livro pt1

12
lllss 7 A arquitetura: em busca da harmonia e da proporção A arte grega clássica foi uma arte racional, expressão da comunidade e do homem/cidadão. Conciliou dualidades e oposições - aliou estética e ética' política e religião, técnica e ciência, reaÌismo e idealismo, beieza e funcionali- dade - e esteve ao sewiço da vida pública. os edifícios glegos, pela sua perfei ção,estabeleceramumaligaçãoharmoniosaentÍeoHomemeosdeuses'o mundo concreto e o mundo espirituai e estão, pelas suas volumetrias, perfei tamente enquadrados na Natureza, culminando um plocesso evolutivo que teve o seu início no 2." milénio antes de Cristo' A sua génese fundou-se em duas grandes heranças: a dos povos que habi taram a bacia do Mediterrâneo, como os Mesopotâmios, Egípcios, cretenses e cicládicos; e a das vagas de povos indo-europeus que invadiram o território - primeiro os Aqueus, que produziram a civilização Micénica, e depois os bório, (conhecedores do ferro), no século XII a. C., que deram continuidade à cuitura micénica e fizeram lenascel uma alte austela e rigorosa [19J' Evoluiu em três períodos claramente definidos, quer pelas característi estéticas quer pelas tecnológicas. São eles: . o período arcaico, balizado entle o século vIII e o sécuio v a. c., que foi um Ìongo espaço de tempo caracterizado pela plocula do inteligíveÌ, da ordem, do monumental, da sobriedade e da maturidade; . o período clássico, que se desenvolveu entre a segunda metade dc século V e o século IV a. C. e foi um tempo em que a arte atingiu a pleni tude, o equilíbrio, o realismo e o idealismo; . e o período helenístico, marcado pela miscigenação de culturas' gosto do particular, do concreto e individual e, simultaneamente, tem de declínio da cultlrra grega. Inicialmente, a arquitetura gïega era executada em madeira' nomeada mente a de cedro importada do Líbano, tendo sido substituída pela pedra ca cária (sobretudo o mármore) a pafifu dos finais do século VII a. C' tlSl' A da evolução dos materiais, também as estruturas e as ploporções evoluíram Isso aconteceu por meio de uma ligação pelmanente entle geometria e arqui tetura onde a matemática (o número) estabeleceu o ritmo e a harmonia' Cria ram normas e regras construtivas , cânonespara a concretização artística, val res estéticos e modelos duradouros, nos quais todos os detalhes, os aspet( decorativos e/ou os polmenoles tinham de se sujeitar à harmonia do co junto. Determinaram, poÍ isso, os princípios básicos da geometria pla e espacial, definiram as primeiras noções de medida, proporção, composi< e ritmo através dos quais qualquer organização pIástica se deveria reg fverDescubra]. Para isso, os arquitetos elaboraram projetos nos quais constavam estudo topográfico do terreno, a adaptação do edifício ao relevo e a escolha c teriosa da ordem, de acordo com o tipo do edifício. Depois, elaborava libô Í8, Entablamento em madêira das primi- tivas construções gÍegas cálculos onde as medidas e proporções elam rigorosamente estabelecid

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Page 1: Livro pt1

lllss

7 A arquitetura: em busca da harmonia e da proporção

A arte grega clássica foi uma arte racional, expressão da comunidade e do

homem/cidadão. Conciliou dualidades e oposições - aliou estética e ética'

política e religião, técnica e ciência, reaÌismo e idealismo, beieza e funcionali-

dade - e esteve ao sewiço da vida pública. os edifícios glegos, pela sua perfei

ção,estabeleceramumaligaçãoharmoniosaentÍeoHomemeosdeuses'omundo concreto e o mundo espirituai e estão, pelas suas volumetrias, perfei

tamente enquadrados na Natureza, culminando um plocesso evolutivo que

teve o seu início no 2." milénio antes de Cristo'

A sua génese fundou-se em duas grandes heranças: a dos povos que habi

taram a bacia do Mediterrâneo, como os Mesopotâmios, Egípcios, cretenses e

cicládicos; e a das vagas de povos indo-europeus que invadiram o território -primeiro os Aqueus, que produziram a civilização Micénica, e depois os

bório, (conhecedores do ferro), no século XII a. C., que deram continuidade à

cuitura micénica e fizeram lenascel uma alte austela e rigorosa [19J'

Evoluiu em três períodos claramente definidos, quer pelas característi

estéticas quer pelas tecnológicas. São eles:

. o período arcaico, balizado entle o século vIII e o sécuio v a. c., que foi

um Ìongo espaço de tempo caracterizado pela plocula do inteligíveÌ, da

ordem, do monumental, da sobriedade e da maturidade;

. o período clássico, que se desenvolveu entre a segunda metade dc

século V e o século IV a. C. e foi um tempo em que a arte atingiu a pleni

tude, o equilíbrio, o realismo e o idealismo;

. e o período helenístico, marcado pela miscigenação de culturas'

gosto do particular, do concreto e individual e, simultaneamente, tem

de declínio da cultlrra grega.

Inicialmente, a arquitetura gïega era executada em madeira' nomeada

mente a de cedro importada do Líbano, tendo sido substituída pela pedra ca

cária (sobretudo o mármore) a pafifu dos finais do século VII a. C' tlSl' A

da evolução dos materiais, também as estruturas e as ploporções evoluíram

Isso aconteceu por meio de uma ligação pelmanente entle geometria e arqui

tetura onde a matemática (o número) estabeleceu o ritmo e a harmonia' Cria

ram normas e regras construtivas , cânonespara a concretização artística, val

res estéticos e modelos duradouros, nos quais todos os detalhes, os aspet(

decorativos e/ou os polmenoles tinham de se sujeitar à harmonia do co

junto. Determinaram, poÍ isso, os princípios básicos da geometria pla

e espacial, definiram as primeiras noções de medida, proporção, composi<

e ritmo através dos quais qualquer organização pIástica se deveria reg

fverDescubra]. Para isso, os arquitetos elaboraram projetos nos quais constavam

estudo topográfico do terreno, a adaptação do edifício ao relevo e a escolha c

teriosa da ordem, de acordo com o tipo do edifício. Depois, elaborava

libô

Í8, Entablamento em madêira das primi-

tivas construções gÍegas

cálculos onde as medidas e proporções elam rigorosamente estabelecid

Page 2: Livro pt1

Hrsrônn oas Anrrs Vrsuts I 39

ÍÍm[ a.,lrNúaÍr'Éfltos da Arte GÍegaú[, .iDüffÍÌ, ies r,a3ens podemos inÍerir algumas influências sentidas na arte grega.

- r${u ilrout@tura

1k/rÍ@.a & Edíu, no Egito, séculos lll e ll a. C.llliilÍ&nrn :::rs'trutivo baseia-se na coluna, que aqui possui capitel vegetâlista como na ordem coríntia, e arquitrave.

norte do Palácio de cnossos, creta, ll milénÍo a. c.ilillrr ir: Ë3ito. o sistema construtivo é o mesmo mas, neste caso, a coluna possui capitel geométrico como na ordem dórica.

üllMG rtro€lar do Etectéion, Atenas, século V a. C.ÌHir:rnEE r,: sislema lÍilítico, constituído por colunas e arquitrave, é evidente.

ú

a

srllltLtrra

de Assurnarzipal ll, século lV a. C.

.Emarun de Nessa, lmpério Antigo, lll dinastia, Egito, lll milénio a. C.

0n ffiÍÌ6 dê Auxerre, penúltimo quartel do século Vll a. C,, Grécia

mls :s:..::uas possuem características muito idênticas, porque são estátuas* ]s:- a lei da frontalidade. No entanÌo, podemos verificar que no caso da

:Ê. lama de Auxerre, ela apresenta já indícios do naturalismo que irá ser:ri,l:i: e que está patente na separação dos braços em relação ao bloco

liirmÌt

:GremÌ lca

tmË aretense com decoração geométrica sobre fundo escuroütaso miénico com repÍesentação de uma corrida de carros sobre Íundo claro

ïllüBrE grega de volutas, datada de entre 575 e 550 a, C

illil?T,:e grega soÍreu influências cretenses e micénicas nas formas de diversos vasos, na decoração geométrica::ifrì":s Dom figuras negras e vice-versa.

e/ou figurativa e no tratamento dos fun-

Page 3: Livro pt1

lll+o

üllliB{ilÍititil

A ORTGEM DA SECÇAO DE OURO"Segundo a lenda, foi o maÌemático grego Endoxe que ensaiou a primeira tentativa

explicativa. pela qual se considera a secção dourada tão agradável ao olhar.

Ële passeãv-a-se com um longo bastão e pedia aos que encontrava para designar

nesse bastão o p0nt0 que, segundo eles, Íosse mais interessante para dividir.

Ficou eslupeïacto ao constatar que a maioria das pessoas inÌerrogadas escolhia o

ponto exaio da çecção de ouro.

Ëndoxe prosseguiu os seus estudos maÌemáticos sobre a proporção divina e des-

cobriu que ela se poderia exprimìr por uma ïórmula que se chama PHl, por causa

do artista Phidias (Fídias) que a utilizava correntemente nas suas esculìuras. Hoje,

chamamos-lhe o Número de Auro.

0 geómetra grego Pitágoras também se interessou por tal e Íoi o primeiro a desco-

brir que esÌe número é a base das proporÇões do corpo humano, Ìeoria que provou.

0s Gregos, no seu conjunto, apropria-

ram-se desta fórmula, que se pode em-pregar como base numa inÍinidade de

Íiguras e desenhos muito belos, como

o pentagrama ou a estrela de cinco

braços que.fez furor na ltália do Renas-

cimenì0.

Apaixonados por esta descoberta, os

Gregos Íizeram investigações aprofun-

dadas para demonstrar que esïa Ía-

mosa proporqão era igualmente a base

da maior parte das Íormas na Natureza,

como conchas, Ílocos de neve, plantas,

etc.

Todos os artistas gregos - pintores,

escultores, ceramistas - estabeleceram

as suas obras segundo o ptincÍpio do

Número de Auro, mas ó na arquiteÌuraque ele encontra o seu total desenvolvi-

menlo: 0 Ptáftenon de Atenas é talvez o

mais belo exemplo desta perÍeição

matemática na obra artística.''

Fred Gettings, "Art, magie et ses

merveilles", un grandlivre dbn Édition

des deux coqs d'or, 1964

Produziam maquetas, em madeira ou ter-

racota, que eram submetidas posterior-

mente a aprovação oficial.

A concretização da obra era um traba-

lho coletivo, feito para a cidade, quenvolvia diversos profissionais: arquittos, projetistas, escultores, pintoresoutÍos artesãos. O objetivo final da art

eÍa a procura de unidade, beleza e harmonia universais, suportadas, é clarpoÍ uma filosofia que buscou a relaçã

do Homem com o divino, com o me a sua origem, com a vida e a morassim como com a dimensão interiorpróprio Homem - vaÌores que hoje desi

namos por Classicismo.

A arte grega esteve, então, ao serv

da vida pública e da vida religiosa,

gando-as harmoniosamente. As suas c

des são exemplo disso.

A cidade grega, aberta à vida ao ar

vre e enquadrada na Natureza, gerad

inicialmente de forma empírica e ap

veitando os'declives'e acidentes do ter.

reno, era concebida com três áreas ditintas:

. uma área fortificada, consideradsagrada - a acrópole -, na qual era

construídos templos, santuários, orác

los e tesouros [20];

. uma área pública, na zona baixa, o

se instalava aâgora,que era o centïo

vida da pólis, com espaços para reuniões políticas, manifestações desporti

vas e artísticas, em particular o teatro, e para o comércio; aí se erguera

construções como assembleias, teatros, estádios, mercados, sto as,... l21l;

. aâreaprivada, de menor importância monumental, constituída por bai

residenciais organizados por classes sociais, com casas de habitação geral

mente feitas em madeira, dispostaS ao longo de ruas estreitas, Iabirínticas

sem pavimentação [22].

Page 4: Livro pt1

Recinto de Atena Polias Palácio de Êumenes ìl

Porta da Acrópole

Altar de Zeus Sóter

Mercado

HrsróRn ols ARrcs Ursuns I 41

20. Reconstituição da acÍópole da cidade

de Pérgamo, Ásia Menor, período hele-

nístico

Está construída em anÍiÌeatro numa colina

de 310 m de altura (em: História da Arte,

Ed. AlÍa).

21. Planta da Stoa de Atalo, Atenas [al,sua situação na ágora helenística [B]'pormenor do alçado [G]

22. Plano de um bairÍo residencial iuntoà ágora em Priene

aba-

que

uite-

les e!

r âIte:har-

laro,hção

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rorte,

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ilesig-

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conju-

; cida-

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lerada: apro-

lo ter-

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r{lllìÌÌtlÍìlÌtffi f, rÌr$

ïãffeLiilrr

'lllkmrmuo cnlrcs

Pórtico do teatro

a\-Ísj

li_]_M----Frô ro20

1 -Templo de Heíesto

2 Stoa de Zeus

3 - Buleuterio4 - Métron5 - Tholos6 - Stoa Central7 Stoa Sul

B - Via das Panateneias

9 Stoa de Atalo

(\r \.." )

'RÌY--!-.i /

3

::r:q -+_- - oM

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I

Page 5: Livro pt1

ll rz

Apesar de, ao longo do tempo, não ter sofrido grandes alterações, a estru-tura da cidade grega respondia a um piano urbanístico regido pelos seus

magistrados, reunidos em "colégios", dos quais faziam parte arquitetos e téc-nicos responsáveis pelo estado de conservação das ruas e dos seus diversosedifícios.

A organização espacial das cidades gregas foi fruto de uma evoluçãoempírica e natural. Âpenas a cidade de Mileto [24], situada na Ásia Menor,possuiu inovações de raiz dignas de nota. A partir do seu piano urbanístico(o primeiro de toda a arte ocidental) Hipódamo de Miieto (ag\-a79 a.C.),

urbanista e filósofo, teorizou uma cidade perfeitamente racionai e funcio-nal, não alterando, apesar disso, a estrutura tradicional da cidade grega. Noseu piano ideal, a cidade era formada por avenidas Ìongitudinais que se cru-zavam ortogonalmente com ruas transversais, formando quarteirões regula-res com áreas diferenciadas, segundo as suas funções. os quarteirões cons-

tituíam o módulo a partir do quaÌ a cidade se desenvolvia e que era formadopor duas filas de cinco casas de configuração e área semelhantes. Estas, porsua vez, eÍam espaçosas e organizadas à volta de um pátio central, utilizando o plano centrípeto que os Romanos também desenvolveram [26].

Este plano de cidade, aplicado sobretudo no período helenístico, foi utilizado anteriormente noutras cidades, tais como em Atenas, na reconstruçãodo Pireu, no século V e em Priene, na Ásia Menor, no século IV a. C. [2S],

criando uma nova estética que seria adotada pelos Romanos.

Arquitetonicamente, o templo foi e continua a seÍ o exemplo máximo da

arquitetura grega e tem, no sécuÌo Y, no Prírtenln e em Atena Nikí, o encontroexemplar entïe o racionalismo, o antropocentrismo e o ideaiismo do pensa-

mento grego. Todavia, a sua ferma e estrutuïas básicas evoÌuíram a partir do

mágaron micénico (sala de trono, no palácio), que era formado por uma sala

quadrangulaÍ, com um vestíbulo ou pórtico suportado por duas colunas e

com telhado de duas águas. Esta estrutura básica tornou-se, gradualmente,mais complexa, com maiores dimensões e rodeada por colunas [281.

O templo era a morada e abrigo do deus, local onde se colocava a sua ima-gem, à quaÌ os fiéis não tinham acesso, pois os rituais eram realizados ao arlivre, em redor do templo. Os Gregos usaram, na sua constïução - aliás comoem toda a sua arquitetuÍa -, o sistema de construção designado por trilítico,definido por pilares vefiicais unidos por lintéis horizontais [22], não utilizando linhas cuwas, como noutras civilizações da Antiguidade, não poas não soubessem construir (')

[zg]. o exterior do edifício era majestosamentedecorado com esculturas e pintado com azuis, vermelhos e dourados, reminiscência das construções iniciais em madeira que se realizaram até finais do

século VII a. C.. Virado para o exterior, o tempÌo gÍego tem, como se pode

constatar, um forte sentido escultórico [22].

I

',"1-Tj-J-_<=--_:.4-.[n mrrilE &a ciÉh& & flliil

lilü,,immryinm * Eitrrr@, @ u!

tL Sarlâ suHerrânea de consulta do orá-cdo- cDbertâ por um sistema de arcadas

:. Sabemos pela arqueoÌogia que

,s :Ísiemas constÍutivos em arco:::am utiÌizados por mesopotâ-:-:os e gregos em constÍuções:::ìiiárias e funcionais como:azéns, ou siÌos, e cisternas.

Page 6: Livro pt1

, a estru-

los seus

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25, Planta da cidade de Priêne, século lV a. C.

HrsróRn om ARres Ursulrs I 43

de Zeus em Olímpia)

&&

6'#6&&SSSSS

Mégaron ffiMégaron com colunasffi

\ {remplo indnris)LL;ffi

F-"qr*@Templo lâ $ Hpróstilo p ü ffi

[$ dn+6@MM{

Templo circularoutholos @b5 fld

Templo in anrrduplo$ fl ü .lt^**-*F__l

tr-iFè.ry--dTemptoaníipróstilop $ 5 d

(lemplo de Atena Niker le $ fl EË@{tTemplo períptero (templo

27. Reconstituição daÍachada principal doPártenon segundo Be-noir Loviot, em 1881

Como se podê verificar,o templo grego era "in-vulgarmente colorido" emrelação à aparência quelhe conhecemos hoje.O sentido "escultórico"do templo advém-lhetanto dos relevos comoda cor e do equilíbrio ejusteza das proporções.

S,. krüa da cidade de Mileto, século V a. C.

[l krçetiva e planta de uma casa grega, em priene

Templo períptero (Pártenon)&&&&ss&696#*&6ffi& &

sg&&s

& 6s@

ss*6&

&&es&s&Õ&s&a*& $!a & s & & & fr 6 * m

28, Evolução planimétrica do templí$re$o"--+

Page 7: Livro pt1

Ill+q

l

liiri

8, Templo de Hera, em Paestum, séculolV a. C.

A imagem mostra a simetria axial, em planta

lAl, alçado [B] e corte [C] do Ìemplo grego.

1. pronaos

2. naos3. opistódomos{. peristilo

Processo de articulação métrì-

ca dos diversos elementos de

um todo, em Íunção da sua

harmonia Íinal. Essa articula-

çã0, a partir da base, da coluna

e do Íriso, numa escala Íixa de

valores, regula as dimensões

do templo em números, carac-

terÍsticas e relaqões mútuas, é

uma regularidade, uma hierar-

quia, um ritmo, uma muìtiplici-

dade na unidade,

30. A cariátide é uma estátua Íemininautilizada como coluna (na imagem, por-menor do Pórtico das Cariátides, noErectéion)

Na sua estrutura planimétrica final [zsì, o templo era formado por três

espaços: :uma cella ott naos, onde se encontrava a estátua da divindade, ante-

cedida poï um espaço designado poÍ pronaos, que era uma espécie de pórti

e um outro espaço do lado postedoÍ da cella designado por opistídomos, q

tinha como função ser a câmara do teslurl,local onde se guardavam as

rendas aos deuses e os bens preciosos da cidade. Esta estrutura tripartida er

rodeada por um peristilo, espécie de corredor coberto e circundante, abert

Iateralmente através de uma ou mais fiadas de colunas.

Em alçado, o templo era constituído por: uma base ou envasamento,

eÍa uma plataforma elevada e tinha como função nivelar o terreno; as colu

nas, que constituíam o sistema de elevação e suporte do teto; e o entabla

mento, elemento superior e de remate que era formado pela arquitraue, pel

fnso e pela cornija, encimada pelo frontão triangular. O teto de duas águas er

coberto por telhas de barro [33].

O tempÌo grego, como se pode verificar pela sua estrutura planimétrica

pelo alçado principal, possui uma simetria axlal, criando fachadas simétric

duas a duas [29].

Marcado poÍ esta mesma estrutura desde a sua origem no século IX a.

o templo grego sofreu, apesar disso, uma sensível evolução estilística. N

século VII a. C., os Gregos já tinham definido os dois principais estilos arqui

tetónicos ou ordens: a ordem dórica e a ordem jónica.

O conceito de ordem está ligado a um sistema de proporções que h

trrzava as partes do edifício em relação ao todo. Era aplicado ao traçado

coluna - determinando as proporções das suas partes con-stituintes:

fuste e capitel -, e à relação entre a sua espessura e a sua aÌtura totai

A coluna é o elemento que melhor define as características de cada ordem,

ta1 forma que o diâmetro médio do seu fuste determina o mídulo métríc

segundo o qual se construía todo o sistema proporcional do edifíci

A coluna teve também um valor icónico extÍemamente forte, que est

para além da sua função estrutural. Ela é o símboÌo do Homem, é antro

mórfica - e tomou assumidamente essa forma humana no pórtico das cariá

tides [30] do Erectíion, na acrópole de Atenas, e de atlantes, como no caso

templo de Zeus Olímpíco, em Agrigento, datado do século IV a. C. [311.

A ordem dórica é a mais antiga [33 e 36ì. Nasceu na Grécia Continen

cerca de 6oo a. C. e possui formas geométricas, com quase total ausência

decoração. Derivou das primitivas construções em madeira nas quais a ped

era utilizada apenas nas colunas e alicerces. Possui um aspeto maciço e

atribuindo-se-lhe um carácter masculino e sóbrÌo, ligado ao espírito guerrei

dos Dórios, seus inventoÍes, que chegaram à Grécia vindos do Norte, aproxi

damente em rooo a. C.. Nesta ordem, o envasamento é composto pelo este

bato, plataforma de aÌicerçamento rodeada de dois ou mais degraus de

e pelo estilóbato, que é o úÌtimo degrau (o superior) onde assenta o edifíci

A coluna é robusta e possui fuste com caneluras em aresta viva e capitel

mado por ábaco e equino, ou coxim, muito simples e geométrico [32J.

I!

ii

Page 8: Livro pt1

HrsróRn ons Anrrs Vrsults | 45

mÍl ììiruÌflnmrÍü úB jiq,s O{ímpico, em Agrigento, com os seusroÍfiiltÍrdrì riltur slnsr€rn com colunas dóricas adossadas

32. Evolução do capitel dórico entre a época arcaica [À] e a clássica [B]

-1 -z:'.a:2. perístases ou perístilo;3. pronaos; 4, cella;5, opistódomosmtttt|lÍumiuna - 6.

=stilóbato; 7. grampos de união; 8. fuste das colunas; 9. colarinho; 10. capitel; 1Í. aneltrruru "Ì i e:e e goteira; 18. lintel: 19. triglíÍo; 20. métopa; 21, gárgula; 22, mútulas; 23. teto; 24.

12, équino; 13. ábaco;14. ortostato; Í5. arquitrave;telhas; 25. Írontão; 26. cimalha Írontal; 27. cornija

2729t16

t5l0

![. : -:ano: 29, cornija oblÍqua; 30. anteÍixo; 31. acrotério angular; 32. acrotério terminal

Page 9: Livro pt1

llllao

34- Fachada oriental do Pártenon comexageradas alterações, para se conse-guir um melhoÍ êÍeito ótico

35, Dêformações veÍiíicadas no templodórico [Â] ê coÍÍêções [B] matemáticaseÍetuadas de modo a que na construçãose lessem corretamente as linhas vêrti-cais e hoÍizontais

O entablamento compreende a arquitrave, o friso dividido em métopas

e tríglifos (reminiscências da construção em madeira) e a cornija. O frontão

triangular coloa o edifício [361. Os arquitetos $egos plocularam, em tudo o

que construíram, uma ilusória sensação de simplicidade. Tal não é inteira-

mente verdade. Observando os templos dóricos, verificou-se que' poI seÍem

perípteros,estavam sujeitos a determinadas deformações óticas que desvirtua-

vam a perfeição e a simetria que buscavam. Assim, corrigiram matematica-

mente essas deformações [34 e 351.

Exemplos de templos de ordem dórica sáo: o Templo de Herq em Olímpia,

o de Poseídon, datado de meados do século V a. C. [3S], o de Apolo, em Corinto,

o de Ceres,e o mais famoso de todos, o Prírtenon[ver r.'Caso prático].

A ordem jónica nasceu no século vI a. c., na |ónia, e desenvolveu-se

sobretudo nas costas da Ásia Menor e nas ilhas do Mar Egeu. Esta ordem

difere da ordem dórica nas plopoIções de todos os seus elementos e na deco-

ração mais abundante da coluna e do entablamento. Esta, associada às suas

dimensões mais esbeltas, confere-lhe um carácter feminino'

O envasamento dos edifícios de ordem jónica é formado apenas pelo este-

reóbato constituído poÍ tIês degraus. A coluna possui umabase individual, um

fuste com caneluras semicilíndricas, sem alestas vivas, e em maior número

que o da coluna dórica, e também mais longo e delgado, e um capitel com

ábaco simples e equino em forma de volutas enroladas em espiral [371.

O entablamento tem uma arquitrave tripartida longitudinalmente e um

friso contínuo, com decoração esculpida, rematado pela cornija; o frontão

triangular encima o edifício, tal como acontece na ordem dórica. Este tipo de

estrutuÍa foi aplicado, inicialmente, a edifícios de planta simples, como o tem-

plo de Atena Nikálver r.'Caso práticol. No entanto, outlas obras mais complexas

utilizaram igualmente esta ordem, como o Erectáion. Neste edifício, a função

icónica da coluna adquire antlopomolfismo num dos pórticos, através da sua

substituição por estátuas de figuras femininas - o pórtico das cariátides [30 e 421.

Os elementos horizontais do Ìemplo que,

visualmente, são lidos de Íorma abaula-

da/côncava, são ligeiramente encurvadospara cima e para Íora, ou seja, convexos;

os elementos verticais inclinados para den-

tro e para cima segundo um ponto de Íuga,

conlrariando a leitura visual que era in-

versa; toda a colunata é construída ligeira-

mente inclinada para dentro do templo'uma vez que a tendência de leitura era ver

a Íachada do ediÍício curvada para fora.

A curvatura desta Ílexão vertical era calcu-

lada com um raio de 800 metros, segundo

Vitrúvio; as distâncias entre as colunas,

exatamente iguais quando medidas, apare-

cem aos olhos humanos ligeiramente dis-

torcidas; o Íuste das colunas era ligeira-mênte engrossado, no primeiro terço da

sua altuÍa (êntase); e o intercolúneo êra

maior entre as colunas das pontas do que

nas do meio.

A.

Horizontal

-++-f-"T-ê

ÏTT

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------------\:T-F-rr--rffil

Page 10: Livro pt1

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função

; da sua

lilt e 42].

.'

HrsTóRIÂ oAs ARTEs Vrsulrs I 47 lll

Acrotério

Mútulos

LacrimalMétopaTríglifo

Taenia

RégulaCotasArqüitraveÁbaco

Equino

Aneletes

Entablamento

Cilindros/tambores

Estilóbato

lnfraestruturade apoio(estereóbato)

n:, Estrutura da ordem dórica

i 10 15

-m

ú^ Templo de Poseídon, datado do século V a. C., teito em calcáÍiossrÌquíÍero e rêvestido a estuque, com 59,93 x 24,31 m

i€ :iocos eram talhados com rigor e depois justapostos sem qualquer arga-lt'r.sa, só esporadicamente unidos com cavilhas ou gatos de metal, emiil:r*a de H ou N.

0i 5 '10 '15!-ffi m

*. Basílica de PesÍos, na Magna Grécia, ltália, meados do século Vl a. C.

Tem cerca de 24,52 x 54,27 m e Íoi construída em calcário puro e poroso,

outrora coberto por uma camada de estuque.

Moldura de cornija

Faixa

Dentículos

Friso -_-l

]- rn,"bt,-.n,.Arquitrave

I

Ábaco -voluta

l- capiter

corjar l

llBase

Estilóbato

Estereóbato

Socalco

37. EstÍutura da ordem jónica

Page 11: Livro pt1

I I Il,a

40. Evolução do capitel iónico para ocoríntio

A ordem coríntia apaleceu apenas no final do sécu1o V a. C. e é uma deri

vação da ordem jónica, resultando do seu enriquecimento decorativo' O seu

autor foi Calímaco d.e Corínto- da cidade de Corinto - e daí o nome de corín-

tia. As principais diferenças estão na coÌuna que possui uma base mais traba-

thada, um fuste mais delgado e um capitel em forma de sino invertido, que

era repleto de decoração esculpida, formada por duas filas de folhas de

acanto, coroadas por volutas jónicas t401. O entablamento e o frontão eÍaln

sobrecarregados de refinados preciosismos decorativos. A ordem coríntia foi

usada pelos Gregos de forma parcimoniosa e encaÍna o espírito olnamenta-

lìsta do século IV a. C.. No entanto, seria a oldem preferida peÌos Romanos'

que lhe deram grande exPansào.

Na Grécia, podemos encontrá Iano Templo de zeus olímpico 1411e no Montr

mento Cortígico aLisícrates,datado do século IV a. C., ambos situados em Atenas'

o tempÌo gÍego, quaÌquer que fosse a ordem utllizada, possuía na sua

estrutura espaços destinados à escultura que valorizavam o edifício e aumen-

tavam o seu valor icónico, pois devemos considerar que o templo foi, po:

excelência, dedicado a glorificar um deus.

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41. Ruínas do Templo de Zeus Olímpíco, em Atenas, iniciado em 174 a' C

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Page 12: Livro pt1

HrsróRn ons Anrrs Vrsuus I 49

f o Templo Antigo

m O Erectéion

Trìbu nadas Cariátides

nh, ullÌüt@M B. Planta

ftlm do Erectéíon, século V a. C., Atenas

ÍrNrmrn-: r"ì santuário triplo com uma cella desÌinada às marcas de Poseídon e à lança de Atena; uma outra destinada ao culto de Cécrope e Erecteu;

' r|Ìnmu mm'rr: -s Cariátìdes destinada a Pândroso, Íilha de Cécrope. Havia ainda um espaço onde era colocada a oliveira sagrada de Atena. E, apesar de a

=r regular, exisÌe proporcionalidade e harmonìa. Possui dois belos pórticos- O que está virado a norte tem colunas jónicas de 6,59 m de altura'Íinlr' riÊmÍEìs :,:icados. No que está virado a sul, as colunas foram substituídas por seis cariátides (antigas KoraÌ), com cerca de 2,3 m de altura. Estas

i:,,:a possuem longas tranças e mantos magnìficamente pregueados, numa atitude graciosa, obra que se atribui à escola de Fídias. Na varandaiim:Ërm*{ : Íriso não tem entablamento, mas possui uma arquitrave e uma cornija com dentículos, pequenas mísulas coìocadas sob a goteira, o que lhe

n|rÍJ,:4ade.Tal como noutros Ìemplos gregos, a sua decoração é requintada e policromada com pasta de vidro derretìdo e incrustado, com bandas e

N

*m ::nze dourado.