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Como o Som nos Afeta Illustrations by Hayley Powers Thornton-Kennedy

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Como o Som nos Afeta

Illustrations by Hayley Powers Thornton-Kennedy

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SOBRE A EMPRESA

A Ca2 é uma empresa de consultoria e gestão de projetos sustentáveis, conforto ambiental, acústica, luminotécnica e eficiência energética de edificações.

Somos uma equipe de arquitetos e engenheiros com portfólio de relevância interna-cional. Auxiliamos projetistas, proprietários, incorporadores e construtores à realiza-rem suas metas ambientais através de avançados métodos de análise e de nossa experiência multidisciplinar em projetos de alto desempenho.

Utilizamos técnicas e cálculos computacionais aplicados por importantes escritórios de engenharia e consultoria do mundo através de nossos profissionais com experiên-cia internacional, para reduzir riscos e trazer assertividade aos resultados.

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SOBRE A AUTORA

Andrea Destefani, sócia e consultora sênior na Ca2, é Arquiteta Urbanista pela Uni-versidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com formação complementar pela Gol-dsmiths College -University of London.

Mestre em Acústica de edificações pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).

Atua na área de consultoria em acústica incluindo projetos de destaque no mercado brasileiro e internacional. Possui vasta experiência em coordenação de projetos para condicionamento e isolamento acústico: NBR 15575, medições de ruído, simulações computacionais, acompanhamento de obra e ensaios acústicos. Já participou de mais de 70 projetos entre teatros, auditórios, salas de concertos, escolas, edificações cor-porativas, shoppings, espaços de eventos, empreendimentos residenciais, hotéis e templos religiosos. Participa ativamente de congressos e em grupos técnicos na Associação Brasileira de Acústica.

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SUMÁRIO EXECUTIVO

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1.Introdução

O primeiro capítulo introduz o ebook mostrando contextos ruidosos comumente vivenciados por nós. Ao longo do ebook você conhecerá como o som afeta o nosso cotidiano e a nossa saúde.

2.Ruído Excessivo: Questão de Saúde Pública

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a questão do ruído excessivo se constitui como uma questão de saúde pública. O problema, em geral, se mostra mais grave em áreas urbanas e entre os grupos sociais mais pobres. Estes grupo tendem a viver em locais adensados e ruidosos, e não podem escolher onde morar ou pagar por um melhor isolamento acústico.

3.Efeito Lombard

O Efeito Lombard é o nome dado à tendência que as pessoas, dentro de um contexto ruidoso, exibem ao elevarem o volume da voz para serem compreendidas.

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SUMÁRIO EXECUTIVO

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4.Como o som nos afeta

Segundo Julian Treasure, o som nos afeta,principalmente, de quatro formas: fisiolo-gicamente,psicologicamente,cognitivamente e comportamental. Ao longo do capítulo explicamos cada uma dessas formas.

5.O ruído e a alimentação

Três estudos publicados em revistas científicas nos Estados Unidos e na Grã-Breta-nha encontraram evidências conclusivas de que o ruído residual tem um efeito signifi-cativo quanto ao nosso paladar (SAKKAL, P. 2019).

6.O papel da arquitetura

"Como arquitetos, podemos criar espaços que são, de fato, instrumentos: eles contém sons, os manipulam e podem até gerá-los. Por isso, somos responsáveis por uma ferramenta muito poderosa que afeta a cognição humana."

(Shea Trahan Associate at Trapolin-Peer Architects, New Orleans (EUA))

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INTRODUÇÃOFaremos um rápido teste primeiro: em quais das situações a seguir você já esteve?

1. Em sua casa dormindo ou assistin-do TV e foi interrompido por ruído prove-niente do seu vizinho, como música, passos, objetos caindo, furadeiras ou descargas.

2. Em seu escritório tentando trabalha, mas o ruído de trânsito ou obra próxima prejudicou a sua produ-tividade.

3. Em um restaurante ou praça de alimentação em que não conseguia ser ouvido ou ouvir a pessoa que estava na sua mesa.

4. Em algum local sob a rota de aviões.

Créditos: Figura 1,2.3 e 4 : Macrovector

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5. Esteve em um leito hospitalar ten-tando descansar, mas o ruído dos corre-dores e equipamentos era muito eleva-do.

6. Esteve em uma aula, curso ou palestra em que era difícil ouvir o que estava sendo falado pelo professor.

8.Tentou ler ou descansar e foi per-turbado pelo ruído do comércio, mani-festações, feiras livres ou latidos de cachorros no entorno da sua residência.

Créditos: Figura ,6 E 7-Macrovector, Figura 5-Golden Sikorka, Figura 8 - Jemastock

7. Acordou com o ruído de ônibus, buzi-nas ou motos.

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Créditos: Figura 7-Jemastock , Figura 8, 9 e 10- Macrovector

9. Passou por uma obra de infraes-trutura urbana e sentiu intenso incômo-do ao ouvir uma britadeira.

10. Esteve em uma sala de aula na qual as atividades eram interrompidas pelo ruído das outras turmas, como passagem de alunos pelos corredores ou movimenta-ção de mesas.

Possivelmente você esteve em várias destas situações e de forma recorrente. Nosacostumamos com esse contexto ruidoso, sem nos dar conta do quanto o ruído inde-sejado nos afeta.

Este e-book tem como objetivo demonstrar brevemente como o som atinge o nosso coti-diano e a nossa saúde.

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ÍNDICE

1.Introdução__________________________________62.Ruído Excessivo: Questão de Saúde Pública_______103.Efeito Lombard_____________________________154.Como o som nos afeta________________________175.O ruído e a alimentação_______________________276.O papel da arquitetura________________________297.Referências_________________________________26

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RUÍDO EXCESSIVO:QUESTÃO DE SAÚDEPÚBLICA

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Fonte: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-poluicao-sonora/

“O mundo está ficando cada vez mais

ruidoso. Como resultado, nossa

saúde, aprendizado e produtividade estão

sofrendo.” (Julian Teasure)

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a questão do ruído excessivo se constitui como uma questão de saúde pública. O problema, em geral, se mostra mais grave em áreas urbanas e entre os grupos sociais mais pobres. Estes grupo tendem a viver em locais adensados e ruidosos, e não podem esco-lher onde morar ou pagar por um melhor isolamento acústico.

Historicamente dentro do tecido urbano, o ruído industrial foi substituído por outras fontes como tráfego viário e aéreo, manifestações sociais, movimentação e música em bares, obras, entre outras.

O aumento dos níveis de ruído é, portanto, resultado das diversas atividades eco-nômicas praticadas em nossas cidades. Dentro do contexto econômico atual de diversos países, inclusive no Brasil, estas atividades são necessárias e também se tornam balizadoras do desempenho e crescimento econômico.

Dentro dos ambientes que frequentamos, o problema também é presente. Em muitos casos, os edifícios não são projetados de forma adequada para atingir o conforto acústico.

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Por diversas vezes frequentamos locais com forte influência do ruído externo, ou de instalações como ar condicionado. Existem também aqueles ambientes que são excessivamente reverberantes e mal conseguimos conversar com quem está ao nosso lado.

Uma gama de artigos acadêmicos já foram produzidos mostrando como o estres-se, a irritabilidade e a perda de sono aumentam entre as pessoas expostas a níveis sonoros de moderados a altos, principalmente o ruído do tráfego.

Nas escolas, hospitais e ambientes de trabalho, o ruído tem um impacto igual-mente significativo, levando a um aprendizado mais lento, convalescências mais longas e menor produtividade.

Ilustração: IPCMA.ORG

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A União Europeia calcula um custo financeiro de mais de 40 bilhões de dólares por ano, em termos de dias úteis perdidos, custos de saúde, aprendizado prejudicado e produtividade reduzida (TREASURE, J. 2013).

Foto: Eddie Jim

Um estudo desenvolvido pela Universidade Johns Hopkins, em 2008, reportou que a incidência da perda auditiva nos Estados Unidos estava atingindo propor-ções epidêmicas. De acordo com a pesquisa, um em cada três norte americanos sofre, em algum grau, de deficiência auditiva devido à exposição ao ruído.

Fonte: George Prochnik (Pursuit of Silence)

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EFEITO LOMBARD3

Illustration: drawlab19 (freepik)

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Foto: neatoday.org/2016/06/23/overcoming-teacher-voice-problems/

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Este efeito é particularmente prejudicial em escolas, já que os professores se esfor-çam continuamente para serem ouvidos, especialmente com os sistemas modernos de ensino que priorizam trabalhos em grupo. Um número considerável de professores apresentam sinais de danos irreversíveis em suas cordas vocais por conta deste esforço.

O Efeito Lombard é o nome dado à tendência que as pessoas, dentro de um contexto ruidoso, exibem ao elevarem o volume da voz para serem compreendidas.

Etienne Lombard (1869–1920), foi um otorrinolaringologista e cirurgião francês. Em sua pesquisa, utilizou dispositivos que emitiam determinado nível de ruído nos ouvidos de pacientes durante uma conversa. Ele descobriu que o paciente aumen-tava seu nível vocal sempre que era exposto ao ruído e quando este cessava, o paciente baixava a voz novamente.

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COMO O SOM NOS AFETA4

Illustration: drawlab19 (freepik)

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1.Fisiologicamente

Segundo Julian Treasure, o som nos afeta,principalmente, de quatro formas: fisiologicamente,psicologicamente,cognitivamente e comportamental.

18Nosso corpo é constituído por 70% de água. Dado que a propagação sonora em meio líquido é mais eficiente que no ar, nosso corpo se torna um bom condutor de ondas sonoras.

O neurocientista Seth Horowitz, autor do livro The Universal Sense: How HearingShapes the Mind, mostra como os sons, que são essencialmente vibrações, moldaram a evolução do cérebro humano. Para todos os animais vertebrados, a audição é o principal sentido de alerta. O autor defende que a audição é o sentido universal, já que diversos animais não enxergam muito bem, mas todospossuem uma boa audição.

De insetos a elefantes ou pessoas, todos os animais usam o som para se relacionar em seus grupos sociais - especialmente quando o ambiente está escuro, ou embaixo d'água ou em uma mata densa.

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Foto: UFRJ

Como a audição é nosso principal sentido de alerta, a emissão de um som abrup-to iniciará um processo que libera cortisol, aumenta a frequência cardíaca e altera a respiração. Isso ocorre porque fomos programados ao longo de centenas de milhares de anos para assumir que qualquer som repentino ou desconhecido é uma ameaça.

Sendo assim, nosso corpo se prepara para lutar ou fugir desta situação. Mesmo que estejamos acostumados com o ruído de um objeto caindo, por exemplo, este nos coloca em estado de alerta.

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Illustration: munikwnek (freepik)

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2.Psicologicamente

Foto: GR Group

O som pode afetar profundamente nosso estado emocional, pois é capaz de mudar as nossas emoções e humor. Um exemplo bastante conhecido é o efeito da música no nosso corpo e na nossa mente. Existem diversos sentimentos que a música pode gerar em nós, por exemplo, quando estamos buscando relaxar, escutamos música clássica ou sons da natureza.

O canto dos pássaros nos faz sentir relaxados e tranquilizados, porque aprendemos ao longo de centenas de milhares de anos que, quando os pássaros estão cantando, nor-malmente estamos seguros. Quando buscamos nos divertir e dançar, escutamos música com outras características de altura, intensidade, ritmo e melodia. Melodias de Hinos Nacionais nos fazem sentir patriotas, músicas românticas nos fazem lembrar de quem amamos, ritmos religiosos estimulam nosso lado espiritual e assim por diante.

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Foto: Med Bridge

3.Cognitivamente

O ruído ao nosso redor afeta, comprovadamente, a nossa capacidade cognitiva. Ouseja, o quão bem nós trabalhamos, estudamos ou desempenhamos nossas funçõesdiárias depende muito do contexto sonoro no qual estamos.

Algumas pessoas podem dizer que rendem muito mais escutando música alta. Segun-do Treasure, isto não é verdade, já que a música provavelmente ocupa uma faixa defrequências que interfere no processo de formulação do pensamento. Ou seja, pode-mos produzir bem ouvindo música, mas não estamos produzindo mais por minuto.

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Foto: The Wall Street Journal

Segundo um estudo elaborado pela Universidade de Berkeley, a diferença de desem-penho entre trabalhar em um ambiente silencioso e um com elevado ruído residual foibastante significativa.

Trinta e três estudantes universitários foram divididos em grupos, que executaramtarefas relacionadas à revisão gramatical em duas situações: uma menos exigente(localização de erros ortográficos e tipográficos) e outra mais complexa (encontrarerros gramaticais, palavras ausentes e palavras incorretas).

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Não houve diferença significativa entre os dois ambientes ao executar a tarefa maisfácil. Mas quando trata da tarefa complexa, o desempenho dentro do ambiente ruidoso

Erros %

Silêncio Barulho Silêncio Barulho

AmbienteSilencioso

AmbienteRuidoso

Tarefa Simples (erros não contextuais)

Tarefa Complexa(erros contextuais)

Fonte: www.ecophon.com/

foi 50% pior.

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Ilustrações: pikisuperstar (freepik)

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4.Comportamental

O som pode causar também estresse e nos fazer agir de forma negativa ou despro-porcional. Este fator nos torna menos sociáveis, prejudica as nossa relações e aspessoas tendem a ser menos acessíveis em um ambiente barulhento.

Os efeitos sociais e comportamentais são frequentemente complexos, sutis e indire-tos. Segundo a OMS, estes efeitos, que podem de alguma forma estar relacionados àquestão do ruído, incluem, por exemplo:

1.Alterações nos padrões de comportamento cotidiano (por exemplo,fechar janelas,não usar varandas, elevar a TV e o rádio a níveis maisaltos, escrever petições, reclamar às autoridades);

2.Mudanças adversas no comportamento social (por exemplo, agres-são, hostilidade, desengajamento, não participação);

3.Mudanças adversas nos indicadores sociais (por exemplo, mobili-dade residencial, internações hospitalares, consumo de drogas,taxas de acidentes);

4.Mudanças de humor: presença de humor deprimido e ansioso.

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Foto: Shutterstock

Embora mudanças no comportamento social, como o aumento da agressividade, este-jam associadas à exposição ao ruído, acredita-se que este fator isolado não seja sufi-ciente para produzir agressão.

No entanto, em combinação com provocação, raiva ou hostilidade preexistente, issopode se tornar um gatilho para o comportamento agressivo.

Existe também a preocupação de que exposições contínuas de alto nível ao ruído possam contribuir para a suscetibilidade de crianças em idade escolar a sentimentos de desamparo (Evans & Lepore 1993 apud OMS 1999).

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O RUÍDO E A ALIMENTAÇÃO5

Illustration: unitonevector (freepik)

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Três estudos publicados em revistas científicas nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha encontraram evidências conclusivas de que o ruído residual tem um efeito significativo quanto ao nosso paladar (SAKKAL, P. 2019).

Todos os três estudos descobriram que níveis de ruído acima de 80 decibels (dB) nostornaram menos capazes de provar a doçura, enquanto dois estudos descobriram quea doçura e a salinidade estavam diminuídas.

As descobertas estão alinhadas com as feitas por um acadêmico australiano conheci-do por "Taste Professor", que também descobriu que níveis elevados de ruído reduzi-ram nossa capacidade de provar doçura e salinidade, além de aumentar a sensação de amargura.

"O som é uma parte essencial do processo de percepção do sabor", disse Russell Keast, professor associado de ciência alimentar e sensorial da Univer-sidade Deakin (SAKKAL, P. 2019).

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Foto:open table blog

O pesquisador Dr. Andrei Pyko, cujo trabalho sobre a poluição sonora serviu de basepara as recomendações da OMS, constatou que há uma relação entre exposição aobarulho e obesidade.Em uma entrevista à BBC Brasil, o pesquisador mencionou que:"O barulho do trânsito, por exemplo, pode influenciar funções cardiovasculares e metabó

O sono é um importante moderador da liberação de hormônios, da regulação de açúca-res e de funções cardiovasculares. Distúrbios do sono podem afetar as funções imuno-lógicas, influenciar o controle central do apetite e o gasto de energia, bem como aumentar os níveis do hormônio de estresse.”

O estudo de Dr. Pyko relacionou a exposição ao ruído de tráfego rodoviário com o aumento da circunferência abdominal. O pesquisador chegou à conclusão que pode ocorrer um aumento de 0,21 cm a cada 5 dB de acréscimo ao ruído residual.

licas por meio de distúrbios do sono e estresse crônico.

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O PAPEL DA ARQUITETURA6

Illustration: munikwnek (freepik)

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Rob Harris, também da ARUP, apresenta um olhar mais otimista e aponta que os consultores de acústica estão cada vez mais presentes nos grandes projetos de edifícios e infraestrutura, tanto públicos quanto privados.

Para estradas e ferrovias, são usados softwares especializados associados a sistemas georreferenciados para avaliar como a propagação sonora afeta as diferentes rotas. A auralização, o equivalente em acústica de visualização, permi-te que os projetistas, incluindo aqueles potencialmente afetados pela nova rota, ouçam em etapa de projeto como estradas ou ferrovias afetarão o entorno.

Segundo Allison Arieff, autora sobre arquitetura no New York Times, “as salas de concertos, teatros, catedrais e museus são projetados com a acústica em mente. Contudo, estes espaços são os que visitamos por um curto período - estamos lá para uma apresentação, um sermão ou uma exposição e depois par-timos. São os prédios que habitamos por períodos mais longos que geralmente falham quando se trata de acústica."

Joshua Cushner, líder de acústica na ARUP (empresa multinacional de enge-nharia), acredita que falta ainda muito esclarecimento sobre o cuidado com o som durante o projeto e defende que nossa sociedade é dominada pelo apelo visual.

"Para mim, o som é um material cons-trutivo"

Bernhard Leitner, artista austríaco pioneiro no uso do som em instalações artísticas)

"Como arquitetos, podemos criar espa-ços que são, de fato, instrumentos: eles contém sons, os mani-pulam e podem até gerá-los. Por isso, somos responsáveis por uma ferramenta muito poderosa que afeta a cognição humana."

(Shea Trahan Associa-te at Trapolin-Peer Architects, New Orle-ans (EUA))

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Foto: Arquitetura 23 Sul- Aeroporto Florianópolis

Em edificações, a auralização também é usada para permitir que clientes, desen-volve dores e arquitetos entendam como são os diferentes níveis de ruído, o efeito dos diferentes padrões de isolamento acústico de vedações, etc., ouvindo direta-mente como o edifício se comportará como está sendo projetado.

Isso tornou muito mais fácil para os especialistas explicar conceitos de acústica e considerar decisões de projeto.

Exemplo: Aeroportos

No que tange melhoria da inteligibilidade dos avisos de embarque em aero-portos, as auralizações podem determinar o dire-cionamento dos investi-mentos em tratamento acústico.

Isto é possível pois, durante o projeto, os resultados previstos de cada opção podem ser ouvidos.

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No entanto, dentro do contexto brasileiro, apesar dos grandes avanços em quase todas as áreas da arquitetura, o som e a acústica, na maioria das vezes, continuam sendo preocupações secundárias.

É de amplo conhecimento que a acústica de um ambiente tem impacto enorme no bem-estar e na produtividade de seus ocupantes. Contudo, ainda é necessário um grande esforço do mercado imobiliário no sentido de incorporar esta disciplina no processo de projeto e execução de obra.

https://sound-zero.com/how-acoustics-affect-productivity-in-office-environments/

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Alguns avanços tem sido feitos nos últimos anos dentro do mercado imobiliário, principalmente após o grande alcance da Norma de Desempenho.

Ainda assim é preciso trilhar um longo caminho para que a acústica e o conforto ambiental sejam parte integrante do processo de projeto.

Foto 1: aercoustics.com/architecural-acoustics-solutions/Foto 2 :supawood.com.au/architecturally-sound-why-acoustics-matter-in-great-architecture/

Foto: www.autodesk.com/redshift/generative-design-architecture/

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BISTRUP, M.L.; HYGGE, S. KEIDING, L; VEERMER, W.P. Health effects of noise on children and perception of the risk of Noise. National Institute of Public Health, Denmark, 2001. https://hoereforeningen.dk/media/1109/health-effects-noise--children.pdf

Impact of noise in healthcare – A research summary. Ecophon – Saint Gobain, 2017. Revisado por Samuel Verburg, DTU, Technical University of Denmark. https://www.ecophon.com/globalassets/media/pdf-and-documents/se/hc-research/cm-research-summary-hc-2017.pdf

Johansson et al., “The sound environment in an ICU patient room – a content analysis of sound levels and patient experiences”, Intensive and Critical Care Nursing Journal, Oct 2012, 28(5), p269–279

Julian Treasure. WHY ARCHITECTS NEED TO USE THEIR EARS? Ted Talks, 2012. https://www.youtube.com/watch?v=y5nbWUOc9tY

MCQUAY, B; JOYCE, C. How sound Shaped the evolution of your brain. 2015 https://www.npr.org/sections/health-shot-s/2015/09/10/436342537/how-sound-shaped-the-evolution-of-your-brain

REFERÊNCIAS7

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ARIEFF, A. The search for silence. New York Times, 2014https://www.nytimes.com/2014/03/21/opinion/arieff-the-search-for-silence.html?_r=2&utm_medium=website&utm_source=archdaily.com

SAKKAL, Paul. Say that again': Are noisy restaurants ruining eating out? https://www.goodfood.com.au/eat-out/say-that-again-are-noisy-restaurants-ruining-eating-out-20190822-h1hcqs

TREASURE, Julian. Building in sound, BIAMP SYSTEMS WHITEPAPER. 2013. https://www.academia.edu/3588066/Building_in_Sound?auto=download

TREASURE, Julian. The 4 ways sound affects us. https://www.juliantreasure.com/blog/4-ways-sound-affects/Weinstein, University of California, Berkeley, Journal of applied psychology, 1974, vol 59, no 5, p548-554

WENTZEL, Marina. Como a poluição sonora influencia até na obesidade. BBC News Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/geral-46040219

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for Community Noise, 1999. https://www.who.int/docstore/peh/noise/Com-noiseExec.htm

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REFERÊNCIAS7

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