LUIZA BALDAN

Qualquer lugarFelipe Scovino

A obra de Luiza Baldan parece nos empurrar para uma zona difícil de ser localizada. Arrisco-me a dizer que ela pretensamente se situa entre o silêncio e o (largo) intervalo entre a espera e o esquecimento. Um território preenchido pelo indício de que algo acabou de acontecer por ali ou há muito é preenchido apenas por memórias. São situações imprecisas assim como é incerto chamar de fotografia, o trabalho de Baldan. São imagens de qualquer lugar. Em alguns momentos aproximam-se de pinturas, seja pela presença de uma janela alegórica, seja pela dualidade entre figura e fundo posicionando-se numa estabilidade provisória. Ampliando essa discussão, a luz não é adereço mas personagem central nas narrativas de Baldan. Ela adentra o espaço e por ali permanece. É como se a imagem quisesse assegurar a permanência do elemento “mais” transitório e pontual da natureza (a luz). Existe algo tão próprio de nós (um lar, uma barbearia, um estacionamento), que em suas obras sofre uma suspensão de tempo e espaço; tornam-se estranhos, silenciosos, isolados. Silêncio aqui não está diretamente ligado à ausência humana (até porque “ele” acabou de passar por ali) nem a economia de gestos mas ao caráter ambíguo de presença e solidão que Baldan emprega nas imagens. Silêncio como possibilidade do espectador decifrar aquela cena tão cheia de vestígios em um aparente vazio, e cabe aqui ressaltar, propositadamente natural, sem efeitos cênicos. Em imagens permeadas de trânsitos, suas obras são lugares provisórios. Seja pela espera de alguém que acabou de sair ou nunca virá ou pela tentativa de anular, a todo o momento, os vestígios do que acabaram de “ser”. Há uma espécie de mistério a ser decifrado. A imagem ou lugar escolhido por Baldan não oferece a mínima possibilidade de ser ocupado ou habitado, simplesmente pelo fato de que ele é um qualquer lugar; um território nostálgico que se faz presente apenas como depositário de signos e memórias. Como obra aberta, seus lugares situam-se entre tempos e territórios, preenchidos por silêncios e vazios que se oferecem para serem desvendados pelo espectador, agora na figura de um hóspede, detetive ou intruso. É nessa intersecção, com ausência de fronteiras claras, entre desconforto, estranhamento e reconhecimento que nos colocamos diante das imagens de Baldan. Faz-se presente uma espécie de arqueologia do habitar mas que ambiguamente nunca é ou pode ser um exercício ou um lugar para essa função, porque assim ele não deseja ser.

Novembro 2010

LUIZA BALDAN(Rio de Janeiro, 1980)

FORMAÇÃO ACADÊMICA

2010 Mestre em Linguagens Visuais, EBA-UFRJ, Rio2003 Bacharel em Artes Visuais (Fotografia) / História da Arte, FIU, Miami

PRÊMIOS, BOLSAS E PROJETOS (seleção)

2010 XI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, Funarte / Residência Península Bolsa de fomento a exposições de artistas brasileiros no exterior. MinC/Fundação Bienal SP Palestrante do workshop “Poéticas e Retóricas Contemporâneas”, FUNARTE, Centro Cultural da UFG de Goiânia Indicada para o Prêmio Investidor Profissional de Arte (PIPA), MAM-RJ e IP2009 Residência artística Pedregulho, IPHAN, Rio Prêmio aquisição, 37º Salão de Santo André, SP Indicada a o KLM Paul Huf Award, Foam_Fotografiemuseum Amsterdam Palestrante no “Projeto Portifólio”, Ateliê da Imagem, Rio2008 Centro Cultural São Paulo / Galeria Olido (exposição individual e prêmio aquisição)2007 Finalista da Bolsa Iberê Camargo2003 Finalista do Annual Best College Photography, Photographer’s Forum Magazine, EUA2002 Menção de Honra, Visual Arts Showcase, Graham Center Gallery, Miami Color Express Award, Annual Student Show, The Art Museum, Miami Brown L. & Marion Whately Scholarship, The Visual Arts Spring Review 2002, FIU, Miami

EXPOSIÇÕES (seleção)

2010 Sobre umbrais e afins, Plataforma Revólver, Lisboa, Portugal (Individual / Curadoria Felipe Scovino) Luiza Baldan, Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo (Individual /Curadoria João Bandeira / Texto Cadu Riccioppo) Mapas Invisíveis, Caixa Cultural, Rio (Curadoria Daniela Name) Outras Passagens, SESC, Niterói (Curadoria Mara Pereira) O Lugar da Linha, Paço das Artes, São Paulo / MAC, Niterói (Curadoria Felipe Scovino) Além do horizonte: paisagens contemporâneas, Amarelonegro, Rio (Curadoria Daniela Name) Olhares Femininos: Aqui e Lá, Galeria Fotoativa, Belém (Curadoria Marco Antonio Portella) Simultâneo, Viradão Carioca, 24/04/2010 (Org. Coletivo Filé de Peixe) “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.”, Casa BM, Rio (Org. Bernardo Mosqueira)2009 37º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, São Paulo Nova Arte Nova, CCBB, Rio e São Paulo (Curadoria Paulo Venâncio Filho) Linguagem de Travessia, Centro Cultural da Justiça Federal, Rio Piscinão da Benvinda de Carvalho, Galeria Murilo Castro, Belo Horizonte Pequenos formatos, Subterrânea Atelier, Porto Alegre2008 Luiza Baldan, Galeria Olido, São Paulo (Individual) Formato Polaróide, Galeria Meninos de Luz, Rio 2007 VIII BAC! (Barcelona de Arte Contemporâneo), CCCB, Barcelona Luiza Baldan, Anexo Laura Marsiaj Arte Contemporânea, Rio (Individual) Noturnos, Casa do Saber, Rio (Curadoria Marcia Mello) Luiza Baldan, Centro UFF de Fotografia, Niterói-RJ (Individual)2004 V BAC!, Casa Elizalde, Barcelona (Individual) Brasil noAr , Espacio Galeria dels Ángels, Barcelona2003 IV BAC!, Espacio Hammam, Barcelona (Individual) The Art Show, W-10, FIU, Miami2002 BFA SHOW, The Art Museum, Miami Visual Arts Showcase, Graham Center Gallery, Miami Annual Student Show, The Art Museum, Miami The Visual Arts Spring Review 2002, FIU, Miami

2011

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