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Fundamentos da Economia 2014

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Fundamentos de Economia

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Fundamentos da Economia

2014

© UniSEB © Editora Universidade Estácio de SáTodos os direitos desta edição reservados à UniSEB e Editora Universidade Estácio de Sá.

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrônico, e mecânico, fotográfi co e gravação ou qualquer outro, sem a permissão expressa do UniSEB e Editora Universidade Estácio de Sá. A violação dos direitos autorais é

punível como crime (Código Penal art. 184 e §§; Lei 6.895/80), com busca, apreensão e indenizações diversas (Lei 9.610/98 – Lei dos Direitos Autorais – arts. 122, 123, 124 e 126).

Sum

ário

Sum

ário

Fundamentos da EconomiaCapítulo 1: A Ciência Econômica e seus

Principais Conceitos ....................................... 7

Objetivos da sua aprendizagem ................................. 7Você se lembra? ................................................................ 7

1.1 Definições de economia .................................................. 81.2 Questões econômicas fundamentais ..................................... 8

1.3 Recursos ou fatores de produção ............................................... 91.4 Agentes econômicos ....................................................................... 10

1.5 Tipos de bens .................................................................................... 111.6 Sistemas econômicos .................................................................................. 12

1.7 Curva de possibilidade de produção (FPP) ............................................ 131.8 Fluxo real e monetário ................................................................................ 16

1.9 A importância da ciência econômica para as demais ciências e para o direito .................................................................. 18

1.10 A evolução do pensamento econômico ............................................................ 24Atividades .................................................................................................................. 30

Reflexão ....................................................................................................................... 31Leituras recomendadas .................................................................................................. 32Referências bibliográficas ............................................................................................. 32No próximo capítulo ...................................................................................................... 33Capítulo 2: Fundamentos Básicos da Microeconomia .............................................. 35Objetivos da sua aprendizagem ..................................................................................... 35Você se lembra? ............................................................................................................ 352.1 Introdução à microeconomia ................................................................................ 362.2 Análise de mercado ............................................................................................ 37

Atividades ............................................................................................................... 49Reflexão ............................................................................................................... 50

Leituras recomendadas .................................................................................... 51Referências ................................................................................................... 51

No próximo capítulo ................................................................................ 52Capítulo 3: Análise das Estruturas de Mercado .............................. 53

Objetivos da sua aprendizagem ........................................................ 53Você se lembra? ............................................................................ 53

3.1 Análise da estrutura de mercado ....................................... 543.2 Elasticidade ................................................................ 62

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esentaçã

oAtividades ....................................................................................................................... 67Reflexão .......................................................................................................................... 68Leituras recomendadas .................................................................................................... 68Referências ...................................................................................................................... 68No próximo capítulo ....................................................................................................... 69Capítulo 4: Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. .................................................................................. 71Objetivos da sua aprendizagem ...................................................................................... 71Você se lembra ................................................................................................................ 71Introdução ....................................................................................................................... 724.1 Objetivos de política macroeconômica .................................................................... 724.2 Inflação .................................................................................................................... 864.3 O setor Público ......................................................................................................... 92Atividades ..................................................................................................................... 101Reflexão ........................................................................................................................ 102Leituras recomendadas .................................................................................................. 103Referências .................................................................................................................... 103No próximo capítulo ..................................................................................................... 105Capítulo 5: O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional ............ 107Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 107Você se lembra? ............................................................................................................ 1075.1 Comércio e desenvolvimento ................................................................................. 1085.2 Integração econômica e desenvolvimento ............................................................. 116Atividades ..................................................................................................................... 128Reflexão ........................................................................................................................ 129Leituras recomendadas .................................................................................................. 130Referências bibliográficas ............................................................................................. 130

Apr

esentaçã

o Prezados(as) alunos(as)Quantas vezes você já não se deparou

com questões do tipo: – por que pagamos tantos impostos?

– por que os salários em uma determinada região são menores que em outras?

– por que os juros pagos nos financiamentos são tão ele-vados?

– por que viajar para o exterior pode ficar mais barato do que viajar para o meu próprio país?

Essas e outras questões terão suas respostas reveladas à medida que o aluno for sendo introduzido no mundo da ciência

econômica, mundo este tão envolvente quanto complexo; primei-ro, porque está assentado no comportamento humano, segundo, tem

interface com várias outras áreas do conhecimento como a história, a geografia, a matemática, a estatística, a sociologia, a filosofia, dentre outras.

Neste sentido, a disciplina “Fundamentos de Economia” busca, por meio da apresentação e aplicação de conceitos econômicos relevan-tes, introduzir o aluno na compreensão deste “mundo novo” chamado economia, priorizando aspectos agregados e sociais desta esfera do co-nhecimento. A ideia é que a abordagem da economia sob um enfoque mais geral permita que o aluno interaja com o mercado munido de um instrumental básico de análise dos fenômenos socioeconômicos, utili-zando-o na tomada de decisões na esfera empresarial.

Bom estudo!

Cap

CtuCo

C A Ciência Econômica e

seus Principais ConceitosO capítulo 1 aborda os conceitos fundamen-

tais da ciência econômica. Apresenta os agentes econômicos, os fatores de produção e a forma como

eles se organizam e interagem na economia, a fim de satisfazer as necessidades humanas. A unidade centra-se

também no estudo da fronteira de possibilidades de produ-ção, do custo de oportunidade e relaciona a economia com as

demais áreas do conhecimento. Finalizando o capítulo, temos os precursores do pensamento econômico e suas contribuições

para a evolução da disciplina.

Objetivos da sua aprendizagemQue você seja capaz de entender os conceitos fundamentais da eco-

nomia e como ela se organiza a fim de satisfazer as necessidades dos homens.

Você se lembra?Você se lembra da última escolha que fez? Lembra-se da renúncia que essa escolha implicou? Ao tomar uma decisão, você sempre renuncia algo e assim também acontece na economia. Ao optar por comprar determina-do produto, você deixa de poupar e de consumir outros tipos de produ-tos. Isso acontece todos os dias em nossas vidas.

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C.C Definições de economiaA palavra economia origina-se do grego oikos (casa) e nomos (norma,

lei) e significa administração do lar. Da mesma forma que os indivíduos, as famílias e as empresas administram os recursos que são escassos, as socie-dades também devem administrá-los. Podemos dizer, então, que a econo-mia tem por finalidade estudar como os indivíduos e as sociedades decidem utilizar os recursos produtivos escassos, na produção de bens e serviços, de forma a distribuir esses recursos entre os vários indivíduos e grupos para satisfazer às necessidades humanas. Como essas necessidades são ilimita-das, a economia se depara com algumas restrições físicas provocadas pela escassez dos recursos produtivos ou fatores de produção. Dizemos, então, que esse é o problema econômico central que a economia procura resolver.

Para determinados bens, como o ar (sem poluição), que estão em abundância na natureza, não há a necessidade de se formar uma organiza-ção econômica para seu uso. Contudo, no mundo real, a maior parte dos recursos é escassa e tal fato fará com que a sociedade se organize econo-micamente para lidar com essa situação.

A seguir estão alguns exemplos de escassez que enfrentamos no nosso dia a dia:

• Você possui um tempo limitado. Caso decida dormir mais, terá me-nos tempo para se dedicar a outras atividades, por exemplo, estudar.

• Você dispõe de uma quantidade limitada de dinheiro para fazer compras no supermercado. Lá você deverá escolher entre com-prar algumas unidades a mais de um produto e menos de outro.

• Um empresário que possui uma máquina importada capaz de produzir diferentes produtos terá de decidir qual deles irá pro-duzir mais e qual deles irá produzir menos.

Percebemos, a partir dos exemplos dados, que as escolhas feitas pelos indivíduos, pelas famílias, pelas empresas ou pelo governo determi-nam as escolhas da sociedade e essa sociedade deve responder às seguin-tes questões: o que e quanto, como e para quem produzir?

C.2 Questões econômicas fundamentaisAs necessidades e os desejos humanos são satisfeitos utilizando-se

os escassos recursos produtivos disponíveis e isso, inevitavelmente, im-plica escolhas. A necessidade de escolha fica evidente ao considerarmos as três perguntas fundamentais que devem ser respondidas por todas as sociedades: o que produzir? Como produzir? Para quem produzir?

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• O que produzir: o que deve ser produzido e em que quantidade? Serão produzidos muitos bens de consumo ou deve-se focar nos bens de produção, como maquinário, os quais permitirão incre-mentar a produção? Os produtos devem ser, em sua maioria, de baixa qualidade ou de alta qualidade? A produção enfatizada deve ser a de serviços ou a de produtos?

• Como produzir: como serão produzidos os bens e serviços? Quais recursos serão utilizados? Qual deve ser a tecnologia empregada? Como serão distribuídas as atividades para os funcionários? A em-presa será propriedade do estado ou da iniciativa privada?

• Para quem produzir: a quem se destinará a produção? Quem con-sumirá os bens e serviços? Como será distribuída essa produção entre os indivíduos da sociedade? A renda será distribuída de for-ma igualitária entre os cidadãos ou, ao contrário, serão permitidas grandes diferenças de rendas?

C.3 Recursos ou fatores de produçãoPara respondermos às questões fundamentais, devemos entender pri-

meiramente o que são os fatores de produção. Entendemos por fatores de produção os recursos básicos empregados na produção de bens e serviços, recursos que podem ser divididos em insumos, terra, trabalho e capital.

Observando o esquema a seguir, verificamos que os fatores de pro-dução (recursos) são empregados no processo produtivo que os transfor-ma em bens ou serviços finais.

Fatores de Produção ⇒ Processo de Produção ⇒ Bem ou serviçoA terra enquanto fator de produção representa os recursos naturais

como um todo. A mão de obra se refere ao tempo de trabalho empregado na produção de bens e serviços, que podem ser físico ou intelectual. O capital consiste no conjunto dos bens produzidos com a finalidade de produzir novos bens ou serviços, como máquinas, computadores, entre outros. Os insumos consistem na matéria-prima utilizada no processo produtivo, como madeira, aço, couro, entre outros exemplos.

Como dito anteriormente, dadas as necessidades humanas ilimitadas e a escassez de recursos produtivos, as sociedades são obrigadas a fazer deter-minadas escolhas sobre o que e quanto, como e para quem produzir. Em uma economia liberal, em que não há intervenção do governo, esses problemas tendem a ser resolvidos pela concorrência dos mercados e pelo mecanis-mo de preços.

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Para não confundir: em economia, o termo capital significa capital físico, isto é, as máqui-

nas e os imóveis, e não o capital financeiro

As respostas dadas a seguir em relação ao que e quanto, como e para quem produzir serão respondidas no decorrer das aulas de Microeconomia.

Quando perguntamos o que produzir, estamos nos referindo a quais produtos deverão ser produzidos (carros, cigarros, café, vestuá-rio, entre outros). Será a demanda dos consumidores no mercado que decidirá o que a economia deverá produzir. As quantidades que serão colocadas à disposição do mercado serão determinadas pela atuação dos consumidores e dos produtores no mercado com os ajustamentos dados pelo sistema de preço.

Quando pensamos em como produzir determinados bens e ser-viços, queremos saber quais serão os recursos e ou processos técnicos que irão interferir nesta produção e de que maneira. Nesse caso, será a concorrência entre os produtores que definirá como serão produzidos determinados bens e serviços. O processo de fa-bricação mais eficiente ou mais barato ganhará mercado e o ineficiente e mais caro ficará de fora.

A questão de quem irá produzir será determinada pela oferta e pela demanda no mercado de fatores de produ-ção, sejam eles os salários, juros, aluguéis e lucros que, em conjunto, formam a renda individual relativa a cada serviço e ao conjunto de serviços. A pro-dução destina-se a quem tem renda para pagar, se o preço é o instrumento de exclusão.

C.4 Agentes econômicosOs agentes econômicos são as empresas, as famílias e o setor públi-

co. Eles são os responsáveis pela atividade econômica e supõe-se que são coerentes quando tomam decisões. A empresa é a unidade de produção básica. Contrata trabalho e compra fatores de produção com a finalidade de produzir e vender bens e serviços. Nas sociedades modernas, somen-

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te as empresas têm capacidade de organizar os complexos processos de produção e distribuição para consumo da população. Elas decidem quais produtos e serviços irão produzir e como produzi-los.

A função das famílias consistem em, por um lado, consumir bens e serviços; por outro, oferecer seus recursos, isto é, trabalho e capital às em-presas. As famílias decidem que produtos e serviços irão consumir, a que profissão irão se dedicar e quanto dinheiro irão guardar. O setor público atua regulamentando a atividade econômica por meio das políticas fiscal, monetária e cambial. Atua ainda em atividades produtivas, por meio de empresas estatais.

C.5 Tipos de bensOs desejos dos indivíduos são mutáveis e ilimitados. Inicialmen-

te, as pessoas buscam satisfazer suas necessidades básicas ou primárias, como alimentação, vestuário e saúde. O passo seguinte é satisfazer neces-sidades e desejos mais refinados, como lazer, bens com maior qualidade para satisfazer as necessidades primárias, como melhor habitação e vestu-ário etc.

O fato real que enfrenta toda economia é que, em todas as socieda-des, os desejos dos indivíduos não podem ser completamente satisfeitos. Sempre existirão necessidades ou desejos que os indivíduos não poderão satisfazer, ainda que seja somente pelo fato de os desejos tornarem-se re-finados.

Um bem é tudo aquilo que se destina a sa-tisfazer as necessidades dos indivíduos, direta ou indiretamente. Eles podem ser classifica-dos em alguns tipos. O primeiro tipo de bem classifica-se segundo o caráter e divide-se em dois tipos. Os bens livres, que são inapropri-áveis e cuja quantidade é ilimitada, e os bens econômicos, caracterizados pela utilidade, pela escassez e por serem apropriáveis. Os bens econô-micos são o objeto de estudo da economia.

Os bens também são classificados segundo sua natureza em dois tipos. Os bens de capital são aqueles que não se destinam a satisfazer di-retamente as necessidades humanas e são representados pelos equipamen-tos destinados à produção. Os bens de consumo são os que se destinam a

Conexão:

Consulte o site do Ministério da Fazenda! O endereço contém diversos dados econômicos para

você se familiarizar com os temas da disciplina. Além disso, contém links para sites de universidades (USP, Unicamp, Unesp, UFMG, UnB etc.) e para sites

de jornais e revistas nacionais e estrangeiras: www.fazenda.

gov.br.

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Apesar das vantagens do livre co-mércio entre países, existe ainda uma sé-

rie de medidas protecionistas que as nações usam para limitar a entrada de determinados

produtos no país. Essas medidas são adotadas inclusive por países mais desenvolvidos, como

Estados Unidos, Japão e países europeus, com a finalidade de proteger os produtores

nacionais.

satisfazer diretamente as necessidades humanas e podem ser duráveis, de uso prolongado, e não duráveis, que acabam, com o passar do tempo.

Existe ainda a classificação segundo a função. Esses podem ser bens intermediários, pois sofrem transformação antes de se converterem em bens de consumo, e bens finais, caracterizados por já terem passado por um processo de transformação e estarem prontos para o consumo.

C.6 Sistemas econômicosAté este momento, nós descrevemos o fun-

cionamento de uma economia de mercado (tipo capitalista) em que não há a in-tervenção do Estado. Nesse tipo de sistema, predomina o laissez-faire, ou seja, os milhares de produtores e consumidores têm condições de resolver os problemas fundamen-tais da economia (o que e quanto, como e para quem produzir) e as empresas estão preocupadas essen-cialmente em maximizar o seu lucro.

Apesar de adotado como mo-delo pelas economias de diversos países, inúmeras são as críticas a esse sistema. Para al-guns economistas, trata-se de um modelo que simplifica muito a realidade econômica e apresenta alguns problemas:

a) Os preços nem sempre flutuam livremente, controlados so-mente pelo mercado.

b) O mercado sozinho não consegue promover a alocação perfei-ta dos recursos.

c) O mercado não consegue distribuir perfeitamente a renda.Consideramos que algumas dessas críticas são bastantes pertinentes

dado que muitas vezes observamos a presença do Estado regulando o pre-ço dos produtos, provendo bens à sociedade que o mercado não consegue ofertar (bens públicos) e distribuindo renda através da tributação maior sobre quem tem renda maior.

A Grande Depressão de 1930, nos Estados Unidos, revelou que um sistema com a regulação do mercado não consegue sozinho garantir que a economia opere sempre no pleno emprego de seus recursos. Sendo as-

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sim, verificou-se a necessidade de intervenção do Estado com o objetivo de controlar as distorções alocativas do mercado, melhorando o padrão de qualidade de vida da sociedade. Nesse caso, temos a presença de uma economia que entende que o mercado resolve parte dos problemas econô-micos e que a presença reguladora do Estado deve corrigir essas distor-ções. Surgem, então, as economias mistas, que contemplam os dois tipos de sistema.

Nessa situação, o Estado pode intervir de diversas maneiras na economia, como atuando sobre a formação de preços, via impostos, subsí-dios, taxa de câmbio, pode complementar a iniciativa privada através dos investimentos em infraestrutura básica (energia, estradas), pode fornecer bens públicos como iluminação, saneamento básico, saúde e pode com-prar bens e serviços do setor privado, aumentando a quantidade demanda-da de produtos da economia.

Por fim, apresentamos a economia central ou planificada, em que os problemas centrais (o que e quanto, como e para quem produzir) são defi-nidos por uma agência ou órgão central de planejamento, e não pelo mer-cado. O Estado é o detentor dos recursos, dos meios de produção e define o que é necessário ser produzido para a sociedade e não há a preocupação com a geração de lucro. Nessa situação, não há a propriedade privada, todos os bens pertencem ao governo, contudo há uma preocupação maior com o bem-estar da população.

C.7 Curva de possibiCidade de produção (FPP) A fronteira ou curva de possibilidades de produção ilustra um fato

importante: em uma economia que conta com milhares de produtos, as al-ternativas de escolhas são inúmeras. Para simplificar o problema, considera-remos uma economia que dispõe de uma dotação fixa de fatores produtivos e trabalharemos com a seguinte suposição: mesmo sabendo que no mundo real a economia produz milhares de bens e serviços, vamos imaginar uma economia que produz somente dois bens: manteiga (em mil toneladas) e canhões (mil unidades). A fronteira ou curva de possibilidade de produção, também chamada curva de transformação, é a fronteira máxima que a eco-nomia pode produzir, dados os fatores de produção e tecnologia disponíveis para as empresas que transformam esses insumos em bens.

A figura 1 exemplifica uma fronteira de possibilidade de produção. Se todos os recursos forem utilizados para produzir canhões, nenhuma manteiga será produzida. Se todos os recursos forem utilizados para

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produzir manteiga, nenhum canhão será produzido. Esses são os dois pontos extremos da curva de possibilidade de produção. Caso a economia desejar dividir seus recursos entre ambos os produtos, poderá produzir, por exemplo, 8 mil toneladas de manteiga e 10 mil unidades de canhões. Observemos que esse ponto está sobre a curva de possibilidade de produ-ção. Pontos fora da curva de possibilidade de produção são inviáveis, pois a economia não tem recursos para sustentar esse nível de atividade. Por outro lado, pontos dentro da curva são possíveis em virtude da quantidade de recursos disponíveis, ou seja, o suficiente.

Diz-se haver eficiência econômica quando a economia está obten-do tudo o que é possível a partir dos recursos escassos da economia. Os pontos situados sobre a curva de possibilidade de produção garantem essa eficiência, enquanto que os pontos situados dentro da curva (pontos pos-síveis) não garantem essa eficiência porque a produção neste ponto está abaixo daquilo que pode ser produzido.

A B C D E F

Manteiga 0 3 6 8 9 10

Canhões 15 14 12 10 7 0

Tabela 1.1 – Alternativas de produção

Canhões (mil unidades)

Manteiga(mil ton)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 A

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Figura 1 – Curva de possibilidade de produção

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C.7.C Conceito de custo de oportunidadeCusto de oportunidade é o grau de sacrifício que se faz ao optar pela

produção de um bem em lugar da produção alternativa de outro. Se uma economia se encontra sobre a fronteira de possibilidades de produção e todos os recursos estão sendo plenamente utilizados, ela está diante de um dilema, pois produzir uma quantidade maior de um bem exigirá neces-sariamente produzir menos de outro. Em economia, a opção que se deve abandonar para poder produzir ou obter outra coisa se associa ao conceito de custo de oportunidade.

Se a economia produz uma determinada combinação de bens, uti-lizando toda a capacidade de produção disponível e, ainda assim, deseja produzir algumas unidades a mais de um dos bens, isso só será possível mediante redução na produção do outro bem. Essa escolha entre os dois bens indica que o custo para a obtenção de mais unidades de um deles é justamente deixar de produzir algumas unidades do outro.

No caso do nosso exemplo, podemos ter as seguintes situações.

A B C D E F

Manteiga 0 3 6 8 9 10

Canhões 15 14 12 10 7 0

Tabela 1.2 – Alternativas de produção

Custo de oportunidade para passarmos da alternativa B para C, para serem produzidas mais 3.000 toneladas de manteiga = 2.000 canhões.

Custo de oportunidade para passarmos da alternativa C para B, para serem produzidos mais 2.000 canhões = 3.000 toneladas de manteiga.

Perceba que só é possível produzirmos mais manteiga se deixar-mos de produzir unidades de canhão, assim como só é possível obtermos maior quantidade de canhões se deixarmos de produzir algumas unidades de manteiga.

A fronteira de possibilidade de produção nos mostra o trade off (escolha) entre a produção de diferentes bens em um dado período, po-rém é possível que esse trade off mude ao longo do tempo. A tomada de decisões exige a comparação dos custos e benefícios dos cursos de ações. Por exemplo: em tempos de guerra, há uma maior necessidade de se produzirem canhões do que manteiga. Em decorrência desse processo,

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a curva se deslocará mais para fora, como na figura 4. Em momentos de paz, a economia pode necessitar mais da produção de manteiga. Tal fato deslocará mais a curva de possibilidade de produção para fora, deixando-a mais inclinada (figura 2).

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Canhões (mil unidades)

Manteiga(mil ton)

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Figura 2 – Deslocamento da curva de possibilidade de produção

C.8 FCuxo reaC e monetárioComo a economia é constituída de milhões de pessoas envolvidas

em inúmeras atividades, tais como compra, venda, trabalho, locação e produção, precisamos de uma simplificação do quadro de atividades, ou melhor, necessitamos de um modelo que explique como se organiza a economia e como seus participantes interagem uns com os outros.

O diagrama do fluxo circular da renda nos mostra dois tipos de to-madores de decisões: de um lado, as empresas e, do outro, as famílias. As empresas são responsáveis pela produção dos bens e serviços através da utilização dos fatores de produção (trabalho, terra e capital) e as famílias são as proprietárias dos bens e serviços produzidos pelas empresas.

Os dois primeiros agentes e suas funções podem ser resumidos na seguinte frase: as famílias oferecem recursos (fatores de produção) para as empresas, que produzem e vendem os bens e serviços para as famílias. O inverso também é válido, ou seja, as empresas contratam recursos (fatores de produção) das famílias, que consomem os bens e serviços produzidos pelas empresas.

Observamos que os agentes econômicos interagem em dois mo-mentos: no mercado de bens e serviços, em que as empresas vendem e as famílias compram bens e serviços, e no mercado de fatores de produção,

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em que as famílias são vendedoras e as empresas compradoras. Nesse mercado, as famílias oferecem às empresas os insumos necessários à pro-dução de bens e serviços.

A parte interna do diagrama nos mostra o fluxo de bens e serviços entre as famílias e as empresas. As famílias vendem para as empresas, no mercado de fatores de produção, o uso do seu trabalho, terra e capital. As empresas usam os fatores de produção para produzir os bens e serviços que são vendidos às famílias no mercado de bens e serviços. Verificamos que os fatores de produção fluem das famílias para as empresas e os bens e serviços fluem das empresas para as famílias.

A parte externa do diagrama mostra o fluxo de moeda. As famílias gastam reais para comprar bens e serviços oferecidos pelas empresas. Por sua vez, as empresas usam parte de sua receita para pagar alguns fatores de produção, por exemplo o salário dos trabalhadores. O que sobra após esse pagamento é o lucro do empresário, que por sua vez é membro das famílias. Sendo assim, a despesa com bens e serviços flui das famílias para as empresas e a renda em forma de salários, de aluguéis e lucro flui das empresas para as famílias.

Acompanhemos o seguinte exemplo para entendermos melhor o diagrama do fluxo circular da renda. Imagine que temos uma nota de um real em nossa carteira e que desejamos tomar uma xícara de café. Vamos até ao Fran’s Café mais próximo de nossa casa e pagamos pela bebida. Quando o real passa pela caixa registradora, ele se torna parte da recei-ta da empresa. Contudo, esse real não fica muito tempo no Fran’s Café, pois a empresa usará para comprar insumos no mercado de fatores de produção. A empresa também poderá usar esse real para pagar os salários dos trabalhadores ou o aluguel da loja. De qualquer forma, esse real irá retornar para a renda de alguma família e, novamente, irá para a carteira de alguém.

É importante salientarmos que o diagrama do fluxo circular da ren-da é uma simplificação da economia. Um modelo mais completo deve levar em conta a participação do governo e o comércio internacional.

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Diagrama do fluxo circular da rendaReceita Despesas

Mercado de Bens e ServiçosAs empresa vendemAs famílias compram

EmpresasProduzem e vendem

bens, serviçosContratam e

utilizam fatoresde produção

FamíliasCompram e consomem

bens e serviçosSão proprietárias

de fatores de produção e os vendem

Bens e serviços vendidos Bens e serviços comprados

Salários, Aluguéis eLucro

Renda

Mercado de Fatores de ProduçãoAs famílias vendem

As empresas compram

Insumos produção Terra, Trabalho, Capital

Fluxo de bens e serviços

Fluxo de moeda

Figura 3 – o diagrama do fluxo circular é uma representação esquemática da organização da economia. As decisões são tomadas por famílias e empresas. Essas interagem no mercado, em torno de bens e serviços (quando as famílias são os compradores e as empresas, os vendedores) e em torno de insumos (quando as empresas são os compradores e as famílias, os vendedores). As setas externas representam o fluxo de dólares e as setas internas correspondem ao fluxo de bens e serviços.

C.9 A importância da ciência econômica para as demais ciências e para o direito

Os acontecimentos econômicos afetam diretamente a vida de todas as pessoas, principalmente daquelas que precisam tomar decisões impor-tantes neles baseadas, como é o caso dos administradores de empresas, contadores, advogados etc. Por isso, é importante que tenham um conhe-cimento no mínimo razoável a respeito dos fenômenos econômicos, para serem bons profissionais.

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C.9.C As inter-reCações com as demais ciênciasApesar de especificado seu objeto, a economia relaciona-se com as

demais áreas do conhecimento humano. Ela tem intercorrências com ou-tras ciências, pois todas estudam a mesma realidade, de modo que se torna difícil separar fatores essencialmente econômicos dos extraeconômicos.

– Economia e política: são áreas bastante interligadas, pois em um regime democrático, as ações do governo estão intimamente associadas às instituições, à estrutura partidária e ao regime político do país. Os objeti-vos da política econômica (inflação, crescimento, distribuição de renda) são determinados pelo poder político. Os políticos são responsáveis pelas decisões relacionadas à distribuição de verba do orçamento governamen-tal e à elaboração e aprovação de leis que influenciam o nível de bem-estar da população. Outro exemplo são as crises econômicas, derivadas, por exemplo, da queda de bolsas de valores no exterior, cujos efeitos influenciam tanto as ações dos políticos e dos formuladores da política econômica como o povo em geral.

• Economia e História: a história nos ensina que fatos do pas-sado podem se repetir no futuro; assim, a pesquisa histórica torna-se útil e necessária para a economia, pois facilita a com-preensão do presente e auxilia nas previsões para o futuro. As guerras e revoluções já foram responsáveis por alterações no comportamento e na evolução da economia, assim como fa-tos econômicos influenciam o desenrolar da história. Alguns importantes períodos da história são associados a fatores eco-nômicos, como os ciclos da cana-de-açúcar e do ouro, a Re-volução Industrial, a quebra da Bolsa de Nova York (1929), a crise do petróleo, fatos determinantes para alteração da história mundial. Não podemos deixar de mencionar que as próprias guerras e revoluções são permeadas por motivações econômi-cas (VASCONCELOS e GARCIA, 2008).

• Economia e Geografia: é simples compreender a interferên-cia dos acidentes geográficos no desempenho das atividades econômicas, mas a geografia nos permite avaliar fatores muito úteis à análise econômica, como, por exemplo, questões ligadas aos diferencias de distribuição de renda, de recursos produti-vos, de localização de empresas, dos efeitos da poluição sobre o meio ambiente, as condições geoeconômicas dos mercados, custos de transporte etc.

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• Economia e Sociologia: a relação existe porque a análise econô-mica contempla a participação das classes sociais no produto glo-bal. O ambiente social influencia os mercados, a estrutura de de-manda e de oferta, as finanças e, portanto, o modo de crescimento econômico. Por exemplo: a vontade popular, quando expressa de forma organizada, influencia o comportamento das empresas e a forma como a economia vai se organizar e crescer. Diante do consenso da necessidade de preservação do meio ambiente, surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, implicando a neces-sidade de licença ambiental para a abertura de certas rodovias e a implantação de fábricas em determinadas localidades.

• Economia, Matemática e Estatística: a economia utiliza matemática e probabilidades estatísticas como ferramenta para estabelecer relações entre variáveis. Muitas relações de comportamento econômico podem ser expressas por funções matemáticas, como, por exemplo, a função de produção Qmos-tra a quantidade produzida em função da quantidade de capital empregada K e da quantidade de mão de obra L, isto é:

Q = F (K, L)

Por meio dos modelos matemáticos, é possível formular o funciona-mento de um sistema econômico, medir o relacionamento entre diferentes setores, determinar os impactos do aumento de uma variável sobre a outra; por exemplo, é possível estimar os efeitos do aumento dos investimentos estrangeiros ou dos gastos públicos sobre o crescimento do emprego ou da renda de uma economia.

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Comportamento racional é aque-le em que o indivíduo, sistemática

e objetivamente, faz o máximo para alcançar seus objetivos.

Entretanto, a economia não é uma ciência exata em que os resulta-dos são programados e não há erros. Por exemplo, se houvesse um aumen-to na renda de todos os indivíduos, é fácil imaginar que nem todos iriam gastar esse aumento em consumo ou que nem todos iriam poupar. É pra-ticamente impossível prever o comportamento de um indivíduo em par-ticular; todavia, poderíamos responder a essa questão com base no valor médio do gasto da coletividade. Para isso, baseamo-nos no valor em que a probabilidade de ocorrência é maior, isto é, em que a margem de erro for mínima. Essa estratégia é denominada econometria, uma mistura da eco-nomia, matemática e estatística. A estatística estuda os acontecimentos a fim de avaliar regularidades e fazer previsões. Avaliando o comportamen-to de um conjunto de observações, calculam-se probabilidades, médias, variâncias e verificam-se tendências. As técnicas estatísticas auxiliam na realização de testes de hipóteses que contribuem na tomada de decisões.

• Economia, Biologia e Física: a fase inicial do estudo da eco-nomia coincide com a fase de grande desenvolvimento das ciências físicas e biológicas, nos séculos XVIII e XIX. O nú-cleo científico inicial da economia foi construído a partir das chamadas concepções organicistas (biológicas) e mecanicistas (físicas). De acordo com o grupo organicista, a economia se compor-taria como um órgão vivo. Originam-se aí termos como órgãos, funções, circulação e fluxos na teoria econô-mica. Por outro lado, para o grupo mecanicista, as leis da economia se comportariam como algumas leis da física. A partir daí, observamos termos como equilíbrio, velocidade, estática, dinâmica, aceleração e outros. A concepção humanística passa a predominar com o passar do tempo, priorizando as noções de comportamento racional dos agentes econômicos. Assim, per-cebemos que o lado psicológico dos investidores pode ser mais importante para tomar decisões do que variáveis econômicas.

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Observamos ainda os motivos pelos quais os consumidores maximizam a satisfação na aquisição de bem e serviços ou por que os produtores reduzem custos para maximizar o lu-cro. O lado emocional das pessoas influencia sua conduta, o que afeta variáveis econômicas como produtividade, produ-ção e emprego.

C.9.2 A economia e o direitoA interação entre a economia e o direito é uma preocupação antiga

dos consumidores. A teoria econômica auxilia na resposta de perguntas como: Como as diferentes leis afetam o comportamento dos agentes eco-nômicos? Que tipo de objetivos econômicos existem ao se legislar? Por que certas proibições econômicas são tão pouco respeitadas? Quais são as regras que proporcionam maior eficiência?

As relações econômicas que se estabelecem entre os indivíduos, empresas, instituições e órgãos governamentais estão subordinadas a um conjunto de normas jurídicas, estabelecidas em um contexto social. Em uma economia de mercado, os consumidores adquirem produtos e servi-ços e efetuam os pagamentos correspondentes. Os ofertantes e produto-res vendem os produtos e serviços de acordo com as especificações dos manuais e dos contratos de venda. A existência de propriedade e regras de transações são essenciais para o bom funcionamento dos mercados, e isso é possível graças a um quadro legal já fixado, ou seja, boas leis e um governo forte.

As últimas décadas foram marcadas pela expansão do liberalismo de mercado, tanto do comércio como das finanças internacionais, reduzin-do o papel do Estado na atividade econômica. Consequentemente, cres-ceu em importância seu papel como agente regulador, visando garantir a defesa da concorrência e os direitos do consumidor. Para tanto, torna-se necessário adaptar a legislação comercial, trabalhista e tributária ao novo quadro econômico.

Uma preocupação importante é a da justiça social, no sentido de proteger o consumidor de abusos econômicos. Conforme o Código de Defesa do Consumidor, os direitos do consumidor colocam-se perante os deveres do fornecedor de produtos e serviços.

O art. 4 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n 8.078, de 11/09/1990) argumenta que a política nacional das relações de consumo tem como finalidade atender às necessidades do consumidor, com respeito

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à sua dignidade, saúde e segurança, proteger seus interesses econômicos e melhorar sua qualidade de vida. No mercado do consumo, o consumidor é o lado mais vulnerável, pois ele nem sem-pre tem informações suficientes sobre o produto, como sua qualidade, segurança, desempenho e dura-bilidade. Assim, cabe ao Estado proteger o consumidor da pro-paganda enganosa, dos abusos de preços e da fraude, por meio de legislação adequada.

Existem empresas que têm poder de mercado, o que lhes dá condição de determinar os pre-ços praticados e abusar de seu poder econômico. É o caso dos monopólios, caracterizado quando um produtor aumenta uni-lateralmente os preços (ou reduz a quantidade), ou diminui a qualidade ou a variedade de bens e serviços, com o objetivo de aumentar seus lucros. Essa imperfeição ou falha de mercado pode ser corrigida pelo governo por meio de normas jurídicas. As chamadas leis de defesa da concorrência regulam as estruturas de mercado e a conduta das empresas, de forma a aumentar a eficiência econômica.

Veremos mais sobre os mecanismos de defesa da livre concorrência quando estudarmos as estruturas de mercado.

A regulação e o controle do Estado atingem também o mercado de trabalho e o mercado de capitais. O Estado mantém sob vigilância o mercado de trabalho para garantir uma renda mínima aos trabalhadores e outras vantagens, por serem considerados a parte fraca nas relações de trabalho. Os trabalhadores recebem proteção: contra demissão sem justa causa, décimo terceiro salário, seguro desemprego, fundo de garantia, sa-lário mínimo, aposentadoria por tempo de serviço e por idade etc.

No caso do mercado de capitais, temos a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, que visa assegurar o funcionamento eficiente do mercado de títulos, proteger acio-nistas e investidores contra atos ilegais, fiscalizar e disciplinar o mercado de valores mobiliários, contribuindo para o crescimento econômico.

Conexão:O Código de Defesa do

Consumidor é uma lei abran-gente que trata das relações de

consumo em todas as esferas: civil, administrativa e penal. Para conhecê-lo na íntegra, acesse o site: <www.idec.

org.br> , do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

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C.C0 A evoCução do pensamento econômicoDurante muito tempo, a economia constitui um conjunto de precei-

tos e de soluções adaptadas a problemas particulares. Somente no século XVI observamos o nascimento da primeira escola econômica, o Mercan-tilismo, e a formação de uma economia nacional relativamente integrada, em que o Estado dirigia as ações sociais. A escola mercantilista imprimiu ao pensamento econômico um cunho de arte empírica, de preceitos de ad-ministração pública que deveriam ser usados pelo governo para aumentar a riqueza da nação (PINHO E VASCONCELOS, 2004). Além disso, con-templava princípios de como estimular o comércio exterior e entesourar riquezas. A força e o poder de um país estavam relacionados ao seu esto-que de metais preciosos, o que gerou guerras, exacerbou o nacionalismo e manteve a presença do Estado em assuntos econômicos.

No século XVIII, o surgimento e a consolidação do capitalismo necessitavam de uma doutrina que o legitimasse. A Fisiocracia (liderada pelo médico francês François Quesnay) favorecia o livre-comércio, sus-tentava que a terra era a única fonte de riqueza e que o universo é regido por leis naturais, absolutas, imutáveis e universais, desejadas pela Provi-dência Divina para a felicidade dos homens.

A livre circulação de bens e a liberdade para empreender apareciam como a única maneira de desenvolver a economia. Se havia uma lei na-tural regendo a ordem econômica, os homens deveriam apenas agir livre-mente, pois qualquer intervenção do Estado inibiria essa ordem natural, criando barreiras ao comércio interno e às exportações.

A agricultura era estimulada e exigia-se que as pessoas empenhadas no comércio e nas finanças fossem reduzidas ao menor número possí-vel. Em relação aos demais setores da economia, para a manutenção dos preços baixos e benefício dos consumidores, os fisiocratas propunham o combate aos oligopólios e os fim das restrições às importações.

C.C0.C Teoria cCássicaA economia surgiu como ciência através de Adam Smith, considera-

do o pai da economia política. Sua obra, A Riqueza das Nações, constituiu um marco na história do pensamento econômico.

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Laissez-faire é parte da expressão em língua francesa “lais-

sezfaire, laissezaller, laissezpasser”, que significa literalmente “deixai fazer, deixai

ir, deixai passar”. Significa que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência. Esta filosofia econômica tornou-se dominante

nos Estados Unidos e nos países ricos da Europa, durante o final do século XIX até

o início do século XX.

C.C0.C.C Adam Smith (C723-C790)

A publicação da obra A riqueza das nações, em 1776, de Adam Smith, marca o início da escola clássica. Smith era um renomado profes-sor e sua obra é um tratado abrangente sobre questões econômicas, que passam por leis de mercado e aspectos monetários e vão até a distribuição do rendimento da terra, finalizando com um conjunto de recomendações políticas.

Smith é chamado de pai do liberalismo, pois acreditava que a harmonia e o bem-estar da sociedade resultam do individualismo e do egoísmo inato dos homens. Segundo o autor, os agentes, em busca da maximização de lucro e da satisfação pessoal, tomam decisões que contri-buem para o máximo bem-estar social. Essa harmonização seria feita por uma espécie de “mão invisível”: o livre funcionamento do mercado, com o sistema de preços determinando as quantidades a serem produzidas e vendidas, seria responsável pelo equilíbrio econômico. No preço corres-pondente ao equilíbrio, as quantidades demandadas pelos consumidores correspondem às quantidades ofertadas pelas empresas. Não existe escassez nem ex-cesso de oferta de produtos.

Os argumentos de Smith ba-seavam-se na livre iniciativa, no laissez-faire. Estabelecia-se que a causa da riqueza das nações é a força de trabalho humana (teoria do valor-trabalho) e a divisão do trabalho aparece como fator deci-sivo para aumentar a produção. O princípio promoveu a especialização em tarefas e destreza pessoal, economia de tempo e condições favoráveis para o aperfei-çoamento e o invento de novos equipamentos e técnicas. Maiores escalas de produção geram custos menores, maior produtividade dos fatores e maiores lucros, que estimulam novos investimentos, crescimento econô-mico e empregos.

Para o autor, o Estado não deve intervir nas leis de mercado e na prática econômica, seu papel deve centrar-se na proteção da sociedade, contra even-tuais ataques, e na criação e manutenção das instituições necessárias.

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C.C0.C.2 David Ricardo (C772-C823)

Outro representante da escola clássica é David Ricardo. O autor enfatizava que o crescimento populacional exerce efeito depressivo na economia, pois provoca aumento na demanda por alimentos. Isso aconte-ce em função da pressão do consumo sobre a oferta existente, que eleva os preços dos alimentos e os salários, reduzindo a taxa de lucro da economia. Com isso, os investimentos se reduzem, prejudicando o nível de emprego e o produto total. Com essa argumentação, Ricardo mostrou que a expan-são econômica poderia minar suas próprias bases, pois, ao reduzir a taxa de lucro, surgiria o estado estacionário, no qual não haveria acumulação líquida nem crescimento.

Ricardo também desenvolveu a teoria dos custos comparativos, aplicada no comércio internacional. Sua teoria defende que cada país deve especializar-se nos produtos que têm custo comparativo mais baixo de produção, e importar os produtos para os quais possui custos comparativos mais altos. Dessa forma, o trabalho é distribuído com maior eficiência, aumentando a quantidade total de bens e contribuin-do para o bem-estar geral.

C.C0.C.3 Thomas MaCthus (C766-C834)

Para Malthus, o excesso populacional era a causa de todos os males da sociedade: enquanto a população crescia em progressão ge-ométrica, a produção crescia em progressão aritmética, ou seja, o po-tencial da terra na produção de alimentos não acompanha o potencial de crescimento da população. Em função disso, o autor era favorável à limitação voluntária de nascimentos nas famílias pobres e aceitava que as guerras e epidemias serviriam como uma solução para interromper o crescimento da população (VASCONCELOS E GARCIA, 2008).

C.C0.C.4 John Stuart MiCC (C806-C873)

John Stuart Mill revisou algumas das premissas da tradição clás-sica, agindo como um sintetizador de todo o pensamento. Mill preo-cupa-se com o estado estacionário e com os lucros decrescentes, pois leva os empresários a buscarem alternativas de negócios mais arrisca-dos, na esperança de alcançar lucros superiores. A solução apresentada

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pelo autor seria a participação do Estado. Mill pode ser considerado um dos precursores das políticas de estabilização keynesianas.

C.C0.2 Teoria KeynesianaA principal obra de John Maynard Keynes (1883-1946), A teoria

geral do emprego, dos juros e da moeda, de 1936, mudou a maneira de olhar a economia e o papel do governo na sociedade e permanece até hoje como uma das principais referências na formação de economistas.

A obra de Keynes surgiu num conturbado período de crise econômi-ca mundial, conhecido como a Grande Depressão. A quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, aumentou o número de desempregados nos Estados Unidos em proporções elevadíssimas. A Inglaterra e outros países europeus também enfrentavam o problema do desemprego. Dife-rentemente da teoria econômica vigente, Keynes consegue mostrar que a combinação das políticas econômicas adotadas até então não funcionava adequadamente naquele contexto e sugere alternativas que poderiam tirar o mundo da recessão.

Para Keynes, o nível de produção nacional de uma economia e o volume de emprego são determinados pela demanda efetiva (consumo e investimento). O consumo é a soma dos gastos das pessoas com bens e serviços. E o investimento é a soma dos gastos das empresas para criar ou ampliar a capacidade produtiva, como a compra de máquinas, construção de novas instalações etc. “A demanda efetiva” é, portanto, a soma de to-dos os gastos de consumo e de investimento de uma economia.

O autor argumenta que, em um contexto de recessão, as incertezas e expectativas ruins desestimulam os empresários a investir, e as livres forças do mercado (“mão invisível”) não conseguiriam, por si só, dar fim à crise. Então, ele propôs que o Estado deveria deixar de ter uma participação passiva na economia, que tinha até então, e passasse a atuar ativamente na vida econômica do país, realizando gastos, a fim de estimu-lar o consumo e o investimento, reativando assim a economia. O Estado deveria investir em infraestrutura e estimular as exportações e induzir os bancos a aumentarem o crédito ao setor privado, e as empresas deveriam investir mais. Tal posicionamento significa que o sistema de mercado livre ou laissez-faire estaria antiquado e que o Estado deveria atuar ativamente para estabilizar a economia e o nível de emprego.

Os argumentos de Keynes tiveram grande influência na política econômica dos países capitalistas, e a adoção de suas políticas colaborou

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para os resultados positivos que se seguiram. Suas ideias foram postas em prática nos EUA, por meio do New Deal (1933), que obteve êxito em tirar a economia da recessão, com um gigantesco programa de obras públicas e gastos sociais. Observamos também forte atuação governamental durante a grave crise econômica que atingiu os Estados Unidos e muitos outros países em 2008. A atuação de seus continuadores causou tanto impacto que passou a ser chamada de “Revolução Keynesiana”.

Obama sanciona pacote de estímulo econômico de US$ 787 bi

Presidente dos EUA agradeceu esforço para aprovação do projeto que prevê a criação de milhões de empregos

17 de fevereiro de 2009 | 16h 48

Suzi Katzumata - da Agência Estado

O presidente dos EUA, Barack Obama, sancionou o pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões, ratificando um conjunto de medidas que tem como objetivo criar 3,5 milhões de empregos e ener-gizar a abatida economia americana. A aprovação no Congresso do plano econômico representou a primeira grande vitória de Obama no Congresso menos de um mês depois de assumir o cargo. O estímulo vai colocar a economia sobre uma “base mais firme”, disse Obama antes de assinar a lei em Denver (Colorado). O presidente afirmou que o pacote de estímulo é a “primeira parte” de uma ampla estratégia de recuperação. O pacote foi aprovado pelas duas casas do Congresso na sexta-feira, com quase nenhum apoio da bancada republicana.

Disponível em: <www.estadao.com.br>.

C.C0.3 Outras teoriasA teoria neoclássica teve destaque no início da década de 1870 e

evoluiu até as primeiras décadas do século XX, em que observamos a pre-sença dos neoclássicos liberais e conservadores.

Em decorrência da Grande Depressão dos anos 30, os neoclássicos liberais passaram a aceitar a participação do governo na economia, por entenderem que a concorrência não existe em sua forma pura e que o mer-

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cado totalmente livre gera instabilidade. O governo é chamado a agir por meio de políticas monetárias e fiscais adequadas.

Os neoclássicos liberais acreditam na necessidade da intervenção governamental quando os mercados falham na alocação de recursos, como no caso de poluição ambiental ou da presença de oligopólios, em que os empresários reduzem as quantidades oferecidas e elevam os pre-ços de seus produtos. A “mão invisível” não é suficiente para promover o equilíbrio da economia e o bem-estar da população.

Os neoclássicos conservadores ou monetaristas acreditam na efici-ência do mercado para alocar recursos e distribuir renda e que as falhas de mercado decorrem de lapsos do governo, originadas a partir da aplicação de políticas fiscais e monetárias equivocadas. O governo deve preocupar--se com suas funções nas áreas sócias e na produção de bens públicos e deixar o mercado tomar as decisões econômicas. Para os conservadores, os gastos do governo causam inflação, sem que haja elevação do produto total.

Outro autor de grande destaque, cujas contribuições foram absorvi-das e incorporadas à teoria econômica, é Karl Marx (1818-1883). Em sua obra, O Capital, Marx retoma e reforça a ideia de que o sistema produtivo envolve relações sociais, em que os trabalhadores assalariados são explo-rados pelos empresários capitalistas. Essas relações envolvem a burgue-sia, proprietária dos meios de produção, e o proletariado, classe obrigada a vender sua força de trabalho em virtude da impossibilidade de produzir o necessário para sobreviver.

Em sua crítica ao sistema capitalista, Marx utiliza o conceito de mais-valia, referente à diferença entre o valor das mercadorias que os trabalhadores produzem e o valor da força de trabalho paga a eles pelos empresários. Essa é a chave da exploração, pois há uma diferença entre o salário que o trabalhador recebe e o valor do bem que produz. O valor extra criado, que vai para as mãos do capitalista, é a mais-valia.

Os salários se mantêm em níveis de subsistência, pois a população cresce e a incorporação de máquinas na produção causa desemprego, fazendo com que a concorrência entre os que conseguem uma colocação reduza as taxas salarias até os níveis de subsistência.

O autor era hostil ao capitalismo competitivo e à livre concorrência e afirmava que a luta de classes é a mola propulsora da transformação do capitalismo em socialismo, quando os empresários passariam a ser os pró-

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prios trabalhadores. Marx enfatizou o aspecto político de seu trabalho e teve impacto ímpar na ciência econômica e em outras áreas de conhecimento.

Atividades

01. Fale sobre o problema central que a economia procura resolver.

02. O conceito de custo de oportunidade implica a necessidade de esco-lha. Explique essa afirmação.

03. A tabela a seguir apresenta a produção de algodão e trigo:

OPÇÃO ALGODÃO (kg) TRIGO (kg)A 0 7B 1 6C 2 5D 3 4

Suponha que todos os recursos de produção estejam sendo plena-mente utilizados e faça o que se pede.a) Construa a curva de possibilidades de produção.

b) Qual o custo de oportunidade para se produzir 5 kg de trigo?

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04. O que pode causar deslocamentos na curva de possibilidades de pro-dução?

05. Em quais situações você acredita que a intervenção do Estado na eco-nomia seja necessária?

06. Explique como as diferenças em custos de oportunidades e as vanta-gens comparativas explicam os ganhos de comércio entre os países.

07. Por que o Brasil é um grande exportador de produtos agrícolas e tam-bém de calçados?

08. Quem foi o mais destacado dos economistas clássicos? Quais suas principais ideias?

RefCexão

Este capítulo introdutório nos mostrou alguns conceitos econômicos importantes tais como a escassez que a economia enfrenta e que as socie-dades devem administrar, tendo que decidir o que e quanto, como e para quem produzir. A necessidade de escolha e as respectivas renúncias que fazemos foram ilustradas a partir da Curva ou Fronteira de possibilidades de produção (CPP).

Os fatores de produção tais como o capital, a terra, o trabalho e a matéria prima são os recursos disponíveis que podem ser transformados em bens e serviços finais de acordo com a necessidade da economia.

O diagrama do fluxo circular da renda mostrou que existem dois agentes econômicos interagindo na economia. De um lado temos as fa-

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mílias, detentoras dos fatores de produção e do outro, temos as empresas que utilizam esses recursos para produzirem bens e serviços finais. Para a aquisição dos recursos, as empresas pagam uma remuneração em di-nheiro para as famílias. O papel das empresas é o de fornecer aquilo que as famílias necessitam, ou seja, bens e serviços. Sendo assim, as famílias compram esses produtos e em contrapartida pagam uma remuneração em dinheiro para as empresas.

O capítulo mostra que os sistemas econômicos estão divididos em economia capitalista (mercado), economia central (socialista) e interme-diária a essas duas formas, a economia mista. Essencialmente, a diferença entre a economia de mercado e a economia socialista está pautada na não intervenção do Estado e a propriedade privada na economia capitalista e na presença do Estado e na propriedade pública na economia socialista.Apresentamos ainda as inter-relações da economia com outras ciências e a evolução do pensamento econômico, enumerando alguns de seus princi-pais autores.

Leituras recomendadas

Os alunos que desejarem ler textos complementares a esse assunto inicial devem recorrer ao capítulo 1 do livro Introdução à economia, de Gremaud et al (2007), da editora Atlas. Lá o aluno encontrará nas páginas 7 e 8 o box “Deu na imprensa 1.1” e, na página 9, o box “Deu na imprensa 1.2”. Quem deseja aprofundar seus conhecimentos em custo de oportunidade e vantagens comparativas deve procurar o capítulo 3 (parte 1) do livro Introdução à economia, de Mankiw, N. G. (2001), que trata da interdepen-dência e dos ganhos de comércio.

Referências bibCiográficas

FEIJÓ, R. História do pensamento econômico. São Paulo: Atlas, 2001.

GREMAUD, A. M. et al. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 2007.

MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e ma-croeconomia. Tradução da 2ª edição. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

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MENDES, J. T. G. Economia: fundamentos e aplicações. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

PINDYCK, R. S e RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

PINHO, D. B. e Vasconcelos, M. A. S. Manual de economia, equipe de professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

TROSTER, R. L. e MOCHÓN, F. Introdução à economia. São Paulo: Pearson Education. 2002.

VASCONCELOS, M. A. S. Economia: micro e macro: 3. ed. São Pau-lo: Atlas, 2002.

VASCONCELOS, M. A. S., GARCIA, M.E. Fundamentos de econo-mia. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

WESSELS, W. J. Microeconomia: teorias e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2002.

No próximo capCtuCoPaíses como o Brasil e os EUA têm o consumo como o elemento

de maior participação na formação do PIB, ou seja, é o elemento que atualmente mais contribui para o crescimento econômico. Dessa forma, é imprescindível entender como os indivíduos tomam suas decisões de compra, utilizando a renda disponível e como acontecem as interações entre demandantes e ofertantes no mercado.

O consumidor procura distribuir seu orçamento entre os diversos bens e serviços de forma a alcançar a melhor combinação possível, ou seja, aquela que lhe trará maior nível de satisfação. Essas escolhas são influenciadas por algumas variáveis que, em geral, serão as mesmas que influenciarão sua escolha em outras ocasiões.

No entanto, nas economias de mercado, não é suficiente estudar somente o lado do consumidor, é preciso conhecer também o lado do produtor. Esse lado é denominado oferta. A demanda e a oferta são as for-ças que movem as economias de mercado; é preciso compreender como essas duas forças interagem de forma a alocar adequadamente os recursos

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escassos da economia. A oferta é a quantidade de bens ou serviços que os produtores estão dispostos a produzir e colocar à venda. As decisões dos produtores acerca dessa quantidade dependem de vários determinantes, assim como a demanda.

O próximo capítulo apresenta uma visão sobre a demanda e a oferta, procura analisar quais são seus principais determinantes e como se dá o equilíbrio de mercado.

Cap

CtuCo

2 Fundamentos Básicos

da MicroeconomiaNeste capítulo, serão apresentados im-

portantes instrumentos auxiliares na tomada de decisão, como a análise da demanda, da

oferta e a determinação de preços via equilíbrio de mercado.

Objetivos da sua aprendizagemAplicar a economia às questões relacionadas ao cotidiano,

a fim de que possa fazer uso dos instrumentos da análise eco-nômica de oferta, demanda e preço de equilíbrio na tomada de

decisões no âmbito empresarial.

Você se lembra?Quando ocorreu o último aumento no preço do álcool combustível?

Por que ocorrem oscilações de preço?

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2.C Introdução à microeconomiaPara a maioria das pessoas, a economia não costuma ser a priori um

campo de estudo atraente, convidativo. Alunos dos mais variados cursos reclamam do excesso de tecnicismo1 presente nas discussões econômicas. A árdua tarefa de entender este universo pode se tornar ainda mais difícil diante do volume de informações econômicas que a mídia, diariamente, insiste em trazer à tona, ocupando horas dos mais diversos canais de TV, isso sem mencionar os cadernos inteiros da imprensa escrita dedicados ao assunto.

São vários os instrumentos gerados pela ciência econômica e que podem ser utilizados na tomada de decisões. No entanto, a relevância do tema nos impele á busca pelo seu conhecimento. Porém, antes de ini-ciarmos uma exploração mais detalhada de alguns destes instrumentos, vamos dividir a economia em duas vertentes principais, a microeconomia e a macroeconomia, nas quais podemos encontrar esse vasto conjunto de ferramentas auxiliares do processo decisório.

2.C.C Pressupostos básicosO estudo da economia geralmente é feito sob dois enfoques: o enfo-

que da microeconomia e o enfoque da macroeconomia. Qual a diferença entre um e outro?

Imagine que você está dentro de um avião, em terra. Quando o voo se inicia, é possível, por alguns segundos, fazer-se a distinção entre casas, ruas, rios etc. Porém, à medida que o avião vai se distanciando do solo, você não mais consegue distinguir entre uma casa e outra, entre uma rua e um lago, entre árvores e prédios. Não que esses objetos não estejam ali, porém, de certa forma, fundiram-se, formando uma mistura, uma união de coisas, um agregado.

Podemos pensar a divisão da economia em micro e macro desta forma: a microeconomia nos permite visualizar, distinguir, estudar “partes pequenas” da economia; a macroeconomia, por sua vez, é o estudo deste agregado. Exemplificando: quando analisamos o mercado de calçados da região de Franca (SP), estamos nos preocupando com a análise de uma parte, portanto trata-se de uma análise microeconômica; já quando realizamos um estudo sobre o nível de produto de um país, a análise é macroeconômica. Apesar da divisão para efeitos de análise, percebemos

1 Tecnicismo:abuso,excessodetecnicidadeoudousodetermosespecíficos

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que esses objetos de estudo são integrantes de um mesmo conjunto: o de-sempenho do setor calçadista de Franca vai influenciar o nível de produto do país como um todo.

Podemos, então, caracterizar os fenômenos microeconômicos como aqueles que abordam aspectos de unidades individuais da economia, como o comportamento de consumidores, famílias, empresas, bem como o ambiente no qual esses agentes interagem. Quanto aos fenômenos ma-croeconômicos, estes estão relacionados à explicação dos agregados ou globais, como produção do país, contas do governo, contas externas etc.

2.2 AnáCise de mercadoIniciaremos nossa compreensão dos instrumentos analíticos da

economia pelo estudo da oferta, da demanda e do mercado. Esses ins-trumentos são extremamente importantes quando desejamos entender a teoria da formação de preços. Por exemplo, por que é que, durante o início das aulas, os materiais escolares ficam mais caros? Por que é que, quando ocorrem chuvas em excesso, o preço das hortaliças tende a subir? Por que as viagens ficam mais caras no período de férias escolares?

A maioria das pessoas, quando indagadas sobre como ocorre a for-mação de preços, geralmente, responde que os preços se formam “no mer-cado”. Mas o que é o “mercado”? Quais são os agentes que o compõem? Qual o seu papel na formação dos preços?

Por mercado entendemos todos os agentes que compram ou ven-dem um determinado bem. Analisando o mercado de batatas, por exem-plo, deveríamos considerar todos os produtores de batatas, conhecidos também como ofertantes, além de todos os consumidores de batatas, conhecidos como demandantes, sejam estes a dona de casa que se utiliza deste bem para servir às refeições, sejam o dono de uma grande rede de hotéis, ou, ainda, o ambulante que oferece batatas fritas na saída da escola. Da interação destes agentes obtemos a formação de preços ou o preço de mercado.

Passemos, então, à análise dos integrantes do mercado, iniciando pela demanda.

2.2.C Demanda indivCduaC de mercadoQuando utilizamos o termo demanda, devemos associá-lo à procura,

pois, assim, estaremos analisando o comportamento dos consumidores. A demanda por um bem corresponde à quantidade que um indivíduo está

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disposto a comprar deste bem dado um determinado preço. Fazendo uso da tabela 2.1, que relaciona preço e quantidade demandada, podemos en-tender melhor este conceito.

P (R$) QD

1,00 51,20 41,40 31,60 21,80 1

Tabela 2.1 – Preço e quantidade demandada de cafezinhos

A tabela anterior nos mostra a quantidade que um determinado con-sumidor, João, está disposto a adquirir de cafezinhos a cada preço dado. Por exemplo: quando este bem custa R$ 1,00, João deseja consumir 5 ca-fés durante a semana; quando o preço do cafezinho é igual a R$ 1,20, João deseja consumir apenas 4 cafés; já quando o preço é de R$ 1,40, João de-seja consumir apenas 3 unidades deste bem, e assim por diante.

É bastante intuitivo que, do ponto de vista do consumidor, à medida que o preço do bem aumenta, ele deseja consumir um número menor de unidades deste bem. Dizemos que existe uma relação inversa entre preço e quantidade demandada de um bem; é a chamada “lei da demanda”.

As variáveis que aparecem na tabela anterior podem ser expressas em um gráfico, originando a curva de demanda (figura 4).

2

P (R

$)

1

00 1 2 4 5 6

Q3

1,81,61,41,2

0,80,60,40,2

Figura 4 – Curva de demanda

A curva de demanda corresponde, então, à representação gráfica da tabela já analisada. Há que se fazer, agora, a distinção entre quantidade demandada e demanda: enquanto a quantidade demandada se refere a cada

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combinação específica de preço e quantidade consumida de um bem, a curva de demanda corresponde à união destas combinações. Podemos dizer que a quantidade demandada corresponde a cada ponto da curva de deman-da, enquanto que a demanda é própria curva (ou conjunto de pontos).

Outra observação relevante refere-se à distinção dos movimentos ao longo da curva de demanda, quando dizemos que há variação na quanti-dade demandada, e aos deslocamentos da própria curva, quando dizemos que há variação na demanda. Para melhor entendermos essa diferencia-ção, vamos, inicialmente, compreender a chamada função de demanda, que nada mais é que o mapeamento ou a identificação de todas as variá-veis que afetam o consumo de um bem. Por exemplo, o cafezinho pode ter seu consumo afetado por diversos fatores:

– o preço do cafezinho, já mencionado; – a renda dos consumidores: quando a renda aumenta, é possí-vel que as pessoas desejem tomar mais café; – o preço dos bens substitutos: supondo que o refrigerante seja o substituto do cafezinho, quando há queda no preço daquele bem (refrigerante), é provável que as pessoas passem a tomar menos café e mais refrigerante; – o preço dos bens complementares: supondo que café e pão de queijo sejam consumidos conjuntamente, uma queda no preço do pão de queijo tende a elevar o consumo deste bem e, consequentemente, do bem complementar; – estação do ano: é provável que as pessoas tomem mais café quando o clima está frio, por exemplo. – preferências: estas podem ser modificadas de acordo com di-

versos fatores, como as propagandas, por exemplo.Outras variáveis poderiam afetar o consu-

mo de um bem e, portanto, compor a função de demanda: a faixa etária da população, o marke-ting, a cultura de uma determinada região etc.

A função demanda pode ser sistematizada da seguinte forma:

Qdx = f (Px, R, Ps, Pc etc.)

As preferências dos indivíduos influenciam a demanda por um bem

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Sendo: Qd

x = quantidade demandada do bem xf = função ou dependePx = preço do bem xR = rendaPs = preço dos bens substitutosPc = preço dos bens complementares

Apresentada a função de demanda, agora fica fácil fazer a distinção entre variação na quantidade demandada e variação na demanda. Quando ocorre alguma alteração no preço do próprio bem, deslocamo-nos sobre a curva de demanda; então, dizemos que há variação na quantidade deman-dada2 . É como se estivéssemos “saltando” de um ponto para outro sobre a própria curva, como se estivéssemos “nos locomovendo” sobre a própria curva (figura 5).

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00 1 2 4 5 6

Q3

1,81,61,41,2

0,80,60,40,2

Figura 5 – Variação na quantidade demandada

De outro modo, se o preço do próprio bem não sofreu alteração, mas a renda, por exemplo, aumentou, então não estaremos nos deslocando so-bre a curva, e sim estaremos deslocando a curva para a direita, pois esta-remos consumindo mais cafezinhos (figura 6) em relação ao preço inicial vigente. A esse movimento, damos o nome de variação na demanda. De-vemos lembrar que a mudança em qualquer outra variável que compõe a

2 Neste caso, estamos assumindo uma hipótese bastante comum em economia, a hipótese de coeteris paribus quesignifica“tudoomaisconstante”,ouseja,estamosalterandoapenasumavariável,nocaso,opreçodoprópriobem,paraverificaroimpactodestamudançasobreoconsumo.Asdemaisvariáveis:renda,preçodosbenssubstitutos,complementaresetc,nãosealteram.Issoéfeitoporquecasoalterássemostodasasvariáveisaomesmotempo,seriadifícilidentificarqualdelasestáimpactandosobreoconsumo.

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função de demanda, exceto o preço do próprio bem, causa o deslocamento da curva de demanda.

2

P (R

$)

1D inicial D final

00 1 2 4 5 6 7 8 9

Q3

1,8

1,6

1,4

1,2

0,8

0,6

0,40,2

Figura 6 – Variação na demanda

Os deslocamentos da curva de demanda podem ser para a direita ou para a esquerda. Quando a curva de demanda se desloca para a direita, como ocorreu na figura anterior, significa que houve um aumento na dis-posição dos consumidores em adquirir um determinado bem. Caso o deslocamen-to da curva de demanda seja para a esquerda, significa que houve redução na disposição do consu-midor em adquirir um determi-nado bem.

Para finalizarmos a dis-cussão sobre demanda, deve-mos ainda entender o que é a demanda de mercado. Os dados mencionados anteriormente se re-feriam ao desejo de consumo de um único indivíduo, João. Porém, sabemos que existem vários outros consumidores que compõem o mercado de cafezi-nho. A tabela seguinte mostra estes consumidores.

A variação na quantidade demandada é

diferente de variação na demanda: a variação na quantidade demandada

corresponde aos deslocamentos sobre a curva de demanda e é causada por mudan-ças no preço do próprio bem. A variação na demanda corresponde aos deslocamentos da curva de demanda e é causada por mu-danças em outras variáveis (renda, preço

dos bens substitutos, preço dos bens complementares etc.) que não

o preço do próprio bem.

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Quantidade demandada de cafezinhosPreço (R$) João Ana José Mercado

1,00 5 7 9 211,20 4 6 8 181,40 3 5 7 151,60 2 4 6 121,80 1 3 5 9

Tabela 2.2 – Demanda de mercado

Para se chegar à demanda de mercado, devemos apenas somar as demandas individuais, já que o mercado é composto por todos os compra-dores de cafezinhos. Assim, ao preço de R$ 1,00, a quantidade demandada pelo mercado é igual a 21 unidades.

2.2.2 Oferta indivCduaC de mercadoEntendida a demanda, a compreensão da oferta fica muito mais

fácil. Devemos, inicialmente, alertar que, enquanto o termo demanda se refere ao consumidor, o termo oferta deve ser associado ao produtor; dessa forma, estaremos completando os integrantes do mercado. Vamos iniciar tentando responder à seguinte questão: se você fosse o produtor de um determinado bem, em qual dos casos ficaria mais motivado a produzir: quando o preço do bem que você produz estiver mais barato ou quando estiver mais caro?

A resposta para essa pergunta é bastante intuitiva, e a maioria das pessoas vai desejar produzir mais bens quando o preço deste bem estiver mais caro, afinal isso sinaliza lucros maiores. Da mesma forma que, quan-do o preço de um bem cai, é comum encontrarmos produtores desistindo de produzi-lo, migrando para outras atividades.

Esta é, basicamente, a ideia por trás da oferta, a relação entre preço e quantidade produzida de um bem ou serviço do ponto de vista de quem disponibiliza (ou oferta) este bem: quando o preço cai, menor é a quan-tidade que os produtores desejam ofertar; quando o preço deste bem au-menta, maior é a quantidade que os produtores desejam ofertar deste bem. Neste caso, dizemos que existe uma relação direta entre preço e quantida-de ofertada, conforme podemos verificar analisando a tabela.

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Preço cafezinho (R$) QO (Quantidade ofertada)1,00 11,20 21,40 31,60 41,80 5

Tabela 2.3 – Preço e quantidade ofertada de cafezinho

A oferta, assim como a demanda, também pode ser graficamente representada (figura 6).

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$)

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Q3

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1,4

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0,6

0,4

0,2

Figura 6 – Curva de oferta

Verificamos que sempre que o preço do bem se altera, há um des-locamento sobre a curva de oferta: por exemplo, se o cafezinho custa R$ 1,00, o produtor está disposto a ofertar 1 unidade; caso o preço aumente para R$ R$ 1,20, o produtor vai ficar disposto a produzir 2 unidades, e assim por diante. Neste caso, quando o preço do bem muda, ocorrem des-locamentos sobre a curva, então dizemos que há uma variação na quanti-dade ofertada (figura 7).

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Q3

1,8

1,6

1,4

1,2

0,8

0,6

0,4

0,2

Figura 7 – Variação na quantidade ofertada

Mas quais são os fatores que fazem deslocar a curva de oferta?Para melhor respondermos a essa questão, devemos, também, fazer

a identificação de todas as variáveis que afetam a produção de café, ou seja, vamos montar a função de oferta. Dentre essas variáveis, podemos citar:

– preço do café, já mencionado; – preços dos bens substitutos na produção: na mesma terra, podemos plantar café ou soja; estes são, portanto, bens subs-titutos na produção. Caso este último tenha um preço mais vantajoso, eu posso optar por plantar soja ao invés de café, diminuindo a oferta de café; – preço dos insumos: caso o preço dos defensivos aumente, isso encarece a produção de café; portanto, haverá uma me-nor oferta deste bem; – tecnologia: sempre que há inovação tecnológica em um determinado segmento, ocorre aumento na produção deste bem; – condições de crédito para a produção: a disponibilidade de crédito afeta a disposição do produtor em ofertar mais ou menos deste bem; quando as condições estão melhores, há maior oferta do bem; – condições climáticas: podemos ter uma produção menor des-te bem em função de condições climáticas adversas.

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A função de oferta poderia ser sistematizada da seguinte forma:Qo

x = f (Px, Ps, Pi, T, Cr, Cl etc.)

Sendo:Qo

x = quantidade ofertada do bem xPx = preço do bem xPs = preço dos bens substitutos na produçãoPi = preço dos insumosT = tecnologiaCr = condições de créditoCl = condições climáticas

Após identificadas as variáveis que podem afetar a produção deste bem, devemos tentar responder à seguinte pergunta: é possível que a ofer-ta de café aumente mesmo que o seu preço se mantenha constante? Sim, isto é possível. Por exemplo, se ocorre um aumento no crédito agrícola destinado à produção deste bem, sua oferta sofrerá aumento. Neste caso, ocorre o deslocamento da curva de oferta para a direita; haverá, portanto, uma variação na oferta (figura 8).

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$)

1

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O inicial O final

2 4 5 6 7 8Q

3

1,8

1,6

1,4

1,2

0,8

0,6

0,4

0,2

Figura 8 – Variação na oferta

A variação na oferta ocorre sempre que uma das variáveis da função de oferta se modificar, exceto o preço do próprio bem. E, assim como a demanda, a curva de oferta pode se deslocar para a direita e para a esquer-da. Quando ocorre o deslocamento para a direita, significa que há um au-mento na disposição do produtor em ofertar o bem; quando ela se desloca para a esquerda, significa que há uma redução no desejo do produtor em ofertar este bem.

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2.2.3 EquiCCbrio de mercadoApós o conhecimento das curvas de oferta e demanda, é possível,

agora, entender como se dá a formação de preços para a grande maioria dos bens. Vamos imaginar algumas situações prováveis, expressas na ta-bela seguinte:

Preço cafezinho (R$) QD (demandada) QO (Quantidade ofertada)

1,00 5 11,20 4 21,40 3 31,60 2 41,80 1 5

Tabela 2.4 – Preço, quantidade demandada e ofertada de cafezinho

Se o preço do cafezinho é R$ 1,40, verifica-se que os consumidores estão dispostos a consumir 3 unidades, enquanto que os produtores estão dispostos a produzir 3 unidades. Neste caso, não há excesso nem falta do bem; dizemos que preço está em equilíbrio, não havendo, portanto, pressão para que ele se altere, pois a oferta se iguala à de-manda. Graficamente, o equilíbrio de mercado ocorre onde a curva de demanda intercepta (“corta”) a curva de oferta (figura 9).

A variação na quantidade ofertada é

diferente da variação na oferta: a variação na quantidade ofertada corres-

ponde a deslocamentos sobre a curva de oferta e é causada por mudanças no preço do próprio bem. A variação na oferta corres-

ponde a deslocamentos da curva de oferta e é causada por mudanças em outras variáveis

(tecnologia, preço dos bens substitutos na produção, preço dos insumos etc.)

que não o preço do próprio bem.

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Equilíbrio: oferta e demanda

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1,6

1,4

1,2

0,8

0,6

0,4

0,2

Figura 9 – Equilíbrio de mercado

É possível verificar que, para qualquer outro preço que não R$ 1,40, ocorrerão desequilíbrios. Por exemplo, se o cafezinho estiver custando R$ 1,00, os consumidores estarão dispostos a consumir 5 unidades; porém, os produtores estarão dispostos a produzir apenas 1 unidade, ocorrendo, então, escassez de café. Por outro lado, se o café estiver custando R$ 1,60, os consumidores estarão dispostos a consumir 2 unidades, enquanto que os produtores estarão dispostos a oferecer 4 unidades. Tem-se, neste caso, um excesso de oferta do produto.

Então, no caso em que há excesso de demanda ou excesso de oferta, o fato é que os preços tendem a se ajustar para manter o equilíbrio. No pri-meiro caso (excesso de demanda), tende a haver um aumento no preço do bem, assim, as pessoas passam a consumir menos enquanto que os produ-tores passam a produzir mais, eliminando a escassez do produto. No caso onde há excesso de oferta, há uma tendência à queda no preço do bem, o que faz com que os consumidores passem a consumir mais e os produtores, a produzir menos.

Agora que já sabemos como se alcança o preço de equilíbrio, podemos imaginar várias situações da vida real quando ocor-rem alterações no preço de equilíbrio. No 1º semestre do ano de 2008, a população brasileira viu o poder de compra da sua renda sofrer grande redução em decor-rência de uma alta expressiva no preço dos alimentos. O feijão, por exemplo, cujo preço do

Conexão: O site http://www.cepea.

esalq.usp.br possui uma análise de preços constantemente atuali-zada de vários produtos agrícolas.

Consiste em um ótimo instru-mento aplicado das teorias de

oferta e demanda.

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quilo era inferior a R$ 5,00, passou a custar cerca de R$ 8,00. Como é que ocorrem esses aumentos ou reduções de preços? Ou perguntando de outra forma, quais são os fatores que causam alterações no preço de equilíbrio como ocorreu no exemplo do feijão?

Vamos voltar ao mercado de cafezinho para responder a essa ques-tão. Imagine que o preço inicial de equilíbrio era de R$ 1,40. Suponha que as condições climáticas em um determinado período tenham favorecido as plantações de café; ocorreu, então, um aumento na oferta deste bem, o que pode ser graficamente representado por um deslocamento desta curva para a direita. Verifica-se que com uma oferta maior, mantendo-se o mesmo nível de demanda, tem-se uma redução no preço de equilíbrio, que passa a ser R$ 1,20 (figura 10).

2

P (R

$)

1

00 1 2

Q

O inicialO final

D

3 4 5 6 7 8

1,81,61,41,2

0,80,60,40,2

Figura 10 – Alteração no preço de equilíbrio

Outra situação de variação no preço de equilíbrio do cafezinho po-deria ocorrer em virtude de um aumento na demanda, como, por exemplo, devido a propagandas divulgando os benefícios do consumo do café. Neste caso, a curva de demanda se deslocaria para a direita, o que elevaria o preço de equilíbrio. Podemos, então, perceber que as alterações no pre-ço de equilíbrio de um bem podem ocorrer tanto por variações na oferta quanto por variações na demanda.

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O preço de mercado é formado da interação entre vendedores e compradores.

Atividades

01. No que consiste a ciência econômica? Comente sobre a divisão da economia em microeconomia e macroeconomia.

02. Qual a diferença entre variação na quantidade demandada e variação na demanda?

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03. Qual a diferença entre variação na quantidade ofertada e variação na oferta?

04. Suponha o mercado de viagens aéreas. Como este mercado é afetado pelo aumento no preço do querosene de aviação, principal insumo deste segmento?

05. Suponha o mercado de carne vermelha. Como o equilíbrio deste mer-cado é afetado por propagandas a favor de uma alimentação mais saudável, que inclua mais peixes e carnes brancas no seu cardápio? Nesse contexto, como a mídia pode contribuir para essas mudanças econômicas?

RefCexãoO surgimento e a evolução da ciência econômica estão associados à

necessidade que as sociedades têm de realizar escolhas. Estas , por sua vez, estão relacionadas à escassez de recursos com a qual os agentes se deparam, podendo ser eles consumidores individuais, famílias, empresas ou países.

Um empresário, por exemplo, tem sempre que optar pela produção de um ou alguns bens dentro de inúmeras possibilidades, visando alcançar o maior lucro para a sua empresa. Geralmente, os preços de mercado são bons sinalizadores de lucratividade, de forma que, quanto maior o preço, maior tende a ser o lucro na produção de um determinado bem ou serviço.

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Os preços também são bons sinalizadores para os consumidores de uma determinada mercadoria ou serviço: é natural que, quando um bem está mais caro, façamos a sua substituição por outro que esteja mais barato ou, simplesmente, deixamos de comprá-lo, caso este não seja tão essencial. Desta forma, o consumidor consegue garantir um maior pode poder de compra, maximizando a sua satisfação.

Desta forma, percebemos que o mecanismo de formação de preços é instrumento essencial para o bom funcionamento de uma economia de mercado, servindo como sinalizador para produtores e consumidores nas suas decisões de produção e consumo, garantindo a maximização das ne-cessidades de cada agente.

Leituras recomendadas

PYNDICK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5. ed. Tradução Eleutério Prado. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

CABRAL, Arnoldo Souza, YONEYAMA, Takashi. Microeconmia: uma visão para empreendedores. São Paulo: Saraiva, 2008.

Referências

GREMAUD, Amaury Patrick et al. Organizadores Diva Benevides Pi-nho, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. Manual de economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução Allan Vidi-gal Hastings. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

MENDES, Judas Tadeu Grassi. Economia: fundamentos e aplicações. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

SOUZA, Nali Jesus de. Curso de Economia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, GAR-CIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

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No próximo capCtuCoNeste capítulo, procuramos apresentar o funcionamento básico

do mercado para que o aluno possa entender o mecanismo de formação de preços. Neste contexto, a análise da demanda e da oferta, que repre-sentam, respectivamente, consumidores e produtores, é de fundamental importância. No entanto, a teoria de formação de preços somente ficará completa quando os alunos entenderam a organização do mercado: quan-tos são os consumidores de um bem ou serviço, quantos são os ofertantes, como esses agentes interagem e se eles têm capacidade para determinar preço. Essas e outras questões serão abordadas na próxima unidade, quan-do falaremos de estruturas de mercado.

Cap

CtuCo

3 Análise das Estruturas de

MercadoNeste capítulo, serão apresentadas as di-

ferentes formas de organização do mercado e como essas diferentes estruturas interferem na de-

terminação do preço de um bem. Também será abor-dado o conceito de elasticidade-preço da demanda, com

ênfase na análise da variação de preços, impacto sobre o consumo deste bem e sobre a receita do empresário.

Objetivos da sua aprendizagem• Caracterizar as diferentes estruturas de mercado e analisar a

determinação de preço e a produção em diferentes condições de mercado.

• Apresentar o conceito de elasticidade-preço da demanda

Você se lembra?Você já ouviu falar em cartel? Qual é a relação que existe entre cartel e primeiro e segundo choques do petróleo? Como eles afetaram a econo-mia mundial?

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3.C AnáCise da estrutura de mercadoAbaixo, estão listadas as principais estruturas de mercado, que po-

dem ser classificadas por ordem decrescente de competição. Nossa análise terá início pela concorrência perfeita.

Concorrência perfeita Concorrência monopolística Oligopólio Monopólio

Mais competitiva Mais concentrada

3.C.C Concorrência perfeitaPor concorrência perfeita, devemos entender um ambiente no qual

são observadas as seguintes características: – mercado atomizado: neste tipo de estrutura de mercado, cada participante representa uma parcela muito pequena do mercado, um “átomo”. Isso ocorre porque existe um número muito grande de participantes, tanto de consumidores quanto de produtores, de forma que, individualmente, cada agente não tem poder de determinar preços. Cada participante é um “tomador de preço”, ou seja, aceita o preço formado no mercado como dado (figura 11) e, com base neste, toma sua decisão de produção e consumo.

OP

D

Preço de mercado

Q

Figura 11 – Determinação de preço em concorrência perfeita

• produtos idênticos ou homogêneos: na concorrência perfeita, o produto oferecido por uma empresa A é o mesmo produto oferecido pela empresa B; são considerados bens substitutos perfeitos. Na prática, esta condição é bastante difícil de ser sa-tisfeita, sendo este um dos fatores que nos fazem acreditar que

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Lucro zero na concorrência perfeita: no lon-

go prazo, as empresas que atuam em concorrência perfeita alcançam lucro zero, o que significa dizer que elas obtêm

um “lucro normal”, igual àquele apresentado por outras empresas que também operam

em concorrência perfeita. No caso dos lucros extraordinários, dizemos que são os lucros

acima do normal.

a concorrência perfeita é um caso mais teórico que prático. No entanto, ainda que seja difícil encontrarmos produtos idênticos, é possível pensarmos em alguns bens que possuem bastante similaridade entre si, como é o caso de produtos agrícolas, hor-tifrutícolas, alguns minérios etc.;

• inexistência de barreiras: neste tipo de estrutura de mercado, as empresas possuem total liberdade para entrar ou sair de um determinado segmento. Essa característica permite que as em-presas migrem para os setores que oferecem maiores lucros.

• transparência de mercado: neste caso, o pressuposto1 funda-mental é o de que os participantes do mercado possuem todas as informações de que necessitam referentes a preços, lucro, processo de produção etc.

A existência das duas últimas condições citadas (inexistência de barreiras e transparência de mercado) nos permite afirmar que, no lon-go prazo, as empresas que operam neste tipo de estrutura de mercado auferem um lucro econômico igual a zero. Isso não quer dizer que os produtores deste mercado não recebem lucro em suas atividades, mas, sim, que possuem lucros normais, ou seja, a remuneração do capital inves-tido no segmento é igual ao que receberia se investisse em outro segmento que também opera em concorrência perfeita. Dizer que o “lucro é normal” é dizer que não se trata de um lucro extraordinário. Mas por que isso ocorre?

Vamos imaginar que um segmento que opera em concorrência perfeita consiga obter lucros extras por algum pe-ríodo. Como o mercado é transparente, empresas de outros segmentos têm condições de detectar o setor que está oferecendo lucros maiores e, então, migram para este setor, visto que não há barreiras à entrada de novas fir-mas. Com a migração destas empresas, o setor que, inicialmente, oferecia lucros maiores passa a ter uma oferta maior do seu produto, o que faz com

1 Pressuposto: algo que se supõe antecipadamente.

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que preço do bem ou serviço ofertado sofra redução, assim como o lucro do segmento como um todo. Neste momento, cessa a migração de empre-sas para este setor.

3.C.2 MonopóCioQuando falamos de concorrência perfeita, estamos abordando um

tipo de estrutura de mercado situada no extremo da concorrência. Passan-do para o outro extremo, encontraremos o chamado monopólio, um tipo de estrutura de mercado onde não existe concorrência. Ainda que pareça um caso pouco provável, os monopólios não são tão incomuns na práti-ca: na cidade onde vivemos, por exemplo, não é possível escolher quem será o fornecedor de água ou energia elétrica para a nossa residência; isso ocorre porque há apenas um único produtor de cada um destes bens ou serviços. É um exemplo típico de monopólio. Outro exemplo de monopó-lio é o caso da Petrobras, que possui exclusividade na exploração e extra-ção de petróleo no Brasil.

A Petrobras é um exemplo de monopólio na exploração e extração de petróleo na economia brasileira.

As características básicas do monopólio são: – existência de um único ofertante; – não há produtos substitutos; – existência de barreiras à entrada de outras empresas no seg-mento.

Como o monopolista é o único produtor de um determinado bem ou serviço, este possui grande poder de determinação de preço, o que não significa, porém, que possa, sempre, cobrar um preço muito elevado. Isso ocorre por dois motivos:

– o primeiro está relacionado à sensibilidade (elasticidade) do consumo às mudanças no preço do bem. Por exemplo, quan-do o preço do álcool combustível aumenta, o seu consumo deve sofrer redução (as pessoas procuram usar menos o carro para lazer, abastecem com gasolina, no caso de carros flex etc). Para o mesmo aumento de 10%, para o filé mignon, po-

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rém, é provável que a redução no consumo seja maior, pois é um bem menos essencial que o álcool combustível. Então, dizemos que a demanda do álcool combustível é menos sen-sível (mais inelástica) que a do filé mignon (mais elástica). A margem de determinação de preços para o monopolista está diretamente relacionada à elasticidade-preço da demanda dos produtos: quanto mais elástica for a demanda, menor será margem de manobra para controlar os preços. – os monopólios podem estar sob controle de preços do gover-no: isso ocorre para evitar práticas de preço abusivas.

Elasticidade-preço da demanda: corresponde à variação percen-tual na quantidade demandada de um bem em função de uma variação percentual no preço deste bem. Um bem terá demanda elástica quando a redução no consumo for maior que o aumento no seu preço, em per-centual (por exemplo, uma queda de 8% no consumo para um aumento de 5% no preço); a demanda por um bem será inelástica quando a redu-ção no consumo for menor que a variação no preço deste bem, em per-centual (por exemplo, uma queda de 3% no consumo para um aumento de 5% no preço); e, finalmente, um bem terá demanda com elasticidade unitária quando a queda no seu consumo for igual ao aumento no pre-ço, em percentual (por exemplo, uma queda de 5% no consumo para um aumento de 5% no preço).

Quanto às barreiras existentes à entrada de outras empresas, estas podem ser:

– naturais: ocorrem quando o investimento necessário é ele-vado; sendo assim, o próprio custo do investimento já serve como um obstáculo à entrada de novas firmas no mercado. Imagine, por exemplo, a elevada necessidade de capital para a construção de uma hidrelétrica. Nos monopólios naturais, a existência de duas ou mais empresas fabricantes de um bem poderiam tornar inviável a sua produção; – patentes: quando um produto ou processo é patenteado; en-quanto vigorar a patente, somente a empresa que a registrou pode produzir aquele bem. É muito comum na indústria far-macêutica;

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– controle de matérias-primas: quando uma empresa possui o controle de uma determinada matéria-prima, sendo, então, a fornecedora exclusiva deste material. – regulação estatal: o estado pode decidir ser o único ofertante em setores considerados estratégicos como energia, petróleo etc. Isso, de certa forma, garante certa independência ao país, tanto economicamente quanto em casos de guerra, o que jus-tificaria a existência do monopólio.

3.C.3 Concorrência monopoCCsticaSe a concorrência perfeita é um tipo de estrutura de mercado pouco

encontrada na prática, a concorrência monopolística, por sua vez, possui características que a tornam bastante comum. Entre essas características, as principais são:

– produto diferenciado: neste tipo de estrutura de mercado, en-contramos produtos que são altamente substituíveis, não sen-do, portanto, bens idênticos ou substitutos perfeitos, como é o caso da concorrência perfeita. É importante ressaltar que, quando falamos em diferenciação, podemos falar tanto de diferenciação do produto (diferentes ingredientes, potência etc.) como também de diferentes serviços prestados ao ofere-cer o produto (entrega em domicílio, fornecimento de crédito para a aquisição do produto etc.); – mercado com grande número de participantes: aqui também existe um número grande de compradores e vendedores de um determinado bem. Neste caso, apesar da existência da grande concorrência entre vendedores, existe algum grau de determinação de preços por se tratar de produtos diferen-tes. É importante ressaltar que a capacidade da empresa em diferenciar o seu produto fará com que ela tenha um maior controle de preço. Caso um produtor deseje elevar o preço do bem que vende, ele pode perder uma parte das suas vendas, porém não todas. – grande concorrência extrapreço: como os produtos ofertados são semelhantes, a busca pelo consumidor pode se dar via fatores, que não o preço como marketing, prestação de servi-ços de assistência técnica etc.;

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– inexistência de barreiras à entrada de novas firmas partici-pantes: é possível que firmas entrem e saiam de um determi-nado setor de acordo com o lucro auferido por este. É bom lembrar que a existência desta hipótese garante, no longo prazo, um lucro econômico igual a zero.

Podemos dizer que na concorrência monopolística, é como se cada produtor fosse o monopolista de sua marca, porém concorrendo com pro-dutos de outras marcas, daí o nome concorrência monopolística.

3.C.4 OCigopóCiosOs oligopólios, assim como os casos de concorrência monopolís-

tica, constituem exemplos comuns de estruturas de mercado e, também, situam-se entre os extremos de total e nenhuma concorrência. Podem ser caracterizados da seguinte forma:

– pequeno número de empresa em um determinado setor ou um grande número de empresas; porém, poucas dominam o mercado; – produtos idênticos ou diferenciados: existem casos de oli-gopólios em que os bens são idênticos, assim como algumas empresas fornecedoras de matérias-primas minerais; porém, existem também casos de oligopólios em que os produtos são diferenciados, como é o caso do setor automobilístico no Brasil; – existência de barreiras à entrada de novas firmas: esta hipó-tese permite que as empresas oligopolistas alcancem, assim como no oligopólio, lucros extraordinários.

No Brasil, existe uma predominância deste tipo de estrutura de mercado: bebidas, indústria automobilística, química, farmacêutica, trans-porte aéreo, entre outros, são bons exemplos de oligopólios. No caso de transporte aéreo, as rotas nacionais são, em sua grande maioria, realizadas por duas empresas do segmento, cuja participação conjunta no mercado chega a superar 80%.

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O mercado de automóveis novos no Brasil é oligopolizado.

É importante ressaltar que nos oligopólios existe uma grande in-terdependência entre as empresas que constituem um determinado setor no que diz respeito à política de preços. Isso ocorre porque, se todos os vendedores são “importantes” ou tem uma participação expressiva no mercado, a decisão de um vendedor vai influenciar a decisão do outro. Neste caso, as empresas podem declarar uma “guerra de preços”, compe-tindo ente si, ou, ainda, promover uma união no sentido de combinação de preços, os chamados cartéis2.

A tabela seguinte resume as principais características das estruturas de mercado citadas.

Concorrência perfeita

Concorrência monopolística Oligopólio Monopólio

Número de ofertantes muitos muitos poucos um

Tipo de produto idêntico diferenciado idêntico/

diferenciadonão existe/ substituto

Existência de barreiras não não sim sim

Lucro normal normal extraordinário extraordinário

Tabela 3.1 – Características das estruturas de mercado

2 União de firmas oligopolistas com o objetivo de firmar um acordo comercial para fixação de preços ou divisão de mercado.

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3.C.5 Outras estruturas de mercadoAs estruturas de mercado detalhadas anteriormente têm o seu en-

foque na análise das firmas que representam os ofertantes. No entanto, podemos também pensar a análise das estruturas de mercado pela ótica de quem compra um bem ou serviço. Neste caso, as principais estruturas são:

– monopsônio: ocorre quando existe um único comprador de um determinado bem. É um tipo de estrutura de mercado mais observada no segmento de alimentos. Existem casos em que uma indústria processadora (de leite, tomate etc.) se fixa em uma determinada região e acaba se tornando a única demandan-te da matéria-ofertada. – oligopsônio: ocorre quan-do existem poucos com-pradores para um deter-minado bem. É também uma estrutura de mercado mais comumente observa-da no agronegócio brasilei-ro: por exemplo, as usinas de açúcar e álcool, que processam a cana-de-açúcar de uma determinada região, ou, ainda, a in-dústria de chocolate e cigarros.

Existe ainda o chamado monopólio bilateral, que ocorre quando se dá o encontro de um único vendedor (monopólio) e um único comprador (monopsônio).

3.C.6 O CadeNo Brasil, O Cade (Conselho Adminis-

trativo de Defesa Econômica), criado nos anos 1960, tem como função prevenir, re-preender e educar, buscando evitar abusos econômicos decorrentes da concentração de mercado. Sua atuação se inicia após o recebimento de processos da Secretaria de Acompanhamento Econômico ou Se-cretaria de Direito Econômico, e, então, o Cade deve julgar as matérias.

Estruturas de mercado – Unidade 2

Conexão:

O portal do Ministério da Jus-tiça (http://portal.mj.gov.br/data/Pa-

ges/MJA21B014BPTBRIE.htm) traz um conjunto de informações sobre defesa da

concorrência. Seu acesso permite entender o que são condutas anticompetivivas, além de permitir o acesso a artigos que trazem

informações sobre a formação e a análise de diversos cartéis recen-

tes na economia brasileira.

Conexão:

No Brasil, O Cade é um dos órgãos responsáveis pela defesa

da concorrência. No seu site (cade.gov.br), existe um local para a realização de denúncias de comportamento que vão

contra a concorrência.

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No seu papel de prevenção à concentração de mercado, o Cade analisa as operações de fusão, a incorporação e as associações entre os agentes econômicos, devendo analisar o impacto desses negócios sobre a livre-concorrência. Um exemplo recente da atuação do Cade é a análise da união entre as Casas Bahia e o Ponto Frio que, até o momento, ainda não está concluída. Outro exemplo da atuação do Cade foi a anulação da compra da fábrica de chocolates Garoto pela Nestlé.

Além de analisar processos de fusão e aquisição, o Cade deve, tam-bém, repreender comportamentos que sejam contra a concorrência, como formação de cartéis, vendas casadas, preços predatórios, acordos de ex-clusividade, dentre outros.

3.2 ECasticidade

3.2.C ECasticidade-preço da demandaO conceito de elasticidade é bastante utilizado na ciência econômica

e, definido de uma maneira geral, mensura a sensibilidade de uma variável perante a mudança em outra variável, sempre em termos percentuais. Por exemplo, suponha que você seja um administrador e, muito atento aos noticiários de economia, consegue prever que, no próximo ano, a renda na região onde sua empresa vende os seus produtos sofrerá um aumento de 10%. Como este aumento na renda vai influenciar no consumo do bem vendido por este empresário? Haverá um aumento? Se sim, de quanto será este aumento? É possível, ainda, que um aumento na renda reduza o consumo de algum bem? Um outro exemplo pode ajudá-lo a compreender a importância do conceito de elasticidade: suponha que você produza um biscoito da marca “X” e tem um concorrente, o biscoito da marca “Y”. Caso a empresa concorrente reduza o preço do biscoito “Y” em 15%, qual será o impacto no consumo do biscoito “X”? Essas e outras questões po-dem ser abordadas a partir do conceito de elasticidade.

Embora existam vários conceitos de elasticidade3 , nesta unidade será abordado o conceito de elasticidade-preço da demanda (Epd), defi-nido como sendo a variação percentual na quantidade demandada de um bem em função da variação, também em percentual, no seu preço.

3 O1ºexemplocitadoacimaéconhecidocomoelasticidade-rendadademanda,quemedeavariaçãopercentualcomconsumodeumbememfunçãodavariação,tambémpercentual,narendadoconsumidor.O2ºexemploé conhecido como elasticidade-preço cruzada da demanda, a qual mede a variação (%) na quantidadedemandadadeumbememfunçãodeumavariação(%)nopreçodeoutrobem,quepodesersubstitutooucomplementar.

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Epd =Variação na quantidade demandada %

Variação no preço do bem %( )

( ))

A equação de elasticidade-preço da demanda (Epd) pode ser expres-sa da seguinte forma:

epdq q qp p p

− −

1 0 01 0 0

//

Sendo q1 = quantidade finalq0 = quantidade inicialp1 = preço finalp0 = preço inicial

Rearranjando:

epd =

qq0

pp0

E, finalmente4 :

epd = p0q0

×∆ q∆ p

Um exemplo torna mais fácil a compreensão do cálculo da elas-ticidade-preço da demanda: suponha que um bem custe, inicialmente, $ 10,00 e a quantidade demandada deste bem seja de 100 unidades. Ao preço de $ 12,00, a quantidade demandada será de 90 unidades. Calcule a elasticidade-preço da demanda por este bem.

Epd

Epd

−−

= −

10100

90 10012 10

0 5

·

,

4 Existemoutrosmétodosparasecalcularaelasticidade-preçodademanda,comoométododopontomédioeométododaderivada.Porém,paraumaapresentaçãoinicialdesteconceito,estaformadecálculoésuficiente.

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Por que o resultado deu um número negativo? Como interpretar este dado?

O cálculo da elasticidade-preço da demanda será, via de regra, um número negativo, isso porque esta variável relaciona preço e consumo de bem e, pela lei geral de demanda, o aumento no preço de um bem causa uma redução na quantidade demandada deste bem, de forma que se o pre-ço aumenta, cai o consumo, as variáveis estão inversamente relacionadas.

Com relação à interpretação do resultado obtido, tem-se a Epd = –0,5 e, partindo da definição desta variável, pode-se concluir que, neste caso, para uma variação de 1% no preço, haverá uma redução no consumo de 0,5%5 . Ou, alternativamente: para uma variação de 10% no preço, haverá uma redução no consumo de 5%. Ainda: para uma redução no preço de 20%, por exemplo, haverá um aumento no consumo de 10%.

Por se tratar de um número negativo, é comum fazer que se faça uso do módulo da Epd, de forma que se tem |Epd| = 0,5. Mas uma outra pergunta que segue: o bem em questão tem uma demanda muito ou pouco sensível à variação no se preço, afinal, para uma dada variação no preço a variação no consumo é proporcionalmente menor. A resposta a essa per-gunta depende da classificação da demanda de acordo coma sua elastici-dade, conforme tabela que segue:

Exemplo ∆P ∆Qd |Epd| Demanda1 +10% -10% 1 Elasticidade unitária (|Epd| = 1)2 +10% -20% 2 Elástica (|Epd| > 1)3 +10% -5% 0,5 Inelástica (|Epd| < 1)

Tabela 3.2 – tipos de demanda de acordo com a EpdElaboração da autora

O exemplo calculado anteriormente é compatível com o exemplo 3 da tabela e representa um caso de demanda inelástica, cuja variação no consumo é menor que a variação no preço do bem, o que resulta em |Epd| <1. Neste caso, verifica-se que a demanda é pouco sensível à variação no preço relativamente aos outros dois casos da tabela. No exemplo 2 da ta-bela, tem-se uma demanda elástica, ou seja, muito sensível à variação no preço (|Epd| > 1) e, no caso 1, há um caso em que, para qualquer variação

5 Epd=∆Qd/∆P=-0,5/1=-0,5.

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no preço, a variação no consumo ocorrerá na mesma proporção, de forma que |Epd| = 1.

São vários os fatores que determinam a Epd de um bem, sendo os principais:

• essencialidade do bem: quanto mais essencial for um bem, mais inelástica será a sua demanda, como é o caso de remédios. No entanto, alguns bens como o cigarro, em função da depen-dência que criam, também possuem baixa elasticidade da de-manda, verificada em alguns países que não obtiveram sucesso em reduzir o consumo de cigarros via aumento de preços deste item;

• existência ou não de bens substitutos: quanto mais bens subs-titutos existirem, mas elástica tende a ser a demanda pelo bem;

• peso do bem no orçamento do consumidor: quanto maior a importância do bem nos gastos do consumidor, maior tende a ser a sensibilidade, ou elasticidade, do consumo deste bem diante das variações no seu preço. Por exemplo, o aluguel é um item com alto peso no orçamento das famílias que não têm casa própria, de forma que uma pequena variação no seu preço tem um impacto grande no seu consumo;

• tempo: à medida que o tempo passa, mais substitutos tendem a aparecer, de forma que, de maneira geral, as demandas se tor-nam mais elásticas.

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O cigarro é um bem com demanda inelástica.

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3.2.2 ECasticidade, receita e estruturas de mercado.A análise da Epd é de fundamental importância para se compre-

ender como a variação no preço de um bem vai impactar na receita do empresário, em particular àqueles que operam nas estruturas de mercado nas quais são capazes de determinar preço, como é o caso de oligopólios e monopólios. Vamos tomar como exemplo um monopolista que, conforme caracterizado anteriormente, não se depara com nenhum bem concorrente. Nesse caso, seria possível a este ofertante cobrar o preço que desejar pelo produto que disponibiliza? O que vai acontecer com a sua receita? A res-posta a esta questão, novamente, vai depender da análise da elasticidade- -preço da demanda.

Sabe-se que a receita total (RT) é calculada multiplicando-se o pre-ço do bem (P) pela quantidade vendida (Q), de forma que se tem:

RT = P X Q

Caso o monopolista eleve o preço do bem que oferta em 10%, qual será o impacto na quantidade vendida e, consequentemente, na sua recei-ta? Vamos trabalhar com 3 possibilidades: demanda de elasticidade unitá-ria, demanda elástica e demanda inelástica.

Exemplo Demanda ∆P ∆Qd ∆RT1 Elasticidade unitária (|Epd| = 1) +10% -10% 02 Elástica (|Epd| > 1) +10% -20% <03 Inelástica (|Epd| < 1) +10% -5% >0

Tabela 3.3

Verifica-se que, diante de uma demanda elástica, caso o empresá-rio eleve o preço do bem em 10%, por exemplo, vai se deparar com uma redução no consumo superior a 10%, o que causa uma redução na receita total. Caso a demanda pelo bem em questão seja de elasticidade unitária, uma elevação de 10% no preço do bem causa uma redução no consumo na mesma proporção, o que faz com que receita total não sofra alterações. E, finalmente, diante de uma demanda inelástica, um aumento de preço de 10% causa, sim, uma redução no consumo, porém, inferior a 10%, elevan-do a receita total.

Conclui-se, então, que, para um monopolista, o seu poder de de-terminar preço está inversamente relacionado à elasticidade-preço da

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demanda do bem que vende, de forma que, quanto mais elástica for a de-manda, menor será a margem que terá para determinar preço.

Atividades01. O que são estruturas de mercado?

02. Qual a principal diferença entre a concorrência perfeita e concorrên-cia monopolística?

03. Qual a principal diferença entre o oligopólio e a concorrência perfei-ta?

04. No que consiste o “lucro zero” da concorrência perfeita? Como ele é obtido no longo prazo?

05. Cite e explique as principais barreiras à entrada de empresas existen-tes no monopólio.

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RefCexãoO estudo das estruturas de mercado nos permite identificar uma

série de características presentes nos mais diversos setores da economia: o número de participantes, o tipo de produto que está sendo oferecido, a existência ou não de barreiras à entrada de empresas em um determinado segmento, a transparência nas informações etc. De posse destas informa-ções, aumentam a compreensão sobre a quantidade produzida de um bem em um determinado setor e, consequentemente, o preço a ser cobrado. Sobre a capacidade de precificação, verificamos que, com exceção da con-corrência perfeita, as demais estruturas de mercado permitem, em maior ou menor grau, que o ofertante determine preço. No entanto, essa capa-cidade de determinação de preço está diretamente relacionada ao campo extrapreço, que inclui propagandas, serviços de entrega especiais, facili-dade nas condições de pagamento, manutenção etc. Além disso, a elasti-cidade-preço da demandaé de fundamental importância na determinação da margem de formação de preços, pois, mesmo para o monopolista, este pode ter sua receita reduzida caso eleve o preço do bem cuja demanda é elástica. Mais uma vez, surge a necessidade de diferenciação do produto a fim de se reduzir a elasticidade-preço da demanda.

Leituras recomendadas

PYNDICK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5. ed. Tradução Eleutério Prado. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

CABRAL, Arnoldo Souza, YONEYAMA, Takashi. Microeconmia: uma visão para empreendedores. São Paulo: Saraiva, 2008.

Referências

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (Cade). Disponível em http://www.cade.gov.br/.

GREMAUD, Amaury Patrick et al; organizadores Diva Benevides Pinho, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. Manual de Econo-mia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

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MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução Allan Vidi-gal Hastings. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

MENDES, Judas Tadeu Grassi. Economia: fundamentos e aplicações. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

SOUZA, Nali Jesus de. Curso de economia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, GAR-CIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

No próximo capCtuCoAté agora, os assuntos abordados se concentraram no universo

microeconômico: o surgimento e evolução da economia, sua divisão nas esferas micro e macroeconômicas, oferta, demanda, formação de preços e estruturas de mercado. A partir da próxima unidade, o aluno passará a analisar o universo econômico sob a ótica do agregado, iniciando o seu estudo pela compreensão dos objetivos e instrumentos macroeconômicos.

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Minhas anotações:

Cap

CtuCo

4 Os Objetivos da

Política Macroeconômica e o Papel do Estado na

Economia.Neste capítulo, o aluno vai conhecer o desem-

penho uma série de variáveis macroeconômicas representativas da economia brasileira, como taxa de

desemprego, investimento, poupança, inflação, dentre outras, e terá a oportunidade de entender como essas variá-

veis são afetadas pelas medidas tomadas pelo governo.

Objetivos da sua aprendizagemApresentar ao aluno os principais instrumentos de política econô-

mica, bem como as variáveis que são afetadas via utilização desses instrumentos.

Você se lembraDo anúncio de confisco de ativos dos depósitos à vista ou em caderneta de poupança durante o Plano Collor, em 1990? Essa foi uma medida de política econômica cujo objetivo era o de reduzir a inflação no período.

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IntroduçãoA todo momento, depararmo-nos com questões econômicas e, por

elas serem tão comuns, acabamos deixando de pensar na sua complexida-de. Por exemplo, se vamos ao supermercado e constatamos que um produ-to teve seu preço aumentado, sabemos intuitivamente que o nosso poder de compra foi reduzido. Se vamos comprar uma geladeira nova e a taxa de juros que o vendedor informa está alta, não a compramos; esperamos que essa taxa seja reduzida. Se vamos procurar por um emprego e notamos que está difícil ingressar no mercado de trabalho, logo percebemos que a economia do país (ou da região) está em crise. Como esses exemplos, podemos encontrar muitos outros que na verdade fazem parte de uma área específica da economia que se chama macroeconomia.

4.C Objetivos de poCCtica macroeconômica

4.C.C PCeno empregoA preocupação com o nível de emprego é algo relativamente

recente na teoria econômica. Isso porque, antes da crise de 29, sob o receituário liberal, acreditava-se que a economia alcançaria o pleno em-prego via funcionamento do mercado. Uma ressalva merece ser feita: quando falamos em pleno emprego, devemos entender uma situação na qual todos os indivíduos que desejam trabalhar encontram trabalho que oferece o salário que o mercado paga. Vamos imaginar o seguinte caso: o mercado está remunerando 8 horas de trabalho diárias a R$ 100,00 em uma determinada atividade. João desempenha esta atividade, porém não deseja sair para trabalhar por menos de R$ 150,00. Caso fosse esta a situação, não poderíamos, segundo os autores liberais, considerar João como sendo um desempregado. Desta forma, não é muito difícil imagi-nar que a economia operaria no pleno emprego!

Além disso, devemos lembrar que no período que antecede a crise de 29, o ambiente econômico-institucional era bastante diferente daque-le que começou a se desenvolver no século XX. Os trabalhadores não possuíam grupos representativos que se dedicassem à defesa dos seus salários, de forma que, em épocas de crise, era fácil transferir para estes o ônus da perda via redução de salário, o que, de certa forma, impedia a demissão. Da mesma forma, a inexistência de leis trabalhistas contribuía para a mesma situação.

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Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

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Pelo lado das empresas, predominava a competição devido à quase inexistência de estruturas de mercado que não a de concorrência perfeita. Então, de fato, a interação entre consumidores e produtores e o mecanismo de preços pareciam garantir um bom funcionamento da economia.

Após a ocorrência do primeiro e segundo choques do petróleo1, nos anos 70, os números relativos ao desemprego passaram a constituir preocupação ainda maior para as autoridades de cada país, mesmo para as economias mais desenvolvidas (tabela 4.1).

1960-8 1979 1989 2003

Alemanha 0,7 3,2 5,6 9,1EUA 4,7 5,8 5,2 6,0França 1,7 5,9 9,4 9,7Itália 3,8 7,6 10,9 8,8Inglaterra 2,6 5,0 7,1 5,0Japão 1,4 2,1 2,3 5,3Suécia 1,3 2,1 1,4 4,9

Tabela 4.1 – Taxas de desemprego em países da OCDE por períodos selecionados Dixon (1998), Mattoso (1995), UNDP, HDR (2005) apud Feijó 2008

Pelos dados da tabela, podemos perceber que os números represen-tativos do desemprego aumentaram em todos os países selecionados à me-dida que avançamos no tempo. No Brasil, a despeito dos números mais re-centes se mostrarem menores (figura 12), ainda assim, podemos verificar que a taxa de desemprego é elevada. Em algumas regiões, e, dependendo do período considerado, chega a superar a marca dos 20%, como ocorreu na região metropolitana de São Paulo, em abril de 2004, quando a taxa alcançou 20,70% (SEADE/PED apud IPEA).

1 O1ºe2ºchoquesdopetróleoocorreramnosanos70emvirtudedeaumentonopreçomundialdopetróleo,aumentoestedecorrentedecombinaçãodepreçosentreospaísesprodutoresdaOPEP,queformamumcartel.

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10,50

10,00

9,50

9,00

8,50

8,002003

10,4810,20

Taxa de desemprego: Brasil, 2003 a 2007

9,72

9,22

8,92

2004 2005 2006 2007

Figura 12 – Taxa de desemprego no Brasil (%)2

Fonte: IPEA

O pleno emprego é um dos objetivos de política econômica

Crescimento econômicoQuando falamos de crescimento econômico, estamos nos referindo

ao crescimento do PIB, ou seja, ao crescimento da produção física de bens e serviços. E, conforme já mencionado na unidade anterior, a despeito da sua ineficiência em fornecer uma análise qualitativa da economia, esta variável permite uma aferição da capacidade de geração de renda. Desta forma, durante todo o desenvolvimento da ciência econômica, os teóricos

2 Taxa de desemprego (%) – Percentual das pessoas que procuraram, mas não encontraram ocupaçãoprofissionalremuneradaentretodasaquelasconsideradas“ativas”nomercadodetrabalho,grupoqueincluitodasaspessoascom10anosoumaisdeidadequeestavamprocurandoocupaçãooutrabalhandonasemanadereferênciadaPesquisaNacionalporAmostradeDomicílios(Pnad).Elaboração:Disoc/Ipea.

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buscaram identificar os fatores que fazem com que uma sociedade apre-sente expansão da sua produção.

A acumulação de capital, o progresso tecnológico e o próprio cres-cimento da população foram identificados, ao longo dos séculos, como determinantes desta expansão. A expansão de capital corresponde ao au-mento de máquinas, equipamentos, investimento em recursos humanos, construção de infraestutura etc. que permitem que o aumento do produto. A inovação tecnológica, por sua vez, permite que se extraia uma quantida-de maior de produto de uma mesma dotação de recursos, ou seja, permite que se obtenha o aumento do produto sem a necessidade de se ter maior disponibilidade de fatores de produção. Já o crescimento da população está relacionado ao crescimento econômico visto que implica aumento da oferta de mão de obra e, também, de mercado consumidor.

Os números abaixo mostram dados sobre a economia brasileira (figura 13). Nota-se que mesmo em anos em que o PIB apresenta taxas positivas de crescimento, em termos per capita, ocorreram quedas, como pode ser verificado nos anos de 2001 e 2003. Isso significa que, nestes períodos, o aumento da população foi superior ao aumento da produção, o que mostra que o conceito de PIB per capita parece ser, também, mais apropriado quando se fala de crescimento; não basta apenas haver cresci-mento da produção, mas esta deve superar o aumento populacional para fazer frente às necessidades da sociedade.

PIB PIB per capita

6,0

4,3

2,8

1,3

2,7

1,2

5,7 5,7

4,3

3,2

4,04,5

5,1

4,0

2,7

1,9

1,1

–0,2 –0,2

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

–1,02000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

0,0

Taxa de crescimento do PIB e PIB per capita (%)

Figura 13 – Taxa de crescimento real do PIB e PIB per capita no Brasil (%)Fonte: IBGE

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Quando se fala em crescimento econômico pelas duas primeiras vias citadas, seja através da acumulação de capital, seja via progresso técnico, o maior problema para a obtenção de níveis maiores de produto está relacionado às necessidades de capital que se fazem necessárias para a alavancagem do processo de crescimento. Neste sentido, a formação de poupança e sua consequente transformação em investimento são variáveis cruciais para o desencadeamento deste processo. Isso porque a poupança, como já mencionado na unidade 3, corresponde à renda que não foi uti-lizada para bens de consumo e, portanto, através do sistema financeiro, constituirá a fonte de financiamento para o investimento. Porém, em pa-íses pobres, a taxa de poupança (poupança/PIB) e a taxa de investimento (I/PIB) tendem a ser baixas (tabela 4.2). Neste caso, uma alternativa é recorrer à poupança externa por meio de investimento estrangeiro no país, de empréstimos internacionais e/ou da ajuda estrangeira de países indus-trializados.

País Taxa de investimento (%)China 43India 39Rússia 25Argentina 24Japão 24Canadá 23França 22Chile 21Itália 21EUA 19Reino Unido 19Alemanha 18Brasil 18

Tabela 4.2 – Investimento/PIB (%) – 2007Fonte: Banco Mundial e FMI

Podemos verificar que dentro da lista de países selecionados, que in-clui economias desenvolvidas e países em desenvolvimento, o Brasil ocu-pa a última classificação em termos de taxa de investimento, com apenas 18% do PIB, perdendo para países como Argentina (24%) e Chile (21%).

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O destaque vai para China e Índia com taxas de investimento próximas de 40% do PIB.

Estabilidade de preçosPaíses com históricos de episódios inflacionários mais graves são,

geralmente, os que mais atribuem valor a este objetivo de política eco-nômica. Os alemães, por exemplo, que durante a década de 20 passa-ram por um aumento de preços sem precedentes na história econômica, mostram-se extremamente conservadores quando o assunto é estabilidade de preços3. Neste sentido, o Brasil também não deixa a desejar: chegou a ter uma taxa anual de inflação de 2.490%, em 1993 e, desde 1994, quan-do conseguiu romper com a hiperinflação após a adoção do Plano Real, tornou-se bastante persistente na busca pela disciplina dos preços.

Você deve estar se perguntando quais são os problemas que a infla-ção elevada pode causar; apesar de este assunto ser abordado na próxima unidade, podemos adiantar que a inflação acarreta uma série de distorções que, geralmente, comprometem o bom desempenho da economia de um país. Devemos destacar que não defendemos aqui a existência de uma “in-flação zero”, até porque uma certa taxa de inflação pode estar associada a um desempenho econômico saudável.

Atualmente, podemos observar que o país possui um nível inflacio-nário bastante aceitável e comparável ao de economias bastante estáveis e desenvolvidas (figura 14). No ano de 2008, por exemplo, o país teve uma taxa anual de inflação igual a 5,9%.

2019,5

15

7,3 7,25,9

4,2 3 2,5 2,4 2,2 1,60,2 –1

Inflação em países selecionados (%) - 2008

15

10

5

0

–5

Argenti

na

Rússia Ind

iaChin

aBras

il

Canad

áItá

lia

França

Reino U

nido

Aleman

haChil

eJa

pão

EUA

Figura 14: Inflação em países selecionados

Fonte: Banco Mundial

3 SomenteparaseterumaideiadamagnitudedeaumentodepreçosnaAlemanha,entreagostode1922anovembrode1923,portanto,poucomaisdeumano,ospreçosaumentaram1trilhãoporcento(SANDRONI,1999,p.282).

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Hiperinflação: geralmente, é considerada hiperinflação quando o

aumento no nível de preços ultrapas-sa 50% ao mês.

Distribuição mais igualitária de rendaPor repetidas vezes mencionamos que o crescimento econômico

não gera, necessariamente, desenvolvimento eco-nômico. Um dos fatores que podem estar por trás desta indesejável falta de relação entre aumento da produção e melhora na qualidade de vida é a má distribui-ção de renda.

No Brasil, durante o período que ficou conhecido como “milagre econômico”, pôde ser facilmente veri-ficado que esses dois objetivos de polí-tica econômica, o crescimento econômico e a distribuição equitativa de renda, podem, de fato, não apresentar relação. Foi um período no qual alcançamos taxas de crescimento do PIB igual a 14% ao ano, em 19734; no entanto, muito pouco se observou em termos de melhoras dos indicadores sociais.

A desigualdade na distribuição de renda pode ser medida pelo índi-ce de Gini, cujo valor varia de 0 a 15, sendo que quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade social.

0,575

0,565

0,555

0,545

0,5352004 2005 2006 2007 2008

0,547562999

0,556042939

0,562936305

0,5694379270,572371528

0,57

0,56

0,55

0,54

Coeficiente de Gini

Figura 15 – Coeficiente de Gini para o Brasil (2004 a 2008) IPEA

4 AtaxamédiadecrescimentodoPIBnoperíodo1968-73foide11,2%(IPEA).

5OíndiceoucoeficientedeGinimedeograudedesigualdadeexistentenadistribuiçãodeindivíduossegundoarendadomiciliarpercapita.Seuvalorvariade0,quandonãohádesigualdade(arendadetodososindivíduostemomesmovalor), a 1, quandoa desigualdadeémáxima (apenasum indivíduodetém todaa rendadasociedade,earendadetodososoutrosindivíduosénula)(IPEA).

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Podemos verificar que, nos últimos anos, o índice de Gini para a eco-nomia brasileira vem sofrendo redução a cada período, o que mostra uma melhora no quadro de distribuição de renda (figura 15). No entanto, uma comparação internacional vai colocar o Brasil em um triste quadro: em 2007, o Brasil era o 11o colocado em termos de pior distribuição de renda, perdendo apenas para Namíbia, Lesoto, Serra Leoa, República Centro-africana, Botsua-na, Bolívia, Haiti, Colômbia, Paraguai e África do Sul (tabela 4.3).

Menor concentração de renda Maior concentração de rendaPaís Gini País GiniDinamarca 24,7 Namíbia 74,3Japão 24,9 Lesoto 63,2Suécia 25 Serra Leoa 62,9

República Tcheca 25,4 República Centro-africana 61,3

Eslováquia 25,8 Botsuana 60,5Tabela 4.3 – Índice de Gini para países selecionados

Fonte: ONU apud Wikipedia

Em se tratando de estados, para o ano de 2008, a maior concentração de renda foi registrada para o Distrito Federal e a Paraíba, enquanto que o Amapá e Santa Catarina foram os estados que apresentaram menores coeficientes de Gini e, portanto, melhor distribuição de renda (tabela 4.4).

Estado Índice de GiniMaioresDistrito Federal 0,621706Paraíba 0,586593MenoresAmapá 0,450562Santa Catarina 0,464916

Tabela 4.4 – Maiores e menores índices de Gini dos estados brasileirosIPEA

4.C.2 Instrumentos MacroecnômicosNo item anterior, nos foram apresentados alguns dos principais

objetivos de política econômica. Resta-nos, agora, conhecer alguns dos

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instrumentos de que as autoridades dispõem para a realização desses ob-jetivos, sendo que os principais são a política fiscal e a política monetária.

Política fiscalA atuação do governo via política fiscal costuma ser uma das formas

mais facilmente percebidas de política econômica: quando pagamos impostos ou, ainda, quando falamos sobre os gastos do governo com a construção de uma praça, quando discutimos a magnitude da folha de pagamento ou fala-mos sobre a lei de responsabilidade fiscal, estamos nos referindo a esse tipo de política. Podemos, então, definir a política fiscal como o conjunto de me-didas que envolvem a arrecadação de impostos e os gastos públicos. Seu uso deve objetivar a promoção do bem-estar da população através de gastos em áreas de interesse social e do financiamento desses gastos assentado em um sistema de arrecadação tributária eficiente.

A política fiscal pode ser expansionista ou restritiva. A política fiscal é expansionista quando visa expandir o nível de atividade econômica e, conse-quentemente, o nível de emprego. Exemplos recentes podem ser utilizados para ilustrar esse caso: o governo brasileiro, após o surgimento da crise eco-nômica mundial em 2008, elaborou um pacote de benefícios fiscais visando estimular a atividade econômica. Um dos exemplos mais marcantes foi a redução da cobrança de IPI (imposto sobre produtos industrializados) sobre alguns tipos de automóveis novos e, também, sobre a chamada “linha branca” de eletrodomésticos, que inclui, dentre outros, a produção de geladeiras.

Graças à diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os veículos com até 2 mil cilindradas de potência e à oferta de crédito a juros inferiores à média de mercado, as vendas no mercado interno atingiram o recorde de 3,14 milhões de unidades. O anterior, de 2008, era de 2,82 milhões de veículos, nacionais e importados. Apenas em dezembro, foram licenciadas 236,2 mil unidades, 44,5% acima de dezembro de 2008 e 13,9% mais do que as do mesmo mês de 2007

O Estado de São Paulo, 13/01/2010.

A política fiscal restritiva, por outro lado, corresponde a um conjun-to de medidas que envolvem impostos e gastos do governo visando à con-tenção da atividade econômica e ao desaquecimento da economia. Costu-ma ser utilizada, geralmente, em situações em que se deseja, por exemplo, reduzir pressões de demanda a fim de conter pressões inflacionárias. Um

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corte nos gastos do governo ou um aumento da tributação são exemplos de política fiscal restritiva.

Quanto aos gastos do governo, estes podem ser divididos em gastos com consumo do governo, pagamento de juros das dívidas interna e externa, gastos com investimentos e transferências, sendo que nesta última categoria são incluídos valores referentes às despesas como pensões, subsídios etc., nos quais não há contrapartida. Quanto à fonte de arrecadação, o governo pode cobrar impostos diretos e impostos indiretos, sendo que os primeiros referem-se aqueles que incidem diretamente sobre a renda e a propriedade (IR, IPVA, IPTU etc.); já os indiretos são aqueles que incidem sobre o consumo e a ven-da de mercadorias e serviços (IPI, ICMS etc.).

No caso brasileiro, a política fiscal, principalmente no tocante à arrecadação do governo, tem-se mostrado bastante contraproducente no sentido de promoção do bem-estar da sociedade: primeiro porque grande parte dos impostos arrecadados é indireto e, portanto, incide igualmente sobre todos os agentes que adquirem um determinado bem. Por exemplo, qualquer cidadão que adquira um pacote de biscoito irá arcar com um va-lor X de imposto, seja a renda deste cidadão igual a R$ 1.000,00 seja igual a R$ 10.000,00. Segundo, porque a carga tributária relativamente ao PIB tem-se elevado expressivamente nas últimas décadas e, atualmente, chega a 35,21%. Comparativamente a outros países, o país possui uma carga tri-butária superior à da Espanha e à da Alemanha, países cujo fornecimento de serviços pelo governo é bastante superior ao brasileiro. Além disso, a cobrança de impostos no Brasil relativamente ao PIB supera a de grandes economias como os Estados Unidos (figura 16).

Carga tributária (Impostos/PIB) – (%)

6050,7

44,9 43,7 42,235,8 35,2 34,8

25,4 25,3 24,618,5

50

40

30

20

10

0

Suécia

Norueg

a

França

Itália

Espan

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il

Aleman

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México

Coréia

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ulEUA

Figura 16 – Carga tributária – Comparação entre paísesInstituto Brasileiro de Planejamento Tributário apud Veja

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Keynes foi um grande defensor da política fiscal como instrumento de estímulo à economia ressaltando o seu efeito: suponha, por exemplo, que o governo realize uma injeção inicial de renda via realização de in-vestimento no valor de R$ 100.000,00 para a construção de uma estrada. Parte desta renda vai para o salário dos trabalhadores que vão utilizá-la para adquirir bens de consumo, como, por exemplo, roupas. Trata-se uma nova adição de renda derivada da primeira. O vendedor de roupa, por sua vez, irá utilizar, também, parte desta renda para adquirir bens de consumo. Desta forma, um aumento inicial na demanda agregada provocará um aumento mais do que proporcional na renda desta economia e maior será este aumento quanto maior for a propensão das pessoas a gastar esta renda (propensão marginal a consumir6). Trata-se do efeito multiplicador.

Política monetáriaA política monetária refere-se ao conjunto de ações do governo que

visa controlar a quantidade de moeda e de títulos7 em circulação e a taxa de juros. Em outras palavras, diz-se que política monetária corresponde à atuação das autoridades monetárias para regular a liquidez8 do sistema. A primeira questão a ser esclarecida diz respeito ao porquê da necessidade da autoridade monetária de atuar sobre variáveis, como quantidade de moeda e taxa de juros: imagine que você está disposto a trocar a sua ge-ladeira. A taxa de juros cobrada no financiamento será decisiva para que você opte por fazer a aquisição do bem ou não. Supondo que você faça a aquisição, estará contribuindo para uma redução dos estoques das em-presas, o que sinaliza uma necessidade de aumento da produção, e você poderá estar, inclusive, contribuindo para o aumento do nível de emprego da economia. Por outro lado, caso os juros estivessem elevados, você po-deria optar por não trocar o seu eletrodoméstico, e o nível de atividade e de emprego desta economia poderia ser menor.

Esse é apenas um dos exemplos de como uma variável controlada via política monetária, a taxa de juros, pode influenciar no nível de ativi-dade, de emprego e, também, no nível de inflação de uma economia, já

6 Propensão marginal a consumir: parcela da renda que as pessoas estão dispostas a gastar com bens de consumo.

7 Um título corresponde a um documento que garante a propriedade de um bem ou valor. Pode ser umaduplicata,umanotapromissória,títulosdedívidapúblicaetc.Emsetratandodepolíticamonetária,estamosnosreferindoaostítulospúblicos,quesãopapéiscolocadosnomercadopelogovernoquandodanecessidadedefinanciamento.

8 Liquidez: disponibilidade de moeda corrente ou meios de pagamento facilmente conversíveis em moeda

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que, a partir do momento em que as pessoas demandam mais, pode ocor-rer um aumento de preços.

São várias as formas que as autoridades monetárias têm de atuar sobre as variáveis citadas e, a essas formas, dá-se o nome de instrumentos de política monetária, sendo os principais:

– Operações de open market: são as operações realizadas pelo Banco Central e que consistem em vender ou comprar títulos públicos para alterar a quantidade de moeda em circulação. Por exemplo, se o Banco Central oferta (coloca à venda) um título público, ele está retirando moeda de circulação à medida que os agentes fazem uso desta moeda para a aqui-sição do título; tem-se um enxugamento da liquidez. Caso o Banco Central compre um título, está, ao contrário, injetando moeda na economia. Devemos ressaltar que as operações de mercado aberto afetam a taxa de juros: compras de títulos reduzem a taxa de juros, enquanto que vendas de títulos au-mentam a taxa de juros. – Operações de redesconto: o Banco Central é conhecido como o “banco dos bancos”, o que faz com que, comumente, os bancos fazem empréstimos no Banco Central. Desta forma, a taxa cobrada por estes empréstimos é uma das maneiras que esta instituição tem de regular a liquidez: quando deseja diminuir a quantidade de moeda em circulação, basta aumen-tar a taxa cobrada; quando deseja aumentar a quantidade de moeda em circulação, basta reduzir a taxa cobrada. Além da taxa cobrada pelos empréstimos, o Banco Central pode, tam-bém, regular a própria quantidade de empréstimos que deixa à disposição dos bancos. – Reservas ou depósitos compulsórios: as reservas compulsó-rias correspondem a uma parcela dos depósitos à vista e de outros títulos contábeis (cheques administrativos, depósitos em juízo etc.) que os bancos são obrigados a reter juntamente ao Bacen. Sempre que o Banco Central aumentar a taxa de depósitos compulsórios, estará reduzindo a liquidez da eco-nomia e, ao contrário, se reduzir a taxa de depósitos compul-sórios, estará aumentando a liquidez da economia. Além de regular a quantidade de moeda que circula na economia, os depósitos compulsórios servem como uma garantia de que,

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caso os clientes decidam sacar seus depósitos, os bancos te-rão reservas suficientes para fazer frente a esses saques. – Regulamentação sobre o crédito e a taxa de juros: em invés de fazer uso dos instrumentos mencionados acima (open ma-rket, redesconto e compulsórios), o Bacen também controla diretamente a taxa de juros, o volume de crédito e o prazo dos empréstimos bancários.

Um dos objetivos da política monetária é administrar a taxa de juros de um país.

O Brasil é um país que, desde 1999, adotou o regime de meta in-flacionária. Neste regime, o Bacen estabelece uma meta para a inflação, geralmente, no início do ano, e, então, a taxa de juros deve servir como instrumento para que se alcance a meta predeterminada (tabela 4.5). Por exemplo, se a economia estiver com tendência a ficar com inflação aci-ma da meta, o Bacen irá elevar a taxa de juros para conter a demanda e, consequentemente, a inflação. Ao contrário, se a inflação estiver com a tendência a ficar abaixo da meta, então, o Bacen tenderá a reduzir a taxa de juros.

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Ano Meta Limite inferior e superior

Inflação efetiva IPCA (% a.a.)

1999 8 6 – 10 8,94

2000 6 4 – 8 5,972001 4 2 – 6 7,672002 3,5 1,5 – 5,5 12,53

20033,25 1,25 – 5,25 9,30

4 1,5 – 6,5

20043,75 1,25 – 6,5 7,605,5 3 – 8

2005 4,5 2 – 7 5,692006 4,5 2,5 – 6,5 3,142007 4,5 2,5 – 6,5 4,462008 4,5 2,5 – 6,5 5,902009 4,5 2,5 – 6,5 4,312010 4,5 2,5 – 6,52011 4,5 2,5 – 6,5

Tabela 4.5–Histórico das metas de inflação no BrasilFonte: Banco Central do Brasil

Como pode ser verificado, no ano de 2009, a inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou abaixo da meta (tabela 14). Neste ano, o Bacen permitiu sucessivas reduções na taxa bási-ca de juros (SELIC) (tabela 4.6).

Período Taxa (%a.a.)set/08 13,75jan/09 12,75mar/09 11,25abr/09 10,25jun/09 9,25jul/09 8,75

Tabela 4.6 – Taxa de juros SELIC (%a.a.)Fonte: Banco Central do Brasil

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O principal responsável pela execução dos instrumentos de política monetária é o Banco Central (Bacen), o que faz com que haja um movimento crescente na literatura econômica que advoga pela defesa de um Banco Central independente. Esta inde-pendência diz respeito à possibilidade de ingerência do poder executivo na gestão da política monetária de um país, principalmente em períodos pré-eleitorais, o que poderia comprome-ter a consecução de metas como a estabilidade de preços.

4.2 InfCaçãoQuando falamos em inflação, nós, brasileiros, de alguma forma,

sentimo-nos familiarizados com este fenômeno. Apesar de convivermos com a estabilidade de preços desde 1994, a partir da implementação do Plano Real, a hiperinflação verificada no Brasil nas décadas de 1980 e 1990 deixou-nos uma memória inflacionária bastante presente. No entan-to, ainda que este fenômeno nos seja familiar, a interpretação dos números referentes à inflação costuma ocorrer de forma equivocada, seja por estu-dantes das mais diversas áreas, seja por profissionais da imprensa e, prin-cipalmente, por donas de casa que costumam pensar que tais números não passam de manipulações de profissionais da mídia e economistas.

Não é de se estranhar que as pessoas vejam com ressalva esses números, e a explicação para essa desconfiança é bastante simples: um índice de inflação mede a variação média do preço de uma “cesta”, defini-da como um conjunto de bens e serviços. Nessa cesta, estão incluídos os mais diversos itens pertencentes a grupos como alimentação, vestuário, educação, habitação, saúde, dentre outros. Alguns índices chegam a in-cluir em seu cálculo itens de construção civil e preços no atacado. Vamos imaginar que um índice de inflação qualquer registrou uma deflação de 1%. Isso significa que, em média, o preço dos itens que compõem a cesta caiu 1% no período considerado. Como se trata de uma média, é muito provável que vários itens tenham tido redução nos seus preços, enquanto outros tenham registrado aumento. Se o consumo de uma família se con-centra naqueles bens cujos preços sofreram elevação naquele período, é razoável supor que o custo de vida desta família tenha se elevado, o que a faz desconfiar dos índices divulgados. No entanto, seria impossível medir

Conexão:

No site bacen.gov.br você poderá conhecer um pouco so-

bre a condução da política monetá-ria no nosso país e também sobre o

regime de metas de inflação.

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o custo de vida de cada família individualmente; é por isso que os índices acompanham o preço de uma cesta, que procura ser o mais abrangente possível e representar os hábitos de consumo da população de maneira geral.

Para se conhecer esses hábitos, são realizadas as chamadas pesqui-sas de orçamento familiar (POF), que correspondem ao acompanhamento dos gastos de várias famílias, cujo objetivo é mapear os itens consumidos por uma determinada parte da população. Se o objetivo é construir um ín-dice de inflação para famílias cuja renda é de 2 salários mínimos, então a POF será feita junto às pessoas pertencentes a esta faixa de renda.

Na POF, além dos itens consumidos, são determinados, também, os chamados pesos (ou ponderação9) de cada um desses itens, que corres-pondem à parcela da renda que é gasta com cada bem. Por exemplo, se o gasto com leite é de 2% da renda e o gasto com arroz é de 1%, dizemos que o leite tem um peso de 2% e o arroz de 1%. A tabela seguinte mostra um exemplo desta ponderação, por grupos, para a cidade de São Paulo.

Grupo Ponderação (%)Habitação 32,8

Alimentação 22,7Transporte 16,0

Despesas pessoais 12,3Saúde 7,1

Vestuário 5,3Educação 3,8

Tabela 4.7 – Ponderação de acordo com IPC FIPEFonte: FIPE

Outro problema diz respeito à interpretação dos dados sobre in-flação, sendo que um erro muito comum é o de confundir deflação com redução da inflação. Vejamos alguns dados divulgados sobe inflação para entendermos melhor este problema.

9 Peso ou ponderação: corresponde ao gasto com cada item relativamente à renda da família. Por exemplo, caso uma família ganhe R$ 1.000,00 e tenha uma conta de energia elétrica igual a R$ 100,00, então o peso da energia elétrica para esta família é 10%.

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Ano de 2009Janeiro –0,44Fevereiro 0,26Março –0,74Abril –0,15Maio –0,07Junho –0,1Julho –0,43

Ano de 2009Agosto –0,36Setembro 0,42Outubro 0,05Novembro 0,1Dezembro –0,26

Tabela 4.8 – IGPM (% a.m.)Fonte: Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea)

A tabela anterior traz os dados sobre a inflação de acordo com o IGPM, índice elaborado pela Fundação Getulio Vargas. Podemos verificar que, em vários meses do ano de 2009, o índice se apresentou negativo, ou seja, houve deflação. É o caso de janeiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto e dezembro. Quando da ocorrência de um índice negativo, dize-mos que os preços, naquele mês, ficaram, em média, mais baratos que no mês anterior. Por exemplo, no mês de dezembro, cujo índice fechou em –0,26%, dizemos que, em média, os preços estão 0,26% mais baratos que no mês de novembro. Agora, quando comparamos a inflação de setembro com a de outubro, verificamos que, em ambos os meses, houve inflação, pois os índices são positivos. O que ocorre é que a inflação de outubro (0,05%) foi menor que a de setembro (0,42%), o que significa que os pre-ços aumentaram menos em outubro que em setembro.

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A inflação foi um dos grandes problemas da economia brasileira durante décadas.

Esclarecidas algumas dúvidas relacionadas à interpretação desses números, vamos apontar algumas causas reconhecidas como determinan-tes dos fenômenos inflacionários:

– Inflação de demanda: a inflação de demanda é aquela em que a causa do aumento de preços está relacionada ao aumento do consumo de alguns bens. Neste caso, o aumento de preços está relacionado a uma demanda superior à oferta de bens e serviços. Se a economia opera no pleno emprego, maior é a probabilidade de ocorrer este tipo de inflação, visto que mais difícil seria aumentar a oferta para fazer frente ao excesso de demanda. – Inflação de oferta: este tipo de inflação está relacionado à elevação nos custos de produção, seja devido a aumentos salariais, seja à escassez de mão de obra, pressão sindical, adversidades climáticas que reduzem a produção, desvalori-zações cambiais etc. – Inflação inercial: neste caso, a inflação passada contamina a inflação futura por meio dos mecanismos de indexação (con-tratos de aluguéis, de salários, reajuste de tarifas públicas etc.). – Inflação estrutural: esta classificação, de acordo com alguns autores, pode também ser tratada como inflação de oferta. Neste caso, o aumento de preços está relacionado à estrutura dos países subdesenvolvidos: a oferta de produtos é incapaz de satisfazer a aumentos na demanda (oferta de alimentos

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Oferta inelástica de alimentos: significa

que a produção de alimentos de uma eco-nomia não é capaz de responder a estímulos

como um aumento de preços. Isso pode ocorrer por vários motivos, como a falta de infraestrutura

necessária ao aumento da produção, entre outros.

inelástica), a estrutura de mercado tem predominância de oligopólios etc.

Custos da inflaçãoApesar de relativamente complexo, o assunto inflação acaba sendo

de interesse geral por afetar a todos, da dona de casa ao diretor executivo de uma grande empresa multinacional. Mas como é que este fenômeno nos afeta? Veremos, a seguir, alguns custos relacionados à ocorrência do processo inflacionário:

– Redistribuição de riqueza e renda: a inflação opera como um mecanismo de transferência de ri-queza daquele agente que não possui formas de proteção para seus rendimentos, ou seja, daquele que não tem acesso ao sistema financeiro. N o r m a l m e n t e , a transferência é da classe de mais baixa renda para a classe de mais alta renda, já que os primeiros são os que tendem a ficar marginaliza-dos da esfera bancária e de seus re-cursos de proteção. Além disso, a inflação também transfere renda daqueles que aplicaram em renda fixa para aqueles que aplicaram em renda variável. – Distorção dos preços relativos (destruição da informação): em cenários com inflação muito elevada, o mecanismo de preços perde sua função como bom sinalizador das decisões de consumo e produção, tamanha é a velocidade com a qual os preços se alteram. – Desestímulo ao investimento produtivo: a inflação insere in-certezas na economia, o que dificulta a realização de investi-mento produtivo. Além disso, a inflação acaba tornando mais atraente a aquisição de títulos que remuneram de acordo com

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a inflação e cujo retorno tende a ser maior que qualquer in-vestimento em produção. – – Dificulta contratos de longo prazo: a incerteza gerada pelo processo inflacionário dificulta o planejamento a lon-go prazo. – Elevação de custos: quando da existência de inflação, as pessoas tendem a gastar mais tempo e recursos a fim de tentar contornar os efeitos nocivos de uma alta de preços. Por exemplo, gastam mais tempo pesquisando em diferentes estabelecimentos comerciais buscando encontrar o menor preço ou, ainda, há o famoso “custo do cardápio’, que cor-responde aos gastos que o dono de um estabelecimento tem diante de constantes alterações de preços; – Efeito sobre a balança comercial: a inflação faz com que o produto nacional fique mais caro lá fora, diminuindo a nossa competitividade e fazendo com que haja piora no saldo co-mercial do país, já que passamos a exportar menos.

A inflação corrói o poder de compra da moeda.

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4.3 O setor PúbCicoO discurso sobre a importância e a participação do setor público na

economia não é recente. As economias de orientação socialista mostra-ram que o fornecimento de bens públicos melhora a qualidade de vida da população. Esse aspecto é questionado pelas economias capitalistas, pois estas entendem que somente o mercado é capaz de prover eficientemente aquilo de que a sociedade necessita.

Vimos na introdução deste capítulo que a situação não é bem essa, ou seja, a economia em alguns momentos mostrou fortes indícios da ne-cessidade da intervenção estatal.

A teoria do bem-estar social (welfare economics) diz que, sob certas condições, os mercados competitivos geram uma alocação de recursos ineficiente, de forma que um indivíduo não consegue melhorar sua situ-ação sem prejudicar a situação de outra pessoa. Na economia, dizemos que esta é a definição de ótimo de Pareto. Além disso, a teoria neoclássica enfatiza que, para que se atinja uma situação Pareto eficiente, não é neces-sário que haja a figura do planejador central, ou seja, o Estado, dado que a livre concorrência fará com que a economia atinja um ponto eficiente.

Contudo, para que isso ocorra, não deve haver a existência de pro-gresso técnico e deve predominar o funcionamento do modelo de concor-rência perfeita em que há interação entre compradores e vendedores, de forma que nenhum agente econômico individualmente estabeleça o preço do produto. Soma-se a isso o fato da necessidade da existência de um mercado com perfeita informação.

Vimos na disciplina de microeconomia que a maior parte dos mer-cados não opera em um sistema de livre concorrência, predominando a imperfeição dos mercados. Exatamente por eles serem imperfeitos é que existem as falhas de mercado impedindo que ocorra uma situação de óti-mo de Pareto. Sendo assim, o governo deve prover os bens chamados de públicos, deve permitir a formação dos monopólios naturais, deve ajudar a evitar as externalidades, os mercados incompletos, as falhas de informa-ção e a ocorrência de desemprego e inflação.

4.3.C A participação do Estado na EconomiaBens públicosBens públicos são aqueles cujo consumo/uso é indivisível, ou seja,

os bens são não rivais. Podemos dizer que o consumo por parte de um indivíduo ou de um grupo não prejudica o consumo do mesmo bem pelos

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outros indivíduos. Em síntese, essa é a função dos bens públicos, atender à maior parcela da população mesmo que uma parte se beneficie mais do

que outra. A justiça, a segurança e o fornecimento de energia elétri-ca são considerados bens públicos.

A intenção de um bem público é que ele procure evitar ao máximo a exclusão de alguns indivíduos da sociedade. Contudo, existem situações em que isso é inevitável. Caso a administração pública de uma cidade resolva asfaltar uma determinada rua, todos os moradores serão beneficia-dos, inclusive aquele que se recusar a pagar. São os chamados caronistas ou free riders. Concluímos então que os bens públicos não são rivais e são abrangentes, abarcando toda a população que recebe o benefício.

Monopólios naturaisEstudamos em microeconomia que a formação dos monopólios e

oligopólios são situações que prejudicam os consumidores, pois as empre-sas conseguem estabelecer o preço do mercado. Vimos também que o go-verno intercede nesses casos com a finalidade de proteger o consumidor. Contudo, existem algumas situações de monopólio que são permitidas pela sua funcionalidade e redução do custo de produção para a empresa. Essas empresas são chamadas de monopólios naturais e têm por finalidade oferecer ao consumidor final um produto com o preço menor do que seria praticado caso existisse outra empresa concorrente.

Vamos imaginar o caso de uma empresa que fornece energia elétri-ca. Como já existe todo o cabeamento pronto para a distribuição de ener-gia, uma empresa concorrente deveria fazer outro sistema de distribuição de energia. Os custos de produção aumentariam e teriam de ser repassa-dos para o consumidor final. Neste caso, é melhor e mais barato para o consumidor que uma empresa sozinha no mercado forneça o bem.

ExternalidadesO Estado é chamado a intervir nos casos de externalidades que po-

dem ser positivas ou negativas. Entende-se por externalidade a situação em que as ações dos indivíduos interferem direta ou indiretamente em outros agentes do sistema econômico.

A externalidade é dita positiva quando ela traz benefício para a so-ciedade. Por exemplo, se o governo decide investir em uma empresa de infraestrutura no ramo de energia elétrica, haverá aumento na oferta de insumos importantes, assim como benefício para outros setores da econo-mia.

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As externalidades gera-das por novas tecnologias Segundo

alguns autores, o forte crescimento experi-mentado pela maioria das economias ocidentais e

especialmente pela economia norte-americana durante a década de 1990 explica-se por um choque tecnológico.

A ação conjunta das novas tecnologias, o desenvolvimento das telecomunicações, a eclosão da Internet e o fenômeno da globalização criaram condições particularmente propícias para o aparecimento de certas externalidades positivas: a difusão

das novas tecnologias. Um efeito desse tipo aparece quando uma inovação tecnológica beneficia não apenas

a empresa que a realiza, mas todo o conjunto da sociedade; em outras palavras, quando tem

efeitos globais (Mochón, 2007)

Por externalidade negativa en-tendemos ser a situação em que a ação de um indivíduo prejudica a sociedade. O exemplo mais comumente utilizado em eco-nomia é o lixo químico das indústrias que são despeja-dos em rios e mares, assim como a poluição do ar.

O progresso tecnológi-co é a chave que explica por-que o nível de vida aumenta com o passar do tempo, e, nos últimos anos, temos assistido a uma série de fenômenos que propiciaram a geração e a difu-são das inovações tecnológicas. O avanço das tecnologias da informação e das telecomunicações, assim como sua generalização, tem facilitado o surgimento de externalidades positivas associadas

As

Mercados incompletosEntende-se por mercado incompleto a situação em que um bem ou

serviço não é ofertado mesmo que o seu custo de produção esteja abaixo do preço que os potenciais consumidores estariam dispostos a pagar. Isso geralmente acontece em países em desenvolvimento em que os investido-res não querem correr risco com seus investimentos.

Como o sistema financeiro e/ou de mercado de capitais não fornece financiamento de longo prazo, o governo intervém na economia no senti-do de conceder crédito a empresas que desejarem iniciar ou ampliar um negócio. No Brasil, a instituição responsável por fornecer financiamento às empresas é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Falhas de informaçãoO governo é chamado a intervir na economia quando o consumidor

não tem informação suficiente para tomar suas decisões de consumo. O Estado geralmente age mediante a introdução de uma lei que induza uma maior informação e transparência ao consumidor. Além disso, o governo

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participa a fim de favorecer todos os agentes da economia, contribuindo para que o fluxo de informações seja o mais eficiente possível.

Ocorrência de distorçõesComo dito na introdução deste capítulo, a economia muitas vezes

não se comporta de uma maneira eficiente e essa situação pode trazer diversas distorções para a sociedade. Dessa forma, ao longo da história recente, a participação do Estado na economia vem crescendo pelas se-guintes razões (Pinho e Vasconcelos, 2004):

Desemprego: os elevados níveis de desemprego, no início dos anos 1930, conduziram o governo à realização de obras deinfraestrutura que absorvessem contingentes elevados de mãode obra;–– Crescimento da renda per capita: o aumento da renda per capita gera aumento da demanda por bens e serviços públicos (lazer, edu-cação superior, medicina, entre outros);–– Mudanças tecnológicas: a invenção do motor de combustão significou maior demanda por rodovias e infraestrutura, que passou a ser ofertada pelo Estado, de um lado, porque a iniciativa privada não dispunha de capitais suficientes e, de outro, como forma de proteger e encorajar o crescimento de diversos setores econômicos;–– Mudanças populacionais: alterações na taxa de crescimento po-pulacional conduzem a aumentos nos gastos do Estado, em virtude do crescimento de suas despesas com educação, saúde e outros;–– Efeitos da guerra: durante períodos de guerra, a participação do Estado na economia aumenta (portanto, aumenta o gasto público). Mas o interessante é que, quando o conflito bélico termina, o gasto público se reduz, mas não a ponto de alcançar o nível existente an-tes da guerra.–– Fatores políticos e sociais: novos grupos sociais passaram ater maior presença política, demandando, assim, novos empreendi-mentos públicos (escolas, creches etc.)–– Mudanças na Previdência Social: inicialmente, a Previdência Social foi desenvolvida como um meio de o indivíduo financiar sua aposentadoria. Posteriormente, essa instituição constituiu-se em um instrumento de distribuição de renda. Isso levou a uma participação maior do Estado (aumentando o gasto público) do mecanismo pre-videnciário

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Especulação á a tomada de deci-sões baseada em perspectivas sobre

a evolução futura do mercado. Por exem-plo, se o indivíduo acredita que amanhã a

taxa de câmbio vai ser maior do que é hoje, é conveniente e racional comprar dólares

hoje para vender amanhã.

Além disso, a própria evolução da economia mundial acarretou o desen-volvimento dos mercados financeiros e do comércio internacional, que tornou mais complexas as relações econômicas, adicionando elemen-tos de incerteza e especulação, que inexistiam anteriormente, provocan-do o aumento das funções econômi-cas do Estado.

Sendo assim, o governo deve inter-vir através de planos que melhorem a eficiên-cia econômica.

4.3.2 Déficit e DCvidaPara financiar suas contas, o governo tributa a sociedade, e, para que

haja fechamento da conta, os gastos devem ser iguais à receita. Quando a receita supera o gasto, dizemos que há superávit público, e, quando o gasto supera a receita, dizemos que há um déficit público. As receitas e os gastos do governo são os componentes do orçamento fiscal. De forma esquemática, temos:

Orçamento do setor público = Receitas públicas – Gastos públicos As medidas expansionistas (aumento dos gastos públicos ou redu-

ção de impostos) tenderão a criar déficit no orçamento, enquanto as políti-cas restritivas atuarão no sentido contrário. Ao se defrontar com uma situ-ação de déficit, além das medidas tradicionais de política fiscal (aumento de impostos ou corte de gastos), o governo deve pensar também como ele irá financiar o seu déficit.

Sabemos do estudo do capítulo sobre moeda que o governo financia suas contas através da emissão de moeda, pedindo emprestado ao Banco Central, e vende títulos da dívida pública ao setor privado (interno e externo).

Ao pedir para que o Banco Central emita mais moeda, o governo aumenta o poder de compra da população e o nível geral de preços da eco-nomia aumenta. Essa situação é chamada de monetização da dívida, dado que o Banco Central cria moeda para financiar a dívida do governo.

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Quando o governo troca títulos por moeda que já está em circulação, não há geração inflação, mas há elevação da dívida pública, e o governo, a fim de conseguir colocar esses títulos para o público, elevará a taxa de juros, aumentando consequentemente seu endividamento.

4.3.3 Estrutura TributáriaA fim de que o Estado arque com as funções anteriormente descri-

tas, o governo precisa gerar recursos. A principal fonte de receita do setor público é a arrecadação tributária. Para que isso aconteça, é importante que alguns aspectos principais sejam levados em consideração.

O conceito da equidade nos dá a ideia de que a distribuição do ônus tributário deve ser igual entre os diversos indivíduos de uma socie-dade. Por esse princípio, um imposto além de ser neutro deve ser equâni-me no sentido de distribuir seu ônus de maneira justa entre os indivíduos.

O conceito da progressividade mostra que se deve tributar mais quem tem uma renda mais alta.

Existem duas abordagens principais na teoria do setor público que envolvem o conceito da equidade e da progressividade. São eles: o princípio do benefício e o princípio da capacidade de pagamento. Segundo o princípio do benefício do pagamento, cada indivíduo de-veria contribuir com uma quantia proporcional aos benefícios gerados pelo consumo do bem público. Já o princípio da capacidade de paga-mento mostra que os agentes (famílias e firmas) deveriam contribuir com impostos de acordo com sua capacidade de pagamento. O imposto de renda é um bom exemplo para utilizarmos. As medidas utilizadas para medir a capacidade de pagamento são a renda, o consumo e o pa-trimônio.

O conceito da neutralidade diz que os impostos devem ser tais de forma que minimizem os possíveis impactos negativos da tributação sobre a eficiência econômica. Por esse princípio, entende-se que as decisões so-bre a alocação de recursos se baseiam nos preços relativos determinados pelo mercado. Considera-se a neutralidade do tributo quando eles não alteram os preços relativos, minimizando sua interferência nas decisões econômicas dos agentes de mercado.

Por fim, o conceito da simplicidade implica que o sistema tribu-tário deve ser de fácil compreensão para o contribuinte e de fácil arreca-dação para o governo. Por um lado, é importante que o imposto seja de fácil entendimento para quem tiver de pagá-lo. Por outro, a cobrança e

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arrecadação do imposto, bem como o processo de fiscalização, não devem representar custos administrativos elevados.

Podemos dizer que existem alguns requisitos essenciais para que o sistema tributário seja definido como ideal.

Primeiramente, a distribuição do ônus tributário deve ser equitativa, isto é, cada um deve pagar uma contribuição considerada justa. Em segun-do lugar, a cobrança de impostos deve ser conduzida no sentido de onerar mais as pessoas com maior capacidade de pagamento. Em terceiro lugar, o sistema tributário deve ser estruturado de forma a interferir o mínimo possível na alocação de recursos da economia, a fim de que não cause ine-ficiência no sistema econômico. Por fim, a administração do sistema tri-butário deve ser eficiente a fim de garantir um fácil entendimento da parte de todos os agentes da economia e minimizar os custos de fiscalização e arrecadação.

Os tipos de impostosExistem dois tipos de tributação, a direta e a indireta. Os impostos

indiretos incidem sobre os indivíduos e, em função disso, estão associados à capacidade de pagamento do contribuinte. Os impostos indiretos inci-dem sobre as atividades ou objetos, sejam eles o consumo, a venda ou a propriedade. Pode-se dizer que os tributos incidem sobre a renda, sobre o patrimônio e sobre o consumo.

Imposto de rendaEste é um imposto direto que incide sobre todas as remunerações

geradas no sistema econômico, sejam eles os salários, sejam eles os lu-cros, os juros, os dividendos e os aluguéis. Pode incidir sobre a pessoa física ou sobre a pessoa jurídica.

O imposto de renda tem uma característica progressiva, ou seja, o indivíduo ou a empresa pagam uma alíquota proporcional ao seu ganho e, à medida que aumentam o salário ou o lucro, paga-se mais.

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Pode-se dizer que esse imposto apresenta como vantagem basear-se em uma medida abrangente da capacidade de pagamento e permitir uma adaptação às características pessoais do contribuinte.

Imposto sobre o patrimônioA característica desse imposto é tributar o patrimônio do contribuin-

te pelo simples fato da posse do ativo, como é o caso do Imposto Territo-rial Urbano (IPTU) e do Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA). Em termos gerais, dizemos que a ideia desse imposto é a de que quem possui mais, paga mais, ou seja, os mais ricos pagam um IPTU maior.

Imposto sobre as vendasEsse tipo de imposto é considerado como indireto, pois incide sobre

as vendas de mercadorias e serviços. Pode ser classificado quanto à ampli-tude de sua base de incidência, sobre o estágio do processo de produção e comercialização sobre o qual incide, e quanto à forma de apuração da base para cálculo do imposto.

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4.3.4 Funções EconômicasPodemos dizer que a ação do governo através da política fiscal

abrange três funções básicas: a função alocativa – que diz respeito ao for-necimento de bens públicos –, a função distributiva – associada a ajustes na distribuição de renda que permitam que a distribuição prevalecente seja aquela considerada justa pela sociedade – e a função estabilizadora – que tem como objetivo o uso da política econômica visando a um alto nível de emprego, à estabilidade dos preços e à obtenção de uma taxa que permita o crescimento econômico.

A função alocativaSabemos que o mercado por si só não é capaz de prover determi-

nados bens e serviços de modo que se torna importante a participação do Estado. O fato de os benefícios gerados pelos bens públicos estarem disponíveis para todos os consumidores faz com que não haja pagamentos voluntários aos fornecedores desses bens. Assim sendo, perde-se o víncu-lo entre produtores e consumidores, levando à necessidade de intervenção do governo para garantir o fornecimento dos bens públicos.

Portanto, o governo deve determinar o tipo e a quantidade de bens públicos a serem ofertados e calcular o nível se contribuição de cada con-sumidor. Por não haver uma disponibilidade voluntária das pessoas em pagar um valor justo pela quantidade do bem público e por haver outras que se beneficiariam da situação sem pagar nada, há a necessidade de tributar compulsoriamente a sociedade a fim de levantar recursos para o provimento dos bens e serviços.

A função estabilizadoraNo início deste capítulo, falamos da participação mais atuante do

governo na economia no sentido de interferir nas situações de monopólio e oligopólio. É claro que a participação deste agente é muito mais ampla do que essa.

Podemos dizer que a função estabilizadora está relacionada à inter-venção do Estado na economia para alterar o comportamento dos níveis de preços e emprego, dado que o pleno emprego e a estabilidade dos pre-ços não ocorrem de maneira automática. Tais intervenções são feitas por meio de políticas fiscais, monetárias, cambiais, comerciais e de renda.

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4.3.5 A função distributiva Estudamos na microeconomia que a renda de um indivíduo ou de

uma família é proveniente do trabalho e da propriedade, sendo que a parte mais importante é a proveniente do trabalho. Sabemos que a distribuição da renda do trabalho depende da produtividade da mão de obra e da utili-zação dos demais fatores de produção. Se deixarmos o mercado operar li-vremente, teremos uma situação na qual a distribuição da renda dependerá da produtividade de cada indivíduo.

A função do governo é atuar no sentido de um agente redistribuidor da renda através do processo de tributação. Neste caso, ele tributa com uma alíquota maior as maiores rendas e transfere os benefícios para os indivíduos que têm menor renda. Um exemplo desse tipo de política é o imposto de renda negativo utilizado em alguns países desenvolvidos que implica uma transferência de renda para as pessoas que ganhem menos do que um determinado nível mínimo de rendimentos.

Outra situação promovida pelo governo é que os recursos captados pela tributação dos indivíduos de renda mais alta podem ser utilizados para o financiamento de programas voltados para uma parcela da popula-ção de baixa renda como o de construção de moradias populares.

Também existe a possibilidade de o governo taxar com alíquotas mais altas os bens considerados de luxo ou supérfluos demandados por indivíduos com rendas mais elevadas e cobrar alíquotas mais baixas de produtos de primeira necessidade.

Atividades01. Elabore um pequeno texto no qual seja possível identificar a maior ou menor participação do Estado na economia ao longo dos séculos.

02. Conceitue inflação de demanda.

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03. Discuta a seguinte afirmação: “a cobrança de impostos indiretos pe-naliza as pessoas mais pobres”.

04. Explique as funções alocativa, distributiva e estabilizadora do Estado.

05. Explique os instrumentos de política econômica.

RefCexãoOs instrumentos de política econômica correspondem a ferramen-

tas que as autoridades de um país dispõem para a obtenção de objetivos como o controle da inflação, o crescimento do PIB,a elevação do nível de emprego, a melhor distribuição de renda, entre outros. Dentre estes instru-mentos, a política fiscal e a política monetária se destacam pela frequência em que são utilizadas, além da abrangência de seus resultados. Ainda que as autoridades, ao fazerem usos dessas ferramentas, estejam objetivando alterar variáveis macroeconômicas, inevitavelmente afetarão consumi-dores individuais, famílias e empresas em suas decisões de consumo e produção. Por exemplo, supondo que o governo deseje reduzir a taxa de inflação verificada para um determinado período, ele pode optar por ele-var a taxa básica de juros da economia. No entanto, a partir do momento em que eleva a taxa de juros, ele faz com que consumidores reduzam ou deixem de realizar suas compras; quanto aos produtores, estes tendem

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a reduzir o investimento, o que tende a elevar a taxa de desemprego da economia. Pode-se perceber, por esse exemplo, que as autoridades mone-tárias, constantemente, enfrentam um dilema, pois os objetivos de política econômica são, em grande parte, conflitantes.

Leituras recomendadas

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução Allan Vidi-gal Hastings. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

SOUZA, Nali Jesus de. Curso de economia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

Referências

APARECIDA FEIJÓ, Carmem (et al.). Para entender a conjuntura econômica.Barueri: Minha Editora: Manole, 2008.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Disponível em: <http://www.bacen.gov.br/Pec/metas/TabelaMetaseResultados.pdf>. Acesso em 16/1/2010.

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FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL. World Economic Ou-tlook: Sustaining the Recovery, Outubro 2009. Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2009/02>. Acesso em 9/1/2010.

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/

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Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

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No próximo capCtuCoOs ofertantes e demandantes interagem no mercado, comercializan-

do bens e serviços, a fim de satisfazer suas necessidades. Essas interações evoluíram e ultrapassaram fronteiras, tornando-se o comércio internacio-nal. Todos os dias, em nossas vidas, consumimos produtos importados, ou que possuem algum e seus componentes importado. Isso reflete a interdependência que marca as relações comerciais entre os países atual-mente. No próximo capítulo, veremos os motivos que levam os países a comercializarem uns com os outros e a ideia que envolve a formação dos blocos econômicos.

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Minhas anotações:

Cap

CtuCo

5 O Desenvolvimento

Econômico e a Integração Internacional

Serão apresentadas algumas das principais teo-rias de comércio internacional e como estas teorias

influenciaram a política comercial ao longo dos sécu-los e, consequentemente, o desenvolvimento dos países.

Objetivos da sua aprendizagemPermitir que o aluno compreenda a importância do comércio

internacional e da formação de blocos econômicos como elemen-to promotor do desenvolvimento.

Você se lembra?Por que, atualmente, é praticamente impossível para um país viver em

autarquia, ou seja, fechado ao comércio internacional? Você sabe qual a importância das exportações e importações para uma economia? Por que os países se unem para formar blocos comerciais?

5.C Comércio e desenvoCvimento

5.C.C Protecionismo e CiberaCismo comerciaCEmbora grande parte dos autores aponte o século XVIII como sendo

o mais provável para o surgimento da Economia moderna, com a publica-ção de a Riqueza das Nações1, de Adam Smith, é durante o período mer-cantilista que foram levantadas muitas questões relevantes no âmbito da teoria e política econômica, como, por exemplo, a compreensão sobre a origem da riqueza e, principalmente, sobre as formas de incrementá-la. É importante, então, que se compreenda o conceito de riqueza vigente neste período para, posteriormente, passar à compreensão das maneiras preco-nizadas pelos teóricos para obtê-la, relacionando-as ao comércio entre os países.

No que diz respeito ao conceito de riqueza, os mercantilistas estabe-leciam uma associação direta entre a posse de metais preciosos e o enri-quecimento de um país, já que viam na moeda um fator de produção que deveria circular na economia2 . Além disso, a inexistência de teorias soli-damente fundamentadas faz com que durante este período, o conceito de riqueza esteja atrelado, principalmente, à capacidade de poder do Estado: “O poder só podia ser exercido com o apoio de exércitos bem armados, sustentados à custa de abundantes recursos” (CARVALHO e SILVA, p. 4, 2004). Segundo esses autores, um país que não possuísse metais preciosos em quantidade significativa, estaria condenado a vender seus produtos baratos outros pagando mais caro. Partindo dessa visão, procuram definir estratégias para a obtenção de metais preciosos caso o país não os tivesse em seu próprio território. Segundo Locke apud GONÇALVES (1998), importante autor do período, para se obter dinheiro do estrangeiro há ape-nas três caminhos: a força, o empréstimo ou o comércio, já que o dinheiro não era algo que pudesse ser produzido pelo Estado, mas, sim, uma dádi-va da natureza.

É neste ponto que devemos destacar a importância do comércio internacional como uma ferramenta para a obtenção de riqueza: dado que o enriquecimento de um país está, na visão mercantilista, relacio-

1 “Umainvestigaçãosobreanaturezaeascausasdariquezadasnações”foipublicadoem1776eéconsideradopelamaioriadosautorescomoomarcodaciênciaeconômicamoderna.

2 Aocontráriodavisãomedieval,segundoaqualosmetaispreciososdeveriamserentesourados(acumuladoseguardados)paraseremutilizadosemmomentosdeespecialnecessidade,comoumaguerra,porexemplo,paraosmercantilistas,aimportânciadamoedaestavanasuacapacidadeematenderàcrescentenecessidadedemoedaqueseconfiguravaemdecorrênciadoaumentodaatividadecomercial.

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nado à acumulação de metais precisos, um superávit comercial3 fará com que um país receba mais metais preciosos do que envia ao exte-rior, acumulando moeda e, portanto, se tornando mais rico. Partindo desta concepção, é fácil compreender a postura protecionista do Esta-do mercantilista, de forma que as políticas comerciais eram focadas no aumento das exportações e redução das importações, a fim de proteger a circulação monetária doméstica.

Esta visão foi contestada por inúmeros autores, sendo que David Hume, em seu mecanismo do preço-fluxo em espécie de metais preciosos, considera “impossível e indesejável” o superávit comercial persistente defendido pelos mercantilistas: segundo este autor, um país com superávit comercial vai acumular metais preciosos (moeda) e, consequentemente, terá uma elevação no seu nível geral de preços (inflação), o que torna esse país menos competitivo, causando uma redução nas suas exportações e elevação das suas importações. Por outro lado, o país deficitário perderia moeda, teria uma deflação, o que tornaria os seus produtos mais competi-tivos, gerando o equilíbrio comercial.Tem-se, assim o início de uma nova fase no que diz respeito ao tratamento que deveria ser dado ao comércio internacional, passando-se a se advogar em defesa da liberdade comercial entre os países, com destaque para autores como Adam Smith e David Ricardo.

5.C.2 Teorias de comércio internacionaC: vantagem absoCuta e vantagem comparativa

Como visto, um dos primeiros autores a criticar severamente a polí-tica protecionista mercantilista foi David Hume, no entanto, Adam Smith é considerado o teórico mais importante no que diz respeito à defesa do liberalismo econômico no funcionamento da economia como um todo e, em particular, nas questões relacionadas ao comércio internacional.Segundo este autor, que também busca identificar os determinantes do enriquecimento de uma nação, a riqueza está no lado real da economia, no aumento da produtividade: se um país consegue produzir uma mercadoria utilizando menos horas de trabalho que o seu concorrente, então será mais competitivo e, portanto, terá vantagens na hora de vender o seu produto. Porém, uma maior produtividade depende da chamada divisão do trabalho

3 Abalançacomercialcorrespondeàdiferençaentreasexportaçõeseimportaçõesdeumpaís.Paraqueosaldodabalançacomercialsejasuperavitário,ovalordasexportaçõesdevesuperarovalordasimportações.

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ou especialização, segundo a qual, um trabalhador deverá se tornar mais “hábil” na sua atividade e, portanto, mais produtivo, se for repetidamente submetido à mesma tarefa. Desta forma, a divisão do trabalho gera um au-mento da produtividade que, por sua vez, gera um excedente de produção que deve ser trocado no mercado por aquele item não produzido por esta economia, já que se parte do pressuposto de que cada país também deverá se especializar para ser mais competitivo.

A partir deste argumento, pode-se perceber que para este autor, a riqueza estará condicionada ao tamanho do mercado, visto que a especia-lização e geração de excedente pressupõe um amplo mercado consumidor, e, por outro lado, um mercado fornecedor daqueles bens não produzidos internamente. Neste cenário, torna-se vital o livre comércio e, portanto, a divisão internacional da produção a fim de se viabilizar o crescimento e desenvolvimento econômico dos países. Em última instância, para Adam Smith, a amplitude do mercado determinava o grau de especialização que uma economia poderia alcançar, e, consequentemente, a sua produtivida-de e riqueza.

A partir da defesa do livre comércio entre os países, os autores se veem diante de uma nova questão: se há comércio e, portanto, especiali-zação, em qual (ou quais) bem (bens) cada país deveria se especializar? Surge, então, uma das primeiras teorias de comércio internacional, a te-oria das vantagens absolutas de Adam Smith, segundo a qual, cada país deveria se especializar na produção daquele bem que produz utilizando um número menor de horas de trabalho relativamente aos outros países4.

Para a melhor compreensão desta teoria, vamos supor dois países: A e B, e duas mercadorias X eY. Suponha ainda que a mão de obra (L) seja o único fator de produção necessário à produção desses dois bens. A tabela seguinte se refere ao número de horas necessárias à produção de cada bem em cada país:

PaísBem A B

X 1 2Y 4 3

Tabela 5.1 – Número de horas necessárias à produção de cada bem em cada país

4 SegundoAdamSmith,umdosteóricosdovalortrabalho,ovalordeumbemestábaseadonovalordotrabalhoincorporadoàsuaprodução,deformaquemenoshorasdetrabalhoresultamemumbemmaiscompetitivo.

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Verifica-se que o país A consegue produzir 1 unidade do bem X fa-zendo uso de 1 hora de trabalho, enquanto o país B consegue produzir o mesmo bem utilizando o dobro do número de horas de trabalho. No caso do bem Y, o país A utiliza 4 horas para produzir 1 unidade deste bem, en-quanto o país B faz uso de apenas 3 horas de mão de obra. Desta forma, segundo Smith, o país A tem vantagem absoluta na produção do bem X enquanto o país B possui vantagem absoluta na produção do bem Y, de-vendo, cada um, se especializar na produção do respectivo bem e, então, trocar o excedente no mercado internacional.

É importante destacar que para este autor, o comércio internacional vai beneficiar as duas partes envolvidas no negócio, contrariando a visão mercantilista segundo a qual o benefício de um país, via aumento de suas exportações, se daria à custa da piora da situação do seu parceiro comer-cial, que deveria estar importando. Ainda: se todos os governos de todos os países buscassem maximizar suas exportações e minimizar suas impor-tações, os países se fechariam de forma que inviabilizariam o comércio internacional. Adam Smith, então, além de propor uma nova forma de tratamento ao comércio internacional, estabelece uma relação entre esta atividade e o aumento do bem-estar mundial: à medida que os bens fos-sem produzidos em países que fazem uso de uma menor quantidade de trabalho, na totalidade, mais bens poderiam ser produzidos e distribuídos entre os países, o que geraria maior desenvolvimento global.

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David Ricardo: importante pensador inglês autor da Teoria das Vantagens Comparativas

Apesar da teoria das vantagens absolutas abrir um novo cenário em termos de abordagem das questões relacionadas ao comércio internacio-

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nal, é possível perceber que alguns países poderiam ficar excluídos do comércio internacional por não possuírem vantagem absoluta em nenhum produto. Por exemplo, suponha os mesmos países e os mesmos bens ci-tados anteriormente, mas com novas configurações em termos de número de horas necessárias à produção desses bens, conforme tabela:

PaísBem A B

X 1 2Y 3 4

Tabela 5.2 – Número de horas necessárias à produção de cada bem em cada país

Supondo um mundo simplificado no qual existam somente estas duas economias, percebe-se que o país A possui vantagem absoluta na produção dos dois bens, X e Y, comparativamente ao país B. Desta forma, não have-ria interesse do país A em importar nada do país B, e, portanto, não existiria comércio entre eles. Para preencher esta lacuna, e promovendo o desenvol-vimento das teorias que defendem o livre comércio, David Ricardo enuncia a teoria das vantagens comparativas, segundo a qual um país tem vantagem comparativa na produção de um bem se possuir menor custo de oportunidade na produção deste bem relativamente a outros países.

O custo de oportunidade de um bem A em termos de um bem B se refere ao número de unidades deste último bem que se deixa de produzir quando se opta

pela produção adicional de uma unidade do bem A. Por exemplo, suponha que um confeiteiro tenha de escolher entre a produção de bolos e tortas, sendo que a produção de 1 torta leva 2 horas e a produção de 1 bolo leva 1 hora. Caso este tra-balhador opte pela produção de 1 torta, estará deixando de produzir 2 unidades de bolo, ou seja, o custo de oportunidade da torta corresponde às 2 unidades de bolo não produzidas*. Este conceito é de fundamental importância para a economia, pois esta ciência tem como seu principal objeto de estudo a escassez de recursos frente a necessidades humanas potencialmente ilimitadas, de forma que uma boa aloca-ção desses recursos deve se pautar em menores perdas, ou, usando a terminologia ricardiana, em menores custos de oportunidade.

*OcustodeoportunidadedobemAemtermosdobemBécalculadodaseguinteforma:temponecessárioàproduçãode1unidadedobemA/temponecessárioàproduçãode1unidadedobemB.Noexemplo,ocustodeoportunidadedatortaemtermosdebolo=2/1=2.

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Utilizando o exemplo anterior, verifica-se que caso o país A resolva produzir 1 unidade adicional do bem X, terá de deixar de produzir 0,33 unidades de Y; no país B, a produção de 1 unidade do bem X exigiria um sacrifício de 0,5 unidades de Y. Desta forma, verifica-se que o país A tem vantagem comparativa na produção de X, pois possui um menor custo de oportunidade na produção deste bem relativamente ao país B. Por ou-tro lado, na produção adicional de 1 unidade do bem Y, o país A perde 3 unidades de X enquanto o país B perde 2 unidades, o que confere a este último país a vantagem comparativa na produção do bem Y.

Nota-se uma diferença fundamental entre o modelo das vantagens absolutas de Smith e o das vantagens comparativas de Ricardo: neste últi-mo, mesmo países que não sejam eficientes na produção de nenhum bem, ou seja, que não possuam vantagem absoluta, ainda assim estarão incluí-dos no comércio internacional por possuírem menores custos relativos de produção das mercadorias, de forma que qualquer país seria beneficiado com o comércio bilateral, o que justifica a postura de que mais comércio é sempre melhor que menos comércio.

O legado de Adam Smith e de David RicardoHá tempos os economistas entendiam o princípio da vantagem

comparativa. Eis o argumento do grande economista Adam Smith:A máxima que todo chefe de família prudente deve seguir é

nunca tentar fazer em casa o que lhe custará mais caro fazer do que comprar. O alfaiate não tenta fabricar seus sapatos, mas os compra do sapateiro. O sapateiro não tenta confeccionar suas próprias roupas, mas as compra do alfaiate. O fazendeiro não tenta fazer nem um nem outro, mas se vale de artesãos. Todos constatam que é mais interes-sante usar suas próprias capacidades naquilo que tem vantagem sobre seus vizinhos e comprar, com parte do resultado de suas atividades, ou, o que vema dar no mesmo, com o preço de parte delas aquilo de que venham precisar.

Essa citação é do livro de Adam Smith A Riqueza das Nações, publicado em 1776 e considerado um marco na análise do comércio e interdependência econômica.

O livro de Smith inspirou David Ricardo, um corretor de valores milionário, a tornar-se economista. Em seu livro de 1817, Princípios de Economia Política e Tributação, Ricardo desenvolveu o princípio

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da vantagem comparativa tal como hoje o conhecemos. Sua defesa de livre comércio não foi um mero exercício acadêmico. Ele utilizou suas teorias na qualidade de membro do Parlamento Britânico, em que fez oposição às leis dos Cereais, que restringiam a importação destes.

As conclusões de Adam Smith e Ricardo sobre os ganhos de co-mércio se sustentaram ao longo do tempo.

Embora os economistas muitas vezes divirjam em questões de política econômica, estão unidos no apoio ao livre comércio. Ademais, o argumento central em favor do livre comércio não mudou muito nos dois últimos séculos. Embora o campo da economia tenha ampliado seu alcance e as teorias tenham sido refinadas desde os tempos de Smith e Ricardo, a oposição dos economistas às restrições ao comércio ainda são baseadas, em grande parte, no princípio da vantagem com-parativa.

MANKIW, 2007, p. 53

5.C.3 Teoria da deterioração dos termos de trocaApesar da associação entre comércio internacional e desenvolvimento-

econômico exposta nas teorias clássicas de comércio internacional, a partir de meados do século XX, começam a surgir fortes críticas a este modelo liberal de comércio, sendo uma das principais a teoria da deterioração dos termos de troca, também conhecida como crítica estruturalista ou cepalina.

“O estruturalismo é uma corrente teórica latino-americana que teve por origem os trabalhos de Raul Prebisch, realizados na CEPAL. Esta procurava identificar as raízes do subdesenvolvimento dos países latino-americanos e a forma de superação. Segundo essa concepção, o subdesenvolvimento é decorrente da forma como se estruturam essas economias. Atenta-se principalmente para o tipo de inserção internacional destas, baseada no princípio das vantagens comparativas, que as levou à especialização na produção e exportação de alguns poucos produtos primários. A superação desse pro-blema se daria por meio da industrialização, a qual se daria de forma espontânea, mas mediante forte participação do Estado” (GREMAUD, 2011).

O entendimento desta teoria pressupõe, inicialmente, que se com-preenda a expressão “termos de troca”, que corresponde à razão entre o preço do bem que o país exporta (Px) e o preço do bem que o país importa

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(Pm). Exemplificando: imagine que o país A ex-porte soja a $ 5,00 a unidade e importe chip de celular a $ 10,00 a unidade. Neste caso, sim-plificado, tem-se 5/10 = 0,5, o que significa que ao exportar 1 unidade de soja o país con-segue importar 0,5 unidade de chip.

De acordo com a teoria, os países menos desenvolvidos, exportadores de bens primários, estariam em permanente desvantagem em participar do comércio internacional com o grupo de países desenvolvidos, expor-tadores de bens manufaturados, o que decorre da evolução desigual no preço desses dois itens: com o passar do tempo, segundo os autores, há uma redução no preço dos bens primários relativamente ao preço dos bens manufaturados, o que reduz, ou deteriora, os termos de troca dos países menos desenvolvidos, obrigando-os a exportar cada vez mais em troca da mesma unidade do bem importado. Essa evolução desigual no preço dos bens exportados e importados é explicada pelos cepalinos como sendo uma consequência das diferentes elasticidades-renda5 da demanda desses dois tipos de bens: à medida que a renda dos países aumenta, ocorre um aumento na demanda por bens manufaturados maiores que na demanda por bens primários, de forma que os bens manufaturados terão seus preços elevados relativamente aos bens primários. Ou seja, o fato de os bens pri-mários possuírem demanda menos sensível à variação na renda frente aos bens manufaturados faz com que estes últimos fiquem relativamente mais caros como o passar do tempo.

Apesar da crítica cepalina, teóricos, de maneira geral, contra-argu-mentam que os ganhos do comércio internacional superam as possíveis perdas. Dentre os benefícios deste comércio pode-se citar:

• diversidade de produtos: a população seria beneficiada com uma maior variedade de produtos à sua disposição;

• ganhos de eficiência: a concorrência estabelecida com o co-mércio força as empresas a se tornarem mais eficientes em seus custos e a aumentar a qualidade de seus produtos;

• ganhos de escala: o comércio internacional amplia os merca-dos consumidores, de forma que as empresas podem produzir em maiores escalas, o que reduz o custo médio do produto;

5 Aelasticidade-rendadademandacorrespondeàvariação(%)naquantidadedemandadadeumbemparaumadadavariação(%)narendadoconsumidor.

Conexão:

Conheça um pouco mais sobre a CEPAL visitando sua página: http://www.eclac.org/

brasil/

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• vantagens em processo de estabilização: em países com problemas de inflação elevada, o comércio livre pode ser um aliado na busca pela redução de preços à medida que aumenta a competição entre as empresas.

5.2 Integração econômica e desenvoCvimento

5.2.C Fases da integraçãoSegundo GONÇALES (1998, p. 76):

a integração econômica pode ser definida como o processo de criação de um mercado integrado, a partir da progressiva eliminação de barrei-ras ao comércio, ao movimento de fatores de produção e da criação de instituições que permitam a coordenação, ou unificação, de políticas econômicas em uma região geográfica contígua ou não”. A partir desta definição, pode-se perceber que o processo de integração visa, dentre outros, o incremento do comércio entre os países ou entre um grupo de países, de forma que esta possa contribuir para elevar a produção, o consumo e, consequentemente, o bem-estar da sociedade.

Embora o termo integração econômica possa parecer algo novo, na verdade, já era objetivado, no passado, ainda que via invasões ou conquistas. Mais recentemente, ou a partir do século XX, a busca pela integração ganhou configuração mais harmoniosa, sendo alcançada via acordos entre países com interesses comuns, como é ocaso da União Europeia ou mesmo de projetos menos consolidados, como o Mercosul. Antes de exemplificar esses casos de integração econômica na sua forma mais moderna, cabe apresentaros diferen-tes tipos de integração econômica, cuja classificação vai depender do maior ou menor grau de interdependência entre os países envolvidos, conformedeta-lha CARVALHO e SILVA (2004, p. 228):

• zona de livre comércio: neste tipo de integração, os países eliminam as barreiras ao comércio, porém, mantém políticas comerciais distintas;

• união aduaneira: além da eliminação das barreiras comerciais entre os países membros, ocorre também a unificação das polí-ticas relativas ao comércio;

• mercado comum: a liberdade vai além do comércio de mer-cadorias, alcançando, também, a movimentação dos fatores de

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produção, como mão de obra, por exemplo; além de permane-cer a homogeneidade das políticas comercias;

• união econômica: além das flexibilidades anteriores referentes à livre movimentação de mercadorias e fatores de produção e políticas comerciais uniformes, nesta fase da integração, tor-nam-se uniformes, também, outras políticas econômicas;

• integração econômica total: neste último grau de integração, além das características contempladas na união econômica, estabelece-se a completa igualdade de condições entre todos os agentes econômicos dos países membros.

Fases da integração econômica CARVALHO e SILVA (2004, p. 229)

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É importante lembrar que apesar da exposição didática sistematiza-da das etapas de integração feita anteriormente, na prática, os países que desejam firmar maior interdependência de suas economias não precisam, necessariamente, seguir rigorosamente a ordem anteriormente apresenta-da. Se um grupo de países se enquadra em um ou outro tipo vai depender das características predominantes ou, ainda, este mesmo bloco pode estar em uma fase, como a união aduaneira, por exemplo, mas objetiva alcançar o mercado comum.

China, Japão e Coreia do Sul preparam área de livre comércio.

Os líderes de China, Japão e Coreia do Sul concordaram neste domingo em iniciar este ano conversações para estabelecer uma área de livre comércio para estimular a economia da região.

O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, disse que uma integra-ção econômica regional mais estreita como resposta a uma lenta recu-peração global e a um crescimento do protecionismo do comércio pode liberar um novo potencial de crescimento.

“O nordeste asiático é a região mais dinâmica do mundo. Há ali um grande potencial para que nossos três países tenham uma estreita cooperação comercial e de investimentos”, afirmou. “A criação de uma área de livre comércio liberará a vitalidade econômica de nossa região e dará um impulso maior à integração econômica no Leste asiático”, completou Wen.

As declarações de Wen foram feitas na capital chinesa depois de ele reunir-se com o presidente sul-coreano Lee Myung-Bak e com o primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda.

O poder aquisitivo conjunto de China, Japão e Coreia do Sul representa a maior zona econômica do mundo, à frente da União Euro-peia. Pelo volume de seu PIB, a China é a segunda economia do plane-ta e o Japão a terceira.

Para o Japão, estas negociações sobre uma zona de livre comér-cio se somam aos trâmites para que o país possa aderir à chamada As-sociação Transpacífico (TPP), promovida pelo presidente americano, Barack Obama, e que pretende converter-se na maior zona de livre comércio do mundo.

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“Vamos promover em paralelo o TPP e este acordo de livre comércio bilateral. Estes esforços serão mutuamente benéficos”, disse o primeiro-ministro japonês.

O presidente sul-coreano, por sua vez, afirmou que quando a economia está em crise, é preciso criar zonas de livre comércio com urgência.

“Em tempos de crises, os países que tentam se proteger adotan-do ideias protecionistas tornam mais lenta a recuperação econômica”, afirmou.

Pequim, Tóquio e Seul – cujas economias dependem em grande medida de suas exportações – querem reforçar o comércio da região, para resistir à diminuição da demanda de seus principais clientes na Europa e América do Norte.

No encontro deste domingo, os dirigentes dos três países também firmaram um acordo de investimentos concluído após 13 sessões de negociações que se prolongaram durante cinco anos.

<http://veja.abril.com.br/noticia/economia/china-japao-e-coreia-do-sul-preparam-area-de-livre-comercio>

Quando se fala em integração econômica, é importante destacar que este movimento pode objetivar:

• a exploração das vantagens comparativas de cada país via maior liberalização comercial e, consequentemente, a busca da especialização;

• o estabelecimento de políticas protecionistas.

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Integração econômica no mundo

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No primeiro caso, a integração ou maior interdependência entre os países está totalmente fundamentada na teoria clássica de comércio inter-nacional, de forma que tal processo deve visar ao incremento do comércio entre os países, elevando a produção, o consumo e, consequentemente, o bem-estar da sociedade. Posteriormente, vários teóricos passaram a defender a liberalização comercial mesmo que para um grupo de países, em detrimento de outros, argumentando a favor da formação dos blocos econômicos. No entanto, apesar desta defesa teórica pelo aumento do comércio internacional ainda que discriminatória e restrita a um conjunto de países, o comércio intra-bloco, é importante destacar que o processo de integração sob esta configuração tem sido entendido mais como uma forma de protecionismo desenvolvimentista. OZollverein, por exemplo, acordo datado de 1834, foi assinado entre vários estados da Alemanha com o objetivo de promover maior liberdade comercial entre os estados-membros e, consequentemente, maior desenvolvimento. Neste sentido, podemos tam-bém destacar a experiência de integração latino-americana que, influen-ciada pela CEPAL (Comissão econômica para América Latina e Caribe), estimulou a maior liberdade de comércio entre os países membros em detrimento do comércio multilateral, a exemplo da ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio), acordo firmado em 1960, e ALA-DI (Associação Latino-Americana de Integração), de 1980, movimentos precursores da integração regional na América Latina.

5.2.2 BCocos econômicos5.2.2.C O inCcio da integração Catino-americana: ALALC e ALADI

Influenciados pelos pensadores cepalinos, a partir da segunda me-tade do século XX, os países da América Latina passaram a buscar a integração econômica visando ao desenvolvimento desta região. Assim, vários países da América latina6 assinaram, nos anos de 1960, o Tratado de Montevidéu, originado a ALALC (Associação Latino-americana de Livre Comércio).

De acordo com CARVALHO E SILVA (2004, p. 234), as vantagens desta estratégia de integração eram:

6 AlémdoBrasil, assinaramo tratadodeMontevidéu:Argentina,Bolívia,Chile,Colômbia,Equador,México,Paraguai,Peru,UruguaieVenezuela.

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• maior aproveitamento das vantagens comparativas regionais:cada país deveria se especializa naquele bem em que possui menor custo unitário dado que entre o grupo de países vigora o livre comércio, ao mesmo tempo em que a indústria latino-americana estaria protegida da concorrência de outros países;

• criação de economias de escala: a união aduaneira permite que, através da ampliação do mercado, as empresas possam produ-zir em maiores escalas, o que pode significar maior eficiência;

• maior variedade de produtos: se o mercado é pequeno, dificil-mente as empresas conseguem fornecer uma grande diversi-dade de produtos, porém, à medida que se estabelece a união aduaneira, tem-se uma maior variedade de produtos e menores preços;

• maior concorrência intra-regional: quanto maior o mercado, maior é a concorrência estabelecida entre os ofertantes, o que melhora a alocação de recursos, aumenta a competitividade e reduz o preço.

Economia de escala: produção de bens em larga escala, com vistas a uma consi-derável redução nos custos. Também chamadas de economias internas, as economias de escala resultam da racionalização intensiva da atividade produtiva [...]. Representada fisicamente por gigantescas unidades de produção, as empresas de economia de escala possibilitam o emprego de amplo contingente de mão de obra altamente qualificada, grande capacidade de estocagem de produção e de matérias-primas. Seu elevado grau de especialização garante melhores processos e métodos de controle de qualidade da produção e maior uniformidade na padronização dos produtos. Além disso, os recursos colocados à sua disposição possibilitam maiores investimentos na pesquisa e na criação de novos produtos, além da elaboração de eficientes campanhas publicitárias e sólidas estratégias de marketing (SANDRONI, 1999, p. 190).

Segundo MAIA (2004, p. 195) e CARVALHO e SILVA (2004, p. 235), a ALALC não obteve sucesso devido a fatores como:

• instabilidades políticas dos países componentes;• instabilidade monetária;• rejeição política à integração, que era vista por alguns países

como perda de soberania;

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• falta de autoridade supranacional que pudesse fazer cumprir as regras preestabelecidas;

• heterogeneidade dos países-membros;• troca de produtos quase que exclusivamente primários;• longas distâncias;• atraso tecnológico;• falta de transporte e dificuldade de comunicação.

Em substituição à ALALC7 , nos anos de 1980, foi instituída a ALA-DI (Associação Latino-Americana de Integração), cujo objetivo era, no longo prazo, estabelecer um mercado comum latino-americano, através da chamada política de preferência tarifária regional, segundo a qual todas as barreiras alfandegárias, e não apenas as tarifas, devem ser menores entre os países da região relativamente aos países não membros.

Os países foram divididos em grupos e classificados como:• menos desenvolvidos: Bolívia, Equador e Paraguai;• intermediários: Chile, Colômbia, Cuba, Peru, Uruguai e Vene-

zuela;• mais desenvolvidos: Argentina, Brasil e México.

Esta divisão foi estabelecida uma vez que se entende que o referido grupo de países possui significativas diferenças entre seus membros, de forma que os mais avan-çados devem conceder maior redução tarifária relativamente aos menos avançados. Além disso, A ALADI, ao contrário da ALALC, também permite a realização de acordos de alcance regional. A exemplo do que ocorre com o estabelecimento do Mercosul (Mercado Comum do Sul).

7 AlémdosjácitadospaísesquecompunhamaALALC,aALADIincluiutambémCuba.Posteriormente,Panamá(2012)passouafazerpartedaALADIe,atualmente,aNicaraguáprocuracumprirascondiçõesparasetornarumpaís-mebro.

Conexão:

Quem quiser conhecer mais sobre a ALADI, bem

como comércio entre países- -membros, história, políticas de comércio etc. visite<http://

www.aladi.org/>.

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5.2.2.2 O MercosuC

O Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi instituído pelo trata-do de Assunção, assinado em 1991 entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai8 , como o objetivo de, inicialmente, compor uma zona de livre comércio, para, posteriormente, formar um mercado comum, objetivando a substituição de quatro mercados independentes por um mercado único, integrado, permitindo aos países-membros usufruírem de economias de escala e dos ganhos do livre comércio. Conforme citado anteriormente, o Mercosul é previsto dentro da ALADI no âmbito dos acordos de alcance regionais.

Dentre os principais objetivos do Mercosul, destacam-se:• livre circulação de mercadorias e serviços: através da elimi-

nação de barreiras alfandegárias para as mercadorias fabricadas dentro do Mercosul;

• estabelecimento de uma tarifa externa comum (TEC): cabe aos países-membros o estabelecimento de uma tarifa alfande-gária única para os países que não compõem o bloco;

• coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais: mo-netária, cambial, agrícola, de comércio exterior etc.;

• compromisso dos estados-partes em harmonizar as legisla-ções dos países: a fim de facilitar a consolidação do processo de integração;

• livre circulação de fatores de produção: a mão de obra, por exemplo, deve poder circular livremente dentro dos países- -membros, além de desfrutar de direitos civis e trabalhistas iguais aos dos trabalhadores domésticos.

O Mercosul responde por 71,8% (12.789.558 km²) do território da América do Sul, possui cerca de 3 vezes a área da União Europeia e, quanto à população, corresponde a 69,78% da população da América do Sul. O PIB conjunto dos países do Mercosul, em termos nominais, alcançou, em 2011, US$ 3,32 trilhões, colocando este bloco como quinta

8 Posteriormente,outrospaísesaderiramaoMercosul,nãocomopaíses-membrosmascomopaísesassociados,oqueospermiteintegraraáreadelivrecomércio,porém,nãosãoobrigadosaadotarematarifaexternacomum(TEC) aomesmo tempo em que não tem direito a voto. São eles: Chile, Bolívia, Peru, Venezuela eCAN(ComunidadedasNaçõesAndinas),que,alémdeChile,Bolívia,PerueVenezuela,jáassociadosaoMercosul,éformadatambémporEquadoreColômbia.

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posição na economia mundial se fosse considerado como um único país, conforme tabela que segue:

País PIB (US$ milhões) 1. Estados Unidos 15.094.0252. China 7.298.1473. Japão 5.869.4714. Alemanha 3.577.031Mercosul 3.324.5015. França 2.776.3246. Brasil 2.492.9087. Reino Unido 2.417.5708. Itália 2.198.7309. Canadá 1.736.86910. Índia 1.676.143

Tabela 5.3 – PIB por países/blocoWEO /FMI apudhttp://www.mercosul.gov.br/dados-gerais apud

De 1990 a 1998, o comércio intra-zona do Mercosul apresentou desempenhou favorável, saltando de US$ 4126 milhões para US$ 20359 milhões . Em 2011, os dados do comércio intra-zona apontam para US$ 62.694 milhões, conforme tabela. Apesar do crescimento deste comércio e da importância da economia do Mercosul, considerada no seu conjunto, a consolidação deste bloco como mercado comum está longe de ser al-cançada. Dentre os principais fatores que dificultam a consecução deste mercado comum, destacam-se as grandes diferenças existentes entre os países-membros e, principalmente, as instabilidades econômicas. A partir de 1999, por exemplo, os principais países-membros deste bloco, Brasil e Argentina, entraram em crise econômica. Naquele 1º país, o abandono de uma taxa de câmbio fixa causou uma grande desvalorização da moeda doméstica, o real (R$), fato que tornou os produtos brasileiros mais com-petitivos, evidenciando vários problemas nos parceiros comerciais, em particular a Argentina, país, aliás, que já sinalizava a iminência de uma forte crise em virtude de uma moeda artificialmente valorizada, há uma década, e um sistema industrial pouco competitivo, não modernizado. O efeito surgiu em cadeia, sendo que Uruguai e Paraguai também foram afetados, sendo que, nesta última economia, o alcance da crise foi em vir-tude dos sucessivos problemas no seu sistema financeiro. Neste cenário,

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aplicam-se as chamadas salvaguardas, elevando-se as restrições às impor-tações, mesmo de bens e serviços comercializados intra-bloco. O Brasil, por exemplo, foi muito prejudicado em suas exportações de automóveis, aço, calçados e têxteis. Além disso, as discussões em prol da construção de uma área de livre comércio das Américas (ALCA), muitas vezes, con-tribui para enfraquecer o comércio dentro do Mercosul. Segundo GON-ÇALVES (1998, p. 107): “o desenvolvimento futuro do Mercosul foi mar-cado por essa contradição: avançado em alguns aspectos, pretensioso em seus objetivos, mas com problemas de coordenação de política econômica e com indefinição em áreas importantes, como é o caso da lista de exceção da tarifa externa comum” 9.

País 2007 2008 2009 2010 2011Argentina 13629 17543 14876 18559 22577

Brasil 22078 26887 19439 26455 32444Paraguai 1386 2392 1650 2303 2908Uruguai 1353 1840 1723 2415 2726

Venezuela 1123 1548 1443 1703 2039Mercosul 39569 50210 39131 51435 62694

Tabela 5.4 – Exportações intra-bloco (2007-2011 – US$ milhões)<http://alicewebmercosul.desenvolvimento.gov.brapudhttp://

www.mercosul.gov.br/dados-gerais>

Conexão:Leia a entrevista de Roberto Azevedo, diretor-geral da OMC, e entenda que estra-tégias faltam para o Brasil aumentar seus parceiros comerciais.<http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/03/broberto-azevedob-o-brasil-nao-pode-se-confinar-america-do-sul.html>

9 NasdiscussõesarespeitodaTEC,oproblemacentralresidianodiferenteníveldeindustrializaçãodecadapaís-membro:porexemplo,paraoBrasil,quetemumparqueindustrialmaisconsolidado,essatarifadeveriasermais elevada frente à importação de umamáquina, a fim de proteger a indústria local; porém, paísescom parques menos desenvolvidos, deveriam ter alíquotas menores. Diante das inúmeras objeções aoestabelecimentodaTEC,criou-seuma“listadeexceções”.

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5.2.2.3 A União Europeia

De todos os blocos existentes, o mais abrangente e consolidado é a União Europeia, cuja origem remonta, em 1948, à união aduaneira co-nhecida como Benelux10 que, em 1951, pelo tratado de Paris, dá lugar à Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA). Inicialmente, o obje-tivo era uma fusão de interesses comerciais com a eliminação de barreiras alfandegárias entre os países-membros e o estabelecimento de uma tarifa aduaneira comum aos países não participantes. Posteriormente, a CECA foi substituída pelo Mercado Comum Europeu, pela Comunidade Eco-nômica Europeia e, atualmente, constitui a União Europeia, instituída em 1993, através da assinatura do Tratado de Maastricht. Atualmente, é com-posta pela união de 28 países11 que possuem instituições supranacionais independentes, a saber: o Parlamento Europeu, O Conselho da União Eu-ropeia, a Comissão Europeia, o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas e o Banco Central Europeu.

Existe um mercado comum que possui um sistema padronizado de leis que se aplicam a todos os Estados-membros. As políticas da União Europeia visam assegurar a livre circulação de pessoas, mercadorias, ser-viços e capitais, além de estabelecer políticas comuns de comércio, agri-cultura, desenvolvimento regional, dentre outras. Para alguns países, foi instituída a Zona Euro, a união monetária, criada em 1999, e é atualmente composta por 18 Estados-membros. Com uma população total de mais de 500 milhões de pessoas, o que representa 7,3% da população mundial, a UE gerou um produto interno bruto (PIB) de 12,2 mil milhões de eu-ros, em 2010, o que representa cerca de 20% do PIB global (Disponível em::<http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Europeia>).

10 CompostaporBélgica,HolandaeLuxemburgo.11 Alemanha,Áustria,Bélgica,Bulgária,Chipre,Croácia,Dinamarca,Eslováquia,Eslovênia,Espanha,Estônia,

FinLândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos,Polônia,Portugal,ReinoUnido,RepúblicaCheca,RomêniaeSuécia.

UE e Mercosul correm com acordo para liberar 90% do comércio

(...) Receio europeu Do lado europeu, a grande resistência ao avanço das negociações

provém principalmente do agronegócio francês e irlandês. Bernard Lannes, presidente da Coordenação Rural (CR) (segundo maior

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sindicato agrícola da França), reclama do silêncio da Comissão Europeia em torno à retomada de negociações com os Estados Unidos e com o Mercosul. “O Brasil, gigante agroalimentar, e a Argentina, terão tudo a ganhar com tal acordo”, exalta em artigo publicado nesta quinta-feira. “Esses países não tem sequer as mesmas normas que a UE em matéria de utilização de pesticidas e de organismos geneticamente modificados (OGM)”, protesta.

Já os irlandeses manifestaram preocupação com o possível au-mento da importação de carnes do Mercosul. Para a Associação de Fazendeiros Irlandeses (Ifa), o acordo de livre comércio fechado entre UE e Canadá em outubro do ano passado já prejudicou muito o setor agrícola europeu e não deveria se repetir com EUA e a América do Sul. Sobre o Brasil, o secretário geral da Ifa, Pat Smith, ressalta que o preço da carne brasileira é 50% menor do que na Europa.

Por outro lado, as associações baseadas em Bruxelas para coope-ração internacional apresentam a mesma face da moeda com mais oti-mismo. “O setor agroalimentar brasileiro é muito competitivo e poderá permitir um comércio mais equilibrado entre os blocos. As exportações da UE estão concentradas em produtos de maior valor como azeite, vinhos, malte e outras bebidas. Com o possível acordo, os produtos agroalimentares da UE também terão mais cota de mercado brasileiro e por consequência do Mercosul”, afirma o presidente da EUBrasil.

Arnaldo Abruzzini, secretário-geral da Eurochambres, associa-ção de comércio que reúne cerca de 20 milhões de empresas na UE, também pondera que existe complementaridade e que ambos os blo-cos devem buscar uma situação em que todos ganham. “Ao considerar que a UE recentemente conseguiu reformar internamente sua Política Agrícola Comum (Pac), fico confiante de que a Europa também pode avançar deste lado das negociações (com o Mercosul)”, conclui.

Prestes a terminar o mandato de comissário europeu de Comér-cio, De Gucht também defende a continuidade da abertura do comércio internacional sobretudo em tempos de crise. “Nenhum país nunca se desenvolveu com fronteiras fechadas: economias abertas crescem mais rapidamente e tornam-se mais competitivas. Especialmente em tempos de crescimento lento em casa e as políticas orçamentais rigorosas, o comércio é uma maneira muito eficiente em termos de custo para im-pulsionar o crescimento”, argumenta.

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Fim do Mercosul? Dentro do Brasil, uma das maiores críticas ao avanço das nego-

ciações com a UE veio do ex-alto representante-geral do Mercosul, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que vaticinou em artigo pu-blicado em abril que um acordo entre a UE e o Mercosul seria o “início do fim” do bloco do cone sul. Entre vários pontos, ele indica que como a tarifa média de 4% para produtos industriais na UE é muito mais baixa do que a tarifa média aplicada no Mercosul, de cerca de 12%, a União Europeia teria, no caso de uma eliminação recíproca de 90% das tarifas, uma vantagem muito maior do que o Brasil. “E o atual déficit brasileiro no comércio de produtos industriais com a Europa, que já é significativo e crônico, se agravaria ainda mais, mesmo com o período de desgravação de quinze anos”, opinou.

Disponível em: <http://www.jb.com.br/economia/noticias/2014/05/17/ue-e-mercosul-correm-com-acordo-para-liberar-90-do-comercio/>

Atividades

01. Explique porque os mercantilistas defendiam o protecionismo comercial.

02. A tabela abaixo se refere ao número de horas necessárias à produção de bananas e maças nos países X e Y:

PaísBem Brasil Argentina

Banana 2 3Maça 4 5

03. No que consiste a teoria da deterioração dos termos de troca?

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04. Quais são as fases de integração econômica entre os países? Explique cada uma delas.

05. Pesquise: quais as principais dificuldades para a consolidação do Mer-cosul?

RefCexãoO comércio internacional sempre foi objeto de discussão entre os

teóricos sendo, quase sempre, apontado como um determinante direto ou indireto da riqueza dos países. Por essa razão, à medida que a teoria eco-nômica evoluía, muitos foram os autores que passaram a defender o livre comércio, como é o caso de Adam Smith e David Ricardo. Desta forma, a redução de barreiras aduaneiras, tarifárias ou não, passaram a ser per-cebidas como a melhor opção por boa parte das economias, balizando a política econômica ao longo de quase dois séculos.

Diante da impossibilidade da redução multilateral das barreiras mencionadas, muitos autores passaram a defender o livre comércio entre um grupo de países, via formação de blocos, de forma que este instrumen-to passava a servir como uma segunda melhor opção. No entanto, outro grupo de autores via neste incremento de comércio via da integração re-gional um importante mecanismo de desenvolvimento destas economias à medida que o comércio intra-bloco permitia, ao mesmo tempo: a explora-ção das vantagens comparativas dos países-membros; os ganhos de escala decorrentes da ampliação dos mercados e, ainda, a defesa das indústrias nascentes destes países, que ficariam em desvantagem ao concorrerem com as indústrias já estabelecidas dos países mais desenvolvidos.

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Desta forma, a integração dos países via formação de bloco passa a ser vista, por muitos autores, não como um fracasso do liberalismo co-mercial multilateral, mas, sim, como uma continuidade deste processo, uma nova etapa da reforma política comercial atual. Neste contexto, se enquadra a integração da América Latina, em particular, a constituição e consolidação do Mercosul.

Leituras recomendadasAcordos do Mercosul com terceiros países. Disponível em:<http://

www.eclac.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/publicaciones/sinsigla/xml/3/42513/P42513.xml&xsl=/brasil/tpl/p10f.xsl&base=/brasil/tpl/top-bottom.xsl>

Referências bibCiográficas

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CHEREM, Monica Teresa Costa Sousa; Di SENA JR., Roberto. Co-mércio internacional e desenvolvimento: uma perspectiva brasileira. São Paulo: Saraiva: 2004.

GONÇALES, REINALDO. A nova economia internacional: uma perspectiva brasileira. Reinaldo Gonçalves et al. Rio de Janeiro: Cam-pus: 1998.

GREMAUD, A. P. Economia brasileira contemporânea. Amaury Pa-trick Gremaud et al. 7. ed. 6. Reimpre. São Paulo: Atlas, 2011.

MAIA, Jayme de Mariz. Economia internacional e comércio exte-rior. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

MERCOSUL. Disponível em:<http://mercosul.gov.br>. Acesso em: 18 mai. 2014.

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REVISTA VEJA. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/eco-nomia/china-japao-e-coreia-do-sul-preparam-area-de-livre-comercio>. Acesso em: 16 mai. 2014.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1999.

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