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nova Economia_Belo Horizonte_12 (1)_41-67_janeiro-junho de 2002 Lucratividade e qualidade na distribuição de energia elétrica André Garcez Ghirardi Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia Milena Couto Rocha Aluna da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia Luiz Alberto Lima Teixeira Pesquisador Visitante da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia Palavras-Chave Eletricidade; regulação; tarifa; qualidade; investimento. Classificação JEL L94 Key Words Electricity; regulation; rates; quality; investment. JEL classification L94 Resumo Um dos objetivos da privatização dos servi- ços de distribuição de energia elétrica no Brasil foi capacitar as empresas a investir de forma a garantir a qualidade do serviço e a universalização do atendimento. Razões teó- ricas revelam uma possível tendência ao sub-investimento e à deterioração da quali- dade sob o sistema de tarifação pelo preço, adotado para o segmento de clientes cativos. Este trabalho oferece uma análise do desem- penho da COELBA desde a privatização, com o propósito de caracterizar o comportamento da empresa no tocante a investimentos e quali- dade dos serviços. Os resultados não contradi- zem a expectativa teórica de sub-investimento em qualidade. Observa-se que se, por um lado, os investimentos feitos foram suficientes para melhorar o desempenho da empresa em rela- ção a seus próprios resultados passados, por outro lado, eles foram insuficientes para levar a empresa ao patamar de qualidade das melho- res empresas do setor no País. Abstract Privatization of electricity distribution in Brasil had, as one of its stated purposes, generation of sufficient revenue to guarantee service quality and full market coverage. Theoretical considerations point towards the possible tendency to underinvestment and to quality deterioration under price-cap rate regulation, which is the system adopted for the segment of captive consumers. This paper offers an analysis of the observed performance of COELBA since its privatization, in order to assess the firm’s behavior with respect to investment and service quality. The observed results do not contradict the theoretical expectation of underinvestment. There is evidence that investment since privatization was sufficient to improve the firm’s performance with respect to its own past results; nevertheless, investment was insufficient to raise service quality to the standards of the best utilities in the country.

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Lucratividade e qualidadena distribuição de energia elétrica

André Garcez GhirardiProfessor da Faculdade de Ciências Econômicas

da Universidade Federal da Bahia

Milena Couto RochaAluna da Faculdade de Ciências Econômicas

da Universidade Federal da Bahia

Luiz Alberto Lima TeixeiraPesquisador Visitante da Faculdade de Ciências Econômicas

da Universidade Federal da Bahia

Palavras-ChaveEletricidade; regulação; tarifa;qualidade; investimento.

Classificação JEL L94

Key WordsElectricity; regulation;

rates; quality; investment.

JEL classification L94

ResumoUm dos objetivos da privatização dos servi-ços de distribuição de energia elétrica noBrasil foi capacitar as empresas a investir deforma a garantir a qualidade do serviço e auniversalização do atendimento. Razões teó-ricas revelam uma possível tendência aosub-investimento e à deterioração da quali-dade sob o sistema de tarifação pelo preço,adotado para o segmento de clientes cativos.Este trabalho oferece uma análise do desem-penho da COELBA desde a privatização, como propósito de caracterizar o comportamentoda empresa no tocante a investimentos e quali-dade dos serviços. Os resultados não contradi-zem a expectativa teórica de sub-investimentoem qualidade. Observa-se que se, por um lado,os investimentos feitos foram suficientes paramelhorar o desempenho da empresa em rela-ção a seus próprios resultados passados, poroutro lado, eles foram insuficientes para levar aempresa ao patamar de qualidade das melho-res empresas do setor no País.

AbstractPrivatization of electricity distribution in Brasil

had, as one of its stated purposes, generation of

sufficient revenue to guarantee service quality

and full market coverage. Theoretical

considerations point towards the possible

tendency to underinvestment and to quality

deterioration under price-cap rate regulation,

which is the system adopted for the segment of

captive consumers. This paper offers an analysis

of the observed performance of COELBA since

its privatization, in order to assess the firm’s

behavior with respect to investment and service

quality. The observed results do not contradict

the theoretical expectation of underinvestment.

There is evidence that investment since

privatization was sufficient to improve the firm’s

performance with respect to its own past results;

nevertheless, investment was insufficient to raise

service quality to the standards of the best

utilities in the country.

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1_ IntroduçãoA privatização dos serviços de distribui-ção de energia elétrica no Brasil está pra-ticamente concluída. A maioria das prin-cipais empresas distribuidoras anterior-mente operadas pelos estados ou pelaUnião está agora sob a gestão de agentesprivados. Um dos objetivos almejadoscom esta transição foi capacitar as em-presas a investir adequadamente de for-ma a garantir a qualidade do serviço e auniversalização do atendimento.

Dentro do setor de distribuição deenergia elétrica adotou-se a regulação detarifas pelo preço para o segmento de cli-entes cativos. Esta modalidade de regula-ção de tarifas é de uso recente no setorelétrico; as experiências internacionaismais antigas datam de pouco mais de dezanos. Teoricamente, a regulação pelopreço oferece como uma de suas princi-pais vantagens a prática de tarifas maismódicas, devido aos incentivos para re-dução de custos por parte do concessio-nário. Em contrapartida, outras razões,também de cunho teórico, revelam umapossível tendência ao sub-investimentoe, portanto, à deterioração da qualidadesob este regime de regulação tarifária.

Passados os primeiros momentosapós a privatização das distribuidoras deenergia elétrica, cabe perguntar em que

medida verificam-se na prática da regula-ção os prós e os contras previstos na teo-ria sobre o comportamento das tarifas edo investimento. Desde logo é necessárioesclarecer que a plena manifestação dosefeitos previstos pela teoria é um fenô-meno de médio e longo prazos. Não obs-tante, é importante que se avalie, desdeos primeiros instantes, as evidências em-píricas disponíveis sobre o comporta-mento dos investimentos e da qualidadedos serviços sob o regime de regulaçãopelo preço.

Como subsídio a essa discussão,este trabalho oferece uma análise do de-sempenho técnico e econômico-financei-ro da COELBA – Companhia de Eletri-cidade do Estado da Bahia, desde a priva-tização (1997), com o propósito de carac-terizar o comportamento da empresa notocante a investimentos que possam re-percutir sobre a qualidade dos serviços.Para tanto, o trabalho contém inicialmen-te um breve apanhado dos fundamentosteóricos dos sistemas de tarifação pelocusto e pelo preço (Seção 2). A seguirapresenta-se um histórico do controle aci-onário da empresa (Seção 3) como subsí-dio para a posterior análise das decisões deinvestimento. A Seção 4 apresenta dadossobre a estrutura do mercado da empresa.A evolução das tarifas e da receita da em-

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presa são apresentadas na Seção 5, segui-do dos empréstimos (Seção 6), doresultado do serviço (Seção 7), e da repar-tição do lucro líquido (Seção 8). Final-mente, apresenta-se a evolução dos indi-cadores de qualidade (Seção 9) e as consi-derações finais (Seção 10).

2_ Qualidade e tarifação:alguns aspectos teóricos

A definição da tarifa pode ser feita pordois procedimentos distintos. Um deles,conhecido como tarifação pelo custo,baseia-se no controle da taxa de retornopermissível sobre o investimento. O ou-tro, conhecido como tarifação pelopreço-teto, estabelece um limite superi-or para o preço a ser cobrado pelo servi-ço. A seguir apresenta-se resumidamenteas principais características de cada umdestes procedimentos e suas implicaçõespara o comportamento da firma com res-peito a investimentos e qualidade.

2.1_ Tarifação pelo custoNeste sistema, o agente regulador con-trola os preços de forma que a monopo-lista concessionária possa auferir umataxa de retorno considerada “justa”. Aslinhas gerais de procedimento são sim-ples: a empresa subtrai da receita total asdespesas operacionais. A receita líquida

deve ser apenas bastante para remunerara empresa pelo custo da porção não de-preciada do capital investido em instala-ções e equipamentos. Se a taxa de retor-no1 for muito baixa, a concessionáriapode aumentar a tarifa. Se a taxa de retor-no for excessiva, o regulador imporáuma redução de tarifa.

Há muito pode-se dizer sobre oque seria a taxa “justa” de retorno. Paraeste contexto a referência tomada comobase para avaliação é o custo de capital.Uma taxa abaixo do custo de capital se-ria insuficiente para viabilizar o negócio;acima seria excessiva, levando a possí-veis distorções.

Esta forma de tarifação favorece arevelação dos custos, isto é, favorece atransparência por parte do concessioná-rio ao relatar custos ao regulador. Istoocorre na medida em que o concessioná-rio tem certeza (garantia) de que os cus-tos devidamente comprovados serão defato ressarcidos.

O nível de qualidade do serviçodecorre das decisões de investimento dafirma, tendo em vista a recuperação doscustos de investimento e garantia da taxade retorno acordada. A atuação do regu-lador tem, neste âmbito, uma característi-ca essencialmente restritiva. O reguladornão é capaz de garantir que o serviço

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1 Razão entre receita líquida eo valor de instalações eequipamentos.

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prestado será bom, porque atua sobreelementos periféricos do processo de de-cisão, isto é, o regulador pode, no máxi-mo, estabelecer penalidades a seremaplicadas quando o serviço for compro-vadamente ruim.

Sob o sistema de tarifação pelocusto, o regulador procura uma posiçãode equilíbrio entre permitir o repasse decustos de forma a incentivar ganhos deeficiência e evitar que estes repasses se-jam abusivos e, portanto, lesivos aosusuários. Se o regulador for excessiva-mente restritivo no repasse de custos, omonopolista terá menos incentivo parafazer investimentos que melhorem a qua-lidade; pelo contrário, ele tenderá a seacomodar, já que eventuais ineficiênciaspoderão ser repassadas às tarifas. Há ra-zão portanto, para que se permita taxasde retorno acima do custo estrito de capi-tal, à medida que esta postura favoreceuma gestão mais inovadora nos investi-mentos em qualidade e mais expansiva,buscando abrir novos mercados, já queos gestores estarão menos relutantes emlevantar o capital adicional necessário.

2.2_ Tarifação pelo preço-tetoSob o sistema de tarifação pelo pre-ço-teto, o agente regulador estabelece umpreço limite, abaixo do qual a firma tem

liberdade para agir conforme sua conve-niência. O limite é reajustado através deum índice de preços (no caso britânico, oíndice ao consumidor – RPI; no caso bra-sileiro, o índice geral de preços – IGP),corrigido por um fator X, previamenteestabelecido. Devido ao uso corrente dasigla, o sistema é também conhecidocomo “RPI-X”. Como o índice de preçossó é disponível com alguma atraso, exis-te um grau irredutível de defasagem den-tro do sistema RPI-X. A forma geral decálculo do preço em cada período éP RPI X Pt t� � �( – ) 1 (Liston, 1993).

A tarifação pelo preço-teto favo-rece a redução de custos por parte da fir-ma. O regulador estabelece um preço-limite (price-cap) aceito pelo concessioná-rio e constante do contrato de concessão.A partir daí, o agente será o credor do ex-cedente residual gerado (residual claimant),ou seja, seu lucro será tanto maior quan-to mais ele lograr reduzir seus custos.Nesta situação ideal, o concessionário te-ria interesse em empreender o máximoesforço para redução de custos, indepen-dente da capacidade de observação porparte do órgão regulador.

Além do incentivo à redução decustos, outras características do sistemade regulação pelo preço são consideradasvantajosas com relação à tarifação pelo

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custo (Armstrong & Cowan & Vickers,1997, p. 166-173). Uma delas seria a sim-plicidade de operação do sistema. A re-gulação pelo preço poderia ser feita, emprincípio, a partir da fixação de índicesfacilmente calculáveis, prescindindo por-tanto de complexas tarefas como avaliaros ativos que compõem a base tarifária eprever comportamentos de custos e dedemanda. Além disso, ao eliminar a pos-sibilidade do efeito Averch-Johnson,2 osistema de controle pelo preço favorece-ria o aumento da eficiência e a inovaçãotecnológica. Como benefício adicional, aalegada simplicidade de operação do sis-tema de tarifação pelo preço-teto reque-reria menos envolvimento direto doregulador com o concessionário, redu-zindo portanto o chamado “risco de cap-tura”, ou seja, o risco de que as decisõesda agência reguladora estejam alinhadasprincipalmente com as necessidades daempresa concessionária.3 Algumas destaspossíveis vantagens do sistema são deta-lhadas a seguir.

2.3_ Defasagem revisionale repasse de custos

A realidade da tarifação pelo preço-tetoafasta-se consideravelmente das condi-ções preconizadas na forma “pura” do

sistema, que não contempla revisõesintermediárias de tarifas e tampouco orepasse de custos. As diferenças entreaquela forma “pura” e a prática manifes-tam-se principalmente através de dois fa-tores: a definição do período legal para arevisão das tarifas (período revisional) e anecessidade de repasse de custos.

O período revisional seria, emprincípio, uma das principais diferençasoperacionais entre os dois métodos deregulação: pelo custo e pelo preço. O sis-tema de controle pelo custo exigiria revi-são freqüente da tarifa de modo aassegurar a taxa de retorno contratada.Um intervalo regulatório excessivamentelongo poderia prejudicar os consumido-res, na presença de custos decrescentes,ou inviabilizar o negócio da concessioná-ria, na presença de custos crescentes. Emsua forma “pura”, o sistema de tarifaçãopelo preço-teto poderia operar com lon-gos intervalos regulatórios.4 Na práticaos intervalos não são tão longos devido ànecessidade da firma adaptar-se a mu-danças em seus custos operacionais. Àmedida que estas revisões tornam-seobrigatórias e freqüentes, para garantircondições de prestação de serviço, o mé-todo de tarifação pelo preço-teto aproxi-ma-se do método de tarifação pelo custo.

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2 O efeito AJ é umaconseqüência da regulaçãopelo custo, que leva a empresaa sobreinvestir em qualidade.Para maiores detalhes ver, porexemplo, Kahn (1988).3 Para uma revisão das idéiasbásicas da Teoria da Captura,veja-se, por exemplo,Peltzman (1989).4 Na situação ideal poderia ser“infinito” (Armstrong &Cowans & Vickers, 1997,p. 174).

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Na prática tem prevalecido um pe-ríodo revisional de cinco anos. Este perío-do foi o adotado no sistema elétricobritânico e é também o prescrito nos con-tratos do setor elétrico brasileiro. Este é operíodo para revisões tarifárias, ou sejapara a reavaliação dos elementos estrutu-rais das fórmulas de aumento de preços,ou seja, índice de preços e índice de pro-dutividade. A revisão não deve ser con-fundida com os reajustes. No decorrerdestes cinco anos são feitos reajustes anu-ais da tarifa. Estes são feitos com base noíndice de preços e devem ser suficientespara assegurar a viabilidade da concessão,à medida em que o movimento do índicede preços refletir aproximadamente a vari-ação dos custos da concessionária.

A possibilidade de reajustes e a ex-tensão destes reduzem as diferenças queteoricamente existiriam entre os sistemaspreço-teto e custo. Vale repetir que emsua forma “pura” a tarifação pelo pre-ço-teto não permitiria nenhum repassede custos, enquanto que a regulação pelocusto permitiria repasse total. Daí a razãopela qual a tarifação pelo preço-teto ofe-receria, em princípio, maiores incentivosao esforço para a redução de custos, en-quanto que o sistema taxa de retorno fa-voreceria “transparência” na revelaçãode custos ao agente regulador por parteda empresa concessionária.

Na prática é impossível a tarifaçãopelo preço-teto sem nenhum repasse. Oregulador permite à firma os repasses decustos impostos à concessionária, tais co-mo impostos e contratos de compra deenergia em termos não definidos no ins-trumento de concessão. No limite, sehouvesse repasse total dos custos, o siste-ma tarifação pelo preço-teto seria o mes-mo que tarifação pelo custo. O que sepermite, usualmente, é apenas o repassedos custos segundo dois critérios:

a. estar fora do controle da firma;b. serem observáveis.

O motivo para os reajustes e re-passes de custos seria proteger a conces-sionária contra uma escalada de custos deinsumos, e também deixar aberta a possi-bilidade de repassar ao consumidor even-tuais reduções nestes custos. Os custosrepassados tendem a ser variáveis e re-presentam uma porção considerável docusto total. Neste caso, a fórmula de cál-culo toma a forma RPI X Y� � , onde Y

é o termo de repasse de custos, que tipi-camente corresponde a custos tais comotransmissão (que têm regulação prórpia),compra de eletricidade para revenda aconsumidores cativos com regras não de-finidas anteriormente, e aumentos de im-postos (Armstrong & Cowan & Vickers,1997, p. 298).

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As implicações tarifação pelo pre-ço-teto para a qualidade do serviço tendema ser negativas, devido à transferência de(parte do) risco ao concessionário.5 Umavez fixado o preço limite, a firma terá in-centivo para cortar custos de todas as ma-neiras e isto, evidentemente, tenderá ainibir possíveis investimentos necessáriospara a melhoria da qualidade do serviço.Ou seja, o sistema de tarifação pelo pre-ço-teto, ao contrário da tarifação pelo cus-to, não ofereceria incentivo tão forte aoinvestimento, e poderia levar a firma asub-investir em qualidade a um dado nívelde preços. A empresa só investirá em au-mento de qualidade à medida que isto levarao aumento de demanda e de lucros, isto é,ela não levará em conta o possível efeito doaumento de qualidade sobre o bem-estaragregado. Torna-se portanto necessária aregulação direta da qualidade no sistema detarifação pelo preço-teto (Armstrong &Cowan & Vickers, 1997, p. 173). A práticadesta regulação se dá pela fixação de pa-drões mínimos da qualidade que devem seratendidos pela empresa, sob risco de san-ções e penalidades.

As mesmas qualidades que repre-sentam vantagens da tarifação pelo pre-ço-teto podem ter sua contrapartidanegativa, particularmente sob o ponto devista de qualidade do serviço. Na condi-

ção de credor do excedente residual abai-xo do preço-limite, a firma regulada temde fato incentivo para minimizar custos,mas isto implica também um incentivopara rebaixar os padrões de qualidade doserviço, à medida em que estes represen-tam custos adicionais. Esta característicatem também rebatimentos potencial-mente negativos sobre a universalidadedo serviço, já que a empresa não terá in-centivo para atender usuários com altocusto de serviço ou com baixa capaci-dade de pagamento (Armstrong & Co-wan & Vickers, 1997, p. 173).

Para o concessionário monopo-lista, o aumento da demanda decorrentedo investimento em qualidade só contri-buirá para aumentar lucros se o preçopermitido for maior que o custo margi-nal da melhoria de qualidade. Ao tomarsua decisão, a empresa ignora o efeitoque isto possa ter sobre o bem-estaragregado. Seu interesse concentra-seapenas no efeito marginal sobre a de-manda e, portanto, conflita com o inte-resse do usuário à medida que estesempre preferiria um serviço com me-lhor qualidade. Este conflito de interes-ses representa um argumento sólidopara que exista regulação explícita e pro-ativa da qualidade de serviço sob o siste-ma de regulação pelo preço.

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5 O repasse de alguns custostransfere este risco para oconsumidor.

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Uma dificuldade adicional existe àmedida que se procura implantar a tarifa-ção pelo preço-teto dentro de um ambien-te de incerteza quanto às condições decustos. As empresas concessionárias estãooperando num ambiente institucionalnovo e que pode ser percebido como fon-te de incertezas. Sob estas condições o re-gulador estará impondo risco excessivo àfirma se fixar um limite estreito de preço.Para garantir a viabilidade do empreendi-mento e tornar atrativas as condições deinvestimento para expansão do serviço, oregulador será obrigado a estabelecer umteto relativamente alto para as tarifas, oque implicará na perda parcial ou total datransferência de excedente do monopo-lista para os usuários (Armstrong & Co-wan & Vickers, 1997, p. 173).

3_ Controle acionário da empresaA estratégia de repartição de lucros entreinvestimento e dividendos praticada pe-la empresa depende, em larga medida,da composição do controle acionário.Quanto maior a parcela do capital detidapelo grupo controlador, mais a empresatenderá a praticar uma política generosade dividendos, em detrimento dos inves-timentos. Com o intuito de contextuali-zar a estratégia de investimentos da

empresa, apresenta-se a seguir um brevehistórico da evolução do controle acioná-rio da COELBA.

A COELBA foi criada em 1960para melhorar os serviços de fornecimentode energia elétrica no Estado, que vinhamsendo prestados por prefeituras municipaise algumas empresas privadas sem recursospara investimentos e com usinas térmicasultrapassadas, de baixo rendimento. Nomomento da instituição, o Estado da Bahiadetinha 57,34% do capital social da empre-sa. Ao longo das décadas de 60 e 70 a em-presa ampliou a consolidação dos serviçosde energia elétrica, incorporando os servi-ços prestados pelas prefeituras e as demaisempresas regionais existentes, entre elas aCERC (Centrais Elétricas do Rio de Con-tas), e a CEEB (Companhia de EnergiaElétrica da Bahia). Uma vez consolidada aprestação do serviço, a COELBA expan-diu-se na década de 80, financiada com re-cursos do Banco Interamericano deDesenvolvimento – BID. Na primeira me-tade da década, os recursos provenientesdo BID somaram R$ 215 milhões, elevan-do de 28 para 65% a proporção de domicí-lios baianos atendidos com energia elétrica.Além do financiamento externo, a articula-ção do planejamento da COELBA com oplanejamento do Estado favoreceu a ex-pansão da empresa (Mota, 1999).

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O aumento das taxas internacio-nais de juros, associado ao endividamen-to da moeda estrangeira, fizeram comque a empresa terminasse a década de 80com dificuldades para continuar financi-ando suas atividades. Assim sendo, o iní-cio da década de 90 marcou o direci-onamento dos esforços da empresa paraencontrar soluções para o financiamentode curto prazo. Embora a empresa tenhaaberto seu capital em julho de 1994, oEstado da Bahia conservava em seu po-der 80,14% das ações ordinárias e25,29% das ações preferenciais, em no-vembro de 1996.

De 1996 até julho de 1997, a em-presa preparou-se para a privatização,adotando medidas tais como a requisiçãode prorrogação, por mais 20 anos, dasconcessões de distribuição e de geração; aredução do número de cargos em comis-são; o estabelecimento de um programade incentivos à demissão e à aposentado-ria; a reativação do programa de promo-ção por mérito; a ampliação de treina-mento aos empregados; a modernização eampliação dos sistemas de processamentode dados; a renovação da frota de veícu-los; e a tentativa de implantação da ISO-9002 em algumas áreas.

No leilão realizado em julho de1997, na Bolsa de Valores do Rio de Ja-

neiro, o consórcio Guaraniana S/A,composto pela empresa espanholaIBERDROLA, pelo PREVI, BB Inves-timentos, Brasil CAP e BB Ações Price,arrematou 65,64% do capital votante daempresa, ao preço de R$ 1,73 bilhões.Ainda em 1997, a COELBA adquiriu,também através de leilão de privatiza-ção, o controle acionário da COSERN(Companhia Energética do Rio Grandedo Norte). Do mesmo modo, aIBERDROLA, PREVI e BB Investi-mentos compraram a CELPE (Compa-nhia Energética de Pernambuco) pelopreço mínimo de R$ 1,78 bilhões em fe-vereiro de 2000.

Em 1998, o Capital Social daCOELBA era composto por 18.817.734ações, sendo 14.835.082 ordinárias e3.982.652 preferenciais, sem valor nomi-nal. O grupo controlador (GuaranianaS/A) detinha 66,4% do capital votanteda empresa e 19,3% das ações preferen-ciais, representando uma participação de56,4% no capital total.

Em 2000, o grupo controlador li-derado pela IBERDROLA elevou suaparticipação no capital total da empresapara 87,84%, passando a ter 92,46% docapital votante da COELBA. Ou seja, emdois anos o grupo controlador passou adeter a quase totalidade do capital da em-

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presa. Nesta circunstância ele seria bene-ficiado por uma política voltada paradistribuição de dividendos.

4_ Estrutura e evoluçãodo mercado consumidor

A primeira característica analisada é a estru-tura e evolução do mercado. Para que aempresa tenha condições de investir é ne-cessário que exista demanda por serviçosde melhor qualidade. É necessário tambémque o mercado apresente expansão signifi-cativa em seus principais segmentos.

Uma das principais característicasdo mercado da COELBA é a dispersão.Há um grande número de clientes e oconsumo médio de cada um deles é pe-queno. Em 2000, a COELBA servia cer-ca de 97% dos usuários, o que cor-responde a 2,9 milhões de clientes em

414 municípios da Bahia. Em contrastecom a grande quantidade de clientes, aenergia comercializada no ano de 2000atingiu 9,9 TWh que, embora representeum acréscimo de 10% em relação ao anoanterior, corresponde a 59% do totalconsumido na Bahia. Isto significa dizerque o custo de atendimento do mercadoda COELBA é relativamente alto, e que amanutenção de padrões aceitáveis dequalidade requer investimentos propor-cionalmente maiores do que seria neces-sário para empresas, como a Chesf, queoperam num mercado de cargas maisconcentradas.

Os clientes da COELBA estãoprincipalmente na Classe Residencial, quecorresponde a 87% do total (Tabela 1). Jáo consumo da classe Residencial, emboratambém seja o maior, é de grandeza com-parável ao das demais classes.

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Tabela 1_ Estrutura do mercado da COELBA em 1999

ClasseClientes

%Consumo

%Receita

%

Residencial 87 35 46

Industrial 1 22 16

Comercial 8 20 22

Outras 4 23 16

Fonte: http://www.coelba.com.br/frame2.htm.

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No período que se seguiu à priva-tização (1997 a 2000), a empresa aumen-tou a energia fornecida a uma taxamédia de 5% a. a., chegando a 9.929GWh em 2000. Ressalte-se que, naqueleano, a taxa de crescimento da energiafornecida em relação ao ano anterior foide 10%, muito superior à média alcança-da no período considerado. Isto se deveem boa parte ao fraco desempenho ob-servado em 1999, quando o mercado daCOELBA apresentou retração de 4%no consumo de energia, em relação a1998. Este comportamento refletiu omenor nível de atividade da economia

brasileira devido, em parte, à grandedesvalorização cambial ocorrida no iní-cio de 1999. Houve decréscimo no con-sumo de todas as classes, em virtude docomportamento recessivo da economia,principalmente após a desvalorizaçãodo Real. A evolução do mercado e suasrespectivas taxas de crescimento podemser observadas através da Tabela 2 e daTabela 3 a seguir.

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Tabela_ 2 Evolução do mercado da COELBA

Ano Clientes�

%Consumo

GWh�

%Acum

%

1995 2.238.394 7.533

1996 2.280.255 1,9 8.068 7,1 7,1

1997 2.372.666 4,1 8.455 4,8 12,2

1998 2.565.544 8,1 9.068,2 7,3 20,4

1999 2.689.083 4,8 9.028,6 -0,4 20,0

2000 2.896.182 7,7 9.929 10,0 31,9

Fonte: COELBA – “Panorama Geral – Consumo de Energia”. Elaboração própria.

http://www.coelba.com.br/frame.htm, obtido em 23/12/2000.

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Deve-se registrar o grande dina-mismo do mercado em termos de núme-ro de consumidores, que apresenta cres-cimento expressivo ao longo de todo operíodo analisado, inclusive durante oano crítico de 1999. Ao longo do períodode referência, o consumo de eletricidadena área de concessão da empresa teve au-mento acumulado de 31,9%, o que carac-teriza um mercado em franca expansão, adespeito do fraco desempenho econômi-co agregado observado à mesma época.

Nota-se ainda o nível bastante ba-ixo de consumo por cliente, que ficaabaixo dos 300 kWh/mês. Há portan-to um grande potencial de crescimentode receita na área de concessão da

COELBA, não só pelo expressivo cres-cimento do número de ligações, comotambém pelo potencial de aumento deconsumo por cliente.

5_ Evolução das tarifase receita bruta

A capacidade que as empresas de distri-buição têm de realizar investimentos de-pende diretamente de uma política tari-fária que permita a recuperação de custose ainda a geração de excedentes para in-vestimentos. É fato que a defasagem detarifas foi uma das principais causas dadescapitalização do setor elétrico, quan-do sob gestão estatal. Sabe-se igualmente

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Lucratividade e qualidade52

Tabela 3_ COELBA – Consumo médio de energia por cliente

Ano (kWh)/mês�

%

1995 280,4

1996 294.9 5,1

1997 297.0 0,7

1998 294.6 -0,8

1999 279.8 -5,0

2000 285.7 2,1

Fonte: COELBA – “Panorama Geral – Consumo de Energia”. Elaboração própria.http://www.coelba.com.br/frame.htm, obtido em 23/12/2000.

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que um dos pontos fundamentais da re-forma do setor elétrico brasileiro foi aadoção do sistema de tarifação pelo pre-ço-teto (price-cap). Quando da implanta-ção da reforma houve controvérsia quan-to ao índice de preços a ser usado no rea-juste das tarifas. Contrariando a práticaexistente, que preconiza o uso de índicesde preços ao consumidor, adotou-se umíndice geral de preços (IGP-M) comobase para o reajuste tarifário para o setorde distribuição de energia elétrica. É ne-cessário examinar qual tem sido o resul-tado desta prática e de que forma istotem influenciado as tarifas e, portanto, areceita da empresa.

Constata-se que durante o perío-do de referência (1997-2000), a COELBAteve suas tarifas reajustadas em 33,92%,

o que é inferior à variação acumuladado IGP-M no período (44,81%). Isto seexplica pelo fato de que, no processo dereajuste, o índice de preços incide somen-te sobre a porção de custos não-gerenciá-veis pela empresa. Deve-se destacar noentanto que o valor acumulado dos índi-ces de preços ao consumidor no mesmoperíodo foi muito inferior. O INPC, porexemplo, teve variação total de 21,49%,ou seja, menos da metade da variação doIGP-M. Vê-se portanto que o reajuste ta-rifário médio concedido à COELBA noperíodo foi cerca de 58% superior à varia-ção de preços ao consumidor (Tabela 4).

André Garcez Ghirardi_Milena Couto Rocha_Luiz Alberto Lima Teixeira 53

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Tabela 4_ Tarifas e índices de preços

AnoData daPortaria

Data davigência

Reajuste(%)

Reajusteacum.(%)

Tarifa médiaglobal

R$/MWh

IGP-M%

IGP-M acum

%

INPC

%

INPC acum

%

1997 17/04 22/04 10,50 10,50 93,00 7,74 7,74 4,26 4,26

1998 24/04 27/04 3,53 14,40 99,35 1,79 9,67 2,47 6,84

1999 20/04 22/04 5,38 20,55 107,80 20,10 31,71 8,13 15,53

2000 19/04 22/04 11,09 33,92 147,8 9,95 44,81 5,16 21,49

Fonte: ANEEL – “Agência Nacional de Energia Elétrica” e elaboração própria. http://www.aneel.gov.br/pesqdoc.htm, obtido em 23/12/2000.

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Vale repetir que o IGP-M, sendoum índice geral de preços, é muito maissensível às variações cambiais. Evidênciadisso é que o impacto da desvalorizaçãocambial ocorrida em 1999 teve repercussãomuito maior na variação anual do IGP-M(20,10%) do que na do INPC (8,13%).Ora, no caso da COELBA, isto representauma distorção, já que os custos operacio-nais da empresa não estão vinculados aocâmbio. Contrariamente às empresas dossistemas Sul e Sudeste-Centroeste quecompram energia de Itaipu, denominadaem Dólares, a COELBA compra sua ener-gia da Chesf, denominada em Reais, nãohavendo portanto razão para que sejam re-passadas à tarifa as variações cambiais.

A recomposição das tarifas acimados níveis de preços do varejo, associada ànatureza da expansão do mercado dentroda área de concessão da empresa fizeramcom que a receita bruta da COELBA apre-sentasse crescimento acumulado de 58,1%no período de referência. Isto é, a receitabruta da empresa cresceu cerca de 30% aci-ma do índice geral de preços. Mesmo noano de 1999, que foi notoriamente difícilem termos de crescimento de mercados, aCOELBA registrou aumento de receitabruta de 10,3% em relação ao ano anterior(Tabela 5). Ou seja, a receita bruta não re-presentou restrição à geração de recursospróprios para investimentos.

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Lucratividade e qualidade54

Tabela 5_ Evolução da Receita Bruta

AnoReceita Bruta

R$ milhõesCrescimento Anual

%Acum

%

1997 985,3

1998 1156,1 17,3 17,3

1999 1274,9 10,3 29,4

2000 1558,1 22,2 58,1

Fonte: Relatórios Anuais da COELBA (1997-2000) e elaboração própria.

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6_ Empréstimos, financiamentose encargos da dívida

A despeito de uma receita bruta crescente,a empresa poderia ter sua capacidade de in-vestimento prejudicada por obrigações fi-nanceiras denominadas não apenas emReais, mas também em moeda estrangeira.Ou seja, para avaliar a capacidade de inves-timento é também necessário caracterizar aexposição da empresa a variações cambiaisatravés de suas obrigações financeiras.Entende-se que a capacidade de investi-mento da empresa seria negativamente afe-tada se a empresa tivesse grande exposiçãoem Dólares num período de desvaloriza-ção cambial acelerada.

A dívida, em Dólares norte-ameri-canos convertida em Reais, da COELBAem 1997 foi de R$ 116,3 milhões, repre-sentando 30,5% da dívida total da empre-sa. Em 1998, a COELBA reduziu o total

de sua dívida em 42%, mas a redução doendividamento da concessionária de-veu-se, principalmente, ao decréscimo dadívida em moeda nacional. Isto contribuiupara que o percentual da dívida total daempresa, que estava em Dólares, aumen-tasse para 52,6%.

Nos dois anos seguintes, verifica-seque a COELBA aumentou fortemente suadívida em moeda nacional e, em menorproporção, aumentou o endividamentoem Dólares como conseqüência da desva-lorização cambial. Assim, a dívida em Dó-lares passou a representar 33,7 e 29,9% dadívida total da empresa nos anos 1999 e2000, respectivamente.

A Tabela 6 mostra que a COELBAvem reduzindo seu saldo devedor em moe-da estrangeira, mas que o valor desta dívidaem Reais vem aumentando devido às des-valorizações cambiais.

André Garcez Ghirardi_Milena Couto Rocha_Luiz Alberto Lima Teixeira 55

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Tabela 6_ Dívida em moeda estrangeira

Dívida 1997 1998 1999 2000

Em moeda estrangeira (em mil R$) 148.371 143.066 169.916 181.670

Em moeda nacional (em mil R$) 232.264 76.525 261.737 278.792

Total 380.635 219.591 431.653 460.462

Parcela em moeda estrangeira (%) 39,0 65,2 39,4 39,5

Variação do Dólar no ano (%) 6,90 8,27 48,01 9,30

Fonte: Relatórios Anuais da COELBA (1997-2000).

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Conforme a Tabela 6, verifica-seque a COELBA diminuiu a captação deempréstimos em Dólares de US$ 104milhões em 1997 para US$ 97 milhõesem 1998, e manteve essa tendência nosanos seguintes. Nota-se porém que oendividamento em Dólares da empresa,expresso em Reais, não seguiu esta ten-dência. De 1997 para 1998, ele diminu-iu, mas, no ano seguinte, ele aumentoucom a maxidesvalorização de 1999. Em2000 a desvalorização cambial em rela-ção ao Dólar foi bem menor, apenas9,3%, o que proporcionou redução nosaldo em Reais do endividamento ex-terno da empresa.

Pelo exposto, a COELBA nãopode ser considerada como uma em-presa altamente exposta à variação doDólar ao fim do período de referência,já que seu endividamento nesta moedarepresentava apenas 29,9% de sua dívi-da total em 2000. O endividamento ex-terno não representou, portanto, umobstáculo significativo à capacidade deinvestimento da empresa.

7_ Evolução do resultadodo serviço e do lucro líquido

Entre 1997 e 2000, o resultado do serviço(atividade de geração, transmissão, distri-buição de energia) da COELBA aumen-tou a cada ano com o crescimento dofornecimento de energia elétrica e a ade-quação dos custos operacionais. No anode 1997, o resultado do serviço foi deR$ 98,1 milhões. Já no ano de 1998, esteresultado apresentou um crescimento de33,9% em relação ao ano anterior, atingin-do a marca de R$ 131,3 milhões.

A COELBA fechou o ano de1999 com um resultado do serviço deR$ 206,9 milhões, o que representou umcrescimento de 57,6% em relação à1998. Por fim, este resultado em 2000somou R$ 293,2 milhões, sendo 42% su-perior ao verificado em igual período de1999. Esse desempenho foi obtido,principalmente, pela diminuição dosgastos operacionais, especialmente asdespesas com pessoal (Tabela 7). O nú-mero de empregados da empresa caiu de4186 em 1997 para 2956 em 2000, o quecontribuiu com o crescimento dos indi-cadores de produtividade a cada ano noperíodo pós-privatização.

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Lucratividade e qualidade56

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A COELBA encerrou o ano de1997 com um lucro líquido de R$ 89,7milhões, recuperando-se do prejuízo deR$ 250,6 milhões apresentado no ano an-terior à privatização, quando a baixa dacorreção monetária prejudicou bastanteseu resultado. Em 1998, o lucro líquidoelevou-se 114,8% em relação ao exercí-cio de 1997, alcançando R$ 192,6milhões. O bom desempenho foi influ-enciado decisivamente pelo lucro deR$ 131,3 milhões apurado na atividade deenergia elétrica. Registre-se que o lucro lí-quido desse período correspondeu a16,6% de retorno sobre os capitais pró-prios, bem acima da média para o setorde distribuição de eletricidade, e acimatambém da taxa de retorno entre 12 e15% sugerida pela Coopers & Lybrandpara o setor elétrico brasileiro.

Entretanto, a empresa não conse-guiu manter o bom desempenho obtidono ano de 1998, fechando o exercício de1999 com um prejuízo de R$ 83,4 mi-

lhões. Esse resultado foi influenciadopela conjuntura econômica nacional, ca-racterizada pela desvalorização cambial,acompanhada da elevação das taxas dejuros, como parte da política de estabili-dade monetária.

No ano de 2000, passado o efeitocambial, a empresa apresentou forte re-cuperação no seu resultado, influenciadapela queda na taxa de juros e pela menorvolatilidade das taxas de câmbio nesteperíodo. A COELBA fechou o ano 2000com um lucro líquido de R$ 150,7 mi-lhões, contra um prejuízo de R$ 83,4 mi-lhões registrado no ano anterior. (Tabela8). Observa-se portanto que, à exceçãodas perdas decorrentes da desvalorizaçãocambial de 1999, o lucro líquido da em-presa apresentou notável crescimento oque, em princípio, viabilizaria o aumentocorrespondente de investimentos, desdeque ela não deseje amortizar rapidamenteas dívidas assumidas.

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Tabela 7_ Indicadores selecionados

1997 1998 1999 2000

Vendas/Empregado (MWh) 2008 2464 2754 3366

Resultado do Serviço/Empregado (em mil R$) 23,43 35,48 62,33 99,2

Consumidores/Empregado 567 693 810 941

Fonte: Relatórios Anuais da COELBA (1997-2000).

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8_ Repartição do lucroentre dividendos e reservapara investimentos

O lucro líquido de R$ 89,7 milhões apu-rado no exercício de 1997, descontadosos 5% destinados à reserva legal, teve aseguinte destinação: R$ 68,9 milhões(77%) foram distribuídos como paga-mento dos dividendos aos acionistas, eR$ 16,2 milhões (18%) foram destina-dos à reserva de retenção de lucros parainvestimentos.

Em 1998, a repartição do lucro lí-quido entre os dividendos e a reserva deretenção de lucros para investimentos foium pouco mais favorável a investimen-tos, mas a porção destinada aos acionis-tas continuou maior. O montante deR$ 118,8 milhões (62%) foi distribuídocomo pagamento dos dividendos e dos

juros sobre capital próprio, e R$ 64,2milhões (33%) foram retidos para inves-timentos.

Não houve distribuição de divi-dendos em 1999 devido ao prejuízo re-gistrado nesse ano. Mas, com a recu-peração de seu resultado em 2000 vol-tou a prevalecer o viés em favor de divi-dendos. A empresa remunerou seusacionistas com 83% dos seus lucros, oque representa R$ 124,8 milhões. Ape-nas R$ 18,4 milhões (12%) foram reti-dos para investimentos (Tabela 9).

Verifica-se portanto que, após aprivatização, a COELBA vem adotandouma política generosa de distribuição dedividendos, remunerando seus acionistascom elevada parcela do lucro líquido.

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Lucratividade e qualidade58

Tabela 8_ Evolução do resultado da COELBA (em milhões de Reais)

Ano Resultado do serviço Lucro líquido

1997 98,1 89,7

1998 131,3 192,6

1999 206,9 -83,4

2000 293,2 150,7

Fonte: Relatórios Anuais da COELBA (1997-2000).

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Evidentemente que a repartição delucros não é a única fonte de investimen-tos, já que a empresa recorre também a fi-nanciamento externo. Alavancada pelosbons resultados obtidos, e pela excelenteperspectiva de crescimento de mercado, aCOELBA vem aumentando os investi-mentos no sistema elétrico a cada ano. Em1997, a empresa desembolsou R$ 66,5 mi-

lhões. Nos anos seguintes, a concessioná-ria elevou os recursos destinados ao in-vestimento a R$ 165,4 milhões em 1998,R$ 189,2 milhões em 1999 e R$ 238,9 mi-lhões em 2000.

O desembolso de R$ 238,9 mi-lhões, em 2000, desdobra-se da formamostrada na Tabela 10.

André Garcez Ghirardi_Milena Couto Rocha_Luiz Alberto Lima Teixeira 59

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Tabela 9_ Repartição do lucro líquido (em milhões de Reais)

AnoDividendos e juros semcapital próprio pagos

Reserva de retenção delucros para investimentos

1997 68,9 16,2

1998 118,7 64,2

1999 0 0

2000 124,8 18,4

Fonte: Relatórios Anuais da COELBA (1997-2000).

Tabela 10_ Investimentos em 2000

Item R$ milhões

Expansão e melhoramento do sistema elétrico 198,9

Telecomunicações e automações de subestações 16,8

Informática e suporte da empresa 23,2

Total 238,9

Fonte: INFOINVEST – “Informativo Anual 2000 – Projetos de Expansão, Modernização e Diversificação”.http://www.infoinvest.com.br/ptb/empresa.asp?codcvm=014524, obtido em 30/05/01.

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Segundo estes dados, a empresadestinou cerca de 83% de seu investimentototal à Expansão e melhoramento do sistema elé-

trico. Embora volumoso em termos do va-lor total, resta saber se o montante inves-tido na melhora do sistema levou, de fato,ao aprimoramento da qualidade técnicados serviços. Este ponto será examinadoem detalhe na seção seguinte.

De maneira geral observa-se que,juntamente a uma política generosa dedistribuição de dividendos, a COELBAvem alavancando volume considerávelde recursos externos para investimentosna melhoria da qualidade do sistema dedistribuição de eletricidade. Nota-se noentanto, que estes investimentos poderi-am ser significativamente maiores se aempresa se dispusesse a investir uma par-cela maior de recursos próprios, desti-nando a investimentos uma parcelamaior do lucro líquido.

9_ Indicadores técnicosde qualidade

Os indicadores técnicos de qualidade(DEC e FEC)6 podem, a longo prazo, daralguma indicação da eficácia dos investi-mentos da empresa na melhoria da quali-dade dos serviços. No primeiro ano pós-privatização deteriorou-se a qualidade dofornecimento de energia elétrica pelaCOELBA. No que diz respeito à duraçãomédia das interrupções, o DEC, que em1997 (ano da privatização) era de 31,56horas, passou a 32,55 horas em 1998. Omesmo ocorreu com o indicador da fre-qüência média anual das interrupções, oFEC: em 1997, ele ficou em 15,74, au-mentando para 18,04 em 1998. Depoisdesta queda de qualidade no período ini-cial, a empresa conseguiu recuperar-senos dois anos seguintes, tanto no que dizrespeito à duração quanto à freqüênciadas interrupções (Tabela 11).

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Lucratividade e qualidade60

Tabela 11_ Indicadores técnicos da COELBA

1997 1998 1999 2000

DEC 31,56 32,55 24,99 24,91

FEC 15,74 18,04 14,38 11,68

Fonte: Relatórios anuais da COELBA (1997-2000).

6 Estes indicadoresrepresentam, respectivamente,a duração média e a freqüênciaanual das interrupções noserviço ao consumidor.

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Portanto, o desempenho da em-presa apresenta melhora, quando compa-rado aos resultados dos anos imedia-tamente seguintes à privatização. Apesardisso, deve-se ter em mente duas restri-ções, ao se considerar estes indicadorestomados para a empresa isoladamente.Primeiro, que estes são indicadores com-putados pela própria empresa, sem umprocedimento de auditoria externa des-tes cálculos. Segundo, deve-se notar quedurante o período de referência houvemudança no procedimento de cálculo, eque os eventuais impactos desta mudan-ça não são aqui considerados.

Os efeitos prejudiciais destas res-trições podem ser atenuados através deuma comparação entre o desempenhotécnico da COELBA e das demais em-presas do setor, desde 1997. Com respe-ito ao DEC observa-se (Tabela 12) que aCOELBA tem mantido um padrão dequalidade sempre superior à média dasempresas do Nordeste, mas que esta su-perioridade se reduz ao longo do perío-do considerado. Portanto, vem dimi-nuindo a diferença entre o padrão deDEC da COELBA e a média regional, oque poderia indicar um ganho de quali-dade mais acelerado por parte das de-mais empresas da região. Ainda noâmbito regional, nota-se que três em-

presas têm desempenho de DEC me-lhor que o da COELBA. Estas são aCELB, a ENERGIPE, e a CELPE.Embora as duas primeiras possam serconsideradas demasiado pequenas paracomparação,7 o mesmo não se pode di-zer da CELPE, que tem número de con-sumidores semelhante ao da COELBA,embora sirva um mercado de dimensãoespacial muito menor. Em termos naci-onais, a COELBA tem ainda muito queevoluir: o desempenho de DEC da em-presa fica muito aquém, por exemplo,daquele da CEMIG (DEC médio emtorno de 11 no período) que, emborafora da Região Nordeste, serve a ummercado com extensão geográfica com-parável ao da COELBA, e com o dobrode consumidores. O DEC da COELBAé sempre pior do que a média nacional, eessa distância aumenta durante o perío-do considerado, indicando que a quali-dade dos serviços da empresa estáevoluindo bem mais lentamente do quea média nacional. Se em 1997 o DEC daCOELBA foi 31,4% pior que a médianacional. Em 2000 esta diferença au-mentou para 58,6%.

André Garcez Ghirardi_Milena Couto Rocha_Luiz Alberto Lima Teixeira 61

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7 A ENERGIPE serve oEstado de Sergipe, enquantoque a CELB (CompanhiaElétrica da Borborema) servecerca de 120.000consumidores no interior doEstado da Paraíba.

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O mesmo tipo de avaliação com-parativa pode ser feito com relação à fre-qüência de interrupções. A COELBAtem mantido um padrão de qualidadesempre melhor que a média das empre-sas do Nordeste, e esta superioridadeaumenta significativamente ao longo doperíodo considerado, mostrando que aempresa está evoluindo mais rapida-mente do que a média regional no quediz respeito à freqüência das interrup-ções no atendimento, o que indicaria umganho de qualidade mais acelerado porparte da COELBA em relação às demaisempresas da região (Tabela 13).

Em termos nacionais, contudo, oFEC da COELBA também apresenta-se

pior do que o das grandes empresas do se-tor. Tomando novamente a CEMIGcomo comparação, vê-se que a empresamineira apresenta um índice de freqüênciade interrupções que é aproximadamente ametade do da COELBA. A exemplo doDEC, o FEC da COELBA também seapresenta sempre pior do que a média na-cional, e essa distância também aumentadurante o período considerado, indicandoque a qualidade dos serviços da empresaestaria evoluindo mais lentamente do quea média nacional. Se em 1997 o FEC daCOELBA foi 15,0% pior que a média na-cional. Em 2000 esta diferença aumentoupara 35,6%.

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Lucratividade e qualidade62

Tabela 12_ Evolução comparativa do DEC

COELBA Nordeste�

%Brasil

%

1997 31,56 35,73 -11,7 27,19 31,4

1998 32,55 35,61 -8,6 24,05 48,1

1999 24,99 27,11 -7,8 19,85 36,6

2000 24,91 27,62 -9,8 17,41 58,6

Fonte: http://www.aneel.gov.br/Qualidade_dos_Servicos_de_Energia_Eletrica/Indicadores_de_Qualidade.

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Segundo outro indicador nacional,o Índice de Qualidade de Atendimento, odesempenho da COELBA também nãoestá entre os melhores do País. O indicadorfornecido pela ANEEL, mostra a empresacom o quarto maior número de reclama-ções por cliente entre todas as distribuido-ras do Brasil (Tabela 14). Novamente épreciso considerar o resultado com cautela,já que este mostra uma posição única notempo, e não permite avaliar a evolução doíndice nos últimos anos. É possível, por-tanto, que a posição atual já represente umamelhora em relação a períodos anteriores.Deve-se também ponderar que o númerode reclamações recebidas reflete em parte acapacidade (acessibilidade) da empresapara ouvir reivindicações de seus clientes;neste sentido a empresa que tiver canais decomunicação mais eficazes com os clientestenderá a mostrar um maior número de re-clamações por cliente. A averiguação des-

sas ressalvas não foi feita no âmbito dopresente estudo. A despeito dessas ressal-vas, o índice apresentado mostra que háamplo espaço para melhoria na qualidadedo serviço da empresa, quando comparadaàs demais concessionárias do setor.

A síntese do desempenho daCOELBA sob o ponto de vista dos indi-cadores técnicos de qualidade, leva a umaavaliação ambígua. Se, por um lado, osindicadores atuais de qualidade técnicaevoluíram positivamente em relação a1998, eles se encontram muito abaixo dodesempenho observado em empresas deporte equivalente em outras regiões doPaís, sugerindo que, em termos gerais, aqualidade do serviço é ainda bem inferiorao que se pode esperar. Ou seja, a preser-vação e a melhoria dos padrões de servi-ço requerem que a empresa adote umapostura agressiva de investimentos quereflitam em qualidade.

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Tabela 13_ Evolução comparativa do FEC

FEC COELBA Nordeste �

%Brasil

%

1997 15,74 24,93 -36,9 21,68 15,0

1998 18,04 25,14 -28,2 19,88 26,5

1999 14,38 21,78 -33,9 17,59 23,8

2000 11,68 20,72 -43,6 15,28 35,6

Fonte: http://www.aneel.gov.br/Qualidade_dos_Servicos_de_Energia_Eletrica/Indicadores_de_Qualidade.

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10_ Considerações finaisO problema teórico a que este trabalho sereporta é de longo prazo. Trata-se de in-vestigar a evolução dos índices de quali-dade do serviço da concessionária distri-buidora quando submetida à regulaçãode tarifas pelo sistema price-cap. Este tra-balho teve como objetivo oferecer evi-dência empírica a respeito da qualidadedo serviço de distribuição de energia elé-trica sob regime de tarifação pelo preço(price-cap) a partir do momento da privati-zação da empresa distribuidora de eletri-cidade na Bahia. Em se tratando de uma

tendência de longo prazo, deve-se re-conhecer desde logo que o período deobservação disponível é ainda curto. Nãoobstante esta dificuldade, é válido verifi-car desde o início se há indícios de possí-veis efeitos adversos da regulação price-

cap sobre os investimentos em qualidadepor parte das concessionárias distribui-doras de energia elétrica.

De acordo com este objetivo, pro-curou-se observar o comportamento dosprincipais indicadores do desempenho téc-nico e econômico-financeiro da COELBA,desde a privatização (1997). Estas observa-

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Tabela 14_ Índice de qualidade de atendimento em 2000

Posição Empresa Reclamações ClientesReclamações por10.000 clientes

1º ESCELSA-ES 4.392 872.389 50,34

2º CEB-DF 2.577 561.853 45,87

3º CERJ-RJ 4.290 1.589.518 26,99

4º COELBA 6.578 2.809.170 23,42

5º LIGTH-RJ 6.469 3.330.505 19,42

6º CEPFL-SP 4.655 2.757.016 16,88

7º COSERN-RN 1.144 704.384 16,24

8º CELPA-PA 1.571 1.013.614 15,50

9º CELTINS-TO 345 228.896 15,07

10º CERON-RO 435 289.391 15,03

Fonte: www.aneel.gov.br.

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ções foram pautadas por duas grandes ver-tentes, subdivididas em questões maisespecíficas ao longo do texto. Primeiro,procurou-se investigar se o mercado daempresa cresceu de modo a gerar resulta-dos que permitissem investimentos. Se-gundo, buscou-se verificar se há melhoraou deterioração nos serviços, através de al-guns indicadores de qualidade.

A análise revela inicialmente que aCOELBA opera num mercado compostoprincipalmente de consumidores residen-ciais. Desde a privatização, este mercadotem exibido grande crescimento, seja emtermos de número de consumidores,como em referência ao consumo de eletri-cidade. O nível ainda baixo de consumomédio por cliente (abaixo dos 300 kWh/mês) indica um grande potencial de cresci-mento de receita na área de concessão daCOELBA, não só pelo expressivo cresci-mento do número de ligações, como tam-bém pelo potencial de aumento de con-sumo por cliente. A recomposição das tari-fas acima dos níveis de preços do varejo,associada à natureza dinâmica do mercadodentro da área de concessão da empresafizeram com que a receita bruta daCOELBA apresentasse crescimento acu-mulado de 58,1% no período de referência.Isto é, a receita bruta da empresa cresceucerca de 30% acima do índice de preços

por atacado. Mesmo no ano de 1999, quefoi notoriamente difícil em termos de ex-pansão de mercados, a COELBA registrouaumento de receita bruta de 10,3% em re-lação ao ano anterior. Vê-se portanto quediante do expressivo crescimento de mer-cado dentro da área de concessão da em-presa, e da recomposição das tarifas, a em-presa teria, em princípio, condições de ge-rar resultados que permitissem os investi-mentos necessários para garantir a quali-dade do serviço.

Ao analisar a repartição do lucrolíquido da empresa, vê-se que a maiorparcela tem sido destinada a dividendos,e uma porção relativamente menor a lu-cros. Isto em si não evidencia a tendênciade sub-investimento preconizada pelateor ia, já que, juntamente à política gene-rosa de distribuição de dividendos, aCOELBA vem alavancando volumeconsiderável de recursos externos parainvestimentos na melhoria da qualidadedo sistema de distribuição de eletricida-de. Claro está que estes investimentospoderiam ser significativamente maioresse a empresa se dispusesse a investir umaparcela maior do lucro líquido.

Resta determinar se os investi-mentos realizados foram suficientes paragarantir a qualidade do serviço. Antes dequalquer avaliação de indicadores, con-

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vém ressaltar que a relação entre investi-mentos e qualidade raramente é imediata.Existe considerável defasagem temporalentre a realização (ou não) de investimen-tos e a melhoria (ou deterioração) da qua-lidade dos serviços. Portanto, as ten-dências observadas nos indicadores dequalidade não devem ser exclusivamenteassociadas aos investimentos dos últimosquatro anos. Ainda assim, é importanteregistrar que os indicadores técnicos dequalidade (DEC e FEC) apresentaram si-nais de piora no serviço nos primeirosmomentos após a privatização. Depoisdesta queda de qualidade no período ini-cial, houve melhora nos dois anos se-guintes, tanto no que diz respeito àduração quanto à freqüência das inter-rupções. A empresa apresenta um de-sempenho técnico em geral superior àmédia das empresas da Região Nordes-te, embora esta superioridade esteja di-minuindo com o passar do tempo noque diz respeito à duração das interrup-ções. Apesar da superioridade com rela-ção às demais empresas da RegiãoNordeste, o desempenho de qualidade daCOELBA é bastante inferior ao apresen-tado por outras empresas de porte equi-valente em outras regiões do País.

A evidência analisada neste traba-lho não permite uma afirmação conclusi-va quanto à expectativa teórica de sub-investimentos em qualidade. Sabe-se queo efeito de sub-investimentos é algo paraser observado a médio e longo prazos,mas pode-se desde já identificar a ten-dência da empresa no tocante a investi-mentos e qualidade. Observa-se que se,por um lado, os investimentos feitos fo-ram suficientes para melhorar o desem-penho da empresa em relação a seuspróprios resultados passados, por outrolado, eles foram insuficientes para levar aempresa ao patamar de desempenho dasmelhores empresas do setor no País.

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Referências bibliográficas

A pesquisa contou com o apoio

do CNPq, PIBIC,

CADCT/SEPLANTEC.

Os autores agradecem as

contribuições do Prof. Oswaldo

Guerra e de dois pareceristas

anônimos. Os erros e omissões

que porventura existam no texto

são de responsabilidade dos

autores.

E-mail de contato dos autores

[email protected]