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MACROECONOMIA SEÇÃO 1 MENSURAÇÃO DA RENDA NACIONAL Definição do Produto Interno Bruto (PIB) PIB pode ser definido como o “valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país num dado período de tempo” (MANKIW, 2001: 496). Para uma melhor compreensão sobre como o PIB é formado, façamos uma análise sobre os elementos que o compõem. O PIB pode ser dividido em quatro componentes diferentes – consumo (C), investimento (I), gastos do governo (G) e exportações líquidas (EL) – como mostra a equação: Y = C + I + G + EL O consumo é a despesa das famílias com bens e serviços em geral. O único gasto das famílias que será considerado como investimento e não apenas como consumo é aquisição de moradia. Todos os demais serão classificados como consumo – almoço num restaurante, compras num supermercado, aquisição de roupas, eletrodomésticos, etc. Desta forma, quanto maior for o consumo das famílias, mais as empresas tendem a vender o que promove um estímulo à produção, o que por sua vez, eleva o nível de emprego, dando maiores condições à população para que aumentem o consumo, gerando, portanto, um ciclo virtuoso na economia, promovendo cada vez mais um aumento no crescimento econômico do país. Investimento corresponde aos gastos realizados pelas empresas, como compra de um equipamento novo, construção ou aquisição de uma nova planta, entre outros. Qualquer tipo de investimento produtivo realizado por uma empresa, implica em maior contratação de mão-de-obra, ou seja, eleva o nível de emprego e, consequentemente, aumenta o consumo, as vendas das empresas, proporcionando- lhes mais recursos financeiros para a geração de novos investimentos, aumentando, então, a taxa de crescimento do país. Aliando um nível de consumo maior a elevadas taxas de investimentos pelas empresas, a arrecadação tributária do governo tende a aumentar, pois tanto empresas quanto famílias pagam impostos. Portanto, além de estimular o crescimento econômico, elevadas taxas de consumo e de investimentos produtivos, também contribuem para a geração de recursos financeiros que alimentam uma outra variável importante na determinação do PIB, os gastos do governo. Os gastos do governo referem-se à aquisição de bens ou serviços dos governos federal, estadual ou municipal, como por exemplo, gastos com educação, saúde, com (re)pavimentação de rodovias, construção de praças, conjuntos habitacionais ... Sempre que o governo realiza qualquer tipo de investimento produtivo, como os citados acima, haverá a contratação de empresas e de mão-de- obra para sua realização, o que contribui ainda mais para a taxa de crescimento do PIB, gerando mais consumo, mais investimentos, mais arrecadação fiscal, mais gastos (produtivos) do governo, e assim sucessivamente. As exportações líquidas também são incluídas no PIB, pois embora sejam produtos vendidos no mercado externo, foram produzidos internamente, dentro das fronteiras do país. Uma determinada empresa pretende aumentar cada vez mais seu mercado, não importando se o mesmo será interno ou externo ao seu país. Quando o mercado é externo, há um aumento nas exportações que também contribuem para o crescimento da economia porque a produção dos produtos exportados ocorreu internamente, gerando emprego e renda ao país que o produziu. Por esta razão tal produção contribuirá para a taxa de crescimento econômico do país em questão. 1

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MACROECONOMIA

SEÇÃO 1

MENSURAÇÃO DA RENDA NACIONAL

Definição do Produto Interno Bruto (PIB)

PIB pode ser definido como o “valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país num dado período de tempo” (MANKIW, 2001: 496). Para uma melhor compreensão sobre como o PIB é formado, façamos uma análise sobre os elementos que o compõem. O PIB pode ser dividido em quatro componentes diferentes – consumo (C), investimento (I), gastos do governo (G) e exportações líquidas (EL) – como mostra a equação:

Y = C + I + G + EL

O consumo é a despesa das famílias com bens e serviços em geral. O único gasto das famílias que será considerado como investimento e não apenas como consumo é aquisição de moradia. Todos os demais serão classificados como consumo – almoço num restaurante, compras num supermercado, aquisição de roupas, eletrodomésticos, etc. Desta forma, quanto maior for o consumo das famílias, mais as empresas tendem a vender o que promove um estímulo à produção, o que por sua vez, eleva o nível de emprego, dando maiores condições à população para que aumentem o consumo, gerando, portanto, um ciclo virtuoso na economia, promovendo cada vez mais um aumento no crescimento econômico do país. Investimento corresponde aos gastos realizados pelas empresas, como compra de um equipamento novo, construção ou aquisição de uma nova planta, entre outros. Qualquer tipo de investimento produtivo realizado por uma empresa, implica em maior contratação de mão-de-obra, ou seja, eleva o nível de emprego e, consequentemente, aumenta o consumo, as vendas das empresas, proporcionando-lhes mais recursos financeiros para a geração de novos investimentos, aumentando, então, a taxa de crescimento do país. Aliando um nível de consumo maior a elevadas taxas de investimentos pelas empresas, a arrecadação tributária do governo tende a aumentar, pois tanto empresas quanto famílias pagam impostos. Portanto, além de estimular o crescimento econômico, elevadas taxas de consumo e de investimentos produtivos, também contribuem para a geração de recursos financeiros que alimentam uma outra variável importante na determinação do PIB, os gastos do governo. Os gastos do governo referem-se à aquisição de bens ou serviços dos governos federal, estadual ou municipal, como por exemplo, gastos com educação, saúde, com (re)pavimentação de rodovias, construção de praças, conjuntos habitacionais ... Sempre que o governo realiza qualquer tipo de investimento produtivo, como os citados acima, haverá a contratação de empresas e de mão-de-obra para sua realização, o que contribui ainda mais para a taxa de crescimento do PIB, gerando mais consumo, mais investimentos, mais arrecadação fiscal, mais gastos (produtivos) do governo, e assim sucessivamente. As exportações líquidas também são incluídas no PIB, pois embora sejam produtos vendidos no mercado externo, foram produzidos internamente, dentro das fronteiras do país. Uma determinada empresa pretende aumentar cada vez mais seu mercado, não importando se o mesmo será interno ou externo ao seu país. Quando o mercado é externo, há um aumento nas exportações que também contribuem para o crescimento da economia porque a produção dos produtos exportados ocorreu internamente, gerando emprego e renda ao país que o produziu. Por esta razão tal produção contribuirá para a taxa de crescimento econômico do país em questão.

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PIB X PNB O PIB mensura o total de bens e serviços produzidos dentro de um determinado país, ou seja, dentro das fronteiras deste país, não sendo levado em consideração a nacionalidade da empresa que produziu tais bens. Já o PNB (Produto Nacional Bruto) é a renda total auferida pelos residentes permanentes de uma nação. Difere do PIB por incluir a renda que nossos cidadãos ganham no exterior e excluir a renda que os estrangeiros ganham em nosso país. Se um mexicano trabalha em no Brasil e remete parte de sua renda à sua família no México, sua produção faz parte do PIB brasileiro, mas do PNB mexicano. Da mesma forma, um brasileiro que trabalhe na Inglaterra, sua produção fará parte do PIB inglês, mas do PNB brasileiro.

PIB Real x PIB Nominal (Retirado de MANKIW, Introdução à Economia, Rio de Janeiro: Campus, 2001: 501)

Como já demonstrado o PIB mede a despesa / receita total em bens e serviços em todos os mercados da economia. Se a despesa total aumenta de um ano para outro, uma de duas coisas deve ser verdadeira: i) a economia está gerando uma maior produção, ou, ii) os bens e serviços estão sendo vendidos a preços mais elevados. Ao estudar variações na economia ao longo do tempo, os economistas desejam separar estes dois efeitos. Em especial, desejam medir a quantidade de bens e serviços produzidos pela economia sem a influência das variações nos preços desses bens e serviços. Para fazê-lo, os economistas usam uma medida denominada PIB Real. O PIB Real responde à seguinte indagação hipotética: qual seria o valor dos bens e serviços produzidos neste ano se eles fossem avaliados aos preços vigentes em determinados anos do passado? Ao avaliar a produção corrente utilizando os preços fixados nos níveis do passado, o PIB Real mostra como a produção de bens e serviços da economia, como um todo, muda ao longo do tempo. De um modo geral, podemos dizer que o PIB Nominal será influenciado por variações ocorridas nos preços dos bens e serviços produzidos numa dada economia. Já o PIB Real, por considerar os preços constantes (o mesmo preço do ano base para todos os demais) mostrará quanto a economia realmente cresceu, ou seja, produziu a mais de um ano para outro. Considerando uma situação hipotética, onde em um ano fosse produzida exatamente a mesma quantidade que no ano anterior, mas que os preços dobrassem, o PIB Nominal dobraria de um ano para outro (por sofrer influência dos preços), enquanto o PIB Real permaneceria o mesmo, pois a quantidade produzida foi a mesma nos dois anos (e não é influenciado por alterações no nível de preços).

Produtividade de um país (Retirado MANKIW, Introdução à Economia, Rio de Janeiro: Campus, 2001: 535 - 537)

Alguns países possuem um nível de desenvolvimento bem maior que o de outros, devido a aspectos históricos, culturais, entre outros. Há, entretanto, países que com praticamente o mesmo nível de desenvolvimento, cresce e se desenvolve mais rápido que outros, em função de alguns fatores que são fundamentais para a determinação da produtividade de um país. Dentre estes, estão: capital físico, capital humano, recursos naturais e conhecimento tecnológico.

Capital físico – refere-se ao estoque de capital e estrutura na produção de bens e serviços. Ou seja, inclui desde ferramentas de trabalho à estrutura física e organizacional da empresa. Quanto mais específicas e adequadas forem as ferramentas utilizadas no processo de produção, maior tende a ser a produtividade da empresa em questão e, portanto, do país como um todo.

Capital humano – está relacionado ao conhecimento e habilidades adquiridos pelos trabalhadores através do ensino, do treinamento e da experiência. O capital

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humano inclui cursos primários e secundários, faculdade, cursos de pós-graduação e treinamento no emprego para os trabalhadores.

Embora a escolaridade, o treinamento e a experiências sejam menos tangíveis que as ferramentas e as edificações, o capital humano tem algumas semelhanças com o capital físico. Como o capital físico, o capital humano também aumenta a capacidade da nação para a produção de bens e serviços. Também como o capital físico, o capital humano é um fator de produção produzido. A produção de capital humano exige insumos na forma de professores, bibliotecas e tempo de estudo.

Recursos naturais – incluem os insumos fornecidos pela natureza para a produção de bens e serviços, como a terra, os rios e as jazidas minerais. Os recursos naturais se apresentam de duas formas: os renováveis e os não renováveis. Uma floresta é um exemplo de um recurso renovável. Quando uma árvore é derrubada, pode-se plantar outra em seu lugar para ser derrubada no futuro. O petróleo é um exemplo de recurso não renovável, dado que o mesmo é produzido pela natureza ao longo de milhares de anos.

Diferenças na dotação de recursos naturais podem ser responsáveis por algumas das diferenças mundiais de padrões de vida. Alguns países do Oriente Médio, por exemplo, como o Kuwait e a Arábia Saudita, são ricos simplesmente por que estão situados sobre as maiores jazidas petrolíferas do mundo (embora não sejam países desenvolvidos). Embora os recursos naturais sejam importantes, não são essenciais para que uma economia registre alta produtividade. O Japão, por exemplo, é um dos países mais ricos do mundo, apesar dos poucos recursos naturais de que dispõe. O comércio internacional torna possível o sucesso do Japão. O país importa muitos dos recursos naturais de que necessita, como petróleo, e exporta bens industrializados com alto conteúdo tecnológico para as demais economias.

Conhecimento tecnológico – refere-se à compreensão das melhores formas de produzir bens e serviços. Quanto maior o conhecimento tecnológico de um determinado país, maior tende a ser sua produtividade, uma vez que, tecnologia se traduz em maior rapidez e menores erros no processo produtivo. Ou seja, com tecnologia é possível produzir maior quantidade com melhor qualidade, o que eleva o nível de desenvolvimento de todo o país.

Efeito Alcance (Baseado em MANKIW, Introdução à Economia, Rio de Janeiro: Campus, 2001: 541)

O chamado efeito alcance está relacionado à propriedade pela qual países que partem de um patamar de desenvolvimento baixo crescem mais rápido que países que partem de patamar de desenvolvimento alto. Isto se deve ao fato de que é mais difícil aumentar / melhorar o desenvolvimento existente em um país que é especializado na produção de produtos que envolvam alta tecnologia do que naqueles que possuem sua produção baseada em produtos agrícolas ou de baixo conteúdo tecnológico. Neste caso, um pequeno avanço tecnológico pode representar um passo rumo ao desenvolvimento econômico, o que não se verifica para os países que já possuem um grande conhecimento em tecnologia. O efeito alcance aparece em outros aspectos da vida. Quando uma escola na premiação de final de ano chama o aluno que obteve o “maior progresso”, este é um aluno que começou o ano com um desempenho relativamente fraco. Alunos que iniciam o ano escolar sem estudar muito, conseguem aumentar sua média com mais facilidade que alunos que iniciam o ano já com notas elevadas. Note que é bom ser o aluno que obteve o “maior progresso”, mas é ainda melhor ser o “melhor aluno”. Da mesma forma, é bom para um país apresentar o melhor crescimento econômico, mas seria ainda melhor se o mesmo servisse de referência de desenvolvimento aos demais (tanto aos países em desenvolvimento quanto aos desenvolvidos).

Poupança e Investimento

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No início do desenvolvimento do pensamento econômico defendia-se a idéia de que o nível de investimento de um determinado país dependerá do nível de poupança existente no mesmo. Ou seja, o financiamento ao investimento será feito através da poupança pré-existente dentro desta economia. A poupança será, portanto, a fonte de recursos utilizados pelo sistema bancário para a geração de empréstimos que financiarão os investimentos realizados num determinado país. Neste sentido, quanto maior o nível de poupança existente, maior a quantidade de recursos disponíveis para emprestar, que serão utilizados como financiamento aos investimentos produtivos. É claro que o nível de poupança influencia e é utilizado como fonte de financiamento aos investimentos, embora não seja a única fonte de recursos utilizada pelos bancos. Mas ainda que o fosse, caso um país possuísse um baixo nível de poupança, teria, então poucos recursos para financiar seus investimentos, mas ainda assim, não estaria fadado a um baixo nível de crescimento e desenvolvimento econômicos, pois há outras formas, além do estímulo à poupança de obter um aumento na produtividade e, consequentemente, no desenvolvimento econômico. Vejamos alguns.

Outras formas de alavancar o crescimento econômico:

▪ Investimento externo: refere-se à atração de empresas estrangeiras para o país. Se há uma presença significativa de empresas estrangeiras numa economia, sua produtividade tenderá a aumentar, dado que estas empresas geralmente utilizam em seu processo produtivo tecnologias melhores que as utilizadas pelas empresas nacionais. E, mesmo que tal fato não ocorra, o simples fato de tais empresas estarem produzindo no país, já aumenta sua produtividade, que seria com certeza, menor, caso operasse sem a presença de empresas estrangeiras no mercado.

▪ Educação: um país que tenha um alto investimento em educação terá, consequentemente, mão-de-obra mais qualificada no mercado de trabalho, o que por sua vez, tende a aumentar a produtividade e o crescimento econômico do país em questão.

▪ Direitos de propriedade: a existência de leis claras e processos não burocráticos para registro de patentes favorece o investimento em pesquisa e a descoberta de novas tecnologias, produtos e medicamentos, o que torna, o país mais desenvolvido e competitivo tanto no mercado interno quanto no mercado externo.

▪ Livre comércio: a não existência de altas barreiras que prejudiquem o comércio com outros países torna mais fácil o acesso à tecnologias não produzidas internamente, bem como facilita o escoamento da produção para outros mercados, além do nacional. Além disso, o livre comércio beneficia a entrada de empresas estrangeiras no país, que trazem novas tecnologias e mais produtividade para o mesmo, o que aumenta seu nível de desenvolvimento.

▪ Investimento em pesquisa e desenvolvimento: um país que não investe, ou pouco investe em pesquisa tenderá a crescer num ritmo bem menor que aquele que realiza este tipo de investimento, dada a reduzida possibilidade que o mesmo terá de criar algo novo no mercado, ficando, portanto, dependente da tecnologia desenvolvida nos demais países. O investimento em pesquisa e desenvolvimento está diretamente relacionado à existência de leis que garantam o direito de propriedade (patentes), pois uma empresa não terá estímulos para investir em pesquisa se não puder usufruir dos recursos financeiros provenientes de sua descoberta.

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SEÇÃO 2

MERCADO MONETÁRIO: MOEDA E SUAS FUNÇÕES

1. MOEDA

2.1.1 Conceito e funções da moeda

Quando se fala em moeda, pensamos em algo que facilita, que serve de intermédio no processo de trocas realizadas num mercado. Neste sentido, poderia ser considerada como moeda um ativo que fosse aceito pelas partes envolvidas num processo de troca, possibilitando, portanto, a ocorrência do mesmo. Várias mercadorias já foram utilizadas como moeda desde o surgimento da humanidade – sal, gado, especiarias, metais preciosos, entre outros. Mas o conceito moderno de moeda mostra que além de intermediar as trocas, um ativo deve apresentar ainda outras duas funções para ser considerado moeda: reserva de valor e unidade de valor (ou unidade de medida).

A moeda como intermediária de trocas (meio de pagamento)

A função essencial da moeda, geralmente caracterizada como razão principal de seu aparecimento, é a de servir como intermediária das trocas. Os benefícios decorrentes da superação da fase primitiva das trocas diretas (mercadoria por mercadoria) por processos indiretos à base de instrumentos monetários são, realmente, de grande alcance. A descoberta e a aceitação generalizada de um instrumento de trocas facilita o processo de produção e distribuição, ampliando consideravelmente as possibilidades de especialização. São estes, em síntese, os benefícios resultantes dessa função: i) possibilita maior grau de especialização e divisão do trabalho. A existência da moeda é condição essencial para que a especialização seja praticada em larga escala. Na hipótese extrema de não existência da moeda, a divisão do trabalho, se existir será bastante limitada. O que reduz consideravelmente o nível de desenvolvimento econômico e social dos indivíduos como um todo. ii) redução do tempo na realização das transações. Estas tendem a ser mais demoradas quando prevalecem as trocas diretas, dada há uma dificuldade de se estabelecer um mesmo valor para mercadorias diferentes. Com a existência da moeda, tal dificuldade inexiste, dado que todos os preços serão expressos na moeda vigente. iii) as trocas não dependem da dupla coincidência de desejos entre as partes envolvidas. Nas trocas diretas, se um indivíduo que produzisse arpões desejasse adquirir redes, precisava encontrar alguém que produzisse redes e que desejasse obter arpões. Com o surgimento da moeda, basta que o indivíduo venda seus arpões no mercado (troque-os por moeda) e adquira as redes que deseja com a moeda obtida com a venda dos arpões, sem depender de que o vendedor de redes deseje adquirir seus arpões.

A moeda como medida de valor (unidade de medida)

A utilização generalizada da moeda implica a criação de uma unidade padrão de medida, à qual são convertidos os valores de todos os bens e serviços disponíveis. A existência de um denominador comum de valores é de importância primordial para a vida econômica.Em sua ausência, os valores de cada bem ou serviço seriam expressos em relação aos valores dos demais bens e serviços com os quais pudessem ser trocados. Ou seja, a função de unidade de medida desempenhada pela moeda serve como referência dos preços na economia, mostra como os mesmos são expressos nos mercados.

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A adição da moeda leva à concomitante adoção de uma unidade de conta, de uma medida de valor. Os bens e serviços transacionados passam a ter, como denominador comum, seus valores expressos em termos da unidade monetária em uso. A existência desse denominador traz vantagens para o mercado com um todo, dentre elas podemos destacar a contabilização da atividade econômica. Este fator é de fundamental importância para o desenvolvimento da economia, pois possibilita a comparação em números do crescimento obtido ao longo do tempo, bem como previsões sobre custos e benefícios futuros com a ampliação da produção.

A moeda como reserva de valor

Uma terceira função exercida pela moeda é a que decorre da particularidade de a moeda servir como reserva de valor, desde o momento em que é recebida até o instante em que é gasta por seu detentor. Esta capacidade traduz uma forma alternativa de guardar riqueza. Neste sentido essa função não é exercida exclusivamente pela moeda, existindo outras formas de ativos financeiros e não financeiros , que podem eventualmente atender à mesma finalidade. Entretanto, por 1

sua liquidez e pelos graus de incerteza quanto às possibilidades futuras de conversão das outras formas de ativo, a moeda é um reservatório por excelência de poder de compra. Afinal, enquanto a liquidez dos demais ativos é altamente variável, a moeda tem a característica de ser a liquidez por excelência. As duas principais razões que levam à preferência pela utilização da moeda como reserva de valor são, em síntese: i) a pronta e imediata aceitação da moeda. Uma vez decidida pela utilização da moeda, sua aceitação é geral, seja para convertê-la em ativos financeiros ou não. ii) a imprevisibilidade do valor futuro de outros ativos, sobretudo os não financeiros. Os ativos em geral, sofrem depreciação em seu valor ao longo do tempo. Nada garante que o valor desses ativos esteja a um nível adequado quando vierem a ser utilizados. 1. Características Essenciais da Moeda

Para o bom desempenho das funções que acabam de ser examinadas, a moeda deve cumprir uma série de características essenciais. Independente do período ou estágio de desenvolvimento dos mercados, para ser considerado moeda, um ativo deve atender a algumas características relevantes, sem as quais, as funções da moeda ficariam prejudicadas. Dentre elas, podemos destacar:

Indestrutibilidade e inalterabilidade: a moeda deve ser suficientemente durável, no sentido de que não se destrua ou deteriore, à medida que os agentes econômicos a manuseiem na intermediação das trocas. Além disso, deve ser de difícil falsificação, para impedir a desconfiança sobre o real valor da moeda que se está manuseando. Homogeneidade: duas unidades monetárias distintas, de igual valor, devem ser rigorosamente iguais, dado que a não coincidência na aparência leva à desconfiança sobre sua origem. Divisibilidade: a moeda deve possuir múltiplos e submúltiplos em quantidade e variedade, que tanto as transações de grande porte quanto as pequenas possam ser realizadas sem dificuldade. Transferibilidade: a transferência da moeda de um agente para outro deve ocorrer de modo fácil e rápido. Não há necessidade de haver registros na moeda que identifiquem seu atual ou antigo portador, o que caracteriza a facilidade de transferência da moeda de um agente para outro. Facilidade de manuseio e transporte: o manuseio e o transporte da moeda não podem prejudicar nem dificultar sua utilização. Se o porte

Ativos financeiros são considerados ações e títulos em geral; já os não financeiros se referem à 1

aquisição de bens, como por exemplo, imóveis, carros, entre outros.

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da moeda for dificultado, sua utilização certamente será pouco a pouco descartada. Custo de carregamento e armazenamento insignificantes: os custos para armazenar e transportar a moeda devem ser extremamente baixos, de modo que, nenhum agente econômico deixe de guardar ou de transportar moeda em função dos custos incorridos para tanto.

2.1.2.2 Conceito de liquidez

Antes da utilização de um único ativo como moeda, o conceito de liquidez estava associado à facilidade que uma determinada mercadoria fosse aceita em troca de outra no mercado. Desta forma, quanto mais aceitação a mercadoria tivesse, maior seria seu grau de liquidez.

Com o surgimento e utilização da moeda como facilitador das trocas, o conceito de liquidez sofreu uma alteração, estando este associado à facilidade que um ativo possui para ser transformado em moeda. Neste sentido, quanto mais fácil for vender um determinado ativo (ou seja, transforma-lo em moeda), maior liquidez, ou mais líquido será este ativo, dado que é a moeda a mercadoria que possui maior aceitação para a realização de qualquer transação comercial. Portanto, em uma economia o ativo existente de maior liquidez, é a própria moeda.

2.1.3 A DEMANDA POR MOEDA

Motivos pelos quais um agente econômico demanda moeda:

Motivo transação quantidade de moeda necessária para satisfazer o consumo cotidiano de um indivíduo. Realização de gastos como pagamento de aluguel, compras de casa, pagamento da escola dos filhos, enfim, gastos que são realizados com freqüência e com uma certa previsão sobre quando será realizado.

Motivo precaução refere-se à quantidade de moeda que um indivíduo reserva para gastos futuros imprevistos. Ou seja, diz respeito a um gasto futuro, mas sem previsão sobre quando será realizado. Um acidente carro, o surgimento de uma doença ou, quem sabe, uma boa oportunidade de investimento podem surgir a qualquer momento e, os agentes econômicos, em geral, buscam estar preparados para enfrentar (ou aproveitar) estas situações. É, portanto, um fundo reservado (poupança) para cobrir futuros gastos imprevistos ou para aproveitar boas oportunidades de investimento. Motivo especulação quando um agente econômico pretende investir no mercado financeiro (ou de capitais) o mesmo demandará uma certa quantidade de moeda para adquirir os títulos / ações em questão. Essa quantidade de moeda diz respeito à quantia necessária para atender o chamado motivo especulação. A decisão de investimento será dada analisando, basicamente, a relação risco x retorno do investimento almejado e de investimentos alternativos.

2.1.4 OFERTA DE MOEDA

A quantidade de moeda existente em circulação pode ser ofertada pelas autoridades monetárias (no caso do Brasil, o Banco Central) e pelos bancos comerciais (bancos que recebem depósitos à vista, ou seja, depósitos em conta corrente). Estes últimos não são autorizados a emitir moeda na economia, esta função é exclusiva do Banco Central. O que os bancos comerciais fazem para ofertar moeda no mercado é conhecido como criação ou multiplicação da quantidade de moeda emitida pelo Banco Central, através do chamado multiplicador bancário, que será analisado mais à frente. A emissão de novas cédulas que serão postas em circulação na economia deve ser previamente autorizada pelo Banco Central, que é a instituição responsável pela quantidade de moeda emitida, além da condução e execução de vários tipos de

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políticas econômicas, como a monetária e a cambial, que influenciam direta ou indiretamente na quantidade de moeda em circulação. Conforte dito anteriormente, a quantidade de moeda em circulação também sofre influência dos bancos comerciais, e é esta influência que será analisada a seguir, o chamado multiplicar bancário.

O Multiplicador Bancário

Bancos Comerciais – A criação de moeda

Os bancos comerciais embora não possam emitir moeda, têm a capacidade de criar ou multiplicar a quantidade de moeda em circulação, através do chamado multiplicador bancário. Tal fato é possível pela utilização de recursos de terceiros como fonte de geração de empréstimos para o mercado.

Foi observado pelos bancos que, embora os depósitos a vista (movimentação em conta corrente) seja uma conta bastante movimentada pelo público (correntistas), sempre permanecia fixa no banco uma quantia de moeda, sem ser movimentada, sobre a qual os bancos poderiam lucrar, emprestando-a ao mercado e recebendo juros sobre a mesma. É desta forma que os bancos comerciais criam moeda no mercado, ou seja, gerando recursos para além daqueles que foram emitidos pelo Banco Central (Bacen).

Veja um exemplo. Suponha um depósito de R$ 100,00 em um banco qualquer e, que o mesmo mantenha como reservas voluntárias, 10% do valor depositado e, empreste o restante (R$ 90,00) ao mercado. Este empréstimo gerado de R$ 90,00 gerará um novo depósito, sobre o qual também será mantida a taxa de reserva de 10% (R$ 9,00) e serão emprestados os R$ 81,00 restantes. Novamente, estes R$ 81,00 serão depositados em um banco, que manterá R$ 8,10 (10%) como reservas e emprestará os R$ 72,90 restantes, e assim sucessivamente. Veja o esquema abaixo:

No exemplo acima, apenas os R$ 100,00 iniciais foram emitidos pelo Bacen, os demais foram criados pelos bancos comerciais e postos em circulação, o que aumenta a quantidade de moeda existente circulando no mercado. Ou seja, de R$ 100,00 emitidos, foram criados mais R$ 243,9 (R$ 90,00 + R$ 81,00 + R$ 72,90) pelos bancos, o que resulta em R$ 343,9 em circulação. Por isso é que se diz que os bancos comerciais possuem a capacidade de criar, mas não de emitir moeda, sendo esta uma função exclusiva do Banco Central.

2.1.5 Política Monetária – Controle da Oferta de Moeda

O controle sobre a quantidade de moeda em circulação é realizado pelo Banco Central, dado que há mais moeda em circulação no mercado do que aquela emitida pelo Bacen. Seu controle é realizado para que não haja nem excesso, nem escassez

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Ativo Passivo

Reservas = R$ 10,00 Empréstimo = R$ 90,00

Depósito = R$ 100,00

Depósito = R$ 90,00Reservas = R$ 9,00 Empréstimo = R$ 81,00

Depósito = R$ 81,00Reservas = R$ 8,10 Empréstimo = R$ 72,90

Depósito = R$ 72,90Reservas = R$ 8,10 Empréstimo = R$ 72,90

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de moeda no mercado. O excesso gera aumento da inflação (dado o aumento no consumo) e a escassez leva à recessão ou à estagnação econômica. Por este motivo, há a preocupação do Bacen com a oferta monetária, havendo três instrumentos disponíveis ao Banco Central para realizar este controle: depósitos compulsórios, redesconto de liquidez e operações de open market.

Depósitos Compulsórios – são depósitos que cada banco é obrigado legalmente a manter no Banco Central em reserva bancária, sendo calculados como um percentual sobre os depósitos. Como se sabe, os bancos comerciais guardam uma parcela dos depósitos como reservas com a finalidade de atender ao movimento de caixa. Mas, em geral, os Bancos Centrais forçam os bancos comerciais a guardar reservas superiores às que seriam indicadas pela experiência e pela prudência destas instituições. Tal medida é adotada para controlar a quantidade de recursos disponíveis aos bancos comerciais, através dos quais, será gerada mais moeda em circulação. Sendo assim, no caso de uma política monetária contracionista o Banco Central (Bacen) aumenta a taxa de compulsório – de 30% para 40%, por exemplo – o que aumenta o montante de recursos depositados no Bacen e, portanto, reduz a quantidade de recursos disponíveis para os bancos emprestarem para o público, reduzindo, portanto, a quantidade de moeda em circulação. Já no caso de uma política monetária expansionista, o Bacen, reduz tal percentual, disponibilizando, então, mais recursos para circular na economia. Redesconto de liquidez – são empréstimos concedidos pelo Bacen aos bancos comerciais, voltados normalmente para atender necessidades episódicas de reservas por parte das instituições bancárias. Ou seja, refere-se a empréstimos para saldar déficits registrados pelos bancos, sendo tais empréstimos pagos no dia posterior à sua tomada, implicando, portanto, em empréstimos de um dia. Procurando reduzir a capacidade de criação de moeda pelos bancos comerciais, o Banco Central aumenta a taxa de juros cobrada na operação de redesconto (taxa de redesconto), o que implica num pagamento maior de juros ao Bacen, reduzindo, desta forma a quantidade de moeda disponível aos bancos. Entretanto, se o objetivo do Banco Central for aumentar a quantidade de moeda em circulação – política monetária expansionista – a taxa de redesconto será reduzida, o que aumentará a quantia de recursos disponíveis aos bancos comerciais (dado que pagarão menos juros), que poderão, então, aumentar os empréstimos concedidos no mercado, o que faz com que circule mais moeda na economia. Operações de mercado aberto (open market) – outro instrumento para o controle da oferta de moeda são as operações de open market. Em essência, estas operações consistem em vendas e compras de títulos públicos pelo Banco Central no mercado de capitais. Caso o mesmo almeje aumentar a quantidade de moeda em circulação, comprará títulos que estão em poder do público, retirando, portanto, haveres não monetários (títulos) de circulação no mercado e colocando haveres monetários (moeda). Já se o objetivo for retirar moeda de circulação, o Banco Central atua vendendo títulos, pois à medida que recebe moeda pela venda dos mesmos, retira moeda do mercado, e coloca (oferta) títulos – haveres não monetários.

Demais funções do Banco Central: (retirado de Assaf Neto, Mercado Financeiro, 2001:72-São Paulo. Atlas:2001)

O Banco Central é o principal poder executivo das políticas traçadas pelo Conselho Monetário Nacional e órgão fiscalizador do Sistema Financeiro Nacional. Atendendo a uma conceituação mais abrangente de sua atuação, pode-se tratar o Bacen como um fiscalizador e disciplinador do mercado financeiro, ao definir regras, limites e condutas das instituições; banco de penalidades, ao serem facultadas pela legislação a intervenção e a liquidação extrajudicial em instituições financeiras e gestor do sistema financeiro nacional, ao expedir normas e autorizações e promover o controle das instituições financeiras e de suas operações. É também considerado um executor da política monetária, ao exercer o controle dos demais meios de pagamento

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e executar o orçamento monetário e um banco do governo, na gestão da dívida pública interna e externa. Entre as principais funções e atribuições do Banco Central, são destacadas:

• Fiscalizar as instituições financeiras, aplicando, quando necessário as penalidades previstas em lei. Essas penalidades podem ir desde uma simples advertência aos administradores até a intervenção para saneamento ou liquidação extrajudicial da instituição;

• Conceder autorização às instituições financeiras, no que se refere ao funcionamento, instalação ou transferência de suas sedes, e aos pedidos de fusão ou incorporação;

• Executar a emissão do dinheiro e controlar a liquidez do mercado; • Receber depósitos compulsórios e executar política monetária; • Efetuar o controle do crédito e de capitais estrangeiros. • Executar política cambial.

Todo o controle da quantidade de moeda em circulação e da liquidez do mercado, além da política cambial, cabe ao Bacen realizar. Desde a autorização da emissão de moeda ao controle da quantidade de moeda criada pelos bancos comerciais é função do Bacen. Além disso, o mesmo ainda atua na formulação da política cambial. No Brasil, dado que o câmbio é flutuante, a intervenção do Banco Central é restrita. A análise sobre política cambial será realizada posteriormente.

2.1.6 O PAPEL DA TAXA DE JUROS

A taxa de juros tem um papel estratégico nas decisões dos mais variados agentes econômicos, como por exemplo, as empresas, as famílias e os investidores estrangeiros. Para as empresas, o nível da taxa de juros influencia diretamente sua decisão de investimentos em bens de capital (o que amplia sua capacidade produtiva): se a taxa de juros estiver elevada, isso inviabilizará muitos projetos de investimentos, dado que o financiamento realizado para a aquisição de tais bens estará mais caro; além disso, com os juros altos será mais vantajoso para os empresários aplicarem seus recursos no mercado financeiro, que lhes renderá lucros. Os consumidores (famílias), por sua vez, exercerão um maior poder de compra à medida que as taxas de juros diminuírem, dado que o crédito estará mais barato no mercado e, portanto, estimulará o consumo, principalmente aquele realizado a prazo. No Brasil, grande parte das compras realizadas são feitas no crediário e não a vista, por isso juros mais baixos implicam em prestações mais baixas, o que incentiva o consumo. O contrário ocorrerá (redução no consumo) se os juros aumentarem, pois o valor das prestações aumentará o que inibirá o consumo. Dessa forma, se o Banco Central optar por uma redução no nível de demanda, a taxa de juros tem um papel importante, pois a determinação de seu patamar acabará por influenciar o volume de consumo, notadamente de bens de consumo duráveis, por parte das famílias. Além de representar um aumento do custo de financiamento de bens de consumo, taxas de juros elevadas acarretam também uma redução no consumo porque as pessoas passam a preferir poupança a consumo, e dirigem sua renda não gasta para os bancos, com o intuito de auferir receitas financeiras. Os investidores externos compõem outro tipo de agente econômico que influencia na determinação da taxa de juros. Quanto maior for seu patamar mais atrativo será o país para os investimentos estrangeiros, dado que o lucro auferido neste país será maior que aquele referente a um outro com juros mais baixos. Países que possuem risco de investimento elevado (risco país alto) devem apresentar uma taxa de juros mais elevada para compensar seu risco de investimento. Já aqueles que possuem riscos baixos, podem oferecer juros mais baixos. Além disso, um país pode oferecer juros altos, mesmo com risco não muito elevado, se seu objetivo for aumentar suas reservas internacionais através da atração de capital externo via investimentos no mercado financeiro.

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2.2 INFLAÇÃO

2.2.1 Conceito

O conceito de inflação, diferentemente do que ocorre com a discussão de suas causas e efeitos, é pouco controvertido e facilmente assimilável. Em função de suas temíveis consequências políticas, sociais e econômicas, a inflação tornou-se um assunto tão amplamente debatido que seu conceito é, hoje, conhecido pela maior parte das pessoas instruídas. Reduzindo-o à sua mais simples expressão, dizemos que a inflação traduz-se em uma elevação do nível de preços. Entretanto, não uma elevação esporádica, mas contínua, persistente e que abranja vários, e não apenas um, grupos, categorias e classes de fatores de produção e de bens e serviços finais normalmente comercializados em uma economia. Sendo assim, apresenta-se uma definição mais completa de inflação: “inflação é um fenômeno dinâmico e de natureza monetária, caracterizado por uma elevação apreciável e persistente do nível geral de preços” (LOPES & ROSSETI, 2005:308). As fontes de inflação costumam diferir em função das condições de cada país: ▪ Tipo de estrutura de mercado (monopólio, oligopólio, concorrência): que

condiciona a capacidade dos vários setores de repassar aumentos de custos aos preços dos produtos. Quanto mais monopolizado ou oligopolizado for o mercado, maiores tenderão a ser tais repasses, dada a baixa concorrência existente neste tipo de estrutura de mercado. Já em mercados mais competitivos, os preços tendem a ser menores, assim como os reajustes de seus preços, pois com maior concorrência, as empresas temem perder mercado aos concorrentes caso os rejustes em seus preços sejam recorrentes e muito elevados.

▪ Grau de abertura da economia ao comércio exterior: quanto mais aberta for a economia à competição externa, maior a concorrência interna entre os fabricantes, e menores os preços dos produtos. Já em economias fechadas, e consequentemente, com restrições à entrada de produtos estrangeiros, a concorrência interna se torna menor, o que propicia um ambiente favorável a elevados rejustes de preços. Além da baixa concorrência com produtos importados, aqueles que ingressam no país terão custo elevado (devido às altas tarifas de importação que serão cobradas para restringir sua entrada), o que certamente será repassado aos preços internos causando, portanto, inflação mais elevada.

▪ Estrutura das organizações trabalhistas (sindicatos): quanto maior o poder de barganha dos sindicatos, maior a capacidade de dos mesmos em obter elevados reajustes salariais, o que onera os custos dos produtores e, por consequência, eleva os preços de mercado. Entretanto, sindicatos com baixo nível de organização e, consequentemente, com baixo poder de negociação, conseguirão modestos reajustes salariais, o que promove menor impacto nos custos da classe empresarial e, portanto, menor reajuste no preço final, o que contribui para que a inflação se estabeleça num patamar mais baixo.

Além destas características que podem estar presentes nos países e, naturalmente contribuírem para que a inflação se estabeleça num patamar maior ou menor, há também algumas causas da inflação. Ou seja, situações econômicas (momentâneas ou não) que fazem que a inflação se torne ainda maior. Neste sentido, serão apresentados a seguir as principais causas de inflação, como o excesso de demanda (inflação de demanda), a elevação dos custos (inflação de custos), a estrutura de mercado (inflação estruturalista) e as expectativas dos agentes econômicos sobre os preços (inflação inercial).

2.2.2 Tipos de inflação

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Inflação de demanda

A inflação de demanda refere-se ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível de bens e serviços. Ou seja, há um grande número de consumidores no mercado, de modo que a oferta de produtos existente não é suficiente para atender a todos, o que faz com que o preço de mercado se eleve. A probabilidade de ocorrer inflação de demanda aumenta quando a economia está produzindo próximo do pleno emprego de recursos. Nessa situação, aumentos da demanda agregada de bens e serviços, com a economia já em plena capacidade de produção, conduzem a elevações de preços, dado que não é possível aumentar mais a oferta de produtos (ou seu aumento é muito pequeno) para atender a demanda de mercado. Para combater um processo de inflação de demanda, a política econômica deve basear-se em instrumentos que provoquem da procura agregada por bens e serviços, como por exemplo, redução dos gastos do governo, aumento da carga tributária, arrocho salarial, controle de crédito e elevação da taxa de juros.

Inflação de custos

A inflação de custos pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta. O nível de demanda permanece o mesmo, mas os custos de certos fatores de produção importantes aumentam. Tais custos mais elevados serão repassados aos preços de mercado, o que gera inflação no mercado. As causas mais comuns de aumentos de custos de produção são: ▪ Aumentos salariais: aumentos nos salários dos funcionários oneram os

custos de produção dos produtores, que repassados aos preços de mercado, faz com que estes aumentem, gerando inflação na economia.

▪ Aumento no custo de matérias-primas: incluem custo de transporte (petróleo, fretes), energia, insumos necessários à produção, dentre outros fatores que podem ser utilizados como matéria-prima. Sempre que há um aumento no valor destes fatores, o mesmo será repassado ao preço final de mercado, gerando inflação. Percebe-se, portanto, que a inflação está diretamente relacionada ao lado da

oferta (produção) de mercado, dado que é uma elevação no custo de produção, ou seja, no custo de ofertar o produto no mercado, que faz com que seu preço se eleve.

Inflação Estrutural

Nos anos 50 e 60 pesquisadores da Comissão Econômica para América Latina (Cepal) desenvolveram uma nova teoria buscando explicar quais as causas da inflação nos países em desenvolvimento. Tal corrente ficou conhecida como estrutural, ou inflação estrutural e seus formuladores como estruturalistas. Segundo estes últimos, a inflação se apóia em fatores estruturais básicos, de raízes mais profundas que as de fatores meramente circunstanciais ou causais. Tais fatores estruturais estão relacionados a estrutura agrícola, estrutura do comércio internacional e à estrutura de mercado. ▪ Estrutura agrícola: a oferta de alimentos não responde rapidamente aos

estímulos de demanda e provoca elevações de preço. Ou seja, a produção de produtos agrícolas é demorada e, portanto, não aumenta na mesma proporção que sua demanda. Sempre que a demanda é maior que a oferta, a tendência é de que os preços aumentem, o que gerará inflação no mercado, seja nos produtos agrícolas finais, seja naqueles que utilizam os produtos agrícolas como insumos.

▪ Estrutura de mercado internacional: países que possuem déficit no Balanço de Pagamentos (ou seja, mais saiu do que ingressou capital externo no país), podem atrair mais capital externo através do estímulo às exportações através da promoção de uma desvalorização cambial. Esta, ao estimular as

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exportações, tornando-as mais baratas, encarece as importações e, por conseguinte, os custos daqueles que necessitam de insumos importados, sendo tais aumentos de custos repassados aos preços finais de mercado.

▪ Estrutura de mercado: quanto mais monopolizado ou oligopolizado por um determinado mercado, maiores tendem a ser os preços, dado o poder de mercado que tais produtores têm para a formação e determinação de preço. Ou seja, em um monopólio, um mercado composto por um único produtor, o preço será determinado atendendo a seus objetivos de lucro. Em mercados com poucos produtores (oligopólio), os mesmos entram em conluio e estabelecem juntos o mesmo preço de mercado. Em ambos os casos o preço final será maior do que se existisse concorrência nestes mercados. Já em mercados com estrutura concorrencial, os preços tendem a ser mais baixos, dado que a concorrência e a busca por novos consumidores fazem com que os produtores mantenham seus preços mais baixos. Portanto, em mercados com estrutura de monopólio ou oligopólio, a inflação será mais alta; em mercados com estrutura competitiva, a inflação será mais baixa. Segundo esta corrente, o combate à inflação deve ocorrer principalmente por

meio de reformas estruturais, como por exemplo, pelo controle de preços de setores oligopolizados, reforma agrária e controle das contas externas.

2.2.3 EFEITOS PROVOCADOS POR TAXAS ELEVADAS DE INFLAÇÃO

Poderíamos ser levados a pensar que se todos os preços (salários, taxas públicas, impostos, aluguéis, preços de bens e serviços) se elevassem na mesma proporção, ninguém perderia; ocorreria apenas uma elevação no nível geral de preços, mas não se alteraria os preços relativos. Isso, entretanto, não é o que ocorre num processo inflacionário intenso, em que o aumento de preços difere entre os vários bens e serviços, e, assim, alguns segmentos são mais onerados que outros. Os efeitos mais perversos do processo inflacionário ocorrem no perfil da distribuição de renda, no balanço e pagamentos, nas finanças públicas e na formação de expectativas. Uma das distorções mais sérias provocadas pela inflação diz respeito à redução relativa do poder aquisitivo das classes que dependem de rendimentos fixos, com prazos legais de reajustes. Nesse caso estão os assalariados, que com o passar do tempo, vão ficando com seus orçamentos cada vez mais reduzidos, até a chegada de um novo reajuste. Os comerciantes, os industriais e o próprio governo têm condições de repassar os aumentos de custos provocados pela inflação, garantindo, assim, a manutenção de sua parcela no produto final. Ademais, dentro da categoria assalariada, os que mais sofrem são as famílias de baixo nível de renda. Como todo o salário que recebem destina-se a sua subsistência, elas não têm meios de aplicar seu dinheiro de forma a se defender da inflação. A distorção provocada por altas taxas de inflação afeta também o Balanço de Pagamentos. Elevadas taxas de inflação, em níveis superiores ao aumento de preços internacionais, encarecem o produto nacional relativamente ao produzido externamente, diminuindo a competitividade de nossos produtos. Assim, devem provocar um estímulo às importações e um desestímulo às exportações, diminuindo o saldo da balança comercial. Se o saldo comercial torna-se deficitário e o país já apresentar um saldo em conta corrente negativo, aumenta sua dependência em relação aos empréstimos externos. Pode ocorrer ainda que, nessas condições, as autoridades, na tentativa de recuperar o saldo comercial, normalmente lancem mão de desvalorizações cambiais, as quais, tornando a moeda nacional mais barata relativamente à moeda estrangeira, podem estimular as exportações, ao mesmo tempo que encarece e, por conseqüência, desestimula nossas importações. Entretanto, as importações essenciais, das quais o país não pode prescindir (como petróleo, fertilizantes, equipamentos sem similar nacional) tornam-se inevitavelmente mais caras, pressionando para cima os custos de produção. Fecha-se um verdadeiro ciclo vicioso,

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com nova elevação de preços provocada pelo repasse do aumento dos custos aos preços dos produtos finais. Outra distorção provocada por altas taxas de inflação dá-se sobre as contas públicas. Segundo o chamado efeito Oliveira-Tanzi, a inflação tende a corroer o valor da arrecadação fiscal do governo, pela defasagem existente entre o fato gerador e o recolhimento (pagamento) efetivo do imposto. Ou seja, a diferença de tempo existente entre o momento em que o imposto é calculado e cobrado, até o momento em que é efetivamente pago e recebido pelo governo, faz com que este último saia prejudicado, pois no momento do cálculo do imposto o valor da moeda (do dinheiro) era maior que no momento de seu pagamento (isto considerando períodos de elevadas taxas de inflação). Finalmente, deve ser destacado o efeito que altas taxas de inflação provocam sobre as expectativas da coletividade, ou seja, quanto ao futuro quadro econômico. Particularmente, o setor empresarial é bastante sensível à influência da inflação no que diz respeito às expectativas sobre o futuro, dada a instabilidade e a imprevisibilidade de seus lucros. O empresário permanecerá em compasso de espera, enquanto a situação perdurar, e dificilmente tomará iniciativas no sentido de aumentar seus investimentos na expansão da capacidade produtiva, o que acabará prejudicando o nível de emprego da economia.

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SEÇÃO 3

MERCADO CAMBIAL O mercado cambial é o segmento financeiro em que ocorrem operações de compras e vendas de moedas internacionais conversíveis, ou seja, em que se verificam conversões de moeda nacional em estrangeiras e vice-versa. Neste mercado, a demanda por moeda estrangeira seta refletida nos importadores, investidores residentes que aplicam seu capital no mercado externo, devedores que desejam amortizar seus compromissos com credores estrangeiros, empresas multinacionais que necessitam remeter dividendos etc. no grupo dos ofertantes de moedas estrangeiras, incluem-se exportadores, investidores internacionais que aplicam seu capital no país, entre outros.

No mercado cambial o valor das moedas envolvidas em determinada transação será determinado pela taxa de câmbio (que será indicada pela letra e). A taxa de câmbio é a medida pela qual a moeda de um país qualquer pode ser convertida na moeda de outro país, ou seja, é o preço da moeda nacional em relação à moeda estrangeira. No Brasil é o preço do real em relação ao dólar, isto é, indica quantos reais são necessários para a aquisição de um dólar.

A taxa de câmbio de um país pode oscilar, mantendo-se valorizada ou desvalorizada no mercado. Se o câmbio estiver valorizado, significa que houve uma redução na taxa de câmbio, indicando que serão necessárias menos unidades monetárias da moeda nacional para adquirir uma unidade monetária. Vejamos um exemplo. Imagine que a taxa de câmbio no Brasil caia de R$ 2,50 para R$ 2,00. Isto significa dizer que antes (quando e = R$ 2,50) eram necessários R$ 2,50 para comprar um dólar; com a queda da taxa de câmbio (e = R$ 2,00) serão necessários apenas R$ 2,00 para adquirir um dólar. Ou seja, diz-se que houve uma valorização cambial porque a moeda nacional se valorizou em relação à moeda estrangeira, sendo preciso gastar menos reais para adquirir a mesma unidade de dólar.

Já numa desvalorização cambial, a moeda nacional perde valor em relação à moeda estrangeira. Neste caso, serão necessárias mais unidades monetárias da moeda nacional para adquirir apenas unidade da moeda estrangeira, o que será indicado por uma elevação da taxa de câmbio. Suponha, então que o câmbio suba de R$ 2,50 para R$ 3,00. Com a primeira taxa de câmbio (e = R$ 2,50) serão necessários R$ 2,50 para adquirir um dólar; com a segunda (e = R$ 3,00), serão necessários R$ 3,00 para adquirir o mesmo dólar. Ou seja, uma elevação da taxa de câmbio (de R$ 2,50 para R$ 3,00) mostra que a moeda nacional (real) está desvalorizada em relação à moeda estrangeira (dólar), dado que será preciso gastar mais unidades da moeda nacional para adquirir uma unidade da moeda externa, o que torna claro a redução em seu poder de compra.

3.1 Regimes Cambiais

Há dois tipos de regimes cambiais – o fixo e o flutuante. No primeiro, a determinação do valor da taxa de câmbio será dada pelo Banco Central e, a atuação do mesmo no mercado será bastante ativa, dado que é o Bacen o responsável pela manutenção da taxa de câmbio no patamar desejado. Já no segundo, sua atuação é bastante reduzida, pois o valor da taxa de câmbio será determinado pelo mercado.

No regime de câmbio fixo, uma vez fixado o valor da moeda nacional em relação à internacional (dólar), o Bacen manterá uma política ativa a fim de manter o valor da taxa cambial estipulado. Vamos supor que este valor seja de R$ 1,90 – U$ 1,00, ou seja, serão necessário um real e noventa centavos para adquirir um dólar. Neste sentido, se aumentar a demanda por dólares no mercado - o que pressiona seu preço para cima, por exemplo, para R$ 2,00 - o Banco intervirá no mercado vendendo (ofertando) dólares para manter seu preço constante, pois dado que a demanda por dólares era maior que sua oferta no mercado, quando o Banco Central aumenta a

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oferta, iguala novamente a oferta com a demanda, o que faz com que seu preço se mantenha constante (R$ 1,90). Já se a oferta de dólares aumentar muito – o que provocará uma redução em seu valor, para por exemplo, R$ 1,80 – o Bacen comprará (demandará) dólares no mercado, promovendo uma elevação no preço do dólar, mantendo, portanto, seu valor fixo em relação à moeda nacional. Ou seja, se por um lado, o mercado promoveu uma queda na taxa de câmbio (devido ao aumento da oferta de dólares no mercado), por outro, o Bacen promoveu um aumento da mesma (aumentando a demanda por dólares), o que mantém constante o valor da moeda internacional em relação à moeda nacional. Já no regime de câmbio flutuante, o Bacen pouco intervém no mercado, dado que o valor do câmbio será determinado pela interação entre a oferta e a demanda de dólares. Neste sentido, se houver um aumento na demanda por dólares, seu valor aumentará, o que será representado por um aumento da taxa de câmbio. Ou seja, ocorrerá uma desvalorização cambial, pois o dólar estará mais caro, o que significa que serão necessários mais reais para adquirir uma unidade de dólar, indicando o baixo poder de compra da moeda nacional. Neste caso, o Bacen não intervém no mercado, o câmbio flutua de acordo com a oferta e a demanda por dólares no mesmo. Já se ocorrer o contrário, ou seja, um aumento na oferta de dólares o mesmo se tornará mais barato no mercado. Neste caso, ocorrerá uma valorização cambial, pois se o preço do dólar está menor, significa que serão necessários menos reais para a aquisição de um dólar. Mais uma vez, o Banco Central não intervirá no mercado, deixando o câmbio flutuar de acordo com as variações ocorridas na oferta e na demanda por dólares no mercado.

3.2 Alterações na taxa de câmbio Valorização e Desvalorização Cambial e o Impacto sobre a Balança

Comercial – importações e exportações

O comportamento da taxa de câmbio influenciará diretamente no saldo da balança comercial. Dado que a taxa de câmbio mostra qual o valor da moeda nacional em relação à moeda estrangeira - ou seja, qual seu poder de compra no mercado internacional – se moeda nacional estiver desvalorizada, com baixo poder de compra no mercado externo, as compras externas (importações) se tornarão mais caras, o que desestimulará, portanto, as importações. Em contrapartida, as vendas externas (exportações) serão estimuladas, dado que a moeda estrangeira terá um alto poder de compra no mercado, o que torna os produtos nacionais relativamente mais baratos no mercado internacional. Vejamos um exemplo:

Com a primeira taxa de câmbio (e1) será necessário um real para adquirir um dólar. Já com a segunda serão necessários dois reais para adquirir o mesmo dólar, ou seja, houve uma redução no poder de compra da moeda nacional, o que é chamado de desvalorização cambial. Analisando o lado das exportações, dado que a moeda estrangeira vale mais que a nacional, seu poder de compra em relação à moeda nacional aumenta, o que torna os preços internos, então, relativamente mais baixos,

Taxa de câmbio Exportação Mercadoria com valor de R

$ 100,00

Importação Mercadoria com valor de

U$ 100,00

e1 R$ 1,00 – U$ 1,00 Seriam gastos U$ 100,00 Seriam gastos R$ 100,00

e2 R$ 2,00 – U$ 1,00 Seriam gastos U$ 50,00 Seriam gastos R$ 200,00

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dado que com a primeira taxa de câmbio seriam gastos U$ 100,0 para adquirir uma mercadoria que custasse R$ 100,00, já com a segunda seriam gastos apenas U$ 50,00 para a aquisição da mesma mercadoria de R$ 100,00. Por outro lado, as importações ficariam mais caras, pois com a primeira taxa de câmbio seriam gastos R$ 100,00 para adquirir uma mercadoria que custasse U$ 100,00, já com a segunda taxa, a mesma mercadoria custaria R$ 200,00. Tal fato torna clara a redução no poder de compra da moeda nacional (por isso diz-se que a mesma está desvalorizada), pois os R$ 100,00 gastos inicialmente para adquirir uma mercadoria que custava U$ 100,00 não seriam mais suficientes para adquiri-la. Com a nova taxa de câmbio seria preciso o dobro da quantidade de moeda nacional (R$ 200,00) para adquirir tal mercadoria com valor de U$ 100,00. Qualquer aumento na taxa de câmbio será caracterizado como uma desvalorização cambial, pois o poder de compra da moeda nacional em relação à moeda estrangeira ficará mais baixo. Sendo assim, se taxa de câmbio passar de R$ 1,50 para R$ 1,80; ou de R$ 2,00 para R$ 2,3; ou de R$ 2,50 para R$ 2,90; sempre caracterizará uma desvalorização cambial.

e1 R$ 1,50 – U$ 1,00: significa que são necessários um real e cinqüenta centavos para a aquisição de um dólar.

e2 R$ 1,80 – U$ 1,00: significa que são necessários um real e oitenta centavos para a aquisição de um dólar.

Ou seja, houve uma redução no poder de compra da moeda nacional – são gastos mais reais para a aquisição de um dólar (desvalorização cambial).

e1 R$ 2,00 – U$ 1,00: significa que são necessários dois reais para a aquisição de um dólar.

e2 R$ 2,30 – U$ 1,00: significa que são necessários dois reais e trinta centavos para a aquisição de um dólar.

Ou seja, houve uma redução no poder de compra da moeda nacional – são gastos mais reais para a aquisição de um dólar (desvalorização cambial).

e1 R$ 2,50 – U$ 1,00: significa que são necessários dois reais e cinqüenta centavos para a aquisição de um dólar.

e2 R$ 2,90– U$ 1,00: significa que são necessários dois reais e noventa centavos para a aquisição de um dólar.

Ou seja, houve uma redução no poder de compra da moeda nacional – são gastos mais reais para a aquisição de um dólar (desvalorização cambial).

Todas as situações acima registraram aumento na taxa de câmbio, o que caracteriza situações de desvalorização cambial, dado que em todos os casos, é cada vez maior a quantidade de reais necessária para a aquisição de um dólar.

Entretanto, caso haja uma valorização cambial, significa dizer que a moeda nacional tem seu poder de compra elevado no mercado internacional, o que tornarão as compras externas relativamente mais baratas, estimulando, portanto, as importações e, desestimulando as exportações, dado a redução no poder de compra da moeda externa no mercado nacional. Vejamos um exemplo:

Taxa de câmbio Exportação Mercadoria com valor de R

$ 100,00

Importação Mercadoria com valor de

U$ 100,00

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Neste caso, as importações ficaram menos onerosas e as exportações mais caras. Analisando primeiro as importações, nota-se que houve uma redução no custo de aquisição das mercadorias no mercado externo. Inicialmente, com a primeira taxa de câmbio eram gastos R$ 100,00 para que fosse adquirida uma mercadoria que custasse U$ 100,00. Já com a segunda taxa, os gastos foram reduzidos para R$ 80,00. Fica claro, então, que com a redução no valor da taxa de câmbio (de R$ 1,00 para R$ 0,80), há um aumento no poder de compra da moeda nacional no mercado internacional, ou seja, a mesma se valoriza em relação a moeda estrangeira, reduzindo, portanto, os gastos realizados com a compra de mercadorias no mercado externo. Já as exportações são prejudicadas, pois dado que a taxa de câmbio mostra a relação existente entre a moeda nacional e a moeda estrangeira, se a moeda nacional teve seu valor aumentado, significa dizer que o poder de compra da moeda estrangeira foi reduzido, o que torna os preços internos relativamente mais altos no mercado externo. Tal fato pode ser verificado no exemplo acima, onde, com a primeira taxa de câmbio seriam gastos U$ 100,00 para a aquisição de uma mercadoria que custasse R$ 100,00, já com a segunda taxa, os gastos seriam elevados para U$ 125,00 para adquirir a mesma mercadoria com valor de R$ 100,00. Ou seja, quando há valorização cambial, a venda de bens nacionais no mercado externo (exportações) se torna mais cara, dado que a moeda estrangeira perde valor em relação à nacional. Qualquer redução na taxa de câmbio será caracterizado como uma valorização cambial, pois haverá um aumento no poder de compra da moeda nacional em relação à moeda estrangeira. Sendo assim, se taxa de câmbio passar de R$ 2,50 para R$ 2,20; ou de R$ 2,00 para R$ 1,75; ou de R$ 1,50 para R$ 1,20; sempre caracterizará uma valorização cambial.

e1 R$ 2,50 – U$ 1,00: significa que são necessários dois reais e cinqüenta centavos para a aquisição de um dólar.

e2 R$ 2,20 – U$ 1,00: significa que são necessários dois reais e vinte centavos para a aquisição de um dólar.

Ou seja, houve um aumento no poder de compra da moeda nacional – são gastos menos reais para a aquisição de um dólar (valorização cambial).

e1 R$ 2,00 – U$ 1,00: significa que são necessários dois reais para a aquisição de um dólar.

e2 R$ 1,75 – U$ 1,00: significa que são necessários um real e setenta e cinco centavos para a aquisição de um dólar.

Ou seja, houve um aumento no poder de compra da moeda nacional – são gastos menos reais para a aquisição de um dólar (valorização cambial).

e1 R$ 1,50 – U$ 1,00: significa que são necessários um real e cinqüenta centavos para a aquisição de um dólar.

e2 R$ 1,20 – U$ 1,00: significa que são necessários um real e vinte centavos para a aquisição de um dólar.

Ou seja, houve uma redução no poder de compra da moeda nacional - são gastos menos reais para a aquisição de um dólar (valorização cambial).

Todas as situações acima registraram redução na taxa de câmbio, o que caracteriza situações de valorização cambial, dado que em todos os casos, é cada vez menor a quantidade de reais necessária para a aquisição de um dólar.

e1 R$ 1,00 – U$ 1,00 Seriam gastos U$ 100,00 Seriam gastos R$ 100,00

e2 R$ 0,8 – U$ 1,00 Seriam gastos U$ 125,00 Seriam gastos R$ 80,00

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3.3 Balanço de Pagamentos

Estrutura do Balanço de Pagamentos – principais contas

Estrutura do BP

1. Transações Correntes

1.1. Balança Comercial - Exportações - Importações

1.2. Serviços - viagens - transportes - seguros

- serviços governamentais - aluguéis de equipamentos - royalties

1.3. Rendas

- Salários e ordenados - Rendas de Investimentos (lucros, juros e dividendos)

1.4. Transferências Unilaterais - Donativos - Manutenção de residentes no país

2. Conta Capital 3. Conta Financeira

3.1. Investimento Direto 3.2. Investimentos em Carteira 3.3. Outros investimentos

4. Erros e Omissões 5. Saldo do BP

Balança Comercial A Balança Comercial registra as transações de compra (importação) e venda

(exportação) de produtos tangíveis ou bens. ▪ Registro FOB (free on board): As exportações de bens são geralmente

contabilizadas por seu valor de mercado no local de embarque (portos, aeroportos), excluindo as despesas de seguros (prêmios, corretagem) e de transporte ao país de destino (fretes, taxas portuárias)

▪ Registro CIF (cost, insurance, freight): Se as exportações são contabilizadas com inclusão das despesas de seguros e transporte, esse registro é dito CIF (cost, insurance, freight). Em consequência, essas despesas não se registram novamente na Balança de Serviços.

O saldo da Balança Comercial é a diferença entre a exportação e a importação de bens:

BC = Xb – Mb

Onde: BC = Saldo da Balança Comercial

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Xb = Exportação de bens Mb = Importação de bens

Balança de Serviços A Balança de Serviços registra as transações internacionais com intangíveis ou

invisíveis. A balança de serviços é dividida em duas partes como detalhado abaixo: Serviços de fatores: inclui os pagamentos efetuados e recebidos relacionados com fatores de produção, como por exemplo, lucros, salários, juros e dividendos. Serviços de não fatores: inclui os pagamentos efetuados e recebidos de fretes e seguros de produtos importados, royalties, gastos com viagens internacionais, etc.

Balança de rendas ▪ Salários e ordenados: pagamentos (despesas) a empregados não-

residentes que prestam serviços no país e recebimentos (receitas) de empregados residentes que prestam serviços no resto do mundo.

▪ Renda de investimentos: remessas (despesas) de rendas de capitais estrangeiros e recebimentos (receitas) auferidas por capitais nacionais no resto do mundo. Subdivide-se em: Renda de Investimento Direto; Renda de Investimento em Carteira; Renda de Outros Investimentos.

Renda de investimento direto - Registra os pagamentos (despesas) e os recebimentos (receitas) com lucros e dividendos de investimentos diretos (participações no capital de empresas) e com juros de empréstimos intercompanhias (empréstimos diretos e títulos de qualquer prazo).

Renda de investimento em carteira - Registra os pagamentos (despesas) e os recebimentos (receitas) com lucros e dividendos de investimentos em carteira (por exemplo, ações) e com juros de títulos de renda fixa de emissão doméstica e de emissão no exterior.

Renda de outros investimentos - Registra os pagamentos (despesas) e os recebimentos (receitas) com juros, por exemplo, de créditos comerciais (de fornecedores).

Transferências Unilaterais Registra as transações internacionais que não envolvem obrigações como

contrapartida. Destacam-se: recursos destinados a reparações de guerra, transferências de legados e heranças, doações particulares e governamentais em bens ou dinheiro, pagamentos de pensões a cidadãos nacionais residindo no exterior, ajudas de indivíduos, de entidades filantrópicas e de governos a populações afetadas por calamidades naturais (ajuda humanitária), e remessas enviadas por migrantes que trabalham no exterior.

Saldo em Transações Correntes - O Balanço de Pagamentos em Transações Correntes corresponde aos registros da Balança Comercial, da Balança de Serviços, da Balança de Rendas e das Transferências Unilaterais Correntes. Assim:

TC = BC + BS + BR + TUC

TC = Saldo do BP em Transações Correntes BC = Saldo da Balança Comercial BS = Saldo da Balança de Serviços BR = Saldo da Balança de Rendas TUC = Saldo de Transferências Unilaterais Correntes

Conta Capital e Financeira Registra transações envolvendo a transferência de ativos e de exigibilidades

(passivos). Ativos representam direitos sobre não-residentes. Exigibilidades representam “endividamento” ou obrigações para com não-residentes.

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Conta capital – Contabiliza a aquisição ou venda de ativos não-financeiros e não-produzidos: cobre basicamente transações com ativos intangíveis (como concessão de marcas e patentes).

Conta financeira. o Investimento direto - Reflete um interesse duradouro de um

residente de uma economia (investidor direto) em uma entidade residente em outra economia (empresa de investimento direto). Em geral, registram-se nesta conta as transações entre a matriz (investidor direto) e as afiliadas (empresa de investimento direto) de empresas transnacionais. Assume três modalidades: participação no capital de empresas; reinvestimento de lucros; empréstimos intercompanhias.

o Os investimentos em carteira referem-se às transações com títulos de crédito que ocorrem comumente em mercados secundários. Os principais ativos negociados são títulos públicos.

o Outros investimentos – engloba créditos comerciais de curto e longo prazo, empréstimos bancários em geral (inclusive amortização) e operações de regularização (inclusive o uso de créditos no FMI)

Conta Financeira e fluxo de moeda Ingresso de moeda (registro + no BP):

o Venda de ativo por residente o Criação de passivo por residente

Saída de moeda (registro – no BP): o Aquisição de ativo por residente o Redução de passivo por residente

Sendo registros de ingresso de moeda maiores que os de saída, implicarão em saldos positivos na conta financeira. Já se o ingresso for inferior às saídas, a conta financeira registrará déficit.

Comparação: Conta Financeira x Balança de Rendas

Erros e omissões Na prática, a soma no balanço de pagamentos de todos os lançamentos da

coluna esquerda e da coluna direita não coincidem. Isso se deve às imperfeições e aos erros da coleta de dados. Para tornar as duas somas exatamente iguais, existe uma conta adicional denominada erros e omissões, que faz o saldo do balanço de pagamentos ser nulo.

Sendo assim, a conta de ajuste “erros e omissões” não pertence a nenhuma das contas anteriormente apresentadas (transações correntes, conta capital e conta financeira), é um mero ajuste contábil de diferença entre o total das receitas e o total dos pagamentos. Em outras palavras, esta é a conta que “fecha” o balanço de pagamentos, refletindo o valor das operações que deixaram de ser registradas por inúmeras razões e que, se tivessem sido, teriam permitido que a soma de todos os saldos fosse igual a zero. Logo, a soma dos saldos deverá ser:

Saldo das transações correntes + saldo da conta capital + saldo da conta financeira + erros e omissões = 0

Conta Financeira Balança de rendas

Investimento Direto Renda de Investimento Direto

Investimentos em Carteira Renda de Investimento em Carteira

Outros Investimentos Renda de Outros Investimentos

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O saldo final do balanço de pagamentos será determinado pelo somatório de todas as suas contas, podendo o mesmo registrar saldo equilibrado, superavitário ou deficitário. Se o saldo do BP for superavitário, o país registrará um aumento de suas reservas internacionais; se for zero, não haverá nem aumento nem redução das reservas, indicando que não houve excesso nem de entrada nem de saída de capital externo. Mas se saldo do BP for deficitário, ou o país terá uma redução em suas reservas para cobrir tal déficit, ou terá que realizar um empréstimo no mercado externo – operações compensatórias – para zerar o saldo do BP.

Como reverter recorrentes déficits no BP

Se o saldo do Balanço de Pagamentos se tornar recorrentemente deficitário há três correntes que defendem diferentes “saídas” para o país conseguir reduzir tal déficit ou, revertê-lo em superávit: i) geração de um superávit na conta capital, ii) geração de um superávit comercial. Geração de superávit na conta capital: o superávit na conta capital é conseguido através da elevação da taxa de juros interna, o que torna o país mais atrativo ao capital externo. Desta forma, ingressa uma quantidade significativa de moeda estrangeira no país através de investimento externo via portfolio (investimento em títulos nacionais), contribuindo, então, para a redução do déficit do BP. O investimento estrangeiro direto também pode ser utilizado para geração de superávit na conta capital, embora ta instrumento leve mais tempo para surtir os efeitos desejados no saldo do BP, por envolver investimentos de longo prazo. Neste caso, a atração de divisas ocorre aumentando a atratividade do país através de incentivos fiscais, por exemplo, o que favorece a vinda de empresas estrangeiras para o país. O aumento no ingresso de investimento direto externo no país aumenta a entrada de recursos externos no mesmo, o que contribui para reduzir o déficit no BP.

Geração de um superávit comercial: ocorre através do incentivo às exportações, pois quanto maiores se tornarem as vendas externas de um país, maior será seu superávit comercial, o que representará entrada de divisas, contribuindo, então, para a redução no déficit no BP. O incentivo pode ocorrer basicamente de três formas – drawback, crédito fiscal e crédito subsidiado – que serão expostos mais detalhadamente a seguir.

Incentivo às Exportações: representam medidas objetivando estímulos às nossas vendas ao exterior. Merecem destaque o drawback, o crédito subsidiado e o crédito fiscal, além da prática das minidesvalorizações cambiais.

• O drawback compreende as operações de importação de produtos a serrem transformados e exportados. Os produtos estrangeiros, destinados à produção desses bens a serem exportados, são isentos do imposto de importação sobre os itens considerados necessários à elaboração dos bens transformados.

• O crédito subsidiado representa um financiamento à produção de produtos que serão exportados a taxas de juros menores que as vigentes no mercado. Com pagamento de juros menores, as empresas nacionais terão redução em seus custos de produção, podendo, portanto, ofertar seus produtos com preços mais baixos, o que aumenta sua competitividade no mercado externo, aumentando, então, as exportações, que é objetivo de tal política.

• O crédito fiscal representa um subsídio, traduzido na isenção do IPI e do ICMS sobre os produtos destinados à exportação. Da mesma forma que o crédito subsidiado, o crédito fiscal reduz o custo de produção das empresas nacionais, uma vez que há a redução ou isenção de impostos incidentes sobre a produção destinada à exportação. Tal fato eleva a competitividade dos produtos nacionais no mercado externo, o que

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aumenta as exportações, promovendo um superávit comercial, que contribui para redução do déficit no BP.

Todas estas políticas não são mutuamente exclusivas, pelo contrário, geralmente, para que se obtenha sucesso na reversão do déficit do BP, devem ser adotadas em conjunto, pois quanto maior a promoção da entrada de capital no país – seja via balança comercial ou via investimentos estrangeiros – maior e mais rápida será a geração de superávits ou de redução no déficit no BP.

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