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14. LICENCIAMENTO AMBIENTAL............................................ 391 14.1 Licenciamento ambiental: em busca de resultados efetivos – José Cláudio Junqueira Ribeiro ......................................... 393 14.2 O Licenciamento ambiental e os serviços de saneamento – Silvano Silvério da Costa, Marcos Pellegrini Bandini, Volney Zanardi Júnior e Lucia Regina Moreira Oliveira........ 401 CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E INTERFACES DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO 14. LICENCIAMENTO AMBIENTAL Licenciamento ambiental: em busca de resultados efetivos José Cláudio Junqueira Ribeiro Doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM do Estado de Minas Gerais. O artigo contextualiza a emergência do licenciamento ambiental no Brasil, descreve suas principais fases e analisa os problemas contemporâneos. A falta de tradição em planeja- mento associada às limitações do modelo, comando e controle, em face da complexidade urbana, impõe a necessidade de se repensar o licenciamento ambiental em nosso País, sob pena de assistirmos à sua crescente judicialização. Para o Saneamento Básico, a simplifica-

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14. LICENCIAMENTO AMBIENTAL............................................ 39114.1 Licenciamento ambiental: em busca de resultados efetivos Jos Cludio Junqueira Ribeiro ......................................... 39314.2 O Licenciamento ambiental e os servios de saneamento Silvano Silvrio da Costa, Marcos Pellegrini Bandini, Volney Zanardi Jnior e Lucia Regina Moreira Oliveira........ 401

CONCEITOS, CARACTERSTICAS E INTERFACES DOS SERVIOS PBLICOS DE SANEAMENTO BSICO14. LICENCIAMENTO AMBIENTALLicenciamento ambiental: em busca de resultados efetivos Jos Cludio Junqueira Ribeiro Doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hdricos. Presidente da Fundao Estadual do Meio Ambiente FEAM do Estado de Minas Gerais.

O artigo contextualiza a emergncia do licenciamento ambiental no Brasil, descreve suas principais fases e analisa os problemas contemporneos. A falta de tradio em planeja-mento associada s limitaes do modelo, comando e controle, em face da complexidade urbana, impe a necessidade de se repensar o licenciamento ambiental em nosso Pas, sob pena de assistirmos sua crescente judicializao. Para o Saneamento Bsico, a simplifica-o dos procedimentos acompanhada de mecanismos institucionais de clara repartio das competncias entre os entes federados fundamental para assegurar a oferta de servios planejados, ambientalmente sustentveis e universalizados.Palavras-chave: planejamento; licenciamento ambiental; mecanismos institucionais; simplifi-cao; repartio de responsabilidades; saneamento bsico.

Professor titular de Gesto Ambiental da Universidade FUMECO licenciamento ambiental e os servios de saneamento

Silvano Silvrio da Costa Engenheiro civil (FE-FUMEC, 1986), Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hdricos (UnB,2002), atuou em consultoria de projetos de saneamento, foi dirigente de servios de saneamento, Presidente da ASSEMAE (2003 a 2007), atualmente especialista em Infra-Estrutura de Saneamento do governo federal e diretor de Ambiente Urbano da Secretaria de Recursos Hdricos e Ambiente Urbano do MMA

Gelogo (UNESP-Rio Claro, 1984) Mestre em Geocincias Marcos Pellegrini Bandini (UNESP-Rio Claro, 1992), atuou nas reas de planejamento regional e urbano, atualmente exerce a funo de gerente de Programas Ambientais

392 LICENCIAMENTO AMBIENTALUrbanos no Departamento de Ambiente Urbano da Secretaria de Recursos Hdricos e Ambiente Urbano do MMAVolney Zanardi JniorEngenheiro qumico (UFRGS, 1985), doutor em Cincias Ambientais (University of East Anglia, 1999) e mestre em Ecologia (UFRGS, 1990).Foi diretor de Recursos Hdricos da SEMA/RS (1999-2002), coordenador de Licenciamento Ambiental do IBAMA (2003), atualmente diretor do Departamento de Licenciamento e Avaliao Ambiental do MMAEngenheira civil (EETM/Uberaba-MG, 1978), ps-graduada em Gesto Ambiental (UnB, 1998 e 2004), atuou em Licenciamento Ambiental no IBAMA (1994-2004), atualmente exerce a funo de especialista em Polticas Pblicas no Departamento de Licenciamento e Avaliao Ambiental do MMA

Lucia Regina Moreira OliveiraRESUMO: As polticas pblicas de meio ambiente, de recursos hdricos e de Saneamento Bsico constituem locus privilegiado para o exerccio do pacto federativo brasileiro, consagra-do no Pas com a Constituio Federal de 1988. A legislao ambiental, que cria o Sistema Nacional de Meio Ambiente desde 1981, a Lei Federal 9.433 que estruturou a poltica e o sistema nacional de gerenciamento de recursos hdricos e, mais recentemente, o arcabouo legal do setor saneamento, desafiam gestores pblicos e sociedade a implementarem uma gesto integrada e compartilhada. A forma como nossas cidades se urbanizaram, gerando excluso social, segregao espacial e degradao ambiental, impem maior complexidade a esta tarefa. No entanto, no nos faltam leis, instrumentos e dispositivos que possibilitem a implantao de empreendimentos em saneamento, adequadamente licenciados, que ajudem a reverter essa lgica perversa, tornando nossas cidades mais inclusivas, saudveis e susten-tveis. Ainda so raras as iniciativas de articulao de polticas pblicas e de intervenes Palavras-chave: legislao; licenciamento ambiental; urbanizao; planejamento integrado; saneamento bsico; regularizao fundiria; compartilhamento de responsabilidades.

CONCEITOS, CARACTERSTICAS E INTERFACES DOS

SERVIOS PBLICOS DE SANEAMENTO BSICO

14.1 Licenciamento ambiental: em busca de resultados

Jos Cludio Junqueira RibeiroO licenciamento ambiental no Brasil, no mbito federal, foi criado pela Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto no 88.351, de 1o de junho de 1983, substitudo pelo Decreto no 99.274, de 6 de junho de 1990. Esta legislao foi recepcionada pela Constituio Federal de 5 de outubro de 1988, que instituiu a obrigatoriedade do licenciamento para as atividades de significativo impacto ambiental em todo Pas. Anteriormente, alguns estados da Federao como So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais j haviam institudo esse instrumento como ferramenta para a implementao de suas polticas ambientais, aplicando a exigncia do alvar ambiental em duas fases: licena de instalao e licena de funcionamento, inspirados no modelo da agncia norte-americana EPA (Environmental Protection Agency). O cdigo ambiental norte-americano NEPA (National Environment Protection Act), editado em fins de 1969, criou os instrumentos de gesto e a agncia EPA para que a partir de 1970 os empreendimentos de grande potencial fossem objeto de estudos prvios de impacto ambiental nos Estados Unidos. Dentre esses instrumentos, os que mais se destacaram foram os EIA (Environmental Impact Assessment) e as licenas ambientais. O EIA teria a funo de subsidiar a tomada de deciso, da a utilizao do termo assessment, que significa assessorar e no julgar. Este sistema, bastante detalhado, foi desenhado para empreendimentos de grande porte, cujo objetivo maior seria o estudo de alternativas locacionais e tecnolgicas, prognosticando impactos positivos e negativos para cada uma delas, assim como medidas mitigadoras e compensatrias, para que o tomador de deciso pudesse julgar qual alternativa seria mais vantajosa, ou menos desvantajosa como preferem alguns, para o meio ambiente. A Conferncia da Organizao das Naes Unidas (ONU) ocorrida em Estocolmo, em 1972, tendo como tema central o meio ambiente, aprovou a recomendao para que os pases-membros implementassem polticas pblicas de meio ambiente. Neste contexto, a experincia norte-americana teve grande influncia, principalmente na Amrica Latina. No incio, como citado, alguns estados brasileiros adotaram o modelo bifsico licena de instalao e licena de funcionamento conforme o modelo norte-americano. Entretanto, na normativa federal brasileira, o Decreto no 88.351/1983 estabeleceu e o Decreto no 99.274/90 manteve o sistema trifsico: Licena prvia LP, Licena de Instalao LI e Licena de Operao LO. 3942. As fases do licenciamento ambiental no BrasilO licenciamento ambiental compreende trs fases: em uma primeira fase se discute a viabilidade ambiental do empreendimento, por meio dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental (RIMA) para os projetos mais complexos, ou do Relatrio de Controle Ambiental (RCA) para projetos mais simples. Nessa fase, chamada de Licena Prvia LP, no h, ainda, necessidade de se analisarem os projetos executivos, mas apenas os estudos de concepo ou o anteprojeto do empreendimento. durante a anlise da Licena Prvia que poder ocorrer a audincia pblica, quando o projeto e seus estudos ambientais so discutidos com as comunidades interessadas. A LP no concede nenhum direito de interveno no meio ambiente, j que se refere a uma fase ainda conceitual. Dessa forma, o certificado de LP no tem valor especfico para a ao fiscalizadora, porquanto no permite nem a instalao, nem a operao de quaisquer empreendimentos. segunda fase, denominamos Licena de Instalao LI. quando so analisados os projetos executivos de controle ambiental sendo avaliada a sua eficincia, conforme tenha sido prevista na fase anterior. Os documentos contendo os projetos executivos e o detalhamento das medidas mitigadoras e compensatrias compem o Plano de Controle Ambiental (PCA). A LI concede o direito para a instalao do empreendimento, ou seja, a implantao do canteiro de obras, movimentos de terra, cortes e aterros, abertura de vias, construo de edificaes, galpes, macios de terra, diques, barragens, montagens de equipamentos, enfim todas as obras necessrias ao empreendimento. A LI dispe sobre as obrigaes do empreendedor no que se refere aos cuidados ambientais para a execuo dessas obras, assim como aos tratamentos e disposio final dos resduos slidos, lquidos e atmosfricos. Nesta fase a fiscalizao pode ser feita de forma objetiva, solicitando-se ao empreendedor o certificado de LI. A falta deste certificado ou a implantao em desacordo com o previsto torna as obras passveis de autuao e embargo. A LI no permite a operao do empreendimento, nem para fins de testes ou quaisquer experimentos; nenhuma produo permitida com apenas o certificado LI. A terceira fase, denominada Licena de Operao LO comparvel ao Habite-se. Nesta fase a fiscalizao vai a campo para verificar se os projetos de controle foram implantados conforme aprovados na fase anterior. Faz-se necessria, nesta fase, a vistoria de campo para verificar a conformidade do empreendimento com a legislao ambiental vigente, conforme as premissas dos estudos ambientais EIA/RIMA, RCA, PCA e demais condicionantes porventura estabelecidas nas fases anteriores. Entretanto, nesta fase, pode-se tambm realizar fiscalizaes objetivas, exigindo-se apenas o certificado de LO ou a verificao do funcionamento do empreendimento conforme as premissas do licenciamento ambiental. Todos os empreendimentos potencialmente degradadores do meio ambiente instalados no Pas, a partir de junho de 1983, esto obrigados a disporem de LO para funcionarem. A falta deste certificado torna o empreendimento passvel de autuao e embargo de seu funcionamento.3. Problemas relativos ao licenciamento ambiental A justificativa para a incluso da LP foi o argumento de que a anlise prvia seria altamente desejvel para evitar investimentos em projetos executivos e aquisio de terrenos, sem a certeza da viabilidade do empreendimento. Esta alternativa tornou-se bem aceita, pois se acreditou que uma fase prvia, quando se discutiria a concepo e a localizao, com suas alternativas tecnolgicas e locacionais, poderia evitar que empreendimentos sem viabilidade ambiental prosperassem. Essa questo tornava-se ainda mais relevante ao se considerar a falta de planejamento que imperava, e ainda impera, no Pas. Entretanto, a LP no tem conseguido atingir os objetivos para os quais foi concebida. Primeiramente,Como por exemplo: porque o setor empresarial ainda no incorporou realmente a varivel ambiental nos seus estudos de viabilidade tcnica econmica e, dessa forma, os estudos ambientais tm sido um instrumento utilizado muito mais para cumprir a exigncia legal, do que para subsidiar a tomada de deciso. Normalmente, os estudos ambientais so contratados quando a deciso j est tomada e o licenciamento ambiental visto como mais um obstculo da pesada burocracia brasileira, que exige inmeras autorizaes para a regularizao de um empreendimento. Apenas na rea ambiental so trs: o prprio licenciamento por parte das agncias ambientais, a outorga do direito de uso de recursos hdricos por parte das agncias de guas e a autorizao para supresso de vegetao, por parte dos rgos florestais; isso sem considerar os casos em que haja necessidade de anuncia prvia dos rgos federais. Nesse contexto, com isso a LP tornou-se realmente apenas mais um obstculo a ser vencido.A fragilidade da administrao pblica, dos rgos de meio ambiente em especial, no Pas, decorrente de muita interveno poltica em suas direes, equipes subdimensionadas, baixos salrios, tem contribudo para as dificuldades presentes, com reduo de sua independncia e de sua credibilidade. As presses que so exercidas acabam tornando quase todos os empreendimentos viveis na fase da licena prvia, postergando para as fases seguintes de LI e LO os ajeitamentos necessrios a uma soluo palatvel. Esta uma das principais causas do elevado nmero de condicionantes, medidas mitigadoras e de compensao ambiental no processo de licenciamento ambiental brasileiro. Em uma anlise mais acurada, no raro, pode-se perceber que muitas dessas medidas no so nem uma coisa, nem outra, mas apenas medidas de interesse dos rgos ambientais para o desenvolvimento de seus programas institucionais, sem nexo causal com os impactos ambientais verificados. O processo de negociao para esses acertos demorado e essa morosidade ainda se volta contra a administrao pblica, na forma de reclamao de falta de previsibilidade, por parte do setor empresarial.Todas essas questes, evidentemente, levam a um processo de descontentamento generalizado. Na ausncia de planejamento, de mecanismos institucionais adequados e, principalmente, de regras claras, a judicializao do licenciamento ambiental torna-se cada vez mais freqente. Hoje, o Ministrio Pblico figura como o principal ator na defesa do meio ambiente, como os rgos ambientais o foram nos anos de 1980. Provavelmente, os acertos que vm sendo feitos nos Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) sofrero os mesmos desgastes que aqueles realizados no licenciamento ambiental, caindo tambm no descrdito.

396Talvez, muitos desses desencontros estejam sendo causados pela supervalorizao que os diversos atores, rgos ambientais, empresrios e sociedade civil, atriburam ao licenciamento ambiental, como se este instrumento fosse a panacia da poltica ambiental.O licenciamento ambiental , sem nenhuma dvida, um importante instrumento de gesto ambiental, mas no o nico e nem sempre o mais adequado.No Brasil, tambm o licenciamento ambiental foi desenhado, inicialmente, para empreendimentos de grande porte e, principalmente, para os do setor industrial. Este instrumento pretendia que, por meio de mtodos de avaliao de impactos potenciais, pudesse subsidiar a tomada de deciso, em funo da anlise de custo/benefcio das vrias alternativas contempladas, incorporando a varivel ambiental.A Resoluo Conama no 01/86, que dispe sobre Estudos para a avaliao de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental (RIMA), fortemente inspirada no cdigo norte-americano NEPA, como subsdio ao licenciamento ambiental, apresenta detalhadamente os requisitos para o desenvolvimento dos estudos, que raramente so seguidos, como, por exemplo, apresentar a distribuio dos nus e benefcios sociais para cada alternativa (Art. 6o, inciso II). Por outro lado, a resoluo exagera quando exige que devam ser contempladas todas as alternativas tecnolgicas e de localizao de projeto (Art. 5o, inciso I). O grau de dificuldade para a observncia deste item levou simplificao de raciocnio para apresentar apenas a alternativa desejada, o que vem ocorrendo na imensa maioria dos casos.Outra questo relevante para compreender o desgaste do processo de licenciamento no Pas que ao longo do tempo esse instrumento foi estendido a todos os setores, independente-mente do porte, gerando muitas disfunes. O porqu dessa predileo talvez seja porque o licenciamento ambiental, ao lado da fiscalizao, compe o binmio do modelo denominado comando e controle, de mais fcil implementao e, que contribui para a auto-afirmao dos rgos ambientais, uma vez que lhes confere poder e temor. Alis, o desenvolvimento desse raciocnio no privativo para a implementao da poltica de meio ambiente, mas para grande parte das polticas pblicas. Faz-se mister ressaltar que o comando e controle tiveram grande importncia na implementao da poltica de meio ambiente no Pas, sendo o grande responsvel pela sua afirmao e regularizao de empreendimentos de grande porte do setor privado. Entretanto, para o setor pblico e empreendimentos de pequeno e mdio porte, os resultados no se mostraram to satisfatrios.

4. Licenciamento ambiental de infra-estrutura de Saneamento AmbientalA Resoluo Conama no 237 de 19/12/1997, que dispe sobre a reviso e complementao dos procedimentos e critrios utilizados para o licenciamento ambiental, prev que esto sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e atividades listadas no Anexo 1 (Art. 2o, 1o). No caso do Saneamento Bsico so:

estaes de tratamento de gua interceptores, emissrios, estao elevatria e tratamento de esgotos tratamento e destinao de resduos slidos urbanos

Todavia, est prevista a competncia para o rgo ambiental estadual ou municipal definir os critrios de exigibilidade, detalhamento ou complementao do Anexo 1 (Art. 2o, 2o). Isto significa que a norma nacional permite aos rgos estaduais e municipais a simplificao de procedimentos. Mas, ao contrrio, os rgos ambientais tm preferido a complementao e o detalhamento, tambm previstos na norma. No so raros os casos de exigncia de licenciamento ambiental para sistemas de captao, aduo, reservao e distribuio de gua e de coleta de esgotos, no previstos na norma nacional. O estado de Minas Gerais desenvolveu e implementou sistema simplificado de autorizao ambiental para empreendimentos e atividades considerados de impacto ambiental no significativo, que, portanto, podem ser dispensados de licenciamento ambiental. Nesse contexto foi dada especial ateno aos sistemas de Saneamento Bsico, uma vez que nos casos destas infra-estruturas, a pior alternativa para a sade e o meio ambiente no dispor das mesmas. O rgo colegiado, Conselho Estadual de Poltica Ambiental COPAM deliberou em outubro de 2004 (deliberao Normativa COPAM 74/04) que so dispensados de licenciamento ambiental os seguintes empreendimentos: Tratamento de gua para abastecimento at 500 L/s Tratamento de esgotos sanitrios at 50 L/s Interceptores, emissrios, elevatrias e reverso de esgotos at 1.000 L/s Tratamento ou disposio final de resduos slidos urbanos at 15 t/diaEvidentemente, que o desenvolvimento dessas atividades deve ser regulado e, para isso, existe a normalizao tcnica e legal que deve ser observada, alm de autorizaes como outorga para o direito de uso dos recursos hdricos e para a supresso da vegetao. A experincia mineira serviu para deflagrar a Resoluo Conama no 377/06, que simplificou o licenciamento ambiental para sistemas de esgotos sanitrios no Pas. Para os empreendimentos de pequeno e mdio porte, com capacidade nominal at 50 L/s ou 30 mil habitantes, o prazo para o licenciamento de apenas 30 dias. No caso de disposio de resduos slidos urbanos, a proposta de simplificao j foi aprovada na Cmara Tcnica de Sade, Saneamento Ambiental e Gesto de Resduos, devendo, em breve, ser apreciada pelo Conama.Com relao resoluo Conama 01/86, que dispe sobre a exigncia de EIA/RIMA, no setor saneamento apenas aplicvel construo de barragens (art. 2o, inciso VII). Entende-se que o inciso X do art. 2o aplica-se apenas aos aterros para resduos txicos ou perigosos, enquadrados na classe 1 pela norma da ABNT, NBR 10004.Observa-se, ainda, que nunca demais lembrar que a Resoluo Conama no 237/97 deu competncia aos rgos ambientais para definir os estudos ambientais pertinentes aos respectivos processos de licenciamento, quando o empreendimento no causador de significativo impacto ambiental (art. 3o, pargrafo nico).398

5. Repartio de competncias entre os entes federadosO carter federativo do Pas, reforado pela Constituio de 1988, que d competncia aos entes federados Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios para a gesto do meio ambiente tirou a exclusividade dos Estados e da Unio para o licenciamento ambiental prevista na Lei no 6.938, de 1981. A Resoluo Conama no 237/97 dispe sobre critrios para repartio de competncias para o licenciamento ambiental entre os entes federados. As competncias do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis Ibama esto descritas no artigo 4o; as dos rgos estaduais e distrital no artigo 5o; e as dos municipais no artigo 6o. Entretanto, esses critrios nem sempre so suficientemente objetivos, alm do questionamento de ordem jurdica sobre a necessidade de a matria ser objeto de lei. H algum tempo a matria vem sendo discutida na Cmara dos Deputados por meio de projeto de lei para regulamentao do artigo 23 da Constituio Federal.

...........................................................................................................................................

Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios:

...............................................................................................................................................VI proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas.De maneira geral, os empreendimentos de infra-estrutura de Saneamento Bsico enquadram-se nas competncias estadual e/ou municipal.A experincia internacional indica que a forma mais objetiva para a distribuio de competncias entre entes federados (Alemanha, Estados Unidos) ou entre nveis regionais (Frana) a adoo do sistema de listagens, que elenca exaustivamente os empreendimentos e atividades de competncia para cada nvel administrativo. O sistema alemo, o mais complexo, que conta com cinco nveis administrativos federal, estadual, subregional intermunicipal (Kreis) e o municipal apresenta com uma profuso de detalhes as vrias listagens, permitindo, com muita clareza, que o poder pblico, empreendedores e a sociedade civil conhea a competncia do nvel adequado para a tomada de deciso.No Brasil, a partir da listagem macro do Anexo I da Resoluo Conama 237/97, alguns estados elaboraram listagens complementares mais detalhadas, destacando-se as sete listagens, com mais de 400 itens da legislao do estado de Minas Gerais (DN 74/04).Os alvars municipais constituem-se em um dos mais fortes instrumentos autorizativos, inclusive, com maior potencial para o controle ambiental dos empreendimentos de pequeno porte. A municipalidade tem o poder de autorizar e controlar todas as atividades, exigindo-lhes a observncia de todos os seus regulamentos, at mesmo os de ordem ambiental. neste sentido, no caso de empreendimentos ou atividades de pequeno porte com impactos locais no significativos, que no h necessidade de exigncia de licenciamento ambiental. At porque, a legislao federal exige o estudo prvio de impacto e conseqente licenciamento apenas para os de impacto significativo. Definir o que impacto significativo no tarefa fcil, mas no impossvel, como demonstra a experincia do estado de Minas Gerais.

6. Licenciamento para disposio final de resduos de servios de sadeDurante muitos anos houve a crena de que os Resduos de Servios de Sade (RSS) deveriam ser dispostos isoladamente ou apenas incinerados. Entretanto, vrias pesquisas nos nveis internacional e nacional indicaram que grande parte desses resduos podem ser co-letados e dispostos com os resduos slidos urbanos, sem acrscimo de risco sade e ao meio ambiente. Para os RSS com risco biolgico so recomendados pr-tratamento (auto-clavagem) antes de serem incorporados ao sistema de coleta e disposio final de resduos slidos urbanos A Resoluo Conama no 358/05, que dispe sobre o tratamento e a disposio final de resduos de servios de sade, torna obrigatria a segregao na fonte geradora, segundo os Grupos A,B,C,D e E, sendo o Grupo A, subdividido em A1, A2, A3, A4 e A5. Os resduos A1 e A2 devem passar por processos de tratamento para reduo da carga microbiana antes de serem enviados a aterros sanitrios (arts. 15 e 16). Os resduos A4 podem ser encaminhados sem tratamento prvio (art. 18). Os resduos A3 peas anatmicas do ser humano devem ser enterradas em cemitrios ou cremadas. Os resduos A5 com suspeita de contaminao com prons devem receber orientao especfica da Agncia Nacional de Vigilncia sanitria (Anvisa).Os resduos do Grupo B, que contm substncias qumicas, sem caractersticas de periculosidade, no necessitam de tratamento prvio (art. 22). Os do Grupo C, radioativos, devem ser objeto de manejo especfico. Os do Grupo D, resduos comuns, quando no forem passveis de reutilizao ou reciclagem devem ser encaminhados diretamente aos aterros sanitrios (art. 24). Os do grupo E, materiais perfurocortantes, devem ter tratamento especfico de acordo com seu grau de contaminao biolgica ou qumica (art. 25).Estima-se que ao implementar o Plano de Gerenciamento de Resduos de Servios de Sade (PGRSS), conforme previsto na norma, cerca de 90% desses resduos podero incorporar o sistema de resduos slidos urbanos e serem dispostos adequadamente em aterros sanitrios licenciados. Observa-se que apesar da norma ter facilitado a regularizao ambiental da disposio final de RSS, por meio do licenciamento de aterros sanitrios, reconhecendo a adequao da co disposio desses resduos com os resduos slidos urbanos, persiste ainda no Pas a propaganda enganosa de que a disposio dos RSS s pode ser licenciada por processos trmicos de tratamento.7. Concluso e recomendaoO licenciamento ambiental, por se tratar de um processo complexo, extenso, com custos significativos, ainda que na modalidade simplificada, prioriza as anlises de escritrio em detrimento da fiscalizao dos resultados. Quando, na verdade, o mais importante seria verificar a efetividade da observncia das regulaes necessrias segurana sanitria e ambiental das atividades.400Nesse sentido, verifica-se que a prioridade dos rgos ambientais tem sido a eficincia dos processos e no a efetividade dos resultados. preciso repensar o modelo.Em um pas como o Brasil, onde a atividade de planejamento apresenta uma grande lacuna, instrumentos de gesto ambiental como o zoneamento econmico ecolgico e a avaliao ambiental estratgica deveriam ser priorizados. Estas abordagens mais amplas permitiriam orientar os investimentos com menor grau de incerteza e reduziriam as inseguranas e temores que proporcionam as anlises pontuais.Alm disso, a adoo do modelo de listagens de empreendimentos e atividades, em funo da natureza e do grau do impacto ambiental, seria de grande utilidade para definir regras mais claras e reduzir a polmica sobre as competncias entre os entes federados Unio, estados, e municpios e o Distrito Federal. Neste modelo so listados os empreendimentos e atividades que necessitam de licena de instalao e de operao, aqueles que necessitam apenas de uma licena de operao e os dispensados por no apresentarem potencial impacto significativo, o que no os desobrigaria de observar os regulamentos e se registrarem. Ao se adotar os instrumentos de zoneamento e avaliao estratgica, a instituio da licena prvia seria desnecessria. Para as obras de infra-estrutura de Saneamento Bsico, quando o prognstico de impactos positivos para a sade e para o meio ambiente so sempre muito significativos, os procedimentos poderiam ser simplificados ou mesmo dispensados, condicionados a: obteno de autorizao de supresso de vegetao, quando seria analisada a importncia da biodiversidade local. outorga do direito de uso de recursos hdricos, quando seria analisada a compatibilidade da obra com o uso dos recursos hdricos na bacia; existncia de lei de uso e ocupao do solo no municpio, com previso para a localizao dessas utilidades.Cabe destacar que esta perspectiva orienta o disposto no artigo 44 da Lei 11.445/2007 com relao possibilidade de o licenciamento de empreendimentos em saneamento considerar metas progressivas para o alcance dos padres ambientais.

14.2 O licenciamento ambiental e os servios de saneamentoA Constituio Federal (CF), promulgada em 1988, definiu em seu artigo 225 que todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. Ao mesmo tempo, a CF submete a titularidade dos servios de saneamento aos municpios e estabelece um novo arranjo federativo, ao elevar os municpios qualidade de entes da federao, ao lado da Unio, do Distrito Federal e estados. Esse pacto federativo tem viabilizado novas oportunidades e parcerias entre as esferas de governo, melhoria na gesto e prestao dos servios, e maior controle social. Em contrapartida, esse modelo tem demonstrado a necessidade de planejamento e coordenao para a adequada implementao das polticas pblicas.As polticas pblicas, de forma geral, existem para melhorar a qualidade de vida da populao. O conceito de qualidade de vida amplo e deve incorporar diversas dimenses como acesso educao, aos servios de sade, saneamento e qualidade ambiental. Em particular, a qualidade e a universalizao dos servios de saneamento abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, limpeza urbana e manejo de resduos slidos, e drenagem e manejo de guas pluviais urbanas, so essenciais para a garantia da sade pblica e a proteo e qualidade ambiental, especialmente das reas urbanas, que no Brasil j abrigam mais de 80% de sua populao total (IBGE , 2000).Sabe-se, tambm, que o processo de desenvolvimento e urbanizao do Pas criou nas ltimas dcadas mais e maiores cidades em todo o territrio, sem, entretanto, garantir previamente a prestao de servios essenciais. Tais fatos, somados ao processo de excluso social acumulado por dcadas, foram responsveis por grandes espaos urbanos criados na informalidade, em reas de risco e em reas ambientalmente vulnerveis, resultando em grande degradao ambiental. Reverter tal processo e garantir a universalizao dos servios essenciais um enorme desafio para o Pas e para a sociedade. Dentro desta perspectiva est em execuo o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) que engloba cerca de 2.066 projetos de saneamento, segundo dados do Sistema de Informaes Gerenciais e de Planejamento (SIGPLAN/MPOG), de fevereiro de 2008. Estes projetos devero representar um importante componente no total de aes, relativas ao setor de saneamento, executadas no Brasil nos prximos 2 anos e meio. No entanto, apesar do imenso benefcio destes projetos populao e qualidade ambiental dos municpios, a implantao e operao de servios de saneamento tambm podem gerar, de forma localizada, impactos ambientais negativos que precisam ser previstos e evitados, e quando no for possvel evit-los, devem ser mitigados e compensados.

Nesse sentido, a Poltica Nacional de Meio Ambiente instituda pela Lei Federal 6.938/81, estabeleceu, como um de seus instrumentos, o licenciamento ambiental para ... a construo, instalao, ampliao e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradao ambiental .... A Lei 6.938/81, alm de estabelecer instrumentos de gesto ambiental, instituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), instncia deliberativa do Sistema no mbito federal, o qual, por sua vez, vem buscando regulamentar o processo de licenciamento ambiental das atividades passveis de licenciamento, apoiado pela estruturao dos Sistemas Estaduais de Meio Ambiente e respectivos Conselhos.Mais recentemente, a promulgao da Lei Federal 11.445/2007 definiu diretrizes nacionais para os servios de abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, limpeza urbana e manejo dos resduos slidos, drenagem e manejo das guas pluviais urbanas. Entre os princpios que norteiam a lei, destaca-se o que define que esses servios devem ser prestados populao de forma adequada proteo da sade pblica e do meio ambiente, e que a poltica de saneamento deve se articular com as demais polticas, como as de meio ambiente, de recursos hdricos e de sade, derivando em aes prticas e objetivas, como o planejamento e o licenciamento ambiental das atividades.Mesmo no sendo objeto direto de detalhamento neste artigo, cabe destacarmos que parte significava dos servios de saneamento esto condicionados ao atendimento dos instrumentos da poltica de recursos hdricos, como o enquadramento dos corpos dgua em classes, a outorga do direito de uso ou a cobrana pelo uso da gua. Assim, para alm dos mecanismos previstos no processo de licenciamento ambiental, merece destaque o papel de integrao de procedimentos a ser alcanado particularmente nos orgos licenciadores estaduais, seja em meio ambiente, seja em recursos hdricos.O presente artigo aborda questes fundamentais sobre o licenciamento ambiental, de forma a contribuir com o processo de reestruturao da prestao de servios de saneamento, a regulamentao da Lei 11.445/2007, e com o processo de incluso social e recuperao socioambiental das cidades brasileiras, tendo em vista a nova conjuntura de estabilidade econmica e de disponibilidade de mais recursos financeiros para o setor.

Principais aspectos do licenciamento ambiental de projetos de saneamentoAspectos legais1O licenciamento ambiental orientado, de forma geral, pelas resolues do Conama n 01/86 e 237/97. A Resoluo Conama no. 01/86 define critrios e diretrizes para a avaliao de impacto ambiental. Em seu artigo 2o estabelece a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental (RIMA) para, dentre outras, obras hidrulicas para explorao de recursos hdricos, bem como aterros sanitrios, processamento e destino final de resduos txicos ou perigosos. E a Resoluo Conama no. 237/97 dispe sobre procedimentos e critrios, e define competncias para a realizao do licenciamento ambiental nos trs nveis de governo, com base na abrangncia dos impactos. No anexo desta resoluo so listadas atividades passveis do licenciamento ambiental, tais como: Obras Civis: ...barragens e diques, canais para drenagem, retificao de cursos dgua, transposio de bacias hidrogrficas, ... Servios de Utilidade: estaes de tratamento de gua, interceptores, emissrios, estao elevatria e de tratamento de esgotos,... tratamento e destinao de resduos industriais (lquidos e gasosos), tratamento/disposio de resduos especiais, tratamento e destinao de resduos slidos urbanos, inclusive aqueles provenientes de fossas, recuperao de reas contaminadas ou degradadas.A Resoluo Conama no 05, de 15/06/19882 saneamento. E, em funo da natureza, caractersticas e peculiaridades de determinadas atividades desse setor foram editadas resolues especficas como a Resoluo no 308, de 21/03/2002, que dispe sobre Licenciamento Ambiental de sistemas de disposio final dos resduos slidos urbanos gerados em municpios de pequeno porte, Resoluo Conama no 334/03, que dispe sobre os procedimentos de licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotxicos; e a Resoluo no 377, de 09/10/2006, que dispe sobre licenciamento ambiental simplificado de Sistemas de Esgotamento Sanitrio.No entanto, outras resolues do Conama estabelecem procedimentos e padres que devem ser observados na elaborao de projetos do setor Saneamento e nos processos de licenciamento ambiental.De acordo com a Resoluo no. 237/97, pode-se afirmar que cabe ao rgo licenciador federal o Ibama, o licenciamento de atividades de significativo impacto ambiental de mbito nacional ou regional; ao rgo ambiental dos estados OEMA ou do Distrito Federal compete o licenciamento de atividades localizadas em mais de um municpio; e ao rgo ambiental dos municpios compete o licenciamento de atividades de impacto local. A resoluo estabelece, tambm, que os empreendimentos e atividades sero licenciados em uma nica esfera de competncia.

404A grande maioria dos empreendimentos de saneamento licenciada pelos estados, o que gera uma sobrecarga nos sistemas estaduais de licenciamento ambiental. Tal fato decorre de duas situaes: (i) a indefinio das tipologias de empreendimentos e atividades consideradas de impacto local, cuja competncia para exercer o licenciamento dos municpios; e (ii) a inexistncia, na maioria dos municpios, da necessria estrutura para assumirem de fato a gesto ambiental entes federados para exercerem suas competncias licenciatrias devero ter implementados os Conselhos de Meio Ambiente, com carter deliberativo e participao social e, ainda, possuir em seus quadros, ou sua disposio, profissionais legalmente habilitados.Contribui, ainda, para essa situao, a permanncia de questionamentos quanto competncia originria dos municpios para realizar o licenciamento ambiental, gerando disputas jurdicas ou aes propostas pelo Ministrio Pblico. No entanto, expectativas para superar esses questionamentos, bem como para dar maior celeridade nos processos de licenciamento esto na regulamentao do artigo 23 da Constituio Federal, que prev Lei Complementar para fixar normas visando cooperao entre Unio, estados e municpios. Tal regulamentao permitir definir mais claramente a cooperao dos diversos entes federados, bem como atribuir ao municpio a competncia para os empreendimentos de impacto local, e aos estados e o Distrito Federal os casos que no forem de interesse nacional.Aspectos processuais3O processo de licenciamento conduzido de acordo com os procedimentos estabelecidos pelos rgos ambientais licenciadores, que so compatveis com as resolues do Conama. Para determinadas atividades ou empreendimentos os procedimentos, os prazos e exigncias podem ser diferenciados. Portanto, o empreendedor, pblico ou privado, deve procurar o rgo ambiental competente Ibama, OEMA ou prefeitura, para se informar sobre os procedimentos de licenciamento daquele empreendimento pretendido, apresentando ao rgo as caractersticas e especificaes do empreendimento e da localizao pretendida.O Estudo Ambiental, como subsdio ao processo de licenciamento ambiental, ser definido pelo rgo ambiental competente, que fornecer ao empreendedor o Termo de Referncia estabelecendo o contedo mnimo que o mesmo deve contemplar. Aps a elaborao do Estudo, por equipe multidisciplinar do quadro tcnico do empreendedor ou por consultoria contratada, dever ser solicitada a Licena Prvia (LP), dando a devida publicidade e de acordo com as normas vigentes. A fase de LP se dar de acordo com os procedimentos estabelecidos para o tipo de empreendimento, e ser finalizada com a emisso de parecer tcnico conclusivo. Concluindo pela viabilidade ambiental do empreendimento concedida a licena, com as respectivas condicionantes medidas mitigadoras e programas de monitoramento.A partir da obteno da LP o empreendedor elabora o projeto bsico, detalhando o projeto de engenharia e os programas ambientais, contemplando as medidas mitigadoras solicitadas na Licena Prvia, de forma a assegurar a viabilidade ambiental do empreendimento. Na seqncia, o empreendedor solicita a Licena de Instalao (LI). Somente aps a concesso da LI que podero ser iniciadas as obras, que devero ser concomitantes com a implementao dos programas ambientais aprovados. O incio de obras sem a licena de instalao considerado crime ambiental (art. 60 da Lei 9.605/98), devendo o rgo ambiental aplicar as sanes e penalidades ao infrator, e tambm, no caso de obras financiadas pelo setor pblico poder ocorrer interrupo do repasse dos recursos financeiros. Concludas as obras e a implementao das medidas mitigadoras e programas ambientais, o empreendedor solicita a Licena de Operao (LO). Aps anlise da solicitao, subsidiada tambm por realizao de vistoria ao local, o rgo licenciador elaborar parecer tcnico sobre a viabilidade da concesso da LO. Ao conceder essa licena, o rgo ambiental estabelece as condicionantes e os programas de monitoramento que devero ser implementados pelo empreendedor durante a vigncia da mesma. O no atendimento de condicionantes de licenas ambientais pode ser motivo de suspenso ou cancelamento das mesmas.A Lei no 9.605/98 Lei de Crimes Ambientais, caracteriza como crime ambiental a construo, reforma, ampliao, instalao ou operao de empreendimentos e atividades potencialmente poluidores, sem licena ou autorizao dos rgos ambientais, ou, ainda, contrariando as normas legais e regulamentares, ficando os infratores sujeitos s sanes penais e administrativas. Tambm caber ao infrator poluidor, indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente ou a terceiros. Ressalta-se, que a autoridade competente que deixar de tomar medidas para impedir tais prticas tambm incorre em crime ambiental.

Regularizao de empreendimentos no licenciadosA regularizao do licenciamento ambiental foi prevista em legislao para aqueles empreendimentos e atividades que j estavam em operao quando da instituio do instrumento da Poltica Nacional de Meio Ambiente, o Licenciamento ambiental, pela Lei 6.938/81. Para a regularizao dessas situaes firmado um Termo de Compromisso, onde se estabelecem as exigncias definidas pelo rgo licenciador competente e as obrigaes do empreendedor relativas s necessrias correes de cunho ambiental.Regularizao fundiria sustentvel comum encontrar conflito entre o direito moradia e o direito ambiental, conflito este que deve ser superado para que se avance na construo de cidades sustentveis do ponto de visto social e ambiental. O processo de regularizao fundiria sustentvel, instrumento previsto na Resoluo CONAMA no. 369/2006 busca regulamentar os casos excepcionais de utilidade pblica, interesse social ou de baixo impacto ambiental que interferem em reas de Preservao Permanente (APPs), conforme definido pela Lei 4.771/65. Essa Resoluo reconheceu a regularizao fundiria como uma atividade de interesse social, estabelecendo procedimentos para autorizao de interveno em reas de Preservao Permanente, de forma a garantir a melhoria das condies ambientais da rea da ocupao a ser regularizada, bem como das condies de habitabilidade de seus moradores. Fica patente que as intervenes em reas ambientalmente frgeis ou protegidas, como as APPs em reas urbanas, para execuo de servios de saneamento sejam devidamente articuladas s intervenes urbansticas e ao planejamento urbano das cidades.

Licenciamento ambiental e metas progressivasA Lei 11.445/2007 em seu art.o 44 estabeleceu que o licenciamento ambiental de unidades de tratamento de esgotos sanitrios e de efluentes gerados nos processos de tratamento de gua considerar etapas de eficincia, a fim de alcanar progressivamente os padres estabelecidos pela legislao ambiental, em funo da capacidade de pagamento dos usurios. A citada lei tambm previu a possibilidade da autoridade ambiental vir a estabelecer procedimentos simplificados de licenciamento para tais unidades, bem como de estabelecer metas progressivas para a que a qualidade dos efluentes passe a atender aos padres das classes dos corpos hdricos. No entanto, transcorridos dois anos da sua promulgao, percebemos que o cumprimento de tal artigo exige a superao de alguns desafios, destacando-se: i) reconhecer que necessrio acelerar o processo de licenciamento ambiental de unidades de tratamento de esgotos, pois o correto tratamento de esgotos ir melhorar a qualidade do efluente que hoje lanado in natura. ii) fomentar o enquadramento dos corpos receptores, de acordo com o que estabelece a Resoluo no 357, de 2005 (ao essa que precisa do engajamento e protagonismo dos estados e dos atores envolvidos com o Sistema de Gesto de Recursos Hdricos SI-GRH); iii) estabelecimento de metas progressivas para que os corpos receptores atinjam os padres estabelecidos na Resoluo CONAMA, a partir dos Planos de Bacias Hidrogrficas especficos, e iv) que os rgos ambientais, a partir dos Planos de Bacias especficos, estabeleam metas progressivas aludidas no par. 2o.Claro est que as aes anteriormente mencionadas no so sequenciais e sucessivas, mas devem ser buscadas sob pena de iniciativas isoladas e insuficientes ao propsito da to propalada sustentabilidade ambiental.Recomendaes e consideraes finais Destaca-se que o licenciamento ambiental, alm de ter a finalidade de promover o controle prvio construo, instalao, ampliao e funcionamento de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradao ambiental, essencial para a obteno de financiamento, especialmente do setor pblico, assim como para a obteno de determinados incentivos fiscais. considervel a oportunidade que nos apresenta a discusso e a implementao do Art.o 44 da Lei 11.445/2007, para que hajam avanos nos processos de licenciamento ambiental das unidades de Saneamento Bsico, mais notadamente dos empreendimentos de tratamento e disposio final de esgotos sanitrios. Neste sentido, esforos institucionais dos rgos das trs esferas de governo, vinculados aos Sistemas de Meio Ambiente, de Recursos Hdricos e de Saneamento, devem ser feitos visando uma articulao real e efetiva para que as metas progressivas sejam observadas em consonncia com o enquadramento dos respectivos corpos receptores.Dada complexidade do processo de licenciamento ambiental recomendvel que os empreendedores sempre consultem o rgo ambiental competente para obter informaes sobre as licenas, autorizaes necessrias implantao de seu empreendimento, bem como sobre os estudos necessrios ao processo de licenciamento ambiental, tendo em vista a natureza, caractersticas e peculiaridades do mesmo. Tambm fundamental que os profissionais que vo elaborar os projetos de engenharia e os estudos ambientais sejam capacitados e se atualizem em relao legislao ambiental vigente, principalmente, s resolues do Conama e Conselhos Estaduais.

408 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

RESOLUES CONAMA QUE TRATAM DE

ATIVIDADES DE SANEAMENTO E O SEU LICENCIAMENTO

Resoluo no 397, de 03/04/2008 Altera o inciso II do 4o e a Tabela X do 5o, ambos do art. 34 da Resoluo do Conselho Nacional do Meio Ambiente Conama no 357, de 2005, que dispe sobre a classificao dos corpos de gua e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes.Resoluo no 380, de 31/10/2006 Altera o Anexo I da Resoluo n0 375/06.Resoluo no 377, de 09/10/2006 Dispe sobre licenciamento ambiental simplificado de Sistemas de Esgotamento Sanitrio. Resoluo no 375, de 29/08/2006 Define critrios e procedimentos para o uso agrcola de lodos de esgoto gerados em estaes de tratamento de esgoto sanitrio e seus produtos derivados, e d outras providncias.Resoluo no 370, de 06/04/2006 Prorroga o prazo para complementao das condies e padres de lanamento de efluentes, previsto no art. 44 da Resoluo no 357, de 17 de maro de 2005.Resoluo no 369, de 28/03/2006 Dispe sobre os casos excepcionais, de utilidade pblica, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a interveno ou supresso de vegetao em rea de Preservao Permanente (APP).Resoluo no 358, de 29/04/2005 Dispe sobre o tratamento e a disposio final dos resduos dos servios de sade e d outras providncias.Resoluo no 357, de 17/03/2005 Dispe sobre a classificao dos corpos de gua e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes, e d outras providncias.Resoluo no 348, de 16/08/2004 Altera a Resoluo Conama no 307, de 5 de julho de 2002, incluindo o amianto na classe de resduos perigosos.Resoluo no 334, de 03/04/2003 Dispe sobre os procedimentos de licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotxicos.Resoluo no 316, de 29/10/2002 Dispe sobre procedimentos e critrios para o funcionamento de sistemas de tratamento trmico de resduos.Resoluo no 313, de 29/10/2002 Dispe sobre o Inventrio Nacional de Resduos Slidos Industriais.Resoluo no 308, de 21/03/2002 Licenciamento Ambiental de sistemas de disposio final dos resduos slidos urbanos gerados em municpios de pequeno porte.Resoluo no 307, de 05/07/2002 Estabelece diretrizes, critrios e procedimentos para a gesto dos resduos da construo civil.Resoluo no 301, de 21/03/2002 Altera dispositivos da Resoluo no 258, de 26 de agosto de 1999, que dispem sobre Pneumticos.Resoluo no 281, de 12/07/2001 Dispe sobre modelos de publicao de pedidos de licenciamento.Resoluo no 275, de 25/04/2001 Estabelece o cdigo de cores para os diferentes tipos de resduos, a ser adotado na identificao de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva.Resoluo no 264, de 26/08/1999 Licenciamento de fornos rotativos de produo de clnquer para atividades de co-processamento de resduos.Resoluo no 263, de 12/11/1999 Altera o artigo 6o da Resoluo no 257/99.Resoluo no 257, de 30/06/1999 Estabelece a obrigatoriedade de procedimentos de reutilizao, reciclagem, tratamento ou disposio final ambientalmente adequada para pilhas e baterias que contenham em suas composies chumbo, cdmio, mercrio e seus com-postos.Resoluo no 235, de 07/01/1998 Altera o anexo 10 da Resoluo Conama no 23, de 12 de dezembro de 1996.Resoluo no 244, de 16/10/1998 Exclui item do anexo 10 da Resoluo Conama no 23, de 12 de dezembro de 1996.Resoluo no 237, de 19/12/1997 Dispe sobre a reviso e complementao dos procedimentos e critrios utilizados para o licenciamento ambiental.Resoluo no 23, de 12/12/1996 Dispe sobre as definies e o tratamento a ser dado aos resduos perigosos, conforme as normas adotadas pela Conveno da Basilia sobre o Controle de Movimentos Transfronteirios de Resduos Perigosos e seu Depsito.Resoluo no 5, de 05/08/1993 Dispe sobre o gerenciamento de resduos slidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferrovirios e rodovirios.Resoluo no 2, de 22/08/1991 Dispe sobre o tratamento a ser dado s cargas deterioradas, contaminadas ou fora de especificaes.Resoluo no 6, de 19/09/1991 Dispe sobre o tratamento dos resduos slidos provenientes de estabelecimentos de sade, portos e aeroportos.Resoluo no 5, de 15/06/1988 Dispe sobre o licenciamento de obras de saneamento.Resoluo no 9, de 03/12/1987 Dispe sobre a realizao de Audincias Pblicas no processo de licenciamento ambiental.Resoluo no 6, de 24/01/1986 Dispe sobre a aprovao de modelos para publicao de pedidos de licenciamento.Resoluo no 1, de 23/01/1986 Dispe sobre critrios bsicos e diretrizes gerais para a avaliao de impacto ambiental.

410 LICENCIAMENTO AMBIENTALANEXO II LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE OBRAS DE SANEAMENTOPasso a passoRequerimento da LicenaEmpreendedor apresenta as caractersticas e especificaes do empreendimento e da localizao pretendidargo licenciador analisa Licenciamento ambiental simplificado*Passvel de EIA/RIMAProjeto + Sim NoautorizaesUnidades de transporte e de tratamento de esgoto sanitrio, de mdio porte TR do EIA/RIMA TR do estudo ambiental TR do estudo ambiental Parecer tcnicoAudincia pblicaParecer tcnicoEIAEAParecer tcnico Parecer tcnicoPBA e ProjetoLP e LI ou LPI **LPParecer tcnicoLPParecer tcnico Parecer tcnicoLIParecer tcnicoLOLOSolicita LOLIParecer tcnicoLO* Resoluo no 377/06 - Dispe sobre licenciamento ambiental simplificado de Sistemas de esgotamento sanitrio** Art. 3o Pargrafo nico. As licenas prvia e de instalao podero ser requeridas e, a critrio do rgo ambiental, expedidas concomitantemente Passos de responsabilidade do empreendedor Passos de responsabilidade do empreendedor