lucas lima reis de pinho

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VALIDAÇÃO DE EQUIVALENTES DE REDE NO DOMÍNIO DA FREQUÊNCIA Lucas Lima Reis de Pinho Rio de Janeiro Agosto de 2015 Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro Eletricista. Orientador: João Pedro Lopes Salvador

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Page 1: Lucas Lima Reis de Pinho

VALIDAÇÃO DE EQUIVALENTES DE REDE NO DOMÍNIO DA FREQUÊNCIA

Lucas Lima Reis de Pinho

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

Projeto de Graduação apresentado ao curso de

Engenharia Elétrica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários para obtenção do grau de

Engenheiro Eletricista.

Orientador: João Pedro Lopes Salvador

Page 2: Lucas Lima Reis de Pinho

VALIDAÇÃO DE EQUIVALENTES DE REDE NO DOMÍNIO DA FREQUÊNCIA

Lucas Lima Reis de Pinho

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO ELETRICISTA.

Examinado por:

_______________________________________

Prof. João Pedro Lopes Salvador, M. Sc.

_______________________________________

Prof. Antonio Carlos Siqueira de Lima, D. Sc.

_______________________________________

Profª. Karen Caino de Oliveira Salim, D. Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO DE 2015

Page 3: Lucas Lima Reis de Pinho

iii

Pinho, Lucas Lima Reis de

Validação de Equivalentes de Rede no Domínio da Frequência

– Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2015.

X,52p.: il.; 29,7cm.

Orientador: João Pedro Lopes Salvador

Projeto de Graduação – UFRJ/Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia Elétrica, 2015.

Referências Bibliográficas: p.51-52

1.Transitórios Eletromagnéticos. 2. Equivalentes de Rede 3.

Transformada Wavelet

I.Salvador, João Pedro Lopes. II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Elétrica.

III. Título

Page 4: Lucas Lima Reis de Pinho

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.

Validação de Equivalentes de Rede no Domínio da Frequência

Lucas Lima Reis de Pinho

Agosto/2015

Orientador: João Pedro Lopes Salvador

Curso: Engenharia Elétrica

As contingências às quais a rede de transmissão de energia elétrica está

submetida geram a necessidade da análise dos transitórios eletromagnéticos resultantes

destas possíveis mudanças de topologia da rede. Os estudos destes fenômenos podem

ser otimizados quando se utilizam Equivalentes de Rede no Domínio da Frequência

(FDNE). Tais equivalentes ensejam a substituição de porções grandes da rede elétrica

por circuitos de menor complexidade que mimetizam o comportamento da rede original

em um determinado espectro de frequências, incorrendo em menores custos

computacionais e possibilitando a análise focada em partes específicas da rede elétrica.

O objetivo deste trabalho é obter um FDNE para parte de uma rede que se

assemelha a uma porção do Sistema Interligado Nacional (SIN) através da aproximação

racional da resposta em frequência através do algoritmo do Ajuste Vetorial.

Posteriormente, o comportamento do circuito equivalente sintetizado a partir do ajuste

realizado é validado ao comparar as respostas obtidas pela rede original e o FDNE em

simulação no domínio do tempo no software ATP Draw. Na etapa de validação, é

utilizado como ferramental auxiliar a Transformada Wavelet na decomposição dos

sinais obtidos em diferentes resoluções, visando uma análise mais minuciosa.

Palavras-chave: Análise de Transitórios Eletromagnéticos, Equivalente de Rede no

Domínio da Frequência, Ajuste Vetorial, Transformada Wavelet.

Page 5: Lucas Lima Reis de Pinho

v

Dedico este trabalho aos meus

familiares, professores e amigos.

Dedico este trabalho aos meus

familiares, professores e amigos.

Page 6: Lucas Lima Reis de Pinho

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais José Francisco e Maria da Aparecida,

que apesar da distância, me deram o apoio necessário para que eu pudesse seguir em

frente e concluir esse curso de graduação. Agradeço ao meu orientador João Pedro

Lopes Salvador pelos conselhos e orientações que tornaram esse trabalho possível.

Agradeço ainda aos meus amigos e colegas de faculdade, pelo apoio e ajuda, durante

toda essa jornada da graduação.

Page 7: Lucas Lima Reis de Pinho

vii

Sumário

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

1 Introdução ................................................................................................................... 1

1.1 – Motivação ............................................................................................................ 1

1.2 – Objetivos .............................................................................................................. 2

1.3 – Estrutura do Documento ...................................................................................... 2

2 Revisão Teórica ........................................................................................................... 4

2.1.1 – Transformada de Fourier................................................................................... 4

2.1.2 – Transformada Wavelet ..................................................................................... 5

2.1.3 – Análise em Multirresolução .............................................................................. 7

2.1.4 – Transformada Wavelet Estacionária ................................................................. 9

2.2 – Equivalentes de Rede no Domínio da Frequência ............................................. 10

2.2.1 - Síntese Matricial .............................................................................................. 11

2.2.2 - Ajuste Vetorial ................................................................................................. 14

2.2.3 - Imposição de Passividade ................................................................................ 18

3 Resultados no Domínio da Frequência ................................................................... 20

3.1 – Descrição da Rede Elétrica em Estudo .............................................................. 20

3.2 – Resultados das Simulações no EMTP/ATP Draw ............................................. 26

3.3 – Resultados do Ajuste Vetorial ........................................................................... 29

4 Resultados Obtidos no Domínio do Tempo ............................................................ 33

4.1 – Resultados da Simulação Temporal ................................................................... 33

4.2 – Aplicação da Transformada Wavelet aos Resultados ........................................ 43

5 Conclusão .................................................................................................................. 49

5.1 – Trabalhos Futuros .............................................................................................. 50

Referências Bibliográficas ........................................................................................... 51

Page 8: Lucas Lima Reis de Pinho

viii

Lista de Figuras

Figura 2.1 - Decomposição de uma aproximação A(j+1), , evidenciando a redução da

frequência de amostragem. ............................................................................................... 8

Figura 2.2 - Decomposição da aproximação A(j+1), utilizando TWE. ............................ 9

Figura 2.3 - Decomposição utilizando TWE. ................................................................. 10

Figura 2.4 - Medição dos elementos da j-ésima coluna de Y. ........................................ 12

Figura 2.5 - Terminais para obtenção da matriz de admitâncias [6x6]. ......................... 13

Figura 3.1 - Diagrama unifilar da rede. Fora de escala. ................................................. 21

Figura 3.2 - Rede elétrica no ATP Draw. ....................................................................... 22

Figura 3.3 - Parâmetros dos condutores (500 kV). ......................................................... 24

Figura 3.4 - Parâmetros dos condutores (230 kV). ......................................................... 24

Figura 3.5 - Disposição dos condutores nas torres de transmissão. ............................... 25

Figura 3.6 - Configuração do modelo de linha com transposição. ................................. 25

Figura 3.7 - Configurações do frequency scan. .............................................................. 26

Figura 3.8 - Elementos próprios. .................................................................................... 27

Figura 3.9 - Elementos mútuos. ...................................................................................... 27

Figura 3.10 - Elementos da matriz de admitâncias 6x6. ................................................. 28

Figura 3.11 - Ajuste vetorial com 300 polos. ................................................................. 30

Figura 3.12 - Ajuste Vetorial da matriz de admitâncias 6x6. ......................................... 31

Figura 4.1 - Síntese do FDNE no formato de circuito RLC no ATP Draw. ................... 34

Figura 4.2 - Resposta ao degrau no domínio do tempo. ................................................. 35

Figura 4.3 - Resposta à corrente senoidal no domínio do tempo. .................................. 35

Figura 4.4 - Energização do banco de capacitores utilizando FDNE. ............................ 36

Figura 4.5 - Comparação de correntes medidas nos terminais da Barra #1. .................. 37

Figura 4.6 - Comparação das correntes medidas nos terminais da Barra #4. ................. 37

Figura 4.7 - Correntes nas fases da Barra #1. ................................................................. 39

Figura 4.8 - Correntes nas fases da Barra #4. ................................................................. 39

Figura 4.9 - Resultado para Desequilíbrio Angular Brando. .......................................... 41

Figura 4.10 - Resultado para Desequilíbrio Angular Severo.......................................... 41

Page 9: Lucas Lima Reis de Pinho

ix

Figura 4.11 - Resultado para Desequilíbrio entre Amplitudes Brando. ......................... 42

Figura 4.12 - Resultado para Desequilíbrio entre Amplitudes Severo. .......................... 42

Figura 4.13 - Análise aproximada da corrente em regime permanente da Barra #4. ..... 43

Figura 4.14 - Transformada Wavelet aplicada à resposta ao degrau: Fase A. ............... 44

Figura 4.15 - Transformada Wavelet aplicada à resposta ao degrau: Fases B e C. ........ 45

Figura 4.16 - Transformada Wavelet aplicada à resposta à corrente alternada: Fase A. 45

Figura 4.17 - Transformada Wavelet aplicada à resposta à corrente alternada: Fases B e

C. .................................................................................................................................... 46

Figura 4.18 - Histograma para a resposta ao degrau: Fase A. ........................................ 47

Figura 4.19 - Histograma para a resposta ao degrau: Fase B. ........................................ 47

Figura 4.20 - Histograma para a resposta à corrente alternada: Fase A. ........................ 48

Figura 4.21 - Histograma para a resposta à corrente alternada: Fase B. ........................ 48

Page 10: Lucas Lima Reis de Pinho

x

Lista de Tabelas

Tabela 3.1 - Disposição da subestações abaixadoras em relação as barras. ................... 23

Tabela 3.2 - Comparação entre os valores RMS dos erros e das admitâncias. .............. 30

Tabela 3.3 – Resultados para Violação de Passividade. ................................................. 31

Tabela 3.4 – Resultados para Violação de Passividade do ajuste de matriz 6x6. .......... 32

Tabela 4.1 - Análise da discrepância na resposta contínua. ........................................... 35

Tabela 4.2 - Análise da discrepância na resposta alternada. .......................................... 36

Tabela 4.3 - Análise da discrepância nos terminais da Barra#4. .................................... 38

Tabela 4.4 - Análise da discrepância nos terminais da Barra#5. .................................... 38

Tabela 4.5 – Esquema utilizado no teste dos desequilíbrios. ......................................... 40

Page 11: Lucas Lima Reis de Pinho

1

1 Introdução

1.1 – Motivação

Em regime permanente, o Sistema Interligado Nacional (SIN) opera com a

frequência elétrica de 60 Hz e é dotado de vários mecanismos de controle regulatórios

para que seja mantido o sincronismo dos geradores. Porém, esta condição de equilíbrio

está sujeita a algumas externalidades como surtos atmosféricos, curto-circuitos e

manobras responsáveis pela mudança da topologia, que causam variações bruscas nos

perfis de tensão e corrente em um curto intervalo de tempo antes que seja novamente

instaurado um ponto de equilíbrio [1]. A análise desses transitórios eletromagnéticos é

essencial para a otimização da operação do sistema elétrico, principalmente na formação

do arcabouço necessário para o planejamento da proteção e coordenação de isolamentos

dos equipamentos.

A análise de transitórios eletromagnéticos em sistemas de potência exige

elevado custo computacional, já que requer um modelo detalhado equivalente a uma

grande área da rede elétrica. Além disso, fenômenos desta natureza são responsáveis

pelo surgimento de componentes de corrente e tensão de frequência discrepante em

relação à frequência de operação em regime permanente, suscitando a necessidade da

utilização de métodos que incluam a dependência da frequência inerente a alguns

componentes da rede elétrica.

Logo, a obtenção de um equivalente de rede no domínio da frequência (FDNE,

Frequency Dependent Network Equivalent, em inglês) permite a simulação desdes

transitórios eletromagnéticos a partir de uma simplificação da rede original ao longo de

uma faixa de variação da frequência, com a vantagem de incorrer em menores esforços

computacionais e possibilitar estudos focados somente na área elétrica de interesse.

Como os componentes de simulação de transitório eletromagnéticos no Eletromagnetic

Transient Program (EMTP) são modelados no domínio do tempo, o conceito do FDNE

baseia-se na modelagem de tais componentes no domínio da frequência, e a partir deste

modelo, sintetizar um equivalente que possa ser inserido de volta no domínio do tempo.

Page 12: Lucas Lima Reis de Pinho

2

Um equivalente no domínio da frequência pode ser obtido através do ajuste, i.e,

aproximação, da resposta em frequência de um componente isolado ou parte da rede.

Neste trabalho, o método utilizado para alcançar tal objetivo é do Ajuste Vetorial

(Vector Fitting, em inglês) que ajusta a resposta em frequência por uma função de

transferência dada por uma soma de frações parciais.

1.2 – Objetivos

Este trabalho tem como objetivo a síntese de um FDNE para uma rede elétrica

500kV/230kV baseada na área Norte-Nordeste do Sistema Interligado Nacional (SIN)

através do Ajuste Vetorial e analisar o sucesso do equivalente de rede no domínio

sintetizado através de comparações das respostas no domínio do tempo do FDNE e da

rede original, no ambiente do EMTP/ATP Draw (interface gráfica do Alternative

Transient Program).

De posse dos resultados obtidos das simulações temporais, a Transformada

Wavelet (TW), é utilizada como ferramental adicional de processamento de sinais para

análise dos resultados no domínio do tempo. Através da técnica de multirresolução,

objetiva-se uma comparação das respostas obtidas em diferentes níveis de resolução e

detalhes, no intuito de avaliar algum possível comportamento anômalo do FDNE em

relação ao comportamento da rede completa suficiente para invalidar sua utilização

como um equivalente de rede.

1.3 – Estrutura do Documento

No primeiro capítulo desde documento, expõe-se a descrição do problema na

análise de transitórios eletromagnéticos utilizando largas parcelas da rede elétrica e o

objetivo deste trabalho em sintetizar um equivalente de rede no domínio da frequência e

validar o ajuste realizado através de ferramenta de processamento de sinal e comparação

de respostas no domínio do tempo.

Page 13: Lucas Lima Reis de Pinho

3

O Capítulo 2 é essencialmente, de caráter expositivo em relação à aspectos

teóricos e procedimentos realizados ao longo do trabalho, sendo este referente à

Transformada Wavelet, à metodologia aplicada para síntese dos equivalentes de rede no

domínio da frequência e o procedimento algébrico do Ajuste Vetorial.

Já o Capítulo 3 inicia a etapa de exposição dos aspectos práticos realizados.

Primeiramente, mostra uma breve descrição da rede elétrica em estudo, com

especificação de alguns elementos utilizados. Posteriormente, exibe os resultados

associados às simulações no domínio da frequência, juntamente com o ajuste vetorial

realizado no Matlab a partir do algoritmo do Vector Fitting. Estes resultados são

utilizados para a síntese do FDNE elaborado no ambiente do EMTP/ATP Draw e

utilizados nas simulações no domínio do tempo, expostas no Capítulo 4 em processo

comparativo com o comportamento da rede original. Ainda no Capítulo 4, são

mostrados os resultados associados à análise obtida a partir da Transformada Wavelet.

O Capítulo 5 destaca as principais conclusões parciais do trabalho realizado.

Page 14: Lucas Lima Reis de Pinho

4

2 Revisão Teórica

Uma transformada é uma operação que permite representar um sinal em outro

domínio. Em sua forma integral de um sinal contínuo, constitui no produto interno entre

o sinal e uma função núcleo, que estabelece o mapeamento do domínio do tempo para o

domínio da transformada [2].

As transformadas são ferramentas matemáticas amplamente utilizadas em

técnicas de processamento de sinais, onde uma das mais conhecidas seja a

Transformada de Fourier (TF), que será apresentada na seção 2.1.1 para um melhor

entendimento do contexto em que se fez necessário o surgimento da Transformada

Wavelet (TW) explicitada na seção 2.2.2.

2.1.1 – Transformada de Fourier

A transformada de Fourier possibilita a transformação de um sinal periódico do

domínio do tempo para o domínio da frequência, ao descrevê-lo como um somatório de

senos e cossenos. A função responsável pela transformação é dada por (2.1.1) para

casos contínuos e (2.1.2) para dados discretizados [3]. Em (2.2.1), observa-se que o

produto interno entre o sinal contínuo f(t) e a função núcleo .

(2.1.1)

(2.1.2)

onde é a frequência angular, T é o intervalo de tempo total medido, corresponde

aos intervalos de tempo discretos e é o valor do sinal discreto no instante k. O

número total de amostras é igual a N= e

para n=1,2,3,...,N-1.

Page 15: Lucas Lima Reis de Pinho

5

Analisando a equação (2.1.1) para uma função contínua é possível observar que

a TF é baseada na integração de toda a função para o cálculo de cada frequência. Isso

não caracteriza problemas em sinais estacionários, em que não há variação durante o

tempo.

Para análise de tais sinais com oscilações no domínio do tempo, surge uma

derivação da TF denominada Windowed Fourier Transform (WFT) [4] ou

Transformada de Fourier em Janelas, utilizando tradução livre. Esta técnica foi

proposta por Denis Garbor em 1946 [5] e consiste em adaptar a transformada de Fourier

para uma pequena porção do sinal em torno de um instante de tempo t. A WFT se

baseia em uma função j(t) que, de maneira abstrata, realiza o papel de uma janela em

que se obtém a TF da parte do sinal enquadrado e que pode ser transladado e modulado

a partir de operadores matemáticos, como exposto em (2.1.3) para um caso contínuo.

(2.1.3)

onde b é o parâmetro de translação e modula o tamanho da janela.

A limitação de tal transformada provém do fato de que uma vez definido o

tamanho da janela, esta será constante ao longo de todas as frequências. Alguns sinais

podem apresentar algumas singularidades que necessitam um enfoque mais flexível,

exigindo uma ampliação da escala obtida através da variação do tamanho da janela de

forma que seja possível detectar o conteúdo local da frequência [6].

2.1.2 – Transformada Wavelet

A Transformada Wavelet (TW) é uma técnica com dimensões de janelas

variáveis. As funções wavelet, diferentemente da transformada de Fourier, permitem a

representação de um sinal a partir do suporte local ao invés do suporte global, pois são

funções de duração limitada, em que seu domínio é igual a zero ao longo de um

extensão finita determinada por seus parâmetros e igual a zero em todo o resto. Na

utilização das wavelets, a decomposição do sinal não é mais feita em termos de senos e

Page 16: Lucas Lima Reis de Pinho

6

cossenos como na WTF, mas em termos de funções localizadas no tempo e sem escala

fixa, fornecendo não só a identificação da frequência como também a sua localização no

tempo (domínio híbrido tempo-frequência) [7]. A TW é utilizada em detrimento à

Transformada de Fourier Janelada neste trabalho devido o fato da última apresentar

tratamento inconsistente para cada nível de frequência: nas frequências baixas existem

tão poucas oscilações dentro da janela que a localização da frequência é perdida,

enquanto o efeito contrário é observado em altas frequências, onde o elevado número de

oscilações culmina na perda da localização do tempo [7].

As funções wavelets são, por definição, quadráticas integráveis, centradas em

t=0, oscilatórias e representadas por (2.1.4).

(2.1.4)

Além disso, tais funções devem atender as características:

Área total sob a curva da função é zero;

(2.1.5)

A energia da função é finita

(2.1.6)

Para um melhor entendimento da técnica utilizada, é importante ressaltar que a

Transformada Wavelet representa o sinal ambos no domínio do tempo e da frequência.

Analisando a equação (2.1.4), pode-se observar que a função wavelet terá sua translação

ao longo do plano tempo-frequência coordenada pelo parâmetro b, enquanto o

parâmetro a determina a magnitude de sua compressão ou dilatação. Considerando que

a área da janela é constante, valores muito baixos de a significa uma compressão

elevada e uma diminuição do suporte temporal, permitindo a análise de uma porção do

sinal em um curto espaço de tempo e possibilitando captura de detalhes contidos em

Page 17: Lucas Lima Reis de Pinho

7

altas frequências. Analogamente, valores elevados do parâmetro a são utilizados para

análises em escala global.

A partir de (2.1.4), também é possível constatar que a translação e dilatação de

fornece a geração de uma nova família de funções com as mesmas características

elementares, sendo a chamada wavelet mãe. Existem vários tipos destas funções

primordiais, sendo os mais comuns Daubechies, Haar, Coiflet e Symmlet [8].

Existem métodos que propõem critérios para melhor seleção da wavelet mãe de

acordo com o sinal a ser processado. Alguns destes métodos são Correlation Based

Waved Selection (CWBS), Energy Based Wavelet Selection (EWBS), Restrição a

Wavelets Biortogonais de Fase Linear e Método Baseado na Máxima Seletividade de

Filtros, que foram explicitados conjuntamente em [2]. Este trabalho conteve-se ao

método heurístico, através de tentativas e erros utilizando as wavelet mãe supracitadas e

disponíveis na ferramenta wavemenu do Matlab. Nos testes realizados, a wavelet mãe

que apresentou os melhores resultados foi a Daubechies.

Finalmente, a transformada Wavelet de um sinal contínuo f(t) será dada por

(2.1.7).

(2.1.7)

onde representa o complexo conjugado de .

No tocante à Transformada Wavelet Discreta (TWD), sua principal aplicação

reside na decomposição de sinais, sendo importante destacar a análise em

multirresolução desenvolvida em [8].

2.1.3 – Análise em Multirresolução

A teoria da Análise em Multirresolução se baseia na capacidade da TW de

decompor um sinal de entrada em diferentes níveis de resolução com diferentes escalas.

O processo se equivale a filtrar recursivamente um sinal com filtros passa-baixa e passa-

Page 18: Lucas Lima Reis de Pinho

8

alta, onde o primeiro irá gerar detalhes (indicados por “D”) e o último, aproximações

(indicadas por “A”) [8]. Desta maneira, é possível obter decomposições mais simples

em relação ao sinal original, mas que mantenha algumas características específicas.

Considerando G(s) e H(s) como filtros discretos passa-baixa e passa-alta,

respectivamente, o sinal de detalhe pode ser obtido a partir da convolução da

aproximação com o filtro G(s) e retendo a outra amostra da saída [8], de forma

que a cada ciclo de decomposição a frequência de amostragem é reduzida pela metade.

O mesmo ocorre para obtenção das aproximações, como pode ser representado pela

ilustração da Figura 2.1. Tal problema relacionado à quantidade de dados obtidos após a

decomposição pode ser mitigado com a utilização de Transformadas Wavelet

Estacionárias (TWE), que serão abordadas na seção 2.1.4.

Figura 2.1: Decomposição de uma aproximação A(j+1), , evidenciando a redução

da frequência de amostragem. Baseada em figura presente em [9].

Outro ponto importante a ser observado é que durante a TW ocorre conservação

de energia, permitindo que o sinal seja reconstruído a partir do somatório da

aproximação e dos níveis de detalhamento, que serão de número igual ao nível de

aproximação utilizado. Como exemplo, consideremos um sinal discreto f( )

representado através de uma TW com nível de aproximação igual a 5. Ele poderá ser

reconstruído, de forma que (2.1.8) se confirme.

(2.1.8)

Page 19: Lucas Lima Reis de Pinho

9

2.1.4 – Transformada Wavelet

Estacionária

Na seção anterior, foi mostrado que uma característica inerente ao processo de

análise em multirresolução utilizando TWD é a redução da quantidade de dados

presentes no sinal original. Isto pode ser uma interferência no resultado em casos que

primam pela manutenção das características dos sinais originais em suas representações

menos complexas. Desta forma, a Transformada Wavelet Estacionária (TWE) se torna

uma opção mais adequada nestas circunstâncias.

A Transformada Wavelet Estacionária (TWE) é uma alternativa para o fato de a

TWD não ser invariante no tempo e fornecer uma representação do sinal original com a

metade do número de amostras. Ao se utilizar a TWE, não há divisão do sinal a cada

ciclo de decomposição, tornando a extração de características do sinal mais

confiável [9]

Logo, o diagrama de blocos da decomposição de através de TWE

explicitado na Figura 2.2 não irá apresentar o bloco referente ao descarte de uma das

amostras da saída. Na Figura 2.3, evidencia-se o fato de a TWE poder ser obtida a partir

da TWD por meio de um upsampling (aumento de amostras) do resultado da

convolução do sinal, mantendo o número de amostras igual em cada etapa do processo.

Figura 2.2: Decomposição da aproximação A(j+1), utilizando TWE.

Page 20: Lucas Lima Reis de Pinho

10

Figura 2.3: Decomposição utilizando TWE. Baseada em figura presente em [9].

O processo de upsampling é uma modificação dos filtros utilizados na TWD

interpolando zeros a cada duas amostras da transformada não-estacionária [10].

2.2 – Equivalentes de Rede no Domínio

da Frequência

Para contornar as dificuldades apresentadas no Capítulo 1 para análise de

fenômenos eletromagnéticos transitórios, utilizamos o Frequency-Dependent Network

Equivalent (FDNE) ou Equivalente de Rede no Domínio da Frequência (tradução livre),

que constitui em uma representação de elementos da rede elétrica em funções analíticas

da frequência. Neste trabalho, foi realizada a substituição de um modelo de

componentes de rede da área de interesse de estudo por um equivalente de rede que

represente de maneira satisfatória o comportamento de tal porção da rede, considerando

as variações de frequência. Tais modelos podem ser inseridos em programas de

transitório eletromagnético (EMTP,Eletromagnetic Transient Program, em inglês)

através de circuitos equivalentes com parâmetros concentrados [11] ou convolução

recursiva [12].

Existem diversas formas para obtenção do FDNE, sendo estas baseadas em

técnicas computacionais para estimação de parâmetros de modelos através do ajuste da

resposta em frequência do sistema elétrico original. Neste trabalho, o método utilizado

se baseia na aproximação da matriz de admitância Y por uma função racional no

domínio da frequência através do algoritmo conhecido Vector Fitting (Ajuste Vetorial,

Page 21: Lucas Lima Reis de Pinho

11

tradução livre), que será explicado posteriormente. Neste procedimento, os

componentes no domínio do tempo serão representados como uma função de

transferência no formato de soma de frações parciais, i.e, uma soma de exponenciais

com decaimento dado pelos polos do ajuste e escalados pelos resíduos calculados [13].

2.2.1 - Síntese Matricial

Como mencionado anteriormente, para obtenção do equivalente de rede no

domínio da frequência, é necessário o ajuste da resposta em frequência da admitância

terminal de uma rede trifásica. Os dados necessários são obtidos através da simulação

no ATP Draw e a metodologia aplicada será brevemente explicada a seguir, tanto para o

caso de somente um terminal, quando para o caso multiporta.

O procedimento utilizado neste trabalho é similar ao utilizado por Gustavsen em

[14] para a modelagem de transformadores no domínio da frequência. A obtenção da

matriz de admitância baseia-se na relação entre a tensão aplicada e a corrente medida

saindo da fonte. Visando simplificar os cálculos, todas as fontes utilizadas neste

procedimento são de amplitude igual a 1,0 V e fase 0º.

Para o caso de somente um terminal trifásico, a Figura 2.4 representa uma das

etapas do processo. Aplica-se a tensão alternada com amplitude em um dos terminais

da rede trifásica, de modo que se obtenha o equivalente de Thévenin. A simulação é

realizada para uma larga faixa de frequência (frequency scan). A medição da corrente

nas outras fases terminais permite a obtenção da matriz de admitância terminal Y, de

forma que seus elementos são dados por (2.2.1) [14]:

(2.2.1)

Page 22: Lucas Lima Reis de Pinho

12

Figura 2.4: Medição dos elementos da j-ésima coluna de Y.

Considerando uma rede trifásica e a tensão aplicada seja de amplitude igual a

1,0V e sem defasagem, os elementos da matriz de admitância de Thévenin serão

dados pela própria corrente medida em cada uma das 3 fases, possibilitando a

montagem da matriz cheia (2.2.2).

(2.2.2)

Como foi realizado o frequency scan da rede trifásica, teríamos uma matriz de

admitância para cada valor de frequência simulada. A aproximação da resposta obtida

pela simulação por uma função racional permite a representação de todas estas matrizes

através da matriz Y(s) no domínio da frequência, onde todos os elementos são funções

de s.

(2.2.3)

Em casos em que mais de uma barra do sistema seja de interesse, aplica-se a

mesma metodologia para obtenção de uma matriz que represente a resposta em

frequência. Para sistemas trifásicos com n barras de interesse, a resposta será dada na

forma de uma matriz equivalente de ordem [3n x 3n].

Retendo-se ao escopo deste trabalho, a formação de uma equivalência de uma

porção da rede localizada entre dois terminais trifásicos requer a montagem de uma

matriz de admitâncias de ordem [6x6], seguindo o modelo de (2.2.4).

Page 23: Lucas Lima Reis de Pinho

13

(2.2.4)

De maneira análoga ao procedimento utilizado no caso de um único terminal, os

elementos da matriz de admitâncias (2.2.4) seguem o modelo que representa a

corrente medida no terminal i com a aplicação de uma fonte de tensão alternada de

amplitude unitária no terminal j, estão todos os outros aterrados.

Os índices em letra maiúscula se referem ao terminal trifásico ABC, enquanto os

de letra minúscula se referem ao terminal abc, representados na Figura 2.5. As

submatrizes [3x3] do canto superior esquerdo e do canto inferior esquerdo se referem ao

terminal trifásico ABC e suas mútuas e a terminal abc e suas mútuas, respectivamente.

As duas demais submatrizes descrevem a relação entre os dois terminais.

Figura 2.5: Terminais para obtenção da matriz de admitâncias [6x6].

Page 24: Lucas Lima Reis de Pinho

14

2.2.2 - Ajuste Vetorial

Este método tem como finalidade ajustar as respostas obtidas no domínio da

frequência para funções racionais aproximadas, permitindo a inclusão da frequência na

análise dos transitórios eletromagnéticos. Consiste numa ferramenta para o ajuste de

equivalentes de rede no domínio da frequência.

Considerando uma função genérica dependente da frequência:

(2.2.5)

A multiplicação de ambos os lados da equação (2.2.5) pelo denominador do lado

direito permite que a equação seja enquadrada na forma linear , mas incorre em

que todas as colunas de A estejam multiplicadas por s, elevando a complexidade. Isto

limita a metodologia para aproximações de ordens muito baixas, principalmente se o

ajuste for realizado em uma ampla faixa de frequência [15].

Diante de tal dificuldade, o método em questão consiste na aproximação por

frações parciais mostrada na equação (2.2.6) através de dois estágios lineares, ambos

com polos conhecidos. Os resíduos e os polos podem ser números reais ou

complexos conjugados, enquanto os termos direto d e proporcional e são números reais.

A possibilidade de obter pares conjugados complexos para os polos obtidos através do

método garante a representação dos picos de ressonância necessários para a

aproximação dos equivalentes de rede no domínio da frequência e em outras aplicações,

como modelos de transformadores [14],[15].

(2.2.6)

Apresentada por Gustavsen e Semlyen em [15], esta metodologia consiste em

substituir um conjunto de polos iniciais por um conjunto de polos obtidos através de

Page 25: Lucas Lima Reis de Pinho

15

múltiplas iterações, procedimento o qual será brevemente exposto a seguir. O código

computacional para todo o pacote Vector Fitting é de domínio público, sendo

disponibilizado em [16].

Estágio #1: Identificação dos Polos

Especifica-se um conjunto de polos iniciais para (2.2.6) e multiplica-se f(s)

por uma função desconhecida . Ao realizar a aproximação racional para , tem-

se o problema explicitado em (2.2.7):

(2.2.7)

É importante notar que em (2.2.7), a aproximação racional para tem os

mesmos polos que a aproximação de mas não há ambiguidade de soluções

devido o fato de ter valor unitário para frequências muito altas. Multiplicando a

segunda linha de (2.2.7) por f(s) fornece a seguinte relação:

(2.2.8)

ou

(2.2.9)

A equação (2.2.8) é linear em suas incógnitas , e, d e . Descrevendo (2.2.8)

para vários valores diferentes de frequência, obtemos o problema linear na forma

(2.2.10)

para cada ponto de frequência , sendo cada linha sendo dada por:

Page 26: Lucas Lima Reis de Pinho

16

(2.2.11)

(2.2.12)

Devido o número de equações ser maior que o número de incógnitas, o problema

deve ser resolvido pelo método dos mínimos quadrados. No caso de polos complexos,

uma modificação é introduzida para garantir que os resíduos se apresentem na forma de

pares conjugados. Assume-se que as frações parciais i e i+1 constituem um par

complexo, i.e.,

(2.2.13)

Os elementos correspondentes são modificados da seguinte forma:

(2.2.14)

No processo de ajuste, só são utilizadas as frequências positivas. De maneira que

se preserve as propriedades dos conjugados, formula-se (2.2.10) separando as partes real

e imaginária de cada elemento, de modo a utilizar quantidades reais:

(2.2.15)

Reescrevendo (2.2.9) na forma de produtórios de polos e zeros:

(2.2.16)

e, portanto:

(2.2.17)

Page 27: Lucas Lima Reis de Pinho

17

Analisando (2.2.17), podemos observar que o conjunto de polos iniciais são

cancelados no processo e os polos de f(s) são iguais aos zeros de . Portanto,

calcular os zeros de significa calcular um bom conjunto de polos que ajusta f(s).

A maneira encontrada para determinação destes zeros é definir como uma

função de transferência qualquer em que são zeros e são polos:

(2.2.18)

A determinação de parte da consideração de que os zeros de são iguais

aos polos de . Para realizar a inversão, deve-se partir para a realização em

equações de estado de no domínio do tempo, dada pelas equações (2.2.19) e

(2.2.20).

(2.2.19)

(2.2.20)

onde A é uma matriz diagonal, c é um vetor linha, d é a unidade e b é um vetor coluna

com todos os elementos unitários. Da equação (2.2.20) vem:

(2.2.21)

aplicando (2.2.21) em (2.2.19) e considerando d=1 para , obtemos a seguintes

expressão:

(2.2.22)

Da equação (2.2.22), observa-se que a matriz de estados para é dada

por . Como os polos de são determinados pelos autovalores de

, logo os zeros de que serão os polos que ajustarão f(s) podem ser calculados

por:

Page 28: Lucas Lima Reis de Pinho

18

(2.2.23)

onde A é uma matriz diagonal que possui o conjunto de polos iniciais e b é um vetor

coluna onde todos os elementos são iguais a 1 e c é o vetor linha que possui os resíduos

de .

No caso de pares de conjugados complexos, as submatrizes de (2.2.23) são

modificadas via transformação de similaridade como:

(2.2.24)

Estágio #2: Identificação dos Resíduos

Para identificação dos resíduos, utiliza-se os zeros calculados em (2.2.23) ou

(2.2.24) como um novo conjunto de polos iniciais. Calcula-se então os resíduos de

forma mais precisa. Este processo novamente resultará em um problema linear da forma

onde o vetor solução x contém as incógnitas . A vantagem do método

Vector Fitting de tratar o ajuste de curvas amostradas como um problema de dois

estágios lineares, com escolha automatizada dos polos iniciais de ajuste.

2.2.3 - Imposição de Passividade

Em programas do tipo EMTP, é possível sintetizar um equivalente RLCG a

partir da matriz ajustada de Y, ensejando simulações no domínio do tempo. A técnica

abordada ao longo desta seção força a passividade da matriz, certificando que o

comportamento físico do modelo criado absorva potência ativa para quaisquer módulo

de tensão aplicadas, em qualquer nível de frequência [17].

Seja um componente definido por sua matriz ajustada Y:

(2.2.25)

Page 29: Lucas Lima Reis de Pinho

19

com tensão , corrente e admitância . A potência

ativa é dada por:

(2.2.26)

onde representa a matriz de tensão conjugada e transposta. Logo, o critério para

passividade é que G = Re{Y} seja positiva definida [17], i.e, tenha todos seus

autovalores positivos.

A imposição de passividade é baseada em um processo de linearização [17],

onde se assume que a aproximação de Y(s) foi realizada com elevada precisão,

ensejando que a transformação de um autovalor negativo de G(s) em positivo seja

realizada através de uma pequena perturbação da matriz dos resíduos calculados no

ajuste.

Page 30: Lucas Lima Reis de Pinho

20

3 Resultados no Domínio da

Frequência

Neste capítulo são expostos os resultados da simulação no software EMTP/ATP

Draw para obtenção de uma resposta em frequência de um caso que se assemelha à

porções da rede elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN). Previamente, é feita um

breve descrição do exemplo em questão e explicação da metodologia utilizada, assim

como os parâmetros de simulação utilizados.

3.1 – Descrição da Rede Elétrica em

Estudo

A rede elétrica utilizada para a obtenção de um equivalente na forma de uma

função racional da frequência é representada no diagrama unifilar da Figura 3.1 e no

caso montado no ATP Draw mostrado na Figura 3.2.

Page 31: Lucas Lima Reis de Pinho

21

Figura 3.1: Diagrama unifilar da rede. Fora de escala.

Page 32: Lucas Lima Reis de Pinho

22

Figura 3.2: Rede elétrica no ATP Draw.

Page 33: Lucas Lima Reis de Pinho

23

A porção da rede elétrica na Figura 3.2 é uma representação típica das Áreas

500/230 kV do Sistema Interligado Nacional (SIN). Neste caso, tem-se 3 barras de

500 kV (#1, 2 e 3), 9 barras de 230 kV (#4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 19) e 7 barras de 69 kV

(#12, 13, 14, 15,16, 17 e 18). Os geradores estão conectados à Barra #1 (500 kV) e #19

(230 kV), enquanto as cargas se distribuem pelas barras de 230 kV e 69 kV. A Tabela

3.1 exibe a localização relativa das subestações abaixadoras em relação aos pares de

barras da rede elétrica.

Tabela 3.1 - Disposição da subestações abaixadoras em relação as barras.

Subestação

Abaixadora Par de Barras

500kV/230kV

(#1,#10)

(#1,#19)

(#2,#8)

(#3,#4)

230kV/69kV

(#5,#13)

(#6,#14)

(#7,#15)

(#8,#12)

(#9,#16)

(#10,#17)

(#11,#18)

Embora existam diversos modelos de linhas de transmissão com parâmetros

variantes na frequência, neste trabalho escolheu-se a utilização do modelo proposto por

J. Marti em [18]. Este modelo consiste em um modelo preciso para inclusão da

dependência com a frequência dos parâmetros de linhas de transmissão nas simulações

de transitórios eletromagnéticos, no domínio do tempo. O modelo no EMTP utiliza um

processo de ajuste racional baseado somente em polos reais e as impedâncias

características em cada terminal da linha são substituídas por equivalentes de rede

adequados que apresentam praticamente o mesmo espectro de frequência de As

linhas de transmissão dos ramos de 500 kV são compostas por 4 condutores por fase,

Page 34: Lucas Lima Reis de Pinho

24

enquanto o circuito de 230 kV apresenta 2 condutores por fase. Para ambas as tensões,

os circuitos apresentam dois cabos pára-raios.

A Figura 3.3 é referente às configurações no ATP Draw das linhas de

transmissão de 500 kV, apresentando os parâmetros Raio Interno (Rin), Raio Externo

(Rout), Resistência DC por quilômetro de extensão (Resis), além da disposição

geométrica dos condutores (Horiz, Vtower, Vmid). Na primeira coluna de dados, os

números diferenciam as 3 fases entre si, enquanto o algarismo 0 é referente ao cabo

pára-raios. Analogamente, a Figura 3.4 explicita os mesmos parâmetros para os

circuitos de 230 kV.

Figura 3.3: Parâmetros dos condutores (500 kV).

Figura 3.4: Parâmetros dos condutores (230 kV).

A Figura 3.5 mostra a disposição dos condutores nas torres de transmissão de

acordo com cada nível de tensão, a partir das configurações expostas nas Figuras 3.3 e

3.4 e com auxílio da ferramenta Matlab.

Page 35: Lucas Lima Reis de Pinho

25

Figura 3.5: Disposição dos condutores nas torres de transmissão.

Por se tratar de um circuito trifásico de corrente alternada, ocorre o acoplamento

de impedâncias de cada fase devido à interação entre os campos eletromagnéticos

induzidos devido a passagem de corrente em cada uma das fases, criando impedâncias

mútuas entre os condutores, além da impedância própria de cada fase resultante de

características intrínsecas dos cabos. Tais impedâncias mútuas variam de acordo com a

diferença entre as distâncias entre os condutores, evidenciando discrepância no

acoplamento eletromagnético fases que não são equidistantes. De modo a reduzir o

efeito deste fenômeno, o modelo utiliza as linhas idealmente transpostas, de forma que

os condutores ocupam todas as posições possíveis em trechos iguais, como pode ser

visto na Figura 3.6.

Figura 3.6: Configuração do modelo de linha com transposição.

As respostas em frequência da rede elétrica foram obtidas da simulação do

circuito da Figura 3.2 no programa EMTP/ATP Draw, sendo simulados 200 pontos por

década na faixa entre 1 Hz e 100 kHz [13]. A análise do comportamento da rede elétrica

em um espectro de frequências é realizada utilizando a ferramenta frequency scan do

EMTP/ATP Draw, como pode ser visto na Figura 3.7.

Page 36: Lucas Lima Reis de Pinho

26

Figura 3.7: Configurações do frequency scan.

3.2 – Resultados das Simulações no

EMTP/ATP Draw

Seguindo a metodologia apresentada no Capítulo 2, foram obtidas as respostas

em frequência das admitâncias equivalentes referentes à Barras #4. Tais resultados são

alocados em matrizes tridimensionais de dimensões [3 x 3 x k], onde k é o número de

pontos de frequência simulados. Desta forma, valores da matriz de admitâncias próprias

e mútuas são dados para cada valor de frequência da faixa utilizada na simulação no

EMTP/ATP Draw. A congruência nos condutores utilizados em cada fase e na forma

com que estão dispostos nos circuitos quádruplos garante a equivalência entre os três

valores de admitância própria ( , ) para cada ponto de frequência. Já a

transposição das linhas, que confere a equidistância entre cada fase, assegura valores

idênticos para as admitâncias mútuas ( , . As Figuras 3.8 e 3.9

apresentam as curvas que compõem a diagonal principal e os demais elementos,

respectivamente, para a matriz de admitâncias equivalente referente à Barra #4.

Page 37: Lucas Lima Reis de Pinho

27

Figura 3.8: Elementos próprios.

Figura 3.9: Elementos mútuos.

Nos gráficos dos resultados obtidos é possível observar a equivalência

impedâncias próprias e mútuas, garantida pelas condições mencionadas previamente

nesta seção. Ainda é possível constatar o comportamento decrescente do módulo das

admitâncias com o aumento da frequência, como era de se esperar em redes de caráter

predominantemente indutivo, como são as linhas de transmissão. A partir de

aproximadamente 200 Hz, começam a surgir picos de ressonância, observáveis através

das oscilações bruscas presentes na representação gráfica das admitâncias.

Analogamente, o caso utilizando dois terminais para obtenção do equivalente

forneceu a resposta em frequência alocada em uma matriz de dimensões [6 x 6 x k], que

pode ser dividida em 4 submatrizes [3 x 3] onde os elementos foram previamente

explicados na Seção 2.2.1.

Page 38: Lucas Lima Reis de Pinho

28

Os resultados obtidos estão expostos na Figura 3.10 e se referem à resposta em

frequência das admitâncias equivalentes referentes às Barras #1 e #4, de forma que os

índices em fonte maiúscula (A,B,C) fazem alusão às fases da Barra #1, enquanto a

utilização da letra minúscula (a,b,c) remetem aos terminais da Barra #4.

As linhas contínuas do gráfico da Figura 3.10 nas cores azul e preta representam

as admitâncias próprias referentes às Barras #1 ( ) e #4 ( ),

respectivamente. A curva cheia na cor magenta é representativa dos termos da diagonal

principal das submatrizes de interação entre os dois terminais trifásicos, ou seja, das

submatrizes do canto inferior esquerdo e canto superior direito da matriz em (2.2.4).

Da mesma forma, as linhas tracejadas são representativas dos termos fora da

diagonal principal das submatrizes, que são simétricas uma por uma devido as

disposição geométrica das fases e da transposição ideal das linhas, como já fora

explicado para o caso de um único terminal trifásico. As linhas nas cores ciano e verde

representam as admitâncias mútuas somente entre os terminais da Barra #1 e #4,

respectivamente. Já a linha tracejada magenta informa o comportamento das

admitâncias mútuas resultantes da interação entre as fases (A,B,C) e (a,b,c).

Figura 3.10: Elementos da matriz de admitâncias 6x6.

Page 39: Lucas Lima Reis de Pinho

29

3.3 – Resultados do Ajuste Vetorial

As respostas em frequência da rede elétrica são utilizadas no algoritmo de Ajuste

Vetorial no software Matlab, de acordo com a metodologia apresentada no Capítulo 2.

O procedimento adotado para a escolha do número de polos do ajuste foi empírico,

tendo como ponto de partida a tentativa de 120 polos utilizada para redes complexas em

[15]. Foi utilizado o algoritmo disponibilizado em [16].

Em ordens mais baixas, o aumento do número de polos utilizado para a

aproximação da resposta em frequência geralmente resulta em curvas mais bem

ajustadas, com menor desvio quadrático médio em relação à curva original. Em

contrapartida, é desejável que a ordem do ajuste seja a menor possível, desde que

satisfaça certo grau de exigência da aproximação, pois uma ordem muito elevada

representa maiores riscos de obtenção de polos muito próximos, que poderiam acarretar

problemas de convergência quando inseridos na simulação no domínio do tempo e

maiores custos computacionais. Estes possíveis problemas são decorrentes de um

possível crescimento do valor dos resíduos em relação ao valor dos polos nestas

circunstâncias [12]. Ponderando tais condições, o número de polos igual a 300 forneceu

resultados bastante satisfatórios para o caso de um único terminal trifásico que estão

expostos na Figura 3.11.

Page 40: Lucas Lima Reis de Pinho

30

Figura 3.11: Ajuste vetorial com 300 polos.

O ajuste vetorial fornece um erro quadrático médio (root mean-square ou RMS)

igual à 6,018 S, que é comparado com os valores RMS das admitâncias

próprias e mútua na Tabela 3.2.

Tabela 3.2 - Comparação entre os valores RMS dos erros e das admitâncias.

Valor RMS

(S)

Porcentagem do Erro

RMS (%)

Admitância Própria 2,739 0,022

Admitância Mútua 2,388 0,025

Em relação à imposição de passividade, foram necessárias 5 iterações para

eliminação das violações encontradas nos valores das condutâncias. O número de

violações encontradas para cada iteração, assim como a máxima violação encontrada e a

frequência equivalente estão expostas na Tabela 3.3.

Page 41: Lucas Lima Reis de Pinho

31

Tabela 3.3 - Resultados para as Violações de Passividade.

Iteração Nº de violações Violação Máxima

(S)

Frequência

Violação Máxima

(Hz)

1 6 -0,199040 43029,13

2 6 -0,044762 43024,76

3 2 -0,007982 43019,65

4 2 -0,000198 43018,46

5 0 0,000000 0,000000

O ajuste da matriz de admitâncias para o caso multi-terminal incorreu no gráfico

da Figura 3.12, utilizando a mesma ordem de aproximação de 300 polos.

Figura 3.12: Ajuste Vetorial da matriz de admitâncias 6x6.

Em relação à imposição de passividade, foram necessárias 10 iterações para

eliminação das violações encontradas nos valores das condutâncias. O número de

violações encontradas para cada iteração, assim como a máxima violação encontrada e a

frequência equivalente estão expostas na Tabela 3.4.

Page 42: Lucas Lima Reis de Pinho

32

Tabela 3.4 - Resultados para as Violações de Passividade para o ajuste da matriz

6x6.

Iteração Nº de violações Violação Máxima

(S)

Frequência

Violação Máxima

(Hz)

1 36 -0,0016064 9816,9355

2 23 -0,0013109 2,6779

3 4 -4,5685e-05 9824,282

4 4 -1,3566e-05 2,6779

5 3 -2,3269e-17 9792,6354

6 5 -1,7923e-05 7257,4527

7 1 -1,2053e-16 7394,7555

8 2 -7,6375e-07 7391,2616

9 0 0,00000000 0,00000000

Page 43: Lucas Lima Reis de Pinho

33

4 Resultados Obtidos no Domínio

do Tempo

Neste capítulo são apresentados os resultados da comparação da resposta ao

degrau de corrente de 1 A e à uma corrente senoidal de amplitude 1 A no domínio do

tempo do equivalente dos 3 terminais referentes à Barra #4 com a resposta da rede

completa, com intuito de validar o FDNE sintetizado no EMTP/ATP Draw. Para o caso

do equivalente com os dois terminais referentes às Barras #1 e #4, foram realizadas

simulações no domínio do tempo da energização de um banco de capacitores

conectados à Barra #4, sendo o terminal trifásico da Barra #1 alimentado por uma fonte

trifásica de tensão alternada igual a 500 kV (rms, tensão de linha).

Posteriormente, foram cotejados os resultados obtidos entre a rede original e o

FDNE multi-terminal para o caso de desequilíbrios contingenciais inerentes à operação

da rede elétrica, de modo a analisar o comportamento do equivalente obtido mediante

condições anômalas do sistema elétrico. Inicialmente, foram aplicadas flutuações de

0,1pu nas amplitudes das tensões de fases e 0,5º de defasagem angular em relação

aos valores originais de referência das fases A e B do terminal trifásico da Barra #1. Em

seguida, as simulações foram realizadas para assimetrias mais severas, com variação de

0,15pu e 5º.

Na seção 4.2, estão expostos os resultados da aplicação da Transformada

Wavelet à ambas as respostas, tanto do comportamento da rede e de seu equivalente no

domínio do tempo.

4.1 – Resultados da Simulação

Temporal

Como mencionado na Seção 2.2.3, é possível sintetizar um circuito RLCG no

software EMTP do equivalente de rede obtido a partir da aproximação da resposta em

Page 44: Lucas Lima Reis de Pinho

34

frequência da rede original por uma função racional. É importante ressaltar a

importância da imposição de passividade neste processo, que mitiga a probabilidade de

ocorrência de erros de convergência na simulação no domínio do tempo do FDNE.

A síntese do equivalente de rede no ambiente do EMTP é obtida através do

Matriz Fitting Toolbox, disponível em [16], que contém uma função específica para

gerar um arquivo TXT dos parâmetros do ajuste da matriz em termos de resistência ( ),

indutância (H) e capacitância (F). Este arquivo é importado para o software EMTP/ATP

Draw na criação de um modelo específico do usuário, referente ao FDNE. Os terminais

do equivalente podem ser acessados, conforme mostrado na Figura 4.1.

Figura 4.1: Síntese do FDNE no formato de circuito RLC no ATP Draw.

Na Figura 4.1, estão apresentados os resultados da medição de corrente nos

terminais das fases a, b e c da Barra #4, respectivamente, da simulação da aplicação do

degrau de corrente na terminal da fase a desta mesma barra. No gráfico, estão

sobrepostos os valores obtidos tanto para a rede original ( quanto para a

simulação realizada utilizando o FDNE (

. Analogamente, na Figura 4.2

estão expostos os resultados para a resposta da simulação com corrente alternada.

Nas Tabela 4.1 e 4.2, seguem as comparações entre o valor RMS da discrepância

entre ambas as respostas e o valor RMS da resposta da rede original. O fato de o erro

representar apenas 0,85% e 1,35% das respostas da rede original, sempre em termos

quadráticos médios, para os sinais dos terminais de fase B e C, que apresentaram

mesma resposta, além de não haver discrepância no sinal obtido para fase A, indicam

uma boa aproximação do equivalente.

Page 45: Lucas Lima Reis de Pinho

35

Figura 4.2: Resposta ao degrau no domínio do tempo.

Tabela 4.1 - Análise da discrepância na resposta contínua.

Fase Valor Corrente

RMS [A]

Erro RMS

[A]

Porcentagem do

Erro (%)

A 1,0000 0,0000 0,0000

B 0,8059 0,0069 0,8561

C 0,8059 0,0069 0,8561

Figura 4.3: Resposta à corrente senoidal no domínio do tempo.

Page 46: Lucas Lima Reis de Pinho

36

Tabela 4.2 - Análise da discrepância na resposta alternada.

Fase Valor Corrente

RMS [A]

Erro RMS

[A]

Porcentagem do

Erro (%)

A 0,7017 0,0000 0,0000

B 0,5177 0,0070 1,3521

C 0,5177 0,0070 1,3521

É importante ressaltar que não houve instabilidade na simulação do FDNE,

evidenciando o sucesso da imposição de passividade.

No equivalente com dois terminais proveniente do ajuste da matriz de dimensão

[6 x 6 x k] resultante do frequency scan, a montagem do circuito com FDNE para a

simulação da energização do banco de capacitores no EMTP/ATP Draw pode ser vista

na Figura 4.4. O disjuntor localizado a montante do banco de capacitores fecha seus

contatos nos instantes de tempo iguais à 0,1s para a fase a, 0,11s para a fase b e 0,12s

para o terminal da fase c.

Figura 4.4: Energização do banco de capacitores utilizando FDNE.

Page 47: Lucas Lima Reis de Pinho

37

Para comparação dos resultados obtidos, as correntes medidas para as

simulações da rede original e do FDNE são expostas nas Figuras 4.5 e 4.6, referentes

aos sinais medidos nos terminais da Barra #1 e #4, respectivamente.

Figura 4.5: Comparação de correntes medidas nos terminais da Barra #1.

Figura 4.6: Comparação das correntes medidas nos terminais da Barra #4.

Page 48: Lucas Lima Reis de Pinho

38

Nas Tabela 4.3 e 4.4, seguem as comparações entre o valor RMS da discrepância

entre ambas as respostas e o valor RMS da resposta da rede original para as fases dos

terminais trifásicos das Barras #1 e #4, respectivamente. Observa-se que o erro entre a

resposta da rede original em relação ao FDNE é ligeiramente menor na comparação

entre as correntes do terminal da Barra #4, em termos percentuais.

Tabela 4.3 - Análise da discrepância nos terminais da Barra #1.

Fase Valor Corrente

RMS [A]

Erro RMS

[A]

Porcentagem do

Erro (%)

A 1023,2 77,1962 7,5445

B 1016,9 72,7326 7,1523

C 1018,3 78,9071 7,7489

Tabela 4.4 - Análise da discrepância nos terminais da Barra #4.

Fase Valor Corrente

RMS [A]

Erro RMS

[A]

Porcentagem do

Erro (%)

a 1352,0 66,3128 4,9047

b 1292,2 57,4931 4,4444

c 1275,9 69,0202 5,4095

A proporção das diferenças entre os valores RMS das correntes em relação ao

valor RMS das correntes provenientes da simulação da rede original preconizam um

bom comportamento do equivalente de rede mediante os transitórios eletromagnéticos

inerentes à manobras como a energização do banco de capacitores em que surgem

componentes de corrente e tensão em elevadas frequências. A congruência entre os

resultados obtidos é reforçada através da observação do comportamento da corrente em

cada fase isoladamente, exposta juntamente com cada desvio associado, nas Figuras 4.7

e 4.8.

Page 49: Lucas Lima Reis de Pinho

39

Figura 4.7: Correntes nas fases da Barra #1.

Figura 4.8: Correntes nas fases da Barra #4.

Page 50: Lucas Lima Reis de Pinho

40

Ainda nesta seção, foram realizados os testes do comportamento do FDNE

mediante desequilíbrios angulares e de amplitude entre as fases, como supracitado no

texto na introdução do Capítulo 4. Neste trabalho, os menores desvios em relação aos

valores de referência são tratados como Desequilíbrio Brando, enquanto às variações de

maior valor absoluto são classificadas como Desequilíbrio Severo. As tensões aplicadas

à rede elétrica original e ao FDNE em cada caso são expostas na Tabela 4.5.

Tabela 4.5 - Esquema utilizado no teste dos desequilíbrios.

Fase Amplitude

[p.u]

Ângulo

(º)

Desequilíbrio

Angular

Brando

A 1,0 0

B 1,0 -120,5

C 1,0 120,5

Severo

A 1,0 0

B 1,0 -125

C 1,0 125

Desequilíbrio

entre Amplitudes

Brando

A 1,1 0

B 0,9 -120

C 1,0 120

Severo

A 1,15 0

B 0,85 -120

C 1,0 120

Os resultados obtidos para os testes realizados estão expostos nas Figuras 4.9,

4.10, 4.11 e 4.12. Assim como para os gráficos do caso do FDNE com somente um

terminal trifásico, as curvas referenciadas por um asterisco (*) representam a resposta

da simulação utilizando o equivalente de rede no domínio da frequência.

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Figura 4.9: Resultado para Desequilíbrio Angular Brando.

Figura 4.10: Resultado para Desequilíbrio Angular Severo.

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42

Figura 4.11: Resultado para Desequilíbrio entre Amplitudes Brando.

Figura 4.12: Resultado para Desequilíbrio entre Amplitudes Severo.

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43

A análise das curvas obtidas enseja a conclusão de que o FDNE também

apresentou um comportamento similar à rede original em condições anômalas de

operação do sistema elétrico, inclusive durante o transitório eletromagnético sobre ação

de componentes de tensão de frequência diferente de 60 Hz.

Entretanto, analisando minuciosamente os gráficos, é possível observar que em

alguns casos, no regime permanente, o FDNE apresenta uma corrente senoidal,

enquanto a resposta da rede original possui distorções harmônicas. A situação mais

expressiva ocorreu para a fase a do terminal trifásico da Barra #4 na simulação do

Desequilíbrio entre Amplitudes Severo e pode ser melhor observado na Figura 4.13.

Uma possível causa para o aparecimento das distorções é a não representação da curva

de saturação em alguns transformadores. Entretanto, neste trabalho não foi realizada

uma investigação mais profunda da causa desta distorção.

Figura 4.13: Análise aproximada da corrente em regime permanente da Barra #4.

4.2 – Aplicação da Transformada

Wavelet aos Resultados

Nesta seção, estão apresentados as aproximações e detalhes resultantes da

aplicação da Transformada Wavelet nos sinais apresentados nas Figuras 4.2 e 4.3. A

transformada foi aplicada a partir de programação no software Matlab, utilizando a

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44

função swt (Stationary Wavelet Transformation), utilizando como argumentos o sinal a

ser processado, o nível de detalhamento utilizado e a especificação da wavelet ortogonal

a ser empregada.

Após uma série de testes, optou-se pela utilização da Wavelet mãe da família

Daubechies de ordem 4, ou simplesmente db4, com nível de detalhamento igual a 3 (ou

seja, gera 1 sinal de aproximação e 3 sinais de detalhes). Os resultados associados à

resposta ao degrau seguem nas Figuras 4.14 e 4.15. Para a aplicação sobre os sinais de

corrente alternada, os sinais obtidos são apresentados nas Figuras 4.16 e 4.17. Nos

gráficos abaixo, a escala de tempo utilizada para a observação dos detalhes provenientes

da TWE é diferente da escala utilizada para o sinal original s e a aproximação . Essa

diferenciação foi realizada para uma melhor análise da comparação entre a aproximação

e a resposta original ao longo de tempo todo o intervalo de simulação ao passo que o

intervalo de variação dos detalhes é bem menor, uma vez que se estabilizam em torno

de 0 rapidamente. Os resultados obtidos para as fases B e C foram aglutinados nos

gráficos das Figuras 6.4 e 6.6, já que apresentaram os mesmos valores de corrente.

Figura 4.14: Transformada Wavelet aplicada à resposta ao degrau: Fase A.

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Figura 4.15: Transformada Wavelet aplicada à resposta ao degrau: Fases B e C.

Figura 4.16: Transformada Wavelet aplicada à resposta à corrente alternada: Fase

A.

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46

Figura 4.17: Transformada Wavelet aplicada à resposta à corrente alternada:

Fases B e C.

A Transformada Wavelet Estacionária foi utilizada com a finalidade de manter

as mesmas dimensões do sinal original, objetivando evitar a perda de dados referentes

às respostas da simulação no domínio do tempo. Sendo empregada como uma

ferramenta auxiliar da validação dos resultados do ajuste vetorial, os sinais gerados pela

TWE corroboram as análises anteriores da eficiência da aproximação realizada para o

equivalente. A congruência dos sinais de aproximação e detalhes gerados indicam

respostas satisfatoriamente semelhantes entre a rede completa e o FDNE.

As Figuras 4.18, 4.19, 4.20 e 4.21 apresentam os histogramas dos detalhes

gerados pela aplicação da TWE sobre as respostas do FDNE e comparam os

perfis dos histogramas dos sinais de aproximação e da resposta original para as fases

a e b (resposta idêntica a fase c), em cada um dos casos. Tais histogramas foram obtidos

a partir do comando wavemenu no Matlab, de modo que representam as características

dos detalhes e aproximações obtidos a partir da aplicação da Transformada Wavelet

Discreta Unidimensional, que apresentou resultados semelhantes à TWE.

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Figura 4.18: Histograma para a resposta ao degrau: Fase A.

Figura 4.19: Histograma para a resposta ao degrau: Fase B.

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48

Figura 4.20: Histograma para a resposta à corrente alternada: Fase A.

Figura 4.21: Histograma para a resposta à corrente alternada: Fase B.

Através da análise dos histogramas dos detalhes, é possível observar a

concentração dos valores em tornos de 0, evidenciando a insignificante energia dos

sinais na decomposição do sinal de corrente nos terminais de corrente do

equivalente para ambos os casos de alimentação contínua e alternada. No tocante a

comparação entre as aproximações e o sinal original, é perceptível uma distribuição

semelhante das frequências de ocorrência dos valores. Tais fatos ensejam a conclusão

de que a síntese de um circuito RLC referente ao FDNE no ambiente EMTP e a

imposição de passividade não acarretaram em desvios significantes em torno do valor

obtido na simulação da rede original, indicando ser o equivalente uma representação

segura da rede elétrica completa.

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49

5 Conclusão

Este trabalho apresentou a proposta de síntese de um equivalente de rede no

domínio da frequência da rede elétrica e a sua posterior validação com auxílio da

Transformada Wavelet Estacionária.

A primeira etapa de aproximação das respostas em frequência dos componentes,

obtidas a partir do EMTP/ATP Draw, por uma função de transferência na forma de

soma de frações parciais apresentou um ajuste satisfatório, a prima facie, quando

realizado na ordem de 300 polos. O número de violações durante a imposição de

passividade foram 18 ocorrências durante todo o processo de 5 iterações.

A comparação entre os comportamentos do FDNE e da rede original completa

nas simulações no domínio do tempo no EMTP/ATP Draw para ambos os casos da

resposta à um degrau unitário de corrente e à uma excitação de corrente senoidal de

amplitude 1A obtiveram erros quadráticos médios de 0,85% e 1,35%, respectivamente,

dos valores obtidos na simulação da rede original. O baixo valor do módulo de tais

discrepâncias evidenciam que um bom ajuste foi realizado e o circuito RLC elaborado

no EMTP reproduz satisfatoriamente o comportamento da rede elétrica completa,

caracterizando um bom equivalente.

Os resultados obtidos com o processamento dos dados a partir da Transformada

Wavelet Estacionária corroboram a eficiência do FDNE. A congruência do perfil das

aproximações geradas entre a resposta da rede elétrica original e do equivalente gerado

a partir da aproximação por função racional da resposta em frequência, além do irrisório

nível de energia dos detalhes preconizam a ausência de flutuações significantes da

resposta do FDNE em relação à resposta original que pudessem tolher a utilização do

circuito sintetizado como um equivalente da rede elétrica.

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50

5.1 – Trabalhos Futuros

Os tópicos a seguir podem ser destacados como propostas de trabalhos futuros:

investigar a utilização dos demais tipos de wavelet nas análises.

investigar metodologias de proteção de distância incluindo as

representações da wavelet da resposta do FDNE.

realizar estudos de curto-circuito com o FDNE.

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51

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Page 62: Lucas Lima Reis de Pinho

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