urna missSo

a c um p r i r . . .— Qual ?

— Castigá- lo, como merece. E — concluiu rindo —distante de si nao poderei realizar o meu desejo,..

O. R, jura ra vingar- se e vingou- se : casou cPérez Pombo.

Ê le queimára- lhe o vestido em a lg umas f racçôes de

seg undo ; ela, mais cruel, queimára- lhe o coraçâo eagora pôe- ihe a cabeça em fogo a miudes vezes ao dia !.

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L X X I V  

Cartas misteriosas

Urna carta com meia dúzia de linhas a abrir, é enviada a um amigo. No texto que se redige deve-se, comelegància e correcto, excitar-se-lhe a curiosidade sóbredeterminado caso interessante, seleccionado entre os

assuntos ligeiros que servem de tema às intrigas inocentes da juventude correda.

No firn, para intrigar o destinatàrio, afirma- se- lhe

que se èie quiser saber o resto, dev er à continuar a lei-tura, — mergulbado na escuridSo.

Èie, espica^ado pela curiosidade, apaga a luz e, emcaracteres de fogo, lé ainda mais algumas palavras, que

se extinguem no preciso momento em que a revelagaomais interessa.

 A carta f ina liza por garantir que a parte restante,curiosissima, só se tornará visível dentro de vinte outrinta minutos, salvo — é claro — se a carta desaparecerantes...

Éste aviso desconcertante leva o destinatàrio atomar as suas precau^óes. A pesar disso, quer o papel

seja encerrado num cofre, quer o mante nham entre asmSos, éle desaparecerá,— sem deixar o mais leve sinal

de si !*

* *

0 pasmoso «tour» que descrevo foi ex ecutado em

1927 pelo meu querido amigo Maurice Kelly.Eis a describo do seu proprio segrédo :

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Numa fólha de papel «éclair» (1), escreveu as pri-meiras linhas com uma tinta vulgar e as palavras se-

guintes com uma dissolugáo que pode ser substituidapelo fósforo branco ou qualquer tinta fosforescente quese leia na escuridSo (2).

Mas eis a f órmula que o próprio Maurice K el lyempregou para obter o misterioso líquido com que es-creveu a sua carta :

 Á lcool a 95 g raus , . 100 gramasFósf or o......................... 1 gra ma

 A pós tudo, pincelou um dos áng ulos do papel com

a mistura seguinte:

Sulfureto de carbono , 60 gr amasFósforo . . . . . 10 g ramas

Como fechou a carta num sobrescrito apropriado,

dentro do qual náo era possível uma evaporado rápida,a missiva náo desapareceu. Mas, logo que foi posta emcontacto com o ar, o car bono evaporou- se e o fósforo,inflamando- se e spontáneamente, féz com que o papel

«éclair» desaparecesse num relámpago, sem deixar se*quer, como vestigios, um único átomo de cinza.

 A ntes de concluir, quer o av isar o ex perimentadorde que a solugáo carbono- fósforo deve ser mantida emfrasco de cristal, com rólha esmerilada muito justa, parao carbono se náo evaporar, Sempre que se abra o frasco,

(1) V ide capítulo X X X III, pág. 179,(2 ) Á lcool fosf orado, por ex emplo.

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deve cerrar-se o mais depressa possfvel, porque a dimi

n u i t o de carbono predispoe a mistura para a inf la m ad oespontánea.*

* *

 A intr ig ante ex periéncia foi repetida de modo diverso, etn 1938, pela gentil Carmencita Munguia.

Como a jovem amadora n3o dispunha da solugSo

final que produz a inflamado espontánea do papel, es»creveu em letras chamejantes que se o destinatàrio qui-sesse conhecer o «res to», devia chegar o cigarr o aoángulo direito superior da carta ou aproximar esta partedo papel da chama de urna vela ou da incandescénciade um fòsforo.

É evidente que a carta desaparece num relámpago

e nem a pessoa que a tem nas màos chega a compreen-der que eia foi des truida pelo fogo, A rapidez é tal que

nem sequer deix a perceber as causas da desaparigSo !

L X X V

Hálito destruidor

— Dize m — afir ma o ilusionis ta — que há em Á fr ica um reptil cujo hálito, só por si, cons eg ue mata rum homem ! É possivel, embora nos pareja estranho pordesconhecermos o facto. E u, por ex emplo, acredito no

tremendo fenómeno e — confesso- o lealmente — nunca

me foi dado v é- lo...

E de pois :

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coisa se melhante a lame ntar. Imaginerai vossas excelên-cias que possuo, como o réptil africano, um hálito des

truidor ! Se mpre que o dir ijo para qualquer objecto, élerebenta logo em chamas e é destr uido pelo fogo. Se al-g uém quere observ ar o facto, bastar á emprestar- me umlenço. Claro que, como náo se trata de ilusionismo, olenço ficará inutilizado e eu, em face do exposto, souforçado a devolvé- lo tal qual éle ficar.

 A seg uir, peg ando no lenço que lhe oferecem, continua :

— Repar em, ex celências, tenho os braços arregaça-

dos e as nráos totalmente livres. 0 lenço, que é emprestado, nada encerra de suspeito. Querem ver?... Náo?...Entâo obs er v em ... Bafejo- o duas ou très vezes e . . .ei-lo — já devorado pelo fogo !

E, a concluir, o artista acrescenta :

— Outro le n ç o .. . Quem me empres ta outro lençopara eu converter em cinzas ?

*

# *

T oma- se um pedacito de fósforo e corta- se debaix ode ág ua, com o aux ilio de urna tesoura, em très ou qua-tro bocaditos do tamanho de um «0» maiúsculo. Depois,

momentos antes de começar a ex periéncia, metem- se nabóca, aínda húmidos, entre os dentes e o lábio inferior.

 A hum idade bucal manterá, em tais condiçôes, os peda*citos de fósforo em respeito...

Para realizar a ilusSo, bastará «cuspir» no lençoemprestado um dos très ou quatro pedacitos do metaloidee fr iccioná- lo depois no tecido. Logo que a humida de seevapore, o lenço começarà a arder.

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M A G I A D O F O G O - 303

Q ue r e n d o repetir o «tour», utilizar- se- 5o os outros

pcdacitos. Porém, quer se repita quer nào, o que n5o devenios esquecer è que tivemos um serio veneno na bóca.Por isso, o nosso primeiro cuidado será, logo após asessáo, proceder às convenientes lavagens.

Escuso de acrescentar que, antes disso, acho absolutamente perigoso engolir seja o que fòr — incluindo a

pròpria saliva.*

* 4*

Se, por lamentável descuido, um ou mais pedacitosdo metaloide se metere m esófago abaix o e fore m pararao estómago, o caso é sèrio, mas nada se remedeia emperder a cabega . . . A primeira coisa a fazer é provocar

o vómito com titilagoes na garganta, a vèr se o pedacitoou pedacitos de fósforo s5o arremessados cá fora. Mas— cuidado ! — em caso alg um se deve m tomar vomitorios sem prèvio conselho do médico. Se èie estiver dis

tante, poderemos entSo, enquanto esperamos pelo homemde ciéncia, proceder, segundo os casos, de qualquer destas duas formas : Admitamos primeiro que os pedacitosde fósforo foram vomitados. Neste caso, tomamos quinzegramas de sulfato de magnèsia num pouco de água e es

peramos tranquilamente que o clínico dé as suas ordens ;se, pelo contràrio, o metaloide nào cedeu às titilares,

tomamos dez gramas de essència de terebintina e esperamos igualmente que o médico actué. Em caso algum —note-se bem isto ! — devemos confiar na eficácia de umantídoto, mesmo que nos assegurem que èie, para o casoindicado, se mostra o melhor do mundo. O melhor antí

doto para um veneno, seja èie qual fór, é sempre a tiénda de um médico

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m - M A G I A D O F O G O

L X X V I

 A vela maravilhosa

Maurice Kelly, o ilusionista americano que mais setem salientado em invulgaridades científicas, mandou h à

dias, dentro de um estojo apropriado, urna vela de es

tearina a um dos admiradoresdas ciéncias da ilusào. Dias antes havia- lhe èie endere zadourna carta misteriosa (capítulo

L X X IV ), onde Ihe solicitaba quea incastigalasse e prometía, apósisso, acender- lba à dis táncia !

0 destinatàrio obedeceu e avela, passados uns minutos, rom-peu inexplicávelmente em chama s —ardendo depois com a len-tidao habitual até se consumirpor completo !

 A té hoje ning uém ex plícousemelhante «místério». C r e i o ,pois, que os meus leitores gos-taráo, certamente, que eu lheconsagre umas linbas. Prefirodar a auténtica soluto do problema e, para isso, nada me parece melhor do que inserir o

verdadeiro «segrédo» com que oproprio Maurice Kelly distinguía

«Magia do Fogo> :á»- a   veia mataviihosa «Escolhi urna v ela de gros

so pavio e destearinisei éste,

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M A G I A D O F O G O - 3 0 5

pelo calor, para o tornar mais impre g náv el no l í

quido que eu desejava utilizar. Depois , com o maiorcuidado, embebi- o na s olug5o carbono- fosfórica já conhe-dda dos meus colegas e que tem a propriedade, comonenhum de nós ignora, porque todos os socios do I, I.

R. S. estao ao facto das miDhas experiencias, de se inflamar espontáneamente após a evaporado do carbono (1).

«A seguir ao preparo que descrevo, encerrei a velanum tubo de metal apropriado, onde a evaporado só épossível muito lentame nte, e mandei- a ao tneu amig o.

«O resultado, verdaderamente deslumbrante, já osleitores o conhecem, porque se acha descrito na aberturasingela desta ilusaozinha admírável».

L X X V I I

Pirománcia Teatral

O ilusionista mostra, de ambos os lados, urna fólhade jor nal aos espectadores. Logo a seg uir, pede a umdos assistentes que jogue um dado e tome nota por escrito, para se n3o esquecer, dos pontos que obteve.

Depois, toma a fólha de jornal e toca-lhe com o cigarro. Imediatame nte urna chama faz a sua apari So nolugar tocado e, como que obedecendo a uma fór^a misteriosa, percorre determinado trajecto. A linha caprichosamente parcorrida pelo fogo acaba por se converter num

algarismo e éste, pirogravado á «jjur» no papel, mos*

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306 - M A G I A D O F O G O

tra-se absolutamente igual ao número de pontos obtidos

com o dado pelo espectador!

 A ntes da sessSo comegar , prepara- se urna s o lu t o li--geira ou forte (conforme se desejar muita ou nenhuma

m   JOMAL DE NOTICIAS ~ ^rato po-r t e l ~ ~ ^£L ~ 5 r S s s r ■— t a s s i o em

simples águacomum, Com

a s o 1 u £ S oobtida e utnpincel mi

núsculo «pin-ta- se» e mdeterminadoponto do jor

nal o algaris-mo que nosc o n v i e r emarca- se- lhe

ao lado umap e q u e n i n a

cruz a làpisv i s t o q u e ,

n S o proce-F ig . 4 0—0 n úm e r o pr e v is to pe lo f og o d e n d o a S S Í m

nunca mais

saberemos onde foi desenhado o algarismo, porque de*pois de séco éle se nos apresentará absolutamente

invisível.

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M A G I A D O F O G O - 307

 A seg uir ao «contr ole» do jor nal, damos para asmSos dos assistentes um dado comum ou mecánico e«forgámo- lo» pelo processo jà ex posto em «Mag ia T eatral» (1) a obter um número de pontos exactamenteigual ao algarismo que prèviamente desenhamos.

Logo que isso se realiza, aproximamos o cigarro damarca a làpis e o algarismo respectivo ccrne^ará, lentamente, a formar- se no papel,

*

* #

 A ilus ào que des cr evo, embora lindis s im a, pode,

contado, ser ultrapassada em beleza e tornar-se aindamais formosa. Para isso, bastará empregar o sistema secreto de Cm- 12, apresentada ao I, I. R. S, e enviada a

todos os seus membros — sob o título cur iosiss imo de

«Fotogr afia do Pens amento», 0 principio do «tour»,adaptado ao presente caso, dar- nos- ia o mar av ilhoso«efeito» que segue :

«Pedem- se vários cartòes de v isita aos espectadorese dà-se depois a escolher um déles, que se entrega ¿mediatame nte a um dos pres entes, A seg uir, diz- se :

«— O bilhete que acaba de ser escolhido por vossasexceléncias n3o voltarà às minhas màos enquanto a previsto pelo fogo nao se tenha realizado».

Depois de pronunciadas estas palavras , solicita- se aum dos assistentes que jogue o dado a que me refiro em

cima e pede-se ao portador do cartào a gentileza de o

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308 — M A G I A D O F O G O

ocultar entre as maos. A pós isso, dirigindo- ncs à pessoa

que jogou, recomendamos :« — É indispensável que v ossa ex celéncia pense f or

temente no número obtido para que o respectivo alga-ris mo se fixe no bilhete de visita que tiv eram a amabi-

lidade de emprestar- me«. V olv idos uns ins tantes , o ilus ionista acres centa, di-

rigindo- se, des ta v ez, ao detentor do cartgo :«O pensamento daquele cavalheiro acaba de fotogra-

far-se no bilhete de visita que vossa exceléncia teve abondade de ocultar, por uns momentos, entre as suas

próprias màos. Queira ver, senhor... Qual é o númerode pontos que a fotografia revela ?»

E . e m face da resposta, ex clama, como que assom-

brado :« — O qu é ? ! Acha- se totalmente em branco!?»Depois de elevar a mS.o  direita à fronte, prossegue :« — T em ra záo! Que cabera a minha ! Como quero

eu que vossa exceléncia veja a fotografia, se eia ainda

nào está revelada ? !»O público, nesta altur a, imag ina que o ilusio nistase vai apoderar do cartào, para, sob pretexto de o reve-lar, escrever néle o número pensado pelo espectador.Por isso, fica surpre endidíssimo, quando ouve o artista

dizer :<— Par a que eu nSo pegue no bilhete, revele- o

vossa exceléncia mesmo.., É fácil. Basta fumo do cigarro. Urna boa fumala sòbre èie e a fotografia apare

cerá. A s s im. . . V e ? ! . . . Agora já todos podem 1erperíeitamente qual foi o número fornecido pelo dado e o

algarismo que aquéle cavalheiro pensou,.. Cinco, nSo é

verdade ?».Claro que em «Fotografia do Pensamento», a tecno-

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M A G I A D O F O G O - 309

logia é outra, visto que nem é preciso «forjar» ninguém

a obter os pontos que quisermos. Saiam os que saír, oalgarismo respectivo aparecerá sempre «fotograíado* no

bilhete de visita!Enge nhoso, nao é ? Eng enhoso e lindo !

L X X V 1 11

Cigarros que desaparecemdas bocas dos fumadores

O «tour» nao pode executar- se, porque daria enormetrabalho, com os cigarros já feitos, Em todo o caso, osleitores que preferireni realizar a ilusSo daquela forma,poderao satisfazer o seu desejo, comprando maquinetaprópria destinada ao fabrico, em pequeña escala, de ci

garros impecáveis. O mais vulgar, por ser mais cómodoe mais barato, é, contudo, s erv irmo- nos de tabaco em fioe do respectivo livrinho de mortalhas.

Assini:

Depois de fazermos um cigarro, estendemos, comobabitualmente, o papel e o tabaco ao amigo que noscerca e pretendemos ilusionar. Éle, como de cos-tume, retirará uma das mortalhas e fará, como é de uso

entre amigos, o cigarro que lhe ofertamos, Quando,porém, lhe chega a chama de um fósforo ou a incandes-céncia de um outro cigarro, soltará um grito de sur-présa : o cigarr o, como por encanto, desaparecer- lhe- áde entre os lábios !

O papel, fundindo- se num relámpag o, deix a abr uptamente o tabaco em liberdade e éste, sem mesmo ser

lambido pelo fogo, caírá, de um golpe, inexplicávelmenteao chao \

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310 - M A G I A D O F O G O

* *

O leitor jà compreendeu certamente que se irata demortalhas prèviamente submetidas ao banho do «papieréclair». De facto, assim é ; mas nós, para variar o «tour»,podemos também submeté- las ao banho de nitrato depotassa (capítulo L X X X V II déste mesmo livro) e, nestecaso, assistiremos a urna desapariçâo lenta, mas extraor-dinàriamente comica — pelo «efeito» invulgarissimo querevela.

L X X I X  

Revelaçâo ígnea

Se um amigo nos oferece um cigaro ou um charuto,nâo devemos acendé- lo conio qualquer ... simples mortal.T omámo lo entre os dedos e pedimos ao ofertante quesopre duas ou très vezes no ex tremo a inflamar . E m

conse qüència do sópro, o cigarro entra rá em chamas enós entáo, descans adamente, pomo- lo entre os lábios efumámo- lo — como cost uma fazer- se.

*

* *

Como na ilusSozinha anterior, nós serv imo- nos, nesta

outra, de conhecimentos já adquiridos. Realmente, se hu-medecermos o extremo do cigarro na soluçâo carbono-- fósforo (capítulo L X X IX ), bastará o sópro do amig opara ev aporar o primeir o e o seg undo, agindo em liber-

dade, porá instantáneamente o nosso cigarro em chamas»

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L X X X

O vulcào de Lémery

0 doutor William Price, dos amadores mais distintos que conbego, quis um dia fazer urna partida engranada a um seu amigo milionàrio, que come^ara, haviauns meses, a dar os primeiros passos na estrada cheiade encantos aberta à juventude estudiosa pelo grande

Robert- Houdin.E is parte da sua c o m un ic a lo enviada, há tempos,

ao I. I. R. S, :«Estávamos em principios de setembro. 0 meu

amig o T . P. convidàra- me a passar na sua casa decampo os dias que eu consagrara às minhas férias. Acediao convite : peguei em vários instrumentos de prestigiad o moderna e dirigi- me à sua aldeia, T , P. — ainda onSo disse — era um dos meus discípulos».

 W illiam Price, depois de nos contar que T . P, lheexigirá qualquer coisa formidável nas cièncias da ilus3o»

continua :«Pedi ao jardineiro, que já fòra meu criado e eu

pròprio colocara em casa do meu amigo, que enterrasseno ja rdim as matérias consti tuitivas do vulc3o de Lémery,

Depois, ex igindo- lhe s egrédo, disse- lhe que no dia  x   regasse abundantemente o p into onde enterrasse a mis

tura. Ora, como se sabe, logo que se humedecem assubstàncias que Lémery doseou, o solo ábre se como porencanto e, se estiver calor, sai das entranhas da terrao fumo, as cinzas. as labaredas e até a pròpria lava quecaracterizam os vulcòes.

A ó t d t t i h d g t b

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312 - M A G I A D O F O G O

doneí o mea amigo por cérca de quinze dias. Urna semana aníes da data fixa, escrev i a T , P,, a comuni-car- lhe que no día  x   faria rebentar à distancia, no seu

pròprio jardim. um auténtico vulcSo,«E grapas ao mea humilde cúmplíce, ludo se reali-

F i g . 4 1 — V u l c à o pr o v o c a d o à d i s t a n c i a

zou como eu havia previsto, ficando o meu amigo ater

rado com o «efeito» Lémery,«Antes do fim do més, voltei a sua casa e, depois

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M A G I A D O F O G O - 313

de me rir um pedazo, ex pliquei a T . P ., para o tranqüi-

íizar, como realizei o fenómeno,«É claro que tive de arranjar novo emprégo ao jar-

dineiro, porque, embora eu tivesse a certeza de que élenao seria despedido, prefer í afastá- lo de um patrS o quelá muito no fundo nao o via com bons olhos*.

*

*

E is em que consiste e como se provoca o curi«-síssimo fenómeno, que William Price nos descreve:

Se misturar mos flor de enx ofre com s imples lima-Iha de ferro e o fizermos cuidadosamente na proporgSo

exacta de quatro partes da primeira para sete da segunda,íeremos ¡ mediatamente a matéria- prima de que carecemos para provocar um fenómeno aparentemente geofísico*

De facto, humedecendo a mistura realizada em taisproporg óes e abandonando- a a si mesma durante certoespago de tempo, que varia, como é natural, com a tem

peratura do «meio», assistiremos, como descreve o dou-tor Price, a uma ilus5o aterradora, que deixará sem pintade sangue todos os espectadores que lhe ignorem as cau

sas, O calórico des envolv ido pelas substáncías em jun-

<g5o, elevar- se- á lentamente e acabará por ating ir tam subido grau, que orig inará a formagSo de enormes quanti-dades de vapor de água, resultando désse facto a pro-

 jecg ao ma is ou menos v iole nta de uma parte importa nte

da massa.Para melhor se compreender o fenómeno descrito,

acho conveniente recordar aqui algumas nogSes e leisprincipáis daquilo que em linguagem universitária se

convencionou chamar «termoquímica» :

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314 - M A G I A D O F O G O

 A s tr ans f or mar e s químic as nSo podem reduzir- se à

estreiteza concepcional do aparecimento de certos corposà custa de outros que a fenomenologia converso« faz de

saparecer para sempre, Se o facto, por vezes tam apa*rectemeote real, constituíss e urna ve rdade incontro-versa, nós poderíamos, como nos ensinam irónicamenteem «Passe- T emps Intelectuels», pesar o fumo de urnaacha. Bastaria, como nos descrevem na anedocta, pesarcuidadosamente o pau e, depois de o destruirmos pelo

fogo, subtraír do valor obtido, o que resultasse do pésoque as cinzas acusas sem. A diferenga — pasme- se ! —

dar- nos- ia o péso do f um o . .,Mas a coisa, como fàcilmente se compreende, é um

pedalo mais complexa, visto notar-se também variagoesmesuráveis no conteúdo energético do sistema,

E essas variagòes, quando se manifestam por liber

t a d o de calor, chamam- se reacgoes ex otérmicas ; se seapres entam ao obser vador sob o aspecto contràrio —abs or bo do calórico — entao classificam- se tambémcontràr iamente e designam- se por endotérmicas.

Mas há mais. Além destas alterares caloríficas,um sistema pode ainda produzir trabalho. No nosso

caso, èsse trabalho manifesta- se pela projecsSo. mais oumenos violenta, das substáncias que reagem, ao carecer

de trabalho, para a realizagao do «processo químico»respectivo, É o que sucede, por ex emplo, na f o r m a dode anidrido bipocloroso e, de um modo geral, em tódas

as reacres de que resulta urna alteralo do volume nos

componentes gasosos — mantendo- se a pres sao cons*tante. Em qualquer dos casos, como se concluí do ex*

posto, regista-se, portanto, alteralo notável no conteúdo energético do sistema submetido a estudo. Essa

modificalo representa, em linguagem académica, o

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«calor da r e acdo » do sis tema referido a urna molécu-la- grama das substancias que reag em,

Hess, já em 1840, defendía a tese, tida hoje comoverdadeira, de que o calor desenvolvido numa reacdo avolume ou a press5o constante, depende do estado inicial e do estado final e náo dos intermediários,

O calor de r e acdo que se obser va, ao formar- seum composto a partir dos seus elementos — no estadofísico em que ésses elementos se encontram quando se

acham a uma temperatura oscilante entre dezóito evinte graus centígrados — tem o nome especial de «ca

lor de formado». Ora entre o «calor de formado* e o«calor de reacdo», existe uma relado importantíssima,que nos permite calcular os calores de alguns «proces-sos químicos» que nao sSo directamente acessíveis áanálise calorimétrica (1),

 A s altera^oes energéticas que acompanham uma

r e ac do traduzem- se, como já disse, por fenómenos deprodudo ou de absordo de calor e de trabalho. Oponto de partida para a análise termodinámica do factoé, portanto, a energia interna do sistema em repouso, áqual nao se pode atribuir valor numérico, salvo se selhe aplicar a fórmula das leis da relatividade, deEinstein.

Consideremos, pois, um sistema que passa de umestado (A) a um outro estado (B), Á temperatura T, ocalor desenvolvido na r e ac do ser á 0- Se representar-mos agora por 0 + dQ o calor de r e ac do correspondente á temperatura T + dT , poderemos determinar a

(1 ) O calor de uma rcacg áo é a diferenga entre o calor de

formacao dos produtos de reacgao menos a soma dos calores deformagao dos respectivos reagentes

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316 - M A G I A D O F O G O

v a r ía lo do calor de re ac do com a temperatura. Paraisso, fazemos passar o sistema do estado (A) — só comos reagentes á te mper atura T — a um outro estado (B )

— só os produtos da re a c do á temperatura T -f- dT— e teremos dois caminhos diferentes á nossa dispo-

sid<>:a) Realizamos a tr ans fo rm ado á temperatura cons

tante T e elev amos depois á temper atura de dT . Na

primeira mo dific ado desenvolveram- se Q calorías e naseg unda, re pres entando por C g a capacidade calorífica

do sistema quando os reagentes se transformam

completame nte nos produtos de r e a cd o, a quantidadede calor fornecido é ex actamente de C g .d T (conside-

ram- se negativ as as quantidades de calor fornecidas aosistema).

O calor posto em jógo na transformado total ®pois, o seguinte:

0 — Cg.dT

b) A queja mos o sistema no estado A , elev ando atemperatura de d T ; o calor fornecido será C ^.d T ,

desig nando por a capacidade calor ífica do sis tema no

estado A.

Efectuando agora a r e ac do a temperatura T - f- dT ,representamos, como já disse, a quantidade de calordesenvolvido por Q + dQ, total de calor que interveio

na t ra ns f or ma do 0 + dQ — C ^. d T ,

Se aplicarmos o principio da equivaléncia (1), vem :

(1) Notemos que nao houve for necimento de tr aba lho e queñas dnas transformares a variagao da energía interna foi amesma.

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M A G I A D O F O G O - 317

0 4- dQ - C a . q T   = o - C g . d T

de onde

— = C A ~ C Bd T A B

expressSo esta deduzida por Kirchoff e que se podeenunciar assim : A deriv ada do calor de reac^ao em or-

dem á temperatura é igual á diferen?a entre as capad«dades caloríficas do sistema antes e depois da reacio.Daqui tiramos a seguinte conclusSo importantíssima:

Q u a n d o o calor da reacgao íór constante, a capací-dade calorífica será constante também.

Efectivamente, a derivada de uma constante é nula.L o g o :

■| L = Ca - C b   = 0 e CA = CB

 A ntes de concluir , estudemos ainda outros pr incipios fundamentáis da termoquímica :

Quando um sis tema ev olue espontáneamente —

ensina- nos B er thelot — , a tr ans for ma do faz- se no sentido em que há maior desprendimiento de calor.

Éste principio, que se designa por «principio do

trabalho máximo*, só se aplica a sistemas muito afasta-dos do seu estado de equilibrio e apenas se verificapara reacgoes irreversíveis.

Sabemos por outro lado que. segundo a le i deKoppe, o calor molecular é igual à soma dos caloresatómicos dos componentes da molécula. É evidente que

se designa por calor molecular a quantidade de caloré à f à lé l d b á

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318 - M A G I A D O F O G O

para se lhe elevar a temperatura de um grau, isto é, acapacidade calorífica da molécula.

E eis- nos documentados prof undamente sóbre o^vulc2o de Lémery.

Brindes cu lturá is do I. I. R. S.

O I. I. R, S,, a quando da publ ic a do de «Mag iaTeatral», acedeu, a meu pedido, em oferecer aos leitores

da referida obra urna ilusSo interessantíssima, intitulada«Maravilhosa adivinhagao», que havia sido inventada,propositadamente para quem nao tivesse agilidade, pelo

distinto amador americano e meu querido amigo, dr. Jo-seph Power,

 A julg ar pelas centenas de pedidos feitos em 1940-

•41 e pelo g rande númer o de cartas recebídas a elog iara concessao, é fácil de concluir que eu proporcionei aosleitores de «Magia Teatral» um auténtico prazer. Mas sealgumas dúvidas me restassem a propósito do facto, bastada para as diluir totalmente a correspondéncia que, háuns meses a esta parte, me tem chegado as m3os.

Em setembro de 1941, a Livraria Progredior, edi

tora de «Mag ia do Fog o», env iou a várias centenas deconhecidos amadores um impress o documental, anunciando o aparecimento, para breve, desta obra de piro-mag ia. Desde entao, como afirmo, as cartas chuve ram- me

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M A G I A D O F O G O - 319

de todos os pontos do país e até de alg uns do estran-

geiro — Brasil, Franga, Espanha, etc. Nessas cartas, emque os meus leitores se mostram encantados pela entrada

no prelo de « Mag ia do Fog o», solicita- se novo brinde doI. I. R, S. e pede- se com empenho urna ilusao das maismodernas, muito espectaculosa e fácil de executar,

Pois bem. Pedí é obtive para os leitores déste livrourna invengo recentíssima, superior á do «Lengo Odin»e á própria «T intura da» , sem apar elho v isível, que fez

a gloria de Okito e constituí uma v irtuosidade aparente dos impático Fu- Manchú.

É esta (Cm- 77), inv entada por Mary Ruth e apresen-tada há dias ao I. I. R. S. pela sua gentil colega Betty

 W il l ia m :

«A distinta colega Mary R uth — escreve Betty W illiam — amadora como eu e como eu estudante de mediciña e membro do I, I. R. S., depois de mostrar

as m5os de ambos os lados completamente vasias, tomana díreita um lengo de séda vermelho, sem preparagaoalg uma, e mete- o pouco e pouco, introduzindo- o com asex tre midades dos dedos, na m3o es quer da semi- cerrada.

 A o abr ir de nov o esta mao, vé- se que o leng o vermelho

se converteu em branco, azul, etc. Mary Ruth dá-o logopara as máos dos assistentes, para que éles nao supo-

nbam que se trata da célebre invengao de Odin !«Claro que o «tour», cuja facílima execugao íará

pasmar os colegas do I. I. R. S,, está ao alcance dosmais inexperientes amadores, porque, embora seja apre-

sentado a bragos ñus, é de simplicidade notável, como

convém a raparigas com a nossa idade e a rapazes doI . I. R. S, que apreciem ilusoes marav ilhosas, que se

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320 - M A G I A D O F O G O ü

executam qeási por si mesmas, sem estados de maior

nem grandes trabalhos a vencer».

Como se compreende, o aparelho nunca é visto pelosespectadores, o que os leva a crér que o ex ecutante,operando a bracos ñus, possui, na re alidade, urna técnica

estupenda !E , no entanto, qualquer menina, de posse do enge-

nhoso instr umento metálico — fabrico admir áve l de W ils on Hamle y ’s, da A mér ic a do Norte — pode rá sera

qualquer dificuldade, após a le itura das trés fdlhas dacti-lograíadas. repletas de desenhos explicativos, que cons-tituem a comunicado, executar o magnífico «toar» enunciado por Betty William,

Essas instruyes, que acompanharao o aparelho con-versor do género «inv isív el» ser3o, a me u pedido, tradu-zidas pelo I. L R. S, e dactilografadas em portugués, demodo que todos os leitores de «Magia do Fogo» possam,logo após a r e c e pt o do instrumento, iniciar o respectivoestudo e executar a linda ilusao dentro do mais curto es-

pago de tempo.O I. I. R. S ., cu jo único objectiv o é banir do ilusio-

nis mo puro tudo quanto possa desprestigiá- lo, só ex igeque nem o autor nem o editor do livro se sirvam dobrinde que oferece para reclamo da obra. O I. I. R. S.impoe que o leitor de «Magia do Fogo» ignore, ao fazera compra, que pode obter gratuitamente, se adquirir a

obra, uma das ilusoes mais formosas da prestigiado moderna. Quere que esta inveng5o- brinde, que cons tituí

gentileza sua, seja uma coisa a mais para o leitor, masuma coisa a mais que éle nao espera e que, por issomesmo, se pode qualificar deagradável surprésa.

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M A G I A D O F O G O - 321

 A lém disso, o leitor a quem a linda ilus ao interèsse,ter á de submeter- se, ao fazer o pedido, às regras que

descrevo a seguir :1.° — Introduzir no envelope a dirigir ao I. I. R, S*

(rúa da Bandeir inha, 90- Pórto), um dos seus bilhetes devisita, onde se achem impressos o nome, profissSo emorada do leitor e se declare se jà pediu, em devidotempo, a invenQào- brinde coacedida em 1940- 41 aos lei-

tores de «Magia Teatral* ;

2.® Jantar para despesas aduaneiras, de embala*gem e de transporte do aparelho Chicago- Pòrto, duasnotas de vinte escudos e registar, para evitar extravíos,

a carta que contenha o pedido ;3.° — Todos os leitores que se dirijam ao 1.1. R. S.

e nSo observem aquelas condi^òes, nSo obterSo res>

posta alguma.*

E finalizo « Mag ia do Fogo», lazendo v otos para quetodos qnantos me léem encontre m ñas s uas pág inas as o l u t o clara e fácil dos problemas tenebrosos e difíceisque me propus resolver.

Quis que «Magia do Fogo» fòsse, corno «Magia

Teatral» foi, mais que um simples livro de ilusionismo,destinado exclusivamente a urna distraevo estéril dossentidos.

Teria conseguido o meu intento ? Os leitores o di

rao certamente, visto que já conhecem o prazer comque os recebo, quando me honrara com a sua presenta,e o carinho com que lhes respondo, quando me distin»

guern com as suas cartas,

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G R A L H A S

Sô me preocuparan! as principáis gralhas e destasapenas aquelas que podem prejudicar o conveniente

sentido do texto.

Páginas Linhas Onde se le : Deve 1er’se :

12 25.1 de pav or do pavor

22 11.a e x ige m ex igí am

32 10.a montáo um montáo

51 5.a R o s ália Castro Rosalía Castro

52 31.a Rosália Rosalía

106 25.a cento centro

181 33.» 270° 271»

144 17.a peróxido sexquióxido (3* Fe2)

152 17.a dulcíssimo dulcísono189 26.* localisando localisado

243 28.a primeiro acto último acto271 15.a da caldeira na caldeira

280 16 a Garanto- lhes Garante- lhes288 19.a um fôrça urna força

Nota importante :Pág. 85 — Fi g , 5 : Os dedos da máo es querda devem estar

{echados e apertar entre Síes o cabo do cañivete.

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324 - Í N D I C E

 A travessar as faces com um es padim . . . . . . . 91O alfange que penetra no v e n t r e ............................................. 94Eng olir urna espada sem «truc». . . . . . . . . 97

Fascinagáo de serpentes ....................... ..... ........................... 101Espetar pregos nos olhos....................................... ...................... 103Um hornera atravess ado por urna espada 104Ent ra r num forno a gr ande temperatura 110O segrédo de Martínez. ........................................................ 113

Método m o d e r n o ................................................................... 115O segrédo de S imáo, o Mago, . . . . . . . . . 11?O segrédo de Richardson. ...................................................119O segrédo de Leonetto............................................ ..... .................126

Sistema contemporáneo........................................................127

Lig as metálicas, ..............................................................131L av ar as máos com ferro em íusao . . . . . . . . 133O s c o n t e m p o r á n e o s ....................................... ..... ......................139

O segrédo de B a r n e ll o ....................................... ......................^44

Um espirito superior — um Zoista 145Os Diabos Vermelhos ........................ ............................ .......... 148

Sonata do D i a b o ................................................................... 150P rimeir o a c t o  ........................................................................ 153

Se gundo a c t o .........................................................................161T erceiro acto . . ........................................................ 168

Mistérios do fogo ................................................................... 174Deita r fogo pelos olhos , ...................................................175Fazer saír relámpagos pelos dedos ....................................... 176

 A quários chamejaates . ........................................................ 180Os devoradores de f o g o ........................................................ 182

 A cender velas com a bfica ...................................................185Fósforos acesos no bolso do colete 186Devorar a chama de urna vela . ........................................188O Cigarro imater ial 189Deitar fumo e fogo pela boca ............................................. 194

 V elas acesas uo bols o interior da casaca . . . . . . 197 Acender velas com os dedos .................................................. 198Transporte misterioso da chama de urna vela......................200

 A cender cem velas com um tiro de p i s t o l a .......................202Flores entre chamas ..............................................................204

Detonacoes d i g i t a i s ........................................................ .....   205Bico de gás humano ............................................. ..... ............... 208

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 Ì N D I C E 325

Beber cena copos de viaho ................................................... 209

Estdmago- Caix a forte. . ................................................... 213

Repux o h u m a n o ..................................216Beber cem copos de p e t r ó l e o ............................................. 220

O vulcSo humano ................................................................... 223

Os devoradores de pedras e de v id r o s ..................................225Comer carvSes ardentes .............................................   227Beber petróleo em chamas . . . . . . . . . . 230Morder ferro em b r a s a ........................................................ 232

O mistério da prisao de fogo.................................. .....   234

 A calde íra i n f e r n a l ............................3  í, . . 237 XJm homem que imado vivo . . . . , k  V\ , x  í   , . 241O poder da sugestao ............................ . '^ j , . 268

Esfera ígnea............................................ . •><#v . 9 / , 256 V arinha de f o g o ..................................¿ J   , 260Garrafa escaldante. . . . . . * / .   . 264Moeda que queima....................................................... .....   . 267

 A caldeíra do s uplic io ............................................................. 270 A temperatur a das m a o s .................................   274

Uma fogneira ñas maos dos espectadores . . . . . . 276 A gua a ferver ñas maos dos assistentes . . . . . . 280(Jm prodigio de sugestao....................................... .....   282Incendio aparenie de um teatro............................................   285Maravílhas do fogo...................................................................291Desnudar uma mulher em plena rúa , .............................293Cartas misteriosas....................................................................299Hálito destruidor ................................................................... 301

 A vela m a r a v ilh o s a ..................................................   304

Pirom& ucia te atr al................................................................... 305Cigarros que desaparecem das bocas dos fumadore s . . 309Rev eíag ao í g n e a ................................................................... 310

O vulcao de L é m e r y .......................................   311Brindes culturáis do L I. R. S................................................318G r a lh a s ....................................................................................322

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Um novo livro? Nao .. . Um livro novo!

TESE M l l l i l E L

p e c r i a a m a n o v a e s c o l a

l i a p s i c o l o g í a d a i l o m

Trata-se de M a g i a T e a t r a l ,  que insere as cria^Ses mais recentes de ilusio nisino científico e nos apresenta a técnica dasubjug a-$io dos sentidos sob um aspecto verdaderamente inédito, pondopor isso mesmo ao alcance de todos ( até dos amadores mais inex-perientes, os maiores prodigios da memór ia e as mais extrardiná-rias adivinha<;óes, previsóes e transmissoes do pensame nto, A lémdisso, M a g i a T e a t r a l  publica ainda as experiéncias mais espectaculosas, como aparipoes, desaparipoes e tr an s fo r ma r es de múltiplos objectos e todos os aparentes milag re s que possam realizar- secom cartas, rooedas, lencos, fitas, cigarros, dedais, aneis, copos,vinho, água, tinta, papel, cordas, etc.

 A ssim, com a maio r facil idade e sem ne nhum estudo prév io,os leitores de M a g i a T e a t r a l  poderao aparentar uma memória de

ferro, calculando instantáneamente e de cor, por exemplo, as raíles de qualquer g ra u, incluindo as de índices primos, como asquintas, as sétimas, as undécimas, etc. Poderao igualmente e comidéntica facilidade, transmitir ou «adivinhar» os pensamentos dosespectadores e realizar verdadeiras maravilhas com uma infitndadede objectos , depois de analisa dos pelo público , e, por ten to, sempreparo especial que facilite a ilusáo.

M a g i a T e a t r a l  é um livr o que todos devem lér, porque nin-guém tem o direito de ignorar as suas fantásticas revelares, especialmente sobre as leis da memória, da apreensáo dos sentido* eda psicofisiologia moderna.

\  g r o s s o v o l . , c o m 3 2 0 p á g s . , i l u s t r a d o c o m 6 7 g r a m a s

B r o c h a d o — 1 5| C0 B e l a m e n t e e n c a d e m a d o — 2 2 8 5 0E N V I A - S E C O N T R A R E E M B O L S O

PedidosáUVRARIAPRQGREDIQR,Editora158, RUA DE PA SSOS MANUEL, 162 — PÓRT O

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Urna Aventura Imprudente A Noite D e s e e .. .0 Caminho em Declive

 A A lv or ada .É preciso casar o JoSo !Fogo Mal Ex tinto ,Um Conto Azul .

 A Div ina Cando- •

H E N R I A R D E L

(3.a edidoj(3 edi?ao)

D O S T O Í E W S K Y  Os Possessos (2 volumes) ,Crime e Castigo...........................................O s I r m ao s K ar am azo f f ..............................H u m i l h a d o s e O f e n d i d o s ........................

J . F O N T A N A D A S I L V E I R A  

Historias da Nossa Histor ia ,

0 L iv ro Marav ilhoso . . . . .0 Guarda- Livros Prático (2,“ e d id ° )0 Correspondente Comercial (2.a edido)Como Triunfar no Comércio (no prelo)Crianzas B em Fadadas . . . . .

E D U A R D O D E F A R I A

 A V olta do «De s e jado».

E D G A R W A L L A C E

Os Quatro Homens Justos — Policial .

M A R T I N S O L I V E I R A  

Os Filtros do A mor (2 volumes) ,Mag ia T eatral . . . . . . .Magia do F o g o ......................................

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