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Curitiba, quinta-feira, 4 de setembro de 2008 | Ano IX | nº 431| [email protected]| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo | DIÁRIO d o B R A S I L Empresa suspende ação de despejo por mais 120 dias Arquivo/Despejo Zero A companhia América Latina de Logística (ALL) assinou on- tem um termo que suspende a ação de despejo de moradores da Vila Iguape I, em Curitiba, por quatro meses. O acordo foi firma- do depois das manifestações da comunidade, que acontecem des- de o mês de agosto. Porém, nas primeiras mobilizações os mora- dores não tiveram seus pedidos atendidos, apesar de algumas promessas terem sido assumidas pela empresa. Em contrapartida ao compromisso da ALL, a Co- hab se comprometeu a desenvol- ver um projeto de relocação para as famílias da região. Página 3 Mesa redonda discute a polêmica da morte Na próxima terça-feira será realizado um debate na Univer- sidade Positivo sobre a ortotaná- sia, prática que permite o médico decidir se pára ou não um trata- mento que prolonga a vida de um paciente em fase terminal. Página 3 A manifestação dos moradores do Iguape I começou por volta do meio dia Giannetti lança livro apenas com citações Eduardo Giannetti mi- nistrou duas palestras no Teatro Positivo Grande Au- ditório, que foram vistas por cerca de quatro mil pessoas. Páginas 4 e 5 Lona mostra perfil de músico da “Reles” Vocalista e compositor, Fá- bio Elias faz parte da banda Relespublica, que tem uma das maiores representativi- dades no cenário musical pa- ranaense. Página 6 Ensaio fotográfico vai para a aldeia Em pouco mais de 500 anos, o Brasil reduziu sua quantidade de índios de 5 milhões para 270 mil. Com esses números o país totali- za cerca de 5,4% do número original. Página 8

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JORNAL- LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Page 1: LONA 431- 04/09/2008

Curitiba, quinta-feira, 4 de setembro de 2008 | Ano IX | nº 431| [email protected]|Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

DIÁRIO

do

BRASIL

Empresa suspende ação dedespejo por mais 120 dias

Arquivo/Despejo ZeroA companhia América Latina

de Logística (ALL) assinou on-tem um termo que suspende aação de despejo de moradores daVila Iguape I, em Curitiba, porquatro meses. O acordo foi firma-do depois das manifestações dacomunidade, que acontecem des-de o mês de agosto. Porém, nasprimeiras mobilizações os mora-dores não tiveram seus pedidosatendidos, apesar de algumaspromessas terem sido assumidaspela empresa. Em contrapartidaao compromisso da ALL, a Co-hab se comprometeu a desenvol-ver um projeto de relocação paraas famílias da região.

Página 3

Mesa redonda discutea polêmica da morte

Na próxima terça-feira serárealizado um debate na Univer-sidade Positivo sobre a ortotaná-sia, prática que permite o médicodecidir se pára ou não um trata-mento que prolonga a vida de umpaciente em fase terminal.

Página 3A manifestação dos moradores do Iguape I começou por volta do meio dia

Giannetti lança livroapenas com citações

Eduardo Giannetti mi-nistrou duas palestras noTeatro Positivo Grande Au-ditório, que foram vistas porcerca de quatro mil pessoas.

Páginas 4 e 5

Lona mostra perfilde músico da “Reles”

Vocalista e compositor, Fá-bio Elias faz parte da bandaRelespublica, que tem umadas maiores representativi-dades no cenário musical pa-ranaense.

Página 6

Ensaio fotográficovai para a aldeia

Em pouco mais de 500anos, o Brasil reduziu suaquantidade de índios de 5milhões para 270 mil. Comesses números o país totali-za cerca de 5,4% do númerooriginal.

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Curitiba, quinta-feira, 4 de setembro de 2008Curitiba, quinta-feira, 4 de setembro de 2008Curitiba, quinta-feira, 4 de setembro de 2008Curitiba, quinta-feira, 4 de setembro de 2008Curitiba, quinta-feira, 4 de setembro de 200822222

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo daUniversidade Positivo – UP

Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. CampoComprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

“Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos ge-rais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo eempreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade so-cial que contribuam com seu trabalho para o enriquecimentocultural, social, político e econômico da sociedade”.

Missão do curso de Jornalismo

Expediente

Reitor:Reitor:Reitor:Reitor:Reitor: Oriovisto Guimarães.VVVVVice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor: José Pio Mar-tins. Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Adminis-Adminis-Adminis-Adminis-Adminis-trativo:trativo:trativo:trativo:trativo: Arno Antônio Gnoat-to; Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-ção:ção:ção:ção:ção: Renato Casagrande;;;;;Pró-Reitora de Extensão:Pró-Reitora de Extensão:Pró-Reitora de Extensão:Pró-Reitora de Extensão:Pró-Reitora de Extensão:Fani Schiffer Durães; Pró-Pró-Pró-Pró-Pró-Reitor de Pós-GraduaçãoReitor de Pós-GraduaçãoReitor de Pós-GraduaçãoReitor de Pós-GraduaçãoReitor de Pós-Graduaçãoe Pesquisa:e Pesquisa:e Pesquisa:e Pesquisa:e Pesquisa: Luiz HamiltonBerton; Pró-Reitor de Pla-Pró-Reitor de Pla-Pró-Reitor de Pla-Pró-Reitor de Pla-Pró-Reitor de Pla-

nejamento e nejamento e nejamento e nejamento e nejamento e AAAAAvaliação Ins-valiação Ins-valiação Ins-valiação Ins-valiação Ins-titucional:titucional:titucional:titucional:titucional: Renato Casagran-de; Coordenador do CursoCoordenador do CursoCoordenador do CursoCoordenador do CursoCoordenador do Cursode Jornalismo: de Jornalismo: de Jornalismo: de Jornalismo: de Jornalismo: Carlos Ale-xandre Gruber de Castro; Pro-Pro-Pro-Pro-Pro-fessores-orientadores:fessores-orientadores:fessores-orientadores:fessores-orientadores:fessores-orientadores: AnaPaula Mira (colaboração), ElzaAparecida de Oliveira e Mar-celo Lima; Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Anny Carolinne Zimermann eAntonio Carlos Senkovski.

Rodrigo Truppel

Saudade dos tempos de ga-roto, quando tudo era perto. Omeu mundo era tão grande, tãogrande, que podíamos passearnele a qualquer hora. Ele ia dacasa do Luizinho, que moravatrês ruas acima da minha, atéa casa do Gulin, que moravaao lado do Palácio Iguaçu, numtotal de nove quadras. Esse erao meu mundo. Sentia-me inde-pendente, nem precisava darsatisfação a minha mãe. Mashouve um dia em que conhecioutro mundo, o mundo de ver-dade.

Foi a maior festa: prefeito,governador, deputados e vere-adores, todos juntos para inau-gurar o futuro. Um ônibus quefalava com você, que para pegá-lo você entrava em um tubotodo de vidro, sabe, coisa do fu-turo mesmo. Era prata, coisade Hollywood, tinha o nome deLigeirinho. Eu cheguei a acharque ele voava passando porcima dos carros, e num piscarde olhos você já estava no pon-to de chegada.

Juntei toda a turma e deci-dimos ver o que esse ônibus fu-turista era capaz de fazer. In-ventei para minha mãe queiria jogar bola com meus ami-gos, em pleno domingo, às7h00, e até hoje não sei se elaacreditou. Eram 7h30 e todosestavam na frente daqueletubo que nos levaria a outromundo. Entramos e ficamosesperando. O olhar se perdiaentre admiração em estar den-tro daquele portal e com medodo que estaria por vir. O ôni-bus chegou e a porta abriu so-zinha. Todos fizemos aquelefamoso: Oh!!! Entramos e sen-tamos no fundão, os bancoseram mais altos e parecíamosos reis da espaçonave. A navecomeçou a andar, logo em se-guida uma voz de mulher co-meçou a falar com a gente.

Próxima parada: Terminaldo Boqueirão... Dê preferênciaa pessoas idosas, gestantes edeficientes... Ao embarcar, es-pere sempre o desembarque.Tenha uma boa viagem.

Todos se olharam, e come-çamos a andar pelo ônibus àprocura desta mulher. O Gu-lin falou que tinha certeza de

O ônibus

que ela ficava em um compar-timento entre as rodas. O Zecafalou que estava sentada aolado do motorista, que ele játinha visto algo parecidonuma viagem a Gramado. Elefoi até o motorista e voltoubranco: não havia ninguémcom o motorista. Ficamos commedo. Mais medo ainda foiquando olhamos para fora enão sabíamos onde estávamos.Carlinhos começou a entrarem desespero, sua mãe falouque se ele saísse do nosso“mundo”, havia grande possi-bilidade de o homem do sacopegá-lo. Eu não fiquei commedo, papai sempre falou quetudo que vai volta, então eu ti-nha quase certeza de que vol-taríamos para o mesmo lugarde onde saímos, só rezava paraque papai não estivesse erra-do, né.

Passados uns 15 minutos o

ônibus parou, a porta de novoabriu sozinha e todos descerammenos nós. Falei pra todos nãomexerem um fio, então veio omotorista e nos mandou des-cer. Entrei em pânico. Quandoolhei em volta vi um munda-réu de gente e de ônibus. Umaplaca dizia “Terminal do Bo-queirão” e quando dei por mimo ônibus se foi. Tentamos cor-rer atrás dele, mas ele era rá-pido mesmo. Um casal come-çou a rir do nosso sofrimento,da nossa angústia. O homemveio até nós e falou que era sóentrar no outro tubo para vol-tar. Começou uma correria,nunca corri tanto na minhavida. O Marquinhos era o maisgordinho, eu só o ouvia choran-do e falando:

- Esperem por mim, não medeixem.

Conseguimos entrar na es-paçonave de novo, as lágrimascomeçaram a secar e todos ospassageiros estavam rindo dagente. Quando o Marquinhoschegou ao tubo e entrou no ôni-bus os passageiros riram mais,e ele falava:

- A gente não é um time? Evocês iriam me deixar paratrás, grandes amigos vocês são!

A volta foi bem mais tran-qüila. Não via a hora de voltarpara o meu mundinho. Duran-te anos passamos a nem que-rer botar os pés para fora doperímetro do nosso mundo, poislá não havia espaçonaves, ho-mens do saco e ninguém queri do sofrimento alheio.

Passados uns 15minutos o ônibusparou, a porta denovo abriu sozinhae todos descerammenos nós. Faleipra todos nãomexerem um fio,então veio omotorista e nosmandou descer

Divulgação/SMCS

Raphael Costa

No dia 26 de agosto foi co-memorado o Dia Internacionalda Igualdade Feminina.Olhando superficialmente asociedade em que vivemos, po-deríamos até dizer que hoje asmulheres e os homens vivemsob igualdade.

Mas se olharmos para trás,vamos perceber que por mui-tos anos as mulheres foramtratadas como inferiores: nãopodiam estudar, trabalhar, vo-tar, escolher os maridos. Atu-almente, as mulheres que-bram regras e enfrentam asbarreiras da sociedade. Omundo passou a tratá-las commais igualdade.

Porém, igualdade propria-mente dita e respeito aindanão foram alcançados. Porisso, o terceiro Objetivo doMilênio é: “Igualdade entresexos e valorização da mu-lher”. De acordo com a descri-ção desse objetivo, a mulherno Brasil ganha cerca de 40%a menos que o homem.

Além disso, ainda há mui-tos casos de violência contraas mulheres. Dados do portalBem Paraná mostra que noano passado houve, apenas emCuritiba, 95,4 casos de violên-cia doméstica contra a mulhera cada mês.

IgualdadeEm 2006, foi necessária a

criação de uma lei para punirde forma mais rigorosa aque-les que cometem violência con-tra a mulher. A Lei n° 11.340,de 7 de agosto, ficou conheci-da como Lei Maria da Penha.

Segundo a advogada Ahim-sa da Costa Canena, a criaçãodas leis é lenta porque surgede acordo com as mudanças naestrutura social, que são maislentas ainda. A aprovação des-sas leis sinaliza para umamudança na sociedade, queaos poucos deixa de ser tão ma-chista.

Para a socióloga Eliane Ba-silio de Oliveira, as leis queprotegem a integridade damulher e as delegacias femi-ninas são resultado de umaluta que se ampliou na déca-da de 1980, com o fortaleci-mento da organização do mo-vimento feminista, com o au-mento das discussões e as pes-quisas sobre as relações degênero nas universidades bra-sileiras.

A socióloga afirma queexistiram ganhos muito im-portantes para as mulheres,porém ainda estamos longede uma igualdade. Para ela,a diferença de gênero passatambém pela diferença dasclasses sociais imposta porum sistema econômico bas-tante injusto.

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Geral Movimento teve resposta rápida e resultou em 130 dias de trégua na reintegração de posse

Ednubia Ghisi

Com ordem de despejo des-de junho, moradores da VilaIguape I, do Boqueirão, fize-ram ontem uma manifestaçãopara garantir a realocação oua regularização do espaço emque moram.

A ação que pede a retiradados moradores foi movida pelaAmérica Latina Logística(ALL), dona da linha férrea queestá ao lado da vila. A trans-portadora não é proprietária dolote e usa os espaço por conces-são do governo federal. Esta éa segunda manifestação dosmoradores, que reuniu cerca de40 pessoas. O pedido desta vezera de uma a resposta definiti-va e oficial.

No primeiro protesto, rea-lizado no dia 8 de agosto, aCompanhia de Habitação Po-pular de Curitiba (Cohab-CT)garantiu que em 20 dias a ALLteria retirado a ação, mas nãocumpriu o acordo. Outro mo-tivo da ação é a denúncia daviolência policial, problemaconstante na área.

Segundo os moradores, des-de as primeiras movimentaçõespara o ato, no período da ma-nhã, 10 seguranças da ALL cir-culavam nas proximidades davila. “Logo que a gente come-

çou a se reunir encheu de segu-rança, e eles filmaram toda amovimentação”, relata a mora-dora Sandra Maria AlmeidaPrado.

A manifestação aconteceuperto do meio-dia, e as respos-

Moradores da Vila Iguape Irealizam nova manifestação

tas vieram rápido. Em reuniãorealizada ontem com a compa-nhia, a ALL assinou termoque garante suspensão da açãopor 120 dias. Em contraparti-da, a Cohab se comprometecom o desenvolvimento de pro-

Lediane Filus

Na próxima terça-feira, acontece o evento“Olhares sobre a doençae a morte”, promovidopelo curso de Medicinada Universidade Positi-vo. O assunto em pautaé a ortotanásia, práticaque permite ao médicolimitar ou suspenderprocedimentos e trata-mentos que prolonguem

Mesa redonda na Universidade Positivo discute ortotanásiamorte não é discutida noscursos da área da saúde.

Estudos também apon-tam para a dificuldade dosprofissionais em lidar com amorte de seus pacientes emesmo de acompanhar opaciente e sua famíliaquando é chegada a hora.

Assim, para que sealcance uma formaçãointegral, torna-se necessá-rio criar espaços na univer-sidade para discutir erefletir sobre a questão da

jeto habitacional à populaçãodo Iguape I. Para o integran-te do Coletivo Despejo Zero Pe-dro Carrano, a rapidez da res-posta confirma a força da mo-bilização. “O ato demonstrouo quanto eles (Cohab e ALL)

têm receio da manifestação dacomunidade”.

Morar e ter acesso“Valeu a pena. Vieram tra-

zer uma resposta bem rápido,isso mostra que estamos inco-modando”, conta Kátia Cristi-na dos Santos, moradora quecede a casa para realização dasassembléia dos moradores. Maspara ela e os outros que estive-ram na ação, os 120 dias de tré-gua na ameaça não significamgarantia de moradia.

Uma das preocupações écom relação ao lugar paraonde as famílias podem serrealocadas. Sandra teme pelafalta de trabalho. Como amaior parte dos trabalhadoresdo Iguape, ela sobrevive dacoletora de material reciclávele não poderia ser realocadapara uma área afastada – si-tuação que é quase regra noscasos de realocação.

Algumas famílias já foramtransferidas para a Vila Verde,no bairro CIC, porém semqualquer condição de moradiae de trabalho, principalmentena coleta de recicláveis. Paraevitar surpresas quando pas-sarem os 120 dias, os morado-res decidiram, logo após o fimdo protesto, marcar uma con-versa com representantes daALL e da Cohab.

a vida do doente em faseterminal, de enfermidadegrave e incurável. Avontade da pessoa ou deseu representante reco-nhcecido legalmente érespeitada.

Mesas-redondas comoesta acontecem desde 2006,duas vezes por ano. Sãotrês convidados de diversascategorias e um mediador.O que motivou o surgimen-to do evento foi o fato deque, tradicionalmente, a

morte.Uma das organizadoras

do evento, a professoraLéa Resende Archanjo,explica que a intenção éabordar as visões da medi-cina, do direito e da bioéti-ca sobre a prática daortotanásia. “Queremospossibilitar ao estudanteum espaço de discussão ereflexão sobre a morte e omorrer”, explica.

Participam da mesa omédico e diretor do Hospital

Arquivo Despejo Zero

A manifestação reuniu cerca de 40 pessoas

Pequeno Príncipe, Doni-zetti Giamberardino, obioeticista Jean CarlosSeletti e a professora dedireito Silvana MariaCarbonera. Quem faz amediação é o coordenadordo curso de medicina daUniversidade Positivo,Ipojucan Calixto Fraiz.

Todos os interessadospodem participar daatividade, que acontece apartir das 18h, no auditó-rio 2 do Bloco Amarelo.

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Especial O economista Eduardo Giannetti falou aos alunos da Universidade Positivo sobre s

Uma viagem pelo mundo dAnny Carolinne Zimermann

Para lançar seu trabalhomais recente, “O Livro das Ci-tações: um breviário de idéiasreplicantes” (Companhia dasLetras, 464 páginas, R$ 49) epropor uma viagem ao mundodas idéias de diversos pensado-res ao longo da história, o eco-nomista e cientista socialEduardo Giannetti se apresen-tou na terça e na quarta-feirano grande auditório do Teatroda Universidade Positivo.

O evento, que faz parte doprograma “Grandes Encon-tros”, da Universidade Positivo,foi prestigiado por quase qua-tro mil pessoas, entre alunos,professores, coordenadores, di-rigentes e convidados da insti-tuição. “O principal objetivo éestabelecer um diálogo que per-maneça na mente das pessoasa partir dessas idéias”, disseGiannetti.

Como o próprio nome daobra já mostra, “O Livro das Ci-tações” não tem nenhuma pa-lavra de Giannetti. É uma obrafeita de fragmentos de outroslivros e autores. A primeira par-te, “Ler, escrever, ser compre-endido”, trata do uso da lingua-gem para a transmissão de idéi-as. “Formação de crenças e bus-ca do conhecimento” mostra oprocesso de formação das cren-ças. Na terceira, “Ética pesso-al: vícios, virtudes, valores”, sãoabordadas as questões que per-meiam as escolhas pessoais e ouniverso interior das pessoas,como o autoconhecimento.

A quarta parte, “Ética cívi-ca: economia, sociedade, iden-tidades”, fala das diferentes ar-madilhas e idéias da vida emsociedade. O final do livro é “Aarte de concluir”, sobre as difi-culdades de encontrar umamensagem final. Mas, de acor-do com o filósofo francês Pas-cal, citado por Giannotti, agrande dificuldade é o que colo-car no início. O livro é organi-zado em 36 capítulos, numa se-qüência encadeada de fragmen-tos.

Com “O Livro de Citações”,

o autor propõe uma volta aopassado. Mas alerta: “Não setrata de visitar o passado comoquem vai ao museu, de formacontemplativa e com certo de-leite. São mensagens que sobre-vivem e se perpetuam no espí-rito humano, com a intenção dedespertar o espírito de desbra-vamento”.

ComeçoA idéia de fazer o livro sur-

giu 30 anos atrás, quando o eco-nomista, ainda estudante uni-versitário, se deu conta de quesua capacidade de assimilar oque lia era muito baixa. “Issome deixava muito perturbado edesgostoso. Eu lia os textos re-comendados, o que precisava eo que não precisava. E restavamuito pouco dessas leituras.Muito pouco tinha se tornadopatrimônio meu”, explicou.

Então, resolveu anotar o quedespertava seu interesse, para-fraseando ou copiando citações.“Quando passei a anotar essascoisas, deixei de ter uma rela-ção superficial com a minha lei-tura e passei a assimilar muitomais. A partir desse momento,deixei de remar de costas parao meu objetivo. Fiz isso de ma-neira sistemática”.

As partes três e quatro dolivro foram temas da palestra,que enfocou a construção deuma trajetória pessoal com re-alização e felicidade. Giannottienfatizou a importância de exa-minar criticamente os valoresque norteiam a vida. Para isso,citou o filósofo grego Sócrates:“A vida não examinada não valea pena ser vivida”.

Para Giannetti, a condiçãohumana na natureza é peculi-ar e até certo ponto cindida:“Existem coisas que indepen-dem da nossa vontade. Nin-guém escolhe como vai digeriros alimentos que ingeriu. É umprocesso fechado à nossa esco-lha. Em outros casos, a auto-nomia, a liberdade de escolha,é o que torna o homem respon-sável por seu destino. E essasescolhas são feitas a partir doestado de consciência de cadaum”.

Profissão

Falando a uma platéia com-posta quase toda de estudantes,Giannotti dedicou grande par-te da palestra aos dilemas daescolha de uma profissão. Se-gundo ele, uma boa opção pro-fissional deve envolver duas for-ças opostas que devem ser re-solvidas simultaneamente.Uma delas é o valor da prudên-cia, ou seja, é preciso escolher ocaminho seguro para trilhar; aoutra é o pólo vocacional, quediz respeito a encontrar ativi-dades que sejam prazerosas eque tragam satisfação e felici-dade.

“O prazer aperfeiçoa a ativi-dade”. Foi a citação de Aristóte-les que o palestrante usou paraexplicar que, quando uma pes-soa gosta de fazer algo e o fazcom persistência e aplicação,torna-se uma exímia pratican-te e encontra pessoas dispostasa pagar pelo seu trabalho.

Ética pessoalGiannotti explicou que o su-

cesso profissional depende, tam-bém, de como a ética pessoalserá construída ao longo da his-tória de cada pessoa. Segundoele, a ética pessoal envolve es-colhas intertemporais. Gian-netti explica que há duas situ-ações nesse caso: a de credor ea de devedor. Na primeira, aspessoas aceitam um sacrifíciovisando alcançar um objetivo àfrente. Na segunda, desfrutamdo presente e resolvem as con-seqüências depois.

“São duas situações que nosacompanham cotidianamente”.Para ele, um dos grandes desa-fios da ética pessoal é encontrarfelicidade no que se faz. Dentrodo tema, afirmou, a educaçãotambém é tida como uma trocaintertemporal. “Você investeagora no aprimoramento dosseus conhecimentos para que sepossa viver melhor no futuro”.

No quesito relacionamento,afirma que é preciso construirvínculos afetivos duradouros.Giannetti advertiu sobre o cui-dado com o quê se deseja e quenão basta ver o melhor cami-

nho e o reconhecer como tal,porque às vezes a pessoa nãoestá preparada para segui-lo. Oescritor afirmou que os econo-mistas pensam o desafio da éti-ca do ponto de vista técnico. “Épreciso maximizar preferênci-as. As pessoas são racionais,consistentes e agem de acordocom seus ideais”.

Ética cívica“O ambiente econômico bra-

sileiro é infelizmente distorci-do”, disse o economista. Paraele, faltam oportunidades e con-dições para o empreendedor de-senvolver seus projetos.

Para ilustrar essa idéia, dis-se que se o empresário norte-americano Bill Gates tivesse de-senvolvido seus computadoresnos fundos de uma garagem noBrasil, provavelmente, hoje,não teria tido sucesso. Giannottidefende que é preciso as mes-mas oportunidades para quetodos desenvolvam o seu poten-cial.

“Não vejo problema na desi-gualdade de resultados, desdeque o caminho para se alcan-çar esses resultados tenha sidojusto”, afirma Giannetti. O pro-cesso para a distribuição dessasoportunidades não deve ser im-

Giannotti disse que o sucesso profissional depende de como a ét

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seu trabalho mais recente, “O Livro das Citações”; palestra faz parte do programa “Grandes Encontros”

das idéias em mil citaçõesFábio Muniz/ LONA

posto, mas legítimo.

PersistênciaPersistênciaPersistênciaPersistênciaPersistênciaDe acordo com Giannetti,

para alcançar sucesso e felici-dade, as pessoas não devem des-viar de seus objetivos. Ele citoucomo exemplo a lenda das se-reis, presente no 12.º canto dopoema épico “Odisséia”, do poe-ta grego Homero, que narra avolta do herói Ulisses para ailha de Ítaca, depois de ter pas-sado dez anos na Guerra deTróia.

Ulisses voltava para casaem seu navio, com a tripulação,e estava prestes a passar por

uma área em que havia umagrande quantidade de sereias.Com seu canto, elas atraíam ostripulantes de navios para queeles perdessem a concentração,batessem nos rochedos e afun-dassem.

Ulisses conseguiu se salvarporque tapou os ouvidos de todaa tripulação com cera e obrigouos marinheiros a amarrá-lo aomastro do navio. Giannetti con-tou a lenda para fazer uma com-paração com a vida das pessoasao falar que o herói deve lidarestrategicamente com o seu fu-turo, sem se fechar para o mun-do e não superestimar a razão.

Ulisses escutou o canto da se-reia, mas não se entregou.

O livroGiannetti explicou, em par-

tes da palestra, que critériosadotou para montar o seu livro.“Não é uma mera coletânea defrases e ditos espirituosos. É umlivro estruturado. O prefácio éuma coleção de citações sobre ainutilidade dos prefácios. Mui-tos autores escreveram prefáci-os dizendo que prefácios são inú-teis. Eu resolvi fazer o meu pre-fácio juntando os pedaços emque os outros autores dizem queprefácios são inúteis”, comentouGiannetti.

Para organizar o volume, oautor selecionou 36 temas dife-rentes de filosofia e, para cadatema, apresentou uma seqüên-cia encadeada de citações.“Cada citação dialoga com aanterior e com a posterior. En-tão é como se fosse uma drama-tização da história das idéias.Como se eu tivesse colocandonum mesmo palco, num mes-mo cenário, grandes pensadoresdialogando sobre temas co-muns”, explicou.

“Eu chamo o livro de umbreviário de idéias replicantesporque eu tento mostrar comoas mesmas idéias vão sendotransmitidas de geração parageração e vão sofrendo muta-ções”. Giannetti compara essefato com os genes, que vão sen-do transmitidos de geração parageração e, nesse processo, tam-bém sofrem pequenas altera-ções. “No fundo é um exercícioem história das idéias”, disse.

Escolha pessoalEscolha pessoalEscolha pessoalEscolha pessoalEscolha pessoal“O critério fundamental que

eu utilizei para selecionar osmil fragmentos, em torno de milque estão no livro, são passa-gens belas, são passagens ex-pressivas e que me despertamadmiração. E em muitos casosme despertam até inveja, por-que eu não as escrevi. Eu gos-taria de tê-las escrito”, refletiuGiannetti. Algumas citações sãodo especial agrado do economis-ta, como a do filósofo Cícero: “Oamor é o desejo de alcançar a

amizade de uma pessoa que nosatrai pela beleza”. “Eu achei issomuito belo e muito feliz comoexpressão do sentimento doamor. Junta a atração físicacom a amizade. E da combina-ção dessas duas coisas é que sur-ge um vínculo permanente”,explica.

O autor que mais figura nascitações é o filósofo alemão Fri-edrich Nietzsche. “Mas não équalquer Nietzsche. É o Niet-zsche que é chamado pelos his-toriadores de idéias de Nietzs-che Iluminista. Esse período doNietzsche é um período com oqual eu tenho grande afinidadee não é à toa que ele é o autorque mais aparece”, argumenta

Giannetti.No livro também podem ser

encontradas citações do filósofonorte-americano Ralph WaldoEmerson; o filosofo escocêsAdam Smith; o poeta alemãoGoethe e brasileiros como: Ma-chado de Assis, Carlos Drum-mond de Andrade, JoaquimNabuco, Manoel Bandeira, Gil-berto Freire, entre outros.

Giannetti quis deixar claroque o seu livro não se enquadrano filão de auto-ajuda. “Eu nãomotivo ninguém. Talvez eu atédesanime as pessoas um pou-co. É o avesso da auto-ajuda. Épara deixar as pessoas um pou-co mais confusas e não um pou-co mais confiantes”.

tica pessoal é construída ao longo da história de cada indivíduo

Nome: Eduardo Giannetti da Fonseca

Data de Nascimento: 23 de fevereiro de 1957

Local de Nascimento: Belo Horizonte

Atuação: Professor titular do Ibmec São Paulo

PrêmiosPrêmiosPrêmiosPrêmiosPrêmios§ 2004 - Economista do Ano(Ordem dos Economistas de São Paulo)§ 2001 - Research Fellowship(Centre for Brazilian Studies, Oxford)§ 1995 - Premio Jabuti(Câmara Brasileira do Livro)§ 1994 - Prêmio Jabuti(Câmara Brasileira do Livro)§ 1993 - Joan Robinson Memorial Lectureship(Faculty of Economics, Cambridge)§ 1984 - Research Fellowship(St John’s College, Cambridge)

Livros publicadosLivros publicadosLivros publicadosLivros publicadosLivros publicados1. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros(Companhia das Letras)2. O Mercado das Crenças(Companhia das Letras)3. Felicidade(Companhia das Letras)4. Nada é tudo: ética, economia e brasilidade(Campus)5. “Beliefs in action”(Cambridge University Press)6. Auto-engano(Companhia das Letras)7. As partes & o todo (Siciliano)8. Vícios privados, benefícios públicos?(Companhia das Letras)

Fonte: http://www.ibmecsp.edu.br

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Um cara do rockPerfil Fabio Elias, vocalista da Relespublica, é um dos roqueiros mais atuantes de Curitiba

Ana Tigrinho

Na sala que ao mesmo tem-po é de jantar e de estar, comotambém pode ser um quarto ouum salão de festas, móveis an-tigos e de bom gosto fazem adecoração. Uma estante gran-de guarda fotografias, troféus e,é claro, bebidas. Nas paredes,fotos com caretas e um quadrodo The Who. Ao lado da televi-são, num rack em forma de car-rinho, uma vitrola com um dis-co na agulha. Numa caixa nochão, as preciosidades: discos devinil, Pete Townshend, Led Ze-ppelin, Who, Elvis, Clash, Bea-tles... Uma discografia básica.Tudo na casa denuncia: aquimora um cara do rock.

Este cara atende pelo nomede Fabio Elias. Guitarrista, vo-calista e compositor da bandaRelespublica, um dos grupos demaior expressividade do Paraná,que está na ativa há 19 anos.

Em casa estava à vontade,de moletom e com os pés nochão. Mas quem o encontra nasnoites, tocando ou bebendo comos amigos, vai vê-lo de terno,calça social, all star e bottons,bem ao estilo dos Mods dos anosde 1960. Mas também não ésempre assim: “Em casa gostomesmo é de ficar pelado, sen-tindo na pele o frio de Curiti-ba”, revela.

Mod é uma tribo de jovensque surgiu no início dos anos60 e que até hoje tem seus re-manescentes. O que caracteri-za os Mods são, principalmen-te, as roupas retrô e o estilomusical. Usam terninhos, cal-ças justas, all stars, e escutambasicamente jazz e rock n’ roll,bandas como Who, Beatles, Yar-dbirds, entre outras.

Deitado à vontade em umcolchão jogado ao lado da jane-la, Fabio descreve como ele é:“Sou um capricorniano teimo-so, muito criativo, muito ami-go, muito louco. Sou pouco pa-ciente, não gosto ficar esperan-do as coisas acontecerem, tenhoque fazer acontecer. Sou umbom amante, gosto de garotasque me tratem bem. Tenho gostosimples, não tenho frescurapara comida. Adoro beber, umbom vinho com uma boa com-

panhia é a melhor coisa queexiste. Viajar é um barato, es-tar na estrada é minha vida.Faço o que gosto desde sempre,então sou feliz!”

Fabio nasceu em Curitibaem dezembro de 1975. Desde osquatro anos está ligado ao rock.Com esta idade ganhou seu pri-meiro disco, um vinil de ElvisPresley. Com oito anos começoua tocar violão. “Comecei tocan-do Jimmi Page, a primeira mú-sica que tirei foi “Tangerine”, doLed Zeppelin. Não é para qual-quer um”. A mãe até o colocouem uma escola de violão, masnem precisava. “A professoradizia que minha mãe gastavadinheiro à toa, porque eu che-gava lá e saía tocando tudo”.

A Relespublica nasceu comonascem várias bandas: amigosadolescentes que querem tocaras músicas que gostam e cur-

tir um barato. O ano era 1989.Fabio na guitarra e voz, o vizi-nho Ricardo Bastos no baixo eEmanuel Moon, amigo dos dois,na bateria. “A gente começou afazer rock numa época em quesó se ouvia lambada e techno-tronic”. A influência veio dos ir-mãos mais velhos e do rock na-cional que tocava em algumasrádios. “Na Reles somos todoscaçulas, os irmãos mais velhosinfluenciaram a gente. Tocavano rádio as músicas dos anos1980: Ira!, Ultraje, Titãs... Agente curtia tudo aquilo quecurte até hoje”.

A base da Reles foi sempre otrio, mas ela passou por outrasformações. Em 1991, Daniel Fa-gundes assume os vocais, masum acidente fatal em 1994 o ti-raria da banda. No final de 1997uma nova formação: além dostrês, Kako Louis no vocal e Ro-

ger Gor no teclado.Nestes 19 anos de Relespu-

blica, muita história, shows,fãs, parcerias, três CDs e umDVD gravados. “Um dia que memarcou muito foi quando toca-mos no Rock in Rio. Descarre-guei tanta adrenalina e endor-fina que fiquei louco e não melembro de nada. Minha mão fi-cou dura, não conseguia trocardireito de acordes, fiquei muitolouco na hora”. Outro momen-to emocionante foi a gravaçãodo MTV Apresenta. “Foi um tro-ço louco, o melhor show da nos-sa vida”.

Depoisdo álbumMTV asc o i s a sm u d a -ram: “Acomunida-de doOrkut aumentou, o públicotambém, os amigos e a famíliavieram parabenizar, o reconhe-cimento começou a vir. Pelaprimeira vez uma banda de Cu-ritiba tinha feito um DVD na-cional. Mas nunca foi fácil, agente sempre correu atrás donosso sonho, nunca ficou espe-rando”. Mas há coisas que nãomudam: a união da banda, asimpatia dos integrantes e a re-lação com os fãs.

No palco, aquele gordinhocom costeletas na altura doqueixo e óculos de aros grossosé totalmente o contrário daque-le cara calmo deitado no colchãoembaixo da janela. Corre, pula,faz caretas, mexe com as meni-ninhas, canta e toca horrores.Os fãs cantam e dançam fasci-nados com o carisma que eledesperta.

Quando o assunto é fãs,quem se fascina é ele. “O públi-co da Reles é como joguinho daGrow, pessoas de todas as ida-des gostam. Isso é que é legal,não tem preço, não tem cachêque pague”. Mas a relação comos fãs não se limita ao palco.“Nossos fãs são nossos amigostambém. Nós temos um montede fã que freqüenta nossa casa,vem aqui tomar um vinho. Elesrespeitam a Reles, eles sabemo limite entre ser amigo e serfã”.

Mas não tem fã que se com-

pare a Dona Lucia, a mãe doFabio. “Minha mãe é o máxi-mo! Ela tem o maior orgulhoda gente, canta as músicasquando está lavando louça, fa-zendo comida. Ela diz que é nos-sa fã número um. Meu pai émais fechado, mas se orgulhamuito também. Toda vez queeu apareço no jornal ele vai mos-trar para os amigos. Eles que-riam que eu me formasse numafaculdade, mas respeitam mi-nha decisão e dizem que eu souo filho mais feliz entre os trêsporque eu faço o que gosto”.

Fabioe Relessão tipi-camentecuritiba-nos. “AReles jávirou pa-trimônio

da cidade”. E um patrimônioboêmio, como os bares ou o Lar-go da Ordem, lugares muitofreqüentados por Fabio e com-panhia... “Minha atividade édormir de dia e acordar à noi-te. O dia, além de me dar pre-guiça, é nocivo. Tenho fotofobia,não posso ficar exposto à luz dosol. Eu adoro e sou noite, é ondevocê encontra pessoas interes-santes e é de onde pago minhascontas. Sou boêmio mesmo,adoro boemia”.

Boêmio sim, mas não se en-caixa totalmente no estereóti-po de que vida de roqueiro é so-mente “sexo, drogas e rock n’roll”. “Geralmente é isso o quepensam, mas para mim é mui-to rock n’ roll, um tanto especi-al de sexo, mas não só quanti-dade, e drogas só mesmo ‘ogole’. Maconha já usei, agorasó dou uns tapinhas de vez emquando. Prefiro a bebida por-que é mais sociável. Ccocaínaeu odeio”.

Vida de músico não é fácil,nem para este roqueiro “dispi-ruque”. Mas qual é o segredopara ser feliz nestes 32 anos devida, 28 deles de puro rock n’roll? “Dedicação total. Não te-nho outra banda ou outro em-prego, tenho Relespublica emeus instrumentos. Essa éminha vida. Não é fácil, maseu não troco por nenhuma ou-tra. Eu amo o que faço!”

Françoise Sumi

Fabio Elias em ação: “A Reles virou patrimônio deCuritiba”

CDs lançadosE o Rock n’ Roll Brasil? – 1998O Circo está Armado – 2000As Histórias são Iguais – 2003MTV Apresenta: Relespublica - 2006

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Geral

Congresso latino-americanodiscute avanços da equoterapia

IV Congresso Brasileiro e I Congresso Latino-Americano de Equoterapia acontecem juntos na UP

Camila Pagno

Até amanhã, acontece naUniversidade Positivo, simulta-neamente, o IV Congresso Bra-sileiro de Equoterapia e o I Con-gresso Latino-Americano deEquoterapia, com o tema: “A fa-mília, o praticante, o cavalo e aequoterapia”.

A palavra equoterapia foi cri-ada e devidamente registrada noInstituto Nacional da Proprieda-de Industrial (INPI) no ano de1999, pela Associação Nacionalde Equoterapia (ANDE), vindada junção do radical equo, origi-nário da palavra latina equus,que significa cavalo, com a pala-vra grega therapeia, que signifi-ca terapia.

Os trabalhos desenvolvidospor meio da equoterapia são re-conhecidos pelo Conselho Fede-ral de Medicina (CFM) comométodo terapêutico e educaci-onal, utilizado para auxiliar nareabilitação de pessoas com ne-cessidades especiais.

Segundo dados do últimoCenso Demográfico do Brasil,realizado em 2000 pelo Insti-tuto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), há no Bra-sil em torno de 24,6 milhõesde pessoas portadoras de defi-ciência, ou seja, 14,5% da po-pulação do país. Elas enfren-tam desafios diários em tornode suas dificuldades. São mi-

lhares de famílias que sofremcom o preconceito e que travamuma grande batalha em buscada inclusão social e do trata-mento adequado para seus fa-miliares.

No Brasil, a Lei Federal nº.7853/89 assegura os direitosbásicos dos portadores de defi-ciência. Entre os direitos estáa criação de uma rede de ser-viços especializados na reabili-tação e habilitação e o desen-volvimento de programas desaúde voltados para as pesso-as portadoras de deficiência,desenvolvidos com a participa-ção da sociedade e que lhesdêem a oportunidade da inte-gração social. Pela Constitui-ção, os direitos estão assegura-dos, porém, na prática, há mui-tas barreiras a serem enfren-tadas.

O acesso a programas deassistência à reabilitação dosportadores de limitações, taiscomo o trabalho desempenhadopela equoterapia, são fatoresdecisivos para a melhoria devida destas pessoas. As equipesmontadas para trabalhar comestes serviços devem ser prefe-rencialmente multidisciplina-res, contando com apoio de pro-fissionais das áreas de fisiote-rapia, terapia ocupacional, psi-cologia, educação física, pedago-gia, fonoaudiologia, assistênciasocial, entre outros. Há os maisvariados casos de limitações que

podem ser trabalhados paramelhorar a qualidade de vidapela equoterapia, tais como aparalisia cerebral, autismo, de-ficiências visual e mental e le-são medular traumática.

No cronograma do eventoidentificam-se discussões emtorno de diversos aspectos dotrabalho de equoterapia com aparticipação de pessoas de vá-rias regiões da América Latinanos artigos apresentados. A fi-sioterapeuta Andéa Baraldi Cu-nha, que trabalha em um pro-jeto da área desde 2001 na Uni-versidade de São Paulo (USP),em Piracicaba, apresentou umartigo sobre “O efeito da equo-terapia na função motora de cri-anças com paralisia cerebral”.

Segundo Andréa, a melhorados pacientes com tratamentoem equoterapia é muito rápidae diferente de quando se tentatrabalhar somente através dafisioterapia: “Na equoterapia, oambiente favorece, pelo traba-lho em equipe multiprofissional,os ganhos são mais rápidos e ascrianças também se divertemmais fazendo a terapia”.

Pacientes que apresentamparalisia cerebral são grandeparte dos beneficiados pelo pro-grama. A paralisia cerebral éum termo amplo, que abrangealterações do movimento da pos-tura, do equilíbrio, da coorde-nação, decorrente de uma lesãono cérebro em desenvolvimen-to, resultando em comprometi-mentos neuromotores, varian-do de caso em caso.

Cristiane Fernandes, estu-dante de fisioterapia, veio de Bra-sília para participar do congres-so. Para ela, a convivência e a par-ticipação de pessoas de vários lu-gares acrescenta muito, tantopara profissionais bem qualifica-dos quanto para iniciantes: “Cadaum tem a sua forma de lidar. Sevocê não sabe, você aprende, e sesabe, você pode mudar um poucopara fazer a diferença”.

A Universidade de PassoFundo (UPF-RS) atende há

cinco anos pessoas com defici-ência visual, autistas e crian-ças com paralisia cerebral.Um grupo de crianças porta-doras de paralisia cerebral co-meçou a praticar equoterapiano início desde ano e já apre-senta resultados notáveis. Otratamento é cuidadoso. As cri-anças começam a se acostu-mar pouco a pouco à convivên-cia com os cavalos. Com o pas-sar do tempo adquirem confi-ança e melhoram o desenvol-vimento do tratamento.

Com os autistas, o trabalhofunciona por meio da aproxima-ção entre o animal e a pessoa.Eles têm a capacidade de comu-nicação, estabelecimento de re-lacionamentos e respostas com-prometidas tanto em relação apessoas como a objetos e even-tos. A utilização do cavalo, além

de sua função cinesioterápica,ou seja, terapia pelo movimen-to e pelo andar a cavalo, produzuma importante participaçãono aspecto psíquico, favorecen-do a reintegração social.

Já no caso dos deficientesvisuais, por possuírem um dé-ficit sensorial, são acarretadaslimitações de apreensão com omundo externo, havendo neces-sidade de estímulo das estrutu-ras sensoriais para diminuir osimpactos da perda de ativida-des motoras. Com a equotera-pia, o objetivo é resgatar o estí-mulo, a autoconfiança, a comu-nicação e o aprimoramento dehabilidades básicas do corpo.

A sede da Ande-Brasil ficano Distrito Federal, em Bra-sília, porém possui afiliadosem todos os estados brasilei-ros e na Venezuela.

Camila Pagno/LONA

O processo de adaptação com o animal acontece aos poucos

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Texto e fotos: RhuanaRamos da Silveira

Em 1500, quando os euro-peus chegaram ao Brasil, a po-pulação indígena era de cercade 5 milhões. Hoje, a Funai es-tima que seja de apenas 270mil. Destes, 10 mil vivem noParaná.

Dentre esses, mais da me-tade são guaranis e 69 residemna aldeia Caruguá, em Pira-quara. A aldeia existe há noveanos, mas só no ano passado aPrefeitura de Piraquara doouos 40 hectares onde os índiosmoram.

Não foi apenas o número deíndios que mudou com o pas-sar dos anos: a cultura tambémse transformou.

Ao chegar à aldeia, a expec-tativa era a de encontrar ocas,arco e flecha, índios com o cor-po pintado e usando cocares.Porém, não é isso o que se vêna aldeia Caruguá: lá, os índi-os estavam vestidos – o caci-que Marcolino da Silva, por

Aldeia na cidadeexemplo, vestia bermuda debrim e camisa —, usando chi-nelos havaianas e portandoaparelhos de celular.

Já o olhar curioso, a caça,a pesca, a vida em comunida-de e o artesanato ainda estãopresentes na cultura guarani.Mas há uma mistura entre essemundo e o urbano: o artesana-to é a fonte de renda para com-prar roupas e alimentos (osíndios são proibidos pela pre-feitura de plantar no local) e,mesmo tímidos, sentem-se àvontade diante da câmera fo-tográfica (mas apenas depois dadifícil autorização do caciquepara a produção das fotos).

Foi através da fotografiaque começou a conversa com aíndia Natalina da Silva, de 62anos. Ela e a neta, Josiléia daSilva, de 13 anos, não se inti-midaram ao serem fotografa-das enquanto faziam o almoçodentro da casa de reza.

Cozinhavam feijão e arrozno fogão de chão aquecido a le-nha. Contaram que normal-mente o cardápio é o mesmo,

só muda quando algum ho-mem da família sai à caça evolta ou com um quati ou umtatu.

Josiléia fala pouco portugu-ês. Quase tudo o que fala é emguarani, que é traduzido pelaavó. Ela freqüenta a escola daaldeia durante a manhã e àtarde ajuda nos afazeres decasa.

Confessa gostar da vida queleva e que não pretende sair daaldeia para morar na cidade.Natalina concorda com a neta.Apenas lamenta que a culturaindígena esteja se transforman-do, correndo o risco de mudarcompletamente.

Ela mesma é vítima da ur-banização nas aldeias: portavaum celular, no qual sempremexia quando se sentia tími-da com a entrevista.

A conversa terminou damesma forma que começou:com uma fotografia. Natalinapediu para que tirasse umafoto dela, fez pose e até arris-cou um sorriso – mais com osolhos do que com os lábios.