________________lusitanos (1)

28

Upload: mariacsdparedes

Post on 28-Dec-2015

11 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ________________LUSITANOS (1)

     

 

Page 2: ________________LUSITANOS (1)

 Os lusitanos, antigos habitantes da Lusitânia estavam relativamente bem organizados, assimilando e dando o seu nome às tribos que iam vencendo. Estrabão indica-nos, na sua Geografia da Ibéria, que "(…) Os montanheses alimentam-se nas duas terças partes do ano com bolota, que depois de secas esmigalham-nas, moem-nas e reduzem-nas a pão, que se conserva por muito tempo; bebem água e uma espécie de cerveja; enquanto ao vinho quase nenhum tem, e o pouco que produzem é consumido nos festins familiares; em lugar de azeite empregam manteiga, comem sentados em bancos construídos junto às paredes, colocando-se conforme a sua idade ou dignidade, as iguarias passam por diante dos convidados, nos seus banquetes dançam ao som de flauta ou da trombeta, fazendo passos figurados, curvando os joelhos e pulando alternadamente...

   " (…) Dormem no chão cobertos com o sagum sobre montes de feno; Usam cabelos compridos e flutuantes, como as mulheres, que, durante o combate, prendem com uma faixa sobre a fronte; praticam exercícios como o pugilato e corridas, bem como simulacros de combate a pé e a cavalo (…)"  

Page 3: ________________LUSITANOS (1)

ARMAS DEFENSIVAS

COETRA, PELTA ou PELTRA Escudos redondos, côncavos exteriormente, com dois pés de diâmetro feitos de esparto, fig. 1. Eram suspensos ao pescoço por intermédio de correias, sem argolas nem asa para a mão.

Figura 1

ESCUDOS De couro endurecido ao fogo, geralmente pintados, fig. 2

Nota: No que diz respeito ao formato dos escudos uns dizem que eram redondos com dois pés de diâmetro (Estrabão) outros que tinham escudos compridos ao modo dos gauleses (Tito Lívio), fig. 27. Nas estátuas encontradas no nosso país todos tinham escudos pequenos e redondos, fig. 3

Figura 2

Figura 3

Page 4: ________________LUSITANOS (1)
Page 5: ________________LUSITANOS (1)

PROTECÇÕES PARA O PEITO Confeccionadas em linho, muito espesso, ou de malha de couro torcido, sendo alguns metálicos ( o que era raro), por vezes utilizavam o perponto, feito de linho almofadado ou com entretela de lã, pespontado, que era utilizado para rebater as pontas das lanças, espadas ou qualquer outra arma aguda.

PROTECÇÕES PARA AS PERNAS As "ocrêas" eram uma espécie de polainas ou grevas confeccionadas em couro ou tecido, fig. 4

Figura 4

Page 6: ________________LUSITANOS (1)

PROTECÇÕES DE CABEÇA

CUDO OU GALEA Casco simples de forma oval confeccionado em couro, preso ao queixo por uma correia tendo, de cada lado, recortes para deixar passar os cabelos soltos ou as tranças. fig. 5

Figura 5

CASCOS De cobre ou bronze, uns tinham um orifício no fundo, por onde saía o cabelo ou crinas, fig. 6 e outros em bronze, com duas ou três cimeiras "à grega" ornados de crinas ou penas. A estas coberturas de cabeça, geralmente eram acrescentadas uma espécie de viseira, em forma de máscara humana, chamada "bucula", que tinha como objectivo defender a cara, fig. 7.

Figura 7

Page 7: ________________LUSITANOS (1)

Figura 6

ARMAS OFENSIVAS

FALCATA Espada curta, à maneira de foice, com fio ou corte, na parte interior, fig. 8.

Figura 8

ESPADA Começaram por ser de cobre forjado e depois de aço, tinham dois gumes e ponta, com punho de metal e geralmente enriquecidas no pomo com figuras diversas. Algumas eram feitas de uma só peça, de têmpera dura e corte afiado, fig. 9 e 10. Na fig. 11 pode-se ver: (a) espada romana, (b) lusitana.

Page 8: ________________LUSITANOS (1)

Figura 9 Figura 10 Figura 11

As espadas eram suspensas por meio de correias em forma de bandoleiras e as bainhas eram de couro ou madeira.

ADAGA Tratava-se de uma espada mais pequena e que tinha por nome "machoera", fig. 12.

Figura 12

Page 9: ________________LUSITANOS (1)

PUNHAL Era uma espécie de faca " rhanda" com cerca de 20 centímetros de comprimento, fig. 13. Nota: Tanto as espada como os punhais foram adoptadas pelas tropas romanas em virtude da sua grande qualidade.

Figura 13

CLAVA Ou "aclide" arma de madeira muito grossa na extremidade inferior, com cravos ou pregos de ferro pontiagudos, fig. 14. Geralmente era suspensa pelo punho por uma correia grossa ou cadeia.

Figura 14

Page 10: ________________LUSITANOS (1)

FUNDA Instrumento de couro, tripa, crina, junco, esparto, etc., que tinha duas pontas de corda, fig. 15 com a qual se lançavam pedra e outros projécteis. Geralmente as pedras lançadas por estas armas, tinham diversas formas e dimensões fazendo-se o possível para terem formas e dimensões muito aproximadamente iguais. Estas pedras eram transportadas numa bolsa de couro. Um bom fundibulário atirava os projécteis a uma distância bastante razoável e com muita eficiência, conseguia, com facilidade, derrubar o inimigo.

Figura 15

ARMAS DE HASTE

LANÇAS DE ESTOQUE De madeira com ponta de bronze ou ferro, fig. 16. SOLIFERRA Arma de arremesso, toda em ferro, fig. 17.

SUDE Toda em madeira endurecida ao fogo, para ficar mais rija, e aguçada nas duas pontas, fig. 18.

SANIÓN Dardo de madeira com ponta de metal, que podia ter diversas formas, fig. 19.

Page 11: ________________LUSITANOS (1)

Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19

GESSO Lança armada de um ferro na ponta, constituindo um dardo de grande alcance, extremamente leve, geralmente transportavam-se dois em cada mão, fig. 20

FALARICA Espécie de chuço muito aguçado, onde uma das extremidades terminava num rolo de estopa impregnada em pez, que era incendiada no momento em que era lançada, fig. 21.

TRAGULA Dardo muito aguçado cuja lâmina tinha a forma de um anzol, que podia ser de diversas dimensões, fig. 22, os mais pequenos perfurava as couraças com bastante facilidade, este género de arma era muito frequente nas mãos dos atiradores peninsulares.

BIDENTE Arma cuja extremidade tinha duas lâminas, fig. 23.

Page 12: ________________LUSITANOS (1)

Figura 20 Figura 21 Figura 22 Figura 23

TRIDENTE Ou "trado", arma que tinha na extremidade uma tripla lâmina (espécie de garfo), fig. 24. Quando era lançado com bastante força, penetrava nas protecções do peito com bastante facilidade.

ARPÃO Arma cuja ponta era farpada, geralmente em madeira endurecida ao fogo, fig. 25.

FALCATA Arma de haste a que superiormente se aplicava uma espécie de foice ou gadanha, fig. 26.

Page 13: ________________LUSITANOS (1)

Figura 24 Figura 25 Figura 26    

Page 14: ________________LUSITANOS (1)

TRAJE

O "sago" era uma espécie de túnica ou gibão, com mangas curtas, comprido até aos joelhos e de diversas cores, geralmente no tom do material em que eram confeccionados, sendo preso por um cinturão de couro ou por tiras de pele entrançada, fig. 27. Era confeccionado em lã grosseira e forte, pele de cabra ou linho, conforme a região. Alguns eram providos de capuz. Sobre este vestiam um manto que consistia num pedaço de fazenda (lã) ou pele de cabra cortada em semicírculo, ou em duas partes, unidas nos ombros por uma costura, podendo também ser fixos por um colar ou fíbula.

Figura 27

Engalanavam-se nos braços e pescoço com braceletes e aros de ouro, bronze, etc. assim como utilizavam alfinetes, pregadores, presilhas e toda a espécie de amuletos decorativos, assim como, nalgumas tribos, tinham o hábito de fazerem tatuagens e pinturas no corpo, fig. 28 e 29.

Page 15: ________________LUSITANOS (1)

Figura 28 Figura 29

Utilizavam peles curtidas de urso ou lobo, com o respectivo crânio, o qual adaptavam à cabeça, deixando cair a pele pelas costas, outras vezes cingiam-nas ao corpo unindo, sob o peito, com as garras do animal, fig. 30.

Figura 30

Calçavam uma espécie de botins entretecidos de fibras de animais, crina, linho, esparto, pele de javali, etc.

Nota: No que diz respeito às cores dos tecidos nunca se chegou a nenhuma conclusão,uns dizem que trajavam com cores vivas, outros que usavam vestes escuras, etc. Efectivamente é bastante difícil conseguir um "género lusitano" na medida em que não havia uniformidade absolutamente nenhuma, os hábitos e tradições variavam de tribo para tribo, assim como também é necessário ter em linha

Page 16: ________________LUSITANOS (1)

de conta o clima e o terreno onde se encontravam estabelecidas essas populações e os meios naturais de que dispunham. Também é necessário ter em atenção a grande influência romana que o período de Sertório trouxe aos Lusitanos. Neste sentido poder-se-á afirmar que existem três épocas distintas no que diz respeito ao armamento, traje, costumes, etc., que poderão ser assim divididas:

- 1ª época: pré Viriato que se poderá considerar a mais primitiva. - 2ª época: Viriato que é o período estudado neste trabalho. - 3º época: Sertório ou seja a da romanização (vestuário, armamento, escudos mais compridos, hábitos, etc.

TÁCTICA

Por vezes ordenavam-se em corpos com cerca de 6 000 homens, combatendo em linha simétricas, colocada de modo a servirem tanto para o ataque como para a defesa, protegendo-se mutuamente, aplicando a formatura em cunha, em que eram bastante exímios, embora a sua grande "especialidade" fosse a guerrilha, a emboscada, o ardil. Se tivermos em consideração o terreno onde eles progrediam que era extremamente arborizado e sem vias de comunicação, assim os lusitanos, face ao romanos, tinham toda a vantagem de além de conhecerem o terreno, uma vez que as suas zonas de refúgio eram autênticos "esconderijos" da guerrilha, praticamente inacessíveis aos exércitos de ocupação, aliavam a tudo isto a ligeireza e flexibilidade face aos romanos, tanto no equipamento como no armamento dos seus guerreiros, dando-lhe assim uma rapidez de movimentos extremamente eficaz. De nada servia o bem preparado e pesado equipamento e armamento do temível exército romano, temível sim mas, nas circunstâncias de uma guerra convencional para combater em campo aberto e não em estreitos caminhos, escarpadas montanhas, desfiladeiros intransponíveis e florestas extremamente densas.

A cavalaria lusitana, regra geral, formava na retaguarda, entrando só em combate na ocasião em que os chefes achassem oportuno e actuavam sempre por entre os intervalos da infantaria; por vezes, os cavaleiros combatiam desmontados, deixando as montadas seguras nas árvores ou em estacas que eles transportavam presas nas extremidades das rédeas.

Page 17: ________________LUSITANOS (1)

Quem melhor os soube descrever foi o geógrafo grego Estrabão na sua "Geografia da Ibéria", assim no capítulo III, §3, n.º 6 relata-nos " (…) os Lusitanos são hábeis e ligeiros nas lutas de guerrilhas, em armar ciladas e em se retirarem de situações desesperadas, fazendo as suas evoluções militares com muita ordem e destreza; tanto combatiam a pé como a cavalo e estes últimos geralmente transportavam um peão na garupa do cavalo, sendo o animal treinado a subir as ásperas encostas das serras(…)"

" (…) Entravam em combate soltando cânticos guerreiros, fazendo uma grande algazarra, gritando e abanando o cabelo para infundir terror, batendo com os pés no chão e as espadas nos escudos, numa bélica gritaria cheia de ardor e entusiasmo(…)"

Era este o testemunho acerca deste povo aguerrido, que lutou tenazmente contra as legiões invasoras em prol da sua autonomia e independência, que era aquilo que os Lusitanos mais prezavam.

Page 18: ________________LUSITANOS (1)

VIRIATO

54A001

Guerreiro e chefe Lusitano que foi assassinado no ano de 140 antes de Cristo. A sua história de resistente e líder de um povo começou com uma sanguinolenta traição dos romanos que iludindo os lusitanos, pela aparente boa fé do Cônsul Galba, depõem as armas com que tinham combatido os romanos e dispersam-se para diferentes locais. Mal começam a retirar pacificamente, o exército de Roma cai sobre eles e executam uma terrível mortandade, escapando poucos, mas entre esses que se salvaram ia Viriato.

À sua voz reúnem-se os lusitanos, jurando vingança, Viriato ainda não é o chefe, combatendo ombro a ombro com os seus, assim o Pretor Caio Vetilio com as suas tropas bem organizadas e disciplinadas, uma vez mais derrotam esses "provocadores pastores", que se vêem obrigados a refugiarem-se nas montanhas e nos locais mais recônditos.

Page 19: ________________LUSITANOS (1)

Neste sentido, uma voz de revolta sobressai entre todas, é a de Viriato que incitando o seu povo à insurreição, à vingança dos seus mortos e à independência do jugo romano, consegue reanimar os seus e eles confiam-lhe o comando (147 a.C.) foi este novo chefe que empregou pela primeira vez o ardil, que sempre fora fatal à lógica de Roma e ao seu exército clássico. Depois de uma série de emboscadas, Viriato à frente de um grupo de cavaleiros simula fazer frente ao inimigo, retirando-se seguidamente, teve este como intuito mostrar ao Pretor que estava vivo e que os Lusitanos estavam dispostos a tudo e assim começou uma série de vitórias para Viriato e o seu povo, que segundo Pinheiro Chagas "(…) junto a Tribola, Vetelio é derrotado. Cinco mil homens, que iam socorrer Tartesso, onde se haviam refugiado o resto das tropas romanas, tem igual sorte, sem um só poder escapar. Caio Plaucio é derrotado na batalha campal junto a Cora (…) "

Monumento em Viseu

" (…) Não é mais feliz Unimano do que os seus antecessores. Caio Nigidio, que traz reforços consideráveis, é completamente destroçado junto a Viseu. Caio Lelio recupera uma passageira superioridade, que enche de alegria Roma. Fábio Emiliano vem com a missão de acabar de vez a guerra, trazendo um reforço de quinze mil infantes e dois mil cavaleiros, que se reúnem ao exército de Lelio, às legiões romanas existentes em Espanha e aos seus aliados. Todo este imenso poder é destroçado, junto a Ossuna, pelo valente chefe Lusitano (…)"

" (…) Fábio toma a desforra em Beja; mas Viriato é incansável: levanta novas tropas e derrota os romanos, encurralando-os nos seus quartéis em Córdova, e caminha em marcha triunfal até Granada e Múrcia! (…)"

" (…) Roma faz os últimos esforços e incumbe o General Serviliano de marchar contra os Lusitanos. Duas vezes derrotado o Cônsul vê-se obrigado a assinar um tratado de paz em que Roma reconhece o poder de Viriato. Não o rectificou a república, enviando outro General, Cipião, que recorrendo à astúcia, já que nada lucrava com a força, descobriu em dois embaixadores de Viriato dois traidores que acabariam por assassinar covardemente o seu chefe (…)"

Assim morreu Viriato, notável resistente e chefe Lusitano que nunca se vergou e se deixou intimidar perante o poder de Roma e do seu invencível exército.

Page 20: ________________LUSITANOS (1)

Vinheta ilustrativa das campanhas de Viritao com as figuras 54A001, 54A002 e 54A003

Page 21: ________________LUSITANOS (1)

O traje de um guerreiro lusitano era composto por um sago de lã (antigo

Page 22: ________________LUSITANOS (1)

saio militar) que os guerreiros usavam debaixo da couraça, geralmente de pele ou linho grosso. Como protecção serviam-se ainda de polainas, peça de vestuário em couro ou pele, para resguardar a parte inferior das pernas. Para protegerem os braços ao nivel dos bíceps usavam as virias.

A principal arma de um guerreiro lusitano era a falcata. Como protecção usavam as caetras,um pequeno escudo redondo com o tamanho de dois pés, muito boas também para atacar. Estas eram presas ao braço do guerreiro através de correias de couro ou correntes de ferro que lhe permitiam uma mobilidade acima da média. Para a luta corpo a corpo e também como arma para guerreiros montados, excelente para abrir e/ou rasgar armaduras, tinham ainda o soliferrum (Uma lança toda em ferro, mais ou menos com o tamanho de um homem, tendo em conta que os lusitanos eram baixos e um pouco atarracados). Como arma de arremeço usavam a trágula, uma lança de madeira apenas com a ponta em ferro ou bronze. Quando iam para combate apanhavam os seus compridos cabelos na nuca, cobrindo a sua face com pez ou um outro pigmento. Os seus trajes eram tingidos de escarlate por uma pigmento importado da Fenícia, o qual apenas muito mais tarde foi adoptado pelo exercito romano que na altura da republica trajava em tons de cinzento.

Page 23: ________________LUSITANOS (1)
Page 24: ________________LUSITANOS (1)
Page 25: ________________LUSITANOS (1)
Page 26: ________________LUSITANOS (1)
Page 27: ________________LUSITANOS (1)

Dizem que os Lusitanos são hábeis em armar emboscadas e descobrir pistas; são ágeis, rápidos e de grande destreza. Usam um pequeno escudo de dois pés de diâmetro, côncavo para diante, que é preso ao corpo por correias de couro, porque não tem nem braçadeiras nem asa. Usam também um punhal ou um gládio. A maior parte dos guerreiros veste

Page 28: ________________LUSITANOS (1)

couraças de linho, e apenas alguns cotas de malha e capacete de tríplice cimeira. Mas em geral usam elmos de nervos. Os peões calçam polainas de couro e estão armados com lanças de ponta de bronze.

Estrabão: Geografia 3.3.6