comunicação poética - pignatari pt1.pdf

16
---- '"~- CIP-Brasil. Catalogagáo-na-fonte Cámara Brasileira do Livro, SP Pignatari, Décio, 1927- P684c Comunicagáo poética. Sáo Paulo, Cor- tez & Moraes, 1977. 1. Poética 1. Título. 77-0726 CDD-808.1 -801.951 Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia : Análise literária 801.951 2. Poesia : Retórica: Literatura 808.1 3. Poética: Retórica: Literatura 808.1 ilustraciies de DINIZ PIGNATARI capa de MARCEL protlucáo e diagramagáo de ALEXANDRE RUDYARD BENEVIDES © DÉCIO PIGNATARI, 1977 DIREITOS DESTA EDIQAO: CORTEZ & MORAES LTDA. RUA MINISTRO GODOY, 1002 - F. 62-8987 05015 - SAO PAULO - SP JULHO DE 1977 SUMARIO 1. A linguagem poética . 2. Semiótica poética: paradigma e sintagma :1. Ritmo . 1. Métrica >i •••••••••••••••..•••••••••• ,). Rima . (¡. Amostragem sincrónica: tudo ao mesmo tempo . 7. Amostragem diacrónica: um tempo, depois outro tempo . 11. Poesia nao-linear, poesia nao-verbal . ). Obseroacáeefinais . 3 9 17 27 33 35 39 45 59

Upload: juinthesky

Post on 14-Sep-2015

90 views

Category:

Documents


12 download

TRANSCRIPT

  • ----'"~-

    CIP-Brasil. Catalogago-na-fonteCmara Brasileira do Livro, SP

    Pignatari, Dcio, 1927-P684c Comunicago potica. So Paulo, Cor-

    tez & Moraes, 1977.

    1. Potica 1. Ttulo.

    77-0726 CDD-808.1-801.951

    ndices para catlogo sistemtico:1. Poesia : Anlise literria 801.9512. Poesia : Retrica: Literatura 808.13. Potica: Retrica: Literatura 808.1

    ilustraciies de DINIZ PIGNATARIcapa de MARCELprotluco e diagramago deALEXANDRE RUDYARD BENEVIDES

    DCIO PIGNATARI, 1977DIREITOS DESTA EDIQAO:CORTEZ & MORAES LTDA.

    RUA MINISTRO GODOY, 1002 - F. 62-898705015 - SAO PAULO - SP

    JULHO DE 1977

    SUMARIO

    1. A linguagem potica .2. Semitica potica: paradigma e sintagma:1. Ritmo .1. Mtrica >i ..,). Rima .(. Amostragem sincrnica: tudo ao mesmo

    tempo .7. Amostragem diacrnica: um tempo, depois

    outro tempo .11. Poesia nao-linear, poesia nao-verbal .). Obseroaceefinais .

    39172733

    35

    394559

  • COMUNICAc.;AO POTICA

    Ningum pode, em qualquer pro-[issiio, manter sempre o nvel maisalto que consegue alcancar. Ningumconsegue isso, nem Pel, nem Picasso,nem os melhores escritores, nem osmelhores empregados ou patriies.

    ADEMIR DA GUlA, 1977

  • _. --

    A LINGUAGEM POTICA

    A poesia parece estar mais do lado da msica e dasartes. ls lcas e visuaIS o quedaIteratura.EzraPund acha que -la nao pertence a-n.-teratura-ePaulo Prado vai mais longe: declara que a litera-tura e a filosofia so as duas maiores inimigasda poesia. >

    no fato, a poesia um cor:Qoestranho nas artes dapalavra. E a menos consumida d~s_as ar ,embota parega ser a mais praticada (muitasvezes, as escondidas). Urna-das maiores rarda-des do mundo o poeta que consegue viverSOdesu arte. H dOismIlanos, o poe a a mo Ovdiodiziaque as folhas de louro (com as quais sefaziam coroas para poetas e heris) s serviammesmo para temperar o arroz. E como poderia serdiferente? Como encontrar um modo de remu-nerar o trabalho e o ofcio de um poeta? Rilkeficou treze anos sem fazer um nico poema;

    1

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

  • 4 COMUNICA~O POTICA

    Valry, vinte e cinco anos! Outros consumiramboa parte da vida escrevendo uma obra (semexcluso de outras): Dante, vinte anos, para aDivina Comdia; Joyce, dezessete, para a "proe-sia" do Finnegans Wake; Pound, quarenta, paraOs cantos; Goethe,cinqenta e cinco, para oFausto; Mallarm, trinta, para o Lance de dados.Mas, nao porque houve um Pel que voc vaideixar de jogar futebol; nao por que h umaGal que voc vai deixar de cantar.

    a poeta aquele artista que nao est no gibi. E aquele que ajuda a fundar culturas inteiras. Naod pra entender a cultura portuguesa, semCames; a inglesa, sem Shakespeare; a italiana,sem Dante; a alem, sem Goethe; agrega, semHomero; a irlandesa, sem Joyce.

    Poesia a arte do anti-consumo. A palavra " oeta"vem ~rego "p..Qietes= aquele que-ax:; :faz oque? Faz linguagem. E aqui esta a fonte principaldomistrio.

    a signo verbal forma um sistema dominante decomuncaco, Quer dizer: todo mundo transa,todo mundo usa, todo mundo trabalha com osigno verbal (o falado, principalmente, pois suns 10% das Inguas existentes possuem cdigoescrito). E a que est: o poeta nao trabalha_com"o sigQQ,o ~

  • 6 COMUNICAQA:O POTICA

    A resposta para adivinha mallarmaica: a' flor queest ausente de todos os buques a palavraflor.

    tpoema um ser de linguag~m. O poeta .faz lingua-, gem, fazendo poema. Esta sempre criando e re--criando a linguagem. Vale dizer: est sempre. criando o mundo. Para ele, a linguagem um servivo. ? ~~, radical (do l~timr-1'-lZ~X;--acllcls= raz) : ele--uamn a as raizes da-li-ng-aagem.'Com lssu;-o-m-l:l-ndo-da' uagem e a linguagemG,0mu~do ganham troncos, ramos, flores e frutos.\~ por lSS0que um poema parece falar de tudo e\1 e nada, ao mesmo tempo. por isso que umbom) poema nao se esgota: ele cria modelosde sensibilidade. por isso que um poema, sendoum ser concreto de linguagem, parece o maisabstrato dos seres. por isso que um poema craco pura - por mais impura que seja. Jcomo urna pessoa, ou como a vida: por melhorque voc a explique, a explcaeo nunca pode Isubstitu-la. como urna pessoa que diz sempreque que:; ser com reendida. Mas o gue ela guerp1esmo e ser amada.

    O lingista Chomsky distingue dois nveis no fatolingstico: o nvel de competncia e o nvel dedesempenho. O nvel de competencia refere-seaO

    A

    nvel de domnio tcnico da linguagem (aostres anos de idade, uma crianea [ domina asestruturas bsicas de seu idioma materno). Onvel de desempenho aquele em que o falantecria em cima do nvel de competencia. claroque esses nveis nao so separados: a cranca

    rLINGUAGEM POTICA 7

    prende criando. Todos ns criamos, mas a (des)ducaco que re cebemos nos orienta no sentidoda tiescriaciio, no sentido de permanecermos ape-nas ao nvel de competencia.

    l. ti mos dando a voc aquilo que fundamental paraa competencia potica - mas abrindo para odesempenho criativo, que tarefa sua.

    Mu ta inibi!;ao ao nvel do desempenho p:ov~cad~pela nseguranca ao nvel da competencia. Enisto que se apia a censura, de fora e de dent~o(auto-censura) para impedir que voc ene.Vamos reabrir ambas as vlvulas.

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

  • 2"".v~ \-..$~ rI' ,
  • 10 COMUNICAQAO POETICA

    / primria, iria aprender o cdigo escrito para essecdigo falado). Ternos a urna assocaco porcontiguidade. As palavras, escritas e faladas,associam-se dessa forma aos objetos designados- ou seja, por contiguidade. Voc pode logoperceber que esse condicionamento tem muito de

    . I convencional ou arbitrrio. Mas quando voc

    .. 'limita o som de. um carro.em velocidade ouve/le, escrito, numa estria em quadrinhos _"vrrruuummm' - est diante de urna associa-gao por similaridade, que governada pela ana-

    ~

    logia. Charles Peirce, o criador da Semitica. (Teoria dos Signos) /(chama de smbolos aossignos por contiguidade, e de cones aos signos

    . por similaridade. .Mas as prprias palavras, que so smbolos, se organi-

    . zam de acordo com os dois eixos, formadas queso por jonemas, ou grupos de sons nconfund-veis, que so em nmero limitado em cada lnguaou cdigo lingstico. Os fonemas formam gruposou seleces, com base na semelhanea da emssofonolgica: o p e o b so labiais; o t e o d, lnguo--dentais; o f e o v, lbio-dentais etc. Essas sele-goes por semelhanca formam os paradigmas lin-gstcos. Quando voc fala urna palavra, vocest combinando, ultra-rpida e automatica-mente, sons extrados dos paradigmas - e for-mando sintagmas. por isto que esse eixo sintag-mtico tambm chamado de combinatrio oude combnaco, enquanto o outro, paradigma, chamado eixo de seleco. Sintagma = reunio.Paradigma = modelo.

    SEMITICA: PARADIGMA. E SINTAGMA n

    11I mplos no-vsrbas tornam mais claro esse tram-bique paradigmajsintagma.

    11. imne um cardpio: o que voc ve ali? Esto agru-pados (por semelhnca) os pratos que formamas entradas, as carnes, os peixes, os acompanha-mentas as sobremesas, as bebidas. Quando voc, - .scolhe urna certa entrada, urna carne, um acom-panhamento, uma sobremesa e urna bebidaparaformar a sua refeico, voc est montando umintagma. .: gastronmco. JiM}.~~ -

    (11I o se convocam os jogadores de futebol da seleconacional? Goleiros, laterais,. zagueiros, mdiosvolantes, pontas-de-lanca. Para armar o time(sintagma) ~ a comsso tcnica combina osmelhores elementos de cada posco (pa~~~ o, ,~.~igmas) . . 40At'J:C(yyvP 1V~ )

    1I ma espiada num guarda-roupa femnno. Ali jsto agrupados as blusas, as saias, os suts, as.alcnhas, as meias, os sapatos., Ao escolher ~ombinar as __pecas, no vestir-se, a moca estaI ontando um sintagma do vesturio.

    Itl ma coisa na fabrcaco de um carro. A -linhamontagem nao seno a linha de combina-

    '9.0 sntagmtca das diversas pegas que formamo paradigma s : rodas, eixos, motores, portas,v dros, carrocera etc.

    111 o lingista Jakobson, duas so as chamadas1 uras de retrica que predominam nessa estru-Lu .aco: a metonmia e a met~ . .

    . '----- .- . ---j( 1I mia) = tomar aparte_pelQJ;o--,CL-.

    J prevalece no' sintagma1 v __

    1 l.

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

  • 12 COMUNICAQO POTICA

    = relaeo de semelhanca entre duas coi-s~nadas-pe1apalavra ou con------- ,junto de alavras -- -- -prevalece no paraalgma--'

    ---- ! -- "

    Quanto a metonmia, que se observa nas palavrasem geral, nao h diculdade de entender, poisvoc j sabe que a palavra formada da monta-gem de partes ou pedacos de sons, que so osfonemas. As palavras de uma frase, por sua vez,so pedacos extrados do repertrio lxico doidioma "(dconrios) e das categorias gramati-cais, onde se agrupam por semelhanea das fun-- ~ , .coes que exercem na frase (substantivos, advr-bios, conjunces etc.). Alm dsso, elas designamobjetos que so pedaeos da chamada realidade.

    O caso ?a~, porm, cujos si nos tende~ ase-J;-lsenes=tflguras) apresenta uma artern tva,Comparemos dois exemplos:

    exemplo a) Jos guia ( "rrv< Iz{ ~

    Que observa voc aqui? Voc percebe certos traeos desemelhanea ou analogia entre o Jos e a guiae os relaciona numa metfora. Voc nota, porm,que ~ semelhan a na03st nos prpriQs siguos(pal,avras, slmbolos), mas nas cois~s ou obietos- no caso, uma pessoa e uma ave - designadospor eles. Vemos, ento, que a.l!letfora - nestee na maioria dos casos, - um curioso fenmenodt analogia por contiguidade. Ou seja, ela umicone por GQntiguidade - o que uma espcie decontradeo. Trata-se de um cone degenerado;

    SEMITICA: PARADiGMA E SINTAGMA 13

    por isso, a gente pode definir. a ~etfora com~sendo um hipo-cone por eontiquuuuie.

    exemplo b) Aguilar guia

    v c pode perceber que, aqui, h algo mais do que assmelhanca metafrica do primeiro exemplo. Q~ealgo mais esse? que aqui h uma transpos-~ao ou traduco da semelhanca entre o?Je~ospara urna s~melhan

  • 14 COMUNICAgO POTICA

    vel pela formaco das 80.000 palavras que cons-tituem o repertrio lxico da lngua portuguesa.

    ~ A paronomsia possibilita o trocadilho e a poesia(junto com a metfora).

    )?escobriu Jakobson que a linguagem apresenta el

    \. exerce runco potica quando o eixo de smila \

    ridade se projeta sobre o eixo de contiguidad . I, Quando o para igma se projeta sobre o sintagma.

    Em termos da semitica de Peirce, podemosdizer que a funco potica da lnguagem se mar-eapela pro,k!;ao do cone sobre o smbolo - ouseja, pela projeco d~digos n~

    \ ca~suais,_gestl,l~:' sobre o cdig9-y-erbaL:Fazer poesia transformar: o smbolo (palavra)

    , I em cone (figura). Figura s, desenho visual?Nao.' Os sons de urna tosse e de urna meloda

    \ tambm so figuras: sonoras.Em poesa, voc observa a proleco de urna analgica

    sobre a lgica da linguagem, a projeco de urna"gramtica" analgica sobre a gramtica lgica.- por isso que a simples anlse gramatical deum poema insuficiente. Um poema cria a suaprpria gramtica. E o seu prprio dicionrio.Um poema transmite a qualidade de um senti-mento. Mesmo quando parece estar veiculandoidias, ele est transmitindo a qualidade dosentimento dessa dia. Urna idia para ser sen-, tida e nao apenas entendida, explicada, deseas-cada.

    L.'.maior parte das pessoas le poesia como se fosse

    prosa. A maior parte quer "contedos" - mas, nao percebe formas. Em arte, forma' e contedo

    SEMITICA: PARADIGMA E SINTAGMA 15

    ~odem aer~parados. Pergu~tava, o poetaYeats: Voc pode separar o dancarino da.danca?Quem se recusa a perceber formas nao pode serartista. Nem fazer arte.

    1) ~ a tradico que todo japons deve fazer pelo menosum poema em sua vida. A maior parte faz (emgeral, um poema bem curto) . .. e nao ~ostra aningum. Nesse poema ele procura resum~r a suavso do mundo. Para ele, esse poema e a suaprpria pessoa transformada em signos. e

    VI J neste exemplo de Carlos Drummond de Andra- /1de, a palavra virando coisa, figura, e criando seuprprio dicionrio:

    Um inseto avacava se&n-alarmeperfurando a -terrasem achar escape.

    I ti nseto" deste poema nao a palavra "inseto", masvocbulo cava. Pelo corte do verso e pela redu-

    plicaco, o vocbulo-inseto "cava" que se moveadentra o poema como se este fosse aterra.

    11' omsia 1 (propriamente dita) :

    Violetas violentas

    tI'O' omsia Ir (anagrama) :

    Comer e cocar, s comecar

    11111( ntou urna adolescente a seu pai, observando esseprovrbo: " isso mesmo. .. est certo - por-

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

  • 16 COMUNICAQO POTICA

    que "comer" e "cocar" esto dentro de "come-car",

    Paronomsia III (aliteraco) :

    Vaia o ventoe vem vem

    Vaia o ventoe vai vai

    Paronomsia IV (rima)

    Murmuromuro

    I

    i!,

    3

    RITMO

    limo um con que resulta da dviso e distribui-cao no tem o e no e-p-&o- ou no tempo-espaco

    deJl tos ou eventos v~rbo.y'Q.2.5~yisuais(= verbais, vocais,visuais).

    elementos ou eventos sonoros: msica,~. ----poesaelementos ou eventos audiovisuais: cine-ma; TV, poesfa .~.~---elementos ou eventos hQtico (ttil) -vlsuais: escultra:aIqitetra, tecelagemelementos ou eventos hptco-audovsual--~tuais:-dahc;a ------"..----, ....- -~-------

    t outras combnaces possveis

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

    FabianeSubrayar

  • 18 COMUNICAQAO POTICA

    Na prtica potica, use o seu ouvido. Para 'osJ2oem~~sem versos use tambm o oIho. Sinta as pulsa-~oes. era tmemas emVO'Z'illt'a. Poemas seus. Ede outros. Grave no gravador. Ouca. Ouca. Tornea gravar. Ouca. Compare. Se precisar de mais deuma voz, chame os amigos.

    a ritmo uma sucesso ou agrupamento de acentosfracos e fortes, ongo~re-breves:-ESSeSacentos nao

    _.7 sao absolutos, mas- relativos e relacionais -, variam de um caso para outro. a ritmo tece uma

    teia de coeso. ~ __~~p< ---.- ..,~-~ ..

    a1'1tm9_,pr,essupiie.J-lmjQgofundo/figunt. N~ .caso,dosom,.._O-,fuflclo"-t)'silencio. a contra-acento e a'"pausa. Trata-se de um silencio ativo, nao passivoe neutro. a silencio parte integrante da msicae da poesa, '

    Os ritmos formam sistemas. Voc pode aproveit-los,rejeIt-los, tiitar -criar outros. Como ele umafigura, um cone, nao pode ser nteiramentcexplicado. a significado das palavras interfercno ritmo;

    a) Chega hoje da Europa o embaixadorlVIoreira

    b) Danea, danca, morena, imperatriz dosamba

    c) Sobre a triste Ouro Preto o ouro dONastros chove

    Reduzido a esqueleto, o rU;m9, pode '~e!.j;ldo como-oatdasde- compasso, cadencia, mtrica. Nos trr

    exeniplos'achha, temas praticairient a riiesmn

    19RITM o

    mtrica ou compasso - mas nao ternos o mesmoritmo. A-ifilorma~o banaIe prosaica-da primeirafrase nao diz nada ao ouvido em matria deritmo. Na segunda, a nformaco tambm comum, mas j atua ritmicamente. Na terceira- que um verso de Bilac - o ritmo se mpecomo figura, como cone, para acompanhar umanformaco pouco comum.

    N11, tradico potica ocidental, 4_s~

  • 20 COMUNICA
  • 22 COMUNICAQAO POTICA

    perceber tambm que alguns acentos ncas -tu, nao, pois, ai, cor - que podem ser fortes emoutros casos, aqu comparecem enfraquecidos.Alm dsso, voc tambm j deve ,ter percebidoque,' para efeito de esquematzaco rtmica, osacentos fracos nas so desprezados na con-tagem.

    Veja agora o que acontece no poema "Ditirambo", deOswald de Andrade (leia normalmente, sem mar-car os acentos) :

    Meu amor me ensinou a ser simplescomo um largo de igrej aonde nao h nem um sinonem umIpsnem urna sensualidade

    Leia agora os dais prmeros versos numa grafia fon-.', tca diferente e procure acentuar os tempos

    fortes:

    meuamor mensinoua ser sim(ples)comunlargo digre(ja) ,

    D pra ouvir? Est em ritmo ternrio ascendente,como nos exemplos anteriores, mas voc nao ()-sente to marcado. Porque? As consoantes nasas(m, n) e o grande nmero relativo de vogais.(H vogais para 11 consoantes no 19 verso, elmi-.nando-se a slaba' fraca final) tornam o ritmo. maisondulante, mais suave. Urna outra razo

    ,- .est no: tom coloquial das expresses usadasOutra anda, muito importante, que um poemn

    RITMO 23

    um todo orgnico - urnas partes' nuem nasoutras. O som ou vocbulo "sino" j nao vemanunciado no som ou vocbulo "en (sino) u"?

    Iiuas estornhas-ntormaco: Oswald afirmou diver-sas vezes que nunca, em toda a sua vida, soubecontar slabas, acentos, ps e coisas que tas, Issonao o impediu de tornar-se um grande poeta. JMallarm nunca se permitiu sar do verso de tra-dco francesa. Nunca fez versos brancos (semrima), nem expermentou com o chamado verso--livre (que hoje o normal, mas que no seu tem-po constitua a grande novdade), No, entanto,no poema quepublcou em 1897, um ano antesde sua morte, foi alm de qualquer verso brancoou livre: estracalhou o verso francs e o distri-.buiu pelo branco da pgina. Esse poema Un couqrde ds (Um lance de dados) est na base das!maiores radicalizaees poticas de nosso tempo.lEle corresponde, na poesia, a Lei da Relatvi-dade, na fsica.

    IV - Ritmo ternri~descend~: um acento' forteegud" de: 2 acentos traeos. Assirif:':"':"'--

    e O O1np~to ..

    Ftima diz que nao toma. nem pula.000 o o eo o o

    "deitona beira do -romando .chamar a me-d'gua". '

    (Manuel-Bandera)

    \

    , il

  • /24 COMUNICAgO POTICA

    "fique esta vida bem vivapara contar minha histra"

    (Ceclia Meireles)

    "Fonte de fogod-me essa Glria

    Sarga de fogo, d- me o Poder

    Cinza de fogod-me esse Reino"

    (Mrio Faustino)

    O ritmo ternrio descendente numa fachada:

    ~~~~~

    Esses esquemas rtmicos bsicos. e algumas de suascombnaces recebem bonitos nomes de origemgrega - iambos, dtilos, anapestos etc. - quevoc nao tem necessidade de guardar. So poss-veis as mais variadas combinaces desses acentosou ps (os gregos marcavam o ritmo com o p,tal como muitos msicos populares de hoje).Voc pode fazer as suas livremente, num mesmoverso e de verso para verso. Para isso, nao. h lenem regra. Tambm nao h para a escolha dossons que voc vai fazer ao juntar palavras em

    RIT M O 25

    versos, versos em estrofes e estrofes em poemas.Uma pausa maior, urna combnaco inusitada desons, o. significado, o jeito de cortar e emendarum verso em outro, a utlzaco de sons conflitan- .tes, dissonantes - tudo isso conta, j nao s paraa craco rtmica, mas tambm para a msica, odesenho, a coloraco do poema.

    IJ a magnaco e procure traduzir em palavras(versos ou no-versos) os ritmos propostos expe-rimentalmente nestas fachadas.

    ( 11 claro que voc [ est sabendo que, nestes como nosexemplos anteriores, mostramos apenas pedacosou fragmentos rtmicos - e nao, necessaramen-te versos in teiros) .

    l' usa:

    sonnca, "arritmia":

  • 26 COMUNICAQAO POTICA

    Espaeo;

    o ~~

    O

    4

    MTRICA

    Nu tradco luso-brasileira, as numerosas possibilida-des rtmicas costumam ser reduzidas a.umas tan-tas regrinhas mais ou menos caretas, baseadasna acentuaco silbica tnica ou forte (emboranemsempre O som, acento ou p coincida com aslaba). Elas so prticas para voc obter umritmo - digamos assim - automtico. E paraconhecer os versos dessa tradco. Damos aquum mini-resumo. o que se chama de mtrica,metrcaco ou verscaco, '

    I ,1 mbretes:

    a) a contagem das slabas feita at o ltimoacento tnico ou forte

    b) a slaba terminada em vogal tona (fraca)faz elso, emenda com a, vogal tonaseguinte, formando ap.enas um slaba

    e). falfLmos,~~ acentos obrigatrios -' que nao, excluem outros

  • 28 COMUNICAQAO POTICA

    1. VERSOS AT 7 SLABAS

    Nao h regrinha nenhuma. Acentue onde quiser, qued certo. O verso de 5 slabas, ou pentasslabo, chamado de redondilha-menor. O de 7 slabas ou,heptasslabo, de redondnha-maor e largamenteusado.

    O modelo kitsch brasileiro do heptasslabo o "Meus .8 anos", do Casimiro:

    "6 que saudade que eu tenhoda aurora da minha vida,da minha infancia qerdaque os anos nao trazem mais."

    "A banda", do Chico Buarque, tambm em redondi-lha-maor.

    2. VERSO DE 8 SLABAS

    Acentue na 4~e na 8~:

    "Sou feiticeiro de nascenca"

    (Torquato Neto)

    ou na 2~ (ou 3~), na 5~ e na 8~:

    "Ento, dr-se-a que o tempointerrompe toda carreira."

    (Joo Cabral de Melo Neto)

    MTRICA 29

    :. VERSO DE 9 SLABAS

    1\ entue na 3~, na 6