macário come

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  • 7/24/2019 Macrio Come

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    Falares Literrios http: //www. falares. hpg. com. br

    Criei para mim algumas idias tericas sobre o drama. Algum dia, se houvertempo e vagar, talvez as escreva e de a lume.

    meu prottipo seria alguma coisa e!tre o teatro i!gl"s, o teatro espa!hol e oteatro grego # a forca das pai$%es arde!tes de &ha'espeare, de (arlowe e twa), a

    imagi!a*+o de aldero! de la -arca e Lope de ega, e a simplicidade de s0uilo eur1pedes # alguma coisa como 2oethe so!hou, e cu3os eleme!tos eu iria estudar!uma parte dos dramas dele # em 2oetz de -erlichi!ge!, lavi3o, gmo!t, !o episdioda (argarida de Faust # e a outra !a simplicidade tica de sua 4fig"!ia. stud5lo5iatalvez em &chiller, !os dois dramas do 6alle!stei!, !os &alteadores, !o 7. arlos:estud5lo5ia ai!da !a 8oiva de (essi!a com seus coros, com sua te!d"!cia 9regularidade.

    um tipo talvez !ovo, 0ue !+o se parece com o misticismo do teatro de 6er!er,ou as tragdias teog;!icas de hle!schlugo e 7umas.

    8+o se pareceria com o de 7ucis, !em com a0uela tradu*+o bastarda, verdadeira

    castra*+o do telo de &ha'espeare, feita pelo poeta sublime do hatterto!, o co!deig!). # ?ua!do !+o se tem alma ade3a!te para emparelhar com o g"!io vagabu!do doautor de >amlet, ha3a ao me!os modstia basta!te para !+o 0uerer eme!d5la. @or isso otelo de ig!) morto. uma obra de tale!to, mas devia ser um rasgo de g"!io.

    me!d5lo pobres pigmeus 0ue 0uerem limar as mo!struosidades do olossoBCa*a de Liliput 0ue 0ueria aperfei*oar os membros do giga!te # disforme para eles #de 2ulliverB

    digam5me: 0ue o disforme h ai um a!+o ou um giga!te 8+o assim 0ueeu o e!te!do. >averia e!redo, mas !+o a complica*+o e$agerada da comdia espa!hola.>averia pai$%es, por0ue o peito da tragdia deve bater, deve se!tir5se arde!te # mas!+o re0ui!taria o horr1vel, e !+o faria um drama da0ueles 0ue parecem feitos para

    rea!imar cora*%es5cadveres, como a pilha galvD!ica as fibras !ervosas do mortoB8+o: o 0ue eu pe!so diverso. uma gra!de idia 0ue talvez !u!ca realize.

    dif1cil e!cerrar a torre!te de fogo dos a!3os deca1dos de (ilto! ou o pD!ta!o de sa!guee lgrimas do Alighieri de!tro do pe!tDmetro de mrmore da tragdia a!tiga. o!tam0ue a primeira idia de (ilto! foi fazer do @ara1so @erdido uma tragdia # um mistrio

    # !+o sei o 0u": !+o o p;deE o assu!to tra!sbordava, cresciaE a torre!te se tor!ava !umocea!o. dif1cil marcar o lugar o!de pra o homem e come*a o a!imal, o!de cessa aalma e come*a o i!sti!to # o!de a pai$+o se tor!a ferocidade. dif1cil marcar o!dedeve parar o galope do sa!gue !as artrias, e a viol"!cia da dor !o crD!io. # o!tudo,deve haver e o h # um limite 9s e$pa!s%es do ator, para 0ue !+o ha3a e$agera*+o, !emdege!ere !um papel de fera o papel de homem. @obre 4diota tem esse defeito e!tremil outros. A ce!a do subterrD!eo i!teressa!te, mas de um i!teresse semelha!te90uele 0ue e$citava o oc'o ou o homem das matas # a0uele macaco represe!tado por(orietti 0ue fazia chorar a platia.

    @obre 4diota represe!ta o idiotismo do homem ca1do !a a!imalidade. atorfez o papel 0ue devia # !+o e$agerou #, represe!tou a fera !a sua fGria, # uma fera,o!de por um e!$erto caprichoso do imitador de >auser havia um amor potico por umaflor # e uma estampaB

    A vida e s a vidaB mas a vida tumultuosa, frvida, a!ela!te, 9s vezes sa!gue!ta# eis o drama. &e eu escrevesse, se mi!ha pe!a se desvairasse !a pai$+o, eu a dei$ariacorrer assim. 4ago e!ga!aria o (ouro, trairia ssio, perderia 7esd"mo!a e desfrutaria

    a bolsa de Codrigo. ssio seria apu!halado !a ce!a. telo sufocaria sua e!ezia!acom o travesseiro, esco!d"5la5ia com o corti!ado 0ua!do e!trasse m1lia: chamaria sua

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    esposa # a whore # e gabar 5se 5ia de seu feito. ho!est, most ho!est 4ago viria ver asua v1tima, m1lia solu*a!do a mostraria ao dem;!ioE o Africa!o delira!te, doido deamor, doido de a ter morto, morreria bei3a!do os lbios plidos da e!ezia!a. >amlet !ocemitrio co!versaria com os coveiros, ergueria do ch+o a caveira de Horic', o tru+oEflia coroada de flores ca!taria i!sa!a as balatas obsce!as do povo: Laertes apertaria

    !os bra*os o cadver da pobre louca. rla!do !o 6hat )ou will pe!duraria suas rimasde Cosali!da !os arvoredos dos eve!!es. 4sto seria tudo assim.&e eu imagi!asse o telo, seria com todo o seu esgar, seu desvario selvagem,

    com a0uela forma irregular 0ue revela a pai$+o do sa!gue. 0ue as !doas de sa!gue0ua!do caem !o ch+o !+o t"m forma geomtrica. As ago!ias da pai$+o, do desespero edo ciGme arde!te 0ua!do coam !um sa!gue tropical !+o se derretem em ale$a!dri!os,!+o se modulam !as falas ba!ais dessa poesia de co!ve!*+o 0ue se chama #co!ve!i"!cias dramtic

    &+o duas palavras estas, mas estas duas palavras t"m um fim: declarar 0ue omeu tipo, a mi!ha teoria, a mi!ha utopia dramtica, !+o esse drama 0ue a1 vai. sse ape!as como tudo 0ue at ho3e te!ho esbo*ado, como um roma!ce 0ue escrevi !uma

    !oite de i!s;!ia # como um poema 0ue cismei !uma sema!a de febre # umaaberra*+o dos pri!c1pios da ci"!cia, uma e$ce*+o 9s mi!has regras mais 1!timas esistemticas. sse drama ape!as uma i!spira*+o co!fusa # rpida # 0ue realizei 9

    pressa como um pi!tor febril e tr"mulo.ago como uma aspira*+o espo!tD!ea, i!certo como um so!hoE como isso o

    dou, te!ham5!o por isso.?ua!to ao !ome, chamem5!o drama, comdia, dialogismo: # !+o importa. 8+o

    o fiz para o teatro: um filho plido dessas fa!tasias 0ue se apoderam do crD!io ei!spiram a Iempestade a &ha'espeare, -eppo e o 4J a!to de 7. ua! a -)ro!E 0uefazem escrever A!u!ciata e o!to de A!t;!ia a 0uem >offma!! ou Fa!tasio ao

    poeta de 8amou!a.

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    !+o es0ue*am o vi!hoB

    Uma Voz

    > aguarde!te u!icame!te, mas boa.

    Macrio

    pura, se!horB orre ali embai$o uma fo!te 0ue c limpa como o vidro e fria como uma!oite de geada. K&a1 .

    Macrio

    is ai o resultado das viage!s. Mm burro frou$o. uma garrafa vazia. KIira uma garrafado bolso . o!ha0ueB s um belo compa!heiro de viagem. s sile!cioso como um

    vigrio em cami!ho, mas !o sil"!cio 0ue i!spiras, como !as !oites de luar, ergue5se 9svezes um ca!to misterioso 0ue e!levaB o!ha0ueB 8+o te ama 0uem !+o te e!te!deB !+ote amam essas bocas femi!is acostumadas ao mel e!3oado da vida, 0ue !+o a!seiam

    prazeres desco!hecidos, se!sa*%es mais fortesB eis5te a1 vazia, mi!ha garrafaB vaziacomo mulher bela 0ue morreuB >ei de fazer5te uma !"!ia.

    !+o ter !em um gole de vi!hoB ?ua!do !+o h o amor, h o vi!hoE 0ua!do !+o h ovi!ho, h o fumoE e 0ua!do !+o h amor, !em vi!ho, !em fumo, h o splee!. splee!e!car!ado !a sua forma mais lGgubre !a0uela velha taver!eira repassada de aguarde!te0ue tresa!daB

    K!tra a mulher com uma ba!de3a .

    A Mulher

    is a0ui a ceia.

    Macrio

    eiaB 0ue diabo de comida verde essa &er algum fei$e de capim Leva para o burro.

    A Mulher

    &+o couves.

    Macrio

    Leva para o burro.

    A Mulher

    fritado em toici!ho

    Macrio

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    Leva para o burro com todos os diabosB

    KAtira5lhe o prato !a cabe*a. A mulher sai. (acrio come .

    Um DesconhecidoKe!tra!do

    -oa5!oite, compa!heiro.

    MacrioKcome!do

    -oa5!oite

    O Desconhecido

    Ie!des um apetiteB

    Macrio

    !te!do5vos. ?uereis comer se!tai5vos. ?uereis co!versar esperai um pouco.

    O Desconhecido

    sperarei. K&e!ta5se .

    Macrio (comendo)

    @arece5me 0ue !+o a primeira vez 0ue vos e!co!tro. ?ua!do a !oite ca1a, ao subir dagarga!ta da serra

    O Desconhecido

    Mm vulto com um po!che vermelho e preto ro*ou a bota por vossa per!a...

    Macrio

    Ial e 0ual # por si!al 0ue era fria como o foci!ho de um c+o.O Desconhecido

    ra eu.

    Macrio

    > um lugar em 0ue este!de5se um vale cheio de grama. N direita corre uma torre!te0ue corta a estrada pela fre!te.. > uma ladeira mal cal*ada 0ue se perde pelo mato...

    O Desconhecido

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    A1 e!co!trei5vos outra vez... A propsito, !+o bebeis

    Macrio

    @ois !+o sabeis ssa maldita mulher s tem aguarde!teE e eu 0ue sou capaz de amar a

    mulher do povo como a filha da aristocracia, !+o posso beber o vi!ho do serta!e3o...

    O DesconhecidoKIira uma garrafa do bolso e derrama vi!ho !o copo de (acrio .

    AhB

    Macrio

    i!hoB K-ebe . N f 0ue vi!ho de (adeiraB N vossa saGde, cavalheiroB

    O Desconhecido

    N vossa. KIocam os copos .

    Macrio

    Ie!des as m+os t+o friasB

    O Desconhecido

    da chuva. K&acode o po!che . ede: estou molhado at os ossosB

    Macrio

    Agora acabei: co!versemos..

    O Desconhecido

    istes5me duas vezes. u vos vi ai!da outra vez. ra !a serra, !o alto da serra. A tardeca1a, os vapores azulados do horizo!te se escureciam. Mm ve!to frio sacudia as folhasda mo!ta!ha e vs co!templveis a tarde 0ue ca1a. Alm, !esse horizo!te, o mar como

    uma li!ha azul orlada de escuma e de areia # e !o vale, como ba!do de gaivotasbra!cas se!tadas !um paul, a cidade 0ue algumas horas a!tes t1!heis dei$ado. 7a1vossos olhares se recolhiam aos arvoredos 0ue vos rodeavam, ao precip1cio cheio dasflores azuladas e vermelhas das trepadeiras, 9s torre!tes 0ue mugiam !o fu!do doabismo, e defro!te v1eis a0uela cachoeira ime!sa 0ue espeda*a suas guas amareladas,!uma chuva de escuma, !os rochedos !egros do seu leito. olhveis tudo isso com umar perfeitame!te romD!tico. &ois poeta

    Macrio

    !ga!ai5vos. (i!ha mula estava ca!sada. &e!tei5me ali para desca!s5la. sperei 0ue o

    fresco da !ebli!a a refor*asse. 8esse tempo divertia5me em atirar pedras !odespe!hadeiro e co!tar os saltos 0ue davam.

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    O Desconhecido

    um divertime!to agradvel.

    Macrio

    8em mais !em me!os 0ue cuspir !um po*o, matar moscas, ou olhar para a fuma*a deum cachimbo A mi!ha mala Khega 9 3a!ela . O mulher da casaB olB o de casaB

    Uma Voz (de fora)

    &e!horB

    Macrio

    7esate a mala de meu burro e traga5mPa a0ui.

    A Voz

    burro

    Macrio

    A mala, burroB

    A Voz

    A mala com o burro

    Macrio

    Amarra a mala !as tuas costas e amarra o burro !a cerca.

    A Voz

    se!hor o mo*o 0ue chegou primeiro

    Macrio

    &im. (as vai ver o burro.

    A Voz

    Mm mo*o 0ue parece estuda!te

    Macrio

    &im. (as a!da com a mala.

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    A Voz

    (as como hei5de ir buscar a mala ?uer 0ue v a p

    Macrio

    sse diabo doidoB ai a p, ou mo!ta !uma vassoura como tua m+eB

    A Voz

    7esca!se, mo*o. burro h5de aparecer. ?ua!do madrugar iremos procurar.

    Outra Voz

    >avia de ir pelo cami!ho do 8h; ?uito. u co!he*o o burroQ

    Macrio

    mi!ha mala

    A Voz

    8+o v" st chove!do a potesB ...

    Macrio (fecha a janela) .

    (alditosB KAtira com ama cadeira !o ch+o .

    O Desconhecido

    ?ue te!des, compa!heiro

    Macrio

    8+o vedes burro fugiu...

    O Desconhecido

    8+o ser 0uebra!do cadeiras 0ue o chamareis..

    Macrio

    @orm a raiva...

    O Desconhecido

    -ebei mais um copo de (adeira. K-ebem . Levais de certo alguma preciosidade !amala K&orri5se .

    Macrio

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    &im...

    O Desconhecido

    7i!heiro

    Macrio

    8+o, mas...

    O Desconhecido

    A cole*+o completa de vossas cartas de !amoro, algum poema em borr+o, alguma cartade recome!da*+o

    Macrio

    8em isso, !em a0uilo... Levo...

    O Desconhecido

    A mala !+o pareceu5me muito cheia. &e!ti alguma coisa sacole3ar de!tro. Algumagarrafa de vi!ho

    Macrio

    8+oB !+oB mil vezes !+oB 8+o co!cebeis, uma perda ime!sa, irreparvel... era o meucachimbo..

    O Desconhecido

    Fumais

    Macrio

    @ergu!tai de 0ue serve o ti!teiro sem ti!ta, a viola sem cordas, o: copo sem vi!ho, a

    !oite sem mulher # !+o me pergu!teis se fumoBO Desconhecido (D-lhe um cachimbo.)

    is a1 um cachimbo primoroso. de pura escuma do mar. tubo de pau de cere3a. bocal de Dmbar.

    Macrio

    -ofB Mma &ulta!a o fumariaB fumo

    O Desconhecido

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    uma i!ve!*+o !ova. 7ispe!sa5o. Ace!dei5o !a vela. K(acrio ace!de .

    Macrio

    vs

    O Desconhecido

    8+o vos importeis comigo. KIira outro cachimbo e fuma

    Macrio

    &ois um perfeito compa!heiro de viagem. osso !ome

    O Desconhecido

    @ergu!tei5vos o vosso

    Macrio

    caso 0ue preciso 0ue eu pergu!te primeiro. @ois eu sou um estuda!te. adio ouestudioso, tale!toso ou estGpido, pouco importa. 7uas palavras s: amo o fumo e odeioo 7ireito Coma!o. Amo as mulheres e odeio o roma!tismo.

    O Desconhecido

    IocaiB &ois um dig!o rapaz. KApertam a m+o .

    Macrio

    2osto mais de uma garrafa de vi!ho 0ue de um poema, mais de um bei3o 0ue do so!etomais harmo!ioso. ?ua!to ao ca!to dos passari!has, ao luar so!ole!to, 9s !oitesl1mpidas, acho isso sumame!te i!s1pido. s passari!hos sabem s uma ca!tiga. luar sempre o mesmo. sse mu!do mo!to!o a fazer morrer de so!o.

    O Desconhecido

    a poesiaMacrio

    !0ua!to era a moeda de oiro 0ue corria s pela m+o do rico, ia muito bem. >o3etrocou5se em moeda de cobreE !+o h me!digo, !em cai$eiro de taver!a 0ue !+o te!haesse vi!tem azi!havrado. !te!deis5me

    O Desconhecido

    !te!do. A poesia, de popular tor!ou5se vulgar e comum. A!tigame!te faziam5!a para o

    povoE ho3e o povo a faz para !i!gum.

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    Macrio (bebe)

    u vos dizia pois !de t1!hamos ficado

    O Desconhecido

    8+o sei. @arece5me 0ue falvamos sobre o @apa.

    Macrio

    8+o sei: creio 0ue o vosso vi!ho subiu5me 9 cabe*a. @uahB vosso cachimbo tem sarro0ue tresa!daB

    O Desconhecido

    &ois triste, mo*o... @alavra 0ue eu dese3aria ver essa poesia vossa.

    Macrio

    @or 0u"

    O Desconhecido

    @or0ue havia ser alegre como Arle0uim assisti!do a seu e!terro...

    Macrio

    @oesias a 0u"

    O Desconhecido

    N luz, ao cu, ao mar...

    Macrio

    mar uma coisa sobera!ame!te i!s1pida... e!3;o tudo 0ua!to h mais prosaico. &ouda0ueles de 0uem fala o corsrio de -)ro! Rwhose soul would sic'e! oPer the heavi!g

    waveR.O Desconhecido

    e!3oais a bordo

    Macrio a G!ica semelha!*a 0ue te!ho com 7. ua!.

    O Desconhecido

    (odstiaB

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    Macrio

    @ergu!ta 9 taver!eira se apertei5lhe o cotovelo, pis0uei5lhe o olho, ou pus5lhe a m+o !astetas

    O Desconhecido

    Mm drag+oB

    Macrio

    Mma mulherB Iodas elas s+o assim. As 0ue !+o s+o assim por fora o s+o por de!tro.Algumas em falta de cabelos !a cabe*a os t"m !o cora*+o. As mulheres s+o como asespadas, 9s vezes a bai!ha de oiro e de esmalte e a folha ferruge!ta.

    O Desconhecido

    Falas como um descrido, como um saciadoB co!tudo ai!da te!s os bei*os de cria!*aB?ua!tos seios de mulher bei3aste alm do seio de tua ama de leite ?ua!tos lbios almdos de tua irm+

    Macrio

    A vagabu!da 0ue dorme !as ruas, a mulher 0ue se ve!de corpo e alma, por0ue sua alma t+o desbotada como seu corpo, te digam mi!has !oites. Ialvez muita virgem te!hasuspirado por mimB Ialvez agora mesmo alguma do!zela se a3oelhe !a cama e reze pormimB

    O Desconhecido

    8a verdade s belo. ?ue idade te!s

    Macrio

    i!te a!os. (as meu peito tem batido !esses vi!te a!os ta!tas vezes como o de umoutro homem em 0uare!ta.

    O Desconhecido

    amaste muito

    Macrio

    &im e !+o. &empre e !u!ca.

    O Desconhecido

    Fala claro.

    Macrio

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    (ais claro 0ue o dia. &e chamas o amor a troca de duas temperaturas, o aperto de doisse$os, a co!vuls+o de dois peitos 0ue ar0ue3am, o bei3o de duas bocas 0ue tremem, deduas vidas 0ue se fu!dem te!ho amado muito e sempreB &e chamas o amor o se!time!tocasto e poro 0ue faz cismar o pe!sativo, 0ue faz chorar o ama!te !a relva o!de passou a

    beleza, 0ue adivi!ha o perfume dela !a brisa, 0ue pergu!ta 9s aves, 9 ma!h+, 9 !oite, 9sharmo!ias da mGsica, 0ue melodia mais doce 0ue sua voz, e ao seu cora*+o, 0ueformosura h mais divi!a 0ue a dela # eu !u!ca amei. Ai!da !+o achei uma mulherassim. !tre um charuto e uma chve!a de caf lembro5me 9s vezes de alguma formadivi!a, more!a, bra!ca, loira, de cabelos casta!hos ou !egros. Ie!ho5as visto 0ue fazemempalidecer # e meu peito parece sufocar meus lbios se gelam, mi!ha m+o se esfria..

    @arece5me e!t+o 0ue se a0uela mulher 0ue me faz estremecer assim soltasse sua roupade veludo e me dei$asse por os lbios sobre seu seio um mome!to, eu morreria !umdesmaio de prazerB (as depois desta vem outra # mais outra # e o amor se desfaz!uma saudade 0ue se desfaz !o es0uecime!to. omo eu te disse, !u!ca amei.

    O Desconhecido

    Ier vi!te a!os e !u!ca ter amadoB para 0ua!do esperas o amor

    Macrio

    8+o sei. Ialvez eu ame 0ua!do estiver impote!teB

    O Desconhecido

    o 0ue e$igirias para a mulher de teus amores

    Macrio

    @ouca coisa. -eleza, virgi!dade, i!oc"!cia, amor

    O Desconhecido (irnico)

    (ais !ada

    Macrio

    8otai 0ue por beleza i!dico um corpo bem feito, arredo!dado, seti!oso, uma pele maciae rosada, um cabelo de seda5froi$a e u!s ps mimosos

    O Desconhecido

    ?ua!to 9 virgi!dade

    Macrio

    u a 0uereria virgem !a alma como !o corpo. ?uereria 0ue ela !u!ca tivesse se!tido ame!or emo*+o por !i!gum. 8em por um primo, !em por um irm+o ?ue 7eus a tivesse

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    criado adormecida !a alma at ver5me como a0uelas pri!cesas e!ca!tadas dos co!tos #0ue uma fada adormecera por cem a!os. ?uereria 0ue um a!3o a cobrisse sempre comseu vu, e a ba!hasse todas as !oites do seu leo divi!o para guard5la sa!taB ?uereria0ue ela viesse cria!*a tra!sformar5se em mulher !os meus bei3os.

    O Desconhecido

    (uito bem, ma!ceboB esperas essa mulher

    Macrio

    ?uem sabeB

    O Desconhecido

    !o lodo da prostitui*+o 0ue hs5de e!co!tr5la

    Macrio

    IalvezB !o lodo do ocea!o 0ue se e!co!tram as prolas

    O Desconhecido

    m mau lugar procuras a virgi!dadeB mais fcil achar uma prola !a casa de um3oalheiro 0ue !o meio das areias do fu!do do mar.

    Macrio

    ?uem sabeB ..

    O Desconhecido

    7uvidas pois

    Macrio

    7uvido sempre. 7escreio 9s vezes. @arece5me 0ue este mu!do um logro. amor, a

    glria, a virgi!dade, tudo uma ilus+o.O Desconhecido

    Ie!s raz+o: a virgi!dade uma ilus+oB ?ual mais virgem, a0uela 0ue defloradadormi!do, ou a freira 0ue arde!te de lgrimas e dese3os se revolve !o seu catre,rompe!do com as m+os sua roupa de morte, le!do algum roma!ce impuro

    Macrio

    Ie!s raz+o: a virgi!dade da alma pode e$istir !uma prostituta, e !+o e$istir !uma

    virgem de corpo. # > flores sem perfume, e perfume sem flores. (as eu !+o soucomo os outros. Acho 0ue uma ta*a vazia pouco vale, mas !+o beberia o melhor vi!ho

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    !uma $1cara de barro.

    O Desconhecido

    co!tudo bebes o amor !os lbios de argila da mulher corruptaB

    Macrio

    amor ?ue te disse 0ue era o amor uma fome impura 0ue se sacia. corpofami!to como o co!de Mgoli!o !a sua torre # morderia at !um cadver.

    O Desconhecido

    Iua compara*+o e$ata. A meretriz um cadver.

    Macrio

    ale5!os ao me!os 0ue sobre seu peito !+o se morre de frioB

    O Desconhecido

    Admira5me uma coisa. Ie!s vi!te a!os: deverias ser puro como um a!3o e s devassocomo um c;!egoB

    Macrio

    8+o 0ue eu !+o voltasse meus so!hos para o cu. A cister!a tambm abre seus lbiospara 7eus, e pede5lhe uma gua pura # e o mais das vezes s tem lodo. @alavra deho!ra # 0ue 9s vezes 0uero fazer5me frade.

    O Desconhecido

    FradeB @ara 0u"

    Macrio

    uma loucura. !che esse copo. K-ebe @ela irgem (ariaB Ie!ho so!o. ou dormir.

    O Desconhecido

    eu tambm -oa5!oite.

    Macrio

    Ai!da uma vez, a!tes de dormir, o teu !ome

    O Desconhecido

    4!sistes !isso

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    Macrio

    7e todo o meu cora*+o. &ou filho de mulher.

    O Desconhecido

    Aperta mi!ha m+o. ?uero ver se tremes !esse aperto ouvi!do meu !ome.

    Macrio

    uro5te 0ue !+o, ai!da 0ue fosses

    O Desconhecido

    Aperta mi!ha m+o. At sempre: !a vida e !a morteB

    Macrio

    At sempre, !a vida e !a morteB

    O Desconhecido

    o teu !ome

    Macrio

    (acrio. &e !+o fosse e!3eitado, dir5te5ia o !ome de meu pai e o de mi!ha m+e. ra decerto alguma liberti!a. (eu pai, pelo 0ue pe!so, era padre ou fidalgo.

    O Desconhecido

    u sou o diabo. -oa5!oite, (acrio.

    Macrio

    -oa5!oite, &ata!. K7eita5se. desco!hecido sai . diaboB uma boa fortu!aB > deza!os 0ue eu a!do para e!co!trar esse patifeB 7esta vez agarrei5o pela caudaB A maior

    desgra*a deste mu!do ser Fausto sem (efistfeles l, &ata!Batan

    (acrio

    Macrio

    ?ua!do partimos

    atan

    Ie!s so!o

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    Macrio

    8+o

    atan

    !t+o 3.

    Macrio

    o meu burro

    atan

    4rs !a mi!ha garupa.

    Num caminho

    Satan montado num barro preto; Macrio na garupa.

    Macrio

    @ra um pouco teu burro.

    atan

    8+o 0ueres chegar

    Macrio

    0ue ele tem um trote i!gl"s de desesperar os i!testi!os.

    atan

    co!tudo este burro desce!de em li!ha reta do burro em 0ue fez a sua e!trada emerusalm o filho do velho carpi!teiro os. "s pois 0ue fidalgo como um cavalorabe.

    Macrio

    Iudo isso !+o prova 0ue ele !+o trota da!adame!te. Falta5!os muito para chegar

    atan

    8+o. 7a0ui a ci!co mi!utos podemos estar 9 vista da cidade. >s de v"5la dese!ha!do!o cu suas torres escuras e seus casebres t+o pretos de !oite como de dia, ilumi!ada,mas sombria como uma essa de e!terro.

    Macrio

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    Ie!ho D!sia de l chegar. bo!ita

    atan (boceja)

    AhB divertida.

    Macrio

    @or acaso tambm h mulheres ali

    atan

    (ulheres, padres, soldados e estuda!tes. As mulheres s+o mulheres, os padres s+osoldados, os soldados s+o padres, e os estuda!tes s+o estuda!tes: para falar mais claro:as mulheres s+o lascivas, os padres dissolutos, os soldados brios, os estuda!tes vadios.4sto salvo ho!rosas e$ce*%es, por e$emplo, de ama!h+ em dia!te, tu.

    Macrio

    sta cidade deveria ter o teu !ome.

    atan

    Iem o de um sa!to: 0uase o mesmo. 8+o o hbito 0ue faz o mo!ge. 7emais, essaterra devassa como uma cidade, i!s1pida como uma vila e pobre como uma aldeia. &e!+o ests reduzido a dar5te ao pagode, a suicidar5te de splee!, ou a alumiar5te a rolo, !+oe!tres l. a mo!oto!ia do tdio. At as calcadasB

    Macrio

    ?ue t"m

    atan

    &+o i!tra!sitveis. @arecem e!castoadas as tais pedras. As cal*adas do i!fer!o s+o milvezes melhores. (as o pior da histria 0ue as beatas e os c;!egos cada vez 0ue saem,a cada topada, blasfemam ta!to com o rosrio !a m+o 0ue 3 estou e!3oado. Admiras5te

    por 0ue abres essa boca espa!tada A!tigame!te o diabo corria atrs dos home!s, ho3es+o eles 0ue rezam pelo diabo. Acredita 0ue fa*o5te um favor muito gra!de em preferir5te 9 mo*a de um frade 0ue me trocaria pelo seu (e!i!o esus, e a um ce!to de padres0ue dariam a alma, 0ue 3 !+o tem, por uma ca!didatura.

    Macrio

    (as, como dizias, as mulheres

    atan

    7ebai$o do pa!o luzidio da ma!tilha, e!tre a re!da do vu, com suas faces cor5de5rosa,olhos e cabelos pretos Ke 0ue olhos e 0ue lo!gos cabelosB s+o bo!itas. 7emais, s+o

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    beatas como uma bisavE e sabem a arte moder!a de e!tremear uma Ave5(aria com um!amoroE e solta!do uma co!ta do rosrio la!*ar uma olhadela.

    Macrio

    hB a ma!tilha aceti!adaB os olhares de A!daluzaB e a tez fresca como uma rosaB osolhos !egros, muito !egros, e!tre o vu de seda dos c1lios. Apert5las ao seio com seusais, seus suspiros, suas ora*%es e!trecortadas de solu*osB -ei3ar5lhes o seio palpita!te ea cruz 0ue se agita !o seu coloB Apertar5lhes a ci!tura, e sufocar5lhes !os lbios umaora*+oB 7eve ser deliciosoB

    atan

    IB ttB t # ?ue ladai!haB parece 0ue 3 ests e!amorado, meu 7om ?ui$ote, a!tes dever as 7ulci!iasB

    Macrio

    ?ue boa terraB o @ara1so de (afomaB

    atan

    (as as mo*as poucas vezes tem bo!s de!tes. A cidade colocada !a mo!ta!ha, e!voltade vrzeas relvosas, tem ladeiras 1!gremes e ruas pssimas. raro o mi!uto em 0ue !+ose esbarra a ge!te com um burro ou com um padre. Mm mdico 0ue ali viveu e morreudei$ou escrito !uma obra i!dita, 0ue para sua desgra*a o mu!do !+o h5de ler, 0ue avirgi!dade era uma ilus+o. co!tudo, !+o h em parte alguma mulheres 0ue te!hamsido mais vezes virge!s 0ue ali.

    Macrio

    Iem5se5me co!tado muito bo!itas histrias. 7izem !a mi!ha terra 0ue a1, 9 !oite, asmo*as procuram os ma!cebos, 0ue lhes batem 9 porta, e !a rua os pu$am pelo capote7eve ser deliciosoB ?ua!to a mim, 0uadra5me essa vida e$cele!teme!te, !em mais !emme!os 0ue um &ult+o escolherei e!tre essas belezas vagabu!das a mais bela. Aplicareico!tudo o ecletismo ao amor. >o3e uma, ama!h+ outra: e$perime!tarei todas as ta*as. Amais doce embriaguez a 0ue resulta da mistura dos vi!hos.

    atan

    A G!ica 0ue tu ga!hars ser !o3e!ta. A0uelas mulheres s+o repulsivas. rosto macio,os olhos lD!guidos, o seio more!o (as o corpo imu!do. Iem uma lepra 0ue ocultam!um sorriso. -ofari!heiras de i!fDmia d+o em troca do gozo o ve!e!o da s1filis. A!tesamar uma lazare!taB

    Macrio

    & diabo em pessoa. @ara ti !ada h bom. @elo 0ue ve3o, !a cria*+o s h uma

    perfei*+o, a tua. Iudo c mais !ada vale para ti. &ubstD!cia da soberba, ris de tudo o maisembu*ado !o teu desdm. > uma tradi*+o, 0ue 0ua!do 7eus fez o homem, veio &ata!E

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    achou a criatura adormecida, apalpou5lhe o corpo: achou5o perfeito, e deitou a1 aspai$%es.

    atan

    ssa histria uma me!tira. 0ue &ata! p;s ai foi o orgulho. o 0ue s+o vossasvirtudes huma!as se!+o a e!car!a*+o do orgulho

    Macrio

    hB Ali ve3o luzes ao lo!ge. Mma mo!ta!ha oculta !o horizo!te. 7issreis um pD!ta!oescuro cheio de fogos erra!tes. @or0ue pras o teu a!imal

    atan

    Ie!ho uma casa a0ui !a e!trada da cidade. !tra!do 9 direita, defro!te do cemitrio. S

    &tur!, meu pa3em, l est prepara!do a ceia. Leva!ta5te sobre meus ombros: !+o v"s!a0uele palcio uma luz correr uma por uma as 3a!elas &e!tiram a mi!ha chegada.

    Macrio

    ?ue ru1!as s+o estas uma igre3a es0uecida A lua se leva!ta ao lo!ge !as mo!ta!has.&ua luz horizo!tal ba!ha o vale, e bra!0ueia os pardieiros escuros do co!ve!to. 8+omora ali !i!gum u ti!ha dese3o de correr a0uela solid+o.

    atan

    uma prope!s+o si!gular a do homem pelas ru1!as. 7evia ser um frade bem sombrio,brio de sua cre!*a profu!da, o esu1ta 0ue a1 la!*ou !as mo!ta!has a seme!te dessacidade. &eria o acaso 0uem lhe p;s !o cami!ho, 9 e!trada mesmo, um cemitrio 9es0uerda e umas ru1!as 9 direita

    Macrio

    &e 0uisesses, &ata!, pod1amos descer pelo despe!hadeiro, e ir ter l embai$o, e!0ua!to&tur! prepara ceia.

    atan

    8+o, (acrio. (i!ha barriga est seca como a de um eremita: deves tambm ter fome.(olhar os ps !o orvalho !+o deve ser bom para 0uem vem de viagem. amos cear.7a0ui a pouco o luar estar claro e poderemos vir.

    Macrio

    Fiat volu!tas tua.

    atan

    AmamB

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    Ao luaru!to de uma 3a!ela est umamesa.

    atan

    !t+o, !+o bebes, (acrio ?ue te!s, 0ue ests pe!sativo e sombio lha, desgra*ado, verdadeiro vi!ho do Ce!o 0ue desde!hasB

    Macrio

    tu s mesmo &ata!

    atan

    !isso 0ue pe!savas s uma cria!*a. 7e certo 0ue 0uerias ver5me !u e brio comoaliba!, e!volto !o tradicio!al cheiro de e!$ofreB &a!gue de -acoB &ou o diabo em

    pessoaB 8em mais !em me!os: por0ue te!ha luvas de pelica, e a!de de cal*as 9 i!glesa,e te!ha os olhos t+o azuis como uma alem+B ?ueres 0ue te 3ure pela irgem (aria

    Macrio (bebe)

    ste vi!ho bom. ?ua!do se tem tr"s garrafas de oha!!isberg !a cabe*a, se!te5se age!te capaz de escrever um poema. poeta rabe bem o disse # o vi!ho faz do poetaum pr1!cipe e do pr1!cipe um poeta. &abes 0uem i!ve!tou o vi!ho

    atan

    uma bela coisa o vapor de um charutoB demais, o 0ue tudo !o mu!do se!+ovapor A adora*+o i!ce!so e o i!ce!so o 0ue amor o vapor do cora*+o 0ueembebeda os se!tidos. Iu o sabes # a glria fuma*a.

    Macrio

    &im. belo fumarB fumo, o vi!ho e as mulheresB &abes h ocasi+o em 0ue d+o5meve!etas de viver !o rie!te.

    atan

    &im... o rie!teB mas 0ue achas de t+o belo !a0ueles home!s 0ue fumam sem falar, 0ueamam sem suspirar pelo fumo Fuma a0ui... v", o luar est belo: as !uve!s do cu

    parecem a fuma*a do cachimbo do !ipote!te 0ue resfolga dormi!do. @elas mulheresFaze5te vigrio de freguesia...

    Macrio

    uma coisa si!gular esta vida. &abes 0ue 9s vezes eu 0uereria ser uma da0uelas estrelas

    para ver de camarote essa omdia 0ue se chama o M!iverso essa omdia o!de tudo0ue h mais estGpido o homem 0ue se cr" um espertalh+o "s a0uele boi 0ue rumi!a

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    ali deitado so!ole!to !a relva Ialvez se3a um filsofo profu!do 0ue se ri de !s. Afilosofia huma!a uma vaidade. is a1, !s vivemos lado a lado, o homem dorme !oitea !oite com uma mulher: bebe, come, ama com ela, co!hece todos os si!ais de seucorpo, todos os co!tor!os de suas formas, sabe todos os ais 0ue ela murmura !asago!ias do amor, todos os so!hos de pureza 0ue ela so!ha de !oite e todas as palavras

    obsce!as 0ue lhe escapam de dia... @ois bem # a esse homem 0ue deitou5se ma!cebocom essa mulher ai!da virgem, 0ue a viu em todas as fases, em todos os seuscrepGsculos, e acordou um dia com ela ambos velhos e impote!tes, a esse homem,

    pergu!tai5lhe o 0ue essa mulher, ele !+o saber diz"5loB Ier volvido e revolvido umlivro a po!to de ma!char5lhe e romper5lhe as folhas, e !+o e!te!d"5loB is o 0ue afilosofia do homemB > ci!co mil a!os 0ue ele se abisma em si, e pergu!ta5se 0uem ,do!de veio, o!de vai, e o 0ue tem mais 3u1zo a0uele 0ue moribu!do cr" 0ue ig!oraB

    atan

    is o 0ue profu!dame!te verdadeB @ergu!tai ao liberti!o 0ue ve!ceu o orgulho de cem

    virge!s e 0ue passou outras ta!tas !oites !o leito de cem devassas, pergu!tai a 7. ua!,>amlet ou ao Faust o 0ue a mulher, e. !e!hum o saber dizer. isso 0ue te digo !+o roma!tismo. Ama!h+ !uma taver!a poders achar Comeu com a criada da estalagem,vers 7. ua! com ulietas, >amlet ou Faust sob a casaca de um da!d). 0ue essestipos s+o velhos e eter!os como o sol. a huma!idade 0ue os estuda desde os primeirostempos ai!da !+o e!te!de esses m1seros, cu3a desgra*a !+o e!te!der e o sbio 0ue osv" a seu lado dei$a esse estudo para pe!sar !as estrelasE o mdico, 0ue talvez foi mo*ode cora*+o e amou e creu, e desesperou e descreu, ri5se das doe!*as da alma e s v" a!ostalgia !a ruptura de um vaso, o amor co!ce!trado 0ua!do se materializa !uma t1sica.&e A!to!) ai!da vive e deu5se 9 medici!a capaz de receitar uma dose de 3alapa parauma dor 1!timaE um cautrio para uma dor de cora*+oB

    Macrio

    Falas como um livro, como dizem as velhas. & 7eus ou tu sabes se o Came ou 7.esar de -asa!, &a!ta Ieresa ou (ario! 7elorme, o sbio ou o ig!ora!te, reso ou 4ro,2oethe ou o me!digo brio 0ue ca!ta, e!te!deram a vida. ?uem sabe o!de est averdade !os so!hos do poeta, !as vis%es do mo!ge, !as ca!*%es obsce!as domari!heiro, !a cabe*a do doido, !a palidez do cadver, ou !o vi!ho arde!te da orgia?uem sabe

    atan

    & triste como um si!o 0ue dobra. 8+o falemos !isto. Fala5me a!tes !a beleza dealguma virgem !ua, !a la!guidez de u!s olhos !egros, !a co!vuls+o 0ue te abala!alguma hora de deleite. A mi!ha guitarra est ali: 0ueres 0ue te ca!te alguma modi!ha@ela luaB ests distra1do como um fumador de pioB

    Macrio

    8o 0ue pe!so >s de rir se co!tar5tPo. uma histria fatal.

    atan

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    7ei$a5me ace!der outro charuto(uito bem.o!ta agora. algum roma!ce

    Macrio

    8+o: lembrei5me agora de uma mulher. Mma !oite e!co!trei !a rua uma vagabu!da. A!oite era escura. u ia pelas ruas 9 toa &egui5a. la levou5me 9 sua casa. ra umcasebre. A cama era um catre: havia um colch+o em cima, mas t+o velho, t+o batido, 0ue

    parecia estar desfeito ao peso dos 0ue a1 haviam5se revolvido. 7eitei5me com ela. stivealgumas horas. ssa mulher !+o era bela: era magra e l1vida. ssa alcova era imu!da.u estava a1 frio: o co!tato da0uele corpo amolecido !+o me e$citava se!sa*%es: eco!tudo eu me!tia 9 mi!ha alma, da!do5lhe bei3os. u sa1 dali. 8o outro dia de ma!h+voltei. A casa estava fechada. -ati. 8+o me respo!deram. !trei: # uma mulher saiu5me ao e!co!tro. @ergu!tei5lhe pela outra. &ile!cioB me disse a velha. # st deitada ali!o ch+o (orreu esta !oite com um ar c1!ico

    # R?uereis v"5la est !ua v+o amortalh5laR.

    atan

    8a verdade, si!gular. o !ome dessa mulher

    Macrio

    s0ueci5o. Ialvez ama!h+ eu tPo diga: ama!h+ ou depois, 0ue importa um !ome co!tudo essa misrrima com 0uem deitei5me uma !oite, 0ue prete!dia ter o segredo davirgi!dade eter!a de (ario! 7elorme, 0ue me falava de ama!h+ com ta!ta certeza, 0uemercade3ava sua !oite de ama!h+ como ve!dera segu!da vez a de seu ho3e, e 0ue decerto morreu pe!sa!do !os meios de e$citar mais deleite, !a receita da virgi!dade eter!a0ue ela sabia como a a!tiga (ario! 7elorme, essa mulher 0ue es0ueci como sees0uecem os 0ue s+o mortos, me fez ai!da agora estremecer.

    atan

    0uem sabe se a0uela mulher, a cu3o lado estiveste !+o era a ve!tura

    Macrio

    8+o te e!te!do.

    atan

    ?uem sabe se !a0uele pD!ta!o !+o e!co!trarias talvez a chave de ouro dos prazeres 0uedeliram

    Macrio

    ?uem sabeB Ialvez.

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    atan

    tarde. Agora uma caveira a face 0ue bei3aste # uma caveira sem lbios, sem olhos esem cabelos. seio se desfez. A vulva o!de a sede imu!da do soldado se e!fur!ava #como um c+o se sacia de lodo # foi co!sumida !a terra. Iudo isso comum. uma

    idia velha !+o 0uem sabe se sobre a0uele cadver !+o correram lgrimas de algumaespera!*a 0ue se desva!eceu se com ela !+o se e!terrou teu futuro de amor 8+ogozaste a0uela mulher

    Macrio

    8+o.

    atan

    &e ali ficasse mais alguma hora, talvez ela te morresse !os bra*os. A0uela ago!ia, o

    bei3o da0uela moribu!da talvez rege!erasse. 7a morte !asce muitas vezes a vida. 7izem0ue se a rabeca de @aga!i!i dava so!s t+o huma!os, t+o melodiosos, 0ue ele fizera

    passar a alma de sua m+e, de sua velha m+e moribu!da, pelas cordas e pela caver!a deseu i!strume!to. &e!tes frio, 0ue te embuges assim !o teu capote

    Macrio

    &ata!, fecha a0uela 3a!ela. ar da !oite me faz mal. luar me gela. 7emais, se!ti !asfolhage!s ao lo!ge um estremecer. ?ue som abafado a0uele ao lo!ge 7ir5se5ia oarra!co de um velho 0ue estrebucha.

    atan

    a meia5!oite. 8+o ouves

    Macrio

    &im. a meia5!oite. A hora amaldi*oada, a hora 0ue faz medo 9s bestas, e 0ue acorda oceticismo. 7izem 0ue a essa hora vagam esp1ritos, 0ue os cadveres abrem os lbiosi!chados e murmuram mistrios verdade, &ata!

    atan

    &e !+o tivesse ta!to frio, eu te levaria comigo ao campo. u te adormeceria !o cemitrioe havias ter so!hos como !i!gum os tem, e como os 0ue os t"m !+o 0uerem cr"5los.

    Macrio

    -em, muito bem. 4rei co!tigo.

    atan

    amos pois. 75me tua m+o. st fria como a de um defu!toB 7e!tro em algu!smome!tos estaremo. lo!ge da0ui. 7ormirs esta !oite um so!o bem profu!do.

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    Macrio

    da morte

    atan

    Fu!do como o do morto: mas acordars, e ama!h+ lembrars so!hos como um brio!u!ca vislumbrou.

    Macrio

    amos # estou pro!to.

    atan

    7ei$a5me beber um trago de cura*au. # amos. A lua parou !o cu. Iudo dorme. ahora dos mistrios. 7eus dorme !o seio da cria*+o como Loth !o rega*o i!cestuoso desua filha. & vela &ata!. &ata!, com a m+o sobre o est;mago de (acrio, 0ue estdeitado sobre um tGmulo.

    atan

    AcordaB

    Macrio (estremece)

    AhB pe!sei !u!ca mais acordarB ?ue so!o profu!doB

    atan

    7ivertiste muito 9 !oite, !+o

    Macrio

    horr1velB horr1velB

    atan

    Fala.

    Macrio

    (eu peito se e$auriu. (eus lbios !+o podem tra!sbordar estes mistrios.

    atan

    ra pois muito medo!ho o 0ue vias Leva!ta5te da1.

    Macrio

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    8+o posso: 0uebrou5se meu corpo e!tre os bra*os do pesadelo. 8+o posso.

    atan

    Liba esse licor: uma gota bastaria para rea!imar um cadver.

    Macrio (toca-o nos lbios)

    ?ue fogoB meu peito arde. AhB ahB 0ue dorB

    atan

    8+o sabes 0ue para o metal bruto se derreter e cristalizar m1ster um fogo arde!te, ou ace!telha mag!tica

    Macrio

    ?ue so!hoB ra um ar abafado # sem !uve!s e sem estrelasB # ?ue escurid+oB uvia5se ape!as de espa*o a espa*o um ba0ue como o de um peso 0ue cai !o mar e afu!da5se.Ns vezes vi!ha uma luz, como uma estrela arde!te, cair e apagar5se !a0uela lagoa !egra7epois eu vi uma forma de mulher pe!sativa. ra !ua e seu corpo e perfeito como o deum a!3o # mas era l1vido como o mrmore. &eus olhos eram vidrados, os lbios

    bra!cos, e as u!has ro$eadas. &eu cabelo era loiro, mas ti!ha u!s refle$os de bra!co. #?ue dor desco!hecida a gelara assim e lhe embra!0uecera os cabelos !+o sei. la seerguia 9s vezes, cambalea!do, estremece!do suas per!as i!decisas, como uma cria!*a0ue tiritaE # e se perdia !as trevas. u a segui. ami!hamos lo!go tempo !um ch+o

    pa!ta!oso

    atan

    tu a viste parar !uma torre!te 0ue tra!sbordava de cadveres # tom5los um por um!os bra*os sem sa!gue, apertar se gelada !a0ueles seios de gelo #, revolver5se, tremer,ar0ue3ar # e erguer5se depois sempre com um sorriso amargo.

    Macrio

    ?uem era essa mulheratan

    ra um a!3o. > ci!co mil a!os 0ue ela tem o corpo da mulher e o a!tema de umavirgi!dade eter!a. Iem todas as sedes, todos os apetites lascivos, mas !+o pode amar.Iodos a0ueles em 0ue ela toca se gelam. Cepousou o seu seio, ro*ou suas faces emmuitas virge!s e prostitutas, em muitos velhos e cria!*as # bateu a todas as portas dacria*+o, este!deu5se em todos os leitos e com ela o sil"!cio... ssa esttua ambula!te 0uem murcha as flores, 0uem desfolha o outo!o, 0uem amortalha as espera!*as.

    Macrio

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    ?uem

    atan

    depois o 0uc viste

    Macrio

    i muita coisa... ram mil vozes 0ue rebe!tavam do abismo, arde!tes de blasf"miaB 7asmo!ta!has e dos vales da terra, das !oites de amor e das !oites de ago!ia, dos leitos do!oivado aos tGmulos da morte erguia5se uma 8T 0ue dizia: # risto, s" malditoB2lria, tr"s vezes glria ao a!3o do malB # as estrelas fugiam chora!do, derrama!dosuas lgrimas de fogo... uma figura amarele!ta bei3ava a cria*+o !a fro!te # e esse

    bei3o dei$ava uma !doa eter!a...

    atan

    sts muito plido. co!tudo so!haste s meia

    hora.

    Macrio

    u pe!sei 0ue era um sculo. 0ue um homem se!te em cem a!os !+o e0uivale a essemome!to. ?ue estrela a0uela 0ue caiu do cu, 0ue ai esse 0ue gemeu !as brisas

    atan

    um filho 0ue o pai e!3eitou. um a!3o 0ue desliza !a terra. Ama!h+ talvez oe!co!tres. A prola talvez se e!fie !um colar de bagas impuras # talvez o diama!te see!gaste em cobreE Aposto como da0ui a um mome!to ser uma mulher, da0ui a um diauma &a!ta (adale!aB

    Macrio

    7escrido

    atan

    a!3o a criatura do amor. o 0ue h mais aberto ao amor 0ue a filha de erusalm?ual a sombra o!de mais vezes tem vibrado essa plvora mgica e i!compree!s1vel?ual o seio o!de tem ca1do arde!tes mais lgrimas de gozo

    Macrio

    8+o ouviste um ai um outro ai ai!da mais dorido

    atan

    algum bacurau 0ue passouE algum passari!ho 0ue acordou !as garras de uma coru3a.

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    Macrio

    8+o: o eco ai!da o repete. uves um ai de ago!ia, uma voz huma!aB ?uem geme aessas horas ?uem se torce !a co!vuls+o da morte

    atan (dando uma !ar!alhada)

    AhB ahB ahB

    Macrio

    ?ue risada i!fer!al. 8+o v"s 0ue tremo 0ue o ve!to 0ue me trou$e esse ai me arrepiouos cabelos 8+o se!tes o suor frio gote3ar de mi!ha fro!te

    atan (ri-se)

    AhB ahB ahB

    Macrio

    &ata!B &ata!B ?ue ai era a0uele

    atan

    ?ueres muito sab"5lo

    Macrio

    &imB pelo i!fer!o ou pelo cuB

    atan

    o Gltimo suspiro de uma mulher 0ue morreu, a Gltima ora*+o de uma alma 0ue seapagou !o !ada.

    Macrio

    de 0uem esse suspiro por 0uem essa ora*+o

    atan

    7e certo 0ue !+o por mim... 4!se!sato, !+o adivi!has 0ue essa voz a de tua m+e, 0ueessa ora*+o era por ti

    Macrio

    (i!ha m+eB mi!ha m+eB

    atan

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    @elas tripas de Ale$a!dre -rgiaB horas como uma cria!*aB

    Macrio

    (i!ha m+eB mi!ha m+eB

    atan

    !t+o ficas a1

    Macrio

    ai5te, vai5teE &ata!B m !ome de 7eusB em !ome de mi!ha m+eB eu te digo: # ai5teB

    atan (desa"arecendo)

    por pouco tempo. Ama!h+ me chamars. ?ua!do me 0uiseres fcil chamar5me.7eita5te !o ch+o com as costas para o cuE p%e a (+o es0uerda !o cora*+oE com adireita bate ci!co vezes !o ch+o, e murmura # &ata!B

    A estalagem do cami!ho Kdo pri!c1pio . As 3a!elas fechadas. -atem 9 porta.

    Macrio (acordando)

    ?ue so!hoB Foi um so!ho... &ata!B ?ual &ata!B A0ui est+o as mi!has botas, ali est omeu po!che... A ceia est i!tacta !a mesaB (i!ha garrafa vazia do mesmo modoBo!tudo eu sou capaz de 3urar 0ue !+o so!heiB l mulher da ve!daB

    A Mulher (batendo de fora)

    &e!hor mo*oB AbraB abraB

    Macrio

    ?ue algazarra do diabo essa

    (Abre a porta. Entra a mulher) .

    A Mulher

    AhB &e!horB estou ca!sada de bater 9 sua portaB @ois o se!hor dorme a so!o solto attr"s horas da tardeB

    Macrio

    omo

    A Mulher

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    8em ceou # aposto: !em ceou. A vela ardeu toda. ra ve3am como podia pegar fogo !acasaB @egou !o so!o, come!do de certoB

    Macrio

    sta melhorB @ois a0ui !+o esteve !i!gum o!tem comigo

    A Mulher

    @ela f de ristoB !i!gum.

    Macrio

    @ois eu !+o sa1 da0ui de !oite, alta !oite, !a garupa de um homem de po!che vermelhoe preto, por0ue meu burro ti!ha fugido para o s1tio do 8h; ?uito

    A Mulher (es"antada# benzendo-se)

    8 ao, se!horB !+o ouvi !ada... burro est amarrado !a baia. omeu uma 0uarta demilho...

    Macrio (che!a $ janela)

    omoB 8+o choveu a cD!taros esta !oite si!gular larB u era capaz de 3urar 0uecheguei at a cidade, a!tes de meia5!oiteB

    A Mulher (benzendo-se)

    &e !+o foi por artes do diabo, o se!hor estava so!ha!do.

    Macrio

    diaboB K7 uma gargalhada 9 for*a. ra, sou um patetaB ?ual diabo, !em meiodiaboB 7ormi come!do, e so!hei !estas as!eirasB .. (as 0ue ve3oB Klha!do para och+o 8+o v"s

    A Mulher

    0ue AiB aiB u!s si!ais de 0ueimado a1 pelo ch+o ruzB ruzB mi!ha 8ossa &e!horade &. -er!ardoB .. um trilho de um p...

    Macrio

    Ial e 0ual um pB ...

    A Mulher

    Mm p de cabra... um trilho 0ueimado... Foi o p do diaboB o diabo a!dou por a0uiB

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    e!undo %"is&dio

    Na Itlia

    Um vale, montanha ! e"uerda. # Um rio torrentoo ! direita # No caminho uma

    mulher entada no ch$o acalenta um homem com a cabe%a deitada no eu rega%o.

    Macrio (cismando)

    (orrerB morrerB ?ua!do o vi!ho do amor embebeda os se!tidos, 0ua!do corre em todasas veias e agita todos os !ervos parece 0ue esgotou5se tudo. Ama!h+ !+o pode ser t+o

    belo como ho3e. acordar do so!ho, ver desfeita uma ilus+oB 8u!caB .. l, mulher,afasta5te do cami!ho. ?uero passar.

    A Mulher

    8+o o piseis !+o, ele dorme. 7orme. est ca!sado 8+o vedes como est plidooitadoB

    Macrio

    &im: est plido: !+o o luar 0ue o faz l1vido. u o ve3o. teu ama!te A lua 0ue alve3atuas tra!*as grisalhas ri de teu amor. (essali!a de cabelos bra!cos, 0uem apertas !oseio emurchecido I+o alta !oite, 0uem esse ma!cebo de cabelos !egros 0ueadormece !o teu colo . omo est plido... ?ue testa fria... (ulherB louca mulher,0uem acale!tas um cadver. S

    A Mulher

    Mm defu!to ... !+o... ele dorme: !+o vedes meu filho... Apa!haram5!o bola!do !asguas levado pelo rio... oitadoB como est frioB ... das guas... Iem os cabelos ai!dagote3a!tes.. 7iziam 0ue ele morreu... (orrerB meu filhoB imposs1vel... 8+o sabeisB ele a mi!ha espera!*a, meu sa!gue, mi!ha vida. meu passado de mo*a, meus amores develha... (orrer ele imposs1vel. (orrer omo &e eu ai!da si!to espera!*as, seai!da si!to o sa!gue correr5me !as veias, e a vida estremecer meu cora*+oB

    Macrio

    elhaB # ests doida.

    A Mulher

    8+o morreu, !+o. le est dormi!do. Ama!h+ h de acordar... > muito tempo 0ue eledorme... ?ueso!o profu!doB !em um resso!arB le foi sempre assim desde cria!*a ?ua!do eu oembalava ao meu seio, ele 9s vezes empalidecia 0ue parecia um morto, ta!to era plidoe frioB (eu filhoB >ei5de a0ue!t5lo com meus bei*os, com meu corpo

    Macrio

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    @obre m+eB

    A Mulher

    Falai mais bai$o. u pedi ao ve!to 0ue se calasse, ao rio 0ue emudecesse 8+o vedes

    tudo sile!cio. scuta: sabes tocar ai ver tua viola # e ca!ta alguma ca!tiga da tuaterra. 7izem 0ue a mGsica faz ter so!hos sossegados

    Macrio

    &o!hosB 0ue so!hos soerguem teu le!*ol, leito d.. morte K@assa adia!te . sta mulherest doida. ste mo*o foi ba!har5se !a torre!te, e afogou5se. u vi carregarem seucadver Gmido e gelado. @obre (+eB embala5o !u e macile!to !o seu peito, cre!doembalar a vida. Lo!caB Feliz talvezB 0uem sabe se a ve!tura !+o a i!sD!ia

    (Mai longe, entado num rochedo ! beira do rio, et &eneroo cimando) .

    'enseroso

    alta !oite. 7isseram5me ai!da agora 0ue eram duas horas. doce pe!sar ao clar+o dalua 0ua!do todos dormem. A solid+o tem segredos ame!os para 0uem se!te. cora*+odo ma!cebo como essas flores plidas 0ue s abrem de !oite, e 0ue o sol murcha efecha. Iudo dorme. A aldeia repousa. & alm, 3u!to das fogueiras os home!s damo!ta!ha e do vale co!versam suas saudades. (ais lo!ge a toada mo!to!a da viola semistura 9 ca!tile!a do serta!e3o, ou aos improvisos do poeta si!gelo da floresta, almaig!ora!te e pura 0ue s sabe das emo*%es do se!time!to, e dos ca!tos 0ue lhe i!spira a!atureza virgem de sua terra. rio corre !egro a meus ps, 0uebra!do !as pedras suaescuma prateada pelos raios da lua 0ue parecem gote3ar de!tre os arvoredos da margem.

    8o sile!cio si!to mi!ha alma acordar5se embalada !as redes moles do so!ho. t+o doceo so!har para 0uem amaB

    8o 0ue estar ela pe!sa!do agora isma, e lembra5se de mim 7orme e so!hacomigo u e!costada !a sua 3a!ela ao luar se!te uma saudade por mim

    Macrio ("assando)

    @e!serosoB -oa !oite, @e!serosoB ?ue imagi!as t+o mela!clico

    'enseroso-oa !oite, (acrio. !de vais t+o sombrio

    Macrio (sombrio)

    ou morrer.

    'enseroso

    u so!hava em amorB

    Macrio

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    eu vou morrerB

    'enseroso

    Iu bri!cas. i um sorriso !os teus lbios.

    Macrio

    um sorriso triste, !+o u tPo 3uro pela alma de mi!ha m+e, vou morrer.

    'enseroso

    (orrerB t+o mo*oB !+o te!s pe!a dos 0ue chorar+o por ti da0uelas pobres almas 0ueregar+o de lgrimas arde!tes teu rosto macile!to, teu cadver i!se!s1vel

    Macrio

    8+oE !+o te!ho mae. (i!ha m+e !+o me embalar e!doidecida e!tre seus 3oelhos,pe!sa!do a0ue!tar com sua febre de louca o filho 0ue dorme. 8i!gum chorar. 8+ote!ho m+e.

    'enseroso

    @obre mo*oB !+o amasB

    Macrio

    Amo # amo sim. @assei toda esta !oite 3u!to ao seio de uma do!zela, pura e virgemcomo os a!3os.

    'enseroso

    ?ue te!s ambaleias. sts brio

    Macrio

    brio sim # brio de amor # de prazer. A0uela cria!*a i!oce!te embebedou5me degozo. ?ue !oiteB @arece 0ue meu corpo desfalece. mi!ha alma absorta de ter!ura stem um pe!same!to # morrerB

    'enseroso

    Amar e !+o 0uerer viverB

    Macrio

    la muito bela. u vivi mais !esta !oite 0ue !o resto de mi!ha vida. Mm mu!do !ovo

    se abriu a!te mim. Amei.

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    'enseroso

    8+o verdade 0ue a mulher um a!3o

    Macrio

    &im # um a!3o 0ue !os adormece, e !os seus bra*os !os leva a uma regi+o de so!hosde harmo!ias desco!hecidas. &ua alma se perde co!osco !um i!fi!ito de amor, comoessas aves 0ue voam 9 !oite, e se mergulham !o seio do mistrio.

    'enseroso

    A mulherB hB se todos os home!s as e!te!dessemP ssas almas divi!as s+o como asfibras harmo!iosas de uma rabeca. ig!ora!te !+o arra!ca dela um som melodiosoembalde suas m+os grosseiras revolvem e apertam o arco sobre elas # embaldeBsome!te so!s speros ressoam. (as 0ue a m+o do artista as vibre, 0ue a alma do mGsico

    se derrame !elas, e do i!strume!to grosseiro do me!digo ig!ora!te, ou do cegovagabu!do, como do stradivarius divi!o, e$alam5se ais, vozes huma!as, suspiros eace!tos e!trecortados de lgrimas.

    Macrio

    hB simB &e !a vida h uma coisa real e divi!a a arte # e !a arte se h um raio do cu !a mGsica. 8a mGsica 0ue !os vibra as cordas da alma, 0ue !os acorda da modorra dae$ist"!cia a alma embotada. hB t+o doce se!tir a voz vaporosa 0ue tri!a, 0ue !ose!leva # c 0ue parece 0ue !os faz desfalecer, amar, e morrerB

    'enseroso

    t+o doce amarB u amei, eu amo muito. &abe 7eus as !oites 0ue me a3oelhope!sa!do !elaB A brisa bebe meus suspiros, e mi!has lgrimas sile!ciosas e docesorvalham meu rosto.

    Macrio

    hB o amorB e por 0ue !+o se morre de amorB omo uma estrela 0ue se apaga pouco apouco e!tre perfumes e !uve!s cor5de5rosa, por 0ue a vida !+o desmaia e morre !um

    bei3o de mulher &eria t+o doce i!a!ir e morrer sobre o seio da ama!te e!la!guescidaB8o respirar i!dole!te de seu colo co!fu!dir um Gltimo suspiroB

    'enseroso

    Amar de 3oelhos, ousa!do a medo !os so!hos ro*ar de leve !um bei3o os c1lios dela, ousuas tra!*as de veludoB usa!do a medo suspirar seu !omeB spera!do a !oite muda

    para co!t5lo 9 lua vagabu!daB

    Macrio

    (orrer !uma !oite de amorB Cafael !o seio de sua For!ari!a... 8os lbios perfumadosda 4talia!a, adormecer so!ole!to... dormir e !+o acordarB

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    'enseroso

    ?ue te!s sts fraco. &e!ta5te 3u!to de mim. Cepousa tua cabe*a !o meu ombro. luar est belo, e passaremos a !oite co!versa!do em !ossos so!hos e !ossos amores...

    Macrio (desfalecendo)

    Iudo se escurece... 8+o se!tes 0ue tudo a!da 9 roda ... ?ue vertigem... 75me tuam+oB ... &im. !$uga mi!ha fro!te. ?ue suorB

    'enseroso

    omo ests abatido... omo empalidecesB AhB omo resvalas... ?ue te!s, meu amigo

    Macrio

    &e eu pudesse morrerB K7esmaia .

    (Satan entra)

    atan

    ?ue loucuraB sse desmaio veio a tempo: seria capaz de la!car5se 9 torre!te. @or0ueamou, e uma bela mulher c embriagou !o seu seio, 0uerer morrerB

    ('arregao no bra%o)

    amos... como belo descorado assimB com seus cabelos casta!hos em desordem,seus olhos e!treabertos e Gmidos, e seus lbios femi!isB &e eu !+o fora &ata!, eu teamaria, ma!cebo...

    (ai levlo)

    'enseroso

    ?uem s tu 7ei$a5o.. eu o levarei.

    atan

    ?uem eu sou 0ue te importa ou deit5lo !um leito macio. 7a0ui a pouco seudesmaio passar. um efeito do ar frio da !oite sobre uma cabe*a i!fa!til arde!te defebre. Adeus, @e!seroso.

    'enseroso

    ?uem s tu, desco!hecido, 0ue sabes meu !ome

    Macrio eatan

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    Macrio

    Ie!ho tdio, &ata!B Aborreces5me como se aborrecem as ama!tes es0uecidas.

    atan

    Ie!s cartas a1 oguemos. ?ue 0ueres a ro!da, a barca, o las0ue!et

    Macrio

    &ou i!feliz !o 3ogo. ?ueimo5me e perco. ?ua!do aposto e perco, te!ho dese3os de atirarcom as cartas i cara do ba!0ueiro.

    atan

    @ois eu 3ogo, perco e gosto de 3ogar. 0ue somos como Ad+o e va, os e$ ossibus, caro

    e$ car!e. A propsito de 3ogo, 0ueres 0ue te co!te uma histria

    Macrio

    (e!tirosa ou verdadeira

    atan

    0ue !+o importa: !em mais !em me!os 0ue as (il e Mma 8oites. Mm dia deu5me 9lua para virar a cabe*a de uma moca. (eti5me !o palet de um ma!ceboE plido,alumiado de seus so!hos de poeta, tra!sborda!do de orgulho # !o mais !em feio !em

    bo!ito, ti!ha olhos pardos, o cabelo lo!go em a!is e a barba luze!te como cetim. mo*o ti!ha uma ama!te. ra uma moca bo!ita, more!a, de olhos muito lD!guidos emuito GmidosE o 0ue ti!ha de mais meli!droso era a bo0ui!ha de rosa e m+ozi!has asmais suaves do mu!do.

    Macrio

    Iua histria velha como o dilGvio. difusa como um folhetim.

    atan

    sts massa!te como Falstaff b"bedo. !+o importa ?uero alegrar5te um pouco. Ahistria divertida. @odia5se bem tor!e5la !um volume em UV com estampas e retratodo autor, com a compete!te carta5prlogo de moda. # (as escuta: sou mais fiel 0ue os&ermo!istas, serei breve o mais poss1vel. # ra, a ama!te ti!ha uma irm+. @lida esuave como a mais bela das ama!tes de Filipe 44 # era o retrato vivo da aldero!a.ram a0uelas plpebras rasgadas W espa!hola, u!s olhos !egros cheios de fogomeridio!al, o seio adormecido. Acresce!ta a essa imagem 0ue a mo*a era virgem comoum bot+o de rosa.. Fazia so!har a ama!te do rei 0ua!do semi!ua, se!tada sobre as

    bordas do leito, repousa!do a m+o sobre a face, se!tia as lgrimas do amor e da saudadeba!harem5lhe os olhos ao luar. 4sto 0ue te digo o mo*o o pe!sou. Foi um !u!ca fi!dar

    de versos, de passeios romD!ticos pelos vales, pelas e!costas das mo!ta!has, um i!teiroviver e morrer por ela, como ele o dizia !algum so!eto "s 0ue tor!o5me potico

  • 7/24/2019 Macrio Come

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    ?ua!do vi o mo*o com a cabe*a to!ta, revolve!do5se plido !os seus del1riosespera!*osos 9 f de bom 7iabo 0ue sou, i!teressei5me por ele. 7emais, pareciammorrer um pelo outro. s apertos de m+os a furto, os olhares cheios de la!guidez, tudoisso parece 0ue azoi!ou a me!te virgi!al da do!zela. # Mma !oite !a sombra, a medo

    bei3aram5se. A0uele bei3o ti!ha amor e loucura !os lbios. mo*o perdeu5se de amor.

    screveu5lhe uma carta: tra!sbordou a1 todas as suas poesias, toda a febre de seudeva!eio. 8+o te rias, dPestilo, (acrio. 0ue h de mais srio e ris1vel 0ue o amorAs falas de Comeu ao luar, os suspiros de Armida, os so!etos de @etrarca tomados aosrio d+o dese3os de gargalhar...

    A partida estava proposta, as paradas feitas, e eu para assegurar o 3ogo ti!ha chumbadoos dados. ra de apostar a mi!ha cabe*a co!tra a de um sa!to, todas as mulheres belasda terra por uma bru$a.

    Macrio

    Adivi!ho # ga!haste

    atan

    ?ue sofreguid+oB !+o co!tava com o a!3o da guarda da mo*a. Fez umas ccegas !acria!cice da virgem, e l se vai ela toda chorosa levar a carta 9 irm+ tal a!3o 0ue sabiaorelhar a sua sota bifou5me o 3ogoE velha0ueou com o velhaco, surripiou os dados, e!uma risada i!oce!te chuleou5me a parada.

    Macrio

    @obre mo*aB

    atan

    o rapaz 0ue perdeu as suas ilus%es. (as 0uero desforra.

    Macrio

    7esforra tomas duas vezes.

    atan

    doloroso. (as o mu!do do diabo, assim como o cu dos tolos. Falam de co!ve!to.?uerem cortar os cabelos !egros da mo*a e cos"5la !a mortalha da freira. ra pois, seco!sigo ao mesmo tempo virar a cabe*a da mo*a e da freira, ma!dar o a!3o limpar am+o 9 parede, as &a!tas 0ue lhe peguem com um trapo 0ue!te. 7emais a partidacome*ou.

    Macrio

    ela 0uer

    atan

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    4sso de mulheres, !em eu, 0ue sou o 7iabo, as e!te!do. ?uem e!te!de o ve!to, as o!dase o murmurar das folhas A mulher um eleme!to. A &a!ta mais sa!ta, a virgem mais

    pura, h i!sta!tes em 0ue se daria a ?uas1modoE e (essali!a era capaz de e!3eitarComeu ou 7o! ua!. (as e!fim (acrio

    Macrio (dormindo)

    >umB

    atan

    7orme como um c+o. -oa !oite, mi!ha cria!*a. ou fazer uma visita a uma bela davizi!ha!*a 0ue a!da regatea!do o 0ue lhe resta de alma para ser mo*a tr"s dias. # Atl dar meia5!oite.

    Macrio e'enseroso.

    Macrio

    ?ue idia rola !o teu crebro i!flamado, meu poet5a omo um ramo despido de folhas0ue se dobra ao peso de um ba!do de aves da !oite, por 0ue sua cabe*a se i!cli!a ao

    peso dos pe!same!tos

    'enseroso

    co!tudo eu amei5aB eu amei ta!to &agrei5a !o fu!do de mi!ha alma a rai!ha das fadas,e ressumbrei !ela o a!3o misterioso 0ue me havia co!duzido adormecido !o seu batelmgico a um mu!do maravilhoso de amores divi!os. &e fui poeta, se pedi a 7eus osdel1rios da i!spira*+o, foi para e!ca!tar com seu !ome as cordas doiradas do alaGde,

    para votar !os seus 3oelhos as pgi!as de oiro de meus poemas, e semear o seu cami!hodos loiros da mi!ha glriaB

    Macrio

    hB acordar como ulieta com seu Comeu plido !o seio, com a cabe*a romD!tica ai!dadoirada do Gltimo refle$o do crepGsculo da vida, acordar dos so!hos de !oiva !o

    sudrio da morte, com os goivos murchos dos fi!ados !a fro!te em vez da coroa !upcialcheirosa da ama!te de ComeuB Apert5lo embalde ao seio arde!te, ba!har5lhe delgrimas de fogo as faces plidas, e de bei3os os lbios frios, e procurar5lhe i!sa!a peloslbios um derradeiro assomo de vida ou uma gota de ve!e!o para ela. duro, tristeB um caso 0ue merece as lgrimas mais doloridas dos olhos. # (as di ai!da mais fu!doacordar dos so!hos espera!*osos com o cadver frio das espera!*as sobre o peitoB@obre @e!serosoB Amaste um i!sta!te 0ue foi tua vida como ulieta e como Comeu e!+o tiveste a co!versa ao luar !o 3ardim de apuleto, !+o tremeste !as falas amorosasda primeira !oite de amor, e !+o soubeste 0ue doces 0ue s+o os bei3os da lo!gadespedida, e o pe!sar 0ue !+o s+o as aves da ma!h+, mas o rou$i!ol do vale 0uemgor3eia !as romeiras, 0ue o revrbero de lua bra!ca !as !uve!s do rie!te, e o apagar

    das estrelas !+o crespusculava o dia, e crer !a vida em si e !uma mulher com as m+osde uma plida ama!te sobre o cora*+oB

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    'enseroso

    @or ela fui pedir 9 solid+o os murmGrios, fui abrir meu cora*+o aos hlitos moribu!dosdo crepGsculo, a3oelhei5me 3u!to das cruzes da mo!ta!ha, e !o sussurro das aves 0ue

    adormeciam, !o ci!tilar das primeiras estrelas da !oite, !a gaza tra!spare!te e purpuri!a0ue desdobrava seu vu lumi!oso por e!tre as sombras do vale, em toda essa !aturezabela 0ue dormia fui escutar as vozes i!timas do amor, e meu vozes i!timas do amor, emeu peito acordou5se ca!ta!do e so!ha!do com elaB

    Macrio

    Ie!ho pe!a de ti. (as co!sola5te. ?ue valem as lgrimas i!se!satas Iodas elas s+oassim. u tambm chorei, mas como as gotas 0ue pore3am da abbada escura dascaver!as, essas lgrimas arde!tes dei$aram uma crosta de pedra !o meu cora*+o. !+ochores. em a!tes comigo. 2ergio d ho3e uma ceia: uma orgia espl"!dida como !um

    roma!ce. Ieremos os vi!hos da spa!ha, as plidas volutuosas da 4tlia, e asAmerica!as more!as, cu3os bei3os t"m o perfume vertigi!oso das mag!lias e o ardordo sa!gue meridio!al. !+o h melhor tGmulo para a dor 0ue uma ta*a cheia de vi!ho ouu!s olhos !egros cheios de la!guidez.

    'enseroso

    8ao # vai s. # &e tu soubesses !o 0ue eu pe!so e !o 0ue te!ho pe!sadoB !0ua!toeu falo mi!ha alma desvaria, e a mi!ha febre deva!eia. &o!hei sa!gue !o peito dela,sa!gue !as mi!has m+os, sa!gue !os meus lbios, !o cu, !a terra... em tudoB @areceu5me 0ue tremia !as escadas bambas do cadafalso... se!ti a risada amarela do homem davi!ga!*a... depois mi!ha cabe*a escureceu5se @e!sei !o suic1dio. (acrio, (acrio, !+ote rias de mimB como o vagabu!do, 0ue se debru*a sobre um precip1cio sem fu!do, se!tia vertigem regelar meus cabelos hirtos e um suor de medo ba!har mi!ha fro!te. te!homedoB &ou um doido, (acrio, eu o sei. ?ue lo!ga vai essa !oiteB A lua avermelhada!+o la!*a luz !o cu escuro: !em a brisa !o ar: uma !oite de ver+o, arde!te como se a!atureza tambm tivesse a febre 0ue i!flama meu crebroB ..

    8uma sala

    &obre a mesa livros de estado. @e!seroso e!costado !a mesa. (acrio fuma!do.

    'enseroso

    Li o livro 0ue me deste, (acrio. Li5o avidame!te. @arece 0ue !o cora*+o huma!o hum i!sti!to 0ue o leva 9 dor como o corvo ao cadver. A0uele poema frio como umcadver. um copo de ve!e!o. &e a0uele livro !+o um 3ogo de imagi!a*+o, se oceticismo ali !+o mscara de comdia, a alma da0uele homem da0uelas mortas emvida, o!de a m+o do vabagu!do podia semear sem susto as flores i!odoras da morte.

    Macrio

    o ceticismo !+o tem a sua poesia ... 0ue a poesia, @e!seroso !+o porve!turaessa como*+o 1!tima de !ossa alma com tudo 0ue !os move as fibras mais 1!timas, com

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    tudo 0ue belo e doloroso ... A poesia ser s a luz da ma!h+ ci!tila!do !a areia, !oorvalho, !as guas, !as flores, leva!ta!do5se virgem sobre um leito de !uve!s de amor,e de espera!*a lha o rosto plido da0uele 0ue viu como a 8iobe morrerem uma poruma, feridas pela m+o fatal 0ue escreveu a si!a do homem, suas espera!*as !utridas daalma e do cora*+o # e dize5me se !o riso amargo da0uele descrido, se !a iro!ia 0ue lhe

    cresta os bei*os !+o h poesia como !a cabe*a co!vulsa do Laocoo!te. As dores doesp1rito co!fra!gem ta!to um sembla!te como a0uelas da car!e. Assim como se cobrede capelas de flores a cruz de uma cova aba!do!ada, por 0ue !+o derramar os goivos damorte !o cemitrio das ilus%es da vida A !atureza um co!certo cu3a harmo!ia s7eus e!te!de, por0ue s ele uve a mGsica 0ue todos os peitos e$alam. & ele combi!ao ca!to do corvo e o tri!ar do pi!tassilgo, as !"!ias do rou$i!ol e o uivar da fera!otur!a, o ca!to de amor da virgem !a !oite do !oivado, e o ca!to de morte 0ue !a casa

    3u!ta ar0ue3a !a garga!ta de um moribu!do. 8+o maldigas a voz rouca do corvo # eleca!ta !a impureza um poema desco!hecido, poema de sa!gue e dores peregri!a!tescomo a do be!gali de amor e ve!turaB Fora loucura pedir vibra*%es a uma harpa semcordas, bei3os 9 do!zela 0ue morreu # fogo a uma lDmpada 0ue se apaga. 8+o pe*as

    espera!*as ao homem 0ue descr" e desespera.

    'enseroso

    (acrioB e ele t+o velho, teve ta!tos cadveres 0ue apertar !os bra*os !as horas dedespedida, 0ue o seu sa!gue se gelasse, e seus !ervos 0ue !+o dormem precisassem doceticismo, como @aga!i!i do pio para adormecer @or 0ue foi ele ba!har sua fro!te

    3uve!il !a vertigem dos gotos amaldi*oados om as maos virge!s, por0ue vibrou oalaGde lascivo es0uecido !um ca!to do lupa!ar um livro imoral: por 0ue esselupa!ar um livro imoral: por 0ue esse mo*o e!tregou5se delira!te a essa obra !otur!ade e!ve!e!ame!to

    8+o te rias, (acrio # pobre da0uele 0ue !+o tem espera!*asE porm maldito a0uele0ue vai soprar as ci!zas de sua esterilidade sobre a cabe*a fecu!da da0uele 0ue ai!daera puroB cora*+o um cea!o 0ue o bafe3ar de um louco pode turvar, mas a 0uem so hlito de 7eus aplaca as torme!tas.

    spera!*asB e esse descrido !+o palpita de e!tusiasmo !o rodar do carro do sculo, !osalaridos do progresso, !os hosa!as do i!dustrialismo laur1fero !+o se!te ele 0ue tudo semove # 0ue o sculo se ema!cipa # c a cruzada do futuro se recruta 8+o so!ha eletambm com esse rie!te para o!de todos se e!cami!ham sede!tos de amor e de luz

    spera!*asB e esse America!o !+o se!te 0ue ele o filho de uma !a*+o !ova, !+o ase!te o maldito cheia de sa!gue, de mocidade e verdor 8+o se lembra 0ue seusarvoredos giga!tescos, seus ocea!os escumosos, os seus rios, suas cataratas, 0ue tudo l gra!de e sublime 8as ve!ta!ias do sert+o, !as trovoadas do sul, !o sussurro dasflorestas 9 !oite !+o escutou !u!ca os prelGdios da0uela mGsica giga!te da terra 0uee!toa a ma!h+ a epopia do homem e de 7eus !+o se!tiu ele 90uela sua !a*+o i!fa!te0ue se embala !os hi!os da i!dGstria europia como Gpiter !as caver!as do 4da aoalarido do oriha!tes # tem futuro ime!so

    spera!*asB !+o t"5las 0ua!do todos as t"mB 0ua!do todos os peitos se e$pa!dem como

    as velas de uma !au, ao ve!to do futuroB @or 0ue a!tes !+o ca!tou a sua Amrica comohateaubria!d e o poeta de irg1!ia, P a 4tlia como a (ig!o! de 2oethe, o rie!te

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    como -)ro!, o amor dos como -)ro!, o amor dos a!3os como Ihomas (oore, o amordas virge!s como Lamarti!e

    Macrio

    (uito bem, @e!seroso. Agora cala5te: falas como esses radores de lugares comu!s 0ue!+o sabem o 0ue dizem. A vida est !a garrafa de o!ha0ue, !a fuma*a de um charutode >ava!a, !os seios volutuosos da more!a. Iirai isso da vida # o 0ue resta @alavrade ho!ra 0ue deliciosa a gua mor!a de bordo de vossos !aviosP 0ue tem um aromasaudvel as m0ui!as de vossos e!ge!hos a vaporB 0ue embalam !um far!ie!te

    balsDmico os vossos clculos de comrcioB 8+o sabeis da vida. Ace!de esse charuto,@e!seroso, fuma e co!versemos.

    Falas em espera!*as. ?ue eter!as espera!*as 0ue !ada paremB o mu!do est deespera!*as desde a primeira sema!a da cria*+o e o 0ue tem havido de !ovo &e 7eussoubesse do 0ue havia de aco!tecer, !+o se ca!sara em afogar home!s !a gua do

    dilGvio, !em ma!dar crucificar, macile!ta e e!sa!gXe!tada, a imagem de seu ristodivi!o. mu!do ho3e t+o devasso como !o tempo da chuva de fogo de &odoma.Falais !a i!dGstria, !o progresso As m0ui!as s+o muito Gteis, co!cordo. Fazem5semais palcios ho3e, ve!dem5se mais pi!turas e mrmores # mas a arte # dege!erouem of1cio # e o g"!io suicidou5se.

    !0ua!to !+o se i!ve!tar o meio de ter mocidade eter!a, de poder amar cem mulheres!uma !oite, de viver de mGsica e perfumes, e de saber5se a palavra mgica 0ue farrecuar das salas do ba!0uete u!iversal o espectro da morte # a!tes disso, pouco tereisadia!tado.

    7izes 0ue o mu!do cami!ha para o rie!te. 8+o serei eu, !em o so!hador da0uele livro0ue ficaremos !o cami!ho. harm, os cavalos da Arbia, o pio, o hatchiz, o caf de(o'a, e o lata'i # s+o coisas soberbasB

    A poesia morre # dei$5la 0ue ca!te seu adeus de morimbu!da # 8+o escutes essaturba embrutecida !o plagiar e !a cpia. 8+o sabem o 0ue dizem esses home!s 0ue paraapai$o!ar5se pelo ca!to esperam 0ue o hosa!a da glria te!ha saudado o ca!tor. &+oestreis em si como a parasita. (Gsicos # !u!ca ser+o -eethove! !em (ozart.scritores # todas as suas garatu3as !+o valer+o um terceto do 7a!te. @i!tores #!u!ca far+o viver !a tela uma car!a*+o de Cube!s ou erguer5se !o fresco um fa!tasma

    de (iguel A!gelo. a misria das misrias. omo uma esposa rida, tressuam eesfor*am5se debalde para co!ceber. Iodos os dias acordam de um so!ho me!tiroso em0ue creram se!tir o estremecer do feto !as e!tra!has rea!imadas.

    Falam !os gemidos da !oite !o sert+o, !as tradi*%es das ra*as perdidas da floresta, !astorre!tes das serra!ias, como se l tivessem dormido ao me!os uma !oite, como seacordassem procura!do tGmulos, e pergu!ta!do como >amlet !o cemitrio a cadacaveira do deserto o seu passado.

    (e!tidosB Iudo isso lhes veio 9 me!te le!do as pgi!as de algum via3a!te 0uees0ueceu5se talvez de co!tar 0ue !os ma!gues e !as guas do Amazo!as e do re!oco

    h mais mos0uitos e sez%es do 0ue i!spira*+o 0ue !a floresta h i!setos repulsivos,rpteis imu!dosE 0ue a pele furta5cor do tigre !+o tem o perfume das flores # 0ue tudo

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    isto sublime !os livros, mas sobera!ame!te desagradvel !a realidadeB

    scuta5me ai!da. autor deste livro !+o um velho. &e !+o cr" por0ue o ceticismo uma si!a ou um acaso, assim como 9s vezes um fato de raz+o. As cordas da0uela liraforam vibradas por m+os de mo*o, m+os arde!tes e co!vulsas de febre talvez de

    i!spira*+o

    Foi talvez um del1rio, mas foi da cabe*a e do cora*+o 0ue se e$alaram a0ueles ca!tosselvage!s. Foi !uma vibra*+o !ervosa, com o sa!gue a galoupar5lhe febril pelas veias,com a me!te bria de seu so!ho ou do seu pesadelo 0ue ele ca!tou. &e as fibras da harpadesafi!am, se a m+o r1spida as estala, se a harpa destoa, 0ue ele !+o pe!sou !os versos0ua!do pe!sava !a poesia, 0ue ele cria e cr" 0ue a estD!cia uma roupa como outra

    # ape!as, como o diz 2eorge &a!d # a arte um ma!to para as belezas !uas: 0ue elepreferira dei$ar uma esttua despida, a pespo!tar de ouro uma tG!ica de veludo paraembu*ar um ma!e0uim. 0ue ele pe!sa 0ue a mGsica do verso o acompa!hame!to daharmo!ia das idias e ama cem vezes mais o 7a!te com sua versifica*+o dura, os rasgos

    de &ha'espeare com seus versos speros, do 0ue os ale$a!dri!os feitos a compasso de&ai!te5-euve ou Iur0uet).

    'enseroso

    Iudo isso !ada prova. # uma poesia, co!cordo, co!cordo # mas uma poesiaterr1vel. um hi!o de morte sem espera!*a do cu, como o dos fa!tasmas de o+o @auloCichter. o mu!do sem a luz, como !o ca!to da Ireva. F, o ate1smo como !a Cai!ha(ab de &helle). Ie!ho pe!a da0ueles 0ue se embriagam com o vi!ho do ceticismo.

    Macrio

    Ama!h+ pe!sars comigo. u tambm fui assim. tro!co seco sem seiva e sem verdorfoi um dia o arvoredo cheio de flores e de sussurro.

    'enseroso8+o crerB e t+o mo*oB Ie!ho pe!a de ti.

    Macrio

    rer e !o 0ue 8o 7eus desses sacerdotes devassos desses home!s 0ue saem do

    lupa!ar 0ue!tes dos seios da co!cubi!a, com sua sotai!a preta ai!da alve3a!te do cotaodo leito dela para ir a3oelhar5se !os degraus do temploB rer !o 7eus em 0ue elesmesmos !+o cr"em, 0ue esses brios profa!am at do alto da tribu!a sagrada

    'enseroso

    8+o falemos !isto. (as o teu cora*+o !+o te diz 0ue se !utre de f e de espera!*as

    Macrio

    A filosofia v+. uma cripta escura o!de se esbarra !a treva. As idias do homem o

    fasci!am, mas !+o o esclarecem. 8a cerra*+o do esp1rito ele estala o crD!io !a loucuraou abisma5se !o fatalismo ou !o !ada.

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    'enseroso

    8+o: !+o o filosofismo 0ue revela 7eus. A raz+o do homem i!certa como a chamadesta lDmpada: !+o a e$cites muito, 0ue e a se apagar.

    Macrio

    & restam dois cami!hos 90uele 0ue !+o cr" !as utpias do filsofo. dogmatismo ouo ceticismo.

    'enseroso

    u creio por0ue creio. &i!to e !+o racioci!o.

    Macrio

    Ialvez se3a a treva de meu corpo 0ue escure*a mi!ha alma. Ialvez um a!3o mausoprasse !o meu esp1rito as ci!zas sufocadoras da dGvida. 8+o sei. &e e$iste 7eus, eleme perdoar se a mi!ha alma era fraca, se !a mi!ha !oite lutei embalde com o a!3ocomo ac, e sucumbi. # ?uem sabe # eis tudo o 0ue h !o meu e!te!dime!to. N&vezes creio, espero: a3oelho5me ba!hado de pra!to, e oroE # outras vezes !+o creio, esi!to o mu!do ob3etivo vazio como um tGmulo.

    'enseroso

    " # o mu!do belo. A !atureza este!de !as !oites estreladas o seu vu mgico sobrea terra, e os e!ca!tos da cria*+o falam ao homem de poesia e de 7eus. As !oites, o sol,o luar, as flores, as !uve!s da ma!h+. sorriso da i!fD!cia, at mesmo a ago!iaco!solada e espera!*osa do moribu!do u!gido 0ue se volta para 7eus. Iudo isso serme!tira As espera!*as espo!tD!eas, as cre!*as 0ue um olhar de virgem !os i!filtra, asvibrac%es u!D!imes das fibras se!siveis ser+o uma irris+o amor de tua m+e, aslgrimas do teu amor # tudo isso !+o te acorda o cora*+o &ers como essas harpasaba!do!adas cu3as cordas roem a umidade e a ferrugem, e o!de !i!gum pode acordaruma harmo!ia @or 0ue estalaram 0ue dor profu!da as rebe!tou ?ua!do tua almaarde!te abria seus v;os para pairar sobre a vida cheia de amor, 0ue ve!to de mortemurchou5te !a fro!te a coroa das ilus%es, apagou5te !o cora*+o o fa!al do se!time!to, e

    despiu5te das asas da poesia Alma de guerreiro, deu5te 7eus porve!tura o corpoi!teiri*ado do paral1tico ora*+o de Comeu, te!s o corpo do lazare!to ou a fealdade de?uas1modo Lira cheia de mGsicas suspirosas, !egou5te a cria*+o cordas arge!ti!ashB !+oB abre teu peito e ama. Iu !u!ca viste tua ilus+o gelar5se !a fre!te da ama!temorta, teu amor dege!erar !os lbios de uma adGltera. Alma fervorosa, !o orgulho deteu ceticismo !+o te suicides !a ato!ia do desespero. A descre!*a uma doe!*a terr1vel:destri com seu bafo corrosivo o a*o mais puro: ela 0uem faz de Cembra!dt umavare!to, de -ocage um liberti!oB @ara os peitos rotos, dese!ga!ados !os seus afetosmais 1!timos, o!de sepultam5se como cadveres todas as cre!*as, para esses a0uilo 0uese d a todos os sepulcros, uma lgrimaB A0uele 0ue 3ogou sua vida como um

    perdulrio, 0ue eivou5se !uma dor secreta, 0ue se!tiu cuspirem5lhe !as faces sublimes

    esses 0ue riam como 7emcrito, duvidem como @)rrho!, ou durmam i!difere!tes !oseu escr!io como 7ige!es o c1!ico !o seu to!el. A esses leva uma torre!te profu!da:

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    revolvem5se !a treva da descre!*a como &ata! !o i!fi!ito da perdi*+o e do desesperoB(as !s, mas tu e eu 0ue somos mo*os, 0ue se!timos o futuro !as aspira*%es arde!tesdo peito, 0ue temos a f !a cabe*a e a poesia !os lbios, a !s o amor e a espera!*a: a!s lago prateado da e$ist"!cia. mbalemo5!os !as suas guas azuis # so!hemos,ca!temos e creiamos &e o poeta da perdi*+o dos a!3os !os co!ta o crime da criatura

    divi!a liba5!os da despedida do de! o bei3o de amor 0ue fez dos dois filhos da terrauma criatura, uma alma cheia de futuro. &e !a primeira pgi!a da histria da passagemdo homem sobre a terra h o cadver de Abel, e o ferrete de aim o a!tema #!a0uelas tradi*%es ressoa o bei3o de m+e de va plida sobre os lbios de seu filhoB

    Macrio

    4lus%esB amor # a poesia # a glria. # 4lus%esB 8+o te ris tu comigo da glria. #4lus%esB 8+o te ris tu comigo da glria, como eu rio dela A glriaB e!tre essa plebecorrupta e vil 0ue s aplaude o ma!to do Iartufo e apedre3a as esttuas mais sa!tas do

    passadoB 2lriaB 8u!ca te lembras do 7a!te, de b)ro!, Y de hatterto! o suicida

    er!er poeta, sublime e febril tambm, morto de ceticismo e desespero sob sua gri!aldade orgia 2lriaB &+o acaso os loiros salpicados de lodo, ma!chados, descridos,cuspidos do povilu, e 0ue o futuro s co!sagra ao cadver 0ue dorme

    scuta. u tambm amei. u tambm talvez possa amar ai!da. Ns vezes 0ua!do ame!te se me embebe !a mela!colia, 0ua!do me passam !a alma so!hos de homem 0ue!+o dorme, e 0ue chamam poesiaE eu si!to ai!da reabrir5se o meu peito a amores demulher. @arece 0ue se a0uela beleza de olhos e cabelos !egros, de colo ar0ue3a!te eflutuoso me dei$asse repousar a cabe*a sobre seu peito, eu poderia ai!da viver e 0uererviver, e ter ale!to basta!te para desmaiar ali !a volutuosidade pura de um espasmo, !avertigem de um bei3o.

    (as o 0ue me agita as fibras ai!da volutuosidade # o adem+ de uma belezalD!guida, a sede i!sacivel do gozo.

    &+o so!hosB so!hos, @e!serosoB loucura abrir ta!to os vus do cora*+o e essas brisase!levadas 0ue vem t+o sussurra!tes de e!leio, t+o repassadas de aromas e bei3osB loucura talvezB co!tudo 0ua!do o homem s vive deles, 0ua!do todas as portas sefecharam ao e!3eitado # por 0ue !+o ir bater !a !oite de febre !o palcio da fada dasimagi!a*%es @%e a m+o !o meu cora*+o. Iuas falas mPo fizeram bater. >avia uma vozde!tro dele 0ue eu pe!sava morta, mas 0ue estava s emudecida. scuta5a. > uma

    mulher em 0uem eu pe!sei !oites e !oites: 0ue e!cheu mi!has !oites de i!s;!ia, meuso!o de vis%es fervorosas, meus dias de del1rio. u amei essa mulher. u a segui passo apasso !a mi!ha vida. 7eite5me !a cal*ada da rua defro!te de sua 3a!ela, para ouvir a suavoz, para e!trev"5la a furto bra!ca e vaporosa, para respirar o ar 0ue ela bebia, parase!tir o perfume de seus cabelos e ouvir o ca!to de seus lbios. u amei muito essamulher. por v"5la uma hora ao p de mim 55 semi!ua # embora fosse adormecida #s por v"5la, e por bei35la de leve # eu daria mi!ha vida i!teira ao !ada. essamulher, essa mulher

    'enseroso

    ?ue tem, fala..

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    Macrio

    Adeus, @e!seroso. u pe!sei 0ue tu me acordavas a vida !o peito. (as a fibra em 0uetocaste e o!de foste despertar uma harmo!ia uma fibra maldita, cheia de ve!e!o e demorte. Adeus. @e!seroso. Ai da0uele a 0uem um verme roeu a flor da vida como a

    6ertherB A descre!*a a filha e!3eitada do desespero. Faust 6erther 0ue e!velheceu,e o suic1dio da alma o cadver de um cora*+o. desfolhar das ilus%es a!u!cia oi!ver!o da vida.

    'enseroso

    !de vais, o!de vais

    Macrio

    !de vou todas as !oites. agarei 9 toa pelos campos at 0ue o so!o feche meus olhos e

    0ue eu adorme*a !a relva fria das orvalhadas da !oite. Adeus.

    A mema ala

    'enseroso s& (escree)

    8+o escreverei mais: !+o. alarei o meu segredo e morrerei com ele.s0ueceu tudoB tudoB s0ueceu as !oites solitrias em 0ue eu estava a ss com ela, comsua m+o !a mi!ha, com seus olhos !os meus. s0ueceuB 7eus lhe perdoe. se eu morro

    por ela, se3a ela felizB

    (as por 0ue me!tia se ela se ria de mim @or 0ue a0ueles olhares t+o lD!guidos, a0uelessuspiros t+o doces @or 0ue sua m+o estremecia !as mi!has e se gelava 0ua!do eu aapertava @or 0ue !a0uela !oite fatal, 0ua!do eu a bei3ei, ela esco!deu seu rosto devirgem !as m+os, c as lgrimas corriam por e!tre seus dedos, e ela fugiu solu*a!doK@e!sativo

    la !+o me ama # certo. 8u!ca, !u!ca ela me teve amor: a ilus+o morreu hB !+omorrerei com ela !tem falei com 7avi sobre o suic1dio. 7avi declamou, repetiu o 0uedizem esses home!s sem irritabilidade de cora*+o, 0ue 3ulgam 0ue as palavras provamalguma coisa. u sorri. 7avi feliz # ele sim, !u!ca amar # !+o h de se!tir esse

    se!time!to G!ico e 0ueimador absorver como uma casuari!a toda a seiva do peito,alime!tar5se de todas as espera!*as, todas as ambi*%es, todos os amores da terra e dou, dos home!s e de 7eus, para fazer de tudo isso uma G!ica ess"!cia, paratra!substa!ciar tudo isso !o amor de uma mulherB depois, 0ua!do esse amor morrer,acha!do o peito vazio como o de um es0ueleto, !+o ter a!imo para adormecer !o seioda morteB

    is a1 o ve!e!o. mi!ha terraB O mi!ha m+eB mais !u!ca te vereiB (eu pai, meu sa!topaiB e tu, m+ePB de mi!ha m+e 0ue se!tias por mim, cu3a vida era uma ora*+o por mim,0ue e!$ugavas tuas lgrimas !os teus cabelos bra!cos pe!sa!do !o teu pobre !etoBAdeusB @erd+oB perd+oB .

    reio 0ue chorei. Ie!ho a face molhada. A dor me e!fra0ueceria 8+oB !+o 8+o h

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    remdio. (orrerei.

    '!inas de 'enseroso

    &e h um homem 0ue cresse !o futuro, fui eu. Iive co!fia!*a !o orgulho de meu

    cora*+o e !o g"!io 0ue se!tia !a mi!ha cabe*a. u si!to5o. 7eus me fez poeta. ssemu!do, a !atureza, as mo!ta!has, o eflGvio lumi!oso das !oites de luar, tudo isso meacordava vibra*%es, me revelava !o peito cordas 0ue !u!ca escutei se!+o !os poetasdivi!os, 0ue !u!ca se!ti !o peito caver!oso e vazio dos outros home!s. &ou rico, mo*o,morrerei pouco mais velho 0ue o desgra*ado hatterto!. por todo o meu futuro,mi!has glrias, toda essa ambi*+o ime!sa, essa sede fogosa de uma alma 0ue !+o sesacia com os prazeres de co!ve!*+o da vida su!tuosa dos palcios espl"!didos, e dasaclama*%es da fama, eu s 0ueria seu peito 3u!to do meu # sua m+o !a mi!ha. a!dra3o do miservel !+o me doeria se eu tivesse o ma!to de oiro do seu amor.hB ela !+o me e!te!deuB 8+o merecia tama!ho amor. Iomei5a !ua, fria e bruta como oescultor uma pedra de mrmore # a vis+o 0ue vesti com a gaza aceti!ada das mi!has

    ilus%es, a esttua 0ue despertei do seio da matria, !+o estava a1. stava !o meu cora*+oe s !ele. Fi5la bela, dessa beleza divi!a 0ue 7eus me ressumbrou !a alma de poeta.Ialvez assim # mas assim mesmo eu morro por ela. # Amo5a como o pi!tor a sua(ado!a, como o escultor a sua "!us, como 7eus a sua criatura.ra a G!ica esttua da cria*+o 0ue se podia avive!tar ao bafo arde!te de meu peito. 8+oamei !u!ca outra mulher. &e o cora*+o um l1rio 0ue as pai$%es desfloram, sou ai!davirgemE !o deleite das mi!has !oites delira!tes, tu o sabes, meu 7eus, eu !u!ca ameiB por 0ue viver se o cora*+o morto &e eu ho3e dormisse sobre essa idia, se eu

    pudesse adormecer !o cio e !o tdio, seria isso ai!da viveriver era se!tir, era amar, era crer 0ue a ve!tura !+o um so!ho, e 0ue eu ti!ha um leitode flores o!de desca!sar da vida, o!de eu pudesse crer 0ue a glria, o futuro !+o valemum bei3o de mulherB(orrerei. # 8+o posso trazer !o peito o cadver de mi!has ilus%es, P como a i!fa!ticidao remorso a lhe tremer !as e!tra!has. > doe!*as 0ue !+o tem cura. A tempestade viole!ta, e o ca!sado mari!heiro adormeceu !o seio da morte. A!tes isso 0ue a le!taago!ia do desespero, do 0ue esse corvo da descre!*a e da iro!ia 0ue ri as fibras ai!davivas como um ca!cro. seria co!tudo t+o bela a vida se ela me amasseB hB por 0ue me traiu @or 0ueembalou5me !os seus 3oelhos, !os ace!tos mgicos da mGsica dos a!3os da espera!ca,do amor, para la!*ar5me !a treva erma desse desale!to e dessa saudade eivada de morteBiver1amos t+o bemB ra t+o fcil mi!ha ve!turaB @or esses rios ime!sos da mi!ha terra

    h ta!tas marge!s vi*osas e desertas, cheias de flores e de ber*os de verdura, de retirosame!os, o!de as aves ca!tam !a primavera eter!a do !osso cu, e as brisas suspiram t+odoceme!te !as tardes purpuri!as &er1amos ss # ss # e essa solid+o !s a

    povoar1amos com o mu!do a!glico do !osso amorB 8os crepGsculos de ver+o eu alevaria pelas mo!ta!has a embriagar5se de vida !os aromas da terra palpita!te, pelosvales ai!da Gmidos de orvalho e ao tom das guas sem pe!sar !a vida, pe!sa!do s 0ueo amor o oito dos rochedos bra!cos da e$ist"!cia, a estrela dos cus misteriosos, a

    palavra sacrame!tal e mgica 0ue rompe as caver!as do i!fi!ito e da ve!turaB hBdeitado !os seus 3oelhos, ouvi!do sua voz misturar5se ao sil"!cio do deserto, ve!do suaface mais bela !o vu lumi!oso e plido do luar, como seria doce viverB ra assim 0ueeu esperava amar, era assim 0ue eu podia morrer sem saudades da vida, suspira!do de

    amorB &ou um doido, meu 7eusB @or 0ue mergulhar mais o meu cora*+o !essa lagoave!e!osa das ilus%es ?uero ter a!imo para morrer. stalou5se !as mi!has m+os o

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    Gltimo ramo 0ue me erguia sobre o abismo. @ara 0ue so!har mais o 0ue imposs1vel ai!da um so!ho o 0ue vou escrever.u so!hei esta !oite # e so!hei com ela. # ra meio5dia !a floresta. A sombra ca1a !oar calmoso...

    Uma rua

    'enseroso ("asseando)

    Ie!ho febre. efeito do ve!e!o @ara 0ue obre melhor te!ho5o tomado aos poucos.Ie!ho 9s vezes estremecime!tos 0ue me gelam. &i!to um fogo !o est;mago # e asveias do meu crebro parecem 0ueimar o meu crD!io e i!u!d5lo de sa!gue ferve!te. Acabe*a me di: 9s vezes parece5me 0ue os ossos do meu crD!io estalam # a mi!ha vistase escurece e meus !ervos tremem # meu cora*+o parece abafado e palpita a!sioso #a respira*+o pira*+o me custa. hB custa ta!to morrerB

    O Doutor arius ("assando a caalo)

    @e!serosoB @e!serosoB !de vais t+o plido

    'enseroso

    7outor, bom5dia. Acha5me plido

    O Doutor

    omo tua m+o est arde!teB omo tua testa 0ueimaB Ie!s febre, @e!seroso.

    'enseroso

    Ie!ho febre, !+o assim @o!ha a m+o !o meu cora*+o, ve3a como bateB

    O Doutor

    omo teu peito est Gmido de suorB omo pulsa teu cora*+oB @e!seroso, @e!serosoB o0ue te!s, meu amigo

    'enseroso

    0ue te!hoE !+o te!ho !ada # absolutame!te !ada. Adeus, doutor.

    O Doutor

    !de vais sol est arde!te, e te!s febre. 7esca!semos a0ui !a sombra. u e!t+ovamos para casa e deita5te

    'enseroso

    &im. Adeus, doutor. Kai5se apressado .

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    O Doutor

    @e!serosoB @e!serosoB

    Uma ala

    8um ca!to da sala, 3u!to do pia!o, @e!seroso s com a 4talia!a. uve5se o falar co!fusoparti!do de outros lados da sala. Cisadas, murmGrios de home!s e mulheres 0ueco!versam.

    'enseroso

    Adeus, se!hora: eu me vou. Adeus, mas ao me!os dai5me um olhar de compai$+o para0ue se eu morrer de aba!do!o, !+o morra sem uma b"!*+o # e o vosso olhar uma

    b"!*+oB

    A *taliana

    ?ue dizeis, se!hor @e!seroso

    'enseroso

    &im # !ao me e!te!deis: eu sou um i!se!sato. @cbre da0uele a 0uem !+ocompree!demB

    A *taliana

    @or 0ue o dizeis !+o vos prometi a mi!ha m+o @or 0uem se espera !o altar pormim !+o @e!seroso, pela vo!tade de teu pai... 8+o te dei eu mi!ha alma, assim comote darei meu corpo

    'enseroso

    virgemB se acaso um s mome!to de tua vida tu co!sagraste um suspiro aodesgra*ado, se um s mome!to tu o amaste, # ahB 0ue 7eus em paga desse i!sta!te ted" um i!fi!ito de ve!turaB

    A *taliana

    @e!serosoB ?ue te!s 8u!ca te vi assim. ras pe!sativo e ests sombrio. rasmela!clico e ests triste. ?ue te!s, 0ue me !+o co!fias 8+o sou eu tua !oiva

    'enseroso

    O se!horaB &e uma eter!idade se pode comprar por um so!ho, o so!ho 0ue me embalou!a mi!ha e$ist"!cia bem valeta ser comprado por uma eter!idadeB

    A *taliana

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    teu so!ho o meu # o !osso amor # a mi!ha vida por ti, a tua vida por mim: !sdois forma!do um G!ico ser, uma G!ica alma, um mu!do de del1cias e de mistrio s

    para !s e por !sB

    'enseroso

    hB se!hor e acordarB

    A *taliana